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ED. 276 . ANO 24 MARÇO . 2021 R$ 49,90 Como instituições de ensino têm se mobilizado pela implementação da BNC-Professores A formação de profissionais para a área da saúde em tempos de Covid-19 Prêmio reconhece e incentiva o trabalho de cientistas brasileiras ANÁLISE FORMAÇÃO DOCENTE MULHERES NA CIÊNCIA na gestão educacional Linha Direta MOMENTO DE SE REINVENTAR A busca por parcerias, novas estratégias de captação e retenção de alunos e o estabelecimento de um relacionamento mais humano e personalizado devem estar no radar das escolas infantis

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ED

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24

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2021

R$

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Como instituições de ensino têm se mobilizado pela implementação da BNC-Professores

A formação de profissionais para a área da saúde em tempos de Covid-19

Prêmio reconhece e incentiva o trabalho de cientistas brasileiras

ANÁLISEFORMAÇÃO DOCENTE MULHERES NA CIÊNCIA

na gestão educacionalLinha Direta

MOMENTO DESE REINVENTAR

A busca por parcerias, novas estratégias de captação e retenção de alunos e o estabelecimento de um relacionamento mais humano e personalizado devem estar no radar das escolas infantis

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Capa

10 Momento de se reinventar

smolaw

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Educação em Diálogo

32 Educação: direito fundamental e atividade essencial

35 Com apoio do Sinepe, instituições de ensino do ES retomam atividades presenciais

36 Somos um pouco de cada amigo que temos

Conhecimento

18 A união faz a força: em busca da capacidade de sobrevivência

Educação Cidadã

38Unesco, L’Oréal e Academia Brasileira de Ciências lançam 16ª edição do programa Para Mulheres na Ciência

Inovação & Tecnologia

22 A escola pré-pandemia não deveria reabrir

Gestão Educacional

24 Mais um descalabro

Editorial

4 Educação Infantil enfrenta momento desafiador

Espaço Bett

6 Como instituições de ensino têm se mobilizado pela implementação da BNC-Professores

Empreenda com Êxito

8 “Dupla circulação”, estratégia da China para uma economia saudável

26 Formação de profissionais para a área da saúde em tempos de Covid-19

Educação no Mundo

Ibero-América em Ação

16 Um olhar para a primeira infância

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Revista Linha Direta4

Editora

Karolina Machado

Editorial

No que se refere à sustentabilidade de uma instituição, a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus impac-tou a todos os segmentos da educação privada. Mas foram as escolas de Edu-cação Infantil, especialmente as de pe-queno e médio portes, as mais atingidas. Os motivos variam e vão desde uma difi-culdade maior em proporcionar o ensino remoto para as crianças pequenas até questões como a inadimplência, descon-tos nas mensalidades e evasão escolar. Nesse sentido, ainda há que se lembrar que a matrícula de crianças de até 4 anos de idade em escolas não é obriga-tória. O cenário é desafiador: ao mesmo tempo em que muitas instituições preci-saram investir em recursos tecnológicos, por exemplo, se viram diante da neces-sidade de reduzir custos. Como enfren-tar esse momento tão duro de crise? É o que você irá ler na matéria de capa desta edição da Linha Direta, que traz alguns apontamentos de ações que podem ser adotadas pelas escolas de modo a miti-gar os efeitos desse momento de crise. Assim como acontece em outros seg-mentos e setores, esse período difícil exige reinvenção, uma busca por novos caminhos para superar as dificuldades e continuar crescendo. Boa leitura!

As ideias expressas nos artigos ou matérias assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessa-riamente, a opinião da revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

A revista Linha Direta (ISSN 2176-4417) é uma publicação mensal da Linha Direta Ltda.

Rua Cristiano Moreira Sales, 296 – MillennialSala 402 – Estoril – Belo Horizonte/MGCEP: 30494-360 – Tel.: (31) [email protected]

Tiragem: 5.000 exemplares Pré-Impressão e Impressão

Tel.: (31) 3303-9999

Conselho ConsultivoAdemar Pereira, Adriana Rigon Weska, Airton de Almeida Oliveira, Altamiro Galindo, Álvaro Moreira Domingues Júnior, Amábile Pacios, Anna Lydia Collares dos Reis Favieri Ferreira, Antônio Eugênio Cunha, Antônio Lúcio dos Santos, Átila Rodrigues, Benjamin Ribeiro da Silva, Bruno Eizerik, Cláudia Regina de Souza Costa, Dalton Luís de Moraes Leal, Esther Cristina Pereira, Fátima Turano, Gelson Menegatti Filho, Hermes Ferreira Figueiredo, Ivo Calado, Jorge de Jesus Bernardo, José Carlos Barbieri, Jose Carlos da Silva Portugal, José Carlos Rassier, José Janguiê Bezerra Diniz, Krishnaaor Ávila Stréglio, Manoel Alves, Marco Antônio de Souza, Marcos Antônio Simi, Maria Augusta Oliveira Senna, Maria da Gloria Paim Barcellos, Maria Nilene Badeca da Costa, Miguel Luiz Detsi Neto, Odésio de Souza Medeiros, Paulo Antonio Gomes Cardim, Paulo Sérgio Machado Ribeiro, Raphael Callou, Suely Melo de Castro Menezes, Zuleica Reis Ávila

Assine esta publicação: (31) 2535-3911

Presidente Marcelo Chucre da Costa

Diretora-ExecutivaLaila Aninger

EditoresKarolina MachadoLucas Fonseca

Editor de ArteRafael Rosa

Revisora/Preparadora de TextoCibele Silva

Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade SocialMarcelo Freitas

Consultora em Inovação EducacionalMaria Carmen T. Christóvão

EDUCAÇÃO INFANTIL ENFRENTA MOMENTO DESAFIADOR

EDIÇÃO 276 | ANO 24 | MARÇO | 2021

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Revista Linha Direta6

Espaço Bett

COMO INSTITUIÇÕES DE ENSINO TÊM SE MOBILIZADO PELA IMPLEMENTAÇÃO DA BNC-PROFESSORES

A formação de professores é um tema recorrente e sempre debatido pelas escolas. Com a pandemia, que trouxe uma nova forma de educar e apren-

der, tendo a tecnologia como grande aliada, o desafio está em formar o professor para um novo modelo de aulas, que sai de dentro da sala de aula, presencial, para uma nova reali-dade, híbrida, virtualizada, onde é preciso de-senvolver novas habilidades, que vão desde usar uma sala de videoconferência até pla-nejar atividades para um ambiente virtual de aprendizado que engajem os alunos.

Em paralelo, o Conselho Nacional de Edu-cação (CNE) aprovou, em 2019, e discutiu e homologou, em 2020, as Diretrizes Curricu-lares Nacionais e a Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Profes-sores da Educação Básica (BNC-Forma-ção Continuada). O documento estabelece competências gerais docentes e também competências específicas ligadas aos cam-pos do conhecimento, da prática e do en-gajamento profissional. Enquadram-se tanto os cursos de aperfeiçoamento e pós-gradu-ações quanto as ações formativas organiza-das pelos próprios sistemas de ensino.

Para Lilian Bacich, diretora da Tríade Educa-cional – empresa voltada para a formação de professores –, a implementação da BNC-Pro-

fessores neste momento possibilita trazer mais recursos para os docentes, no sentido de desenvolver uma postura profissional do-cente mais relacionada com as demandas e necessidades do aluno do século 21.

"A BNC-Professores traz um olhar para a formação de um professor que cria opor-tunidades, experiências de aprendizagem, favorece processos que envolvem metodo-logias ativas, desenvolve a autonomia e o protagonismo dos estudantes e utiliza re-cursos digitais voltados para a produção de conteúdo e para o incremento de uma cul-tura digital", disse a especialista.

Bacich, que também é coordenadora de curso de Pós-graduação em Metodologias Ativas no Instituto Singularidades, afirmou ter percebido o quanto as faculdades, uni-versidades e os centros de formação de professores têm, cada vez mais, buscado se capacitar em relação a metodologias ativas e a todos os aspectos relacionados a uma formação de professores que va-lorize o protagonismo e uma visão mais crítica e ativa da construção do conheci-mento. A especialista ressalta ainda que os gestores escolares e instituições de en-sino estão se mobilizando nesse sentido, inclusive estimulando a formação de co-munidades de aprendizagem.

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Revista Linha Direta 7

Redação Bett Educar svetikd/iStock.com

"Essas comunidades de aprendizagem pro-porcionam condições para que a própria instituição analise quais são as suas ne-cessidades, qual é seu público discente e/ou docente e, a partir daí, faça um desenho de formação bem articulado. Também dá a oportunidade de ouvir os professores, que é um ponto essencial para uma formação inicial ou continuada de sucesso, porque é essa escuta ativa que vai fomentar uma for-mação mais conectada com os interesses dos grupos", explicou Lilian Bacich.

INSTITUIÇÕES DE ENSINO JÁ COMEÇAM A SE ADAPTAR ÀS DIRETRIZES DA BNC-PROFESSORES

Um exemplo do que tem sido feito nesse sentido é o case do SAS Plataforma de Edu-cação. Desde a homologação da BNCC, o SAS pensa a formação dos professores das escolas parceiras a partir das diretrizes tra-zidas pelo documento. Foi assim que criou um programa voltado especialmente à fina-lidade de construir cursos e eventos de for-mação de maneira direcionada, a partir de um mesmo referencial: o FOCOS – Formação Continuada SAS.

Alana Vivas, especialista de Conteúdo Pe-dagógico no time de Formação Continuada (FOCOS) do SAS Plataforma de Educação,

revela que além do curso Desenvolvendo Competências e Habilidades na Educação Básica, pensado para abordar a BNCC por uma perspectiva prática, outro curso está por vir: Avaliação da Aprendizagem Escolar, cujo objetivo é levar o professor a repensar a avaliação sob a perspectiva das compe-tências da BNC.

A especialista considera a BNC-Professo-res como um ganho para todos os educa-dores do Brasil, tanto para os que já estão traçando suas carreiras quanto para aqueles que ainda iniciarão suas trajetórias em sala de aula. No entanto, Vivas acha importante ressaltar que o sucesso da BNC-Professores dependerá de uma série de fatores.

"Um deles, pensando especificamente na re-alidade pontual de cada escola, dependerá dos esforços contínuos das equipes pedagó-gicas em proporcionar planos de formação consistentes e que possuam relação direta com as necessidades dos docentes daquela instituição. Isso porque a BNC não encerra ou aprisiona a formação dos professores, assim como a BNCC, em relação à formação dos alunos", opinou Alana Vivas.

Já Susan Clemesha, diretora acadêmica da Sphere International School, rede de esco-las inovadoras e internacionais integrada ao Grupo SEB desde 2015, conta que, desde 2005, quando a escola abriu as portas na cidade de São José dos Campos/SP, a formação conti-nuada de professores vem sendo valorizada. De acordo com a educadora, a escola mantém formações contínuas, como o Plano de Melho-ria Contínua (School Action Plan), formações IB para o PYP (Primary Years Programme) e MYP (Middle Years Programme).

"A formação continuada na Sphere International School também inclui o es-tudo da BNCC e o desenvolvimento de um currículo internacional de excelência nas várias áreas do conhecimento. A participa-ção de todos os professores, assim como orientação educacional, tutoria, entre ou-tras, é essencial ao contexto de educação integral, com foco no desenvolvimento fí-sico, intelectual e socioemocional dos alu-nos", avalia Susan Clemesha.

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Revista Linha Direta8

“DUPLA CIRCULAÇÃO”, ESTRATÉGIA DA CHINA PARA UMA ECONOMIA SAUDÁVEL

Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mun-dial, a China deverá crescer em torno de 8% em 2021. Essa projeção é bem

superior àquela estimada para os demais países desenvolvidos. O prognóstico posi-tivo para a China deve-se a diversos fato-res, dentre eles o êxito do governo chinês no controle da pandemia, o que permitiu que o país voltasse à normalidade do seu cotidiano de trabalho em um espaço de tempo muito menor, se comparado aos países desenvolvi-dos. Estes, preocupados em não “sufocar” a economia com um lockdown, acabaram por fazê-lo, ao manter a população em uma pro-longada crise de saúde pública. Não há re-médio que não seja amargo.

Uma China economicamente saudável é fun-damental para dar início a um ciclo virtu-oso de recuperação da economia global. Por mais que a retomada da economia chinesa conte com o dinamismo de seu mercado in-terno – cada vez mais ávido por consumo –, o fato é que o país também depende de suas exportações e, portanto, da boa saúde econômica de seus principais parceiros co-merciais. Contra esse cenário jogam os pa-íses que adotam medidas protecionistas no comércio internacional e que são unilatera-listas na política global em defesa de seus interesses nacionais.

Revista Linha Direta8

Empreenda com Êxito

É nessa conjuntura de incertezas e dificul-dades que o Partido Comunista da China aprovou o 14º Plano Quinquenal (2021-2025) durante a Quinta Sessão Plenária do 19º Comitê Central, que ocorreu de 26 a 29 de outubro do ano de 2020. O 14º Plano deverá, ainda, ser aprovado pela Assem-bleia Popular Nacional em 2021. Trata-se de uma etapa formal importante para que os órgãos estatais comecem a atuar na di-reção dos objetivos ali previstos. Chamou a atenção o fato de não terem sido es-tabelecidas metas de crescimento do PIB chinês. Essa decisão revela uma pondera-ção diante do quadro de indeterminação sobre os rumos da política e da economia mundial. Mas também é resultado da de-cisão do governo chinês de dar ênfase ao desenvolvimento de alta qualidade e não unicamente à performance quantitativa de sua economia. O desenvolvimento verde, a segurança do consumidor e a inovação na tecnologia são alguns dos diversos temas que mereceram atenção.

O Partido quer melhorar a qualidade e ex-pandir o tamanho do setor de serviços na economia doméstica para desbloquear o potencial de consumo nas mais diversas áreas. E quer fazer isso visando expandir o comércio online e promover uma maior in-tegração entre a internet e os vários modos

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Revista Linha Direta 9

Sócio conselheiro do Instituto Êxito de Empreendedorismo. Consultor do China Desk do Veirano

Advogados. Professor da FGV Direito Rio e da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense

Evandro Menezes de CarvalhoN

ikada/iStock.com

Revista Linha Direta 9

de consumo. Eis aí uma oportunidade pro-missora para parcerias com investido-res estrangeiros que tenham interesse em desbravar o mercado chinês. Esse direcio-namento do Partido para a maior abertura do mercado interno e atração do inves-timento externo tem como exemplo a III China International Import Expo (CIIE), que se realizou no início de novembro pas-sado, em Xangai. Só em 2019, a CIIE, que contou com mais de 3.800 empresas de 181 países, movimentou US$ 71,13 bilhões em negócios pretendidos para a compra de bens e serviços em um ano. A mensa-gem da China é clara: ela quer importar mais e melhores produtos. Vai ficando para trás aquela imagem da China como unica-mente exportadora de produtos.

É nesse amplo contexto que se deve en-tender o conceito de “dupla circulação” mencionado pelo presidente Xi Jinping em maio de 2020. Com uma classe média de mais de 400 milhões de pessoas e uma situação internacional difícil em razão da guerra comercial e tecnológica dos EUA contra a China, a estratégia da dupla circu-lação visa fortalecer o ciclo doméstico de produção e consumo internos como foco principal do governo, mas sem ignorar o ciclo internacional sustentado no comércio exterior e nos investimentos.

Não se trata, portanto, de uma estratégia eco-nômica destinada a “fechar” o mercado chi-nês para o mundo, mas a impulsioná-lo, visando aumentar as chances de sua contí-nua integração com o mercado internacio-nal e como motor da economia global. Se no passado a economia interna chinesa depen-dia fundamentalmente da economia externa, hoje ocorre o contrário. Daí fazer todo sentido o Partido preocupar-se com o mercado do-méstico. Podemos identificar esse conceito de dupla circulação nas diversas medidas previs-tas no 14º Plano Quinquenal, tais como a re-forma estrutural do lado da oferta e a melhoria das cadeias industriais e de abastecimento, bem como o aumento do apoio às empresas, em particular as micro, pequenas e médias.

O Relatório sobre a implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social entregue pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento na Terceira Ses-são da 13ª Assembleia Popular Nacional, em 22 de maio de 2020, refere-se “a uma nova filosofia do desenvolvimento”. Ainda que se constatem preocupações econômicas bási-cas, tais como a de manter o equilíbrio da balança de pagamento, pode-se ver que o 14º Plano Quinquenal baseia-se na “filosofia do desenvolvimento centrado nas pessoas”. Este, sim, é o fator mais relevante da nova economia chinesa para o pós-pandemia.

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Revista Linha Direta10

MOMENTO DESE REINVENTARA busca por parcerias, novas estratégias de captação e retenção de alunos e o estabelecimento de um relacionamento mais humano e personalizado devem estar no radar das escolas infantis

Revista Linha Direta10

Capa

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Revista Linha Direta 11

Ao ingressar em uma escola de Educação Infantil, a criança começa a ter contato com o mundo externo a sua família, começa a conviver com outras crianças e adultos, aprende a fazer amizades. No espaço escolar, tem a oportunidade de

ampliar o seu conhecimento sobre si e sobre o outro, de entender a diversidade e desenvolver o respeito pelas diferentes culturas. É nesse ambiente que a criança será estimulada a desenvolver as capacida-des cognitivas, a se expressar e a desenvolver a linguagem. Ao contrá-rio do que pode parecer à primeira vista, uma instituição de Educação Infantil vai além de um espaço de cuidado e brincadeiras: é também um local que, utilizando-se de estratégias pedagógicas, contribui para o desenvolvimento da criança. O entendimento de que a primeira in-fância é uma fase importante para o desenvolvimento do ser e que a escola infantil pode potencializar a aprendizagem são alguns dos mo-tivos pelos quais se recomenda que os bebês e as crianças pequenas frequentem uma instituição de Ensino Infantil.

Mas, apesar de sua importância no cenário educacional, são as es-colas privadas que ofertam exclusivamente Educação Infantil as que mais têm sofrido os impactos da pandemia. Em junho de 2020, a Fe-deração Nacional das Escolas Particulares (Fenep) temia que 80% das instituições privadas de Educação Infantil fossem forçadas a fechar as portas em definitivo devido à evasão provocada pela pandemia do novo coronavírus.

“A pandemia trouxe dificuldades ainda maiores para as escolas que atuam exclusivamente com a Educação Infantil por causa da dificul-dade dos alunos dessa idade em estudar por meio do ensino remoto, pois precisam estar acompanhadas pelos pais, e nem sempre as famílias têm essa disponibilidade; pelo entendimento equivocado de alguns pais de que a Educação Infantil é apenas um local para brincadeiras e dis-trações, portanto, não essencial na formação da criança; muitas famílias também tiveram que cortar despesas e optaram por tirar seus filhos da escola; e também pela inadimplência nas mensalidades, que aumentou consideravelmente em todos os segmentos da educação. Diante desse cenário, as escolas de Educação Infantil tiveram que reduzir custos onde era possível e, ao mesmo tempo, investir em recursos tecnológicos para a escola digital”, explica o consultor e sócio-diretor da agência educa-cional EMME – Educação e Marketing, Cássio Mori.

Revista Linha Direta 11

Redação Linha Direta

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Revista Linha Direta12

FIDELIZANDO ALUNOS E CAPTANDO NOVOS ESTUDANTES A pandemia do novo coronavírus mudou o modo de trabalhar. O processo é de trans-formação, o que engloba a forma de cap-tar e reter alunos. Cássio Mori avalia que é necessário que as escolas atuem de modo diferente dos anos anteriores, buscando im-plementar o digital em sua atuação e desen-volvendo um relacionamento mais humano. Segundo o consultor, também é necessário entender que a captação e retenção dos es-tudantes é uma responsabilidade de todos, e que isso não fica restrito apenas ao período de campanhas de matrículas. "O marketing escolar é uma junção de uma série de ações realizadas pelos diversos atores que com-põem a escola e tem uma relação muito maior na comunicação e no relacionamento entre os atores envolvidos no ambiente edu-cacional do que a própria campanha publi-citária", afirma.

Além da conexão com as famílias dos alu-nos e do desenvolvimento de um relacio-namento mais humano e personalizado, Cássio Mori elenca outras atitudes que podem ajudar na captação e retenção de alunos nessa nova realidade: cuidado com a retomada das atividades – algo que deve ir além do protocolo sanitário, incluindo o cuidado com o lado emocional dos alu-nos; organizar os canais de atendimento e de comunicação – telefone, site, redes so-ciais, atendimento via chat ou videoconfe-rência e atendimento presencial; envolver a equipe da escola para que todos sigam na mesma direção; posicionar a escola, pen-sando no presente e no futuro; ter sensibili-dade ao criar peças de marketing em época de luto coletivo.

Nesse processo, ele também elenca seis compromissos necessários às instituições de ensino e que a equipe escolar precisa as-sumir: rapidez para ser protagonista, leveza para se adaptar às mudanças, visibilidade para que todos reconheçam os diferenciais da escola, conexão para atender às neces-sidades de alunos e famílias, exatidão nas informações e excelência no trabalho para construir o futuro de cada um dos alunos.

O QUE FAZER DIANTE DESSE CENÁRIO?

Para enfrentar este momento de crise, o consultor acredita que a principal estra-tégia a ser tomada pela escola infantil deve ser buscar, ao máximo, desenvol-ver ações para fidelizar os atuais edu-candos. “Manter a proximidade com as famílias, mesmo à distância, personali-zar o ensino no que for possível e, prin-cipalmente, intensificar a comunicação e sua presença na casa de cada um dos estudantes. Fidelizando os atuais alu-nos, a família se tornará uma promotora da escola, atraindo outros mais e aju-dando a resgatar aqueles que evadiram durante a pandemia”, analisa Mori, que também é gestor de duas unidades es-colares no interior de São Paulo.

Tornar evidente o valor da escola ganha ainda mais importância neste período. Para isso, é importante deixar claro para os pais/responsáveis e para toda a co-munidade escolar quais são os diferen-ciais da instituição, bem como mostrar que, apesar da pandemia, a escola mantém seus processos claros, bem de-finidos e organizados. Ainda que online, criar um ambiente dinâmico, inovador, prático e significativo pode gerar maior interesse nos educandos e, consequen-temente, nas famílias.

Capa

Arquivo pessoal

Cássio Mori, consultor e sócio-diretor da agência educacional EMME – Educação e Marketing

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Revista Linha Direta 13

CRIANDO PARCERIAS QUE IMPULSIONEM O CRESCIMENTO

O consultor também acredita que buscar parcerias que agreguem valor à instituição escolar e que contribuam com a formação dos alunos pode ser uma estratégia não só para que as escolas de Educação Infantil sobrevivam como para que encontrem novas oportunidades de cres-cimento. Mas ele alerta: nesse caminho é preciso ter cri-térios e cuidados. Dentre eles, é necessário conhecer as necessidades da escola e analisar se a parceria se alinha ao DNA e aos objetivos da instituição de ensino. Quando efetivada a parceria, também se deve avaliar periodica-mente os resultados colhidos com a ação.

Como exemplo de parceria, o consultor cita um modelo que já acontece entre escolas que ofertam exclusiva-mente Educação Infantil e escolas que oferecem o 1º ano do Ensino Fundamental. “Em algumas regiões do Brasil, a escola de Educação Infantil indica para os familiares de seus alunos formados a escola parceira que oferece En-sino Fundamental. Em contrapartida, recebe um valor mo-netário da escola parceira por cada matrícula efetivada, ou benefícios como o uso das áreas esportivas, teatros, laboratórios e outras estruturas físicas da escola parceira, em determinados dias do ano. Isso significa que a escola de Educação Infantil é beneficiada financeiramente, e isso ajuda no orçamento anual e nos investimentos em melho-rias, ou ainda em atividades complementares para seus alunos, utilizando o espaço físico da escola parceira, dife-renciando-se de seus concorrentes”, diz.

Contudo, ele alerta para o risco que a escola infantil corre ao sugerir uma instituição específica aos pais. “Quando a escola de Educação Infantil indica uma escola de Ensino Fundamental para uma família, ela assume certa respon-sabilidade com essa família quanto à qualidade e ao su-cesso da indicação. Caso os pais ou responsáveis pelo aluno fiquem frustrados com o desenvolvimento dele na escola indicada, sem dúvida, irá responsabilizar, em parte, a escola de Educação Infantil. Mais que isso, a família frustrada será uma detratora do modelo de parceria, co-locando em risco a estratégia”, diz. “Em minha avaliação, a escola infantil não deve formalizar parceria com ape-nas uma escola de Ensino Fundamental para indicação de alunos, pois sabemos que uma escola pode ser boa para uma família e não tão boa para outra. O ideal é ter par-cerias com diversas escolas de Ensino Fundamental, com diferentes propostas pedagógicas, e indicar para os pais não apenas uma, mas um conjunto de escolas distintas, deixando que eles escolham aquela que mais se adequa às suas necessidades”, completa.

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FORMANDO UMA REDE EM QUE TODOS SÃO BENEFICIADOS

Foi pensando no processo de transição do aluno que está se formando em uma escola exclusiva-mente de Educação Infantil e que, portanto, precisa ingressar em uma instituição de Ensino Fundamen-tal, que a SOMOS Educação desenvolveu a plata-forma Somos Integra. Com a iniciativa, a companhia pretende criar uma rede de benefícios que funciona assim: a escola de Educação Infantil realiza um ca-dastro para divulgar a plataforma Somos Integra para as famílias com filhos que estão se formando ou já se formaram na escola infantil e que estão à procura de uma instituição que oferte o 1º ano do Ensino Fundamental. Ao se cadastrar na Somos Integra, essas famílias poderão visualizar as esco-las de Ensino Fundamental parceiras da SOMOS que estão próximas de sua localidade, bem como os benefícios que elas oferecem. Também pode-rão marcar visitas para conhecer o espaço da insti-tuição. A partir do momento em que a matrícula é concretizada, os benefícios entre as partes come-çam a ser efetivos. A família recebe seus benefícios exclusivos, as escolas infantis uma remuneração e acesso a benefícios divulgados pela escola parceira e a escola SOMOS um serviço que a permite divul-gar sua instituição de maneira mais qualificada. Importante destacar que, assim, a escola de Edu-cação Infantil irá divulgar a plataforma, e não uma escola de Ensino Fundamental específica. Toda escola infantil localizada em território brasileiro pode participar da ação. O pré-cadastro já pode ser realizado na Somos Integra, cujo lançamento está previsto para o período entre os meses de junho/julho deste ano.

VP de Educação Digital da SOMOS Educação, Ca-mila Cardoso, que está à frente do projeto, conta que a Somos Integra nasce com o objetivo de ser uma rede de benefícios em que todos ganham. A SOMOS Educação se posiciona como organiza-dora do ecossistema, fortalecendo seu posiciona-mento de auxiliar a educação brasileira por meio de serviços e tecnologia para além de soluções edu-cacionais. A escola infantil tem um incremento de receita a cada matrícula efetivada na escola par-ceira SOMOS, acesso a serviços como assessoria na gestão escolar e a um conjunto de benefícios, a exemplo do usufruto de instalações como qua-dras esportivas, auditório, laboratórios, entre outros (sobre esse aspecto, vale salientar que cada escola

parceira SOMOS é que definirá o conjunto de be-nefícios a ser repassado para a escola infantil), en-quanto as escolas parceiras da SOMOS ganham uma contribuição a mais para a divulgação da ins-tituição e de seus diferenciais pedagógicos para permitir seu crescimento orgânico. Por sua vez, as famílias ganham o auxílio de um canal digital com informações sobre as principais escolas da região que são parceiras da SOMOS e acessam uma rede de benefícios exclusivos, como descontos em uni-formes, cursos extracurriculares, dentre outros.

Cardoso também conta que a plataforma foi pen-sada para ser usada sem gerar custos para os agentes envolvidos nesse processo. “O custo só é realizado para a escola parceira SOMOS quando ela efetiva uma matrícula. E, com essa cobrança, a plataforma repassa para a escola de Ensino In-fantil os benefícios financeiros”, explica a VP de Educação Digital.

Ela ainda conta que a expectativa da SOMOS com a ação é atingir mais de 2 mil escolas de Educação Infantil no Brasil e quase 100 mil alunos, os quais fariam parte da plataforma em busca de uma es-cola para o Ensino Fundamental anos iniciais. “Por meio dessa rede, famílias, escolas parceiras e esco-las de Ensino Infantil passam a trocar benefícios ex-clusivos, além de servir como um canal importante de recomendações e de conhecimento sobre as es-colas no seu entorno. A SOMOS tem como missão contribuir para a educação brasileira e ajudar as es-colas na transformação digital. Usar tecnologia para criar uma rede de benefícios como a Somos Integra é cumprir com a nossa missão e tangibilizar nossa plataforma de serviços”, conclui.

Revista Linha Direta14

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Camila Cardoso, VP de Educação Digital da SOMOS Educação

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Revista Linha Direta16

Ibero-América em Ação

Revista Linha Direta16

A Organização dos Estados Ibero--Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) vai lan-çar, no primeiro semestre deste ano

de 2021, a publicação Educação infantil em pauta, com estudos e experiências de es-pecialistas brasileiros no âmbito da pri-meira infância. A ideia é compartilhar um rico material sobre o assunto com a comu-nidade científica e acadêmica, gestores de políticas públicas e a sociedade civil.

A iniciativa da OEI vai ao encontro de um dos seus propósitos: atuar no desenvolvimento de atividades orientadas para a elevação dos níveis educativos, científicos, tecnológicos e culturais, uma vez que a Organização tem a primeira infância como prioridade em seu contexto nacional e regional.

Trata-se de uma coletânea de textos que se coaduna ao programa Metas Educativas 2021: a educação que queremos para a ge-ração dos bicentenários – adotado pelos ministérios de Educação dos países ibero-

UM OLHAR PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA

-americanos – e possui também o obje-tivo de melhorar a qualidade e a equidade na educação para fazer frente à pobreza e à desigualdade e, desta forma, favorecer o de-senvolvimento social. A obra alinha-se tam-bém ao Programa Plurianual da OEI, que estabelece as diretrizes da Organização para o biênio e possui um eixo destinado à edu-cação, que se desdobra e dá ênfase especial à primeira infância, uma vez que garantir a educação desde o nascimento, enquanto di-reito, é indispensável para o alcance do de-senvolvimento infantil pleno.

Os temas reunidos no volume vão desde o fortalecimento das capacidades políticas e técnicas à formação de professores, anali-sando os desafios de aumento nas matrí-culas, tendo em vista o Plano Nacional de Educação (PNE), até a questão da quali-dade e dos currículos na Educação Infantil.

Na prática, trata-se de abordar com fir-meza grandes desafios, como acesso e qualidade, avaliação, práticas pedagógi-

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Diretor e chefe da Representação da OEI no Brasil

Raphael Callou

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cas e implementação da BNCC na etapa da Educação Infantil e, ao mesmo tempo, en-frentamento das demandas exigidas pela sociedade da informação e do conheci-mento de incorporação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no en-sino e na aprendizagem, investimento em inovação e na criatividade, bem como a redução das desigualdades no âmbito dos sistemas de ensino.

Para alcançar tais fins, a publicação conta com a participação de autores renomados no segmento e tem como objetivo prin-cipal a disseminação de conhecimento acerca dos múltiplos temas que envolvem a Educação Infantil no Brasil. Essa etapa da vida abrange crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, prezando pela melhoria da qua-lidade da educação, bem como pelo de-senvolvimento de políticas públicas para o setor, tanto no Brasil quanto nos paí-ses integrantes da OEI, buscando, ao final, contribuir para o fortalecimento de capa-cidades políticas e técnicas.

É nítido o esforço da região, especial-mente dos 23 países que compõem a OEI, para que avancemos de forma mais contundente no desenvolvimento de po-líticas públicas e práticas sociais que garantam às crianças a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento integral, além do exercício pleno de seus direi-tos. Por isso, um dos principais objeti-vos da publicação é a democratização do acesso à informação e, mesmo com a di-versidade no perfil dos especialistas, a obra consegue manter um perfil editorial coeso, qualidade possível por conta da adoção de estratégias que tiveram o cui-dado de buscar a compreensão por di-versos perfis de leitores.

É preciso compreender que uma iden-tidade ibero-americana deve ser cons-truída desde a primeira infância, e é justamente com uma Educação Infantil de qualidade que encontramos as condi-ções para o desenvolvimento pleno e in-tegral das crianças.

kali9/iStock.com

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Conhecimento

O ano de 2020 foi dureza, e 2021 deverá ser ainda mais de-safiador. Para fazer desse limão uma limonada, parece estar havendo cada vez mais consenso sobre como transformar a educação trazendo sustentabilidade às instituições de Ensino

Superior (IES). Vamos a ele.

Pode-se afirmar que a pandemia somente acelerou uma série de ten-dências que já estavam no horizonte. De maneira geral, sabia-se que o uso de educação digital deveria ser ampliado, independentemente da modalidade presencial ou a distância. Ao quebrar o paradigma de que o ensino em sala de aula é “melhor” que o digital, as IES abriram espaço para a implantação do ensino híbrido – quando se integram momentos virtuais e presenciais em um mesmo processo de ensino--aprendizagem – conduzido por metodologias ativas – tendo o estu-dante como agente de seu aprendizado. Esse formato, além de facilitar o equilíbrio das contas das IES, pode aumentar a captação e a retenção dos alunos, na medida em que possibilita algum grau de personaliza-

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A UNIÃO FAZ A FORÇA: EM BUSCA DA CAPACIDADE DE SOBREVIVÊNCIA

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Membro do Conselho de Administração da DTCOM. Consultor na Hoper Educação

Norton Moreira

ção orientando o processo de ensino-aprendizagem pela empregabi-lidade. Ou seja, é preciso oferecer cursos focados nas competências necessárias para permitir ao estudante estar apto a trabalhar na região onde vive. Esses novos produtos poderão ressignificar o diploma, já tão desgastado como garantidor de competências profissionais.

O estudo de potenciais cenários de futuro 2020-2025, realizado pela Hoper Educação, reforça essa visão identificando consumidores que, a partir da transformação digital criada pela pandemia, se tornaram mais exigentes e buscarão novos produtos educacionais e atendimento di-ferenciado em um contexto de redução de preços, tornando o cenário ainda mais desafiador para as IES. Uma vez que o Brasil tem grande potencial de crescimento do mercado de Educação Superior, haverá um acirramento da concorrência entre as pequenas instituições com atuação regional e os grandes grupos com atuação nacional, que po-derão investir em tecnologias educacionais para aumentar a capilari-dade e a base de alunos.

Neste ponto, o leitor pode estar se perguntando o motivo do título A união faz a força. Explico: transformar uma IES custa caro, e pouquís-simas instituições podem fazer esse investimento hoje. Então, para se reinventar e sobreviver, as IES poderão buscar sinergia entre suas coir-mãs pequenas e médias regionais. Dessa forma, terão a oportunidade de reduzir custos, ao mesmo tempo em que se qualificam para ter di-ferencial e sustentabilidade na região.

Veja que, de acordo com o Censo da Educação Superior de 2019, rea-lizado pelo Inep, existem 2.608 instituições de ensino no Brasil, onde estudam 8,6 milhões de pessoas. No entanto, excluídas as 302 IES pú-blicas e as 53 particulares com mais de 15 mil alunos – que teorica-mente têm condições de fazer investimentos –, temos um universo de 1.734 instituições – 97% das IES particulares – com um total de cerca de 2 milhões de alunos, das quais somente 13% oferecem cursos di-gitais. Se analisarmos pelo viés de matrículas, o cenário é ainda mais desafiador para essas pequenas e médias IES que não pertencem a nenhum grupo consolidador (PMIES), pois detêm apenas 6% do mer-cado de educação digital, em um cenário em que existe um aumento significativo de estudantes que passam a preferir o EaD como modali-dade de ensino. Ou seja, se nada for feito, a concentração de estudan-tes nas grandes IES só tende a aumentar.

Ao comparar os números das PMIES com as grandes IES (GIES), perce-bem-se diferenças que apontam para elementos importantes de ajus-tes em custos e servem como direcionadores de uma solução. Em média, um professor nas PMIES atende 17 estudantes, enquanto nas GIES esse número chega a quase 50. Nas PMIES, o maior curso tem em média 400 matriculados, enquanto nas grandes instituições esse número é três vezes maior, chegando próximo a 1.300 matriculados. Os cinco maiores cursos somam 2,6 milhões do total de estudantes, e dois terços deles estudam nas GIES, fazendo com que a quantidade de alunos por curso tenha uma relação muito mais sadia.

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Conhecimento

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Sendo este o cenário que se vislumbra, gradualmente as PMIES per-derão a capacidade de concorrer com as GIES, e poderemos ter, em um futuro próximo, um ensino pasteurizado em larga escala, propor-cionado pelas grandes IES, que formarão a maior parte dos cidadãos e trabalhadores do Brasil, banalizando ainda mais o diploma de Ensino Superior, uma vez que não atenderá às demandas do mercado. Para que 1.734 PMIES possam ter capacidade de investir numa transfor-mação digital que traga igualdade de condições no modelo de oferta, deverão apostar na personalização com viés regional, aumentando a oferta e a capilaridade. Mas como viabilizar o investimento, se o alto custo seria inviável para as pequenas e médias IES, que já têm um alto endividamento? Entre as soluções, talvez a melhor delas seja criar par-cerias com outras PMIES para que, juntas, possam somar competên-cias e capacidade de investimento.

Esses “arranjos educacionais locais”, quando diversas pequenas e mé-dias IES se somam para aproveitar o melhor de suas capacidades, per-mitem oferecer à comunidade um ensino híbrido de qualidade, focado na realidade da região. Assim, as PMIES associadas poderão utilizar tecnologia, conteúdo, serviços e professores trabalhando em parce-ria, reduzindo custos e dividindo o investimento necessário para a implantação.

Além da redução de custos, o foco dos arranjos educacionais locais deverá ser o de ampliar o portfólio de cursos, permitindo personaliza-ção no formato híbrido. Ao aumentar a capilaridade regional e a pre-sença digital, terão um atendimento muito mais eficiente, reduzindo a evasão e ampliando a captação.

O modelo comercial e as responsabilidades de cada IES no conglome-rado regional deverão ser definidos caso a caso, levando em conside-ração as melhores competências disponíveis, de modo a ter a maior capilaridade possível aliada a uma gama de produtos híbridos focados no mercado local.

Se 2021 for um ano de transformação, teremos um 2022 com mui-tas IES isoladas trabalhando qualidade e empregabilidade. Um cenário bem mais interessante do que uma forte concentração de estudantes nas IES que sobreviverem.

CURSODireitoAdministraçãoPedagogiaEnfermagemContabilidade

ALUNOS/CURSO415129161193112

PEQUENAS E MÉDIAS IES

CURSOPedagogiaDireitoAdministraçãoContabilidadeEnfermagem

ALUNOS/CURSO1.278717563416482

GRANDES IES

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Em meio a um cenário de tragé-dia global, presenciamos a mais espetacular guinada nas nossas vidas, nos sistemas vigentes, nos

processos produtivos e em tudo aquilo que, até então, julgávamos funcio-nar adequadamente. A pandemia nos impôs um momento ímpar para refletir sobre o que construímos, sobre nossos próprios valores, sobre as relações que mantemos com o mundo a nossa volta.

No universo empresarial, o funcio-namento de instituições foi colocado à prova e, em muitos casos, tensio-nado ao extremo. Lideranças tiveram que questionar suas próprias postu-ras e valores. Profissionais foram leva-dos a reavaliar suas competências e a se reinventar. Empresas foram forçadas a rever suas práticas e a se reposicio-nar no mercado. Várias delas fecharam suas portas por resistirem às mudan-ças necessárias. Outras redirecionaram seus recursos, criaram novos produtos, abandonaram velhas práticas, lançaram estratégias inovadoras para transitar no novo ambiente e atender necessi-dades recentes. Um novo mundo co-meçou a ganhar forma. E a escola?

A ESCOLAPRÉ-PANDEMIA NÃO DEVERIA

REABRIR

O ambiente recente tem nos submetido a experiências inéditas, nos convidado a promover mudanças e a rever paradigmas. Não seria esse o momento de desapegar?

Inovação & Tecnologia

OPORTUNIDADE ÚNICA

O ambiente educacional, nesse período, buscou se ajustar a uma realidade para a qual não foi desenhado. Adaptações, como as aulas remotas, mostraram a fragilidade dos processos educa-cionais baseados na transmissão de conteúdos e apoiados no modelo da aula presencial. Em sua maioria, despreparada para utilizar as ferramentas digitais e as mídias do século 21, a comunidade educativa foi levada à exaustão, tentando recupe-rar o terreno perdido ao longo dos anos de des-compasso com as mudanças do mundo.

Enquanto na Educação Básica as soluções cami-nharam na perspectiva de operação tapa-buraco, no Ensino Superior a oferta e utilização do EaD disparou. Em outra ponta, as chamadas edtechs, mais ágeis, seguem oferecendo soluções com o uso de tecnologia, acelerando a transformação digital do segmento.

Aos poucos, gestores educacionais e educadores estão percebendo a real dimensão do problema e entendendo que a solução pede uma avaliação mais profunda e mudanças mais contundentes.

No âmbito da gestão educacional, processos, ta-refas operacionais e até a estrutura física, pas-sando por modelos de negócios e experiência

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Especialista em Gestão Estratégica e Capital Humano. Mentor em Inovação Educacional, CEO em edtechs, escritor e palestrante

Marcelo Freitas

do usuário (digital e física), clamam por serem reinventados. Na esfera pedagó-gica, uma nova forma de ensinar já se faz presente. Estamos diante da grande oportunidade de sepultar de vez boa parte do modelo da velha escola.

Se toda crise é o ambiente perfeito para gestar inovações, esta não pode ser des-perdiçada. O momento impõe desapego, e a solução passa por não reabrir a es-cola pré-pandemia. Não é retomando as mesmas velhas práticas e as metodolo-gias antiquadas e sem sintonia com os novos tempos que a escola se fará pre-sente. Não se pode confundir o momento “volta às aulas” com a volta ao passado.

A oportunidade nos oferece a chance de reinventar a escola. Como? Aí vão algu-mas sugestões:

NO AMBIENTE EDUCACIONAL• Derrubando paredes e transfor-mando as salas de aula em espaços de convivência e construção de com-petências socioemocionais. Ressigni-ficando espaços físicos e melhorando a qualidade educacional e a experiên-cia do usuário.• Promovendo a integração com a co-munidade e o mundo exterior. Abra-çando projetos de economia solidária e empreendedorismo na comunidade.

NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

• Adotando o ensino híbrido em todas as fases.• Organizando as turmas por áreas de interesse e não por idade, potencia-lizando a aprendizagem colaborativa.• Desenvolvendo competências e ha-bilidades empreendedoras no currí-culo desde a Educação Infantil, a partir da aprendizagem baseada em proje-tos e resolução de problemas reais.• Usando de maneira intensiva tecno-logias como inteligência artificial e re-alidade aumentada, para melhorar a experiência do usuário e a aprendiza-gem individual.

NA GESTÃO• Integrando a comunidade educativa ao am-biente de inovação aberta, ao hub das edtechs e às parcerias estratégicas.• Acelerando a transformação digital com o uso intensivo de tecnologia e da IA. • Introduzindo novos modelos de negócios e monetização, expandindo a carteira de clien-tes com produtos inovadores. Conhecimento pode ser embalado em diversos formatos e dirigido a públicos diferentes.• Aplicando metodologias gerenciais de su-cesso, como Lean, Agile etc.• Inovando na gestão de pessoas através de novos formatos de contratação, remunera-ção, processos seletivos, avaliação, treina-mento e engajamento de profissionais.

Fácil não é, mas dificilmente teremos outra oportunidade como esta para nos desvenci-lharmos das amarras de um modelo educacio-nal que já não atende mais às necessidades atuais e que atenderá menos ainda no pós--pandemia. Se precisar de uma ajuda para ino-var, conte com o MoviEscola.

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Gestão Educacional

MAIS UM DESCALABRO

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Benjamin Ribeiro da SilvaPresidente do Sieeesp

Que politizaram a pandemia e transformaram a Covid-19 em bandeira partidária e eleitoreira todos viram, e não é nenhuma novidade. En-tretanto, a pior novidade já se tornou uma prática: mais uma vez, po-líticos de várias cidades resolveram ser mais realistas do que o rei.

Anunciaram que iriam retardar, novamente, a volta às aulas presenciais, tor-nando ainda mais penoso o confinamento dos alunos da Educação Básica, principalmente as crianças de 0 a 3 anos e 11 meses. Desta vez não puderam dar como desculpa a “ciência” que eles diziam seguir, que nenhuma relação guarda com a realidade da ciência e medicina verdadeiras, para as quais lugar de criança é na escola. Mas isso não parece importar, pois já foram eleitos ou reeleitos.

Esses mesmos políticos, que tiveram quase um ano (sim, o fechamento das escolas foi em março de 2020, e tem cidade que já avisou: presencial só em abril de 2021!) para preparar a escola municipal para um retorno seguro, se-guindo protocolos, estão inventando outra desculpa: seguir o calendário de vacinação, para o qual, pasmem, dizem “estar preparados”. Mas como assim? Por acaso haverá vacinação de crianças no Brasil, agora? O Brasil comprou e vai imunizar crianças? Que vacina é essa? Alguma vacina no mundo está sendo testada em crianças?

Parece que está se tornando um padrão, não para o bem, mas para o mal das crianças. Já adiaram antes o retorno para acolhimento, e resolveram confron-tar o Plano São Paulo de volta às aulas no estado.

A escola passou a ser considerada também serviço essencial no decreto es-tadual da pandemia em São Paulo. Ela tem de funcionar em todas as fases, desde a vermelha, como aconteceu agora no início de março, em todo o es-tado de São Paulo. Como o próprio secretário estadual de Educação Rossieli Soares afirmou, as prefeituras têm de provar que não podem retornar por questões graves da doença, com justificativas epidemiológicas concretas, e isso precisa constar nos decretos de fechamento. “A justificativa de que vai esperar a vacina não vale”, alertou Rossieli.

Ou seja, não há mais lugar para “achismos científicos”, testes sorológicos que nada provam de verdade se a criança está ou não com a doença (servem ape-nas para saber se já teve contato com o vírus no passado), alegações sem consistência médica e outras desculpas. Um ano para preparar as escolas e não fizeram isso?

Já afrontaram a ciência e a medicina, usaram a doença como bandeira elei-toreira, continuam desprezando a vida, a saúde física e mental das crianças, mantendo-as confinadas, expostas à violência doméstica e as impedindo de voltar à escola, e agora usam como “motivo” a vacina? Até quando esses polí-ticos vão usar a Covid-19 para esconder as mazelas de suas gestões?

Esse descalabro precisa acabar.

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Educação no Mundo

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INTRODUÇÃO

Este artigo trata da formação de profissionais para a área da saúde em tempos de Covid-19. Apresenta algumas reflexões sobre a rea-lidade de saúde que foi agravada a partir de fevereiro de 2020, com a chegada do novo coronavírus ao Brasil, e em 11 de março de 2020, quando a OMS declarou a Covid-19 como uma pandemia.

Vale a sugestão da coletânea Coronavírus e o impacto na educação superior brasileira, disponível para download gratuito no portal www.eduxconsultoria.com.br. Publicada em sete e-books, a coletânea detalha os vários aspectos inerentes à pandemia da Covid-19.

A formação de profissionais para a saúde en-volve duas áreas extremamente importantes e que interferem diretamente nas condições de vida das pessoas: educação e saúde.

Assim, a formação em saúde deve considerar todos os atos normativos da educação, em primeiro plano porque estamos falando de formação, mas também porque é necessá-rio considerar os atos normativos da saúde. Nesse contexto, que envolve a educação e a saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), insti-tuído pela Lei n. 8080, de 19 de setembro de 1990, é o fundamento principal para todos os cursos de graduação em saúde, sendo o re-ferencial que embasa tanto a formação como o exercício profissional.

Isso se confirma nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos Cursos de Graduação em Saúde, do Conselho Nacional de Edu-cação (CNE), e na Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n. 287, de 8 de ou-tubro de 1999, que assumem as seguintes premissas:

1. Saúde é direito de todos e dever do Es-tado, ampliando essa compreensão da relação saúde/doença como decorrên-cia das condições de vida e trabalho, bem como do acesso igualitário de todos aos serviços de promoção, proteção e recupe-ração da saúde, colocando como uma das questões fundamentais a integralidade da atenção à saúde e a participação social.

FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS

PARA A ÁREA DA SAÚDE EM

TEMPOS DE COVID-19

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Iara de Xavier Braga Doutora em Saúde Pública. Professora aposentada da UnB. Consultora e diretora-executiva

da EDUX Consultoria. Sócia e conselheira do Instituto Êxito de Empreendedorismo. Assessora da Presidência da ABMES e diretora técnica da Abrafi

2. A ação em saúde é interdisciplinar e multiprofissional, tendo o SUS como fun-damento principal.

3. A Resolução do CNS n. 287 define as seguintes categorias profissionais de saúde de nível superior: assistentes so-ciais, biólogos, biomédicos, profissionais de educação física, enfermeiros, farma-cêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricio-nistas, odontólogos, psicólogos e tera-peutas ocupacionais.

Vale destacar, ainda, que a formação em saúde demanda um arcabouço teórico ino-vador, além de recursos tecnológicos de úl-tima geração. É formação teórico-prática que articula ensino-serviço durante todo o curso, que, na sua maioria, tem carga horária e tempo de integralização longos, na faixa de 4.000 a 7.200 horas em cinco a seis anos. Essas especificidades dos cursos da saúde exigem docentes e técnicos preparados e competentes, investimentos de várias natu-rezas, além de período longo para a formação profissional. Assim, não dá para improvisar. As políticas públicas precisam prever todas as situações que envolvem ou que poderão envolver a formação em saúde, que é com-plexa, dinâmica e intersetorial.

Podemos afirmar que a análise referente aos cursos da área da saúde, especialmente medicina, não pode levar em conta apenas o quantitativo de profissionais com registro profissional. Essa análise deve ser muito mais abrangente e qualitativa devido às várias es-pecificidades dessa temática. Como sabe-mos, há muitos profissionais de saúde que, apesar do registro profissional, não atuam diretamente na assistência à saúde no SUS. Muitos profissionais estão liberados para atuar exclusivamente em entidades de classe (conselhos, sindicatos, partidos políticos etc.) ou em instituições de Educação Superior, de pesquisa ou em outras realidades.

Nesse sentido, vários estudos e documen-tos oficiais revelam que a carência de pro-fissionais de saúde no Brasil não é recente. É na verdade um problema crônico, que tem dificultado a implementação de vários pro-

gramas e projetos vinculados ao SUS. Com a pandemia da Covid-19, essa situação se agravou, chegando a pôr em risco a quali-dade da assistência prestada à população nas cinco regiões brasileiras.

POLÍTICAS PÚBLICAS E CURSO DE MEDICINA

Nesse contexto, o curso de medicina tem sido alvo de políticas públicas que visam im-pedir a sua expansão, independentemente da qualidade da instituição de Educação Su-perior (IES) e da precária realidade sanitária brasileira.

Antes da pandemia, a situação da formação médica no Brasil já era preocupante devido, principalmente, ao fato de o MEC ter fechado o sistema e-MEC em 2013 para abertura de novos processos de autorização de cursos de medicina. Esse fechamento permanece até os dias atuais, independentemente da qua-lidade da IES e do perfil epidemiológico da região. Essa decisão levou à redução signi-ficativa de formados em medicina para atuar no SUS.

O fechamento do sistema e-MEC ocorreu, inicialmente, por meio da Portaria Norma-tiva n. 1, de 25 de janeiro de 2013, que es-tabeleceu o calendário regulatório de 2013, excluindo a possibilidade de protocolo de pedidos de autorização de cursos de medi-cina. Esse ato de fechamento foi reproduzido anualmente, sendo o mais recente a Porta-ria n. 1.067, de 23 de dezembro de 2021, que estabelece o calendário anual de abertura do protocolo de ingresso de processos regulató-rios no Sistema e-MEC em 2021.

Art. 8º: Os pedidos de autorização de cursos de medicina serão regidos pela Lei n. 12.871, de 22 de outubro de 2013, e outros instrumentos normativos especí-ficos, conforme o caso, não seguindo os trâmites e prazos previstos nesta Portaria. Parágrafo único: Os pedidos de aumento de vagas em cursos de medicina observa-rão o disposto na portaria MEC n. 328, de 5 de abril de 2018, não seguindo os trâmi-tes e prazos previstos nesta Portaria.

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A alternativa do governo federal foi criar o Programa Mais Médicos, por meio de Me-dida Provisória convertida na Lei n. 12.871, de 22 de outubro de 2013, sendo um dos seus objetivos suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades.

CAPÍTULO II

DA AUTORIZAÇÃO PARA O FUNCIONA-MENTO DE CURSOS DE MEDICINA

Art. 3º: A autorização para o funciona-mento de curso de graduação em Medi-cina, por instituição de educação superior privada, será precedida de chamamento público, e caberá ao Ministro de Estado da Educação dispor sobre: (...)

Até a presente data, foram publicados qua-tro editais (2014, 2015, 2017 e 2018) para criação de novos cursos de medicina pelo Programa Mais Médicos. O edital de 2018 foi em substituição ao de 2015, cancelado por conta de disputas judiciais.

Vários estudos, bem como o Tribunal de Contas da União (TCU), revelaram que os objetivos do programa não foram alcança-dos. Voto da relatora Ana Arraes, do TCU (Acórdão TCU n. 1.869/2016), no julga-mento das representações apresentadas após o primeiro edital, a ADI 5037, critica a politicagem nos municípios para que eles fossem selecionados para a abertura dos cursos.

Os argumentos de Ana Arraes, em síntese, foram:

152. Contrariamente ao que afirma a Seres/MEC, a política educacional im-plantada não traz expansão de mercado para oferta de cursos de Medicina. Na melhor das hipóteses, se presta apenas a promover uma redistribuição na oferta dos cursos, com sua interiorização. No que se relaciona aos números nacio-nais, a política de autorização de fun-cionamento de cursos exclusivamente em municípios pré-selecionados tem o potencial de restringir a oferta, uma vez

que os grandes centros – onde se si-tuam os maiores mercados e as maiores rendas, necessárias para pagamento das mensalidades de cursos médicos – es-tarão alijados do processo.

153. Neste sentido, saliento que o pro-cesso de interiorização dos cursos, na forma pretendida, poderá ocasionar um “nivelamento por baixo” na proporção de médicos para as necessidades da popu-lação, uma vez que, contrariamente ao que se imagina, não existe saturação no mercado de médicos em praticamente nenhum local do Brasil. A respeito, trans-crevo trecho constante do documento intitulado “Programa Mais Médicos – Dois Anos: Mais Saúde para os Brasilei-ros”, da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publica-coes/programa_mais_medicos_dois_anos.pdf. Acesso em: 15 jun. 2016):“Além de o Brasil apresentar uma pro-porção insuficiente de médicos para as necessidades da população, esses pro-fissionais estão mal distribuídos no ter-ritório. Das 27 unidades da Federação, 22 estão abaixo da média nacional, sendo que 5, todas nas regiões Norte e Nordeste, têm o indicador de menos de 1 med/1.000 hab. O Estado de São Paulo, o mais rico da Federação e com a terceira melhor proporção nacional de médicos (2,49 med./1.000 hab.), tem apenas 6 de suas 17 Regionais de Saúde com média acima da nacional.Sabe-se que o número de médicos por habitante do Brasil está abaixo de outros países, bem como da média dos países da OCDE, que é de 3,2.”

156. Ao valer-me da teoria econômica que explica os movimentos dos merca-dos, concebo que essa possível migra-ção somente deixará de existir quando a demanda por novos profissionais e a oferta para sua formação for tratada em sua forma integral, ou seja, quando o total de profissionais formados em todo o país for igual ou superior ao número de profissionais demandados pela sociedade.

Educação no Mundo

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157. A política pública adotada, no en-tanto, não enfrenta essa questão e atua em sentido oposto, na medida em que, como já afirmei, cria cláusulas de bar-reiras diversas que restringem, dificul-tam ou mesmo impedem a abertura de novos cursos de medicina. (...)

Em 15 de dezembro de 2017, foi publicado o Decreto n. 9.235, que referendou, no seu ar-tigo 23, a Lei n. 12.871, de 22 de outubro de 2013, para autorização de curso de medicina.

A Portaria MEC n. 328, de 5 de abril de 2018, suspende por cinco anos o proto-colo de pedidos de aumento de vagas e de novos editais de chamamento público para autorização de cursos de medicina, nos ter-mos do art. 3, da Lei n. 12.871/2013. Essa portaria criou tratamento diferenciado para aumento de vagas de medicina para IES privadas e para as universidades federais.

A suspensão do protocolo de pedidos de aumento de vagas de que trata o caput não se aplica aos cursos de me-dicina autorizados no âmbito dos editais de chamamento público em tramita-ção ou concluídos, segundo o rito es-tabelecido no art. 3º da Lei n. 12.871, de 2013, e aos cursos de medicina pactua-dos no âmbito da política de expansão das universidades federais, cujos pedi-dos de aumento de vagas poderão ser solicitados uma única vez e analisados de acordo com regras e calendário es-pecíficos, a serem definidos pelo Minis-tério da Educação – MEC.

Em 5 de abril de 2018, o MEC publicou a Portaria n. 329, de 5 de abril de 2018, que dispõe sobre a autorização e o funciona-mento de cursos de graduação em medi-cina nos sistemas de ensino dos estados e do Distrito Federal.

Art. 1º: Os sistemas de ensino dos Esta-dos e do Distrito Federal deverão adotar os critérios definidos na Lei n. 12.871, de 22 de outubro de 2013, nos termos definidos pelo art. 46, § 5º, da Lei n. 9.394, de 1996, para a autorização e o funcionamento de cursos de graduação em medicina.

Parágrafo único: Os processos de au-torização de cursos de graduação em medicina nos estados e no Dis-trito Federal deverão ser precedidos de procedimento de chamamento pú-blico para seleção de municípios e de propostas das instituições públicas de ensino superior dos seus respectivos sistemas de ensino.

Em 4 de dezembro de 2018, o MEC publi-cou a Portaria n. 1.302, que altera a Porta-ria MEC n. 328, de 5 de abril de 2018.

Art. 1º: (...)Parágrafo único: A suspensão do proto-colo de pedidos de aumento de vagas de que trata o caput não se aplica:I - aos cursos de medicina autorizados no âmbito dos editais de chamamento público em tramitação ou concluídos, segundo o rito estabelecido no art. 3º da Lei n. 12.871, de 2013;II - aos pedidos de aumento de vagas de medicina protocolados no Ministério da Educação até a data da publicação desta Portaria, cuja análise observará instrução a ser expedida pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educa-ção Superior; eIII - aos cursos de medicina pactuados no âmbito da política de expansão das universidades federais, cujos pedidos de aumento de vagas poderão ser soli-citados uma única vez e analisados de acordo com regras e calendário especí-ficos, a serem definidos pelo Ministério da Educação. (NR)

Em 18 de dezembro de 2019, foi promul-gada a Lei n. 13.958, que institui o Pro-grama Médicos pelo Brasil, no âmbito da atenção primária à saúde no SUS. Entre-tanto, a Lei n. 12.871, do Programa Mais Médicos, não foi revogada integralmente. Foram revogados apenas seus arts. 6º e 7º, que tratavam de residência médica.

Com base no exposto, podemos constatar a implementação de uma política pública restritiva em relação à expansão de cursos de medicina em IES privadas, independen-temente dos indicadores de qualidade da

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IES e da realidade epidemiológica da re-gião, do estado e do Brasil.

Segundo o sistema e-MEC, em 2/12/2020, o Brasil tem 337 cursos de medicina em atividade; o setor privado corresponde a 60% do total da oferta de cursos de me-dicina, totalizando 36.670 vagas anuais.

O Relatório Demografia Médica no Bra-sil 2020, produzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com cooperação técnica do Conselho Federal de Medicina, revela que, em novembro de 2020, o Brasil passou a contar com 500 mil médicos. Com isso, o Brasil passa a ter a razão de 2,38 médi-cos por 1.000 habitantes, permanecendo a desigualdade na distribuição de médicos por região: Norte (1,30) e Nordeste (1,69) apresentam uma média menor do que o índice nacional, enquanto o Sul (2,68), Centro-Oeste (2,74) e Sudeste (3,15) exi-bem um desempenho melhor.

As regiões Norte e Nordeste têm os pio-res indicadores. Todos os seus 16 estados estão abaixo da média nacional, que é de 2,38 por mil habitantes.

Cabe registrar que o Relatório Demogra-fia Médica no Brasil 2020 não considera a diversidade entre os países nem cita as situações qualitativas que interferem nas condições de vida e de saúde da popula-ção brasileira, assim como não menciona a Covid-19 nem a pandemia do novo co-ronavírus presentes no cenário mundial em 2020.

Apesar de o relatório afirmar que houve elevação quantitativa de médicos por mil habitantes, o Brasil ainda está abaixo de vários países. Seguem alguns exemplos: Brasil, 2,38; Chile, 2,5; Estados Unidos, 2,6; Canadá, 2,7; Reino Unido, 2,8; Austrá-lia, 3; Argentina, 3,2; Itália, 3,5; Alemanha, 3,6; Uruguai, 3,7; Portugal, 3,9; e Espa-nha, 4. Outra informação relevante é que a média dos 37 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 3,5 médicos por mil habitantes.

Essa realidade não pode ser considerada exclusivamente pela abordagem quanti-tativa. É preciso considerar também as questões qualitativas, assim como os aspectos relacionados às diversidades regionais, nacionais e internacionais.

Dito de outra forma, ao analisar a força de trabalho em saúde, é preciso con-siderar, além dos dados quantitativos, as situações qualitativas das realidades social, econômica, educacional, sanitá-ria, cultural e política, destacando que a realidade brasileira é totalmente dife-rente das realidades dos países citados.

Outra informação importante é que o número de equipamentos de saúde au-mentou mais que o de médicos nos úl-timos cinco anos. Nos últimos dez anos foram abertos 146 mil postos de pri-meiro emprego formal contra 93 mil formados em medicina. Situação alar-mante é a região Norte, que concentra o maior déficit de médicos no País, em comparação com a quantidade de equi-pamentos de saúde.

Essa política de proibição de abertura de novos cursos de medicina por parte do MEC tem os seguintes impactos:

• Baixo atendimento da demanda por formação na área médica.

• Elitização da profissão.

• Encarecimento das mensalidades dos cursos de medicina.

• Crescimento da procura de brasi-leiros por cursos em países vizinhos.

• Impasse no Revalida.

• Impacto na qualidade da atenção e da integralidade em saúde – SUS.

Confira na próxima edição da Linha Direta a continuação deste artigo.

Educação no Mundo

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Educação em Diálogo

EDUCAÇÃO: DIREITO FUNDAMENTAL E ATIVIDADE ESSENCIAL

O Brasil, depois de mais de 20 anos de regime militar, com o advento da Constituição Federal de 1988, instituiu um Es-tado democrático de direito, que marcou a transição demo-crática e a institucionalização dos direitos humanos no País.

O estabelecimento de um Estado social e democrático pressupõe, para sua concretização, respeito aos direitos individuais e amparo aos sociais. Assim como os direitos humanos, institucionalizados pela Constituição Federal, que abrangem, de maneira universal, ga-rantias fundamentais, como saúde, educação, segurança e liberdade. Eles se estendem a todas as pessoas, sem distinção.

Ao estabelecer a norma constitucional que o direito social à educa-ção é um direito de todos e dever do Estado, respeitá-lo tem como objetivo o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art. 205).

Resguardar o direito à educação visa à formação de cidadãos que in-daguem, questionem, construam, descubram, a partir de uma forma contínua de aprendizado, indo além de uma educação engessada, com vistas apenas à socialização do ser humano, resultando na pro-cura de uma educação crítica e não em adestramento. Assim se lê na obra Ciência, ética e sustentabilidade, quando faz menção às palavras de Paulo Freire evidenciando a importância de não serem pessoas mera repetidoras de fórmulas matemáticas e que decoram textos e detalhes da história, mas que têm conhecimentos suficientes para tomar iniciativa e propor soluções.

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Ana Elisa Dumont de Oliveira Resende Graduada em Direito e pós-graduada em Direitos Sociais, Ambientais e do

Consumidor. Especialista em Gestão Educacional. Advogada e diretora da Escola Casa de Brinquedos em Brasília/DF. Presidente do Sinepe/DF

Para reforçar o caráter social e político da educação, vale citar The-odoro H. Marshall: “a educação é um pré-requisito necessário da li-berdade civil”, sendo indispensável ao indivíduo ler e escrever.

O acesso à educação é a abertura de um novo horizonte ao indiví-duo, pois dá a ele a chave para autoconstrução e de seu reconhe-cimento como um ser capaz de ter opções. A educação é a chance que o cidadão tem de crescer, de trilhar caminhos diferentes.

Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 53, conceituou a criança e o adolescente como cidadãos, assegurando a eles o direito à educação, visando ao desenvolvimento e ao preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho.

Diante do exposto, em que pesem os desafios impostos pela emer-gência sanitária, a criança e o adolescente não podem ter seu direito educacional suprimido, pois são sujeitos de direito, vulnerá-veis, em condição de desenvolvimento e devem ser tratados como prioridade, como determina o art. 227 da Constituição Federal.

Não restam dúvidas a respeito do papel insubstituível e essencial da educação na formação do indivíduo. Estudos e pronunciamen-tos da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Na-ções Unidas para a Infância (Unicef) e da Associação Brasileira de Pediatria têm focado a importância da educação, pois não adianta cuidar da saúde biológica e descuidar da saúde mental: os danos são irreparáveis.

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Educação em Diálogo

Os prejuízos advindos do fechamento das escolas e o impacto cau-sado no aprendizado estão documentados, como explicitado na fala de Audrey Azoulay, diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): "Os fechamentos prolonga-dos e repetidos de instituições de ensino estão causando um impacto psicossocial cada vez maior nos estudantes, e também estão aumen-tando as perdas de aprendizagem e os riscos de abandono escolar, além de afetar os mais vulneráveis de maneira desproporcional. O fe-chamento total das escolas deve, portanto, ser o último recurso, e rea-bri-las com segurança, uma prioridade".

Além do impacto causado na aprendizagem do aluno e no aumento da evasão escolar, incluem-se nos prejuízos provocados pela suspensão das aulas: redução de atividade física e má nutrição – muitas crianças e adolescentes alimentam-se prioritariamente na escola; danos à saúde mental e ao bem-estar; aumento da violência contra a criança e o ado-lescente dentro de casa. E, ainda, com o retorno de muitos adultos ao trabalho, em especial em comunidades mais carentes, cujos moradores nunca deixaram de trabalhar, as crianças ficam sozinhas ou sob cuida-dos de familiares e vizinhos, o que as deixa mais expostas.

Recentemente, o Unicef publicou estudo segundo o qual, em virtude do fe-chamento das escolas, a segurança das crianças e dos adolescentes está sendo colocada em risco, com consequências de difícil reparação, pois a escola é uma rede de apoio no que se refere a violência doméstica, pedofi-lia, prevenção de gravidez infantil e uso de drogas. De acordo com o estudo, cerca de 30% das crianças em isolamento desenvolveram critérios clínicos para diagnóstico de transtorno do estresse pós-traumático; houve aumento de 50% nas denúncias por violência doméstica; e, entre março e abril de 2020, a redução de 18% de denúncias de abuso contra crianças no Brasil.

Como defendido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Unesco, Unicef e OMS, o desafio de garantir a frequência de crianças e adolescentes às escolas é grande. No entanto, o risco de evasão e suas consequências em virtude da ausência no espaço escolar é muito maior. O momento é de integração da saúde e da educação.

A educação é uma atividade essencial, tanto que é reconhecida pela Cons-tituição Federal como direito fundamental social, assim como a saúde. O seu papel é fundamental neste momento, inclusive no combate ao vírus, com ações educativas. Essa conclusão vem de experiências já vividas, em que temas como combate à dengue, prevenção de uso de drogas e tabagismo, respeito a faixas de pedestre, entre outros, são inseridos no ambiente escolar devido à sua efetividade. Segundo o professor Álvaro Domingues, ex-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF), “saúde cuida, educação previne”.

A aplicação efetiva da educação em práticas sociais é um instrumento inabalável de redução de desigualdades e de discriminação, permitindo aproximação entre os povos, globalmente. A universalização da educa-ção de qualidade é um pressuposto civil de cidadania universal. Logo, não podemos desmerecê-la como um direito fundamental e uma ativi-dade essencial.

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Assessoria Sinepe/ES

COM APOIO DO SINEPE,

INSTITUIÇÕES DE ENSINO

DO ES RETOMAM

ATIVIDADES PRESENCIAIS

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Educação em Diálogo

O ano letivo de 2021 começou com esperança de dias melhores para alunos, familiares, professores e colaboradores das instituições de

ensino particulares do Espírito Santo. Se-guindo todos os protocolos sanitários e de segurança e contando com o apoio e orien-tação do Sindicato das Empresas Particu-lares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES), as escolas e faculdades capixabas re-tomaram as atividades presenciais no iní-cio de fevereiro. Desde o final do ano passado, quando o re-torno foi autorizado pelo governo do Es-pírito Santo, as instituições particulares já vinham se preparando para iniciar o ano letivo de 2021. "Estamos trabalhando com responsabilidade e segurança, com sistema de rodízio entre alunos e oferta de ativida-des remotas", ressaltou o presidente do Si-nepe/ES, Moacir Lellis. Lellis destaca, ainda, a importância de manter as atividades presenciais – princi-palmente para os alunos. "Enfrentamos um ano difícil em 2020, com nossos alunos fi-sicamente longe das escolas, e sabemos o quanto isso faz falta no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Mas nos pre-paramos para esse retorno e temos certeza de que faremos o melhor no decorrer de 2021", pontuou. Para garantir a retomada segura e respon-sável das atividades presenciais, o Sinepe/ES buscou orientação de profissionais e pre-parou um protocolo de saúde e segurança para as instituições associadas. Além disso, o sindicato trabalha diariamente na orienta-ção e apoio das escolas e faculdades. Ainda que seja um ano desafiador, o vice--presidente do Sinepe/ES, Eduardo Costa Gomes, acredita em um 2021 positivo para o segmento educacional. "É certo que es-tamos mais fortes e mais bem preparados para qualquer tipo de situação. É lógico que não podemos tirar de cena a gestão de saúde. Com isso, precisamos reforçar ainda mais a ideia de prevenção dentro e fora das escolas", enfatiza.

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Educação em Diálogo

De início, gostaria de contar uma pequena história. Na véspera do casamento do filho, seu velho pai o chama para uma conversa:

“Amanhã você vai se casar, vai ter uma es-posa, depois filhos, que passarão a ser a prioridade em sua vida. Mais tarde, seus filhos farão exatamente o que você está fazendo comigo e que eu fiz com o seu avô. E o que será de você? Por isso, nunca se distancie dos amigos. Hoje você não compreenderá essa importante lição, mas, repito, dedique tempo aos amigos.

E muito mais necessários eles serão à me-dida que você for envelhecendo. É com eles que você vai rememorar boas histó-rias, dar gargalhadas gostosas, falar de política e futebol, contar segredos, esque-cer frustrações, angústias e ingratidões. Conselhos sábios de um velho pai, pois muito do que somos devemos aos amigos,

SOMOS UM POUCODE CADA AMIGOQUE TEMOS

e, quando se perde um amigo – seja pela morte, seja por circunstâncias alheias à nossa vontade –, é um pedaço de nós que se vai. Ah, como dói! E não é dor física. Por que os amigos não são eternos?”

Amigos são os irmãos que nos damos, ao passo que os irmãos são os amigos que Deus nos dá – parafraseando um enge-nheiro carioca. Pessoas tóxicas há sim, e muitas, entretanto os amigos são medici-nais, pois curam as nossas mazelas pelo simples fato de estarem junto de nós. Ami-zade é cumplicidade, disposição para todo tipo de ajuda, reciprocidade de afetos, con-fiança, troca de experiências e lembranças de boas histórias em comum. E uma relação de amizade adulta será vitoriosa na medida do diálogo, das concessões mútuas e até mesmo da tolerância. Tal qual o amor, a amizade é uma roseira em seu jardim: se há a beleza e o perfume das flores, também há os espinhos que por vezes nos machucam.

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Jacir J. Venturi Professor, diretor de escola e autor de três livros. Membro do Conselho

Estadual de Educação do Paraná

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E qual a diferença entre "eu gosto de ti" e "eu te amo"? – questionou um discípulo ao mestre Buda, lá pelo longínquo ano de 550 a.C. Eu agora peço vênias pela licença poética que pratico na resposta dada por Buda: quando tu gostas de uma flor, tu a arrancas e a levas contigo para que con-temples a sua beleza e seu aroma. Mas se tu amas a flor, tu a cultivarás com todo o teu zelo e carinho. Cabe recordar que Buda, aos 26 anos, abandonou uma vida de riquezas e luxúrias no palácio da famí-lia em busca da elevação espiritual. Corroboram esse pensamento os antigos gregos, para os quais a amizade é uma va-riação do amor – um amor temperado pela razão, que denominavam philia. Aristóte-les se faz oportuno ao afirmar que "nin-guém escolheria viver sem amigos, mesmo se tivesse todos os outros bens e a no-breza". Sim, sem amigos a vida se tornaria insignificante.

Epicuro, outro filósofo helênico e que re-cebeu o epíteto de Apóstolo da Amizade, quando perguntado sobre o que se deve fazer para uma vida feliz, respondeu que, "para a felicidade, das mais importantes é a amizade". Em 306 a.C., já com seus 36 anos, Epicuro arrebanhou alguns de seus leais amigos, e juntos adquiriram uma es-pécie de chácara nas cercanias de Atenas, onde fundaram uma escola, denominada Academia Jardim, formando com os dis-cípulos uma sociedade autossustentável: plantavam e colhiam inclusive o próprio alimento. Não havia hierarquia, e dedica-vam o tempo essencialmente aos estudos e à reflexão. As refeições eram o momento de compartilhamento de todos, de cele-bração e alegria, pois era cultura da escola que mais importante que comer é com quem comer; alimentar-se sem a compa-nhia de amigos é viver como um lobo. Todavia, a realidade contemporânea tem imposto importantes reveses às amiza-des reais, verdadeiras. Um dos bons e re-presentativos analistas dessa realidade foi o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), que chamou os atuais laços afetivos de líquidos, frágeis e individualis-tas. Ele refletiu em sua obra sobre as re-lações de amizade efêmeras do mundo das redes sociais, onde tudo é fugaz: ele se sentia estupefato com as pessoas que têm 500 ou 1000 “amigos”, pois ele, que passou dos 90 anos, contaria nos dedos aqueles que chamaria de amigos.

Para Bauman, isso é um grande paradoxo, pois é um solitário em meio a uma mul-tidão de solitários, um ecossistema onde “tudo é mais fácil na vida virtual, mas per-demos a arte das relações sociais e da amizade. Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem feito. O que se consome e o que se compra são apenas sedativos morais que tranquili-zam seus escrúpulos éticos”. Prevalece o fast-food (não só o da alimentação), longe do apregoado por Epicuro. E o que será dessa geração quando chegar aos 50, 60, 70 anos, sem que tenham sido cultivados os amigos de verdade?

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Educação Cidadã

UNESCO, L’ORÉAL E ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS LANÇAM 16ª EDIÇÃO DO PROGRAMA PARA MULHERES NA CIÊNCIA

As inscrições para concorrer ao prêmio de R$ 50 mil vão até o dia 10 de maio

Uma pesquisa realizada em 2020 pela L’Oréal com 70 das laureadas por meio do instituto inglês Kite Insights mostrou os obstáculos que as cientistas encontram em sua profissão. No estudo, 61% informaram que responsabilidades como

lecionar ou cuidar dos filhos são as maiores dificuldades. Já para 51% das mulheres, o ponto mais complicado foi encontrar equilí-brio entre a vida pessoal e profissional. Para 46% delas, as demais responsabilidades no âmbito familiar foram as mais desafiadoras.

Para promover e reconhecer a participação da mulher na ciência, a L’Oréal, a Unesco no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizam o programa Para Mulheres na Ciência, que este ano chega à sua 16ª edição. As inscrições vão até o dia 10 de maio. As sete vencedoras receberão, cada uma, uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil para dar prosseguimento a seus estudos. Elas serão conhecidas no mês de agosto.

Na edição brasileira, todo ano, sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemá-tica são contempladas. Dentre os requisitos para participar do Para Mulheres na Ciência, a candidata precisa ter concluído o douto-

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Redação Linha DiretaVladim

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rado a partir de 1º de janeiro de 2014. Para mulheres que têm um filho, o prazo se estende por mais um ano e, para as que têm dois ou mais, o prazo adicional será de dois anos. A cientista também deve ter residência no Brasil e desenvolver projetos de pesquisa em instituições nacionais. O regulamento completo, com os demais re-quisitos que precisam ser cumpridos e mais informações está dis-ponível no link global do programa, que você pode acessar pelo QR Code ao lado.

Desde sua criação, o Para Mulheres na Ciência já reconheceu e in-centivou 103 cientistas brasileiras, premiando a relevância dos seus trabalhos, com a distribuição de mais de R$ 4,3 milhões em bolsas--auxílio. “Para a Unesco, é um enorme orgulho participar de mais uma edição do programa e contribuir para dar visibilidade às jovens cientistas, para promover a importância da mentoria na pesquisa e para advogar – junto à sociedade brasileira – pela equidade de gê-nero. Nesses 16 anos de programa, testemunhamos o desenvolvi-mento de uma série de conteúdos, campanhas e outras referências sobre o tema produzidos no âmbito da parceria L’Oréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco”, afirma Marlova Jovchelovitch No-leto, representante e diretora da Unesco no Brasil.