Lei de Biosegurança e Defesa Do Meio Ambiente

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    LEI DE BIOSEGURANA E DEFESA DO MEIO AMBIENTE: ANECESSIDADEDE PREVENIR OS RISCOS LABORAISFlvia de Paiva Medeiros de OliveiraRESUMO: A finalidade do presente artigo analisar as implicaes que a Lei

    11.105/2005 supe em matria de preveno de riscos laborais, uma vez que aPoltica Nacional de Biossegurana (PNB) tem como norte a proteo da sadehumana, da qual faz parte a sade da pessoa que trabalha, e a preveno dedanos ao meio ambiente, cujo conceito engloba o meio ambiente de trabalho, oque conduz necessidade de rever os critrios de avaliao daresponsabilidade nos casos em que o dano ao meio ambiente de trabalho,derivado das atividades que envolvem OGM, cause tambm dano sade dotrabalhador.

    PALAVRASC!AVE: defesa do meio ambiente, preveno, precauo, sadelaboral, preveno de riscos laborais, responsabilidade objetiva.

    " INTRODU#OA Constituio de 1988 reconheceu o direito de todos os seres humanos adesfrutar de um meio ambiente hgido, ou seja, ecologicamente equilibrado,quese configura como um bem de uso comum do povo e essencial sadiaqualidade

    de vida no s das presentes, mas tambm das futuras geraes.Embora no texto da atual Carta Magna no seja possvel encontrar um conceitode meio ambiente, observam-se alguns parmetros que devem ser utilizadospara garantir que o direito, reconhecido no art. 225,caput,torne-se efetivo.A defesa do meio ambiente, nos termos do art. 170, da CF/88, caracteriza-secomo sendo um princpio que dever reger a ordem econmica, que se fundana valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa. Esse tratamentoconstitucional revela que a defesa ambiental deve funcionar como ummecanismo de harmonizao entre o valor trabalho e o valor livre iniciativa.

    Dito de outra maneira, a defesa do meio ambiente deve limitar a livre iniciativacom a finalidade de garantir a plena valorizao do trabalho humano.Contudo, o grande questionamento que tal entendimento suscita diz respeito forma como se far essa harmonizao entre trabalho, livre iniciativa e defesado meio ambiente. A resposta a tal pergunta se encontra no prprio art. 170,que, no inciso VIII, reconhece tambm como princpio da ordem econmica abusca pelo pleno emprego. Isso significa que a harmonizao entre trabalho elivre iniciativa se faz tambm buscando o pleno emprego, que se alcanaquando,

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    atravs do trabalho, o empregado tem a possibilidade de se desenvolver sociale economicamente. Esse desenvolvimento social e econmico do empregado,no meio ambiente de trabalho, demanda uma poltica de preveno de riscoslaborais, cuja finalidade proteger a sade e a segurana do trabalhador, como

    tambm garantir a higidez desse microambiente. Em outras palavras, odesenvolvimento social e econmico da pessoa trabalhadora exige um meioambiente de trabalho ecologicamente equilibrado, porque isso garante aproteo da sade, cuja efetivao se far atravs da adoo de um adequadosistema de preveno de riscos laborais. nesse contexto de harmonizao entre trabalho, livre iniciativa e defesa domeio ambiente que o art. 225, 1, V, da CF/88, confere ao Poder Pblico, paraassegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado, a atribuio de controlar a produo, a comercializao, o empregode tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco vida, a qualidadede vida e o meio ambiente. Deste modo, pode-se considerar que o risco sade do trabalhador lhe afeta a qualidade de vida e, por essa razo, incumbeao Poder Pblico controlar a forma como a atividade produtiva se desenvolver,a fim de que ela no ponha em risco a qualidade de vida do trabalhador e ahigidez do meio ambiente de trabalho.Para regulamentar os incisos II e V, do 1, do art. 225, da atual CartaConstitucional, foi promulgada, em 5 de janeiro de 1995, a Lei 8.974, que

    estabeleceu normas para o uso de tcnicas de engenharia gentica eliberao,no meio ambiente, de organismos geneticamente modificados. Em matria depreveno de riscos laborais, a importncia da referida Lei reside no fato de tertornado obrigatria, em toda instituio que realize atividades com OGM, acriao de uma Comisso Interna de Biossegurana (CIBio).

    Essa Lei foi, recentemente, revogada por outra, a Lei 11.105, de 24 demaro de 2005, que tambm prev a obrigatoriedade da criao de umacomisso interna de biossegurana. Todavia, a Lei de 2005 vai mais alm,

    tantoem matria ambiental, porque reconhece que a Poltica Nacional deBiossegurana (PNB) deve ter como uma de suas diretrizes a aplicao doprincpio da precauo, como nos aspectos relativos preveno de riscoslaborais. Em primeiro lugar, porquanto determina que a proteo da sadehumana, da qual, indubitavelmente, forma parte a sade do trabalhador, umadiretriz da PNB. Em segundo lugar, porque inclui um especialista em sade dotrabalhador entre os membros da Comisso Tcnica Nacional deBiossegurana(CTNBio), qual compete estabelecer os requisitos relativos biossegurana,

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    para autorizao de funcionamento de laboratrio, instituio ou empresa quedesenvolva atividades relacionadas com OGM e seus derivados.Assim sendo, este artigo se dedica ao estudo dessas novas implicaes que aLei de Biossegurana supe em matria de preveno de riscos laborais,

    inclusive, anlise dos critrios que devem orientar a imputao deresponsabilidade em caso de dano ao meio ambiente de trabalho, derivado dasatividades com OGM.

    $ O PRINC%PIO DA PREVEN#O: DEFESA DO MEIO AMBIENTE EPREVEN#O DE RISCOS LABORAISA obrigao de prevenir o dano ambiental , indubitavelmente, um princpiofundamental ou estrutural do Direito Ambiental, que deriva da necessidade de

    estabelecer critrios diligentes para a utilizao eqitativa dos bens quecompem o meio ambiente.Essa obrigao foi elevada categoria de princpio na Declarao deEstocolmo de 1972, que, em seu Princpio 21, pretendia assegurar que osdanos ambientais causados por atividades desenvolvidas dentro de umdeterminado Estado, no prejudicassem o meio ambiente de outros Estados oua zonas situadas fora da jurisdio nacional1. Posteriormente, em 1982, naConveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar2, esse princpio foireafirmado no art. 194.2, com igual contundncia. Em 1992, na Declarao do

    Rio3, o referido princpio foi novamente reafirmado.No mbito do direito nacional, a obrigao de prevenir os danos ambientaisaparece como conseqncia do disposto no art. 225,caput, da CR/88. Comoasseverado acima, faz-se necessrio defender e prevenir os danos ao meioambiente, que, constitucionalmente, caracteriza-se como um bem de usocomum do povo ao qual todos tm direito, e que, por ser essencial sadiaqualidade de vida, deve ser adequadamente tutelado, a fim de garantir que oseu uso, pelas presentes e futuras geraes, seja realizado de forma eqitativae equilibrada.

    Sem embargo, ainda que a referncia expressa proteo do meio ambienteencontre seu fundamento mais imediato no citado artigo constitucional, no sepode olvidar que essa referencia decorre da exigncia de garantir a dignidadehumana, reconhecida como princpio fundamental do atual Estado Democrticode Direito (art. 1, CR/88).A concretizao da dignidade humana como princpio fundamental do nossoEstado Democrtico de Direito impe uma anlise da expresso meioambiente sob uma perspectiva ampla, cujo objetivo tutelar efizcazmente a

    interao do conjunto de todos os elementos naturais, artificiais e culturais quepropiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas

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    (SILVA, 2000, p. 19-20), porque essa tutela eficiente de todos os elementosque propiciam a vida, em todas as suas formas, que permitem que o serhumano tenha uma vida digna, ou seja, uma vida sadia.Assim sendo, o meio ambiente se caracteriza como o conjunto de

    condies, leis, infuencias e interaes, de ordem sica, qumica ebiolgica, que 1 Disponvel em: www.mma.gov.br2 Ibidem.3 Ibidem.

    permite, abriga e rege a vida em todas as suas ormas (art. 3, I, daLei 6.938/81).Essa essencialidade do meio ambiente faz com que seja necessrio tutelar nos os recursos naturais, que fazem parte de um microconceito de meioambiente, como tambm a todos os demais bens que permitem, abrigam eregem a vida, nos quais se inclui a prpria obra humana, em seus aspectos

    estticos, paisagsticos, urbansticos, laborais, entre outros (ALSINA, 1995, p.48).Claro est que as atividades humanas, ainda que minimamente, alteram o meioambiente. Isso, no obstante, no justifica a atuao lesiva do homem sobreesse bem jurdico. Ao contrrio, a essencialidade do meio ambiente e suaeficaztutela exigem que a atuao humana entranhe o menor risco possvel ao bemambiental. Em outros termos, o que se pretende, com uma poltica ambientalpreventiva, evitar o dano ambiental, ou seja, a degradao

    ambiental,considerada como a alterao adversa das caractersticas do meioambiente (art.3, II, Lei 6.938/81).Nesse contexto, o princpio da preveno aparece como a garantia jurdicaatravs da qual se busca evitar as alteraes adversas das caractersticas domeio ambiente, isto , a degradao, por meio da adoo de um conjunto demedidas que, como regra geral, devem ser tomadas anteriormente intervenohumana sobre o ambiente no qual se desenvolvero as atividades.H alterao adversa das caractersticas do meio ambiente e, portanto, danoambiental, quando a interveno humana sobre o seu entorno prejudica asade, a segurana e o bem-estar da populao, cria condies desfavorveis realizao de atividades sociais e econmicas, afeta desfavoravelmente abiotaou as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente, ou lana matria ouenergia em desacordo com os padres ambientais estabelecidos (art. 3, III, daLei 6.938/81)A finalidade do princpio da preveno no impedir a interveno humana

    sobre o meio ambiente, seno assegurar que essa interveno se desenvolvasem degradar (alterar adversamente) o meio ambiente, o que exige que se

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    atenda a pautas e critrios capazes de garantir a compatibilizao dodesenvolvimento econmico e social com a preservao da qualidade e doequilbrio do meio ambiente (art. 2 c/c 4, I e VI, da Lei 6.938/81). Dito de outromodo, o princpio da preveno se destina a evitar a produo do dano, o que

    deve ser feito no apenas com a adoo de um modelo curativo, cujo objetivoreside eminentemente em indenizar as conseqncias lesivas derivadas dainterveno humana provocadora de degradao da qualidade ambiental,senotambm com a adoo de um modelo propriamente preventivo, que advm docarter irreversvel que a degradao ambiental assume, e cuja reparao nopode ser feita somente atravs do pagamento de uma indenizao vtima dodano (SADELLER, 1999, p. 39-41).Destarte, a concretizao do princpio analisado requer que se adote umaforma de atuar preventivamente, ou seja, de uma poltica preventiva que devenortear a atuao tanto do Poder Pblico como da coletividade, em todos osmbitos relacionados vida em sociedade. A necessidade de prevenir osdanos ambientais se estende tambm ao meio ambiente de trabalho, entendidocomo o habitat laboral, isto , as condies que envolvem e condicionam,direta ou indiretamente, o local onde o homem obtm os recursos necessriospara o seu sustento e desenvolvimento (MANCUSO, 1999, p. 161), j que aalterao adversa das caractersticas do meio ambiente de trabalho pode

    prejudicar a sade, a segurana e o bem-estar do trabalhador, como tambmcriar condies desfavorveis prestao da atividade laboral, que secaracteriza como uma atividade econmica, para o empregador, e como umaatividade social, para o trabalhador (art. 3, III, a e b, da Lei 6.938/81)..A poltica de preveno de danos ao meio ambiente do trabalho tem afinalidade de promover o bem-estar e a justia social, que tem como ponto departida o primado do trabalho (art. 193, CR/88), e encontra fundamento nos art.7, XXII, XXIII e XVIII e no art. 200, VIII, todos da Carta Magna vigente. a partir desses dispositivos constitucionais que se pode estabelecer a relao

    entre preveno de riscos laborais e preveno de danos ambientais,porquanto essas duas polticas preventivas tutelam a sade do ser humano.AOrganizao Mundial da Sade (OMS), no prembulo da ata de suaconstituio, oferece um conceito amplo de sade que permite configur-lacomo o completo estado de bem-estar fsico, psquico e social do ser humano4.4 Disponvel em: www.who.int.

    O aspecto fsico equivale ao tradicional conceito de sade sob a perspectivasomtica ou fisiolgica, ou seja, corresponde ao bom funcionamento do corpo edo organismo. A perspectiva psquica diz respeito ao bem-estar mental,

    traduzido no sentir-se bem consigo mesmo, na qual intervm os aspectos

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    externos ao organismo humano, isto , os riscos sociais, enquanto que oaspectosocial compreende o bem-estar do indivduo com o seu entorno e com o restodas pessoas, o que permite o desenvolvimento da personalidade como mbito

    existencial do ser humano (ALQUZAR, 2001, p. 572).Neste sentido, o art. 7, XXII, reconhece a relao existente entre reduo dosriscos inerentes ao trabalho e sade, razo pela qual a CR/88 confere aosistema nico de sade, entre outras atribuies, a de colaborar na proteo domeio ambiente, nele compreendido o do trabalho (art. 200, VIII).Como conseqncia dessa relao existente entre preveno de riscoslaborais, defesa do meio ambiente e sade, o Ministrio do Trabalho elaborou aNorma Regulamentadora 9 (NR 9), que estabelece a obrigatoriedade deelaborao e implementao, por parte de todas as instituies que admitamtrabalhadores como empregados, de um Programa de Preveno de RiscosAmbientais (PPRA), que vise preservao da sade e integridade dostrabalhadores, por meio da antecipao, reconhecimento, avaliao econseqente controle da ocorrncia de riscos ambientais existentes, ou quevenham a existir no meio ambiente do trabalho. Ademais, a citada NRconsidera, como riscos ambientais, os perigos causados sade dotrabalhador, nascidos da exposio do meio ambiente de trabalho a agentesfsicos, qumicos e biolgicos5.

    A tendncia a estabelecer uma relao entre sade, preveno de riscoslaborais e defesa do meio ambiente tambm pode ser observada no mbito daOrganizao Internacional do Trabalho (OIT), que, por meio do ProgramaInternacional para a Melhora das Condies e Meio Ambiente do Trabalho(PIACT), busca garantir a sade e a segurana no trabalho, com relao produtividade e ao bem-estar, tanto no que se refere ao trabalho como no queconcerne ao meio ambiente vital (EVAN, 1986, p. 55).5 Disponvel em: www.mte.gov.br

    No mesmo sentido, convm mencionar a Conveno 148 da OIT sobre o

    meio ambiente de trabalho6, ratificada pelo Brasil em 14 de janeiro de 1982, eque, no seu art. 4.1, prev a obrigao de adotar medidas preventivas elimitadoras dos riscos profissionais provocados pela contaminao do ar, pelosrudos e pelas vibraes.Imprescindvel, ainda, fazer meno Conveno155, sobre segurana e sade dos trabalhadores, ratificada pelo Brasil em 18de maio de 1992. O art. 3.e) dessa Conveno conceitua o que se deveentender por sade laboral, o que compreende no apenas a ausncia deafeces ou enfermidades, seno tambm os elementos fsicos e mentais quepodem afetar o estado de bem-estar do trabalhador, e que esto diretamente

    relacionados com a segurana e a higiene no meio ambiente do trabalho.

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    Essa Conveno, alm de enfatizar a necessidade de prevenir osacidentes e danos sade do trabalhador, que podem advir da realizao dotrabalho ou de uma relao com ele, como tambm o imperativo de reduzir aomnimo as causas dos riscos inerentes ao trabalho (art. 4.2), sempre faz

    meno segurana, sade e ao meio ambiente do trabalho. Isso demonstraque essestrs conceitos esto intimamente relacionados, podendo-se, inclusive, dizer quea concretizao da sade obriga adoo de medidas preventivas desegurana, com vistas a garantir um meio ambiente de trabalho hgido.

    No mbito do Direito Comunitrio, essa tendncia preventiva pode servislumbrada no art. 136 da verso consolidada do Tratado da Unio Europia, oqual estabelece que a melhora das condies de vida e de trabalho um dosobjetivos que a Comunidade e os Estados membros devero fomentar. Paraconcretizaresse objetivo, a Comunidade dever pautar suas aes e executarsuas polticas buscando garantir um alto nvel de proteo da sade humana(art. 152). Esse imperativo comunitrio foi o fundamento sobre o qual oConselho da Comunidade Europia adotou, em 12 de junho de 1989, a Diretivamarco89/391/CEE7, relativa aplicao de medidas para promover a melhoria dasegurana e sade dos trabalhadores, e que preceitua, no art. 5.1, que oempresrio tem obrigao de garantir a segurana e a sade dos

    trabalhadores,em todos os aspectos relacionados com o trabalho.6 Disponvel em: www.oit.org.7 Pbli!ada no Di"rio #$!ial das %omnidades &rop'ias ( 1)3 de 2* de +nho de1*)*, p. 1-).

    Em matria de meio ambiente, o art. 174 da verso consolidada doTratado da Unio Europia prev que um dos objetivos a alcanar, atravs dapoltica ambiental comunitria, a prudente e racional utilizao dos recursosnaturais, assim como a proteo da sade, o que obriga a ter sempre presenteo princpio de cautela e ao preventiva. Foi nesse cenrio de vinculao entre

    sade, meio ambiente do trabalho e preveno de riscos laborais que oConselho da Comunidade Europia elaborou, em 06 de fevereiro de 2003, umaResoluo cuja finalidade fomentar a responsabilidade social das empresas8.Esse sistema de responsabilidade social tem como fundamento a adoo decomportamentos destinados a alcanar uma boa gesto econmica, social eambiental, mediante a integrao voluntria, por parte das empresas, daspreocupaes sociais e ambientais em suas relaes comerciais e com osinterlocutores sociais. justamente na necessidade de uma boa gestosociambiental que se encontra o elo entre defesa do meio ambiente epreveno

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    de riscos laborais, porque a citada Resoluo considera que existe umaadequada gesto empresarial acorde com a responsabilidade social que asempresas assumem, quando se faz uma anlise da repercusso externa einterna da atividade empresarial.

    No mbito externo, situa-se a tutela do meio ambiente e dosconsumidores, por meio da qual se almeja evitar danos quelas pessoas queno se encontram implicadas no processo produtivo, enquanto que, no mbitoda repercusso interna, encontra-se a tutela dos aspectos relativos sade e segurana no trabalho, assim como a gesto dos recursos humanos. Isto,porquea falta de uma gesto responsvel, por parte da empresa, acarreta grave riscos explorao do meio ambiente e das matrias-primas, interveno dasempresas na poltica e ao respeito das normas trabalhistas.De todo o exposto, observa-se que a preveno de riscos laborais tutela oaspecto fsico da sade de um grupo determinado de indivduos, constitudospelos trabalhadores de uma empresa, enquanto que a necessidade de umaaopreventiva relativa ao meio ambiente se configura como obrigao da) &ssa esol/0o oi pbli!ado no Di"rio #$!ial das %omnidades &rop'ias de 1)de evereiro de 23.

    coletividade, o que exige um exerccio contnuo da cidadania em todos ossetores da vida social, inclusive, no entorno laboral.

    Assim, possvel dizer que a finalidade de ambas polticas preventivas amesma, j que a defesa do meio ambiente, atravs do continuado exerccio dacidadania ambiental, tutela o aspecto social da sade do ser humano, ou seja,obem-estar do indivduo com o seu entorno e com o resto das pessoas, o queremete necessidade de garantir uma adequada utilizao dos recursosambientais; ao passo em que, atravs da preveno de riscos laborais, tutela-seo aspecto fsico e psquico da sade de um grupo determinado de pessoas, ostrabalhadores de uma empresa.Isto leva, portanto, seguinte concluso: a preveno de riscos laborais ea tutela do meio ambiente, a partir do mesmo princpio bsico, a aopreventiva,assim como o mesmo critrio de atuao, a participao cidad, seja dohomemcomo membro do corpo social, seja do homem como membro de um gruposocial

    determinado, destinam-se a alcanar uma mesma finalidade, que a de tutelara sade do ser humano em seus mltiplos aspectos.

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    Deste modo, a aplicao do princpio da preveno ao meio ambiente detrabalho obriga o empregador a proteger eficazmente a sade do trabalhador, oque impe, necessariamente, a adoo de um sistema de preveno capaz deevitar os riscos laborais em todos os aspectos relacionados com o trabalho9, o

    que se faz atravs da implementao de um sistema preventivo que contempletodas as medidas elencadas na NR 9, do Ministrio do Trabalho.& A DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABAL!O NA LEI DEBIOSSEGURANA

    3.1 O PRINCPIO DA PRECAUO E SUA APLICAO AO MEIO AMBIENTEDE TRABALHO* este sentido, vid. arts. 14 e 15 da (ei de Preven/0o de is!os (aborais&spanhola-(ei 311**5, de ) denovembro.

    O art. 1 da Lei 11.105, de 24 de maro de 2005 (Lei de Biossegurana),estabelece que as normas de segurana e mecanismos de fiscalizao deatividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM), eseusderivados, devem ter como diretrizes o estmulo ao avano cientfico na rea debiossegurana e biotecnologia, a proteo vida e sade humana, animal evegetal, e a observncia do princpio da precauo para a proteo do meioambiente.

    Para se referir tutela ambiental e necessidade de proteger a sade

    humana, a Lei em comento utiliza, respectivamente, os termos precauo eproteo, razo pela qual convm precisar o alcance jurdico desses termos e,principalmente, se sua utilizao acarreta conseqncias prticas.Como dito linhas atrs, a finalidade do princpio da preveno evitar amaterializao do dano ao meio ambiente, ou seja, evitar que se alterem,adversamente, as caractersticas ambientais, o que se concretiza por meio darealizao de uma avaliao de impacto ambiental ou mediante ainternalizao

    dos custos, frmulas que deram lugar aos denominados princpios de impactoambiental e do poluidor pagador. Para que se atue preventivamente, faz-senecessria a certeza cientfica do risco de dano ambiental, para que, em facedessa certeza cientfica, prioritariamente, sejam adotados todos os meios, a fimde que a alterao adversa no se materialize.

    Todavia, muitas vezes a irreversibilidade do dano ambiental e asincertezas cientficas fazem com que se tenha de atuar com mais cautela noqueconcerne defesa do meio ambiente. Foi justamente essa necessidade de

    cautela que inspirou a Carta Mundial da Natureza de 1982 a enunciar, de formaimplcita, a idia de cautela e precauo quanto s alteraes adversas que o

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    homem pode produzir sobre o meio ambiente (RUIZ, 1999, p. 79).Posteriormente, a Declarao do Rio, de 1992, reconheceu, no seu

    Princpio 15, que, diante da existncia de perigo grave e irreversvel, a falta decerteza cientfica absoluta no dever ser utilizada para postergar a adoo de

    medidas eficazes, em razo dos custos, para impedir a degradao ambiental.Portanto, o princpio da precauo aparece como sendo a garantia jurdicaque se destina a evitar que a falta de certeza cientfica absoluta sobre apossibilidade de materializao de um dano funcione como uma orientaopermissiva das atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente. Dito deoutra maneira, se existe dvida sobre a gravidade e irreversibilidade do dano, melhor tender para o lado da segurana, o que supe a no-realizao daatividade potencialmente lesiva (RUIZ, 1999, p. 79).

    A prpria Declarao do Rio no confere a natureza jurdica de princpioa essa medida de cautela. Pelo contrrio, utiliza a expresso critrio, o queleva a crer que no se trata de um princpio autnomo e distinto do princpio depreveno, e sim representa mais uma dimenso deste ltimo princpio, umavezque obriga uma ao preventiva que, inclusive, deve considerar a ausncia decerteza cientfica sobre um dano grave e irreversvel, diante do que, devem seradotadas medidas (de ao ou de absteno) para conjurar ditos danos. Emoutras palavras, a necessidade de uma preveno eficaz em matria ambiental

    conduz ao extremo de impedir a realizao de atividades lesivas irreversveis egraves. por essa razo que o princpio da precauo aparece como sendoumadas diretrizes da poltica de biossegurana. O que se pretende evitar que afalta de certeza cientfica absoluta quanto gravidade e reversibilidade de umdano ambiental seja utilizada como escusa realizao de atividades queenvolvem OGM.

    Deve-se considerar, ainda, que a inexistncia de uma certeza cientficasobre um dano ambiental pode implicar tambm a ausncia de certeza

    cientficacom relao aos riscos que as atividades que envolvem OGM podem causar sade humana, que engloba tambm a sade dos trabalhadores, motivos que

    justificam alargar o mbito material de aplicao do princpio da precauo, quedeve abranger no apenas a proteo do microambiente, mas tambm aproteo do macroambiente, no qual se inclui o meio ambiente de trabalho, jque a prpria lei alude proteo da vida e da sade humana.

    A aplicao do princpio da precauo ao mbito laboral, por ter afinalidade de conferir maior eficcia ao princpio da preveno, deve garantirque,

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    quando inexistir certeza cientfica absoluta sobre a gravidade e reversibilidadede um dano, derivado de uma atividade laboral, e sobre as medidas que devemser tomadas para evit-lo, deve-se optar pela no-realizao dessa atividade, afim de garantir proteo eficaz da sade do trabalhador.

    3.2 A COMISSO TCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANA (CTNBIO)A preocupao com a sade do trabalhador se revela, na Lei comentada,em vrios dos seus dispositivos. Um dos mais significativos o que se refere composio da Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana (CTNBio).O art. 11, III, da Lei 11.105/2005, preceitua que dever fazer parte dessaComisso, um especialista em sade do trabalhador, indicado pelo Ministro doTrabalho e Emprego, que ser escolhido em lista trplice elaborada pelasorganizaes da sociedade civil (art. 11, 2), entre as quais,necessariamente,devero estar as organizaes sindicais.Cumpre levar em considerao, principalmente, o fato de que a CTNBiotem carter consultivo e deliberativo. No primeiro caso, prestar apoio tcnico ede assessoramento ao Governo Federal, na formulao, atualizao eimplementao da Poltica Nacional de Biossegurana (PNB) de OGM e seusderivados, que dever ter, entre suas preocupaes, a garantia da sade dotrabalhador. No segundo caso, emitir pareceres tcnicos referentes

    autorizao das atividades que envolvem pesquisa e uso comercial dosreferidosorganismos.O que o citado preceito legal pretende deixar claro, quando incluiumespecialista em sade do trabalhador entre os membros da CTNBio, que aPNB dever garantir a sade humana, na qual est inserida a sade dotrabalhador e a higidez do meio ambiente, do qual faz parte o meio ambientedo trabalho. Isto, porque as atividades que envolvem OGM causam risco aomeio

    ambiente de trabalho, por gerar uma situao de perigo para a sade dotrabalhador. Tal situao de perigo deriva da natureza, concentrao,intensidade ou tempo de exposio a agentes fsicos, qumicos ou biolgicos aque ficam submetidas as pessoas que desempenham as atividades previstasna Lei de Biossegurana, podendo tais atividades ser caracterizadas comoinsalubres, o que leva a propugnar a aplicao do princpio da precauo,sempre que se estiver diante da falta de certeza cientfica sobre a gravidade eirreversibilidade dos danos que essas atividades podem causar sade dotrabalhador e ao meio ambiente do trabalho, bem como sobre as medidas quedevem ser tomadas para evit-los.

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    Para implementar uma PNB que, efetivamente, garanta a sade dotrabalhador e um meio ambiente de trabalho hgido, cabe CTNBioestabelecermecanismos para o funcionamento das Comisses Internas de Biossegurana

    (CIBio). Ademais, quele rgo incumbe, tambm, estabelecer os requisitosrelativos biossegurana para autorizao e funcionamento de laboratrio,instituio ou empresa que desenvolva as atividades enumeradas na Leicomentada (art. 14, VI), assim como emitir o Certificado de Qualidade emBiossegurana-CQB para o desenvolvimento de atividades com OGM e seusderivados (art. 14, XI). Da anlise dessas disposies legais, resulta umaimportante conseqncia prtica, qual seja, a de que CTNBio competedesempenhar a funo de estabelecer as normas especficas de preveno deriscos laborais para as atividades que envolvem OGM, o que se dessume daanlise do art. 14, V e VI, como tambm lhe compete um controle peridico documprimento das normas preventivas especficas, o que dimana do art. 14, VIIIe XI, uma vez que a emisso do CQB implica acompanhamento das atividadescom OGM ou seus derivados.

    Para que haja uma efetiva proteo da sade do cidado, do trabalhadore do meio ambiente, inclusive o do trabalho, a Lei 11.105/2005 prev doisimportantes instrumentos. O primeiro, o direito informao, previsto no art. 7,III.

    Com relao a esse direito, o que convm destacar que a informaodeve ter por objeto os riscos a que esto submetidos a coletividade e otrabalhador, como tambm os procedimentos que devem ser adotados no casode acidentes com OGM. O segundo direito instrumental para a garantia dasade humana e do meio ambiente consiste na realizao, pela CTNBio, deaudincias pblicas das quais poder participar a sociedade civil (art. 15).

    Os sindicatos desempenham um importante papel na preveno deriscoslaborais das atividades que envolvem OGM, devendo ser informados, pela

    CIBio,dos riscos que essas atividades entranham para os trabalhadores, o quepossibilita, s organizaes sindicais, um amplo conhecimento da matria epermite-lhes participar mais efetivamente das audincias pblicas convocadaspela CTNBio. A fim de dotar a CTNBio das informaes necessrias para ocontrole peridico das atividades que envolvem OGM, assim como desubsdios para emitir o CQB, o art. 7, III, da Lei analisada, torna obrigatria ainformao citada entidade e s autoridades de sade pblica, do meioambiente, da defesa agropecuria, coletividade e aos demais empregados dainstituio ou

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    empresa, sobre os riscos a que possam estar submetidos, bem como osprocedimentos que se devem adotar no caso de acidentes com OGM.

    3.3 A COMISSO INTERNA DE BIOSSEGURANA (CIBIO)

    Pelo que se observa do articulado na Lei 11.10572005, a CIBiodesempenha um papel primordial na defesa do meio ambiente do trabalho.Trata-se de uma comisso interna que dever ser criada por todas asinstituies que utilizam tcnicas e mtodos de engenharia gentica, ourealizam pesquisas com OGM e seus derivados.Em matria de riscos laborais, as funes preventivas da CIBio devem serrealizadas em trs momentos. O primeiro deles tem lugar antes da autorizaoda atividade, porque, referida comisso, compete encaminhar CTNBio osdocumentos necessrios, para efeito de anlise, registro e autorizao daatividade que ser realizada. No se sabe ainda quais so esses documentos,

    j que eles devero ser estabelecidos na posterior regulamentao que se farda Lei 11.105/2005.

    No obstante, entre os documentos que devero ser enumerados pelaposterior regulamentao da Lei analisada, e que devero ser encaminhados,pela CIBio, CTNBio, para efeito de anlise, registro e autorizao daatividade,deve constar o laudo tcnico emitido pela Delegacia Regional do Trabalho

    (DRT), e que aprova a instalao da instituio, laboratrio ou empresa, no queconcerne adoo de especficas medidas de preveno de riscos laborais(art.1, da Lei 11.105/2005 c/c art. 160, CLT), tendo em vista que a proteo dasade humana, na qual se inclui, seguramente, a sade do trabalhador, e adefesa do meio ambiente, do qual forma parte o meio ambiente do trabalho,socritrios que devem nortear a PNB.

    O segundo momento em que tm lugar as funes preventivas da CIBio

    se verifica quando da elaborao de programas preventivos e de inspeoespecficos que devero garantir adequadas condies de desenvolvimento satividades que envolvem OGM, o que significa estabelecer e adotar padres desegurana capazes de eliminar os riscos que essas atividades podem suporparaa sade humana.

    No que tange preveno de riscos laborais, esses programaspreventivos, que, alm de normas especficas de preveno, deveroespecificar

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    o procedimento a ser adotado em caso de acidente, tero que, deconformidadecom o previsto no art. 157, III, da CLT, ser estabelecidos atravs de ordens deservios, que devero ser amplamente divulgadas no mbito da empresa,

    laboratrio ou instituio, a fim de garantir efetivamente o direito do trabalhador informao (art. 18, I, Lei 11.105/2005), e incorporadas ao Plano dePrevenode Riscos Ambientais (PPRA) previsto na NR 9 do Ministrio do Trabalho .

    A atuao preventiva da CIBio tambm dever ser realizada quando asade do trabalhador for efetivamente lesada pelas atividades que envolvemOGM (art. 8, VI), ou seja, nas hipteses em que se concretizam acidentes ouenfermidades. Nesses casos, a citada comisso dever investigar a ocorrnciade tais leses, tomar as providncias cabveis e notificar CTNBio asconclusesda investigao efetuada, bem como as providncias tomadas para impedir queo acidente cause maiores danos.

    Em definitivo, CIBio cabe estabelecer programas preventivos emmatria de preveno de riscos laborais e acompanhar, de forma peridica aefetiva, a aplicao desses programas, o que supe, inclusive, realizarinvestigaes acerca da ocorrncia de leses e adotar as medidas necessriaspara que o dano repercuta o mais minimamente possvel.

    Convm indagar se a CIBio e a CIPA se confundem. Ou melhor, se asfunes que o art. 18, da Lei 11.105/2005, conferiu CIBio podem serdesempenhadas pela CIPA.O que se dessume do contedo do mencionado artculo que a CIBioatende a duas finalidades. A primeira delas diz respeito, especificamente, preveno de riscos laborais no mbito das instituies, laboratrios einstituies que realizam atividades envolvendo OGM e seus derivados. Asegunda que essa comisso funciona como um elo entre a entidade querealiza a atividade e a coletividade, razo pela qual o art. 18, I, prev que a

    CIBio dever manter informados no s os trabalhadores como tambm osdemais membros da coletividade, sobre os riscos que as atividades com OGMentranham. Assimsendo, tal comisso desempenha no apenas funes internas de preveno,seno tambm funes externas.

    Ainda que assim seja, no se v nenhum inconveniente que impea queas atribuies conferidas CIBio sejam desempenhadas pela CIPA, semprequeesta tambm desempenhe a funo de informao externa prevista no art. 18,I.

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    Melhor dizendo, todas as medidas enumeradas no art. 18 devem ser integradasao PPRA, inclusive a obrigao de a CIBio comunicar coletividade os riscosque as atividades que envolvem OGM podem ocasionar, e as medidas a tomarem caso de acidente.

    Partindo do pressuposto de que a CIBio e a CIPA so rgos depreveno obrigatrios, se se entende que se trata de comisses distintas,estarse-ia admitindo no mbito de uma mesma empresa, entidade ouinstituio a existncia de dois rgos que cumprem, basicamente, a mesmafinalidade.

    Nesse sentido, o art. 14, I, da Lei 11.105/2005, ao enumerar ascompetncias da CTNBio, elenca, entre elas, a relativa ao estabelecimento dosmecanismos de funcionamento da CIBio, sem, contudo, fazer meno necessidade de ditar normas estabelecendo a composio dessas comisses.A ausncia de uma meno legal necessidade de normas que regulem acomposio da CIBio leva a crer que esse rgo dever ser composto deconformidade com o previsto no art. 164, da CLT, razo que justifica defender oposicionamento de que as funes atribudas CIBio podem e devem serdesempenhadas pela CIPA, j que no faz sentido ter dentro de uma mesmaentidade dois rgos com a mesma composio e desempenhando a mesmafuno. Assim sendo, no dever ser considerada como infrao administrativaa falta de criao da CIBio. Ao contrrio, a entidade que realiza atividades

    envolvendo OGM incorrer em infrao administrativa quando no incorporaraoPPRA as medidas preventivas especficas, em matria de preveno de riscoslaborais, e no conferir CIPA a obrigao de informar coletividade sobre osriscos que as atividades envolvendo OGM supe, e sobre as medidas quedevemser tomadas em caso de acidente.

    3.4 OS RGOS E ENTIDADES DE REGISTRO E FISCALIZAO

    A Lei 11.105/2005, acorde com a exigncia de tutelar o macroambiente, noqual se inserta o meio ambiente do trabalho, inclui, entre os membros daCTNBio, um especialista em sade do trabalhador. A importncia dessapreviso legal, como dito linhas atrs, radica no fato de que, referidaComisso, compete, primordialmente, o estabelecimento das normas que ironortear a PNB. Ademais desse carter normativo, cabe asseverar tambm queas decises tcnicas da CTNBio vinculam os demais rgos e entidades daadministrao (art. 14, 4).

    Por isso, se a CTNBio emite deciso tcnica desfavorvel autorizao,

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    cadastro ou acompanhamento de uma determinada atividade que envolveOGM,tendo em vista que a instituio no adotou especficas normas de prevenode

    riscos laborais, essa deciso vincula os rgos de registro e fiscalizao,enumerados no art. 16, que no podero emitir as autorizaes para ofuncionamento da atividade.

    Com base nesses argumentos, no se pode negar que uma das linhasque deve nortear a PNB , indubitavelmente, a preveno de danos ao meioambiente de trabalho, porque, na medida em que se garante um meio ambientede trabalho hgido, tutela-se, a um s tempo, dois importantes bens jurdicosque aparecem como diretrizes da Lei de Biossegurana, a saber, a sadehumana e o meio ambiente.Assim sendo, o disposto no art. 11, VIII, da Lei 11.105/2005, representauma grande garantia de proteo do meio ambiente do trabalho. No entanto,fazse necessrio destacar que a preveno do meio ambiente de trabalho nopode ser concretizada sem que se garanta a fiscalizao das atividades comOGM, no que tange adoo das normas especficas de preveno de riscoslaborais.

    Como asseverado anteriormente, a no-incorporao, ao PPRA, dasespecficas medidas preventivas em matria de preveno de riscos laborais

    constitui infrao administrativa, razo que justifica indagar sobre qual ser orgo competente para aplicar a sano administrativa correspondente.O art. 16, da Lei de Biossegurana, determina quais so os rgos

    responsveis pela fiscalizao das atividades que envolvem OGM, assim comopela aplicao das penalidades previstas na mencionada Lei, mas, entre essesrgos, no menciona os rgos e entidades de registro e fiscalizao doMinistrio do Trabalho. Essa ausncia de referncia legal aos rgos doMinistrio do Trabalho exclui a competncia das DRTs para sancionar anoincluso, ao PPRA, das especficas medidas de preveno de riscos

    laborais das atividades com OGM, o que poderia fazer pensar que a Leianalisada, apesar de dar, com o previsto no art. 11, VIII, um passo frente, natutela do meio ambiente do trabalho, no garante a eficaz proteo do citadobem jurdico, j que no prev um rgo competente para sancionar a no-adoo de especficas medidas para prevenir os riscos laborais que podemadvir da realizao de atividades que envolvem OGM.

    No entanto, convm considerar que a PNB deve ter como pautasorientativas a proteo vida, sade e ao meio ambiente, em cujo contedose inserta, inequivocamente, a tutela do meio ambiente do trabalho, que

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    aparece como um pressuposto indispensvel consecuo de um meioambiente hgido.Isso abre duas possibilidades no que concerne fiscalizao da aplicao dasmedidas preventivas especficas, em matria de preveno de riscos laborais.

    Poder-se-ia argumentar que cabe ao Ministrio da Sade fiscalizar eaplicar as sanes correspondentes, j que a integridade do trabalhador seinsere no mbito de proteo do direito sade. Por outra parte, tambm sepoderia alegar que a competncia desse mister deve ficar a cargo do Ministriodo Meio Ambiente, uma vez que o que se deseja defender o direito a ummeio ambiente hgido, no qual se inserta o meio ambiente de trabalho.Prefiro entender que a fiscalizao da adoo das especficas medidas depreveno de riscos laborais das atividades que envolvem OGM, assim como aaplicao das sanes correspondentes, pela no-incluso, no PPRA, dessasmedidas, deve ser feita pelos rgos de registro e fiscalizao do Ministrio doMeio Ambiente, visto que a prpria NR 9 do Ministrio do Trabalho deixa claroque a adoo de um programa de preveno de riscos ambientais, alm de serum pressuposto necessrio preservao da sade e da integridade fsica dostrabalhadores, deve ter em considerao a proteo do meio ambiente e dosrecursos naturais.Noutros termos, os rgos de fiscalizao do Ministrio de Meio Ambientetm competncia para fiscalizar e punir a no-incluso, no PPRA, de

    especficasmedidas preventivas, em matria de preveno de riscos laborais dasatividadesque envolvem OGM, porquanto, segundo a NR 9, a preveno dos riscoslaborais funciona como um passo indispensvel, atravs do qual se garante arealizao de um meio ambiente hgido e do mnimo necessrio para sealcanar a sadia qualidade de vida.Destarte, se a CIPA, a quem compete realizar as atribuies elencadas noart. 18, da Lei 11.105/2005, no estabelecer os programas preventivos e de

    inspeo para garantir o funcionamento das instalaes sob suaresponsabilidade, dentro de padres e normas de biossegurana capazes degarantir que a realizao das atividades que envolvem OGM no afete a vida, asade e o meio ambiente de trabalho, cometer infrao administrativa quedever ser punida pelo IBAMA, ou pelos rgos fiscalizadores, estaduais oumunicipais, quando houver a celebrao de convnio entre a entidadefiscalizadora federal, estadual ou municipal.

    ' CONSE()*NCIAS PR+TICAS DERIVADAS DA APLICA#O DO

    PRINC%PIO

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    DA PREVEN#O PARA TUTELAR O MEIO AMBIENTE DETRABAL!OA Lei 11.105/2005 representa um grande avano em matria de prevenode riscos laborais, ainda que, especificamente, no tocante s atividades que

    envolvem OGM. Por dois motivos que, apesar de j terem sido analisados aolargo deste estudo, merecem ser, mais uma vez, mencionados.Em primeiro lugar, porque prev a participao de um especialista emsade do trabalhador entre os membros que compem a CTNBio, rgoencarregado do estabelecimento das normas que iro disciplinar a realizaodas atividades que envolvem OGM. Isso significa que, entre as normasregulamentadoras dessas atividades, devero estar presentes normasespecficas de preveno de riscos laborais, j que as atividades citadas, aocolocarem em perigo a higidez do meio ambiente de trabalho, entranham riscos

    sade do trabalhador.Em segundo lugar, porquanto, ao prever a obrigatoriedade de criao de

    uma Comisso Interna de Biossegurana (CIBio), em todas as entidades querealizem atividades envolvendo OGM, e ao atribuir a essa Comissocompetncias, primordialmente, preventivas em matria de riscos laborais,revela que a PNB deve ter, como uma de suas pautas orientativas, a proteoda sade do trabalhador e do meio ambiente de trabalho, que se insertam,respectivamente, no mbito de proteo da sade humana e do meio ambiente.

    A primeira conseqncia prtica que esse grande avano da Lei deBiossegurana supe , como dito, o de atribuir CIPA competncia paraestabelecer, partindo das normas gerais previstas pela CTNBio, normaspreventivas especficas em matria de riscos laborais das atividades queenvolvem OGM. Isso porque no resulta coerente que, em uma mesmainstituio, haja dois rgos obrigatrios para cumprir uma mesma finalidade,qual seja, a de prevenir os danos que as atividades laborais podem acarretarpara o trabalhador. Prefiro entender que a nova Lei confere CIPA, alm dafuno de prevenir os riscos derivados da atividade laboral, a atribuio de

    informar sociedade sobre os riscos que as atividades que envolvem OGMpodem causar coletividade em geral, o que, em ltima anlise, supe, nestamatria, maior vinculao da sociedade com as atividades que se desenvolvemno interior das instituies.A segunda conseqncia prtica que deriva da Lei 11.105/2005, no queconcerne preveno dos riscos laborais, diz respeito aos critrios norteadoresda responsabilidade, surgida do descumprimento da obrigao de prevenir osdanos ao meio ambiente de trabalho.O contrato individual de trabalho, cujo objeto o trabalho subordinado,

    um contrato bilateral e comutativo, que gera obrigaes equivalentes paraambos

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    os contratantes. Essas obrigaes que nascem do contrato individual detrabalhose classificam em fundamentais e complementares. Para o empregado, aobrigao fundamental a de prestar o trabalho, enquanto que, para o

    empregador, a de contraprestar o salrio.As obrigaes complementares, como o prprio nome deixa entrever,completam a dinmica da relao obrigacional, o que, em outras palavras,significa que se trata de obrigaes que garantem e permitem a realizao dasobrigaes fundamentais simetricamente opostas. So obrigaescomplementares do empregador: o fornecimento de meios para a execuo dotrabalho; a urbanidade de tratamento; a preservao do bom ambiente detrabalho; o cumprimento do contrato e da legislao trabalhista, e o exerccioequilibrado do poder de disciplinar. As obrigaes complementares doempregado consistem nisto: diligncia; obedincia; assiduidade e pontualidade;fidelidade; urbanidade e boa conduta.Como se observa, a obrigao que o empregador assume de prevenir osriscos laborais uma obrigao complementar, j que a garantia de que asadedo trabalhador ser mantida no meio ambiente de trabalho lhe permite prestar aatividade laboral a que se obrigou com a celebrao do contrato de trabalho, eque se veria impossibilitada se o empregado sofresse um dano quele bem

    jurdico. Pelo que interessa a este estudo, o problema que a obrigaocomplementar de prevenir os riscos laborais suscita o relativo determinaode sua natureza jurdica. Trata-se de uma obrigao que nasce do contrato oudalei?Tal problema se verifica, porquanto a lei que impe ao empregador aobrigao de prevenir os danos que as atividade laborais podem causar aoempregado, o que poderia levar a pensar que o descumprimento dessaobrigao

    gera uma responsabilidade de ordem extracontratual, que eminentementesubjetiva.Todavia, no que atine s obrigaes complementares e, principalmente, obrigao de prevenir os riscos laborais, o contrato de trabalho que define edetermina o mbito subjetivo de aplicao da legislao trabalhistas, ou seja,dasnormas que disciplinam as medidas preventivas que devem ser adotadas peloempregador, para que o dano ao meio ambiente de trabalho no se concretize(GALLEGO, 1998, p. 30).Dito de outra maneira, existe um dever legal e abstrato imposto pela

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    causalidade entre os dois primeiros requisitos, ter lugar a obrigao de repararos danos causados, a menos que se verifique caso fortuito ou fora maior11.No entanto, apesar de ser este o entendimento que se infere dosmencionados preceitos legais, poder-se-ia alegar que o art. 392, do CC,

    condiciona a exigncia de responsabilidade contratual demonstrao deculpapor parte do credor, uma vez que prescreve que, nos contratos onerosos, cadauma das partes responder por culpa, o que significa dizer que as partes deumcontrato bilateral somente podero exigir a responsabilidade contratual da outrase o co-contratante tiver atuado, com culpa, no descumprimento da obrigaopactuada.Ainda que o art. 392, do CC, suponha uma aparente limitao daresponsabilidade contratual, nos contratos bilaterais, s hipteses em que ocredor consegue demonstrar a culpa do co-contratante, uma interpretaoconjunta do disposto nos arts. 392, 393, 402 e 403, todos do CC, revela que aresponsabilidade nascida do descumprimento do contrato somente pode serafastada quando acontea um caso fortuito ou fora maior, porque, comopreceitua o pargrafo nico do art. 393, do CC, esses dois eventos tm lugarnofato necessrio, cujos efeitos no era possvel evitar ou impedir.

    A culpa deve ser entendida como critrio de imputao de conseqnciasjurdicas que deve ser avaliado a partir de fatos exteriores ou constatveis11endo em !onsidera/0o >e a or/a maior ' o a!onte!imento >e se origina orada empresa o !r!lo dodevedor e >e, ainda >e pdesse ser previsto, resltaria inevit"vel e >e o !asoortito ' o a!onte!imento >ese observa no interior da empresa o !r!lo aetado pela obriga/0o e >e no podeser previsto, mas >e, seosse, poderia ser evitado. anto a or/a maior, >anto o !aso ortito, em mat'riade responsabilidade!ontratal, n!ionam !omo eventos >e impedem apli!ar ao !omportamentoviolador do !onte?do !ontratal

    !onse>@n!ias +rdi!as 9enten/a do ribnal premo &spa8ol de 1* de +nho de1*)4-eern!ia ;ran

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    um dano e de uma relao de causalidade entre este e a inobservncia docontrato.Por todas essas razes, convm dizer que a responsabilidade contratual uma espcie de responsabilidade jurdica quase-objetiva, dado que somente se

    eludir quando o descumprimento do contrato advier, como conseqncia, deumfato necessrio inevitvel ou difcil de ser impedido, ou quando no for possvelestabelecer uma relao de causalidade entre o descumprimento e o danoalegado.Aplicando esses pressupostos ao contrato de trabalho e obrigao deprevenir os danos que podem surgir do descumprimento das medidas depreveno de riscos laborais, possvel dizer que, se o empregadordescumpreessa obrigao, o que acontece quando no adota todas as medidasnecessriaspara, eficazmente, prevenir o dano, e disso resulta prejuzo para o trabalhador,exsurge uma responsabilidade de reparar que quase-objetiva, e somente seelude quando aquele consiga provar que se deu um fato necessrio, ou seja,que, tendo utilizado todas as medidas necessrias e exigveis para a prevenodo dano, ainda assim, este resultou inevitvel, ou que foi incapaz impedi-lo, ouquando demonstre que, entre o descumprimento da obrigao contratual e o

    dano, no existe nexo causal, porque a ruptura da relao de causalidadedemonstra que o dano padecido advm de uma causa alheia ao contrato detrabalho e, por isso, o empregador no est obrigado a reparar os danos aosquais no deu causa.Desta maneira, e, como regra geral, a obrigao que deriva dodescumprimento, pelo empregador, da obrigao de prevenir os danos que otrabalhador pode sofrer no curso da prestao da atividade laboral, umaresponsabilidade contratual e, portanto, quase-objetiva, porquanto somentepode

    ser afastada em duas circunstncias: a) quando se verifique um fato necessriocapaz de caracterizar o evento danoso como inevitvel, ou, b) quando inexistanexo causal entre o dano sofrido pelo trabalhador e o descumprimento daobrigao contratual de prevenir.No entanto, se se considera que o dano ao meio ambiente de trabalhoconstitui uma poluio, nos moldes do previsto no art. 3, III, a e b, da Lei6.938/81, de vez que a degradao da qualidade do meio ambiente de trabalhopode, direta ou indiretamente, criar condies adversas s atividades sociais eeconmicas, assim como lesar a sade do trabalhador, ter-se-ia que aplicar, aessa espcie de dano ambiental, o disposto no art. 14, 1 da referida Lei, que

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    obriga o poluidor a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente,independentemente da existncia de culpa.Isso quer dizer que, quando as atividades envolvendo OGM causem umdano ao meio ambiente de trabalho e, por conseguinte, sade do trabalhador,

    oempregador ser obrigado a reparar esses danos, independentemente daapreciao de culpa e, nesse caso, como se trata de uma responsabilidadeeminentemente objetiva, somente se afastar essa obrigao reparadoraquandofique demonstrada a inexistncia de nexo causal entre o dano e a atividadedesenvolvida.A teoria da responsabilidade objetiva, em matria de danos ao meioambiente do trabalho, ganha um importante argumento a seu favor quando seestende a aplicao do principio da precauo a esse microambiente, o quedeveser feito com fundamento nos art. 7, XXII e XIII, art. 193,caput, e art. 200,VIII,todos da Carta Magna vigente, como tambm com fulcro no 3, II e III, a e b,da Lei 6.938/81, e na NR 9, do Ministrio do Trabalho.A aplicao desse principio ao meio ambiente de trabalho impe umanova dimenso protetiva, que deve ser acrescida s j existentes, em matria

    depreveno de riscos laborais. A saber, a de que, ante a ausncia de certezacientfica absoluta sobre a reversibilidade e gravidade de um dano e dasmedidasque devem ser adotadas para impedi-lo, no se deve permitir odesenvolvimentoda atividade, j que isso supe um grave perigo para a higidez do meioambientede trabalho e para a sade do trabalhador.

    Contra a adoo de uma teoria da responsabilidade objetiva, para repararos danos ao meio ambiente de trabalho advindos da realizao de atividadescomOGM, poder-se-ia levantar o argumento de que j existe uma responsabilidadeobjetiva que se materializa por meio dos benefcios pagos pelo INSS, noscasosde acidentes de trabalho. Contudo, vale salientar que os benefciosenumeradosna Lei 8.213/91, salvo o caso do auxlio-acidente, no tm naturezaindenizatria.

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    Ao contrrio, asseguram, ao trabalhador, a manuteno de uma renda duranteoperodo em que estiver incapacitado para o trabalho e, ademais, s sodevidos

    quando o segurado cumpre o prazo de carncia exigido pela referida lei.O problema que a adoo de uma teoria da responsabilidade objetiva, nocaso em anlise, poderia suscitar, centra-se realmente no preceituado no art.7,XXVIII, da CF/88, segundo o qual o seguro contra acidentes de trabalho, acargodo empregador, no exclui a indenizao a que este est obrigado, quandoincorrer em dolo ou culpa. Vislumbra-se uma incoerncia, portanto.Os arts. 7, XXII e XIII, art. 193,caput, art. 200, VIII e 225,caput e inciso V,todos da CF/88, abrem passo para a insero do meio ambiente do trabalho noconceito de meio ambiente, o que justifica aplicar o disposto no art. 14, 1, daLei 6.938/81, enquanto que o art. 7, XXVIII, da Constituio vigente, aocondicionar a indenizao devida por acidente de trabalho a uma atuaoculposa ou dolosa do empregador, no que concerne omisso de medidas depreveno de riscos laborais, automaticamente impe critrios subjetivos paraanalisar a existncia de danos ao meio ambiente de trabalho, e atrela aindenizao devida por esses danos presena de culpa ou dolo.

    Como dito linhas atrs, o dano ao meio ambiente de trabalho se qualificacomo uma poluio, de acordo com o previsto no art. 3, III, a e b, da Lei6.938/81, visto que a degradao desse microambiente prejudica a sade, asegurana, e o bem-estar das pessoas implicadas no processo produtivo, bemcomo cria condies adversas ao desenvolvimento do trabalho, que representa,para o trabalhador, uma atividade social e econmica importante, atravs daqualgarante o desenvolvimento da sua personalidade e o seu sustento.Em outras palavras, o dano ao meio ambiente de trabalho, tanto sob a

    perspectiva constitucional quanto sob o prisma infraconstitucional, pode e deveser considerado como um dano ao meio ambiente, o que permite avaliarobjetivamente a existncia de responsabilidade por esses danos, devendoincluirse,na categoria de danos ambientais, a leso sade do trabalhador queaparea como conseqncia de alteraes adversas das caractersticas domeioambiente de trabalho. No entanto, com base no art. 7, XXVIII, da CF/88, aresponsabilidade por tais leses continua sendo apreciada subjetivamente.Isto posto, cabe determinar em que circunstancias se deve avaliar

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    objetivamente a responsabilidade atravs da qual se reparam os danos sofridospelo trabalhador, derivados da realizao de atividades envolvendo OGM. OsTribunais devem avaliar objetivamente a responsabilidade pelos danoscausados

    ao trabalhador quando este, como conseqncia de um dano ao meioambientede trabalho, padea uma leso sade.Considera-se existente dano ao meio ambiente de trabalho quando sealtera adversamente as caractersticas desse microambiente, o que se verificaem todas as circunstncias em que se criam condies desfavorveis aodesenvolvimento de atividades sociais e econmicas (art. 3, III, b, da Lei6.938/81). Dito com outras palavras, pe-se em risco a higidez do meioambientede trabalho quando a realizao de atividades envolvendo OGM alteraadversamente as caractersticas do meio ambiente e impossibilita a realizaodaprestao laboral, que deve ser entendida como uma atividade econmica,para oempregador, e como uma atividade social, para o trabalhador, de vez que lhepermite auferir o necessrio para o seu sustento, assim como funciona comoum

    dos requisitos necessrios realizao da dignidade e da personalidadehumana.Tendo em vista o contedo do princpio da preveno, que se aplica atodos os elementos que integram o meio ambiente, inclusive o meio ambientedotrabalho, e, principalmente, que esse princpio tem como finalidade prioritriagarantir um modelo preventivo, e no apenas um modelo curativo, no queconcerne tutela do bem ambiental, para que o dano sade e integridadedo

    trabalhador seja apreciado segundo critrios objetivos de responsabilidade, nose faz necessria a materializao da leso ao meio ambiente de trabalho,bastando apenas que se ponha em risco a higidez desse microambiente, eque,desse risco, advenha, para o trabalhador, prejuzo sade e integridade.Neste sentido, a NR 9 do Ministrio do Trabalho prev o direito interrupo da atividade laboral quando a ocorrncia de riscos ambientais, noslocais de trabalho, ponham em situao de grave e iminente perigo, um oumaistrabalhador12.

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    Presente esses pressupostos, ou seja, dano sade do trabalhador, riscopara o meio ambiente do trabalho, e nexo causal entre os dois primeirosrequisitos, torna-se imprescindvel determinar os mecanismos de reparao dodano, com base em critrios objetivos, visto que assim se garante a efetiva

    aplicao do principio da preveno ao meio ambiente, em geral, e ao meioambiente do trabalho, ao mesmo passo em que se tutela efetivamente o direitoao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo eessencial sadia qualidade de vida, como tambm se impede que a adoo decritrios subjetivos para avaliar a responsabilidade empresarial, por danos sade do trabalhador, se converta em instrumento de injustia no mbito daunidade produtiva, nas hipteses em que esse dano advm de uma leso aomeio ambiente de trabalho.A continuar utilizando critrios subjetivos para avaliar a responsabilidadepor danos ao meio ambiente de trabalho que lesam tambm a sade dotrabalhador, estar-se- criando uma injustificada situao de desigualdadeentreas vtimas desses danos. De um lado, estaria o indivduo que, nas hipteses dedano ao meio ambiente, veria aplicado o art. 14, 1, da Lei 6.938/81, queestabelece um sistema de responsabilidade objetiva. Do outro, estaria otrabalhador, que, ao sofrer uma leso sade derivada de um dano ao meioambiente de trabalho, teria direito a uma reparao avaliada segundo critrios

    subjetivos.Assim sendo, propugnamos que se aplique um sistema deresponsabilidade objetiva, quando o trabalhador que realiza atividadesenvolvendo OGM sofrer uma leso prpria sade, desde que essa lesotenhacomo causa um dano ao meio ambiente de trabalho, a fim de que assim segaranta a aplicao efetiva do principio da preveno e a realizao daigualdade.12 o mesmo sentido, vid. art. 21.2, da (ei de Preven/0o de is!os (aborais&spa8ola-(ei 311**5, de ) denovembro.

    , CONCLUS#OA Lei 11.105/2005, de 24 de maro de 2005, regulamenta os incisos II, IVe V do art. 225, 1, da CR/88, assim como reestrutura a Comisso TcnicaNacional de Biossegurana (CTNBio). A mencionada lei traz importantesconseqncias prticas no mbito da preveno de riscos laborais dasatividadesque envolvem OGM.Em primeiro lugar, do disposto no art. 11, VIII, dessume-se que a PNB

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    dever ter, entre suas pautas norteadoras, a proteo da sade do trabalhador,jque determina que um especialista em sade do trabalhador dever fazer parteda CTNBio.

    O previsto no referido preceito legal conduz ao reconhecimento de que arealizao de atividades que envolvem OGM supe riscos sade dotrabalhador, que devem ser evitados mediante a adoo de especficasmedidasde preveno. Partindo do disposto no art. 14, II, V, VI, VIII e XI da Leianalisada,cabe CTNBio estabelecer essas especficas medidas de preveno de riscoslaborais, como tambm lhe controlar, periodicamente, o cumprimento. Para queesse controle peridico seja concretizado, e por meio dele se possa garantirumaefetiva proteo da sade do trabalhador, a referida Comisso devercondicionar a emisso do CQB adoo de um sistema preventivo especfico,que dever ser incorporado ao PPRA.Tambm, com vistas a proteger efetivamente a sade do trabalhador, nomeio ambiente de trabalho, a Lei 11.105/2005 torna obrigatria a criao deumaComisso Interna de Biossegurana (CIBio). A essa Comisso, compete, no

    mbito de cada instituio que realize atividades com OGM, implementar umapoltica de preveno dos riscos laborais que tais atividades supem, aomesmotempo em que lhe cabe informar os demais membros da coletividade dos riscosque entranham (art. 18, da Lei 11.105/2005).Como se v, trata-se de uma comisso que tem carter obrigatrio, o que,necessariamente, conduz a questionar a possibilidade de coexistncia com aCIPA, que tambm um rgo de preveno obrigatrio. Tendo em vista asimilitude no que concerne s funes desempenhadas pela CIPA e pela CIBio,

    assim como o carter obrigatrio que esses dois rgos possuem, o queconduziria existncia, no mbito de uma mesma instituio, de dois rgosque,basicamente, atendem mesma finalidade, entendo que no existe nenhuminconveniente em atribuir CIPA as competncias enumeradas no art. 18, daLei11.105/2005, sempre que esse rgo realize tambm a funo de comunicar sociedade os riscos que as atividades com OGM supem, e as medidas aseremtomadas, em caso de acidente. Nesse caso, imprescindvel salientar que a

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    instituio dever designar um tcnico responsvel para cada projeto querealiza,que dever, obrigatoriamente, participar das reunies realizadas pelomencionado rgo preventivo.

    Com relao aos rgos e entidades de registro e fiscalizao, o art. 16,da Lei 11.105/2005 no faz meno aos rgos de registro e fiscalizao doMinistrio do Trabalho, o que exclui a competncia das DRT para sancionar ano-incluso, ao PPRA, das especficas medidas de preveno de riscoslaboraisdas atividades com OGM.. Em virtude dessa omisso legal, essa competnciadever ser exercida pelo IBAMA, porque, segundo o prescrito na NR 9, doMinistrio do Trabalho, a preveno dos riscos laborais deve funcionar comouminstrumento atravs do qual se garanta a realizao de um meio ambientehgido,e do mnimo necessrio para se alcanar a sadia qualidade de vida.A segunda conseqncia prtica que a Lei em comento acarreta dizrespeito aos critrios que devem ser utilizados para impor responsabilidadespordanos ao meio ambiente de trabalho. Como regra geral, a responsabilidade doempregador pelo descumprimento das medidas de preveno de riscos

    laborais uma responsabilidade contratual e, portanto, quase-objetiva, que somente sereludida quando demonstre que atuou diligentemente na preveno dessesriscos,ou quando consiga provar que, entre o dano alegado pelo trabalhador e aomisso preventiva, inexiste relao de causalidade.Contudo, em decorrncia da aplicao, ao meio ambiente de trabalho, doprincipio da preveno, quando a realizao de atividades com OGM provoquedanos a esse microambiente e, por conseguinte, lese a sade do trabalhador,

    oscritrios utilizados para reparar o dano ao meio ambiente de trabalho e sadedo empregado devem ser avaliados segundo parmetros objetivos, somente seafastando a responsabilidade quando o empregador consiga demonstrar ainexistncia de nexo causal entre o dano ao meio ambiente de trabalho e aleso sade.Verificado o dano ao meio ambiente de trabalho, assim que a leso sade e o nexo causal entre esses dois requisitos, impende aplicar o previstono

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    art. 14, 1, da Lei 6.938/81, porque o dano ao meio ambiente de trabalhoprejudica a sade, a segurana e o bem-estar das pessoas implicadas noprocesso produtivo, sobre criar condies adversas ao desenvolvimento dotrabalho, que representa uma atividade social e econmica (art. 3, III, a e b,

    da Lei 6.938/81), o que, por conseguinte, provoca uma degradao ambiental.Com isso, garante-se, ao mesmo tempo, uma eficaz proteo da sadehumana,na qual se incluem a sade da pessoa que trabalha e a aplicao do principiodapreveno, em matria ambiental, o que, de conformidade com o preceituadonoart. 1, da Lei 11.105/2005, se caracteriza como diretrizes da Lei deBiossegurana.