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Legislação p/ TODOS OS CARGOS - Secretaria da Criança – DF Aula 07 Prof. Marcos Girão www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Marcos Girão 1 Olá, estimado aluno! Nesta segunda parte da aula, falaremos de um assunto bem leve e também não menos importante para o seu dia-a-dia de trabalho na SECRIANÇA/DF: Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/89) Essa aula será bastante objetiva, tranquila e fácil de ser estudada. A Lei nº 7.716/89 é uma norma pequena, de simples compreensão e de entendimentos doutrinários bastante interessantes. Pena que é uma lei pouco cobrada em provas de concursos e, confesso, tive que tirar leite de pedra para achar questões a respeito. Em quase todas as bancas não há questões sobre o assunto (da Funiversa não encontrei!) e a maioria delas, elaboradas pelo Cespe, não são tantas. Ainda assim acredito que o resultado ficou bastante satisfatório! Sigamos em frente! Aula 07 - Lei do Preconceito

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Olá, estimado aluno!

Nesta segunda parte da aula, falaremos de um assunto bem leve e também não menos importante para o seu dia-a-dia de trabalho na SECRIANÇA/DF:

� Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor

(Lei nº 7.716/89)

Essa aula será bastante objetiva, tranquila e fácil de ser estudada. A Lei nº 7.716/89 é uma norma pequena, de simples compreensão e de entendimentos doutrinários bastante interessantes. Pena que é uma lei pouco cobrada em provas de concursos e, confesso, tive que tirar leite de pedra para achar questões a respeito. Em quase todas as bancas não há questões sobre o assunto (da Funiversa não encontrei!) e a maioria delas, elaboradas pelo Cespe, não são tantas. Ainda assim acredito que o resultado ficou bastante satisfatório!

Sigamos em frente!

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Sumário

I - LEI Nº 7.716/89 – CRIMES CONTRA O PRECONCEITO ..................................................................... 3

1. Conceitos Introdutórios ............................................................................................................... 3

2. Os tipos penais trazidos pela Lei nº 7.716/89 .............................................................................. 8

2.1. Preconceito em ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS ........................................................... 10

2.2. Preconceito em RESTAURANTES, BARES e SIMILARES ....................................................... 11

2.3. Preconceito em ESTABELECIMENTOS ESPORTIVOS OU DE LAZER ..................................... 12

2.4. Preconceito em SALÕES DE CABELEREIROS E SIMILARES ................................................... 13

2.5. Preconceito no acesso às ENTRADAS DE EDIFÍCIOS ........................................................... 15

2.6. Preconceito no acesso aos TRANSPORTES PÚBLICOS ........................................................ 15

2.7. Preconceito no acesso ao serviço nas FORÇAS ARMADAS ................................................. 16

2.8. O CASAMENTO e a CONVIVÊNCIA FAMILIAR ou SOCIAL .................................................... 17

2.9. Preconceito no acesso ao SERVIÇO PÚBLICO ..................................................................... 18

2.10. O preconceito na vida das EMPRESAS PRIVADAS ............................................................. 20

2.11. Preconceito no ingresso às ESCOLAS PÚBLICAS ou PRIVADAS ......................................... 24

2.12. Preconceito no acesso ou hospedagem a HOTEIS e SIMILARES ....................................... 25

2.13. A PRÁTICA, a INDUÇÃO ou INCITAÇÃO ao preconceito .................................................... 26

3. A Liberdade de Expressão .......................................................................................................... 31

4. Distinção: RACISMO x INJÚRIA POR PRECONCEITO ................................................................... 32

Questões de sua Aula ......................................................................................................................... 50

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I - LEI Nº 7.716/89 – CRIMES CONTRA O PRECONCEITO

1. Conceitos Introdutórios

Para o direito penal brasileiro, os crimes resultantes da prática da discriminação e do preconceito por raça, etnia, cor, religião ou procedência nacional estão previstos na Lei nº 7.716/89, alterada pela Lei 9.459/97. As referidas normas foram promulgadas em consonância com o art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal de 1988, que assim estabeleceu:

CF/88

Art. 5º. (...)

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a penas de reclusão na forma da lei.

Mas aí você me pergunta: professor, como devo entender, à luz do direito, o significado das palavras: racismo, raça, etnia, cor, religião, discriminação e preconceito?

De fato, para entendermos melhor o regramento trazido pela Lei nº 7.716/89, é preciso adentrarmos um pouco nos conceitos doutrinários dos termos acima citados.

Vamos lá:

� Preconceito

Conforme o dicionário Aurélio, o termo preconceito possui os seguintes significados:

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� conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimentos dos fatos (ideia preconcebida);

� julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste - prejuízo;

� superstição, crendice e;

� por extensão: suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.

Os doutrinadores Fabio Medina Osório e Jairo Gilberto Schafer conceituam dentro do direito positivo que:

“o preconceito representa uma ideia estática, abstrata, pré-concebida, traduzindo opinião carregada de intolerância, alicerçada em pontos vedados na legislação repressiva”.

� Só será possível a punição do agente se houver a exteriorização do preconceito, sendo a mera elaboração intelectiva (motivação interna) um indiferente penal.

� Discriminação

A discriminação é diferente de preconceito e racismo, pois é uma palavra derivada de discriminar, que significa diferenciar, discernir.

Ser discriminado, portanto, não quer dizer algo negativo, pois alguém pode ser diferenciado em um grupo por suas características positivas. Por isso, tem-se adotado a expressão discriminação positiva para explicar as medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo Estado, com o objetivo

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de eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento.

A Convenção internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, que foi ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, previu em seu art. I, item 4, que:

“não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem de proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sido alcançados seus objetivos”. (LEX federal, v.33, p. 2545-2557, nov./dez.1969.)

� Segundo a Lei nº 7716/89, o elemento discriminação deve ser interpretado como espécie de segregação negativa, dolosa, comissiva ou omissiva, adotada contra alguém por pertencer, real ou supostamente, a uma raça, cor, etnia, religião, contrariando o principio constitucional da isonomia.

� Racismo

Podemos entender o racismo como a doutrina que:

� sustenta a superioridade de certas raças;

� tese que admite o predomínio de certas raças humanas;

� teoria que tende a preservar a unidade de raça numa nação.

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Alguns doutrinadores definem o racismo como muito mais que apenas discriminação ou preconceito racial. É uma doutrina que afirma haver relação entre características raciais e culturais e que algumas raças são, por natureza, superiores a outras. O racismo deforma o sentido científico do conceito de raça, utilizando-o para caracterizar diferenças religiosas, linguísticas e culturais.

No Brasil, a classificação das raças é a seguinte: Branca, Negra e Vermelha. Já as os frutos da miscigenação ente essas raças formam as seguintes: Mameluco (vermelha x branca); Mulato (branca x preta); e Cafuzo (vermelha x preta).

Outros critérios já foram utilizados para classificar a raça de um indivíduo. Um exemplo é que nos EUA, indivíduos já foram classificados como negros ou índios por terem um dezesseis avos de sangue índio ou sangue negro, ou seja, quando um de seus dezesseis ancestrais foi um negro ou índio, pouco importando se fosse um indivíduo com a cútis branca, e cabelos loiros lisos e olhos azuis.

Essas classificações não poderiam pretender delimitar a humanidade em categorias rigorosamente separadas e, em virtude da complexidade da historia humana, é difícil estabelecer o lugar de certos grupos, numa classificação racial, especialmente o de certas populações que ocupam uma posição intermediária.

Com relação à interpretação da expressão raça no direito penal, devem ser levadas em conta as classificações usualmente consagradas, na prática, basear seu entendimento de acordo com a expressão usada pelo agente delitivo, que externa não gostar de tal raça. Cabe ao operador do direito adequar as expressões.

� Cor

É um termo empregado para definição da pigmentação epidérmica dos seres humanos, sentindo que deve ser dado efeito de interpretação da Lei n. 7716/89. A expressão cor é até mesmo referida pela ONU, na redação de Convenções. Para o direito positivo e para o senso comum, cor deve ser

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entendida como tonalidade da pele, não havendo correspondência exata entre as cores, amplamente, e as cores da epiderme.

� Etnia

O Aurélio define a expressão como:

“grupo biológico e culturalmente homogêneo, relativo ou pertencente a povo ou raça. A nacionalidade não se confunde com a etnia, mas pode ocorrer em países onde há homogeneidade cultural, linguística etc”.

� Imprescritibilidade

Como acabamos de ver, o racismo faz parte do rol de crimes imprescritíveis previstos no art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal.

Imprescritível, como você já bem sabe, significa que o crime não prescreve, que o agente pode ser denunciado e consequentemente julgado até a sua morte.

Esta matéria ainda traz muita polêmica, já que a maioria dos juízes brasileiros não acredita na existência desta característica em nenhum caso penal. Muitos alegam ser esse dispositivo constitucional ser “inconstitucional”. Como é meio irracional considerar essa hipótese, o próprio STF já determinou que tal norma é aplicável, não cabendo prescrição do delito.

Nos últimos anos, essa característica especial ganhou força no cenário internacional, principalmente nos países que adotam o sistema da common law, países na maioria colonizados pela Inglaterra, e também nos tratados internacionais, protegendo as vítimas de genocídio, racismo e outros crimes contra a prescrição dos delitos.

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� A imprescritibilidade só é válida para os crimes de discriminação de RAÇA, COR e ETNIA. Os injustos culpáveis referentes à origem nacional, à religião e o de injúria qualificada continuam prescritíveis.

� Inafiançabilidade

Você e eu sabemos que ser inafiançável não significa dizer que o agente deve ficar preso durante o processo.

O acusado de crime preso em flagrante pode receber liberdade por três motivos relatados no Código de Processo Penal e no Código Penal. Uma dessas possibilidades é o pagamento de fiança.

� O crime de preconceito é INAFIANÇÁVEL, isto é, o acusado não pode receber liberdade provisória através do pagamento de fiança, mas pode ser solto se cumprir providência cautelar determinada no art. 319 ou no art. 321 do Código de Processo Penal.

Não podemos esquecer que ainda há também a possibilidade de prisão domiciliar, comparecimento noturno à delegacia e outras possibilidades.

Pois bem, feita essa introdução, é hora de analisarmos, à luz da doutrina (e da jurisprudência, quando cabível), cada um dos crimes tipificados na Lei nº 7.716/89.

2. Os tipos penais trazidos pela Lei nº 7.716/89

Antes de começarmos, vamos rever o art. 1º da lei em estudo:

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Art. 1º- Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação e de preconceito de RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO ou PROCEDÊNCIA NACIONAL.

Esse dispositivo, repito, estabelece que as condutas acima descritas são consideradas crimes de discriminação ou de preconceito. Portanto, estão proibidas, sob pena do infrator estar sujeito a um processo criminal que será movido pelo Ministério Público. O bem jurídico protegido pela lei é o direito ao tratamento igualitário.

Com base no que estudamos até aqui, já podemos resolver com tranquilidade a nossa primeira questão:

01. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] A Lei n.º 7.716/1989 não considera crime de racismo o ato preconceituoso contra homossexual praticado em razão da opção sexual da vítima.

Comentário:

Verdade! Um dos grandes buracos nominais na Lei de Discriminação é o direito do homossexual. Nela, os homoafetivos não são citados. Vimos que segundo esta norma, o elemento discriminação deve ser interpretado como espécie de segregação negativa, dolosa, comissiva ou omissiva, adotada contra alguém por pertencer, real ou supostamente, a uma raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Em toda a sua literalidade, não há menção ao preconceito homossexual.

Gabarito: Certo

Cara aluno, a fim de facilitar o seu entendimento e consequentemente uma melhor memorização, dividi os crimes em tópicos e os listei de forma diferente daquela prescrita na norma, ordenando-os em ordem crescente de duração das penas privativas de liberdade. Acredito que assim ficará bem melhor o aprendizado!

Vamos lá!

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2.1. Preconceito em ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS

���� Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Permitir o ingresso, mas não o atender, servir, ou receber, calcado em preconceito ou discriminação, também caracteriza o crime. Cometerá o crime o preposto, o dono ou o empregado do estabelecimento. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário nos estabelecimentos comerciais.

A doutrina o entende como um crime próprio e material.

� O sujeito ATIVO do crime é o comerciante ou comerciário. Também comete o crime o delito o proprietário, sócio, gerente, etc, que determina a seus subordinados a atuação criminosa.

� O sujeito PASSIVO é o cliente ou comprador.

� É cabível o crime na modalidade tentada.

Por imprecisão do legislador, o estabelecimento comercial deve ser entendido em seu sentido vulgar, não técnico, ou seja, como loja, local onde se comercia.

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2.2. Preconceito em RESTAURANTES, BARES e SIMILARES

���� Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes, abertos ao público.

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Devemos entender por atendimento a mais ampla disponibilização dos serviços e bens colocados pelo estabelecimento ao alcance dos clientes ou fregueses, de modo que nada que seja servido ou colocado às ordens de um ou alguns possa ser recusado a outros, por discriminação ou preconceito.

O crime é material na modalidade de IMPEDIR O ACESSO, sendo exigido o resultado naturalístico para a consumação do delito.

Quanto a RECUSAR ATENDIMENTO, contudo, trata-se de crime formal, de consumação antecipada. O delito é consumado quando se impede o acesso ou recusa-se o atendimento a alguém nos locais previstos em lei.

� Não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, mas é cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao inteiro do estabelecimento ou a alguma de suas dependências, como o banheiro, por exemplo.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que praticar o delito, quando o núcleo é o ato de impedir. Quando se recusa o atendimento, o sujeito ativo é o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou ser atendida em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes abertos ao público.

Quanto ao núcleo IMPEDIR, qualquer pessoa pode praticar o delito, motivo pelo qual o crime é comum. No que tange ao núcleo RECUSAR O

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ATENDIMENTO, somente o comerciante ou o comerciário pode praticá-lo, motivo pelo qual é crime próprio.

Veja como foi cobrado:

02. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] Não constitui crime de racismo a simples recusa de atendimento a uma pessoa, na mesa de um bar, em razão a cor de sua pele.

Comentário:

Muito fácil, não é mesmo? Recusar atendimento não só em bares como também em restaurantes, confeitarias, ou locais semelhantes, abertos ao público é sim crime previsto no art. 8º da Lei 7.716/89.

Gabarito: Errado

2.3. Preconceito em ESTABELECIMENTOS ESPORTIVOS OU DE LAZER

���� Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Para a caracterização do delito faz-se necessário que o acesso ao local não seja restrito a associados. Caracterizará crime a recusa de ingresso aos quadros associativos ou listas de acesso de qualquer pessoa por discriminação ou preconceito, já que admite dupla acepção: entrada nas dependências físicas ou admissão no quadro associativo.

Chamo a atenção para o sistema de restrição de acesso que algumas casas noturnas dos grandes centros urbanos do país têm imposto a

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frequentadores. Porteiros ou encarregados são previamente orientados a somente permitir a entrada de pessoas que atendam a critérios vagos e imprecisos, supostamente de beleza ou adequação ao vestuário. Quanto à adequação de vestuário, há a necessidade de exposição de critérios objetivos, devidamente expostos, que permitam aos interessados o cumprimento das regras.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que praticar o delito, quando o núcleo é o ato de impedir. Quando se recusa o atendimento, o sujeito ativo é o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou ser atendida em estabelecimentos esportivos, casas de diversões ou clubes sociais abertos ao público.

� Não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, mas é cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao inteiro do estabelecimento ou a alguma de suas dependências, por exemplo.

Da mesma forma que o crime explicado no tópico anterior, o crime é comum quanto ao núcleo IMPEDIR e próprio no que tange ao núcleo RECUSAR O ATENDIMENTO, pois nesse caso somente o comerciante ou o comerciário pode praticá-lo.

O crime é material na modalidade de IMPEDIR O ACESSO, sendo exigido o resultado naturalístico para a consumação do delito. Quanto a RECUSAR ATENDIMENTO, contudo, trata-se de crime formal, de consumação antecipada.

2.4. Preconceito em SALÕES DE CABELEREIROS E SIMILARES

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���� Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, bares, termas ou casas de massagem ou estabelecimentos com as mesmas finalidades:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Nesse crime, aplicaremos a mesma lógica do crime explicado no tópico anterior: é crime comum e material quanto ao ato de IMPEDIR e próprio e formal quanto ao ato de RECUSAR ATENDIMENTO.

Consuma-se o delito quando se impede o acesso ou recusa-se o atendimento a alguém nos locais previstos em lei e não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, sendo, contudo, cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao interior do estabelecimento ou alguma de suas dependências, por exemplo.

Antes de prosseguirmos, duas informações importantíssimas:

� Para todos os crimes citados até este tópico, constitui efeito da condenação a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a 03 meses.

� A suspensão do funcionamento do estabelecimento particular não é automática, devendo ser MOTIVADAMENTE DECLARADA EM SENTENÇA.

Este dispositivo expande os efeitos das condenações chamadas tradicionais (multa, penas restritivas de liberdade e/ou direito), lembrando que na jurisprudência se entende que no caso de estabelecimento privado comercial é necessário ter sido cometido o crime de preconceito por parte dos proprietários ou por anuência dos mesmos. Se, por exemplo, tratar-se de um funcionário, não poderá o juiz determinar o cumprimento do disposto acima.

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2.5. Preconceito no acesso às ENTRADAS DE EDIFÍCIOS

���� Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Consuma-se o crime ao se IMPEDIR QUALQUER PESSOA de ter acesso a esses locais, determinando-lhe uma entrada específica e causando-lhe constrangimento e vergonha. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso às entradas sociais em edifícios públicos e privados.

Trata-se, diga-se de passagem, de um delito praticado largamente em nosso país, embora as estatísticas revelem poucos casos registrados, revelando que a falta de conhecimento dos ofendidos e o desconhecimento, até, de que a conduta caracteriza crime.

� É CRIME COMUM, pois qualquer pessoa pode praticá-lo, tanto funcionário ou empregado do edifício como o usuário de elevador ou transeunte.

� O delito também é classificado como CRIME MATERIAL.

Cabe ainda ressaltar que a infração penal é consumada quando se dá o impedimento ao acesso, admitindo-se a tentativa.

2.6. Preconceito no acesso aos TRANSPORTES PÚBLICOS

���� Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios, barcos, ônibus, trens, metrô, ou qualquer outro meio de transporte concedido:

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Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Quando se fala em impedir O ACESSO, significa atrapalhar a entrada no trem, metro, etc. Quando se prevê impedir O USO, diz respeito a dificultar o início ou o prosseguimento da viajem de quem já teve acesso ao meio de transporte.

É bom que se diga que, em relação aos transportes públicos, o termo destacado “como” indica que o rol previsto no artigo é exemplificativo, de tal sorte que o transporte pertença ao poder público. Assim, incide também o tipo penal em restrições ao acesso ou uso de helicóptero, táxi aéreo, charrete, táxi, motocicleta-táxi. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso aos meios de transportes.

Tanto o sujeito ATIVO quanto o PASSIVO pode ser qualquer pessoa.

� O crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticá-lo, e material, por ser necessário o resultado naturalístico à sua consumação.

� O crime é consumado quando se dá o impedimento ao acesso ou ao uso e admite-se a tentativa.

2.7. Preconceito no acesso ao serviço nas FORÇAS ARMADAS

���� Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas:

Pena: reclusão de 02 a 04 anos.

As Forças Armadas constituem-se da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário dos postulantes, devidamente capacitados, no acesso ao serviço das Forças

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Armadas. Por IMPEDIR OU OBSTAR O ACESSO de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas entende-se qualquer conduta que dificulte, atrapalhe ou de fato impeça alguém de exercer funções civis ou militares nas Forças Armadas.

As polícias militares e os corpos de bombeiros, como forças auxiliares e reserva do Exército, não escapam a essa norma, assim como, também é crime obstar ou impedir o acesso ao serviço dessas corporações.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que impedir ou obstar o acesso ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que atenda aos requisitos para realizar serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

� Trata-se de crime comum, já que não se exige nenhuma qualificação pessoal do sujeito ativo, ou seja, qualquer pessoa pode praticá-lo e é admitida a forma TENTADA.

É um delito formal (ou de consumação antecipada), por bastar ao agente atrapalhar ou dificultar o acesso ao serviço. Assim, é possível a caracterização da infração mesmo quando a vítima, ao final, vencido as injustas barreiras, ter conseguido prestar o serviço militar.

2.8. O CASAMENTO e a CONVIVÊNCIA FAMILIAR ou SOCIAL

���� Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar ou social:

Pena: reclusão de 02 a 04 anos.

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Entende-se por meio o recurso empregado para atingir um objetivo. Já a forma é a maneira, o jeito, o modo. O dispositivo visa proteger o convívio familiar e social e a liberdade para contrair núpcias entre os indivíduos.

Em nosso país laico, o ordenamento jurídico, em tese, ainda entende como casamento apenas como:

“(...) o vínculo entre o homem e a mulher que visa o auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família legitima.”

Faz referência, portanto, apenas ao casamento previsto no direito positivo (casamento civil) e também ao casamento religioso realizado com efeitos civis.

A convivência familiar tem significado de união estável gravada apenas pela cerimônia religiosa, e a convivência social significa qualquer forma de contato mais próximo fora do âmbito familiar. Tem uma expressão e alcance mais amplo que a familiar.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa, embora normalmente os pais acabem tendo maior influência para cometer o delito quanto a seus filhos.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa.

� Trata-se de crime comum e material.

2.9. Preconceito no acesso ao SERVIÇO PÚBLICO

���� Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a QUALQUER CARGO da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

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Pena: reclusão de 02 a 05 anos.

O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário entre os postulantes devidamente capacitados a cargos no serviço público. IMPEDIR é criar obstáculo, proibir, obstruir, estorvar, embaraçar, de qualquer maneira, o acesso de alguém, que esteja habilitado, a qualquer cargo, nas entidades descritas. OBSTAR é opor-se, causar embaraço.

Estar devidamente habilitado significa atender aos requisitos formalmente exigidos de todos os pretendentes do cargo. Quanto ao cargo, ele pode ser uma ocupação, um posto de trabalho ou uma função.

� O SUJEITO ATIVO é qualquer pessoa que impedir ou obstar o acesso ao cargo de alguém por preconceito ou discriminação.

� O SUJEITO PASSIVO é qualquer pessoa considerada habilitada a ocupar o cargo, ou seja, que preencha as características tidas como essenciais em edital do concurso público ou processo seletivo, ou então no rol de requisitos para cargos de livre provimento.

� Trata-se de crime formal e admite a forma tentada.

A Lei ainda versa que incorrerá nas mesmas penas quem, por motivo de discriminação da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a PROMOÇÃO FUNCIONAL. Não esqueça!!

� Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para servidor público.

� A perda de cargo ou função pública não é automática, devendo ser motivadamente declarada em sentença.

Veja como foi cobrado:

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03. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PI – 2007] Nos crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, constitui efeito automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público no exercício da função que for sujeito ativo do delito.

Comentário:

Acabamos de estudar: constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública para o servidor público que é sujeito ativo de crime de preconceito ou discriminação. Acontece que essa perda de cargo ou função pública não é automática, devendo ser motivadamente declarada em sentença. (art. 16).

Gabarito: Errado

2.10. O preconceito na vida das EMPRESAS PRIVADAS

���� Negar ou obstar emprego em empresa PRIVADA.

Pena: reclusão de 02 a 05 anos.

Podemos definir o emprego como a ocupação de alguém em decorrência de contrato de trabalho, estabelecendo-se a relação entre empregado e empregador. A empresa privada é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade em âmbito não público, de cunho econômico e voltada à produção ou à circulação de bens ou serviços.

O tipo penal visa proteger o tratamento igualitário ao acesso a vagas de trabalho oferecidas pelas empresas da iniciativa privada. Basta a negativa ou impedimento para que se materialize o crime. São figuras semelhantes (esta e a hipótese infra) tratadas de forma diversa.

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� O SUJEITO ATIVO é qualquer pessoa que se coloque na situação de poder interferir na contratação de empregado em empresa privada. Na modalidade de obstar emprego, qualquer pessoa, mesmo sem possuir vinculo com a empresa, que atrapalhe o exercício do empregado.

� O SUJEITO PASSIVO é qualquer pessoa que se candidate a emprego (na modalidade do delito de NEGAR emprego) ou que já seja empregada em empresa privada (na modalidade delitiva de OBSTAR emprego).

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

É importante destacar que é pacífico o entendimento jurisprudencial nos tribunais de que esse delito não deve ser interpretado restritivamente e que há, por exemplo, o crime mesmo no caso de emprego em condomínio residencial, no qual não se exerce atividade econômica.

Um exemplo disso é uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre a Apelação Criminal n. 141.820-3:

“EMENTA: RACISMO - Caracterização - Anúncio de emprego em condomínio denotando preconceito racial - Alegação de que aquele não exerce atividade econômica, não podendo ser incluído na expressão empresa privada da Lei 7.776/89 - Hipótese em que a norma não deve ser interpretada para fins meramente econômicos - Condenação mantida - Recurso não provido. A hermenêutica menos restritiva da Lei 7.776/89 leva à ilação de que em nenhum lugar, sob quaisquer hipóteses, pudesse ter alguém conduta discriminante por raça, cor ou credo, sendo inócuos para a interpretação da norma, conceitos particulares aplicáveis a determinados ramos do Direito, obstando sua salutar aplicação. (Apelação Criminal n. 141.820-3 - Araçatuba - Relator: FRANCO DE GODOY - CCRIM 3 - v.u. - 10.02.95)”.

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� Incorre na MESMA PENA quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:

� deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;

� impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;

� proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.

E a Lei n. 7.716/89 ainda nos diz mais:

Além de incorrer nas mesmas penas (02 a 05 anos), ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em ANÚNCIOS ou QUALQUER OUTRA FORMA DE RECRUTAMENTO DE TRABALHADORES, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.

Vamos exercitar:

04. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

05. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

Comentário 04:

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Verdade, mas quem nos diz isso não é a Lei 7.716/89, e sim o nosso Código Penal Brasileiro, em seu art. 149. Veja:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

(...)

§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:

I – contra criança ou adolescente;

II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Resolvi inserir essa questão no intuito de também lembrar-lhe desse tipo penal. Como você pode constatar, a questão acerta ao afirmar que o agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

Gabarito: Certo

Comentário 05:

Pelo que acabamos de estudar, é óbvio que esta assertiva está equivocada. Vimos que incorre na mesma pena de quem obsta ou nega emprego em empresa privada (02 a 05 anos) quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica, impede a ascensão funcional do empregado ou obsta outra forma de benefício profissional. Se incorre na mesma pena, temos um tipo penal, e não uma infração administrativa.

Gabarito: Errado

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2.11. Preconceito no ingresso às ESCOLAS PÚBLICAS ou PRIVADAS

���� Recusar, negar, ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino PÚBLICO ou PRIVADO de qualquer grau.

Pena: reclusão de 03 a 05 anos.

A inscrição é o ato pelo qual o pretendente a uma vaga na escola formaliza sua intenção. O ingresso possui tanto o significado de ter aceita a inscrição, a matrícula, quanto o de adentrar corporalmente nas dependências do estabelecimento de ensino.

RECUSAR e NEGAR têm o mesmo sentido: opor-se, rejeitar. É bastante a recusa de inscrever ou impedir o ingresso de aluno em estabelecimento de ensino, não importa se público ou privado, nem o grau em questão. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso aos estabelecimentos de ensino.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que se coloque na situação de poder interferir na inscrição ou ingresso ou ingresso de aluno.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que se que se encontre na condição de aluno em estabelecimento de ensino.

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

� Se esse crime for praticado contra menor de 18 anos a pena é AGRAVADA de 1/3 (um terço).

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2.12. Preconceito no acesso ou hospedagem a HOTEIS e SIMILARES

���� Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.

Pena: reclusão de 03 a 05 anos.

Não importa onde estejam localizados esses estabelecimentos. O simples obstáculo ou a oposição à hospedagem é indicativo do crime.

Permitir o ingresso, mas recusar hospedagem configurará o crime, porque de nada adiantará o ingresso nesses locais, se houver recusa em hospedar a pessoa.

� O sujeito ATIVO quanto ao núcleo IMPEDIR, qualquer pessoa pode praticar o delito. No que tange a RECUSAR A HOSPEDAGEM, o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento,

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou hospedar-se em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento similar.

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

� Se esse crime for praticado contra menor de 18 anos a pena é AGRAVADA de 1/3 (um terço).

Quanto ao núcleo IMPEDIR, o crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticar o delito. No núcleo RECUSAR hospedagem, o crime é próprio, por ser somente o proprietário, sócio, gerente, empregado do estabelecimento ou pessoa que ali preste serviço que pode praticá-lo.

O crime é material nas duas formas previstas na norma penal incriminadora (impedir e recusar), não é possível a tentativa na modalidade

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de recusar a hospedagem, mas é cabível no caso de impedir o acesso ao saguão de hotel, por exemplo.

2.13. A PRÁTICA, a INDUÇÃO ou INCITAÇÃO ao preconceito

���� Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO ou PROCEDÊNCIA NACIONAL.

Pena: reclusão de 01 a 03 anos + multa.

O dispositivo penal visa proteger o tratamento igualitário que todos os cidadãos possuem como direito subjetivo independente de raça, cor, etnia ou procedência nacional. Percebe-se nitidamente que se trata de um tipo com maior abrangência, criado para aumentar o alcance da Lei nº 7.716/89, ante a dificuldade pratica de enquadramento das condutas nos tipos anteriormente existentes.

Trata-se, portanto, de um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, por possuir três núcleos do tipo; aplicável quando não possível o enquadramento de conduta preconceituosa ou discriminatória nos tipos anteriormente previstos.

Praticar o crime é realizá-lo com esforço próprio. O próprio agente o comete.

Induzir é persuadir, aconselhar, argumentar. Pressupõe a iniciativa à prática, que pode ocorrer por qualquer meio.

Incitar é instigar, provocar a prática do crime, por qualquer meio ou de qualquer forma, sem necessidade de que isso aconteça através de meios de comunicação social ou publicação.

Segundo entendimento jurisprudencial (detalharemos mais em outro tópico), não há que se falar em crime de racismo previsto na Lei nº 7.716/89 quando a suposta ofensa se dirige contra o agente considerado individualmente, hipótese em que se configura a infração penal de injúria prevista no art. 140, § 3º do Código Penal Brasileiro, abaixo transcrito:

Código Penal:

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Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

(...)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

O entendimento acima citado é extraído de alguns acórdãos, a exemplo de um do Tribunal de Justiça do Pará:

“EMENTA: PROCEDIMENTO CRIMINAL - IMPUTAÇÃO A MAGISTRADO DE CRIME DE RACISMO – DESCABIMENTO – FATOS NARRADOS DA PEÇA INICIAL QUE NÃO CARACTERIZAM CRIME PREVISTO NA LEI Nº 7.716/89 – OCORRÊNCIA EM TESE DE CRIME DE INJÚRIA – ART. 140 § 3º DO CPB CUJA AÇÃO PENAL É DE INICIATIVA PRIVADA [...]” (AC n. 55138, de Abaetuba - PA, rel. Des. Nunes, j. 09.12.04).

Vale lembrar que, para a configuração de um dos núcleos do tipo em questão, há a necessidade que o agente tenha vontade consciente dirigida no sentido de estimular a discriminação ou preconceito racial. Exige o dolo direto ou mesmo o eventual.

Confirmando essa ideia temos um acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

“EMENTA: CRIME DE RACISMO - LEI 7.716/89 - COLUNISTA DE JORNAL - CONDENAÇÃO MONOCRÁTICA - PRELIMINAR DE NULIDADE - INDEFERIMENTO DE PERGUNTAS NO JUÍZO DEPRECADO - REJEITADA - POLITICAMENTE CORRETO - TEXTO HUMORÍSTICO - DOLO INEXISTENTE - ABSOLVIÇÃO - RECURSO PROVIDO” (Processo n. 1.0000.00.229590-5/000(1), de Belo Horizonte - MG, rel. Des. Santiago, j. 28.05.02).

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� Se qualquer dos crimes previstos acima (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito) é cometido por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza a pena será de reclusão de 02 a 05 anos e multa.

O termo publicação de qualquer natureza significa material informativo, com circulação aberta ao público, comercial ou não. Trata-se de matéria escrita, ilustrada, falada, impressa ou não, tendo em vista a expressão utilizada, destinada a servir de suporte para verbos do tipo incriminador.

Esse dispositivo decorre da hipótese de presunção de que por tais meios o dano social seria maior, face ao presumível aumento do número de pessoas que por eles teriam conhecimento das condutas preconceituosas ou discriminatórias. Veja como julgou o Tribunal de Justiça de São Paulo:

“EMENTA - RACISMO - Caracterização - Discriminação e incitação contra a raça negra em meio radiofônico - Comentário que, dirigido a um número muito grande de ouvintes, produz seus efeitos deletérios (nocivos) ou, pelo menos, reunia potencial suficiente e era meio idôneo para tanto - Hipótese de delito formal, sem resultado – Recurso não provido. (Apelação Criminal n. 153.122-3 - São Carlos - 5ª Câmara Criminal de Férias - Relator: Celso Limongi - 30.08.95 - V.U.)”.

Em se tratando desse crime, o juiz poderá determinar que seja ouvido o Ministério Público, ou que, a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:

� o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;

� a cassação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas;

� a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores (internet).

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� Os sujeitos ATIVO e PASSIVO são qualquer pessoa.

� Trata-se de crime formal e a tentativa é teoricamente possível na forma escrita quando esta não chega a atingir a vítima.

� Constitui efeito de condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido.

Em se tratando dos efeitos de condenação acima mencionado, essa norma é aplicável pelos tribunais apenas nos casos onde os bens a serem destruídos tratam-se de panfletos, impressos, e outros materiais semelhantes.

Há casos onde as apreensões encontram materiais eletrônicos, computadores, aparelhos de rádio, etc., neste caso a justiça retira destes equipamentos o que lembra a propagação do preconceito e os torna utilizáveis pelo setor público.

Uma questão bastante interessante:

06. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2005] Consoante entendimento do STF, constitui crime de racismo escrever livro fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica, no sentido de que os judeus seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio.

Comentário:

Essa questão se refere a uma grande polêmica no meio jurídico, no início da década de 2000, por conta de publicações antissemitas (contra os judeus) do editor de livros Siegfried Ellwanger. Condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a 02 anos de reclusão pela incitação ao racismo em suas publicações, o referido editor entrou com habeas-corpus no STJ para que fosse retirada a condenação.

O Superior Tribunal de Justiça julgou a incitação ao preconceito ou à discriminação de raça uma prática racista e manteve a condenação do editor de livros por editar e vender tais obras de conteúdo racista. A defesa sustentou que Ellwanger não poderia ser condenado pela prática do racismo, pois o "incitamento contra o judaísmo", do qual foi acusado, não teria conotação racial. Entretanto, disse o relator do habeas-corpus, ministro Gilson Dipp, no voto adotado pela maioria do colegiado da Quinta Turma: “penso que deve ser ressaltado que a condenação do paciente se deu por delito contra a

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comunidade judaica, não se podendo abstrair o racismo de tal comportamento". A decisão do TJ, segundo ele, "foi suficientemente clara e motivada nesse sentido, sendo descabida a pretendida reavaliação de seus fundamentos".

Eis então a ementa da decisão do STJ:

Ementa - CRIMINAL. HABEAS CORPUS. PRÁTICA DE RACISMO. EDIÇÃO E VENDA DE LIVROS FAZENDO APOLOGIA DE IDÉIAS PRECONCEITUOSAS E DISCRIMINATÓRIAS. PEDIDO DE AFASTAMENTO DA IMPRESCRITIBILIDADE DO DELITO.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DE SE TRATAR DE PRÁTICA DE RACISMO, OU NÃO. ARGUMENTO DE QUE OS JUDEUS NÃO SERIAM RAÇA. SENTIDO DO TERMO E DAS AFIRMAÇÕES FEITAS NO ACÓRDÃO. IMPROPRIEDADE DO WRIT. LEGALIDADE DA CONDENAÇÃO POR CRIME CONTRA A COMUNIDADE JUDAICA. RACISMO QUE NÃO PODE SER ABSTRAÍDO. PRÁTICA, INCITAÇÃO E INDUZIMENTO QUE NÃO DEVEM SER DIFERENCIADOS PARA FINS DE CARACTERIZAÇÃO DO DELITO DE RACISMO. CRIME FORMAL. IMPRESCRITIBILIDADE QUE NÃO PODE SER AFASTADA. ORDEM DENEGADA.

A defesa do autor não de deu por vencida e impetrou recurso ao STF.

Em 17/09/03, o Habeas Corpus foi definitivamente julgado pelo Supremo Tribunal Federal que manteve, pela maioria de sete a três, a condenação do editor Siegfried Ellwanger.

Caro aluno, diante de todo o exposto, há ainda alguma dúvida de que o enunciado da questão referia-se a esse julgado? E mais: você tem alguma dúvida de que a afirmativa da questão está correta? Claro que não! Está certíssima!

Não esqueça: se a pratica, a indução ou a incitação à discriminação ou ao preconceito forem cometidas por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza a pena será de reclusão de 02 a 05 anos e multa.

Gabarito: Certo

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E por fim, temos o seguinte (e um dos mais graves!) delito:

���� Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do NAZISMO.

Pena: reclusão de 02 a 05 anos + multa.

Caro aluno, o crime por si só se explica. Sem comentários!!

Veja como foi cobrado:

07. [UEPB – DELEGADO DE POLÍCIA – PC/PB – 2003] A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1 997, que modificou a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1 989 (Lei definidora dos crimes de raça ou de cor), determina a punição de todos os delitos resultantes da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Nesse contexto se acha tipificada figura relativa ao fabrico, à comercialização, à distribuição ou à veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, exceto quando o responsável, penalmente imputável, for membro registrado de partido político.

Comentário:

Tudo certinho na questão, não fosse pela afirmação errada de que o membro registrado em partido político não pode ser condenado pelo crime nela citado. Esse crime está previsto no art. 20, §1º, da Lei 7.716/89 e não prevê exceções quanto ao sujeito ativo.

Gabarito: Errado

3. A Liberdade de Expressão

É corrente alguém acusado de cometer crime de preconceito alegar liberdade de expressão. Por certo este é um princípio constitucional, mas da mesma forma o é a igualdade e a dignidade humana. Sabemos que os

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princípios se chocam e em alguns casos um é renegado por ser, naquela situação, menos valioso que o outro.

O direito de se expressar não é superior a tudo, principalmente a dignidade do outro, não pode ele assim ferir a todos sem medir consequências. Vê-se, então, que a liberdade de expressão alcança seu limite quando passa a propagar determinada conduta ilícita como correta.

O art. 20 da lei 7.716/89 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza) é o que melhor define os casos onde a imprensa pode provocar preconceitos.

4. Distinção: RACISMO x INJÚRIA POR PRECONCEITO

Assunto que as bancas gostam muito, vamos falar mais um pouco sobre a diferença legal entre racismo e injúria por preconceito. A Lei nº 7.716/89 define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Isso você já sabe!

Já a Lei n. 9.459/97, alterou o art. 140 do Código Penal, que trata do crime de injúria. Vamos revê-lo novamente:

Código Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

(...)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

Essa nova redação do art. 140, alterada pelo art. 2º da Lei n. 9.459/97, acrescentou um tipo qualificado ao delito de injúria, impondo penas de

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reclusão, de um a três anos, e multa, se cometida mediante utilização de elementos referentes a raça, cor, religião ou origem.

A alteração legislativa foi motivada pelo fato de que réus acusados da prática de crimes descritos na Lei nº 7.716/89 geralmente alegavam ter praticado somente injúria, de menor gravidade, sendo beneficiados pela desclassificação.

Por isso o legislador resolveu criar uma forma típica qualificada envolvendo valores concernentes a raça, cor, etc., agravando a pena. Uma infeliz solução!!

Sabe por quê?

Porque de acordo com as novas mudanças, chamar alguém de “negro”, “preto”, “pretão”, “negrão”, “turco”, “africano”, “judeu”, “baiano”, “japa” etc., desde que com vontade de lhe ofender a honra subjetiva relacionada com cor, religião, raça ou etnia, sujeita o autor a uma pena mínima de um ano de reclusão, além de multa. Grande coisa essa alteração!

A pura verdade é que para a legislação penal brasileira, conforme consagrado na jurisprudência e na doutrina, a conduta de dirigir-se a outrem o chamando de "negro", ou mesmo "negro de merda" como na hipótese aventada, não restará configurado o crime de racismo.

Entretanto, em se tratando da esfera civil, a responsabilidade se define pelo dever de reparar os interesses privados, não importando tenha o ato praticado infringido disposição penal. A responsabilidade civil, de forma simples, pode ser definida como sendo a obrigação de reparar o dano causado a outrem. O dever de reparação tem fundamento na culpa ou no risco decorrente do ato ilícito do agente. O fundamento está na razão da obrigação de recompor o patrimônio diminuído com a lesão ao direito subjetivo.

O réu pode ser civilmente obrigado à indenização do dano, e o fator gerador do prejuízo poderá não ser considerado uma conduta definida como crime. Isso quer dizer que pode um réu ser absolvido no juízo criminal, pela prática de um fato inicialmente considerado delituoso, e ser obrigado a indenizar à vítima, ao seu representante legal ou aos seus herdeiros, ou, ainda, reparar o dano provocado, perante o juízo cível.

Assim, é importante que observemos o art. 159 do Código Civil, abaixo transcrito:

Código Civil:

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Art. 159 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1.518 a 1.532 e 1537 a 1553.

Pois bem, a prática da discriminação constitui-se, em matéria civil, um ato ilícito praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo individual. Causa dano à vítima criando o dever de repará-lo. No momento em que se verifica a ocorrência dos fatos discriminatórios, surge o direito da vítima propor uma ação de ressarcimento dos danos que podem ser patrimoniais ou morais. Teremos a hipótese de danos morais, em strictus sensus, ou seja, danos morais com reflexo patrimonial e danos patrimoniais.

Resolva as questões a seguir e confira como a nossa estimada adora o assunto:

08. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2011] Em razão do princípio da especialidade, a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com o nítido intuito de causar lesão à sua honra, não importa crime de injúria, mas delito resultante de preconceito de raça.

Comentário:

Qual é mesmo o objeto de estudo do nosso curso? A Legislação Especial!

Especial é a norma que possui todos os elementos da geral, denominados especializantes (não são crimes autônomos, e sim circunstâncias que isoladas do tipo geral não teriam significação penal), que trazem um minus ou um plus de severidade. Toda a ação que realiza o tipo do delito especial realiza também, necessariamente, o tipo do delito geral, enquanto que o inverso não é verdadeiro. É aí que se define o princípio da especialidade!!

O princípio da especialidade, na verdade, evita o bis in idem, pois determina que haja a prevalência da norma especial sobre a geral, sendo certo que a comparação entre as normas será estabelecida in abstracto.

Ora, é óbvio que esse princípio é aplicável à Lei 7.716/89 no que diz respeito às condutas discriminatórias e preconceituosas ali tipificadas. Acontece que precisamos ter o cuidado de discernir, em determinados casos, o que é crime de racismo do que é crime de injúria. À luz do que acabamos de estudar, a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com

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o nítido intuito de causar lesão à sua honra, como por exemplo chamar alguém de “negro”, “preto”, “pretão”, “negrão”, “judeu” infelizmente não é considerada delito resultante de preconceito de raça, e sim crime qualificado de injúria. Exatamente o oposto do que afirma a questão!

Gabarito: Errado

09. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

Comentário:

A assertiva nos remete ao procedimento penal relacionado aos crimes de injúria, regulamentado Código de Processo Penal. Aconselho você a dar uma olhadinha com carinho no referido Código, em especial nos seguintes dispositivos:

Art. 519. No processo por crime de calúnia ou injúria, para o qual não haja outra forma estabelecida em lei especial, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Titulo I, deste Livro, com as modificações constantes dos artigos seguintes.

Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando termo.

Art. 521. Se depois de ouvir o querelante e o querelado, o juiz achar provável a reconciliação, promoverá entendimento entre eles, na sua presença.

Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será arquivada.

Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.

Logo, a assertiva acerta ao afirmar que o crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

Gabarito: Certo

10. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Para a configuração penal do delito de injúria, não se exige o elemento subjetivo consistente no

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dolo de ofender na modalidade de dolo específico, sendo suficiente, para a caracterização da figura típica, a presença do chamado dolo genérico.

Comentário:

O dolo, em Direito penal, relaciona-se sempre com um tipo legal e, por isso, é que se fala em dolo típico. Esse é o mesmo dolo genérico. Trata-se do requisito subjetivo geral exigido em todos os crimes dolosos: consciência e vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo.

Por outro lado, o dolo específico está naqueles tipos penais em que se faz essa exigência: além do dolo genérico, há uma intenção especial do agente. O dolo específico está presente nos tipos penais incongruentes. O tipo penal incongruente é aquele que exige, além do dolo genérico, uma intenção especial, um requisito subjetivo transcendental. É o caso da injúria preconceituosa e discriminatória, por exemplo.

Estudamos aqui que o preconceito representa uma ideia estática, abstrata, pré-concebida, traduzindo opinião carregada de intolerância, alicerçada em pontos vedados na legislação repressiva e que será possível a punição do agente se houver a exteriorização do preconceito, sendo a mera motivação interna um indiferente penal.

Logo, podemos concluir que para o crime de injúria não é suficiente o dolo genérico (consciência e vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo). Há de haver o dolo específico.

Gabarito: Errado

11. [CESPE – DELEGADO DE POLICIA – PC/ES – 2006] Lei especial define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, prescrevendo-se para todas as figuras típicas penas de reclusão ou de reclusão e multa.

Comentário:

Isso mesmo! A questão é na verdade uma boa dica para a sua prova: todos os crimes previstos na Lei 7.716/89 preveem a reclusão como pena restritiva de liberdade. Alguns deles, além da pena de reclusão, também preveem a de multa (os previstos no art. 20, caput e §§ 1º e 2º, e a conduta prevista no art. 4º, §2º).

Gabarito: Certo

12. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/TO – 2008] Os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional são punidos com penas de reclusão ou reclusão e multa, e todas as infrações descritas na legislação específica são inafiançáveis e imprescritíveis.

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Comentário:

Muito parecida com a questão anterior, mas, a meu ver, bastante polêmica no que diz respeito ao afirmar que todos os crimes previstos na lei 7.716/89 são inafiançáveis e imprescritíveis. Em tese sim, mas parte da doutrina entende que a imprescritibilidade só cabe para os crimes de discriminação de raça, cor e etnia. Os injustos culpáveis referentes a origem nacional, religião e o de injúria qualificada continuam prescritíveis.

A banca considerou a assertiva correta, baseando-se unicamente no regramento do inciso XLII do at. 5º da Constituição Federal. Questão que deixou espaços para muitos recursos, mas que não teve seu gabarito alterado nem anulado. Fica o registro!

Gabarito: Certo

[CESPE – TÉCNICO TRANSPORTE – MPU – 2010] Julgue os itens seguintes, de acordo com o que dispõe a legislação em vigor acerca de crimes resultantes de preconceito.

13. Considere que Tânia, proprietária de um salão de beleza especializado em penteados afros, recuse atendimento a determinada pessoa de pele branca e cabelos ruivos, sob a justificativa de o atendimento, no salão, restringir-se a afrodescendentes. Nessa situação, a conduta de Tânia não constitui crime, visto que, sendo proprietária do estabelecimento, ela tem o direito de restringir o atendimento a determinados clientes.

14. Pratica crime decorrente de discriminação racial, apenado com reclusão de um a três anos, o síndico que proíbe a circulação, nos elevadores sociais de edifício residencial, de todos os empregados domésticos que trabalham para os condôminos.

Comentário 13:

Errado! Ao recusar atendimento a determinada pessoa de pele branca e cabelos ruivos, sob a justificativa de o atendimento, no salão, restringir-se a afrodescendentes, Tânia comete sim um dos crimes de preconceito aqui estudados, tipificado no art. 10 da Lei nº 7.716/89. Confira:

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades (preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional).

Pena: reclusão de um a três anos.

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Gabarito: Errado

Comentário 14:

Apesar de ser um crime bastante ignorado em nosso país, está certa a questão ao afirmar que pratica crime decorrente de discriminação racial, apenado com reclusão de um a três anos, o síndico que proíbe a circulação, nos elevadores sociais de edifício residencial, de todos os empregados domésticos que trabalham para os condôminos.

Este crime vem tipificado no art. 11 da Lei nº 7.716/89, aqui estudado:

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

Gabarito: Certo

15. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

Comentário:

O diretor da concessionária pública comete sim crime de preconceito ao obstar, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. É o que nos ensina o art. 3º, parágrafo único, da Lei de Preconceito:

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Gabarito: Errado

[CESPE – ADVOGADO DA UNIÃO – AGU – 2012] Com relação aos delitos de preconceito, julgue os próximos itens.

16. O crime de racismo praticado por meio da rede mundial de computadores consuma-se no local onde sejam recebidas as manifestações racistas.

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17. O fato de um empresário, por preconceito em relação à cor de determinado empregado, impedir a sua ascensão funcional na empresa, configurará delito contra a organização do trabalho, e não crime resultante de preconceito.

Comentário 16:

Caro aluno, de acordo com o que dispõe o art. 70 do Código de Processo Penal, a competência será, de regra, determinada pelo lugar onde se consumar a infração.

CPP:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Por sua vez, o crime de racismo tipificado no art. 20 da Lei 7.716/89 se consuma com a prática, indução ou incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, isto é, com a manifestação discriminatória.

Logo, a consumação dar-se-á com o envio das mensagens com conteúdo discriminatório, pelo que o juízo competente será o deste local.

Bom, mas para tirar qualquer dúvida a respeito, vale citar dois julgados que foram a fonte de inspiração para a questão. São eles:

Neste sentido:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE RACISMO PELA INTERNET. MENSAGENS ORIUNDAS DE USUÁRIOS DOMICILIADOS EM DIVERSOS ESTADOS. IDENTIDADE DE MODUS OPERANDI. TROCA E POSTAGEM DE MENSAGENS DE CUNHO RACISTA NA MESMA COMUNIDADE DO MESMO SITE DE RELACIONAMENTO. OCORRÊNCIA DE CONEXÃO INSTRUMENTAL. [....] PARECER DO MPF PELA COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL DE SÃO PAULO. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO FEDERAL DA 4A. VARA CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO, O SUSCITADO, DETERMINANDO QUE ESTE COMUNIQUE O RESULTADO DESTE JULGAMENTO AOS DEMAIS JUÍZOS FEDERAIS PARA OS QUAIS HOUVE A DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA.

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1. Cuidando-se de crime de racismo por meio da rede mundial de computadores, a consumação do delito ocorre no local de onde foram enviadas as manifestações racistas.

2. Na hipótese, é certo que as supostas condutas delitivas foram praticadas por diferentes pessoas a partir de localidades diversas; todavia, contaram com o mesmo modus operandi, qual seja, troca e postagem de mensagens de cunho racista e discriminatório contra diversas minorias (negros, homossexuais e judeus) na mesma comunidade virtual do mesmo site de relacionamento.

[....]

6. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo Federal da 4a. Vara Criminal da SJ/SP, o suscitado, determinando que este comunique o resultado deste julgamento aos demais Juízos Federais para os quais houve a declinação da competência.

(CC 102.454/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 15/04/2009)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. RACISMO PRATICADO ATRAVÉS DE PUBLICAÇÃO DE MENSAGENS RACISTAS EM SÍTIO DE RELACIONAMENTO. INTERNET. IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES. NECESSIDADE. LOCAL DO CRIME. LUGAR DE ONDE FORAM ENVIADOS OS TEXTOS OFENSIVOS. [....] COMPETÊNCIA DAQUELE JUÍZO QUE PRIMEIRO CONHECEU DA INVESTIGAÇÃO.

1. A competência para processar e julgar os crimes praticados pela internet, dentre os quais se incluem aqueles provenientes de publicação de textos de cunho racista em sites de relacionamento, é do local de onde são enviadas as mensagens discriminatórias.

2. Na espécie, mesmo após recebidas as informações da empresa proprietária do sítio, não houve como identificar, por enquanto, os autores das ofensas, o que impõe, obviamente, a manutenção do feito no âmbito daquele juízo que primeiro tomou conhecimento da investigação.[...]

(CC 107.938/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/10/2010, DJe 08/11/2010)

Diante do exposto, podemos concluir que a questão está errada ao afirmar que o crime de racismo praticado por meio da rede mundial de computadores consuma-se no local onde sejam recebidas as manifestações racistas. Consuma-se no local onde sejam enviadas as manifestações racistas!

Gabarito: Errado

Comentário 17:

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Não tenha dúvidas: o fato de um empresário, por preconceito em relação à cor de determinado empregado, impedir a sua ascensão funcional na empresa, configurará crime resultante de preconceito.

Lembre-se do que aqui estudamos:

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

[....]

§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:

[....]

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Gabarito: Errado

18. [CESPE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PI – 2012] Considere que Mauro, irritado com a demora no andamento da fila do caixa de um supermercado, tenha proferido xingamentos direcionados à atendente do caixa, atribuindo a demora no atendimento à inferioridade intelectual que, segundo ele, era característica intrínseca da raça a que a moça pertencia. Nessa situação, Mauro deve ser acusado de crime de racismo, previsto na legislação específica, por ter negado à funcionária, por motivo racial, o direito de trabalho no comércio.

Comentário:

Errado! De fato, há uma conduta preconceituosa na atitude de Mauro, mas vimos aqui que, segundo entendimento jurisprudencial, não há que se falar em crime de racismo previsto na Lei n. 7.716/89 quando a suposta ofensa se dirige contra o agente considerado individualmente, hipótese em que se configura a infração penal de injúria prevista no art. 140, § 3º, do Código Penal Brasileiro, abaixo transcrito:

Código Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

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§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

Logo, Mauro não deve ser acusado de crime de racismo.

Gabarito: Errado

19. [CESPE – POLICIAL RODOVIARIO FEDERAL – DPRF – 2013] Constitui crime o fato de determinado clube social recusar a admissão de um cidadão em razão de preconceito de raça, salvo se o respectivo estatuto atribuir à diretoria a faculdade de recusar propostas de admissão, sem declinação de motivos.

Comentário:

Não foi isso que você aprendeu! Em seu arts. 1º e 4º, a Lei nº 7.716/89 assim dispõe:

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

[....]

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Não há, portanto, essa ressalva de o respectivo estatuto atribuir à diretoria a faculdade de recusar propostas de admissão, sem declinação de motivos.

Gabarito: Errado

20. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – CÂMARA DEPUTADOS – 2014] Conforme a lei que prevê condutas discriminatórias, cometerá crime de discriminação ou preconceito o agente que impedir o acesso de idoso a edifício público pelas entradas sociais.

Comentário:

Inteligente e errada a questão! O art. 11 da Lei de Preconceito tipifica como crime impedir o acesso às entradas sociais em edifícios ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos. Bom, mas por qual motivo tal restrição de acesso será considerada crime pela lei em estudo? Por motivo de

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preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, somente!

Em nenhum momento você viu nessa aula que também seria crime se a restrição de acesso fosse pelo motivo de a pessoa ser idosa. A conduta descrita não encontra guarida na Lei nº 7.716/89, lei de condutas discriminatórias!

Gabarito: Errado

21. [CESPE – PRIMEIRO-TENENTE – PM/CE - 2014] Configura crime o ato de veicular ornamento ou propaganda que utilize a cruz suástica ou gamada, com a finalidade de divulgação do nazismo.

Comentário:

Oh, Jesus... Que questão moleza! E para você ver: saidíssima do forno e sem nenhum bicho de sete cabeças!

Ao estudarmos os crimes contra o preconceito de raça e de cor, vimos um dos seguintes tipos penais tipificados na Lei nº 7.716/89 (art. 20, §1º):

*

Gabarito: Certo

[CESPE – ANALISTA EXEC. MANDATOS – TJ/CE - 2014] Julgue os itens a seguir, à luz do disposto na lei que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor.

22. Considera-se crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática do racismo, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se omitirem.

23. Aquele que pratica racismo responderá por crime inafiançável e imprescritível, sujeitando-se à pena de reclusão prevista na lei.

Comentário 22:

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Nessa assertiva a banca cometeu um erro pueril ao trocas as bolas de dois importantíssimos dispositivos constitucionais, nos incisos XLII e XLIII do art. 5º da CF/88. Vamos corrigir:

Art. 5º (...)

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Gabarito: Errado

Comentário 23:

Pronto! Agora sim a banca acertou e, em uma mesma questão, queria saber do candidato apenas o conhecimento dos dois dispositivos constitucionais acima citados. Sequer utilizou a Lei nº 7.716/89!

Gabarito: Certo

24. [VUNESP – JUIZ SUBSITITUTO – TJ/PA - 2014] “X” é negro e jogador de futebol profissional. Durante uma partida é chamado pelos torcedores do time adversário de macaco e lhe são atiradas bananas no meio do gramado. Caso sejam identificados os torcedores, é correto afirmar que, em tese, responderão pelo crime de preconceito de raça ou de cor, nos termos da Lei n.º 7.716/89.

Comentário:

Por ser um assunto que tem frequentado a mídia nos últimos meses, por conta da ocorrência de tantos casos semelhantes, as bancas têm gostado muito de cobrá-lo! Tenho certeza que você respondeu essa questão em milésimos de segundos!

Por uma “brecha na lei” não há que se falar em crime de racismo previsto na Lei nº 7.716/89, quando a suposta ofensa se dirige contra o agente considerado individualmente, hipótese em que se configura a infração penal de injúria prevista no art. 140, § 3º, do Código Penal Brasileiro, abaixo transcrito:

Código Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

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Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

Logo, para a situação hipotética da questão, caso sejam identificados os torcedores, é correto afirmar que, em tese, responderão pelo crime de injúria racial, nos termos do art. 140, § 3.º, do Código Penal.

Gabarito: Errado

25. [FEPESE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/SC - 2014] Responde pela prática do crime de injúria racial, disposto no § 3º do artigo 140 do Código Penal Brasileiro e não pelo artigo 20 da Lei n. 7.716/89 (Discriminação Racial) pessoa que ofende uma só pessoa, chamando-lhe de macaco e negro.

Comentário:

E aí, o que você acha?

Por tudo que já aqui estudamos, a questão está certíssima!

Segundo entendimento jurisprudencial e doutrinário, responde pela prática do crime de injúria racial, disposto no § 3º do artigo 140 do Código Penal Brasileiro e não pelo artigo 20 da Lei n. 7.716/89 (Discriminação Racial) pessoa que ofende uma só pessoa, chamando-lhe de macaco e negro.

Gabarito: Certo

26. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB - 2015] A perda do cargo ou função pública pelo servidor público está prevista como efeito da condenação por crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz declará-lo motivadamente na sentença.

Comentário:

Verdadeiríssima! Questãozinha aplicada para cargo de alto nível, mas que exigiu apenas o conhecimento literal dos arts. 16 e 17 da Lei nº 7.716/89. Nós o destacamos aqui em nossa aula! Confira:

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Gabarito: Certo

27. [IBFC – TÉCNICO DE REGISTRO DE COMÉRCIO – SAEB/BA - 2015] assinale a alternativa correta sobre a pena prevista para quem “Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador” nos termos da Lei Federal n° 7.716, de 05/01/1989 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

(A) Pena de reclusão.

(B) Pena de detenção.

(C) Pena de serviços comunitários.

(D) Pena de pagamento de indenização por dano material.

(E) Pena de suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por quatro meses.

Comentário:

Professor, como é que você me vem com uma questão dessas?!

É, eu sei que é uma questão horrível, pois pede a literalidade das penas dos crimes previstos na Lei nº 7.716;89, mas não tenho culpa... (rsrs)

É uma questão recentíssima e não pude me furtar de trazê-la aqui, já que questões sobre essa norma não são tão comuns! E vai que a Funiversa, em sua prova, resolve aprontar uma dessas...

Bom, para resolvê-la não tem jeito, tem que conhecer direitinho os tipos penais aqui estudados e o citado no enunciado da questão, um dos mais conhecidos, diga-se de passagem, está previsto no art. 5º da norma em comento. Confira:

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Gabarito: Letra “A”

28. [FCC – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SC - 2015] Considere a seguinte conduta descrita: Publicar ilustração de recém-nascidos afrodescendentes em fuga de sala de parto, associado aos dizeres de um personagem (supostamente médico) de cor branca "Segurança! É uma fuga em massa!". Tal conduta amolda-se à seguinte tipificação legal:

(A) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de ofensa social e não de conteúdo racial.

(B) Injúria, prevista no art. 140 do Código Penal.

(C) Crime de racismo, previsto na Lei no 7.716/89.

(D) Difamação, prevista no art. 139 do Código Penal.

(E) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de liberdade de expressão − direito de charge.

Comentário:

Questão bem interessante e muito má, pois queria saber do candidato se ele conhecia um julgado do TJ/SC sobre um caso específico ocorrido naquele Estado...

Bom, mas mesmo você não conhecendo o caso, já dava para desconfiar da reposta. Por quê? Porque já batemos muito nessa mesma tecla em nossa aula. Quer ver? Vamos lá, mais uma vez!

A injúria racial (injúria preconceito ou injúria discriminatória) consiste em ofender a honra de pessoa determinada, valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. É crime prescritível e afiançável, previsto do Código Penal.

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência (...)

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O crime de racismo, por sua vez, ocorre quando as ofensas não têm pessoa ou pessoas determinadas, discriminando toda a integralidade de uma raça, cor, etnia, religião ou origem, atingindo número incerto de pessoas. Nesse caso, o crime é inafiançável e imprescritível (CF, art. 5º, inciso XLII), previsto na Lei 7.716/89.

Como no caso em tela, a publicação destinou-se a ofender grupo indeterminado de pessoas (recém-nascidos afrodescendentes), caracteriza-se o CRIME RACISMO, mais especificamente o descrito no art. 20, §2º.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza (...)

Aí já temos a resposta! Maaaaas, para você ter uma ideia, o fato narrado na denúncia foi o seguinte:

"No dia 16 de fevereiro de 2007, o Jornal Correio Lageano, localizado na Rua Coronel Córdova, nº 84, Bairro Centro, neste município e comarca, publicou uma charge com o título "MAIORIDADE PENAL...". Neste cartum, uma mulher negra se encontra deitada em trabalho de parto em um leito de determinado hospital, sendo que acabaram de descer do ventre materno quatro crianças afrodescendentes com vendas nos olhos e que estão em fuga do nosocômio, utilizando inclusive uma corda de lençol, como aquelas usadas por criminosos segregados para fugas ou para rebeliões. Além disso, no aludido desenho se encontra ao lado do leito do hospital um médico de cor branca amedrontado com a evasão das crianças negras recém-nascidas, que grita:

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"SEGURANÇA!!! É UMA FUGA EM MASSA!!".

Em primeira instância, o juiz entendeu não ser um crime de racismo, mas, em instância recursal, o TJ/SC assim julgou:

CRIME DE RACISMO. ARTIGO 20, § 2º, DA LEI N. 7.716/89. PUBLICAÇÃO DE CHARGE EM JORNAL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO DA ACUSAÇÃO. ILUSTRAÇÃO PEJORATIVA. VINCULAÇÃO DO NASCIMENTO DE CRIANÇAS AFRODESCENDENTES À CRIMINALIDADE. CONTEÚDO RACISTA MANIFESTO. COLISÃO DE PRINCÍPIOS. LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E IGUALDADE. SOLUÇÃO QUE SE DÁ ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. PREVALÊNCIA DOS ÚLTIMOS INEQUIVOCAMENTE APLICÁVEL AO CASO CONCRETO. RECURSO PROVIDO. Ilustração de recém nascidos afrodescendentes em fuga de sala de parto, associado aos dizeres de um personagem (supostamente médico) de cor branca "Segurança!!! É uma fuga em massa!!!", configura a prática do crime de racismo.

A Constituição Federal de 1988 dispõe, em seu artigo 3º, entre os objetivos fundamentais da República, a "promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Ademais, no capítulo referente aos direitos e garantias individuais, estabelece a "igualdade" como garantia fundamental do indivíduo sendo a prática do racismo crime inafiançável e imprescritível (artigo 5º, inciso XLII). Havendo colisão de normas constitucionais entre a que impõe a igualdade entre os indivíduos e a liberdade de pensamento, deve prevalecer aquela, pois não é possível que o exercício do direito de opinião ofenda outros valores constitucionais, mormente a dignidade humana, fundamento do princípio da igualdade. [...] não se pode

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atribuir primazia absoluta à liberdade de expressão, no contexto de uma sociedade pluralista, em face de valores outros como os da igualdade e da dignidade humana. [...] Ela encontra limites, também no que diz respeito às manifestações de conteúdo discriminatório ou de conteúdo racista. Trata-se, como já assinalado, de uma elementar exigência do próprio sistema democrático, que pressupõe a igualdade e a tolerância entre os diversos grupos. (HC 82424, Relator: Min. MOREIRA ALVES, Relator para Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2003). [...] PRESCRIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO. CRIME IMPRESCRITÍVEL. INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, INCISO XLII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. (TJSC, Apelação Criminal n. 2012.016841-9, de Lages, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, j. 23-05-2013).

A banca buscou do candidato esse conhecimento! Muita maldade, concordo, mas questões como essa lhes servem como importante registro e complemento para seus estudos! Vai que...

Gabarito: Letra “C”

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Pronto, terminamos mais uma etapa da caminhada! E vamo que vamo que o tempo ruge!

Até a próxima aula!

Questões de sua Aula

01. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] A Lei n.º 7.716/1989 não considera crime de racismo o ato preconceituoso contra homossexual praticado em razão da opção sexual da vítima.

02. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] Não constitui crime de racismo a simples recusa de atendimento a uma pessoa, na mesa de um bar, em razão a cor de sua pele.

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03. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PI – 2007] Nos crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, constitui efeito automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público no exercício da função que for sujeito ativo do delito.

04. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

05. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

06. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2005] Consoante entendimento do STF, constitui crime de racismo escrever livro fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica, no sentido de que os judeus seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio.

07. [UEPB – DELEGADO DE POLÍCIA – PC/PB – 2003] A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1 997, que modificou a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1 989 (Lei definidora dos crimes de raça ou de cor), determina a punição de todos os delitos resultantes da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Nesse contexto se acha tipificada figura relativa ao fabrico, à comercialização, à distribuição ou à veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, exceto quando o responsável, penalmente imputável, for membro registrado de partido político.

08. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2011] Em razão do princípio da especialidade, a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com o nítido intuito de causar lesão à sua honra, não importa crime de injúria, mas delito resultante de preconceito de raça.

09. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

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10. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Para a configuração penal do delito de injúria, não se exige o elemento subjetivo consistente no dolo de ofender na modalidade de dolo específico, sendo suficiente, para a caracterização da figura típica, a presença do chamado dolo genérico.

11. [CESPE – DELEGADO DE POLICIA – PC/ES – 2006] Lei especial define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, prescrevendo-se para todas as figuras típicas penas de reclusão ou de reclusão e multa.

12. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/TO – 2008] Os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional são punidos com penas de reclusão ou reclusão e multa, e todas as infrações descritas na legislação específica são inafiançáveis e imprescritíveis.

[CESPE – TÉCNICO TRANSPORTE – MPU – 2010] Julgue os itens seguintes, de acordo com o que dispõe a legislação em vigor acerca de crimes resultantes de preconceito.

13. Considere que Tânia, proprietária de um salão de beleza especializado em penteados afros, recuse atendimento a determinada pessoa de pele branca e cabelos ruivos, sob a justificativa de o atendimento, no salão, restringir-se a afrodescendentes. Nessa situação, a conduta de Tânia não constitui crime, visto que, sendo proprietária do estabelecimento, ela tem o direito de restringir o atendimento a determinados clientes.

14. Pratica crime decorrente de discriminação racial, apenado com reclusão de um a três anos, o síndico que proíbe a circulação, nos elevadores sociais de edifício residencial, de todos os empregados domésticos que trabalham para os condôminos.

15. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011]) Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

[CESPE – ADVOGADO DA UNIÃO – AGU – 2012] Com relação aos delitos de preconceito, julgue os próximos itens.

16. O crime de racismo praticado por meio da rede mundial de computadores consuma-se no local onde sejam recebidas as manifestações racistas.

17. O fato de um empresário, por preconceito em relação à cor de determinado empregado, impedir a sua ascensão funcional na empresa,

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configurará delito contra a organização do trabalho, e não crime resultante de preconceito.

18. [CESPE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PI – 2012] Considere que Mauro, irritado com a demora no andamento da fila do caixa de um supermercado, tenha proferido xingamentos direcionados à atendente do caixa, atribuindo a demora no atendimento à inferioridade intelectual que, segundo ele, era característica intrínseca da raça a que a moça pertencia. Nessa situação, Mauro deve ser acusado de crime de racismo, previsto na legislação específica, por ter negado à funcionária, por motivo racial, o direito de trabalho no comércio.

19. [CESPE – POLICIAL RODOVIARIO FEDERAL – DPRF – 2013] Constitui crime o fato de determinado clube social recusar a admissão de um cidadão em razão de preconceito de raça, salvo se o respectivo estatuto atribuir à diretoria a faculdade de recusar propostas de admissão, sem declinação de motivos.

20. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – CÂMARA DEPUTADOS – 2014] Conforme a lei que prevê condutas discriminatórias, cometerá crime de discriminação ou preconceito o agente que impedir o acesso de idoso a edifício público pelas entradas sociais.

21. [CESPE – PRIMEIRO-TENENTE – PM/CE - 2014] Configura crime o ato de veicular ornamento ou propaganda que utilize a cruz suástica ou gamada, com a finalidade de divulgação do nazismo.

[CESPE – ANALISTA EXEC. MANDATOS – TJ/CE - 2014] Julgue os itens a seguir, à luz do disposto na lei que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor.

22. Considera-se crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática do racismo, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se omitirem.

23. Aquele que pratica racismo responderá por crime inafiançável e imprescritível, sujeitando-se à pena de reclusão prevista na lei.

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24. [VUNESP – JUIZ SUBSITITUTO – TJ/PA - 2014] “X” é negro e jogador de futebol profissional. Durante uma partida é chamado pelos torcedores do time adversário de macaco e lhe são atiradas bananas no meio do gramado. Caso sejam identificados os torcedores, é correto afirmar que, em tese, responderão pelo crime de preconceito de raça ou de cor, nos termos da Lei n.º 7.716/89.

25. [FEPESE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/SC - 2014] Responde pela prática do crime de injúria racial, disposto no § 3º do artigo 140 do Código Penal Brasileiro e não pelo artigo 20 da Lei n. 7.716/89 (Discriminação Racial) pessoa que ofende uma só pessoa, chamando-lhe de macaco e negro.

26. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB - 2015] A perda do cargo ou função pública pelo servidor público está prevista como efeito da condenação por crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz declará-lo motivadamente na sentença.

27. [IBFC – TÉCNICO DE REGISTRO DE COMÉRCIO – SAEB/BA - 2015] assinale a alternativa correta sobre a pena prevista para quem “Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador” nos termos da Lei Federal n° 7.716, de 05/01/1989 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

(A) Pena de reclusão.

(B) Pena de detenção.

(C) Pena de serviços comunitários.

(D) Pena de pagamento de indenização por dano material.

(E) Pena de suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por quatro meses.

28. [FCC – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SC - 2015] Considere a seguinte conduta descrita: Publicar ilustração de recém-nascidos afrodescendentes em fuga de sala de parto, associado aos dizeres de um personagem (supostamente médico) de cor branca "Segurança! É uma fuga em massa!". Tal conduta amolda-se à seguinte tipificação legal:

(A) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de ofensa social e não de conteúdo racial.

(B) Injúria, prevista no art. 140 do Código Penal.

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(C) Crime de racismo, previsto na Lei no 7.716/89.

(D) Difamação, prevista no art. 139 do Código Penal.

(E) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de liberdade de expressão − direito de charge.

GABARITO

1 2 3 4 5 C E E C E 6 7 8 9 10 C E E C E

11 12 13 14 15 C C E C E

16 17 18 19 20 E E E E E 1 22 23 24 25 C E C E C

26 27 28 C A C