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LAUDO TÉCNICO N. 33/2015/GAM/CIP Referência: Solicitação de apoio n. 05.2015.00022043-7 Órgão Solicitante: 6ª Promotoria de Justiça da Comarca de Capital. Assunto: Condições de salubridade. Estruturas. Penitenciária. Container.

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LAUDO TÉCNICO N. 33/2015/GAM/CIP

Referência: Solicitação de apoio n. 05.2015.00022043-7

Órgão Solicitante: 6ª Promotoria de Justiça da Comarca de Capital.

Assunto: Condições de salubridade. Estruturas. Penitenciária. Container.

Sumário 1. PREÂMBULO.........................................................................................................3 2. HISTÓRICO............................................................................................................3 3. DOS EXAMES........................................................................................................5 4. LOCALIZAÇÃO.......................................................................................................5 5. VISTORIA...............................................................................................................7

5.1. Caracterização das Estruturas........................................................................7 5.2. Instalações Elétricas e hidrossanitárias.........................................................19 5.3. Riscos de fuga...............................................................................................24

6. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES...............................................................24 7. RESPOSTA AOS QUESITOS...............................................................................26 8. CONCLUSÃO.......................................................................................................31 9. REFERÊNCIAS....................................................................................................34

Lista de ImagensImagem 1: Cartograma de localização da área vistoriada. Coordenadas UTM, Fuso 22J, Datum SIRGAS/2000...........................................................................................6Imagem 2: Fachada lateral e cobertura da edificação.................................................8Imagem 3: Fundos do Terreno.....................................................................................9Imagem 4: Muro lateral do terreno.............................................................................10Imagem 5: Paredes internas com corrosão...............................................................11Imagem 6: Abertura na parte de cima de parede do container..................................12Imagem 7: Piso superior aos containers....................................................................13Imagem 8: Desaprumo entre containers...................................................................14Imagem 9: Oxidação de telas e estruturas metálicas................................................15Imagem 10: Marca da altura da água em local interno da edificação.......................16Imagem 11: Armadura exposta..................................................................................17Imagem 12: Sala de aula...........................................................................................18Imagem 13: Corrosão em estruturas na cobertura da parte em estrutura convencional..............................................................................................................19Imagem 14: Instalações elétricas queimadas............................................................20Imagem 15: Instalações elétricas expostas...............................................................21Imagem 16: Bacia turca instalada dentro do container..............................................22Imagem 17: Chuveiro elétrico....................................................................................23Imagem 18: Depredação na parede da cela container..............................................24Imagem 19: Planta esquemática do container apresentada pela SJC......................25

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1. PREÂMBULO

Aos 24 dias do mês de julho do ano de 2015, nesta cidade de

Florianópolis, foi designada pelo Centro de Apoio Operacional de Informações

Técnicas e Pesquisas (CIP) da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público

do Estado de Santa Catarina, a Analista da Gerência de Análise Multidisciplinar

(GAM), Daniele Cristine Buzzi, Engenheira Civil, para realizar vistoria e documentar

em Laudo Técnico a situação da Central de Observação e Triagem da Penitenciária

da Capital, atendendo a Solicitação da 6ª Promotoria de Justiça da Comarca da

Capital.

2. HISTÓRICO

Considerando a precariedade da estrutura das unidades prisionais

localizadas na Capital e, inclusive, casos de fugas de detentos, mostra-se

necessária a realização de estudos acerca das reais condições de infraestrutura

para a tomada de decisão e providências pela 6ª Promotoria de Justiça da Capital,

com atribuição para atuar perante a Vara de Execuções Penais.

A referida Promotoria de Justiça solicitou apoio para realização de vistoria

e confecção de laudo, por parte de profissional de engenharia, para análise da

estrutura, bem como das condições de instalação e salubridade da Central de

Observação e Triagem da Penitenciária da Capital.

Informou-se que a Solicitação de Apoio visa a dar subsídios prévios a

qualquer tomada de providências e que não havia maiores informações, como cópia

de plantas e projetos do referido local.

Os quesitos a serem respondidos no presente Laudo Técnico são:

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1. A estrutura da edificação é adequada ao uso?

2. A edificação apresenta problemas estruturais?

3. Qual o atual estado das instalações elétricas e hidrossanitárias do

local?

4. As estruturas e instalações oferecem riscos aos usuários da

edificação? Quais?

5. Foram observadas situações de insalubridade no local? Quais?

6. O porte da edificação é adequado ao número de usuários?

7. Verificaram-se flagrantes de inadequação arquitetônica com relação às

diretrizes para estabelecimentos penais?

8. Demais constatações que se fizerem necessárias.

9. As celas containers, conforme instaladas na Central de Observação e

Triagem da Penitenciária de Florianópolis, obedecem ao critério da área mínima de

6,00m² (seis metros quadrados) por preso (art. 88, parágrafo único, “b”, da LEP)?

10. Container pode ser considerado local adequado para abrigar pessoas

segregadas e oferecem o mínimo de aeração, salubridade e habitabilidade?

11. Há como precisar o tempo útil de validade de uma cela container? Em

caso positivo, este prazo já se expirou? Explique.

No dia 28 de julho de 2015, a Analista abaixo assinada participou de

vistoria realizada na respectiva Central. Os quesitos 9, 10 e 11 foram sugeridos

após a realização da referida vistoria.

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3. DOS EXAMES

A fim de proceder à elucidação dos fatos, as análises e a vistoria que

fundamentaram este documento utilizaram-se dos seguintes materiais e métodos:

• Utilização de imagens de satélite (retiradas do Google Earth), para

conhecimento prévio da área em questão.

• Vistoria in loco.

• Levantamento fotográfico com câmera digital marca Sony, modelo Cybershot

DSC-S980.

4. LOCALIZAÇÃO

A Central de Observação e Triagem da Penitenciária da Capital está

localizada na Rua Delminda Silveira, Bairro Agronômica, Cidade de Florianópolis, no

Complexo Penitenciário da Capital.

A Imagem 1 ilustra a localização do estabelecimento objeto deste

trabalho.

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Imagem 1: Cartograma de localização da área vistoriada. Coordenadas UTM, Fuso 22J,Datum SIRGAS/2000.

5. VISTORIA

É importante mencionar que a vistoria não contemplou toda a edificação.

Foi possível o acesso ao interior apenas de algumas celas containers e a parte

administrativa também não foi vistoriada. Assim, as situações mencionadas a seguir

não representam todas as características da edificação.

Considerando também o teor da Solicitação de Apoio, o presente Laudo

Técnico não aborda a situação da edificação com relação a sua conformidade com

as normas de segurança contra incêndio.

5.1. Caracterização das Estruturas

A Central de Observação e Triagem da Penitenciária da Capital (COT) é

composta basicamente por galpões de estruturas metálicas, cobertos com telhas de

fibrocimento e translúcidas e cercados por telas de arames. No térreo, internamente

às telas, estão instalados containers que servem como celas. A parte superior

desses containers são utilizados como piso para o pavimento superior, no qual os

agentes penitenciários realizam parte do controle. Também há uma parte da

edificação em estrutura convencional, na qual funciona a parte administrativa do

COT e algumas áreas destinadas à circulação de internos.

Acerca das celas, o COT é composto por 5 galerias, cada uma composta

por 5 containers com capacidade para 8 internos em cada container. Totalizando, há

25 containers e capacidade de 200 internos. Também há uma cela separada na qual

são alocados 3 internos (regalias), totalizando a capacidade em 203 internos.

A Imagem 2 apresenta o conjunto total de estruturas que compõem o

COT.

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O muro em alvenaria que circunda o COT possui altura variável,

acompanhando parcialmente a variação de cota do terreno, como pode ser

observado nas Imagens 3 e 4.

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Imagem 2: Fachada lateral e cobertura da edificação.

Observou-se que o muro dos fundos do terreno tem aproximadamente

4,5 metros. Na Imagem 4 é possível ver as estruturas de proteção constituídas por

grades com telas de arame, instaladas entre o muro lateral e as paredes dos

containers.

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Imagem 3: Fundos do Terreno.

Observou-se, na vistoria, que as paredes metálicas dos containers já

apresentam diversos sinais de comprometimento. Internamente foi possível verificar

sinais de corrosão, principalmente nas áreas molhadas, conforme Imagem 5.

Verificou-se que externamente também já há deterioração da estrutura, conforme

Imagem 6.

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Imagem 4: Muro lateral do terreno.

A Imagem 5 apresenta corrosão na área molhada do container. Segundo

informado posteriormente por técnico da Secretaria de Estado da Justiça e

Cidadania, as paredes dos containers são revestidas por chapa metálica

galvanizada internamente e a degradação ocorre em função de lançamento de urina

pelos usuários.

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Imagem 5: Paredes internas com corrosão.

A Imagem 6 apresenta uma abertura localizada na parte superior da

parede externa do container, o que torna a estrutura vulnerável às intempéries,

inclusive a entrada de água das chuvas. Informou-se, na vistoria, que essas paredes

são preenchidas com isopor e madeira no seu interior.

Na parte superior dos containers, também é possível observar as grades

para visualização dos corredores inferiores, conforme Imagem 7. Nesse local é

possível visualizar os corredores entre as entradas das celas e os corredores entre

os fundos das celas.

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Imagem 6: Abertura na parte de cima de parede do container.

Na Imagem 7 observa-se o desnível existente entre as celas containers, o

que, conforme informações cedidas na vistoria, aumentou com o passar do tempo,

indicando instabilidade do terreno. Além disso, foi informado que o terreno é atingido

por águas oriundas dos morros circundantes, o que contribui para essa

instabilidade. Destaca-se que, para amenizar essa situação, foi executado um

caminho preferencial para drenagem na parte de fora dos muros do COT.

As estruturas que sustentam as paredes dos containers no solo também

demonstravam sinais de comprometimento e alguns encontros verticais entre celas

apresentavam desaprumo, conforme Imagem 8. Isso e a movimentação

mencionada demonstram que as celas podem não estar adequadamente

assentadas no solo.

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Imagem 7: Piso superior aos containers.

Além disso, observou-se que a tela de proteção do andar superior, já

bastante corroída, desgastou-se a ponto de romper e que as estruturas da cobertura

dos galpões metálicos apresentam muitos sinais de corrosão.

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Imagem 8: Desaprumo entre containers.

Na Imagem 9, é possível observar as telhas em fibrocimento e telhas

translúcidas que fazem a cobertura das celas containers. Destaca-se que a

cobertura promove uma proteção à incidência direta de sol e que a distância entre

essa cobertura as celas permite a circulação do ar.

Além das celas containers, uma parte do COT, também destinada a

circulação de pessoas presas, é executada em estrutura convencional, como sala

de visitas e pátio de sol. Verificou-se que próximo a essas áreas, também havia

problemas de drenagem. A Imagem 10 apresenta a marca da altura alcançada pela

água em um dos ambientes do COT.

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Imagem 9: Oxidação de telas e estruturas metálicas.

Comentou-se, na vistoria, que para possibilitar a retirada da água foi

executado um buraco na estrutura. Tal procedimento é inadequado, pois possibilita a

degradação da peça estrutural e, consequentemente, perda de desempenho. A

Imagem 11 apresenta armadura exposta em estrutura, o que promove a corrosão da

armadura, também influenciando no desempenho da estrutura.

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Imagem 10: Marca da altura da água em local interno da edificação.

Ainda na parte do COT em estrutura convencional foi visualizada a sala

de aula, com entrada única para alunos e professores. Observou-se que o teto

apresentava manchas mais escuras, o que poderia ser sinal de infiltração, sendo

informado que isso deveria ter relação com as reformas que estavam sendo

realizadas na parte administrativa do COT, no piso superior.

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Imagem 11: Armadura exposta.

Na Imagem 12 é possível observar corrosão nas grades de acesso à sala

de aula. Destaca-se que além da corrosão mencionada em telas e nas estruturas

metálicas dos galpões de cobertura das celas containers, observou-se corrosão em

outros elementos estruturais metálicos verificados na parte da edificação em

estrutura convencional, conforme Imagem 13:

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Imagem 12: Sala de aula.

Considerando a execução de reforma na parte administrativa do COT e o

foco da Solicitação de Apoio, essa parte da edificação não foi vistoriada.

5.2. Instalações Elétricas e hidrossanitárias

Com relação às instalações elétricas, observaram-se diversos problemas.

Dentro das celas containers foram encontrados fios expostos, desencapados e

espelhos de tomadas com sinais de queimaduras, conforme demostrado na Imagem

14:

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Imagem 13: Corrosão em estruturas na cobertura da parte em estruturaconvencional.

Durante a vistoria informou-se que a situação verificada na Imagem 14,

acontece em função do próprio comportamento dos reclusos, mas outras

inadequações também foram observadas na parte externa dos containers, conforme

Imagem 15.

Nessa Imagem é possível observar fios desencapados expostos às

variações climáticas.

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Imagem 14: Instalações elétricas queimadas.

Com relação às instalações hidrossanitárias, verificou-se que em uma

das celas havia um vazamento, o que pode contribuir com a insalubridade do

ambiente, mas não se percebeu odores de esgoto nas celas visitadas.

Os equipamentos sanitários instalados dentro das celas são bacias turcas

e chuveiros, conforme Imagens 16 e 17.

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Imagem 15: Instalações elétricas expostas.

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Imagem 16: Bacia turca instalada dentro do container.

Na Imagem 17 é possível observar que o chuveiro e um registro superior

são em material plástico, mas que também há fios expostos e sinais de corrosão da

chapa metálica.

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Imagem 17: Chuveiro elétrico.

5.3. Riscos de fuga

Na vistoria foi possível observar sinais de depredação nas paredes das

celas containers decorrentes de tentativas de fuga, conforme Imagem 18:

6. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

Para responder aos quesitos sugeridos pela 6ª Promotoria de Justiça da

Capital, indicados após a realização da vistoria, solicitou-se à Secretaria de Estado

da Justiça e Cidadania os projetos dos containers. A referida Secretaria

disponibilizou uma planta com as medidas dos referidos containers, conforme

Imagem 19:

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Imagem 18: Depredação na parede da cela container.

Como informações complementares, foram colhidas as dimensões da

abertura zenital1, localizada no hall da cela container e das aberturas existentes nas

portas internas, que separam o hall das circulações e, também, o pé direito da cela

container, tendo-se:

Dimensões externas da cela container: 2,46 m x 6,05 m (área: 14,88 m²);

Dimensões internas da cela container: 2,22 m x 5,81 m (área: 12,90 m²);

Pé direito da cela container: 2,40 m;

Cubagem interna cela container: 30,96 m³;

Abertura zenital: 1,30 m x 1,30 m (área: 1,69 m²);

Grade acima da porta interna: 0,32 m x 0,60 m (área: 0,19 m²);

Abertura gradeada na porta interna: 1,05 m x 0,60 m (área: 0,63 m²);

1 Técnica que permite a entrada de luz natural por meio de pequenas ou grandes aberturas nacobertura da edificação.

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Imagem 19: Planta esquemática do container apresentada pela SJC.

7. RESPOSTA AOS QUESITOS

1. A estrutura da edificação é adequada ao uso?

A estrutura da edificação já apresenta diversas manifestações patológicas

que comprometem a integridade estrutural e desempenho. Além disso, a segurança

como estabelecimento prisional também está comprometida.

Acerca da utilização de containers como celas, a situação verificada não

se apresenta adequada, conforme será detalhado nas respostas aos outros

quesitos.

2. A edificação apresenta problemas estruturais?

Considerando o foco da Solicitação de Apoio, deu-se prioridade para a

verificação das celas containers. Foram observados sinais de comprometimento na

estrutura de algumas dessas celas, como buracos na parte de cima das paredes

que possibilitam a entrada de água. Além disso, foram observados desníveis e

ausência de prumo entre as celas containers, indicando uma possível instabilidade

no assentamento das celas.

Na parte da Edificação em estrutura convencional, observou-se armadura

exposta em peça estrutural e utilização de procedimentos que danificam a estrutura,

o que compromete o desempenho estrutural. Estruturas metálicas corroídas foram

observadas em quase toda a edificação, como grades, telas, paredes de containers

e peças estruturais de cobertura, também comprometendo a segurança estrutural.

A parte administrativa, em estrutura convencional, não foi vistoriada pois,

além de não ser o foco da Solicitação de Apoio, estava em reforma no momento da

vistoria.

3. Qual o atual estado das instalações elétricas e hidrossan itárias do

local?

Conforme já mencionado, as instalações elétricas apresentam estado

precário, sendo verificados fios desencapados e espelhos de tomadas queimados

no interior das celas containers. Além disso, por fora das celas também verificou-se

instalação elétrica acondicionada de forma inadequada, exposta às intempéries.

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Com relação às instalações hidrossanitárias, verificou-se vazamento no

interior de uma cela e drenagem ineficiente em outros locais da edificação,

indicando a necessidade de manutenção.

4. As estruturas e instalações oferecem riscos aos usuários da

edificação? Quais?

Sim. As instalações elétricas com fiação exposta oferecem riscos aos

usuários dentro e fora das celas. As estruturas oxidadas e danificadas também

oferecem riscos de segurança.

5. Foram observadas situações de insalubridade no l ocal? Quais?

Foram verificadas condições de insalubridade dentro das celas. Citam-se

ventilação e iluminação ineficiente, oxidação de estruturas, equipamentos

queimados e vazamento de instalações hidrossanitárias. Nos ambientes externos às

celas também se observou drenagem ineficiente e oxidação de estruturas.

6. O porte da edificação é adequado ao número de us uários?

Conforme já mencionado, o COT é composto por 5 galerias, cada uma

composta por 5 containers com capacidade de 8 internos em cada, totalizando 25

containers com capacidade de 200 internos e mais 3 internos que são regalias e

estão alocados em uma cela separada. A capacidade total é, portanto, de 203

internos. Entretanto, no dia da vistoria a ocupação estava acima da capacidade,

com 239 internos, devido as obras na ala de extensão e segurança máxima.

Assim, o porte da edificação não estava adequado ao número de

usuários no dia da vistoria.

7. Verificaram-se flagrantes de inadequação arquitetônic a com

relação às diretrizes para estabelecimentos penais?

Considerando o foco da Solicitação de Apoio e o tempo de existência da

edificação, o presente trabalho não aborda em totalidade a conformidade da

Edificação com relação às Diretrizes para Estabelecimentos Penais. Apenas

destaca flagrantes verificados nas celas vistoriadas e em algumas partes da

edificação, não contemplando todas as irregularidades existentes.

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Segundo as “Diretrizes básicas para arquitetura penal”, a fiação elétrica

deveria ser protegida com trancas de segurança e situada em local de difícil acesso

às pessoas presas, o que não acontece nas celas vistoriadas.

O muro nos fundos do terreno deve conter aproximadamente 4,5 metros,

o que estaria abaixo do limite mínimo de 5 metros para estabelecimentos penais de

regime fechado, conforme indicado no referido material. Reitera-se que o muro que

circunda o COT tem altura variável.

O mesmo material informa que não devem ser colocados no interior das

celas registros, torneiras, válvulas e chuveiros metálicos, luminárias sem grade

protetora, azulejos e cerâmicas, e qualquer outro objeto que possa se transformar

em arma. Entretanto, observaram-se objetos que poderiam ser utilizados como

armas, como ventiladores abertos, espelhos, fiação exposta, entre outros.

Não foi verificada cela obedecendo aos parâmetros de acessibilidade no

COT. Destaca-se que as “Diretrizes básicas para arquitetura penal” apresentam

exigências com relação a isso para penitenciárias e cadeias públicas. Além disso,

esse material informa que em módulo de triagem, a permanência da pessoa presa

deve ser a mais breve possível, o que não foi verificado no COT, já que estava

alojando, inclusive, internos de outros setores do Complexo Penitenciário.

Outra observação refere-se a drenagem ineficiente verificada em um dos

ambientes da edificação, na qual foi necessário quebrar parte da estrutura para

realizar o escoamento da água. Segundo as referidas diretrizes, as edificações

devem ser projetadas levando em conta o sistema de drenagem.

Com relação às dimensões das celas, a menor dimensão interna do

container, 2,22 metros, é menor do que o diâmetro mínimo indicado na tabela das

Diretrizes básicas para arquitetura penal, de 2,85 metros para capacidade de 8

pessoas. Além disso, a cubagem, de 30,96 metros cúbicos, é inferior ao mínimo

indicado para essa capacidade, que seria de 34,60 metros cúbicos.

Outras inadequações acerca de dimensões e aeração das celas são

mencionadas nas respostas aos outros quesitos.

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8. Demais constatações que se fizerem necessárias.

Observou-se na vistoria que as celas containers já foram depredadas

para tentativas de fuga e verificou-se, em reportagem, que já houve fuga dessas

estruturas, quando um buraco foi aberto na parede da cela com uma serra de

construção civil.

9. As celas containers, conforme instaladas na Central de

Observação e Triagem da Penitenciária de Florianópolis, ob edecem ao critério

da área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados) por preso (a rt. 88, parágrafo

único, “b”, da LEP)?

As celas containers vistoriadas são de uso coletivo e o art. mencionado

indica a área de 6,00 m² para uma cela individual.

Com relação à área da cela, as “Diretrizes básicas para arquitetura penal”

apresentam uma tabela relacionando a área mínima com a capacidade (número de

pessoas a serem presas simultaneamente). Essa tabela também informa a área

mínima de 6,00 m² para uma cela individual, mas informa a área mínima de 13,85

m², para uma cela com capacidade para oito pessoas, caso dos containers

vistoriados.

Os containers vistoriados possuem uma área interna de 12,90 m²,um

pouco menor que o limite verificado.

Destaca-se que o Projeto de Lei do Senado n. 513/13, que altera a Lei de

Execução Penal (LEP), altera o seu o art. 88, substituindo as celas individuais para

celas com capacidade de até oito pessoas, revogando o item “b”, que trata da área

mínima.

10. Container pode ser considerado local adequado para abrigar

pessoas segregadas e oferecem o mínimo de aeração, salubrid ade e

habitabilidade?

Os containers vistoriados não foram projetados para abrigar pessoas,

uma vez que foram compradas unidades que já eram utilizadas em sua função

usual, de transportar cargas, as quais foram adaptadas para a função de abrigar

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pessoas. Entretanto, é possível reaproveitar containers na construção civil, inclusive

como moradia.

Acerca de aeração, salubridade e habitabilidade, seriam necessárias

adaptações em containers para que fossem utilizados para abrigar as pessoas

segregadas, de forma a contemplar exigências presentes nas diretrizes básicas para

arquitetura penal. Destaca-se que o Plano Nacional de Política Criminal e

Penitenciária, entre suas metas, “requer eliminar o uso de celas container”.

No caso dos containers vistoriados, há uma abertura zenital, a porta de

entrada do container com acesso ao corredor e duas portas internas que separam o

hall de entrada do container das laterais. Essas portas internas são parcialmente

gradeadas e há uma abertura acima dessas portas.

As Diretrizes básicas para arquitetura penal informam que quando a

iluminação/ventilação for zenital deverá atender ao mínimo de 1/6 da área do piso.

Considerando o container uma única cela com área interna de 12,90 m², a área de

abertura zenital deveria ser de pelo menos 2,14 m², quando é de apenas 1,69 m²,

conforme dimensões informadas pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania.

Além disso, a existência de paredes e portas internas, mesmo que parcialmente

gradeadas, dificulta a circulação do ar e iluminação.

11. Há como precisar o tempo útil de validade de uma cela

container? Em caso positivo, este prazo já se expirou? Expli que.

Segundo reportagem verificada no sítio eletrônico do Portal de

Arquitetura, Engenharia e Construção, o container tem vida útil de 20 anos, mas

após esse período, pode ser reutilizado como estrutura modular para construção

civil, já que é um material superdimensionado feito para suportar até 25 toneladas e

ser empilhado em até 8 unidades.

Além disso, verificou-se que quando utilizado na construção civil, a vida

útil de um container pode chegar a 90 anos.

Segundo informações da Secretaria de Justiça e Cidadania, os

containers instalados no COT foram adquiridos nos anos de 2000 e 2003, mas não

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se precisou por quanto tempo e nem como foram utilizados em sua função usual.

Considerando os tempos de vida útil esperados para um container em

sua função usual e na construção civil, é possível que, para os containers instalados

no COT, esse prazo ainda não tenha expirado. Entretanto, foram observadas

diversas avarias que ocasionam vulnerabilidade a maiores estragos. Assim, os

containers requerem, no mínimo, manutenção, uma vez que a utilização inadequada

e ausência de manutenção pode diminuir de forma brusca o tempo de sua vida útil.

A necessidade de intervenções maiores como substituição de alguns containers não

deve ser descartada.

8. CONCLUSÃO

A partir das observações efetuadas, a analista integrante deste Centro de

Apoio Operacional de Informações Técnicas e Pesquisas entende ser possível

destacar, com foco nos questionamentos da Solicitação, e sem prejuízo dos demais

fatos apontados neste Laudo, que:

• A estrutura da edificação apresenta manifestações patológicas que

comprometem a integridade estrutural e desempenho, dentro e fora das

celas. Além disso, a segurança como estabelecimento prisional também está

comprometida.

• A situação verificada na utilização de containers como celas não se apresenta

adequada. Considerando a capacidade para abrigar 8 pessoas

simultaneamente, as dimensões não apresentam conformidade com o

indicado nas “Diretrizes básicas para arquitetura penal”.

• A abertura de iluminação/ventilação nas celas containers não apresenta

conformidade com o indicado nas “Diretrizes básicas para arquitetura penal”

e compromete a salubridade do ambiente.

• As instalações elétricas e hidrossanitárias apresentam problemas que

comprometem a segurança e a salubridade dos ambientes e oferecem riscos

aos usuários

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• A edificação possui uma capacidade para 203 internos. Entretanto, no dia da

vistoria, a ocupação ultrapassava tal limite, com 239 internos. Segundo

informações obtidas na vistoria, essa situação ocorre em função de obras no

complexo penitenciário.

• Verificaram-se flagrantes de inadequação arquitetônica com relação às

diretrizes para estabelecimentos penais. Entretanto, o presente trabalho

não aborda em totalidade a conformidade da Edificação com re lação às

Diretrizes para Estabelecimentos Penais, não contempland o todas as

irregularidades existentes.

• Observaram-se sinais de depredação de celas containers para tentativa de

fuga e relatos de fugas ocorridas nessas celas, indicando vulnerabilidade do

sistema prisional.

• Containers podem ser utilizados na construção civil, inclusive como moradia.

No caso, para que pudessem ser utilizados para abrigar as pessoas

segregadas, deveriam contemplar as exigências presentes nas diretrizes

básicas para arquitetura penal. Destaca-se que o Plano Nacional de

Política Criminal e Penitenciária, entre suas metas, “requ er eliminar o

uso de celas container”.

• É possível que, para os containers instalados no COT, o prazo de vida útil

ainda não tenha expirado. Entretanto, verificaram-se diversas avarias que

ocasionam vulnerabilidade e requerem, no mínimo, manutenção. A utilização

inadequada e ausência de manutenção pode diminuir de forma brusca o

tempo de vida útil e a necessidade de intervenções maiores como, por

exemplo, a substituição de alguns containers .

• Algumas falhas de segurança nos sistemas preventivos verificadas também

motivam a recomendação de vistoria do Corpo de Bombeiros no local.

• É importante observar que, tendo sido este um trabalho direcionado a elucidar

somente os quesitos estabelecidos, e ainda, que a vistoria não contemplou

todos os ambientes da edificação, o imóvel não está isento de outras

possíveis inadequações não relatadas .

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Nada mais havendo a acrescentar, encerra-se o presente laudo técnico,

nesta cidade de Florianópolis, aos 13 dias do mês de agosto do ano de 2015,

impresso em 34 páginas, sendo esta assinada e as demais rubricadas pelas

Analistas deste Centro de Apoio e seu Coordenador.

Autoria:

Daniele Cristine BuzziAnalista em Engenharia Civil

Revisão Técnica:

Thalyne Nadja Dittert CabralAnalista em Arquitetura

Revisado em 14/08/15. Encaminhe-se à origem.

João Carlos Teixeira JoaquimPromotor de JustiçaCoordenador do CIP

LAUDO TÉCNICO N. 33/2015/GAM/CIP Página 33 de 34

9. REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Diretrizes básicas

para arquitetura prisional . Revisão Técnica (ortográfica e metodológica): Gisela

Maria Bester. - Brasília: CNPCP, 2011.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária. Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária . Aprovado na

372ª reunião ordinária do CNPCP, em 26/04/2011.

BRASIL. Projeto de Lei do Senado Nº 513, de 2013 . Senado Federal, 2013.

BONAFÉ. G. Container é estrutura sustentável e econômica para a construção

civil . AECweb O Portal da Arquitetura, Engenharia e Construção. Disponível em:

<http://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/container-e-estrutura-sustentavel-e-

economica-para-construcao-civil_9793_0_1>. Acesso em 11/08/15.

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