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Leitura de imagem a partir dos conceitos de imagem dialética e anacronismo

Leituras de imagens de arte

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Apresentação de leituras de imagens da arte

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Leitura de imagem

a partir dos conceitos de imagem dialética e anacronismo

Imagem dialética

“[...] aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja”

Walter Benjamin

Hieroglífica, enigma a decifrar, expressão, inscrição, revelação (como o signo

teológico).Condensa

forma e conteúdo, sensível e supra-sensível,

símbolo e alegoria, imagem e linguagem, presente e passado.

Anacronismo

“Sempre, diante da imagem, estamos diante do tempo”.

Georges Didi-Huberman

Outros olhos para ver, nos momentos de crise, onde surgem as exceções e os casos ilegítimos, expressões das diferenciais de

tempo na obra.O anacronismo é dialético: surge na dobra

da relação entre imagem e história, que aparece na imagem como sintoma, mal-

estar, violência desmedida, suspensão. A temporalidade da imagem não é eterna e

absoluta, mas tampouco não histórica: acontece quando o histórico é dialetizado

pelo anacrônico.

Angelus Novus (1920)de Paul Klee (1879 - 1940)

lido por Walter Benjamin (1982-1940)

Nanquim, giz colorido e aquarela sobre papel, 1920, Museu de Israel

Tese Número IX

“Minhas asas estão prontas para o vôo,

Se pudesse, eu retrocederia. Se ficasse no tempo vivo,

Eu teria menos sorte.”

Gerhard Scholem, Saudação do Anjo

“Há um quadro de Klee chamado Angelus Novus. Representa um anjo que parece a

ponto de afastar-se para longe daquilo a que está olhando fixamente. Seus olhos estão arregalados, sua boca aberta, suas asas

estendidas. O anjo da história deve ter este aspecto. Seu rosto está voltado para o

passado. Onde diante de nós aparece um encadeamento de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que vai empilhando

incessantemente escombros sobre escombros, lançando-os diante de seus pés.

O anjo bem que gostaria de se deter, despertar os mortos e recompor o que foi

feito em pedaços. Mas uma tempestade sopra do Paraíso e se prende em suas asas

com tal força, que o anjo já não as pode fechar. A tempestade irresistivelmente o

impele ao futuro, para o qual ele dá as costas, enquanto o monte de escombros

cresce até o céu diante dele. O que chamamos de Progresso é esta

tempestade.”

Tradução de Cláudio R. Duarte

Sapatos, de Vincent Van Gogh (1853-1890)

lido por Martin Heidegger (1889-1976)

Óleo sobre tela, vários.

“Na escura abertura do interior gasto dos sapatos, fita-nos a dificuldade e o cansaço

dos passos do trabalhador. Na gravidade rude e sólida dos sapatos está retida a

tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que se estendem até longe, sempre iguais,

pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro, está a umidade e a

fertilidade do solo. Sob as solas, insinua-se a solidão do caminho do campo, pela noite que

cai.

No apetrecho para calçar impera o apelo calado da terra, a sua muda oferta do trigo que amadurece e a sua inexplicável recusa na desolada improdutividade do campo no Inverno. Por este apetrecho passa o calado temor pela segurança do pão, a silenciosa

alegria de vencer uma vez mais a miséria, a angústia do nascimento iminente e o tremor

ante a ameaça da morte.”

Las Meninasde Diego de Velásquez (1656-57)

lido por Michel Foucault (1926-1984)

Óleo sobre tela, 310 x 276 cm, 1656, Museu do Prado

“A partir dos olhos do pintor até o que ele vê, está traçada uma linha imperiosa que

não saberíamos evitar, nós, os que contemplamos: atravessa o quadro real e se reúne, diante de sua superfície, neste

lugar desde o qual vemos o pintor que nos observa; este pontilhado nos alcança

irremediavelmente e nos liga à representação do quadro.

Aparentemente, este lugar é simples, de pura reciprocidade: vemos um quadro desde

o qual, por sua vez, nos contempla um pintor. Não é mais do que um cara a cara,

olhos que se surpreendem, miradas diretas que, ao cruzar-se, se sobrepõem. E, no

entanto, esta sutil linha de visibilidade implica, por sua vez, uma complexa rede de incertezas, de mudanças e desvios. O pintor

só nos dirige a mirada porque nos encontramos no lugar de seu objeto.”

Uma alegoria (3ª versão) de El Greco (1541-1614)

lida por

Fátima Costa de Lima

Óleo sobre tela, 67,3 x 88,6 cm, c. 1600, Galeria Nacional da Escócia

Para compreender a imagem, paralisar a dialética. Com

ansiedade: a atitude apaixonada e sensível, de aspecto urgente e

desesperado, opera na decifração dos obscuros significados que não

se oferecem a ler a não ser pela agressão consciente do

investigador à obra.

Sua resistência em ser lida, sua aferrada defesa do agressor, deve

ser vencida pelo exercício da linguagem que se faz a si mesma história em seu reencontro com a

experiência da arte.

Bibliografia:BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. 7a edição. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994, 253 pp.

____________. Origem do drama trágico alemão. Trad. João Barrento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, 363 pp.DIDI-HUBERMAN, Georges. Historia del arte u anacronismo de las imagenes. Traducción de O. Oviedo Funes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2006, 384 pp. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. Tradução de Salma Tahhus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2000, 536 pp.HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Rio de Janeiro: Edições 70, 1960, 73 pp. LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant; tradução das Teses de Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Muller. São Paulo: Boitempo, 2005, 160 pp.MURICY, Kátia. Alegorias da dialética. Imagem e pensamento em Walter Benjamin. Rio de Janeiro: Relumé Dumará, 1999, 243 pp.