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Limpeza

Limpeza revista

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revista sobre a performance "limpeza" realizada em 2014 para a aula da Juliana.

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Limpeza

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Revista ofertada ao Padrinho Sebastião, o homem responsável pela expansão da Doutrina do Santo Daime ao mundo. Doutrina que me ensina o valor da cura que o planeta tanto precisa.

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Limpeza

Índice....

- OS CANTOS NO PROCESSO DE CURA DENTRO DA ESPIRITUALIDADE AYAHUASQUEIRA- PROCESSO - CONCLUSÃO- CRÍTICA FEITA PELO LUIS

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OS CANTOS NO PROCESSO DE CURA DENTRO DA ESPIRITUALIDADE AMAZÔNICA AYAHUASQUEIRA

Em todas as tribos indígenas da Amazônia que tem no uso da ayahuasca a parte central de sua espiritualidade, de onde provem todos os conhecimentos espirituais que eles adquirem, de onde vem todo conhecimento das plantas medicinais. Em todas elas um aspecto em comum é notado. Esse aspecto é a música, o canto do pajé ou dos “pajeres” como os índios falam. Independente de onde seja a tribo, seja ela uma tribo acreana, peruana, boliviana; em todas elas o centro do trabalho com a ayahuasca é a cantoria. Pois é através do canto que se eleva a energia vibracional dos participantes da cerimônia para eles poderem entrar em uma frequência tão sutil que eles possam, sobre os efeitos da

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ayahuasca, fazer uma viajem para o Reino dos Espíritos e conseguir a cura de algum enfermo, conseguir informações sobre quais plantas da floresta servem para realizar tais curas, etc. Todo o conhecimento que chega até a consciência dos pajés, apenas o vêm, através da criação da egrégora pelo canto. Os cantos ayahuasqueiros, sejam da tribo que for, tem um aspecto em comum, a repetição, a monotonia do ritmo. Um canto terá o mesmo ritmo do início ao fim, mudando apenas as palavras ditas. Essas melodias são “recebidas” pelos pajés através de um processo de canalização espiritual aonde ele ouve os seres encantados da floresta cantando o canto do início ao fim, cabendo ao pajé apenas memorizar o canto. Cada canto tem uma função e chamam determinadas forças espirituais para realizar determinados trabalhos. Tem canto para chamar a força da ayahuasca, canto para chamar as visões, canto para abrandar a força das visões e cantos que contém instruções espirituais, cantos para expulsar espíritos ruins que estavam dentro da pessoa, etc. A ayahuasca é vista como a grande professora da floresta, professor dos professores. E se, ao ingerí-la, pode-se fazer xamã shipibo conibo, imagem retirada da internet

a comparação de entrar em um carro que irá fazer uma viajem; a estrada pela qual esse carro irá viajar é estabelecida pelo conjunto de cantos que serão entoados. Eles são uma guia para a jornada xamânica com a ayahuasca que determina para onde irá o trabalho. Se será um trabalho de cura, de iluminação, de miração... Tudo isso é determinado pelos conjuntos de cantos que serão cantados pelos pajés.

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Através dos cantos que os pajés chamam a força dos espíritos da floresta, chamam a força da natureza para realizar as curas, para limpar as pessoas. A vibração desses cantos que geram um campo vibracional que envolve todos os participantes e, pela qualidade mântrica, ajuda a fazer todos entrarem em transe espiritual fazendo a consciência das pessoas poderem chegar à níveis de percepção tão profundos que a existência simplesmente começa a revelar alguns de seus mistérios e a pessoa passa a adquirir o conhecimento oculto da vida, o conhecimento daquilo que não está acessível a todos na camada mais externa da cebola da existência. Mas apenas nas camadas profundas e é viajando para esses níveis profundos dessa cebola da existência que se consegue adquirir um entendimento dos fenômenos que se manifestam na camada mais externa, que é aquela que nossa percepção do dia-a-dia é capaz de captar.

Não podia ser de forma diferente o trabalho com a ayahuasca dentro da doutrina recebida por Mestre Irineu. Assim sendo, todos os ensinos contidos na doutrina do Santo Daime, toda ela, está dentro dos hinos que são canalizados, assim como os cantos dos pajés da floresta, mas na nossa língua portuguesa.

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Mestre Irineu, ao centro, com discípulos durante jestejo da doutrina. Imagem retirada do site oficial do ICEFLU

A doutrina inteira está na musicalidade e o trabalho gira em torno de se tomar a bebida, sentar em roda ou bailar e cantar a noite inteira, para que durante a cantoria os seres encantados possam trabalhar e nos curar, nos limpar, nos instruir, trazer consciência em nossas mentes. Toda a comunicação entre os espíritos dessa egrégora ayahuasqueira com as pessoas na Terra está na cantoria. Vendo bem por cima, pode-se dizer que, essencialmente, o trabalho do santo daime e os trabalhos tradicionais ayahuasqueiros indígenas, constituem-se do mesmo rito. Tomar a bebida, sentar e cantar a noite inteira ou cantar a noite inteira dançando em roda. Porque a espiritualidade por trás dessa beberagem, a forma como esse Espírito que é a ayahuasca trabalha é desse jeito, é através da cantoria que toda a magia dentro dos trabalhos acontecem.

Foto feita durante último trabalho que estive. Com o violão, Júlio Cezar, discípulo direto do Padrinho Sebastião. Está na doutrina a mais de 30 anos trabalhando sem parar

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PROCESSO

A minha performance chamada “Limpeza” tem como intuito fazer visível um processo de limpeza espiritual das amarguras que vão retirando do ser humano sua consciência e sua luz e alegria de viver, que vão endurecendo o coração e limitando a percepção da pessoa devido à tamanha sujeira que ela vai carregando dentro de si por causa de emoções aflitivas que enchem a pessoa de toxinas mentais e espirituais… Escolhi fazer essa performance no mar devido à qualidade de limpeza e purificação que o mar suscita. Escolhi filmar essa performance nos primeiros raios de sol do dia devido à luz desse momento do dia e devido à quietude da praia, às poucas pessoas que se encontram nessa faixa horária (no dia da gravação eram umas 5 e meia, 5 e 40 do horário de verão). Outra qualidade de se filmar no mar é pela questão cíclica das ondas do mar que nunca param de chegar, explodir, dar um impulso para frente, depois voltar e assim vai indo sem nunca parar. Como algo eterno, algo imutável da natureza dessa manifestação da natureza. O mar remete ao ciclo da vida que nunca tem fim e é eterno. Também à questão quase mântrica do som do mar que a cada, digamos, 15 segundos, uma nova onda “explode” e ouvimos aquele som do turbilhão marítmo revelando sua majestade. Fora, é claro, a grande plasticidade do mar, sua beleza… No momento

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da gravação o sol nascia no horizonte do mar e seus raios refletiam nas águas mostrando toda a beleza da criação divina.

Então eu resolvi escrever no meu corpo, mais precisamente nos meus braços, peito, barriga e costelas, as palavras que direcionam os venenos mentais, os padrões de conduta, de pensamento, de ações que levam à ruina espiritual, à descida da pessoa dentro de um plano de sofrimento e incompreensão da verdade da vida. Pensando nessa questão, optei por escrever essas “sujeiras” todas com uma caneta Sharpie vermelha, devido à dificuldade de sua retirada da pele. Escolhi essa caneta que realmente não sai com facilidade da pele seus escritos, devido ao fato de que não é algo simples e fácil fazer uma limpeza interior no nosso Ser. Devido à essa dificuldade toda de retirar as marcas dessa caneta, eu fui obrigado a usar minhas unhas, com força, e persistência para conseguir retirar as marcas dos venenos que estavam escritos em minha pele. O resultado desse esforço todo foi minha pele ficar bem avermelhada devido aos arranhões que precisei me dar para retirar os escritos que, propositalmente, não foram completamente apagados da minha pele, mas permanecia um vulto do que estava escrito, uma sombra, uma memória daquela sujeira. Como se estivesse dizendo que uma limpeza 100%, uma limpeza completa é muito difícil de se conseguir. Escolhi a cor vermelha da tinta da caneta por remeter ao sangue, à feridas, à machucados de verdade, que não deixam de ser…

Durante todo o ato performático foram cantados hinos de limpeza espiritual da doutrina do Santo Daime que é uma doutrina espiritual da floresta, dos seres encantados da natureza, dos orixás, dos caboclos, dos seres divinos da corte celestial, dos santos e dos anjos cristãos, dos grandes profetas e sábios reis do oriente, do Sol e da Lua, das estrelas, da terra, do vento e do mar, de todas as manifestações da natureza, dos espíritos da natureza, dos elementais, dos grandes avatares da humanidade, e do chefe Império Juramidam que é o dono desta doutrina que veio a ser implantada na Terra com ordem do Divino através da Rainha da

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Floresta, a mesma Senhora da Conceição, que a passou essa missão ao Mestre Irineu por vontade de seu filho, o Cristo Jesus, para replantar Santas Doutrinas que à muito foram esquecidas, alteradas em seu verdadeiro valor que é atender aos que necessitam da luz de Deus na sua vida para retirar os sofrimentos, mágoas e ilusões de sua vida que através do ser divino Santo Daime e da invocação dos espíritos que trabalham na linha do Mestre Imperador esses processos de limpeza e retirada das amarguras podem ser realizados com eficiência podendo permitir que as pessoas limpem sua igreja interna, retirem os bichões que ela cultivou ao longo de uma vida de ilusão e excessos, e possa deixar sua casa limpa e sã.

Para a realização dessa performance fiz uma seleção de hinos que invocavam essa força de limpeza, entre eles temos a “linha do tucum” do saudoso Mestre Irineu, o “Centro Livre”, também dele. a “linha de arrochim” do Raimundo Gomes, o “Marinheiro” do Saldanha, o “flores” do Glauco Villas Boas, o “bendito louvado seja” da Marlicene, o “caboclo véio” também do Glauco e o “no vento eu vou” recebido pela Gecila Teixeira… Esses hinos do Santo Daime possuem grande força espiritual de limpar os corpos da pessoa pois são melodias e mensagens vindas diretamente das esferas superiores que são recebidas por algumas pessoas da doutrina dentro de um processo de canalização espiritual onde a pessoa ouve, nitidamente, todo o hino sendo cantado nos seus ouvidos por vozes femininas acompanhado da melodia com violões e maracás e então a pessoa só faz é escrever para não se perder o hino. confesso que se eu fosse realizar a performance novamente, muito provavelmente a seleção dos hinos seria outra, não que essa esteja ruim, porém cantaria mais hinos com a força de Yemanjá, a rainha do mar, e com mais força de limpeza. É que na hora do ato, me esqueci de muitos hinos que talvez teriam mais haver com a proposta da performance, entretando não ficou ruim, ao meu ver. A câmera usada para esse trabalho foi filmada em fullhd, porém na hora de converter acabou perdendo um pouco da qualidade do

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vídeo, que ficaria mais interessante se tivesse mantido a qualidade esperada. O rapaz que me filmou foi meu amigo Tiba, que filmou bem, porém algumas horas ele deixou dar umas desfocadinhas… Infelizmente ouve um atraso do áudio em relação ao vídeo.Mas voltando à performance em si… O video termina com a imagem se afastando cada vez mais de mim, enquanto ainda estou terminando de cantar o último hino “bendito louvado seja” da mãe de santo Marlicene. A imagem vai se afastando e captando a beleza dos primeiros raios do sol se refletindo nas águas de mamãe Yemanjá, onde o video termina com a imagem se escurecendo aos poucos e tudo ficando preto. O legal da forma como termina o video é que ele termina com a minha pessoa ainda limpando as palavras que remetem às sujeiras internas que eu estava limpando por todo o ato, ou seja, o video não termina comigo de fato terminando de limpar tudo e aí acabando o ato. Não! Ele termina comigo ainda no ato de limpeza, mostrando como esse processo de limpeza espiritual é algo sem fim dentro desse orbe terrestre onde sempre teremos que continuar nos limpando, pois, de uma forma ou de outra, sempre acabamos nos sujando com nossos pensamentos torpes, nossos padrões de ações, nossas palavras… Sempre alguma coisa aparecerá para ser limpa, o processo não tem fim e a forma como o video terminou deixou isso bem claro ao espectador do ato.por motivos de ter pego grande friagem e vento no dia anterior lá na praia, que era Peruibe, eu fiquei com a voz meio ruim e na hora da gravação muitas vezes se percebe a desafinação e a falta de potência da voz…As palavras escritas eram “maledicência”, “gula”, “ira”, “dureza”, “amargura”, “ressentimento”, “ódio”, “medo” e algumas outras que agora não me recordo.

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CONCLUSÃO

Essa performance realmente me agradou muito, acho que consegui passar grande sensibilidade pra ela, com a ajuda do meu amigo filmador. Ainda há coisas para se melhorar, como por exemplo, fazer uma melhor seleção de hinos à serem cantados, cantar os hinos mais afinados. Fazer uma melhor filmagem, com duas câmeras. Uma em tripé, estática meio longe, mostrando o panorama da paisagem junto do performer e outra bem pertinho mostrando os detalhes do que está sendo limpo, etc. A filmagem nesse trabalho foi feita em fullhd, mas na hora de passar o vídeo para o programa de edição de vídeos acabei gravando numa qualidade média, infelizmente. Em relação à questão conceitual, acho que está muito boa, da para perceber o que está acontecendo, não é preciso conhecer o que é a doutrina do santo daime, nem nada, o fator limpeza já fica explícito no ato, no gesto de ficar retirando todas aqueles escritos do meu corpo enquanto cantava. De fato é uma performance que merece ser refeita de forma mais profissional, como citei acima, usando mais de uma câmera para registrar, salvar o vídeo em full hd... São esses pequenos detalhes que deixam a obra sem ruídos. A partir dessa performance, eu posso até vir a realizar outras, em outros ambientes naturais, como por exemplo. Uma performance similar à essa, basicamente o mesmo ato, porém numa cachoeira, num rio... Cada elemento

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natural dá suas qualidades estéticas e conceituais a mais ao trabalho. Como no caso do mar, que possui essa qualidade mântrica eterna, por exemplo, que o rio já não possui. Entretanto o rio tem a qualidade de se notar, bem visivelmente, o fluir das águas que nunca param e isso tem muita potência também... Outra coisa que deixo nesta conclusão de minha revista é o perdão pera ausência de imagens e de um vídeo mostrando a performance “limpeza” mesmo. Acontece que infelizmente o único lugar aonde estava salvo o arquivo com vídeo, era no meu pen-drive, e ele parou de funcionar e, consequentemente, perdi tudo o que havia dentro dele, inclusive o único registro da minha performance. É triste, por um lado, porém por outro ângulo é motivador. Motivador no sentido de que, como não há mais nenhum registro desse primeiro ato, me sinto mais ainda na obrigação de refazer essa performance, agora, de forma mais profissional, de forma mais madura.

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CRÍTICA FEITA PELO LUIS

Lucas Martins, estudante de artes visuais, frequentador e atuante na

doutrina do Santo Daime, do qual tem muita influencia da mesma em suas

obras, apresentou um registro de sua performance em forma de vídeo no

dia sete de Novembro na Universidade Belas Artes de São Paulo.

O vídeo mostra o performer se limpando nas águas do mar, esfregando as

palavras que estão escritas no seu corpo enquanto canta alguns hinos da

doutrina do Santo Daime. A partir do que é possível ouvir, nota-se que as

canções tratam do tema “limpeza”, não uma limpeza qualquer, mas um

tipo de limpeza interna, onde se remove as coisas (sentimentos/ações/

pensamentos) ruins que ao longo do tempo vamos acumulando em nós

mesmo, resumindo, uma “limpeza espiritual”. Citando diversas entidades

como seres encantados da natureza, orixás, caboclos, pretos velhos,

santos, anjos, profetas, reis do oriente, e todas as formas de manifestação

da natureza.

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O som das canções se funde bem com o som das ondas do mar, que são

ouvidas quase como um mantra, sendo repetida durante o vídeo inteiro. O

ambiente escolhido pelo performer é bastante válido, pois as pessoas

sempre tem a ideia do mar como uma força natural que limpa e

descarrega, suas ondas levam embora aquilo que as tocam, aquilo que cai

nelas e aquilo que muitas vezes não querem mais, até num sentido mais

metafórico, onde no caso, elas levam embora essas coisas ruins que

cercam as pessoas e cerca também o corpo do performer.

Maledicência, gula, ira, dureza, amargura, ressentimento, ódio, medo,

vaidade, inveja e covardia, são as palavras escritas na pele do

performance com algum tipo de tinta difícil de ser removida, tão difícil que

foi necessário usar a unha e se arranhar para que saísse de sua pele, e no

final, mesmo depois de todo esse trabalho o vídeo acaba sem o performer

limpar todas, propositalmente causa a reflexão de que nunca estamos

completamente “puros”, estamos o tempo todo em processo de limpeza.