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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Prof. Dr. Sérgio Assoni Filho
Introdução
* Art. 96 do CTN: a expressão “legislação tributária”
compreende leis, tratados e convenções internacionais,
decretos e normas complementares que versem, no todo ou
em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles relativas
> Enumeração meramente EXEMPLIFICATIVA, pois
todo ato normativo referente à matéria tributária integra
a expressão “legislação tributária”, desde a Constituição até
um mero ato normativo de caráter administrativo, desde seja
dotado de generalidade e abstração
* 1) LEI: espécie normativa editada com a finalidade de
inovar na ordem jurídica, criando novos direitos e/ou
obrigações aos destinatários de sua aplicação
- A) Lei em sentido estrito
> Previsão constitucional genérica - “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei” (Art. 5º, II da CF), e também específica,
pois os entes federativos não poderão “exigir ou aumentar
tributo sem lei que o estabeleça” (Art. 150, I da CF)
2
> “No taxation without representation”: só pagamos
os tributos que concordamos pagar, por meio de nossos
representantes eleitos (elaboradores das leis tributárias)
> Sujeição à “lei tributária”: Art. 97 do CTN: exata
amplitude desta restrição (Reserva Legal), determinando
que somente a lei poderá estabelecer:
a) Inciso I: instituição e extinção dos tributos
b) Inciso II: majoração e redução dos tributos
c) Inciso III: fato gerador e sujeito passivo
d) Inciso IV: alíquota e base de cálculo
e) Inciso V: penalidades por infrações cometidas
f) Inciso VI: hipóteses de suspensão, extinção e
exclusão do crédito tributário, bem como os casos de
dispensa ou redução de penalidades
> OBS: algumas matérias são exceções, escapando à
aplicação do princípio da estrita legalidade tributária, com
destaque para as seguintes:
a) Atualização do valor monetário da base de
cálculo: ressalva expressa do § 2º do Art. 97 do CTN.
Exemplo: atualização do valor venal do imóvel perante a
inflação, para fins de cobrar o IPTU (aplicação de índices
oficiais uniformes, tais como IGPM ou INPC) > pode ser
feita por Decreto
b) Fixação de prazo para pagamento: STF entende
que pode ser feita por Decreto
3
c) Alteração de alíquotas de alguns tributos:
IMPOSTOS EXTRAFISCAIS (II, IE, IPI, IOF):
aumentar ou reduzir alíquotas por Decreto Presidencial ou
Portaria do Ministro da Fazenda, pois a finalidade não é
arrecadatória, mas estimular/desestimular comportamentos
dos agentes econômicos (Art. 153, § 1º da CF)
CIDE-COMBUSTÍVEIS: reduzir ou restabelecer
alíquotas por Decreto Presidencial (Art. 177, § 4º, I, “b” da
CF)
ICMS-MONOFÁSICO incidente sobre combustíveis
definidos em Lei Complementar: reduzir ou restabelecer
alíquotas por Convênio celebrado entre Estados e DF, no
âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária -
CONFAZ (Art. 155, § 4º, IV, “c”)
- B) Medidas Provisórias
> STF: cabível a utilização de Medida Provisória em
matéria tributária, desde que:
a) requisitos constitucionais: relevância e urgência
(Art. 62, caput da CF)
b) aspectos tributários reservados pela Constituição à
regulamentação por Lei Complementar não poderão ser
regulamentados por MP (Art. 62, § 1º, III da CF)
4
Exemplos: definição do fato gerador, base de cálculo e
contribuintes dos impostos (Art. 146, III, “a” da CF); criação
de empréstimos compulsórios (Art. 148, caput da CF), etc.
> OBS: STF entende que cabe ao Poder Executivo
definir o que seja relevante e urgente na hora de editar uma
Medida Provisória > sistemática “desmoralização” dos
requisitos constitucionais da relevância e da urgência
- C) Leis Delegadas
> Lei Delegada pode regulamentar matéria tributária
(Poder Legislativo pode delegar a função de legislar sobre
tributos, quando assim for solicitado pelo Poder Executivo,
nos termos do Art. 68 da CF). Observadas as restrições
materiais impostas à “delegação”, constantes do § 1º, I, II e
III do Art. 68 da CF
- D) Resoluções
> Espécie normativa editada pelo Congresso Nacional
ou por cada uma de suas respectivas Casas (Câmara dos
Deputados e Senado Federal), as quais NÃO estão sujeitas
à sanção ou veto presidencial
> Em matéria tributária, destacam-se as Resoluções do
Senado Federal (Casa Legislativa de representação dos
interesses dos Estados-membros > especial importância na
preservação do pacto federativo, coibindo a “guerra fiscal”)
5
> São fixadas via Resoluções do Senado Federal:
a) ITCMD: alíquotas máximas (Art. 155, § 1º, IV)
b) ICMS: alíquotas interestaduais (Art. 155, § 2º, IV
da CF) e, facultativamente, as alíquotas internas - mínima
e máxima (Art. 155, § 2º, V, “a” e “b” da CF)
c) IPVA: alíquotas mínimas (Art. 155, § 6º, I da CF)
- E) Decretos Legislativos
> Espécie normativa editada pelo Congresso Nacional,
para regulamentar as suas competências exclusivas > as
quais NÃO estão sujeitas à sanção ou veto presidencial
> Em matéria tributária, destacam-se os Decretos
Legislativos editados para aprovar Tratados Internacionais
firmados pelo Presidente da República
- F) Decretos-Leis
> Espécie normativa NÃO prevista nesta Constituição,
pois foram substituídas pela edição de Medidas Provisórias
> Contudo, alguns Decretos-leis foram recepcionados
pela atual Constituição, estando ainda em vigor em matéria
tributária. Exemplo: Decreto-lei nº 37/1966, que disciplina
alguns aspectos importantes do Imposto de Importação
6
* 2) TRATADOS/CONVENÇÕES INTERNACIONAIS:
expressões sinônimas que expressam um acordo bilateral ou
multilateral entre Estados soberanos e/ou organizações
internacionais, com o intuito de gerar efeitos jurídicos,
inclusive em matéria tributária
> Trâmites para que um Tratado Internacional possa
gerar efeitos jurídicos no plano interno:
- a) celebração pelo Presidente da República (Art. 84,
VIII da CF)
- b) aprovação pelo Congresso Nacional, mediante
Decreto Legislativo (Art. 49, I da CF)
- c) ratificação pelo Presidente da República, mediante
depósito do respectivo instrumento
- d) promulgação pelo Presidente da República,
mediante Decreto Presidencial
- e) publicação do texto do Tratado Internacional no
Diário Oficial da União
> STF: é necessário cumprir todas essas etapas, para a
incorporação do Tratado Internacional à ordem jurídica
interna, momento em que passará a produzir efeitos
“domésticos”, pois terá vigência e executoriedade
> Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos,
quando aprovados em cada Casa do Congresso Nacional
(Câmara e Senado), em dois turnos de votação, por maioria
qualificada de três quintos de seus membros, equivalem às
Emendas Constitucionais (Art. 5º, § 3º da CF)
7
> Contudo, em matéria tributária, dificilmente tal
dispositivo terá aplicação prática, pois ele se restringe aos
Tratados Internacionais sobre “Direitos Humanos”, e no que
diz respeito ao Direito Tributário, os Tratados Internacionais
geralmente são celebrados para perseguir duas finalidades:
a) evitar bitributação internacional; b) estabelecer regras
de cooperação internacional contra a evasão fiscal
> STF: exceto Tratados Internacionais sobre “Direitos
Humanos” (equivalentes à Emenda Constitucional), os
demais serão incorporados ao nosso ordenamento com a
natureza de meras Leis Ordinárias
*** Art. 98 do CTN: tratados internacionais revogam
ou modificam a legislação tributária interna, e serão
observados pela que lhes sobrevenha
> Imprecisão terminológica do Art. 98 do CTN: as
normas constantes dos Tratados Internacionais sobre
tributação NÃO “revogam” nem “modificam” as normas de
nosso Direito Tributário interno, em vez disso, apenas
prevalecem quando são específicas
Exemplo: Brasil e Chile celebram Tratado Internacional
para evitar a bitributação da renda daqueles que vivem em
um dos países e trabalham no outro > as normas internas
sobre o IR de ambos os países não foram “revogadas” e nem
“modificadas” pelo Tratado, pois apenas prevalecerão as
normas do Tratado que forem específicas em relação às
normas gerais aplicáveis ao IR de cada país signatário
8
> Aplicação da REGRA DA ESPECIALIDADE:
norma especial prevalece sobre norma geral, sem que
haja revogação ou modificação
> Caso um país, valendo-se de sua soberania, deixe de
ser signatário (denúncia do Tratado Internacional), as suas
normas tributárias internas, até então incompatíveis com a
aplicação do Tratado, voltam a produzir efeitos imediatos,
de modo que os Tratados Internacionais sobre tributação,
quando muito suspendem a eficácia das normas tributárias
internas, somente naqueles pontos incompatíveis em razão
da aplicação da norma com maior especialidade, portanto,
NÃO se pode dizer que o Tratado Internacional “revoga” as
normas tributárias internas
> Quanto à parte final do Art. 98 do CTN (“serão
observados pela que lhes sobrevenha”), ressaltamos que a
sua interpretação literal leva a crer que o legislador
ordinário estaria impedido de legislar contra as normas
tributárias do Tratado da qual o Brasil seja signatário,
contudo, essa NÃO é a interpretação mais adequada do
dispositivo, pois, ressalvada a hipótese do Art. 5º, § 3º da CF
(Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos, que
equivalem à Emenda Constitucional), os outros equivalem
às simples Leis Ordinárias, de modo que deve prevalecer a
seguinte regra: norma ordinária posterior revoga norma
ordinária anterior, naquilo que for total ou parcialmente
incompatível (abrogação ou derrogação)
9
> Como regra, as normas do Tratado têm equivalência
com nossas leis ordinárias, razão pela qual o STF entende
que os Tratados Internacionais não podem regulamentar
matérias reservadas à edição de leis complementares >
maior restrição de sua aplicação em matéria tributária, tendo
em vista o disposto no Art. 146, I, II e III da CF
* 3) DECRETOS: Art. 84, IV da CF: Decretos são atos
normativos editados pelo PODER EXECUTIVO, com o
objetivo de “fiel execução das leis”, portanto, são atos
normativos secundários que não inovam na ordem jurídica,
pois se prestam apenas para disciplinar a aplicação das leis
(atos normativos primários)
> Art. 99 do CTN: o conteúdo e alcance dos Decretos
restringem-se aos das leis em função das quais eles sejam
expedidos (vedação de inovação na ordem jurídica via
Decreto), SALVO nos casos do Art. 84, VI da CF: a)
organização e funcionamento da administração federal; b)
extinção de funções ou cargos públicos vagos. Admissão
excepcional da expedição de “decreto autônomo”, cuja
edição independe de lei (ato normativo primário).
Entretanto, tais exceções não se referem à matéria
tributária, de modo que se pode afirmar NÃO existirem
“decretos autônomos” em Direito Tributário, mas apenas
“decretos regulamentares”, portanto, nos precisos termos
do Art. 99 do CTN
10
* 4) NORMAS COMPLEMENTARES: “complementam”
leis, tratados e convenções internacionais e decretos, na
forma do Art. 100 do CTN: a) atos normativos expedidos
por autoridades administrativas; b) decisões de órgãos
administrativos com eficácia normativa; c) práticas
reiteradas das autoridades administrativas; d) convênios
celebrados entre entes federativos
- A) Atos normativos expedidos pelas autoridades
administrativas (Art. 100, I do CTN)
> Normas editadas por servidores da Administração
Tributária de cada ente federativo, com objetivo de detalhar
e complementar a legislação tributária aplicável
> Observada uma hierarquia funcional capaz de
conferir uniformidade na atuação do Fisco em cada esfera
federativa, mediante a expedição de atos administrativos
normativos (genéricos e abstratos), que orientam e vinculam
as ações dos servidores hierarquicamente inferiores
> Tais atos administrativos normativos têm como
destinatário final os sujeitos passivos tributários, pois a sua
estrita observância exclui a imposição de penalidades, a
cobrança de juros de mora e a atualização do valor
monetário da base de cálculo do tributo (Art. 100, § único
do CTN)
11
- B) Decisões de órgãos coletivos e singulares de
jurisdição administrativa a que a lei atribua eficácia
normativa (Art. 100, II do CTN)
> Cláusula pétrea constitucional assegura o
contraditório e a ampla defesa, aos litigantes em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral (Art. 5º,
LV da CF): a Administração Tributária deve criar e manter
órgãos administrativos a quem os sujeitos passivos
tributários possam dirigir impugnações e recursos em face
das decisões proferidas nas esferas administrativas fiscais
> Tais órgãos administrativos NÃO exercem função
“jurisdicional” propriamente dita (o Brasil adotou a chamada
Unidade de Jurisdição, pois dizer o Direito aplicável aos
casos concretos é atribuição exclusiva do Poder Judiciário),
portanto, como REGRA, decisões de órgãos administrativos
vinculados ao Fisco NÃO integram a legislação tributária,
seja porque tais decisões são concretas (só produzem efeitos
em relação a determinado sujeito passivo), seja porque estes
órgãos integram a Administração Pública, grosso modo,
funcionando, ao mesmo tempo, como parte e julgador
> EXCEPCIONALMENTE os entes federativos
tributantes editam LEIS, aplicáveis ao âmbito de suas
respectivas competências, que atribuem eficácia normativa
às decisões proferidas por órgãos administrativos fiscais,
cuja observância torna-se obrigatória para o Fisco com
relação aos casos futuros semelhantes
12
> Portanto, havendo lei expressa que atribua eficácia
normativa às decisões dos órgãos administrativos fiscais,
estas farão parte da “legislação tributária” do respectivo ente
político, na condição de normas complementares
Exemplo: Estado de São Paulo possui lei específica que
atribui eficácia normativa às decisões do Tribunal de
Impostos e Taxas (TIT), seja por maioria qualificada de
dois terços dos votos, ou por homologação do Secretário da
Fazenda Estadual, de modo que as decisões proferidas por
estes órgãos de “jurisdição administrativa” integram a
legislação tributária do Estado de São Paulo
- C) Práticas reiteradamente observadas pelas
autoridades administrativas (Art. 100, III do CTN)
> Legislador abriu espaço para que os usos e costumes
sejam considerados “normas complementares” em matéria
tributária, desde que configurem práticas reiteradamente
observadas pelas autoridades administrativas, ficando
restritas ao caráter MERAMENTE INTERPRETATIVO,
pois os usos e costumes em matéria tributária NÃO podem
ser utilizados para inovar na ordem jurídica e muito
menos para revogar as disposições legais existentes
> Art. 100, § único do CTN: impede a aplicação de
penalidades, bem como a cobrança de juros de mora e a
atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo,
no caso de estrita observância das práticas reiteradamente
observadas pelas autoridades administrativas
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> Objetivo: garantir ao sujeito passivo que ele cumpra
as normas tributárias seguindo estritamente a interpretação
que o Fisco lhes der, inclusive, sem correr o risco de ser
penalizado caso a interpretação mude, pois eventuais
mudanças interpretativas só se aplicarão aos casos futuros
> Art. 146 do CTN: modificação introduzida, de
ofício ou em virtude de nova decisão administrativa ou
judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade
administrativa (Fisco), para fins de lançamento tributário, só
poderá ser feita com relação ao mesmo sujeito passivo da
obrigação quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à
introdução do novo critério
- D) Convênios que entre si celebrem a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios (Art. 100, IV do CTN)
> Os convênios celebrados entre os entes federativos
são acordos de vontade firmados para a consecução de seus
objetivos comuns > mútua colaboração na arrecadação e
fiscalização de tributos. Exemplo: permuta de informações
sigilosas constantes de seus bancos de dados em relação aos
contribuintes e uniformização de regras e procedimentos
visando à celeridade e otimização da arrecadação
> STF: convênios celebrados pelos Poderes Executivos
dos entes federativos tributantes NÃO precisam ser
ratificados pelos respectivos Poderes Legislativos, em
nome da Separação dos Poderes (Art. 60, § 4º, III da CF)
14
LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA: vigência e aplicação
* Validade / Vigência / Eficácia:
- A) VALIDADE: concluído o processo legislativo
(iniciativa legislativa, discussão e votação no Legislativo,
sanção ou veto do Executivo, promulgação e publicação), a
lei completa seu “ciclo de formação” e se presume válida >
presunção relativa (“juris tantum”), pois a validade pode ser
afastada por meio do controle de constitucionalidade
> Lei válida: processo de formação juridicamente
hígido: observância dos requisitos procedimentais exigidos
pelo ordenamento (aspecto formal), e compatibilidade com
o conteúdo da Constituição, na qualidade de fundamento de
validade de todo o ordenamento (aspecto material)
VÁLIDA é a lei formal e materialmente constitucional
- B) VIGÊNCIA: lei publicada tem existência jurídica e se
presume que todos conhecem o seu conteúdo, pois ninguém
se escusa de seu cumprimento alegando desconhecimento
(Art. 3º do Decreto-lei nº 4.657/42 - LINDB)
> Contudo, lei publicada somente obriga efetivamente
seus destinatários quando vigente: caberá ao legislador
determinar o momento em que tal lei entra em vigor, sendo
desejável que haja um lapso temporal entre a data da sua
publicação e a data da sua vigência (“VACATIO LEGIS”)
15
> “Vacatio legis” proporcional à importância da lei:
conteúdo de grande repercussão e sem urgência na produção
de efeitos (Exemplo: Lei 10.406/2002 - Código Civil, que
entrou em vigor um ano após a sua publicação). Por outro
lado, quando a lei não tiver grande repercussão ou houver
grande urgência na produção de efeitos, não será necessário
qualquer lapso temporal. (Exemplo: uso daquela cláusula:
“esta lei entrará em vigor na data de sua publicação”)
> Quando a lei não estabelece o momento para o
começo da produção de efeitos: haverá aplicação supletiva
do Art. 1º, caput e § 1º do Decreto-lei nº 4.657/42 - LINDB:
no País, 45 dias após a publicação, e, caso ela tenha
aplicabilidade no exterior, três meses após a publicação
VIGENTE é a lei válida que alcançou o momento
necessário à produção dos efeitos que lhe são próprios
- C) EFICÁCIA: momento a partir do qual a lei produz os
efeitos para os quais foi criada (justificam sua existência)
> Eficaz é a lei formal e materialmente constitucional
que alcançou o momento para a produção de seus efeitos e
que também produziu tais efeitos na prática
> OBS: a lei também pode estabelecer lapso temporal
entre sua vigência e eficácia: “eficácia diferida no tempo”.
Exemplo: observância das regras da anterioridade tributária
e da noventena (Art. 150, III, “b” e “c” da CF)
16
EFICAZ é a lei apta a produzir imediatamente os efeitos
jurídicos que lhe são próprios
> OBS: os conceitos de validade, vigência e eficácia se
aplicam não só às leis propriamente ditas, mas também a
todos os atos normativos (generalidade e abstração)
* VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA:
> Decreto-lei nº 4.657/42 (“Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro” - LINDB): norma de
“sobredireito” com aplicação também ao Direito Tributário,
observado o critério da especialidade > prevalecerão as
normas tributárias específicas, mas, na ausência destas,
serão aplicadas as normas da LINDB
> Art. 101 do CTN: “A vigência, no espaço e no
tempo, da legislação tributária rege-se pelas disposições
legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o
previsto neste Capítulo”
> Aparentes “conflitos normativos” que envolvem a
matéria tributária serão solucionados pela regra da
especialidade, aplicável nos âmbitos espacial e temporal
- A) Vigência Espacial: revela o ESPAÇO TERRITORIAL
em que vigora cada uma das normas integrantes da
expressão “legislação tributária”
17
> REGRA: territorialidade: cada ente federativo
tributante possui a demarcação de um território geopolítico,
dentro do qual poderá exercer suas competências tributárias
> normas tributárias expedidas pelo ente federativo só se
aplicam aos fatos geradores ocorridos no respectivo
território geopolítico
Exemplos: normas tributárias editadas pela União têm
vigência e aplicação em todo território nacional, normas
editadas pelo Estado de São Paulo têm vigência e aplicação
dentro dos limites territoriais deste Estado-membro e
normas editadas pelo Município de São Paulo têm vigência
e aplicação dentro de seus limites territoriais
> EXCEÇÕES à territorialidade (Art. 102 do CTN):
a) Convênios: acordos de vontade celebrados entre entes
federativos tributantes que reconheçam expressamente a
extraterritorialidade das legislações tributárias
Exemplo: convênio de fiscalização conjunta celebrado
entre os Municípios da região metropolitana de São Paulo, o
qual preveja que os procedimentos de fiscalização do ISS
previstos na lei paulistana serão aplicáveis a todos os
Municípios conveniados
b) Norma Geral Nacional: quando a União edita normas
gerais tributárias, nos termos do Art. 24, I e § 1º da CF,
aplicáveis à todas as esferas federativas (“NACIONAIS”)
18
> “Normas gerais” em matéria tributária são veiculadas
por lei complementar nacional (Art. 146, III da CF)
Exemplo: Art. 120 do CTN (“norma geral nacional” em
matéria tributária), em que o desmembramento territorial de
um ente federativo permite que o novo ente, criado a partir
do desmembramento, fique sub-rogado nos direitos do ente
desmembrado, até que o novo ente venha a editar a sua
própria legislação tributária
- B) Vigência Temporal: vigência é o momento no tempo a
partir do qual a norma tributária publicada estará apta à
produção dos efeitos que justificaram a sua edição
> Aplicação, também em matéria tributária, do
disposto no Art. 8º da LC nº 95/98: a vigência pode ser
imediata, na data da publicação da lei (a própria lei dispensa
o período da “vacatio legis”), ou após um lapso temporal
(período de “vacatio legis” expressamente previsto na lei ou
decorrente da aplicação supletiva do Art. 1º e § 1º do
Decreto-lei nº 4.657/1942 - LINDB)
> Art. 103 do CTN: estabelece regras específicas para
determinar a data da vigência das normas complementares
em matéria tributária (aqueles atos normativos de origem
administrativa, previstos no Art. 100 do CTN, que integram
a “legislação tributária”):
19
- a) atos normativos expedidos pelas autoridades
administrativas: salvo disposição em contrário, entram em
vigor na DATA DA PUBLICAÇÃO
- b) decisões dos órgãos singulares ou coletivos de
jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia
normativa: salvo disposição em contrário, entram em vigor
30 DIAS APÓS A DATA DA PUBLICAÇÃO
- c) convênios que entre si celebrem os entes federativos:
salvo disposição em contrário, entram em vigor na DATA
NELES PREVISTA. Sendo certo que, caso não haja
nenhuma disposição e o convênio nada estabeleça sobre a
data da vigência, aplica-se supletivamente a LINDB
> OBS: quanto às práticas reiteradamente
observadas pelas autoridades administrativas, embora
também consideradas “normas complementares” em matéria
tributária, NÃO há regra prevista no Art. 103 do CTN,
justamente porque elas decorrem dos usos e costumes,
portanto, serão consideradas vigentes apenas quando houver
uma consciência geral de sua obrigatoriedade
* APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA:
> A legislação tributária é composta por um conjunto
de normas GERAIS e ABSTRATAS sobre tributos e
relações jurídicas que dizem respeito aos tributos
20
a) NORMA GERAL: norma que não tem destinatários
determinados, ou seja, a norma é aplicável a todos que se
encontram nas situações previstas
b) NORMA ABSTRATA: norma que não diz respeito a
situações concretas, isto é, as situações são previstas
hipoteticamente e só geram as consequências estabelecidas
se as hipóteses se verificarem no mundo concreto
> Art. 105 do CTN: regulamenta a irretroatividade
tributária: regra de que a lei tributária:
- a) NÃO se aplica aos fatos passados, os quais não
constituem “fatos geradores”
- b) aplica-se aos fatos futuros, caso eles venham a ocorrer
no mundo concreto: FATOS INSTANTÂNEOS. Exemplo:
Imposto de Importação (incidência na data da entrada da
mercadoria no território nacional)
- c) aplica-se aos fatos pendentes, cuja ocorrência se
iniciou, mas ainda não se completou: FATOS PERIÓDICOS
ou COMPLEXIVOS. Exemplo: Imposto de Renda (diversas
manifestações de riqueza durante todo o ano, mas a lei
considera apenas determinada data como a de incidência)
> Artigo 106 do CTN: EXCEÇÕES à aplicação da
regra da irretroatividade tributária:
21
> NÃO existem exceções CONSTITUCIONAIS à
irretroatividade da LEI TRIBUTÁRIA, nos termos do Art.
150, III, “a” da CF, pois não há nenhuma hipótese de
cobrança tributária com relação a fatos ocorridos ANTES
DA VIGÊNCIA da lei que instituiu ou aumentou tributos
> Contudo, o CTN possui maior abrangência, porque
trata da irretroatividade da LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA,
caso em que são admitidas DUAS EXCEÇÕES, uma vez
que elas NÃO se referem à RESERVA LEGAL (instituição
ou majoração de tributos):
- A) Lei Expressamente Interpretativa (Art. 106, I do
CTN): refere-se ao método hermenêutico conhecido como
interpretação autêntica (a interpretação da norma cabe ao
responsável pela elaboração da própria norma)
> A lei será “expressamente interpretativa” quando:
1) o dispositivo interpretado faz parte da própria lei
que o interpreta, pois, neste caso, não é cabível se falar em
violação à irretroatividade pois o dispositivo interpretado e
o dispositivo responsável pela sua interpretação constam da
mesma lei, portanto, entram em vigor na mesma data
Exemplo: Art. 32, caput do CTN define que os imóveis
urbanos estão sujeitos à incidência do IPTU e o § 1º do Art.
32 do CTN estabelece critérios capazes de esclarecer o que
possa ser entendido por um imóvel “urbano”
22
2) são editadas leis diferentes em datas diferentes,
mas a lei posterior contém dispositivos que se referem
aos dispositivos da lei anterior a fim de esclarecer seu
conteúdo e facilitar sua aplicação, caso em que não é
cabível se falar em violação à irretroatividade, desde que a
lei posterior não introduza inovações à ordem jurídica
Exemplo: Lei Complementar nº 118/2005, editada para
adaptar os dispositivos do CTN à nova Lei de Falências (Lei
nº 11.101/2005), tais como o Art. 191 do CTN que teve sua
redação alterada apenas para esclarecer que a extinção das
obrigações do falido também requer a apresentação de prova
de quitação de todos os tributos
- B) Lei mais benéfica sobre Infrações e Penalidades (Art.
106, II do CTN): decorrente da influência do Direito Penal
> No Direito Tributário também é aplicável a lei mais
benéfica em matéria de infrações e penalidades, entretanto,
diferentemente do Direito Penal, a lei mais benéfica NÃO
alcança os atos definitivamente julgados, de modo que,
havendo o trânsito em julgado, a matéria tributária objeto da
decisão não será alcançada nem mesmo pela lei mais
benéfica.
> STJ: em matéria tributária, há julgamento definitivo
apenas no final da ação de execução fiscal, correspondente
à realização da arrematação, adjudicação ou remição
23
> A retroatividade da lei mais benéfica é aplicável
somente às INFRAÇÕES e às PENALIDADES, nos
exatos termos das alíneas “a”, “b” e “c” do inciso II do Art.
106 do CTN, em outras palavras, a lei mais benéfica NÃO
alcança os TRIBUTOS DEVIDOS
Exemplo 1: a multa pela não apresentação da
declaração de IR, no prazo fixado em lei, é de R$ 165,00.
Caso venha a ser editada lei mais benéfica que estabeleça
uma multa de R$ 100,00, o contribuinte que ainda não
pagou a multa será beneficiado e poderá pagar R$ 100,00
Exemplo 2: a alíquota máxima de IR é de 27,5%. Caso
venha a ser editada lei mais benéfica que estabeleça uma
alíquota máxima de 20%, isso não exime o contribuinte de
pagar o que era devido segundo a lei vigente no momento
da ocorrência do fato gerador (acréscimo patrimonial), de
modo que continuará devendo os 27,5%
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
* INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
> Toda norma precisa ser interpretada, por mais claro
que seja o seu texto, inclusive em matéria tributária, para
tanto, são utilizados métodos e fontes de interpretação:
24
- MÉTODOS de interpretação:
a) Literal ou Gramatical: parte do significado literal das
palavras constantes do texto da norma, levando em conta a
função gramatical das palavras (sentido léxico da norma)
b) Sistemática: parte da ideia de sistema ou ordenamento,
isto é, a norma não pode ser interpretada isoladamente, mas
em conjunto com as demais normas integrantes do sistema
em que elas estão inseridas, de modo a afastar as
contradições (antinomias jurídicas)
c) Teleológica: parte do entendimento da finalidade da
norma, isto é, qual é o objetivo a ser alcançado que
justificou a sua inclusão no ordenamento
d) Histórica: parte da análise dos precedentes históricos,
isto é, do contexto político, econômico, social e cultural
presentes no momento da edição da norma
> Os métodos de interpretação não são excludentes, em
vez disso, são CUMULATIVOS, pois eles se completam,
podendo ser utilizados todos ao mesmo tempo, sempre no
intuito de melhor revelar o verdadeiro sentido e alcance das
normas: não existe hierarquia entre métodos interpretativos
- FONTES de interpretação:
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a) Autêntica: interpretação da norma é feita por quem a
elaborou
b) Doutrinária: interpretação da norma é feita pelos
estudiosos especializados em Direito
c) Judicial: interpretação da norma é feita pelos órgãos do
Judiciário (Juízes e Tribunais)
d) Administrativa: interpretação da norma é feita por
integrantes da Administração Pública (agentes públicos),
organizados hierarquicamente em carreira, no intuito de
executá-la fielmente
> Quanto aos EFEITOS (“resultados”), a interpretação
das normas pode ser:
a) Declaratória: intérprete conclui que há exata
coincidência entre aquilo que o legislador quis dizer e
aquilo que constou no texto legal > não deve haver
nenhuma correção interpretativa quanto ao conteúdo ou
alcance da norma. Exemplo: rol dos impostos de cada ente
b) Extensiva: intérprete conclui que o legislador disse
menos do que pretendia dizer e o texto legal deixou de
regular situações que deveriam ser reguladas > necessária
uma correção interpretativa quanto ao conteúdo ou alcance
da norma, que deve ser AMPLIADO para abranger situações
não reguladas. Exemplo: imunidade tributária religiosa
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c) Restritiva: intérprete conclui que o legislador disse
mais do que pretendia dizer e o texto legal passou a
regular situações que não deveriam ser reguladas >
necessária uma correção interpretativa quanto ao conteúdo
ou alcance da norma, que deve ser RESTRINGIDO para não
abranger situações reguladas. Exemplo: Art. 97, II do CTN
exige lei para a majoração e redução dos tributos, contudo, a
“reserva legal” deve ser estritamente observada apenas para
proteger o contribuinte de mudanças que agravam a sua
situação, portanto, ela só é exigida para a majoração, mas
não para a redução dos tributos, pois esta última pode ser
feita, por exemplo, mediante a edição de simples Decreto
> OBS: os supramencionados métodos, fontes e efeitos
interpretativos se aplicam à LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA,
entretanto, prevalecendo o disposto em normas tributárias
específicas > Art. 107 do CTN: “A legislação tributária será
interpretada conforme o disposto neste Capítulo” (referente
ao Capítulo VI, que veicula os Artigos 107 a 112 do CTN)
* NORMAS INTERPRETATIVAS ESPECÍFICAS - CTN:
- A) Interpretação Literal de Institutos Tributários: com
o objetivo de evitar analogias e interpretações extensivas, o
CTN estabeleceu que normas referentes a alguns institutos
tributários, os quais veiculam situações excepcionais, devem
ser interpretadas de forma LITERAL (forma RESTRITA),
ou seja, sem que haja a possibilidade de ampliação de seu
conteúdo ou alcance por parte do intérprete
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> Art. 111 do CTN: rol taxativo, que exige a
interpretação literal da legislação tributária referente à:
a) suspensão ou exclusão do crédito tributário (Art. 111, I
do CTN)
b) outorga de isenção (Art. 111, II do CTN)
c) dispensa do cumprimento de obrigações tributárias
acessórias (Art. 111, III do CTN)
- B) Interpretação Benéfica em Matéria de Infrações:
decorrente da influência do princípio do “in dubio pro reo”
do Direito Penal, no sentido de que, na dúvida, deve ser
adotada a interpretação mais benéfica à pessoa acusada de
cometer uma infração
> Art. 112, I a IV do CTN: aplica-se a interpretação
mais favorável ao acusado, quando a lei tributária define
infrações ou comina penalidades e haja DÚVIDA quanto à:
a) capitulação legal do fato; b) natureza ou às circunstâncias
materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos;
c) autoria, imputabilidade ou punibilidade; d) natureza da
penalidade aplicável ou à sua graduação
> A interpretação mais benéfica somente se aplica à lei
tributária que disciplina matéria relacionada às infrações e
às penalidades
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Exemplo: havendo dúvida quanto ao enquadramento
em algum dos ilícitos tributários tipificados na Lei nº
8.137/1990 (crimes contra a ordem tributária), será aplicada
a penalidade correspondente à infração menos grave
> ATENÇÃO: a interpretação mais benéfica NÃO SE
APLICA à lei tributária que disciplina o próprio tributo
(por exemplo, quando a lei tributária define o fato gerador, a
alíquota, a base de cálculo ou o sujeito passivo), pois, neste
caso, prevalece a seguinte concepção: “na dúvida, resolva-se
a dúvida”, isto é, dúvidas surgidas deverão ser suprimidas
por meio dos métodos interpretativos existentes, podendo
resultar na aplicação da lei tributária de forma benéfica ou
prejudicial ao contribuinte, pois, quanto à regulamentação
dos tributos, não prevalece nenhuma regra interpretativa
preexistente (nem “in dubio pro contribuinte” e nem “in
dubio pro Fisco”)
- C) Princípios de Direito Privado e de Direito Público:
> Há tradicional classificação doutrinária que divide as
Ciências Jurídicas entre Direito Público e Direito Privado,
figurando o Direito Tributário como um dos ramos do
Direito Público e, nesta qualidade, estando também sujeito
à observância dos dois sustentáculos do assim chamado
regime jurídico “publicístico”, quais sejam: a) supremacia
do interesse público sobre o privado; b) indisponibilidade
do interesse público
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> Esses pilares “publicísticos” serão observados mesmo
quando a legislação tributária utilizar o Direito Privado para
definir ou limitar as competências tributárias. Exemplo: Art.
156, II da CF delimita a competência tributária para a
cobrança de ITBI, valendo-se de institutos de Direito Civil
(Direito Privado)
> Art. 109 do CTN: os princípios gerais de Direito
Privado serão usados na pesquisa da definição, do conteúdo
e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas
NÃO para a definição dos respectivos efeitos tributários
> Art. 110 do CTN: lei tributária NÃO pode alterar a
definição, o conteúdo e o alcance dos institutos, conceitos e
formas de Direito Privado utilizados, expressa ou
implicitamente, na Constituição Federal, nas Constituições
Estaduais e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios, para definir ou limitar competências tributárias
Exemplo: Art. 3º, caput e § 1º da Lei nº 9.718/1998
estabelecia um conceito muito mais amplo para o instituto
“faturamento” do que aquele comumente utilizado no
Direito Privado (Civil e Comercial), ampliando assim,
indiretamente, a competência tributária da União para
arrecadar PIS e COFINS (tributos incidentes sobre o
faturamento), isto é, a ampliação do conceito privado de
faturamento visou alterar os respectivos efeitos tributários
(ampliar a arrecadação destes tributos), razão pela qual o
STF declarou tal dispositivo inconstitucional
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* PRINCÍPIO DO “PECUNIA NON OLET”:
> Origem histórica no Império Romano, durante o
Governo de Vespasiano (ano de 69 d. C.), quando foi
instituída uma taxa para utilização dos banheiros públicos.
Contudo, Tito (filho de Vespasiano), ficou indignado com
esta cobrança e foi questionar seu pai, o qual segurou uma
das moedas de ouro arrecadada com a utilização dos
banheiros públicos e lhe perguntou “olet?” (cheira?), e seu
filho respondeu “non olet!” (não cheira!)
> Para o direito tributário NÃO importa a situação que
deu origem ao fato gerador, nem mesmo se decorrente de
atividades ilícitas. Exemplo: o acréscimo pecuniário obtido
com trabalho honesto ou com atividades ilícitas igualmente
será objeto de incidência do IR (Exemplo: o mafioso Al
Capone foi preso por sonegação fiscal do IR)
> Art. 118, I e II do CTN: a definição legal do fato
gerador é interpretada ABSTRAINDO-SE (“sem levar em
conta”) a validade jurídica dos atos praticados, a natureza
do objeto e os efeitos dos fatos efetivamente ocorridos
> Art. 126 do CTN: a capacidade tributária passiva é
determinada unicamente pelo legislador, portanto, ela
INDEPENDE da capacidade das pessoas físicas e jurídicas
conforme estabelecido nas normas de Direito Civil
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* INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA:
> Do ponto de vista dinâmico, o ordenamento jurídico
NÃO possui LACUNAS, pois, quando existirem na prática,
o ordenamento estabelecerá REGRAS de INTEGRAÇÃO
aptas ao preenchimento destas lacunas (“colmatação”)
> PLENITUDE do SISTEMA JURÍDICO: o juiz não
deixa de julgar alegando que não há norma específica para a
resolução de um caso concreto (proibição do “non liquet”),
exatamente porque o ordenamento indicará a providência a
ser tomada, no caso de inexistência de norma expressa
> REGRA GERAL para o preenchimento das lacunas:
Art. 4º da LINDB (Decreto-lei nº 4.657/1942): “Quando a
lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito”
> No Direito Tributário, há REGRA ESPECÍFICA de
integração das lacunas, que prevalece sobre o disposto na
regra geral constante da LINDB, portanto, esta última deixa
de ser aplicada em matéria tributária!
> Regra específica tributária é a do Art. 108 do CTN,
nos seguintes termos: “Na ausência de disposição expressa,
a autoridade competente para aplicar a legislação tributária
utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia;
II - os princípios gerais de Direito Tributário; III - os
princípios gerais de Direito Público; IV - a equidade”
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> Esse dispositivo tributário de integração de lacunas
será aplicado pelas autoridades FISCAIS e JUDICIÁRIAS,
ou seja, ele se destina ao aplicador da lei tributária no caso
concreto, seja no âmbito administrativo ou judicial
> A sequência apresentada no Art. 108 do CTN é
TAXATIVA, porque não admite outras técnicas integrativas
além das discriminadas (“numerus clausus”), bem como é
HIERARQUIZADA, porque as técnicas integrativas são
fixadas em uma ordem preestabelecida e sucessiva:
a) 1ª técnica: analogia: casos semelhantes àqueles
expressamente regulamentados
b) 2ª técnica: princípios gerais de Direito Tributário:
capacidade contributiva; não confisco; liberdade de tráfego;
não discriminação pela procedência ou destino; etc.
c) 3ª técnica: princípios gerais de Direito Público:
supremacia do interesse público sobre o particular;
indisponibilidade do interesse público; contraditório; ampla
defesa; unidade da jurisdição; etc.
d) 4ª técnica: equidade: solução mais justa, no
entendimento do julgador
> LIMITAÇÕES INTEGRATIVAS deste dispositivo:
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- 1) técnicas integrativas sucessivas, preferindo aquelas de
MENOR discricionariedade às de maior discricionariedade
(Art. 108, caput e incisos I a IV do CTN)
- 2) NÃO abandono da estrita LEGALIDADE, pois:
a) a ANALOGIA não pode resultar na exigência de
tributo não previsto em lei (Art. 108, § 1º do CTN).
Exemplo: navio brasileiro captura peixes em alto-mar e
retorna ao território brasileiro aduaneiro, apesar da
semelhança das operações sobre as quais incide o Imposto
de Importação, neste caso, não há incidência deste imposto,
pois o pescado em alto-mar não é “mercadoria estrangeira”,
portanto, não corresponde à hipótese de incidência legal
b) a EQUIDADE não pode resultar na dispensa do
pagamento de tributo devido (Art. 108, § 2º do CTN).
Exemplo: situações tributárias que pareçam injustas ao
aplicador da lei no caso concreto não permitem que ele
dispense o contribuinte da cobrança do tributo, sem que haja
uma norma específica que tenha lhe concedido tal isenção