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www.autoresespiritasclassicos.com Léon Denis O Espiritismo na Arte Neste livro, que reúne uma série de artigos publicados em 1922 na Revue Spirite Edgar Degas - A Paisagem Conteúdo resumido Nesta obra, Léon Denis retrata o que ocorre na espiritualidade, no que se refere à arte,

Léon Denis - O Espiritismo Na Arte

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Lon Denis - O Espiritismo na Arte

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Lon DenisO Espiritismo na ArteNeste livro, que rene uma srie de artigos publicados

em 1922 na Revue Spirite Edgar Degas - A Paisagem

Contedo resumido

Nesta obra, Lon Denis retrata o que ocorre na espiritualidade, no que se refere arte, e como a beleza se manifesta atravs do artista encarnado na Terra.

A obra foi elaborada com base em uma srie de artigos escritos por Lon Denis em 1922, para a Revue Spirite (revista esprita francesa fundada por Allan Kardec), na qual tratava da questo do belo na arte (arquitetura, pintura, escultura, msica, literatura, etc.).O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites.

A comunicao que ele estabelece entre os mundos visvel e invisvel, as indicaes fornecidas sobre as condies da vida no Alm, a revelao que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o Universo vm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos inesgotveis de inspirao.

Lon Denis

* * *

Os sonhos dos poetas, as vises dos msticos, as criaes do gnio, as comprovaes e demonstraes da Cincia, as realizaes mais perfeitas da Arte so apenas ecos muito dbeis e percepes pequeninas que os homens, com melhores dotes, captam como em um relmpago quando a matria, dominada por poucos instantes, permite que a alma possa entrever alguns plidos reflexos do mundo divino.

Lon Denis(O Mundo Invisvel e a Guerra)

Sumrio8Parte I Conceitos de arte Espiritismo, fonte de inspirao Materialismo, esterilizador da arte

9 Objetivo da arte Objetivo da evoluo Necessidade das vidas sucessivas Apresentao de o Esteta

11 O Esprito e sua parcela do poder criador Tipos de arquitetura existentes no espao

13 Arquitetura na Terra e no espao A catedral terrestre e a catedral fludica

16Primeira lio de o Esteta A essncia da arte, seus domnios Criao artstica no plano espiritual

19Segunda lio Composio virtual de obras artsticas A ecloso da inspirao

22Parte II Arte: meio de elevao e renovao Arte: meio de aviltamento O pensamento de Deus Fonte das altas e ss inspiraes

24 A inspirao e a evoluo da arte e do pensamento

29 Comportamento de outros espritos diante de o Esteta

30Terceira lio Inspirao: causa, efeitos, formas A verdadeira arte

33Quarta lio Inspirao nos tempos modernos Inspirao cientfica e inspirao idealista Inspirao, forma que concretiza a arte

37Parte III Senso artstico: constituio e evoluo

39 Fuso do bem com o belo: objetivo sublime da criao

40Quinta lio Projeo de quadros e formas esculturais no espao

42Sexta lio Diferenas entre arquitetura e pintura Inspirao na arte da pintura A formao das cores Durao das criaes artsticas no espao

45Parte IV Literatura e oratria A lngua francesa e a idia espiritualista

49 A Frana, sua misso A alma cltica

51 A oratria e o gesto A inspirao dos grandes oradores

53 Escritores e oradores, o verdadeiro mrito A influncia da msica

55Stima lio Ao do pensamento na literatura e na oratria

58Oitava lio Transmisso da arte na Terra Os dons inatos

61Parte V Participao do mundo espiritual na obra humana Espiritismo, novo e vigoroso impulso ao pensamento

62 As qualidades de um belo estilo

63 Teatro, meio de educao intelectual e moral; sua decadncia

64 A poesia A msica, seu papel na inspirao proftica e religiosa

66 Influncia da msica sobre todos os seres A cano e o povo O Esteta, sua personalidade

68Nona lio A msica e a transmisso do pensamento artstico Perisprito, receptor das ondas musicais

71Dcima e ltima lio As sensaes artsticas e os espritos elevados Ao do foco divino Arte, meio de sentir a grandeza de Deus

75Parte VI A Msica (Parte 1)

75 A msica nas esferas superiores

76 A percepo das harmonias do espao Melodias ouvidas na hora da morte

81 Poder e ao das vibraes sonoras

83Parte VII A Msica (Parte 2)

83 A arte e a mediunidade O poder teraputico da arte musical

87 Grandes compositores e a faculdade medinica A obra de Beethoven, de Berlioz e de Wagner

91Parte VIII A Msica (Parte 3)

91 Apresentao das comunicaes do Esprito Massenet

92Primeira lio do Esprito Massenet O papel do perisprito Vida espiritual, instrumento e meios de percepo

93 Comentrio

95Parte IX

95Segunda lio Ser espiritual: meios de alcanar a esfera musical desejada

97Terceira lio As vibraes sonoras nos espaos etreos

98 Comentrios

101Parte X

101Quarta lio A msica humana e as notas harmnicas A msica celeste Os sons e as cores

104 Comentrio

107Parte XI

107Quinta e ltima lio O esprito e as sensaes harmnicas As fileiras ou correntes de ondas harmnicas A msica terrestre e a msica do espao

110Comentrio Final

Apresentao

O Espiritismo na Arte, obra em que Lon Denis analisa a participao do mundo espiritual na criao artstica e demonstra, com imenso critrio, a importncia do Espiritismo como mediador na obteno de infinitos temas de inspirao, foi inicialmente, publicada pela Revista Esprita em formato de artigos.

Dividido em onze partes, aqui numeradas de I a XI, esse magnfico texto veio a pblico nas edies mensais de 1922, com exceo da do ms de junho.

Em seu trabalho, Lon Denis explica, detalhadamente, o mecanismo da inspirao, procedimento de transmisso da luz divina, e o importante papel que ela tem desempenhado, em todos os tempos, na evoluo das artes e do pensamento. Nele, o mestre tambm inclui e comenta dez comunicaes do Esprito que se autodenomina o Esteta e outras cinco do Esprito Massenet; comunicaes que so verdadeiras lies sobre o tema arte.

Com o seu estilo inconfundvel, e irretocvel em todos os sentidos, Lon Denis, alm de nos enriquecer com seus esclarecimentos, permite que o acompanhemos pelos etreos caminhos da criao artstica, fazendo-nos pressentir todo o encanto, todo o enlevo que a verdadeira beleza proporciona aos que tm o privilgio da sua viso.

Aproveitemos a oportunidade que o Apstolo do Espiritismo nos oferece, vamos caminhar ao seu lado por essas vias de acesso ao conhecimento da verdade que a bondade divina nos concede, com a certeza de que, ao final da caminhada, nos sentiremos mais conscientes, mais seguros e muito, muito mais felizes.

Albertina Escudeiro Sco

Parte I

Conceitos de arte Espiritismo, fonte de inspirao Materialismo, esterilizador da arte

(Janeiro de 1922)

A beleza um dos atributos divinos. Deus ps nos seres e nas coisas esse encanto misterioso que nos atrai, nos seduz, nos cativa e enche a alma de admirao, s vezes de entusiasmo.

A arte a busca, o estudo, a manifestao dessa beleza eterna da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo. Para contempl-la em todo o seu esplendor, em todo o seu poder, preciso subir de grau em grau em direo fonte de onde ela emana, e isso uma tarefa difcil para a maioria entre ns. Pelo menos, podemos conhec-la pelo espetculo que o Universo oferece aos nossos sentidos e tambm pelas obras que ela inspira aos homens de gnio.

O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites. A comunicao que ele estabelece entre os mundos visvel e invisvel, as indicaes fornecidas sobre as condies da vida no Alm, a revelao que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o Universo vm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos inesgotveis de inspirao.

A observao dos fenmenos de aparies proporciona aos nossos pintores imagens da vida fludica da qual James Tissot j pde tirar proveito nas ilustraes da sua Vida de Jesus. Os oradores, os escritores, os poetas neles encontraro uma fonte fecunda de idias e de sentimentos. O conhecimento das vidas sucessivas do ser, sua ascenso dolorosa atravs dos sculos, o ensino dos espritos sobre a questo grandiosa do destino, lanaram, sobre toda a Histria, uma luz inesperada, e proporcionaro ainda aos romancistas, aos poetas, temas de drama, motivos de elevao, todo um conjunto de recursos intelectuais que ultrapassaro em riqueza tudo o que o pensamento pde conhecer at aqui.

Quando refletimos em tudo quanto o Espiritismo traz para a humanidade, quando pensamos nos tesouros de consolao e de esperana, na mina inesgotvel de arte e de beleza que ele vem lhe oferecer, ns nos sentimos cheios de piedade por esses homens ignorantes ou prfidos, cujas crticas malvolas no tm outro objetivo seno desacreditar, ridicularizar e mesmo asfixiar a idia nascente cujos benefcios j so to sensveis. Evidentemente, essa idia, em sua aplicao, necessita um exame, um controle rigoroso; mas a beleza que emana dessa idia se revela deslumbrante para todo pesquisador imparcial, para todo observador atento.

O materialismo, com o seu sopro dessecante, havia esterilizado a arte. Essa se arrastava no realismo degradante sem poder se elevar at os cumes da beleza ideal. O Espiritismo veio lhe dar um novo estmulo, um impulso mais vivo atravs das alturas onde ela encontra a fonte fecunda das inspiraes e a sublimidade do talento.

Objetivo da arte Objetivo da evoluo Necessidade das vidas sucessivas Apresentao de o EstetaDissemos que o objetivo essencial da arte a procura e a realizao da beleza; , ao mesmo tempo, a procura de Deus, pois que Deus a fonte primeira e a realizao perfeita da beleza fsica e moral.

Quanto mais a inteligncia se apura, se aperfeioa e se eleva, mais se impregna da idia do belo. O objetivo essencial da evoluo, portanto, ser a procura e a conquista da beleza, a fim de realiz-la no ser e nas suas obras. Tal a norma da alma na sua ascenso infinita.

Nisso j se impe a necessidade das vidas sucessivas como meio de adquirir, por esforos contnuos e graduados, um sentido sempre mais preciso do bem e do belo. Os incios so modestos aqui na Terra, a alma se prepara primeiro nas tarefas humildes, obscuras, apagadas, depois, pouco a pouco, por novas etapas, o esprito adquire a dignidade de artista. Mais elevado ainda, ele se abrir s concepes vastas e profundas, que so o privilgio do gnio, e se tornar capaz de realizar a lei suprema da beleza ideal.

Em nossa Terra, os artistas no se inspiram todos nesse ideal superior. A maior parte limita-se a imitar o que eles chamam a natureza, sem perceber que ela no mais que um dos aspectos da obra divina. No espao, porm, a arte reveste formas ao mesmo tempo mais sutis e mais grandiosas e se ilumina com um reflexo divino.

Eis por que, neste estudo, tivemos que consultar principalmente os nossos espritos-guias, recolher e resumir seus ensinamentos. No mbito em que vivem, as fontes de inspirao so mais abundantes, o campo de ao se alarga; o pensamento, a vontade, o poder supremo se afirmam e irradiam com mais intensidade.

Nossos protetores invisveis nos enviaram primeiro o Esprito Massenet, que veio nos ditar cinco lies sobre a msica celeste, procedendo como o fazia sobre a Terra, nos seus cursos do Conservatrio. Mas isso no podia ser suficiente para ns; precisvamos de dados mais gerais, de uma viso global sobre a forma como a arte sentida e praticada no Alm.

Observa-se muitas vezes, nas obras inspiradas por espritos, principalmente nos livros anglo-saxes, a descrio de lugares, de monumentos, de moradas criadas com a ajuda de fluidos, pela vontade dos habitantes do espao. Temos necessidade de esclarecimentos sobre esse assunto to controverso e sobre o qual, at hoje, faltaram indicaes preciosas.

De acordo com nossos pedidos reiterados, e a fim de nos ensinarem, os guias nos anunciaram uma entidade que se apresenta sob este nome: o Esteta, cuja personalidade verdadeira s nos ser revelada ao final deste estudo. Imediatamente tivemos a impresso de que nos encontrvamos em presena de um esprito de alto valor.

O fenmeno produziu-se sob a forma de incorporaes. Desde o momento em que a entidade toma posse do mdium em transe, os traos deste, que um rapaz cego, tomam uma expresso de calma, de serenidade quase anglica e, que contrasta com a maneira de ser dos outros espritos. A palavra suave, penetrante, e, quando a sesso termina, os assistentes se encontram sob uma impresso de serena paz, de profunda quietude. O mdium, ao despertar, ignora completamente o que foi dito por sua boca durante o transe e declara encontrar-se como mergulhado em um banho de radiaes. Ele experimenta uma sensao de bem-estar inexprimvel.

O Esteta tomou a arquitetura como tema das duas primeiras lies estenografadas, que reproduzimos mais adiante. Escolheu como modelo a catedral, porque ela serve de moldura a todas as outras artes. Mais tarde ele nos falar de escultura, de pintura, de eloqncia e, por fim, o estudo da msica e as lies de Massenet viro completar esta exposio.

O Esprito e sua parcela do poder criador Tipos de arquitetura existentes no espao

Lembramos aqui que todo esprito emanado de Deus no possui somente uma centelha da inteligncia divina; ele desfruta, ainda, de uma parcela do poder criador, poder que ele chamado a manifestar mais e mais no decorrer da sua evoluo, tanto nas encarnaes planetrias quanto na vida do espao.

Na Terra, sob o vu da carne, essa inteligncia e esse poder so diminudos; no entanto, no maravilhoso constatar at que ponto o talento do homem tem conseguido subjugar as foras brutais da matria, vencer sua resistncia, sua hostilidade, submet-las s suas fantasias? O homem forja o ferro, funde o bronze e o vidro, esculpe a pedra, ergue esttuas, constri palcios e templos; o homem perfura montanhas e rene os mares.

No espao, porm, esse poder criador afirma-se tanto mais intensamente quanto mais sutil a matria fludica e quanto mais o esprito tenha aprendido a combinar os elementos etreos que so a prpria substncia do Universo. L, todas as dificuldades da obra terrestre desaparecem; basta uma ao mental firme para dar aos fluidos as formas que o esprito quer realizar e tornar durveis.

Mesmo nesta vida, vemos, no sono hipntico, a vontade do operador de dar aos objetos, s substncias, propriedades temporrias que exercem sobre os mdiuns influncias incontestveis.

Em um grau mais elevado, por exemplo nas materializaes de espritos, a vontade destes cria formas, rostos, vestimentas, atributos semelhantes queles que eles possuam na Terra e que permitem reconhec-los, identific-los. Nesse caso, o pensamento, ajudado pela lembrana, reconstitui os detalhes da existncia que lhes eram prprios: vesturio, armas. A vontade lhes d a consistncia necessria para impressionar os sentidos dos observadores. No conveniente procurar em outro lugar a explicao desses fenmenos que so conhecidos de todos os espritas experientes. Nossos guias nos asseguram que no espao encontramos as arquiteturas mais estranhas, mais variadas, pois elas ultrapassam, em grandiosidade e em beleza, todas as criaes dos nossos sonhos. Temos, sobre esse ponto, os testemunhos mais precisos: Raymond, o filho de Oliver Lodge, construiu uma pequena casa de campo de acordo com seus gostos terrestres. Os Espritos Mozart, Victorien Sardou e outros construram palcios ornados de plantas e de flores. Antigos arquitetos terrestres, dizem-nos, edificam santurios onde se celebram os ritos de tal ou tal culto. Os espritos se comprazem em reconstituir meios semelhantes, porm superiores em beleza, queles que freqentavam na Terra, e isso com muito mais facilidade, porquanto eles podem dispor de materiais bem mais flexveis e mais maleveis.

Fica-se admirado com esses relatos, essas descries, e muitos comentrios so trocados a esse respeito. No entanto, tudo o que se passa nas sesses de experimentao os fenmenos de transporte, de levitao, a penetrao da matria pela matria, a dissociao e a reconstituio de objetos atravs das paredes mostra-nos o poder dos espritos sobre os fluidos e facilita a nossa compreenso do assunto. Certos sbios psiquistas confessam que eles mesmos no compreendem nada a esse respeito, e por a mostram a sua falta de prtica em matria de Espiritismo, enquanto que simples adeptos esto bem informados sobre esses fatos.

Arquitetura na Terra e no espao A catedral terrestre e a catedral fludica

Voltemos arquitetura, que o Esteta tomou como objeto das suas primeiras lies. Aqui na Terra j arte sublime qual se prendem todas as outras artes e que muitas vezes lhes serve de proteo.

Assim como na Terra, a msica representa a arte viva, a harmonia mvel e vibrante, a arquitetura representa a arte imvel e passiva em suas formas imponentes e rgidas. Porm, enquanto que no mago dos espaos o esprito modela, sua vontade, a matria fludica e lhe d as aparncias, as cores, os contornos que lhe agradam, em nosso planeta a matria ope mais resistncia vontade do homem. O bloco resiste ao cinzel do escultor como ferramenta do maom. s vezes, so necessrios longos e pacientes esforos, um trabalho persistente para dar ao mrmore, ao granito, a expresso da beleza.

As lies de o Esteta fazem ressaltar a diferena que existe entre os procedimentos em uso na Terra e os do espao para realizar criaes artsticas. Enquanto que na Terra a catedral, tomada como modelo da arquitetura, a obra paciente de uma coletividade laboriosa, desde o humilde talhador de pedra at o grande artista que traou o plano do conjunto, ela , no espao, a obra particular de um mestre que, instantaneamente e a seu bel-prazer, pode edific-la ou destru-la, auxiliado somente por um grupo de alunos que procuram assimilar e imitar sua idia criadora. Aqui na Terra, o monumento a obra da multido humana, o trabalho dos sculos. Geraes de artistas e de operrios trabalharam para elevar colunas, telhados, torres, fundiram vitrais, pintaram imagens, esculpiram esttuas. Assim foram se constituindo, lentamente, a pirmide, o palcio, a catedral, Eis por que, em sua majestosa unidade, simbolizam o pensamento de um povo, o gnio de uma raa, a alma de uma religio.

Foi a f, foi o entusiasmo, foi um espiritualismo ardente que erigiu, em direo ao cu, essas bblias de pedra. E, nessas obras colossais, o invisvel tem o seu papel; ele pensa com o arquiteto, medita com o artista, trabalha com o arteso e o pedreiro. A todos ele inspira o pensamento de Deus e do Alm, na medida em que eles podem compreend-lo e interpret-lo.

Assim so edificados esses livros imponentes que so as catedrais e que, durante sculos, foram suficientes para guiar, para instruir, para consolar o esprito humano.

A catedral terrestre serve de moldura a todas as artes. A msica faz as suas imensas naves vibrarem, a pintura decora as suas paredes, a escultura a povoa de esttuas. No entanto, em seu conjunto, ela conserva a imobilidade fria e a opacidade do granito.

O papel fundamental da arte exprimir a vida em toda a sua potncia, em sua graa e em sua beleza. Ora, a vida movimento. E nisso exatamente reside a principal dificuldade da arte humana, que apenas pela msica pode reproduzir o movimento. O escultor, pela postura que d sua esttua, reproduz o movimento que o seu pensamento concebe e, na imobilidade, cria a ao. A pintura d a mesma impresso por meio do gesto fixado na tela e pela harmonia das cores, o jogo das perspectivas, a simulao das profundidades e dos horizontes fugidios. H mais fora na estaturia, e mais artifcio em um quadro; porm, os dois podem exprimir a beleza ideal sob a forma de obras-primas que nos so conhecidas. No entanto, apesar da inteno genial que preside a sua execuo, elas nos do apenas a sensao incompleta.

No ocorre o mesmo com as obras de arte do espao: nele tudo vida, movimento, cor, luz. A catedral fludica ser como que animada e viva. Suas colunas tero a flexibilidade, a elasticidade da matria mais sutil; suas paredes sero transparentes como cristal, e mil cores fundidas, desconhecidas na Terra, nelas se divertiro em jogos de sombra e luz. Todas as harmonias ali se combinam em ondas de uma suavidade inexprimvel; tudo vibra no frmito de uma vida intensa e profunda.

Os artistas da Terra devero se inspirar nesses modelos sobre-humanos que os ensinamentos espritas lhes tornaram familiares. A educao esttica humana comporta concepes cada vez mais elevadas para que o sentimento do belo penetre e se desenvolva em todas as almas. J se produz uma evoluo nesse sentido; ela se acentuar sob a influncia do Alm. Os artistas do futuro se interessaro em dar mais fluidez s cores, mais vida ao mrmore, mais espiritualidade a todas as suas obras. As artes complementares se idealizaro inteiramente, deixando arquitetura a majestade das formas rgidas e a iluso do imutvel na inrcia.

A arte se reala e progride em todos os graus da escalada da vida, realizando formas cada vez mais nobres e perfeitas, e que se aproximam da fonte divina da eterna beleza.

Primeira lio de o Esteta

A essncia da arte, seus domnios Criao artstica no plano espiritual

(15 de Novembro de 1921)

Estou feliz por vos falar de uma arte que foi minha preocupao constante. Tendes cem vezes razo em defender a causa da arte e coloc-la em paralelo na Terra e no espao. A arte de essncia divina, uma manifestao do pensamento de Deus, uma radiao do crebro e do corao de Deus transmitida sob a forma artstica.

No entanto, muitas coisas do plano divino no podem ser transmitidas aos homens. A arte, sob forma de inspirao, faz parte desse todo maravilhoso que compe o Universo. o relmpago, ou antes, a centelha que estabelece a relao entre Deus e suas criaturas.

Vs podeis vos perguntar quais so os reflexos que guardamos da arte aps haver passado sries de existncias em diferentes mundos. Eu vou tentar vos dizer.

Em vossa Terra, a arte ainda uma coisa pouco importante e vos contentais com isso. A arte existe em todos os domnios: no do pensamento, no da escultura, no da msica. neste ltimo que ela se manifesta melhor e torna-se acessvel a mais crebros. Primeiro, quando o esprito humano encarna na Terra e que traz, seja da sua vida no espao, seja em conseqncia de um trabalho anterior nas vidas terrestres, uma certa noo do ideal esttico, quando chega maturidade na sua vida terrestre, sua bagagem artstica se exterioriza sob a forma de inspiraes ligadas a uma qualidade mestra que ns chamaremos de o gosto junto ao sentido do belo. Eis a, pois, o artista criado e pronto para trabalhar sobre a matria.

Quando esse artista realizou uma vida de trabalho, ele retorna ao espao. L se libertar do seu ser uma quantidade imensa de pensamentos que ele deseja concretizar. Nesse meio fludico, ele ter todos os materiais necessrios para reconstituir o que seu pensamento aprisionado na carne no pde realizar em uma s existncia.

O esprito no possui rgo visual, mas o pensamento rene todos os sentidos. Primeiro, ele recebe em sua memria as mais belas coisas que sensibilizaram seu crebro na existncia precedente. Se ele viveu em um meio elevado, graas s diretrizes adquiridas, os quadros que passaro em seu pensamento sero verdadeiramente inspirados pelo culto do belo. Portanto, nosso ser espiritual, em nome do seu trabalho, ser, em pouco tempo, transferido a um meio fludico suficientemente puro, livre de parcelas materiais, e de l poder receber, pela lembrana, o reflexo artstico de suas vidas anteriores. Por um simples querer, tudo se concretizar com a ajuda dos fluidos ambientes. Esse esprito era pintor? Seu pensamento refletir os quadros dos mestres que ele conheceu e amou. Era escultor? As formas antigas ou clssicas, ou aquelas da sua poca aparecero sobre a tela do seu pensamento. Depois, com o tempo, outros espritos, no-atrados pela arte, mas desejosos de se elevarem em direo a um plano superior, se agruparo em torno dos seres que, por seu trabalho e seu adiantamento, planam em regies fludicas mais puras. Esses seres, que se aproximam do artista, recebero mais facilmente o pensamento deste ltimo; por um trabalho prolongado, se estabelecer uma fuso entre o esprito do profano e o esprito do artista. Pouco a pouco, o profano receber em seu pensamento os quadros e as cenas artsticas do seu mestre espiritual e poder, ento, experimentar alegrias estticas muito grandes e se tornar, ele mesmo, artista em uma futura existncia, porquanto ter recebido os primeiros elementos da arte no contato com um ser mais avanado do que ele.

assim que, geralmente, os meios artsticos se perpetuam da Terra ao espao, do espao Terra, e nos outros mundos, visto que existem aqueles em que os meios de criao artstica so mais ricos do que em vosso globo.

Devo acrescentar que os espritos, por trocas de pensamentos, podem criar formas com a ajuda da sucesso de cores que infinita no espao: quanto mais os planos so elevados, mais a sucesso de cores desenvolvida.

Na atmosfera terrestre no podemos exteriorizar nosso pensamento de uma forma clara e precisa. como se vs quissseis projetar vosso pensamento sobre uma tela cinzenta em lugar de uma tela branca.

s vezes os espritos se renem, atravs de seus pensamentos, trocam formas, criam quadros variados. Se um esprito que viveu em um mundo superior se encontra no meio deles, ele faz seus irmos menos privilegiados aproveitarem os recursos artsticos que ele pde adquirir. O criador dessas cenas tem o poder de destruir imediatamente o que seu pensamento criou. Portanto, essas cenas so passageiras e pessoais ao esprito; mas aqueles que tm o desejo de se elevar podem aproveitar essa projeo artstica, constituda pela combinao de molculas fludicas emanadas do meio ambiente.

Segunda lio

Composio virtual de obras artsticas A ecloso da inspirao

(22 de Novembro de 1921)

Aps ter-vos dado a descrio das cenas artsticas que registramos no espao, para vs ser interessante saber como agrupamos os elementos dessas cenas para compor virtualmente esses quadros.

Tentarei vos fazer compreender como reunimos as molculas necessrias para que a nossa vontade possa projetar os fluidos capazes de se transformarem em obras que simbolizem a beleza sob todas as formas. Essas obras sero sentidas e percebidas por outros seres fludicos que no so criadores.

Os seres imateriais que flutuam nas regies fludicas, infinitamente ricas e sutis, s as alcanaram por uma longa e progressiva evoluo pela qual adquiriram conhecimentos e aptides suficientes para eles mesmos poderem criar, no mundo onde vivem, entre suas existncias humanas.

Vejamos um exemplo. Um grande escultor, um grande pintor ou um grande artista parte da Terra. Ele ainda est sob a impresso dos trabalhos que executou durante sua existncia anterior; chegado ao espao, no estando mais o seu esprito limitado pela matria, ele rev o caminho percorrido desde o dia em que recebeu a essncia criadora divina e adquire a certeza de que poder, nas novas existncias, desenvolver e completar o que vs podeis chamar de parcela genial.

Ele vai ver, no espao, desenrolarem-se todos os fatos proeminentes que presidiram a ecloso da sua inspirao.

Se ele era arquiteto ou escultor, imediatamente, de acordo com sua vontade, sua memria voltar a traar os monumentos ou as obras de arte que ele criou.

Admitimos que ele plane nesse meio do qual acabamos de falar; aps um apelo a Deus, seu pensamento encontrar, por suas radiaes, fluidos suficientes para reconstituir todas as suas obras. Se elas tm um carter verdadeiro de beleza, se a inspirao pura, se o ideal elevado, os outros seres que rodeiam o artista sentiro despertar em si mesmos um desejo de imitao e, pouco a pouco, o vu material sendo levantado, seu pensamento pessoal ser fecundado pelo do artista.

Assim, um grande mestre-escultor far reviver esses belos monumentos nos quais a glria do Altssimo foi cantada durante sculos. Ento, imensas catedrais sero reedificadas; mas o artista no se limita sempre obra que criou, sua viso distncia tambm reencontra as obras dos seus discpulos, e algumas vezes sua inspirao continua no espao para formar de novo obras que tomam a diversos autores as partes mais bem-sucedidas de suas concepes. Se vs penetrsseis no espao, no plano elevado a que me refiro, podereis perceber que monumentos, que no so semelhantes queles erigidos no vosso mundo, so reconstitudos pelo pensamento fludico de seres inspirados por Deus.

O Criador supremo d a cada um de seus filhos uma parcela animadora que se exterioriza quando o culto do belo e do ideal desperta neles. Vossos monumentos religiosos so as imagens vivas desse fato. Esses telhados arrojados, lanando-se em direo ao cu, no so uma imagem fiel do pensamento do ser humano elevando-se em uma prece derradeira a esse Deus que nos criou? Quer seja uma catedral ou um templo da Antigidade, quer seja na Grcia, em Roma, em Florena ou em vosso pas, procurai e sempre encontrareis a confirmao de que o pensamento superior preside a ecloso das obras arquitetnicas.

Fao uma pequena comparao, talvez me afastando do meu assunto: se considerardes a histria da Arquitetura na Alemanha nestes tempos modernos, constatareis que a elevao em direo ao cu ausente, que formas macias e quadradas substituem a cpula ou a ogiva; o pensamento estende-se sobre a Terra e no se eleva mais em direo ao divino.

Em pintura, estudai a escola florentina na poca da Renascena; verificareis que quando as obras tm um cunho mstico, os traos se divinizam e as cenas tomam caractersticas de real beleza e de verdadeira grandeza.

Ocorre o mesmo em todas as artes. A msica sacra, por exemplo, tem um carter que toca de mais perto o divino, enquanto que a msica profana, quando se aproxima da matria, reveste a caracterstica de um realismo baixo e grosseiro.

Parte II

Arte: meio de elevao e renovao Arte: meio de aviltamento O pensamento de Deus Fonte das altas e ss inspiraes

(Fevereiro de 1922)

A arte, sob suas formas diversas, como dissemos no artigo anterior, a expresso da beleza eterna, uma manifestao da poderosa harmonia que rege o Universo; o raio de luz que vem do alto e que dissipa as brumas, as obscuridades da matria, e nos faz entrever os planos da vida superior. A arte , por si mesma, plena de ensinamentos, de revelaes, de luz. Ela arrasta a alma em direo s regies da vida espiritual, que a verdadeira vida, e que a alma anseia tornar a encontrar um dia.

A arte bem compreendida um poderoso meio de elevao e de renovao. a fonte dos mais puros prazeres da alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola na provao e traa para o esprito, antecipadamente, as rotas para o cu. Quando a arte sustentada, inspirada por uma f sincera, por um nobre ideal, sempre uma fonte fecunda de instruo, um meio incomparvel de civilizao e de aperfeioamento.

Porm, em nossos dias, muito freqentemente ela aviltada, desviada do seu objetivo, escravizada por mesquinhas teorias de escola e, principalmente, considerada como um meio de chegar fortuna, s honras terrestres. Emprega-se a arte para adular as ms paixes, para superexcitar os sentidos, e assim faz-se da arte um meio de aviltamento.

Quase todos aqueles que receberam a sagrada misso de conduzir as almas para o alto se eximiram dessa tarefa. Eles se tornaram culpados de um crime, recusando-se a instruir e a esclarecer as sociedades, perpetuando a desordem moral e todos os males que se precipitam sobre a humanidade. Esse comportamento explica a decadncia da arte em nossa poca e a ausncia de obras importantes.

O pensamento de Deus a fonte das altas e ss inspiraes. Se nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela encontrariam o segredo das obras imperecveis e as maiores felicidades. O Espiritismo vem lhes oferecer os recursos espirituais de que nossa poca tem necessidade para se regenerar. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, apenas a concepo e a realizao da beleza eterna.

Viver sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar em si o sentimento e a noo do belo.

As grandes obras s se elaboram no recolhimento e no silncio, custa de longas meditaes e de uma comunho mais ou menos consciente com o mundo superior. O alarido das cidades no conveniente ao vo do pensamento; ao contrrio, a calma da natureza, a paz profunda das montanhas, facilitam a inspirao e favorecem a ecloso do talento. Assim, confirma-se, uma vez mais, o provrbio rabe: O barulho para os homens, o silncio para Deus!

O esprita sabe que imensa ajuda a comunho com o Alm, com os espritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisveis. Essa associao se fortifica e se acentua pela f e pela prece, que permitem s foras do Alto penetrarem mais profundamente em ns e impregnarem todo o nosso ser. Mais do que qualquer outro, o esprita sente as correntes poderosas que passam sobre as frontes pensativas e inspiram idias, formas, harmonias, que so como os materiais dos quais o gnio se utilizar para edificar sua maravilhosa obra.

A conscincia dessa colaborao d a medida da nossa fraqueza; ela nos faz compreender qual parte cabe influncia de nossos irmos mais velhos, de nossos guias espirituais, daqueles que, do espao, se inclinam sobre ns e nos assistem em nossos trabalhos. Ela nos ensina a ficar humildes no sucesso. O orgulho do homem que fez a fonte das altas inspiraes secar. A vaidade, que o defeito de muitos artistas, torna o seu esprito insensvel e afasta as grandes almas que concordariam proteg-los. O orgulho forma uma espcie de barreira entre ns e as foras do Alm.

O artista esprita conhece sua prpria indigncia, mas sabe que acima dele, abre-se um mundo sem limites, pleno de riquezas, de tesouros incalculveis, perto dos quais todos os recursos da Terra no so mais que pobreza e misria. O esprita tambm sabe que esse mundo invisvel se ele souber tornar-se digno dele, purificando seu pensamento e seu corao pode tornar mais intensa a ao do Alto, faz-lo participar de suas riquezas pela inspirao e pela revelao e delas impregnar as obras que sero como um reflexo da vida superior e da glria divina.

A inspirao e a evoluo da arte e do pensamento

O objetivo deste tpico , principalmente, mostrar o considervel papel que a inspirao desempenhou em todos os tempos na evoluo da arte e do pensamento. Todos os estudantes do oculto sabem que uma onda de idias, de formas, de imagens, derrama-se incessantemente do mundo invisvel sobre a humanidade. A maior parte dos escritores, dos artistas, dos poetas, dos inventores, conhece essas correntes poderosas que vm fecundar seu crebro, ampliar o crculo das suas concepes.

Ora a inspirao se introduz suavemente em nosso intelecto, mistura-se intimamente ao nosso prprio pensamento, de tal forma que se torna impossvel distingui-la, ora uma irrupo sbita, uma invaso cerebral, um sopro que passa sobre nossas frontes e nos agita fortemente numa espcie de febre. Outras vezes como uma voz interior, to ntida, to clara que parece vir de fora para nos falar de coisas graves e profundas. Uma corrente de foras e de pensamentos agita-se e rola em torno de ns, buscando penetrar nos crebros humanos dispostos a receb-los, a assimil-los, a traduzi-los sob a forma e a medida de suas capacidades, de seu grau de evoluo. Uns o exprimem de uma forma mais ampla, outros, de forma mais restrita, de acordo com suas aptides, com a riqueza ou a pobreza das expresses que lhes so familiares e os recursos de sua inteligncia.

As lies de o Esteta, que reproduzimos mais adiante, vo determinar os diversos caracteres da inspirao, segundo os casos.

Entre os homens de talento, muitos reconheceram essas influncias invisveis. Vrios descrevem o estado vizinho ao do transe, em que a elaborao de uma grande obra os lana. Outros falam da onda ardente que os penetra, do fogo que corre em suas veias e provoca uma superexcitao que centuplica suas faculdades. s vezes procuram, inutilmente, resistir a essa fora que os domina, os subjuga e destruiria seu envoltrio, caso fosse contnua. Existem os que sucumbiram a essa ao soberana e morreram prematuramente, como Rafael, na flor da idade.

Lamartine descreveu esse estado em versos clebres:

Mais lessor de la pense

Linstinct des sens soppose em vain:

Sous le dieu mon me oppresse

Bondit, selance et bat mon sein.

La foudre en mes veines circule,

Etonn du feu qui me brle.

Je lirrite en le combattant.

Et la lave de mon gnie

Dborde en torrents dharmonie

Et me consume en schappant.

(Mditations Potiques)

Romain Rolland descreve, nestes termos, o caso especial de Miguel ngelo (Revue de Paris, 1906, e Cahiers de la Quinzaine):

A fora do talento que provm do Deus oculto no se manifesta mais claramente seno em um homem sem vontade, como Miguel ngelo. Jamais um homem foi sua presa dessa forma. Esse talento no parecia da mesma natureza que ele; era um conquistador, que havia se lanado sobre ele e o mantinha escravizado. Sua vontade no tinha nenhum poder e quase se poderia dizer, nenhum poder tinham seu esprito e seu corao. Era uma exaltao frentica, uma vida formidvel em um corpo e uma alma muito fracos para cont-las.

Encontra-se em Goethe (Cartas a uma Criana), os seguintes detalhes sobre Beethoven:

Beethoven, falando da fonte de onde lhe vinha a concepo de suas obras-primas, dizia a Bettina: Eu me sinto forado a deixar transbordarem, de todos os lados, as ondas de harmonia que provm do foco da inspirao. Tento segui-las, e as agarro apaixonadamente; de novo elas me escapam e desaparecem entre a multido das distraes que me cercam. Logo eu volto a agarrar a inspirao com ardor, arrebatado, multiplico todas as suas modulaes e, no ltimo momento, triunfo com o primeiro pensamento musical.

Devo viver sozinho comigo mesmo. Sei bem que Deus e os anjos esto mais perto de mim, em minha arte, que os outros. Comunico-me com eles e sem temor. A msica uma das entradas espirituais nas esferas superiores da inteligncia.

Mozart, por sua vez, em uma de suas cartas a um amigo ntimo, nos inicia nos mistrios da inspirao musical. Essa carta foi publicada em A Vida de Mozart, por Holmes, em Londres, 1845:

Dizeis que gostareis de saber qual minha maneira de compor e qual o meu mtodo. Verdadeiramente eu no posso vos dizer mais do que o que vou falar, porque eu mesmo no sei nada a respeito e no consigo me explicar.

Quando estou com boa disposio e completamente s, durante meu passeio, os pensamentos musicais me vm em abundncia. No sei de onde vm esses pensamentos, nem como eles me chegam, minha vontade no tem nenhum poder nisso.

Schiller declarou que seus mais belos pensamentos no eram de sua prpria criao, eles lhe vinham to rapidamente e com uma tal fora que ele tinha dificuldade em compreend-los bastante rpido para transcrev-los.

Michelet tambm parece estar, em certas horas, sob o domnio de algum poder incomum. Falando da sua Histria da Revoluo Francesa, ele diz:

Jamais, desde a minha Virgem de Orlans, eu havia recebido semelhante emanao do Alto, uma visita to luminosa do cu... Inesquecveis dias, quem sou eu para t-los narrado? Eu ainda no sei, e no saberei jamais, como pude reproduzi-los. A incrvel felicidade de reencontrar isso to vivo, to abrasador, aps sessenta anos, encheu-me o corao de uma alegria herica.

O poder da inspirao se traduz de uma maneira mais sensvel ainda em Henri Heine. Eis o que ele dizia no prefcio de sua tragdia William Radcliff:

Escrevi William Radcliff em Berlim, enquanto o Sol iluminava com seus raios, antes enfadonhos, os tetos cobertos de neve e as rvores desprovidas de suas folhas; eu escrevia sem interrupo e sem fazer rasuras. Sempre escrevendo, parecia que eu ouvia, acima da minha cabea, como que um barulho de asas...

Poderamos multiplicar as citaes do mesmo gnero, e nelas veramos que a inspirao varia segundo as naturezas. Em uns, o crebro como um espelho que reflete as coisas escondidas e envia as suas radiaes sobre a humanidade. Sob mil formas, ela penetra os sensitivos e se impe.

Comportamento de outros espritos diante de o EstetaAs duas lies de o Esteta que vamos ler, tm por assunto a inspirao, considerada em sua causa e em seus efeitos gerais, tanto na Terra como no espao.

Em nossas reunies, essas lies prosseguem com regularidade a cada semana, porm, ainda ignoramos o nome e a personalidade verdadeira do seu autor. No entanto, observamos que os espritos familiares do nosso grupo afastam-se com respeito e apenas se calam diante dele; o guia do mdium vem, aps a partida de o Esteta, e nos diz algumas palavras de amizade e de encorajamento, declarando-se acanhado pela superioridade e a irradiao desse grande esprito.

Qualquer que seja o valor do estilo, ns nos empenhamos em reproduzir fielmente o pensamento do autor, evitando com cuidado tudo o que pudesse alterar o seu sentido, mesmo em benefcio da forma.

Terceira lio

Inspirao: causa, efeitos, formas A verdadeira arte

(29 de Novembro de 1921)

Eu gostaria de vos falar sobre a inspirao. um procedimento de transmisso da luz divina; ela se produz sob diversas formas, porquanto a arte, com suas inmeras ramificaes, aproxima-se em graus diversos desse plano divino do qual vos falo. Quando, no espao, o esprito de um artista decidiu reencarnar, leva com ele as amizades de seres queridos que, por causas diversas, devem ficar no espao. Mas, por intuio, esses amigos enviaro a esse ser, aprisionado na carne, fluidos provenientes do seu meio e idias que daro novo impulso parcela de talento que existe nele e que, sob o domnio da carne, estaria bastante propensa a ficar adormecida.

A inspirao tem duas formas: uma pessoal, outra mais ampla, transmitida por espritos elevados que haurem a arte das fontes mais puras e comunicam seus efeitos a um ser que os emprega de forma ordenada por seus meios prprios e naturais.

A inspirao pessoal a mais comum. Vs sabeis que um ser que capaz de experimentar esse fenmeno j evoludo; sua evoluo se realizar por etapas. Em cada uma das suas vidas, ele ter um perodo mais marcante que outros, aquele em que o trabalho foi mais obstinado e, por conseqncia, mais produtivo; dele resultaro aquisies que se acumularo no perisprito. Na existncia seguinte, essas aquisies voltaro a aparecer sob a forma de um dom inato. Esse dom, para os que no so iniciados, se denominar inspirao. Mas essa inspirao no tem seno um carter humano; em geral ela fria, no sendo animada pelas luzes divinas.

Para tornar essa inspirao mais bela, mais elevada, preciso impregn-la de ideal e de fluidos que emanam do foco divino. Chegamos assim segunda forma de inspirao. Vs sabeis que os amigos invisveis velam pelos seres que eles sentem que so dignos de serem protegidos e encorajados. Do espao, os espritos superiores pressentem a pequena chama criada pela inspirao pessoal. Para torn-la mais brilhante, pela prece, se Deus o permite, esses guias iro buscar, nas esferas onde reinam radiaes maravilhosas, os elementos da vida criadora que alimentaro essa pequena chama e dela faro brotar centelhas de talento.

Pode acontecer que o corpo humano seja um pouco perturbado por essas foras. Quando os tomos fsicos no podem resistir a esse influxo, produz-se uma desordem no organismo. o que explica os homens de talento terem, algumas vezes, falta de equilbrio.

Eis a explicao material do fenmeno. O que sentir o ser sob o efeito de uma inspirao? Se ele suficientemente sensvel, quando uma idia, um pensamento que ele no podia prever, aflorar em seu crebro, ele o assimilar como um receptor telefnico que recebe ondas eltricas e vibra sua passagem. Ele um pintor? De repente, sobre sua paleta, ele encontrar o segredo da mistura das cores que ir produzir uma nova cor, adaptando-se admiravelmente ao movimento de traos que torna o rosto expressivo ou ao relevo que deve ser dado a um quadro que est em execuo. Ele um pensador? Um escritor? Um poeta? Desse mesmo crebro brotaro a idia, a imagem, a expresso que devem realar e ilustrar a obra que tem necessidade de revestir uma forma mais elevada e mais colorida. Ele um msico? No momento em que menos esperar, um acorde, uma srie harmnica, uma melodia, viro, pela sua suavidade, sua pureza, sua riqueza, dar sua composio, um brilho que ela no teria conseguido adquirir. Se o ser humano , desde o seu nascimento, tornado por um ideal, podeis calcular os novos tesouros que se ligaro a ele. A arte ideal uma das formas da prece, seu pensamento atrair amigos invisveis muito elevados; a eles ser fcil fazer realar o brilho da chama acesa anteriormente e, da alma do artista, brotaro obras inspiradas pelo belo e pelo divino.

Geralmente necessrio que um artista fique em um meio so, porque a chama criadora que o anima pode extinguir-se, sob a influncia de um ambiente fludico carregado de molculas materiais. A verdadeira arte no procura os prazeres da mesa, da carne, e aqueles dos quais o esprito e o crebro no participam.

Em vosso pas, a Frana, tendes artistas maravilhosos que criaram obras admirveis em todos os domnios. Os artistas da Renascena constituram, devo vos dizer, uma pliade inspirada por um nmero no menor de grandes artistas do espao. Esses artistas da Renascena haviam encontrado sua fonte criadora na Antigidade grega e latina. Aps terem vivido na Grcia, no Egito e em Roma, retornaram ao espao. L seus conhecimentos se ampliaram, adquiriram um brilho, uma aparncia particular e, quando reencarnaram, deixaram o paganismo para celebrar, em todos os domnios, a glria de Deus, da qual eles tinham se impregnado durante sua ltima passagem nas esferas celestes. Suas vidas anteriores sobre a Terra haviam sido consagradas a um trabalho de base, isto , preparao dessa pequena chama que devia ser como um dos plos atrativos da essncia divina. por essa razo que a obra dos pintores, dos escultores e dos msicos dessa poca tem essa cor de piedade, de doura, de quietude que no encontrais na poca presente.

Em minha prxima exposio, eu vos falarei da inspirao em vossa poca. Em alguns ela tambm bela, porm, as caractersticas no so as mesmas. A inspirao atual, onde se misturam novos pontos de vista, deve contribuir para uma transformao geral da humanidade, por uma evoluo no pensamento, aproximando-se e comunicando-se com o mundo invisvel, intermedirio do plano divino.

Quarta lio

Inspirao nos tempos modernos Inspirao cientfica e inspirao idealista Inspirao, forma que concretiza a arte

(5 de Dezembro de 1921)

Vamos falar da inspirao nos tempos modernos. Vs ides compreender que h trs grandes etapas: iniciao, trabalho e progresso. O desabrochar, parcial sobre os mundos, completo no espao. Vimos nossos artistas fazerem sua iniciao na Antigidade, seja na Grcia, no Egito ou em Roma. De volta ao espao, esses seres amadureceram e aproveitaram as qualidades adquiridas em uma ambincia material; retornando Terra, em uma outra encarnao, eles trouxeram seu ideal da poca da Renascena; depois esse ideal se expandiu, um sculo mais tarde, nas letras, nas artes e na arquitetura. Eu quero falar do sculo de Lus XIV. Tendo esses espritos retornado ao espao, durante um tempo bastante longo, a inspirao em geral foi apenas medocre no sculo XVIII e latente no XIX.

Em que consiste a inspirao em nossa poca?

Os Espritos, imbudos das belas obras rebuscadas sobre a Terra e no espao, e que esto atualmente desencarnados, retornaro no momento em que a arte e o esprito, divinizados, devero reflorir de uma forma mais intensa. Paralelamente, outros espritos, que anteriormente trabalharam para a evoluo material, impregnaram-se de positivismo e, aqui na Terra, na hora presente, sua inspirao, que est classificada como inspirao pessoal, encaminha-se para as coisas cientficas. Mas o grupo de artistas idealistas que fica no espao busca iluminar com uma luz divina esses seres que tm belas qualidades, sob o ponto de vista do trabalho, e que devem fazer surgir a centelha da cincia.

Eis por que, nesse momento, observais uma luta entre a cincia pura e a procura dos destinos humanos, sua formao e a do Cosmos.

Vs ireis me dizer: Como concebeis a arte no espao? A arte brota da inspirao, assim sendo era necessrio vos mostrar como a arte se desenvolve e cresce numa evoluo constante, para que pudsseis perceber a marcha ascendente da espiritualidade. Somente quando compreenderdes bem como a centelha artstica, a centelha divina, se libera do esprito que podereis compreender e tambm idealizar os quadros que se passam no espao, mais grandiosos e mais completos que aqueles que vedes sobre a Terra e que deles so apenas um plido reflexo.

Os espritos positivos terrestres, provindos de uma centelha criadora, procuraram, pela inspirao cientfica que lhes prpria e por aquela que recebem dos seres desencarnados, descobrir o mistrio da vida e do Universo.

Todas as foras se entrecruzam, do mundo visvel ao mundo invisvel. Do alto, os espritos idealistas buscam animar, com um ardor que os espiritualize, os seres que trabalharam em perodos diversos e que, desse fato, adquiriram uma inspirao pessoal, mas rgida e fria.

Os cientistas da vossa poca no viveram no mesmo tempo que os idealistas que conceberam to belas obras, e por isso que, do espao, esses idealistas procuram estimular os cientistas. A inspirao pessoal destes ltimos se confinou a um domnio que diz respeito matria. A centelha criadora atinge apenas o crebro e no a alma, portanto era necessrio que grandes espritos iniciadores viessem do espao dar aos vossos contemporneos a insuflao inspiradora que os conduza, muito suavemente, pelos exemplos materiais, revelao de foras desconhecidas.

As ondas hertzianas so uma das formas concretas de correntes fludicas, criadas por Deus e transmitidas pelos espritos. O primeiro homem que, sob a forma de uma inspirao, constatou-lhes a existncia, foi conduzido a esse fato, pouco a pouco, por invisveis que queriam revelar aos terrestres o poder das correntes que eles desconheciam. Porm, da inspirao cientfica inspirao idealista h uma distncia. As dificuldades existem em razo dos meios de ao, mas, nos sculos futuros, ser preciso que todos os seres vibrem em unssono e, no momento atual, o ncleo de pesquisadores cientficos tem necessidade de sentir uma inspirao em que se misturem a cincia e a forma espiritualizada da obra divina em toda a sua grandeza e sua beleza. J que as ondas de seres vivos que passam pela Terra no tm todas o mesmo grau de evoluo, a inspirao que anima cada onda no pode ser da mesma natureza.

Para preparar o trabalho progressivo das geraes h, na inspirao cientfica, uma mistura de desconhecido, de surpresa que, algumas vezes, produz um ceticismo que no durvel.

Fatalmente, no ciclo que se prepara, vossos sbios devero aceitar e ensinar humanidade as novas foras que brotam continuamente do espao celeste. No dia em que vossos cientistas descobrirem, pela intuio e pela inspirao, a fonte das correntes que animam o Universo, o ideal divino estar pronto para reflorir sobre a vossa Terra e ns poderemos afirmar, convosco, que a evoluo terrestre ter dado um grande passo.

A evoluo cientfica prossegue em todos os domnios, desde a preciosa descoberta material at a aplicao de princpios novos e positivos nas artes. Atualmente vossas artes, salvo a literatura, procedem desse gnero um pouco impulsivo de impresso e de inspirao. Se, durante a Renascena, as composies pareciam por vezes um pouco ingnuas, em vossos dias, a cor, a forma, o poder da inspirao no faltam, mas ser preciso adquirir, nos sculos futuros, a noo de ideal que servir de elo a todas as obras do pensamento. Deus vos d, por a, o sentido real e profundo da sua obra universal.

Nesse estudo, vimos o crebro do artista organizado em todos os domnios. A inspirao, quer venha da personalidade ou do ideal divino, a forma que concretiza a arte. Os seres carnais a adquirem na Terra, seu esprito a completa no espao.

Mais tarde, passaremos em revista as belas concepes que podem brotar de uma alma ardente no trabalho e plena de admirao pelo Criador.

Parte III

Senso artstico: constituio e evoluo

(Maro de 1922)

Em que consiste o senso artstico?

O estudo atento da alma nos mostra que tudo na natureza os sons, os perfumes, os raios de luz, as cores encontra em ns suas correspondncias, suas analogias, e que suas radiaes se fundem e se harmonizam s profundezas do ser, na medida da nossa evoluo. isso o que constitui o senso artstico, a compreenso do belo sob todas as formas.

A evoluo desse senso ntimo, a faculdade de express-lo, desenvolvem-se nas almas de vidas em vidas e terminam por produzir o talento, o gnio. Nos aspectos superiores da arte, o artista encontra a alta concepo da beleza eterna; ele compreende que sua fonte nica est em Deus. Do infinito, essa fonte se lana sobre todos os seres e os penetra de acordo com o seu grau de receptividade.

Raios de luz e cores, sons e perfumes, esto ligados por um encadeamento, uma espcie de escala da qual cada nota representa uma soma particular de vibraes e que constituem, em seu conjunto, uma unidade perfeita. Se a ela se juntam as formas e as linhas, essa unidade se tornar a lei geral do belo, e a arte, em suas mltiplas manifestaes, ter por objetivo reproduzi-las.

O estudo da arte e suas realizaes nos impregnam, pouco a pouco, de esplendores do Universo. Inicialmente insensvel e inconsciente no homem primitivo, esse trabalho acaba consciente, acentua-se, revela-se sob formas crescentes para se tornar como que um reflexo da suprema beleza.

Porm, sobre a Terra, a arte ainda apenas um balbucio. Nos outros mundos, e principalmente no espao, dizem-nos os nossos guias, ela produz maravilhas perto das quais as mais belas obras humanas pareceriam bem pobres e quase infantis. Chegada a essas alturas, a arte torna-se a forma mais sublime do culto prestado divindade.

At aqui o artista se inspirou nas coisas do mundo visvel ou tangvel; dele ouviu as vozes, as harmonias; estudou-lhe as formas, as cores e com elas conseguiu impregnar suas obras. Assim, o artista criou uma comunho mais ntima entre o homem e a natureza. Graas a ele, as coisas obscuras e mudas tomaram uma alma e suas vagas aspiraes, suas queixas, suas dores encontraram expresses que, tornando-as mais vivas, as aproximavam de ns, ao mesmo tempo em que a alma humana tornava-se mais sensvel ao contato da vida exterior.

Assim, a arte entregou vida do globo o sentido profundo que lhe faltava. Por meio da arte, as foras cegas da natureza penetraram em ns e adquiriram como que um reflexo da nossa conscincia e dos nossos sentimentos. A alma humana foi em direo s coisas e sua influncia lhes deu um modo mais intenso de vida e de sensaes; por intermdio dessa comunho a alma da Terra se elevou ao conhecimento de si mesma, de seu papel e de seu grande destino.

Agora, como se pode ver pelas lies de o Esteta, todo um outro mundo que se abre, toda uma vida ignorada que surge, mais rica, mais abundante, mais variada do que tudo o que conhecemos at aqui, e a arte vai encontrar nesse meio desconhecido de fontes inesgotveis de inspirao e de poesia, formas insuspeitveis do pensamento e da vida.

Desde agora, o domnio da matria sutil e dos fluidos foi aberto, revelando-se sob aspectos prestigiosos, oferecendo ao homem meios de estudo e de observao que estendem ao infinito o campo de suas pesquisas e de seus conhecimentos cientficos. As aparies de espritos nos acostumaram com todas essas formas de existncia extraterrestre, desde as materializaes mais densas e mais grosseiras, at s manifestaes da mais ideal e mais radiosa vida.

Em nossas conversas regulares com os espritos-guias, obtemos indicaes sobre a vida no espao, sobre a grandiosidade de formas e de cores, sobre suas suaves e poderosas harmonias, que abrem ao msico, ao pintor, ao escultor, caminhos mltiplos e inexplorados.

Aqueles que possuem faculdades medianmicas iro perceb-los diretamente e, com eles, todos os recursos da arte sero enriquecidos. O vasto mundo dos espritos torna-se acessvel aos nossos sentidos, pelos espetculos e ensinamentos que ele nos reserva. As foras intelectuais da humanidade sero centuplicadas, seu gnio artstico criar obras que superaro tudo o que os sculos realizaram.

Fuso do bem com o belo: objetivo sublime da criao

Em resumo, a lei eterna do Universo, o objetivo sublime da criao, a fuso do bem com o belo. Esses dois princpios so inseparveis, eles inspiram toda a obra divina e constituem a base essencial das harmonias do Cosmos.

O pensamento e a inteno divinos sendo o bem, a manifestao deles o belo. Em sua ascenso, o ser dever mais e mais compenetrar-se desse pensamento soberano, dessa vontade, e dedicar-se a realiz-los em si e sua volta, sob formas sempre mais perfeitas. Sua felicidade consistir em assimilar essa lei e em cumpri-la. As alegrias ntimas e profundas que resultaro disso so a demonstrao evidente do objetivo do Universo, alegrias que toda a linguagem humana, dizem-nos os espritos, insuficiente para definir. Essas leis, esse objetivo essencial, o Espiritismo no somente os ensina; ele ainda nos indica os meios de alcan-los, de pratic-los. Sob esse ponto de vista, seu papel notvel e sua interveno, no atual momento da histria, providencial.

H um sculo vimos assistindo ao colossal desenvolvimento da indstria e de suas invenes, descoberta e aplicao dos recursos fsicos da Terra. Disso resultou, nas idias, uma poderosa corrente materialista, que deu um novo impulso aos apetites, s necessidades imperiosas de bem-estar e de usufrutos. A necessidade de se opor uma contra-influncia espiritualista a essa corrente cada vez mais se faz sentir.

A evoluo material necessita de uma evoluo filosfica e religiosa paralela, sem o que as foras intelectuais se voltariam, cada vez mais, em direo ao mal e o mundo desabaria num grande cataclismo do qual a ltima guerra seria apenas o preldio e dele nos daria s a idia.

Acima da vida presente, que somente transitria, preciso, entre outras coisas, fazer entrever a outra vida, que o seu objetivo e a sua sano. Unicamente pelo acordo final das cincias, das filosofias e das religies mais evoludas que o pensamento atingir os altos cumes e que a humanidade encontrar a confiana e a paz, com conhecimento das verdades essenciais, sob suas diversas faces.

Quinta lio

Projeo de quadros e formas esculturais no espao

(10 de Janeiro de 1922)

Em nossas ltimas lies falamos dos diferentes graus de inspirao capazes de se exteriorizar e de formar pinturas, imagens espirituais tornadas concretas para os seres que habitam o vosso mundo, e sobre os diversos pontos do espao celeste.

Com as lies preliminares tendo mostrado a ginstica cerebral que se realiza em cada ser organizado, de forma consciente ou inconsciente, vamos rever qual o fenmeno que, na volta ao espao, faz mover, por reflexo, esses mesmos feixes fludicos, acumulados sob a forma de conhecimentos nos corpos carnais.

Um escultor regressa vida do espao. Ele rev todas as suas existncias passadas e, geralmente, estas ltimas tiveram como centro de trabalho (centro, no sentido absoluto do termo) lugares em que a prpria natureza induz beleza. No espao, esse ser no poder afastar do seu esprito os pensamentos, a viso das obras criadas por seus semelhantes ou por ele mesmo. Instintivamente, seu esprito ainda flutuar em torno dos monumentos, das esttuas que ele gostava de contemplar durante sua vida material. Se passou sua existncia em um determinado pas, a ele retornar; se passou uma existncia anterior em um outro pas, a ele ser atrado, instintivamente, por suas lembranas. Quando em repouso, no espao, desfrutar de uma real beatitude, e projetar, em raios de todas as cores, quadros, formas esculturais do mais maravilhoso efeito. Poder unir as artes gregas, romanas, latinas e gaulesas e reviver horas inesquecveis para ele. Todas as pocas de sua arte sero representadas, segundo a durao e o gnero das evolues realizadas.

Um dia, no meio astral em que se encontra, composto de molculas especiais, ele desejar fazer os espritos menos avanados tirarem proveito dessas mais belas projees. Com a ajuda de alguns amigos, seu pensamento pedir a Deus para atrair espritos profanos que tm o desejo de se elevar, mas cujos conhecimentos artsticos so medocres. Para empregar vossos termos, ele querer vulgarizar sua arte e atrair para si um pblico de seres sem dvida distintos, mas pouco eruditos. O esprito sempre inventivo dos nossos artistas criar prticos, abbadas, unindo a arte grega arte romana, a arte romana arte ogival, e que constituiro graciosos monumentos. Esses monumentos, erigidos fluidicamente, utilizam molculas relativamente slidas, no a ponto de se poder ir de encontro a elas, mas essas molculas, passagem dos espritos, produzem neles uma impresso quase de xtase.

Dessa forma, os seres fludicos podem se encontrar em presena de arquiteturas cujos planos a vossa geometria, muito pobre, no me pode ajudar a explicar.

Essas obras de arte podem permanecer fixas no espao o tempo que a vontade do artista desejar, no entanto ele sente que seu orgulho tem limites; em um determinado momento, sua vontade, instintivamente, projetar um outro quadro e o monumento precedente desaparecer para dar ao azul celeste toda a sua limpidez, esperando que uma nova obra se produza e se sustente.

As molculas que compem esses trabalhos de arquitetura so, em si mesmas, maleveis e obtidas na matria astral; mas o pensamento do artista, como todos os outros sentimentos, irisam esses trabalhos de cores tais que todos os seres que contemplam essas obras experimentam sensaes to mais vivas quanto mais acentuada for a elevao de cada um.

Os modelos so obtidos tanto de lembranas que emanam da vossa Terra como de outros mundos mais ou menos avanados. Eu vos falarei desses mundos em ltimo lugar.

Se a escultura interessante, a pintura no o menos. Existem gradaes entre a escultura, a pintura, a msica e a arte da palavra, ou da filosofia escrita ou falada.

Sexta lio

Diferenas entre arquitetura e pintura Inspirao na arte da pintura A formao das cores Durao das criaes artsticas no espao

(20 de Janeiro de 1922)

Aps vos haver falado da arquitetura no espao em nossa ltima conversa, hoje vamos nos ocupar da pintura. H uma sensvel diferena entre o pensamento escrito ou falado e a arquitetura ou a pintura. A arquitetura atinge os sentidos, a pintura atinge mais o esprito que os sentidos.

Na vida comum, a pintura a reproduo exata, tanto quanto possvel, dos quadros que Deus colocou sob nossos olhos, nos mundos que ele criou. Na arquitetura tomam parte tanto a inspirao quanto o talento, assim como o trabalho do ser humano. A pintura procede de outro modo: ela tende a fixar sobre uma superfcie qualquer as impresses transmitidas ao crebro pela receptividade das imagens.

No vosso mundo, a pintura tambm ir se inspirar em vises anteriores recolhidas pelo artista, seja no espao, seja em mundos que ele habitou ou visitou. O ser que trabalhou especialmente nessa arte possuir todos os materiais necessrios para reconstituir, em um meio fludico apropriado, os quadros suscitados pelo seu pensamento. Vossas cores terrestres formam uma paleta muito incompleta, porquanto, alm daquelas representadas pela natureza, sois obrigados a criar cores artificiais com a ajuda da vossa qumica.

No Alm o pensamento se concretiza em feixes luminosos, revestindo as cores mais variadas. Portanto, cada pensamento se traduz por um rasto brilhante, mais ou menos colorido, segundo sua orientao.

Entendeis que muito fcil para um ser que j possua, por sua evoluo, um passado artstico, reproduzir no meio fludico, no somente arcadas arquitetnicas, mas tambm telas sobre as quais iro se imprimir cenas reconstituindo o que eu chamaria de o sonho em cores.

No prprio esprito do ser, as cores existem em estado latente, visto que elas mesmas so formadas por molculas diferentemente coloridas. Essas molculas podem ser comparadas a pequenos pedaos de vidro de variadas cores. O pensamento, atravessando essas molculas, far uma projeo que reproduzir os assuntos que o ocupam. A fotografia em cores pode ser tomada como comparao, pois que, de uma forma bem restrita, ela pode dar uma fraca idia das coloraes fludicas do espao.

Vs vedes daqui a diversidade das cenas que podem ser projetadas por seres especialmente organizados. Naturalmente aqueles que trabalharam a pintura so os que projetam os mais belos quadros, porque possuem a harmonia da linha e a cincia do desenho.

A atrao dos meios espirituais no uma palavra v; a corrente se perpetua e se estende, a evoluo prossegue, mesmo no espao, e numerosos so os espritos que, voluntariamente, buscam se impregnar de qualidades radiantes dos espritos mais avanados que eles.

Estes criam, no meio em que vivem, quadros, cenas de um deslumbramento extraordinrio, de uma riqueza de colorido incomparvel. Como na arquitetura, esses quadros so perecveis, de acordo com a vontade do ser que os formou, mas existem regies onde, seja em arquitetura, seja em pintura, cenas e monumentos subsistem aps a reencarnao do seu autor. como um dos limites do espao separando os mundos etreos, mundos numerosos onde a vida puramente espiritual e que so freqentados apenas por espritos muito elevados. l que os seres vo em misso buscar as altas inspiraes, iniciar-se no culto do belo e do bem, impregnando-se de radiaes que tm um carter realmente divino.

Parte IV

Literatura e oratria A lngua francesa e a idia espiritualista

(Abril de 1922)

A literatura e a oratria tambm so formas de arte, meios poderosos de fazer o pensamento brilhar em nosso mundo. Pode-se dizer o que Esopo dizia da lngua: ela , segundo o uso que se fizer dela, o que h de melhor ou de pior. Sob esse ponto de vista, a Frana sempre teve um papel privilegiado. A clareza, a nitidez de seu idioma, ainda que mais pobre que outros em qualificativos, serviu largamente para a expanso do seu talento e a difuso das idias generosas. So, portanto, as qualidades desse idioma que asseguram ao nosso pas, ao mesmo tempo, um lugar parte no mundo e uma alta situao no futuro.

Nossa lngua, por sua limpidez, sua clara compreenso das coisas, o instrumento predestinado das grandes anunciaes, das revelaes augustas. As outras lnguas tm seu charme, sua beleza, porm nenhuma consegue esclarecer melhor as inteligncias, persuadir, convencer. Assim, os espritos de elite que vierem Terra cumprir uma misso renovadora encarnaro de preferncia em nosso pas e, dentre eles, os maiores de todos, a fim de que nossa lngua possa servir de veculo aos seus altos e nobres pensamentos atravs do mundo. Sua presena e sua ao, dizem-nos do Alm, ainda contribuiro para aumentar o prestgio e a glria da Frana.

A literatura francesa sobressai principalmente na anlise dos sentimentos e das paixes; ela se caracterizou sobretudo no romance, cujo tema geral o amor sensual. Sob a influncia do materialismo vido de todos os prazeres, ela perdeu-se em contradies, assim como em prazer, e, em lugar de cooperar para o enobrecimento da raa, contribuiu, a maior parte das vezes, para corromper seus costumes e precipitar sua decadncia. A maioria dos autores do nosso tempo se compraz em expor suas aventuras na ostentao de um cinismo picante. Da, em certos momentos, o descrdito da Frana no exterior e as medidas tomadas contra nossa lngua em inmeros estabelecimentos de educao. J tempo de uma nova corrente de idias vir inspirar a arte e a literatura francesas, com um senso mais filosfico das coisas e uma noo mais ampla do destino. Somente isso pode restituir s obras do pensamento toda a sua amplitude e sua eficcia regeneradora.

Sob a inspirao de colaboradores e instrutores invisveis, essa reao vai se acentuar. Os escritores, os oradores, sentem-se levados pelas foras ocultas em direo a horizontes mais puros, mais luminosos. De toda parte surgem produes impregnadas de doutrinas amplas e elevadas.

O pensamento francs comea a adquirir esse poder de irradiao ao qual tem direito; um dia ele atingir as alturas que, at agora, s a msica soube fazer entrever e pressentir. Ele chegar a possuir esse dom de penetrao, de persuaso, essas qualidades estticas que asseguram sua predominncia definitiva. Pode-se constatar desde agora que, sob a sua influncia, o mundo latino se impregnou inteiramente das doutrinas de Allan Kardec sobre as vidas sucessivas. As obras do grande iniciador foram traduzidas em todas as lnguas neolatinas. As edies espanholas e portuguesas se sucedem rapidamente na Amrica Central e Meridional; a idia espiritualista penetra nos meios mais isolados, sob a forma com a qual os escritores franceses a revestiram.

No sculo passado, os autores de talento j haviam encontrado motivos de inspirao nos fenmenos psquicos. Pode-se citar Balzac, Alexandre Dumas, Thophile Gautier, Michelet, Edgar Quinet, Jean Reynaud e muitos outros.

O Romantismo, apesar dos seus excessos, levava a esse sculo, como uma onda muito grande, a noo do divino e da imortalidade; assim, os homens de 1830 e de 1848 tinham um carter mais enrgico e uma importncia mais nobre que os homens polticos da nossa poca.

O impulso romntico manifestou-se como preldio do grande movimento de idias que hoje abrange toda a humanidade. De Lamartine a Hugo, at Baudelaire e Grard de Nerval, todos buscam o infinito na natureza e na vida. A noo das vidas sucessivas se encontra em La chute dun ange (A queda de um anjo) e em Jocelyn; depois em Revenant (Voltando), Les contemplations (As contemplaes), La lgende des sicles (A lenda dos sculos), de Victor Hugo; em La vie antrieure (A vida anterior), de Baudelaire, etc.

Em obras mais recentes, certos autores de mrito, como Paul Grendel, lie Sauvage, Dr. Wylm, etc., deram mais desenvolvimento idia psquica e dela fizeram sobressair as grandes conseqncias. Tambm no exterior, Rudyar Kipling, dizem, e Selma Lagerlf introduzem a reencarnao em suas obras. Toda uma pliade de jovens e ardentes escritores, nem sempre avaliados, segue esses exemplos e se embrenha em caminhos ricos e fecundos.

Os graves acontecimentos dos ltimos anos criaram por toda parte novas necessidades do esprito e do corao: a necessidade de saber, de crer, de descobrir os focos de uma luz mais viva, de fontes abundantes de consolao. A alma da Frana faz esforos para se libertar das opresses do materialismo. Suas profundas intuies clticas despertam e a conduzem em direo s fronteiras espirituais onde todo um mundo invisvel a chama e a atrai.

A Frana, sua misso A alma cltica

O talento da Frana feito de equilbrio e de harmonia. Apesar de certas faltas no passado, pode-se dizer que ele muitas vezes serviu de mediador entre as escolas mais diversas, entre os sistemas mais opostos. Ainda hoje, na ordem poltica, por exemplo, a Frana se mantm entre a reao e a anarquia. Freqentemente foi assim, no decorrer da sua histria, nos domnios da arte e do pensamento.

Vimos que sua lngua, que uma das expresses do seu talento, apresenta as qualidades de preciso e de flexibilidade que fazem dela um maravilhoso agente de difuso e de propaganda. Ela sabe emprestar s idias, ao mesmo tempo, a fora e a graa, e por a que ela pode contribuir largamente para iniciar o mundo no conhecimento das leis superiores.

A literatura e a poesia francesas, melhor que todas as outras, souberam reproduzir todas as nuanas do pensamento e do sentimento; a ternura, a energia, o encanto, a doura infinita do ideal, em uma palavra, todos os sonhos sobre-humanos da arte e da beleza.

O luminoso talento da Frana tem por papel, principalmente, reunir e fundir, em uma mdia equilibrada, os dois talentos diferentes, o do Sul e o do Norte, da raa latina e das raas setentrionais. , talvez, ao encontro desses elementos opostos, ao fluxo e refluxo dessas correntes diferentes, que se deve a mobilidade do seu esprito e a instabilidade por vezes enfadonha de seus desgnios; porm, sempre aps os perodos de crise, em que o equilbrio nela alterado, o esprito nacional retorna sua atividade e seu progresso.

Sua misso, portanto, parece ser a de fornecer aos outros povos, de esprito mais lento, as indicaes, as diretrizes das quais eles tiram uma aplicao prtica e fecunda. nesse sentido que a Frana um agente maravilhoso de progresso e de evoluo humana, por seu cuidado com a verdade e com a luz, e pela beleza das formas com as quais ela se compraz em revesti-las.

So essas qualidades que lhe daro um papel preponderante na difuso do Espiritismo filosfico e moral, enquanto que os pases anglo-saxes esto interessados em represent-lo, principalmente sob seu aspecto cientfico e experimental.

Aps suas horas de tentativas e de obscuridade, o gnio da Frana, que no outro seno a alma sempre viva e imortal da Glia, ergue-se e, com um vigoroso esforo, liberta-se dos atoleiros terrestres e lana-se em direo ao cu, para ali descobrir novos horizontes, novas perspectivas sobre o futuro e mostr-las como objetivo humanidade em marcha.

Para todos aqueles que sabem estudar e compreender o gnio da nossa raa, sob o vu do cepticismo que por vezes a recobre, a alma cltica reaparece e, nas horas solenes, so seus impulsos que determinam as resolues viris, os atos decisivos.

ela que inspira Joana dArc e por suas mos livra a Frana do jugo dos ingleses; ainda ela que provoca essa poderosa exploso espiritualista que, em poca revolucionria, leva a todos a noo essencial de liberdade, assegurando assim o triunfo da alma moderna sobre as teorias deprimentes do determinismo e do fatalismo. sempre ela que, nos dias sombrios de 1914, revela todas as foras vivas da nao e a conduz, herica e sublime, diante do despotismo germnico e do militarismo teutnico; mais recentemente ainda, a alma cltica coloca a nao como um dique em oposio onda vermelha do bolchevismo.

A Frana tem maiores deveres que as outras naes, porque recebeu maiores dons, mais brilhantes qualidades. Assim, suas responsabilidades so mais pesadas e mais extensas. Hoje, uma tarefa, mais importante do que todas as outras, desenha-se para ela no mundo inteiro. Trata-se de iniciar os homens nas belezas de um futuro mais vasto, mais rico que aquele que as concepes filosficas e religiosas puderam entrever. Trata-se de guiar a ascenso humana em direo ao grau mais elevado do pensamento, onde se acendem os clares de um novo dia, a aurora de uma civilizao mais nobre e mais digna, livre dos flagelos que, at aqui, entravaram o caminho spero e doloroso da humanidade.

As outras naes tm, cada uma, a sua tarefa importante, mas a Frana ultrapassa a todas pela variedade de suas aptides e de suas atividades. por isso que o mundo inteiro tem os olhos fixos sobre ela, esperando o sinal que traar sua nova evoluo.

alma viva da Frana, desliga-te das pesadas influncias materiais que ainda te oprimem, eleva-te at esse nobre ideal que tua misso adquirir e propagar no mundo! Somente quando a nova revelao for conhecida por todos os povos, quando ela tiver dado sua expresso a forma magnfica do teu talento, que os homens compreendero seu grande destino, bem como os deveres e os encargos que ele lhes impe, e a justia e a paz enfim reinaro sobre a Terra regenerada. E por esse meio teu papel aparecer aos olhos de todos. Tu sers respeitada pelas geraes, e a tua glria se iluminar com um brilho que nada poder mais empanar!

A oratria e o gesto A inspirao dos grandes oradores

Na oratria, o movimento do pensamento representado no apenas pela palavra, mas tambm pelo gesto que sobre ele chama a ateno e acentua seus efeitos. Nisso, mais que em qualquer outra matria, uma justa medida se impe porque tanto o excesso como a ausncia de mmica devem ser igualmente evitados com cuidado.

A maior parte dos grandes oradores recebe a inspirao do invisvel. Essa inspirao chega at eles em ondas rpidas e faz surgir as expresses, as formas, as imagens que provocam o entusiasmo das multides. Em certos momentos, eles se sentem como se fossem erguidos da Terra e levados por uma corrente irresistvel. No transcorrer da minha carreira de conferencista, experimentei muitas vezes a sensao de uma poderosa ajuda oculta, e eu conhecia a sua causa. O Esprito Jernimo de Praga, meu protetor, meu guia, sempre me assistiu na minha tarefa de propagandista. s vezes, no momento de aparecer diante de um numeroso pblico, com freqncia indiferente ou mesmo hostil, e de tomar a palavra, eu era vtima de um mal fsico, de uma violenta enxaqueca que paralisava meu pensamento e minha ao. Mas ento, respondendo ao meu ardente apelo, minha prece, o esprito do meu guia intervinha. Por uma enrgica magnetizao, ele restabelecia o equilbrio orgnico e devolvia minha lucidez, meus meios de agir. Outras vezes, aps debates contraditrios que duravam vrias horas, aps lutas oratrias com contraditores obstinados, materialistas ou religiosos, apesar do meu esgotamento, eu ainda encontrava inflexes, entonaes vibrantes que pasmavam e abalavam o auditrio.

Um dia, tive a compreenso desse fenmeno ao v-lo acontecer sob os meus olhos. Encontrava-me em Aix-les-Bains, na igreja paroquial, no decorrer de uma solenidade religiosa em homenagem a Joana dArc. Na presena do Cardeal Dubillard e de uma multido compacta, um jovem padre subiu ao plpito para pronunciar o panegrico da herona. Minha mdium, a senhora Forget, que estava sentada ao meu lado, disse-me de repente: Vejo o Esprito Jernimo, ele est de p no plpito, atrs do padre. Fiquei atento ao que ia se passar. O jovem padre comea com um tom calmo; suas frases harmoniosas se desenrolavam com mtodo, depois, pouco a pouco, o tom se eleva, a voz torna-se vibrante e, por fim, inflexes poderosas, que eu reconhecia, fizeram ressoar as abbadas do edifcio. Eu tinha um exemplo do que se produzira comigo em muitos casos.

Essa inspirada eloqncia eu a encontrei em certos mdiuns, bastante raros na verdade. H os que incorporam, em uma mesma sesso, vrios espritos dos quais as palavras revelam personalidades muito diferentes, de grande originalidade e que impossvel serem confundidas entre elas ou com a do mdium.

O mdium mais notvel que encontrei, no decorrer de minhas viagens, foi a filha de um professor do liceu de Marselha. Quando em estado de transe, ela servia de voz no somente a oradores do espao, mas tambm a outras entidades extraordinrias, por exemplo a clebre Sra. Geoffrin, que por sua delicadeza de esprito, sua amabilidade e o encanto penetrante de suas maneiras, por sua linguagem um pouco antiquada, no deixava, temos que convir, margens para a simulao.

assim que as influncias do alto se fazem sentir de mil maneiras, e que mais e mais se confirma a prova da sobrevivncia da alma e da solidariedade que liga o mundo dos vivos ao mundo dos mortos.

Escritores e oradores, o verdadeiro mrito A influncia da msica

O verdadeiro mrito, seja do escritor, seja do orador, consiste em fazer pensar, em provocar nas almas as nobres e santas exaltaes, em elev-las em direo s alturas radiosas onde elas percebem as vibraes do pensamento divino, em uma comunho suprema.

No entanto, para que a alma se desenvolva e desabroche no xtase das alegrias superiores bom que a harmonia venha se juntar palavra e ao estilo; preciso que a msica venha abrir, para a inteligncia, os caminhos que levam compreenso das leis divinas, posse da eterna beleza.

A influncia da msica imensa e, segundo os indivduos, reveste-se das mais diferentes formas. Os sons graves e profundos agem sobre ns de tal maneira que o melhor de ns mesmos se exterioriza. A alma se desprende e sobe at as fontes vivas da inspirao.

Quando eu tinha que fazer uma conferncia em uma grande cidade, por mais de uma vez aconteceu dirigir-me, na vspera, noite, a algum teatro lrico. L, escondido no fundo de um camarote, completamente isolado, eu me desinteressava de tudo o que se passava na sala ou no palco, para me deixar embalar pela obra musical. Sob a ao combinada dos instrumentos e das vozes, uma onda de idias crescia em meu crebro, um desabrochar de pensamentos e de imagens surgia das profundezas do meu ser. E, nesses momentos, eu determinava o meu tema com uma riqueza de matrias, uma profuso de argumentos, uma abundncia de formas e de expresses que eu no poderia ter encontrado no silncio e que nem sempre se apresentavam em minha memria no momento oportuno.

O som dos grandes rgos e os cantos sacros produzem em mim impresses ainda mais profundas. Durante os momentos em que posso ouvir boa msica, o poder da arte abre, para meu benefcio, o domnio dos tesouros escondidos das mais belas faculdades psquicas, para, em seguida, deixar-me recair pesadamente na corrente habitual do pensamento e da vida.

Na Terra, pelo pensamento, oral ou escrito, que se comunica a f e que se instruem os homens. Porm, no espao, nos dizem os nossos guias, a msica a expresso sublime do pensamento divino.

J aqui na Terra, pode-se observar que um escritor ou um orador que estude a harmonia v crescer, em proporo, os recursos da sua imaginao, sua penetrao das coisas e sua facilidade em exprimi-las. Certos homens talentosos no tm declarado que suas mais belas obras tinham sido concebidas em horas de xtase, provocadas pela audio de ecos longnquos de algumas notas desprendidas dos concertos celestes, quer dizer, da orquestra infinita dos mundos?

Stima lio

Ao do pensamento na literatura e na oratria

(27 de Janeiro de 1922)

Esta noite vamos abordar o domnio artstico, que tem por veculo puro o pensamento, o pensamento na literatura e na oratria. Em nossa ltima conversa mostramos como, sob o ponto de vista artstico, o reflexo do pensamento podia, graas a meios maravilhosamente sutis, ligar-se a molculas fludicas e, por meio de cores variadas, representando idias, compor quadros nos quais a arte da cor reproduz cenas tendo o belo por smbolo; isso dito em forma de transio. E agora, qual ser a ao do pensamento na arte?

O pensamento , antes de tudo, um dom de observao. O ser humano, encarnado ou desencarnado, pode explorar, em pensamento, todos os meios. Deixaremos de lado os seres que tm o carter essencialmente material e levam seus pensamentos para mundos onde reina o esprito de lucro ou de luxria.

Porm, no ser evoludo, o pensamento se elevar muito mais alto.

Vs sabeis que, em vossa Terra, esse pensamento liga-se pintura dos costumes, anlise dos caracteres, e se traduz em escritos que revestem formas mais ou menos simblicas. No espao, o pensamento torna-se naturalmente muito mais livre; ele possui em si mesmo o reflexo exato de todos os sentimentos que, anteriormente, nele puderam se imprimir e impression-lo em graus diversos. O esprito, quando est liberto da matria e chegou a uma certa elevao, pode transmitir seu pensamento diretamente a seres ainda encarnados. Da os fenmenos da inspirao.

Tomemos, por exemplo, um ser espiritual muito evoludo e que professe o culto da beleza perfeita. Ele reconhecer na Terra os seres humanos cujo pensamento j se traduz em feixes luminosos. Ele sentir-se- atrado para esses seres e seu prprio pensamento ir se misturar ao deles; suas molculas fludicas vivificaro, de uma forma intensa, as molculas materiais geradoras que brotam do crebro do ser que vive no vosso mundo.

Os espritos escritores se aproximaro dos artistas da pena; os antigos oradores sentir-se-o atrados para os mestres da palavra.

Eis a transmisso do espao para um mundo. Porm, no ser evoludo, o desejo de fazer irradiar seu pensamento atravs do espao no menor que aquele que o atrai em direo aos mundos habitados. Tomemos, por exemplo, um grande pensador da Terra; de regresso ao espao, ele revelar aos espritos que o cercam a prpria essncia das virtudes adquiridas. Depois, lendo nos crebros dos seres encarnados, ali projetar ondas impregnadas de todas as qualidades do seu pensamento.

uma obra imperecvel esta transmisso atravs dos corpos fludicos, porque quando a irradiao do pensamento intensa, ele impressiona os crebros de tal maneira que estes guardam sempre a marca da impresso recebida.

Existe uma estreita correlao entre os pensadores da Terra e os do espao. Certos espritos passam sua existncia no espao recolhendo essas impresses. Quando, por sua vez, sentem-se capazes de fazer os seres menos evoludos aproveitarem essas impresses, eles retornam Terra e ento vm a ser esses grandes escritores, esses grandes poetas e essas pessoas ilustres que ganham a respectiva admirao daqueles que os cercam.

A arte da eloqncia forma-se da mesma maneira, porm com mais sutileza. No orador, as vibraes do espao so poderosamente sentidas atravs do organismo, em conseqncia de um trabalho mais intenso, efetuado antes do nascimento, e pela ao de uma vontade muito mais forte. Cada orador, em graus diferentes, possui o dom da intuio, mais ou menos desenvolvido. Em geral, as qualidades de um mestre da eloqncia resultam de uma preparao realizada no espao, graas soma das impresses recebidas nesse meio.

Segundo a disposio das molculas materiais, a arte, no homem de letras ou no orador, mais ou menos pura. Tendes a prova desse fato considerando-se as diferentes classes de escritores, de poetas, de oradores. No escritor comum, o pensamento ainda carregado de um materialismo grosseiro. No poeta, o ideal, o smbolo, distinguem-se mais e quanto mais puros mais admirveis eles so. O mesmo acontece com o orador que, profano ou sacro, consagra seu rgo fsico defesa e difuso das mximas e dos preceitos que emanam quase de Deus.

As formas de exteriorizao do pensamento so to mltiplas quanto os indivduos. As categorias de pensadores podem se distinguir no espao pela intensidade luminosa que se desprende do seu ser fludico. Vossa palavra, de natureza absolutamente material, algo desconhecido no espao; assim sendo, quando um ser retorna a essa vida, ele deve se submeter a uma nova adaptao e sua linguagem tornar-se- a da interpretao das cores. Na cor h uma gama de tal modo sutil e variada que as menores modulaes podem representar as menores flutuaes do pensamento.

Um ser apaixonado pela arte poder receber e transmitir pensamentos de uma delicadeza infinita e eu vos asseguro que, em minha opinio, a arte no pensamento se aproxima mais de Deus do que as outras artes.

Que delcia para ns, no espao, sentir as vibraes de um ser tendo o carter de uma pureza, de uma elevao notveis e que se traduzem por radiaes de uma tonalidade maravilhosamente rica em tomos fludicos.

No retornarei aqui anlise de todos os domnios do pensamento. Eu quis simplesmente vos dar o mecanismo da transferncia da arte da Terra ao espao e seu princpio fundamental no meio das camadas fludicas. Acrescentarei, e insisto em vos dizer, que o pensamento , para ns, a coisa mais fcil de se transmitir, porque temos uma verdadeira alegria em ajudar na iluminao moral dos seres que vos cercam.

Vossos crebros humanos, fechados s sublimes idias emanadas do Ser Divino, no podem, atualmente, compreender o encadeamento das foras em ao no Universo. Que vos baste saber que o pensamento de Deus atinge todos os seres e todas as coisas, que nenhuma de suas radiaes perdida, e que o nosso papel, de ns, pobres liblulas, transmitir o melhor de ns mesmos queles que podem nos compreender. A arte vem nos ajudar nisso. Portanto, dediquem-se a pensar com arte. Amai aqueles que pensam bem. Porque, estejam certos disto, a prpria essncia desse pensamento um reflexo da vida no espao; lamentem aqueles que no sabem pensar. A arte uma das formas da beleza e, como o pensamento, ela deve ser o seu veculo, porque a beleza encerra em si mesma os princpios da bondade, da grandeza e da justia.

Oitava lio

Transmisso da arte na Terra Os dons inatos

(3 de Fevereiro de 1922)

Falaremos hoje sobre a transmisso da arte em vossa Terra, a fim de mostrarmos a participao que tm, nas composies artsticas, os espritos que continuam uma obra cujos elementos se obtm das fontes fludicas e se propagam nos meios materiais. Vimos de que maneira, no espao, um ser evoludo podia, por reflexos, reproduzir por meio de suas qualidades artsticas, temas retirados do domnio da arquitetura, da pintura, da escultura ou do pensamento.

Vs vos lembrais que graas faculdade que cada ser fludico possui, de poder constituir os elementos e os quadros de suas vidas sucessivas, que ele aprende e retm todas as coisas que formam a universalidade divina. Agora eu desejo, deixando de lado o problema da intuio, vos falar do esprito reencarnado que na Terra, por exemplo, quando o desenvolvimento corporal for suficiente, poder sentir vibrar em seu ser as molculas fludicas impregnadas de radiaes resultantes de vrias vidas no espao, radiaes estas que se podem traduzir, em vossa Terra, por supostos dons inatos que levaro a criatura a uma situao de destaque na categoria dos artistas e dos pensadores.

Tomemos a arquitetura: aps ter reunido os elementos do desenho que enriquecero seu crebro de materiais capazes de concentrar as radiaes, estas, intuitivamente, levaro o ser humano a criar formas ideais, inspirando-se, sem o saber, em imagens, em quadros, que podero ser reconstitudos pelas radiaes ligadas aos seus tomos cerebrais.

Segundo o nmero de vidas percorridas, segundo a vontade de estudar, de compreender, os tomos sero mais ou menos animados de uma vida prpria e, tambm de acordo com a flexibilidade de harmonia das linhas que lhe serviro de condutor, a obra criada ser mais