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IV Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe - 23 a 25 de março de 2011, Aracaju-SE Levantamento batimétrico e ambiental do rio Poxim, em Aracaju: uma contribuição ao solucionamento de problemas ambientais e de assoreamento Lílian de Lins Wanderley 1 ; Cláudio Júlio Machado Mendonça Filho 2 & Mário Jorge Maia Magalhães 3 RESUMO: A DESO-Companhia de Saneamento de Sergipe e a ADEMA-Administração Estadual de Meio Ambiente firmaram o Termo de Cooperação Técnica 01/2010 para execução de estudos batimétricos e ambientais do Rio Poxim, que tem o seu curso inferior no Bairro Jabotiana, espaço de expansão urbana de Aracaju, em incorporação pelo setor multiresidencial da construção civil. O trabalho consistiu na batimetria de um trecho de 11.825m de extensão, com secções transversais e longitudinal, tendo sido identificados assoreamentos e estrangulamentos do leito fluvial. Foi também investigada a qualidade da água, sendo detectados problemas de poluição por despejos in natura pelas habitações das margens desse rio. Esse levantamento é marco técnico para a ADEMA, em vista de licenciamentos e de futuras intervenções para monitoramento e melhoramento da gestão e controle físico-ambiental do curso inferior do rio Poxim. Palavras-chave: batimetria do Poxim, poluição e assoreamento do Poxim, problemas da expansão urbana. INTRODUÇÃO Entre o Bairro Jabotiana, em Aracaju, e a Grande Rosa Elze, pertencente a São Cristóvão, um estoque de terrenos vem sendo apropriados por construtoras, gerando forte demanda por licenciamento ambiental junto à ADEMA, sobre a qual recai a busca de soluções para o descarte da drenagem e dos efluentes dos sistemas de tratamento de esgotos. Em face desse problema, a Companhia de Saneamento de Sergipe-DESO, gestora estadual do saneamento, e a ADEMA, órgão ambiental licenciador, firmaram o Termo de Cooperação Técnica 01/2010, para execução de estudos batimétricos e ambientais do Rio Poxim, poassuidor de forte potencial para ser um corpo hídrico receptor, apesar das condições problemáticas de sua calha. Assim, considerou a Companhia de Saneamento de Sergipe ser justo e cabível cooperar com a ADEMA no fornecimento de um estudo dimensionador da profundidade e largura da calha do rio, criando elementos para a tomada de decisões na gestão da área e do manancial pesquisado. Visto que o reconhecimento preliminar identificou diversos comprometimentos ambientais decorrentes de problemas de ocupação das margens do Poxim, com despejos diretos de esgotos não tratados pelas moradias aí instaladas, foi também investigada a qualidade hídrica, visando o marco ambiental atual desse manancial, através de análises físico-químicas, microbiológicas e de efluente, efetuadas no Laboratório de Controle de Qualidade da DESO. O objetivo deste trabalho, executado e elaborado pela DGA-Diretoria de Gestão Ambiental da DESO, é apresentar, através dos perfis batimétricos, os pontos de assoreamento do Poxim e a situação das águas, através de parâmetros de sanidade ambiental. 1 Geógrafa, Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, rua Campo do Brito, 331, Praia 13 de Julho, Aracaju,SE, CEP 49020-380, [email protected]; 2 Geógrafo, Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, rua Campo do Brito, 331, Praia 13 de Julho, Aracaju,SE, CEP 49020-380, [email protected]; 3 Engenheiro Agrônomo, CONSTATA, Avenida Beira Mar 3250, Jardins, Aracaju,SE, CEP 49025-040, [email protected].

Levantamento Batimétrico e Ambiental Do Rio Poxim Em Aracaju

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  • IV Encontro de Recursos Hdricos em Sergipe - 23 a 25 de maro de 2011, Aracaju-SE

    Levantamento batimtrico e ambiental do rio Poxim, em Aracaju: uma contribuio ao solucionamento de problemas

    ambientais e de assoreamento

    Llian de Lins Wanderley1; Cludio Jlio Machado Mendona Filho2 & Mrio Jorge Maia Magalhes3

    RESUMO: A DESO-Companhia de Saneamento de Sergipe e a ADEMA-Administrao Estadual de Meio Ambiente firmaram o Termo de Cooperao Tcnica 01/2010 para execuo de estudos batimtricos e ambientais do Rio Poxim, que tem o seu curso inferior no Bairro Jabotiana, espao de expanso urbana de Aracaju, em incorporao pelo setor multiresidencial da construo civil. O trabalho consistiu na batimetria de um trecho de 11.825m de extenso, com seces transversais e longitudinal, tendo sido identificados assoreamentos e estrangulamentos do leito fluvial. Foi tambm investigada a qualidade da gua, sendo detectados problemas de poluio por despejos in natura pelas habitaes das margens desse rio. Esse levantamento marco tcnico para a ADEMA, em vista de licenciamentos e de futuras intervenes para monitoramento e melhoramento da gesto e controle fsico-ambiental do curso inferior do rio Poxim.

    Palavras-chave: batimetria do Poxim, poluio e assoreamento do Poxim, problemas da expanso urbana.

    INTRODUO Entre o Bairro Jabotiana, em Aracaju, e a Grande Rosa Elze, pertencente a So

    Cristvo, um estoque de terrenos vem sendo apropriados por construtoras, gerando forte demanda por licenciamento ambiental junto ADEMA, sobre a qual recai a busca de solues para o descarte da drenagem e dos efluentes dos sistemas de tratamento de esgotos. Em face desse problema, a Companhia de Saneamento de Sergipe-DESO, gestora estadual do saneamento, e a ADEMA, rgo ambiental licenciador, firmaram o Termo de Cooperao Tcnica 01/2010, para execuo de estudos batimtricos e ambientais do Rio Poxim, poassuidor de forte potencial para ser um corpo hdrico receptor, apesar das condies problemticas de sua calha. Assim, considerou a Companhia de Saneamento de Sergipe ser justo e cabvel cooperar com a ADEMA no fornecimento de um estudo dimensionador da profundidade e largura da calha do rio, criando elementos para a tomada de decises na gesto da rea e do manancial pesquisado. Visto que o reconhecimento preliminar identificou diversos comprometimentos ambientais decorrentes de problemas de ocupao das margens do Poxim, com despejos diretos de esgotos no tratados pelas moradias a instaladas, foi tambm investigada a qualidade hdrica, visando o marco ambiental atual desse manancial, atravs de anlises fsico-qumicas, microbiolgicas e de efluente, efetuadas no Laboratrio de Controle de Qualidade da DESO. O objetivo deste trabalho, executado e elaborado pela DGA-Diretoria de Gesto Ambiental da DESO, apresentar, atravs dos perfis batimtricos, os pontos de assoreamento do Poxim e a situao das guas, atravs de parmetros de sanidade ambiental.

    1 Gegrafa, Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, rua Campo do Brito, 331, Praia 13 de Julho, Aracaju,SE,

    CEP 49020-380, [email protected];

    2 Gegrafo, Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, rua Campo do Brito, 331, Praia 13 de Julho, Aracaju,SE,

    CEP 49020-380, [email protected];

    3 Engenheiro Agrnomo, CONSTATA, Avenida Beira Mar 3250, Jardins, Aracaju,SE, CEP 49025-040,

    [email protected].

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    MATERIAIS E MTODO

    No trecho levantado foi executada uma seo longitudinal georreferenciada, com medies de profundidades da calha a cada 25m, perseguindo um traado centrado no talvegue presumido do rio, e de quarenta e quatro sees transversais gerreferenciadas e com espaamento de 200m.. Foi utilizada embarcao nutica motorizada, da frota ambiental da DESO, equipada com Sonar EAGLE CUDA 300, GPS Garmin CS60X, nos meses de setembro a final de novembro de 2010, em dias adequados s mars, iniciando a prospeco duas horas antes do mnimo da vazante e terminando duas horas aps o incio da preamar. O trecho fluvial pesquisado tem extenso total de 11.825m, delimitado da jusante da Estao de Tratamento de gua da DESO, a ETA Poxim, at a foz, dividido em trs subtrechos. O primeiro, com 3.325m de extenso, do Campus da Universidade Federal de Sergipe, na Grande Rosa Elze, at o atracadouro improvisado, no Conjunto JK, Bairro Jabotiana; o segundo, desde a ponte do bairro Incio Barbosa com o bairro Farolndia, em construo, com 3.100m, e o terceiro subtrecho, com 5.400m, desta ponte at a confluncia do Poxim com o Sergipe, na Praia do Bico do Pato, Coroa do Meio. O relatrio textual consolidado se compe dos seguintes produtos: a) perfil longitudinal georreferenciado, em escala de 1:10 000, apresentado em grfico; b) quarenta e quatro perfis transversais georreferenciados e apresentados em grficos; c) Planilhas dos dados batimtricos dos perfis e dos resultados das anlises de laboratrio; d) Mapa da rea estudada, escala 1:7 500, elaborado sobre ortofocarta da Base Cartogrfica dos Municpios Litorneos (SERGIPE, 2004), com a ocupao urbana atualizada, locao georreferenciada das sees transversais levantadas e dos pontos de coletas das amostra de gua, analisadas no Laboratrio de Controle de Qualidade de gua da DESO, e com legenda indicativa dos respectivos parmetros fsico-qumicos e ambientais; e) relatrio conclusivo com indicao dos trechos a serem futuramente dragados, e anlise da qualidade hdrica, acrescido de detalhado registro fotogrfico dos aspectos mais agravados.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Profundidades e Assoreamento O rio Poxim apresenta, nesse trecho considerado como curso inferior ou estuarino, canal retilinizado por antigas intervenes no subtrecho de 3.325m de extenso, desde a ponte UFS at o atracadouro improvisado no Conjunto JK. Junto ponte UFS a profundidade comea com 1,10m/1,50m (Figura 1), e a setenta e cinco metros se reduz para nveis situados entre 0,80 e 0,20m, com grande frequncia de pontos de 0,20, 0,40 e 0,50m, situao que predomina at a extenso de 1.375m. Dessa distncia at 3.325m, final desse subtrecho, predominam profundidades acima de 1,0m, com elevada frequncia de pontos com entre 1,0m e 1,40m.

    Figura 1- Ponte sobre o Poxim na Av. Marechal Rondon, junto ao Campus-UFS. Profundidade com 1,10m/1,50m e sem influncia da mar.

    Os dados da batimetria mostram a elevao de fundo com bancos de areia (figuras 1, 2 e 3 ), baixa profundidade e cor avermelhada das guas, por fora de sedimentos em suspenso, provavelmente de focos de eroso nas encostas do Barreiras.

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    Figura 2- Profundidades inferiores a 40cm em horrio de mar baixa, mostrando o fundo raso e bastante assoreado.

    Do ponto 1.375m at o 1.800m desse primeiro subtrecho as profundidades aumentam, chegando a 1,50m, mas com alta frequncia de pontos inferiores. Outra ocorrncia grave de assoreamento est entre 1.850m e 2.000m, onde o talvegue se eleva a profundidades entre 0,80m e 0,20m. Apesar da ocorrncia de bancos de areia apenas nesse subtrecho, o segundo subtrecho tambm problemtico em termos de capacidade da calha. Com 3.100m de extenso, estendido de 3.325m at 6.425m, desde o Atracadouro JK at a Ponte do Conjunto Beira Rio (em construo), apresenta pontos com profundidade superior a 2,0m, mas grande frequencia entre 1,0 e 1,6m. Nos demais, so encontradas profundidades variadas e que chegam a ser inferiores a 1,0m.

    Figura 3 - Rio Poxim, no sub-trecho Ponte UFS Atracadouro JK: formao de bancos de areia e assoreamento.

    O terceiro e ltimo subtrecho, da Ponte do Beira Rio praia do Bico do Pato, na Coroa do Meio, extenso de 5.400m, registrou profundidades mximas de 2,4m, mas com registros frequentes de pontos inferiores a 1,0m, apresentando, porm, maior largura e capacidade de receber efluentes.

    Largura do Poxim No primeiro subtrecho, as sees transversais mostram estrangulamento na Ponte UFS, com largura de apenas 17m, que se amplia para cerca de 30m logo aps, e estrangulamento para 15,0m logo a seguir. Do Largo da Aparecida, na Jabotiana, at o Atracadouro Jk, a largura se reduz para 10-20m, se ampliando apenas no DIA/Conjunto Incio Barbosa, com grande influncia das mars a partir desse ponto. No Bairro So Conrado ocorrem estrangulamentos com reduo da largura, e somente a partir do Conjunto Augusto Franco/Ponte do Beira Rio, se amplia para 50m e mais, alcanando 100m junto sede da ENERGISA. A partir do Parque dos Cajueiros ultrapassa 100m, coincidindo, porm, com baixas profundidades nos perfis transversal e longitudinal. Uma associao da largura do rio com a baixa profundidade indica a vulnerabilidade do manancial a recebimento de descargas lquidas no primeiro e segundo subtrechos, e os perfis transversais

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    mostram tambm a variada posio do talvegue em relao s margens, o que reflete a baixa velocidade da corrente.

    Anlises Microbiolgicas, Fsico- Qumicas e de Efluentes

    Do ponto de vista microbiolgico, detectou-se um aumento de 98% de bactrias para coliformes totais e coliformes termotolerantes, da seo Ponte UFS para a seo atracadouro JK, por conta do aumento de carga orgnica por efluentes domsticos. Os indicadores dessa poluio se elevam da Ponte UFS para o Atracadouro JK, com despejos diretos no tratados de residncias e estabelecimentos construdos nas margens.

    CONCLUSO

    Em todo o trecho de 11.625m, o rio Poxim apresenta baixas profundidades e srios problemas de assoreamento, especialmente no primeiro subtrecho, que sofre a menor influncia das mars, fluindo com baixa velocidade da corrente, exposio do fundo do leito do rio e formao de bancos, alm de materiais argilosos de origem exgena em suspenso. Nos dois primeiros subtrechos, com extenso de 6.425m, somados, h estrangulamentos da largura da calha e frequentes profundidades inferiores a 1,0m e at a 0,60m. Esses dois subtrechos apresentam aparente incapacidade de receber despejos lquidos de drenagem pluvial e efluentes, necessitando de dragagem para aprofundamento da calha para alcanar dimenses suficientes para o recebimento de despejos de novos sistemas a serem implantados. Estes so tambm os subtrechos com maior frequncia de lanamentos de esgotos no tratados e despejados diretamente no corpo hdrico, decorrente do processo de ocupao em curso. Ressalte-se que apesar da quantidade de efluentes no tratados na sua extenso, o manancial est suportando esta carga, mesmo considerando a baixa vazo e a influncia da mar. Fica demonstrado que esta carga para ser assimilada necessita de tratamento adequado e que no ocorra lanamento in natura de efluentes nos dois subtrechos estudados. O segundo subtrecho, influenciado pelas mars, apresenta maior largura e profundidade, porm, com assoreamento nos pontos de confluncia dos canais de mars. J o terceiro subtrecho conta com a vantagem da largura do rio e da atuao das mars, o que compensa a profundidade, em torno de 2,5 metros em quase toda a extenso do perfil do talvegue, no necessitando de intervenes aumento da calha e da capacidade receptora de efluentes, finalidade principal desse estudo. Por conta da demanda crescente do setor da construo civil, respaldada na poltica habitacional oficialmente financiada, e na disponibilidade de terrenos da Jabotiana e Vrzea da Canoa, na Grande Rosa Elze, recomenda-se a dragagem imediata do primeiro sub-trecho, a fim de serem criadas as condies para recebimento de efluentes. Recomenda-se o monitoramento peridico futuro dos subtrechos mais crticos, com coleta de gua e anlise dos parmetros utilizados neste trabalho.

    AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CCQ-Laboratrio de Controle de Qualidade da DESO, nas

    pessoas de Nilton de Oliveira Matos e Giovani Silva, pelo criterioso trabalho de coleta e anlises fsico-qumicas e de efluentes das amostras de gua do Poxim, e equipe de campo da Diretoria de Gesto Ambiental da DESO, composta por Antnio Jos de Souza, Orlando Rabelo Sobrinho, Osmar Lira Barbosa e Jos Milton Oliveira Jnior (empregados) e Luiz Soln Souza Barreto (estagirio).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    DESO.Companhia de Saneamento de Sergipe. Levantamento batimtrico e ambiental do rio Poxim.Termo de Cooperao Tcnica No. 01/2010 DESO/ADEMA. Aracaju, 2010.Relatrio.

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    SERGIPE. Secretaria de Estado do Planejamento de Sergipe. Projeto Base Cartogrfica dos Municpios Litorneos: ortofotocarta. Sergipe, 2004. Escala 1: 7.500.