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1 Lateralidade e Funções Motoras em Crianças e Adolescentes Estudos com a Bateria de Avaliação Neuropsicológica de Coimbra Manuela Vilar 2009/2010 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Tópicos APRN 1. Avaliação Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes: Referenciais da Bateria de Coimbra 2. Lateralidade (contextualização geral; lateralidade para a mão; como avaliar a lateralidade para a mão?; Prova de Lateralidade para a Mão da Bateria de Coimbra) 3. Funções Motoras (contextualização geral; funções motoras; como avaliar a destreza em crianças e adolescentes?; Tabuleiro de Motricidade: adaptação do Purdue Pegboard Test)

Lateralidade Motricidade

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Lateralidade e Funções Motoras em Crianças e Adolescentes

Estudos com a Bateria de Avaliação Neuropsicológica de Coimbra

Manuela Vilar

2009/2010

Universidade de Coimbra

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Tópicos APRN

1. Avaliação Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes: Referenciais da Bateria de Coimbra

2. Lateralidade (contextualização geral; lateralidade para a mão; como avaliar a lateralidade para a mão?; Prova de Lateralidade para a Mão da Bateria de Coimbra)

3. Funções Motoras (contextualização geral; funções motoras; como avaliar a destreza em crianças e adolescentes?; Tabuleiro de Motricidade: adaptação do Purdue Pegboard Test)

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Tópicos APRN (cont.)

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos)

- Aspectos metodológicos (datas e objectivos; amostra; instrumentos e procedimentos)

- Resultados: apresentação, análise e discussão (precisão; validade; normas)

- Avaliação crítica: limites, vantagens e potencialidades5. Conclusão/Síntese6. Bibliografia

1. Avaliação Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes: Referenciais da Bateria de Coimbra

- Avanços da Neuropsicologia (enquanto área científica que intersecta os conhecimentos da Neurologia e da Psicologia)

- Progressivo interesse pelas questões desenvolvimentais (no sentido de não generalizar e/ou adaptar, apenas, as pesquisas e dados relativos a adultos, mas de procurar investigar as especificidades deste conhecimento em crianças e adolescentes)

- Desenvolvimento da área relativa à Avaliação Neuropsicológica(também com especificidade de abordagem, relativamente a crianças e adolescentes)

(Andrews et al., 2001; Baron, 2004; Bracken, 2004; Braun, 2000; Goldstein & Beers, 2004; Goldstein& Hersen, 2000; Goldstein & Incagnoli, 1997; Nuttall et al., 1999; Ollendick & Hersen, 1993; Reynolds& Fletcher-Janzen, 1997; Simões, 2002b; Vance, 1993; Vanderploeg, 1994)

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1. Referenciais da Bateria de Coimbra (cont.)

Objectivos da Avaliação Neuropsicológica:

(i) Documentar a presença, o tipo ou natureza e a gravidade de disfunções cerebrais (eixo de diagnóstico)

(ii) Caracterizar os défices ou perturbações neuropsicológicos daídecorrentes

(iii) Estabelecer e investigar a sua possível associação a uma lesão cerebral (e respectiva localização)

(iv) Tomada de decisão relativa à intervenção(v) Avaliação da intervenção(vi) Prolongamentos para o plano da investigação

1. Referenciais da Bateria de Coimbra (cont.)

→ Recurso a um conjunto de métodos, provas e/ou testes

→ Sistematizar a análise e estabelecer a quantificação dos dados (sem descuidar a informação qualitativa; e ampliando os resultados das técnicas de neuroimagem)

→ Elaboração de testes neuropsicológicos válidos e fiáveis; desenvolvendo a sua estandardização e normalização; potenciando a sua especificidade e sensibilidade (por forma a permitir estabelecer, de modo representativo, as características/particularidades dos sujeitos e dos problemas)

(Anderson, 1994; Golden et al., 2000; Lezak et al., 2004; Mitrushina et al., 2005; Peña-Casanova etal., 2004; Spreen & Strauss, 1991, 1998; Strauss et al., 2006)

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1. Referenciais da Bateria de Coimbra (cont.)

Bateria de Coimbra:

Visando ultrapassar as limitações inerentes a estudos levados a cabo de forma fragmentada e desconectada, em Portugal (i.e.,sem um fio condutor que conjugue esforços investigacionais; e sem o cuidado de padronizar a investigação)

Visando o alargamento das dimensões de investigação e clínicas/ práticas da Avaliação Neuropsicológica

Adaptação e aferição de provas e testes, visando responder ànecessidade de dispor de um conjunto de instrumentos estudados para a população portuguesa (crianças e adolescentes)

→ Projecto concertado, que viabiliza um protocolo de avaliaçãopadronizado e abrangente (várias funções neuropsicológicas, seus componentes ou processos específicos)

1. Referenciais da Bateria de Coimbra (cont.)

Bateria de Coimbra: Protocolo de AvaliaçãoAtenção - Testes de Barragem (2 e 3 sinais); Trail Making Test

(Formas A e B)Funções Executivas - Torre de LondresMemória - Memória de Histórias; Memória de Faces; Lista de

Palavras; F.C. Rey; Tabuleiro de CorsiLinguagem - Compreensão de Instruções (token); Nomeação Rápida

(cores, cores e formas, números); Fluência Verbal (Semântica e Fonémica); Consciência Fonológica (testes de Eliminação e Substituição de Fonemas)

Orientação espacio-temporal - Questionário de OrientaçãoLateralidade – Prova de Orientação/Conhecimento de Direita e de

Esquerda; Provas de Lateralidade para a Mão, o Olho e o PéFunções Motoras – Tabuleiro de Motricidade

(cf. Simões, 1997a; 2002b; 2003; 2004)

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2. Lateralidade

→ Num primeiro eixo de abordagem, o estudo da Lateralidade constitui-se como campo “autónomo” de investigação, no sentido de procurar aprofundar a questão que se reporta à especialização hemisférica do cérebro e à lateralização de funções (assimetria cerebral e funcional), bem como ao papel da organização, da integração ou das conexões inter-hemisféricas e sua relação com o desenvolvimento do ser humano

→ Num segundo eixo, remete para a necessidade de avaliar, previamente, a Lateralidade, para descrever e interpretar os resultados em tarefas de desempenho motor, nomeadamente as que envolvem o uso da mão (ex. destreza – ver: Funções Motoras/ Tabuleiro de Motricidade)

(Anderson, 1994; Annett, 1992; Baron, 2004; Braun, 2000; Harris, 1992; Harris, 1958; Lezak et al.,

2004; McManus & Bryden, 1992; Spreen & Strauss, 1991, 1998; Strauss et al., 2006)

2. Lateralidade (cont.)

Predominância lateral ou lateralidade: significa um uso preferencial e/ou uma capacidade superior de um dos lados do corpo, em relação ao outro

Lateralidade para a Mão ou Manual: designa a preferência manual(i.e., a mão preferencialmente usada para executar uma actividade motora); e a perícia manual (i.e., a mão mais hábil na execução de uma tarefa)

Ver: característica de preferência unilateral- dominância Direita (destro); dominância Esquerda (canhoto/esquerdo); ainda que existam outros tipos (ex. lateralidade mista/incompleta; ambidestria; lateralidade invertida)

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2. Lateralidade (cont.)

- Aproximadamente 90% a 95% da população humana adulta édestra

- Em termos desenvolvimentais, é de esperar alguma oscilação(70% ou menos, na primeira infância; 86% a 90% na infância e adolescência; em adultos mais velhos e idosos, 97% a 99%)

- A lateralidade manual é estabelecida desde cedo (de modo evidente, aos 9 anos, podendo até ocorrer antes)

- O uso da mão esquerda tende a diminuir em função da idade; e émais frequente em determinados grupos (ex. epilepsia, dificuldades de aprendizagem, sobredotação)

(Anderson, 1994; Annett, 1992; Baron, 2004; Harris, 1958; Lezak et al., 2004)

2. Lateralidade (cont.)

- Em tarefas de desempenho motor: espera-se obter melhores resultados na execução com a Mão Dominante, comparativamente à Mão Não Dominante

- Défices na execução unimanual permitem hipotetizar a presença de lesão e/ou disfunção no hemisfério contralateral e determinar (analisar) os défices daí decorrentes

Ver: a relação predominância manual – desempenho não é linear (ex. em tarefas que exigem um certo grau de capacidade/habilidade, como é o caso do Tabuleiro e Motricidade)

Ver: papel das estratégias/métodos para avaliar a lateralidade

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2. Lateralidade (cont.)

Como avaliar a Lateralidade para a Mão?

- Perguntar ao sujeito que mão usa preferencialmente- Especificar uma tarefa, perguntando que mão usa para escrever- Recorrer a instrumentos de auto-avaliação/questionários ex.

Inventário de Edinburgh de Lateralidade Manual/ The Edinburgh

Handedness Inventory (Oldfield, 1971); Questionário de Annett de Lateralidade Manual/ The Annett Handedness Questionnaire

(Annett, 1967, 1970); Teste de Crovitz-Zener/ Crovitz-Zener Test

(Crovitz & Zener, 1962)- Com crianças, é proposto o recurso à observação (Annett, 1992;

Baron, 2004; Harris, 1958; Lezak et al., 2004)

2. Lateralidade (cont.)

(i) Actividades/itens relevantes ou primários: escrever, desenhar, lançar uma bola, usar a tesoura, usar a escova de dentes, usar o martelo, usar uma raquete de ténis, segurar num fósforo para o acender

(ii) Solicitar a realização de tarefas, baseando a avaliação da lateralidade nas respostas/acto observado

(iii) Na instrução, a tónica deve ser colocada na acção e não na mão usada para a executar

(iv) Usar objectos reais/brinquedos, que a criança possa manipular(v) Na apresentação da actividade, colocar os materiais

centralmente e não perto de uma das mãos(vi) Encarar o procedimento como divertido, flexibilizando a aplicação(vii) Com crianças mais pequenas, executar vários ensaios, para uma

mesma actividade (ex. três ensaios)

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2. Lateralidade (cont.)

Prova de Lateralidade para a Mão da Bateria de Coimbra

Avalia a predominância ou dominância lateral manual Requer a realização ou execução de um conjunto de actividades

propostasInclui as tarefas: escrever o nome (ou, para crianças que ainda não

saibam escrever, desenhar um sol),cortar com uma tesoura, escovar os dentes, usar o martelo e lançar um bola

Para crianças até aos 8 anos, inclusive, cada uma das tarefas érealizada três vezes (três ensaios), à excepção de escrever, que apenas comporta uma execução com a mão direita e uma execução com a mão esquerda. Para idades superiores a 8 anos, as diversasactividades são realizadas apenas uma vez (um ensaio), mantendo--se as especificações da tarefa escrever

2. Lateralidade (cont.)

Ver: manual de aplicação/instruções

Em termos gerais, para a cotação, o examinador deverá registar que mão o sujeito usa para executar a actividade proposta (anotar naFolha de Registo)

Para a classificação, para idades até aos 8 anos, num total de 13 actividades (3 ensaios x 4 actividades + 1 ensaio do item escrever/desenhar), tomando como referência as execuções com a mão direita (D), teremos: dominância Direita (9 a 13 D), dominância Mista (5 a 8 D) e dominância Esquerda (0 a 4 D)

Para idades superiores a 8 anos (5 actividades, um ensaio cada):dominância Direita (4 a 5 D), dominância Mista (2 a 3 D) e dominância Esquerda (0 a 1 D)

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2. Lateralidade (cont.)

Prova de Orientação/Conhecimento de Direita e de Esquerda (sobre o próprio sujeito)

Visando caracterizar de modo mais pormenorizado grupos especiaisA confusão direccional é um indicador importante de diferenciação (por

ex., entre crianças “normais” e com “dificuldades de aprendizagem”)(indicador desenvolvimental - aos 7/8 anos, uma criança jádiscrimina correctamente a direita e a esquerda, tendo como referência o próprio corpo)

A tarefa consiste em solicitar ao sujeito que identifique a sua mão direita, a sua orelha esquerda e o seu olho direito

Exige procedimentos de cronometragem, para classificar a resposta (conhecimento “normal”, “hesitante”, “muito hesitante”, “confuso”)

(Baron, 2004; Harris, 1958; Lezak et al., 2004; Penã-Casanova et al., 2004; Strauss et al., 2006)

2. Lateralidade (cont.)Lateralidade (materiais)

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3. Funções Motoras

- No decurso do desenvolvimento, a expressão de motricidade/acção do organismo é um requisito para o estabelecimento preciso dos circuitos neuronais, resultando da designada integração sensório--motora

- A integração sensório-motora expressa-se a todos os níveis do reportório das competências humanas (desde os processos elementares de sensibilização/habituação de respostas fisiológicas a estímulos simples, como o ritmo cardíaco; até indicadores mais complexos, como o movimento de orientação da cabeça ou o sorriso)

- O controlo gradual, seguindo os princípios de desenvolvimento céfalo-caudal e de desenvolvmento próximo-distal, é vector de desenvolvimento e indicador de uma progressiva complexidade, especificamente no humano

3. Funções Motoras (cont.)

- Em sequência/integração, em termos (neuro)psicológicos e desenvolvimentais, a expressão de motricidade/acção do organismo é uma dimensão de primordial importância

- Falhas neste percurso poderão resultar em défices, perturbações e/ou atrasos de desenvolvimento de natureza diversa, mais evidentes ou de maior impacto no caso de crianças e adolescentes

- No âmbito da Avaliação Neuropsicológica, as funções motoras são “minimizadas”, pontualmente avaliadas ou, mesmo, omitidas: por as perturbações nem sempre envolverem as estruturas cerebrais; estruturas cerebrais diferencialmente vulneráveis a comprometimento (sistema motor “mais protegido” e “menos exposto”); integração de funções (ex. motoras e executivas); elevada incidência de mortalidade

(Baron, 2004; Braun, 2000; Fonseca, 1992; Goldstein & Beers, 2004; Lezak et al., 2004; Pennington,1991; Vance & Pumariega, 2001)

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3. Funções Motoras (cont.)

Em termos de mapeamento de funções motoras, o córtex cerebral associado à face e à mão é o de maior representação, traduzindo a sua maior complexidade

No âmbito da Avaliação Neuropsicológica, provas que avaliam capacidades que se reportam ao uso da mão são um contributo importante para: situar/caracterizar possíveis disfunções e défices neuropsicológicos; indicadores de lateralização de lesões (considerando as discrepâncias entre desempenhos unimanuais, sobretudo se evidentes não apenas em uma, mas em diferentes performances)

Ver: medidas de preferência manual, força (ex. HandDynamometer/Grip Strength Test), velocidade (ex. Finger TappingTest) e destreza

(Bornstein, 1986a, 1986b; Golden et al., 2000; Thompson et al., 1987; Vance & Pumariega, 2001)

3. Funções Motoras (cont.)

Como avaliar a destreza?

- Os testes de destreza permitem medir a capacidade para integrar e velocidade, a precisão e a coordenação de movimentos da mão e dos dedos, na realização de tarefas

- Instrumentos de referência: Grooved Pegboard Test e o Purdue Pegboard Test

- A opção pelo Purdue (adaptado para construir o Tabuleiro de Motricidade) pautou-se pelo critérios de representatividade e de tempo de aplicação/realização de tarefas

(Anderson, 1994; Baron, 2004; Golden et al., 2000; Lezak et al., 2004; Mitrushina et al., 2005; Penã-

-Casanova et al., 2004; Spreen & Strauss, 1998; Strauss et al., 2006)

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3. Funções Motoras (cont.)

- O Purdue é apresentado como um instrumento utilizado com diversas faixas etárias, sendo a idade de 5 anos a usualmente referida como idade mínima para realização da tarefa (sendo o limite etário superior, actualmente, 89 anos)

- É descrito como um teste que avalia/mede a destreza digital e manual (capacidade para fazer de forma hábil e rápida movimentos controlados, aquando da manipulação de objectos pequenos, em que o uso dos dedos é predominante; e com a mão e o braço, em manipulações de objectos um pouco maiores)

- (com áreas adicionais de avaliação: coordenação visuomotora e bimanual e velocidade; áreas secundárias: compreensão verbal, para as instruções; variáveis que podem interferir na execução da tarefa: sensibilidade táctil, empenho/esforço, atenção, ansiedade)

- Originalmente (anos 40) criado no âmbito da selecção profissional (contexto de Indústria/Trabalho), estendeu-se (anos 50-60) ao domínio da Neuropsicologia

3. Funções Motoras (cont.)

- Na forma original, requer a colocação rápida de pequenos “pregos”, nos buracos de um tabuleiro, primeiro com a Mão Dominante, depois com a Mão Não Dominante e, seguidamente, com Ambas as Mãos simultaneamente (cada uma das provas tem 30 segundos de tempo limite); numa quarta tarefa, exige a construção de Composições simples (1 minuto)

- Previamente à execução, todas as provas são demonstradas pelo examinador, dando ao sujeito a possibilidade de treinar a tarefa

- Registo/indicadores: Total (de “pregos”) Mão Dominante; total (de “pregos”) Mão Não Dominante; total (de pares de “pregos”) Ambas as Mãos; total (de elementos) Composição

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3. Funções Motoras (cont.)

- No decurso das diversas investigações, estes delineamentos foram sofrendo alterações/variações (ex. no material, no número de itens de treino, do número de provas, de ensaios por prova, de descrição dos indicadores possíveis de obter)

(Agnew et al., 1988; Baron, 2004; Beguet & Albaret, 1998; Brito & Santos-Morales, 2002; Buddenberg& Davis, 2000; Costa et al., 1963, 1964; Desai et al., 2005; DesRosiers et al., 1995; Gardner &Broman, 1979; Lafayette Intrument Company, 1985, 1999; Mathiowetz et al., 1986; McCurry et al.,2001; Nybo & Koskiniemi, 1999; Pennathur et al., 2003; Peters et al., 1990; Sattler & Engelhardt,1982; Tiffin, 1968; Tiffin & Asher, 1948; Trembley et al., 2003; Vaughan et al., 1962; Wilson et al.,1982; Yeudall et al.,1986)

3. Funções Motoras (cont.)

Tabuleiro de Motricidade: Adaptação do Purdue Pegboard Test

- O Tabuleiro de Motricidade mede a destreza digital e a destreza manual

- Inclui 3 Provas, com dois ensaios cada: Mão Dominante, Mão Não Dominante, Ambas as Mãos (30 segundos, cada ensaio)

- A aplicação envolve: demonstração da tarefa (pelo avaliador), treino (sujeito) e ensaios de teste (execução do sujeito a ser cotada)

- Indicadores: (i) média de “pregos” colocados com a Mão Dominante; (ii) média de “pregos” colocados com a Mão Não Dominante; (iii) média de “pregos” colocados com Ambas as Mãos

Ver: manual de instruções

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3. Funções Motoras (cont.)Tabuleiro de Motricidade (materiais)

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos)

Aspectos metodológicos

Realizado no âmbito da investigação com a Bateria de Avaliação Neuropsicológica de Coimbra (projecto financiado pela FCT “Adaptação e aferição de testes neuropsicológicos para crianças e adolescentes”)

Recolha de dados efectuada no ano de 2005

Principais objectivos: Estudos descritivos, normativos e de validação da Prova de Lateralidade para a Mão e do Tabuleiro de Motricidade, para crianças e adolescentes da população portuguesa

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Amostra: 1104 crianças e jovens (550 rapazes e 554 rapariga), da região Centro de Portugal, com idades compreendidas entre os 5 eos 15 anos (amostra estratificada de acordo com valores de percentagem a nível nacional); frequentam ensino regular público; consideradas variáveis área e região geográfica, nível de escolaridade e profissão do pai e da mãe (indicadores de nível sócio-económico) – amostra representativa

Critérios de exclusão: sujeitos a quem tivesse sido diagnosticada perturbação neurológica (ex. epilepsia, tumor cerebral, lesão cerebral traumática, paralisia cerebral); perturbações psiquiátricas/psicopatológicas; problemas de comportamento; dificuldades de aprendizagem; referenciadas para ou que receberam qualquer tipo de ensino especial; historial de repetição (um ou mais anos escolares); e cuja língua materna não fosse o português

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Instrumentos e procedimentos: Prova de Lateralidade para a Mão e teste do Tabuleiro de Motricidade (seguindo as indicações de aplicação, notação e cotação/classificação expressos nos respectivos manuais de instruções), aplicados de acordo com o protocolo avaliativo da Bateria de Coimbra(i) Questionário de Orientação, Memória de Faces (reconhecimento imediato), Prova de Lateralidade, Nomeação Rápida, Fluência Verbal Fonémica, Memória de Faces (reconhecimento diferido), Memória de Histórias (evocação imediata), Torre de Londres, Barragem de Sinais e Memória de Histórias (evocação e reconhecimento diferidos)(ii) F.C. Rey (cópia), Fluência Verbal Semântica, F.C. Rey(evocação imediata), Compreensão de Instruções, Consciência Fonológica, F.C. Rey (evocação diferida), Lista de Palavras (aprendizagem e evocação imediata), Trail Making Test, Tabuleiro de Corsi, Tabuleiro de Motricidade e Lista de Palavras (evocação e reconhecimento diferidos)

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Prova

Idade Lateralidade M ão (% ) Conhecimento Direita/Esquerda (% )

Direita M ista Esquerda Confuso Normal Hesitante M uito

Hesitante

5 (n=99) 84.8 8.1 7.1 35.4 27.3 28.3 9.0

6 (n=101) 87.1 5.0 7.9 13.9 45.5 30.7 9.9

7 (n=101) 91.1 3.0 5.9 9.9 52.5 30.7 6.9

8 (n=100) 93.0 - 7.0 14.0 62.0 21.0 3.0

9 (n=100) 93.0 1.0 6.0 4.0 82.0 14.0 -

10 (n=102) 93.1 1.0 5.9 4.9 90.2 4.9 -

11 (n=98) 90.8 2.1 7.1 9.2 81.6 7.1 2.1

12 (n=99) 96.0 1.0 3.0 2.0 94.9 3.1 -

13 (n=102) 86.3 3.9 9.8 2.9 93.1 2.9 1.1

14 (n=100) 96.0 1.0 3.0 1.0 97.0 2.0 -

15 (n=102) 94.1 1.0 4.9 2.0 97.0 1.0 -

Amostra

Total

(N=1104)

91.4%

2.4%

6.2%

Resultados: Apresentação, análise e discussãoProva de Lateralidade para a Mão e Conhecimento Direita /Esquerda

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Resultados: Apresentação, análise e discussão

Tabuleiro de Motricidade → Precisão (estabilidade temporal/ teste-reteste) 1ª aplicação 2ª aplicação

Tabuleiro de M otricidade Média D. P. Média D. P. r

Grupo total (N = 106)

Prova Mão Dominante (MD) 9.95 3.02 11.57 3.20 .64 Prova Mão Não Dominante (MND) 10.00 3.14 10.75 3.23 .65

Prova Ambas as Mãos (AM) 10.07 3.21 10.52 3.31 .65

6 A (N = 37)

Prova Mão Dominante (MD) 10.81 3.02 12.35 3.29 .60 Prova Mão Não Dominante (MND) 10.43 3.22 10.38 3.40 .64

Prova Ambas as Mãos (AM) 11.14 3.06 11.14 3.63 .57 8 A

(N = 37)

Prova Mão Dominante (MD) 10.03 3.13 11.81 3.11 .59

Prova Mão Não Dominante (MND) 10.11 3.04 11.38 2.85 .64

Prova Ambas as Mãos (AM) 10.38 3.44 11.22 2.85 .82 10 A

(N = 32)

Prova Mão Dominante (MD) 8.88 2.60 10.38 2.95 .70 Prova Mão Não Dominante (MND) 9.38 3.15 10.44 3.44 .72

Prova Ambas as Mãos (AM) 8.47 2.50 9.03 2.99 .44

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade

Estrutura Factorial/análise em componentes principais: Foi identificado um único factor (eigenvalue= 2,608), que explica 86,946% da variância (para a amostra total; estrutura de um factor também caracteriza desempenhos, quando são consideradas separadamente as diversas faixas etárias e a variável género)Para cada uma das Provas as saturações são: .92 Mão Dominante; .94 Mão Não Dominante; .94 Ambas as Mãos

Parece, assim, sobressair que o teste permite medir uma funçãomotora que se reporta à destreza (manual e digital)

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade (Intercorrelações entre Provas do Tabuleiro de Motricidade)

Podemos avançar que se trata de tarefas que, de modo aproximado,permitem medir uma mesma dimensão (correlações relativamenteelevadas)

MD MND AM

MD -

MND 0.604 -

AM 0.600 0.676 -

MD- Prova Mão Dominante; MND- Prova Mão Não Dominante;

AM- Prova Ambas as Mãos

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade (Correlações com os outros testes da Bateria de Coimbra)

Apesar de significativas (p<.05 e/ou p<.01) todas as correlações são, de um modo geral, baixas → os instrumentos que constituem a Bateria avaliam diferentes funções (neuro)psicológicas

A salientar: correlações MD com testes que remetem para a organização perceptiva e grafomotora (F.C. Rey)- precisão da execução motora exigida; e AM com testes de atenção (Barragem)- relação da tarefa motora com o factor atenção;e de todas as Provas com a Fluência Verbal Semântica e Nomeação Rápida (Cor-Forma e Números)- velocidade de processamento

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade (Correlações com a WISC-III)

(amostra: 81 sujeitos; número similar de rapazes e raparigas; 41 dogrupo dos 7 anos e 40 do grupo dos 9 anos; 91.1% destros)

Dados: correlações positivas reduzidas, ainda que estatisticamente significativas

AM-QIR (0.249, p<.05)AM- IOP (0.233, p<.05)AM-Composição de Objectos (0.359, p<.01)MD-Composição de Objectos (0.313, p<.01)MD-Semelhanças (-0.223, p<.05)

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Correlações com a WISC-III (cont.)

- O Tabuleiro de Motricidade avalia domínios da cognição distintos dos examinados pela WISC-III (no âmbito da Avaliação Neuropsicológica os contributos da Bateria de Coimbra e da WISC-III complementam-se)

- Para AM e MD, considerar não apenas as variáveis de destrezapara interpretar os desempenhos, mas também as que envolvem organização perceptiva e grafomotora, esforço na tarefa, persistência ou trabalhar sobre “pressão”

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade

Correlações com uma versão do teste Desenho da Figura Humana (n.s.)Correlações com o teste das Matrizes Progressivas Coloridas de

Raven (n.s.)Correlações com os resultados escolares

Ainda que positivas e, por vezes, estatisticamente significativas, são de valor reduzidover: valor relativo das classificações escolares; variabilidade das avaliações efectuadas pelos professores;desempenhos e base comparativa para classificação não é idêntica; não disponibilidade de testes de conhecimentos escolares adaptados e aferidos para a população portuguesa

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade

Estudos com um grupo com “dificuldades de aprendizagem

e/ou outras perturbações do comportamento”

Prova

Controlo

(N=49) %

Dificuldades de Aprendizagem

e/ou outras Perturbações

(N=49) %

Conhecimento Direita/Esquerda Confuso 6.10 12.20 Normal 83.70 63.30

Hesitante 10.20 20.40 Muito Hesitante - 4.10

Lateralidade Mão Direita 93.90 87.80 Mista - 2.00

Esquerda 6.10 10.20

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Estudos com um grupo com “dificuldades de aprendizagem

e/ou outras perturbações do comportamento” (cont.)

Tabuleiro de Motricidade

Controlo

(N=49)

Dificuldades de Aprendizagem

e/ou outras Perturbações

(N=49)

Teste t

Média D. P. Média D. P. t Sig.

p Prova Mão Dominante (MD) 10.39 3.278 8.86 2.908 -2.445 0.016

Prova Mão Não Dominante (MND) 10.31 2.959 7.84 2.609 -4.381 0.001

Prova Ambas as Mãos (AM) 10.76 3.011 7.76 3.591 -4.481 0.001

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Validade

Estudos com um grupo com “inteligência superior”

Prova Controlo (N=33)

%

“Inteligência Superior”

(N=33) %

Conhecimento Direita/Esquerda Confuso 6.1 -

Normal 78.8 93.9 Hesitante 9.0 6.1

Muito Hesitante 6.1 -

Lateralidade Mão Direita 87.9 87.9

Mista - - Esquerda 12.1 12.1

4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Estudos com um grupo com “inteligência superior” (cont.)

Tabuleiro de Motricidade Controlo (N=33)

“Inteligência Superior”

(N=33) Teste t

Média D. P. Média D. P. t Sig.

p Prova Mão Dominante (MD) 9.36 2.94 9.06 3.03 -0.413 0.681

Prova Mão Não Dominante (MND) 9.09 2.81 9.33 2.34 0.381 0.705 Prova Ambas as Mãos (AM) 9.33 3.03 9.64 3.02 0.407 0.685

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4. Estudos empíricos para a população portuguesa (5-15 anos) (cont.)

Tabuleiro de Motricidade → Normas

- A variável idade tem efeito significativo nos desempenhos (MD, MND, AM) - sujeitos mais velhos executam melhor que os mais novos todas as tarefas; a faixa etária dos 10 anos surge como idade-tecto, na diferenciação estatística dos desempenhos, para todas as Provas

- A variável género tem efeito significativo nos desempenhos, na Prova MD

- Interacção idade x género - as raparigas mais velhas executam melhor que os rapazes a Prova MD

- Os desempenhos MD são superiores aos de MND

- A variável nivel sócio-económico não tem efeito estatisticamente significativo

5. Conclusão/Síntese

Avaliação Crítica: Limites, vantagens e potencialidades

- O estudo português, com 1104 casos da amostra normativa, é um dos estudos com crianças e adolescentes onde o tamanho da amostra é maior; ver, ainda, as investigações/ estudos de validação da Bateria de Coimbra

- Ver: estudos com grupos “clínicos” e “educativos”

- A validação do Tabuleiro de Motricidade constitui um trabalho sistemático e exaustivo (precisão; análise factorial/em componentes principais; correlação com outras provas e testes; com os resultados escolares; estudos com grupos especiais)

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5. Conclusão/Síntese (cont.)

- Dados normativos

- ver: Provas do Tabuleiro de Motricidade e número de ensaios

- Ver: relações Neurologia-Psicologia (novos contributos)

- Uma análise que (re)coloque a Prova de Lateralidade e o Tabuleiro de Motricidade na sua matriz global de significação (Bateria de Coimbra), dará um novo alcance aos dados

- Novas investigações: estudo de grupos especiais

5. Conclusão/Síntese (cont.)

O “fim” nem sempre é entendido em todos os seus alcances, pois não o vemos de todos os ângulos de visão possíveis

Em Investigação, em Avaliação... Podemos apreender novas relações, sempre, persistindo e alter(n)ando modos de ver/perspectivas, em constante movimento

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...Não existem pontos finaisSomente, pontos de vista...

6. Bibliografia (selecção)

Annett, M. (1992). Assessment of laterality. In J. R. Crawford, D. M. Parker, & W. W. McKinlay (Eds.), A handbook of neuropsychologicalassessment (pp. 51-70). Hove:Lawrence Erlbaum Associates, Publishers.

Baron, I. S. (2004). Neuropsychological evaluation of the child. New York: Oxford University Press.

Golden, Ch. J., Espe- Pfeifer, P., & Wachsler- Felder, J. (2000). Neuropsychological interpretation of objective psychological tests. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers.

Lafayette Instrument Company (LIC). (1999). Quick reference guide for the

Purdue Pegboard #32020. Test admninistror’s manual (rev. ed.). Lafayette, IN: LIC.

Lezak, M. D., Howieson, D. B., & Loring, D. W. (2004). Neuropsychological

assessment (4th ed.). New York: Oxford University Press.

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6. Bibliografia (selecção) (cont.)

Tiffin, J., & Asher, E. J. (1948). The Purdue Pegboard: Norms and studies of reliability and validity. Journal of Applied Psychology, 32(3), 234-247.

Peña- Casanova, J., Fombuena, N. G., & Fullà, J. G. (2004). Testes

neuropsicológicos: Fundamentos para una neurolopsicología clínica

basada en evidencias. Barcelona: Masson.Strauss, E., Sherman, E. M. S., & Spreen, O. (2006). A compendium of

neuropsychological tests: Admninistration, norms, and commentary (3rd ed.). New York: Oxford University Press.

Cf.Vilar, M. (2007). Lateralidade e Funções Motoras em crianças e

adolescentes. Estudos com a Bateria e Avaliação Neuropsicológica de

Coimbra. Tese de Mestrado não publicada. Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação/UC.