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Notas para uma teoria da organização da decisão jurídica autopoiética ROCHA, Leonel Severo. AZEVEDO, Guilherme. Notas para uma teoria da organização da decisão jurídica autopoiética. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD) . v. 4. julho-dezembro de 2012. (...) A fragmentação das disciplinas no plano das ciências acaba por promover o esgotamento da capacidade da metafísica de produzir unidade. O problema surge não pelo fato de que a metafísica tenha desaparacido ou se tornado um projeto teórico equivocado. A perspectiva ontológica se inviabiliza justamente pelo fato de que passamos a produzir várias metafísicas. Basta associarmos à fragmentação teórica que experimentamos hodiernamente a tradição da unidade epistêmica a partir de uma metafísica, que, sem muito esforço, identificaremos um cenário paradoxal de quebra da metafísica pela produção de metafísicas. O que se observa é que cada disciplina vai se formatar numa dinâmica autológica, uam vez que atribui a si mesma a capaciedade de legitimar a sua construçaõ e desenvolvimento; o seu começo é, pois, autoproduzido e, portanto, autofundamentado (196- 197). (...) Luhmann entende ue a sociologia tem a tarefa de investigar a sociedade. Todavia, desde o início, o sociológico alemão apresenta a sua ruptura com a ontoogia, a partir do momento

Leonal - Notas Para Uma Teoria Da Organização Da Decisão Jurídica Autopoiética

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Notas para uma teoria da organizao da deciso jurdica autopoitica

ROCHA, Leonel Severo. AZEVEDO, Guilherme. Notas para uma teoria da organizao da deciso jurdica autopoitica. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenutica e Teoria do Direito (RECHTD). v. 4. julho-dezembro de 2012.

(...) A fragmentao das disciplinas no plano das cincias acaba por promover o esgotamento da capacidade da metafsica de produzir unidade. O problema surge no pelo fato de que a metafsica tenha desaparacido ou se tornado um projeto terico equivocado. A perspectiva ontolgica se inviabiliza justamente pelo fato de que passamos a produzir vrias metafsicas. Basta associarmos fragmentao terica que experimentamos hodiernamente a tradio da unidade epistmica a partir de uma metafsica, que, sem muito esforo, identificaremos um cenrio paradoxal de quebra da metafsica pela produo de metafsicas. O que se observa que cada disciplina vai se formatar numa dinmica autolgica, uam vez que atribui a si mesma a capaciedade de legitimar a sua construa e desenvolvimento; o seu comeo , pois, autoproduzido e, portanto, autofundamentado (196-197).(...) Luhmann entende ue a sociologia tem a tarefa de investigar a sociedade. Todavia, desde o incio, o sociolgico alemo apresenta a sua ruptura com a ontoogia, a partir do momento em que no se pergunta o que sociade, mas, na verdade, inverte a reflexo para se perguntar como possvel sociedade Trata-se, portanto, de delimitar um mbito emergente do miundo, que distinguido como sociedade. Logo, reconhecendo uma grande influncia da teoria da comunicao de Bateson, Luhmann ir construir este mbito da sociedade como um campo constitudo nica e exclusivamente por comunicaes. (...) a comunicao a substnica da sociedade. (...) Na concepo luhmanniana, a comunicao vista como um acontecimento, definio que melhor se aproxima da idea de efermidade. A comunicao quando se realiza, logo se desfaz, surge e desaparece; o que a constitui como forma absolutamente fugaz (...) A tradio aristotlica cunhou a concepo de que todas as coisas so compostas por forma e matria (...) Em Luhmann, a sociedade justamente um princpio formal, sua realidade nica e exclusivamente comunicao, o que exclui matria e, portanto, corpo (seres humanos). A comunicao uma ordem que emerge sem necessitar representar ponto por ponto os elementos da conscincia, isto , a sociedade (comunicao) no um reflexo da conscinica, da psique de cada ser humano. O social no abarca a complexidade que constitui cada subjetividade; em outros termos, nem tudo que pensamos faz parte ou constitui sociedade. (197)(...) A tradio ocidental legou uma teoria do conhecimento que pressupe um sujeito cognoscente e um objeto a ser conhecido, ambos como cateogiras distintas, como entidades separadas. Por trs desta concepo est uma epistemologia que entende o ocnhecimento como algo dependente de sujeitos, voltados estes para entidades estveis, que no se modificam no processo de conhecimento, isto , os objetos. Ocorre qu eesta epistemologia no suficientemente complexa para organizar a observaa de uma sociedade entendida como comunicao (...) A sociedade a totalidade das comunicaes, e o conhecimento produzido sobre ela no mais que uma comunicao cientfica; em termos sistmico-luhmannianos, uma comunicao do subsistema parcial sociologia, pertencente ao sistema da cincia da sociedade, logo, constitutivo da sociedade, posto que comunicao. O conhecimento do objeto ele mesmo parte do objeto. (198)

A ideia de hierarquia procurava disciplinar o poder, ocultando o fato de ele ser relacional. Quando Luhmann radicaliza a ideia de diferenciao funcional, a representao espacial da sociedade torna-se impossvel. No podemos pensar simplesmente em esferas distintas, postas uma ao lado da outra, pois isso daria a impresso de que essas funes podem ser justapostas e que estas funes corresponderiam a conjuntos de indivduos. A diferenciao funcional em Luhmann no cabe nessa imagem. (...) [os sistemas sociais] no so mais que a condensao de operaes de comunicao, que atingiram um alto grau de proficincia e especificidade de sentido, passando a constituir, assim, sistemas funcionais diferenciados cuja diferena no espacial ou visvel (...) Ento, os sistemas no devem ser representados simplesmente como justapostos. Estes sistemas so estruturalmente acoplados, ou seja, o prprio ato operativo pertencente a determinado sistema pode, entretanto, formar contirbuies para outro sistema.(200)

(...) A organizao atua previamente, como limite, na parte externa da fronteira do prprio sistema jurdico, e predispe a comunicaao para que se comprometa com o que coonforme ao direito, ou com o que no . (209)(...) Se os casos jurdicos s existem no (e a partir do) sistema jurdico, militar na tese de que nos casos difceis, o Direito se socorreria de princpios texternos, como normas e comandos morais, polticos ou econmicos, desconhecer o movimento autopoitico constituidor da unidade sistmica do Direito. (210)