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1 Violência nas celas é reflexo social 1 14.03.2014 Fragilidade na ressocialização dos presos revela situação quase sem controle na reincidência Roupas, livros e muita sujeira podem ser vistos no que sobrou dos presos. Foto: José Leomar Mainha, o mais conhecido pistoleiro nordestino ficou preso no IPPS. 1 Fonte: Jornal Diário do Nordeste

LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

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Entrevistas concedidas entre março de 2013 e março de 2014. Vinculadas nos jornais OPovo e Diário do Nordeste.

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Violência nas celas é reflexo social1

14.03.2014

Fragilidade na ressocialização dos presos revela situação quase sem controle na

reincidência

Roupas, livros e muita sujeira podem ser vistos no que sobrou dos presos. Foto:

José Leomar

Mainha, o mais conhecido pistoleiro nordestino ficou preso no IPPS.

1 Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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Um dos túneis cavados pelos detentos, em 2007. Este chegou a sete metros do

muro.

O cenário é de caos. Mesmo desativado desde o ano passado, o Instituto Penal

Paulo Sarasate (IPPS) ainda provoca medo. Suas paredes estão impregnadas de

energia negativa, pertences de presos espalhados pelos corredores, celas vazias,

mas que ainda guardam lembranças - a maioria marca a tragédia humana

vivenciada em 43 anos de existência. Rastros de sangue, violência, dor e sonhos

daqueles que, em muitas fugas, tentaram a liberdade a todo custo.

O mais antigo presídio do Ceará, quando inaugurado em 1970, era modelo para

o sistema penitenciário brasileiro. Foi desativado também como referência no

País como retrato da superlotação, desrespeito aos direitos humanos e condições

aviltantes para encarcerados, suas famílias e agentes prisionais. "A prisão no

Brasil é geradora de violência. Sendo que a violência ali instalada e a enfrentada

fora dela são elos da mesma sociedade, e nós não podemos jamais esquecer

disso", alerta o sociólogo José Pedro Oliveira Júnior.

Análise é compartilhada pela também socióloga e pesquisadora do Laboratório

do Estudo da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia

Perla Diógenes. Ela ainda destaca a fragilidade das políticas de ressocialização

dos presos, tornando os presídios e cadeias públicas superlotadas como

verdadeiras "escolas do crime". "Todos misturados, os que cometeram delitos

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leves dos homicidas, sequestradores, assaltantes de bancos. Não existe quase a

palavra recuperação", frisa.

Não é à toa, argumenta, que um dos grandes desafios do sistema penitenciário é

impedir o uso de celulares dentro das prisões. "De lá, muitos continuam a

comandar crimes". Por isso, ressalta, é necessário manter a memória para

aprender com nossos erros. "Não podemos apenas exigir punição aos que

cometem crimes, colocando-os e esquecendo-os dentro das prisões, por mais que

elas contem com tecnologias das mais modernas", aponta a pesquisadora.

Acervo

Em setembro de 2000, os presos do IPPS se rebelaram após um acerto de contas

entre as facções, destruíram parcialmente o presídio, com o resultado de um

morto e 11 feridos. Todo acervo de documentos, fotos e registros dos detentos

foi perdido. Fatos daquela época somente na memória dos ali cumpriram penas

ou de quem trabalharam no velho presídio.

Caso do ex-agente penitenciário, Antônio Tabosa, de 68 anos, 42 dos quais

dentro do IPPS. Ele percorreu, junto com a equipe de reportagem do Diário do

Nordeste, as dependências da penitenciária. Para todos, a mesma sensação de

claustrofobia, arrepio e o questionamento de como tantos seres humanos

conseguiram sobreviver a um cenário de guerra física e psicológica, inclusive,

reincidindo nos crimes.

"Quando cheguei, em 1972, tudo era diferente, a sociedade era diferente. Os

presos eram mais respeitosos, cumprindo penas por crimes violentos sim, no

entanto, sem tanta crueldade como vimos agora. Nesse tempo que passei aqui,

tudo mudou para pior. O medo e a tensão eram constantes para todos", lembra

Antônio.

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Outro que também comenta os últimos anos do IPPS é o agente de manutenção

Roberto Diniz. Em muitos pontos foi ele, a marretadas, que quebrou cadeados

para a passagem da equipe. Um desses locais foi a chamada Selva de Pedra, que

tem esse nome devido à construção do espaço todo em pedras. Ele lembra que,

para entrar nas celas, era preciso "autorização" dos próprios presos, no caso, os

"chefões". "Eu pedia ajuda de uma escolta para ir próximo e gritar: 'vocês me

chamaram para desentupir o vaso'", conta.

Antônio Tabosa também relembra que o primeiro preso do IPPS, o Paraíba,

conseguiu regime semiaberto, poucos anos após ser transferido para lá, vindo da

antiga Cadeia Pública. No entanto, diz, ele acabou sendo atropelado na rodovia

bem em frente à penitenciária. "Enquanto o último a sair daqui, o Militão,

continua botando boneco no presídio em Pacatuba. Um criminoso perigosíssimo

e que a gente tinha receio enquanto ele ficou aqui no IPPS", avalia, defendendo

um olhar mais justo para os agentes prisionais. "Se antes era difícil, perigoso,

agora, se tornou um verdadeiro desafio atuar na profissão", comenta.

Marcas

Ao caminhar pelos corredores, lotados de roupas, livros e muita sujeira, é

possível notar as marcas de balas nas portas de ferros e nas paredes. Muitas

vezes, recorda, na tentativa de fuga, eles subiam nos ombros uns dos outros para

alcançar o topo do muro do pátio da Selva de Pedra. "Uns chegaram a arrancar a

cerca de arame. Teve um que morreu tentando escalar o muro, sem falar dos

inúmeros túneis que escavaram nesse tempo".

Pelo IPPS passaram os bandidos mais perigosos do Estado, além de presos

políticos, na década de 70, e onde aconteceram as rebeliões históricas no Ceará.

A mais lembrada foi o motim que fez de refém o cardeal Dom Aloísio

Lorscheider e outras dez pessoas em 1994. Dentro suas muralhas, mais de 100

presos morreram, vítimas de brigas entre as diversas gangues que disputavam o

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poder entre as grades, de rebeliões, fugas, tentativas de fugas e motins, levando

também consigo inúmeros assassinatos praticados por eles enquanto estavam

fora do cárcere.

Nomes como do pistoleiro Mainha, de assassinos como o português Luís

Militão, de orquestrador do sequestro de Dom Aloísio, Carioca e daquele que

comandou o furto do Banco Central, Alemão, colocaram o nome do Estado do

Ceará na mídia internacional.

Na visão da pesquisadora e coordenadora do Laboratório de Antropologia e

Imagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Peregrina Campelo, esses

bandidos são figuras emblemáticas do mundo do crime.

Para ela, o grupo conseguiu alçar Fortaleza como destaque mundial de forma

estigmatizadora. "O maior problema da violência do Ceará está ligada a

microfísica cotidiana igual ao do povo brasileiro formada pela secular

desigualdade social".

Lêda Gonçalves

Repórter

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Para não ficar no esquecimento

O Instituto Prisional Paulo Sarasate (IPPS) está prestes a ser implodido.

Desativado desde 2013, foi inaugurado em 1970. Já abrigou notórios infratores

da lei: o famigerado pistoleiro "Mainha" (espécie de figura emblemática dessa

funesta atividade), que chegou até mesmo a estampar capas de revistas; o

sequestrador conhecido como "Carioca", cabeça da ação de sequestro que

envolveu dom Aloísio Lorscheider; o inventivo "Alemão", que arquitetou o já

lendário assalto ao Banco Central de Fortaleza e, por fim, o frio Luís Militão,

perverso lusitano que premeditou o assassinato de seis conterrâneos. Além

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desses criminosos típicos, a prisão também abrigou outros detentos que ali

estiveram por circunstâncias distintas: os presos políticos do contexto da

Ditadura Militar. Desse modo, percebe-se que por esse espaço carregado de

significados negativos, transitaram figuras que remetem a determinados

contextos e épocas. Lugar carregado de simbolismos, o espaço prisional evoluiu

ao longo do tempo, sempre carregando a função de purgatório social, onde os

infratores da norma pagam por seus delitos. Passar por essa experiência também

acaba por imprimir marcas de significação e identidade. Se criminoso comum:

pária. Se preso político: herói idealista. Enfim, nada nem ninguém escapa ao

fato de tocar a realidade prisional. Qual destino seria o ideal para essa antiga

instituição? Numa cidade sem memória, que não hesita nem um pouco em

apagar o pouco que nos resta de um passado remoto, não seria interessante

pensar sobre essas questões? Afinal, o Campo de Extermínio de Auschwitz não

está de pé por trazer lembranças ternas da Segunda Guerra Mundial: está lá para

que todos lembrem dos horrores que a nossa espécie é capaz de perpetrar.

Talvez o melhor destino do antigo IPPS fosse o de ser transformado em Museu

Prisional. Um lugar onde os registros daqueles que por lá passaram pudesse ficar

preservado, bem como os fatos relevantes protagonizados por eles. Revisar essas

biografias é também repassar a nossa História.

Fazê-lo não significa glorificar aqueles que estiveram à margem da sociedade,

mas estabelecer parâmetros e preservar fontes para o entendimento de nós

mesmos. Ou talvez devesse ser metamorfoseado numa Escola Profissionalizante,

onde os descendentes desses infratores pudessem ter oportunidades de

crescimento pessoal e laboral. O que não podemos é continuar sem entender e

encarar nosso passado. Assim nunca iremos amadurecer.

Eustáquio Alvarenga Júnior

Professor e historiador

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Imagem ameaçada pelo medo2

06.03.2014

Empresária Vera Canei usa um taco de beisebol para se defender, mesmo com

uma viatura da PM tendo um ponto fixo ao lado de seu restaurante. Fotos:

Helosa Araújo

A professora Jânia Aquino, pesquisadora do LEV da UFC, diz que os

investimentos para a Copa funcionaram como “cosméticos”, que tentaram

maquiar a situação.

2 Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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A SSPDS informou que há agentes treinados em número suficiente para o

evento, mas está ampliando os quadros. Mais 400 PMs integrarão o BPChoque.

População demonstra descrédito com políticas de segurança pública e receio de

que a violência atrapalhe turismo local

Em Fortaleza, o medo, a sensação de perigo e a desconfiança estão por toda

parte. A queixa dos moradores é a mesma: não há segurança. A maioria dos

fortalezenses se habituou a um ritual diário, que inclui evitar vias, andar um

pouco mais até a parada de ônibus mais movimentada, esconder o aparelho

celular e colocar no orçamento inúmeros itens de segurança privada.

O comerciante Diego Alisson Roseno diz que mora no bairro Castelão há 16

anos. Ele conta que a violência na área aumentou depois do início da reforma do

estádio. “Quando a Copa das Confederações estava acontecendo, tinha Polícia

aqui toda hora, as obras prometiam acesso fácil ao bairro, e os imóveis se

valorizavam. Depois do evento, fomos assaltados pelos criminosos que

migraram, a Polícia sumiu e as obras encalharam”.

O balanço feito pelo comerciante parece pessimista, mas é corroborado pelo

vendedor Newton Sérgio Borges, que também mora na região. “Faz tempo que

não vejo uma viatura aqui. Até a Copa pode ser que a situação melhore, mas

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depois vamos sofrer de novo. A farmácia da esquina fechou depois de ser

assaltada cinco vezes. Virou um frigorífico, que já foi assaltado”.

Comércio

No entorno da Avenida Monsenhor Tabosa, as reclamações sobre a falta de

policiamento em área que movimenta altas somas de dinheiro, são muitas. “Não

dá para pegar ônibus nem andar a pé até a nossa casa porque as duas alternativas

são de risco. Não posso trazer nem meus documentos na bolsa porque já fui

assaltada três vezes e perdi tudo. Precisamos que dobre ou triplique o

policiamento aqui”, diz a professora Suely Silva, que mora em uma rua ao lado

da avenida.

Os vendedores também se dizem assustados com os muitos relatos de roubos.

“Os clientes chegam contando que foram assaltados e dizem que não vêm aqui

nunca mais. Sem clientes, não vão precisar de nós, vendedores”, disse Lilian

Carvalho.

Na Avenida Beira-Mar, a situação não é diferente. A empresária gaúcha Vera

Canei mora em Fortaleza há 12 anos. Ela já havia sido entrevistada pelo Diário

do Nordeste, depois que avistou, de seu restaurante, na esquina da Avenida

Beira-Mar e a Travessa Bauxita, diversas ações criminosas, cometidas por

indivíduos portando armas de fogo.

Quando o caso foi apresentado pela imprensa local, Vera diz que uma viatura do

Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) passou a ter um ponto fixo, ao lado

de seu estabelecimento. Segundo ela, a patrulha fica lá 24 horas, todos os dias.

“Reclamei e eles mandaram Polícia para cá, mas os assaltos passaram a

acontecer em outros pontos. Aí está o problema dos assaltos na Beira-Mar, não

são resolvidos, eles apenas mudam de lugar”, afirma.

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Vera Canei disse ainda que a venda e o consumo de drogas acontece

abertamente em alguns pontos do calçadão. “Depois que usam as drogas, os

viciados ficam alterados e brigam. Já se esfaquearam na frente do meu

restaurante”.

No dia 12 de maio de 2013, quando deu sua primeira entrevista ao jornal, Vera

apresentou o taco de beisebol que usa para se defender. Mesmo com a viatura

parada ao lado, ela não dispensou o pedaço de pau e promete usá-lo, se

necessário. “Não pretendo ferir ninguém, mas cada um luta com as armas que

tem. Preciso me defender”, avisa.

A população parece não se sentir segurança mesmo na presença da Polícia, e o

comportamento da empresária é indício disso. “Eles estão do lado, mas se eu

tiver de ir à esquina? Até onde estou protegida? Muita coisa tem que ser revista

até a Copa. Não quero que as pessoas levem essa imagem de Fortaleza”.

Já os turistas, embevecidos com a cidade, veem as coisas de forma diferente.

Eles são facilmente reconhecidos, pois andam pelo calçadão usando alianças,

colares de ouro e relógios. Hábito que a maioria dos fortalezenses já deixou para

trás.

Para o italiano Antônio Zuncheddu, que mora há sete anos no Ceará, a saída é

ser cortês com quem representa uma ameaça. Por ser paraplégico, o aposentado

conta que não pode fugir dos ataques, então os evita.

“Falo com eles, mesmo quando estão drogados; se me pedem dinheiro, eu dou.

Quando saio de casa, não levo nada para não ser roubado. A única coisa que

podem me tirar é a cadeira de rodas”, brinca o estrangeiro.

NÚMERO

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5,5 mil agentes de segurança estarão distribuídos nas ruas da Capital, para

garantir que o evento transcorra em paz. Além deles, outras instituições como

AMC e Samu darão suporte.

Uma sociedade moldada pelo perigo das ruas

O recrudescimento do número de crimes em Fortaleza reflete em um sentimento

de insegurança que já existia, mas foi potencializado. Para a professora-doutora

Jânia Perla Aquino, pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV)

da Universidade Federal do Ceará (UFC), o que acontece na segurança pública

do Estado é uma crise motivadora de diversos fenômenos sociais.

“A publicação de números de organismos internacionais e locais diagnosticaram

uma quantidade elevada de homicídios, roubos e furtos aqui. O resultado disso é

uma população amedrontada, que deixa de sair às ruas, que se torna intolerante e

preconceituosa. A principal vítima desse preconceito é o jovem negro,

adolescente e de periferia. Esse personagem, denominado 'pirangueiro', passou a

ser a personificação do medo e da insegurança de Fortaleza”.

Para a professora, há negligência no modo como a segurança pública vem sendo

pensada, e isso culminou em uma situação de desorientação da população.

“Houve um investimento em viaturas; tentou-se criar uma nova perspectiva de

Polícia, com o Ronda do Quarteirão, mas o programa foi se desvirtuando. Ele foi

saindo do seu objetivo, que era de ser uma Polícia de proximidade e se tornou

uma Polícia com cunho repressivo”.

A doutora em antropologia social considera que além da sensação de

insegurança, a suspeição da sociedade de que a Polícia não resolve seus

problemas tem alimentado o que ela considera uma crise nas instituições da

segurança pública. “Um dado que revela isto é a subnotificação. A não ser que

percam documentos, as pessoas não se dão ao trabalho de ir fazer um Boletim de

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Ocorrência (B.O.) porque enfrentam grandes filas e têm a certeza de que aquilo

é uma ação ritualística, mas que o objeto levado não será devolvido”.

Jânia Aquino diz que situações como as tentativas de linchamento, por exemplo,

são eventos graves motivados por essa necessidade que as pessoas estão

descobrindo de tomar a dianteira. “As pessoas tentarem punir praticantes de

crimes é um indício forte de descrença na capacidade da Polícia de chegar a

tempo e de resolver os conflitos”, comenta.

Para ela, não será fácil controlar a onda de violência durante a Copa do Mundo.

Conforme Jânia, o problema deveria ter sido freado gradativamente. “Havia uma

série de medidas que poderiam ter sido tomadas há dois, três anos. A população

teria de ter sido chamada a participar da Copa. Acontece que, desde o início,

uma série de ações fizeram com que o evento fosse antipático”, aponta.

A pesquisadora do LEV acredita também em um agravamento dos conflitos

sociais. “No início, foram feitas promessas à população, a perspectiva era muito

otimista em relação ao legado da Copa. O que se teve não foi isso. Aconteceram

altos gastos, que fizeram com que se chegasse à conclusão de que a Copa,

talvez, nem fosse tão positiva”.

SSPDS garante evento tranquilo

Tropas das Forças Armadas, Força Nacional de Segurança, Polícia Militar

(incluindo Rodoviária Estadual), Polícia Civil, Polícia Federal (incluindo

Rodoviária Federal), Corpo de Bombeiros, Coordenadorias de Inteligência e da

Perícia Forense do Estado estarão nas ruas para atuar nas demandas geradas

durante a Copa do Mundo. Segundo informações da Secretaria de Segurança

Pública e Defesa Social (SSPDS), mais de 5,5 mil homens trabalharão

diretamente na segurança do evento.

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Instituições como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Autarquia

Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), Guarda

Municipal, Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) e do Serviço de

Atendimento Médico de Urgência (Samu) darão suporte às operações montadas

pelas Polícias e estarão disponíveis para prestar serviços, voltados para o que o

Mundial exige.

O responsável pela Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional de

Segurança da SSPDS, Fernando Menezes, diz que o plano de segurança para a

Copa do Mundo já está pronto, mas poderá ser alterado diante de alguma

necessidade extraordinária. O projeto inclui, entre outros assuntos, a distribuição

de agentes nas ruas da Capital, rotas alternativas para ônibus de torcedores e

escolta de delegações e autoridades, além da segurança nas Fan Fests.

Fernando Menezes afirma que o Ceará está preparado para receber o evento no

tocante à segurança. “A SSPDS tem a intenção de garantir a toda população, não

só a quem vai participar dos jogos, a tranquilidade e a paz. Não se preocupem”,

afirma.

Segundo ele, 400 homens que irão integrar o Batalhão de Choque da PM

(BPChoque) estão sendo treinados. “Além deles, estamos selecionando outros

PMs, policiais civis e bombeiros militares para serem negociadores,

gerenciadores de crise e para controlar distúrbios civis”. Menezes confirma que

tem agentes suficientes treinados, mas estão ampliando os quadros.

Márcia Feitosa

Repórter

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Ataques têm algum nível de organização, diz

especialista3

22.02.2014

Para quem estuda as políticas de segurança e a violência urbana, os incêndios a

ônibus em Fortaleza precisam ser avaliados com cautela. Isso porque, segundo

os pesquisadores, ainda não existem elementos suficientes para afirmar a ligação

dos casos daqui com os de outras localidades.

O coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), César

Barreira, alerta para a dificuldade de classificar os nove incêndios daqui como

“isolados” ou fruto do “crime desorganizado”, conforme cita o delegado das

investigações. “É, de certa forma, organizada. Acontece nas periferias da cidade,

quando os trabalhadores estão voltando do trabalho e em horários de pico. A

tática é evacuarem o ônibus e tocarem fogo. Está sempre preservada a questão

da vida. Isso tem todo um simbolismo. Porque eles atacam a propriedade. E não

é a propriedade das pessoas que estavam usando o ônibus.”

Também pesquisadora do LEV/UFC, Jânia Perla diz que, aparentemente, os

ataques daqui são uma tentativa de “copiar” casos do Rio e São Paulo. “Mas só

aparentemente. Seria preciso um estudo mais detido e uma investigação policial

para afirmar isso”, pondera. A estudiosa alerta para os grandes riscos de

ferimentos e morte aos quais os usuários do transporte público ficam expostos

nesses ataques.

(Bruno de Castro)

3 Fonte: Jornal Opovo

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Ataques assustam usuários de ônibus4

19.02.2014

Desde ontem, as polícias militar e civil reforçam a segurança nos transportes

coletivos da Grande Fortaleza / A. Gonçalves Além do contratempo para

ajustar os horários à frota reduzida, o fortalezense enfrenta o medo de uma

nova modalidade de violência na cidade/ Ontem, foi registrada uma tentativa de

incêndio a um veículo que circulava no bairro Edson Queiroz, no entanto as

chamas foram controladas/ Assim como os passageiros, os motoristas lamentam

a situação, que se une às outras dificuldades enfrentadas diariamente na

profissão. Foto: Kléber Gonçalves

Conforme a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza, os motoristas das 26

linhas de Corujão estavam com medo de sofrer atentados. Foto: Naval

Sarmento

4 Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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Desde domingo, pelo menos sete coletivos de diferentes linhas foram

incendiados na Grande Capital.

Até ontem, sete coletivos sofreram ataques com incêndios na Grande Fortaleza.

Uma das ocorrências foi registrada na madrugada de segunda para terça-feira. A

ação atingiu um veículo que fazia a linha 631, e ocorreu na altura do Km 11 da

BR-116, em Messejana.

Por volta das 14h de ontem, dois homens foram flagrados ateando fogo em um

ônibus no bairro Edson Queiroz. Populares contiveram o incêndio e acionaram a

Polícia. O fogo atingiu dois bancos do veículo.

Muito além do contratempo para ajustar os horários à frota reduzida, o

fortalezense teve de enfrentar ainda outra situação: o medo de uma nova

modalidade de violência que começa a se instalar na cidade. Conforme a

doméstica Paula dos Santos, 30, os incidentes com os coletivos representam uma

preocupação a mais. "Se durante o dia já perigoso andar de ônibus por causa dos

assaltos, imagina de noite, com o risco de incêndio", relata.

Para o vendedor Nilton Filho, 26, o risco de depender dos coletivos se agrava.

"A gente tenta pegar outro ônibus, mas tem que ir trabalhar e acaba se

arriscando", constata.

Para os motoristas e cobradores, a nova situação se une às outras dificuldades

enfrentadas diariamente. "Sofremos com insegurança, ofensas de passageiros,

pressão das empresas, estresse do trânsito, e agora, com mais essa onda dos

ataques aos ônibus, fica muito difícil", diz o motorista Nildo Barroso, 36, na

profissão há cinco anos.

Conforme o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário

no Estado do Ceará (Sintro), Tobias Brandão, a sequência de ataques demonstra

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como os usuários e trabalhadores em transporte público estão expostos às ações

criminosas. "Os assaltos cresceram mais de 400%", afirma. Ainda de acordo

com o diretor, o Sintro já solicitou reforço na segurança do transporte público,

como blitze surpresas em rotas de ônibus, inclusão de servidoras para fazer a

revista em passageiras e a presença de policiais descaracterizados nos coletivos.

Efeitos

Os episódios envolvendo incêndios em coletivos são cenas noticiadas com certa

frequência em outros Estados e, geralmente, estão ligados a grupos de tráfico. A

população teme ter de enfrentar cenas até então inexistentes no cotidiano da

capital cearense.

"É mais uma experiência traumatizante para as pessoas, que são constantemente

vítimas de ações criminais, e agora estão sujeitas a presenciar esses eventos

violentos", analisa a antropóloga e pesquisa do Laboratório de Estudos da

Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla Diógenes.

Para ela, essas ações contribuem para a imagem de cidade perigosa associada à

Fortaleza e aumenta a sensação de insegurança. "Seja qual for a motivação

desses ataques, os efeitos são muito negativos, principalmente para o transporte

público, que já é rudimentar e ineficaz, e fica com a frota reduzida", avalia.

Corujões têm atividades paralisadas

Na madrugada de ontem, motoristas de todos ônibus das linhas Corujão, que

funcionam durante a madrugada, paralisaram suas atividades nos terminais de

Fortaleza por medo dos ataques. Os coletivos só voltaram a funcionar

novamente na manhã desta terça-feira.

Conforme justificou a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), os

motoristas das 26 linhas Corujão estavam com medo de sofrer novos atentados

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e, após decisão dos diretores das empresas, paralisaram as atividades nos

terminais de ônibus da cidade.

Ainda de acordo com a Etufor, não existe nenhuma movimentação para qualquer

paralisação durante a madrugada desta quarta-feira, mas, devido ao receio dos

profissionais, caso exista alguma nova ocorrência do tipo, é possível que os

motoristas eles parem novamente nos terminais.

Sem feridos

Até a noite de ontem, pelo menos oito coletivos haviam sido queimados na

Grande Fortaleza. Dois deles foram incendiados na noite da última segunda-

feira (17), um na cidade de Caucaia e outro no bairro de Messejana. Apesar da

proporção dos casos, ninguém ficou ferido nas ações.

Quatro outras ações desse tipo ocorreram durante o fim de semana. Somente na

noite do último domingo, dia 16 de fevereiro, quatro ônibus foram incendiados.

As ações aconteceram nos bairros Conjunto Ceará, Jardim América e Siqueira.

A sede da Secretaria de Justiça (Sejus), também foi alvo de incidentes, sendo

atacada a tiros por volta das 22h30 de domingo.

Ontem, mais dois ônibus sofreram ataque. Um deles ocorreu no bairro

Messejana. Já o segundo incêndio a ônibus aconteceu no bairro Edson Queiroz,

porém as chamas foram controladas a tempo e não houve perda total do veículo.

A Polícia Civil abriu inquéritos para apurar os fatos e não descartou a hipótese

de que os atentados seriam uma retaliação de criminosos após o assassinato de

dois detentos no Sistema Penal, ocorridos também no último domingo.

Sete assaltos por dia nos coletivos

Durante todo o ano passado, o Sindicato das Empresas de Transporte de

Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) registrou 2.517 assaltos na

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Capital. Portanto, aconteceram sete ocorrências por dia nos coletivos no ano de

2013.

Dessas 2.517 ocorrências; 181 foram em janeiro, 186 em fevereiro, 220 em

março, 174 em abril, 182 em maio, 201 em junho, 254 em julho, 207 em agosto,

258 em setembro, 270 em outubro, 197 em novembro e 187 em dezembro.

Já em 2012, foram registrados 615 roubos dentro dos veículos que fazem o

transporte público em Fortaleza. Dessa forma, de 2012 para o ano passado,

houve um aumento de 309%, ou seja, o número mais do que quadruplicou. Se

for feita comparação com 2011, quando houveram 279 ocorrências, o

crescimento foi de 802%.

Para o assessor jurídico do Sindiônibus, Cleto Gomes, que participou de reunião

com o governo do Estado; o sindicato, antes do encontro com a Secretaria de

Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), estava muito preocupado devido

ao sério problema de insegurança. "As medidas adotadas pela SSPDS,

juntamente com toda a cúpula da segurança, deixam os empresários

relativamente tranquilos para que possam transportar os usuários de forma

regular", comentou o assessor jurídico

Solução

Agora, o órgão espera que os problemas sejam resolvidos com a investigação

que está sendo feita pela Polícia. "Os policiais vão acompanhar de forma mais

efetiva os coletivos no sentido de identificar eventuais problemas como os que

aconteceram. Eles vão estar mais próximos principalmente dos corujões para

evitar que novos fatos dessa natureza venham a ocorrer. Foi esse o prometido",

afirmou.

SAIBA MAIS

Domingo (16/02)

Page 20: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

20

Ônibus é incendiado no bairro Jardim América por volta das 22h40

Segunda-feira (17/02)

Ônibus é incendiado no Siqueira, nos primeiros minutos do dia. À 1h, dois

coletivos foram queimados no Conjunto Ceará. À noite, outro

Ônibus foi incendiado em Caucaia

Terça-feira (18/02)

Ônibus é incendiado em Messejana durante a madrugada. À tarde, mais um

ataque foi registrado no bairro Edson Queiroz. Dois assentos

De um coletivo foram queimados

Page 21: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

21

Ações são imitação grosseira do que acontece em SP,

diz Cid5

18.02.2014

Ao comentar sobre a série de ataques a ônibus na Grande Fortaleza, o

governador Cid Gomes disse que não vai "aceitar abusos". Prejuízo provocado

pelos atentados ainda não foi estipulado

O governador Cid Gomes criticou duramente os atentados que têm ocorrido na

Grande Fortaleza, desde a última sexta-feira. Na manhã de ontem, Cid disse ter

determinado que todas as ações sejam rigorosamente apuradas pela Secretaria da

Segurança Publica e Defesa Social (SSPDS).

“Minha determinação é que apure. Já havia acontecido um caso anteontem

(sexta). É fundamental que a gente não permita que movimentos de violência

sejam rotina na nossa Capital. Isso será aprofundado”, afirmou. As declarações

ocorreram durante um seminário no Centro de Eventos. “Não vamos aceitar

abusos. Muitas vezes são coisas orquestradas, uma imitação grosseira do que

está acontecendo em São Paulo”, disse o governador.

Responsável pela investigação, o titular da Delegacia de Roubos e Furtos

(DRF), delegado Raphael Villarinho, informou que a Polícia trabalha com duas

possibilidades de motivação para os atentados. A primeira, e mais contundente,

sugere que a ordem para os ataques tenha partido de um presídio, por conta da

morte do traficante. Já a segunda hipótese considera que as ações ainda sejam

uma retaliação ao suposto assassinato de um morador da Maraponga, na semana

passada, que teria sido morto por policiais.

“Estamos com duas linhas de investigação. Realmente, é provável que as ordens

tenham saído do presídio. Mas não descartamos nenhuma possibilidade. Não

5 Fonte: Jornal Opovo

Page 22: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

22

descansaremos enquanto não desvendarmos o caso e prendermos todos os

envolvidos. As investigações estão adiantadas”, afirmou Villarinho.

Em nota oficial, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros

(Sindiônibus) repudiou as ações, que foram classificadas como “criminosas”. O

prejuízo provocado pelos atentados não foi estipulado. “Não podemos admitir

ações dessa natureza, que ameaçam a integridade e a vida das pessoas, agridem

o patrimônio público e que acabam por prejudicar a população fortalezense, em

especial a parcela que tem no transporte coletivo o seu principal ou único meio

de deslocamento”, diz o documento.

Especialista

Para a antropóloga Jânia Perla, do Laboratório de Estudos da Violência da

Universidade Federal do Ceará (UFC), os atentados têm um simbolismo muito

forte, na atual conjuntura do País, em que há diversos casos semelhantes

registrados em outros estados. “É possível que estejam se espelhando nesses

acontecimentos. O momento que se vive é de intolerância e de ânimos acirrados

e a violência emerge nas mais diferentes formas”, analisa. (Thiago Paiva/

colaboraram Camila Holanda e Sara Oliveira)

Saiba mais

A principal linha de investigação da Polícia é de que os atentados tenham

ligação com a morte do traficante Henrique de Sousa Monteiro, o “Henrique do

Barroso”. Ele foi encontrado com sinais de espancamento em um banheiro

coletivo da Unidade Penal Agente Luciano Andrade Lima (Upalal) - antiga

CPPL I -, em Itaitinga. Conforme O POVO publicou ontem, Henrique era

considerado um dos maiores traficantes de Fortaleza e havia chegado à unidade

na última sexta-feira.

Page 23: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

23

A Sejus informou que aguardava a autorização do Ministério da Justiça para

transferir Henrique da Delegacia de Narcóticos (Denarc), onde estava, direto

para uma unidade federal. A Sejus alega, porém, que o advogado de Henrique

obteve da Justiça cearense a ordem para que ele fosse recolhido na CPPL I.

Após a morte do traficante, um detento foi morto a tiro na antiga CPPL de

Caucaia. José Uedson de Sousa Vieira, 23, foi atingido por “tiro acidental”,

disparado por um policial militar que tentava conter uma briga. A vítima, que

respondia por roubo, foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. Outro

conflito foi registrado na CPPL III, em Itatinga, mas não houve mortes.

A outra linha de investigação para os atentados contra ônibus considera o

assassinato de Francisco Ricardo Sousa, na última quinta-feira, na Maraponga.

Testemunhas afirmam que ele foi espancado até a morte por três PMs. Em

retaliação, no dia seguinte ao crime, um ônibus foi queimado no bairro Jardim

Cearense. Os militares tiveram prisão temporária decretada.

Page 24: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

24

Aumento do policiamento faz casos de roubo caírem

quase pela metade6

14.02.2014

Na contramão do aumento de homicídios, os roubos registrados no Estado

caíram 44,2% no mês passado. Foram 2.789 Crimes Violentos Contra o

Patrimônio em janeiro. No mesmo período de 2013, foram 5.005. Para a

pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal

do Ceará (UFC), Jânia Perla, a diferença entre os resultados alcançados pela

Secretaria da Segurança decorre dos investimentos feitos apenas em ações de

policiamento ostensivo, com aumento no efetivo nos últimos meses.

“Essa é uma variável a ser considerada. O aumento do policiamento ostensivo,

principalmente em áreas com alta frequência de turistas, pode ter uma relação

direta. O roubo é um tipo de crime que pode ser inibido com a presença dos

policiais nas ruas. Mas pode ter havido um aumento da subnotificação”,

ponderou a professora, se referindo à possibilidade de que a frequência com que

as pessoas registram Boletins de Ocorrência por roubo tenha diminuído.

Para Jânia Perla, as motivações que envolvem os homicídios são diferentes das

circunstâncias que permitem as ocorrências de roubo. “Os homicídios têm outras

variáveis. Brigas de gangue, tráfico de drogas. Mas, em todo caso, não se

diminui homicídios com ações pontuais. Essa diminuição vai depender de ações

articuladas, de longo prazo”.

Já numa comparação direta com o último mês de dezembro (2.736 casos), as

ocorrências de roubo tiveram um pequeno aumento de 1,9%. A variação

também encerrou uma sequência de três quedas consecutivas nos crimes dessa

modalidade, acumuladas desde outubro. Para reduzir ainda mais os índices de

6 Fonte: Jornal Opovo

Page 25: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

25

roubos, várias operações foram realizadas pelos comandantes das áreas com

maior índice de ocorrências. Na semana passada, durante uma operação

integrada, 50 tabletes de maconha, 17 tabletes de cocaína e 50 pedras de crack

foram apreendidos. Outras três prisões em flagrante por tráfico de drogas, furto e

homicídio foram realizadas.

Page 26: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

26

Redes sociais crescem e ampliam força de boatos7

02.02.2014

Usuários precisam ter visão crítica sobre os conteúdos que recebem e

compartilham. Pela velocidade com que os dados circulam na internet, acaba

sendo difícil encontrar pessoas que verifiquem os fatos envolvidos. Fotos: KID

JÚNIOR

O aplicativo de troca de mensagens WhatsApp é de grande ajuda para quem

quer se comunicar, mas é bastante eficiente também para passar boatos adiante

A comunicação instantânea entre pontos muito distantes e o acesso à informação

são algumas das características mais louváveis do mundo conectado. Com o

acesso à Internet, muitas pessoas acreditam que ficaram mais integradas ao

7 Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Page 27: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

27

restante da sociedade devido à atividade constante de criação e reprodução de

textos, fotos, vídeos e mensagens. Toda essa conectividade, entretanto, reserva

uma face perigosa, como a divulgação de boatos e até informações erradas por

meio, principalmente, das redes sociais.

Há duas semanas, uma mensagem compartilhada no WhatsApp, aplicativo de

troca de mensagens para celulares, levantou a discussão sobre a repercussão de

informações erradas ou inverídicas na rede. O texto informava sobre uma fuga

de presos do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO II), em

Itaitinga. O conteúdo teria vindo de uma promotora que supostamente atuava no

presídio, e que teria divulgado a informação para prevenir as pessoas sobre

roubos em série que poderiam ocorrer. Alguns dias depois, a Secretaria de

Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) lançou uma nota desmentindo as

informações contidas no texto.

Mesmo com o mal entendido desfeito, permaneceu o medo em algumas pessoas

que tinham sido avisadas sobre a falsa fuga, como a comerciante Ricardina de

Freitas Mendonça, 62, que soube da mensagem por meio do filho. "Fiquei

apavorada e, no dia seguinte, não deixei ninguém sair de casa. Também avisei

para algumas pessoas do trabalho, a gente não brinca em uma situação como

essa", revela. Segundo a comerciante, mesmo após o esclarecimento, ainda ficou

"uma pontinha de medo".

Relatos que envolvem o problema da insegurança não são os únicos nessa lista

de mensagens. Alertas de tsunamis, morte de artistas, avisos de supostas regras

em redes sociais, dentre outros temas, também ganham versões falsas. Para a

antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da

Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino, a difusão de um boato

através das redes sociais é uma espécie de atualização de atitudes que já

Page 28: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

28

existiam há décadas, como os trotes. "A diferença é que isso tem

desdobramentos muito maiores por causa do alcance", explica.

Informações

A variedade de conteúdos, inclusive jornalísticos, reunidos em redes sociais,

acaba levando as pessoas, segundo a pesquisadora, a permanecerem cada vez

mais tempo diante dos computadores, usando aquele universo como fonte de

informação. Apesar de os textos veiculados em blogs e portais de notícias terem

valor consolidado, os relatos divulgados em perfis pessoais nas redes acabam

ganhando mais importância, para o internauta, na hora de selecionar o conteúdo.

"Nas narrativas cotidianas, na interação face a face, quando nos dão detalhes de

uma história, nossa primeira reação tende a ser a crença. Do mesmo jeito é nas

redes sociais, porque quem conta um fato, mesmo que seja inverídico, está

mostrando a foto do seu rosto e deixando exposta a opinião, isso credibiliza

aquela informação para quem lê", compara Jânia.

Visão crítica

Por outro lado, é necessário que os usuários tenham uma visão crítica sobre os

conteúdos que recebem e compartilham. "Os assuntos polêmicos costumam

ganhar proporções virais quando são compartilhados", explica o professor e

consultor em tecnologias digitais da Universidade de Fortaleza (Unifor), W.

Gabriel de Oliveira. Pela velocidade com que os dados circulam na internet,

segundo Gabriel, é difícil encontrar pessoas que verifiquem os fatos envolvidos.

Para o consultor, a sociedade ainda não têm a noção completa dos riscos da

internet, e confundem estar bem informado com "estar sabendo das coisas". "A

ideia de parecer informado é motivo de destaque para algumas pessoas, por isso

elas acabam divulgando informações sem se preocupar em checar se aquilo é

verídico".

Page 29: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

29

SAIBA MAIS

Cuidados básicos antes de reproduzir conteúdos na internet

- Verifique se a fonte que está transmitindo a informação tem credibilidade para

falar sobre o assunto

- Antes de repassar o conteúdo, faça uma pesquisa, na própria Internet, para

verificar se outras pessoas estão comentado o assunto ou se ele já foi desmentido

- Antes de compartilhar uma informação, analise se ela será realmente útil e

construtiva para as pessoas que irão recebê-la.

Segurança é a área mais atingida pela desinformação

Os boatos relacionados à Segurança Pública, que constituem a maioria das

informações errôneas que circulam na rede, são reflexo de um comportamento

natural da sociedade.

"Incitar o medo ou a violência é recorrente em muitas civilizações de diferentes

períodos históricos. No caso do Ceará, essa problemática da violência está

presente nas cidade há pelo menos duas décadas, portanto, o que está

relacionado a essa dimensão tende a assumir a conotação de utilidade pública",

analisa a antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência

(LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino.

Entre os riscos de dar crédito a todos os relatos que circulam pela Internet,

através das redes sociais, a antropóloga destaca o crescimento do medo daquilo

que é desconhecido, levando as pessoas a terem cada vez mais receio de sair de

casa.

Vida social

Já a visão da professora de Psicologia da Unifor, Patrícia Passos, é mais

otimista. A velocidade com que os conteúdos chegam até as pessoas, e a

Page 30: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

30

maneira como são reproduzidos podem, na análise da professora, interferir no

comportamento dos grupos sociais, mas os vínculos físicos são mais fortes.

"O ser humano necessita de vida social, e esses boatos não podem impedir que

as pessoas ocupem os espaços públicos", argumenta a especialista.

Page 31: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

31

O bom exemplo de Pernambuco8

21.01.2014

Em ano de Copa do Mundo e eleições, especialistas ouvidos pelo O POVO

mostraram-se preocupados com a possibilidade de que os investimentos em

medidas repressivas de combate à violência sejam priorizados, em detrimento

das ações sociais que devem acompanhar as políticas públicas de segurança.

Conforme os especialistas, caso isso venha a ocorrer no Ceará, existe a

possibilidade de que consigamos alcançar bons resultados num curto intervalo

de tempo. Entretanto, com o passar dos meses, nossa situação poderia voltar a se

agravar.

Antropóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da

UFC, Jânia Perla Aquino alerta para os riscos de que uma possível busca por

resultados imediatos, a “qualquer custo”, ocasione no aumento da segregação

social. “Infelizmente, no Brasil, as políticas públicas são muito influenciadas por

demandas eleitoreiras, através de ações paliativas. Prendem algumas pessoas,

desorganizam redes criminosas. Depois, em pouco tempo, o crime volta a se

organizar. E isso volta a refletir nas estatísticas. Mas, quando você casa

prevenção com repressão, a expectativa é que os resultados sejam duradouros.

Precisamos de ações articuladas e planejadas, que não venham somente a

maquiar problemas sociais”, ponderou.

Em entrevista coletiva ocorrida no último dia 10, o secretário da Segurança

Pública do Ceará, Servilho Paiva, disse ter consciência da necessidade de

integração entre os diversos poderes na execução da política pública. Entretanto,

ponderou que a integração deverá ocorrer gradativamente, conforme as ações

forem executadas.

8 Fonte: Jornal Opovo

Page 32: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

32

“Temos que dar um passo de cada vez, o mais rápido possível. É nosso desejo e

necessidade. Mas essa conversa já existe. Já tenho excelente relacionamento

com presidente do Tribunal de Justiça do Estado, com o Ministério Público, com

a Assembleia Legislativa e coma a Prefeitura. Estamos firmando convênios com

secretarias, enfim. Essas coisas vão andando. Agora, o encaixe dentro do

programa vai acontecer na medida em que estivermos qualificados”, antecipou.

Page 33: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

33

É importante investir na prevenção9

21.01.2014

Em ano de Copa do Mundo e eleições, especialistas ouvidos pelo O POVO

mostraram-se preocupados com a possibilidade de que os investimentos em

medidas repressivas de combate à violência sejam priorizados, em detrimento

das ações sociais que devem acompanhar as políticas públicas de segurança.

Conforme os especialistas, caso isso venha a ocorrer no Ceará, existe a

possibilidade de que consigamos alcançar bons resultados num curto intervalo

de tempo. Entretanto, com o passar dos meses, nossa situação poderia voltar a se

agravar.

Antropóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da

UFC, Jânia Perla Aquino alerta para os riscos de que uma possível busca por

resultados imediatos, a “qualquer custo”, ocasione no aumento da segregação

social. “Infelizmente, no Brasil, as políticas públicas são muito influenciadas por

demandas eleitoreiras, através de ações paliativas. Prendem algumas pessoas,

desorganizam redes criminosas. Depois, em pouco tempo, o crime volta a se

organizar. E isso volta a refletir nas estatísticas. Mas, quando você casa

prevenção com repressão, a expectativa é que os resultados sejam duradouros.

Precisamos de ações articuladas e planejadas, que não venham somente a

maquiar problemas sociais”, ponderou.

Em entrevista coletiva ocorrida no último dia 10, o secretário da Segurança

Pública do Ceará, Servilho Paiva, disse ter consciência da necessidade de

integração entre os diversos poderes na execução da política pública. Entretanto,

9 Fonte: Jornal Opovo

Page 34: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

34

ponderou que a integração deverá ocorrer gradativamente, conforme as ações

forem executadas.

“Temos que dar um passo de cada vez, o mais rápido possível. É nosso desejo e

necessidade. Mas essa conversa já existe. Já tenho excelente relacionamento

com presidente do Tribunal de Justiça do Estado, com o Ministério Público, com

a Assembleia Legislativa e coma a Prefeitura. Estamos firmando convênios com

secretarias, enfim. Essas coisas vão andando. Agora, o encaixe dentro do

programa vai acontecer na medida em que estivermos qualificados”, antecipou.

Page 35: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

35

Armas de grosso calibre são raras nessas ações10

16.01.2014

O uso de armas pesadas em assaltos a motoristas em engarrafamentos “foge à

dinâmica recorrente” deste tipo de abordagem. A avaliação é da antropóloga

Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da

Universidade Federal do Ceará (UFC), e integrante do Conselho Consultivo de

Leitores do O POVO.

“Uma arma dessa (escopeta) é cara. Geralmente é usada em assaltos ou outras

atividades ilegais que rendem quantidades maiores que um assalto a pessoa”,

avalia a antropóloga, acrescentando que em ocorrências como a da avenida

Padre Antônio Tomás os criminosos agem com armas pequenas ou mesmo

armas brancas.

Jânia vê a necessidade de medidas para diminuir a circulação de armas em

Fortaleza. “Parece que está sendo muito fácil adquirir armas. A menos que tenha

relação com o tráfico de drogas, é difícil entender como alguém saiba usar este

tipo de arma em assalto que não costuma render tanto assim”, considera.

(Lusiana Freire)

10

Fonte: Jornal Opovo

Page 36: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

36

Pelo menos 100 agências na Capital descumprem

Estatuto11

09.01.2014

Instituições bancárias foram autuadas com base no Estatuto da Segurança

Bancária, aprovado em 2012

Procon fiscalizou agências bancárias em 2012 e 2013. Todas as instituições

visitadas descumpriram Estatuto da Segurança. Foto: Mauri Melo

Todas as agências bancárias fiscalizadas em Fortaleza, entre 2012 e 2013, foram

autuadas por apresentarem alguma irregularidade. Nenhuma foi multada. No

total, 100 instituições financeiras visitadas pelo Programa de Proteção e Defesa

do Consumidor (Procon) descumpriram normas previstas pelo Estatuto

Municipal da Segurança Bancária, sancionado em 25 de junho de 2012 pela

Prefeitura. A lei passou a vigorar em outubro do mesmo ano.

Coordenador-geral do Procon em Fortaleza, George Valentin diz que as

irregularidades mais recorrentes são a falta de porta giratória, do monitoramento

eletrônico e da fachada blindada. Pelo estatuto (lei nº 9.910/2012), a primeira

11

Fonte: Jornal Opovo

Page 37: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

37

notificação fixa prazo de 10 dias para que o banco regularize a situação. Na

segunda autuação, a instituição deverá pagar multa no valor de 100 mil

Unidades Fiscais do Município (UFM). Em caso de reincidência, após 30 dias, o

valor cobrado será de 200 mil UFM. Se a agência permanecer em desacordo

com a lei, o local será interditado.

No entanto, mesmo depois de quase um ano e meio desde que o estatuto passou

a vigorar, nenhuma agência foi multada em Fortaleza. Segundo Valentin, muitas

empresas recorreram da decisão. “Em fevereiro, vamos retornar com a

fiscalização. Quem não tiver se adequado, vai ser multado”, disse o

coordenador-geral do Procon.

Fiscalização é falha

Para Jânia Perla Aquino, antropóloga do Laboratório de Estudos da Violência

(LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho de

Leitores do O POVO, o sistema de fiscalização na Capital é “frouxo”.

Entretanto, Jânia pondera: “A responsabilidade dos órgãos públicos é da porta

(dos bancos) para fora”. Para ela, as instituições financeiras têm de tomar

medidas preventivas para garantir minimamente a integridade de clientes,

funcionários e até de vizinhos. “Existe uma negligência dos bancos”, critica.

Para a antropóloga, a sociedade civil também deve pressionar as instituições

financeiras e os órgãos públicos para que exista uma fiscalização mais rigorosa e

que os bancos se adaptem às normas previstas no Estatuto da Segurança Pública.

Saiba mais

Elaborado pelo Sindicato dos Bancários do Ceará em parceria com a Câmara

Municipal, a lei obriga as agências a cumprir uma série de medidas para garantir

a segurança de clientes.

Page 38: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

38

O estatuto exige das agências bancárias instalação de portas eletrônicas, sistema

de monitoramento em tempo real e divisórias entre a fila de espera e os caixas.

Além disso, proíbe o uso de capacetes, chapéus, óculos escuros e celulares no

interior de estabelecimentos bancários.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) criticou o estatuto por apresentar

exigências “inexequíveis”. Dentre elas, instalação de blindagem na fachada das

agências e uso de vidros laminados nas portas giratórias.

Page 39: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

39

Policiais civis e militares cujas áreas de atuação

registrarem queda na criminalidade serão premiados

pelo Governo do Estado. Você acredita que essa

premiação vai contribuir para reduzir o número de

crimes?12

03.01.2014

SEGURANÇA PÚBLICA

SIM - A Segurança Pública no Ceará experimenta uma crise. Estatísticas de

diferentes fontes demonstram elevação nas taxas de crimes contra a vida e o

patrimônio. A sensação de insegurança é generalizada entre a população. Além

de demandar providências, este cenário se apresenta enigmático. Houve

investimentos em infraestrutura, capacitação e contratação de efetivo, mas os

resultados destes esforços são tímidos. Momentos de crises tendem a ser

propícios para que estratégias inovadoras sejam colocadas em práticas. Este

parece ser o caso das gratificações aos profissionais da segurança pública

condicionadas à redução das taxas dos chamados “crimes violentos letais

intencionais”. Obviamente, será necessário intensificar a fiscalização em relação

à produção das estatísticas, evitando subnotificações propositais ou que crimes

letais ocorridos em uma região sejam registrados em outra. De todo modo, a

medida é positiva. A exemplo da estratégia norte-americana ante as disputas

armadas entre gangs, “deixar matar” tem sido uma postura recorrente entre as

Polícias brasileiras diante do mesmo fenômeno. Em meados do século XX, nos

Estados Unidos, as forças policiais saíram parcialmente de cena nas periferias de

grandes cidades. Eximiam-se de efetuar prisões de integrantes de gangs,

deixando que estes coletivos de jovens se matassem entre si. Ante uma medida

que vincula gratificação no salário à redução de crimes letais, a omissão deixa

12

Fonte: Jornal Opovo

Page 40: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

40

de ser conveniente às Polícias cearenses no que diz respeito às recorrentes

“guerras entre gangues rivais” que têm manchado com sangue de crianças e

adolescentes as periferias de Fortaleza. Esperamos que as gratificações

anunciadas para vastos segmentos das Polícias no Ceará, além de valorizar e

incentivar a categoria, venham ampliar seus canais de comunicação com a

sociedade e combater a circulação de armas de fogo entre jovens e adolescentes.

Isto traria ganhos à Segurança Pública no Estado, cuja qualidade tem sido

questionada pela população.

"A omissão deixa de ser conveniente às Polícias quanto às “guerras entre

gangues rivais"

Jânia Perla Diógenes

Socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da

Universidade Federal do Ceará (UFC)

NÃO - Como eu gostaria de acreditar que a premiação pecuniária aos policiais

possa vir a ser um fator determinante no esforço para reduzir as ocorrências dos

graves delitos no Estado.

Somos uma sociedade amedrontada. Mudamos hábitos, comportamentos e

percursos, pelos riscos de sermos vítimas da violência. Temos a nítida percepção

de que as pessoas agredidas, violentadas, assassinadas nesta cotidiana

brutalidade não são apenas as “outras pessoas”. Tomamos consciência de que

estamos todos vulneráveis. Também temos clareza de que as ações para

modificar este quadro de violência não se restringem tão somente ao poder de

intervenção das forças policiais.

Por serem complexos os fatores geradores de violência, envolvendo aspectos

sociais, econômicos, culturais e institucionais, é impossível acreditar que só

Page 41: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

41

ações policiais modifiquem substancialmente esta realidade. Fortaleza é a quarta

capital brasileira em desigualdade social. Precisamos de fortes políticas sociais e

educacionais para viabilizar novas expectativas para nossas crianças,

adolescentes e juventude. É conhecido o jargão de que justiça que falta tarda.

Apenas 1% dos que cometem crimes contra a vida são levados a julgamento e

cumprem efetivamente as penas. Estabelecer metas para redução da violência

com foco centrado na premiação em dinheiro aos policiais não aponta para uma

perspectiva animadora. Poderemos ter anúncios de melhorias de curto prazo,

mas sem sustentabilidade. Preocupam-me as distorções passíveis de acontecer

neste projeto, como já ocorreu em similares na Colômbia, Rio de Janeiro e São

Paulo. Os recursos anunciados poderiam ser usados para garantir aos servidores

salários condignos com suas atividades, sustentados num plano de cargos

carreiras com ascensão meritória por desempenho e compromisso com a

corporação e com a sociedade. Mesmo com estas reflexões, quero acreditar que

outras políticas venham a se somar em busca da redução da violência no Ceará.

"As ações para modificar o quadro de violência não se restringem só ao poder

de intervenção da Polícia"

Mario Mamede

Militante dos direitos humanos e médico

Page 42: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

42

Fortaleza lidera ranking de mortes violentas em

201213

21.12.2013

Segundo o IBGE, em 2012 Fortaleza foi a capital nordestina com o maior

número de mortes violentas: 2.342. Salvador fica em segundo no ranking

(2.308), seguido de Maceió (796) e Recife (771).

Os homens foram as maiores vítimas da violência em Fortaleza durante 2012,

representando 88,68% dos óbitos. As mulheres%u018Drepresentam 8,75% do

total. Para a socióloga Jânia Perla, pesquisadora do Laboratório de Estudos da

Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), o dado é a comprovação do

que se observa diariamente. "Faz sentido, porque, em Fortaleza, os homens estão

envolvidos de forma mais frequente em uma série de eventos violentos, como

brigas de gangue e acidentes de trânsito", lembra. Para Jânia, os dados sustentam

a tese de que a cidade "se tornou um local inseguro". "Isto também é um indício

elucidativo da crise de segurança que Fortaleza vive".

Ontem, o Ipea divulgou pesquisa que também traz um retrato da violência no

País. O estudo, chamado "A singular dinâmica territorial dos homicídios no

Brasil nos anos 2000", traz dados que mostram um aumento de 92,4% na taxa de

homicídios no Ceará, comparando 2000 e 2010.

13

Fonte: Jornal Opovo

Page 43: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

43

Especialistas alertam para risco de manipulação14

18.12.2013

O novo sistema de metas e premiações adotado pela Secretaria da Segurança

Pública e Defesa Social (SSPDS) foi avaliado como positivo pelos especialistas

ouvidos por O POVO. Segundo eles, no entanto, é necessário que haja uma

fiscalização para que a nova política de segurança pública não resulte em

excessos ou “falsos dados”.

“A princípio, qualquer meta que incentive os profissionais, ou qualquer

possibilidade de gratificação, é interessante porque incentiva. Mas, ao mesmo

tempo, pode gerar essa competição entre determinadas áreas”, aponta a

pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal

do Ceará (LEV), Jânia Perla Aquino. A professora citou como exemplo casos no

Rio de Janeiro em que policiais despejaram corpos em diferentes bairros a fim

de “camuflar” as estatísticas de assassinatos.

Para o coordenador do LEV, César Barreira,a nova medida deverá ser

acompanhada para que não ocorram abusos por parte da polícia. “Se a polícia

trabalhar corretamente, pode ser uma questão motivadora”, comenta.

(Liana Costa)

14

Fonte: Jornal Opovo

Page 44: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

44

88,3% dos entrevistados confiam pouco na Polícia15

06.12.2013

Na pesquisa, 88,3% dos entrevistados em Fortaleza revelaram que confiam

pouco na Polícia Militar. Para a socióloga do Laboratório de Estudos da

Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia Perla, esse

dado não surpreende. A pesquisadora diz que isso é sintomático. “A polícia que

aparece para a classe média é diferente da que aparece para a classe A e para a

de baixa renda”, acredita.

De acordo com Jânia, a sensação de vulnerabilidade e as narrativas sobre

episódios de violência são fatores comuns no discurso das pessoas que

frequentam os diferentes lugares de Fortaleza. “A percepção que há uma

insegurança generaliza é muito evidente”, diz.

Um fator que divide opiniões é o exercício de ocupar os espaços públicos da

cidade, como ruas e outros diversos locais ao ar livre. Para a socióloga, isso é

uma evidência do receio que se tem de ser vítima da violência. Todavia, Jânia

alerta que esvaziar as ruas não vai solucionar o problema, mas acentuar.

“Ocupar a cidade é saudável. Ao deixar de frequentar espaços públicos, (as

pessoas) dão espaço para que as ruas se tornem cenário de violência”, pondera.

A especialista considera ainda que a pesquisa dá evidências de que “Fortaleza

vive uma crise na segurança pública”.

(Camila Holanda)

15

Fonte: Jornal Opovo

Page 45: LEV na mídia - Profa. Dra. Jânia Perla

45

Jovem é espancado após quebrar vidro de ônibus16

30.10.2013

Jovem atirou pedra em janela do ônibus, que teve a vidraça quebrada. Ele foi

imobilizado pelo motorista do coletivo e espancado por várias pessoas. Uma

viatura compareceu ao local e o jovem foi liberado

Na Praça da Professora, várias pessoas agrediram o jovem com tapas e chutes.

Foto: Tatiana Fortes

Um jovem não identificado foi espancado na tarde de ontem na Praça da

Professora, na avenida Aguanambi, logo após depredar um ônibus. Segundo o

cobrador do coletivo, o rapaz subiu uma parada antes e tentou passar pela

catraca sem pagar passagem.

O ônibus pertence à empresa Vega e fazia a linha 650

(Messejana/Centro/Expresso). Diante da negativa do cobrador, que se

identificou como Flávio, o rapaz desceu e arremessou uma pedra na janela do

coletivo, ao lado de uma passageira. Segundo testemunhas, ela chegou a ser

atingida, mas não se feriu com gravidade. O motorista do coletivo desceu do

16

Fonte: Jornal Opovo

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ônibus e imobilizou o rapaz. Na praça, várias pessoas agrediram o jovem, com

tapas e chutes. O POVO presenciou as agressões.

Algumas testemunhas apoiavam a conduta dos agressores. “Tem que apanhar

mesmo”, disse um homem. Outros, no entanto, tentaram convencer o motorista

Tarcísio José Lima a liberar o jovem. A vítima chegou a ficar apenas de cueca.

“Mas ele é um vagabundo”, disse o motorista, que, além de segurar o rapaz,

também chegou a agredi-lo com tapas.

Após apelos, o motorista levou o jovem até o ônibus depredado, na intenção de

protegê-lo dos agressores. Porém, um deles entrou no coletivo e ainda desferiu

alguns golpes, enquanto outro homem tentava bater no jovem também pela

janela.

O rapaz agredido disse que vive em situação de rua e evitou se identificar. Disse

apenas ser maior de idade. “Quero só que a Polícia chegue. Eu tava indo pro

Centro, porque lá é mais fácil arrumar merenda. Sei que eu errei em jogar a

pedra”, disse.

Uma viatura da 5ª Companhia do 5º Batalhão da PM chegou ao local e retirou o

jovem do ônibus. “Temos que conviver com essa falta de segurança e ficar perto

desse monte de vagabundos”, falou o motorista. Ele não quis ir prestar queixa na

delegacia.

Para a professora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudos da Violência

(LEV) da UFC, os agressores não podem ser enxergados como pessoas más, e

sim assustadas por conta do atual contexto da violência urbana. “As pessoas

estão amedrontadas. Há um medo generalizado, sobretudo em locais de

convivência”, analisa.

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Ainda segundo Jânia, ao tomar tal atitude, agressores querem trazer solução para

o problema da insegurança. “Há nessa mentalidade intenção de exterminar o

incômodo. As pessoas fazem isso na esperança de que estão encontrando

solução para um problema que, na verdade, é muito maior”, opina Jânia.

Jovem liberado

O cabo Roberto Castro, da 5ª Companhia, informou que o jovem não foi

conduzido à delegacia porque nem vítimas nem testemunhas quiseram fazer

procedimento.

Saiba mais

Segundo o cabo Castro, o jovem agredido se identificou como Bruno e disse

morar no Bom Jardim. A viatura soltou o jovem nas imediações do Bairro de

Fátima.

Com o rapaz, foi apreendido um cachimbo artesanal, usado por usuários de

crack.

O POVO tentou contato, com a empresa Vega no fim da tarde de ontem. Um

funcionário informou que apenas o chefe de tráfego poderia comentar o assunto,

mas ele não se encontrava mais na empresa.

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Dados precisos ajudariam a direcionar recursos17

06.08.2013

Para a pesquisadora Jânia Perla, membro do Laboratório de Estudos da

Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), a falta de catalogação

precisa nos dados sobre violência não é um problema exclusivo do Brasil, mas

uma situação crônica que atinge vários países. “Imagina a quantidade de

dinheiro investida quando se parte de dados que não são confiáveis (...) Nós

temos um gasto indevido dos recursos públicos”, aponta. Ainda segundo Jânia,

esse não é o primeiro caso de subnotificação de informações no País. “Já se

verificou isso em outras situações e em várias instâncias”, diz.

“Não é do interesse das autoridades produzir um dado contra si mesmas. (...) É

um dilema para nós pesquisadores, que trabalhamos com números”. Jânia,

entretanto, lembra que a falta de precisão no número de homicídios - e também

em outras situações violentas - não é apenas um prejuízo para as análises da

academia, mas para a sociedade como um todo. Ela diz não ter recebido as

informações do Mapa dos Homicídios Ocultos do Brasil com surpresa, pois não

é de interesse do poder público evidenciar a incapacidade de atuar em

determinadas áreas. “Em uma delegacia, por exemplo, um latrocínio pode se

transformar em um simples roubo”, salienta.

17

Fonte: Jornal Opovo

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Subnotificação dificulta mapeamento dos crimes, diz

especialista18

04.07.2013

O primeiro assalto ocorreu num sábado à tarde, em fevereiro último. Na esquina

de casa, no bairro Jangurussu, a estudante de 15 anos teve o celular roubado

quando voltava da escola. Nervosa, ela pediu que a mãe chamasse a Polícia. Mas

a viatura não veio. Na segunda-feira seguinte, novo roubo. Dessa vez, sem ter o

que entregar aos criminosos, a jovem teve o corpo completamente revistado pela

dupla. Apavorada, outra vez recorreu à Polícia. Novamente, ninguém apareceu.

O caso da jovem é mais um de tantos outros em que vítimas de roubo ou furto

não conseguem atendimento pela PM nem registram Boletins de Ocorrência na

Polícia Civil. Com isso, as estatísticas acabam ficando subnotificadas,com

índices abaixo da realidade.

Para a antropóloga do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da

Universidade Federal do Ceará (UFC), Jânia Perla de Aquino, a subnotificação é

um dos grandes desafios da segurança pública. O problema ocorre, em grande

parte, por descrença na Polícia.

“Quando as ocorrências não envolvem roubo ou furto de documentos, as pessoas

dificilmente registram B.O. Isso gera um falso panorama do contexto de

ocorrências criminais e prejudica a produção do mapeamento criminal. Isso

ocorre porque não há confiança na instituição. É preciso que exista uma

aproximação entre a Polícia e a população, para que o cenário mude e ocorra um

estimulo à denúncia”, avaliou a pesquisadora.

(Thiago Paiva)

18

Fonte: Jornal Opovo

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Brasil é apontado como 18º país mais violento do

mundo em pesquisa19

04.05.2013

A pesquisa foi feita pelo Instituto Avante Brasil e cruzou dados do IDH de 2012

e dados de homicídios de cada País. Honduras, El Salvador e Costa do Marfim

são considerados os mais violentos

O Brasil é 18º noranking de países mais violentos do mundo. O levantamento

divulgado na última semana pelo Instituto Avante Brasil (IAB) é inédito por

cruzar os dados de países listados noÍndice de Desenvolvimento

Humano (IDH) de 2012, da Organização das Nações Unidas (ONU), e as taxas 19

Fonte: Jornal Opovo

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de homicídios de cada país, apresentado pelo Escritório das Nações Unidas para

Drogas e Crimes (UNODC). Pelos índices, verificou-se que quanto melhor a

posição do país no ranking da ONU, menor sua taxa de homicídios.

Estatísticas brasileiras de 2010 revelam uma taxa de 27,4 mortes para cada

grupo de 100 mil pessoas. A 18ª posição no ranking do Instituto foi obtida a

partir da 85º classificação que o país exibiu no IDH de 2012. Os paises

considerados mais violentos pela pesquisa foram Honduras e El Salvador, na

América Central, e o africano Costa do Marfim. O país insular da Micronésia,

no Oceano Pacífico, chamado Palau, foi considerado o menos violento do

planeta, com nenhum homicídio registrado em 2008.

A antropóloga Jânia Perla de Aquino interpreta os dados brasileiros sem se

precipitar a uma correlação direta entre pobreza e crime, mas estabelece uma

intrínseca ligação entre baixos investimentos em políticas sociais e estratégias

equivocadas no setor de segurança pública. "As pessoas das periferias urbanas

estão de fato mais vulneráveis porque vivem em áreas onde as políticas sociais

para infância e juventude falham. Falta mais cobertura policial e os pais têm

mais dificuldades de evitar o consumo e o comércio de drogas, além da

exposição fácil ao uso ilegal de armas", destaca a pesquisadora do Laboratório

de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Jânia qualifica Fortaleza, dentro de um contexto estadual, como um "caso

grave", em relação à violência. Ela diz que a Capital possui enormes

disparidades sociais, com concentrações de renda muito intensas. "Penso que o

Estado está devendo à população mais investimentos sociais, e a política de

segurança pública, embora receba atenção, não tem se mostrado eficiente. Em

termos operacionais, a população está insatisfeita. Também em relação à saúde,

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à educação. É preciso criar mais oportunidades para jovens de baixa renda. Isso

os afasta da criminalidade", defende a pesquisadora.

SERVIÇO

O levantamento completo da pesquisa está disponível no link:

http://atualidadesdodireito.com.br/iab/files/IDHxHomicídios.pdf

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"O projeto esta fracassando", diz especialista20

17.04.2013

Na opinião do sociólogo Marcos Silva, pesquisador do Laboratório de Estudos

da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a situação revela

um problema grave na execução do projeto de polícia comunitária e só agrava a

sensação de insegurança. “Se a proposta é de uma política de proximidade, de

contato direto, através da tecnologia do celular, o projeto está fracassando. A

tecnologia utilizada deveria funcionar minimamente. Caso contrário, isso pode

refletir na criação de uma imagem de ineficiência nas ações policiais, no

combate ao crime. É preciso se reconfigurar e reestruturar esse modelo”,

avaliou.

“O policiamento comunitário é aquele em que há conversa entre os moradores e

a Polícia. É quando os policiais sabem dos problemas da comunidade. Quando

há essa quebra no relacionamento, gera um afastamento entre as partes e

repercute negativamente na imagem da Polícia”, diz a também pesquisadora do

LEV, Jânia Perla de Aquino. A antropóloga destaca ainda que, na medida em

que a Polícia não atende a ocorrência, o crime não é registrado, o Boletim de

Ocorrência (B.O) não é gerado, e a produção das estatísticas de mapeamento

criminal fica prejudicada.

20

Fonte: Jornal Opovo