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1 LAZER NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: Uma reflexão a partir de Animação Sociocultural para atuação do profissional de educação física. Moisés Teixeira Queiroz Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Profª Ms.Vera Fernandes Orientadora do CEDF/UEPA [email protected] RESUMO O artigo se concentra na área de estudos das políticas públicas de esportes e lazer, e está sob as bases da pesquisa documental na perspectiva crítico-dialético, e tem como proposta compreender e superar os questionamentos levantados sobre a Animação Sociocultural e a atuação do profissional de educação física no programa segundo tempo. Nessa perspectiva, se objetiva responder, com base na análise feita no site do Ministério do Esporte e os documentos produzidos (cadernos de fundamentos, diretrizes, etc.) pelo programa segundo tempo, as seguintes questões norteadoras: o que significa o lazer na perspectiva da animação sociocultural para atender as demandas sociais do Programa Segundo Tempo com a atuação do profissional de educação física? Qual é a concepção? Que planejamento é desenvolvido? Que perfil profissional é exigido? Problema: - Como desenvolver atuação do profissional de educação física para a ação social do lazer na perspectiva da animação social no Programa Segundo Tempo? Resultados: O lazer, sob uma abordagem da animação sócio cultural, educação para e pelo o lazer, tendo-se o esporte como meio e fim educacional. O planejamento e o perfil profissional democratização da prática com qualidade, construção de espaços mais participativos, críticos e reflexivos e articulações entre o esporte e o lúdico para ampliar o acesso às diferentes linguagens/manifestações à formação cultural, um líder democrático com prática dialógica. Por fim, o programa ainda necessita superar e romper barreiras econômicas, políticas e socioculturais como a ação ideológica do uso do esporte e o esporte como meio de ascensão social, e assim, garanti-lo como desenvolvimento humano para o exercício pleno da cidadania, interagindo-se a escola, a família e a comunidade, a fim de promover a auto-organização comunitária. Palavras-chave: Lazer, Programa, Animação, Atuação e Educação Física. INTRODUÇÃO Este artigo foi construído a partir do trabalho de conclusão de curso (TCC) realizado como critério avaliativo da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual do Pará-UEPA, no ano de 2013, no qual fomenta acerca do papel sociopolítico do lazer nos últimos tempos para o desenvolvimento da Nação, promoção da saúde, fortalecimento da identidade cultural e da cidadania, entre outros interesses pessoais ou institucionais

LAZER NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: Moisés Teixeira … · responsabilidade na criação e efetivação de programas que supram esta carência social ... passamos a nos interessar pela

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LAZER NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: Uma reflexão a partir de Animação Sociocultural para atuação do profissional de educação física.

Moisés Teixeira Queiroz

Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected]

Profª Ms.Vera Fernandes Orientadora do CEDF/UEPA

[email protected] RESUMO O artigo se concentra na área de estudos das políticas públicas de esportes e lazer, e está sob as bases da pesquisa documental na perspectiva crítico-dialético, e tem como proposta compreender e superar os questionamentos levantados sobre a Animação Sociocultural e a atuação do profissional de educação física no programa segundo tempo. Nessa perspectiva, se objetiva responder, com base na análise feita no site do Ministério do Esporte e os documentos produzidos (cadernos de fundamentos, diretrizes, etc.) pelo programa segundo tempo, as seguintes questões norteadoras: o que significa o lazer na perspectiva da animação sociocultural para atender as demandas sociais do Programa Segundo Tempo com a atuação do profissional de educação física? Qual é a concepção? Que planejamento é desenvolvido? Que perfil profissional é exigido? Problema: - Como desenvolver atuação do profissional de educação física para a ação social do lazer na perspectiva da animação social no Programa Segundo Tempo? Resultados: O lazer, sob uma abordagem da animação sócio cultural, educação para e pelo o lazer, tendo-se o esporte como meio e fim educacional. O planejamento e o perfil profissional – democratização da prática com qualidade, construção de espaços mais participativos, críticos e reflexivos e articulações entre o esporte e o lúdico para ampliar o acesso às diferentes linguagens/manifestações à formação cultural, um líder democrático com prática dialógica. Por fim, o programa ainda necessita superar e romper barreiras econômicas, políticas e socioculturais como a ação ideológica do uso do esporte e o esporte como meio de ascensão social, e assim, garanti-lo como desenvolvimento humano para o exercício pleno da cidadania, interagindo-se a escola, a família e a comunidade, a fim de promover a auto-organização comunitária. Palavras-chave: Lazer, Programa, Animação, Atuação e Educação Física.

INTRODUÇÃO

Este artigo foi construído a partir do trabalho de conclusão de curso (TCC)

realizado como critério avaliativo da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica no

curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual do Pará-UEPA,

no ano de 2013, no qual fomenta acerca do papel sociopolítico do lazer nos últimos

tempos para o desenvolvimento da Nação, promoção da saúde, fortalecimento da

identidade cultural e da cidadania, entre outros interesses pessoais ou institucionais

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públicos, privados, ou público privado como também os interesses acadêmicos e

científicos.

Por isso, ele tem sido pauta de discussão por inúmeros pesquisadores das

mais diversas áreas - Ciências Sociais, Ciências Políticas, Serviço Social, Turismo,

Educação Física, entre outras (ISAYAMA, 2002) ocorrendo debates através dos

estudos para a construção de um novo cenário à implantação e implementação de

ações governamentais no âmbito federal, estadual e municipal à promoção de

projetos sociais caracterizados como intervenções enquanto politicas públicas, no

combate a exclusão social, a pobreza, uma vida de risco social, ou seja, a

vulnerabilidade social, incluindo-se assim o profissional de Educação Física para o

desenvolvimento dessas ações.

Esses projetos retratam uma realidade mundial à preocupação do uso do

tempo livre ou por tempo disponível (MARCELLINO, 2008), ajudando a cada dia

amenizar a exposição de crianças e adolescentes aos riscos sociais (drogas,

prostituição, gravidez precoce, criminalidade, trabalho infantil), pois quanto mais

vulnerável socialmente for a área que estas estiverem inseridas, maiores são os

riscos estes que se traduzirão em um menor aproveitamento escolar, e problemas de

diversas ordens na relação com a sociedade trazendo implicações para o seu

desenvolvimento social.

Por outro lado, o lazer, relacionado ao processo de exclusão social, encontra-

se a situação de vulnerabilidade social, que assim compreendida traduz a situação

em que o conjunto de características, recursos e habilidades inerentes a um dado

grupo social se revelam insuficientes, inadequados ou difíceis para lidar com o

sistema de “oportunidades” oferecido pela sociedade, de forma a ascender a

maiores níveis de bem-estar ou diminuir probabilidades de deteriorização das

condições de vida de determinados atores sociais (VIGNOLI, 2001, apud

ABRAMOVAY, 2002).

Neste contexto é de fundamental importância a intervenção do estado através

de políticas públicas eficazes, pois sendo o Brasil um país com aproximadamente

duzentos milhões de habitantes (IBGE, 2010), ainda se percebe de forma empírica

uma carência de programas e projetos de inclusão social que atinjam uma parcela

significativa da sua grande população, tendo o Ministério do Esporte a

responsabilidade na criação e efetivação de programas que supram esta carência

social.

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Sendo assim, passamos a nos interessar pela pauta social das políticas

públicas de esporte e lazer. A participação como monitor do Programa Segundo

Tempo – 2011-2013, especificamente na oficina de futsal, em um bairro periférico de

Belém, aflorou a sensibilidade de um olhar crítico para o quadro de vulnerabilidade

social que são expostas crianças e adolescentes. Por isso, esclareço que o

interesse da pesquisa no acervo do Programa Segundo Tempo, sobre o “Lazer na

perspectiva da Animação Sociocultural”, quando depara-se através de estudos

científicos que o lazer ainda precisa ser compreendido de forma ampliada

(MARCELLINO, 2007).

Enfim, o lazer enquanto direito social são assegurados a todos, apresenta-se

com um tema periférico e popularizado pela massa e não para o individuo, e assim,

confundido como divertimento ou entretenimento. E por diversos motivos o lazer tem

sido assegurado nas políticas governamentais, e o profissional de educação física é

um dos principais sujeitos destas ações.

Embora se perceba um considerável avanço em relação a ações que

privilegiem o lazer como tema importante, vê-se também, uma carência de

programas e ações governamentais que sigam esta direção.

Todavia, entende-se que somos amparados por uma base jurídica como

Estado de Direito ou governo, logo surgem algumas questões científicas

norteadoras: - o que significa o lazer na perspectiva da animação sociocultural para

atender as demandas sociais do Programa Segundo Tempo com a atuação do

profissional de educação física? Qual é a concepção? Que planejamento é

desenvolvido? Que perfil profissional é exigido? Enfatiza-se, portanto o seguinte

problema: - Como desenvolver atuação do profissional de educação física para a

ação social do lazer na perspectiva da animação social no Programa Segundo

Tempo?

Finalizando-se, enfatiza-se a relevância da pesquisa dado aos fatos e

acontecimentos descritos acima acerca de uma prática politica educacional de

projetos governamentais, e, aqui, na perspectiva da articulação Esporte e Lazer com

uma abordagem da Animação Sociocultural, um desafio aos profissionais da área de

educação física e áreas afins por conta de uma historicidade do Esporte e Lazer sob

as bases de um capitalismo selvagem.

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1 EPISTEMOLOGIA DO LAZER E DA ANIMAÇÃO SÓCIO CULTURAL.

As preocupações com lazer no Brasil, “surgem no final do século XIX, estando

presente nos discursos dos mais diversos profissionais responsáveis pelas novas

reformas típicas da organização urbano-industrial” (MELO, 2005, apud

MARCELINO, 2007, p.11).

O lazer é fruto da revolução industrial, nascendo um homem que passa a ser

regido por normas e valores veiculados por meios de comunicação de massa e

pelos pares (MARCELINO, 2007). Havendo neste sentido uma considerável

influência de outros países que estavam em processo mais avançado da revolução

industrial.

Tendo como instituição pioneira no debate do lazer no Brasil, o Sesc Serviço

Social do Comercio, nas décadas de 60 e 70, que cria ações de difusão da área,

consolidando a mesma através do intercâmbio com a França por intermédio do

sociólogo Joffre Dumadizier, e com a sistematização do conhecimento (Centro de

Estudos do Lazer) (IBIDEM).

No entanto o Sesc sempre se destacou por sua ação social de cunho

assistencialista, pretendendo assumir o papel complementar ao do estado, através

de suas propostas de introduzir no “tempo livre” dos trabalhadores os valores

necessários para o aumento da produtividade e o cultivo da sociedade organizada

(SANT’ANNA, 1994 apud MARCELLINO, 2007).

A partir de 1969, o termo lazer se torna cada vez mais frequente nos discurso

dos políticos, conforme vemos em Marcelino (2007, p.12).

O lazer se constituiu, aos poucos, como um instrumento de disciplina e organização da sociedade, voltado ao ajustamento e a educação social, fato que pode ser observado através da análise das formas de controle dos usos diversificados do “tempo livre”, que na época passaram a ser substituídos por formas de lazer institucionalizadas.

É neste contexto que surge a aproximação do lazer com a educação física,

em virtude dos valores e interesses relacionados a saúde, moral e higiene, o que

justifica a presença maciça deste profissional na área do lazer.

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No século XIX o lazer se conceitua apenas como tempo livre depois das

ocupações, sendo esta definição reproduzida, segundo Dumadizier (1973) apud

Werneck e Isayama (2004), por diversos autores. Sendo acrescentado apenas em

1930 pelo Dictionnaire de Claude Agé um novo significado ao mesmo: o lazer é

então concebido como distrações, ocupações, às quais o indivíduo poderia se

entregar de espontânea vontade, durante o tempo não ocupado pelo trabalho

comum.

E neste contexto, Werneck e Isayama (2004) contribui dizendo que o tempo

passa a ser visto como determinante para ocorrência do lazer na modernidade

urbano industrial, estimulando a classe operaria a lutar pela diminuição da carga

horaria de trabalho, pelo descanso remunerado nos fins de semana e férias pagas,

entre outras conquistas sociais.

Com o inevitável aumento do “tempo livre”, empresários e políticos

preocuparam-se com que forma os trabalhadores ocupariam as suas horas de folga,

havendo o temor de que elas fossem ocupadas com atividades que pudessem

degradar moralmente a sociedade e frear a modernização do trabalho produtivo.

Ficando claro que as intervenções não tinham como finalidade a educação

politica do cidadão, o que nos faz refletir, que até certo ponto, as práticas de lazer

programadas pelo Estado podiam se tornar elementos poderosos de alienação e

docilização da população. Tendo a educação física uma participação importante

neste processo.

Enquanto que a Animação sóciocultural também conhecida como Animação

Comunitária surge do seguimento desses fatores sociais com o aumento do tempo

livre e a preocupação de como estaria sendo preenchido de forma criativa o lazer e

o ócio, uma discussão milenar, que ao longo da história chega a uma compreensão

do tempo de não se fazer nada, mas no viés da educação e de formação

permanente ao longo da vida em uma sociedade que desponta no domínio do

conhecimento e na inovação técnica, como também, o aumento do fosso cultural

entre as classes sociais promove outro perfil de atuação profissional de educação

física na área do lazer e áreas afins.

Por isso, vem se tornando uma estratégia educacional de mobilização dos

atores sociais para uma participação autônoma, voluntária, criativa e

corresponsável, imbuída de fundamentos e técnicas oriundos das ciências sociais

(antropologia, sociologia, psicologia, economia, entre outras) para contribuir numa

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ação sociopedagógica pela busca e intencionalidade de gerar processos de

participação de pessoas para a superação das problemáticas e consequências das

diferentes condições de acesso aos bens culturais, o surgimento das indústrias

culturais, através de um processo de fabrico, reprodução, difusão e venda em

grande escala de bens e serviços.

1.1 A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL EM LAZER E ANIMAÇÃO CULTURAL.

A preocupação com a formação do profissional de lazer se deu a partir da

difusão da área através do dialogo entre o Sesc e Estado, pois desde o inicio foi

essencial refletir sobre a formação destes profissionais dessa área que começava a

emergir. E pelas características veiculadas ao lazer o profissional da educação física

foi o que mais se aproximou dessa área. Como analisa-se em Marcellino (2007,

p.15)

Dar condições para que a população faça uso “adequado” de seu “tempo livre”, falar do prazer de dispor o corpo de outra forma, de cuidar dele, contê-lo, exercitá-lo, torneá-lo e adestrá-lo; na busca de um corpo veloz, produtivo, saudável que combate ao ócio, a doença, a moleza. Tal discurso, logo encontrou ressonância com os ideais defendidos pela Educação Física da época, o que culminou com o oferecimento de disciplinas de Recreação nos cursos de nível superior da área. O profissional de Educação Física foi considerado o mais apto a atuar no campo do lazer.

Atualmente quando falamos em formação em Lazer é possível identificar seis

categorias: cursos livres com curta duração, cursos específicos de nível superior,

inserção de habilidades em curso superior, e pós-graduação strictu-senso e latu-

senso e MBA. (MARCELLINO, 2007).

Os cursos de curta duração, em sua maioria, reforçam a ideia simplista do

lazer, pois vão de encontro à perspectiva de divertimento que se consolida cada vez

mais na sociedade a chamada “indústria do entretenimento” Marcellino (2001) apud

(IBIDEM, 2007, p.17 e 23), “visa “desviar a atenção de” o que nos parece bem

similar à política do “Pão e Circo” da antiga Roma. No entanto, tal perspectiva não

se limita, quando o autor, faz algumas considerações sobre a formação nas

universidades principalmente ligadas ao turismo, esporte e a cultura que estão

aquém mediante os conteúdos culturais abordados sob o enfoque de “Artes e

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Espetáculos”, empobrecendo as questões da administração no área da gestão, entre

outras ações recreacionais, vinculados aos interesses físico-esportivos.

Logo, há necessidade de desenvolver competências essenciais aos

profissionais que irão atuar na área de lazer, Isayama (2009, p. 408)

Essa formação para o lazer se dá por meio da construção de saberes e competências que devem estar relacionados ao comprometimento com os valores alicerçados em uma sociedade democrática; à compreensão do nosso papel social na educação para o lazer; ao domínio de conteúdos que devem ser socializados, a partir do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulações interdisciplinares; e por fim, ao conhecimento de processos de investigação que auxiliem no aperfeiçoamento da prática pedagógica e ao gerenciamento do próprio desenvolvimento de ações educativas lúdicas.

E neste contexto surge a Animação Sociocultural como estratégica politica do

lazer, que se inserem recursos da área da cultura, cinema, teatros, música, esportes

e etc., e ainda contemplada com uma ação educativa que possibilita os sujeitos ao

processo da emancipação com perspectivas da transformação social, tendo-se

como primícias o exercício a cidadania para a melhoria de vida e assim mudanças

nos planos cultural e social (IBIDEM).

Ao ampliarmos o acesso às mais diversas linguagens/manifestações, também

estaríamos contribuindo para estimular outros olhares, novas perspectivas de vida,

para propagar outros valores e compreensões sobre o mundo.

Nessa perspectiva, o fundamental é entender que o objetivo central da

animação sociocultural é fomentar nas pessoas, grupos ou comunidades atitudes

abertas e orientadas para a o envolvimento nas dinâmicas e nos processos sociais e

culturais que os constituem, sendo todos responsáveis pela construção dos

princípios norteadores da vida cotidiana (BERNET, 1997 apud ISAYAMA, 2009).

Contudo existem vários fatores problematizadores que dificultam as

discursões na área da animação sociocultural (MELO, 2007):

a) A forte tradição disciplinar que dificulta a construção de práticas acadêmicas

com as características multi e interdisciplinar;

b) Resistências ao termo “animador”, por ele estar, na tradição brasileira

relacionado a algo pouco sério, pois há um certo desconhecimento da

etimologia da palavra (do grego anima ou animus);

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c) Não possuir a formação especifica do profissional animador, e por a formação

do profissional de lazer ter se mostrado parcial e deficiente, assim dificultando

a formulação do campo acadêmico que possa alavancar a discussão no

Brasil.

Além desses fatores temos que considerar outras questões como, a tradição

histórica que confunde a atuação deste profissional com o simples oferecimento de

atividades recreativas; a compreensão de que qualquer um pode atuar na área do

lazer bastando ser carismático e saber muitas brincadeiras; as características

multifacetadas do mercado de atuação do profissional; a desvalorização do

profissional; e o perfil do profissional exigido (MELO, 2007).

Portanto, é necessário pensar em uma ação diferente da tradicional, sendo

necessário buscar subsídios que fundamentem uma ação profissional mais

abrangente e transformadora, logo o profissional de animação sociocultural deve

desenvolver ações a partir de uma perspectiva de resistência e de contra

hegemonia, no processo de luta emancipatória por parte dos segmentos populares e

marginalizados da sociedade (ISAYAMA, 2002).

O que na verdade acontece é que a indústria da cultura acaba “educando”

para um gosto restrito e limitado através dos meios de comunicação em massa e a

maioria da população por não ser educada a ter um olhar critico a estas vinculações

acaba se tornando uma grande consumidora do que é vendido por esta indústria. Ao

ampliarmos o acesso às diferentes linguagens/manifestações, também estaríamos

contribuindo para estimular outros olhares, difundir outros valores e compreensões

sobre o mundo.

É neste contexto que a animação sociocultural pode contribuir na tentativa de

transformar a sociedade e assumir o papel de agente de mudança social como

prever os fundamentos pedagógicos do programa segundo tempo. Pois desta forma

ao desenvolver o seu trabalho com as crianças, jovens do programa, ao

conscientiza-los, e incentivar sua participação ativa na sociedade ajudando a torna-

los protagonistas e atores principais de seu desenvolvimento pessoal e cultural, a

animação sociocultural (ASC) estará realizando sua função e o animador seu papel

de agente de mudança e transformação social.

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1.2 O LAZER E A ANIMAÇÃO SÓCIOCULTURAL NA AMÉRICA LATINA.

O lazer é um tema que ao longo do tempo desperta significativo interesse na

área da Educação Física amplamente difundido pela mídia como um dos fatores

fundamentais para a promoção da qualidade de vida – é anunciado como uma das

possibilidades multiprofissional mais “promissoras” do século XXI, apresentando a

Animação Sóciocultural como oportunidade de intervenção para formação

pedagógica nas diversas áreas do conhecimento (WERNECK; ISAYAMA, 2004).

Porém, Melo (2006) afirma em seus estudos que a animação sociocultural

ainda é um campo em construção no Brasil, pois existe um grande número de

experiências que dialogam com as reflexões dos autores ligados à temática, porém

o termo ainda é pouco utilizado. As referências são pouco conhecidas e o campo

acadêmico praticamente inexistente, onde segundo o autor podemos destacar

alguns fatores problematizadores, como já citamos anteriormente.

Para entendermos melhor esta construção vamos começar a dialogar com os

conceitos de animação sociocultural existente no continente europeu Ventosa (apud

Melo, 2007) classificada em três modalidades:

1. Modalidade cultural - promove a dinamização cultural, o desenvolvimento

da expressão e da criatividade e a formação cultural; sua metodologia é centrada na

atividade; seus espaços principais são casas e centros de cultura;

2. Modalidade social - promoção da participação, associativismo e

desenvolvimento comunitário; a metodologia é centrada no grupo ou na comunidade

e seus espaços principais são as associações e movimentos coletivos;

3. Modalidade educativa - desenvolvimento da motivação para a formação

permanente e a educação para o tempo livre; a metodologia é centrada nos

indivíduos. Melo (2007) nos diz que o conceito trabalhado no Brasil de animação é

o que contempla as três perspectivas, pois para o autor parece ser restritivo pensar

de forma separada as suas intencionalidades e seus enfoques, no entanto, a Europa

evolui com políticas e concepções culturais com três momentos distintos: a) A

cultura como saber: centrada no conjunto de saberes e conhecimentos, na

conservação do patrimônio cultural; b) a cultura como possuir, a democratização

cultural: centrada no conjunto de produtos que estão acessíveis, para a facilitação

do acesso; c) a cultura como ser, a democracia cultural: centrada no âmbito do

autodesenvolvimento, na facilitação para que todos produzam cultura.

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Analisa-se que grande parte dos países latino-americanos sofre uma grande

dependência da produção internacional, mesmo que ainda existam iniciativas de

resistência, pois a partir de 1960 cresce a difusão desenfreada de produtos advindos

de outros países principalmente os Estados Unidos, a incitação ao consumo, e a

valorização de certas formas de como ser e se portar. Pois era uma época em que a

maioria de nossos países encontrava-se dominados por ditaduras onde os norte-

americanos tiveram certo grau de influência. O período redemocratização destes

países a partir de 1980 é marcado pela “perda” de poder do Estado perante as

empresas/corporações, principalmente multinacionais, e pelo aumento do

desemprego, empobrecimento cultural e pela exacerbação do valor de consumo

(MELO, 2007).

A partir do século XX passamos a sofrer uma forte influência dos Estados

Unidos, sendo os vínculos de dependência não mais linearmente coloniais, mais

passam pela ideia de nos tornar em mercados consumidores de produtos

inicialmente alheios a nossa formação cultural (IBIDEM).

O repensar à construção de uma nova América-latina vai ter que enfrentar as

peculiaridades de nossa construção histórica, e nesse sentido perspectiva de

concepção de intervenção que englobe as três modalidades proposta por Ventosa,

considerando-se o conceito de “animação cultural” ser o mais adequado para definir

essa possibilidade em nossa realidade.

2 ANÁLISE E DISCUSSÃO: O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO.

O documento inicial a ser analisado relata a criação em 2003 do Programa

Segundo Tempo (PST), com o objetivo de “[...] Democratizar o acesso à prática e à

cultura do Esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças,

adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da

qualidade de vida.” (MINISTERIO DO ESPORTE, 2013).

Este por sua vez, apresenta-se com os seguintes objetivos específicos: (a)

Oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e adolescentes a

manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento integral; (b)

Oferecer condições adequadas para a prática esportiva educacional de qualidade.

Ele tem como estratégia operacional estabelecer parcerias institucionais com

entidades Publica e Privadas, sem fins lucrativos, que tenham mais de três anos de

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atuação na área de abrangência do programa e que disponham de condições

técnicas para executá-lo através de convênios com o Ministério do Esporte, visando

a implantação de Núcleos de Esporte Educacional (NED).(DIRETRIZES DO PST,

2011).

As atividades esportivas desenvolvidas nos NEDs devem ser de caráter

educacional e com os seguintes objetivos conforme prega os Fundamentos

Pedagógicos do PST 2008: desenvolvimento integral da criança e adolescente

desenvolvendo a consciência sobre o seu corpo, solidariedade, cooperação mutua e

respeito pelo coletivo, valores sociais e melhorias das qualidades físicas e

habilidades motoras, propiciando melhor qualidade de vida e desenvolvimento

social, diminuindo a exposição aos riscos sociais (drogas, prostituição, gravidez

precoce, criminalidade, trabalho infantil).

Para alcançar tais perspectivas o programa vem passando por reformulações

e atualizações desde sua criação, esta qualificação do programa fica a cargo das

estratégias desenvolvidas pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional

(SNEED). E uma dessas estratégias é a qualificação de todo material humano

(gestores, coordenadores, professores e monitores) envolvido no programa, logo

umas das consequências destas ações foi que a partir de 2007 foi exigido

graduação em Educação Física para todos os profissionais que coordenem os

núcleos e para os monitores das atividades (OLVEIRA E PERIM, 2009).

2.1 A POLÍTICA ENQUANTO PROJETO SOCIAL DE GOVERNO.

Para melhor se compreender as politicas publicas sociais implantadas por um

governo é fundamental termos clareza sobre a concepção de Estado e Governo, nos

quais se diferenciam sendo o primeiro constituído com as ações de “instituições

permanentes - órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um

bloco monolítico necessariamente – que possibilitam a ação do governo”; e o

segundo, “conjunto de programas e projetos oriundos da sociedade - políticos,

técnicos, organismos da sociedade civil e outros”, propostas que servem de

orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as

funções de Estado por certo período. (HOFLING, 2001, p.30).

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Outro, as politicas de Estado e politicas de Governo pelas contribuições de

Suassuna e Almeida (2007, p.6) nos orienta que é:

A política pública tem direta correlação com a questão da política de governo, desta forma, acaba por se definir de modo focal, sem, todavia, se dar conta da necessidade de continuidade das políticas. Enquanto isso, a política de Estado tem um caráter de continuidade, não pertence a aquele ou a este governo, pertence ao Estado e, portanto, contempla uma dimensão mais ampliada e que se relaciona com interesses sociais gerais.

Sendo assim, para que as ações e programas tenham continuidade são

necessárias que sejam implantadas politicas de Estado, sendo imprescindível a

adoção de um planejamento para que estas politicas contemplem os diferentes

setores, para não se tornarem politicas focais e terem continuidade. No Brasil é

notório os Governos não darem continuidade a politicas desenvolvidas por seus

antecessores, prejudicando assim a população atendida por estas ações.

A partir da análise documental, muitos destes programas e ações

desenvolvidos são com objetivo de assegurar e dar acesso há muitos direitos sociais

previstos na constituição brasileira e diminuir as desigualdades estabelecidas, pois o

art. 6º da Constituição Federal de 1988, que assim estabelece: “São direitos sociais

a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição”.

Direitos estes que deviam ser distribuídos de maneira igualitária na

sociedade, todavia grande parte destes não é exercida plenamente por todos os

brasileiros, sendo o nosso país marcado por desigualdades sociais profundas das

mais diversas ordens, contribuindo para a exclusão social de grande parcela da

sociedade brasileira.

Exclusão esta criada pelo próprio sistema vigente do Estado capitalista, pois

concordamos com Taffarel (2004, p.4) que nos diz que

Pertencer ou não, estar incluído ou não, estar excluído ou não, na escola, nas atividades culturais, sejam quais forem elas, em uma sociedade organizada em classes sociais requer sabermos a que classe social estamos nos referindo. Estamos nos referindo aos detentores dos meios de produção ou aos que vendem sua força de trabalho para poderem sobreviver? Estamos falando dos 20% da sociedade que detém mais de 70% dos bens, ou dos demais 80% que detém menos de 30% dos bens e dependem para sobreviver de

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um forte protagonismo do Estado na implementação de políticas públicas universalistas?

Sendo fundamental desta forma que os mais diversos membros da sociedade

estejam envolvidos na elaboração, planejamento e implantação das politicas sociais,

pois assim pode ser possível a sociedade criar mecanismos de assegurar seus

direitos. Pois a exclusão é reflexo de como o sistema capitalista organiza a produção

e distribuição dos bens produzidos pela sociedade, onde grande parte da sociedade

não tem acesso ao produzido por ela mesma.

Elas visam não à solução das desigualdades por ele criada, e sim apenas a

mediação dos problemas surgidos, pois os Estado capitalista cuida não apenas de

qualificar a mão de obra para o mercado, mais também através de politicas e

programas sociais, procura manter sobre controle a grande parcela da sociedade

não inserida no processo (HOFLING, 2001).

Sendo o Esporte e o Lazer utilizados como ferramentas para esta

manutenção e controle do sistema capitalista, através de inúmeras politicas e

programas implantados sem o devido planejamento e envolvimento dos mais

diversos atores da sociedade na sua elaboração e acompanhamento. Ficando claro

o caráter assistencialista e utilitarista atribuído ao Esporte e Lazer, recurso para

dissimular ou resolver mazelas sociais como fome, desemprego e violência, ou

como forma de privilegiar determinados indivíduos ou grupos através desta politica

(STAREPRAVO E MARCHI JUNIOR, 2009).

Se configurando desta forma um cenário preocupante, principalmente,

quando observamos que os governos tratam o esporte e lazer como um direito sem

tanta importância, tendo em vista a carência de outros direitos tratados como mais

importantes. Pois conforme Suassuna e Almeida (2007, p.17) “Embora se perceba

um considerável avanço em relação ao início de uma discussão que privilegie o

lazer enquanto um tema significativo tem-se, de outra parte uma carência de

programas e ações governamentais que sigam nesta direção”.

No aprofundamento da análise, dentro do atual governo quem tem esta

missão é o Ministério do Esporte através da Secretaria Nacional de Esporte,

Educação, Lazer e inclusão social, que tem como propósito, implantar diretrizes ao

Plano Nacional de Esporte e aos programas esportivos-educacionais, de Lazer e de

Inclusão Social; planejar, supervisionar, coordenar e realizar estudos

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compreendendo: o desenvolvimento das politicas, programas e projetos esportivos

educacionais de lazer e de inclusão social.

Estas ações visam responder as demandas sociais geradas em determinado

contexto histórico, e garantir e ampliar um direito constitucional, o Esporte e o Lazer.

Logo o esporte e o lazer devem ser vistos como politicas de Estado com vista o

desenvolvimento da nação e o fortalecimento da identidade cultural e da cidadania e

superação da realidade vivida.

2.2 A CONCEPÇÃO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NO PST.

A partir da intersetorialidade do Ministério do Esporte e da Educação, em

2009, houve a integração do Programa Segundo Tempo ao Programa Mais

Educação por se entender que os direitos constitucionais Educação e Esporte

devem ser garantidos a população, e também para ser disponibilizado um tempo

escolar ampliado de forma qualificada, acrescentando-se na segunda edição dos

Fundamentos Pedagógicos um capítulo sobre os Fundamentos do Lazer e da

Animação Cultural (OLIVEIRA E PERIM, 2009).

Os objetivos específicos do programa promove a inclusão, minimizando as

desigualdades, discriminação por condições físicas, sociais, de raça, de cor ou de

qualquer natureza que limitem o acesso à prática esportiva; Oferece aos alunos

conhecimentos e vivências da prática esportiva nas dimensões lúdica e inclusiva;

Amplia o tempo de permanência na escola; Fortalece hábitos e valores que

incrementem a formação da cidadania; Amplia o conhecimento sobre a prática

esportiva e suas relações com a cultura, educação, saúde e vida ativa e por fim,

contribui para a melhoria da qualidade da Educação Básica. (OLIVEIRA E PERIM,

2009).

Quanto às atividades, trará possibilidades de vivenciar o esporte não de

maneira restrita, e sim, buscam-se diálogos com as diversas áreas do conhecimento

– físico, artísticos, intelectuais, sociais e manuais, entendendo- o como manifestação

cultural. Ressalta, portanto, três questões a serem consideradas no planejamento e

desenvolvimento - desenvolver atividades prazerosas que envolvam o público sem

abandonar a perspectiva de formação e evitar reproduzir a lógica de esporte de

rendimento (IBIDEM).

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Animação Sociocultural é uma estratégia pedagógica que pode ser

empregada em diferentes contextos e espaços sociais e que possui uma finalidade

clara de intervenção - envolvimento da sociedade/comunidade interessada,

deixando de administrar para eles e sim em conjunto com eles, pois para a

efetivação de um projeto nesta perspectiva deve ser desenvolvido a partir do diálogo

entre o profissional e o público participante. Instaura-se a partir do desejo de

modificar a realidade e da compreensão de que uma atuação, no qual, dentro desta

perspectiva pode ser grande conquista coletiva.

Por isso, na visão do autor, o animador não pode querer controlar, “mas sim

tematizar e estimular o descontrole” Assim, o processo de educação se dá não pela

construção de ideias, mas pela “desconstrução de mentalidades e de olhares”. A

missão do mesmo é a de despertar nos indivíduos novas formas de compreender a

realidade, estimulando sua reflexão e possibilitando o questionamento do contexto

no qual está inserido. Portanto, ressalta-se, “todos devem ser contemplados,

respeitados e devem ter o direito de participar ativamente em todas as fases dos

projetos - preparação, execução, avaliação. (OLIVEIRA E PERIM, 2009, p. 61 e 63).

Porém, na continuidade da busca de analise nos documentos do programa e

no site do Ministério do Esporte não encontramos nenhum relato na fase de

implantação do projeto em que a sociedade tenha sido chamada para debater o

mesmo. Analisa-se uma falha dos administradores do programa, pois ao

desrespeitar o envolvimento da comunidade, corremos o risco de não se alcançar os

objetivos esperados e de se tornar uma ação ineficiente, pois é imprescindível que

as ações do programa sejam discutidas, planejadas, executadas e avaliadas por

toda a comunidade envolvida no programa.

Apesar de o programa propor que as atividades podem não ser

necessariamente articuladas ao esporte, em todos os exemplos citados no caderno

de fundamentos pedagógicos são relacionados ao esporte, entende-se que poderia

apresentar outros exemplos de conteúdos culturais do lazer (os interesses) na busca

de diversificar o programa, pois considerando que este é um material de apoio para

o desenvolvimento das atividades, corremos o risco das mesmas serem

desenvolvidas sempre em uma mesma direção, fragilizando desta forma o

programa, pois não estaríamos levando ao conhecimento do publico alvo a

variedade cultural de nosso país.

16

2.3 LAZER, ANIMAÇÃO SÓCIOCULTURAL E ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE

EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO.

O Programa Segundo Tempo faz referencia a postura do profissional

“Animador Cultural”, ressaltando que este terá que estar disposto a romper os limites

da sua formação acadêmica, tendo disposição para dialogar com profissionais de

outras áreas. Apresenta algumas características exigidas como: liderança,

comunicação, criatividade, organização, atualização e senso critico (OLIVEIRA E

PERIM, 2009).

Portanto o profissional deve estimular a participação crítica e ativa e dando

condições para o desenvolvimento dessas potencialidades, tendo em vista uma

superação qualitativa constante das propostas apresentadas, sendo assim a

perspectiva de mediação.

Sem dúvida, vai exigir que o animador seja um líder democrático e não

autoritário, pois o mesmo deverá ter a capacidade de inovar, criar e recriar suas

propostas através do dialogo com os participantes do programa, “buscando desta

maneira uma pratica responsável de inclusão social e de contribuição para

superação do status quo”. E para isso o caderno de fundamentos aponta os

conteúdos que o profissional deve ter domínio: Linguagens (esporte, artes plásticas,

músicas, cinema, teatro etc.); Lazer e cultura. (IBIDEM, p. 70).

É necessário que ele entenda o lazer não apenas ocupação do tempo

disponível, e sim como uma intervenção pedagógica, no âmbito da cultura, podendo

proporcionar além de prazer e diversão, a contribuição significativa de melhora de

vida do publico alvo. Desta forma, a cultura será entendida não somente como uma

série de manifestações, e sim como um conjunto de valores e normas,

compreendendo suas peculiaridades, importância e as diversas formas que se

apresenta na sociedade.

Logo, sob ponto de vista, um dos principais problemas para a consolidação da

proposta de Animação Sociocultural no Programa Segundo Tempo é a formação

deste profissional muito fragilizada, pois como vimos em Melo (2007) não se possui

em nível de graduação, uma formação especifica do profissional animador, e por a

formação do profissional de lazer ter se mostrado parcial e deficiente, que assim

dificulta a formulação do campo acadêmico para que possa alavancar a discussão

no Brasil.

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Pinto (1995 apud Isayama, 2002) fala da necessidade de formação de

profissionais para o campo do lazer, pautada em estudos mais aprofundados, o que

pode levar a maior compreensão do nosso cotidiano, considerando os diferentes

pontos de vista, interesses e conhecimentos que o englobam, sendo fundamental

para uma atuação eficaz e competente, pois assim, é possível transformar a ideia

limitada que as pessoas têm do lazer como simples divertimento e alcançar uma

consciência crítica, tanto do profissional como do participante, e, por outro lado,

caminhar para a reflexão (ALVES; MARCELLINO, 2008).

Como já vimos anteriormente o animador sociocultural tem que ter

determinadas características que o diferenciam dos demais profissionais, entre elas:

ser expansivo, criativo, dinâmico, flexível, interagir facilmente com pessoas de todas

as faixas etárias e níveis sociais, ser autêntico e natural no seu agir, e diplomático

nas situações de confronto. Ele deve também dominar a expressão corporal, não só

na teoria, mas igualmente na prática.

Da mesma forma é imprescindível que ele detenha um amplo equilíbrio de

suas emoções, já que irá trabalhar com os sentimentos alheios. Além de tudo, é

muito importante que o animador cultural seja alguém com profundo desejo de

mudança, com um alto senso de responsabilidade e critico.

Os profissionais comprometidos com essa visão precisam respeitar e

compreender a diversidade cultural, buscando a reflexão e a ampliação do seu

potencial crítico e criativo, tendo em vista a complexidade e o processo dinâmico de

nossa sociedade. A partir daí, torna-se possível descobrir novas formas de enfrentar

as barreiras socioeconômicas que dificultam a participação cultural no lazer

(WERNECK, 2000 apud ISAYAMA, 2002).

Então acredita-se que o Programa Segundo Tempo deveria oferecer um

curso de formação especifico para a atuação deste profissional, pois na analise

documental não se encontra nenhuma iniciativa para este fim, e sim, organização e

desenvolvimento pedagógico, procedimentos metodológicos, planejamento do

programa e por fim as planilhas de avaliações, auto avaliação e de fichas de

acompanhamento do aprendizado.

Nesse sentido, concorda-se com Isayama (2009, p.2) que uma formação “se

dá por meio da construção de saberes e competências que devem estar

relacionados ao comprometimento com os valores alicerçados em uma sociedade

democrática”. Pois se não for desta forma não se muda o perfil dos profissionais que

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atuam nessa área do conhecimento, fragilizando os projetos e programas que

trabalham com perspectiva de superação do status quo. Reitera-se com Melo (2007)

que o que vai diferenciar a animação, é sua preocupação com a organização

comunitária, pois a educação para o lazer só pode efetivamente se dar se articulada

com processos de mediação cultural, que contribuam para a formação de indivíduos

mais críticos perante o poder da mídia de massa e o sistema politico vigente.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa, para a qualificação profissional se abriu novos horizontes e

conhecimento sobre a animação sociocultural como estratégia pedagógica para

atuação do profissional de educação física à compreensão das possibilidades de

outras formas acerca das politicas públicas á sociedade, quando se tem o acesso há

alguns dos direitos constitucionais que deviam ser assegurados, no qual, o

profissional de educação física rompa com as barreiras de sua formação e com

prática tecnicista ainda muito encontrada nos espaços de intervenção de suas

ações.

Porém, consegue-se ter a clareza que estes projetos devem ser bem

planejados para que não se tornem politicas pontuais ou de governo, e que as

mesmas sejam alicerçadas em princípios democráticos e com objetivos de

transformação da realidade e não apenas assistencialistas.

A pesquisa não é terminal, e sim o inicio para novos debates nessa área de

animação sociocultural para uma atuação não apenas do profissional de educação

física, mais para o demais profissionais envolvidos nos programas e projetos de

politicas públicas. Diante das análises documentais, muito dos fundamentos

pedagógicos do programa não são colocados em prática, fragilizando assim um

programa de grande importância para sociedade.

Diante deste problema propomos que o programa consiga alcançar seus

objetivos através da animação sociocultural, o mesmo deve oferecer um curso de

formação especifico para esta atuação e crie mecanismos mais eficazes de

avaliação das ações do programa. Neste contexto tem fundamental importância o

profissional de educação física nos projetos sociais de esporte e lazer, pois há uma

associação histórica do lazer com as atividades físicas e esportivas.

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RECREATION PROGRAM SECOND TIME: A reflection from Sociocultural

Animation for the professional practice of physical education.

Abstract The article focuses on the study area of public policy, sports and recreation, and is under the basis of documentary research in critical-dialectical perspective, and has the purpose to understand and overcome the concerns raised about the Sociocultural Animation and the role of professional education physics program in the second half, this perspective is objective answer based on the analysis on the website of the Ministry of Sport and the documents produced (notebooks fundamentals, guidelines, etc.). by the program second time the following questions: what does the leisure from the perspective of socio-cultural activities to meet the social demands program Time According to the professional practice of physical education? What is design? What planning is developed? What professional profile is required? Problem: - How to develop the professional practice of physical education for social action in the leisure perspective of social animation in Second Half Program? Result: The leisure, under an approach of socio cultural, education and leisure by taking up the sport as a means and end of education. The planning and professional profile - democratization of practice with quality building spaces more participatory, critical and reflective and joints between sport and playfulness to expand access to different language / cultural training events, one leading to democratic dialogical practice. Finally, the program still needs to overcome and break through economic barriers, political and sociocultural as the action of the ideological use of sport and sport as a means of social mobility, and thus guarantee you as human development for the exercise of citizenship, interacting-the school, the family and the community in order to promote self-organizing community. Keywords: Leisure, Program, Animation, Performance and Physical Education. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, M. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas / Miriam Abramovay et alii. – Brasília, UNESCO, BID, 2002.192 p. ALVES, C.; MARCELLINO N. C. O profissional de educação física como animador sociocultural atuando nos clubes da cidade de americana-sp: Contribuições nas relações entre o lazer e a idade adulta. Unimep, 2008. Diretrizes do Programa Segundo Tempo. Disponível em : www.esporte.gov.br/segundotempo. Acesso em: 31 de Dezembro de 2012. HOFLING, Eloisa de Mattos. Estado e Politicas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, Campinas, v.21, n.55, nov/2001. ISAYAMA, F. H. Recreação e lazer como integrantes dos currículos dos cursos de graduação em Educação Física. Campinas, SP: [s. n.], 2002.

20

ISAYAMA, F. H. Atuação do Profissional de Educação Física no âmbito do Lazer: a Perspectiva da Animação Cultural. Motriz, Rio Claro, v.15, n.2, p.407-413, abr/jun.2009. MARCELLINO.C.N; SAMPAIO.V.M.T;CHABARIBERY.H.A; MACHADO.S (org.) Políticas públicas de lazer – formação e desenvolvimento de pessoal: os casos de Campinas e Piracicaba-SP .1.ed, Curitiba, PR: OPUS, 2007. MARCELLINO, Nelson C. (org.). Políticas Públicas de lazer. Campinas, Alínea, 2008. MELO, Victor Andrade de. Animação Cultural: conceitos e propostas. Campinas: Papirus, 2006. MELO, Victor Andrade de. Animação Cultural: Um ponto de vista desde o Brasil, um ponto de vista desde a América Latina. Iberoamericana, Brasil, v. 1, n. 1, 2007. MINISTERIO DO ESPORTE. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/snelis/segundotempo/default.jsp. Acesso em: 23 de abril de 2013. OLIVEIRA B.; PERIM G.L. (Org.) Fundamentos pedagógicos do Programa Segundo Tempo: da reflexão à prática, Maringá: Eduem, 2009. STAREPRAVO, F. A.; MARCHI JÚNIOR, W. Políticas públicas de esporte e lazer: conhecimento, intervenção e autonomia. UFPR, 2009. SUASSUNA D.; ALMEIDA A. Políticas públicas para o esporte e o lazer no Brasil (1996-2005). In: 30º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação E Pesquisa Sessão Temática 03 – Esporte, Política E Cultura, Brasília, 2007, P.1-24. TAFFAREL, C.Z. Políticas públicas e exclusão social: desconstruindo o discurso da inclusão para a construção da transformação social. In: XXV Encontro Nacional de Estudantes de Educação Física, Brasília, 24 A 31 de Julho de 2004, P.1-9. WERNECK.C.L.; ISAYAMA, H.F. (ORG.). Lazer recreação e educação física. Belo Horizonte, Autentica, 2004