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Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de contacto comerciais: efeito das condições hidrodinâmicas Saúl Adriano Fernandes Costa Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em: Engenharia Biomédica Orientadores: Professora Ana Paula Valagão Amadeu do Serro Professora Benilde De Jesus Vieira Saramago Júri: Presidente: Professor José Paulo Sequeira Farinha Supervisora: Professora Ana Paula Valagão Amadeu do Serro Vogal: Doutora Patrizia Paradiso Outubro 2017

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Libertação controlada de fármacos a partir de

lentes de contacto comerciais: efeito das

condições hidrodinâmicas

Saúl Adriano Fernandes Costa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em:

Engenharia Biomédica

Orientadores:

Professora Ana Paula Valagão Amadeu do Serro

Professora Benilde De Jesus Vieira Saramago

Júri:

Presidente: Professor José Paulo Sequeira Farinha

Supervisora: Professora Ana Paula Valagão Amadeu do Serro

Vogal: Doutora Patrizia Paradiso

Outubro 2017

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Um brinde a nós, um brinde a Vós, porque

se houver céu, Eles não estão lá sós.

Adaptado de Virgem Suta – Dança de Balcão.

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Agradecimentos

A realização deste trabalho culmina com o fecho de um importante ciclo e que só foi possível

pela contribuição, ajuda e apoio de inúmeras pessoas, às quais não poderia deixar de exprimir o meu

mais sincero agradecimento.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer profundamente às minhas orientadoras, Professora

Doutora Ana Paula Serro, pelo apoio incansável, paciência, tolerância e incentivo incondicional e pela

sua disponibilidade e acompanhamento durante este longo processo e à Professora Doutora Benilde

Saramago, pela constante simpatia e alegria, recetividade e constante interesse, e sobretudo pela

preciosa colaboração.

Ao Professor Doutor Rogério Colaço e ao Professor Doutor José Luís Mata, pelas preciosas

sugestões e reflexões.

Um profundo agradecimento às minhas “tutoras” Raquel Galante e Patrizia Paradiso, por todo

o conhecimento que me transmitiram, por toda a ajuda e apoio. Ao José Restolho e Vanessa Moreira,

por todo o companheirismo.

Ao meu Pai e Mãe, como pontos-chave nesta roda-viva que é a vida. Por estarem sempre

presentes. Por me mostrarem que a omnipresença é real. E a omnisciência é possível. A minha irmã,

que apesar de ainda não o saber, caminha a passos largos para descobrir que tem o melhor irmão

do mundo. A toda a minha família, que inevitavelmente, contribuíram para ser o que hoje sou. E claro,

se houver céu, um brinde a Vós.

E passado todo este tempo, é inevitável não agradecer a todos aqueles que, não estando

diretamente relacionados com este trabalho, sempre me apoiaram nas mais variadíssimas formas,

deram força, pressão, animo e esperança para que este momento chegasse. Assim, não querendo

cometer injustiças ao individualizar pessoas, agradeço a todas as “Patrícias”; “Ritas”; “Marias”;

“Susanas”; “Hugos”; Micaeis”; “Migueis”; pois sem eles, as coisas seriam seguramente mais difíceis.

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Resumo

A libertação controlada de fármacos a partir de lentes de contacto apresenta-se como uma

alternativa à administração tópica de fármacos através de gotas para os olhos e pretende

ultrapassar algumas das limitações desta forma de administração, nomeadamente as perdas que

ocorrem devido à absorção sistémica e eliminação lacrimal e reduzir os efeitos colaterais que a

excessiva dosagem pode causar em órgãos e estruturas anexas ao olho.

O principal objetivo deste trabalho foi estudar a forma como as condições hidrodinâmicas

influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a partir de dois

tipos de lentes de contacto comerciais: as SofLens que são lentes convencionais de hidrogel à

base de hidroxietilmetilacrilato (HEMA) e nas lentes PureVision, que são essencialmente

constituídas por silicone. Assim, as lentes de contacto carregadas com fármaco foram analisadas

em condições estáticas e condições dinâmicas, utilizando uma célula microfluidica, permitindo

concluir sobre os seus perfis de libertação farmacológica através da recolha periódica e análise

das soluções recolhidas. As lentes foram caracterizadas pela medição do intumescimento, da

transmitância e molhabilidade.

Os resultados obtidos permitiram concluir que o material constituinte das lentes de contacto

exerce influência na afinidade destas com a água e com os fármacos. Nomeadamente com as

Soflens a apresentarem uma maior capacidade de intumescimento e a apresentarem uma maior

capacidade de absorção de Levofloxacina, por sua vez, as PureVision apresentam uma maior

afinidade com a clorohexidina. Quando as condições hidrodinâmicas se aproximam das

condições reais do olho, os perfis de libertação apresentam duas características comuns para

ambas as lentes de contacto, nomeadamente um aumento do tempo de libertação e um aumento

na capacidade de libertação dos fármacos. Além disso, o carregamento das lentes de contacto

com estes fármacos não influencia os seus valores da transmitância nem da molhabilidade.

Palavras-chave: lentes de contacto, levofloxacina, clorohexidina, libertação de fármacos,

condições de libertação, condições hidrodinâmicas.

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Abstract

Drug delivery systems as contact lenses are a valuable option compared with drug topical

administration using eye drops. The aim of drug delivery systems as contact lens is to overcome

eye drops limitations, for instance: drug losses due systemic absorption, side effects related with

high dosage administration in eye structures, among others.

In this thesis it is studied the effect of hydrodynamic and static conditions on levofloxacin

and chlorohexidine release profiles in two different kinds of commercial contact lenses, Soflens

and PureVision. Soflens is a hydrogel basis contact lens (hydroxyethylmethacrylate - HEMA) and

PureVision is a silicone basis contact lens. These contact lenses were loaded with both drugs

and the drug release was analyzed in static conditions and in hydrodynamic conditions using a

microfluidic cell. Samples of the release medium were collected periodically and analysed in order

to determine the release profiles in different conditions. Moreover, the lenses were characterized

through swelling, transmittance and wettability measurements before and after drug loading.

The results of this thesis allow to conclude about the influence of the material used in the

manufacture of contact lenses on their drug delivery profile and swelling behavior. SofLens

revealed a higher swelling capability and higher affinity to levofloxacin than PureVision. In other

turn, PureVison have a greater affinity with chlorohexidine. When the release conditions are more

similar to the eye conditions (hydrodynamic conditions) the time of drug released was extended

for both drugs in the two types pf lenses. However, the amount of drug released in those

conditions depended on the drug: the release of chlorohexidine was greater than in static

conditions, while for levofloxacin both conditions led to the same amount of drug. The

transmittance and wettability of both contact lenses were not affected by the presence of the drug.

Key-words: contact lenses, levofloxacin, chlorohexidine, drug release, release conditions,

hydrodynamic conditions.

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Índice

Resumo …………………………………………………………………………………………….……..iv

Abstract …………………………………………………………………………………………..v

Lista de Figuras ............................................................................................................ viii

Lista de Tabelas .............................................................................................................. x

Lista de Abreviaturas ...................................................................................................... xi

Enquadramento ............................................................................................................. xii

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

1.1. Sistema Visual ............................................................................................................ 1

1.2. Anatomia e fisiologia do olho ..................................................................................... 2

1.3. Patologias oculares .................................................................................................... 4

1.4. Tratamento das patologias oculares .......................................................................... 7

1.5. Lentes de Contacto .................................................................................................. 10

1.5.1. Hidrogéis ........................................................................................................... 12

1.5.2. Características das lentes de contacto ............................................................. 15

1.5.3. Efeito das lentes de contacto no olho ............................................................... 20

1.5.4. Lentes de contacto comerciais utilizadas .......................................................... 21

1.6. Fármacos oculares utilizados ................................................................................... 25

1.6.1. Barreiras e rotas dos fármacos ......................................................................... 26

1.6.2. Sistemas de Libertação de Fármacos (SFL) ..................................................... 28

1.6.3. Parâmetros que influenciam a libertação do fármaco ....................................... 38

2. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 40

2.1. Materiais ................................................................................................................... 40

2.1.1. Lentes de contacto ............................................................................................ 40

2.1.2. Fármacos……………………………………………………………………………..40

2.1.3. Outros componentes ......................................................................................... 40

2.2. Métodos ..................................................................................................... 41

2.2.1. Caracterização das lentes ................................................................................. 41

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2.2.1.1. Preparação das lentes ............................................................................... 41

2.2.1.2. Intumescimento………………………………………..……………………..…41

2.2.1.3. Transmitância…………………………………………….……………………..42

2.2.1.4. Molhabilidade ……………………………………………….…………………..43

2.2.2. Ensaios carregamento, libertação e quantificação de fármacos………...…....45

2.2.2.1. Ensaios de libertação em condições estáticas……………………………...46

2.2.2.2. Ensaios de libertação em condições hidrodinâmicas………………………47

2.2.2.3. Quantificação de fármaco ……………………………………………………..47

2.2.2.3.1. HPLC…..………………………………………………………………………48

2.2.2.3.2. Espectrofotometria UV-VIS ..………………………………………………..49

3. RESULTADOS E DISCUÇÃO. ……………………………………………………….……...51

3.1. Caracterização das lentes de contacto………………………………………………...51

3.1.1. Intumescimento………….…………………………………………………...51

3.1.2. Transmitância..………………………………………………………………55

3.1.3. Molhabilidade …..…………………………………………………………....57

3.2. Libertação farmacológica………………………………………………………………..58

3.2.1. Ensaios em condições estáticas …………………………………..……………..58

3.2.2. Ensaios em condições dinâmicas …………………………………………...64

4. CONCLUSÃO E TRABALHO FUTURO ........................................................................ 72

5. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 74

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Lista de Figuras Figura 1 - Estruturas oculares……….. .......................................................................................... 2

Figura 2 - Secção sagital do olho……………….. .......................................................................... 4

Figura 3 - Exemplo de doenças refrativas. a) Miopia, b) Hiperopia……………... ......................... 5

Figura 4 - Correção de doenças refrativas …………………………………………………………….7

Figura 5 - Exemplo de um IOL ...................................................................................................... 8

Figura 6 - Metodologia no tratamento da separação da retina…………………………………….. 9

Figura 7- Classificação das lentes de contacto……………………………………………………... 11

Figura 8 - Exemplos de estruturas dos hidrogéis…………………………………….. ................... 13

Figura 9 - Processo de intumescimento de um hidrogel………………………………….............. 16

Figura 10 - Medição do ângulo de contacta…………………………………………..... ................. 18

Figura 11 - Principio inerente à transmitância…………... ........................................................... 19

Figura 12 - Componentes do Balafilcon A (lentes PV)……………………….... ........................... 23

Figura 13 - Componentes do Hilafilcon B (lentes SL)…………….. ............................................. 23

Figura 14 - Estrutura química da levofloxacina………………………………………………... ....... 25

Figura 15 - Estrutura química da clorohexidina……………………….. ........................................ 26

Figura 16 - Principais rotas de administração e eliminação dos fármacos no sistema ocular… 27

Figura 17 - Sistemas de libertação presente nos SLF……………. ............................................. 30

Figura 18 - Escudo de colagénio corneal colocado no olho…….. .............................................. 32

Figura 19 - I -Vation implantando na esclera. ............................................................................. 35

Figura 20 - IOL com uma SLF anexada para ser aplicada em cirurgia às cataratas….. ............ 35

Figura 21 - IOL com um SLF constituído por dois discos distintos acoplados à lente…. ........... 36

Figura 22 - Ducto que permite recarregar o fármaco a partir do exterior do sistema ocular……37

Figura 23 - Componentes do espectrofotómetro. ....................................................................... 43

Figura 24 - Goniómetro. .............................................................................................................. 44

Figura 25 - Ângulo de contacto determinado pelo método da bolha cativa. ............................... 44

Figura 26 - Libertação de fármacos com substituição total da solução de NaCl. ....................... 46

Figura 27 - Célula microfluidica para ser efetuada a libertação de fármaco………….. .............. 47

Figura 28 - Diagrama de blocos com os principais componentes do cromatógrafo HPLC…..... 48

Figura 29 - Intumescimento das PV a diferentes temperaturas…. ............................................. 52

Figura 30 - Intumescimento das SL a diferentes temperaturas. ................................................ 52

Figura 31 - Valores de intumescimento das PV com alterações na temperatura……………... . 54

Figura 32 - Valores de intumescimento das SL com alterações na temperatura…………... ...... 54

Figura 33 - Transmitância das lentes de contacto PV e SL ........................................................ 55

Figura 34 - Libertação de fármacos das lentes PV. .................................................................... 59

Figura 35 - Libertação de fármacos nas lentes SofLens…... ...................................................... 59

Figura 36 - Libertação de fármacos nas lentes PV com concentração de 10 mg/ml………....... 61

Figura 37 - Libertação de fármacos nas lentes PV carregadas por 7 dias……. ......................... 62

Figura 38 - Libertação de CHX das PV imersas em duas soluções distintas ............................. 63

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Figura 39 – Libertação de LEVO nas lentes PV utilizando a célula microfluidica….. ................. 64

Figura 40 - Libertação de LEVO nas lentes SL utilizando a célula microfluidica….. .................. 65

Figura 41 - Perfis de libertação farmacológica nas lentes PV na célula microfluidica………... .. 66

Figura 42 - Perfis de libertação farmacológica nas lentes SL na célula microfluidica ................ 67

Figura 43 - Taxa de libertação de CHX por hora nas SL ............................................................ 70

Figura 44 - Taxa de libertação de CHX por hora nas PV ........................................................... 70

Figura 45 - Taxa de libertação de LEVO por minuto nas SL ...................................................... 71

Figura 46 - Taxa de libertação de LEVO por minuto nas PV ...................................................... 72

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Lista de Tabelas Tabela 1 - Classificação dos hidrogéis com base na carga iónica……… .................................. 14

Tabela 2 - Classificação dos hidrogéis com base nas características da estrutura física…….. 20

Tabela 3 - Características das lentes de contacto. ..................................................................... 24

Tabela 4 - Monómeros presentes nas lentes de contacto. ......................................................... 24

Tabela 5 - Lista dos polímeros mais comuns biodegradáveis e não biodegradáveis…………...29

Tabela 6 - Lista de dispositivos implantáveis utilizados como SLF a nível ocular. ..................... 33

Tabela 7 - Transmitância das lentes PV (valor médio no visível). .............................................. 56

Tabela 8 - Transmitância das lentes SL (valor médio no visível). .............................................. 56

Tabela 9 - Ângulo de contacto das lentes PV .…………….………………………………………...57

Tabela 10 - Ângulo de contacto das lentes SL…………….………………………………………...57

Tabela 11 - Quantidade de fármaco carregado por mg de lente seca e por lente ………………69

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Lista de Abreviaturas

CHX – Clorohexidina.

CsA – Ciclosporina A.

EGDMA – Etileno Glicol Dimetacrilato.

EVA – Etileno Vinil Acetato.

FDA – Food and Drug Administration.

FP – Ponto de Focagem.

HEMA – Hidroxietil Metacrilato.

HPLC – Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (High Performance Liquid Chromatography).

IOL – Lente Intraocular.

LEVO – Levofloxacina.

MAA – Ácido Metacrílico.

MilliQ – Água desionizada.

NaCl – Cloreto de Sódio.

NCVE – N-Carboxivinil Ester.

NVP – N-Vinilpirrolidona.

PBCV – Poli (Polidimetilsiloxano) di(Silil Butanol) bis(Carbamato de Vinil).

PCL – Policaprolactona.

PDMS – Polidimetilsiloxano.

PEG – Polietilenoglicol.

pHEMA – Poli(2-hidroxietilmetacrilato).

PLA – Ácido Polilático.

PLGA – Poli(ácido Lático-co-ácido Glicólico).

PMMA – Polimetil-metacrilato.

PVA – Álcool Polivinílico.

PV – PureVision.

PVP – Polivinilpirrolidona.

SL – SofLens.

SLF – Sistema de Libertação de Fármacos.

SMME – Sistemas Micro Mecânico-Elétricos.

TA – Triancinolona Acetonida.

TPVC – Tris(trimetilsiloxano)sililpropilvinil Carbamato.

UFL – Unidade de Função Lacrimal.

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Enquadramento Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento de dispositivos biomédicos têm assumido

um papel relevante em diversas áreas, incluindo no tratamento de doenças/defeitos

oftalmológicos. Dependendo da severidade das doenças/defeitos oculares, podem ser utilizadas

diferentes abordagens no seu tratamento/correção, como por exemplo gotas oculares, uso de

lentes de contacto ou óculos ou até intervenção cirúrgica, existindo muitas outras alternativas.

Estas abordagens variam na sua forma de atuação, complexidade e custo e estão relacionadas

com o tipo de doença/defeito, podendo haver abordagens distintas para a mesma patologia.

Enquanto os problemas refrativos podem ser corrigidos por exemplo com óculos graduados,

lentes ou cirurgias, com o objetivo de corrigir a curvatura do cristalino, doenças ou lesões

oculares como o glaucoma necessitam de aplicações farmacológicas.

As gotas oftalmológicas são o método mais utilizado para o tratamento das doenças e lesões

oculares. Apesar de este método ser bem aceite e amplamente utilizado pelos doentes,

apresenta um conjunto de desvantagens que limitam a eficiência deste tipo de tratamento,

nomeadamente as altas concentrações de fármaco administrado na fase inicial da aplicação da

gota oftalmológica, a rápida diluição/eliminação do fármaco devido à renovação do fluido lacrimal

e a absorção pela corrente sanguínea (responsável por cerca de 95% da perda de fármaco).

Com o objetivo de ultrapassar estes problemas, ao longo das últimas décadas, diversos cientistas

têm feito esforços no sentido de desenvolver novos métodos e abordagens mais promissoras

para o tratamento das doenças oculares.

Desta forma, têm sido desenvolvidos diversos sistemas de libertação de fármacos (SLF)

utilizando diferentes abordagens com o objetivo de aumentar a biodisponibilidade do fármaco.

Estas abordagens incluem a utilização de lipossomas, nano partículas, bioadesivos, dispositivos

entre outras. Existe uma grande quantidade de referências bibliográficas sobre estas

abordagens, contudo, a abordagem resultante da libertação de fármacos através de lentes de

contacto encontram-se entre as técnicas mais promissoras e melhor aceites dentro da

comunidade de cientistas. Esta alternativa permite a libertação de fármacos de forma mais

controlada quando comparada com as gotas oftalmológicas, resultando num aumento do tempo

de contacto do fármaco com o olho. Além disso, o uso desta forma de administração de fármacos,

é confortável e cómoda para o paciente, permite uma melhor absorção da fármaco e redução do

atrito entre as células epiteliais do olho e as lentes de contacto. Apesar destas características, a

libertação de fármacos pelas lentes de contacto apresenta algumas desvantagens,

nomeadamente pelo facto de o perfil de libertação do fármaco pelas lentes de contacto não ser

o desejável e em alguns casos as lentes constituem uma barreira à passagem de oxigénio para

a córnea, influenciando o seu normal funcionamento.

Existem, ainda, vários aspetos que influenciam o comportamento da lente de contacto na

interação com o olho e na cinética envolvida na libertação do fármaco. Apesar de todos os

avanços nesta área, os SLF associados a lentes de contacto devem continuar a ser alvo de

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investigação nos próximos anos com o objetivo de se ultrapassar as suas desvantagens e

melhorar a sua aplicabilidade e abrangência terapêutica.

O objetivo deste trabalho centra-se no estudo do efeito das condições hidrodinâmicas nos

perfis de libertação do fármaco obtidos com as lentes de contacto comerciais. Assim, foram

efetuados diversos estudos em que foram alteradas as condições hidrodinâmicas do meio em

que as lentes comerciais estavam envolvidas.

Este trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos principais. No primeiro capítulo, são

feitas importantes considerações teóricas no contexto deste estudo, incluindo a anatomia ocular,

patologias, doenças, lesões oculares e formas de ultrapassar ou mitigar essas doenças/lesões,

sendo também feita referência às lentes de contacto e suas características. São, ainda, feitas

diversas considerações sobre os sistemas de libertação controlada de fármacos e em particular

a utilização de lentes de contacto para esse fim. O segundo capítulo consiste na enumeração do

material necessário para a elaboração deste trabalho e a descrição dos procedimentos e

métodos utilizados ao longo do processo experimental. O terceiro capítulo consiste na exposição

e discussão dos resultados obtidos. E por último, no quarto capítulo são apresentadas as

principais conclusões e apresentadas sugestões do trabalho futuro.

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Sistema Visual

O olho tem uma função extremamente relevante no nosso dia-a-dia. A maioria da

informação que obtemos do ambiente em nosso redor é detetado pelo sistema visual. Esta

perceção de tudo o que nos rodeia resulta da ação de um conjunto de estruturas oculares que

auxiliam o olho e que juntos, contribuem para o funcionamento normal do sistema visual. Assim,

além do olho, existem estruturas acessórias e neurónios sensoriais responsáveis por captar a

informação exterior e transportar o potencial de ação desde o olho até ao cérebro. [1,2]

As estruturas acessórias são responsáveis por proteger, mover e lubrificar o olho. Estas

estruturas incluem as sobrancelhas, pestanas, conjuntivas, aparelhos lacrimais e os músculos

extrínsecos do olho.

A principal função das pestanas e das sobrancelhas é a de garantir proteção ao olho contra

objetos exteriores e de forma indireta são também responsáveis por regular a quantidade de luz

que entra no olho. As pestanas têm glândulas sebáceas e sudoríparas, sendo estas glândulas

diferentes das glândulas que se encontram noutras partes do corpo humano. [2,3,4]

A conjuntiva é uma membrana mucosa, fina e transparente que reveste a parte posterior

da pálpebra e se prolonga cobrindo parte da esclera (parte branca do olho). A conjuntiva tem um

conjunto de funções essenciais ao correto funcionamento do olho, nomeadamente na redução

da fricção durante o pestanejar e constituindo uma barreira contra a entrada de micro

organismos.

O aparelho lacrimal consiste num conjunto de estruturas lacrimais como glândulas, ductos

e canalículos que controlam o fluxo lacrimal pela produção de lágrimas e libertação destas na

superfície do olho, bem como pela remoção de lágrimas em excesso da superfície ocular. A

lágrima é composta maioritariamente por água, contendo alguns sais, lisozima, mucos e enzimas

responsáveis por matar algumas bactérias. [1,2]

Os músculos extrínsecos do olho estão ligados à parte exterior do globo ocular e assumem

um papel determinante no movimento ocular. Há quarto músculos retos e dois músculos oblíquos

que estão diretamente ligados ao olho. Cada um destes músculos assume um papel distinto no

movimento do olho permitindo também a sua estabilização. [3]

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2

1.2. Anatomia e fisiologia do olho

O globo ocular é composto por três camadas distintas, sendo que do exterior para o interior

existem: a camada fibrosa que é constituída pela esclera e pela córnea; a camada vascular que

é constituída pela íris, pelos corpos ciliares e pela coroide; por último, existe a camada interior

constituída pela retina. [2] As diferentes componentes enumeradas, podem ser visualizadas na

Figura 1 e Figura 2. Seguidamente são descritas as diferentes componentes de cada uma das

camadas especificadas anteriormente.

A esclera é opaca, branca e consiste em colagénio denso ligado a fibras elásticas é

fundamental para garantir a forma do globo ocular protegendo as suas estruturas internas, e

além disso, serve de ponto de ligação aos músculos extrínsecos do olho. A córnea é a

continuação da esclera mas com diferentes características fisiológicas. O epitélio da córnea

corresponde à principal barreira para o transporte de substâncias para dentro do olho. [2,5] A

camada interna da córnea é revestida por uma camada única de células endoteliais enquanto a

camada externa é constituída por epitélio. As células endoteliais têm uma capacidade limitada

para se regenerarem, e por isso o seu número vai sendo progressivamente reduzido com a idade.

Quando uma célula morre, as outras expandem-se para cobrir o espaço deixado pela célula

morta. No caso de as células endoteliais existentes não conseguirem expandir-se ao ponto de

ocupar todas as áreas vagas deixadas pelas células mortas, pode ocorrer o edema corneal,

diminuindo a qualidade da visão. Por outro lado, as células epiteliais têm capacidade de se

regenerarem e além da função protetora contra agressões vindas do exterior, também são

essenciais na aderência do filme lacrimal à córnea, mantendo-a húmida e facilitando a troca de

oxigénio e outros nutrientes entre o meio exterior e a córnea. O epitélio representa

aproximadamente 10% da espessura da córnea, constituindo uma barreira a pequenas

moléculas, água, iões e agentes patogénicos. [2] A córnea não tem vascularização e é

transparente, mas não é mecanicamente inerte. Na realidade, a córnea é um dos tecidos mais

enervados do corpo humano. [6,7] Devido à sua transparência, assume um papel primordial no

Figura 1 - Estruturas oculares. Adaptado de [4]

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3

sistema de focagem do olho, pela refração da luz que passa pela córnea com o objetivo de

alcançar a retina, também chamada de camada nervosa. [2,3]

A camada vascular assume esta denominação uma vez que contém as estruturas que

possuem grande parte dos vasos sanguíneos do olho. A parte posterior desta camada é

constituída pela coroide, que é uma estrutura fina com uma rede de vasos sanguíneos e

bastantes células de melanina, dotando-a de uma cor preta. Devido à sua cor, a luz é absorvida,

evitando reflexões dentro do globo ocular e permitindo focar corretamente a imagem observada

do exterior. Nesta camada, existem também corpos ciliares que se dividem num anel ciliar e num

grupo interno de músculos ciliares. A contração destes músculos altera a forma do cristalino, que

também é designado por lente. O processo de alteração da forma do cristalino perante estímulos

exteriores é designado por acomodação. Na parte anterior aos corpos ciliares, existe a íris que

tem um papel determinante no controlo da quantidade de luz que chega à retina através da ação

conjunta do esfíncter pupilar e do dilatador pupilar que reduz a quantidade de luz que entra e

aumenta a quantidade de luz que atravessa a pupila, respetivamente. [1-3]

Como referido anteriormente, a retina que se situa na camada anterior do olho, está

dividida numa camada externa pigmentosa, e numa camada interna nervosa. A retina tem cerca

de 126 milhões de células fotorrecetoras responsáveis pela absorção da luz, sendo a camada

nervosa responsável pelo envio do estímulo da luz para o cérebro através de neurónios

especializados. [2,3]

Outra estrutura importante do globo ocular é o cristalino (lente) - o cristalino é um disco

biconvexo, avascular, transparente e está localizado atrás da pupila. O cristalino também tem

um papel fundamental no sistema de focagem do olho. É uma estrutura flexível e a sua forma é

alterada, como mencionado anteriormente, pelos músculos ciliares. O objetivo das alterações na

forma do cristalino é o de permitir a focagem dos objetos. [2]

O interior do olho tem três câmaras: a câmara anterior, a câmara posterior e a câmara

vítrea, tal como pode ser visualizado na Figura 2. As câmaras anteriores e posteriores estão

separadas pela íris e são preenchidas por um fluido designado por humor aquoso que consiste

num líquido incolor constituído em cerca de 98% por água, e o remanescente por alguns sais

dissolvidos (maioritariamente cloreto de sódio). Este fluido é responsável por manter a pressão

intraocular e ajuda a manter a forma do globo ocular. [1,2] Além disso, o humor aquoso tem como

função a refração da luz até chegar à retina, assumindo também um papel preponderante na

nutrição das células localizadas da câmara anterior, como por exemplo, a córnea, que, como dito

anteriormente, não possui vasos sanguíneos. A pressão intraocular é mantida constante devido

à circulação deste líquido, (produção e remoção contínua do mesmo). A câmara vítrea está

preenchida com uma substância gelatinosa e transparente com algumas fibras e células. Esta

substância ajuda a manter a pressão intraocular e a manter a retina no local correto e a forma

do globo ocular. Este líquido viscoso tem o nome de humor vítreo. Esta substância, tal como o

humor aquoso também é responsável por parte da refração da luz que entra no olho. Apesar de

ter um papel igualmente importante ao humor aquoso, a taxa de renovação do humor vítreo é

mais lenta. [2,3] O filme lacrimar, que existe no exterior das células epiteliais da córnea e parte

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da conjuntiva tem uma função muito importante na saúde do olho, protegendo-o, lubrificando-o,

eliminando os corpos estranhos e tornando mais suave a interação que existe durante o

pestanejar entre o olho e a pálpebra. [1,2]

A visão resulta da interpretação dos potenciais de ação produzidos quando a luz proveniente

do exterior chega à retina, sendo posteriormente enviados para o cérebro. Como dito

anteriormente, a córnea e o cristalino têm um papel importante no sistema de focagem, sendo

as principais estruturas responsáveis pelo sistema de focagem do olho. A córnea é responsável

pela maioria da refração da luz uma vez que existe um grande contraste de densidades entre o

ar e o tecido da córnea. A forma da córnea e a sua distância para a retina são fixas, assim o grau

de focagem da córnea é estático, impossibilitando qualquer tipo de ajuste com o objetivo de

permitir a focagem. Desta forma os ajustes no grau de focagem dos objetos apenas são

efetuados por alterações na forma do cristalino. Ao aumentar a curvatura do cristalino, o grau de

refração da luz aumenta, movendo o ponto de focagem (PF) para próximo do cristalino. Por outro

lado, ao diminuir a curvatura do cristalino, a refração da luz diminui e o PF afasta-se do cristalino.

[1,2] De forma a permitir uma boa visão, as estruturas físicas do olho, devem estar perfeitamente

alinhadas. Contudo, há uma grande quantidade de pessoas que têm distâncias anormais entre

a córnea e a retina. Estas alterações implicam problemas no sistema de focagem, acarretando

alguns problemas visuais. [1]

1.3. Patologias oculares

Tal como mencionado anteriormente, o olho é um órgão complexo e assume uma função

determinante na obtenção de informação do mundo que nos rodeia. Contudo, é um órgão

extremamente sensível a agressões externas. Há várias doenças que podem afetar a estrutura

dos diferentes constituintes do olho, afetando a sua função normal. Problemas relacionados com

o sistema refrativo são as doenças mais comuns, afetando a qualidade da visão e

Figura 2 - Secção sagital do olho. Figura adaptada de [2]

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5

consequentemente, a perceção da realidade. Há também problemas oculares relacionados com

a acomodação do olho, devido a disfunções que podem ocorrer nos músculos oculares

relacionados por exemplo com a idade. [8-10] Neste capítulo, pretende-se descrever brevemente

algumas das doenças oculares mais comuns.

Entre os problemas refrativos, existem doenças como a miopia, hiperopia e o

estigmatismo. A miopia é uma doença em que os objetos posicionados em locais mais afastados

aparecem desfocados, sendo que a visão ao perto, permanece igual. Este problema é causado

por o olho ter um tamanho superior ao normal ou então por a córnea ou o cristalino serem

demasiado curvos, tal como ser visto na Figura 3a) fazendo com que a imagem fique focada

antes da retina. Por outro lado, a hiperopia faz com que as imagens ao perto estejam desfocadas

enquanto os objetos ao longe assumem a forma normal, devido à forma mais achatada da córnea

e do cristalino, Figura 3b). Assim, devido ao facto de a córnea e/ou o cristalino não terem a

curvatura necessária, ou o olho ter um tamanho reduzido, a imagem é focada para lá da retina.

As diferenças entre a miopia e a hiperopia podem ser visualizadas na Figura 3.

Outra doença refrativa é o astigmatismo. Neste caso, o cristalino ou a córnea não estão

uniformemente curvados, e por isso as imagens não são focadas de uma forma nítida,

aparecendo desfocadas, seja para objetos perto ou mais afastados, o que provoca ao doente

bastante fadiga ocular. [2,20]

Quando os músculos oculares são fracos, há uma falta de paralelismo no percurso que a

luz assume ao passar pelo olho. Esta doença é designada por estrabismo e caracteriza-se por

os dois olhos não fixarem o mesmo ponto ao mesmo tempo, podendo ser dividido em estrabismo

convergente, onde um olho ou ambos convergem para o plano sagital, estrabismo divergente,

onde um dos olhos ou ambos divergem do plano sagital ou estrabismo vertical, havendo

discrepâncias no alinhamento vertical dos olhos. Existem formas de corrigir o estrabismo como

por exemplo, através de cirurgia, apesar de este procedimento estar dependente do nível de

estrabismo do paciente. [2,20]

O descolamento da retina é um problema que ocorre quando a retina é furada e uma

determinada quantidade de humor vítreo é acumulado entre a retina e a camada pigmentosa da

esclera, separando-as progressivamente. Se a camada pigmentosa se separa da camada

Figura 3 - Exemplo de doenças refrativas. a) Miopia, b) Hiperopia. Adaptado de [2]

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neuronal, as células existentes nesta camada não recebem nutrientes e, neste caso, ocorre

cegueira. Existem muitas outras doenças associadas a problemas na retina como por exemplo

a degeneração da mácula e a retinite pigmentosa. A primeira é uma doença degenerativa da

retina que é causada por fatores genéticos ou ambientais causando alterações nos elementos

da retina, afetando apenas a visão central. A retinite pigmentosa é uma doença hereditária e

caracteriza-se pela progressiva degeneração da retina devido à morte das células fotorrecetoras

que se localizam na retina. [2,20]

Doenças neuro degenerativas como Alzheimer ou o Parkinson afetam a perceção da cor

uma vez que há a degeneração do nervo ótico e das áreas cerebrais responsáveis pelo

processamento das cores. [1]

Três das doenças corneais mais comuns são os edemas, queratites e úlceras. Os edemas

resultam num inchaço da mácula causando perda de visão e podem ter origens distintas que vão

desde infeções oculares, a glaucomas ou traumatismos. As queratites são infeções corneais

causadas por bactérias, vírus, lesões físicas, olho seco ou alergias causando dor e tornando o

olho vermelho. Por último, as úlceras são um defeito na superfície da córnea, como por exemplo,

uma ferida aberta infetada por bactérias, que pode ter diferentes causas como infeções, presença

de corpos estranhos, agressões oculares, etc. [11,12-19].

Existem também alguns problemas na zona das pálpebras que aparecem frequentemente

devido a inflamações ou relacionado com infeções provocadas por bactérias provenientes das

glândulas sebáceas do olho, causando desconforto, dor e vermelhidão na pálpebra. [2,6]

As cataratas são outro problema maioritariamente causado pelo avanço da idade, devido

a uma acumulação contínua de proteínas relacionada com uma nutrição deficiente do cristalino,

resultando na perda de transparência e tornando a visão desfocada. Atualmente a cirurgia para

retirar a catarata é um procedimento bastante eficaz na correção deste problema, por

substituição do cristalino por uma lente artificial que assume as mesmas funções do cristalino.

[2,3,6]

A diabetes pode também promover a perda de visão uma vez que esta doença afeta a

circulação periférica, resultando numa degeneração da retina ou até mesmo descolagem. A

causa está na fragilidade que a diabetes provoca nas células nervosas da retina que revestem o

interior do globo ocular. A diabetes é mesmo uma das principais doenças que provoca cegueira

- retinopatia diabética. [2]

O glaucoma é outro tipo de doença ocular em que há uma pressão excessiva do humor

vítreo dentro do globo ocular. Esta pressão resulta da existência de um ineficiente turnover do

humor vítreo, devido a uma produção excessiva deste líquido ou uma eliminação ineficiente. Este

excesso de pressão pode destruir a retina e o nervo ótico, bloqueando os vasos sanguíneos,

provocando graves diminuições na qualidade visual. Caso não seja tratada, pode resultar em

cegueira total. O glaucoma pode-se manifestar de diversas maneiras, como por exemplo através

de escotomas (manchas escuras no campo visual), fotofobia, dor nos olhos, etc. [1,2,20]

O olho seco é uma doença inflamatória que ocorre na superfície ocular e resulta da

existência de um filme lacrimal instável devido a uma disfunção da unidade de função lacrimal

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(UFL – córnea, conjuntiva, glândulas lacrimais e glândulas meibomianas), ou pela produção

insuficiente de lágrima, ou no caso de estas serem produzidas em quantidade suficiente, não

terem a qualidade necessária para criar um filme lacrimal estável. Esta doença causa lesões na

superfície intra palpebral, o que provoca algum desconforto ocular para o paciente, com a

existência de comichão, olhos vermelhos, olhos lacrimejantes com elevada frequência. O olho

seco é mais comum nas mulheres que nos homens, aumentando a incidência com a idade. [1,2]

1.4. Tratamento das patologias oculares

As patologias oculares podem ter causas muito diversas. A prática de estilos de vida

menos saudáveis podem afetar a saúde ocular, resultando em doenças oculares que afetam o

desempenho do olho. Essas doenças podem ser mais ou menos graves, dependendo da

estrutura ocular que foi afetada. Assim, o desenvolvimento de dispositivos biomédicos e

fármacos, com toda a sua abrangência, assume também um papel bastante importante na

correção e/ou cura das doenças oculares, podendo ser usados diferentes procedimentos e

técnicas como por exemplo as gotas oculares, óculos, lentes de contacto terapêuticas, implantes

oculares, cirurgias, etc. As técnicas a usar, estão dependentes do tipo de doença/lesão e que

estruturas oculares estão afetadas. [21,22]

Em doenças refrativas, o uso de óculos graduados ou lentes de contacto são técnicas

bastante eficientes para a correção do ponto de focagem. Por exemplo, no caso da miopia, uma

lente côncava, espalha os raios de luz antes de estes atingirem o olho, permitindo uma correta

focagem da imagem na retina, (Figura 4a). Por outro lado, uma lente convexa permite corrigir a

hiperopia convergindo os raios de luz quando estes passam pela lente permitindo de igual forma,

focar corretamente as imagens na retina (Figura 4b). Para se compreender de forma mais

eficiente o efeito destas lentes na correção destes dois problemas refrativos, sugere-se a análise

da Figura 3 em conjunto com a Figura 4, sendo possível ver a diferença nas posições do PF por

ação das diferentes lentes. Uma outra forma de corrigir a miopia (menos convencional) consiste

em efetuar cortes radiais na córnea, permitindo que esta sofra alterações na sua forma, que se

traduzem em alterações no grau de refração da luz que atravessa a córnea, eliminando a miopia,

este procedimento também é designado por queratotomia radial. [2]

Figura 4 - Correção de doenças refrativas. a) Lente côncava para corrigir a miopia, b) Lente convexa para corrigir hiperopia. [2]

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Um outro procedimento é o uso de tratamento laser sobre a córnea para corrigir a sua

curvatura, permitindo que as imagens seja focadas corretamente na retina, este procedimento

pode ser usado tanto no caso da miopia como da hiperopia. Dependendo da doença, o laser é

mais ou menos intenso, influenciando a curvatura da córnea. Uma outra técnica, mas menos

convencional, para corrigir este tipo de doença, consiste na introdução de um anel intra estromal

na curvatura anterior da córnea. Quando os problemas refrativos são graves, a solução mais

efetiva é a cirurgia com a introdução de uma lente intra ocular (IOL). [1,23-25] Nestes casos, a

solução deve passar primeiro pela remoção dos componentes internos do olho, sendo

necessário a introdução da IOL para substituir as funções das estruturas removidas. Contudo, a

tendência para a produção das partes periféricas destes implantes consiste numa base de

hidroxiapatite ou um polietileno poroso para promover a desenvolvimento celular e a

vascularização, permitindo que estes implantes estejam completamente integrados com o corpo

humano. [22,27-32] Há diversos implantes que podem ser usados para substituir as diferentes

estruturas do globo ocular, queratopróteses e implantes intra corneias são dois exemplos de

substituições corneias. Estes procedimentos resultam numa substituição completa da córnea

com o objetivo de corrigir a miopia ou a hiperopia por exemplo. [21,33,34]

Um exemplo de um procedimento intra corneal é a operação às cataratas com milhões de

operações anuais. Este método é frequentemente aplicado para o tratamento desta doença com

a extração da catarata e colocação de uma IOL para compensar a perda do cristalino, Figura 5.

A operação ocorre apenas quando a visão se torna demasiado turva ou a sensibilidade à luz

afetam o dia-a-dia do paciente. [22, 35,36]

Figura 5 - Exemplo de um IOL. [22]

Apesar destas técnicas ser usadas com sucesso, há alguns problemas que podem ocorrer,

como por exemplo, o deslocamento da lente, uma invasão epitelial na lente, lesões nas estruturas

internas do olho devido aos implantes ou até rejeições e irritações. Desta forma, é importante

haver um acompanhamento contínuo do médico após a cirurgia. [37,38]

Um procedimento comum no tratamento do descolamento da retina é a utilização de um

implante da esclera conhecido como scleral buckle, tal como pode ser visto na Figura 6, este

método consiste na aplicação de uma esponja de silicone, ou de uma espécie de borracha ou

plástico semi duro à volta do olho, comprimindo o globo ocular, alongando-o ligeiramente. [30]

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Figura 6 – Metodologia no tratamento da separação da retina. [22]

Até agora, neste trabalho viu-se tratamentos com recurso a um material que auxilia o olho

a desempenhar algumas das funções necessárias, Contudo, existem tratamentos que resultam

na aplicação de fármacos no olho. Esta administração pode ser feita de maneiras distintas, como

por exemplo por administração tópica pelo uso de gotas oftálmicas, pelo uso de

injeções/dispositivos de libertação terapêuticas, etc. Estas técnicas, apesar de terem o mesmo

objetivo final, apresentam algumas diferenças, como por exemplo, a forma como alcançam o

objetivo, o número de utilizadores/doentes que as utilizam e as implicações que acarretam. O

uso de gotas oftálmicas correspondem a cerca de 90% do total de sistemas utilizados na

administração de fármacos. Apesar de ser um método extremamente ineficiente uma vez que

uma quantidade considerável de fármaco administrada é eliminada imediatamente devido a um

conjunto de fatores como o lacrimejar, o turnover e filme lacrimar, continua a ser uma técnica

amplamente utilizada pelos doentes. Com a utilização de gotas oftalmológicas, o tempo estimado

de permanência do fármaco em contacto com o olho é de aproximadamente dois minutos. Desta

forma, para de conseguir ultrapassar a elevada taxa de eliminação do fármaco e o pouco tempo

de permanência deste em contacto com o olho, são administradas elevadas concentrações de

fármaco, acarretando alguns efeitos secundários. Face a isto, a aplicação de fármacos pelo uso

de gotas oftalmológicas implica uma elevada variação da disponibilidade do fármaco na córnea

no curto espaço de tempo de contacto em que o fármaco está com o olho. Além destas

metodologias existem outras formas de aplicar fármacos no olho, nomeadamente através de

emulsões, suspensões e pomadas que exercem diferentes ações no sistema ocular, que vão

desde a sua hidratação, limpeza e libertação farmacológica, apesar de neste último caso, serem

bastante ineficientes. [1-3, 40-42]

Por sua vez, as lentes de contacto terapêuticas podem ser usadas como dispositivos de

libertação de fármacos para o tratamento de doenças oftálmicas, nomeadamente para o

tratamento de doenças e feridas oculares, servindo como proteção mecânica, permitindo o

aumento da adesão epitelial, a manutenção da hidratação da córnea e alívio de dores oculares.

Além disso, como já foi dito anteriormente, a libertação do fármaco é feita de forma muito mais

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eficiente, reduzindo os efeitos secundários para o paciente. [21,43] No capítulo 1.6.2, são feitas

mais considerações sobre a utilização de dispositivos para libertação farmacológica.

1.5. Lentes de Contacto

A definição do termo lentes de contacto tem sofrido algumas alterações ao longo do tempo.

O conceito de lentes de contacto foi desenvolvido em 1508 por Leonardo DaVinci pela introdução

do princípio ótico que está subjacente à refração da luz que ocorre também nas lentes de

contacto. Mas apenas em 1827, Sir John F. W. Herschel, sugeriu que uma lente de vidro poderia

proteger o olho e corrigir doenças refrativas. Em 1860, Adolf Fick desenvolveu com sucesso, o

que muitos consideram ter sido a primeira lente de contacto. Tendo sido o primeiro investigador

a descrever o processo de fabricação das lentes de contacto e a acomodação destas com o

sistema ocular, as lentes utilizadas nesse estudo eram feitas de vidro. De 1936 até 1948, foram

feitos diversos avanços em pesquisas e desenvolvimentos na área das lentes de contacto, tendo

sido desenvolvido nesta altura as lentes de contacto de plástico (PMMA) biologicamente inertes,

que constituíram um grande avanço na época devido às vantagens do PMMA em relação ao

vidro. Desde essa altura, têm sido efetuados diversos avanços no processo de fabricação das

lentes de contacto. [21,17]

As lentes de contacto são pequenos discos, atualmente de plástico fino e curvo,

desenhados para cobrir a córnea. São feitos com recurso a diferentes métodos e diferentes

materiais e podem ser usados por diferentes períodos de tempo. No seu processo de fabrico,

caso o material tenha componentes hidrofóbicos, as lentes de contacto, são sujeitas a um

tratamento superficial com o objetivo de aumentarem a sua hidrofilia e se adaptarem

corretamente ao filme lacrimal do olho, tornando-se confortáveis para o utilizador. Como dito

anteriormente, as lentes de contacto são usadas para corrigir problemas refrativos, mas também

são usadas com objetivos terapêuticos, estéticos, como por exemplo, para alteração da cor dos

olhos utilizando lentes pintadas. Devido à forma eficiente de corrigir problemas refrativos, as

lentes de contacto têm sido utilizadas por um número crescente de pessoas. [17,44,45] As lentes

de contacto podem ser classificadas de diferentes maneiras, um dos critérios utilizados para as

caracterizar, baseia-se no seu tempo de utilização e no material utilizado para o seu fabrico. Na

Figura 7, pode-se visualizar a categorização existente das lentes de contacto, com base nos dois

critérios.

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11

Figura 7- Classificação das lentes de contacto. [17]

Com base no tempo de uso, as lentes de contacto podem ser classificadas como lentes

diárias, lentes de uso contínuo ou lentes de contacto de uso prolongado. Lentes de contacto

diárias são muito populares e são bastante utilizadas pelos doentes uma vez que são práticas,

concebidas para serem utilizadas apenas por um dia, devendo ser removidas à noite, quando o

paciente for dormir. Lentes de uso prolongado podem ser usadas durante o dia e durante a noite,

geralmente por sete dias e seis noites. As lentes de uso contínuo podem ser usadas por um

período de uma a quatro semanas, dependendo do tipo do material de que a lente é feito. [45,46]

Relativamente ao tipo de material usado para fabricar a lente de contacto, estas podem

ser dividias em lentes de contacto rígidas, lentes de contacto macias e lentes de contacto de

silicone. Atualmente, as lentes de contacto mais utilizadas são as lentes de contacto de silicone

e as lentes de contacto macias, que serão descritas seguidamente. [45]

As lentes de contacto macias, também designadas por lentes de contacto de hidrogel são

consideradas como um dos desenvolvimentos mais importantes na indústria de lentes de

contacto. Os primeiros desenvolvimentos foram feitos por Otto Wichterle e Lim em 1960, pela

introdução de lentes de hidroxietil metacrilato (HEMA) usando o processo de casting para as

fabricar. Em 1971 a patente de produção das lentes de contacto de hidrogel foi adquirida pela

empresa Baush&Lomb e em 1972 esta empresa introduziu pela primeira vez estas lentes no

mercado. Devido ao seu elevado conforto e elevada biocompatibilidade, estas lentes de contacto

tiveram um enorme sucesso, sendo lentes extremamente confortáveis ao utilizador. Contudo,

estas lentes apresentam como desvantagem a fraca permeabilidade aos gases. Assim, os

utilizadores destas lentes de contacto estão sujeitos a consideráveis níveis de hipoxia na córnea,

uma vez que existe dificuldade em que o oxigénio chegue à córnea através da lente de contacto,

afetando a sua integridade e função fisiológica. [14,45]. Um dos primeiros estudos relacionados

com os efeitos fisiológicos, pelo uso de lentes de contacto de hidrogel foi feito por Göteborg e

publicado no ano de 1985. Estudos posteriores relataram os efeitos que um ambiente de hipoxia

provoca no sistema ocular, em especial na córnea. Por exemplo, os estudos levados a cabo por

Harvitt et al. e Holden et al., revelaram que quando a córnea é sujeita a taxas de oxigénio baixas

pode sofrer edemas bem como outro tipo de lesões epiteliais. Contudo, há também provas que

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o uso destas lentes de contacto traz algumas vantagens como por exemplo a contribuição para

homeotastase corneal através da manutenção da integridade do filme lacrimal e a estabilidade

ocular devido à barreira que as lentes constituem à adesão de bactérias. [46-48]

As lentes de contacto feitas com silicone têm como vantagem a boa taxa de

permeabilidade ao oxigénio, resolvendo o problema das lentes de contacto de hidrogel. Esta é

uma característica importante porque, evita a hipoxia corneal. Contudo, as lentes de contacto

fabricadas com silicone, também apresentam algumas desvantagens, nomeadamente a

natureza hidrofóbica do silicone, responsável por causar algum desconforto na utilização destas

lentes, devido à baixa molhabilidade da superfície da lente, contribuindo assim para a

destabilização do filme lacrimal do aparelho ocular, permitindo ainda a acumulação de depósitos.

Para ultrapassar estes problemas, as lentes de contacto de silicone, são sujeitas a tratamento

superficial com o objetivo de aumentar a hidrofilicidade da lente. Estas lentes, quando sujeitas a

um tratamento superficial, são designadas por lentes hibridas de silicone-hidrogel. [48,50]

Neste trabalho, são usadas dois tipos distintos de lentes de contacto, as PureVision (PV)

e as SofLens (SL), ambas do fabricante Baush&Lomb. As primeiras são fabricadas com o

material Balafilcon A e as segundas são feitas com o material Hilafilcon B. A descrição destes

materiais é feita num capítulo posterior.

1.5.1. Hidrogéis

Desde o início dos tempos que são encontrados hidrogéis na natureza. Biofilmes

bacterianos e componentes de matrizes extracelulares desidratadas são alguns dos exemplos

de hidrogéis presentes na natureza. Apesar de na década de 30, cientistas que trabalhavam em

conjunto com DuPont terem publicado um artigo com a sintetize de polímeros de metacrilato,

apenas na década de 60, Wichterle e Lim publicaram um artigo descrevendo a polimerização do

monómero de HEMA com um agente ligante (cross-linker). Com esta experiência, Wichterle e

Lim obtiveram um material elástico, suave e com capacidade de absorver água. Esta descoberta

foi uma inovação de extrema importância com diversas aplicações nas mais variadas áreas como

em engenharia de tecidos, na indústria de produção de lentes de contacto, etc. [21, 45].

Todos os hidrogéis são formados por uma rede tridimensional de cadeias flexíveis de

natureza polimérica. Estas redes resultam das reações de monómeros e a interação dos grupos

químicos dessas redes determina os atributos de cada polímero. Um dos principais constituintes

dos hidrogéis é o HEMA. Sendo também um dos principais constituintes das lentes de contacto

de natureza hidrofílica. Outros monómeros podem ser adicionados na constituição das lentes de

contacto para alterar as suas características, como por exemplo, para tornar as lentes mais

hidrofílicas, para aumentar a flexibilidade e permeabilidade ao oxigénio, para permitir o transporte

de fluidos, etc. A forma do hidrogel pode manter-se igual ao longo do tempo ou apresentar

deformação, dependendo da forma como as cadeias poliméricas estão ligadas entre si. [45-

47,51-53]

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Os hidrogéis têm uma estrutura polimérica ligada entre si por ligações de hidrogénio e

ligações fortes de Van der Waals entre as cadeias poliméricas tal como ligações covalentes

produzidas por reações simples de um ou mais comonómeros. [21,54].

Há diferentes formas de classificar os hidrogéis, como por exemplo: pelo seu método de

preparação, carga iónica, origem, funções, aparência física, etc. Relacionado com o seu método

de preparação, os hidrogéis mais comuns podem ser classificados como homopolimeros,

copolimeros ou multipolimeros. Os primeiros correspondem a hidrogéis com redes cross-linked

de um único monómero hidrofílico. Os copolimeros são produzidos por duas unidades de

monómeros cross-linked e pelo menos um deles deve ser hidrofílico, garantindo que o hidrogel

tem capacidade de absorver água. Os multipolimeros são produzidos por três ou mais

comonomeros ligados entre si. Os hidrogéis podem também ser classificados de acordo com a

sua origem. Podendo ser obtidos de fontes de origem natural, como por exemplo os

oligossacáridos (gelatina, pectina, etc.) ou de fontes sintéticas, como por exemplo os monómeros

acrílicos e meta acrílicos. [21,52]

Relacionado com a sua estrutura molecular, há diferentes formas de classificar os

hidrogéis. Tal como pode ser visto na Figura 8, os hidrogéis podem assumir cinco tipos de redes

moleculares.

Figura 8 - Exemplos de estruturas dos hidrogéis. (A) Hidrogel com uma malha macromolecular ideal. (B) Rede com junções multifuncionais. (C) Loops e partes não reagidas num hidrogel. (D) Partes não

reagidas no hidrogel. (E) Hidrogel com loops. Imagem editada de [21].

A Figura 8 a) esquematiza a estrutura de um hidrogel que pode ser considerada como

uma rede ideal, com juncões tetra funcionais, esta conFiguração não é frequentemente

observada. A Figura 8 b) representa uma estrutura que é observada mais frequentemente nos

hidrogéis com diferentes tipos de junções e na Figura 8 c) é possível visualizar enredos

moleculares. As Figuras 8 d) e 8 e) mostram estruturas presentes em hidrogéis com defeitos

moleculares, com funcionalidades não ligadas, enredos moleculares parciais e loops do próprio

monómero. Estes defeitos não exercem qualquer contribuição para as propriedades físicas e

mecânicas do polímero. [21]

Na tabela 1 e 2 podem ser vistas outras maneiras de classificar os hidrogéis.

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14

Tabela 1 – Classificação dos hidrogéis com base na carga iónica. [21]

Classificação Descrição

Neutros Sem carga;

Aniónico Carga negativa;

Catiónico Carga positiva;

Anfotérico Têm zonas com carga positiva e negativa;

Tabela 2 – Classificação dos hidrogéis com base nas características da estrutura física. [21]

Gostaria ainda de referir uma outra classe de hidrogéis – os hidrogéis inteligentes (smart

hydrogels). Estes hidrogéis apresentam as características presentes nos hidrogéis

convencionais, mas têm capacidade de apresentar diferentes comportamentos com base nos

estímulos exteriores que recebem, assim, dependendo do meio e das condições em que são

colocados, o mesmo hidrogel têm comportamentos distintos. Por exemplo, há hidrogéis que

mediante alterações de temperatura, força iónica do meio, pH do meio, alteram o seu

comportamento como é o caso dos hidrogéis de acrilato que respondem de acordo com as

alterações de pH. [46]

Há diferentes métodos de polimerizar um hidrogel, nomeadamente por ação do calor, por

fotopolimerização, irradiação, etc. As propriedades do hidrogel dependem da forma como estes

são preparados, existindo fatores que afetam as suas características, como por exemplo, a

quantidade/natureza de monómeros utilizados na sua preparação, o tipo e graus de ligações

existentes entre as diferentes cadeias poliméricas, temperatura de polimerização, entre outros

fatores. [21,55]

Uma das principais características de um hidrogel é a sua capacidade de absorver água.

Esta característica resulta da natureza hidrófila das cadeias poliméricas que constituem o

hidrogel. Podendo haver hidrogéis que absorvem entre 15% a milhares de vezes o seu peso

seco em água. Esta característica é frequentemente designada por intumescimento, ou em inglês

– swelling. Esta característica pode ser definida como sendo a capacidade de absorção de um

solvente, em geral água, por um hidrogel seco, hidratando as moléculas polares da rede

polimérica. À medida que vai ocorrendo a hidratação, a estrutura polimérica aumenta de

dimensão, expondo as zonas hidrofóbicas presentes no hidrogel e diminuindo a taxa de absorção

do solvente em questão. Quando um hidrogel é desenvolvido para aplicações biomédicas, é

Classificação Descrição

Amorfo Possui cadeias macromoleculares aleatoriamente

organizadas;

Semicristalino Possui regiões densas de cadeias macromoleculares

organizadas;

Supramoleculares Possui ligações de hidrogénio, responsáveis por formar a

estrutura tri dimensional;

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15

importante possua as propriedades necessárias (e.g. propriedades mecânicas, físicas e

químicas) para responder de forma desejada aos estímulos a que é sujeito. [21,55,56]

Um hidrogel inerte tem um comportamento passivo, isto é, não reage quando está em

contacto com os tecidos biológicos, mostrando resistência à degradação ao longo do tempo. No

entanto, existem hidrogéis que se degradam ao longo do tempo. Esta característica é usada por

exemplo em alguns SLF. Os hidrogéis para aplicações biomédicas devem ser biocompatíveis. A

utilização crescente destes materiais está relacionada com uma série de vantagens nas mais

diversas aplicações a que são sujeitos, como por exemplo: não serem trombogénicos, serem

permeáveis a metabolitos, inertes, resistentes à degradação, à possibilidade de poderem ser

fabricados de diferentes formas, biocompatibilidade, etc. Contudo, também possuem algumas

desvantagens como por exemplo: resistência limitada a estímulos mecânicos, dificuldade no

processo de esterilização, etc. [21,51,54]

Devido a estas características é possível usar os hidrogéis em áreas distintas com

diferentes funções, como por exemplo: scaffolds para regeneração óssea através da proliferação

celular, elétrodos médicos subcutâneos, revestimentos usados em cateteres, tubos de

drenagem, tendões artificiais, adesivos para proteção e reparação de suturas, membranas

artificias em rins, biosensores, SLF, entre muitas outras aplicações. [1,12]

1.5.2. Características das lentes de contacto

As lentes de contacto, tal como a maioria dos hidrogéis, quando estão no estado

desidratado são duros e quebradiços, contudo, devido aos grupos hidrofílicos presentes na sua

estrutura, quando em contacto com água, incham devido à absorção desta.

As características das lentes de contacto condicionam o conforto que garantem ao

utilizador e o desempenho das mesmas. [17,45] Seguidamente, enumera-se e descreve-se

algumas das principais características inerentes às lentes de contacto e que são essenciais para

garantir uma boa acuidade visual, correção de problemas refrativos e conforto na sua utilização.

Intumescimento

Uma das principais características é o intumescimento, que tal como já foi referido

anteriormente, ocorre quando um hidrogel está em contacto com um solvente. As moléculas do

solvente entram na rede polimérica, expandindo-a e alterando a sua forma inicial. O solvente é

absorvido pelo material devido à compatibilidade termodinâmica entre o hidrogel e o solvente. A

expansão do hidrogel é feita de forma controlada havendo um balanço entre as forças osmóticas

inerentes à penetração das moléculas do solvente no hidrogel que favorecem a expansão e as

forças elásticas, opostas, que contrariam a deformação do hidrogel. Na Figura 9, é possível

verificar as diferentes fases do processo de intumescimento, nomeadamente o hidrogel na fase

inicial, isto é, no estado desidratado, (Figura 9 a) e quando as moléculas do solvente interagem

com o hidrogel pela entrada nos interstícios da cadeia polimérica, expandem-na até alcançar o

máximo nível de inchaço, (Figura 9 b). As forças elásticas contribuem para manter unidas as

cadeias poliméricas do hidrogel. As forças electroestáticas exercem uma importante função,

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garantindo que o hidrogel volta à sua forma inicial depois de existir o movimento contrário ao

intumescimento, isto é: a saída das moléculas do solvente da rede polimérica, que pode ser

provocado por exemplo pela secagem do hidrogel como aconteceu no caso das lentes de

contacto e que se irá descrever num capítulo posterior. Assim, pode-se afirmar que quando a

pressão osmótica é superior à força elástica do hidrogel, ocorre o intumescimento, quando estas

forças se igualam, o hidrogel mantem a mesma forma. [45,57-59]

Figura 9 - Processo de intumescimento de um hidrogel; a) Hidrogel no estado seco; b) Estado do hidrogel depois do processo de intumescimento. Imagem adaptada de [59].

Relacionado ainda com o processo de intumescimento podem ser definidas algumas

métricas fundamentais na caracterização dos hidrogéis e no nosso caso particular, das lentes de

contacto. Assim, é possível obter o grau de intumescimento - 𝑄𝑡 que é representado pela

equação 1: [58-61]

𝑄𝑡 =

𝑊𝑡 − 𝑊𝑑

𝑊𝑑

× 100 (1)

Onde 𝑊𝑑 corresponde ao peso da lente de contacto desidratada e 𝑊𝑡 corresponde ao peso da

lente de contacto durante o intumescimento no instante t. É também comum, em vez deste

parâmetro referir-se a percentagem do conteúdo de água - 𝑊𝑐, dada pela equação 2:

𝑊𝑐 =

𝑊𝑡 − 𝑊𝑑

𝑊𝑡

× 100 (2)

A capacidade de intumescimento é influenciada por diferentes parâmetros que vão desde

fatores externos como por exemplo a temperatura a que ocorre a hidratação, o pH da solução,

etc. bem como por fatores internos tal como por exemplo a estrutura química e física do hidrogel,

a existência ou não de poros, etc. Relacionado ainda com esta última característica, é importante

referir que existem hidrogéis classificados como não porosos, em que a capacidade de

intumescimento é inferior à de um hidrogel que contem poros e que podem ter diversos

tamanhos. Por exemplo, micro poros, que variam de 100 Å a 1000 Å, macro poros que podem

atingir tamanhos de 0.1 µm a 1 µm, existem hidrogéis que contêm os designados super poros,

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em que podem estar conectados uns com os outros. A existência de poros facilita a entrada das

moléculas de solvente na cadeia polimérica. [45,59]

Outro parâmetro fundamental para caracterizar os hidrogéis é o intumescimento fracional

que descreve o fluxo de água dentro do hidrogel, equação 3. Em que 𝑙 representa a espessura

do material no estado desidratado, 𝐷𝑤 é o coeficiente de difusão para transportar a água dentro

do hidrogel (no nosso caso, dentro da lente de contacto) e t corresponde ao tempo necessário

para fazer essa difusão. [45, 62]

𝐹𝑤 = 𝑊𝑡

𝑊∞

= 4 (𝐷𝑤𝑡

𝑙2𝜋)

12

(3)

Permeabilidade ao oxigénio

Duas propriedades que estão mutuamente relacionadas, especialmente nas lentes

convencionais, são a permeabilidade ao oxigénio e a capacidade de absorção de água. Lentes

de contacto com elevado conteúdo de água também têm elevada permeabilidade ao oxigénio

tornando-se mais confortáveis ao utilizador. A permeabilidade ao oxigénio é uma propriedade

física das lentes de contacto que representa a capacidade de o material transportar oxigénio.

Sendo representada pela unidade de medida Dk, em que D corresponde ao coeficiente de

difusão, que de uma forma simplificada pode ser definido como a rapidez com que as moléculas

de oxigénio se movem dentro do material e k corresponde ao coeficiente de solubilidade, uma

constante que representa o número de moléculas de oxigénio dissolvidas no material. A unidade

da medida de Dk é 10−11𝑐𝑚2𝑠−1𝑚𝑙 × 𝑂2𝑚𝑙−1ℎ𝑃𝑎, esta unidade é frequentemente omitida por

conveniência. O valor de Dk varia com a temperatura a que o material é sujeito e também com a

natureza do material, mas não varia com a espessura ou forma do material. [45, 61] A expressão

que permite prever a permeabilidade de oxigénio nas lentes convencionais, considerando que o

mecanismo de transporte do oxigénio se deve apenas à difusão através da água é dada pela

equação 4:

𝐷𝑘 = 1,67𝑒0,0379𝑊𝑐 (4)

Molhabilidade

A molhabilidade é outra característica importante das lentes de contacto e pode ser

definida como a capacidade de uma gota de um líquido se espalhar na superfície de um sólido.

Depende da composição química da superfície do material. Nas lentes de contacto em que existe

uma boa molhabilidade, a gota de água é espalhada pela superfície, permanecendo na lente se

nenhum outro estímulo lhe for aplicado. [45,63] Os utilizadores das lentes de contacto

pestanejam em média aproximadamente 11000 vezes por dia, desta forma, é importante manter

uma boa molhabilidade da lente de contacto durante o pestanejar, contribuindo para o conforto

do utilizador, pela redução do atrito entre a pálpebra e a lente, evitando danos na córnea e a

criação de depósitos. [63, 64] A molhabilidade pode ser medida pela utilização da técnica do

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ângulo de contacto que mede a facilidade com que um fluido se espalha pela superfície de um

sólido. Materiais hidrofílicos têm uma boa molhabilidade, ou seja, o ângulo medido entre a

superfície do material e a gota é baixo, contudo em materiais hidrofóbicos a molhabilidade é

inferior e portanto, apresentam um ângulo de contacto superior, tal como pode ser verificado na

Figura 10. [45,64-66]

Figura 10 - Medição do ângulo de contacto. Imagem adaptada de [67].

Atualmente, diversos métodos podem ser usados para medir o ângulo de contacto, tais como

os métodos da gota séssil, a bolha cativa, entre outros. O método da gota séssil é um dos

métodos mais utilizados para medir o ângulo de contacto. Tal como mencionado anteriormente,

consiste na colocação de uma gota de um determinado líquido na superfície de um sólido,

formando um ângulo de contacto que é medido posteriormente traçando a tangente à superfície

do líquido junto ao ponto da superfície onde coexiste o sólido, o líquido e o vapor, tal como pode

ser visualizado na Figura 10. [45, 61] Com base nesta técnica, segundo Van Oss e Giese, [68]

se o ângulo de contacto for superior a 90% o material é considerado hidrofóbico, e se for inferior

a este valor é considerado hidrofílico. O método da bolha cativa para determinação do ângulo de

contacto consiste na submersão do material num líquido e colocação de uma bolha de ar sob a

superfície desse material com o auxílio de uma agulha com a ponta invertida. Enquanto o método

da gota séssil é utilizado para materiais secos, o da bolha cativa é ideal para materiais hidratados

como hidrogéis. [45,61]

Neste trabalho, a molhabilidade das lentes de contacto foi determinada pelo método da

bolha cativa, tal como é descrito num capítulo posterior, em virtude de ser mais relevante estudar

as propriedades do material no seu estado hidratado.

Transmitância

A transmitância é outra propriedade física dos hidrogéis. Pode ser definida como a

quantidade de luz, com um determinado cumprimento de onda, que passa através de uma

determinada amostra (Figura 11). Garantir uma boa transmitância é essencial para manter uma

boa acuidade visual e reduzir a existência de aberrações visuais. [45,61]

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Figura 11 - Principio inerente à transmitância.

Na Figura 11, I0 representa a intensidade do feixe de luz incidente e It é a intensidade do

feixe de luz que alcança o sensor. O cálculo da transmitância é importante pois permite aferir

sobre a capacidade que um hidrogel, que constitui a lente de contacto, tem para ser penetrado

por um feixe de luz. Assim, com base na transmitância o material a ser estudado pode ser

classificado como opaco, translucido ou transparente. No primeiro caso, não há qualquer

passagem de luz através do material, sendo absorvida ou refletida na sua totalidade. Um material

translucido transmite a luz de uma forma difusa, impossibilitando o reconhecimento da imagem

uma vez que se encontra deformada. No último exemplo, materiais transparentes permitem uma

total ou quase total transmissão da luz, sendo possível ver através dos mesmos uma vez que a

absorção e reflexão da luz por parte do material é muito próxima de zero. [45, 61] Esta

propriedade é medida por um espectrofotómetro que irá ser descrito em maior detalhe num

capítulo posterior. Utilizando a equação 5, o valor da absorvância, a um dado comprimento de

onda, corresponde à capacidade dos materiais em absorver radiação, também nos permite

calcular o valor da transmitância, por manipulação da equação 5, obteve-se a equação 6:

%𝑇 = 𝐼𝑇

𝐼0 × 100 (5)

%𝑇 = 10−𝐴𝜆 × 100 (6)

Biocompatibilidade

Um outro parâmetro importante nas lentes de contacto é a biocompatibilidade. As lentes

de contacto não devem produzir qualquer efeito nefasto sobre o tecido ocular e o seu

comportamento não deve depender de alterações do meio envolvente, como por exemplo,

alterações de temperatura, pH ou humidade a menos que se tratem de hidrogéis “inteligentes”

com funções específicas. [45, 61]

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Condutividade térmica

A condutividade térmica é também uma importante característica das lentes de contacto,

estando relacionada com a capacidade das lentes de dissiparem calor do tecido ocular,

nomeadamente a córnea. Idealmente, a lente de contacto deveria permitir o mesmo nível de

dissipação de calor quando comparado com o nível de dissipação de calor existente no sistema

ocular quando não há qualquer lente colocada. Esta característica é importante para evitar o olho

seco ou vermelhidão no sistema ocular. O filme lacrimal exerce também uma importante tarefa

na regulação da temperatura. [45,61]

Outras propriedades

Existem algumas outras características que as lentes de contacto devem possuir para

permitir a sua utilização de forma cómoda. Por exemplo a dureza e consistência do material,

devem ser tais que garantam que a lente de contacto mantêm a sua estrutura e propriedades

físicas durante a sua utilização. [61,69]

A rugosidade do material é também importante, uma vez que estando as lentes em

contacto direto com a córnea e a conjuntiva, devem evitar que ocorram agressões aos tecidos

oculares. [45,61,69]

O coeficiente de atrito, que está relacionado com a hidratação da lente de contacto,

também é determinante para o conforto e bom desempenho da lente. Uma lente desidratada terá

uma maior fricção com a pálpebra e com a superfície da córnea do que uma lente com elevados

níveis de hidratação. [45,61]

Por último, a ionicidade das lentes de contacto, está relacionada com a carga

electroestática das lentes ou ausência desta, no caso de serem, respetivamente polímeros

iónicos ou não, sendo a adsorção de proteínas superior nos materiais iónicos. [45,61,69]

1.5.3. Efeito das lentes de contacto no olho

A utilização das lentes de contacto pode resultar em alguns problemas ou alterações de

certas partes do olho devido a agressões que possam ocorrer ou até mesmo devido a situações

de hipoxia, infeções, reações imunológicas, etc. A córnea é o tecido que está mais exposto e

portanto sofre mais agressões. Estes problemas podem variar com o tipo de lente de contacto.

As lentes de contacto macias são vantajosas quando comparadas com as lentes de contacto

rígidas em que é mais comum ocorrer o trauma da córnea e uma elevada quantidade de

depósitos se podem acumular entre o olho e a lente de contacto. [70,71]

Como já foi dito anteriormente, as lentes de contacto acabam por ser uma barreira que

impede o contacto direto da córnea com o meio ambiente, afetando a exposição deste tecido ao

ar e a produção de lagrimas. Assim, a espessura das lentes de contacto, o tipo de material, o

tamanho das lentes, entre outros fatores, acabam por ser determinantes no efeito que as lentes

de contacto provocam no sistema ocular. [72-74]

Relacionado com a privação de oxigénio, podem ocorrer alguns fenómenos na córnea

como por exemplo a anoxia, que ocorre quando a córnea está completamente privada de

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oxigênio, acabando por ser um estado mais grave que a hipoxia que ocorre quando a córnea tem

alguma privação de oxigênio. Também pode ocorrer a hipercapnia devido a uma acumulação de

dióxido de carbono nas células do tecido corneal. É necessário manter um metabolismo normal

da córnea para esta manter a sua função e aspeto dentro da normalidade, tais como a

temperatura corneal, produção celular, entre outros. [72-75]

A córnea tem a capacidade de regenerar continuamente o epitélio, reparando rapidamente

as áreas lesadas. Para garantir uma boa regeneração do epitélio é necessário a existência de

uma boa quantidade de células estaminais. O uso contínuo das lentes de contacto afeta o

número e a qualidade das células estaminais, tornando a córnea mais vulnerável a lesões como

por exemplo a queratites que passam a ocorrer com alguma frequência. A fragilidade que o tecido

corneal apresenta com o uso de lentes de contacto está também relacionada com o ambiente de

hipoxia. uma vez que este ambiente provoca a redução da mitose celular e consequentemente

o tempo de vida das células aumenta, para compensar o facto de novas células não substituírem

as antigas, o que implica uma redução na capacidade de resistência destas células e aumento

da probabilidade de aparecerem lesões. Todas as lentes de contacto durante as primeiras 48

horas de utilização incluindo a utilização durante a noite, diminuem a proliferação celular, para

níveis semelhantes aos que ocorrem quando os olhos estão fechados durante a noite

[50,70,74,75]

Apesar do que foi dito nos capítulos anteriores sobre o facto de a córnea ser avascular,

esta característica é alterada com a utilização contínua das lentes de contacto, verificando-se

uma tendência de crescimento vascular na córnea a partir dos tecidos circundantes. [50]

Relativamente ao filme lacrimal, este exerce uma função importante na manutenção das

propriedades óticas e térmicas do sistema ocular, sendo afetado com a utilização contínua das

lentes de contacto, uma vez que, como se disse acima, a produção lacrimal fica afetada, podendo

ocorrer compartimentalização do filme lacrimal por algumas zonas da lente de contacto. Devido

a essa instabilidade há uma maior probabilidade de acumulação de depósitos como por exemplo

células mortas, metabolitos, lípidos, etc. [50,70]

Em suma, todas as lentes de contacto afetam a superfície ocular, contudo, essas

alterações são bastante mais severas com lentes de contacto rígidas. [76,77] A utilização das

lentes de contacto durante a noite agrava as alterações provocadas pelas lentes de contacto.

Uma alternativa para reduzir os níveis de hipoxia é a utilização de lentes de contacto de silicone

uma vez que têm uma boa transmissibilidade de oxigênio. As lentes de hidrogel são

recomendadas quando é necessário manter um filme lacrimal estável, apresentando vantagens

na regeneração celular. As alterações provocadas na córnea pelas lentes de contacto podem ser

parcialmente ou totalmente revertidas quando o uso das lentes de contacto é descontinuado.

[50,78]

1.5.4. Lentes de contacto comerciais utilizadas

Como dito anteriormente, neste trabalho são usados dois tipos distintos de lentes, as

lentes PureVison (PV), de silicone, e as SofLens (SL), lentes convencionais de hidrogel,

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comercializadas pela Bausch&Lomb. Neste capítulo ir-se-á fazer algumas considerações sobre

estas lentes de contacto.

As PV foram aprovadas em fevereiro de 1999 como sendo lentes de contacto de uso diário

ou uso entre 1 a 30 dias. Apesar de nos Estados Unidos da América estas lentes apenas

poderem ser usadas no máximo até 7 dias, em ambos os casos é necessário remover

diariamente as lentes para limpeza e desinfeção. São lentes indicadas para corrigir a miopia e a

hiperopia. São constituídas por um hidrogel de silicone, o Balafilcon A, considerado um hidrogel

iónico, que tem como constituintes o Tris(trimetilsiloxano)sililpropilvinil Carbamato (TPVC), N-

Vinilpirrolidona (NVP), N-Carboxivinil Ester (NCVE) e o (PBCV), cuja estrutura química é indicada

na Figura 12. [17,21,79]

Estas lentes de contacto apresentam uma baixa percentagem de água (cerca de 36%),

mas apresentam uma elevada permeabilidade ao oxigénio com um Dk = 110. Esta característica

está relacionada também com o facto de estas lentes terem mais poros que outros hidrogéis

utilizados na fabricação de lentes de contacto. Estas lentes são constituídas por cadeias flexíveis

contendo siloxano. Que também permitem elevados níveis de permeabilidade de oxigênio. Dado

que o silicone é um material hidrofóbico, não é confortável para o doente, sendo necessário

recorrer a tratamentos superficiais, como por exemplo tratamentos com plasma, para tornar as

lentes mais hidrofílicas, ou seja, para tornar as lentes mais humectáveis, permitindo a

estabilidade do filme lacrimal e minimização da criação de depósitos de partículas e bactérias.

No caso do tratamento com plasma, que é feito nas PV, os componentes de silicone presentes

na superfície da lente de contacto, são transformados em silicatos, que são componentes

hidrofílicos. O próprio fabricante indica que a utilização continuada destas lentes de contacto

pode levar a uma insuficiente secreção lacrimal, conduzindo ao olho seco, vermelhidão e até ao

surgimento de alguma irritação ocular, tal como uma redução da sensibilidade corneal. As PV

têm uma forma bicurva, em que a parte periférica da lente é mais espessa, este design é

vantajoso pois permite um fácil manuseamento garantindo total conforto durante a utilização das

lentes de contacto, melhorando a estabilidade da lente evitando que, quando colocadas no olho,

ocorram deslocações laterais da lente. A estabilidade e a centralidade das lentes de contacto

são características importantes pois melhoram a cura/proliferação epitelial das células corneais

e evitam que o doente tenha desconforto ao sentir a deslocação da lente. [80-84]

As outras lentes estudadas foram as SL, são lentes de contacto macias de uso diário,

descartáveis. Segundo o fabricante, estas lentes são indicadas para a correção de doenças

refrativas como por exemplo a miopia, hiperopia e estigmatismo. Para facilitar o seu

manuseamento, são lentes que apresentam uma ligeira tonalidade azul, são esféricas e

extremamente flexíveis, o seu tamanho permite cobrir a córnea e a parte adjacente da esclera.

Sendo o HEMA um dos seus principais constituintes, estas lentes são hidrofílicas. O conforto na

utilização destas lentes é otimizado pela sua reduzida espessura e pelo seu design, reduzindo o

atrito ao pestanejar e pela manutenção do filme lacrimal existente em volta da lente de contacto.

Além disso, estas lentes apresentam uma boa acuidade visual, comodidade extraordinária e são

resistentes à desidratação garantindo uma baixa adesão de depósitos. O material que constitui

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estas lentes de contacto é o Hilafilcon B, um polímero não iónico, apresenta um elevado conteúdo

de água e é constituído pelos seguintes polímeros: Hidroxietil Metacrilato (HEMA), Ácido

Metacrílico (MAA), N-Vinilpirrolidona (NVP) e o Etileno Glicol Dimetacrilato (EGDMA), cuja

estrutura química é indicada na Figura 13. [85-88]

Apesar de as lentes de contacto de hidrogel serem mais macias que as restantes lentes

de contacto, devido ao seu maior teor de água (59%) e terem uma boa estabilidade química e

física, têm uma baixa permeabilidade ao oxigénio uma vez que o mecanismo de permeação do

oxigênio é diferente: ao contrário das lentes de silicone em que o oxigénio se difunde por

interação com os grupos de siloxano presentes na estrutura do silicone, nas lentes de hidrogel

convencionais como as SL, o oxigênio difunde-se apenas no seio da água presente na lente,

sem qualquer interação química com a matriz polimérica. Esta baixa permeabilidade revela-se

um problema devido às necessidades que a córnea tem, uma vez que esta é avascular,

recebendo o oxigênio necessário a partir do meio ambiente e das lágrimas/camada lacrimal. Na

tabela 3, são descritas algumas das características destas lentes de contacto. [87-90]

Figura 12 - Componentes do Balafilcon A (lentes PV). Imagem adaptada de [88].

Figura 13 - Componentes do Hilafilcon B (lentes SL). Imagem adaptada de [88].

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Tabela 3 - Características das lentes de contacto.

PureVision SofLens

Fabricante Bausch & Lomb Bausch & Lomb

Material Balafilcon A Hilafilcon B

Tempo de uso Diário ou até 30 dias Diário

Método de fabrico Moldagem Moldagem

Tinta de visibilidade Azul claro Azul claro

Transmissão de oxigênio (Dk) 101 22

% H2O 36% 59%

Espessura central (mm) 0,07 0,14

Zona ótica (mm) 9 9

Raio de curvatura (mm) 8,6 8,6

Diâmetro (mm) 14 14,2

Ambas as lentes de contacto são comercializadas dentro de um reservatório contendo

uma solução salina para manter a lente hidratada até ao momento em que é usada. O

reservatório contem informação sobre o lote da lente fabricada, o seu diâmetro, data de validade,

curvatura e graduação.

A escolha entre qual das lentes de contacto a utilizar deve recair sobre o tempo de uso

das lentes, qual o tipo de doença/defeito a ser tratada/corrigida e sobre as necessidades

fisiológicas inerentes ao olho do paciente.

Seguidamente descrevem-se alguns dos principais monómeros presentes nas duas lentes

de contacto estudadas. Assim, na tabela 4 pode ser visualizada uma lista e a descrição dos

principais monómeros utilizados nas PV e SL. [88, 91,92]

Tabela 4 - Monómeros presentes nas lentes de contacto.

HEMA

Um dos monómeros mais utilizados nas lentes de contacto hidrofílicas. Tem um

grupo hidroxilo, responsável por garantir a molhabilidade da lente de contacto,

garantindo o conforto ao utilizador da lente de contacto.

MAA É um monómero extremamente hidrofílico devido ao grupo carboxilo (COOH).

NVP

É conhecido devido à sua elevada hidrofilicidade e é responsável por aumentar

entre 50% a 80% os valores de molhabilidade dos materiais onde está presente.

O seu polímero (PVP) tem uma importante função devido à sua capacidade de

diminuir o depósito de lípidos quando comparado com o seu monómero. Reduz

o atrito na interação da lente com a pálpebra.

EGDMA É útil para estabilizar as cadeias poliméricas de uma determinada estrutura

tridimensional. É frequentemente utilizado como cross-linker.

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1.6. Fármacos oculares utilizados

Com o objetivo de corrigir/curar determinadas doenças oculares, existem diversos

fármacos que podem ser utilizados. O glaucoma é conhecido como uma doença causada pela

deterioração do nervo ótico podendo causar a cegueira, essa deterioração pode ser causada

pela excessiva pressão ocular. O timolol é frequentemente utilizado no tratamento desta doença,

pela diminuição da produção de líquido intraocular. Existem fármacos como a clorohexidina

(CHX) e a levofloxacina (LEVO) que serão descritos em maior detalhe neste capitulo e que, tal

como foi dito anteriormente, foram utilizados neste trabalho. [70-72]

A LEVO é considerado um antibiótico (fluoroquinolona) altamente solúvel com efeitos no

combate às bactérias e pode ser usada por administração oral ou tópica. Apesar de ser utilizada

no tratamento de doenças oftalmológicas, pode ser usada no tratamento de outras doenças como

por exemplo a sinusite, infeções do trato respiratório, infeções da pele e tecido subcutâneo entre

outras. Relativamente à sua aplicabilidade oftalmológica, a LEVO é muito utilizada no tratamento

da conjuntivite que pode ter diversas causas, como por exemplo pela presença de patogénicos

oculares, etc. [31, 91-94] A sua estrutura química pode ser visualiza na Figura 14. A atividade

antimicrobiana da LEVO é devida ao seu L-isómero que, segundo os estudos efetuados, tem

uma atividade antimicrobiana entre 8 a 128 vezes superior à atividade do D-isómero. Esta

diferença está relacionada com a maior afinidade de ligação da DNA-girase do L-isómero. A

levofloxacina é considerado um composto ativo contra patogénicos oculares gram-negativos e

gram-positivos. [93-95]

Figura 14 - Estrutura química da levofloxacina. [96]

As fluoroquinolonas têm uma atividade inibitória contra duas enzimas: a DNA girase e a

topoisomerase II. A primeira enzima tem um papel importante no enrolamento do DNA, tendo

uma ação fundamental na replicação, transcrição, reparação e recombinação do DNA. Por sua

vez, a topoisomerase II garante que o DNA se solta corretamente. [97-99] Comparando a

levofloxacina com outras fluoroquinolonas, a levofloxacina apresenta uma elevada solubilidade

o que permite ter uma grande taxa de penetração no sistema ocular e não apresenta qualquer

problema ao nível de ensaios laboratoriais. [99,100]

Page 41: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

26

A CHX é um antissético que demonstra uma atividade antifúngica e antibacteriana de

largo espectro com uma vasta gama de aplicabilidade no tratamento de doenças oculares. Além

disso, possui também ação bacteriostática inibindo a proliferação bacteriana. A CHX é conhecida

como um fármaco com ação inibitória sobre grande parte das bactérias gram-positivas e gram-

negativas tal como alguns fungos e vírus, sendo também eficiente no tratamento de alguns

protozoários. A CHX tem uma solubilidade relativamente reduzida quando comparada com

outros antisséticos. [101,102] Os primeiros testes efetuados para investigar a eficiência da

componente bactericida da CHX começaram na década de 70 com os cientistas a detetarem

uma rápida taxa de absorção do fármaco por parte das bactérias, alcançando o efeito máximo

em bactérias e leveduras em apenas 20 segundos, sendo que a eficiência deste fármaco está

dependente de fatores como a concentração de fármaco e o pH da solução ou do tecido em que

é aplicado. Estudos in vitro mostraram que a utilização de diferentes concentrações de CHX em

bactérias e levaduras podem resultar em comportamentos distintos que vão desde lesões na

membrana celular e membrana plasmática até à precipitação e coagulação de proteínas do

citoplasma. [103-106] A estrutura química da CHX pode ser visualizada na Figura 15.

Figura 15 - Estrutura química da clorohexidina. [107]

1.6.1. Barreiras e rotas dos fármacos

Na Figura 16 é possível visualizar os diferentes caminhos que um fármaco administrado

no sistema ocular pode seguir e também as formas como o fármaco pode ser eliminado.

Apesar das desvantagens, atualmente a administração tópica de fármacos é o método

mais utilizado no tratamento de doenças oculares, apesar de ser pouco eficiente, uma vez que

uma elevada percentagem do fármaco é eliminado antes de alcançar os tecidos-alvo. A

administração tópica, como dito anteriormente conduz a uma baixa biodisponibilidade devido ao

reduzido tempo de contacto e ação do fármaco. Contudo existe uma determinada quantidade do

fármaco que é absorvida pelo epitélio. Quando o fármaco alcança o humor aquoso, consegue

alcançar com relativa facilidade os corpos ciliares e a iris. Ao mesmo tempo, o fármaco é

eliminado do humor aquoso de duas formas distintas: devido ao turnover, que é independente

da quantidade de fármaco administrada, e através dos vasos sanguíneos. Esta última forma de

eliminação do fármaco está dependente da capacidade deste alcançar os vasos sanguíneos

passando os diferentes epitélios até alcançar a corrente sanguínea. [108-110]

Uma elevada percentagem do total de fármaco administrado é perdido logo na superfície

ocular devido ao filme lacrimal. De facto o filme lacrimal tem como função remover elementos

estranhos e o excesso de líquido que possa existir na superfície ocular, portanto, ao ser libertado

Page 42: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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fármaco no sistema ocular, o excesso de filme lacrimal é canalizado em grande parte para os

ductos nasolacrimais e, praticamente ao mesmo tempo, devido à absorção sistêmica, ocorre a

absorção do fármaco pelos vasos sanguíneos. Desta forma, a quantidade de fármaco disponível

no sistema ocular para tratar os tecidos alvo é reduzido. [108, 111-113]

Uma das alternativas para ultrapassar as desvantagens inerentes a este método é a

administração transcorneal, em que o fármaco é administrado no fluido lacrimal na câmara

anterior (número 1 da Figura 16). Este método é utilizado também quando os tecidos-alvo estão

localizados numa parte mais externa do sistema ocular, permitindo reduzir as perdas de fármaco

que são frequentes por exemplo durante a administração tópica.

Uma outra forma é a administração do fármaco dentro do humor vítreo que também é

usado quando os tecidos-alvo estão localizados na parte interior do olho (número 7 da Figura

16). Esta administração é feita através da esclera, uma vez que este tecido é mais permeável

que a córnea. [70,108-112] O tipo de tecido alvo e a sua localização são fatores determinantes

na escolha da via de administração do fármaco. [109]

Figura 16 - Principais rotas de administração e eliminação dos fármacos quando aplicados no sistema ocular. Imagem editada de [108]. As setas a tracejado representam formas de eliminação do fármaco. As setas totalmente preenchidas representam os diversos caminhos que os fármacos podem assumir quando administrados no olho. Os números representados correspondem a: 1 - administração transcorneal, 2 - penetração do fármaco pela conjuntiva e esclera dentro da úvea anterior, 3 - distribuição do fármaco desde a corrente sanguínea para a câmara anterior, 4 - eliminação do fármaco pelo turnover do humor aquoso 5 - eliminação do fármaco pela circulação sistémica dos vasos sanguíneos presentes na iris, 6 - libertação do fármaco da corrente sanguínea para o humor vítreo, 7 - administração do fármaco dentro do humor vítreo, 8 - eliminação do fármaco por absorção da corrente sanguínea da retina, 9 - eliminação do fármaco por passagem da câmara anterior para a câmara posterior. [70,108]

A libertação controlada de fármacos através de lentes de contacto é dificultada pelas

barreiras naturais do olho. Essas barreiras, tais como a superfície ocular, fluido lacrimar entre

outras, são os principais fatores responsáveis pelas perdas durante os caminhos que o fármaco

assume quando é aplicado no sistema ocular. [108]

Page 43: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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Além dos fatores referidos, a taxa com que ocorre a absorção corneal é influenciada pela

natureza do fármaco, por exemplo um fármaco hidrofílico tem uma taxa de permeabilidade

corneal superior a um fármaco hidrofóbico, entre outros fatores. [108,111]

1.6.2. Sistemas de Libertação de Fármacos (SFL)

Os sistemas de libertação de fármacos têm sido alvo de forte desenvolvimento nos últimos

anos. Desde os anos 80 que diversos cientistas encaram os SLF como sistemas promissores e

identificam potencial na melhoria das condições de vida de pessoas com doenças oculares. De

uma forma geral, os SLF podem ser definidos como formulações/abordagens tecnológicas para

a veiculação de fármacos com uso terapêutico, que garantem uma libertação prolongada. Estes

sistemas podem ser utilizados em diferentes áreas como a ortopedia, oftalmologia entre outras.

[21]

Relacionado com este trabalho, apenas nos interessa abordar o tema dos SLF no âmbito

da oftalmologia. Nesta área, estes sistemas são encarados como promissores substitutos das

gotas oftálmicas, ultrapassando as desvantagens que as gotas apresentam e que já foram

descritas nos capítulos anteriores. Assim, pode-se complementar a definição anterior dos SLF

acrescentado que têm como objetivo garantir que a libertação de fármacos no olho seja feita de

forma gradual, evitando picos de concentração de fármaco no olho com o objetivo de reduzir os

efeitos secundários causados pelas elevadas concentrações de fármaco observadas nos

instantes iniciais da administração do fármaco pelo uso de gotas. Apesar de terem sido feitas

diversas tentativas de aumentar o tempo de residência no olho dos fármacos aplicados, por via

tópica (gotas), pela incorporação de promotores de viscosidade, mico emulsões, nanopartípulas,

a concentração do fármaco administrado por gotas oftálmicas atinge rapidamente o nível mínimo

de eficiência do fármaco, uma vez que este é eliminado de diferentes formas, sendo o tratamento

eficiente apenas na fase inicial de administração do fármaco. No caso das gotas chega-se a

atingir níveis claramente acima do limite tóxico do fármaco, produzindo efeitos não desejáveis.

Assim, os SLF pretendem garantir que o fármaco permaneça em contacto com o olho pelo tempo

necessário para produzir efeitos benéficos para o paciente, sempre com níveis de concentração

abaixo do limiar tóxico. Além das vantagens fisiológicas para o paciente, há também razões

económicas associadas à utilização dos SLF, uma vez que uma administração farmacológica

controlada reduz a quantidade de fármaco necessária para se atingir os mesmos efeitos das

gotas oftálmicas. [57,114-116]

Têm sido desenvolvidas bastantes pesquisas utilizando diferentes técnicas/abordagens

com o objetivo de desenvolver sistemas capazes de libertar fármacos, com uma cinética passível

de ser reproduzida, e onde seja possível prever o comportamento da libertação do fármaco.

Existem diferentes tipologias dos SLF aplicadas à oftalmologia, nomeadamente sistemas

coloidais, de natureza lipídica como por exemplo os lipossomas, abordagens de natureza

polimérica, sendo estes os mais investigados e existem ainda abordagens que utilizam escudos

de colagénio para proteger o olho e promover a libertação farmacológica e adesão epitelial. Os

SLF podem ser classificados de diversas formas, tendo em conta o seu estado físico, (sólidos,

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líquidos, semi-sólidos), classe de materiais utilizados (poliméricos ou não poliméricos), tipo de

agente terapêutico entre outros critérios. Existe uma extensa bibliografia sobre SLF, explorando

diferentes técnicas e metodologias. [116-119]

O uso de polímeros na conceção de SLF é também frequentemente utilizada no

desenvolvimento e investigação de SLF, uma vez que estes materiais reúnem características

interessantes para este tipo de sistemas como por exemplo a sua versatilidade, variedade de

materiais e um conjunto de características físico-químicas que faz deles materiais interessantes

no desenvolvimento de SLF. Atualmente, o desenvolvimento de novos SLF, cada vez mais

promissores, está a ser feito em conjunto com o desenvolvimento de novos polímeros com

características cada vez mais específicas, de acordo com o interesse final com o qual foram

concebidos, garantindo sempre que são produtos não tóxicos e biocompatíveis. [117]

Existem diversas características que devem ser tidas em conta na elaboração/escolha de

um polímero para ser constituinte dos SLF, como por exemplo, se este material é hidrófilico ou

hidrofóbico, se é ou não biodegradável, etc. Existem ainda alguns polímeros que podem ser

classificados como bioerodíveis – são polímeros que apesar de não serem degradados pelo

organismo por ação de enzimas ou por hidrólise, podem ser dissolvidos em condições

fisiológicas. [118] Seguidamente, apresenta-se uma lista de polímeros sintéticos utilizados no

desenvolvimento de SLF, tabela 5. Notar que existem também polímeros naturais e semi-

sintéticos. Os polímeros apresentados na tabela, são os mais comuns:

Tabela 5 – Lista dos polímeros mais comuns biodegradáveis e não biodegradáveis, utilizados no desenvolvimento de SLF. [117-119].

Polímeros biodegradáveis Polímeros não biodegradáveis

Poliésteres: poli(ácido láctico) – PLA, poli(ácido glicólico) – PGA

Acrilatos: poli(metacrilato de metilo) – PMMA, poli(metacrilato de 2-hidroxietilo) – PHEMA

Poliésteres Poliacrilamida

Polifosfazenos Polidimetilsiloxano – PDMS

Polianidridos Polietilenoglicol – PEG

Poliuretanas Copolímeros de Acetato Vinil de Etileno – EVA

Poliaminoácidos sintéticos Polivinilpirrolidona – PVP

Muitos dos polímeros utilizados como SLF são hidrogéis. Além das formas de classificação

de hidrogéis enumeradas anteriormente, os SFL podem estar classificados de acordo com a

forma como ocorre a libertação do fármaco, Figura 17:

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Figura 17 - Sistemas de libertação presente nos SLF. [120]

Os principais são os sistemas de libertação por ação química (i), sistema de libertação

ativados por solvente (ii), sistema de libertação controlado por difusão (iii). [120]

Os sistemas de libertação de fármacos ativados por ação química estão divididos em

sistemas de cadeias pendentes e sistemas biodegradáveis. No primeiro caso, as moléculas de

fármaco encontram-se quimicamente ligadas à cadeia do polímero, apesar de as ligações

poderem ser degradadas facilmente, provocando a libertação gradual do fármaco; nos sistemas

biodegradáveis, o fármaco está dissolvido numa matriz polimérica biodegradável e à medida que

o polímero se vai degradando, assim o fármaco vai-se libertando. [120]

Os sistemas de libertação ativados por solventes, como é o caso dos sistemas controlados

por pressão osmótica, consistem num reservatório, com uma solução de fármaco no seu interior

em que o volume permanece sempre constante e que possuem uma membrana polimérica

permeável, as diferenças de pressão entre o exterior e o inteiro do reservatório, são responsáveis

pela saída da solução saturada do interior para o exterior pela entrada de água no reservatório.

Por último, existem os sistemas de libertação controlada por difusão que se dividem em

sistemas de reservatório e sistemas matriciais. Nos sistemas de reservatório, o fármaco está

concentrado num núcleo, rodeado por uma membrana polimérica não biodegradável e é

difundido lentamente. Num sistema matricial, o fármaco está distribuído de forma uniforme pelo

material polimérico. Neste tipo de sistemas, alguns dos fatores que determinam a taxa de

libertação do fármaco são as características da membrana polimérica do material em que o

fármaco está envolvido, as características do fármaco e a natureza da interação entre o fármaco

e a matriz. [120]

Até agora, foram descritos os vários tipos de SLF aplicados a diversas áreas, contudo,

apenas nos interessa detalhar estes sistemas na área oftalmológica. E também nesta área,

existem diversas publicações sobre este tema abordando técnicas e sistemas distintos para

melhorar o perfil de libertação de fármacos. Por exemplo, a incorporação de sistemas coloidais

como mico emulsões, lipossomas e micelas dentro de lentes de contacto, conforme referido em

estudos levados a cabo por Gulsen e Chauhan [22,121,122] e Kapoor e Chauhan [123,124], têm

particular interesse porque recorrem à utilização de dispositivos médicos já estudados e

Sistemas de libertação

Ativação por ação química

Cadeias pendentes

Sistemas biodegradáveis

Ativação por por solvente

Pressão osmótica

Ativação por difusão

Sistemas de reservatório

Sistemas matriciais

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genericamente bem aceites pela população que utiliza lentes de contacto. Os lipossomas

permitem incorporar tanto fármacos hidrofílicos como hidrofóbicos uma vez que, quando os

lipossomas são formados na presença de fármaco, este pode alojar-se dentro da camada lipídica

ou dentro do compartimento aquoso. Contudo, estes sistemas apresentam como desvantagens

a instabilidade biológica e o encapsulamento instável dos fármacos nos lipossomas. [125,127-

129] Dos diversos estudos realizados com SLF usando lipossomas para administração tópica, o

trabalho realizado por Diebold et al. [116], tem especial interesse, onde criaram um complexo de

nanoparticulas de lipossomas e quitosano (CNLQ), permitindo, além de outras vantagens, dar

uma maior estabilidade biológica aos lipossomas. Os testes foram efetuados tanto in vitro como

in vivo. De facto, este grupo de investigação pretendeu, com uma combinação adequada entre

estes dois componentes, aumentar a versatilidade do sistema, em termos da interação com

superfícies biológicas com potencial para libertar fármacos em tecidos alvo. Neste estudo foram

usadas três diferentes misturas lipídicas, com diferentes molaridades, com o objetivo de obter

três formas distintas sólidas de lipossomas. Verificou-se que a distribuição do fármaco dentro do

complexo depende da formulação, além disso, tanto in vitro como in vivo surgiram resultados

promissores.

Li et al. [130], foram um pouco mais longe e além de testarem a interação dos lipossomas

revestidos com quitosano de baixo peso molecular com os tecidos biológicos, também testaram

o perfil de libertação destas estruturas, usando diclofenac de sódio. Este grupo verificou que o

revestimento com quitosano alterou a carga da superfície dos lipossomas e aumentou

ligeiramente o tamanho destes sem afetar o encapsulamento do fármaco. Além disso, verificou-

se um perfil prolongado de libertação do fármaco chegando a atingir os 30 dias. A retenção

corneal de lipossomas com quitosano foi superior ao registado quando os mesmos testes foram

realizados com lipossomas sem revestimento. Outros investigadores mostraram que o uso de

lipossomas com coating apresentam melhores resultados tanto ao nível da libertação de

fármacos como ao nível da estabilidade biológica dos lipossomas, como é o caso dos trabalhos

levados a cabo por de Klibanov et al, Blume et al, Wollina et al. entre outros. [126-128]

Uma outra abordagem que a par dos lipossomas, tem sido amplamente estudada nos

últimos anos, é o uso de nano partículas. Com resultados promissores como SLF devido à forma

eficiente como se consegue prolongar a libertação de fármacos. As nanopartículas podem ser

definidas como sendo pequenas capsulas rodeadas por uma membrana polimérica com uma

cavidade no interior. Chauhan et al. têm feito avanços significativos neste campo, por exemplo,

através da produção de nanoparticulas de timolol. O objetivo dos estudos do Chauhan é o de

melhorar o encapsulamento dos fármacos e aumentar a sua biodisponibilidade. No artigo [54], o

grupo do Chauhan conseguiu melhorar o perfil de libertação de Timolol de 1-2h para intervalos

entre 2 a 4 semanas, através da incorporação de partículas altamente reticuladas com

monómeros de EGDMA e triacrilato de tropoxilato de glicerol (PGT), a reticulação das partículas,

que tinham um tamanho de cerca de 3.5 nm permitiram obter um perfil de libertação do Timolol,

a que se ajustou uma equação de primeira ordem. Um dos pontos de destaque neste artigo é o

facto de, em condições de armazenamento a baixas temperaturas, esta abordagem permitir

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manter praticamente as mesmas quantidades de fármaco armazenado na lente ao longo do

tempo. Contudo, quando o lente é colocada no olho, o aumento da temperatura ocular faz com

que o timolol seja libertado.

Num estudo posterior, Chauhan et al. [55] verificaram o efeito das condições de packaging

na libertação do fármaco durante o armazenamento. Constataram novamente que a baixas

temperaturas, a quantidade de fármaco libertado durante o armazenamento das lentes é

reduzida significativamente quando comparada com a libertação à temperatura ambiente.

Segundo este estudo, as ligações entre o fármaco utilizado, timolol, e as partículas deverão

depender da temperatura.

Uma outra estratégia promissora na libertação farmacológica é a impressão molecular de

hidrogéis. Uma das particularidades inerentes a estes sistemas, é a sua capacidade de libertação

controlada por feedback: estando dependente da concentração de biomoléculas, permite a

libertação do fármaco quando essa molécula atinge uma determinada concentração, por sua vez,

o fármaco libertado ao atuar sobre o organismo/estruturas oculares, promove a diminuição da

concentração da biomolécula ativadora. Este tipo de regulação poderá ser aplicado quando, uma

doença ou lesão, está associada a uma biomolécula específica e que, essa concentração esteja

relacionada com a severidade dessa lesão/doença, podendo ser útil por exemplo, no caso da

diabetes Mellitus TIPO 1. [129-132]

Uma outra abordagem são os escudos de colagénio, usados maioritariamente a seguir às

cirurgias em condições traumáticas da córnea, permitindo a sua proteção, proliferação epitelial e

libertação de fármacos se estes forem previamente incorporados. Esta abordagem apresenta

algumas vantagens como por exemplo, a biodegradação do colagénio, rápido intumescimento,

etc. [133,134]

Figura 18 - Escudo de colagénio corneal colocado no olho de um paciente com queratite bacteriana. Imagem editada de [135].

Há também algumas investigações no desenvolvimento de dispositivos implantáveis com

o objetivo de permitirem a libertação controlada de fármacos. Estes dispositivos podem ser

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construídos com diferentes materiais e serem concebidos para tratar estruturas oculares

especificas. Estes dispositivos podem ser biodegradáveis, apresentando como vantagem o

reduzido número de cirurgias a que o paciente é sujeito. Contudo, dadas as limitações fisiológicas

e anatómicas de algumas estruturas oculares para eliminar os detritos provocados pela

biodegradação do material, por vezes, é vantajoso usar dispositivos não biodegradáveis. O

princípio base de cada uma destas abordagens é também diferente, isto é, enquanto o fármaco

nos sistemas implantáveis de libertação controlada de fármacos não biodegradáveis é colocada

dentro de um reservatório rodeado por uma membrana não biodegradável, permitindo uma

cinética de libertação de fármaco de ordem zero [136-138], os sistemas de libertação de

fármacos através de dispositivos biodegradáveis têm como principio a dispersão do fármaco

numa matriz polimérica biodegradável ou então, a sua incorporação num reservatório

biodegradável coberto por uma membrana biodegradável. No primeiro caso, o fármaco é

libertado por uma combinação da difusão e da degradação do polímero, em que é possível

detetar três fases distintas, iniciando-se com uma libertação abrupta, passando para uma fase

de difusão mais moderada e terminando numa terceira fase de libertação de fármaco mais

abrupta. No outro principio enumerado, o fármaco vai-se difundindo principalmente pelos poros

da membrana à medida que esta se degrada. [138-141]

Num artigo de revisão recente [142] sobre os diferentes dispositivos implantáveis para

libertação controlada de fármacos a nível ocular é feita a descrição de diversos dispositivos

implantáveis, biodegradáveis e não biodegradáveis que já se encontram no mercado e

aprovados pela FDA. Na tabela 6 são listados alguns desses dispositivos e é dada uma breve

descrição dos mesmos:

Tabela 6 - Lista de dispositivos implantáveis utilizados como SLF a nível ocular.

Nome/ natureza do dispositivo

Descrição

Vitrasert

É um implante não biodegradável que contem ganciclovir para o tratamento de

um tipo específico de retinite. O dispositivo foi aprovado em 1996 pela FDA. O

fármaco (4,5 mg) é rodeado por álcool polivinílico (PVA) e camadas de etileno

vinil acetato (EVA) para controlar a libertação de fármaco. O dispositivo é inserido

por cirurgia dentro do humor vítreo, ocorrendo a posterior saturação da zona onde

ocorreu o implante. A libertação pode durar até 8 meses. [143,144]

Retisert

Foi o segundo implante não biodegradável a ser aprovado pela FDA. Contem

acetonida de fluocinolona para o tratamento da uveíte. Este fármaco (0,59 mg) é

anexado a um tubo de PVA e revestido com camadas de PVA e silicone,

permitindo a difusão do fármaco. Este dispositivo é inserido na esclera, podendo

libertar fármaco por cerca de 2 anos e 6 meses. [145,146]

Iluvien Foi recentemente aprovado pela FDA como um SLF não degradável, contendo

acetonida de fluocinolona (0,19 mg) para o tratamento de edemas da mácula.

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Este dispositivo é constituído por um pequeno tubo cilíndrico com uma membrana

no final, pela qual o fármaco é carregado numa matriz de PVA. Este dispositivo é

injetado dentro da cavidade vítrea através de uma agulha. A curiosidade deste

dispositivo é que mesmo depois de o fármaco ter sido libertado por completo

(cerca de 3 anos), o dispositivo continua dentro da cavidade onde foi injetado. A

influência desta abordagem para o correto funcionamento do olho e as

implicações dos dispositivos que sucessivamente vão ficando na cavidade ocular

ainda não é completamente conhecida. [147,148]

I-vation

Consiste numa bobina helicoidal de titânio revestida por camadas de PVA e EVA

com o objetivo de controlar a libertação do fármaco. A forma helicoidal aumenta

a área superficial disponível para o carregamento do fármaco e permite colocar e

fixar o dispositivo na esclera sem ser necessário recorrer a suturas na esclera.

[149] Na Figura 19 é possível ver uma representação do I-vation e a sua

implementação na esclera de um paciente.

Ozurdex

É um dispositivo biodegradável usado no tratamento da uveíte e o edema macular

causado pela diabetes, aprovado pela FDA em 2009. O dispositivo consiste numa

matriz de ácido poli(lático-co-ácido glicólico) (PLGA) com dexametasona (0,7 mg)

dispersa pela matriz. É injetado na cavidade vítrea por uma agulha. Pode libertar

fármaco até 6 meses, sendo que nos dois primeiros meses ocorre a libertação

mais acelerada do fármaco devido à degradação também mais acelerada da

matriz, posteriormente, a degradação é feita de forma mais controlada e como

tal, a velocidade de libertação do fármaco diminui. [140,150]

Filme nanoporoso

injetável

Consiste numa estrutura biodegradável nanoporosa de um filme de

policaprolactona (PCL) com milhares de nano fios. Devido ao tamanho do

diâmetro dos poros, apenas uma molécula de fármaco de cada vez pode passar

pelos poros, conseguindo-se perfis de libertação de ordem zero. Esta abordagem

foi sujeita a estudos in vivo e in vitro tendo revelado resultados promissores com

tempos de libertação entre 2 a 4 meses. Além disso, o dispositivo pode ser

introduzido no sistema ocular com o auxílio de uma seringa, sendo importante

uma vez que se torna um processo menos invasivo. [151-154]

Disco escleral

É um disco biodegradável colocado na esclera com o objetivo de libertar um

fármaco esteroide, a betametasona. Este dispositivo foi desenvolvido por

compressão de uma matriz de poliácido lático (PLA) com o fármaco. A

concentração de fármaco libertado manteve-se praticamente estável no humor

vítreo. Demostrou ser eficaz permitindo a redução da inflamação da retina durante

cerca de 8 meses sem que tivessem sido detetados elevados níveis de toxicidade

na retina. [155]

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Figura 19 - I -Vation implantando na esclera. [156]

Esta tabela pretendeu de uma forma geral sintetizar informação sobre alguns dos

dispositivos que já existem no mercado e são utilizados, bem como apresentar algumas

abordagens que ainda estão em fase de investigação e outras, em vias de entrar no mercado

depois de ocorrer a aprovação pela organização reguladora da comercialização de novos

dispositivos médicos/medicamentos.

Uma abordagem extremamente interessante e que também tem vindo a ser aprofundada

por diversos investigadores é o uso de lentes intra oculares (IOL) com SLF anexados. Permitindo

atuar de duas formas distintas sobre uma determinada lesão ou doença ocular através da

correção de problemas refrativos ao mesmo tempo que é libertado fármaco para tratamento de

uma doença de natureza não refrativa. Por exemplo, dois trabalhos levados a cabo por diversos

investigadores das universidades de Lausanne e Genebra, anexaram um SLF a uma IOL. No

primeiro trabalho [157], a equipa de investigadores desenvolveu o dispositivo da Figura 20:

Figura 20 - IOL com uma SLF anexada para ser aplicada em cirurgia às cataratas. [157]

Como já foi abordado nos tópicos anteriores, a operação às cataratas implica a remoção

do cristalino e substituição deste por uma IOL, as lesões provocadas pela cirurgia podem resultar

em edemas na mácula. Considerando que esta cirurgia é efetuada em pacientes com alguma

idade, existem outras doenças que também afetam a saúde ocular do paciente como por

exemplo uveítes, degeneração da mácula devido à idade entre outras, assim, além da

substituição da lente natural por uma IOL, é necessário recorrer a tratamentos posteriores para

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as doenças enumeradas. Assim, numa primeira abordagem, estes investigadores,

desenvolveram este sistema preparando pequenos discos de PGLA com Triancinolona

Acetonida (TA). Os discos foram fixados nos hápticos da IOL, conforme ilustrado da Figura 20.

Os estudos foram desenvolvidos in vitro e posteriormente in vivo, em testes com coelhos. Os

resultados da libertação do fármaco, obtidos in vitro foram praticamente constantes ao longo do

tempo, apesar de ter existindo uma maior libertação na fase inicial da libertação farmacológica,

tendo ao fim de 50 dias, sido libertado 330 ug de TA, além disso, os estudos revelaram que

quando menor a massa molecular do PLGA, maior era a taxa de libertação farmacológica.

Quantos aos testes in vivo, diversos parâmetros foram periodicamente analisados após a

implantação nos animais, como por exemplo a quantidade de fármaco libertado, a pressão intra

ocular, o edema intra corneal, etc. Relativamente, ao efeito da SLF na inflamação ocular, foi

detetado uma redução da inflamação nos primeiros dias a seguir à cirurgia. Assim, em termos

de conclusão pode-se afirmar que esta abordagem apresenta vantagens relativamente à

abordagem tópica de fármacos.

O outro trabalho, levado a cabo pelo mesmo grupo de investigadores [158], teve o mesmo

objetivo - o de substituir a lente natural do olho por uma IOL e tratar as agressões a que os

tecidos são sujeitos durante a cirurgia e resultantes do avançar da idade, mas além de TA,

usaram um fármaco imunossupressor, a ciclosporina A (CsA). Nesta abordagem, prepararam

discos de PLGA com cada um dos fármacos (TA ou CsA). No caso do CsA, o disco continha

duas camadas devido ao índice de solubilidade do fármaco. Na Figura 21 pode ser visualizado

o sistema preparado por este grupo de cientistas. Os testes foram igualmente realizados in vitro

e em coelhos. Apesar deste ultimo estudo não ter como objetivo determinar o perfil de libertação

do fármaco, os resultados revelaram uma maior eficiência deste sistema no tratamento da

inflamação pós cirurgia e doenças como a uveíte até 3 meses após a implementação. Além disso,

esta abordagem demonstra flexibilidade para que sejam utilizadas outros fármacos para o

tratamento de outras doenças/lesões oculares.

Figura 21 - A imagem A), mostra uma IOL com um SLF constituído por dois discos distintos acoplados à lente. O primeiro disco com o fármaco TA e um segundo disco de duas camadas de CsA. A imagem B) mostra a área de união entre as duas camadas do disco de CsA. [158]

Page 52: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

37

Segundo a opinião de diversos autores, existem alguns paradigmas a considerar

relacionados com a orientação que os SLF invasivos deverão assumir:

Dispositivos recarregáveis: apesar de necessitarem de cirurgia de implementação, estes

dispositivos podem ser usados durante alguns anos sem a necessidade de intervenção. É

possível recarregar o dispositivo com o fármaco através de um ducto que liga o exterior ao

sistema de libertação de fármacos, Figura 22:

Figura 22 - Ducto que permite recarregar o fármaco a partir do exterior do sistema ocular. [142]

Sistemas micro mecânico-elétricos (SMME) – sistemas que, tal como o nome indica,

conjugam uma componente elétrica e outra componente mecânica para que ocorra a libertação

farmacológica. Assim, estes sistemas envolvem uma bomba para libertar o fármaco, formando

um reservatório possível de ser recarregado, e uma válvula que evita o refluxo do fármaco.

Quando é necessário administrar o fármaco, os elétrodos geram uma corrente elétrica, formando

um gás devido à eletrolise, que aumenta a pressão dentro do dispositivo e consequentemente,

liberta uma quantidade controlada de fármaco sobre o alvo.

Transplantação celular: abordagem que tem vindo a ser estudada para tratar doenças

degenerativas da retina. Apesar de segundo [159] acarretar diversos pontos positivos, há ainda

diversos desafios que estão presentes como por exemplo, o método da colocação das células

na zona afetada.

Apesar destas considerações, existem alguns obstáculos que, de uma forma geral, pode-

se dizer que são transversais a todos os SLF implantáveis, nomeadamente as restrições

existentes ao nível do tamanho dos dispositivos, o que requer o uso de fármacos potentes para

conseguir atingir o efeito desejável. O tamanho atual dos SLF implantáveis até pode ter um

correto funcionamento com esteroides mas apresenta algumas limitações relacionadas com

algumas macromoléculas. Além disso, o custo monetário também é um tópico que exerce uma

elevada importância no desenvolvimento destes dispositivos, considerando que os implantes que

atualmente existem no mercado são relativamente caros. Outra limitação relevante é a

necessidade de uma segunda cirurgia depois da implementação destes dispositivos para serem

retirados do local onde foram implantados. Contudo, estas duas últimas desvantagens são

Page 53: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

38

mitigadas pela atual capacidade associada a estes dispositivos de durarem por alguns anos

dentro da estrutura ocular, sem exigirem procedimentos cirúrgicos. [142, 149]

Depois de descritas diversas técnicas e abordagens de SLF oftálmicos que têm vindo a

ser utilizadas/alvo de estudo nos últimos anos, é importante fazer referência aos sistemas de

libertação controlada de fármacos, fazendo uma breve referência às orientações futuras,

sugeridas por alguns investigadores nesta área. Assim sendo, segundo [142], o foco de melhoria

dos SLF deverá assentar na libertação localizada de fármacos na estrutura ou estruturas que

necessitam de tratamento, reduzindo os efeitos secundários, e a perda de fármaco administrado.

Além disso, deverá procurar-se obter melhores perfis de libertação e, no caso de dispositivos

implantáveis, reduzir ao máximo a abordagem invasiva para a implementação destes

dispositivos. Deste modo, conseguir-se-á ter o máximo partido no que diz respeito objetivo

terapêutico dos fármacos administrados.

1.6.3. Parâmetros que influenciam a libertação do fármaco

Neste capítulo pretende-se enumerar e descrever alguns dos principais parâmetros que

influenciam a libertação farmacológica a partir de hidrogéis.

Como dito anteriormente, existem duas forças principais que atuam perante o fenómeno

de intumescimento, nomeadamente as forças osmóticas relacionadas com a penetração das

moléculas de líquido no hidrogel e as forças elásticas resultantes das ligações existentes entre

as cadeias do hidrogel, que são opostas à força osmótica. Num estado inicial, como as forças

osmóticas são superiores às forças elásticas, o hidrogel aumenta de tamanho. Contudo estas

forças tendem a equilibrar-se. Nessa fase de equilíbrio, o hidrogel mantem o mesmo tamanho.

A intensidade destas forças está dependente do tipo de moléculas/ligações presentes no

hidrogel, das moléculas de solvente e da interação que existe entre ambas as moléculas. [45,57]

Há alguns estudos que mostram as mudanças no perfil de libertação do fármaco devido a

alterações de parâmetros físico químicos. Chauhan et al. [55] revelaram o efeito da temperatura

nas condições de empacotamento de lentes de contacto carregadas com fármaco, demostrando

que a temperaturas superiores, maior quantidade de fármaco é libertado para a solução onde as

lentes estão armazenadas. Por outro lado, segundo Alvarez-Lorenzo et al. [160] a adição de

ácido acrílico aos hidrogéis constituídos por pHEMA, faz aumentar a afinidade destes às

fluoroquinolonas, grupo de fármacos do qual faz parte a LEVO, por exemplo.

No estudo levado a cabo por Ringet et al. [161] foram realizadas experiências colocando

um determinado polímero numa solução com diferentes concentrações iónicas com o objetivo

de se estabelecer uma relação entre a força iónica do meio e a capacidade de intumescimento

e taxa de libertação de fármaco desse hidrogel. Portanto, todas as condições foram mantidas

constantes exceto a força iónica do meio em que o hidrogel estava embebido. Os resultados que

este grupo de investigadores alcançou permitiu concluir que a força iónica do meio tem uma

relação inversa com o intumescimento como com o perfil de libertação farmacológica. Ou seja,

os estudos revelaram que quanto maior a força iónica do meio em que o hidrogel estava

embebida, menor o grau de intumescimento e menor a quantidade de fármaco libertado para a

Page 54: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

39

solução. Além disso, os resultados revelaram que este comportamento é independente da

natureza do ião dissolvido na solução. Os ensaios foram repetidos com outros fármacos,

obtendo-se os mesmos resultados.

No estudo realizado por Lee et al. [162] investigou-se a influência da carga dos fármacos

na libertação a partir de hidrogéis iónicos e com poros de diferentes tamanhos. Lee et al. fazem

referência às diferentes interações electroestáticas que ocorrem entre os fármacos e os

hidrogéis. Por exemplo, durante a libertação a partir de um hidrogel em que a carga do fármaco

e do hidrogel são distintas, há uma atração electroestática entre as moléculas do hidrogel e do

fármaco. Por outro lado, quando o fármaco e o hidrogel têm a mesma carga, existem algumas

dificuldades no carregamento do hidrogel com esse fármaco. O estudo levado a cabo por Lee et

al. revela ainda que nos ensaios em que usaram hidrogéis porosos, a libertação farmacológica

era superior nos hidrogéis com poros de maiores dimensões. [163]

Existem ainda estímulos mecânicos que podem exercer influência sobre os perfis de

libertação farmacológica. Segundo Galante et al. [164] num estudo realizado com hidrogéis

constituídos por pHEMA-UV e pHEMA-T, polimerizados respetivamente por radiação UV e

termicamente, a agitação da solução de libertação farmacológica onde ambos os hidrogéis

estavam embebidos não revelaram diferenças significativas nos perfis de libertação. Contudo o

efeito da fricção, simulando o pestanejar, parece ser um fator de aumento da libertação

farmacológica no pHEMA-UV, apesar de no pHEMA-T permanecer praticamente inalterado. Esta

situação é justificada pela presença de nano poros superficiais no primeiro hidrogel.

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2 – Materiais e Métodos

O objetivo deste capítulo consiste na enumeração de todos os materiais utilizados na

realização deste trabalho e na enumeração e descrição dos diferentes métodos e procedimentos.

2.1. Materiais

2.1.1. Lentes de contacto

- PureVision, gentilmente cedidas pela Bausch & Lomb;

- SofLens, gentilmente cedidas pela Bausch & Lomb;

2.1.2. Fármacos

- Levofloxacina 98%, Sigma-Aldrich (Madrid, Espanha);

- Clorohexidina 98%, Sigma-Aldrich (Madrid, Espanha);

2.1.3. Outros componentes

- NaCl 130mM, Sigma Aldrich;

- Acetonitrilo (HPLC grade), Fisher Scientific;

- Ácido Fosfórico 85%, Sigma Aldrich;

- Trietilamina 99%, Sigma Aldrich;

- Água Milli-Q;

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41

2.2. Métodos

2.2.1. Caracterização das lentes

2.2.1.1. Preparação das lentes

Apesar de terem sido utilizados dois tipos de lentes de contacto, o procedimento de

preparação das lentes para os testes laboratoriais foi idêntico.

Inicialmente, todas as lentes de contacto, ao serem retiradas do involucro foram lavadas

em tubos de ensaio com 15 ml de água Milli-Q. A água Milli-Q foi sendo substituída com água

MilliQ fresca a cada 1h30, permanecendo durante toda a noite com a água da 5º troca efetuada.

No dia seguinte, as lentes eram retiradas dos tubos de ensaio, secas num forno a 50 ºC durante

14h, e pesadas.

Depois de efetuados cada um dos testes que serão referidos seguidamente, procedeu-se

à lavagem das lentes de contacto através da colocação destas numa solução de água Milli-Q,

seguindo o mesmo procedimento utilizado para a lavagem das lentes retiradas do involucro,

depois disso as lentes de contacto foram secas no forno e armazenadas em recipientes secos.

2.2.1.2. Intumescimento

Depois de devidamente lavadas e secas, as lentes de contacto foram pesadas no estado

desidratado, o que nos permitiu calcular o valor de 𝑊𝑑. Posteriormente cada lente foi imersa num

tubo de ensaio contendo uma solução de 4ml de NaCl 130 mM a diferentes temperaturas com o

objetivo de se verificar a influência da temperatura na taxa de intumescimento em cada uma das

lentes de contacto. Assim, foram colocadas amostras à temperatura ambiente de

aproximadamente 20 ºC, a 4 ºC num frigorífico e a 40 ºC num forno. Todas as análises foram

efetuadas em triplicado.

As lentes foram removidas periodicamente da solução em que estavam imersas e com

papel absorvente retirou-se cuidadosamente o excesso de líquido da superfície das lentes de

contacto e pesaram-se para obter o valor de 𝑊𝑡, que permite quantificar o intumescimento das

lentes de contacto no instante t, como mencionado anteriormente no capitulo 1.5.2. Com os

dados recolhidos foi possível calcular o grau de intumescimento das lentes - 𝑄𝑡, equação 1 -

secção 1.5.2, até alcançarem o estado de equilíbrio, isto é, até atingirem o nível máximo de

intumescimento para cada uma das temperaturas. Todos os testes foram efetuados em triplicado.

Depois de as lentes de contacto terem alcançado o estado de equilíbrio nas três

temperaturas, procedeu-se a outro teste com o objetivo de verificar a reversibilidade do

intumescimento através da alteração da temperatura a que as lentes de contacto estavam

sujeitas. Assim, foram colocadas todas as lentes de contacto à temperatura ambiente, ou seja,

todas as lentes que estavam inicialmente à temperatura de 4 ºC e 40 ºC foram colocadas à

temperatura ambiente, permanecendo por 90 minutos, seguidamente foram pesadas com o

objetivo de determinar o nível intumescimento. Posteriormente as lentes foram retiradas dos

Page 57: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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tubos de ensaio onde estavam imersas e colocadas numa nova solução nas respetivas

temperaturas iniciais, ou seja, à temperatura de 4 ºC e de 40 ºC, permanecendo nestas condições

por mais 90 minutos. Foram novamente pesadas para determinar o seu valor do intumescimento.

Assim, foi possível verificar se as lentes de contacto se adaptam a alterações de temperatura da

solução em que estavam imersas e se essas alterações se traduzem em alterações no nível de

intumescimento.

O líquido em excesso na superfície das lentes de contacto foi sempre removido com papel

absorvente antes de serem pesadas

2.2.1.3. Transmitância

Como dito anteriormente, a medição da transmitância da radiação através de um material

torna possível classificar os materiais como opacos, translúcidos ou transparentes. A medição

desta propriedade nas lentes de contacto foi efetuada pela utilização de um espectrofotómetro

UV-VIS, que permite medir os valores da quantidade de luz absorvida e transmitida por um

determinado material.

O procedimento para calcular o valor da transmitância nas lentes de contacto iniciou-se

com um teste em branco, isto é, sem qualquer material entre o emissor de luz e o detetor e

posteriormente repetiu-se o processo, mas com a lente colocada numa cuvete, entre o emissor

e recetor. Antes, efetuou-se um corte nas lentes de forma a se obter uma superfície plana,

permitindo fixar a lente cortada sempre na parte exterior da cuvete mais próxima do emissor do

espectrofotómetro.

O cálculo do valor percentual da transmitância foi efetuado pelo software do equipamento,

utilizando a equação 7:

%𝑇 =𝐼𝑡

𝐼0

× 100 (7)

em que 𝐼0 representa a intensidade de luz que atravessou o meio e 𝐼𝑡 representa a intensidade

de luz incidente. [165-167]

Na Figura 23 apresenta-se esquematicamente os diferentes componentes de um

espectrofotómetro.

Todos os espectrofotómetros possuem uma fonte de radiação, normalmente é uma

lâmpada de tungsténio, que emite luz visível ou luz ultra-violeta, mas também podem ser

lâmpadas de vapor de mercúrio, entre outras. A luz produzida passa por um prisma ou uma rede

de difração. O prisma tem capacidade de refratar a luz incidente. As redes de difração, que são

mais vantajosas, têm capacidade de dividir e difratar a luz em vários feixes com diferentes

cumprimentos de onda. Uma vez que as redes de difração possuem uma resolução melhor que

os prismas, são frequentemente utilizadas nos espectrofotómetros. Os feixes de luz provenientes

das redes de difração atravessam as amostras que por norma estão armazenadas em cuvetes

de vidro ou quartzo. O feixe luminoso ao atravessar a amostra alcança os foto-detetores, que

convertem o feixe de luz recebido num sinal elétrico. [166-168]

Page 58: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

43

Figura 23 - Componentes do espectrofotómetro.

A intensidade do sinal elétrico é proporcional à quantidade de luz que alcança o foto-

detetor. Todo este processo é mediado por um processador que é também responsável por

converter a intensidade luminosa em informação que pode ser visualizada em forma de gráfico.

[166-168]

O espectrofotómetro utilizado neste trabalho foi o Thermo Scientific Multiskan GO. Tem

capacidade de medir absorvâncias com comprimentos de onda entre 200-1000 nm e permite

definir a temperatura da análise até os 45 ºC. O Multiskan Go pode ser usado numa enorme

variedade de aplicações incluindo na análise de proteínas, ácidos nucleicos, enzimas entre

outros. As medições da transmitância foram efetuadas em triplicado para cada amostra, com

comprimentos de onda entre os 400 nm e os 700. A quantificação de fármacos foi efetuada com

um comprimento de ondade 255 nm. Em ambos os casos foi utilizada uma placa de leitura de

absorvências. Nas diversas medidas efetuadas para o cálculo da transmitância, foi sempre

utilizada a mesma cuvete.

2.2.1.4. Molhabilidade

Como dito anteriormente, a molhabilidade é uma característica fundamental para garantir

o conforto aos utilizadores das lentes de contacto, evitando alterações e lesões das diversas

estruturas oculares e evitando a acumulação de depósitos entre o olho e as lentes de contacto.

Neste trabalho, usou-se o método da bolha cativa para medir a molhabilidade das lentes

através da utilização de um goniómetro semelhante ao que pode ser visualizado na Figura 24.

Este método evita a desidratação da lente de contacto, uma vez que a mesma está submersa

em líquido durante a análise.

Para ser possível realizar as medidas com as lentes de contacto, foi necessário cortá-las

de forma a conseguir-se obter uma superfície plana sobre a qual a bolha de ar pudesse assentar

para ser possível medir o ângulo de contacto entre a superfície da lente e a bolha de ar.

Page 59: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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Figura 24 - Goniómetro. [168]

As amostras das lentes foram colocadas na câmara de ensaio, preenchida com água.

Posteriormente, com o auxílio de uma seringa micrométrica com agulha de ponta invertida, foi

colocada uma bolha de ar sob a superfície da lente. A forma da bolha foi analisada com o objetivo

de se calcular o ângulo de contacto entre a superfície da lente e a bolha de ar. Todos estes

ensaios foram feitos à temperatura ambiente e por cerca de 10 minutos por cada bolha. Foi

necessário proceder a ajustes na intensidade da luz e também na posição da agulha da seringa

para garantir que ao largar a bolha de ar sobre a superfície, esta apareceria na imagem. [169,168]

Na Figura 25 ilustra-se o conceito de ângulo de contacto determinado pelo método da

bolha cativa.

Figura 25 - Ângulo de contacto determinado pelo método da bolha cativa. [169]

As imagens foram obtidas por utilização da camara de vídeo JAI CV-A50 colocada num

microscópio WildM3Z e ligada a uma placa de captação de imagem frame Grabber Data

Translation (DT3155). O ângulo de contacto foi estimado utilizando a equação de Laplace da

capilaridade, equação 8. Recorreu-se ainda ao algoritmo ADSA-P (Axisymmetric Drop Shape

Analysis-Profile) para se minimizar o desvio entre a curva teórica de Laplace e uma série de

pontos arbitrários pertencentes ao perfil da gota. O método utilizado permitiu a determinação

indireta do ângulo de contato, uma vez que se baseia na equação de Laplace da capilaridade,

onde se encontram relacionadas a forma da gota e a tensão superficial do líquido:

Page 60: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

45

∆𝑃 = 𝛾𝐿𝑉 (

1

𝑅1

+ 1

𝑅2

) (8)

em que ∆𝑃 representa a diferença de pressão ao longo da interface gás/líquido, 𝛾𝐿𝑉 corresponde

à tensão superficial do líquido e R1 e R2 correspondem aos raios de curvatura da interface da

gota. As medições do ângulo de contacto efetuaram-se em triplicado para cada amostra.

2.2.2. Ensaios carregamento, libertação e quantificação de

fármacos

Neste trabalho foram efetuadas diversas experiências usando os dois tipos de lentes de

contacto e os dois fármacos referidos anteriormente, recorrendo-se a diferentes procedimentos

de libertação farmacológica, contudo, houve procedimentos transversais a todas as experiências

realizadas e que serão descritas seguidamente.

Independentemente da experiência a realizar, o método de preparação das soluções de

fármacos para carregamento das lentes foi sempre o mesmo. A LEVO foi dissolvida em NaCl

130 mM nas quantidades necessárias para obter a concentração de 5 mg/ml e 10 mg/ml. A

dissolução do fármaco foi feita com agitação magnética durante 5 minutos. Relativamente à CHX,

foi dissolvida em água Milli-Q, uma vez que a solubilidade da CHX em NaCl é muito baixa. Foi

igualmente usado agitação magnética para garantir a homogeneidade da solução. A

concentração desta solução de carregamento foi apenas de 5 mg/ml.

Pipetou-se 4 ml de cada uma das soluções para um tubo de ensaio e introduziu-se a lente

de contacto seca no tubo. Os ensaios foram feitos sempre em triplicado. As lentes permaneceram

durante 14h à temperatura ambiente no tubo de ensaio com a solução de carregamento e

protegidas da luz para evitar qualquer tipo de deterioração do fármaco. Durante este tempo,

ocorreu o intumescimento das lentes de contacto com a entrada do fármaco existente na solução

para o interior das lentes de contacto.

Num caso, o tempo de carregamento foi de 7 dias, o procedimento foi idêntico ao descrito

anteriormente mas depois do carregamento por 14 horas isoladas da luz, as lentes de contacto

foram movidas para o frigorífico com o objetivo de evitar a degradação do fármaco. Este tempo

de carregamento foi efetuado apenas para a LEVO.

Passadas 14 horas, as lentes foram removidas da solução de carregamento e lavadas por

imersão rápida numa solução de NaCl 130 mM para eliminar o excesso de fármaco existente na

superfície das lentes de contacto. Posteriormente, foram colocadas em diferentes condições com

o objetivo de simular as condições de libertação farmacológica no sistema ocular.

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46

2.2.2.1. Ensaios de libertação em condições estáticas

Os estudos de libertação foram efetuados inicialmente apenas em condições estáticas, ou

seja, foram colocadas lentes de contacto dentro de tubos de ensaio. Nos testes efetuados em

condições estáticas manteve-se sempre a mesma solução de NaCl. As lentes de contacto foram

colocadas em tubos de ensaio com 4 ml de NaCl com concentração de 130 mM, mantendo as

condições utilizadas noutros trabalhos desenvolvidos no laboratório [168,170] e estando de

acordo com o especificado por Spurr-Michaud et al. [171] que afirma a concentração salina

presente no líquido lacrimal varia entre 100-150mM.

O fármaco presente no interior das lentes de contacto foi sendo libertado para a solução

salina. Periodicamente retirou-se uma amostra de 250 µl da solução para ser analisada. Com o

objetivo de manter a mesma quantidade da solução de NaCl no tubo de ensaio, por cada 250 µl

retirados foi reposta a mesma quantidade de nova solução fresca de NaCl. As amostras

recolhidas foram analisadas no HPLC e no espectrofotómetro no caso da LEVO e CHX,

respetivamente. Os testes de libertação foram efetuados com os tubos de ensaio fechados e

com condições de temperatura e rotação controlados com o objetivo de aproximar os ensaios in

vitro das condições presentes no olho humano. A temperatura a que foram feitos os estudos foi

de 37 ºC, a rotação foi de 150 rpm, tal como efetuado por Galante et al. [168]. Foram realizados

ensaios análogos com água Milli-Q, em vez de NaCl, para avaliar o efeito da força iónica do meio

na libertação dos fármacos.

Como a libertação do fármaco foi feita gradualmente permitiu recolher amostras ao longo

do tempo e traçar os perfis de libertação para cada caso estudado.

A fim de compreender o efeito da renovação total da solução sobrenadante na CHX,

efetuaram-se também testes de libertação em ambas as lentes com a substituição da totalidade

da solução de NaCl na qual as lentes estavam imersas, tal como é esquematizado na Figura 26.

Figura 26 - Libertação de fármacos com substituição total da solução de NaCl. a) a lente carregada com fármaco foi colocada num tudo de ensaio; b) com o tempo o fármaco foi sendo libertado para o meio, até atingir o equilíbrio; c) com o equilíbrio alcançado, substitui-se a solução de NaCl. O procedimento foi repetido até não ser libertado mais fármaco.

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Quando se atingiu o equilíbrio, ou seja, sempre que a solução salina atingia o máximo

de concertação farmacológica, colocou-se cada uma das lentes de contacto numa nova solução

de NaCl, Figura 26. Este processo foi sendo repetido até não ser libertado mais fármaco.

A Figura 26 representa o procedimento efetuado para apenas uma lente, mas tal como

no processo em cima, os testes foram sempre efetuados em triplicado.

2.2.2.2. Ensaios de libertação em condições

hidrodinâmicas

Como mencionado anteriormente, com o objetivo de aproximar as condições das

experiência in vitro à realidade do sistema ocular, foram efetuados alguns ensaios em células

microfluidicas, como se ilustra na Figura 27.

Considerando que perante condições normais do lacrimejar e da ação do pestanejar, o

olho humano tem um volume lacrimal entre os 7 µl e os 30 µl com um turnover lacrimal entre os

2,1 µl/min e os 3,1 µl/min, tentou-se aproximar o volume de imersão e a taxa de renovação destes

valores. [1] Assim, definiu-se um valor de renovação da solução de NaCl de 65 µl/min e um

volume de imersão de 650 µl de solução de NaCl.

Figura 27 - Célula microfluidica para ser efetuada a libertação de fármaco.

Esta abordagem teve como principal objetivo ir de encontro à realidade do sistema ocular

garantindo um fluxo da solução de NaCl. Desta forma, utilizou-se uma bomba para injetar a

solução de NaCl em três células contendo uma lente de contacto cada uma. As células estavam

conectadas a recipientes próprios onde eram recolhidas amostras provenientes de cada uma,

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48

sendo posteriormente analisadas no HPLC ou no espectrofotómetro dependendo se a amostra

a ser analisadas era a LEVO ou CHX, respetivamente.

Por casa análise foi colocado um novo recipiente de recolha para colheita da próxima

amostra de fármaco. Neste caso, os valores recolhidos em cada análise eram referentes apenas

ao período de tempo de libertação do fármaco desde a última recolha. Assim, foi necessário

somar os valores provenientes de cada análise para a obtenção das curvas cumulativas. Os

ensaios realizados com a célula microfluidica foram efetuados à temperatura de 37ºC e em

triplicado.

2.2.2.3. Quantificação de fármaco

2.2.2.3.1. HPLC

A Cromatografia Liquida de Alta Eficiência, vulgarmente designada por HPLC (termo em

inglês para High Performance Liquid Chromatography) é uma ferramenta indispensável nos

laboratórios por permitir detetar, separar e quantificar de forma rápida pequenas quantidades de

substâncias específicas. Outras vantagens associadas à HPLC são a sua precisão, eficiência e

reprodutibilidade das análises efetuadas. O princípio básico sobre o qual assenta a cromatografia

consiste na separação de misturas, em que os componentes a serem separados são distribuídos

em duas fases distintas, uma fase móvel e uma fase estacionária. Esta separação resulta do

facto dos diferentes componentes de uma mistura interagirem de forma diferente com essas

fases. A HPLC é uma técnica que produz bons resultados mesmo em misturas complexas.

Na Figura 28 pode-se visualizar um esquema com os principais elementos constituintes

do cromatógrafo de HPLC. [172,173]

Figura 28 - Diagrama de blocos com os principais componentes do cromatógrafo HPLC. Imagem adaptada de [173].

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49

O método de funcionamento do HPLC consiste na dissolução da amostra num solvente

(fase móvel), sendo posteriormente injetado numa coluna com um determinado enchimento. A

coluna, que corresponde à fase estacionária, é responsável por separar os diferentes

componentes da mistura devido às diferentes afinidades que cada um dos componentes da

mistura tem relativamente às partículas existentes na fase estacionária. A fase móvel é também

designada por eluente e é bombeada para a coluna, juntamente com a amostra a ser analisada.

Com o auxílio de um injetor, a solução chega à fase estacionária, tal como pode ser visualizado

na Figura 28. Na fase estacionária, os diferentes componentes da amostra atravessam a coluna

com diferentes velocidades chegando ao fim da fase estacionária em diferentes instantes. A

velocidade com que os componentes se deslocam na coluna está relacionado com a sua

polaridade. Quando um determinado componente sai da fase estacionária, o sinal do detetor é

transmitido a um sistema que grava e mostra o sinal em forma de gráfico com o eixo das

ordenadas a representar uma intensidade proporcional à concentração do componente detetado

e o eixo das abcissas o tempo. [172-174]

Neste trabalho apenas a quantidade de LEVO libertada pelas lentes de contacto foi

estimada recorrendo ao HPLC. No caso da CHX foi utilizado o espectrofotómetro descrito

seguidamente. O HPLC usado foi da Jasco com um detector-UV e uma coluna C18 Waters Nova-

Pak com um diâmetro de 3.9 mm e um comprimento de 150 mm. A fase móvel, constituída por

água, acetonitrilo (Fisher Scientific, HPLC grade, 99.9%), ácido fosfórico (Sigma-Aldrich, 85%) e

trietilamina (Sigma-Aldrich, 99%), foi desgaseificada por ultra-sons por 5 minutos. Definiu-se um

coeficiente de vazão de 1 mL/min e uma pressão de 14 MPa. A leitura do comprimento de onda

para a levofloxacina foi feita com o valor de λ = 290 nm. Estes valores estão de acordo com o

método descrito por Wong et al. [175].

Em cada dia que se procedeu a análises cromatográficas, construiu-se uma nova reta de

calibração. Para cada ponto da reta produziu-se duas réplicas independentes, utilizaram-se duas

soluções mãe de LEVO distintas a partir das quais se prepararam as diferentes diluições, com o

objetivo de minimizar os erros de operador.

O software utilizado para determinar a concertação de LEVO foi o ChromNav.

2.2.2.3.2. Espectrofotometria UV-VIS

O resultado da análise efetuada pelo espectrofotómetro consiste num gráfico em que o

eixo das ordenadas representa a intensidade da radiação absorvida e o eixo das abcissas

representa o comprimento de onda. [174,175] Também é possível efetuar medidas diretas num

único comprimento de onda.

Da análise de soluções por esta técnica, importa referir a lei de Beer-Lambert que nos

permite obter informações sobre a concentração de um determinado soluto numa solução desde

que este absorva radiação nos comprimentos de onda estudados. Esta lei é expressa pela

equação 9:

𝐴 = 𝜖𝑙𝑐 (9)

Page 65: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

50

A representa o valor da absorvância medida, 𝜖 corresponde à absortividade molar intrínseca à

substância, c representa a concentração da solução e 𝑙 representa a distância que a luz tem de

percorrer para atravessar a solução a analisar. [174-176]

Tal como descrito no capítulo 2.2.1.3 sobre a transmitância, o espectrofotómetro utilizado

foi o Thermo Scientific Multiskan GO. Neste trabalho, além da medição da transmitância dentro

do espetro do visível, isto é, entre os 400 nm e os 700 nm, o espectrofotómetro foi também

utilizado para determinar a concentração de CHX libertada nos ensaios de libertação do fármaco

utilizando um comprimento de onda de 255 nm.

Em cada dia que se procedeu a análises das amostras, construiu-se uma nova reta de

calibração. Para cada ponto da reta produziu-se duas réplicas independentes, utilizaram-se duas

soluções mãe de CHX distintas a partir das quais se prepararam as diferentes diluições, com o

objetivo de minimizar os erros de operador. Nas diversas medidas efetuadas de transmitância,

foi sempre utilizada a mesma cuvete.

Page 66: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

51

3 Resultados e Discussão

Neste capítulo apresentam-se os resultados dos testes laboratoriais realizados. Começa-

se por apresentar os resultados da caracterização das lentes, incluindo propriedades como o

intumescimento, a transmitância e a molhabilidade. Posteriormente apresentam-se os resultados

da libertação de LEVO e de CHX. Tal como referido nos capítulos anteriores, foram efetuados

diversos ensaios, em diferentes condições, com o objetivo de compreender a cinética associada

à libertação de fármacos oftalmológicos a partir de lentes de contacto comerciais.

Depois de terem sido apresentados os resultados, é feita uma discussão sobre os

mesmos, estabelecendo relação entre os resultados deste trabalho com os resultados presentes

na bibliográfica e com alguns conceitos teóricos.

3.1. Caracterização das lentes de contacto

3.1.1. Intumescimento

Seguidamente apresentam-se os gráficos do intumescimento de ambas as lentes de

contacto, em função do tempo. As Figuras 29 e 30 representam, respetivamente, o

comportamento das PV e das SL. Para cada uma das lentes são apresentados três perfis

distintos que correspondem às diferentes temperaturas a que esses testes foram realizados: 4

ºC, temperatura ambiente e 40 ºC.

Nos gráficos, o eixo das abcissas corresponde ao tempo durante o qual os testes foram

efetuados e o eixo das ordenadas corresponde ao valor do grau de intumescimento em cada

instante - 𝑄𝑡, equação 1. O valor de 𝑄𝑡 no ponto zero do eixo das abcissas corresponde ao valor

das lentes no estado desidratado.

Page 67: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

52

Figura 29 – Intumescimento das PV a diferentes temperaturas.

Figura 30 - Intumescimento das SL a diferentes temperaturas.

Tal como pode ser visualizado nas Figuras 29 e 30, ambas as lentes de contacto à

temperatura ambiente e à temperatura de 4 ºC apresentam comportamentos semelhantes. O

grau de intumescimento das lentes à temperatura de 40 ºC é um pouco inferior. O tempo

necessário para se atingir o equilíbrio é relativamente reduzido em ambos os casos. As PV

(Figura 29) alcançaram o máximo valor em 35 minutos a 4ºC e à temperatura ambiente. O

equilíbrio nas SL foi alcançado em aproximadamente 20 minutos também para a temperatura

ambiente e de 4ºC.

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0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

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Page 68: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

53

Notou-se que as SL apresentam uma maior taxa de intumescimento, cerca de 130%,

comparativamente às lentes PV que tiveram uma taxa de intumescimento de cerca de 41%, a

estas temperaturas, tal como pode ser visualizado nas Figuras 29 e 30.

Com base na equação 2, foi calculado o teor de água (𝑊𝑐) em ambas as lentes de contacto,

tendo sido alcançado um valor nas PV de 31% ± 1% à temperatura de 4 ºC, de 30% ± 1%

temperatura ambiente e um valor de 27% ± 1% a 40 ºC. Nas SL o valor do teor de água é superior,

estando relacionado com a maior capacidade de intumescimento destas lentes. Assim, o valor

de 𝑊𝑐 para as SL foi de 57% ± 1%, 57% ± 1% e 54% ± 1% para as temperaturas de 4 ºC,

temperatura ambiente e 40 ºC, respetivamente.

Existem diversas fontes bibliográficas, com resultados distintos entre sí, que falam sobre

a influência da temperatura no grau de intumescimento nos hidrogéis, referindo por exemplo a

existência de hidrogéis termo sensíveis e a influência que alterações de temperatura têm sobre

estes. Os hidrogéis termo sensíveis, de uma forma geral, são definidos como hidrogéis sensíveis

a alterações de temperatura, apresentando comportamentos distintos. Existem os hidrogéis

termo sensíveis negativos, que a partir de uma determinada temperatura de referência, contraem

com o aumento da temperatura, Existem ainda os hidrogéis termo sensíveis positivos, em que a

partir de uma determinada temperatura de referência, contraem com o arrefecimento da

temperatura. De acordo com Ozturk et al. [177], o aumento de temperatura resulta no aumento

da densidade das interações hidrofóbicas presentes nos hidrogéis [177]. Segundo Mah et al.

[178], existe uma relação entre a temperatura e as ligações de hidrogénio presentes no sistema

solvente-hidrogel. Neste trabalho refere-se que, por exemplo, para hidrogéis termofóbicos as

ligações de hidrogénio são quebradas a temperaturas superiores e que as ligações de hidrogénio

entre o polímero e a água se tornarem menos fortes em comparação com as ligações polímero-

polímero. Este comportamento poderá justificar a menor capacidade de intumescimento que

ambas as lentes apresentam a temperaturas mais elevadas. Comparando os resultados obtidos

com as especificações do fabricante [89,90], verifica-se que são semelhantes, com as PV a

apresentarem um valor de % de H2O de 36% e as SL um valor de 59%.

Depois de ter sido alcançado o equilíbrio em ambas as lentes de contacto às temperaturas

em que foram efetuados os testes de intumescimento, procedeu-se à alteração da temperatura

das soluções, como descrito na secção 2.2.1.2, com o objetivo de se verificar a reversibilidade

do intumescimento. Assim, todas as lentes de contacto, utilizadas nas experiências descritas

acima, foram colocadas à temperatura ambiente por 90 minutos e, posteriormente, foram

pesadas utilizando o protocolo descrito a cima. De seguida, colocámo-las numa nova solução à

respetiva temperatura inicial por mais 90 minutos, tendo sido pesadas novamente. Os resultados

obtidos podem ser visualizados nas Figuras 31 e 32.

Page 69: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

54

Figura 31 - Comparação dos valores de intumescimento das PV com alterações na temperatura da solução em que estavam imersas. Cada barra corresponde a uma amostra recolhida. As barras a azul correspondem ao comportamento das lentes perante a alteração de temperatura no ensaio realizado à temperatura inicial de 4 ºC, a verde é possível visualizar o comportamento das lentes no ensaio em que estas estiveram a uma temperatura inicial de 40 ºC.

Figura 32 - Comparação dos valores de intumescimento das SL com alterações na temperatura da solução em que estavam imersas. Cada barra corresponde a uma amostra recolhida. As barras a azul correspondem ao comportamento das lentes perante a alteração de temperatura no ensaio realizado à temperatura inicial de 4 ºC, a verde é possível visualizar o comportamento das lentes no ensaio em que estes estiveram a uma temperatura inicial de 40 ºC.

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55

Este procedimento permitiu-nos verificar a reversibilidade do intumescimento para as

lentes PV e SL quando as condições de temperatura são consecutivamente alteradas.

Uma vez que o aumento de temperatura tende a diminuir o grau de intumescimento, facto

que é mais visível na temperatura mais alta estudada, decidiu-se efetuar o carregamento das

lentes, para os testes de libertação farmacológica e caracterização adicional das lentes, à

temperatura ambiente. De facto, os ensaios realizados a esta temperatura, pouco diferem dos

ensaios a 4 ºC, (valores de 𝑄𝑡 e de 𝑊𝑐 são praticamente iguais), pelo que se escolheu realizar

os ensaios à temperatura ambiente o que reduz custos e complexidade laboratorial e industrial.

3.1.2. Transmitância

Tal como dito anteriormente, a transmitância tem uma importância fundamental na

qualidade da imagem adquirida através das lentes. Assim, uma boa transmitância é essencial

para garantir uma boa acuidade visual.

Com o objetivo de determinar se o carregamento das lentes de contacto com os fármacos

exerce influência no valor da transmitância das lentes de contacto, foram efetuadas medições

antes e depois de as lentes serem carregadas com os dois fármacos utilizados neste trabalho.

Na Figura abaixo é possível ver a curva da transmitância no intervalo de comprimentos de onda

200 nm a 700 nm para ambas as lentes utilizadas neste trabalho, sem estarem carregadas com

fármacos.

Figura 33 - Transmitância das lentes de contacto PV e SL ao longo do espectro compreendido entre os 200 nm e os 700 nm.

O valor da transmitância foi medido também para estas lentes depois de terem sido

carregadas com ambos os fármacos. Assim, nas tabelas 7 e 8 apresentam-se os valores da

0

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%

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Transmitância das PV

Transmitância das SL

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56

média das transmitâncias para estas lentes dentro do espectro de luz visível, ou seja, entre os

400 nm e os 700 nm, antes e depois do carregamento com o fármaco.

Tabela 7 – Transmitância das lentes PV (valor médio no visível).

Lentes s/ fármaco

(%)

Lentes com LEVO

(%)

Lentes com CHX

(%)

87 ± 2 86 ± 1 86 ± 1

Tabela 8 – Transmitância das lentes SL (valor médio no visível).

Lentes s/ fármaco

(%)

Lentes com LEVO

(%)

Lentes com CHX

(%)

96 ± 1 94 ± 1 94 ± 3

No que diz respeito à transmitância das lentes, pode-se concluir que esta é superior nas

lentes SL, cerca de 9% superior quando comparado com as lentes PV, com valores de 96% para

as SL e 87% para as PV. Segundo Galante et al. [168] a composição das lentes de contacto

poderá exercer influência nos valores da transmitância apresentados pelas lentes de contacto.

Além disso, verificou-se que estes valores se encontram dentro da gama dos valores existentes

nas diversas referências bibliográficas. De uma forma geral, o próprio fabricante não indica um

valor exato da transmitância para estas lentes, falando sempre em valores aproximados.

Contudo, segundo [61] e [80], as lentes PV apresentam uma transmitância de 85% e segundo

[179], as lentes SF apresentam um valor de aproximadamente 95%.

Verificou-se ainda que os valores das transmitâncias de ambas as lentes carregadas com

os fármacos apresentam um valor ligeiramente inferior quando comparado com as lentes sem

fármaco. As diferenças não são significativas uma vez que a diferença máxima é de 2%. Este

resultado pode estar relacionado com a fraca impregnação do fármaco nas lentes de contacto o

que nos leva a concluir que o carregamento das lentes com LEVO e CHX não se traduz em

diferenças assinaláveis nos valores da transmitância destas lentes. Por último, segundo [58] e

[180], uma transmitância na ordem dos 87% é considerada satisfatória para materiais utilizados

no fabrico de lentes de contacto, apesar de o valor de transmitância mínimo recomendado nas

lentes de contacto ser de 90% para ser garantido o conforto ao utilizador e uma boa acuidade

visual. [180]

Page 72: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

57

3.1.3. Molhabilidade

Mediu-se o ângulo de contacto de ambas as lentes antes e depois destas terem sido

carregadas com ambos os fármacos utilizados neste estudo.

Tendo em conta que estas lentes são lentes comerciais, os fabricantes garantem que

possuem boas propriedades de molhabilidade, entre outras propriedades. Contudo, devido ao

carregamento com fármacos, pode haver alterações neste parâmetro devido às interações entre

o hidrogel e o fármaco. Assim, com esta medição teve-se como objetivo verificar se com as lentes

carregadas, a libertação do fármaco durante a medição pode interferir com os valores do ângulo

de contacto das lentes e se essa alteração causa efeitos para os utilizadores das lentes de

contacto.

Os resultados obtidos para ambas as lentes de contacto, antes e depois de estas terem

sido carregadas com os fármacos podem ser visualizados nas tabelas 9 e 10.

Tabela 9 – Ângulo de contacto das lentes PV.

Lentes s/ fármaco (º) Lentes com LEVO (º) Lentes com CHX (º)

93 ± 2 91 ± 2 91 ± 2

Tabela 10 – Ângulo de contacto das lentes SL.

Lentes s/ fármaco (º) Lentes com LEVO (º) Lentes com CHX (º)

68 ± 5 67 ± 4 67 ± 4

Relativamente aos valores dos ângulos de contacto obtidos para ambas as lentes, antes

e depois do carregamento com fármacos, verifica-se que as lentes SL são mais hidrofílicas que

as lentes PV, com um valor de 68º comparando com o valor de 93º das lentes PV.

Numa primeira análise, com base na natureza dos materiais que constituem ambas as

lentes de contacto estes valores vão de encontro ao esperado, uma vez que, o Balafilcon A que

é o material constituinte das lentes PV tem o silicone como um dos seus principais elementos e

tal como dito anteriormente, o silicone é hidrofóbico. Contudo, para aumentar o conforto destas

lentes de contacto, é feito um tratamento superficial com plasma, tornando a superfície da lente

de contacto mais hidrofílicas, ou seja, para tornar as lentes mais humectáveis. [81-84] Assim, o

ângulo da lente PV de 93º é contraditório ao que foi dito anteriormente, uma vez que um ângulo

de 90º é considerado a fronteira entre o que é considerado hidrofóbico ou hidrofílico. Apesar de

existirem na literatura vários estudos apresentando resultados distintos, os nossos valores

encontram-se de acordo com alguns valores reportados [122,181]. Por outro lado, as lentes SL

são constituídas pelo Hilafilcon B que tem como constituinte os polímeros de HEMA, MAA e NVP

Page 73: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

58

que têm um elevado grau de hidrofilicidade. Segundo [87], os ângulos de contacto do Hilafilcon

B apresentam um valor de 70º , sendo semelhante ao valor medido da molhabilidade das SL.

Comparando os resultados dos ângulos de contacto de ambas as lentes depois de terem

sido carregadas, com os valores dos ângulos de contacto das mesmas lentes antes do

carregamento, pode-se verificar que há uma diminuição reduzida do ângulo de contacto em todas

as situações (no máximo de 3%). Mesmo assim, a alteração dos ângulos de contacto pela

presença do fármaco é mínima e está dentro do valor do erro.

Com estes resultados pode-se concluir que a diminuição do ângulo de contacto foi pouco

expressivo, se tivermos presente que a medição do ângulo de contacto pela utilização do

goniómetro é suscetível ao erro do utilizador, e também ao erro inerente do próprio equipamento

de medição. Os erros do utilizador estão essencialmente relacionados com as dimensões

reduzidas das lentes e com a dificuldade em obter uma superfície da lente de contacto plana na

qual pudesse assentar a bolha cativa, sendo necessário cortar a lente para se conseguir obter a

uma seção relativamente plana.

3.2. Libertação farmacológica

Seguidamente apresentam-se os resultados obtidos nos testes de libertação de fármacos

a partir das lentes de contacto comerciais PV e SL, para ambos os fármacos utilizados: a LEVO

e a CHX. Como dito anteriormente, foram feitos ensaios em condições estáticas, isto é, sem

substituição da solução na qual as lentes estavam imersas e depois, com o objetivo estudar o

efeito das condições hidrodinâmicas efetuaram-se ensaios com substituição total da solução na

qual as lentes estavam imersas e ensaios numa célula microfluidica com a solução a ser

constantemente renovada de forma continua.

3.2.1. Ensaios de libertação em condições estáticas

Os primeiros ensaios foram efetuados com lentes carregadas numa solução de fármaco

com uma concentração de 5 mg/ml durante um período de 14h.

Na Figura 34 é possível visualizar os perfis de libertação nas lentes PV para a LEVO e

para a CHX. Por sua vez, na Figura 35 pode-se vez os perfis de libertação dos mesmos fármacos

mas para as lentes SL.

Page 74: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

59

Figura 34 - Libertação de fármacos nas lentes PV.

Figura 35 - Libertação de fármacos nas lentes SL.

Conforme se pode observar, as lentes de contacto apresentam perfis de libertação

distintos consoante o fármaco utilizado no carregamento das lentes. Os perfis de libertação do

fármaco dependem também do tipo de lente utilizada.

Tal como pode ser visualizado na Figura 34, nas lentes PV a LEVO foi libertada mais

rapidamente comparativamente com a CHX. Enquanto a LEVO foi libertada em pouco mais de 5

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[Fár

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Tempo / min

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60

minutos a CHX demorou mais de 100 minutos a atingir o equilíbrio. Relativamente às quantidades

libertadas, foi libertada uma maior quantidade de CHX, cerca de 4,8 µg/mg de lente seca

comparativamente à quantidade de LEVO libertada que foi cerca de 3 µg/mg de lente seca.

Relativamente à Figura 35, em que foram utilizadas as SL, verificou-se que nestas lentes

houve uma maior libertação de LEVO relativamente à CHX, com valores de aproximadamente

15 µg/mg de lente seca e 8 µg/mg de lente seca, respetivamente. A LEVO foi libertada em cerca

de 5 minutos enquanto a CHX demorou cerca de 240 min (aproximadamente 4 horas).

Segundo Paradiso et al. [170], os perfis de libertação estão tão relacionados com os

hidrogéis como com os fármacos utilizados. Assim, devido à natureza hidrofílica da CHX e pelo

facto de as SL terem um maior teor de água, é espectável que, uma maior quantidade de CHX

fosse carregada nas lentes SL, que são constituídas por monómeros hidrófilicos,

comparativamente às lentes PV, e portanto é natural que a quantidade de fármaco libertada pelas

SL seja superior. Estes valores estão de acordo com o trabalho levado a cabo por Hiraichi et al.

[182] referindo que hidrogéis com maior teor de água apresentam maiores níveis de libertação

da CHX.

Com base na informação de [183] e [184], a LEVO é uma molécula consideravelmente

mais pequena do que a CHX com um peso molecular de 361,144 g/mol que compara com os

504,203 g/mol da CHX. Se analisarmos este parâmetro, isoladamente dos outros, permite-nos

concluir que em hidrogéis que favoreçam a entrada deste fármaco nas suas cadeias poliméricas

como é o caso das SL, exista uma maior facilidade de difusão deste fármaco no sistema lente-

solução, permitindo que a libertação do fármaco e o carregamento seja feito de forma mais

célere.

Comparando estes resultados com os apresentados por Paradiso et al. [170], concluíram

que a LEVO apesar de ser libertada em maiores quantidades no polímero de HEMA/PVP, (com

base polimérica semelhante às SL) do que no polímero de TRIS/NVP/HEMA (com base

polimérica semelhante às PV). Nos resultados apresentados nas figuras 34 e 35, também se

verificou maior quantidade de LEVO libertada nas SL que nas PV. Contudo, Paradiso et al. [170]

justificam este comportamento devido à maior afinidade da LEVO em polímeros com menor

quantidade de água, que é contrário ao verificado neste trabalho uma vez que as SL apresentam

maior quantidade de água que as PV. Esta diferença poderá estar relacionada com as dimensões

dos hidrogéis utilizados em cada trabalho. Uma vez que, uma libertação rápida, é um

comportamento natural da acumulação do fármaco próximo da superfície e/ou do maior

coeficiente de difusão do sistema utilizado para a libertação de fármacos neste trabalho.

Relativamente à CHX libertada, apesar de tal como no trabalho de P. Paradiso et al., se

ter verificado uma maior quantidade de CHX libertada nos polímeros constituídos por

TRIS/NVP/HEMA (que correspondem às lentes PV), com as PV a libertarem mais 37% de CHX

comparativamente às SL, no trabalho de P. Paradiso et al., justifica-se este comportamento com

uma maior percentagem de água do polímero constituído por TRIS/NVP/HEMA e menor

densidade de cross-linking, enquanto no nosso caso, são as SL que apresentam uma maior

quantidade de água. Esta diferença pode ser justificada com o tratamento superficial a que as

Page 76: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

61

PV são sujeitas, podendo alterar as características superficiais da lente. Além disso, Paradiso et

al. [170] referem que a CHX tem maior capacidade de difusão numa rede polimérica aberta, que

vai de encontro às características das PV face às SL. Apesar do erro do utilizador poder justificar

parte de algumas das diferenças verificadas com o trabalho de Paradiso et al [170], a constituição

das lentes comerciais utilizadas neste trabalho também pode exercer uma grande influência, uma

vez que apesar de as SL e PV terem a base polímerica em comum com os hidrogéis utilizados

no trabalho de Paradiso et a., diferem em alguns componentes da sua constituição, por exemplo,

as SL têm como constituinte dois componentes extremamente hidrofílicos que não estão

presentes na constituição das lentes de HEMA/PVP no trabalho de P. Paradiso et al. – o polímero

MMA e o monómero NVP podendo ser responsáveis pelo aumento da afinidade das lentes SL

com a LEVO.

Efetuou-se outro teste em que se carregaram as lentes de contacto PV numa solução de

carregamento com LEVO com concentração de 10 mg/ml. O objetivo deste ensaio foi o verificar

a influência que diferentes concentrações de carregamento tinham na cinética de libertação

farmacológica. Seguidamente, na Figura 36 apresentam-se os perfis de libertação obtidos com

as concentrações de 5 e 10 mg/ml:

Figura 36 - Libertação de fármacos nas lentes PV com concentração de 10 mg/ml.

O perfil de libertação das lentes PV colocadas numa solução de carregamento de 10 mg/ml

apresenta um perfil de libertação semelhante ao perfil das lentes PV carregadas numa solução

de concentração de 5 mg/ml, com a diferença de, como seria de esperar, ser libertada maior

quantidade de fármaco, praticamente o dobro, a partir das lentes carregadas na solução de

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1

2

3

4

5

6

7

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

[Fár

mac

o li

ber

tad

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um

ula

tivo

] /

µg/

mg

len

te s

eca

Tempo / min

Libertação de LEVO. Solução decarregamento de [10] mg/ml

Libertação de LEVO. Solução decarregament de [5] mg/ml

Page 77: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

62

concentração de 10 mg/ml. Estes resultados mostram a mesma dependência entre a quantidade

de fármaco libertada e a concentração da solução de carregamento que os ensaios realizados

por Paradiso et al. [185] em hidrogéis de TRIS/NVP/HEMA.

Como a única alteração que este ensaio evidenciou relativamente aos ensaios efetuados

com as lentes de contacto carregadas com numa concentração de 5 mg/ml, foi a quantidade de

fármaco libertada, decidiu-se prosseguir os restantes ensaios com a concentração inicial da

solução de carregamento, diminuindo os gastos em fármaco utilizado.

De modo a estudar a influência do tempo de carregamento das lentes de contacto nos

seus perfis de libertação farmacológica, efetuou-se ainda um carregamento de LEVO, com a

concentração de 5 mg/ml nas PV por 7 dias de acordo com o procedimento descrito

anteriormente. Na Figura 37 compara-se o perfil de libertação do fármaco com o obtido no

carregamento de 14 h:

Figura 37 - Libertação de LEVO nas lentes PV carregadas por 7 dias e 14h.

Como é possível visualizar na Figura 37 não se verificou alterações significativas na

quantidade de fármaco libertado nem no tempo de libertação. Assim, pode-se concluir que as 14

horas de carregamento garantem o equilíbrio para esta concentração de fármaco e para este

hidrogel. Estes resultados estão de acordo com os resultados apresentados no trabalho de Jinah

K. et al [186] em que efetuou diversos ensaios de libertação do fármaco dexametasona. Neste

estudo, o tempo de carregamento nas lentes PV não influenciou significativamente os perfis de

libertação. Resultados semelhantes são apresentados por Paradiso et al. [170], em que

verificaram que o tempo de carregamento dos hidrogéis de TRIS/NVP/HEMA não exerceu

influência sobre os perfis de libertação de LEVO, indicando que 14h de carregamento são

0

0,5

1

1,5

2

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Libertação de LEVO com arregamento por 7 dias

Libertação de LEVO com carregamento por 14h

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suficientes para se atingir o equilíbrio de saturação. Contudo, ainda no trabalho de Paradiso et

al. [170], o tempo de carregamento de hidrogéis constituídos por HEMA/PVP com CHX exerceu

influência nos perfis de libertação do fármaco. Assim, crê-se que o tempo de carregamento pode

exercer ou não influência nos perfis de libertação, dependendo de fatores como o tipo de

material, a concentração utilizada, o tipo de fármaco e o grau de cross-linking existente nos

hidrogéis. [170]

Para avaliar o efeito da força iónica do meio na libertação do fármaco, efetuou-se um teste

com as lentes PV previamente carregadas com CHX mergulhadas em 4 ml de água Milli-Q. Esta

água é desionizada tendo sido purificada num sistema Milli-Q, portanto não possui iões ao

contrário da solução de NaCl que é usada como sendo uma solução semelhante ao sistema

lacrimal. Apesar de o ensaio com a lente mergulhada na solução de água Milli-Q ter pouco

significado fisiológico, é importante fazer este teste para perceber de que forma a concentração

iónica do meio no qual as lentes estão envolvidas influência a libertação dos fármacos. Assim,

na Figura 38 é possível verificar a quantidade de CHX libertada pelas lentes PV na solução de

água Milli-Q. Para facilitar a comparação dos resultados, representa-se novamente o perfil de

libertação de CHX das PV em solução de NaCl apresentada anteriormente na Figura 34.

Tal como pode ser visualizado na Figura 38, as lentes imersas na solução de água Milli-Q

apresentaram uma maior quantidade de CHX libertada quando comparadas com as lentes

mergulhadas na solução de NaCl. O tempo de libertação parece ser ligeiramente inferior ao

tempo necessário para atingir o equílibro quando a libertação é feita em NaCl.

Estes resultados vão de encontro aos resultados apresentados por Ringet et al. [161], que

referem a influência da concentração iónica dos meios de libertação sobre a taxa de libertação

de cafeina no hidrogel em estudo, e a sua capacidade de intumescimento. Neste estudo Ringet

Figura 38 - Libertação de CHX das PV imersas em duas soluções distintas, água Milli-Q e NaCl.

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Libertação de CHX - Água Milli-Q

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et al, testou o grau de intumescimento e a quantidade libertada de cafeina, que é uma molécula

solúvel e neutra, em meios de libertação com diferentes forças iónicas, tendo concluído que o

intumescimento e a libertação da cafeina é inversamente proporcional à força iónica do meio.

3.2.2. Ensaios de libertação em condições dinâmicas

Com o objetivo de aproximar as condições de libertação farmacológica das condições in

vivo e tendo em conta que os fluidos presentes no sistema ocular estão em constante renovação,

nomeadamente o fluido lacrimal, foi importante efetuar a renovação da solução que contacta com

a lente carregada de fármaco. Assim, efectuaram-se testes substituindo a solução de libertação

em que a lente de contacto estava imersa utilizando dois métodos distintos: 1) por troca total da

solução do tubo de ensaio sempre que o equilíbrio era atingido, 2) recorrendo a uma célula

microfluidica, em que a troca da solução era feita de forma continua. Os gráficos seguintes

apresentam a comparação entre os perfis de libertação para as duas lentes de contacto utilizadas

e para os dois fármacos em ambos os sistemas utilizados e descritos anteriormente - célula

microfluidica e com substituição da solução.

Como dito anteriormente, os ensaios na célula microfluidica foram efetuados para ambos

os fármacos e ambas as lentes de contacto. Os ensaios com substituição total da solução foram

efetuados para ambas as lentes de contacto mas apenas para o fármaco de CHX.

Nas Figuras 39 e 40 apresenta-se, respetivamente, os gráficos dos perfis de libertação de

LEVO a partir das lentes PV e das lentes SL usando célula microfluidica e comparando-os com

os perfis de libertação em condições estáticas (sem renovação):

Figura 39 – Libertação de LEVO nas lentes PV utilizando a célula microfluidica.

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LEVO - Cond. Estáticas

LEVO - Cél. Micro Fluídica

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Analisando a Figura 39, pode-se concluir que recorrendo à célula microfluidica, o fármaco

foi libertado pelas lentes PV de forma mais gradual comparativamente à libertação da LEVO em

condições estáticas. O tempo de libertação de LEVO na célula microfluidica é de

aproximadamente 70 minutos, enquanto que, em condições estáticas, o fármaco é libertado em

aproximadamente 5 minutos.

Estes valores sugerem que em condições in vivo, o tempo de libertação deste fármaco

pela utilização destas lentes poderá ser superior aos 70 min de libertação que ocorreu na célula

microfluidica, uma vez que a quantidade de fluido lacrimal que contacta a lente é muito inferior à

quantidade de fluido utilizado na célula microfluidica. Analisando a Figura 40, em que é

comparado o perfil de libertação da LEVO nas SL, obtido na célula microfluidica, com o perfil em

condições estáticas, as conclusões são semelhantes:

Figura 40 - Libertação de LEVO nas lentes SL utilizando a célula microfluidica.

No caso das lentes SL, o comportamento foi semelhante. Isto é, o tempo de libertação da

LEVO na célula microfluidica foi aproximadamente de 80 minutos, enquanto que o fármaco foi

libertado em menos de 10 minutos em condições estáticas.

A quantidade de fármaco libertado pelas lentes de contacto foi semelhante

independentemente do método de libertação utilizado. Assim, as PV libertaram

aproximadamente 3 µg/mg de lente seca tanto em condições estáticas como pela utilização da

célula microfluidica e as lentes SL libertaram cerca de 14 µg/mg de lente seca em ambos os

ensaios. Além disso, também com a utilização da célula microfluidica, verificou-se que foi

libertada uma maior quantidade de fármaco nas lentes SL do que nas PV, tal como aconteceu

em condições estáticas.

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LEVO - Cond. Estáticas

LEVO - Cél. Micro Fluídica

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66

Os resultados apresentados nos gráficos acima estão de acordo com os resultados

encontrados na bibliografia, Ali M, et al. [187], Bajgrowicz M. et al. [188] e Vazquez R. et al. [189].

Segundo Pimenta, A. et al. [190], as diferenças de volumes das soluções em que as lentes estão

imersas para a libertação do fármaco, provocam diferentes gradientes de concentração entre o

e o hidrogel carregado e o meio. O gradiente de concentração é superior em condições estáticas,

uma vez que a lente está mergulhada num volume de solução significativamente superior (cerca

de 6 vezes superior). Assim, em condições estáticas, a força motriz responsável pela libertação

de fármaco a partir das lentes de contacto, é superior do que no caso da célula microfluidica,

resultando numa libertação abrupta de fármaco para o meio. Pimenta A. et al. [190] refere ainda

que a agitação existente em condições estáticas, tal como descrito anteriormente, contribui para

a homogeneidade da solução eliminando o conceito de fronteira de superfície.

Nas Figuras 41 e 42 apresentam-se os perfis de libertação da CHX a partir das PV e SL,

respetivamente, seguindo as duas abordagens referidas anteriormente, isto é, utilizando a célula

microfluidica e as condições estáticas com renovação total do meio. Neste último caso, quando

se atingiu o patamar de equilíbrio no perfil de libertação, ou seja, quando a libertação do fármaco

se tornou aproximadamente nula, procedeu-se à substituição total da solução sobrenadante de

NaCl. Note-se que este troço inicial é praticamente coincidente com o perfil obtido em condições

estáticas que se apresentou na Figura 35. As linhas a tracejado a vermelho correspondem ao

momento em que fez-se a troca de solução.

Figura 41 - Libertação de CHX nas lentes PV na célula microfluidica e com substituição da solução presente no tubo de ensaio.

Tal como pode ser visualizado na Figura 41 a quantidade de CHX libertada nos ensaios

realizados na célula microfluidica, é semelhante à quantidade libertada na abordagem com

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CHX - Cél. Micro fluídica

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substituição da solução de NaCl. O equilíbrio em condições estáticas foi alcançado em

aproximadamente 600 minutos (10 horas) e só ocorreu a libertação de mais fármaco quando as

lentes foram colocadas numa nova solução de NaCl. No entanto, no caso da célula microfuídica

é expectável que se se prosseguisse o ensaio, a quantidade libertada fosse superior, pois ainda

se verificava libertação do fármaco quando se deram por terminados os ensaios. No caso da

célula microfluida, verificasse uma libertação mais gradual do fármaco comparativamente ao

ensaio de libertação em condições estáticas.

Figura 42 - Perfis de CHX nas lentes SL na célula microfluidica e com substituição da solução presente no tubo de ensaio.

Tal como pode ser visualizado na Figura 42 a quantidade de CHX libertada nos ensaios

realizados na célula microfluidica, é semelhante à quantidade libertada na abordagem com

substituição da solução de NaCl, com uma diferença de aproximadamente 4% nas quantidades

libertadas entre cada ensaio. Relativamente à cinética de libertação, verifica-se, à semelhança

do que acontecia com a LEVO, que é mais lenta no caso da célula microfluidica, tal como era

expectável, com um tempo de libertação de aproximadamente 1600 minutos, que contraste com

os aproximadamente 500 minutos em que ocorre a libertação de CHX em condições estáticas.

Como se disse, as linhas vermelhas a tracejado correspondem à substituição da solução

de NaCl. O período que se segue a essa substituição corresponde ao período noturno, sem

recolha de amostras, Aliás, também na célula microfluidica o período de tempo em que não foi

registado nenhum ponto corresponde ao período noturno, tal como pode ser visualizado nas

Figuras a cima.

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Apesar de inicialmente e com base nas Figuras 34 e 35 parecer que todo a CHX presente

nas lentes de contacto tinha sido libertada para a solução na qual as lentes estavam envolvidas,

os gráficos presentes nas Figuras 41 e 42 revelaram que existia mais fármaco no seu interior.

Com efeito, a renovação total da solução promoveu a libertação de fármaco que se encontrava

ligado à matriz. Ao repetir este procedimento, a quantidade libertada vai diminuindo, tendendo a

anular-se.

Depois de efetuados os testes de libertação, e assumindo que a quantidade de fármaco

libertada corresponde à totalidade de fármaco carregado na lente, apresenta-se na tabela 11 as

quantidades de fármaco carregado em ambas as lentes de contacto:

Tabela 11 - Quantidade de fármaco carregado por mg de lente seca e por lente.

Lente/Fármaco [solução de

carregamento]

Fármaco por mg de

lente seca

Fármaco por lente

PV / CHX 5 mg/ml 9 µg 180 µg

PV / LEVO 5 mg/ml 3 µg 60 µg

PV / LEVO 10 mg/ml 5,5 µg 121 µg

SL / CHX 5 mg/ml 11 µg 220 µg

SL / LEVO 5 mg/ml 13 µg 260 µg

Relativamente à posologia, atualmente no mercado a LEVO é utilizada em colírios (por

ex OFTAQUIX) com uma concentração de 5 mg/ml, com a indicação de ser administradas 1 a

2 gotas a cada 2 horas no primeiro e segundo dia e nos restantes 5 dias (tratamento com a

duração de 7 dias) 1 a 2 gotas a cada 4 horas. [192] Considerando que da quantidade

administrada, menos de 5% é absorvida pela córnea [193] e assumindo que cada gota tem um

volume de 25 µl, a posologia é, no máximo, de 0,05 a 0,1 mg por dia nos dois primeiros dias e

nos restantes cinco dias é de metade desse valor, ou seja, 0,025 mg a 0,05 mg. Estes valores

foram calculados assumindo que as lentes de contacto são utilizadas 16h por dia. Ou seja, as

necessidades terapêuticas da córnea são de aproximadamente 2,1 a 4,2 µg/h nos primeiros dois

dias e nos restantes de 1,0 a 2,1 µg/h. Além disso, as células oculares revelam uma elevada

tolerância à LEVO quando a exposição a este fármaco é por curtos períodos de tempo e a

concentração do fármaco é inferior a 30 mg/ml. [194]

Para a solução de carregamento de 5 mg/ml, a massa de LEVO carregada nas lentes PV

e nas SL foi de, respetivamente, 60 µg e 260 µg. Considerando que a córnea tem uma

necessidade terapêutica média de 3,2 µg/h nos dois primeiros dias e 1,6 µg /h nos 3 dias

seguintes, a quantidade de LEVO necessária por lente seria de aproximadamente 179 µg por

lente. Assim, pode-se concluir que a quantidade de LEVO carregada nas PV não é suficiente

para satisfazer as necessidades terapêuticas da córnea. Para tal ser possível, considerando que

o coeficiente de partição é independente da concentração, a concentração de carregamento das

PV com LEVO teria que ser de aproximadamente de 15 mg/ml.

Quanto à massa de LEVO nas SL, é possível concluir que a quantidade carregada é

suficiente para permitir satisfazer as necessidades terapêuticas na córnea nos 7 dias.

Page 84: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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Relativamente à CHX, segundo Minassian et al. [195] as necessidades terapêuticas da

córnea para este fármaco são bastante inferiores, entre 1,8 e 0,7 µg/h. Assim assumindo um

valor médio de necessidade terapêutica de 1,25 µg/h, a quantidade de CHX em cada tipo de

lente é suficiente para satisfazer as necessidades terapêuticas da córnea pelo período

estipulado. As Figuras 43 e 44 representam a massa de CHX libertada por hora em condições

estáticas e com a célula microfluidica e a quantidade de CHX - utilizando 1 e 2 gotas.

Figura 43 – Taxa de libertação de CHX por hora nas SL. O valor do desvio padrão é, para todos os valores representados, no máximo de 2%.

Figura 44 - Taxa de libertação de CHX por hora nas PV. O valor do desvio padrão é, para todos os valores representados, no máximo de 2%.

Em lentes de contacto ideais, deve ser garantido que a concentração do fármaco libertado

ao longo do tempo está dentro da janela terapêutica. Como seria de esperar, a libertação de

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Taxa libertada CHX/h - Célula Microfluidica

Taxa libertada CHX/H - Condições Estáticas

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Taxa libertada CHX/h - Condições estáticas

Taxa Libertada CHX/h - Cél. Microfluídica

Terapia - 2 gotas

Terapia - 1 gota

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CHX utilizando condições estáticas revela uma elevada concentração inicial devido às diferentes

concentrações iónicas da solução sobrenadante. Com a célula microfluidica, o gradiente de

concentração é inferior quando comparado com as condições estáticas, assim, a libertação do

fármaco faz-se de forma mais gradual e a concentração de CHX por hora diminui gradualmente.

Em ambos os casos verifica-se que, na fase inicial de libertação de CHX, tanto em

condições estáticas como recorrendo à célula microfluidica, as concentrações estão bastante

acima das recomendações terapêuticas. Nas lentes SL, verifica-se que 13h depois de se ter

começado a libertação farmacológica, a taxa de libertação deste fármaco obtida com a célula

microfluidica está dentro do valor recomendável, (até então, esteve sempre acima) mantendo-se

dentro da janela terapêutica por aproximadamente mais 13 horas. Tanto nas lentes PV como nas

SL não se verifica libertação de fármaco passadas pouco mais de 24 horas.

As Figuras 45 e 46 apresentam a taxa de libertação de LEVO por minuto. Esta

representação é feita em minutos uma vez que, tal como verificado anteriormente, a libertação

deste fármaco em ambas as lentes de contacto é feita em pouco mais de uma hora. Além disso,

representamos também a taxa de libertação de LEVO recomendada utilizando 1 e 2 gotas.

Figura 45 - Taxa de libertação de LEVO por minuto nas SL. O valor do desvio padrão é, para todos os valores representado, no máximo de 1%.

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Figura 46 - Taxa de libertação de LEVO por minuto nas PV. O valor do desvio padrão é, para todos os valores representado, no máximo de 1%.

A presença de LEVO ao longo do tempo existe em quantidades bastantes inferiores

comparando com a quantidade de CHX. Nas lentes SL, a taxa de libertação deste fármaco está

dentro da janela terapêutica durante os primeiros 45 minutos, revelando ser uma alternativa

possível às gotas oftalmológicas nesta fase inicial. No caso das lentes PV, a presença deste

fármaco apesar de se prolongar até aos 100 minutos, nunca chega a estar dentro da janela

terapêutica.

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de

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Taxa libertada LEVO/min - Cél.Microfluidica

Terapia 2 gotas

Terapia 1 gota

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4. Conclusão e Trabalho Futuro Neste trabalho estudou-se a libertação in vitro de dois fármacos, LEVO e CHX, a partir

de tipos distintos de lentes de contacto, as PV e as SF. Estes estudos foram efetuados em

diferentes condições de carregamento e de libertação, com o objetivo de se perceber em que

medida estas condições afetam a libertação dos fármacos. As lentes foram ainda caracterizadas

na presença e na ausência de fármaco quanto à sua capacidade de intumescimento,

transmitância e a molhabilidade.

No que diz respeito ao intumescimento, as lentes SL demostraram uma capacidade de

intumescimento muito superior às PV, com valores respetivos de 133% e 43%, correspondendo

à capacidade de absorção de água de 57% e 31%, respetivamente. Estes valores são na mesma

ordem de grandeza dos apresentados pelo fabricante.

O estudo do efeito da temperatura no intumescimento permitiu concluir que o aumento

de temperatura para 40 ºC conduz, a uma diminuição do grau de intumescimento das lentes.

Não se detetaram diferenças significativas à temperatura ambiente e a 4 ºC. Por este motivo,

decidiu-se efetuar o carregamento do fármaco à temperatura ambiente. Esta decisão é justificada

pela maior facilidade laboratorial e industrial em seguir os procedimentos definidos e por

economicamente ser mais vantajoso quando comparado com o carregamento das lentes à

temperatura de 4 ºC. Os estudos sobre a reversibilidade do intumescimento com a temperatura

revelaram que, dentro das gamas de temperaturas estudadas, há reversibilidade total no que diz

respeito à quantidade de água absorvida pela lente. Também os resultados apresentados vão

de encontro ao referido na bibliografia, tal como indicado no capítulo 3.

Sobre a molhabilidade e transmitância destas lentes de contacto, conclui-se que a

utilização destes fármacos não exerce influência significativa nos valores destas propriedades,

portanto, mesmo com as lentes carregadas, a acuidade visual e conforto do paciente na

utilização destas lentes, estão garantidos.

Ao longo deste trabalho efetuaram-se ensaios de libertação dos dois fármacos (LEVO e

CHX) em condições estáticas e dinâmicas. Os perfis de libertação em condições estáticas,

apesar de fornecerem uma ideia aproximada sobre o comportamento do fármaco numa fase

inicial, são muito distintos do que acontece in vivo. Os ensaios realizados em condições

dinâmicas acabam por ter mais interesse fisiológico uma vez que se aproximam das condições

reais que ocorrem no sistema ocular. Segundo os valores de limite de solubilidade que consta

em [195] e [196], as experiências de libertação farmacológica efetuadas em tubos de ensaios

estão em condições sink, as experiências realizadas com as células microfluidicas, não estão

nessas condições. Relativamente à libertação de LEVO, a comparação dos resultados obtidos

em condições estáticas e dinâmicas mostrou que a quantidade total de fármaco libertado foi

semelhante (diferença ≤ 8%) e que a principal diferença ocorreu na cinética da libertação, isto é,

muito mais lenta nos ensaios em condições dinâmicas. A diferença observada nas quantidades

totais libertadas pode ser atribuída aos erros relativamente significativos associados aos valores

medidos em condições estáticas e ao facto de não ter sido atingido um patamar em condições

Page 88: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

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dinâmicas. No caso da CHX, verificou-se que os ensaios em condições estáticas não conduziram

à libertação de todo o fármaco presente nas lentes de contacto apesar de ter sido alcançado o

equilíbrio de forma clara. De facto, ao substituir a solução de libertação, verificou-se ainda a

libertação de uma quantidade considerável de fármaco: cerca de 37% de CHX nas PV e de 59%

nas SL. As quantidades totais obtidas com este método são semelhantes às obtidas com as

células microfluidicas, o que leva a crer que todo o fármaco que estava dentro das lentes de

contacto foi efetivamente libertado para a solução. O tempo de libertação, mesmo em condições

dinâmicas, é demasiado curto no caso da LEVO. Para a CHX, os tempos superiores a 1600

minutos são apropriados para lentes de utilização diária. No entanto, há que notar que em

condições in vivo o tempo de libertação será superior uma vez que a lente está em contacto com

uma quantidade de fluido muito mais reduzida do que a usada nas células microfluidicas.

A comparação das quantidades libertadas com a posologia recomendada para ambos

os fármacos mostra que, de uma forma geral, a quantidade libertada de CHX é suficiente, mas a

de LEVO é inferior. Estes estudos revelam ainda que os ensaios efetuados com a célula

microfluidica, apesar de estas células terem uma quantidade de líquido bastante superior ao que

estaria em contacto com as lentes se colocadas no sistema ocular, apresentam uma melhoria

significativa na permanência dos fármacos no meio de libertação ao longo do tempo.

A conclusão importante deste trabalho é a verificação da grande influência das condições

de libertação nos perfis de libertação obtidos. Embora as experiências realizadas em condições

sink sejam importantes para obter dados comparativos, acredita-se que em contacto com o olho,

existam melhores perfis de libertação farmacológica. Após a conclusão deste trabalho que pode

ser considerado preliminar, dadas as limitações de tempo, várias questões ficaram em aberto e

que devem ser abordadas em trabalhos futuros. Uma delas seria por exemplo, a otimização das

células microfluidicas de modo o reduzir o volume da solução de libertação aproximando mais

da situação in vivo. De facto, depois da conclusão deste trabalho experimental, já foram

construídas novas células que estão a ser utilizadas neste laboratório. Outra questão importante

é a adequação das quantidades de fármacos carregados nas lentes às necessidades

terapêuticas. Outros tópicos podem ser aprofundados.

O tema abordado nesta tese é de especial interesse devido à sua aplicabilidade comercial.

As lentes de contacto estudadas no âmbito deste trabalho existem no mercado desde 1999 com

uma quota de mercado bem definida e total aceitação por parte dos pacientes. A possibilidade

de obter bons perfis de libertação do fármaco, facilmente reprodutíveis, e que produzam efeitos

fisiológicos para o paciente conduzirão certamente a uma vantagem competitiva para a

Bausch&Lomb face às empresas concorrentes, abrindo um novo segmento de investigação para

melhorar e aprofundar o conhecimento associado à libertação de fármacos nas lentes de

contacto comerciais. Desta forma, permite-se que estes dispositivos biomédicos se posicionem

na linha da frente do mercado para o tratamento de doenças oftalmológicas e, possivelmente,

sirvam de caso de estudo para outro tipo de aplicabilidade no âmbito da engenharia biomédica.

Page 89: Libertação controlada de fármacos a partir de lentes de ... · influenciam os perfis de libertação dos fármacos de levofloxacina e clorohexidina a ... Tabela 5 - Lista dos polímeros

74

5. Bibliografia

[1] DARTT, D. A., BESHARSE, J. C., DANA, R., Encyclopedia of the eye, 2010 Elsevier, Boston – USA.

[2] TATE, P., Seeley's Principles of Anatomy & Physiology, 2nd ed., 2009 McGraw-Hill.

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