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LEITURA DAS PERCEPÇÕES EM COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO, SOBRE RÓTULOS E MANUSEIOS DOS PRODUTOS DOMISSANITÁRIOS Francisco Moyses Carvalho, Maria Regina Lemos Guimaraes, Maria Regina Lemos Guimaraes (CEFET - RJ / UnED Maria da Graça - RJ) Resumo: O desevolvimento das condições de habitação das populações urbanas, aliado à melhoria das condições de crédito em geral, propiciou acesso a produtos e serviços antes restritos a classes sociais de maior poder aquisitivo.Pode-se afirmar que a população de baixa renda passou a se alimentar melhor e a utilizar, em maior escala, de produtos saneantes, antes inimagináveis nas prateleiras de armários dos lares das comunidades. A limpeza do ambiente doméstico passou a ser item contemplado com uma maior fatia dos recursos financeiros no orçamento das famílias, permitindo a entrada, nas residências, de vários produtos químicos, cujas características técnicas, assim como suas propriedades e o seu potencial de dano à saúde ou à integridade física dos usuários e do meio ambiente não é, claramente, explicitada, sejam na embalagem externa ou nos rótulos. Esta pesquisa buscou levantar o nível de informação da comunidade em relação ao potencial de dano ao usuário e ao ambiente destes produtos e suas substãncias químicas. Os dados forma coletados de forma qualitativa, por meio de aplicação de questionário, aos moradores de algumas comunidades do Rio de janeiro. Palavras-chaves: Substâncias tóxicas, saneantes, danos, meio ambiente ISSN 1984-9354

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LEITURA DAS PERCEPÇÕES EM COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO, SOBRE RÓTULOS E MANUSEIOS DOS PRODUTOS DOMISSANITÁRIOS

Francisco Moyses Carvalho, Maria Regina Lemos Guimaraes, Maria Regina Lemos

Guimaraes (CEFET - RJ / UnED Maria da Graça - RJ)

Resumo: O desevolvimento das condições de habitação das populações urbanas, aliado à melhoria das condições de crédito em geral, propiciou acesso a produtos e serviços antes restritos a classes sociais de maior poder aquisitivo.Pode-se afirmar que a população de baixa renda passou a se alimentar melhor e a utilizar, em maior escala, de produtos saneantes, antes inimagináveis nas prateleiras de armários dos lares das comunidades. A limpeza do ambiente doméstico passou a ser item contemplado com uma maior fatia dos recursos financeiros no orçamento das famílias, permitindo a entrada, nas residências, de vários produtos químicos, cujas características técnicas, assim como suas propriedades e o seu potencial de dano à saúde ou à integridade física dos usuários e do meio ambiente não é, claramente, explicitada, sejam na embalagem externa ou nos rótulos. Esta pesquisa buscou levantar o nível de informação da comunidade em relação ao potencial de dano ao usuário e ao ambiente destes produtos e suas substãncias químicas. Os dados forma coletados de forma qualitativa, por meio de aplicação de questionário, aos moradores de algumas comunidades do Rio de janeiro.

Palavras-chaves: Substâncias tóxicas, saneantes, danos, meio ambiente

ISSN 1984-9354

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1 - INTRODUÇÃO

A toxicologia, ciência tão antiga quanto o próprio homem, e desde que ele aprendeu a conviver

com venenos, animais e vegetais, este desenvolvimento tem sido constante, acompanhando a

própria evolução da raça humana no planeta. (ALVES, 2005).

A definição de toxicologia deve ser tal, que traduza sua multidisciplinaridade. Para o médico ela

deve contemplar as intoxicações profissionais, enquanto que os efeitos colaterais dos

medicamentos deve ser preocupação do farmacologista, como devem ser alvo de preocupação do

ecotoxicologista os efeitos das substâncias químicas no meio ambiente. Para o profissional de

segurança ocupacional, que tanto pode ser um engenheiro químico quanto um arquiteto ou

qualquer outro especialista, a toxicologia induz à necessidade de divulgação de ações preventivas

contra a possibilidade de dano ao organismo da força de trabalho, seja de uma organização

produtiva ou de um ambiente doméstico. A Toxicologia é a ciência que define os limites de

segurança dos agentes químicos, no sentido da probabilidade de uma substância não causar danos,

em condições específicas. Também pode ser definida como o estudo das interações dos agentes

químicos com os organismos vivos. (KLAASSEN; AMDUR; DOULL, 1996)

No Brasil, as intoxicações constituem um problema de saúde pública e o Estado deve fornecer

informações sobre o risco que os produtos químicos representam para a saúde. Para que se possam

delinear estratégias de ação, é preciso que as informações sejam confiáveis e fornecidas

adequadamente. (SANTANA, 2005).

Desta forma, a saúde da população depende de vigilâncias epidemiológicas e sanitárias que

fornecem dados para que se minimize a exposição de pessoas aos patógenos e às substâncias

tóxicas, reduzindo a ocorrência de intoxicações. Portanto, é fundamental a formação de políticas

públicas voltadas para o fortalecimento de ações comunitárias, visando o controle de substâncias e

a prevenção de agravos à saúde humana. (SCHIO, 2001)

Parte significativa da população de cidades grandes, como o Rio de Janeiro, reside em áreas

densamente povoadas e pouco assistidas pelo Poder Público. Nos dias atuais, observa-se mudança

de comportamento das autoridades, que tem buscado urbanizar estes bolsões populacionais

desorganizados, do ponto de vista arquitetônico. Desta ação, deverá resultar o desenvolvimento

local, melhoria da qualidade de vida, preservação ambiental, entre outros. Esta mudança, porém, é

acompanhada da tendência natural ao acesso intenso e facilitado a itens de conforto doméstico,

advindo do progresso social. Com isto, potencializa-se o uso, no ambiente doméstico, de produtos

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químicos. Estes produtos são elencados desde medicamentos a itens de higienização doméstica,

passando por elementos componentes da construção civil, como cimento e areia. Todos com

características potenciais de dano sejam à saúde e à integridade física dos expostos ou ao meio

ambiente.

A evolução do mercado químico-industrial fez crescer a variedade dos produtos domissanitários

com elevada toxicidade, alguns com embalagens impróprias e sem informações adequadas sobre a

composição, medidas preventivas e de tratamento em caso de acidentes. O maior contato desta

população, neste processo de desenvolvimento social, com produtos e substâncias químicas de uso

doméstico, deve ser acompanhado de esclarecimentos e orientações preventivas contra a

possibilidade da transformação de um agente químico, comumente utilizado em domicílio, em um

agente causador de doenças, lesões e, até óbito.

O presente estudo teve como objetivo proporcionar, principalmente aos cidadãos residentes nas

áreas urbanas, baseado no conhecimento técnico-científico, informação a respeito dos produtos

químicos, comuns nos lares, visando reduzir os danos que causam à saúde, à integridade física das

pessoas e ao meio ambiente. Os objetivos específicos desta pesquisa foram identificar os

produtos domissanitários mais comumente utilizados para a limpeza dos lares, e que oferecem

risco a saúde e a integridade física de cidadãos, bem como analisar a forma de manuseio dos

produtos químicos bem como, o que os responsáveis pela limpeza do lar sabem a respeito dos

mesmos, confrontando com a literatura existente sobre o tema.

O armazenamento doméstico de produtos de limpeza em garrafas plásticas (pet) continua fazendo

vítimas, principalmente infantis.

Existe uma estreita relação entre a intoxicação doméstica e os produtos domissanitários, visto que

esses têm sua periculosidade percebida como algo distante e de ação limitada. A relevância do

estudo em questão é clara quando nos referimos à saúde da população, pois, a falta de informação

provoca intoxicações no domicílio e o alvo principal são as crianças que se deparam com os

produtos ao alcance das mãos.

É importante salientar que a população necessita de informações claras e objetivas quanto ao

manuseio de produtos químicos, principalmente para que sejam evitados agravos à sua saúde.

Entender as informações contidas nos rótulos é uma necessidade, além de colaborar para a

segurança das pessoas através de conhecimentos importantes, como o que fazer em casos de

acidentes e o modo de utilizar cada produto.

Buscar a prevenção em saúde através da antecipação aos eventos indesejados é a melhor forma

para proporcionar melhores condições de vida da população.

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2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – PRODUTOS DE LIMPEZA NA ANTIGUIDADE

A limpeza doméstica é praticada desde os tempos mais remotos, quando o ser humano

sentiu a necessidade de se proteger das intempéries da natureza e passou a conviver com áreas

protegidas e comunitárias. Há registros muito antigos do uso de plantas e barro (argila), que

promoviam a limpeza do corpo e, artefatos, que lembravam vassouras para a limpeza de ambientes

(REIS, 2000).

O historiador Plínio, o Velho (23-79 d.C.), já havia descrito a produção de sabão como uma

atividade de seus contemporâneos. No entanto estima-se que o início desse tipo de atividade se

deu muito antes de sua época. O primeiro material semelhante ao sabão de que se tem notícia foi

encontrado em cilindros de barro durante escavações na Babilônia,o que indica que o sabão já era

conhecido no ano de 2800 a.C., fabricado com gorduras que eram fervidas com cinzas. (REIS,

2000).

Os famosos banhos romanos - o primeiro foi construído em 321 a. C.- se popularizaram

rapidamente e o sabão era, àquela época, utilizado tanto para fins de asseio como de medicação.

As condições de vida insalubre da população, que contribuíram para a explosão das grandes

epidemias na Idade Média, especialmente a peste bulbônica ocorrida no século XIV, eram o

cenário ideal para o surgimento de produtos voltados para a higiene e saúde das pessoas.

(ABIPLA, 2012)

2.2 – PRODUTOS DE LIMPEZA NOS TEMPOS MODERNOS

De acordo com a Drª Shirley de Campos (2003), a indústria do sabão teve origem em

processos muito simples, cuja grande característica era exigir mais paciência do que perícia do

fabricante. A mistura de cinza vegetal, gordura animal, e carbonato de potássio, era deixada em

repouso até a sua secagem, o que levava alguns dias. O sabão, na verdade, nunca foi uma

descoberta, mas surgiu gradualmente de mistura de substâncias graxas e materiais alcalinos.

Somente a partir do século XIII que o sabão passou a ser produzido em quantidades suficientes

para ser considerada uma indústria. Na Europa, a produção em escala industrial do sabão foi

iniciada no século XVIII. A indústria cresceu rapidamente e, em meados do século XIX, o sabão

transformou-se de item de luxo para necessidade diária. A evolução do mercado químico

industrial fez crescer a variedade dos produtos domissanitários com elevada toxidade, alguns com

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embalagens impróprias e sem informações adequadas sobre a composição, medidas preventivas e

de tratamento em caso de acidentes.

2.3 – PRODUTOS DE LIMPEZA NA ATUALIDADE

A química para a fabricação de sabões se manteve inalterada até o início da primeira Guerra

Mundial, quando a gordura para o sabão ficou escassa. Na ocasião foi desenvolvido na Alemanha,

o primeiro detergente sintético que oferecia a vantagem de não formar a substância insolúvel

denominada coalho de sabão. O avanço no desenvolvimento de produtos de uso múltiplos ocorreu

em 1946, com o surgimento do primeiro detergente com “builder”, substância que facilita o

processo de limpeza promovida pelo tenso ativo na remoção da sujeira. Em 1953, os sabões

perderam mercado nos Estados Unidos para os detergentes que eram até então o principal produto

de limpeza para a lavagem de roupa, de louça e limpeza doméstica. Isoladamente ou em

combinação os detergentes como o sabão eram encontrados na forma líquida ou em barra. A

evolução dos produtos no Brasil se deu de forma idêntica àquela observada no mundo. O sabão

em barra constituído de sebo animal e gordura vegetal, foi usado na remoção de sujeira de roupas

e ambientes, e até na higiene pessoal. A primeira evolução do produto se deu em 1940, quando

apareceu o sabão em flocos, com adição de coco, indicado para aplicação em roupas finas. Na

década seguinte foi lançada a versão em pó do sabão.

2.4 – AS VIAS DE ACESSO DE AGENTES QUÍMICOS AO ORGANISMO DO

EXPOSTO

As substâncias químicas podem ser absorvidas pelo organismo humano pelas vias

respiratórias, cutânea, oral entre outras (PATNAIK, 2002). Foi complementado por Vieira (2005)

que citou como vias menos comuns, ou eficazes, para o ingresso e absorção de substâncias

químicas pelo organismo humano as mucosas do globo ocular, subcutânea, urogenital, dental e

parenteral (intramuscular, endovenosa, intra - arterial).

2.4.1 – A Via Respiratória

É a considerada de maior importância. Vieira (2005) afirmou ser de 5 a 6 litros por minuto o

volume de gases atmosféricos inalado pelo ser humano em situação de repouso e de 15 a 30 litros

por minuto quando em condições de esforço. Afirmou também, em sua obra, que a importância da

via respiratória se deve ao fato dela ser a rota de acesso das substâncias químicas ao organismo

humano em decorrência da grande extensão da área alveolar que é altamente vascularizada e

permeável.

2.4.2 – A Via Cutânea

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Esta via apresenta-se também como um importante caminho de acesso ao organismo

humano, porém é considerada uma via secundária devido à maior e mais efetiva possibilidade de

prevenção contra o contato das substâncias. De modo geral a camada de pele impede a penetração

da maioria das substâncias tóxicas, principalmente se gasosos, assim como a maioria dos agentes

metálicos (VIEIRA, 2005).

2.4.3 – A Via oral

Ou digestiva, como também é chamada, apresenta-se como uma possibilidade remota de

risco tendo em vista que não se ingere, deliberadamente, substâncias tóxicas ou prejudiciais ao ser

humano. A possibilidade de contaminação sem que seja deliberada se dá pela prática de fazer uso

de alimentos ou o hábito do tabaco sem a higienização das mãos após o manuseio com as

substâncias químicas (PATNAIK, 2002).

Assim, a classificação das substâncias, de modo geral, leva em conta, além das vias de acesso

adotadas para seu ingresso no organismo humano, a sua volatilidade, grau de ionização, tamanho

da molécula, hidrólise do composto, tipo de intensidade da ação danosa que lhes seja característica

e outros, o limite de tolerância conforme especificado na Norma Regulamentadora do Trabalho Nº

15 – NR 15 (MORAES, 2010).

2.5 – DIVISÃO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS POR GRUPOS

A Fundação Jorge Duprat Figueiredo, FUNDACENTRO, promove a classificação das

substâncias químicas em sete grupos (MORAES, 2009).

No grupo 1, segundo Silva Filho (1999), enquadram-se as substâncias de ação generalizada

sobre o organismo, ou seja, dependem da quantidade de substâncias absorvidas e estão

relacionadas no Quadro 1 Anexo 11 da Norma Regulamentadora Nº 15, NR-15 (ex: cloro,

chumbo, dióxido de carbono, etc.).

As substâncias de ação generalizada sobre o organismo e, que podem ser absorvidas

também pela pele, ou seja, por via cutânea estão relacionadas no grupo II. Estas necessitam além

da proteção respiratória, a proteção cutânea e podem ser exemplificadas pela: anilina, o benzeno,

o bromofórmio, etc. (VENDRAME, 2007).

As substâncias do grupo 3 provocam efeitos danosos ao organismo humano de forma

extremamente rápida. Neste caso não se pode tolerar que sua concentração no ambiente possa

atingir ou exceder um determinado valor, que é conhecido como valor teto. Nesta classificação

enquadram-se, por exemplo, o ácido clorídrico, o formaldeído, o dióxido de enxofre e outros

(SILVA FILHO, 1999)

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No grupo IV relacionam-se as substâncias que além de apresentarem efeitos danosos ao

organismo humano de forma extremamente rápida, podem ser absorvidas pela pele. Neste grupo

enquadram-se apenas quatro substâncias: o álcool n- butílico, a mbutilamona,o monoetil hidrazina

e o sulfato de dimetila (SILVA FILHO, 1999).

O grupo V se enquadram as substâncias identificadas como asfixiantes simples e, são

representadas por alguns gases e vapores que, em altas concentrações no ar atuam deslocando o

oxigênio do ar, sem provocar efeitos fisiológicos importantes; são exemplos o acetileno, argônio,

hélio, hidrogênio e metano (PATNAIK, 2002).

O grupo VII são apresentadas as substâncias cancerígenas comprovadamente.São elas:

cloreto de vinila, asbestos,benzidina, beta naftalina e outras (MORAES, 2009).

2.6 – DEFINIÇÕES LEGAIS

A lei 6.360,publicada no Diário Oficial da União em 24 de setembro de 1976, conhecida

como lei de Vigilância Sanitária, foi regulamentada através do Decreto 79.094 de 5 de janeiro de

1977, em cujo texto estão normatizados os medicamentos, insumos farmacêuticos, drogas,

correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes domissanitários definindo as diversas

espécies químicas que, habitualmente, são estocadas e utilizadas nos domicílios em geral.

A Lei define como a classe de saneantes domissanitários, as substâncias ou preparações

destinadas a higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos e/ou

públicos, em lugares de uso comum e no tratamento da água, compreendendo: os inseticidas, os

raticidas, os desinfetantes e detergentes

2.7 – PRODUTOS DOMISSANITÁRIOS DESINFETANTES E A

INTOXICAÇÃO NO LAR

Apesar da enorme diversificação de substâncias a disposição do consumidor,é visível uma

preponderância de intoxicações por produtos de limpeza doméstica como a soda cáustica,

hipoclorito e derivados do petróleo. Isto se deve ao fato de não serem observadas as normas

básicas de segurança por aqueles que manuseiam os produtos na limpeza do lar (FERREIRA et al.

, 2001) .

Muitos produtos químicos disponíveis no mercado, não foram testados e por isso é

impossível atestar seus efeitos no organismo humano. Alguns riscos são associados ao manuseio

inadequado dos produtos químicos como doenças cancerígenas, disfunções hormonais,

intoxicações e acumulação dos produtos no organismo (LABOLITA et al., 2007).

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Esta lacuna de conhecimento se deve ao fato de que a maioria dos estudos é pontual, ou

seja, não considera o ecossistema como um todo. Existem ainda inúmeros compostos perigosos

nos produtos de limpeza, tais como: cloro, soda cáustica, soluções fenólicas, formaldeídos e ácido

oxálico. Esses produtos são corrosivos e tóxicos e devem ser usados com cuidado. Tem-se que

considerar ainda, os efeitos sinergéticos das substâncias, ou seja, a potencialização dos efeitos de

algum tóxico devido à interação com outra substância encontrada no meio de aplicação (SCHIO,

2001).

As principais causas de intoxicação não intencional são os medicamentos e os produtos

saneantes como pesticidas domésticos, raticidas e domissanitários e uma das principais causas de

atendimentos, internações, incapacidades e até óbitos em crianças são os acidentes domésticos e

estão intimamente ligados com o comportamneto da família e rede social, estilo de vida, fatores

educacionais, econômicos, sociais e culturais (SOUZA; RODRIGUES; BARROSO, 2000).

Portanto torna-se necessário a adoção de medidas preventivas e educativas, principalmente

voltadas à família, a fim de conscientizá-la sobre os potenciais riscos de acidente, principalmente

as intoxicações exógenas.

2.8 – O PAPEL DA AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA –

ANVISA.

A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, através de sua Diretoria Colegiada, expediu,

entre outros e em complemento e atualização da legislação pertinente, diversos diplomas legais

conhecidos como Resolução de Diretoria Colegiada- RDC- das quais são de especial interesse

para este estudo a RDC 40, de 05 de junho de 2008e a RDC 14, de 28 de fevereiro de 2007.

Por meio da RDC 40/2008, a ANVISA aprovou o Regulamento Técnico para Produtos de

Limpeza e Afins cujo alcance são os produtos saneantes domissanitários destinados a limpeza em

geral e afins, destinado ao uso em objetos, tecidos, superfícies inanimadas, enquanto que a RDC

14/2007 apresenta, aprovado o Regulamento Técnico para Produtos Saneantes com Ação

Antimicrobiana o qual alcança os produtos com esta ação destinados ao uso em objetos, sobre

superfícies inanimadas e ambientes, em domicílios, em indústrias, em hospitais, estabelecimentos

relacionados com o atendimento à saúde e em locais ou estabelecimentos públicos ou privados.

A RDC 14 – Regulamento Técnico para Produtos Saneantes com Ação Antimicrobiana- e a

RDC 40 - Regulamento Técnico para Produtos de Limpeza e Afins definem Rótulo como

identificação impressa ou litografada, assim como também inscrições pintadas ou gravadas a

fogo,pressão ou decalco, aplicadas diretamente sobre recipientes, embalagens e envoltórios.

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Cabe ao Estado zelar pela defesa do bem comum e interesse coletivos ou públicos, atuando

como elemento interventor nas atividades particulares, quando as mesmas contrariarem seus

interesses. Segundo Presgrave (2009) a comunicação entre as partes interessadas, de informações

sobre potencial de danos, tem que ser contextualmente clara e perfeitamente compreensível. Desta

forma a comunicação se constitui em medida eficaz para otimização do conhecimento a respeito

dos riscos a que ela está exposta desenvolvendo assim o interesse e o desejo de conhecer melhor a

informação.

Assim, é possível observar que os rótulos dos produtos químicos,uma vez cumprida as

exigências legais regulamentadoras dessa questão, são ferramentas de grande utilidade para a

identificação dos riscos oferecidos pelos mesmos, para atração do usuário doméstico para esses

riscos e para o convencimento desse usuário para a necessidade de adoção de medidas de

proteção, sendo necessária permanente divulgação da importância da leitura dos rótulos destes

produtos, relembrando à população os cuidados preventivos contra os possíveis agravos a que se

sujeitam aqueles que lidam com substâncias e produtos químicos em seus afazeres domésticos

diários (PRESGRAVE, 2009).

2.9 - SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-

FARMACOLÓGICAS

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) está vinculado a

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e tem como principal tarefa coordenar o processo de coleta,

compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento registrados no país

pelos Centros de Informação e Assistência Tóxicológica (CIATs). (BOCHNER, 2006)

Sabendo-se que uma informação com qualidade é produzida a partir de um dado de mesma

natureza, os CIATs, dispersos por várias Unidades Federativas do país, compondo uma Rede

Nacional, têm entre suas principais atribuições o registro dos casos de intoxicação/envenenamento

no Brasil. Dentre os sistemas de informação que registram os casos que ocorrem de intoxicação

e/ou envenenamento, como o SIH-SUS (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único

de Saúde) e o SINAN (Sistemas de Informações sobre Agravos de Notificação), os dados

notificados pela rede de CIATs e enviados ao Sistema Nacional de Informações Tóxico-

Farmacológicas - SINITOX, apesar de suas limitações e problemas, constituem-se na principal

fonte disponível para gestores públicos, pesquisadores, estudantes, imprensa e público em geral.

(SANTANA, 2005).

3 - MATERIAL E MÉTODO

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3.1 – LOCAL

A parte da pesquisa qualitativa foi desenvolvida por amostragem, entre sessenta e um

moradores das comunidades de áreas da região conhecida como Complexo do Alemão e

adjacências, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A pesquisa desenvolveu-se junto a moradores de sub-regiões conhecidas como Mangueiras,

Alvorada, Areal, Fazendinha, Nova Brasília, Morro das Palmeiras e Mineira, no Complexo do

Alemão. Além daqueles, moradores de comunidade de Inhaúma e Costas Barros também fizeram

parte da amostra analisada.

3.2 – MATERIAL

Para atingir o objetivo proposto foram utilizados livros e artigos concernentes ao assunto

bem como um questionário desenvolvido e testado pelos autores buscando identificar a percepção

dos sujeitos envolvidos na pesquisa com o manuseio de substâncias químicas habitualmente

utilizadas nas residências.

3.3 – MÉTODO

Considerando o objeto deste estudo, optou-se pela realização de uma pesquisa descritiva,

com abordagem qualitativa

Para a análise das entrevistas foram adotados os seguintes procedimentos: leitura e releitura das

entrevistas: mapeamento das falas individuais com base nos aspectos relevantes, definidos a partir

dos objetivos da pesquisa e análise síntese das entrevistas.

As informações foram coletadas através de questionário formulado de maneira que permitiu

a construção das seguintes categorias de análise: (a) quais são os produtos químicos domésticos

utilizados; (b) quais são as formas de uso, dos produtos químicos na manutenção do lar;(c) como o

usuário manuseia o produto químico adquirido para a manutenção do lar; (d) qual o nível de

consciência quanto ao impacto causado pelo descarte na natureza. Estas categorias possibilitaram

a estruturação de um conjunto de conceitos articulados entre si, constituindo assim um

instrumento válido para o desenvolvimento do tema da pesquisa.

O questionário constituiu-se de perguntas objetivas, cujas respostas permitiram a análise da

relação dos produtos químicos utilizados com a qualidade de vida destas pessoas, bem como

fizeram aflorar um viés de preservação de meio ambiente no entorno do domicílio do entrevistado.

A análise dos dados foi realizada a partir do aspecto multi - referencial buscando-se

identificar vários pontos de vista para apreensão da realidade estudada, enriquecendo o processo

analítico.

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4 – RESULTADOS

As respostas dadas às perguntas do questionário geraram informações que traduzem o risco

real a que se expõe a população que manuseia ou utiliza produtos domissanitários. Abaixo, a

relação dos produtos mais utilizados nos domicílios das localidades analisadas.

PRODUTO %FAZEM USO %NÃO FAZEM USO

SABONETE 100% 0%

DESINFETANTE 98% 2%

XAMPU 98% 2%

SABÃO EM PÓ 98% 2%

DETERGENTE 97% 3%

ALCOOL 97% 3%

SABÃO EM PEDRA 92% 8%

ESMALTE DE UNHA 92% 8%

ACETONA 90% 10%

AMACIANTE PARA

TECIDOS

87% 13%

ALVEJANTES 85% 15%

SABÃO EM PASTA 82% 18%

LUSTRA MÓVEIS 77% 23%

MATA MOSQUITO EM

AEROSOL

70% 30%

TINTA PARA CABELOS 67% 33%

REMOVEDOR DE

GORDURA

66% 34%

REMOVEDOR 44% 56%

CERA DE MÓVEIS 44% 56%

SAPÓLIO 44% 56%

CREOLINA 43% 57%

POLIDOR DE METAIS 36% 64%

OLEO LUBRIFICANTE 31% 69%

CERA DE CHÃO 25% 75%

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Quadro

1:Produto

s

utilizados

nos domicílios

Conforme mostra o gráfico 1, abaixo, diante das respostas referentes a utilização de algum

tipo de proteção preventiva contra o contato direto com os produtos utilizados em casa, foi

possível constatar que 75¨% dos entrevistados afirmou recorrer com esse objetivo e que 25% da

amostra não se utiliza de qualquer tipo de prevenção para proteger-se(Gráfico1).

Ao se analisar dados referentes ao comportamento masculino e feminino constatou-se que

entre os homens predomina o hábito de não adotar o comportamento preventivo.

A partir dos dados coletados, foi possível constatar que 11% da amostra informou utilizar-

se, como equipamento de proteção, de saco plástico enrolado na mão, 17% de meia enrolada na

mão, 17% de avental de tecido de algodão; enquanto que 55% dos entrevistados informou recorrer

ao uso de luvas para a realização de atividades para as quais seja necessário manusear produtos

químicos. Esta última parcela da amostra não soube especificar, por ignorar, o tipo de luvas

adequado ao tipo de tarefa realizada quando do uso das mesmas (Gráfico2).

Gráfico 2 Recursos de proteção utilizados

MATA MOSQUITOS EM

ESPIRAL

18% 82%

SODA CAUSTICA 15% 85%

Usamproteção

Não utilizamproteçãoGráfico 1 Uso de proteção preventiva

75%

25%

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Abaixo, as explicações para o não uso de proteção, conforme demonstrado abaixo, no gráfico 3,

25% da amostra afirmou que “os produtos não fazem mal”, 29% declarou tomar cuidado, sem

especificar de que tipo, para evitar riscos, 11% informou acreditar que, se o produto é liberado

para comercialização, significa que o mesmo é inócuo, 22% afirmou não utilizar-se de qualquer

tipo de proteção por ter boa saúde e , assim, os produtos domissanitários não lhes causam danos

e 13% dos entrevistados informou motivo inespecífico.

Gráfico 3 Motivos para não recorrer a

equipamento de proteção

Além dos dados apresentados

acima alguns entrevistados responderam que não se utilizam de qualquer recurso protetor “por

não ter dinheiro pra comprar” (2,5%), “por atrapalhar o manuseio” (1%), “por acreditar que, se a

substância penetrar na luva, pelo espaço pequeno, ficará mais concentrada, podendo causar mais

efeitos danosos” (2%). Destas respostas pode-se inferir mais um dado indicativo de que há

cidadãos com pouco conhecimento e da importância do mesmo no que diz respeito à proteção ao

seu organismo.

Um ato básico de higiene compôs o objeto da pesquisa: lavar as mãos após o manuseio de

produtos químicos de uso domiciliar. As respostas foram variadas, indo desde a afirmativa que as

mãos são lavadas “por uma questão de higiene” (65%), passando por falas como: “porque os

produtos fazem mal à saúde” (16%), “devido ao cheiro” (5%), até hábito (4%) e “outros” (10%),

conforme demonstra o Gráfico 4, abaixo.

Gráfico 4: Razões para lavar as mãos após o uso

domiciliar de produto químico

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Um grupo de entrevistados, em resposta à questão sobre utilização de produtos

domissanitários embalados em garrafas pet, afirmou adotar esse procedimento “porque são mais

baratos”. Esta resposta foi dada por 64% da amostra. As demais justificativas para esta prática

foram “facilidade de acesso” (21%), “porque tem belas cores e bom odor” (7%), “porque são

melhores que os de marca” (4%) e “porque não fazem mal a saúde” (14%).Esses dados são

representados no Gráfico 5.

Gráfico 5: Razões para utilizar

domissanitários comercializados embalados

em garrafas pet

Conforme apresentação no Gráfico 6, diante da questão sobre a utilização de

domissanitários embalados em garrafas pet e desse modo comercializado, houve um grupo de

entrevistados (14%) que afirmou não adotar este tipo de procedimento alegando “porque não

passam pelo controle de qualidade” (46%), “porque fazem mal à saúde” (9%), “por hábito” (18%),

“facilidade” (27%).

Gráfico 6: Motivos para não usar domissanitários comercializados em garrafas pet

Através da análise das respostas à pesquisa de campo, em especial a partir das respostas às

perguntas referentes ao conhecimento sobre a utilidade das informações contidas nos rótulos

químicos dos produtos químicos domissanitários, foi identificado o seguinte conjunto de

afirmações: a) os entrevistados sabem que os produtos destinados ao uso domiciliar trazem, em

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seu rótulo, informações químicas (55% da amostra); b) os entrevistados sabem para que servem as

informações contidas nos rótulos dos produtos utilizados nas casas para limpeza ou higiene

pessoal (78% da amostra); c) os entrevistados lêem as informações contidas nos rótulos dos

produtos utilizados em suas residências (43% da amostra).

Os resultados da pesquisa mostravam, conforme explicitado através do gráfico 7, abaixo,

que são diversas e variadas as razões apresentadas pelos entrevistados para explicar porque lêem

as informações contidas nos rótulos das embalagens que utilizam em suas residências, a

saber:a)”não tenho nenhum motivo especial,mas leio” (3%); “porque, lendo-as, fico mais

informado” (48%); “porque todo mundo fala que é importante ler o rótulo” (4%); “porque tenho

curiosidade por nome das substâncias” (4%); “porque não confio nas informações dadas pelos

fabricantes” (41%).

Gráfico 7: Motivos para ler os rótulos dos domissanitários

A pesquisa permitiu que se tomasse conhecimento de efetivas ocorrências danosas

advindas de manuseio de produtos químicos domissanitários utilizados nos lares da comunidade,

sendo que 37% da amostra afirmou já ter passado ou ter conhecimento de fatos relativos a

produção de danos por substâncias usadas nos lares; enquanto os demais (63%) disseram não ter

passado por qualquer situação negativa.

Do extrato que teve a experiência de algum tipo de problema de saúde devido à

manipulação de domissanitários (Gráfico 8), extraiu-se informações segundo as quais a ocorrência

consistiu em a) “provocar alergias” (25%); b) “entrar em contato com a pele, lesando-a (30%); c)

“pegar fogo o produto manuseado” (20%); d) “ingestão acidental do produto por criança menor de

5 anos” (10%); e) “outros” (15%).

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Gráfico 8: Tipos de problemas de saúde devidos à manipulação de domissanitários

Foi informado, ainda, que há relato, na comunidade de ocorrência como “contato direto de

produto químico com a pele de criança com idade menor que 10 anos”, e “agressão de terceiros

com produto químico”.

Não foi referido nenhum caso de óbito.

Parte da amostra que referiu conhecimento de ocorrência produzida ao se manusear produto

químico informou que a maior incidência delas foi (Gráfico 9): a) “queimadura na pele” (26%);

“alergia” (22%); “dor de cabeça” (19%); “vômito” (11%);”falta de ar “ (11%) e “outros” (11%).

Houve, ainda, referência a “tonteira” e “tosse”.

Gráfico 9: Sintomas referidos na amostra como decorrentes do manuseio de produtos químicos saneantes

Diante da pergunta sobre quais seriam os produtos que teriam causado mais agressão ao

organismo, os sujeitos apontaram (gráfico 10); o cloro (24%); o álcool (24%); creolina (9%); o

óleo de cozinha (10%); e outros (33%). Foram citados, ainda, “lustra móveis” , desinfetante e

xampu como agentes causadores de problemas de intoxicação aguda,principalmente por ingestão.

A citação do óleo de cozinha se deve, segundo relatos verbais de moradores da comunidade

pesquisada, a acidentes causadores de queimaduras durante processos de cocção de alimentos.

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Conforme demonstrou o Gráfico 10, abaixo, diante da pergunta a respeito da forma de descarte de

embalagens de produtos químicos utilizados pela comunidade a amostra respondeu que o

comportamento varia entre descartar: a) “no caso de saco de lixo da casa” (95%), b) “separado do

lixo comum” (3%) e c) “deixando nas calçadas para que o gari as recolhas” (2%). No entanto, é

necessário registrar que, no decorrer da pesquisa, houve conversas com moradores da

comunidade, e ficou claro, que existem, ali, pessoas preocupadas com o descaso, tanto da

população quanto das autoridades, para com a coleta seletiva de lixo como recurso para minimizar

a degradação ambiental dentro e no entorno dos seus locais de residência.

Gráfico 10: Hábitos de descarte das embalagens de produtos químicos usados nas residências

5 – CONCLUSÃO

Através da pesquisa tornou-se possível detectar que há sujeitos que não utilizam qualquer

tipo de proteção ao manipular produtos químicos. O trabalho desenvolvido permitiu identificar,

dentre as pessoas pesquisadas, o percentual daquelas que, de maneira positiva, costuma ler as

informações contidas nos rótulos com a intenção de saber a melhor maneira de utilizar os mesmos.

Constatou-se também, que parte significativa da população não se protege contra o potencial que

os produtos químicos têm para causar danos, tanto à integridade física, quanto à saúde daqueles

que com eles lidam de forma inadequada, ou seja, a falta de uso de equipamentos de proteção

individual.

Em relação à atitude dos gêneros quanto a ler ou não os rótulos em busca de informações, o

resultado desta parte da pesquisa mostra que pessoas do sexo masculino se apresentam como

leitores mais freqüentes e este dado pode ser um indicativo para a adoção das mulheres como alvo

prioritário de uma ação de conscientização da importância de se buscar informação de segurança

sobre o seu manuseio.

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Em relação aos produtos que mais comumente teriam sido causadores de algum tipo de problema,

os entrevistados citaram alguns que, de acordo com informações da Agência Norte Americana de

Proteção ao Meio Ambiente seriam agentes de instalação de doenças, inclusive câncer ou outro

prejuízo qualquer.

Das informações obtidas, após estudo das respostas dadas às questões relativas ao descarte de

embalagens de produtos químicos utilizados, conclui-se que os dados apresentam um quadro que

comprova o desconhecimento da população quanto à necessidade de se conscientizar em relação

ao prejuízo que se causa ao meio ambiente ao se deixar de fazer o descarte das embalagens de

forma adequada. A quase totalidade da população não se preocupa em selecionar os resíduos

produzidos em sua residência e, principalmente, as embalagens de produtos químicos que, via de

regra, termina por se transformar em agentes de degradação do meio ambiente.

A pesquisa permitiu, além dos resultados empíricos, que se aprofundasse em assuntos á história da

utilização de substâncias químicas na higienização corpórea e de espaços de vivência humana.

Permitiu, ainda, que se buscasse informações legais acerca do uso destas substâncias, bem como

as principais encontradas em domissanitários com indicação de danos causados ao organismo

humano. Da mesma forma foi possível detectar que a população em geral não recebe, pelo menos

de forma continuada, instruções sobre melhores práticas de preservação ambiental no tocante a

descarte de resíduos ou embalagens de produtos utilizados nas residências do local alvo de

pesquisa. Cabe ressaltar, contudo, que apesar dos dados indicarem a falta de informação, de

cuidado, por parte da população, e de fiscalização por parte das autoridades, há, nas

comunidades,pessoas preocupadas com os danos à integridade física e à saúde das pessoas, bem

como ao meio ambiente.

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