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LAÉRCIO ALMEIDA DE MELO PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS BRASILEIROS NATAL/RN 2019 www.posgraduacao.ufrn.br/ppgscol [email protected] 55-84-3342-2338 CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

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LAÉRCIO ALMEIDA DE MELO

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS

BRASILEIROS

NATAL/RN

2019

www.posgraduacao.ufrn.br/ppgscol [email protected] 55-84-3342-2338

CENTRODECIÊNCIASDASAÚDEPROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMSAÚDECOLETIVA

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LAÉRCIO ALMEIDA DE MELO

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS

BRASILEIROS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva.

Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa de Lima

NATAL/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento de Odontologia

Melo, Laercio Almeida de. Prevalência e fatores associados à multimorbidade em idosos brasileiros / Laercio Almeida de Melo. - Natal, 2019. 78 f.: il. Orientador: Kenio Costa de Lima. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Natal, 2019. 1. Multimorbidade - Tese. 2. Idoso - Tese. 3. Prevalência - Tese. I. Lima, Kenio Costa de. II. Título. RN/UF/BSO BLACK D56

Elaborado por MONICA KARINA SANTOS REIS - CRB-393/15

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Laércio Carlos de Melo e Lúcia de Fátima Almeida de Melo, exemplos de determinação, persistência, compreensão, apoio e,

sobretudo, sinônimos de amor verdadeiro.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por sempre estar comigo, seja me amparando ou abençoando em todos os momentos de minha vida. Aos meus pais, Laércio Melo e Lúcia Melo, pelo apoio e compreensão quando mais precisei. Vocês são meus maiores exemplos. Serei eternamente grato pelas suas dedicações e amor diário proporcionado. Amo vocês. Aos meus irmãos, Liviane Melo e Limarve Melo, pela torcida diária para o meu sucesso. Ao meu orientador, Kenio Lima, pela confiança, dedicação e, sobretudo, pelos ensinamentos. Aos professores Isabelle Ribeiro, Angelo Roncalli, Manuel Gordón-Núñez, Leandro

Pernambuco e Vilani Nunes pela colaboração e ajuda no desenvolvimento do trabalho.

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“Construí amigos, enfrentei derrotas, Venci obstáculos, bati na porta da vida e disse-lhe: Não tenho medo de vivê-la!” (Augusto Cury).

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RESUMO

Objetivou-se identificar a prevalência de multimorbidade em idosos no Brasil e seus fatores associados com variáveis socioeconômicas e referentes ao estilo de vida. Além disso, realizou-se uma revisão integrativa sobre o tema. Trata-se de um estudo transversal e de base populacional. Para a sua realização, foi utilizada a base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde. O idoso foi considerado com multimorbidade quando se tinha um diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas. Na análise dos dados, o teste Qui-quadrado foi utilizado e em seguida as razões de prevalência foram estimadas por meio da regressão múltipla de Poisson, ambos com nível de confiança de 95%. Participaram do estudo 11.697 idosos com idade média de 70,1 anos. Como resultado na revisão integrativa, os fatores associados foram o ato de fumar, consumo de álcool, morar em áreas rurais, baixa escolaridade, sexo feminino, idosos mais envelhecidos e não morar com crianças. Para a maioria dos artigos, uma renda familiar baixa também se mostrou associada à multimorbidade. A prevalência de multimorbidade foi de 53,1%

em idosos brasileiros. Já na análise multivariada, os idosos do sexo feminino (p<0,001), os mais

envelhecidos (p=0,002), os que não são solteiros, mais fortemente associados aos viúvos

(p=0,001) e os que possuem plano de saúde no ato da entrevista (p<0,001) estão associados à

multimorbidade. Comparando com os idosos que possuem duas doenças crônicas, as mulheres

estão associadas à presença de três (p=0,003) e quatro ou mais doenças crônicas (p<0,001).

Ademais, para aqueles idosos com multimorbidade, verificou-se que as condições mais prevalentes foram: Hipertensão e Colesterol alto (31,3%), Hipertensão e AVC (30,9%) e Hipertensão e Diabetes (23,3%). Houve associação da primeira condição com o sexo feminino

(p<0,001), idosos mais jovens (p<0,001) e ao fato de não fumar (p=0,005). Já a segunda

condição, esteve associada ao sexo feminino (p=0,001) e à baixa escolaridade (p<0,001). A

terceira associou-se à baixa escolaridade (p=0,020), aos que não realizam exercício físico

(p<0,001) e não fumam (p<0,001). Conclui-se que a multimorbidade em idosos brasileiros é

uma condição bastante comum e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos e pouco relacionada ao estilo de vida. Entretanto, para as principais multimorbidades, além das condições socioeconômicas, o estilo de vida também influenciou nas suas prevalências. Palavras chaves: Multimorbidade; Idosos; Doenças crônicas.

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ABSTRACT

The objective of this study was to identify the prevalence of multimorbidity in the elderly in Brazil and its factors associated with socioeconomic and lifestyle variables. In addition, an integrative review was conducted on the topic. This is a cross-sectional, population-based study. The database was used for the National Health Survey. The elderly were considered multimorbital when they had a diagnosis of two or more chronic diseases. In the analysis of the data, the chi-square test was used and then the prevalence ratios were estimated by means of Poisson multiple regression, both with 95% confidence level. A total of 11,697 elderly people with a mean age of 70.1 years participated in the study. As a result of the integrative review, the associated factors were smoking, alcohol consumption, living in rural areas, low schooling, female sex, older people and not living with children. For most articles, a low household income was also associated with multimorbity. The prevalence of multimorbidity was 53.1% in

brazilian elderly. In the multivariate analysis, the elderly (p<0.001), the older (p=0.002), those

who are not single, more strongly associated with widowers (p=0.001) and those with health

insurance in the (p<0.001) are associated with multimorbidity. Compared with the elderly with

two chronic diseases, women are associated with three (p=0.003) and four or more chronic

diseases (p<0,001). In addition, hypertension and high cholesterol (31.3%), hypertension and

stroke (30.9%) and hypertension and diabetes (23.3%) were found to be the most prevalent conditions for those with multimorbidity. There was association of the first condition with the

female sex (p<0.001), younger elderly people (p<0.001) and the fact of not smoking (p = 0.005).

On the other hand, the second condition was associated with female gender (p = 0.001) and low

level of education (p<0,001). The third group was associated with low educational level

(p=0.020), those who did not exercise (p<0.001) and did not smoke (p<0.001). It is concluded

that multimorbidity in Brazilian elderly is a very common condition and that it has been influenced by socioeconomic factors and little related to lifestyle. However, for the main multimorbities, in addition to socioeconomic conditions, lifestyle also influenced their prevalence. Keywords: Multimorbity; Elderly; Chronic diseases.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Fluxograma dos estudos analisados....................................................... 39

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11

2 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................. 13

2.1 ESTRATÉGIA DE BUSCA...................................................................................... 13

2.2 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E DOENÇAS CRÔNICAS EM IDOSOS...... 13

2.3 MULTIMORBIDADE EM IDOSOS........................................................................ 15

2.4 FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS........................ 16

3 OBJETIVOS............................................................................................................ 19

3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................. 19

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................... 19

4 METODOLOGIA................................................................................................... 20

4.1 METODOLOGIA PARA A REVISÃO INTEGRATIVA........................................ 20

4.1 DESENHO DO ESTUDO.............................................................................. 21

4.2 LOCAL DO ESTUDO E PARTICIPANTES................................................ 21

4.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS........................................................................ 21

4.4 DELINEAMENTO DA PESQUISA.............................................................. 21

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................. 22

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 23

5.1 ARTIGO 1..................................................................................................... 24

5.2 ARTIGO 2..................................................................................................... 42

5.3 ARTIGO 3..................................................................................................... 57

6 CONCLUSÃO............................................................................................... 73

REFERÊNCIAS............................................................................................ 74

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, tornou-se cada vez mais importante cuidar da vida, já que a redução da vulnerabilidade ao adoecer fortalece a proteção da incapacidade, de sofrimento crônico e de morte prematura. Em idosos, especificamente, identificar os fatores que levam ao adoecer e buscar reduzi-los torna-se crucial, uma vez que esse segmento populacional é caracterizado pela vulnerabilidade e redução da capacidade funcional neste momento da vida (OLIVEIRA et al., 2013).

No que tange à saúde, a ocorrência de múltiplas doenças crônicas é uma condição bastante comum. Tal situação se deve provavelmente à redução do limiar de diagnóstico positivo para algumas doenças crônicas, envelhecimento populacional ou possivelmente pelo próprio aumento na prevalência dessas doenças (STARFIELD., 2011). E quando se trata da população idosa, a ocorrência de diferentes problemas de saúde em um mesmo indivíduo, também conhecida como multimorbidade, apresenta-se como um problema ainda mais frequente. Este fato pode estar intimamente relacionado ao aumento da expectativa de vida da população (SALIVE et al., 2013).

Com relação ao conceito de multimorbidade, apesar de bem estabelecido na literatura, a definição quanto ao número de condições crônicas em um mesmo indivíduo varia consideravelmente. Dentre essas variações, existem estudos que consideram a multimorbidade como sendo o acometimento de duas ou mais doenças crônicas e outros como sendo a presença de pelo menos três (VIOLAN et al., 2014). Como consequência desse fato, as estimativas de prevalência da multimorbidade em idosos também variam. Estima-se na literatura que a prevalência de múltiplas doenças crônicas estão numa faixa de 30,7% a 57% (MINI et al., 2017; HA et al., 2015; BANJARE et al., 2014; JERLIU et al., 2013; AGBORSANGAYA et al., 2012; MARENGONI et al., 2008; CAVALCANTI et al., 2017).

Levando-se em consideração a sua prevalência, gravidade e seu impacto na qualidade de vida, a multimorbidade atualmente é considerada um problema de saúde pública (NUNES et al., 2015). Devido a um percentual que pode atingir mais de 50%, a prevalência dessa condição em idosos é alta, e segundo estudos de tendência, a previsão é que esse número aumente cada vez mais (VERAS et al., 2011; MURRAY et al., 2012; VOS et al., 2012; RECHEL et al., 2013). A presença de multimorbidade em idosos pode acarretar sérios prejuízos, incluindo maiores riscos de morte e de declínio funcional, além de impactar na diminuição da expectativa de vida nesse segmento populacional (GIJSEN et al., 2001; DUGOFF et al., 2014). Apesar da possibilidade de ser controlada por meio de tratamentos e mudanças de hábitos de vida, o manejo adequado de um paciente com multimorbidade é um

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desafio para os serviços de saúde nos diferentes níveis de complexidade. Ademais, identificar os fatores associados à prevalência dessa condição, pode ajudar nesse manejo de forma adequada (VERAS et al., 2016; ORDING et al., 2013).

Dessa maneira, com a identificação da prevalência, dos fatores associados e das multimorbidades mais frequenteses em idosos, a formulação de políticas públicas voltadas para a prevenção destes agravos e a elaboração de estratégias nas áreas de promoção, vigilância e atenção à saúde ficam facilitadas (BRASIL., 2011). Somada a essa importância, é necessário estudos de abrangência populacional maior que avaliem a prevalência e os fatores associados à multimorbidade em idosos, uma vez que aqueles autores que se propuseram a estudar esse tema, o fizeram em populações de pequenos portes (HA et al., 2015; BANJARE et al., 2014; AGBORSANGAYA et al., 2012; MARENGONI et al., 2008; CAVALCANTI et al., 2017).

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2. 1 ESTRATÉGIA DE BUSCA Para a realização desta revisão, as estratégicas de busca eletrônica foram conduzidas nas

bases de dados: Cochrane Library, MEDLINE, Web of Science, Scopus, LILACS, Scielo e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores e/ou palavras: “multimorbidity”; “multi-morbidity”; “comorbidity”; "multiple diseases”; "elderly”; "major adults”, "older people", “older persons”, "aged", “associated factors”, “correlated factors”, "socioeconomic factors" e "demographic factors". Além da pesquisa nas bases supracitadas, também foram realizadas buscas manuais nas referências de artigos sobre o tema, dissertações e teses.

2. 2 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E DOENÇAS CRÔNICAS EM IDOSOS

A transição de uma população jovem para uma envelhecida, em um curto espaço de tempo, está associada a quedas significativas nas taxas de mortalidade e fecundidade. De acordo com os últimos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD), a taxa de fecundidade total, por parte das mulheres brasileiras, encontra-se próxima aos níveis de reposição, em média 2,1 filhos por mulher (ARAUJO et al., 2012).

Com as mudanças observadas na pirâmide populacional, algumas doenças próprias do envelhecimento ganham maior expressão em nossa sociedade. A epidemia das doenças crônicas não transmissíveis é decorrente da queda das taxas de natalidade, diminuição dos índices de mortalidade infantil, com consequente aumento da população e expectativa de vida (ARAUJO et al., 2012).

O acompanhamento médico constante, a necessidade de cuidados permanentes, medicação contínua e exames periódicos são consequências dessa transição epidemiológica, em que as doenças crônicas ganham grande relevância no processo de envelhecimento populacional. Estimativas da OMS para o ano 2020 apontam que as mortes por doenças crônico degenerativas representarão 73% dos óbitos no mundo. Projeções também estimam que os gastos em saúde aumentem de forma assustadora e cuidados com saúde tendem a emergir como um dos maiores desafios fiscais nas próximas décadas no Brasil (LIMA-COSTA et al., 2003; GOULART et al., 2011).

Com relação ao conceito de doença crônica, entende-se que essa está presente quando há uma persistência durante um período superior a três meses e permanece por um longo período da vida do indivíduo (DIEDERICHS et al., 2012). Ademais, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) evoluem geralmente de forma lenta (WHO, 2014a) e os quatro principais tipos são: doenças cardiovasculares (como ataques cardíacos e acidentes vasculares

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cerebrais), cânceres, doenças respiratórias crônicas (como doença pulmonar obstrutiva crônica e asma) e diabetes. As DCNT são caracterizadas por serem irreversíveis, possuir longo percurso de latência, de origem não infecciosa, e que, além disso, podem gerar incapacidade funcional.

Essas doenças são associadas com determinantes sociais menores, econômicos, ocupacionais, étnicos e de gênero. Sendo assim, as pessoas mais vulneráveis às DCNT são aquelas com menor renda, baixa ou nenhuma escolaridade, que vivem em localidades de periferia e, consequentemente, têm menor acesso aos serviços de saúde (FERNANDES et al., 2010).

Em idosos, as DCNT não podem ser atribuídas somente a uma causa, tendo em vista que a maioria delas tem múltiplos fatores determinantes, condicionantes e etiologias. Além disso, depende também do tempo de exposição que o indivíduo ficou ao agente causador e da carga genética. De um modo geral, os quatro principais fatores de risco comum para a maior parte das DCNT são o tabagismo, a inatividade física, a alimentação não saudável e o consumo de álcool (FERNANDES et al., 2010). Muito prevalente em idosos, as doenças crônicas mais frequentes nesse seguimento populacional são: as doenças cardiovasculares e as doenças mentais e neurológicas. Entre as doenças mentais que mais afetam os idosos, prevalecem as demências e a depressão. Estudos internacionais que avaliam a prevalência de diversas doenças crônicas, encontraram como resultados que as doenças cardiovasculares (DCV), incluindo a hipertensão arterial, eram as mais prevalentes na população idosa (MARENGONI et al., 2008; JERLIU et al., 2013).

No que se refere ao cenário brasileiro, esse acompanha a tendência mundial dentro de um contexto epidemiológico. Inquéritos populacionais indicam que as doenças crônicas mais prevalentes no Brasil são as cardiovasculares (RAMOS, 2003; MALTA et al., 2006) e de acordo com a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios, cerca de 60 milhões de pessoas afirmam ter pelo menos uma doença crônica (BRASIL, 2011). Ao avaliar a prevalência em idosos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que 80% dos indivíduos com 60 anos ou mais possuem pelo menos uma DCNT (IBGE, 2010).

Vale ainda ressaltar que, além do aumento nas prevalências das doenças crônicas com avanço da idade, também tem sido verificada uma frequência crescente de múltiplas doenças crônicas em um mesmo indivíduo, ou seja, ocorrência de duas ou mais DCNT. Tal situação pode aumentar o risco de morte desses idosos ou gerar perda de qualidade de vida (CHEUNG, et al., 2012).

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2. 3 MULTIMORBIDADE EM IDOSOS Com o aumento da expectativa de vida e da ocorrência das doenças crônicas, a

multimorbidade, que corresponde a ocorrência de diferentes problemas de saúde em um mesmo indivíduo, apresenta-se como um problema frequente na população, principalmente tratando-se da população idosa (MARENGONI et al., 2008; CHEUNG et al., 2012). Apesar do aumento populacional e da alta prevalência de multimorbidade em idosos, até o presente momento são poucos os estudos que investigaram as prevalências e os seus fatores associados (MARENGONI et al., 2008; CHEUNG et al., 2012).

É importante salientar que na literatura disponível, a multimorbidade também pode ser chamada de comorbidade para indicar o acúmulo de duas ou mais condições crônicas. Entretanto, é importante destacar que a utilização de comorbidade como sinônimo de multimorbidade é um erro, uma vez que existe diferença entre suas definições. Apesar de comorbidade também estar relacionada ao número de doenças crônicas, a avaliação e o conceito dessa condição está associada com a doença de base, enquanto que para a multimorbidade, a avaliação do número de doenças não depende da relação com a doença principal (CHEUNG et al., 2012).

Apesar do conceito de multimorbidade ser bem estabelecido na literatura, a sua definição com relação ao número de condições crônicas consideradas, varia muito. Dentre essas variações, existem autores que consideram a multimorbidade com sendo a presença de pelo menos duas doenças crônicas e outros como sendo a presença de pelo menos três. Esses indivíduos com acúmulo de doenças crônicas, necessitam de cuidados diferenciados em relação àqueles que têm apenas uma DCNT (WOLFF et al., 2002). Nesse sentido, devido a sua gravidade e seu impacto na qualidade de vida, conhecer a prevalência de multimorbidade é fator relevante para organização dos serviços de saúde.

Um estudo realizado com mais de 1 milhão de idosos nos Estados Unidos, avaliou a prevalência do acúmulo de doenças crônicas e verificou que 82% desse grupo populacional possuía alguma doença crônica e 62% relataram a presença de duas ou mais DCNT. Essa mesma pesquisa identificou que o aumento do número de doenças crônicas estava associado com o aumento de idade (WOLFF et al., 2002). Em diferentes partes do mundo, outras pesquisas identificaram prevalências semelhantes de multimorbidade em idosos. Um estudo de revisão sistemática de 41 artigos verificou que a prevalência de multimorbidade entre os idosos varia de 55% a 98% (MARENGONI et al., 2008).

No Brasil, são poucos os estudos encontrados sobre multimorbidade, e essa carência é maior ainda quando se trata da população idosa como unidade de estudo. Estudos brasileiros que avaliam múltiplas doenças crônicas em um mesmo indivíduo, apresentam prevalência de

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58,2% para aqueles com 50 anos ou mais (MACHADO et al., 2013) e 39,3% para indivíduos de 40 a 65 anos (MACHADO et al., 2012). Essa diferença pode ser em decorrência da faixa etária distinta analisada, visto que de acordo com o aumento da idade, a ocorrência de multimorbidade também aumenta (CHEUNG et al., 2012). Dados disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) obtidos através de inquéritos populacionais demonstram que 33% dos idosos apresentam três ou mais DCNT (IBGE, 2010).

Considerando a sua prevalência, gravidade e seu impacto na qualidade de vida, a multimorbidade atualmente é um problema de saúde pública (NUNES et al., 2015). A prevalência de diferentes problemas de saúde em idosos é alta, com um percentual que pode passar dos 50% e, segundo estudos, a tendência é que esse número aumente (VERAS et al., 2016; MURRAY et al., 2017; VOS et al., 2017; RECHEL et al., 2015). As consequências da multimorbidade incluem maiores riscos de morte e de declínio funcional, além de impactar na diminuição da expectativa de vida (DUGOFF et al., 2014). Apesar da possibilidade de ser controlada, o manejo adequado da multimorbidade ainda é um desafio para os sistemas e serviços de saúde mundial (VERAS et al., 2016; ORDING et al., 2013). 2.4 FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS

A maioria dos estudos que analisam os fatores relacionados às multimorbidades em idosos são do tipo transversal. Neles, a multimorbidade está associada com o ato de fumar, consumo de álcool, morar em áreas rurais, baixa escolaridade, sexo feminino, idosos mais envelhecidos, uso de serviços de saúde na última semana, estrutura familiar (não morar com crianças), polifarmácia e autopercepção negativa de saúde. Apesar da maioria dos estudos relatarem uma associação entre multimorbidade e baixa condição econômica, ainda há divergências de resultados na literatura (MINI et al., 2017; HA et al., 2015; BANJARE et al., 2014; JERLIU et al., 2013; MARENGONI et al., 2008; AGBORSANGAYA et al., 2012; CAVALCANTI et al., 2017).

Mini et al, em 2017, objetivaram estimar a proporção de idosos com multimorbidade, seus fatores associados, assim como suas implicações. Um total de 9.852 idosos com idade igual ou maior que 60 anos foram entrevistados. Como resultado, os autores verificaram que naqueles indivíduos com idade ≥ 70 anos, usuários de álcool, mulheres, usuários de tabaco e mais ricos, eram mais propensos a reportar multimorbidade (MINI et al., 2017). Ha et al, 2015, procuraram determinar a prevalência de multimorbidade em idosos e identificar os fatores associados em uma população idosa no Sul do Vietnã. A amostra foi de 2400 indivíduos com 60 anos ou mais. Após uma análise multivariada, a faixa etária, o gênero e a necessidade de ajuda para atividades básicas perderam a significância estatística. Em contrapartida, o fato do

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idoso ser não alfabetizado, morar na zona rural e utilizar serviços de saúde na última semana estavam associados à presença de multimorbidade (HA et al., 2015).

Em 2014, Banjare et al avaliaram a prevalência do acúmulo de condições crônicas entre idosos rurais, assim como os fatores socioeconômicos e demográficos associados. Participaram 310 idosos com idade igual ou maior que 60 anos. Os resultados obtidos a partir da análise de regressão logística mostram que idosos mais velhos, aqueles que possuem dependência econômica e os que fumam são mais propensos a apresentarem multimorbidade (BANJARE et al., 2014). Já em 2013, Jerliu et al avaliaram a prevalência de multimorbidade e fatores demográficos e socioeconômicos associados em idosos do Kosovo. Participaram do estudo 1890 indivíduos com idade igual ou maior que 65 anos. 45% dos idosos tinham pelo menos duas doenças crônicas. A partir de uma análise multivariada, os fatores relacionados à presença de multimorbidade foram o sexo feminino, idade avançada, pobreza autopercebida e dificuldade de acesso aos cuidados médicos (JERLIU et al., 2013).

Agborsangaya et al, 2012, objetivaram identificar a prevalência de multimorbidade e seus fatores sociodemográficos em adultos com 18 anos ou mais. Este estudo avaliou diferentes faixas etárias, incluindo idosos com idade igual ou maior que 65 anos. A amostra correspondente aos idosos foi de 776 indivíduos. Para esse grupo populacional, a multimorbidade esteve associada ao sexo feminino e àqueles que não vivem com crianças (AGBORSANGAYA et al., 2012). Em 2008, Marengoni et al investigaram o papel da idade, gênero e satutus socioeconômico na ocorrência de multimorbidade em idosos com idade variando entre 77 e 100 anos. A idade avançada, o sexo feminino e um menor nível de escolaridade se mostraram associados à multimorbidade (MARENGONI et al., 2008).

Em 2017, Cavalcanti et al buscaram associação entre multimorbidade em idosos com variáveis sociodemográficas, autopercepção de saúde e polifarmácia. A amostra foi constituída de 676 indivíduos com 60 anos de idade ou mais residentes em municípios de pequeno porte do norte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Após análise ajustada, a ocorrência de multimorbidade, apresentou-se associada às variáveis: percepção de saúde negativa e uso de polifarmácia. Na análise bruta, a multimorbidade esteve relacionada ao sexo feminino, idade avançada, baixo nível socioeconômico e transtornos mentais. No entanto, ao realizar a análise ajustada, essas variáveis perderam significância (CAVALCANTI et al., 2017).

Por fim, dentre os fatores associados supracitados, vale destacar alguns associados a vários tipos de multimorbidade: - Hábitos alimentares: A dieta é influenciada por diversos fatores, como renda, disponibilidade e acessibilidade de alimentos saudáveis, preferências e crenças individuais, tradições culturais, fatores geográficos, ambientais, sociais e econômicos, que interagem de maneira complexa para

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moldar padrões alimentares individuais (WHO, 2015). Atualmente, vive-se um aumento da produção de alimentos ultraprocessados, uma urbanização rápida e mudança de estilos de vida, os quais levam a mudanças nos padrões alimentares. De forma frequente, as pessoas estão consumindo cada vez mais alimentos gordurosos, açucarados e ricos em sódio. (WHO, 2015). Como consequência, as DCNT, dentre elas diabetes, doença cardíaca, acidente vascular cerebral e câncer tornam-se cada vez mais frequentes. (WHO, 2014a). - Sobrepeso: Estão diretamente associados a uma série de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e dislipidemia (MALTA et al., 2012). Além disso, tem sido relatada associação entre o sobrepeso e muitos tipos de câncer como o esôfago, coloretal, mama, endométrio e rins. Entre os brasileiros, segundo dados da PNS, a prevalência de sobrepeso é de 12% (WHO, 2014b; KULLER et al., 1971). - Tabagismo: O hábito de fumar é um dos principais fatores que levam a uma série de doenças crônicas, incluindo as pulmonares e cardiovasculares. É também um causador de um número estimado de 22% das mortes por câncer a cada ano, incluindo o de pulmão, laringe, esôfago, boca, rim, pâncreas, bexiga, estômago e colo do útero. Apesar dessas consequências, segundo dados da PNS, 15% da população geral brasileira faz uso de tabaco. Em idosos, a prevalência de fumo é ainda um pouco menor, sendo de 13,3% (WHO, 2014a). - Sedentarismo: Esse fator associado é caracterizado pela prática insuficiente de atividade física, e é um dos principais fatores de risco para a mortalidade de indivíduos a nível mundial. O exercício físico, quando feito com regularidade, diminui o risco de doenças cardiovasculares, da hipertensão arterial, depressão, câncer de mama, câncer de colo do útero e diabetes. No que tange a população brasileira, a prevalência do sedentarismo é de 15% (WHO, 2014b). - Consumo excessivo de bebida alcoólica: No Brasil, a prevalência de consumo abusivo de bebida alcoólica é de 13,7%. Mais da metade dos óbitos causados pelo excesso de bebida alcoólica foram resultantes de doenças cardiovasculares e diabetes (33,4%), cânceres (12,5%) e doenças gastrointestinais, incluindo cirrose hepática (16,2%) (WHO, 2014). Também considerada como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, estima-se que em média, os homens morrem mais que as mulheres entre aqueles que consomem álcool (WHO, 2014a).

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3 OBJETIVOS

3.1 GERAL

• Identificar a prevalência de multimorbidade em idosos no Brasil e seus fatores associados com variáveis socioeconômicas e referentes ao estilo de vida.

3.2 ESPECÍFICOS

• Identificar os fatores associados à multimorbidade em idosos por meio de uma revisão integrativa da literatura;

• Descrever os fatores associados a presença de duas, três e quatro ou mais doenças crônicas em idosos no Brasil;

• Buscar associação entre as multimorbidades mais frequentes em idosos no Brasil e variáveis socioeconômicas e de estilo de vida.

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4 METODOLOGIA

4.1 METODOLOGIA PARA A REVISÃO INTEGRATIVA Foi realizada uma revisão integrativa de todos os tipos de estudos publicados na

literatura para identificar os fatores associados à multimorbidade em idosos. Os critérios de inclusão consistiram em: estudos transversais ou longitudinais que tinha como objeto de estudo a população idosa (indivíduos acima de 60 anos) que possuíam multimorbidade. Nesta revisão, foi incluído tanto estudos que consideraram multimorbidade como sendo o acúmulo de duas ou mais doenças crônicas, como aqueles que consideraram o acúmulo de três ou mais. Ademais, para serem incluídos os estudos deveriam considerar doenças crônicas como aquelas proposta em 1957 pela Comissão de Doenças Crônicas de Cambridge (Estados Unidos), na qual se incluem todos as condições que tinham pelo menos uma das seguintes características: permanência, presença de incapacidade residual, mudança patológica não reversível no sistema corporal, necessidade de treinamento especial do paciente para a reabilitação e previsão de um longo período de supervisão, observação e cuidados14.

No presente estudo não houve restrição de ano de publicação e idioma. Foram excluídos estudos que avaliam a multimorbidade e seus fatores associados em crianças, adolescentes e adultos. Além disso, também foram excluídos aqueles em que a multimorbidade não foi considerada como a variável dependente.

As estratégicas de busca eletrônica foram conduzidas por três pesquisadores (LAM, FPPL, MMS), independentemente, durante o período de maio de 2018 a julho de 2018, nas bases de dados: Cochrane Library, MEDLINE, Web of Science, Scopus, LILACS, Scielo e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores e/ou palavras: “multimorbidity”; “multi-morbidity”; “comorbidity”; "multiple diseases”; "elderly”; "major adults”, "older people", “older persons”, "aged", “associated factors”, “correlated factors”, "socioeconomic factors" e "demographic factors". Além da pesquisa nas bases supracitadas, também foram realizadas buscas manuais nas referências de artigos sobre o tema. As estratégias de busca elaboradas para cada base de dados estão descritas no quadro 1.

Após as buscas nas bases de dados e manuais, os títulos e resumos foram organizados em um formulário padronizado. Em seguida, os três pesquisadores, utilizando os mesmos critérios de eleição, realizaram a seleção daqueles estudos com potencial para serem lidos na íntegra e incluídos na revisão.

Os dados dos estudos lidos na íntegra e incluídos na revisão foram anotados em uma folha de extração de dados pelos três autores (LAM, FPPL, MMS) que, independentemente e em trio, registraram dados referentes à pesquisa (amostra, país onde o estudo foi conduzido e

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fatores associados a multimorbidades), características metodológicas (tipo de estudo) e desfechos.

Na presença de discordâncias, os autores consultaram um quarto autor (KCL) e, por meio de um consenso, chegaram a uma decisão comum. Para a avaliação da qualidade dos estudos selecionados, utilizou-se o método proposto por Loney, o qual avalia criticamente estudos de prevalência ou incidência de problemas de saúde15. A sua avaliação crítica é baseada em 8 itens: desenho do estudo adequado, delineamento do processo de amostragem, tamanho da amostra adequado, utilização de métodos validados, medição dos dados de forma imparcial, perda amostral inferior a 30%, intervalos de confiança presente na determinação da prevalência ou incidência e descrição detalhada dos sujeitos do estudo. Cada um desses itens, quando adequados, pontuam com 1 ponto, e no total cada estudo pode variar a pontuação de 0 a 8 pontos.

4.2 DESENHO DO ESTUDO O presente estudo caracteriza-se por ser do tipo transversal e de base populacional.

4.3 LOCAL DO ESTUDO E PARTICIPANTES

Para a realização desta pesquisa, foi utilizada a base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) com coletas de dados feitas em 2013 e 2014. A PNS é representativa para moradores a partir de 18 anos, residentes em domicílios particulares do Brasil em áreas urbana e rural, abrangendo as cinco macrorregiões geográficas do país. Entretanto, este estudo teve como unidade de análise apenas os indivíduos idosos (11.697 indivíduos), com idade igual ou maior que 60 anos (SOUZA-JUNIOR et al., 2015).

4.4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O projeto de pesquisa da PNS foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, sob o protocolo 328.159, de 26 de junho de 2013. 4.5 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Para estimar a prevalência de multimorbidade, o idoso considerado com essa condição tinha que ter um diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas. As doenças crônicas consideradas foram aquelas pesquisadas na PNS, sendo elas: hipertensão, diabetes, colesterol alto, doença cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), asma, artrite ou reumatismo, problemas de coluna, depressão, doenças mentais (esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno compulsivo-obsessivo), doenças no pulmão (bronquite crônica, enfisema ou doença

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pulmonar obstrutiva crônica), câncer e insuficiência renal. Para todas as doenças crônicas supracitadas, as suas identificações foram dadas a partir da pergunta “algum médico já lhe deu o diagnóstico para essa doença?”

Em relação aos fatores associados à ocorrência de multimorbidade em idosos e das condições mais frequentes, foram analisados dois blocos de variáveis, o primeiro representado por variáveis socioeconômicas (sexo, idade, cor ou raça, estado civil, escolaridade e plano de saúde) e o segundo por variáveis referentes ao estilo de vida (uso de bebida alcoólica, tabagismo e exercício físico). Para identificar as multimorbidades mais prevalentes, foi feita uma combinação 2x2 de todas as doenças crônicas avaliadas e em seguida uma análise de frequência.

Além de se verificar a associação dessas variáveis com a presença de duas ou mais doenças crônicas, também foi feita a associação dessas variáveis comparando a presença de duas e três doenças crônicas e duas e quatro doenças crônicas.

4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para a análise dos dados, utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS) 20.0. Inicialmente, para a confecção das tabelas, foi feito a distribuição de frequência de todas as variáveis do estudo. E por fim, com o objetivo de verificar a associação entre as variáveis sociodemográficas e estilo de vida com a presença de multimorbidade em idosos e as condições mais frequentes, o teste Qui-quadrado foi utilizado

com um nível de confiança de 95%. Para as variáveis independentes com p<0,20 foi testada a

multicolinearidade através da realização de testes do qui-quadrado e, devido ao tamanho amostral, tais associações foram consideradas significativas para um valor de p=0,000001. Em seguida, as razões de prevalência ajustadas foram estimadas por meio da regressão múltipla de Poisson. Vale ressaltar ainda que os dados foram ponderados considerando o efeito do plano amostral, as taxas de não resposta e os pesos de pós-estratificação.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total, foram escritos três artigos científicos, sendo um do tipo revisão integrativa e dois do tipo pesquisa original.

5.1 FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA (Em revisão por pares na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia) 5.2 PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS A MULTIMORBIDADES EM IDOSOS NO BRASIL (Artigo aceito para publicação na Revista Ciência e Saúde Coletiva) 5.3 FATORES ASSOCIADOS ÀS MULTIMORBIDADES MAIS FREQUENTES EM IDOSOS BRASILEIROS (Artigo aceito para publicação na Revista Ciência e Saúde Coletiva)

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FATORES ASSOCIADOS À MULTIMORBIDADE EM IDOSOS: UMA

REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

RESUMO:

Objetivou-se identificar os fatores associados à multimorbidade em idosos por meio de uma revisão integrativa da literatura. Foi utilizado as bases de dados “Cochrane Library”, “MEDLINE”, “Web of Science”, “Scopus”, “LILACS”, “Scielo” e “Google Acadêmico”, com os seguintes termos: “multimorbidity”; “multi-morbidity”; “comorbidity”; "multiple diseases”; "elderly”; "major adults”, "older people", “older persons”, "aged", “associated factors”, “correlated factors”, "socioeconomic factors" e "demographic factors". Os critérios de inclusão consistiram em: estudos transversais ou longitudinais que tinha como objeto de estudo a população idosa com multimorbidade. Foram excluídos os estudos em que a multimorbidade não foi a variável dependente. Um total de 7 artigos foram incluídos nesta revisão. Observou-se uma prevalência variando de 30,7% a 57% de multimorbidade em idosos. Os fatores associados foram o ato de fumar, consumo de álcool, morar em áreas rurais, baixa escolaridade, sexo feminino, idosos mais envelhecidos e não morar com crianças. Para a maioria dos artigos, uma renda familiar baixa também se mostrou associada à multimorbidade. Conclui-se que a multimorbidade em idosos é uma condição comum e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos, demográficos, estilo de vida e estrutura familiar. Palavras-chaves: idosos; multimorbidade; fatores associados.

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1. INTRODUÇÃO

Nos dias hodiernos, tornou-se cada vez mais importante cuidar da vida, já que a redução da vulnerabilidade ao adoecer fortalece a proteção da incapacidade, de sofrimento crônico e de morte prematura. Em idosos, especificamente, identificar os fatores que levam ao adoecer e buscar reduzi-los torna-se crucial, uma vez que esse segmento populacional é caracterizado pela vulnerabilidade e redução da capacidade funcional neste momento da vida1.

Embora as doenças infecciosas sejam ainda importantes e presentes, há um crescimento significativo das doenças crônicas não transmissíveis, dentre as quais, as doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes, enfermidades respiratórias crônicas e doenças neuropsiquiátricas têm respondido por um grande número de mortalidade e perda de qualidade de vida2. Tais condições são capazes de gerar incapacidades e alto grau de limitação em suas atividades de vida diária e lazer, além de provocar grande pressão sobre os serviços de saúde2. Com o aumento da expectativa de vida e da ocorrência das doenças crônicas, a multimorbidade, que corresponde a ocorrência de diferentes problemas de saúde em um mesmo indivíduo, apresenta-se como um problema frequente na população, principalmente tratando-se da população idosa3. Apesar desse conceito bem estabelecido na literatura, a definição de multimorbidade com relação ao número de condições crônicas consideradas, varia muito. Dentre essas variações, existem autores que consideram a multimorbidade com sendo a presença de pelo menos duas doenças crônicas e outros como sendo a presença de pelo menos três4.

Considerando a sua prevalência, gravidade e seu impacto na qualidade de vida, a multimorbidade atualmente é um problema de saúde pública5. A prevalência de diferentes problemas de saúde em idosos é alta, com um percentual acima de 50% e, segundo estudos, a tendência é que esse número aumente6-9. As consequências da multimorbidade incluem maiores riscos de morte e de declínio funcional, além de impactar na diminuição da expectativa de vida10,11. Apesar da possibilidade de ser controlada, o manejo adequado da multimorbidade é um desafio para os sistemas e serviços de saúde mundial6,12.

A identificação de fatores associados que possam estar relacionados a prevalência de multimorbidades, por meio de dados atuais, é primordial para a definição de políticas de saúde voltadas para a prevenção destes agravos e subsidiar a formulação de políticas públicas nas áreas de promoção, vigilância e atenção à saúde13. Dessa maneira, o presente estudo objetivou, por meio de uma revisão integrativa da literatura, identificar os fatores associados à multimorbidade em idosos.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão integrativa de todos os tipos de estudos publicados na literatura para identificar os fatores associados à multimorbidade em idosos. Os critérios de inclusão consistiram em: estudos transversais ou longitudinais que tinha como objeto de estudo a população idosa (indivíduos acima de 60 anos) que possuíam multimorbidade. Nesta revisão, foi incluído tanto estudos que consideraram multimorbidade como sendo o acúmulo de duas ou mais doenças crônicas, como aqueles que consideraram o acúmulo de três ou mais. Ademais, para serem incluídos os estudos deveriam considerar doenças crônicas como aquelas proposta em 1957 pela Comissão de Doenças Crônicas de Cambridge (Estados Unidos), na qual se incluem todos as condições que tinham pelo menos uma das seguintes características: permanência, presença de incapacidade residual, mudança patológica não reversível no sistema corporal, necessidade de treinamento especial do paciente para a reabilitação e previsão de um longo período de supervisão, observação e cuidados14.

No presente estudo não houve restrição de ano de publicação e idioma. Foram excluídos estudos que avaliam a multimorbidade e seus fatores associados em crianças, adolescentes e adultos. Além disso, também foram excluídos aqueles em que a multimorbidade não foi considerada como a variável dependente.

As estratégicas de busca eletrônica foram conduzidas por três pesquisadores (LAM, FPPL, MMS), independentemente, durante o período de maio de 2018 a julho de 2018, nas bases de dados: Cochrane Library, MEDLINE, Web of Science, Scopus, LILACS, Scielo e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores e/ou palavras: “multimorbidity”; “multi-morbidity”; “comorbidity”; "multiple diseases”; "elderly”; "major adults”, "older people", “older persons”, "aged", “associated factors”, “correlated factors”, "socioeconomic factors" e "demographic factors". Além da pesquisa nas bases supracitadas, também foram realizadas buscas manuais nas referências de artigos sobre o tema. As estratégias de busca elaboradas para cada base de dados estão descritas no quadro 1.

Após as buscas nas bases de dados e manuais, os títulos e resumos foram organizados em um formulário padronizado. Em seguida, os três pesquisadores, utilizando os mesmos critérios de eleição, realizaram a seleção daqueles estudos com potencial para serem lidos na íntegra e incluídos na revisão.

Os dados dos estudos lidos na íntegra e incluídos na revisão foram anotados em uma folha de extração de dados pelos três autores (LAM, FPPL, MMS) que,

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independentemente e em trio, registraram dados referentes à pesquisa (amostra, país onde o estudo foi conduzido e fatores associados a multimorbidades), características metodológicas (tipo de estudo) e desfechos.

Na presença de discordâncias, os autores consultaram um quarto autor (KCL) e, por meio de um consenso, chegaram a uma decisão comum. Para a avaliação da qualidade dos estudos selecionados, utilizou-se o método proposto por Loney, o qual avalia criticamente estudos de prevalência ou incidência de problemas de saúde15. A sua avaliação crítica é baseada em 8 itens: desenho do estudo adequado, delineamento do processo de amostragem, tamanho da amostra adequado, utilização de métodos validados, medição dos dados de forma imparcial, perda amostral inferior a 30%, intervalos de confiança presente na determinação da prevalência ou incidência e descrição detalhada dos sujeitos do estudo. Cada um desses itens, quando adequados, pontuam com 1 ponto, e no total cada estudo pode variar a pontuação de 0 a 8 pontos.

3. RESULTADOS

A estratégia de busca eletrônica utilizada resultou em 356 títulos e resumos. Desses, 25 foram selecionados a partir dos critérios de inclusão e exclusão e lidos na íntegra. A busca manual, feita a partir da lista de referências dos artigos lidos completamente, resultou na obtenção de 1 artigo. Ao final, 7 foram eleitos para serem incluídos na revisão (Figura 1 e Quadro 2).

Um total de 17.003 idosos foram avaliados, dos quais 10.098 eram mulheres (59,39%). Todos os estudos incluídos nesta revisão foram estudos transversais. Neles, a multimorbidade foi associada com o ato de fumar, consumo de álcool, morar em áreas rurais, baixa escolaridade, sexo feminino, idosos mais envelhecidos, uso de serviços de saúde na última semana, estrutura familiar (não morar com crianças), polifarmácia e autopercepção negativa de saúde (Tabela 1). Apesar da maioria dos estudos relatarem uma associação entre multimorbidade e baixa condição econômica, houve divergência de resultados, nesta revisão, ao avaliar a influência do status econômico na prevalência de multimorbidade. A pontuação da qualidade dos estudos variou de 7 a 8 pontos.

Mini et al, em 2017, objetivaram estimar a proporção de idosos com multimorbidade, seus fatores associados, assim como suas implicações. Um total de 9.852 idosos com idade igual ou maior que 60 anos foram entrevistados. Como resultado, os autores verificaram que naqueles indivíduos com idade ≥ 70 anos, usuários de álcool, mulheres, usuários de tabaco e mais ricos, eram mais propensos à reportar multimorbidade35. Ha et al, 2015, procuraram determinar a prevalência de

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multimorbidade em idosos e identificar os fatores associados em uma população idosa no Sul do Vietnã. A amostra foi de 2400 indivíduos com 60 anos ou mais. Após uma análise multivariada, a faixa etária, o gênero e a necessidade de ajuda para atividades básicas perderam a significância estatística. Em contrapartida, o fato do idoso ser não alfabetizado, morar na zona rural e utilizar serviços de saúde na última semana estavam associados à presença de multimorbidade36.

Em 2014, Banjare et al avaliaram a prevalência do acúmulo de condições crônicas entre idosos rurais, assim como os fatores socioeconômicos e demográficos associados. Participaram 310 idosos com idade igual ou maior que 60 anos. Os resultados obtidos a partir da análise de regressão logística mostram que idosos mais velhos, aqueles que possuem dependência econômica e os que fumam são mais propensos a apresentarem multimorbidade37. Já em 2013, Jerliu et al avaliaram a prevalência de multimorbidade e fatores demográficos e socioeconômicos associados em idosos do Kosovo. Participaram do estudo 1890 indivíduos com idade igual ou maior que 65 anos. 45% dos idosos tinham pelo menos duas doenças crônicas. A partir de uma análise multivariada, os fatores relacionados à presença de multimorbidade foram o sexo feminino, idade avançada, pobreza autopercebida e dificuldade de acesso aos cuidados médicos38.

Agborsangaya et al, 2012, objetivaram identificar a prevalência de multimorbidade e seus fatores sociodemográficos em adultos com 18 anos ou mais. Este estudo avaliou diferentes faixas etárias, incluindo idosos com idade igual ou maior que 65 anos. A amostra correspondente aos idosos foi de de 776 indivíduos. Para esse grupo populacional, a multimorbidade esteve associada ao sexo feminino e àqueles que não vivem com crianças39. Em 2008, Marengoni et al investigaram o papel da idade, gênero e satutus socioeconômico na ocorrência de multimorbidade em idosos com idade variando entre 77 e 100 anos. A idade avançada, o sexo feminino e um menor nível de escolaridade se mostraram associados à multimorbidade40.

Por fim, em 2017, Cavalcanti et al buscaram associação entre multimorbidade em idosos com variáveis sociodemográficas, autopercepção de saúde e polifarmácia. A amostra foi constituída de 676 indivíduos com 60 anos de idade ou mais residentes em municípios de pequeno porte do norte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Após análise ajustada, a ocorrência de multimorbidade, apresentou-se associada às variáveis: percepção de saúde negativa e uso de polifarmácia. Na análise bruta, a multimorbidade esteve relacionada ao sexo feminino, idade avançada, baixo nível socioeconômico e transtornos mentais. No entanto, ao realizar a análise ajustada, essas variáveis perderam significância41.

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4. DISCUSSÃO

O presente estudo procurou identificar através de uma revisão integrativa da literatura, os fatores associados à presença de multimorbidade em idosos. Para isso, foram incluídos todos os tipos de estudos encontrados que se enquadraram nos critérios de inclusão estabelecidos. Não foi possível realizar uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados, cujo nível de evidência científica é alto. Tal situação justifica-se pela ausência do idoso com multimorbidade nesses tipos de estudos, uma vez que na maioria de seus desenhos metodológicos, esse grupo populacional entra nos critérios de exclusão justamente por apresentarem doenças crônicas. Entretanto, com relação à qualidade dos estudos incluídos, pode-se perceber que os resultados propostos possuem confiabilidade, validade interna e externa, já que a pontuação variou de 7 a 8 pontos, sendo esse último escore, a pontuação máxima.

Foi possível observar, a partir dos resultados da estratégia de busca, um baixo número de trabalhos que tinham a multimorbidade como sendo a variável dependente do estudo, o que dificultou a obtenção de mais fatores que poderiam influenciar o acometimento de multimorbidade em idosos. Associado a isso, a faixa etária dessa população nos estudos encontrados variou, o que de fato reflete um baixo nível de evidência científica para responder o objetivo do presente estudo.

Em geral, os resultados da revisão apontam uma associação da multimorbidade em idosos com o hábito de fumar, consumo de álcool, morar em áreas rurais, baixa escolaridade, uso de serviços de saúde na última semana, sexo feminino, idosos mais velhos, estrutura familiar (não morar com crianças), polifarmácia e autopercepção negativa de saúde. Os estudos divergiram quanto à influência do status econômico na prevalência da multimorbidade35-41. Com relação ao estilo de vida, apenas o hábito de fumar e consumir álcool foram avaliados. Tais hábitos mostraram-se associados à multimorbidade, e essa correlação pode ser explicada pela interferência na nutrição adequada do idosos, já que o álcool e o tabaco competem com os nutrientes desde sua ingestão até a sua absorção e utilização42. Ademais, do ponto de vista da saúde pública, o álcool e o tabaco encontram-se entre os cinco mais importantes fatores de risco para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis42.

No que se refere a uma forte associação entre morar em áreas rurais e multimorbidade em idosos, sugere-se que essa correlação esteja presente devido a pobre oferta de serviços de saúde e pouco acesso a informações nesses locais, o que pode implicar em menores oportunidades desses idosos a adquirirem hábitos saudáveis que venham prevenir o acúmulo de doenças crônicas43. Diante dessa situação, mais esforços

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devem ocorrer para melhorar os serviços de saúde nessas áreas, sobretudo voltados para os idosos.

Com relação a alfabetização, os resultados indicam que as pessoas com melhor educação têm menos chances de serem portadoras de multimorbidade. A educação habilita um indivíduo a buscar conhecimentos. Portanto, as pessoas educadas podem ser capazes de acessar mais informações sobre promoção da saúde e adotar estilos de vida saudáveis, prevenindo o aparecimento de algumas doenças crônicas36. A utilização de serviços de saúde na última semana foi positivamente associada à prevalência de multimorbidade no estudo de Ha et al. Como os autores estabeleceram a multimorbidade como variável dependente, os resultados sugerem que a utilização de serviços de saúde na última semana influencia numa maior prevalência de multimorbidade. Por ser um estudo do tipo transversal, as variáveis estudadas não podem ter uma relação de causa e consequência bem estabelecida. Sendo assim, a utilização desses serviços parece ser consequência do acúmulo de doenças crônicas, e não o contrário, já que diante de uma menor saúde geral, os idosos procuram com mais frequência serviços de saúde36.

O mesmo ocorreu com as variáveis polifarmácia e autopercepção negativa da saúde no estudo de Cavalcanti et al41. O uso de vários medicamentos e o relato de uma saúde ruim ou péssima parecem ser consequência do acúmulo de doenças crônicas, e não o contrário. O uso da polifarmácia pode ser entendido pela necessidade frequente dos idosos em ingerir medicações para o tratamento das doenças crônicas, enquanto autopercepção com relação a sua saúde tende a ser negativa devido a um maior número de hospitalização desses idosos frente à multimorbidade41.

Nos estudos que buscaram associação da multimorbidade em idosos com fatores socioeconômicos e demográficos, houve uma divergência com relação a associação com o sexo e renda familiar35-38,41. Ha et al e Cavalcanti et al não verificaram associação da multimorbidade com o sexo feminino, já Mini et al, Jerliu et al, Agborsangaya et al e Marengoni et al observaram essa associação35-41. O mesmo aconteceu com o status econômico, Mini et al verificaram uma associação entre multimorbidade e aqueles idosos mais ricos, enquanto Banjari e Jerliu observaram associação da multimorbidade com pobreza autodeclara e dependência financeira35,37,38. A divergência desses estudos com relação a essas variáveis, podem ser oriundas de uma faixa etária distinta de idosos analisados. Mini et al, Ha et al, Banjare et al e Cavalcanti et al consideraram idosos com idade igual ou maior que 60 anos, enquanto Jerliu et al e Agborsangaya et al consideraram idosos aqueles com 65 anos ou mais. Já Marengoni et al, estudou apenas idosos na faixa etária de 77 a 110 anos35-41. A associação entre o sexo feminino e a prevalência de

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multimorbidade pode estar relacionada ao fato das mulheres possuírem maior expectativa de vida e pior estado de saúde em comparação com os homens35,38,39.

A maioria dos estudos observaram que os idosos mais envelhecidos e pobres tendem a ter maiores ocorrências de multimorbidade36,38. Sugere-se que os idosos com idades avançadas devido ao envelhecimento fisiológico, tendem a possuir mais multimorbidades que os idosos mais jovens38. Com relação aos mais pobres, dificuldades econômicas continuam a ser um forte preditor de saúde mesmo em idosos. A pobreza parece ser parte de um círculo vicioso: uma renda baixa durante a fase adulta favorece a persistência da pobreza na fase envelhecida, que por sua vez contribui para resultados ruins de saúde38.

O fato da alta prevalência da multimorbidade ser influenciada pela não moradia dos idosos com crianças, sugere que o convívio familiar independente de ser com cônjuge, filho ou neto são de suma importância para os cuidados em saúde dos idosos. Além disso, a importância do apoio familiar, através do manejo de doenças crônicas, pode ser um componente importante na redução da probabilidade de desenvolver outras condições crônicas39.

Nesta revisão, foi verificado que a prevalência de multimorbidade em idosos variaram de 30, 7% a 57%. Essa ampla variação, pode ter ocorrido devido ao estudo de faixas etárias distintas avaliadas nos idosos, assim como pela variação de doenças crônicas estudadas nos diferentes trabalhos. Diante dos resultados encontrados, percebe-se que a multimorbidade é uma condição bastante comum em idosos. Sendo assim, para enfrentar os desafios com relação aos cuidados em saúde que o envelhecimento traz à sociedade, faz-se necessário revisar a organização dos serviços de saúde. Mais esforços devem ser direcionados para educar os profissionais de saúde a fim de priorizarem os cuidados primários em saúde com foco na prevenção de doenças crônicas. Além disso, uma atenção maior deve ser dada aos idosos mais envelhecidos, do sexo feminino e àqueles residentes em áreas rurais para os cuidados em saúde relacionados à multimorbidade.

Por fim, levando-se em consideração um baixo número de estudos que possuem a multimorbidade como variável dependente e a avaliação de seus fatores associados, além de divergências com relação a influência de variáveis socioeconômicas, faz-se necessários estudos de abrangência populacional maior que avaliem os fatores associados à multimorbidade em idosos com o objetivo de confirmar os resultados encontrados nesta revisão.

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5. CONCLUSÃO

Como conclusão, os resultados indicam que a multimorbidade em idosos é uma condição bastante comum e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos, demográficos, estilo de vida e estrutura familiar. A influência do status econômico em que os idosos estão inseridos, ainda não é consenso na literatura.

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6. REFERÊNCIAS

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36

37. Banjare P, Pradhan J. Socio-economic inequalities in the prevalence of multi-morbidity among the rural elderly in Bargarh District of Odisha (India). PLoS One 2014; 9:e97832. 38. Jerliu N, Toçi E, Burazeri G, Ramadani N, Brand H. Prevalence and socioeconomic correlates of chronic morbidity among elderly people in Kosovo: a population-based survey. BMC Geriatr 2013; 1;13:22. 39. Agborsangaya CB, Lau D, Lahtinen M, Cooke T, Johnson JA. Multimorbidity prevalence and patterns across socioeconomic determinants: a cross-sectional survey. BMC Public Health 2012; 12:201. 40. Marengoni A, Winblad B, Karp A, Fratiglioni L. Prevalence of chronic diseases and multimorbidity among the elderly population in Sweden. Am J Public Health 2008; 98:1198-200. 41. Cavalcanti G, Doring M, Portella MR, Bortoluzzi EC, Mascarelo A, Delani MP. Multimorbidity associated with polypharmacy and negative self-perception of health. Rev Bras Geriatr Gerontol 2017; 20(5):634-642. 42. Zaitune MPA, Barros MBA, César CLG, Carandina L, Goudbaum M. Fatores associados ao sedentarismo no lazer em idosos. Cad Saúde Pública 2007; 23: 1329-1338. 43. Kassouf AL. Acesso aos serviços de saúde nas áreas urbana e rural do Brasil. Rev Econ Sociol Rural 2005; 43:29-44.

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37

Quadro 1. Estratégias de busca utilizadas em cada base de dados.

BASE ESTRATÉGIA

Pubmed, Medline

("multimorbidity" OR "multi-morbidity" OR "multiple diseases” OR “comorbidity”) AND ("elderly" OR "major adults" OR "older people"

OR "older persons" OR "aged") AND ("associated factors" OR "correlated factors" OR "socioeconomic factors" OR "demographic

factors")

Web of Science

TS=("multimorbidity" OR "multi-morbidity" OR "multiple diseases" OR “comorbidity”) AND TS=("elderly" OR "major adults" OR "older

people" OR "older persons" OR "aged") AND TS=("associated factors" OR "correlated factors" OR "socioeconomic factors" OR "demographic

factors")

Scopus

TITLE-ABS-KEY("multimorbidity" OR "multi-morbidity" OR "multiple diseases” OR “comorbidity”) AND TITLE-ABS-KEY("elderly" OR

"major adults" OR "older people" OR "older persons" OR "aged") AND TITLE-ABS-KEY("associated factors" OR "correlated factors" OR

"socioeconomic factors" OR "demographic factors")

Cochrane

“multimorbidity" OR "multi-morbidity" OR "multiple diseases” OR “comorbidity” and “elderly" OR "major adults" OR "older people" OR

"older persons" OR "aged" and "associated factors" OR "correlated factors" OR "socioeconomic factors" OR "demographic factors"

Lilacs

“multimorbidity" OR "multi-morbidity" OR "multiple diseases” OR “comorbidity” [Palavras] and “elderly" OR "major adults" OR "older

people" OR "older persons" OR "aged" [Palavras] and "associated factors" OR "correlated factors" OR "socioeconomic factors" OR

"demographic factors" [Palavras]

Scielo

(“multimorbidity” OR “multi-morbidity” OR “multiple diseases” OR “comorbidity”) AND (‘elderly” OR “major adults” OR “older people”

OR “older persons” OR “aged” ) AND (“associated factors" OR "correlated factors" OR "socioeconomic factors" OR "demographic

factors")

Google acadêmico

"multimorbidity" + "multi-morbidity" + "multiple diseases” + “comorbidity” + "elderly" + "major adults" + "older people" + "older

persons" + "aged" + "associated factors" + "correlated factors" + "socioeconomic factors" + "demographic factors"

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Quadro 2. Artigos excluídos após leitura na íntegra e motivos de exclusão.

Não havia um grupo composto de idosos na busca por variáveis associadas com a multimorbidade

Schiøtz ML et al, 201716

Larsen FB et al, 201717

Chung RY et al, 201518

Garin N et al, 201619

Prazeres F et al, 201520

Jackson CA et al, 201521

Roberts KC et al, 201522

Pavela G et al, 201623

Habib RR et al, 201424

McLean G et al, 201425

Hermans H et al, 201426

Phaswana-Mafuya N et al, 201327

Demirchyan A et al, 201328

Alaba O et al, 201329

Hudon C et al, 200830

van den Akker M et al, 199831

A multimorbidade não foi a variável dependente

Mwangi J et al, 201632

Kuo RN et al, 201633

Ruel G et al, 201434

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Figura 1. Fluxograma dos estudos analisados

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Tabela 1. Características e resumo dos resultados dos estudos incluídos na revisão.

Autor e ano do estudo

Tipo de estudo Objetivo e local do estudo Amostra e prevalência de

multimorbidade Fatores associados à multimorbidade Pontuação e limitações

Mini et al, 2017 Transversal

Este estudo objetivou estimar a proporção de idosos com

multimorbidade, seus fatores associados e implicações. O presente estudo incluiu idosos de 7 estados da Índia (Kerala, Tamil Nadu, Punjab,

Himachal Pradesh, Maharashtra, Orissa e Bengala Ocidental).

A prevalência de multimorbidade foi de 30,7% (3.024 idosos),

dentre uma amostra composta por 9.852 idosos.

Os idosos mais ricos (RP=4,68), mais envelhecidos (70 anos ou mais)

(RP=2,44) do sexo feminino (RP=1,51) e usuários de álcool (RP=1,53) e tabaco

(RP=1,22) foram mais propensos à apresentarem multimorbidade.

8 pontos

Cavalcanti et al, 2017 Transversal

Verificar a associação entre multimorbidade com variáveis

sociodemográficas, autopercepção de saúde e polifarmácia em idosos.

O estudo foi realizado em municípios de pequeno porte do

norte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Dos idosos entrevistados (676 indivíduos), 45% (304 idosos) apresentaram multimorbidade.

Após análise ajustada, a ocorrência de multimorbidade apresentou-se associada

às variáveis: percepção de saúde negativa. (p<0,001) e uso de

polifarmácia (p<0,001).

8 pontos

Ha et al, 2015 Transversal

Este estudo teve como objetivo examinar a prevalência de

multimorbidade e os fatores associados entre idosos no Sul do

Vietnã.

39,2% dos idosos (941 indivíduos) apresentaram

multimorbidade. A amostra do presente estudo foi de 2.400

idosos.

A prevalência de multimorbidade é mais frequente estatisticamente naqueles

indivíduos que não são alfabetizados (p=0,001), nos que não trabalham

(p=0,001), nos que residem na zona rural (p<0,001) e naqueles que utilizaram

serviços de saúde na última semana antes da entrevista (p=0,001).

8 pontos

Banjare et al, 2014 Transversal

Investigar a prevalência de multimorbidade em idosos rurais e

os fatores socioeconômicos e demográficos associados. A pesquisa

Um total de 310 idosos foram avaliados, desses, 177 possuíam

As análises de regressões logísticas revelaram que os idosos mais velhos (75

anos ou mais) (RP=4,65), os que são dependentes financeiramente (RP=5,21)

8 pontos

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foi realizada no distrito de Bargarh de Odisha, na Índia.

multimorbidade (prevalência de 57%).

e os que fumam (RP=1,85) apresentam maior chance de adquirirem

multimorbidade.

Jerliu et al, 2013 Transversal

Identificar a prevalência da morbidade crônica e buscar

associação com fatores demográficos e socioeconômicos em

uma população idosa do Kosovo.

Neste estudo, 45% (851 indivíduos) da população idosa

tinham multimorbidade. A amostra foi composta por 1890

idosos.

Os fatores associados à presença de multimorbidade foram sexo feminino (p=0,001), idade avançada (p<0,001), pobreza auto-percebida (p<0,001) e incapacidade de acesso aos cuidados

médicos (p<0,001).

8 pontos

Agborsangaya et al, 2012 Transversal

Este estudo teve como objetivo estimar a prevalência de

multimorbidade e os fatores associados em diferentes faixas

etárias na província de Alberta, no Canadá.

A amostra correspondente aos idosos foi de 776 indivíduos, dos

quais 35,8% (278 idosos) apresentavam multimorbidade.

Para os idosos, a multimorbidade esteve associada ao sexo feminino (RP=1,55) e

àqueles que não vivem com crianças (RP=8,45).

7 pontos. Os idosos que participaram do estudo representam menos de 30% da amostra total.

Marengoni et al, 2008 Transversal

Objetivou-se investigara o papel da idade, gênero e satutus

socioeconômico na ocorrência de multimorbidade em idosos com

idade variando entre 77 e 100 anos.

Neste estudo, 55% (602 indivíduos) da população idosa

tinham multimorbidade. A amostra foi composta por 1099

idosos.

Os idosos com idade avançada (igual ou maior que 85 anos) (RP=1,9), do sexo

feminino (RP=1,5) e com menor nível de escolaridade (RP=1,6) tinham maiores

chances de apresentarem multimorbidade.

7 pontos. Não foi descrito o processo de

amostragem.

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PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS A MULTIMORBIDADES EM IDOSOS NO BRASIL

RESUMO Objetivou-se identificar a prevalência de multimorbidade em idosos no Brasil e seus fatores associados com variáveis socioeconômicas e referentes ao estilo de vida. Trata-se de um estudo transversal e de base populacional. Para a sua realização, foi utilizada a base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde. O idoso foi considerado com multimorbidade quando se tinha um diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas. Na análise dos dados, o teste Qui-quadrado foi utilizado e em seguida as razões de prevalência foram estimadas por meio da regressão múltipla de Poisson, ambos com nível de confiança de 95%. Participaram do estudo 11.697 idosos e a prevalência de multimorbidade foi de 53,1%.

Como resultado na análise multivariada, os idosos do sexo feminino (p<0,001), os mais

envelhecidos (p=0,002), os que não são solteiros, mais fortemente associados aos viúvos

(p=0,001) e os que possuem plano de saúde no ato da entrevista (p<0,001) estão

associados à multimorbidade. Ademais, comparando com os idosos que possuem duas doenças crônicas, as mulheres estão associadas à presença de três (p=0,003) e quatro ou

mais doenças crônicas (p<0,001). Conclui-se que a multimorbidade em idosos brasileiros

é uma condição bastante comum e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos e pouco relacionada ao estilo de vida. Palavras chaves: multimorbidade, idosos, fatores associados

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INTRODUÇÃO No que tange à saúde, a ocorrência de múltiplas doenças crônicas é uma condição

bastante comum. Tal situação se deve provavelmente à redução do limiar de diagnóstico positivo para algumas doenças crônicas, envelhecimento populacional ou possivelmente pelo próprio aumento na prevalência dessas doenças1. E quando se trata da população idosa, a ocorrência de diferentes problemas de saúde em um mesmo indivíduo, também conhecida como multimorbidade, apresenta-se como um problema ainda mais frequente. Este fato pode estar intimamente relacionado ao aumento da expectativa de vida da população2.

Com relação ao conceito de multimorbidade, apesar de bem estabelecido na literatura, a definição quanto ao número de condições crônicas em um mesmo indivíduo varia consideravelmente. Dentre essas variações, existem estudos que consideram a multimorbidade como sendo o acometimento de duas ou mais doenças crônicas e outros como sendo a presença de pelo menos três3. Como consequência desse fato, as estimativas de prevalência da multimorbidade em idosos também variam. Estima-se na literatura que a prevalência de múltiplas doenças crônicas estão numa faixa de 30,7% a 57%4-10.

Levando-se em consideração a sua prevalência, gravidade e seu impacto na qualidade de vida, a multimorbidade atualmente é considerada um problema de saúde pública11. Devido a um percentual que pode atingir mais de 50%, a prevalência dessa condição em idosos é alta, e segundo estudos de tendência, a previsão é que esse número aumente cada vez mais12-15. A presença de multimorbidade em idosos pode acarretar sérios prejuízos, incluindo maiores riscos de morte e de declínio funcional, além de impactar na diminuição da expectativa de vida nesse segmento populacional16,17. Apesar da possibilidade de ser controlada por meio de tratamentos e mudanças de hábitos de vida, o manejo adequado de um paciente com multimorbidade é um desafio para os serviços de saúde nos diferentes níveis de complexidade. Ademais, identificar os fatores associados à prevalência dessa condição, pode ajudar nesse manejo de forma adequada 12,18.

Dessa maneira, com a identificação desses fatores associados, a formulação de políticas públicas voltadas para a prevenção destes agravos e a elaboração de estratégias nas áreas de promoção, vigilância e atenção à saúde ficam facilitadas19. Somada a essa importância, é necessário estudos de abrangência populacional maior que avaliem os fatores associados à multimorbidade em idosos, uma vez que aqueles autores que se propuseram a estudar esse tema, o fizeram em populações de pequenos portes5,6,8-10. Nesse contexto, o presente estudo objetivou identificar a prevalência de multimorbidade

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em idosos no Brasil e seus fatores associados. Além disso, a busca por fatores associados também foi realizada comparando a presença de três e quatro ou mais doenças crônicas com aqueles idosos que possuíam duas doenças crônicas.

METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se por ser do tipo transversal e de base populacional. Para a sua realização, foi utilizada a base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) com coletas de dados feitas em 2013 e 2014. A PNS é representativa para moradores a partir de 18 anos, residentes em domicílios particulares do país em áreas urbana e rural, abrangendo as cinco macrorregiões geográficas. Entretanto, este estudo teve como unidade de análise apenas os indivíduos idosos (11.697 indivíduos), com idade igual ou maior que 60 anos. O projeto de pesquisa da PNS foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, sob o protocolo 328.159, de 26 de junho de 2013.

Para estimar a prevalência de multimorbidade, o idoso considerado com essa condição tinha que ter um diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas. As doenças crônicas consideradas foram aquelas pesquisadas na PNS, sendo elas: hipertensão, diabetes, colesterol alto, doença cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), asma, artrite ou reumatismo, problemas de coluna, depressão, doenças mentais (esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno compulsivo-obsessivo), doenças no pulmão (bronquite crônica, enfisema ou doença pulmonar obstrutiva crônica), câncer e insuficiência renal. Para todas as doenças crônicas supracitadas, as suas identificações foram dadas a partir da pergunta “algum médico já lhe deu o diagnóstico para essa doença?”

Em relação aos fatores associados à ocorrência de multimorbidade em idosos, foram analisados dois blocos de variáveis, o primeiro representado por variáveis socioeconômicas (sexo, idade, cor ou raça, estado civil, escolaridade e plano de saúde) e o segundo por variáveis referentes ao estilo de vida (uso de bebida alcoólica, tabagismo e exercício físico). Além de se verificar a associação dessas variáveis com a presença de duas ou mais doenças crônicas, também foi feita a associação dessas variáveis comparando a presença de duas e três doenças crônicas e duas e quatro doenças crônicas.

Para a análise dos dados, utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS) 20.0. Inicialmente, para a confecção das tabelas, foi feito a distribuição de frequência de todas as variáveis do estudo. E por fim, com o objetivo de verificar a associação entre as variáveis sociodemográficas e estilo de vida com a presença de multimorbidade em idosos, o teste Qui-quadrado foi utilizado com um nível de

confiança de 95%. Para as variáveis independentes com p<0,20 foi testada a

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multicolinearidade através da realização de testes do qui-quadrado e, devido ao tamanho amostral, tais associações foram consideradas significativas para um valor de p=0,000001. Em seguida, as razões de prevalência ajustadas foram estimadas por meio da regressão múltipla de Poisson. Vale ressaltar ainda que os dados foram ponderados considerando o efeito do plano amostral, as taxas de não resposta e os pesos de pós-estratificação.

RESULTADOS

Foram avaliados 11.697 idosos brasileiros, com idade média de 70,1 anos (±

0,1), variando de 60 a 107 anos. No presente estudo, houve uma predominância do sexo feminino (60%), idosos de cor branca (54,7%), idosos mais jovens (com idade entre 60 a 69 anos) (55,2%), casados (44,5%), daqueles com ensino fundamental incompleto (38,4%), dos que não praticam exercício físico (77,4%), de idosos sem plano de saúde (68,3%) e dos que não bebem (73,6%) e não fumam (84,7%). A prevalência de multimorbidade em idosos brasileiros foi de 53,1%.

Na tabela 1, é apresentada a frequência das variáveis independentes e a associação com a variável multimorbidade em idosos na análise univariada. Com bases nos dados apresentados, observa-se que a prevalência de multimorbidade em idosos está associada ao sexo feminino, idosos mais velhos, aos que não são solteiros (mais fortemente associado aos viúvos), aos de baixa escolaridade, aos idosos com plano de saúde e ao fato de não fazerem uso no momento da pesquisa de bebida alcoólica e tabaco. Segundo o modelo da análise multivariada, ainda na tabela 1, os fatores associados à prevalência de multimorbidade em idosos foram: sexo feminino, idosos mais velhos, mais fortemente ao estado civil viúvo e com plano de saúde.

Ao se comparar, os idosos que possuíam duas doenças crônicas com aqueles que possuíam três (Tabela 2), a análise univariada mostrou que a prevalência de três doenças crônicas estava associada ao sexo feminino, aos idosos com ensino fundamental incompleto, aos que não fumam e aos que não realizam atividade física. Já na análise multivariada (Tabela 2), permaneceu significativo apenas o fato do idoso ser do sexo feminino.

Por fim, na tabela 3, comparou-se idosos que possuíam duas doenças crônicas com os que possuíam quatro ou mais. Nota-se, na análise univariada, que um número maior de doenças crônicas estava associado ao sexo feminino e ao não uso de bebida alcoólica no momento da entrevista. Nesse caso, após o ajuste na análise multivariada, apenas o sexo feminino permaneceu significativo.

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DISCUSSÃO

Este estudo objetivou identificar a prevalência de multimorbidade em idosos, buscando associação com as condições socioeconômicas e estilo de vida. Os resultados encontrados são representativos para a população idosa do Brasil. Diante de sua gravidade na saúde pública e o impacto na qualidade de vida desses idosos, identificar tal prevalência e os fatores associados é de grande valia para o estabelecimento de medidas voltadas para a prevenção destes agravos19.

A prevalência da multimorbidade em idosos encontradas no presente estudo foi de 53,1%, valores semelhantes aos encontrados em outros estudos sobre o tema4-10. Considerando uma frequência dessa condição em mais da metade da população idosa no Brasil, percebe-se o quão comum ela é. Esse número, torna-se ainda mais alarmante quando se verifica que a multimorbidade está associada à incapacidade, maiores necessidades de utilização de cuidados e gastos em saúde5. Sendo assim, medidas preventivas que busquem um envelhecimento ativo e saudável, tornam-se cada vez mais necessárias. Essa alta prevalência pode ser explicada pela expectativa de vida cada vez maior desses idosos, o que possibilita uma maior probabilidade de acúmulos de doenças crônicas nesses indivíduos2.

Ser do sexo feminino mostrou-se associado a uma maior prevalência de multimorbidade em idosos nas análises uni e multivariada. Ademais, as mulheres tiveram maiores números de doenças crônicas que os homens, quando se estratificou a multimorbidade em duas, três ou quatro ou mais doenças crônicas. Estas associações, ao se comparar gêneros, podem estar relacionadas ao fato de as mulheres possuírem expectativa de vida mais longa e pior estado de saúde em relação aos homens. Por sua vez, isso implica em uma maior necessidade de atenção para a saúde da mulher em todos os ciclos da vida, para que se tenha um envelhecimento saudável presente nesse segmento populacional4-10.

Além do gênero feminino, foi verificado uma associação com a multimorbidade em idosos, mesmo após o ajuste para outras variáveis, o fato deles serem mais velhos, possuir plano de saúde e aqueles que não eram solteiros, mais fortemente associado aos viúvos. Com relação à idade, este estudo corrobora a literatura4,6,7.9. Sugere-se, portanto, que os idosos mais velhos, por sofrerem de forma mais acentuada o envelhecimento fisiológico, tendam a possuir mais multimorbidades6. Já aqueles com planos de saúde particular, possivelmente possuem mais acessos às consultas médicas e, por consequência, mais facilidade para receber um diagnóstico da presença de alguma doença

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crônica. Uma outra razão que possa explicar essa associação é a possibilidade de os idosos terem adquirido planos de saúde particular após o diagnóstico de doenças crônicas em algum serviço de saúde. Por se tratar de um estudo transversal, o presente estudo não tem como identificar quem veio primeiro, a multimorbidade ou a aquisição de planos de saúde particular.

No que se refere à associação com o fato de ser não solteiro, entende-se que os idosos casados, separados e especificamente viúvos, os quais tiveram maior associação, podem sofrer abusos mais frequentes. Ao separar-se do cônjuge ou ficar viúvo, os idosos tendem a voltar para a casa de seus familiares, podendo sofrer abandono, abuso emocional, exploração financeira ou material, negligência e abuso físico. Tais abusos quando somados ao envelhecimento fisiológico podem acarretar em uma maior probabilidade de se ter acúmulo de doenças crônicas20.

Um diferencial deste estudo, é o fato de se ter avaliado uma associação entre a realização de exercícios físicos e a multimorbidade em idosos. Estudos publicados na literatura que buscaram estilos de vida associados à multimorbidade em idosos, não avaliaram a variável exercício físico4,6. Verificou-se, a partir dos resultados da presente pesquisa, uma pequena influência dessa variável tanto para a prevalência da multimorbidade quanto para uma maior quantidade de doenças crônicas presentes. Esse resultado provavelmente deve estar relacionado à própria característica dos idosos avaliados, em que mais de 70% não realizam exercícios físicos. Apenas na análise univariada, ao se comparar a presença de duas e três doenças, viu-se que um maior número de doenças se fazia mais presentes naqueles idosos que não realizavam atividades físicas. Já é consenso na literatura que a inatividade física, um dos principais fatores de risco para doenças crônicas, está associada a uma maior prevalência de quedas, debilidade física, alterações de humor e obesidade21. Sendo assim, o aumento do número de doenças crônicas acumuladas nos idosos brasileiros podem estar correlacionadas com as consequências da falta desses exercícios físicos diários, já que essas aumentam a incidência de diabetes e osteoporose, por exemplo.

Vale ressaltar que diante de alguns resultados contraditórios com estudos prévios na literatura, principalmente com aqueles ligados às variáveis “uso de bebida e tabaco”, se fazem necessários estudos longitudinais sobre o tema. Por se tratar de um estudo transversal, este não possibilita identificar uma relação de causa e efeito bem estabelecida, e por isso apenas levantamento de hipóteses podem ser realizados. Este estudo caracteriza-se por ter uma abrangência populacional grande e de inferência ao perfil do idoso brasileiro com multimorbidade. Sendo assim, uma atenção maior para medidas

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preventivas e estímulo ao envelhecimento saudável devem ser dadas ao idoso do sexo feminino, aos mais envelhecidos, aos que são viúvos, separados ou casados, aos de níveis escolares baixos e aos que não realizam exercícios físicos. CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados, identifica-se que a multimorbidade em idosos brasileiros é uma condição bastante frequente e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos e pouco relacionada ao estilo de vida. Ser do sexo feminino, mais envelhecido, possuir nível educacional baixo e ser viúvo, separado ou casado, estiveram associados à prevalência de multimorbidade em idosos brasileiros. Ademais, as mulheres estão mais associadas ao fato de se ter um número maior de doenças crônicas.

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2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet 2012; 380(9859):2197-2223. 14. Vos T, Flaxman AD, Naghavi M, Lozano R, Michaud C, Ezzati M, et al. Years lived with disability (YLDs) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet 2012; 380(9859):2163-2196. 15. Rechel B, Grundy E, Robine JM, Cylus J, Mackenbach JP, Knai C, et al. Ageing in the European Union. Lancet 2015;381(9874):1312-1322. 16. Gijsen R, Hoeymans N, Schellevis FG, Ruwaard D, Satariano WA, van den Bos GA. Causes and consequences of comorbidity: a review. J Clin Epidemiol 2001; 54(7):661-74. 17. DuGoff EH, Canudas-Romo V, Buttorff C, Leff B, Anderson GF. Multiple Chronic Conditions and Life Expectancy: A Life Table Analysis. Med Care 2014; 52(8):688-94. 18. Ording AG, Sorensen HT. Concepts of comorbidities, multiple morbidities, complications, and their clinical epidemiologic analogs. Clin Epidemiol 2013 ;5:199-203. 19. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de avaliação para a qualificação do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF, 2011. 26 p. Disponível em: <http://observasaude.fundap.sp.gov.br/saude2/sus/Acervo/SUS_AvlQualif_3.pdf>. Acesso em: jan. 2018. 20. Daly JM, Merchant ML, Jogerst GJ: Elder abuse research: a systematic review. J Elder Abuse Negl. 2011, 23: 348-365. 21. Gualano B, Tinucci T. Sedentarismo, exercício físico e doenças crônicas. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte 2011;25(n.esp):37-43.

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Tabela 1. Associação entre a multimorbidade em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida, e suas medidas da razão de

prevalência bruta e ajustadas.

Presença de

multimorbidade

Ausência de

multimorbidade

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% p*

Sexo

Masculino 45,1 54,9 0,77 0,73-0,82 <0,001 0,90 0,89-0,91 <0,001

Feminino 58,3 41,7

Idade

60 a 69 anos 50,8 49,2 1,00 - 0,001 0,001

70 a 79 anos 56,8 43,2 1,12 1,05-1,19 1,03 1,01-1,04

80 anos ou mais 53,9 46,1 1,06 0,99-1,15 1,02 1,00-1,02

Cor ou raça

Branco 54,5 45,5 1,00 - 0,127

Negro 52,9 47,1 0,97 0,89-1,06

Pardo 50,8 49,2 0,93 0,88-0,99

Outras 53,0 47,0 0,97 0,78-1,21

Estado civil

Solteiro 44,5 55,5 1,00 - <0,001 1,00 - 0,001

Casado 52,7 47,3 1,19 1,09-1,29 1,03 1,02-1,04

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Separado/Divorciado 53,9 46,1 1,21 1,08-1,36 1,01 1,01-1,02

Viúvo 56,8 43,2 1,28 1,17-1,40 1,06 1,03-1,09

Escolaridade

Sem instrução 52,6 47,4 1,00 0,005

Fundamental

incompleto 55,2 44,8 1,05 0,99-1,12

Fundamental completo

ou mais 50,9 49,1 0,97 0,90-1,04

Plano de saúde

Sim 55,1 44,9 1,10 1,03-1,18 0,007 1,03 1,02-1,05 <0,001

Não 50,0 50,0

Uso de bebida

alcoólica

Sim 46,6 53,5 0,87 0,80-0,94 0,001

Não 53,5 46,5

Tabagismo

Sim 42,0 58,0 0,79 0,70-0,90 <0,001

Não 53,2 46,8

Exercício físico

Sim 53,9 46,1 1,06 0,98-1,14 0,185

Não 51,1 48,9

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson.

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Tabela 2. Associação entre a presença de duas ou três doenças crônicas em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida, e suas medidas da razão

de prevalência bruta e ajustadas.

Três doenças

crônicas

Duas doenças

crônicas

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% p*

Sexo

Masculino 35,0 65,0 0,85 0,74-0,97 0,014 0,97 0,95-0,99 0,003

Feminino 41,2 58,8

Idade

60 a 69 anos 37,4 62,6 1,00 - 0,319

70 a 79 anos 41,1 58,9 1,10 0,96-1,26

80 anos ou mais 40,0 60,0 1,07 0,91-1,26

Cor ou raça

Branco 40,2 59,8 1,00 - 0,074 - 0,188

Negro 31,5 68,5 0,78 0,64-0,96 0,82 0,81-0,83

Pardo 39,6 60,4 0,98 0,87-1,11 0,78 0,76-0,79

Outras 26,4 73,6 0,66 0,39-1,11 0,98 0,96-1,01

Estado civil

Solteiro 36,1 63,9 1,00 - 0,322

Casado 38,7 61,3 1,07 0,91-1,26

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Separado/Divorciado 35,3 64,7 0,98 0,81-1,18

Viúvo 41,4 58,6 1,15 0,98-1,34

Escolaridade

Sem instrução 37,1 62,9 1,00 - 0,004

Fundamental

incompleto 43,6 56,4 1,18 1,04-1,33

Fundamental completo

ou mais 34,7 65,3 0,93 0,80-1,09

Plano de saúde

Sim 40,9 59,1 1,08 0,95-1,22 0,251

Não 38,0 62,0

Uso de bebida

alcoólica

Sim 35,3 64,7 0,88 0,74-1,04 0,125

Não 40,1 59,9

Tabagismo

Sim 29,7 70,3 0,74 0,60-0,92 0,003 0,98 0,95-1,01 0,180

Não 40,0 60,0

Exercício físico

Sim 34,1 65,9 0,84 0,72-0,98 0,020 0,99 0,97-1,01 0,536

Não 40,6 59,4

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson.

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Tabela 3. Associação entre a presença de duas ou quatro doenças crônicas ou mais em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida,

e suas medidas da razão de prevalência bruta e ajustadas.

Quatro doenças

crônicas ou mais

Duas doenças

crônicas

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% P*

Sexo

Masculino 23,3 76,7 0,76 0,63-0,92 0,005 0,96 0,94-0,97 <0,001

Feminino 30,6 69,4

Idade

60 a 69 anos 27,7 72,3 1,00 - 0,672

70 a 79 anos 29,3 70,7 1,06 0,86-1,30

80 anos ou mais 25,9 74,1 0,93 0,73-1,19

Cor ou raça

Branco 30,0 70,0 1,00 - 0,202

Negro 23,5 76,5 0,78 0,60-1,03

Pardo 26,3 73,7 0,88 0,72-1,06

Outras 20,9 79,1 0,70 0,38-1,27

Estado civil

Solteiro 23,8 76,2 1,00 - 0,327

Casado 28,3 71,7 1,19 0,89-1,61

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Separado/Divorciado 24,5 75,5 1,03 0,78-1,36

Viúvo 30,0 70,0 1,26 0,99-1,61

Escolaridade

Sem instrução 24,3 75,7 1,00 - 0,104 1,00 - 0,105

Fundamental

incompleto 30,2 69,2 1,24 1,04-1,48 0,90 0,88-0,92

Fundamental completo

ou mais 29,0 71,0 1,19 0,97-1,46 0,79 0,78-0,79

Plano de saúde

Sim 30,0 70,0 1,12 0,93-1,34 0,247

Não 26,9 73,1

Uso de bebida

alcoólica

Sim 22,9 77,1 0,78 0,60-1,00 0,042

Não 29,5 70,5

Tabagismo

Sim 19,6 80,4 0,68 0,44-1,03 0,054 0,98 0,95-1,00 0,107

Não 28,9 71,1

Exercício físico

Sim 26,7 73,3 0,94 0,77-1,15 0,558

Não 28,4 71,6

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson.

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FATORES ASSOCIADOS ÀS MULTIMORBIDADES MAIS FREQUENTES EM IDOSOS BRASILEIROS RESUMO Objetivou-se buscar associação entre as multimorbidades mais frequentes em idosos no Brasil e variáveis socioeconômicas e de estilo de vida. Para tal, foi utilizada os dados da Pesquisa Nacional de Saúde. O teste Qui-quadrado e a regressão múltipla de Poisson foram utilizados para a análise dos dados. Participaram 5.575 idosos com multimorbidade e idade média de 70,3 anos. A maioria é do sexo feminino (66,3%), brancos (56,1%), não realizam exercícios físicos (75,3%), de baixa escolaridade (40%), sem planos de saúde (65,3%), não consomem bebida alcoólica (78,7%) e não fumam (90,1%). As multimorbidades mais prevalentes foram: Hipertensão e Colesterol alto (31,3%), Hipertensão e AVC (30,9%) e Hipertensão e Diabetes (23,3%). Houve associação da primeira condição com o sexo feminino, idosos mais jovens e ao fato de não fumar. Já a segunda condição, esteve associada ao sexo feminino e à baixa escolaridade. A terceira associou-se à baixa escolaridade, aos que não realizam exercício físico e não fumam. Conclui-se que a multimorbidade em idosos brasileiros é uma condição frequente em mulheres, naqueles mais jovens e socioeconomicamente desfavorecidos. Ademais, para as principais multimorbidades as condições socioeconômicas e o estilo de vida influenciaram nas suas prevalências. Palavras chaves: multimorbidade, idosos, doenças crônicas

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1. INTRODUÇÃO No cenário mundial da saúde, vivencia-se uma transição epidemiológica com

uma profunda modificação dos padrões de saúde e doença, que interagem com fatores demográficos, econômicos, sociais, culturais e ambientais1. Embora as doenças infecciosas sejam ainda importantes e presentes, há um crescimento significativo das doenças crônicas não transmissíveis. Dentre as quais, as doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes, enfermidades respiratórias crônicas e doenças neuropsiquiátricas têm respondido por um grande número de mortalidade e perda de qualidade de vida. Além disso, essas condições podem gerar incapacidades, alto grau de limitação em suas atividades de vida diária e lazer e, por consequência, provocar grande pressão sobre os serviços de saúde2.

Dentro desse contexto, a ocorrência de múltiplas doenças crônicas em um único indivíduo, conhecida como multimorbidade, também vem se fazendo bastante presente na população mundial. Essa situação deve-se possivelmente à redução do limiar de diagnóstico positivo para a maioria das doenças crônicas, transição de uma população jovem para uma idosa ou pelo próprio aumento da prevalência dessas doenças3. Em idosos, especificamente devido a sua alta vulnerabilidade, a multimorbidade apresenta-se como uma condição clínica ainda mais frequente. Este fato pode estar intimamente relacionado ao aumento da expectativa de vida da população4.

Considerada como um problema de saúde pública, a prevalência da multimorbidade em idosos pode chegar a uma percentagem acima de 50%. E quando presente, essa condição pode gerar sérias consequências, incluindo maiores riscos de morte, declínio funcional e diminuir a expectativa de vida dessa população5,6. Estudos têm mostrado uma forte associação da prevalência da multimorbidade a fatores nocivos altamente prevalentes, destacando-se o tabagismo, consumo abusivo de álcool, excesso de peso, níveis elevados de colesterol, baixo consumo de frutas e verduras e sedentarismo na população em geral. Entretanto, esses estudos buscaram fatores associados apenas com o fato de ter ou não multimorbidade e a quantidade de doenças crônicas, negligenciando os tipos de doenças presentes de forma simultânea no idoso e seus fatores associados7-13.

Sendo assim, com a identificação do perfil dos idosos com multimorbidade e os fatores associados às principais doenças que ocorrem simultaneamente, a formulação de políticas públicas voltadas para a prevenção destes agravos, tornam-se facilitadas14. Nesse sentido, o presente estudo de grande abrangência populacional, objetivou buscar a associação das multimorbidades mais frequentes com variáveis socioeconômicas e de estilo de vida.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado um estudo do tipo transversal e de base populacional, utilizando a

base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) com coletas de dados iniciadas em 2013 e finalizadas em 2014. A PNS é representativa para indivíduos com idade acima de 18 anos, que residem em domicílios brasileiros. Esses domicílios estavam inseridos em áreas urbana e rural, abrangendo as cinco macrorregiões geográficas do país. O presente estudo teve como unidade de análise apenas os indivíduos idosos (idade igual ou maior que 60 anos) com multimorbidade. O idoso considerado com essa condição tinha que ter um diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas presentes de forma simultânea. Sob o protocolo de número 328.159, o projeto de pesquisa da PNS foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, em 26 de junho de 2013.

As doenças crônicas consideradas para se ter multimorbidade foram as pesquisadas na PNS e diagnosticadas por um médico. Dentre as doenças crônicas existentes, foram analisadas a presença de: diabetes, hipertensão, doença cardíaca, colesterol alto, acidente vascular cerebral (AVC), asma, artrite ou reumatismo, depressão, problemas de coluna, doenças mentais (esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno compulsivo-obsessivo), doenças no pulmão (bronquite crônica, enfisema ou doença pulmonar obstrutiva crônica), insuficiência renal e câncer. Para identificar as multimorbidades mais prevalentes, foi feita uma combinação 2x2 de todas as doenças crônicas avaliadas e em seguida uma análise de frequência.

Em relação aos fatores associados à ocorrência das principais multimorbidades em idosos brasileiros, foram analisados dois blocos de variáveis, as de estilo de vida (uso de bebida alcoólica, tabagismo e exercício físico) e as socioeconômicas (sexo, idade, cor ou raça, estado civil, escolaridade e plano de saúde). Ademais, o perfil dos idosos com multimorbidade foi identificado a partir da distribuição dessa população dentro desses mesmos blocos de variáveis.

A análise dos dados foi feita utilizando o programa estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 20.0. A priori, foi feita a distribuição de frequência de todas as variáveis do estudo. E por fim, no intuito de verificar a associação entre as variáveis sociodemográficas e estilo de vida com as multimorbidade mais frequentes, utilizou-se o teste Qui-quadrado e regressão múltipla de Poisson. Ambos os testes foram usados sob um nível de confiança de 95%. Para determinar as variáveis independentes que entraram na análise multivariada, inicialmente testou-se a multicolinearidade através

da realização de testes do qui-quadrado entre aquelas que obtiveram p<0,200 na análise

univariada. Devido ao tamanho amostral, tais associações foram consideradas

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significativas para um valor de p=0,000001. Em seguida, as razões de prevalência ajustadas foram estimadas por meio da regressão múltipla de Poisson. Os dados do presente estudo foram ponderados considerando o efeito do plano amostral, as taxas de não resposta e os pesos de pós-estratificação.

3. RESULTADOS

Foram avaliados 5.575 idosos brasileiros com multimorbidade e idade média de

70,3 anos (± 0,2), variando de 60 a 101 anos. A maioria dos idosos com multimorbidade

era do sexo feminino (66,3%), jovens, com idade entre 60 a 69 anos (53%), brancos (56,1%), casados (44%), possuíam ensino fundamental incompleto (40%), não possuíam plano de saúde (65,3%), não praticavam exercícios físicos (75,3%) e eram caracterizados por não consumirem bebida alcoólica (78,7%) e por não fumarem (44%). Em média, esses

idosos possuíam 3,1 (±0,3) doenças crônicas. Dentre as multimorbidades presentes, as

mais frequentes foram: Hipertensão e Colesterol alto (31,3%), Hipertensão e AVC (30,9%) e Hipertensão e Diabetes (23,3%).

A tabela 1 apresenta a frequência das variáveis independentes e a associação com o fato de se ter Hipertensão e Colesterol alto a partir da análise univariada. Com bases nos dados apresentados, observa-se que a prevalência de Hipertensão e Colesterol alto em idosos está associada ao sexo feminino, idosos mais jovens e ao fato de não fazerem uso de tabaco no momento da pesquisa. Na análise multivariada, também presente na tabela 1, considerando o ajuste do modelo, as variáveis permaneceram significativas.

Ao se buscar associação dos idosos que possuíam Hipertensão e AVC com as variáveis independentes (Tabela 2), a análise univariada e multivariada mostraram que a prevalência dessa condição estava associada ao sexo feminino e aos idosos com ensino fundamental incompleto. Por fim, na tabela 3, buscou-se associação entre a prevalência de Hipertensão e Diabetes e as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida. Nota-se, na análise univariada, que essa condição esteve associada ao fato de se ter um ensino fundamental incompleto, ao fato de não fumarem e não consumirem bebida alcoólica no ato da entrevista e ao fato de não realizarem exercícios físicos. Já na análise multivariada (Tabela 3), permaneceram significativos o fato de o idoso ter ensino fundamental incompleto, não fumar e não realizarem exercícios físicos.

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4. DISCUSSÃO O presente estudo objetivou buscar associação das multimorbidades mais

frequentes em idosos brasileiros com variáveis socioeconômicas e de estilo de vida. Paralelamente, também foi identificado o perfil desse segmento populacional com multimorbidade. Os resultados encontrados são representativos para o Brasil e suas grandes regiões. Diante de um impacto negativo na saúde pública e na qualidade de vida desses idosos, a identificação dos fatores associados às principais multimorbidades que acometem essa população é de grande valia para o estabelecimento de medidas voltadas à promoção de saúde e prevenção destes agravos14.

A maioria dos idosos com multimorbidade é do sexo feminino, brancos, não realizam exercícios físicos, de baixa escolaridade, sem planos de saúde, casados, não consomem bebida alcoólica e não fumam. A predominância do sexo feminino em relação ao sexo masculino corrobora a maioria da literatura revisada sobre o tema7-13. Este predomínio, em geral, pode ser explicado pelo fato de a população mundial e nacional feminina ser maior do que a masculina e devido às mulheres possuírem expectativa de vida mais longa, o que aumenta a possibilidade da ocorrência de multimorbidade7-13. Com relação à inatividade física, já é sabido que esse hábito está associado a uma maior prevalência de quedas, debilidade física, alterações de humor, obesidade e níveis elevados de glicose e triglicerídeos15. Sendo assim, a ausência de atividade física presente na maioria desses idosos, pode ser um fator contribuinte para a prevalência de multimorbidade.

Com relação à baixa escolaridade presente nos idosos com multimorbidade, essa condição inviabiliza um indivíduo a buscar conhecimentos e formas de prevenção para se evitar o acúmulo de doenças crônicas8. A mesma consequência estende-se aos idosos sem planos de saúde. Menores acessos aos serviços de saúde, diminuem as orientações e cuidados médicos pertinentes a esses idosos para se evitar a instalação de doenças crônicas7-13. O fato da maioria dos idosos serem casados, mais jovens, de cor branca, não consumirem bebida alcoólica e não fumarem, refletem as características gerais da população brasileira16. Para a população idosa residente no Brasil, a maioria desses indivíduos são casados ou viúvos e se autodeclaram brancos16. Já com relação ao estilo de vida, a prevalência de consumo de álcool abusivo no Brasil é de 6,1%, enquanto o uso de tabaco no período entre 1990 e 2015, a porcentagem de fumantes diários no país caiu de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres17,18.

A prevalência simultânea de Hipertensão e Colesterol alto foi de 31,3%, a de Hipertensão e AVC, 30,9% e Hipertensão e Diabetes, 23,3%. Ao contrário das doenças

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crônicas presentes de forma isolada, a simultaneidade dessas doenças entre os idosos ainda é pouco descrita na literatura nacional. Um estudo utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1998, 2003 e 2008 mostrou um aumento rápido da prevalência de multimorbidade ao se passar dos 50 anos, e entre idosos brasileiros com idade maior ou igual a 65 anos, as prevalências encontraram-se acima de 15%19. As poucas pesquisas que se propuseram a estudar multimorbidade em idosos, avaliando os tipos de doenças presentes, se limitaram a estudar apenas a presença simultânea de Hipertensão e Diabetes, e esses obtiveram prevalências semelhantes à deste estudo19-21.

Como diferencial, este estudo avaliou as multimorbidades mais frequentes em idosos brasileiros. A condição mais frequente, Hipertenção e Colesterol alto, esteve associada ao sexo feminino, idosos mais jovens e ao fato de não fazerem uso de tabaco no momento da pesquisa. Quando avaliada de forma separada, a Hipertensão está mais associada ao sexo masculino de acordo com a literatura pré-existente22. Entretanto, quando se trata de multimorbidade em idosos, o sexo feminino por possuir uma expectativa de vida mais alta, possui uma maior probabilidade ao acúmulo de doenças crônicas7-13. Ademais, as mulheres vivenciam menores práticas de medidas importantes para a prevenção de doenças crônicas, como a realização de exercícios físicos. Sugere-se, portanto, que tais fatores estejam ligados a uma maior associação do sexo feminino tanto com a presença simultânea de Hipertensão e Diabetes, como de Hipertensão e AVC. Com relação à prevalência associada aos idosos mais jovens, a Hipertensão é uma doença comum ainda em adultos jovens, e por ser crônica, essa condição permanece ao longo da vida23. Ao se associar com outras doenças de alto impacto negativo à saúde, como é o caso do Colesterol alto, esse tipo de multimorbidade pode diminuir a expectativa de vida, o que justifica uma menor prevalência dessas condições simultâneas em idosos mais longevos.

O uso do tabaco apresentou associação inversa com a presença simultânea das doenças. Resultados como esse foram vistos em estudos que avaliam a Hipertensão isoladamente24,25. Por ser um dos principais fatores de risco para mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), a recomendação para cessar o uso do tabaco após o diagnóstico de doenças crônicas é uma medida comum e imediata26. Diante disso, possivelmente as recomendações de não fumar estavam presentes na população estudada.

Além da associação com o sexo feminino, a segunda condição mais frequente, Hipertensão e AVC, esteve associada a níveis escolares baixos. Sendo assim, menores conhecimentos são adquiridos e, consequentemente, o acesso a medidas de prevenção da

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Hipertensão e AVC tornam-se prejudicados8. Já para a prevalência de Hipertensão e Diabetes, a análise multivariada mostrou uma associação com o fato de o idoso ter ensino fundamental incompleto, não fumar e não realizarem exercícios físicos. O não uso do tabaco e níveis escolares menores, seguem a mesma lógica das condições anteriores como possíveis justificativas. No caso da Hipertensão e Diabetes, a inatividade física apareceu como fator associado apenas para essa condição. Vários estudos longitudinais demonstraram um efeito benéfico do exercício físico sobre o metabolismo dos carboidratos, sobre a sensibilidade à insulina a longo prazo e prevalências de obesidade, o que pode prevenir a incidência de Diabetes27. Sendo assim, como a Hipertensão estava presente nas outras duas multimorbidades estudadas, provavelmente as consequências da inatividade física tenha tido maiores influências no acometimento da Diabetes em idosos com acúmulos de doenças crônicas.

Por fim, por se tratar de um estudo transversal, este não possibilita identificar uma relação de causa e consequência bem estabelecida entre as variáveis estudadas. Sugere-se, portanto, estudos longitudinais sobre o tema que possam confirmar as hipóteses levantadas neste trabalho. Este estudo teve como unidade de investigação os idosos brasileiros com multimorbidade, tendo como característica uma abrangência populacional grande. Como consequência, um poder elevado de inferência ao perfil do idoso brasileiro pode ser estabelecido. Sendo assim, atenções maiores para o estabelecimento de medidas de prevenção devem ser dadas ao idoso do sexo feminino, aos de níveis escolares baixos e aos que não realizam exercícios físicos. Além disso, instruções para hábitos de vida saudáveis devem ser dadas para os indivíduos antes do envelhecimento, uma vez que os idosos jovens já estão sendo acometidos por multimorbidades. 5. CONCLUSÃO

Como conclusão, verifica-se que a multimorbidade em idosos brasileiros é uma condição bastante frequente em mulheres, naqueles mais jovens e socioeconomicamente desfavorecidos. Ademais, para as principais multimorbidades as condições socioeconômicas desfavoráveis e o estilo de vida influenciaram nas suas prevalências.

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Tabela 1. Associação entre a presença de Hipertensão e Colesterol alto em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida, e suas medidas da razão de prevalência bruta e ajustadas.

Presença de Hipertensão e

Colesterol alto

Ausência de Hipertensão e

Colesterol alto

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% p*

Sexo Masculino 23,8 76,2 0,68 0,58-0,78 <0,001 0,94 0,93-0,96 <0,001

Feminino 35,2 64,8

Idade

60 a 69 anos 31,9 68,1 1,00 -

0,024

1,00 -

<0,001 70 a 79 anos 18,3 81,7 0,58 0,50-0,66 0,91 0,90-0,92

80 anos ou mais 12,7 87,3 0,40 0,33-0,49 0,94 0,93-0,95

Cor ou raça

Branco 31,4 68,6 1,00 -

0,566

Negro 14,2 85,8 0,45 0,35-0,58

Pardo 15,8 84,2 0,50 0,44-0,58

Outras 17,7 82,3 0,56 0,35-0,89

Estado civil Solteiro 32,7 67,3 1,00 -

0,643

Casado 16,0 84,0 0,49 0,41-0,59

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Separado/Divorciado 14,7 85,3 0,45 0,36-0,57

Viúvo 17,4 82,6 0,53 0,44-0,64

Escolaridade

Sem instrução 30,1 69,9 1,00

0,155

Fundamental incompleto 17,9 82,1 0,59 0,52-0,68

Fundamental completo ou mais

14,6 85,4 0,48 0,41-0,56

Plano de saúde Sim 32,9 67,1 1,08 0,95-1,21 0,232

Não 30,5 69,5

Uso de bebida alcoólica Sim 28,9 71,1 0,90 0,77-1,06 0,194

Não 32,0 68,0

Tabagismo Sim 24,1 75,9 0,75 0,59-0,94 0,010 0,97 0,95-0,99 0,005

Não 32,1 67,9

Exercício físico Sim 30,7 69,3 0,97 0,85-1,11 0,712

Não 31,5 68,5

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson.

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Tabela 2. Associação entre a presença de Hipertensão e AVC em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida, e suas medidas da razão de prevalência bruta e ajustadas.

Presença de Hipertensão e

AVC

Ausência de Hipertensão e

AVC

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% p*

Sexo Masculino 27,7 72,3 0,85 0,75-0,97 0,014 0,98 0,96-0,99 0,001

Feminino 32,6 67,4

Idade

60 a 69 anos 29,5 70,5 1,00 -

0,316

70 a 79 anos 18,0 82,0 0,61 0,53-0,70

80 anos ou mais 16,5 83,5 0,56 0,46-0,68

Cor ou raça Branco 32,0 68,0 1,00 -

0,184

Negro 16,9 83,1 0,53 0,42-0,66

Pardo 14,4 85,6 0,45 0,39-0,52

Outras 9,2 90,8 0,29 0,15-0,55

Estado civil Solteiro 27,0 73,0 1,00 - 0,062

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Casado 16,2 83,8 0,60 0,49-0,74

Separado/Divorciado 13,4 86,6 0,50 0,39-0,63

Viúvo 18,0 82,0 0,66 0,55-0,80

Escolaridade

Sem instrução 33,3 66,7 1,00

0,003

1,00 -

<0,001 Fundamental incompleto

17,5 82,5 0,52 0,45-0,61 0,92 0,90-0,93

Fundamental completo ou mais

12,7 87,3 0,38 0,32-0,45 0,94 0,94-0,95

Plano de saúde Sim 31,5 68,5 1,03 0,91-1,17 0,661

Não 30,6 69,4

Uso de bebida alcoólica

Sim 29,5 70,5 0,94 0,81-1,09 0,416

Não 31,3 68,7

Tabagismo Sim 30,5 69,5 0,98 0,80-1,21 0,874

Não 31,0 69,0

Exercício físico Sim 28,9 71,1 0,91 0,80-1,04 0,177

Não 31,6 68,4

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson.

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Tabela 3. Associação entre a presença de Hipertensão e Diabetes em idosos com as variáveis socioeconômicas e de estilo de vida, e suas medidas da razão de prevalência bruta e ajustadas.

Presença de Hipertensão e

Diabetes

Ausência de Hipertensão e

Diabetes

Variável Categoria % % RP IC 95% p RPAJ ICAJ 95% p*

Sexo Masculino 22,2 77,8 0,93 0,79-1,09 0,364

Feminino 23,8 76,2

Idade

60 a 69 anos 21,8 78,2 1,00 -

0,064

70 a 79 anos 14,4 85,6 0,66 0,56-0,78

80 anos ou mais 11,3 88,7 0,52 0,41-0,66

Cor ou raça Branco 23,5 76,5 1,00 -

0,332

Negro 14,0 86,0 0,59 0,49-0,73

Pardo 10,8 89,2 0,46 0,39-0,55

Outras 10,6 89,4 0,45 0,26-0,78

Estado civil Solteiro 23,2 76,8 1,00 -

0,831

Casado 11,5 88,5 0,49 0,39-0,62

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Separado/Divorciado 12,1 87,9 0,52 0,41-0,67

Viúvo 13,4 86,6 0,58 0,46-0,72

Escolaridade

Sem instrução 23,3 76,7 1,00

0,003

1,00 -

0,020 Fundamental incompleto

13,9 86,1 0,60 0,51-0,70 0,93 0,92-0,95

Fundamental completo ou mais

9,5 90,5 0,41 0,34-0,49 0,96 0,95-0,97

Plano de saúde Sim 22,0 78,0 0,92 0,77-1,09 0,314

Não 24,0 76,0

Uso de bebida alcoólica

Sim 14,9 85,1 0,58 0,47-0,72 <0,001

Não 25,5 74,5

Tabagismo Sim 17,3 82,7 0,72 0,55-0,94 0,013 0,96 0,94-0,98 <0,001

Não 23,9 76,1

Exercício físico Sim 19,4 80,6 0,79 0,65-0,95 0,011 0,97 0,95-0,98 <0,001

Não 24,6 75,4

*Valor de p ajustado a partir da regressão múltipla de Poisson

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6. CONCLUSÃO

Conclui-se que a multimorbidade em idosos brasileiros é uma condição bastante

comum e que ela tem sido influenciada por fatores socioeconômicos e pouco relacionada ao

estilo de vida. Entretanto, para as principais multimorbidades, além das condições

socioeconômicas, o estilo de vida também influenciou nas suas prevalências. Ademais, uma

atenção maior para a formulação de políticas públicas voltadas para a prevenção da

multmorbidade, a elaboração de estratégias nas áreas de promoção, vigilância e atenção à saúde

e estímulo ao envelhecimento saudável devem ser dadas ao idoso do sexo feminino, aos mais

envelhecidos, aos que são viúvos, separados ou casados, aos de níveis escolares baixos e aos

que não realizam exercícios físicos.

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