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NATAL, SEXTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL / 9 Cidades Editor Moura Neto E-mail [email protected] Fones 84 3201.2443 / 3221.3438 O Centro Estadual de Educa- ção Profissional Jessé Pinto Frei- re (Cenep) foi criado especialmen- te para oferecer ensino médio in- tegrado e subseqüente - modali- dade de curso técnico em que o estudante ingressa só depois de concluir o ensino médio regular. O centro começou a funcionar no final de 2006 com o curso de téc- nico subseqüente de Biodiagnós- tico. No ano seguinte, a escola re- cebeu os primeiros alunos para o ensino médio integrado em duas habilitações técnicas diferentes: Gestão Empresarial e Montagem e Manutenção de Computadores. A escola também possui edu- cação profissionalizante para jo- vens e adultos (Proeja). Essa mo- dalidade é direcionada para maio- res de 15 anos que estão fora da faixa etária ideal. Conforme o co- ordenador pedagógico interino, professor Leopercino dos San- tos, atualmente a instituição pos- sui cerca de mil alunos matricula- dos em três turnos (manhã, tarde e noite). Embora seja considerada refe- rência na rede estadual, a realida- de do Centro Estadual de Educa- ção Profissional Jessé Pinto Frei- re não é completamente diferen- te da dos outros estabelecimentos de ensino da rede. “Esse ano não abrimos turmas para o curso sub- sequente de Biodiagnóstico por falta de espaço físico”, informou o coordenador. Ainda segundo ele, a escola não possui laborató- rios para os estudantes desse cur- so técnico. As turmas que já con- cluíram tiveram a formação im- provisada. “Os professores combi- navam com eles para ter aula em algum laboratório da UFRN, por exemplo. Existe a sala para o la- boratório, mas falta o instrumen- tal”, revela. No caso do curso de Monta- gem e Manutenção de Compu- tadores, os laboratórios existem, “mas precisam ser melhorados”. De acordo com o coordenador pe- dagógico da escola, a renovação dos equipamentos não ocorre na velocidade que o mundo da infor- mática exige. Se um equipamento quebrar, por exemplo, os alunos fi- cam na dependência da burocra- cia pública para recuperá-lo. Se não faltam professores para lecionar as disciplinas téc- nicas, como garante o coordena- dor, as condições oferecidas aca- bam não sendo atrativas para os profissionais do magistério, se- gundo atesta o professor Isaías Chagas. Como professor de infor- mática há dois anos no Cenep, ele conta que o “tratamento especial” que recebe do governo para traba- lhar numa “escola de referência” lhe valeu, entre outros dissabores, o atraso de cinco meses no salário no ano passado. “Há dificuldade no pagamen- to e o processo de contração é len- to. O difícil é encontrar um pro- fissional que aceite as condições contratuais, ainda mais na área de informática”, comentou Chagas. O governo contrata professores para as disciplinas técnicas a partir de um único critério: análise de cur- rículo. O contrato tem a validade de um ano e pode ser renovado por igual período. Não há docen- tes para esta área no quadro efe- tivo do estado. O professor ava- lia que os laboratórios estão “den- tro da realidade do que o governo pode oferecer. “Tem algumas defi- ciências, mas o próprio IFRN tam- bém tem as suas”, disse, com co- nhecimento de causa, já que é for- mado pelo instituto federal. Boa parte desses estudantes procura o Cenep com esperança de uma formação mais consisten- te no ensino médio. É o caso da estudante do 2º ano Kaliany Ke- rolyn Batista da Silva, de 17 anos, que faz parte do curso técnico in- tegrado de Gestão Empresarial. “Vim para cá porque a escola é técnica e o ensino é bem melhor que as escolas estaduais comuns”, justificou. No último ano do curso de Gestão Empresarial, os alunos são “encaminhados” para estágio. Porém, não é certeza de serem aceitos por uma empresa para exercitarem a prática profissional. O exemplo de quem foi preju- dicada e até hoje sofre com as con- seqüências do mal planejamento governamental é a estudante Wa- leska Borges, 19. Ela passou dois anos estudando na grade curricu- lar do ensino médio integrado e voltou para o ensino médio regu- lar depois de pedir transferência da escola. Para ter ideia da desorganiza- ção, Waleska não foi informada de nenhuma mudança curricular ou da introdução do curso técnico in- tegrado no momento em que foi se matricular no 1º ano, ainda em 2006. “Só depois que começaram as aulas é que disseram que ia ter esse curso. Mas onde estavam os profes- sores, a estrutura da escola? Não ti- nha nada”, relatou a ex-aluna. Mesmo nessas condições, os alunos tiveram aulas de duas dis- ciplinas específicas no primeiro ano, ministradas por estagiários. “Só vieram dois professores da grade nova, os de economia e in- formática”, disse. As turmas fica- ram o ano inteiro sem professor de Língua Espanhola. A estudante teve que sair da escola e não pode repor as disci- plinas perdidas no Edgar Barbosa. “Quem ficou lá, fez uns trabalhos e passou. Mas eu tive que vir morar aqui [No conjunto Vale Dourado, Zona Norte de Natal] e mudar de escola”, disse. Waleska foi cursar o 3º ano na Escola Estadual Profes- sor Francisco Ivo, onde, aliás, foi reprovada. Depois, pediu transfe- rência para outra escola. A estu- dante deveria ter concluído o en- sino médio no final de 2008, caso tivesse permanecido em uma es- cola de ensino médio regular. En- tretanto, ela ainda está cursando o 3º ano do ensino médio na Esco- la Estadual Felizardo Moura, nas Quintas. “Eles falaram que eu ia ter que fazer uma adaptação”, de- clarou a jovem. Hoje, Waleska pensa que po- deria estar em condição melhor se não tivesse caído na cilada da Secretaria de Educação. “Eu já te- ria acabado o ensino médio e po- deria estar trabalhando agora”, la- mentou. Segundo ela, havia uma promessa que os estudantes com as melhores notas seriam encami- nhados para estágios. OS CURSOS TÉCNICOS de ensino mé- dio voltaram a ficar em evidência a partir das duas últimas décadas. A rede de institutos federais, por exemplo, está em plena expansão. O resultado do Enem de 2009, di- vulgado recentemente, também comprova a qualidade dessas ins- tituições: 82% das escolas técni- cas avaliadas pelo levantamen- to do Ministério da Educação fi- caram entre as melhores em todo o país. Na rede estadual do Rio Grande do Norte, porém, ao con- trário do que ocorre em outros es- tados, essa modalidade de ensino não prospera, apesar dos recursos investidos pelo Ministério da Edu- cação (MEC), que somam cerca de R$ 125 milhões somente entre os anos de 2008 e 2009. A única instituição estadual que oferece ensino médio integra- do a um curso técnico é o Centro Estadual de Educação Profissional Jessé Pinto Freire (Cenep), em Na- tal. Fora disso, sobram experiên- cias fracassadas e mal planejadas. O atraso da rede estadual nessa modalidade de ensino está explíci- to em uma “experiência piloto” que prejudicou, há quatro anos, a vida escolar de quase 700 alunos na Es- cola Estadual Edgar Barbosa, loca- lizada no bairro de Lagoa Nova. O que seria exemplo para as outras escolas de ensino médio conver- teu-se em desastre. A escola em questão só ofere- ceu ensino médio técnico integra- do durante dois anos. A princípio, os alunos cursariam as discipli- nas do seu curso profissionalizan- te junto com as do ensino médio regular (português, biologia, física, geografia e outras da grade cur- ricular), distribuídas ao longo de quatro anos, em vez dos três do ensino médio atual. Com a forma- tação do ensino médio integrado, a ordem em que as disciplinas são ministradas também é diferente. A instituição estadual iniciou turmas no ensino médio integra- do em 2006. Cerca de 320 alunos ingressaram neste ano e no ano seguinte, distribuídos em turmas pela manhã e à tarde no 1º série do ensino médio. O problema é que nesses dois anos, a escola não rece- beu estrutura necessária, tampou- co professores qualificados para habilitação técnica do curso inte- grado de Secretariado Executivo. Segundo o vice-diretor da es- cola à época, Josenildo Xavier, a Secretaria Estadual de Educação havia prometido reestruturar o la- boratório de informática da esco- la e incrementar a biblioteca com acervo técnico. Mas tudo ficou em promessa. No que diz respeito aos professores, mais uma vez a solu- ção do órgão gestor da educação estadual foi enviar estagiários. “A proposta era fazer da mesma for- ma que o Cefet [atual IFRN], mas o estado não tem professores com qualificação para lecionar essas disciplinas no seu quadro”, dis- se Josenildo Xavier, hoje professor dae História da escola. Diante da experiência frus- trante, ele afirmou que, na oca- sião, os pais acharam por bem aca- bar com a “experimentação”. “A co- munidade escolar se reuniu em as- sembleia e decidiu interromper o curso no segundo ano de existên- cia”, disse. A Escola Edgar Barbo- sa foi escolhida pelo governo para começar o projeto porque era bem avaliada entre as demais institui- ções estaduais. Mesmo assim, o conselho escolar e a assembleia da comunidade tinham autonomia para aderir ou rejeitar a modalida- de de ensino. Quando foi proposto pela Secretaria de Educação, o pro- jeto de ensino médio integrado pa- recia interessante. “Dizem os cole- gas daqui, que se vendeu um peixe e nos entregaram outro”, acrescen- tou o professor. O pior transtorno para os alu- nos foi sair da grade curricular do ensino médio integrado para voltar ao ensino médio regular. Os estudantes do 1º ano do ensi- no técnico, por exemplo, não ti- nham a disciplina de biologia, por- que o conteúdo seria diluído nos três anos seguintes. Ao cancelar o curso técnico integrado, acaba- ram por não estudar o conteúdo em nenhuma série do ensino mé- dio regular. Depois que os alunos já estavam no 3º ano, para não se- rem prejudicados ainda mais, pu- deram entregar trabalhos de bio- logia referentes aos assuntos da 1º série, mesmo sem tê-los estudado em sala de aula. / FRACASSO / REDE ESTADUAL COLECIONA EXPERIÊNCIAS DESASTROSAS NESTA MODALIDADE DE ENSINO, APESAR DOS RECURSOS INVESTIDOS PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE ENSINO TÉCNICO LIÇÃO MAL FEITA PARA O EU JÁ TERIA ACABADO O ENSINO MÉDIO E PODERIA ESTAR TRABALHANDO AGORA” Waleska Borges Estudante QUATRO ANOS DEPOIS, AINDA SEM PROFISSÃO REFERÊNCIA NO ESTADO, CENEP TAMBÉM TEM DEFICIÊNCIAS A PROPOSTA ERA FAZER DA MESMA FORMA QUE O CEFET, MAS O ESTADO NÃO TEM PROFESSORES COM QUALIFICAÇÃO” Josenildo Xavier Professor da Escola Estadual Edgar Barbosa MARCELO LIMA DO NOVO JORNAL Leopercino dos Santos, coordenador: falta espaço físico Kaliany Kerolyn Batista, aluna: “Vim para cá porque a escola é técnica e o ensino é melhor que as escolas comuns” CONTINUA NA PÁGINA 10 WALLACE ARAÚJO / NJ WALLACE ARAÚJO / NJ MAGNUS NASCIMENTO / NJ MAGNUS NASCIMENTO / NJ

LIÇÃO MAL FEITA PARA O ENSINO TÉCNICO

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Page 1: LIÇÃO MAL FEITA PARA O ENSINO TÉCNICO

NATAL, SEXTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL / 9

Cidades Editor Moura Neto

[email protected]

Fones84 3201.2443 / 3221.3438

O Centro Estadual de Educa-ção Profi ssional Jessé Pinto Frei-re (Cenep) foi criado especialmen-te para oferecer ensino médio in-tegrado e subseqüente - modali-dade de curso técnico em que o estudante ingressa só depois de concluir o ensino médio regular. O centro começou a funcionar no fi nal de 2006 com o curso de téc-nico subseqüente de Biodiagnós-tico. No ano seguinte, a escola re-cebeu os primeiros alunos para o ensino médio integrado em duas habilitações técnicas diferentes: Gestão Empresarial e Montagem e Manutenção de Computadores.

A escola também possui edu-cação profi ssionalizante para jo-vens e adultos (Proeja). Essa mo-dalidade é direcionada para maio-res de 15 anos que estão fora da faixa etária ideal. Conforme o co-ordenador pedagógico interino, professor Leopercino dos San-tos, atualmente a instituição pos-sui cerca de mil alunos matricula-dos em três turnos (manhã, tarde e noite).

Embora seja considerada refe-rência na rede estadual, a realida-

de do Centro Estadual de Educa-ção Profi ssional Jessé Pinto Frei-re não é completamente diferen-te da dos outros estabelecimentos de ensino da rede. “Esse ano não abrimos turmas para o curso sub-sequente de Biodiagnóstico por falta de espaço físico”, informou o coordenador. Ainda segundo ele, a escola não possui laborató-rios para os estudantes desse cur-so técnico. As turmas que já con-cluíram tiveram a formação im-provisada. “Os professores combi-navam com eles para ter aula em algum laboratório da UFRN, por exemplo. Existe a sala para o la-boratório, mas falta o instrumen-tal”, revela.

No caso do curso de Monta-gem e Manutenção de Compu-tadores, os laboratórios existem, “mas precisam ser melhorados”. De acordo com o coordenador pe-dagógico da escola, a renovação dos equipamentos não ocorre na velocidade que o mundo da infor-mática exige. Se um equipamento quebrar, por exemplo, os alunos fi -

cam na dependência da burocra-cia pública para recuperá-lo.

Se não faltam professores para lecionar as disciplinas téc-nicas, como garante o coordena-dor, as condições oferecidas aca-bam não sendo atrativas para os profi ssionais do magistério, se-gundo atesta o professor Isaías Chagas. Como professor de infor-mática há dois anos no Cenep, ele conta que o “tratamento especial” que recebe do governo para traba-lhar numa “escola de referência” lhe valeu, entre outros dissabores, o atraso de cinco meses no salário no ano passado.

“Há difi culdade no pagamen-to e o processo de contração é len-to. O difícil é encontrar um pro-fi ssional que aceite as condições contratuais, ainda mais na área de informática”, comentou Chagas. O governo contrata professores para as disciplinas técnicas a partir de um único critério: análise de cur-rículo. O contrato tem a validade de um ano e pode ser renovado por igual período. Não há docen-

tes para esta área no quadro efe-tivo do estado. O professor ava-lia que os laboratórios estão “den-tro da realidade do que o governo pode oferecer. “Tem algumas defi -ciências, mas o próprio IFRN tam-bém tem as suas”, disse, com co-nhecimento de causa, já que é for-mado pelo instituto federal.

Boa parte desses estudantes procura o Cenep com esperança de uma formação mais consisten-te no ensino médio. É o caso daestudante do 2º ano Kaliany Ke-rolyn Batista da Silva, de 17 anos, que faz parte do curso técnico in-tegrado de Gestão Empresarial. “Vim para cá porque a escola é técnica e o ensino é bem melhor que as escolas estaduais comuns”, justifi cou. No último ano do curso de Gestão Empresarial, os alunos são “encaminhados” para estágio.Porém, não é certeza de seremaceitos por uma empresa para exercitarem a prática profi ssional.

O exemplo de quem foi preju-dicada e até hoje sofre com as con-seqüências do mal planejamento governamental é a estudante Wa-leska Borges, 19. Ela passou dois anos estudando na grade curricu-lar do ensino médio integrado e voltou para o ensino médio regu-lar depois de pedir transferência da escola.

Para ter ideia da desorganiza-ção, Waleska não foi informada de nenhuma mudança curricular ou da introdução do curso técnico in-tegrado no momento em que foi se matricular no 1º ano, ainda em 2006. “Só depois que começaram as aulas é que disseram que ia ter esse curso. Mas onde estavam os profes-sores, a estrutura da escola? Não ti-nha nada”, relatou a ex-aluna.

Mesmo nessas condições, os alunos tiveram aulas de duas dis-ciplinas específi cas no primeiro ano, ministradas por estagiários. “Só vieram dois professores da grade nova, os de economia e in-formática”, disse. As turmas fi ca-ram o ano inteiro sem professor de Língua Espanhola.

A estudante teve que sair da

escola e não pode repor as disci-plinas perdidas no Edgar Barbosa. “Quem fi cou lá, fez uns trabalhos e passou. Mas eu tive que vir morar aqui [No conjunto Vale Dourado, Zona Norte de Natal] e mudar de escola”, disse. Waleska foi cursar o 3º ano na Escola Estadual Profes-sor Francisco Ivo, onde, aliás, foi reprovada. Depois, pediu transfe-rência para outra escola. A estu-dante deveria ter concluído o en-sino médio no fi nal de 2008, caso tivesse permanecido em uma es-cola de ensino médio regular. En-tretanto, ela ainda está cursando o 3º ano do ensino médio na Esco-la Estadual Felizardo Moura, nas Quintas. “Eles falaram que eu ia ter que fazer uma adaptação”, de-clarou a jovem.

Hoje, Waleska pensa que po-deria estar em condição melhor se não tivesse caído na cilada da Secretaria de Educação. “Eu já te-ria acabado o ensino médio e po-deria estar trabalhando agora”, la-mentou. Segundo ela, havia uma promessa que os estudantes com as melhores notas seriam encami-nhados para estágios.

OS CURSOS TÉCNICOS de ensino mé-dio voltaram a fi car em evidência a partir das duas últimas décadas. A rede de institutos federais, por exemplo, está em plena expansão. O resultado do Enem de 2009, di-vulgado recentemente, também comprova a qualidade dessas ins-tituições: 82% das escolas técni-cas avaliadas pelo levantamen-to do Ministério da Educação fi -caram entre as melhores em todo o país. Na rede estadual do Rio Grande do Norte, porém, ao con-trário do que ocorre em outros es-tados, essa modalidade de ensino não prospera, apesar dos recursos investidos pelo Ministério da Edu-cação (MEC), que somam cerca de R$ 125 milhões somente entre os anos de 2008 e 2009.

A única instituição estadual que oferece ensino médio integra-do a um curso técnico é o Centro Estadual de Educação Profi ssional Jessé Pinto Freire (Cenep), em Na-tal. Fora disso, sobram experiên-cias fracassadas e mal planejadas. O atraso da rede estadual nessa modalidade de ensino está explíci-to em uma “experiência piloto” que prejudicou, há quatro anos, a vida escolar de quase 700 alunos na Es-cola Estadual Edgar Barbosa, loca-

lizada no bairro de Lagoa Nova. O que seria exemplo para as outras escolas de ensino médio conver-teu-se em desastre.

A escola em questão só ofere-ceu ensino médio técnico integra-do durante dois anos. A princípio, os alunos cursariam as discipli-nas do seu curso profi ssionalizan-te junto com as do ensino médio regular (português, biologia, física, geografi a e outras da grade cur-ricular), distribuídas ao longo de

quatro anos, em vez dos três do ensino médio atual. Com a forma-tação do ensino médio integrado, a ordem em que as disciplinas são ministradas também é diferente.

A instituição estadual iniciou turmas no ensino médio integra-do em 2006. Cerca de 320 alunos ingressaram neste ano e no ano seguinte, distribuídos em turmas pela manhã e à tarde no 1º série do ensino médio. O problema é que nesses dois anos, a escola não rece-

beu estrutura necessária, tampou-co professores qualifi cados para habilitação técnica do curso inte-grado de Secretariado Executivo.

Segundo o vice-diretor da es-cola à época, Josenildo Xavier, a Secretaria Estadual de Educação havia prometido reestruturar o la-boratório de informática da esco-la e incrementar a biblioteca com acervo técnico. Mas tudo fi cou em promessa. No que diz respeito aos professores, mais uma vez a solu-

ção do órgão gestor da educação estadual foi enviar estagiários. “A proposta era fazer da mesma for-ma que o Cefet [atual IFRN], mas o estado não tem professores com qualifi cação para lecionar essas disciplinas no seu quadro”, dis-se Josenildo Xavier, hoje professor dae História da escola.

Diante da experiência frus-trante, ele afi rmou que, na oca-sião, os pais acharam por bem aca-bar com a “experimentação”. “A co-

munidade escolar se reuniu em as-sembleia e decidiu interromper ocurso no segundo ano de existên-cia”, disse. A Escola Edgar Barbo-sa foi escolhida pelo governo para começar o projeto porque era bem avaliada entre as demais institui-ções estaduais. Mesmo assim, o conselho escolar e a assembleia da comunidade tinham autonomiapara aderir ou rejeitar a modalida-de de ensino. Quando foi proposto pela Secretaria de Educação, o pro-jeto de ensino médio integrado pa-recia interessante. “Dizem os cole-gas daqui, que se vendeu um peixe e nos entregaram outro”, acrescen-tou o professor.

O pior transtorno para os alu-nos foi sair da grade curriculardo ensino médio integrado paravoltar ao ensino médio regular. Os estudantes do 1º ano do ensi-no técnico, por exemplo, não ti-nham a disciplina de biologia, por-que o conteúdo seria diluído nos três anos seguintes. Ao cancelar o curso técnico integrado, acaba-ram por não estudar o conteúdo em nenhuma série do ensino mé-dio regular. Depois que os alunos já estavam no 3º ano, para não se-rem prejudicados ainda mais, pu-deram entregar trabalhos de bio-logia referentes aos assuntos da 1ºsérie, mesmo sem tê-los estudado em sala de aula.

/ FRACASSO / REDE ESTADUAL COLECIONA EXPERIÊNCIAS DESASTROSAS NESTA MODALIDADE DE ENSINO, APESAR DOS RECURSOS INVESTIDOS PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

ENSINO TÉCNICOLIÇÃO MAL FEITA PARA O

EU JÁ TERIA

ACABADO O

ENSINO MÉDIO E

PODERIA ESTAR

TRABALHANDO

AGORA”

Waleska BorgesEstudante

QUATRO ANOS DEPOIS, AINDA SEM PROFISSÃO

REFERÊNCIA NO ESTADO, CENEPTAMBÉM TEM DEFICIÊNCIAS

A PROPOSTA ERA

FAZER DA MESMA

FORMA QUE O

CEFET, MAS O

ESTADO NÃO TEM

PROFESSORES COM

QUALIFICAÇÃO”

Josenildo XavierProfessor da Escola Estadual Edgar Barbosa

MARCELO LIMADO NOVO JORNAL

▶ Leopercino dos Santos, coordenador: falta espaço físico

▶ Kaliany Kerolyn Batista, aluna: “Vim para cá porque a escola é técnica e o ensino é melhor que as escolas comuns”

CONTINUANA PÁGINA 10 ▶

WALLACE ARAÚJO / NJ

WALLACE ARAÚJO / NJ

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

Page 2: LIÇÃO MAL FEITA PARA O ENSINO TÉCNICO

▶ CIDADES ◀10 / NOVO JORNAL / NATAL, SEXTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2010

Instituto Federal de Educa-ção, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) é uma instituição referência no ensino técnico–profi ssional com os seus mais de 100 anos de existência. O curso integrado de informáti-ca, por exemplo, é um dos mais procurados e com grande absor-ção de profi ssionais no mercado de trabalho. De acordo com o co-ordenador do curso de informá-tica do ensino médio integrado, Raimundo Nonato, as empresas procuram os alunos para estágio e em algumas ocasiões não há ninguém disponível.

“O instituto sempre foi gene-ralista, em que o aluno cursa a área de redes, manutenção e de-senvolvimento de software e, de-pois de fazer o curso, pode es-colher a área que tiver mais afi -nidade para se especializar”, ex-plicou o coordenador. O próprio IFRN possui cursos técnicos subseqüentes (cursados depois da conclusão do ensino médio) e graduações tecnológicas (um curso de nível superior com três anos de duração; mais dinâmico que uma graduação comum).

O estudante Gabriel Rodri-gues da Fonseca, 17, concluiu o ensino médio integrado em in-formática este ano. “Antes de entrar no curso, eu achava que era algo mais básico, pensava que não era para fazer progra-

mas de computador”, confessou.Ele cumpriu o estágio obrigató-rio em uma escola de informá-tica atuando no departamentode suporte tecnológico. Para ele,a teoria não teve grandes distor-ções da prática. “Quando eu che-guei lá já sabia fazer praticamen-te tudo. Porque aqui eles mos-tram muito a parte prática”, de-clarou, acrescentando que pensaem seguir a carreira, ingressandonuma engenharia afi m, compu-tação ou software.

Outro detalhe que ele re-latou ao NOVO JORNAL é quenão houve um momento sequerno curso que tivesse fi cado semprofessor por um longo perío-do. “Se faltou algum professor, foipor um ou dois dias”. Obviamen-te, não signifi ca dizer que todosos cursos técnicos do IFRN têmo mesmo êxito com sua cliente-la, mas a maioria deles conseguecumprir o seu objetivo: qualifi carum profi ssional e contribuir parauma formação cidadã.

De acordo com a subcoordenadora de Educação Profi ssional da Secretaria Estadual de Educação, Ana Moreira, o Programa Brasil Profi ssionalizado, em parceria com o governo federal, prevê a construção de mais dez centros de educação profi ssional no Rio Grande do Norte. Além desses, mais 75 escolas já existentes na rede estadual serão contempladas com o ensino médio integrado, mas somente 54 passaram por alguma obra de reforma ou ampliação. Só não há data para que todas essas mudanças se concretizem. A única previsão de Ana Moreira é de que 26 escolas estejam prontas para iniciar o ano letivo de 2011 com essa modalidade de ensino.

Assim como há quatro anos foi prometido para a Escola Edgar Barbosa, existe hoje a promessa de ampliação e reforma dessas instituições de ensino, bem como para a compra de matérias de laboratório e aquisição de livros específi cos para os novos cursos, a citar: técnico em Sistema a Gás; Agroecologia; Fruticultura; Apicultura; Informática; Manutenção e Suporte de Informática; Guia de Turismo; Hospedagem; Transações Imobiliárias; Edifi cações; Enfermagem e Segurança do Trabalho.

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, os cursos serão instalados nas regiões, de acordo com as potencialidades econômicas e o mercado de trabalho. No que diz respeito à formação dos professores, apenas três seminários estão programados para os profi ssionais que atuam – ou vão atuar - nessas escolas. O Brasil Profi ssionalizado também prevê instalação de Núcleos de Educação à Distância (EAD).

PROGRAMA BRASIL PROFISSIONALIZADO PREVÊ IMPLANTAÇÃO DE 10 CENTROS

IFRN, PADRÃO DE QUALIDADE

▶ Raimundo Nonato, coordenador de curso: empresas buscam estagiários

▶ Gabriel Rodrigues, aluno: “Eles mostram a parte prática”

REPASSES PARA O RN DO PROGRAMA BRASIL PROFISSIONALIZADO

WALLACE ARAÚJO / NJ

WALLACE ARAÚJO / NJ

TALES PAULO / ESPECIAL NJ

2008R$ 64.445.387,35

2009

R$ 59.676.546,88

Total

R$ 4.446.809,08

R$ 55.229.737,80

R$ 124.121.934,23

foram para construções de prédios

foram destinados para recursos pedagógicos e formação de professores

▶ INVESTIMENTO EM 2009