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Breve leitura analítica de um texto de divulgação da revista LOLA.
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RAÍSSA MEDICI DE OLIVEIRA
Atividade proposta para encerramento do módulo: “Estudos Bakhtinianos e AD Francesa: aproximações e distanciamentos”, ministrado pela profa. Ma. Marilurdes Cruz Borges, no Curso
de Especialização em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade de Franca (UNIFRAN)
Este trabalho tem como objetivo uma análise do texto de apresentação que acompanha o
exemplar gratuito da revista Lola, ou melhor, Lola magazine, revista feminina recentemente lançada
pela Editora Abril.
No canto superior-direito da página está o nome da publicação: Lola magazine e, logo abaixo,
o que nos chama a atenção de imediato é um enunciado que se coloca sobre uma espécie de camada
espessa de tinta vermelha, que se prolonga da esquerda – partindo mais ou menos de um ponto
central – à direita da página. Nesse instante percebemos que a camada espessa de tinta foi deixada
por um pincel que ainda se encontra no canto direito da página, provocando o efeito de sentido de
presença do sujeito artista “pintor”, como que se presentificando no ato discursivo.
Sobre essa camada de tinta nos salta aos olhos o enunciado “um presente para você”. Somente
num segundo momento é que percebemos que tal enunciado se inicia antes da camada de tinta, e
então relemos: “Este exemplar é um presente para você”. O efeito de sentido da primeira leitura –
garantida pela disposição dos enunciados (canto direito, de cima para baixo) e do uso da cor
vermelha, além da presença chamativa do pincel –, de que Lola magazine é um presente para você,
prevalece e se reitera ao longo do texto da carta.
“Estilo de vida, mimos, perfis, viagem, moda e beleza” são os conteúdos do magazine que
“traz o melhor das revistas femininas embalado em textos saborosos, fotos deslumbrantes e um
estilo de vida surpreendente.” Alguns termos (grifos nossos) nos chamam especial atenção quanto
à carga semântica que carregam: são vocábulos relacionados ao requinte, ao luxo e
consequentemente a um poder aquisitivo maior. Assim, “mimos”, presentes delicados, carregam a
conotação da ação de mimar (a si mesmo ou ao outro) que implica na relação de poder
econômico/aquisitivo maior (quem mima no sentido de oferecer presentes delicados detém tal poder
econômico) e permissão/permissividade (mimar é permitir ou ser permissivo). Os outros termos em
destaque reforçam essa ideia do “poder” do “permitir” e confirmam a tese de que Lola traz um
conteúdo “sofisticado e inspirador”, “o melhor das revistas femininas”, conforme o texto enuncia.
O ato do sujeito discursivo se realiza por meio do processo pelo qual instaura no tempo e no
espaço um público certo para o seu produto e, por meio da ação concreta intencional de fazer-se
enunciado busca a “responsibilidade”, a “participação” daquele com quem dialoga. Para tanto, fia-
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se ao discurso do luxo, do requinte: “Lola é para você que já tem tudo, mas continua querendo o
melhor” e instaura o discurso do pertencimento: “Lola faz parte do seu mundo”.
Lola, forma carinhosa do idioma espanhol para o nome Dolores, que por sua vez tem forte
conotação religiosa (as dores de Maria), é representada não apenas como um periódico, mas como
uma companheira que se propõe a estar presente em todos os momentos da vida de sua leitora que
“tira prazer do trabalho, dos amigos e das pequenas autoindulgências do dia a dia, como viagens,
acessórios, jantares, maquiagem, roupas, massagens, gadgets”. (grifo nosso) O termo
autoindulgências, utilizado no trecho, perde sua conotação religiosa e adquire conotação profana,
resultando em uma forma bastante bem-humorada – assim como o nome do periódico (‘Lola’) que,
como já citado acima, perde sua carga semântica religiosa ao ser empregado em forma reduzida.
A ideia de companhia que pontuamos está presente desde o início do texto, exatamente no
vocábulo ‘Chegou’ do enunciado “Chegou LOLA (...)”, que cria o efeito de sentido de
preenchimento de uma ausência anterior. Continuando a reiteração dessa ideia, os enunciados “Lola
faz parte do seu mundo.”, “(Lola) Fala com charme e bom humor com você (...)”, criam o efeito de
sentido de uma ausência já preenchida e, mais do que isso, de uma cumplicidade já firmada.
Ao final do texto percebe-se o discurso de um sujeito que já confia na adesão voluntária da
leitora a esse novo universo: agora, quem acaba de chegar não é mais Lola (“Chegou Lola (...)” do
discurso inicial), mas sim a leitora que assina um contrato de fidúcia com o sujeito discursivo: “Seja
bem-vinda à LOLA, a nova e surpreendente revista feminina da Editora Abril.”
Por último, um slogan que, reiterando o tema do requinte, do luxo, convoca (manipulação por
provocação) o sujeito-destinatário a se mimar, nos sentidos já analisados acima de “poder” de
“permitir-se”, pois sabe que “você” (leitora) não precisa, mas quer. Mais uma vez, um evento
individualizável (lançamento da revista Lola) com propriedades universalizáveis – ato típico do
discurso publicitário que cria a cada dia novas estratégias para atingir seu maior objetivo: a venda
de novos produtos.
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