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14 ECONOMIA A GAZETA QUARTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2013 [email protected] MÍRIAM LEITÃO O cenário do Fundo No relatório do FMI e na entrevista do economista-chefe Olivier Blan- chard, o impasse político americano foi colocado de forma curiosa: ad- mitem que se ocorrer o calote da dí- vida haverá uma grave crise, mas afir- mam que não trabalham com a hi- pótese de que isso vai acontecer. Mas o governo americano e a oposição no Congresso continuam trocando acu- sações, em vez de negociar. O recado de ontem, dado no do- cumento que o Fundo Monetário di- vulga nas suas reuniões, é o de que a economia mundial está em transição para uma nova fase: os países de- senvolvidos estão um pouco melho- res, e os países emergentes com um crescimento menor do que o previsto anteriormente. A Europa está em recessão, mas sai- rá dela no ano que vem. Os Estados Unidos vão crescer em 2014 mais do que neste ano. Todos os países emer- gentes terão taxas de crescimento me- nores do que se previa – apesar de a China continuar em torno de 7% – e alguns enfrentarão dificuldades extras quando houver a redução dos estímu- los monetários americanos. O Brasil é o que terá o menor cres- cimento entre os emergentes no ano que vem – vai repetir, segundo o FMI, a mesma taxa de 2,5% de 2013. Cres- cerá menos que a média mundial. O FMI cortou em 0,7 ponto a pre- visão de crescimento do Brasil para 2014 e levou a taxa do PIB para o mesmo patamar previsto pelas insti- tuições financeiras brasileiras que são consultadas pelo Banco Central para o Boletim Focus, 2,47%. Se o cenário se confirmar, o país terá um cres- cimento médio de apenas 2,15% ao ano, entre 2011 e 2014, o pior de- sempenho do Plano Real, comparável ao do segundo mandado do ex-pre- sidente Fernando Henrique. Mas esse não é o único problema brasileiro. O Fundo acha que em al- guns países são urgentes passos para a redução da dívida, do déficit pú- blico e de gastos definidos como “quase fiscais”. Entre os países nessa situação está o Brasil. Aqui, sabe-se do que o FMI está falando. Há uma expansão grande de gastos através de bancos públicos, financiados por en- dividamento do governo. E esse pas- sou a ser um dos maiores riscos da política econômica brasileira. Outros emergentes também estão reduzindo a marcha. A previsão da Índia caiu bastante. Agora é de 3,8% de crescimento este ano e 5,1% no ano que vem, o que representa um corte de 1,8 ponto percentual e 1,1 ponto percentual em relação à última previsão. Enquanto em todos os emer- gentes há redução das previsões de crescimento, os países desenvolvidos vão deixando para trás o pior mo- mento. A perspectiva para a Europa é sair da recessão no que vem, com um número magro de 1%. Mas, para quem há pouco tempo corria o risco de ver sua união monetária se frag- mentar, é um bom resultado. Os americanos são novamente o principal foco das incertezas mun- diais, com o impasse político que traz de volta a ameaça de um calote da dívida. Mas, instado a falar do as- sunto, Blanchard disse que esse é um “grande evento”, que teria inúmeras consequências na economia mundial, mas que ele não contempla a pos- sibilidade de um “acidente” como es- se acontecer. O FMI diz que haverá um momento em que os estímulos monetários vão ser reduzidos e que isso afetará os países emergentes. Sugeriu que eles deixem suas moedas se desvaloriza- rem. E alertou que não é um bom momento para um país emergente manter desequilíbrios macroeconômi- cos: “Se o país tem desequilíbrios ma- croeconômicos, como déficit fiscal e inflação alta, é melhor fazer alguma coisa. Já deveria fazer de qualquer forma, mas com a pressão dos in- vestidores, é melhor não adiar os ajustes”. O mundo terá em 2013 o menor crescimento em quatro anos. Mas no pior cenário – que é o do calote ame- ricano – nem o FMI quer pensar. t Os pontos-chave 1 Os emergentes estão desacelerando e os países avançados vão crescer um pouco mais, diz o FMI 2 O momento não é bom para que países tenham piora de indicadores, como acontece com o Brasil 3 O Fundo aconselhou o governo a adotar urgentemente medidas que melhorem a área fiscal O recado do FMI é de que a economia mundial está em transição para uma nova fase: os países desenvolvidos estão um pouco melhores RANKING NACIONAL Indústria capixaba na lanterna Produção do setor no Estado continua o pior do país, acumulando queda de 8,4% no ano A produção da indús- tria do Espírito Santo continua com o pior de- sempenho no país este ano.Aquedaacumulada já chega a 8,4%, segun- do dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) di- vulgados ontem. Em agosto, o Estado voltou a ter resultado negativo, com recuo de 1,4% em relação a julho deste ano. em relação a agostodoanopassado,o recuo no Estado foi de 5,9%. O saldo ruim do Estado foi puxado por atividades como alimentos e bebidas (-23,0%) e metalurgia bási- DIVULGAÇÃO Menor produção de bombons reforçou retração de 23% na indústria de alimentos ca (-31,8%), influenciadas, em grande parte, pela me- nor produção de produtos embutidos de carne de suí- no e bombons, no primeiro ramo, e de lingotes, blocos, tarugos ou placas de aços ao carbono, no segundo. Vale citar ainda que o de- sempenho ruim observado em indústrias extrativas (-1,3%), celulose, papel e produtos de papel (-2,1%) e minerais não metálicos (-0,2%) foram pressiona- dos principalmente pelos recuos verificados nos itens minérios de ferro; celulose; e pia, banheira, bidês e se- melhantes para uso sanitá- rio, respectivamente. PAÍS No Brasil, a produção industrial cresceu em sete dos 14 locais pesquisados em agosto. Paraná (3,6%), Goiás (1,7%) e Santa Catarina (1,6%) ti- veram os maiores avan- ços, seguidos por Ceará (1,0%), São Paulo (0,6%), Minas Gerais (0,3%) e Rio Grande do Sul (0,2%). Na contramão, entre os que mostraram recuo, a Bahia registrou a queda mais intensa no mês, de 8,6%, e interrompeu a se- quência de cinco altas. Também foram verifica- das baixas no Rio de Janei- ro (-4,2%), na Região Nor- deste (-2,2%), e no Pará (-1,6%). Tiveram taxas negativas, mas menores, Pernambuco (-0,8%) e Amazonas (-0,7%). No indicador acumula- do no ano, 11 dos 14 locais pesquisados apontaram alta na produção: Rio Grande do Sul (6,0%), Ba- hia (5,9%), Paraná (3,1%), Goiás (3,0%), Ceará (2,7%), Amazonas (2,3%) e Região Nordeste (2,0%). São Paulo (1,6%), Santa Catarina (1,0%), Rio de Janeiro (0,9%) e Pernambuco (0,9%) foram os demais locais com acumulados no ano positivos. De acordo com o IBGE, nesses locais, o maior di- namismo foi influencia- do pelo aumento na fabri- cação de bens de capital e de bens de consumo du- ráveis, além da maior produção no refino de pe- tróleo, na produção de ál- cool, produtos têxteis, calçados e artigos de cou- ro e alimentos. Com Álvaro Gribel

LEITÃO desenvolvidos estão um pouco melhores · No relatório do FMI e na entrevista do economista-chefe Olivier Blan-chard, o impasse político americano foi colocado de forma

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Page 1: LEITÃO desenvolvidos estão um pouco melhores · No relatório do FMI e na entrevista do economista-chefe Olivier Blan-chard, o impasse político americano foi colocado de forma

14 ECONOMIAA GAZETA QUARTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2013

[email protected]

MÍRIAMLEITÃOO cenáriodo Fundo

No relatório do FMI e na entrevistado economista-chefe Olivier Blan-chard, o impasse político americanofoi colocado de forma curiosa: ad-mitem que se ocorrer o calote da dí-vida haverá uma grave crise, mas afir-mam que não trabalham com a hi-pótese de que isso vai acontecer. Maso governo americano e a oposição noCongresso continuam trocando acu-sações, em vez de negociar.

O recado de ontem, dado no do-cumento que o Fundo Monetário di-vulga nas suas reuniões, é o de que aeconomia mundial está em transiçãopara uma nova fase: os países de-senvolvidos estão um pouco melho-res, e os países emergentes com umcrescimento menor do que o previstoanteriormente.

A Europa está em recessão, mas sai-rá dela no ano que vem. Os EstadosUnidos vão crescer em 2014 mais doque neste ano. Todos os países emer-gentes terão taxas de crescimento me-nores do que se previa – apesar de aChina continuar em torno de 7% – ealguns enfrentarão dificuldades extrasquando houver a redução dos estímu-los monetários americanos.

O Brasil é o que terá o menor cres-cimento entre os emergentes no anoque vem – vai repetir, segundo o FMI,

a mesma taxa de 2,5% de 2013. Cres-cerá menos que a média mundial.

O FMI cortou em 0,7 ponto a pre-visão de crescimento do Brasil para2014 e levou a taxa do PIB para omesmo patamar previsto pelas insti-tuições financeiras brasileiras que sãoconsultadas pelo Banco Central parao Boletim Focus, 2,47%. Se o cenáriose confirmar, o país terá um cres-cimento médio de apenas 2,15% aoano, entre 2011 e 2014, o pior de-sempenho do Plano Real, comparávelao do segundo mandado do ex-pre-sidente Fernando Henrique.

Mas esse não é o único problemabrasileiro. O Fundo acha que em al-guns países são urgentes passos paraa redução da dívida, do déficit pú-blico e de gastos definidos como“quase fiscais”. Entre os países nessasituação está o Brasil. Aqui, sabe-sedo que o FMI está falando. Há umaexpansão grande de gastos através debancos públicos, financiados por en-dividamento do governo. E esse pas-sou a ser um dos maiores riscos dapolítica econômica brasileira.

Outros emergentes também estãoreduzindo a marcha. A previsão daÍndia caiu bastante. Agora é de 3,8%de crescimento este ano e 5,1% noano que vem, o que representa umcorte de 1,8 ponto percentual e 1,1ponto percentual em relação à últimaprevisão. Enquanto em todos os emer-gentes há redução das previsões decrescimento, os países desenvolvidosvão deixando para trás o pior mo-

mento. A perspectiva para a Europa ésair da recessão no que vem, com umnúmero magro de 1%. Mas, paraquem há pouco tempo corria o riscode ver sua união monetária se frag-mentar, é um bom resultado.

Os americanos são novamente oprincipal foco das incertezas mun-diais, com o impasse político que trazde volta a ameaça de um calote dadívida. Mas, instado a falar do as-sunto, Blanchard disse que esse é um“grande evento”, que teria inúmerasconsequências na economia mundial,mas que ele não contempla a pos-sibilidade de um “acidente” como es-se acontecer.

O FMI diz que haverá um momentoem que os estímulos monetários vãoser reduzidos e que isso afetará ospaíses emergentes. Sugeriu que elesdeixem suas moedas se desvaloriza-rem. E alertou que não é um bommomento para um país emergentemanter desequilíbrios macroeconômi-cos: “Se o país tem desequilíbrios ma-croeconômicos, como déficit fiscal einflação alta, é melhor fazer algumacoisa. Já deveria fazer de qualquerforma, mas com a pressão dos in-vestidores, é melhor não adiar osajustes”.

O mundo terá em 2013 o menorcrescimento em quatro anos. Mas nopior cenário – que é o do calote ame-ricano – nem o FMI quer pensar.

t

Os pontos-chave

1Os emergentes estão

desacelerando e os países

avançados vão crescer um

pouco mais, diz o FMI

2O momento não é bom para

que países tenham piora de

indicadores, como acontece

com o Brasil

3O Fundo aconselhou o

governo a adotar

urgentemente medidas que

melhorem a área fiscal

O recado do FMI é de que a economia mundialestá em transição para uma nova fase: os paísesdesenvolvidos estão um pouco melhores

RANKING NACIONAL

Indústria capixaba na lanternaProdução do setor noEstado continua o piordo país, acumulandoqueda de 8,4% no ano

A produção da indús-tria do Espírito Santocontinua com o pior de-sempenho no país esteano.Aquedaacumuladajá chega a 8,4%, segun-do dados do InstitutoBrasileiro de Geografiae Estatística (IBGE) di-vulgados ontem. Emagosto, o Estado voltoua ter resultado negativo,com recuo de 1,4% emrelação a julho desteano. Já em relação aagostodoanopassado,orecuo no Estado foi de5,9%.

O saldo ruim do Estadofoi puxado por atividadescomo alimentos e bebidas(-23,0%)emetalurgiabási-

DIVULGAÇÃO

Menor produção de bombons reforçou retração de 23% na indústria de alimentos

ca (-31,8%), influenciadas,em grande parte, pela me-nor produção de produtosembutidos de carne de suí-no e bombons, no primeiroramo, e de lingotes, blocos,tarugos ou placas de aços

ao carbono, no segundo.Vale citar ainda que o de-sempenho ruim observadoem indústrias extrativas(-1,3%), celulose, papel eprodutos de papel (-2,1%)e minerais não metálicos

(-0,2%) foram pressiona-dos principalmente pelosrecuosverificadosnos itensminérios de ferro; celulose;e pia, banheira, bidês e se-melhantes para uso sanitá-rio, respectivamente.

PAÍSNo Brasil, a produção

industrial cresceu em setedos 14 locais pesquisadosem agosto. Paraná(3,6%), Goiás (1,7%) eSanta Catarina (1,6%) ti-veram os maiores avan-ços, seguidos por Ceará(1,0%),SãoPaulo(0,6%),Minas Gerais (0,3%) e RioGrande do Sul (0,2%).

Na contramão, entre osque mostraram recuo, aBahia registrou a quedamais intensa no mês, de8,6%, e interrompeu a se-quência de cinco altas.Também foram verifica-dasbaixasnoRiodeJanei-ro(-4,2%),naRegiãoNor-deste (-2,2%), e no Pará(-1,6%). Tiveram taxasnegativas, mas menores,Pernambuco (-0,8%) eAmazonas (-0,7%).

No indicador acumula-

donoano,11dos14locaispesquisados apontaramalta na produção: RioGrandedoSul(6,0%),Ba-hia (5,9%), Paraná(3,1%), Goiás (3,0%),Ceará (2,7%), Amazonas(2,3%) e Região Nordeste(2,0%). Já São Paulo(1,6%), Santa Catarina(1,0%), Rio de Janeiro(0,9%) e Pernambuco(0,9%) foram os demaislocais comacumuladosnoano positivos.

De acordo com o IBGE,nesses locais, o maior di-namismo foi influencia-dopeloaumentonafabri-cação de bens de capital ede bens de consumo du-ráveis, além da maiorproduçãonorefinodepe-tróleo,naproduçãodeál-cool, produtos têxteis,calçados e artigos de cou-ro e alimentos.

Com Álvaro Gribel

Documento:AG09CAEO014;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:08 de Oct de 2013 21:01:24