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Lapidados por Deus

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Podemos ser o que Deus quiser que sejamos, desde que permitamos o Seu lapidar. Somos pedras brutas de estimado valor, às quais o Senhor irá lapidar para a Sua glória. Não existe pedra descartável no Reino de Deus. Poderemos vir a ser verdadeiras rochas para a edificação dos propósitos do Senhor. Ele está focando Seus olhos em você e desejoso de pronunciar seu nome, direcionando tudo o que Ele tem reservado para o seu futuro.

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Pr. Markus Eberhart

Lapidados por DeusDe Pedra Bruta em Pedra Viva

São Paulo / 2012

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Um dos personagens bíblicos que mais me fascina é o apóstolo Pedro, um homem de temperamento colérico sanguíneo, cuja característica primordial era agir primeiro e pensar depois, ou agir por puro impulso ou instinto. Tal fascinação é decorrente, não pelo que ele era, mas por quem viria se tornar nas mãos do Mestre, após três anos de trabalho árduo de Jesus. Jesus nunca desistiu de Pedro, ainda que ele o tenha negado diante de uma multidão ávida por derrama-mento de sangue inocente. Uma das características do meu ministério pastoral também tem sido essa: nunca desistir de uma pessoa, procurando trabalhar nela e por ela até que ela reflita o caráter de Jesus. Tenho procurado nunca olhar para aquilo que a pessoa é, mas para aquilo que ela virá a ser nas mãos de Deus.

O primeiro encontro, a gente nunca esquece

O primeiro encontro de Pedro com Jesus está registrado no Evangelho de João 1.35-42. A perícope retrata João Batista na companhia de dois de seus seguidores, um dia após o batismo de Jesus. Provavelmente, eles estavam às margens do Rio Jordão, pois era por ali que João vivia batizando pessoas que iam se arrependendo de seus pecados e crendo que o Messias já se encontrava em seu meio. João Batista

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tinha a incumbência principal de preparar o caminho para o ministério de Jesus. Jamais chamou atenção para si mesmo. Estava literalmente focado no seu chamado de endireitar as veredas e preparar o caminho para o Senhor (João 1.23). Quando viu Jesus se aproximando dele, sem hesitar, disse: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Quando, nesse fatídico dia, viu novamente Jesus se aproximando, disse aos dois que o acompanhavam: Eis o Cordeiro de Deus (João 1.36). Os dois seguidores de João, ao verem-no apontando para Jesus como sendo o Salvador, deixaram-no para seguirem quem de fato deveriam seguir. Um dos seguidores era André, irmão de Simão Pedro, que, cheio de encanto e alegria, anunciou-lhe: Achamos o Messias (João 1.41). André conscientemente foi atrás de seu irmão para anunciar a descoberta do Cristo. Começou a fazer a obra por sua casa, por sua própria família. Ele não poderia falar de alguém que não conhecesse. Ele conhecera o Messias, já tivera o seu encontro com Ele, pela indicação de João Batista. O que ele queria agora era levar seu irmão ao Senhor. O texto diz: E o levou a Jesus (João 1.42). Podemos imaginar que André tenha tomado Pedro pela mão e conduzido até onde Jesus estava, visto que tinha ido ver onde Jesus assistia, ou seja, morava. Se não o conduziu dessa forma, pelo menos foi à sua frente, a fim de lhe mostrar o caminho. Porém, podemos aprender aqui um ensinamento espiritual. André foi quem levou seu próprio irmão a Cristo, no sentido de lhe proporcionar um encontro que mudaria toda a sua vida. É como se André tivesse se tornado o responsável direto pela conversão do próprio irmão. Será que André poderia imaginar o que estava prestes a acontecer? Fazia ele ideia de que seu irmão se tornaria o grande instrumento na pregação, na ministração de cura e no exercício da liderança da Igreja do Senhor Jesus? Verdadeiramente não podemos imaginar o

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que Deus fará por intermédio das pessoas que conduzimos a Cristo! Vale a pena investir em vidas! Vale a pena falar do amor de Jesus e levar pessoas à conversão. Deus certamente fará obras maravilhosas por intermédio delas, o que nossos olhos e ouvidos não conseguem sequer imaginar! André deve ter ficado com os olhos marejados e com o coração pleno de alegria ao ver Pedro, cheio do Espírito Santo, pregando em Jerusalém e levando mais de 3 mil pessoas ao batismo, pensando que fora ele quem o apresentara ao Salvador! Ao ver pessoas sendo curadas apenas com a sombra de seu irmão, deve ter glorificado ao Senhor por ter sido ousado e usado por Deus para conduzi-lo a Jesus! Sim, o nosso Deus é especialista em encontrar pedras brutas e lapidá-las para que fiquem à Sua maneira e sejam usadas de acordo com Seus propósitos. Eu mesmo sou uma delas. Somente Deus usaria alguém como eu no ministério! Só Ele para ver o que ninguém vê! Só Ele pode saber com exatidão quem nós seremos no futuro, desde que estejamos em Suas mãos.

Provavelmente, esse encontro de Jesus com Pedro deve ter acontecido ao entardecer, pois o versículo seguinte (João 1.43) apresenta Jesus dirigindo-se para a Galileia, vocacio-nando mais um seguidor Seu: Filipe, que era de Betsaida, mesmo lugar onde viviam Pedro e André, às margens do Mar da Galileia. Lendo os Evangelhos, perceberemos que Jesus tinha uma predileção por esse período do dia, além das madrugadas, evidentemente. Era ao final da tarde que os grandes encontros aconteciam. Eu, particularmente, gosto muito do entardecer. É minha hora predileta. Ao entardecer, ao findar os labores do dia, no crepúsculo da noite, uma vida foi resgatada para andar com o Senhor. A vocação de Pedro é simplesmente fascinante.

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Um olhar perscrutante

O evangelista João descreve que Jesus olhou para Pedro naquele instante (João 1.42). Muitos olham e nada veem. Mas Jesus olhava e via tudo. Ele via o futuro. Ele olhava com olha-res que analisam possibilidades. É bem verdade que Pedro já devia ter ouvido falar muitas coisas a respeito de Jesus, pois os acontecimentos do Seu batismo e a voz que veio dos céus eram a comprovação de que realmente tratava-se do Filho de Deus, e isso estaria sendo comentado por todas aquelas cercanias. Todavia, contato pessoal era o primeiro. Pedro não teve nem tempo de se apresentar ao Mestre. E nem precisava, pois Jesus o conhecia por inteiro. Antes que Pedro esboçasse o pronunciamento de alguma palavra, Jesus se antecipou e foi logo dizendo: Tu és Simão, o filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro) (João 1.42). Jesus não somente conhecia seu nome, como também seu pai. Parafraseando a pastora Ana Paula Bloch, em uma de suas esplêndidas pre-gações, é como se Jesus naquela hora quisesse expressar: Tu és o filho de João. Conheço tudo sobre você. Eu sei quem você é. Não se preocupe. Eu conheço a sua história. Eu vejo você a todo instante. Há tempo que eu estou observando você. Eu estou contemplando todas as suas atitudes. Somente eu tenho condições reais de fazer uma avaliação precisa de quem você realmente é. Eu sei quais são os seus passos, os seus pensamentos e o seu temperamento. Eu conheço a ver-dade sobre você, Simão. Eu conheço os fatos. Eu conheço as circunstâncias que transformaram você na pessoa que você é hoje, conheço até a sua carga genética, Simão, você é o filho de João. Do seu pai, você herdou o temperamento impulsivo, da sua mãe, você herdou a insegurança. Mas quer saber, Simão? Isso não me importa. Eu sou o Senhor que avalia as suas possibilidades. De hoje em diante, você será

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chamado Cefas. Eu vou fazer de você uma Rocha, uma Pedra. Eu vou transformar a sua vida, filho de João. Eu vou alargar as suas fronteiras, filho de João, eu vou aperfeiçoar o seu caráter, filho de João, e você vai me servir como uma rocha.

A saudação de Jesus a Pedro é muito profunda. Ao chamá-lo de KhjaV (Cefas), em grego, Jesus quis dizer que ele era uma rocha, que é o que esse nome significa nessa língua. Portanto, Cefas seria o seu nome aramaico. Ao traduzir seu nome para a língua grega, o mesmo seria identificado como PetroV (Petros), como no nosso texto. Simão não seria mais o Simão. Daquele dia em diante, ele seria Pedro, a rocha sobre a qual Jesus iria fundamentar os inícios da Sua igreja. Jesus tinha bem definido na Sua mente o que faria de Pedro. Para iniciar a igreja, era necessário um sólido fundamento. O Fundamento indubitavelmente seria Jesus, como Paulo bem enfatiza em 1 Coríntios 3.11: Porque ninguém pode lançar outro fundamento além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Não podemos imaginar algo diferente disso. Porém, em termos de liderança humana, Jesus estaria focando em Pedro naquele instante. Jesus queria investir tempo na vida daquela pedra bruta. A intenção de Jesus era investir o tempo de Seu ministério terreno na vida de alguns homens, dos quais Pedro se tornaria o líder. Pedro nem sequer sonharia que um dia viria a tornar-se coluna da igreja em Jerusalém.

Deus avalia também nossas possibilidades

Pedro recebe responsabilidades. Precisa agora identificar-se com seu novo nome: a Rocha. Sabemos que o chamado de Pedro não se deu da forma como parafraseei acima. Na Bíblia, não está descrito dessa forma, mas, certamente, é esta a

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ideia que está implícita na declaração de Jesus. É este o teor que vamos ver concretizado na vida de Pedro. Nitidamente percebemos ao longo dos Evangelhos o crescimento, o ama-durecimento e a transformação de Pedro. O discípulo que por três vezes negou a Jesus (Lucas 22.54-62), o discípulo que demonstrou uma pontinha de ciúmes em relação ao seu colega de ministério (João 21.21), o discípulo que impulsivamente se propôs a andar sobre as águas para ir ao encontro de Jesus, no meio de uma forte ventania, e que depois de alguns passos afundou no mar e precisou pedir ajuda, tendo que subir de volta ao barquinho, encharcado, humilhado e aparentemente fracassado (Mateus 14.28-33), foi sendo lapidado pelo Senhor Jesus. O Pedro que foi corrigido por Jesus tantas vezes, o dis-cípulo com quem Jesus francamente falou: Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que tua fé não desfaleça (Lucas 22.31-32), estava sendo moldado pelo Senhor e preparado para a grande obra de impactar o mundo com a mensagem da salvação. Você pode imaginar isso? Esse Pedro de agora não poderia imaginar o Pedro do Capítulo 3 de Atos. Já não é mais Simão, mas sim Pedro que se levanta no meio de uma multidão para discursar sobre Jesus, para testemunhar ousadamente e levar milhares à conversão, sim, pelo menos 3 mil. Em Atos 5.15, temos a descrição de que levavam os en-fermos pelas ruas, em leitos e macas, para que quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra se projetasse em alguns deles a fim de serem curados e libertos! Quem diria hein? Tu serás chamado Cefas. Da mesma forma, Deus avalia as nos-sas possibilidades. Ele não vê apenas onde estamos, mas Ele vê aonde podemos chegar com a Sua supervisão, com a Sua ajuda, com a Sua bondosa interferência! Ele vê o que podemos fazer com o Seu auxílio! Ele vê quem poderemos nos tornar com a Sua capacitação! Tu és Simão, o filho de João... Tu serás

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chamado Cefas! Podemos ser o que Deus quiser que sejamos, desde que permitamos o Seu lapidar. Somos pedras brutas de estimado valor, às quais o Senhor irá lapidar para a Sua glória. Não existe pedra descartável no Reino de Deus. Poderemos vir a ser verdadeiras rochas para a edificação dos propósitos do Senhor. Ele, neste exato momento em que você lê estas linhas, está focando Seus olhos em você e desejoso de pronunciar seu nome, direcionando tudo o que Ele tem reservado para o seu futuro. Um dos versículos que mais amo nas Escrituras, justamente por evidenciar o que Deus tem para nós, é: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou e coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Coríntios 2.9). Deus tem o melhor reservado para você. Ele o vê com especial atenção, não atentando para quem você é agora, mas para quem você se tornará em Suas mãos. Deus olha para o seu futuro, para o que fará de e em você! Permita que Deus trabalhe sua vida. Não resista à ação de Deus. Ele trabalha em nossas vidas, tal qual o artesão ou lapidador de pedras o faz em suas esculturas.

Lapidando pedras

Itatiba é uma pequena Cidade no interior do Estado de São Paulo. Seu nome advém das muitas pedras encontradas no local. Perto dali, há 17 km, fica a cidade de Morungaba, no circuito das águas. Morungaba é dessas cidades românticas, com um charme todo especial, pacata e boa para se morar, tão boa que o meu amigão Vilmar, gaúcho de Erechim, es-colheu esse lugar tão aconchegante para montar o seu trailer de lanches. Meu amigo Adilson Júnior é pastor da Igreja do Nazareno nesse pedacinho de céu na terra. Há um membro em sua igreja, chamado Adão, casado com Janaína. O casal

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tem três lindas filhas: Gabriela, Luana e Sara, ainda menina. Na igreja, eles são carinhosamente conhecidos como Lampião e Maria Bonita. A Janaína tem um salão de beleza, onde, literalmente, faz a cabeça das pessoas. O Adão é canteiro, nome técnico atribuído àquele que trabalha cortando pedras de cantaria na montanha e lapidando-as de acordo com a necessidade do comprador. Trata-se de um trabalho bastante árduo, pois, além de muita força para cortar a pedra no meio do mato, requer também muita habilidade para cortá-la no formato certo e lapidá-la com técnica apurada e refinada. Pelo que pude perceber, a pedra é batida com um formão e um martelo pesado, sendo suas arestas aparadas e o formato dado de acordo com a necessidade do artífice. Quando a gente vê a pedra in natura, mal se pode vislumbrar o que o pedreiro fará com ela. É um trabalho lindo, maravilhoso e por demais ilustrativo, pois é dessa forma que Deus também trabalha nossas vidas. Ele vai dando suas pancadas, suas batidas, suas podadas até que a pedra toma o formato que Ele planejou desde o princípio de nossas vidas. Nenhuma pedra é ruim ou imprestável, desde que ela seja trabalhada pelas mãos certas e desde que seu manuseador tenha planos para ela de acordo com suas características. É assim que Deus nos vê.

Ao ler esse livro, você será encorajado, fortalecido e ani-mado por meio de alguns exemplos que irei narrar, os quais colocarão em evidência pessoas que eram verdadeiras pedras brutas, mas que se deixaram moldar segundo os planos de Deus. Creio que nenhuma delas ficará ofendida de chamá--las dessa maneira, pois o que importa é o que Deus fez com elas e em quem Deus as transformou da mesma forma que Deus tem trabalhado a minha vida. Também eu fui uma pedra bruta, transformada pelo Supremo Canteiro em pedra viva, para Seu exclusivo uso.

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Um rouxinol no altar

Lembro-me do meu primeiro ministro de louvor, tão logo que iniciei o trabalho no qual estou até hoje. Eu era pastor de uma igreja tradicional, e fui despertado pelo Espírito Santo para embrenhar-me em um trabalho sem os auspícios de uma igreja solidamente constituída. Quando Deus fala é bom obedecer. Prontifiquei-me a agir e viver na direção favorável do vento, deixando-me guiar por Deus. Era domingo, dia 31 de março de 1996. Havia uma grande expectativa quanto ao que Deus faria em e por intermédio daquelas trinta e quatro pessoas que estavam presentes naquele primeiro culto. Entre elas, aquele que viria ser meu ministro de louvor: Carlos Eduardo. Em pé, ligeiramente atrás de mim no altar, lá estava ele: corpo esguio, fino, rosto pálido, cabelos compridos, a estilo rabo de cavalo, boné na cabeça, um macacão jeans com uma das alças arriadas, uma bota estilo coturno, toda desamarrada e, de quebra, um brinco vermelho cintilando em uma das orelhas. Tocava muito bem. Cantava melodiosa e harmonicamente. Um rouxinol teria complexo de inferiori-dade ao ser comparado com ele. Uso a metáfora do rouxinol em virtude da raridade desse pássaro. Ele é originário do Velho Mundo, pertencente à família dos Muscicapídeos. Trata-se de uma ave bastante difícil de ser vista, pois geral-mente canta às escondidas. Porém, seu inigualável canto é percebido à distância. Ele é um excelente cantor. Tem um extenso repertório, com trinados fluidos terminando em crescendo, diferente de outros pássaros que possuem um só tipo de canto. O rouxinol é ouvido comumente depois do escurecer, sendo um dos poucos pássaros a cantar à noite. Por isso, em inglês o rouxinol é conhecido como nightingale, cuja tradução é cantor noturno. O Eduardo é meu rouxinol preferido. São dessas raridades como Pelé, que somente em cem anos surge outro parecido.

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Começou o culto naquela memorável noite. O rouxinol deu o tom. Havia muita unção no ambiente. Na realidade, para nós, tudo era novo. Foi uma verdadeira festa. Quando terminou o culto, alguns irmãos me cercaram e disseram: Pastor, o senhor vai deixar que isso aí seja o nosso líder de louvor? Sempre há irmãos assim na igreja. Percebi logo que enfrentaria muitos problemas. Mas eu não desisti. Permaneci com o rouxinol no altar. Foi um tempo de muita paciência. Alguns meses depois, lá estava ele de cabelos curtos, sem brinco na orelha, vestindo roupas adequadas para o momento de adoração à frente da igreja. Esse moço começou a crescer em maturidade. Cresceu ministerialmente. Casou-se com a segunda mulher mais bonita da Cidade de Lages, irmã da minha esposa. Seu nome? Adriane, ou Naninha, como nós carinhosamente a chamamos. Eles têm dois filhos lindos e maravilhosos: Felipe e Nicolas. Hoje ele serve como pastor em uma proeminente igreja no Estado de São Paulo, chamada Itatiba, a cidade das muitas pedras, a mesma à qual já me referi acima. Vive uma vida de santidade, procurando agradar aos olhos do Senhor em tudo o que faz. É bem verdade que o rouxinol parou de cantar um pouco. Mas só por um pouco, pois quem nasceu para brilhar não pode ficar muito tempo escondido! Você já imaginou o que teria acontecido se eu o tivesse proibido de subir ao altar do Senhor daquele jeito? Teria ele permanecido na comunhão da igreja? Certamente, sentir-se-ia recriminado e não mais voltaria àquele grupo de santarrões! Portanto, tenha paciência, não seja uma pessoa precipitada. Espere em Deus, seja uma pessoa misericordiosa. Não coloque mais fardos sobre os outros do que eles mesmos podem suportar. Procure pensar no que Jesus faria em seu lugar. Como agiria Jesus? Com brandura. Com ternura. Dando mais uma chance. Jesus mesmo ensinou que é na segunda milha que somos reconhecidos como verdadeiros discípulos. É na segunda milha que nosso caráter realmente é evidenciado.

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Uma oficina diferente

Certa vez, ouvi um depoimento de um pastor da Cidade de São Paulo que se mudara com sua igreja para uma antiga oficina de conserto de automóveis. Todos conheciam aquele lugar como sendo uma oficina. Estavam habituados a buscar a oficina. O que fez aquele pastor? Escreveu um letreiro bem grande em frente da igreja: Conserta-se vidas! Aprendi a lição. A igreja nada mais é do que um refúgio aonde as pessoas chegam do jeito que estão, cheias de problemas, defeitos, desilusões e são tratadas até poderem sair transfor-madas. Nada há de mais gratificante do que recebermos uma pessoa quebrada e podermos devolvê-la curada, restaurada à sua família ou à sociedade! Muitas igrejas são verdadeiras casas mortuárias que, além de não tratar seus feridos, fazem abruptas amputações, terminando por matá-los. Podemos chamar isso de igreja? É o que Jesus espera que sua igreja seja? Teríamos muitas surpresas caso Jesus resolvesse real-mente visitar algumas dessas igrejas que dizem ser chamadas pelo Seu nome. Que vergonha! Eia! Construamos igrejas que sejam verdadeiras oficinas que consertam vidas, hospitais ao longo das vias de agruras e desilusões que levem esperança e cura! Essa é a igreja do Senhor Jesus, o Nazareno! O Pr. Carlos Eduardo, que hoje pastoreia a Igreja do Nazareno de Itatiba, adotou como slogan da igreja: um lugar de esperança para o ferido. Ele captou a essência do que Jesus tencionou fazer e de fato o fez. A tarefa primordial da igreja é verda-deiramente essa: levar um pouco de esperança para quem se encontre sem esperança. Proporcionar cura para o ferido. Aliviar o fardo do cansado e aflito. Viver o amor altruísta, abnegado, desinteressado que Jesus ensinou e viveu, o qual só pode ser derramado de forma abundante em nossos corações pelo Espírito Santo.

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Uma conversa dentro da kombi

Lembro-me de um telefonema que recebi tarde da noite. Do outro lado da linha, havia uma mãe, chorando, desesperada, dizendo que seu filho estava na mais completa destruição e ruína. Havia perdido tudo nas drogas, na bebida e na prosti-tuição. Temia ela que ele fosse morrer. Não conseguia mais olhar para seu filho e vê-lo caminhando para a morte. Pediu-me que o ajudasse. Tomei o endereço e saí naquela mesma hora à procura dele. Qual não foi minha surpresa quando ao chegar ao local, percebi tratar-se de um prostíbulo. Relutei muito antes de entrar naquele lugar. Pensava: o que vão dizer caso me vejam entrando num lugar desses? Pensava na minha esposa. Entretanto, quando lembrei que Jesus foi buscar e salvar o perdido, senti que Deus também desejava libertar e salvar aquele moço. Por isso, não tive dúvidas: respirei fundo, enchi o peito de ar e fui entrando. Quando o rapaz me avistou foi logo dizendo: Pastor, o senhor por aqui? Isso aqui não é lugar para o senhor. Eu respondi: Se não é lugar para mim, também não é lugar para você. Então o convidei a sair comigo a fim de conversarmos um pouco mais tranquilamente. Entramos na Kombi pastoral. Conversamos longamente. No outro dia, pela manhã, eu estava levando o Maurício, aquele moço, a uma Clínica de Recuperação na Cidade de Criciúma, no sul do Estado de Santa Catarina. Lá ele ficou por oito longos meses. Voltou recuperado. E o que é melhor: voltou uma nova criatura. Seu passado havia sido perdoado. Sua vida transformada! Arrumou trabalho. Conheceu uma linda moça, Raquel, com quem se casou. Hoje vive uma vida tranquila, prosperando em todas as áreas da sua vida. Tem casa própria. Tem um bom carro e uma microempresa no ramo de distribuição de água. Não há pessoa mais amorosa

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e solícita do que ele. Sempre pronto a ajudar. Seguidamente, ouço o barulho da sua motocicleta parando em frente ao meu portão no final da tarde para, juntos, como amigos íntimos, sorvermos aquele gostoso chimarrão. Ele é um verdadeiro filho da fé, tirado das drogas e da prostituição, para figurar entre os eleitos do Senhor, que um dia estará para sempre com o Senhor na glória! Aleluia! A felicidade dele agora está completa, pois seu filho, o Gustavo, está crescendo de forma saudável. Como Deus é bom! Ele tira o homem da mais completa miséria e o transforma em instrumento de bênção. E o que é mais impressionante: Ele usa pessoas como você e eu para serem agentes dessa transformação. Deus nos usa como canais condutores das suas insondáveis riquezas. Algu-mas vezes agimos de forma cruel, nos tornando seletivos e julgando pelas aparências. Enquanto isso, Deus, que não faz acepção de pessoas, vai lapidando algumas pedras de beira de estrada e transformando-as em pedras preciosas. Deus nunca despreza quem quer que seja. Esse é o caráter do Eterno. Dizer que o Maurício não tem mais nada para tratar em sua vida, ou que Deus já concluiu o que tinha que fazer, é limitar o agir sobrenatural de Deus. Ele ainda não terminou Sua obra na vida dele, como não terminou na minha. Deus está nos moldando dia a dia, e isso até a eternidade. Há muito para ser aparado em nós.

Aprendi que pessoas são mais importantes do que coisas! Aprendi que vale a pena investir em vidas! Não há satisfação maior do que ver uma vida sendo transformada pelo poder de Deus. Quero investir os melhores anos da minha vida em favor daqueles que a sociedade facilmente rejeita e trata como subumanos. Muitas famílias abandonam as pessoas no estágio em que elas mais precisam de ajuda. Horrenda

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coisa é necessitar de ajuda e não encontrar. Nós, cristãos, somos chamados por Deus a fazermos diferença na vida das pessoas. Não há sentido em viver senão para ser bênção na vida daqueles que Deus coloca em nosso caminho. Com quem aprendemos isso? Com Jesus Cristo, o homem simples de Nazaré da Galileia. Certa vez, ouvi uma frase, confesso que não sei quem a formulou, mas que dizia algo assim: A igreja é o único exército do mundo que abandona os seus mortos e feridos. Dura frase. Dura verdade. Que o Altíssimo Deus nos ajude a mudar esse quadro. Que nesse tempo de frieza e de individualismo o Senhor levante um exército de discípulos capazes de se doarem em favor dos outros. Seu apoio será fundamental às pessoas que o cercam. Ame. Ajude. Seja um instrumento de alcance. Ajunte algumas pedras pelo caminho da vida. Quem sabe Deus não resolva lapidá-las, como tem feito com você. Sim, você é obra do Artífice, uma pedra que Deus lapidou para Sua glória.

Uma igreja com as portas abertas

Jamais me esquecerei de uma cena ocorrida no final de um de nossos cultos dominicais. A igreja estava toda em pé, pronta para receber a bênção final a fim de encarar mais uma semana de lutas com vitórias, quando entrou uma senhora com seu filho e perguntou: Será que nessa igreja eu vou encontrar alguém que me ajude? Quero frisar bem o nessa. Não eram evangélicos. Seu filho acabara de ouvir uma reportagem na TV acerca de pessoas que haviam largado as drogas com ajuda da fé. Ele olhou para a mãe e disse: Mãe, me leva em uma igreja! Eu quero ajuda. Quero sair das drogas. Aquela mãe mal conseguia acreditar no que estava ouvindo. Tomou seu filho e bateu na igreja do bairro. O pároco daquela igreja

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disse que já era tarde e que deveriam voltar na terça-feira. Foram para outra igreja. A mesma resposta. Por fim, buscando um último recurso, bateram às portas da Catedral, a igreja sede. O ministro daquele lugar disse que deveriam procurar o pároco de seu bairro. A mãe, desesperada, começou a retornar para casa, quando passaram pela rua diante da Igreja do Nazareno de Lages. O filho disse: Mãe, ali tem uma igreja aberta! Vamos lá. Quem sabe ali nos ajudarão. Conversamos longamente naquela noite. Na manhã seguinte, eu os visitei em casa. A família toda fez uma aliança com Jesus. O filho foi liberto. Casou-se. Tem um filho. Está trabalhando. Abrimos um Grupo de Amor e Cuidado naquela casa, a fim de que todos pudessem ser amados e cuidados, bem como desafiados a permanecerem fiéis e firmes com Jesus. Minha sogra, a Lordi, doou muito do seu tempo cuidando daquele grupo. Louvo a Deus pela vida dela, sempre solícita e abnegada, discipuladora amorosa que deixou suas marcas para toda a eternidade naquelas vidas. Aliás, ela tem feito diferença na vida de muitas irmãs da igreja. Esses são os milagres que Jesus opera por intermédio das nossas vidas. Vidas devem ser sempre a nossa prioridade!

Deus sabe fazer escolhas

Importa que não julguemos pela aparência. Aprendemos isso com o nosso Deus. A Bíblia nos ensina que Deus faz escolhas. Não me pergunte por que Deus faz isso. Ele simplesmente o faz. Talvez o faça porque tem opções. Se é que possível escolher, certamente, tal fato se dá por causa das múltiplas opções. Ele escolheu a mim e escolheu a você para andarmos com Ele, para termos comunhão com Ele. Escolheu um povo simples, pequeno, insignificante, escravo,

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para ser seu próprio povo, tal como Moisés o narra: Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus: o Senhor teu Deus te escolheu, para que fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu, porque fosseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito (Deuteronômio 7.6-8). Havia outras tantas nações poderosas que Ele poderia ter escolhido. Mas, não, Deus escolheu justamente a mais fraca. E por que o Eterno Deus fez isso? Porque para Ele a aparência realmente não importa. Importa, sim, a dependência. Eu sei que você, como profundo conhecedor das Escrituras, deve estar argumentando que Ele escolhera Israel por amor aos pais (Deuteronômio 4.37-40 e Deuteronômio 10.15) e por causa do juramento que lhes fizera (Deuteronômio 7.8). Sim, isso é verdade. Porém, o que quero realmente destacar é que Deus não escolhe por meio de padrões humanos. Ele não se deixa impressionar pela aparência, pelo porte físico, pelos dotes ou habilidades. Ele não vê como vê o homem. Seus padrões são diferentes. Basta que olhemos o exemplo de Davi, quando este fora escolhido para ser o futuro rei de Israel! Deus havia rejeitado o rei Saul, apesar de sua altura, de sua aparência. Havia pecado demais naquele grande corpo. Deus queria um rei de coração puro, de coração humilde, de vida simples, que fosse dependente. O profeta Samuel, ainda jovem e muito imbuído a julgar por padrões humanos, faz uma visita a um senhor de vida abastada chamado Jessé, pai de oito belos filhos. Deus havia dito que um deles deveria ser ungido com azeite e separado para ser rei em Israel. Quando Samuel vê o primeiro chegando, Eliabe, ele pensa estar na presença do futuro rei. Que engano! Deus

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lhe disse: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei, porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor o coração (1 Samuel 16.7). Assim passaram sete filhos pela presença de Samuel e nenhum deles era o escolhido. A essa altura o profeta Samuel não estava mais entendendo nada. Acabaram-se os teus filhos? pergunta (Samuel 16.11). O pai diz que há ainda o mais moço no campo cuidando das ovelhas. O enviado de Deus quer vê-lo, por via das dúvidas. Entra na casa um me-nino ruivo, de belos olhos e boa aparência (1 Samuel 16.12) e, então, ecoa uma voz contundente: Levanta-te, e unge-o, pois este é ele (1 Samuel 16.12). Que bela narrativa! Que palavra animadora para nós pastores e líderes que somos inclinados a julgar pela aparência, a classificar os bons e os maus por aquilo que vemos. Aprendi com dores a colocar esse princípio em ação ao longo no meu exercício pastoral. Ninguém, absolutamente ninguém, pode ser descartado por sua aparência. O contrário também é verossímil: ninguém, absolutamente ninguém, pode nos impressionar, a princípio, por seus supostos atributos ou qualidades, pois o julgamento de Deus nunca é pela evidência e por atributos exercidos. Deus olha para a sinceridade do coração.

Quem escolheria um homem como Moisés para ser o pre-sidente de uma instituição? Ele era avançado em idade, tinha dificuldades para se expressar em público e nunca aprendera a gerenciar uma multidão. Deus o escolheu para ser o líder libertador do seu precioso povo, escravo no Egito, que gemia sob a escravidão de faraó. O faraó Sethos I (1320 a. C. – 1290 a. C.), que era amigo de José, falecera. Assumira em seu lugar o faraó Ramessés II (1290 a. C. – 1224 a. C.), um faraó que escravizou o povo de Deus. Moisés, aos 80 anos de idade, foi

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