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Linha-guia de Hipertensão Arterial, Diabetes
Mellitus e Doença Renal Crônica
Secretaria Municipal de Saúde de Manaus
09 DE FEVEREIRO DE 2014
2
Secretaria Municipal de Saúde de Manaus
Linha-guia
Tema: Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus e Doença Renal Crônica Data: 14/08/2013
Responsáveis: Ailton Cezário Alves Júnior e Grupo de Condições
Crônicas da SMS de Manaus
Autores:
Coautores:
Revisores:
Validação interna:
Validação externa:
Revisão: 09/02/2014
Revisão nº: 07 Data: 09/02/2014 Nº páginas: 229
Elaboração – Ailton Cezário Alves Júnior
Verificação
Aprovação
3
LISTA DE ACRÔNIMOS E SIGLAS
aa - Artérias
ACC - Antagonistas dos canais de cálcio
ADA - American Diabetes Association
AIT - Acidente isquêmico transitório
Alb - Albumina
AMPA- Auto- medida da pressão arterial
APS - Atenção primária à saúde
ASS - Atenção secundária à saúde
AVC - Acidente vascular cerebral
B3 - Terceira bulha
BRA - Bloqueadores dos receptores de angiotensina
CA - Circunferência abdominal
CAD - Cetoacidoce diabética
CG - Cockcroft e Gault
CH - Crises hipertensivas
CHO - Carboidrato
CKD-EPI - Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration
COAP - Contrato organizativo da ação pública da saúde
COX-1 - Inibidores da ciclooxigenase 1
COX-2 - inibidores da ciclooxigenase 2.
CPK - Creatinofosfoquinase
Cr - Creatinina
CRIE - Centro de Referência em Imunobiológicos Especiais.
DAC - Doença arterial coronariana
DAOMI- Doença arterial obstrutiva de membro inferior
DAP - Doença arterial periférica
DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension
DCV - Doença cardiovascular
DIMED - Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Medicamentos
DM - Diabetes mellitus
4
DM1 - Diabetes mellitus tipo 1
DM2 - Diabetes mellitus tipo 2
DPP - Diabetes Prevention Program
DRC - Doença renal crônica
DVP - Doença vascular periférica
EAS - Elementos anormais e sedimentos
ECA - Enzima conversora da angiotensina
ECG - Eletrocardiograma
EH - Emergências hipertensivas
EHH - Estado hiperglicêmico hiperosmolar
EUA - Estados Unidos da América
FGe - Filtração glomerular
GGT - Gama glutamil transpeptidase
GIP - Gastric inibitory polypeptide
GLP-1 - Glucagon-like peptide-1
GME - Glicemia média estimada
HAR - Hipertensão arterial resistente
HAS - Hipertensão arterial sistêmica
HAS-M- Hipertensão arterial sistêmica mascarada
HAS-AB - Hipertensão arterial sistêmica do avental branco
HAS-S - Hipertensão arterial sistêmica secundária
Hb – Hemoglobina
HbA1c - Hemoglobina glicada (Glycated haemoglobin)
HDL - Colesterol (High density lipoprotein)
HVE - Hipertrofia ventricular esquerda
IAM - Infarto agudo do miocárdio
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC - Insuficiência cardíaca
ICC - Insuficiência cardíaca congestiva
ICFEP - Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada
IDF - International Diabetes Federation
IECA - Inibidores da enzima de conversão da angiotensina
5
IM - Intramuscular
IMC - Índice de massa corporal
ITB - Índice tornozelo braço
IV - Intravenosa
KDIGO - Kidney Disease Improving Global Outcomes
LDL - Colesterol (Low density lipoprotein)
LSD - Dietilamida ácido lisérgico (Lyserg Säure Diethylamid)
MACC - Modelo de Atenção às Condições Crônicas para o SUS
MAPA - Monitorização ambulatorial da pressão arterial
MDRD - Modification of Diet in Renal Diseases
MDI - Múltiplas doses diárias
MMII - Membros inferiores
MMSS - Membros superiores
MODY - Maturity onset diabetes of the young.
MRPA - Monitorização residencial da pressão arterial
NaCl - Cloreto de sódio
NASF- Núcleo de apoio à saúde da família.
NCEP - National Cholesterol Education Program
NCEP - ATP III - National Cholesterol Education Program Adult Treatment Panel III
NGSP - National Glycohemoglobin Standardization Program
NPH - Neutral Protamine de Hagedorn
OMS - Organização Mundial de Saúde
PA - Pressão arterial
PAD - Pressão arterial diastólica
PAM - Pressão arterial média
PAS - Pressão arterial sistólica
PASA em rede - Ponto de atenção secundário ambulatorial em rede
PNSSD - Polineuropatia sensitiva simétrica distal
PSPP - Perda da sensibilidade protetora plantar
PTH - Paratormônio
RCV - Risco cardiovascular
REMUME - Relação Municipal de Medicamentos Essenciais
6
SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes
SC - Subcutânea
SES/MG - Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
SIGAF - Sistema Integrado de Gerenciamento de Assistência Farmacêutica
SIH - Sistema de Informação Hospitalar do Ministério da Saúde
SIM - Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde
SIS-HIPERDIA - Sistema de Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus da
Atenção Básica.
SEMSA/Manaus – Secretaria Municipal de Saúde de Manaus
SM - Síndrome metabólica
SRAA - Sistema renina angiotensina aldosterona
SUS - Sistema Único de Saúde
T4 - Tetraiodotiroxina
TFG - Taxa de filtração glomerular
TG - Triglicérides
TGO - Transaminase glutâmico oxalacética
TGP - Transaminase glutâmico pirúvica
TOTG - Teste oral de tolerância à glicose
TRS - Terapia renal substitutiva
TSH - Hormônio tireoestimulante
UA/UC - Relação albumina/creatinina em amostra isolada de urina.
UBS - Unidade básica de saúde
UH - Urgências hipertensivas
UI - Unidade internacional
USG - Ultrassonografia
VET - Valor energético total
VIGITEL - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico
7
SUMÁRIO
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ...............................
1.1 Conceito ............................................................................................................................................. 2
1.2 Epidemiologia....................................................................................................................................
1.3 Fatores de Risco.................................................................................................................................
1.3.1 Genéticos............................................................................................................................
1.3.2 Idade...................................................................................................................................
1.3.3 Gênero e etnia.....................................................................................................................
1.3.4 Sobrepeso e obesidade........................................................................................................
1.3.5 Ingestão de sal.....................................................................................................................
1.3.6 Ingestão de álcool................................................................................................................
1.3.7 Sedentarismo.......................................................................................................................
1.3.8 Fatores socioeconômicos.....................................................................................................
1.4 A Aferição da Pressão Arterial..........................................................................................................
1.5 Rastreamento.....................................................................................................................................
1.5.1 Rastreamento em crianças e adolescentes.........................................................................
1.5.2 Rastreamento em adultos..................................................................................................
1.6 Diagnóstico.......................................................................................................................................
1.6.1 Diagnóstico em crianças...................................................................................................
1.6.2 Diagnóstico em adultos.....................................................................................................
1.6.3 Diagnóstico em idosos......................................................................................................
1.6.4 Diagnóstico em obesos.....................................................................................................
1.6.5 Diagnóstico em gestantes...............................................................................................
1.6.6 Outros métodos diagnósticos............................................................................................
1.7 Classificação....................................................................................................................................
1.7.1 Classificação da pressão arterial em crianças e adolescentes.........................................
1.7.2 Classificação da pressão arterial em adultos..................................................................
1.8 Avaliação Clínica Inicial................................................................................................................
1.8.1 Anamnese......................................................................................................................
1.8.2 Exame físico.......................................................................................................................
8
1.8.3 Exames complementares..................................................................................................
1.9 Estratificação de Risco..................................................................................................................
1.9.1 Estratificação de risco clínico (cardiovascular global)..................................................
1.9.2 Estratificação de risco de indivíduos com hipertensão arterial sistêmica para a
organização da rede de atenção em Manaus....................................................................
1.10 Plano de Cuidados...............................................................................................................
1.10.1 Abordagem multiprofissional...............................................................................
1.10.2 Tratamento não medicamentoso...........................................................................
1.10.3 Tratamento medicamentoso..................................................................................
1.11 Hipertensão Arterial Secundária...........................................................................................
1.12 Urgências e Emergências Hipertensivas...............................................................................
1.12.1 Abordagem clínica................................................................................................
1.13 Complicações Crônicas da Hipertensão Arterial Sistêmica (Lesões em Órgãos-Alvo)........
1.13.1 Hipertrofia ventricular esquerda..........................................................................
1.13.2 Doença arterial coronariana................................................................................
1.13.3 Insuficiência cardíaca.........................................................................................
1.13.4 Doença vascular periférica.................................................................................
1.13.5 Ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral..................................
1.13.6 Nefropatia hipertensiva.......................................................................................
1.13.7 Retinopatia hipertensiva......................................................................................
1.14 Referências Bibliográficas.................................................................................................
SEÇÃO 2 – DIABETES MELLITUS ............................................................................
2.1 Conceito.................................................................................................................................
2.2 Epidemiologia........................................................................................................................
2.3 Fatores de Risco e Prevenção................................................................................................
2.4 Classificação..........................................................................................................................
9
2.4.1 Diabetes mellitus tipo 1..........................................................................................
2.4.2 Diabetes mellitus tipo 2..........................................................................................
2.4.3 Diabetes gestacional...............................................................................................
2.5 Rastreamento.......................................................................................................................
2.5.1 Rastreamento do diabetes mellitus em crianças....................................................
2.5.2 Rastreamento do diabetes mellitus em adultos....................................................
2.5.3 Rastreamento do diabetes mellitus em gestantes.................................................
2.6 Diagnóstico..........................................................................................................................
2.7 Avaliação Clínica Inicial.....................................................................................................
2.7.1 Anamnese.............................................................................................................
2.7.2 Exame físico........................................................................................................
2.7.3 Avaliação laboratorial.........................................................................................
2.8 Estratificação de Risco......................................................................................................
2.8.1 Estratificação de risco de indivíduos com relação ao diabetes mellitus para a
organização da rede de atenção................................................................................
2.9 Plano de Cuidados................................................................................................................
2.9.1 Abordagem multiprofissional.................................................................................
2.9.2 Controle glicêmico.................................................................................................
2.9.3 Tratamento não medicamentoso (mudanças no estilo de vida)............................
2.9.4 Tratamento medicamentoso.................................................................................
2.9.5 Autocuidado apoiado..........................................................................................
2.10 Rastreamento e Acompanhamento das Complicações Crônicas (Lesões de Órgãos-
Alvo)..........................................................................................................................................
2.10.1 Complicações macrovasculares............................................................................
2.10.2 Complicações microvasculares.............................................................................
2.10.3 Neuropatia diabética............................................................................................
2.10.4 Pé diabético.........................................................................................................
10
2.11 Referências Bibliográficas..................................................................................................
SEÇÃO 3 – DOENÇA RENAL CRÔNICA ..............................................................
3.1 Conceito.................................................................................................................................
3.2 Epidemiologia......................................................................................................................
3.3 Fatores de Risco e Prevenção..............................................................................................
3.4 Rastreamento.......................................................................................................................
3.5 Diagnóstico.........................................................................................................................
3.6 Classificação (Categorização)............................................................................................
3.7 Avaliação Clínica Inicial....................................................................................................
3.8 Estratificação de Risco.......................................................................................................
3.8.1 Estratificação de risco de indivíduos com doença renal crônica para a
organização da rede de atenção...................................................................................
3.9 Plano de Cuidados...............................................................................................................
3.9.1 Abordagem multiprofissional.............................................................................
3.9.2 Manejo do indivíduo com doença renal crônica................................................
3.9.3 Encaminhamento do usuário com doença renal crônica para acompanhamento
nefrológico conjunto......................................................................................................
3.10 Referências Bibliográficas..................................................................................................
SEÇÃO 4 – A ORGANIZAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO..........
4.1 Atenção Primária à Saúde.............................................................................................
4.1.1 Competências da atenção primária à saúde....................................................
4.1.2 Atribuições dos profissionais da atenção primária à saúde...........................
4.1.3 A atenção programada na atenção primária à saúde.....................................
4.2 Atenção Secundária à Saúde........................................................................................
11
4.2.1 Competências da atenção secundária à saúde...................................................
4.2.2 Critérios de encaminhamento de hipertensos, diabéticos e usuários com doença
renal crônica para a atenção secundária à saúde na rede da Secretaria Municipal de
Saúde de Manaus.........................................................................................................
4.2.3. A atenção programada na atenção secundária à saúde......................................
4.3 Critérios de Encaminhamento de Hipertensos e Diabéticos para o Serviço de Pronto
Atendimento..............................................................................................................................
4.4 Gestão de Casos...................................................................................................................
4.4.1 Critérios gerais para gestão de casos....................................................................
4.4.2 Critérios específicos para gestão de casos............................................................
4.5 O Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) e os Sistemas de Informação
Gerencial...................................................................................................................................
4.5.1 O Contrato organizativo da ação pública da saúde (COAP)...............................
4.5.2 Os sistemas de informação em saúde relacionados ao controle da hipertensão
arterial sistêmica e diabetes mellitus.............................................................................
4.6 Principais Indicadores de Monitoramento da Qualidade de Atenção aos Hipertensos e
Diabéticos e Respectivas Metas.................................................................................................
4.7 Referências Bibliográficas....................................................................................................
12
LISTA DE FLUXOGRAMAS, QUADROS,
FIGURAS E TABELAS
FLUXOGRAMAS
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Fluxograma 1. Abordagem terapêutica inicial do indivíduo com hipertensão arterial
estágio 1.......................................................................................................................................
Fluxograma 2. Abordagem terapêutica medicamentosa inicial do indivíduo com
hipertensão arterial nos estágios 2 e 3......................................................................................
Fluxograma 3. Abordagem do hipertenso com hipertrofia ventricular esquerda, em nível
da atenção primária à saúde da SEMSA/Manaus..................................................................
SEÇÃO 2 – DIABETES MELLITUS
Fluxograma 1. Diagnóstico de diabetes na ausência de glicemia casual igual ou superior
a 200 mg/dL, acompanhada de sintomas clássicos.................................................................
Fluxograma 2. Insulinização noturna no diabético tipo 2.....................................................
Fluxograma 3. Diagnóstico de nefropatia diabética de acordo com a presença de
proteinúria.................................................................................................................................
SEÇÃO 3 – DOENÇA RENAL CRÔNICA
Fluxograma 1. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na taxa de
filtração glomerular................................................................................................................
Fluxograma 2. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na lesão do
parênquima renal...................................................................................................................
13
QUADROS
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Quadro 1. Classificação da obesidade de acordo com o índice de massa corporal (IMC)..
Quadro 2. Critérios para definição da síndrome metabólica.............................................
Quadro 3. Principais fontes alimentares com maior teor de sódio (incluindo alimentos
regionais)..............................................................................................................................
Quadro 4. Quantidade de sal em alguns alimentos com elevado teor de sódio................
Quadro 5. Condições nas quais crianças menores de 3 anos de idade devem ter a medida
da pressão arterial aferida......................................................................................................
Quadro 6. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão
arterial para meninas de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura.....
Quadro 7. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão
arterial para meninos de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura.....
Quadro 8. Outros métodos diagnósticos e de acompanhamento para a hipertensão
arterial sistêmica....................................................................................................................
Quadro 9. Classificação da pressão arterial para crianças e adolescentes e sugestões de
conduta, segundo a sua classificação....................................................................................
Quadro 10. Classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no
consultório em maiores de 18 anos.......................................................................................
Quadro 11. Dados de história clínica e comentários relevantes na avaliação de
hipertensos...............................................................................................................................
Quadro 12. Dados de exame físico e comentários relevantes na avaliação de hipertensos..
14
Quadro 13. Evidências de lesões em órgãos-alvo em hipertensos ...................................... 47
Quadro 14. Avaliação complementar inicial básica do hipertenso preconizada pela
SEMSA/Manaus e comentários relevantes...........................................................................
Quadro 15. Escore de Framingham revisado para homens...............................................
Quadro 16. Escore de Framingham revisado para mulheres ............................................. 51
Quadro 17. Estimativa de risco cardiovascular para homens ............................................ 52
Quadro 18. Estimativa de risco cardiovascular para mulheres ......................................... 53
Quadro 19. Estratos e critério para a estratificação de risco clínico (risco cardiovascular
global) da hipertensão arterial sistêmica...............................................................................
Quadro 20. Estratificação de risco de indivíduos com hipertensão arterial sistêmica para
a organização da rede de atenção à saúde em Manaus.......................................................
Quadro 21. Recomendações gerais relativas à dieta DASH ............................................... 57
Quadro 22. Principais alimentos regionais ricos em potássio, magnésio e cálcio..............
Quadro 23. Características das principais bebidas alcoólicas e teor de etanol por
quantidade definida.............................................................................................................
Quadro 24. Mecanismo de ação, efeitos adversos e comentários sobre as principais
classes de anti-hipertensivos...................................................................................................
Quadro 25. Anti-hipertensivos comercialmente disponíveis no Brasil.............................
Quadro 26. Principais metas pressóricas conforme condições clínicas dos hipertensos...
Quadro 27. Dados clínicos sugestivos de hipertensão arterial secundária ........................ 75
Quadro 28. Achados de história e de exame clínico sugestivos de causas específicas de
hipertensão arterial sistêmica secundária e instrumentos diagnósticos............................
15
Quadro 29. Principais classes de fármacos e drogas lícitas ou ilícitas indutoras de
hipertensão arterial sistêmica secundária.............................................................................
Quadro 30. Classificação das crises hipertensivas ............................................................... 79
Quadro 31. Abordagem das urgências e emergências hipertensivas...................................
Quadro 32. Medicações disponíveis no Brasil para uso oral em urgências hipertensivas...
Quadro 33. Estágios da insuficiência cardíaca crônica do adulto.....................................
Quadro 34. Versão em português do questionário de claudicação de Edimburgo.....
Quadro 35. Índice tornozelo-braço....................................................................................
Quadro 36. Abordagem terapêutica de indivíduos com doença vascular periférica.....
Quadro 37. Características dos subtipos de acidente vascular cerebral.........................
Quadro 38. Estadiamento da retinopatia hipertensiva: Classificação de Keith - Wagener
– Barker...................................................................................................................................
SEÇÃO 2 – DIABETES MELLITUS
Quadro 1. Principais fatores de risco para o diabetes mellitus tipo 2 em adultos.........
Quadro 2. Indicações da metformina para a prevenção do diabetes mellitus tipo 2....
Quadro 3. Classificação do diabetes mellitus....................................................................
Quadro 4. Fatores de risco para diabetes gestacional......................................................
Quadro 5. Valores de glicose plasmática (em mg/dl) para diagnóstico de diabetes
mellitus e seus estágios pré-clínicos........................................................................................
Quadro 6. Critérios diagnósticos para diabetes mellitus gestacional com teste oral de
tolerância à glicose, segundo a International Association of Diabetes and Pregnancy
Study Groups..........................................................................................................................
Quadro 7. Dados relevantes da anamnese na avaliação clínica inicial do indivíduo
diabético..................................................................................................................................
16
Quadro 8. Itens importantes na avaliação física do indivíduo diabético...........................
Quadro 9. Exames complementares para avaliação inicial do indivíduo diabético.........
Quadro 10. Estratificação de risco de indivíduos com relação ao diabetes mellitus para a
organização da rede de atenção.............................................................................................
Quadro 11. Metas laboratoriais para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2..............
Quadro 12. Metas de glicemias capilares para adultos por diferentes entidades............
Quadro 13. Metas de glicemias capilares para crianças e adolescentes conforme faixa
etária........................................................................................................................................
Quadro 14. Metas das glicemias capilares para o diabetes gestacional e para mulheres
com diabetes mellitus que engravidaram..............................................................................
Quadro 15. Correlação entre as glicemias médias estimadas e a hemoglobina glicada.....
Quadro 16. Quantidade de alguns alimentos (incluindo regionais) equivalente a uma
porção.......................................................................................................................
Quadro 17. Principais recomendações nutricionais para diabéticos...................................
Quadro 18. Caracterização de porção das principais fontes de carboidratos...................
Quadro 19. Gorduras presentes nos alimentos (inclusive regionais).............................
Quadro 20. Grupos de adoçantes e algumas recomendações..............................................
Quadro 21. Orientações nutricionais gerais aos diabéticos.................................................
Quadro 22. Classes dos agentes antidiabéticos......................................................................
Quadro 23. Caracterização dos principais agentes antidiabéticos disponíveis..................
Quadro 24. Recomendações quanto ao uso da metformina, segundo a filtração
glomerular.................................................................................................................................
Quadro 25: Principais características das insulinas disponíveis no Brasil.........................
Quadro 26. Possibilidades de fracionamento das doses de insulina NPH...........................
17
Quadro 27. Requerimentos médios de insulina: dose total diária.......................................
Quadro 28. Indicações e recomendações para uso das agulhas............................................
Quadro 29. Orientações sobre associações de insulina...........................................................
Quadro 30. Principais complicações da insulinoterapia..........................................................
Quadro 31. Fatores de risco para doença cardiovascular em diabéticos............................
Quadro 32. Metas para o perfil lipídico no indivíduo diabético......................................
Quadro 33. Classificação da retinopatia diabética...........................................................
Quadro 34. Rastreamento da retinopatia diabética...........................................................
Quadro 35. Valores da proteinúria para o diagnóstico de nefropatia diabética.............
Quadro 36. Estadiamento da nefropatia diabética.............................................................
Quadro 37. Escore de sintomas neuropáticos......................................................................
Quadro 38. Escore de sinais neuropáticos...........................................................................
Quadro 39. Interpretação dos escores de sintomas e sinais neuropáticos.............................
Quadro 40. Diagnóstico de polineuropatia diabética.........................................................
Quadro 41. Fatores de risco para úlcera de pé e amputação.........................................
Quadro 42. Avaliação dos pés............................................................................................
Quadro 43. Cuidados com os pés.......................................................................................
Quadro 44. Classificação de risco baseada no exame dos pés..........................................
Quadro 45. Avaliação da doença arterial periférica.........................................................
SEÇÃO 3 – DOENÇA RENAL CRÔNICA
Quadro 1. Fatores de risco para doença renal crônica na infância...................................
Quadro 2. Valores de albuminúria de acordo com a técnica de coleta urinária.................
18
Quadro 3. Categorias da doença renal crônica baseadas na taxa de filtração glomerular
e presença ou não de lesão do parênquima renal..................................................................
Quadro 4. Estratificação de risco de indivíduos com doença renal crônica para a
organização da rede de atenção...............................................................................................
Quadro 5. Principais recomendações para o manejo dos indivíduos com doença renal
crônica nos estágios 1 e 2..........................................................................................................
Quadro 6. Critérios de encaminhamento de hipertensos e diabéticos para o
acompanhamento nefrológico conjunto....................................................................................
SEÇÃO 4 – A ORGANIZAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO
Quadro 1. Competências da atenção primária à saúde referentes ao controle da
hipertensão arterial sistêmica, do diabetes mellitus e da doença renal crônica, de acordo
com a estratificação de risco da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus....................
Quadro 2. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
hipertensão arterial sistêmica na atenção primária à saúde para a organização da rede
de atenção....................................................................................................................................
Quadro 3. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
diabetes mellitus na atenção primária à saúde para a organização da rede de atenção.....
Quadro 4. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
doença renal crônica na atenção primária à saúde para a organização da rede de
atenção.....................................................................................................................................
Quadro 5. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica, por estrato e principais procedimentos, na atenção primária à saúde...............
Quadro 6. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica, por estrato e exame laboratorial, na atenção primária à saúde..........................
Quadro 7. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato
e procedimento, na atenção primária à saúde......................................................................
Quadro 8. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato
e exame laboratorial, na atenção primária à saúde.............................................................
19
Quadro 9. Critérios estratégicos de encaminhamento de hipertensos, diabéticos e
indivíduos com doença renal crônica para a atenção secundária à saúde em Manaus......
Quadro 10. Principais atendimentos e exames/procedimentos estratégicos para os
hipertensos e diabéticos na atenção secundária em Manaus............................................
Quadro 11. Alguns parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica e diabetes mellitus com alto e muito alto risco na atenção secundária à saúde
da rede da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus....................................................
Quadro 12. Alguns dos principais critérios de encaminhamento de hipertensos e
diabéticos para o serviço de pronto atendimento..............................................................
Quadro 13. Principais situações específicas para a indicação de gestão de casos em
hipertensos, diabéticos e indivíduos com doença renal crônica, conforme a Secretaria
Municipal de Saúde de Manaus................................................................................................
Quadro 14. Principais indicadores e metas para o monitoramento da qualidade de
atenção aos hipertensos..........................................................................................................
Quadro 15. Principais indicadores e metas para o monitoramento da qualidade de
atenção aos diabéticos..............................................................................................................
FIGURAS
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Figura 1. Medida da circunferência abdominal............................................................
Figura 2. Medidas para o índice tornozelo-braço.........................................................
SEÇÃO 2 – DIABETES MELLITUS
Figura 1. Pirâmide alimentar...............................................................................................
Figura 2: Algoritmo terapêutico do diabetes mellitus tipo 2.............................................
20
Figura 3: Perfil de ação das preparações insulínicas.............................................................
Figura 4: Insulinização oportuna no diabetes mellitus tipo 2..............................................
Figura 5. Áreas de aplicação de insulina.................................................................................
Figura 6. Técnica de aplicação insulina - Etapa 1.................................................................
Figura 7. Técnica de aplicação insulina - Etapa 2.................................................................
Figura 8. Técnica de aplicação insulina - Etapa 3.................................................................
Figura 9. Uso do monofilamento de 10 g................................................................................
Figura 10. Escala Visual Analógica (EVA)...............................................................................
GRÁFICOS
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Gráfico 1. Gráfico de desenvolvimento para cálculo do percentil de altura: A, meninas e
B, meninos............................................................................................................................
TABELAS
SEÇÃO 3 – DOENÇA RENAL CRÔNICA
Tabela 1. Nomograma para estimativa da taxa de filtração glomerular em mulheres........
Tabela 2. Nomograma para estimativa da taxa filtração glomerular para homens..............
21
APRESENTAÇÃO POLÍTICO-
INSTITUCIONAL
22
APRESENTAÇÃO TÉCNICA
Objetivos (Geral e Específicos)
Esta guia de prática clínica objetiva compartilhar recomendações, especialmente
baseadas em evidência, referentes à abordagem populacional e aos cuidados clínicos dos
indivíduos com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica, ou em
risco de desenvolvê-los, na rede de atenção da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus.
São objetivos específicos:
Assegurar informações para a tomada de decisões dos profissionais de saúde e das
pessoas usuárias a respeito da sua atenção apropriada, proporcionando o
estabelecimento de padrões clínicos ótimos para a população alvo e a melhoria da
qualidade das práticas clínicas atribuídas às equipes de saúde;
Normalizar o processo de atenção aos indivíduos com hipertensão arterial
sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica, ou em risco de desenvolvê-los,
obedecendo à ação coordenadora da atenção primária à saúde;
Exercer especialmente função gerencial, educacional e comunicacional na
organização da rede de atenção aos hipertensos, diabéticos e doença renal crônica.
Esta diretriz clínica aborda o cuidado sanitário extra-hospitalar de populações e
indivíduos em risco de desenvolvimento da hipertensão arterial sistêmica, do diabetes mellitus
tipo II e da doença renal crônica ou com essas condições já estabelecidas; todas essas
enfermidades são de elevada prevalência e relevância na prática de saúde pública. Como um
suporte para a tomada de decisões na atenção sanitária, esta linha-guia não é de cumprimento
obrigatório e nem substitui o juízo clínico do profissional de saúde.
Potenciais Utilizadores
23
Profissionais de saúde, gestores de saúde, educadores em saúde e agentes comunitários
de saúde, especialmente da rede de atenção da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, no
âmbito da atenção primária à saúde.
Metodologia de Elaboração
Esta linha-guia foi elaborada por uma equipe multidisciplinar, composta por
profissionais de saúde de várias áreas afins aos temas abordados, tanto em âmbito da atenção
primária quanto da secundária à saúde, por profissionais da gestão do sistema de saúde e por
consultores com experiência em metodologia de elaboração de diretrizes clínicas.
Os pontos de vista dos usuários do sistema de saúde foram levados em conta por meio
da participação de representante específico, assim como a opinião das sociedades de
especialidades e acadêmica.
Para a revisão bibliográfica, foram consultadas bases de dados primários e secundários
em inglês e português. Em virtude de restrições operacionais, um importante foco foi dado à
análise de bibliografias e recomendações provenientes de diretrizes clínicas similares em
âmbito nacional e internacional. A data de fechamento da busca de dados foi novembro de
2013.
Para a elaboração dessa diretriz, várias oficinas presenciais de validação de conteúdos
parciais previamente elaborados pelos consultores contratados foram realizadas. Nessas
oficinas, utilizou-se a metodologia de busca de consenso para a elaboração das
recomendações finais desse documento. As guias das oficinas elaboradas detalharam a
metodologia proposta. No período de dispersão das oficinas, conteúdos propositivos foram
elaborados e previamente analisados pela equipe elaboradora.
A atualização dessa linha-guia está prevista em até 3 anos, podendo ser antecipada até
mesmo em via eletrônica em virtude de necessidades técnico-operacionais.
Rigor Científico, Graus de Recomendação e Níveis de Evidência
Para a Seção 1 – Hipertensão Arterial Sistêmica
Foram utilizados graus de recomendação e níveis de evidência científica, segundo a
Classificação de Oxford Centre for Evidence-Based Medicine.
24
Para a Seção 2 – Diabetes Mellitus
A seguinte classificação foi utilizada:
A – Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência
B – Estudos experimentais e observacionais de menor consistência
C – Relatos de casos – Estudos não controlados
25
D – Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou
modelos animais.
Financiamento e Conflito de Interesse
A elaboração desta linha-guia foi financiada pela Secretaria Municipal de Saúde de
Manaus, mediante convênio com o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do
Amazonas.
O quadro a seguir resume a situação de conflito de interesse do grupo elaborador.
26
O MODELO DE ATENÇÃO ÀS
CONDICÕES CRÔNICAS PARA O SUS – A
ABORDAGEM POPULACIONAL DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL, DIABETES
MELLITUS E DOENÇA RENAL CRÔNICA
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças crônico-degenerativas
como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), o diabetes mellitus (DM) e a doença renal
crônica (DRC) são consideradas condições crônicas de saúde. Mendes (2007) desenvolveu
um modelo de atenção às condições crônicas para ser aplicado no Sistema Único de Saúde
(SUS) que denominou de Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC).1
Esse modelo, representado na figura a seguir, foi elaborado com base nos elementos
do modelo da Atenção Crônica da Pirâmide da Kaiser Permanente, no Modelo de
Determinação Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead (1991) e em função da singularidade
do SUS.
27
Figura. Modelo de Atenção às Condições Crônicas
Fonte: Mendes, 2011.1
Segundo o MACC, para cada nível da pirâmide, ações diferenciadas se fazem
necessárias.¹
A maior parte da população sob os cuidados de uma equipe de saúde encontra-se nos
níveis 1 e 2 de necessidades de intervenções.¹ As intervenções de nível 1 (promoção à saúde)
devem ser aplicadas a toda a população. Elas são frutos de macropolíticas e parcerias
intersetoriais, tais como educação, trabalho, lazer e saneamento.
No nível 2, cabe a atenção primária à saúde (APS) realizar o rastreamento de sub-
populações com fatores de risco para o desenvolvimento da HAS, do DM e da DRC, tais
como pessoas tabagistas, com sobrepeso ou obesidade, sedentários, usuários com uso
excessivo de álcool, ou com alimentação inadequada.¹ As principais intervenções nesse nível
devem estimular o comportamento e estilo de vida saudáveis.
O quadro a seguir apresenta as prevalências para o município de Manaus de alguns dos
principais fatores de risco (nível 2 do MACC) para o desenvolvimento da HAS, DM e DRC,
segundo o Ministério da Saúde, por meio do VIGITEL 2011 (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico).2
28
Quadro. Prevalências de alguns dos principais fatores de risco para o
desenvolvimento da hipertensão arterial, do diabetes mellitus e da doença renal crônica
em Manaus, por sexo (VIGITEL, 2011).
Fator de risco/protetor % (homens) % (mulheres) % (pop.
total)
Tabagismo 16,7 7,5 11,9
Inatividade física 12,7 19,4 16,2
Consumo de carne com excesso de gordura 41,7 24,2 32,6
Consumo de leite com teor integral de gordura 66,4 67,9 67,2
Excesso de peso 55,1 48,3 51,8
Obesidade 20,2 15,4 17,8
Consumo abusivo de bebida alcoólica 27,7 4,9 15,8
Fonte: VIGITEL, 2011.2
Deve-se ressaltar que dentre as 27 capitais estudadas no VIGITEL 2011, Manaus
apresenta o segundo maior percentual de mulheres fisicamente inativas, atrás apenas de
Palmas. Similarmente, Manaus ocupa a mesma posição entre as capitais com maior percentual
de consumo de leite com teor integral de gordura, para ambos os sexos, atrás apenas de Porto
Velho. No que se refere ao excesso de peso, Manaus encontra-se entre as 3 capitais com
maior prevalência desse fator de risco entre as mulheres e, similarmente, com maior
prevalência de obesidade no sexo masculino.
No nível 3, estão os indivíduos com fatores de risco biológicos e/ou condições
crônicas estabelecidas de baixo e médio risco, os quais devem ser foco de intervenções da
APS relacionadas às ações de tratamento da condição crônica e de rastreamento das
complicações da HAS, do DM e da DRC. Cerca de 75% dos indivíduos com condições
crônicas de saúde estabelecidas estão nesse nível, podendo ser integralmente conduzidos
dentro da atenção primária.¹
Nos níveis 4 e 5, estão os indivíduos com condições crônicas complexas e muito
complexas. Frequentemente, eles são acometidos por complicações dessas condições, sendo
também necessário o manejo de caso de maneira individualizada e em cogestão com
profissionais especialistas de áreas focais.¹ Considerável parte dos indivíduos no nível 5
necessitarão beneficiar-se da tecnologia de gestão de caso.
29
A linha que perpassa os níveis 2 ao 5 da figura representativa do MACC pode ser
identificada como a linha de atenção à saúde. Nota-se que a proporção do espaço à esquerda
dessa linha, que representa a fração do cuidado em saúde que deve ser destinada ao
autocuidado apoiado do usuário, está aumentada no sentido da sua base. De forma
concordante, quanto maior a complexidade da condição crônica na sub-população abordada,
mais relevante será a necessidade de cuidado profissional.
Tais observações são fundamentais na organização das ações a serem efetivadas em
uma rede de atenção à saúde de indivíduos com condições crônicas, a qual deve ser sempre
coordenada pela atenção primária à saúde. Princípios como a integralidade e a equidade
(expressa pela estratificação de risco das condições crônicas abordadas e pelo cuidado
baseado nesses distintos riscos) são observados estrategicamente no MACC. Esses e outros
devem ser pilares para uma necessária gestão da clínica.
Referências Bibliográficas
1. MENDES EV. O Cuidado das Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde: O
Imperativo da Consolidação da Estratégia de Saúde da Família. Brasília: Organização Pan-
Americana da Saúde; 2012.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão
Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2011: vigilância de fatores de risco e proteção para
doenças crônicas por inquérito telefônico / Ministério da Saúde.
30
SEÇÃO 1 – HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
1.1 Conceito
A HAS é uma condição crônica de saúde multifatorial, caracterizada por níveis
elevados e sustentados da pressão arterial (PA) e, frequentemente, associada a alterações de
órgãos-alvo, metabólicas, e, por conseguinte, ao aumento do risco de eventos
cardiovasculares.1
1.2 Epidemiologia
A HAS é um importante problema de saúde pública, sendo um dos mais relevantes
fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares,
cerebrovasculares e renais. É sabido que o aumento da PA eleva progressivamente a
mortalidade por doença cardiovascular (DCV).
Segundo a OMS, anualmente a HAS mata 9,4 milhões de pessoas no mundo por
doenças cardiovasculares, tais como acidente vascular encefálico (AVE) e o infarto agudo do
miocárdio (IAM), que são os mais recorrentes. Estimativas apontam que uma em cada três
pessoas no mundo será afetada pela hipertensão.2
Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que no Brasil cerca de 30 milhões de
pessoas tenham HAS, outros 12 milhões ainda não saibam que possuam a doença e 300.000
pessoas morram por ano.x
Segundo alguns inquéritos populacionais realizados em distintas cidades brasileiras a
prevalência estimada de HAS em indivíduos com 18-59 anos de idade esteve entre 20 a 30%,
atingindo 50% na faixa de 60 a 69 anos e 75% em indivíduos com idade superior a 70 anos.1
De acordo com o Ministério da Saúde, por meio do VIGITEL 2011 (Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), a prevalência
31
do diagnóstico médico de HAS entre a população manauara adulta foi de 18,6%, sendo 15,4%
entre os homens e 21,6% entre as mulheres.3
Para fins de programação, a SEMSA/Manaus estima que 20% da população manauara
com idade igual ou superior a 20 anos seja hipertensa.
No que se refere aos óbitos por hipertensão arterial como causa básica em Manaus,
segundo o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), observa-se
que no período de 2008 a 2011 houve uma tendência de crescimento de 35,71%, sendo que
em 2012 houve uma redução de 11,57% em relação ao ano anterior. Em todo o período
analisado, o percentual de óbitos por hipertensão arterial no sexo feminino foi superior ao
percentual encontrado no sexo masculino. Uma análise epidemiológica mais detalhada sobre
o impacto da HAS em Manaus pode ser acessada por meio de um estudo de base local
disponível no endereço eletrônico http://intranet.semsa/.
1.3 Fatores de Risco
1.3.1 Genéticos
Fatores genéticos sabidamente contribuem para a gênese da HAS na população.
Entretanto, variantes genéticas passíveis de utilização para a predição do risco individual de
se desenvolver HAS ainda não foram identificadas.4
1.3.2 Idade
O envelhecimento aumenta linearmente a prevalência de HAS, que atinge percentual
superior a 60% em indivíduos acima de 60 anos.1
1.3.3 Gênero e etnia
Até os 50 anos de idade os homens apresentam maior prevalência de HAS que as
mulheres. A partir dessa faixa etária, as mulheres apresentam significativa elevação na
prevalência de HAS.4,5,6,7
32
A HAS é duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor não-branca, especialmente
no sexo feminino.8
1.3.4. Sobrepeso e obesidade
Desde idades jovens, o sobrepeso e a obesidade estão associados a maior prevalência
de HAS.9
A obesidade central também se associa com PA10
.
De acordo com os critérios da OMS, a classificação da obesidade obedece à
observação do índice de massa corporal (IMC), conforme quadro 1, não sendo, entretanto o
único parâmetro para sua classificação. Para o cálculo do IMC, basta dividir o peso corporal
pela altura elevada ao quadrado.
Quadro 1. Classificação da obesidade de acordo com o índice de massa corporal
(IMC)
IMC Classificação
Entre 20 e 24,9 Normal
Entre 25 e 29,9 Sobrepeso
Entre 30 e 34,9 obesidade estágio 1
Entre 35 e 39,9 obesidade estágio 2
40 ou mais obesidade estágio 3
Onde: IMC = Índice de massa corporal. Fonte: Grundy et al e I Dir Bras da Síndrome Metabólica,
2005.11,12
Para a avaliação de idosos, deve-se considerar que a classificação do IMC, apresenta
variação, considerando os pontos de corte diferentes daqueles utilizados para adultos. Essa
diferença deve-se às alterações fisiológicas nos idosos, tais como o declínio da altura
observado com o avançar da idade, a possibilidade de diminuição do peso com a idade, a
osteoporose e outras. Assim, IMC < 22 configura o baixo peso, o IMC entre 22 e 26,9 refere-
se ao peso adequado e o índice maior ou igual a 27 indica sobrepeso.y (será o11)
Síndrome metabólica
Ainda que a síndrome metabólica (SM) esteja presente em indivíduos não obesos, a
obesidade e a SM estão frequentemente associadas.
Que pesem as controvérsias acerca da utilidade do diagnóstico da SM, a presença da
SM indica a agregação de fatores de risco cardiovasculares.11,12
33
Para o diagnóstico de SM, são preconizados os critérios do National Cholesterol
Education Program (NCEP) Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III), em concordância
com os da I Diretriz Brasileira sobre Síndrome Metabólica.12
Esta recomendação inclui pelo
menos três das seguintes alterações constantes no quadro 2.
Quadro 2. Critérios para definição da síndrome metabólica
Critérios
glicemia de jejum > 110mg/dL;
circunferência da cintura abdominal (CA) >102cm para homens e >88cm para mulheres;
níveis plasmáticos de triglicérides (TG) > 150mg/dL;
níveis plasmáticos do colesterol HDL < 40mg/dL, em homens e < 50mg/dL, em
mulheres e
pressão arterial > 130x85mmHg. Onde: dL= decilitro; CA = cintura abdominal; cm = centímetros; TG = triglicérides; HDL =
colesterol (High density lipoprotein) e mmHg = milímetros de mercúrio. Fonte: Grundy et al e I
Dir Bras da Síndrome Metabólica, 2005.11,12
Para medida da circunferência abdominal (CA), utiliza-se fita métrica não distensível,
posicionada no ponto médio entre o rebordo costal e a crista ilíaca, estando os indivíduos em
posição ortostática, conforme figura 1, sendo medida em centímetros.12
Figura 1. Medida da circunferência abdominal
SEMSA irá redesenhar a figura
1.3.5. Ingestão de sal
34
Ingestão de sódio em excesso tem sido correlacionada ao desenvolvimento de HAS.13
Além disso, o efeito hipotensor da restrição de sódio tem sido bem demonstrado.9,14,15
Comumente, populações ocidentais como a brasileira apresentam um padrão alimentar
rico em sal, açúcar e gorduras.
Para tal, devem ser consideradas as principais fontes alimentares com maior teor de
sódio, conforme quadros 3 e 4.16,X
Quadro 3. Principais fontes alimentares com maior teor de sódio (incluindo
alimentos regionais)
Fontes
Sal de cozinha (NaCl) e temperos industrializados;
Alimentos industrializados (Ketchup, mostarda, shoyo, caldos concentrados);
Embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, salame, paio);
Conservas (picles, azeitona, palmito, alcaparras);
Enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha);
Carnes e aves salgadas (pirarucu salgado, piracuí - farinha de peixe - charque e carne de sol);
Aditivos (glutamato monossódico) utilizados em condimentos, sopas e massas pré-cozidas;
Queijos em geral: parmesão, coalho (regional), mussarela, prato etc.. Onde: NaCl = cloreto de sódio. Fonte: Adaptado de III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial;
1998.17
Quadro 4. Quantidade de sal em alguns alimentos com elevado teor de sódio
Alimentos com alto teor de sódio Equivalente de sal Porção
Salgadinhos industrializados 1,5g de sal 1 pacote pequeno
Pizza e salgado 1,5g - 2,5g de sal 1 unidade
Biscoitos salgados e pães 0,5g – 1g de sal 1 unidade de pão (50g)
Queijos 0,3g – 1g de sal 1 fatia de 20g
Embutidos: lingüiça, salame, presunto,
apresuntado, mortadela, salsicha,
hambúrguer, patê;
0,5g – 1g de sal 1 fatia, ½ unidade (20g)
Condimentos: mostarda, maionese, molho
de soja, ketchup
0,5g – 2g de sal 1 colher sobremesa rasa
Conservas e enlatados (milho, ervilha,
extrato de tomate, azeitona, picles)
0,5g – 1g de sal 1 colher de sopa rasa
Como forma de prevenção de HAS, recomenda-se a redução do consumo de cloreto de
sódio para 5-6 g ao dia.1
35
Temperos e caldos prontos, sopas
instantâneas, massas pré-cozidas e
temperadas
4g – 5g de sal 1 unidade
Carnes salgadas 6g – 8g de sal 1 pedaço pequeno
Fonte: FRANCO, 2005; NEPA-UNICAMP, 2006.X,X
1.3.6. Ingestão de álcool
Ingestão de álcool por períodos prolongados de tempo pode aumentar a PA e a
mortalidade cardiovascular em geral.1
1.3.7. Sedentarismo
Classificado como o quarto maior fator de mortalidade no mundo, segundo a OMS, o
sedentarismo também é responsável pela diminuição da qualidade de vida.
A atividade física regular reduz a incidência de HAS bem como a mortalidade e o
risco de DCV, mesmo em indivíduos pré-hipertensos.1,19
Assim, a recomendação da prática
regular de atividade física, de acordo com a OMS, abrange todos os indivíduos, incluindo
quem tem doenças crônicas não relacionadas à mobilidade, como hipertensão ou diabetes.
Recomendações sobre o tema serão melhor abordadas no item 1.10.2 Tratamento não
medicamentoso.
1.3.8. Fatores socioeconômicos
Ainda que a influência do nível socioeconômico na ocorrência da HAS é complexa e
difícil de ser estabelecida20
, no Brasil, a HAS é mais prevalente entre indivíduos com menor
escolaridade.21
Recomenda-se desestimular o consumo excessivo de etanol (>30 g/dia), pois há
evidências de associação desse fator com a ocorrência de HAS de forma independente das
características demográficas.1,18
36
1.4 A Aferição da Pressão Arterial
As recomendações técnicas referentes à aferição da PA estão disponíveis em um POP
(Procedimento Operacional Padrão) nas unidades de saúde da SEMSA/Manaus.
1.5 Rastreamento
1.5.1 Rastreamento em crianças e adolescentes
Recomenda-se a medida da pressão arterial em crianças em toda avaliação clínica após os 3
anos de idade, idade a partir da qual se deve aferir a PA pelo menos anualmente. 1
Crianças menores de 3 anos devem ter a PA aferida em circunstâncias especiais,
conforme descrições que se seguem no quadro 5.
Quadro 5. Condições nas quais crianças menores de 3 anos de idade devem ter a medida
da pressão arterial aferida
Condição
História de prematuridade, peso muito baixo ao nascer ou outras complicações neonatais
requerendo cuidados intensivos;
Doença cardíaca congênita (corrigida ou não);
Infecção do trato urinário recorrente, hematúria ou proteinúria;
Doença renal conhecida ou malformações do trato urinário;
História familiar de doença renal congênita;
Transplante de órgãos-sólidos;
Malignidade ou transplante de medula óssea;
Tratamento com drogas que sabidamente aumentam a pressão arterial;
Outras doenças sistêmicas associadas com hipertensão (neurofibromatose, esclerose tuberosa,
etc);
Evidência de pressão intracraniana elevada.
Fonte: The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in
Children and Adolescents, 2005.22
1.5.2. Rastreamento em adultos
Recomenda-se para o rastreamento da HAS na população adulta a medida da PA em toda a
37
avaliação realizada pela equipe de saúde ou minimamente com periodicidade anual.1
1.6 Diagnóstico
1.6.1 Diagnóstico em crianças
Define-se HAS, nessa população, como a pressão arterial igual ou maior ao percentil
95 de distribuição da pressão arterial.
As interpretações dos valores da pressão arterial obtidas em crianças e adolescentes
devem levar em conta o sexo, a idade, e a altura (com o seu respectivo percentil - gráficos 1a
e 1b) e os parâmetros que se seguem nos e quadros 6 e 7.22,23
38
Gráfico 1. Gráfico de desenvolvimento para cálculo do percentil de altura: A, meninas e
B, meninos
Fonte: The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood
Pressure in Children and Adolescents, 2005/V Dir Bras HAS, 2006.22,23
39
Quadro 6. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão
arterial para meninas de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura
Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: The Fourth Report on
the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and
Adolescents, 2005/V Dir Bras HAS, 2006.22,23
40
Quadro 7. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de
pressão arterial para meninos de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o
percentil de estatura
Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: The Fourth Report on
the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and
Adolescents, 2005/V Dir Bras HAS, 2006.22,23
41
Crianças também apresentam hipertensão de consultório e efeito do avental branco
(ver assunto no item 1.6.3 “Diagnóstico em Idosos” e quadro 8), mas o papel da
monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) é limitado nessa população.1
1.6.2 Diagnóstico em adultos
No adulto, a HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados da
pressão arterial por medidas casuais.1 O diagnóstico de HAS é baseado na média de duas ou
mais medidas aferidas em duas ou mais visitas ao consultório.
1.6.3 Diagnóstico em idosos
Recomenda-se em idoso a verificação da pressão arterial na posição sentada, deitada e em
pé, devido à predisposição desses usuários à hipotensão ortostática.24
Nos idosos, deve-se atentar para a freqüente ocorrência do hiato auscultatório, situação
em que após a ausculta do 1º som (fase I de Korotkoff) ocorre desaparecimento dos ruídos,
que podem reaparecer somente após decréscimo de até 40 mmHg da PA. Tal situação pode
levar à subestimação da pressão sistólica (PAS) ou à superestimação da pressão diastólica.
Deve-se considerar a pressão sistólica o valor observado no aparecimento à palpação do pulso
radial após a desinflação do manguito. 24
A pseudo-hipertensão pode surgir em idosos com arteriosclerose pronunciada. Para
identificação deste fato, utiliza-se a manobra de Osler que consiste em inflar o manguito do
aparelho até níveis acima da PAS e, concomitantemente, palpar a artéria radial. Persistência
da palpabilidade sugere rigidez da artéria e indica que o índice obtido pela ausculta não
expressaria a verdadeira pressão arterial sistólica, obtida por medida intra-arterial. Esse
diagnóstico também é sugerido quando a pressão arterial sistólica está elevada, porém o
usuário não apresenta lesão em órgãos alvos. A suspeita também deve ser lembrada diante de
manifestações de hipotensão, após tratamento com medicamento anti-hipertensivo suave em
dose baixa. 24
A hipertensão do avental branco (HAS-AB) ou de consultório é a condição em que a
pressão se eleva no consultório, porém se mantém normal durante as atividades rotineiras.
42
Cerca de 30% dos idosos apresentam esta condição, que pode ser avaliada pela MAPA ou
pela monitorização residencial da pressão arterial (MRPA).
Na hipertensão mascarada (HAS-M), ocorre o contrário, a pressão se mantém alta nas
atividades rotineiras e normal no consultório. Pode também ser avaliada pela MAPA ou
MRPA.24
Recomenda-se, sempre que possível, a medida da pressão arterial fora do consultório para
esclarecimento do diagnóstico, identificação da HAS-AB e da HAS-M.
1.6.4 Diagnóstico em obesos
Manguitos com tamanho inferior ao preconizado podem superestimar a pressão
arterial.
Recomenda-se que sejam usados manguitos apropriados à circunferência do braço. Com
restrições, em braços com circunferência superior a 50 cm e onde não há manguito
disponível, pode-se fazer a medida no antebraço e o pulso auscultado deve ser o radial.1
1.6.5 Diagnóstico em gestantes
Em gestantes, a pressão arterial também pode ser medida no braço esquerdo, na
posição de decúbito lateral esquerdo, em repouso, e esta não deve diferir da posição sentada.
O 5º ruído de Korotkoff deve ser considerado como a pressão diastólica.1
1.6.6 Outros métodos diagnósticos
O diagnóstico de HAS é feito com base em medidas isoladas da PA, conforme
tradicionalmente estabelecido.
Em especial em usuários com hipertensão arterial resistente (HAR), embora a MAPA
não seja um método diagnóstico de HAS, a sua utilidade deve ser considerada para o
refinamento da classificação de risco cardiovascular. A HAR é definida atualmente como
aquela que se mantém elevada, apesar do uso de três classes de anti-hipertensivos em doses
43
otimizadas, sendo, idealmente, um deles um diurético, ou aquela controlada com o uso de
quatro ou mais drogas.25
Neste sentido, a SEMSA/Manaus recomenda que em sua rede a
MAPA seja solicitada apenas no nível secundário de atenção.
Outros métodos diagnósticos mais recentes, como o MRPA, podem ser utilizados na
dependência de sua disponibilidade (quadro 8).
Quadro 8. Outros métodos diagnósticos e de acompanhamento para a hipertensão
arterial sistêmica
Método Conceito Parâmetros para análise Utilidade
Medida
Residencial da
Pressão
Arterial
(MRPA)
Método destinado a fazer
registro da PA fora do
ambiente de consultório, pelo
próprio usuário ou pessoa
capacitada para tal, com
equipamento validado e
calibrado. Não deve ser
confundida com a
automedida da PA (AMPA),
que é registro não
sistematizado e realizado a
pedido do profissional de
saúde
O protocolo mais aceito
considera a tomada de
pelo menos duas medidas
da PA, pela manhã, antes
do desjejum, e à noite,
antes do jantar, durante
quatro dias. O número
mínimo de 14 medidas
deve ser obtido para a
análise dos dados
(médias).
Valores normais < 130/85
mmHg.
Avaliação da
terapêutica;
Pesquisa de
hipertenso do avental
branco;
Possibilidade de
realizar maior número
de medidas fora do
ambiente do
consultório;
Boa aceitabilidade do
método;
Limitação:
dificuldade de
medidas durante o
sono.
Auto Medida
da Pressão
Arterial
(AMPA)
Registro não sistematizado da
pressão arterial, realizado de
acordo com a orientação do
profissional de saúde do
usuário.
Média da auto medida da
pressão arterial acima de
135/85 mmHg.
Resposta a anti-
hipertensivos;
Avaliação da
hipertensão do avental
branco
Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: V Diretrizes Brasileiras de
Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) e III Diretrizes Brasileiras de Monitorização
Residencial da Pressão Arterial (MRPA), 2011.26
1.7 Classificação
A seguir, se apresentam os critérios das VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão para a
classificação da pressão arterial.
1.7.1 Classificação da pressão arterial em crianças e adolescentes
44
O quadro 9 apresenta os critérios para a classificação da PA nessas faixas etárias e as
condutas sugeridas.
Quadro 9. Classificação da pressão arterial para crianças e adolescentes e sugestões de
conduta, segundo a sua classificação
Classificação Percentil para PAS e PAD* Conduta sugerida (se
pertinente)
Normal PA < percentil 90 Reavaliar na próxima
consulta médica
Limítrofe
Percentil 90 ≤ PA < percentil 95 ou se
PA exceder 120/80 mmHg, mesmo que
PA < percentil 90 até < percentil 95.
Reavaliar em 6 meses
Hipertensão estágio 1 Percentil 95 ≤ PA ≤ percentil 99 mais 5
mmHg
Usuário assintomático:
reavaliar em 1 a 2 semanas;
se hipertensão confirmada
encaminhar para avaliação
diagnóstica.
Usuário sintomático:
encaminhar para avaliação
diagnóstica
Hipertensão estágio 2 PA> percentil 99 mais 5 mmHg Encaminhar para avaliação
diagnóstica
Hipertensão do
avental branco
PA> percentil 95 em ambulatório ou
consultório e PA normal em ambientes
não-relacionados à prática clínica
Onde: PA = pressão arterial; PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica;
mmHg = milímetro de mercúrio. * Para idade, sexo e percentil de altura. Fonte: Adaptado de VI
Dir Bras HAS, 2010.1
1.7.2 Classificação da pressão arterial em adultos
A classificação em adultos pode ser sistematizada conforme quadro 10 a seguir.
Quadro 10. Classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no
consultório em maiores de 18 anos
Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg)
Ótima < 120 < 80
Normal < 130 < 85
Limítrofe* 130 – 139 85 – 89
Hipertensão estágio1 140 – 159 90 – 99
Hipertensão estágio 2 160 – 179 100 – 109
Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110
Hipertensão sistólica isolada ≥ 140 < 90
Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser
utilizada para classificação da pressão arterial.
* Limítrofe, pressão normal-alta ou pré-hipertensão são termos que se equivalem na leitura. Onde:
mmHg= milímetro de mercúrio. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
45
1.8 Avaliação Clínica Inicial
Além de confirmar o diagnóstico de HAS, a avaliação clínica inicial em indivíduos
hipertensos objetiva:
Identificar fatores de risco cardiovasculares;
Pesquisar lesão em órgãos-alvo;
Pesquisar doenças associadas;
Estratificar risco cardiovascular global;
Avaliar indícios de hipertensão arterial resistente (vide item1.6.6 Outros métodos
diagnósticos).1
1.8.1 Anamnese
Os principais aspectos da anamnese de um indivíduo hipertenso estão considerados
no quadro 11.
Quadro 11. Dados de história clínica e comentários relevantes na avaliação de
hipertensos
Dados da história clínica Comentários
Idade do início, duração e curso clínico da HAS
Início em usuários jovens (<20 anos) ou idosos
(>60 anos) pode indicar a presença de HAS
secundária
Tratamento prévio da HAS, resposta terapêutica Útil no planejamento da estratégia terapêutica
Medicações que possam influenciar na PA
(p.ex., contraceptivos orais, simpaticomiméticos,
esteróides adrenais) ou dieta com excesso de sal
Fatores modificáveis que podem reduzir a PA
sem o emprego de medicamentos
História familiar de HAS, doença ou óbito
prematuro por doença cardiovascular, doença
renal, diabetes ou feocromocitoma
Importante no diagnóstico de HAS primária e
avaliação de risco cardiovascular
Sintomas sugestivos de causas secundárias
Importante para determinar a investigação de
componentes específicos que contribuem para
elevação da PA
Sintomas de lesão de órgão alvo (p. ex., cefaléia,
fraqueza ou cegueira transitória, diminuição da
acuidade visual, dor torácica, dispnéia ou
claudicação)
Utilizado para avaliar possível lesão de órgão
alvo; funciona como um guia grosseiro para a
gravidade da HAS
Outros fatores de risco (p. ex., tabagismo,
diabetes, dislipidemia, ou sedentarismo
Fatores modificáveis que contribuem para o
risco cardiovascular
46
Estilo de vida (p.ex., ingestão de sal, álcool e
gordura saturada; estresse no trabalho; achados
de apnéia do sono)
Fatores modificáveis que contribuem para
elevação da PA
Onde: HAS = hipertensão arterial sistêmica; PA = pressão arterial. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
1.8.2 Exame físico
Na avaliação de indivíduos com HAS, um exame físico detalhado do usuário deve
ser efetivado, conforme sistematizado no quadro 12. As medidas do peso corporal e da
circunferência abdominal também devem ser consideradas.
Quadro 12. Dados de exame físico e comentários relevantes na avaliação de hipertensos
Dados do exame físico Comentários
Aferição da PA em ambos os
braços (e inicialmente na perna)
Possibilita afastar a presença de lesão vascular importante, tal
como coarctação da aorta
Aspecto geral, lesões de pele
distribuição da gordura corporal
Pode identificar usuários com alto risco para diabetes ou
dislipidemia
Fundo de olho Avalia o grau de comprometimento vascular e reflete a
gravidade da hipertensão
Exame de pescoço (palpação das
carótidas e da tireóide; ausculta de
sopros)
Identifica os usuários com alto risco cardiovascular e
possibilita a suspeita de doença cardiovascular
Exame cardiopulmonar para
ausculta de estertores, freqüência,
ritmo, sopros e galopes cardíacos
Detecta as consequências da HAS em órgãos-alvo (HVE ou
IC): B3 sinaliza disfunção sistólica; B4 sinaliza disfunção
diastólica de VE.
Exame do abdome para massas
renais e sopros abdominais e nas
artérias femorais
Rins aumentados, palpáveis em usuário com HAS indicam
doença renal policística do adulto; sopro abdominal pode
indicar doença renovascular; sopro femoral pode ser observado
nas doenças vasculares de membros inferiores
Determinação do índice tornozelo
braço
Possibilita a identificação precoce do comprometimento das
artérias dos membros inferiores
Exame neurológico para sinais de
AVC prévio (hiperreflexia,
espasticidade, sinais de Babinsky) e
atrofia e distúrbios da marcha
(sinais motores)
Identifica usuários com lesão de órgão alvo, tal como AVC
prévio
Onde: PA = pressão arterial; HVE = hipertrofia ventricular esquerda; IC = insuficiência cardíaca; B3
= terceira bulha; B4 = quarta bulha; VE = ventrículo esquerdo; HAS = hipertensão arterial sistêmica;
AVC= acidente vascular cerebral. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
47
Conforme exposto, a busca de sinais sugestivos de lesão em órgãos-alvo e de
hipertensão secundária deve ser incentivada, assim como o exame de fundo de olho,
preferencialmente associado com medida da acuidade visual, especialmente em hipertensos
estágio 3 com lesão em órgão-alvo ou usuários com diabetes.1
O quadro 13 sistematiza as principais evidências de lesões em órgão-alvo em
hipertensos, também denominadas condições clínicas associadas, algumas das quais são
detectadas por exames complementares que se seguirão ao exame físico (item 1.8.3 Exames
complementares).
Quadro 13. Evidências de lesões em órgãos-alvo em hipertensos
Órgão-alvo Evidência clínica de lesão Comentários (se pertinentes)
Coração IAM; doença coronariana; angioplastia e ou
revascularização do miocárdio; HVE; IC
Sistema Nervoso
Central
AVC transitório; AVC isquêmico, AVC
hemorrágico, alteração da função cognitiva
Rim Déficit importante da TFG<60 ml/min.
A ocorrência de diminuição da
TFG e/ou albuminúria aumenta o
risco de doença cardiovascular
Retina Hemorragias ou exsudatos, papiledema e
outras alterações vasculares.
Doença arterial
periférica
Baseado na história clínica de claudicação,
exame físico e ITB.
Onde: IAM = infarto agudo do miocárdio; HVE = hipertrofia ventricular esquerda; IC = insuficiência
cardíaca; AVC = acidente vascular cerebral; TFG = taxa de filtração glomerular; ITB = índice
tornozelo-braço. Fonte: Adaptado de VI Dir Bras HAS, 2010.1
Hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e/ou de infarto agudo do miocárdio (IAM)
prévio podem ser observados ao eletrocardiograma (ECG), o que indica comprometimento
cardíaco (HVE) ou lesão (IAM).1 A ocorrência de retinopatia, sinais de comprometimento
cardíaco, sopros, sinais neurológicos consistentes com AVC e a diminuição ou ausência de
pulsos periféricos também são achados de exame físico de lesão de órgão alvo. A taxa de
filtração glomerular (TFG) estimada <60 mL/min/1.73m2 indica a presença de DRC, caso se
mantenha em um período igual ou maior que 3 meses, aliado ou não às alterações urinárias
(albuminúria, hematúria ou piúria) – vide Seção 3. Deve-se ressaltar que a redução da pressão
arterial diminui significativamente a ocorrência de desfechos cardiovasculares1,27
, assim como
a ocorrência de diminuição da TFG e/ou albuminúria aumenta o risco de doença
cardiovascular.28,29
48
Para a detecção da doença vascular periférica (DVP), a medida do índice tornozelo-
braço (ITB), citada no quadro 13 e apresentada detalhadamente no item 1.13.4 "Doença
Vascular Periférica", deverá ser realizada. Valores menores que 0,9 são indicativos de DVP30
e na ocorrência de valores anormais, o encaminhamento do usuário ao especialista deve ser
considerado.
1.8.3 Exames complementares
De forma adicional à anamnese e ao exame físico, a SEMSA/Manaus preconiza a
realização de uma investigação propedêutica básica inicial conforme exposta no quadro 14.
Quadro 14. Avaliação complementar inicial básica do hipertenso preconizada pela
SEMSA/Manaus e comentários relevantes
Avaliação (nível de evidência) Comentários
Análise de urina simples (1C)
Albuminúria se associa com risco aumentado de DCV,
HAS, DRC. Albuminúria e/ou hematúria e/ou piúria pode
ser o primeiro sinal de doença renal secundária à HAS.
Hemoglobina ou hematócrito Anemia é fator de risco para DCV, preditor de morte na IC
e fator agravante da DRC.
Potássio plasmático (1C) Baixos níveis de potássio podem indicar excesso de
aldosterona (investigação de hipertensão secundária)
Creatinina plasmática para estimar
TFG (1B) Possibilita estimar a TFG
Glicemia jejum (1C) Permite identificar intolerância à glicose e diabetes mellitus
Colesterol total, HDL-colesterol,
Triglicérides* (1C) A dislipidemia é duas vezes mais prevalente nos hipertensos
Ácido úrico plasmático (1C) A hiperuricemia encontra-se associada à hipertensão arterial
Eletrocardiograma (1B)
HVE é fator de risco cardiovascular independente.
Prioriza o diagnóstico de HVE através dos índices de
Sokolov-Lyon ou Cornell.1,31
Onde: * O LDL-C (colesterol LDL) é calculado pela fórmula: LDL-C = colesterol total - (Colesterol
HDL + triglicérides/5) (quando a dosagem de triglicérides for abaixo de 400 mg/dL); DCV = doença
cardiovascular; HAS = hipertensão arterial; DRC = doença renal crônica; IC = insuficiência cardíaca;
TFG = taxa de filtração glomerular; HVE = hipertrofia ventricular esquerda. Fonte: Adaptado de VI
Dir Bras HAS, 2010.1
Com o objetivo de melhor estratificação do risco cardiovascular, se indica uma
avaliação adicional orientada para a detecção de lesões clínicas ou subclínicas nos seguintes
casos:
49
presença de elementos indicativos de doença cardiovascular e doenças associadas,
usuários com dois ou mais fatores de risco e,
usuários acima de 40 anos de idade com diabetes mellitus.1
1.9 Estratificação de Risco
1.9.1 Estratificação de risco clínico (cardiovascular global)
A VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) valorizou a estratificação de risco,
baseada nos seguintes itens: 1
reconhecimento dos fatores de risco cardiovasculares,
fatores adicionais para a HAS,
identificação de lesões em órgãos-alvo e
identificação de lesões subclínicas destes órgãos.
Os fatores de risco adicionais para a HAS representam homens com idade acima de 55
anos e mulheres acima de 65 anos; o tabagismo; as dislipidemias, especialmente, triglicérides
acima de 150 mg/dL, LDL-colesterol maior que 100 mg/dL e HDL-colesterol menor que 40
mg/dL; a presença de diabetes mellitus e a história familiar prematura de doença
cardiovascular (em homens com idade menor que 55 anos e mulheres com idade menor que
65 anos).1
Como lesão subclínica de órgãos-alvo, cita-se inicialmente a presença de HVE ao
ECG. Índices recomendados são os de Sokolov-Lyon (soma do S de V1 ou V2 e do R de V5
ou V6 acima de 35 mm) ou Cornell (soma do R de aVL e do S de V3, acima de 28 mm para
homens e acima de 20 mm para mulheres).31
Aliado à presença de HVE, outros indicativos de
lesões subclínicas de órgãos-alvo são: ecocardiograma com índice de massa de ventrículo
esquerdo (VE) maior que 134g/m2 em homens ou acima de 110g/m
2 em mulheres; a espessura
médio-intimal de carótidas acima de 0,9 mm ou a presença de placa de ateroma pelo doppler
de carótidas; o índice tornozelo-braço menor que 0,9; a depuração de creatinina estimada
menor que 60 ml/min/1,72 m2; o baixo ritmo de filtração glomerular menor que 60
ml/min/1,72 m2; a presença de microalbuminúria e a velocidade de onda de pulso acima de
12m/s. 1
50
As condições clínicas associadas à HAS foram descritas no quadro 13 "Evidências de
lesões em órgãos-alvo em hipertensos", no tópico anterior.1
A idade, o sexo, o nível pressórico arterial elevado, o tabagismo, a dislipidemia e o
diabetes são sabidamente os principais fatores de risco clínicos para se desenvolver DCV. A
interação e o agrupamento destes fatores levaram ao desenvolvimento de uma predição,
baseada na avaliação do risco de Framingham original, que pode ser utilizada por
profissionais de saúde da atenção primária para avaliar o risco global de desenvolver doença
cardiovascular.32
A estimativa global de DCV facilita o ajustamento entre a intensidade do fator de risco
e a probabilidade estimada da doença, tornando o tratamento mais custo-efetivo. Desta forma,
o estudo de D’Agostino e cols. (2008) foi motivado pela necessidade de se simplificar a
predição de risco, informando, através de um algoritmo, pessoas com alto risco de doença
cardiovascular aterosclerótica em geral, sendo capaz de identificação do risco para eventos
específicos, como doença coronariana, DVP, AVC e insuficiência cardíaca. Adicionalmente,
essa estratificação de D’Agostino se estende à formulação anterior de Framingham
(denominada também como “Framingham Revisado”) e a expande, com base em um número
maior de eventos.32
Essa estratificação de risco clínico revisada pode ser obtida mediante submissão das
informações referentes ao usuário hipertenso aos quadros seguintes, os quais propiciam a
estimativa do risco cardiovascular em 10 anos (morte coronariana, infarto do miocárdio,
insuficiência coronariana, angina, AVC isquêmico e hemorrágico, ataque isquêmico
transitório, DAP e insuficiência cardíaca) sem doença cardiovascular no exame de base. Os
preditores utilizados são: idade, sexo, diabetes, tabagismo, pressão arterial sistólica tratada e
não-tratada, colesterol total e HDL.
Deve-se ressaltar que os usuários que têm insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca,
hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência arterial periférica, insuficiência renal crônica
estágio 3 ou mais e que tenham tido acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico
transitório são considerados como de alto risco cardiovascular.
Inicialmente (quadros 15 e 16) são apresentados os escores para estratificação de risco
cardiovascular, por sexo.
51
Quadro 15. Escore de Framingham revisado para homens
Pontos Idade HDL Col. total PAS não tratada PAS tratada Tabagismo Diabetes
-2 60+ <120
-1 50-59
0 30-34 45-49 <160 120-129 <120 NÃO NÃO
1 35-44 160-199 130-139
2 35-39 <35 200-239 140-159 120-129
3 240-279 160+ 130-139 SIM
4 280+ 140-159 SIM
5 40-44 160+
6 45-49
7
8 50-54
9
10 55-59
11 60-64
12 65-69
13
14 70-74
15 75+
Onde: HDL=Colesterol HDL (High Density Lipoprotein); PAS = pressão arterial sistólica. Col =
colesterol. Fonte: D’Agostino et al, 2008.32
Quadro 16. Escore de Framingham revisado para mulheres
Pontos Idade HDL Col. total PAS não tratada PAS tratada Tabagismo Diabetes
-3 <120
-2 60+
-1 50-59 <120
0 30-34 45-49 <160 120-129 NÃO NÃO
1 35-44 160-199 130-139
2 35-39 <35 140-149 120-129
3 200-239 130-139 SIM
4 40-44 240-279 150-159 SIM
5 45-49 280+ 160+ 140-149
6 150-159
7 50-54 160+
8 55-59
9 60-64
10 65-69
11 70-74
12 75+
52
Onde: HDL=Colesterol HDL (High Density Lipoprotein); PAS = pressão arterial sistólica. Col =
colesterol. Fonte: D’Agostino et al, 2008.32
A partir da análise da somatória dos pontos dos preditores apresentados, obtida nos
escores dos quadros anteriores, os quadros 17 e 18 apresentam a estimativa percentual do
risco cardiovascular global, também por sexo, em 10 anos.
Quadro 17. Estimativa de risco cardiovascular para homens
Fonte: D’Agostino et al, 2008.
32
53
Quadro 18. Estimativa de risco cardiovascular para mulheres
Fonte: D’Agostino et al, 2008.
32
O quadro 19 apresenta os estratos clínicos propostos para a estimativa do risco
cardiovascular global de D’Agostino e o critério de acordo com essa escala de risco de
Framingham revisada.32
54
Quadro 19. Estratos e critério para a estratificação de risco clínico (risco cardiovascular
global) da hipertensão arterial sistêmica
Estratificação Critério (Framingham revisado)
HAS de baixo risco cardiovascular Estimativa de risco cardiovascular menor que
10% em 10 anos
HAS de moderado risco cardiovascular Estimativa de risco cardiovascular entre 10% a
20% em 10 anos
HAS de alto risco cardiovascular Estimativa de risco cardiovascular maior que
20% em 10 anos
Onde: HAS: Hipertensão arterial sistêmica. Fonte: D’Agostino et al, 2008.32
1.9.2 Estratificação de risco de indivíduos com hipertensão arterial sistêmica para a
organização da rede de atenção em Manaus
Para fins de organização da rede de assistência ao hipertenso em Manaus, a
SEMSA/Manaus, por meio de seu Grupo de Elaboração das Diretrizes Clínicas propôs uma
estratificação de risco dos hipertensos baseada no risco clínico (item 1.9.1) e na capacidade
para o autocuidado desses indivíduos.
O quadro 20 apresenta os estratos de risco propostos e seus critérios.
Quadro 20. Estratificação de risco de indivíduos com hipertensão arterial sistêmica para
a organização da rede de atenção à saúde em Manaus
Risco Critérios (Risco de evento cardiovascular maior – D’Agostino et al – e
capacidade para o autocuidado1)
Baixo
< 10% de risco de evento cardiovascular maior em 10 anos, com capacidade
de autocuidado suficiente e
Ausência de LOA identificadas2 e
Ausência de condições clínicas associadas.3
Moderado
< 10% de risco de evento cardiovascular maior em 10 anos, com capacidade
de autocuidado insuficiente ou
10 a 20% de risco de evento cardiovascular maior em 10 anos.
- Em qualquer uma das opções é obrigatória a
Ausência de LOA identificadas2 e
Ausência decondições clínicas associadas. 3
Alto
> 20% risco de evento cardiovascular maior em 10 anos com capacidade de
autocuidado suficiente e/ou
LOA identificadas2, com capacidade de autocuidado suficiente.
- Em qualquer uma das opções é obrigatória a
Ausência de condições clínicas associadas. 3
Muito Alto
> 20% risco de evento cardiovascular maior em 10 anos com capacidade de
autocuidado insuficientee/ou
LOA identificadas2, com capacidade de autocuidado insuficiente e/ou
Presença de condições clínicas associadas. 3
Onde: LOA = Lesões de órgãos alvo.
55
1 Entende-se como capacidade de autocuidado insuficiente (conceito operacional) a limitação em
níveis relevantes da capacidade de autocuidadodo indivíduo ou de seu cuidador (mãe/pai/responsável
no caso de um dependente) pelaredução, impossibilidade, fragilidade, negação, dificuldade ou
ausência de: 1) compreensão e/ou conhecimento de sua condição crônica; 2) aceitação de sua condição
crônica; 3) adesão ao plano terapêutico (agendamento de consultas, participação de grupos, atividades
físicas, uso dos medicamentos prescritos, educação alimentar, registro das informações, etc.); 4)
autonomia/independência (por limitações físicas, dependências químicas, transtornos mentais, déficit
cognitivo) e 5) suporte familiar e social. 2 Entende-se por lesões de órgãos alvo (LOA): hipertrofia de ventrículo esquerdo identificada no
eletrocardiograma de rotina, estágio de função renal 3B ou achados evidenciados em exames
anteriores não recomendados como rotina na atenção primária (espessura médio-intimal de carótida >
0,9 mm ou placa de ateroma em carótida, índice tornozelo-braquial < 0,9 e velocidade de onda de
pulso > 12 m/s). 3 Entende-se por condições clínicas associadas: doença cerebrovascular (acidente vascular encefálico
isquêmico ou hemorrágico, ataque isquêmico transitório); doença cardiovascular (angina, infarto
agudo do miocárdio, revascularização coronária, insuficiência cardíaca); doença arterial periférica;
retinopatia avançada (papiledema, hemorragias e exsudatos) e doença renal crônica (categoria de
função renal 4 ou 5).
1.10 Plano de Cuidados
1.10.1 Abordagem multiprofissional
A abordagem multidisciplinar está fortemente indicada para indivíduos com HAS
(1A).1
A equipe multiprofissional deverá contar com todos os profissionais disponíveis e
necessários ao controle ideal dos usuários hipertensos: médicos, enfermeiros, técnicos e
auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas,
educadores físicos, farmacêuticos, educadores em saúde, comunicadores, funcionários
administrativos, agentes comunitários de saúde, dentre outros.
Os membros de um grupo multiprofissional devem observar suas regulamentações
profissionais, respeitar suas especificidades, conhecer a ação individual de cada um dos outros
membros, trabalhando de forma interdisciplinar e sinérgica. Isso propiciará assistência a um
maior número de usuários, maior adesão ao tratamento, melhores condições para ações de
pesquisa em serviço, maior efetividade de ações educativas, tanto para os usuários quanto
para os outros integrantes da equipe multiprofissional.23
1.10.2 Tratamento não medicamentoso
56
O tratamento não medicamentoso é eficaz na prevenção e tratamento da HAS,
potencializando o tratamento medicamentoso.
As ações de prevenção da HAS (nível 2 do MACC – vide texto introdutório sobre o
Modelo de Atenção às Condições Crônicas para o SUS) promovem melhoria da qualidade de
vida, controle dos custos gerados pelo tratamento da hipertensão e de suas complicações e
objetivam estimular mudanças no comportamento e no estilo de vida, reduzindo a exposição
individual e coletiva aos fatores de risco implicados no surgimento da HAS.1,33
Assim, as
mudanças no estilo de vida constituem as medidas mais eficazes para a prevenção e para o
tratamento da HAS, contribuindo para a redução do risco cardiovascular.
É papel da equipe multiprofissional estimular e ou implementar o tratamento não-
farmacológico isolado ou associado ao tratamento farmacológico.1
As principais estratégias referentes ao tratamento não-medicamentoso em nível da
APS encontram-se descritas a seguir.
Recomendações relativas ao estilo de vida
Ingestão de Sal
Dietas com baixo teor de sódio promovem rápida e importante redução de PA em
hipertensos resistentes. Apesar das diferenças individuais de sensibilidade, mesmo modestas
reduções na quantidade de sal são, em geral, eficientes em reduzir a PA.34
Segundo a OMS, a necessidade diária de sódio para os seres humanos é a contida em
5g de cloreto de sódio ou sal de cozinha. O consumo médio do brasileiro corresponde ao
dobro do recomendado. Vale lembrar que cerca de dois terços do sal ingerido está contido em
alimentos e bebidas processadas e que apenas um terço representa o sal adicionado aos
alimentos. Assim, sugere-se a redução do sal de adição bem como o desestímulo ao consumo
de alimentos industrializados. 1,13,35,36
A dieta hipossódica tem grau de recomendação IIb e nível de evidência B.
Recomenda-se que a ingestão de sal não ultrapasse 5 gramas por dia, o que corresponde a
três colheres de café rasas de sal (totalizando 3 gramas) mais 2 gramas de sal dos alimentos.
57
Redução do peso corporal
O sobrepeso e a obesidade contribuem de modo significativo para o agravamento de
HAS pré-existente.37
É sabido que a redução de 5-10 Kg de peso corporal está associada à diminuição
média de 10 mmHg da PA. Em metanálise, realizada em 2008, na qual foram avaliados 38
estudos controlados e randomizados, concluiu-se que a redução do peso corporal se associou à
diminuição da média da PA de 6,3/3,4 mmHg.38
A adequação do consumo calórico diário, em especial se associada à prática regular de
exercícios físicos, contribui, de modo significativo, para a redução do peso corporal.
A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) tem sido preconizada (1A)
e inclui baixo consumo de carnes vermelhas e alimentos de origem animal, priorizando o
consumo de frutas, verduras, cereais, óleos vegetais e carnes brancas, tendo importante
impacto na redução da PA.39
A adesão a esse tipo de dieta também reduziu em 14% o
desenvolvimento de hipertensão.40
A dieta DASH potencializa o efeito de orientações
nutricionais para emagrecimento, reduzindo também biomarcadores de risco cardiovascular.1
O quadro 21 apresenta algumas recomendações gerais relativas à DASH.
Quadro 21. Recomendações gerais relativas à dieta DASH
Alimentos sugeridos
Escolher alimentos que possuam pouca gordura saturada, colesterol e gordura total. Por exemplo,
carne magra, aves e peixes, utilizando-os em pequenas quantidades;
Comer muitas frutas e hortaliças, aproximadamente de oito a dez porções por dia (uma porção é
igual a uma concha média);
Incluir duas ou três porções de laticínios desnatados ou semidesnatados por dia;
Preferir os alimentos integrais como pães, cereais e massas integrais ou de trigo integral;
Comer oleaginosas (castanhas), sementes e grãos, de quatro a cinco porções por semana (uma
porção é igual a 1/3 de xícara ou 40 g de castanhas, duas colheres de sopa ou 14 gramas de sementes,
ou ½ xícara de feijões ou ervilhas cozidas e secas);
Reduzir a adição de gorduras. Utilizar margarina light e óleos vegetais insaturados (como azeite,
soja, milho, canola);
Evitar adição de sal aos alimentos. Evitar também molhos e caldos prontos, além de produtos
industrializados;
Diminuir ou evitar o consumo de doces e bebidas com açúcar.
Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
Conforme o padrão nutricional preconizado pela dieta DASH, os benefícios sobre a PA
têm sido associados ao alto consumo de potássio, magnésio e cálcio.J O consumo de
alimentos ricos em potássio é indicado, pois potencializa os benefícios da dieta hipossódica. O
58
potássio induz à redução da pressão arterial, contribui para prevenção de danos
cardiovasculares e auxilia na terapia com diuréticos. (CUPPARI, 2002) - texto da Tânia
Batista – falta referência. O quadro a seguir apresentam os principais alimentos regionais
ricos nesses nutrientes.
Quadro 22. Principais alimentos regionais ricos em potássio, magnésio e cálcio
Alimentos ricos em potássio Alimentos ricos em magnésio Alimentos ricos em cálcio
Frutas: banana, laranja,
acerola, mamão, goiaba,
jambo, jaca, abacate,
carambola, frutas secas,
castanhas;
Hortaliças: jerimum, couve,
carirú, alfavaca, tomate,
pimentão, quiabo, maxixe,
berinjela;
Tubérculos: batata doce,
cará, cenoura, beterraba,
macaxeira;
Leguminosas: feijão, soja,
lentilha, feijão de praia,
feijão verde,
Cereais: arroz integral,
aveia, milho;
Laticínios magros e
desnatados: leite e iogurte
desnatados, queijos de búfala,
minas frescal, ricota,
requeijão light, coalhada
desnatada, queijo de soja;
Frutas: tucumã, frutas secas,
castanhas de caju e do brasil;
Hortaliças: carirú, alfavaca,
coentro, espinafre amazônico;
Leguminosas: feijão, soja;
Sementes: girassol e linhaça;
Cereais: arroz integral,
farinha de centeio, aveia,
milho (pipoca);
Laticínios magros e
desnatados: leite e
iogurte desnatados,
queijos de búfala, minas
frescal, ricota, requeijão
light, coalhada desnatada;
Hortaliças: cariru, couve,
alfavaca, manjericão,
coentro, salsa, quiabo,
espinafre amazônico;
Fonte: Adaptado de DUTRA DE OLIVEIRA; MARCHINI, 1998; MOHAN; CAMPELL, 2009;
SAVICA et al, 2010 e NEPA-UNICAMP, 2011.X,X,X,X
Recomenda-se como medida essencial para o controle da HAS a redução do peso corporal
em indivíduos com sobrepeso e obesidade (1A).
Atividade Física
A atividade física refere-se a todo movimento corporal voluntário humano que resulte
em gasto energético acima dos níveis de repouso, sendo realizada no próprio cotidiano.
Caracteriza-se como exercício físico, uma atividade estruturada, que envolve intensidade,
frequência, duração e regularidade, sendo planejada para obtenção de objetivos focados na
aptidão física e saúde.41
A prática regular de exercícios físicos pode atenuar o risco de doenças coronarianas
por uma série de mecanismos fisiológicos e metabólicos, como: redução da pressão arterial,
59
aumento do colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL), diminuição do triglicérides
sérico, redução da sensibilidade do miocárdio aos efeitos das catecolaminas, entre outros. Para
a redução das taxas de morbimortalidade por doenças cardiovasculares (DCV) recomenda-se
a realização de atividade física diária, especialmente aeróbicas.1,42
O incentivo à adoção de um estilo de vida ativo deve iniciar-se o mais precocemente
possível, devendo manter-se por toda a adolescência até a vida adulta, como forma de
prevenção ou retardo no desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas.43
Todos os hipertensos sem comprometimento cardíaco devem ser estimulados à
realização de pelo menos 30 minutos diários de atividade aeróbica de intensidade moderada a
vigorosa.1,43
Em usuários com complicações cardiovasculares, o aconselhamento para a
prática regular de exercícios deve ser supervisionado por profissional habilitado.42,43,44,45
Inicialmente, os indivíduos devem realizar atividades leves a moderadas.46,47
As
atividades vigorosas podem ser iniciadas somente após estarem adaptados, caso julguem
confortável e não haja nenhuma contra-indicação.46,47
Os exercícios aeróbios podem e devem ser complementados pelos resistidos
(treinamento de força) para promover a prevenção e redução da PA.44
Em relação aos
exercícios resistidos, recomenda-se que sejam realizados entre 2 e 3 vezes por semana, por
meio de 1 a 3 séries de 8 a 15 repetições, com carga leve a moderada, controlando a
respiração durante o movimento.
Recomenda-se a avaliação médica antes do início de um programa de treinamento
estruturado, o qual deve ser preferencialmente orientado e supervisionado por profissionais de
educação física. Na presença de sintomas, a interrupção do programa deve ser considerada.
Recomenda-se estimular a prática regular de atividade física aeróbica, como
caminhadas por pelo menos 30 minutos por dia, 5 vezes/semana para prevenção, e
diariamente para o tratamento da HAS.
Indivíduos sedentários devem ser encorajados a iniciarem atividade física, por meio de
séries de exercícios de até 10 minutos uniformemente distribuídos em 4 a 5 vezes/ semana,
ampliando a duração de forma progressiva.
Em hipertensos, a sessão de treinamento não deve ser iniciada se as pressões arteriais
sistólica e diastólica estiverem superiores a 160 e/ou 105 mmHg, respectivamente.
60
Usuários com doença cardiovascular conhecida poderão ser liberados a praticarem
atividade física de leve a moderada intensidade, numa intensidade maior ou igual a 3 x
semana, com duração igualmente de, pelo menos, 30 minutos.
Fonte: Perk J et al, 2012.42
Cessação do Tabagismo
O tabagismo constitui fator de risco maior para doenças cardiovasculares.1A cessação
do uso de tabaco se associa com redução da morbi-mortalidade geral, por DCV e por
câncer.1,42,48
Recomenda-se como medida complementar associada à redução do risco cardiovascular a
cessação do tabagismo para todo indivíduo hipertenso.
Redução da ingestão de bebidas alcoólicas
O uso abusivo de álcool está intimamente relacionado à menor resposta anti-
hipertensiva e ao aumento da mortalidade cardiovascular.1
Ainda que o álcool determine redução da PA agudamente, essa redução se segue de
efeito rebote algumas horas após a ingestão alcoólica.1
Recomenda-se para os hipertensos habituados a ingerir bebidas alcoólicas, não ultrapassar a
ingestão de 30 g e 15 g de etanol ao dia, para homens e mulheres, respectivamente. Usuários
com hipertensão arterial, que não façam uso regular de bebidas alcoólicas, devem ser
estimulados a se manterem abstêmios.
O quadro 23 caracteriza as principais bebidas alcoólicas quanto ao seu teor de etanol
específico.
61
Quadro 23. Características das principais bebidas alcoólicas e teor de etanol por
quantidade definida
Bebida % de
etanol
Quantidade
de etanol
Volume para cada
30g de etanol Volume aproximado
Cerveja 6% 4,8g 625 ml 2 latas (350 ml cada) ou
01 garrafa (650 ml)
Vinho 12% 9,6g 312,5 ml 2 taças de 150 ml
Uísque, vodka, aguardente 40% 32g 93,7 ml 2 doses de 50 ml
Onde: g = gramas; % = porcentagem; ml = miligramas. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
1.10.3 Tratamento medicamentoso
Em hipertensos no estágio 1, sem fatores de risco ou com baixo risco adicional de
doença cardiovascular, o tratamento não medicamentoso isolado por até 6 meses pode ser
efetivado para o controle da PA.
Os demais usuários, já a partir do diagnóstico da HAS, beneficiam-se do tratamento
não medicamentoso associado ao medicamentoso.1
Independentemente da classe medicamentosa, o controle da PA associa-se com
diminuição de morbi-mortalidade cardiovascular. Ainda que a maioria dos estudos utilize
associação de anti-hipertensivos, vários estudos relevantes demonstram redução de morbi-
mortalidade com diuréticos, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da
angiotensina (IECA), bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II (BRA)e com
antagonistas dos canais de cálcio (ACC).
A escolha da classe terapêutica não deve ser baseada apenas no nível da PA, mas sim
no risco cardiovascular, considerando-se a presença de fatores de risco, lesão em órgão-alvo
e/ou doença cardiovascular estabelecida.8
O quadro 24 apresenta os principais mecanismos de ação, efeitos adversos e
considerações sobre as diferentes classes medicamentosas anti-hipertensivas; já o quadro 25
lista os principais anti-hipertensivos comercialmente disponíveis no Brasil e suas posologias.
A lista de medicamentos anti-hipertensivos disponíveis na SEMSA/Manaus consta da Relação
Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME), a qual pode ser acessada no endereço
eletrônico www.manaus.am.gov.br
63
Quadro 24. Mecanismo de ação, efeitos adversos e comentários sobre as principais classes de anti-hipertensivos
Classe de anti-
hipertensivo Mecanismo de Ação Efeitos Adversos Comentários
Diuréticos
Natriurese e diminuição do volume
extracelular. Após 4-6 semanas,
redução da resistência vascular
periférica
Hipopotassemia, Hiperuricemia, Intolerância à
Glicose e Aumento dos Triglicerídeos
Preferir Tiazídicos
Diuréticos de Alça para Insuficiência Cardíaca
e DRC (TFG< 30 ml/min)
Betabloqueadores
Diminuição inicial do debito
cardíaco, redução da secreção de
renina, readaptação dos
barorreceptores e diminuição das
catecolaminas nas sinapses nervosas.
O Carvedilol causa vasodilatação
devida ao bloqueio concomitante do
receptor alfa-1 adrenérgico
O Nebivolol aumenta a síntese e
liberação endotelial de oxido nítrico
Broncoespasmo, bradicardia, distúrbios da
condução atrioventricular, vasoconstrição
periférica, insônia, pesadelos, depressão
psíquica, astenia e disfunção sexual,
intolerância a glicose, alterações do perfil
lipídico.
Hipertensão de Rebote e Isquemia miocárdica
com a suspensão brusca.
O Carvedilol e o Nebivolol têm impacto
neutro ou mesmo positivo sobre o
metabolismo da glicose e lipídico
São uteis na redução da mortalidade e
morbidade cardiovasculares de usuários com
insuficiência cardíaca, hipertensos ou não. O
propranolol se mostra útil em usuários com
tremor essencial, síndromes hipercinéticas,
cefaleia de origem vascular e naqueles com
hipertensão portal.
Antagonistas dos
Canais de Cálcio
Redução da resistência vascular
periférica por diminuição da
concentração de cálcio nas células
musculares lisas vasculares.
Cefaléia, tontura, rubor facial, edema de
extremidades, obstipação intestinal e
hipertrofia gengival. Os dihidropiridínicos de
ação curta provocam estimulação simpática
reflexa, deletéria para o sistema
cardiovascular.
Verapamil e Diltiazen podem provocar
depressão miocárdica e bloqueio
atrioventricular.
São eficazes e bons para associações.
Eficazes na Hipertensão Sistólica.
Diltiazen e Verapamil são indicados para I.
Coronariana e Arritmias Cardíacas.
Inibidores da
Enzima de
conversão da
Angiotensina II
Agem fundamentalmente pela
inibição da enzima conversora da
angiotensina (ECA), bloqueando a
transformação da angiotensina I em
II no sangue e nos tecidos, embora
outros fatores possam estar
Tosse seca, alteração do paladar, reações de
hipersensibilidade com erupção cutânea e
edema angioneurótico.
Na DRC podem induzir hiperpotassemia e em
usuários com hipertensão renovascular
bilateral ou unilateral associada a rim único,
São eficazes no tratamento da HAS, reduzindo
a morbidade e a mortalidade cardiovasculares.
Indicados em ICC, pós IAM e na prevenção
secundaria do acidente vascular encefálico.
Quando administrados em longo prazo, os
IECAs retardam o declínio da função renal em
64
envolvidos nesse mecanismo de
ação.
podem promover redução da filtração
glomerular com aumento dos níveis séricos de
creatinina. São contraindicados na gravidez
pelo risco de complicações fetais. Usar com
cautela em adolescentes e mulheres em idade
fértil.
usuários com nefropatia diabética ou de outras
etiologias.
Bloqueadores dos
Receptores da
AT1 da
Angiotensina II
(BRAs)
Os BRAs antagonizam a ação da
angiotensina II por meio do bloqueio
especifico de seus receptores AT1
Apresentam bom perfil de tolerabilidade.
Tontura e, raramente, reação de
hipersensibilidade cutânea.
As precauções para seu uso são semelhantes às
descritas para os IECA.
De modo geral tem as mesmas indicações dos
IECAs
Inibidores diretos
da renina
Alisquireno, único representante da
classe atualmente disponível para uso
clínico, promove inibição direta da
ação da renina com consequente
diminuição da formação de
angiotensina
“Rash” cutâneo, diarreia, aumento de CPK e
tosse. Contraindicados na gravidez.
Sua associação a IECA e ou BRAs em
usuários de alto risco cardiovascular resultou
em aumento do número de eventos CV e a
risco de hiperpotassemia.
Portanto, não se recomenda sua associação a
estas classes terapêuticas
Simpatolíticos de
Ação Central
Agem estimulando os receptores alfa-
2 adrenérgicos pré-sinápticos no
sistema nervoso central, reduzindo o
tônus simpático. São representados
pela Alfametildopa, a clonidina e o
guanabenzo
e/ou os inibidores dos receptores
imidazolidínicos, como Moxonidina
e a Rilmenidina
Sonolência, sedação, boca seca, fadiga,
hipotensão postural e disfunção sexual. A
frequência e um pouco menor com os
inibidores de receptores imidazolidínicos. A
Alfametildopa pode provocar, ainda, embora
com pequena
frequência, galactorreia, anemia hemolítica e
lesão hepática, sendo contraindicada se ha
insuficiência hepática.
Seguros na gravidez (Alfametildopa) e úteis
em associações.
Não interferem no perfil metabólico.
Bloqueadores
Alfa-adrenérgicos
Bloqueiam os receptores alfa-
adrenérgicos vasculares
Hipotensão postural, mais evidente com a
primeira dose, palpitações e, eventualmente,
astenia.
No estudo ALLHAT ocorreu mais ICC no
grupo tratado com a doxazosina.49
Melhoram o metabolismo lipídico e glicídico e
os sintomas de usuários com hipertrofia
prostática benigna.
65
Vasodilatadores
Atuam sobre a musculatura da
parede vascular, promovendo
relaxamento e consequente
vasodilatação e redução da
resistência vascular periférica.
Hidralazina e Minoxidil são os dois
principais representantes desse grupo
Retenção hídrica e taquicardia reflexa. Utilizados em associação com diuréticos e/ou
betabloqueadores
Onde: DRC = doença renal crônica; CPK = creatinofosfoquinase; CV = cardiovasculares; ECA = enzima conversora da angiotensina; TFG = taxa de
filtração glomerular; IAM = infarto agudo do miocárdio; HAS = hipertensão arterial sistêmica; ICC = insuficiência cardíaca congestiva. Fonte: VI Dir Bras
HAS, 2010.1
66
Quadro 25. Anti-hipertensivos comercialmente disponíveis no Brasil
Medicamentos
Posologia (mg) Número de
tomadas/ dia Mínima Máxima
Diuréticos
Tiazídicos
Clortalidona 12,5 25 1
Hidroclorotiazida 12,5 25 1
Indapamida 2,5 5 1
Indapamida SR*** 1,5 5 1
Alça
Bumetamida 0,5 ** 1 – 2
Furosemida 20 ** 1 – 2
Piretanida 6 12 1
Poupadores de potássio
Amilorida * 2,5 10 1
Espironolactona 25 100 1 – 2
Triantereno * 50 100 1
Inibidores adrenérgicos
Ação Central
Alfametildopa 500 1.500 2 – 3
Clonidina 0,2 0,6 2 – 3
Guanabenzo 4 12 2 – 3
Moxonidina 0,2 0,6 1
Rilmenidina 1 2 1
Reserpina * 12,5 25 1 – 2
Betabloqueadores
Atenolol 25 100 1 – 2
Bisoprolol 2,5 10 1 – 2
Carvedilol 12,5 50 1 – 2
Metoprolol e Metoprolol (ZOK) *** 50 200 1 – 2
Nadolol 40 120 1
Nebivolol + +
5 10 1
Propanolol ** / Propanolol (LA) *** 40/80 240/160 2-3/ 1-2
Pindolol 10 40 1 – 2
Alfabloqueadores
Doxazosina 1 16 1
Prazosina 1 20 2 – 3
Prazosina XL*** 4 8 1
Terazosina 1 20 1 – 2
Vasodilatadores diretos
Hidralazina 50 150 2 – 3
Minoxidil 2,5 80 2 – 3
Bloqueadores dos canais de cálcio
Finilalquilaminas
Verapamil Retard *** 120 480 1 – 2
67
Benzotiazepinas
Diltiazem AP, SR ou CD *** 180 480 1 – 2
Diidropiridinas
Anlodipino 2,5 10 1
Felodipino 5 20 1 – 2
Isradipina 2,5 20 2
Lacidipina 2 8 1
Lercarnnidipino 10 30 1
Manidipino 10 20 1
Nifedipino Oros *** 30 60 1
Nifedipino Retard *** 20 60 2 – 3
Nisoldipino 5 40 1 – 2
Nitrendipino 10 40 2 – 3
Inibidores da ECA
Benazepril 5 20 1
Captopril 25 150 2 – 3
Cilazapril 2,5 5 1
Delapril 15 30 1 – 2
Enalapril 5 40 1 – 2
Fosinopril 10 20 1
Lisinopril 5 20 1
Perindopril 4 8 1
Quinapril 10 20 1
Ramipril 2,5 10 1
Trandolapril 2 4 1
Bloqueadores do receptor AT1
Candesartana 8 32 1
Irbesartana 150 300 1
Losartana 25 100 1
Olmesartana 20 40 1
Telmisartana 40 160 1
Valsartana 80 320 1
Inibidor direto da renina
Alisquereno 150 300 1
* Medicamentos comercializados apenas em associações com outros antihipertensivos / ** Dose
máxima variável de acordo com a indicação médica / *** Retard, SR, ZOK, Oros, XL, LA, AP, SR e
CD: formas farmacêuticas de liberação prolongada ou controlada / + Alfa-1 e betabloqueador
adrenérgico / + +
Betabloqueador e liberador de óxido nítrico. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
68
Principais metas pressóricas e a abordagem terapêutica medicamentosa inicial
As principais metas pressóricas para os hipertensos são expostas no quadro a
seguir.
Quadro 26. Principais metas pressóricas conforme condições clínicas dos
hipertensos
Condições clínicas dos hipertensos Metas pressóricas (PA)
Hipertensos estágios 1 e 2, com risco cardiovascular baixo
e médio
<140/90 mmHg
Hipertensos com níveis pressóricos limítrofes (segundo
classificação HAS) e com risco cardiovascular alto, bem
como aqueles com 3 ou mais fatores de risco
cardiovasculares, diabetes mellitus, lesões em órgãos-alvo
ou doença renal crônica
<130/80 mmHg
Tais metas devem ser alcançadas mediante a abordagem terapêutica
medicamentosa inicial do hipertenso a partir dos diferentes estágios da HAS. Tal
abordagem encontra-se sistematizada nos fluxogramas 1 e 2.
69
Fluxograma 1. Abordagem terapêutica inicial do indivíduo com hipertensão arterial
estágio 1
Onde: HAS = hipertensão arterial sistêmica; PA = pressão arterial. Fonte: Secretaria de Estado de
Saúde de Minas Gerais, 2013.x(inserir nas referências como número 50, posteriormente)
70
Fluxograma 2. Abordagem terapêutica medicamentosa inicial do indivíduo com
hipertensão arterial nos estágios 2 e 3
Onde: HAS = hipertensão arterial sistêmica; PA= pressão arterial. Fonte: Secretaria de Estado de
Saúde de Minas Gerais, 2013.x(inserir nas referências como número 50, posteriormente)
Tratamento da hipertensão em situações especiais
Diabéticos
O primeiro passo é pesquisar a presença de nefropatia diabética, conforme seção 3 sobre
DRC. Para tanto, deve-se avaliar a presença de albuminúria e a taxa de filtração glomerular.
Na ausência de nefropatia, o tratamento da HAS segue os princípios gerais do tratamento,
podendo ser efetuado com qualquer classe terapêutica. Apenas deve-se tomar o cuidado de
afastar a presença de hipotensão postural.1
71
No caso de nefropatia diabética, o tratamento medicamentoso deverá incluir um inibidor
do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA), associado ou não a um antagonista dos
canais de cálcio ou diurético. Não se recomenda o bloqueio duplo do SRAA por meio da
associação de bloqueador dos receptores da angiotensina (BRA) com inibidor da enzima de
conversão da angiotensina (IECA) ou inibidor direto da renina (alisquireno), devido ao risco de
hiperpotassemia e aumento de eventos cardiovasculares.50,51
Em diabéticos hipertensos sem nefropatia recomenda-se tratar a HAS com qualquer classe
terapêutica. Em diabéticos hipertensos com nefropatia recomenda-se sempre iniciar com um
inibidor do SRAA, adicionar diurético em baixas doses e/ou antagonista de cálcio. Se necessário
deve-se incluir outras classes terapêuticas.
Renais Crônicos
DRC categorias 1 e 2 (Vide Seção 3 sobre DRC)
Nos estágios iniciais da DRC, o controle adequado da PA constitui-se na medida mais
eficaz para a prevenção de progressão da lesão renal, independentemente da classe da medicação
anti-hipertensiva utilizada. Nos indivíduos com proteinúria recomenda-se o bloqueio do SRAA,
visando à proteção da função renal.²
DRC categorias 3, 4 e 5 (não-dialítica)
Os IECAs e os BRAs são a primeira opção. Eles são comprovadamente eficazes e seus
benefícios ultrapassam a simples redução da PA.1,52,53
A segunda opção para o tratamento da hipertensão na DRC, especialmente quando
combinados com IECA ou BRA são os diuréticos, que comprovadamente reduzem a morbi-
mortalidade cardiovascular. Os diuréticos tiazídicos são normalmente, mais eficazes em usuários
nos estágios 1,2 e 3 da DRC e os de alça nas categorias 4 e 5.
Para atingir as metas pressóricas preconizadas em usuários com DRC (vide quadro 26),
geralmente é necessária a combinação de três ou mais anti-hipertensivos, em doses plenas.
Assim, os antagonistas dos canais do cálcio (ACC) são a terceira opção e, seu uso combinado
72
com IECA, associou-se a maior redução de eventos cardiovasculares.1
Os betabloqueadores, os inibidores adrenérgicos de ação central e, eventualmente, os
vasodilatadores de ação direta como o minoxidil e a hidralazina são outras alternativas.
Esse documento não abordará o tratamento da HAS dos indivíduos com DRC categoria 5
em programa de diálise, por ser essa uma situação específica do nefrologista.
Para hipertensos com DRC categorias 1 e 2 recomenda-se tratar a HAS com qualquer classe
terapêutica. Na presença de albuminúria, incluir um inibidor do SRAA. Para hipertensos com
DRC categorias 3, 4 e 5 (não dialítico), deve-se sempre iniciar com um inibidor do SRAA,
adicionar diurético e/ou antagonista de cálcio. Se necessário incluir outras classes terapêuticas.
Idosos
Em idosos, a PA deve ser reduzida gradualmente para valores inferiores a 140/90 mmHg.
Em casos de HAS sistólica, podem ser mantidos inicialmente níveis de até 160 mmHg.
Devido ao risco de hipotensão postural e de intoxicação medicamentosa, se necessário, o
tratamento medicamentoso deve ser iniciado com doses baixas de anti-hipertensivos, e o
incremento de doses ou a associação de novos medicamentos devem ser feitos cautelosamente. A
maioria dos idosos necessita de terapia combinada e aqueles com comorbidades múltiplas não
cardiovasculares devem ter seu tratamento cuidadosamente individualizado.1,24
Sabidamente, o tratamento de hipertensos com idade acima de 79 anos, por meio da
associação de IECA, reduz o desenvolvimento de AVC e das taxas de insuficiência cardíaca.24
Recomenda-se em idosos iniciar doses baixas de anti-hipertensivos, aumentando
gradualmente.
Diuréticos tiazídicos e antagonistas dos canais do cálcio são mais efetivos nesta população.
IECA são úteis nos quadros de insuficiência cardíaca e na prevenção de AVC.
Na HAS sistólica, deve-se reduzir gradativamente a pressão arterial pelo risco de hipotensão
arterial sintomática.
Considerar doenças concomitantes tais como IC, AVC, doença coronariana, no momento da
escolha do anti-hipertensivo.
73
Maiores detalhamentos sobre a abordagem terapêutica da HAS no idoso podem ser
obtidos no caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde No 19.
Gestantes
A definição de hipertensão na gravidez considera os valores absolutos de PA sistólica >
140 mmHg e/ou diastólica > 90 mmHg (em 3 ou mais avaliações de saúde, em dias diferentes,
com duas medidas em cada avaliação). A PA diastólica deve ser identificada pela fase V de
Korotkoff.
A HAS na gestação é classificada nas seguintes categorias principais: pré-eclâmpsia,
eclâmpsia; pré-eclâmpsia superposta à hipertensão crônica; hipertensão crônica e hipertensão
gestacional. Define-se a HAS crônica da gestação, foco desse documento, por hipertensão
registrada antes da concepção, ou no período que precede a 20a semana de gravidez, ou além de
doze semanas após o parto.1
Durante a gestação, a SEMSA/Manaus recomenda a introdução de medicação anti-
hipertensiva quando os níveis de PA forem superiores a 150/100 mmHg.
Para gestantes com HAS crônica que estão em uso de anti-hipertensivos e apresentam PA <
120/80 mmHg, a SEMSA/Manaus recomenda reduzir ou mesmo descontinuar o tratamento
e iniciar monitorização cuidadosa da PA.
A medicação mais segura é a metildopa.
Antagonistas de cálcio e betabloqueadores podem ser utilizados com segurança.
Gestantes cuja HAS crônica era previamente tratada e controlada com tiazídicos em baixas
doses podem, eventualmente, ter o esquema terapêutico mantido.
São FORMALMENTE contra-indicados os IECAS, BRA, inibidor direto da renina e
espirolactona, devido ao risco de mal-formações fetais.
Informações mais detalhadas sobre o tema podem ser acessadas na Linha-Guia de Atenção à
Saúde Materno-Infantil da SEMSA/Manaus.
A Rede de Atenção à Saúde Manauara recomenda que, idealmente, gestantes hipertensas sejam
acompanhadas no ambulatório de gestação de alto risco.
74
Coronariopatas
A associação entre HAS e doença arterial coronariana (DAC) está bem demonstrada. A
redução da PA reduz progressão e novos eventos cardiovasculares54,55,56
. Entretanto, parece
importante evitar a redução excessiva da PAD, por essa aumentar o risco de eventos
coronarianos.
A redução gradativa da PA é fundamental para a prevenção de eventos isquêmicos
relacionados à DAC.54,55,56
Os betabloqueadores são a medicação de escolha, exceto se contra-indicação formal.57
Os IECA e os BRA II estão indicados para a prevenção primária em usuários de alto risco
cardiovascular, em hipertensos com DAC estável ou com infarto do miocárdio prévio.53,54
Os diuréticos tiazídicos e os bloqueadores dos canais lentos do cálcio também podem ser
utilizados como alternativa aos betabloqueadores para o tratamento da angina, porém não
são recomendados para prevenção secundária.1,49
Obesos
A redução do peso corporal isolada ou associada ao tratamento farmacológico reduz a PA
de forma consistente. Em relação ao tratamento medicamentoso, o uso de diuréticos tiazídicos,
em baixas doses, deve ser o tratamento medicamentoso inicial preferido. Se necessário IECA,
BRA II e ACC podem ser associados.
Deve-se considerar que obesos apresentam freqüentemente apnéia obstrutiva do sono,
condição que dificulta o controle pressórico e aumenta o risco cardiovascular.58
No que se refere aos obesos, recomenda-se encorajar mudanças do estilo de vida, com
aconselhamento nutricional e orientação para a prática de exercícios físicos. O tratamento
farmacológico deve ser iniciado com diuréticos em baixas doses. IECA, BRA ou antagonistas de
cálcio são alternativas de associação.
75
1.11. Hipertensão Arterial Secundária
São definidos como casos de hipertensão arterial secundária (HAS-S) os casos de HAS
nos quais é possível estabelecer uma relação de causa-efeito entre uma patologia e o
desenvolvimento de HAS. Em algumas situações, o diagnóstico de HAS-S só pode ser
confirmado após o afastamento do fator causal (por exemplo: hipertensão renovascular,
hiperaldosteronismo secundário a adenoma de adrenal) e conseqüente cura da HAS.59
Ainda que a HAS-S tenha prevalência de 3% a 5 %, antes de se iniciar a investigação de
causas secundárias, deve-se atentar para causas de falsa HAS-S, tais como:
medida inadequada da PA;
hipertensão do avental branco;
tratamento inadequado;
não-adesão ao tratamento;
progressão das lesões nos órgãos-alvos da hipertensão;
presença de comorbidades;
interação com medicamentos.1,59
O quadro 27 apresenta os principais dados clínicos sugestivos de HAS-S.
Quadro 27. Dados clínicos sugestivos de hipertensão arterial secundária
Achados clínicos Início abrupto da hipertensão arterial, antes dos 30 ou após os 50 anos
Hipertensão estágio II ou III, acelerada ou maligna
Hipertensão refratária à múltipla terapia
Hipertensão estágio II ou III na presença de aterosclerose difusa
Presença de sopro epigástrico sistólico/ diastólico
Hipertensão estágio II e III com insuficiência renal sem explicação
Piora da função renal induzida por inibidor da enzima conversora da angiotensina ou por bloqueador
do receptor da angiotensina
Assimetria no tamanho renal
Edema pulmonar sem causa aparente em usuário com hipertensão
Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
O quadro 28 apresenta os achados de história e de exame clínico sugestivos de causas
específicas de HAS-S, assim como alguns instrumentos diagnósticos.
76
Quadro 28. Achados de história e de exame clínico sugestivos de causas específicas de hipertensão arterial sistêmica secundária e
instrumentos diagnósticos
Achados Suspeita diagnóstica Estratégias Diagnósticas
Ronco, sonolência diurna, obesidade Apnéia obstrutiva do sono Questionário de Berlim
Polissonografia – apenas na atenção secundária
Hipertensão resistente ao tratamento ou
Hipertensão com hipopotassemia ou
Hipertensão com tumor abdominal
Hiperaldosteronismo primário
Principal exame para suspeição é a relação aldosterona/renina
plasmática
Apresenta prevalência de 6,1% na população de hipertensos,
sendo mais alta nos hipertensos em estágio 3 e/ou de difícil
controle.
A hipopotassemia varia de 9% a 37%
Insuficiência renal, doença cardiovascular
aterosclerótica, edema, creatinina elevada,
proteinúria / hematúria
Doença Parenquimatosa renal Exame de Urina –
Cálculo da Taxa de filtração glomerular, ultrassonografia renal
Hipertensão de início súbito ou de agravamento
recente, edema agudo de pulmão de repetição,
mulheres jovens e sem história de HAS ou
hipertensos de longa data, mal controlados e com
evidências de aterosclerose
Piora da função renal com uso de IECAs / BRAS
Doença renovascular
Ultrassonografia com Doppler de Artérias Renais
Angiografia por ressonância magnética
Tomografia computadorizada
Cintilografia renal
Arteriografia renal
Uso de simpaticomiméticos, perioperatório, estresse
agudo, taquicardia Catecolaminas em excesso Confirmar normotensão em ausência de catecolaminas
Pulsos femorais reduzidos e diferença de PA entre
MMSS e MMII, Radiografia de tórax com corrosão
de arcos costais (sinal do “3” invertido), crianças e
adultos jovens
Coarctação da aorta Doppler ou tomografia computadorizada de aorta
Ganho de peso, fadiga, fraqueza, hirsutismo,
amenorréia, face em “lua cheia”, “corcova” dorsal,
estrias purpúricas, obesidade central,
hipopotassemia
Síndrome de Cushing Cortisol basal e após teste de supressão com dexametasona
Uso de medicamentos / substâncias pró-
hipertensivas
Efeito adverso de
medicamento / substância Eliminar uso do medicamento, se possível
77
Ingestão elevada de sal, abuso de álcool, obesidade Efeitos de estilos de vida Reduzir consumo de sal, aconselhamento ao abandono do uso
de álcool, dieta hipocalórica e exercícios físicos.
Hipertensão paroxística, cefaléias, sudorese,
palpitações, taquicardia Feocromocitoma
Dosagem de catecolaminas e seus metabólitos sanguíneos e
urinários
Tomografia
Ressonância Nuclear Magnética
Mapeamento de Corpo inteiro com metaiodobenzilguanidina
Mapeamento ósseo por Tomografia por emissão de pósitrons
Pode-se utilizar a alfametiltirosina (Demser), inibidora da
síntese de catecolaminas para o preparo cirúrgico e para
tratamento clínico de tumores inoperáveis
Fadiga, ganho de peso, perda de cabelo, hipertensão
diastólica, fraqueza muscular Hipotireoidismo
TSH aumentado
T4 livre reduzido
Intolerância ao calor, perda de peso, palpitações,
hipertensão sistólica, exoftalmia, tremores,
taquicardia
Hipertireoidismo TSH suprimido
T4 livre aumentado
Litíase urinária, osteoporose, depressão, letargia,
fraqueza muscular Hiperparatireoidismo Dosagem de cálcio e de PTH
Cefaléias, fadiga, problemas visuais, aumento de
mãos, pés e língua Acromegalia Dosagem do hormônio do crescimento
Onde: IECAs = inibidores da enzima de conversão da angiotensina; BRAs = bloqueadores dos receptores da angiotensina; PA = pressão arterial; PTH =
paratormônio; HAS = hipertensão arterial sistêmica; MMSS = membros superiores; MMII = membros inferiores; TSH = hormônio estimulador da
tireoide; T4 = tetraiodotiroxina. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
78
Por último, são apresentadas no quadro 29 as principais classes de fármacos e
drogas lícitas ou ilícitas indutoras de HAS-S.
Quadro 29. Principais classes de fármacos e drogas lícitas ou ilícitas indutoras
de hipertensão arterial sistêmica secundária
Classe farmacológica Efeito pressor e freqüência Ação sugerida
Imunossupressores
Ciclosporina, tacrolimus,
Glicorticóide Intenso e freqüente
IECAs e antagonista de canal de
cálcio (nifedipino / anlodipino).
Ajustar nível sérico. Reavaliar
opções
Antiinflamatórios não-esteróides
Inibidores da COX-1 e
COX-2
Eventual, muito relevante com uso
contínuo
Observar função renal e informar
efeitos adversos
Anorexígenos / Sacietógenos
Anfepramona e outros Intenso e freqüente Suspensão ou redução de dose
Sibutramina Moderado, mas pouco relevante
Avaliar a redução da pressão
arterial obtida com a redução de
peso
Vasoconstritores, incluindo
derivados do ergot Variável, mas transitório Usar por período determinado
Hormônios
Eritropoetina humana Variável e freqüente Avaliar hematócrito e dose
semanal
Anticoncepcionais orais Variável, prevalência de hipertensão
até 5%
Avaliar a substituição do método
com especialista
Terapia de reposição
estrogênica (estrogênios,
conjugados e estradiol)
Variável Avaliar risco e custo-benefício
Hormônio de crescimento
(adultos)
Variável, uso
cosmético Suspensão
Antidepressivos
Inibidores da
monoaminoxidase Intenso, infreqüente Abordar como crises adrenérgicas
Tricíclicos Variável e freqüente Abordar como crise adrenérgica.
Vigiar interações medicamentosas
Drogas ilícitas e álcool
Anfetamina, cocaína e
derivados
Efeito agudo, intenso, Dose-
dependente Abordar como crise adrenérgica
Álcool Variável e dose-dependente. Muito
prevalente
Vide tratamento
nãomedicamentoso
Onde: IECAs = inibidores da enzima de conversão da angiotensina; COX-1 = inibidores da
ciclooxigenase 1; COX-2 = inibidores da ciclooxigenase 2. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
Recomenda-se que os casos suspeitos de HAS-S sejam encaminhados para investigação na
atenção secundária.
79
1.12. Urgências e emergências hipertensivas
A elevação aguda da PA caracteriza as crises hipertensivas (CH), as quais são
classificadas em emergências e urgências (quadro 30). Nas emergências
hipertensivas (EH) há elevação crítica da PA, associada à lesão de órgãos-alvo e
risco iminente de morte. Já nas urgências hipertensivas (UH), ocorre elevação
significativa da PA (> 180 x 120 mmHg), sem comprometimento agudo de órgãos-
alvo,em usuários clinicamente estáveis.1
Quadro 30. Classificação das crises hipertensivas
Emergências hipertensivas Urgências hipertensivas
Hipertensão maligna (com papiledema)
Hipertensão associada a:
- Acidente vascular encefálico
- Encefalopatia hipertensiva
- Infarto agudo do miocárdio
- Angina Instável
- Edema agudo de pulmão
- Dissecção de aorta
Crises adrenérgicas
- Feocromocitoma, uso de cocaína, crack, LSD
Eclampsia
Traumatismo craniano
Hipertensão acelerada
Hipertensão associada a:
-Acidente vascular cerebral isquêmico
não complicado
- Insuficiência coronariana
- Insuficiência cardíaca
- Aneurisma de aorta
- Queimaduras
- Epistaxes graves
Crises adrenérgicas
leves/moderadas
- Síndrome do Rebote após suspensão
de simpatolíticos
Pré-eclampsia
Crises renais
- Glomerulonefrite aguda
- Crise de esclerodermia
Onde: LSD = Dietilamida Ácido Lisérgico (Lyserg Säure Diethylamid). Fonte: Paula RB,
2008.78
Como diagnóstico diferencial, deve-se pensar também na “pseudocrise”
hipertensiva, situação caracterizada por elevação transitória da PA e relacionada à
ansiedade, síndrome do pânico, dor e desconforto. O tratamento sintomático do
evento que deflagrou a elevação pressórica e/ou a reintrodução dos anti-hipertensivos
é suficiente para a restauração da normalidade.60
Estima-se que cerca de 1% da população hipertensa possa desenvolver CH.1
O reconhecimento precoce das CH permite a instituição do tratamento
adequado, reduzindo a morbidade e mortalidade secundárias à lesão aguda de
órgãos-alvo.61
80
1.12.1. Abordagem clínica
As manifestações clínicas nas EH dependem basicamente do órgão
envolvido, não se relacionando necessariamente aos níveis pressóricos. Ainda que
não exista um “ponto de corte” para a PA a partir do qual os sintomas se manifestam,
em geral estes se associam a PAD ≥ 130 mmHg. Os casos de toxemia gravídica e a
hipertensão associada à síndrome nefrítica agudase constituem em exceções nas
quais as EH podem se manifestar com níveis diastólicos da ordem de 100-110
mmHg.1
Deve-se investigar a história de HAS, a aderência ao tratamento, o uso
abusivo de álcool, uso de drogas ilícitas, uso de moderadores do apetite, de anti-
inflamatórios, de corticóides e de anti-depressivos. Antecedentes de cardiopatia,
doença renal e atendimentos prévios em serviços de emergência médica podem ser
importantes. Sintomas como cefaléia, alterações sensoriais, dispnéia, taquicardia e
alterações visuais devem ser investigados.60,62,63
Ao exame físico, a PA deve ser aferida nas posições de decúbito e ortostática,
nos quatro membros. O exame de fundo de olho deve sempre ser realizado,
preferencialmente sem o uso de midriáticos, devido ao risco de indução de glaucoma
agudo. No caso de usar midriáticos, utilizar colírio de tropicamida. A avaliação
neurológica deve abordar déficits motores, alterações pupilares, liberação
esfincteriana e sinais de irritação meníngea. A palpação e ausculta de pulsos
periféricos, a ausculta cardíaca e a ausculta pulmonar devem ser criteriosas.60,62,63
Princípios gerais para o tratamento
O quadro 31 expressa os princípios gerais para a abordagem das urgências e
emergências hipertensivas.
81
Quadro 31. Abordagem das urgências e emergências hipertensivas
Urgências hipertensivas62
Emergências hipertensivas
- Em todos os usuários com HAS severa, sugere-se a repetição da medida
da PA com usuário em repouso e em ambiente calmo;
- Sugere-se meta inicial de redução da PA igual a 160 x100 mmHg em
várias horas ou dias com terapia oral convencional; não há evidências do
benefício da redução rápida da PA em usuários assintomáticos. Ao
contrário, esta prática pode precipitar crises anginosas e isquemia cerebral;
- Para indivíduos não aderentes, sugere-se a reintrodução do esquema anti-
hipertensivo previamente prescrito;
- Para todos os casos de UH, deve-se reavaliar o usuário em 24 – 48 horas.
Aferições de PA domiciliares podem ser úteis nesses casos;
- Recomenda-se a abordagem das crises hipertensivas para todos os
usuários com dados clínicos e/ou laboratoriais sugestivos, como forma de
prevenção da progressão das lesões agudas a órgãos-alvo e redução do
risco de morte.
- O tratamento deve ter início imediato, por meio de drogas parenterais.
Reduções da ordem de 20% da PAM nas primeiras 24 horas são
preconizadas, mantendo-se a PAD em valores entre 100 e 110 mmHg, pois
reduções abruptas podem induzir quadros de isquemia tecidual.1,61
- Em usuários com AVC isquêmico, a redução da PA só está indicada
quando a PAS for superior a 200 mmHg e/ou a PAD maior que 120 mmHg.
Reduções entre 10 e 15% nas primeiras 24-48 horas são preconizadas, sob o
risco de piora do quadro de hipoperfusão cerebral.60
- Os quadros de dissecção da aorta e de síndrome nefrítica aguda são
exceções nas quais a meta de redução pressórica deve ser agressiva, visando
impedir respectivamente o agravamento da dissecção ou a instalação de
encefalopatia hipertensiva ou edema agudo de pulmão.60,62
Onde: PA = pressão arterial; HAS = hipertensão arterial sistêmica; UH = urgências hipertensivas; PAM = pressão arterial média; PAD = pressão arterial
diastólica; PAS = pressão arterial sistólica e AVC = acidente vascular cerebral. Fonte: Adaptado de Praxedes et al, 2001.62
82
A despeito do apresentado, observa-se o uso abusivo de medicação oral para a
redução de PA em usuários previamente hipertensos com elevados níveis
pressóricos e sem evidências de dano agudo a órgãos-alvo. Nesses indivíduos, deve-
se, a critério clínico, afastar as EH, avaliar a ocorrência da UH, e orientá-los a
reiniciar o uso de medicação anteriormente prescrita ou receber nova orientação
medicamentosa. O usuário deve ser observado em local tranquilo, com pouca
luminosidade, e sua PA deve ser aferida 30 a 60 minutos após a primeira aferição.
Especificações quanto às medicações disponíveis no Brasil para as UHs são
apresentadas no quadro a seguir.
Quadro 32. Medicações disponíveis no Brasil para uso oral em urgências
hipertensivas
Medicação Dose Ação Efeitos indesejáveis-
Precauções
Captopril 25-50mg Início: 15 min
Duração: 4-6h
Redução excessiva da PA
em HAS renovascular
Clonidina 150-300mg Início: 30-45 min
Duração: 6-12h
Xerostomia, hipotensão
postural
Furosemida 40-80mg Início: 15-30 min
Duração: 6-12h
Hipotensão postural,
depleção de volume em
indivíduos predispostos
Onde: PA = pressão arterial; HAS = hipertensão arterial sistêmica; mg = miligramas; min =
minutos. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.1
1.13. Complicações Crônicas da Hipertensão Arterial Sistêmica
(Lesões em Órgãos-Alvo)
1.13.1 Hipertrofia ventricular esquerda
A HVE é uma resposta adaptativa do coração a situações como HAS, DM e
obesidade, podendo também ocorrer fisiologicamente devido à prática de exercícios
físicos, o que não será alvo desse documento.
O diagnóstico de HVE é feito comumente com base no exame físico
(avaliação do ictus), no ECG e no ecocardiograma.
83
O ECG é um método de fácil realização para o diagnóstico de HVE, mas de
baixa sensibilidade. Ao ECG, os principais índices para o diagnóstico de HVE são o
Índice de Sokolow Lyon e o Índice de Cornell.1,64
O padrão ouro para diagnóstico de HVE é a ecocardiografia transtorácica, a
qual permite o cálculo da massa miocárdica do VE e sua modificação com o
tratamento anti-hipertensivo.64,65
O fluxograma a seguir apresenta uma proposta de abordagem da HVE em
hipertensos na atenção primária em Manaus.
Fluxograma 3. Abordagem do hipertenso com hipertrofia ventricular esquerda,
em nível da atenção primária à saúde da SEMSA/Manaus
Onde: ECG = eletrocardiograma; HVE = hipertrofia ventricular esquerda; IECA =inibidor
da enzima de conversão da angiotensiva; BRA= bloqueadores dos receptores da
angiotensina; HAS = hipertensão arterial sistêmica. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais, 2013.66
Observações: O fluxograma poderá ser utilizado na abordagem de diabéticos como também
dos renais crônicos. *Se estiver disponível para a atenção primária à saúde, o
ecocardiogramapoderá ser utilizado.
84
Recomenda-se como meta pressórica, em hipertensos com HVE, não-diabéticos,
a manutenção da pressão arterial sistólica menor que 130 mmHg.
Na presença de HVE, a inclusão de IECA ou BRA está indicada como forma
efetiva de redução de massa ventricular.
1.13.2. Doença arterial coronariana
A presença de HAS, DM, dislipidemia, história familiar e tabagismo são
fatores de risco associados à maior probabilidade de DAC. A DAC tem manifestação
inconstante, podendo se apresentar sem sintomas (isquemias silenciosas) assim como
manifestações grandiosas de dor precordial típica, edema pulmonar ou similar. A
DAC é conhecida como a doença dos “3Ds”, representando a dor, dispneia e
disritmia, manifestações mais frequentemente observadas nos eventos coronarianos.
Assim, para a prevenção de eventos relacionados à DAC, torna-se
fundamental a redução adequada da PA, independentemente do grupo de
medicamentos anti-hipertensivos utilizados, objetivando-se metas de PA de 130 x 80
mmHg. Deve-se atentar para a redução excessiva da PAD, que pode aumentar o risco
de DAC.42
Nos usuários com angina ou com IAM prévio, os betabloqueadores devem ser
utilizados, exceto se houver contra-indicação formal. Os IECA e os BRA II estão
indicados para a prevenção primária em usuários de alto risco cardiovascular, em
hipertensos com DAC estável ou com IAM. Os diuréticos tiazídicos podem prevenir
eventos coronarianos, assim como os bloqueadores dos canais lentos de cálcio
(podem ser usados como alternativa aos betabloqueadores).1
Diante de uma suspeita de evento agudo, aconselhamos o rápido
encaminhamento para nível de atenção de maior complexidade, estratificação de
risco e intervenções pertinentes.67
1.13.3 Insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica decorrente da
anormalidade na estrutura ou função cardíaca, com consequente incapacidade por
parte do coração de ejetar o sangue a um ritmo compatível com a demanda do
85
metabolismo tecidual. A HAS é uma de suas principais causas, aliada ao DM, à
doença de Chagas e a doença isquêmica coronariana.68,69
A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP), maior ou
igual a 50%, é mais prevalente em mulheres idosas, enquanto a IC de função
ventricular reduzida (fração de ejeção menor que 50%), é mais comum em homens e
associada a sinais de edema, insuficiência coronariana, DRC, álcool, tabagismo e
hospitalizações. A estratificação da IC pela classificação segundo a fração de ejeção
do ventrículo esquerdo é realizada com o auxílio do ecocardiograma
transtorácico.68,69
Para o diagnóstico de IC, recomenda-se pesquisar os fatores de risco para IC,
realizarexame físico minucioso, solicitar radiografia de tórax em PA,
eletrocardiograma, ecocardiograma (se possível) eexames laboratoriais e, por fim,
buscar comorbidades associadas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica, a
anemia e a DRC.68,69
O quadro 33 demonstra a classificação cronológica da IC.
Quadro 33. Estágios da insuficiência cardíaca crônica do adulto
Estágio da IC Descrição Fatores Etiológicos Sugestão de
tratamento
A (usuários de
alto risco)
Presença de
condições clínicas
associadas ao
desenvolvimento
dessa enfermidade.
Tais usuários não
apresentam
nenhuma alteração
funcional ou
estrutural do
pericárdio,
miocárdio ou
valvas cardíacas e
nunca apresentaram
sintomas ou sinais
de IC.
HAS, insuficiência
coronariana, DM,
história de
cardiotoxicidade,
tratamento por drogas
ou abuso de álcool,
história pessoal de
febre reumática,
história familiar de
cardiomiopatia.
Tratamento de HAS e
DM, cessação do fumo,
tratamento das
desordens lipídicas,
incentivo à prática
regular de atividade
física, redução do
consumo do álcool ou
drogas ilícitas, controle
da síndrome metabólica.
Drogas: IECAs ou
BRAS
B (disfunção
ventricular
assintomática)
Usuários que já
desenvolveram
cardiopatia
estrutural
sabidamente
associada à IC, mas
que nunca exibiram
sinais ou sintomas
Hipertrofia ventricular
esquerda ou fibrose,
dilatação ventricular
esquerda ou
hipocontratilidade,
valvulopatia ou infarto
do miocárdio.
Todas as medidas
orientadas para o estágio
A
Drogas: IECAs ou
BRAs em usuários
apropriados, beta-
bloqueadores em
usuários apropriados.
86
de IC.
C (Disfunção
ventricular
sintomática)
Usuários com
sintomas prévios ou
presentes de IC
associados com
cardiopatia
estrutural
subjacente.
Dispnéia ou fadiga por
disfunção ventricular
esquerda sistólica;
usuários
assintomáticos sob
tratamento para
prevenção de IC.
Todas as medidas para
estágios A e B.
Drogas de uso rotineiro:
Diuréticos para retenção
hídrica,
IECAs Beta-
bloqueadores.
Drogas em usuários
selecionados:
Antagonistas da
aldosterona, BRAs,
Digitálicos
Hidralazina/ nitratos
Marcapasso em usuários
selecionados:
Marcapasso
biventricular,
cardiodesfibriladores
implantáveis
D (IC
refratária)
Usuários com
cardiopatia
estrutural e
sintomas
acentuados de IC
em repouso, apesar
da terapia clínica
máxima. Requerem
intervenções
especializadas
Usuários
hospitalizados por IC
ou que não podem
receber alta; usuários
hospitalizados
esperando transplante;
usuários em casa sob
tratamento de suporte
IV ou sob circulação
assistida; usuários em
unidade especial para
manejo de IC.
Medidas apropriadas
para os estágios A, B e
C; cuidados apropriados.
Opções:
Reconhecimento de
doença em estágio final,
medidas extraordinárias:
transplante cardíaco,
inotrópicos crônicos,
mecânica permanente de
suporte, cirurgia e
drogas.
Onde: IC = insuficiência cardíaca; IECAs = inibidores da enzima de conversão da
angiotensina; BRAs = bloqueadores dos receptores da angiotensina; HAS = hipertensão
arterial sistêmica; IV = intra-venoso. Fonte: Bocchi et al, 2012.69
1.13.4. Doença vascular periférica
A doença vascular periférica (DVP) caracteriza-se por uma redução do fluxo
sanguíneo para os membros inferiores devido a um processo oclusivo nas artérias,
comumente por processo aterosclerótico.
Devido ao fato dos indivíduos com DVP demorarem comumente muito
tempo para manifestarem sintomas, apresentando-os quando estes se tornam graves,
esta doença ainda é subdiagnosticada e subtratada.30
Ainda assim, a DVP tem alta
prevalência e elevado risco de eventos vascularesmaiores como IAM e AVC.30
O
Projeto Bambuí (Minas Gerais- Brasil) demonstrou que a prevalência, em população
87
de alto risco cardiovascular, variou de 29% a 40,5%. Na população global do estudo,
a prevalência de DVP foi de 10,5%, enquanto que apenas 9% destes, apresentaram
claudicação intermitente.70
Os fatores de risco mais frequentes são a idade, HAS, DM, tabagismo,
obesidade, dislipidemias e história familiar, entre outros. A manifestação mais
comum da DVP é a claudicação intermitente, caracterizada por dor em queimação ou
sensação de câimbra na panturrilha ou nádegas, após realização de esforço físico,
sendo amenizado com o repouso.
Embora o exame físico tenha sensibilidade relativamente baixa, ele apresenta
uma especificidade e reprodutibilidade adequada, sendo a sua abordagem sistemática
é obrigatória. Assim, devem ser incluídos no exame físico, pelo menos:
A medida da pressão arterial (PA) em ambos os braços, considerando as
diferenças de medidas;
A palpação dos pulsos nas extremidades superiores, pulsos abdominais e
de extremidades inferiores (incluindo femorais, poplíteos e tibiais
posteriores);
A inspeção dos pés, priorizando a coloração, temperatura e integridade
da pele, bem como presença de ulcerações. Perda de pelos e alterações na
pele devem ser observadas.30,71
Os sinais clínicos também podem ter valor prognóstico. A presença de sopro
carotídeo dobra o risco de IAM e de morte cardiovascular, comparando com aqueles
que não têm. Este valor preditivo pode ser alargado a outros sinais clínicos, tais
como sopro femoral, anormalidades nos pulsos de extremidades inferiores ou
diferença da PA entre os braços. Todas essas alterações podem ser uma expressão de
doença vascular subclínica.71
O índice tornozelo-braço (ITB), método padrão de referência para o
rastreamento da DVP, detecta tanto casos sintomáticos como assintomáticos da
doença. Entretanto, a utilização de questionários de claudicação, como o de
Edimburgo (quadro 34), pode auxiliar no rastreamento da doença.30,72
88
Quadro 34. Versão em português do questionário de claudicação de Edimburgo
Perguntas
1. Você tem dor ou desconforto na(s) perna(s) quando anda?
( ) Sim ( ) Não ( ) Eu sou incapaz de andar
Se você respondeu sim na questão 1, por favor, responda às questões seguintes.
Caso contrário, não precisa continuar.
2. Essa dor alguma vez começa quando você está em pé parado ou sentado?
( ) Sim ( ) Não
3. Você tem essa dor ao subir uma ladeira ou quando anda rápido?
( ) Sim ( ) Não
4. Você tem essa dor quando anda em seu ritmo normal, no plano?
( ) Sim ( ) Não
5. O que acontece com a dor quando você pára?
( ) Geralmente continua por mais de 10 minutos
( ) Geralmente desaparece em 10 minutos ou menos
6. Onde você sente esta dor ou desconforto?
Marque com um (x) o(s) lugar(es) no diagrama abaixo:
Fonte:Makdisse et al, 2007.
72
Considera-se como teste POSITIVO (presença de claudicação), caso as
respostas às perguntas tenham sido 1 = “sim”, 2 = “não”, 3 = “sim”, 5 = “geralmente
desaparece em 10 minutos ou menos” e 6 = “panturrilha” e/ou “coxa” e/ou “região
glútea” (independentemente de terem sido assinalados outros lugares). Qualquer
combinação diferente da descrita é considerada como resultado NEGATIVO.
Registra-se que a questão 4 não é utilizada para definir a presença e sim a
gravidade da claudicação: “Não” = Grau 1 (menor gravidade); e “Sim” = Grau 2
(maior gravidade).72
A pergunta 5 deverá ser usada para estabelecer diagnóstico de
DVP. Esta é definida pela presença de um dos seguintes sintomas: claudicação de
89
membros inferiores, feridas nas pernas, idade igual ou maior que 65 anos ou menores
de 50 anos, usuários com DM ou tabagismo.
Para melhor avaliação da gravidade, o ITB, exame de baixo custo, alta
sensibilidade e nenhum risco, deverá ser medido nas duas pernas. Na possibilidade
de operacionalização do ITB são apresentados na figura 2 e no quadro 35 as
indicações, equipamentos, procedimentos, método de cálculo e interpretações
referentes ao índice.
Figura 2. Medidas para o índice tornozelo-braço
Modificado de Makdisse, M 34
Figura 1. O índice tornozelo-braquial é determinado utilizando um
aparelho doppler portátil e um aparelho de aferição de pressão arterial.
Realiza-se as medidas da pressão sistólica nas artérias braquiais,
tibiais anterior e posterior de ambos os membros. A maior pressão
sistólica dos membros inferiores será dividida pela maior pressão
sistólica dos membros superiores
Maior pressão sistólica do membro inferior
Maior pressão sistólica dos braços
ITB =
Modificado de Makdisse M. 41
EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS:
Doppler vascular portátil;
Esfigmomanômetro;
Gel para USG.
PROCEDIMENTO:
Paciente em decúbito dorsal por 5 min
Temperatura ambiente > 20ºC
1- Membros superiores:
Instalar manguito 2 a 3 cm acima da fossa antecubital;
Aplicar gel sobre pulso braquial;
Utilizando o doppler vascular, medir a pressão sistólica
de ambos os membros superiores.
2- Membros inferiores:
Instalar manguito 3 cm acima dos maléolos;
Aplicar gel sobre os pulsos das aa. tibiais anterior e
posterior;
Utilizando o doppler vascular, medir a pressão sistólica
de ambas as aa. tibiais;
Realizar o procedimento em ambos os membros
inferiores.
INTERPRETAÇÃO:
DAOMI leve a moderadaO,41 a 0,90
DAOMI grave< 0,40
Normal0,91 a 1,30
Art. não compressíveis> 1,30
SIGNIFICÂNCIAVALOR DO ITB
DAOMI leve a moderadaO,41 a 0,90
DAOMI grave< 0,40
Normal0,91 a 1,30
Art. não compressíveis> 1,30
SIGNIFICÂNCIAVALOR DO ITB
Figura 1. Descrição e interpretação do ITB. Modificado de Makdisse M. 45
Onde: USG = ultrassonografia; ITB = índice tornozelo-braço; aa= artérias; Art.= artérias;
DAOMI = doença arterial obstrutiva de membro inferior; min= minutos; cm=
centímetros. Fonte: Adaptado de Makdisse et AL, 2008.70
90
Quadro 35. Índice tornozelo-braço
Indicações
Idade 50-69 anos e tabagismo ou diabetes
Idade ≥ 70 anos
Dor na perna com exercício
Alteração da amplitude de pulsos em membros inferiores
Doença arterial coronariana, carotídea ou renal
Risco cardiovascular moderado
Para o cálculo do ITB
Usar valores de PAS do braço e tornozelo, sendo considerado o maior valor braço para o
cálculo. ITB direito = pressão tornozelo direito / pressão braço direito. ITB esquerdo = pressão
tornozelo esquerdo/ pressão braço esquerdo.
Interpretação
Normal = igual ou acima de 0,9
Onde: ITB = índice tornozelo braço; PAS = pressão arterial sistólica. Fonte: Adaptado VI Dir
Bras HAS, 2010.1
Como definição de ITB normal, incluímos valores entre 1,0 a 1,40 e valores
anormais para ≤ 0,90. Valores entre 0,91 a 0,99 são considerados “borderlines” e
valores > 1,4, indicam artérias não compressíveis.
Para a melhor localização da obstrução, a ultrassonografia arterial de MMII
ou a combinação dos dois métodos pode ser usada.30,71
Recomenda-se a cessação do tabagismo para todos os portadores de DVP que
fumam ou que usam qualquer forma de tabaco. Deverão ser oferecidas intervenções
medicamentosas e não medicamentosas a esses indivíduos.71
Terapia anti-agregante é indicada para reduzir IAM, AVC ou morte de
origem vascular para indivíduos com DVP sintomáticos, incluindo claudicação
intermitente ou isquemia crítica, revascularização de MMII ou amputação de
extremidades. Terapias anti-trombóticas também são indicadas.71
Situações de sintomas de claudicação, ou ITB anormal, deverão ser
encaminhadas para avaliação de especialista.30
O quadro 36 resume a abordagem terapêutica para indivíduos com DVP.
91
Quadro 36. Abordagem terapêutica de indivíduos com doença vascular
periférica
Orientações
- Todos os usuários com DVP e que fumam devem ser encaminhados para a cessação do
tabaco;
- Todos os portadores com DVP devem ter seu LDL-colesterol < 100 mg/dL;
- Manter os níveis de PA controlados e ≤ 140/90 mmHg;
- Beta-bloqueadores não são contra-indicados, mas deverão ser direcionados à presença de
ICO ou IC concomitantes;
- Anti-agregantes plaquetários deverão ser recomendados nos sintomáticos;
- Se DM associado, manter níveis de Hemoglobina glicada ≤ 6,5%;
- Monitorar filtração glomerular periodicamente.
Onde: DVP = doença vascular periférica; PA = pressão arterial; ICO = insuficiência
coronariana; IC = insuficiência cardíaca; DM = diabetes mellitus; LDL = Colesterol LDL
(Low Density Lipoprotein); mmHg = milímetros de mercúrio; ml/Dl = miligramas/decilitro.
Fonte: Tendera et al, 2011.71
1.13.5. Ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral
Ataque isquêmico transitório
O ataque isquêmico transitório (AIT) é um déficit neurológico focal súbito
com duração menor que 24 horas, presumidamente de causa vascular e restrito a uma
área do encéfalo ou do olho perfundida por uma artéria específica.
Acidente vascular cerebral
O AVC é consequente à necrose do parênquima cerebral devido à perfusão
tecidual inadequada. Por ser a principal complicação da HAS, a redução da pressão
arterial sistólica em apenas 5 a 6 mmHg se associa à redução de 40% dos casos de
AVC.73
Os fatores de risco principais para AVC incluem o sexo masculino, idade
(acima de 55 em homens e 65 em mulheres), DM, HAS, tabagismo e
hipercolesterolemia.
A história de AVC ou AIT prévios, caracterizará a presença de lesão de
órgão-alvo, e consequentemente classificará o usuário como de risco elevado.73
Existem 2 categorias de AVC, o hemorrágico e o isquêmico: o AVC
92
hemorrágico é caracterizado pelo sangramento intraparenquimatoso ou para o espaço
subaracnóide, enquanto o AVC isquêmico é caracterizado pela hipoperfusão
cerebral, sendo secundário à trombose, embolismo ou hipoperfusão sistêmica.
O quadro 37 caracteriza os principais subtipos de AVCs.
Quadro 37. Características dos subtipos de acidente vascular cerebral
Subtipos de
AVC
Critérios
Diagnósticos Fatores de Risco
Outros Dados
(se
pertinentes)
Hemorragia
intracerebral
Progressão gradual
durante minutos ou
horas
Hipertensão, trauma, drogas
ilícitas (anfetaminas, cocaína),
malformações vasculares, diáteses
hemorrágicas (coagulopatias).
Mais comum em negros
Pode ser
precipitada por
relação sexual
ou atividade
física.
Usuário pode
ter diminuição
da consciência.
Hemorragia
Subaracnóide
Início súbito, com
cefaléia intensa.
Alteração
neurológica focal
menos comum que
nos outros tipos.
Tabagismo, hipertensão, abuso de
álcool, susceptibilidade genética
(rim policístico, história familiar
de hemorragia subaracnóide) e
drogas simpático-miméticas (por
exemplo: cocaína)
Pode ser
precipitada por
relação sexual
ou atividade
física.
Usuário pode
ter diminuição
da consciência.
Pode ter rigidez
de nuca
AVC
Isquêmico
(Trombótico)
Evolução
progressiva com
períodos de
melhora, evolução
em horas, no
máximo alguns
dias, podendo ser
mais longos
quando acomete
grandes artérias
Fatores de risco ateroscleróticos
(idade, tabagismo, diabetes
mellitus, etc). Mais comum em
homens que em mulheres. Pode
ter histórico de AIT.
AVC
Isquêmico
(Embólico)
Geralmente
déficits de
instalação súbita,
podendo haver
melhora dos
déficits
rapidamente
Fatores de risco ateroscleróticos
(idade, tabagismo, diabetes
mellitus, etc). Mais comum em
homens que em mulheres.
Histórico de doença cardíaca
(valvular, fibrilação atrial,
endocardite).
Pode ser
precipitado por
levantar à noite
para urinar, ou
tosse repentina
ou espirros
Onde: AVC = acidente vascular cerebral; AIT = ataque isquêmico transitório. Fonte:
Caplan et al.74
O tratamento da HAS associada ao AVC deve considerar tanto a crise
93
hipertensiva associada ao AVC (item 1.12. Urgências e emergências hipertensivas)
quanto o tratamento crônico da HAS em indivíduos com história pregressa de AVC.
As recomendações da American Heart Association/American Stroke Association,
listadas a seguir são sugeridas.75
Recomendações
Após 24 horas da ocorrência do evento, a redução da PA é recomendada para a
prevenção de recorrências;
A meta de redução pressórica é incerta e deve ser individualizada, mas os
benefícios se fazem presentes a partir de reduções de 10/5 mmHg, respectivamente
para a PAS e para a PAD;
Ressalta-se a importância da implementação de medidas não-farmacológicas tais
como redução do consumo de sódio, prática de exercícios aeróbicos, dieta pobre em
gorduras saturadas, redução de peso corporal, abandono do tabagismo e redução do
consumo de álcool.
A escolha do fármaco deve ser individualizada com base em suas propriedades
farmacológicas, mecanismos de ação e características do usuário (por exemplo:
presença de vasculopatia periférica, de insuficiência cardíaca ou diabetes).
Evidências sugerem que diuréticos associados ou não a IECAs são eficazes.
Fonte: Furie et al, 2011.75
1.13.6. Nefropatia hipertensiva
A lesão renal hipertensiva é a principal causa de doença renal crônica com
necessidade de tratamento substitutivo da função renal (diálise e/ou transplante renal)
no nosso meio e seu acometimento varia entre 1% e 30% dos indivíduos
hipertensos.76,77
Tal variação se deve ao fato de que o diagnóstico da lesão renal
hipertensiva é baseado em dados clínico-laboratoriais, uma vez que, raramente, a
biópsia renal é indicada para usuários hipertensos, sendo reservada para os casos de
maior gravidade nos quais o usuário apresenta perda de função renal e proteinúria
significativa.77
Na nefropatia hipertensiva, as alterações histológicas primárias resultam no
94
estreitamento dos vasos pré-glomerulares que pode gerar isquemia glomerular e
túbulo-intersticial, induzindo a atrofia tubular e a fibrose intersticial.78
No glomérulo,
essas alterações estruturais causam extravasamento de albumina para o filtrado
glomerular associado à redução da taxa de filtração glomerular, evidenciada pela
diminuição da depuração da creatinina.78
Schlessinger et al, definiram os seguintes critérios para o diagnóstico de
nefroesclerose hipertensiva: redução do ritmo de filtração glomerular, associada a um
ou mais dos seguintes:
História familiar de hipertensão em parente de primeiro grau;
Presença de hipertrofia ventricular esquerda;
Presença de retinopatia hipertensiva;
Exame de urina com alterações sutis tais como proteinúria < 500mg/24
horas;
Hipertensão de longa data precedendo qualquer evidência de doença
renal;
Ausência de exposição à nefrotoxinas;
Ausência de doença renal intrínseca ou congênita;
Ausência de doença sistêmica associada com doença renal.79
Além desses, a ultrassonografia mostrando rins simetricamente reduzidos em
volume e com sinais de cronicidade tais como aumento da ecogenicidade cortical
e/ou dificuldade de diferenciação cortico-medular também são alterações
associadas.79
Recomenda-se que o tratamento da nefropatia hipertensiva siga as orientações gerais
para o tratamento da DRC secundária a outras etiologias, com a inclusão de fármacos
que antagonizem o SRAA para o controle pressórico e para nefroproteção (vide
Seção 3: DRC).
1.13.7. Retinopatia hipertensiva
95
A HAS está associada com uma série de anormalidades oculares, incluindo as
consequências diretas da HAS, manifestas pela retinopatia hipertensiva, coroidopatia
e neuropatia ótica. Além disso, a HAS pode predispor a ocorrência de oclusões
arteriais e venosas, embolia da artéria retiniana e agravamento da retinopatia
diabética. Finalmente, a HAS pode acelerar quadros de degeneração macular e
glaucoma.80,81
A retinopatia hipertensiva, caracterizada por alterações progressivas da
microvasculatura retiniana secundárias à HAS, é marcada principalmente pelo
espessamento da parede arteriolar de diferentes graus, com conseqüentes alterações
na relação artério-venosa e seus cruzamentos, bem como pela presença de isquemia
do nervo óptico, com formação de exsudatos e de sangramentos.
Essas alterações podem ser identificadas por meio do exame do fundo de
olho, que constitui um exame simples, eficaz e eficiente inclusive para a
estratificação de risco cardiovascular e acompanhamento do hipertenso, e são
classificadas em 4 graus, de acordo com Keith-Wagener-Barker (quadro 38).80,81
Quadro 36. Estadiamento da retinopatia hipertensiva: Classificação de Keith -
Wagener - Barker
Classificação Achados Grupo I Estreitamento arteriolar e alteração do reflexo arteriolar leve
Grupo II Estreitamento arteriolar e alteração do reflexo arteriolar mais acentuado
e cruzamento arteríolo-venular
Grupo III Alterações do Grupo II, hemorragia retiniana e exsudatos
Grupo IV Alterações do Grupo III e edema de papila
Fonte: Gudmundsdottir et al, 1999.80
Estreitamento e tortuosidade arteriolares bem como cruzamentos artério-
venosos patológicos são relacionados à presença prévia de HAS enquanto
hemorragias e exsudatos se relacionam com elevação aguda ou subaguda da PA.80,81
A retinopatia hipertensiva, em especial nos estágios III e IV, correlaciona-se
com lesão de órgãos-alvo como coronariopatia, hipertrofia ventricular esquerda e
nefropatia.80,82
Além disso, o tratamento adequado da HA se associa à regressão da
retinopatia e, portanto, indica redução do dano vascular sistêmico associado à HAS.83
96
A SEMSA/Manaus recomenda a realização da fundoscopia de todos os hipertensos e
o encaminhamento para o oftalmologista dos casos de retinopatia hipertensiva dos
grupos III e IV.
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104
SEÇÃO 2 – DIABETES MELLITUS
2.1 Conceito
O termo diabetes mellitus (DM) refere-se a um grupo heterogêneo de
distúrbios metabólicos que apresentam, em comum, a hiperglicemia que surge em
consequência da deficiência na secreção de insulina, de defeitos em sua ação ou de
ambos os fenômenos.1
2.2 Epidemiologia
O DM constitui-se em um dos principais problemas em saúde pública no
mundo, com prevalência crescente em todos os países. Segundo a International
Diabetes Federation (IDF), há no mundo, 371 milhões de diabéticos com idades entre
20 e 79 anos; entretanto, 50%desses desconhecem sua condição. Números tão
expressivos como esses se aplicam aos indivíduos compré diabetes, condição clínica
que evolui, na maioria dos casos para DM, em um período de 10 anos.2
Dois fatores têm sido preponderantes para a chamada epidemia global de
DM: o rápido envelhecimento da população eo aumento da prevalência de obesidade
em crianças e adolescentes, sobretudo nos países em desenvolvimento, o que resulta
em maior risco de desenvolvimento da doença.1,3
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, por meio do VIGITEL (Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) ano
base 2011, no conjunto das 27 cidades estudadas, a frequência do diagnóstico médico
prévio de DM foi de 5,6% (em Manaus foi de 4,2%), sendo maior em mulheres
(6,0%) do que em homens (5,2%).4
Considerando que este estudo auto referido
incluiu apenas os casos de diagnóstico de DM realizado por médico e que a
proporção de DM não diagnosticado é de cerca de 50%, para fins de programação, a
SEMSA/Manaus estima que 10% dos manauaras adultos (com idade maior ou igual a
20 anos) sejam diabéticos.
105
De acordo com o Sistema de Informação Hospitalar do Ministério da Saúde
(SIH), em Manaus, no período entre 2008 a 2012, observou-se em todos os anos uma
maior prevalência nas internações por Diabetes mellitus no sexo masculino em
relação ao sexo feminino. As internações por DM se concentraram nas faixas etárias
entre 60 a 79 anos, representando 39% do total de internações do período analisado.
Conforme o SIM, no mesmo período analisado, considerando as maiores
frequências de óbitos ocorridos por DM, destaca-se a faixa etária de 60 a 79 anos, a
qual detém a maior representatividade em relação ao total de óbitos. Observa-se
ainda aumento na proporção de óbitos em todas as faixas etárias, a partir de 30 anos.
Em quase todo o período, o sexo feminino representa a maior frequência de óbitos
por DM, com 53,06% para o total do período analisado. Uma análise epidemiológica
mais detalhada sobre o impacto da DM em Manaus pode ser acessada por meio de
um estudo de base local disponível no endereço eletrônico http://intranet.semsa/
2.3 Fatores de Risco e Prevenção
Os principais fatores de risco para o DM tipo 2 (ver Classificação do DM a
seguir) estão listados no quadro 1.
Quadro 1. Principais fatores de risco para o diabetes mellitus tipo 2 em adultos Fatores de risco
Sedentarismo
História familiar de DM em parente de 1º grau
Antecedentes de macrossomia fetal
HAS (PA≥140/90 mmHg ou uso de anti-hipertensivo)
Níveis plasmáticos de colesterol HDL 35 mg/dL e/ou TG ≥ 250 mg/dl
Síndrome de ovários policísticos
Diagnóstico de pré diabetes
Obesidade grave, acantose nigricans*
História de DCV
Etnias com alto risco para DM como japoneses e índios
*acantose nigricans: escurecimento e espessamento da pele, de aspecto aveludado que ocorre
em dobras cutâneas, sobretudo, pescoço, axilas e região inguinal (figura 4). Onde: DM =
diabetes mellitus; HAS = hipertensão arterial sistêmica; PA= pressão arterial; HDL =
colesterol HDL; DCV = doença cardiovascular; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte:
American Diabetes Association, 2012.5
106
Vários desses fatores foram abordados direta ou indiretamente no item 1.3
Fatores de risco da Seção 1 Hipertensão Arterial Sistêmica. Atenção especial deve
ser dada à obesidade e às alterações do metabolismo dos carboidratos, dois dos
principais componentes da SM (vide seção de HAS, item 1.3.4). Sabe-se que
estratégias direcionadas a mudanças no estilo de vida com ênfase na alimentação
saudável e na prática regular de atividade física diminuem a incidência de DM (A).
Intervenções que visem ao controle da obesidade, da HAS, da dislipidemia e do
sedentarismo, além de evitarem o aparecimento do DM, previnem a DCV (A).1
Os resultados do Programa de Prevenção do Diabetes (Diabetes Prevention
Program - DPP) demonstraram uma redução de 58% na incidência de DM tipo 2 em
pessoas obesas e com ISG, mediante o estímulo à dieta saudável e à prática regular
de atividade física, sendo essas ações mais efetivas que o uso da metformina (31%),
quando comparadas ao grupo controle.6
Assim, recomenda-se como medidas de prevenção primária para a população geral a
prática regular de atividade física aeróbica como caminhar ou andar de bicicleta por
30 minutos, 5 vezes por semana, mais 10 minutos de aquecimento e alongamento
antes e depois da atividade física; a redução do peso corporal de pelo menos 5% para
as pessoas com excesso de peso; o aumento da ingestão de fibras; a restrição
energética na dieta para as pessoas com excesso de peso e o controle da ingestão de
gorduras saturadas.7
O pré diabetes (vide item 2.6 Diagnóstico) também é considerado categoria
de risco para DM e DCV.5
Acredita-se que a maioria dos indivíduos com pré diabetes
eventualmente desenvolva DM.7
Entretanto, algumas intervenções, em indivíduos
desse grupo são eficazes em retardar a evolução da doença. As intervenções
relacionadas a mudanças no estilo de vida já provaram ser custo efetivas.8,9
Dentre os agentes farmacológicos já estudados na prevenção do DM citam-se:
metformina, inibidores da alfaglicosidase, orlistat e tiazolidinodionas.5,10,11,12,13,14
Tendo em vista, custo, efeitos colaterais e persistência do efeito, a
metformina é a única droga recomendada, em indivíduos de alto risco para a doença,
principalmente nos casos de progressão da hiperglicemia a despeito das intervenções
107
sobre o estilo de vida.5,7
O quadro 2 resume as indicações da metformina, prescrita na
dose de 850 mg, duas vezes ao dia, para a prevenção do DM.
Quadro 2. Indicações da metformina para a prevenção do diabetes mellitus tipo
2 Indicações
Idade abaixo de 60 anos;
IMC acima de 35 kg/m2;
história familiar de DM em parentes de primeiro grau;
hipertrigliceridemia;
níveis baixos de colesterol HDL;
HAS;
níveis de hemoglobina glicada acima de 6%.
Onde: IMC = índice de massa corporal; DM = Diabetes Mellitus; HDL = Colesterol
(High density lipoprotein) e HAS = hipertensão arterial sistêmica. Fonte: Nathan
DM et al, 2007.
Assim, recomenda-se que indivíduos com pré diabetes devam ser orientados para
perda de, pelo menos, 7% do peso corporal e aumento da atividade física para, pelo
menos, 150 minutos/semana de atividade moderada como caminhada.5,7
Adicionalmente, a metformina é a única droga recomendada, em usuários de alto
risco para a doença.
2.4 Classificação
O quadro 3 apresenta a classificação do DM por critério clínico.
108
Quadro 3. Classificação do diabetes mellitus
Tipos e detalhamento (se pertinente) Caracterização (se pertinente)
DM1 Autoimune Resultante da destruição das
células β pancreáticas que leva à
deficiência absoluta de insulina Idiopático
DM2
Consequente à perda progressiva
da capacidade secretória da célula
beta sobreposta ao estado de
resistência insulínica
Outros
tipos
específicos
de diabetes
Defeitos genéticos na função da célula
beta (MODY, por exemplo)
Defeitos genéticos na ação da insulina
Doenças do pâncreas exócrino
(pancreatite, fibrose cística, neoplasia)
Endocrinopatias (síndrome de Cushing e
acromegalia, por exemplo)
Uso de drogas (anti retrovirais,
interferon, glicocorticóides)
Associado a doenças genéticas (síndrome
de Down, síndrome de Turner, por
exemplo)
Diabetes
gestacional
DM com início ou diagnosticado
durante a gravidez
Onde: DM = diabetes melittus; DM1 = diabetes mellitus tipo 1; DM2 = diabetes mellitus tipo
2; MODY = maturity onset diabetes of the young. Fonte: American Diabetes Association,
2012, 5/ Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.
1
2.4.1. Diabetes mellitus tipo 1
Responsável por 5 a 10% dos casos da doença;
Pode ocorrer em qualquer idade, mas geralmente surge antes dos 30 anos;
É evidente a necessidade de insulinoterapia, desde o diagnóstico;
É mais comum em indivíduos magros, mas também pode acometer obesos;
Na maioria dos casos, o quadro se inicia abruptamente, com poliúria,
polifagia, polidipsia e emagrecimento, podendo a cetoacidose diabética ser a
primeira manifestação da doença.5
2.4.2. Diabetes mellitus tipo 2
É a forma mais comum da doença (80 a 90% dos casos);
109
Tende a se iniciar após a quarta década, podendo acometer, todavia,
indivíduos mais jovens e até mesmo crianças, sendo a maioria portadora de
obesidade ou sobrepeso;
A doença pode permanecer não diagnosticada durante vários anos e podem
ser detectadas complicações crônicas, já por ocasião do diagnóstico;
Além de fatores genéticos, esse tipo de DM mostra íntima relação com o
estilo de vida, principalmente com o sedentarismo e a dieta inadequada.5
Em alguns casos, não é possível definir, com clareza, o diagnóstico de
diabetes mellitus tipo 1 (DM1) ou diabetes mellitus tipo 2 (DM2), uma vez que
muitos indivíduos com DM2 podem apresentar cetoacidose, complicação aguda
clássica do DM1, e alguns casos de DM1 podem ter aparecimento mais tardio e
evolução arrastada. Muitos indivíduos que apresentam um fenótipo sugestivo de
DM2, com início da doença na idade adulta e associação com obesidade e/ou SM, na
verdade, apresentam um componente auto-imune em sua doença. A presença de
anticorpos anti-células beta faz com que estes indivíduos tenham uma evolução mais
rápida para a insulinização.15
2.4.3 Diabetes gestacional
Surge como complicação de cerca de 7% das gestações;
Representa risco tanto para a mãe quanto para o neonato;
Indivíduos que desenvolvem DM durante a gestação têm maior probabilidade
de se tornarem diabéticas no futuro, quando comparadas à população geral.5
2.5 Rastreamento
A SEMSA/Manaus, assim como a American Diabetes Association (ADA), não
recomenda a pesquisa populacional indiscriminada para DM2 tendo em vista a que
efetividade de pesquisa em massa para DM2 e pré diabetes não está comprovada.5
110
Os exames para detecção de DM devem ser feitos seguindo o fluxo dos
serviços de saúde para atingir grupos de risco. Pessoas cujos exames são realizados
fora do serviço de saúde podem não procurar ou não ter acesso à avaliação médica.5
2.5.1 Rastreamento do diabetes mellitus em crianças
Em crianças, está indicada a triagem nos casos de obesidade (IMC acima do
percentil 85 para idade e sexo, relação peso/altura acima do percentil 85 ou peso
acima de 120% do ideal para a altura) associada ao menos a dois dos fatores de risco
que se seguem:
história familiar da doença em parente de 1º ou 2º grau;
sinais clínicos de resistência insulínica como “acantose nigricans”;
HAS;
dislipidemia;
síndrome de ovários policísticos;
nascidos pequenos para a idade gestacional;
história materna de diabetes gestacional durante a gestação da criança;
etnias com alto risco para DM.5
A triagem deve se iniciar aos 10 anos ou, no início da puberdade, caso ocorra
antes desta idade, devendo ser repetida a cada três anos.5
2.5.2 Rastreamento do diabetes mellitus em adultos
Está indicado o rastreamento do DM em indivíduos assintomáticos, após 45
anos de idade ou, em qualquer idade, na presença de sobrepeso e obesidade
(IMC≥25kg/m2), em associação com um dos fatores de risco listados no quadro 22.
5
O rastreio para DM em adultos pode ser feito por meio da glicemia de jejum
ou do teste oral de tolerância a glicose (TOTG), utilizando os pontos de corte
recomendados pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). A reavaliação deverá
ser feita a cada três anos. Na presença de fatores de risco para DM, deve-se reavaliar
em intervalos mais curtos e pesquisar fatores de risco para DCV.1
111
2.5.3 Rastreamento do diabetes mellitus em gestantes
Os fatores de risco para diabetes gestacional podem ser vistos no quadro 4.
Quadro 4. Fatores de risco para diabetes gestacional
Fatores de risco para diabetes gestacional
Idade acima de 35 anos
Obesidade ou ganho excessivo de peso na gestação em curso
Obesidade abdominal
Baixa estatura
História familiar (em parentes de primeiro grau) para DM
Crescimento fetal excessivo ou polidrâmnio
HAS ou pré eclampsia, na gestação em curso
Antecedentes de morte fetal ou neonatal, macrossomia fetal ou diabetes gestacional
Síndrome de ovários policísticos
Onde: DM = diabetes mellitus; HAS = hipertensão arterial sistêmica. Fonte: Sociedade
Brasileira de Diabetes, 2011.1
A rotina de rastreamento para diabetes mellitus gestacional é alvo de
controvérsias. Segundo a SBD, se na primeira consulta de pré natal a glicemia de
jejum for ≥126 mg/dL,em duas ocasiões, é feito o diagnóstico de diabetes mellitus
pré gestacional. Nos casos de glicemia de jejum ≥92mg/dL e < 126 mg/dL,em duas
ocasiões é feito o diagnóstico de diabetes gestacional. Nos casos de glicemia de
jejum <92 mg/dL,deve-se reavaliar a gestante no segundo trimestre.16
A investigação de DMG deve ser feita em todas as gestantes sem diagnóstico
prévio de diabetes entre a 24a e 28
a semanas de gestação.
16
Nas gestantes com diabetes gestacional, recomenda-se a pesquisa de diagnóstico de
DM 6 a 12 semanas após o parto. O rastreio para a doença deve continuar ao longo
da vida, sendo realizado a cada três anos. Se for diagnosticado pré diabetes,
recomendam-se intervenções sobre o estilo de vida ou a prescrição de metformina
para prevenção.5
2.6 Diagnóstico
Em concordância com o Ministério da Saúde do Brasil e agências internacionais, a
SEMSA/Manaus recomenda para o diagnóstico de DM a glicemia de jejum e a
glicemia 2 horas após 75 gramas de glicose, pelo TOTG (A).
112
A ADA e a SBD adotam também a dosagem da hemoglobina glicada
(HbA1c) para fins de diagnóstico, estabelecendo como ponto de corte, valores ≥
6.5%, desde que o método seja certificado pelo National Glycohemoglobin
Standardization Program (NGSP). As vantagens da utilização desse método são a
conveniência, por não ser necessário jejum, a maior estabilidade pré analítica e a
menor variabilidade. Dentre as desvantagens estão o custo mais elevado, a
disponibilidade limitada, não existir correlação plena com a glicemia média, em
alguns indivíduos os valores variam conforme a etnia, certos tipos de anemia e
hemoglobinopatias e não poder ser usado na gravidez. Na presença de valores entre
5,7 e 6,4%, é feito o diagnóstico de pré diabetes.1,5
Segundo a ADA e a OMS, o quadro 5 apresenta os critérios para o
diagnóstico de DM e outros distúrbios glicêmicos com utilização da glicemia.x (será o
17)
Quadro 5. Valores de glicose plasmática (em mg/dl) para diagnóstico de
diabetes mellitus e seus estágios pré-clínicos
Distúrbio glicêmico Critério diagnóstico (em mg/dl)
Diabetes Mellitus Glicemia de jejum*≥ 126ou;
Glicemia 2h após 75g de glicose ≥ 200 ou;
Glicemia casual** ≥ 200 na presença de sintomatologia
clássica***.
Tolerância à glicose diminuída Glicemia de jejum*<126 e
Glicemia 2h após 75g de glicose≥ 140 e <200
Glicemia de jejum alterada Glicemia de jejum*≥ 100 e < 126
Onde: mg/dl = miligrama por decilitro; h = horas e g = gramas. *O jejum é definido como a
falta de ingestão calórica por no mínimo 8 horas; **Glicemia plasmática casual é aquela
realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a última refeição; ***Os
sintomas clássicos de DM incluem poliúria, polidipsia e perda não explicada de peso. Nota:
O diagnostico de DM deve sempre ser confirmado pela repetição do teste em outro dia, a
menos que haja hiperglicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou
sintomas óbvios de DM. Fonte: Adaptado de DUNCAN, Bruce B. et al., 2013.17
Os critérios diagnósticos para DM nessas circunstâncias podem ser vistos no
Fluxograma 1.1,5
Fluxograma 1. Diagnóstico de diabetes na ausência de glicemia casual igual
ou superior a 200 mg/dL, acompanhada de sintomas clássicos
113
Onde: DM= diabetes mellitus; TOTG = teste oral de tolerância à glicose; mg/dL =
miligrama/decilitro. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde/ Minas Gerais, 2013.17
É reconhecido um grupo intermediário de indivíduos nos quais os níveis de
glicemia não preenchem os critérios para o diagnóstico de DM. São, entretanto,
muito elevados para serem considerados normais.18
Nesses casos foram consideradas
as categorias de glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuída (B),
também denominadas pré diabetes (vide item 2.3 Fatores de Risco e Prevenção).
Para o diagnóstico de diabetes gestacional, deve ser realizado o TOTG, entre
24 e 28 semanas de gestação. O exame deverá ser realizado pela manhã, após jejum
de 8 horas, com ingestão de 75 gramas de glicose anidra. Atualmente, a SBD
preconiza a utilização dos valores propostos pela International Association of
Diabetes and Pregnancy Study Groups, onde 1 valor alterado já confirma o
diagnóstico, segundo quadro 6.
114
Quadro 6. Critérios diagnósticos para diabetes mellitus gestacional com teste
oral de tolerância à glicose, segundo a International Association of Diabetes and
Pregnancy Study Groups
Glicemia Valores de referência
Jejum 92 mg/dL
1 hora 180 mg/dL
2 horas 153 mg/dL
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2013.16
2.7 Avaliação Clínica Inicial
São objetivos da avaliação clínica inicial:
Classificar o tipo de DM;
Detectar possíveis complicações da doença;
Rever tratamentos prévios bem como o controle glicêmico;
Realizar exames laboratoriais para melhor análise de cada caso;
Elaborar plano de cuidados.5
2.7.1 Anamnese
O quadro 7 destaca os principais dados relevantes na história clínica do
indivíduo diabético.5
Quadro 7. Dados relevantes da anamnese na avaliação clínica inicial do
indivíduo diabético
Dados relevantes na história clínica inicial
Idade e características do início do DM
Estado nutricional, hábitos alimentares, nível de atividade física, evolução do peso ao longo
da vida
Crescimento e desenvolvimento, em crianças e adolescentes
Experiência prévia em programas de educação em DM
Revisão do tratamento prévio e resposta à terapia, avaliados através das glicemias e
especialmente dos níveis de hemoglobina glicada
Tratamento atual para o DM, incluindo medicações, plano alimentar, atividade física, adesão
ao tratamento e prontidão para mudanças
Resultados dos exames de glicemia capilar, quando realizadas pelo usuário
Presença de episódios de cetoacidose diabética (freqüência, gravidade, causas)
Antecedentes de hipoglicemia com informações sobre freqüência e causas (incluindo
percepção destes episódios por parte do usuário)
História de complicações crônicas do DM: retinopatia, nefropatia, neuropatia, lesões nos pés,
disfunção sexual, gastroparesia, DCV, doença cerebrovascular (ver item 2.6 Rastreamento e
acompanhamento de lesões de órgão alvo)
Relato de doença periodontal
115
Relato de transtornos psicossociais, como depressão e outros
Relato de tabagismo
Onde: DM = diabetes mellitus; DCV = doença cardiovascular. Fonte: American Diabetes
Association, 2012.5
2.7.2 Exame físico
Os principais itens a serem explorados no exame físico do diabético estão
listados no quadro 8 a seguir.
Quadro 8. Itens importantes na avaliação física do indivíduo diabético
Itens relevantes no exame físico
Peso, altura, IMC, CA (vide 1.3.4. “Sobrepeso e obesidade”);
PA, incluindo medida em posição ortostática, quando indicada;
Exame de fundo de olho, visando detectar sinais de retinopatia e, se possível,
medida da acuidade visual;
Exame da pele, para avaliar presença de xantomas associados à dislipidemia,
“acantose nigricans” e, se for o caso, os locais de aplicação de insulina;
Exame dos pés (ver item 2.10.4 “Pé diabético”). Onde: IMC = índice de massa corporal; CA = circunferência abdominal e PA = pressão
arterial. Fonte: American Diabetes Association, 2012.5
2.7.3 Avaliação laboratorial
A SEMSA/Manaus recomenda a realização dos seguintes exames
laboratoriais como parte da abordagem inicial do diabético, expressos no quadro 9.5
Quadro 9. Exames complementares para avaliação inicial do indivíduo
diabético
Exames complementares
Glicemia de jejum e duas horas após almoço
Hemoglobina glicada, caso não tenha sido realizada nos últimos dois a três meses
Perfil lipídico, incluindo colesterol total, HDL e TG
Provas de função hepática: TGO, TGP, GGT
Dosagem da creatinina sérica, para cálculo da TFG
EAS+Piúria e hematúria quantitativas
Excreção urinária de albumina através da relação albumina/creatinina, em amostra isolada
de urina
Dosagem de TSH, nos casos de DM1, dislipidemia ou em mulheres acima dos 50 anos
Onde: HDL = colesterol HDL; TG = triglicérides; TGO = transaminase glutâmico
oxalacética; TGP = transaminase glutâmico pirúvica; GGT = gama glutamil transpeptidase;
TFG = taxa de filtração glomerular; EAS = elementos anormais e sedimento; TSH =
hormônio tireoestimulante; DM1= diabetes mellitus tipo 1. Se níveis de TG <400 mg/dL, os
níveis de LDL são calculados pela fórmula: colesterol LDL= colesterol total – [HDL+
(TG/5)].19
Fonte: American Diabetes Association, 2012.5
116
Avaliações complementares interdisciplinares são necessárias periodicamente
para o diabético, as quais incluem avaliação oftalmológica; planejamento familiar e
programação das gestações para mulheres em idade reprodutiva; avaliação
nutricional; avaliação odontológica e avaliação psicológica, se necessário.5
2.8 Estratificação de Risco
2.8.1 Estratificação de risco de indivíduos com relação ao diabetes mellitus para
a organização da rede de atenção
Para fins da organização da rede de atenção aos diabéticos de Manaus, a
SEMSA/Manaus preconiza a estratificação de risco apresentada no quadro 10.
Quadro 10. Estratificação de risco de indivíduos com relação ao diabetes
mellitus para a organização da rede de atenção
Risco Critérios (Controle glicêmico – HbA1c –, complicações e
capacidade para o autocuidado1)
Baixo
Glicemia de jejum alterada ou intolerância à sobrecarga de glicose
(pré-diabetes) ou
Diabético com HbA1c< 7%, capacidade de autocuidado suficiente e
Ausência de internações por complicações agudas nos últimos
12 meses e
Ausência de complicações crônicas.2
Moderado
Diabético com HbA1c< 7% e capacidade de autocuidado
insuficiente ou
Diabético com HbA1c entre 7% e 9%. - Em qualquer uma das opções é obrigatória a
Ausência de internações por complicações agudas nos últimos
12 meses e
Ausência de complicações crônicas.2
Alto
Diabético com HbA1c> 9% e capacidade de autocuidado suficiente
e/ou
Presença de internações por complicações agudas nos últimos 12
meses, com capacidade de autocuidado suficiente e/ou
Presença de complicações crônicas2 com capacidade de autocuidado
suficiente.
Muito
Alto
Diabético com HbA1c> 9% e capacidade de autocuidado apoiado
insuficiente e/ou
Presença de internações por complicações agudas nos últimos 12
meses, com capacidade de autocuidado insuficiente e/ou
Presença de complicações crônicas2 com capacidade de autocuidado
insuficiente.
117
Onde: HbA1c = hemoglobina glicosilada, APS = Atenção Primária à Saúde e ASS =
Atenção Secundária à Saúde.
1 Entende-se como capacidade de autocuidado insuficiente (conceito operacional) a
limitação em níveis relevantes da capacidade de autocuidado do indivíduo ou de seu
cuidador (mãe/pai/responsável no caso de um dependente) pela redução,
impossibilidade, fragilidade, negação, dificuldade ou ausência de: 1) compreensão
e/ou conhecimento de sua condição crônica; 2) aceitação de sua condição crônica; 3)
adesão ao plano terapêutico (agendamento de consultas, participação de grupos,
atividades físicas, uso dos medicamentos prescritos, educação alimentar, registro das
informações, etc.); 4) autonomia/independência (por limitações físicas, dependências
químicas, transtornos mentais, déficit cognitivo) e 5) suporte familiar e social. 2 Entende-se por complicações crônicas micro ou macroangiopatias (ver item 2.10).
2.9 Plano de Cuidados
2.9.1 Abordagem multiprofissional
Similarmente ao apresentado no item 1.10.1, a abordagem multiprofissional,
especialmente interdisciplinar está fortemente indicada para os diabéticos. Todos os
profissionais disponíveis e necessários ao controle ideal dos usuários diabéticos, tais
como médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, nutricionistas,
psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, educadores físicos, farmacêuticos,
educadores em saúde, comunicadores, funcionários administrativos e agentes
comunitários de saúde devem trabalhar de forma integrada, observando os preceitos
legais, especificidades e princípios de interdisciplinariedade.
2.9.2 Controle glicêmico
A correta avaliação do estado de controle glicêmico em diabéticosé feita
utilizando-se de forma complementar os testes de glicemia e a HbA1c. Os testes de
glicemia refletem o nível glicêmico atual e instantâneo, no momento exato do teste,
enquanto os testes de HbA1c indicam a glicemia média dos últimos dois a quatro
meses.5
Hemoglobina glicada – HbA1c
118
A HbA1c deve ser realizada com a periodicidade de no mínimo 2 vezes ao
ano em usuários que tenham alcançado as metas e tenham controle glicêmico estável
e 4 vezes ao ano, em usuários que não estejam atingindo as metas ou quando se muda
a terapêutica.5
Segundo a SBD, as metas laboratoriais para o tratamento do DM2 podem ser
visualizadas no quadro a seguir.5
Quadro 11. Metas laboratoriais para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2
Parâmetro Metas laboratoriais
Metas terapêuticas Níveis toleráveis
Hemoglobina glicada
(HbA1c).
< 7 % em adultos.
< 8% em idosos.
< 8,5% de 0 a 6 anos.
< 8% de 6 a 12 anos.
< 7,5% de 13 a 19.
< 6,0 na gravidez.
As metas devem ser individualizadas de
acordo com:
Duração do diabetes.
Idade/expectativa de vida.
Comorbidades.
Doença cardiovascular.
Complicações microvasculares.
Hipoglicemia não percebida.
Glicemia de jejum
Glicemia pré-prandial
Glicemia pós-prandial
< 100 mg/dL.
< 110 mg/dL.
< 140 mg/dL.
-
Até 130 mg/dL
Até 160 mg/dL
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
Os quadros 12 a 14 apresentam as metas das glicemias capilares segundo
diferentes faixas etárias, entidades e condições.5,16
Quadro 12. Metas de glicemias capilares para adultos por diferentes entidades
Entidades Glicemia pré-
prandial
Glicemia pós-
prandial
HbA1c
Associação Americana de Diabetes
(ADA)
70 a 130 mg/dL < 180 mg/dL < 7 %
Federação Internacional de Diabetes
(IDF) e Associação Americana de
Endocrinologistas Clínicos (AACE)
< 110 mg/dL < 140 mg/dL < 6,5 %
Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD)
70 a 130 mg/dL < 160 mg/dL < 7 %
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro; h = horas. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes,
2013.16
119
Quadro 13. Metas de glicemias capilares para crianças e adolescentes conforme
faixa etária
Faixa etária Glicemia préprandial Glicemia ao deitar HbA1c
Lactentes e pré-
escolares
100 a 180 mg/dL 110 a 200 mg/dL 7,5 a 8,5
%
Escolares 90 a 180 mg/dL 100 a 180 mg/dL < 8 %
Adolescentes 90 a 130 mg/dL 90 a 150 mg/dL < 7,5 %
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2013.16
Quadro 14. Metas das glicemias capilares para o diabetes gestacional e para
mulheres com diabetes mellitus que engravidaram
Glicemias Capilares Diabetes
Gestacional
Mulheres com DM que
engravidaram
Glicemia capilar pré
prandial < = 95 mg/dL 60 a 69 mg/dL
Glicemia capilar 1 h pós
prandial < = 140 mg/dL 100 a 129 mg/dL
Glicemia capilar 2 h pós
prandial < = 120mg/dL
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro; h = horas. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes,
20111/ American Diabetes Association, 2012.
5
A HbA1c pode ser interpretada por meio da glicemia média estimada (GME).
A GME é resultado de um cálculo matemático, sendo GME = 28,7 x A1c – 46,7. No
quadro 15 pode-se observar a correlação entre as glicemias médias estimadas e os
níveis de HbA1c.5
Quadro 15. Correlação entre as glicemias médias estimadas e a hemoglobina
glicada
Hemoglobina glicada (%) Glicemia média estimada (mg/dL)
6 126
6,5 140
7 154
7,5 169
8 183
8,5 197
9 212
9,5 226
10 249
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 20111/
American Diabetes Association, 2012.5
2.9.3 Tratamento não medicamentoso (mudanças no estilo de vida)
120
A manutenção do peso ideal, orientações nutricionais para uma alimentação
saudável e atividade física adequada e regular são os principais alicerces do
tratamento do DM2. Esses alicerces devem estar presentes mesmo nos diabéticos que
estão em tratamento medicamentoso. Esses pilares são capazes de melhorar a
sensibilidade à insulina, diminuir os níveis plasmáticos de glicose, reduzir a CA,
provendo um perfil metabólico mais adequado ao diabético.
Alcance e manutenção do peso ideal
O excesso de peso está fortemente associado ao desenvolvimento de
complicações do DM2.
A perda moderada de peso, 5% do peso corporal, em usuários com DM
encontra-se associada com diminuição da resistência à insulina, melhora dos níveis
glicêmicos e lipídicos e redução da pressão arterial, o que contribui para a redução do
risco cardiovascular.5,20
As perdas devem ser sustentadas e progressivas e
acompanhadas de ajustes nas medicações, quando pertinente, evitando quadros de
hipoglicemia.
Diabéticos com excesso de peso devem ser priorizados em grupos de
reeducação alimentar.
Os pesos mínimo e máximo para a faixa etária de 20 a 59 anos podem ser
obtidos respectivamente por meio das seguintes fórmulas: 18,5 x altura (m) x altura
(m) e 24,9 x altura (m) x altura (m).
Orientações nutricionais
O aconselhamento nutricional pode melhorar o controle glicêmico
promovendo uma redução de 1% a 2% nos níveis de HbA1c.
As orientações nutricionais deverão ser individualizadas, considerando
variáveis como a idade, o peso do usuário, seus hábitos alimentares, os parâmetros
estabelecidos para a população geral, a prática de exercícios físicos, comorbidades, o
perfil metabólico e o uso de medicamentos.5,21
Alguns parâmetros recomendados para a ingestão de calorias e nutrientes,
com suas porções diárias, encontram-se representados na clássica pirâmide a seguir.
121
Figura 1. Pirâmide alimentar
O quadro a seguir apresenta a quantidade equivalente a uma porção, em
medidas caseiras, de determinados alimentos regionais.
Quadro 16. Quantidade de alguns alimentos (incluindo regionais) equivalente a
uma porção
Grupo de
alimentos Quantidade equivalente a uma porção, em medidas caseiras
cereais,
tubérculos
e raízes
½ unidade pão francês
½ unidade de pão de leite
1 fatia de pão de forma, integral ou
de centeio
1 fatia de torrada de pão integral
3 fatias finas de pão francês torrado
4 unidades de biscoito integral
1 colher de sopa de macarrão
1 colher de sopa de arroz cozido
1 colher de sopa de arroz integral
½ und tapioca simples
1 colher de sopa de farinha de
macaxeira
3 colheres de sopa de mandioca cozida
1 colher de sopa de aveia
1 colher de sopa de farinha de milho
1/2 espiga de milho verde ou 3
colheres de sopa de milho debulhado
3 colheres de batata cozida
2 colheres de sopa de purê de batata
sem molho
3 colheres de sopa de cará
amassado/cozido
3 colheres de sopa de batata doce
cozida
3 colheres de sopa de ariá cozido
122
1/2 colher de sopa de goma de tapioca
verduras
e
legumes
15 folhas de alface, jambu ou outras
folhas
1 unidade de pepino ou 4 colheres
de sopa de pepino picado
1 ½ colheres de sopa de jerimum
cozido e feijão praia cozido
2 colheres de sopa de berinjela
cozida, beterraba crua ralada,
cenoura crua picada, couve
manteiga, feijão verde de metro
3 colheres de sopa de quiabo, maxixe,
couve ou pimentão cozido
4 fatias de tomate comum ou 7
unidades de tomate cereja
4 ½ colheres de sopa de pimentão
cozido
6 colheres de sopa de repolho picado
frutas
1 unidade de banana, laranja, maçã,
tangerina, araçá-boi
1 fatia de abacaxi
2 unidades de carambola, camu-
camu, ingá
10 unidades de acerola
1 fatia pequena de melão ou melancia
ou mamão
1 unidade de tucumã
1 unidades de pupunha
½ xícara de chá de salada de fruta
(banana, laranja, maçã, mamão)
1/3 copo de suco concentrado de fruta
natural.
feijões
1 concha média rasa de feijão (50%
de caldo)
2 colheres de sopa de grão de
feijão, feijão de praia, lentilha ou
grão de bico
2 ½ colheres de ervilha seca cozida
1 colher de servir de soja cozida
leite e
derivados
2 colheres de sopa de leite integral
em pó
1 pote de iogurte desnatado de
frutas
1 copo de 250 ml de iogurte
integral natural
1 fatia grande de queijo minas frescal
2 fatias de ricota
3 fatias de queijo mussarela
1 e ½ colher de sopa de requeijão light
carnes e
ovos
1 bife de carne de boi magra, de
fígado de boi ou de peito de frango
pequeno e grelhado
1 coxa ou sobrecoxa cozida ou
assada sem molho e sem pele
3 ½ colheres de sopa de carne
moída refogada
4 pedaços pequenos de carne magra
cozida
1 unidade de ovo cozido
1 omelete simples
1 filé de tambaqui grelhado ou assado
1 filé de pirarucu grelado ou assado
2 unidades de jaraqui cozido ou assado
1 posta de matrinxã ou tucunaré
2 unidades de sardinha assada ou
cozida
óleos e
gorduras
½ colher de sopa de margarina
vegetal sem gordura trans
½ colher de sopa de manteiga
1 colher de sopa de óleo vegetal (soja,
milho, girassol ou canola)
1 colher de sopa de azeite de oliva
2 unidades de castanha do Brasil
Fonte: Adaptado do Guia Alimentar para a População Brasileira (2006), Brasil, 2010 e
2012, Curitiba, 2010.XXXX
Recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes
123
A necessidade diária de energia, medida pelo valor energético total (VET),
deve ser compatível com as metas para o peso corporal do diabético. Para usuários
obesos, a dieta hipocalórica pode ter redução de 500 a 1000 kcal do VET diário
previsto, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5 a 1 kg/semana. Um
método prático para o cálculo do VET é utilizar 20 a 25 kcal/kg de peso atual por
dia.
As principais recomendações nutricionais para diabéticos tipo 1 e 2 estão
expressas no quadro 17 e são especificadas textualmente a seguir.
Quadro 17. Principais recomendações nutricionais para diabéticos
Onde: CHO = carboidrato; VET = valor energético total; mg = miligramas; g = gramas, kcal =
quilocalorias. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
Carboidratos
Recomenda-se que a ingestão de carboidratos para diabéticos seja a mesma
que a sugerida para a população geral, totalizando 45 a 60% das necessidades diárias
de energia. O uso de cereais e grãos integrais, frutas e vegetais deve ser incentivado,
conforme quadro 18, o qual caracteriza porções de alguns dos principais alimentos,
inclusive regionais.21,22
Macronutrientes Ingestão recomendada por dia
Carboidratos CHO totais – 45 a 60%. Não inferior a 130 g/dia
Sacarose Até 10%
Frutose Não se recomenda adicionar aos alimentos
Fibra alimentar Mínimo de 20 g/dia ou 14 g/1000 kcal
Gordura total Até 30% VET
Ácido graxo saturado < 7% VET
Ácido graxo trans < = 2 g
Ácido graxo poliinsaturado Até 10% VET
Ácido graxo monoinsaturado Completar de forma individualizada
Colesterol < 200 mg/dia
Proteínas 15 a 20% VET
Micronutrientes Ingestão recomendada por dia
Vitaminas e sais minerais Seguem as recomendações da população não diabética,
exceto sódio
Sódio Até 2400 mg
124
Quadro 18. Caracterização de porção das principais fontes de carboidratos
Fonte Caracterização de uma porção
(medida caseira)
Medida por peso
(gramatura)
Cereais, grãos e raízes
Arroz ou macarrão integral cozidos 1 colher de sopa 40g
Aveia, fubá, maisena, farinhas de
banana macaxeira ou tapioca 1 colher de sopa 20g
Batata inglesa, cará, batata doce,
inhame, macaxeira
3 colheres de sopa ou 1 pedaço
pequeno
70g
Biscoito integral 4 unidades 20g
Pão de forma integral 1 fatia 25g
Pão de milho 1 fatia 25g
Pão francês integral 1/2 unidade
25g
Tapioca de goma (simples) ½ unidade pequena 30g
Torrada de pão integral 3 unidades 20g
Frutas frescas
Abacaxi 1 fatia média 80g
Acerola 10 unidades 130g
Araçá boi 5 colheres de sopa 100g
Bacuri 1 unidade pequena 40g
Banana pacova 4 rodelas 30g
Banana prata 1unidade pequena 50g
Caju 1 unidade 115g
Camu-camu 10 unidades 70g
Cupuaçu 3 colheres de sopa 60g
Goiaba 1 unidade média 100g
Graviola 2 colheres de sopa 70g
Jaca 4 bagos 80g
Jambo 2 unidades 84 g
Jenipapo 1 unidade pequena 60g
Laranja 1unidade 100g
Maçã 1 unidade pequena 70g
Mamão 1 fatia 60g
Melancia 1 fatia pequena 150g
Sapota 1/2 unidade 70g
Taperebá 10 unidades 57g
Suco concentrado da fruta natural
1/3 copo 70 ml
Hortaliças
Alface, repolho, couve, pepino,
tomate, jambu, maxixe, carirú,
Ingerir à vontade.
-------
125
Fonte: Adaptado da Tabela de Alimentos Equivalentes de TUMA, R; MONTEIRO, R,
1999.
Lípides
Os lípides são gorduras alimentares encontradas na forma de colesterol,
triglicérides e fosfolípides. A parte lipídica básica dos triglicérides e dos fosfolípides
é formada pelos ácidos graxos que podem ser saturados ou insaturados. Os ácidos
graxos insaturados podem ser monoinsaturados ou poliinsaturados. Os
poliinsaturados pertencentes à classe dos ômega 6, ácido linoléico, e ômega 3, ácido
linolênico, mostraram uma redução no risco cardiovascular (RCV). Os ácidos graxos
trans são um tipo específico de gorduras saturadas ou insaturadas formadas por um
processo de hidrogenação que lhes confere uma consistência mais cremosa. Já o
colesterol não apresenta o ácido graxo na sua estrutura e as suas fontes dietéticas são
as mesmas das gorduras saturadas.22,23
O quadro 19 caracteriza as principais gorduras presentes nos diferentes
alimentos, inclusive regionais.
Quadro 19. Gorduras presentes nos alimentos (inclusive regionais) Tipos de ácidos Alimentos
Ácidos Graxos Saturados Gordura de origem animal, óleo de coco e de dendê, carne
gordas, leite, manteiga, creme de leite, bacon, embutidos
Ácidos Graxos Insaturados
Monoinsaturados Óleo de canola (ômega 3), azeite
Nozes, amêndoas, castanhas, abacate, tucumã, pupunha
Poliinsaturados Óleos: girassol, soja (ômega 6), milho; linhaça (ômega 6)
Peixes: tambaqui, matrinxã, curimatã, sardinha (ômega 3)
Ácidos Graxos Trans Sorvetes, batatas-fritas, salgadinhos de pacote, biscoitos
recheados, waffers, gorduras hidrogenadas e margarinas
FFonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Diabetes (2011) e NEPA- UNICAMP,
22011.1,X
(X
Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA – UNICAMP.- 4.
ed. rev. e ampl.. Campinas: NEPA- UNICAMP, 2011.)
Recomenda-se que a ingestão de ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans
cebola, jiló
Abóbora, beterraba, cenoura,
chuchu, quiabo, feijão de metro
2 colheres de sopa
40g
126
e colesterol seja limitada nos diabéticos com a finalidade de reduzir o RCV.23
A ingestão dos ácidos graxos saturados deve ser inferior a 7% das
necessidades diárias de energia o que representa ½ da porção de gordura. Os ácidos
graxos trans devem ter o seu consumo reduzido não ultrapassando 2% das
necessidades diárias de energia o que representa no máximo 50g desse tipo de
gordura. A ingestão de ácidos graxos saturados e ácidos graxos trans está associada
com marcadores inflamatórios e resistência à insulina. A ingestão do colesterol deve
ser inferior a 200 mg/dia. Devem ser evitados os alimentos gordurosos em geral,
como carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco,
alimentos refogados e temperados com excesso de óleo ou gordura.24
Proteínas
Para atendimento das necessidades protéicas recomenda-se que a oferta de
proteínas apresente um terço de proteína de alto valor biológico (carne, leite e ovos)
e as proteínas vegetais, como as leguminosas, sejam incluídas a fim de suplementar a
necessidade de aminoácidos para a síntese e manutenção dos tecidos. Estando a
função renal normal, a ingestão de proteínas recomendada deve ser em torno de 15 a
20% das necessidades diárias de energia, observando a quantidade de porções
propostas na figura 1.
Fibra dietética
As fibras são encontradas nos vegetais principalmente em folhas, raízes,
talos, sementes e bagaços. Suas principais fontes alimentares são as frutas, verduras,
legumes, farelo de aveia e de cevada. São divididas em solúveis e insolúveis; as
fibras solúveis apresentam ação benéfica no controle da glicemia e do metabolismo
lipídico enquanto as insolúveis contribuem para a saciedade, controle do peso e
funcionamento intestinal.25,26
São exemplos de fibras solúveis: frutas, legumes, aveia, cevada e centeio. São
fibras insolúveis: pão integral, arroz integral e farelo de trigo.
127
Recomenda-se o consumo de no mínimo 20 gramas ao dia de fibras ou 14 g/1.000
kcal. Essa quantidade é facilmente obtida através do consumo de até 5 porções de
frutas por dia e de preferência com a casca.27
Micronutrientes – vitaminas e minerais
Usuários com DM frequentemente apresentam deficiência de micronutrientes
devendo receber estes nutrientes por meio de fontes alimentares e plano alimentar
balanceado.28
Recomenda-se o consumo diário de 3 a 5 porções de hortaliças cruas e cozidas e
de 2 a 4 frutas, sendo pelo menos 1 rica em vitamina C, tais como as frutas
cítricas. Não há evidências que apóiam a suplementação de vitamina ou de
minerais em pessoas com DM que não apresentem deficiências desses elementos
exceto nos idosos, gestantes, lactentes e vegetarianos. Outras exceções são o folato
utilizado nas gestantes para prevenir doenças congênitas no feto e o cálcio para
prevenir doenças ósseas nos idosos e mulheres após a menopausa.28,29
Sal de cozinha
A Sociedade Brasileira de Cardiologia e a ADA preconizam aos indivíduos com
DM a redução para 2.000 mg/dia, o que equivale a 5 g de sal de cozinha. Os
alimentos industrializados possuem sódio em sua composição, sendo indicada a
sua substituição por alimentos naturais.5,30
Adoçantes
Os adoçantes são produtos constituídos a partir de uma substância chamada
edulcorante, que apresentam a capacidade de adoçar mais que o açúcar ou sacarose,
sendo possível utilizá-los em pequenas quantidades. O quadro 20 agrupa em
calóricos e não calóricos os principais adoçantes, adicionando também algumas
recomendações práticas.
128
Quadro 20. Grupos de adoçantes e algumas recomendações
Calóricos Não calóricos
Sacarose Acessulfame-K
Frutose (Não devem ser utilizados por
diabéticos) Sacarina
Aspartame (Pode ser utilizado por gestantes) Ciclamato
Estévia Sucralose (Pode ser utilizado por
gestantes)
Fonte: Adaptado de Viggiano, 2003.31
Orientações nutricionais a diabéticos em casos específicos (Sociedade Brasileira de
Diabetes)
Idosos
Os idosos apresentam menores necessidades energéticas quando comparados
aos adultos jovens. Comumente, a desnutrição prepondera sobre o excesso de peso
após os 75 ou 80 anos.
Crianças e adolescentes
O plano alimentar dessa faixa etária deve respeitar as recomendações
nutricionais da idade e as principais recomendações descritas no quadro 17. Planos
individualizados e regimes de insulina podem fornecer flexibilidade a crianças e
adolescentes com DM para acomodar o tempo e os horários de refeições irregulares,
em situações de variação de apetite e níveis de atividade física. O principal objetivo
nessa faixa etária é manter o crescimento e desenvolvimento adequados.
Gravidez e lactação
As necessidades nutricionais durante a gestação e lactação não diferem entre
mulheres com ou sem DM. A ingestão de energia deve permitir o ganho de peso
preconizado na gestação e mulheres com diabetes gestacional e excesso de peso
129
podem realizar moderada restrição alimentar. A sucralose e aspartame são os
adoçantes liberados durante a gravidez.22,31
Algumas recomendações finais sobre orientações nutricionais a diabéticos
estão sumarizadas no quadro a seguir.
Quadro 21. Orientações nutricionais gerais aos diabéticos
Principais orientações
Fracionar o plano alimentar em 6 refeições sendo 3 refeições principais e 3 lanches.
Evitar consumir mais de um tipo de carboidrato em uma mesma refeição.
Preferir os alimentos grelhados, assados, cozidos no vapor ou ainda crus.
Dar preferência a alimentos diet sem açúcar ou light com menos calorias.
Incentivar o consumo de peixes como a sardinha, atum e salmão por serem ricos em
ômega 3.
Substituir os produtos refinados (com farinha branca) pelos integrais.
Incentivar o consumo de aveia e linhaça por ser rica em ômega 6.
Utilizar o azeite de oliva para temperar as saladas.
Os adoçantes devem ser utilizados como substitutos do açúcar.
Atividade Física
Independente da redução do peso, diabéticos em exercícios regulares
melhoram o controle glicêmico reduzindo a HbA1c. Adicionalmente, os exercícios
preconizados reduzem a PA e o RCV, contribuem para a perda de peso e melhoram a
auto-estima do usuário. Programas de intervenção com realização de atividade física,
com no mínimo 8 semanas de duração, mostraram uma redução da HbA1c em média
de 0,66% em usuários com DM2 mesmo sem mudança no índice de massa
corporal.32,33
Recomenda-se que diabéticos realizem exercícios físicos aeróbicos (caminhada,
natação, esteira ou bicicleta), 3 a 5 dias por semana, em dias alternados, durante 150
minutos por semana. Estes devem ser de moderada intensidade, ou seja, devem
atingir 50 a 70 % da freqüência cardíaca máxima. Também devem ser orientados a
130
realizar exercícios de resistência como a musculação durante 2 dias/semana.5,34,35
Avaliação do diabético pré-exercícios físicos
Recomenda-se avaliar o diabético quanto à presença de fatores de RCV
previamente à indicação de um programa de exercícios físicos. Os casos com
dislipidemia, HAS, tabagismo, história familiar de doença coronariana prematura,
micro ou macroalbuminúria devem ser adequadamente tratados com aspirina,
estatinas, IECA ou BRA. Os diabéticos que apresentarem sintomas cardiovasculares
típicos e aqueles com sintomas atípicos, mas com alteração no eletrocardiograma
(ECG) devem ser encaminhados para a cardiologia.5,36
Não há benefício comprovado na realização rotineira de testes de triagem
para doença arterial coronariana em usuários assintomáticos e com ECG normal.5,37
Exercícios físicos em situações especiais
Usuários com diabetes mellitus tipo 1
Ainda que o efeito do exercício físico na melhora da HbA1c nos usuários com
DM1 seja controverso, recomenda-se a sua indicação, pois reduz a mortalidade
cardiovascular e melhora a autoestima. Entretanto, deve-se atentar para o maior risco
de hipoglicemia, que pode ocorrer ao longo, imediatamente ou horas depois do final
dos exercícios.
O uso de várias doses de insulina permite ajustes adequados do tratamento,
viabilizando diversos níveis de exercícios, inclusive o competitivo. A monitorização
glicêmica é importante para adaptação do tratamento aos exercícios, devendo-se
conduzí-la antes, ao longo (quando a duração for superior a 45 minutos) e depois dos
exercícios.1
Exercícios e hiperglicemia
131
Os exercícios físicos devem ser evitados se o usuário apresentar glicemia
acima de 250 mg/dl, com cetose. Na ausência de cetonúria, mesmo se a glicemia for
maior que 300 mg/dL,o exercício leve a moderado pode reduzir a glicemia.1
Exercício e hipoglicemia
Se a glicemia for inferior a 100 mg/dl, o carboidrato deverá ser reposto em
diabéticos com insulinoterapia. Carboidratos simples (balas, sucos, refrigerantes,
soluções isotônicas) devem ser utilizados diante de hipoglicemias durante o
exercício. Se o usuário não apresentar hipoglicemias pode-se utilizar carboidratos
complexos, ricos em fibras, tal como as barras energéticas de cereais.1
Retinopatia
Está contra-indicadaa realização de exercício físico aeróbico ou de resistência
de alta intensidade em diabéticos com retinopatia proliferativa ou não proliferativa
grave, pelo risco de hemorragia vítrea ou descolamento de retina. Após
fotocoagulação, recomenda-se reiniciar os exercícios físicos após 3 a 6 meses ou
após liberação do oftalmologista que o acompanha.38
Neuropatia periférica
Estudos demonstraram que caminhadas não aumentam o risco de úlceras
plantares nos diabéticos. Entretanto, diabéticos com neuropatia periférica e redução
da sensibilidade em MMII devem usar sapatos adequados e ser orientados a realizar a
inspeção cuidadosa dos pés diariamente ao realizarem exercícios físicos, já que a
diminuição da sensibilidade nas extremidades aumenta o risco de lesões de pele,
infecções e alterações articulares. Usuários que já tenham lesões nos pés devem ser
estimulados a realizarem atividades especialmente sem efeito da gravidade (na
água).5,39
Microalbuminúria e nefropatia
132
Ainda que a nefropatia não seja uma contraindicação para realização de
exercícios físicos, os diabéticos com microalbuminúria ou proteinúria devem ser
avaliados antes de iniciar com os exercícios físicos, devido à possibilidade de
apresentarem DCV.40
2.9.4 Tratamento medicamentoso
Os antidiabéticos orais estão indicados na ausência da resposta adequada com
as medidas não-medicamentosas, com o objetivo de controlar a glicemia e promover
a queda da HbA1c. A meta é a normoglicemia mantida em longo prazo. Estudos
corroboramcom a hipótese de uma relação direta entre níveis sanguíneos de glicose e
a DCV. O controle rigoroso da glicemia de jejum, glicemia pós-prandial e HbA1c é
fundamental para evitar as complicações do DM sendo necessário realizar a auto-
monitorização (vide item 2.9.5 "Autocuidado apoiado"), quando pertinente.5
Antidiabéticos orais
Os antidiabéticos orais apresentam diversos mecanismos de ação como o
aumento da secreção pancreática de insulina, a redução na velocidade de absorção
dos glicídios, a diminuição na produção hepática de glicose e o aumento na
utilização periférica de glicose. Recentemente, uma nova classe de substâncias cuja
ação baseia-se no efeitoincretina foi adicionada ao grupo dos antidiabéticos. Este
efeito incretina é mediado pelos hormônios GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP
(gastric inibitory polypeptide) considerados peptídeos insulinotrópicos glicose-
dependentes. Assim, eles são capazes de aumentar a secreção de insulina apenas
quando a glicemia se eleva, retardam o esvaziamento gástrico e atuam sobre as
células alfa pancreáticas, controlando a hipersecreção inadequada de glucagon e
reduzindo o débito hepático da glicose. Esses agentes atuam mimetizando a ação do
GLP-1 ou aumentando a sua vida média ao inibir a enzima responsável pela sua
degradação.1,5,16
133
As principais classes dos agentes antidiabéticos, segundo a SBD, podem ser
visualizadas no quadro 22. Já o quadro 23 apresenta e caracteriza os principais
agentes antidiabéticos existentes.
Os medicamentos antidiabéticos disponíveis na SEMSA/Manaus podem ser
conhecidos por meio da REMUME e serem acessados no endereço eletrônico
www.manaus.am.gov.br
Quadro 22. Classes dos agentes antidiabéticos
Classes
Agentes que estimulam a secreção de insulina
Sulfoniluréias
Metiglinidas ou glinidas (ação predominante na glicemia pós-prandial)
Agente que reduz ou retarda a absorção de glicídios
Acarbose (ação predominante na glicemia pós-prandial)
Agente que diminui a produção hepática de glicose (sensibilizador de insulina)
Metformina
Agentes que aumentam a utilização periférica de glicose (sensibilizadores de insulina)
Tiazolidinedionas ou glitazonas
Agentes que estimulam a secreção de insulina somente no estado de hiperglicemia
Agonistas do GLP-1
Gliptinas
Onde: GLP-1= Glucagon-like peptide-1. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
134
Quadro 23. Caracterização dos principais agentes antidiabéticos disponíveis
Medicamentos
(posologia em mg) Mecanismo de ação
Redução da
glicemia de
jejum
(mg/dL)
Redução
de HbA1c
(1%)
Contra indicação Efeitos colaterais Outros efeitos benéficos
Sulfonilureias
Clorpropamida 125 a 500
Glibenclamida 2,5 a 20
Glipizida 2,5 a 20
Gliclazida 40 a 320
Gliclazida MR 30 a 120
Glimepirida 1 a 8
(1 a 2 vezes/dia)
Aumento da
secreção de
insulina
60-70 1,5-2 Gravidez, insuficiência
renal ou hepática
Hipoglicemia e
ganho ponderal
(clorpropamida
favorece o aumento
da pressão arterial e
não protege contra
retinopatia)
Metiglimidas
Repaglinida 0,5 a 16
Nateglinida 120 a 360
(3 vezes/dia)
Aumento da
secreção de
insulina
20-30 1-1,5 Gravidez
Hipoglicemia e
ganho ponderal
discreto
Redução do
espessamento medio
intimal carotídeo
(repaglinida)
Biguanidas
Metformina 1.000 a 2.550
(2 vezes/dia)
Reduz a produção
hepática de glicose
com menor ação
sensibilizadora da
ação insulínica
60-70 1,5-2
Gravidez, insuficiências
renal, hepática, cardíaca,
pulmonar e acidose
grave
Desconforto
abdominal, diarréia
Diminuição de eventos
cardiovasculares
Prevenção de DM2
Melhora do perfil
lipídico
Diminuição do peso
Inibidores de
alfaglicosidade
Acarbose 50 a 300
(três vezes/dia)
Retardo da
absorção de
carboidratos
20-30 1,5-2 Gravidez
Meteorismo,
flatulência e
diarreia
Diminuição de eventos
cardiovasculares
Prevenção de DM2
Redução do
espessamento médio
intimal carotídeo
Melhora do perfil
lipídico
135
Glitazonas
Pioglitazona 15 a 45
(1 vez/dia)
Aumento da
sensibilidade à
insulina em
músculo, adipócito
e hepatócito
(sensibilizadores da
insulina)
35-65 0,5-1,4
Insuficiência cardíaca
classe III e IV
Insuficiência hepática
gravidez
Retenção hídrica,
anemia, ganho
ponderal,
insuficiência
cardíaca e fraturas
Prevenção de DM2
Redução do
espessamento médio
intimal carotídeo
Melhora do perfil
lipídico
Redução da gordura
hepática
Gliptinas: Inibidores da
DPP-IV
Sitagliptina 50 ou 100 mg
1 vez/dia
Vildagliptina 50 mg
2 vezes/dia
Saxagliptina 5 mg
1 vez/dia
Linagliptina 5 mg
1 vez/dia
Aumento do nível
de GLP-1, com
incremento da
síntese e secreção
da insulina, além da
redução de
glucagon
20 0,6-0,8
Hipersensibilidade aos
componentes do
medicamento
Os eventos
adversos mais
comuns verificados
nos ensaios clínicos
foram faringite,
infecção, náusea e
cefaleia
Aumento de massa de
células beta em modelos
animais.
Segurança e
tolerabilidade.
Efeito neutro no peso
corporal.
Miméticos e análogos do
GLP-1
Exenatida 5 mcg e 10 mcg
Uma injeção antes do
desjejum e outra antes do
jantar via sub cutânea (SC)
Liraglutida 0,6 mg, 1,2 mg
e 1,8 mg
Uma injeção por dia
sempre no mesmo horário
Efeitos
anteriormente
relatados em
resposta á dose
farmacológica do
análogo do GLP-1
com ação
30 0,6-1
Hipersensibilidade aos
componentes do
medicamento
Hipoglicemia,
principalmente
quando associada à
secretagogos.
Náusea, vômitos e
diarreia
Aumento da massa de
células beta em modelos
animais.
Redução de peso.
Onde: mg/dL = miligrama/decilitro; mg = miligramas, DM2 = diabetes mellitus tipo 2, mcg = microgramas, GLP-1 = Glucagon-like peptide-1. Fonte:
modificado de Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
136
No que se refere à metformina, algumas recomendações específicas a partir da
filtração glomerular são destacadas e apresentadas no quadro 24.
Quadro 24. Recomendações quanto ao uso da metformina, segundo a filtração
glomerular
Nível de filtração glomerular Ação
Acima de 60 ml/min/m2 Sem contra-indicação
Monitorizar a função renal anualmente
Menor que 60 e acima de 45
ml/min/m2
Continuar o uso com monitorização da função renal de
3 a 6 meses
Menor que 45 e acima de 30
ml/min/m2
Diminuir 50 % da dose máxima e monitorização da
função renal a cada 3 meses
Menor que 30 ml/min/m2 Contra-indicada
Onde: ml/min/m2= mililitro/minuto/metro quadrado. Fonte: Lipska, 2011.
41
Escolha do Antidiabético oral
A escolha do medicamento deve levar em consideração:
Os valores das glicemias de jejum e pós-prandiais e da HbA1c.
O peso e a idade do usuário.
Os transtornos metabólicos presentes (resistência ou deficiência de insulina), as
complicações crônicas e doenças associadas.
Interações medicamentosas, reações adversas e contra-indicações de cada
medicação.
As fases de evolução do DM2 determinam o manejo terapêutico da doença, conforme
figura 2.42
137
Figura 2: Algoritmo terapêutico do diabetes mellitus tipo 2
Fu
nçã
o d
a C
élu
la B
eta
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Metformina
Rosiglitazona
Pioglitazona
Acarbose
Sitagliptina
Vildagliptina
Saxagliptina
Combinações ou
monoterapia
com
Sulfonilureias,
Repaglinida,
Nateglinida
Sitagliptina,
Vildagliptina,
Saxagliptina
Combinação
com insulina
noturna
Insulinização
plena opcional:
manter
sensibilizador de
insulina
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.42
Na maioria dos casos, os diabéticos tipo 2 apresentam um estado de resistência à
insulina, caracterizado por obesidade, hipertrigliceridemia, baixo HDL-C e HAS. Nessas
condições, estão mais indicados os medicamentos que melhoram a ação da insulina e
consequentemente evitam o aumento de peso (fase 1).
Com o progressivo desenvolvimento da deficiência de secreção da insulina, estarão
indicados medicamentos que estimulam a secreção da insulina. Nesta fase, torna-se necessária
a combinação de medicamentos orais, sendo a monoterapia insuficiente (fase 2).
A denominada fase 3 ocorre quando esta associação medicamentosa já não consegue
manter um bom controle metabólico, sendo necessário introduzir insulina NPH antes de
dormir.
138
A fase 4 caracteriza-se pelo surgimento da insulinopenia clara (identificada pela perda
de peso significativa e cetonúria) e indica a necessidade de insulinização plena, o que pode ser
feito por meio de alguns esquemas que vão desde o convencional (2 doses diárias) até o
intensivo com múltiplas doses (3 ou mais doses diárias).
Insulinas
Devido à falência das células beta pancreáticas, diabéticos tipo 1 apresentam
deficiência de secreção de insulina. Já os indivíduos com DM2 apresentam, nas fases iniciais,
hiperinsulinemia e resistência à ação da insulina e posteriormente apresentam falência
pancreática com deficiência de secreção deste hormônio.1,5,16
Como resultado importantes
alterações no metabolismo normal de carboidratos, proteínas e gorduras ocorrerão, gerando
uma hiperglicemia.
As principais características das preparações insulínicas disponíveis no mercado
brasileiro estão sintetizadas no quadro 25.
Quadro 25: Principais características das insulinas disponíveis no Brasil
Onde: NPH = Neutral Protamine de Hagedorn. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.
1
Os efeitos glicêmicos relativos das preparações insulínicas disponíveis no Brasil estão
ilustrados na Figura 3.
139
Figura 3: Perfil de ação das preparações insulínicas
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.42
Insulinização oportuna do diabetes mellitus tipo 2
Por ocasião do diagnóstico a insulinização oportuna do DM2 deve ocorrer quando a
glicemia estiver acima de 250 mg/dl com um ou mais dos seguintes critérios: perda de peso
significativa, sintomas graves e significantes e cetonúria.
Caso o indivíduo apresente glicemia acima de 250 mg/dl, cetoacidose diabética ou
estado de hiperosmolaridade e/ou doença grave será necessária a hospitalização.1
Por ocasião do curso do tratamento, quando a combinação de hipoglicemiantes orais
não efetivar um bom controle glicêmico, a insulinoterapia oportuna deve ser iniciada,
obedecendo a um processo de reposição progressiva com base nos resultados da HbA1c.
Em algumas situações como a gravidez, intercorrências clínicas graves, insuficiência
renal ou hepática e cirurgias, a insulinoterapia oportuna também deve ser realizada.
A figura 4 resume os principais aspectos referentes à insulinização oportuna do DM2.
140
Figura 4: Insulinização oportuna no diabetes mellitus tipo 2
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.42
Etapas e opções para o tratamento insulínico no DM2 segundo algoritmo da SBD
Etapa 1
Insulinização noturna - princípios
Indicada para usuários que,a despeito do uso de doses máximas de antidiabéticos
orais, não conseguem manter as metas (glicemia de jejum entre 70 e 130 mg/dL,
glicemia pós prandial < 160 mg/dL e HbA1c < 7 %).O objetivo é reduzir a produção
hepática de glicose e, assim, melhorar a glicemia de jejum.16,43
Manter a mesma dose dos antidiabéticos orais e iniciar com insulina de ação
intermediária (NPH) ao deitar ou análogo de insulina de ação prolongada (glargina ou
detemir).16,43
A dose da insulina NPH varia de 0,1 UI/Kg/dia (usuários magros) a 0,2 UI/Kg/dia
(usuários obesos). Geralmente iniciamos com 10 a 14 UI exceto nos usuários magros
onde a dose dever ser menor. Monitorizar a glicemia capilar de jejum diariamente e
aumentar gradualmente 2 UI, a cada 3 dias até se atingir glicemia de jejum entre 70 e
141
130 mg/dL. Se o usuário apresentar hipoglicemia ou a glicemia estiver abaixo de 70
mg/dL reduzir 4 UI. 16,43
Os análogos de insulina de ação prolongada (glargina ou detemir) exibem maior
previsibilidade no controle glicêmico que a NPH além de estarem associados ao
menor risco de hipoglicemia noturna e ganho de peso. A dose recomendada é a mesma
da insulina NPH.16,43
O usuário deve ser acompanhado com as glicemias capilares e a HbA1c. Se a
HbA1c estiver < 7 % manter o esquema acima. Se HbA1c > 7 % deve-se avaliar as
glicemias capilares durante o dia para continuar o processo de insulinização. 16,43
A insulinização noturna está sintetizada no fluxograma 2.
142
Fluxograma 2. Insulinização noturna no diabético tipo 2
Onde: UI = unidade internacional; Kg = quilograma;mg/dL = miligramas/decilitros; Hb =
hemoglobina. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde, 2013.17
Etapa 2
Insulinização basalplus
143
Está indicado em caso de hiperglicemia pós-prandial. Consiste em uma
aplicação de insulina intermediária (NPH) ao deitar ou do análogo de insulina de ação
prolongada (glargina ou detemir), associada a uma dose de insulina de ação rápida
(regular) ou análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro) na principal
refeição do dia, geralmente no almoço. Ao utilizar-se a insulina regular esta deve ser
aplicada 30 minutos antes da refeição e ao utilizar-se os análogos de ação ultrarrápida
(glulisina, asparte ou lispro) estes devem ser aplicados ao iniciar a refeição, 5 a 15
minutos antes ou imediatamente após. Iniciar com 4 UI e monitorizar a glicemia de
jejum diariamente aumentando gradualmente 2 UI, a cada 3 dias até se atingir a
glicemia pós-prandial < 160 mg/dL.16,43
Etapa 3
Insulinização basalplus
Caso a hiperglicemia pós-prandial ocorra após mais de uma refeição, o
esquema basalplus deve ser ampliado para uma segunda dose de insulina de ação
rápida (regular) ou análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro) para a
refeição onde a glicemia pós-prandial encontra-se elevada.16
Etapa 4
Insulinização plena
Para diabéticos que não conseguem manter as metas (glicemia de jejum entre
70 e 130 mg/dL, glicemia pós prandial < 160 mg/dL e HbA1c < 7 %), recomenda-se
iniciar com a insulinização plena, com duas doses com insulina de ação intermediária
(NPH), uma ao deitar e a outra no café da manhã. O análogo de insulina de ação
prolongada (detemir) poderá ser utilizado mantendo-se as 2 aplicações diárias. Já o
análogo de ação prolongada (glargina) é capaz de proporcionar níveis adequados de
insulina basal durante 24 horas podendo ser utilizado somente uma vez ao dia. Para
controlar as hiperglicemias pós-prandiais utilizam-se três doses de insulina de ação
144
rápida (regular) ou análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro)
correspondentes ao café, almoço e jantar.16,43
A segunda dose da NPH deverá ser iniciada pela manhã, na dose de 0,3 a
0,5UI/kg/dia sendo distribuída na proporção de 2/3 antes do café e 1/3 antes de
dormir.16,43
Em alguns casos pode ser necessário utilizar três doses de insulina de ação
intermediária (NPH) para oferecer uma cobertura mais eficaz nas 24 horas.17
O fracionamento das doses de insulina NPH está resumido no quadro 26.
Quadro 26. Possibilidades de fracionamento das doses de insulina NPH
Antes do café Antes do almoço Antes de deitar
2/3 NPH
1/3 NPH
1/3 NPH
1/3 NPH
1/3 NPH
Onde: NPH= Neutral Protamine de Hagedorn. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes 2011.1
OBS: Na insulinização plena, as medicações que estimulam a secreção da insulina podem ser
retiradas e mantidas aquelas que agem na sensibilização da insulina (metformina ou
glitazonas). Porém essa terapêutica combinada leva à retenção hídrica com aumento do peso
corporal e edema, principalmente quando se associa insulina com glitazona, devendo esta ser
prescrita com cautela em indivíduos com insuficiência cardíaca (IC). Usuários com IC estágio
III apresentam contra-indicação para o uso das glitazonas.16,43
Ajustes da insulina segundo as glicemias
Na ocorrência de glicemia elevada antes do almoço sugere-se adicionar
insulina de ação rápida (regular) ou análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou
lispro) no café da manhã.16,43
Se a glicemia estiver elevada antes do jantar sugere-se adicionar insulina de
ação intermediária (NPH) antes do café ou insulina de ação rápida (regular) ou do
análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro) no almoço. 16,43
Se a glicemia estiver elevada antes de dormir deve-se adicionar insulina de
ação rápida (regular) ou análogo de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro) no
jantar.16,43
145
O esquema de fornecimento da maior parte da dose de insulina NPH pela
manhã aumenta o risco de hipoglicemia antes do almoço e ao final da tarde, necessitando
de aumentar a ingestão de lanches em torno das 10 h e à tarde, entre 16 e 17 h, o que
resulta em uma maior ingestão calórica, ganho de peso e piora do controle do DM. Da
mesma forma, a administração de insulina NPH antes de jantar aumenta o risco de
hipoglicemia pela madrugada sendo mais indicado utilizá-la antes de dormir.16,43
O efeito da insulina NPH administrada à noite pode ser avaliado pelas
glicemias de jejum ou ainda glicemias da madrugada.16,43
O efeito da insulina NPH administrada pela manhã pode ser avaliado pela
glicemia antes do almoço e antes do jantar.16,43
A insulina regular, que também pode ser usada em situações de
descompensação aguda em esquemas de injeções múltiplas, pode ter seu efeito avaliado
pelas glicemias pós-prandiais. 16,43
As insulinas ultrarrápidas que também podem ser utilizadas em situações de
descompensação aguda em esquemas de injeções múltiplas, também podem ter o seu
efeito avaliado pelas glicemias pós-prandiais.16,43
Opções para o tratamento insulínico no DM 1 segundo algoritmo da SBD
No DM1, a insulinoterapia objetiva mimetizar a secreção endógena pancreática,
em regime basalbolus, para controlar a glicemia durante os vários períodos do dia, com menor
risco de hipoglicemia. Deve-se considerar, entretanto, a dificuldade prática para a utilização
de esquemas intensivos, uma vez que dependem de muitas picadas para aplicação da insulina
e para a sua monitorização. Os ajustes individuais mediante monitoramento glicêmico são
bastante necessários.16
Esquema com NPH associada à insulina regular ou ultrarrápida
Neste esquema o diabético utiliza 2 a 4 doses individualizadas de insulina de
ação intermediária (NPH) diariamente, em horários e doses prefixados, geralmente antes
de grandes refeições, associadas à insulina rápida (regular) ou análogos da insulina de
146
ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro).16
As doses totais diárias requeridas
encontram-se resumidas por situação no quadro 27.
Quadro 27. Requerimentos médios de insulina: dose total diária
Situação Dose total diária
Diagnóstico recente
0,3 a 0,5 UI/Kg/dia
Fase de remissão parcial ou “lua de mel”
< 0,5 UI/Kg/dia
Pré-púberes
0,7 a 1 UI/Kg/dia
Puberdade
1 a 2 UI/Kg/dia
Onde: UI = unidades internacionais e Kg = quilograma. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes,
2013.16
As doses de NPH podem ser distribuídas da seguinte maneira: se 2 doses por
dia, 2/3 antes do café e 1/3 antes de dormir; se 3 doses por dia, 40% antes do café, 30%
antes do almoço e 30% antes de dormir.16
No esquema de basalbolus a insulina rápida (regular) ou análogos da insulina
de ação ultrarrápida (glulisina, asparte ou lispro) devem ser distribuídos em 3 ou 4 bolus
pré-refeição.16
Esquema com glargina ou detemir associada à ultrarrápida
A glargina pode ser administrada antes do café, antes do jantar ou ao deitar,
entretanto o risco de hipoglicemia noturna é menor com a aplicação antes do café. 16
Já a detemir necessita de 2 aplicações por dia.16
Ao substituir-se a NPH pela glargina deve-se reduzir em 20 % da dose basal
para evitar hipoglicemia.16
Ao substituir-se a NPH pela detemir deve-se manter a mesma dose basal,
exceto se houver troca de 2 doses de NPH para 1 dose de detemir quando será necessário
reduzir 20 % da dose basal.16
Análogos de insulina ou bomba de infusão de insulina podem ser necessários
em casos de hipoglicemia grave.16
147
Orientações da Sociedade Brasileira de Diabetes para insulinização dos usuários diabéticos
Aplicação de insulina
Sobre esse quesito, o objetivo principal da equipe de saúde deverá ser o
desenvolvimento de habilidades específicas por parte do diabético para a utilização da
insulina.
Cada etapa para a aplicação de insulina deve seguir rigorosa padronização, evitando-se
assim erros técnicos que possam, entre outros, trazer prejuízos no controle do diabético.16
Os instrumentos disponíveis para a aplicação da insulina estão descritos a seguir.
a) Seringas e agulhas
As seringas devem ter escalas referentes à concentração de U-100.
As seringas podem ter agulha acoplada (fixa) ou removível. As seringas com agulha
acoplada (fixa) são melhores, pois suas apresentações (30, 50 e 100 UI) registram
precisamente doses pares e ímpares e não possuem espaço residual, permitindo misturar dois
tipos de insulinas.16
As seringas com agulha removível possuem em sua ponta um espaço morto (não
computado na escala numérica), que armazena até 5 UI de insulina, as quais não são
administradas ao usuário. Assim, ainda que essas seringas com agulha removível possam ser
usadas com segurança em aplicações com um único tipo de insulina, os seus inconvenientes
são o desperdício do produto e o fato dessa seringa não poder ser utilizada para retirar a
mistura de insulinas na mesma seringa, pois ocorreria erro na dosagem.16
Seringas com diferentes capacidades apresentam diferentes graduações. A seringa com
capacidade para 100 UI é graduada de 2 em 2 UI, a para 50 UI é graduada de 1 em 1 UI,
enquanto a para 30 UI é graduada de 1 em 1 UI, se a agulha for de 8 mm, e graduada de ½ em
½ UI se a agulha for de 6 mm.16
Para garantir a injeção adequada de insulina no subcutâneo (SC) deve-se observar o
comprimento da agulha e a correta técnica de aplicação.16
Agulhas longas, como as tradicionalmente recomendadas de 12,7 mm para adultos e
de 8 mm para a maioria das crianças, aumentam muito o risco de injeção intramuscular (IM).
148
Assim, para todas as pessoas, a melhor opção são as agulhas curtas.44
Essa recomendação
independente da idade, etnia, IMC e sexo, já que a espessura da epiderme e derme em adultos
é quase constante. É sabido que variações maiores podem ocorrer no tecido SC, mas, para
adultos, agulhas curtas de 4, 5, 6 e 8 mm estão indicadas, mesmo em obesos.44
Novas recomendações da SBD referentes ao uso das agulhas estão sistematizadas no
quadro 28.
Quadro 28. Indicações e recomendações para uso das agulhas
Agulhas Indicação Prega SC Ângulo de
inserção da
agulha
Recomendação
4 mm Todas as
pessoas
Dispensável
exceto para
crianças menores
6 anos
90° Realizar prega SC em
pessoas com escassez de
tecido SC
5 mm Todas as
pessoas
Dispensável
exceto para
crianças menores
6 anos
90° Realizar prega SC em
pessoas com escassez de
tecido SC
6 mm Todas as
pessoas
Indispensável 90° para
adultos
Realizar ângulo de 45°em
pessoas com escassez de
tecido SC
8 mm Adultos Indispensável 90° ou 45°
adultos
45° crianças
e
adolescentes
Realizar ângulo de 45°em
pessoas com escassez de
tecido SC
12,7
mm
Indicação
restrita para
todas as
pessoas
Indispensável 45° Alto risco de aplicação IM
Onde: SC = subcutâneo; IM = intramuscular. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2012.16
b) Canetas injetoras
Podem ser descartáveis ou reutilizáveis. As canetas são úteis especialmente para o uso
de múltiplas doses diárias (MDI); entretanto, não permitem as misturas de insulinas.16
c) Bomba de infusão de insulina
149
As bombas permitem a liberação contínua de insulina (basal) e por meio de pulsos
(bolus) no horário das refeições, ou para corrigir a hiperglicemia. Assim, são capazes de
proporcionar flexibilidade ao estilo de vida, particularmente em relação aos horários das
refeições e viagens.16
Local de aplicação da insulina
As regiões mais recomendadas para aplicação de insulina subcutânea encontram-se
especificadas a seguir e podem ser visualizadas na figura 5.16
Abdome: regiões lateral direita e esquerda, distantes de 4 a 6 cm da cicatriz
umbilical.
Coxa: face anterior e lateral externa. Em adultos compreende a região entre 12 e
15 cm abaixo do grande trocanter e de 9 a12 cm acima do joelho, em uma faixa de 7 a
10 cm de largura. Em crianças a região é a mesma, respeitando-se a proporcionalidade
corporal.
Braço: face posterior.
Nádega: quadrante superior lateral externo da região glútea.
Figura 5. Áreas de aplicação de insulina.
150
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2012.16
Visando à prevenção de lipo-hipertrofia, recomenda-se a prática de rodízio nos locais
de aplicação e que a distância entre as aplicações seja de aproximadamente 2 cm uma
da outra.16
A velocidade de absorção da insulina varia, entre outros, de acordo com a região de
aplicação da insulina, sendo maior no abdome, seguido de braços, coxas e nádegas, e de
acordo com a prática esportiva. A prática esportiva aumenta o fluxo sangüíneo ea absorção
torna-se mais rápida, sendo, portanto, desaconselhável a aplicação de insulina, na região do
corpo que será mais utilizada durante o exercício.16
A escolha do local de aplicação e o rodízio deverão ser discutidos e acordados junto ao
diabético. A insulina regular deve ser aplicada preferencialmente no abdômen para aumentar a
taxa de absorção, enquanto a NPH deve ser aplicada, preferencialmente, nas coxas ou nas
nádegas, para retardar a absorção e reduzir o risco de hipoglicemia.16
Técnica de aplicação de insulina
Etapa 1
Lavar cuidadosamente as mãoscom água e sabão. Reunir todo o material
necessário, ou seja, insulina prescrita, seringa com agulha e algodão embebido em
álcool 70%.
As insulinas NPH e as pré-misturas devem ser homogeneizadas lentamente, 20
vezes antes de cada aplicação, garantindo a ação da insulina, rolando o frasco com
movimentos interpalmares suaves, tomando o cuidado de não agitar o frasco
vigorosamente, até a mistura ficar homogênea.
Realizar a desinfecção da borracha do frasco de insulina com algodão embebido
em álcool 70%. Retirar o protetor do êmbolo, mantendo o protetor da agulha, puxar o
êmbolo, por sua extremidade inferior, até a graduação correspondente à dose de
insulina prescrita, tomando o cuidado de não tocar a parte interna do êmbolo (figura
6).
151
Figura 6. Técnica de aplicação insulina - Etapa 1
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013.17
Etapa 2
Retirar o protetor da agulha e injetar o ar dentro do frasco de insulina,
previamente desinfetado, pressionando o êmbolo até o seu final, sem retirar a agulha
(figura 7).
Figura 7. Técnica de aplicação insulina - Etapa 2
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013.17
Etapa 3
Posicionar o frasco de cabeça para baixo e puxar o êmbolo até a dose prescrita,
tomando o cuidado de não tocar a parte interna do êmbolo. Se houver presença de
bolhas de ar é possível eliminá-las golpeando-as com as pontas dos dedos e assim que
as bolhas atingirem o bico da seringa empurrar o êmbolo novamente e aspirar a
152
quantidade de insulina que falta. As pequenas bolhas de ar não são perigosas se
injetadas, mas sua presença reduz a quantidade de insulina a ser administrada. Retirar
a agulha do frasco, protegendo-a até o momento da aplicação (figura 8).
Figura 8. Técnica de aplicação insulina - Etapa 3
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013.17
Etapa 4
Realizar a antissepsia da pele com algodão embebido em álcool a 70% e esperar a
pele secar. Se for necessário realizar uma prega subcutânea usar os dedos polegar e
indicador. Manter a prega durante a injeção de insulina aguardando no mínimo 5 a 10
segundos antes da retirada da agulha. Em seguida, desfazer a prega.
A aspiração após a introdução da agulha é desnecessária quando se utiliza técnica
e equipamento adequados.
Técnica de mistura de insulinas
Para melhorar o controle glicêmico de alguns diabéticos é comum a prática de
misturar dois tipos de insulina na mesma seringa. Entretanto, nem todas as insulinas podem
ser associadas, conforme orientações sobre associações de insulinas do quadro 29.
Quadro 29. Orientações sobre associações de insulina
Insulina Associação Orientação (se pertinente)
NPH e Regular Sim Aspirar primeiro a insulina Regular
NPH e ultra-rápida Sim Utilizar imediatamente após o preparo
Glargina ou Detemir com outra
insulina Não
153
Onde: NPH = Neutral Protamine de Hagedorn. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
Técnica de preparo da mistura de insulinas
a) Lavar as mãos com água e sabão.
b) Separar a seringa e as insulinas.
c) Rolar o frasco de insulina de aspecto leitoso (NPH), levemente entre as mãos, no
mínimo 20 vezes, para garantir a homogeneização e ação correta da insulina.
d) Fazer assepsia da borracha dos frascos com álcool 70%.
e) Introduzir uma quantidade de ar na seringa igual à dose de insulina NPH prescrita.
f) Injetar o ar dentro do frasco que contém a insulina NPH. Sem extrair a insulina,
retirar a agulha.
g) Introduzir uma quantidade de ar na seringa igual à dose de insulina REGULAR ou
ULTRARRÁPIDA.
h) Injetar o ar dentro do frasco que contém insulina REGULAR ou
ULTRARRÁPIDA.
i) Neste momento começar a aspiração da insulina: virar o frasco e aspirar a insulina
lentamente até a marca da escala que indica a quantidade de insulina REGULAR/
ULTRARRÁPIDA prescrita.
j) Retornar o frasco para a posição inicial e retirar a agulha lentamente.
k) Pegar o frasco de insulina NPH. Com a mesma seringa que já contém a insulina
Regular/Ultrarrápida, introduzir a agulha nesse frasco de insulina NPH, segurando no
corpo da seringa para não perder a insulina Regular/ Ultrarrápida que está na seringa.
l) Aspirar lentamente a insulina NPH prescrita. O total preparado dentro da seringa
deve corresponder à soma das insulinas NPH + REGULAR/ULTRARRÁPIDA
prescrita.
m) Retirar a agulha do frasco e prosseguir obedecendo às mesmas recomendações
citadas na técnica de aplicação de insulina.
Se a quantidade aspirada for maior do que a necessária, recomenda-se descartar as
insulinas da seringa e reiniciar o procedimento.
Reutilização de seringas e agulhas
154
Conforme exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) –
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 156, de 11 de agosto de 2006 – as embalagens das
agulhas e seringas trazem a recomendação de uso único impressa.1
Em situações de extrema necessidade, se o usuário e a família optarem pelo
reaproveitamento, a técnica asséptica deverá ser rigorosamente orientada e observada:1
realizar higiene correta das mãos;
utilizar álcool a 70% para assepsia da borracha do frasco de insulina e da pele;
reencapar a seringa em local limpo e seco, não devendo ser lavada em água corrente
ou passada em álcool;
realizar uma aspiração de pequena quantidade de ar para evitar obstrução da agulha.
O usuário deve ser informado sobre a necessidade de observar rigorosamente as áreas
de aplicação da insulina para detecção de possíveis infecções ou processos inflamatórios e
também deve ser informado sobre possíveis alterações na absorção da insulina.1
Conservação dos frascos de insulina
Quanto ao armazenamento da insulina, algumas informações importantes devem ser
enfatizadas.
A insulina é sensível à luz direta e às temperaturas muito altas ou muito baixas. Os
frascos em estoque devem ser armazenados em geladeira, entre 2 e 8 graus. Na farmácia, a
geladeira deve ter monitoramento do controle de temperatura mínima e máxima, verificando,
por exemplo, se entre intervalos noturnos ou fins de semana a temperatura mínima abaixa de
zero. Tal situação é relevante, pois, no ponto de congelamento ocorre inativação de sua
atividade biológica o que não é percebido visualmente.
Em domicílio, o paciente deve ser bem orientado a manter os frascos em estoque na
parte baixa do refrigerador, próximo à gaveta de frutas, em sua embalagem original e
protegida da umidade.
O frasco em uso pode ficar fora da geladeira por período de até 30 dias, sendo,
portanto, pertinente marcar no frasco a data de sua abertura. Este frasco deve ficar no local
mais fresco da casa. Na dúvida, especialmente pelas elevadas temperaturas em Manaus, pode
155
se manter na geladeira, retirando de 15 a 30 minutos antes da aplicação para diminuir o
desconforto da aplicação.
Quanto ao transporte, por curto período de tempo (em torno de 4 a 6h), pode ser feito
sem refrigeração, desde que o frasco não seja exposto ao calor excessivo; sempre ao abrigo da
luz. Se o transporte ocorrer em isopor, pode ser sem gelo.Para viagem de longa duração
(acima de seis horas), recomenda-se conservar em isopor, mas sem contato direto com o gelo,
ou transportar em bolsa térmica. No caso de isopor, pode-se usar alguma barreira, como
pedaço de isopor, papelão, plástico bolha, etc.1 Não se deve colocar os frascos de insulinas
nos maleiros ou bagageiros dos carros.
Complicações da insulinoterapia
As principais complicações da insulinoterapia estão sintetizadas no quadro 30.
Quadro 30. Principais complicações da insulinoterapia
Tipo Explicação
Hipoglicemia
Está associada ao uso de doses incorretas de insulina, aplicação intramuscular,
omissão de refeições e realização de exercícios físicos sem os cuidados
necessários. Outros fatores que podem causar hipoglicemia são a insuficiência
adrenal, tireoideana, hipofisária, renal, hepática e o uso de álcool. O uso de beta-
bloqueadores pode mascarar os sintomas da hipoglicemia.
Lipodistrofia
O tipo mais comum é a lipo-hipertrofia e os principais fatores de risco para o seu
desenvolvimento são o tempo de uso da insulina, a freqüência do rodízio nos
pontos de aplicação e a quantidade de vezes que a agulha é reutilizada na auto-
aplicação. Nessas regiões a sensibilidade à dor pode diminuir significativamente.
A absorção da insulina é lenta e irregular levando à hiperglicemia. O usuário deve
ser orientado sobre:
evitar este local de aplicação da insulina;
realizar um rodízio nos locais de aplicação da insulina;
os riscos da reutilização de agulhas.
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
2.9.5 Autocuidado apoiado
156
O autocuidado refere-se às ações que os indivíduos desempenham rotineiramente para
prevenir, controlar ou reduzir o impacto das condições crônicas de saúde que eles apresentam.
O autocuidado está embasado no fato de que as pessoas com condições crônicas
conhecem tanto quanto, ou mais, de sua condição e de suas necessidades de atenção, que os
profissionais de saúde.
O autocuidado apoiado por profissionais de saúde em diabetes ajuda a melhorar os
resultados do controle dessa condição de saúde.
O principal objetivo do autocuidado apoiado para o diabético é gerar conhecimentos e
habilidades dos diabéticos para:
conhecer sua condição;
decidir e escolher seu tratamento;
adotar, mudar e manter comportamentos que contribuam para a sua saúde;
utilizar os recursos necessários para dar suporte às mudanças e;
superar as barreiras que se antepõem à melhoria da sua saúde.
Monitoramento da glicemia capilar
É parte integrante do autocuidado das pessoas especialmente com DM1, DM2 que
usam insulina e diabetes gestacional.
Trata-se da realização de medidas de glicemias capilares de forma sistematizada em
horários pré-definidos, a fim de se monitorar o controle do diabetes, por meio da evolução da
glicemia.
Dentre as vantagens do monitoramento da glicemia capilar destacam-se:
Adequar o tratamento ao estilo de vida do usuário;
Possibilitar ajustes na insulina de acordo com a necessidade diária de cada
usuário;
Promover maior flexibilidade na dieta e atividade física;
Detectar hipoglicemias assintomáticas;
Melhorar a prevenção de complicações crônicas.
157
Automonitoramento glicêmico
A automonitorização da glicemia capilar é a prática do diabético medir regularmente a
sua própria glicemia por meio de fitas reagentes e aparelhos glicosímetros.
Os usuários com DM beneficiados com os insumos de automonitoramento deverão
receber preferencialmente a prescrição específica desses insumos por parte da equipe de saúde
e estarem inscritos em programas de educação em diabetes.
Os programas de educação em diabetes devem estar inseridos no processo terapêutico
e devem abordar o cuidado clínico, a promoção da saúde, o gerenciamento do cuidado e as
atualizações técnicas relativas ao diabetes, objetivando o desenvolvimento da autonomia para
o autocuidado e a contínua melhoria do controle sobre a doença.45
Frequência recomendada para a realização de testes de glicemia capilar.
A frequência recomendada para a automonitorização glicêmica depende,
fundamentalmente, de fatores como o tipo de diabetes (tipo 1, tipo 2 ou gestacional), a
estabilidade ou instabilidade da doença e/ou dos níveis de glicemia e a presença de algumas
situações clínicas que demandam uma maior frequência de testes, tais como febre ou
infecção.
Conforme a ADA o automonitoramento da glicemia no diabético deve ser feito no
mínimo 3 vezes ao dia naqueles que utilizem injeções de insulina múltipla, ou nos que façam
uso da bomba de insulina.46
Entretanto, é desejável que a equipe de saúde é que oriente
formalmente qual a frequência ideal para o automonitoramento de cada caso.
Insumos e orientação para o automonitoramento da glicemia
Os principais insumos para o automonitoramento são: lanceta, lancetador, tira reagente
e glicosímetro. Esses materiais e a orientação específica para a sua adequada utilização estão
descritos em cartilha específica da SEMSA/Manaus.
2.10 Rastreamento e Acompanhamento das Complicações Crônicas (Lesões
de Órgãos-Alvo)
158
Fatores como a duração da doença, o grau de controle metabólico e a participação de
comorbidades como o tabagismo, a HAS e a dislipidemia estão relacionados com o
surgimento das complicações crônicas relacionadas ao DM. A prevenção ou retardo na
progressão destas complicações podem ser alcançados por meio do diagnóstico precoce e do
tratamento adequado.
As complicações crônicas podem ser classificadas como macrovasculares ou
microvasculares.
As macrovasculares incluem a doença arterial coronariana, a doença cerebrovascular
(vide item 1.13.5 "Ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral", da Seção 1) e a
doença vascular periférica (vide item 1.13.4. "Doença vascular periférica", da Seção 1).
As complicações crônicas microvasculares incluem a retinopatia e a nefropatia.
Adicionalmente, a neuropatia e o pé diabético são importantes complicações do DM.
Tais complicações estão intimamente relacionadas à hiperglicemia e outras condições
associadas, tais como a HAS, a dislipidemia e a microalbuminúria dentre outras. Intervenções
intensivas e de longo prazo sobre os múltiplos fatores de risco diminuem a incidência de
eventos tanto micro quanto macrovasculares em cerca de 50%.47,48
2.10.1 Complicações macrovasculares
Independentemente de comorbidades tais como a HAS e a dislipidemia, o DM
representa fator de risco para DCV.5
A DCV aterosclerótica é a principal causa de morte em
indivíduos diabéticos e a principal responsável pelos custos diretos e indiretos relacionados à
doença.
Análises sistemáticas da situação de saúde no âmbito do SUS apontam que a DCV
representa a principal causa de morte em nossa população e que as taxas referentes ao DM,
quando considerados apenas os óbitos por causa básica, apresentaram aumento de 10%, nos
últimos anos.49
O controle eficaz dos fatores de risco ou comorbidades relacionadas ao DM pode
prevenir ou, pelo menos, retardar a evolução da DCV nos diabéticos. Assim, sugere-se que
sejam realizadas modificações no estilo de vida (visando à manutenção do peso corporal
ideal), como o consumo de alimentação saudável, a prática regular de exercícios físicos e a
159
cessação do tabagismo. Ainda contribuem de forma relevante na prevenção da DCV em
diabéticos o manejo da PA, da dislipidemia e o uso de terapia antiplaquetária.50
Rastreamento e acompanhamento da doença coronariana
A presença de fatores de RCV deve ser pesquisada, pelo menos anualmente, em todo
diabético.7 Os fatores de risco para DCV em diabéticos podem ser vistos no quadro 31.
Quadro 31. Fatores de risco para doença cardiovascular em diabéticos
Fatores de risco
Tabagismo
Sedentarismo
Dislipidemia
HAS
História familiar de DAC prematura
SM
Idade (homens, acima de 40 anos e mulheres, acima de 50 anos)
Duração prolongada do DM (o risco aumenta em 86%, para cada 10 anos de diagnóstico)
Manifestação clínica prévia de doença aterosclerótica (DVP, DAC ou doença
cerebrovascular)
Nefropatia (proteinúria e diminuição da função renal)
Neuropatia diabética autonômica
Onde: DCV = doença cardiovascular; HAS = hipertensão arterial sistêmica; SM = síndrome
metabólica; DM = diabetes mellitus; DAC = doença arterial coronariana; DVP = doença vascular
periférica. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
Recomenda-se a realização de ECG de esforço nos casos de anormalidades no ECG de
repouso e na presença de sintomas cardiovasculares, sejam típicos ou atípicos. Não se
recomenda o rastreamento para DAC, em caráter rotineiro, em indivíduos assintomáticos.1,5
Em indivíduos com DCV diagnosticada, desde que não existam contra indicações, o
uso de IECA, aspirina e estatina deve ser iniciado com o objetivo de reduzir o risco de DCV.5
Controle da pressão arterial
A meta do tratamento é atingir níveis de PAS inferiores a 130 mmHg e PAD inferiores
a 80 mmHg.5,51,52
Em indivíduos com PAS entre 130 e 139 mmHg ou PAD entre 80 e 89 mmHg,
recomenda-se iniciar com medidas não farmacológicas. As medidas não-farmacológicas,
indicadas no tratamento da HAS, incluem: perda de peso, para indivíduos obesos; redução da
160
ingestão de sódio; aumento da ingestão de potássio, redução do consumo de álcool a níveis
moderados e aumento do nível de atividade física.5
Após três meses, caso esta meta não seja atingida, deve-se acrescentar tratamento
farmacológico. Nos casos de níveis de PAS ≥139 mmHg ou PAD ≥89 mmHg, deve-se iniciar,
prontamente, o tratamento farmacológico aliado às mudanças de estilo de vida.5
O tratamento farmacológico deve incluir IECA ou BRA, substituindo-se uma classe
pela outra no caso de intolerância. Caso não seja atingida a meta de controle dos níveis
pressóricos, recomenda-se adicionar diurético tiazídico para indivíduos com TFG ≥ 30
mL/min por 1.73 m2 ou diurético de alça, nos casos de TFG < 30 mL/min por 1.73 m
2. Se
forem utilizados IECA, BRA ou diuréticos recomenda-se acompanhar de perto a função renal
e a calemia.5
Para gestantes com DM e HAS, deve-se lembrar que IECA e BRA estão
contraindicados. A metildopa é considerada segura para uso durante a gravidez, assim como
alguns outros anti-hipertensivos (labetalol, diltiazem, clonidina e prazosin).5
Controle dos níveis lipídicos
Os níveis lipídicos devem ser medidos por ocasião do diagnóstico de DM e, a partir
daí, pelo menos anualmente. Caso necessário, esses níveis devem ser avaliados com maior
freqüência até se atingirem os alvos lipídicos. Quando atingidos os níveis lipídicos adequados,
a avaliação poderá ser anual.1 As metas a serem atingidas para o perfil lipídico podem ser
vistas no quadro 32.
Quadro 32. Metas para o perfil lipídico no indivíduo diabético
Itens Valores
Colesterol LDL
<100 mg/dL
Se DCV evidente: pensar em atingir níveis <70
mg/dL
Colesterol HDL 40 mg/dL, em homens
50 mg/dL, em mulheres
Triglicérides <150 mg/dL
Onde: LDL = colesterol LDL; HDL = colesterol HDL; DCV = doença cardiovascular; mg/dL=
miligrama/decilitro. Fonte: American Diabetes Association, 20125 e Sociedade Brasileira de
Diabetes, 2011. 1
161
São importantes intervenções nãofarmacológicas: diminuir ingestão de gorduras
saturadas, gorduras trans e colesterol; aumentar a ingestão de ácidos graxos ômega-3 e fibras;
perda de peso (quando indicada) e aumento do nível de atividade física.7
As estatinas estão indicadas em adição às medidas não farmacológicas,
independentemente dos valores do perfil lipídico:
em diabéticos com DCV já diagnosticada;
naqueles sem DCV, com idade superior a 40 anos, na presença de um ou mais fatores
de risco para DCV;
em indivíduos que, mesmo sem fatores de risco, não conseguem atingir níveis de
colesterol LDL<100mg/dL e
em indivíduos com fatores de risco, que não conseguem atingir níveis de colesterol
LDL<70 mg/dL.
Em indivíduos em uso de dose máxima de estatinas, que não atingem as metas, a
redução dos níveis de colesterol LDL em 30 a 40%, em relação aos valores basais é uma
alternativa.5
Alguns cuidados especiais quanto ao uso de estatinas devem ser tomados:
O uso de estatinas é contra-indicado na gestação;
A terapia combinada de estatina e fibrato ou estatina e niacina, embora possa ser eficaz
no tratamento das três frações lipídicas, está associada ao risco de elevação das
transaminases, miosite e rabdomiólise.5
Terapia com antiagregantes plaquetários
O uso de aspirina, na dose de 75 a 162 mg/dia, está indicado para os seguintes
diabéticos:
Homens acima de 50 anos de idade ou mulheres acima de 60 anos de idade com
pelo menos um fator de risco adicional, como história familiar de DCV, tabagismo,
dislipidemia ou albuminúria, mesmo sem diagnóstico de doença aterosclerótica.5,50,53
DCV estabelecida, como estratégia de prevenção secundária.5
Já o clopidogrel, na dose de 75 mg/dia, está indicado em usuários com DCV e reação
de hipersensibilidade à aspirina.5,50
Após episódio de síndrome coronariana aguda,
162
recomenda-se, pelo período de um ano, o uso de terapia combinada de aspirina e clopidogrel.5
O uso de aspirina em menores de 21 anos não é aconselhável.50
Combate ao tabagismo
Em diabéticos, o tabagismo se relaciona com DCV, complicações microvasculares e
morte prematura. Assim, o grau de dependência à nicotina deve ser avaliado, por estar
associado à dificuldade do abandono do tabagismo e às recidivas.5,54
Todos os diabéticos devem ser orientados a parar de fumar. A SEMSA/Manaus disponibiliza
ambulatórios específicos com esse objetivo, com fluxos definidos na rede. Além do
aconselhamento, outras formas de tratamento do tabagismo estão indicadas.5
2.10.2 Complicações microvasculares
Retinopatia diabética
O DM determina a principal causa de cegueira, na faixa etária de 20 a 74 anos, e eleva
a frequência e a precocidade de outras oftalmopatia, como catarata e glaucoma.5,55
A duração do DM, a hiperglicemia crônica, a presença de nefropatia, a HAS, a
dislipidemia, a anemia e a gestaçãoestão relacionadas com a prevalência da retinopatia.5,56,57,58
O controle da glicemia é eficaz tanto para prevenir como retardar a progressão da
retinopatia diabética.5,59,60,61
É também fundamental a manutenção de níveis pressóricos
adequados.5,62
A fundoscopia considera o risco de perda da visão e permite a classificação da
retinopatia diabética, a qual pode ser observada no quadro 33.
163
Quadro 33. Classificação da retinopatia diabética
Tipo Grau ou detalhamento, se pertinente
Retinopatia não proliferativa
Leve: microaneurismas, hemorragias intra-retinianas, exsudatos
duros
Moderada: manchas algodonosas, veias em rosário,
anormalidades microvasculares retinianas
Intensa: perda de capilares, microaneurismas, hemorragias
retinianas extensas
Retinopatia proliferativa Neovascularização, que pode levar à tração retiniana e
deslocamento de retina
Maculopatia
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
Recomenda-se encaminhar ao serviço oftalmológico os casos de edema macular, retinopatia
diabética não proliferativa grave ou retinopatia diabética proliferativa.
Gestantes diabéticas devem ser informadas sobre o risco de desenvolvimento ou progressão
da retinopatia diabética e realizar avaliação oftalmológica, a intervalos regulares, a partir do
primeiro trimestre e até um ano após o parto.5
A presença de retinopatia não representa contra indicação à utilização de aspirina, para
proteção cardiovascular, tendo em vista que essa terapia não aumenta o risco de hemorragia
retiniana.5
Como exame de triagem, a retinografia tem boa indicação e pode ser agregada à
realização da fundoscopia pelo profissional médico.
A proposta de rastreio da retinopatia diabética é apresentada no quadro 34.
Quadro 34. Rastreamento da retinopatia diabética
Exame inicial
DM1: adultos e crianças acima de 10 anos de idade, após cinco anos de doença
DM2: logo após o diagnóstico
Exames subsequentes
Anual, tanto para DM1 quanto DM2
Menos freqüente (cada 2 ou 3 anos), se avaliação for normal
Mais freqüente, nos casos de progressão da retinopatia
Avaliar os níveis pressóricos, o controle da glicemia e o perfil lipídico e ajustar a terapêutica, se
necessário
Pesquisar a presença de outras complicações do DM Onde: DM1 = diabetes mellitus tipo 1;DM2 = diabetes mellitus tipo 2. Fonte: adaptado de Canadian
Diabetes Association Clinical Practice Guidelines Expert Committee, 1988.48
O tratamento de escolha da retinopatia diabética é a fotocoagulação com laser, capaz
de reduzir o risco de perda visual em indivíduos com edema macular clinicamente
164
significativo, retinopatia proliferativa e, em alguns casos, de retinopatia não proliferativa
grave. Ainda que a fotocoagulação seja benéfica na redução do risco de perda visual futura
decorrente de hemorragias vítreas, glaucoma neovascular e descolamento de retina,
geralmente não tem efeito sobre as perdas visuais já instaladas.5
Nefropatia diabética
A nefropatia diabética, uma das principais causas de DRC, ocorre em 20 a 40% dos
diabéticos. A proteinúria constitui o seu marcador e representa importante fator de RCV. Os
valores da proteinúria utilizados para o diagnóstico de nefropatia diabética estão expostos no
quadro 35.
Quadro 35. Valores da proteinúria para o diagnóstico de nefropatia diabética
Situação
Valores por tipo de coleta de urina
Urina com tempo
marcado (µg/min)
Urina de 24 horas
(mg/24 h)
Amostra isolada
(relação UA/UC) Normoalbuminúria < 20 < 30 < 0,030
Microalbuminúria 20 a 199 30 a 299 0,030 a 0,299
Macroalbuminúria ≥ 200 ≥ 300* ≥ 0,30
Onde: UA/UC = relação albumina/creatinina em amostra isolada de urina; µg/min = micrograma por
minuto. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2011.1
* Corresponde ao valor de proteína total de
500 mg/24h.
Várias intervenções são capazes de diminuir o risco da nefropatia diabética ou, pelo
menos, retardar a sua progressão.5,63
Tanto no DM1 quanto no DM2, o controle da glicemia retarda o surgimento da
microalbuminúria e a progressão da nefropatia diabética.5,52,61,62
O controle da PA também
resulta nos mesmos achados. O uso de IECA e/ou BRA também retarda a progressão da
nefropatia diabética.5,63,64
Recomenda-se a dosagem anual da creatinina sérica, independente da presença de
microalbuminúria visando à estimativa da TFG, a partir da equação do Chronic Kidney
Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI) - ver item 3.4. “Diagnóstico" e a
categorização da DRC).5,65
O Fluxograma 3 apresenta uma proposta de investigação para nefropatia diabética.
165
Fluxograma 3. Diagnóstico de nefropatia diabética de acordo com a presença de
proteinúria
Onde: EAS = elementos anormais e sedimento; UA/UC = relação albumina/creatinina em amostra
isolada de urina. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013.17
Para análise correta desse fluxograma, torna-se importante afastar possíveis
confundidores que podem aumentar a excreção urinária de albumina, tais como exercício
físico 24 horas precedentes ao exame, infecção, febre, HAS grave, insuficiência cardíaca
congestiva e descompensação do DM.5
166
Segundo a Canadian Diabetes Association, o estadiamento da nefropatia diabética é
apresentado no quadro 36.
Quadro 36. Estadiamento da nefropatia diabética
Onde: TFG = taxa de filtração glomerular; HAS = hipertensão arterial sistêmica; DRC = doença
renal crônica; mg = miligrama, µg/min = micrograma por minuto. Fonte: adaptado de Canadian
Diabetes Association Clinical Practice Guidelines Expert Committee,1998.48
Recomenda-se o uso de IECA ou BRA, na presença de micro ou macroalbuminúria,
substituindo-se uma classe pela outra, nos casos de intolerância.
Recomenda-se avaliação anual da excreção urinária de albumina, por ocasião do diagnóstico,
no DM2 e após cinco anos de doença, no DM1 albumina para acompanhamento da resposta
ao tratamento e da evolução da doença.1,5
Para otimização da função renal, deve-se recomendar a redução da ingestão protéica
para 0,8 a 1,0 g/kg de peso corporal, nos casos de DRC em estágios iniciais e para 0.8 g/kg de
peso corporal na presença de DRC avançada.
Ao se utilizar IECA, BRA ou diurético deve-se monitorar os níveis séricos de
creatinina e potássio devido ao risco de doença renal aguda e hiperpotassemia.5 Diuréticos,
bloqueadores do canal de cálcio e betabloqueadores podem ser usados como tratamento
adicional no controle da PA ou como tratamento alternativo nos casos de intolerância aos
fármacos de escolha.1,5,66
Complicações decorrentes da DRC devem ser investigadas quando a TFG for menor
que 60 mL/min/1,73m2. Os casos de dúvida quanto à etiologia da doença renal (proteinúria
maciça, ausência de retinopatia, sedimento urinário ativo, rápido declínio da função renal),
dificuldade de tratamento ou doença renal avançada devem ser encaminhados ao
nefrologista.5
Estágios Caracterização
1 Aumento da taxa TFG
2 Hiperfiltração e hipertrofia glomerular
3 Microalbuminúria: excreção urinária de albumina entre 30 e 300 mg/24 horas (ou 20 a
200 µg/min)
4
Macroalbuminúria: excreção urinária de albumina > 300 mg/24 horas
HAS
Diminuição da TFG
5 DRC e indicação de terapia renal substitutiva
167
2.10.3 Neuropatia diabética
A neuropatia diabética abarca um grupo heterogêneo de manifestações clínicas,
podendo ser focal ou difusa, sendo a polineuropatia sensitiva simétrica distal (PNSSD) e a
neuropatia autonômica (cardiovascular, respiratória, digestiva e genitourinária) as formas
mais comuns da doença.1
A prevalência da neuropatia diabética é elevada e progressiva com a evolução
temporal da doença, chegando a 50 % em diferentes grupos de pacientes.67
Pode-se detectar distúrbio neurológico precocemente na evolução do DM2, desde o
momento do seu diagnóstico, enquanto no DM1, geralmente surge após 5 ou mais anos do seu
diagnóstico.
O acometimento neurológico está na maior parte dos casos associado à retinopatia e
nefropatia diabéticas.
O controle rigoroso da glicemia é capaz de prevenir a neuropatia diabética. O controle
da dislipidemia, da pressão arterial, o abandono do tabagismo e a redução no consumo do
álcool também devem ser recomendados.1,5,67
Neuropatia autonômica
A neuropatia autonômica pode acometer diferentes sistemas; entretanto, do ponto de
vista clínico, é a neuropatia autonômica cardiovascular a forma mais relevante, já que se
relaciona à morte súbita e à isquemia miocárdica silenciosa.67
As principais manifestações clínicas da neuropatia autonômica incluem:
taquicardia em repouso (freqüência cardíaca superior a 100 batimentos/minuto);
intolerância ao exercício;
hipotensão postural (queda superior a 20 mmHg, na pressão sistólica, quando o
indivíduo assume a posição ortostática);
constipação intestinal;
gastroparesia;
disfunção erétil;
disfunção sudomotora
instabilidade metabólica.1,5,67
168
Polineuropatia sensitiva simétrica distal
A forma mais comum de neuropatia diabética é a PNSSD.
Metade dos casos é assintomático, o que associado à perda da sensibilidade propicia
que os indivíduos estejam expostos a risco de lesão nos seus pés. Na presença de
sintomatologia, os sintomas mais comuns são dor em queimação, principalmente à noite e,
sobretudo, nas extremidades inferiores, parestesias e hiperestesia.67
O diagnóstico da PNSSD baseia-se na anamnese, com análise dos sinais e sintomas
mais típicos, e na realização dos testes neurológicos.
Os testes neurológicos básicos envolvem as avaliações da sensibilidade e a pesquisa de
reflexos tendinosos.16
Testes de avaliação da sensibilidade
Avaliação da sensibilidade tátil: monofilamento de 10 g
A figura 9 ilustra a técnica de utilização do monofilamento de 10 g. Ele deve ser
utilizado perpendicularmente à pele com pressão suficiente para curvar o filamento de nylon e
que deve durar cerca de 1 segundo. As áreas a serem pesquisadas são a cabeça do 1°, 3° e 5°
metatarsos e superfície plantar distal do hálux.68,69
O indivíduo, de olhos fechados, deverá
responder “sim” ao sentir o toque e o encontro de qualquer área insensível sugere perda da
sensibilidade protetora.
169
Figura 9. Uso do monofilamento de 10 g
Fonte: Boulton, 2008 68
Avaliação da sensibilidade dolorosa: palito ou pino
Avaliação sensibilidade vibratória: diapasão de 128 Hz
Avaliação da sensibilidade térmica: quente ou frio
Pesquisa de reflexos tendinosos: aquileu, patelar ou tricipital
Para o rastreamento de PNSSD por meio da pesquisa da perda da sensibilidade
protetora plantar (PSPP), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a exemplo da
NeurALAD 2008, chancela as recomendações da American Diabetes Association (ADA) de
associar o monofilamento de 10 g a um ou mais dos seguintes testes neurológicos: pino ou
palito (sensibilidade dolorosa profunda), sensibilidade vibratória (diapasão 128 Hz) e reflexos
aquileus (martelo).
A combinação de pelo menos dois testes tem sensibilidade superior a 87% em detectar
a doença.
A perda da sensibilidade tátil detectada pelo monofilamento e a diminuição da
sensibilidade vibratória são preditores de úlcera de pé.1,5,67
Para o diagnóstico de PNSSD, a caracterização do quadro clínico pode ser consolidada
por meio de sistemas de escores, como os apresentados a seguir.70
170
Quadro 37. Escore de sintomas neuropáticos
Perguntas Respostas Escore
1.O(a) senhor(a) tem demonstrado dor ou desconforto
nas pernas?
( ) Se NÃO, interromper
a avaliação
( ) Se SIM, continuar a
avaliação
2.Que tipo de sensação mais o(a) incomoda? (Descrever
os sintomas se o paciente não citar nenhum deles)
( ) Queimação ,
dormência ou
formigamento (2 pts)
( ) Fadiga, câimbras ou
prurido (1 pt)
3.Qual a localização mais frequente desse(a) (sintoma
descrito)?
( ) Pés (2 pts)
( ) Panturrilha (1 pt)
( ) Outra localização (0
pt)
4.Existe alguma hora do dia em que este(a) (sintoma
descrito) aumenta de intensidade?
( ) Durante a noite (2
pts)
( ) Durante o dia e a
noite (1 pt)
( ) Apenas durante o dia
(0 pt)
5.Este(a)(sintoma descrito) já o(a) acordou durante a
noite?
( ) Sim (1 pt)
( ) Não (0 pt)
6. Alguma manobra que o(a) senhor(a) realiza é capaz
de diminuir este(a) (sintoma descrito)? (Descrever as
manobras para o paciente, se ele não citar nenhuma
delas)
( ) Andar (2 pts)
( ) Ficar de pé (1 pt)
( ) Sentar ou deitar (0
pt)
Total de pontos (soma)
Fonte: Adaptado de Young MJ, Boulton AJM, Macleod AF e cols,1993.71
171
Quadro 38. Escore de sinais neuropáticos
Exame
Pontuação Pé Direito Pé Esquerdo
Reflexo Aquileu
(0) normal
(1) presente com reforço
(2) ausente
Sensação
Vibratória
(0) presente
(1) reduzido/ausente
Dolorosa
(0) presente
(1) reduzido/ausente
Térmica
(0) presente
(1) reduzido/ausente
Total parcial de pontos (por pé)
Total de pontos (pé direito + pé esquerdo)
Fonte: Adaptado de Young MJ, Boulton AJM, Macleod AF e cols, 1993.71
Para a interpretação dos escores os seguintes valores podem ser utilizados, conforme
quadro 39.
Quadro 39. Interpretação dos escores de sintomas e sinais neuropáticos
Escore de Sintomas Neuropáticos Escore de Sinais Neuropáticos
0-2 ( ) Sintomas não relevantes 0-2 ( ) Sinais não relevantes
3-4 ( ) leve 3-5 ( ) leve
5-6 ( ) moderado 6-8 ( ) moderado
>7 ( ) grave 9-10( ) grave
Fonte: Adaptado de Pedrosa, HC, 2010.70
Sugere-se que, concomitante ao diagnóstico da polineuropatia diabética, a avaliação da
intensidade do sintoma neuropático seja realizada. Para tal, uma escala visual analógica (EVA)
como a que se segue pode ser utilizada.
172
Figura 10. Escala Visual Analógica (EVA)
Sem dor (0mm)_____________________________________________________Pior dor possível (100mm)
OBS: Essa escala deve ter 100mm.
A mensuração deve ser realizada em mm e a intensidade da dor será classificada em
leve (< 40mm); moderada (se ≥ 40-69mm) e grave (se ≥70mm).
Assim, o diagnóstico de polineuropatia diabética e dor neuropática podem observar os
aspectos propostos no quadro a seguir:
Quadro 40. Diagnóstico de polineuropatia diabética
Condição Critério
PND dolorosa Escore de sintomas 05 e escore de sinais neuropáticos ≥ 03
PND com risco de
ulceração
Escore de sinais: ≥ 06 com ou sem sintomas
PND assintomática (somente escore de sinais): Leve 03 ( ) / moderada ≥ 05 ( ) /
grave ≥ 07 ( )
Dor neuropática Escore de sintomas ≥ 05 (sinais ausentes) e/ou EVA ≥ 40mm
Fonte: Adaptado de Pedrosa, HC, 2010.70
Deve-se registrar a necessidade de intervenção terapêutica se escore de sintomas ≥
05 e/ou EVA Escore ≥ 40mm.
Para fins de organização da Rede Saúde Manauara, a SEMSA/Manaus propõe como triagem
da PNSSD, em nível da atenção primária à saúde, a pesquisa da perda da sensibilidade
protetora plantar (PSPP) com o monofilamento de 10 g e com os seguintes testes
neurológicos: sensibilidade dolorosa profunda (pino ou palito), sensibilidade vibratória
(diapasão 128 Hz) e sensibilidade térmica (algodão com álcool). O teste de monofilamento
alterado, junto com a alteração de mais um desses testes de sensibilidade confirmam o
diagnóstico de PSPP. Nesses casos, o usuário deverá ser encaminhado à atenção secundária
para que o diagnóstico de PNSSD seja investigado.
173
Indivíduos com neuropatia, principalmente graves, devem ser investigados quanto ao
diagnóstico diferencial com outras etiologias, tais como, uso de medicações neurotóxicas,
intoxicação por metais pesados, etilismo, deficiência de vitamina B12 (sobretudo, no caso de
uso prolongado de metformina), doença renal, neuropatias inflamatórias desmielinizantes,
neuropatias hereditárias e vasculite.5,67
2.10.4. Pé diabético
Conceitua-se pé diabético como infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles
associados a alterações neurológicas e a vários graus de doença arterial periférica nos
membros inferiores.69
No que se refere às ulcerações, estima-se que o pé diabético apresente uma prevalência
entre 4% e 10%, sendo projetada uma incidência de 25% de ulceração ao longo da vida entre
os diabéticos. Oitenta e cinco por cento das úlceras precedem as amputações, as quais são um
importante problema de saúde pública.69
A neuropatia diabética, abordada no item anterior, é o elemento etiológico mais
importante do pé diabético, embora frequentemente esteja associada a outros fatores de risco
expostos no quadro 41.
Quadro 41. Fatores de risco para úlcera de pé e amputação
Fatores de risco para úlcera e amputação
Amputação prévia
História de ulceração prévia
Duração do DM superior a 10 anos
Neuropatia periférica
Deformidade nos pés
Uso de calçados inadequados
Doença arterial periférica
Diminuição da acuidade visual – retinopatia
Nefropatia diabética (principalmente usuários em tratamento dialítico)
Mau controle glicêmico – HbA1c > 7%
Tabagismo Onde: DVP = doença vascular periférica. Fonte: American Diabetes Association, 2012
7/ Boulton,
2008.68
174
A PSPP constitui-se em fator determinante para o desenvolvimento de ulcerações e
maior vulnerabilidade a traumas, conferindo um risco de ulceração 7 vezes maior, devendo
portanto ser investigada em nível da atenção primária à saúde.
Conforme exposto no item anterior, para a organização da Rede Saúde Manauara, por
ocasião do exame clínico, recomenda-se para a confirmação da PSPP a realização dos testes
do monofilamento + os seguintes: dor, vibração e sensibilidade térmica.
O achado de um teste neurológico anormal sugere PSPP.5,68,69
O monofilamento insensível e
outro teste neurológico alterado confirmam PSPP.1
Recomenda-se para todos os diabéticos a realização de uma avaliação completa dos
pés anualmente, a qual requer a anamnese e o exame dos pés.16,69
Merecem destaque na
avaliação dos pés no indivíduo diabético os seguintes pontos apresentados no quadro 42, o
qual também evidencia a necessidade de uma adequada avaliação vascular.
Quadro 42. Avaliação dos pés
Item Aspecto investigado
História clínica
antecedentes de ulceração ou amputação
sintomas vasculares
sintomas neuropáticos
diminuição da acuidade visual
tabagismo
rotina de cuidados com os pés
Inspeção integridade da pele
deformidades músculo-esqueléticas
Avaliação vascular história de claudicação
palpação de pulsos pediosos;
Avaliação neurológica
avaliação da sensibilidade tátil:
monofilamento de 10 g
avaliação da sensibilidade dolorosa: pino ou
palito
avaliação sensibilidade vibratória: diapasão
de 128 Hz
avaliação do limiar de percepção vibratória:
bioestesiômetro
pesquisa do reflexo Aquileu
Onde: g = gramas; HZ = hertz. Fonte: American Diabetes Association, 2012.
5/ Boulton, 2008.
68/
Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético, 1999.69
175
Os principais aspectos a serem observados no exame dos pés encontram-se resumidos
a seguir:
Condições dermatológicas como pele seca, rachaduras, fissuras, unhas
hipotróficas ou encravadas, maceração interdigital, calosidades. A dilatação
dos vasos dorsais dos pés e a ausência de pêlos constituem condições pré-
ulcerativas.
Deformidades
Testes neurológicos de avaliação da sensibilidade
Avaliação da sensibilidade tátil: monofilamento de 10 g
Avaliação da sensibilidade dolorosa: palito ou pino
Avaliação sensibilidade vibratória: diapasão de 128 Hz
Avaliação da sensibilidade térmica: quente ou frio
Pesquisa de reflexos tendinosos: aquileu, patelar ou tricipital
Em indivíduos com sintomas de doença arterial periférica, o ITB deve ser solicitado
(Item 1.13.4 "Doença Vascular Periférica"). Tendo em vista a elevada prevalência de doença
arterial periférica assintomática, em indivíduos diabéticos, indica-se a avaliação do ITB nas
seguintes situações:
Todos os indivíduos acima de 50 anos de idade;
Indivíduos com menos de 50 anos, mas que apresentem outros fatores de risco,
tais como HAS, tabagismo, dislipidemia, duração do DM.5
Indivíduos sintomáticos ou com ITB alterado devem ser encaminhados ao cirurgião
vascular e receber orientação quanto à atividade física, medicação e opções cirúrgicas.5
Recomenda-se realizar a avaliação vascular dos pés na APS por meio do ITB ou, se esse for
inviável, por meio da aplicação do questionário de claudicação de Edimburgo (item 1.9.4.
Doença vascular periférica) e da pesquisa da ausência de pulsos (pedioso e tibial posterior).
Qualquer alteração em algum destes exames é critério de encaminhamento desses indivíduos
para a atenção secundária.
176
O conteúdo de educação em saúde para todo diabético deve incluir orientações sobre
os fatores de risco para o pé diabético, conseqüências da perda da sensibilidade protetora
plantar, importância do exame diário dos pés e do cuidado apropriado com os pés, incluindo
pele e unhas e escolha do calçado adequado.5
As principais orientações referentes aos cuidados com os pés a serem compartilhadas
dentro do programa de educação em DM são apresentadas no quadro 43.
Quadro 43. Cuidados com os pés
Principais recomendações
Realizar a inspeção diária dos pés (observar espaço entre os dedos e planta dos pés)
Lavar os pés diariamente com água morna e enxugar bem, especialmente, entre os dedos
Não usar meias com costuras internas ou externas e trocá-las diariamente
Evitar andar descalço, mesmo dentro de casa
Não usar agentes químicos ou emplastros nos pés
Usar hidratantes ou óleo vegetal, evitando as áreas entre os dedos
Cortar as unhas em linha reta
Solicitar ao profissional de saúde o exame anual dos pés
Comunicar à equipe de saúde a presença de qualquer lesão nos pés (bolhas, descoloração,
edema, arranhaduras ou traumatismos) Fonte: Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético, 1999.
69
Diabéticos com perda da sensibilidade protetora plantar devem utilizar outras
modalidades sensoriais de autoexame como palpação e inspeção visual.
Uma proposta de acompanhamento desses indivíduos de acordo com as suas
categorias de risco é apresentada no quadro 44.
177
Quadro 44. Classificação de risco baseada no exame dos pés
Grau de
risco
Manifestações clínicas Abordagem
Risco 0 - Ausência de PSPP,
DAP e deformidades
- Educação.
- Avaliação anual na atenção primária.
- PSPP presente sem
neuropatia (a avaliação
diagnóstica de
neuropatia será
realizada na atenção
secundária à saúde)
- Educação terapêutica.
- Acompanhamento semestral com a
enfermagem na APS.
- Acompanhamento anual com a enfermagem na
ASS.
Risco 1 - PSPP e neuropatia
presentes.
- Sem deformidades.
- Educação terapêutica.
- Uso de calçados adequados.
- Acompanhamento trimestral na APS.
- Acompanhamento multiprofissional anual na
ASS.
Risco 2 - PSPP e neuropatia
presentes e
- Deformidade e/ou
doença vascular
periférica.
- Educação terapêutica.
- Cirurgia para a correção das deformidades, se
indicada.
- Se DAP, consulta com angiologista/cirurgião
vascular.
- Uso de calçados adequados ou terapêuticos
com palmilhas. Se necessário uso de órteses.
- Acompanhamento semestral na APS.
- Acompanhamento semestral na ASS.
Risco 3 Úlcera e/ou amputação
prévias.
- Educação terapêutica
- Calçados terapêuticos com solado rígido em
mata borrão e palmilhas individualizadas.
- Se DAP, acompanhamento com
angiologista/cirurgião vascular.
- Acompanhamento semestral na APS.
- Acompanhamento quadrimestral na ASS.
Onde: PSP = perda da sensibilidade protetora; DAP = doença arterial periférica; APS = atenção
primária à saúde e ASS = atenção secundária à saúde. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas
Gerais, 2013.17
Doença arterial periférica
178
O principal fator de risco para amputação de membro inferior (uma das principais
complicações do pé diabético) é a doença arterial periférica, a qual também está relacionada à
DCV.
O risco de doença arterial periférica também se relaciona com a presença de
neuropatia periférica, sendo os sítios de oclusão mais frequentes o femoropoplíteo e o tibial.72
O sintoma mais comum da doença arterial periférica é a claudicação intermitente. A
doença arterial periférica pode ser avaliada conforme item 1.13.4. “Doença vascular
periférica”. As manifestações mais graves da doença arterial periférica incluem a dor em
repouso e a gangrena, configurando a chamada isquemia crítica. Os elementos para
diagnóstico da doença arterial periférica estão resumidos no quadro 45.
Quadro 45. Avaliação da doença arterial periférica
Tipo de avaliação Itens a serem avaliados
Anamnese Claudicação intermitente
Dor em repouso
Feridas que não cicatrizam
Gangrena
A doença pode ser assintomática
Se não há relato espontâneo de claudicação, essa informação deve ser
dirigida na anamnese
Exame físico Rubor ou palidez, à elevação do membro ausência de pelos
Unhas distróficas
Pele fria, seca e com fissuras
Examinar espaços interdigitais a procura de fissuras, ulcerações e
infecções.
Palpar pulsos femoral, poplíteo, tibial posterior e dorsal do pé
Fonte: American Diabetes Association, 20127/ Boulton, 2008.
40
O item 1.13.4 apresenta algumas bases para o tratamento da doença arterial periférica.
Merecem destaque algumas recomendações:
É fundamental o abandono do tabagismo, o principal fator de risco modificável
para doença arterial periférica;1,72
Recomenda-se atingir níveis de hemoglobina glicada <7%, pelo menos para
prevenção da doença microvascular;1,72
A obtenção de níveis pressóricos inferiores a 130/80 mmHg, reduz o RCV;5
179
Em indivíduos com dislipidemia, recomenda-se atingir níveis de colesterol LDL
inferiores a 100 mg/dl. Nos casos de DCV já estabelecida, pode-se atingir níveis de
colesterol LDL inferiores a 70 mg/dL;1,5,72
Orientar o uso de anti-agregantes plaquetários (aspirina ou clopidogrel). Na
presença de DM e doença arterial periférica, o clopidogrel seria a droga de escolha;72
Na presença de claudicação intermitente, devem-se recomendar exercícios físicos
supervisionados;72
A pentoxifilina e o cilostazol são agentes farmacológicos previstos, sendo o
último o de escolha em diabéticos com doença arterial periférica.72
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186
SEÇÃO 3 – DOENÇA RENAL CRÔNICA
3.1 Conceito
O termo DRC refere-se à ocorrência de TFG <60 mL/min/1,73m2 ou 60
mL/min/1,73m2, associada a pelo menos um marcador de lesão do parênquima renal (p. ex.,
micro ou macroalbuminúria e/ou hematúria e/ou alteração de imagem renal) em qualquer
indivíduo, independente da causa, e por um período superior a 3 meses.1
3.2 Epidemiologia
A prevalência da DRC nos estágios não dialíticos no Brasil é ainda desconhecida.
Assim, a SEMSA/Manaus assume, para fins de programação e baseando-se na observação de
que as causas e fatores de risco para a DRC no Brasil são semelhantes as dos Estados Unidos
e da Europa, que 13,8% da população manauara com 20 anos ou mais apresentem DRC em
uma de suas categorias.2
Segundo o SIH as internações por insuficiência renal em Manaus no período 2008-
2012 apresentaram maiores proporções nas faixas etárias de 40 aos 69 anos. O sexo masculino
representou a maior frequência, com 56,89% no período analisado.
De acordo com o SIM, dos 231 óbitos ocorridos em Manaus por insuficiência renal
crônica no período, 54% foram no sexo masculino. A maior concentração dos óbitos se deu
especialmente a partir dos 50 anos de idade. Uma análise epidemiológica mais detalhada
sobre o impacto da DRC em Manaus pode ser acessada por meio de um estudo de base local
disponível no endereço eletrônico http://intranet.semsa/
3.3 Fatores de Risco e Prevenção
A HAS e o DM figuram como as principais causas de DRC, conforme o censo sobre
terapia renal substitutiva (TRS), realizado em 2009, pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.3
187
A HAS é altamente prevalente na doença renal diabética e pode ser tanto causa como
consequência da DRC, contribui desfavoravelmente no prognóstico da doença renal e suas
comorbidades cardiovasculares.4,5
A velocidade de redução da TFG nos usuários hipertensos é
fortemente impactada pelo nível pressórico e pela quantidade de albuminúria.
No Brasil, a doença renal diabética é a segunda causa de falência da função renal com
necessidade de TRS.2
Diabéticos recém diagnosticados ou previamente conhecidos
apresentam chance de desenvolverem DRC, quando acompanhados por 7 anos, de71% e 93%,
respectivamente, se comparados ao grupo de indivíduos normoglicêmicos no período basal do
estudo.6 Nesse grupo, o controle glicêmico rigoroso reduz a ocorrência de albuminúria (ou
proteinúria), assim como o controle rigoroso da PA reduz a ocorrência de microalbuminúria
em usuários com DM.7,8
Adicionalmente à PA e ao diabetes não controlados, outros fatores de risco para a
DRC em adultos incluem:
história familiar de doença renal crônica,
DCV,
obesidade (IMC > 30 kg/m2),
tabagismo,
idade > 60 anos e
uso de drogas nefrotóxicas (p.ex. anti-inflamatórios não esteroides).
Alguns fatores de risco peculiares à infância estão citados no quadro 1.
Quadro 1. Fatores de risco para doença renal crônica na infância
Fatores de risco para doença renal crônica na infância
baixo peso aonascimento
história familiar de doença cística renal
história pregressa de refluxo vesicoureteral
infecção do trato urinário
síndrome hemolítico-urêmica
Nefrite
Nefrose
Fonte: Hogg et al, 2003.9
188
Fatores como presença de obesidade, hipertensão e proteinúria, que são considerados
de risco entre adultos, podem, nas crianças, piorar ou estimular a progressão da doença.10
A prevenção para a DRC relaciona-se ao tratamento e controle dos fatores de risco
modificáveis, tais como a HAS, o DM, a obesidade, a doença cardiovascular e o tabagismo.
Adicionalmente, um cuidado especial deve ser destinado ao uso crônico de qualquer tipo de
medicamento, especialmente os agentes nefrotóxicos.
3.4 Rastreamento
Rastrear os usuários, especialmente hipertensos e diabéticos, permite o diagnóstico
precoce da DRC, particularmente nas categorias iniciais, quando a doença é assintomática,
possibilitando a implementação de intervenções que diminuam a velocidade de progressão e
as complicações da doença.1,11
Recomenda-se, em usuários com HAS e DM, o rastreio da doença renal crônica por meio
da avaliação funcional renal (TFG) e documentação de lesão de parênquima renal
(albuminúria e/ou hematúria e/ou alteração de imagem) quando do diagnóstico e, se
negativo, anualmente.
3.5 Diagnóstico
Os fluxogramas 1 e 2 sistematizam o diagnóstico da DRC, baseado nas ações de
rastreio descritas anteriormente.
189
Fluxograma 1. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na taxa de
filtração glomerular.
Onde: HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica; DM = Diabetes Mellitus; DRC = Doença Renal
Crônica; EAS = Elementos Anormais e Sedimentos; Pr/Cr = razão de proteinúria e creatinina; TFG =
Taxa de Filtração Glomerular (expressa em ml/min/1,73m2). Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais, 2013.12
190
Fluxograma 2. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na lesão do
parênquima renal
Usuário com
HAS e/ou DM
Pesquisar proteinúria
no EAS
A proteinúria foi
positiva (≥ 1+)?Repetir em 90 dias Sim
A proteinúria foi
positiva (≥ 1+)?*Quantificar pela Pr/
crSim
Diagnóstico de DRC
Pesquisar microalbuminúria
em 3 diferentes ocasiões
com intervalo de 30 dias
entre elas
Microalbuminúria
foi positiva em ao menos
duas ocasiões?
Sim
Não
Rastreamento da DRC
baseada na TFGNão
Não
Onde: HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica; DM = Diabetes Mellitus; DRC = Doença Renal
Crônica; EAS = Elementos Anormais e Sedimentos; Pr/Cr = razão de proteinúria e creatinina; TFG =
Taxa de Filtração Glomerular (expressa em ml/min/1,73m2). Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais, 2013.12
*Deve-se atentar para afastar a possibilidade de confundidores (hematúria ou processo inflamatório).
A febre, situações de estresse ou a prática de exercício intenso podem determinar aumento na excreção
de albumina (proteína) na urina, normalizada após o desaparecimento da situação desencadeante.
Infecções do trato urinário ou a ocorrência de menstruação podem determinar albuminúria
(proteinúria) falso positivo. Assim, recomenda-se evitar a coleta da amostra urinária para avaliar a
albuminúria nestas circunstâncias.
Estimar a TFG permite uma medida mais acurada da função renal do que a dosagem
isolada da creatinina sérica, particularmente em usuários idosos, além de alertar para a
necessidade de ajuste da dosagem de medicações de excreção renal quando necessária.1,11,13,14
As equações ou fórmulas de estimativa da TFG são amplamente disponíveis, sendo as mais
utilizadas a de Cockcroft e Gault (CG),15
a desenvolvida para o estudo Modification of Diet in
Renal Diseases (MDRD)16
e, mais recentemente, a equação do grupo Chronic Kidney Disease
Epidemiology Collaboration (CKD-EPI).17
A equação do grupo Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI)
foi desenvolvida a partir de coorte que incluiu indivíduos com e sem DRC, sendo uma
191
variação da fórmula do MDRD. A equação, denominada de CKD-EPI, usa as mesmas quatro
variáveis que a equação do MDRD, mas, comparativamente, apresenta melhor desempenho e
previsão de risco.
Por meio de nomogramas, a estimativa da TFG pode ser facilmente realizada por todos
os membros que compõem a equipe de saúde. Os nomogramas para mulheres e homens,
constantes respectivamente nas tabelas 1 e 2 a seguir, foram construídos para estimar a TFG a
partir da fórmula CKD-EPI, utilizando três das quatro variáveis que compõem a equação
CKD-EPI: idade (nos limites de 18 a 80 anos), sexo e creatinina sanguínea (nos limites de 0,6
a 5 mg/dL).18
192
Tabela 1. Nomograma para estimativa da taxa de filtração glomerular em mulheres
Onde: CKD-EPI = Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration; mg/dL =
miligrama/decilitro; DRC = doença renal crônica; mL/min/m2
= mililitro/minuto/metro quadrado.
Fonte: modificado de Magacho EJC et al, 2012.18
2
193
Tabela 2. Nomograma para estimativa da taxa filtração glomerular para homens
Onde: CKD-EPI = Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration; mg/dL =
miligrama/decilitro; DRC = doença renal crônica; mL/min/m2
= mililitro/minuto/metro quadrado.
Fonte: modificado de Magacho EJC et al, 2012. 18
Conforme apresentado, a documentação da lesão do parênquima renal é o outro
componente da definição de DRC. Nos casos em que a TFG for > 60mL/min/1,73 m2, o
diagnóstico de DRC só pode ser estabelecido, se houver documentação de lesão do
parênquima renal.1,4,11
O marcador de lesão do parênquima renal mais amplamente utilizado é a albuminúria,
um achado frequente e precoce nas lesões glomerulares decorrentes da hipertensão arterial e
do diabetes.1,4,11
Deve-se destacar que as fitas de imersão para a pesquisa de albuminúria
(método semi-quantitativo) só detectam níveis de albuminúria>300 mg/g de creatinina
2
194
(macroalbuminúria ou proteinúria), sendo necessária nesses casos a quantificação da perda
urinária de albumina, por meio da sua determinação na urina coletada em 24 horas ou por
meio da relação proteína/creatinina na primeira amostra urinária da manhã.1,4,11
Um resultado negativo para albuminúria com fita de imersão, em usuários hipertensos
e/ou diabéticos, indica a necessidade da pesquisa de microalbuminúria, a qual deve ser
realizada preferencialmente em amostra urinária isolada (relação albumina/creatinina) ou em
urina coletada em 12 horas ou 24 horas. Os valores de referência para albuminúria encontram-
se no quadro 2.19
Quadro 2. Valores de albuminúria de acordo com a técnica de coleta urinária
Amostra urinária Unidade Sexo Valor anormal
Coleta de 24 horas mg Ambos 30-300
Coleta de 12 horas noturna μg Alb/min Ambos 20-200
Amostra isolada (primeira da
manhã)
mg Alb/ g Cr Homens
Mulheres
>17
>20
Onde: MG = miligrama; μg = micrograma; Alb = albumina; g = grama; Cr = creatinina. Fonte:
K/DOQI 2007.4
A quantificação da albuminúria em hipertensos e diabéticos permite prever os
indivíduos que evoluirão com perda da função renal, indivíduos com maior propensão a
desenvolver complicações cardiovasculares e aqueles com maiores chances de óbito no curso
da doença.1,8,11
Para fins de diagnóstico da DRC, uma avaliação de imagem deve ser feita apenas para
os indivíduos com história familiar de DRC, infecção urinária de repetição e doenças
urológicas. Essa avaliação deve ser realizada preferencialmente por meio da ultrassonografia
dos rins e vias urinárias.x(20)
Recomenda-se a estimativa da TFG, a partir da dosagem da creatinina sérica, para o
diagnóstico da DRC em usuários com HAS e DM. Em hipertensos e diabéticos, a
comprovação de lesão do parênquima renal deve ser realizada através da documentação de
albuminúria, devendo ser repetida anualmente, se negativa.
3.6 Classificação (Categorização)
195
São objetivos da categorização da DRC:
Identificar os indivíduos com maior probabilidade de apresentar as complicações
e comorbidades da doença,
Identificar os indivíduos com maior chance de progressão para falência funcional
renal e necessidade de tratamento dialítico ou transplante renal;
Uniformizar a terminologia empregada, facilitando a comunicação entre os
profissionais de saúde e destes com o usuário e seus familiares.1,19,20
Recentemente, propôs-se a classificação clínica da DRC em cinco estágios, ou
categorias, subdividindo o estágio 3 em 3A e 3B.21
A diminuição progressiva da TFG se associa com níveis de hemoglobina diminuídos,
cálcio baixo, fósforo aumentado e acidose metabólica.1,11
Recomenda-se estratificar a TFG estimada, para o diagnóstico precoce das complicações
metabólicas da DRC.1
Deve-se ressaltar que a redução da TFG para valores <45 mL/min/1,73
m2 (estágios 3B, 4 e 5) é um preditor importante de doença cardiovascular futura e de
necessidade de TRS (diálise ou transplante renal).1,21
O quadro 3 apresenta a classificação clínica da DRC, proposta pela NKF KDOQI™1e
referendada pela fundação Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO).21
Quadro 3. Categorias da doença renal crônica baseadas na taxa de filtração glomerular
e presença ou não de lesão do parênquima renal Estágio da DRC TFG (mL/min/1,73 m
2) Lesão do parênquima renal
1 90 Sim
2 60-89 Sim
3A 45-59 Sim ou não
3B 30-44 Sim ou não
4 15-29 Sim ou não
5 <15 Sim ou não
Onde: DRC= doença renal crônica; TFG= taxa de filtração glomerular; mL/min/m2
=
mililitro/minuto/metro quadrado. Fonte: K/DOQI 2007.4
Em teoria, a partir da categoria 3 de estadiamento da DRC, a lesão de parênquima renal
poderia não estar presente. Na prática, a extensa maioria desses indivíduos apresenta evidências de
danos parenquimatosos (albuminúria, hematúria, alterações em exames de imagem ou outros).
196
Recomenda-se estadiar a DRC, decorrente da HAS e DM, objetivando identificar os
indivíduos nos estágios assintomáticos da doença e aqueles com maiores chances de
desfechos adversos.
3.7 Avaliação Clínica Inicial
A avaliação clínica inicial do hipertenso e diabético com DRC deve abordar, em nível
de atenção primária à saúde, os conteúdos descritos nos itens 1.8 e 2.7 Avaliação Clínica
Inicial, das Seções 1 e 2, respectivamente.
Os indivíduos com DRC especialmente nas categorias 1 e 2 devem ser inicialmente
investigados para excluir doença renal tratável.
As demais etiologias da DRC deverão ser abordadas conforme protocolos clínicos
específicos.
3.8 Estratificação de Risco
3.8.1 Estratificação de risco de indivíduos com doença renal crônica para a organização
da rede de atenção
Para fins de organização da rede de atenção, a SEMSA/Manaus preconiza a
estratificação de risco de indivíduos com DRC proposta por ALVES,JR e BASTOS, MG, no
quadro 4.22
197
Quadro 4. Estratificação de risco de indivíduos com doença renal crônica para a
organização da rede de atenção1
Risco Critérios (Categorização da DRC baseada na taxa da filtração
glomerular estimada pela equação CKD-EPI, na presença de
albuminúria e na capacidade para o autocuidado2)
Baixo DRC categoria 1 com capacidade de autocuidado suficiente ou
DRC categoria 2 com capacidade de autocuidado suficiente.
Moderado DRC categoria 1 com capacidade de autocuidado insuficiente ou
DRC categoria 2 com capacidade de autocuidado insuficiente ou
DRC categoria 3A.
Alto DRC categoria 3B com capacidade de autocuidado suficiente.
Muito Alto DRC categoria 3B com capacidade de autocuidado insuficiente ou
DRC categoria 4 ou
DRC categoria 5.
Onde: DRC = Doença Renal Crônica; CKD-EPI = CKD-EPI = Chronic Kidney Disease
Epidemiology Collaboration. Fonte: ALVES,JR e BASTOS, MG, 2013.
1Especialmente por Hipertensão Arterial e/ou Diabetes Mellitus.
2 Entende-se como capacidade de autocuidado insuficiente (conceito operacional) a limitação
em níveis relevantes da capacidade de autocuidado do indivíduo ou de seu cuidador
(mãe/pai/responsável no caso de um dependente) pela redução, impossibilidade, fragilidade,
negação, dificuldade ou ausência de: 1) compreensão e/ou conhecimento de sua condição
crônica; 2) aceitação de sua condição crônica; 3) adesão ao plano terapêutico (agendamento
de consultas, participação de grupos, atividades físicas, uso dos medicamentos prescritos,
educação alimentar, registro das informações, etc.); 4) autonomia/independência (por
limitações físicas, dependências químicas, transtornos mentais, déficit cognitivo) e 5) suporte
familiar e social.
3.9 Plano de Cuidados
3.9.1 Abordagem multiprofissional
Como qualquer outra condição crônica de saúde, está indicada uma abordagem
multiprofissional para o controle adequado da doença renal crônica.
3.9.2 Manejo do indivíduo com doença renal crônica
O manejo adequado do usuário hipertenso ou diabético que apresenta DRC permite:
198
reduzir a velocidade de perda da função renal;
diminuir a morbimortalidade;
reduzir a necessidade de hospitalização e o tempo de permanência hospitalar;
diminuir a necessidade de início do tratamento dialítico em situação de
urgência/emergência médica e com acesso vascular temporário (cateteres);
propiciar ao indivíduo um maior benefício com o transplante renal oportuno, caso
indicado (inclusive dos usuários que ainda não estejam em diálise) e,
ofertar educação e letramento do usuário sobre a sua doença.1,4-6,11
Para fins de organização da assistência integral ao usuário com DRC, o tratamento
pode ser classificado em conservador (categorias 1 a 3), pré-diálise (categoria 4 e 5 não
dialítica) e TRS (categoria 5 dialítica).x O tratamento conservador consiste em controlar os
fatores de risco para a progressão da DRC, bem como para os eventos cardiovasculares e
mortalidade, preservando ou retardando a velocidade de queda da TFG. Na pré-diálise,
adicionalmente ao tratamento conservador, deve-se providenciar o preparo adequado para o
início da TRS em usuários com DRC em estágios mais avançados. A TRS pode ser feita na
modalidade de hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal. x
Estágios 1 e 2
O acompanhamento desses indivíduos deverá ser realizado nas unidades básicas de
saúde para o tratamento dos fatores de risco modificáveis de progressão da DRC e doença
cardiovascular. Exceções para a atenção integral desses indivíduos na atenção primária devem
ocorrer se esses apresentarem outros critérios de encaminhamento específicos expostos no
quadro 6, independentemente da TFG. Nesses estágios, a decisão de encaminhamento para
acompanhamento nefrológico de indivíduos com DRC deve ser sempre individualizada,
principalmente quando se tratar de usuários mais jovens ou com outras etiologias específicas.
As principais recomendações para o manejo desses usuários com DRC na atenção
primária estão sintetizadas no quadro a seguir.
199
Quadro 5. Principais recomendações para o manejo dos indivíduos com doença
renal crônica nos estágios 1 e 2
Recomendações
1. Diminuir a ingestão de sódio (menor que 2 g/dia, correspondente a 5 g de cloreto de
sódio em adultos) a não ser se contraindicado;
2. Atividade física compatível com a saúde cardiovascular e tolerância: caminhada de 30
minutos, 5x por semana, para manter IMC < 25;
3. Abandono do tabagismo;
4. Controlar a hipertensão, tendo como metas:
4.1 Não diabéticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg.
4.2 Diabéticos e com RAC > 30: PA ≤ 130/80 mmHg.
4.3 Todos os pacientes diabéticos e/ou com RAC ≥30 devem utilizar IECA ou BRA.
5. Para diabéticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%.
6. Avaliar a TFG e o EAS anualmente. Para o estágio 2, avaliar também a RAC com essa
periodicidade.
7. Atualizar o calendário vacinal, conforme Programa Nacional de Imunização do
Ministério da Saúde. Onde: IMC = índice de massa corporal; RAC = relação albuminúria creatininúria; PA = pressão
arterial; IECA = inibidores da enzima conversora da angiotensina; BRA = bloqueadores dos receptores
da angiotensina; TFG = taxa de filtração glomerular e EAS = elementos anormais e sedimentos.
Fonte: Ministério da Saúde, 2013.x
Estágio 3A
O acompanhamento desses indivíduos também deverá ser realizado nas unidades
básicas de saúde para o tratamento dos fatores de risco modificáveis de progressão da DRC e
doença cardiovascular.
Algumas recomendações necessárias para essa categoria, adicionais às apresentadas no
quadro 5, são apresentadas a seguir.x
Anualmente, deve-se realizar a dosagem do potássio sérico, do fósforo e do PTH
intacto e, havendo alterações nos seus níveis (o fósforo deve estar entre 3,0-4,6 mg/dl
e o PTH entre 35-70 pg/ml), está indicada uma interconsulta para segunda opinião
com a nefrologia via telessaúde (caso disponível). Caso a RAC seja menor que 30
mg/g, essa avaliação deve ser semestral.
No início do tratamento, deve-se realizar uma sorologia para a hepatite B (AgHBs,
Anti-HBc IgG e Anti-HBs).
200
Observar a necessidade de correção das doses de medicações como antibióticos e
antivirais de acordo com a TFG.
Na ocorrência desses indivíduos apresentarem outros critérios de encaminhamento
específicos para a nefrologia expostos no quadro 6, independentemente da TFG, o
referenciamento deverá ocorrer.
Estágio 3B, 4 e 5
O acompanhamento desses indivíduos deverá ser compartilhado com a especialidade,
a qual será importante para a elaboração do plano de cuidados. A atenção primária à saúde
deverá enfocar o tratamento dos fatores de risco modificáveis de progressão da DRC e doença
cardiovascular.
3.9.3 Encaminhamento do usuário com doença renal crônica para acompanhamento
nefrológico conjunto
O quadro 6 apresenta os principais critérios para encaminhamento conjunto com
nefrologista dos hipertensos ou diabéticos.1,4-6,11
Quadro 6. Critérios de encaminhamento de hipertensos e diabéticos para o
acompanhamento nefrológico conjunto
Critérios
Apresentar o nível de albuminúria >1g/dia devidoa maior possibilidade de desfechos clínicos
indesejáveis;
Documentar a ocorrência de albuminúria <1g/dia e de hematúria de origem glomerular que
possam indicar glomerulopatia primária ou secundária (p. ex., nefrite lúpica) como causa da
DRC;
Houver diminuição abrupta (>30% do basal) da TFG (num intervalo de tempo <3 meses);
Houver queda anual da TFG > 5 mL/min/1,73m2, indicando controle clínico inadequado do
diabetes ou hipertensão arterial e a ocorrência de complicações decorrentes do
comprometimento renal;
Apresentar TFG < 45 mL/min/1,72 m2 (estágios 3B, 4 e 5 da DRC) pelo risco aumentado de
nefrotoxicidade medicamentosa e insuficiência renal aguda.
Onde: DRC = doença renal crônica; TFG = taxa de filtração glomerular. Fonte: K/DOQI,
2007 e outros.1,4-6,11
201
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202
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de Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Doença Renal Crônica. 3a edição atualizada, 2013.
[acesso em 03 Jan 2014]. Disponível em
http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/guia%20de%20hipertensao.pdf
13. Shemesh O; Golbetz H; Kriss JP; et al. Limitations of creatinine as a filtration marker in
glomerulopathic patients. Kidney Int 1985; 28:830-8.
14. Stevens LA; Coresh J; Greene T; et al. Assessing Kidney Function — Measured and
Estimated Glomerular Filtration Rate. N Engl J Med 2006; 354: 2473-83.
15. Cockcroft DW; Gault MH. Prediction of creatinine clearance from serum creatinine.
Nephron 1976; 16:31-41.
16. Levey AS; Bosch JP; Lewis JB; et al. A more accurate method to estimate glomerular
filtration rate from serum creatinine: a new prediction equation. Ann Intern Med 1999;
130:461-70.
17. Levey AS; Stevens LA; Schmid CH; et al. A new equation to estimate glomerular
filtration rate. Ann Intern Med 2009; 150:604-12.
18. Magacho EJC; Pereira AC; Mansur HN; et al. Nomograma para a estimação da Taxa de
Filtração Glomerular baseado na Fórmula CKD-EPI. J Bras Nefrol 2012; 34: 313-15.
19. De Jong PE; Curhan PE. Screening, Monitoring, and Treatment of Albuminuria: Public
Health Perspectives. J Am Soc Nephrol 2006;17:2120-6.
X. (deverá ser o novo 20). Brasil. Ministério da Saúde. Consulta Pública No 16, de 21 de
agosto de 2013. Minuta de portaria que aprova, na forma do Anexo, as diretrizes clínicas para
o cuidado ao paciente com doença renal crônica no Sistema Único de Saúde 2013.
20. James MT; Hemmelgarn BR; Tonelli M. Early recognition and prevention of chronic
kidney disease. Lancet 2010; 375: 1296–309.
21. Eckardt KU; Berns JS; Rocco MV;et al. Definition and classification of CKD: the debate
should be about patient prognosis–a position statement from KDOQI and KDIGO. Am J
Kidney Dis 2009; 53: 915–920.
22. Alves Júnior AC; Bastos MG. Estratificação de risco de indivíduos com doença renal
crônica para a organização da rede de atenção à saúde. NO PRELO
203
SEÇÃO 4: A ORGANIZAÇÃO DA REDE
DE ATENÇÃO
A integração dos distintos pontos de atenção à saúde dos níveis primário, secundário e
terciário constitue, com os sistemas de apoio e logísticos, uma rede temática de atenção à
saúde.
A APS deve ser a porta de entrada dos usuários do sistema e coordenar toda a rede de
atenção. Assim, as competências da APS e as atribuições de seus profissionais devem estar
claras, otimizando assim as ações de prevenção do surgimento da HAS, do DM e da DRC e
de garantia do cuidado integral ao usuário com essas condições crônicas.
Os distintos graus de complexidade dos indivíduos com essas enfermidades podem
exigir cuidados diferenciados em nível da APS e mesmo especializado em outros níveis de
atenção.
O papel organizativo dos indivíduos por distintos estratos de risco é um dos pilares
para a operacionalização de uma rede de atenção à saúde de usuários com condições crônicas
e respeita um dos mais importantes princípios organizadores do SUS: a equidade. As
propostas da SEMSA/Manaus para a estratificação de risco referentes à HAS, ao DM e à
DRC, com fins de organização da rede de assistência, são apresentadas nos itens 1.9.2, 2.8.1,
3.8.1.
4.1 Atenção Primária à Saúde
4.1.1 Competências da atenção primária à saúde
Independentemente do nível de complexidade do indivíduo com condição crônica de
saúde e do nível aonde esse usuário terá a sua atenção compartilhada, os pontos de APS
devem se responsabilizar pelo acompanhamento integral desse usuário na rede, estabelecendo
o vínculo de forma eficaz e humanizada. Assim, a APS deve ser o centro de comunicação da
rede de atenção à saúde, coordenando os fluxos e contra-fluxos do usuário no sistema de
saúde.1
204
As competências da APS, conforme estratificação das condições de saúde abordadas,
são apresentadas no quadro 1.
Quadro 1. Competências da atenção primária à saúde referentes ao controle da
hipertensão arterial sistêmica, do diabetes mellitus e da doença renal crônica, de acordo
com a estratificação de risco da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus
Usuários Competências
Todos Realizar ações de promoção à saúde.
Realizar a busca ativa de usuários com fatores de risco para HAS,
DM e DRC e de usuários com essas condições crônicas já
diagnosticadas.
Realizar ações de prevenção de condições crônicas em indivíduos
com fatores de risco e prevenção de complicações em usuários com
condições crônicas estabelecidas (incluindo atividades educativas).
Realizar o diagnóstico das condições crônicas abordadas, por meio
da investigação dos usuários com fatores de risco.
Realizar o cadastramento dos usuários com essas condições crônicas
estabelecidas.
Realizar a primeira consulta médica e de enfermagem para os
usuários cadastrados.
Realizar a estratificação de risco.
Realizar o tratamento e acompanhamento dos usuários cadastrados,
por meio de consultas interdisciplinares, visitas domiciliares e grupos
operativos.
Realizar o diagnóstico precoce de complicações.
Realizar o 1º atendimento de urgência e encaminhamento para outro
nível de complexidade, quando pertinente.
De baixo e moderado
grau de risco
Executar as competências descritas para todos os usuários.
Elaborar e acompanhar a execução do plano de cuidado, realizando
as adequações conforme as necessidades.
Elaborar e acompanhar o plano de autocuidado apoiado, realizando
as adequações conforme as necessidades.
De alto e muito alto
grau de risco
Executar as competências descritas para todos os usuários.
Realizar o encaminhamento do usuário para atenção compartilhada
em nível secundário.
Cooperar com o plano de cuidado a ser elaborado pela atenção
secundária à saúde e acompanhá-lo.
Elaborar e acompanhar o plano de autocuidado apoiado, de acordo
com as recomendações da atenção secundária, realizando as
adequações conforme as necessidades.
Onde: HAS = hipertensão arterial sistêmica; DM = Diabetes mellitus e DRC = Doença renal crônica.
Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013.2
4.1.2 Atribuições dos profissionais da atenção primária à saúde
205
Gerais
Executar o cuidado em saúde da população adscrita, prioritariamente no âmbito da
unidade de saúde, no domicílio e nos demais espaços comunitários.
Identificar grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos para o desenvolvimento
da HAS, DM e DRC, inclusive aqueles relativos ao trabalho, e atualizar
continuamente essas informações, priorizando as situações de maior risco no
planejamento local.
Realizar a escuta qualificada das necessidades dos usuários em todas as ações,
proporcionando atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimento do vínculo.
Promover a integralidade da atenção por meio da realização de ações de promoção
da saúde, prevenção de agravos, ações programáticas e de vigilância à saúde,
conforme a necessidade de saúde da população local.
Realizar o atendimento à demanda espontânea, quando pertinente.
Participar da elaboração e do monitoramento do plano de cuidados.
Responsabilizar-se pela população adscrita, mantendo a coordenação do cuidado,
mesmo quando esta necessita de atenção em outros serviços do sistema de saúde.
Específicas
Agente comunitário de saúde
Executar atividades educativas para a comunidade sobre promoção à saúde,
prevenção das condições crônicas (fatores de risco para HAS, DM e DRC) e
complicações dessas condições crônicas.
Orientar a comunidade sobre a importância das mudanças nos hábitos de vida
ligados à alimentação, à prática de atividade física, à cessação do tabagismo e ao uso
abusivo de álcool.
Contribuir para o rastreamento rotineiro dos fatores de risco para a HAS, DM e
DRC em adultos.
Encaminhar para a equipe de enfermagem os usuários rastreados com fatores de
risco e/ou com suspeita de HAS, DM e DRC.
206
Verificar o comparecimento dos usuários às consultas agendadas na APS
(Estratégia de Saúde da Família e Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF) e nos
demais pontos de atenção da rede.
Registrar na sua ficha de acompanhamento, o diagnóstico médico de HAS, DM e
DRC.
Colaborar com o monitoramento da execução dos planos de cuidado dos usuários.
Abordar com o usuário e seus familiares se estão sendo seguidas as orientações
relacionadas à dieta, atividade física, controle de peso, tabagismo e consumo de
bebidas alcoólicas, assim como monitorar se o usuário está utilizando com
regularidade os medicamentos e insumos porventura prescritos.
Auxiliar o usuário no alcance dos objetivos e metas do tratamento, de acordo com
o plano de cuidado e de autocuidado apoiado (níveis pressóricos, controle do peso,
níveis de glicemia e de lipídeos, dentre outras).
Auxiliar de Enfermagem/Técnico de Enfermagem
Executar atividades educativas para a comunidade sobre promoção à saúde,
prevenção das condições crônicas (fatores de risco para HAS, DM e DRC) e
complicações dessas condições crônicas.
Orientar a comunidade sobre a importância das mudanças nos hábitos de vida
ligados à alimentação, à prática de atividade física, à cessação do tabagismo e ao uso
abusivo de álcool.
Aplicar instrumentos de rastreio populacional de condições crônicas.
Verificar os valores da glicemia capilar, da pressão arterial, do peso, da altura e de
outros parâmetros clínicos pertinentes, em indivíduos provenientes de rastreamento ou
da demanda espontânea da unidade de saúde.
Executar os procedimentos de enfermagem conforme os protocolos e legislações
existentes.
Registrar informações no prontuário clínico e outras fichas padronizadas e
alimentar os sistemas de informação.
Cuidar dos equipamentos da unidade, realizar manutenção preventiva e comunicar
sobre a necessidade de manutenção corretiva e reparos, quando necessário.
207
Orientar as pessoas sobre o uso correto dos medicamentos e insumos prescritos.
Colaborar com a elaboração e o monitoramento da execução dos planos de
cuidados dos usuários.
Auxiliar o usuário no alcance dos objetivos e metas do tratamento, de acordo com
o plano de autocuidado apoiado (níveis pressóricos, controle do peso, níveis de
glicemia e de lipídeos, dentre outras).
Enfermeiro
Planejar, executar e avaliar as atividades educativas para a comunidade sobre
promoção à saúde e prevenção das condições crônicas (fatores de risco para HAS, DM
e DRC) e das complicações dessas condições.
Planejar, executar e avaliar as atividades de educação em saúde, individuais ou em
grupo, com hipertensos, diabéticos, doentes renais crônicos e seus familiares e
cuidadores, conforme plano de cuidados.
Capacitar os auxiliares/técnicos de enfermagem e os agentes comunitários de
saúde e supervisioná-los de forma permanente suas atividades.
Planejar, organizar, coordenar, executar e avaliar os serviços da assistência de
enfermagem;
Realizar consulta de enfermagem conforme procedimento operacional padrão da
SEMSA/Manaus e periodicidade sugerida nesta linha-guia (item 4.1.3. A atenção
programada na atenção primária à saúde).
Solicitar exames complementares conforme as diretrizes apresentadas nessa linha-
guia (item 4.1.3 A atenção programada na atenção primária à saúde), nos protocolos
de enfermagem e nas legislações vigentes.
Contribuir para a estratificação de risco dos indivíduos com as condições crônicas
abordadas.
Prescrever a assistência de enfermagem.
Encaminhar o usuário para consultas com o médico da equipe, conforme
periodicidade estabelecida nessa linha-guia (item 4.1.3 A atenção programada na
atenção primária à saúde) ou outra necessidade em saúde detectada.
208
Encaminhar os usuários cardiopatas, diabéticos e renais crônicos para vacinação
anti pneumocóccica e antigripal conforme recomendação do Centro de Referência em
Imunobiológicos Especiais (CRIE).
Realizar avaliação dos pés do usuário diabético, conforme o preconizado nesta
linha-guia (item 2.10.4. Pé diabético e item 4.1.3. A atenção programada na atenção
primária à saúde).
Orientar a equipe e o indivíduo sobre o uso de insulina: preparo, local de
aplicação, técnica de aplicação, validade, local de armazenamento e descarte;
Realizar cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e outros
procedimentos de enfermagem, conforme atribuições específicas.
Elaborar com a equipe de saúde e acompanhar o plano de cuidados dos usuários
com HAS, DM e DRC de baixo e moderado risco.
Colaborar com o plano de cuidado dos usuários assistidos pela atenção secundária
e acompanhá-lo.
Elaborar com a equipe de saúde o plano de autocuidado dos usuários.
Estabelecer, junto com a equipe, estratégias que possam favorecer a adesão do
usuário ao tratamento.
Auxiliar o usuário no alcance dos objetivos e metas do tratamento, de acordo com
o plano de autocuidado apoiado (níveis pressóricos, controle do peso, níveis de
glicemia e de lipídeos, dentre outras).
Médico
Desenvolver atividades educativas para a comunidade sobre promoção à saúde e
prevenção das condições crônicas (fatores de risco para HAS, DM e DRC) e das
complicações dessas condições.
Desenvolver atividades de educação em saúde, individuais ou em grupo, com
hipertensos, diabéticos, doentes renais crônicos e seus familiares e cuidadores,
conforme plano de cuidados.
Avaliar a presença de fatores de risco para o desenvolvimento da HAS, DM e
DRC.
Realizar confirmação diagnóstica dos usuários com essas condições crônicas.
209
Solicitar exames complementares conforme as diretrizes apresentadas nessa linha-
guia.
Identificar possíveis lesões em órgãos-alvo e comorbidades.
Estratificar o perfil de risco do usuário.
Estabelecer a conduta adequada aos casos, incluindo a terapia pertinente.
Encaminhar os usuários com as condições crônicas citadas para os pontos de
atenção compartilhada em nível secundário e terciário, de acordo com os critérios
estabelecidos por essa linha-guia.
Elaborar com a equipe de saúde e acompanhar o plano de cuidados dos usuários
com HAS, DM e DRC de baixo e moderado risco.
Colaborar com o plano de cuidado dos usuários assistidos pela atenção secundária
e acompanhá-lo.
Elaborar com a equipe de saúde o plano de autocuidado dos usuários.
Auxiliar o usuário no alcance dos objetivos e metas do tratamento, de acordo com
o plano de autocuidado apoiado (níveis pressóricos, controle do peso, níveis de
glicemia e de lipídeos, dentre outras).
Estabelecer, junto com a equipe, estratégias que possam favorecer a adesão do
usuário ao tratamento.
Outros profissionais de saúde de nível superior
Desenvolver as ações e práticas inerentes a sua competência profissional.
4.1.3 A atenção programada na atenção primária à saúde
Como fundamental instrumento da gestão da clínica, a atenção programada aos
usuários com condições crônicas de saúde possibilita a organização do processo de trabalho
da equipe de saúde de maneira eficiente e equitativa.
A programação da assistência à saúde fortalece a adesão ao tratamento e a prevenção
das complicações crônicas e eventos fatais e não fatais.
210
Cada ponto de atenção à saúde de uma rede deve elaborar uma programação local,3
preferencialmente a partir de uma periodicidade anual, utilizando-se os parâmetros de
prevalência e assistência sugeridos nos quadros a seguir.
Parâmetros de prevalência da hipertensão arterial, do diabetes mellitus e da doença
renal crônica na atenção primária à saúde
Para a organização da rede baseada na necessidade em saúde dos usuários com HAS,
DM e DRC, torna-se necessário conhecer a sua população alvo, estimada por meio dos
parâmetros apresentados a seguir.
Quadro 2. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
hipertensão arterial sistêmica na atenção primária à saúde para a organização da rede
de atenção
Risco Parâmetro de prevalência
Baixo 32% dos hipertensos
Moderado 43% dos hipertensos
Alto 20% dos hipertensos
Muito alto 5% dos hipertensos
Total 20% da população de 20 anos e mais
Quadro 3. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
diabetes mellitus na atenção primária à saúde para a organização da rede de atenção
Risco Parâmetro de prevalência
Baixo 20% dos diabéticos
Moderado 50% dos diabéticos
Alto 25% dos diabéticos
Muito alto 5% dos diabéticos
Total 10% da população de 20 anos e mais
Quadro 4. Parâmetros de prevalência total e por estrato de risco dos indivíduos com
doença renal crônica na atenção primária à saúde para a organização da rede de
atenção*
Risco Parâmetro de prevalência**
Baixo 41,4% dos doentes renais crônicos
Moderado 44,2% dos doentes renais crônicos
Alto 8,6% dos doentes renais crônicos
Muito alto 5,8% dos doentes renais crônicos
Total 13,9% da população de 20 anos e mais
Fonte: ALVES, JR e BASTOS, MG, 2013.2
* Especialmente por Hipertensão Arterial e/ou Diabetes Mellitus.
211
** A partir de NHANES III (1999 – 2006) modificado.
Parâmetros de assistência para os hipertensos e diabéticos na atenção primária à saúde
Os parâmetros de programação da assistência sugeridos nos quadros 5 a 8 para a
organização da rede consideram as diferentes complexidades dos usuários com as condições
abordadas.
Esses parâmetros assistenciais são recomendações da SMS/Manaus para a gestão da
clínica e foram baseados a partir de algumas evidências, experiências de instituições similares
em nível nacional e/ou experiências clínicas consensuadas por um grupo de profissionais de
saúde multidisciplinar e representativo de várias instituições afins que participaram do
processo de validação dessa diretriz.
Os parâmetros assistenciais para os indivíduos com DRC não dialítica em nível da
APS devem considerar os parâmetros propostos para a causa primária da doença renal. Por
este motivo, neste documento, encontra-se enfocado especialmente a HAS e o DM.
Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial sistêmica na atenção
primária à saúde
Quadro 5. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica, por estrato e principais procedimentos, na atenção primária à saúde
Procedimento previsto
Estratificação de risco dos usuários
Baixo Moderado Alto Muito alto
Consulta médica 2 / ano 3 / ano 3 / ano 3 / ano
Consulta de enfermagem 2 / ano 3 / ano 2 / ano 2 / ano
Grupo Operativo* 2 / ano 3/ ano 3 / ano 4 / ano
Visita domiciliar pelo
ACS 6 / ano 12 / ano 18 / ano 24 / ano
Eletrocardiograma 1 / 3 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Fundoscopia 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Raio X de tórax 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
* Cada grupo operativo é executado minimamente em 4 sessões. Onde: ACS = agente comunitário de
saúde. Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2013. 2
212
Quadro 6. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica, por estrato e exame laboratorial, na atenção primária à saúde
Procedimento previsto
Estratificação de risco dos usuários
Baixo Moderado Alto Muito alto
Glicemia de jejum 1 / 3 anos 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano
Creatinina 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Uréia 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Potássio 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Colesterol total 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Colesterol frações 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Triglicérides 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Urina rotina 1 / ano 1 / ano 1/ ano 1/ ano
Microalbuminúria 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Hemograma
(Hemoglobina ou
hematócrito)
1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 2013.2
Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus na atenção primária à
saúde
Quadro 7. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato
e procedimento, na atenção primária à saúde
Procedimento previsto
Estratificação de risco dos usuários
Baixo Moderado Alto Muito alto
Consulta médica 2 / ano 3 / ano 3 / ano 3 / ano
Consulta odontológica
Conforme
avaliação
odontológica
Conforme
avaliação
odontológica
Conforme
avaliação
odontológica
Conforme
avaliação
odontológica
Consulta de enfermagem 2 / ano 3 / ano 2 / ano 2 / ano
Avaliação do pé diabético
1 / ano (o
seguimento
dependerá do
estadiamento
do pé)
1 / ano (o
seguimento
dependerá do
estadiamento
do pé)
1 / ano (o
seguimento
dependerá do
estadiamento
do pé)
1 / ano (o
seguimento
dependerá do
estadiamento do
pé)
Grupo Operativo* 2 / ano 3/ ano 3 / ano 4 / ano
Visita domiciliar pelo ACS 6 / ano 12 / ano 18 / ano 24 / ano
213
Eletrocardiograma 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Fundoscopia** 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
* Cada grupo operativo é executado minimamente em 4 sessões. ** Especialmente na ausência da
retinografia sem contraste e com avaliação anterior sem achados significativos. Fonte: Adaptado de
Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 2013.2
Quadro 8. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato
e exame laboratorial, na atenção primária à saúde
Procedimento previsto Estratificação de risco dos usuários
Baixo Moderado Alto Muito alto
Glicemia capilar (preferencialmente na
UBS) 4 / ano 12 / ano 24 / ano 24 / ano
Glicemia de jejum 2 / ano 3 / ano 4 / ano 4 / ano
Glicemia pós prandial 2 / ano 3 / ano 4 / ano 4 / ano
Hemoglobina glicada 2 / ano 3 / ano 4 / ano 4 / ano
Creatinina 1 / ano 1 / ano 1/ ano 1/ ano
Uréia 1/ ano 1/ ano 1/ ano 1/ ano
Colesterol total 1 / 2 anos 1 / ano
1 / ano 1 / ano
Colesterol frações 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Triglicerídes 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Urina rotina 1 / ano 1 / ano 1/ ano 1/ ano
Microalbuminúria 1 / ano 1 / ano 1/ ano 1/ ano
Potássio 1 / ano 1 / ano 1/ ano 1/ ano
Onde: UBS = Unidade básica de saúde. Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais. 2013.2
4.2 Atenção Secundária à Saúde
4.2.1 Competências da atenção secundária à saúde
Em nível de atenção secundária à saúde, os serviços de atendimento especializado
devem estar organizados como pontos de atenção secundário ambulatorial em rede (PASA em
rede), de forma a propiciar interconsultas aos usuários com condições crônicas mais
complexos.
214
Os PASA desta rede temática devem ter como objetivos principais em sua população
alvo: reduzir a mortalidade por HAS, DM, DCV e DRC; reduzir as complicações preveníveis
por essas enfermidades e melhorar a qualidade de vida dos usuários com essas condições
crônicas.
Assim, competem a esses PASA em rede: 4
Prestar assistência especializada ao seu público alvo (definidos como os usuários com
essas condições crônicas e que tenham maior complexidade);
Supervisionar a atenção prestada a esses usuários pelo nível primário de assistência à
saúde;
Promover educação permanente aos profissionais de saúde envolvidos na atenção
primária e secundária à saúde e;
Fomentar pesquisas clínicas e operacionais relacionadas às condições crônicas citadas.
4.2.2 Critérios de encaminhamento de hipertensos, diabéticos e usuários com doença
renal crônica para a atenção secundária à saúde na rede da Secretaria Municipal de
Saúde de Manaus
Evidências robustas sugerem que o atendimento especializado aos usuários com
condições crônicas deve ser submetido a um processo de regulação que garanta aos usuários
com maior complexidade o acesso oportuno e de qualidade às intervenções programadas para
esse nível de atenção.
O quadro 9 apresenta alguns critérios estratégicos de encaminhamento das condições
crônicas abordadas para a atenção secundária à saúde da rede em Manaus.
215
Quadro 9. Critérios estratégicos de encaminhamento de hipertensos, diabéticos e
indivíduos com doença renal crônica para a atenção secundária à saúde em Manaus Hipertensão arterial sistêmica
- Usuário hipertenso de alto ou muito alto grau de risco (quadro 19 da Seção 1).
- Usuário com HAS Resistente.
- Usuário com suspeita de HAS Secundária.
Doença hipertensiva específica da gravidez
Diabetes mellitus
- Usuário com DM tipo 1.
- Usuário com DM tipo 2, nos seguintes casos:
- alto e muito alto grau de risco (quadro 10 da seção 2), especialmente se em uso de
insulina ou se em uso de antidiabético oral em dose plena e insulinização impossível de
ser realizada na APS.
- usuário recém-diagnosticado + indicação de insulinização (glicemia acima de
300mg/dl) + insulinização impossível de ser realizada na APS.
- baixa de acuidade visual repentina.
- Usuário com DM tipo 1 ou tipo 2 com diagnóstico de perda de sensibilidade protetora plantar
confirmado e/ou alterações na avaliação vascular dos pés.
Diabetes gestacional
Doença renal crônica
- Usuário com doença renal crônica de alto ou muito alto grau de risco, especialmente hipertenso
e/ou diabético (quadro 4 da Seção 3).
- Usuário hipertenso e/ou diabético com perda anual da filtração glomerular estimada 5
mL/min/ano (FGe inicial – FGe final/número de meses de observação X 12).
- Usuário hipertenso e/ou diabético com proteinúria >1,0 g/dia ou proteinúria <1,0 g/dia +
hematúria.
- Usuário hipertenso e/ou diabético com aumento abrupto da creatinina sérica (30%).
- Usuário hipertenso e/ou diabético com diminuição de 25% da filtração glomerular estimada ao
iniciar alguma medicação que bloqueie o eixo renina-angiotensina-aldosterona.
Onde: HAS = Hipertensão arterial sistêmica; DM = Diabetes mellitus; APS = atenção primária à
saúde; FGe = Filtração glomerular. Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de Minas
Gerais, 2013.2
Deve-se ressaltar que os critérios estratégicos de encaminhamento apresentados
refletem a consolidação de evidências científicas realizada pelo grupo técnico elaborador
dessa diretriz e análise de aspectos operacionais da rede temática afim. Essas priorizações
devem ser periodicamente revistas.
4.2.3. A atenção programada na atenção secundária à saúde
Carteira estratégica de serviços em nível da atenção secundária à saúde
Levando-se em consideração as necessidades em saúde e a rede de saúde existente,
propõe-se a disponibilização de uma carteira estratégica de serviços na atenção secundária à
216
saúde ofertados de forma regular aos hipertensos e diabéticos em Manaus. Os principais
atendimentos e procedimentos estratégicos estão sistematizados no quadro 10.
Quadro 10. Principais atendimentos e exames/procedimentos estratégicos para os
hipertensos e diabéticos na atenção secundária em Manaus
Atendimentos Exames/procedimento
Cardiologia
Endocrinologia
Enfermagem, incluindo pé diabético
Nutrição
Assistente Social
Psicologia
Farmácia Clínica
Fisioterapia
Angiologia
Nefrologia
Oftalmologia
Eletrocardiografia
Teste ergométrico
Holter 24 horas
Ecocardiografia
Ultrassonografia de carótidas
MAPA
Retinografia sem contraste
Retinografia com contraste
Fotocoagulação a laser
Doppler vascular portátil
Onde: MAPA = Monitorização ambulatorial da pressão arterial.
Parâmetros de assistência para os hipertensos e diabéticos na atenção secundária à
saúde
No quadro 11 são sugeridos alguns parâmetros de assistência, por
procedimento/exame, preconizados pela SMS/Manaus no cuidado de usuários com
hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus com alto e muito alto grau de risco, na
atenção secundária à saúde de sua rede.
Deve-se ressaltar que a parametrização proposta para a rede temática da SMS/Manaus,
tanto em nível da APS quanto da ASS, está indicada mediante a prática do modelo de atenção
às condições crônicas para o SUS, o qual tem se mostrado eficaz, efetivo e eficiente no
controle dos usuários com essas condições.5,6
217
Quadro 11. Alguns parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial
sistêmica e diabetes mellitus com alto e muito alto risco na atenção secundária à saúde
da rede da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus
Procedimento/e
xame previsto
Estratificação de risco dos usuários
Hipertensos de
alto risco
Hipertensos de
muito alto risco
Diabéticos de
alto risco
Diabéticos de
muito alto risco
Consulta de
cardiologia 3 / ano 4 / ano 1 / ano 1 / ano
Consulta de
endocrinologia ___ ___ 3 / ano 4 / ano
Consulta de
oftalmologia
(avaliação)
1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Consulta de
nefrologia
3 / ano, somente
para os
hipertensos com
DRC alto risco
4 / ano, somente
para os hipertensos
com DRC muito
alto risco
3 / ano, somente
para os
diabéticos com
DRC alto risco
4 / ano, somente
para os diabéticos
com DRC muito
alto risco
Consulta de
angiologia 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Consulta de
enfermagem 3 / ano 4 / ano 3 / ano 4 / ano
Avaliação do pé
diabético
(conforme
estadiamento do
pé diabético)
___ ___ 1 / ano 1 / ano
Consulta de
nutrição 2 / ano 2 / ano 3 / ano 4 / ano
Atendimento de
psicologia 3 / ano 4 / ano 3 / ano 4 / ano
Assistente Social 1 / ano 2 / ano 1 / ano 2 / ano
Atendimento de
Fisioterapia 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano
Atendimento de
Farmácia Clínica 2 / ano 4 / ano 2 / ano 4 / ano
Atendimento por
Educador Físico 2 / ano 4 / ano 2 / ano 4 / ano
MAPA 1 / 2 anos 1 / 2 anos 1 / 4 anos 1 / 4 anos
HOLTER 1 / 4 anos 1 / 4 anos 1 / 5 anos 1 / 5 anos
Eletrocardiogra
ma 2 / ano 2 / ano 1 / ano 1 / ano
Teste de esforço 1 / 2 anos 1 / 2 anos 1 / 4 anos, para
usuários sem
1 / 4 anos, para
usuários sem
218
eventos agudos
(75%) e 1 / 2
anos, para
usuários com
eventos agudos
(25%)
eventos agudos
(75%) e 1 / 2 anos,
para usuários com
eventos agudos
(25%)
Ecocardiograma 1 / 2 anos 1 / 2 anos
1 / 5 anos, para
usuários sem
eventos agudos
(75%) e 1 / 2
anos, para
usuários com
eventos agudos
(25%)
1 / 5 anos, para
usuários sem
eventos agudos
(75%) e 1 / 2 anos,
para usuários com
eventos agudos
(25%)
Fundoscopia* 1 / 2 anos 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano
Retinografia sem
contraste 1 / 2 anos 1 / 2 anos 1 / ano 1 / ano
Retinografia com
contraste 1 / 5 anos 1 / 5 anos
De acordo com
a avaliação do
oftalmologista
De acordo com a
avaliação do
oftalmologista
Fotocoagulação
a laser
De acordo com
a avaliação do
oftalmologista
De acordo com a
avaliação do
oftalmologista
De acordo com
a avaliação do
oftalmologista
De acordo com a
avaliação do
oftalmologista
* Especialmente na ausência da retinografia sem contraste e com avaliação anterior sem achados
significativos. Onde: DRC = doença renal crônica; MAPA = monitorização ambulatorial da pressão
arterial. Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 2013.2
4.3 Critérios de Encaminhamento de Hipertensos e Diabéticos para o
Serviço de Pronto Atendimento
A HAS e o DM são condições crônicas de saúde sensíveis aos cuidados adequados
efetivados em nível da APS. Assim, o encaminhamento de indivíduos com essas condições
para o serviço de pronto atendimento somente deveria ser considerado especialmente
mediante a ocorrência de algumas de suas intercorrências agudas, tais como a emergência
hipertensiva e a cetoacidose diabética. O quadro 12 resume alguns dos principais critérios
para o encaminhamento de indivíduos para o serviço de pronto atendimento com as essas
condições crônicas.
Caso o usuário diabético com alto ou muito alto risco também seja um hipertenso de
alto ou muito alto risco, deverá ser observada a programação dos procedimentos/exames
com a maior freqüência proposta para esses diabéticos e hipertensos.
219
Quadro 12. Alguns dos principais critérios de encaminhamento de hipertensos e
diabéticos para o serviço de pronto atendimento.
Alguns critérios de hospitalização
Hipertensos
Emergência hipertensiva.
DAC e IAM.
Quadro agudo de doenças cerebro-vasculares (especialmente AVC).
Insuficiência renal aguda.
ICC descompensada (arritmias sintomáticas, insuficiência coronariana aguda, rápida instalação de
novos sintomas de ICC - edema agudo de pulmão, por exemplo - e descompensação de ICC crônica).
Comprovação de hipertensão arterial refratária.
Diabéticos
Glicemia acima de 250 mg/dl, com cetoacidose diabética (pH arterial < 7,30 e bicarbonato < 15
mEq/l) e cetonúria e/ou cetonemia moderada.
Hiperglicemia (> 600 mg/dl) com hiperosmolaridade (osmolaridade >320 mOms/Kg) com alteração
do estado mental.
Hipoglicemia (glicemia < 50 mg/dl) sem melhora imediata do sensório com a correção.
Coma, convulsões e alteração do comportamento (desorientação, ataxia, disfasia).
Hipoglicemia responsiva mas sem um cuidador para as próximas 12 horas no lar.
Hipoglicemia causada por sulfoniluréia.
Outras complicações metabólicas agudas graves.
Complicações agudas graves do pé diabético.
DM recém diagnosticado em crianças e adolescentes.
Descontrole crônico e importante.
Necessidade de tratamento intensivo ou comorbidade grave.
DM descompensado na gravidez.
Piora do estado do paciente, relacionada às mais variadas complicações clínicas ou cirúrgicas como
por ex.: insuficiência renal, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca, distúrbios ácido-básicos,
sangramento, instabilidade hemodinâmica e respiratória.
Onde: DAC = doença arterial coronariana; IAM = infarto agudo do miocárdio; AVC = acidente
vascular cerebral; ICC = insuficiência cardíaca congestiva; DM = diabetes mellitus
4.4. Gestão de Casos
A gestão de caso é um processo cooperativo que se desenvolve entre o profissional
gestor do caso, a pessoa com condição de saúde muito complexa e sua rede de suporte social,
de modo a possibilitar o planejamento, a implementação, o monitoramento e a avaliação do
plano de cuidado do indivíduo - caso, por meio da coordenação da atenção prestada na rede.7
220
A gestão de caso se justifica diante da necessidade de realização de um manejo
diferenciado, individualizado e de suporte em rede àqueles usuários que se encontram sob
muito alto risco e que sobre os quais se concentram as complicações, incapacidades, mortes e
os custos do sistema de saúde.7
Para seleção dos casos é importante considerar a interação dos diversos critérios ou
fatores clínicos e sociais presentes na vida do indivíduo.
4.4.1 Critérios gerais para gestão de casos
As seguintes situações gerais podem constituir-se critérios para a gestão de casos em
indivíduos com HAS, DM e DRC:7
Indivíduos de muito alto grau de risco que são desprovidos de condições para o
autocuidado;
Indivíduos com comorbidades muito complexas;
Indivíduos com extensa polifarmácia;
Indivíduos com problemas de alta dos serviços ou readmissões hospitalares recentes
(nos últimos 12 meses);
Indivíduos que são alvo de eventos-sentinela recentes (nos últimos 12 meses);
Indivíduos que apresentam evidências de algum tipo de abuso;
Indivíduos em estágio de pobreza extrema.
4.4.2 Critérios específicos para gestão de casos
O quadro 13 apresenta as principais situações específicas indicativas da necessidade de
utilização da tecnologia de gestão de casos.
221
Quadro 13. Principais situações específicas para a indicação de gestão de casos em
hipertensos, diabéticos e indivíduos com doença renal crônica, conforme a Secretaria
Municipal de Saúde de Manaus.
Principais situações específicas para a indicação de gestão de casos
Em hipertensos Em diabéticos Em indivíduos com DRC
Com retinopatias extensas.
Com sequelas graves de
AVC.
Com múltiplas lesões
vasculares.
Com doença renal crônica
em terapia renal
substitutiva.
Transplante cardíaco.
Com variações glicêmicas
de difícil controle.
Em uso de bomba de
infusão de insulina.
Com retinopatias extensas.
Com amputações extensas.
Com sequelas graves de
AVC.
Com doença renal crônica
em terapia renal
substitutiva.
No estágio 5 da DRC (TFG
<15 mL/min/1,73 m2).
Com perda rápida da
função renal (diminuição da
TFG >5 mL/ano).
Apresentando proteinúria
maciça (>3,5 g/dia).
Com anemia secundária a
DRC e não responsiva aos
agentes estimuladores da
eritropoiese.
Com hiperfosfatemia e/ou
hiperparatireoidismo
secundário de difícil
controle clínico.
Usuários idosos com HAS
de início recente e/ou de
difícil controle e que
apresentem aumento da
creatinina plasmática da
ordem de 30% ou mais,
após o início de medicações
que interferem no eixo
renina-angiotensina-
aldosterona.
Onde: AVC = acidente vascular cerebral; DRC = doença renal crônica; TFG = taxa de filtração
glomerular e HAS = hipertensão arterial sistêmica. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas
Gerais, 2014.8
4.5. O Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) e os
Sistemas de Informação Gerencial
4.5.1. O Contrato organizativo da ação pública da saúde (COAP)
O Decreto Presidencial nº 7.508, de junho de 2011, dispôs sobre a organização do SUS
e instituiu o Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP). Trata-se de um acordo
222
de colaboração firmado entre entes federativos, cujo objetivo é a organização e a integração
das ações e dos serviços, em uma Região de Saúde, com a finalidade de garantir a
integralidade da assistência aos usuários.9
Por meio do COAP, foi estabelecida uma série de indicadores (universais, específicos
e complementares) e metas que contribuirão para o acompanhamento e avaliação das ações e
serviços de saúde. No que se refere às principais condições crônicas abordadas nessa diretriz
clínica, encontra-se no COAP a Taxa de mortalidade prematura (<70 anos) pelo conjunto das
quatro principais Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT (Doenças do aparelho
circulatório, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas).10
Esse indicador universal de
pactuação obrigatória para todas as regiões de saúde tem como objetivo promover a melhoria
das condições de saúde do idoso e dos portadores de condições crônicas, sendo, portanto,
bastante sensível à qualidade da atenção prestada ao hipertenso e diabético ao longo do
tempo.
4.5.2 Os sistemas de informação em saúde relacionados ao controle da hipertensão
arterial sistêmica e diabetes mellitus
Para o gerenciamento do cuidado integral à saúde dos usuários com condições
crônicas, os sistemas de informação devem possibilitar o monitoramento do atendimento
desses indivíduos ao longo de todo o sistema de saúde. A retroalimentação das equipes de
saúde, por meio de um processo dinâmico e contínuo de comunicação, é fundamental.
Para a viabilização dessa função gerencial é fundamental importância que os
profissionais de saúde alimentem de forma oportuna os registros dos sistemas de informação
afins em todos os atendimentos relacionados aos usuários com HAS e DM.
Sistema de Informação da Atenção Básica
O Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) é um sistema informativo do
Ministério da Saúde de acompanhamento das ações realizadas na APS. O SIAB permite às
esferas de gestão a realização de avaliações para o fornecimento de subsídios para as decisões
estratégicas. No que se refere às informações sobre usuários com HAS e DM, esse sistema
223
não nominal registra apenas o número de hipertensos e diabéticos cadastrados e o número dos
usuários acompanhados com essas condições crônicas.11
Sistema local
4.6 Principais Indicadores de Monitoramento da Qualidade de Atenção aos
Hipertensos e Diabéticos e Respectivas Metas
Os principais indicadores para o monitoramento da qualidade do programa de controle
de HAS e DM estão sistematizados nos quadros 14 e 15, estando destacado em negrito os
mais relevantes. Uma descrição detalhada dos indicadores (fórmulas e meios de verificação),
contextualizados para cada ponto de atenção, está disponível em documento específico que
pode ser acessado em http://semsa.manaus.am.gov.br
De acordo com o contexto de cada ponto de atenção da rede, A SEMSA/Manaus
recomenda que uma seleção desses indicadores possa ser priorizada com o objetivo de que
sua análise sistematizada estabeleça um monitoramento da qualidade dos serviços prestados
em nível programático. As metas sugeridas também devem ser contextualizadas para cada
ponto de atenção, sendo progressivamente reavaliadas conforme necessidade e evidências.
224
Quadro 14. Principais indicadores e metas para o monitoramento da qualidade de atenção aos hipertensos
Perspectiva Objetivo Indicador Meta
Resultado Reduzir a mortalidade prematura pelo conjunto das
quatro principais DCNT (Doenças do aparelho
circulatório, câncer, diabetes e doenças respiratórias
crônicas) – Indicador COAP.
Taxa de mortalidade prematura (<70 anos) por doenças do
aparelho circulatório – (Obs: fração do indicador número 30
da diretriz 05 do COAP)
Redução de
2% em
relação ao
ano anterior
Resultado
intermediário
Alcançar o controle metabólico dos hipertensos
reduzindo as complicações decorrentes do controle
inadequado
Percentual de usuários hipertensos com nível pressórico
arterial adequado nos últimos 12 meses
>60%
Percentual de usuários hipertensos com nível de colesterol
LDL mais recente adequado às metas
>60%
Processos Monitorar a investigação dos usuários com fatores de
risco para HAS, com diagnóstico de HAS e com
cadastro.
Percentual de hipertensos cadastrados no sistema de
informação
>50%
Efetivar o cuidado necessário conforme estratificação de
risco dos hipertensos
Percentual de hipertensos estratificados conforme diretriz
clínica.
>90%
Monitorar o controle do nível pressórico arterial
conforme periodicidade preconizada
Percentual de usuários hipertensos com 2 aferições de nível de
pressão arterial no último ano.
>90%
Monitorar o controle metabólico dos hipertensos
reduzindo as complicações decorrentes do controle
inadequado
Percentual de usuários hipertensos com perfil lipídico
apropriado documentado, conforme periodicidade preconizada
pelas diretrizes clínicas
>80%
Minimizar a deterioração da função renal dos hipertensos Percentual de usuários hipertensos com DRC e proteinúria que
estejam em tratamento com IECA ou BRA
>70%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado pelo
usuário e equipe
Percentual de usuários hipertensos com o conjunto de
metas do autocuidado apoiado documentado no sistema de
informação clínica no último ano
>70%
225
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado pela
equipe, abordando precocemente a doença renal crônica
Percentual de usuários hipertensos com estratificação de risco
para DRC nos últimos 12 meses
>90%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado pela
equipe, abordando oportunamente as complicações
crônicas decorrentes da HAS
Percentual de hipertensos assistidos pela atenção secundária
conforme diretriz clínica
25%
Controlar fator de risco para desenvolvimento do HAS e
das complicações cardiovasculares da HAS
Percentual de usuários hipertensos que são tabagistas nos
últimos 12 meses.
<13,5%
Controlar fator de risco para desenvolvimento da HAS e
das complicações cardiovasculares da HAS
Percentual de usuários hipertensos que realizam exercícios
físicos regulares conforme preconizado, nos últimos 12 meses.
>60%
Controlar fator de risco para desenvolvimento da HAS e
das complicações cardiovasculares da HAS
Percentual de usuários hipertensos com IMC maior que 25 que
perderam o peso preconizado nos últimos 12 meses.
>30%
Fazer vigilância de hipertensos em situação de risco Percentual de hipertensos com alta hospitalar avaliados pela
equipe de saúde (na UBS ou por meio de visita domiciliar pelo
ACS) até 1 semana após alta
>70%
Onde: DCNT = Doenças Crônicas Não Transmissíveis; COAP = Contrato organizativo da ação pública da saúde; HAS = Hipertensão arterial sistêmica;
LDL = Colesterol (Low density lipoprotein); DRC = Doença renal crônica; IECA = Inibidor da enzima de conversão da angiotensina; BRA = Bloqueadores
dos receptores de angiotensina; IMC = Índice de massa corporal; UBS = Unidade Básica de Saúde e ACS = Agente comunitário de saúde. Fonte: Adaptado
de HRSA, 2008.12
226
Quadro 15. Principais indicadores e metas para o monitoramento da qualidade de atenção aos diabéticos
Perspectiva Objetivo Indicador Meta
Resultado Reduzir a mortalidade prematura pelo conjunto
das quatro principais Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (Doenças do aparelho circulatório,
câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas)
- indicador COAP
Taxa de mortalidade prematura (<70 anos) por diabetes – (Obs:
fração do indicador número 30 da diretriz 05 do COAP)
Redução de
2% em
relação ao
ano anterior
Resultado
Intermediário
Monitorar e alcançar o controle metabólico dos
diabéticos reduzindo as complicações decorrentes
do controle inadequado
Média da hemoglobina glicada dos diabéticos nos últimos 12 meses <7,0%
Percentual de usuários diabéticos com hemoglobina glicada
<7,0%
>50%
Percentual de usuários diabéticos com nível pressórico <130/80
nos últimos 12 meses
>40%
Percentual de usuários diabéticos com LDL mais recente <100
nos últimos 12 meses.
>70%
Processos Monitorar a investigação dos usuários com fator
de risco para DM, com diagnóstico de DM e com
cadastro
Percentual de diabéticos cadastrados no sistema de informação >50%
Efetivar o cuidado necessário conforme
estratificação de risco dos diabéticos
Percentual de diabéticos estratificados conforme diretriz clínica. >90%
Monitorar o controle glicêmico conforme
periodicidade preconizada
Percentual de usuários diabéticos com 2 hemoglobinas glicadas no
último ano (pelo menos 3 meses atrás).
>90%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado
pelo usuário e equipe
Percentual de usuários diabéticos com o conjunto de metas do
autocuidado apoiado documentado no sistema de informação
clínica no último ano
>70%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado
pela equipe, abordando precocemente a
Percentual de usuários diabéticos que fizeram um exame
oftalmológico nos últimos 12 meses
>70%
227
retinopatia diabética
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado
pela equipe abordando precocemente a neuropatia
diabética
Percentual de usuários diabéticos que fizeram um exame completo
dos pés nos últimos 12 meses
>90%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado
pela equipe, abordando precocemente a doença
renal crônica
Percentual de usuários diabéticos com estratificação de risco para
DRC nos últimos 12 meses
>90%
Monitorar o cuidado necessário a ser efetivado
pela equipe, abordando oportunamente as
complicações crônicas decorrentes do DM
Percentual de diabéticos assistidos pela atenção secundária conforme
diretriz clínica
30%
Controlar fator de risco para desenvolvimento do
DM e das complicações cardiovasculares do DM
Percentual de usuários diabéticos que são tabagistas nos últimos 12
meses.
<13,5%
Controlar fator de risco para desenvolvimento do
DM e das complicações cardiovasculares do DM
Percentual de usuários diabéticos que realizam exercícios físicos
regulares conforme preconizado, nos últimos 12 meses.
>60%
Controlar fator de risco para desenvolvimento do
DM e das complicações cardiovasculares do DM
Percentual de usuários diabéticos com IMC maior que 25 que
perderam o peso preconizado nos últimos 12 meses.
>30%
Fazer vigilância de diabéticos em situação de
risco
Percentual de diabéticos com alta hospitalar avaliados pela equipe de
saúde (UBS ou visita domiciliar pelo ACS) até 1 semana após alta
>70%
Onde: DCNT = Doenças Crônicas Não Transmissíveis; COAP = Contrato organizativo da ação pública da saúde; DM = Diabetes Mellitus; LDL =
Colesterol (Low density lipoprotein); DRC = Doença renal crônica; IMC = Índice de massa corporal; UBS = Unidade Básica de Saúde e ACS = Agente
comunitário de saúde. Fonte: Adaptado de HRSA, 2008.12
228
4.7 Referências Bibliográficas
1. Mendes EV. As Redes de Atenção à Saúde: revisão bibliográfica, fundamentos,
conceito e elementos constitutivos. “In”: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. 2ª
edição. Brasil: Organização Pan-Americana da Saúde; 2011. 61-208.
2. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Atenção à Saúde do Adulto.
Linha-guia de Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Doença Renal Crônica. 3a edição
atualizada, 2013. [acesso em 03 Jan 2014]. Disponível em
http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/guia%20de%20hipertensao.pdf
3. Mendes EV. As mudanças na atenção à saúde e a gestão da clínica. “In”:
Mendes EV. As redes de atenção à saúde. 2ª edição. Brasil: Organização Pan-
Americana da Saúde; 2011. 293-438.
4. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Resolução SES nº 2606, de 7 de
dezembro de 2010. Institui o Programa Hiperdia Minas e dá outras providências. Diário
Oficial de Minas Gerais. 15 dez. de 2010; Diário do Executivo e Legislativo p. 73:74.
5. MENDES EV. O Cuidado das Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde:
O Imperativo da Consolidação da Estratégia de Saúde da Família.Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde; 2012.
6. Alves Jr AC. Consolidando a rede de atenção às condições crônicas: experiência
da Rede Hiperdia de Minas Gerais. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2011. (OPAS/OMS - Série Técnica – Série navegador SUS).
7. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Oficina de Sistematização das
Tecnologias Leves no Modelo de Atenção às Condições Crônicas da Secretaria de
Estado de Saúde de Minas Gerais. GRUPO ELABORADOR. Belo Horizonte, 2013
(NO PRELO).
8. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Protocolo Clínico dos Centros
Hiperdia Minas. 1a edição, 2013. (NO PRELO).
9. BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto nº7508, de 28 de junho de
2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a
organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à
saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficinal da União,
2011.
229
10. ______. Ministério da Saúde. Metas e indicadores para composição da parte II
do Contrato Organizativo de Ação Pública: Caderno. Brasília, 2012.
11. Ministério da Saúde. SIAB [Internet]. Brasil: Ministério da Saúde [acesso em 31
Dez 2013]. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php?area=01
12. Health Resources and Services Administration. HRSA Knowledge Gateway.
United States of America: [acesso em 15 Jan 2008]. Disponível em www.hrsa.gov/.