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_______________ Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br 1 L U I Z C A RL OS D OS S A N T OS w w w.lc s a n t o s. p ro . b r LAUDO PERICIAL CONTÁBIL: breves considerações De acordo com a NBC TP 01, aprovada pela Resolução nº 1.243/2009, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o laudo pericial contábil é uma peça técnica, onde o Perito - contador nomeado expõe dentro dos limites da perícia, sua opinião sobre o objeto patrimonial que esteve em perícia, de forma imparcial e isenta de interesses. Trata-se, pois, da manifestação de opinião técnica e científica sobre a realidade objetiva patrimonial perante questões formuladas com o escopo de esclarecer dúvidas. De pronto, cabe asseverar que não é o relato, oriundo da perícia contábil, uma sugestão, nem deve ser algo contaminado pelo subjetivismo, muito menos fator emotivo, mas, exclusivamente apoiado no racional que caracteriza a prática científica. Tal a relevância disso que possível é considerar tal peça como um autêntico julgamento que deve estar apoiado na verdade inequivocamente constatada, excluídas hipóteses ou suposições. Em havendo quesitos, estes serão transcritos e respondidos, primeiro os oficiais e na sequência os da partes (autor e réu), na ordem em que forem juntados aos autos. É de bom. alvitre lembrar que os quesitos formulados pelo Magistrado deverão ser respondidos primeiro, independentemente da ordem de juntada, respeitando-se assim a hierarquia processual. Segundo Silva (2006), as respostas aos quesitos serão fundamentadas, não sendo aceitas aquelas como “sim” ou “não”, ou as ilusórias na fundamentação, como “sim, a resposta é positiva’”, ou “não, a resposta é negativa”. Fundamentar requer uma resposta firme, sem “porém”, “mas ...”, ou outras palavras que deixem pairar dúvidas sobre o que o Perito quis dizer. Não havendo quesitos, a perícia será orientada pelo objeto da matéria. As partes e o Magistrado podem abster-se da formulação de quesitos; mas existem casos com uma quantidade tão expressiva de quesitos, que alguns passam a ser repetitivos. Frise-se que é natural não existir quesitos para responder em perícia sobre massa falida, considerando sua natureza ímpar.

LAUDO PERICIAL CONTÁBIL: breves considerações · PDF fileProfessor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site 3 L U I Z C A R L O S D O S S A N T O S w w w . l c s a n t o

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LAUDO PERICIAL CONTÁBIL: breves considerações

De acordo com a NBC TP 01, aprovada pela Resolução nº 1.243/2009, do Conselho Federal

de Contabilidade (CFC), o laudo pericial contábil é uma peça técnica, onde o Perito - contador

nomeado expõe dentro dos limites da perícia, sua opinião sobre o objeto patrimonial que

esteve em perícia, de forma imparcial e isenta de interesses. Trata-se, pois, da manifestação de

opinião técnica e científica sobre a realidade objetiva patrimonial perante questões formuladas

com o escopo de esclarecer dúvidas.

De pronto, cabe asseverar que não é o relato, oriundo da perícia contábil, uma sugestão, nem

deve ser algo contaminado pelo subjetivismo, muito menos fator emotivo, mas,

exclusivamente apoiado no racional que caracteriza a prática científica. Tal a relevância disso

que possível é considerar tal peça como um autêntico julgamento que deve estar apoiado na

verdade inequivocamente constatada, excluídas hipóteses ou suposições.

Em havendo quesitos, estes serão transcritos e respondidos, primeiro os oficiais e na

sequência os da partes (autor e réu), na ordem em que forem juntados aos autos. É de bom.

alvitre lembrar que os quesitos formulados pelo Magistrado deverão ser respondidos primeiro,

independentemente da ordem de juntada, respeitando-se assim a hierarquia processual.

Segundo Silva (2006), as respostas aos quesitos serão fundamentadas, não sendo aceitas

aquelas como “sim” ou “não”, ou as ilusórias na fundamentação, como “sim, a resposta é

positiva’”, ou “não, a resposta é negativa”. Fundamentar requer uma resposta firme, sem

“porém”, “mas ...”, ou outras palavras que deixem pairar dúvidas sobre o que o Perito quis

dizer.

Não havendo quesitos, a perícia será orientada pelo objeto da matéria. As partes e o

Magistrado podem abster-se da formulação de quesitos; mas existem casos com uma

quantidade tão expressiva de quesitos, que alguns passam a ser repetitivos. Frise-se que é

natural não existir quesitos para responder em perícia sobre massa falida, considerando sua

natureza ímpar.

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Ressalte-se que a juntada de documentos, colhidos em diligência, ao laudo pericial contábil,

deve ser identificada no corpo do mesmo (quantidade), identificando-os no verso o local em

que foram colhidos.

Quanto aos apêndices, produzidos pelo Perito-contador (erroneamente denominados de

anexos), conforme assevera a Norma Brasileira de Regulamentação (NBR) nº 14724/2011, da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), devem receber identificação do tipo:

quadro, figura, foto, planilha, demonstração e outras que sejam inerentes.

A preparação e redação do laudo pericial contábil são de exclusiva responsabilidade do

Perito-contador. Significa dizer que toda e qualquer responsabilidade recai sobre o Perito

nomeado pelo Magistrado (SILVA, 2005).

De acordo com a literatura consultada, o laudo pericial contém as seguintes formalidades

intrínsecas: data e local, folhas rubricadas (a última assinada) pelo Perito-contador, indicativo

de sua categoria profissional de Contador e o número completo de registro no Conselho

Regional de Contabilidade; é desejável ainda boa impressão em papel branco, com cuidado

para evitar “propagandas” pessoais de forma acentuada no corpo do laudo.

Ressalte-se que o laudo pericial contábil deverá sempre ser encaminhado por petição de

juntada protocolada e endereçada ao Magistrado.

Concernentemente à redação do laudo, Santana (1999, p. 38) afirma:

A concisão é uma qualidade redacional que requer estudo e empenho. Sua falta, a

prolixidade, é vício generalizado que permeia a linguagem escrita de modo geral, em

grande parte porque não é trabalhada nos bancos escolares. Desenvolveram técnicas

de leitura dinâmica, mas raramente a escrita concisa é objeto de preocupação. No

caso da redação pericial, a prolixidade tem ainda outra causa, parecida com o que

ocorre quando, num exame, é proposta uma redação de, por exemplo, duas páginas:

se faltam ideias, “enche-se linguiça”. Acredita-se frequentemente, que o trabalho

pericial mede-se pelo número de páginas.

Por seu turno, Alberto (2000, p. 120) diz que:

O laudo é peça escrita, na qual os peritos contábeis expõem, de forma

circunstanciada, as observações e estudos que fizerem e registraram as conclusões

fundamentadas da perícia [...] o resultado material, visível, que é a manifestação na

realidade concreta de todo esforço perquiritório, investigativo e intelectual do

profissional é o laudo [...].

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Parafraseando Oliveira Neto e Mercandale (1998, p. 14), “O laudo deve ser minudente,

criterioso, de fácil compreensão, bem apoiado em prova documental (se houver), mas não

prolix”.

Relativamente à ética, na medida em que na nomeação do Perito, o Magistrado a fez, na

crença e na esperança de obter uma prova de grande valor para subsidiar sua sentença, temos

como certo que um laudo mal feito, por intenção ou por omissão, pode levar o Juiz a julgar

equivocadamente, com prejuízo moral para si, para toda a sociedade e, principalmente, para a

Parte prejudicada pela sua imperícia. O comportamento profissional do Contador no exercício

da atividade de Perito Judicial deve se pautar pela moral e pela ética profissional para não

prejudicar o magistrado que nele confiou, nem a si mesmo e muito menos ao conceito de

gozam os profissionais da perícia. Quando alguém infringe a ética profissional degrada-se

moralmente e está sujeito às punições previstas no Código de Ética da profissão, à legislação

civil e às penas de reparação pecuniária pelos prejuízos causados à terceiros em face à sua

imperícia.

Finalmente, assente-se que o laudo pericial é um complexo de informações que pode ser

dividido em duas partes: relatório - síntese do objeto da perícia, breve histórico processual,

procedimentos técnicos e responsabilidade profissional, resultados e diligências; e, convicção

- sobre os quesitos respondidos na perícia, acerca dos resultados e conclusões das

investigações. Noutro texto abordar-se-á sobre “Parecer Pericial Contábil”.

Referências:

ALBERTO, V. L. Perícia contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724 - informação,

documentação - trabalhos acadêmicos - apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TP 01. Resolução nº 1.243/2009

Laudo pericial contábil. Brasília: CFC, 2009.

OLIVEIRA NETO, C. E.; MERCANDALE, I. Roteiro prático de perícia contábil judicial:

legislação, modelos, índices oficiais. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.

SILVA, Marcos Aurélio da. Fundamentos de perícia contábil: teoria e prática. São

Bernardo dos Campos (SP): EDUMESP, 2005.