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NITERÓI 2018 INSERÇÃO DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL NO MERCADO DE TRABALHO LETÍCIA DE SOUSA MELO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE UFF FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS EST DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO STA

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NITERÓI

2018

INSERÇÃO DE EGRESSOS DO

SISTEMA PRISIONAL NO MERCADO

DE TRABALHO

LETÍCIA DE SOUSA MELO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS – EST

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO – STA

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

Letícia de Sousa Melo

Inserção de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho.

Monografia submetida ao corpo docente do

Departamento de Administração da

Universidade Federal Fluminense como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do

Grau de Bacharel. Área de concentração:

Administração.

Orientadora:

Ana Maria Lana Ramos

Niterói

2018

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INSERÇÃO DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL NO MERCADO DE

TRABALHO.

Letícia de Sousa Melo

Monografia submetida ao corpo docente do

Departamento de Administração da

Universidade Federal Fluminense como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do

Grau de Bacharel. Área de concentração:

Administração

Examinada por:

___________________________________

Prof.: Ana Maria Lana Ramos, M.S.c

Universidade Federal Fluminense

___________________________________

Prof.: Elza Maria Marinho Lustosa

Universidade Federal Fluminense

___________________________________

Prof.: Sérgio de Sousa Montalvão

Universidade Federal Fluminense

NITERÓI, RJ – BRASIL

DEZEMBRO 2018

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por todas as

bênçãos recebidas nesse anos e pela oportunidade

de me fazer realizar sonhos.

À minha família, em especial aos meus pais Edna

e Jefferson por todo sacrifício em prover o

melhor para mim e por sempre me incentivarem a

estudar e ao meu irmão Gustavo por toda

companhia nesses anos de vida em família.

Aos professores que tive o privilégio de ter na

Universidade e o conhecimento adquirido, em

especial à minha orientadora Ana Lana por toda

inspiração em suas aulas e paciência, dedicação,

incentivo e cuidado na condução desse trabalho.

Aos meus amigos de caminhada acadêmica,

agradeço pelas experiências maravilhosas, em

especial Elisa e Diego por se tornarem amigos

além dos portões da Universidade.

A todos os gestores e colegas de trabalho que

tive, que me incentivaram e me ajudaram a

conciliar o trabalho com estudos. Sem a

compreensão de vocês não seria possível.

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RESUMO

O presente trabalho visa trazer para o campo da Administração e Gestão a temática de

inserção de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho. Por meio de pesquisas

bibliográficas e documentais, foi possível traçar um paralelo entre o perfil de egressos e dos

candidatos chamados ideais. Com base nos dados levantados, notou-se uma disparidade entre

os mesmos, dificultando a oferta de emprego para o ex-detento. Por fim, abordou iniciativas

com práticas de Responsabilidade Social Empresarial que incentivam a ressocialização desse

egresso por meio do trabalho.

Palavras-chave: Egresso, sistema prisional, responsabilidade social empresarial, talento

ABSTRACT

The present work aims to bring to the field of Administration and Management the

thematic of insertion of egress of the prison system in the labor market. Through

bibliographical and documentary research, it was possible to draw a parallel between the

profile of egress and the ideal candidates. Based on the data collected, there was a disparity

between them, making it difficult to offer employment to the former detainee. Finally, it

addressed initiatives with practices of Corporate Social Responsibility that encourage the

ressocialization of this egress through work.

Key words: Egress, prison system, corporate social responsibility, talents.

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SUMÁRIO LISTA DE QUADROS .............................................................................................................. 9

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................................ 9

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11

2. CAPTAÇÃO E SELEÇÃO DE TALENTOS ................................................................... 13

2.1. ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO ............................................................................... 13

2.2. O CENÁRIO DO MERCADO DE TRABALHO ......................................................... 15

3. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE) ........................................ 17

3.1. RSE NA ESFERA PRIVADA ...................................................................................... 17

3.2. RSE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ORGANIZAÇÃO ....................... 18

3.3. RSE E A VANTAGEM COMPETITIVA NO MERCADO ......................................... 19

4. CONTRATAÇÃO DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL .................................. 20

4.1. DADOS GERAIS .......................................................................................................... 20

4.2. PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA ............................................................... 21

4.3. REINCIDÊNCIA AO CRIME ...................................................................................... 22

4.4. PERFIL DOS APENADOS REINCIDENTES AO CRIME ........................................ 23

4.5. ESTUDO E TRABALHO DENTRO DA PRISÃO ...................................................... 24

4.6. O TRABALHO NA PERCEPÇÃO DOS PRESOS ...................................................... 24

4.7. O EGRESSO DO SISTEMA PRISIONAL ................................................................... 25

5. PARALELO ENTRE PERFIL DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL E O

TALENTO ORGANIZACIONAL ........................................................................................... 27

6. CASOS DE SUCESSO E INCENTIVO À PRÁTICA DE RESSOCIALIZAÇÃO DE

EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL ............................................................................... 29

6.1. SELO RESGATA .......................................................................................................... 29

6.2. SELO DE DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE ............................................... 29

6.3. PROGRAMA PRÓ-EGRESSO ..................................................................................... 30

6.4. EMPRESA: PANOSOCIAL ......................................................................................... 30

6.5. SEGUNDA CHANCE ................................................................................................... 30

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Paradigmas tradicional e o moderno de captação e seleção 15

Quadro 2: Conceitos básicos de planejamento estratégico 19

Quadro 3: Principais pesquisas nacionais sobre reincidência 23

Quadro 4: Comparativo entre egressos e talentos 28

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CRSC Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania

DEPEN Departamento Penitenciário Nacional

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

INFOPEN Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LEP Lei de Execução Penal

PCD Pessoa com Deficiência

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RSA Responsabilidade Social Ambiental

SAP Secretaria de Administração Penitenciária

SDECT Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

SELO RESGATA Selo Nacional de Responsabilidade Social pelo Trabalho no Sistema

Prisional

SER Responsabilidade Social Empresarial

SERT Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho

SMDHC Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos houve um aumento exponencial no número de presos e superlotação de

presídios no Brasil (INFOPEN, 2016). Apesar das legislações para garantia de direitos dos

presos, como a Lei de Execução Penal, e alguns projetos para acompanhar esses ex-detentos

após o cumprimento de suas penas, não há uma adesão por parte das autoridades para investir

nesse acompanhamento e muitas vezes esse indivíduo pratica novos crimes e é preso

novamente.

Por não se tratar de casos isolados e a taxa de reincidentes ao crime ser de mais de 30%

(IPEA, 2015), um olhar mais atento deve ser dado a essa situação para que mudanças ocorram

e gerem melhorias sociais. Um grande problema é o egresso do sistema prisional não

encontrar empregos fixos ao sair da cadeia por conter em sua ficha criminal passagem pela

polícia. Ao não encontrar uma fonte de renda, aliado ao contexto social criminal em que essa

pessoa está inserida, retornar a práticas de atos ilícitos é o caminho mais fácil para ter retorno

financeiro.

É possível supor que o perfil de candidatos desejados pelas organizações seja diferente do

perfil dos presos e egressos, o que dificulta que o egresso seja pensado para essas vagas.

Entretanto, as empresas podem se antecipar a essa realidade através das práticas de

Responsabilidade Social Empresarial e incentivar a contratação de ex-detentos para seu

quadro de funcionários.

Já existem casos da iniciativa pública e privada que incentivam olhar para esse cidadão e

procuram alternativas de reinseri-lo ao meio social, entretanto são casos isolados e sem

visibilidade dos grandes meios de comunicação.

Nesse contexto, o presente estudo teve o objetivo de identificar como a área de gestão de

pessoas, no campo da seleção de talentos, pode atuar para favorecer a reintegração de

egressos do sistema prisional no mercado de trabalho. Para isso, a pesquisa levantou dados

históricos e estatísticos sobre o contingente de detentos, bem como os dados que comprovam

o aumento do número de presos e da reincidência ao crime; analisou a ação de organizações

que adotam a prática da ressocialização, a partir da coleta de dados bibliográficos e

documentais; e relacionou os dados encontrados às bases teóricas utilizadas como referência

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sobre os sistemas organizacionais de captação e seleção de talentos e a responsabilidade social

empresarial.

Esse trabalho não pretendeu apresentar uma solução única e definitiva a um problema de

múltiplas causas e amplo escopo de intervenção, porém buscou trazer para o campo da

Administração esse assunto, visto que publicações que abordam essa temática são de áreas

como o Direito, Sociologia e Serviço Social. Iniciar esse debate na área de Gestão torna-se

crucial para chamar atenção a esse assunto e promover uma movimentação com benefícios

econômicos e sociais por meio do viés corporativo.

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2. CAPTAÇÃO E SELEÇÃO DE TALENTOS

O termo “talentos” tem se tornado corriqueiro no cotidiano dos profissionais de gestão de

pessoas. A busca por esse talento é crucial para uma contratação bem sucedida, pois esse

profissional selecionado possui um perfil que vai alavancar o sucesso da organização para a

qual foi contratado.

O contexto do mercado de trabalho hoje não é uniforme. O Brasil possui 13,7 milhões

(BENEDICTO, 2018) de pessoas desocupadas e esse quadro gerou mudanças significativas

no processo de contratação. As pessoas estão aderindo ao trabalho autônomo para

sobreviverem nesse ambiente de crise econômica. Por isso, as empresas além de concorreram

com outras empresas, passaram a concorrer com um número maior de profissionais liberais

que desempenham o mesmo serviço. Dessa forma, as organizações devem se atualizar para

permanecerem competitivas no mercado e atraírem esses talentos.

Segundo Almeida (2004), o talento escolhe onde vai trabalhar, pois é conhecedor dos seus

potenciais e escolhe organizações que estão em congruência com seus objetivos e aspirações.

A autora também define competência como a combinação de conhecimentos, habilidades e

atitudes que diferenciam esse profissional da maioria. Sendo assim, o talento pode ser

treinado, desenvolvido para um melhor desempenho.

Nem todas as pessoas são consideradas talentos, entretanto é necessário a combinação de

uma cultura organizacional e um ambiente que favoreça o desenvolvimento desse possível

talento. Não basta a empresa atrair um talento, é necessário reter esse trabalhador através de

estratégias de treinamento, desenvolvimento e engajamento desse profissional.

1.1. ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO

Para Almeida (2004), um processo seletivo eficiente e eficaz, deve ter selecionadores com

conhecimento profundo do negócio, do cargo e do ambiente externo. A organização deve

prezar pela transparência, aprimoramento e qualidade em busca de uma contratação bem

sucedida.

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Cada etapa do processo seletivo deve ter seus objetivos que devem estar relacionados

entre si. A etapa de atração e triagem não deve despender muito tempo dos recrutadores, pois

os mesmos devem focar seus esforços nas etapas de avaliação e decisão final. Com a

informatização de muitos bancos de currículos, diversos candidatos se candidatam a qualquer

vaga e o profissional perde tempo eliminando muitos currículos que não se encaixam no

perfil. A informatização trouxe malefícios como esse citado, mas também muitos benefícios

como a possibilidade de candidatos de outras cidades se candidatarem a vagas e a

possibilidade de fazer entrevistas por videoconferência.

Para Almeida (2004), os processos serão mais consistentes quando o critério de

avaliação for o menos subjetivo possível. Para isso, é necessário o maior número de

observações do candidato, em contextos diferenciados e por mais de um avaliador. Também é

essencial avaliar as mesmas competências exigidas para o cargo por diferentes técnicas de

seleção.

O quadro 1 traz o comparativo entre práticas de seleção mais antigas e as utilizadas

atualmente:

Quadro 1: Paradigmas tradicional e o moderno de captação e seleção

Paradigma Tradicional Paradigma Moderno

Abordagem

Seleção mais focada na admissão de pessoas na

organização

Seleção de pessoas e de serviços e identificação

de talentos internos para assumir novos cargos e

constituir equipes de trabalho e de projetos

Reativo Proativo

Foco operacional Foco estratégico

Escolher a pessoa certa para o cargo certo Escolher a pessoa certa para a organização ee

para o cargo certo

Visão voltada para o presente Visão voltada para o presente e para o futuro

Seleção como um fim em si mesmo Compromisso com o desempenho no cargo

Prática da Captação e Seleção Captação e seleção condicionada a existência de

vagas Captação e seleção contínua de talentos

Valorização do conhecimento e da experiência

Valorização da competência que implica a

capacidade de se mobilizar conhecimentos,

habilidades e atitudes, para obter resultados

Atividade centralizada na área de RH

Atividade descentralizada, realizada em parceria

do RH e clientes internos (gerentes e equipes de

trabalho)

Utilização de provas e testes Maior ênfase em entrevistas, dinâmicas e

simulações, além da utilização de provas e testes Fonte: Almeida, 2009, p. 13.

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Antes de iniciar o processo de seleção, é fundamental avaliar a necessidade daquela

contratação, para evitar gastos desnecessários. Deve haver comunicação entre as áreas do

negócio para evitar imprevistos e também levantar previamente o perfil ideal do candidato a

ser admitido. No decorrer do processo, o candidato deve ser avaliado levando em conta a

cultura da organização, para isso pode resolver a simulação de uma tarefa que se assemelhe ao

trabalho a ser executado, para que então seja avaliado como esse candidato se sairia caso

fosse contratado.

1.2. O CENÁRIO DO MERCADO DE TRABALHO

Segundo Almeida (2009), uma mudança significativa no mercado de trabalho é a

valorização do trabalho intelectual em comparação ao trabalho mais operacional. Com o

advento da tecnologia, o homem desenvolveu máquinas, aprimorou processos e aprofundou

sua capacidade de atuação. Tarefas que até então eram realizadas por pessoas, passaram a ser

realizadas por máquinas e de forma mais veloz, gerando aumento de produção.

Essa valorização do capital intelectual gerou na sociedade uma busca cada vez mais

avançada por níveis de conhecimento e especialização por parte dos candidatos às vagas de

emprego. Na atual conjuntura, há aumento de trabalho informal e diminuição de trabalho

formal, além do desemprego estrutural, consequência da substituição da mão de obra humana

pelas máquinas (ALMEIDA, 2009, p.11). A situação não é favorável para as empresas, por

encontrar uma situação crítica no mercado, fruto de intervenção governamental em políticas

econômicas e sociais e clientes mais exigentes.

O capital humano passou a ser visto como um diferencial competitivo para as

organizações frente a esse cenário de valorização do capital intelectual. A área de Gestão de

Pessoas assumiu o papel de buscar esse talento que possui as competências desejadas para

ocupar o quadro de funcionários da empresa.

O mercado de trabalho passou a ser mais criterioso e competitivo, em busca de um

profissional adequado, com conhecimentos técnicos e habilidades comportamentais

desejáveis. Houve um distanciamento entre o que o mercado está exigindo e o que a oferta de

recursos humanos apresenta, com destaque para locais onde há defasagem no sistema

educacional, refletindo uma barreira maior entre a população sem acesso aos melhores

métodos de ensino e as vagas mais competitivas.

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A empresa possui impacto social relevante e pode utiliza-lo de maneira a democratizar o

acesso às vagas de emprego para quem não tem esse destaque competitivo. Com as

informações levantadas, um habitante de regiões periféricas, sem grau de instrução elevado e

com contexto social crítico não será visto como um possível talento. Cabe à organização

assumir o papel de agente transformador e promover essa inclusão através de ações de

responsabilidade social empresarial.

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3. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE)

No Brasil, Responsabilidade Social ganhou destaque na década de noventa com a criação

do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e do Instituto Ethos, duas

instituições que voltavam seu foco para a questão social e o impacto que a empresa privada

tem na sociedade. Nos dias de hoje, a questão da RSE tem se tornado um diferencial

competitivo, pois o consumidor tem atentado mais a essa prática.

O Instituto Ethos criou indicadores de responsabilidade social empresarial para essa

prática se tornar mais mensurável. Para se caracterizar como socialmente responsável, a

empresa deve adotar políticas como: transparência, estabelecimento de compromissos

públicos, envolvimento com instituições que representam interesses variados, capacidade de

atrair e manter talentos, alto grau de motivação e comprometimento com funcionários,

capacidade de lidar com situações de conflito, estabelecimento de metas de curto e longo

prazo e envolvimento da direção da empresa (INSTITUTO ETHOS, 2012).

Há uma confusão entre RSE e filantropia, porém os dois conceitos se divergem.

Filantropia é quando a empresa contribui financeiramente com instituições de caridade, por

exemplo, de forma eventual. Já para se configurar como uma empresa responsável

socialmente, essas práticas devem estar relacionadas com o planejamento estratégico da

organização. Deve haver uma conscientização de empregadores e empregados, eliminar

preconceitos e promover a diversidade.

Ao se assumir socialmente responsável, a empresa não deve ter um olhar puramente

voltado ao retorno financeiro dessas ações. O objetivo é contribuir com a melhoria da

sociedade através de práticas que tenham impactos e gere mudança na vida das pessoas

envolvidas.

3.1. RSE NA ESFERA PRIVADA

A situação social requer uma mobilização de diferentes agentes. O Relatório do Programa

para Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) afirma que a esfera privada tem forte

influência no crescimento econômico sustentado para a redução da pobreza, demonstrando

que o setor privado possui poder de influenciar positivamente na vida das pessoas (apud

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FEDATO, 2005). O Governo exerce função central na promoção de políticas de combate às

desigualdades sociais, porém a participação de outros agentes econômicos podem

potencializar as ações desse âmbito (CAMAROTTI E SPINK, 2003, apud FEDATO, 2005).

A esfera privada tem em sua essência a busca pelo lucro e continuidade do negócio de

forma financeira satisfatória. Olhar para o viés social que em um primeiro olhar não traz um

retorno financeiro acaba não sendo a prioridade dos gestores. Porém olhar para ações de

natureza social passou a se tornar uma visão estratégica para o negócio. Nos últimos anos

houve um aumento da mídia para a RSE o que faz com que as empresas valorizem e procurem

ações nesse viés, afinal os clientes estão mais informados e exigentes sobre o que consomem.

3.2. RSE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ORGANIZAÇÃO

Ao ser aberto, um empreendimento busca solucionar uma demanda do mercado, essa é sua

razão de ser. Entretanto, o gestor deve se atentar ao planejamento estratégico para que o seu

negócio permaneça ativo e de maneira satisfatória. Fedato (2005) define conceitos

importantes para conhecimento da razão de ser do negócio que são fundamentais para se

planejar:

Quadro 2: Conceitos básicos de planejamento estratégico

Missão Visão Metas Objetivos Orçamento Avaliação

Porque se faz o

que faz; a razão

de ser, o

propósito;

informa pelo

que, no fim, se

quer ser

lembrado;

legitima e

justifica social e

economicament

e a organização.

Um quadro

do futuro

desejado

pela

organização

.

Conjunto de

objetivos

que

determinam

a direção

fundamenta

l e de longo

alcance da

organização

.

Níveis

específicos

e

mensurávei

s de

realização e

atingimento

.

Compromisso

de recursos

para a

implementaçã

o dos planos;

expressão

financeira de

um

determinado

plano de

trabalho.

Processo de

monitorament

o do progresso

no alcance de

objetivos e

dos

resultados;

ponto de

aprimorament

o dos planos

com base na

experiência. Fonte: Fedato, 2005, p. 47.

Ao se planejar estrategicamente, os gestores devem conhecer plenamente os conceitos

acima relacionados ao seu negócio para que as decisões sejam tomadas em consonância com a

razão de ser da organização. Da mesma forma devem ser planejadas ações de

Responsabilidade Social que façam sentido para os clientes internos e externos.

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Sem se comunicar satisfatoriamente com seus stakeholders, seja funcionários,

fornecedores ou consumidores é pouco provável que essa organização continue crescendo de

forma saudável e com potencial. As empresas competitivas são aquelas que estão atentas às

demandas de seus clientes e a busca por solucioná-las.

3.3. RSE E A VANTAGEM COMPETITIVA NO MERCADO

Para Bertoncello e Chang (2007, p. 74 apud MELO NETO, 2001, p. 93), a empresa

adquire status social ao promover ações consistentes e este fator é decisivo para a saúde

empresarial. Com essa visibilidade social positiva, a empresa é vista com outros olhos e vende

mais o produto ou serviço que comercializa. Os clientes sentem prazer ao consumir o que é

produzido por essa empresa e passa a indica-la em seus círculos sociais. Os fornecedores

sentem-se orgulhosos de prestarem serviços a essa empresa e os funcionários ficam motivados

em pertencerem à uma organização com essa cultura.

Recursos intangíveis como uma boa governança corporativa, ética nos negócios e

execução de projetos sociais podem ser encarados como um diferencial e fontes de vantagens

competitivas. Entretanto, as ações devem de fato gerar valor para a sociedade para que então

sejam encaradas como uma vantagem competitiva. Os benefícios gerados a partir dessa

prática devem ser tangíveis. (PESSOA, 2009, p. 83)

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4. CONTRATAÇÃO DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL

Um novo perfil de mão de obra surge e a contratação de pessoas que passaram algum

momento presas torna-se uma realidade crescente no Brasil. Com cadeias super lotadas

(ASSIS, p. 77, 2008), a sociedade convive com esse perfil de cidadão cada vez com mais

frequência. Em um passado recente, a prática comum consistia na conscientização da inclusão

de Pessoas com Deficiências no mercado de trabalho, porém com essa nova realidade, é

necessário que as empresas se antecipem e principalmente a área de Gestão de Pessoas se

prepare para a recepção desse novo trabalhador.

O Departamento Penitenciário Nacional e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública

realizam o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN – que consiste

em um banco de dados com informações de todas as unidades prisionais brasileiras incluindo

dados de infraestrutura, seções internas, recursos humanos, capacidade, gestão, assistências,

população prisional, perfil das pessoas presas, entre outros (DEPEN, 2016).

Através desse relatório é possível traçar o perfil de presos e suas particularidades mais

comuns.

4.1. DADOS GERAIS

De acordo com o relatório INFOPEN, o Brasil, em Junho de 2016 contava com a

população prisional de 726.712 detentos. As vagas nas unidades eram 368.049 e o déficit de

vagas de 358.663, ou seja, a taxa de ocupação era de 197,4%. Um dos reflexos desse quadro

foram as rebeliões que ocorreram em diversos presídios ao redor do país nos anos de 2017 e

2018 (Correio Brasiliense, 2018). Comparando com informações do início da década de 1990,

houve um aumento de 707% da população carcerária.

Um indicador utilizado no relatório é a taxa de aprisionamento que relaciona a quantidade

de pessoas presas para cada grupo de 100 mil habitantes. Analisando o período de tempo entre

2000 e 2016, a taxa de aprisionamento aumentou 157% no Brasil. No período analisado, eram

352,6 pessoas presa para cada 100 mil habitantes. Nesse mesmo período, em média, a

população prisional cresceu 7,3% ao ano, passando de 232 mil pessoas para 726 mil pessoas

encarceradas.

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4.2. PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA

Através desse relatório, é possível conhecer o perfil sociodemográfico de detentos pelo

Brasil. Em relação à faixa etária, 75% da população é composta por jovens de até 29 anos. No

estado do Rio de Janeiro, 37% são jovens de 18 a 24 anos, 22% de 25 a 29 anos, 15% de 30 a

34 anos, 18 % de 35 a 45 anos e 7% de 46 a 60 anos. Essas informações foram escolhidas

para demonstrar que pessoas que poderiam estar ativas no mercado de trabalho estão

encarceradas, principalmente entre os mais jovens.

A questão racial também deve ser considerada, pois de acordo o relatório INFOPEN, no

ano de 2015, a população negra brasileira era de 53%, já no sistema prisional essa

porcentagem aumentou para 64%, demonstrando a predominância da raça negra no

encarceramento. Essa informação se agrava no Rio de Janeiro, pois 26% das pessoas privadas

de liberdade eram brancas, 72% eram negras e 3% referentes a outras raças ou etnias.

Já em relação ao grau de escolaridade, foram obtidas informações que 75% eram pessoas

que não haviam acessado o Ensino Médio, demonstrando a tendência de baixa escolaridade

no perfil dos presos. No Rio de Janeiro, esse dado aumentou para 85%. Sobre estado civil das

pessoas pesquisadas, a predominância é de pessoas solteiras, que equivale a 60%, em segundo

lugar fica a união estável com 28%.

Outro dado interessante é a apuração de pessoas com deficiências (PCD) privadas de

liberdade. Nem todas as unidades que participaram da pesquisa dispunham da informação

sobre a quantidade de PCDs, porém das que tinham essa informação, foi possível extrair que

1% da população prisional é composta também por PCDs, destacando para a predominância

da deficiência intelectual. Dentre os PCDs, 65% estão alocados em unidades que não tem a

acessibilidade que essa pessoa necessita para se locomover com segurança ou de se integrar

ao ambiente.

Também é possível analisar a quantidade de estrangeiros no sistema prisional brasileiro,

que corresponde a 0,004% dentre as unidades pesquisadas, tendo a predominância do

continente americano com o equivalente a 1.456 pessoas nessa situação. Já em relação à

quantidade de filhos das pessoas privadas de liberdade não foi possível extrair uma conclusão

da totalidade, pois muitas unidades prisionais não dispunham dessa informação. Porém, com

o que foi possível extrair observou-se que 53% dos homens não tinham nenhum filho e 42%

tinham até 3 filhos. Entre as mulheres, 26% não tinham filhos e 55% tinham até 3 filhos.

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A Lei de Execução Penal (n. 7.210/84) - LEP, garante ao condenado a possibilidade de

realizar atividades laborais no interior ou fora do estabelecimento penal, desde que tenha

finalidade educativa e produtiva. A nível Brasil, o destaque vai para o estado de Minas Gerais

com 30% de pessoas trabalhando. No Rio de Janeiro, essa informação não foi disponibilizada.

Em poucas palavras, pode ser concluir que o perfil predominante de pessoas privadas de

liberdade é composto por jovens negros de baixa escolaridade.

4.3. REINCIDÊNCIA AO CRIME

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou um estudo, publicado no ano

de 2015, sobre a reincidência criminal no Brasil (IPEA, 2015). O termo reincidência é

utilizado de forma ampla e seu significado pode variar de acordo com o contexto empregado.

A definição utilizada no relatório é a reincidência legal, que consiste em nova condenação até

cinco anos em relação à pena anterior.

Quadro 3: Principais pesquisas nacionais sobre reincidência:

Autor Título

Conceito de

reincidência utilizado

na pesquisa

Taxa de reincidência

Sérgio Adorno; Eliana

Bordini

A Prisão sob a Ótica de

seus Protagonistas:

itinerário de uma

pesquisa

Reincidência criminal –

mais de um crime,

condenação em dois

deles, independente dos

cinco anos.

São Paulo: 29,34%

Sérgio Adorno; Eliana

Bordini

Reincidência e

Reincidentes

Penitenciários em São

Paulo (1974 -1985).

Reincidência

penitenciária – reingresso

no sistema penitenciário

para cumprir pena ou

medida de segurança.

São Paulo: 46,3%

Julia Legrumber

Reincidência e

Reincidentes

Penitenciários no

Sistema Penal do Estado

do Rio de Janeiro

Reincidência

penitenciária – reingresso

no sistema penitenciário

para cumprir pena o

medida de segurança.

Segundo a autora:

“compreende reincidente

penitenciário como quem

tendo cumprido (tal) pena

ou (tal) medida de

segurança, veio a ser

novamente recolhido a

estabelecimento penal

para cumprir nova pena

ou medida de segurança”.

(Legrumber, 1989, p.45)

Rio de Janeiro: 30,7%

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Túlio Kahn

Além da Grades:

radiografia e alternativas

ao sistema prisional.

Reincidência penal –

nova condenação, mas

não necessariamente para

cumprimento de pena de

prisão. Segundo Kahn,

pode-se assumir que nos

casos de crimes mais

graves os conceitos de

reincidência penitenciária

medem basicamente as

mesmas coisas, uma vez

que crimes graves quase

sempre são punidos com

prisão.

São Paulo: 50%, em

1994; 45,2%, em 1995;

47%, em 1996; na década

de 1970, a taxa não

passou de 32%.

Depen

Dados de 2001 para

Brasil e de 2006 para

Minas Gerais, Alagoas,

Pernambuco e Rio de

Janeiro.

Reincidência

penitenciária –

considerando presos

condenados e provisórios

com passagem anterior

no sistema prisional.

Brasil: 70%; e Minas

Gerais, Alagoas,

Pernambuco e Rio de

Janeiro: 55,15%.

Fonte: IPEA/CNJ, 2015, p.13.

Como é possível observar no quadro 3, existem diferentes conceitos sobre reincidência e a

taxa varia consideravelmente entre eles. Entretanto, em todas as definições a porcentagem é

considerada alta, com valores mínimos na faixa de 30%. Cabe um olhar mais atento ao

sistema prisional para que essa estimativa diminua.

Ainda não há muitos estudos sobre a reincidência ao crime no Brasil, principalmente por

não haver dados concretos para essa apuração. De acordo com o relatório em questão “o

Brasil já é o quarto país que mais encarcera no mundo e, mesmo assim, convive com taxas de

criminalidade muito altas” (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2012 apud IPEA,

2015).

4.4. PERFIL DOS APENADOS REINCIDENTES AO CRIME

A pesquisa do IPEA (2015) se propôs traçar um perfil dos apenados reincidentes ao

sistema carcerário. Na amostra pesquisada, 57,1% era representado por jovens de 18 a 29

anos, 98,5% correspondia ao sexo masculino. Em relação à raça e cor, a taxa de reincidentes

foi composta de 53,7% por brancos e 46,3% por pretos e pardos. Entretanto, nessa categoria

por volta de em 40% dos apenados não foi possível identificar informações sobre a raça,

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demonstrando que o resultado final obtido, poderia ser alterado caso todas a informações

estivessem completas. Sobre o grau de escolaridade, 91,2% dos reincidentes possuíam até o

ensino fundamental completo e 92,5% declararam possuir emprego ou alguma ocupação.

Através dessas informações, é possível identificar um perfil bastante similar entre a

população carcerária e a população reincidente ao cárcere. Perfil este composto por homens

jovens, com baixa escolaridade e, possivelmente, negros.

4.5. ESTUDO E TRABALHO DENTRO DA PRISÃO

A LEP em seu artigo 126 garante ao preso já sentenciado em regime fechado ou

semiaberto a possibilidade de estudar e trabalhar em paralelo ao cumprimento de sua pena.

Entretanto, através de relatos extraídos na pesquisa do IPEA (2015, p. 37 e 38), a educação

não é muito valorizada dentro da prisão, pois não há uma infraestrutura adequada para a

ministração das aulas com segurança, há falta de profissionais qualificados e critérios de

seleção rígidos, como o grau de analfabetismo, comportamento, tipo de crime cometido e

interesse. Todavia, os próprios agentes penitenciários reconheceram que a formação escolar, a

conquista do diploma de ensino médio e de cursos profissionalizantes são a forma mais clara

de o apenado conseguir se ressocializar ao receber sua liberdade.

O trabalho na prisão foi reconhecido por uma participante da pesquisa com a principal via

de reintegração social. Ao trabalhar, o preso tem a possibilidade de diminuir sua pena e ainda

recebe remuneração equivalente, a qual não ultrapassa três quartos de um salário mínimo da

época. Com incentivos fiscais e apoiadas pela LEP, empresas privadas contratavam a mão de

obra prisional sem vínculo empregatício. Muitas vezes o preso recebia um certificado e ao

término de sua pena, existia uma grande probabilidade do mesmo ser efetivado na empresa. A

taxa de reincidentes por presos nessa situação era muito baixa, entre 1% e 2%.

4.6. O TRABALHO NA PERCEPÇÃO DOS PRESOS

Através de relatos dos próprios presos, trabalhar se tornou algo prazeroso. A demanda por

vagas e oportunidades de trabalho era menor do que a oferta, causando uma satisfação ao

preso contemplado com essa oportunidade e a possibilidade de diminuir a pena e contribuir

financeiramente com o sustento de sua família. Porém através de entrevistas com presos

trabalhadores, foi possível identificar outras vantagens:

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Trabalhamos sábado e domingo. Essa função que nós exercemos, que é a de

distribuidor de alimento, precisa de domingo a domingo. É uma questão espontânea,

mas na questão da remuneração, da remição, nós não ganhamos nada. Mas nós já

solicitamos ao excelentíssimo senhor juiz para que pudesse rever esse caso, para ver

se a gente consegue o direito da remição juntamente com o acréscimo de

remuneração. O juiz ficou de dar uma resposta e estamos no aguardo de um

posicionamento sobre isso. Mas também é espontaneamente porque, por exemplo,

no sábado, quando não temos visita, ou a visita cai no domingo, é muito chato. A

gente já está acostumado à saída para distribuir alimento. É muito entediante ficar no

módulo. A gente que acostuma a trabalhar, quando fica no módulo, fica agoniado.

Aí nós preferimos, mesmo sem remuneração e remição, sair para exercer a função de

distribuir alimentos (Condenado do regime fechado) (IPEA, 2015, p. 42).

Pelo relato acima de um condenado é possível identificar que o preso encontrou sentido

no seu ato de trabalhar, e, mesmo sem receber sua remuneração, prefere exercer sua função, a

fim de evitar o tédio e a ociosidade presente no cotidiano dos cárceres.

Alguns presos relataram a possibilidade de contribuir com o sustento de suas famílias,

mesmo estando com a liberdade limitada e como viam a possibilidade de trabalhar como uma

oportunidade alcançada e a chance de não retornar mais à criminalidade. Encontraram no

trabalho exercido, aumento de sua moral e autoestima e consideravam essas características

fundamentais para um bom retorno a sociedade.

Entretanto, como dito anteriormente, apenas condenados em regime fechado e semiaberto

poderiam trabalhar e a preocupação com o fim da pena e seu futuro e sustento de sua família

era uma preocupação constante para os presos nessa situação.

4.7. O EGRESSO DO SISTEMA PRISIONAL

Entende-se por egresso o ex-detento que cumpriu sua pena e encontra-se em liberdade e

em dia com suas obrigações legais referente ao delito cometido. Uma vez que esse egresso

realizar trabalhos em seu período de pena, ao conquistar sua liberdade, perde o direito de fazê-

lo. Mesmo realizado cursos dentro da prisão, ao retornar ao convívio social, encontra barreiras

para conseguir emprego.

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Nós temos que dar atenção aos egressos para que eles não voltem a cometer delitos,

por isso sempre estamos em busca de parcerias para poder oferecer trabalho. (...).

Até poderíamos expandir nossos convênios também para quem já cumpriu pena,

mas temos uma dificuldade imensa em encontrar o egresso; 90% deles a gente perde

o controle, temos muita dificuldade em achá-los. Quando ele sai não temos mais

nenhum controle sobre ele, não temos a casa do albergado. A gente não dá emprego

para o egresso porque nós não o encontramos. Para fazermos programas desse tipo é

necessário que tenhamos o mínimo de controle. (...). Nossa gerência está sendo

transferida para o centro da cidade, porque muitas vezes o egresso não quer voltar

para o sistema carcerário para receber acompanhamento. Eu imagino que uma vez

que estivermos operando fora do sistema carcerário a procura por acompanhamento

será bem maior (Agente penitenciária – gerente de reintegração social) (IPEA, 2015,

p. 42).

Outra barreira encontrada é a saúde dessa pessoa ao sair da prisão, pois o ambiente de

cárcere muitas vezes é propagador de doenças. Há predominância por doenças do aparelho

respiratório como a tuberculose e a pneumonia e também alta taxa de presos contaminados

pelo vírus HIV, consequência da violência sexual entre os presos e o uso de drogas injetáveis

(ASSIS, p. 75, 2008). Ao sair da cadeia adoecido, a probabilidade de se conseguir um

emprego torna-se mais baixa.

A LEP em seus artigos 25, 26 e 27 garante ao egresso direitos e amparo para sua

ressocialização na sociedade. O Patronato Penitenciário é um órgão do poder executivo

responsável por assegurar o cumprimento desses direitos: assistência social para obtenção de

emprego, auxilio alojamento e alimentação nos primeiros meses após a saída da prisão,

assistência jurídica e pedagógica. Entretanto, esse órgão que possui um papel fundamental na

reintegração social desse ex-detento não recebe o apoio e investimento necessário para

realizar um trabalho mais eficaz (ASSIS, p. 78, 2008).

Há por parte do empresariado preconceito com esse egresso, por deduzir que o mesmo não

é de confiança, vai entrar na empresa, conhecer os processos e abrir a porta para roubos. Se

faz necessária uma iniciativa para mudar esse cenário e as empresários se conscientizarem e

terem ações de RSE voltadas para a temática da contratação de ex-detentos e o impacto social

que essa prática traz para a sociedade como um todo. Afinal, o egresso de hoje pode se tornar

o reincidente criminal amanhã.

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5. PARALELO ENTRE PERFIL DE EGRESSOS DO SISTEMA

PRISIONAL E O TALENTO ORGANIZACIONAL

Pelos referenciais teóricos apresentados nos capítulos anteriores, é possível salientar os

perfis opostos que os reincidentes ao crime e os candidatos mais desejados aos cargos

concorridos possuem. Enquanto o talento é visto como uma raridade, um achado, o egresso é

encarado como um ser sem soluções e perspectivas para o futuro.

Quadro 4: Comparativo entre egressos e talentos.

Talento

X

Egresso

Qualificação profissional

avançada;

Habilidades interpessoais;

Alto grau de resolução de

problemas;

Contexto social receptivo.

Baixa escolaridade;

Estigma de comportamento

antissocial;

Pouca ou inexistente

experiência no mercado

formal;

Contexto social adverso.

Fonte: autoria própria.

Parece improvável para o empregador recrutar e selecionar um ex-detento, afinal ele

não possui as características e competências necessárias para o desempenho do trabalho

desejado. Entretanto, é possível promover práticas de responsabilidade social empresarial que

incentivem essa contratação e desenvolvimento desse profissional.

É importante salientar que essa prática não deve ser encarada como a contratação de

mão-de-obra barata para fins lucrativos. A organização irá valorizar sempre o lucro, porém o

impacto e os benefícios sociais inerentes devem ser valorizados como vantagens para a

empresa. Ao contratar esse individuo, consequentemente mais uma família passa a ter renda e

poder de consumo, o que faz a economia girar.

O objetivo dessa prática não é isentar essa pessoa do crime que cometeu, mas sim

encará-la como alguém com práticas ilícitas que está em dia com suas obrigações legais com a

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justiça e cumpriu a pena devida ao delito cometido. Nesse caso, essa pessoa está apta para

exercer uma profissão e mudar o ciclo do contexto social em que está inserido.

A realidade brasileira se apresenta preocupante ao olhar para a população carcerária,

pois não há muitos incentivos de melhoria para essa esfera da sociedade. Entretanto, pessoas

que cometeram crimes estão inseridas no contexto social e ignorar a existência delas e tratar

como algo irrelevante não solucionará o problema. Tratar o preso apenas como culpado sem

valorizar a possível mudança propaga a criminalidade. Quem comete crimes deve arcar com

as consequências de seus atos, porém cabe às instituições sociais promover uma melhoria. A

empresa pode se utilizar de estratégias de forma catalizadora.Comparar esse indivíduo ex-

preso com o jovem talento desejado pelas organizações é injusto. É inegável que os dois

perfis apresentam disparidades e ao conduzir um processo seletivo, a área de Gestão de

Pessoas deve ter a compreensão correta das pessoas que estão participando. Colocar em pé de

igualdade esses candidatos demonstra falta de profissionalismo por parte dos gestores que

estão conduzindo a seleção. Cabe à área de Gestão de Pessoas capacitar e conscientizar os

recrutadores e selecionadores para que o processo seletivo seja conduzido de forma

transparente e respeitando os agentes envolvidos.

Além de fazer um processo seletivo para fechar uma vaga, a mentalidade que deve ser

valorizada pela área de Gestão de Pessoas é promover boas ações em suas rotinas. Ao optar

pela contratação do egresso, a empresa não perde por não contratar um talento, mas sim por

ter a oportunidade de desenvolver essa pessoa e transformá-la em um talento.

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6. CASOS DE SUCESSO E INCENTIVO À PRÁTICA DE

RESSOCIALIZAÇÃO DE EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL

Apesar de não ser amplamente divulgado nas mídias de massa, há projetos e empresas que

já se atentaram aos benefícios sociais da reintegração dos ex-detentos e iniciaram práticas de

incentivo.

6.1. SELO RESGATA

Criado pelo DEPEN no de 2017, o Selo Nacional de Responsabilidade Social pelo

Trabalho no Sistema Prisional (Selo Resgata) tem por objetivo reconhecer empresas públicas

e privadas que possuam em seu quadro de funcionários pelo menos 3% de pessoas privadas de

liberdade e egressos do sistema prisional. Além de reconhecer, promove o incentivo a essa

prática pelos benefícios sociais advindos da mesma (DEPEN, 2017). Em 2018, seu primeiro

ano de premiação, 112 empresas foram contempladas com a entrega do selo e reconhecidas

por essa prática (PLANALTO, 2018).

6.2. SELO DE DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE

A partir do Decreto nº 58.180, de 05 de abril de 2018, instituiu-se o Selo de Direitos

Humanos e Diversidade, promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e

Cidadania (SMDHC), com objetivo de reconhecer e incentivar empresas públicas e privadas

com práticas de promoção de direitos humanos e valorização da diversidade no mercado de

trabalho. As empresas reconhecidas pelo Selo farão parte de uma rede de compartilhamentos

das políticas e aproximação de programas da prefeitura de São Paulo (SP).

Dentro do Selo há a categoria Pessoas privadas de liberdade e Egressas que reconhece

iniciativas voltadas à promoção de direitos das pessoas em cárcere privado, egressos do

sistema prisional e jovens cumprindo medida socioeducativa.

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6.3. PROGRAMA PRÓ-EGRESSO

O Programa Estadual de Apoio ao Egresso do Sistema Penitenciário (PRÓ-EGRESSO) é

uma iniciativa oriunda da parceria da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP),

através da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania (CRSC), a Secretaria do

Emprego e Relações de Trabalho (SERT) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico,

Ciência e Tecnologia (SDECT) do estado de São Paulo.

O programa foi instituído a partir do Decreto nº 55.126, de 07 de dezembro de 2009, com

duas principais vertentes: o direcionamento de egressos do sistema penitenciário paulista ao

mercado de trabalho e a qualificação profissional dos indivíduos nessa situação. Os egressos

podem se candidatar às vagas e as empresas podem divulgar as vagas através da plataforma

digital do programa.

6.4. EMPRESA: PANOSOCIAL

A PanoSocial é uma empresa privada que confecciona roupas, uniformes, acessórios e

produtos customizados localizada no estado de São Paulo. Em seus processos, é considerada

uma empresa que atua com Responsabilidade Social Ambiental (RSA) por utilizar matéria-

prima ecológica e processos produtivos sustentáveis. Além disso, se enquadra com a

Responsabilidade Social Empresarial por empregar em sua rede de produção ex-detentos, a

fim de diminuir a reincidência criminal.

A empresa foi criada em 2014 na cidade de São Paulo e em 2018 recebeu o Selo de

Direitos Humanos e Diversidade na categoria Pessoa privadas de liberdade e egressas.

Reconhecimento adquirido pela prática de empregar apenas egressos em seu próprio ateliê.

6.5. SEGUNDA CHANCE

O projeto foi criado em 2008 pela ONG AffroReggae e tem por objetivo fazer a ligação

entre ex-detentos em busca de emprego e empresas parceiras com vagas disponíveis. A ONG

recebe os candidatos e faz uma triagem inicial, realiza um cadastro de forma digital, onde

todas as informações necessárias já podem ser disponibilizadas para as empresas. Cabe a

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ONG além de fornecer essas fichas de funcionários, acompanhar junto à empresa parceira o

desenvolvimento desse trabalhador.

Pelos exemplos citados acima, é possível notar que algumas entidades já perceberam a

importância de olhar para esse indivíduo egresso do sistema prisional e muitas vezes

desamparado pelo seu histórico de vida. Entretanto, ignorar a presença de muitos cidadãos

nessa situação não resolve o problema, fazendo-se necessária uma intervenção.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente trabalho foi possível identificar um perfil de profissionais que as

empresas tem buscado nos últimos tempos. Esse perfil é composto por indivíduos com

habilidades interpessoais bastante desenvolvidas e qualificação profissional cada vez mais

alta. Com o advento da tecnologia e pela maior complexidade dos processos, os recursos

humanos e seu intelecto se tornam valorizados.

A forma de conduzir um processo de recrutamento e seleção passou por mudanças,

adotando práticas que valorizam as escolha das competências necessárias e desejadas por cada

organização. Por adotar uma seleção mais criteriosa, os candidatos se especializam cada vez

mais e quem tem condições financeiras para se destacar perante seus concorrentes irá procurar

se diferenciar.

Cabe nesse viés olhar a parcela da população que não possui as condições necessárias para

se profissionalizar e nesse caso específico, os egressos do sistema prisional. Sistema este

composto majoritariamente por jovens com baixa escolaridade e oriundos de locais humildes

e sem acesso aos melhores níveis de ensino educacional. Adicionando o fato de possuírem um

histórico de criminalidade e cumprimento de cárcere privado. Dificilmente esse individuo será

considerado como o candidato ideal para uma vaga de emprego.

Apesar da existência de uma Lei de garante o direito ao trabalho aos presos, a Lei de

Execução Penal, ao sair do sistema penitenciário, o indivíduo passa por um acompanhamento

que é logo desfeito. Ao retornar ao convívio social e não ter oportunidades, além de uma

mentalidade condicionada à criminalidade, esse egresso do sistema prisional se torna um

reincidente por retornar às práticas criminosas.

Para evitar esse retorno, as empresas devem adotar práticas de Responsabilidade Social

Empresarial que incentivem a contratação desse ex-detento e consequentemente diminua a

probabilidade de novos crimes cometidos. O impacto social gerado por essa ação atinge ao

individuo pela possibilidade de exercer uma profissão e dar sustento aos seus familiares.

Atinge também a empresa, pois há maior visibilidade perante seus stakholders ao adotar

práticas de RSE.

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Disponível em:

<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/01/15/interna-

brasil,653290/rebelioes-mortes-e-fugas-em-presidios-marcam-o-inicio-de-2018.shtml>.

Acesso em: 25 de set. 2018.