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Universidade do Minho Instituto de Educação outubro de 2016 Grupos de Apoio entre Pais: Perspetivas de Mães de Crianças com PEA do Distrito de Braga Lara Rafaela Andrade Araújo Grupos de Apoio entre Pais: Perspetivas de Mães de Crianças com PEA do Distrito de Braga UMinho|2016 Lara Rafaela Andrade Araújo

Lara Rafaela Andrade Araújo - repositorium.sdum.uminho.pt...de Apoio entre Pais como o possível apoio complementar que lhes traria uma nova motivação, melhores níveis de bem-estar,

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Universidade do MinhoInstituto de Educação

outubro de 2016

Grupos de Apoio entre Pais:Perspetivas de Mães de Criançascom PEA do Distrito de Braga

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Lara Rafaela Andrade Araújo

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Lara Rafaela Andrade Araújo

outubro de 2016

Grupos de Apoio entre Pais:Perspetivas de Mães de Criançascom PEA do Distrito de Braga

Universidade do MinhoInstituto de Educação

Trabalho realizado sob a orientação daDoutora Ana Paula da Silva Pereira

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Educação Especial

Área de Especialização em Intervenção Precoce

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DECLARAÇÃO

Nome: Lara Rafaela Andrade Araújo

Endereço Eletrónico: [email protected] Telefone: 938120399

Número do Cartão de Cidadão: 14184504

Título da Dissertação:

Grupos de Apoio entre Pais: Perspetivas de Mães de Crianças com PEA do Distrito de

Braga

Orientadora: Doutora Ana Paula da Silva Pereira

Ano de Conclusão: 2016

Designação do Mestrado:

Mestrado em Educação Especial – Área de Especialização em Intervenção Precoce

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS

PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO

INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, ___/___/_____

Assinatura: __________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A realização da presente dissertação testou os meus limites pessoais a nível

psicológico e profissional. Sem o suporte e orientação de quem me rodeia, expresso a

certeza de que me seria impossível ter concluído este trabalho. Assim, desdobro o meu

mais sincero Obrigada às seguintes pessoas:

A todos os docentes do Mestrado em Educação Especial – Intervenção Precoce,

que me transmitiram um conhecimento e sabedoria inspiradores, para que eu mesma,

como profissional, visse as minhas capacidades e funções numa perspetiva que me

motivou a querer ser e fazer mais e melhor.

À minha orientadora, professora Ana Paula da Silva Pereira, pelo

acompanhamento incansável, pela ajuda nunca negada e pela orientação e

esclarecimentos essenciais a uma elaboração lógica e pertinente do presente estudo.

À minha companheira académica, uma amiga para a vida que se revelou o maior

suporte nos últimos cinco anos, mas que se multiplicou por mil quando mais precisei. A

Beatriz foi quem ouviu todos os meus desabafos, quem leu todos os capítulos e teceu

comentários imparciais, quem nunca me deixou perder o foco ao objetivo a que me tinha

proposto e quem sempre me fez acreditar que era possível.

Ao Bártolo, que entre leituras de artigos e consequente redação de textos nunca

me deixou esquecer de sorrir, de descontrair e de ter um equilíbrio. Foi também ele que,

quando esse equilíbrio me parecia fugir, me segurou a mim e a tudo o que me rodeava,

para que nada pudesse correr mal. O pilar que não falhou nem deixou que nada falhasse,

a minha pessoa, o motivo de eu nunca me sentir desamparada.

Ao avô Alexandre, que partiu pouco antes de eu lhe poder mostrar o que consegui

elaborar. A ele, que me transmitiu os maiores valores que ainda hoje fazem parte da minha

essência, e por ele, que via na Educação a maior das riquezas familiares.

Às mães que aceitaram colaborar na minha investigação e que se mostraram

disponíveis para qualquer ajuda que eu pudesse precisar. Sem elas, de facto, nada teria

sido possível.

Aos meus pais, por sempre me disporem os degraus que me fizeram subir, crescer

e evoluir até aqui. Por toda a paciência, ajuda, preocupação e compreensão. Por me

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fazerem ter mais noção da realidade e por me ensinarem que as oportunidades têm que

ser agarradas. É a eles que devo todo o meu percurso académico e é por eles que dei o

meu melhor todos os dias.

E por fim, mas não menos importante, a toda a restante família: às tias que me são

segundas mães e às primas e primos que me parecem irmãs e irmãos. São, sem dúvida, o

maior tesouro que tenho na vida.

A todos eles estarei eternamente grata,

Lara Araújo

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RESUMO

Os pais de crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) enfrentam

níveis de stress e cansaço bastante elevados devido às situações que surgem no dia-a-dia,

provenientes das exigências nos cuidados de saúde dos filhos, da falta de compreensão

ou julgamento da sociedade e das situações inesperadas que a criança lhes proporciona.

Seria, assim, oportuno compreender as perspetivas de mães de crianças com PEA

sobre a importância, benefícios e dinâmicas de funcionamento dos Grupos de Apoio entre

Pais.

Posto isto, os objetivos do presente estudo passam por conhecer, compreender e

explorar: 1) as perspetivas de mães de crianças com PEA acerca da importância dos

Grupos de Apoio entre Pais; 2) a perspetiva de mães de crianças com PEA acerca das

dinâmicas de funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais; e 3) a perspetiva de mães

de crianças com PEA acerca dos possíveis benefícios que os Grupos de Apoio entre Pais

lhes poderiam proporcionar.

A metodologia em vigor define-se pela natureza qualitativa, onde foram realizadas

entrevistas semiestruturadas a 4 mães de crianças com PEA, de idades compreendidas

entre os 2 e os 6 anos, residentes no distrito de Braga.

Através dos dados recolhidos é possível concluir que as famílias vêem os Grupos

de Apoio entre Pais como o possível apoio complementar que lhes traria uma nova

motivação, melhores níveis de bem-estar, menores níveis de stress, maior capacidade de

lidar com as diferentes situações do dia-a-dia, mais e melhor informação sobre os direitos

da criança, e, também, menores níveis de tristeza, solidão, e insegurança.

Quanto à criação deste tipo de grupos, apurou-se que as Instituições Locais seriam

quem teria um papel essencial nesta ação, uma vez que conseguem chegar a mais pais e

apresentar uma organização de agenda mais coerente.

Palavras-Chave: Perturbação do Espetro do Autismo; Família; Intervenção

Precoce; Grupos de Apoio entre Pais.

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ABSTRACT

Parents of children with Autism Spectrum Disorder (ASD) face high levels of

stress and tiredness due to the situation that arise in their routines. It happens because of

the health care requirements of their children, the lack of understanding and the bad

judgments by the society and also because of the unexpected situations that their child

gives them.

Therefore, it would be appropriated to understand what are the mothers’

perspectives about the importance, benefits and dynamics of Parent Support Groups.

So, this study’s main objectives are to know, understand and explore: 1) the

perspectives of mothers of children with ASD about the importance of Parent Support

Groups; 2) the perspective of mothers of children with ASD about the dynamics of Parent

Support Groups; and 3) the perspectives of mothers of children with ASD about the

potential benefits of participation in Parent Support Groups.

The present research comprises the qualitative interview method, by conducting

semi-structured interviews to 4 mothers of children with ASD, with ages between 2 and

6 years old, who live in Braga.

Using the collected data it is possible to conclude that families see the Parents

Support groups as a possible additional support that would bring them a new motivation,

better levels of well-being, lower levels of stress, greater skills to deal with the different

day-by-day situations, more and better information about the rights of their child, and,

also, lower levels of sadness, loneliness and insecurity.

About the creation of this type of groups, it was found that the Local Institutions

would have the most essential role in this action, once they are able to reach a bigger

number of parents and submit a better and coherent schedule.

Keywords: Autism Spectrum Disorder; Family; Early Intervention; Parent Support

Groups.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11

Formulação do Problema ..................................................................................................... 12

Finalidade e Objetivos do Estudo ........................................................................................ 13

Importância do Estudo ......................................................................................................... 13

Organização da Dissertação ................................................................................................. 14

CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 17

A Perturbação do Espetro do Autismo ............................................................................... 17

Evolução Histórica, Definição e Diagnóstico .................................................................. 17

Etiologia e Prevalência ...................................................................................................... 26

Famílias de Crianças com PEA e Intervenção Precoce ..................................................... 28

Grupos de Apoio entre Pais de Crianças com PEA: Que evidências ............................ 34

CAPÍTULO II – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ................................................. 39

Metodologia Qualitativa ....................................................................................................... 39

Critérios de Confiança .......................................................................................................... 40

Desenho do Estudo ................................................................................................................ 42

Participantes ...................................................................................................................... 42

Instrumento de Recolha de Dados: Entrevista Semiestruturada .................................. 43

Análise de Dados ................................................................................................................... 46

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS DADOS ............................................................. 49

CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................. 65

Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais ................................... 65

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais .... 66

Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos de Apoio entre

Pais .......................................................................................................................................... 69

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................... 71

Limitações do Estudo e Recomendações ............................................................................. 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 79

ANEXOS .................................................................................................................................... 91

ANEXO A .................................................................................................................................. 93

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INTRODUÇÃO

A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) caracteriza-se por uma perturbação

no sistema nervoso central que apresenta défices ao nível da comunicação e da interação

social, atividades e comportamentos repetitivos, assim como disfunções sensoriais (Wing

et al., 2011).

Nas últimas décadas é possível verificar-se um aumento de diagnósticos desta

perturbação, tendo-se verificado, entre 2012 e 2014, um aumento de 30% nas respetivas

taxas de prevalência (Centers for Disease Control and Prevention, 2014; Fombonne,

2009). Estes números devem-se, segundo explica a literatura, às alterações efetuadas nos

critérios de diagnóstico, bem como nos métodos e instrumentos utilizados para tal, mas

também ao desenvolvimento do próprio conceito da PEA e a uma maior

consciencialização para a problemática em questão (Fombonne, 2009).

Com o aumento da prevalência da PEA surge a exigência de um serviço de

Intervenção Precoce melhor estruturado, procurando sempre proporcionar um

desenvolvimento o mais completo possível a estas crianças e um apoio mais coeso às suas

famílias. Nos dias de hoje, a Intervenção Precoce apresenta práticas centradas na família,

onde a família é vista como um elemento da equipa com a possibilidade de uma

colaboração ativa, onde se evidenciam os seus pontos fortes assim como se consideram

as suas preocupações e prioridades, procurando atender a tudo isso para que o bem-estar

e o funcionamento de toda a família sejam qualificados e efetivos (McWilliam, 2012).

Como Técnica Superior de Educação, penso que a necessidade de estabelecer um

equilíbrio psicológico na vida familiar, de modo a proporcionar a estes pais uma sensação

de compreensão mútua, uma ausência de preconceitos ou julgamentos infundados, um

realce das suas capacidades e informação para um dia-a-dia menos difícil se revelaria uma

mais-valia na vida destas famílias. Assim, a temática dos Grupos de Apoio entre Pais

surge como uma prática que poderia proporcionar aos pais o que acima mencionei.

O presente estudo procura, então, apurar as perspetivas das mães sobre tais grupos,

tentando entender até que ponto estes são necessários, úteis e significativos, percebendo

então como deveria ser o seu funcionamento e respetiva dinâmica, compreendendo

também o interesse existente por parte dos pais de crianças com PEA em participar neste

tipo de reuniões.

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Formulação do Problema

Balfour (2007) refere que a PEA é uma das perturbações que mais desafia e traz

dificuldades aos pais, o que se reflete nos vários aspetos da sua rotina diária. Como reflexo

das características clínicas desta perturbação, existe um grande nível de dependência da

criança em relação aos seus cuidadores, o que pode desde logo constituir um potencial

fator de stress no seio familiar (Fernandes, 2009). Tais características acabam por se

refletir no ambiente familiar, desorganizando-o e dificultando a sua adaptação e

superação das dificuldades e mudanças que vão surgindo. A família passa,

consequentemente, a definir as suas rotinas em função da criança, o que leva tais mães a

apresentarem níveis mais elevados de stress e problemas de saúde mental mais

acentuados, quando comparadas com mães da população em geral (Montes & Halterman,

2007; Ribeiro, 2012; Sprovieri & Jr, 2001).

Para além de tudo isto, na elaboração de planos de apoio a estas crianças, os

profissionais tendem a basear-se naquilo que acreditam ser as preocupações das famílias,

ficando as reais prioridades dos pais e as suas maiores carências por explorar (Murphy &

Tierney, 2005).

Posto isto, este estudo debruçar-se-á sobre as dinâmicas e benefícios que os grupos

de apoio entre pais de crianças com PEA poderão originar. Será que estes influenciam os

pais de crianças com PEA? Será que os seus níveis de stress e bem-estar melhoram com

este tipo de apoio?

Kerr e McIntosh (2000), assim como Preyde e Ardal (2003) e Singer, et al. (1999)

são citados por Clifford (2011) para afirmar que pesquisas com pais de crianças com

necessidades educativas especiais e problemas de saúde graves associados revelam que a

participação em grupos de apoio entre pais pode proporcionar uma sensação de pertença

e está associada a níveis de redução de stress. A autora cita também Smith, Gabard, Dale

e Drucker (1994) dizendo que os grupos de apoio são relativamente eficazes e que, neles,

a intervenção é facilmente implementada, dando às famílias os apoios que estas

necessitam.

O objetivo destes grupos não é, normalmente, provocar a mudança dos seus

participantes, assumindo como prioridade o desenvolvimento de relações entre os

mesmos, proporcionando assim a oportunidade de partilhar informações e recursos. Desta

forma, os participantes são encorajados a criar relações positivas de apoio uns com os

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outros, com ou sem a mediação ou ajuda de profissionais como psicólogos, assistentes

sociais, entre outros. A finalidade destes grupos passa pela introdução de modelos

positivos de cada membro, assim como a partilha de experiências e a compreensão mútua

que originam um sentimento de pertença e conforto (Clifford, 2011).

A temática dos grupos de apoio entre pais ainda é escassa em termos de

investigação, o que suscita a necessidade de uma investigação mais aprofundada nesta

área.

Finalidade e Objetivos do Estudo

Este estudo tem por finalidade compreender as perspetivas de mães de crianças

com PEA sobre a importância, benefícios e dinâmicas de funcionamento dos Grupos de

Apoio entre Pais.

Os objetivos da presente investigação passam por conhecer, compreender e

explorar as perspetivas de mães de crianças com PEA acerca 1) da importância dos

Grupos de Apoio entre Pais; 2) dos possíveis benefícios que os Grupos de Apoio entre

Pais lhes poderiam proporcionar; e 3) das dinâmicas de funcionamento dos Grupos de

Apoio entre Pais.

A informação obtida procurará contribuir para o apuramento da influência que

este tipo de grupos teria na vida das famílias de crianças com PEA.

Importância do Estudo

No domínio Social, este estudo tem relevância por permitir que os pais possam

lidar de uma forma mais positiva com as suas preocupações pelo facto de terem apoio de

outros pais que vivenciam uma situação similar à deles. Outro aspeto a valorizar tem a

ver com a partilha de saberes que resultam de vivências reais pelo facto de terem uma

criança com PEA, esta partilha centra-se na forma como os pais podem lidar com o

comportamento dos filhos. Outro aspeto relevante tem a ver com o desenvolvimento de

competências dos filhos, com a inclusão dos filhos nos contextos naturais e com a

inclusão da própria família.

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Na vertente científica, o facto ser um estudo inovador em Portugal permitir-nos-á

compreender a importância e a influência dos grupos de apoio entre pais nas famílias de

crianças com PEA, bem como potenciar a criação de novos grupos que respondam às

diferentes preocupações descritas por estas mães.

Pessoalmente, o facto de neste momento ter consciência que a influência dos pais

no desenvolvimento dos filhos é algo positivo e algo que se traduz em competências mais

ajustadas, mais direcionadas e mais concretizadas. Considero que, como profissional de

IP, poderia ter um papel importante na dinamização e criação destes grupos de apoio entre

pais de crianças com PEA.

Organização da Dissertação

O presente estudo é apresentado em quatro diferentes capítulos, todos eles

unidos por um seguimento lógico.

A Revisão da Literatura é o primeiro de quatro capítulos, onde é efetuado um

enquadramento teórico sobre as duas principais temáticas em evidência. O

enquadramento teórico divide-se, assim, em dois subcapítulos: a PEA – Evolução

Histórica, Definição, Diagnóstico, Etiologia e Prevalência – e Famílias de Crianças com

PEA e IP, onde também são abordados os Grupos de Apoio entre Pais de crianças com

PEA.

O segundo capítulo relata-nos a Metodologia de Investigação, onde emerge uma

descrição e argumentação da metodologia qualitativa, desdobrando-se nos seguintes

subcapítulos: a Metodologia de Investigação – onde fundamento a minha escolha pela

metodologia qualitativa; os Critérios de Confiança – descrevendo como procurei garantir

a validade e fiabilidade da minha investigação; o Desenho de Investigação: Participantes

– onde enumero e descrevo o processo de escolha, contacto e apresentação do estudo aos

participantes que nele estiveram dispostos a colaborar; os Instrumentos de recolha de

Dados: Entrevista Semiestruturada – onde descrevo todas as etapas necessárias à

realização de uma entrevista semiestruturada; e a Análise de Dados – onde percorro todos

os processos metodológicos utilizados neste tipo de investigação.

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O terceiro capítulo baseia-se na Apresentação dos Dados, onde são narrados todos

os dados obtidos através da entrevista semiestruturada, descrevendo a perspetiva de cada

uma das participantes deste estudo.

O quarto e último capítulo revela a Análise e Discussão dos Dados, onde é

elaborada uma interpretação dos dados anteriormente recolhidos, estabelecendo para cada

perspetiva das mães uma fundamentação ou contradição científica.

Após a realização dos quatro capítulos acima mencionados, elaborarei uma

conclusão a toda a investigação, onde terminarei a mencionar as limitações do estudo,

bem como as recomendações para futuras investigações.

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CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA

A Perturbação do Espetro do Autismo

Evolução Histórica, Definição e Diagnóstico

Tendo sido usado pela primeira vez em 1910, por Eugen Bleuler, como designação

de comportamentos analisados em doentes com esquizofrenia, o termo autismo –

proveniente do grego “autos”, que significa “o próprio” – somou ao longo o século XX

diferentes pontos de vista, evoluindo com o passar dos anos (Filipe, 2012).

Depois do artigo publicado em 1943 por Kanner, um psiquiatra austríaco que

retratou 11 casos de crianças com uma perturbação que denominou autismo infantil, foi

publicada uma tese de doutoramento intitulada “Psicopatia Autística na Infância”, em

1944, por um pediatra oriundo do mesmo país, de seu nome Hans Asperger (Perissonoto,

2003). Apesar de não terem conhecido o trabalho um do outro antes da sua publicação, o

trabalho de Bleuler pode ser o motivo de uma nomenclatura semelhante (Frith, 1991).

Décadas mais tarde, em 1979, Lorna Wing e Judith Gould concluíram, após

investigar a validade clínica do conceito de autismo, que as características descritas por

Kanner e Asperger integravam subgrupos de uma mesma perturbação que afeta a

interação social e a comunicação (Filipe, 2012).

Os principais sistemas internacionais de classificação usados no diagnóstico da

PEA são o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) da Associação

Americana de Psiquiatria (APA) e a International Classification of Diseases (ICD) da

Organização Mundial de Saúde (Araújo, 2014). Segundo estes sistemas de classificação,

a evolução do conceito de autismo está inevitavelmente relacionada com a evolução

histórica supramencionada (Tuchman & Rapin, 2009). Em 1980, o DSM-III integrou pela

primeira vez a categoria de diagnóstico específica, atribuindo ao autismo o grau de

perturbação do desenvolvimento (APA, 1980), dissociando o diagnóstico de

esquizofrenia a crianças que apresentavam características que se enquadravam na PEA.

Até 2013, baseando-nos no DSM-IV-TR (APA, 2002), as Perturbações Globais

do Desenvolvimento desdobravam-se em subtipos de perturbações que partilhavam

características semelhantes com o autismo, sendo elas a Perturbação Autística, o

Síndrome de Asperger, a Perturbação de Rett, a Perturbação Desintegrativa da Segunda

Infância e a Perturbação Global do Desenvolvimento sem outra Especificação. Esta

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edição do DSM-IV-TR diz-nos que a perturbação autistica é diferenciada das outras

perturbações pela severidade e pelo número de domínios afetados (APA, 2002) e que,

juntamente com as restantes perturbações do espetro do autismo, deve haver uma

distinção das demais perturbações desenvolvimentais, como por exemplo as perturbações

da linguagem ou as dificuldades intelectuais (Szatmari & Jones, 2007).

Em 2013, a publicação da quinta edição do DSM trouxe várias novidades

referentes aos critérios de diagnóstico da perturbação em questão. Estas alterações

devem-se à compreensão adquirida pela grande quantidade de estudos realizados aos

comportamentos que descrevem os indivíduos diagnosticados com PEA, à sua etiologia

e à fisiopatologia neurológica de tais manifestações comportamentais (Tuchman & Rapin,

2009).

A abordagem diagnóstica de PEA sofre diferenças consideráveis do DSM-IV-TR

para o DSM-5. Para além da alteração da designação, as diferentes características de

diagnóstico também desaparecem e são substituídas por uma única variação, tendo em

conta a gravidade da perturbação (nível 1, 2 e 3) (APA, 2013a). Tendo isto em conta, a

estratégia passou a ser definir especificadores em função da intervenção e apoio que a

pessoa precisa para a realização das atividades da vida diária (Reis, 2014).

Com a publicação do DSM-5 a perturbação de Rett é excluída do espetro e

reconhecida como uma entidade isolada (APA, 2013a). Segundo Ghaziuddin (2011),

Wing, Gould e Gillberg (2011), a junção dos défices de interação social e de comunicação

num só critério e o fim dos diagnósticos categoriais geraram alguma controvérsia, tendo

os defensores da antiga proposta argumentado que a síndrome de Asperger é uma

designação útil na clínica uma vez que estes indivíduos respondem a tipos de intervenções

diferentes das que podem ser utilizadas com as restantes perturbações dentro do espetro,

contudo, os estudos que visavam distinguir a síndrome de Asperger do autismo falharam,

sendo a primeira considerada uma forma menos grave de PEA (Ghaziuddin, 2010).

Assim, e segundo a última edição do DSM, a Perturbação do Espetro do Autismo

define-se como um conjunto complexo de perturbações do neurodesenvolvimento que

influenciam o comportamento ao nível do pensar, do agir, da linguagem e da capacidade

de se relacionar com os outros, sendo uma perturbação permanente com variações, de

indivíduo para indivíduo, de presença, severidade e combinação dos sintomas, havendo a

possibilidade de alterações ao longo do tempo (APA, 2013b).

Entende-se, então, a PEA como um distúrbio do desenvolvimento neurológico

com consequentes défices no desenvolvimento comunicativo e social, caracterizado

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também por padrões de comportamento estereotipado e interesses restritos (Amaral,

Shumann & Nordahl, 2008; Landa, 2007).

Esta perturbação faz-se sentir em vários aspetos de como a criança compreende o

mundo que a rodeia e de como esta aprende com as suas experiências. As crianças com

PEA não exprimem o desejo natural de contacto social e a atenção e reconhecimento dos

outros não é, igualmente, importante (Marques, 2000).

Filipe (2012) aborda também a questão das capacidades especiais ou invulgares

dos indivíduos com PEA, afirmando que uma em cada dez pessoas com a perturbação

possui capacidades invulgares, em grau variável, numa ou outra área. Este tipo de

capacidade está invariavelmente ligado à memória sensorial, onde alguns indivíduos

conseguem memorizar e reproduzir o detalhe. A memória fotográfica, as capacidades

excecionais de contagem ou de cálculo e o ouvido absoluto são alguns dos exemplos de

capacidades altamente imitativas e não criativas. A razão para tais habilidades poderá ser

o acesso privilegiado que estas pessoas têm ao material sensorial em bruto, não havendo

qualquer tipo de processamento sobre este.

A PEA não se trata de uma perturbação com origem, limites e evolução bem

definidos, esclarece Siegel (2008), que acrescenta que as crianças com PEA não têm que

apresentar obrigatoriamente todas as particularidades da perturbação, o que faz com que

estas possam ser bastante distintas, mesmo com o mesmo diagnóstico.

Como nos evidencia o DSM-5, a PEA é classificada baseando-se nos défices da

comunicação social e nos interesses e atividades restritos e repetitivos, tendo o atraso de

desenvolvimento da linguagem deixado de ser mencionado como critério de diagnóstico.

Para realizar o diagnóstico da perturbação, é essencial conhecer bem os critérios

formais de diagnóstico, assim como reconhecer padrões de comportamento que fazem

parte da PEA e compreender a forma e a função dos comportamentos da criança (Araújo,

2014).

O diagnóstico de PEA é comportamental, realizado através da observação das

características associadas à perturbação e consolidado em entrevistas, não requerendo

quaisquer exames laboratoriais (Filipe, 2012).

No Quadro 1 estão presentes os critérios de diagnóstico da PEA, tendo por

referência o DSM-5.

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Quadro 1

Critérios de Diagnóstico das Perturbações do Espetro do Autismo apresentados no DSM

5 (Autism Speaks, 2014; Carpenter, 2013)

A. Défices persistentes na comunicação social e interação social nos diferentes contextos,

apresentando os três sintomas (A1, A2 e A3):

A1. Défices na reciprocidade emocional

Interação social anormal

Insucesso no estabelecimento de uma conversa

Partilha reduzida de interesses

Partilha reduzida de emoções e afeto

Falta de iniciativa para a interação social

Imitação social pobre

A2. Défices na comunicação não-verbal usada na interação social

Dificuldade no uso social do contacto ocular

Dificuldade no uso e compreensão da linguagem corporal

Dificuldade no uso e compreensão de gestos

Discurso com um volume, timbre, entoação, débito e ritmo anormais

Dificuldades no uso e compreensão do afeto

Falta de coordenação entre comunicação verbal e não-verbal

Falta de coordenação na comunicação não-verbal

A3. Défices no desenvolvimento e manutenção de relacionamentos apropriados ao nível de

desenvolvimento da criança

Défices no desenvolvimento e manutenção de relacionamentos apropriados ao nível de

desenvolvimento

Dificuldade no ajustamento do comportamento a diferentes contextos sociais

Dificuldades na partilha de jogo imaginativo

Dificuldades em fazer amigos

Ausência de interesse pelos outros

B. Padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos, manifestando

pelo menos dois dos quatro sintomas (B1, B2, B3 ou B4):

B1. Discurso, movimentos ou uso de objetos estereotipado e repetitivo

Discurso repetitivo ou estereotipado

Movimentos repetitivos ou estereotipados

Uso de objetos repetitivo ou estereotipado

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Quadro 1

Critérios de Diagnóstico das Perturbações do Espetro do Autismo apresentados no

DSM 5 (Autism Speaks, 2014; Carpenter, 2013) (continuação)

B2. Adesão excessiva a rotinas, padrões ritualizados de comportamentos verbais e não-verbais,

ou resistência excessiva a mudança

Adesão à rotina

Padrões ritualizados de comportamentos verbais e não-verbais

Resistência excessiva à mudança

Pensamento rígido

B3. Interesses altamente restritos e fixos, que são anormais na intensidade ou foco

Preocupações, obsessões

Interesses anormais na intensidade

Leque restrito de interesses

Foco em poucos e nos mesmos objetivos, tópicos ou atividades

B4. Hiper ou hiporeatividade a input sensorial ou interesse invulgar por aspetos sensoriais do

ambiente

Grande tolerância à dor

Espetar os dedos nos olhos

Exploração ou atividade visual invulgar

Respostas estranhas ao input sensorial e/ou foco persistente e/ou atípico a input sensorial

Exploração sensorial invulgar de objetos

C. Os sintomas devem estar presentes no início da infância (podem não se manifestar todos

até que as exigências sociais excedam as capacidades limitadas das crianças)

D. Os sintomas em conjunto limitam e prejudicam o funcionamento do dia-a-dia

A apreensão e a interpretação dos comportamentos poderá influenciar o processo

de elaboração do diagnóstico realizado pelo observador que avalia (Schmidt, 2012). Este

autor refere que o diagnóstico com a DSM-IV parecia não detetar a variabilidade de

sintomas únicos em cada situação, surgindo também no DSM-5 os aspetos sensoriais até

então desvalorizados. Wing et al. (2011) enfatizaram os aspetos sensoriais ao se

aperceberem que os indivíduos com PEA poderão patentear disfunções ao nível sensorial,

seja por uma sensibilidade reduzida ou por uma sensibilidade extrema.

O diagnóstico de PEA tem, segundo o DSM-5, comorbilidade com outras

perturbações como o défice de atenção e hiperatividade e as perturbações da linguagem

(Autism Speaks, 2014), e implica a presença de alterações nos défices da comunicação

social e nos padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos,

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atribuindo um nível de severidade a cada um dos domínios mencionados, como nos

mostra o Quadro 2 (APA, 2013a, 2013b).

Quadro 2

Níveis de Severidade da PEA, segundo a DSM-5 (Autism Speaks, 2014; Carpenter, 2013)

Nível de Severidade

de PEA Comunicação Social

Interesses Restritos e

Comportamentos Repetitivos

(IRCR)

Nível 3: requer

apoio muito

substancial

Os défices severos nas competências

de comunicação social verbal e não-

verbal causam dificuldades severas

no funcionamento; iniciativa para a

interação social muito limitada e

resposta mínima às interferências dos

outros

Preocupações, rituais fixos e/ou

comportamentos repetitivos

interferem marcadamente com o

funcionamento a todos os níveis;

presença de angústia marcada quando

os rituais ou rotinas são

interrompidos; muita dificuldade no

redirecionar do interesse em que a

criança se encontra focada ou volta

para este rapidamente

Nível 2: requer

apoio substancial

Défices marcados nas competências

de comunicação social verbal e não-

verbal; dificuldades sociais evidentes

mesmo com apoio; iniciativa limitada

para a interação social e resposta

reduzida ou anormal às interferências

dos outros

OS IRCR e/ou preocupações ou

interesses fixos são óbvios para o

observador e interferem com o

funcionamento numa variedade de

contextos; a angústia ou frustração

são evidentes quando os IRCR são

interrompidos; dificuldade no

redirecionar do interesse em que a

criança se encontra focada

Nível 1: requer

apoio

Sem apoios, os défices na

comunicação social originam

dificuldades; a criança tem

dificuldade em iniciar interações

sociais e demonstra exemplos claros

de respostas atípicas ou sem sucesso

às interferências dos outros; a criança

parece ter um interesse diminuído

pelas interações sociais

Os IRCR causam uma interferência

significativa com o funcionamento

em um ou mais contextos; a criança

resiste às tentativas dos outros para

interromper os IRCR ou em ser

redirecionada do interesse em que a

criança se encontra focada

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O nível de severidade da PEA não é obrigatoriamente definitivo, podendo haver

uma alteração conforme o desenvolvimento da criança (APA, 2013a).

Apesar de todo o conhecimento científico que os inúmeros estudos e investigações

nos trouxeram, não é ainda considerado possível prevenir a PEA, porém, sabe-se que um

diagnóstico precoce e uma consequente intervenção poderão fazer com que os resultados

funcionais da criança sejam mais positivos (Trevathan & Shinnar, 2006). A literatura tem,

por estes motivos, trabalhado no sentido de se conseguir identificar o mais cedo possível

as características referentes à PEA (Volkmar et al., 2004), tendo o diagnóstico um papel

fulcral na vida da criança e respetiva família (Siegel, 2008).

Os primeiros sinais de PEA circundam frequentemente os padrões de brincadeira

atípica, a falta de interesse social e/ou as interações sociais incomuns, o atraso no

desenvolvimento da linguagem e as formas pouco comuns de comunicação (APA,

2013a).

A PEA pode ser diagnosticada com precisão entre os dois e os três anos, sendo

viável a identificação de comportamentos restritos e repetitivos e dificuldades nas áreas

da comunicação e interação social (Araújo, 2014). Um estudo realizado por Lord (1995)

mostra-nos que as crianças diagnosticadas com a perturbação aos dois anos mantiveram

o diagnóstico aos três anos de idade. Moore e Goodson (2003) verificaram que as crianças

com um diagnóstico de PEA efetuado aos dois anos de idade o mantinham quando

atingiam os quatro e cinco anos. Eaves e Ho (2004) aprofundaram o assunto e

confirmaram que 88% das crianças foram corretamente diagnosticadas com PEA aos dois

anos, sendo que as crianças com níveis de severidade mais elevados são, de facto,

identificadas de forma mais confiável.

No entanto, os pais de crianças com PEA começam a aperceber-se de

determinadas características que os preocupam por volta dos 12-18 meses de idade (Reis,

2014). Desta forma, a American Academy of Pediatrics e outros grupos publicaram

recentemente linhas orientadoras acerca da prática clínica para identificação precoce,

despiste e diagnóstico das PEA, no sentido de solucionar o intervalo de tempo entre as

preocupações iniciais sentidas pelos pais e a confirmação do diagnóstico. Contudo, são

vários os desafios no que se refere à aplicação dos atuais parâmetros de diagnóstico da

PEA em crianças com menos de 24 meses de idade. Para ultrapassar estes desafios e

desenvolver um trabalho de diagnóstico precoce é necessário que haja uma noção clara

sobre quais são os sinais precoces das PEA; se é possível que as PEA sejam detetadas

antes dos 24 meses por parte dos agentes de cuidados de saúde primários; quais as

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melhores práticas para uma avaliação diagnóstica antes dos 2 anos; quais os riscos

existentes ao atribuir um diagnóstico de PEA a este grupo etário e quais as intervenções

que podem ser prestadas à criança com idade inferior a 2 anos onde existe a suspeita ou

diagnóstico de PEA (Zwaigenbaum et al., 2009).

Nos Estados Unidos é recomendado, por parte da American Academy of

Pediatrics, que se realize um despiste nas consultas de saúde regulares de todas as

crianças com idades entre os 18 e os 24 meses. Para esse processo são utilizadas a

Checklist for Autism in Toddlers (CHAT) ou a Modified Checklist for Autism in Toddlers

(M-CHAT). Apesar dos avanços significativos nas competências de deteção de sinais

precoces de PEA, a avaliação diagnóstica nesta faixa etária continua a ser desafiante.

Deve, por isso, haver uma orientação a seguir. O quadro 3 mostra-nos os sinais precoces

de autismo.

Quadro 3

Sinais Precoces de Autismo (Adaptado de Zwaigenbaum et al., 2009)

Comunicação Social – Falha ou apresenta características atípicas:

Contacto ocular e atenção conjunta

Regulação e afeto (afeto mais negativo e menos positivo)

Sorriso social/recíproco

Interesse social e partilha de prazer

Orientação ao chamamento do nome

Desenvolvimento de gestos

Coordenação de diferentes modos de comunicação

(contacto ocular; expressão facial; gestos; vocalizações)

Jogo – Apresenta:

Imitação reduzida de ações com objetos

Manipulação excessiva e/ou exploração visual de brinquedos ou outros objetos

Ações repetitivas com determinados brinquedos ou objetos

Linguagem e Cognição – Falha ou apresenta atraso ou características atípicas

Desenvolvimento cognitivo

Reciprocidade comunicativa

Linguagem compreensiva e expressiva

Prosódia inusual

Regressão/Perda das primeiras palavras e/ou social-emocional

Envolvimento pobre e/ou difícil

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Quadro 3

Sinais Precoces de Autismo (Adaptado de Zwaigenbaum et al., 2009) (continuação)

Sensorial Visual ou outro

Fixação visual ou observação inusual para objetos

Hiporeativo e/ou Hiperreativo aos sons ou outras modalidades sensoriais

Atraso na motricidade global e fina

Comportamentos motores repetitivos e maneirismos motores ou posturais atípicos

Atipicidade nas funções regulatórias relacionadas com o sono, alimentação e atenção

O processo de diagnóstico deve ser conduzido por uma equipa de profissionais

especializados na PEA, sendo as informações obtidas por uma observação padronizada

com tarefas predeterminadas e classificações. Deve ser, também, feita uma observação

organizada dos comportamentos sociais, das capacidades de jogo, dos interesses e da

comunicação. Outro dos métodos que visa obter informação é a avaliação estandardizada

das capacidades cognitivas da criança, bem como a sua linguagem e adaptação às

atividades do dia-a-dia. É fundamental a descrição dos pais acerca de todos os parâmetros

até aqui mencionados, sendo o processo de diagnóstico concluído com uma análise e

discussão em equipa, onde se analisam e discutem os resultados obtidos (Zwaigenbaum

et al., 2009).

Wing et al. (2011) alertam para a possível relação dos novos critérios de

diagnóstico com a alteração das taxas de prevalência, pondo em causa diagnósticos

realizados outrora com base nos critérios da DSM-IV. No entanto, a APA (2013b)

argumenta que foram realizados estudos que se basearam na aplicação real dos critérios

do novo manual e os resultados mostram que a maioria das crianças manteve o

diagnóstico. Para reforçar, um estudo de Huerta et al. (2012) concluiu que 91% das

crianças diagnosticadas com o DSM-IV-TR, também o foram com o DSM-5.

Também Kent et al. (2013) apontam que até aos dias de hoje, os estudos realizados

com base nos novos critérios de diagnóstico divulgaram incoerências no que diz respeito

às especificidades e sensibilidade. Porém, uma investigação levada a cabo por estes

mesmos autores conclui que os bons níveis de sensibilidade e especificidade podem, de

facto, ser conseguidos quando se recorre aos critérios da DSM-5.

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Etiologia e Prevalência

Apesar de ser uma área de grande enfoque na investigação científica, a etiologia

da PEA ainda não é precisa, não sendo possível enumerar os fatores que estão na origem

desta perturbação (Balfour, 2007).

Depois de muitos anos sem se atribuir importância à possibilidade de a etiologia

da PEA apresentar uma componente genética, dois fatores vieram mudar essa perspetiva:

o resultado de alguns estudos na área evidenciaram a associação do PEA aos transtornos

genéticos específicos (como o síndrome X-frágil, por exemplo) e a descoberta de uma

prevalência significativamente maior nos irmãos de crianças com PEA, quando

comparados à restante população (Cuxart, 2000).

Estudos recentes apontam para uma etiologia multifatorial, com uma forte

componente genética e ambiental (Kaufman, 2012), sendo o risco de PEA, como já foi

referido, mais elevado quando na família já existem membros com esta perturbação

(APA, 2013b).

Os estudos realizados no âmbito da biologia revelam, cada vez mais, indícios de

que esta perturbação surge por consequência de anomalias, que ocorrem durante a

gravidez, na estrutura e funcionamento neurológico, devido a um fator externo ou

genético (Filipe, 2012).

Já os estudos na área da neuropatologia evidenciam as alterações no volume das

áreas cerebrais nas pessoas com PEA, detalhadamente: cerebelo, lobos frontais e

amígdala (Amaral et al., 2008). Herbert et al. (2005) mencionam uma inversão da

assimetria neurológica normal entre o hemisfério esquerdo e direito, para as áreas

corticais referentes à linguagem.

Outro elemento de investigação significativo têm sido as alterações metabólicas

nos indivíduos com PEA, mais propriamente no que se refere aos transmissores

sinápticos. Geralmente, a maioria das sinapses depende de substâncias químicas como os

aminoácidos (Araújo, 2014), contudo, estudos realizados mostram que uma grande

percentagem de pessoas com PEA apresenta alterações no metabolismo de aminoácidos,

nomeadamente a serotonina – associada ao crescimento cerebral e às alterações de

comportamento, e o glutamato – relacionado com o desenvolvimento da plasticidade

neuronal (Tuchman & Rapin, 2009).

Para além dos factos científicos existem, numa abordagem psicológica da

perturbação, várias teorias no sentido de justificar a PEA. Frith, Leslie e Cohen

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apresentaram, na década de 80, a Teoria da Mente, onde afirmam que os indivíduos com

PEA não são capazes de decifrar a mente do outro, possuindo um funcionamento mental

que se distingue do que é considerado típico.

Entre os dois e os cinco anos de idade desenvolvemos a capacidade de

compreender estados mentais, pensamentos, atitudes e desejos de outros indivíduos. Sem

tal compreensão dos diferentes estados mentais não é possível a formulação de uma noção

que vise a melhor forma para intervir nos pensamentos ou sentimentos dos outros, o que

significa que a criança com PEA não possui a consciência de agradar nem motivação para

tal, não apresentando também a intenção de comunicar (Araújo, 2014; Frith, 2001;

Jordan, 2000).

Após formular a Teoria da Mente, Frith apresenta a Teoria da Coerência Central,

onde defende que a maior problemática da PEA tinha origem no mecanismo de coerência

central. Frith (2004) explica que os indivíduos com PEA apresentam boas competências

na distinção de uma grande variedade de objetos que fazem parte da sua rotina diária, mas

que, no estabelecimento de relações e seleções entre esses mesmos objetos, estes

apresentam dificuldade.

A terceira teoria a destacar-se foi a Teoria das Funções Executivas (Ozonoff &

Mc Evoy, 1994), onde é defendida a ideia de que as pessoas com esta perturbação

demonstram possuir um défice nas funções de planificação, flexibilidade, memória e

formulação de resposta, estando todas estas funções relacionadas com o córtex pré-

frontal. Esta teoria sugere-nos ainda uma falha na capacidade de inibir estímulos do

ambiente e no acesso à planificação interna, provocando também falhas no evitamento de

respostas incorretas e da perseveração do erro (Araújo, 2014).

Apesar das diferentes teorias apresentadas, nenhum destes autores exclui a Teoria

da Mente como explicação para o funcionamento cognitivo dos indivíduos com PEA.

Para além disso, estudos recentes sobre o funcionamento neurológico reforçam esta

Teoria demonstrando que o sulco superior temporal, a junção temporo-parietal, o córtex

pré-frontal medial e os lobos temporais são áreas cerebrais ativadas no processo de leitura

de estados mentais, sendo que as crianças com PEA demonstram uma função menos ativa

e menos interconectada nestas zonas neurológicas (Frith, 2001, 2004).

Relativamente aos níveis de prevalência da PEA, Sigman e Capps (2000)

explicam que tais registos variam consoante a definição e os critérios de diagnóstico que

foram considerados, havendo uma oscilação de quatro a dez crianças por cada 10 000

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nascimentos nos diferentes estudos realizados na Europa, no Japão, nos Estados Unidos

e no Canadá.

A associação Autism Europe (2008) demonstra haver na Europa uma estimativa

de uma em cento e cinquenta crianças e, segundo a APA (2013b), o sexo masculino é três

a quatro vezes mais afetado pela perturbação – nos rapazes a prevalência é de um em cada

quarenta e dois, já nas raparigas os números mudam para uma em cada cento e oitenta e

nove (MMWR, 2014), situação também verificada no estudo de Nygren et al. (2012),

onde os níveis de prevalência nos rapazes é de 0,64% e nas raparigas os valores descem

para 0,16%.

O Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR, 2014) do Center for Disease

Control and Prevention (EUA) estimou mais recentemente – 2010 – que a prevalência da

PEA seria de uma em cada sessenta e oito crianças, relativamente à faixa etária dos oito

aos de idade.

Já em Portugal, Oliveira et al. (2007) realizou um trabalho de investigação que

mostrou que a prevalência da PEA no nosso país, naquele preciso ano, se situava nas 9,2

por cada 10 000 crianças. Um outro estudo realizado mais recentemente em Portugal –

2011 e 2012 – em crianças e jovens com idades compreendidas entre os zero e os vinte e

cinco anos, aferiu uma prevalência de 15.3 crianças/jovens em cada 10 000 (FPDA,

2014). Relativamente às diferenças de prevalência mediante o sexo, Oliveira et al. (2007)

afirmam que no nosso país recai em dobro no sexo masculino.

O aumento da prevalência da PEA nos últimos anos poderá ser justificado por

uma maior consciencialização acerca da perturbação por parte das equipas médicas e da

sociedade em geral, desencadeando assim na realização de um maior número de

diagnósticos e na existência de profissionais melhor preparados para efetuar a função de

despiste (Oliveira et al., 2007; Taylor, 2006). Para Nygren et al. (2012), o

aperfeiçoamento nos processos de diagnóstico e avaliação precoces da perturbação

podem estar também na origem do aumento das taxas de prevalência.

Famílias de Crianças com PEA e Intervenção Precoce

A investigação na área da PEA ultrapassou a barreira da problemática isolada,

tendo dirigido a sua atenção para a necessidade de uma intervenção precoce, procurando

cada vez mais realçar a importância das famílias em todo o processo de desenvolvimento

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da criança com PEA, bem como esclarecer o impacto da perturbação no seio familiar de

quem recebe o diagnóstico.

Sabendo as implicações que a PEA tem nas áreas da socialização, comunicação e

cognição, e as alterações severas e precoces que decorrem desta condição, torna-se

primordial não ignorar o seu impacto nas famílias (Fernandes, 2009).

Grande parte dos estudos revela uma relação considerável entre a PEA e o estado

de saúde dos pais, tanto física como psicologicamente, sendo notórios os níveis de

depressão, dor, ansiedade, medo, culpa e raiva (Magalhães, 2014).

Clifford e Minnes (2013) vêm sublinhar esta ideia, afirmando que os pais de

crianças com perturbações do desenvolvimento enfrentam desafios particulares

relacionados com o comportamento dos filhos e níveis de stress e problemas de saúde

ainda mais elevados. Como reflexo das características clínicas desta síndrome, existe um

grande nível de dependência da criança com PEA pelos seus cuidadores, o que pode desde

logo constituir um potencial fator de stress no seio familiar (Fernandes, 2009). Tais

características acabam por se refletir no ambiente familiar, desorganizando-o e

dificultando a sua adaptação e superação das dificuldades e mudanças que vão surgindo.

A família passa, consequentemente, a definir as suas rotinas em função da criança, onde

os padrões e hábitos familiares se tornam mais rígidos e organizados (Sprovieri & Jr,

2001).

Dabrowska e Pisula (2010) enumeram os diferentes fatores que se revelam fonte

de stress familiar, sendo que em comum todos apresentam uma diversidade de

preocupações associadas à vivência e aos cuidados intrínsecos da criança com PEA:

Comportamento inapropriado e imprevisível por parte da criança;

Relacionamento social e problemas de relação entre a criança com PEA e

respetivos pais;

Processo de diagnóstico;

Ausência de conhecimentos e informação sobre PEA;

Sobrecarga com os cuidados que a criança exige;

Preocupações acerca do futuro e educação da criança;

Carência de recursos variados e de apoio social;

Processo de procura de recursos e apoios variados;

Pouca aceitação da criança pela família alargada e comunidade;

Necessidades não atendidas.

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É nos primeiros meses de vida da criança que os pais começam a aperceber-se das

suas dificuldades nas várias áreas do desenvolvimento, surgindo sentimentos de angústia.

Só mais tarde, quando algumas características se tornam mais evidentes, é que os pais

procuram ajuda junto de profissionais, sendo o diagnóstico um processo demorado e

gerador de ansiedade (Pereira, 2010). Bosa (2006) refere que a fase do diagnóstico se

constitui como a fase em que os pais da criança com PEA demonstram mais sentimentos

de tristeza, frustração, medo e angústia, gerados pelas preocupações referentes aos

sintomas e processo de diagnóstico da PEA, bem como com o futuro da criança. Mais

ainda, a mesma autora afirma que, segundo estudos na área, elementos de famílias de

crianças com PEA apresentam níveis de stress mais elevados quando comparados a

famílias com crianças com desenvolvimento típico.

Para além dos cuidadores, também os irmãos devem ser tomados em conta ao

longo de todo este processo. As expectativas e atitudes tomadas pelos pais têm impacto

nos irmãos, levando a que estes se possam sentir excluídos ou ignorados, desenvolvendo

sentimentos de frustração e baixa autoestima (Bosa, 2006). Gupta e Sighal (2005) apoiam

a ideia de Bosa explicando que a relação dos pais com os irmãos da criança com PEA

pode vir a ser comprometida, devido ao tempo, atenção e cuidados que o filho com PEA

requer.

As características da PEA limitam significativamente as interações entre a criança

e os seus familiares bem como as relações entre os mesmos. A ausência de mutualidade

e de envolvimento emocional demonstrados pela criança, juntamente com as dificuldades

da família em dar respostas e conforto à mesma culminam num menor sentimento de

competência e parentalidade por parte dos pais (Magalhães, 2014).

São inúmeros os fatores que influenciam a forma como as famílias se adaptam às

exigências acrescidas de ter um filho com PEA, de tal modo que cada família deve ser

vista de forma singular e única, com pontos fortes e onde as suas especificidades

condicionam a forma como todo este processo irá decorrer (Pereira, 2010).

O diagnóstico de PEA significa, para a maioria das famílias que o recebem, o

começo de uma procura de serviços de apoios mais específicos, sendo a orientação dos

profissionais essencial para a família (Siegel, 2008).

Atualmente, já existe um grande consenso acerca da Intervenção Precoce, sendo

vista como uma área que se foca nos sistemas familiares e que tem como objetivo a

melhoria das condições socioemocionais das famílias, fortalecendo competências e

recursos, e dirigindo-se a crianças com necessidades educativas especiais ou em risco de

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atraso grave do desenvolvimento e que se situem numa faixa etária entre os 0 e os 6 anos

(Dunst, 2014).

O National Research Council (Reis, 2014) apresenta seis recomendações que

visam o sucesso dos programas de Intervenção Precoce em crianças com PEA:

1. A partir do momento em que surge a suspeita de que a criança tem PEA, a

intervenção deve começar o mais rápido possível;

2. Tendo sempre em consideração o nível de desenvolvimento e a idade da

criança com PEA, a intervenção deve incluir o envolvimento ativo da mesma

em todas as sessões realizadas para que os profissionais atinjam os objetivos

previamente propostos;

3. Toda a intervenção deve focar-se nos objetivos individuais da criança com

PEA, objetivos esses delineados previamente em conjunto com a respetiva

família;

4. A intervenção deve incluir a família, envolvendo o desenvolvimento das suas

capacidades em lidar com a criança com PEA;

5. Devem ser feitas avaliações regulares ao programa desenvolvido pelos

profissionais e família, para que o desenvolvimento da criança com PEA seja

também avaliado com regularidade e o respetivo programa seja reajustado

sempre que necessário;

6. As intervenções devem apresentar oportunidades inclusivas e o

desenvolvimento da criança com PEA deve ser potenciado, preferencialmente

nos contextos naturais através de interações inatas que ocorrem com as demais

crianças com desenvolvimento típico.

A intervenção precoce define-se assim como uma medida de apoio integrado,

onde a criança e a família estão no centro de todo o processo, estabelecendo objetivos de

prevenção e reabilitação e criando todas as condições necessárias para estimular e

potenciar o desenvolvimento da criança, bem como melhorar as relações e interações

familiares e reforçar as suas competências (Pereira, 2010).

Através dos programas de intervenção precoce a família consegue adaptar-se

melhor à criança, adquirindo mais capacidades para a apoiar e obtendo mais informações

– e mais adequadas – acerca dos serviços de apoio disponíveis (Sprovieri & Jr, 2001).

Os primeiros anos de vida, e as interações que ocorrem entre a criança e o meio

envolvente durante esse período de tempo, são fundamentais para o seu desenvolvimento

global, ressaltando-se assim a contribuição da intervenção precoce para o

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desenvolvimento de competências da criança e da família. Demonstra-se assim essencial

que o processo se inicie o mais precocemente possível, uma vez que o potencial de

desenvolvimento da criança é fortemente influenciado pelo período da intervenção

(Guralnick, 2010, 2015).

Também assim, com uma intervenção o mais precoce possível, os pais adquirem

maior auto estima e confiança nas suas capacidades para lidarem com a problemática em

causa. Neste sentido, a intervenção precoce defende que as famílias devem assumir um

papel ativo, adquirindo competências para intervirem positivamente na educação e

desenvolvimento dos seus filhos, uma vez que são as famílias o elemento com maior

influência no desenvolvimento da criança (Dunst, 2007).

A intervenção precoce nas crianças com PEA, tal como referido até aqui, deve

contemplar a participação da família, com um papel ativo e decisório em todo o programa,

proporcionar todos os recursos, serviços e competências necessárias e conseguir, assim,

uma maior capacitação e motivação para o processo futuro e atenuação de todo o stress

familiar. É primordial tentar compreender a dinâmica familiar adotada perante a PEA,

uma vez que a perturbação acarreta consigo alterações nas interações familiares e nas

próprias rotinas (Lampreia, 2007).

Considera-se, desta forma, o apoio aos pais um pilar fundamental da intervenção

precoce, visando sempre fortalecer as capacidades das famílias para se tornarem

competentes e desenvolverem estratégias para lidarem com a criança.

Para além dos aspetos agora referidos, estes programas de intervenção devem

ainda considerar os fatores de stress existentes no seio familiar e o seu impacto na criança

com PEA. Os já mencionados sofrimento familiar, alteração de horários, rotinas, recursos

e apoios, gastos financeiros, serviços terapêuticos e respetiva conciliação de horários

podem afetar a forma como os pais lidam com a criança e, consequentemente, causar

efeitos negativos nas relações entre os vários membros da família e desencadear um

desequilíbrio afetivo e uma tendência, por parte da criança, para o isolamento, afetando

assim as suas experiências e interação com o meio envolvente (Lampreia, 2007).

Ainda assim, continua a mostrar-se fundamental a identificação e intervenção

precoce nestes casos, tendo sempre como pilar a família – e suas características e

especificidades - e não apenas a criança com PEA e a sua problemática. A partir do

momento em que os pais passaram a ter um maior envolvimento nos processos de

intervenção precoce, esta intervenção passa a apresentar resultados mais positivos e

eficazes (Bosa, 2006).

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Balfour (2007) defende que para reduzir a ansiedade e o stress sentido pelas

famílias de crianças com PEA é necessário o levantamento das preocupações do sistema

familiar em busca da implementação de respostas atempadas para a criança e sua família.

Em Portugal, o Decreto-Lei nº 281/2009 de 6 de Outubro regulamentou a

Intervenção Precoce através da criação do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na

Infância, sistema este resultante de uma parceria entre os Ministérios do Trabalho e da

Solidariedade Social, da Educação e da Saúde. Foram então formadas Equipas Locais de

Intervenção, constituídas por profissionais de diferentes áreas de formação inicial –

enfermeiros, médicos, técnicos de serviço social, psicólogos, educadores de infância de

IP, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, etc – que atuam nos contextos naturais no

sentido de atender às necessidades de crianças entre os 0 e os 6 anos de idade com atraso

ou risco de atraso desenvolvimento (Reis, Pereira & Almeida, 2014).

O Decreto-Lei acima mencionado dita que o SNIPI e, por conseguinte, as ELI’s

se rejam pelos objetivos de assegurar a proteção dos direitos das crianças e o seu

desenvolvimento, de detetar e sinalizar as crianças com necessidades de apoio em IP, de

intervir com as crianças e famílias em função das respetivas prioridades e necessidades e

de apoiar as famílias no acesso aos serviços e recursos da comunidade (Decreto-Lei nº

281/2009).

Relativamente à Intervenção Precoce noutros países, Wallace e Rogers (2010)

basearam-se em 32 estudos para efetuar uma revisão sobre o tema nos Estados Unidos da

América. Após a análise, foram definidos quatro pontos-chave que visam que visam uma

intervenção mais eficaz e com melhor qualidade, são eles: o envolvimento dos pais na

intervenção; a individualização da intervenção mediante o perfil de desenvolvimento de

cada criança; a formulação de objetivos que englobem todas as áreas do desenvolvimento;

e o início da intervenção o mais precocemente possível.

Também na Austrália foi avaliado um programa de IP, implementado em crianças

com PEA, que se foca na formação parental e na realização de um plano individualizado

de apoio à criança, centrada nas quatro áreas desenvolvimentais – cognição, linguagem e

comunicação, emocional-social e motricidade, mostrando que as crianças progridem nas

suas competências cognitivas, de imitação motora, de motricidade global e fina, de

competências pré verbais e verbais e de reciprocidade social (Paynter et al., 2012).

Numa outra investigação que teve como finalidade avaliar a eficácia das

intervenções mediadas por pais de crianças com PEA, as vantagens desta metodologia

mostraram-se relevantes. Tais estudos frisaram a melhoria da relação entre pais e filho,

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resultando no desenvolvimento da linguagem compreensiva da criança com PEA (Oono

et al., 2013).

Grupos de Apoio entre Pais de Crianças com PEA: Que evidências

São vários os autores que evidenciam a importância da participação em grupos de

apoio entre pais de crianças com necessidades especiais. A importância desta participação

é referenciada como estando associada, entre outros aspetos, à redução de níveis de stress

nas famílias, bem como à eficácia na obtenção dos apoios de que as famílias necessitam

(Clifford, 2011; Kerr & Mcintosh, 2000; Solomon et al., 2001).

São vários os autores que referem que pesquisas com pais de crianças com

necessidades educativas especiais e problemas de saúde graves associados revelam que a

participação em grupos de apoio entre pais pode proporcionar uma sensação de pertença

e está associada a níveis de redução de stress (Kerr & McIntosh, 2000; Preyde & Ardal,

2003).

Smith, Gabard, Dale, e Drucker (1994) afirmam também que os grupos de apoio

entre pais são relativamente eficazes e que, neles, a intervenção é facilmente

implementada, dando às famílias os apoios que estas necessitam. Os autores explicam

ainda que este tipo de programas assumem uma vertente de apoio emocional, apoio

complementar ao apoio dos profissionais.

Fatores como a situação socioeconómica, a distância de casa ao local das reuniões,

os cuidados exigidos pela criança e a ocupação profissional dos pais são alguns dos

aspetos que influenciam o nível de participação dos pais neste tipo de grupo (Smith et al.,

1994).

O apoio social e informativo são uma das maiores necessidades declaradas pelos

pais de crianças com perturbações no desenvolvimento, e os grupos de apoio entre pais

podem promover esse tipo de apoio de uma forma pouco dispendiosa e de fácil

implementação (Clifford & Minnes, 2013). A necessidade e vontade de conhecer outros

pais na mesma situação, com o intuito de partilhar sentimentos é, segundo Smith et al.

(1994), o principal motivo para que os pais desejem e participem nos Grupos de Apoio

entre Pais.

Relativamente aos objetivos que os Grupos de Apoio entre pais apresentam, as

perspetivas dos diferentes autores multiplicam-se, tendo em consideração os diferentes

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estudos que vão surgindo. Para Clifford (2011) o objetivo destes grupos não é,

normalmente, provocar a mudança dos seus participantes, mas sim o desenvolvimento de

relações entre os mesmos, proporcionando oportunidade de partilhar informações e

recursos. Desta forma, os participantes são encorajados a criar relações positivas de apoio

uns com os outros, com ou sem a mediação ou ajuda de profissionais como psicólogos,

assistentes sociais, entre outros. A finalidade destes grupos passa assim pela introdução

de modelos positivos de cada membro, assim como a partilha de experiências e a

compreensão mútua que originam um sentimento de pertença e conforto.

Na visão de Horner e Rawlins (1988, citados por Smith et al., 1994) os objetivos

de tais grupos visam promover o apoio mútuo e a amizade, assim como recolher e

divulgar informações.

Smith et al. (1994) destacam, entre outros objetivos dos Grupos de Apoio entre

Pais, o:

Aprimorar a habilidade de apoio por parte dos pais;

Capacitar para saber lidar com as diversas situações que vão surgindo;

Capacitar para lidar com os recursos da comunidade;

Promover/oferecer apoio emocional, conjuntamente com a partilha de

informação relevante acerca dos problemas de desenvolvimento partilhados;

No geral, este tipo de grupo pode ser diverso em muitos aspetos, no entanto,

segundo Weissbourd e Kagan (1989), citados por Smith et al. (1994), todos os

participantes consideram estes grupos como um apoio gerador de esperança e de eficácia

na obtenção e gestão dos apoios recebidos pelas famílias, atribuindo um grande valor ao

apoio de pares e uma crença e esperança no fornecimento de serviços.

Smith et al. (1994) referem que os Grupos de Apoio entre Pais se constituem como

possíveis apoios de prevenção e não de reconstrução, pois ajudam os pais a compreender

e a melhorar as suas competências e simultaneamente a constituir-se como núcleos

fundamentais do desenvolvimento dos seus filhos e da melhoria das dinâmicas de

funcionamento das suas famílias.

Douma et al. (2006), num estudo realizado acerca do apoio entre pais de jovens

com dificuldades intelectuais, referem que estes pais consideram este apoio como a sua

principal necessidade de ajuda, pois esta tem uma influência muito significativa na

diminuição dos seus níveis de stress e na melhoria do seu bem-estar e qualidade de vida.

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Estes pais relataram que o apoio entre pais é um meio fundamental de partilha de

experiências, receios, dúvidas e esperanças.

São vários os autores que referem que os pais que participam em sessões de apoio

entre pais revelaram sentir menos níveis de angústia, stress e de isolamento social, e

maiores níveis de autoestima, auto controlo e otimismo (Baum, 2004; Bitsika & Sharpley,

1999; McIntosh, Myers & Goin-Kochel, 2005).

Num estudo exploratório sobre os efeitos dos grupos de apoio entre pais de

crianças com PEA no seu bem-estar, Bitsika e Sharpley (1999, 2000) afirmam que, depois

de 8 sessões de 75 minutos, realizadas quinzenalmente, os pais referiram que estas sessões

se revelaram uma boa ajuda e apoio, valorizando a possibilidade da reciprocidade do

apoio, no dar e receber, sublinhando melhorias no autoconceito e na diminuição dos níveis

de stress.

Segundo verificou Baum (2004) no seu estudo a um Grupo de Apoio entre Pais

realizado Online, que contou com 114 participantes, a maioria dos inquiridos referiu que

não só recebeu deste grupo o que necessitava, como referiram que excederam as

expectativas em relação à inclusão no grupo e às pessoas de confiança que lá encontraram.

Neste estudo, a única desvantagem apontada pelos participantes foi mesmo a ausência de

contacto físico entre os participantes, acabando alguns desses pais a combinar encontros

pessoais com os amigos outrora formados virtualmente. 90% da amostra do estudo de

Baum sugere que se participe num Grupo de Apoio entre Pais o mais cedo possível,

revelando que a motivação e o sorriso tomaram o lugar anteriormente ocupado pela

ansiedade e a depressão, devolvendo a estes pais o equilíbrio emocional e a estabilidade

no quotidiano.

Num outro estudo qualitativo sobre os efeitos do apoio online para pais de crianças

com PEA, Carter (2009) conclui que este tipo de apoio tem vários potenciais benefícios,

como a advocacia pessoal, o apoio social e a corresponsabilização.

Um assunto bastante controverso no funcionamento dos grupos de apoio entre pais refere-

se à participação dos profissionais nestes grupos.

Em 1990, 41% dos Grupos de Apoio entre Pais existentes nos Estados Unidos da

América era liderado por profissionais e 47% do mesmo tipo de grupos era liderado por

pessoas que não se revelavam profissionais da área (Smith et al., 1994). Weissbourd e

Kagan (1989, citados por Smith et al., 1994), defendem que o papel do profissional não

se enquadra neste tipo de programa onde os pais são protagonistas vistos como adultos

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respeitados que se defendem autonomamente e que assumem o papel de pessoa mais

influente na perspetiva da criança em causa.

Noutra perspetiva, quando o principal objetivo passa pelo contexto educativo, os

profissionais assumem um papel importante e necessário devido ao conhecimento que

possuem e que pode ser transmitido ao grupo de pais, além disso, os pais conseguem

apoiar e acompanhar melhor os seus filhos e o seu sucesso educativo se eles próprios

receberem apoio (Smith et al., 1994; Vandrick, 2000).

A investigação realizada sobre a importância do apoio entre pais é ainda escassa,

facto que nos suscita o aprofundamento desta temática com pais de crianças com PEA em

Portugal.

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CAPÍTULO II – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Metodologia Qualitativa

Esta investigação é de natureza qualitativa, pois procura conhecer um determinado

contexto ou grupo de sujeitos, tendo como referência as perspetivas, ações e interações

sociais dos indivíduos (Bogdan & Biklen, 2010).

Segundo Carmo e Ferreira (1998), a abordagem qualitativa é holística e

naturalista, pelo facto de considerar as situações e os indivíduos como um todo e no

contexto natural onde ocorrem, estudando-os e analisando-os no seio desta mesma

realidade, ou seja, dentro do seu quadro de referência. Bogdan e Biklen (2010)

acrescentam que a metodologia em questão é também descritiva, pois procura

compreender e documentar pormenorizadamente um fenómeno no seu contexto, não

pretendendo a generalização dos resultados mas sim o estudo dos sujeitos e dos dados na

sua realidade concreta, respeitando minuciosamente a forma em que estes foram

registados ou transcritos.

Na metodologia de natureza qualitativa, os investigadores interessam-se mais pelo

processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos procurando sempre conhecer

e perceber todo o processo ocorrente, ao invés de se basear só nos resultados finais.

Assim, o investigador qualitativo percebe o como e o porquê das ações ou factos que se

concluem na investigação (Bogdan & Biklen, 2010).

Posto isto, a metodologia qualitativa enfatiza o conteúdo em detrimento do

procedimento; a particularização ao invés da generalização dos resultados; a relação

contextual e complexa e não a relação causal e linear; os resultados questionáveis em

lugar dos resultados inquestionáveis; a relevância dos significados em vez do rigor

(Coutinho, 2011).

A questão do rigor e da qualidade científica da investigação qualitativa tem gerado

uma grande divergência e discussão, surgindo metodologias e linhas de pensamento que

diferem entre si (Coutinho, 2011). Há, ainda, autores que afirmam que os conceitos de

validade e fiabilidade dizem apenas respeito ao padrão quantitativo, sendo contrariados

por autores que, por sua vez, acreditam que estes conceitos mantêm a pertinência e a

presença na investigação qualitativa (Morse et al., 2002).

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Segundo Carmo e Ferreira (1998), a validade consiste na qualidade dos resultados,

no âmbito de ser aceites e considerados dados rigorosos e empiricamente verdadeiros, já

a fiabilidade baseia-se na hipótese que esses dados têm de ser recolhidos quando utilizado

o mesmo instrumento duas vezes ao mesmo fenómeno, independentemente do

instrumento, das circunstâncias da aplicação ou do investigador (Coutinho, 2011).

Para assegurar a viabilidade e a fiabilidade, Morse et al. (2002) definiram um

conjunto de estratégias de verificação a ser utilizadas pelo investigador, são elas:

Coerência metodológica;

Adequação da amostragem teórica;

Processo Interativo de recolha e análise de dados;

Pensar de forma teórica;

Desenvolvimento da teoria.

Estas estratégias visam testar, confirmar e assegurar a estrutura, as etapas e a

direção da investigação, apurando assim o rigor e a qualidade científica ao possibilitar a

identificação, reflexão e consequente correção de erros a tempo de não haver qualquer

interferência na análise do estudo (Coutinho, 2011; Morse et al., 2002).

A coerência metodológica foi a estratégia que me pareceu mais apropriada para

responder devidamente às questões de investigação. Desta forma, procurei participantes

que se mostrassem recetivos à exploração de um tema que lhes suscitava bastante

interesse, apelando ao diálogo fluído para que conseguisse recolher a maior e melhor

informação possível.

Relativamente ao processo interativo de recolha e análise de dados, trata-se de um

processo que foi realizado ao longo de todo o decorrer do estudo e foi também através

dele que consegui refletir e basear-me numa construção ponderada da investigação.

Critérios de Confiança

Coutinho (2011) refere que o processo de investigação qualitativa se deve reger

pelos critérios de credibilidade, transferibilidade, consistência e confirmabilidade.

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O primeiro dos critérios – credibilidade – corresponde à capacidade das

construções/reconstruções do investigador representarem os fenómenos do estudo e o

parecer dos participantes do estudo, levando a que estes confirmem os dados. Para

assegurar tal critério de confiança existem técnicas variadas, tais como a triangulação, a

revisão por pares (peer defriefing), o trabalho de campo prolongado e/ou a revisão pelos

participantes (member checks) (Coutinho, 2011). No estudo em questão foram utilizadas

duas das técnicas anteriormente mencionadas:

Revisão por pares (peer defriefing) – foi a primeira das técnicas que pus em

prática, onde um elemento exterior ao estudo mas que, simultaneamente, conhece a

problemática e o processo de investigação se disponibiliza a analisar os dados, ouvir e

refletir os pareceres e inquietações do investigador (Coutinho, 2011). Uma colega de

licenciatura e que sempre fez questão de seguir o meu percurso no Mestrado ofereceu-se

prontamente a colaborar na realização desta técnica onde foram realizadas várias sessões

com conversas informais onde se abordaram diferentes questões, opiniões, ideias e

preocupações e, também muito importante, pareceres sobre a postura a adotar enquanto

investigadora. Foi uma colaboração que enriqueceu o estudo, uma vez que um outro olhar

nos faz descobrir, também, outras perspetivas.

Revisão dos participantes (members check) – técnica utilizada para que os

participantes certifiquem e confirmem os dados outrora recolhidos, as interpretações a

eles efetuadas e as conclusões que surgiram (Coutinho, 2011). Assim, entreguei a cada

um dos participantes a análise que elaborei aos dados que me foram facultados, onde estes

puderam confirmar se as interpretações feitas por mim correspondiam, ou não, às suas

experiências e opiniões.

A transferibilidade é o segundo critério mencionado por Coutinho (2011) e revê-

se na capacidade de os resultados obtidos num determinado estudo serem aplicados

noutros contextos. Posto isto, esforcei-me para abordar e descrever detalhadamente todas

as singularidades da presente investigação no sentido de aumentar a perceção do estudo

e de possibilitar a outros investigadores avaliar se este se revelaria pertinente quando

aplicado em contextos diferentes.

A consistência – terceiro critério – é a capacidade de investigadores externos

seguirem o método usado pelo investigador e, por último, a confirmabilidade procura

apurar se este estuda objetivamente os conteúdos subjetivos dos sujeitos (Bogdan &

Bilken, 2010), buscando a confirmação de outros investigadores sobre as suas

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construções. Este último critério pode ser confirmado através de técnicas como o processo

de auditoria (Coutinho, 2011) e/ou o diário reflexivo (Lincoln & Guba, 1985, citados por

Martins, 2006).

No meu estudo fiz-me sempre acompanhar por um diário reflexivo onde, no

decorrer de toda a investigação fui efetuando registos de observações que achei

pertinentes por parte da orientadora, reflexões acerca dos processos adotados na procura

e contacto dos pais, o agendamento das entrevistas e respetivos locais, referência

bibliográficas que me pareciam de leitura e posterior utilização pertinente, bem como toda

a informação que foi surgindo e eu achei digna de registo.

Desenho do Estudo

Participantes

Para a realização da investigação foram selecionados intencionalmente

participantes que se encaixavam num conjunto de critérios e características específicas,

de modo a, na realização da entrevista, as suas respostas se revelarem úteis e pertinentes

na recolha de dados pretendida.

Na investigação do tipo qualitativo não conseguimos prever qual a quantidade e o

tipo de participantes que teremos. Assim, a escolha dos indivíduos revelar-se-á no

decorrer da investigação (Lincoln & Guba, 1985).

Decidi começar a contactar algumas das sedes da Associação Portuguesa para as

Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA), mais concretamente a do Porto,

Viseu, Santarém, Lisboa e Setúbal. Quase todas as sedes tinham Grupos de Apoio entre

Pais a funcionar e, as que não tinham, mantinham contacto com as famílias que haviam

participado em tais reuniões quando estas se realizavam. No entanto, o processo de

seleção das participantes revelou-se bastante complicado devido à dificuldade de

colaboração dos pais, que argumentavam ter muito pouco livre e/ou pouca vontade de

falar sobre o assunto, acabando sempre por receber uma resposta negativa relativamente

à sua colaboração na minha investigação.

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Perante as dificuldades, decidi readaptar o estudo e, assim, o tema foi alterado

para ir ao encontro de um grupo de participantes com características diferentes mas que

me forneceria informação igualmente útil.

Após vários contactos, uma Equipa de Intervenção Local conseguiu que alguns

dos pais estivessem dispostos a falar comigo de forma a conhecer a investigação e qual o

seu papel nela.

Alguns membros da ELI, após consentimento dos pais, forneceram-me o contacto

de quatro mães e de um casal. De todos esses contactos, apenas uma mãe não me atendeu

e, depois de algumas tentativas, preferi respeitar. As restantes quatro famílias foram

responsivas ao meu contacto. O telefonema foi rápido e simples, onde me comecei por

apresentar e por explicar o que pretendia, todas as famílias foram recetivas à ideia e a

disponibilidade mostrada foi alargada, sentindo-se à vontade para escolher o local da

entrevista.

Posto isto, na presente investigação colaboraram quatro mães, todas elas mães de

crianças com PEA com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos, residentes do distrito

de Braga.

Instrumento de Recolha de Dados: Entrevista Semiestruturada

Coutinho (2001) enfatiza a importância da escolha correta do instrumento de

recolha de dados, justificando que este é uma etapa decisiva do estudo, uma vez que o

investigador terá que refletir, eleger e, caso necessário, adaptar e/ou construir o

instrumento que vá mais ao encontro dos objetivos da investigação.

A entrevista é um instrumento de recolha de dados primordial quando se trata de

pesquisa de terreno. O recolher de testemunhos, opiniões, acontecimentos, experiências

e significados concedidos pelos participantes em relação ao tema do estudo em causa faz

com que o conhecimento seja mais aprofundado e abrangente (Guerra, 2006).

Este tipo de entrevista baseia-se num guião de perguntas sobre temas previamente

estabelecidos pelo investigador, no sentido de ir ao encontro do que se pretende estudar

e aprofundar, para que a finalidade do estudo seja alcançada (Boni & Quaresma, 2005;

Kvale, 1996). Sendo qualitativa e descritiva, a entrevista visa recolher informações

particulares de cada um dos entrevistados, tendo como tema a rotina e a vida dos mesmos.

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Trata-se de um instrumento de recolha de dados que busca uma interação de ambas as

partes – o investigador e o entrevistado, exigindo assim que o contacto seja direto,

surgindo então o aglomerar de informações que os participantes vão fornecendo com o

decorrer da entrevista (Kvale, 1996).

Este instrumento de recolha de dados assume a vantagem de, apesar da existência

de um guião, criar uma amplitude de temas considerável, o que permite ao entrevistador

levantar uma série de tópicos e fazer com que o entrevistando consiga moldar o seu

discurso, uma vez que o entrevistador o encoraja a abordar uma área de interesse para, de

seguida, a explorar mais pormenorizadamente (Bogdan & Biklen, 2010). Para que tal

aconteça, a entrevista deverá seguir uma temática que se prenda à investigação, não

devendo obedecer a uma estrutura rigorosa com perguntas fechadas e diretivas, mas não

sendo, também, possível a ausência de uma estrutura, com perguntas abertas (Kvale,

1996), de forma a que o sujeito se expresse livremente sem se afastar do tema em foco.

Boni e Quaresma (2005) enumeram algumas vantagens da entrevista

semiestruturada, afirmando que esta é uma boa solução para a dificuldade que os sujeitos

a ser entrevistados possam ter em expressar-se por escrito. Outra das vantagens

mencionadas pelos autores é a elasticidade da duração da entrevista, fazendo com que o

entrevistador tenha o tempo necessário para aprofundar os temas que considerar

oportunos; na entrevista semiestruturada, o entrevistador tem também liberdade para

esclarecer os temas ou questões que coloca, de forma a que o sujeito compreenda a

finalidade da questão e colabore da melhor forma. A última vantagem da entrevista

enumerada pelos autores, referenciados anteriormente, diz respeito à possibilidade de se

colocarem novas questões que não se encontram no guião mas que, no momento, são

oportunas e trazem informação útil à investigação.

Na investigação que apresento, a entrevista visa apurar quais as perspetivas de

mães de crianças com PEA acerca dos Grupos de Apoio entre Pais, baseando-me nas suas

vivências, personalidades e necessidades.

Sendo uma investigação sempre regida pelos valores éticos que lhe eram exigidos,

só foram contactadas as famílias em questão depois de elas mesmas consentirem tal

chamada, altura em que lhes foi assegurado o anonimato. Antes da realização da

entrevista foi, também, devidamente esclarecida a questão da confidencialidade das

respostas (Bogdan & Biklen, 2010).

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Elaborou-se, inicialmente, um guião de entrevista semiestruturada, tendo a

supervisão e posterior correção ficado ao encargo da minha orientadora. Como já referido,

o guião foi constituído por várias perguntas semiestruturadas, ordenadas adequadamente

de forma a ir ao encontro da finalidade da investigação (Carmo & Ferreira, 1998),

contudo, a aplicação do mesmo apresentou uma flexibilidade no rumo que seguia (Kvale,

1996), adaptando-se a cada um dos entrevistados em questão.

O local das entrevistas variou – a primeira realizou-se num parque infantil, onde

a mãe respondeu confortavelmente às minhas questões enquanto o seu filho brincava; a

segunda realizou-se em casa da mãe, onde esta conversou comigo na presença da filha

mais velha, que se encontrava a ver televisão no mesmo espaço; a terceira entrevista foi

realizada num café em frente à creche da criança com PEA; e, por último, a quarta

entrevista foi realizada em casa do casal, que orgulhosamente me deu a conhecer a sua

filha enquanto a entrevista ganhava um rumo – mas em todas elas foi feita uma introdução

à temática que iria ser abordada.

Antes de iniciar a entrevista, pedi autorização para que a mesma fosse gravada,

para que nenhuma informação me escapasse enquanto o diálogo e contacto surgiam de

forma natural – todas as respostas foram positivas. Depois de me apresentar e de dar a

conhecer a minha investigação, fiz questão de esclarecer em que consistiam os Grupos de

Apoio entre Pais e não prossegui para as questões iniciais sem perguntar se havia algo a

esclarecer.

Após luz verde dos pais para se iniciar a entrevista, foram colocadas duas questões

iniciais que visam integrar o participante na entrevista e acolhê-lo no tema, deixando-o à

vontade de modo a originar um ambiente conveniente à sua colaboração e uma intropatia

entre este e o investigador (Kvale, 1996).

Quando a adaptação do entrevistado pareceu atingida, avançou-se para as questões

mais direcionadas ao tema em estudo, sendo estas questões mais diretas e em busca de

dados úteis à recolha pretendida. Em todas as entrevistas foi tido em atenção não só a

informação que era revelada verbalmente, mas também a postura corporal e todas as

mensagens não-verbais que os entrevistados me transmitiam (Kvale, 1996).

Para finalizar as entrevistas, foi dada oportunidade ao participante de acrescentar

alguma informação que achasse oportuna e/ou de tecer algum tipo de correção ou

recomendação referentes ao guião e à sua aplicação.

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Realizadas todas as entrevistas com sucesso, as mesmas foram transcritas na

íntegra por mim de forma a que toda a informação ficasse registada por escrito. Verifiquei

que, como afirmam Bogdan e Biklen (2010), cada entrevista se encontra ligada à seguinte

pelo facto de a informação recolhida ser aglomerada de entrevista para entrevista.

Análise de Dados

A informação recolhida num determinado estudo equivale a materiais em bruto

que o investigador opera, manipula e analisa para, assim, obter um significado relevante

no se refere à investigação a decorrer. Esses materiais formam, então, a base da análise –

procedimento onde os dados brutos se convertem em resultados (Bogdan & Biklen,

2010).

A análise de conteúdo é o método adequado para a minha investigação uma vez

que oferece a possibilidade de tratar de forma sistematizada informações e relatos

(recolhidos através da entrevista semiestruturada) que apresentam um determinado grau

de complexidade. É este tipo de análise que “permite satisfazer harmoniosamente as

exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, que nem sempre são

facilmente conciliáveis” (Quivy & Campenhoudt, 1998, p. 227).

Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo consiste num conjunto de

instrumentos cada vez mais ténues em constante evolução, que se aplicam a contextos

cada vez mais diversos, sendo um aglomerado de técnicas de análise das mensagens

recolhidas, utilizando procedimentos metódicos e objetivos de descrição do conteúdo das

comunicações, de forma a alcançar indicadores que permitam a dedução e interpretação

de conhecimento.

Gómez, Flores e Jiménez (1999) afirmam que a análise de dados qualitativos pode

ser explicada como um processo intuitivo e flexível, que vai avançando orientado para

encontrar significados relevantes em relação á problemática da investigação nos dados

recolhidos.

Este tipo de análise assenta em três polos cronológicos, são eles: a pré-análise –

fase em que o investigador, baseado nas suas intuições, sistematiza e torna operacionais

as suas ideias iniciais; a exploração do material – que consiste na exploração dos

segmentos de texto que se entendem pertinentes para análise; e, por último, o tratamento

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dos resultados, inferência e interpretação – onde os resultados em bruto são tratados de

forma a ser significantes e válidos (Bardin, 2009).

A pré-análise, como já referido, surge na fase de intuições que o investigador gera,

criando uma estrutura e uma organização que permita que as ideias iniciais sejam

possíveis de se realizar. Nesta fase, para além da eleição dos documentos ou informações

que serão submetidos a análise, o objetivo passa também pela criação de pressupostos

que serão indicadores para a interpretação final (Farago & Fofonca). É neste primeiro

polo cronológico que o investigador efetua uma leitura às entrevistas transcritas,

acrescentando conteúdo ao conjunto de dados para análise (Bardin, 2009).

O segundo polo cronológico – exploração do material, é a etapa em que surgem

os índices nas entrevistas, isto é, os fragmentos de texto que são selecionados conforme

o grau de importância ou pertinência para análise, podendo estes excertos de texto ser

unidades de registo – parte do texto que terá como finalidade a análise, ou unidades de

contexto – como o nome indica, trata-se de um segmento de texto mais vasto, que tem

como objetivo contextualizar as unidades de registo (Bardin, 2009; Lima, 2013;

Magalhães, 2014).

O último dos polos – tratamento dos resultados – onde os dados terão que ser

tratados de forma a ser significantes e válidos, possui intervenções simples ou complexas

que levem o investigador a criar um quadro de conclusões, diagramas, figuras e modelos

(Dornelles, Medeiros & Martins, 2014).

Quivy e Campenhoudt (1998) explicam que os métodos de análise de conteúdo

exigem a aplicação de processos técnicos relativamente específicos, pois apenas a

utilização de métodos estáveis e construídos possibilita ao investigador a elaboração de

uma interpretação livre de valores e representações pessoais.

As técnicas da análise do conteúdo são, em termos cronológicos e segundo Bardin

(2009), a próxima etapa da investigação. Esta etapa reparte-se em seis diferentes fases,

tendo sido a primeira delas utilizada por mim no presente estudo. Trata-se da análise

categorial e é a mais elementar das fases, onde é feita a separação do texto em diferentes

categorias que dão origem a reagrupamentos semelhantes;

Na presente investigação, o sistema de categorias regeu-se pelo processo dedutivo

e pelo processo indutivo. A primeira parte de um conjunto de categorias previamente

criadas conforme as revisões bibliográficas, já o segundo processo dá origem a novas

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Grupos de Apoio entre Pais

Dinâmicas de funcionamento

Locais de realização

Frequência de realização

Tipo de Participação

dos profissionais

Papel na ajuda a outros pais

Papel na criação

Importância Benefícios

categorias e subcategorias que surgiram nos dados que foram recolhidos na entrevista

(Bardin, 2009). A cada uma das categorias criadas foi atribuída uma denominação que

englobasse tudo sobre o significado e conceito a ser apreendido, no sentido de tornar mais

fácil a assimilação dos aspetos mais pertinentes que fui selecionando com a recolha de

dados (Vala, 2005).

As categorias foram criadas antes da realização das entrevistas e, à medida que as

entrevistas eram feitas e os dados recolhidos, surgiram as subcategorias. Durante todo

este processo os quatro princípios recomendados por Gómez, Flores e Jiménez (1999)

foram tidos em conta, sendo eles:

Princípio da exaustividade – onde todo o conteúdo considerado relevante para a

investigação deve estar inserido numa das categorias anteriormente formuladas;

Princípio da exclusividade – assegura que cada um dos componentes recolhidos

seja colocado em apenas uma das diferentes categorias;

Princípio da objetividade – exige que as características de cada categoria sejam

claras e bem explícitas, de forma a evitar dúvidas, incertezas ou indecisões;

Princípio da pertinência – certifica que as categorias se relacionam estreitamente

com os objetivos que foram delineados para o estudo em questão.

Após todos os aspetos a considerar, o sistema de categorias formado e empregado

neste trabalho de investigação é apresentado na Figura 1, através do seguinte esquema:

Figura 1. Sistema de categorias.

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CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Este é o capítulo onde dou a conhecer, na dimensão de estudos de caso individuais

(mãe e criança), as perspetivas das participantes do meu estudo acerca dos Grupos de

Apoio entre Pais, divulgando toda essa informação de forma detalhada e descritiva.

Para a existência de uma sequência lógica na apresentação dos dados recolhidos,

foram criadas categorias comuns que visem a assimilação dos factos retratados e o

consequente cruzamento de informações.

Perspetivas das Participantes

Ana e António

Quem são?

Ana tem 33 anos e é mãe de dois meninos com 5 e 3 anos respetivamente. Vive

em Barcelos com o marido, de 35 anos, e os dois filhos e mantém uma relação muito

próxima com a mãe que, apesar de estar fora do país, é o maior apoio de toda a sua família.

Perdeu o pai cedo, vítima de cancro, e teve um acidente de carro que lhe partiu a clavícula

e lhe tirou uma orelha, no entanto, sorri quando diz que “não é motivo para me entristecer,

continuo alegre!” (¶5) e mostra ainda vontade de concluir o 12º ano de escolaridade, tendo

no presente o 9º ano completo e um curso de Geriatria, encontrando-se desempregada.

O António é o filho mais novo de Ana, com três anos e meio, e foi diagnosticado

com PEA no passado mês de Fevereiro. Ana revela que não reagiu mal ao diagnóstico

porque o facto de saber que algo não estava dentro dos parâmetros considerados normais

a inquietava e, assim, o diagnóstico deixou-a “mais calma por saber o que é” (¶7). A Ana

fala orgulhosamente do António quando diz, muito sorridente, que o filho “foi uma forma

que Deus enviou para receber o amor mais puro que há” (¶31), retratando uma criança

muito alegre, que “só chora quando não lhe dão as coisinhas dele” (¶2) e que gosta muito

de se isolar e brincar com o comboio – o seu brinquedo de eleição. Antigamente, conta

Ana, o António “não era tão agressivo, agora quando é contrariado bate nele e parte

coisas” (¶6), não gosta muito de dormir e de vez em quando brinca com o irmão e o cão

da família.

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Relativamente aos apoios de que dispõe, a mãe explica que o António “vai ter

agora terapia ocupacional todas as quintas-feiras na escolinha onde anda” (¶9) e que a

terapia da fala ainda está pendente porque esta será feita na Santa Casa da Misericórdia e

a Ana “queria que fosse a mesma terapeuta do filho mais velho, que também está lá, mas

neste momento ela não tem vagas” (¶9), mas a prioridade é que a terapia comece o mais

rápido possível e, se não conseguir que seja aquela terapeuta, não se importa que seja uma

outra profissional.

António é acompanhado no Hospital Pediátrico, em Coimbra, por um Pediatra de

Desenvolvimento, e Ana mostra-se satisfeita com o atendimento e ajudas lá recebidos.

Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais

Ana considera os grupos de apoio entre pais importantes porque “a gente diz o

que passa e os outros pais dizem o que passam” (¶13) e toda essa informação será

interiorizada, criando um espírito de entreajuda sucessiva.

Pelos motivos acima mencionados, Ana afirma que gostaria de fazer parte de um

grupo de apoio entre pais. “Mesmo que as crianças fossem mais velhas, com 15 ou 20

anos” (¶13), pois para esta mãe as experiências de crianças mais velhas iriam ajudá-la a

ganhar uma noção mais realista de situações que poderão surgir quando o António

crescer. Esta já não é uma ideia e uma vontade nova para Ana, que afirma estar

“sempre a comentar com o marido” (¶13) sobre a importância da existência destes grupos.

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais

Locais

Relativamente aos locais onde Ana considera mais apropriada a realização destas

reuniões entre os pais, esta afirma que o melhor seria “perto de casa, não muito longe”

(¶17), uma vez que a profissão do marido não lhes permite deslocar-se em qualquer

horário. Mas garante que, caso os pais não fossem todos da mesma freguesia, uma

deslocação à capital do distrito era algo que “valia muito a pena” (¶17).

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Frequência

Quando abordada acerca da frequência dessas reuniões do grupo, Ana responde

prontamente que estas deveriam ser realizadas “de quinze em quinze dias ou com mais

frequência” (¶19), alegando que há sempre assunto para se falar e que, com o passar do

tempo, nascia ali uma família.

Participação dos Profissionais

Ana defende que os profissionais deveriam estar presentes nas reuniões destes

pais, fundamentando-se no conhecimento que os profissionais podiam transmitir e que,

certamente, seriam uma grande ajuda. A mãe chega mesmo a exemplificar uma situação,

onde ela “falava e dava a opinião, outro pai também falava e fazia o mesmo, mas depois

era bom ter ali um profissional a dizer se estávamos a ter a opinião certa e se pensávamos

bem” (¶21).

O papel dos pais na ajuda a outros pais

Relativamente à ajuda que Ana poderia ser para os outros pais que frequentassem

tais Grupos, esta mãe considera que seria uma ajuda para famílias com crianças com PEA

que fossem, no máximo, da idade do António, uma vez que “só até aí é que tenho

experiência” (¶27).

Quem pode ter um papel importante na criação dos Grupos de Apoio entre Pais

Ana mostra imensa vontade de participar nestes grupos e até apresenta ideias

oportunas para o seu bom funcionamento, mas quando questionada acerca de quem

poderia ter um papel relevante na sua criação não hesita em afirmar que seriam as

instituições. No entanto, Ana explica que “as instituições não conseguem arranjar

dinheiro onde ele não existe, o Estado podia ajudar” (¶29).

Quanto ao contributo que os pais poderiam prestar, Ana diz que monetariamente

não seria possível, mas “aparecíamos às reuniões e éramos uma família a partir daí” (¶31),

defendendo que para além de se reunir para falar, este tipo de grupos deveria conviver em

espaços exteriores para piqueniques e coisas do género.

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Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos de Apoio

entre Pais

Como até agora descrito, Ana considera que os Grupos de Apoio entre Pais seriam

uma das melhores formas de combater as suas preocupações. Quando fala sobre as

preocupações, Ana sugere que nas reuniões era importante “falar da questão da

agressividade” (¶23), desdobrando esta questão em dicas para lidar melhor com o filho

quando este está a ser agressivo e em métodos que possa pôr em prática para melhorar ou

evitar estas situações.

A mãe põe também em evidência preocupações como a ida ao centro comercial

ou hipermercado com o filho, tal como um dia de festividades como um casamento ou

batizado. Ana refere que “gostava que ajudassem a saber o que fazer nestes sítios, porque

toda a gente fica a olhar porque uma criança assim grita e faz coisas diferentes” (¶23),

vendo como benefício a orientação para conseguir lidar melhor com estas situações.

Outra vantagem que Ana acharia possível com a presença destes Grupos de Apoio

entre Pais seriam os esclarecimentos sobre a alimentação, afirmando que era importante

“perceber o que as outras crianças como o António comem ou não comem e saber se há

alguma coisa que substitua os alimentos que eles não comem” (¶23), tal como obter dicas

para que a quantidade de comida ingerida pelo filho aumentasse.

Assim, tendo em conta todas as preocupações que a mãe apresenta e consentindo

que, com o passar do tempo, mais preocupações surgirão, Ana resume que os benefícios

de frequentar este tipo de “reuniões” passaria por saber mais e “não andar com tantas

dúvidas, aprender com os pais de meninos mais velhos (…) têm mais experiência” (¶25),

de forma a perceber e estar preparada para fases pelas quais ainda não passou mas que,

certamente, irá passar.

Bianca e Betânia

Quem são?

Bianca foi mãe pela primeira vez aos 15 anos e hoje, com 28, tem duas filhas de

13 e 6 anos. Foi quando o companheiro de Bianca estava de viagem marcada para

trabalhar no estrangeiro que foi diagnosticado a Betânia, filha mais nova do casal – na

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altura com dois anos de idade, Perturbação do Espetro do Autismo. Numa fase delicada

da vida do casal, Bianca conta que “conversámos e decidimos que ficar cá ajudaria

imenso, mas ir também não tiraria à Betânia o que tem” (¶5). Assim, o marido de Bianca

emigrou e esta ficou em Portugal, a viver em casa dos pais com as duas filhas, tendo

deixado de trabalhar para acompanhar o mais possível o crescimento de Betânia, uma vez

que para a família tudo era novidade.

Bianca nunca se sentiu culpada por Betânia ser uma criança especial,

argumentando que tinha sido mãe antes e que “os pais eram os mesmos, a educação era a

mesma e Betânia a partir dos 18 meses não tinha comportamento nenhum parecido com

o da irmã ou de qualquer outra criança que tivesse conhecido, e na família tinha um

sobrinho da mesma idade de Betânia e pela sua fala e comportamentos dava para perceber

que era tudo completamente diferente” (¶10). Bianca explica que sabia que a culpa não

era dela nem da filha, mas que sentia que havia algo de diferente ali.

Betânia é “super carinhosa, tem 6 anos e em Setembro já vai para o primeiro ano”

de escolaridade (¶3). Bianca conta que a filha adora vídeos e filmes, tendo a capacidade

de ver um filme e decorar todas as falas e gestos das personagens, passando o resto do dia

a reproduzir o que viu e ouviu na televisão e/ou computador. A menina gosta de usar o

telemóvel para ir ao Youtube ver vídeos de bonecos a falar e, conta a mãe divertida, “à

custa disso já fala (com sotaque) brasileiro e inglês” (¶3).

Relativamente ao apoio que recebe, Bianca explica que Betânia usufrui de terapia

ocupacional, terapia da fala e psicóloga na fundação AMA, em Viana do Castelo. Em

Barcelos tem consultas com o pediatra, na área de residência tem consultas com o médico

de família e em Coimbra é também acompanhada por um pediatra do desenvolvimento.

No que diz respeito aos apoios da Equipa Local de Intervenção, Betânia recebeu

apoio educacional de 2011 a 2014, tendo ainda em 2011 optado pelos serviços da AMA

pois, na altura, a ELI não tinha vaga. O apoio da AMA foi de tal forma bem prestado que,

mesmo sendo mais longe, Bianca quis que a filha continuasse lá e, assim, a ELI prestou

de 2014 a 2016 apoio indireto sob a forma de vigilância.

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Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais

Bianca já participou em reuniões de Grupos de Apoio entre Pais, na fundação

AMA, e embora não tenham sido muitas, considera “muito importante porque no início

é tudo muito difícil, sofre-se imenso!” (¶10). A mãe esclarece que estes grupos ajudam

porque se poem abordar vários assuntos sabendo que ninguém está a ser julgado e que

ninguém vai “culpar ou apontar o dedo” (¶10) aos pais presentes. Assim, Bianca sentia-

se bem e considera que principalmente numa fase inicial estes grupos se revelam muito

relevantes.

Para justificar todo este apoio, Bianca vai ainda mais longe e afirma que, “por

vezes, até mesmo com técnicos profissionais os pais são muito culpados” (¶10) porque

fazem tudo o que a criança quer e esta acaba por fazer birras. Desta forma, o dia-a-dia

tornava-se muito complicado. A mãe explica que Betânia não tem um grau de PEA grave

mas que esta é muito rígida no que toca às rotinas e que, quando começou a falar, era um

diálogo “fechado” de pergunta-resposta e Bianca confessa que na altura não sabia qual a

melhor forma de agir, tendo encontrado toda a orientação e compreensão necessária nas

reuniões de grupo que frequentou, onde os outros pais relatavam situações semelhantes

com os seus filhos e explicavam como ultrapassaram determinadas barreiras.

Apesar de adorar ter participado nas reuniões e aconselhar outros pais a fazê-lo,

estas faziam com que Bianca tivesse que se deslocar duas vezes por dia a Viana do Castelo

– uma vez que “a terapia da Betânia era a uma hora e as reuniões a outra” (¶12) – e tornou-

se difícil conciliar tudo, tendo deixado de as frequentar.

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais

Locais

Quando questionada sobre o melhor local para a realização das reuniões, Bianca

afirma que se estas decorressem numa instituição como a AMA os pais sentiam que

aquele local era como a sua casa, por isso fazer na instituição ou fazer em casa de uma

das famílias seria igual, uma vez que “as pessoas que lá trabalham e o ambiente é tudo

uma família” (¶14).

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Frequência

Bianca acha um pouco difícil a definição da frequência com que este tipo de

reuniões deve ocorrer devido à disponibilidade muito variada dos pais. Depois de pensar

uns segundos defende que uma vez por mês seria uma boa opção uma vez seria um

intervalo de tempo suficiente para avaliar situações e, depois, falar sobre isso, ponderar o

que correu b em e o que poderia ter corrido melhor.

Participação dos Profissionais

Na opinião de Bianca, os profissionais deveriam estar presentes nalgumas

reuniões e dar privacidade aos pais noutras. A importância da presença de um ou mais

profissionais, como conta a mãe falando das reuniões em que esteve, é que “dava para

explicar certas coisas que não entendêssemos ou mesmo falar-nos em direitos que os

nossos filhos têm e que nós nem sabemos” (¶18). No entanto, esta realça também a

privacidade que os pais devem ter para conversas de mais desabafos e apoio entre si.

O papel na ajuda a outros pais

Bianca diz-se com competências para ajudar os outros pais “sempre com o

conhecimento que tenho e com aquilo que passo no dia-a-dia” (¶24), baseando-se na

experiência que adquire com Betânia.

Ao responder a esta questão, a mãe explica que também gostaria de participar em

reuniões onde os pais das crianças mais velhas que vê quando leva a filha às terapias

estivessem presentes, pois a experiência que eles já têm seria certamente muito útil para

ela encarar novas situações que vão surgir com o crescimento de Betânia.

Quem pode ter um papel importante na criação dos Grupos de Apoio entre Pais

Como Bianca apresenta já experiência em frequência nas reuniões de grupo na

fundação AMA, onde todas elas eram organizadas pelos técnicos da fundação, esta

considera que ninguém melhor do que os elementos da instituição para tal tarefa. A mãe

acha que se fossem os pais a assumir a criação de Grupos de Apoio entre Pais não seria

tão fácil, uma vez que, dentro de uma determinada instituição, há “pais que já se

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conhecem há anos e já têm um certo à vontade em combinar entre si e tudo mais” (¶28),

mas que quando são os técnicos a agendar “é melhor para quem ainda não está tão à

vontade, para quem ainda está no início, é melhor ter um pilar que os oriente e os integre

do que entrar num grupo de pais que está muito à vontade e aquele pai/mãe não se vai

sentir tão bem” (¶28).

Para Bianca, o maior contributo que os pais podem dar para a criação dos grupos

é a luz verde, o dizer “sim”, o aparecer e fazer com que estes Grupos durem e funcionem

bem.

Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos de Apoio

entre Pais

A mãe de Betânia considera que os benefícios da participação nestes grupos são

inúmeros, afirmando que ver preocupações como os comportamentos dos filhos e a sua

entrada na escola ser abordadas e transmitir dicas sobre isso é muito útil para as famílias.

Questões como “Como é a inserção na escola? Que tipos de apoios têm nas escolas?” são

o que Bianca mais precisa de saber no presente pois a filha vai entrar para o primeiro ciclo

e esta tem-se sentindo um pouco desorientada e a sentir que as coisas não estão assim tão

bem.

Bianca evidencia também, como benefícios da integração nestes grupos, o

conhecimento sobre os “direitos e apoios que (o nosso filho) vai precisar” (¶20), onde

lhes são dados conselhos de como obter tais ajudas da forma mais breve possível para que

a criança usufrua e não seja prejudicada.

Antes da fase da integração escolar, Bianca diz que os principais benefícios são o

combate e solução às preocupações sobre o comportamento, sobre as saídas de casa, sobre

a fala. Questões como “como é que falamos (com a criança)? Como é que (a criança) nos

vai entender? Que tipo de frases devemos usar? Qual a linguagem que devemos usar?”

(¶20) ficam esclarecidas e os benefícios para os pais e para a criança vão-se multiplicando,

explica a mãe.

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Constança e Carlos

Quem são?

Constança tem 35 anos, é empregada de balcão e, através de uma fertilização in

vitro, foi mãe de gémeos há três anos atrás – o Carlos e o Cláudio. O pai, de 35 anos

também, é empregado fabril.

Carlos completou três anos de idade há pouco mais de dois meses e foi a tia

materna quem começou a estranhar alguns dos seus comportamentos, chamando a

atenção dos pais. Mais tarde, a família decidiu ir ao pediatra para que tal questão fosse

esclarecida e quando foram à consulta “ele não teve dúvida nenhuma em dizer o que o

Carlos tinha” (¶2). Para os pais “aquilo foi um choque” (¶2), confessou a mãe, “para mim

não era nada daquilo, o médico estava errado” (¶2) acrescentando que não consegue

esquecer aquele dia. No entanto, a preocupação da família foi ajudar o Carlos e seguiram-

se logo consultas em Coimbra, bem como tudo o que foi preciso preencher para que o

menino começasse a ter acompanhamento especial no infantário que frequenta.

“O Carlos baba-se muito, ainda agora com as crises. É muito organizado, têm que

estar as coisas todas pela ordem dele. Adora fazer torres bem altas (com legos) e depois

a alegria dele é mandá-las abaixo” (¶3), tinha também como hábito esconder-se atrás dos

cortinados, vício que foi perdendo enquanto ganhava outros.

Em termos de alimentação, Carlos é muito seletivo: adora tudo o que seja integral,

legumes e soja. Apesar de só dizer “mamã”, “papá” e “cocó”, a mãe explica que a

expressividade de Carlos a faz perceber tudo o que o menino quer que ela entenda.

Curiosamente, Carlos tem uma manta que não larga e só a agarra por uma

determinada ponta: “não pode ser por qualquer uma e se ele não encontrar a ponta que

quer roda a manta toda até conseguir” (¶5). Quando a família se encontra em lugares com

muitas pessoas e/ou muito barulho, Carlos procura um lugar isolado e permanece lá, com

a sua manta, até se sentir calmo e, autonomamente, volta para junto dos pais.

Constança aborda orgulhosamente a “inteligência tão fantástica” e a “memória

extraordinária” (¶6) do filho, relatando o recente episódio de, no caminho de casa ao

colégio, várias casas exporem a bandeira nacional como símbolo de apoio à equipa que

representa o nosso país no Europeu de futebol, e a mãe explica que “no trajeto desde o

infantário até casa ele sabe onde estão as bandeiras de todas as casas, é impressionante”

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(¶6). Constança conta também que “ele tem um esquema de organizar os brinquedos

incrível, sabe onde é o sítio de todos os carrinhos e basta mudar um de sítio que ele sabe”

(¶6).

A relação dos irmãos gémeos é boa, apesar de Cláudio ser muito ciumento em

relação ao irmão, Carlos não se irrita com ele e partilha pacificamente a atenção dos pais

e os brinquedos. No processo de diagnóstico, foi posta a hipótese de também Cláudio ter

PEA, hipótese essa que, depois das consultas em Coimbra, foi reformulada e o

diagnóstico foi de uma Perturbação na Comunicação.

É no infantário que Carlos recebe os apoios oriundos da ELI, onde tem sessões de

terapia da fala e de terapia ocupacional, sendo também acompanhado em Coimbra nas

consultas de pediatria do desenvolvimento. Constança acredita que mais apoios irão

aparecer e argumenta que ainda é tudo muito recente, sabendo que com o tempo novas

oportunidades vão surgir.

Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais

Constança não hesita em responder que considera extremamente importante a

existência de um grupo de Apoio entre Pais, explicando que os pais de crianças com PEA

iriam receber “mais informações, mais estratégias de pessoas que já passaram por essas

situações” (¶17) e mais conselhos. Refletindo, para comparação, sobre o apoio dos

profissionais, Constança defende que “é sempre diferente” (¶17). Mostra, assim, muito

entusiasmo quando abordada sobre a vontade de participar neste tipo de grupos,

enfatizando a quantidade de coisas boas que imagina que estas reuniões lhe trariam.

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais

Locais

Relativamente ao local mais apropriado para que o Grupo de Pais se reunisse,

Constança considera que o principal aspeto a ter em conta seria a localização da residência

dos pais, afirmando que o melhor seria encontrar um local em que nenhuma família

tivesse que ficar muito longe para que outra ficasse muito perto, sendo necessário

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procurar um centro acessível a todos. Mas “tanto numa instituição como em casa de um

dos pais seria igual” (¶21), explicando que não achava que isso iria interferir com a

essência das reuniões.

Frequência

Constança começou por afirmar que duas vezes por mês seria uma frequência

adequada para a realização das reuniões destes Grupos de Apoio entre Pais, mas

rapidamente reformulou o pensamento: “se for muito perto as pessoas chegam à próxima

reunião ainda sem dúvidas ou novas situações que surgiram para partilhar” (¶23), por

isso, uma a duas vezes por mês, conforme vontade dos pais, seria, a seu ver, o ideal.

Participação dos Profissionais

Na perspetiva desta mãe, seria importante que os profissionais marcassem

presença nas reuniões, mas não em todas. Constança argumenta que haveria então “um

espaço só para os pais e um espaço acompanhado por profissionais para também sermos

aconselhados por eles” (¶25), revelando-se uma grande ajuda.

O papel na ajuda a outros pais

Constança generaliza um pouco a questão, afirmando que quantas mais situações

diferentes ouvirem mais ajuda terão, “é tudo informação positiva para nos ajudar” (¶31),

considerando assim que o seu contributo seria importante uma vez que seria mais uma

situação diferente relatada, ou seja, mais um testemunho e uma experiência adquirida

pelos outros pais.

Quem pode ter um papel importante na criação dos Grupos de Apoio entre Pais

Constança considera que as equipas de intervenção são quem mais pode ter um

papel importante na criação dos Grupos de Apoio entre Pais: “acho que nada melhor que

elas para isso” (¶33), defendendo que as “equipas onde estivessem os profissionais que

acompanham as crianças deviam ter essa iniciativa” (¶33).

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Quanto ao papel que os pais de crianças com PEA poderiam ter, Constança

defende que a colaboração que podia dar seria a sua presença assídua nas reuniões.

Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos de Apoio

entre Pais

Constança mostra entusiasmo ao enumerar os benefícios que considera possíveis

obter com a participação nestes grupos: saber “como controlar as birras, por exemplo, era

logo a primeira coisa! As birras são impressionantes, são muito intensas e muitas vezes

nós não temos cabeça fria para as controlar, então precisávamos de ajuda nisso” (¶27).

A mãe aborda também, como benefício, as táticas na questão da alimentação,

desabafando que “eles são um bocadinho complicados com a alimentação, o meu Carlos

tem que estar distraído para comer, não está sentado na mesa, vem comer duas colheres

e depois vai dar uma volta… uma refeição toda à mesa é impossível para ele” (¶27).

Assim, Constança combina todos os possíveis benefícios num só: “experiência e

partilha de experiências, sobretudo isso, sem dúvida” (¶29).

Diana e Daniela

Quem são?

Diana e Daniel são um casal jovem, ela trabalha numa fábrica com horário das 9h

às 18h, e ele trabalha por turnos, não tendo turno fixo. São uma família sólida e unida,

não mantendo relações próximas com quase nenhum outro familiar.

Daniela é filha única e teve um diagnóstico relativamente precoce – “descobriu-

se o autismo pouco depois de ela ter um ano, quando começou a frequentar a creche. A

educadora faz aqueles relatórios de x em x tempo sobre todas as crianças e no relatório

dela vinha que ela não se envolvia com as outras crianças, que estava sempre isolada no

canto dela, não participava nas atividades e o comportamento dela era muito diferente”

(¶2), explica a mãe. O médico de família de Daniela negou tal hipótese, mas, quando

Daniela adoeceu e estava com uma bronquiolite aguda, os pais viram-se obrigados a

recorrer a um pediatra privado e “mal ela entrou lá, a primeira coisa que o médico me

perguntou foi se ela era autista e ela nem tinha estado lá cinco minutos” (¶2), como o

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médico de família tinha sido convicto ao negar as suposições da educadora de infância, a

mãe respondeu negativamente à pergunta feita pelo pediatra privado, ao que ele

respondeu “que ou ela tinha autismo ou tinha problemas de audição” (¶2). Posto isto, o

pediatra deu aos pais uma carta para que estes a entregassem ao médico de família, de

forma a que este último os encaminhasses para os lugares adequados. Mesmo

continuando a negar, o médico de família cedeu e encaminhou Daniela para uma médica

comportamental do Hospital de Santa Maria Maior, em Barcelos, onde esta os

encaminhou de seguida para Coimbra, sendo ainda hoje seguidos pela Dra. Guiomar. “Lá

disseram que os sintomas podiam ir de encontro ao autismo mas que a Daniela ainda não

tinha três anos e que por isso não podiam confirmar o diagnóstico, e chamaram-lhe

autismo em estudo” (¶2). Depois de todo este processo, Daniela começou a frequentar as

terapias em Barcelos.

Diana esboça um sorriso para me contar que Daniela é muito amorosa, adora

abraços e beijinhos mas que às vezes tem os seus dias difíceis. Na comida, Daniela é

muito seletiva, não come qualquer alimento e não come nada que não sejam os pais a dar-

lhe: “A Daniela tem que ver, tem que tocar, tem que lamber, tem que cheirar e ainda volta

a olhar outra vez e vira e revira aquilo, só depois é que mete à boca, mas quando não gosta

ela mete de lado e depois não adianta dar-lhe outra vez que ela não quer, (…) não gosta

de nada que seja doce, só bebe leite e água, não gosta de sumos” (¶8).

Quanto ao que prende a atenção de Daniela, a mãe afirma que esta “gosta de se

pendurar em tudo, de estar em cima da mesa, gosta de emoções fortes! Gosta de se

pendurar nas coisas, gosta de baloiços mas tem que ser muito de força, (…) dá logo

gargalhadas e bate com as mãos de felicidade” (¶9).

Segundo os médicos, Daniela é resistente à dor: “não sente dor da mesma maneira

do que nós, para se queixar tem mesmo que ser alguma coisa muito forte senão ela anda

como se nada fosse” (¶9), explica a mãe relatando de seguida episódios que comprovavam

tal afirmação. A sensibilidade de Daniela reflete-se no barulho, a mãe explica que ela não

gosta nada de barulho mas que adora ir a supermercado, ficando apática a observar tudo

em redor.

Curiosamente, a mãe aborda a questão da organização de Daniela e revela que esta

“não é mesmo nada organizada, ela gosta é de tirar tudo do sítio e ver tudo desarrumado

(…) mas já é um bocado de rotinas” (¶10).

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Relativamente aos apoios recebidos, a mãe explica que conseguiram receber o

apoio complementar e o abono à terceira pessoa. Quanto ao apoio prestado pela ELI,

Daniela usufrui de terapia ocupacional, terapia da fala e terapia educacional onde trabalha

a relação com o outro. Todas as sessões são realizadas no colégio que Daniela frequenta.

No entanto a mãe explica que “é difícil trabalhar com a Daniela, ela anda com muitas

crises e agora começou a agredir-se a ela própria” (¶15), o que leva Diana a desabafar que

na próxima consulta em Coimbra, um dos pontos a abordar será uma medicação que

acalme Daniela.

Para além dos apoios prestados pela ELI, Diana explica que para já ainda não têm

mais nenhum. No entanto, esta mostra vontade em visitar a fundação AMA e começar o

processo de integração da filha nas atividades que lá são levadas a cabo, mas entre risos

a mãe diz que é uma ideia à qual o pai ainda não está muito recetivo e que ainda está em

discussão.

Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais

Diana considera os Grupos de Apoio entre Pais importantes, argumentando que

através deles os pais acabam “por partilhar experiências e aprender com os outros” (¶21).

Imaginando como seriam as sessões, a mãe diz ainda que este tipo de grupos “também

nos deve ajudar a saber lidar melhor com os nossos filhos e a aprender outras maneiras

de lidar com eles” (¶21).

Quando questionada sobre a integração nestes Grupos de Apoio entre Pais, Diana

explica que é uma pessoa que, devido às circunstâncias da vida, se tornou reservada, mas

que continua a achar os Grupos de Apoio entre Pais interessantes e importantes.

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de Apoio entre Pais

Locais

Na opinião de Diana, o local que seria adequado para que as famílias de crianças

com PEA se reunissem teria que ser “reservado, íntimo, onde os pais se sentissem mais à

vontade para falar” (¶25). Assim, conclui que na sua perspetiva, uma “salinha da

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instituição” (¶25) que as crianças frequentassem era um local que se enquadrava nos

parâmetros que, a seu ver, eram necessários.

Frequência

Apesar de Diana se mostrar uma mãe reservada, esta acha que a frequência com

que os pais deveriam reunir deveria ser de “pelo menos uma vez por mês” (¶27),

explicando que mais do que isso já seria complicado uma vez que “os pais também são

ocupados e se calhar uma vez por mês dava tempo para tudo e para surgir novas dúvidas”

(¶27).

Participação dos Profissionais

Daniela é acompanhada por diferentes terapeutas e Diana tem convivido com eles

de forma profissional, mostra-se satisfeita com tal relação mas, a seu ver, nas reuniões

dos Grupos de Apoio entre Pais os profissionais deveriam ficar de fora: “eu acho que os

terapeutas ajudam sim, mas são muito práticos” (¶29).

Diana expõe o seu ponto de vista argumentando que “enquanto um terapeuta passa

uma hora com a criança por semana, os pais passam o resto do tempo” (¶29), o que a leva

a afirmar que “ali quem deve ter a palavra (…) são os pais” (¶29), anulando assim o papel

dos profissionais neste tipo de Grupos.

O papel na ajuda a outros pais

Uma vez que Daniela é uma criança que ainda não completou três anos e, na

opinião de Diana, a experiência de cada pai é o que vai ajudar os outros, esta explica que

“neste momento não (poderia ajudar os outros pais) porque nós ainda estamos muito no

início, ainda nem passou um ano e eu admito que ao início me custou muito aceitar” (¶35),

afirmando que a forma como ainda lhe custa aceitar tudo levou a família a querer procurar

ajuda médica para ela, mas esta diz que não quer: “eu amo a minha filha e não estou triste

pela filha que tenho, mas não gosto de falar sobre isto” (¶35).

Assim, Diana prefere esperar algum tempo até que se sinta preparada para tal, não

desvalorizando a ajuda que poderia receber dos outros pais.

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Quem pode ter um papel importante na criação dos Grupos de Apoio entre Pais

Para Diana, os próprios pais são quem devia assumir o papel principal na criação

dos Grupos de Apoio entre Pais, no entanto, reformula e afirma que “deve ser complicado

porque se os pais não se conhecem uns aos outros tem de ser alguém de uma instituição

a juntá-los e formar os grupos” (¶37).

Quanto ao contributo dos pais para que tais grupos funcionassem, a mãe responde

de forma simples: “ir às reuniões e falar uns com os outros” (¶37), abordando todos os

assuntos possíveis para se ajudarem mutuamente.

Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos de Apoio

entre Pais

Para Diana, os benefícios que a participação em Grupos de Apoio entre Pais

seriam a resolução de todos os desabafos feitos até então, preocupações como o saber

“lidar com ela quando há uma crise, por exemplo, porque é muito complicado” (¶31),

explicando que quando viu a primeira vez uma crise de Daniela entrou em pânico: “eu

bloqueei porque não sabia o que fazer, sentia-me impotente e realmente precisava de

ajuda nisso” (¶31). Assim, o principal benefício descrito por Diana seria mesmo a ajuda

em como lidar com situações inesperadas e complicadas.

A mãe enumera também benefícios como “aprender métodos para os estimular no

desenvolvimento da fala, da interação” (¶31), sendo este um dos seus principais desejos.

Não menos importante mas entre risos, Diana contou que um grande benefício da

participação nestes grupos também seria ajudá-la a “como fazê-la comer fruta” (¶31),

explicando que Daniela só come fruta se esta for ralada, caso contrário não chega sequer

a provar.

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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

No presente capítulo realiza-se o cruzamento das perspetivas de cada uma das mães

que deram o seu contributo para o meu estudo. Aqui serão evidenciadas as opiniões em

comum bem como as que mais divergem entre si, baseando-me depois na pesquisa

bibliográfica para fundamentar, ou não, tais declarações.

De forma a facilitar o entendimento do leitor, as categorias e subcategorias em vigor

no capítulo anterior serão mantidas.

Perspetivas sobre a Importância dos Grupos de Apoio entre Pais

Quando abordadas acerca da importância dos Grupos de Apoio entre Pais, a

resposta foi unânime: todas as participantes consideraram tais grupos muito importantes.

No geral, o facto de encontrarem um lugar para desabafar sem ser julgadas e o

entendimento e ajuda de pais mais experientes são o que fundamenta a sua opinião. Neste

tipo de grupos, Baum (2004) considerou que a maioria dos participantes não só obteve o

que precisava como encontraram mais do que esperavam em termos de inclusão e pessoas

de confiança.

Uma das mães, ao já revelar alguma experiência na frequência destes grupos, realça

que na fase posterior à de diagnóstico é tudo muito difícil e que, tal como as restantes

participantes pensam, estes grupos se revelam determinantes no apoio aos pais de crianças

com PEA.

Smith et al. (1994) contam que, quando quem organiza a formação de tais grupos é

abordado sobre o que influencia a participação dos pais nos mesmos, baseia-se na

necessidade que tais progenitores têm de obter informação, mas, no estudo levado a cabo

pelos autores, apenas 39% validam tal motivo. Como apura o referido estudo, a maioria

dos interessados em participar nos Grupos de Apoio entre Pais mostra uma necessidade

de apoio como motivo principal, necessidade essa que inclui o desejo de conhecer outros

pais e partilhar sentimentos. Pais de crianças com doenças crónicas sentem-se, segundo

os autores, frequentemente isolados, o que justifica tal desejo de conhecer outros pais. Foi

também apurado que 61% dos pais procura estes grupos para a obtenção de informação

acerca dos recursos que lhes estão disponíveis e que se revelam úteis. Tal uma das mães

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frisou, a fase de diagnóstico é bastante difícil, ao que estes autores evidenciam a

importância de participar neste tipo de grupos, defendendo que ao ver reduzidos os níveis

de stress e de sentimento de isolamento, poderá ser gerada uma interação mãe-filho mais

positiva e ser diminuída a probabilidade de comportamentos de rejeição por parte da mãe.

Relativamente à vontade de participar neste tipo de reuniões, apenas uma das

participantes se mostra reticente uma vez que revela ser uma pessoa reservada e que,

devido às circunstâncias da sua vida, se habituou a guardar para si as angústias ou receios.

No entanto, esta mesma mãe não diz “nunca” e, depois de mostrar convicção no que toca

à importância dos Grupos de Apoio entre Pais e na ajuda que estes se poderiam revelar,

esclarece que tudo seria possível. Para as restantes participantes, o entusiasmo ultrapassa

a escala e a resposta foi por parte de todas, um claro “sim!”.

Baum (2004) abordou 114 participantes de um Grupo de Apoio entre Pais Online

onde foram apurados os níveis de satisfação, stress, apoio social, características pessoais,

apreciação, emoções positivas e negativas, formas de lidar com as situações, timing, saúde

física, relações familiares e bem-estar. Neste estudo, 90% dos participantes da amostra

sugere que se participe num Grupo de Apoio entre Pais o mais cedo possível, associando

a participação neste tipo de grupos à reconstrução do equilíbrio e estabilidade emocional,

levando à motivação e à diminuição da ansiedade e da depressão.

Perspetivas sobre as Dinâmicas de Funcionamento dos Grupos de

Apoio entre Pais

Relativamente ao local onde as reuniões dos Grupos de Apoio entre Pais deveriam

decorrer, a maioria das participantes dá mais importância à distância relativamente à

residência do que ao espaço físico em si, isto é, para estas mães o importante é que tais

reuniões não fossem muito longe de casa, de forma a que pudessem deslocar-se sempre

que necessário e sem dificuldades. O estudo levado a cabo por Smith et al. (1994)

demonstra que tais considerações são transversais à maioria dos pais de crianças com

problemas de desenvolvimento, uma vez que os inquiridos indicaram uma

disponibilidade para viajar de, no máximo, meia hora, e 28% dos participantes chegam

mesmo a limitar o tempo de viajem a vinte minutos. É importante, segundo os autores,

ter também em consideração os gastos que tais viagens possam implicar para os pais,

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alegando que os grupos mais isolados podem ser os que mais precisam deste tipo de apoio,

uma vez que estão também longe do acesso aos restantes serviços, sendo relevante a

formação de pequenos Grupos de Apoio entre Pais nas diferentes comunidades.

Quanto ao espaço físico, todas as participantes explicam que o fator que mais

influenciaria o bem-estar e o à vontade dos pais não seria determinado pela escolha entre

o ser na instituição ou o ser na casa de um dos pais, mas que, por outro lado, um espaço

acolhedor e íntimo seria mais propício a um ambiente de descontração e confiança entre

os participantes.

No que se refere à subcategoria da frequência das sessões de apoio entre pais, as

opiniões das mães convergem. Para a maioria das mães, a opinião é semelhante: uma vez

por mês, baseando tais considerações na vida ocupada que estes pais têm e no intervalo

de tempo necessário para surgirem novas dúvidas e novas situações/episódios a ser

esclarecidos. No estudo levado a cabo por Smith, Gabard, Dali, e Drucker (1994) a

maioria dos participantes (44%) também considera que os encontros entre pais fossem

mensais, enquanto 39% dos questionados achava oportuno, tal como Ana, que tais

reuniões se realizassem quinzenalmente.

No entanto, uma das mães defende que os pais deveriam reunir de quinze em quinze dias,

uma vez que considera que, com o tempo, o Grupo se tornava uma família e a frequência

deveria, até mesmo, ir aumentando. O desejo desta mãe fundamenta-se no relato de

Vandrick (2000), onde é retratado um grupo de mães que, ao fim de oito anos a reunir

semanalmente para auxiliar e acompanhar as filhas ao longo do seu percurso escolar,

viam-se como uma comunidade e sentiam ter feito amigos para a vida.

Em relação à participação dos profissionais nos Grupos de Apoio entre Pais, as

opiniões das mães são divergentes: duas das mães consideram que a presença dos

profissionais deveria ser alternada, isto é, os pais deveriam usufruir de reuniões sem a

presença de profissionais para desabafar sobre os assuntos que considerassem oportunos

e que, por vezes, se assim os pais o considerassem, os profissionais poderiam ser

envolvidos.

Uma outra mãe refere que os profissionais deveriam ser uma presença constante

nas reuniões, no sentido de ouvir o diálogo entre os pais e explicar se estes estão a pensar

de uma forma correta ou se o pensamento precisa de ser reformulado.

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No entanto, uma das mães tem uma perspetiva contraditória com as perspetivas

referidas pelas mães anteriores, considerando que os profissionais não devem estar

presentes neste tipo de Grupos, pois interferem na privacidade das famílias e no

conhecimento que têm dos seus filhos. A perspetiva desta mãe é consonante com a

investigação realizada por Weissbourd e Kagan (1989), citados por Smith et al. (1994)

que afirmam que o papel do profissional não se adequa a um programa onde os pais são

adultos desenvolvidos e respeitados, uma espécie de advogados em seu próprio nome e,

o mais relevante, a influência mais significativa da criança.

Smith et al. (1994) referem que, em 1990, 41% dos Grupos de Apoio entre Pais

existentes nos Estados Unidos eram liderados por profissionais e que aproximadamente

47% do mesmo tipo de grupos era orientado por não-profissionais.

Para estas mães, é da experiência adquirida com o filho que nascem os melhores

concelhos para partilhar com outros pais. Assim, e uma vez que todas as participantes, na

presente investigação, têm filhos ainda bastante novos, estas consideram ainda não ter

conhecimento suficiente para ser uma ajuda significativa. No entanto, o contributo mais

relevante que as mães estariam dispostas a dar seria, segundo elas, a disposição constante

em ouvir os desabafos e preocupações dos restantes pais. Smith et al. (1994) referem no

seu estudo que os pais consideraram que o apoio emocional (receber e dar) era o objetivo

principal da frequência deste tipo de grupo em combinação com a necessidade de obter

informação relevante sobre os problemas de desenvolvimento.

Vandrick (2000) defende que os pais conseguem apoiar melhor os seus filhos e o

seu sucesso educativo se eles próprios receberem apoio. Baum (2004) refere que o sentido

de autocontrolo é bastante trabalhado nas reuniões destes grupos e constitui-se como um

fator importante na adaptação psicológica à problemática em questão e na qualidade de

vida dos pais.

Quando questionadas acerca de quem poderia ter um papel importante na criação

dos Grupos de Apoio entre Pais, todas as participantes do estudo são da mesma opinião:

as Instituições locais. Isto porque é através das instituições que se consegue abranger um

grande número de pais e são os profissionais que lá trabalham que conhecem a melhor

forma de abordar tais famílias. Também em relação à organização e agendamento das

reuniões as participantes defendem que as Instituições teriam mais seriedade e prática no

assunto, fazendo com que mais pais aderissem ao projeto. Contudo, segundo Smith et al.

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(1994), quando estes grupos são criados apenas com a visão das instituições as sessões

tendem a ser mais informativas, o que pode não corresponder às necessidades dos pais,

que, em grande parte dos casos, procuram apoio emocional e alguém que os entenda, não

os julgue e os leve a acabar com o isolamento social.

Quanto ao contributo que pode ser dado pelos pais a resposta é, também, unânime:

o simples facto de marcar presença assídua nas reuniões já faz com que os Grupos se

mantenham unidos e consistentes, de forma a criar laços que dificilmente se destruiriam.

Smith et al. (1994) referem que 47% dos participantes no seu estudo que participaram em

grupos de Apoio entre Pais tinham filhos com idades compreendidas entre os 6 e os 11.5

anos, fator esse que pode ser explicado pelo facto de à medida que as crianças vão

crescendo os pais acumulam mais experiência acerca da condição dos seus filhos, o que

os faz necessitar de menos informação e de mais apoio emocional proporcionado por

alguém da sua confiança. Assim, a perspetiva de contributo das participantes neste estudo

revê-se na investigação dos autores acima mencionados.

Perspetivas sobre os Possíveis Benefícios da Participação em Grupos

de Apoio entre Pais

Esta foi a categoria em que as participantes mais mostraram entusiasmo e, ao

mesmo tempo, necessidade de apoio. Os pais de crianças com Perturbações do

Desenvolvimento enfrentam desafios particulares relacionados com o comportamento

dos filhos, mas o estudo de Clifford e Minnes (2013) concluiu que os pais de crianças

com PEA apresentam níveis de stress e problemas de saúde ainda mais elevados.

É de opinião geral que o maior dos benefícios seria eliminar ou esbater todas as

preocupações e stress que estas mães carregam diariamente consigo. Em relação a tais

níveis, Smith et al. (1994) explicam que os pais que frequentam grupos de apoio

experienciam níveis de stress significativamente mais baixos e sentimentos de isolamento

social mais reduzidos, revelando que estes programas de “autoajuda” se revelam muitas

vezes terapêuticos e são, muitas vezes, um complemento ao atendimento do profissional.

Também Clifford e Minnes (2013) enfatizam tal perspetiva, afirmando que estudos com

pais de crianças com perturbações demonstraram que a participação em grupos de apoio

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está associada a menores níveis de stress e de mau humor, assim como a perceções mais

positivas.

Esclarecimentos sobre a alimentação, o sono, a postura a ter no momento das birras,

a postura a ter para com a sociedade, quais os apoios a que têm direito, como podem

ajudar os filhos quando surgir uma nova etapa, como entrar para o primeiro ciclo, etc,

são, no fundo, o que estas mães consideram como principais benefícios a adquirir. Estes

benefícios são confirmados por Clifford e Minnes (2012) num estudo realizado com 149

pais. Estas autoras concluíram que os pais que participam nos grupos de apoio acreditam

que existem mais benefícios e menos dificuldades, reportando melhor humor, usando

estratégias mais adaptadas e tendo menos necessidade de recorrer a fontes de apoio social

do que os pais que não participam em tais grupos. As mesmas autoras abordam o apoio

social e informativo como uma das maiores necessidades declaradas pelos pais de

crianças com perturbações no desenvolvimento, esclarecendo depois que os grupos de

apoio entre pais podem promover esse tipo de apoio de uma forma pouco dispendiosa e

de fácil implementação.

Outro dos benefícios invocado por todas as mães entrevistadas foi a partilha de

experiências e o conhecimento de situações retratadas pelos pais de crianças com PEA

mais velhas, de forma a preparar estas mães para possíveis situações de transição que

acontecerão quando o seu filho atingir determinada idade e/ou fase. Smith, Gabard, Dali

e Drucker (1994) citando Rollins (1987) e Weissbourd e Kagan (1989) vão ao encontro

desta ideia, salientando que os objetivos destes grupos passam por aprimorar as

competências dos pais, nomeadamente a sua capacidade de lidar com as situações

problema.

Com este tipo de dúvidas esclarecidas ou, pelo menos, tendo algumas das angústias

sido entendidas e sentidas por outros pais, estas mães ficariam, como mostram, mais

tranquilas e otimistas por não ser julgadas. Baum (2004) refere os benefícios de tais

consequências, afirmando que o otimismo se revela facilitador na adaptação dos pais de

crianças com PEA aos tipos de comportamento e de humor dos filhos. Os Grupos de

Apoio entre Pais, segundo apurou a autora, revelam-se assim um apoio social que fornece

estratégias adequadas em relação ao lidar com as situações que estes pais encaram,

formando e atraindo pais mais otimistas.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A PEA caracteriza-se pelos padrões de comportamento, bem como pelas

complexidades ao nível da comunicação social e pelas atividades e interesses limitados e

repetitivos, tendo sido considerada, em estudos recentes, a segunda perturbação de

desenvolvimento mais grave (Autism Speaks, 2014).

A essência e especificidade desta perturbação e a sua diversidade de

características colocam às famílias um conjunto de desafios e exigências acrescidos,

apresentando também impactos consideráveis nas mais variadas vertentes da criança com

PEA e respetiva família (Gabovitch & Curtin, 2009).

A Intervenção Precoce define-se por um sistema complexo de serviços que

envolve diferentes locais e variadas disciplinas, requerendo a coordenação de serviços e

a colaboração de organizações, visando o apoio a uma população heterogénea de crianças

e respetivas famílias, sendo cada vez mais reconhecida quanto à sua importância e às suas

vertentes, onde o papel da família – também ela afetada com a problemática da criança -

tem ganho espaço e consideração nas equipas de intervenção (Guralnick, 2005; Serrano

& Boavida, 2012).

Na Intervenção Precoce, a transdisciplinaridade cria oportunidades para que as

famílias e os profissionais trabalhem juntos, sendo as famílias vistas como membros da

equipa onde o seu papel passará pela partilha de informação, ou seja, o ser pai/mãe de

uma criança com necessidades especiais e o estar consciente das suas prioridades,

necessidades e pontos fortes, faz destes uma fonte importante e preciosa no decorrer do

processo de intervenção (Serrano & Boavida, 2012). A visão das famílias como membros

integrantes da equipa no processo de desenvolvimento e implementação dos planos de

intervenção promovem o empoderamento, o fortalecimento e a capacitação das mesmas

(Deal, Dunst & Trivette, 1994). Assim, as preocupações das famílias fazem parte da

maioria das situações e aspetos da família que, com o decorrer do plano de IP,

representarão os objetivos de intervenção (Dunst, 2005).

No entanto, como elementos da equipa, os pais melhoram a capacidade de apoiar

e ajudar os seus filhos. Para além disso, os pais conseguem apoiar e ajudar melhor os seus

filhos se também eles próprios forem ajudados e apoiados, uma vez que a perturbação do

filho os faz experienciar altos níveis de stress parental (Douma et al., 2006; Vandrick,

2000). Um estudo realizado por Douma et al. (2006) apurou que 88.2% de 289 pais,

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quando questionados acerca das suas principais necessidades de apoio, precisavam

especialmente de um ouvido amigo, cuidados de saúde para a sua criança, informação e

algumas pausas para descansar. Neste mesmo estudo, o apoio dos profissionais

(aconselhamento parental) foi abordado como necessidade de uma forma bem mais

reduzida quando comparada à necessidade de escuta por parte de outro pai/mãe:

aconselhamento parental (35.5%) e escuta por parte de outro pai/mãe (75.3%).

A necessidade de escuta por parte de outro pai/mãe levou à criação dos Grupos de

Apoio entre Pais, onde estes trocavam desabafos, experiências, conselhos e preocupações

sem nunca ser julgados, criando mesmo um sentimento de pertença. Contudo, é ainda

escassa a informação acerca destes Grupos e os seus resultados empíricos, sendo o estudo

científico acerca da temática ainda bastante emergente (Clifford, 2011).

Desta forma, consideramos que as respostas aos objetivos previamente traçados

para a presente investigação se mostraram propícios à obtenção de informações úteis e

detalhadas no que diz respeito à problemática abordada, revelando-se essenciais para o

desenvolvimento de novas reflexões e traços orientadores na Intervenção Precoce para as

famílias de crianças com PEA.

A informação fornecida pelas diferentes mães acerca das suas preocupações e

prioridades apresenta, no geral, semelhanças de conteúdo, indo inclusive ao encontro dos

dados recolhidos noutras investigações científicas internacionais (Clifford, 2011; Clifford

& Minnes, 2013; Henderson et al., 2014; Smith et al., 1994).

Na base de todas as outras considerações registadas ao longo do presente estudo,

está a certeza de que as famílias portuguesas de crianças com PEA sentem necessidade

de reunir com alguém que deixe a formalidade de lado e as ouça, compreenda e valorize.

Segundo Baum (2004) os Grupos de Apoio entre Pais são uma mais-valia nos programas

de Intervenção Precoce, uma vez que a maioria das famílias considera que estes grupos

satisfazem as suas preocupações e permitem-lhes encontrar pessoas da sua confiança.

Grande parte das investigações realizadas nesta área área estabelece uma ligação

expressiva entre a PEA e o estado de saúde dos respetivos pais, sendo percetíveis níveis

de depressão elevados, ansiedade, culpa, sentimentos de descrença, raiva, medo e dor,

vincando assim um menor bem-estar físico e psicológico, revelando também altos níveis

de stress (Bloch & Weinstein, 2009; Boyd, 2002; Davis & Carter, 2008; DeGrace, 2004;

Gray, 2002; Harper et al., 2013; Hoffman et al., 2009; Hoogsteen & Woodgate, 2013;

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Karst & Van Hecke, 2012; Lee et al., 2008; Lutz, Patterson, & Klein, 2012; Meltzer,

2011).

São vários os autores que consideram que os Grupos de Apoio entre Pais podem

constituir-se como a melhor solução para diminuir os níveis de stress das famílias, as suas

preocupações e para melhorar os seus níveis de bem-estar (Baum, 2004; Carter, 2009;

Clifford, 2011; Clifford & Minnes, 2013; Henderson et al., 2014; Kerr & McIntosh

(2000); Mueller et al., (2009); Smith et al., 1994; Vandrick, 2000).

Para Clifford e Minnes (2013), participar nos Grupos de Apoio entre Pais origina

uma nova perspetiva para as famílias, considerando encontrar mais benefícios e menos

dificuldades, melhorando os níveis de humor, aprendendo estratégias melhor adaptadas

e, no culminar, apresentando menos necessidade de recorrer a fontes de apoio social.

Clifford (2011) refere que a severidade dos problemas de comportamento dos

filhos está inevitavelmente ligada aos níveis de bem-estar dos respetivos pais, sendo,

assim, importante reforçar as medidas de apoio aos progenitores. Com os inúmeros

benefícios que as participantes da presente investigação consideram encontrar, a vontade

de participar em tais grupos é bem frisada. A necessidade incessante de apoio e o bem-

estar psicológico levam as mães a mostrar-se fortemente recetivas à participação Grupos

de Apoio entre Pais. As famílias que já participaram em tais grupos associam os mesmos

à reconstrução do equilíbrio e estabilidade emocional, acabando com a ansiedade e a

depressão ao sentir motivação e vontade de voltar a sorrir (Baum, 2004).

Na perspetiva das participantes do estudo, o local onde os pais se iriam reunir não

teria grande importância, uma vez que a relevância incidiria no facto de o espaço ser

acolhedor e deixar os pais confortáveis e à vontade. A questão de ser na residência de um

dos pais ou numa instituição revelou-se, assim, um mero pormenor. Para combater

possíveis problemas de deslocação para as reuniões, Clifford (2011) vê nos Grupos de

Apoio entre Pais On-line a solução, tendo conseguido comprovar a aderência por parte

dos pais de crianças com PEA e concluído que o benefício mais notório surgiu do contacto

com outros pais que vivem a mesma problemática.

O que mostrou ter mais peso no condicionamento das idas às reuniões foi a

distância da residência ao local onde os pais se reuniriam. Os cuidados e ajuda que a

criança com PEA exige fazem com que os pais dediquem grande parte do seu tempo à

execução de todo o tipo de tarefas, despendendo bastante energia e condicionando os seus

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horários às necessidades do filho (Hoogsteen & Woodgate, 2013). Assim, todo o tempo

destes pais é precioso, o que os faz querer demorar o menos possível a deslocar-se da

residência até ao local das reuniões (Clifford & Minnes, 2013; Smith et al., 1994). Os

autores sublinham também os gastos que as grandes deslocações implicariam, apontando

esse como outro fator fundamental para a adesão, ou não, destas famílias aos grupos.

Algumas dos estudos sobre a temática que tivemos oportunidade de consultar

optaram pelos Grupos de Apoio entre Pais Online, de forma a conseguir abranger um

maior número de pais e poupar-lhes, precisamente, o tempo e as despesas de viagem. No

entanto, esses mesmos estudos concluem que alguns dos pais fizeram questão de marcar

reuniões presenciais entre si, uma vez que a amizade tinha crescido consideravelmente e

a vontade de se conhecer era partilhada por vários dos participantes, que frisaram também

a carência de contacto pessoal e físico como um dos pontos menos fortes dos grupos

online (Baum, 2004).

Numa primeira análise, verificámos que a frequência com que as reuniões dos

grupos de Apoio entre Pais deveriam ocorrer seria de uma vez por mês. Este mostrou-se

ser o intervalo de tempo ideal para surgirem novas dúvidas, novos episódios para recordar

como experiência, novos desabafos que estariam acumulados e novas respostas às

dúvidas para as quais se combinou procurar solução na sessão anterior. A privação de

tempo livre justifica também a falta de disponibilidade das famílias para a presença em

reuniões menos intervaladas, uma vez que a ocupação extrema os faria não conseguir

dispensar o tempo necessário para tal. Smith et al., (1994) concluíram, na sua

investigação, que a maioria dos pais assumiam preferência pela frequência mensal, tal

como se verificou no presente estudo.

Relativamente à participação dos profissionais em tais reuniões, o equilíbrio

parece-nos o melhor caminho: seria dada a oportunidade aos pais para que, quando

desejassem, o profissional estivesse presente. A presente investigação revela-nos que o

facto de os pais ficarem a sós, num ambiente mais familiar, dar-lhes-ia um à vontade para

abordar assuntos relacionados com os profissionais inclusive, tal como dar a sua opinião

sem medo de estar teoricamente errados. No entanto, e segundo a perspetivas de algumas

mães entrevistadas, os profissionais seriam necessários para um esclarecimento de

dúvidas mais concreto, nomeadamente a nível do desenvolvimento da criança em todas

as suas vertentes, tal como para o apoio psicológico, para a informação acerca dos apoios

a que as famílias têm direito e, em alguns casos, para uma espécie de mediação que

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permitisse uma conversa organizada de modo a que todos os pais tivessem a palavra e as

suas dúvidas fossem ouvidas e clarificadas.

Clifford e Minnes (2013) referem que quem lidera e organiza os grupos tem

influência sobre a participação dos pais - estes preferem profissionais de aconselhamento,

como um assistente social ou um psicólogo, e/ou profissionais de saúde, como um

enfermeiro. Contudo, e como referem Henderson et al. (2014), o apoio dos profissionais

não pode substituir o apoio que os pais transmitem entre si.

Quanto à ajuda que as participantes consideram poder dar a outros pais, podemos

concluir que os membros dos grupos teriam um papel mutuamente importante.

Primeiramente, o facto de integrarem um grupo atribui aos pais um sentimento de

normalidade perante uma situação que, até então, lhes parecia anormal (Kerr & McIntosh,

2000). Assim, a presença de uma mãe/pai em tais reuniões vai ajudar os restantes

participantes a sentirem-se melhor, apoiando-se mutuamente e, consequentemente,

elevando os seus níveis de autoestima (Miller & Hudson, 1994).

Kerr e McIntosh (2000) afirmam que os pais inseridos em tais grupos constroem

a capacidade de ajuda e apoio aos outros pais de crianças com a mesma problemática.

Assim, e tal como referem as participantes do presente estudo, os pais com crianças mais

velhas e/ou mais experientes poderiam revelar-se uma ajuda e orientação importante para

os pais que ainda não vivenciaram tais etapas do desenvolvimento do seu filho. Os autores

explicam ainda que os novos pais a frequentar as reuniões receberiam o apoio das famílias

que já faziam parte de tal grupo, surgindo, então, uma capacidade de adaptação bem mais

vincada. Assim, e segundo apurou a presente investigação, a maior ajuda que cada

pai/mãe poderia dar a tais grupos seria a sua presença assídua, uma vez que, estando lá, a

ajuda surgiria naturalmente.

Baseando-nos nas declarações das participantes na presente investigação,

concluímos que o papel da criação dos Grupos de Apoio entre Pais caberia às Instituições

locais, uma vez que é de lá que parte o conhecimento de um grande número de pais e é lá

que se encontra um espaço físico onde, à priori, os pais se poderão deslocar com

facilidade – uma vez que se trata de uma instituição da localidade, e todos já estariam

familiarizados com as instalações, o que os fazia sentir-se à vontade.

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Os Grupos de Apoio entre Pais revelam-se, antes de mais, uma necessidade que

complementaria o apoio profissional, uma vez que este último não alcança todas as

vertentes que os pais necessitam (Kerr & McIntosh, 2000).

Clifford e Minnes (2013) explicam que os pais que atualmente participam em

Grupos de Apoio entre Pais, quando comparados com pais que já participaram neste tipo

de grupos no passado e com pais que nunca participaram em tais reuniões, revelam

estratégias para enfrentar situações melhor adaptadas, assim como melhor suporte

instrumental e apoio emocional. Os cuidados de saúde que estas crianças exigem,

juntamente com os comportamentos inesperados e as múltiplas consultas médicas e

deslocações que estas implicam reduzem o tempo livre destes pais a quase nenhum

(Clifford & Minnes, 2013; Smith et al., 1994).

Ser pai e mãe de uma criança com Perturbação do Espetro do Autismo testa, todos

os dias, os seus limites e capacidades (Clifford & Minnes, 2013). Assim, consideramos

necessário rever as vertentes da Intervenção Precoce, de forma a que também os pais

recebam a ajuda necessária para, ao longo do caminho que seguem, encontrar mais pontes

e menos obstáculos.

Smith et al. (1994) explicam que, com o passar do tempo, a informação deixa de

ser a prioridade dos pais e o apoio emocional ocupa-lhe o lugar, devido ao desgaste

psicológico e à necessidade de aceitação e compreensão. Assim, todos os programas de

Intervenção Precoce deveriam conter reuniões entre os progenitores, de forma a diminuir

os níveis de stress e melhorar os níveis de bem-estar de cada uma das respetivas famílias.

Em conclusão, os Grupos de Apoio entre Pais, quando postos em prática, levam

aos pais o apoio emocional de que estes careciam, ajudando a combater os altos níveis de

confusão, ansiedade, culpa, zanga e depressão que os mesmos, até então, carregavam

consigo (Kerr & McIntosh, 2000). Este tipo de grupos revela-se, assim, o apoio

complementar que os pais necessitam e que o apoio profissional não consegue atingir

(Henderson et al., 2014).

Limitações do Estudo e Recomendações

Durante todo o estudo tentei que a validade, a fiabilidade e o rigor científico

fossem uma constante, no entanto, algumas limitações foram surgindo.

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A subjetividade do investigador é o primeiro aspeto a realçar. Em etapas como a

realização das entrevistas e a análise dos dados tentei sempre ser imparcial, mas, e apesar

da ajuda da minha orientadora, nem sempre consegui contornar este aspeto. Estabelecer

um diálogo com as mães para a recolha de informação e, depois de conhecer cada uma

das participantes, analisar os dados recolhidos fez com que a imparcialidade surgisse com

mais dificuldade do que o esperado.

A segunda limitação e, a meu ver, a maior de todas, foi o número de participantes.

Tive grande dificuldade em conseguir pais dispostos a colaborar na minha investigação,

mesmo tendo tentado de norte a sul do país. A ocupação dos pais, a desmotivação para

falar sobre a temática e a falta de feedback de contributos que outrora tinham dado

justificaram tantas respostas negativas, o que me levou, inclusive, a adaptar o tema de

investigação. Após várias reformulações e tentativas, consegui, com a ajuda e

conhecimento da minha orientadora, quatro participantes que se revelaram bastante

entusiasmadas para me ajudar. No entanto, tenho consciência de que o número de

participantes deveria ter sido maior, no sentido de obter mais pontos de vista que me

trariam mais informação, mais perspetivas e, talvez, mais conteúdo importante.

A terceira limitação foi a localização dos participantes, uma vez que o facto de

todas as mães serem da mesma região fez com que os apoios tivessem as mesmas origens

e, assim, algumas respostas revelaram-se semelhantes, o que poderá restringir um pouco

a noção das perspetivas familiares. Posto isto, considera-se que em futuras investigações

a área de incidência do estudo seja alargada, de forma a apurar a importância e

necessidade da criação de Grupos de Apoio entre Pais em Portugal.

Tendo tudo isto em consideração, e ainda a tecer reflexões para futuras

investigações, seria extremamente pertinente realizar estudos de investigação nos Grupos

de Apoio entre Pais que já funcionam em Portugal, procurando apurar as suas dinâmicas

e respetiva adesão, pontos fortes e fracos, o que poderia ser melhorado e como deveriam

ser divulgados. Este estudo revelar-se-ia fundamental para uma maior noção de como

funcionam estes grupos e se, realmente, deveriam fazer parte integrante dos programas

de Intervenção Precoce. Também para os pais de crianças com PEA que ainda não

conhecem tais grupos ou conhecem mas estão reticentes quanto à sua participação, essa

temática de investigação dar-lhes-ia informação importante para que estes criassem uma

noção real do que são os grupos, do que lhes poderiam proporcionar e da forma como

estes funcionam.

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Considero também que seria relevante um reajustamento a nível nacional dos

programas de IP, de forma a que as Instituições possam chegar mais perto das famílias e

alcançá-las, promovendo também um maior contacto entre os pais para que atividades

como as reuniões em grupo possam ser postas em prática. Este tipo de prática faria chegar

às famílias a oportunidade de partilhar as suas experiências com pessoas que passam pelas

mesmas situações, o que seria, certamente, algo a que estas outrora não tiveram acesso e

que se poderia revelar o apoio que ainda falta a estes pais.

Com o diagnóstico da PEA a ser cada vez mais frequente no nosso país, os temas

para investigação são inúmeros e certamente muito úteis. Relativamente aos Grupos de

Apoio entre Pais, estes revelam-se um apoio de prevenção e não de solução, uma vez que

ajudariam os pais a manter os seus níveis de stress, motivação e bem-estar controlados,

fazendo com que toda a restante intervenção fosse mais efetiva e qualificada.

Os profissionais também se revelam peças essenciais da IP, onde a comunicação

com os pais deve ser uma constante e, desta forma, seria indispensável a sua colaboração

na criação de tais grupos de apoio. Para terminar, gostaria de salientar a importância do

papel das famílias em Intervenção Precoce ser mais evidenciado, uma vez que estas são

o elo de ligação entre os profissionais e a criança, tendo a capacidade de validar e

qualificar todo o processo de apoio em Intervenção Precoce.

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ANEXOS

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ANEXO A

GUIÃO DA ENTREVISTA

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Guião da Entrevista

(Breve introdução onde me apresento, dou a conhecer com mais pormenor a minha

investigação, deixo a mãe à vontade para me interromper sempre que ache pertinente e

esclareço-a brevemente acerca dos Grupos de Apoio entre Pais)

- Poderíamos começar por falar do seu filho?

- Gostaria, agora, de dar-me a conhecer a sua família? (idade; habilitações académicas;

idade da criança)

- Que tipo de apoio o seu filho recebe? (Há quanto tempo é apoiado pela ELI; Quem é o

responsável pelo apoio na ELI; Onde é feito esse apoio?)

- Além dos apoios ou apoio da ELI, tem outros tipos de apoio fora? Se sim, de que tipo e

com que frequência?

Conhecer, compreender e explorar as perspetivas dos pais de crianças com PEA na

faixa etária dos 3-6 anos acerca da importância de existirem grupos de apoio entre

pais

- Considera importante a existência de grupos de apoio entre pais? Se sim, porquê?

- Gostaria de fazer parte destes Grupos de Apoio entre Pais?

- Em que locais considera que deveriam ser realizados os encontros/reuniões destes

grupos de apoio entre pais?

- Na sua opinião, estes grupos deveriam reunir de quanto em quanto tempo?

- Considera que os profissionais devem integrar estes grupos em todos os

encontros/reuniões ou só apenas quando os pais considerarem a sua presença importante

para os ajudar a perceber algumas das suas preocupações?

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Conhecer, compreender e explorar as perspetivas dos pais de crianças com PEA na

faixa etária dos 3-6 anos acerca de possíveis benefícios pelo facto de participarem

nos grupos de apoio entre pais

- Que tipo de preocupações considera que poderiam ser abordadas nestes grupos?

- Que tipos de benefícios acha que obteria se participasse nestes Grupos de Apoio entre

Pais?

- Considera que poderia ajudar os outros pais deste grupo? Se sim, de que forma?

Conhecer e compreender as perspetivas dos pais de crianças com PEA na faixa

etária dos 3-6 anos acerca de quem considera que poderia ter um papel importante

(serviços; pessoas individuais) na criação de grupos de apoio entre pais

- Quem considera que poderia ter um papel importante na criação de grupos de apoio

entre pais?

- Como é que os pais poderiam ajudar na criação dos grupos de apoio entre pais?

Conclusão:

- Gostaria de acrescentar algo mais para além do que já foi dito?

- Há alguma pergunta que não lhe tenha feito que acharia pertinente ter sido colocada?