26

layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

126

Page 2: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 3: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 4: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

1ª edição | novembro de 2012 | 10.000 exemplares2ª reimpressão | novembro de 2012 | 5.000 exemplares

Copyright © 2012 Casa dos Espíritos

Casa dos Espíritos Editora Rua Floriano Peixoto, 438 Contagem | mg | 32140-580 | Brasil Tel./Fax: +55 (31) 3304-8300 [email protected] edição, preparação e notasLeonardo Möller

capa, projeto gráfico e editoraçãoAndrei Polessi | Audaz

revisão Laura Martins

foto do autor Douglas Moreira

impressão e acabamento egb

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (Cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Inácio, Ângelo (Espírito).O próximo minuto / pelo espírito Ângelo Inácio ;

[psicografado por] Robson Pinheiro. – Contagem, mg : Casa dos Espíritos Editora, 2012.

isbn 978-85-99818-24-4

1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romanceespírita I. Pinheiro, Robson. II. Título.

12-13854 cdd-133.9

Índices para catálogo sistemático:1. Romance espírita : Espiritismo 133.9

Page 5: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 6: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

Sumário

O próximo minutopelo espírito Ângelo Inácio, 17

1Um deus grego vindo de Nova Iorque, 20

2Um dia qualquer, 3h31 da madrugada, 48

3Entremeios, 88

43h32 da madrugada da vida, 116

5Na dimensão mental, 154

6Que é preciso para ser homem?, 188

7Enfrentando os traumas, 222

Page 7: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

xiv

8Sombras, paisagens e imagens soturnas, 246

9Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284

10Despertamento, 304

11O filho pródigo, 332

12O despertar de duas vidas, 374

13Renascido para amar, 398

143h33 da madrugada, 434

Referências bibliográficas, 473

Page 8: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

1

Page 9: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 10: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 11: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

O avião sobrevoou a Cidade Maravi-lhosa, preparando-se para o pouso. Embaixo, o Cristo Redentor rapida-mente deslizava à esquerda da aero-nave enquanto o Pão de Açúcar pre-enchia a paisagem, emoldurando a

Baía de Guanabara, entre tantos outros pontos turísticos que preservavam a beleza da paisagem carioca. O contraste das favelas podia ser visto logo em seguida, enquanto se realizava a apro-ximação. Assim que recebeu a autorização para pousar, o piloto conduziu a aeronave em direção à pista do Aeroporto Internacional Antônio Car-los Jobim ou, simplesmente, Galeão.

Ralph estava feliz em retornar ao Brasil, esta terra encantada. O clima tropical era um capí-tulo à parte, pois ele delirava diante do calor – do ambiente e da gente fogosa, que sabia muito bem arrancar samba do pé e fazer carnaval mes-mo diante das mais sérias dificuldades sociais e econômicas. Medindo 1,87m, magro, elegante e discreto, Ralph era uma figura que impressiona-va quem o visse. Sorriso amplo emoldurando a face, estampava na fisionomia um misto de se-dução e sensualidade pouco disfarçados por sua alegria contagiante. Estava com saudades do Brasil, da família e de alguns amigos que fize-ra nessa terra maravilhosa. Esperava ficar mais

Page 12: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

24

tempo desta vez.Enquanto o avião taxiava, emoções fortes

pareciam aflorar; Ralph, por um momento, pare-ceu vacilar, sem saber ao certo o que se passava em seu íntimo. Um sentimento estranho tentava irromper da alma e emergir em meio à alegria de rever amigos e familiares. Lágrimas quase vi-nham à tona, mas Ralph se conteve assim que o comissário de bordo anunciou a chegada e deu as boas-vindas aos passageiros. O tumulto no in-terior da aeronave começava, quando a maioria dos passageiros se preparava para desembarcar. Ralph deixou-se envolver pela situação, permi-tindo que as emoções se suavizassem diante da iminência do desembarque.

Kelly estava radiante na companhia de Hugo, o irmão machista, porém muito amado. No fun-do, ela temia pelo reencontro de Hugo e Ralph, pois da última vez que ele viera ao Brasil, ocor-reram discussões e mais discussões entre os dois primos. Contudo, com a interferência da mãe de Kelly e Hugo, as coisas se acalmaram, transfor-mando-se numa espécie de paz armada.

Kelly amava o primo norte-americano e há muito o aguardava. Além do parentesco próxi-mo, os dois haviam desenvolvido uma amizade intensa, de tal modo que Kelly se sentia à von-tade para conversar com o primo sobre os pro-

Page 13: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

2524

blemas pessoais e íntimos. Já Hugo só viera ao aeroporto por insistência de Kelly, que inventou que seu carro apresentava problemas elétricos e, portanto, precisava da ajuda do irmão para bus-car Ralph no Galeão.

O aeroporto estava regurgitando de gente naquele horário. Kelly gostaria muito de ter tra-zido o noivo Dany, a fim de que conhecesse o pri-mo logo em sua chegada. Estava tudo acertado, porém Dany se sentiu indisposto no último mo-mento. Alegava um mal-estar súbito e inexpli-cável; algo, talvez, puramente emocional. Tudo bem. Kelly resolveu que apresentaria o noivo ao primo na festa surpresa que preparara para ele, juntamente com alguns amigos de Ralph. Seria o momento ideal.

Ainda no aeroporto tentou descontrair Hugo, que se comportava de maneira a deixar clara a sua aversão pelo primo. Aliás, como ele dizia, não tinha nada contra o primo, o que o incomoda-va era seu comportamento – segundo Hugo, abo-minável. Depois de muito insistir e de algumas brincadeiras, Kelly conseguiu arrancar um sorri-so dos lábios do irmão, o que ajudou a tornar o momento do reencontro um pouco menos tenso.

Ela mal podia esperar pelo primo. Hugo, no fundo, também sentia ciúmes da ligação tão in-tensa entre Kelly e Ralph. Muitas vezes, chegava

Page 14: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

26

em casa e lá estava a irmã ao telefone, falando com o primo de outro continente. As conversas, geralmente, duravam longo tempo. Hugo deseja-va que a irmã se comportasse com ele da mesma forma como agia com o primo. Havia dentro de Hugo certa decepção e, ao mesmo tempo, ciú-mes da amizade que cultivavam a irmã e Ralph. Além disso…

Ralph finalmente apareceu em meio às pes-soas que desembarcavam, com o carrinho reple-to de bagagem. O sorriso largo, acompanhado da elegância no vestir, chamava a atenção tan-to de Kelly quanto de outras pessoas. Hugo não deixou de notar o charme do primo e desejou se-cretamente ser um pouco mais elegante. Ralph chamava a atenção – isso ele não podia negar.

Quando Hugo e Ralph se encontraram, a ten-são se estabeleceu. Kelly, efusiva, abraçou o pri-mo com todo o carinho que poderia expressar em suas atitudes, da forma mais explícita possível. Hugo, por sua vez, quase se sentiu ofendido com o olhar do primo ou – quem sabe? – com a ele-gância e o charme que o destacavam em meio à gente ali presente.

– Olá, Hugo! – pronunciou o visitante, visi-velmente feliz por chegar ao Brasil e encontrar parte da família.

– Você, como sempre, está chamando mui-

Page 15: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

2726

ta atenção – Hugo resmungou para o primo, nu-ma forma grosseira que evidenciava certa inveja e ciúme da irmã.

– Puxa, primo, não vai me dar um abraço? Eu o incomodo tanto assim? – falou Ralph, apro-ximando-se para abraçar Hugo, que se sentiu aconchegado nos braços do rapaz.

Enquanto os braços do primo o envolviam, Hugo sentiu-se ao mesmo tempo preenchido e muito inquieto. Decididamente, não queria se ex-por assim. Acreditava – ou procurava se conven-cer – que todos olhavam para o primo por sabe-rem que ele era gay. Embora Ralph não deixasse transparecer a orientação afetivo-sexual, ao me-nos não de forma tão nítida e patente, assim mes-mo Hugo o via desse modo.

Sabendo Ralph do jeito machista do primo brasileiro e do quanto o incomodava a presen-ça e o jeito tão carismático, decidiu abusar um pouco, olhando para Kelly, que se divertia com o reencontro:

– Puxa, você está um charme, primo! Olhe que, se não fôssemos parentes tão próximos, de repente…

[…]

Page 16: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 17: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 18: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar
Page 19: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

O ambiente espiritual fora esculpido pelo calor e ardor das emoções con-turbadas daqueles espíritos. Medos, angústias, sentimentos, esperanças e expectativas de cada um deles contri-buíram para plasmar a atmosfera psí-

quica na qual se viam envolvidos. Prisioneiros das próprias dificuldades íntimas, da culpa abri-gada na mente, elaboraram inconscientemente o ambiente espiritual ou fluídico ao derredor. Afi-nal, a substância plástica da matéria astral as-sume a forma que a mente e as emoções lhe im-primem. Tanto o aspecto purgatorial quanto o celestial, assim como as cadeias que agrilhoam a criatura no Além, constituem meros reflexos de sua mente. Quanto mais se crê, mais se vê. Con-tudo, as paisagens paradisíacas ou infernais, sen-síveis ou grosseiras não refletem uma realidade permanente. Tudo é passageiro. Tudo é projeção das sombras ou das luzes que irradiam do ser.

A mente prisioneira da culpa, do remorso ou das angústias de uma existência mal definida ou mal resolvida exterioriza a paisagem íntima em torno de si. Da mesma forma, a mente sadia, que se esforça por cultivar emoções enobrecedoras e elevadas, projeta ao redor as imagens condizen-tes com a qualidade da vida mental superior.

Através de mil formas, de mil vidas, o ser

Page 20: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

120

eterno vai aprimorando o psiquismo em meio às contingências da vida material, social e familiar. Detentor de uma riqueza interior inestimável, o espírito investe nas sucessivas vidas, estagiando nas diversas expressões da forma, conforme a ne-cessidade particular do momento evolutivo que atravessa. Homem e mulher são apenas aspec-tos exteriores necessários ao mundo da forma,1 e nem sempre a fisiologia representa o ser psico-lógico aprisionado nos limites do corpo. O sexo, patrimônio sagrado do espírito, é expressão da polaridade íntima e aguarda os séculos e milênios para ser compreendido.

A vivência da sexualidade será, dessa forma, uma questão comportamental profundamente ligada às matrizes psicológicas construídas ao longo das vidas sucessivas. Não há como padro-nizar o comportamento como expressão do ser imortal, uma vez que a variedade tão grande de criaturas e de experiências não nos permite uma visão acertada, ampla e profunda da situação ín-tima de cada um. Tampouco é possível estabele-cer regras rígidas para comportamentos, ideias e pontos de vista, classificando-os entre o que é e o que não é normal ou aceitável. Não há como di-zer que este tipo energético ou aquela identida-

1 Cf. ibidem. p. 173-174, itens 200-202.

Page 21: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

121120

de afetiva e sexual seja a mais correta ou a única forma de expressão do ser.

Em cada vivência, um aprendizado; em ca-da atitude, uma experiência. Bem e mal deixam de ter a conotação moralista e legalista para ce-der lugar ao comportamento ético dos seres que se emancipam mais e mais na escola da vida. Muitas vezes, indivíduos veem-se reféns de me-dos, angústias e pesares; outros, em plena fase de aprimoramento íntimo, libertam-se de tabus e preconceitos, ampliam conceitos e, assim, ela-boram o clima mental e emocional em que vive-rão, de acordo com a maneira como transitaram na última existência física.

As prisões invisíveis – porém, reais – que cerceiam a pretendida liberdade são apenas a projeção do lado obscuro, que emerge do incons-ciente profundo. Tal projeção determina o limite de ação de cada um. Eis por que o ambiente es-piritual, físico ou social é o reflexo vivo do mun-do íntimo.

Sem escapar a essa realidade universal é que Patrícia, Paloma, Hugo, Ronie, César e Adir apor-taram em outra dimensão da vida, embebidos em lembranças, crenças, dúvidas e conquistas pes-soais. Estavam numa espécie de transição entre as dimensões da vida; localizavam-se num plano on-de, devido à sua extrema maleabilidade, a reali-

Page 22: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

122

dade interior se fazia facilmente palpável.Um sétimo personagem se encontrava ali, e

outros mais, invisíveis, imperceptíveis, com o in-tuito de recebê-los ou, quem sabe, compartilhar suas experiências.

Sentindo-se prisioneiros, embora sem celas nem grades, mas também sem nenhuma possi-bilidade de fuga perceptível naquele momento, pouco a pouco foram se revelando intimamente.

Como que envolto numa rede invisível, nu-ma espécie de teia de aranha, que o cerceava por inteiro e coibia movimentos mais amplos, ouviu--se a voz, quase um grito, do rapaz:

– Onde estou? Que desgraça é esta que me aprisiona? – perguntou Ronie, ainda com fortes imagens mentais do que lhe ocorrera.

– Quem são vocês? – gritava, sem obter res-posta imediata.

Ao examinar a substância que o envolvia, concluiu que se tratava de algo parecido com uma teia de aranha, porém feita de material pe-gajoso. Somente com grande dificuldade conse-guia se desvencilhar da matéria que o dominava, mas parecia-lhe que uma força descomunal o ar-rastava de novo para aquela armadilha. Porém, a força parecia não ser externa, mas interna. Era algo que emanava dele próprio, pôde notar. To-mado de imensa angústia, logo percebeu que não

Page 23: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

123122

estava sozinho ali. Havia vultos – outras pessoas ou outras almas.

Em determinado lugar, em meio ao lusco--fusco do ambiente, jazia Patrícia, deitada em posição fetal, gemendo baixinho.

Ajoelhado mais além, Adir, o pastor, parecia balbuciar algo com os lábios, acostumado a fa-zer uma oração puramente mecânica. O deses-pero íntimo parecia se avolumar.

– Onde estou? Será isto aqui o portal do in-ferno? Não pode ser! Não pode! Eu fui salvo. O Senhor está testando a minha fé…

Adir saía correndo de um lado para outro, na tentativa de sair daquela situação, encontrar uma porta, uma resposta ou explicação em seus conhecimentos limitados. Em vão.

Hugo parecia estar prestes a perder o juízo. Vez ou outra dava gargalhadas, que se seguiam logo após intenso pranto. Paloma, quieta, ca-bisbaixa, parecia mergulhada em seus próprios pensamentos e recordações. Não sabia onde es-tava. Não queria saber. Tinha a mente funcio-nando em circuito fechado; pensava na própria vida. Refletia.

Em pé, alguém os observava. Seria apenas uma pessoa a mais, ou várias que os observa-vam? Não podiam precisar. Pelo menos, não por enquanto. Não viam o vulto, o ser diretamente,

Page 24: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

124

mas o percebiam. Sabiam que eram observados. Era apenas uma sombra? Uma aparição? Todos pressentiam sua presença, mas ninguém o co-nhecia, também não se conheciam. Mas será que queriam se conhecer?

– Quem são vocês? Onde estou? – continua-va Ronie a gritar, a se exasperar. Tomando uma atitude, levantou-se meio cambaleante; seguran-do as pessoas ao redor, sacudia um a um seus companheiros, estranhos entre si.

– Acordem, reajam! Estamos todos meti-dos neste lugar e vocês aí, parados? – berrava, agitava-se e exprimia seu inferno interior atra-vés das atitudes violentas. Tentava a todo custo obter uma reação daquelas pessoas que estavam com ele, compartilhando o espaço. Ou não se-ria um espaço, seria uma situação? Não impor-ta. Naquele momento, nem Ronie nem os demais sequer sonhavam com o que estava acontecendo. Não haviam se preparado para essa realidade.

Em meio às tentativas de despertar aquelas pessoas, um suspiro foi ouvido. Um suspiro pro-fundo, alto, perceptível, que mexeu com todos. Ficaram apavorados diante do desconhecido. E como não viam a pessoa da qual partiu o suspi-ro, o temor aumentou exponencialmente.

Um misto de medo e pavor pareceu acordar alguns, enquanto Ronie parou, silenciou, tentan-

Page 25: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

125124

do perceber mais alguma coisa.– O sangue de Jesus tem poder! – bradou

Adir, alto e bom som.– Só faltava essa! – disse Ronie, entre o de-

boche e o desespero. – Um religioso, talvez um crente miserável preso aqui comigo… Eu tenho que aguentar cada uma, viu? Numa desgraça dessas e ainda me vem um maldito crente…

– Você ouviu aquele suspiro profundo? – perguntou Adir.

– Claro que ouvi! Não estou surdo!Pensando um pouco mais, complementou: – Ou melhor, não sei se ouvi ou se percebi.

Mas foi algo assustador.Patrícia, recolhida em seu mundo particular,

ameaçou despertar, erguendo a cabeça, para lo-go depois deitar-se novamente. Ou melhor, cair sobre aquele solo indefinível. Ela sentia um odor dificilmente suportável; lembrava fezes, podri-dão, algo assim. Mas será que os outros também sentiam a mesma coisa?

Hugo parou em meio a uma gargalhada; pe-trificado, acordou do seu transe privado. De on-de viera a gargalhada? De que local? De quem? Não sabia se o que ouvira era real ou um trote de seu subconsciente.

– O que está acontecendo? Onde estou? Olhou à volta e só então percebeu os outros.

Page 26: layout miolo degusta - megalivros.comSombras, paisagens e imagens soturnas, 246 9 Saindo do armário, do maia, da ilusão, 284 10 Despertamento, 304 11 O filho pródigo, 332 12 O despertar

126

Corrigiu-se:– Onde estamos? Que lugar é este?Ronie adiantou-se:– Onde estão as paredes deste lugar?! – fa-

lou, perguntando a qualquer um, apontando pa-ra o pastor Adir. – Já notaram que aqui não tem paredes?

– Sim – respondeu alguém. – Já tentei ultra-passar certo limite, mas não consegui. Sempre que penso chegar a um lugar, estou de volta ao ponto de partida. Que lugar é este afinal? O que nos aconteceu?

Paloma foi a próxima a se manifestar, quase lentamente, depois de despertar de suas reflexões.

– Acho que morremos todos. Somos almas do outro mundo, e isso aqui é o purgatório… Ou – falou agora mais pausadamente e quase muito baixo – o inferno particular de cada um de nós.

– Mais uma… – ouviram Ronie debochar.Perceberam logo a presença de Paloma, que

se erguia consertando a peruca. Adir imediata-mente interferiu na fala de Paloma:

– O purgatório não existe. A Bíblia não fa-la dele. Mas acho que algo grave nos aconte-ceu. Mas não morremos, não. Se estamos todos conscientes…

[…]