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Lei nº . /2020
de
Havendo necessidade de rever a Lei nº 11/2009, de 11 de Março, Lei
Cambial, de modo a adequá-la aos padrões de funcionamento de um
mercado de l ivre circulação de pessoas, bens e serviços e, por isso,
desprovido de qualquer t ipo de rest rições nos pagamentos e
transferências nas transacções correntes internacionais e demais
aspectos correlacionados, a Assembleia da República, ao abrigo do
disposto no nº 1 do artigo 178 da Constituição, determina:
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 1
(Objecto)
A presente lei rege os actos, negócios, transacções e operações de toda
a índole que:
a) se realizam entre residentes e não-residentes e que resultem
ou possam resultar em pagamentos ou recebimentos sobre o
exterior;
b) sendo realizados no pais, envolvam moeda estrangeira;
c) não reunindo os requisitos referidos na alínea anterior, sejam
qualif icadas, por Lei, como operações cambiais.
ARTIGO 2
(Âmbito de aplicação)
A presente Lei aplica-se a:
a) Pessoas singulares e colectivas não-residentes, que realizem
operações cambiais respeitantes a bens ou valores situados em
território nacional e direitos sobre esses bens ou valores ou se
ref iram a act ividades exercidas no mesmo território;
b) Pessoas singulares e colect ivas residentes, que realizem
operações cambiais respeitantes a bens ou valores situados em
território nacional e direitos sobre esses bens ou valores ou se
ref iram a act ividades exercidas no mesmo território;
c) Pessoas singulares e colectivas residentes, que realizem
operações cambiais respeitantes a bens, valores ou direitos
adquiridos, gerados ou situados no estrangeiro.
d) Estado e outras pessoas colect ivas do direito público.
Artigo 3
(Definições)
Para efeitos da presente Lei, entende -se por:
a) Agregado famíliar (por definir)
b) Arbitragem de taxas de câmbio : faculdade de f ixação do valor em
moeda nacional que deve ser pago ou recebido na aquisição ou
alienação de moeda estrangeira;
c) Autoridade Cambial : o Banco de Moçambique, nos termos daa Lei
Orgânica do Banco de Moçambique;
d) Bens : tudo aquilo que, sendo tangível ou não, possa ser objecto de
comércio internacional;
e) Certificados de participação em organismos de investimentos
colectivos : acções e outros t ítulos de part icipação, obrigações e
demais t ítulos e instrumentos transaccionados nos mercados
f inanceiros;
f) Empréstimos de carácter pessoal : operações de mútuo
caracterizadas pelo facto de o mutuante não exercer funções de
crédito à t ítulo prof issional, visando ou não o lucro;
g) Empréstimos e créditos financeiros : operações de mútuo envolvendo
inst ituições f inanceiras que nelas intervêm a título prof issional e com
f im lucrat ivo;
h) Garantia : documento emitido por uma entidade, por sol icitação de seu
cliente ou contraparte, e a favor de outrem, em virtude do qual tal
entidade assume o compromisso de compensar o beneficiário, caso o
cliente ou contraparte não honre as obrigações por si assumidas
perante aquele;
i) Importação e exportação física de valores : entrada ou saída no
território aduaneiro nacional, de notas ou moedas metálicas
estrangeiras ou nacionais em circulação, meios de pagamento
externos, letras, l ivranças e extractos de factura, acções, obrigações,
cupões, t ítulos de dívida pública, quer nacionais quer estrangeiros,
realizada por entidades autorizadas a exercer o comércio de câmbios;
j) Investimento de carteira : investimento em acções ou quaisquer
outras formas de participação no capital, bem assim em obrigações e
outros t ítulos e instrumentos f inanceiros;
k) Investimento directo estrangeiro : qualquer forma de contribuição do
capital estrangeiro susceptível de avaliação pecuniária, que constitua
capital ou recurso próprio ou sob conta e risco de investidor
estrangeiro, proveniente do exterior e destinado à sua incorporação no
investimento para a realização de um projecto de actividade
económica, A TÍTULO DE REALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL,
SUPRIMENTO, QUALQUER OUTRA FORMA DE EMPRÉSTIMO OU
ADIANTAMENTO DE CUSTOS DE INVESTIMENTO EM PAGAMENTOS
DE TRABALHO OU OUTROS SERVIÇOS OU AINDA AQUISIÇÃO OU
ALUGUER DE BENS, de forma directa ou através de uma
representação comercial, com ou sem personalidade jurídica própria,
desde que devidamente registada noem Moçambique junto das
entidades legais competentes;
l) Investimento imobiliário : operações de aquisição, alienação ou
arrendamento de bens imobil iários entre residentes e não residentes,
no país ou no estrangeiro;
m) Mercadorias : bens objecto de transacção comercial;
n) Moeda estrangeira : notas e moedas metálicas com curso legal nos
países de emissão e quaisquer outros meios de pagamento sobre o
estrangeiro expressos em moeda ou em unidades de conta uti l izadas
em compensações ou pagamentos internacionais ;
o) Moeda estrangeira escritural : valor monetário destituído de suporte
f ísico em nota ou metal de banco;
p) Moeda estrangeira física : notas e moedas metálicas estrangeiras em
circulação;
q) Operação cambial : qualquer acto, negócio ou transacção realizado
entre residente e não residente e que resulte ou possa resultar em
pagamentos ou recebimentos sobre o exterior, ou que simplesmente
seja qualif icada por lei como cambial;
r) Operações de bolsa : real izadas junto de uma bolsa de valores
nacional ou estrangeira ou com elas relacionadas;
s) Operações de mercadorias : actos ou negócios entre residentes e não
residentes que envolvam a transmissão do direito de propriedade
sobre bens móveis destinados ao comércio;
t) Operador de comércio parcial de câmbios : ent idade autorizada pelo
Banco de Moçambique a realizar, a título prof issional, operações de
compra e venda de moeda estrangeira, estritamente relacionada com
uma actividade comercial principal não f inanceira;
u) Repatriamento de receitas (por definir)
v) Registo cambial : recolha, processamento e manutenção da
informação essencial relat iva a uma operação cambial, incluindo o seu
processamento electrónico ou manual, bem assim o arqu ivo dos
documentos que servem de base;
w) Serviços : prestação de uma actividade económica por um não
residente a um residente ou vice-versa, nas seguintes áreas de
actividade económica: transporte, seguros, informática, informação,
serviços relacionados com o comércio, royalt ies e l icenças, serviço do
governo e f inanciamento (excluindo rendimentos tais como juros);
x) Transacções correntes : quaisquer pagamentos ou recebimentos em
moeda estrangeira, que não sejam para efeitos de transferência de
capitais, nomeadamente, pagamentos ou recebimentos em conexão
com o comércio externo, transferências unilaterais sem
contraprestação ou outras não sujeitas à prévia autorização do Banco
de Moçambique nos termos da Lei e do presente Regulamento;
.ARTIGO 4
(Residência cambial)
1. Para efeitos da presente Lei, são considerados residentes:
a) Pessoas singulares com residência habitual em Moçambique
ou cuja permanência no estrangeiro não exceda um ano;
b) Pessoas singulares cuja permanência no estrangeiro, por um
período igual ou superior a um ano, t iver origem em motivos
de saúde ou de estudo;
c) Pessoas singulares com residência habitual em Moçambique,
que desenvolvam actividade não ocasional em território
estrangeiro, nomeadamente trabalhadores de fronteira ou
sazonais e tripulações de navios, aviões ou outros
equipamentos móveis a operar total ou parcialmente no
estrangeiro;
d) Pessoas singulares com estatuto de diplomatas,
representantes consulares ou equiparados, pessoal militar em
exercício de funções governamentais no estrangeiro bem
como os membros do respectivo agregado familiar;
e) Pessoas colectivas de direito privado com sede em território
nacional;
f) Estado, outras pessoas colect ivas de direito público, os
fundos e inst itutos públicos dotados de autonomia
administrativa e f inanceira;
g) Representações diplomáticas e consulares do Estado
Moçambicano situadas no estrangeiro.
2. São considerados igualmente residentes, os seguintes entes
estrangeiros:
a) Pessoas singulares que residam em Moçambique há mais de
um ano, excepto os dip lomatas, representantes consulares ou
equiparados, pessoal militar estrangeiro em exercício de
funções governamentais no país, bem como os membros das
respectivas famíl ias;
b) Pessoas singulares com residência habitual em Moçambique,
que desenvolvam actividade não ocasional em território
estrangeiro, nomeadamente trabalhadores de fronteira ou
sazonais e tripulações de navios, aviões ou outros
equipamentos móveis a operar total ou parcialmente no
estrangeiro.
c) Os expatriados que tenham celebrado um contrato de trabalho
com uma entidade residente, com duração de mais de um ano
ou o contrato celebrado tenha sido renovado apos um ano.
d) As f i l ia is, agências, delegações, sucursais ou quaisquer
outras formas de representação de pessoas colectivas não
residentes, quando dotadas de personalidade jurídica própria
ao abrigo da legislação vigente na República de Moçambique,
.
3. O simples vínculo contratual com representações diplomáticas,
consulares ou equiparadas, bem assim com estabelecimentos
militares estrangeiros e organismos f inanceiros internacionais
situados em território nacional, não determina a perda da qualidade
de residente.
4. A residência presume-se habitual decorrido um ano sobre o seu
início, sem prejuízo da possibil idade de prova em contrário.
5. Em caso de alteração da qualidade de residente ou de não
residente, os bens e direitos anteriormente adquiridos pela pessoa
singular ou colect iva ou pela entidade em causa acompanham o seu
novo estatuto.
6. Nos termos do presente art igo, em caso de dúvida, presume -se que
a pessoa visada é residente, cabendo à mesma, em caso disso,
i l idir essa qualidade.
Artigo 5
(Número de Verif icação Cambial)
1. Entende-se por Número de Verif icação Cambial a identif icação
numérica única e biométrica atribuída pelo Banco de Moçambique
às pessoas singulares e colectivas que realizam operações
cambiais.
2. O número de verif icação cambial é atribuído uma única vez e é de
uso obrigatório na realização de cada operação cambial.
3. O Banco de Moçambique estabelece, por Aviso, as condições e
procedimentos para atribuição e ut il ização do número de verif icação
cambial.
PRINCÍPIOS E DEVERES
ARTIGO 6
(Liberalização das operações cambiais)
1. As operações cambiais classificadas como transacções
correntes não carecem de autorização.
2. O Banco de Moçambique estabelece, por Aviso, as condições de
realização de operações cambiais classificadas como de
capitais e de outras não correntes, quanto à sua sujeição ou
não à prévia autorização.
3. Para efeitos do número anterior o Banco de Moçambique tem em
conta, entre outros critérios, a situação macroeconómica do
país, nomeadamente, a disponibilidade de moeda estrangeira, o
ponto de situação da balança de pagamento e demais condições
do mercado cambial.
ARTIGO 7
(Pagamento e recebimento em moeda estrangeira)
Compete ao Banco de Moçambique definir, por Aviso, em que casos e
condições são permitidos o pagamento e recebimento em moeda
estrangeira realizados em território nacional.
ARTIGO 8
(Dever de utilização exclusiva do sistema bancário)
As operações cambiais que envolvam pagamentos ou recebimentos sobre
o exterior e, sendo realizadas no pais, envolvam moeda estrangeira,
devem ser realizadas, exclusivamente, através de bancos autorizados a
operar no país.
ARTIGO 9
(Dever geral de verificação)
1. As entidades autorizadas a exercer o comércio de câmbios devem
verif icar, até à conclusão das operações em que intervenham, a sua
realidade, natureza e o cumprimento das disposições legais e
regulamentares aplicáveis.
2. Para efeitos do número anterior, devem os interessados fornecer os
elementos de prova indispensáveis à caracterização jurídica e
económica da operação requerida, designadamente os relat ivos à
determinação dos sujeitos, objecto, valor e datas de exigibil idade.
3. O dever de verif icação previsto no presente art igo abrange os deveres
de identif icação, di l igência e outros previstos na legislação relat iva à
prevenção e combate ao branqueamento de capitais e f inanciamento
do terrorismo.
ARTIGO 10
(Registo cambial)
1. Todas as operações cambiais estão sujeitas a registo .
2. Salvo disposição expressa em contrário, compete às entidades
autorizadas a realizar o comercio de cambios registar as operações
cambiais.
3. O Banco de Moçambique estabelece, por Aviso, os termos e
procedimentos de realização de registo.
ARTIGO 11
(Dever de informação e conservação de documentos)
1. As entidades autorizadas a exercer o comércio de câmbios devem
enviar as informações sobre as operações cambiais realizadas ao
Banco de Moçambique, nos termos por este estabelecidos.
2. O Banco de Moçambique pode, sempre que ponderosas razões
just if icarem, exigir informações das demais entidades envolvidas
em operações cambiais, devendo estas fornecer a informação no
prazo de 15 dias
3. As entidades referidas nos números anteriores devem conservar os
elementos necessários à verif icação da natureza e realidade das
suas operações nos termos estabelecidos pela lei comercial, lei
f iscal e demais legislação aplicável.
ARTIGO 12
(Declaração de activos)
1. Todos os residentes devem declarar, junto do Banco de
Moçambique, os seus valores e direitos gerados, adquiridos, ou
detidos no estrangeiro.
2. O Banco de Moçambique estabelece, por Aviso, os procedimentos
para a de declaração de activos.
ARTIGO 13
(Repatriamento de receitas)
1. Todos os residentes devem repatriar as receitas de exportação de
bens e serviços e os rendimentos de investimento no estrangeiro , nos
termos estabelecidos pelo Banco de Moçambique.
2. O BM estabelece a modalidade de manutenção de receitas receitas de
exportação de bens e servicos e de rendimentos de investi mento no
estrangeiro
OPERAÇÕES CAMBIAIS
ARTIGO 14
(Operações cambiais)
1. São consideradas operações cambiais as transacções correntes, as
operações de capitais e outras operações qualif icadas por Lei.
2. Entende-se por transacções correntes quaisquer pagamentos ou
recebimentos em moeda estrangeira que não sejam para efeitos de
transferência de capitais, nomeadamente os relacionados com o
comércio externo, remessas de valores para despesas familiares e
outras obrigações correntes nos termos a regulamentar.
3. Consideram-se operações de capitais as seguintes:
a) Investimento directo estrangeiro;
b) Investimento imobil iário;
c) Operações sobre certif icados de part icipação em organismos de
investimentos colectivos;
d) Abertura e movimentação de contas junto de institui ções
f inanceiras no exterior;
e) Créditos ligados a transacção de mercadorias ou à prestação de
serviços;
f) Empréstimos e créditos f inanceiros;
g) Garantias;
h) Transferências em execução de contrato de seguro;
i) Operações sobre títulos e outros instrumentos transa ccionados
no mercado monetário e de capitais;
j) Importação e exportação física de valores;
k) Empréstimos de carácter pessoal; e
l) Outras operações qualif icadas como de capitais que vierem a ser
definidas por Lei.
4. Outras operações cambiais:
a) A aquisição ou al ienação de ouro ou prata amoedados;
b) A exportação de ouro em barra ou em lingote ou outra forma não
trabalhada, prata, platina e outros metais preciosos;
c) A abertura e movimentação de contas de não residentes em
moeda nacional, quando relacionadas com ope rações de
capitais;
d) A abertura e movimentação de contas de residentes em moeda
estrangeira ou em unidades de conta ut il izadas em
compensações ou pagamentos internacionais;
e) Pagamentos e recebimentos em moeda estrangeira em
transacções domésticas;
f) A concessão de crédito a residentes em moeda estrangeira
incluindo por desconto de letras, l ivranças, extractos de factura,
expressos ou pagáveis em moeda estrangeira, expressos ou
pagáveis em moeda nacional, quando nesses títulos intervenham
não-residentes como sacadores, aceitantes, endossantes,
avalistas, quer como subscritores, quer como emitentes;
g) A aquisição ou alienação de cupões de títulos de crédito
estrangeiros;
h) As operações expressas em moeda estrangeira, em unidades de
conta que envolvam ou possam envolver l iquidação, total ou
parcial, de transacções de capitais, realizadas entre residentes e
não-residentes;
i) As operações expressas em moeda nacional em unidades de
conta que envolvam ou possam envolver l iquidação, total ou
parcial, de transacções de capitais realizadas por não-
residentes;
j) As transferências para o exterior e o recebimento do exterior de
quaisquer valores ou meios de pagamento, que não se
enquadrem na situação prevista no número 2 do presente artigo;
k) A arbitragem de taxas de câmbios;
l) A importação e exportação ou reexportação, quando realizada
por instituições autorizadas a exercer o comércio de câmbios, de:
(i) Notas ou moedas metálicas estrangeiras em
circulação e outros meios de pagamento externos;
(i i) Letras, l ivranças e extractos de factura, acções ou
obrigações, quer nacionais quer estrangeiros, ou
cupões, bem como títulos de dívida pública.
ARTIGO 15
(Exercício do comércio de câmbios)
1. Para efeitos da presente Lei, é considerado exercício de comércio de
câmbios a realização habitual, com intuito lucrat ivo, por conta própria
ou alheia, de operações cambiais.
2. O comércio de câmbios pode ser exercido por:
a) Bancos;
b) Casas de câmbio;
c) Agências de viagem ou de turismo;
d) Hotéis e similares;
e) Outras entidades ou inst ituições que vierem a ser def inidas por
Lei.
Artigo 16
(Licença para o exercício do comércio de câmbios)
1. Sem prejuízo do previsto na Lei das Instituições de Crédito e
Sociedades Financeiras e demais legislação aplicável, o exercício do
comércio de câmbios está condicionado a obtenção de uma licença
especial junto do Banco de Moçambique.
2. A licença especial a que se refere o número anterior é renovável
anualmente, e o Banco de Moçambique publica a l ista de inst ituições
autorizadas.
3. O Banco de Moçambique f ixa, por Aviso, os termos e condições de
concessão e renovação da licença para o exercício do comércio de
câmbios.
4. A decisão de não renovação da licença cabe reclamação por
documento devidamente fundamentado junto do Banco de Mocambique
ou recurso contencioso.
Artigo 17
(Leilões de moeda estrangeira)
A realização de leilões de moeda estrangeira e outras operações cujo
resultado seja o mesmo que o do leilão só é permitida no mercado
cambial interbancário, nos termos regulamentados pelo Banco de
Moçambique.
Artigo 18
(Abertura e movimentação de contas em moeda estrangeira)
1. Podem abrir contas em moeda estrangeira, no país ou no exterior,
os residentes que tenham uma relação não ocasional comprovada
com o exterior ou com não residente, e dessa relação resultem
f luxos em moeda estrangeira.
2. Podem abrir contas em moeda estrangeira no pais, nomeadamente:
a) Estado e outras pessoas colect ivas públicas dotadas de
autonomia administrativa e f inanceira, nos casos em que, por
Lei ou Regulamento, estejam habili tados a receber fundos do
exterior;
b) Exportadores;
c) Entidades com investimento no exterior; e
d) Representações diplomáticas, consulares ou equiparadas.
3. Independentemente dos requisitos referidos no n.º 1 do presente
artigo, podem abrir conta em moeda estrangeira no país, os não -
residentes.
4. O Banco de Moçambique f ixa, por Aviso, as condições de abertura e
movimentação de contas em moeda estrangeira.
ARTIGO 19
(Entrada e saída de moeda estrangeira)
1. É livre a entrada no terri tório nacional de moeda estrangeira e outros
meios de pagamento sobre o exterior, devendo os respectivos valores
ser declarados sempre que ultrapassem os limites f ixados na
respectiva regulamentação.
2. É livre, para não-residentes, a saída de moeda estrangeira, bem como
de outros meios de pagamento sobre o exterior, até ao limite declarado
à entrada no País, nos termos do número anterior.
3. A saída de moeda estrangeira, bem como de outros meios de
pagamento sobre o exterior é l ivre, para residentes, mediante o
comprovativo da retenção e posse legít ima, passado por entidades
autorizadas a exercer o comércio de câmbios, nos limites f ixados na
respectiva regulamentação.
CONTRAVEÇÕES
ARTIGO 20
(Contravenções)
Constituem contravenções cambiais:
a) A realização de operações cambiais sem prévia autorização,
quando exigida nos termos da presente Lei ou em
regulamentos;
b) A realização de qualquer operação cambial sem observar o
dever de verif icação, nos termos estabelecidos na presente
Lei ou em regulamentos;
c) A realização de qualquer operação cambial sem o registo, nos
termos estabelecidos na presente Lei ou em regulamentos;
d) A não declaração de valores e direitos gerados, adquiridos, ou
detidos no estrangeiro por residentes;
e) O não repatriamento das receitas de exportação de bens,
serviços e investimento estrangeiro por residentes;
f) A realização de transferências para o exterior, e o
recebimento do exterior , de quaisquer valores ou meios de
pagamento, sem a observância do disposto na p resente Lei ou
em regulamentos;
g) A não prestação de informação ao Banco de Moçambique, por
qualquer entidade que realize operação cambial, quando
exigível por Lei, regulamentos ou solicitação da autoridade
cambial;
h) O pagamento em moeda estrangeira em transacções
domésticas, fora dos casos f ixados pelo Banco de
Moçambique;
i) Violação de preceitos imperativos da presente Lei e dos seus
regulamentos não previstos nas alíneas anteriores.
ARTIGO 21
(Contravenções especialmente graves)
1. Constituem contravenções especialmente graves, as seguintes
condutas:
a) A obtenção de autorização para realizar operação cambial com
recurso a falsas declarações;
b) A prática das contravenções descritas nas alíneas a) e b) do
artigo anterior, quando o montante envolvido ultrapasse o
equivalente a USD 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil dólares
dos Estados Unidos da América);
c) A prática de contravenções que ponham em causa a estabil idade
do mercado cambial em particular e do mercado f inanceiro em
geral.
2. Sem prejuízo de outras penas cabíveis nos termos de demais
legislação aplicável, é punida com a pena que cabe à contravenção
consumada, a tentativa do cometimento da contravenção referida na
al. a) do nº 1.
ARTIGO 22
(Multas)
1. As contravenções cambiais cometidas por singulares são puníveis
nos seguintes termos:
a) Multa de cinquenta mil a quinhentos mil Meticais pela prática de
contravenções referidas no art igo 20;
b) Multa de cem mil a um milhão de Meticais pela prática de
contravenções referidas no art igo 21.
2. As contravenções cambiais cometidas por instituições não
f inanceiras, são puníveis nos seguintes termos:
a) Multa de duzentos mil a dois milhões de Meticais pela prática de
contravenções referidas no art igo 20;
b) Multa de quatrocentos mil a quatro milhões de Meticais pela
prática de contravenções referidas no artigo 21.
3. As contravenções cambiais cometidas por inst ituições f inanceiras,
são puníveis nos seguintes termos:
a) Multa de quinhentos mil a cinco milhões de Meticais pela prática
de infrações referidas no art igo 20;
b) Multa de um milhão a dez milhões de Meticais pela prática de
infrações referidas no artigo 21.
ARTIGO 23
(Penas acessórias)
1. Em função da gravidade da contravenção, da culpa e da situação
económica do infractor, podem ainda ser aplicadas as seguintes
sanções acessórias:
a) Suspensão, total ou parcial, da autorizaçao para o exercício
do comércio de câmbios, com ou sem encerramento do
estabelecimento;
b) Proibição da realização de operações cambiais, com ou sem
suspensão da act ividade económica, por período que não
exceda o da proibição;
c) Revogação da licença especial;
d) Publicação pelo Banco de Moçambique da punição definit iva
num dos jornais mais lidos do país.
2. A suspensão, encerramento ou proibição temporários devem ser f ixa
entre um mínimo de seis meses e o máximo de um ano , contados a
partir da decisão condenatória definit iva.
3. A sanção acessória de proibição da realização de operações
cambiais pode ser aplicada a entidades não autorizadas a exercer o
comércio de câmbios.
ARTIGO 24
(Responsabilidade das pessoas colectivas, sociedades e agentes
individuais)
1. Pela prát ica das infracções a que se refere a presente Lei podem ser
responsabil izadas, conjuntamente ou não, pessoas singulares ou
colect ivas, ainda que irregularmente constituídas, e associações sem
personalidade jurídica.
2. A responsabil idade do ente colect ivo não exime de responsabil idade
individual, incluindo a criminal, dos membros dos respectivos órgãos
que exerçam cargos de gestão ou os que actuam em sua
representação legal ou voluntária.
3. Não obsta à responsabil idade dos agentes individuais que representem
outrem o facto de o tipo legal de il ícito requerer determinados
elementos pessoais e estes só se verif icarem na pessoa do
representado, ou requerer que o agente pratique o acto no seu
interesse tendo o representante actuado no interesse do representado.
4. As pessoas colectivas e sociedades referidas no número anterior são
solidariamente responsáveis pelo pagamento das multas em que forem
condenados os seus representantes ou empregados, a menos que se
prove que actuaram contra a ordem ou instrução da representada ou
entidade empregadora.
ARTIGO 25
(Presunção legal de responsabilidade)
Presume-se que aqueles que actuam em nome e por conta de outrem
procedem em conformidade com instruções recebidas,
independentemente da responsabil idade individual que possa haver lugar.
ARTIGOS 26
(Responsabilidade de dirigentes e funcionários)
Aos dirigentes, funcionários ou empregados das inst ituições de que
depende a concessão das autorizações para a realização de operações
cambiais são aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições
dos art igos do Código Penal.
ARTIGO 27
(Corrupção activa e passiva)
Aquele que, no âmbito da presente Lei, prat icar actos de corrupção activa
ou passiva, nos termos da legislação penal, é punido com a pena mais
grave que ao crime couber nos termos da referida legislação.
ARTIGO 28
(Prescrição das contravenções cambiais)
1. O procedimento por contravenção cambial cometida por singulares e
inst ituições não f inanceiras prescreve decorridos três anos, a contar
da prática da infracção.
2. O procedimento por contravenção cambial cometida por instituições
f inanceiras prescreve decorridos cinco anos, a contar da prát ica da
infracção.
3. As multas e sanções acessórias referidas nos números anteriores
prescrevem nos mesmos prazos, a contar da data da decisão
condenatória definit iva.
ARTIGO 29
(Instrução e decisão de processos da competência do Banco)
1. Compete ao Banco de Moçambique a instrução e decisão de processos
de contravenções cambiais praticadas por instituições sob sua
supervisão ou através delas .
2. Compete ainda ao Banco de Moçambique a instrução e decisão de
processos por prát ica da contravenção prevista na alínea g) do artigo
21 da presente Lei.
3. Instaurado o processo, será o arguido notif icado para, querendo,
apresentar a defesa por escrito, no prazo de dez dias.
4. A notif icação a que se refere o número anterior far-se-á por carta com
aviso de recepção.
5. As autoridades policiais e serviços públicos deverão prestar todo o
auxílio necessário a uma correcta averiguação e instrução dos
processos da competência do Banco de Moçambique.
6. Sem prejuízo do estabelecido no nº 1 deste art igo, se o Banco de
Moçambique no decurso da instrução constatar a existência de indícios
criminais, disso dará conhecimento ao Ministério Público para efeitos
de instauração do competente procedimento criminal .
ARTIGO 30
(Instrução e decisão dos demais processos)
1. Compete às autoridades policiais a instrução dos processos não
compreendidos nos números 1 e 2 do artigo anterior.
2. Constatada a infracção a autoridade policial deve levantar o
competente auto de notícia, o qual é lavrado e tramitado nos termos
gerais do processo penal.
ARTIGO 31
(Regime especial de penalização)
1. Sem prejuízo do disposto nos art igos 29 e 30, sempre que a multa a
aplicar não exceda um quinto dos valores máximos indicados nas
molduras penais do artigo 22, a entidade instrutora poderá prescindir
da dedução prévia de acusação contra o arguido.
2. Quando use da faculdade conferida pelo número anterior, a entidade
instrutora deve notif icar o arguido para pagamento da multa no prazo
de 10 dias, ou, querendo, no mesmo prazo, reclamar para entidade
instrutora, por escrito, mediante apresentação do comprovativo de
depósito do valor ou caução bancária do valor da multa, dentro do
referido prazo.
3. Em caso de reclamação esta equivale, para todo s os efeitos legais, à
defesa, podendo recorrer -se da decisão que recair sobre a mesma nos
termos do n.º 2 do artigo 33 e art igo 34 da presente Lei e nos termos
gerais do processo penal.
ARTIGO 32
(Apreensão de valores)
1. Podem ser apreendidas, mediante documento de prova, notas e
moedas, cheques e outros t ítulos, ou valores que constituam objecto
da infracção, quando tal apreensão se mostre necessária à instrução
ou nos casos em que existam indícios que da infracção resulte, como
pena acessória, a perda de bens a favor do Estado.
2. Os valores apreendidos devem ser depositados numa inst ituição
bancária, à ordem da entidade instrutora, para garantia do pagamento
da multa e custas processuais.
ARTIGO 33
(Decisão da competência dos tribunais judiciais)
1. Compete aos tribunais judiciais a decisão das infracções previstas na
presente Lei, excepto as referidas nos números 1 e 2 do artigo 30.
2. Das decisões tomadas nos termos do número anterior cabe recurso
nos termos gerais do processo.
ARTIGO 34
(Recurso das decisões da competência do Banco)
1. Das decisões condenatórias tomadas pelo Banco de Moçambique cabe
recurso nos termos gerais, a ser interposto no prazo de quinze dias
após a notif icação da decisão condenatória, para o Tribunal Judicial de
Província onde se ver if icou a infracção.
2. O recurso terá efeito suspensivo quando o arguido deposite
previamente, numa inst ituição bancária, à ordem do Banco de
Moçambique, a importância da multa aplicada, salvo se os valores
apreendidos se mostrarem suficientes para o efeito.
Artigo 35
(Cobrança coerciva, destino e actualização de multas)
1. As multas previstas nesta Lei, quando não pagas voluntariamente
dentro dos prazos legais, são objecto dos procedimentos de cobrança
coerciva de dívidas ao Estado.
2. As multas cobradas ao abrigo da presente Lei têm o seguinte destino:
a) 70% para o Estado;
b) 30% para o Banco de Moçambique,
ARTIGO 36
(Regime Penal subsidiário)
Às infracções previstas na presente Lei, aplicam-se as disposições nela
contidas e, subsidiariamente, a lei penal geral.
REGIMES ESPECIAIS
ARTIGO 37
(Casos especiais)
Gozam de tratamento especial:
a) Remessas de emigrantes moçambicanos;
b) Intercâmbio em zonas fronteir iças;
c) Transferência para o exterior de ganhos resultantes da prática de
jogos de fortuna ou azar ou de diversão social por jogadores não-
residentes, em recintos autorizados pela entidade competente, nos
termos da lei;
d) Bolsa de Valores de Moçambique;
e) Zonas francas (zonas económicas especiais) ;
f) Indústrias petrolífera e extract iva;
g) Outras situações definidas em legislação especial.
DISPOSIÇÕES FINAIS e Transitórias
ARTIGO 38
(Recurso)
Das decisões tomadas no âmbito da presente Lei, em tudo que nela não
esteja especialmente regulado, cabe recurso contencioso para o Tribunal
Administrativo, com efeitos meramente devolut ivos.
ARTIGO 39
(Regulamentação)
Compete ao Banco de Moçambique regulamentar as matérias contidas na
presente Lei, no prazo de cento e oitenta dias após a sua publicação.
ARTIGO 40
(Disposição transitória)
Salvo quando contrarie as disposições da presente Lei, até a aprovação
da regulamentação referida no artigo 39, mantém-se a regulamentação
actualmente em vigor.
ARTIGO 41
(Revogação)
É revogada a Lei n.º 11/2009, de 11 de Março, e demais legislação que
contrarie a presente Lei.
ARTIGO 42
(Entrada em vigor)
A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Aprovada pela Assembleia da República, aos, ----------- de 2020.
A Presidente da Assembleia da República, Esperança Laurinda Francisco Nhiuane
Bias
Promulgada aos de ----------------- de 2020
Publique-se.
O Presidente da República, Fi l ipe Jacinto Nyusi.