Lei Da Anistia Final

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    FACULDADE DE DIREITO PROFESSOR JACY DE ASSIS

    Reviso da Lei de Anistia

    Discentes da turma 67 J do Direito: Amanda Rezende, Amanda Zuffi, Brenda Franco,

    Melissa Arantes, Karen Rezende, Thais Nathali e Yasmin Nascimento.

    Maio de 2014

    Uberlndia, MG

  • Introduo

    Os pases latino-americanos sofreram, na conjuntura da Guerra Fria, a instaurao de

    regimes ditatoriais militares que tinham por objetivo legitimar as aes do Executivo e a

    conteno da chamada ameaa comunista. Sob a gide de governos autoritrios,

    milhares de cidados foram vtimas de ameaa, exlio, tortura e morte pelos regimes.

    No Brasil, aps anos de represso, na segunda metade dos anos 1970 comea uma tmida

    abertura transio para a Democracia. J em 1974, ao iniciar seu governo, Ernesto

    Geisel (o novo ditador) afirmou que a abertura ocorreria, mas de forma lenta, gradual

    e segura. Parecia haver de fato um interesse de mudanas por parte do grupo no poder,

    mas certamente a abertura projetada por eles no era a mesma que andava pelas cabeas

    e pelas bocas dos oposicionistas de todo o tipo militantes partidrios, sindicais,

    comunitrios, religiosos, de movimentos de minorias polticas, entre outros.

    A virada dos anos 1970 para os 1980 trouxe novos ventos. A oposio vinha de uma

    expressiva vitria nas eleies parlamentares de novembro de 1978. O Movimento pela

    Anistia avanava, ganhando as ruas. O movimento mostrou sua face com grande vigor.

    O AI-5 expirou no ltimo dia de 1978, por deciso do prprio governo. No se pode dizer

    que a ditadura estivesse encerrada naquele momento, mas ela certamente se veria limitada

    a partir de ento.

    Esse novo cenrio exigia novos instrumentos legais que possibilitassem uma relativa

    conciliao entre a Ditadura e a to almejada Democracia. Assim, foram editadas as

    chamadas Leis de Anistia, em diversos pases, que concederam perdo aos crimes do

    perodo, afetando sua punibilidade e beneficiando tanto os opositores do regime quanto

    os seus partidrios.

    Damsio de Jesus define anistia como o esquecimento jurdico de uma ou mais infraes

    penais1; o que o aproximou do significado primeiro da palavra, pois as palavras 'anistia'

    e 'amnsia' possuem a mesma origem etimolgica e sentido geral semelhante:

    esquecimento. Deste modo, as leis de anistia propem, atravs da extino da

    punibilidade do crime, torn-lo immore, em especial aps perodos conturbados na

    ordem social e poltica de um pas.

    Assim, aquelas tm como objetivo o fim da hostilidade e do rancor caractersticos de

    perodos de transio, buscando atingir a reconciliao nacional. Deste modo tornam-se

  • significativas nos momentos de mudana institucional, servindo como instrumentos de

    pacificao social e unio nacional.

    As leis de anistia so, na maioria dos casos, destinadas a delitos de cunho eminentemente

    poltico, ou seja pela anistia, o Estado renuncia ao seu ius puniendi, perdoando a prtica

    de infraes penais que, normalmente, tm cunho poltico. A regra , portanto, que a

    anistia se dirija aos chamados crimes polticos2. Embora seja mais incomum, as Leis de

    Anistia tambm podem ser empregadas a crimes comuns.

    Em 28 de agosto de 1979, no governo Figueiredo, a Lei de Anistia aprovada,

    favorecendo o processo de redemocratizao, que j estava em curso. Ainda que muito

    questionada e compreendida dentro de um contexto de mobilizaes populares

    concentradas na Campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita; sua promulgao foi

    essencial para que exilados retornassem, para que clandestinos voltassem suas vidas e

    para que parte dos presos polticos fossem libertados.

    Apesar de distante das bandeiras pela anistia levantadas nas ruas nas mobilizaes e nas

    manifestaes, muitos historiadores consideram que essa Lei foi, simplesmente, a

    possvel naquele momento. Para aqueles que lutavam por liberdade e pela volta da

    democracia, as reivindicaes relacionadas justia, como a punio aos crimes

    cometidos pelo Estado, estavam na ordem do dia. No entanto, no foram deliberadamente

    previstas nessa lei, permitida durante o regime ditatorial em processo de uma abertura

    poltica institucional.

    Suzana Lisboa, integrante da Comisso dos Familiares dos Mortos e Desaparecidos,

    afirma que a lei de anistia poltica de 1979, apesar de se proclamar ampla, geral e

    irrestrita em nome da pacificao da famlia brasileira, no atingiu todos os presos

    polticos, no reparou as perdas infligidas aos seus familiares, no anistiou todos os

    atingidos pelo arbtrio, no afastou os torturadores do servio pblico e referiu-se aos

    desaparecidos polticos como mortos presumidos. A partir de ento, as sequelas dessa lei

    pairaram sobre as tentativas de elucidao dos crimes cometidos (Lisboa, 2009).

    O debate sobre os problemas e limitaes da Lei de Anistia no que tange s punies aos

    agentes que cometeram crimes pelo Estado, a pesar de ter seu incio com a promulgao,

    tornou-se pauta para modificao aps uma ao da Ordem dos Advogados do Brasil

    OAB em outubro de 2008. Porm em fevereiro de 2009 a Agncia Geral da Unio - AGU

    reiterou entendendo que a Lei da Anistia abrange os atos praticados por agentes do

  • Estado em virtude do carter amplo, geral e irrestrito do benefcio. J no incio de 2010,

    o Procurador Geral da Repblica Roberto Gurgel posicionou-se, em parecer encaminhado

    ao Supremo Tribunal Federal - STF, contra a reviso da Lei de Anistia, afirmando que

    ela foi fruto de amplos debates e participao da sociedade civil brasileira em um

    determinado momento histrico, com vistas reconciliao nacional. Na poca, por sete

    votos a dois, os ministros do STF avaliaram que no cabia ao Judicirio rever a Lei 6.683

    de 1979 ainda que muitos denunciem que o problema dizia respeito mais a interpretao

    do que a letra da lei.

    No que diz respeito ao sistema internacional de direitos humanos, preciso lembrar o

    julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 24 de novembro de 2010,

    posterior, portanto, mencionada deciso do Supremo Tribunal Federal, que declarou:

    As disposies da Lei da Anistia brasileira, que impedem a investigao e sano de

    graves violaes de Direitos Humanos, so incompatveis com a Conveno Americana,

    carecem de efeitos jurdicos e no podem seguir representando um obstculo para a

    investigao dos fatos do presente caso, nem para a identificao e punio dos

    responsveis, e tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros

    casos de graves violaes de direitos humanos consagrados na Conveno Americana,

    ocorridos no Brasil.

    Em 2013 o senador Randolfe Rodrigues do PSOL/AP prope o Projeto de Lei n237

    afirmando que a Lei de Anistia teria sido imposta pela Ditadura. Para ele, a reviso virar

    a pgina dos ltimos 50 anos da histria poltica do Brasil. Ainda explica que Fazer

    reviso porque o contexto histrico outro. A Lei da Anistia em 1979 era necessria para

    trazer os exilados de volta. A Lei da Anistia necessria ser revisada hoje porque no

    podemos continuar a ter na nossa ordem jurdica uma lei que admite anistiar

    torturadores.

    Ento, no dia 9 de abril de 2014, a Comisso de Direitos Humanos do Senado aprovou o

    a reviso da Lei de Anistia de 1979. O texto dessa proposio determina que no se

    incluem entre os crimes conexos (definidos pela lei) torturas, sequestros e homicdios

    cometidos por agentes pblicos, civis e militares. Pelo projeto, militares e civis podero

    ser punidos por atos de tortura e outras violaes de direitos humanos, uma vez que est

    previsto nele a extino retroativa da prescrio desses crimes.

  • O objetivo do Projeto de Lei revisar a Lei da Anistia, de maneira a promover sua

    adequao aos princpios fundamentais que inspiram a Constituio de 1988 e o sistema

    de tratados internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil signatrio.

    (Projeto de Lei 237/2014)

    Parecer da Comisso dos Direitos Humanos sobre o projeto

    A reviso da Lei de Anistia, de 1979 em 9 de abril de 2014 foi aprovada pela Comisso

    de Direitos Humanos e Legislao Participativa (CDH) do PLS 237/2013.

    Conduzida pela presidente da CDH, senadora Ana Rita (PT-ES), a votao contou com a

    presena do presidente da Comisso Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih

    Damous, e de representantes de entidades de Direitos Humanos.

    O senador Joo Capiberibe (PSB-AP) reforou que o crime de tortura imprescritvel,

    conforme tratados internacionais dos quais o Brasil signatrio. Afirmou que no houve

    na negociao da Anistia igualdade de posies entre a sociedade, refm de um regime

    repressivo, e seus carcereiros. A ditadura aproveitou-se da fora de que ainda lhe restava

    para impor uma anistia que lhe desse cobertura a sua retirada de cena, assegurando a

    impunidade de seus agentes mais impiedosos.3

    Capiberibe, Presidente da Subcomisso da Verdade do Senado, tambm participa da

    campanha promovida pela Anistia Internacional pedindo a reviso da Lei de Anistia.

    Segundo ele, a persistncia dos embates ideolgicos em torno dos fatos trgicos ocorridos

    durante a ditadura civil-militar impede, de certo modo, que aprendamos lies

    importantes sobre esse passado. Assinalou que isso ocorre, em parte, porque muitos

    torturadores ainda podem se apresentar como defensores da ordem, e no como

    criminosos, pois jamais foram julgados. Hoje, importa para o pas e para toda a

    humanidade que os crimes contra os direitos humanos sejam punidos, para que a

    impunidade no estimule a sobrevivncia da cultura da tortura e da aniquilao violenta

    dos adversrios polticos.3

    A deciso da corte prossegue recusando o recurso prescrio, irretroatividade da lei

    penal, coisa julgada e mecanismos outros similares em seus efeitos de excluso de

  • responsabilidade e indicando como caminho obrigatrio a investigao, a

    responsabilizao e a punio dos culpados.3

    Breve comparativo das Leis de Anistias com outros pases da Amrica Latina4

    Argentina

    Em 1986, editou-se a chamada Lei Ponto Final (Lei 23.492/86), que determinava a

    extino das aes penais por participao nos atos de forma violentas de ao poltica e,

    em seguida, foi editada a Lei Obedincia Devida (Lei 23.521/87) que extinguia a

    punibilidade dos crimes perpetrados no Processo sob a alegao de que os militares

    agiram em obedincia devida, sob coero e autoridade superiores, sem possibilidade de

    conduta adversa. Finalmente, o ento presidente argentino Carlos Menem concedeu ainda

    uma srie de indultos aos militares j condenados, um enorme retrocesso quanto aos

    esforos realizados pelo presidente anterior, Ral Alfonsn, para processar e punir os

    responsveis pelas atrocidades do regime militar.

    O primeiro passo foi dado em 2003 com a aprovao, pelo Congresso argentino, de uma

    lei que revogava as leis Ponto Final e Obedincia Devida. Em 2005, a Suprema Corte

    argentina decidiu que as leis de anistia so inconstitucionais, declarando-as nulas.

    Finalmente, em 2008, ocorreu a derrogao do Cdigo Penal Militar, ou seja, os militares

    ficaram sujeitos Justia Comum, podendo apelar para a Justia Federal em caso de

    crimes militares.

    Uruguai

    O governo civil de Sanguinetti presenciou, logo em seu incio, a aprovao da Lei 15.737,

    chamada de Lei de Reconciliao Nacional, que concedeu anistia para os crimes polticos

    cometidos durante o regime militar uruguaio, libertando imediatamente os presos

    polticos, exceto aqueles condenados por homicdio, cuja sentena deveria ser revista pela

    justia comum.

    Apesar da indignao das vtimas da ditadura e dos clamores populares pela condenao

    dos militares, o Legislativo uruguaio sancionou, em 1986, a Lei 15.848, tambm chamada

  • de Lei de Caducidade da Pretenso Punitiva do Estado. Esta lei determinou que o Estado

    no poderia mais exercer sua pretenso punitiva para os delitos de cunho poltico

    ocorridos antes de 1985, o que configurava, na prtica a ausncia de justia para as vtimas

    do regime militar deste pas. A Lei de Caducidade da Pretenso Punitiva do Estado foi

    ainda submetida a referendum popular em 1989, sendo aprovada pela maioria da

    populao uruguaia.

    A Comisso Interamericana de Direitos Humanos j havia manifestado, em 1986, sua

    posio de que toda a sociedade tem o direito irrenuncivel de conhecer a verdade acerca

    do ocorrido, assim como as circunstncias e razes nas quais os aberrantes delitos foram

    cometidos, a fim de evitar que estes feitos voltem a ocorrer no futuro. No caso do

    Uruguai, a Comisso exps a sua deciso concluindo que a lei 15.848 era incompatvel

    com o Direito Justia (contemplado nos arts. XVIII da Declarao Americana de

    Direitos e Deveres do Homem e nos artigos 1, 8 e 25 da Conveno Americana sobre

    Direitos Humanos), recomendando ao governo uruguaio a outorga de justa compensao

    s vtimas por violaes decorrentes da supracitada lei, alm da adoo das medidas

    necessrias ao esclarecimento dos fatos e identificao dos responsveis pelas violaes

    aos direitos humanos ocorridas no perodo anterior.

    A Suprema Corte do Uruguai decidiu, em outubro de 2009, pela declarao de

    inconstitucionalidade da chamada Lei de Caducidade, em sentena aplicvel unicamente

    investigao de submisso tortura e posterior morte, em 1974, de uma professora em

    um quartel militar. Entretanto, o movimento que parecia apontar para uma mudana ainda

    maior, consubstanciado em um plebiscito marcado para outubro de 2009 para votar a

    permanncia ou no da referida lei, viu-se frustrado com a vitria do chamado voto

    amarelo nome dado em funo da cor das papeletas-, que decidiu pela permanncia do

    marco legal no pas.

    Desta forma, o Uruguai presencia avanos e retrocessos na busca por justia das vtimas

    de violaes aos direitos humanos perpetrados pelo regime ditatorial. A recente deciso

    da Suprema Corte do pas poder, entretanto, servir de precedente queles que buscam

    reparaes na Justia uruguaia, apesar do resultado negativo do plebiscito.

  • Concluso

    A reviso da Lei da Anistia um projeto lei com autoria do Senador Randolfe Rodrigues,

    defendendo que a legislao sobre os crimes da ditadura no avanou no mesmo ritmo da

    sociedade brasileira. Afirma que presenciamos um momento em que o pas desperta para

    seu passado, e que no podemos conviver com arranjos institucionais que caducaram com

    o tempo. Por isso a reviso da Lei de Anistia uma necessidade para colocar o Brasil no

    patamar de outras democracias que reconheceram os crimes cometidos por suas ditaduras.

    Nos tratados internacionais, tortura, assassinatos, estupros e desaparecimentos forados

    em um contexto de ditadura so crimes contra a humanidade e, por isso, no prescrevem

    e nem podem ser anistiados. O Brasil signatrio destes tratados. Diante disto, a Corte

    Interamericana de Direitos Humanos j sentenciou o Brasil a punir os responsveis pelos

    chamados crimes de lesa-humanidade: torturas, assassinatos e desaparecimentos

    forados.

    O projeto foi aprovado no dia 9 de abril de 2014. Conduzida pela presidente da CDH,

    senadora Ana Rita (PT-ES), a votao contou com a presena do presidente da Comisso

    Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, e de representantes de entidades

    de direitos humanos. O projeto segue agora para exame das comisses de Relaes

    Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e de Constituio, Justia e Cidadania (CCJ).

    Porm, o ponto mais importante que a Reviso da Lei da Anistia, nos proporcionar

    descobrir realmente o que foi a ditadura, saber quem foram os culpados, as vtimas, e

    fazer reflexes sobre isso, para que a populao, principalmente os jovens, continue a

    busca pela democracia.

  • Referncias Bibliogrficas

    1. GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal Parte Geral, v.I Rio de Janeiro: Impetus,

    2007,

    2. JESUS, Damsio de. Direito Penal- Parte Geral. So Paulo: Saraiva, 1999. p. 714.

    3. Parecer da comisso

    http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=148495&tp=1

    4. Site acessado em 28/05/2014: http://www.ambito-

    juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7637&revista_caderno=19

    5. Site acessado em 28/05/2014:

    http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/04/09/revisao-da-lei-de-anistia-

    avanca-no-senado