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[Handout 2] Prof. Marcelo de Araujo Relação entre Lei Natural e Lei Positiva na Antigüidade Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias (ca. 700 a.C.) “Pois o filho de Cronos ordenou esta lei* (novmon ): que os peixes e as feras e os pássaros deveriam se devorar uns aos outros, mas a justiça (divkh ) não está neles; para os homens, porém, ele deu a justiça (divkhn ) que se mostra [280] de longe a melhor. Pois quem quer que conheça a justiça (ta; divkai a> ) e esteja pronto para proferi-la, o arguto Zeus lhe dará prosperidade; mas quem quer que deliberadamente preste falso testemunho e se abjure, e assim viole a justiça (divkhn ) e erre de modo irreparável, a geração deste será então deixada em obscuridade.” [*novmon aqui pode também ser traduzido como “costume” ou “hábito”] Heráclito, fragmento 114 (ca. 540-480 a.C.) “Todas as leis humanas (ajnqrwvpeioi novmoi) nutrem-se de uma única lei divina (<novmoi> tou' qeivou).” Demócrito, fragmento 181 (meados do sec. 5 – século 4) “Melhor <educador> para a virtude se mostrará aquele que usar o encorajamento e a palavra persuasiva, do que o que se servir da lei e da coerção. Pois quem evita o injusto apenas por temor à lei, provavelmente cometerá o mal em segredo; quem, ao contrário, for levado ao dever pela convicação, provavelmente não cometerá o injusto nem em segredo nem abertamente. Por isto, quem agir corretamente com compreensão e entendimento, mostrar-se-á corajoso e correto de pensamento.” Eurípides, Sysiphus (por vezes erroneamente atribuída a Crátias), encenada em aproximadamente 415 a.C. “Havia um tempo em que a vida da humanidade era desordenada, como a vida dos animais selvagens, sujeita às regras da força, e não havia recompensa para os bons nem punição para os maus. E então, eu presumo, os sere humanos estabeleceram leis ( novmoi) para punição, de modo que a justiça pudesse regrar e deter o crime; qualquer um que cometesse um crime era punido. Então as leis os

Lei Natural Positiva Antiguidade

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Lei Natural Positiva Antiguidade

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[Handout 2] Prof. Marcelo de Araujo

Relação entre Lei Natural e Lei Positiva na Antigüidade

Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias (ca. 700 a.C.)

“Pois o filho de Cronos ordenou esta lei* (novmon): que os peixes eas feras e os pássaros deveriam se devorar uns aos outros, mas ajustiça (divkh) não está neles; para os homens, porém, ele deu ajustiça (divkhn) que se mostra [280] de longe a melhor. Pois quemquer que conheça a justiça (ta; divkai 漯 a>) e esteja pronto paraproferi-la, o arguto Zeus lhe dará prosperidade; mas quem quer quedeliberadamente preste falso testemunho e se abjure, e assim viole ajustiça (divkhn) e erre de modo irreparável, a geração deste seráentão deixada em obscuridade.” [*novmon aqui pode também ser traduzidocomo “costume” ou “hábito”]

Heráclito, fragmento 114 (ca. 540-480 a.C.)

“Todas as leis humanas (ajnqrwvpeioi novmoi) nutrem-se de umaúnica lei divina (<novmoi> tou' qeivou).”

Demócrito, fragmento 181 (meados do sec. 5 – século 4)

“Melhor <educador> para a virtude se mostrará aquele que usar oencorajamento e a palavra persuasiva, do que o que se servir da lei eda coerção. Pois quem evita o injusto apenas por temor à lei,provavelmente cometerá o mal em segredo; quem, ao contrário, forlevado ao dever pela convicação, provavelmente não cometerá oinjusto nem em segredo nem abertamente. Por isto, quem agircorretamente com compreensão e entendimento, mostrar-se-á corajosoe correto de pensamento.”

Eurípides, Sysiphus (por vezes erroneamente atribuída a Crátias), encenada emaproximadamente 415 a.C.

“Havia um tempo em que a vida da humanidade era desordenada,como a vida dos animais selvagens, sujeita às regras da força, e nãohavia recompensa para os bons nem punição para os maus. E então, eupresumo, os sere humanos estabeleceram leis (novmoi) parapunição, de modo que a justiça pudesse regrar e deter o crime;qualquer um que cometesse um crime era punido. Então as leis os

impediam de cometer manifestos atos de violência. Mas elescontinuaram fazendo isso em segredo.”

Antiphon, Sobre a Verdade, frag. 44 B (final do séc. 5 a.C.)

“[B1] A justiça (dikaiosuvnh) consiste em não transgredir nenhuma dasregras (novmima) do Estado em que se vive como um cidadão. Assim umapessoa faria uso da justiça do modo mais vantajoso para si própria se, napresença de testemunhas, ela tivesse as leis (novmou") na mais alta estima;mas, na ausência de testemunhas, ele tomasse em alta conta as exigências danatureza (fuvsew"). Pois as exigências das leis são invenções, enquanto asexigências da natureza são necessárias; e as exigências das leis são porcontrato, e não por natureza, enquanto as exigências da natureza sãonaturais, e não por acordo. [B2] Assim, alguém que transgride as leis estálivre de vergonha e punição, se não for visto pelos participantes do contrato,mas, se for visto, não. Por outro lado, se alguém tenta violar uma dasexigências inerentes à natureza – o que é impossível – o prejuízo que sesofre não é menor se não for observado por ninguém, e não é maior se forobservado por todos, pois se é prejudicado, não por força da opinião(dovxan) das pessoas, mas em verdade (ajlhvqeian).”

Platão, Protágoras (322 BC)

“... no início eles [os homens] viviam em grupos espalhados; nãohavia cidades. Conseqüentemente eles eram devorados por animaisselvagens, uma vez que eles eram em todos os sentidos mais fracos, ecom uma habilidade técnica que, embora suficiente para garantir aprópria nutrição, não se estendia ao fazer guerra contra os animaisselvagens, pois eles não detinham a arte da política, arte à qualtambém pertence a arte da guerra. Eles, portanto, buscaram se salvaraglomerando-se e fundando cidades. Mas quando eles se juntaram emcomunidades eles se prejudicaram uns aos outros por falta da arte dapolítica, de modo que se espalharam novamente e continuaram a serdevorados. Zeus, então, temendo a total destruição de nossa raça,enviou Hermes para introjetar nos homens a qualidade do respeito poroutros e um sentido de justiça, de modo a trazer ordem às nossascidades e criar um vínculo de amizade e união”.

Cícero, De Republica, III, xxii, 33 (54-51 a.C)

“A verdadeira lei é a razão correta em consonância com a natureza; elaé de aplicação universal, imutável e perpétua; ela evoca umaobrigação pelos seus mandamentos, e alerta contra coisas erradasatravés de suas proibições. E ela não deposita seus comandos ouproibições sobre os bons homens em vão, embora nenhuma nem outratenha seus efeitos sobre os maus. É um erro tentar alterar tal lei, e nãoé permissível tentar descartar uma parte dela, e é impossível aboli-lainteiramente. Não podemos estar livres de suas obrigações peloSenado ou pelos Povos, e não precisamos olharmos para fora de nós

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mesmos para um expositor ou intérprete desta lei. E não haverá leisdiferentes em Roma ou Atenas, ou diferentes leis agora e no futuro,mas apenas uma lei eterna e imutável será válida para todas as naçõese para todos os tempos, e haverá um senhor e um regulador, isto é,Deus, sobre todos nós, pois ele é o autor desta lei, seu promulgador, eseu juiz executor.”

Novo Testamento, Romanos 2, 14-16

“Quando então os gentios, não tendo a Lei, fazem naturalmente o queé prescrito pela Lei, eles, não a Lei, para si mesmos são a Lei; elesmostram a obra da Lei gravada em seus corações, dando distotestemunho suas consciência e seus pensamentos...”

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