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SALVADOR SÁBADO 7/6/2014 3 2 O preço do último cigarro Tempos atrás (passaram tão de- pressa que não pude contá-los) fui ver A Gaivota, de Anton Tchékhov, num teatro da Gávea, Rio de Janeiro. Eu estava em disponibilidade, e nesse estado beatífico arrisquei-me à compa- nhia de uma senhora ligada a um empresário, o qual, em jan- tar por ela oferecido dias antes, medira-me de alto a baixo, sem dúvida a pensar: “Mas que dia- bo esse sujeito pretende?” O diabo tinha bons propósi- tos. Sei que é difícil de acreditar, mas existem casos em que tro- camos uma mulher de meia ida- de, se não formos gerontófilos, pelas sutilezas existenciais de uma peça, sobretudo se assi- nada por um grande escritor. Sentamo-nos, a minha amiga dobrou o casaco de pele nos joelhos. Começaram no palco aqueles silêncios de Tchékhov em que rugem tempestades. Deu-me então uma crise de tosse. Algo me arranhava a gar- ganta, eu tinha de expectorar em seco. Espectadores das fi- leiras em frente voltaram-se pa- ra olhar-me. Mulheres assesta- ram óculos para identificação pronta do criminoso. Novo es- tampido de bateria que tive de abafar nas mangas do paletó. – Vá beber um gole d´água – aconselhou o meu par. Fui ao banheiro, fiz gluglu – e naturalmente fumei um cigarro, que era o remédio certo. Voltei pacificado, havia perdido um monólogo importante. De re- pente, escavadeiras me sobem à goela, há uma protofonia de engasgos, chiados e tossidelas. Olhares irados me fulminam na penumbra da sala. Sofriam no palco os perso- nagens indecisos do dramatur- go russo. Mas o homem a mais, o homem supérfluo, excluden- te, que ele estudou a fundo, parecia muito à vontade nas suas frivolidades habituais. En- vergonhado até a ponta dos de- dos, escoltei a minha dama a um táxi e, na passagem por uma lixeira, amassei o maço de ci- garros no bolso e atirei-o aos resíduos. Se mataram a gaivota, por que não destruir o cigarro venenoso? Um milagre, porque vencer a dependência do tabaco deve ser um dos doze trabalhos de Hér- cules. O fato é que parei mesmo. Se em sonhos, hoje, sou fla- grado a fumar, ou alguém me induz a soprar fumaças escar- ninhas em ambientes públicos, acordo em pânico. A senhora presidenta, nossa Pandora neste Brasil folclórico e mitológico, abre amiúde a caixa de maldades, instruída por seu comandante supremo. Diga-se, no entanto, em seu favor que ela possui também uma pequena, minúscula caixa de bondades com que tenciona aquecer a eco- nomia de dígito decimal – a mais baixa entre os emergen- tes. Às vezes pensa em nós, que somos “dazelite”, embora as eli- tes estejam, de fato, em poder dos “companheiros”. A partir de novembro, claro, depois de un- gida nas urnas petistas, como espera, ela nos fará um aceno. Salve, Dilma, os que vão à luta te saúdam! A presidenta (lembram-se?) vetou projeto da Câmara para criação de novos municípios. Não vai adiantar: outro depu- tado já prepara, a essa altura, projeto idêntico. O País rema contra a maré: em vez de en- sinar a multiplicação dos peixes, multiplica prefeitos, vereadores e aspones. Outra bondade retirada da cai- xa de Pandora presidencial foi a lei antifumo – que, dizem, entrará em vigor em dezembro, impe- dindo (caso venha a pegar...) as baforadas em espaços públicos, fechados. Antes, não convém me- xer com empresários generosos em doações para campanhas. Fi- ca para depois da Copa. Já fui dos que acendiam um cigarro no outro. E saíam de madrugada para comprá-los no posto de gasolina. Antes de atender ao telefone, corria em busca do maço. O escritor Gra- ciliano Ramos, magro e nervo- so, era do time dos chain smo- kers, ou fumantes em cadeia. E tinha preferência pelos cigarros grossos, aqueles que, no inte- rior, chamam escora-carroça. Foi o que se viu. Ficamos sem o derradeiro capítulo de Memó- rias do Cárcere. Na primeira parte do livro, autora reúne contos sobre os antepassados mais remotos Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia ENTREVISTA Cath Crowley, escritora AUSTRALIANA FALA SOBRE ARTE DE RUA EM LIVRO FERNANDA SOARES O mundo da arte sempre inspira pessoas ao redor do mundo, seja em adaptações para o ci- nema, tema de canções, estilo de vida. E na literatura não é diferente. A australiana Cath Crowley lança novo livro, inti- tulado Graffiti Moon, que cen- tra-se na vida de Lucy, uma ga- rota que acaba de terminar o ensino médio e se apaixona por um grafiteiro anônimo. O en- redo baseia-se na procura pelo artista, pois Lucy é apaixonada por ele. A garota o conhece pelo nome Sombra, mas na verdade é Ed, um ex-colega de classe. Sombra trabalha com Poeta, que é Leo, amigo de Ed. Em meio a este mistério, os jovens embarcam em uma aventura que dura apenas um dia e que tem muito o que revelar. Elizabeth Abbott / Divulgação GRAFFITI MOON / CATH CROWLEY Editora Valentina / 240 páginas / R$ 29,90 Li na internet que não pretendia ser escritora, mas escreveu al- gumas cartas para seu irmão enquanto estava viajando pela Europa. O que fez você mudar de ideia? Sempre gostei de palavras – em qualquer forma que sur- gem –, seja em livros, música, poesia. E eu também amava contar e ouvir histórias. Meu pai levava-me à livraria todo sábado e me deixava ler qual- quer coisa. Eu amava ficção. Logo, meu irmão mais velho, Anthony, mostrou que eu po- dia. Estudei Letras por três anos, e durante esse tempo, um trabalho meu foi publi- cado. Aquilo me deu uma pré- via de como as coisas pode- riam ser se tivesse meus tra- balhos publicados. Seus livros possuem algum as- sunto em comum? Sim, definitivamente. Escre- vo sobre artes – personagens que amam arte, música e pa- lavras. Escrevo sobre amor, sobre como nossas experiên- cias nos moldam. Não escre- vo somente sobre paixão, mas amor platônico tam- bém. Costumo escrever sobre como as coisas que amamos conseguem nos salvar. O livro Graffiti Moon possui um tema que nunca foi discutido antes. Por que decidiu escrever sobre isso? Há diversos motivos. O mun- do da arte oferece muito ao mundo, um vasto conteúdo para pessoas de todas as ida- des. Ele nos dá algo belo em um mundo que às vezes é feio – e todos nós precisamos de um pouco dessa alegria. E, é claro, a arte também tem seu lado político, muda o pensamento das pessoas. Educação é provavelmente minha segunda maior pai- xão. Ela oferece aos jovens uma alternativa em meio à pobreza. Eu escrevi o perso- nagem Ed após trabalhar com alguns jovens que eram disléxicos. Fui capaz de es- cutar os pensamentos dos estudantes que amavam ar- te, mas não conseguiam es- crever sobre como se sen- tiam a respeito disso. Essa experiência levou, em parte, à história de Graffiti Moon. Você já era familiarizada com o grafite antes de escrever o li- vro? Amo artistas como Ghostpa- trol, Miso e Banksy. Mas co- mecei a escrever sobre arte em vidro, e a partir disso o livro evoluiu o conteúdo e in- cluiu arte de rua. O perso- nagem Ed, a princípio, come- çou como um artista de ga- leria. Mas logo ficou claro que ele não pertencia somente àquele lugar. Ele trabalha nas ruas, no escuro, sozinho. Amo essa ideia de que alguém está pintando o azul do céu com spray, no meio da noite. Como é a cena do grafite na Austrália? Depende. Há lugares em Mel- bourne em que o grafite é permitido, como em Hosier Lane. E também há lugares em que não é exatamente permitido, mas aceitam e amam. Eu moro em Yarraville e em torno das ruas tem tra- balhos fantásticos. Há pes- soas que não gostam de gra- fite, não acreditam que seja arte, e eu até consigo enxer- gar o seu ponto de vista. Em- bora eu ame virar a esquina e ver um cisne voando em uma parede, também con- cordo que é preciso respeitar a propriedade alheia. Após o livro tornar-se um su- cesso, você acredita que em um futuro próximo outros escrito- res também falarão sobre o te- ma? Algumas pessoas já escreve- ram sobre grafite e arte bem antes de mim e, bem, espero que isso dure por muito tem- po. Quanto mais falamos e escrevemos sobre a impor- tância de fomentar as artes, melhor. De onde surgiu o nome do li- vro? A princípio o nome seria Lucy, Ed, Jazz e o Poeta, Leo, porém era longo. O primeiro rascu- nho que enviei para as edi- toras foi The Mean Night, mas o conteúdo mudou tanto e tornou-se tão positivo, que o título não parecia se encaixar mais. Minha editora e eu con- versamos a respeito e Graffiti Moon foi o único que gos- tamos. Gostei desse devido aos comentários de Ed a res- peito da Lua aprisionada – da ideia de que às vezes você precisa pintar seus próprios trabalhos e torná-los mara- vilhosos. Como foi o processo criativo? Passei cerca de dois anos es- crevendo. Eu sabia que que- ria escrever sobre arte. Na- quele tempo, estava meio cansada das palavras. Li em algum lugar que às vezes as palavras ficam no meio do caminho. Comecei a visitar al- gumas galerias e observar obras que me inspiraram. Fui a uma exibição de arte em vidro, da artista Bethany Wheeler. Por causa do seu trabalho, Dale Chihuly tam- bém me fascinou e todos os outros artistas de vidro aus- tralianos. Como foi a experiência de re- construir imagens que Lucy e Ed viram e transformá-las em pa- lavras? Essa foi a melhor parte. Isso é o que eu amo sobre a es- crita. Gosto de tentar trans- formar algo que vejo ou ouço em palavras. Eu observei um lustre da artista Dale Chihuly por um bom tempo e depois escrevi que aquilo parecia co- mo sonhos arrancados da pe- le de alguém. Isso é engra- çado. E todas as obras de Ed foram tiradas da minha ima- ginação. Não pensei muito a respeito, escrevi seguindo o fluxo da minha consciência. Há um momento em que não estou pensando muito e as palavras parecem estar sen- do escritas por outra pessoa. Eu vivo por esse momento quando vou escrever. LITERATURA A Vista de Castle Rock, de Alice Munro, retrata em contos sua origem familiar DA REDAÇÃO Cartas, documentos e uma von- tade imensa de reconstruir a his- tória familiar. Em A Vista de Cas- tle Rock, a canadense Alice Mun- ro investiga, durante um bom par de anos, as suas origens, chegando até a Escócia de 1818 e a um lado de sua família, os Laidlaw. E o que ela descobre nesta pesquisa é que muitos dos antepassados também se de- bruçaram em registrar a saga familiar. A busca lhe rendeu uma boa quantidade de informações a respeito dessa família: a origem em Ettrick Valley, Escócia, o lon- go caminho que fizeram até che- garem ao Canadá em um navio cheio de imigrantes e finalmen- te o estabelecimento na região rural de Ontário, onde Alice Munro cresceu. Narrativa Como a própria autora revela, embora seja um levantamento documental que fez, o livro é uma reunião de contos. Dispos- ta a recriar certas passagens que considerava absolutamente im- prenscindíveis para o entendi- mento do leitor, a autora sen- tiu-se à vontade para completar os fatos a partir de uma nar- rativa mais romanceada, segun- do ela mesmo revela, logo no prefácio do livro. A obra foi lançada original- mente em 2006, é o 12º livro da autora, cuja importância foi re- conhecida em 2013, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura – primeira vez concedido a um es- critor dedicado a narrativas cur- tas. Andrew Testa / Eyevine /Zuma Press / Divulgação Alice Munro é também autora do livro de contos Fugitiva Munro possui uma literatura marcada pela concisão e complexidade das personagens femininas CURTAS Edufba promove lançamento nesta terça Nesta terça-feira, a Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba) promove o lançamen- to do livro Direito Autoral, Pro- priedade Intelectual e Plágio, organizado por Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva. No evento, que acontece no Auditório do prédio principal da Faculdade de Direito da Ufba, às 17 horas, o público presente poderá ad- quirir a obra com descontos es- peciais. Composto por nove ca- pítulos, a coletânea reúne tex- tos que trazem desde o conceito de plágio, a evolução histórica e as sanções civis previstas na vigente Lei de Direito Autoral até o direito autoral no con- texto do ambiente acadêmico e a disponibilização de conteú- dos em acesso aberto. O livro é organizado por Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva e fala da legislação de direitos autorais Game of Thrones assume liderança na HBO Game of Thrones, a série da HBO vencedora do Emmy, su- perou Os Sopranos como a mais popular da emissora, informou a rede de TV a cabo. Episódios da quarta temporada da série têm uma audiência média de 18,4 milhões de espectadores, incluindo reprises, vídeo sob demanda e exibições em outras plataformas que quebraram o recorde de 18,2 milhões da temporada de 2002 do drama sobre a máfia Os Sopranos.)

Lançamento do livro Graffiti Moon

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Ping pong com a escritora Cath Crowley, falando sobre o lançamento do livro Graffiti Moon.

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SALVADOR SÁBADO 7/6/2014 32

O preço do último cigarro

Tempos atrás (passaram tão de-pressa que não pude contá-los)fui ver A Gaivota, de AntonTchékhov, num teatro da Gávea,Rio de Janeiro. Eu estava emdisponibilidade, e nesse estadobeatífico arrisquei-me à compa-nhia de uma senhora ligada aum empresário, o qual, em jan-tar por ela oferecido dias antes,medira-me de alto a baixo, semdúvida a pensar: “Mas que dia-bo esse sujeito pretende?”

O diabo tinha bons propósi-tos. Sei que é difícil de acreditar,mas existem casos em que tro-camos uma mulher de meia ida-de, se não formos gerontófilos,pelas sutilezas existenciais deuma peça, sobretudo se assi-nada por um grande escritor.Sentamo-nos, a minha amigadobrou o casaco de pele nosjoelhos. Começaram no palcoaqueles silêncios de Tchékhov

em que rugem tempestades.Deu-me então uma crise de

tosse. Algo me arranhava a gar-ganta, eu tinha de expectorarem seco. Espectadores das fi-leiras em frente voltaram-se pa-ra olhar-me. Mulheres assesta-ram óculos para identificaçãopronta do criminoso. Novo es-tampido de bateria que tive deabafar nas mangas do paletó.

– Vá beber um gole d´água –aconselhou o meu par.

Fui ao banheiro, fiz gluglu – enaturalmente fumei um cigarro,que era o remédio certo. Volteipacificado, havia perdido ummonólogo importante. De re-pente, escavadeiras me sobemà goela, há uma protofonia deengasgos, chiados e tossidelas.Olhares irados me fulminam napenumbra da sala.

Sofriam no palco os perso-nagens indecisos do dramatur-go russo. Mas o homem a mais,o homem supérfluo, excluden-te, que ele estudou a fundo,parecia muito à vontade nassuas frivolidades habituais. En-vergonhado até a ponta dos de-dos,escolteiaminhadamaaumtáxi e, na passagem por umalixeira, amassei o maço de ci-

garros no bolso e atirei-o aosresíduos.Semataramagaivota,por que não destruir o cigarrovenenoso?

Um milagre, porque vencer adependência do tabaco deve serum dos doze trabalhos de Hér-cules. O fato é que parei mesmo.Se em sonhos, hoje, sou fla-grado a fumar, ou alguém meinduz a soprar fumaças escar-ninhas em ambientes públicos,acordo em pânico.

A senhora presidenta, nossaPandora neste Brasil folclórico emitológico, abre amiúde a caixade maldades, instruída por seucomandante supremo. Diga-se,noentanto,emseufavorqueelapossui também uma pequena,minúscula caixa de bondadescomquetencionaaqueceraeco-nomia de dígito decimal – amais baixa entre os emergen-tes. Às vezes pensa em nós, quesomos “dazelite”, embora as eli-tes estejam, de fato, em poderdos “companheiros”. A partir denovembro, claro, depois de un-gida nas urnas petistas, comoespera, ela nos fará um aceno.Salve, Dilma, os que vão à lutate saúdam!

A presidenta (lembram-se?)

vetou projeto da Câmara paracriação de novos municípios.Não vai adiantar: outro depu-tado já prepara, a essa altura,projeto idêntico. O País remacontra a maré: em vez de en-sinar a multiplicação dos peixes,multiplica prefeitos, vereadorese aspones.

Outra bondade retirada da cai-xa de Pandora presidencial foi aleiantifumo–que,dizem,entraráem vigor em dezembro, impe-dindo (caso venha a pegar...) asbaforadas em espaços públicos,fechados.Antes,nãoconvémme-xer com empresários generososem doações para campanhas. Fi-ca para depois da Copa.

Já fui dos que acendiam umcigarro no outro. E saíam demadrugada para comprá-los noposto de gasolina. Antes deatender ao telefone, corria embusca do maço. O escritor Gra-ciliano Ramos, magro e nervo-so, era do time dos chain smo-kers, ou fumantes em cadeia. Etinha preferência pelos cigarrosgrossos, aqueles que, no inte-rior, chamam escora-carroça.Foi o que se viu. Ficamos sem oderradeiro capítulo de Memó-rias do Cárcere.

Na primeira partedo livro, autorareúne contossobre osantepassadosmais remotos

Hélio PólvoraEscritor, membro da Academiade Letras da Bahia

ENTREVISTA Cath Crowley, escritora

AUSTRALIANA FALA SOBREARTE DE RUA EM LIVROFERNANDA SOARES

Omundodaartesempre inspirapessoas ao redor do mundo,seja em adaptações para o ci-nema, tema de canções, estilode vida. E na literatura não édiferente. A australiana CathCrowley lança novo livro, inti-tulado Graffiti Moon, que cen-tra-se na vida de Lucy, uma ga-rota que acaba de terminar oensino médio e se apaixona porum grafiteiro anônimo. O en-redo baseia-se na procura peloartista, pois Lucy é apaixonadapor ele. A garota o conhece pelonome Sombra, mas na verdadeé Ed, um ex-colega de classe.Sombra trabalha com Poeta,que é Leo, amigo de Ed. Emmeio a este mistério, os jovensembarcam em uma aventuraque dura apenas um dia e quetem muito o que revelar.

Elizabeth Abbott / Divulgação

GRAFFITI MOON / CATH CROWLEY

Editora Valentina / 240 páginas/ R$ 29,90

Li na internet que não pretendiaser escritora, mas escreveu al-gumas cartas para seu irmãoenquanto estava viajando pelaEuropa. O que fez você mudarde ideia?

Sempre gostei de palavras –em qualquer forma que sur-gem–,sejaemlivros,música,poesia. E eu também amavacontar e ouvir histórias. Meupai levava-me à livraria todosábado e me deixava ler qual-quer coisa. Eu amava ficção.Logo, meu irmão mais velho,Anthony, mostrou que eu po-dia. Estudei Letras por trêsanos, e durante esse tempo,um trabalho meu foi publi-

cado.Aquilomedeuumapré-via de como as coisas pode-riam ser se tivesse meus tra-balhos publicados.

Seus livros possuem algum as-sunto em comum?

Sim, definitivamente. Escre-vo sobre artes – personagensque amam arte, música e pa-lavras. Escrevo sobre amor,sobre como nossas experiên-cias nos moldam. Não escre-vo somente sobre paixão,mas amor platônico tam-bém. Costumo escrever sobrecomo as coisas que amamosconseguem nos salvar.

O livro Graffiti Moon possui umtema que nunca foi discutidoantes. Por que decidiu escreversobre isso?

Há diversos motivos. O mun-do da arte oferece muito aomundo, um vasto conteúdopara pessoas de todas as ida-des. Ele nos dá algo belo emum mundo que às vezes éfeio – e todos nós precisamosde um pouco dessa alegria.E, é claro, a arte também temseu lado político, muda opensamento das pessoas.Educação é provavelmenteminha segunda maior pai-xão. Ela oferece aos jovensuma alternativa em meio àpobreza. Eu escrevi o perso-nagem Ed após trabalharcom alguns jovens que eramdisléxicos. Fui capaz de es-cutar os pensamentos dosestudantes que amavam ar-te, mas não conseguiam es-crever sobre como se sen-tiam a respeito disso. Essaexperiência levou, em parte,

à história de Graffiti Moon.

Você já era familiarizada com ografite antes de escrever o li-vro?

Amo artistas como Ghostpa-trol, Miso e Banksy. Mas co-mecei a escrever sobre arteem vidro, e a partir disso olivro evoluiu o conteúdo e in-cluiu arte de rua. O perso-nagem Ed, a princípio, come-çou como um artista de ga-leria. Mas logo ficou claro queele não pertencia somenteàquele lugar. Ele trabalha nasruas, no escuro, sozinho. Amoessa ideia de que alguém estápintando o azul do céu comspray, no meio da noite.

Como é a cena do grafite naAustrália?

Depende.HálugaresemMel-bourne em que o grafite épermitido, como em HosierLane. E também há lugaresem que não é exatamentepermitido, mas aceitam eamam. Eu moro em Yarravillee em torno das ruas tem tra-balhos fantásticos. Há pes-soas que não gostam de gra-fite, não acreditam que sejaarte, e eu até consigo enxer-gar o seu ponto de vista. Em-bora eu ame virar a esquinae ver um cisne voando emuma parede, também con-cordo que é preciso respeitara propriedade alheia.

Após o livro tornar-se um su-cesso, você acredita que em umfuturo próximo outros escrito-res também falarão sobre o te-ma?

Algumas pessoas já escreve-ram sobre grafite e arte bemantes de mim e, bem, esperoque isso dure por muito tem-po. Quanto mais falamos eescrevemos sobre a impor-tância de fomentar as artes,melhor.

De onde surgiu o nome do li-vro?

A princípio o nome seria Lucy,Ed, Jazz e o Poeta, Leo, porémera longo. O primeiro rascu-nho que enviei para as edi-

toras foi The Mean Night, maso conteúdo mudou tanto etornou-se tão positivo, que otítulo não parecia se encaixarmais. Minha editora e eu con-versamos a respeito e GraffitiMoon foi o único que gos-tamos. Gostei desse devidoaos comentários de Ed a res-peito da Lua aprisionada – daideia de que às vezes vocêprecisa pintar seus própriostrabalhos e torná-los mara-vilhosos.

Como foi o processo criativo?Passei cerca de dois anos es-crevendo. Eu sabia que que-ria escrever sobre arte. Na-quele tempo, estava meiocansada das palavras. Li emalgum lugar que às vezes aspalavras ficam no meio docaminho. Comecei a visitar al-gumas galerias e observarobras que me inspiraram. Fuia uma exibição de arte emvidro, da artista BethanyWheeler. Por causa do seutrabalho, Dale Chihuly tam-bém me fascinou e todos osoutros artistas de vidro aus-tralianos.

Como foi a experiência de re-construir imagens que Lucy e Edviram e transformá-las em pa-lavras?

Essa foi a melhor parte. Issoé o que eu amo sobre a es-crita. Gosto de tentar trans-formar algo que vejo ou ouçoem palavras. Eu observei umlustre da artista Dale Chihulypor um bom tempo e depoisescrevi que aquilo parecia co-mo sonhos arrancados da pe-le de alguém. Isso é engra-çado. E todas as obras de Edforam tiradas da minha ima-ginação. Não pensei muito arespeito, escrevi seguindo ofluxo da minha consciência.Há um momento em que nãoestou pensando muito e aspalavras parecem estar sen-do escritas por outra pessoa.Eu vivo por esse momentoquando vou escrever.

LITERATURA

A Vista de Castle Rock, de Alice Munro,retrata em contos sua origem familiarDA REDAÇÃO

Cartas, documentos e uma von-tade imensa de reconstruir a his-tória familiar. Em A Vista de Cas-tle Rock, a canadense Alice Mun-ro investiga, durante um bompar de anos, as suas origens,chegando até a Escócia de 1818e a um lado de sua família, osLaidlaw. E o que ela descobrenesta pesquisa é que muitos dosantepassados também se de-bruçaram em registrar a sagafamiliar.

A busca lhe rendeu uma boa

quantidade de informações arespeito dessa família: a origemem Ettrick Valley, Escócia, o lon-go caminho que fizeram até che-garem ao Canadá em um naviocheio de imigrantes e finalmen-te o estabelecimento na regiãorural de Ontário, onde AliceMunro cresceu.

NarrativaComo a própria autora revela,embora seja um levantamentodocumental que fez, o livro éuma reunião de contos. Dispos-ta a recriar certas passagens que

considerava absolutamente im-prenscindíveis para o entendi-mento do leitor, a autora sen-tiu-se à vontade para completaros fatos a partir de uma nar-rativa mais romanceada, segun-do ela mesmo revela, logo noprefácio do livro.

A obra foi lançada original-mente em 2006, é o 12º livro daautora, cuja importância foi re-conhecida em 2013, ao recebero Prêmio Nobel de Literatura –primeira vez concedido a um es-critor dedicado a narrativas cur-tas.

Andrew Testa / Eyevine /Zuma Press / Divulgação

Alice Munro é também autora do livro de contos Fugitiva

Munro possui umaliteratura marcadapela concisão ecomplexidadedas personagensfemininas

CURTAS

Edufba promove lançamento nesta terça

Nesta terça-feira, a Editora daUniversidade Federal da Bahia(Edufba) promove o lançamen-to do livro Direito Autoral, Pro-priedade Intelectual e Plágio,organizado por Rubens RibeiroGonçalves da Silva. No evento,que acontece no Auditório doprédio principal da Faculdadede Direito da Ufba, às 17 horas,o público presente poderá ad-quirir a obra com descontos es-peciais. Composto por nove ca-pítulos, a coletânea reúne tex-tos que trazem desde o conceitode plágio, a evolução históricae as sanções civis previstas navigente Lei de Direito Autoral

até o direito autoral no con-texto do ambiente acadêmico ea disponibilização de conteú-dos em acesso aberto.

O livro éorganizado porRubens RibeiroGonçalves da Silvae fala da legislaçãode direitos autorais

Game of Thrones assume liderança na HBO

Game of Thrones, a série daHBO vencedora do Emmy, su-perou Os Sopranos como a maispopular da emissora, informoua rede de TV a cabo. Episódiosda quarta temporada da sérietêm uma audiência média de

18,4 milhões de espectadores,incluindo reprises, vídeo sobdemanda e exibições em outrasplataformas que quebraram orecorde de 18,2 milhões datemporada de 2002 do dramasobre a máfia Os Sopranos. )