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LICENCIAMENTO AMBIENTAL PROCEDIMENTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1. INTRODUÇÃO As crescentes pressões da sociedade e o avanço da consciência ambientalista que floresceram em virtude dos impactos ecológicos, econômicos e sociais, face à implantação dos mais diferentes tipos de empreendimentos, constituíram-se, em determinados países, em fatores fundamentais para a adoção de práticas adequadas de gerenciamento ambiental. No Brasil, a partir da Conferência Mundial de Meio Ambiente, realizada no período de 05 a 16 de junho de 1972, em Estocolmo, as ações desenvolvimentistas foram, aos poucos, incorporando uma perspectiva ambientalista que culminou com a implantação de políticas e princípios, na forma de uma legislação específica, estabelecendo, conforme será observado nos itens seguintes, as diretrizes básicas do licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental brasileiro baseado no princípio do poluidor- pagador do direito francês é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente, revestindo-se num instrumento fundamental para os organismos responsáveis pela tomada de decisão, permitindo-lhes associar as preocupações ambientais, às estratégias de desenvolvimento social e econômico, numa perspectiva de curto, médio e longos prazos. Em 1986, como primeiro passo a um processo de aprimoramento e regulamentação do licenciamento, o CONAMA estabeleceu diretrizes gerais para apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA nos processos de licenciamento ambiental, definindo ainda critérios para sua aplicação (Resolução CONAMA n° 001/ 86). O EIA não é o único estudo ambiental considerado no processo de licenciamento, mas se constitui em importante componente das decisões referentes à implementação de projetos, devendo ser apresentado na fase de 'planejamento, pesquisa e levantamentos da atividade, com o objetivo de verificar a viabilidade ambiental para a localização do empreendimento.

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  • LICENCIAMENTO AMBIENTAL

    PROCEDIMENTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

    1. INTRODUO

    As crescentes presses da sociedade e o avano da conscincia ambientalista que floresceram em virtude dos impactos ecolgicos, econmicos e sociais, face implantao dos mais diferentes tipos de empreendimentos, constituram-se, em determinados pases, em fatores fundamentais para a adoo de prticas adequadas de gerenciamento ambiental.

    No Brasil, a partir da Conferncia Mundial de Meio Ambiente, realizada no perodo de 05 a 16 de junho de 1972, em Estocolmo, as aes desenvolvimentistas foram, aos poucos, incorporando uma perspectiva ambientalista que culminou com a implantao de polticas e princpios, na forma de uma legislao especfica, estabelecendo, conforme ser observado nos itens seguintes, as diretrizes bsicas do licenciamento ambiental.

    O licenciamento ambiental brasileiro baseado no princpio do poluidor-pagador do direito francs uma obrigao legal prvia instalao de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente, revestindo-se num instrumento fundamental para os organismos responsveis pela tomada de deciso, permitindo-lhes associar as preocupaes ambientais, s estratgias de desenvolvimento social e econmico, numa perspectiva de curto, mdio e longos prazos.

    Em 1986, como primeiro passo a um processo de aprimoramento e regulamentao do licenciamento, o CONAMA estabeleceu diretrizes gerais para apresentao do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental - RIMA nos processos de licenciamento ambiental, definindo ainda critrios para sua aplicao (Resoluo CONAMA n 001/ 86). O EIA no o nico estudo ambiental considerado no processo de licenciamento, mas se constitui em importante componente das decises referentes implementao de projetos, devendo ser apresentado na fase de 'planejamento, pesquisa e levantamentos da atividade, com o objetivo de verificar a viabilidade ambiental para a localizao do empreendimento.

  • Buscando aperfeioar o Sistema de Licenciamento Ambiental, o CONAMA aprovou a Resoluo n 237 de 22 de dezembro de 1997. Esta Resoluo, proposta por um grupo de trabalho formado no mbito da Cmara Tcnica de Controle Ambiental do CONAMA e composto por representantes de todos os setores envolvidos no licenciamento ambiental, tem como objetivo bsico regulamentao das competncias do licenciamento ambiental, o estabelecimento de procedimentos nas suas fases, de prazos de anlise e manifestao do licenciador e o prazo de validade para cada licena.

    Com a retomada da poltica desenvolvimentista em nosso pas, cresce tambm a importncia do licenciamento em funo dos empreendimentos ou atividades a serem implementados. Esses devero, necessariamente, estar enquadrados em modelos de gesto ambiental, sem o que no recebero as respectivas licenas necessrias sua localizao, instalao e operao.

    Cumpre lembrar que, aps anos de estagnao econmica, os investimentos pblicos e depois de privados esto sendo retomados o advento do Plano Real. No contexto do atual Programa de Governo h grande nfase na poltica de desenvolvimento da infra-estrutura do pas, com destaque para: abertura de estradas, hidroeltricas, hidrovias, gasodutos, portos martimos, projetos agropecurios, reforma agrria, termoeltricas, usina nuclear, beneficiamento de minrios, obras de saneamento etc, as quais devero estar enquadradas em modelos de gesto ambiental, alm de cumprir a legislao em vigor.

    A ttulo de ilustrao do crescimento econmico podemos citar o que est se passando no setor nuclear, que se encontra em pleno desenvolvimento, haja vista a construo da Usina Nuclear de Angra II, da Usina de Fabricao de P e de Pastilhas de Dixido de Urnio, em Resende/RJ, e de yellow cake em Caetit/BA.

    No que se refere ao setor energtico, observa-se um incremento acentuado de usinas hidreltricas e termeltricas, com o objetivo de suprir a demanda de energia no pas. Ressalta-se, tambm, o incremento, na interligao dos sistemas eltricos Norte/ Nordeste e Sul/ Sudeste/ Centro Oeste, em substituio implementao de obras de gerao.

    Ainda referente energia, no que tange ao setor petrolfero, as notcias que veiculam atravs dos meios de comunicao que, dos US$ 3 bilhes de investimentos privados esperados, cerca de 60% a 70% devem ser destinados rea de explorao e produo e, ainda, que as empresas que esto chegando ao Brasil para investir neste mercado, com o fim do monoplio estatal, esto aguardando as normas da Agncia Nacional do Petrleo - ANP para a regulamentao das taxaes que iro definir os nveis

  • de investimentos que faro no Pas.

    Desta forma, o que se depreende que as perspectivas para o setor no poderiam ser melhores, considerando que a indstria petrolfera ficou quase meio sculo sob o regime do monoplio. O Brasil est abrindo oportunidades s companhias privadas para expandir suas atividades dentro do upstream operations, com conseqente crescimento de servios e produtos, o que, naturalmente, ocasionar um aporte significativo s nossas atividades no mbito do licenciamento ambiental.

    Destaca-se que o governo, atravs de seus Ministrios, vem desenvolvendo projetos que requerem licenciamento, como no caso do Ministrio dos Transportes, com os Corredores de Transportes Multimodais (Hidrovias Ferrovias - Rodovias) e, tambm, o Ministrio do Planejamento e Oramento - MPO, com a Transposio de guas do Rio So Francisco para o Semi-rido Nordestino e obras de saneamento em todo pas.

    Neste contexto, podemos citar o "Programa de Privatizao do Governo" e o "Programa Brasil em Ao", inseridos no Plano de Metas, o qual aponta para um novo modelo de desenvolvimento sustentvel, onde a retomada de projetos, no s pretende colocar o Brasil no contexto preferencial de investimentos externos, como criar condies bsicas para viabilizao de um dinamismo no crescimento futuro.

    2. A QUESTO LEGAL DO LICENCIAMENTO

    A poltica ambiental brasileira contempla, no seu arcabouo, um dos instrumentos mais importantes em termos de prtica conservacionista - o Licenciamento Ambiental, institudo pela Lei n 6.938/81, ao qual esto condicionados a construo, a instalao e a ampliao de estabelecimentos e de atividades considerados efetiva ou potencialmente poluidores.

    A prpria Constituio Brasileira, promulgada em 1988, estabelece em seu artigo 225 que "Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes".

    Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis -IBAMA, como rgo executor do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), cabe a competncia do licenciamento ambiental de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de mbito nacional ou regional. As aes do licenciamento so desenvolvidas em parceria direta com os rgos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e demais instituies governamentais envolvidas com a questo ambiental, tais como

  • a Fundao Nacional do ndio (FUNAI) e o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN).

    Na Poltica Nacional do Meio Ambiente, procurou-se incluir todos os fundamentos que definissem a proteo ambiental no pas, os quais vm sendo, regulamentados atravs de decretos, normas, resolues e portarias.

    Dentre as resolues existentes, destacamos a Resoluo CONAMA n 001/86, que estabeleceu definies, responsabilidades, critrios bsicos, e diretrizes gerais para uso e implementao da Avaliao de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente, listando, inclusive, alguns empreendimentos passveis de Estudo de Impacto Ambiental e do respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

    Desta Resoluo, deve-se destacar quatro pontos fundamentais, a saber:

    Considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:

    A sade, a segurana e o bem-estar da populao; As atividades sociais e econmicas; A biota; As condies dos recursos ambientais. O licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente

    depender de elaborao de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), a serem submetidos a aprovao da entidade ambiental competente.

    O EIA, alm de atender legislao, em especial aos princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer s seguintes diretrizes gerais:

    Contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao do projeto, confrontando-as corria hiptese de no execuo do projeto;

    Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantao e operao da atividade;

    Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrogrfica na qual se localiza;

    Considerar os planos e programas governamentais propostos e em implantao na rea de influncia do projeto e sua compatibilidade.

  • Para o EIA devero ser desenvolvidas, no mnimo, as seguintes atividades tcnicas:

    Diagnstico ambiental da rea de influncia do projeto e completa descrio e anlise dos cursos ambientais e suas interaes, tal como existem, de modo a caracterizar a situao ambiental da rea, antes da implantao do projeto, considerando os meios, fsico, bitico e scio-econmico;

    Anlise dos impactos ambientais do projeto e suas alternativas; Definio das medidas mitigadoras dos impactos negativos; Elaborao de programas de acompanhamento e monitoramento dos

    impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parmetros a serem considerados.

    O Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA), que se reveste numa verso resumida do EIA e dever refletir as suas concluses quanto:

    Aos objetivos e justificativas do projeto; Alternativas tecnolgicas e locacionais;

    Diagnstico ambiental;

    Impactos ambientais decorrentes;

    Caracterizao de qualidade ambiental futura, com e sem o empreendimento;

    Medidas mitigadoras; programas de acompanhamento e monitoramento; e

    Recomendao quanto alternativa mais favorvel. Pela necessidade de reviso dos procedimentos e critrios utilizados no

    licenciamento, de forma a efetivar a utilizao do sistema como instrumento de gesto ambiental, o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA instituiu, em 19 de dezembro de 1997, a Resoluo n 237 que, inclusive, aplicou seus efeitos aos processos de licenciamento em tramitao nos rgos ambientais.

    Outrossim, a partir da vigncia da Lei de Crimes Ambientais, Lei N 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, regulamentada pelo decreto n 3179, de 21 de setembro de 1999, que dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, a sociedade brasileira, os rgos ambientais e o Ministrio Pblico passaram a contar com um instrumento que lhes garantir agilidade e eficcia na punio aos infratores do meio ambiente. Essa lei veio em

  • decorrncia do 3 do artigo 225 da Constituio Federal, o qual estabelece que condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitaro aos infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas independentemente de reparar os danos causados.

    Assim, condutas consideradas lesivas ao meio ambiente passam a serem punidas civil, administrativa e criminalmente. Ou seja, constatada a degradao ambiental, o poluidor, alm de ser obrigado a promover a sua recuperao, responder com o pagamento de multas pecunirias e em processos criminais.

    A importncia do licenciamento ambiental encontra-se destacada na lei em questo, mormente no seu artigo 60:

    Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do territrio nacional estabelecimentos, obras ou servios potncia poluidores, sem licena ou autorizao dos rgos ambientais competem contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as cumulativamente.

    3) INSTRUMENTOS DE CONTROLE AMBIENTAL

    3.1. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

    O Licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidora, institudo como um dos instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente atravs da Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto n 88.351, de 30 de junho de 1983 e modificado posteriormente pelo Decreto n 99.274, de 05 de junho de 1990 que prefere uma ao conjunta para atender aos interesses da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

    O objetivo do licenciamento ambiental disciplinar a construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, consideradas efetivamente ou potencialmente poluidor bem como aqueles capazes de causar degradao ambiental.

    3.1.1) CONDUO DO PROCESSO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVOS

    O processo de licenciamento no mbito federal est dividido em 3 (trs fases: Licena Prvia -LP, Licena de Instalao - LI e Licena de Operao LO. Nos casos atpicos, estas fases sero desenvolvidas, conforme as peculiaridades do empreendimento).

  • 3.1.2) LICENA PRVIA

    o documento que deve ser solicitado pelo empreendedor obrigatoriamente na fase preliminar do planejamento da atividade, correspondente fase de estudos para localizao do empreendimento.

    A LP dever ser concedida pelo rgo Estadual de Meio Ambiente - OEMA, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA, em carter supletivo, ou nos casos previstos em lei, e sua concesso est condicionada s informaes prestadas, formalmente, pelo interessado. Aps anlise, o rgo licenciador define as condies bsicas a serem atendidas para a localizao do empreendimento, observados os planos municipais, estaduais ou federal de uso do solo. Sua concesso no autoriza a execuo de quaisquer obras destinadas implantao do empreendimento.

    O pedido de licenciamento deve ser publicado conforme Resoluo n

    006/ 86 do C Nacional do Meio ambiente - CONAMA.

    3.1.3) LICENA DE INSTALAO - LI

    E o documento que deve ser solicitado obrigatoriamente pelo empresrio ao rgo Estadual de meio Ambiente, ou, quando couber, ao IBAMA, antes da implantao do empreendimento.

    A solicitao da Li estar condicionada apresentao de projeto detalhado do empreendimento. Sua concesso implica o compromisso do interessado em manter o projeto final compatvel com as condies de seu deferimento.

    O empreendedor solicita a Li e publica o pedido, conforme a Resoluo n 006/86 do CONAMA.

    Para que esta fase se concretize, necessrio que todas as exigncias constantes da LP tenham sido atendidas.

    O documento que subsidiar a emisso da LI o Projeto executivo, dele constando todos os Programas Ambientais, Planos de Monitoramento, identificados e aprovadas no EIA/RIMA, bem como as exigncias feitas no corpo da LP. Uma vez elaborado esse projeto e aprovado pelo rgo competente, ser concedida a Li ao empreendimento. Esta concesso de licena dever ser publicada, conforme Resoluo n 006/86 do CONAMA.

    3.1.4) LICENA DE OPERAO - LO

    E o documento concedido pelo rgo ambiental competente, devendo ser solicitado antes do empreendimento entrar em operao. Sua concesso

  • est condicionada vistoria, teste de equipamentos outros meios de verificao tcnica.

    A solicitao da LO de carter obrigatrio e sua concesso implica o compromisso do interessado em manter o funcionamento dos equipamentos de controle de poluio, pelos programa de controle ambiental, atendendo s condies estabelecidas no seu deferimento.

    O empreendedor solicita ao rgo ambiental competente a Licena de Operao e publica o pedido, conforme a Resoluo n 006/86 do CONAMA.

    Para que esta fase se concretize, necessrio que todas as exigncias relativas LI tenham sido satisfeitas.

    Para o cumprimento desta etapa do licenciamento, realiza-se vistoria ao

    empreendimento, para verificar se todas as exigncias e detalhes tcnicos descritos no projeto foram desenvolvidos e atendidos ao longo de sua fase de implantao, inclusive com acompanhamento dos testes pr-operacionais, quando necessrio.

    Sendo aprovada esta etapa, a LO ser concedida, devendo ser publicada conforme Resoluo n 006/86 do CONAMA.

    Uma vez concedida a LO, o rgo ambiental dever renovar a licena periodicamente aps realizar vistoria do empreendimento, para verificar a execuo e os resultados dos programas e monitoramentos ambientais.

    3.1.5) AUDINCIA PBLICA

    Conforme previsto na Resoluo n 001/86 do CONAMA e regulamentado atravs da Resoluo n 009/87 do CONAMA (DOU de 05/07/90), alguns empreendimentos so apresentados e discutidos diante da sociedade, atravs da realizao de Audincia Pblica. Isto ocorre quando 50 (cinqenta) ou mais pessoas fsicas ou uma entidade civil a solicita ao IBAMA, ao OEMA ou ao Ministrio Publico ou, ainda, quando o rgo ambiental competente julgar necessrio.

    A data, o local e a hora da realizao da Audincia Pblica so publicados |em jornal de grande circulao, e o RIMA, colocado disposio dos : interessados.

    4) CONCLUSO

    Diante do exposto, conclumos que se possa desenvolver uma atividade viria estvel, sem risco de degradao ambiental e sem causar conflitos com as comunidades atingidas, toma-se necessria a realizao de um

  • perfeito planejamento ambiental e de transporte tais como:

    1. conhecimento detalhado da rodovia, hidrovia ou ferrovia a ser implantada;

    2. conhecimento prvio das condies ambientais da regio que ser afetada pela atividade;

    3. quantidade de solos que sero perdidos;

    4. quantidade e espcie da fauna a ser perdida ou dizimada;

    5. quantidade e potencial gentico da flora a ser perdido;

    6. quantidade da qualidade do ar a ser afetado;

    7. quantidade e qualidade das guas superficiais e subterrneas que ser perdida e afetada;

    8. quanto da paisagem cnica ser comprometido;

    9. apresentar uma proposta factvel de ser realizada de recuperao da rea degradada e seu uso futuro da rea;

    10. discusso com a comunidade afetada sobre o que ser feito para minimizar as atividades do empreendimento adversa ao meio ambiente.

    11. por ltimo: compromisso protocolado em cartrio que ir realizar as atividades propostas e aprovadas no Plano de Recuperao de reas Degradadas -PRAD.

  • Noes de Avaliao de riscos e impactos ambientais

    1) NOES GERAIS

    1.1) Impacto Ambiental

    Segundo a Resoluo 001-86 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

    a sade, a segurana e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

    Desse modo, deduz-se que a contaminao do ar, das guas, do solo e subsolo, dos alimentos, a poluio sonora, a deteriorao da paisagem, o desequilbrio ecolgico, entre outros, so conseqncias de atividades humanas conduzidas de forma irresponsvel e sem compromisso que acabam por destruir os recursos naturais e pem em risco a vida humana.

    1.2) EIA e RIMA

    Com o intuito de identificar o risco e de fornecer informaes prvias que visam eliminar, reduzir ou compensar os efeitos desfavorveis das atividades humanas no meio ambiente, foi criado um novo instrumento jurdico do Direito Ambiental o EIA (Estudo do Impacto Ambiental).

    Expressamente, o Estudo do Impacto Ambiental foi introduzido em nosso Direito pela Lei n 6.803 de 02/ 07/ 1980 sobre as diretrizes bsicas para o zoneamento industrial nas reas de poluio crtica. Posteriormente, a Lei n 6.938 de 31/ 08/ 1981 ampliou o estudo de impacto para todas as reas suscetveis de atividades poluentes.

    O Estudo do Impacto Ambiental tem o objetivo de proteger a natureza e salvaguardar a sade humana, constituindo-se numa importante inovao da realidade social do momento. Ele resulta na elaborao de um relatrio fundamentado que contm a descrio de todas as repercusses e conseqncias provveis ou seguras da realizao da atividade projetada. Esse relatrio recebe o nome de RIMA (Relatrio do Impacto Ambiental).

    Aps a elaborao do RIMA, procede-se com a avaliao do impacto ambiental que visa escolher a melhor alternativa para prevenir, reduzir ou controlar os riscos identificados no relatrio, com o objetivo de proteger o patrimnio.

  • 1.3) Risco funo que associa probabilidade de ocorrncia de um evento indesejado com as gravidades das conseqncias deste evento, caso ele venha a ocorrer. Desse modo, matematicamente, o risco pode ser definido como:

    R = F x C

    Onde:

    R = Risco F = Freqncia de ocorrncia de um evento indesejado C = Conseqncia gerada pelo evento indesejado

    As probabilidades so, de modo geral, calculadas para perodos de 01 ano de atividade, ou seja, um risco individual de 10 6 / ano significa que, durante 01 ano de operao da instalao, existe a probabilidade de morrer um indivduo em um milho ( 1/1000000).

    A experincia demonstra que os grandes danos so normalmente ocasionados por eventos com baixa freqncia de ocorrncia, acarretando, no entanto, conseqncias relevantes.

    Existem numerosos fatores que afetam a percepo de risco pelo pblico. Uma pesquisa Britnica 1 confirma que o pblico julga menos perigosa uma atividade que faz um morto todos os dias do que uma outra que faz 365 mortes num nico dia do ano.

    Desse modo, observa-se, nessa definio, a dificuldade de diferenciar as conseqncias mais graves das menos graves, sendo, portanto, necessrio uma frmula mais especfica que inclua ndices que enumerem diferentes cenrios de acidentes e exprima o risco de um modo mais real. Essa frmula utilizada em trabalhos mais complexos que exigem clculos quantitativos para avaliao do risco.

    Risco algo que envolve um nvel de incerteza que no deve ser associado ignorncia, mas que deve ser o ponto de partida de aes de pesquisa orientada. Essa incerteza devida trs causas:

    Possibilidade de ocorrncia de eventos aleatrios conhecidos, porm cujos instantes de ocorrncia so imprevistos, tais como: falhas, erros humanos, agresses externas ou ameaas.

    Desconhecimento parcial ou total dos modos de falha das partes do sistema. Desconhecimento parcial ou total do modo de funcionamento do sistema.

    1.3.1) Classificao do Risco

    a) Quanto ao tipo:

    Mortes Ferimentos Doenas

    1 SLOVIC, P. et al, The Assessment and Perception of Risk. The Royal Society of London. Londres GB, 1980. Em:

    Pesquisa Naval: Suplemento Especial da Revista Martima Brasileira. Rio de Janeiro, v.1, n.12, p.31-50, 1999.

  • b) Quanto populao atingida:

    Ocupacional Pblico em geral

    c) Quanto forma de expresso:

    Risco social

    R = F x C => R social = n de acidentes/ ano x n mortes/ acidentes R social = n mortes/ ano

    Risco individual

    R individual = R social/ n habitantes = n mortes/ ano /n de habitantes

    1.3.2) Classificao das Conseqncias quanto Gravidade de seus Efeitos

    a) Risco Catastrfico corresponde a conseqncias que trazem danos irreversveis ao homem (ex.: morte, invalidez permanente, etc.), e destruio total do sistema e/ou do seu ambiente.

    b) Risco Crtico corresponde a conseqncias que trazem danos reversveis ao homem (ex.: ferimentos graves mais no permanentes), ao sistema e ao ambiente.

    c) Risco Significativo - corresponde a conseqncias tais como ferimentos leves, insucesso da misso, sem destruio do sistema.

    d) Risco Menor corresponde a falhas de elementos do sistema, sem conseqncias sobre o sucesso da misso nem sobre a segurana.

    Observa-se que os dois primeiros riscos so relativos segurana, enquanto os dois ltimos so relativos ao sucesso da misso.

    1.3.3) Classificao dos Efeitos das Conseqncias

    Os efeitos das conseqncias decorrentes de um evento indesejado podem manifestar-se com relao ao tempo e ao modo.

    a) Com relao ao tempo decorrido aps o acidente, os efeitos podem ser:

    Efeitos Imediatos Efeitos Retardados Efeitos a Longo Prazo

    b) Com relao ao modo, os efeitos podem ser:

    Efeito Determinista dado a ocorrncia do evento, existe a certeza da ocorrncia dos efeitos, geralmente imediatos.

  • Efeito Estocstico dado a ocorrncia do evento, existe a probabilidade de ocorrncia dos efeitos, geralmente retardados ou a longo prazo.

    Exemplo: efeitos biolgicos das radiaes ionizantes e das substancias qumicas txicas e/ou cancergenas (ambas a doses reduzidas, abaixo do limiar determinista). 1.3.4) Aceitabilidade do Risco

    Denomina-se de risco aceitvel, ou admissvel, ou limite, o risco resultante de uma deciso explcita, estabelecida de modo objetivo por comparao a riscos conhecidos e corretamente admitidos.

    A aceitabilidade do risco no pode ser definida de forma universal, pois devem ser consideradas as caractersticas particulares de cada regio, desse modo, ela varia de pas para pas, onde o nvel de risco aceitvel pode ser estabelecido baseado no nmero de vtimas ou no custo do dano provocado pelo evento, ou seja, os benefcios trazidos pela implantao do sistema devem ser maiores que os danos provocados pela ocorrncia do acidente.

    Na Holanda, os limites estabelecidos para o risco individual e social so:

    Tipo de Risco Nvel de Aceitabilidade Mximo

    Nvel de Aceitabilidade Mnimo, ou Desprezvel

    Risco Individual 10 6/ ano 10 8/ ano Risco Social 1/(1000 x n2)* 1/(100.000 x n2)* * n = nmero de pessoas mortas.

    2) ANLISE DE RISCOS

    2.1) Definio: consiste numa aplicao de mtodos e tcnicas para identificao de riscos e anlise de possveis conseqncias negativas para a sociedade e para o meio ambiente, resultantes das atividades humanas ou das foras da natureza, como terremotos, erupes vulcnicas, temporais, inundaes, etc.

    2.2) Objetivo do Estudo de uma Anlise de Riscos

    O objetivo de um estudo de Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos identificar os riscos potenciais de gerao de acidentes de um empreendimento e, ainda, avaliar os efeitos destes sobre o meio ambiente e a sade pblica nas reas limtrofes, resultando na aplicao de medidas mitigadoras, atravs da implantao de programas de gerenciamento de riscos.

    2.3) Etapas do Estudo de uma Anlise de Riscos

    O Estudo de Anlise de Riscos pode ser dividido em quatro etapas:

    a) Avaliao Prvia etapa de estudos preliminares, onde so definidos os objetivos do trabalho e elaborado um estudo de caracterizao do empreendimento, considerando as caractersticas do processo e dos equipamentos, os produtos envolvidos, as caractersticas do ambiente no entorno da instalao, os custos para a elaborao do estudo de anlise de riscos, a disponibilidade de tempo, a disponibilidade de equipe tcnica treinada, etc.

  • b) Identificao de Riscos esta etapa tem por finalidade identificar os principais riscos existentes no processo de funcionamento do empreendimento e, a partir da, definir as hipteses acidentais mais relevantes que devam ser estudadas mais detalhadamente.

    Devido ao carter aleatrio dos objetivos de segurana, a identificao dos riscos pode utilizar mtodos qualitativos e/ou quantitativos. Os mtodos quantitativos so desenvolvidos quando se deseja implementar a segurana de maneira mais eficiente, utilizando-se para tanto de clculos de probabilidades.

    Existem inmeras tcnicas para identificao de riscos, dentre as quais podem ser citadas as seguintes:

    b.1) Anlise Histrica de Acidentes deve ser levantada a histria de acidentes ocorridos em instalaes similares. Isso feito mediante consulta a banco de dados de acidentes internacionais e nacionais e/ou atravs de literatura especializada, para que se possa obter informaes a respeito das causas mais comuns que geraram acidentes no passado, bem como da freqncia de ocorrncia desses acidentes.

    Dentre os principais banco de dados de acidentes existentes hoje no mercado, pode-se destacar:

    FACTS (Sistema de Informao Tcnica de Falhas e Acidentes) localizado nos Pases Baixos.

    VERITEC (Banco de Dados de Acidentes em Mar Aberto) - localizado nos Pases Baixos, fornece informaes de acidentes martimos.

    IFP (Instituto Francs de Petrleo) banco de dados que fornece informaes de acidentes em mar e poluio.

    SONATA (Summary of Notable Accident in Technical Activities) localizado na Itlia, composto por acidentes que causaram ou poderiam ter causado prejuzos a instalaes, pessoas e meio ambiente, no desenvolvimento de atividades industriais e no transporte de produtos perigosos.

    CADAC (Cadastro de Atividades Ambientais) localizado na CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) em So Paulo.

    ADRS (Sistema de Informaes de Ocorrncias Anormais) localizado na Itlia, fornece informaes sobre acidentes em instalaes nucleares.

    MHIDAS (Major Hazard Incident Data Service) localizado no Reino Unido, fornece informaes a respeito de grandes acidentes industriais com produtos perigosos, com dados coletados ao longo dos ltimos 25 anos.

    SINCAAM (Sistema Nacional de Cadastro de Acidentes Ambientais) - localizado na CETESB em So Paulo.

    CATIA (Cadastro de Acidentes no Transporte, Indstria e Armazenamento) localizado em So Paulo.

    b.2) Inspeo de Segurana mtodo atravs do qual possvel identificar os riscos existentes em um empreendimento, efetuando-se pesquisas e visitas em campo.

    b.3) Checklist mtodo qualitativo cuja aplicao se d atravs da utilizao de questionrios que fornecem uma viso dos riscos existentes em uma instalao. Pode ser aplicado em todas as fases de um empreendimento, ou seja, projeto, construo e operao.

  • b.4) E Se? trata-se de um mtodo qualitativo que tem como princpio bsico a formulao de questionamentos atravs da pergunta E Se? . O objetivo principal desse mtodo identificar os eventos indesejados, bem como suas conseqncias, sem, contudo, quantifica-los. A equipe necessria para sua aplicao dever ser composta por especialistas que iro formular as perguntas baseados em suas experincias particulares.

    b.5) Anlise de Causas e Conseqncias uma combinao das tcnicas utilizadas nas anlises de rvore de falhas e eventos. Seu resultado relaciona as conseqncias especficas de um acidente e suas causas bsicas. Esse mtodo pode ser utilizado, ainda, para quantificar a freqncia de ocorrncia da seqncia de cada evento.

    b.6) Anlise Preliminar de Risco faz parte do Programa de Segurana padro militar exigido nos EUA. O objetivo principal dessa anlise reconhecer os riscos previamente e com isso economizar tempo e gastos no replanejamento de grandes instalaes.

    b.7) Estudos de Riscos e Operabilidade (HAZOP Hazard and Operability Study) mtodo que permite a identificao dos riscos e dos problemas de operabilidade. O HAZOP de palavras-guia o mais utilizado e consiste na realizao de uma srie de reunies, durante as quais uma equipe multidisciplinar focaliza os pontos especficos do projeto, os chamados nodos de estudo, dando idias e solues para os riscos identificados. As palavras guia so palavras simples, utilizadas para qualificar ou quantificar a inteno de modo a guiar e estimular o processo de criatividade e, assim, descobrir desvios.

    Ex.: nenhum, mais, tambm, outro, etc.

    A melhor ocasio para realizao de um HAZOP a fase em que o projeto se encontra razoavelmente consolidado. Nesta altura, o projeto j est no ponto de permitir a formulao de respostas s perguntas do estudo e ainda possvel alterar o projeto sem grandes despesas.

    b.8) AMFE - Anlise de Modos de Falhas e Efeitos (Failure Modes and Effects Analysis FMEA) tcnica usada para enumerao dos possveis modos, segundo os quais os componentes de um equipamento ou de um sistema podem falhar e determinao dos efeitos que surgem a partir dessas falhas. Trata-se de um mtodo indutivo que parte de uma falha hipottica de um componente para o efeito resultante sobre o sistema, gerando resultados qualitativos.

    Para obteno de um bom resultado imprescindvel a participao de tcnicos com profundo conhecimento e experincia no equipamento ou sistema a ser estudado.

    Para o estudo desta tcnica, vale salientar a diferena entre modo de falha e causa de falha; vrias causas distintas podem conduzir a um mesmo modo de falha.

    b.9) Anlise de rvore de Falhas (AAF) tcnica recente, utilizada para a identificao de eventos mais complexos que os determinados por FMEA.

  • Consiste na diagramao dos eventos contribuintes e das falhas, de modo sistemtico, formando uma rvore, onde mostrado o inter-relacionamento entre os mesmos e em relao ao evento Topo (evento indesejado).

    b.10) Anlise de rvore de Eventos (Event Tree Analysis ETA) tcnica para anlise das conseqncias de um evento indesejado, na qual as rvores de eventos descrevem a seqncia dos fatos que se desenvolvem para que um acidente ocorra, definindo quais so as possveis conseqncias geradas pelo mesmo.

    O estudo de anlise de rvore de eventos se desenvolve nas seguintes etapas:

    Identificao do evento inicial pode ser proveniente de outras etapas j desenvolvidas, como anlise histrica de acidentes, anlise de rvore de falhas, etc.

    Identificao de interferncias interferncias so as situaes que se relacionam com o evento inicial, podendo acarretar diferentes caminhos para o desenvolvimento da ocorrncia, gerando, assim, diferentes conseqncias.

    Construo da rvore de eventos o evento inicial registrado do lado esquerdo da pgina e as interferncias no topo da pgina, em ordem cronolgica. Linhas de interseco so traadas fazendo as relaes entre o evento inicial e as diversas interferncias.

    Descrio das Conseqncias ltimo passo no desenvolvimento da rvore, representando uma variedade de sadas resultantes do evento inicial.

    c) Avaliao dos Riscos - Identificadas as hipteses acidentais, faz-se uma avaliao detalhada das mesmas para que se possa estimar as provveis conseqncias ocasionadas por tais eventos.

    A estimativa das conseqncias feita atravs de modelos matemticos conhecidos como modelos de conseqncias que fazem a anlise de conseqncias, e a quantificao de seus efeitos fsicos atravs de modelos de vulnerabilidade que fazem a anlise de vulnerabilidade.

    Os modelos de conseqncia tem como objetivo gerar um mapa da regio estudada onde estaro assinalados os efeitos fsicos das hipteses acidentais. Enquanto os modelos de vulnerabilidade permitem a estimativa dos danos em funo das caractersticas das conseqncias fsicas.

    d) Gerenciamento dos Riscos estudo de alternativas para diminuio dos riscos identificados.

    A gesto do risco pode ser entendida como um complexo constitudo pelo processo de avaliao e de tomada de deciso com base nas informaes obtidas a partir da anlise de risco.

    d.1) Programas de Gerenciamento de Riscos

  • Um Programa de Gerenciamento de Riscos tem por objetivo a implantao efetiva de uma filosofia de segurana e controle dos riscos durante toda a vida til de uma empresa, e deve apresentar:

    Treinamento e capacitao tcnica o erro humano uma das principais causas geradoras de acidentes nas atividades industriais.

    Manuteno contribui diretamente para o aumento ou reduo do nmero de acidentes.

    Auditorias realizadas com a finalidade de avaliar periodicamente a eficincia do Programa de Gerenciamento de Riscos.

    d.2) Medidas de Reduo de Riscos

    As medidas de reduo de riscos so aes que operam ora sobre a freqncia de ocorrncia do evento, ora sobre a magnitude das conseqncias, permitindo passar de um risco inaceitvel para um aceitvel. Essas medidas so as seguintes:

    Aes de Preveno corresponde a uma ao de reduo do risco pela diminuio da probabilidade de ocorrncia do evento indesejado, sem diminuir a gravidade de suas conseqncias.

    Aes de Proteo corresponde a uma ao de reduo do risco baseada na diminuio da gravidade das conseqncias do evento indesejado aps sua ocorrncia, sem, contudo, diminuir sua probabilidade.

    As aes de proteo podem ser por reduo dos impactos fsicos e por reduo ou proteo da populao exposta. Esta ltima pode ser de dois tipos: reduo esttica, efetuada nvel de projeto, evitando a localizao de determinados equipamentos em reas sensveis; e reduo dinmica, efetuada pela adoo de um plano de ao de emergncia quando decretada a ocorrncia de um acidente; este plano de ao deve ser previsto e est concludo antes da ocorrncia do acidente.

    Aes de Resseguro no tem por objetivo nem reduzir a probabilidade nem a gravidade de um evento indesejado. Seu objetivo transferir para um terceiro (o segurador) total ou parcialmente as conseqncias financeiras do risco.

    d.3) Mtodo Qualitativo para Priorizao das Medidas de Reduo de Riscos

    Diante das dificuldades em se estabelecer prioridades no controle dos riscos e da necessidade de se nortear o empreendedor e os responsveis pela segurana do empreendimento na tomada de decises, a ESCA Ambiental desenvolveu uma metodologia qualitativa para priorizar a implantao das medidas de reduo dos riscos propostas no Estudo de Anlise de Riscos.

    Esse mtodo baseado em padres de custo benefcio, onde:

    Custo o valor monetrio necessrio para implantao da medida, sendo: - Baixo: at US$ 20.000 - Mdio: de US$ 20.000 at US$ 60.000 - Alto: acima de US$ 60.000

    Benefcio so os prejuzos evitados com a implantao da medida.

  • Benefcio = PAmb + PPes + PMat + PPro + TMR

    Onde:

    PAmb = Preservao Ambiental PPes = Preservao Pessoal PMat = Preservao de Material e Equipamento PPro = Preservao de Quantidade de Produtos TMR = Tempo para Mitigao dos Riscos

    Pesos para PAmb, PPes, PMat e PPro:

    - Nenhum: 0 - Baixo: 1 - Mdio: 2 - Alto: 3

    Peso para o TMR:

    - Longo Prazo: 1 - Mdio Prazo: 2 - Imediato: 3

    Aps a obteno do somatrio dos pesos contribuintes do benefcio, classifica-se o benefcio em:

    Valor numrico do benefcio Benefcio 0 a 6 Baixo

    7 a 10 Mdio 11 a 15 Alto

    2.4) Aplicabilidade do Estudo de Anlise de Riscos para Obteno de Licenas

    O Estudo de Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos necessrio para todas as fases de um empreendimento, apresentando exigncias diferentes para cada uma dessas fases, desse modo, tem-se:

    a) Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos na fase de estudo de viabilidade tcnica e/ou elaborao do EIA/RIMA para obteno da Licena Prvia

    O empreendimento pode ou no ser passvel de elaborao do EIA/RIMA. Nesta fase, o empreendimento no dispe dos detalhes de projeto necessrios para elaborao de um estudo de risco detalhado. Desse modo, o fundamental analisar os riscos maiores das instalaes e a sua compatibilidade com as caractersticas ambientais da regio a ser impactada, definindo as linhas gerais e os critrios para a concepo do projeto definitivo.

    Para a elaborao deste estudo, recomenda-se a seguinte estrutura:

    Identificao dos riscos, atravs da utilizao de mtodos qualitativos;

  • Avaliao dos Riscos, atravs das anlises de conseqncia e de vulnerabilidade;

    Gerenciamento dos Riscos, atravs das medidas de reduo de acidentes; Anexos, atravs da apresentao de todos os documentos utilizados na

    elaborao dos estudos.

    b) Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos na fase de elaborao dos Projetos dos Sistemas de Tratamento de Resduos ou Projetos Bsicos Ambientais e para obteno da Licena de Instalao

    A Licena de Instalao deve ser obtida para dar incio s obras de montagem e construo, sendo necessrio, nesse momento, todos os detalhes de projeto.

    Nessa fase, no se pretende a realizao de um novo estudo, mas a complementao dos estudos anteriores para obteno da Licena Prvia.

    A estrutura para elaborao deste estudo deve ser a seguinte:

    Identificao dos riscos, atravs da utilizao de mtodos qualitativos e quantitativos;

    Avaliao dos Riscos, atravs das anlises de conseqncia e de vulnerabilidade e da avaliao dos resultados;

    Gerenciamento dos Riscos, atravs das medidas de reduo de acidentes; Anexos, atravs da apresentao de todos os documentos utilizados na

    elaborao dos estudos.

    c) Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos na fase de obteno da Licena de Funcionamento

    Essa fase exige a implantao de um Programa de Gerenciamento de Riscos, e seu estudo pede a seguinte estrutura:

    Identificao de riscos ainda no detectados nas fases anteriores; Gerenciamento dos Riscos, atravs das medidas de reduo de acidentes; Reviso e apresentao das rotinas e procedimentos, para avaliar a eficcia dos

    procedimentos operacionais; Auditorias; Reviso peridica do Programa de Gerenciamento de Riscos, a cada cinco anos,

    no mnimo; Anexos.

    d) Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos para empreendimentos existentes

    Esses empreendimentos so inicialmente submetidos a uma classificao com relao potencialidade de riscos. Os nveis de risco so agrupados em trs classes:

    Classe I alto potencial de risco Classe II mdio potencial de risco Classe III baixo potencial de risco

  • Para a classe I, devem ser elaborados estudos detalhados, utilizando mtodos e modelos estruturados com potencial quantitativo. Para a classe II, devem ser elaborados estudos, utilizando mtodos e modelos com potencial qualitativo. E para a classe III, no h necessidade de desenvolvimento de estudos, mas devem ser implantados programas para o gerenciamento dos riscos. 2.2.4) Formas de Apresentao dos Resultados de um Estudo de Anlise de Riscos

    Existem duas formas de apresentao dos resultados de uma anlise de riscos, so elas:

    Relatrio + conjunto de curvas, indicando os nveis de risco individual num mapa da rea em questo;

    Relatrio + curva de grupo de risco, indicando a probabilidade de certo nmero de pessoas que vive nas imediaes do empreendimento falecerem.

    O Estudo de Anlise, Avaliao e Gerenciamento de Riscos deve ser elaborado por uma equipe multidisciplinar, por empresa consultora ou pelo prprio empreendedor, desde que disponha de tcnicos especialistas no assunto.

    O relatrio deve seguir o modelo apresentado pelo MAIA (Manual de Avaliao do Impacto Ambiental) e deve conter a discriminao da equipe que o elaborou, o nome da empresa, acompanhado do endereo, telefone, fax e o nome do profissional responsvel para contato.

    Todos os gastos com a elaborao ou complementao do relatrio devero ser cobertos pelo interessado.

    ESTRUTURA DO RELATRIO DO MAIA 1) Introduo

    2) Caracterizao do Empreendimento Localizao e descrio fsica e geogrfica da regio Distribuio populacional da regio Caractersticas climticas da regio Descrio fsica e lay-out da instalao Distribuio populacional interna

    3) Substncias Envolvidas Quantidades, movimentao, manipulao e formas de armazenamento Caractersticas fsico-qumicas e toxicolgicas

    4) Descrio das Operaes Caracterizao das instalaes e equipamentos Descrio de rotinas operacionais

    5) Identificao dos Riscos Tcnicas utilizadas para identificao dos riscos Consolidao das hipteses acidentais

    6) Avaliao dos Riscos Anlise de conseqncias Anlise de vulnerabilidade

    7) Gerenciamento dos Riscos

  • 8) Plano de Ao de Emergncia 9) Referncias Bibliogrficas 10) Anexos

    2.5) Critrios para Aceitao de um Estudo de Anlise de Riscos

    Os critrios para aceitao de uma anlise de riscos envolvem trs fases:

    Anlise Preliminar do Estudo analisa a forma e a estrutura do relatrio, bem como a documentao necessria.

    A anlise preliminar tem dois caminhos a seguir: quando o estudo est incompleto, emitido um parecer solicitando a complementao dos dados; e quando o estudo est completo, prossegue-se anlise detalhada.

    Anlise Tcnica da Metodologia Avaliao dos Resultados.

  • Estudo de Impacto Ambiental EIA

    IMPACTO AMBIENTAL - Conforme Resoluo CONAMA 01/86, poderamos considerar impacto ambiental como "qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam: I - a sade, a segurana e o bem estar da populao; II - as atividades sociais e econmicas; III - a biota; IV - as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; e V - a qualidade dos recursos ambientais". Obviamente, o Estudo de Impacto Ambiental seria um instrumento tcnico-cientfico de carter multidisciplinar, capaz de definir, mensurar, monitorar, mitigar e corrigir as possveis causas e efeitos, de determinada atividade, sobre determinado ambiente materializado-o num documento, agora j direcionado ao pblico leigo, denominado de RELATRIO DE IMPACTO AO MEIO AMBIENTE - RIMA.

    No sentido de tornar obrigatria a elaborao de Estudo de Impacto Ambiental e seu Relatrio, a Resoluo CONAMA 01/86 define quais os empreendimentos que necessitam de prvio EIA-RIMA. O Decreto 750/93 criado com base no Art. 14 da Lei 4.771/65 tambm impe obrigatoriedade na elaborao desse Instrumento quando se tratar de supresso de vegetao nativa de mata atlntica primria, e secundria nos estgios mdio e avanado de regenerao, em atividades de utilidade pblica e/ou interesse social.

    A Lei 6.938/81 que definiu a Poltica Nacional de Meio Ambiente - PNMA, lana as bases dos instrumentos de licenciamento ambiental e define sua obrigatoriedade e discorre sobre as etapas de um licenciamento.No mesmo sentido a Resoluo CONAMA 237/97 expande a definio dessas etapas e inclui o grau de competncia dos rgos ambientais quanto ao licenciamento.

    O EIA/RIMA no figura sozinho no rol dos Instrumentos de Licenciamento Prvio. H tambm o PCA/RCA (Plano de Controle Ambiental e Relatrio de Controle Ambiental e o PRAD (Programa de Recuperao de Areas Degradadas). O PCA/RCA se destina a avaliar o impacto de atividades capazes de gerar impacto ao ambiente, porm em grau menor e por isso dispensaria a complexidade e o aparato tcnico-cientfico para tal elaborao. J o PRAD ( Decreto 97.632/89) seria um instrumento complementar ao EIA/RIMA em atividades de minerao visando garantir a plena recuperao da rea degradada.

    "A elaborao do EIA/RIMA deve:

  • (a) contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao confrontando-as com a hiptese de no execuo do projeto, b) identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantao e operaoda atividade, (c) definir as reas Direta e Indiretamente afetadas pelos impactos, e (d) considerar os Planos e Programas de Governo com jurisdio sobre a rea onde ser implementada a atividade impactante. Desde modo, considerando as abrangncias das reas Direta e Indiretamente a serem afetas, o estudo de impacto ambiental dever no mnimo contemplar as seguintes atividades tcnicas: (a) o diagnstico ambiental, (b) o prognstico das condies ambientais com a execuo do projeto, (c) as medidas ambientais mitigadoras e potecializadoras a serem adotadas e (d) o programa de acompanhamento e monitoramento ambiental.

    Descreve-se a seguir esta atividades tcnicas: 1) Diagnstico Ambiental consiste na elaborao de uma descrio e anlise dos recursos ambientais e suas interaes.Portanto, este diagnstico dever caracterizar: (a) o meio fsico - exemplo: solo, subsolo, as guas, ar, clima, recursos minerais, topografia e regime hidrolgico; (b) o meio biolgico: fauna e flora; (c) o meio scio econmico - exemplo: uso e ocupao do solo; uso da gua; estruturao scio econmica da populao; stios e monumentos arqueolgicos, histricos e culturais; organizao da comunidade local; e o potencial de uso dos recursos naturais e ambientais da regio.

    2) Prognstico refere-se a identificao, valorao e interpretao dos provveis impactos ambientais associados a execuo, e se for o caso, a desativao de um dado projeto. Desta forma, estes impactos ambientais devem ser categorizados segundo aos seguintes critrios: (a) Ordem - diretos ou indiretos; (b) Valor - positivo (benfico) ou negativo(adverso); (c) Dinmica - temporrio, cclico ou permanente; (d) Espao - local, regional e, ou, estratgico; (e) Horizonte Temporal - curto, mdio ou longo prazo; e (f) Plstica - reversvel ou irreversvel. 3) Medidas Ambientais Mitigadoras e Potencializadoras tratam-se de medidas a serem adotadas na mitigao dos impactos negativos e potencializao dos impactos positivos. Neste caso, as medidas devem ser organizadas quanto: a) a natureza - preventiva ou corretiva; (b) etapa do empreendimento que devero ser adotadas; (c) fator ambiental que se aplicam - fsico, bitico e, ou, antrpico; (d) responsabilidade pela execuo - empreendedor, poder pblico ou outros; e (e) os custos previstos. Para os casos de empreendimentos que exijam reabilitao de reas degradas devem ser especificadas as etapas e os mtodos de reabilitao a serem utilizados.

  • 4) Programa de Acompanhamento e Monitoramento Ambiental implica na recomendao de programas de acompanhamento e monitoramento das evoluo dos impactos ambientais positivos e negativos associados ao empreendimento. Sendo necessrio especificar os mtodos e periodicidade de execuo." Fonte: www.unioeste.br/agais/index.asp

    RESOLUO CONAMA 001, de 23 de janeiro de 1986

    Dispe sobre os critrios e diretrizes bsicas para o processo de Estudos de Impactos Ambientais-EIA e Relatrio de Impactos Ambientais-RIMA

    O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das atribuies que lhe confere o artigo 48 do Decreto n 88.351, de 1 de julho de 1983, para efetivo exerccio das responsabilidades que lhe so atribudas do mesmo decreto, e Considerando a necessidade de se estabelecerem as definies, as responsabilidades, os critrios bsicos e as diretrizes gerais para uso e implementao da Avaliao de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente, RESOLVE: Artigo 1 - Para efeito desta Resoluo, considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a sade, a segurana e o bem-estar da populao; II - as atividades sociais e econmicas; III - a biota; IV - as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. Artigo 2 - Depender de elaborao de estudo de impacto ambiental e respectivo relatrio de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos aprovao do rgo estadual competente, e do IBAMA em carter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minrio, petrleo e produtos qumicos IV -Aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, artigo 48, Decreto-Lei n 32, de 18.11.66;

  • V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissrios de esgotos sanitrios; VI - Linhas de transmisso de energia eltrica, acima de 230Kv; VII - Obras hidrulicas para explorao de recursos hdricos, tais como: barragem para fins hidreltricos acima de 10MW, de saneamento ou de irrigao, abertura de canais para navegao, drenagem e irrigao, retificao de cursos dgua, abertura de barras e embocaduras, transposio de bacias, diques; VIII - Extrao de combustvel fssil (petrleo, xisto, carvo); IX - Extrao de minrio, inclusive os da classe II, definidas no Cdigo de Minerao; X - Aterros sanitrios, processamento e destino final de resduos txicos ou perigosos; XI - Usinas de gerao de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primria, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petro-qumicos, siderrgicos, cloroqumicos, os destilarias de lcool, hulha, extrao e cultivo de recursos hdricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Explorao econmica de madeira ou de lenha, em reas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir reas significativas em termos percentuais ou de importncia do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbansticos, acima de 100 ha. ou em reas consideradas de relevante interesse ambiental a critrio da SEMA e dos rgos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvo vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. Artigo 3 - Depender de elaborao de estudo de impacto ambiental e respectivo RIMA, a serem submetidos aprovao do IBAMA, o licenciamento de atividades que, por lei, seja de competncia federal. Artigo 4 - Os rgos ambientais competentes e os rgos setoriais SISNAMA devero compatibilizar os processos de licenciamento com as etapas de planejamento e implantao das atividades modificadoras do meio Ambiente, respeitados os critrios e diretrizes estabelecidos por esta Resoluo e tendo por natureza, o porte e as peculiaridades de cada atividade. Artigo 5 - O estudo de impacto ambiental, alm de atender a legislao, em especial os princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do ambiente, obedecer s seguintes diretrizes gerais: I - Contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao de projeto, confrontando-as com a hiptese de no execuo do projeto; II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantao e operao da atividade; III - Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrogrfica na qual se localiza; IV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantao na rea de influncia do projeto, e sua compatibilidade.

  • Pargrafo nico - Ao determinar a execuo do estudo de impacto o rgo estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Municpio fixar as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e caractersticas ambientais da rea, forem julgadas necessrias, inclusive os prazos para concluso dos estudos. Artigo 6 - O estudo de impacto ambiental desenvolver, no mnimo as seguintes atividades tcnicas: I - Diagnstico ambiental da rea de influncia do projeto completa descrio e anlise dos recursos ambientais e suas interaes, tal como existem, de modo a caracterizar a situao ambientais da rea, antes da implantao do projeto, considerando: a) o meio fsico - o subsolo, as guas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptides do solo, os corpos dgua, o regime hidrolgico, as correntes marinhas, as correntes atmosfricas; b) o meio biolgico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espcies indicadoras da qualidade ambiental. de valor cientfico e econmico, raras e ameaadas de extino e as reas de preservao permanente; c) o meio scio-econmico - o uso e ocupao solo, os usos da gua e a scio-economia, destacando os stios e monumentos arqueolgicos. histricos culturais da comunidade, as relaces de dependncia entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilizao futura desses recursos. II - Anlise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, atravs de identificao, previso da magnitude interpretao da importncia dos provveis impactos vantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e mdio e longo prazos, temporrios e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades comulativas e sinrgicas; a distribuio dos nus e benefcios sociais. III - Definio das medidas mitigadoras dos impactos negativos entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficincia de cada uma delas; IV - Elaborao do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parmetros a serem considerados; Pargrafo nico Ao determinar a execuo do estudo de lmpacto ambiental, o rgo estadual competente; ou o IBAMA ou, quando couber, o Municpio fornecer as instrues adicionais que se fizerem necessrias, pelas peculiaridades do projeto e caractersticas ambientais da rea. Art. 7 - O estudo de impacto ambiental ser realizado por equipe multidisciplinar habilitada, no depende direta ou indiretamente do proponente do projeto e que ser responsvel tecnicamente pelos resultados apresentados Artigo 8 - Correro por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes realizao do estudo de impacto ambiental, tais como coleta e aquisio dos dados e informaes, trabalhos e inspees de campo, anlises de laboratrio, estudos tcnicos e cientficos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaborao do RIMA e fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cpias.

  • Artigo 9 - O relatrio de impacto ambiental - RIMA refletir as concluses do estudo de impacto ambiental e conter, no mnimo: I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relao e compatibilidade com as polticas setoriais, planos e programas governamentais; II - A descrio do projeto e suas alternativas tecnolgicas locacionais, especificando para cada um deles, nas fases construo e operao a rea de influencia, as matrias primas, e mo-de-obra, as fontes de energia, os processos e tcnicas operacionais. os provveis efluentes, emisses, resduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III - A sntese dos resultados dos estudos de diagnsticos ambientais da rea de influncia do projeto; IV - A descrio dos provveis impactos ambientais da implantao e operao da atividade, considerando o projeto suas alternativas os horizontes de tempo de incidncia dos impactos e indicando os mtodos, tcnicas e critrios adotados para sua identificao, quantificao e interpretao; V - A caracterizao da qualidade ambiental futura da rea de influncia, comparando as diferentes situaes da adoo do projeto e suas alternativas, bem como com a hiptese de sua no realizao; VI - A descrio do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relao aos impactos negativos, mencionando aqueles que no puderam ser evitados, e o grau de alterao esperado; VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII - Recomendao quanto alternativa mais favorvel (concluses e comentrios de ordem geral). Pargrafo nico O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreenso. As informaes devem ser traduzidas em linguagem acessvel, ilustradas por mapas, cartas, quadros, grficos e demais tcnicas de comunicao visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqncias ambientais de sua implementao. Artigo 10 - O rgo estadual competente, ou o IBAMA ou, quando o Municpio ter um prazo para se manifestar de forma conclusiva sobre o apresentado. Pargrafo nico - O prazo a que se refere o caput deste artigo ter seu termo inicial na data do recebimento pelo rgo estadual competente ou pela SEM do estudo do impacto ambiental e seu respectivo RIMA. Artigo 11 - Respeitado o sigilo industrial, assim solicitando e demonstrando pelo interessado o RIMA ser acessvel ao pblico. Suas cpias permanecero disposio dos interessados, nos centros de documentao ou bibliotecas da SEMA e do rgo estadual de controle ambiental correspondente, inclusive o de anlise tcnica. 1 - Os rgos pblicos que manifestarem interesse, ou tiverem relao direta com o projeto, recebero cpia do RIMA, para conhecimento e manifestao 2 - Ao determinar a execuo do estudo de impacto ambiental e apresentao do RIMA, o rgo estadual competente ou o IBAMA ou, quando couber o Municpio, determinar o prazo para recebimento dos comentrios feitos pelos rgos pblicos e demais interessados e, sempre que julgar promover a

  • realizao de audincia pblica para informao sobre o projeto impactos ambientais e discusso do RIMA. Artigo 12 - Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao.

  • A partir da segunda metade dos anos oitenta, o debate sobre o planejamento territorial na Amaznia passou a incorporar elementos do discurso ambiental, fazendo com que ganhasse fora a remisso a uma racionalidade ecolgica, apresentada como necessria ao ordenamento territorial da regio. O Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE) o instrumento que esteve desde ento fortemente associado materializao territorial desta racionalidade. A idia de que os projetos do desenvolvimentismo autoritrio, com o apoio financeiro dos organismos multilaterais, resultaram em uma desordem ecolgica e social afirmou-se de tal forma que o prprio Banco Mundial procurou incorporar preocupaes ambientais voltadas para a correo dos impactos emblematicamente desastrosos de projetos de execuo recente como o POLONOROESTE. A partir de 1986, um projeto de novo tipo, o PLANAFLORO, foi pensado como forma de tornar compatveis o desenvolvimento econmico e a preservao ambiental nas zonas florestadas do estado de Rondnia. O Zoneamento econmico-ecolgico foi ali tratado como pea-chave atravs da qual o projeto propiciaria o conhecimento do terreno, a identificao das potencialidades do territrio e a classificao de reas segundo diferentes padres desejveis de uso. Criado em 1990, o Programa de Zoneamento Ecolgico-Econmico do governo federal, que inicialmente compreendia apenas a Amaznia Legal, teve, em 1992, sua abrangncia ampliada para todo o territrio nacional.

    O prestgio do Zoneamento como instrumento promissor de um ordenamento territorial ecologizado difundiu-se desde ento com fora atravs dos distintos momentos em que programas, instrumentos legais, hierarquias, pacotes financeiros e redesenhos institucionais foram sendo propostos para o planejamento na Amaznia por governos sucessivos. O Programa Nossa Natureza, em 1989, a Comisso Coordenadora do ZEE da Amaznia criada em 1990 e o Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais financiado pelo G7, com incio em 1991, so alguns marcos deste processo. Ao longo das diferentes conjunturas, o ZEE foi assumindo diferentes contedos, mais ou menos restritos ao domnio interno das burocracias pblicas, de agncias de desenvolvimento, consultorias tcnicas, e com maior ou menor existncia concreta efetiva - ainda que reconhecidamente limitada, exceo do estado de Rondnia - na realidade scio-poltica do territrio amaznico. Nestas conjunturas, em que condies de financiamento internacional, pactaes polticas regionais e nacionais, bem como presses de movimentos sociais internacionais e locais, variaram em sua configurao e peso relativo, a idia do ZEE foi sendo demarcada por distintas nfases, motivaes e estratgias argumentativas.

    Um grande espectro de posies o qualificaram, desde a condio de conhecimento estrategicamente importante para defender a Amaznia sem canhes, segundo o

    Programa de zoneamento ecolgico e econmico

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    Brigadeiro Marcos Antonio Oliveira, coordenador do projeto SIVAM Sistema de Vigilncia da Amaznia1, de um instrumento ecolgica e socialmente contraproducente, sustentado por uma aliana eco-tecnocrata que une o velho autoritarismo ao novo ecologismo, segundo o economista Manfred Nitsch2, consultor internacional do Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais Brasileiras, financiado pelo G7. Controvrsias jurdico-polticas questionaram a falta de transparncia nas condies de execuo e financiamento do ZEE, culminando com a realizao da srie de Audincias Pblicas da Proposta de Fiscalizao e Controle no Congresso Nacional em 1995. Sua pertinncia poltica foi ento defendida sob o argumento da necessidade do ZEE fundamentar cientificamente a concesso de incentivos fiscais na Amaznia segundo o estabelecido no Decreto Lei n.153 de 1991, cuja aplicao esbarrava, porm, segundo os termos de seu coordenador tcnico, na dificuldade do zoneamento no estar concluido3.

    A diversidade de posies e de controvrsias que cercam o ZEE evoca a presena do que Certeau chamou de um enorme resto, feito de sistemas culturais mltiplos e fluidos, situados entre as maneiras de utilizar o espao e o planejamento4. O que procuraremos mostrar aqui que os passos em direo ao ordenamento ecolgico do territrio amaznico - em condies de fragilidade constitutiva da esfera pblica regional - tm sugerido que estes restos se fazem presentes no interior da prpria ao planejadora. Ou seja, que a racionalidade ecolgica aplicada ao planejamento territorial vem sendo objeto de construes discursivas distintas, que ganham pertinncia analtica enquanto manifestaes de dinmicas sociais que, elas mesmas, constituem-se como o que ainda Certeau designa por fluxo e refluxo de murmrios nas regies avanadas da planificao5.

    1. Conjunturas e discursos

    O Governo Sarney criou, em outubro de 1988, o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amaznia Legal, denominado Programa Nossa Natureza6. Elaborado em resposta s presses nacionais e internacionais que o governo vinha sofrendo no sentido de reduzir os ndices de desmatamento da floresta amaznica, o programa pretendia disciplinar a ocupao e a explorao racionais da Amaznia Legal, fundamentando-as no ordenamento territorial7. Um grupo de trabalho interministerial foi ento criado tendo em vista o estudo e a elaborao das medidas referentes ao

    1 Cf. Brigadeiro M. A. de Oliveira, Depoimento na Audincia Pblica da Proposta de Fiscalizao e

    Controle n. 11/95 sobre ZEE da Amaznia Legal, Braslia 14/12/1995, p.34. 2 cf. M. Nitsch, Riscos do Planejamento Regional na Amaznia Brasileira: observaes relativas lgica

    complexa do zoneamento, in M.A. dIncao I. M. da Silveira (orgs.) A Amaznia e a Crise da Modernizao, Museu Goeldi, Belm, 1994, pp.508. 3 cf. H.Schubart, Audincia Pblica, Proposta de Fiscalizao e Controle, 21/11/1995, Braslia, pp.41 e

    71. 4 cf. Michel de Certeau, A Cultura no Plural, Papirus, SP, 1995, p.234.

    5 op.cit.

    6 Decreto n 96.944 de 12/10/88.

    7 Cf. A.L.Cruz, O Zoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia Legal. In: Projeto de Polticas

    Pblicas. Braslia, IEA (Instituto de Estudos Amaznicos e Ambientais), Braslia, 1993.

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    segmento Proteo do Meio Ambiente, das Comunidades Indgenas e das Populaes Envolvidas no Processo Extrativista, inspirado na metodologia do PMACI Projeto de Proteo do Meio Ambiente e das Comunidades Indgenas, lanado em 1985 com a preocupao bsica de orientar a ocupao e minorar impactos decorrentes do asfaltamento da BR-364, no estado do Acre.

    No perodo que precedeu a Conferncia da Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED-1992), um novo grupo de trabalho interministerial foi institudo8 com a atribuio de analisar os trabalhos de zoneamento ecolgico-econmico em andamento e propor medidas que agilizassem sua execuo na Amaznia Legal, considerada ento assunto prioritrio pela Unio9, dando lugar, atravs do Decreto n. 99540 de 21/09/1990, ao Programa de Zoneamento Ecolgico-Econmico e sua Comisso Coordenadora presidida pela Secretaria de Assuntos Estratgicos. O ZEE surgiu assim como instncia alternativa de planejamento territorial na Amaznia a partir da esfera federal, em substituio ao precedente da SUDAM, enfraquecida pelos resultados considerados indesejveis de sua poltica de incentivos fiscais e creditcios, esvaziada tcnica e politicamente para discutir opes de desenvolvimento regional ou cenrios estratgicos, e desprovida de recursos financeiros e tcnicos para coordenar polticas pblicas na regio. O ZEE foi a soluo tida como apropriada para que se apresentassem respostas polticas presso persistente pela volta dos incentivos, que seriam vinculados, desta feita, s normas legitimadas pelo ZEE 10. O Zoneamento veio constituir-se assim como uma dimenso territorial do que tem sido chamado de modernizao ecolgica conjunto de polticas de minimizao do risco ambiental pela caracterizao de vulnerabilidades, criao de arranjos institucionais e prticas regulatrias tendentes a imprimir temporalidade julgada apropriada - a desejada sustentabilidade - s formas de apropriao dos recursos territorializados.11

    8 Decreto n 99.193 de 27/03/90, modificado pelo Decreto n 99.246, de 10/05/90.

    9 Cf. SAE/PR, Programa de Zoneamento Ecolgico-econmico com Prioridade para a Amaznia Legal,

    Relatrio do GT/90, Braslia, 1990, p.9. 10 Amigos da Terra/Programa Amaznia, A Harmonizao das Polticas Pblicas com os Objetivos do

    Programa Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras, SP, 1994, 79pp., aqui: p.19-20. O Decreto n. 153 de 25/06/1991 vedou a concesso de incentivos fiscais para empreendimentos que impliquem em desmatamento de reas de floresta primria e destruio de ecossistemas. Os projetos a serem incentivados deveriam a partir de ento ser orientados conforme o ZEE, ouvida a SAE, o IBAMA, o INCRA e a FUNAI. A perda de poder decisrio sobre os incentivos levou a SUDAM a elaborar em 1994 documento Ao Governamental na Amaznia referindo-se a um ecodesenvolvimento voltado para a bio-indstria , o turismo ecolgico e a engenharia gentica como meta e ao ZEE como eixo estratgico.

    11 A noo de modernizao ecolgica designa o processo pelo qual as instituies polticas

    internalizam preocupaes ecolgicas no propsito de conciliar o crescimento econmico com a resoluo dos problemas ambientais, dando-se nfase adaptao tecnolgica, celebrao da economia de mercado, crena na colaborao e no consenso cf. A. Blowers, Environmental Policy: Ecological Modernization or the Risk Society, in Urban Studies, vol. 34, n.5-6, p.845-871, 1997 p.853-34. Segundo Moll, a teoria da modernizao ecolgica tenta delinear o processo de reestruturao ecolgica que comea a emergir nos pases industrializados, focalizando no tipo de atores que nele desempenham papel dominante, nos sistemas de crenas ou ideologias, regras e recursos utilizados e transformados por esses atores, a nova configurao do Estado e do mercado para a reforma ecolgica, e as trajetrias tecnolgicas inovadores na preveno e controle da poluio cf. A. P.J. Moll, Globalization and Changing Patterns of Industrial Pollution and Control, International Seminar on the Quality of Llife and Environmental Risks,UFF, RJ, mimeo. 1996, p.3.

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    As contradies de um tal empreendimento no tardaram, porm, a se fazer sentir. Em junho de 1994 o Diagnstico Ambiental da Amaznia Legal j encontrava-se em fase de concluso e o IBGE j havia apresentado Secretaria de Assuntos Estratgicos (SAE-PR) a segunda fase do programa que lhe cabia executar, referente elaborao de alternativas para as aes governamentais, quando realizou-se uma audincia pblica na Comisso de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, para discutir o projeto de Zoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia Legal. O objetivo da reunio era tornar pblicas as informaes referentes ao diagnstico ambiental da Amaznia que o IBGE repassara SAE e identificar a ocorrncia de disputas intragovernamentais em relao ao ZEE. Na reunio, os representantes da sociedade civil reivindicaram uma maior participao na Comisso de Zoneamento Ecolgico-Econmico e criticaram a falta de articulao intergovernamental, questionando a falta de uma efetiva coordenao dos ZEEs estaduais, a falta de articulao governamental para o encaminhamento das aes do ZEE e a falta de transparncia em relao s informaes acumuladas pela SAE12.

    A realizao do Diagnstico Ambiental, que ficara ao encargo do IBGE, fora, por sua vez, marcada por problemas de ordem administrativa13 e por divergncias conceituais com a SAE. Alegando visar a superao desses problemas e a necessidade de finalizar este Diagnstico Ambiental, a SAE assinou Convnio com a Fundao Brasileira para o Desenvolvimento Sustentvel (FBDS) e a Fundao de Cincia, Aplicaes e Tecnologias Espaciais (FUNCATE), sem licitao prvia e sem definio dos valores que seriam repassados pelos cofres pblicos a essas duas entidades privadas. Tendo em vista a intransparncia e as ambigidades do convnio SAE/FBDS/FUNCATE, uma Proposta de Fiscalizao e Controle foi solicitada Comisso de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Cmara dos Deputados, para que se explicitassem os procedimentos administrativos da SAE no que se refere ao Programa de Zoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia Legal.

    As preocupaes dos parlamentares incidiam sobre a suspeita de irregularidade na assinatura do referido convnio; a excluso da sociedade civil organizada tanto do acesso s informaes quanto do processo de elaborao do Zoneamento; o suposto dano ao interesse pblico, uma vez que estaria havendo uma transferncia das funes estatais para empresas privadas; o risco de que a busca de incentivos fiscais e financiamentos gerasse a produo de estudos apressados, tendo em vista apenas a aprovaes dos recursos; e, por fim, a falta de clareza do mtodo pelo qual as vocaes ambientais do territrio seriam definidas pelos condutores do Zoneamento.

    Tais contradies e incertezas, que culminaram na realizao da Proposta de Fiscalizao e Controle de 1995, pontuaram a vigncia de distintas sequncias discursivas que, ao longo dos quinze anos que se seguiram aos primeiros exerccios do

    12 cf. M.A. Vianna, O Zoneamento Ecolgico-econmico e a Sociedade Civil, in Anais do Encontro

    Internaciomal de Trabalho Diversidade Ecossocial e Estratgias de Cooperao entre ONGs na Amaznia, Belm, 13-16/06/1994, FASE/FAOR, mimeo, p.63. 13

    Segundo o ento Presidente do IBGE, a realizao do Diagnstico foi prejudicada pela reduo do oramento do IBGE a um tero do normal, acompanhada de reduo salarial, deflagrao de greves, escassez de recursos tecnolgicos e humanos, entraves burocrticos para a liberao de verbas e aquisio de equipamentos na velocidade necessria, perda da autonomia para gesto financeira e pessoal, tudo isso num contexto de crise inflacionria. CF. S. Schartzman, Audincia Pblica 26/10/95, p.36.

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    ZEE na Amaznia, combinaram-se e alternaram-se em sua fora relativa na atribuio conjuntural de diferentes sentidos ao Zoneamento. A primeira delas apresenta o ZEE como uma prtica de conhecimento, de classificao de reas e produo de normas. A segunda acentua no ZEE sua dimenso de projeto, financiamento, execuo de obras e aquisio de equipamentos. Uma terceira sequncia destaca no zoneamento sua funo de ordenamento, incentivo a atividades e vigilncia, e uma quarta destaca neste instrumento de poltica territorial a dimenso da participao, controle social e negociao de projetos de desenvolvimento.

    A primeira sequncia centra-se no ZEE como instrumento do saber, nele privilegiando as atividades de produo de conhecimento, de modos de classificao do espao e de formulao de normas. Em torno dele, profissionais do planejamento, assessorias tcnicas e jurdicas discutem escalas de observao do territrio, tcnicas de representao cartogrfica, registro e digitalizao das bases de dados. As classificaes adotadas dependero de conceituaes bsicas como as de sistemas ambientais, vulnerabilidade ambiental, sustentabilidade e de preceitos metodolgicos como os de holismo, sistemismo, anlise dinmica. Instituies de pesquisa ver-se-o envolvidas na instalao de laboratrios e de centros de geoprocessamento. Por vezes, apontar-se-o dificuldades de ordem cognitiva como o recurso a dados excessivamente defasados no tempo para dar fundamento a polticas especficas, assim como a incompatibilidade entre a escala das informaes econmicas e a desagregao necessria para dar conta dos processos ecolgicos14.

    A segunda sequncia v no ZEE a possibilidade da satisfao de interesses, seja por empresas e instituies voltadas para as atividades de projeto, execuo de obras e compra de equipamentos, seja por instncias passveis de serem beneficiadas pelas prprios resultados do zoneamento. Alguns autores ressaltam, por exemplo, o absoluto cinismo com que o governador de Rondnia, que vencera o pleito de 1994 combatendo o ZEE durante a campanha eleitoral, iniciou a segunda aproximao do zoneamento do estado apenas para satisfazer o contrato com o Banco Mundial 15. Por outro lado, em 1996, o Tribunal de Contas da Unio ordenou a citao de um ex-governador e dois de seus secretrios por no terem repassado aos rgos federais executores do PLANAFLORO recursos recebidos do Banco Mundial para este fim 16. Um dos possveis fatores de convencimento dos deputados que aprovaram massiamente o zoneamento como lei estadual foi o argumento do governo do estado de que sem o zoneamento no haveria PLANAFLORO e seus recursos para o desenvolvimento - afirma a Avaliao de Meio Termo do PLANAFLORO realizada por consultores do PNUD 17. Tambm no mbito da captao de recursos, o Diretor-Superintendente da FBDS, embora reconhecendo que o IBGE e a FUNCATE realizaram o trabalho, justificou a reteno, para a Fundao, de 30% dos recursos repassados pela CISCEA

    14 cf. Amigos da Terra, A Harmonizao das Polticas Pblicas com os Objetivos do Programa Piloto para

    as Florestas Tropicais Brasileiras, So Paulo, 1994, p.21. 15

    H. M. de Carvalho, Resgate Histrico e Analtico do Forum de ONGs e Movimentos Sociais que Atuam em Rondnia, OXFAM, Porto Velho, 1996, mimeo, p.49 e B. Millikan, Polticas Pblicas e Desenvolvimento Sustentvel em Rondnia: Situao atual e abordagem para um planejamento participativo de estratgias para o Estado, PNUD/SEPLAN-RO, 1997, p.28. 16

    cf. B. Millikan, Participao Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, verso preliminar, p.44 17

    cf. PNUD, Avaliao de Meio Termo, Braslia, mimeo, 1996, p.25.

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    Comisso de Implantao do Sistema de Controle do Espao Areo - para a execuo do ZEE, proclamando: nossa atuao foi maravilhosa, foi fantstica, porque ns somos o que de melhor existe no Pas 18. A prpria seleo de reas prioritrias para o zoneamento pode fazer-se luz de interesses pr-estabelecidos. Segundo depoimento do deputado Salomo Cruz em Audincia Pblica na Cmara de Deputados, o governo de Roraima teria, por exemplo, escolhido a rea Raposa/Serra do Sol por seu interesse na construo local de uma hidreltrica 19.

    A terceira sequncia discursiva v no zoneamento um instrumento de poder aplicado ao ordenamento, ao incentivo e vigilncia de atividades. Diferentes instncias estatais sobrepem-se nas atividades relativas ao ordenamento territorial ecologizado - o Ministrio do Meio Ambiente no Gerenciamento Costeiro, a EMBRAPA no Zoneamento agro-ecolgico e a prpria SAE no ZEE. Mas conflitos entre rgo federais e estaduais tambm se manifestam como, por exemplo, o que ops as polticas fundirias federais aos propsitos de ordenamento do ZEE estadual em Rondnia. O ZEE surge, por outro lado, como instrumento restritivo disseminao indiscriminada de projetos incentivados, que a partir do Decreto n.153 de 1991, passaram a ser avaliados segundo sua compatibilidade com o zoneamento por rgos federais como a SAE, o MME, o INCRA e a FUNAI. A perda de poder decisrio sobre os incentivos levou, desde logo, a SUDAM a elaborar em 1994 um documento referindo-se ao ecodesenvolvimento voltado para a bio-indstria, o turismo ecolgico e a engenharia gentica como meta, e ao ZEE como eixo estratgico. Considerando a forte presena de rgos federais como o INCRA e o IBAMA em certos estados da Amaznia, barganhas fisiolgicas tendem, por outro lado, a incluir a designao de nomes para as direes locais dos rgos federais, tornando complexo o cenrio poltico que condiciona a execuo das polticas territoriais.

    Uma quarta sequncia, por fim, destaca no ZEE a necessidade de nele se fazer respeitar a alteridade, atribuindo a este instrumento de poltica territorial carter participativo e de negociao de alternativas de desenvolvimento. Representantes de ONGs, de movimentos sociais e parlamentares reivindicam a socializao do debate sobre o ZEE, a democratizao do acesso a suas informaes e o respeito diversidade sociocultural nas distintas etapas de sua elaborao. A elaborao da primeira aproximao do Zoneamento entre 1986 e 1988- afirma Millikan foi tratada pelo governo de Rondnia e o Banco Mundial como um exerccio essencialmente tcnico, e no como um processo participativo que suporia negociaes entre vrias esferas do Poder Pblico e os diversos segmentos da sociedade civil 20. A criao de instituies colegiadas tem, por outro lado, refletido preocupaes dos governos responderem a presses externas e manterem sua legitimidade poltica. As representaes da sociedade civil em tais instituies reconhecem via de regra no posurem poder de fogo para se fazerem ouvir e influir decisivamente nas polticas governamentais. ONGs registram que os rgos colegiados renem-se com pouca frequncia, relutam em discutir aprofundadamente questes estratgicas e tm suas reunies frequentemente tumultuadas por discursos inflamados de polticos ligados a oligarquias locais. Observa-

    18 cf. E. Salati e W. Schindler, Audincia Pblica, 25/10/1995, p.49 e p.52.

    19 cf. Audincia Pblica, 7/11/1995, p.40.

    20 cf. B. Millikan, Participao Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano

    Agropecurio e Florestal de Rondnia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, verso preliminar, pp. 45-46.

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    se tambm a relutncia crescente de entidades em denunciar irregularidades na atuao de rgos governamentais, por medo de represlias como cortes de recursos financeiros e no atendimento a outras reivindicaes21.

    Conjunturas diferentes explicaro alternativamente a presena mais visvel de sequncias discursivas diferentes. O perodo pr-Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), por exemplo, foi marcado pela viso do interesse na expectativa de obteno de recursos externos. No perodo ps-UNCED prevaleceu a lgica do poder, na busca da ocupao do espao aberto pela temtica ecolgica, configurando-se uma reciclagem ecolgica do discurso da segurana nacional e uma ambientalizao das estratgias de segmentos do empresariado, por exemplo. A tendncia que se vem observando na segunda metade dos anos noventa aponta para uma acomodao entre os diferentes discursos no sentido da constituio do que se vem designando por sustentabilidade poltica dos programas ecolgicos. O Banco Mundial parece, nesse sentido, tender a tornar-se menos preservacionista a Agenda midas que sucede ao PLANAFLORO em Rondnia, por exemplo, tida por mais desenvolvimentista que o projeto precedente. As menes participao das ONGs nos projetos ambientais, por outro lado, tendem a insistir gradativamente mais na competncia tcnica e no carter cooperativo de suas atividades de prestao de servios.

    As inflexes conjunturais dos discursos sobre o ZEE classificao do territrio que constri seus fundamentos recorrendo a uma autoridade cientfica que legitime o carter relativamente arbitrrio da diviso - apenas reforam a percepo de que este instrumento de planejamento pode encerrar distintos olhares sobre o territrio, determinando diferentes objetos a conhecer, diferentes perspectivas e ordens a partir das quais procurar conhec-los e buscar represent-los.

    2. O ZEE como representao ordenada do territrio

    A linguagem se espacializa para que o espao, tornado linguagem, seja falado e escrito afirma Genette22. Nas representaes cartogrficas, em particular, destaca-se uma eloquncia que no emerge do discurso geogrfico em que esto mergulhados23. Carregados de imagens retricas, os mapas em geral no s contm um conjunto de signos, mas tambm os imperativos territoriais dos sistemas polticos. Haveria, portanto, que saber faz-los dizer aquilo que eles apenas sugerem, ou, por vezes, encobrem. Ora, no caso do ZEE, ao contrrio, tratam-se de mapas falantes por si mesmos, que no pretendem-se apenas reflexos passivos do mundo dos objetos, mas intrpretes do que se quer seja a verdade ecolgica deste mundo. Explicitamente, os mapas do ZEE

    21 Cf. B. Millikan, Polticas Pblicas e Desenvolvimento Sustentvel em Rondnia: Situao atual e

    abordagem para um planejamento participativo de estratgias para o Estado, PNUD/SEPLAN-RO, 1997, p.30 e 42 e Participao Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, verso preliminar, pp. 40 e 46. 22

    cf. G. Genette, Figures II, p. 48 apud Pierre Jourde, Gographies Imaginaires - de quelques inventeurs de mondes au XX Sicle,Jos Corti ed., 1991, Paris, p. 322. 23

    cf.J. B. Harley, Cartes, Savoir et Pouvoir, in P. Gould - A. Bailly (orgs.), Le Pouvoir des Cartes Brian Harley et la Cartographie, Anthropos, Paris,1995, p.20.

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    ordenam e do ordens; seus referentes no esto antes, mas depois de sua elaborao. Seus enunciados so mais performticos do que constatativos24. Pois a cartografia no ZEE contm uma dupla temporalidade - a da histria demarcada espacialmente atravs de signos selecionados e a do futuro imaginado, representando as coisas como tenso atravs da qual o lugar , ao mesmo tempo, horizonte. Mas se, ao contrrio dos mapas correntes que se pretendem reflexos neutros do real, a cartografia no ZEE explicitamente performtica e falante, caber analisar os diferentes contedos e tenses embutidos nestas falas, tanto em sua dimenso representacional como prescritiva.

    Enquanto ato de comunicao persuasiva, a cartografia do ZEE produz imagens retricas que constrem realidades socioespaciais novas. O territrio plural e polissmico, aberto ao aleatrio e no controlvel transformado em extenso quantificada, limitada, controlada pelo gesto cartogrfico que serve de suporte ao planejadora25. Os signos cartogrficos reordenam paisagens, submetendo-as a projetos que se pretendem subordinados a determinismos ecolgicos, criando efeitos de verdade suficientemente fortes para calar dvidas e interrogaes, e, sobretudo, obscurecer, por detrs de um espao abstrato e instrumental, a presena dos poderes da representao cartogrfica e da prescrio zoneadora.

    Um duplo mecanismo de poder liga-se, no entanto, produo do ZEE. Um poder que se exerce sobre as prticas do zoneamento atravs das exigncias externas das hierarquias polticas, e um poder que se exerce pelo saber cartogrfico e classificatrio, pelo modo como os zoneadores criam uma concepo do espao, ou seja, um poder incorporado prpria retrica do ZEE. Em certos momentos, entretanto, estes poderes podem se chocar, exprimindo a ocorrncia de rudos nas correias de transmisso entre hierarquias polticas e instncias tcnicas. Este foi, por exemplo, o caso do desencontro de expectativas entre a SAE e o IBGE com relao ao Diagnstico Ambiental da Amaznia encomendado a este ltimo. Enquanto a SAE pretendia obter uma caracterizao das potencialidades econmicas contidas nos recursos naturais amaznicos, os tcnicos do IBGE dispunham-se a registrar os vetores polticos da ocupao da regio, neles pretendendo incluir os conflitos e as marcas dos grandes projetos governamentais 26. Mas o poder incorporado cincia do ZEE exprime-se notadamente nas prticas classificatrias do territrio. No caso brasileiro, os critrios classificatrios foram fortemente influenciados pela ecogeografia de Tricart27. Seu conceito de unidades ecodinmicas prope-se a captar as interrelaes entre as atividades humanas e os

    24 cf. J. Loup Rivire, La Carte et la Dcision, in Cartes et Figures de la Terre, CCI/Centre Georges

    Pompidou, Paris, 1980, p. 379, apud Pierre Jourde op.cit., p.103--104. 25

    Cf. M. Lussault, La Ville Clarifie. Essai danalyse de quelques usages carto- et icnongraphiques en oeuvre dans le projet urbain, in L.Cambrzy R. de Maximy (eds.) La Cartographie en Dbat Rpresenter ou Convaincre, Karthala-ORSTOM,1995, p.170. 26

    cf. Antnia M.M. Ferreira, Contribuio ao debate sobre metodologia aplicada a estudos de Zoneamento Ecolgico-Econmico: Projeto Amaznia Legal. In: Seminrio Diversidade eco-social e estratgias de coopreao entre Ongs da Amaznia. Belm, FAOR - FASE, junho de 1994. 27

    Tricart enfoca a dinmica e os fluxos de energia/matria no meio ambiente visando determinar a taxa aceitvei de extrao de redursos naturais, sem degradao do ecossistema, cf. J. Tricart, Ecodinmica, IBGE, 1977,RJ, p.32.

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    ecossistemas, categoria que, entretanto, para crticos como Chantal Blanc-Pamard, caracteriza-se por no ter dimenso nem espacial nem histrica28. Para Blandin e Bergandi igualmente, a anlise ecossistmica em termos de fluxos e estoques energticos implica uma reduo do ecossistema s leis da fsica, revelando uma abordagem reducionista por detrs de suas pretenses holsti