Lazer e Trabalho - Algumas Considerações Sobre Os Espaços e Equipamentos de Lazer Nas Indústrias de Curitiba

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    LAZER E TRABALHO: ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE OS ESPAOS E

    EQUIPAMENTO DE LAZER NAS INDSTRIAS DE CURITIBA

    Luize MoroGraduada em Educao Fsica pela PUC/PR.

    Participante do Grupo de Estudos CEPELS.

    Flavia Vieira

    Graduada em Educao Fsica pela PUC/PR.Participante do Grupo de Estudos CEPELS.

    Mestranda UFPR.

    Mariana MaranhoGraduanda em Educao Fsica pela UFPR.

    Participante do Grupo de Estudos CEPELS.

    Bolsista de Monitoria, disciplina de Fundamentos do Lazer.

    Thais Gomes TardivoGraduanda em Educao Fsica pela UFPR.

    Participante do Grupo de Estudos CEPELS.Bolsista PROGRAD.

    Rosane Ftima PikussaGraduada em Educao Fsica pela UFPR.

    Participante do Grupo de Estudos CEPELS.

    RESUMO

    Lazer e trabalho so dimenses presentes na vida do ser humano, portanto, por meio deste estudo

    procurou-se investigar os espaos e equipamentos de lazer no ambiente das indstrias. Para tanto,

    foram aplicados protocolos semi-estruturados em 21 indstrias da cidade de Curitiba que

    apresentavam espaos e equipamentos de lazer. Dentre esses espaos, destacamoschurrasqueiras/quiosque, parque infantil, sala de jogos, salo de festas, campo de futebol/quadra.

    Observou-se que, embora possuam espaos, estes no suprem demanda dos trabalhadores

    havendo a necessidade de proporcionar uma maior quantidade dos mesmos, com melhores

    condies e que possibilitem novas experincias no mbito do lazer.

    ABSTRACT

    Leisure and work are present dimensions in the human been life, therefore, through this study to

    intend to investigate the spaces and equipments of leisure at industry environment. For this, semi-

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    structured protocols were applied in 21 industries from the city of Curitiba that presented spaces

    and equipments of leisure. Among these spaces we point barbecue/newsstand, playground, game

    room, party room, football field/court. We observed that, although they have spaces, they dont

    supply the demand of workers needing to propose a bigger number of spaces and equipments, with

    better conditions and that proportion new experiences at leisure scope.

    INTRODUO

    Perante o processo da globalizao e das transformaes tecnolgicas ocorridos na

    sociedade capitalista, o trabalhador encontra-se intensamente envolvido com o sistema que lhe

    imposto, e desta forma ocorre uma desvalorizao de outros mbitos da vida como o tempo e

    espao de lazer. Algumas indstrias elaboram polticas de lazer para o trabalhador, no entanto,

    questiona-se o verdadeiro significado da disponibilizao dos benefcios que facilitam o acesso do

    trabalhador ao lazer. Segundo Inacio (1999), os motivos que podem estar relacionados s polticas

    de lazer nas indstrias abrangem a qualidade de vida no trabalho (ou uma nova forma de

    explorao), o envolvimento do trabalhador em todas as suas dimenses com a indstria, o

    desenvolvimento do esprito de equipe, e a possibilidade de que as tcnicas1utilizadas nas prticasde lazer possam ser transferidas para o cotidiano do trabalho.

    Visando interesses como os citados acima, as indstrias passam a disponibilizar um tempo e

    espao para o lazer, no entanto, questionamos at que ponto os espaos disponibilizados suprem as

    necessidades dos trabalhadores. Na tentativa de responder tal questo propomos o presente estudo

    tendo como objetivos teorizar a relao lazer e empresa, refletir sobre a questo do espao a partir

    do campo emprico, e discutir as condies de uso dos espaos e equipamentos existentes nas

    indstrias.

    Desta maneira, acreditamos dar um passo importante na discusso sobre os paradigmas que

    envolvem as experincias no mbito do lazer do trabalhador atravs de pesquisas realizadas, as

    quais podem nos fornecer importantes subsdios para compreendermos como as indstrias

    percebem a relao trabalho e lazer. Pois, ao observarmos o processo histrico de racionalizao do

    mundo moderno, agregado a valores voltados produtividade, percebemos que o trabalho torna-se a

    principal preocupao do ser humano. Desta forma, quando desvelada a reduo do fenmeno lazer

    por parte das indstrias, podero ser encontradas novas possibilidades de ampliar as oportunidades

    culturais neste campo.

    Para tanto, buscamos subsdios na pesquisa intitulada diagnstico das prticas de esporte e

    lazer dos trabalhadores das indstrias do Paran, a qual surgiu a partir de uma iniciativa do SESI

    (Servio Social da Indstria) em parceria com a UFPR. Foram desenvolvidos quatro projetos de

    pesquisa com os seguintes temas: sade do trabalhador, hbitos de esporte e lazer, polticas

    desenvolvidas pela indstria, e espaos e equipamentos de esporte e lazer, sendo o ltimo, tema do

    presente trabalho. Assim, selecionamos para este artigo os resultados das pesquisas realizadas naCidade de Curitiba onde foram visitadas 21 indstrias que possuam espaos de lazer. Em cada

    indstria foi aplicado um protocolo semi-estruturado com questes sobre as caractersticas da

    indstria e questes especficas de cada espao as quais se referem ao histrico, acessibilidade,

    condies e ambientalizao. Foram utilizados registros fotogrficos para melhor anlise dos dados.

    Os espaos pesquisados foram: academias, salas de ginstica, parques infantis, quadras

    poliesportivas, campos de futebol, quadras de areia, salas de jogos, restaurante/bar, sales de festas,

    1De acordo com o autor, as tcnicas (corporais, de criatividade, de liderana, etc.) desenvolvidas, por meio do lazer,

    podem se constituir em investimento mais fcil e econmico do que cursos de qualificao do trabalhador, alm dedesenvolver nele comportamentos estereotipados.

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    churrasqueiras, bibliotecas, anfiteatros, reas verdes e outros2. A partir da anlise dos dados

    coletados foram elaboradas as seguintes categorias de anlise: acesso (horrio de funcionamento,

    valor para uso, condies fsicas/estruturais), condies (conservao, limpeza, quantidade,

    segurana), ambientalizao(organizao, ventilao, iluminao, tipo de piso, cores e rea verde).A partir dessas anlises elaboramos as reflexes que constituem a discusso.

    SOBRE LAZER E TRABALHO

    Nas grandes cidades o cotidiano dos trabalhadores das indstrias envolve uma rotina de

    trabalho repetitivo e exaustivo, e o tempo de lazer acaba utilizado como tempo de descanso para a

    recomposio das energias. Nesta perspectiva, o carter funcionalista e utilitarista do lazer no

    proporciona um tempo verdadeiramente livre dos compromissos do mundo do trabalho.

    Sobre as categorias lazer e trabalho podemos observar diversos estudos. Utilizamos neste

    texto as anlises desenvolvidas por Marx citadas em Vieitez (2002), as quais enfocam o tempo de

    trabalho como categoria central na vida dos sujeitos. O autor no se remete diretamente ao lazer,

    mas coloca reflexes sobre o tempo de no trabalho. Desta forma, consideramos que no h

    possibilidade de falar sobre o fenmeno do lazer desconectado do mundo do trabalho.

    Aps a Revoluo Industrial, no novo cenrio de explorao da mo de obra, ostrabalhadores viram a necessidade de se organizar e lutar por melhores condies de vida. Dentre

    essas reivindicaes encontrava-se a reduo da jornada de trabalho, portanto o aumento do tempo

    de no trabalho. Neste tempo, o acesso ao lazer foi reconhecido como uma necessidade para os

    comercirios, mas uma inutilidade para os operrios cuja cultura no permitia aproveitar as

    possibilidades do lazer, pois o trabalho era (e ainda ), entendido como nica dimenso importante

    da vida dos sujeitos (PEIXOTO, 2008). Neste contexto, os operrios, com pouco acesso ao lazer,

    acabavam perdendo a oportunidade de compreenso da realidade se considerarmos que neste

    tempo/espao ocorrem fenmenos sociais complexos que podem se traduzem em manifestaes

    sociais e culturais.

    Nas grandes cidades, os sujeitos vivem em funo do tempo e em espaos reduzidos, assim

    o desenvolvimento da sociedade moderna urbanizada tornou o tempo e espao em elementos

    escassos e economicamente valorizados.

    Aproveitando-se desta situao, a industria pensando em benefcios que as levem a obter

    maiores lucros, vem investindo na infra-estrutura de espao que proporcionem experincias no

    mbito do lazer. O lazer assim concebido tem a inteno de diminuir as tenses entre capital e

    trabalho, oportunizando atividades que possibilitem a melhoria na qualidade de produo, aumento

    da confiana na empresa e do prazer de trabalhar.

    Embora as indstrias ofeream espaos que propiciam experincias no mbito do lazer, a

    concepo funcionalista que fundamenta esse princpio entende esse tempo e espao como valioso

    componente funcional de reequilbrio da ordem social e moral, reiterando a idia de que o tempo

    livre um perodo para a recomposio individual das condies psicolgicas e fsicas necessriasao trabalho (Mascarenhas, 2004, p.22).

    SOBRE O TEMPO/ESPAO

    Pensar sobre o tempo/espao de lazer dar um passo frente para a compreenso da

    realidade. Considera-se que nele ocorrem fenmenos sociais complexos que se traduzem, muitas

    vezes, em manifestaes sociais e culturais. Notamos assim, a importncia na proposio de

    2Outros espaos encontrados so, por exemplo, sauna, quadra de bocha, quadra de tnis, sala de informtica, sala dedescanso, etc.

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    espaos de lazer que possibilitem diversificadas experincias ao sujeito, visto que apenas a luta pelo

    aumento do tempo livre do trabalhador ser em vo se este tempo for utilizado de forma

    compensatria e utilitarista.

    Entretanto, Pochmann citado por Mascarenhas (2005, p.165) aponta que alguns espaos

    podem significar alternativas para o fortalecimento do uso emancipatrio do tempo livre. Assim,

    os espaos de lazer das indstrias podem contrapor a lgica do consumo e da ocupao produtiva do

    cio se caracterizando como lugares privilegiados para o desenvolvimento de manifestaesculturais e polticas.

    Segundo Muller (2002, p. 02) o espao de lazer tem uma importncia social, por ser um

    espao de encontro e de convvio e que neste espao pode acontecer a tomada de conscincia de

    que os espaos de lazer so essenciais para uma vida melhor e que se constituem como um direito

    das pessoas. Segundo o autor,

    esse direito na verdade uma necessidade, um meio de realizao dos seres humanos que se

    ocupam majoritariamente, em seu cotidiano, com as atividades ligadas ao trabalho, alm de

    outras obrigaes do dia-a-dia. Assim mostra-se pertinente buscar alternativas e

    possibilidades que possam despertar nas pessoas um anseio que extrapole o mero

    sobreviver, e possa realmente capacitar a populao para que estes possam exercer o seudireito (p. 02).

    O que chama ateno nos espaos destinados ao esporte e lazer dentro das indstrias

    paranaenses a possibilidade de que o lazer vivenciado nesses locais possa significar uma pausa s

    formas sistemticas de trabalho, permitindo uma reflexo sobre os valores agregados a fbrica e

    sobre a lgica da produo, atravs da qual pode ocorrer a aquisio de novos valores humanos que

    envolvem a relao tica com o outro, o convvio com a diferena, a autonomia e a vivncia com a

    cultura local. Neste sentido, faz-se necessrio compreender as experincias no mbito do lazer

    como uma possibilidade de resistncia, onde os sujeitos tm a oportunidade de realizar uma

    reflexo sobre a vida cotidiana na sociedade atual.

    Nosso ponto de partida para as anlises das questes apontadas sero os cenrios observadosnas indstrias pesquisadas, na tentativa de fornecer subsdios para que possamos conhecer arealidade dos trabalhadores, relatando algumas caractersticas dos ambientes constitudos para a

    prtica do lazer.

    ALGUMAS CONSIDERAES

    Ao olhar o cotidiano dos trabalhadores nas indstrias, percebemos que ainda h nos

    interstcios do tempo de trabalho algumas atividades que podem se diferenciar das prticas

    compensatrias que seguem a lgica da produo. Na pesquisa realizada observamos que no tempo

    de no trabalho os espaos constitudos nas indstrias so disponibilizados, e apesar de, na maioria

    das vezes, no apresentarem variedade, quantidade e condies que possibilitem sua utilizao de

    forma qualificada, so de certa forma, utilizados.Observamos que os espaos e equipamentos oferecidos so prioritariamente churrasqueiras,

    campos de futebol, sales de festas, parques infantis e equipamentos para jogos de salo como

    sinuca, pebolin e tnis de mesa. Esse fato demonstra a falta de planejamento e diversidade em

    termos de equipamentos.

    Outros fatores que restringem o acesso a tais experincias se referem a quantidade de

    equipamentos disponibilizados, no sendo condizente com o nmero de funcionrios, bem como a

    burocracia que envolve a locao de certos espaos.

    As condies de uso tambm restringem a apropriao, seja por falta de limpeza e

    manuteno, difcil acesso de portadores de necessidades especiais e/ou falta de segurana,

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    Todos estes fatores associados demonstram uma falta de preocupao com o lazer dos

    trabalhadores. Porm, algumas indstrias possuem o conhecimento da necessidade de disponibilizar

    espaos de lazer e do benefcio que esse pode trazer para a vida de seus funcionrios, pois

    observamos interessantes investimentos relacionados aos espaos esportivos e de convvio social.

    Entretanto, percebe-se, que na grande maioria das indstrias investigadas os espaos

    disponibilizados no atendem as necessidades dos trabalhadores, pois seus interesses, como j

    discutido anteriormente nas idias de Incio (1999), no esto voltados apenas ao bem-estar de seusfuncionrios, mas aparece envolto no carter funcionalista que permeia o universo das indstrias, j

    que da produo e do operrio saudvel que depende o sistema capitalista.

    Acreditamos assim, na necessidade de se disponibilizar mais espaos e equipamentos, com

    melhores condies de uso, para que seja possvel propiciar ao trabalhador um tempo/espao de

    lazer com qualidade, no qual os sujeitos convivam sem preocupaes de trabalho, realizem trocas

    de experincias, discutam conscientemente os valores impostos pela sociedade e reflitam a cerca

    realidade em que esto inseridos.

    Referncias

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