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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP UNESP-Franca. 06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom. LEGITIMANDO A MODERNIDADE: A ARQUITETURA ECLÉTICA DE FILINTO SANTORO Alexandre Martins de Lima Universidade da Amazônia UNAMA Faculdade de Estudos Avançados do Pará FEAPA Doutorando do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NAEA/UFPA [email protected] Ana Carolina Soares Ferreira de Lima Universidade da Amazônia UNAMA [email protected] 1.0 Considerações Iniciais As transformações sócio-econômicas, políticas e urbanas ocorridas na Europa, mais precisamente na cidade de Paris, no século XIX, atingiram a população sem definição de classe social, posição política e credo. Nesta massa atingida por essas modificações, pode-se citar o autor Charles Baudelaire, que ao mesmo tempo em que escrevia seus poemas, o prefeito do distrito do Sena, Eugéne Haussmann, fazia incisões precisas na cidade, como se fosse um “cirurgião urbano”, modificando o aspecto medieval de Paris. Abriu grandes e largas avenidas, os famosos bulevares, que funcionariam como as principais artérias da cidade. Nesses bulevares foram construídas largas calçadas, e sobre elas, os famosos cafés que hoje ainda hoje emolduram as principais vias de Paris. As fachadas reluzentes em função da nova tipologia arquitetônica, a pavimentação, as pessoas que ali circulavam, tornavam esses bulevares mais atrativos, passando a ser um local de convivência social desfrutado pela classe hegemônica, a burguesia, desejosa de novos espaços condizentes com sua nova posição sócio-econômica. Tais alterações ocorridas nas grandes capitais européias, que depois se espraiaria pelo mundo, foram conseqüências da Revolução Industrial, dentre elas

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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.

06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom.

LEGITIMANDO A MODERNIDADE: A ARQUITETURA ECLÉTICA DE

FILINTO SANTORO

Alexandre Martins de Lima

Universidade da Amazônia – UNAMA

Faculdade de Estudos Avançados do Pará – FEAPA

Doutorando do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA/UFPA

[email protected]

Ana Carolina Soares Ferreira de Lima

Universidade da Amazônia – UNAMA

[email protected]

1.0 Considerações Iniciais

As transformações sócio-econômicas, políticas e urbanas ocorridas na Europa,

mais precisamente na cidade de Paris, no século XIX, atingiram a população sem

definição de classe social, posição política e credo. Nesta massa atingida por essas

modificações, pode-se citar o autor Charles Baudelaire, que ao mesmo tempo em que

escrevia seus poemas, o prefeito do distrito do Sena, Eugéne Haussmann, fazia incisões

precisas na cidade, como se fosse um “cirurgião urbano”, modificando o aspecto

medieval de Paris. Abriu grandes e largas avenidas, os famosos bulevares, que

funcionariam como as principais artérias da cidade.

Nesses bulevares foram construídas largas calçadas, e sobre elas, os famosos

cafés que hoje ainda hoje emolduram as principais vias de Paris. As fachadas reluzentes

em função da nova tipologia arquitetônica, a pavimentação, as pessoas que ali

circulavam, tornavam esses bulevares mais atrativos, passando a ser um local de

convivência social desfrutado pela classe hegemônica, a burguesia, desejosa de novos

espaços condizentes com sua nova posição sócio-econômica.

Tais alterações ocorridas nas grandes capitais européias, que depois se

espraiaria pelo mundo, foram conseqüências da Revolução Industrial, dentre elas

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figuram o surgimento de uma nova produção – a maquinofatura, substituindo a

manufatura e produções que eram até então artesanais, o estabelecimento de indústrias

nas cidades, o fechamento dos campos através da “política dos cercamentos1”, o grande

êxodo rural da massa de desempregados que rumava às cidades em busca de empregos e

conseqüentemente o acúmulo dessa massa de trabalhadores no centro das cidades

devido à procura de oportunidades. Com a migração, o centro da cidade foi lentamente

abandonado por seus antigos habitantes e ocupados por outros novos, que engrossavam

uma massa de pessoas de parcos recursos ,tornando o centro decadente, onde a falta de

higiene e saneamento imperavam e a conseqüência disso foi o afastamento da elite,

antiga moradora dos centros das grandes cidades européias.

Surgem então planos urbanísticos, como o de Haussmann e Cerdá, com claras

intenções ordenadoras e higienistas. Através deles, as cidades começaram a renovar a

sua aparência, não só para tratar os problemas advindos de um novo paradigma, mas

também, para que a fisionomia das mesmas passassem a refletir as novas idéias liberais,

progressistas e civilizadas. As cidades passariam a ser então, modernas. Em meio a

todas essas mudanças, a arquitetura se destacava e desempenhava um papel de extrema

importância. Desde os primeiros momentos da “modernidade” ela se fez presente, e foi

um elemento que, em conjunto com outros, como a luz elétrica, os bondes, o

cinematógrafo e o telégrafo sem fio, permitiu reconfigurar o espaço das antigas cidades,

onde puderam ser desenvolvidas as novas relações econômicas e sociais transformando

o espaço das cidades, que paulatinamente se transmuta em “locus” da modernidade.

No momento em que as novas idéias de reformulação urbana, iniciadas pelo

plano urbanístico de Pari chegaram ao Brasil, a escravatura no país chegava ao fim, a

República estava se estabelecendo e a decadência do Império levava consigo as

estruturas físicas arcaicas das cidades. Já a elite econômica, estava em uma crescente

ascensão decorrente de alguns ciclos econômicos em algumas capitais das regiões

sudeste, norte e nordeste, como o do café, o da cana de açúcar e o da borracha.

No norte do Brasil essas transformações puderam ser observadas em Manaus e

em Belém, cidades que foram beneficiadas por uma forte economia baseada na

1 Política onde as terras passaram a ser delimitadas e não poderiam mais ser plantadas por constituírem

espaço para a criação de gado ovino, e fornecer matéria prima para a indústria têxtil que se estabelecia.

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exportação do látex, produzindo alteridades em sua fisionomia trazendo consigo novos

comportamentos e configurações sócio-espaciais. Uma vez que esta elite enriquecida

pelo comércio da borracha (seringalistas e aviadores) demandava novos padrões de

vida, novos hábitos e uma cidade que refletisse modelos urbanísticos em voga na

Europa. Com efeito, as modificações ocorridas em Belém fizeram com que a cidade se

“modernizasse”, e em meio a todas essas mudanças, a arquitetura também estava

presente e trouxe consigo o estilo eclético que pontuou esta fase progressista e

desenvolvimentista que estava surgindo.

Considerável número de profissionais europeus vieram para no Brasil do final

do século XIX e início do século XX. Nesse período no norte do país, destaca-se a

importância do engenheiro italiano Filinto Santoro, que trabalhou no Brasil por mais de

20 anos e que além de trabalhar em outros estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo

e Manaus, imprimiu também na arquitetura belenense um novo padrão estético,

condizente com o zeitgeist2 e o discurso nitidamente progressista do Poder Público.

2.0 – Modernidade

Inicialmente, pode-se descrever a modernidade como um estilo, um costume de

vida que pode ser associada a um período histórico – passado e presente. O ser humano

de hoje, conhecido como o “homem moderno”, assim como, o ser humano do século

passado, o “homem antigo”, geralmente associa o moderno ligado exclusivamente ao

progresso material, ou seja, as novas tecnologias,os novos meios de comunicação, os

novos meios de transporte, as novas arquiteturas, os arranha – céus.

Berman (2007, p. 24) define que “ser moderno” é:

“[...] encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder,

alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas

em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos,

tudo o que sabemos, tudo o que somos. (...) ela (a modernidade) nos

despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e

mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser

2 Termo alemão que pode ser traaduzido como espírito da época.

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moderno é fazer parte de um universo no qual como disse Marx,

"tudo o que é sólido desmancha no ar.”

Para Berman, a modernidade oscila entre duas margens: o desejo de mudança e

o pânico que essa mudança pode gerar. Portanto, pode-se definir a modernidade como

um paradoxo ou uma contradição: ser moderno é praticamente ser antimoderno. A

modernidade é entendida como um conjunto de experiências compartilhadas por várias

pessoas que vivem num ambiente que é ao mesmo tempo movido pela mudança e pela

aventura, pela desconfiança e pela insegurança. Um sentimento que vem sendo

experimentado pela sociedade há cerca de cinco séculos. O “turbilhão da vida moderna”

tem sido alimentado por uma série de processos sociais que Berman denomina de

modernização, como as descobertas científicas, a industrialização da produção, a

explosão demográfica, o crescimento urbano, Estados nacionais mais fortes e, enfim,

um mercado capitalista mundial (BERMAN, 2007, p. 25).

O final do século XIX e início do século XX foi um período em que ocorreram

nas grandes capitais européias as grandes modernizações através dos planos de

remodelação urbana. Essas intervenções foram sinônimos de modernidade, uma vez

que, a classe burguesa exigia novos padrões, novos costumes. E um dos maiores

exemplos de transformação urbana é a cidade de Paris.

O escritor Baudelaire foi testemunha das alterações sofridas na cidade de Paris.

Enquanto trabalhava na capital francesa, a tarefa de modernização pôde ser vivenciada.

Ele pôde ver-se não só como um expectador, mas também como participante e

protagonista dessa tarefa em curso. Seus escritos parisienses expressam o drama e o

trauma. Baudelaire nos mostra algo com tanta clareza, que nenhum outro escritor pode

ver: como a modernização da cidade simultaneamente inspira força e a modernização da

alma dos seus cidadãos 3

Walter Benjamin, na obra “Paris, a capital do século XIX”4, também deixa

transparecer o encanto de Paris e o fascínio que esta moderna cidade exerce em seus

expectadores. As ruas, os pedestres que passeavam por entre os bulevares

3 BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:

Companhia das letras, 2007, p.179. 4 BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. In BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. Willi

Bolle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

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haussmanianos, os bondes, a fotografia, a luz elétrica, a moda, tudo chamou a atenção

de Benjamin. Para ele, ser moderno era estar sob o “efêmero ritmo da moda”:

“Vimos o que nunca acontecera antes: o casamento de estilos que

podíamos pensar que jamais „se casariam‟: chapéus do Primeiro

Império ou da Restauração com jaquetas Luis XV; vestidos no estilo

Diretório com botas de salto alto- ou melhor ainda, redingotes de

cintura baixa enfiados sobre vestidos de cintura alta.[...]”

(BENJAMIN, 2007;p. 248)

De todos estes elementos observados por Benjamin, a arquitetura talvez tenha

sido a grande responsável por começar a imprimir o ar de modernidade em Paris que

tanto impressionou o sociólogo alemão. Diversos aspectos da nova circunstância

arquitetônica não passariam despercebidos por Walter Benjamin. Em sua famosa obra

inacabada Das Passagen-werk5, Benjamin comenta sobre a arquitetura do ferro,

elemento amplamente usado na arquitetura eclética, e que permite novas perspectivas no

campo construtivo através do processo de standartização e pré-fabricação de perfis

metálicos.

Para Benjamin, o ferro representava uma ruptura com os materiais e a

linguagem tradicionalista da arquitetura.

“Com a crescente comprovação e o conhecimento de suas qualidades

estáticas na arquitetura do futuro, o ferro está destinado a servir de

base ao sistema de tetos, e do ponto de vista estático, a destacar este

ultimo em relação aos sistemas helênico e medieval tanto quanto o

sistema de arcos deu destaque à Idade Média em relação ao

monolítico sistema de vigas de pedra do mundo antigo [...]”

(BENJAMIN, 2007;p. 189)

A “haussmanização” de Paris provavelmente tenha sido o ponto de partida para

as experimentações de uma nova arquitetura, calcada no uso racional e harmônico de

elementos de diversos estilos, de maneira que eles mantivessem diálogos estéticos entre

si: a arquitetura eclética. A modernidade arquitetônica passa então a ser plasmada

através do emprego de novas técnicas construtivas, novos materiais, novas construções,

5 Título em alemão da obra Passagens, organizada e traduzida para o português por Willi Bolle.

[BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. Willi Bolle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.]

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novas avenidas com suas perspectivas pontuadas por monumentos. Tais características

foram também observadas por Benjamin:

“No fim das vastas avenidas, Haussmann construiu monumentos,

tendo em vista a perspectiva: o Tribunal do comércio no fim do

Boulevard Sébastopol, igrejas bastardas de todos os estilos, Saint-

Augustin, onde o Baltard copia o bizantino, um novo Sanit-Ambroise,

Saint-françois-Xavier. No fim da Chaussé-d‟ Antin, a igreja La

Trinité imita a Renascença.[...] Ateve-se muito às perspectivas, teve o

cuidado de edificar monumentos no fim de suas vias retilíneas. A

idéia era excelente [...].”(BENJAMIN, 2007;p. 172)6

Assim, observa-se que a modernidade pode se manifestar de várias formas. No

entanto, buscou-se aqui mostrar que a modernidade não está dissociada da arquitetura.

Ao contrário, a mesma, como se pode perceber através do olhar benjaminiano sobre

Paris, é um dos vetores através dos quais a modernidade se legitima.

3.0 – Ecletismo

O ecletismo, um movimento estético, surgiu na Europa na segunda metade do

século XIX. Esse estilo nasceu logo após a expansão da Revolução Industrial por todo

continente europeu e pelo mundo. Essa revolução marcou de forma indelével a transição

do feudalismo para o capitalismo e alterou o modo de vida das populações dos países

que se industrializaram devido às transformações políticas, sociais, culturais e

econômicas oriundas desta revolução.

É nesse contexto que surgem propostas utópicas e outras formas exeqüíveis de

intervenções urbanísticas para tentar resolver o problema das cidades. Aos poucos, a

desorganização teria fim, dando espaço para grandes intervenções e regulamentações

urbanísticas controladas pelo estado e para a regulamentação urbanística, ou seja, para

leis que regulam o crescimento e as intervenções na cidade. Assim, foram executados

vários planos de intervenções urbanas nas capitais européias, como, Londres e Paris,

sendo que, a primeira a passar por essas modificações foi a capital inglesa. Porém, ainda

que Londres tenha passado pelo processo de intervenção urbana, anterior a Paris foi a

6 Grifos da autora

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capital francesa que serviu de modelo para as demais capitais européias e do mundo. O

Plano de Remodelação Urbana de Eugéne Haussmann reunia características mais fáceis

de ser reproduzido e fez com que a cidade mudasse sua aparência e passasse a ser uma

referência de modelo urbano.

O eclético foi o estilo que primeiro se apropriou dos novos materiais de

construção e investimento que vieram trazidos ao bojo da Revolução Industrial. Tais

materiais, como o ferro, o vidro, os ladrilhos hidráulicos, foram inicialmente utilizados

por engenheiros em grandes obras, como pontes, ferrovias. Posteriormente à experiência

da engenharia com o potencial construtivo destes materiais, a arquitetura tomou partido

dos mesmos, através da sua experimentação. É nesse contexto de experimentação e

verificação da potencialidade dessas novas técnicas construtivas na arquitetura que

surge o estilo eclético.

Assim nasce uma nova linguagem na arquitetura. O ecletismo se impôs na

Europa na passagem do século XIX para o Século XX. Ele correspondia a uma postura

pela qual os arquitetos poderiam recorrer a uma variedade de estilos, linguagens de

composição e decoração, baseadas na arquitetura original de diferentes países ou

períodos históricos, sem esquecer que os elementos utilizados são conhecidos e

consagrados por outros estilos.

Surgido junto com a “modernidade”, o eclético foi um estilo que foi ao

encontro das expectativas da elite econômica das sociedades européias, que

demandavam melhorias fundamentais no espaço urbano. Assim, este estilo foi tomado

como instrumento de demonstração de progresso, de urbanidade e de status, realizando

uma transição entre os antigos paradigmas arquitetônicos e uma nova circunstância na

qual os novos materiais, a padronização e a standartização seriam características

essenciais. O estilo eclético teve grande responsabilidade, no entanto, tal estilo ainda é

tratado e associado à arquitetura de mau gosto ou arquitetura de pastiche.

O termo “ecletismo” significa a atitude antiga de formar um todo a partir da

justaposição de elementos escolhidos entre diferentes sistemas. Sintetizando, define-se

como ecletismo a prática de selecionar o melhor dentre vários estilos numa tentativa de

criar um estilo de maior perfeição. A arquitetura eclética associa num mesmo edifício

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referências estilísticas de diferentes épocas e origens e o ecletismo foi um movimento

que buscou inspiração em manifestações vindas de diversas regiões e momentos

distintos do passado, assim como, permite uma viagem ao tempo.

4.0 – Ecletismo e modernidade nas obras de um engenheiro nômade.

No ano de 1889 aporta no Rio de Janeiro, um jovem italiano de 21 anos

chamado Filinto Santoro. Filho de Carlo Santoro7, Filinto nasceu a 09 de fevereiro de

1869. Natural de Fuscaldo, cidade da Província de Consenza, região da Calábria, o

jovem italiano iniciou seus estudos em Nápoles, recebendo o título de Engenheiro pela

Reale Scuola di Applicazione per gli Ingegneri. Santoro residiria no Rio de Janeiro

durante algum tempo, época na qual principiou suas atividades profissionais em terras

brasileiras. Conforme explana ANDRADE JÚNIOR (2007)8, Santoro inicia seus

trabalhos no Brasil como professor de italiano em um colégio secundário, onde

instituiu, pela primeira vez, uma cátedra de italiano. Santoro também chegou a dirigir

alguns jornais da colônia italiana carioca.

Uma das características da colônia italiana no Brasil era o forte sentimento de

unidade e pertencimento de seus integrantes, mesmo estando longe de sua terra natal.

Nas colônias, de maneira geral, os imigrantes italianos puderam se agrupar no seu

próprio grupo étnico, onde podiam falar seus dialetos de origem e manter sua cultura e

tradições. A ajuda mútua, beirando o paternalismo e corporativismo, também moviam

as colônias italianas, e assim sendo, Santoro possivelmente utilizado uma forte cadeia

de contatos com suporte às suas atividades profissionais no Brasil. Tal fato permearia

não só o desenvolvimento de seus projetos, mas principalmente a execução de suas

obras.

7

Carlo Santoro era irmão do grande pintor calabrês Rubens Santoro. Carlo também tornou-se um pintor

famoso, e muitas obras suas são conservadas na cidade de Mongrassano. Dentre suas obras – basicamente

afrescos - figuram estatuárias em madeira, como um busto dedicado a São Francisco de Paula. 8 ANDRADE JÚNIOR, Nivaldo Vieira de Andrade. "A Influência Italiana na Modernidade Baiana: o

caráter público, urbano e monumental da arquitetura de Filinto Santoro". In: 19&20 - A revista eletrônica

de DezenoveVinte. Volume II, n. 4, outubro de 2007. Disponível em :<

http://www.dezenovevinte.net/19e20>. Data de acesso 25/02/2008

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Durante sua estada no Rio de Janeiro, Santoro construiu paulatinamente uma

sólida reputação como Engenheiro Civil através do trabalho com os Irmãos Januzzi,

nascidos na mesma região que Santoro. Sua reputação crescente acabou fazendo com

que o então Presidente da República, Floriano Peixoto9, o encarregasse da elaboração de

uma nova Estação Central de Estradas de Ferro, projeto premiado na Exposição de

Milão de 1896, porém nunca levado a termo.

Da então Capital Federal, Santoro deslocou-se para o Espírito Santo, onde

chegaria aos 24 anos de idade, casado, e com um filho pequeno, com menos de um ano

de idade. A convite do então governador Moniz Freire, Santoro ocuparia o cargo de

Diretor de Obras Públicas do Estado. Contudo, o cargo só pôde ser ocupado por Santoro

mediante uma licença especial, uma vez que no Brasil do início do regime republicano,

os cargos de chefia de Repartições Públicas e órgãos correlatos não poderiam ser

ocupados por estrangeiros.

Durante sua permanência como Chefe de Obras do Estado, Santoro

proporcionou um novo tônus no panorama da construção civil. Construiu hospitais,

quartéis e mesmo teatros, como o Theatro Melpômene, datado de 1894, construído em

Vitória. Sua estrutura mista de madeira e ferro, bem como sua técnica construtiva era

quase que experimental, e foi erguido no espantoso período de seis meses por operários

italianos e franceses. O Melpômene pode ser visto nas figuras 1a e 1b.

No Melpômene, Santoro permitiu-se experimentar uma nova linguagem

arquitetônica que viria caracterizar profundamente sua obra: o ecletismo. Apenas as

fundações do Theatro Melpômene foram construídas de alvenaria e tijolos. O corpo do

teatro foi todo construído em pinho-de-riga importado da Suécia, o revestimento de sua

cobertura era feito em telhas cerâmicas francesas, importadas de Marselha. No interior

do Theatro, as colunas e grades das frisas e dos camarotes eram em ferro forjado.

9 Existe um equivoco no texto citado de Nivaldo de Andrade Junior ao comentar que o então Presidente

da República Marechal Hermes da Fonseca teria dado à Santoro o projeto de uma nova Estação Central.

Durante a estada de Santoro no Rio de Janeiro, ocupava a cadeira presidencial o Marechal Floriano Vieira

Peixoto, segundo presidente da República Federativa do Brasil no período de novembro de 1891 a

novembro de 1894. Hermes Rodrigues da Fonseca seria o oitavo presidente da República, durante o

período que vai de novembro de 1910 a novembro de 1914.

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Levando em conta as características de solidez e perenidade das técnicas

construtivas até então adotadas no Brasil, o Melpômene era uma construção quase que

experimental, e para tanto, requereu mão de obra especializada. Santoro mandou buscar

operários de São Paulo e Rio de Janeiro, e dentre eles, muitos italianos, como o

carpinteiro Giuseppe Giovanotti, o decorador Spiridione Astolfoni e seu ajudante André

Carloni, que continuaria pintando os cartazes para o Melpômene até 1925, quando

adquire o edifício, demolindo-o no mesmo ano e transferindo as colunas de ferro para o

Teatro Carlos Gomes, então em construção.

(a) (b)

Figuras 1(a) e 1(b) – A figura da esquerda mostra as fachadas frontal e lateral do Teatro Melpômene,

também apelidado de “Teatro de Madeira” em função de sua sigla (TM). Na direita, é possível

observar eu o Melpômene - no cando direito da figura – destacava-se no panorama horizontal de

Vitória. Fonte: arquivo pessoal da autora.

Durante sua estada nas terras capixabas, Filinto Santoro realizou diversas ações

em favor da colônia italiana no Espírito Santo, sendo por conta disto agraciado com o

título honorífico de Cavaleiro da Coroa Pelo Rei Humerto I, no ano de 1895. O

engenheiro italiano, no entanto, permaneceria no sudeste do Brasil até meados de

190010

, época na qual se transfere para a região Amazônica, inicialmente para a capital

Amazonense. Foi o início de uma permanência na região por um período de mais de

quinze 15 anos, treze dos quais passaria em Santa Maria de Belém do Grão-Pará.

Atendendo ao convite do então Governador do Estado do Amazonas, José

Cardoso Ramalho Júnior, Santoro transfere-se para Manaus, que vivia um período de

10

Comenta DERENJI (1998; p. 159) que a data na qual Santoro aportou em Manaus é imprecisa, e deve-

se considerar que de 1897 a 1900 a vida pública do engenheiro é escassamente documentada devido ao

mesmo ter sido acometido no Brasil por uma grave moléstia, fazendo com que Santoro passasse este três

anos na Itália em tratamento.

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riqueza e fausto decorrente da economia gomífera. Comenta ANDRADE JÚNIOR

(2007)11

que o engenheiro fora convidado a dar seu parecer acerca das condições

estruturais do Palácio destinado à sede do Governo do Estado, e verificar as reais

possibilidades de transformá-lo em uma edificação que correspondesse às exigências de

uma sede de governo.

Nesta época, as cidades amazônicas transformaram-se em lócus natural da

modernidade. As intervenções urbanas, os novos sistemas de transporte público, as

obras de ensecamento de cursos d´água, a retirada da vegetação nativa, o calçamento e

pavimentação de vias públicas não eram os únicos vetores de afirmação do discurso de

modernidade do poder público. Era necessário que ele próprio, personificado através de

uma “sede”, também se travestisse com uma roupagem consoante com a modernidade.

Contudo, o parecer de Santoro foi negativo quanto ao edifício, que apresentava

problemas estruturais, bem como inadequação ao clima quente e super-úmido das terras

amazônidas. Qualquer reforma seria excessivamente cara, e possivelmente não

responderia aos preceitos das construções “modernas”. Finalmente, Santoro convenceu

o Governador a demolir a edificação e construir um novo palácio, conforme projeto por

ele desenvolvido.

No interregno de um mês e meio, Santoro apresenta seu projeto, que pode ser

visto nas figuras 2a e 2b. No mês seguinte, as demolições do antigo prédio foram

iniciadas. Durante a construção da nova sede do Governo, as obras foram interrompidas

em função da queda dos preços do látex amazônico nos mercados internacionais, o que

provocou uma indelével crise financeira. O Palácio projetado pelo italiano não chegaria

a ser concluído.

11

ANDRADE JÚNIOR, Nivaldo Vieira de Andrade. 2007. Opus Cit.

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(a) (b)

Figuras 2(a) e 2(b) – Fachadas do Palácio do Governo de Manáos, projetado por Filinto Santoro. Na

esquerda, a fachada frontal, e à direita, a fachada lateral. Disponível em:

www.bv.am.gov.br/portal/,acessado em: 25/03/2008.

Durante os três anos de sua permanência em Manaus, Santoro recebeu

encomendas de projetos residenciais, religiosos e públicos, como a reforma e ampliação

do antigo Mercado Municipal, uma estrutura em ferro fundido da empresa Francis &

Morton, Engineers, de Liverpool montada ás margens do Rio Negro entre 1880 e 1883.

Santoro iniciaria as obras do Mercado construindo a fachada voltada para a Rua dos

Barés em alvenaria de tijolos, que é a maior fachada que pode ser observada na figura 3.

No entanto, as obras de reforma do edifício só viriam a ser concluídas pelas mãos do

empreiteiro Affonso Campora, em meados de 1906, período correspondente ao final do

mandato de Adolpho Lisboa na Intendência.

Figura 3 – Mercado Municipal Adolpho Lisboa sirca 1906. Observa-se um tramway da Manáos

Railway Company trafegando em frente à fachada projetada por Santoro. Fonte: arquivo pessoal da

autora.

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As atividades de Santoro em Manaus foram bastante profícuas. Dentre as

várias obras que realizou, os engenheiros, desenhistas, calculistas, chefes e supervisores

de equipe eram sempre italianos. O tempo em que o engenheiro italiano passou em

Manaus foi deveras curto, e em 1903, em pleno auge da administração Lemista na

Intendência Municipal, Santoro transfere-se para a capital do Pará.

Sua estada em Santa Maria de Belém do Grão-Pará seria de 13 anos,

produzindo nesse tempo importantes obras que marcariam profundamente a paisagem

urbana da cidade. Assim, Filinto Santoro tanto projetou quanto construiu uma de obras

importantes para Belém, não só emoldurando as novas avenidas arborizadas, mas

também imprimindo no tecido urbano uma nova tipologia arquitetônica, diferente do

neoclássico tardio então em voga em Belém.

À semelhança do plano urbanístico de Haussmann, que previa grandes

perspectivas ao longo dos boulevares bem como edificações monumentais em trechos

específicos das avenidas, os projetos de Santoro também contribuiram para

“espetaculizar” dois eixos importantes de circulação da capital paraense, sejam eles a

Av. Nazaré, e seu prolongamento, a Av. Independência, bem como a Av. São

Gerônymo, atual Av. Governador José Malcher. Com efeito, o ecletismo da arquitetura

de Filinto Santoro seria inicialmente assimilado e fundido às características

neoclássicas, conformando assim uma espécie de estilo híbrido no qual as edificações

apresentavam uma caixa mural neoclássica e os interiores ecléticos. Desta fase inicial

datam o Colégio Gentil Bittencourt, cujas obras já haviam iniciado desde 1895 a mando

do então Governador do Estado Dr. Augusto Montenegro, e três palacetes residenciais:

um para servir de residência ao Governador Montenegro – atualmente Museu da

Universidade Federal do Pará – outro para o Senador Virgílio de Sampaio – hoje sede

do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia – vizinho ao primeiro e inaugurado no

mesmo ano, 1905. O terceiro palacete seria para o Senador Marques Braga, este último

em estilo lombardo.

Sua grande capacidade de articulação com a classe economicamente

dominante, característica que Santoro aprimorou ainda durante sua estada em Manaus,

fez com que seus serviços fossem avidamente solicitados pela elite burguesa emergente

Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.

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devido à exportação do látex. Assim, não tardaria para que o engenheiro italiano caísse

nas boas graças do Velho Tuxaua da política Paraense, o Intendente Antônio José de

Lemos. A primeira obra de Santoro para Lemos foi a sede de seu jornal e reduto

político, A Província do Pará, que pode ser observado na figura 4. A sede do maior

jornal da região norte fora um presente dado à Lemos por seus admiradores e

correligionários, e tornar-se-ia um dos marcos visuais deixados por Santoro em Belém.

Figura 4– A redução da massa à volumes simples, a rigidez composicional, a simetria axial e a

correspondência de abertura de vãos são características neoclássicas que pontuam a fachada de A

Província do Pará, que a despeito de sua caixa mural, apresentava interior completamente eclético.

(Fonte: PARÁ, Secretaria de Cultura do Estado do, 1996)

A relação entre Santoro e Lemos era quase um mecenato. Logo o Intendente o

tornaria articulista de seu jornal no período de sua estada em Belém. A ligação de

Filinto Santoro com a imprensa data dos primeiros anos de sua permanência no país,

quando seus artigos eram dirigidos aos seus compatriotas. Posteriormente, escreveu

sobre diversos assuntos, entre os quais, os avanços científicos e arquitetônicos

relacionado às obras públicas, as reformas urbanas, e, sempre que possível, celebrava

seus patrícios, pois havia por parte dele uma proteção quase que ostensiva à mão-de-

obra e materiais de seu país, como já pontuado aqui. Santoro trabalhou e empregou em

suas obras outros profissionais italianos, alguns deles nem sequer vieram à região, como

o conhecido arquiteto Gino Coppedé, co-autor do Palácio da Intendência de Belém, e o

engenheiro Giuseppe Predasso.

Apreciador do talento do italiano, Lemos não tardaria a encomendar projetos

mais arrojados e pomposos. Lemos desejava uma nova sede para a Administração da

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Comuna, mais condizente com a moderna arquitetura. Santoro então fora enviado ao

Velho Continente em busca de referências técnicas e estéticas para então poder executar

o projeto do futuro Palácio. Conforme explana DERENJI (1987)12

, o próprio engenheiro

menciona que as duas obras que serviram como importante referência para o projeto do

Palácio Municipal de Belém. Ainda na administração Lemista na Comuna de Belém,

Santoro, em 1909, seria encarregado de projetar o novo Mercado de Carne, na Praça

Floriano Peixoto, bairro de São Braz.

Do Norte do país, Santoro seguiu para o Nordeste que seria seu último destino

em terras brasileiras. Chegou à cidade de Salvador em 1912. Foi na capital baiana que

Santoro deixou um grande número de obras edificadas, bem como obras de cunho

militar. Entre seus projetos realizados em Salvador, estão o Quartel do Corpo de

Bombeiros, onde o engenheiro venceu uma concorrência pública para então realizar a

obra, comprometendo-se a entregá-la no curto prazo de seis meses. O Palácio da

Aclamação que lhe foi encarregado de realizar a reforma pelo governador Antônio

Ferrão Muniz de Aragão foi outra pérola eclética deixada no Brasil por Santoro. As

obras teriam sido começadas a partir da antiga residência colonial, e a execução da ala

nova, projetada unicamente por Santoro

Santoro, também reformaria o Palácio Rio Branco, no qual existem algumas

semelhanças arquitetônicas, dentre elas a volumetria e a cúpula centralizada, com o

Palácio Municipal de Belém.

Filinto Santoro, ainda em Salvador desenvolveria o projeto de um cine-theatro,

denominado de Kursaal-Bahiano, cujo interior pode ser observado na figura 28, e uma

parte da Avenida Oceânica, que conecta o Farol da Barra ao Rio Vermelho. Comenta

ANDRADE JÚNIOR (2007)13

que sob a responsabilidade de Santoro estiveram não

somente o projeto do traçado e das contenções da Avenida Oceânica, mas também o

desenho e a execução das suas escadas, balaustradas, obeliscos e demais elementos

arquitetônicos e artísticos.

Seu último trabalho executado na capital baiana foi um projeto para a reforma

do Teatro Municipal que deu – se através de um concurso realizado em 1920 pelo

12 DERENJI, Jussara.opus cit. 13 ANDRADE JÚNIOR, Nivaldo Vieira de Andrade. Opus cit.

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governo do estado onde mais uma vez o engenheiro saiu vitorioso. Porém, o projeto não

chegou a ser executado.

Assim, Santoro encerra suas atividades no Brasil, retornando à Itália, onde

faleceria em Nápoles, em 1927. Seus longos e proveitosos anos resididos no país

geraram obras marcantes e monumentais, tais estas consideradas características

principais de seus projetos. Suas construções fossem elas públicas, religiosas, cultural,

oficial e privada foram sempre grandiosas, situadas em espaços importantes,

envolvendo pessoas políticas e com o principal – um grande significado para todas as

cidades que as pertencem.

5.0 Conclusões:

O engenheiro italiano foi, portanto, autor de uma extensa obra construída, do Rio de

Janeiro a Salvador, e de projetos jamais concluídos em Belém e Manaus. Deixando na

região norte obras que até hoje retratam a sofisticação do período da Belle-Époque, cuja

visão foi composta por um lado através das transformações urbanas, e por outro, através

de seu ponto culminante, que é a arquitetura eclética que se disseminaria como novo

estilo arquitetônico, e como marcos visuais nas cidades nas quais o estilo foi impresso

por Santoro. Na região Amazônica, sua importância talvez só possa ser comparada à de

Antônio Landi, que proporcionou à Belém referências arquitetônicas ímpares, que

alteraram profundamente os padrões estéticos da época. Assim fez Santoro,

aproveitando o grande fluxo de capital proveniente das exportações do látex amazônico

que se desdobrava ainda na arquitetura e no comportamento de seus habitantes.

6.0 Referências Bibliográficas

ANDRADE JÚNIOR, Nivaldo Vieira de Andrade. A Influência Italiana na

Modernidade Baiana: o caráter público, urbano e monumental da arquitetura de

Filinto Santoro. in 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 4,

outubro de 2007. Disponível em :< http://www.dezenovevinte.net/19e20>. Data de

acesso 25/02/2008.

BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. In BENJAMIN, Walter.

Passagens. Org. Willi Bolle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

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BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da

modernidade. São Paulo: Companhia de Letras, 2007.

DERENJI, Jussara. Arquitetura Eclética no Pará no período correspondente

ao ciclo econômico da borracha: 1870-1912. In: FABRIS, Annateresa (org.).

Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel: EDUSP, 1987, pp. 146-175.

DERENJI, Jussara da S. Arquitetura Nortista: a presença italiana no início

do século XX. Manaus: SEC, 1998

DERENJI, Jussara. As Faces da Cidade. Belém: Mídia.com. S/C Ltda., 2001.

PARÁ. Secretaria de Cultura do Estado. Belém da Saudade: A memória da

Belém do início do século em cartões postais. 2. ed. Belém: Ver. Aum, 1996.