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Laudo de Análise Elementar Sobre Causas do Desabamento da Encosta na Falésia do Cabo Branco Em atendimento à solicitação feita pela digníssima Sra. Drª. Roseane Costa Pinto Lopes, Curadora do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado da Paraíba - 1º Centro de Apoio Operacional, onde no seu ofício nº 0007/CMA, define como objetivo instrucional “identificar as causas que levaram o desabamento de blocos de terra na falésia do Cabo Branco”, solicita ainda caráter urgente e com sugestões para o problema. A Sra. Curadora enviou ainda, por nossa solicitação, e anexando assim ao ofício, documentos já pertinentes ao processo de avaliação e questionamentos sobre aquela área. Dado a pertinência, urgência e complexidade da perícia em foco, optou-se por análise elementar como instrumento que poderá vir a auxiliar na tomada de decisão sobre qualquer ação deliberativa junto aquela área. Considera-se que a análise elementar é o primeiro passo após qualquer processo especulativo, não sendo ainda uma ciência formada por hipóteses corroboradas ou refutadas, sendo esta ciência, resultado de uma análise sistemática e transdisciplinar, envolvendo: técnicos, cientistas e o cidadão do cotidiano daquela área. Antecedentes da Análise Elementar Mesmo estando ciente da superficialidade de uma análise elementar não se deve tratá-la sem a devida responsabilidade, pois sabe-se que seu resultado poderá conduzir a diversas interpretações, daí opta-se por rigores tanto no uso adequado de postulados quanto por rigores determinados pela sistematização. Esse é o primeiro passo para a análise sistemática. No entanto, sua continuidade se dará em aplicar esse rigor em um volume significativo de dados coletados, o que inevitavelmente instrumentará o volume amostral enquanto estudo de probabilidade e possibilidades. Essa pertinência conduz a processos estruturais de pesquisa, surgindo então a determinação de como se instruirá os procedimentos para resposta a Sra. Curadora, a partir do olhar Geográfico, construindo-se um projeto de estudos:

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Laudo de Análise Elementar Sobre Causas do Desabamento daEncosta na Falésia do Cabo Branco

Em atendimento à solicitação feita pela digníssima Sra. Drª. Roseane Costa Pinto

Lopes, Curadora do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado da Paraíba - 1º Centro

de Apoio Operacional, onde no seu ofício nº 0007/CMA, define como objetivo instrucional

“identificar as causas que levaram o desabamento de blocos de terra na falésia do Cabo

Branco”, solicita ainda caráter urgente e com sugestões para o problema. A Sra. Curadora

enviou ainda, por nossa solicitação, e anexando assim ao ofício, documentos já pertinentes

ao processo de avaliação e questionamentos sobre aquela área.

Dado a pertinência, urgência e complexidade da perícia em foco, optou-se por

análise elementar como instrumento que poderá vir a auxiliar na tomada de decisão sobre

qualquer ação deliberativa junto aquela área. Considera-se que a análise elementar é o

primeiro passo após qualquer processo especulativo, não sendo ainda uma ciência formada

por hipóteses corroboradas ou refutadas, sendo esta ciência, resultado de uma análise

sistemática e transdisciplinar, envolvendo: técnicos, cientistas e o cidadão do cotidiano

daquela área.

Antecedentes da Análise Elementar

Mesmo estando ciente da superficialidade de uma análise elementar não se deve

tratá-la sem a devida responsabilidade, pois sabe-se que seu resultado poderá conduzir a

diversas interpretações, daí opta-se por rigores tanto no uso adequado de postulados quanto

por rigores determinados pela sistematização. Esse é o primeiro passo para a análise

sistemática. No entanto, sua continuidade se dará em aplicar esse rigor em um volume

significativo de dados coletados, o que inevitavelmente instrumentará o volume amostral

enquanto estudo de probabilidade e possibilidades.

Essa pertinência conduz a processos estruturais de pesquisa, surgindo então a

determinação de como se instruirá os procedimentos para resposta a Sra. Curadora, a partir

do olhar Geográfico, construindo-se um projeto de estudos:

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Projeto

Caracterização geográfica da ponta do Cabo Branco: dinâmicaambiental.

Problema

Quais os componentes da estrutura da paisagem que determinam adinâmica ambiental na zona costeira da ponta do Cabo Branco?

Hipóteses

a) Ação direta dos elementos componentes do clima: ventos eprecipitações;b) Ação direta dos componentes oceânicos: maré e ondas;c) Ação abrasiva dos elementos climáticos e oceânicos sobre orelevo costeiro;d) Combinação da drenagem superficial, a cobertura vegetal comporosidade do solo e o relevo na distribuição e contenção das águaspluviais;e) O aspecto sócio-ambiental na relação sentimental entre asociedade e a paisagem, onde esta representa um monumento designificação historicamente geográfica.

Objetivos

Geral

Compreender a dinâmica ambiental na ponta do Cabo Branco.

Específicos

- Delimitar a área de estudo;- Representar a área cartograficamente: planta baixa, perfis

longitudinais e transversais.- Caracterizar os fatores e elementos da estrutura da paisagem;- Definir parâmetros de referência teórica para coletar dados e

informes sobre:, clima, dinâmica marinha e erosão costeira;- Elaborar formulários de coleta de dados;- Elaborar questionários e questionamentos sobre a paisagem.

Metas

- Construção de uma carta geográfica;- Diagnóstico elementar sobre a paisagem;

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Metodologia

Levantamento bibliográfico pertinente à composição tópica da estrutura da

paisagem; levantamento de documentos ortográficos e iconográficos referentes à área em

observação; Excursões expeditas a fim de se estabelecer ação de observação e coleta direta

de dados; Medição de elementos componentes da paisagem com instrumental para maior

grau de rigor; questionamento e entrevista à população sobre o comportamento do lugar e as

relações topofílicas.

Referência Teórica

As categorias que balizarão o estudo serão de importância teórico-práticas, pois

servirão como horizontes norteadores determinando sempre os rumos e consequentemente

avanços e recuos na busca da resolução do problema e na corroboração ou refutação das

hipóteses.

Como a pesquisa se dará em um lugar geográfico e com domínios naturais

enquanto eventos particípes da paisagem, teremos assim uma pesquisa geográfica de

caráter regional, pois serão denunciados tópico a tópico que, conectados sistematicamente,

formarão a estrutura e a dinâmica da paisagem.

A Teoria Geral de Sistemas servirá também como elemento fundamental para à

compreensão das conexões que determinarão as estruturas componentes da paisagem.

Tomaremos como super-estrutura os tópicos que isoladamente serão

caracterizados e sua individualidade capturada de forma técnica, a partir de observação e

coleta sistemática, com auxílio de referências e instrumental especializado, pois assim se

aumentará o rigor na explicação dos fenômenos em si.

A definição de um esquema, enquanto representação gráfica da organização da

estrutura, servirá como mapa das categorias de fundamentação.

Climático Biótico Topográfico

Hídrico

(adaptação elaboração a partir da proposta de Sthraeler)

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Composição da estrutura dos fenômenos

Onda:

- altura Maré;- dinâmica;- comprimento;- cronograma;- direção;- relações com fatores astronômicos.

Onde observar:

- dentro do mar na maré baixa — marcas de ondas e maré alta (sizigia)

Clima:

- vento: sobre a barreira, na praia, na vegetação;- observar: horários e fenômenos astronômicos;- chuva: canais de escoamento superficial.

O ambiente: uma tentativa de caracterização regional

Tomando-se como paradigma a questão regional devido a complexidade do evento

em si deslizamento de encosta, mesmo assim “a delimitação de áreas regionais complexas

representa uma tarefa espinhosa na medida em que a unidade do conjunto é fruto de relações

entre fenômenos de natureza diferente neste caso, é conveniente partir do interior do sistema

para determinar os limites da estrutura geográfica considerada “(Dolfuss: 1973 p. 94)1. É

nessa condicionante, sistema e estrutura geográfica que o evento deslizamento de encosta

está inserido e como as condições iniciais, não necessariamente, estarão contidas no evento,

procurar-se-á então inserí-lo (o evento) numa concepcão regional.

“O termo região não apenas faz parte do linguajar do homem comum (....) (....) o

conceito de região está ligado a noção fundamental de diferenciação de área, quer dizer, à

1 DOLFUS, Olivier. A Análise Geográfica. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Difusão Européia do

Livro, 1973.

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aceitação da idéia de que a superfície da terra é constituída por áreas diferentes entre si”

(Corrêa, 1990, p.22)2.

Nessa concepção encaminha-se o evento para o contexto regional, onde está contido

no subconjunto relevo, cujo conjunto é o topográfico, sendo parte do conjunto paisagem.

A paisagem reflete uma fisionomia e esta “é o que se vê e o que se salta aos nossos

olhos (....) (Egler, p. 121)3, a paisagem passa a ser então um conjunto de fenômenos

aparentes que ocorrem em um dado momento e num dado lugar. No entanto, nem sempre o

que está acontecendo numa paisagem as condições iniciais estão aí localizadas. Nessa

perspectiva é que se estabelece a proposição regional, onde se tentará determinar elementos

limites ou limiares para caracterizar os outros subconjuntos dos conjuntos climáticos e

hídricos, demarcando assim a paisagem regional.

A região do Cabo Branco: caracterização da paisagem

O conjunto paisagístico é constituído estrutural e geográficamente pelos conjuntos:

topográfico, hídrico e climático. A hierarquia em que apresenta os subconjuntos é a mesma a

que Egler realça sobre “o fenômeno que salta aos nossos olhos”, pois o evento deslizamento

de encosta é ocorrência no conjunto topográfico, subconjunto relevo, ora como fenômeno de

degradação e paradoxalmente de agradação, ou seja, o material que é retirado de um lado é

depositado em outro. O segundo conjunto, o hídrico, tem a ver com a dinâmica da massa

fluida hídrica que é o subconjunto oceânico em constante ação erosiva, enquanto força de

demolição e construção nas suas zonas de contato com o relevo. O terceiro subconjunto: que

é o climático, age de forma liminar ou subliminar com seu agentes, tanto na formação como

na deformação de situações aparentemente estáveis.

Na tentativa de regionalizar a área do Cabo Branco é fundamental estabelecer alguns

conceitos que representam aquela realidade. Os elementos que compõem o conjunto relevo

enquanto estrutura, são na realidade elementos da superestrutura, como planaltos e planícies.

Já o conjunto hídrico é desmembrado nos subconjuntos: água continentais e águas

oceânicas, sendo as águas oceânicas a de primeiro interesse e sua superestrutura

2 CORRÊA, Roberto Lobato. Região e OrganizaçãoEspacial. 3º ed., São Paulo, editora Ática.3 EGLER, Walter Alberto. Coletânea de trabalhos de Walter Egler. Org. por Pedro L. B. Lisboa. Museu

Paranaens. Emílio Goeldi.

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representada pelos eventos: marés, ondas e correntes. E as águas continentais, no caso

específico águas em escoamento superficial e de subsuperfície.

O subconjunto climático que ressaltamos sua ação em liminar, algo bem aparente,

bem sensível (como a temperatura, os ventos e a chuva e, subliminar como a pressão

atmosférica.

O Cabo Branco é um acidente geográfico decorrente da ação erosiva do mar e sua

litologia é constituída por sedimentos que vieram sendo depositados, possivelmente, apartir

da era terciária entorno de 65 Milhões de Anos (Departamento Nacional da Produção

Mineral – Geologia do Brasil-p. 12), tempo este que permitiu a compactação do material,

contribuindo assim para sua consolidação e formando a unidade do relevo denominada

planalto: baixos Planaltos Costeiros, sobreposto ao grupo litológico denominado Barreiras.

Grupo esse sem datação específica devido a falta de material fossilizado o que viria a

permitir datação. Por planalto, entende-se unidade do relevo que perde material tanto pelo

intemperismo, ação imposta pelos condicionantes elementos e/ou fatores como temperatura,

radiação luminosa, sonora, etc. e, também por erosão como a ação dos impactos provocados

por chuvas, ventos, ondas, marés e enxurradas. ... O material perdido pelo planalto ou pelas

montanhas, serão depositados em vales e nas planícies e no caso da região do entorno do

Cabo Branco, mais especificamente ao norte, na planícies costeira, cuja área é praieiras.

Não há como olhar o Cabo Branco sem uma especulação paleo-geográfica, onde

possivelmente essa paisagem seja, geológicamente bem recente. No entanto olhando em

direção NE e Leste para dentro do mar, e com a maré baixa, observa-se os recifes,

provavelmente blocos residuais que se mantiveram resistentes ao tempo cronológico e a

ação destrutiva da dinâmica erosiva do intemperismo, permitindo assim a especulação

conotativa de como foi a paisagem do Cabo Branco – planaltos costeiros que avançavam

adiante, além da atual linha de costa.

Hoje esse cenário tem nuances desse trabalho erosivo, onde se tem bem

caracterizado o corte abrupto dos baixos planaltos, formando assim encostas com

características de penhascos, pois são encostas com mais de 70º de declividade. Esses

penhascos foram e estão sendo trabalhados erosivamente pela ação marinha e neste contato,

passam a ser denominados de falésias - vivas quando há contato e mortas quando perde o

contato com o mar. As nuances do trabalho do mar sobre os baixos planaltos formando as

planícies costeiras é bem nítido na formação da planície da praia da Penha, ao sul do Cabo

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Branco. E ao norte, onde as falésias estão mortas, pois encontram-se recuadas em relação ao

trabalho erosivo do mar, surgindo a praia como resultado de uma série de sucessões de

cordões litorâneos que foram sendo acumulados no decorrer do tempo. Na praia de Cabo

Branco e Tambaú, onde a falésia também encontra-se recuada, morta, afastada do mar, há aí

entre o mar e a falésia um preenchimento por material sedimentar formando planície

costeira que se estende até Cabedelo na foz do Rio Paraíba. É importante notar que a linha

de falésia é interrompida entre o Altiplano e Tambaú pela passagem do rio Jaguaribe e

sendo mais uma vez interrompida na descida do bairro João Agripino, em direção ao terraço

flúvio-marinho do sistema estuarino do Rio Paraíba.

O realce que foi dado descritivamente ao acidente geográfico e seu entorno, tanto

espacial quanto temporal, tem como objetivo sua complexa delimitação regional, daí então

poder buscar suas zonas de contato nas adjacências circunstanciais. Passamos assim a

considerar como a região do Cabo Branco, as áreas de falésia viva no seu contato com as

planícies ao sul praia da Penha e nas planícies ao norte da praia de Tambaú e por último

agente de delimitação paramétrico a rede de drenagem na superfície da falésia.

Investigação elementar sobre a dinâmica dos subconjuntos: uma amostragem

A superfície do relevo é bem pouco ondulado, denotando assim uma monotonia que

lhe coube o nome de altiplano.

A ruptura na monotonia do relevo é abrupta, acarretada pela aparentemente ação

marinha, chegando a característica de penhasco pela elevada declividade.

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A partir do perfil transversal da falésia, torna-se nítida a configuração estratificadados componentes que aí se acomodoram, permitindo assim a determinação dos diversoselementos que compõem os diversos estratos. Há a distinção desses elementos mesmo aolho nú e também por exames simples ao toque manual, onde há fácies que se apresentambem arenosos e outros bem argilosos, o que denota a permissividade de comportamentosdiferenciados tanto pelo intemperismo quanto pela erosão.

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Base da Falésia denotanto o trabalho da erosão Marinha

O topo da falésia é constituído de material arenoso: areias quartzosas, com baixo teor

de materia orgânica e de baixa coesão.

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Sobre esta superfície pouco ondulada cuja rede de drenagem é comprometida pelo

baixo nível de angulação das vertentes, dificultando assim o escoamento superficial e

ampliando a percolação verticalizada da água para o subsolo, surge assim um solo cujo

horizonte A é rico em areias quartzosas e baixo teor de matéria orgânica e com baixa

coesão, solo pobre às atividades edáficas, no entanto há aí uma população vegetal instalada e

que se restaura diante das condições atípicas (ação antrópica) do lugar. Essa vegetação

estabelece uma dupla relação. a) enquanto resultado da intersecção dos conjuntos:

climáticos, hídrico e lítico (rocha), ela aparece como elemento menor da estrutura da

paisagem, no entanto b) essa vegetação é o elemento de articulação entre esses mesmos

conjuntos, pois sua relação é aérea, de superfície e de subsuperfície, ou seja acima da

superfície do relevo, na superfície e no subsolo. A vegetação acaba por ser um elemento

fundamental que auxilia na resistência do relevo aos ataques dos outros elementos

pertinentes aos outros conjuntos e subconjuntos. E no tocante à população vegetal

pertencente a área de ruptura do baixo planalto, no topo da falésia, está profundamente

comprometida, pois tamando por base paramétrica uma área bem povoada do interior do

altiplano podemos constatar que as condições de: censo, altura e densidade, num processo

comparativo há ali no topo da falésia uma situação crítica, pois há sim um vazio em termos

populacionais, ou seja, uma área desmatada.

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Essa vegetação é fruto de condições, possivelmente, acidentais, pois haja visto que

todo o litoral já vem sendo alterado a centena de anos. No entanto as condições peculiares

no tocante ao clima, de um modo mais amplo, não foram alteradas, tomando por base o

ATLAS Geográfico da Paraíba em que define a direção e velocidade dos ventos, a

precipitação atmosférica.

Estando com a referência geral proposta no ATLAS foi feita ainda uma série de

coletas de dados por época do evento (deslizamento) sobre:

- direção do vento – SE/NO- velocidade do vento – em média, pois há uma variação denotando uma turbulência, o que

indica que as médias entre as velocidades mínima e máxima variamde 1.3 m/s a 9.1 m/s.

Esses dados passam a ser elementos importantes para análise do movimento do mar:

ondas.

O vento é o elemento fundamental para a movimentação da superfície do mar,

dando-lhe rugosidade, gerando assim as ondas e essas passam a ser agentes de ação erosiva

na linha da costa: tanto na planície (áreas praieiras) como na falésia (área em

decomposição).

A ação oceânica conta com três agentes erosivos de valor importante para esculpir e

modelar as feições costeiras: a maré, as ondas e as correntes costeiras, como já foi ressaltado

apesar desta ser uma análise elementar mesmo assim observa-se alguns rigores na leitura

da paisagem, daí então a preocupação de se tomar apontamentos combinados com outras

referências. A leitura do movimento da maré teve como referência a tábua de marés e a

preocupação com o movimento de translação da terra.

A leitura da translação nos permitiu combinar a data de maior maré 2.60 m no dia

dezoito de março de 1999 onde a lua em conjunção – lua nova, contribuiu para essa altura da

maré lembrando ainda que esse momento, MARÇO, é significativo pois a terra está próximo

ao seu momento equinocial, ou seja a perpendicularidade da radiação luminosa está próximo

sobre a linha equatorial, o que isso quer dizer: que a radiação perpendicular ao paralelo 7º

(João Pessoa) foi por época do dia 23 de fevereiro/março, havendo assim um ataque direto

de insolação perpendicular a está região, contribuindo assim para maior transpiração e

evapotranspiração dos elementos sob este fenômeno, ou seja, havendo probabilidade de

desidratação por subordinação a elevada exposição.

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Essa maré muito alta, maré de sizígia, denominada vulgarmente de maré viva,

atingindo o sopé da falésia abaixo do farol do Cabo Branco, indicando que esta é uma

falésia viva, pois há ainda o trabalho intenso de sua retrogadação.

A retrogradação4 é na realidade ação efetivada pelas ondas, pelo resultado do seu

impacto sobre a falésia e há, ao longo da falésia, áreas atingidas pela maré e

consequentemente pelas ondas, mas a área em que houve o deslizamento na realidade, não é

atingida efetivamente pela maré mas sim pelo resultado final de ondas, em marés muito altas

(acima de 2.5m) onde estas trabalham solapando o sopé da falésia.

Fazendo uma pequena contabilidade sobre a tábua de marés é possível verificar que

ocorrerão ainda mais quatro marés deste nível este ano, época da lua nova de 16 e 17 de

abril e na lua cheia 01 e 02 de maio.

Esse agente maré aponta um outro agente que são as ondas, que combinado com os

ventos e horário, no caso do dia 17 de março de 1999 às 15 horas 5 o vento soprava em

direção ao continente numa velocidade média6 de 3 m/s, a partir dessas combinações maré

4 Retrogradação: termo que indica, no caso, recuo do litoral por ação erosiva5 As coletas foram realizadas também no dia 19 e 20/março/996 Medição feita com anemômetro e coletado dados amostrais em quatro pontos, sendo dois no sopé da falésia edois no topo da falésia.

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alta e vento, se procurou ler a rugosidade da superfície marinha, ou seja os elementos

componentes das ondas: altura, comprimento e direção.

As coletas foram realizadas em pontos bem frontais a barreira abatida. A altura e

comprimento foram mensuradas por balizamento transversal, numa secção amostral de

grupos de onze ondas consecutivas, na ante-zona de arrebentação

- altura: 45 cm em média;- comprimento médio: 30 m

A velocidade das ondas chegou a 5 m/s. Na direção leste/oeste ou seja quase frontal

a barreira. No entanto a coluna da onda tocava primeiro no sentido sul da barreira e

posteriormente, ao norte, o que produz uma corrente na direção Norte.

O trabalho de desbarrancamento é aparentemente elevado e, o material desagregado

é conduzido pela corrente em direção norte, ou seja em direção a praia do Cabo Branco,

sendo alí depositado.

É conveniente aqui se descrever, mesmo que de forma elementar, a composição

estrutural da barreira na falésia do Cabo Branco. Como já foi realçado por diversos autores

estudiosos do grupo litológico Barreiras, este grupo não contém em sua composição rochas

graníticas, sendo sim uma constituição sedimentar ainda em consolidação. A diversidade de

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material estruturante é bem considerável, vamos nos ater então apenas na área em que o

bloco foi abatido e, os exames feitos foram sem precisão, apenas exames empíricos,

sensíveis ao toque e a diferenciação ótica em relação a cor.

Procurou-se dar destaque a composição dos estratos do bloco abatido e é bem nítida,

fisiograficamente, que o material argiloso está em faixas compactadas horizontalmente, com

maior coesão e espessura variando em aproximadamente 20 a 70cm, já o material sob e

sobre essa faixa é grosseiro, ou seja, material arenoso e de baixa coesão sensível ao toque

manual. No exame de toque manual, o material mais compactado é argiloso e de maior

resistência em relação ao material areno/argiloso, sendo este bem frágil, visto que, quando

do trabalho erosivo das ondas o material frágil se decompõe facilmente.

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A Região da Falésia Vista a Distância

As feições que se apresentam no litoral impõe uma tipologia de formas e, no caso em

destaque na ruptura dos baixos planaltos costeiros, surge a falésia, seguida pelas planícies

costeiras que são áreas de deposição praieira - praias. Há ainda como formas litorâneas as

enseadas e restingas.

Quando se fala ver a falésia de um ponto distante, isso quer dizer olhá-la de longe:

no espaço e no tempo. A visão espacial é de forma: aérea, horizontal e oblícua tendo vista

panorâmica a partir da enseada do Cabo Branco em direção a barreira e, no caso temporal

através de fotos postais e aerofotos antigas. Assim como entrevistas a moradores locais,

como foi o caso da entrevista ao Sr. Gilson, residente na av. Cabo Branco, proprietário e no

local a 35 anos.

O olhar para a barreira caída no sentido contrário norte/sul se deu pelas condições

impostas pela direção norte da corrente, onde estas conduziram o material abatido pelas

ondas no sentido da enseada da praia do Cabo Branco. As manchas de turbidez

permaneceram na zona de arrebentação das ondas, aproximadamente três a quatro dias e

distante da área inicial entorno de um quilômetro.

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Até onde a turbidez da água do mar era bem nítida, mais ou menos um quilômetro de

distância (rumo

norte), coincide com

a residência do Sr.

Gilson e, bem em

frente à sua

residência há um

fator de elevado

interesse, há

indícios de que o

mar já havia

encostado bem

próximo a rua, pois

há aí um muro de

arrimo, cujo

material interno é de

rocha calcária e a

poucos centímetros

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foi construido outro muro de arrimo de rocha granitica e uma tela de arame galvanizado.

Segundo informações do Sr, Gilson, confirmando nossas hipóteses, o mar já havia

chegado até na área em que hoje é a av. litorânea. Informou ainda que a área em que hoje se

encontram os restaurantes Bargaços e Marinas, a falésia já foi viva, e por ocasião do

governo do prefeito Hermano Almeida a via litorânea foi construída empurrando o mar para

fora da falésia. Este fato pode ser confirmado analisando as aerofotos de l969 (anexo I), que

visto em estereoscopia, realça bem a questão do mar encontrando-se com a falésia. Observa-

se que na época em que foi feita a aerofoto não havia ainda avenida, pois havia sim uma

estrada que terminava no sopé da barreira do Cabo Branco.

Ainda olhando a falésia/barreira a partir de uma distância significativa,

aproximadamente um Km, surgem novas observações e estas trazem, talvez, a chave para

explicar a causa do deslizamento.

Como já foi visto e mostrado a barreira sofre um ataque constante de agentes

degradantes de ordem natural, mas surge o componente antrópico (sócio-econômico) que é

bem marcado na superfície da área pela ausência de vegetação. Olhando ainda à distância há

um sulco na vegetação, sendo uma lacuna vegetacional e preenchida pela estrada do farol e,

o que é mais drástico exatamente sobre o bloco abatido onde há o desflorestamento. A

ausência de vegetação é neste caso, um indicador de que o ataque do intemperismo e da

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da erosão, na base e no “front” da falésia são complementados também pela superfície

desnuda. É, nesse momento, interessante que se observe e ressalte não o interior da

superfície tabular, mas sim o rebordo do tabuleiro, sendo este sensível e sua fragilidade

aumenta em função também de inclinação da encosta (mais de 70º), aumentando assim a

responsabilidade da coroa vegetal que sobrepõe.

Fazendo uma leitura por dentro da paisagem vegetal que está imediatamente acima

do bloco abatido é bem nítido o desflorestamento e, o que é mais grave, há indícios de

pequenas áreas de blocos fraturados, onde uma vibração provocada por ondas de trepidação

(exemplos: veículos na estrada) podem contribuir para abatê-lo. A faixa de superfície com

solo exposto entre a calçada, rua e a rebordo do penhasco é de dezenove metros, haja visto

que é um solo com cobertura de material artificial (presença de metralha7) e, mesmo na área

coberta de vegetação o solo é de baixa qualidade edáfica, dificultando a plantio.

7 Metralha, na linguagem vulgar é o resíduo de obra de construção civil.

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Considerações finais

O elenco de elementos atuantes sobre a área do deslizamento da barreira na falésia

do Cabo Branco é de considerável volume tensionando amplamente aquela paisagem.

Mesmo com uma amostragem de pequeno monte, fica nítido e clareada a situação sensível e

frágil daquela paisagem. Não resta dúvida que todos os conjuntos e subconjuntos de

elementos e fatores atuantes sobre aquela paisagem age ininterruptamente forçando qualquer

zona de fraqueza, sendo esta, creio, o somatório dos componentes estruturais (material

lítico), acoplado a inclinação acentuada do penhasco, que varia de 70 a 90º e a ausência de

vegetação como elemento/elo de força e resistência do rebordo da superfície.

A sugestão para contenção de novos deslizamentos deve ser acompanhada por

trabalhos técnicos vinculados a mecânica de solos e, não se desconsiderar que o material que

é/está sendo retirado do sopé da falésia está sendo depositado, tanto no banco de areia na

frente da barreira, quanto na própria enseada do Cabo Branco possivelmente é elemento de

depósito em que hoje está o muro de arrimo abandonado, que ainda conota caso haja o

rompimento de deposição nesta área, poderá haver a inversão ou seja, a retirada de material

será da enseada não mais da falésia. Há ainda necessidade de trabalhos técnicos de

reflorestamento, assim como reavaliação de parcelamento do solo urbano no entorno.

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E para concluir estas considerações se recomenda uma atenção ampliada, pois toda

extensão da barreira está suscetível ao desabamento, logo é u ma á r e a d e a l t o r i s c o

tanto para quem está embaixo como para quem está acima, destarte que há avanços na

erosão regressiva, ou seja, a borda da falésia recua a partir de cada deslizamento em direção

a estrada.

Como sugestão emergencial

Convocar peritos em mecânica de solos do Grupamento de Engenharia do Exercito,

da UFPB – CT e da Escola Técnica Federal da Paraiba, para caracterizar a estrutura da

barreira assim como testar a capacidade de rsistência relacionada a vibração de origem

diversa

Convocar peritos em botânica e florestamento da UFPB, do IBAMA e da SUDEMA

para definir melhor os individuos que deverão ser instalados para colonizar a área.

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Este Laudo Pericial contou com a parceria dos estudantes estagiários ecolaboradores do LABEMA (Laboratório de Estudo, Metodologia e

Aplicação) – Geociências – CCEN – UFPB.

Prof. Paulo Roberto de O. RosaGeociências/CCEN/UFPB

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