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i CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL DE EMPRESAS DE CAPITAL FECHADO, UM ESTUDO DE CASO PARA O TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO BRASIL por Leonardo da Silva Bento Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto Coppead de Administração, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. COPPEAD/UFRJ: Dissertação de Mestrado Orientador: Professor Ricardo Pereira Câmara Leal Rio de Janeiro, julho de 2003

Leonardo Bento

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Análise fundamentalista

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CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL DE EMPRESAS DE

CAPITAL FECHADO, UM ESTUDO DE CASO PARA O

TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO BRASIL

por

Leonardo da Silva Bento

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto Coppead de Administração,

Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Rio de

Janeiro – UFRJ.

COPPEAD/UFRJ: Dissertação de Mestrado

Orientador: Professor Ricardo Pereira Câmara Leal

Rio de Janeiro, julho de 2003

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CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL DE EMPRESAS DE CAPITAL

FECHADO, UM ESTUDO DE CASO PARA O TRANSPORTE DE GÁS

NATURAL NO BRASIL

Leonardo da Silva Bento

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto Coppead de Administração

– COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração.

Aprovada por:

___________________________________________

Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal, D.Sc. – Orientador

COPPEAD – UFRJ

___________________________________________

Prof. Celso Funcia Lemme

COPPEAD – UFRJ

___________________________________________

Prof. Adriano José Pires Rodrigues

COPPE – UFRJ

Rio de Janeiro

2002

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Dedicatória

A Suzana,

por todo amor, carinho e compreensão que possibilitam a superação

constante de meus próprios limites.

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Agradecimentos

A meus pais, meus irmãos e familiares,

por todo carinho e suporte que me possibilitaram sempre avançar na vida

Ao Prof. Ricardo P. C. Leal,

por toda a paciência e conhecimento transmitidos, tão necessários a conclusão

deste trabalho.

Aos Profs. Celso Funcia Lemme e Adriano J. P. Rodrigues,

pela participação na banca de avaliação e comentários.

Ao Prof. Vicente A. C. Ferreira e a Viviana C. de Sá e Faria,

por seus inestimáveis comentários, sugestões e apoio.

A Marcelo Menicucci Esteves e ao Prof. Eduardo Saliby

por sanar dúvidas e contribuir com esclarecimentos.

A turma COPPEAD 2001,

por todas as oportunidades de troca de conhecimento, pela amizade e

companheirismo ofertados

A meus amigos,

que nunca deixaram de me cobrar pela conclusão da Dissertação.

A todos os funcionários e demais membros do COPPEAD,

que, de uma forma ou de outra, contribuíram para minha formação.

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v

RESUMO

BENTO, Leonardo da Silva. Cálculo do Custo de Capital de Empresas de

Capital Fechado, um Estudo de Caso para o Transporte de Gás Natural no

Brasil. Orientador: Ricardo P. C. Leal. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação.

A indústria de gás natural vem crescendo a passos largos no mundo, e

o Brasil não parece ser exceção a essa constatação. Entretanto, em função das

características peculiares a economia nacional e da organização do mercado de

gás natural no país, o deslanche do consumo nacional desse energético fica

atrelado à expansão de sua rede transporte. Restou ao órgão regulador nacional, a

ANP – Agência Nacional do Petróleo, a tarefa de formular uma legislação capaz

de incentivar o investimento desejado. A pedra fundamental de tal movimento foi

justamente a determinação de uma metodologia que garantisse uma tarifa de

transporte balanceada entre a remuneração do investidor e o preço ao consumidor

do serviço de transporte de gás natural. Para que a legislação possa alcançar o

desempenho esperado de si é necessário o conhecimento do custo de capital do

setor: qual a remuneração verificada dos ativos totais de um transportador de gás

natural no Brasil? Para responder a essa pergunta deve ser considerado o fato do

setor de transporte de gás natural no país ser dominado pela TBG –

Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A., uma empresa de capital

fechado. Tendo isso em vista, é conveniente definir como objetivo final do

presente trabalho ilustrar, através de um estudo de caso, a melhor forma de

modelar e retratar o custo de capital para uma empresa de capital fechado.

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ABSTRACT

BENTO, Leonardo da Silva. Cálculo do Custo de Capital de Empresas de

Capital Fechado, um Estudo de Caso para o Transporte de Gás Natural no

Brasil. Orientador: Ricardo P. C. Leal. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertation.

The natural gas industry is growing fast worldwide, and Brazil doesn't

seem to be an exception to that. However, due to the peculiar characteristics of

Brazil’s economy and of the way the natural gas market is organized in the

country, the transportation sector became the corner-stone of the national

consumption of this energy source. It remained to the national regulator, ANP –

Agência Nacional do Petróleo, the task of formulating laws capable to motivate

the desired investment in transportation which would stimulate the potential

growth of the local natural gas industry. The success of such task rested in

creating a methodology that cared for the equilibrium between investor’s

compensation and a reasonable consumer price. Knowing the average cost of

capital of the natural gas transportation industry in Brazil would be a step in the

right direction. To access such information correctly, some details should be

considered: Brazil’s natural gas transportation industry is characterized by the

presence of a dominant firm, TBG – Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-

Brasil S.A., which is also a private company. In that way, it is convenient to

define the objective of this paper as to illustrate, through a case study, the best

form of modeling and portraying the average cost of capital of a private company

in Brazil.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica ANP – Agência Nacional do Petróleo CPI – Consumer Price Index CVM – Comissão de Valores Mobiliários IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada PIB – Produto Interno Bruto

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1: TESTES DE NORMALIDADE PRÊMIOS DE RISCO HISTÓRICO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO ..........................................................................................................................39

FIGURA 2: MÉDIAS HISTÓRICAS DO PRÊMIO DE RISCO LINEAR DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO. .........................................................................................................................41

FIGURA 3: PANORAMA DO PRÊMIO DE RISCO LINEAR MÉDIO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO. .........................................................................................................................42

FIGURE 4: PRÊMIOS DE RISCO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO, VALORES MENSAIS..........43 FIGURA 5: GRÁFICO BOX-PLOT PARA PRMS LINEAR, COMPOSTO E GEOMÉTRICO........................44 FIGURE 6: RETORNO REAL MENSAL IBOVESPA DEFLACIONADO PELO IGP-DI ..............................50 FIGURE 7: RETORNO REAL TRIMESTRAL DA POUPANÇA BRASILEIRA. ...........................................52 FIGURA 8: TESTES DE NORMALIDADE DO RETORNO REAL DA POUPANÇA BRASILEIRA. ................53

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: PRINCIPAIS QUESTÕES NO CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL NO SETOR DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL...................................................................................................................4

TABELA 2: PRÊMIOS DE RISCO MERCADOS MUNDIAL E EUA........................................................36 TABELA 3: ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS PRÊMIO DE RISCO HISTÓRICO MENSAL DO MERCADO

BRASILEIRO. .........................................................................................................................38 TABLE 4: ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS PRÊMIO DE RISCO HISTÓRICO MENSAL DO MERCADO

BRASILEIRO, VALORES EXTREMOS FILTRADOS....................................................................45 TABELA 5: ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RETORNO REAL DO MERCADO BRASILEIRO. ...................51 TABELA 6: ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RETORNO REAL DA POUPANÇA. ......................................52 TABELA 7: ESTIMATIVAS DE BETAS PARA BRASIL E PAÍSES LATINOS............................................56 TABELA 8: CAPITALIZAÇÃO MÉDIA DE MERCADO DE PAÍSES DA AMÉRICA LATINA .....................58 TABELA 9: AJUSTE DE VASICEK (1973) PARA O BETA BRASIL. ......................................................58 TABELA: 10: RESUMO DOS CÁLCULOS DO PRÊMIO DE RISCO BRASIL. ...........................................62 TABELA 11: PRINCIPAIS ESTIMATIVAS OBTIDAS NESSE ESTUDO ...................................................65 TABELA 12: DEMONSTRATIVOS DE RESULTADO DO EXERCÍCIO TBG............................................65 TABELA 13: BALANÇOS PATRIMONIAIS TBG.................................................................................66 TABELA 14: RESULTADOS DO CAPM LOCAL PARA A TBG. ..........................................................69 TABELA 15: RESULTADOS DO MODELO DE BETAS MULTIPLICATIVOS DE SOLNIK PARA A TBG. ...69 TABELA 16: PASSIVO ONEROSO CONSOLIDADO TBG. ...................................................................71 TABELA 17: TAXAS DE REMUNERAÇÃO EM REAIS DO PASSIVO ONEROSO CONSOLIDADO DA TBG.

.............................................................................................................................................71 TABELA 18: WACC TBG SEGUNDO MODELOS ESTUDADOS. ........................................................72 TABELA 19: WACC TBG E A ESTRUTURA DE CAPITAIS SMALL CAPS NORTE AMERICANA..............74

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LISTA DE EQUAÇÕES

EQUAÇÃO 1: WACC – WEIGHTED AVERAGE COST OF CAPITAL ...................................................13 EQUAÇÃO 2: COMO A ESTRUTURA DE CAPITAIS AFETA OS RETORNOS............................................18 EQUAÇÃO 3: CAPM SIMPLES DOMÉSTICO.....................................................................................20 EQUAÇÃO 4: CAPM GLOBAL.........................................................................................................21 EQUAÇÃO 5: MODELO DE BETAS MULTIPLICATIVOS DE SOLNIK ...................................................23 EQUAÇÃO 6: RELAÇÃO DE STULZ (1995) .......................................................................................23 EQUAÇÃO 7: MÉTODO DE CONVERSÃO DE CUSTO DE CAPITAL DE O’BRIEN .................................30 EQUAÇÃO 8: METODOLOGIA DE CONVERSÃO DE BETAS DE VASICEK............................................55 EQUAÇÃO 9: MÉTODO DE CONVERSÃO DE O’BRIEN PARA O PRÊMIO DE RISCO BRASIL ................59 EQUAÇÃO 10: ALAVANCAGEM DO BETA........................................................................................68

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1 1.1. OBJETIVO DO ESTUDO ................................................................................................1 1.2. AMBIENTAÇÃO .............................................................................................................1 1.3. O SETOR DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO BRASIL ................................5 2. METODOLOGIA..................................................................................................................7 2.1. TIPO DE PESQUISA, UNIVERSO E AMOSTRA .........................................................7 2.2. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E LIMITAÇÕES DO MÉTODO ..................................7 2.3. DADOS COLETADOS E SEU TRATAMENTO..........................................................11 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................12 3.1. INTRODUÇÃO AO CUSTO DE CAPITAL .................................................................12 3.1.1. CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS ......................................................................14 3.1.2. CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO..................................................................................15 3.1.3. PARTICIPAÇÕES RELATIVAS DOS CAPITAIS DE TERCEIROS E PRÓPRIO.....16 3.2. MODELOS PARA O CÁLCULO DO CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO ...................18 3.2.1. MODELOS DE FATORES DE RISCO .........................................................................19 3.2.1.1. CAPM SIMPLES DOMÉSTICO...............................................................................20 3.2.1.2. CAPM GLOBAL .......................................................................................................20 3.2.1.3. MODELO DE BETAS MULTIPLICATIVOS DE SOLNIK ....................................22 3.2.1.4. OUTROS MODELOS DE FATORES DE RISCO....................................................23 3.2.2. MODELOS DE PRÊMIOS DE RISCO..........................................................................25 3.2.3. MODELOS DE FLUXO DE CAIXA DESCONTADO.................................................25 3.3. MÉTODO INDIRETO DE OBTENÇÃO DO BETA DA EMPRESA...........................27 3.4. MÉTODO DE CONVERSÃO DE CUSTO DE CAPITAL DE O’BRIEN (1999).........30 4. PRÊMIO DE RISCO DO MERCADO................................................................................31 4.1. PRÊMIO DE RISCO DO MERCADO MUNDIAL .......................................................31

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4.1.1. QUAL O ÍNDICE A SER UTILIZADO PARA REPRESENTAR O MERCADO DE ATIVOS DE RISCO? ...................................................................................................................32 4.1.2. QUAL A TAXA LIVRE DE RISCO? ............................................................................32 4.1.3. COMO ESTIMAR O PRÊMIO DE RISCO DO MERCADO ACIONÁRIO?...............34 4.2. CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO NO BRASIL ...........................................................36 4.2.1. ESTIMATIVA HISTÓRICA DO PRÊMIO DE RISCO BRASILEIRO........................37 4.2.2. RETORNO REAL, UMA ALTERNATIVA ..................................................................47 4.2.3. UTILIZANDO MODELOS DE FATORES DE RISCO ................................................54 4.3. QUE MODELOS E PARÂMETROS UTILIZAR?........................................................61 4.3.1. MODELOS SELECIONADOS ......................................................................................61 4.3.2. PARAMETROS SELECIONADOS...............................................................................61 5. CALCULO DO CUSTO DE CAPITAL PARA O SETOR DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO BRASIL..............................................................................................................65 5.1. CALCULANDO O CAPM DOMÉSTICO SIMPLES....................................................67 5.2. CALCULANDO O MODELO DE BETAS MULTIPLICATIVOS DE SOLNIK.........69 5.3. CALCULANDO OS WACC ..........................................................................................70 5.3.1. CÁLCULO DO CUSTO DO CAPITAL DE TERCEIROS............................................70 5.3.2. OS WACC DA TBG.......................................................................................................71 5.4. QUAL RESULTADO ESCOLHER?..............................................................................72 6. CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ........................................75 6.1. CONCLUSÃO ................................................................................................................75 6.2. SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ................................................................76 7. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................77

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1. INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVO DO ESTUDO

O problema central aqui apresentado é bem expresso pela pergunta

“Qual a remuneração verificada dos ativos totais de um transportador de gás

natural no Brasil?”. Para responder a essa pergunta deve ser considerado o fato

de o setor de transporte de gás natural no país ser dominado pela TBG, uma

empresa de capital fechado. Tendo isso em vista, é conveniente definir como

objetivo final do presente trabalho ilustrar através de um estudo de caso –

ambientado no Brasil e tendo como amostra a TBG – a melhor forma de modelar

e retratar o custo de capital para uma empresa de capital fechado.

Cabe destacar que os aspectos estratégicos relacionados ao setor de

transporte de gás natural no Brasil, tais como a determinação da tarifa de

transporte, não serão abordados. O estudo pretende ater-se somente aos aspectos

de modelagem e cálculo do custo de capital de uma empresa de capital fechado,

valendo-se do setor de transporte de gás natural no Brasil como exemplo.

1.2. AMBIENTAÇÃO

Após a primeira metade dos anos 70, assistiu-se a um crescente

questionamento dos modelos de organização que tradicionalmente vigoravam nas

“indústrias de rede”. Entenda-se por esta expressão o conjunto das indústrias

dependentes da implantação de malhas para o transporte e distribuição ao

consumidor dos seus respectivos produtos.

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O modelo que pautava o funcionamento das indústrias de rede

começa a ser transformado a partir da desregulamentação da indústria do gás

natural, das telecomunicações e da indústria elétrica norte americana, ganhando

uma nova dimensão com as privatizações ocorridas no Reino Unido durante o

governo Thatcher.

Desde os primeiros desenvolvimentos das indústrias de rede, diversos

modelos organizacionais foram sendo adotados e modificados em função dos

resultados que auferiam e dos problemas que suscitavam. A intensificação do

processo de globalização econômica, bem como as crises financeiras

atravessadas pelo Estado e grande parte das economias mundiais, acabaram

desenhando um quadro onde níveis crescentes de exigência por parte dos

consumidores – em termos de prestação de serviços diferenciados e

tecnologicamente mais sofisticados – coexistiam com estruturas produtivas mal

capacitadas a responder a estes desafios.

Nesta altura, começa-se a discutir com maior profundidade o papel e

o tamanho do Estado. Dessa forma, no Brasil o início da década de 1990 é

marcado pela proposta de implantação de um novo modelo onde o Poder

Concedente continuaria a ser o Estado, mas o Concessionário passaria a ser

empresas privadas nacionais e estrangeiras. A lógica que permeia a adoção de tal

estrutura é o estabelecimento de fundações sólidas que amparassem o lançamento

de um novo ciclo sustentável de investimentos na economia brasileira. Além

disso, diferentemente das soluções anteriores, foram criadas Agências

Reguladoras para os setores elétrico, de telecomunicação, de petróleo & gás

natural e, mais recentemente, de águas.

A Lei 9478/97, as Portarias da ANP – Agência Nacional do Petróleo

que regulamentaram seus artigos, a Nova Portaria Interministerial nº 3 do

Ministério da Fazenda e das Minas e Energia referente à tarifa, as privatizações

de algumas distribuidoras efetuadas pelos governos estaduais e as Portarias da

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, marcam o advento do novo

modelo no que tange à indústria nacional de gás natural.

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3

O modelo pretendido pelo governo brasileiro para o setor de gás

natural, especificamente do transporte desse energético, era o de livre acesso. As

autoridades entenderam que, para o conjunto particular de condições do país,

esse seria o modelo que estabeleceria melhores condições para a ampliação dos

investimentos num contexto almejado de mercado competitivo.

No modelo de livre acesso, a empresa transportadora não pode

comprar e vender gás. Ela deve transportar para terceiros em base não

discriminatória. Produtores vendem gás diretamente para grandes consumidores,

comercializadores e distribuidoras. Os preços são determinados através de

negociação. As empresas de transporte cobram uma tarifa que deverá remunerar

a sua atividade de transportadora.

Um ponto nevrálgico com relação à intenção do modelo perseguido

pelo governo brasileiro para o setor de transporte de gás natural brasileiro reside

na forma como as tarifas cobradas são reguladas. Em essência, o controle do

órgão regulador se dá sobre a taxa de retorno obtida pela empresa de transporte

de forma que os riscos associados à prestação do serviço sejam adequadamente

remunerados.

Visando alinhar a promoção de investimentos em transporte de gás

natural no país, tarifas de transporte competitivas e o livre acesso, a ANP

instituiu a figura do concurso aberto no Brasil via Portaria Nº 98 de 22 de junho

de 2001. O sistema de concurso aberto é calcado numa espécie de “leilão“ onde é

declarada vencedora a empresa que apresentar as melhores condições de tarifa.

Segundo definido pela ANP, o concurso aberto visa “...detalhar os

procedimentos de oferta e alocação de capacidade para o serviço de transporte

firme decorrente da expansão de suas instalações de transporte de gás natural.”

(PANP 98/2001). A essência do processo encontra-se descrita no Artigo 2º da

portaria Nº 98/2001:

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O Manual do Concurso Aberto observará os princípios da legalidade, razoabilidade, isonomia e publicidade, e disporá sobre:

I. forma de contratação de capacidade; II. critério e metodologia de cálculo da tarifa mínima da capacidade a ser ofertada, refletindo determinantes de custo; III. taxa de retorno do investimento, refletindo os riscos associados à prestação do serviço e o custo médio ponderado de capital; IV. critério de alocação de capacidade entre os interessados; V. repasse aos carregadores (antigos e novos) da receita extraordinária resultante do concurso aberto; VI. condições para o redimensionamento do projeto de expansão de capacidade; VII. qualquer outro aspecto considerado relevante pela Autorizada.

Justamente sobre o Inciso 3º da Portaria Nº 98/2001 da ANP repousa

a necessidade de se observar a experiência internacional: como calcular o custo

de capital das empresas de transporte de gás natural de forma que o órgão

regulador possa estabelecer a metodologia da tarifa mínima da capacidade

ofertada?

Dentre os países que balizam suas tarifas de transporte de gás pelo

custo de capital do transportador1 a Argentina e os Estados Unidos oferecem

bons pontos de comparação com a situação brasileira. Alguns dos principais

pontos de discussão estão sumarizados na Tabela 1.

Tabela 1: Principais Questões no Cálculo do Custo de Capital no Setor de Transporte de Gás Natural.

Fonte: R. Garcia Consultores em Energia.

Estados Unidos Argentina BrasilNatureza da Taxa:

Nominal x Taxa Real Nominal Real Real

Incidência de Imposto de Renda Após Imposto de Renda Após Imposto de Renda Após Imposto de Renda

Modelo para o Custo do Capital Próprio Fluxo de Caixa Descontado CAPM Modificado CAPM Modificado

Cálculo de Custo de Capital: Algumas das Principais Questões

A Tabela 1 evidencia alguns pontos interessantes. Os modelos da

Argentina e Brasil seguem linhas de desenvolvimento semelhantes, pois

1 Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Argentina, México, Uruguai e Colômbia, além do Brasil.

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5

calculam um custo de capital como uma taxa real e após a incidência de

impostos, lançando mão de um CAPM modificado, isto é, que inclui fatores de

risco adicionais. Já os Estados Unidos empregam uma modelagem de outra

natureza conceitual, valendo-se de modelos de fluxo de caixa, e calculando taxas

nominais após a incidência de impostos. As diferenças entre as abordagens

indicam que no Brasil a na Argentina o custo de capital calculado reflete a

remuneração final do transportador, sendo essa taxa calculada com o auxílio de

dados históricos. Já nos Estados Unidos o custo de capital calculado reflete a

remuneração antes de impostos, sendo calculado através de dados prospectivos.

Uma vez que é necessário o conhecimento do custo de capital do

transportador de gás natural para que a legislação possa alcançar o desempenho

esperado, esse estudo visa investigar à luz da literatura financeira moderna as

formas de mensuração deste, pretendendo contribuir para a implantação do

concurso aberto no Brasil.

1.3. O SETOR DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO

BRASIL

No Brasil a indústria do gás natural sempre operou num regime de

monopólio legal e verticalmente integrada através da Petróleo Brasileiro S.A. -

Petrobras e suas subsidiárias Petrobras Transporte S.A. – Transpetro e Petrobras

Gás S.A. – Gaspetro. Cabe destacar que a Gaspetro possui participação

majoritária nas Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. – TBG e

Petrobras Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. – Petrogasbol, ambas referentes ao maior

projeto de transporte de gás natural existente no Brasil, o gasoduto Brasil-

Bolívia. Além disso, em novembro de 2001, das vinte empresas de distribuição

de gás natural existentes no país, a estatal brasileira tinha participação em treze.

O Gasbol surgiu através de uma joint-venture entre duas empresas, a

TBG, operando no Brasil e a GTB – Gas Transboliviano S.A., operando na

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Bolívia. A TBG é a empresa responsável pela operação, em solo brasileiro, do

maior gasoduto da América Latina. São mais de três mil quilômetros de dutos

que se estendem de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, até a localidade de

Canoas, na grande Porto Alegre. O lado brasileiro do gasoduto mede 2593 km,

incluindo os dutos de transferência, enquanto o lado boliviano conta com 557

km. Com isso, o Gasbol representa cerca de 91,7% de todos os dutos de

transporte de gás natural construídos no Brasil2.

Uma observação se faz pertinente nesta altura. A TBG domina o setor

de transporte de gás natural no país pois detém quase a totalidade dos dutos de

transporte instalados no Brasil, entretanto não é a única empresa transportadora

atuando nacionalmente. A Transpetro também transporta esse energético por

algumas áreas do país, com a diferença de lidar com o produto originado em

território nacional e não na Bolívia.

Ambos os trechos, nacional e boliviano, têm hoje uma capacidade

instalada que permite bombear um fluxo máximo de 30.000.000 m³/dia de gás

natural. O Gasbol tem traçado estratégico em faixa de influência que responde

por 82% da produção industrial brasileira, 75% do PIB e 71% do consumo

energético nacional3.

A parceria entre a TBG e GTB é marcada pelo fato de os mesmos

acionistas participarem, com percentuais distintos, de ambas as empresas. Isto se

deve a exigências legais que obrigam a participação de capital nacional nas

empresas. Desta forma, a TBG é uma empresa de capital fechado controlada pela

Gaspetro (Petrobras), enquanto a GTB é controlada pela Transredes (Fundos de

Pensão Bolivianos).

2 Anuário Estatístico ANP 2001, tabela 54 e www.tbg.com.br em agosto de 2002. 3 Dados coletados junto ao Banco Central do Brasil e ao Ministério de Minas e Energia.

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2. METODOLOGIA

2.1. TIPO DE PESQUISA, UNIVERSO E AMOSTRA

Quanto aos meios de investigação, este trabalho pode ser classificado

como um estudo de caso4. Pelos motivos enumerados no capítulo introdutório, o

universo de pesquisa é composto por uma amostra unitária restrita à TBG.

2.2. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E LIMITAÇÕES DO

MÉTODO

Quando se tem em mente a investigação dos itens que determinam a

remuneração dos fatores produtivos empregados por uma empresa, isto é, seu

custo de capital, duas questões principais devem ser enfocadas: (1) compreensão

de fatores gerais que podem afetar as empresas que atuam em determinada

economia; (2) a estimativa de fatores particulares que afetam o custo de capital

específico de certa empresa.

A estimativa do custo médio ponderado de capital de uma empresa

envolve a determinação do custo do capital próprio – ou acionário – e do custo

de capital de dívida onerosa contraída pela empresa em questão. O custo de

capital da dívida onerosa pode ser mais facilmente observado e estimado por

meio de um estudo de caso do passivo da empresa juntamente com o custo do

endividamento de empresas com classificação de risco similar. Entretanto, na

determinação do custo do capital próprio, os processos de estimação utilizados

gozam de caráter mais subjetivo, fato este que é personificado pelo

4 Vergara (1990) p. 45 e 47.

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8

desconhecimento a priori do número de fatores incluídos nos modelos aplicados

a essa finalidade.

Já que o cálculo do custo do capital próprio pode ser apontado como o

ponto nevrálgico desse estudo, naturalmente receberá maior ênfase. Tendo em

vista que a pluralidade de formas de estimar o custo do capital próprio não

permite uma análise detalhada de cada um dos modelos existentes na literatura

financeira, optou-se por delinear as três vertentes principais que comandam a

categorização teórica para em seguida enfocar os modelos mais recentes e

consagrados pela prática e sua adequação à situação analisada. As maiores

dificuldades que circundam a questão central investigada referem-se

primordialmente à seleção de modelos que ofertem estimativas do custo de

capital próprio minimamente coerentes com a realidade financeira do país e da

empresa estudada.

Uma vez que é sábio reconhecer que todo método tem tanto

possibilidades quanto limitações, e que todo modelo é uma fotografia parcial da

realidade, a parte final desta seção destina-se a delinear algumas dificuldades

referentes à coleta de dados e ao poder explicativo dos modelos utilizados.

Relativamente aos dados coletados, a crítica comum quanto à

exigüidade do volume de informações disponíveis sobre o mercado de ativos de

risco brasileiro é ampliada pelo fato de se trabalhar com apenas uma empresa, a

TBG, que não conta com ações negociadas em mercado. Dessa forma, em alguns

momentos é necessário apelar-se a dados relativos à controladora principal da

TBG, a Gaspetro, que por sua vez também não conta com ações negociadas em

bolsa, mas é subsidiária da Petrobras, uma empresa com bastante liquidez nas

bolsas nacionais e com informação relativamente detalhada facilmente

disponível. Tal cadeia de suposições naturalmente nubla a confiança nos

parâmetros estimados e resultados dos modelos investigados que se apóiam

nessas informações.

Adicionalmente, a TBG não consta da lista de relatórios financeiros

padrão divulgados pela CVM, o que dificultou extremamente a análise da

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9

empresa. Os relatórios contábeis conseguidos junto a PriceWaterhouse &

Coopers são a fonte mais detalhada de informações contábeis referentes a TBG.

Entretanto estes não contêm o grau de detalhamento comum aos relatórios

disponibilizados pela CVM, sendo apenas um resumo rápido dos principais fatos

encontrados nestes últimos.

Também se verifica um elevado grau de dificuldade na aplicação dos

modelos selecionados, uma vez que a empresa a TBG representa 91,7% do setor

de transporte de gás natural no Brasil. Isto significa que a falta de informações

relativas à TBG implica em equivalente falta de informações a respeito do setor

de transporte de gás natural no Brasil.

Agravando ainda mais a falta de informação sobre o setor, encontra-

se sua relativa imaturidade no Brasil. Dentro da perspectiva de aumento da

eficiência energética e a racionalização do uso da energia, estudos efetuados pelo

Governo Federal em 1990 recomendaram um aumento da participação do gás

natural no consumo de energia primária no Brasil dos então 2,4% para 10% no

ano 2000 e para 12% em 2010, corroborando a hipótese levantada.

Para que tais problemas sejam contornados, é necessário contar com

informações de outros países onde o setor de transporte de gás natural possa ser

considerado maduro, além de dispor de uma quantidade de informações capaz de

suprir as necessidades dos modelos estudados. O mercado escolhido foi o norte

americano e seus dados foram conseguidos junto a Ibbotson Associates.

Em relação aos modelos a serem analisados, além das limitações a

serem destacadas no referencial teórico, há outras decorrentes da ausência de

informações e adaptações necessárias para contorná-las.

Inegavelmente o fato que impõe maior limitação ao presente estudo é

resumido pela insuficiência das informações a cerca da empresa analisada e seu

setor de atuação. Essa é a maior barreira à obtenção de uma resposta para a

pergunta que guia a investigação.

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10

Uma última sombra de dúvida é lançada pelos conflitos entre

stakeholders5 que atormentaram a TBG nos últimos dois anos. O panorama da

situação da TBG em relação a seus stakeholders remonta ao segundo semestre de

2000. Nessa época a Enron, um dos acionistas da TBG, entrou com um pedido de

arbitragem junto à ANP para que sua subsidiária Enersil obtivesse o direito de

uso da infra-estrutura do gasoduto Brasil-Bolívia. Essa era a primeira rodada de

conflitos internos vivida pela TBG. A origem do conflito se deu sob a alegação

da Petrobras, majoritária na TBG através de sua subsidiária integral Gaspetro, de

que não haveria capacidade ociosa no gasoduto para a passagem do gás natural

dos demais sócios, pois ela já ocupara totalmente o duto com seus próprios

contratos. Nessa ocasião a ANP decidiu favoravelmente à Enron, concedendo-lhe

o direito de passagem de seu gás e contrariando os interesses da Gaspetro.

Posteriormente, no início de 2001, outro sócio da TBG entra com um

novo pedido de arbitragem junto a ANP. Dessa vez era a BG quem pedia direito

de passagem. O enredo era exatamente o mesmo, só mudando o nome de um dos

personagens. Mais uma vez a ANP contrariou os interesses da Petrobras e

concedeu o direito de passagem à BG. No fim desse mesmo ano a ANP foi

novamente chamada à cena, dessa vez a BG acusava a Gaspetro de descumprir a

decisão do órgão regulador que autorizou o acesso de outras empresas ao

Gasoduto Brasil-Bolívia. A alegação era de que tal ato causaria desequilíbrio

econômico-financeiro na TBG. Com um histórico de relacionamentos tensos

entre alguns de seus stakeholders como este, é viável afirmar que a TBG conta

com restrições em sua liberdade de ação estratégica. Nesse sentido, não se pode

descartar a possibilidade de que as atividades da empresa não reflitam

integralmente o funcionamento de um transportador de gás natural independente.

5 Doyle (1994): Stakeholders são acionistas, administradores, consumidores, empregados e credores da empresa.

Page 20: Leonardo Bento

11

2.3. DADOS COLETADOS E SEU TRATAMENTO

São utilizadas demonstrações contábeis simplificadas da TBG, assim

como balanços da Petrobras, como forma de apoio para alguns cálculos de

modelos de custo de capital próprio. Os dados referentes à TBG foram obtidos

junto à ANP (Anuário Estatístico ANP 2001 e anteriores), aos sites

www.tbg.com, www.gaspetro.com.br, www.petrobras.com.br, e a

PriceWaterhouse & Coopers, empresa independente de auditoria das

demonstrações financeiras da TBG (demonstrações contábeis simplificadas 1998,

1999 e 2000). As informações contábeis da Petrobras foram obtidas junto à CVM

– Comissão de Valores Mobiliários, através de seu site www.cvm.gov.br, e via

Programa de Consulta dos Relatórios das Cias. Abertas, software distribuído

gratuitamente pela própria CVM.

Cabe destacar que, para efeito de cálculo dos parâmetros dos modelos

de custo de capital próprio utilizados nesse estudo, são necessários dados

adicionais cujas fontes e periodicidades serão indicadas por ocasião de seu uso.

Os custos do capital calculados para a TBG segundo as metodologias

selecionadas neste estudo serão analisados entre si e à luz da racionalidade das

boas práticas administrativas. A intenção de tais comparações é estabelecer uma

primeira filtragem capaz de identificar distorções de resultados que façam pouco

sentido prático.

As séries financeiras utilizadas serão tratadas para missing values,

através da exclusão simultânea das datas sem registro em todas elas. Como os

modelos selecionados para o cálculo do custo do capital próprio são baseados em

regressões na sua vasta maioria, os dados de entrada devem encontrar-se sob a

forma de variação. Para tal, supõe-se um ambiente de negócios contínuos, ou

seja, as variações são calculadas segundo a expressão

−1

lnt

t

XX , onde Xt é a

informação na data t e Xt-1 a informação na data t-1. Os parâmetros dos modelos

Page 21: Leonardo Bento

12

trabalhados são calculados segundo as especificações de cada metodologia. As

regressões são feitas empregando-se o pacote estatístico SPSS 10.1 e a planilha

eletrônica Microsoft Excel XP.

Vale destacar que tanto os resultados quanto os parâmetros dos

modelos utilizados, além das séries estatísticas empregadas, serão analisados em

sua consistência através do uso de técnicas estatísticas descritivas básicas.

Em relação aos dados contábeis, estes são utilizados em sua forma

nominal apresentada nas respectivas demonstrações obtidas junto à CVM e

PriceWaterhouse & Coopers. Eventuais transformações são feitas, mas tais

considerações são pontuais, sendo ressaltadas e explicadas por ocasião de seu

emprego no modelo que as utiliza.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção é baseada em Leal (2002), seguindo a lógica desenvolvida

pelo autor para a revisão de literatura relativa a modelos de cálculo de custo de

capital.

3.1. INTRODUÇÃO AO CUSTO DE CAPITAL

Tanto credores quanto acionistas esperam ser remunerados pelo custo

de oportunidade do investimento de seus recursos em uma determinada empresa.

O custo médio ponderado de capital – doravante denominado WACC –

Weighted Average Cost of Capital – é a taxa de desconto, ou valor do dinheiro

Page 22: Leonardo Bento

13

no tempo, utilizada para converter o fluxo de caixa livre futuro em valor presente

para todos os investidores6

Uma estimativa geral do WACC após impostos é expressa pela média

ponderada do custo marginal de cada fonte de capital envolvida no

financiamento das atividades da empresa em análise7:

Equação 1: WACC – Weighted Average Cost of Capital

( )

+

−=

VEk

VDtkWACC pb 1

onde kb é o rendimento antes de impostos, esperado pelo mercado até

o vencimento do endividamento irretratável e não conversível (taxa média de

remuneração do Passivo Oneroso), t é a alíquota tributária marginal da entidade

objeto de avaliação, D o valor de mercado do endividamento a juros (valor de

mercado do Passivo Oneroso), V corresponde ao valor de mercado da empresa

analisada (V=D+E), kp corresponde ao custo antes do imposto do capital não

resgatável e não conversível (capital próprio), E representa o valor de mercado

do capital próprio.

Cabe destacar que o esquema real de ponderação do WACC pode ser

mais complexo do que o exposto aqui, uma vez que é necessário considerar

separadamente o valor de mercado de cada fonte de capital envolvendo

pagamentos de caixa (presentes ou futuros). A estimativa dos custos de muitas

fontes de capital geralmente peca pela imprecisão, além de ensejar a

desvantagem de os instrumentos de financiamento utilizados por cada empresa

nem sempre serem os mesmos. Na prática, muitas vezes são adotadas premissas

simplificadoras para que o equilíbrio entre utilidade e custo da obtenção da

estatística em questão não seja quebrado.

Uma vez exposto o conceito geral de WACC, o trabalho segue

tecendo breves considerações sobre cada um dos dois grupos de fontes de

6 Copeland, Koller & Murrin, (2002) p. 205. 7 Copeland, Koller & Murrin (2002) incluem na fórmula do WACC o capital social, que não será incluído na definição adotada nesse trabalho.

Page 23: Leonardo Bento

14

financiamento destacados, além de comentar a importância da ponderação entre

estes na determinação do custo médio ponderado de capital. A exposição aqui

feita não pretende de forma alguma esgotar a vasta discussão que envolve esses

pontos, tendo por propósito apenas trazer à tona os aspectos práticos principais

que circundam o tema e suas implicações práticas.

3.1.1. CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS

O custo de capital de terceiros é bem mais simples de ser estimado

que o custo do capital próprio. O analista deve procurar determinar o custo de

cada item do passivo no presente ao invés de considerar o custo contratado (valor

de livro da dívida onerosa). Nem sempre é possível saber o custo de um

determinado financiamento ou título de dívida no presente pois nem todos os

itens do passivo são negociáveis ou têm uma taxa de mercado que se possa

acessar. Nestas situações, é recomendável que o analista lance mão do custo

estipulado em contrato ou efetivamente incorrido pela empresa. Para

financiamentos de curto prazo, o custo contratado tende a exibir boa aderência ao

custo corrente de mercado e pode ser utilizado sem maiores inconveniências.

Para financiamentos de longo prazo, o analista deve determinar o

rendimento esperado da dívida ou debênture. O rendimento esperado é expresso

pelo rendimento do título/dívida até o vencimento considerando os fluxos de

caixa que se espera receber. O fluxo contratual de pagamentos deverá ser

integralmente considerado caso não se espere inadimplência, isto é, que a dívida

goze de boa classificação de risco (rating). Na situação oposta, quando o

pagamento da dívida sofre de risco creditício, somente a parcela do fluxo

contratual de pagamentos que de fato se espera receber deve ser considerada.

Cabe destacar que, em ambos os casos, o rendimento até o vencimento é

estimado como a taxa interna de retorno do fluxo de caixa esperado. É

importante a inclusão dos custos de emissão, tais como comissões para os

underwriters. O custo estimado deve ser livre de todos os custos de transação e

Page 24: Leonardo Bento

15

reciprocidades caso seja possível estimá-las. Finalmente, é importante calcular a

alíquota marginal efetiva de imposto de renda da empresa para abater o seu

produto pelo pagamento de juros do custo da dívida no caso de empresas que

esperam ter imposto a pagar. A alíquota efetiva não é necessariamente aquela em

que a empresa se encontra e pode ser muito menor. É importante observar o

histórico da própria empresa ou empresas similares e calcular quanto elas

efetivamente pagaram de imposto em relação ao lucro antes do imposto de renda.

3.1.2. CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO

Uma vez que o assunto envolve acionistas, é pertinente a observação

de que existem duas classes principais destes: os controladores e os minoritários.

Isso introduz uma importante distinção entre esses dois personagens em termos

de possibilidade de diversificação do risco não sistemático8. Enquanto os

acionistas minoritários podem ter carteiras bem diversificadas, os acionistas

controladores podem correr mais risco uma vez que podem ser mal

diversificados. Pontuada essa questão, conclui-se que a remuneração de cada um

destes dois tipos básicos de acionistas pode diferir em função dos riscos a que

são expostos.

Vale destacar que no presente trabalho supor-se-á que os acionistas

das empresas que atuam no transporte de gás natural no Brasil são bem

diversificados e, portanto, não se incluirá nos modelos estudados nenhum prêmio

por controle ou desconto por participação minoritária. Ademais, a literatura de

finanças aponta que estes prêmios são de difícil estimação, sendo sua existência

questionável para os mercados mundiais9. Portanto, somente o risco que não

pode ser diversificado pelo acionista será considerado.

8 Para maiores detalhes sobre o conceito de diversificação, consultar Markowitz (1952) e Haugen (2001). 9 Ibbotson (2001a) p. 30.

Page 25: Leonardo Bento

16

Um último ponto genérico com relação ao presente trabalho refere-se

ao objeto de estudo envolvido: a indústria de transporte de gás natural. Esta pode

ser descrita como um monopólio natural10, pois apresenta economias de escala

(custo médio e custo marginal decrescentes) para sua produção. Isto significa que

a escala ótima de custos desta indústria já representa em si mesma um filtro da

existência de concorrência direta para a atividade enfocada. Neste sentido, para

que o consumidor seja protegido contra a assimetria de poder de mercado do

monopolista, a atividade do regulador é fundamental. Uma vez que o custo do

capital próprio é parte integrante das variáveis monitoradas pelo regulador em

sua busca por maior equivalência na distribuição do excedente de mercado, é

necessária uma checagem dos quesitos normalmente exigidos pelo órgão

fiscalizador.

Cornell et alli. (1997) apresentam quatro propriedades freqüentemente

citadas por agências reguladoras e tribunais como necessárias a uma estimativa

do custo do capital próprio: (1) ela deve fazer sentido e ser consistente com o

senso comum e ficar de 2% a 8% acima do rendimento de títulos do tesouro dos

EUA de longo prazo; (2) ela deve gerar um prêmio de risco da empresa estável

por períodos curtos de tempo; (3) ela deve ser aplicável a longo prazo; (4) a

técnica usada na estimação deve ser simples e clara para que possa ser entendida,

aplicada e facilmente ajustada por praticantes qualificados. Dentro do possível,

neste trabalho tais recomendações serão respeitadas.

3.1.3. PARTICIPAÇÕES RELATIVAS DOS CAPITAIS

DE TERCEIROS E PRÓPRIO

O item final na fórmula do custo médio ponderado de capital é

representado pelos pesos para a ponderação entre capitais de terceiros e próprio.

A recomendação da maior parte dos autores é de que se utilize a estrutura ideal

10 Pindick & Rubinfeld (1999) p. 377 e 381.

Page 26: Leonardo Bento

17

de capitais. Por estrutura ideal de capitais entenda-se a proporção ótima desejada,

ou calculada, de cada item do passivo no financiamento da empresa. Os

principais itens são o capital próprio e o capital de terceiros mas este último pode

ser dividido segundo cada um dos seus componentes: passivo de curto prazo,

debêntures em moeda local, debêntures em moeda estrangeira, contratos de

leasing, etc.

À primeira vista, pode parecer simples determinar-se a estrutura ideal

de capitais, mas nem sempre a própria empresa tem a noção exata de qual seja.

Neste caso, a estrutura do presente estimada em valores de mercado deve ser

usada. Os valores contábeis devem ser utilizados em último caso, quando não é

possível estimar o valor de mercado de todos ou alguns dos itens da estrutura de

capitais.

Um aspecto teórico importante relativo à estrutura de capitais que

deve ser mencionado é sua relação circular com o custo de capital próprio. Posto

de outro modo, a estrutura de capitais de uma empresa afeta diretamente seu

custo de capital próprio, sendo que a alteração deste último também repercute na

própria estrutura de capitais, criando a referida circularidade.

Brealey & Mayers (2000, p. 481) explicam essa relação através da

utilização da Equação 1, aquela que apresenta o WACC. Seguindo a abordagem

destes autores, a Equação 1 indica que o retorno esperado dos ativos totais de

uma empresa é igual à média ponderada de seu endividamento e de seu capital

próprio. A Equação 2 indica que algumas transformações matemáticas são

capazes de revelar a relação circular citada:

Page 27: Leonardo Bento

18

Equação 2: Como a estrutura de capitais afeta os retornos

( )

( )

( )

( )[ ]bv

bv

bv

pb

ktWACCEDWACCk

EtDkEWACCDWACC

k

tkED

DWACCE

EDk

EDEk

EDDtkWACC

−−+=

−−+=

+−

+=

++

+−=

1

1

1

1

Cabe destacar que a relação acima perde sua força caso a empresa e

seus acionistas possam ceder e colher empréstimos com a mesma taxa livre de

risco, pois os efeitos das oscilações na estrutura de capitais poderiam ser

desfeitos por re-alocações no portfólio dos acionistas. Assim, caso a hipótese da

existência de um mercado de capitais perfeito seja válida, o WACC não seria

afetado por alterações na estrutura de capitais.

3.2. MODELOS PARA O CÁLCULO DO CUSTO DO

CAPITAL PRÓPRIO

Após esta resumida preleção sobre as linhas gerais da forma com que

se calcula o custo médio ponderado de capital, o trabalho segue expondo

algumas das principais técnicas para a estimação do custo do capital próprio: (1)

modelos de fatores de risco; (2) modelos de prêmios de risco; e (3) modelos de

fluxo de caixa descontado.

Uma vez que o presente estudo lida com situações bastante

específicas, isto é, o cálculo do custo de capital de uma empresa de capital

fechado, a revisão de literatura se concentrará nos modelos de fatores de risco,

visto serem eles os mais ajustados ao caso em pauta. Com isso, a apresentação

das demais classes de modelos se concentrará em salientar o motivo de sua

inadequação ao propósito desse trabalho.

Page 28: Leonardo Bento

19

3.2.1. MODELOS DE FATORES DE RISCO

A recompensa pelo risco sistemático é freqüentemente estimada por

meio de modelos de fatores de risco, entre os quais o modelo CAPM simples é o

mais conhecido e o mais utilizado na prática11. No CAPM simples, há apenas um

fator de risco, o prêmio de risco do mercado. Entretanto, quando se avança em

termos de complexidade dessa classe de modelos, a literatura financeira torna-se

pródiga em fornecer fatores de risco adicionais tais como aqueles relacionados ao

setor de atuação, ao câmbio e à economia.

Apesar da pluralidade de formas como os modelos de fatores de risco

podem se apresentar, parece haver um moderado consenso entre autores de que o

prêmio de risco do mercado de um país, representado muitas vezes por um índice

de ações local, domina o risco do setor industrial desse mesmo país. Por

exemplo, Serra (2000) e Beach (2001) concluem que os fatores de risco do país

são dominantes no caso de mercados emergentes. Entretanto, Serra (2000)

acrescenta que não se pode ignorar a composição industrial dos países para que

os benefícios da diversificação sejam plenamente atingidos. Tais constatações

são suficientes para indicar que os modelos testados para a finalidade deste

estudo devem considerar variáveis que representem o risco do país assim como o

risco da indústria de transporte de gás natural.

Em se tratando de modelos de fatores de risco, outra questão que não

se pode deixar de abordar refere-se ao grau de segmentação/integração12 de um

determinado mercado em relação aos mercados internacionais. Quando um

mercado é considerado integrado com os mercados mundiais, seu custo de capital

próprio pode ser estimado por meio de um modelo de fatores globais, isto é, não

incluindo fatores locais. Na direção oposta, quando um mercado é dito

totalmente segmentado, seu custo de capital próprio deverá ser estimado por um

modelo constituído unicamente por fatores de risco locais. De forma geral,

11 vide Haugen (2001) para detalhes sobre o CAPM e Graham & Campbell (2001) p. 187-243, para as evidências de popularidade do CAPM. 12 Para uma discussão mais detalhada sobre segmentação/integração ver Solnik (2000) p. 161.

Page 29: Leonardo Bento

20

quando os mercados são considerados integrados, o preço real (expurgados os

efeitos cambiais e inflacionários) de um ativo de determinado risco e utilidade

relativa é o mesmo em diferentes mercados onde ele é transacionado. Quando os

mercados são considerados segmentados, ativos de mesmo risco e utilidade

relativa podem ter preços reais diferentes, pois a arbitragem encarregada de

equalizá-los não se verifica.

3.2.1.1. CAPM SIMPLES DOMÉSTICO

Conforme explicitado anteriormente, o CAPM simples inclui apenas

um fator de risco, o prêmio de risco do mercado. Este modelo pressupõe a

segmentação completa do mercado analisado quando o fator de risco utilizado

for o prêmio de risco doméstico. Esta versão, representada na equação abaixo, é

conhecida como o CAPM simples doméstico.

Equação 3: CAPM Simples Doméstico

ddidLRdi PRMRR ,,, β+=

onde Ri,d é o retorno esperado pelo acionista doméstico, RLR,d é a taxa

livre de risco doméstica expressa em moeda nacional, PRMd é o prêmio de risco

do mercado de ativos de risco doméstico em moeda local, e βi,d representa a

sensibilidade dos retornos da ação da empresa analisada em relação ao mercado

de ativos de risco doméstico.

3.2.1.2. CAPM GLOBAL

Segundo Stultz (1999), quando se utiliza um prêmio de risco global

como único fator de risco, supõe -se que o mercado enfocado é plenamente

Page 30: Leonardo Bento

21

integrado, e essa é a essência do CAPM Global. Esse autor recomenda que ela

seja preferida à versão doméstica do CAPM. O CAPM Global é representado

pela equação abaixo:

Equação 4: CAPM Global

ggigLRgi PRMRR ,,, β+=

onde Ri,g é o retorno esperado pelo acionista global na moeda de

referência, normalmente o dólar norte americano, RLR,g é a taxa livre de risco

global na moeda de referência, PRMg é o prêmio de risco do mercado de ativos

de risco global na moeda de referência e βi,g é a sensibilidade dos retornos da

ação da empresa analisada em relação ao fator de risco global.

Em termos do mercado brasileiro, a evidência empírica mais recente

não permite considerá-lo como segmentado. Portanto, dentro da finalidade de

investigação do custo de capital de empresas de transporte de gás natural no

Brasil, o CAPM doméstico simples não parece adequado. Tal constatação ganha

mais ênfase quando as empresas analisadas contam com acionistas estrangeiros.

Entretanto, o mercado brasileiro também não pode ser considerado totalmente

integrado. Segundo Solnik (2000, p. 162), o grau de integração dos mercados

mundiais vem crescendo rapidamente ao longo dos últimos anos, e o Brasil não

parece ser exceção a essa regra13. Muito embora o CAPM com um único fator de

risco global seja mais defensável à luz das evidências empíricas, a literatura

sugere que os fatores locais não podem ser desprezados quando se objetiva

atingir os benefícios máximos da diversificação de portfólio. Além disso,

também há indicações de que outros fatores, tanto locais como globais, são

relevantes no tocante ao aumento do poder explicativo do modelo14.

Nesta altura, faz-se necessária uma ressalva. Stultz (1999) salienta

que é comum que os analistas incluam fatores de risco diversificável nos seus

modelos para estimar o custo de capital próprio. Enfocando tal procedimento à

luz da teoria da diversificação, não é apropriado incluir fatores de risco 13 Bekaert & Campbell.(1997), Costa Jr. & Leal (1998) e Castro (2001) apud Leal (2002). 14 Aggarwal, Leal & Hernandez (1993), Beach (2001) e Serra (2000) apud Leal (2002); Castro (2001).

Page 31: Leonardo Bento

22

diversificável no modelo pois um investidor globalizado tem amplas

possibilidades de livrar-se dele através de uma seleção mais ampla de ativos em

sua carteira. Um dos exemplos mais marcantes é a inclusão do risco país na taxa

de desconto de projetos. Se o investidor é globalizado, ao menos uma parte do

risco do país é diversificável, portanto, não deveria ser arrolado integralmente

entre os fatores a serem remunerados pelo custo de capital. Damodaran (1999a) e

Petit et alli. (1999), argumentam que o risco do país não é totalmente

diversificável pois há movimentos conjuntos entre mercados emergentes, por

exemplo, e os maiores mercados mundiais.

Ante a relevância de tal observação para o bom andamento deste

trabalho, serão incluídos somente fatores de risco não diversificável nos modelos

estudados. Além disso, os fatores adotados devem representar os riscos que os

investidores no setor de transporte de gás realmente não podem eliminar via

diversificação.

Esta seção pode ser encerrada com a conclusão de que os modelos

adotados devem incluir um prêmio de risco global e um prêmio de risco para o

país, sendo ambos independentes entre si. Com isso afirma-se que, considerando

o prêmio de risco global em primeiro lugar, o prêmio de risco do país deve

representar somente o risco sistemático do país que não é afetado pelos fatores de

risco globais que influenciam o prêmio de risco do mercado internacional.

3.2.1.3. MODELO DE BETAS MULTIPLICATIVOS

DE SOLNIK

Solnik (2000) apresenta um modelo em que o beta doméstico da

empresa é multiplicado pelo beta do mercado doméstico em relação ao mercado

mundial. O modelo está representado pela Equação 5. O’Brien (1999) argumenta

que este modelo não deve ser utilizado no caso de o índice global ser capaz de

explicar parcialmente os retornos do ativo estudado que não são explicados pelo

Page 32: Leonardo Bento

23

índice local. Posto de outra forma, se após o cálculo dos resíduos de um CAPM

local estes ainda mantiverem uma relação via um CAPM Global com índice

global, o modelo proposto por Solnik (2000) seria incorreto.

Equação 5: Modelo de Betas Multiplicativos de Solnik

( )ggddigLRgi PRMRR ××+= ,,,, ββ

onde todos os retornos e prêmios de risco estão em dólares, Ri,g é o

retorno esperado da ação da empresa, RLR,g é a taxa livre de risco em dólares, βi,d

é o beta da empresa em relação ao mercado doméstico, βd,g é o beta do mercado

doméstico em relação ao mercado global e PRMg é o prêmio de risco global em

dólares. Stulz (1995) demonstra que o produto entre βi,d e βd,g só será igual ao

beta da empresa em relação ao mercado global (βi,g) se a covariância dos

resíduos da regressão dos retornos domésticos da ação contra o prêmio de risco

doméstico com o prêmio de risco global for nula conforme a equação que se

segue:

Equação 6: Relação de Stulz (1995)

( ) ( )( ) ( ) ggddi

g

gdigddigi PRM

PRM,,,

,,,, var

;covεβββ

εβββ +×=

+×=

onde ( )ddiidi PRMR ×−= ,, βε e o beta do resíduo (βε,g) vem de

( )gggLRdi PRMR ×+= ,,, εβε .

3.2.1.4. OUTROS MODELOS DE FATORES DE

RISCO

Outros dois modelos de fatores de risco bastante conhecidos não

poderiam deixar de ser citados nesta seção, são eles o ICAPM – International

CAPM e o APT – Arbitrage Pricing Theory.

Page 33: Leonardo Bento

24

No caso do ICAPM, a literatura seminal na área de modelos

internacionais de avaliação de ativos em geral propõe um modelo que consiste de

pelo menos dois tipos de fatores15. O primeiro é o prêmio de risco do mercado

global e o segundo é um conjunto de prêmios de risco para o câmbio com as

diversas moedas mundiais. O número de fatores nesta concepção do modelo pode

ser tão grande quanto a gama de moedas consideradas. Segundo Leal (2002), a

eventual melhora da estimativa do beta do Brasil com o ICAPM não vale o custo

adicional de estimar-se um modelo mais complexo. Segundo os cálculos desse

autor, os coeficientes para o prêmio de risco cambial não são significativos16 e o

ICAPM produz uma estimativa do beta ligeiramente melhor do que o CAPM

simples.

Para o APT, sua teoria não determina quantos e quais são os fatores

relevantes do processo gerador dos retornos. Uma das alternativas é a utilização

de variáveis macroeconômicas, sendo que Chen, Roll e Ross (1986) foram os

primeiros a iniciar esses estudos, tendo utilizado quatro fatores: produto,

inflação, estrutura a termo dos juros e risco de crédito. Schor et alli. (1999)

concluem que, no Brasil, os fatores macroeconômicos, em especial risco de

crédito e inflação inesperada, são significativos, trazendo evidência de que o

APT acrescenta informação quando comparado com o CAPM. Segundo Leal

(2002), a abordagem destes autores é própria de um modelo doméstico, e não de

um modelo global. Devido à maior complexidade econométrica dos modelos

condicionais, este estudo seguirá as recomendações de Leal (2002), não

utilizando as versões do APT experimentadas para o Brasil em função de os

ganhos em poder explicativo não serem significativos.

15 vide Ehrhardt (1994) para uma síntese da literatura mais antiga e Solnik (2000) para uma introdução ao International CAPM. 16 apud Leal (2002): Sercu e Uppal (1995, p. 611) recomendam aproximar o ICAPM pelo CAPM global porque o valor esperado dos prêmios de risco cambial tende a ser nulo, como é o caso do Brasil. Mishra e O’Brien (2001) afirmam que o uso do ICAPM leva a uma diferença média de apenas 0,7% na estimativa do custo do capital para um grupo de 48 ADRs de mercados emergentes.

Page 34: Leonardo Bento

25

3.2.2. MODELOS DE PRÊMIOS DE RISCO

O método dos prêmios de risco tem arquitetura simples, e tem sido

utilizado por agências reguladoras em todo globo, segundo Cornell et alli.

(1997). Tal método consiste, basicamente, na adição direta à taxa livre de risco

de prêmios de risco relacionados a diversas fontes.

Segundo Leal (2002), uma crítica comum a tal metodologia, numa

analogia direta ao CAPM, encontra-se nos coeficientes de sensibilidade da

empresa em relação aos fatores de risco: eles são considerados iguais a 1 (um).

Além disso, o autor também destaca outra crítica normalmente associada a essa

classe de modelos: a não observação de uma possível correlação entre o prêmio

de risco do mercado global e o prêmio de risco dos títulos soberanos do país

onde se situa a empresa analisada. Neste caso, há uma flagrante dupla contagem

de risco, que pode inflar as estimativas de custo de capital pois remunera

duplamente uma mesma parcela de risco incorrido. Em termos práticos, tal falha

conceitual implica na possível adoção, por parte das empresas, de taxas de custo

de capital próprio muito elevadas que as façam descartar projetos que poderiam

ser interessantes a taxas mais baixas. Em função das críticas levantadas por Leal

(2002) à teoria dos modelos de prêmios de risco, o presente estudo descartará a

utilização dos mesmos.

3.2.3. MODELOS DE FLUXO DE CAIXA

DESCONTADO

Os modelos de avaliação de custo de capital normalmente preferidos

pelas agências reguladoras para a estimação do custo do capital próprio são os de

fluxo de caixa descontado. A razão por que tal classe de modelos é escolhida

Page 35: Leonardo Bento

26

pelos reguladores descansa em quatro critérios17: (1) modelos de fluxo de caixa

descontado são simples; (2) de fácil de aplicação; (3) suas estimativas são

baseadas em informações prospectivas; (4) são modelos que contemplam o longo

prazo, sem prejuízo da estabilidade no curto prazo.

Leal (2002) aponta inconsistências nos resultados obtidos na sua

investigação da aplicação dos modelos de fluxo de caixa para o ambiente

brasileiro. O autor destaca o estudo de Cornell et al. (1997), onde um modelo de

fluxo de caixa permite que a empresa tenha vantagens competitivas durante

períodos de tempo limitados e, portanto, consiga uma taxa de retorno acima da

taxa exigida pelos acionistas. Eles calculam a taxa interna de retorno para cada

uma das 10 empresas identificadas como do mesmo setor de atividades nos EUA

e depois calculam a taxa interna de retorno médio destas empresas para

representar o custo de capital próprio adequado para a empresa analisada. Este

procedimento é ideal para o caso de uma empresa atuando no Brasil que não tem

ações negociadas em bolsa. Podem-se tomar os preços e as estimativas de um

conjunto de empresas do mesmo setor de atividades e de porte compatível, para

se estimar um custo de capital próprio a partir da média dos custos de capital

próprio obtidas para as empresas assemelhadas e depois ajustá-lo, se necessário,

para o fato de a empresa atuar no Brasil. Especificamente para o caso da TBG, a

aplicação dessa classe de modelo é prejudicada pelo fato de ela representar

sozinha o setor de transporte de gás natural no país, por não ter ações negociadas

na bolsa e não divulgar relatórios financeiros via CVM. Neste caso, os dados

necessários podem ser obtidos junto a serviços pagos de informação, tais como o

Value Line. A desvantagem é que as estimativas de dividendos serão de empresas

estrangeiras que podem estar sujeitas a condições competitivas muito diferentes,

além da necessidade de transpor taxas em dólares para taxas em reais.

Ademais, em relação ao cálculo do prêmio de risco brasileiro, Leal

(2002) estima um rendimento real futuro do mercado acionário nacional entre

6,0% a.a. e 8,0% a.a. Leal (2002) e destaca que estas são estimativas em termos

reais e devem ser subtraídas da taxa real de juros para que se chegue ao prêmio

17 Cornell, Hirshleifer & James (1997), apud Leal (2002).

Page 36: Leonardo Bento

27

de risco do mercado brasileiro. Justamente neste último passo é que se encontram

as raízes da inconsistência da aplicação desta classe de modelo ao caso brasileiro.

Conforme Leal destaca, a taxa real de juros no Brasil com freqüência é maior do

que 8% a.a. Portanto, o prêmio de risco do mercado brasileiro estimado segundo

modelos de dividendos encontra-se próximo de zero, sendo positivo somente se a

taxa real de juros ficasse abaixo de 6% a.a. Segundo o autor, como é

questionável que a taxa de títulos públicos seja livre de risco, e como o

rendimento real da caderneta de poupança encontra-se próximo de zero, a melhor

estimativa do prêmio de risco do mercado seria o próprio rendimento real do

mercado.

Uma vez que o autor salienta que esses modelos não oferecem

resultados muito conclusivos quando aplicados ao Brasil, o presente estudo

seguirá sua indicação, não os utilizando.

3.3. MÉTODO INDIRETO DE OBTENÇÃO DO BETA

DA EMPRESA

O beta mede o risco adicionado por uma empresa a uma carteira de

títulos bem diversificada. Assim, uma empresa pode ser de alto risco mas possuir

beta baixo porque não é muito correlacionada com a carteira bem diversificada

contra a qual é medida sua sensibilidade. Tendo essa idéia como norte, queremos

que o beta da empresa analisada meça o risco adicionado a uma carteira bem

diversificada de investidores globais. Damodaran (1999b) recomenda que se use

o índice que seja mais representativo segundo o investidor marginal para estimar

o beta. No caso da análise de empresas de transporte de gás natural no Brasil, o

investidor marginal muito provavelmente tem uma carteira global diversificada.

Vale destacar que nessa abordagem, o investidor global possui uma carteira

melhor diversificada, e, ironicamente, pode pagar mais por uma ação brasileira

do que um investidor brasileiro que não está diversificado internacionalmente.

Page 37: Leonardo Bento

28

Há alternativas para estimativas históricas do beta. Uma delas é

calcular a razão entre a volatilidade da ação, medida pelo seu desvio padrão, e

dividi-la pela volatilidade média das ações no mercado sem ponderação. Uma

crítica a este enfoque é que se considera o risco total e não somente o risco

sistemático. Outra alternativa é estimar o beta pela regressão do lucro da empresa

em relação ao lucro agregado do mercado. Esta alternativa também é

problemática porque está sujeita a regras contábeis, isto é, um certo grau de

arbitrariedade na obtenção dos lucros. Além disso, apresenta uma série temporal

limitada para uma estimativa histórica. Outra alternativa é construir uma

estimativa qualitativa do beta a partir de uma análise interna da empresa, suas

vantagens competitivas, relação com os ciclos econômicos, riscos operacionais,

riscos financeiros etc.

Um método muito usado, segundo Cornell et alli. (1997), é estimar o

beta de várias empresas assemelhadas, ajustá-lo para obter um beta sem

endividamento, estimar o beta médio sem endividamento das empresas

assemelhadas e depois tornar a incluir o endividamento no beta médio usando a

estrutura ideal de capitais da empresa para a qual se quer estimar o beta. A

vantagem de se estimar o beta médio é que o erro padrão desta estimativa é

muito menor.

Podemos estimar o beta sem endividamento de uma empresa como

( )

−+×=

EDtiu 11ββ

onde βu é beta sem considerar o endividamento da

empresa (beta desalavancado), βi é o beta considerando o endividamento da

empresa, t é a alíquota do imposto de renda marginal da empresa, D é o passivo

oneroso total da empresa a valores de mercado e E é a capitalização de mercado

de todas as ações da companhia. O beta sem endividamento, ou alavanca

financeira, reflete o risco do negócio em que a empresa está e pode ser usado

para corrigir o beta com endividamento estimado por meio de dados históricos. A

correção é feita através de uma série de passos: estima-se o beta com

endividamento por meio de análise de regressão de dados históricos; calcula-se o

beta sem endividamento usando-se a estrutura de capital média ao longo do

Page 38: Leonardo Bento

29

período usado para estimar o beta; e estima-se um beta com endividamento a

partir do beta sem endividamento usando a estrutura atual de capitais.

No caso de empresas que atuam em diversos setores de atividade,

podemos estimar seu beta como a média ponderada dos betas dos setores em que

a empresa atua usando a proporção das vendas feitas em cada setor. Segundo

Damodaran (1999b), primeiramente é preciso determinar os setores de atividade

da empresa e a proporção que eles representam para a empresa. Posteriormente, é

preciso tomar o beta médio sem endividamento de firmas similares em cada setor

industrial, seja segundo o tamanho da empresa seja por meio de sua alavanca

operacional similar. Calcula-se o beta sem endividamento médio da empresa a

partir da média ponderada dos betas médios sem endividamento dos setores em

que a empresa atua. Finalmente, converte-se o beta sem endividamento da

empresa em um beta com endividamento usando a estrutura ideal de capitais

estabelecida pela empresa. Segundo Damodaran (1999b), esta é uma estimativa

muito melhor para o beta da empresa porque possui um erro padrão do beta

bastante reduzido. Tal fato se deve ao fato de o erro padrão do beta estimado para

um setor com várias empresas ser menor que o erro padrão do beta estimado para

empresas individuais. O beta composto por áreas de atuação reflete a importância

de cada setor, além de contemplar a estrutura atual de capitais da empresa e não a

que ocorreu ao longo do período em que se estimou o beta.

Em mercados emergentes como o Brasil, é possível utilizar

estimativas do beta sem endividamento de empresas do mesmo setor de atividade

nos EUA, caso a informação esteja disponível. Se o fizermos diretamente,

estamos supondo que o risco destas empresas nos EUA e no Brasil é o mesmo.

Uma alternativa é utilizar o beta sem endividamento de empresas internacionais,

dos EUA e de outros países, em relação a um índice global. Por exemplo, caso a

empresa estudada não possua ações negociadas em bolsa, seu beta não pode ser

estimado por meio de análise histórica, restando utilizar um beta de empresas do

mesmo setor de atuação.

Page 39: Leonardo Bento

30

3.4. MÉTODO DE CONVERSÃO DE CUSTO DE

CAPITAL DE O’BRIEN (1999)

As abordagens internacionais dos modelos de cálculo de custo de

capital normalmente geram estimativas de retorno expressas em dólar, o que

pode ser um inconveniente para investidores cuja moeda local não seja a norte

americana. Ante a constatação de que uma regra de conversão é necessária para

que o custo de capital seja convertido para a moeda natal do investidor, Thomas

J. O’Brien (1999) propõe uma metodologia sintetizada pela equação a seguir:

Equação 7: Método de Conversão de Custo de Capital de O’Brien

( ) ( ) ( )iXXUSgXGUSiUSi BPRMrfrfRR −+−−+= 12, σβ

Essa equação contém três fatores necessários a uma conversão

consistente do custo de capital de dólares norte americanos para a moeda local do

investidor. O primeiro é o diferencial de taxas de juros sem risco, representado

por (rfi-rfUS), onde rfi corresponde à moeda local do investidor, e rfUS à taxa em

dólares. O segundo fator, que é representado por βXG(PRMg,US), é um ajuste de

risco para a sensibilidade (beta) em relação ao câmbio, que é estimado através de

uma regressão entre a variação percentual no câmbio XUS$/i (US$/moeda local) e

o retorno no índice global de mercado G expresso em dólares. Conforme

salientado em etapas antecedentes, PRMg,US exprime o prêmio de risco global em

dólares, que equivale a retorno do mercado global decrescido da taxa livre de

risco em dólares. O terceiro e último fator da equação, ( )iXX B−12σ , captura a

iteração estatística entre o retorno em dólares do ativo e o câmbio, onde 2Xσ denota a variância de XUS$/i e BiX expressa a exposição a câmbio do ativo

(sensibilidade), que é estimada através da regressão do retorno em dólares do

ativo e o câmbio. Esse termo pretende captar a reação do retorno em dólares do

ativo ao câmbio com todos os demais fatores constantes.

Page 40: Leonardo Bento

31

4. PRÊMIO DE RISCO DO MERCADO

Dando prosseguimento ao trabalho, a primeira etapa a ser vencida

compreende a estimativa do prêmio de risco do mercado mundial de ações ou do

mercado maduro. Este pode ser considerado o primeiro passo para o cálculo do

prêmio de risco do mercado brasileiro de ações. Nesta seção serão efetuadas

estimativas segundo alguns métodos e aspectos empíricos vistos na seção

anterior (referencial teórico) para a obtenção do prêmio de risco do mercado

mundial. A seção 4.1 apresenta a obtenção do valor do prêmio de risco do

mercado mundial e a seção 4.2 apresenta diversos métodos para se obter uma

projeção para o prêmio de risco do mercado brasileiro e de seu rendimento real

esperado.

4.1. PRÊMIO DE RISCO DO MERCADO MUNDIAL

Conforme Solnik (2000, p. 107-109) constata, o mercado norte

americano de ações compreende sozinho entre 30% (1988) e 50% (1998) do

mercado mundial, o que o classifica como um bom candidato à base de cálculo

de uma estimativa do prêmio de risco do mercado mundial ou do prêmio de risco

de um mercado maduro. Há vários aspectos práticos envolvidos na obtenção

desta estimativa: (1) qual o índice a ser utilizado para representar o mercado de

ativos de risco? (2) qual a taxa livre de risco? (3) a estimativa será baseada em

dados históricos, em consenso ou em modelos? (4) qual o período histórico a ser

utilizado? (5) a média histórica deve ser aritmética ou geométrica? A discussão

sobre cada um destes itens ocupa o resto desta seção.

Page 41: Leonardo Bento

32

4.1.1. QUAL O ÍNDICE A SER UTILIZADO PARA

REPRESENTAR O MERCADO DE ATIVOS DE

RISCO?

Há inúmeros índices que podem representar os mercados dos EUA,

mundial e do Brasil. Uma vez que o estudo aqui realizado não pretende

apresentar uma discussão detalhada sobre este assunto, será utilizado o que a

prática internacional já consagrou. A Ibbotson Associates (2001a) utiliza o

S&P500 para representar o mercado dos EUA. É comum utilizar-se o World

Index da Morgan Stanley Capital International (MSCI) para representar o

mercado mundial de ações. Em relação ao Brasil, o índice IBX da Bovespa para

representar o país em termos domésticos (em reais) e o índice da MSCI para

representar o Brasil em dólares18. Segundo Leal (2002), a correlação entre os

diversos índices que representam o mercado brasileiro é elevada19.

4.1.2. QUAL A TAXA LIVRE DE RISCO?

É conveniente destacar que há divergências consideráveis quanto ao

uso de uma taxa livre de risco de curto ou de longo prazo. Enquanto a academia

prefere a taxa de juros de curto prazo os praticantes preferem uma taxa de juros

de longo prazo porque a empresa tem vida longa ou indeterminada e o horizonte

de tempo deve ser função do investimento e não do investidor. Muitos

praticantes recomendam que rendimentos de títulos de longo prazo do tesouro

18 A série de tempo do índice Ibovespa é mais longa que a do IBX e ela será utilizada quando houver necessidade de períodos mais longos. A opção pelo IBX é feita pois este índice é ponderado pelo valor de mercado de suas constituintes enquanto o Ibovespa é ponderado por um índice de liquidez. Índices ponderados por valor refletem melhor a composição da carteira de mercado. 19 As fontes são o banco de dados Economática para o S&P500 e os índices brasileiros e www.msci.com para os índices da MSCI.

Page 42: Leonardo Bento

33

dos EUA sejam utilizados para a taxa livre de risco em dólares20. O argumento

contrário está calcado na hipótese de que a taxa de longo prazo inclui um prêmio

de risco por horizonte de tempo e, portanto, não é uma taxa livre de risco. Uma

solução contemporizadora é estimar o valor deste prêmio de risco de horizonte de

tempo imputado ao rendimento dos títulos de longo prazo historicamente e

subtraí-lo do rendimento corrente dos títulos de longo prazo, obtendo uma

expectativa da taxa de juros de curto prazo para o período de longo prazo do

título21. A Ibbotson Associates (2001a) estimou em 1,37% ao ano o prêmio de

risco de horizonte de tempo a partir da média histórica desta variável entre 1970-

2000 para o mercado norte americano. A partir dessa consideração, será utilizado

o rendimento do bônus do tesouro americano de 30 anos, de 5,3% ao ano obtido

do banco de dados Economática para o último dia útil de novembro de 2001,

menos 1,37% como estimativa para a taxa livre de risco em dólares americanos.

Caso se tentasse extrapolar tal metodologia para o caso brasileiro,

esbarrar-se-ia no fato de no Brasil não haver uma taxa livre de risco de longo

prazo. Garcia e Bonomo (2001) recomendam o uso de uma taxa overnight como

a melhor representante possível de uma taxa livre de risco no Brasil. Seguindo

essa recomendação, será utilizada a taxa Selic que foi obtida do banco de dados

da Economática a partir de junho de 1986 e da ANDIMA (1997) entre 1974 e

1986. Vale ressaltar que é questionável retratar a taxa Selic como uma

representante de fato de uma taxa livre de risco no longo prazo. Uma alternativa,

não posta em prática neste estudo, seria utilizar o rendimento da caderneta de

poupança.

20 Ibbotson (2001a) Damodaran (1999a) e Bruner (1998), apud Leal (2002). 21 Cornell (1997) apud Leal (2002).

Page 43: Leonardo Bento

34

4.1.3. COMO ESTIMAR O PRÊMIO DE RISCO DO

MERCADO ACIONÁRIO?

Há várias formas de se estimar o prêmio de risco do mercado

acionário. A mais usual é uma média histórica por longos períodos de tempo.

Esta técnica é muito questionada mesmo nos EUA onde há séries temporais

longas, além disso, como o objeto de estudo deste trabalho é uma indústria

regulada, devemos considerar a opinião das agências reguladoras. Estas preferem

estimativas a partir de prospecções e não de dados históricos. Não há consenso

sobre qual o período a ser utilizado para uma média histórica nem qual o método

para se calcular tal média22. Cornell et alli. (1997) argumentam que o prêmio de

risco histórico dos EUA calculado a partir de 1926 é anômalo e sobreestima seu

valor no futuro. Portanto, estimativas prospectivas em lugar de estimativas

históricas para o prêmio de risco do mercado dos EUA tendem a ser favorecidas

pelas agências reguladoras e pelos tribunais daquele país. Booth (1999) afirma

que médias históricas não podem ser usadas como estimativas do prêmio de risco

porque ele não segue um caminho aleatório (random walk). Welch (2001)

elaborou uma pesquisa de opinião sobre o valor do prêmio de risco de mercado

entre acadêmicos e especialistas. Outros autores preferem utilizar o modelo de

fluxos de caixa descontados usando projeções de pagamentos de dividendos e de

crescimento de lucros23.

Apesar das recomendações em contrário, por uma questão de

formação de idéia de magnitude de números, o prêmio de risco dos EUA usando

estimativas históricas da Ibbotson Associates (2001a) será utilizado numa

primeira aproximação. Damodaran (1999a) recomenda que se use a média

geometria histórica em vez da aritmética porque ela reflete o retorno sobre 22 Damodaran (1999a) recomenda períodos mais longos porque em função do erro padrão ser menor. Tal fato é considerado pelo autor suficiente para superar a vantagem de que períodos mais curtos e recentes ofereçam estimativas mais relevantes. Ele também recomenda a média geométrica histórica porque a média aritmética sobreestima o prêmio de risco para períodos longos de análise. Entretanto, outros autores, como Cornell (1997) e Booth (1999) recomendam uma média ponderada das médias aritmética e geométrica. 23 Cornell (1997); Siegel (1999); e Fama (2000) usam o modelo de fluxos de caixa descontados com estimativas de dividendos obtidas de bancos de dados de estimativas de analistas.

Page 44: Leonardo Bento

35

períodos mais longos de tempo. A taxa livre de risco utilizada, conforme

mencionado anteriormente, será o rendimento de mercado do bônus de 30 anos

do tesouro americano de 5,3% ao ano obtido do banco de dados Economática

para o último dia útil de novembro de 2001. Será subtraída desse rendimento a

média histórica do prêmio de horizonte de tempo, indicada em 1,37% a partir de

dados da Ibbotson Associates (2001a), o que aponta uma taxa livre de risco de

3,9% ao ano para os EUA. O retorno médio geométrico total das ações de

empresas de grande porte dos EUA entre 1926 e 2000, segundo a Ibbotson

Associates (2001a), é de 11,0%, portanto, a estimativa para o prêmio de risco

histórico dos EUA é de 7,1% ao ano em novembro de 2001.

O uso de prêmios de risco históricos vem sendo criticado como pouco

confiável uma vez que sua instabilidade temporal não é sanada sequer quando

séries históricas longas encontram-se disponíveis para o cálculo. Welch (2001)

fornece estimativas de consenso para o prêmio de risco americano mediano e

geométrico de 4,5% para um horizonte de 30 anos. Fama e French (2000)

indicam um número próximo a 4% enquanto Siegel (1999) argumenta que o

número deve ficar um pouco acima de 3%. Considerando todas estas estimativas

e a premissa de que as agências reguladoras americanas preferem estimativas

baseadas em prognósticos e não na história, o presente estudo adotará a média

geométrica oferecida por Welch (2001) de 4,5% ao ano como prêmio de risco

para o futuro nos EUA.

Quanto ao prêmio de risco do mercado mundial, ele pode ser

estimado por meio do prêmio de risco do mercado dos EUA uma vez que pelo

CAPM Global o prêmio de risco dos EUA (PRMEUA) é igual a βEUAxPRMMundo.

Ibbotson Associates (2001b) informa que o beta dos EUA em relação ao mundo

é de 0,9104. Conforme apontado anteriormente, PRMEUA=4,5%., portanto,

PRMMundo=4,5%÷0,9104=4,94%. A título de organização, a Tabela 2 resume as

principais informações trabalhadas até agora.

Page 45: Leonardo Bento

36

Tabela 2: Prêmios de Risco Mercados Mundial e EUA

Fonte: Elaboração Própria.

A Rendimento T-Bill 30 anos* 5,30%B Ajuste prêmio de risco de horizonte de tempo** 1,37%

C=A-B taxa livre de risco EUA 3,93%

D Prêmio de Risco EUA*** 4,50%E Prêmio de Risco Mundo 4,94%

Prêmios de Riso Mercados Mundial e EUA

* último dia útil de nov/2001, rede Economática** Ibbotson Associates (2001a) e Cornell et al. (1997) *** Welch (2001)

estimatívas para nov/2001

Em mercados emergentes como o Brasil, onde as séries de dados

geralmente não são tão longas, o método de estimativas históricas pode

apresentar problemas ainda mais sérios. Por outro lado, não há estimativas

abundantes e de longo prazo de especialistas para uma análise prospectiva

abrangente. Damodaran (1999a) e Ibbotson Associates (2001a) sugerem estimar

o prêmio de risco de um mercado emergente a partir do prêmio de risco estimado

para um mercado maduro.

Nas próximas seções serão estimados o rendimento real esperado e o

prêmio de risco para o mercado brasileiro. Conforme sugerido, serão utilizados

os prêmios de risco do mercado mundial e americano.

4.2. CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO NO BRASIL

Nesta seção serão aplicados vários métodos para estimar o custo de

capital próprio do mercado brasileiro. Ela inicia-se por uma análise do

comportamento histórico do prêmio de risco, e prossegue com a discussão de

outros métodos até a obtenção um número que possa ser utilizado. Destaca-se

desde já que as estimativas históricas do prêmio de risco do mercado brasileiro

não são confiáveis. A estimativa de um prêmio de risco para o Brasil só é

relevante no caso de o CAPM doméstico ser o modelo escolhido ou no caso do

fator de risco sistemático global não explicar totalmente o risco sistemático

doméstico no âmbito de um CAPM Global. Ainda assim, o exercício de

Page 46: Leonardo Bento

37

estimação de um prêmio de risco para o mercado brasileiro será realizado. Esse

procedimento ilustrará a utilização e as limitações de diversos métodos de

estimativa disponíveis na literatura.

4.2.1. ESTIMATIVA HISTÓRICA DO PRÊMIO DE

RISCO BRASILEIRO

O prêmio de risco do mercado brasileiro (PRMBR) será estimado a

partir da diferença histórica mensal entre o retorno do valor de fechamento do

índice Ibovespa ao final de cada mês e o valor do rendimento efetivo acumulado

no mês das taxas médias diárias de operações no mercado secundário com títulos

do tesouro brasileiro, a taxa Selic. As taxas de títulos do tesouro estão

disponíveis em Andima (1997) desde janeiro de 1974, portanto, o período de

estudo será de janeiro de 1974 a novembro de 2001. Mais uma vez é conveniente

destacar que a taxa de juros empregada neste estudo para o Brasil não representa

perfeitamente um ativo livre de risco de longo prazo e, certamente, ao ser

composta por períodos longos de tempo traz um prêmio de risco embutido. A

análise não incorporará cálculos com outra taxa, como a da caderneta de

poupança, contendo-se em prosseguir com a taxa dos títulos públicos federais e

fazer esta ressalva, uma vez que tal prática foi adotada por diversos autores.

Uma primeira dificuldade que circunda o cálculo da média histórica

do prêmio de risco diz respeito às três formas possíveis de calculá-la. O prêmio

de risco pode ser calculado de forma linear (Ibovespa-Selic), em segundo lugar

vem a forma composta ((1+Ibovespa)/(1+Selic)), e em terceiro lugar vem a

forma geométrica (ln[(1+Ibovespa)/(1+Selic)]). A utilização desses métodos de

cálculo acarreta diferença nas médias históricas, como revela a Tabela 3, que traz

as estatísticas descritivas para as três séries no período de janeiro de 1974 a

novembro de 2001.

Page 47: Leonardo Bento

38

Tabela 3: Estatísticas Descritivas Prêmio de Risco Histórico Mensal do Mercado Brasileiro.

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt), o PRM composto é a diferença a juros compostos ((1+It)/(1+Jt)-1), e o PRM geométrico é definido por ln((1+It)/(1+Jt)). O período total de análise vai de janeiro de 1974 a novembro de 2001. Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Fonte: Andima e Economática.

PRM Linear PRM Composto PRM GeométricoMédia 1.79% 1.69% 0.18%Erro Padrão 1.10% 0.97% 0.96%Mediana -0.22% -0.22% -0.22%Moda #N/A #N/A #N/ADesvio Padrão 20.15% 17.66% 17.57%Variância da Amostra 4.06% 3.12% 3.09%Kurtose 5.4210 5.9047 7.1143Assimetria 0.6623 1.0401 -0.7763Mínimo -0.9293 -0.6795 -1.1378Máximo 1.1002 1.0556 0.7206Observações 335 335 335

Como primeira observação sobre o conteúdo da Tabela 3 tem-se a

diferença entre médias das 335 observações. As médias linear (1,79% a.m.) e

composta (1,69% a.m.) parecem bastante próximas, mas a média geométrica

(0,18% a.m.) situa-se longe dessas duas. Outro ponto que chama atenção são os

altos desvios-padrão para as três metodologias. Também se destaca a semelhança

entre os desvios-padrão das séries composta e geométrica. Essas duas últimas

constatações não se devem ao acaso puro e simples. Segundo Costa Neto &

Symbalista (1989)24, a série geométrica pode ser considerada como

transformação da série composta, havendo uma relação bem definida entre suas

médias e desvios-padrão. Sendo µ a média da distribuição composta e σ seu

desvio padrão, a média da distribuição geométrica pode ser escrita como

2

2σµ

ε+

. Essa relação é aproximada.

Prosseguindo com a investigação das relações existentes entre as três

séries, é necessário testá-las quanto à diferença estatística entre suas médias. Para

tal é necessário investigar que tipo de metodologia utilizar, se a paramétrica

(pressupõe normalidade das séries), ou a não paramétrica (não pressupõe

normalidade das séries). Tal investigação está resumida na Figura 1, que exibe os

resultados do teste Kolmogorov-Smirnov de normalidade em três níveis de 24 Costa Neto & Cymbalista (1989) p. 100-105.

Page 48: Leonardo Bento

39

confiança: 99%, 95% e 90%. A Figura 1 também apresenta os histogramas das

três séries comparados à curva normal.

Figura 1: Testes de Normalidade Prêmios de Risco Histórico do Mercado Acionário Brasileiro

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Níveis de confiança de 99%, 95% e 90%. Fonte: Andima e Economática.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM GeométricoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0870K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0870K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0870K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM LinearHipótese Nula: Série é Normal

p-value 5%

D máxima 0.0827K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0827K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 1%

D máxima 0.0827K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM CompostoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0696K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0696K-S 0.0743Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0696K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

PRMLIN

1,06,94,81,69,56,44,31,19,06-,06

-,19-,31

-,44-,56

-,69-,81

-,94

Histograma PRM Linear60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,20 Mean = ,02

N = 335,00

PRMCOMP

1,06,94,81,69,56,44,31,19,06-,06

-,19-,31

-,44-,56

-,69

Histograma PRM Composto70

60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,18 Mean = ,02

N = 335,00

PRMGEO

,75,63,50,38,25,130,00-,13

-,25-,38

-,50-,63

-,75-,88

-1,00-1,13

Histograma PRM Geométrico70

60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,18 Mean = ,00

N = 335,00

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM GeométricoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0870K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0870K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0870K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM GeométricoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0870K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0870K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0870K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM LinearHipótese Nula: Série é Normal

p-value 5%

D máxima 0.0827K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0827K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 1%

D máxima 0.0827K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM LinearHipótese Nula: Série é Normal

p-value 5%

D máxima 0.0827K-S 0.0743Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0827K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 1%

D máxima 0.0827K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM CompostoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0696K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0696K-S 0.0743Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0696K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: PRM CompostoHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.0696K-S 0.0667Hipótese Rejeitada

Resultados

p-value 5%

D máxima 0.0696K-S 0.0743Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.0696K-S 0.0891Hipótese Não Rejeitada

Resultados

PRMLIN

1,06,94,81,69,56,44,31,19,06-,06

-,19-,31

-,44-,56

-,69-,81

-,94

Histograma PRM Linear60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,20 Mean = ,02

N = 335,00

PRMCOMP

1,06,94,81,69,56,44,31,19,06-,06

-,19-,31

-,44-,56

-,69

Histograma PRM Composto70

60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,18 Mean = ,02

N = 335,00

PRMGEO

,75,63,50,38,25,130,00-,13

-,25-,38

-,50-,63

-,75-,88

-1,00-1,13

Histograma PRM Geométrico70

60

50

40

30

20

10

0

Std. Dev = ,18 Mean = ,00

N = 335,00

Os resultados do teste de normalidade não são exatamente

conclusivos para as três séries. A 99% de confiança nenhuma das séries pode ser

considerada normal. Já a 95% de confiança a série composta pode ser

considerada normal, enquanto as outras duas não. A 90% de confiança nenhuma

série é rejeitada como normal. Isso significa que uma investigação mais criteriosa

Page 49: Leonardo Bento

40

deve lançar mão de testes paramétricos e não paramétricos, que é precisamente o

que será feito.

No que se refere a metodologia paramétrica será empregado um teste

T de diferença de médias entre pares de séries (dados emparelhados). Segundo

essa metodologia, aos níveis de confiança de 99%, 95% e 90%, somente as séries

linear e composta podem ser consideradas equivalentes.

A metodologia não paramétrica fornece conclusões semelhantes. O

teste utilizado é o de Wilcoxon, que também testa pares de séries (observações

emparelhadas), sem apoiar-se na suposição restritiva de que os dados são

normais. Os resultados desse teste podem ser considerados mais robustos do que

os do teste T já realizados. O teste de Wilcoxon para as três séries replica a

conclusão do teste paramétrico, pois somente as séries linear e composta podem

ser consideradas equivalentes.

Uma vez investigada a relação entre as séries, é necessário selecionar

um dos métodos para cálculo do prêmio de risco. Será feita a opção por seguir a

prática internacional corrente, utilizando-se os prêmios de risco lineares.

Seguindo com a análise da Tabela 3, a média para o prêmio de risco

mensal linear entre janeiro de 1974 e novembro de 2001 foi de 1,79% ao mês.

Entretanto, é conveniente um estudo quanto à estabilidade temporal dessa média,

isto é, a investigação quanto à possibilidade de que variações no intervalo de

cálculo influenciem o prêmio de risco médio. A Figura 2 esclarece as dúvidas a

esse respeito. Ela mostra que o prêmio de risco médio é tão menor quanto menos

observações sejam incluídas no cômputo da média. A partir de 90 meses

incluídos na média há uma tendência para estabilização da média histórica em

torno de 2% ao mês.

Page 50: Leonardo Bento

41

Figura 2: Médias Históricas do Prêmio de Risco Linear do Mercado Acionário Brasileiro.

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Fonte: Andima e Economática.

Outras informações importantes a cerca do comportamento do prêmio

de risco histórico brasileiro são evidenciadas na Figura 3. Nesse gráfico, o mês

inicial para o cálculo da média varia mas todos os períodos terminam em

novembro de 2001. Nota-se que pontuando o início da série entre janeiro de 1974

e fevereiro de 1991 há uma certa estabilidade em torno de um PRM médio de

2%. Cabe a observação de que entre outubro de 1976 e junho de 1985 o prêmio

de risco médio é superior a 2%, refletindo um período de fortes conturbações na

economia brasileira. Entre 1986 e 1991 há forte oscilação no prêmio de risco em

função da sucessão de planos econômicos experimentada pelo país nessa época.

Destaca-se também a forte queda no prêmio de risco experimentada em prazos

curtos, mais precisamente entre 1991 e meados de 1994. Após o advento do

Plano Real, mesmo em se tratando de uma média de horizonte mais curto, o

prêmio de risco volta a se recuperar, deixando o patamar negativo em que se

encontrava em janeiro de 1995. A queda no patamar do prêmio de risco ocorrida

desde o início dos anos 90 tem sua provável origem nas elevadas taxas de juros

praticadas durante esse período.

Page 51: Leonardo Bento

42

Figura 3: Panorama do Prêmio de Risco Linear Médio do Mercado Acionário Brasileiro.

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. O mês inicial para o cálculo da média varia mas todos os períodos terminam em novembro de 2001. O período total de análise vai de janeiro de 1974 a novembro de 2001. Fonte: Andima e Economática.

Algumas palavras são necessárias quanto à ocorrência de prêmios de

risco negativos na década de 90 e sua ocorrência freqüente no período. Conforme

mostra a Figura 4, a ocorrência de prêmios de risco negativos no Brasil não é

exatamente um evento raro, entretanto, como o objetivo do presente estudo é a

mensuração da remuneração esperada dos ativos de um transportador de gás

natural no país, a suposição de um prêmio de risco negativo significaria a

ausência de investimentos no mercado acionário brasileiro.

Outro fato que se nota na Figura 4 é a incidência de valores bastante

extremos no prêmio de risco linear. Essa peculiaridade destaca a necessidade de

algum tratamento para melhorar a confiabilidade do prêmio de risco histórico

medido pelo método linear.

Page 52: Leonardo Bento

43

Figure 4: Prêmios de Risco do Mercado Acionário Brasileiro, Valores Mensais

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Fonte: Andima e Economática.

-150%

-100%

-50%

0%

50%

100%

150%

jan/19

74

jan/19

75

jan/19

76

jan/19

77

jan/19

78

jan/19

79

jan/19

80

jan/19

81

jan/19

82

jan/19

83

jan/19

84

jan/19

85

jan/19

86

jan/19

87

jan/19

88

jan/19

89

jan/19

90

jan/19

91

jan/19

92

jan/19

93

jan/19

94

jan/19

95

jan/19

96

jan/19

97

jan/19

98

jan/19

99

jan/20

00

jan/20

01

PRM Brasil (LINEAR)

Prêmio de Risco Brasil: Evolução Mensal Jan/1974 - Nov/2001, método linear

Recorrendo novamente à Tabela 3, nota-se que a série linear exibe

elevado desvio-padrão. É provável que tal decorra da presença de muitos valores

extremos na série, hipótese esta respaldada pela elevada estatística Kurtose da

série. Há também uma assimetria positiva, fato este já aparente na análise

efetuada na Figura 1. Nesse sentido, o próximo passo é a investigação da

presença de valores extremos.

O gráfico Box-Plot exibido na Figura 5 confirma a suspeita da

presença de muitos valores extremos não somente na série linear, como também

nas composta e geométrica. O teste foi desenhado para identificar dez valores

extremos positivos e dez negativos. Todos os 20 valores extremos identificados,

exceto um em agosto de 1998 (crise Russa), situam-se entre março de 1986 e

janeiro de 1994, justamente uma época pródiga na sucessão de planos de

estabilização econômica do Brasil. É razoável considerar essas ocorrências

anômalas, quer do ponto de vista estatístico, quer do ponto de vista econômico,

uma vez que esses eventos têm pouca chance de voltar a ocorrer.

Page 53: Leonardo Bento

44

Figura 5: Gráfico Box-Plot para PRMs Linear, Composto e Geométrico

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Níveis de confiança de 99%, 95% e 90%. Fonte: Andima e Economática.

335335335N =

PRMGEOPRMCOMPPRMLIN

1.5

1.0

.5

0.0

-.5

-1.0

-1.5

157202222191296

186

195

217206184216199209205171

147196

222191296

186

195

138241217206184216199209205171

147

196

202296222191186

195

138206184241217199216209171205

147

196

Uma vez identificados os valores extremos, cabe filtrá-los do

conjunto de prêmios de risco lineares mensais e checar a ocorrência de melhora

no desvio-padrão da série. A média do prêmio de risco sem os valores extremos

para todo período entre janeiro de 1974 e novembro de 2001 é exibida na Tabela

4. Como já observado na Tabela 3, há uma assimetria positiva na série de

prêmios de risco lineares mensais, que por sinal permanece na série filtrada de

valores extremos, indicando que a supressão dos valores extremos tende a

provocar uma queda na média. Isso realmente acontece pois a nova média

histórica para todo o período situou-se em 1,33% a.m. Com a supressão de

5,97% das observações o prêmio de risco médio cai aproximadamente 25,66%.

Cabe destacar que a eliminação dos valores extremos reduziu o desvio padrão da

série em 30,19%, trazendo-o de 20,15% para 14,06%.

Page 54: Leonardo Bento

45

Table 4: Estatísticas Descritivas Prêmio de Risco Histórico Mensal do Mercado Brasileiro, Valores Extremos Filtrados

O prêmio de risco de mercado (PRMt) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa efetiva mensal de operações no mercado secundário em títulos do governo federal (Jt). O PRM linear é a diferença simples (It – Jt). O período total de análise vai de janeiro de 1974 a novembro de 2001. São excluídas 20 observações extremas descritas na Tabela 8. Todas as taxas são denominadas em moeda local, não havendo a exclusão de variações inflacionárias. Fonte: Andima e Economática.

PRM LinearMédia 1.33%Erro Padrão 0.79%Mediana -0.22%Moda #N/ADesvio Padrão 14.06%Variância da Amostr 1.98%Kurtose 0.1764Assimetria 0.3864Mínimo -28.76%Máximo 46.05%Observações 315

Há um problema quando usamos a média aritmética como estimativa

do prêmio de risco futuro no Brasil. Vários autores citados anteriormente

recomendam o uso da média geométrica porque a média aritmética tende a

desviar muito da primeira conforme aumenta a variância da amostra. A relação

aproximada entre a média aritmética e a média geométrica é dada por Média

Aritmética = Média Geométrica + 0,5 x Variância. Na Tabela 3 foi mostrado que

a média geométrica é muito mais baixa que a média aritmética, corroborando a

hipótese levantada para o caso brasileiro. O prêmio de risco, tanto aritmético

quanto geométrico, não é estável no tempo, apresentando variações expressivas

em diferentes períodos. Nesse sentido, é possível que o prêmio de risco histórico

não seja confiável como estimativa futura porque, como afirma Booth (1999), a

taxa de juros brasileira não é verdadeiramente livre de risco e flutua muito no

tempo. Booth (1999) recomenda que se estime o retorno real do mercado de

ações, abandonando-se a estimativa do prêmio de risco.

Uma estimativa baseada no prêmio de risco histórico do mercado

brasileiro de 1,33% a.m. – média aritmética histórica de 315 meses sem valores

extremos entre janeiro de 1974 e novembro de 2001 – pode parecer razoável

entre o comportamento passado e a expectativa de crescimento da economia

brasileira. Segundo dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada,

o PIB – Produto Interno Bruto brasileiro cresceu em média 1,80% a.a. na década

Page 55: Leonardo Bento

46

de 90, e 1,99% entre 1990 e 2001. Uma vez que é utilizado um prêmio de risco

linear, o prêmio de risco anualizado a juros simples seria de 15,96% a.a.

Considerando o nível da taxas de juro de 19% em novembro de 2001, uma ação

de beta 1 teria um custo de capital próprio de 34,96%. Este número parece pouco

razoável diante da enorme variabilidade do prêmio de risco histórico. O fato é

que as estimativas do prêmio médio do período inteiro e do período filtrado dos

20 valores extremos identificados não são estatisticamente diferentes de zero a

95% de confiança por conta do elevado erro padrão25. Nesse sentido, um prêmio

de risco elevado de 15,96% ao ano não pode ser considerado um número

confiável.

Usar a média aritmética (MA) pode ser um problema porque ela

aumenta com a variância. Conforme descrito anteriormente, a relação

aproximada entre a média aritmética e a média geométrica (MG) é dada por MA

= MG + 0,5 x Variância. A média geométrica de 0,18% a.m. leva a um prêmio de

risco de 2,21% a.a. (utilizando-se anualização composta). Mais uma vez

considerando juros nacionais de 19% a.a., um ativo de beta 1 teria retorno

esperado de 21,21% a.a. Muito embora essa estimativa pareça mais razoável

diante dos rendimentos contábeis apresentados pelas empresas de capital aberto

brasileiras no passado recente, ainda se pode questionar a taxa de juros utilizada.

Tomando por base o argumento de Booth (1999), a taxa de rendimento de títulos

públicos utilizada para representar uma taxa livre de risco de longo prazo não

pode ser considerada verdadeiramente isenta de risco. Ademais, conforme a

Tabela 3 mostra, a série geométrica também padece de elevado erro-padrão, o

que implica em sua média não ser estatisticamente diferente de zero a 95% de

confiança26 Outros métodos para a o cômputo do prêmio de risco segmentado do

mercado acionário nacional serão investigados a seguir.

25 Para método linear, o intervalo de confiança de 95% para que o prêmio de risco mensal seja nulo é de -0,41% e +3,99% no período total, e de -0,25% e +2,92% para o período total excluindo-se os 20 valores extremos identificados. 26 Para o método geométrico, o intervalo de confiança de 95% para que o prêmio de risco mensal seja nulo é de -1,74% e +2,10% no período total.

Page 56: Leonardo Bento

47

4.2.2. RETORNO REAL, UMA ALTERNATIVA

Booth (1999) tem um ponto de vista interessante quanto à discussão

sobre a ausência de risco em títulos governamentais. O autor afirma que o beta

dos títulos de longo prazo do governo dos EUA está compreendido entre 0,5 e

0,6, e que estes títulos não podem ser considerados completamente isentos de

risco. Um CAPM local, ou seja, um modelo segmentado que considere estes

títulos como livres de risco deveria ter um prêmio de risco para uma ação “a”

igual a [E(RM) – RLR] x (βa - βLR) onde o beta do ativo “livre de risco” não é

nulo. Posto dessa forma, seria admissível que o prêmio de risco da ação “a” fosse

negativo caso ela fosse considerada menos arriscada que o ativo “livre de risco”.

De fato, Booth (1999) argumenta que o mercado de ações pode até mesmo ser

menos arriscado que o mercado de títulos do tesouro dos EUA de longo prazo

dependendo do horizonte de tempo. O autor afirma que títulos de dívida de longo

prazo estão sujeitos a riscos de solvência de seus emissores, além de outros como

os de hiperinflação e confiscos. Vale destacar que essa argumentação ganha

especial tom de veracidade quando se trata de títulos dos mercados latino

americanos. Valendo-se desse argumento, Booth (1999) lança dúvidas quanto à

prática de se adicionar um prêmio de risco histórico à taxa de rendimento de um

título de longo prazo. O autor propõe a subversão da lógica tradicional ao afirmar

que o mercado de ações tornou-se menos arriscado e que o mercado de títulos

públicos tornou-se mais arriscado ao longo dos anos para períodos longos de

investimento.

A esta altura surge a pergunta: se o método tradicional para a

determinação do prêmio de risco não é confiável no mercado norte americano, o

que dizer de sua aplicação para o mercado brasileiro? A inadequação levantada

por Booth (1999) ainda é agravada pela inexistência no Brasil de uma taxa de

títulos públicos de longo prazo. A ausência de tal referência pode ser considerada

um indicador de que o risco dos títulos públicos nacionais é tão elevado que

provavelmente levaria seu beta a valores muito altos, talvez até maiores do que 1.

A implicação de tal fato seria a ocorrência de um eterno prêmio de risco negativo

Page 57: Leonardo Bento

48

para o mercado brasileiro. Por mais contra intuitiva que essa idéia pareça, ela não

pode ser integralmente repudiada. Num cenário de ciclos políticos bastante

acentuados, com probabilidade diferente de zero da ocorrência de novos períodos

de hiperinflação, além da crescente dúvida quanto a saúde creditícia do governo,

em horizontes de 20 anos ou mais, é possível que as ações figurem como

investimentos menos arriscados do que os títulos públicos.

Ritter (2002) afirma que a volatilidade do rendimento real das ações

não é muito maior do que a volatilidade do rendimento real de títulos de dívida

em prazos de 3 a 5 anos nos EUA. As ações seriam uma boa proteção contra a

inflação a longo prazo porque os títulos de dívida apresentam risco elevado

quando há hiperinflação, além de haver uma possibilidade muito maior de

inadimplência à medida que o prazo se estende. Ritter (2002) também afirma que

a volatilidade das ações num prazo de T meses, σT2 é menor do que T vezes a

volatilidade mensal σ2. Corroborando a hipótese do autor, nos 335 meses entre

janeiro de 1974 e novembro de 2001 o desvio padrão dos retornos mensais

geométricos (ln(xt/xt-1)) do Ibovespa é de 19,76%, enquanto o desvio padrão do

retorno do período de 60 meses entre dezembro de 1991 e novembro de 2001 é

de 18,76%. Isto ilustra que, no Brasil, o risco de se investir em ações em

períodos longos de tempo é bem menor que o risco de investimentos de curto

prazo. Por outro lado, o desvio padrão do retorno real de investimentos em títulos

públicos de renda fixa (taxa Selic) nos 60 meses entre dezembro de 1991 e

novembro de 2001 foi de 14,15%, mostrando que é possível que o mercado de

ações tenha risco similar ao do mercado de renda fixa para prazos

suficientemente longos e que o beta do mercado de renda fixa no Brasil deve ser

maior do que zero.

Tendo por base o mercado norte americano, Booth (1999) afirma que

a média de rendimento dos títulos públicos não é estável no tempo e não segue

um caminho aleatório. Diante disso, ela não pode ser usada no cálculo de uma

média histórica do prêmio de risco pois não pode ser empregue na estimativa do

prêmio de risco futuro. De forma semelhante, também não se pode utilizar a

média dos retornos nominais do mercado de ações como estimativa de seu

Page 58: Leonardo Bento

49

comportamento futuro pois ela também não segue um caminho aleatório. Booth

(1999) sugere que se utilize a média aritmética do retorno real histórico do

mercado de ações, que parece seguir um caminho aleatório, e a ela se adicione

uma expectativa de inflação. A pesquisa de opinião de Welch (2001) fornece

uma estimativa mediana de 9% nominais para o desempenho do mercado de

ações dos EUA nos próximos 30 anos, que vem a ser o mesmo número obtido

por Booth (1999) para a média aritmética histórica do retorno real. A título de

ilustração, caso seja utilizado o rendimento oferecido por Booth (1999), e

supondo-se uma expectativa de inflação de 2,5% para os EUA27 medida pelo CPI

– Consumer Price Index, e a taxa livre de risco nominal em dólares de 3,9% ao

ano, obtém-se um prêmio de risco do mercado dos EUA de 7,6% ao ano28.

O argumento de Booth (1999) ganha força quando aplicado ao Brasil,

entretanto, a investigação do comportamento do retorno real do mercado de

ações no Brasil é restringida pela quantidade de dados disponíveis, que nesse

caso engloba os últimos 33 anos, isto é, a partir de fevereiro de 1968. O

rendimento real do Ibovespa não apresenta nenhuma tendência óbvia na Figura 6.

Torres et alli. (2000) encontram evidência de que retornos reais mensais do

Ibovespa seguem um caminho aleatório. Se este é o caso, a média histórica no

período pode ser uma estimativa realista do rendimento real do mercado. Torres

et alli. (2000) estimam o retorno real médio geométrico em 8% ao ano para o

período entre fevereiro de 1986 e março de 1998. A média geométrica do

rendimento real do mercado, deflacionado pelo IGP-DI, para o período entre

fevereiro de 1968 e novembro de 2001 é praticamente igual, e fica em 7,84% ao

ano. Este valor seria somado à expectativa de inflação corrente para se obter o

retorno nominal anual esperado para o mercado de ações no Brasil.

27 As médias históricas do CPI de 2,91% a.a. entre janeiro de 1990 e novembro de 2001, assim como de 1,90% a.a. entre dezembro de 2000 e novembro de 2001, servem como base para a suposição feita. Fonte: Federal Reserve St. Louis. 28 PRMEUA=9%-3,9%+2,5%. Cabe destacar que esse parâmetro é expresso de forma nominal, por embutir a expectativa de inflação norte americana.

Page 59: Leonardo Bento

50

Figure 6: Retorno Real Mensal Ibovespa Deflacionado pelo IGP-DI

O retorno real do índice Ibovespa é obtido dividindo-se seu retorno mensal (It) pelo índice de inflação IGP-DI (πt) segundo a expressão: (1+It)/(1+ πt). Valores expressos em percentual e calculados desde fevereiro de 1968 até novembro de 2001. Fonte: IPEA, Economática.

-80%

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

fev/19

68

ago/1

969

fev/19

71

ago/1

972

fev/19

74

ago/1

975

fev/19

77

ago/1

978

fev/19

80

ago/1

981

fev/19

83

ago/1

984

fev/19

86

ago/1

987

fev/19

89

ago/1

990

fev/19

92

ago/1

993

fev/19

95

ago/1

996

fev/19

98

ago/1

999

fev/20

01

Brasil: Retorno Real Mensal Ibovespa Deflacionado pelo IGP-DIfonte: IPEA, Economática - Fev/1968 a Nov/2001

No período de 406 meses entre fevereiro de 1968 e novembro de

2001, um investidor aplicando durante 10 anos teria ficado 52,80% das vezes

acima da média aritmética de 2,03% reais ao mês, 72,38% das vezes acima de

1% real ao mês de retorno médio, e 87,06% das vezes com retorno real positivo.

A Tabela 5 apresenta maiores detalhes sobre a média móvel de 10 anos do

retorno real do índice Bovespa, comparando-o com seu retorno real mensal. Os

indícios coletados apontam que o investidor com horizonte de tempo mais longo

poderia estar encarando um risco de mercado menor. A comparação entre os

erros-padrão mensais (0,84%) e a média móvel de 10 anos (0,09%), além dos

desvios-padrão mensais (16,95%) e a média móvel de 10 anos (1,54%),

corroboram a hipótese levantada.

Page 60: Leonardo Bento

51

Tabela 5: Estatísticas Descritivas Retorno Real do Mercado Brasileiro.

O retorno real do mercado acionário brasileiro (PRMreal) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice Ibovespa de fechamento para cada mês (It) e a taxa de inflação mensal representada pelo IGP-DI. O PRMreal é definido por (1+It)/(1+IGP-DI). O período total de análise vai de fevereiro de 1968 a novembro de 2001. Todas as taxas são denominadas em moeda local. Fonte: IPEA e Economática.

IBOV Real Mensal IBOV Real Média 10 anosMédia 2,03% 2,04%Erro Padrão 0,84% 0,09%Mediana 0,62% 2,23%Moda #N/A #N/ADesvio Padrão 16,95% 1,54%Variância da Amostra 2,87% 0,02%Kurtose 4,70 -1,07Assimetria 0,90 -0,28Minimo -69,15% -1,29%Máximo 94,42% 4,54%Observações 406 286

Diante do exposto, caso o retorno real do mercado de ações seja

considerado uma estimativa razoável do rendimento real do investidor no longo

prazo, o cálculo do prêmio de risco envolveria o cômputo da diferença entre o

rendimento real do mercado e a taxa real de juros livre de risco. O argumento

apresentado por Booth (1999) depõe contra a utilização do rendimento de 19%

dos títulos federais (novembro de 2001) como representativo de uma taxa livre

de risco de longo prazo. Resta a hipótese de utilização do rendimento real da

poupança. Como primeiro passo investigativo, a Figura 7 revela que a média

aritmética trimestral do retorno real da poupança brasileira é bastante baixa,

ficando em torno de 0,41% entre o primeiro trimestre de 1969 e o quarto

trimestre de 2001, o que equivale a uma média anualizada de 1,64%. A Tabela 6

traz as estatísticas descritivas para a série analisada na Figura 7.

Page 61: Leonardo Bento

52

Figure 7: Retorno Real Trimestral da Poupança Brasileira.

O retorno real do índice de poupança é obtido dividindo-se seu retorno mensal (It) pelo índice de inflação IGP-DI (πt) segundo a expressão: (1+It)/(1+ πt). Valores expressos em percentual e calculados do primeiro trimestre de 1969 até o quarto trimestre de 2001. Fonte: IPEA, Economática.

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

1T19

69

2T19

70

3T19

71

4T19

72

1T19

74

2T19

75

3T19

76

4T19

77

1T19

79

2T19

80

3T19

81

4T19

82

1T19

84

2T19

85

3T19

86

4T19

87

1T19

89

2T19

90

3T19

91

4T19

92

1T19

94

2T19

95

3T19

96

4T19

97

1T19

99

2T20

00

3T20

01

Brasil: Retorno Real Trimestral Poupança, deflacionado IGP-DI1ºTrim 1969 - 4ºTrim 2001, fonte: Economática

Média Aritmética Trimestral: 0,41%Média Aritmética Anual: 1,64%

Tabela 6: Estatísticas Descritivas Retorno Real da Poupança.

O retorno real da poupança brasileiro (PR) é definido como a diferença entre o retorno mensal do índice de retorno da poupança nacional para cada trimestre (Pt) e a taxa de inflação mensal representada pelo IGP-DI. O PR é definido por (1+Pt)/(1+IGP-DI). O período total de análise vai primeiro trimestre de 1969 ao quarto trimestre de 2001. Todas as taxas são denominadas em moeda local. Fonte: IPEA e Economática.

Retorno Real PoupançaMédia 0,41%Erro Padrão 0,35%Mediana 0,74%Moda #N/ADesvio Padrão 3,99%Variância da Amostra 0,16%Kurtose 1,4364Assimetria -0,4485Mínimo -12,88%Máximo 10,14%Observações 132

Ante um rendimento médio tão baixo, é necessário testar a

significância estatística da média do retorno real da poupança nacional. Isto exige

a investigação sobre qual metodologia utilizar, se paramétrica ou não

paramétrica. Para tal emprega-se o teste de normalidade de Kolmogorov-

Smirnov, aos níveis de confiança de 99%, 95% e 90%. A Figura 8 exibe os

resultados desse teste e indicam que não podemos rejeitar a hipótese de que a

série de retornos reais trimestrais da poupança brasileira apresente

Page 62: Leonardo Bento

53

comportamento normal. Nesse caso, a metodologia paramétrica é mais indicada

para o teste pretendido. Utiliza-se um teste T simples ao nível de confiança 95%

para verificar se a média da série dos retornos reais trimestrais da poupança é

diferente de zero (hipótese nula: média igual a zero). Uma vez que o nível de

significância observado é superior ao valor crítico de 5%, a hipótese nula é

aceita. Isso significa que não podemos considerar que a média anualizada do

retorno real trimestral da poupança brasileira entre o primeiro trimestre de 1969 e

o quarto trimestre de 2001 seja estatisticamente diferente de zero. Sendo este o

caso, o prêmio de risco brasileiro fica sendo de 7,84% ao ano em novembro de

2001.

Figura 8: Testes de Normalidade do Retorno Real da Poupança Brasileira.

O retorno real do índice de poupança é obtido dividindo-se seu retorno mensal (It) pelo índice de inflação IGP-DI (πt) segundo a expressão: (1+It)/(1+ πt). Valores expressos em percentual e calculados do primeiro trimestre de 1969 até o quarto trimestre de 2001. Níveis de confiança do teste T de 99%, 95% e 90%, utilizando valores anualizados para o retorno real do índice de poupança . Fonte: Andima e Economática.

.100.088

.075.063

.050.038

.025.013

.000-.012

-.025-.037

-.050-.062

-.075-.087

-.100-.112

-.125

30

20

10

0

p-value 1%

D máxima 0.1039K-S 0.1062Hipótese Não Rejeitada

Resultados p-value 5%

D máxima 0.1039K-S 0.1184Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.1039K-S 0.1419Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: Retorno Real PoupançaHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.1039K-S 0.1062Hipótese Não Rejeitada

Resultados p-value 5%

D máxima 0.1039K-S 0.1184Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.1039K-S 0.1419Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: Retorno Real PoupançaHipótese Nula: Série é Normal

One-Sample Statistics

132 1,64E-02 ,1597407 1,39E-02POUP_ANON Mean Std. Deviation

Std. ErrorMean

One-Sample Test

1,178 131 ,241 1,638E-02 -1,1E-02 4,39E-02POUP_ANOt df Sig. (2-tailed)

MeanDifference Lower Upper

95% ConfidenceInterval of the

Difference

Test Value = 0

.100.088

.075.063

.050.038

.025.013

.000-.012

-.025-.037

-.050-.062

-.075-.087

-.100-.112

-.125

30

20

10

0

p-value 1%

D máxima 0.1039K-S 0.1062Hipótese Não Rejeitada

Resultados p-value 5%

D máxima 0.1039K-S 0.1184Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.1039K-S 0.1419Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: Retorno Real PoupançaHipótese Nula: Série é Normal

p-value 1%

D máxima 0.1039K-S 0.1062Hipótese Não Rejeitada

Resultados p-value 5%

D máxima 0.1039K-S 0.1184Hipótese Não Rejeitada

Resultados

p-value 10%

D máxima 0.1039K-S 0.1419Hipótese Não Rejeitada

Resultados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

NormalAmostra

Teste de Kolmogorov-Smirnov: Retorno Real PoupançaHipótese Nula: Série é Normal

One-Sample Statistics

132 1,64E-02 ,1597407 1,39E-02POUP_ANON Mean Std. Deviation

Std. ErrorMean

One-Sample Test

1,178 131 ,241 1,638E-02 -1,1E-02 4,39E-02POUP_ANOt df Sig. (2-tailed)

MeanDifference Lower Upper

95% ConfidenceInterval of the

Difference

Test Value = 0

Page 63: Leonardo Bento

54

4.2.3. UTILIZANDO MODELOS DE FATORES DE

RISCO

Leal (2002) indica que o prêmio de risco do mercado de ações

brasileiro pode ser estimado via divisão do prêmio de risco do mercado mundial

pelo beta do Brasil. O CAPM Global indica que PRMBR = ßBR x PRMg, onde

PRMBR é o prêmio de risco do mercado de ações do Brasil em uma moeda

comum (dólar) e PRMg é o prêmio de risco do mercado mundial de ações.

Contudo, para que essa relação seja utilizada, é preciso estimar o beta

do mercado brasileiro de ações. O beta pode ser estimado por meio da análise de

regressão dos prêmios de risco históricos do mercado brasileiro contra o prêmio

de risco do mercado global em uma moeda comum, como o dólar. No entanto,

como Leal (2002) destaca, a conversão do retorno do mercado brasileiro para

dólares introduz a questão do prêmio de risco cambial.

Nesta seção serão adotados os procedimentos utilizados por Leal

(2002) para o cálculo do beta Brasil. Conforme salienta o autor, os betas de

muitos serviços internacionais, incluindo Ibbotson e Economática, são estimados

para períodos de 60 meses com uma freqüência mensal de retornos. Neste estudo

será adotada a mesma prática. Leal (2002) destaca que alguns autores

recomendam o ajuste do beta à sua tendência de reversão à média do seu grupo

no tempo. Posto de outra forma, se os países latino-americanos têm um beta no

seu conjunto, o beta do Brasil tende a convergir para este beta no tempo. Leal

(2002) destaca ainda que o beta calculado pode necessitar de ajustes. Neste

sentido, o autor enfatiza a metodologia de Vasicek (1973), ajuste que é utilizado

pela Ibbotson Associate, e que também será utilizado no presente estudo. A

equação a seguir apresenta a metodologia de Vasicek (1973).

Page 64: Leonardo Bento

55

Equação 8: Metodologia de Conversão de Betas de Vasicek

( )( ) ( )

( )( ) ( )

×

+

+

×

+

= NAPGNA

PGPG

PGNA

NAA sese

sesese

seβ

βββ

βββ

ββ 22

2

22

2

onde ßNA é o beta sem ajustes, ßPG é o beta do grupo de assemelhados

(peer group), se2(ßNA) é o erro padrão quadrado do beta sem ajustes, e se2(ßPG) é

a variância dos betas dos assemelhados em relação à sua média.

Outros ajustes foram propostos por Scholes e Williams (1977) e

Dimson (1983), porém a tônica dessas metodologias é a filtragem de distorções

nos betas causadas por falta de liquidez. Tal abordagem não será necessária neste

estudo uma vez que os cálculos são realizados com índices de países, e não de

ações individualmente.

Seguindo as indicações de Leal (2002), são utilizados somente os

retornos de ganho de capital dos índices de preços (price indexes) em vez de

índices de retorno total com re-investimento de dividendos para calcular os betas

do Brasil. São consideradas as variações dos índices em questão para um período

de 60 meses terminando em outubro de 2001. Todos os índices foram medidos

em dólares dos EUA. Para representar o mercado mundial é utilizado o MSCI

All-Country World Index, para o mercado latino-americano o MSCI Emerging

Markets Latin America Index e para os países latino-americanos os índices do

MSCI de cada um deles (Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e

Venezuela). Os países latino-americanos serão utilizados como peer group para o

ajuste do beta proposto por Vasicek (1973). Para o Brasil, além do índice da

MSCI, serão utilizados os índices domésticos FGV-100, Ibovespa e IBX. Os

índices domésticos brasileiros foram convertidos para dólares pela cotação Ptax

de venda do último dia do mês.

A Tabela 7 apresenta o resumo dos cálculos efetuados para os betas

do mercado de ações do Brasil (variáveis dependentes MSCI Brasil, FGV-100,

Ibovespa e IBX convertidos pela Ptax) e de países latino-americanos seguindo

duas hipótese para a variável independente: o MSCI World Index e o S&P-500.

A primeira constatação da análise da Tabela 7 fica por conta do maior nível dos

Page 65: Leonardo Bento

56

betas calculados utilizando-se o MSCI World Index como variável independente.

Também destacam-se os maiores R2 decorrentes do uso dessa variável

explicativa. Cabe ressaltar que, em se tratando de menores erros-padrão, há um

equilíbrio entre o uso do MSCI World Index e do S&P-500 como variáveis

independentes. Tendo por base essas diferenças e considerando que o MSCI

World Index representa melhor as oportunidades de diversificação de um

acionista sem restrições geográficas de investimento, optou-se por utilizar esse

índice como base de cálculo.

Tabela 7: Estimativas de Betas para Brasil e Países Latinos

Estimativas do beta de índices selecionados. As estimativas foram feitas pelo modelo de regressão Ri,t = ai + ßi x Rg,t onde Ri,t = ln(Ii,t/Ii,t -1) sendo Ii,t o valor de fechamento do mês de um índice selecionado em dólares dos EUA. Os índices usados como variáveis independentes são os da MSCI, modalidade de preços, para cada um dos países e para a América Latina calculados em dólares dos EUA. Para o Brasil foram utilizados os retornos dos índices FGV-100, Ibovespa e IBX convertidos para dólares na forma Ri,t = ln(Ii,t/Ii,t -1) - ln(Xt/Xt-1) onde Xt é a cotação Ptax de venda do último dia de cada mês. Todos os cálculos foram realizados na planilha eletrônica SPSS 10.1, utilizando-se o método ENTER. Fontes: MSCI e Economática.

Beta Erro Padrão R2 Beta Erro Padrão R2

MSCI América Latina 1,594 0,182 0,569 1,337 0,189 0,464MSCI Argentina 1,361 0,241 0,355 1,161 0,233 0,300MSCI Chile 1,051 0,177 0,379 0,880 0,173 0,308MSCI Colômbia 0,360 0,299 0,024 0,300 0,278 0,020MSCI México 1,645 0,198 0,544 1,468 0,192 0,503MSCI Peru 0,594 0,220 0,112 0,462 0,208 0,078MSCI Venezuela 1,225 0,354 0,171 1,045 0,334 0,144MSCI Brasil 1,905 0,269 0,463 1,516 0,277 0,340FGV-100 em US$ 1,597 0,268 0,380 1,211 0,273 0,254IBOV em US$ 2,157 0,282 0,503 1,710 0,295 0,367IBX em US$ 1,981 0,277 0,469 1,551 0,288 0,334

Variável Independente: MSCI World Index Variável Independente: SP-500Variável Dependente

Passando ao cálculo dos betas dos quatro índices utilizados para o

Brasil, a Tabela 7 revela que estes podem ser considerados próximos. Como é

necessária a escolha de um deles, optou-se como primeiro critério pelo menor

erro-padrão, e como segundo critério – no caso de empate – o maior R2. Nessas

circunstâncias, a decisão final fica entre os índices MSCI Brasil e FGV-100, pois

estes apresentam erros-padrão praticamente iguais (0,269 e 0,268

respectivamente) e os menores dentro do conjunto analisado. Diante desse

empate técnico, é necessário recorrer ao segundo critério de seleção. Tendo por

base a análise dos R2, o MSCI Brasil é o escolhido. Nesse sentido, o beta Brasil

não ajustado é de 1,905. Resta agora recorrer à equação de Vasicek (1973) para

ajustar o beta escolhido. Nesse intuito o próximo passo é a análise dos betas dos

Page 66: Leonardo Bento

57

componentes do peer group, isto é, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru,

Venezuela, e o MSCI América Latina.

A Tabela 7 exibe os R2, erros-padrão e betas para os integrantes

cogitados para o peer group. O primeiro detalhe que chama atenção nesta análise

é a combinação de baixos beta e R2 e o relativamente elevado erro-padrão nos

casos da Colômbia e do Peru. Tal fato fornece indícios de segmentação destes

mercados, em oposição ao que se sucede para os demais países analisados. Um

terceiro caso que merece comentário é o da Venezuela, que também exibe

elevado erro-padrão e baixo R2.

Tendo em vista que o caso desses três países requer cuidados

adicionais, o ajuste de Vaisicek (1973) será feito para quatro tipos de peer group:

(i) Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela; (ii) Argentina, Chile,

México e Venezuela; (iii) Argentina, Chile e México; (iv) MSCI América Latina.

A intenção do peer group é reunir países com mercados financeiros

de porte semelhante ao do Brasil. Tendo como base a seleção de países indicada

anteriormente – Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela – o beta

deste grupo é calculado como a média ponderada dos betas de cada um deles

segundo sua capitalização média de mercado entre 1996 e 2000, conforme

mostra a Tabela 8. Esta última tabela subsidiou o cálculo do peso de cada beta

individual para o cômputo do beta ponderado do peer group brasileiro nas três

primeiras hipóteses formuladas no parágrafo anterior. A Tabela 9 exibe os

cálculos do beta ajustado para o Brasil.

Page 67: Leonardo Bento

58

Tabela 8: Capitalização Média de Mercado de Países da América Latina

Capitalização em dezembro de cada ano de mercados de ações assemelhados ao Brasil em milhares de dólares dos EUA. Fonte: S&P Emerging Stock Markets Factbook (2001).

Peer Group 1US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM %

Argentina 44.679 17,41% 59.252 17,45% 45.332 20,46% 83.887 24,77% 166.068 43,71% 24,76%Chile 65.940 25,69% 72.046 21,22% 51.866 23,41% 68.288 20,16% 60.401 15,90% 21,28%Colômbia 17.137 6,68% 19.529 5,75% 13.357 6,03% 11.590 3,42% 9.560 2,52% 4,88%México 106.540 41,51% 156.595 46,11% 91.746 41,41% 154.044 45,48% 125.204 32,96% 41,50%Peru 12.291 4,79% 17.586 5,18% 11.645 5,26% 13.392 3,95% 10.562 2,78% 4,39%Venezuela 10.055 3,92% 14.581 4,29% 7.587 3,42% 7.471 2,21% 8.128 2,14% 3,20%Total 256.642 - 339.589 - 221.533 - 338.672 - 379.923 - 100,00%

Peer Group 2US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM %

Argentina 44.679 19,66% 59.252 19,59% 45.332 23,07% 83.887 26,74% 166.068 46,16% 27,04%Chile 65.940 29,02% 72.046 23,82% 51.866 26,39% 68.288 21,77% 60.401 16,79% 23,56%México 106.540 46,89% 156.595 51,77% 91.746 46,68% 154.044 49,11% 125.204 34,80% 45,85%Venezuela 10.055 4,43% 14.581 4,82% 7.587 3,86% 7.471 2,38% 8.128 2,26% 3,55%Total 227.214 - 302.474 - 196.531 - 313.690 - 359.801 - 100,00%

Peer Group 3US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM % US$ MM %

Argentina 44.679 20,57% 59.252 20,58% 45.332 23,99% 83.887 27,39% 166.068 47,22% 27,95%Chile 65.940 30,36% 72.046 25,03% 51.866 27,45% 68.288 22,30% 60.401 17,18% 24,46%México 106.540 49,06% 156.595 54,39% 91.746 48,56% 154.044 50,31% 125.204 35,60% 47,58%Total 217.159 - 287.893 - 188.944 - 306.219 - 351.673 - 100,00%

2000 Média % de Capitalização

1996 1997 1998 1999

2000 Média % de Capitalização

1996 1997

1996 1997 1998 1999

1998 1999 2000 Média % de Capitalização

Tabela 9: Ajuste de Vasicek (1973) para o Beta Brasil.

Betas do Brasil ajustados pelo método de Vacisek (Equação 18), valendo-se dos dados apresentados nas Tabelas 12 e 13. Foram usados três grupos de países assemelhados e o MSCI América Latina para o ajuste. Os grupos são: (i) Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela; (ii) Argentina, Chile, México e Venezuela; (iii) Argentina, Chile e México.

Beta não ajustado

Erro-Padrão Beta não Ajustado

Beta Ajustado (Peer Group 1)

Beta Ajustado (Peer Group 2)

Beta Ajustado (Peer Group 3)

Beta Ajustado (MSCI AL)

MSCI Brasil 1,905 0,269 1,552 1,600 1,557 1,692FGV-100 em US$ 1,597 0,268 1,432 1,483 1,450 1,595IBOV em US$ 2,157 0,282 1,632 1,679 1,629 1,760IBX em US$ 1,981 0,277 1,572 1,621 1,576 1,711

Como o MSCI Brasil já havia sido escolhido como o índice que dá

origem ao beta não ajustado, resta escolher o peer group mais apropriado para a

obtenção o beta Brasil ajustado. A Tabela 7 mostra que os betas da Colômbia e

do Peru são muito baixos, indicando alto grau de segmentação desses mercados,

por isso optou-se por não considerá-los assemelhados ao Brasil. A implicação da

segmentação apontada é a desqualificação de duas das opções de peer groups

possíveis, mais especificamente a primeira (Argentina, Chile, Colômbia, México,

Peru e Venezuela) e a quarta (MSCI América Latina). Portanto, na Tabela 8,

restam o beta ajustado dos peer groups 2 e 3, logo, tendo por base a presença da

Argentina, do Chile e do México, a próxima decisão fica por conta da inclusão

ou não da Venezuela no grupo de ajuste. Cabe notar que o beta ajustado do peer

Page 68: Leonardo Bento

59

group 2 (considerando a Venezuela) é de 1,600, e do peer group 3 (sem

considerar a Venezuela) é de 1,557, numa diferença bastante pequena. Dessa

forma, com o intuito de evitar quaisquer dúvidas sobre a Venezuela, conforme

levantado anteriormente, e por ser o mercado desse país muito menor que os

mercados de ações da Argentina, Chile e México, optou-se pelo peer group 3.

Assim, o beta Brasil foi calculado utilizando-se o índice MSCI Brasil e

ajustando-o segundo Vasicek (1973) com a Argentina, o Chile e o México como

peer group. Após estes passos, o beta Brasil ajustado obtido é de 1,557.

Seguindo o que foi apresentado no primeiro parágrafo desta seção:

PRMBR = ßBR x PRMg = 1,557 x 4,94% = 7,69% em dólares, o passo final é

converter o prêmio de risco do Brasil obtido de dólares para reais. De acordo

com as recomendações de Leal (2002), será utilizado o método de O’Brien

(1999):

Equação 9: Método de Conversão de O’Brien para o Prêmio de Risco Brasil

( ) ( ) ( )$,

2$$,

$$$$ 1 USXiX

USG

USGX

USLR

USi

RLR

Ri PRMRRRR βσβ −+×−−=−

Deste modo, o prêmio de risco do Brasil em reais é igual ao prêmio

de risco do Brasil em dólares, mais um ajuste para a sensibilidade do câmbio ao

prêmio de risco mundial e um ajuste para a sensibilidade do prêmio de risco

brasileiro em dólares ao câmbio, onde $R

iR é o retorno da ação ou do mercado i

(mercado brasileiro) em reais, $US

iR é o retorno da ação ou do mercado i

(mercado brasileiro) em dólares dos EUA, $R

LRR é a taxa livre de risco do Brasil

em reais, $US

LRR é a taxa livre de risco dos EUA em dólares, $R

GPRM é o prêmio de

risco do mercado mundial e 2Xσ é a variância da taxa de câmbio US$/R$. O

parâmetro $

,US

GXβ é estimado regredindo a variação percentual do mês da taxa de

câmbio US$/R$ como variável dependente sobre o prêmio de risco do mercado

mundial como variável independente. A taxa de câmbio US$/R$ nada mais é do

que o inverso da taxa Ptax ao final de cada mês. O prêmio de risco mundial foi

estimado como a diferença simples entre o retorno mensal do índice MSCI World

Page 69: Leonardo Bento

60

Index e o rendimento mensal da Treasury Bill dos EUA. O parâmetro $

,US

Xiβ é o

coeficiente da regressão do prêmio de risco brasileiro, estimado como a diferença

simples do retorno mensal em dólares do índice MSCI Brasil – escolhido pela

coerência com o cálculo do prêmio de risco Brasil – e o rendimento mensal da

Treasury Bill dos EUA, como variável dependente e variação da taxa de câmbio

mensal US$/R$ como variável independente. Cabe destacar que os parâmetros

do modelo foram estimados para o período entre novembro de 1996 e outubro de

2001 (60 meses) utilizando-se o pacote estatístico SPSS 10.1.

Uma peculiaridade do ajuste cambial de O’Brien procedido são os

fracos coeficientes de ajuste, isto é, com R2 próximos a zero ($

,US

GXβ R2 = 0,001; $

,US

Xiβ R2 = 0,216) e coeficiente não significativo no caso de $

,US

GXβ . As estimativas

são: $

,US

GXβ = 0,031; $

,US

Xiβ = 0,232 e 2Xσ = 6,16% (variância anualizada). Tendo

calculado tais parâmetros, o prêmio de risco em dólares estimado deve ser

convertido para um prêmio de risco em reais seguindo-se a Equação 8:

( ) ( )

( ) ( ) ( ) %34,27232,01%16,6%94,4031,0%93,3%00,19%69,7

1

$

$,

2$$,

$$$$

=−×+×−−+=

−+×−−+=

RBR

USXiX

USG

USGX

RLR

RLR

USBR

RBR

PRMou

PRMRRPRMPRM βσβ

A próxima seção encarrega-se de delinear as escolhas quanto aos

modelos e parâmetros a serem utilizados doravante para a investigação em curso.

Page 70: Leonardo Bento

61

4.3. QUE MODELOS E PARÂMETROS UTILIZAR?

4.3.1. MODELOS SELECIONADOS

Para que o estudo progrida de forma ordenada é preciso determinar

quais modelos serão selecionados. Seguindo a revisão de literatura e os cálculos

aqui realizados, bem como as indicações fornecidas por Leal (2002), optou-se

por utilizar dois modelos de fatores de risco para o cálculo do custo do capital

próprio da TBG. O primeiro é o CAPM Doméstico Simples, que apesar de suas

limitações teóricas é amplamente utilizado pelos mercados. O segundo é o

modelo de Betas Multiplicativos de Solnik, visto ser o de melhor adaptação no

caso de empresas de capital fechado, especialmente da TBG.

4.3.2. PARAMETROS SELECIONADOS

Nas últimas seções foram realizados vários exercícios empíricos que

investigaram as estimativas do custo de capital próprio do mercado brasileiro,

onde tornou-se patente o fato de que estas variam muito segundo o método

adotado. Para que o estudo prossiga de forma clara, a Tabela 10 resume os

resultados calculados e, a título de comparação, acrescenta os obtidos por

Ibbotson Associates (2001b) e Leal (2002), o que inclui resultados obtidos a

partir de alguns modelos não estudados detalhadamente aqui. Dessa tabela serão

retiradas as informações básicas requeridas para a utilização dos modelos

escolhidos.

Page 71: Leonardo Bento

62

Tabela: 10: Resumo dos Cálculos do Prêmio de Risco Brasil.

Síntese das estimativas do prêmio de risco para o mercado de ações brasileiro segundo diversos modelos. A conversão do prêmio de risco de reais para dólares pode ser feita por meio de um ajuste segundo a Equação 19, ou adotando-se a simplificação empírica que consiste na soma de 5% ao prêmio de risco em dólares. Ambas as formas de conversão remontam aos métodos sugeridos por O’Brien (1999). Os modelos estimados pela Ibbotson Associates vêm de sua publicação International Cost of Capital Report 2001. Todos os prêmios de risco estão em porcentual anual. Fonte: Ibbotson Associates, elaboração própria.

Estimativas Juros Brasil Custo de Capital Empresa Beta=1Estimativas EstudoMédia Histórica 15,96% 19,00% 34,96%Retorno Real 7,84% 19,00% 26,84%Modelos de Fulxo de Caixa

Gordon & Shapiro 6,03% 19,00% 25,03%Modelos de Prêmio de Risco

Damodaran 24,00% 19,00% 43,00%Godfrey & Spinosa 21,00% 19,00% 40,00%

Modelos de Fatores de RiscoCAPM Global (Equação 18) 27,34% 19,00% 46,34%

CAPM Global (Simplificação empírica de O'Brien)) 12,79% 19,00% 31,79%ICAPM 27,31% 19,00% 46,31%

ICAPM (Simplificação empírica de O'Brien)) 12,76% 19,00% 31,76%

Estimativas IbbotsonModelo de risco de Crédito

Equação 18 34,65% 19,00% 53,65%Simplificação empírica de O'Brien 20,10% 19,00% 39,10%

Modelo de Prêmio de RiscoEquação 18 35,65% 19,00% 54,65%

Simplificação empírica de O'Brien 21,10% 19,00% 40,10%CAPM Global

Equação 18 34,65% 19,00% 53,65%Simplificação empírica de O'Brien 20,10% 19,00% 39,10%

Modelo de Desvio-Padrão RelativoEquação 18 53,65% 19,00% 72,65%

Simplificação empírica de O'Brien 39,10% 19,00% 58,10%

Todas as taxas são estimadas em R$ para o período de um ano

O menor prêmio de risco para o mercado brasileiro foi obtido com a

aplicação do modelo de fluxo de caixa descontado de Gordon & Shapiro, 6,03%

a.a. aplicado por Leal (2002), já o maior valor foi registrado por Ibbotson

Associates em seu modelo de desvio-padrão relativo, 53,65% a.a. A magnitude

dessa diferença ilustra a pluralidade de resultados observada.

As estimativas Ibbotson são quase sempre superiores àquelas

calculadas neste estudo e às de Leal (2002) em função da consultoria norte

americana adotar um prêmio de risco histórico do mercado dos EUA de 7,8%

a.a., que é superior à estimativa prospectiva obtida na literatura, 4,5% a.a.

Ademais, aqui, diferentemente de Ibbotson, não se utilizou a média histórica da

taxa de títulos do tesouro de longo prazo e sim a taxa corrente destes títulos

deduzida de 1,37% ao ano de prêmio de risco pelo horizonte de tempo para obter

Page 72: Leonardo Bento

63

uma estimativa da taxa livre de risco de curto prazo composta no horizonte de

tempo do título de longo prazo.

Até agora o presente estudo demonstrou que o prêmio de risco

histórico somente é consistente com um crescimento econômico muito acelerado

ou com retornos muito elevados durante períodos de acentuada vantagem

competitiva das empresas brasileiras. O prêmio de risco histórico calculado em

15,96% a.a. apresenta fragilidades que comprometem seu emprego como

parâmetro estável. Ademais, o prêmio de risco histórico brasileiro não é

significativamente diferente de zero e a média móvel de 60 meses é

aproximadamente de zero, no momento. Tendo Leal (2002) como amparo, é

possível admitir que a estimativa de 4,03% em reais oferecidas pelo modelo de

fluxo de caixa descontado não se altere no futuro próximo, o que determina a

escolha desse número como prêmio de risco brasileiro. Vale destacar que este

parâmetro só é relevante na hipótese de um investidor doméstico e segmentado.

Do ponto de vista do investidor global cuja moeda de referência é o

dólar, o prêmio de risco doméstico em reais estimado, tanto na forma histórica

quanto no modelo de dividendos, pode ser dito como não relevante. Interessa ao

investidor global o prêmio de risco global multiplicado pelo beta do Brasil. O

significado disso é que o investidor internacional é compensado pelo risco de

investir numa empresa brasileira segundo um CAPM Global simples em que o

beta de empresa brasileira em relação ao mercado global será multiplicado pelo

prêmio de risco global estimado em cerca de 4,94%. Já o investidor doméstico

segmentado é compensado segundo um CAPM doméstico em que o beta da

empresa em relação ao mercado doméstico seria multiplicado pelo prêmio de

risco doméstico estimado. Em ambas as hipóteses resta, novamente, a escolha de

qual prêmio de risco utilizar para o Brasil. Ante as estimações feitas, o estudo

seguirá a preferência de Leal (2002), que sugere o uso do prêmio de risco

estimado pelo modelo de fluxos de caixa descontados. O autor argumenta que

esta parece ser uma estimativa sustentável tanto no âmbito global quanto no

doméstico, além de ensejar a vantagem de ser a mais comumente aceita pelas

agências reguladoras internacionais.

Page 73: Leonardo Bento

64

Como forma de reforçar os argumentos perfilados acima, realizou-se

um pequeno exercício empírico na Tabela 10. Tendo em vista os prêmios de

risco brasileiros calculados e convertidos para reais, procurou-se responder às

seguintes perguntas: (i) Qual seria o custo de capital próprio de uma empresa de

beta 1 no Brasil, segundo os diversos modelos pesquisados?; (ii) Qual dentre

essas estimativas parece a mais sustentável num ambiente onde a taxa de juros

básica situa-se em 19% a.a.? Trata-se de mera expressão de sensibilidade,

portanto, subjetividade, mas ajuda na identificação de resultados extremos pouco

críveis ante a realidade econômica.

A resposta de ambas as perguntas revela que o custo de capital

próprio de uma empresa de beta 1 atuando no Brasil varia de 25,03% ao ano a

72,65%. Tendo em vista que a taxa básica de juros adotada neste estudo é de

19% a.a. em reais, ponderar que 72,65% a.a. de custo de capital próprio é algo

fora de senso não figura como um exagero. Ante tamanha exigência de retorno,

dificilmente viabilizariam-se investimentos no Brasil. Os 25,03% a.a.

correspondem ao modelo de fluxo de caixa adotado como parâmetro para este

estudo, e parecem economicamente muito mais sustentáveis considerando juros

de 19% a.a.

Conforme anteriormente salientado, a observância do princípio da

parcimônia indica a preferência do CAPM Global simples ao ICAPM na

estimação do prêmio de risco do Brasil porque o ganho adicional obtido pelo uso

do modelo mais complexo não parece compensar O presente estudo corrobora a

opinião de Leal (2002) que aponta vieses nos modelos de razão de variância.

Estes tendem a superestimar o prêmio de risco do Brasil devido à elevada

volatilidade do mercado brasileiro. Finalmente, o cálculo do prêmio de risco

global será o prospectivo, ou seja, baseado em estimativas de consenso ou por

meio de uma versão do modelo de fluxos de caixa descontado. A Tabela 11

apresenta as principais estimativas obtidas neste estudo, que servirão de base

para as próximas seções.

Page 74: Leonardo Bento

65

Tabela 11: Principais Estimativas Obtidas nesse Estudo

Fonte: Elaboração própria.

Estimativa Valor*Taxa livre de risco em dólares 3,93%Prêmio de risco mercado de ações EUA em dólares 4,50%Prêmio de risco mercado mundial em dólares 4,94%Prêmio de risco do mercado brasileiro em dólares (investidor global - CAPM Global) 7,69%Prêmio de risco mercado brasileiro em reais (investidor segmentado - Modelo Fluxo de Caixa) 6,03%Beta Brasil ajustado em dólares (Método Vasicek) 1,557Ajuste para conversão do prêmio de risco de dólares para reais (CAPM Global, método O'Brien) 19,65%Rendimento de dividendos projetado para o mercado brasileiro em reais 3,62%Crescimento real de dividendos de longo prazo no Brasil em reais 2,41%* todas as taxas são expressas em valores anuais

5. CALCULO DO CUSTO DE CAPITAL PARA O

SETOR DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO

BRASIL

Tanto credores quanto acionistas esperam ser remunerados pelo custo

de oportunidade do investimento de seus recursos numa determinada empresa em

relação a outras disponíveis. O custo médio ponderado de capital, ou WACC, é a

taxa de desconto, ou valor do recurso no tempo, usada na conversão do fluxo de

caixa livre futuro em valor presente para todos os investidores. O WACC é um

parâmetro da remuneração dos recursos investidos na empresa, ou seja, é o custo

do capital utilizado naquele empreendimento. Para que o cálculo do WACC seja

viabilizado, é necessário recorrer-se a algumas informações contábeis relativas à

TBG, que são apresentados nas Tabelas 12 e 13. Cabe observar que, uma vez que

a empresa não apresentou lucro positivo em nenhum dos dois anos de sua

atuação, não há como supor a carga tributária média da mesma. Em função disso,

será utilizado o valor zero.

Tabela 12: Demonstrativos de Resultado do Exercício TBG

Page 75: Leonardo Bento

66

Fonte: PriceWaterhouse & Coopers.

em R$ mil 1999 2000Receita bruta de serviços prestados 32.100 228.375Impostos e contribuições s/serviços prestados (4.256) (26.534)Receita líquida de serviços prestados 27.844 201.841Custo dos serviços prestados (95.776) (275.103)Depreciação e Amortização (90.714) (254.004)Custo de Operação e Manutenção (5.062) (21.099) Lucro bruto (prejuízo) (67.932) (73.262) Receitas (despesas) operacionais (9.484) (132.470) Financeiras 0 (114.421) Despesas financeiras 0 (144.308) Receitas financeiras 0 29.887 Administrativas e gerais (9.484) (18.049) Honorários da diretoria e c. administração (823) (872) De administração (8.661) (17.177)Variações Monetárias e Cambiais 0 (326.588) Lucro operacional (77.416) (532.320) Despesas não operacionais Lucro antes da contribuição social, IR e da participação minoritária (77.416) (532.320) Contribuição social Imposto de renda Participação minoritáriaLucro líquido do exercício (77.416) (532.320)

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIOTransportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. - TBG

Demonstrações contábeis em 31 de dezembro de 2000 e 1999

Tabela 13: Balanços Patrimoniais TBG

Fonte: PriceWaterhouse & Coopers.

em R$ mil 1998 1999 2000Ativo Total 1.715.830 2.856.590 3.125.963Ativo Circulante 8.905 222.609 169.708 Caixa e bancos 49 465 41.973 Aplicações financeiras 7.170 210.471 92.858Contas a Receber 0 7.014 22.122 Contas a receber de clientes 0 7.014 22.122 Despesas pagas antecipadamente 1.433 0 0 Demais ativos circulantes 253 4.659 12.755Ativo Realizável a Longo Prazo 434.631 0 0 Contas a receber - empresas do Sistema PETROBRAS 434.631 0 0Ativo Permanente 1.272.294 2.633.981 2.537.937 Imobilizado 1.196.926 2.544.470 2.454.165 Diferido 75.368 89.511 83.772Passivo a Descoberto 0 0 418.318Capital Social 0 0 -191.418Prejuízos Acumulados 0 0 609.736Passivo Total e Patrimônio Líquido 1.715.830 2.856.590 3.125.963Passivo Circulante 660.736 304.599 294.505 Fornecedores 151 965 1.497 Contas a pagar - empresas do Sistema PETROBRAS 612.333 226.615 237.321 Financiamento de Agências Multilaterais de Crédito 0 0 16.120 Contas a pagar a demais acionistas de controlada 48.191 73.671 36.822 Demais passivos circulantes 61 3.348 2.745Passivo Exigível a Longo Prazo 1.055.093 2.536.407 2.831.458 Contas a pagar - empresas do Sistema PETROBRAS 821.850 1.625.233 1.609.423 Empréstimos de demais acionistas de controlada 102.372 200.758 253.801 Financiamento de Agências Multilaterais de Crédito 0 614.459 968.234 Adiantamentos para futuro aumento de capital de demais acionistas de controlada 130.871 95.957 0Patrimônio Líquido 1 15.584 0 Capital social 1 93.000 0 Reserva de capital 0 -77.416 0

BALANÇO PATRIMONIALTransportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. - TBG

Demonstrações contábeis em 31 de dezembro de 2000, 1999 e 1998

Page 76: Leonardo Bento

67

5.1. CALCULANDO O CAPM DOMÉSTICO SIMPLES

O CAPM simples doméstico foi apresentado na seção 3.2.1.1, e é

resumido pela Equação 2. Além dos parâmetros já calculados e apresentados na

Tabela 11, são necessárias mais algumas considerações quanto às demais

referências necessárias ao CAPM local.

Em primeiro lugar, como ativo livre de risco é utilizada a taxa Selic

anual, que apesar de não ser uma representação perfeita, é o parâmetro mais

próximo para o Brasil. Em segundo lugar vem a problemática maior resumida no

beta para a TBG. Como a empresa não tem ações negociadas no mercado, seu

beta não pode ser calculado diretamente. Resta como alternativa para a

determinação desse parâmetro apelar-se para uma aproximação a partir de

indústrias estrangeiras de transporte de gás natural. Foram utilizadas duas fontes:

(i) empresas norte americanas de transporte de gás natural de pequeno porte,

cujas estimativas são procedentes de Ibbotson Associates; (ii) a indústria dos

EUA de transporte de gás natural Large Caps, cujas estimativas são procedentes

de dados Ibbotson Associates.

Algumas considerações são necessárias quanto à estrutura de capitais

da TBG. Tendo em vista que não foi possível a observação em mercado dos

parâmetros requeridos, foi necessário recorrer-se aos demonstrativos contábeis

da empresa. Os números obtidos evidenciam que a empresa apresentou

Patrimônio Líquido negativo em seus dois últimos exercícios, impedindo a

determinação do valor contábil do capital próprio. Algumas opções tais como a

utilização de fluxo de caixa da empresa ou mesmo valores de Ativos

Permanentes Imobilizados foram testadas mas esbarraram na exigüidade de

detalhes dos relatórios contábeis conseguidos junto à Price Waterhouse &

Coopers. Dadas estas restrições, a estrutura de capitais da TBG foi estimada a

partir da relação capital próprio/capital de terceiros desejada, divulgada pela

própria empresa: endividamento com 67% de participação no total de ativos e o

capital próprio com 33%. O valor do capital próprio foi determinado a partir do

Page 77: Leonardo Bento

68

valor do passivo oneroso observado nas demonstrações contábeis, aplicando-se a

proporção desejada pela empresa. É pertinente destacar que a circularidade

destacada pela Equação 2 torna-se uma questão bastante relevante nesse ponto,

pois não foi possível coletar indícios de que TBG já tenha atingido a estrutura de

capitais desejada. Nesse caso, o WACC da empresa seria afetado por suas ações

em direção ao quociente capital próprio/capital de terceiros pretendido. Este

estudo voltará a abordar essa questão numa etapa posterior, quando se fará

pertinente uma comparação com a estrutura de capitais média observada no setor

de transporte de gás natural norte americano fornecida por Ibbotson Associates.

Antes de seguir com a implementação do CAPM local, é necessário

observar que a utilização de um beta setor para estimação do beta de uma

empresa envolve a investigação de possíveis diferenças entre os níveis de

alavancagem financeira das partes envolvidas. Posto de outra forma, tudo mais

estando constante, um aumento na alavancagem financeira elevará o beta da

firma. Como os betas fornecidos por Ibbotson Associates a serem utilizados no

CAPM local filtram as decisões financeiras de seu cálculo, supõe-se a

inexistência de dívida. Esses são ditos betas desalavancados. Resta transformá-

los de modo a refletir a estrutura de capitais ideal da TBG, o que é conseguido

empregando-se a equação a seguir:

Equação 10: Alavancagem do Beta.

( )

−+=

óprioCapitalTerceirosCapitaltDA Pr

11ββ

onde, βA representa o beta alavancado pela estrutura financeira da

firma, βD o beta desalavancado, t a alíquota média de impostos da firma.

Pontuada essa transformação, seguindo a Equação 2 e utilizando os

parâmetros definidos na Tabela 11, os resultados da aplicação do CAPM local

para a TBG são dispostos na Tabela 14. Cabe destacar que, uma vez que esse

modelo pressupõe segmentação por parte dos investidores, as taxas calculadas já

se encontram expressas em reais nominais de novembro de 2001.

Page 78: Leonardo Bento

69

Tabela 14: Resultados do CAPM Local para a TBG.

Todas as taxas são calculadas em reais. Fonte: Elaboração própria, Ibbotson Associates.

Ibbotson Large Caps Ibbotson Small Capsbeta TBG desalavancado 0,300 0,950Capital de Terceiros/Capital Próprio TBG 2,030 2,030Tributação Média TBG 0,00% 0,00%Beta TBG alavancado 0,909 2,879Taxa livre de risco 19,00% 19,00%Prêmio de risco mercado brasileiro 6,03% 6,03%Custo de Capital CAPM Local 24,48% 36,36%

Custo de Capital Próprio TBG - CAPM Local

5.2. CALCULANDO O MODELO DE BETAS

MULTIPLICATIVOS DE SOLNIK

O modelo de betas multiplicativos de Solnik foi apresentado na seção

3.2.1.3, e é resumido pela Equação 4. Além dos parâmetros já calculados e

apresentados na Tabela 11, cabe destacar a inconveniência dos betas calculados

para a empresa, pois estes são os mesmos calculados no CAPM local. Isto

significa que eles ainda carregam as adaptações citadas anteriormente, entretanto,

este modelo é o que apresenta a menor necessidade de ajustes e suposições

dentre os estudados, além de contar com a adequação teórica quanto à natureza

integrada da empresa. Seguindo a Equação 4 e utilizando os parâmetros definidos

na Tabela 11, os resultados da aplicação do modelo de Solnik para a TBG são

dispostos na Tabela 15.

Tabela 15: Resultados do Modelo de Betas Multiplicativos de Solnik para a TBG.

Fonte: Elaboração própria, Ibbotson Associates.

Ibbotson Large Caps Ibbotson Small CapsTaxa livre de risco em US$ 3,90% 3,90%Prêmio de risco global em US$ 4,94% 4,94%Beta Global Brasil 1,557 1,557beta TBG desalavancado 0,300 0,950Capital de Terceiros/Capital Próprio TBG 2,030 2,030Tributação Média TBG 0,00% 0,00%Beta TBG alavancado 0,909 2,879custo de capital em US$ 10,89% 26,05%fator de ajuste para R$ 19,65% 19,65%Custo de Capital Modelo Betas Multiplicativos de Solnik (em R$) 30,54% 45,70%

Custo de Capital Próprio TBG - Solnik

Page 79: Leonardo Bento

70

5.3. CALCULANDO OS WACC

Após a obtenção das estimativas dos custos do capital próprio da

TBG, o passo seguinte para a obtenção de seu WACC é a investigação do custo

do capital de terceiros.

5.3.1. CÁLCULO DO CUSTO DO CAPITAL DE

TERCEIROS

Para que o custo da dívida da TBG seja corretamente estimado, é

necessário recorrer-se às informações contidas nas notas explicativas dos

demonstrativos financeiros da empresa. Uma vez que os dados obtidos nesse

estudo não fazem jus ao termo “detalhado” a crítica de que o quadro intuído não

corresponda fielmente ao quadro financeiro da empresa em novembro de 2001

não pode ser completamente rechaçada.

Segundo as notas explicativas do Balanço Patrimonial e do

Demonstrativo de Resultados do Exercício da TBG, o passivo oneroso

consolidado da empresa divide-se principalmente em três moedas, o dólar norte

americano, o iene, e a lira italiana. A Tabela 16 exibe os detalhes relativos a

esses empréstimos.

Page 80: Leonardo Bento

71

Tabela 16: Passivo Oneroso Consolidado TBG.

Todos os valores são expressos em reais convertidos pelo cambio de 31 de dezembro de 2000, conforme disposto nas notas explicativas dos demonstrativos financeiros da empresa. Fonte: PriceWaterhouse & Coopers.

moeda Total em R$* Custo PrazoUS$ 523.127 2,5% a 3% a.a. + Libor entre 12,5 e 15 anosLira 13.123 5,17% a.a.+Libor entre 10 anos e 5 anosYen 241.477 2,3% a 2,5% a.a. + Japan Long Term Prime Rate 12 anos

Total 777.727

Passivo Oneroso Consolidado TBG

* base: ano 2000.

Tendo obtido as denominações do passivo oneroso da TBG, seus

respectivos percentuais de participação e sua taxa de remuneração na moeda

estrangeira, resta proceder ao cálculo da soma ponderada dessas taxas

convertidas para reais. A Tabela 17 exibe os resultados dessa operação,

indicando que o custo médio do capital de terceiros da TBG expresso em reais é

de 13,09% ao ano.

Tabela 17: Taxas de Remuneração em Reais do Passivo Oneroso Consolidado da TBG.

Taxas anuais expressas em reais convertidas pelo cambio comercial de venda do último dia útil de novembro de 2001, tendo 31 de dezembro de 2000 como base, conforme disposto nas notas explicativas dos demonstrativos financeiros da empresa. Fonte: PriceWaterhouse & Coopers, British Bankers Association, Treasury Management DataBase, Andima e Economática.

moeda participação % desvalorização média* custo do endividamento taxas em R$US$ 67,26% 9,30% 8,75% 12,14%Lira 1,69% 1,93% 11,17% 0,22%Yen 31,05% -2,14% 4,50% 0,73%

13,09%

Cálculo do Custo da Dívida TBG

* em novembro de 2001, pelo câmbio comercial de venda do último dia útil do mês.Custo médio da Dívida (Capital de Terceiros)

5.3.2. OS WACC DA TBG

A esta altura do estudo todos os elementos necessários ao cálculo do

custo de capital da TBG encontram-se reunidos, entretanto, uma análise mais

atenta dos balanços da TBG revela que a firma apresentou Passivo a Descoberto

em 2000, o que somado à inexistência de suas ações no mercado dificulta a

determinação do valor do seu capital próprio. Uma vez que o cálculo do WACC

Page 81: Leonardo Bento

72

necessita desse parâmetro e que a própria empresa divulgou desejar no futuro

cerca de 67% de capital de terceiros e 33% de capital próprio, esse impasse é

sanado por uma informação que não pode ser extraída dos dados financeiros

disponíveis para o mercado. A Tabela 18 apresenta os resultados dos WACC

calculados.

Tabela 18: WACC TBG segundo Modelos Estudados.

Fonte: Elaboração própria.

Ibbotson Large Caps Ibbotson Small CapsCusto de Capital Próprio (em % anual)

CAPM Local 24,48% 36,36%Betas Multiplicativos de Solnik 30,54% 45,70%

Custo do Capital de Terceiros (em % anual) 13,09% 13,09%Capital de Terceiros + Capital Próprio (em R$ mil) 1.160.787 1.160.787

Capital de Terceiros (em R$ mil) 777.727 777.727Capital Próprio (em R$ mil) 383.060 383.060

Tributação Média TBG (% alíquota média) 0,00% 0,00%Capital Terceiros/(Capital de Terceiros + Capital Próprio) 67% 67%Capital Próprio/(Capital de Terceiros + Capital Próprio) 33% 33%WACC (em % annual, moeda local)

CAPM Local 16,85% 20,77%Betas Multiplicativos de Solnik 18,85% 23,85%

WACC TBG - Taxas Anuais em R$

5.4. QUAL RESULTADO ESCOLHER?

Uma vez procedidos os cálculos dos WACC da TBG para os dois

modelos estudados e para as duas hipóteses de betas cogitadas, a determinação

de um resultado quantitativo para o custo de capital da TBG necessita de mais

dois passos: (i) em qual hipótese de beta a TBG melhor se encaixa; (ii) qual

modelo se afigura como mais apropriado.

A primeira questão é respondida com certa facilidade. A metodologia

de Ibbotson Associates para divisão entre empresas grandes (Large Caps), e

pequenas (Small Caps) é pautada por uma série de quesitos, tais como vendas e

capital total, ambos em milhões de dólares. Tais classificações correspondem às

dez maiores e menores empresas norte americanas em cada quesito analisado.

Observando as Large Caps mais de perto, conclui-se que essas empresas têm

faturamento da ordem de US$ 4 bilhões anuais. A TBG em dezembro de 2000

Page 82: Leonardo Bento

73

registrou cerca de US$ 117 milhões em vendas brutas29, muito longe da média

das Large Caps. Além desse ponto, os valores dos WACC obtidos com a

utilização das Large Caps para o CAPM local (16,85% a.a. em R$) e para o

modelo de Solnik (18,85% a.a. em R$) são inferiores aos 19% a.a. tidos como a

taxa de juros básica da economia brasileira em novembro de 2001, o que

inviabiliza a utilidade prática de ambas as estimativas. Ante essas evidências,

conclui-se que a TBG é melhor representada pelas Small Caps de Ibbotson

Associates.

Discutindo a segunda questão, o WACC fornecido pelo CAPM local

não pode ser considerado o modelo mais ajustado às peculiaridades do setor de

transporte de gás natural no Brasil, dado o perfil das empresas que compõem a

base acionária da TBG. Considerar tais empresas como investidores segmentados

representaria um grave erro conceitual. A soma da inadequação teórica do

modelo e das adaptações necessárias ao seu cálculo descritas anteriormente,

torna frágeis os números estimados, o que retira sua utilidade como baliza do

custo do capital próprio acionário da TBG. O modelo dos betas multiplicativos

de Solnik carrega a virtude de enfocar o custo do capital próprio da TBG sob

uma perspectiva de mercados integrados, o que o torna conceitualmente mais

adequado. Além disso, conforme já mencionado, este modelo é o que apresenta a

menor necessidade de adaptações e suposições dentre os dois estudados.

Ordenando as observações aqui perfiladas, chega-se à conclusão de

que o modelo dos Betas multiplicativos de Solnik valendo-se do beta obtido a

partir das Small Caps de Ibbotson Associates é o mais adequado para o cálculo

do custo do capital próprio da TBG e, portanto, do setor de transporte de gás

natural no Brasil nas circunstâncias apresentadas.

Uma observação final quanto à aplicação do modelo indicado fica por

conta da estrutura de capitais utilizada. Conforme salientado na seção 5.1, não foi

possível coletar informações que comprovem a que distância a TBG se encontra

de sua meta de uma relação capital próprio/capital de terceiros de 67% de

29 Vendas brutas constante no Demonstrativo de Resultados do Exercício de 2000, convertido pelo câmbio comercial de venda de 31 de dezembro de 2000.

Page 83: Leonardo Bento

74

participação de endividamento e capital próprio com 33%. Neste caso não é

possível afirmar ou negar que a TBG esteja longe da estrutura desejada. Para que

o estudo não deixe descoberta a possibilidade da TBG estar fora de sua estrutura

desejada, a relação capital próprio/capital de terceiros calculada por Ibbotson

Associates para empresas Small Caps foi aplicada ao modelo de Betas

multiplicativos de Solnik, obtendo-se os resultados exibidos na Tabela 19:

Tabela 19: WACC TBG e a estrutura de capitais Small Caps norte americana

Fonte: Ibbotson Associates, elaboração própria.

Ibbotson Small CapsCusto de Capital Próprio Beta Multiplicativos de Solnik (em % anual)

Taxa livre de risco em US$ 3,90%Prêmio de risco global em US$ 4,94%

Beta Global Brasil 1,557beta TBG desalavancado 0,950

Capital de Terceiros/Capital Próprio TBG 1,660Tributação Média TBG 0,00%Beta TBG alavancado 2,527

custo de capital em US$ 23,34%fator de ajuste para R$ 19,65%

Custo de Capital Modelo Betas Multiplicativos de Solnik (em R$) 42,99%Custo do Capital de Terceiros (em % anual) 13,09%Capital de Terceiros + Capital Próprio (em R$ mil) 1.246.237

Capital de Terceiros (em R$ mil) 777.727Capital Próprio (em R$ mil) 468.510

Tributação Média TBG (% alíquota média) 0,00%Capital Terceiros/(Capital de Terceiros + Capital Próprio) 62%Capital Próprio/(Capital de Terceiros + Capital Próprio) 38%WACC (em % annual, moeda local)

Betas Multiplicativos de Solnik 24,33%

WACC TBG e estrutura de capitais EUA - Taxas Anuais em R$

Page 84: Leonardo Bento

75

6. CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA ESTUDOS

FUTUROS

6.1. CONCLUSÃO

Dado que o problema central do presente estudo foi expresso pela

pergunta “Qual a remuneração verificada dos ativos totais de um transportador

de gás natural no Brasil?”, o objetivo final foi efinir a melhor forma de modelar

e retratar o custo de capital para essa classe de empresa no país.

Diante dos resultados obtidos esse objetivo estudo foi alcançado, mas

com ressalvas. Em função das dificuldades encontradas na definição de um

número para o WACC da TBG, portanto do setor de transporte de gás natural no

Brasil, o modelo mais adequado para a tarefa é o de betas multiplicativos de

Solnik, utilizando o beta desalavancado das empresas Small Caps de Ibbotson

Associates como base de cálculo. Esta resposta indica ser esse o modelo mais

ajustado ao cálculo do custo de capital de empresas de capital fechado. Os

WACC em reais encontrados empregando-se esse modelo, 23,85% a.a. em reais

ou 24,33% a.a., a depender da estrutura de capitais considerada, são bastante

factíveis ante a taxa de juros básica brasileira de 19% ao ano que vigorava em

novembro de 2001. A adequação teórica do modelo indicado, contudo, esbarra na

impossibilidade de confirmação da hipótese subjacente de independência de

funcionamento por parte da TBG, conforme exposto na seção 1.1, além de todas

as suposições levantadas ao longo dos cálculos dos parâmetros utilizados. Posto

de outro modo, os WACC calculados não podem ser considerados parâmetros

satisfatórios.

Ante estas evidências, conclui-se que o modelo dos Betas

Multiplicativos de Solnik carrega a virtude de enfocar o custo do capital próprio

da TBG sob uma perspectiva de mercados integrados, o que o torna

Page 85: Leonardo Bento

76

conceitualmente adequado, no entanto, o custo de capital calculado para a TBG

neste estudo padece das fragilidades destacadas ao longo do cálculo do mesmo,

além de esbarrar na controvérsia quanto à independência do transportador,

significando que os números obtidos não podem ser considerados representativos

para o setor de transporte de gás natural no Brasil.

6.2. SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

O estudo do custo de capital do transporte de gás natural no Brasil

não é exatamente uma questão tranqüila, dado o grau de concentração do setor, a

exigüidade de informações e a volatilidade dos parâmetros relativos ao país. Uma

das principais dificuldades, excetuando-se as normais quanto à obtenção de

parâmetros relativos ao mercado brasileiro, tais como o prêmio de risco do país e

sua taxa livre de risco, é a determinação do beta da TBG. Uma vez que foi

utilizada somente a indústria norte americana como base para extrapolação, a

inclusão de outros países onde a estrutura da indústria de transporte de gás

natural seja semelhante, tais como a Inglaterra, Austrália, Espanha e Argentina, é

recomendada.

Com relação à independência estratégica da TBG, as conclusões aqui

apresentadas podem ser consideradas apenas uma indicação para estudos mais

aprofundados. Resultados mais sólidos sobre as hipóteses levantadas requerem

investigações adicionais. O grupo de países citados no parágrafo anterior figura

como excelente celeiro de novas perspectivas. Adicionalmente, a investigação da

influência de fatores como o ambiente jurídico onde se baseiam as operações do

monopolista natural também promete contribuições interessantes às hipóteses

aqui levantadas.

Page 86: Leonardo Bento

77

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