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julho de 2015 Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues UMinho|2015 Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues Universidade do Minho Instituto de Educação O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol

Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodriguesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/41244/1/Liliana Pereira... · agradeço por toda a ajuda prestada, pelas dúvidas dissipadas

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julho de 2015

Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues

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O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol

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Relatório de Estágio Mestrado em Ensino do Português no 3º ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e do Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário

Trabalho realizado sob a orientação do

Prof. Doutor António Carvalho da Silva

e do

Prof. Doutor Carlos Pazos Justo

Universidade do MinhoInstituto de Educação

julho de 2015

Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues

O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol

ii

DECLARAÇÃO

Nome: Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues

Endereço Eletrónico: [email protected]

Bilhete de Identidade: 12843661

Título do Relatório:

O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol

Supervisores:

Prof. Doutor António Carvalho da Silva

Prof. Doutor Carlos Pazos Justo

Ano de conclusão: 2015

Mestrado em Ensino do Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e do

Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE.

Universidade do Minho, 17 de julho de 2015

Assinatura: ______________________________________________________.

iii

AGRADECIMENTOS

Foram várias as pessoas que me acompanharam ao longo deste projeto e que me

ajudaram a ultrapassar todas as dificuldades sentidas ao longo deste árduo caminho.

Aos meus supervisores, Prof. Doutor António Carvalho da Silva e Prof. Doutor Carlos Pazos Justo,

agradeço por toda a ajuda prestada, pelas dúvidas dissipadas e por me terem sempre

acompanhado durante a implementação do meu projeto.

Às minhas orientadoras, Dr.ª Fátima Teixeira e Dr.ª Helena Real, por me orientarem no

campo de trabalho e por se disponibilizarem a ceder uma das suas turmas. Não posso também

esquecer o apoio que me deram, que foi sem dúvida fundamental. Com elas pude aprender o que

é, na prática, ser professor.

Quero, ainda, salientar todo o apoio recebido por parte da minha família. Aos meus

irmãos, os meus exemplos a seguir, que me deram os conselhos mais oportunos. Aos meus pais,

por toda a dedicação e apoio que sempre me prestaram.

Agradeço, especialmente, ao meu marido, por me apoiar diariamente com todo o amor e

carinho, e porque compreendeu as minhas ausências, ajudando a manter-me motivada.

Não poderia deixar de agradecer à Associação Patinhas Abandonadas de Vieira, da qual

sou voluntária fundadora. Apesar da minha ausência, mostraram-se compreensivos, incentivando-

me a terminar com sucesso este meu percurso académico.

Por fim, agradeço a três amigos muito especiais. À Berta, minha amiga de infância, que,

conhecendo-me tão bem, me aconselhava sempre da melhor maneira, dando-me sempre força

nos momentos mais desgastantes e difíceis. À Andreia que, mesmo mais ausente, me

demonstrava todo o seu apoio e carinho. Em especial ao Manuel António Pereira, meu colega e

amigo. Foi sem dúvida o meu pilar em todo este processo, ele que esteve ao meu lado em todos

os momentos e me fez ver o melhor caminho a seguir.

A todos eles o meu muito obrigada, por estarem incondicionalmente lá para mim.

iv

v

O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de Português e de Espanhol

Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues

Relatório de Estágio

Mestrado em Ensino de Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e do

Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário

Universidade do Minho, 2015

RESUMO

O presente trabalho foi realizado no âmbito do Estágio Profissional do Mestrado em Ensino

de Português e Espanhol, e tem como principal objetivo descrever o processo desenvolvido ao

longo do mesmo. A sua implementação deu-se na Escola Secundária de Alberto Sampaio, nas

disciplinas de Português e Espanhol.

Após a análise dos documentos reguladores, como os programas das disciplinas, e dos

documentos de estudo do contexto, tais como os questionários iniciais preenchidos pelos diretores

de turma, as grelhas de observação das aulas, assim como os dados recolhidos no início do

projeto, apercebi-me de que a oralidade era uma aptidão, com lacunas nos casos estudados, logo

seria pertinente trabalhá-la em sala de aula.

Uma leitura de alguns textos científicos veio a demonstrar que a oralidade foi, ao longo de

muito tempo, uma competência descurada na avaliação por parte de docentes, por ser

considerada como já adquirida. No entanto, recentemente, parece ter vindo a ganhar alguma

atenção, não só na sala de aula, mas também em estudos desenvolvidos para compreender a sua

influência no processo de aprendizagem. É justamente esse o objeto de estudo deste projeto, no

qual se considera indispensável a componente oral, seja na aprendizagem de uma Língua

materna (LM), neste caso o Português, seja na aprendizagem de uma Língua Estrangeira (LE),

como o Espanhol.

Dividido em quatro capítulos, o presente relatório descreve as atividades desenvolvidas ao

longo do Estágio Profissional, cuja intervenção, destinada à incrementação da comunicação oral,

se processou em três fases: diagnóstico, implementação e avaliação. É de crer que a intervenção

contribuiu para um melhor desempenho dos discentes e para a sua consciencialização das

vantagens da oralidade, como demonstrarão algumas das conclusões.

vi

vii

The Use of the Word: The status of the Oral Communication in Portuguese and Spanish

classes

Liliana Pereira da Costa Vasconcelos Rodrigues

Internship Report

Degree in Teaching Portuguese at the 3rd Cycle and Secondary Education and in Spanish for Basic

and Secondary Education

University of Minho, 2015

ABSTRACT

This work was carried out within the Professional Internship of the Master’s degree in

teaching Portuguese and Spanish, and it aims to describe the process developed along it. Its

accomplishment took place in high school Alberto Sampaio, and the target subjects were

Portuguese and Spanish.

After the analysis of the regulatory documents, such as the subjects’ programmes and the

documents of the context, such as the initial surveys filled up by the teachers, the observation

grids of the classes, and data that was collected in the beginning of the project, I realized that the

orality was a competence with gaps among the studied cases, so it would be relevant to work it in

the classroom.

A careful reading of scientific texts had demonstrated that the orality has been an

overlooked competence in evaluation and by teachers, being considered as already acquired.

However, recently, it has been gaining some attention, not only in the classroom but also in studies

developed to understand its influence in the acquisition/learning process. This is precisely the aim

of the study that I carried out, where I consider that the oral component is essential, either in a first

language, in this case the Portuguese, either in a foreign language as the Spanish.

The report is divided in four main chapters and provides the description of the activities

done at different stages for the improvement of oral communication: diagnosis, implementation

and final evaluation. I believe, finally, that the intervention had contributed to the students’ better

performance and their awareness of the benefits of the oral competence in class, as shown by the

findings.

viii

ix

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... iii

RESUMO ..................................................................................................................................... v

ABSTRACT………………………………………………………………………………………………………………….vii

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................................ xi

ÍNDICE DE GRÁFICOS.................................................................................................................. xi

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................................... xi

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL E PLANO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

1.1. O Contexto de Intervenção ................................................................................................. 7

1.1.1. A Escola ................................................................................................................. 7

1.1.1.1. O Projeto Educativo...................................................................................................... 8

1.1.1.2. A Avaliação Externa ...................................................................................................... 9

1.1.2. A Turma de Português .......................................................................................... 10

1.1.3. A Turma de Espanhol ........................................................................................... 11

1.2. Plano de Intervenção Pedagógica ..................................................................................... 12

CAPÍTULO II – O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA COMUNICAÇÃO ORAL

2.1. Os Documentos Reguladores ........................................................................................... 17

2.1.1. O Programa de Português ..................................................................................... 18

2.1.2. O Programa de Espanhol ...................................................................................... 19

2.1.3. Quadro Comum Europeu de Referência para as Línguas e Plan Curricular del

Instituto Cervantes ................................................................................................................ 20

2.2. Fundamentação Teórica do Ensino da Comunicação Oral ................................................. 21

2.2.1. A Interação oral – características e dificuldades .................................................... 22

2.2.2. O ensino da língua oral ......................................................................................... 24

2.2.3. A interação oral na sala de aula ............................................................................ 27

2.2.4. Técnicas de comunicação ..................................................................................... 31

x

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO

3.1. Introdução ....................................................................................................................... 39

3.2. Fase de Diagnóstico ......................................................................................................... 40

3.2.1. Português ............................................................................................................. 41

3.2.2. Espanhol .............................................................................................................. 42

3.3. Fase de Implementação e Avaliação ................................................................................. 47

3.3.1. Atividades desenvolvidas na turma de Português ................................................... 48

3.3.2. Atividades desenvolvidas na turma de Espanhol .................................................... 51

3.4. Avaliação da Intervenção .................................................................................................. 53

3.4.1. Avaliação da turma de Português .......................................................................... 54

CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

4. Considerações finais ........................................................................................................ 65

5. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 69

ANEXOS

Anexo I - Registo de observação de aulas ................................................................................... 75

Anexo II - Grelha de avaliação oral .............................................................................................. 81

Anexo III - Questionário inicial de Espanhol ................................................................................. 83

Anexo IV - Educação n’Os Maias. Material utilizado em aula. ...................................................... 91

Anexo V – Ficha com as características do debate ...................................................................... 95

Anexo VI - Organização do espaço físico do debate (atividade final de Português) ........................ 99

Anexo VII - Questionário de avaliação de Português .................................................................. 101

Anexo VIII - Questionário de avaliação de Português. Exemplos de discentes ............................. 103

Anexo IX - Material da atividade oral (fase inicial) de Espanhol .................................................. 105

Anexo X - Atividade oral final de Espanhol................................................................................. 107

Anexo IX - Questionário de avaliação da prestação da docente na disciplina de Espanhol .......... 109

xi

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Esquema representativo das competências comunicativas………………………..……...26

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Fatores condicionantes da participação oral por parte dos alunos ............................... 44

Gráfico 2: Opinião dos discentes relativamente ao uso do Espanhol ............................................ 45

Gráfico 3: Situações comunicativas com mais falhas nacompreensão oral em Espanhol ............. 45

Gráfico 4: Preferências de atividades a trabalhar nas aulas de Espanhol por parte dos alunos. ... 46

Gráfico 5: Avaliação dasdiferentes componentes da oralidade pelos alunos de Português ........... 58

Gráfico 6: Avaliação das diferentes componentes da oralidade pelos alunos de Espanhol ............ 61

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Média de resultados da 1ª atividade oral de Português ................................................ 56

Tabela 2: Média de resultados da 2ª atividade oral de Português ................................................ 57

Tabela 3: Média de resultados da 1ª atividade oral de Espanhol ................................................. 59

Tabela 4: Média de resultados da 2ª atividade oral de Espanhol. ................................................ 61

xii

1

INTRODUÇÃO

O presente relatório de estágio foi realizado tendo por base uma intervenção pedagógica,

que implicou o seguimento de uma dupla metodologia de busca de informação centrada na

mudança das práticas letivas que menosprezam a competência oral, e na obtenção de

resultados consequentes da intervenção, resultados esses que, a serem visíveis, refletirão o

desenvolvimento das competências comunicativas dos alunos.

Estas metodologias foram desenvolvidas e aplicadas em duas turmas: uma de 10º ano

de Espanhol, língua estrangeira, do nível de iniciação (A1-A2) de acordo com o Quadro Europeu

Comum de Referência, e outra de 11ºano de Português, língua materna. Ambas as turmas eram

pertencentes à Escola Secundária de Alberto Sampaio (ESAS) no ano letivo 2013/2014.

A intervenção, intitulada O Uso das Palavras: estatuto da Comunicação Oral nas aulas de

Português e Espanhol, desenvolveu-se em diferentes fases. Numa primeira abordagem,

pretendeu-se compreender as falhas dos alunos na competência oral, para depois desenvolver

estratégias que aumentassem as suas capacidades, nomeadamente na argumentação e na

aquisição de novo léxico, cuja relação é próxima, na medida em que a primeira só é possível se

os falantes dispuserem de um léxico rico e diversificado, que lhes permita e facilite a

argumentação.

Através das aulas assistidas, constatou-se que a oralidade é efetivamente uma aptidão

subvalorizada nas aulas, uma vez que os alunos parecem ter poucas oportunidades para

desenvolver a sua comunicação oral, apresentando lacunas lexicais e problemas de expressão e

articulação discursiva. Sobretudo nas aulas de língua materna, esta é uma competência

linguística dada como adquirida, o que condiciona o seu desenvolvimento por parte dos alunos,

pois, apesar de conseguirem delinear mentalmente as suas ideias, não são capazes de as

transmitir da forma mais coerente e adequada.

La expresión oral es una destreza poco valorada, quizá porque se da por supuesto el que todos hablamos, y que, con la práctica y desarrollo de otras destrezas o competencias, esta ya está adquirida; sin embargo, conocer la morfología de los pasados no implica poder relatar a unos compañeros lo que sucedió el domingo pasado. (Giovannini et alii, 1996, p. 49)

É neste sentido que esta intervenção tem como título O Uso das Palavras, pelo que se

procura que os falantes usem a comunicação oral a seu favor, sendo capazes de transmitir as

suas ideias da forma mais conveniente e linguisticamente correta. O que acontece, de facto,

dentro da sala de aula é que a oralidade é uma competência que, se acredita desenvolver-se

através das restantes, sem que para tal seja necessário trabalhá-la individual e frequentemente.

2

No entanto, corroborando a ideia acima citada, ter conhecimento de que algo aconteceu não

significa que sejamos suficientemente capazes de relatá-lo da forma mais coerente e adequada.

Neste sentido, acredita-se, por isso, que a oralidade deve ser mais desenvolvida nas

aulas, e encarada não só como o ato de falar simplesmente, mas como um ato com intenção

discursiva e comunicativa. A escolha do tema prendeu-se, assim, com a carência dos alunos no

que diz respeito à competência da comunicação oral, que pude verificar aquando da observação

das aulas, momento em que decidi estudar este aspeto.

O presente estudo não é, no entanto, pioneiro nesta área, uma vez que outros haviam já

permitido tirar conclusões que imprimem à comunicação oral um papel relevante (Costa, 2013;

Domingues, 2010; Conceição, 2011; Gonçalves, 2013), não só dentro da sala de aula, onde

todas as atividades passam pela interação oral, como no próprio desenvolvimento das relações

interpessoais:

Se refletirmos sobre a nossa prática docente, certamente concordaremos que uma grande parte dela decorre através de trocas verbais orais: explicamos, organizamos atividades, perguntamos, respondemos, pomos ordem, corrigimos, comentamos, analisamos, etc., através do uso oral da língua. (Lomas, 2003, p. 73)

Em toda a intervenção, procura-se, portanto, desenvolver esta competência, trabalhando-

a no sentido de os alunos expandirem as suas capacidades comunicativas, para que saibam

“usar a língua nas diversas situações de comunicação” em que se encontram (Santos, 2006, p.

40), até porque, como preconizaram Canale e Swain (1996a, 1996b) apud Santos (2006, p.

41), “a competência comunicativa inclui não só a competência gramatical (ou o conhecimento

implícito e explícito das regras gramaticais), mas também a competência contextual ou

sociolinguística”.

Assim, delinearam-se nas duas turmas várias atividades que seguem uma sequência,

com o intuito de os discentes serem capazes de desenvolver uma atividade final, mediante as

suas capacidades. Tendo as duas turmas diferentes níveis de aquisição das línguas visadas, a

abordagem teve que ser, naturalmente, diferente. Sendo o objetivo central da intervenção

estudar a evolução da competência oral e comunicativa desde o ponto de partida da minha

intervenção até à sua conclusão, traçou-se uma divisão do presente documento em quatro

capítulos, apresentando-se inicialmente todo o enquadramento teórico, e só depois o trabalho

empírico. Foi, aliás, também por esta ordem que se desenrolou toda a investigação e a

intervenção.

3

Assim no primeiro capítulo, fez-se um enquadramento geral e contextual da intervenção,

no qual será descrito o projeto educativo da escola estudada, bem como as turmas

intervenientes. Ao longo desta mesma secção, explica-se como se processa a avaliação externa

da escola, e revela-se ainda o plano de intervenção pedagógica, centrando-se nas questões

investigativas que orientaram este relatório, bem como nos objetivos traçados para levá-lo a

cabo.

Segue-se um outro capítulo, também ele teórico, em que são apresentados os

documentos reguladores das disciplinas de Português e de Espanhol no ensino secundário, e

ainda uma fundamentação que envolve o ensino e a aprendizagem da competência oral, na qual

são apresentadas técnicas a desenvolver em sala de aula.

Por sua vez, o terceiro capítulo contém a descrição da fase empírica de concretização do

projeto, que se dividiu em três etapas: a de diagnóstico, a de implementação e a de avaliação.

Por fim, no quarto capítulo, são apresentadas algumas considerações e conclusões

finais, onde se faz a apreciação de todo o processo de realização do Projeto, assim, como a

pertinência do mesmo.

4

5

CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL E PLANO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

6

7

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL E PLANO DE INTERVENÇÃO

PEDAGÓGICA

Este primeiro capítulo tem como objetivo interpretar os dados contextuais da presente

intervenção, recorrendo-se, para tal, à descrição da instituição de ensino e das turmas que

intervenientes. Não poderia expor a fase experimental deste estudo sem antes descrever o

âmbito que a sustenta, e, por isso, neste capítulo pode ver-se a descrição do Projeto Educativo

da Escola Secundária de Alberto Sampaio, bem como a constituição das duas turmas

participantes.

Ainda no primeiro capítulo, é feita uma introdução do plano de intervenção pedagógica,

centrada nas questões investigativas esboçadas no início do plano, bem como nos objetivos

traçados.

1.1. O Contexto de Intervenção

Para desenvolver todo o presente trabalho, foi importante analisar o contexto onde se

desenrolou a intervenção pedagógica, bem como conhecer previamente a escola e as turmas

intervenientes. Desta forma, toda a investigação–ação foi baseada no estudo da escola,

nomeadamente o seu Projeto Educativo, e em dados da Avaliação Externa.

No que às turmas diz respeito, procedi, numa fase inicial, a um levantamento dos dados

dos alunos presentes no relatório elaborado pelo diretor de turma, e de seguida observei as

aulas das orientadoras cooperantes, com o intuito de verificar o desempenho dos discentes em

contexto de sala de aula. Esta fase inicial é fulcral para o desenvolvimento do restante processo,

uma vez que serve como ponto de partida para o esboço das atividades a aplicar e modos de

abordagem das turmas. Sem este conhecimento prévio do contexto de intervenção, seria muito

difícil partir para a intervenção propriamente dita, e dela colher frutos.

1.1.1. A Escola

A Escola Secundária de Alberto Sampaio (ESAS) está situada na freguesia de S. José de

S. Lázaro, concelho e distrito de Braga. A freguesia é cercada e limitada por S. Victor (a leste), S.

Vicente (a norte), S. João do Souto (a noroeste), Cividade e Maximinos (a oeste) e ainda por

Nogueira e Fraião.

8

A ESAS é uma escola com mais de um século, datando de 1884. Numa fase inicial, era

uma escola direcionada para o ensino técnico. Atualmente, possui uma oferta formativa mais

diversificada, pois tem como objetivo responder às necessidades da comunidade educativa a

vários níveis: foi, por exemplo, a primeira escola bracarense a incluir alunos surdos, tendo

inclusive um Gabinete de Apoio Educativo Especializado em Surdez; foi também pioneira a nível

tecnológico, uma vez que dispunha já de acesso à Internet em banda larga, quando outras

escolas ainda não o tinham; é ainda uma das melhores escolas a nível nacional, tendo já

recebido distinção, não só pelos resultados obtidos por parte dos alunos, mas também pela

qualidade do serviço educativo prestado e pela gestão e liderança escolares.

Em 2009 e 2010, no âmbito da intervenção do programa Parque Escolar, foram

requalificadas as suas instalações, tendo atualmente todas as condições necessárias para um

melhor desenvolvimento da ação educativa. A intervenção foi ao nível da reestruturação das

instalações existentes, assim como da construção de novos edifícios com funções sociais e

letivas. O espaço desportivo coberto e os espaços exteriores foram também melhorados. A

escola dispõe agora de 58 de salas de aula, entre as quais quatro salas de Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC), quatro oficinas de informática, oito laboratórios, e ainda

oficinas de cenários e expressões, destinadas a atividades extracurriculares como teatro e coro.

1.1.1.1. O Projeto Educativo

Através do Projeto Educativo da Escola pode perceber-se quais os princípios que

orientam toda a atuação da instituição. No presente relatório encontram-se inscritos os

princípios, os valores, as metas e as estratégias apresentadas pela Escola.

A construção de um Projeto Educativo assenta em diversas coordenadas, como por

exemplo nos relatórios de avaliação externa e nos problemas neles detetados. De facto, na

elaboração de um documento tão completo, estão envolvidos múltiplos fatores como o contexto

onde se insere a escola, as leis que regulam o ensino em Portugal e os objetivos que se desejam

alcançar. Neste sentido, percebe-se que este documento tem um caráter pedagógico, pois

permite à instituição ter uma função social, educativa e humana, pelo que o bom desempenho

destas funções passa pela união e colaboração de toda a comunidade educativa.

O Projeto Educativo é útil uma vez que pode afirmar os ideais que orientam os processos

de aprendizagem e socialização da comunidade escolar. No entanto, serve também para

procurar e ajustar estratégias à realidade que cada escola apresenta.

9

A escola tem como finalidades primárias não só promover a igualdade de oportunidades

entre todos os alunos, mas também fomentar a qualidade do ensino, para que o processo

ensino-aprendizagem atinja os resultados previstos (Escola Secundária de Alberto Sampaio,

2011).

Como foi supramencionado, para que esses resultados sejam de facto alcançados, a

Escola não descura a participação de toda a comunidade escolar, uma vez que todos assumem

um papel relevante neste processo, e o caso particular da ESAS não é exceção. O seu trabalho e

sucesso passam pela promoção da autonomia e estímulo do sucesso educativo dos discentes, e,

para tal, faculta-lhes ferramentas úteis e uma oferta formativa diversificada.

É neste sentido que se encara a utilidade de projetos como este, que visam intervir em

determinados aspetos do ensino, melhorando-os. Tal como o Projeto Educativo da Escola

Secundária de Alberto Sampaio, esta intervenção visa realçar a urgência de adaptação do ensino

às diferentes necessidades dos alunos, no sentido de os levar a trabalhar da mesma forma as

diferentes competências, preparando-os sem reservas para o futuro, onde essas competências

serão, certamente, utilizadas. Ainda assim, mesmo que esta intervenção não faça a diferença

em grande escala, fá-lo-á com certeza na minha formação pessoal e profissional enquanto

professora.

1.1.1.2. A Avaliação Externa

A avaliação externa da escola foi efetuada a 22 e 23 de novembro de 2011, tendo-se

cumprido o 1º ciclo de avaliação em junho 2011. Esta avaliação foi realizada pela equipa de

avaliação externa, que procedeu à análise dos documentos fundamentais da escola, dos quais

fazem parte por exemplo o relatório de autoavaliação, os indicadores de sucesso académico,

entre outros.

Assim sendo, o objetivo destas avaliações externas é fomentar e consolidar a

autoavaliação e permitir à escola trabalhar e melhorar os aspetos menos positivos. Este relatório

integra em si a análise de três domínios de referência: Resultados, Prestação do Serviço

Educativo e Liderança e Gestão.

Dentro dos Resultados, encontra-se a análise dos resultados académicos, sociais e o

reconhecimento da comunidade; no domínio da Prestação do Serviço Educativo, temos o

planeamento e articulação, as práticas de ensino, a monitorização e avaliação do ensino e das

10

aprendizagens; no domínio da Liderança e Gestão, analisa-se a liderança, a gestão, a

autoavaliação e a melhoria.

No que diz respeito aos pontos em que devem existir melhorias, enumeram-se:

as taxas de desistência escolar;

a articulação com os estabelecimentos de proveniência dos alunos, de forma a

promover a sequencialidade das aprendizagens na transição do 9º ano para o

ensino secundário;

a supervisão da prática letiva em sala de aula, como forma de estimular a

qualidade profissional e científica dos docentes.

As intervenções como a que levei a cabo visam, justamente, tentar dar uma resposta a

este conjunto de aspetos menos positivos, de forma a arranjar-lhes respostas válidas a longo

prazo. No que à comunicação oral diz respeito, creio ser fundamental a articulação mencionada

com o passado curricular dos alunos, para que os conteúdos letivos tenham sempre

continuidade, e para que não comecem a surgir lacunas basilares na sua formação educativa,

nomeadamente nas competências comunicativas. Por outro lado, também a supervisão das

aulas pode, de facto, constituir um estímulo ao bom funcionamento do Projeto Educativo e ao

seu aperfeiçoamento, no sentido de levar os docentes a responder às necessidades específicas

das suas turmas, que são o elemento-chave do Projeto Educativo.

1.1.2. A Turma de Português

A Turma (F) de 11º ano de Português, do curso Científico-Humanístico de Ciências e

Tecnologias, era constituída por 28 alunos, 8 raparigas e 20 rapazes, estando as suas idades

compreendidas entre os 16 e os 17 anos.

Na fase inicial da Intervenção Pedagógica, a de diagnóstico, verificou-se a utilidade de

um suporte prático que permitisse uma recolha de informação mais organizada e sistemática na

observação das aulas. Para tal, adaptou-se uma tabela de observação (Anexo I), cujos aspetos

em análise incidiam fundamentalmente sobre: a organização da sala de aula, a interação oral, o

discurso do docente e dos alunos, e ainda a relação entre todos os elementos, condicionante do

clima na sala de aula.

Após algumas aulas de observação, foi notório o interesse geral da turma na aula. Havia,

naturalmente, uns alunos mais participativos do que outros, e embora o normal funcionamento

11

da aula fosse por vezes interrompido por distúrbios causados por alguns elementos, na sua

maioria, o grupo mostrou-se interessado.

Ao longo deste processo de observação, foi ainda possível detetar dificuldades na

comunicação oral. A realização de alguns debates e a interação oral com a orientadora

cooperante evidenciaram as dificuldades que os alunos tinham em construir um discurso oral

coeso e assertivo. Com efeito, mesmo tendo o Português como língua materna, os alunos

demonstravam um vocabulário muito limitado e um discurso sem coesão, bem como uma

argumentação débil. Foi esta fragilidade que motivou a construção do meu trabalho no campo

da oralidade, no sentido de tentar, de alguma forma, levar a cabo a minha investigação, e assim

encontrar possíveis soluções para esta problemática, também a nível pessoal, para tentar

colmatar essas lacunas no meu futuro, enquanto professora de língua materna e de língua

estrangeira.

Desta forma, a intervenção passou essencialmente pelo desenvolvimento das estruturas

linguísticas dos alunos, a fim de lhes facilitar sobretudo a capacidade de argumentação em

diferentes situações contextuais. Para tal, após a primeira aula que lecionei, denominada aula

zero, pude determinar as estratégias que deveria utilizar nesta turma, a fim de potenciar o

ensino-aprendizagem da comunicação oral.

1.1.3. A Turma de Espanhol

A turma de Espanhol de 10º ano, o 10ºH, do curso Cientifico-Humanístico de Línguas e

Humanidades, do nível de Iniciação (A1-A2), era formada por 26 alunos, 21 raparigas e 5

rapazes, cuja média de idades rondava os 16 anos.

Apesar de ter utilizado mais instrumentos de recolha nesta turma do que na descrita

anteriormente, a nível de comportamento e interesse demonstrado pelas atividades, foi-me

possível perceber que esta era homogénea, na medida em que se revelou, de uma forma geral,

participativa e empenhada em dar resposta ao que lhes era proposto. No que respeita às

atividades de oralidade, os alunos respondiam com bastante entusiasmo, intervindo muitas das

vezes de livre vontade.

Segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECRL), uma turma

de iniciação (A1-A2) deve formar utilizadores elementares, sendo estes capazes, no final do ano

De comunicar em tarefas simples e em rotinas que exigem apenas uma troca de informação simples e direta sobre assuntos que lhe são familiares e habituais. Pode descrever de modo simples a sua formação, o meio circundante e, ainda, referir

12

assuntos relacionados com necessidades imediatas. (Conselho de Europa, 2001, p. 49).

A metodologia a adotar aqui teria de ser, por tudo isto, distinta da aplicada na turma

anterior. Enquanto, para a turma de Português, estava delineado trabalhar o desenvolvimento da

comunicação oral, pressupondo-se, por isso, que havia já uma série de competências

previamente adquiridas, nesta turma, cujo nível está associado ao tratamento de informação

simples, sobre assuntos familiares e quotidianos, propôs-se trabalhar a comunicação oral com

base numa necessidade primária para este nível: a aquisição de léxico. Desta forma, esta turma,

além de constituir um desafio maior, permitiu-me criar ferramentas para perceber em que meios

se deve fomentar a comunicação oral numa língua estrangeira, e que aspetos distintos tem do

ensino dessa competência na língua materna.

1.2. Plano de Intervenção Pedagógica

Ao longo de todo o processo de intervenção, foi possível obter e criar meios e estratégias

que permitiram pôr em prática todo o meu trabalho.

Inicialmente, durante a elaboração do meu Plano de Intervenção Pedagógica, foram-se

dissipando algumas dúvidas e estabelecendo as metodologias mais eficazes para atingir os

meus objetivos. Delinearam-se, por isso, as questões investigativas com base nas quais se

desenvolveu o presente trabalho, sem descurar, como já referi, o contexto de intervenção.

Apresento então, de seguida, o conjunto de questões investigativas que orientaram toda

esta intervenção:

- Quais são as competências que os alunos possuem no âmbito da oralidade?

- Têm os alunos consciência das suas lacunas no que diz respeito à comunicação oral?

- Que estratégias utilizam os alunos para defender a sua opinião quando comunicam

oralmente?

- Quais os recursos utilizados pelos alunos para ultrapassar as suas dificuldades?

De acordo com as questões propostas, e com base em algumas leituras sobre a

aprendizagem da comunicação oral, bem como nos documentos orientadores das duas

disciplinas, os objetivos traçados foram:

1. Verificar quais são as competências que os alunos possuem e utilizam na comunicação

oral.

13

2. Diagnosticar as dificuldades dos alunos na argumentação oral.

3. Fazer com que os alunos se apercebam dessas mesmas dificuldades na argumentação

oral.

4. Desenvolver estratégias que facilitem a autonomia e o bom uso da comunicação oral por

parte dos alunos.

5. Avaliar o impacto do projeto de intervenção no desenvolvimento das competências da

comunicação oral.

Com base nestes pressupostos, este relatório tem o intuito de dar resposta a estas questões

e corresponder aos objetivos citados, para, assim, melhorar, de alguma forma, o ensino da

competência oral. Essas respostas serão apresentadas adiante, aquando da exposição dos

resultados finais do projeto.

Segue-se, agora, um segundo capítulo, ao longo do qual, além de analisar os documentos

reguladores das práticas das disciplinas em estudo, reúnem-se aspetos teóricos que abarcam o

conceito de ensino e competências comunicativas desenvolvidas na sala de aula.

14

15

CAPÍTULO II

O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA COMPREENSÃO ORAL

16

17

CAPÍTULO II – O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA COMUNICAÇÃO ORAL

Após a apresentação de alguns dados fundamentais do contexto no qual se desenrolou a

intervenção, descrevem-se os documentos reguladores das disciplinas de Português e de

Espanhol, a fim de perceber a importância que neles se dá ao ensino e à prática da competência

oral na sala de aula, e que tipo de atividades é proposto para tal. Fazem parte desta lista de

documentos os programas das disciplinas de Português e Espanhol, e ainda o Quadro Comum

Europeu de Referência para as Línguas e o Plan Curricular del Instituto Cervantes.

A análise desses documentos é acompanhada neste capítulo por um conjunto de

pressupostos teóricos baseados na leitura de diversos autores, que ajudaram a explicar e

analisar esta intervenção.

2.1. Os Documentos Reguladores

Toda a intervenção teve por base documentos reguladores do ensino das línguas, nos

quais a comunicação oral parece ter um papel de relevo na formação dos jovens enquanto

cidadãos, e enquanto alunos mais promissores:

A aula de língua materna deve desenvolver os mecanismos cognitivos essenciais ao conhecimento explícito da língua, bem como incentivar uma comunicação oral e escrita eficaz, preparando a inserção plena do aluno na vida social e profissional, promovendo a educação para a cidadania, contribuindo para a formação de um bom utilizador da língua, habilitando-o a ser um comunicador com sucesso e um conhecedor do seu modo de funcionamento, sujeito que se estrutura, que constrói a sua identidade através da linguagem para poder agir com e sobre os outros, interagindo. (Coelho et alii, 2002, p. 2).

O uso da língua na sala de aula ultrapassa, assim, o conhecimento explícito, devendo o

aluno ser levado a trabalhá-la de forma a preparar-se para a vida social e profissional que o

espera fora da sala de aula. Tornar-se-á, dessa forma, um comunicador cuja língua se traduz

num mecanismo revelador da identidade e da relação com o outro.

Consideremos, assim, o que nos dizem de fundamental estes documentos, de forma

mais aprofundada, no que à competência oral diz respeito.

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2.1.1. O Programa de Português

O programa de Português foi analisado, principalmente nos aspetos relacionados com a

competência oral e com o seu papel na comunicação na aprendizagem da língua materna, nas

relações interpessoais.

Assim, pude apurar que este documento confere à oralidade um papel importante nas

relações interpessoais e no papel que cada indivíduo assume na sociedade, mediante as suas

capacidades comunicativas e mesmo como cidadão:

O domínio da oralidade é uma competência transversal que deve permitir ao aluno a sua afirmação pessoal e a sua integração numa comunidade, ora como locutor eficaz, ora como ouvinte crítico, ora como interlocutor, em suma, como cidadão. (Coelho et alii, 2002, p. 18)

A oralidade deve ser, por isso mesmo, desenvolvida e promovida nas aulas de língua.

Segundo o programa, nas aulas de Português, devem ser trabalhados os vários usos da língua,

preparando os discentes para situações reais de comunicação dentro e fora da sala de aula,

imprimindo-lhes assim autodeterminação e responsabilidade, que os auxiliarão mais tarde, nos

distintos contextos que lhes surjam:

Relativamente à integração na comunidade, deverá a aula de língua criar espaços de interação verbal, através de diálogos, discussões e debates, imperativos para a formação de cidadãos livres, emancipados, responsáveis e autodeterminados. (Ibidem)

No mesmo documento, são traçados como objetivos para a aula de língua materna a

equidade entre a oralidade e a escrita, no sentido de desenvolver ambas as competências de

igual forma, conduzindo os alunos à boa compreensão e interpretação oral e escrita de

diferentes situações comunicativas, inclusive em contextos com dimensão simbólica:

Desenvolver os processos linguísticos, cognitivos e metacognitivos necessários à operacionalização de cada uma das competências de compreensão e produção nas modalidades oral e escrita; Interpretar textos/discursos orais e escritos, reconhecendo as suas diferentes finalidades e as situações de comunicação em que se produzem; Desenvolver capacidades de compreensão e de interpretação de textos/discursos com forte dimensão simbólica, onde predominam efeitos estéticos e retóricos, nomeadamente os textos literários, mas também os do domínio da publicidade e da informação mediática; Expressar-se oralmente e por escrito com coerência, de acordo com as finalidades e situações de comunicação. (Idem, p. 6)

Para responder a estes objetivos, este documento regulador propõe, para uma turma de

Português de 11º ano, como aquela em que intervim, atividades de compreensão e expressão

oral como: o estudo da relação entre os interlocutores e o contexto, e a importância da

intencionalidade comunicativa numa situação conversacional; a abordagem da presença de

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elementos linguísticos e não linguísticos na comunicação oral; a compreensão de textos

publicitários e de debates e discursos políticos; e ainda a produção de textos de opinião como

apreciações críticas e debates que estimulem a participação dos alunos (Idem, p.15).

As propostas deste programa para a expressão oral parecem, do meu ponto de vista,

perfeitamente adequadas e pertinentes às necessidades dos alunos, na medida em que não

descuram o contexto e a intenção conversacionais, dois fatores centrais nos atos comunicativos.

A par disto, propõe-se de igual forma o exercício da argumentação através da produção de textos

de opinião e apreciações críticas, que aliás é o ponto onde a turma visada parece sentir mais

dificuldades.

É, assim, importante consciencializar os alunos para a importância da oralidade,

fazendo-os perceber que é imprescindível, na sua formação como cidadãos, o bem falar, o bem

escrever, o saber ouvir e o saber expressar-se com coerência. Para tal, há esforços a reunir

dentro da sala de aula, quer pelos docentes, que devem proporcionar variadas atividades

adequadas à sua turma, propiciando a interação oral professor-aluno e aluno-aluno, quer pelos

discentes, que devem ser mais participativos nesse sentido.

2.1.2. O Programa de Espanhol

Tal como o programa de Português, o programa de Espanhol também foi dos

documentos cuja consulta se revelou produtiva para o desenvolvimento do presente relatório.

Sendo o Espanhol uma língua estrangeira, e a turma em que intervim de iniciação (A1-

A2), o programa da disciplina foi um documento orientador indispensável na construção das

estratégias e metodologias a pôr em prática.

Segundo o programa de Espanhol do 10º ano (iniciação), a competência oral não pode

ser menosprezada ou deixada para segundo plano.

Fernández, autor do programa, sustenta que os discentes devem ser capazes de

“produzir, oralmente e por escrito, mensagens relacionadas com os seus interesses de

comunicação e com temas socioculturais familiares” (2001, p. 8). Deve-se também, nas aulas

de Espanhol, “desenvolver a competência discursiva a fim de favorecer a compreensão e

produção de mensagens” (Ibidem).

Sobretudo no caso de uma língua estrangeira, sendo a comunicação o objetivo máximo,

a linguagem oral deve estar intrinsecamente ligada ao processo de ensino-aprendizagem, através

de tarefas que criem situações de comunicação o mais autênticas possível:

20

Se partirmos do princípio de que a comunicação é a nossa meta final, deveremos levar os alunos a comunicar na língua estrangeira, realizando tarefas, criando situações de comunicação tão autênticas quanto possível, que cubram os aspetos socioculturais a que estão associadas. (Fernández, 2001, p. 20)

Desta forma, tendo em conta o nível linguístico desta turma, as tarefas de expressão oral

propostas no documento regulador são: exercícios de pronunciação; leitura de textos;

organização de ideias; pequenas descrições e apresentações pessoais; descrição de atividades

em forma de diário; criação de situações comunicativas autênticas na sala de aula, que exijam

diálogo; e organização de dados a partir de perspetivas temporais (Idem, pp. 52-57).

Após a análise dos dois programas, concordantes no que ao desenvolvimento da

comunicação oral diz respeito, não só nas aulas de língua materna, mas também e sobretudo

nas aulas de língua estrangeira, talvez seja o momento de os docentes em geral repensarem a

sua metodologia, continuando a abordar naturalmente aspetos morfológicos, sintáticos e

semânticos, sem negligenciar, no entanto, conteúdos pragmáticos.

2.1.3. Quadro Comum Europeu de Referência para as Línguas e Plan Curricular del

Instituto Cervantes

O Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECRL). Ao consultá-lo,

constatou-se que a turma sujeita a intervenção, sendo de nível inicial, deveria ser capaz:

De comunicar em situações correntes que apenas exijam trocas de informações simples e diretas sobre assuntos e atividades habituais. É capaz de descrever com meios simples a sua formação, o seu meio envolvente e referir assuntos que correspondam a necessidades imediatas (…) É capaz de comunicar de forma simples desde que o seu interlocutor fale clara e pausadamente e se mostre colaborante. (Conselho da Europa, 2001, p. 49).

O QECRL possibilita uma autoavaliação aos discentes, na qual, ao concluir um nível A2,

e no que diz respeito à oralidade, se prevê que o aluno seja capaz de “compreender expressões

e vocabulário de uso mais frequente relacionado com aspetos de interesse pessoal como, por

exemplo, família, compras, trabalho e meio em que vivo” (Idem, p. 53).

O trabalho da expressão oral dentro da sala de aula não passa, por isso mesmo, apenas

pela abordagem do simples ato de falar, com simples troca de informação. Os alunos devem,

obviamente, ser capazes de comunicar neste tipo de situações, mas devem também ser

orientados para conseguir fazê-lo de igual forma em momentos mais complexos, inclusivamente

quando sujeitos a diversas condições, e essa capacidade tem, naturalmente, que ser trabalhada.

21

Com esta perspetiva junta-se, também, o Plan Curricular del Instituto Cervantes é outro

documento a que se recorre no processo de ensino-aprendizagem da língua espanhola, pois

apresenta um conjunto de recomendações, planificações e material didático para diferentes

níveis de língua.

Acima de tudo, este documento encara o aluno como agente social, com capacidade

para agir em situações quotidianas. Sendo o aluno visto como um futuro falante da língua em

questão, defende-se que ele deve ser capaz de comunicar e estabelecer sem dificuldade uma

interação social:

El alumno como agente social, que ha de conocer los elementos que constituyen el sistema de la lengua y ser capaz de desenvolverse en las situaciones habituales de comunicación que se dan en la interacción social.

Com base nesta máxima, tive o cuidado de criar atividades que exigissem um papel ativo

e de destaque aos alunos na sala de aula, e que promovessem o uso da língua espanhola em

situações similares às quotidianas.

Em suma, podemos verificar, ao analisarmos estes documentos, a pertinência do tema

deste relatório, pois a oralidade é tida como uma competência imprescindível na aprendizagem

de uma língua estrangeira. Na verdade, não falamos a língua se não trabalharmos a oralidade,

ou, por outras palavras, é necessário dominar a oralidade para conseguir comunicar. Se os

falantes de uma língua estrangeira não desenvolverem a oralidade dentro da sala de aula,

dificilmente terão oportunidade de o fazer fora dela, uma vez que, pelo menos nos casos

analisados, os falantes não se encontram em contexto de imersão. Além disso, havendo já um

sistema linguístico estabilizado na mente do falante, o seu uso fora e mesmo dentro da sala de

aula irá sempre sobrepor-se ao uso da língua estrangeira, o que retardará, naturalmente, a

aquisição da mesma. Por isso mesmo, é responsabilidade primeira dos docentes tentar

estimular mais a interação oral nas aulas de língua estrangeira, para que essas competências se

desenvolvam.

2.2. Fundamentação Teórica do Ensino da Comunicação Oral

A discussão teórica que se segue constitui uma parte fundamental do relatório, uma vez

que é aqui que, servindo-me de vários autores, analiso a atualidade da comunicação oral na sala

de aula, bem como a sua abordagem por parte dos professores.

22

Além de apresentar as diversas finalidades da oralidade, que revelam aspetos

identitários de cada indivíduo, divulgam-se também diferentes cenários nos quais pode decorrer

a interação.

Relativamente ao tratamento da oralidade dentro da sala de aula, são descritos alguns

comportamentos frequentes por parte dos professores que comprometem as oportunidades de

trabalho dos alunos, atitudes para as quais são propostas soluções.

Todos estes fatores fazem crer que a comunicação oral é um processo precoce mas

contínuo, do qual depende um conjunto de interações e relações do indivíduo.

2.2.1. A Interação oral – características e dificuldades

Através da leitura de Figueiredo (2004, p. 49), é possível constatar que até aos anos 60,

a oralidade era a competência menos importante em termos escolares. Segundo Figueiredo

(ibidem), “aprender a falar era, então, aprender a pensar”, e a língua era um meio de

transcrição do pensamento. Na prática, a língua é, naturalmente, essa expressão dos nossos

pensamentos, mas será somente essa a sua função?

A nível educativo, a escola tinha como objetivo produzir e construir frases bem feitas e

corretas, somente com o intuito de chegar a uma avaliação final (perguntar-responder-avaliar).

Mais recentemente, a linguagem oral tem vindo a ganhar algum terreno no campo

escolar e, a partir de então, tem deixado de ser somente um “instrumento de representação” do

pensamento, passando a ser também um “instrumento de comunicação”. Ainda assim, não lhe

era, e continua a não ser, atribuída a mesma importância da escrita, da gramática ou da

literatura.

Os termos que utilizamos hoje para distinguir as diversas componentes comunicativas,

como compreensão leitora ou expressão oral, e as diferentes tipologias textuais não eram, na

verdade, denominações utilizadas e distinguidas há alguns anos atrás (Cassany, 1999, pp. 7-8).

Com efeito, o seu surgimento veio descrever “de forma empírica y con más precisión el uso

lingüístico y su enseñanza” (Ibidem).

Sendo a linguagem “fundamentalmente utilizada para fins sociais” (Faria, 2003, p. 57),

a comunicação oral tem inerente a si uma série de características que nos permitem discernir

aspetos identitários dos falantes:

Considera-se a língua como uma parte integrante da realidade social e cultural e, ao mesmo tempo, como um sintoma dessa realidade. Isto quer dizer que, observando

23

como as pessoas comunicam, podemos entender uma parte importante das suas normas de comportamento, dos seus valores. (Lomas, 2003, p. 79)

Assim, sempre que usamos a língua para comunicar, não nos podemos esquecer que

agimos socialmente, e que estamos a revelar um conjunto de fatores que caracterizam a cultura

e o meio social no qual estamos inseridos.

Também Faria (2003, p. 60) distinguem cenários em que a comunicação oral é posta

em prática, considerando uma variedade de contextos. Se as trocas verbais forem frequentes e

livres, como, por exemplo, entre dois amigos, estamos perante cenários pessoais; nos cenários

impessoais, existe uma audiência ou assembleia, havendo, portanto, pouco diálogo com o

locutor; nos cenários institucionais, está presente a troca verbal, limitando-se “aos princípios de

comunicação” regulados pela pessoa que assume o controlo da situação, por exemplo nos

tribunais; os cenários normativos caracterizam-se pela fixação antecipada do que irá ser

proferido, por exemplo os juramentos em tribunal; nos cenários ficcionais, os locutores

exprimem vontades e valores que podem não ser os seus; quando alguém assume o papel de

transmitir e descrever algo que foi produzido por um terceiro, estamos perante cenários

mediatizados; o último cenário é o privado, onde o locutor é o interlocutor, e fala para si próprio,

não tendo a intenção de ser ouvido por ninguém.

Esta lista de contextos pode servir de meio orientador e potenciador da criação de

diferentes cenários na sala de aula. As atividades realizadas na minha intervenção nas aulas de

Português tiveram por base o já mencionado programa de Português do 11ºano (Coelho et alii,

2002), no qual se propõe o debate, os textos publicitários e os textos de apreciação crítica como

principais atividades para o desenvolvimento da compreensão e da exposição oral na sala de

aula. Assim sendo, o debate foi a atividade final escolhida para desenvolver na minha

intervenção a Português, o que penso, na senda de Faria (2003), poder ser considerado, não só

um cenário de comunicação pessoal, mas também um cenário institucional e mediatizado, já

que, além de trocas verbais livres, os alunos guiam-se pelos “princípios de comunicação” e em

certos casos, transmitir algo que tenha sido produzido por outrem.

Na disciplina de Espanhol, uma vez que os discentes ainda se encontravam num nível

inicial da língua estrangeira, optei por selecionar também e apenas o cenário pessoal, em que os

alunos tinham de exprimir as suas opiniões, fazer escolhas e preparar apresentações.

No caso de Amor (2006, p. 63), a autora considera a existência de diversos fatores que

geram diferentes modos de entender e praticar a comunicação oral. São eles os “fatores

psicológicos e socioculturais”, a idade, a forma de ver o mundo, os próprios pensamentos e

24

ideias. A autora sugere que toda a comunicação é desenvolvida através dos pensamentos que,

na verdade, “comandam” os intervenientes. Fazem também parte destes fatores o “estádio de

desenvolvimento linguístico do aprendente”, o domínio das estruturas da língua, a extensão e

especialização do léxico disponível e a capacidade de adequação do discurso, bem como o “grau

de alfabetização e letramento”, a experiência de leitura-escrita e a capacidade do indivíduo de

“regular a fala por esse padrão” e pelo tipo de registo e regras socialmente estabelecidas como

adequadas. A lista de fatores que podem parecer meros pormenores são afinal aspetos que têm

bastante peso no desenvolvimento do discurso oral.

As dificuldades dos falantes jovens residem sobretudo na falta de domínio das estruturas

linguísticas, e na coerente expressão dos seus pensamentos que Amor (2006, p. 62) diz

comandarem a oralidade dos intervenientes. Geralmente, os falantes, como os casos analisados

neste projeto, apresentam maior embaraço no desenlaçar desses pensamentos em palavras,

não sendo muitas vezes capazes de os transmitir.

Desta forma, apesar de todo este processo de aquisição e de aprendizagem da

comunicação oral poder ter início desde muito cedo, em idade precoce, na vida dos indivíduos,

quando estes começam a desenvolver o seu sistema linguístico, ele deve, sem dúvida, ter

continuidade na escola, local onde se desenvolve a construção de que começara fora dela.

2.2.2. O ensino da língua oral

O ensino da comunicação oral, além de ser desvalorizado face às outras competências,

já que “na escola não se exercitam estratégias específicas de ensino; não se elabora nenhum

projeto coletivo de ensino de destrezas orais” (Lugarini, 2003, p. 128), é visto exclusivamente

como um meio para transmitir os conteúdos a serem lecionados. No entanto, até essa visão é

contraditória na medida em que, para se assimilar bem os conteúdos abordados pelo docente, é

fundamental possuir um bom conhecimento oral e escrito da língua.

A melhor forma de ultrapassar os problemas dos discentes é o professor ter em atenção

o tipo de linguagem utilizada por ele e pelos alunos na sala de aula. Cabe, pois, ao professor pôr

em marcha estratégias direcionadas especificamente para o desenvolvimento desta competência

comunicativa.

Lugarini (2003, p. 146) enumerou alguns dos procedimentos comunicativos que o

professor deve criar com o intuito de favorecer a aquisição de “competências do falar entre os

seus alunos”. Assim, o professor deve valorizar a situação comunicativa; promover e valorizar o

25

feedback dos alunos; criar situações de comunicação polifuncionais; favorecer a comunicação

bidirecional (aluno-professor; aluno-aluno; aluno-outros interlocutores); estabelecer o mesmo

tempo de fala do professor e o tempo de fala do aluno; reconhecer as formas de comunicação

dos alunos e desenvolver sucessivas estratégias para evoluir das “modalidades genéricas/

indiferenciadas” às “modalidades específicas/ diferenciadas”, tendo em conta o tema e os

interlocutores.

Segundo a análise de Canale & Swain, depois complementada pela de Canale & Hymes

(apud Lomas, 2003, p. 18), a aquisição da competência comunicativa é conseguida quando se

atinge um conjunto de conhecimentos e se tira o máximo partido deles, usando-os

adequadamente. Da mesma forma, a competência sociolinguística é uma das ferramentas

profícuas na aprendizagem da competência comunicativa, pois refere-se à capacidade de

adaptação ao contexto comunicativo. A competência textual diz respeito aos conhecimentos

necessários para a compreensão e produção dos variados tipos de texto (como, por exemplo, em

termos de coesão e de coerência). Por fim, a competência estratégica refere-se às estratégias

possíveis para solucionar problemas que possam surgir do ato de comunicação oral.

Lomas (2003, p. 19) acrescenta ainda duas outras competências às anteriormente

mencionadas, a saber: a competência literária, relacionada com a capacidade de produção e

compreensão de textos literários; e a competência semiológica, que requer conhecimentos que

favorecem a interpretação crítica das formas utilizadas nos meios de comunicação.

26

Figura 1: Esquema representativo das competências comunicativas (Lomas, 2003, p. 19)

Assim sendo, para que haja uma boa comunicação, todas estas competências devem

ser desenvolvidas em contexto de sala de aula.

No contexto da minha intervenção, procurei criar momentos para potenciar a aquisição

de cada uma destas competências, abordando-as sobretudo como um conjunto, uma unidade, a

fim de alcançar o objetivo máximo: o desenvolvimento da competência comunicativa. Esta

abordagem foi feita de maneira diferente nas duas turmas, obviamente devido aos diferentes

níveis de língua de ambas.

Assim, no caso da turma de 11º ano de Português, a competência textual e a literária

foram primeiramente trabalhadas no âmbito da análise da obra literária queirosiana. A análise de

diferentes episódios d’Os Maias (“O jantar na casa dos Gouvarinho”, “Corneta do Diabo” e “A

Tarde”) levou os alunos a trabalhar sobretudo a compreensão de textos literários; a análise da

intencionalidade crítica do narrador da obra em determinados episódios e a estrutura

27

comunicacional professor-aluno, seguida através da frequente incitação aos alunos sobre o que

havíamos acabado de ler, fizeram-nos trabalhar a competência estratégica e a competência

sociolinguística; a competência linguística ou gramatical foi sendo implicitamente trabalhada,

uma vez que está inevitavelmente ligada às restantes, pelo que os alunos, para usar as outras,

têm que possuir já um conhecimento implícito do seu código linguístico; a competência

semiológica foi, infelizmente, a menos trabalhada, não tendo havido oportunidade para tal ao

longo do tempo letivo que me foi facultado.

Relativamente à turma de Espanhol, ao invés da análise de textos literários, teve mais

enfoque a aquisição de novo léxico e a criação de contextos comunicativos quotidianos

autênticos, nomeadamente diálogos numa loja e num restaurante. Aqui, trabalharam-se mais,

por isso, as competências estratégica e sociolinguística. Da mesma forma, os alunos

trabalharam a competência semiológica ao ter contacto com elementos iconoverbais que tinham

que interpretar. A competência textual é trabalhada com a produção e interpretação de textos

diversos, como menus alimentícios de um restaurante e receitas de pratos típicos espanhóis.

Associada a estas esteve sempre a competência gramatical que, como já referi, foi sempre

implicitamente trabalhada. No entanto, numa atividade específica de criação de uma receita, os

alunos deveriam recorrer a estruturas gramaticais de Imperativo.

2.2.3. A interação oral na sala de aula

A intervenção do presente projeto não poderia ter seguimento sem que se tivesse em

conta diferentes pressupostos metodológicos que o orientassem.

É sabido que a interação oral e a comunicação são competências vinculadas ao ser

humano desde muito cedo. À medida que este se desenvolve, as competências comunicativas

acompanham o seu desenvolvimento e vão-se tornando cada vez mais complexas. Enquanto

inicialmente o código verbal é essencialmente um meio de satisfação das necessidades básicas

do Homem, posteriormente passa a conciliar mensagens verbais e não verbais próprias da

linguagem humana (Costa, 2013). Este processo decorre de um conjunto de fatores, podendo

ser mais breve ou mais moroso dependendo de cada indivíduo; no entanto, o que é comum a

todos é a aprendizagem da língua e dos seus usos, sem a qual esta capacidade não é

desenvolvida da mesma forma.

No que às finalidades da interação oral diz respeito, Faria (2003, p. 57) assume que a

linguagem pode contemplar:

28

1. “Fins sociais”, quando está envolvida “numa atividade social”, abrangendo,

por isso, a transmissão de uma mensagem e a interação com o interlocutor;

2. Uma “ação conjunta”, que implica a presença de dois interlocutores,

“mesmo que um deles seja fruto da imaginação”;

3. “O significado daquele que fala e a compreensão daquele que ouve”, o que,

por outras palavras, significa que a linguagem requer transmissão de

significados implícita ou explicitamente expressos, normalmente

compreendidos por aquele que ouve;

4. Um cenário básico, normalmente “face a face”, embora a interação possa

também ocorrer sem presença física de um dos interlocutores.

É desta forma que a intencionalidade comunicativa e o próprio contexto social no qual se

desenrola a comunicação podem afetar o uso da linguagem. Por exemplo, um ato comunicativo

na sala de aula tendo como interlocutores o professor e o aluno possuirá, naturalmente,

determinadas particularidades distintas de um ato comunicativo entre colegas, pares ou

familiares.

No caso dos processos comunicativos dentro da sala de aula, Amor (2006, p. 66) refere

vários estudos e modelos sobre a interação oral, entre eles:

- O modelo de Bellack, segundo o qual “as categorias se cruzam em dois planos: o da

descrição da estrutura e encadeamento do discurso (constituído por quatro «movimentos»

distintos, agrupados em «ciclo») e o da natureza dos significados produzidos e comunicados”;

- A proposta de Flanders, que refere que o “sistema de análise da interação verbal” é

“constituído por dez categorias, estabelecidas em função dos diferentes estatutos/funções do

locutor, da sequência dos enunciados no discurso e da sua inteligibilidade”;

- O modelo sócio–semântico e funcional de Halliday, “que pretende examinar a partir do

estudo da linguagem em contexto e da distribuição das suas macro funções – ideativa,

interpessoal, textual –, como se realiza a estrutura social, como se transmitem os valores, como

se definem os papéis, como se manifestam os modelos de conduta”;

- O modelo de análise do discurso, de Sinclair e Coulthard, que “visa explicar como se

processam fenómenos específicos da interação (distribuição e alteração de papéis, introdução de

tópicos discursivos, mecanismos de controle do discurso, etc.)”;

29

- O modelo etnometodológico de Mahan, “considera a organização da aula em dois

eixos: horizontal (sequências obtidas de enunciados do professor e dos alunos) e vertical

(hierarquia das funções atribuíveis aos mesmos enunciados”);

- E, finalmente, o modelo sociológico de Bernstein, “que procura explicar a génese do

discurso pedagógico no seio do sistema social global e descrever os princípios e as regras do

seu funcionamento, no contexto de transmissão (a sala de aula) ”.

Desta lista de modelos, podemos verificar que a interação oral dentro da sala de aula

abrange um conjunto infindável de fatores, interligados entre si, dos quais depende a situação

comunicativa. Na minha intervenção foram trabalhados estes modelos, nomeadamente na

atividade do debate, em que foi utilizado o modelo de análise do discurso, de Sinclair e

Coulthard, e o modelo sócio-semântico e funcional de Halliday. Na intervenção distribuíram-se

papéis associados à temática e ao contexto, as denominadas “macro funções” que os

intervenientes deveriam respeitar. A mesma atividade obrigava também os participantes a estar

atentos à estrutura do discurso e à sequência dos enunciados, de forma a manter uma interação

coesa e inteligível.

É também Amor (2006) que refere a problemática de a comunicação, que é usada em

contexto de sala de aula, por ter já distribuídos, de antemão, os distintos estatutos e papéis.

Para a autora, a interação oral nas aulas decorre sempre da mesma forma, a saber: os

professores falam incessantemente, e “falam três ou quatro vezes mais do que a totalidade dos

alunos” (p. 67). O professor utiliza o seu discurso para ensinar, transmite aos alunos os

conteúdos a serem abordados (quer seja através de exposição direta quer por meio de um

interrogatório).

O aluno quase não precisa de falar, o seu papel resume-se simplesmente a responder.

Todo o “processo abre uma clivagem na aula em termos comunicativos”: por um lado, existe “a

comunicação legítima” que é controlada pelo professor e, por outro, a “comunicação marginal”,

em que os alunos comunicam entre si de forma “ilegal”. Desta forma, nenhuma das “técnicas”

mencionadas frequentemente usadas na sala de aula promove a comunicação oral, já que “o

diálogo pedagógico caracteriza-se, assim, por um total monologismo.” (Ibidem). Parece, por isso,

que toda a comunicação oral é produzida ou controlada pelo professor, sendo algo mecânico. No

entanto, é a eles mesmos, aos professores, que cabe fazer algo para uma alteração deste

paradigma, e para o desenvolvimento desta competência.

30

Então, na aula deve promover-se a prática da oralidade de forma espontânea, e o

professor deve gerir bem a “distribuição do tempo de intervenção” pelos intervenientes da

comunicação, para que todos tenham oportunidade de intervir. Deve haver “circulação

intersubjetiva da comunicação”, com o intuito de possibilitar interações mais ricas e

transformadoras. Por fim, a autora sugere a criação de “contextos sugestivos e formulação de

problemas”, com o intuito de produzir pontos de partida para as intervenções.

Estas foram algumas das estratégias utilizadas na minha Intervenção Pedagógica.

Procurei, nas aulas, fazer uma boa distribuição do tempo, dar oportunidade para que todos os

alunos participassem de forma igual, não prejudicando a intervenção de um em detrimento de

outro. Quis sempre que todos os alunos tivessem as mesmas oportunidades. Creio que se

criaram contextos sugestivos e motivadores para desenvolver e incitar a participação dos

discentes, sempre tendo em conta a matéria a ser lecionada.

Grice (apud Amor, 2006, p. 69), com o intuito de descrever regras que ajudam na

produção oral, apresentou quatro máximas reguladoras da interação. A máxima da quantidade,

em que se deve ter em atenção a informação que se vai transmitir, devendo dizer-se somente o

que se acha necessário; a máxima da qualidade, segundo a qual se deve comunicar apenas a

verdade, não devendo ser utilizados argumentos falsos nem nos quais não se acredita; a

máxima da relação, que consiste em dispor informação pertinente ao que foi dito anteriormente,

não fugindo ao tema que está a ser abordado; e a máxima do modo, que consiste em expor de

forma clara e organizada o discurso, que deve ser coerente e ordenado.

Também estas máximas foram consideradas na construção do debate. A presença dos

elementos mediadores auxiliou a condução do debate com base nestas máximas, respeitando-se

assim os princípios da quantidade, da qualidade, da relação e do modo, que serviram de modelo

para os discentes, pois através delas verificaram como deveriam ou não proceder em

determinados contextos comunicativos.

Relacionado com o envolvimento da comunicação oral, nomeadamente na relação e

interação entre os interlocutores, está outro fator: a escuta. Esta também tem um função

interventiva no ato de comunicar, na medida em que uma situação comunicativa de diálogo, por

exemplo, só tem continuidade sequencial quando os interlocutores se escutam mutuamente e

analisam o que, alternadamente, um e outro vai dizendo. Desta forma, a escuta deve ser

recíproca e construtiva da interação, pelo que deve ser um aspeto igualmente trabalhado na sala

de aula.

31

2.2.4. Técnicas de comunicação

Face ao que já foi exposto, facilmente se percebe que o ato de comunicar é tido

normalmente como algo natural e espontâneo, no qual o falante não tem consciência das suas

falhas e limitações. Ainda assim, sabe-se que, na escola, o ensino da oralidade se debruça sobre

aspetos formais, levando os alunos a trabalhá-la no sentido de evitar o erro, sendo, por isso, algo

mais consciente.

Para trabalhar esta lacuna, Amor (2006, p. 79) aponta algumas técnicas de

comunicação oral, tais como a exposição, a entrevista, o debate e a mesa redonda. Em

concordância estão Seixas et alii (2001), que fazem as mesmas propostas como melhores

atividades de preparação dos discentes para a sua inserção em sociedade.

Assim, a exposição “consiste na apresentação de um conjunto de informações e pontos

de vista sobre um tema concreto” Amor (2006, p. 79), num determinado tempo estipulado. A

sua preparação exige a elaboração de um plano, uma vez que se deve ter em atenção o público

a quem se destina, o tempo que lhe é atribuído e quais os seus objetivos. Esta atividade foi a

utilizada na fase de diagnóstico, para fazer uma primeira avaliação dos discentes, no sentido de

apurar as suas principais dificuldades, e trabalhar para dissipá-las. A atividade consistiu

essencialmente numa pequena apresentação individual de um livro previamente lido.

A entrevista, por sua vez, apresenta várias modalidades, dependendo dos objetivos com

que é realizada. Tal como a exposição, é antecedida por um guião, onde são definidos os

objetivos, para que as questões a serem colocadas ao entrevistado tenham a máxima

pertinência (se são perguntas de resposta fechada ou aberta, que melhor sequência se adequa à

entrevista, ou se contém “questões alternativas” Amor (2006, p. 80). Na condução da

entrevista, o entrevistador deve ter uma postura de respeito, estar com atenção ao que é dito

pelo entrevistado e mostrar interesse.

O debate é outra das atividades possíveis para desenvolver a comunicação oral e “é uma

forma de discussão em grupo”, mas de forma organizada e orientada por mediador(es). A

escolha do tema é, naturalmente, prévia à sua realização, pelo que a preparação deve tê-lo em

conta. É também nesta fase inicial que deve ser feita a escolha do(s) moderador(es), devendo

ele(s) ter algum conhecimento do tema a ser debatido. Nesta fase, definem-se ainda os objetivos

e as regras segundo os quais cada um deve intervir. O seu desenvolvimento dá-se depois por

etapas: a introdução é feita pelo(s) moderador(es) ao longo de 5/10 minutos, em que é

apresentado o tema a ser debatido; depois, recordam-se as regras do debate, só depois se abre

32

espaço à intervenção dos participantes, dando-se início à “discussão” (Trindade et alii, 2011, pp.

247-248). Cabe também ao(s) moderador(es) o papel de gerir e centrar todo o debate, e

apresentar também no final uma conclusão do que foi dito ao longo da discussão, fazendo um

balanço final.

O debate foi, por todos estes fatores, a atividade escolhida para a realização da atividade

final da intervenção, na medida em que permitiu a participação de toda a turma em simultâneo,

e implicava um papel ativo de todos ao longo da interação. Este tipo de interação, sendo plural,

não só desenvolve a capacidade de argumentação dos discentes, como os prepara para a vida

democrática, pois deve ser praticada pelos princípios da cordialidade.

Por fim, a autora Amor (2006, p. 81) sugere ainda para o desenvolvimento da oralidade

a mesa redonda, que é considerada uma variante do debate, mas de “caráter mais aberto e

orientado para a tomada de decisões e orientações para a ação”. Esta atividade requer, de igual

forma, uma preparação, na qual se escolhe um animador e se define o tema e o plano de

trabalho. No desenvolvimento, é feita a apresentação dos intervenientes, do tema e dos objetivos

a serem “discutidos”. O “debate” é iniciado e coordenado pelo animador, que, no final, elabora

um resumo (compte-rendu) de tudo o que foi mencionado, com as opiniões que foram

expressas.

No caso do Espanhol, recorreu-se a uma metodologia denominada enfoque

comunicativo, que é definida como um “conjunto heterogéneo de propuestas didácticas para el

aprendizaje de la lengua conjunto heterogéneo de propuestas didácticas para el aprendizaje de

la lengua” (Cassany, 1999b, p. 11). Centrados no uso linguístico, estes enfoques concebem a

linguagem como uma atividade humana que funciona como um instrumento social para fins

diversos. Cassany (Idem) acredita, por isso, que o objetivo do ensino das línguas é, mais do que

a aquisição de elementos verbais, “el desarrollo de las destrezas necesarias para poder

conseguir los propósitos deseados con el uso del idioma” (p. 15). Assim, a língua é vista como

um código vinculado a uma cultura e a uma conceção do mundo comum entre a comunidade

linguística, pelo que se torna impossível adquirir uma língua sem aprender também os

conhecimentos socioculturais a ele inerentes.

Como aplicações práticas, o enfoque comunicativo sugere atividades relacionadas com

contextos específicos, que permitam aos aprendizes ativar uma série de conhecimentos e

saberes, de forma a serem capazes de usar a língua em situações familiares, mas também em

casos mais formais.

33

Esta perspectiva “funcional, discursiva, contextualizada y heterogénea” (Cassany,

1999b, p. 16) pretende ultrapassar conceções tradicionais da língua que se guiavam

estritamente pelas regras, para visar uma conceção que transcende sistemas mentais regrados,

e abarca um amplo conjunto de saberes e habilidades.

Nesta conceção, o professor deixa de ser o único orador, o mero transmissor de

conteúdos e supervisor, para orientar uma didática “en la que el alumnado realiza breves y

variadas actividades de comprensión y producción discursiva, con variación interactiva

(individual, parejas, grupos pequeños y grandes) y apoyo de medios audiovisuales” (p. 7).

O comentário de texto é uma das atividades propostas por Cassany (1999a), para que o

aprendiz deixe de ser um meio passivo de aquisição de conhecimentos, e entre em contacto

direto com a língua meta, tendo que desenvolver “ciertas conductas autónomas de uso o análisis

lingüísticos, con variable grado de creatividad” (p. 11). Atividades como escrita de redações,

comentários de textos literários e leitura em voz alta serão raramente trabalhadas fora do

contexto escolar, pelo que “la enseñanza de la literatura debe estar estrechamente relacionada

con el aprendizaje lingüístico” (p. 13). Facto é que, muitas das vezes, o texto literário é lido e

interpretado em aula à luz do que dizem os docentes, apenas encerrando assim um significado

único. Isto impede os indivíduos de formularem e verbalizarem as suas aceções pessoais

relativas aos textos.

Assim, “debemos aceptar que la función básica del CT no consiste en revelar o

desentrañar ningún significado de una obra (…), sino en facilitar que cada alumno construya su

propia interpretación de la misma, y que pueda contrastarla con las de sus compañeros para

poder elaborar un conjunto de percepciones más rico y plural de la obra” (Cassany, 1999a, p.

20). Essa é uma forma fulcral de levar os alunos a incrementar os seus conhecimentos e

habilidades de compreensão e produção discursiva. Além disso, torna-se mais estimulante, tanto

para o docente, como para a turma em geral, o surgimento de opiniões discrepantes do que a

aceitação calada dos factos (Idem, p. 22).

O aluno pode, desta forma, levar para a aula a sua experiência pessoal, além de ver a

sua motivação, interesse e curiosidade incrementados. A ele cabe-lhe descobrir, analisar e

sintetizar, sendo o docente um meio facilitador desse processo. O enfoque comunicativo

favorece sobretudo a cooperação entre alunos e nunca a competitividade, aludindo, assim, à

ideia de que a dinâmica de grupos potencia a aprendizagem. Ao contrário das competências

34

gramaticais, as regras e os erros só são importantes se afetarem a compreensão e

inteligibilidade de um enunciado.

Foi justamente esta a metodologia utilizada nesta intervenção, impondo aos alunos um

papel ativo, cujo êxito na aprendizagem depende dele, ainda que não exclusivamente, tendo o

docente, naturalmente, uma função mediadora em todo o processo.

Ainda a nível das estratégias usadas em ambas as turmas, importa referir o modelo

enfoque por tarefas, que consiste na organização da aprendizagem “a partir de una tarea final,

consuada entre alumnos y profesor, que guiará da presentación de los diversos contenidos”

(Atienza et alii, 2002, p. 2). A realização da dita tarefa pressupõe a prática dos conhecimentos

adquiridos ao longo da aprendizagem, além de se subordinar a tarefas de produção verosímeis a

diversas situações quotidianas, com as quais os alunos se podem deparar ao longo da sua vida

profissional e académica.

Este enfoque pedagógico enfatiza também, à semelhança do enfoque comunicativo, o

trabalho em grupo, servindo o professor “de refuerzo para resolver dudas, corregir ejercicios o

guiar la resolución de alguns problema” (Ibidem). Em suma, os alunos devem desenvolver a

autonomia, utilizando os materiais e recursos de que dispõem para os auxiliar, sendo eles

próprios a marcar o ritmo da sua aprendizagem, ainda que o tipo de trabalho possa

eventualmente ser mais lento.

A aplicação deste método pedagógico pode ser visto na presente intervenção na

aplicação da atividade final na turma de Português, o debate, cujos conhecimentos

demonstrados foram sendo adquiridos ao longo das aulas, através dos conteúdos abordados

n’Os Maias.

No que concerne ao papel da cultura, Merino & Cassany (2013) mostram-se assertivos

quanto à ideia de que a didática das línguas não pode ser dissociada da componente cultural. A

linguagem entende-se, pois, com base nos distintos contextos em que se desenrola, mas está

intrinsecamente vinculada à “competência comunicativa intercultura (CCI)”, sendo esta um meio

de ensino e de aprendizagem das línguas.

Asimismo, se ha producido un cambio en la concepción de lengua como único medio de comunicación y se han empezado a incluir otros aspectos verbales, no verbales, culturales, pragmáticos, sociales y discursivos como instrumentos de interacción (…) se pretende formar a ciudadanos activos y participativos para lo que la lengua sola no es suficiente. Por ello, la competencia lingüística (gramática) debe siempre ir unida a la competencia cultural (Merino & Cassany, 2013, pp. 44-45).

35

Nesta intervenção, procurou-se ir ao encontro desta conceção. A turma de Português

tinha inevitavelmente presente esta associação da língua à literatura e à cultura, através da

abordagem d’Os Maias, e sobretudo da questão dos tipos de educação aí presentes. As

pesquisas dos alunos fizeram com que se deparassem com realidades existentes no seu país há

alguns anos, na geração dos seus antepassados. No caso da turma de Espanhol, os conteúdos

programáticos sobre a comida permitiram-lhes uma abordagem abrangente, que lhes concedeu

novo léxico, novas formas de comunicação e conhecimentos sobre como agir em determinados

contextos, como num restaurante, e ainda lhes revelou uma vertente cultural, abordada, por

exemplo, através da gastronomia espanhola.

Para encerrar o conjunto de pressupostos metodológicos nos quais se baseia este

relatório, falta mencionar a organização das diversas competências na sala de aula. Na senda de

Johnson & Johnson (1994, apud Cassany, 2009, p. 11), há três tipos de organização quanto à

aprendizagem dessas competências em contexto letivo: a organização competitiva, a

individualista e a cooperativa. A primeira, tal como o nome indica, consiste no trabalho de

competição face os colegas, com vista a atingir metas individuais. O objetivo máximo não é, por

isso, aprender, mas sim ganhar. A organização individualista não tem qualquer relação com os

companheiros, havendo como meta principal a independência. Por último, a organização

cooperativa relaciona-se com o trabalho em equipa, sobretudo em pequenos grupos, para atingir

objetivos mútuos, havendo, assim, interesse em ajudar os colegas, uma vez que a melhoria de

uns é a vantagem de outros. Esta última é geralmente a metodologia de organização adotada

neste tipo de projetos, nomeadamente no meu. Procurou-se, acima de tudo, fomentar a

cooperação com atividades coletivas, porque se considerou que seria assim que se atingiriam

melhores resultados, e não competindo. Cassany (2009) comenta, aliás, que é através da

organização cooperativa que se fomenta “una enseñanza más reflexiva, basada en las

habilidades y no tanto en la memorización de contenidos” (p. 12).

A interação oral na sala de aula e o processo de ensino-aprendizagem desta

competência assentam, como facilmente se confirma neste segundo capítulo, em diversos

pressupostos teóricos, que esclarecem os distintos papéis do professor e do aluno ao longo do

mesmo. À luz dos diversos autores que foram sendo citados, apesar da abordagem da

competência oral poder diferir significativamente consoante o nível de língua ensinado, há

determinadas práticas que servem a todos eles, nomeadamente a organização cooperativa na

sala de aula e a prática da autonomia, que valoriza uma atitude altruísta por parte dos alunos.

36

Passando agora da fundamentação teórica à parte empírica do projeto, o terceiro

capítulo deste relatório assenta na descrição detalhada das três fases constituintes da

intervenção nas duas disciplinas em causa: a fase de diagnóstico, a fase de implementação e

ainda a de avaliação.

Além de se comentar a aplicação das estratégias metodológicas teóricas até então

descritas, expõe-se, com mais detalhe, a intervenção empírica que constituiu o cerne deste

trabalho, e que se concretizou em diferentes momentos. Explica-se, por isso, todo o processo,

desde o momento de recolha da informação, até a um momento final, no qual se registam os

resultados obtidos após a intervenção.

37

CAPÍTULO III

DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO

38

39

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO

Anteriormente, foi apresentada a fundamentação teórica que esteve na base da

Intervenção Pedagógica.

Agora, ao longo deste novo capítulo, serão apresentados os resultados das atividades

desenvolvidas durante essa Intervenção. Essa apresentação será feita de forma tripartida, tendo

em conta as diferentes fases da intervenção (diagnóstico, implementação e avaliação). Em cada

uma das fases contém, por sua vez, a descrição do processo de intervenção dividida por

disciplinas, de forma a tornar a explicitação das atividades mais elucidativa. Os resultados

obtidos serão revelados numa parte final do capítulo.

3.1. Introdução

Para poder iniciar o processo de ação nas turmas em causa, elaborou-se inicialmente

um Projeto de Intervenção, onde se expôs o percurso que se pretendia seguir, e no qual, além

dos objetivos já mencionados, se traçaram as estratégias a serem utilizadas, no sentido de os

alunos desenvolverem as suas competências comunicativas e saberem “ - usar a língua nas

diversas situações de comunicação em que o falante se encontra” (Santos, 2006, p. 40).

Nas duas turmas, delineei várias estratégias e atividades, com o intuito de os discentes

serem capazes de realizar uma última atividade, que englobasse parte dos conhecimentos

adquiridos durante as minhas aulas. Todas estas atividades são descritas em diferentes secções

do presente capítulo, correspondentes a diferentes fases da intervenção: a fase de diagnóstico, a

fase de implementação e a fase de avaliação da intervenção. Cada uma das fases e das

respetivas atividades são descritas separadamente em subsecções dedicadas à turma de

Português e à turma de Espanhol, a fim de demonstrar a adequação das atividades ao nível de

cada turma, bem como a receção por parte dos alunos relativamente aos trabalhos

desenvolvidos.

Na fase de diagnóstico enumeram-se as ferramentas utilizadas para pré-avaliar o

desempenho dos alunos nas aulas, nomeadamente nas atividades de desenvolvimento da

competência oral. No caso da turma de Português, além de ter em conta o desempenho oral dos

alunos no decorrer da aula, cujo tema central era a abordagem da obra queirosiana Os Maias,

foi utilizada como instrumento de avaliação diagnóstica uma breve exposição oral centrada na

apresentação de um livro à turma. Quanto à turma de Espanhol, diagnostiquei as respetivas

lacunas através de um questionário, onde me apercebi das preferências de trabalho da turma e

40

das suas maiores dificuldades, tendo posteriormente recorrido, para diagnosticar concretamente

as suas falhas, a uma primeira avaliação de uma apresentação pessoal, na qual,

individualmente, tinham que usar léxico previamente aprendido.

Numa segunda fase, após diagnosticar o que devia ser trabalhado, servi-me dos

conteúdos programáticos correspondentes a ambas as turmas, para trabalhar a competência

oral. Desta forma, na turma de Português foram trabalhadas temáticas inerentes à obra “Os

Maias”, tendo a intervenção culminado com a realização de uma última atividade, um debate,

cujo tema era a educação tradicional e a educação moderna presentes na obra abordada. Na

turma de 10º ano, aproveitou-se o tema “la comida” para criar um mercado autêntico na sala de

aula, levando os alunos a utilizar vocabulário aprendido e a interagir.

Por fim, na fase da avaliação, servi-me de tabelas criadas para fazer o tratamento dos

dados obtidos a partir das atividades realizadas. Os resultados, que se concentram num

conjunto de fatores, são satisfatórios em ambos os casos, pois evidenciam evolução desde o

início da intervenção até ao final.

3.2. Fase de Diagnóstico

Para pôr em prática a intervenção, era necessário desenvolver uma fase de diagnóstico,

a fim de avaliar o contexto no qual eu iria intervir.

A fase de diagnóstico foi desenvolvida tendo em conta a competência que me propus

trabalhar, a oralidade.

O período de pré-intervenção teve início no dia 1 de outubro de 2013 e prolongou-se até

fevereiro de 2014 no caso do Espanhol, e março de 2014 em Português, datas das minhas

intervenções. Foi um período essencial, quer para a elaboração do meu projeto, quer para a

recolha de informação acerca da turma. Este período de aulas permitiu-me sobretudo conhecer

melhor os discentes, pois possibilitou-me observá-los individualmente, e verificar capacidades de

cada um e as competências em que tinham mais dificuldades, conhecer as suas preferências, e

assim criar estratégias para melhor trabalhar com eles. Para dar início a todo esse processo,

servi-me dos registos diários de aula (Anexo I), elaborados segundo os princípios de Reis

(2011), que foram sem dúvida uma mais-valia no desenvolvimento da intervenção. Permitiram-

se anotar a dinâmica da aula, e registar também, no caso das aulas de língua estrangeira, se os

alunos recorriam com mais frequência à língua materna, o Português, ou à língua estrangeira, o

Espanhol.

41

A avaliação diagnóstica da interação oral foi realizada em ambas as disciplinas.

As minhas intervenções, tanto na disciplina de Português como na de Espanhol, tiveram

como alicerce as apresentações orais realizadas pelos alunos, produzidas na avaliação interna

da escola. Nestas avaliações, foram utilizadas as grelhas de avaliação (Anexo II) criadas para

melhor poder avaliar e, assim, constatar quais as dificuldades dos alunos. Esta grelha permitiu-

me sobretudo tomar conhecimento das principais falhas na oralidade, e perceber se eram falhas

na organização do discurso ou em aspetos para-linguísticos, nomeadamente o tom e volume de

voz, o ritmo de fala e as pausas utilizadas.

Esta fase foi sem dúvida de aprendizagem no meu desenvolvimento enquanto professora

estagiária, tendo-me permitido apreender a forma como as orientadoras cooperantes interagiam

com a turma, e refletir sobre a melhor forma de me relacionar com as turmas intervenientes.

A descrição dos procedimentos nesta fase é feita de seguida em duas secções diferentes

secções, uma dedicada à turma de Português, e outra à turma de Espanhol.

3.2.1. Português

As aulas assistidas no período de pré-intervenção e as atividades delineadas pela

orientadora deram-me a perceção de que os discentes tinham lacunas no campo da oralidade,

pois, durante as suas intervenções, faziam imensas pausas e quebras no discurso, ou seja,

tinham dificuldades em manter um discurso fluído e coeso.

A grelha de observação das atividades orais (Anexo II), adaptada por mim, permitiu um

registo mais detalhado e minucioso das dificuldades dos discentes, possibilitando-me visualizar,

como já referi, se as principais falhas constituíam problemas de organização do discurso ou de

aspetos paralinguísticos.

Na disciplina de Português, utilizei essa mesma grelha para registar o desempenho da

turma durante uma apresentação oral realizada pelos alunos, na qual estes deveriam fazer a

exposição de um livro que tivessem lido. O livro havia sido escolhido por cada um deles, a partir

de uma lista cedida pela professora. Os discentes tinham de o descrever na íntegra, explicando à

turma os aspetos que mais lhes tinham agradado ao longo da leitura, justificando, também, a

sua escolha.

No final, houve uma oportunidade para a interação oral entre os alunos, pois no final da

avaliação oral estava reservado um espaço a questões feitas pelos restantes alunos. Os outros

alunos tinham a opção de questionar o aluno em avaliação sobre o livro apresentado.

42

Ao fazer esta análise, foi-me possível detetar as dificuldades orais dos alunos, que

passavam essencialmente por problemas de articulação discursiva. Ainda que soubessem

efetivamente narrar a história que haviam lido, na hora de expressar as suas opiniões e de dar

uma explicação aos colegas, eram visíveis as suas hesitações e problemas na comunicação oral,

o que revela, de facto, que a oralidade é uma competência pouco treinada no seu dia-a-dia.

Aliada a estas dificuldades estava a predeterminação do tempo que cabia a cada discente para a

sua exposição, que era de cerca de cinco minutos, o que também os poderá ter constrangido,

levando-os a hesitar e reformular o que iam dizendo. Creio que a capacidade de síntese e de

reunião da informação fundamental a apresentar naqueles minutos terá sido, também, um

obstáculo para muitos dos alunos.

Além desta atividade, a diagnose da intervenção não se subordinou apenas a ela. Na

primeira aula lecionada, onde abordei as personagens centrais d’Os Maias, estabeleci uma

relação entre elas e personagens de políticos dos nossos dias. Utilizei a caricatura para tal, e

assim procurei que os alunos tivessem uma maior motivação e interesse pelo tema, fazendo

com que participassem, dando a sua opinião e, acima de tudo, argumentando acerca dela. Por

si só, este tipo de atividade consistiu num outro teste diagnóstico a que recorri, a fim de ter mais

dados avaliativos da competência oral da turma a nível geral e individual. Posteriormente, a

análise dessa diagnose, a interpretação dos resultados e ainda o estudo das estratégias

utilizadas pelas supervisoras no estudo da interação oral permitiram-me delinear as abordagens

mais adequadas, conciliando o programa da disciplina com as principais lacunas e necessidades

dos alunos.

3.2.2. Espanhol

Na turma de Espanhol, foi possível observar uma exposição oral (apresentação pessoal)

feita na língua estrangeira.

Os alunos descreviam-se fisicamente e expressavam os seus gostos pessoais em relação

aos tempos livres. Toda a apresentação tinha obrigatoriamente de ser feita na língua espanhola.

Utilizei, assim como para Português, a grelha de observação oral individual (Anexo II), onde

pude detetar as principais falhas dos alunos.

Posteriormente, com o objetivo de aferir mais em pormenor informações sobre os

discentes, sobre o tipo de atividades que tinham mais facilidade em realizar (se em grupo, em

pares ou individualmente), quando utilizavam a Língua Materna ou a Língua Estrangeira, o nosso

43

núcleo de estágio elaborou um questionário inicial (Anexo III). Este foi criado com o intuito de

conhecer melhor as motivações que estimulavam os alunos e saber em que competências

tinham mais dificuldades no ensino de uma língua estrangeira. O questionário apresenta uma

divisão tripartida: a primeira parte é de âmbito pessoal, onde se procurou conhecer melhor os

discentes e de que forma organizam o seu estudo; a segunda, onde foram abordadas as

preferências e expetativas, e através da qual pretendíamos conhecer as preferências dos alunos

na hora de trabalhar a língua estrangeira; e, por último, procurou-se conhecer os hábitos e

preferências dos alunos no que respeita à gramática, à escrita, à oralidade e ao léxico. Neste

último ponto foram abordadas todas as competências que iam ser trabalhadas pelo núcleo de

estágio, pelo que se pretendeu conhecer a melhor forma de trabalhar com os discentes todas as

competências.

No que diz respeito à minha investigação em particular, moveu-me a vontade de saber

de que forma é que os alunos encaravam a exposição oral, quais as dificuldades visíveis perante

esta competência, e quais as atividades que mais os motivavam.

Inicialmente, quando questionados sobre os motivos que os levaram a aprender

Espanhol, uma grande percentagem dos alunos justificava a sua opção com o gosto pelo

contacto com novas línguas e pela facilidade da língua em si, no entanto, alguns referiam

também que, quando eram confrontados com as restantes opções de língua estrangeira, estas

não lhes agradavam, e por isso escolhiam o Espanhol.

Questionados sobre as formas mais apelativas de aprender a língua, os alunos

manifestaram preferência pelos métodos mais interativos, nomeadamente músicas, vídeos,

filmes e, curiosamente, conversas, o que revela o interesse por parte dos aprendentes em

praticar a língua, falando-a. No entanto, uma percentagem massiva da turma assumiu usar

ativamente a língua sobretudo quando isso lhes é solicitado pelos professores, ou seja, poucas

ou raras vezes o fazem por iniciativa própria, para colocar uma dúvida, por exemplo. Assim,

expôs-se aos alunos um conjunto de fatores responsáveis pela pouca participação oral voluntária

nas aulas, cujas respostas são reveladas no seguinte gráfico.

44

Gráfico 1: Fatores condicionantes da participação oral nas aulas por parte dos alunos

Esta questão foi elaborada com o intuito de conhecer as dificuldades dos alunos na

participação oral na sala de aula. Os discentes apontaram como principais dificuldades a

timidez, o medo de dar erros e o receio de ser avaliado. As opções menos escolhidas como

entrave a comunicação oral foram a falta de interesse pelos temas lecionados e a falta de

oportunidade de falar. Podemos concluir desta questão que os alunos não participam mais

oralmente nas aulas porque têm receio de dar erros e de ser avaliados sempre que o fazem.

Falta de treino da oralidade.

Falta de ideias.

Receio de ser avaliado.

Falta de vocabulário.

Dificuldades em compreender a professora.

Dificuldade em construir frases.

Dificuldades de pronúncia.

Timidez, não me sinto confortável com os meus colegas.

Falta de oportunidade para falar.

Medo errar (gosto de ter a certeza do que vou dizer).

Dificuldades em compreender as actividades.

Falta de interesse pelos temas.

Dicção.

Gramática.

Fluidez.

Argumentação.

Dos vários fatores apresentados quais são os que mais dificultam a tua participação oral nas aulas?

Sempre Frequentemente Às vezes Nunca

45

Conclui-se, além disso, que os alunos não deixam de participar por falta de interesse na aula ou

nos temas abordados.

Na opinião dos discentes, falar Espanhol nas aulas é importante porque os ajuda

aprender mais e melhor a Língua Estrangeira. Estes também têm a opinião de que a expressão

oral é bastante praticada nas aulas de Espanhol. Treze alunos disseram que se sentem,

frequentemente, confortáveis a falar Espanhol, simplesmente não gostam muito de o fazer em

público (cinco escolheram a opção nunca e onze às vezes).

0 5 10 15 20

Emissões de rádio.

Diálogos entre espanhóis …

Programas de televisão.

Filmes.

Canções.

Entrevistas.

Tens dificuldades em entender espanhol em que situações?

Sempre Frequentemente Às vezes Nunca

Gráfico 3: Situações comunicativas com mais falhas na compreensão oral em Espanhol

Gráfico 2: Opinião dos discentes relativamente ao uso do Espanhol

Achas que praticas a expressão oral nas aulas de Espanhol?

Achas que falar Espanhol na aula te ajuda a aprender?

Gostas de falar em Espanhol?

Sentes-te confortável ao falar Espanhol?

Assinala com uma cruz (x) a resposta que corresponde à tua opinião:

Sempre Frequentemente Às vezes Nunca

46

O gráfico 3 demonstra as diversas situações comunicativas em que os alunos se sentem

menos à vontade. Verifica-se, assim, que os discentes têm dificuldades em compreender o

Espanhol nos diálogos entre nativos, possivelmente devido à rapidez com que falam, ao próprio

sotaque, e talvez até ao desconhecimento de alguns vocábulos. As emissões de rádio também

estão entre as principais dificuldades apresentadas pelos alunos, ao contrário das canções, em

que as dificuldades na compreensão da Língua Estrangeira são menores.

Relativamente às atividades mais produtivas e motivadoras para desenvolver a oralidade

nas aulas de Espanhol, os alunos destacaram as canções, os jogos, a os vídeos. Segundo estes

discentes, a atividade menos produtiva para desenvolver a oralidade é o teatro.

Este processo de recolha de informação foi muito interessante, pois permitiu ao núcleo

de estágio ter um conhecimento prévio da turma onde iria realizar a intervenção. Foi possível

Canções

Jogos.

Diálogos.

Exercícios de Matching.

Completar espaços.

Role play.

Audição de gravações.

Visualização de vídeos.

Leitura de textos.

Teatro.

Que atividades consideras mais produtivas e motivadoras para trabalhar a oralidade e o léxico na

aula de Espanhol?

Sempre Frequentemente Às vezes Nunca

Gráfico 4: Preferências de atividades a trabalhar nas aulas de Espanhol por parte dos alunos

47

identificar os gostos, as motivações e as estratégias com que melhor trabalhariam e que

originariam, portanto, um melhor desempenho.

Em todas as aulas de Espanhol, trabalhei a competência oral, para que fosse possível

fazer um bom trabalho no desenvolvimento da intervenção. Não descurei, no entanto, todas as

outras competências essenciais ao progresso dos alunos.

Trabalhei com o método enfoque por tarefas, o que permitiu aos alunos adquirirem

uma aprendizagem gradual. Começávamos sempre por atividades mais simples, para que no

final fosse possível a realização de uma atividade mais completa, que envolvesse tudo o que foi

lecionado no decorrer da aula. No caso da minha intervenção, procurei que esta última atividade

fosse sempre direcionada para o exercício da oralidade, quer se tratasse de interação, o que

exigia diálogo entre os alunos ou entre eles e o professor, quer consistisse um exercício de

exposição, atividade que se baseava na apresentação oral individual de determinados conteúdos.

A intervenção assentou também no enfoque comunicativo da língua, onde as atividades

desenvolvidas tinham como objetivo criar situações autênticas, para que os discentes utilizassem

a língua em contextos similares aos quotidianos.

Serve como exemplo o tema das aulas de Espanhol, a comida. Nelas foram

desenvolvidas atividades o mais semelhantes possível às do quotidiano, nomeadamente uma ida

às compras. A atividade consistiu numa ida ao mercado, através da qual os alunos realizaram a

compra de produtos necessários para a confeção de uma receita. Foi criado, na sala, um

“mercado”, uma situação real, com produtos e com dinheiro, também ele criado para a

atividade, o que permitiu ver como os discentes interagiam oralmente.

3.3. Fase de Implementação e Avaliação

Depois de analisar as lacunas dos alunos na fase diagnóstica, criou-se um conjunto de

atividades, a fim de colmatar essas dificuldades.

A fase de implementação caracterizou-se pela aplicação de estratégias específicas nas

duas turmas que, como já referi, tiveram que ser distintas, dado o nível linguístico dos falantes.

Nesse sentido, em Português, a minha intervenção foi direcionada para o desenvolvimento da

interação oral. Sendo a língua materna dos falantes, e presumindo-se portanto que deveriam ter

vocabulário suficiente para utilizassem a linguagem oral da melhor forma, e serem capazes de

transmitir os seus pensamentos, o objetivo foi essencialmente desenvolver nos alunos a

capacidade de exporem as suas ideias de forma coerente.

48

Por outro lado, em Espanhol foi também trabalhada a comunicação oral, mas num nível

mais básico, uma vez que se trata de um nível inicial: “El uso y la comunicación son el auténtico

sentido último de la lengua y el objetivo real de aprendizaje, según este planteamiento, aprender

lengua significa aprender a usarla, a comunicarse” (Cassany, Luna e Sanz, 2003, p. 84).

Desta forma, as estratégias adotadas passaram pela sistematização de propostas

realizadas sequencialmente, a fim de consolidar gradualmente as estruturas comunicativas no

processo de aprendizagem dos falantes. Como preconiza Silva (2008, p. 98),

O ensino-aprendizagem progressivo da língua fará tanto mais sentido quanto mais sistematizado for o tipo de tarefas propostas. Ao invés de se pretender que o aluno se limite a recitar regras que depois não sabe aplicar, preconiza-se que seja dada ao aluno oportunidade de observar, colocar hipóteses para descobrir os mecanismos de funcionamento da língua e manipular a língua, de forma a compreender as regras que deste processo vai extraindo.

Assim sendo, servindo-me dos conteúdos programáticos de ambas as disciplinas,

desenvolvi atividades que proporcionaram aos alunos uma interação oral constante.

Este foi um período de constante pesquisa e avaliação do ambiente vivido em sala de

aula, pois as estratégias a utilizar eram adaptadas às circunstâncias e ao feedback que ia

recebendo por parte dos discentes.

No que à avaliação diz respeito, fi-la com base numa tabela criada propositadamente

para esse efeito, adaptada por mim (Anexo II).

3.3.1. Atividades desenvolvidas na turma de Português

Na fase de implementação, procurei aplicar estratégias para um melhor desempenho

dos alunos na comunicação oral, algumas delas baseadas nas propostas de Amor (2006, p. 71):

desenvolvimento de breves relatos sobre experiências pessoais presenciais ou não; adaptação de

conteúdos lecionados às realidades de cada um; transmissão de traços descritivos de uma

pessoa, objeto ou lugar; construção de uma narrativa (oral); sessões de perguntas e respostas

sobre determinados temas, troca de opiniões e ainda sínteses orais da informação recolhida.

Estas atividades propostas pela autora estiveram na base de algumas das estratégias

implementadas nas aulas da intervenção. Assim, aquando da abordagem da obra Os Maias de

Eça de Queirós, parte integrante do programa nacional do 11º ano do Ensino Secundário,

procurei fazer, em todas as aulas, uma análise detalhada dos diferentes excertos selecionados.

Não só pretendia que os discentes compreendessem melhor o cerne da obra, como quis que se

tornassem ativos e críticos relativamente à sua análise. Todas estas aulas centradas n’Os Maias

49

tinham, por isso, em atenção o tema do meu projeto. Sempre que abordávamos uma

personagem e que estudávamos as suas características, propunha-se que os alunos

descrevessem os traços característicos dessa personagem. Os alunos expunham os seus

conhecimentos e explicavam o porquê de os interpretarem desse modo.

Aproveitando ainda o facto de os discentes terem ido ver a peça de teatro sobre Os

Maias, foi-lhes pedido que fizessem um reconto da peça, ou seja, que elaborassem uma

narrativa oral e a apresentassem perante a turma.

Por fim, após as aulas lecionadas, a intervenção direcionou-se particularmente para uma

atividade de avaliação, também ela baseada numa temática da obra queirosiana. A atividade

consistia num debate, cuja discussão se centrava na educação abordada n’Os Maias (Anexo

IV), tema que aliás havia já sido abordado por mim nas aulas.

Antes da aula dedicada ao debate, foi lecionada uma aula de preparação do mesmo

(Anexo V), na qual se abordaram as suas características e elementos constituintes. Abordou-se

também o papel da exposição oral, de como se deve desenvolver a prática da expressão oral, e

como esta deve ser feita num debate. No fundo, esta aula de preparação, lecionada com

antecedência, foi importante para elucidar a turma, e sobretudo para os incitar a fazer as suas

pesquisas prévias de informação a utilizar na atividade. Tiveram, portanto, tempo para recolher

dados, consultar fontes ou fazer entrevistas.

Fiz com que os alunos percebessem a importância da realização de um debate e os

benefícios que este acarreta, como, por exemplo, para falar em público e se sentirem mais à

vontade para expor as suas ideias. Foi muito interessante verificar como os alunos, mesmo os

mais tímidos, no decorrer do debate, se mostraram com entusiasmo e vontade em expor a sua

opinião, falavam perante toda a turma, vencendo a timidez.

Os pontos debatidos no debate foram a educação moderna e a tradicional. De facto,

pareceu-me relevante possibilitar aos alunos uma reflexão aprofundada sobre a esta temática,

patente na obra através do contraste entre a educação de Carlos da Maia e de Eusebiozinho,

que se caracteriza pelo confronto de ideias entre a educação moderna, a do primeiro, e a

educação tradicional, a do segundo.

Neste sentido, criaram-se diferentes grupos: um de mediadores, constituído por três

alunos; dois grupos de defesa, que sustentavam pontos de vista distintos (de um lado a

educação tradicional, e de outro a educação moderna); dois grupos que constituíam o público,

cuja função consistia em questionar o grupo com uma ideologia “adversária” à sua.

50

Importa referir que, imediatamente antes da lecionação, organizei a disposição da sala

de aula (Anexo VI), de forma a recriar um ambiente que mimetizasse o posicionamento para a

realização de debates. Com efeito, efetuei esta organização na sala de aula para motivar e

dinamizar a interação durante o debate. Eu própria me posicionei num local mais favorável, para

poder observar a prestação de todos os alunos, não só ao nível oral, mas também ao nível da

linguagem não-verbal.

O debate iniciou-se de forma tranquila, com uma breve apresentação por parte dos

moderadores sobre a temática versada. Após a exposição, a primeira intervenção defendia a

educação tradicional. A partir daqui, a interação oral decorreu naturalmente, evidenciando os

argumentos construídos pelos alunos durante a pesquisa.

Todos os alunos participaram na atividade de forma ativa, e mostraram agrado em fazê-

lo, na medida em que demonstraram que haviam feito o trabalho prévio devidamente, o que os

estimulou a defender as suas ideias ao longo do debate. Os argumentos utilizados variavam. A

educação moderna foi defendida com base na importância da educação física e do inglês, como

está referido n’Os Maias. Os alunos transpuseram, aliás, este assunto para os nossos dias, com

base nos seus conhecimentos e experiências contextuais, e ainda nas pesquisas feitas

anteriormente, nas quais puderam estabelecer um termo de comparação entre a sua educação

e a dos seus avós, por exemplo, refletindo sobre as suas vantagens e desvantagens. Defendiam,

assim, que atualmente o acesso ao ensino é sem dúvida mais fácil e variado, e que a variedade

de disciplinas que se pode aprender abre um leque de várias oportunidades aos estudantes. Por

outro lado, os defensores da educação tradicional defendiam que esta era mais consistente, no

sentido de que era mais rígida e que se regia por outros valores. Apesar de estudarem menos

anos, esses anos eram extremamente exigentes. A par da escola, os alunos tinham ainda

obrigações de trabalho, o que lhes incutia sentido de responsabilidade.

Creio, por isso, que a contextualização do tema, feita com o intuito de motivar os alunos,

surtiu os efeitos desejados, uma vez que a atividade resultou de forma positiva, tendo levado

todos os discentes a expor os seus pontos de vista e a pôr em prática o que havíamos

trabalhado sobre o desenvolvimento da competência comunicativa. Comprovou-se, com isto, que

o debate é, indubitavelmente, um exercício oral útil, que possibilita aos alunos um momento de

aprendizagem singular, no que concerne ao desenvolvimento da comunicação oral.

51

No final da intervenção, foi pedido aos alunos que fizessem uma avaliação de todas as

aulas lecionadas, momento adequado à expressão dos aspetos que mais e/ou menos lhes

tinham agradado (Anexo VII e Anexo VIII).

3.3.2. Atividades desenvolvidas na turma de Espanhol

Também aqui a minha intervenção teve, como na disciplina de Português, o objetivo de

trabalhar a comunicação oral, ainda que direcionada para um nível diferente. Nesse sentido,

pretendi explorar a melhor forma de os alunos comunicarem oralmente, para uma melhor

aprendizagem de uma língua estrangeira.

As aulas lecionadas na disciplina de Espanhol tiveram como tema la comida e foi através

dele que se trabalhou a oralidade. Durante as aulas, o objetivo era pôr os alunos em contacto

com vocabulário necessário ao desenvolvimento de todas as atividades. Foram mostrados vídeos

de mercados espanhóis, um deles editado por mim (sobre o Mercado de S. Miguel, em Madrid).

Para a realização de outra atividade, foram distribuídos folhetos de supermercados de

Espanha, através dos quais os alunos puderam estar em contacto com a realidade espanhola

permitiu-lhes observar e aprender o nome de alimentos e os seus preços (Anexo IX). A

aquisição do léxico relativo às lojas ia sendo feita com associação aos vocábulos na língua

materna dos alunos, o Português. De seguida, com esses mesmos folhetos, e a fim de adquirir

de forma mais eficiente o léxico pretendido, os alunos fizeram uma atividade de colagem.

Utilizaram uma folha em branco para cada tipo de loja (por exemplo, padaria, peixaria, talho) e,

em seguida, foi-lhes pedido que colassem os diversos alimentos do folheto na respetiva folha.

Ainda, no mesmo contexto, com os alunos divididos em grupos, foi desenvolvida uma atividade

de expressão e interpretação oral, na qual um aluno pertencente a um grupo tinha de elaborar

uma pergunta sobre determinado alimento, e um outro, de outro grupo, teria de lhe dar a

resposta.

A utilização de ferramentas audiovisuais foi uma das estratégias utilizadas, com o

propósito de estimular a motivação e mesmo a memória dos alunos, para assim consolidarem

mais facilmente os conteúdos e o léxico. Neste sentido, recorreu-se bastante à visualização de

vídeos, não representativos de idas ao mercado, mas também com informações relativas aos

alimentos, nomeadamente as quantidades e os tipos de embalagens dos produtos alimentares.

Na sequência destas visualizações, ia surgindo constantemente interação professor-alunos, a fim

de comentar o que se havia visto nos vídeos. Também a propósito do desenvolvimento de

52

estratégias comunicativas, trabalhou-se com os alunos a construção de diálogos a utilizar nos

diferentes estabelecimentos comerciais, como o mercado, a frutaria ou o restaurante,

procedendo-se, depois, à sua recriação em aula.

Uma das atividades de que os alunos mais gostaram foi a da ida ao mercado (Anexo

X). Recriou-se na sala de aula o próprio mercado, utilizando-se dinheiro e produtos alimentícios.

Pediu-se aos alunos que, após a elaboração de listas de compras e de diferentes ingredientes

constituintes de uma receita, fossem às compras com o intuito de ver se eram capazes de se

expressar (sempre) em Espanhol. Esta foi efetivamente a atividade que mais entusiasmou e

motivou os alunos. Todos participaram e gostaram de o fazer, embora alguns recorressem à

língua materna, sempre que não sabiam ou não se lembravam de determinado vocábulo em

Espanhol. Havia diferentes funções para os discentes, uns representariam os vendedores de loja

e outros os clientes. A atividade culminou com a apresentação em grupo do que cada um havia

comprado, confirmando-se se as suas compras correspondiam aos ingredientes necessários

para a elaboração das receitas.

Como se pode verificar, a intervenção focou predominantemente o trabalho da oralidade

em aula, através de diversos jogos e atividades motivadoras e próximas da realidade.

Considerou-se, também, interessante estabelecer por vezes uma comparação linguística e

cultural entre a língua materna dos alunos e a língua estrangeira, no sentido de os levar a uma

melhor assimilação do léxico. Assim, uma outra atividade desenvolvida foi a descrição, em

trabalho de pares, de um prato típico português, recorrendo ao léxico espanhol previamente

adquirido. Sem dizer o nome do prato, os alunos deveriam enumerar os diferentes ingredientes

constituintes do prato, a fim de que os restantes alunos adivinhassem de que exemplar se

tratava.

Os alunos tiveram inclusivamente contacto com a constituição de um menu que se

utiliza em Espanha, o que revelou preocupação por incluir na intervenção não só elementos

linguísticos, mas também culturais, fator fundamental na aquisição-aprendizagem de uma língua

estrangeira (Merino e Cassany, 2013).

Por fim, para não descurar a importância de aspetos paraverbais no ato comunicativo,

trabalhou-se com os alunos a articulação gestual e o seu papel na comunicação. Criou-se uma

atividade em que foi mostrado um vídeo, que tinha como cenário um café, e onde as

personagens ao longo do diálogo iam fazendo gestos, gestos esses que substituíam

53

determinadas expressões ou palavras, por exemplo, para efetuar o pagamento utilizava-se o

gesto de raspar o dedo indicador no polegar.

Seguidamente, a professora pedia à turma que refletissem sobre outros gestos que

eventualmente utilizassem no seu dia-a-dia, mesmo sem se aperceberem, foram levados a

refletir sobre as diferentes interpretações que um simples gesto pode sugerir.

Em suma, em todas as aulas foi promovido o método comunicativo, tendo por base o

enfoque por tarefas. As atividades refletiam a realidade o mais possível e todas elas tinham um

objetivo, o de avaliar a comunicação oral, que ocorreu numa terceira fase.

No final da intervenção foi pedido aos discentes que respondessem a um questionário

sobre as aulas lecionadas durante a intervenção (Anexo XI).

3.4. Avaliação da Intervenção

Quis realmente que todos os fatores intervenientes fossem propícios ao desenvolvimento

de um bom relacionamento interpessoal na sala de aula, e que, portanto, a minha investigação

respondesse aos objetivos traçados, nos quais se focou o meu Plano de Intervenção.

Inicialmente, havía traçado como objetivos: (1) verificar quais são as competências que

os alunos possuem e utilizam na comunicação oral; (2) diagnosticar as dificuldades dos alunos

na argumentação oral; (3) fazer com que os alunos se apercebam dessas mesmas dificuldades

na argumentação oral; (4) desenvolver estratégias que facilitem a autonomia e o bom uso da

comunicação oral por parte dos alunos; (5) avaliar o impacto do projeto de intervenção no

desenvolvimento das competências da comunicação oral.

O primeiro e o segundo objetivos foram definidos para uma fase inicial da intervenção,

na qual se pôde discernir as principais lacunas das turmas visadas no que concerne à

comunicação oral, no sentido de se delinear, com antecedência, um conjunto de atividades que

colmatasse essas mesmas lacunas. Conseguiu-se, efetivamente, dar resposta a este objetivo na

fase de diagnóstico, em que houve um primeiro contacto com os alunos e a identificação das

suas maiores dificuldades.

O terceiro objetivo foi alcançado através das próprias atividades desenvolvidas na sala de

aula, que incitavam a comunicação oral, e que, portanto, levavam os alunos a refletir de forma

consciente e significativa na sua prestação e na dos colegas, levando-os a ter noção das suas

limitações e do que realmente necessitava ser mais trabalhado.

54

O desenvolvimento de estratégias potenciadoras de autonomia, que constitui o quarto

objetivo, esteve patente em toda a intervenção, ao estimular-se o bom uso da comunicação oral

em diferentes contextos situacionais, através de tarefas diversificadas, que se pretendia que

suscitassem uma maior atenção por parte dos intervenientes, para assim alcançar os resultados

almejados. Foi, efetivamente, o que acabou por ocorrer com ambas as turmas, por exemplo com

atividades como o debate e a recriação do mercado na sala de aula.

Finalmente, o quinto objetivo corresponde à fase final da intervenção, a fase avaliativa, à

qual cabe analisar se houve realmente desenvolvimento no desempenho dos alunos com o

auxílio da intervenção. É justamente nesta secção que será examinada essa evolução, fazendo-se

inclusivamente um balanço das atividades realizadas, com o intuito de apurar se as estratégias

pedagógicas utilizadas atingiram o pretendido objetivo, se houve ou não melhorias, se foram

eficazes e se, consequentemente, permitiram um melhor desempenho dos alunos. Estabelece-

se, por isso, uma comparação do desempenho dos alunos desde o momento inicial em que

tomaram contacto com este projeto, até ao momento final.

Durante todo o ano letivo em que desenvolvi o meu processo de formação, procurei

adquirir o máximo de conhecimentos possível e aprender a aplicá-los, para que o meu

desempenho fosse o melhor. Defini e reformulei estratégias, tive em atenção todo o processo de

aprendizagem desenvolvido na sala de aula, e estimulei os alunos a uma maior participação nas

atividades letivas.

As duas próximas secções são, por isso, dedicadas à avaliação da intervenção, uma

delas destinada à disciplina de Português, e outra à disciplina de Espanhol.

3.4.1. Avaliação da turma de Português

Como referi anteriormente, as aulas de Português foram todas lecionadas tendo em

conta o programa da disciplina, ou seja, baseei o meu projeto à abordagem de uma obra – Os

Maias, de Eça de Queirós. Isso não constituiu, no entanto, um obstáculo ao meu processo de

intervenção.

Na análise dos excertos da obra foram realizadas atividades direcionadas para o

desenvolvimento da comunicação oral. Tentei desenvolver atividades motivadoras, transpondo

muitas vezes as situações presentes na obra para a realidade dos nossos dias. Sempre que era

possível fazer esta ponte, os alunos ficavam mais interventivos, mais motivados e participavam

de forma espontânea.

55

O debate realizado como atividade final foi algo do agrado dos discentes que acabou por

resultar bem, pois além de se trabalhar as temáticas visadas n’Os Maias, levando os alunos a

fazer uma pesquisa autónoma, fê-los também desenvolver, consciente ou inconscientemente, a

competência oral, que era, na verdade, o pretendido.

Quando o tema do debate foi anunciado, foi notório que nem todos os alunos se

mostraram motivados e com vontade de participar. A fim de contornar este imprevisto, pedi-lhes

que transpusessem essa temática para uma realidade mais próxima. Assim, o grupo de

discentes que defendia a educação tradicional abordaria também a educação patente na

ditadura salazarista (anterior ao 25 de abril), e os alunos que defendiam a educação moderna,

usariam o seu próprio exemplo atual para debaterem.

Ao fazer esta ligação, os alunos mostraram-se mais empenhados e motivados. Mesmo

ao nível da pesquisa houve melhorias, pois alguns alunos foram entrevistar os avós, a fim de

terem um contacto mais direto com a educação presente no período do Estado Novo. A meu ver,

este foi também um ponto positivo do debate, pois os discentes, além de conhecerem as

diferenças entre os tipos de educação patentes n’Os Maias, tomaram conhecimento de uma

realidade tão próxima e simultaneamente tão afastada deles.

Ao longo do debate, foi possível verificar que todos os discentes conheciam bem os prós

e os contras dos dois tipos de educação debatidos. Como foi já mencionado, os oponentes da

educação moderna corroboravam a ideia de que a educação era outrora mais consistente e com

regras mais restritas, ao passo que os defensores da educação moderna consideraram ser

benéfico um acesso mais fácil à educação, que não havia no tempo dos seus ascendentes.

Assim, dado o empenho da turma e a utilização de argumentos válidos, faço um balanço

muito positivo desta atividade final, pois além de verificar que os alunos gostaram de a realizar,

foi-me possível avaliar de forma positiva a intervenção de toda a turma. Aliás, no próprio

questionário entregue no final para recolher as suas opiniões quanto às atividades e quanto à

minha intervenção, todos os alunos salientaram que a atividade preferida havia sido o debate,

pois, na opinião dos alunos, foi possível adquirir conhecimentos e habilidades até então pouco

trabalhados.

Como primeira avaliação oral, foi utilizada a avaliação oral realizada pela docente da

turma, que inclusive integrava a avaliação final da disciplina. Na avaliação foi pedido aos

discentes para apresentarem um livro, escolhido de uma lista cedida pela professora. Nessa

56

apresentação teria de constar toda a história, personagens e no final o alunos teria de fazer

também uma apreciação sobre o que havia lido.

Para me auxiliar na observação desta avaliação e para melhor poder avaliar a

intervenção de cada discente, elaborei uma grelha (Anexo II), a partir da qual é possível fazer

uma leitura dos dados obtidos nesta intervenção:

Tabela 1: Média de resultados da 1ª atividade oral de Português.

As médias dos resultados obtidos foram calculadas com base em diversas tabelas de

avaliação oral construídas pelo GAVE. Os resultados demonstram a predominância do nível 2,

que equivale a uma avaliação satisfatória, pois significa que os alunos eram capazes de utilizar

determinadas estruturas e competências, mas de forma limitada.

Depois de detetar as principais dificuldades apresentadas pelos discentes, procurei

promover o uso da comunicação oral nas minhas aulas, para o que contribuiu bastante a

realização do debate, que foi pensado com o intuito de constituir a avaliação oral final, a fim de

detetar a evolução dos alunos.

Na tabela seguinte, podemos observar os resultados da avaliação do debate:

TABELA DE RESULTADOS

Org

aniz

ação

do

disc

urso

Construção frásica 2,29

Organização de ideias 2,25

Respeito pela temática 3

Uso de vocabulário adequado e variado 1,89

Coerência 2,25

Coesão 2,25

Aspe

tos

para

lingu

ístic

os

Dicção 2,29

Entoação 2,29

Ritmo 2,39

Linguagem não-verbal (expressividade) 2,5

Legenda dos níveis: 1 – Não satisfaz; 2 – Satisfaz; 3 - Satisfaz mais; 4 – Satisfaz Bastante; 5 –

Excelente.

57

Tabela 2: Média de resultados da 2ª atividade oral de Português

TABELA DE RESULTADOS O

rgan

izaç

ão d

o di

scur

so

Construção frásica 3,14

Organização de ideias 2,71

Respeito pela temática 3,82

Uso de vocabulário adequado e variado 2,54

Coerência 2,36

Coesão 2,25

Aspe

tos

para

lingu

ístic

os

Dicção 2,61

Entoação 2,57

Ritmo 3,11

Linguagem não-verbal (expressividade) 3,11

Legenda dos níveis: 1 – Não satisfaz; 2 – Satisfaz; 3 - Satisfaz mais; 4 – Satisfaz Bastante; 5 –

Excelente.

Nesta segunda tabela, é possível verificar novos dados avaliativos da intervenção, na

qual, em comparação com os resultados da primeira avaliação, podemos ver a alguma evolução

dos alunos. No que diz respeito aos aspetos paralinguísticos, houve uma melhora significativa,

motivada, talvez, pelo interesse e entusiasmo dos alunos no debate que, como referi, eram

notórios.

Na organização do discurso, os discentes também tiveram melhorias, nomeadamente no

Respeito pela temática, o que se deve possivelmente às pesquisas prévias, à abordagem da obra

em aula, e ainda à vontade dos alunos em partilhar a sua opinião e expor o seu ponto de vista.

O gráfico que apresento de seguida contém os dados da evolução dos alunos, da

primeira avaliação para a segunda.

58

Pode verificar-se que os alunos tiveram melhorias a todos os níveis, mas os que mais se

destacam são o Respeito pela temática, a Entoação e a Linguagem não-verbal. Tal facto poderá

dever-se à preparação que os discentes tiveram para o debate.

A aula posterior ao debate foi destinada à reflexão sobre o modo como este decorreu,

com base em ideias de Trindade et alii (2011, p. 248), tendo-se apurado os aspetos que não

funcionaram da melhor forma, nomeadamente a participação pouco equitativa entre os alunos,

uma vez que alguns acabaram por intervir menos do que outros. Além disso, verificou-se que

alguns alunos, ao longo da sua intervenção, divagavam e acabavam por afastar-se do tema em

questão, tendo os moderadores que interromper, e alertar esses intervenientes para o cerne do

tema a ser tratado. Ainda assim, a dificuldade predominante em ambos os grupos consistiu na

seleção da informação relevante a ser debatida, e da respetiva distinção face às informações

secundárias. Todos estes fatores foram mencionados na reflexão pós-debate, a fim de melhorar

uma futura intervenção.

3.4.2. Avaliação da turma de Espanhol

Durante a planificação geral das minhas aulas tive também o objetivo de propor

atividades que não só estivessem sequencialmente interligadas entre si, mas também que

desenvolvessem a autonomia dos alunos, nas quais era expectável que os alunos alcançassem

metas relativas aos conteúdos lecionados, sem que estes lhes fossem ensinados de forma

explícita e direta.

Gráfico 5: Avaliação de diferentes componentes da oralidade pelos alunos de Português

59

O questionário inicial que elaborei (Anexo III) permitiu-me averiguar quais as

dificuldades e os interesses dos discentes. Vimos que a língua espanhola é mais utilizada na sala

de aula quando a professora solicita a participação dos discentes. O medo de dar erros e a

timidez estão entre as principais causas que dificultam ou inibem a participação oral dos alunos.

Em geral, verificamos que os alunos dizem não sentir dificuldades quanto à compreensão oral,

têm problemas na exposição oral. Durante a minha intervenção, fiz com que os alunos

perdessem esse medo de falar pela dúvida relativa à coerência dos seus enunciados. Quis

demonstrar-lhes que não se deviam preocupar em demasia com isso, mas sim intervir sempre

que tivessem dúvidas ou que achassem oportuno.

O questionário ajudou-me na escolha de atividades, tendo sido mais fácil para mim

decidir que iria recorrer a vídeos, diálogos, jogos e tarefas mais lúdicas, não só para cativar a

turma, mas também para que alcançassem mais facilmente melhorias na comunicação oral. A

tabela seguinte mostra os resultados obtidos nesta primeira avaliação oral:

Tabela 3: Média de resultados da 1ª atividade oral de Espanhol

TABELA DE RESULTADOS

Org

aniz

ação

do

disc

urso

Construção frásica 1,75

Organização de ideias 1,86

Respeito pela temática 3,86

Uso de vocabulário adequado e variado 1,96

Coerência 1,93

Coesão 1,96

Aspe

tos

para

lingu

ístic

os

Dicção 2,54

Entoação 2,64

Ritmo 2,21

Linguagem não-verbal (expressividade) 2,93

Legenda dos níveis: 1 – Não satisfaz; 2 – Satisfaz; 3 - Satisfaz mais; 4 – Satisfaz Bastante; 5 –

Excelente.

Nas aulas de Espanhol, foi minha intenção promover o uso da língua tendo como objeto

de estudo o contexto real, desenvolvendo atividades que ensinassem aos alunos estratégias de

60

comunicação fundamentais para o futuro. Procurou-se, por isso, criar atividades e estratégias

que pusessem os alunos em contacto com a língua e a cultura espanholas.

As aulas foram motivadoras e dinâmicas, pois foram delineadas várias atividades

“práticas”, em que eram simulados contextos reais. Os recursos aí utilizados foram uma mais-

valia para captar a atenção e despertar o interesse dos alunos. Por exemplo, na atividade em

que lhes dei um folheto de um supermercado, os alunos aderiram com muito entusiasmo, pois

puderam estar em contacto com a realidade espanhola. Lembro-me que viram todo o folheto

com muita atenção, repararam nos nomes dos produtos, nos preços e até os compararam com

a realidade do nosso país (Anexo IX). Uma outra atividade bastante positiva e produtiva foi

quando propus aos alunos uma ida às compras, em que recriei um mercado na sala de aula.

Os recursos audiovisuais também foram um ponto de interesse para os discentes.

Quando, por exemplo, mostrei um vídeo em que apresentava um mercado tradicional espanhol,

eles revelaram-se interessados, uma vez que, além de ser um fator cultural distinto da sua

própria realidade, estava a ser abordado com recurso às tecnológias, que esta geração muito

aprecia.

Em todas as aulas, promovi a participação de todos os discentes, de modo a fazer com

que estes se sentissem interessados e que demonstrassem ter iniciativa em participar, sem que

fosse, por isso, necessário incitá-los. Para tal, recorri ao uso de materiais atuais. Foram usadas

várias estratégias para promover o processo de aprendizagem. Planeei atividades de grupos, de

pares e individuais, a fim de ter tarefas de cariz variado, sem tornar as aulas monótonas.

Como atividade final de avaliação oral, propus que os alunos pusessem em prática a

oralidade numa situação próxima do real, através da recriação de uma situação quotidiana.

Segundo Fernández (2001, p. 19), “os alunos, na aula, devem realizar tarefas significativas,

como as que se realizam na vida quotidiana, que os levem a adquirir os elementos linguísticos

necessários à sua execução”.

Estrategicamente, cada aluno tinha de desempenhar um papel para poder participar

oralmente, sendo que a alguns alunos coube o papel de se “vestirem” de vendedores, e os

restantes de clientes. A fim de garantir que todos tinham um papel ativo, esta atividade foi

desenvolvida em aulas de turnos.

Foi sem dúvida uma atividade do agrado dos alunos, pois sentiram-se motivados devido

à semelhança da situação criada com realidade.

61

Na tabela seguinte, é possível observar os resultados da avaliação feita aos discentes no

momento da tarefa final:

Tabela 4: Média de resultados da 2ª atividade oral de Espanhol

TABELA DE RESULTADOS

Org

aniz

ação

do

disc

urso

Construção frásica 2

Organização de ideias 2,14

Respeito pela temática 4,64

Uso de vocabulário adequado e variado 2,61

Coerência 2,04

Coesão 2,25

Aspe

tos

para

lingu

ístic

os

Dicção 2,64

Entoação 3,68

Ritmo 2,75

Linguagem não-verbal (expressividade) 4,11

Legenda dos níveis: 1 – Não satisfaz; 2 – Satisfaz; 3 - Satisfaz mais; 4 – Satisfaz Bastante; 5 –

Excelente.

Após a análise das duas avaliações orais pude efetuar a comparação dos resultados

obtidos, para isso concebi um gráfico a fim de visualizar melhor as evoluções.

.

Gráfico 6: Avaliação das diferentes componentes da oralidade pelos alunos de Espanhol

62

Através do gráfico, pode verificar-se que houve uma melhoria na segunda atividade de

avaliação oral, efetuada depois da minha intervenção.

Tendo por base o meu Plano de Intervenção e os objetivos que me propus atingir,

promovi, em toda a intervenção pedagógica, a interação oral, fosse através de diálogos fosse na

reprodução de situações reais.

No final das minhas aulas, distribuí um questionário de avaliação da minha intervenção

e do meu desempenho, através do qual tomei conhecimento dos resultados obtidos. Daí se pôde

concluir que, face ao exposto, a implementação da dinâmica de trabalho foi alcançada,

porquanto os alunos perceberam o seu objetivo, registando efetivas melhorias.

O próximo e último capítulo é dirigido às considerações finais, onde descrevo o que

aprendi com todo este processo, assim como os resultados obtidos pelos intervenientes. São

essencialmente descritos os aspetos nos quais as turmas intervenientes registaram maior

evolução, atestando a conveniência deste projeto e os respetivos benefícios. Numa perspetiva

um pouco mais ténue, explico o que aprendi pessoalmente com este relatório e com todo o

trabalho a ele adjacente, que constituiu indubitavelmente uma experiência gratificante e

marcante para mim, enquanto professora de línguas.

63

CAPÍTULO IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

64

65

CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

4. Considerações finais

Ao iniciar o meu estágio, lembro-me de sentir um conjunto de emoções. Estava um

pouco ansiosa e, ao mesmo tempo, sentia uma motivação, um desejo de começar a trabalhar e

de ter, finalmente, contacto com a realidade profissional.

Foi, sem dúvida, um período de muito trabalho e esforço, mas, ao mesmo tempo,

gratificante e motivador. Sem esquecer todas as dificuldades sentidas, acredito que foi um

processo enriquecedor a nível pessoal, e principalmente a nível profissional. Ao longo de todo

este processo de aprendizagem, adquiri conhecimentos, que me serão úteis para toda a minha

vida enquanto professora. Creio que não descurarei, por exemplo, o contexto educativo dos

alunos, nomeadamente o seu percurso, para assim lhe poder dar continuidade. Por esse motivo,

creio que a palavra-chave deste ano de estágio foi, sem dúvida, aprendizagem. Pude, na

realidade, observar e sobretudo sentir o que é ser professor, com todas as implicações que isso

acarreta.

O projeto que me propus desenvolver tinha por base a comunicação oral. A escolha do

meu tema deveu-se à importância que esta tem no desenvolvimento e na aquisição de qualquer

língua. O título O Uso das Palavras, foi metafórica e propositadamente escolhido para salientar a

importância das palavras no seu contexto de uso. Foi com este ponto de vista de que a oralidade

deve ser mais desenvolvida na sala de aula, e na sequência de um visível esquecimento dos

alunos nesta competência, que desenvolvi a intervenção.

O meu papel passou, essencialmente, pelo desenvolvimento de aulas motivadoras e

acima de tudo produtivas para os alunos, sem nunca esquecer o projeto que me propus

desenvolver.

O diagnóstico foi o ponto de partida para o desenvolvimento deste projeto: através dele

procurei sempre atingir as metas a que me tinha proposto alcançar, mesmo que, no decorrer do

meu percurso, tenham surgido alguns imprevistos. Tive a preocupação de adaptar o projeto aos

conteúdos programáticos a serem lecionados. Não podemos simplesmente esquecer que há um

programa nacional, que é, no fundo, o documento regulador das práticas letivas, pelo que eu

procurei adaptar as minhas atividades a esse programa, para que os alunos não saíssem

prejudicados. Esta foi uma das maiores dificuldades sentidas na turma de Português, pois as

aulas tinham de ser planeadas e lecionadas de acordo com os conteúdos programáticos, neste

caso Os Maias. Neste sentido, planear as aulas direcionadas para a oralidade tornou-se mais

66

difícil, o que me levou a ir alterar as estratégias inicialmente pensadas, nomeadamente criar

atividades em que fosse possível trabalhar em conjunto a oralidade e Os Maias.

Com efeito, verifica-se que a minha intervenção colheu frutos, uma vez que, da fase de

diagnóstico para a fase de avaliação, foram registados níveis de evolução positivos por parte dos

alunos, quer na turma de Português, quer na turma de Espanhol. Ao analisar as grelhas da

primeira e da segunda avaliações, verificamos que, no caso da turma de Português, o ritmo é o

aspeto da articulação com registo de uma melhor percentagem, ao passo que, no caso dos

aspetos paralinguísticos, o respeito pela temática e a linguagem não-verbal são os aspetos mais

positivos.

No caso da turma de Espanhol, é visível uma evolução mais notória no respeito pela

temática e linguagem não-verbal. No entanto, comparativamente com as médias dos alunos de

Português, progrediram mais no uso de vocabulário adequado e variado, e na entoação, o que

pode ser explicado pelo facto de ser uma língua estrangeira, que os alunos ainda não dominam.

Na turma de Português, foi notável o interesse dos alunos em aprender a desenvolver a

comunicação oral, e ao contrário do que pensavam até então, verificaram que é possível

desenvolver, aprender e melhorar a comunicação oral.

Na turma de Espanhol, a maior dificuldade foi incentivar os alunos a utilizarem a língua

estrangeira, em vez da língua materna. Sempre que surgiam dúvidas, ou em conversas entre si

ao trabalharem em grupo, recorriam à língua materna. Foi um aspeto que pretendi melhorar e

trabalhar com os discentes, pois era meu intuito fazê-los perceber que a língua estrangeira

deveria ser utilizada como a língua materna, que deveriam utilizá-la sempre, até porque através

da prática oral iam melhorando a sua aprendizagem.

De uma forma geral, sabendo que os alunos não estavam habituados a explorar a

subcompetência oral de forma explícita nas aulas, através de atividades como aquelas que lhes

foram propostas, os resultados poderiam desde logo não ser tão positivos. Aqui residia

particularmente o caráter desafiante desta exploração. Ainda assim, felizmente, houve uma

evolução significativa em ambas as turmas, o que revela a utilidade desta intervenção.

Apesar de delinear, desde o início, as planificações das aulas, aprendi especialmente

que, enquanto futura professora, não serei eu a ditar o desenrolar das aulas, mas sim os alunos,

pois por muito que a planificação inicial possa estar bem desenvolvida, a verdade é que são os

alunos que ditam o decurso das aulas e das atividades, consoante o seu ritmo de trabalho, para

o qual nos devemos mostrar flexíveis.

67

Concluindo, este ano de estágio foi o ponto de partida para uma longa jornada de

aprendizagem e de aquisição de conhecimentos. Esta intervenção mostrou-me a

responsabilidade de ser professor, pessoa que tem em mãos a educação das gerações futuras,

devendo, portanto, prepará-las para todo o tipo de contextos. É também aí que reside a

importância da preparação e do desenvolvimento da comunicação oral, porque qualquer

profissão, seja advogado, médico ou funcionário num serviço de atendimento ao público, exige

destreza na interação oral.

Aprendi sobretudo que um profissional do ensino tem de dar de si, pessoal e

profissionalmente, o melhor, sem dissociar as duas vertentes. As funções de um professor, além

de exigirem múltiplos saberes e competências, ultrapassam a essência profissional, para exigir a

essência humana, e as suas relações, emoções e empatias com a restante comunidade,

nomeadamente os seus alunos. Foi assim que comprovei que a profissão docente tem papel

ativo na construção da sociedade. Um professor de línguas vê todos estes traços reforçados,

porque tem o papel de fazer desenvolver as capacidades mais elementares dos alunos, sendo

esses ensinamentos que os acompanharão sempre.

Acredito, por isso mesmo, que devemos apostar numa formação contínua, que não nos

podemos acomodar, que nos devemos adequar às necessidades da sociedade. Só assim

podemos despertar a motivação, quer nos alunos quer em nós próprios enquanto docentes.

68

69

5. Referências Bibliográficas

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Lisboa Editores.

73

ANEXOS

74

75

Anexo I - Registo de observação de aulas

Registo de observação de aulas

Disciplina: _________________

Professora: _________________

1. Organização da sala de aula

1

2

3

4

5

O decorrer da aula é prejudicado pelo barulho?

Há fatores externos que interrompem o normal

decorrer da aula?

Os alunos sentam-se na sala adequadamente?

Mestrado em Ensino de Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e

Ensino Secundário e de Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário

Ano letivo de 2013/2014

Data: _______________

Duração: ____________

Sumário:______________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____________________________________________________________

76

A turma tem um ambiente agradável, propício ao

bom desenvolvimento da aula?

2. Interação na sala de aula

1

2

3

4

5

A professora capta a atenção dos alunos?

A professora promove a participação de todos os

alunos?

Dá oportunidade a todos os alunos de

participarem?

A participação é feita de forma orientada?

Há conversas paralelas entre os alunos (sem

interesse para a aula)?

A professora dirige as perguntas a um aluno

específico?

3. Discurso do professor

1

2

3

4

5

Começa a aula a horas e de forma organizada?

Observações:________________________________________________________

___________________________________________________________________

Observações:___________________________________________________________

______________________________________________________________________

77

Fala de uma forma expressiva?

Movimenta-se pela sala?

Fala de forma clara e esclarecedora?

Estimula a participação dos alunos?

Utiliza recursos variados (como as TIC)?

Faz perguntas de resposta aberta?

Faz perguntas de resposta fechada?

Mostra interesse sempre que um aluno fala do

tema abordado na aula?

Dá tempo suficiente para os alunos refletirem

sempre que são abordados?

4. Discurso do aluno

1

2

3

4

5

Os alunos participam na aula por iniciativa

própria?

Os alunos mostram-se interessados pela aula?

As questões colocadas pelos alunos são

pertinentes?

As respostas dos alunos são estruturadas?

Observações:________________________________________________________

______

78

Os alunos participam voluntariamente nas aulas?

Os alunos participam quando solicitados ?

5. Relação entre os alunos

1

2

3

4

5

O professor trata todos os alunos de igual forma?

Os alunos respeitam-se entre si?

Sempre que surgem dúvidas os alunos pedem

ajuda ao professor?

Os alunos quando têm dúvidas pedem ajuda a um

colega?

6. Clima na sala de aula

1

2

3

4

5

O professor trata o aluno pelo próprio nome?

O professor ouve atentamente os alunos?

O professor inferioriza os alunos?

Observações:________________________________________________________

___________________________________________________________

Observações:________________________________________________________

___________________________________________________________________

_

79

O professor estimula a interação entre os

alunos?

O professor é capaz de lidar com os prolemas de

indisciplina?

7. Atividades educativas

1

2

3

4

5

O professor faz a ligação adequada entre as

atividades?

O professor estabelece uma relação entre as

aulas?

As explicações são claras?

O professor verifica se os alunos estão a

perceber o conteúdo da aula?

Adaptado de Reis (2011), pp.26-48.

Observações:________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________

Observações:________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

80

81

Anexo II - Grelha de avaliação oral

Organização do discurso Aspetos para linguísticos

Con

stru

ção

frás

ica

O

rgan

izaç

ão d

e

idei

as

Res

peito

pel

a

tem

átic

a

Usa

um

voca

bulá

rio

adeq

uado

e

varia

do

Coe

rênc

ia

Coe

são

Dic

ção

Ento

ação

Ritm

o

Ling

uage

m

não-

verb

al

(exp

ress

ivid

ade)

Aluno 1

Aluno 2

Aluno 3

Aluno 4

Aluno 5

Aluno 6

Aluno 7

Aluno 8

Aluno 9

Aluno 10

Aluno 11

Aluno 12

Aluno 13

Aluno 14

Aluno 15

Aluno 16

Aluno 17

Aluno 18

Aluno 19

Aluno 20

Aluno 21

Aluno 22

Aluno 23

Aluno 24

Aluno 25

Aluno 26

Aluno 27

Aluno 28

Disciplina:________________

_______________________

_

Data:_________________

__

Legenda: NS (Não satisfaz) S (Satisfaz) S+ (Satisfaz mais) SB (Satisfaz bastante) E (Excelente)

Notas:______________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

82

83

Anexo III - Questionário inicial de Espanhol

Lê, atentamente, cada pergunta antes de responderes.

Assinala com uma cruz (x) as opções que correspondem à tua opinião. Sendo que 1

corresponde a (nunca), 2 (às vezes), 3 (frequentemente), 4 (sempre).

PARTE I – Âmbito pessoal

1. Das seguintes características assinala as que melhor te caracterizam:

1 2 3 4

a) Atento.

b) Ativo.

c) Distraído.

d) Passivo.

e) Sociável.

f) Solitário.

g) Organizado.

h) Desorganizado.

i) Confiante

j) Inseguro

Este questionário insere-se no âmbito do Projeto de Intervenção do Mestrado em Ensino de

Português no 3º ciclo do ensino básico e secundário e do Espanhol nos ensinos básico e secundário.

As respostas dadas são confidenciais e destinam-se exclusivamente à realização de uma

prática pedagógica.

Os seus objetivos são conhecer as motivações dos alunos relativamente à disciplina de

Espanhol e diagnosticar as suas dificuldades relativamente às várias competências. Deste modo, é

extremamente importante que respondas de forma clara e direta às seguintes questões.

84

2. Como gostas de aprender?

1 2 3 4

a) A ler (jornais, revistas, banda desenhada, etc.).

b) A escrever (diários, mensagens, cartas, etc.).

c) A conversar (colegas, professores, adultos, etc.).

d) A ouvir (música, rádio, etc.).

e) A ver (filmes, vídeos, notícias, etc.).

f) Jogar no computador/ navegar na internet.

3. Quais os principais fatores internos que condicionam o teu sucesso escolar?

1 2 3 4

a) Falta de hábitos e métodos de estudo.

b) Falta de atenção/concentração nas atividades letivas.

c) Interesses divergentes dos escolares (desmotivação, abandono

escolar).

d) Inibição para a exposição de dúvidas.

e) Indisciplina na sala de aula.

4. Quais os principais fatores externos que condicionam o teu sucesso escolar?

1 2 3 4

a) Problemas familiares.

b) Problemas económicos.

c) Falta de espaço ou ausência total do mesmo para estudar em

casa.

d) Ter que trabalhar em part-time para ajudar no orçamento

familiar.

e) Desinteresse dos pais em relação aos estudos dos seus filhos.

f) Indisciplina na sala de aula.

5. Em qual das áreas de aprendizagem de uma língua sentes mais dificuldade?

85

1 2 3 4

a) Expressão oral.

b) Compreensão oral e audiovisual.

c) Expressão escrita.

d) Compreensão escrita.

e) Gramática.

f) Vocabulário.

6. Que forma de trabalho consideras mais eficaz para aprender?

1 2 3 4

a) Trabalho individual.

b) Trabalho de pares.

c) Trabalho de grupo.

d) Maior interação professor-aluno.

e) Pesquisas fora da sala de aula.

f) Participação em atividades extracurriculares.

PARTE II – Preferências e expetativas

1. Qual a tua motivação para aprender Espanhol?

1 2 3 4

a) Porque acho fácil.

b) Porque gosto de aprender outras línguas.

c) Porque não me agradam as outras opções existentes.

d) Porque passo férias em Espanha.

e) Porque quero conhecer melhor a cultura espanhola.

f) Porque é uma língua em desenvolvimento e importante para o

meu futuro.

g) Porque foi a opção escolhida pelos meus amigos.

2. Nas aulas de Espanhol gostas de:

86

1 2 3 4

a) Aprender léxico novo.

b) Comunicar com os colegas.

c) Realizar jogos.

d) Realizar atividades relacionadas com a tua experiência,

com a atualidade, etc…

e) Ler e analisar textos.

f) Fazer exercícios de gramática.

g) Realizar atividades de compreensão auditiva (programas de

rádio, música, podcast, etc,...)

PARTE III – Conhecer os hábitos e preferências dos alunos no que respeita à

gramática, escrita, oralidade e léxico.

1. Escrita?

1 2 3 4

Gostas de escrever?

2. Quando sinto dificuldades na expressão escrita (quando não sei, por

exemplo, como se escreve uma palavra, ou não sei a conjugação ou um

conetor)

1 2 3 4

a) Peço ajuda à professora.

b) Peço ajuda a um colega.

c) Consulto o dicionário/gramática/internet.

d) Uso a língua materna.

e) Adapto a palavra portuguesa ao espanhol.

3. Neste momento, na aula de Espanhol sou capaz de:

1 2 3 4

87

a) Escrever uma série de expressões e frases simples ligadas por

conetores (e, mas, porque).

b) Redigir textos coesos e simples acerca de temas familiares.

c) Descrever-me a mim e o mundo que me rodeia.

d) Redigir várias tipologias textuais (notas, postais, emails anúncios,

receitas, textos simples …).

4. Quais são as tuas principais dificuldades na escrita?

1 2 3 4

a) Dou erros ortográficos.

b) Tenho dificuldades em expressar-me por escrito.

c) Tenho algumas dúvidas sobre como se escreve, pois costumo

escrever abreviado por causa das sms.

d) Tenho problemas na estruturação das frases.

e) Desconhecimento da gramática (conjugação de verbos, uso das

conjunções e locuções).

f) Falta de vocabulário.

5. Gramática?

1 2 3 4

Gostas de Gramática?

5.1 Quais as tuas dificuldades para aprender gramática?

1 2 3 4

a) Não consigo perceber.

b) Nunca percebi e agora não me interessa.

c) Não consigo reconhecer a sua utilidade, logo não me parece

importante estuda-la.

d) O professor não explica da melhor forma.

e) Os exemplos utilizados pelo professor não são explícitos.

f) A base da gramática é decorar e não gosto de faze-lo.

88

6. Que importância atribuis à Gramática?

1 2 3 4

a) A gramática é importante para comunicar através da oralidade e

escrita.

b) Penso que podemos viver em sociedade sem saber gramática.

c) É muito importante pois permite dominar uma língua.

7. Utilizas a Língua Espanhola na aula:

1 2 3 4

a) Quando a professora solicita.

b) Por iniciativa própria, em atividades conduzidas pela

professora.

c) Por iniciativa própria, em atividades com colegas (com a

turma toda, um grupo pequeno, em pares…).

d) Quando tens dúvidas, perguntas aos professores e colega.

8. Dos vários fatores apresentados quais são os que mais dificultam a tua

participação oral nas aulas:

1 2 3 4

a) Falta de treino da oralidade.

b) Falta de ideias.

c) Receio de ser avaliado.

d) Falta de vocabulário.

e) Dificuldades em compreender a professora.

f) Dificuldade em construir frases.

g) Dificuldades de pronúncia.

h) Timidez, pois não me sinto confortável com os meus

colegas.

i) Falta de oportunidade para falar.

j) Medo de dar erros (gosto de ter a certeza do que vou dizer).

k) Dificuldades em compreender as atividades.

89

l) Falta de interesse pelos temas.

m) Dicção.

n) Gramática.

o) Fluidez.

p) Argumentação.

9. Assinala com uma cruz (x) a resposta que corresponde à tua opinião.

1 2 3 4

a) Achas que praticas a expressão oral nas aulas de Espanhol?

b) Achas que falar Espanhol na aula te ajuda a aprender?

c) Gostas de falar em público?

d) Sentes-te confortável ao falar espanhol?

10. Tens dificuldades em entender espanhol em que situações?

1 2 3 4

a) Emissões de radio.

b) Diálogos entre espanhóis nativos.

c) Programas de televisão.

d) Filmes.

e) Canções.

f) Entrevistas.

11. Que atividades consideras mais produtivas e motivadoras para trabalhar a

oralidade e o léxico na aula de Espanhol?

1 2 3 4

a) Canções.

b) Jogos (palavras cruzadas / sopa de letras).

c) Diálogos.

d) Exercícios de matching.

e) Completar espaços.

g) Role play.

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h) Audição de gravações.

i) Visualização de vídeos.

j) Leitura de textos.

k) Teatro.

12. Que estratégias utilizam para aprender o léxico?

1 2 3 4

a) Memorizar.

b) Ouvir e repetir.

c) Ouvir várias vezes.

d) Escrever em lista.

e) Associar uma imagem ao nome.

f) Relacionar a nova palavra com a língua materna.

Muito obrigada pela tua colaboração!

Daniela Viana

Liliana Rodrigues

Manuel Pereira

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Anexo IV - Educação n’Os Maias. Material utilizado em aula.

Educação n’Os Maias

A educação tradicional portuguesa

(tradicionalista, católica e conservadora)

Valoriza:

A memorização;

A cartilha;

A “moral do catolicismo”;

A devoção religiosa com a conceção punitiva do castigo;

O estudo do Latim, considerada uma língua morta.

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Desvaloriza:

A fuga ao ar livre;

O contacto com a Natureza;

A criatividade;

O juízo crítico.

Exemplos:

Torna Pedro da Maia um fraco, incapaz de encontraruma solução para a sua vida quando Maria Monforteo abandonou, e deforma a sua vontade própria.

Torna Eusebiozinho um “molengão e tristonho”,arrastando-o para uma vida de corrupção, para umcasamento infeliz e para uma decadência física emoral.

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A educação inglesa

Valoriza:

O desenvolvimento da inteligência, graças aoconhecimento experimental;

O “amor da virtude” e “da honra” como convém a umcavalheiro e a “um homem de bem”;

A ginástica;

O contacto direto com a Natureza;

O gosto pelas línguas vivas;

“criar a saúde, a força e os seus hábitos”, fortalecemo corpo e o espirito.

Desvaloriza:

O saber da cartilha;

As línguas mortas.

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Exemplo:

Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores detrabalho e um conhecimento experimental que olevaram abraçar um curso de medicina e projetos deinvestigação. (Carlos fracassou não pela educação,mas apesar ela. Foi a sociedade que o conduziu aofracasso, pela ausência de motivações, e pela paixãoromântica que o seduziu.)

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Anexo V – Ficha com as características do debate

Debate

“O debate consiste numa troca de opiniões entre várias pessoas sobre um tema

previamente selecionado. Este tipo de comunicação permite abordar um assunto através do

confronto de diferentes pontos de vista ou de saberes apresentados pelos participantes, os quais

desempenham, durante a sessão, ora o papel de quem ouve ora o papel de quem fala.

De uma cuidada preparação e de uma boa organização decorrem o interesse e a

utilidade do debate, sendo fundamental a participação crítica e criativa de todos. Assim,

há que ter em consta os seguintes aspetos:

pesquisa e recolha de documentação sobre o tema;

organização do espaço em que vai decorrer o debate;

definição das funções dos vários intervenientes;

avaliação dos contributos trazidos para a discussão.

Pesquisa e recolha de documentação

A pesquisa e a recolha de material sobre o tema, a realizar individualmente ou em

pequenos grupos, devem ser orientadas de modo a evitar ligeireza e superficialidade nas

intervenções que se fizeram durante o debate. Para isso, convém:

estudar o tema, recorrendo a todas as fontes necessárias – orais e

escritas – e relacionar os vários pontos focados;

separar os factos ou os dados verificáveis das opiniões pessoais e dos

juízos de valor;

pôr de parte o que se considera erróneo, manipulador, pouco

fundamentado;

selecionar a informação relevante e distingui-la da secundária;

analisar com rigor a abordagem proposta pelos autores consultados;

manter reservas sobre aspetos que não se compreendam bem;

tirar conclusões próprias e não se restringir ao que oferece o material

consultado;

Escola Secundária de Alberto Sampaio

Características do debate Ano: 11º Turma: F Ano letivo de 2013/2014

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destaca os melhores argumentos e refletir sobre exemplos que os

podem valorizar.

Organização do espaço

A organização do espaço físico deve ser planeada com antecedência, pois dela

dependem as condições de visibilidade e de audibilidade dos intervenientes no painel e da

assembleia. Para uma participação mais ativa de todos os elementos, a disposição em círculo

pode ser uma boa opção, tal como o recurso a um pequeno auditório. A disposição em círculo

por ser utilizada quando, por exemplo, a turma for dividida em dois grandes grupos; a opção por

um pequeno auditório ou anfiteatro convirá nos casos em que uma parte assinalável dos alunos

constitui a assembleia. Em ambos os casos, a organização do espaço físico tem de permitir a

comunicação e a circulação livre das ideias e proporcionar boas condições acústicas.

Definição das funções dos intervenientes

A organização de um debate pressupõe, para além daqueles que vão apresentar as suas

ideias, um moderador, um secretário e dois observadores.

A figura do moderador é determinante. O seu papel consiste em:

apresentar o tema e os intervenientes;

clarificar o âmbito da discussão;

abrir a discussão;

assegurar a troca de ideias;

reformular e relançar as opiniões expressas;

inventariar pontos de consenso e de discordância;

suscitar o aprofundamento de aspetos importantes;

evitar divagações;

manter equidistância em relação às posições assumidas pelos

interlocutores;

distribuir o tempo pelos participantes, tentando dar a palavra a todos;

controlar a agressividade e evitar o ataque pessoal;

destacar as perguntas mais relevantes colocadas por membros da

assembleia;

apresentar as conclusões.

Cada participante, para defender os seus pontos de vista de forma consistente, deve:

definir previamente objetivos claros;

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apresentar os argumentos que melhor fundamentam a perspetiva a

defender;

selecionar exemplos que ilustrem a argumentação;

destacar aspetos positivos e negativos;

antecipar os argumentos dos interlocutores e descobrir as opiniões

contrárias;

estar atento ao que se diz e só intervir para fazer avançar a discussão;

saber retificar as suas próprias teses.

Os observadores, que podem ser dois ou três, em função do número de participantes, apoiam

diretamente o moderador, registando:

o tempo de intervenção de cada elemento;

a frequência das intervenções;

os principais argumentos apresentados.

Aos secretários compete:

consultar as fichas dos observadores e confrontá-las com as suas próprias

notas;

fazer o relato do decurso do debate;

sintetizar as ideias fundamentais da discussão.

Avaliação dos contributos

Durante o debate, a exposição livre das ideias e a atenção aos pontos de vista

apresentados pelos outros interlocutores podem proporcionar um enriquecimento intelectual. A

capacidade de rever as perspetivas defendidas, o desejo de ampliar os conhecimentos e a

vontade de refletir sobre os juízos de valor produzidos ao longo das intervenções são fatores

muito importantes, se tivermos em conta as finalidades do debate: aprofundar o

conhecimento de um determinado tema, pôr em confronto opiniões, formular

sínteses. É, por isso, fundamental que, depois de cada debate, se proceda a uma reflexão

sobre o modo como este decorreu, se inventarie os aspetos que não funcionaram e se apontem

estratégias para os melhorar numa próxima oportunidade. As gravações audiovisuais podem ser

um instrumento de deteção das áreas que careçam ser melhoradas”.

Trindade et alii (2011), pp. 247-248.

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99

Anexo VI - Organização do espaço físico do debate (atividade final de Português)

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Anexo VII - Questionário de avaliação de Português

Faz uma apreciação crítica acerca das aulas lecionadas e da metodologia adotada pela

professora.

Obrigada pela colaboração

Liliana Rodrigues

Escola Secundária de Alberto Sampaio

Questionário de avaliação de Português Ano: 11º Turma: F Ano letivo de 2013/2014

Esta reflexão deve ser elaborada tendo em conta todas as aulas lecionadas pela

Professora Liliana.

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103

Anexo VIII - Questionário de avaliação de Português. Exemplos de discentes

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105

Anexo IX - Material da atividade oral (fase inicial) de Espanhol

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Anexo X - Atividade oral final de Espanhol

Ir ao mercado:

a) Os alunos fazem uma lista de compras para o jantar.

b) Os alunos vão ao mercado comprar todos os ingredientes para o jantar.

c) Cada aluno diz à restante turma o que comprou para fazer o janar.

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Anexo IX - Questionário de avaliação da prestação da docente na disciplina de

Espanhol

Sim Não

Gostaste das aulas lecionadas?

Consideras que as atividades realizadas foram adequadas?

Na tua opinião os conteúdos abordados foram interessantes?

Adquiriste léxico suficiente para te expressar oralmente?

Achas que as atividades realizadas nas aulas te ajudaram a falar melhor

espanhol?

As atividades foram motivadoras?

Escola Secundária de Alberto Sampaio

Questionário de avaliação de espanhol Ano: 10º Turma: H Ano letivo de 2013/2014

Este questionário deve ser respondido tendo em conta todas as aulas

lecionadas pela Professora Liliana.

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O uso da língua espanhola foi promovido nas aulas?

Achas que melhoraste a tua expressão oral em espanhol?

Quais as atividades mais interessantes e que mais gostaste de realizar.

De que mais gostaste nas aulas?

Na tua opinião, o que achas que poderia ser melhorado?

Faz um comentário para a professora sobre as aulas lecionadas.

¡Gracias por tu colaboración!

Prof. Liliana Rodrigues