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Universidade Anhanguera-UniderpRede de Ensino Luiz Flávio Gomes
A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS E O AGRAVO
LEONARDO SOUTO DA ROSA
JOÃO PESSOA –PB
2011
1
LEONARDO SOUTO DA ROSA
A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS E O AGRAVO
Monografia apresentada ao Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu TeleVirtual como
requisito parcial à obtenção do grau de
especialista em Direito Processual Civil.
Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
Orientadora: Prof.ª Márcia Michele Prigol
JOÃO PESSOA – PB
2011
2
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem como intuito analisar a recorribilidade das decisões interlocutórias e o recurso do agravo no ordenamento jurídico brasileiro que vem sofrendo profundas modificações desde o Código de Processo Civil originário de 1973, o que demonstra que nosso ordenamento jurídico ainda não encontrou a melhor forma de analise dos meios de impugnação dessas decisões. No desenvolvimento deste trabalho foram feitas análises sobre os atos judiciais e suas inovações, os princípios recursais e a recorribilidade das decisões interlocutórias e o recurso do agravo em suas diferentes modalidades. Fez-se necessário analisar a irrecorribilidade das decisões interlocutórias e as possíveis alterações do projeto de lei de novo código processual civil.
Palavras-chave: atos judiciais,decisões interlocutória, agravo.
3
ABSTRACT
The present monograph is to analyze the order of interlocutory decisions and recorribilidade feature of this disease in the Brazilian legal system that has undergone profound changes since the original Code of Civil Procedure 1973, which shows that our legal system has not yet found the best way to analysis of the means of challenging such decisions. In this work analyzes were made on the judicial acts and their innovations, and recorribilidade principles of appellate decisions and interlocutory appeal of this disease in its different modalities. It was necessary to analyze the irrecorribilidade of interlocutory decisions and possible amendments of the bill of new code of civil procedure.
Keywords: judicial proceedings, interlocutory decisions, agravo.
4
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CPC – Código de Processo Civil.
PLNCPC – Projeto de Lei de Novo Código de Processo Civil
5
SUMÁRIO
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO....................................................................................................
1. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS JUDICIAIS....................................................
1.1 Considerações iniciais...............................................................................
1.2 Sentença......................................................................................................
1.3 Despachos...................................................................................................
1.4 Acórdão.......................................................................................................
1.5 Conceito e Natureza jurídica das decisões interlocutórias....................
1.6 Nova classificação dos atos judiciais.......................................................
2. PRINCÍPIOS RECURSAIS.............................................................................
2.1 Princípio da Inafastabilidade da prestação jurisdicional........................
2.2 Princípio do duplo grau de jurisdição......................................................
2.3 Princípio da Taxatividade...........................................................................
2.4 Princípio da irrecorribilidade em separado das decisões
interlocutórias...................................................................................................
3. RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS E O
RECURSO DO AGRAVO...................................................................................
3.1 Breve histórico do recurso do agravo......................................................
3.2 Considerações iniciais sobre a recorribilidade das decisões
interlocutórias...................................................................................................
3.3 Decisões interlocutórias recorríveis por agravo retido..........................
3.4 Decisões interlocutórias recorríveis por agravo de instrumento..........
3.5 Recorribilidade das decisões interlocutórias proferidos em segundo
grau....................................................................................................................
3.6 Das decisões interlocutórias irrecorríveis...............................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................
REFERÊNCIAS..................................................................................................
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6
INTRODUÇÃO
As decisões interlocutórias vêm sendo modificado por diversas leis que
alteraram o Código de Processo Civil desde a sua elaboração em 1973 até os dias
atuais, principalmente com relação à recorribilidade das decisões interlocutórias.
Essas sucessivas mudanças nos demonstram que nosso ordenamento
jurídico ainda não encontrou a melhor forma de analise dos meios de impugnação
dessas decisões.
Essa problemática tem sido analisada por diversos artigos de
doutrinadores e auxiliares da justiça, uma vez que entendem que o uso
indiscriminado dos recursos em decisões interlocutórias tem causado o
“trancamento” no curso do processo, pois os recursos causariam a suspensão
desses processos até o julgamento deles.
O presente trabalho visa demonstrar o conceito dos atos judiciais, os
princípios que regem o recurso, bem como a história da recorribilidade das decisões
interlocutórias, a atual sistemática e as inovações que poderão ser introduzidas no
Projeto de Reforma do CPC.
Além disso, visa analisar propostas retiradas do direito comparado para
compatibilizar o nosso ordenamento com os princípios da celeridade e efetividade
processual.
Sobre os atos processuais a doutrina clássica os divide em atos
decisórios e atos não decisórios, contudo o nosso CPC os dividiu em despacho,
decisão interlocutória, sentença e acórdão e para cada um deles estabelece sobre a
possibilidade e a forma de impugnação de cada ato.
As decisões interlocutórias, objeto do presente trabalho, são os
julgamentos, pelo juiz, de decisões de ordem material ou processual que surgem no
decorrer do processo, mas que não põe fim ao feito.
Contudo, doutrina moderna critica a atual sistemática adotada para a
classificação dos atos judiciais uma vez que a encontra-se superada, pois não
atende à realidade do processo que é a busca pelo bem da vida.
Ademais, as últimas alterações ocorridas no CPC fizeram com que as
classificações propostas ficassem ultrapassadas, motivo pelo qual doutrina moderna
7
propõe nova classificação para poder analisar os meios de impugnações
processuais.
Analisando os princípios em relação à recorribilidade das decisões
interlocutórias, verifica-se que pelo princípio da taxatividade não podem ser criados
novos recursos para a impugnação dessas decisões.
Ademais se verificou a tendência da aplicação do princípio da
irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias no ordenamento pátrio,
principalmente no processo trabalhista, contudo, para o Processo Civil, o princípio
do duplo grau de jurisdição fundamenta a recorribilidade dessas decisões.
A recorribilidade das decisões interlocutórias, analisando historicamente
até os dias atuais, jamais amadureceu, motivo pelo qual ocorreram diversas
mudanças sobre a sua formulação.
Cumpre ressaltar, inicialmente, que essas mudanças ocasionaram em
alterações significativas no conceito e abrangência de decisão interlocutória, uma
vez que deixaram de ser apenas decisões sobre a condução do processo e
passaram a configurar verdadeiras decisões antecipadas de mérito.
Há de se ressaltar que essas divergências conceituais têm gerado
equívocos e injustiças em relação aos recursos dela recorrente e na má qualidade
da prestação jurisdicional.
Verifica-se também, que o recurso de Agravo é o cabível para as
decisões interlocutórias, podendo ser feito em suas diferentes modalidades, quais
sejam, retido, por instrumento ou simplesmente Agravo, dependendo do conteúdo
da decisão e do órgão que a proferiu.
Ademais, no que diz respeito à recorribilidade das decisões
interlocutórias, há no ordenamento jurídico brasileiro, em especial no Direito
Processual Civil, uma discussão sobre a irrecorribilidade dessas decisões, tendo em
vista o direito comparado ao Direito Processual Trabalhista e a alguns ordenamentos
estrangeiros.
Ocorre que, como dispõe a Constituição Federal, deve-se assegurar o
direito fundamental às garantias processuais, quais sejam: contraditório, ampla
defesa, juiz natural, imparcialidade, fundamentação das decisões judiciais dentre
outros.
8
Todavia não se pode permitir que o processo torne-se moroso com
recursos de decisões de caráter processual protelatório que configuram verdadeiro
empecilho à efetivação da justiça.
Com efeito, há de se buscar um equilíbrio para a solução do problema
evitando, assim, a morosidade processual, bem como resguardando os direitos
fundamentais buscando a efetividade processual.
Por fim, verificou-se que adotar o princípio da irrecorribilidade das decisões
interlocutórias não seria a melhor medida aplicada, devendo existir, em razão do
princípio do duplo grau de jurisdição e, também, para evitar abusos de magistrados
e decisões arbitrárias, recursos para as decisões interlocutórias mesmo que de
forma restringida.
9
1. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS JUDICIAIS
1.1 Considerações Gerais
Os atos judiciais, de acordo com a lei nº 5.869/73, podem ser
classificados em sentenças, despachos, decisões interlocutórias, que são
pronunciamentos de órgãos singulares, e acórdão, pronunciamento de órgãos
colegiados nos termos dos artigos 162 e 163 da referida lei, o nosso Código de
Processo Civil.
Ressalte-se, todavia, que essa denominação de atos judiciais é
inadequada, tendo em vista que o juiz pratica inúmeros outros atos como inspeção
judicial, interrogatório de testemunhas, assinatura de ofícios, presta informações ao
Tribunal quando solicitado e realiza audiências, podendo nesta última, proferir
decisões e sentença.
Portanto, mais adequado seria o CPC prever os artigos 162 e 163 do
CPC como pronunciamentos do juiz.
Cumpre lembrar que a doutrina clássica de Humberto Theodoro Junior
classifica os atos com decisórios e não-decisórios1, sendo os atos dispostos no CPC
chamados de atos jurisdicionais e os outros, como atos diversos do ofício típico de
julgar, sendo, portanto, qualificados como atos administrativos.
Como o presente estudo vem analisar a recorribilidade das decisões
interlocutórias, há de se ressaltar a correlação entre os pronunciamentos do juiz e os
seus respectivos recursos.
É de conhecimento público que as sentenças são recorríveis por
Apelação, nos termos do Art. 513, do CPC; das decisões interlocutórias cabem
Agravo, como dispõe os artigos 522 e seguintes do CPC; dos despachos não cabem
recurso.
Diante do exposto, faz-se necessário uma melhor análise dos
pronunciamentos judiciais.
1 JÚNIOR, Humberto Theodoro, Curso de direito processual civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento – Rio de Janeiro: Forense, 2009
10
1.2 Sentença
Inicialmente, na redação original do código de 1973 previa que a sentença
seria o ato que põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa.
Segundo Barbosa Moreira, o conceito era baseado em um critério
topológico, não interessando o conteúdo do ato, mas, tão somente, a posição por ele
encontrada no processo.2
No entanto, tal definição era altamente criticada pela doutrina uma vez
que, com as diversas alterações sofridas pelo referido código, o processo se
estendia bem além da sentença e, havendo recursos, o processo prosseguiria.
Todavia, nas alterações feitas pela lei 11.232/05, que transformou a
liquidação de sentença e de execução em etapas finais do processo, foi necessário
dar uma nova redação ao art. 162, §1º, conceituando sentença sendo o ato do juiz
que implica algumas das situações previstas nos artigos 267 e 269, do CPC, ou
seja, não mais o ato que, simplesmente, põe termo ao processo.
Diante dessa significativa mudança, muitos doutrinadores passaram a
conceituar sentença como aquele ato que põe fim ao procedimento de 1º grau, ou a
fase de conhecimento.
Contudo, o juiz, de 1º grau, após a sentença pode praticar outros
provimentos judiciais como o recebimento ou não de recursos, por exemplo, não
sendo, portanto, essa definição adequada.
Sobre o tema, é de bom alvitre a conceituação proposta por Alexandre
Freitas Câmara que define a sentença como: “ato judicial que põe fim ao ofício
judicial de julgar a causa, resolvendo ou não o objeto do processo, e determinando o
fim do módulo processual em que se proferida”3.
Diante do exposto, a sentença é o último pronunciamento judicial do juízo
singular que tenha por objeto uma das situações previstas nos artigos 267 e 269 do
CPC, ainda que não esteja pondo fim ao processo.
2 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A nova definição de sentença, pág. 268 e 272.3 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 5ª ed., Rio de Janeiro:
Lumen Juris, v. 1, 2001.
11
1.3 Despachos
Os despachos, também denominados de despacho de mero expediente,
são conceituados por exclusão, sendo todos os demais atos praticados no
processo, de ofício ou a requerimento da parte, cujo respeito a lei não estabelece
outra forma, nos termos do §3º do artigo 162, do CPC.
São atos caracterizados por não possuírem conteúdos decisórios, que
apenas servem para dar impulso ao processo e, em razão disso, conforme o art.
504, do CPC, não são impugnáveis por recurso.
Na prática, Cândido Rangel Dinamarco melhor contextualiza essa forma
de pronunciamento judicial:
Em toda ordem processual, o juiz tem o poder de comandar e controlar inquisitivamente o andamento do processo e sua regularidade, impulsionando-o em direção ao provimento final a ser proferido (sentença de mérito no processo de conhecimento, entrega do bem na execução), evitando irregularidades e sanado vícios. Ele o faz mediante providências de rotina, como ao mandar que se juntem petições ou documentos aos autos, ao chamar as partes para se manifestar sobre documentos ou especificar provas (arts. 324, 398 etc.), ao designar data para audiência etc. Daí receberem esses atos judiciais o nome de despachos de mero expediente, ou simplesmente despachos. 4
Na verdade, são atos que materializam o princípio do impulso oficial do
processo, sendo o ato pelo qual os juízes desenvolvem o processo, podendo,
inclusive, corrigir eventuais vícios processuais que não impliquem em uma decisão.
Desta forma, os despachos são os atos praticados pelo juiz que não
tenha relação com o mérito da causa, ou seja, dizem respeito, tão somente, ao
regular andamento do processo.
1.4 Acórdão
Os Acórdãos são os julgamentos proferidos pelos órgãos colegiados e, por
isso, são diferenciados dos atos praticados pelo juiz.
Há de se ressaltar que os acórdãos poderão ter conteúdo de sentença ou de
decisão interlocutória, como por exemplo: nos casos em que um acórdão julga o
agravo de instrumento contra indeferimento de prova terá conteúdo de decisão
4 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Malheiros, 2001. v. 2
12
interlocutória, e o acórdão que revisa ou não uma sentença, terá conteúdo de
sentença.
Por fim, vale lembrar que nem todo ato do tribunal revestem-se da forma de
acórdão, vez que o nosso código, permite decisões monocráticas proferidas por um
dos membros do órgão colegiado.
1.5 Conceito e Natureza Jurídica das decisões interlocutórias
No curso do processo, o juiz terá que se pronunciar sobre inúmeras
questões, de ofício ou a requerimento das partes, de conteúdo decisório sem
implicar necessariamente em julgar o mérito da causa.
O fato de ter um conteúdo decisório a diferencia dos despachos e, por não
ser o último pronunciamento meritório do magistrado, diferencia-se da sentença.
Segundo o professor Luiz Rodrigues Wambier,
A pedra de toque de seu conceito está no conteúdo decisório e não no seu efeito, pois consiste a decisão interlocutória num pronunciamento jurisdicional tendente a solver um impasse momentâneo, que necessita da decisão para que o processo prossiga...São exemplos: a concessão de liminar, o deferimento ou não da produção de determinada prova, o julgamento das exceções, da impugnação ao valor da causa, entre outras.5
Ou seja, para caracterizar a decisão interlocutória é necessário levar em
conta a natureza do seu conteúdo, além de não ser uma das implicações dos artigos
267 e 269, do CPC.
Contudo, em determinadas situações poderá haver decisões com
conteúdo de sentença durante o curso do processo, como por exemplo, o
indeferimento da petição inicial em relação a um dos réus, a exclusão de um autor
pelo reconhecimento da prescrição em relação a ele ou nos casos da antecipação
de tutela previsto no art. 273, do CPC.
Nesses casos, apesar de ter um conteúdo decisório previsto nos artigos
267 ou 269, do CPC, é pacífico na jurisprudência a recorribilidade na forma de
Agravo, vez que o processo deve prosseguir para que o juiz analise as demais
questões não decididas.
5 WAMBIER, Luís Rodrigues e outros. Curso Avançado de Processo Civil – Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
13
Desta forma, verifica-se que para analisar o que é a decisão interlocutória,
devem-se levar em conta os critérios do conteúdo, da finalidade e topológico no
procedimento.
1.6 Nova classificação dos atos processuais.
No que tange à disciplina da recorribilidade das decisões interlocutórias,
inicialmente faz-se necessária uma análise sobre a natureza jurídica das decisões
judiciais, buscando-se identificar as semelhanças e distinções entre sentença e
decisão interlocutória.
De modo que se possa compreender se ainda se justifica a manutenção
de recursos distintos para atacar tais pronunciamentos judiciais, bem como se é
justificável a preclusão antes da sentença de mérito.
Segundo Calmon de Passos,
O objetivo da justiça é, pois, proporcionar a satisfação, em última análise, a pacificação social. A certificação do direito (sentença) nada mais é do que um ato interlocutório, já que a satisfação somente ocorre após os atos que depois dela serão praticados.6
Alguns afirmam que a diferença entre decisão interlocutória e sentença
consiste no fato de serem impugnáveis por recursos diferentes, outros, argumentam
a distinção embasando-se na definição banida pelo código, mas que ainda é
sustentada por muitos doutrinadores, segundo a qual sentença é o ato que põe fim
ao processo e decisão interlocutória é aquela prolatada no curso do processo, não o
extinguindo.
Segundo Calmon de Passos, o processo existe para promover a
pacificação social. Assim, as pessoas buscam obter satisfação, através de terceiro
imparcial. Desse modo, a sentença, tampouco o acórdão põem fim ao processo,
nem mesmo a uma fase de conhecimento do processo, pois o fim do processo
somente ocorre quando o bem da vida passa a ser usufruído por quem de direito7.
Argumenta o referido autor que o processo é um só, iniciando-se com a
petição inicial e terminando com a livre disposição do bem da vida. Nesse sentido,
6 CALMON, Petrônio. Reflexões em torno do Agravo de instrumento, disponível em: Revista de processo, coordenaodor WAMBIER, Teresa arruda Alvim. São Paulo: RT.
7 Idem.
14
não existe uma fase de conhecimento, tendo em vista a possibilidade de
antecipação de tutela, a cautelar e a liminar.
Além disso, através de uma antecipação de tutela, o sujeito pode alcançar
a satisfação do direito pleiteado no mesmo dia em que propõe a demanda. Ademais,
é possível promover a execução ou medida cautelar concomitantemente aos atos de
instrução.
Portanto, sentença não é o ato que põe fim ao processo, nem a fase de
conhecimento, posto que esses não existem. De outro lado, as decisões
interlocutórias não tratam apenas de questões processuais, pois há muitas decisões
interlocutórias que versam sobre matérias de direito. De modo que, se o processo só
se extingue com a satisfação do direito pleiteado, todos os pronunciamentos judiciais
anteriores a essa, serão atos interlocutórios.
Argumenta Calmon de Passos, que a antecipação de tutela, em verdade
é uma antecipação de sentença, pois confere tutela, determinado a realização de um
direito, devendo, pois receber o mesmo tratamento das sentenças.8
Não obstante, por ser a tutela antecipada tratada como decisão
interlocutória, muitas injustiças são perpetradas em relação à admissibilidade do
agravo de instrumento e aos recursos dele decorrentes.
Do mesmo modo, outro grave equívoco, diz respeito a tratar como
sentença a decisão que põe fim ao processo sem resolução de mérito. Esse
lamentável equívoco tem gerado má qualidade na prestação jurisdicional, como por
exemplo, a impossibilidade do juiz exercer o juízo de retratação.
Nesse desiderato, ao invés de classificação tradicional, sentença, decisão
interlocutória e despacho, Calmon sugere que seja considerado, atos de atuação do
direito, atos decisórios e atos não decisórios.9
Os atos de atuação do direito são aqueles que objetivam proporcionar a
satisfação do direito.
Os atos decisórios, por sua vez, dividir-se-iam em: decisão sobre a
condução do processo, decisão que constata a ausência de pressupostos de
constituição e desenvolvimento regular do processo e decisão que certifica o direito
e estabelece forma de satisfação.
8 Op. cit. nota 6.9 Idem.
15
Essa última, quanto ao momento em que é proferida, pode ser de duas
espécies, quais sejam, aquelas proferidas antes ou durante a instrução, e as
proferida depois de concluída a instrução.
Exemplificando, as decisões do juiz e do escrivão praticam de ofício,
como produzir uma prova não requerida ou juntar petição sem abrir vista as partes,
seriam casos de decisões sobre a condução do processo.
Por sua vez, as decisões, que, exemplificativamente, excluem um
litisconsorte ou julgam liminarmente improcedente a reconvenção, bem como as que
concedem ou indeferem a antecipação de tutela, são decisões que certificam o
direito.
Nesse diapasão, conclui o referido autor, que as decisões que certificam o
direito não devem tratadas da mesma forma que aquelas que tratam da condução
do processo. Para tanto, é necessário uma reforma legislativa. E, enquanto essa não
ocorrer, o sistema recursal deve ser analisado com base no entendimento acima
esposado e não com base no entendimento tradicional.
Nessa linha de raciocínio, argumenta Calmon de Passos que a distinção
das hipóteses de cabimento entre agravo de instrumento e apelação, dizem respeito
única e exclusivamente a ainda existente distinção entre decisões interlocutórias e
sentença. Defendendo a existência de recurso único para impugnar as decisões
judiciais. 10
Não obstante, adotando-se a classificação acima proposta não seria
necessária um tipo de recurso para cada tipo de decisão, além disso, com a xerox,
os processo eletrônico e os diversos meios de envio eletrônico de dados, chega ao
fim o problema da formação de um instrumento. Pois o processo eletrônico está em
todos os lugares, ao alcance de um computador.
Além disso, não há problemas em que a apelação seja interposta
diretamente no Tribunal, como ocorre com o agravo de instrumento. Tal posição,
inclusive, traria economia e celeridade processual. Ademais, eliminará um trabalho
desnecessário e inútil, além de eliminar o agravo de instrumento pelas hipóteses
objetivas previstas no art. 522.
2. PRINCÍPIOS RECURSAIS
10 Op. cit. nota 6.
16
2.1 Princípio da Inafastabilidade da Prestação Jurisdicional
O princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional também pode ser
conhecido como princípio do direito de ação, ou ainda, princípio do acesso a justiça.
É assegurado a todos os jurisdicionados o direito de ter um controle
jurisdicional das situações conflituosas e, diante do disposto na CF, não há qualquer
possibilidade de ofensa à garantia do direito de ação.
Na Constituição Federal, este princípio encontra respaldo no art. 5º, XXXV,
sendo um direito público subjetivo de qualquer cidadão de pleitear o controle
jurisdicional prevendo de qualquer lesão ou ameaça a direito.
Desta forma, fica garantido, a todos que se sentirem lesados ou ameaçados
em seus direitos, o acesso aos órgãos judiciais. Por isso, diversos doutrinadores
dizem que este princípio possui estreita relação com o princípio do acesso à justiça.
Sobre o tema merece destaque apontamento de Leonardo Ferres da Silva
Ribeiro:
A Constituição Federal estatui a garantia de acesso pleno e irrestrito de todos ao Poder Judiciário, de modo que nenhuma lesão ou ameaça a direito seja subtraída da sua apreciação e solução. Assim, a Carta Magna, ao dispor no art. 5º, XXXV, que ‘a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito’, garante, de forma ampla e genérica, o acesso à Justiça, isto é, não só o direito de movimentar a máquina judiciária por meio do processo, mas também o de obter a tutela jurisdicional. 11
Assim, verifica-se que não se trata de apenas garantir ao jurisdicionado o
acesso à justiça, mas também se deve garantir mecanismos judiciais aptos a
propiciar decisões justas, céleres e úteis aos jurisdicionados, garantindo assim a
efetividade da prestação jurisdicional.
Verifica-se, ainda, que tal dispositivo constitucional não apenas está
atrelado ao a uma resposta do judiciário, vez que também vincula o legislador que
não poderá elaborar normas que visem restringir ou mesmo impedir o acesso à
justiça, salvo em exceções ideológicas e políticas previstas na própria constituição
federal.
11 RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva. Prestação Jurisdicional Efetiva: uma garantia constitucional. In: FUX, Luiz; NERY JÚNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Processo e Constituição: estudos em homenagem ao professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
17
Corrobora desse entendimento, Luiz Guilherme Marinoni:
Uma leitura mais moderna, como se sabe, faz surgir a idéia de que esta norma constitucional garante não só o direito de ação, mas a possibilidade de um acesso efetivo à justiça, e, assim, um direito à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. Não teria cabimento entender, com efeito, que a Constituição da República garante ao cidadão que pode afirma uma lesão ou uma ameaça a direito apenas e tão somente uma resposta, independentemente de ser ela efetiva e tempestiva. Ora, se o direito de acesso à justiça é um direito fundamental, porque garantidor de todos os demais, não há como se imaginar que a Constituição da República proclama apenas que todos têm o direito a uma mera resposta do juiz.12
Destarte que o direito do acesso à justiça por ser uma garantia individual
assegurada pela constituição, deve ser dirigida a todos indistintamente e
compreendidas de forma ampla para que tenham a máxima efetividade.
Ressalte-se, por fim que o processo civil não basta o direito à prestação
jurisdicional, é necessário garantir efetivação aos direitos que são assegurados, bem
como que seja realizada do modo mais célere, em menos tempo e com maior
economia de recursos.
Desta forma, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional deve ser
entendido como garantia à proteção jurisdicional dotada de efetividade na e
satisfação do direito.
2.2 Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
O princípio do duplo grau de jurisdição é encontrado de modo expresso no
art. 475-J do CPC, por isso para alguns doutrinadores essa garantia não seria
constitucional.
Contudo para César Asfor Rocha,
Embora ainda exista a controvérsia, a doutrina mais abalizada entende que tal princípio encontra-se implicitamente previsto na Carta Magna, defendendo-o sob o fundamento de que uma lide é melhor decidida quando passa por dois diferentes juízos de cognição, o segundo sobrepondo o primeiro.13
12 MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. 3.ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
13 ROCHA, Cesar Asfor, A luta pela efetividade da jurisdição, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007.
18
O duplo grau de jurisdição pode ser entendido como a possibilidade da
revisão da decisão da causa, ou seja, a possibilidade de a parte requerer e ter uma
segunda opinião referente a uma decisão da causa de forma integral.
Para parte da doutrina essa mera possibilidade de revisão gera o duplo
grau de jurisdição, mesmo que seja realizado pelo mesmo órgão que prolatou a
decisão ou por outro órgão de jurisdição de mesmo grau hierárquico.
Contudo, parcela da doutrina vem se posicionando no sentido de que
para haver o duplo grau de jurisdição deve existir diferença hierárquica dos órgãos
jurisdicionais que, respectivamente, decide em pela primeira vez e a que reexamina.
O problema é que a doutrina que dispensa a segunda decisão seja
prolatada por um juízo hierarquicamente superior se confunde por fazer uma
indevida identidade entre recurso e duplo grau de jurisdição.
Segundo Daniel Assunção “Apesar de se tratar de um princípio recursal, o
duplo grau de jurisdição é inconfundível com o recurso, podendo existir o primeiro
sem existir o segundo”.14
Isso se dá pela possibilidade prevista no nosso CPC de haver o reexame
necessário, que seria uma forma de duplo grau de jurisdição, sem recurso.
Ademais, sobre o assunto, os doutrinadores dispõem de argumentos
favoráveis e desfavoráveis decorrentes da adoção desse princípio recursal.
Dentre os argumentos favoráveis, o mais compreensível encontra-se na
própria natureza humana, tendo em vista que para uma decisão possa haver uma
parte que não se sinta satisfeita por contrariar seus interesses, havendo, portanto
uma irresignação natural e, em razão disso, merece uma segunda opinião sobre a
decisão que lhe for desfavorável.15
Outro aspecto favorável ao duplo grau de jurisdição é a falibilidade
humana, tendo em vista que os magistrados brasileiros, por diversos fatores,
acabam abarrotados de trabalho, sendo completamente compreensível a
possibilidade do ser humano se equivocar em uma eventual decisão, merecendo os
jurisdicionados, portanto, manter um mecanismo de revisão dessas decisões.
Afirma-se, ainda, que esse princípio nasceu com a preocupação dos
abusos de poder dos magistrados, sendo entendido como garantia fundamental de
boa justiça. Além disso, a prestação jurisdicional por um segundo órgão colegiado
14 NEVES, Daniel Amorim Assunção, Manual de direito processual civil – 3. Ed. – São Paulo: Método, 2011, p. 592.
15 Idem.
19
com juízes com maior experiência e maturidade, com uma melhor estrutura e menor
volume de trabalho, permitiria uma decisão com um estudo mais minucioso do
caso.16
Já as desvantagens do duplo grau de jurisdição seria o afastamento do
princípio da oralidade, a mitigação do princípio da celeridade processual, princípios
esses que tem sido utilizado como justificativa das recentes alterações em nossos
códigos processuais.
Além disso, diz-se que a utilização desse princípio seria um desprestígio aos
juízes de primeira instância, pois suas decisões seriam mera opinião jurídica a
respeito dos fatos e provas colhidas, sendo sempre a decisão de segundo grau a
decisão definitiva proferida nos casos.
Por fim, tem prevalecido o entendimento da doutrina mais moderna, que
não se trata este princípio de uma garantia constitucional absoluta, não impedindo
que uma lei ordinária mitigue o cabimento de um recurso em razão de outros
princípios processuais.
2.3 Princípio da Taxatividade
Segundo o princípio da taxatividade, somente pode ser considerado um
recurso como meio de impugnação de uma decisão, àquele que estiver previsto em
lei federal como tal. Essa conclusão é gerada pelo simples fato da nossa CF
designar a competência exclusiva da união para legislar sobre processo, nos termos
do art. 22, I da carta magna.
Ressalte-se que esse princípio dispõe que um recurso pode passar a existir
por qualquer lei federal, não somente o Código de Processual Civil, por isso,
completamente legal as leis extravagantes que criam recurso como ao Lei 6.380 e
alei 9.099/96.
Por fim, esse princípio impede que as partes criem de comum acordo
recursos inexistentes no ordenamento jurídico pátrio17, sendo também, essa razão
se considerar inexistente a apelação por instrumento – forma de apelação de
sentença parcial de mérito com procedimentos de agravo de instrumento – por não
haver previsão expressa no nosso ordenamento processual.18
16 Op. Cit. – nota 14, pág. 593-594.17 ASSIS, Araken de, Manual dos Recursos. 2. Ed. São Paulo, RT, n.110.2, 2008, p.77-78.18 Op. Cit. nota 14, p.596
20
2.4 Princípio da Irrecorribilidade em separado das decisões
interlocutórias.
Parte da doutrina moderna vem entendendo que a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias em separado das decisões interlocutórias é mais um dos
princípios vigentes em nosso sistema recursal.
Entretanto tal afirmação é de difícil compreensão diante da previsão taxativa
do art. 522, caput, do CPC, que prevê de forma genérica o cabimento do agravo,
retido ou por instrumento, contra as decisões interlocutórias, salvo em situações
especiais previstas em lei.19
Segundo Nelson Nery Junior, esse princípio pode ser conceituado como:
Segundo esse princípio, as decisões interlocutórias não são impugnáveis de maneira tal a paralisar todo o curso do procedimento. Sua impugnação se dá de maneira racional, observando os princípios da concentração dos atos processuais e da economia processual. 20
Destaque-se, ainda, que a locução “em separado” assegura que a
irrecorribilidade não seja no sentido amplo, mas sim, tão comente em relação ao
meio de impugnação e ao efeito suspensivo do recurso.
Desta forma, adotar esse princípio significa a impossibilidade de conferir
efeito suspensivo ao Agravo, idéia essa plenamente adotada em nosso
ordenamento, tendo em vista que em regra não se admite o efeito suspensivo ao
recurso de agravo.
Ressalte-se que é compreensível a aplicação desse princípio, haja vista
que no processo sumaríssimo vigente nos Juizados Especiais a doutrina majoritária
e a jurisprudência pátria entendem pelo não cabimento do recurso de agravo, salvo
na hipótese de decisão interlocutória que tenha como objeto tutela de urgência ou
recurso inominado contra a sentença e todas as decisões interlocutórias que
geraram sucumbência ao recorrente durante o caminho procedimental.21
19 Op. Cit. nota 17, p.99.20 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais – Teoria geral dos recursos. 7.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2001 –p.153.21 Op. Cit. nota-14, p. 607.
21
Ressalte-se que esse princípio é adotado pelo direito processual
trabalhista tendo em vista haver previsão expressa da irrecorribilidade das decisões
interlocutórias.
Ademais, o projeto de lei do Novo Código de Processo Civil amplia
significativamente esse princípio no nosso ordenamento processual civil, haja vista
que dispõe em seu art. 929, in verbis:
Art. 929. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias:I – que versarem sobre tutelas de urgência ou da evidência;II – que versarem sobre o mérito da causa;III – proferidas na fase de cumprimento de sentença ou no processo de execução;IV – em outros casos expressamente referidos neste Código ou na lei.Parágrafo único. As questões resolvidas por outras decisões interlocutórias proferidas antes da sentença não ficam acobertadas pela preclusão, podendo ser impugnadas pela parte, em preliminar, nas razões ou contrarrazões de apelação.22
Desta forma, verifica-se que o PLNCPC extingue o recurso do agravo retido,
dispondo o cabimento do recurso de agravo de instrumento de forma taxativa, não
havendo mais a preclusão das decisões interlocutórias não impugnadas,
consubstanciando nos princípios da celeridade e efetividade processual.
Contudo, tal princípio que é extraído do processo trabalhista não será
adotado pelo PLNCPC uma vez que ainda admitirá, em determinados casos
específicos, os recursos para as decisões interlocutórias.
3. RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTORIAS E O RECURSO DO AGRAVO
3.1 Breve Histórico do agravo no Brasil
22 Código de Processo Civil : anteprojeto / Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília : Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf
22
O Código de Processo Civil brasileiro de 1939 previa três tipos de agravo: de
petição, de instrumento e no auto do processo. Contudo as interlocutórias não eram
recorríveis livremente.
O agravo de instrumento só poderia ser utilizado em casos expressamente
previstos na lei, e apenas excepcionalmente era lhe atribuído o efeito suspensivo. O
agravo de petição tinha efeito suspensivo e só era cabível das decisões que
pusessem termo ao processo não resolvendo o mérito. O agravo no auto do
processo também era cabível quando a lei estritamente previsse.
Com efeito, raríssimos eram os casos que previam o efeito suspensivo ao
recurso por isso surgiram diversos meio de impugnação autônomo como a correição
parcial e o mandado de segurança e, diante disso, o legislador do CPC de 1973,
desprezando o subprincípio da irrecorribilidade das interlocutórias, autorizou o
agravo de instrumento para todas as decisões interlocutórias.23
Contudo, o agravo de instrumento era formalizado em secretaria da primeira
instância e, por ser de difícil formação, ocasionava congestionamento dos processos
o que lavava aos recorrentes ingressar com mandado de segurança, causando o
aumento de processos também na segunda instância, não atendendo aos fins
desejados.
Diante dessa situação, diversas foram as mudanças em nosso atual CPC
visando uma melhor prestação jurisdicional.
A lei 9.139, de 30/11/95, inovou fazendo com que o recurso fosse
interponível diretamente no tribunal e possibilitou ao relator conferir o efeito
suspensivo às decisões interlocutórias.
Contudo, essa medida, por dar uma maior facilidade ao agravo, no que pese
ter desafogado o fluxo na 1ª instância, acabou congestionando os Tribunais, bem
como desprestigiou as decisões de primeiro grau.
A lei 9.756/98 possibilitou ao relator negar seguimento ou julgar o mérito
liminarmente quando manifestamente inadmissível ou improcedente o recurso. Essa
medida teve pouca repercussão prática, pois ao recorrente ainda possibilita recorrer
da decisão para um julgamento coletivo do órgão.
23 JUNIOR. Humberto Theodoro, O Problema da Recorribilidade das decisões interlocutórias no Processo Civil Brasileiro, disponível em <http://www.ab dpc.org.br/artigos/artigo47.htm>. Acesso em 01 de Agosto de 2011.
23
Posteriormente a lei 10.352/2001, conferiu ao relator a faculdade de ordenar
a conversão do agravo de instrumento em agravo retido, ordenando sua remessa e
apensamento aos autos principais na primeira instância, para que seja analisado
apenas em sede de apelação.
Contudo, ainda possibilitou ao recorrente impugnar essa decisão forçando o
julgamento pelo órgão colegiado.
Verifica-se, portanto, que o recurso de agravo ainda não está atendendo aos
fins desejados, bem como tem causado um grande congestionamento no segundo
grau de jurisdição.
3.2 Considerações Iniciais sobre recorribilidade das decisões
interlocutórias
No Brasil as decisões interlocutórias são recorríveis por Agravo e, como
podem ser diversas as formas de decisões interlocutórias, nosso sistema processual
dispõe diferentes tipos de Agravo.
Segundo Daniel Amorim Assunção neves:
O recurso de agravo deve ser analisado como um gênero recursal, existindo ao menos cinco diferentes espécies de agravo. Contra as decisões interlocutórias de primeiro grau existem os agravo retido e de instrumento. Contra as decisões interlocutórias proferidas no Tribunal cabe agravo regimental; contra a decisão denegatória de seguimento de recurso especial e/ou recurso extraordinário, cabe o agravo previsto no art. 544 do CPC, e contra decisões monocráticas finais do relator existe o agravo interno.24
Verifica-se, portanto que se pode agravar de diversas decisões, seja no
processo de conhecimento, de execução ou cautelar, sendo difícil arrolar todas as
decisões interlocutórias agraváveis.
A título de exemplos podemos citar decisões interlocutórias agraváveis no
processo de conhecimento, citamos aquela que defere ou indefere provas, pedido
de tutela antecipada ou quando uma das partes é excluída da lide, sem o processo
ser extinto dentre outros.
No processo de execução, existem decisões que deferem ou indeferem
alienação antecipada de bens penhorados, o pronunciamento do juiz em relação ao
requerimento de substituição de bem penhorado por dinheiro, etc.
24 Op. Cit. nota 14 p. 657.
24
Em relação ao processo cautelar, existem decisões que nomeia
depositário, ou o deferimento liminar de um pedido cautelar, entre outras.
Ressalte-se ainda, que apesar do agravo ser o recurso cabível das
decisões interlocutórias, a lei poderá dispor, em sentido contrário, a irrecorribilidade
de decisões interlocutórias que serão excepcionais.
Na lei do Juizado Especial Federal em seu art. 5º prevê que as decisões
interlocutórias, naquele procedimento, são irrecorríveis, bem como a CLT prevê a
irrecorribilidade das decisões interlocutórias em determinados casos no processo do
trabalho.
Ademais, no procedimento sumaríssimo - dos juizados especiais
estaduais - a jurisprudência tem se posicionado no sentido da irrecorribilidade das
decisões interlocutórias, em respeito ao princípio da oralidade.25
3.3 Decisões Interlocutórias recorríveis por agravo retido
O agravo na forma retida é está previsto no art. 522, do CPC, sedo
cabível contra as decisões interlocutórias proferidas pelo juízo de primeiro grau de
jurisdição quando não couber agravo de instrumento
Segundo Fredie Didier Jr:
A redação do art. 522 do CPC dá a entender que o agravo retio é a regra e o agravo de instrumento, a exceção. Não é bem assim: há, atualmente, regras de cabimento de agravo retido e regras de cabimento de agravo de instrumento. Não se pode dizer que há uma primazia para o primeiro. O certo é que não há mais opção para o agravante. Em borá sem dados, pode-se até intuir que o número de agravos de instrumento, na prática, é bem maior que o número de agravos retidos.26
Essa modalidade busca desburocratizar os processos e descongestionar
a atuação dos tribunais, pois apenas serão provocados se, ao final do procedimento
de primeiro grau, persistirem os interesses recursais do agravante.
Essa modalidade de agravo pode ser interposta de forma escrita, no
prazo de 10 dias, sendo realizado nos próprios autos, ou, obrigatoriamente, de forma
oral quando a decisão ocorrer durante audiência, sob pena de preclusão temporal.
25 Op. Cit. nota 14. P. 658.26 DIDIER JR., Fredie, Curso de direito processual civil. 7ª Ed., Salvador: JusPODIVM,v. 3,
2009.
25
Com efeito, a modalidade do agravo pode ser interposta pela parte por
meio de simples petição dirigida ao juiz, demonstrando a inconformidade com a
decisão que a prejudicou, devendo essencialmente apresentar as razões do recurso,
sob pena de não conhecimento.27
Protocolado o recurso, segundo a doutrina majoritária o juiz poderá
efetuar o juízo de retratação, neste caso, se o magistrado vislumbrar uma possível
modificação, deverá antes facultar o mesmo prazo da interposição do recurso ao
recorrido para que ele apresente contrarrazões.28
Contudo, caso o magistrado não verifique possibilidade de retratação,
deverá apenas juntar aos autos o recurso e suas razões e dar continuidade ao
processo, em virtude da celeridade processual, haja vista que o recorrido poderá
contraarrazoar o agravo em uma eventual apelação.
3.4 Decisões interlocutórias recorríveis por agravo de instrumento
Como já referido, em nosso código há regras para o agravo retido e para
o agravo de instrumentos e o art. 522 prevê excepcionalmente três hipóteses de
agravo de instrumento: decisão que não recebe apelação; decisão que determina os
efeitos de recebimento da apelação; e decisão apta a gerar lesão grave e de difícil
reparação, podendo-se acrescentar, ainda, decisões incompatíveis com agravo
retido.
Além disso, é cabível agravo de instrumento nas situações em que a lei
expressamente prever, como no caso da decisão que julga a liquidação de sentença
e da decisão que julga a impugnação, sem extinguir a execução, nos moldes dos
arts. 475-H e 475-M, §3º, do CPC.
No que diz respeito à primeira hipótese, é natural que tal decisão não seja
recorrida mediante agravo retido, cuja apreciação se dá quando da análise da
apelação. De modo que, sendo indeferida a apelação, o agravo retido jamais
chegaria ao Tribunal.
Igualmente recorrível por agravo de instrumento, a decisão relativa aos
efeitos em que a apelação é recebida. Tal se justifica em função da necessidade de
pronto reexame da decisão que poderá ensejar execução provisória.
27 CORRÊMA, Orlando de Assis. Recursos no Código de Processo Civil, p.110.28 Op. Cit. nota 14. p. 663.
26
Segundo Daniel Amorim nas duas hipóteses acima mencionadas, o
agravo retido seria inútil, faltando à parte interesse recursal, na modalidade
adequação. Além disso, segundo parte da doutrina, é cabível agravo de instrumento
sempre que o agravo retido se mostre inútil no caso concreto.29
Quanto a hipótese de cabimento de agravo de instrumento em face de
decisões aptas a gerar danos graves de difícil reparação, percebe-se que o
legislador optou por utilizar expressão aberta, de modo que caberá ao aplicador do
direito, especificamente ao relator, analisar no caso concreto a possibilidade da
decisão causar lesão a parte.
Como se percebe, essa hipótese de cabimento é eivada de grande
subjetividade, de modo que sérias complicações práticas defluem em razão das
incertezas geradas por essa hipótese de cabimento.
Em razão das divergências que podem surgir entre as partes e o Tribunal
quanto ao conceito de lesão grave e de difícil reparação, o art. 527, II do CPC,
estabelece que sendo interposto agravo de instrumento em situação que o Tribunal
entenda não ser cabível tal modalidade, o relator deverá convertê-lo em agravo
retido, ao invés de não conhecê-lo.
Cumpre mencionar o posicionamento de Fredie Didier Jr:
A “lesão grave ou de difícil reparação” constitui um conceito vago ou indeterminado, devendo ser definido pelas peculiaridades do caso concreto. A referência a lesão grave ou de difícil reparação conduz a idéia de urgência, de sorte que decisões que concedam ou neguem pedido de liminar ou tutela antecipada encartam-se perfeitamente na hipótese legal. 30
Desta forma, verifica-se que via de regra há risco de lesão grave e de
difícil reparação quando se exige pronunciamento imediato do tribunal, sob pena de
inocuidade da providência buscada.
Ressalte-se que é cabível agravo de instrumento contra decisões que
geram prejuízo imediato às partes, ou seja, não aquelas que geram meramente
potencial.
A doutrina aponta que existem duas diferentes espécies de lesão grave
que legitimam a interposição de agravo de instrumento, quais sejam, lesão grave
relacionada ao próprio direito material e lesão grave ligada ao direito processual.
29 Op. Cit. nota 14, p.65930 Op. Cit. nota 26.
27
Nesse desiderato, as decisões que deferem ou indeferem liminar ou tutela
de urgência são decisões em que se presumem os requisitos da urgência.
Nesses casos, a urgência confunde-se com o próprio mérito, cabendo ao
tribunal negar provimento ao recurso, mas nunca convertê-lo em agravo retido.31
Por outro lado, há decisões que, embora não interfiram no direito material
da parte, são capazes de gerar a nulidade dos atos subsequentes.
Deste modo seria uma afronta ao princípio da economia processual
permitir que tais decisões fossem impugnáveis por agravo retido, como exemplo
cita-se decisão de exceção de incompetência, decisão que exclui litisconsorte,
decisão que não admite terceiro assistente, decisão que julga prematuramente
reconvenção ou ação declaratória incidental.
Ressalte-se, ainda, que não é aplicável a regra do agravo retido ao
processo de execução e ao cumprimento de sentença, pois nesses casos, a
sentença dificilmente será impugnada por apelação, por falta de interesse de agir.
Cumpre mencionar, por fim, que em 2011 a lei nº 12.431 criou mais uma
espécie de agravo de instrumento, diferenciando-se dos demais por ter nuances
próprios.
Esse agravo de instrumento é interposto contra decisão interlocutória que
decide sobre a compensação nas execuções contra a fazenda pública.
Esse agravo é regulado pelo art. 34 que dispõe:
Art. 34. Da decisão mencionada no art. 33 desta Lei, caberá agravo de instrumento.§ 1o O agravo de instrumento terá efeito suspensivo e impedirá a requisição do precatório ao Tribunal até o seu trânsito em julgado.§ 2o O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.§ 3o O agravante, no prazo de 3 (três) dias, informará o cumprimento do disposto no § 2o ao Tribunal, sob pena de inadmissibilidade do agravo de instrumento.32
Desta forma, verifica-se que essa nova modalidade de agravo de
instrumento se diferencia dos demais tendo em vista que ter um efeito suspensivo
automático, suspendendo os efeitos da decisão e da própria execução e trás o ônus
do agravante de informar, no prazo de três dias, o juiz da execução sobre a
31 Op. Cit. nota 14. p. 66032 ANGUER, Anne Joyce. Vade mecum Acadêmico de Direito. 13. Ed. Atual. e ampl. São
Paulo: Rideel, 2011.
28
interposição do agravo e, após, terá que informar, no prazo de 3, dias ao tribunal
que cumpriu a obrigação anterior.
3.5 Recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas em segundo
grau
Inicialmente, é importante destacar que nos termos do art. 22, I da
Constituição Federal os recursos só podem ser criados por lei federais e em virtude
do princípio da taxatividade não se pode criar novos recursos, que não estejam
previstos em lei ordinária.
Desta forma, os regimentos internos dos Tribunais estão limitados a tratar
das hipóteses de cabimento específico e sobre regramento geral de recursos já
existentes.
A par das discussões sobre a natureza jurídica do agravo regimental,
prevalece o entendimento de que esse possui natureza jurídica de recurso, dado a
sua expressa previsão legal no art. 496, II do CPC e a presença das características
fundamentais dos recursos.
Nesse sentido, Daniel Amorim e outros doutrinadores, defendem que o
agravo regimental não é um novo recurso criado pelo regimento interno dos
tribunais, mas sim uma espécie de agravo.
A lei prevê inúmeras hipóteses em que a decisão em 2º grau de
determinados casos caberá monocraticamente ao relator, dispensando-se a decisão
do colegiado, seja com o intuito de facilitar o procedimento, seja por causa da
urgência da situação, seja por razões de economia processual.
Trata-se de verdadeira hipótese de delegação de poder, mantendo-se a
competência do órgão colegiado para decidir.
Todavia, a previsão legalmente estabelecida de decisões monocráticas,
contraria a natureza das decisões de segundo grau, que conforme a visão tradicional
deveriam ser colegiadas, sendo esse o cerne do princípio do duplo grau de
jurisdição.
Sobre o tema dispões César Asfor Rocha
Sabe-se que a introdução da monocratização das decisões do segundo grau jurisdicional (art. 557 do CPC) traz, sem dúvida, o benefício da celeridade, mas teria a contrapartida, possivelmente negativa ou criticável,
29
de afastar a decisão pluralizada, que era apanágio dos julgamentos de segundo grau do passado.33
Desta forma, verifica-se que a regra, para os recursos, é a colegialidade
das decisões. Quer dizer: a pluralidade de julgadores, com o fim político de
assegurar diversos exames no mesmo tempo, além do duplo ou múltiplo exame, no
tempo, pelo juiz do primeiro grau e os demais juízes superiores.
A ciência ensina-nos, hoje, que a assembléia não nos veio da reflexão: foi
a reflexão que veio da assembléia. Portanto, o homem é que é produto da
assembléia. Essa prioridade do exame múltiplo ao mesmo tempo, em relação ao
exame de um só, se transforma em superioridade sempre que desejamos maior
certeza. A colegialidade para decisão dos recursos obedece a esse pendor íntimo do
homem quando se deseja guiar pela “razão”. 34
Assim, para harmonizar a necessidade de economia e celeridade
processual com o duplo grau de jurisdição, utilizam-se os agravos regimentais e
internos. Portanto, desde que haja efetiva previsão da hipótese específica de seu
cabimento no regimento interno do Tribunal, será cabível agravo regimental, de
modo a provocar a revisão pelo tribunal de suas próprias decisões.
Não obstante, é importante estabelecer, na linha de pensamento de
Daniel Amorim Assunção, que há diferença entre o agravo regimental, cabível contra
decisão monocrática interlocutória e o agravo interno, cabível contra decisão
monocrática final. Deste modo, é totalmente descabido chamar o agravo interno de
agravo regimental.
O Código de Processo Civil traz quatro hipóteses de cabimento do
agravo interno, quais sejam, julgamento de conflito de competência, juízo de
admissibilidade dos embargos infringentes, decisão que não admite o agravo contra
decisão denegatória de seguimento de recurso especial e recurso extraordinário,
decisão monocrática de relator com base no art. 557 do CPC.
No que diz respeito às hipóteses acima mencionadas, cabe mencionar
que a previsão do agravo interno na hipótese de conflito de competência se dá
unicamente por razões de economia processual.
33 Op. Cit. nota 13.34 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil:
arts. 496-538. São Paulo: Forense, 1975, tomo VII, p. 11.)
30
Quanto ao cabimento de embargos quando da denegação dos embargos
infringentes, é importante lembrar que cabe ao relator do acórdão analisar a
admissibilidade dos embargos infringentes, de modo que, sendo esse denegado
deve-se impetrar agravo interno, cabendo ao órgão colegiado e não ao relator,
analisar os requisitos de admissibilidade desse, sob pena de travar o acesso a uma
decisão colegiada.
O procedimento do agravo interno interposto contra decisão denegatória
de recurso especial e recurso extraordinário é composto por duas fases, sendo a
primeira perante o tribunal de segundo grau e a segunda fase perante o STF ou
STJ, conforme o caso.
Assim, caso a decisão da segunda fase seja denegatória, caberá novo
agravo interno no prazo de 5 dias.
Outrossim, no caso acima descrito, o agravo interno difere dos demais,
pois no próprio julgamento do agravo interno o órgão colegiado irá julgar diretamente
o recurso especial e o recurso extraordinário. De modo diverso, genericamente, o
agravo interno busca afastar a decisão monocraticamente, levando o recurso a
apreciação colegiada.35
Por fim, caberá agravo interno em face das decisões que negarem
seguimento ao recurso sob o argumento do recurso ser manifestamente
inadmissível, recurso manifestamente prejudicado, ou de total improcedência e, por
fim, recurso com fundamentação em sentido contrário a súmula ou jurisprudência
dominante do respectivo tribunal.
Cumpre esclarecer, por fim, a previsão legal do agravo interno vale tão
somente para recursos, inaplicável para as ações de competência originária dos
tribunais ou outros incidentes perante os tribunais.
Não obstante, em que pese o reexame necessário, conforme doutrina
majoritária, não possuir natureza jurídica de recurso, é tratada pelos tribunais como
se recurso fosse quanto a proibição da reformatio in pejus e julgamento monocrático,
de modo que é cabível agravo interno em face dessas.
O projeto de lei do novo Código de Processo Civil, com o intuito de
simplificar a confusão entre agravo interno e agravo regimental, prevê no art. 936
35 Op. Cit. nota 14, p. 695.
31
que da decisão monocrática do relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado.36
3.6. Das decisões interlocutórias irrecorríveis
Como mencionado anteriormente, as decisões interlocutórias são
recorríveis, em regra por agravo retido e em situações excepcionais caberá agravo
de instrumento. Não obstante, há situações excepcionalíssimas em que as decisões
interlocutórias são irrecorríveis.
São hipóteses de decisões irrecorríveis as decisões proferidas nos
juizados especiais, decisões proferidas em mandado de segurança, decisão do
relator que converte o agravo de instrumento em agravo retido, decisão do relator
que aprecia o pedido de efeito suspensivo do agravo de instrumento, e da decisão
do relator que antecipa a pretensão recursal.
Nos juizados especiais cíveis estadudais e federais vigora a regra da
irrecorribilidade das decisões interlocutórias. De modo que todas as decisões
proferidas no curso do processo serão impugnadas quando da apelação.
Todavia, os juizados especiais cíveis federais estabelecem a exceção do
cabimento do agravo de instrumento, por aplicação subsidiária do CPC, para as
decisões que deferirem ou indeferirem as tutelas de urgência ou liminares.
Tal regra não está prevista expressamente para os juizados especiais
cíveis estaduais, mas boa parte da doutrina se posiciona pela recorribilidade de tais
decisões, tendo em vista o perigo de lesão grave ou de difícil reparação.
Nesse sentido, Figueira Jr. defende:
O recurso de agravo por instrumento deve ser acolhido se e quando a interlocutória versar sobre o mérito, em caso de tutela de urgência e a decisão puder causar gravame ao interessado em decorrência da impiedosa incidência do tempo no processo.37
36 http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf ) Código de Processo Civil : anteprojeto / Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília : Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf
37 FILGUEIRA JR., Joel Dias, Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2001.
32
Em razão da lacuna existente na lei 9.099/95, na prática vem sendo utilizado
o mandado de segurança para impugnar decisões interlocutórias proferidas no
juizado especial cível que possa gerar dano irreparável ou de difícil reparação à
parte.
No que diz respeito à recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas
em mandado de segurança, há uma grande divergência na doutrina, no entanto,
doutrina majoritária bem como o STJ posiciona-se pela recorribilidade de tais
decisões, mediante aplicação subsidiária do CPC.
A decisão do relator que converte o agravo de instrumento em agravo retido,
bem como a decisão do relator que aprecia o pedido de efeito suspensivo ao agravo
de instrumento, passaram, a partir de 2005, a ser irrecorríveis.
No caso da decisão que converte agravo de instrumento em agravo retido,
será possível a reforma da decisão apenas no momento do julgamento do recurso
ou através de pedido de reconsideração.
Não obstante tal previsão legal, a doutrina vem se posicionando no sentido
de ser cabível mandado de segurança, sempre que incorretamente determinar-se tal
conversão, bem como da decisão que concede ou nega efeito suspensivo ao agravo
de instrumento.
Tal entendimento advém, uma vez que são decisões capazes de provocar
prejuízo às partes, não podendo escapar do controle das partes, e por inexistir outro
meio processual idôneo a reparar a lesão da parte
Segundo Daniel Amorim, eventual restrição de acesso ao órgão colegiado,
criado por lei, norma regimental ou mesmo pelo entendimento jurisprudencial é
inconstitucional. Por isso é lamentável a previsão do art. 527, p. único do CPC que
determina a irrecorribilidade de decisão monocrática do relator do agravo de
instrumento no tocante à concessão ou denegação de tutela de urgência e à
conversão do agravo de instrumento em agravo retido.38
Importante destacar que a irrecorribilidade da decisão que nega efeito
suspensivo ao agravo de instrumento aplica-se restritivamente a essa hipótese, não
sendo aplicável para as demais hipóteses recursais.
De igual modo, a decisão que concede efeito ativo suspensivo é irrecorrível.
Por efeito ativo suspensivo deve-se entender os casos em que o relator concede a
própria providência pleiteada, uma espécie de antecipação da tutela recursal.
38 Op. Cit. nota 14. p. 692.
33
Calmon de Passos, tece críticas sobre a irrecorribilidade das decisões,
argumentando em síntese, que qualquer ato judicial que não atender a todas as
garantias do processo, estará ferindo direito fundamental, devendo ser repudiado. O
repúdio ao ato processual é realizado mediante o recurso. Esse, então, não pode ser
proibido, como se não tivesse qualquer importância, pois é o único remédio para se
combater a ofensa aos direitos fundamentais cometida no processo. 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, verifica-se que é necessário que se promova
profundas mudanças na lei no que diz respeito a recorribilidade das decisões
interlocutórias.
Destaque-se que uma decisão interlocutória pode causar diversos
prejuízos a uma das partes de uma relação processual, bem como muitas vezes
essa decisões tem um conteúdo de antecipação do mérito sendo imperiosa a
existência de recursos para esse ato jurisdicional.
39 CALMON, Petrônio. Reflexões em torno do agravo de instrumento. Material da 4ª aula da disciplina Recursos e Meios de Impugnação, ministrada no curso de pósgraduação lato sensu televirtual em Direito Processual Civil – IBDP e Anhanguera-Uniderp|Rede LFG
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Inicialmente, fazem-se necessárias mudanças no conceito tradicional das
classificações dos atos judiciais, para atualizar a atual sistemática de impugnação
das decisões.
Embora permaneça a clássica distinção entre sentença e decisão
interlocutória, sendo esse ato pelo qual o juiz no curso do processo resolva ato
incidente e aquele ato do juiz que extingue o processo, o procedimento ou a fase, há
situações em que são proferidas decisões interlocutórias que possuem verdadeiro
conteúdo de sentença.
Em diversas situações de julgamento de tutela antecipada o juiz profere
decisões que, segundo nosso atual ordenamento, não sendo impugnáveis estarão
aptas a se tornarem definitivas em razão da preclusão temporal.
Verifica-se, ainda, da forma que está configurado o atual sistema da
recorribilidade das decisões interlocutórias, muitas injustiças vem sendo perpetradas
e muitos equívocos processuais cometidos, prejudicando a efetividade do direito dos
que buscam a justiça.
Assim, é fundamental uma reforma legislativa de modo a buscar um
equilíbrio entre a celeridade processual e a garantia do duplo grau de jurisdição e do
devido processo legal. Isso se dá, tendo em vista ser impossível a que seja
modificado a atual sistemática por meio de jurisprudência, pela existência do
princípio da taxatividade no processo civil.
Ressalte-se que a simples alteração da lei não trará solução para o
problema do excessivo número de recursos com finalidades protelatórias.
É necessário promover medidas que impeçam recursos protelatórios,
como fixação de multas aos recorrentes, perca parcial dos honorários advocatícios,
bem como trazer efetividade as medidas já existentes, como a condenação por
litigância de má fé.
Verifica-se uma quebra no princípio da correspondência, o qual liga os
pronunciamentos judiciais ao tipo de recurso cabível contra os mesmos, é nesse
sentido, inclusive, que Calmon de Passos sugere a existência de um único recurso
para impugnar todos os atos judiciais.
Ademais, a recorribilidade das interlocutórias no direito brasileiro sempre
gerou problemas práticos e discussões doutrinárias de modo que três reformas
importantes foram realizadas no ordenamento processual brasileiro na busca de
encontrar solução para o problema.
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Todavia, até os dias atuais não se encontrou uma solução adequada e
eficaz para a resolução de tal problemática.
Desta forma, temos que analisar a nossa atual legislação que prever
recursos diferentes para as sentenças e para as decisões interlocutórias, sendo
recurso de Agravo o cabível contra as decisões interlocutórias em suas diferentes
modalidades.
Sobre o Agravo, constata-se que no primeiro grau de jurisdição pode ser
utilizado o agravo retido ou o agravo de instrumento, não havendo primazia de um
em relação ao outro, cada um tem sua hipótese de incidência analisando-se o caso
concreto, bem como os dois recursos jamais serão cabíveis para a mesma decisão.
Já nos tribunais superiores é cabível contra decisões interlocutórias o
recurso de Agravo, que na prática são conhecidos como agravo regimental e o
agravo interno.
Constatou-se, ainda, que no direito processual do trabalho, bem como na
lei dos juizados especiais a lei no primeiro caso e a jurisprudência no segundo,
prevêem a irrecorribilidade das decisões interlocutórias.
Sendo imperioso, verificou-se que a próxima mudança legislativa em
relação à recorribilidade das decisões interlocutórias poderá restringir os recursos de
agravo, contudo não prever sanções para quem adotar de forma apenas protelatória.
Além disso, analisando a irrecorribilidade das decisões interlocutórias
concluímos que não parece uma das melhores soluções, haja vista pode dar
margem a prática de decisões arbitrárias sem a possibilidade de recursos, ferindo,
assim, o direito fundamental de recorrer daquilo que se foi repudiado.
Ressaltando-se, por fim, que a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias encontra-se em rota de colisão com os princípios da inafastabilidade
da prestação jurisdicional e do duplo grau de jurisdição, sendo o recurso um meio
hábil de se combater possíveis ofensas aos direitos fundamentais no processo.
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WAMBIER, Luís Rodrigues e outros. Curso Avançado de Processo Civil – Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que
isento completamente a Universidade Anhanguera-Uniderp, a Rede de Ensino Luiz
Flávio Gomes e o professor orientador de toda e qualquer responsabilidade pelo
conteúdo e idéias expressas no presente Trabalho de Conclusão de Curso.
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Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente
em caso de plágio comprovado.
João Pessoa, 22 de Fevereiro de 2012.