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Linha de Cor: Raça e Cultura na América

Linha de cor

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Linha de Cor:

Raça e Cultura na América

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• Linha de cor é uma expressão utilizada para, simbolicamente, estabelecer divisões entre grupos étnicos em sociedades em que a cor dapele é determinante no estabelecimento do estatuto humano, social e político dos indivíduos.

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• A linha da cor estabelece divisões nasociedade e afeta a forma como os indivíduostêm acesso à educação, ao emprego, àhabitação, para além de lhes estabelecer, emtermos sociais e humanos, limitações reais, como a possibilidade de uma menormobilidade social e um menor acesso aos seusdireitos fundamentais.

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• Quase todos os países multiraciais têm distinçõesformais, mais ou menossegregacionistas, relativas à cor dapele, normalmente classificações de um lado“negro,” “não branco” ou “de cor.” Na democracia dos EUA, por exemplo, a ascendênciaafricana dos indivíduos foi ao longo dos tempos classificada como “preto,” “negro,” “de cor” e, hoje em dia “afro-americano.”

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• “*No Brasil+…si formos auscultar a pulsação mais íntima de nossa vida social e familiar encontraremos entre nós umalinha de cor bastante nítida, embora o preconceito nãoatinja nunca, entre nós, as vilanias sociais que pratica nasterras de influência inglesa. (…) O preconceito de cor me parece incontestável entre nós, porém, na suacomplexidade e esperteza de disfarces…constitucionais, temos que não confundi-lo com o problema de classe, nãosó para não exagerá-lo em sua importância, como para lhedar melhor iluminação e não enfraquece-lo em suas provaslegítimas.” *Mário de Andrade, “Linha de Cor,” ESTADO DE S. PAULO, 29-III-1939]

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• Com esta declaração, Mário de Andrade questionou a explicaçãocomum de que o Brasil não se caracteriza abertamente como umasociedade racista, segregacionista, por causa da sua história de miscigenação. Por isso, ele insistiu em afirmar que no Brasil não ésimplesmente um problema de classe, mas também é outroproblema exclusivamente de cor.

• W.E.B DuBois, pensador e historiador afro-americano, altamenteconceituado, insistiu em 1903 que o maior problema do século XX éoproblema da linha de cor, na África, na Ásia”, no Caribe, e nasAméricas (e não exclusivamente nos EUA).

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• A história das relações raciais nos EUA é longa ecomplexa, mas frequentemente interpretadasuperficialmente pela a grande divisão (ou linha de cor) entre o Sul racista e o Norte liberal, este nãototalmente sem preconceitos, mesmo depois daAbolição em 1865, proclamada pelo Presidente Lincoln. Assim, a evolução das relações raciais envolveu oNorte E o Sul em que, durante a segunda metade do século XX, alguns indivíduos das duas regiões lutaramjuntos com a finalidade de acabar com a situaçãosegregacionista do Sul..

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• Esta luta concreta contra a segregação começounos anos 50, depois da Grande Migração (1916-30) de negros para o Norte e depois da SegundaGuerra Mundial que incitou mais unidade entre opovo americano. É interessante notar que a Grande Migração na verdade mudou o centro daAmérica Negra do rural para o urbano--as grandes cidades dinâmicas do norte de Chicago eNew York, onde os negros encontraramindependência e militância.

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• Antes de falar sobre as mudanças nas relaçõesraciais nos EUA a partir anos 50, vale a pena fazeruma pequena parêntese para chamar atenção àRenascença de Harlem (bairro de NY), um período de florescimento da cultura negra que se manifestou entre o fim da Primeira Guerra Mundial e meados da década de 1930, noscampos de literatura, musica, arte, e teatro.

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• Durante a Renascença Harlem, um grupo de escritoresafro-americanos produziu um corpo notável de obrasde poesia, ficção, drama, e ensaio (hoje são muitascanônicas). A talentosa Nella Larsen, romance PASSING (1929) e a famosa Zora Neale Hurston. O movimentoinspirou consciência racial e o conceito “De volta `a Àfrica,” e a integração racial, uma explosão de música—blues e jazz—i.e. as primeira oportunidadespara expressão grupal e afirmações de auto-determinação.

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• O autor W.E.B. Du Bois introduziu o conceitoda dupla consciência, i.e., do negro ser duaspessoas—duas almas, dois pensamentos, doistipos de inquietação, dois ideais em combatedentro de um corpo negro: sujeito/objeto.(11)

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• A Harlem Renaissance, originalmente conhecida comoO Novo Movimento Negro representava um desabrochar literário e intelectual que promoveu umanova identidade cultural negra; era um período de formação espiritual apesar de ainda existirem racismoe poucas oportunidades econômicas. E a expressãocriativa e estética era um dos poucos caminhos parareafirmar o seu orgulho cultural. Entre 1920-1930, 750,000 afro-americanos deixaram o Sul para oNorte à procura de mais oportunidades e um ambientemais tolerante. O bairro de Harlem, NYC, de 3 milhasquadradas e com 175,000 de habitantes negros se tornou a maior concentração de negros do mundo.(15)

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• Em 1955, Rosa Parks, costureira e ativista no movimento de direitos civis para todos, é hoje em diareconhecida como “a Primeira Dama do Movimentode Direitos Civis” e também “Mãe do Movimento àLiberdade,”porque um dia ela recusou oferecer o seuassento/lugar (na secção do onibus reservada paranegros) a um homem branco que estava em pé e porisso foi presa. No dia seguinte gente das igrejas locaispara negros boicotaram os onibus da cidade de Montgomery, AL. Simbolicamente, este eventomostrou o poder da ação coletiva e logo depoistambém chamou atenção à participação do jovemMartin Luther King Jr. de 27 anos. (17)

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• Em 1954 O Tribunal Supremo tinha declaradounanimamente, numa decisão histórica(Brown vs Board of Education), que o sistemade segregação no Sul era inconstitucional. Istosignificou que depois de 20 anos de lutaslegais promovido pela NAACP, esta decisãoordenou a desegregação das escolas públicasna América.

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• Como era de esperar esta decisão encontroumuita oposição e mesmo depois de muitaconfrontação ainda em 1960 todas as escolaspúblicas mantiveram segregação em três estadossulistas. Mas aos poucos, o movimento de direitos civis com os seus protestos promovidopela classe média atraiu muitos negros da classebaixa também. Este movimento ofereceu àpopulação negra um enfoque coerente e um desabafo público. O governo federal apoiouilimitadamente este movimento—Kennedy eJohnson. (24)

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• E em 1964 O Ato de Direitos Civis despedaçou as defesaslegais de segregação e com isto surgiram novas agênciascomo a Comissão para Igualdade na Oportunidade de Emprego. O Departamento Federal de Educação criouprogramas para ajudar escolas a realizar os seus planospara desegregação. O conceito de educação integradaganhou amplo apoio do públicou. E o número de oficiaisnegros eleitos nos Estados do Sul cresceu de 70 em 1965 até 1,600 em 1975.

• E na segunda metade dos anos 1970s muitos negrosfizeram parte de uma migração de regresso ao Sul porque ocusto de vida era mais barato ali e por cima encontraramum melhor clima de afabilidade e segurança pessoal naregião de onde tinha fugido anos atrás. (25)

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• O movimento de direitos civis expandiu econseguiu muitos avanços mas em 1968 com o assassinato de Martin Luther King, omovimento ficou menos coeso e o programapolítico dos negros mudou numa culturaamericana que exibia a afluência que nãochegavam a todos.

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• Ao mesmo tempo outra grande migração para oNorte resultou numa expansão de muitosbairros/guetos negros nas grandes cidades (inner cities) que virou uma espécie de “hipersegregação” e provocou alienação eimpotência sócio-política. Engendrou muitostumultos urbanos—entre 1965-69: 250 mortos e83,000 presos. Estas ações nunca manifestaramdiretamente violência contra os brancos. Foiviolência contra o sistema. “Poder Negro”/Black Power e Malcolm X radicalizaram muitos jovensativistas do movimento de direitos civis. (27)

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Foram

• No meio de tudo isto, havia uma continuidadeinescapável na luta para direitos civis. Agênciasexecutivas e tribunais federais continuaram a avançarpara implementar soluções ou remédios raciais. E liberalismo racial ainda estava no ascendente e atémeados da década de 1970 a igualdade econômica e educacional entre as raças avançou. Porém, sabemosque houve, entre os avanços, muitos reveses querevelaram que o racismo continuava em muitos setorese apesar dos sucessos da classe média afro-americana, os negros da classe baixa não superaram osproblemas de desemprego, enquanto o índice dos damesma classe branca era de dois a um. (29)

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• Não temos o tempo para descrever à evolução caóticae assimétrica da história espiral das relações raciais dos anos 80 até os nossos dias mas queria sublinhar ocomeço da luta histórica, muitas vezes violenta, desdeos anos 50, com a finalidade de chamar atenção aofato que aqueles anos de luta produziram ganhos eperdas. Se caracterizamos esta história como espiral, temos que entender que com cada avanço importante, alguns elementos deste progresso foram perdidos atéoutro espiral subir.

• Podemos dizer que apesar das contradições, controvérsias, desigualdade, e injustiças, algum avançopara igualdade racial continuava a sobreviver.(30)

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• Para ilustrar esta história espiral na luta de igualdaderacial, gostaria de dar enfoque ao movimento de “açãoafirmativa” porque reconheço que hoje em dia no Brasil existem programas em algumas universidadesque estão tentando estabelecer processos para ajudarestudantes de ascendência africana a adquirir recursoseducativos para eles entrarem na universidade.

• O conceito de “ação afirmativa” começou nos anos 60 nos EUA e ganhou aceitação ou aprovação públicadurante uma época em que o público em geralmanifestava uma certa aquiescência/assentimento emcontraste com a oposição vocal durante as décadas de 80, 90 e o ínício do século XXI. (31)

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• A grande diferença na implementação de AçãoAfirmativa como uma política governmental nos anos60 foi o fato que aumentou o poder judicial com oefeito que juizes e tribunais emitiram ordens paracorrigir qualquer infração contra direitos desiguais. Assim, juizes e litigantes perseguiram incessantementedireitos iguais para indivíduos e uma variedade de grupos excluídos ou vitimizados. O resultado foi um processo em que a palavra “preferência” evocavacontrovérsia, raiva e injustiça. E nos nossos diascontinuam os protestos durante a política de um Presidente Negro como Obama.

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• Nos EUA, o ímpeto para instituir AA assenta no conceito de emendar/reparar as desvantagensassociadas com a flagrante discriminaçãohistórica e também prevenir discriminação contra pessoas no trabalho e na educação na base de cor, religião, sexo ou origem nacional. Alémdisto, existe o desejo de assegurar queinstituições públicas comouniversidades, hospitais e a polícia sejam maisrepresentativos das populações que eles servem.

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• A grande controvérsia contra AA surgiu com as cotas raciaispara admissão na faculdade que muitos interpretaramcomo discriminação reversa e que muitos consideraminconstitucionais. Este termo (AA) foi empregado em 1961 para descrever a política do governo perante agênciasgovernmentais que contratam pessoas. PresidenteKennedy administrou sob mandato a Ordem Executiva queempregados governamentais sejam tratados iguais semconsideração à sua raça, crença, cor or origem nacional. E mais tarde Presidente Johnson declarou que “nãoprocuramos somente liberdade, mas sim oportunidade(portas e janelas de oportunidade); não somente eqüidadelegal mas sim habilidade humana.

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• Em 1978 O Tribunal Supremo declarou que“diversidade” na educação superior paraminorias mal representadas constitui um “interesse compulsório” e confirmou que raçapoderia ser um dos fatores no processo de admitir estudantes numa faculdade.

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• Na sua história de 50 anos, AA, no meio das prós e contras, a maioria da população considera AA um sistemaimperfeito mas ao mesmo tempo um remédio necessáriopara curar uma doença social persistente, intratável. A crítica contra AA é fraca porque se assenta pesadamenteem mitos e malentendimentos.

• Na verdade 70% dos americanos estão a favor de AA paraajudar negros, mulheres e outras minorias atingiremmelhores empregos e educação O que o público opõe sãoas cotas, as excepções e discriminação reversa. Isto é, semjulgar os méritos dos outros candidatos.

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• AA nunca foi uma proposta para curar tudorelacionado à desigualdade. O seu objetivo se dirigia especificamente a combater discriminaçãono emprego e na universidade. Para avaliar ovalor de AA é preciso perguntar se no meio daausência de reformas sociais capitais, será queAA ajuda a combater a injustiça contínua causadapela discriminação? A documentação dapesquisa revela indubitavelmente que, sim, ajuda.

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• Porém séculos de racismo e sexismo não foram eradicadosapesar dos avanços ganhos pelo movimento de direitoscivis. Janelas de oportunidades só foram parcialmenteabertas até agora. Precisa-se mais do que nunca da AA.

• Para usar uma metáfora esportiva, podemos aludir a um campo de corrida em que supostamente o corredor maisrápido vai ganhar. Críticos contra AA dizem que algunsatletas são favorecidos com “head start”/vantagens. Porém, AA não se trata de avançar/favorecer algunscorredores, mas sim reparar/concertar as pistas/faixasdanificadas e simultaneamente abolir os obstáculos quebloqueiam o caminho para oportunidade e sucesso quesomente alguns corredores enfrentam.

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• Políticas que promovem inclusão como AA sãodesenhados para igualar as condições de umacorrida frequentemente injusta e dar a todosuma chance bem justa para competir.

• O apoio para AA entre o público norteamericanocresceu substancialmente nos anos mais recentesde 58% em 1995 a 70% em 2007. Esta estatísticaconfirma os positivos da AA.

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• Sem uma oportunidade especial para poderentrar no sistema sócio-econômico, gruposdesvantajosos nunca teriam sido capazes de poder superar o “handicap” *desvantagem] que foi forçado neles e criado pelasprioridades exclusivas e injustas da suacultura.

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• O Foro de Política Afro-Americana (AAPF) aindaacredita que AA tem que se funicionar na base de manter uma consciência racial para poder eliminar osobstáculos responsáveis que bloqueiam o caminhopara inumeráveis pessoas de cor de todas as classes.

• Também se diz que AA é responsável pela criação de uma classe média afro-americana construída pormuita gente que era da classe baixa e que AA nãofavorece somente indivíduos de cor das classes altas emédias.

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• Desde que assumiu o poder, Barack Obama tem tentado equilibrar crença em política universal, uma que não se baseia principalmente emquestões raciais e os desafios étnicos de ser oprimeiro presidente negro dos EUA.

• Porém, os seus adversários e muitos intelectuaise legisladores negros o culpam por não fazer de sua presidência uma ferramenta mais agressivacontra a disparidade racial.

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• Obama governa uma Casa Branca queconstantemente visa a unidade inter-racial. Elepromove uma política inclusiva destinada a ajudar americanos de todas origens.

• Ele já declarou publicamente:• “Não sou o presidente dos Estados Unidos dos

negros. Sou o presidente dos Estados Unidos daAmérica.”

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• Segundo os seus assessores, Obama possui umamissão: o de mudar estereótipos sobre negros; que, segundo a sua esposa Michelle, ele queriaconcorrer à presidência para mudar a percepçãodas crianças sobre o que era possível.

• Obama fica emocionado com a maneira com queoutros negros que superaram obstáculos de raçase comportaram.

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• Uma destas pessoas é Ruby Bridges Hall, quandoela apareceu para ver o famoso pintura/retratoque Norman Rockwell fez dela indo para escola, eque Obama havia pendurado do lado de fora do Salão Oval. O quadro mostra Ruby com 6 anos de idade, em um vestido branco, andandocalmamente para dentro da escola, e, ao mesmotempo, vê-se um tomate e um insulto escrito naparede atrás dela.

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• O presidente perguntou a Ruby, que hoje tem 58 anos, como ela conseguiu ser tão corajosa tãonova, e disse que às vezes ele presencia suaspróprias filhas olhando para o retrato/quadro.

• Ele lhe disse : “Realmente acho que elas se veemem você.”

• “Ruby respondeu: “Fazer o trabalho que fazemospode ser algo bastante solitário.” E continuou: “Senti que ele me entendeu porque, de certamaneira, pertencemos ao mesmo clube.”

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• Para concluir, desejo voltar à visão de W.E.B Du Bois e os seus comentários sobre a linha de cor porque quaseno fim da sua vida e depois de ter visitado três vezes o gueto judeu de Warsaw, ele percebeu quediscriminação não é somente uma questão de negro contra branco. “Muito além das linhas de cor, a questão de raça e discriminação tem a ver com paradigmas culturais, ensino pervertido, e ódio epreconceito humano que atingiu todos os tipos de pessoas e causou maldade sem fim a todos.”

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