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Enviado para pu blicação em 2/2/14 – 8:19, por sérgio Lei da Alienação Parental, uma conquista social brasileira. Sérgio de Moura Rodrigues * Fernanda Molinari** Histórico da criação da Lei da Alienação Parental desde a divulgação do primeiro texto que deu origem ao PLC 4053/2008, em 07/10/2008, até a sanção da Lei 12.318/10 em 26/08/2010. O fato não é novo: usar filhos como instrumento de vingança pelo fim do sonho do amor eterno. (Maria Berenice Dias) 1 . Agradecimentos Agradecemos a todos os Associados e Amigos da ABCF, que dedicaram e continuam dedicando tempo e recursos próprios para dar significado à luta contra a Alienação Parental, e em especial às pessoas citadas neste artigo, que contribuiram diretamente para que pudéssemos gravar na história de nossa nação tão importante momento social e cultural, marco indelével e referência mundial na luta contra as injustiças sociais e, principalmente, na defesa dos nossos filhos, massacrados pela Alienação Parental. 1

Lei Da AP - Historico - Brasil 2014

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Enviado para pu blicação em 2/2/14 – 8:19, por sérgio

Lei da Alienação Parental, uma conquista social brasileira.

Sérgio de Moura Rodrigues*

Fernanda Molinari**

Histórico da criação da Lei da Alienação Parental desde a divulgação do primeiro

texto que deu origem ao PLC 4053/2008, em 07/10/2008, até a sanção da Lei 12.318/10 em

26/08/2010.

O fato não é novo: usar filhos como instrumento de vingança pelo fim do sonho do

amor eterno. (Maria Berenice Dias)1.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os Associados e Amigos da ABCF, que dedicaram e continuam

dedicando tempo e recursos próprios para dar significado à luta contra a Alienação

Parental, e em especial às pessoas citadas neste artigo, que contribuiram diretamente para que pudéssemos gravar na história de

nossa nação tão importante momento social e cultural, marco indelével e referência mundial

na luta contra as injustiças sociais e, principalmente, na defesa dos nossos filhos,

massacrados pela Alienação Parental.

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RESUMO

A Lei da Alienação Parental, sancionada em 26 de Agosto de 2010, é resultado de

um problema social grave, denominado Alienação Parental, praticado há séculos, porém, no

Brasil, somente estudado recentemente. Este artigo visa resgatar a trajetória da criação da Lei

da Alienação Parental, desde a apresentação do PLC nº 4053/2008 até a sanção da Lei nº

12.318/2010, reunindo o máximo de informações possíveis, atos e fatos, estabelecendo um

marco histórico que vai transformar a vida das futuras gerações, impondo uma nova cultura.

A Lei da Alienação Parental é um marco jurídico, referencial no mundo, mas acima de tudo

uma linda história de amor e luta pela paz social, digna de muito respeito e também de ser

registrada, e com isto seguir pelo tempo, ensinando aos nossos descendentes que vale a pena

lutar por uma sociedade melhor e mais justa.

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Palavras-chave: Alienação Parental, Histórico, Lei, Brasil.

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INTRODUÇÃO

Durante séculos a história vem registrando a prática de abusos contra as crianças e

adolescentes, inclusive pelos próprios pais e parentes.

Um destes abusos, chamado de “Alienação Parental”, embora tenha sido denunciado

no século passado, na década de 1985, nos Estados Unidos, no Brasil só veio a ser estudado

com seriedade, no início deste século, quando pais e mães que já defendiam a igualdade

parental, e haviam lutado pela criação da Lei da Guarda Compartilhada (Lei nºv11.698/2008),

sancionada em em 13/08/2008, reunidos em associações e grupos, dentre estes a Associação

Brasileira Criança Feliz - ABCF (www.criancafeliz.org), ONG Pais Por Justiça – Brasil

(http://www.paisporjustica.blogspot.com.br/), Associação de Pais e Mães Separados –

APASE (www.apase.org.br), Associação pela Participação de pais e Mães Separados na Vida

dos Filhos – PARTICIPAIS (http://www.participais.com.br/), Associação Pai Legal

(http://www.pailegal.net/) e também alguns autores independentes, através de Blogs, citando

Blog Crianças no Brasil (http://criancanobrasil.blogspot.com.br/), resolveram denunciar o

sofrimento causado pela alienação parental, e através da proposta de criação de uma lei

específica, apresentada por Elízio Luiz Perez2, iniciaram uma campanha nacional de

divulgação que culminou na criação da lei nº 12.318/2010, que veio inserir a Alienação

Parental no ordenamento jurídico brasileiro, estabelecendo a sua definição, suas causas,

consequências e prevendo medidas coibitivas, destinadas a minimizar seus efeitos nocivos,

mas com interesse máximo em prevenir a prática de tais atos abusivos.

Depois da apresentação às entidades, o primeiro texto foi disponibilizado na internet,

através dos sites e fóruns, passando a receber sugestões, que foram sendo analisadas e

ajustadas ao texto original e após 27 compilações, o texto final do anteprojeto de lei foi

apresentado ao Deputado Federal Régis de Oliveira3.

A participação das entidades foi fundamental para a conquista desta vitória social,

pois seus representantes empenharam-se sobremaneira, envidando esforços no objetivo

comum de dar um basta aos abusos cometidos pelos pais separados contra os próprios filhos,

a revelia das leis de proteção das crianças e adolescentes e a justiça que nada fazia e protegia-

se sob o manto da falta de legislação específica que abordasse o assunto.

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Nas palavras da Dra. Maria Berenice Dias, em entrevista exclusiva, registra-se o

sentido da luta pela mudança de cultura e valorização dos pais:

“Foi a mudança na própria estrutura das relações familiares que levou os homens a descobrirem as delícias da paternidade. Mais próximos dos filhos, não querem perder o direito de desfrutar da companhia deles, mesmo quando se rompe a convivência entre os genitores.A enorme dificuldade da justiça em ver esta mudança, é que ensejou o surgimento de movimentos organizados, os quais lograram a aprovação tanto da lei da guarda compartilhada como da lei da alienação parental.Está mais do que na hora de romper esta cultura que sacraliza de tal forma a maternidade que conferem um tal poder das mães sobre os filhos que elas se consideram proprietárias da prole, ficando ao seu bel prazer a concessão de espaços de convívio com o genitor.Na difícil tarefa de reformatar conceitos, mudar posturas e comportamentos, é indispensável que estes temas sejam debatidos à exaustão.Só assim se poderá garantir que teremos crianças mais felizes, expressão que identifica uma das organizações mais atentas à construção de uma nova forma de se ver e viver o exercício paritário das relações parentais.”

Apesar dos esforços em buscar todos os detalhes e personagens envolvidos,

certamente não estão registrados aqui, por completo, todos os momentos e todas as pessoas

que contribuiram, mas o assunto não será considerado por esgotado.

Neste primeiro momento, a pesquisa continuará e todos aqueles que ao lerem, caso

tenham participado do processo ou que conheçam alguém que tenha participado, encaminhem

material para que este artigo seja atualisado e continue fazendo justiça aos Pais e Mães que

lutaram pela criação da Lei da Alienação Parental.

Na sequência, resume-se a trajetória do PL 4053/08, nas casas legislativas (Câmara

de Depudatos e Senado Federal), uma reconstitução histórica das ações, registrando também

os depoimento de pessoas que participaram ativamente do processo.

RECONSTITUIÇÃO HISTÓRICA – A CAMINHADA PELA PROTEÇÃO DE NOSSOS FILHOS

A Lei da Alienação Parental, como todas as outras leis, passou pelas duas casas

legistativas brasileiras, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, passando pelas

Comissões de Direitos Humanos e Comissão de Constituição e Justiça em ambas as casas e na

sequência apresenta-se as datas em que o projeto teve movimentações legislativas e a

participação dos Pais e Mães, que seguiram o Projeto de Lei 4053/2008 passo a passo.

Deve-se dar atenção especial para o fato da tramitação celere (18 meses), do Projeto

de Lei nº 04053/2008, ao contrário do que é padrão no legislativo brasileiro, creditando-se

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este resultado as determinadas e incansáveis entidades e pessoas que lutavaram por sua

aprovação.

Tudo começou 11/05/2008, quando o Juiz Elizio Perez procurou todos os

movimentos que lutavam pela igualdade parental e que defendiam os direitos dos pais a terem

contato com seus filhos após uma separação conjugal, alertando para a existência da

Alienação Parental, apresentando então um texto, como proposta de um projeto de lei.

O Dr. Elizio Perez é um dos maiores estudiosos do tema da alienação parental no

Brasil. Pai dedicado e zeloso, o Dr. Elizio Perez foi o responsável pela consolidação do

anteprojeto que deu origem à lei sobre a alienação parental (Lei 12.318/10), sendo profundo

conhecedor do assunto, em entrevista exclusiva declara:  

“Lancei uma primeira versão de anteprojeto a debate público, em maio de 2008, divulgando-o em sites de associações de pais e mães e de profissionais do Direito e da Psicologia. Coletei as críticas e sugestões que vieram, de todas as origens (desde profissionais experientes até pais e mães que enfrentavam, no seu cotidiano, o problema), o que deu origem a 27 (vinte e sete) versões do texto, que foi quase que totalmente reescrito.  Acredito que foi esse processo que deu legitimidade para que o anteprojeto fosse adiante. Do meu ponto de vista, havia uma demanda de pais e mães que enfrentam o problema e esse debate prévio, com erros e acertos, conseguiu captá-la. A preocupação era a de criar um instrumento que ajudasse a inibir ou atenuar, de forma efetiva, a alienação parental, com consistência técnica, mas que também fosse viável, do ponto de vista político. Durante a tramitação do projeto, no Congresso, o projeto ainda sofreu modificações e, a meu ver, foi melhorado, exceção feita ao veto presidencial à mediação. Por isso, digo que o texto tem autoria coletiva e minha participação é a de ter consolidado o anteprojeto.”

O texto resultava de intensa pesquisa junto a advogados, magistrados, psicólogos,

assistentes sociais, vítimas de alienação, associações de pais e também junto ao Instituto

Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Destaca-se, aqui, como reconhecimento a participação da Jornalista Karla Mendes,

grande responsável pela criação da Lei da Alienação Parental, registrada em seu depoimento:

“A primeira vez que tive contato com o anteprojeto de lei sobre a Alienação Parental foi quando o juiz Elízio Peres me procurou para saber se o Pais Por Justiça gostaria de abraçar a causa. Ele já tinha um texto pronto e estava submetendo-o a várias pessoas. Adorei a idéia. Nunca pensei que poderíamos ir tão longe. Nós já havíamos feito duas manifestações mas basicamente o movimento consistia em debates (muitas vezes embates) em fóruns de discussão no Orkut. Ajudei a divulgar a idéia mandando o texto para todo mundo que conhecia que estava envolvido com a luta contra a Alienação Parental. Muitos colaboraram, enviaram suas sugestões. Acabamos - eu e o meu marido, Igor - por conhecer o Elízio pessoalmente. Nos tornamos amigos. E companheiros de peregrinação no Congresso Nacional em busca de apoio ao anteprojeto de lei. Muitas vezes sofremos revezes - os maiores eram fogo amigo, gente que estava na luta há muito tempo mas enciumada da velocidade como avançávamos. Pessoalmente, a lei me exigiu um esforço enorme. Primeiro tive de recorrer a contatos profissionais (eu havia trabalhado como repórter e assessora de imprensa no Congresso Nacional, no Ministério da Justiça, Presidência da República) e não era fácil expor detalhes da minha vida e da minha família para essas pessoas. Para ajudar, dei entrevistas e me deixei fotografar. Das

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discussões com o movimento feminista a audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça, a coisa mais difícil era aplacar a sanha de quem tentava se aproveitar politicamente. Mas, no final das contas, deu tudo certo e aprovamos a lei em tempo recorde.”

A inicitaiva de criação de uma lei específica também encontrou justificativa no fato

de que a Guarda Compartilhada, na época, recentemente instituida através da Lei nº

11.698/2008, não estava alcançando os efeitos desejados, isto é o equilíbrio e a paz entre os

casais com isto a proteção dos filhos, havendo a necessidade que se buscasse enfrentar a

Alienação Parental, que se opunha a plena aplicabilidade da guarda compartilhada.

Sobre o tema a Dra. Maria Denise Perissini, Psicologa Paulista, manifestou-se em

depoimento exclusivo a este artigo:

“Quando foi aprovada a Lei da GC, sentimos que houve uma grande vitória, e começamos a requerer a GC, acreditando que isso se tornaria regra, na medida em que estava previsto em Lei. Porém, para nossa desagradável surpresa, começamos a receber sentenças negando os pedidos de GC, porque os juízes estavam entendendo conforme os argumentos das "ex-" dos meus clientes, de que "a criança não quer ir", ou "criança (de 4 anos!) 'decide' (sic!!!!!!) que não gosta mais do pai, e essa decisão' (sic!!!!!!) deve ser respeitada (!!!!!)", ou mais grave, que os pais teriam molestado sexualmente os filhos.Daí, houve a necessidade de se tipificar em lei os atos de AP, inclusive como forma de instituir sanções,Quando o dr. Elizio Peres disponibilizou na internet o Anteprojeto da lei da AP, minha sugestão foi pela inserção do que atualmente é o artigo 5º da Lei: a exigência de que a perícia fosse feita por profissional ou equipe que conheça AP, por 2 motivos:1. Porque eu estava cansada de ver laudos horríveis feitos por profissionais ineptos, desconhecedores de AP, mas que colocam em suas conclusões: "não verificamos a ocorrência de AP", mas com fundamentação insuficiente, superficial, ou nenhuma fundamentação.2. Mesmo que o caso não seja de AP, o perito deve dar uma fundamentação plausível, então para isto ele tem que saber o que é AP. Não basta simplesmente dizer "a criança vai às visitas paternas, então isto não é AP", sem analisar se a mãe não eastaria implantando mensagens difamatórias no filho contra o pai, sem cogitar que, mesmo ocorrendo as visitas, a criança estaria exposta ao risco dos atos de AP da mãe ou quem tenha interesse na destruição dos vínculos da crinça com o pai.” 4

A criação de uma lei específica também encontrava justificativa nos casos

conhecidos de alienação parental, que dentre os milhões existentes, registra-se o depoimento

do pai Werner da Piedade Soares:

“Sofrendo alienacão parental, resolvi procurar outras pessoas que sofriam de igual forma. Soube entao que podiamos trabalhar um projeto de lei que traria algum beneficio a sociedade e fazer o judiciario inserir no ordenamento juridico a questao da alienacao parental. Conversou-se com vários segmentos da sociedade, levando aos politicos e fazendo muita pressão junto a esses legisladores que em funcao da relevância desse tema conseguiu-se aprovar essa lei. Hoje o judiciario reconhece e lida com essa questão de maneira mais franca e aberta, tratando diretamente da situacao sem problemas. pois antes como essa problematica nao tinha um nome, nao conseguia-se tratar do problema. as dificuldades apresentadas pela falta de "ferramentas" dificultava ao judiciario melhores acoes no sentido de se preservar as criancas envolvidas nesses conflitos.” (Werner Soares)5

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As datas e dados referentes as tramitações, bem como os textos alterados, despachos

administrativos e demais movimentações legislativas podem ser conferidos e reforçados com

mais detalhes através dos sites da Câmara de Deputados

(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=411011) e do Senado Federal

(http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=96131).

A data de 11/05/2008 marcou o envio do primeiro email, com um esboço da futura

lei, para a ONG Pais Por Justiça, disponibilizando o texto original, tornando-o público e

abrindo espaço para o amplo debate.

Na data de 07/10/2008 o então Deputado Regis Oliveira (PSC-SP) apresenta o texto

do Projeto de Lei que recebe o número 04053/2008, com base no texto de número 27,

resultado da compilação de sugestões de várias pessoas e entidades, que lhe foi apresentado

pelo Pai Celso Gonçalves Dias (SP).

Registramos aqui, como forma de reconhecimento e agradecimento, as palavras do

Pai Celso Gonçalves Dias, responsável pela apresentação do texto final do anteprojeto de lei

ao então Deputado Régis de Oliveira, um dos maiores responsáveis pela criação da Lei

12.318/2010:

"Em meados 2008, após 14 anos de casado e dois filhos (ele 12 ela 8 anos), por

consenso, meu casado se encerrou. Entretanto, fui surpreendido pelo ato de minha

ex-esposa, subitamente, mudar-se para 700 KM de distância, sem qualquer razão

aparente, apenas para separá-los do pai! Só então percebi que pequenas ações que

ocorreram anteriormente (forçar as crianças a jantarem antes de minha chegada do

trabalho, por exemplo) faziam parte de todo um processo de distanciamento entre

pai e filhos. Como sempre fui do tipo "pai presente", acompanhei o parto de nossos

dois filhos, iniciei uma verdadeira batalha judicial pela proximidade para com meus

filhos os quais, demonstravam não estar nada satisfeitos com a situação. Neste

processo, conheci o trabalho do Dr. Richard A. Gardner, renomado pesquisador

norte americano, sobre o que chamou PAS - Parental Alienation Syndrome ou, no

Brasil, SAP - Síndrome da Alienação Parental. Pesquisando o tema acabei por

encontrar um grupo de pessoas as quais, por diversas formas diferentes, sofreram ou

sofriam, assim com eu, este problema. Neste grupo, coordenado pelo Sr. Elizio Luis

Perez, passamos a redigir um anteprojeto de lei que pudessem livrar nossas crianças

e genitores deste câncer psicológico! Os trabalhos foram cuidadosa e

exaustivamente estudados e discutidos, inclusive junto a órgãos internacionais, tendo

passado por 27 versões até sua versão final. Encerrada a elaboração do anteprojeto,

foi chegada a hora de se encontrar algum parlamentar realmente comprometido com

a família brasileira, sensível a nossas crianças, com conhecimentos jurídicos

inquestionáveis (para que ninguém alegasse a ilegalidade do projeto, já que este

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enfrentaria preconceitos arraigados em nossa sociedade), e acima de tudo, com

reputação ilibada ! Com a concordância dos demais integrantes do grupo, procurei

um conhecido,  na época deputado federal pelo PSC-SP, Dr. Régis Fernandes de

Oliveira. Régis, é desembargador aposentado do TJSP, tendo tido brilhante carreira

jurídica, sendo presidente do antigo TAC - Tribunal de Alçada Civil do Estado de

São Paulo, professor de direito constitucional na USP - Faculdade de direito do largo

São Francisco e detentor de diversos prêmios jurídicos internacionais. Tão logo

conheceu a questão Régis de "bate pronto" assumiu a defesa das crianças brasileiras,

tendo se dedicado como um verdadeiro leão a aprovação do tema. Assim sendo, em

07/10/2008 (data com conotação especial para mim) o grande amigo e ilustre

parlamentar apresentou ao Congresso Nacional o PL 4053/2008, o qual reconhecia a

existência e punia a prática da Alienação Parental”.

Em apenas dois dias, ou seja, no dia 9/10/2008, o texto apresentado transformava-se

em projeto de lei e ganhava o número 04053/2008. O PL teria tramitação de urgência, o que

significa que poderia ser aprovado rapidamente somente passando pelas comissões da Câmara

e do Senado.

Ao mesmo tempo em que era entregue o texto, começava o trabalho de mobilização

"corpo-a-corpo" no Congresso Nacional com a participação de um grupo formado pelo Dr.

Elizio Perez, Adv. Igor Xaxá e Karla Mendes, Jornalista e autora do Artigo “Uma história de

cidadania: como conseguimos aprovar a Lei da Alienação Parental”.6

Para o pai Igor Xaxá, Advogado de Brasília, integrante do Grupo que atuou

marcantemente na construção da lei da Alienação Parental, em depoimento exclusivo para o

artigo, podemos ver a necessidade e a importância da Lei 12.318/2010:

“A luta contra a alienação parental começou quando me separei da mãe da minha filha. Senti na pele a dor de ser excluído de forma vil da vida de alguém que amo tão profundamente. Por isso, visitar centenas de gabinetes e participar de inúmeras reuniões junto com o juiz Elízio Peres no Congresso Nacional era uma espécie de redenção. Era impressionante começar a explicar o que era o projeto de lei e descobrir que o meu interlocutor passava pelo problema. Ou tinha alguém na família que sofria com a alienação parental. Pelo menos uma ou duas semanas por mês estavámos batendo ponto, eu e o Elízio, no Congresso Nacional. Passamos por momentos tensos, de grandes impasses, muitas vezes sem o apoio que gostaríamos. Mas compensou pelo aprendizado e o resultado final, que foi a sua aprovação. A lei está aí e tenho conseguido ver na prática o seu resultado. É verdade que temos um longo caminho ainda para vencer esse mal. Mas me sinto padrinho de um avanço significativo, que realmente tem melhorado a vida das pessoas.”

Na data de 23/10/08, o PLC nº 04053/2008 foi recebido pela Comissão de

Seguridade Social e Família (CSSF) tendo sido designado Relator, o Dep. Dr. Pinotti (DEM-

SP).

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No início do mês de dezembro de 2008, novamente o grupo formado pelo Dr. Elízio,

Igor Xaxa e Karla Mendes vai ao Congresso Federal, dessa vez para conversar com o

presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara de Deputados (CSSF),

Deputado Jofran Frejat (PTB-DF) e o relator nomeado para o PL, Dep. José Aristodemo

Pinotti (DEM-SP).

Enquanto o Grupo atuava no Parlamento, várias pessoas começam a enviar

mensagens eletrônicas (e-mails) aos parlamentares pedindo apoio ao projeto.

Dá visita e das mensagens, segundo Karla Mendes, puro exercício de cidadania, logo

veio o resultado positivo: Em 18/12/2008, o Dep. Dr. Pinotti entregou o Relatório, com

parecer favorável a aprovação do PL e da Emenda 1/2008 da CSSF.

Em 01/04/2009 foi lançado oficialmente o documentário “A Morte Inventada”

produzido e dirigido pelo cineasta carioca Alan Minas7. O filme trazia relatos de vítimas de

alienação parental e especialistas no tema (magistrados, advogados, assistentes sociais,

psicólogos e promotores). O Documentário foi importantíssimo pois ajudou a divulgar o

problema em todo o país.

Em 15/04/2009, na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) foi designado

Relator o Dep. Acélio Casagrande (PMDB-SC) que no mesmo dia já recebeu a visita do

Grupo.

Segundo Karla Mendes, o grupo foi muito bem recebidos mas, apesar de ter sido já

designado há três semanas como Relator, o Deputado Acélio não havia recebido oficialmente

o texto e nada podia fazer para agilizar a tramitação.

Novamente, homens e mulheres começam a enviar e-mails para a Presidente da

Comissão, Deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) cobrando agilidade.

Em 20/05/2009 foi apresentado o Parecer do Relator, Dep. Acélio Casagrande

(PMDB-SC), pela aprovação deste e da Emenda apresentada na Comissão, com substitutivo.

Na mesma data o Grupo formado pelo Dr. Elízio, Igor Xaxá e Karla Mendes volta ao

Congresso para conversar com os Deputados Regis Oliveira e Acélio Casagrande.

Em 24/06/2009, quando estava para ser votado na Comissão de Seguridade Social e

Família o Projeto foi retirado de pauta a pedido da Deputada Federal Jô Moraes (PC do B).

A manobra pegou as entidades de surpresa pois haviam feito inúmeras visitas aos

deputados, desde o início da tramitação do projeto, e não tínha sido registrada nenhuma

resistência.

A notícia foi divulgada por Igor Xaxá que estava acompanhando a reunião e passou

rapidamente a informação. A partir daí pais, mães, as associações e movimentos que lutavam

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pela punição para a alienação parental começaram a enviar e-mails para a deputada cobrando

explicações.

Em 01/07/2009, com o falecimento do deputado Dr. Aristodemo Pinotti a sessão

deliberativa da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) foi suspensa para as

homenagens póstumas.

Encerrada a sessão de homenagens a comitiva foi convidada pelo Deputado Acélio

Casagrande, para uma audiência, em seu gabinete juntamente com a Deputada Federal Jô

Moraes , do PCdoB por Minas Gerais.

Em conversa aberta e franca a Deputada Jô Moraes  contou que fora procurada pelo

Sr. Rodrigo Dias (Presidente e fundador do Movimento Pais Para Sempre) e por uma ONG

ligada ao movimento de mulheres porque teriam pontos que discordavam do PL da AP.8

Com o apoio do Deputado Acélio Casagrande conseguiu-se dissipar as dúvidas da

Deputada Jô Moraes, que também se prontificou para conversar com o Movimento de

Mulheres, agendando reunião para as 14h30, do mesmo dia. Enquanto aguardava a reunião, o

Grupo visitou o Dep. Regis Oliveira que garantiu não só a sua participação na próxima

reunião da CSSF, como disse que estaria tratando das costuras políticas em torno do projeto

tanto na CSSF como na CCJ, e garantiu ao grupo a aprovação fácil nas duas comissões. Seu

otimismo contagiou o grupo.

Ainda no mesmo dia, ao sair do gabinete do deputado Régis de Oliveira, o Grupo foi

conversar com a Deputada Federal Cida Diogo (PT/RJ), parlamentar ligada aos movimentos

femininos e aliada de primeira hora do PL da SAP. Ela nos orientou o grupo de como

proceder, quando das reuniões sobre o PL da AP e também pediu que sua chefe de gabinete

acompanhasse a equipe na reunião com o pessoal do movimento de mulheres, em sua

substituição, pois já tinha compromisso no horário da reunião.

A reunião com o pessoal do movimento de mulheres transcorreu em clima de

entendimento. As resistências e dúvidas foram dissipadas. O Grupo conseguiu demonstrar que

o PL da AP tinha o foco na proteção da criança, que é a maior vítima de alienação parental, e

não na figura do pai ou da mãe.

A atitude adversa, de oponentes ao PL, ainda no dia 02/07/2009, levou os

movimentos e associações Participais, Pai Legal, SOS Papai e Mamãe, Pais Por

Justiça, ABCF, AMASEP   e APASE a se unirem num esforço comum pela aprovação da lei.

Todos enviaram notas oficiais aos gabinetes dos parlamentares e colocaram o texto em

seus sites.

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Das inúmeras mensagens enviadas aos parlamentares, conseguiu-se resgatar a

mensagem da entidade Paticipais, digna de registro:

“ParticiPais apóia projeto de lei da Alienção ParentalA diretoria da Associação Pela Participação de Pais e Mães Separados na Vida dos Filhos (ParticiPais) é amplamente favorável ao Projeto de Lei nº 4053/08, do deputado federal Regis de Oliveira (PSC-SP), que caracteriza a ocorrência da síndrome da alienação parental e estabelece punições para essa conduta (de advertência e multa até a perda da guarda da criança pelo pai que vier a praticar a alienação). O projeto, ora em análise por comissão da Câmara dos Deputados, contempla aspectos do problema da ocorrência da Alienação Parental que vêm ao encontro das bandeiras de luta da ParticiPais. Como organização da sociedade civil desde 2002 lutando por igualdade de condições de convivência entre ambos os pais e os filhos de casamentos desfeitos, a ParticiPais entende que o projeto poderá ajudar a diminuir problemas recorrentes como dificuldade de o pai que não mora com os filhos exercer o poder familiar, ocorrências de falsas denúncias contra um dos pais, omissão de informações sobre a vida dos filhos por parte do pai com quem residem, campanhas de desqualificação moral do pai com quem o filho não vive, entre outros. “Finalmente esse importante tema será regulado em lei e trará enormes benefícios ao combate dessa síndrome altamente prejudicial às crianças”, diz o advogado Robinson Neves Filhos, pai de três filhos, presidente da ParticiPais. Diante disso, a ParticiPais se junta aos esforços das demais associações, entidades e parlamentares que defendem os direitos de crianças, adolescentes, pais e mães a uma convivência de qualidade entre todos mesmo depois do fim do núcleo familiar original. A associação acredita que a aprovação do PL nº 4053/08 seja um passo importante nessa luta e pede a colaboração de todos para que alcance aprovação no Congresso. Assessoria de Imprensa da ParticiPais - 02/07/2009.9

Em 07/07/209 o juiz Dr. Elizio Peres, o Jornalista e escritor Carlos Dias Lopes e Igor

Xaxá, foram pessoalmente ao Congresso Nacional para entregar aos parlamentares a nota

assinada pelos movimentos.

Em 15/07/2009, às 09h30 a Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), em

Reunião Deliberativa Ordinária, aprova por unanimidade o Parecer. A primeira vitória do

PLC nº 04053/2008: O substitutivo do Deputado Acélio Casagrande foi aprovado por

unanimidade na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara de Deputados (CSSF).

Em 06/08/2009, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) é

designada Relatora do PLC nº 04053/2008 a Deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Em 12/08/2009 O nosso grupo volta ao Congresso Nacional para falar com a

deputada e distribuir material informativo sobre a alienação parental, entregando novamente

aos deputados visitados um mais cópias documentário “A Morte Inventada”.

Ao mesmo tempo, uma comisão formada por Sérgio Moura, Herminia Freitas

(Diretora da ABCF para Santa Maria-RS), Neiva Araújo (Diretora da ABCF para Venâncio

Aires-RS), Werner Soares (Vice-presidente da ABCF), acompanhados da Dra. Maria

Berenice Dias, visita a Deputada Maria do Rosário e em um proveitoso debate, passa a

deputada importantes esclarecimentos sobre a necessidade e também os benefícios da lei,

explicando que não se tratava de um projeto de lei machista ou sexista, os beneficiários

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seriam os filhos, as reais vítimas da Alienação Parental, recordando as palavras da Dra. Maria

Berenice Dias, sempre lúcida e enfática: “- O Projeto de Lei nº 04053/2008 não vem para

defender o “Clube do Bolinha” seu objetivo maior é prevenir e proteger as crianças e

adolescentes, vítimas de seus próprios pais”, reiterando, então, o pedido de apoio ao PLC nº

04053/2008. A comissão recebeu, da prórpria deputada, a promessa de que, com esta nova

visão, apoiaria incondicionalmente o projeto, mas para propiciar uma oportunidade de debate

nacional, realizaria uma Audiência Pública e delegou à Associação Brasileira Criança Feliz a

responsabilidade pela indicação de autoridades no assunto, para participarem do debate, o que

foi feito.

Sem a menor explicação, em 13/08/2009, o gabinete da deputada Maria do Rosário

começou a receber emails anônimos de pessoas contrárias ao PL.

A obscuridade foi uma marca constante das pessoas que discordavam da lei.

Segundo Karla Mendes “O que nos chamava a atenção é que ninguém topou

participar do debate democrático, preferindo emails e os bastidores. Talvez estivessem

envergonhadas por discordarem. Para contrapor o jogo sujo, adotamos a estratégia de

transparência total: municiamos os parlamentares (todos eles) de informações sobre a

alienação parental”

Segundo Karla Mendes, a audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça e

Cidadania da Câmara, realizada na data de 01/10/2009, foi um dos momentos mais tensos da

tramitação do PLC nº 04053/2008.

Compuseram a mesa de trabalho, o juiz Dr. Elizio Perez, a psicóloga Sandra Baccara,

a representante do CFP, Psicóloga Cynthia Ciarralo (não indicada pela ABCF), a Dra. Maria

Berenice Dias, a jornalista Karla Mendes e a Deputada Federal Maria do Rosário.

Nesta audiência, algumas das posições contrárias mostraram a face, notando-se que o

Conselho Federal de Psicologia mantinha ressalvas quanto ao projeto, como podemos ver na

transcrição da narrativa registrada por Karla Mendes:

A "representante" do Conselho Federal de Psicologia tentou desqualificar o PL dizendo que tratava de questões apenas restritas ao campo da disputa de guarda. Entre as pérolas ditas por ela, estava que o "Estado não pode invadir assim o território da família" (ela só esqueceu que hoje o Estado, por meio da legislação feita pelos representantes da sociedade e da aplicação da lei pelo Judiciário, já regula da gestação ao óbito). Claramente não se deu ao trabalho de ler o projeto mas tinha em mãos uma espécie de relatório onde repetia os velhos argumentos que vimos anteriormente em textos dos obscuros detratores do PL. Sustentou que a discussão sobre "alienação parental" acirraria a rivalidade entre os pais e estava ofuscando o instituto da Guarda Compartilhada.

As alegações da Psicóloga Cynthia Ciarralo foram categóricamente derrubadas com

os argumentos técnicos das senhoras Sandra Baccara, doutora em Psicologia e Professora

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emérita da Escola da Magistratura, que foi enfática em desconstruir os argumentos falaciosos

dareferida senhora. Contou que em 30 anos de profissão tinha visto muitas atrocidades

cometidas, destruindo famílias, simplesmente porque um dos genitores decide usar os

próprios filhos como instrumentos de vingança de uma relação amorosa que não deu certo. E,

com toda educação e elegância que lhe é característica, ressaltou que aquela posição trazida

pela "representante" do CFP não era a posição do conjunto dos profissionais de psicologia e

sugeriu que o CFP discutisse o assunto e auxiliasse na formação/informação dos profissionais

para atuar em casos de alienação visto que hoje os profissionais têm de ser praticamente

autodidatas.

Com a palavra a Dra. Maria Berenice Dias foi perfeita na explicação da realidade dos

tribunais e dos danos causados pela alienação, foi o tiro de misericórdia na "representante" do

CFP. Com a sagacidade de uma magistrada experiente perguntou à "representante" do CFP se

ela estava expressando uma posição isolada ou se o CFP estava se manifestando oficialmente

contrário ao projeto. Resultado: a "representante" do CFP teve de confessar que o PL não fora

discutido pela entidade e não existia um posicionamento formal a respeito. Aí, ela mudou um

pouco o discurso para dizer que o CFP tinha interesse no PL porque simplesmente tratava do

trabalho do Psicólogo. Pleiteou uma nova audiência pública para que fosse ouvido o

CONANDA. Nesse momento foi interrompida pela deputada Maria do Rosário, relatora do

projeto, que ressaltou que atuava junto ao CONANDA e é vice-presidente da Frente

Parlamentar de Defesa da Criança e do Adolescente. Enfim, o saldo foi mais que positivo:

ganhamos o apoio incondicional do IBDFAM, a defesa veemente da desembargadora Maria

Berenice Dias (que defendeu a existência dessa nova legislação para coibir a alienação

parental), destruímos os argumentos falaciosos dos opositores do projeto (que ainda não

descobrimos as verdadeiras intenções e razões) e conseguimos incutir na cabeça dos

parlamentares que o projeto visa prevenir atos lesivos a criança e adolescentes antes de tudo.

Na platéia estavam também Marcos Quezado, Igor Xaxá e Alaúde Soares.(Karla Mendes)

Em 15/10/2009, presidente do Participais, Robinson Neves organiza um debate

sobre alienação parental na OAB/DF. Participaram do debate o Desembargador do Tribunal

de Justiça do DF Arnoldo Camanho, a juíza da 1ª Vara de Família Ana Maria Louzada, o

Assessor da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça Tiago Macedo, o

Presidente da Associação ParticiPais, Robison de Neves Filho, a Psicóloga Sandra Baccara e a

integrante da Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB/DF, sra. Fabíola Orlando.

Em 23/10/2009 o Dr. Elizio Perez participa do Congresso Internacional

Psicossocial do Tribunal de Justiça - DF e defende o PLC nº 04053/2008.

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Em 10/11/2009, finalmente a Dep. Maria do Rosário, relatora do PL nº 04053/2008,

apresentou parecer FAVORÁVEL e substitutivo que retirava a punição penal prevista aos

alienadores.

Em 14/11/2009 uma comissão formada pelo Dr. Elízio Perez; Paulo Stangler

( Presidente da Associação Nacional de Entidades Reguladoras); Sr. Ronaldo Simões (Diretor

de Comunicação da Associação Nacional de Entidades Reguladoras); Sra. Luciana Aguiar

(Secretária Executiva da Associação Nacional de Entidades Reguladoras e Diretora da

Associação Brasileira Criança Feliz - Distrito Federal); Luiz Otávio Daloma (Assessor da

Deputada Maria do Rosário) e Marcos Quezado participam de uma reunião com o Deputado

Tadeu Filippelli (presidente da CCJC) e pedem que o parecer da deputada Maria do Rosário

seja colocado na pauta de votações com urgência.

Em 19/11/2009, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), em

Reunião Deliberativa, é aprovado por unanimidade o Parecer da Dep. Maria do Rosário (PT-

RS).

Encerrava-se então o trâmite do projeto de lei na Câmara de Deputados, devendo este

seguir par ao Senado Federal.

Em 14/12/2009, mesmo antes do PLC nº 04053/2008 ser encaminhado ao Senado

Federal, a Associação Brasileira Criança Feliz - ABCF ja providenciava reuniões com os

Senadores Gaúchos e o primeiro visitado foi o Senador Sérgio Zambiasi, participando desta

reunião a Dra. Maria Berenice Dias e os representantes da Associação Brasileira Criança Feliz

– ABCF, Sérgio Moura, Neiva Araújo, Tânia Reckziegel e Sandro Leão.

A data de 26/03/2010, por meio do Ofício nº 226/10/PS-GSE o PLC nº 04053/2008 é

encaminhado ao Senado Federal, e já no dia 29/03/2010 recebe destinação às Comissões de

Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e Comissão de Constituição, Justiça e

Cidadania (CCJC), cabendo à última a decisão terminativa.

No Senado Federal o Projeto de Lei da Câmara nº 04053/2008 recebeu a

denominação de Projeto de Lei da Câmara (PLC) 020/2010.

De imediato, em 07/04/2010, A Associação Brasileira Criança Feliz – ABCF,

representada pelos Associados Sérgio Moura, Alexsandro Beatrici e Werner Soares

acompanhados da Dra. Maria Berenice Dias iniciam uma série de contatos com o Senador

Paulo Paim (PT-RS) e sua assessoria para esclarecer da importância do PL na defesa das

crianças e adolescentes em situação de alienação parental e da necessidade de sua aprovação,

conseguindo que este requisitasse a relatoria do PLC nº 04053/2008, culminando com sua

designação como relator da matéria na data de 13/04/2010.

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Em 08/04/2010, em Porto Alegre, a Associação Brasileira Criança Feliz – ABCF,

representada pelos Associados Sérgio Moura, Alexsandro Beatrici e Werner Soares consegue

a adesão do Senador Pedro Simon (PMDB-RS) ao Projeto de Lei.

 Em 20/04/2010 a Assessoria de Imprensa do Gabinete do Senador Paulo Paim

publica uma nota avisando que convocaria uma audiência pública. Na nota, apenas

declarações do presidente da APASE, Analdino Rodrigues Paulino Neto, e a informação

inverídica de que o PLC nº 04053/2008 seria uma proposta encaminhada ao Congresso

Nacional pela APASE. A manobra novamente uniu os movimentos para que não ocorresse

nenhuma manobra de usurpação de um trabalho que sempre foi de cunho coletivo, que de

imediato agiram, recebendo como resposta a correção da informação acompanhada de um

pedido de desculpas.

Embora houvesse promessa de não ser realizada uma Audiência Pública, permanecia

a sombra desta, que sem dúvida alguma atrasaria a tramitação do Projeto de Lei e o fato de ser

um ano eleitoral (término da legislatura) ameaçava sua aprovação, pois se não fosse votado

seria arquivado, somente podendo ser desarquivado após o inicio da nova legislatura, caso

fosse requerido (Resolução da Câmara dos Deputados nº 38, de 1951)10.

Na data de 06/05/2010, em nota as associações, o gabinete do senador Paulo Paim

informa que o senador voltara atrás, isto é, promoveria a Audiência Pública a pedido de

psicólogos ligados ao Conselho Federal de Psicologia.

Diante desta nova informação, em 8/05/2010, novamente a Associação Brasileira

Criança Feliz volta a reunir-se com o Senador Paulo Pai (PT-RS), representada peela

Comissão formada por Sergio Moura, Alexsandro Beatricci, Werner Soares e a Dra. Maria

Berenice Dias, argumentando a necessidade de tramitação do PLC 020/2010, visto que o ano

fecharia para as eleições, fato que forçaria o arquivamento do PL. Após o encontro, ficou a

promessa que se não entrasse nenhum requerimento, não seria realizada a Audência Pública e

o relatório, que já estava pronto, seria entregue de imdeiato.

Em 13/05/2010, a Assessoria do Senador Paulo Paim (PT-RS) avisa oficialmente que

ele não haveria audiência pública, apresentando como uma das razões o fato de que o

Conselho Federal de Psicologia não havia formalizado o pedido de Audiência Pública, como

sinalizado anteriormente, formalizando sua intenção através do OF. 0100/10-GSPP

(18/05/2010 ), que solicitava a retirada da pauta a o Requerimento de solicitação de

Audiência Pública para instruir o PLS 20/2010, encaminhando de imediato o Parecer à

Presidência da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, que na data de 9/06/2010

aprovou por unanimidade o PLC 020/2010 que punia a alienação parental.

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Page 16: Lei Da AP - Historico - Brasil 2014

Sempre atentos a tramitação do PLC 020/2010, logo após o ato de aprovação, do

PLC 020/20, na Comissão, e sabendo que seu próximo destino seria a Comissão de

Constituição, Justiça e Cidadania dopede a este que este avocasse a relatoria, no qeu foi

prontamente atendida e no dia seguinte o Senador Pedro Simon (PMDB/RS) é nomeado

relator do PLC 020/2010, na comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJC).

Registra-se aqui, a dedicação do Senador Pedro Simom (PMDB/RS)e de sua

assessoria, que de imediato dedicaram-se ao PLC 020/2010, que em tempo recorde,

analisaram e entregaram o relatório, possibilitando sua análise na data de 07/07/2010, por

ocasião da 35ª Reunião Ordinária, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC)

quando foi aprovado por unanimidade.

Em 05/08/2010, após esgotados os prazos para interposição de recursos, é publicada

a ata que destinou o PLC 020/2010, para a sanção presidencial:

“ATA-PLEN SUBSECRETARIA DE ATA – PLENÁRIO:A Presidência comunica ao Plenário que esgotou-se ontem o prazo previsto no art. 91, § 3º, do Regimento Interno, sem que tenha sido interposto recurso, no sentido da apreciação, pelo Plenário, da presente matéria que, tendo sido aprovada terminativamente pela Comissão competente, vai à sanção. Será feita a devida comunicação à Câmara dos Deputados”

Em 12/08/2010, anexado ao Ofício SF n.º 1705, de 12/08/10, endereçado à Ministra

de Estado Chefe da Casa Civil, foi encaminhado a Mensagem SF n.º 203/10 ao

Excelentíssimo Senhor Presidente da República, submetendo à sanção presidencial 

Assim, em 26/08/2010, o então Presidente José Inácio Lula da Silva sancionava o

PLC 020/2010, e nascia a lei nº 12.318/2010, recebendo seu registro: “Norma Jurídica

transformada na Lei Ordinária 12.318/2010. DOU 26/08/10. PÁG 03. COL 02. Vetado

parcialmente. Razões do veto: MSC 513/10-PE. DOU 27/08/10 PÁG 05 COL 01”.

Em 27/08/2010, entrava em vigor a Lei nº 12.318/2010, transcrita na íntegra conforme

Anexo I, que define a Alienação Parental como sendo a interferência na formação psicológica

da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou

pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que

repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com

este. (Artigo 2º da Lei nº 12.318/2010).

Tamanhã a relevância desta Lei, que seus dispositivos legais não trataram apenas de

conceituar e prever suas consequências, mas também elencam um rol exemplificativo de atos

considerados de Alienação Parental, a saber:

Art. 2º [...]Parágrafo único.  São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

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I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Trata-se, pois, de instrumento legal importantíssimo para proteger nossos filhos

dessa espécie de maus tratos, coroando com êxito a Campanha da Sociedade Brasileira, em

prol da aprovação de uma Lei que protegesse as crianças e os adolescentes, vítimas de seus

próprios pais.

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Page 18: Lei Da AP - Historico - Brasil 2014

CONCLUSÃO

“Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos. Para reinventar-se é preciso

pensar. Pensar é transgredir a ordem do superficial”. Lya Luft

Estamos diante de um feito histórico em nossa nação, digno de ser registrado, sem

qualquer sombra de dúvida, pois revela a luta social travada em defesa da causa e contra a

Alienação Parental.

Importante ressaltar que todo o movimento social que desencadeou a formação da

Lei teve a participação importante de profissionais das áreas do direito e da psicologia, que se

envolveram na luta contra a alienação. O envolvimento destes se deu graças à indignação que

sentiam diante da pouca ou nenhuma ação do judiciário perante as injustiças contra a criança e

o adolescente.

Deixamos aqui essa contribuição, desejando que este registro sirva de exemplo para

que nossos filhos possam se orgulhar dos pais que tiveram a determinação de lutar por eles,

pois enquanto eram acusados de abandono, desinteresse, abusos físico, moral e até sexual,

entre outras, enfrentaram o problema de peito aberto, demonstraram o quanto amavam seus

filhos, construindo uma sociedade cada vez mais humana.

Resta ainda mencionar que a criação desta Lei ajudou e ainda ajudará muitas crianças

vítimas da Alienação Parental e também afirmar que a vgilância das entidades até aqui

envolvidas continuará sempre em busca de aperfeiçoamento da lei, para que as crianças e os

adolescentes brasileiros sejam respeitados e possam ter uma vida digna de amor, convivência

e afeto junto com ambos os pais, mesmo que em situação de separação conjugal.

Por derradeiro registramos nosso apelo a todos os pais deste imenso mundo, que, a

exemplo destes que lutaram pela Lei nº 12.318/2010, a Lei da Alienação Parental, seja quais

forem os obstáculos encontrados, jamais desistam de lutar por seus filhos.

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REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a Alienação Parental e altera o artigo 236 da Lei 8.069, de 13 de julho de 1090. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acessado em: 23 Jan. 2014.

2. BRASIL. SENADO FEDERAL – Portal Atividade LegislativaProjetos e Matérias Legislativas. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=96131>. Acessado em: 10 Jan. 14.

3. BRASIL. Câmara de Deputados – Portal Atividade LegislativaProjetos e Matérias Legislativas. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=411011>. Acessado em: 10 Jan. 14.

4. Associação Brasileira Criança Feliz – ABCF. Site oficial. Disponível em: <www.criancafeliz.org>. Acessado em: 10 Jan. 14.

5. ONG PAIS POR JUSTIÇA - Uma história de cidadania: como conseguimos aprovar a Lei da Alienação Parental. Disponível em <http://paisporjustica.blogspot.com.br/2010/08/uma-historia-de-cidadania-

como.html>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

6. ASSOCIAÇÃO PELA PARTICIPAÇÃO DE PAIS E MÃES SEPARADOS NA VIDA DOS FILHOS – PARTICIPAIS. Site Oficial. Disponível em: <http://www.participais.com.br/ > . Acessado em: 10 Jan. 14.

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Page 20: Lei Da AP - Historico - Brasil 2014

1 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: uma nova lei para um velho problema!. Disponível em: <http://espaco-

vital.jusbrasil.com.br/noticias/2351780/alienacao-parental-uma-nova-lei-para-um-velho-problema>. Acessado em 14 Jan. 2014.2 PEREZ, Elizio Luiz. Juiz do Trabalho da 20ª Vara do Trabalho – São Paulo. 3 OLIVEIRA, Regis Fernandes de, Advogado, Professor Universitário e Administrador de Empresas. Deputado

Federal (Partido/UF: PSC – SP, na 53ª Legislatura – 2007-2011).4 PERISSINI DA SILVA, Denise Maria. Graduada em PSICOLOGIA pela Universidade de Santo Amaro (1991).

Autora de livros na área de Psicologia Jurídica da Família. Autora de artigos publicados em periódicos especializados, na área de Psicologia Jurídica da Família. Membro da ABPJ (Associação Brasileira de Psicologia Jurídica) e da ALPJF (Asociación Latinoamericana de Psicologia Jurídica y Forense). Docente de Psicologia Jurídica da Família na UNISA (Universidade de Santo Amaro) e na OAB (Escola Superior de Advocacia) - 102a. Subseção de Santo Amaro (SP)

5 SOARES, We5ner da Piedade. Pai. Administrador de Empresas. Vice-Presidente da Associação Brasileira Criança Feliz (Gestão 2010-2012).

6 MENDES, Karla. Uma história de cidadania: como conseguimos aprovar a Lei da Alienação Parental. Disponível em <http://paisporjustica.blogspot.com.br/2010/08/uma-historia-de-cidadania-como.html>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

7 MINAS, Alan Minas. A Morte Inventada, Alienação Parental. Caramilhola Produções. Rio de Janeiro. Disponível em:< http://www.amorteinventada.com.br/portugues.html>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

8 MENDES, Karla. Uma história de cidadania: como conseguimos aprovar a Lei da Alienação Parental. Disponível em <http://paisporjustica.blogspot.com.br/2010/08/uma-historia-de-cidadania-como.html>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

9 ONG PARTICIPAIS. ParticiPais apóia projeto de lei da Alienção Parental. Disponível em: < http://www.participais.com.br/apoiaprojeto.htm>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

10 BRASIL. Câmara de Deputados – Projetos e Matérias. Resolução da Câmara dos Deputados nº 38, de 1951. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescad/1950-1959/resolucaodacamaradosdeputados-38-31-agosto-1951-319203-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acessado em: 10 Jan. 2014.

Autores:

* SÉRGIO DE MOURA RODRIGUES. Bacharel em Direito. Pós-graduação em Mediação Familiar

e Resolução de Conflitos. Sócio-Fundador e Presidente da Associação Brasileira Criança

Feliz – ABCF. Contato: [email protected].

** FERNANDA MOLINARI. Advogada. Psicanalista Clínica (em formação pela Sociedade Sul

Brasileira de Psicanálise). Doutoranda em Psicologia Forense e do Testemunho pela

Universidade Fernando Pessoa (Portugal). Especialista em Direito de Família. MBA em

Direito Civil e Processo Civil. Mediadora de Conflitos. Vice-Presidente da Sociedade

Brasileira de Psicologia Jurídica. Diretora do Rio Grande do Sul da Associação Brasileira

Criança Feliz e Diretora do IBDFAM/RS. Contato: [email protected].

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ANEXO I

LEI Nº 12.318, DE   26 DE AGOSTO DE 2010.

Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre a alienação parental. 

Art. 2o  Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. 

Parágrafo único.  São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; 

II - dificultar o exercício da autoridade parental; 

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; 

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; 

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; 

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; 

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. 

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Art. 3o  A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. 

Art. 4o  Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. 

Parágrafo único.  Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas. 

Art. 5o  Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. 

§ 1o  O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. 

§ 2o  A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.  

§ 3o  O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada. 

Art. 6o  Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: 

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; 

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; 

III - estipular multa ao alienador; 

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; 

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; 

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; 

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VII - declarar a suspensão da autoridade parental. 

Parágrafo único.  Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. 

Art. 7o  A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada. 

Art. 8o  A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial. 

 Art. 9o  (VETADO) 

Art. 10.  (VETADO)  

Art. 11.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

Brasília,  26  de  agosto  de 2010; 189o da Independência e 122o da República. 

LUIZ INÁCIO LULA DASILVA

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

Paulo de Tarso Vannuchi

José Gomes Temporão