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Revista do Curso de Direito da Unifev
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1
LINHA
URÍDICA
ANO I, Vol. I – 2009 ISSN 2176-6460
REVISTA DO CURSO DE DIREITO DA UNIFEV
2
UNIFEV
Centro Universitário de Votuporanga
ANO I, Vol. I – 2009 ISSN 2176-6460
Conselho Editorial
Prof. André Luiz Herrera
Prof. Me. Douglas José Gianotti
Prof. Me. Edgard Pagliarani Sampaio
Prof. Paulo Eduardo de Mattos Stipp
Prof. Me. Jaime Pimentel
Prof.ª Ma. Nínive Daniela Guimarães Pignatari
Prof. Me. Walter Francisco Sampaio Filho
Coordenação do Curso de Direito da Unifev Prof. Me. Walter Francisco Sampaio Filho
Coordenação de Monografia e Extensão do Curso de Direito da Unifev Prof.ª Ma. Nínive Daniela Guimarães Pignatari
Equipe Editorial Discente
Gustavo Gomes Furlani
Revisão Final
Prof.ª Ma. Andréia Garcia Martin
Contato
Sobre a Revista
Linhas Jurídicas é um periódico online com periodicidade semestral de
caráter técnico-científico, que busca a ampla integração ensino-pesquisa-
extensão. Destinado a produção acadêmica dos docentes e discentes do
curso de Direito da UNIFEV, bem como do público acadêmico em geral,
de cunho jurídico e áreas afins.
1
UMA ABORDAGEM DA OBRA: “O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS
SOB A ÓPTICA DA TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO
CORDEIRO, Mateus Wanssa - Discente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
XAVIER, Vivian dos Santos - Discente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
SAMPAIO, Edgard Pagliarani - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
Miguel Reale criou a chamada Teoria Tridimensional do Direito que consiste
em compreender que o Direito é constituído por três elementos (norma, fato e valor).
Para ele, também a norma jurídica é constituída destes três elementos. Assim a
análise dos casos concretos pode ser feita mediante esta óptica tridimensional. Em
contraposição a esse posicionamento destaca-se o normativismo, teoria esta adotada
por Hans Kelsen; segundo o qual o Direito é constituído apenas de um elemento que
é a norma jurídica. A partir destes dois conceitos, pode-se promover uma análise de
uma obra literária e fictícia realizada por Lon Fuller, chamada “O Caso dos
Exploradores de Cavernas”. Conciliar a estrutura tridimensional com as necessidades
oriundas do caso abordado constitui o objetivo deste trabalho, a fim de esclarecer a
complexidade da teoria de Reale e suas grandes contribuições ao campo jurídico,
mais que isso, mostrar que a justiça nem sempre encontra seu caminho por meio da
tão-só aplicação da norma. Assim, analise-se à luz do tridimensionalismo um caso em
que se aplicou o normativismo, evidenciando que a decisão tomada não se aproximou
da justiça e da equidade. Isto se constata ao trazer à tona a inadequação de certas
normas aos casos concretos em que são aplicadas e as incompatibilidades existentes.
Portanto, às vezes, buscar a justiça pressupõe buscar o caminho mais complexo,
porém mais adequado. Se o caso de Fuller tivesse sido observado à luz do
tridimensionalismo aquelas vítimas não teriam passado por maiores transtornos
acrescidos à situação, o que não houve devido à uma falha na interpretação e na
aplicação da legislação ao caso concreto.
Palavras-chave: Norma. Fato. Valor. Tridimensionalismo. Justiça. Equidade. Normativismo.
2
Introdução
Aborda-se no discorrer deste
trabalho científico uma discussão
sobre a obra “O Caso dos
Exploradores de Cavernas” do autor
Lon Fuller, sob a óptica da Teoria
Tridimensional do Direito de Miguel
Reale.
A presente abordagem requer
a princípio um esclarecimento
acerca da Teoria Tridimensional do
Direito que será explanada a seguir:
[...] toda experiência jurídica
pressupõe sempre três elementos:
fato, valor e norma; ou seja, um
elemento de fato, ordenado
valorativamente em um processo
normativo. (REALE, 1999, p. 66).
Complementando o entendimento
supra discorre-se abaixo os dizeres
de Paulo Nader:
O direito não possui uma
estrutura simplesmente factual,
como querem os sociólogos;
valorativo, como proclamam os
idealistas; normativa, como
defendem os normativistas. Essas
visões são parciais e não revelam
toda a dimensão do fenômeno
jurídico. Este congrega aqueles
componentes mas não em uma
simples adição. Juntos vão formar
uma síntese integradora na qual
cada fator é explicado pelos demais
e pela totalidade do
processo. (2001, p. 459).
Ainda dentro da concepção
desse jurista, pode-se mencionar um
exemplo que facilitará a
compreensão no que diz respeito ao
assunto enfocado, como se nota
logo abaixo:
É nula a doação de todos os
bens sem reserva de parte, ou renda
suficiente para a subsistência do
doador (Artigo 1675 do Código Civil).
O fato – uma dimensão do Direito –
é o acontecimento social referido
pelo Direito objetivo. É o fato
interindividual que envolve
interesses básicos para o homem e
que por isso enquadra-se dentro dos
assuntos regulados pela ordem
jurídica. No exemplo citado, o fato é
a circunstância de alguém, possuidor
de bens desejar promover a doação
de seu patrimônio a outrem sem
reservar o suficiente para o custeio
de suas despesas. O valor é o
elemento moral do Direito, é o ponto
de vista sob a justiça. Toda obra
humana é impregnada de sentido ou
valor. Igualmente o direito. No caso
analisado, a lei tutela o valor vida e
pretende impedir um fato anormal e
que caracterizaria uma situação sui
generis de abuso do direito. A norma
3
consiste no padrão de
comportamento social, que o Estado
impõe aos indivíduos, que devem
observá-la em determinadas
circunstâncias. No exemplo do artigo
1675, a norma expressa um dever
jurídico omissivo. A conduta imposta
é de uma abstenção. Fato, valor e
norma acham-se intimamente
vinculados. Há uma
interdependência entre os três
elementos. A referência a um deles
implica, necessariamente, a
referência aos demais. (NADER,
2001, p. 461).
Contudo, pode-se concluir
que em todo fenômeno jurídico há
sempre e necessariamente um fato,
que pode ser econômico, geográfico,
demográfico; um valor que atribui a
significação a esse fato inclinando a
ação humana em prol de atingir ou
preservar certa finalidade; e
finalmente uma norma que constitui
a medida de integração de um
daqueles elementos ao outro, o fato
ao valor.
Esse trio (norma, fato e valor)
coexiste como unidade, existindo
separadamente, visto que atuam de
forma recíproca e dinâmica.
A compreensão integral do
Direito realiza-se diante da
verificação conjunta dos fatos,
valores e normas, os quais acabam
formando uma unidade: o próprio
Direito.
Passemos então ao relato de
“O Caso dos Exploradores de
Cavernas” para posteriormente
proceder a sua análise.
O caso fictício aborda a
convivência entre quatro homens
que, presos dentro de uma caverna,
encontram como solução para sanar
suas necessidades humanas, a
morte de um deles em prol da
sobrevivência dos demais.
Após resgatados foram
julgados e condenados à morte,
tendo em vista que o ordenamento
jurídico predominante na época
previa: “Aquele que privar a vida de
outrem será morto”.
Esse conjunto de
acontecimentos projeta ao aplicador
do direito um questionamento sobre
o que seria justo ou injusto perante a
situação em exame.
Procedendo-se a análise do
julgamento do caso constata-se a
pura e rígida aplicação da norma ao
proferir decisão de condenação à
morte dos exploradores. Porém,
houve uma desconsideração da
necessidade de adequação da
norma aos fatos ocorridos; fatos
estes completamente diferenciados
4
daqueles em que a sociedade estava
habituada.
No mais, questionar se as
atitudes daqueles homens se
enquadram como justas ou injustas
não constitui o ponto forte desta
discussão. Este se verifica ao
pensarmos nas excêntricas
condições atribuídas aos habitantes
da caverna tendo em vista que
viviam em um “estado de natureza”
que, segundo os dizeres de Hobbes
transcritos na obra de Dalmo de
Abreu Dallari, caracteriza-se como:
Uma permanente ameaça
que pesa sobre a sociedade e que
pode irromper sempre que a paixão
silenciar a razão ou a autoridade
fracassar. (Dallari, 2007, p. 13)
Destarte, aqueles conviventes
pouco favorecidos pelas
circunstâncias que os delimitavam
não se encontravam inseridos no
contexto do ordenamento jurídico
vigente. Este, através de suas
normas, não se adequava
perfeitamente às peculiaridades até
então vividas na caverna, podendo
sua aplicação ocasionar injustiças às
vítimas, o que somente retardaria o
processo de solução para a
problemática. Não há como se exigir
determinados comportamentos de
alguém tomado pela ânsia de seus
mais primitivos instintos. O que
aconteceu neste caso foi uma luta
pela subsistência.
Contudo, percebe-se a
necessidade do advento de um novo
sistema de normas que fosse
pertinente aos fatos e que em seu
conteúdo houvesse abrangência de
todos aqueles detalhes que
tornavam a situação diferenciada,
chegando-se a uma resolução mais
condizente com a realidade. Isso não
significa desviar a importância do
caráter da norma, mas sim atuar
contribuindo para que esta
coexistisse com o fato vivenciado na
presente abordagem e os valores
protegidos, formando, a partir desse
trio, uma unidade no caso concreto.
Por outras palavras, diz-se
que a interação dinâmica entre os
três elementos citados: a norma, o
fato e o valor poderiam instaurar a
justiça e a equidade numa situação
que praticamente as repudiavam.
Segundo Reale:
Se podem superar as lacunas
do direito graças a normas de
equidade, e que, mediante juízos de
equidade, se amenizam as
conclusões esquemáticas da regra
genérica, tendo em vista a
necessidade de ajustá-las às
5
particularidades que cercam certas
hipóteses da vida social.
Não raro, pratica injustiça o
magistrado que, com insensibilidade
formalística, segue rigorosamente o
mandamento do texto legal. Há
casos em que é necessário abrandar
o texto, operando-se tal
abrandamento através da equidade,
que é, portanto, a justiça amoldada à
especificidade de uma situação real.
(1999, p. 300)
Tais explicitações traduzem a
Teoria Tridimensional do Direito.
Nesta Reale aspira por uma análise
mais ampla dos casos em que
poderá produzir efeitos. Visa, além
disso, suprir as insuficiências que o
positivismo pode acarretar em
função da ausência de adequação
da lei ao caso em julgamento.
Inadequação esta que provoca
lacunas no ordenamento jurídico e
afasta o critério axiológico
consistente na justiça.
Segundo Paulo Nader,
depreende-se a respeito do
positivismo:
Para esta corrente de
pensamento o objeto da ciência do
direito tem por missão estudar as
normas que compõem a ordem
jurídica vigente. A sua preocupação
é com o direito existente. Nessa
tarefa o investigador deverá utilizar
apenas os juízos de constatação ou
realidade, não considerando os
juízos de valor. (2001, p. 449).
Na opinião de Eisenmann:
“não há mais Direito que o Direito
Positivo”. (NADER, 2001, p. 449).
Diante disso, sabe-se que, no
positivismo, a norma assume a
condição de único critério na decisão
das lides, enquanto no
tridimensionalismo três critérios se
integram (norma, fato e valor) dando
completude ao julgamento do caso
concreto.
Frente a esse antagonismo de
correntes percebe-se que existem
certas situações merecedoras de
ponderada observação e estudo
para então se decidir a respeito de
seu julgamento em contraposição
com a precipitada e exclusiva
aplicação da norma, sem
consideração de outros critérios,
cautela esta que deveria ter sido
tomada no caso abordado.
Não se obtém profundo
conhecimento do caso concreto
ausente à análise do seu pano de
fundo, visto que pode ser neste que
se encontra a solução que mais se
adeque aos ditames da justiça; o que
quer dizer que, o contexto em que a
6
norma se insere é de notável
relevância.
Paralelamente a isto, veja-se
que no passado, iniciou-se uma
onda de crimes que lesavam
relevantes valores sociais; delitos
estes praticados de forma que
chocou a todos. Foi neste contexto
que o legislador criou os crimes
hediondos (que causam
repugnância à sociedade); ou seja, o
momento histórico, o contexto vivido
foi essencial para a proteção do valor
da vida.
Percebe-se que o crime de
furto de, por exemplo, um alimento
em um supermercado é distinto de
um homicídio praticado a
tesouradas, daí não se enquadrarem
ambos como hediondos. Deve-se
haver uma proporcionalidade entre
as condutas e suas respectivas
penalizações.
Disso, permite-se
compreender que se a complexidade
do tridimensionalismo tivesse
ganhado espaço perante a análise
do caso hipotético de Lon Fuller,
poder-se-ia reverter o destino
daqueles homens condenados e
mais que isso, modificar
oportunamente, algumas falhas e
deficiências do sistema jurídico da
época e que refletiriam até a
atualidade.
Saliente-se que ao criar a
norma o legislador simulou situações
que exprimiriam identificação lógica
entre as condutas e as respectivas
normas que as incentivariam ou as
coibiriam, visando sempre a
proteção de um valor de importância
social; como por exemplo, a morte
de alguém e a justa punição do autor
do crime por ter lesado o valor da
vida.
Distante estava de sua
imaginação um caso como o
presente, com poucas
probabilidades de ser previamente
pensado.
Não que haja incompetência
do legislador por não ter cogitado
antecipadamente um acontecimento
como o discorrido no presente. E até
mesmo por este fato normal de não
cogitação; percebe-se a situação
imprevista, recebendo a sociedade
uma surpresa a se deparar com ela.
Assim, o imprevisto espera
desenvoltura em sua resolução; o
diferenciado não pode ser tratado
como comum. Não há como enxertar
o que é imprevisto na regra comum.
A pena de morte àquele que privar a
vida de outrem (regra) pode ser
7
viável em outro caso, mas não neste
(imprevisto).
Perante tudo o que foi
apresentado, conclui-se que o mais
adequado neste caso não consiste
em julgar de modo normativista
aqueles seres já psicológica e
emocionalmente abalados pelas
condições vividas, mas sim buscar
justiça através da apreciação da
estrutura tridimensional; assim como
se deve proceder nos casos em que
a norma se mostrar insuficiente para
proteger os reais valores de cada
caso concreto.
Não se pode ter um caminho
novo, mas sim uma forma nova de
caminhar.
Por todas as razões expostas,
depreende-se que o jurista pode
trilhar caminhos novos contribuindo
com a ampliação da visão do Direito;
não confessando sua incompetência
ao proferir decisões restritas visto
que a vida humana é valor supremo
e a ela não se impõem restrições.
8
Referências
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
Mateus Wanssa Cordeiro e Vivian dos Santos Xavier
9
TENDÊNCIAS E CRISES NA HERMENÊUTICA JURÍDICA CONTEMPORÂNEA
SAKATA, Kairo Rangel de Azevedo – Discente do 8° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
MIRANDA, Maryelle – Discente do 8° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
LINO, Pedro Neto – Discente do 8° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa bibliográfica é apresentar uma visão diacrônica da
hermenêutica jurídica apresentando seu desenvolvimento histórico desde sua gênese
até a atualidade. O trabalho, realizado por meio dos métodos dialético e comparativo,
enfoca regras, parâmetros, maneiras de aplicação bem como a evolução da
hermenêutica frente aos vários problemas que o intérprete enfrenta no conturbado
cenário jurídico contemporâneo. Visa, também, por meio da crítica aos diversos
métodos de interpretação jurídica, avaliar a coerência e os fundamentos das novas
tendências exegéticas.
Palavras–chave: Alternativismo. Hermenêutica jurídica. Métodos de interpretação.
10
Introdução
Hermenêutica significa,
genericamente, a arte de interpretar
o sentido das palavras. Carlos
Maximiliano define a hermenêutica
como “a parte da ciência jurídica que
tem por objeto o estudo e a
sistematização dos processos, que
devem ser utilizados para que a
interpretação se realize” (apud
FRANÇA, 1999, p. 03).
Não se deve confundir
Hermenêutica com a interpretação,
pois, aquela é ciência e interpretação
é arte. A interpretação é o objeto de
estudo da hermenêutica cuja tarefa
consiste em fornecer parâmetros,
técnicas e instrumentos, para auxiliar
o intérprete em seu trabalho.
Uma das primeiras formas de
hermenêutica foi a dos textos
sagrados, cujo objetivo era
desvendar o sentido das escrituras.
Contudo, para o estudo realizado, o
que importa é a hermenêutica
jurídica.
Pode-se dizer, então, que a
Hermenêutica jurídica é a ciência
que tem como objeto de estudo a
própria interpretação, realizada por
meio da aplicação dos métodos
estudados e das regras de
hermenêutica, estabelecendo
técnicas e parâmetros para melhor
se alcançar o significado de uma
expressão do Direito. E a
interpretação a arte de se alcançar o
verdadeiro significado dos textos
legais mediante a aplicação das
regras de hermenêutica.
Portanto, a hermenêutica
jurídica instrumenta as fontes do
direito, em especial a lei, e, mediante
seus métodos e sistemas, torna a
interpretação do Direito mais
eficiente.
Interpretação jurídica
A interpretação jurídica é a
operação que tem por fim fixar o
sentido de determinada norma
jurídica.
A interpretação é de suma
importância para a aplicação do
direito, pois, sem ela, ficar-se-ia a
mercê de enunciados obscuros e
ambíguos.
Aplicar o Direito é transferir
para um caso particular e concreto a
decisão que se encontra na regra
abstrata, aplicando o direito a uma
realidade fática.
Contudo, não se deve
restringir a interpretação do direito a
11
uma estreita interpretação literal do
texto expresso na lei, pois clara é a
sua limitação para exprimir o
verdadeiro significado do Direito.
Nesse sentido, França (1999)
esclarece que tanto a hermenêutica
quanto a interpretação se dirigem ao
direito que a lei exprime, num
esforço de alcançar aquilo que, por
vezes, o legislador não manifestar
com a necessária clareza e
segurança.
Vê-se, pois, que a lei é
endereçada a alcançar o verdadeiro
significado de uma expressão do
direito, que não se deve restringir tão
somente ao que está expresso no
texto legal, mas sim atingir, mediante
a convergência dos métodos
interpretativos, o ideal de justiça.
Sistemas de hermenêutica
segundo o momento histórico
(evolução diacrônica)
Para compreender a evolução
da Hermenêutica, deve-se analisá-la
a partir de suas conexões com a
história.
A primeira grande fase
ocorreu antes da revolução
Francesa. Nessa época, a vontade
do soberano era a lei e os textos
jurídicos se confundiam com os
imperativos divinos. Partia-se da
premissa de que o soberano era o
representante da divindade na terra,
ou seja, o Estado é soberano e esse
é a lei. Nesse sentido, a norma nada
mais é do que a expressão da
vontade do soberano, e dela
emanam todas as vontades divinas.
Nessa época, não havia a
possibilidade de interpretar a norma
jurídica, devendo o aplicador aceitá-
la tal como estava, sob pena de
incorrer em crime de falso, e ter o
interprete, suas obras sequestradas
e queimadas. Tem-se como exemplo
o terceiro prefácio ao Digesto onde o
Imperador Justiniano determinou
que quem ousasse tecer
comentários interpretativos à sua
compilação incorreria crime de falso.
Nessa época a vontade do rei era
soberana.
No segundo momento, de
1789 (Revolução Francesa) até 1945
(fim da 2º grande Guerra), a ideia do
poder soberano voltada numa
investidura sobrenatural vai se
enfraquecendo até desaparecer.
Surge, então, a ideia da lei como um
contrato social, sendo esta a
expressão da vontade popular. Com
isso ocorre uma limitação ao poder
soberano do governante, ou seja, a
lei passa a ser uma garantia popular.
Agora a lei é soberana.
12
Predominou nesse período a
escola da “exegese” que vê na
norma uma poder absoluto. A
separação dos poderes surge como
dogma e o Direito é monopólio do
Legislativo, segundo um processo
racionalizado e previamente
constitucionalizado. O aplicador do
direito, representando o poder
judiciário, deveria limitar-se a fazer
uma interpretação literal do que
estava escrito no texto. Não poderia
temperar, aparar arestas nem evoluir
a norma, ainda que para dar-lhe uma
aplicação mais justa e adequada ao
momento social presente.
O terceiro momento ocorreu
depois da 2º grande Guerra Mundial,
com o nascimento das correntes
antipositivistas. Buscou-se, a partir
das novas tendências
hermenêuticas, a interpretação das
leis como garantia de justiça,
havendo uma grande ampliação no
campo de poder decisório do juiz.
Agora as leis poderiam ser
interpretadas de maneira mais
flexível, atendendo aos anseios da
sociedade, aos valores éticos, aos
fundamentos e à eficácia. O juiz
deverá buscar soluções decisórias
harmônicas com o ordenamento
jurídico, mas que também sejam
justas e socialmente aceitáveis. Para
tanto, ainda que o juiz não considere
a lei de modo literal, deverá basear-
se em princípios constitucionais para
decidir sobre casos concretos.
O exemplo extremo dessas
correntes são as decisões contra
legem proferidas atualmente por
vários magistrados, que buscam
aplicar o Direito em sua essência,
mesmo que, para isso, julguem além
dos parâmetros traçados pela
legislação infraconstitucional.
Sistemas interpretativos
Segundo a classificação de
França, os sistemas interpretativos
são divididos em três grandes
grupos ou fases. “a) – Dogmático,
Exegético ou Jurídico Tradicional, b)
– Histórico-evolutivo e c) – Livre
pesquisa ou livre criação do Direito”
(FRANÇA, 1999, p. 12).
Sistema dogmático exegético ou
jurídico tradicional.
Considera-se somente a Lei.
Tem-se a ideia de que esta é clara e
exprime precisamente a vontade do
legislador. O intérprete não pode
achar um significado senão o
expresso no texto legal, tornando-se
assim seu escravo, tendo que aceitar
13
a norma, tal como está feita, e não
corrigi-la a pretexto de interpretá-la.
Há duas subdivisões:
Extremada: Prima-se a lei
como clara, exprimindo
precisamente tudo aquilo que o
legislador logrou em pensar. Para
Laurent a letra é “a fórmula do
pensamento” e “dizer que esse
pensamento será outro que não
aquele expresso no texto claro e
formal, é acusar o legislador de uma
leviandade que não se lhe pode
imputar” (FRANÇA, p. 14).
Moderada: Trata-se de linha
dogmática, no entanto, traz algumas
regras de interpretação,
demonstrando-se menos aguda do
que a corrente extremada. Admite-se
em casos duvidosos a interpretação
sistemática, consulta às fontes que
propiciaram o texto ao legislador, o
exame dos trabalhos preparatórios,
ponderação das consequências das
interpretações possíveis e,
finalmente, a indagação do espírito
da lei.
Sistema histórico evolutivo.
Mais flexível que o sistema
exegético, admite uma interpretação
ampla, preconizando às
necessidades sociais. É realizada
através da aplicação de métodos
para corrigir as imperfeições da lei.
Reconhece-se que há nesta, vícios,
que devem ser corrigidos pelo
aplicador.
Esse sistema distingue os
quatro elementos básicos da
interpretação (gramatical, lógico,
histórico e sistemático), dizendo
estes não ser quatro espécies
distintas de interpretação, mas
operações que devem atuar em
conjunto.
Nesse sentindo, visando
atingir o verdadeiro significado da
norma, o aplicador do Direito não se
baseia apenas na letra da lei, mas
em uma série de fatores que podem
ter se modificado quando da sua
criação.
Interpretação Gramatical: é a
interpretação que, hoje em dia, leva
em consideração o alcance das
expressões de cada uma das
palavras do texto legal. Durante
muito tempo no Direito Romano, foi
concebido como o único método
aceitável à aplicação do Direito,
ficando vedado ao intérprete dar
qualquer outro significado ao
preceito legal, senão o que estava
expresso na norma.
Atualmente, esse método de
interpretação somente é tomado
14
como ponto de partida, pois
analisado sozinho é insuficiente para
chegar-se a um resultado
conclusivo. Para ter uma eficiente
aplicação do Direito, o método
gramatical deve ser aplicado em
articulação com outros elementos.
Interpretação Lógica:
considera a conexão dos vários
sentidos das locuções, expressões e
orações do direito. Para haver lógica,
deve haver conexão e sentido entre
as expressões de todo o
ordenamento. Quase sempre esse
método toma posse do gramatical.
Interpretação histórica: é um
método de interpretação
fundamental, pois leva em conta o
meio e o momento em que a norma
foi criada. Nesse caso, o aplicador
indaga as condições da elaboração
desta, objetivando avaliar o contexto
no momento da criação, em outras
palavras, ocupa-se da razão de ser
da lei.
Para França a interpretação
histórica “é aquela que indaga das
condições de meio e momento da
elaboração da norma legal, bem
assim das causas pretéritas da
solução dada pelo legislador”
(FRANÇA, 1999, p. 10).
Interpretação Sistemática: a norma
deve apresentar uma perfeita
ressonância e conexão com o
instituto em que se encontra,
estabelecendo efetiva harmonia com
os vários sistemas e institutos
contidos no ordenamento.
Como já mencionado acima,
devem ser aplicados todos os
métodos expostos de maneira
conjunta e não analisar determinado
caso, adequando somente um ou
outro.
Tarefa difícil será o aplicador
se valer de todos os meios para o
alcance da expressão. Porém, para
uma real extração da essência,
deve-se buscar utilizar todos,
mesmo que não se consiga aplicá-
los em unidade.
Sistema da livre pesquisa
Também denominado da
“Livre Formação do Direito”,
encontra o mesmo fundamento do
sistema histórico evolutivo, que é
remediar os males do dogmatismo
jurídico, estabelecendo-se a
diferença nos meios em que se
valem. A escola do sistema histórico
- evolutivo cinge-se à influência
mesológica, ou seja, contenta-se
com a contemplação do mundo
15
exterior, não alcançando o mundo
interior do julgador e seu sentimento
frente à situação. Já o sistema da
livre pesquisa tem uma amplitude de
vista mais dilatada, e considera, ao
lado da lei estatal, outras fontes
jurídicas dotadas de vida autônoma,
cedendo lugar a um novo direito,
que, para os extremados, pode
sobrepor-se ou mesmo contrapor-se
às disposições legais.
Há nesse sentido duas
atitudes bem distintas em meio aos
propugnadores de livre pesquisa,
que se poderia chamar de romântica
e a propriamente científica.
Na primeira, os magistrados,
em suas sentenças, procediam de
total liberação às peias legais, tendo
em suas decisões uma coloração
das suas próprias ideias políticas ou
cunho dos seus pendores
sentimentais. Já a segunda,
prevalece de uma orientação
totalmente científica, norteando-se o
aplicador pelos princípios
fundamentais do direito.
Novas tendências do direito
Com base em tudo o que foi
exposto, torna-se claro o rumo que o
Direito toma frente às tendências
contemporâneas no que tange à
interpretação das normas.
Alguns juristas não admitem
as ideias do Direito Alternativo como
uma evolução e veem nelas um
emaranhado de ideias políticas sem
nenhum sentido ou fundamento
lógico.
É preciso, porém, analisar o
Direito em seu caráter dialético,
como instrumento que deve
acompanhar as mudanças e os
anseios sociais, que, via de regra,
não são estáticos, alterando-se ao
longo da história.
Enganoso pensar que Direito
dogmático é suficiente para suprir
satisfatoriamente os anseios da
sociedade contemporânea. Tudo
isso realiza nas inúmeras decisões
de juízes que vem contrariando o
texto legal, buscando a justiça e a e
equanimidade ao aplicar a lei em
casos concretos.
O modelo teórico do Direito
Alternativo deve ser compreendido
no complexo percurso de conquistas
emancipatórias e, também, à luz da
meta igualitária que une todos os
seus agentes.
A sentença, etimologicamente, é um
“sentir”. Há de se notar que as
decisões de juízes alternativistas
satisfazem a expectativa social mais
16
do que as proferidas por juízes
radicalmente legalistas, pois
aqueles, agindo conforme suas
percepções, exteriorizam na
sentença um convencimento íntimo
diante das nuances sutis do fato
concreto posto para julgamento. O
juiz legalista parte da lei para a
aplicação desta ao caso concreto,
perfazendo um silogismo
matemático inadequado às questões
essencialmente valorativas que
interessam ao direito. O juiz
alternativista, após amplo exame dos
fatos, sente o que é justo e, só
depois, parte para o estudo
sistemático e teleológico do
arcabouço legal em busca de
justificativas que sirvam de
fundamento à decisão premeditada.
Muitas vezes, encontrará tais
amparos não nos códigos, mas em
princípios e na interpretações
destes.
É claro que a proposta
alternativista tem seus riscos, pois
exige e pressupõe magistrados com
visão ampla do direito, formação
humanística sólida, bom senso e
imparcialidade, caso contrário, a
segurança jurídica estará
comprometida. Mas é exatamente
isso o que se espera daqueles que
pertencem ao poder judiciário e são
incumbidos pelo Estado da alta
tarefa de julgar pessoas. Se os
juízes não forem justos e
equilibrados, nem mesmo leis duras
e interpretações inflexíveis serão
eficazes para a contenção de
decisões descabidas ameaçadoras
da segurança jurídica.
Por outro lado, aponta-se o
risco de que decisões contra legem
autorizem a invasão de um poder
(judiciário) na esfera de atribuições
do outro (legislativo). Tal argumento,
embora seja exposto por alguns
doutrinadores que defendem o
legalismo radical na aplicação da lei
pelo judiciário, não é consistente a
ponto de excluir os debates sobre a
tese alternativista. O juiz realmente
ascende ao cargo por concurso
público e, na verdade, não tem
mandato popular. Portanto, não
exerceria cargo estritamente político
e não estaria autorizado a legislar.
Todavia, entendemos que o
magistrado que julga além ou
mesmo contra a lei (mas orientado
pelo senso de justiça e em
consonância com os princípios
norteadores do estado democrático
de direito brasileiro), não está
exatamente legislando, uma vez que
essa decisão será aplicada apenas
ao caso concreto e vigorará com
17
seus efeitos exclusivamente entre as
partes envolvidas no processo. Não
tem essa decisão a implicação e o
efeito geral que caracteriza as
emanações legislativas, além do que
tal decisão pode ser revista em
outras instâncias. Por essa razão o
risco de o poder judiciário extrapolar
suas funções invadindo as
atribuições do poder legislativo não
representa ameaça real ao equilíbrio
dos três poderes, até mesmo porque
a invasão de um poder na esfera do
outro não constitui nenhuma
ilegalidade ou mesmo novidade no
contexto da democracia nacional,
caracterizada pela edição de
súmulas vinculantes e de inúmeras
medidas provisórias. Além disso,
compete ao judiciário o controle da
constitucionalidade, sendo essa uma
de suas funções. Ademais, as
decisões não razoáveis ou
descabidas são passíveis de reforma
em grau recursivo, o que reduz os
perigos da extrapolação apontada
como impedimento ao uso
alternativo do direito.
Considerações finais
Cada vez mais o aplicador do
Direito desvincula-se do dogmatismo
estabelecido durante vários séculos,
buscando aplicar o Direito na sua
verdadeira essência e significado,
qual seja alcançar a justiça e a paz
social.
O ordenamento jurídico
evoluiu frente aos problemas sociais,
ocorrendo uma grande
transformação histórica, vez que, os
aplicadores do Direito assimilam
dinamicamente novos métodos e
técnicas de interpretação, buscando
alcançar e até mesmo construir
significados para norma jurídica. Isso
torna o direito operativo e vivo e
permite que ele se renove,
contribuindo para a realização da
justiça.
.
18
Referências
AQUINO, Bruno de Parreira Xavier. Direito Alternativo. Curitiba: Juruá, 2007.
BOMFIM, Benedito Calheiros. O uso do direito alternativo. Disponível em: www.solar.com.br. Acesso em 10 de maio de 2009.
CALLADO, Gilberto de Oliveira. Direito Alternativo. A Verdadeira Face do Direito Alternativo. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
CARVALHO, Amilton Bueno de. Direito Alternativo. Teoria e Prática do Direito Alternativo. 1. ed. Porto Alegre, 1998. 1. v.
FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 7. ed. rev. e aum. São Paulo: Saraiva, 1999.
GENRO, Tarso Fernando. “Os juízes contra a lei”, in Edmundo Lima de Arruda Jr. (org.), Lições de direito alternativo, 1991, vol. 1, p.27.
MARQUES, Alberto. Roteiro de hermenêutica: técnicas para interpretar o direito e construir argumentações jurídicas convincentes. Curitiba: Juruá, 2006.
SILVEIRA, Eustáquio. O (verdadeiro) movimento pelo direito alternativo. Disponível em: www.infojus.com.br
Kairo Rangel de Azevedo Sakata, Maryelle Miranda e Pedro Neto Lino
19
OS EFEITOS DA APROVAÇÃO DA SÚMULA 370 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A DEFESA DO CONSUMIDOR.
BREVIGLIERI, ETIENE MARIA BOSCO - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
LERIANI JÚNIOR, FLÁVIO ENRIQUE - Docente 3º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
FACIONI, FERNANDO ALBERTO DE JESUS HONÓRIO Docente 3º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
FERNANDES, BARBARA ROSSI - Docente 3º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
POLOTTO, SÍLVIA MARCIA - Docente 5º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
Muito se discutiu sobre a aprovação da Súmula 370 do Superior Tribunal de
Justiça e seus efeitos no âmbito jurídico. A nova Súmula afirma que a apresentação
antecipada do cheque pré-datado será passível de obtenção do dano moral por aquela
instância jurisdicional. Contudo, o entendimento do STJ contrasta com o dispositivo
do artigo 32 da Lei do Cheque (Lei 7.357) que conceitua o cheque como ordem de
pagamento à vista. Para que a aplicabilidade da Súmula seja efetiva, isto é, torne-se
vinculante ou ainda seja ratificada pelo Poder Legislativo como lei, é necessário
entender os motivos que incitaram o STJ a criar a tal regra. A principal razão para a
criação da Súmula é a tentativa de solução harmônica para a excessiva quantidade
de recursos que chegam ao tribunal, provenientes de decisões que em muitas vezes
envolvem relações de consumo nas quais o consumidor é lesado quando utiliza o
cheque pré-datado. De tal modo, o presente trabalho estuda a eficácia da Súmula 370
conexa às relações de consumo litigantes como forma de prevalência dos Princípios
da Vulnerabilidade e da Hipossuficiência do consumidor. Para tanto utilizou-se o
método dialético.
Palavras-chave: Súmula. Cheque. Efeitos. Dano Moral. Consumidor.
20
Introdução
O presente trabalho tem como
tema a Súmula de número 370
aprovada pelo STJ (Superior
Tribunal de Justiça) e sua relação
com a Lei 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor). Sua
aprovação pelos ministros do STJ
trouxe muita polêmica no mundo
jurídico tendo em vista que há
divergências a respeito de sua
aplicabilidade.
O estudo foi fundamentado
com base nos Princípios da
Vulnerabilidade e da
Hipossuficiência do consumidor.
Também é de suma importância
ressaltar que art. 48 do CDC e o
art.5º, XXXII da CF (lei máxima
fundamental do Estado), serviram
como alicerce da pesquisa.
Primeiramente, far-se-á uma
análise sobre os conceitos de
consumidor, fornecedor, títulos de
crédito, cheque, práticas comerciais
em relação ao cheque e práticas
abusivas descritas no CDC (Código
de Defesa do Consumidor).
Por fim, será analisada a
questão do dano moral (sanção
imposta pela Súmula 370) a fim de
que o leitor construa uma opinião
jurídica acerca da utilização desse
instituto como meio coercitivo de
práticas comerciais abusivas.
1. O conceito de consumidor
O caput do art. 2º e seu
parágrafo único da lei 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor)
estabelecem que “Consumidor é
toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final (NUNES,
2005, p.71). É necessária a
interpretação do caput do art. 2º do
CDC a fim de elucidar alguns termos
como “consumidor” e “destinatário
final”.
Inicialmente, faremos uma
breve explicitação do significado de
consumidor, que vem a ser toda
pessoa física, natural e toda e
qualquer pessoa jurídica que adquire
e consome produtos ou serviços. No
sentido lato, pode-se dizer que além
de adquirir é necessário à utilização
do produto ou serviço.
Pode-se conceituar
destinatário final como toda pessoa
física ou jurídica que adquire
produtos ou serviços para uso
próprio sem a finalidade de
comercializá-los. Vale ressaltar que
21
nem sempre o destinatário final será
aquele que adquiriu o produto ou
serviço, pois aquele que não o
adquiriu mais o usou ou consumiu,
também será considerado
destinatário final.
Nesse sentido Cláudia Lima
Marques leciona:
É o consumidor Endverbraucher, o
consumidor final, o que retira o bem
do mercado ao adquirir ou
simplesmente utilizá-lo (destinatário
final fático), aquele que coloca um
fim na cadeia de produção
(destinatário final econômico) e não
aquele que utiliza o bem para
continuar a produzir, pois ele não é
consumidor final, ele está
transformando o bem, utilizando o
bem para oferecê-lo por sua vez ao
cliente, seu consumidor (MARQUES
apud MONSELLO, 2007, p. 392).
2. O conceito de fornecedor
O caput do art.3º do CDC
estabelece:
Art.3º - Fornecedor é toda
pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes
despersonalizados, que
desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação,
construção, transformação,
importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
De acordo com os
ensinamentos de Rizzatto Nunes:
“fornecedor é gênero do qual o
fabricante, o produtor, o construtor, o
importador e o comerciante são
espécies”. (2005, p. 90).
Nesse vértice, são
considerados fornecedores aqueles
que proporcionam a oferta de
produtos e serviços no mercado de
consumo com a finalidade de
atender às necessidades dos
consumidores.
3. Dos títulos de crédito e o conceito
de cheque
Os títulos de crédito são
documentos que representam
obrigações pecuniárias. Eles não se
confundem com a própria obrigação,
pois esta pode se representar por
variados instrumentos jurídicos. Traz
Fábio Ulhoa Coelho que;
Se devedor e credor
estiverem de acordo quanto à
existência da obrigação e também
quanto à sua extensão (o valor da
indenização devida), esta pode ser
representada por um título de crédito
22
– cheque, nota promissória ou letra
de câmbio. (COELHO, 2003, p. 227).
O mesmo autor também
define o cheque como:
[...] uma ordem de pagamento
à vista, sacada contra um banco e
com base em suficiente provisão de
fundos depositados pelo sacador em
mãos do sacado ou decorrente de
contrato de abertura de créditos em
ambos. O elemento essencial do
conceito de cheque é a sua natureza
de ordem à vista, que não pode ser
descaracterizada por acordo entre
as partes. (COELHO, 2003, p. 228).
Qualquer cláusula inserida no
cheque a fim de alterar sua
característica de pagamento
imediato, será considerada ineficaz
conforme nos traz o artigo 32 da Lei
7.357 de 1985, que é a Lei do
Cheque. Assim, o cheque é emitido
com data futura não produzirá
nenhum efeito cambial; importando
em título de crédito a prazo, de modo
adverso ao seu conceito.
4. Práticas comerciais em relação ao
cheque
O prazo é uma forma de
adequação dos meios que
fornecedores e consumidores
dispõem para alcançarem a simetria
do interesse que os vinculam nas
relações jurídicas de consumo. O
fornecedor carece da participação do
consumidor para que haja o
consumo, de tal modo que ele não
deve considerar apenas o seu
interesse subjetivo, devendo
apreciar também a vontade do
consumidor. Por motivos diversos,
sejam eles relacionados às
condições financeiras das pessoas,
ou provenientes de força maior ou
caso fortuito, nem todas as
obrigações são cumpridas no ato, na
maioria delas existe um decurso de
tempo que separa a celebração
(termo inicial) da prestação (termo
final), denominado de prazo.
Destarte, ele tornou-se um elemento
essencial para o cumprimento das
obrigações, inclusive as que
decorrem de uma relação de
consumo. Também, é comum, os
fornecedores utilizarem o prazo
como método de marketing, para
persuadir as pessoas a consumirem
cada vez mais, e em quantidade
maior. Por isso sempre são feitas
promoções de vendas do tipo
compre agora e pague depois.
Assim sendo, por qualquer
que seja o motivo, quando as partes
determinarem prazo para o
cumprimento das obrigações, ele
23
deve ser respeitado, pois decorre da
vontade livre delas e, além disso, o
Direito assegura-lhes a liberdade
para a celebração do negócio
jurídico, desde que respeitados os
requisitos do Art. 104 da Lei 10.406
de 10/01/2002 (Código Civil).
Vimos que a compensação do
cheque pré-datado antes da data
acordada pelas partes e informada
na parte inferior do documento não é
defesa pela própria Lei do Cheque,
haja vista que no artigo 32 ela dispõe
que “o cheque é pagável à vista,
considerando-se como não-escrita
qualquer menção em contrário”.
Além disso, sabe-se que muitas
vezes o credor não respeita a pós-
datação do documento descontando
ou depositando o cheque antes da
data convencionada. Todavia, o
prazo decorre da própria vontade
das partes e não poderia uma delas
exonerar-se da prestação sem
cumpri-la do modo que foi exigido no
ato da celebração, e caso cumprir a
obrigação de modo diverso e que
venha a lesar a outra, seu dever é
indenizá-la. É como versa a Lei
10.406 de 10/01/2002 (Código Civil),
quando combinados os artigos 186,
187, e 927, determinando que toda
ação ou omissão volitiva, negligência
ou imprudência, excesso em
exercício de direito, que incida em
dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, é de
reparação obrigatória, sendo o
causador do dano responsável pela
indenização, independentemente de
demonstração de culpa nos casos
especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano, configurar, por
sua natureza, riscos para os direitos
de outrem.
4.1 Práticas abusivas
O CDC regulamenta as
práticas comerciais nos artigos 39,
40 e 41. Entretanto, apenas aquelas
elencadas no artigo 39 e seus
respectivos incisos, é que são
realmente consideradas abusivas.
As práticas abusivas são atividades
irregulares de negociação, que
abusam da boa-fé do consumidor
sendo, portanto, consideradas
ilícitas independente de seus efeitos
gerarem ou não danos ao
consumidor. Isto acontece devido ao
fato do consumidor ser considerado
a parte mais vulnerável na relação
de consumo (princípio da
vulnerabilidade e da
hipossuficiência).
24
5. A súmula 370 aprovada pelo
superior tribunal de justiça
Os ministros da 2ª seção do
STJ (Superior Tribunal de Justiça)
aprovaram no dia 17 de fevereiro de
2009, por votação unânime, a
Súmula 370. O projeto que originou
esta Súmula foi relatado pelo
ministro Fernando Gonçalves,
dispondo que o cheque pré-datado
que for descontado na instituição
bancária correspondente antes do
dia ajustado pelas partes caracteriza
dano moral.
A nova Súmula traz em seu
texto a seguinte redação:
“caracteriza dano moral a
apresentação antecipada do cheque
pré-datado”. Porém, as instâncias
inferiores podem continuar julgando
de forma diversa, uma vez que a
Súmula não tem efeito vinculante e
não alterou o texto da Lei do
Cheque.
A Lei do Cheque estabelece
em seu texto que o cheque é uma
ordem de pagamento à vista que,
uma vez emitido, poderá ser exigido.
Todavia, vemos que na prática esse
entendimento é defasado e foi
derrubado pelos costumes, já que
são frequentes os parcelamentos em
cheque.
De acordo com o
entendimento do STJ, o comerciante
deverá respeitar o prazo se aceitar
um cheque pré-datado. Todavia, se
compensar o cheque antes da data
convencionada pelas partes, incidirá
na violação do princípio da boa-fé, e
consequentemente responderá por
dano moral.
O art.48 do CDC traz a
seguinte redação:
As declarações de vontade
constantes de escritos particulares,
recibos e pré-contratos relativos às
relações de consumo vinculam o
fornecedor, ensejando inclusive
execução específica, nos termos do
art.84 e parágrafos.
Com base neste artigo, as
declarações de vontade por meio de
acordos vinculam as partes. Aquele
que emite o cheque fica
comprometido a pagar a quantia na
data que ficou ajustada pelas partes.
Destarte, aquele que recebe o
cheque fica comprometido a esperar
a data ajustada pelas partes para
poder compensá-lo. Vale salientar
que o texto da CF (lei máxima
fundamental do Estado), traz em seu
art.5º, XXXII a seguinte redação: “o
Estado promoverá, na forma da lei, a
defesa do consumidor”.
25
Para o CDC, todo consumidor
quer for lesado, terá todo o direito de
ser indenizado, pelo fato de ser a
parte mais vulnerável nas relações
de consumo e por ter tido seus
direitos violados nessas situações.
6. O conceito de dano moral
Nunes e Caldeira afirmam
que:
[...] o dano moral é aquele que
afeta a paz interior de uma pessoa,
atingindo-lhe o sentimento, o decoro,
o ego, a honra, enfim, tudo o que não
tem valor econômico, mas que lhe
causa dor e sofrimento. É, pois, a dor
física e/ou psicológica sentida pelo
indivíduo. (1999, p.1).
Assim o dano moral consiste
em toda e qualquer ofensa ou
violação que não venha a ferir os
bens patrimoniais, mas aos
princípios de ordem moral, tais como
os que se referem à liberdade, à
honra, à imagem, à família, entre
outros. Sempre que uma pessoa for
exposta a uma situação humilhante,
vexatória ou degradante, afrontando
assim a sua moral, poderá exigir, na
justiça, indenização pelos danos
morais sofridos.
Nas relações de consumo
atuais há muitas formas de abusos
praticados por fornecedores de
produtos e serviços e que geram
dano moral. Dentre elas podemos
elencar: bloqueio ou desconto total
ou parcial superior a 30% dos
proventos (nos casos de prévia-
autorização do cliente) feito pelos
bancos; permanência de restrição
após a quitação ou a prescrição de
dívida, ou ainda, inscrição indevida
do nome em cadastros negativos
(SPC E SERASA); inscrição do
nome de todos os correntistas, se
tratando de conta conjunta, nos
órgãos de proteção ao crédito,
quando na falta de fundos para a
compensação de cheque assinado
apenas por um deles; entre outros.
7. A possibilidade de utilização do
PROCON
Com a aprovação da Súmula
370 pelos ministros do STJ, se o
fornecedor compensar um cheque
antes da data convencionada, o
consumidor poderá recorrer ao
PROCON (Procuradoria de Proteção
e Defesa do Consumidor) a fim de
assegurar a devolução do dinheiro,
para pagamento de outros
compromissos. Será assegurada ao
consumidor a cobertura de sua conta
bem como a emissão de outro
26
cheque para a data ajustada entre as
partes. Se isso não ocorrer o
consumidor poderá ainda intentar
uma ação na justiça, a fim de ser
ressarcido.
Conclusão
É sabido que a Súmula 370
aprovada pelo STJ não vincula as
instâncias inferiores a seguirem o
seu teor, porque não se trata de uma
Súmula vinculante. Assim, nos casos
da apresentação antecipada do
cheque pré-datado, os magistrados
poderão prolatar sentenças com
entendimento diverso do STJ,
atendendo ao Princípio do Livre-
Convencimento (Lei 5.869 de
11/01/1973 – Código de Processo
Civil, Artigo 131) e ao disposto no
artigo 32 da Lei 7.357 de 1985.
Contudo, quando a decisão
do juiz prejudicar o consumidor ele
poderá recorrer à Segunda Instância
e, se mantida a sentença, poderá
interpor recurso ao STJ (desde que
preenchidos os requisitos de
admissibilidade de recursos).
Quando o recurso subir ao STJ, ele
será provido a favor do consumidor
conforme o entendimento do tribunal
representado pela nova Súmula.
Discute-se sobre a
comprovação dos efeitos do dano, e
quais hipóteses o configura. Porém a
redação da Súmula é precisa, e
dispõe que a apresentação
antecipada do cheque pré-datado é
o que caracteriza o dano, não
importando se ele é de pequena ou
grande monta. Obviamente se os
efeitos causarem prejuízos
relevantes ao consumidor, como a
devolução por insuficiência de
fundos, acompanhada de inscrição
de seu nome nos serviços de
proteção ao crédito, e encerramento
da sua conta, recusa de talonário ou
de compra por restrição de crédito;
ou ainda adesão ao cheque especial,
ou também impossibilidade do
pagamento de outras contas; restará
agravada a situação, devendo tais
circunstâncias ser sopesadas no
momento da fixação do montante da
indenização.
Quanto à possibilidade de a
decisão do STJ prejudicar a
pretensão do fornecedor e couber-
lhe recurso ao Supremo Tribunal
Federal (o que é muito difícil, devido
aos requisitos de admissibilidade de
recursos que devem ser atendidos),
necessário se faz salientar que a
Constituição Federal promove a
proteção do consumidor,
27
destacando-se inicialmente o seu
artigo 5º, inciso XXXII (capítulo
relacionado aos “Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos”), que inclui
dentre os deveres atribuídos ao
Estado Brasileiro, a promoção na
forma da lei, da defesa do
consumidor. Podemos citar também
a atribuição de competência
concorrente para legislar sobre atos
que lesem o consumidor (CF, art. 24,
VIII), além da defesa do consumidor
motivar a intervenção do Estado na
economia (CF, art. 170, V). Destarte,
o STF não pode decidir de forma que
prejudique o consumidor, lesando o
Princípio de sua Vulnerabilidade no
Mercado de Consumo (CDC, art. 4º,
inciso I), e também o Princípio da
Repressão aos Abusos no Mercado
de Consumo (CDC, art. 4º, inciso VI).
Além disso, a apresentação
antecipada do cheque pré-datado
representa uma ofensa ao Princípio
da Boa-Fé do Consumidor (CDC, art.
4º, inciso III), já que a pós-datação
do cheque é oriunda da convenção
das vontades das duas partes.
Posto isto, é imprescindível
que o Supremo Tribunal Federal
vincule a Súmula 370 do Superior
Tribunal de Justiça a todos os
tribunais, ou ainda que o legislador
inove o ordenamento jurídico, a fim
de satisfazer os anseios e as
expectativas da sociedade atual,
abolindo a existência de normas
contrárias ao interesse social,
modificando a norma do o artigo 32
da Lei 7.357 de 1985, para a
seguinte redação: considera-se o
cheque uma ordem de pagamento à
vista, salvo se as partes
convencionarem a pós-datação, que
deverá ser respeitada; sujeitando-se
a parte que apresentá-lo
antecipadamente ao dever de
indenizar a outra pela ocorrência de
dano moral.
CON Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor
28
Referências
BREVIGLIERI, Etiene Maria Bosco. A proteção constitucional do consumidor. Votuporanga, 05 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.unifev.edu.br/v006/graduacao/direito/artigos.php - Acesso em 27/03/09
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
______, Lei 5.869 de 11/01/1973, Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm - Acesso em 20/03/09
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______, LEI 8.078 de 11/09/1990 (Código de Defesa do Consumidor), Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm - Acesso em 20/03/09
______, LEI 10.406 de 10/01/2002, Institui o Código Civil. Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm - Acesso em 20/03/09
______, Supremo Tribunal de Justiça. Súmula n.º 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado. Disponível em: http://www.stj.jus.br/. Acesso em: 16/03/09.
BULGARELLI, Waldirio. Títulos de créditos. 14. ed. São Paulo: Atlas. 2001.
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 14. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003.
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NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto, CALDEIRA, Mirella D’Angelo, O dano Moral e sua interpretação jurisprudencial, São Paulo: Saraiva, 1999.
SOUZA, Ana Paula de. Finanças: consumidores podem recorrer ao Procon para questionar depósito antecipado de cheque pré-datado. Disponível em: http://www.procon.df.gov.br/003/00301015.asp?ttCD_CHAVE=80525. Acesso em 03/03/09
29
ZIZZI, Estevão, Cheque pré-datado - Dano Moral. Disponível em:http://www.forumdoconsumidor.com/2009/02/lina-bardi-linssp-comprei-um-produto.html - Acesso em 27/03/09
Etiene Maria Bosco Breviglieri, Flávio Enrique Leriani Júnior, Fernando Alberto de Jesus Honório Facioni,
Barbara Rossi Fernandes e Sílvia Marcia Polotto
30
O DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
BREVIGLIERI, Etiene Maria Bosco- Docente do Curso de Direito do Centro Universitário de Votuporanga
SOUZA, Renata Zeuli de - Discente do curso de Direito do Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
O conceito de Direito Internacional Público está diretamente relacionado aos
seus sujeitos, que causa uma interferência direta no ordenamento jurídico
internacional. O presente trabalho almeja esclarecer a noção do Direito Internacional
Público no âmbito internacional através de uma análise de seus sujeitos e da concreta
formação de uma organização internacional com suas características e classificações.
Ao final, delimita-se sua principal organização internacional bem como suas funções,
objetivos e seu âmbito de atuação, concluindo com o porquê da Organização das
Nações Unidas (ONU) enquadrar-se como organização internacional, sendo este o
sujeito primordial no Direito Internacional Público.
Palavras-chave: Direito Internacional Público. Sujeito. Organização Internacional. Organização das Nações Unidas (ONU).
31
Introdução
O Direito Internacional
Público, em regra era estritamente
europeu na época de seu
surgimento, com os anos foi se
expandindo para outros continentes.
Surgiram no século XVII duas
negociações que se desenvolveram
em dois locais distintos; Munster
(com precedência a França católica)
e em Osnabruck (com precedência
da Suécia protestante), sua
negociação se perdurou durante três
anos, ensejando o primeiro grande
congresso internacional; A Paz de
Vestefália em 1648, em seguida
sendo reunidos no Ato Geral de
Vestefália.
Surge, no séc. XX, a realidade
atual do Direito Internacional
Público, cuja função é proteger as
pessoas, assim, percebe-se que o
Direito Internacional Público está em
constante evolução.
Deliberadamente está incurso
o DIP, que juntamente com a
evolução dos povos veio a se
desenvolver da Antiguidade à
atualidade por meio de inúmeros e
imprescindíveis fatos que foram
gerados através das relações que os
Estados se predispuseram a realizar
uns com os outros.
[...] Bueno afirma que o direito
internacional público ou das gentes,
jus gentium publicum ou jus
publicum intergentes, é o complexo
dos princípios, normas, máximas,
atos, ou usos reconhecidos como
reguladores das relações de nação a
nação, ou de Estado a Estado, como
tais, reguladores que devem ser
atendidos tanto por justiça como
para segurança e bem-ser comum
dos povos [...] (PIMENTA BUENO,
1863, apud SILVA; ACCIOLY, 2002,
p. 3).
Considerando o âmbito de
aplicação do Direito Internacional
Público, este pode ser dividido em
Direito Internacional Universal e
Direito Internacional Particular.
[...] Direito Internacional
Universal como o conjunto de
princípios, derivados do costume
internacional, que vinculam todos os
Estados, independentemente de seu
consentimento expresso. [...] o
Direito Internacional Particular
compreende o conjunto de normas
convencionais e consuetudinárias
que vinculam apenas certo número
de Estados. [...] (SILVA; ACCIOLY,
2002, p.71).
Concomitantemente entende
ser o Direito Internacional Público
32
um conjunto de normas que venham
a regulamentar as relações
existentes entre Estados e
Organizações Internacionais com
intuito de estabelecer a paz e justiça,
visando o desenvolvimento.
As características do Direito
Internacional Público dependem em
grande parte de seus sujeitos. Desta
forma, pode se conceituar sujeito
como todo aquele que for titular de
direitos e obrigações. Assim: “Sujeito
do DIP é toda entidade jurídica que
goza de direitos e deveres
internacionais e que possui a
capacidade de exercê-las”. (SILVA;
ACCIOLY, 2002, p.81).
Os Estados são considerados
sujeitos por excelência do Direito
Internacional Público. Sendo este o
principal sujeito do DIP deve reunir
três elementos imprescindíveis:
população permanente em seu
caráter demográfico, território
determinado, governo, capacidade
de entrar em relação com os demais
Estados.
Seguindo o exemplo dos
Estados, as Organizações
Internacionais são reconhecidas
como sujeitos do DIP por
consequência de suas
competências.
Trata-se da capacidade de ser
titular de direitos e obrigações
internacionais, dependendo esses
direitos e obrigações dos objetivos e
funções atribuídos à organização,
sejam eles enunciados ou
implicados por seu ato constitutivo
ou desenvolvidos na prática.
(CORTE INTERNACIONAL DE
JUSTIÇA).
A personalidade jurídica das
organizações é objetiva, ou seja,
esta é independe do reconhecimento
Estatal; ficando adstritas as suas
finalidades e competências;
entretanto tal personalidade se
analisarmos em relação à
personalidade dos Estados tem
caráter limitado.
É evidente que as
organizações são sujeitos do DIP;
mas se esbarram com poderes
diferentes e não desfrutam da
plenitude dos direitos e deveres
conferidos aos Estados; uma vez
que as próprias normas do DIP lhes
conferem tratamentos diferenciados.
1. As organizações internacionais
As primeiras organizações
internacionais tiveram suas origens
através das necessidades do que o
mundo internacional vivenciava
33
durante o século XIX. Tais
organizações eram restritas a uma
cooperação no domínio
administrativo, ou seja, assumia
nessa época uma forma de uniões
administrativas.
As organizações
internacionais não encontram sua
definição elaborada por nenhuma
norma internacional, ficando a
doutrina encarregada de conceituar
por sua vez o que venha ser uma
organização internacional.
Uma organização
internacional é, no dizer de El – Irian,
uma associação de Estados [...],
estabelecida por meio de um tratado,
possuindo uma constituição e órgãos
comuns e tendo uma personalidade
legal distinta da dos Estados –
membros. (SILVA; ACCIOLY, 2002,
p. 207/208).
Continua Resek:
Segundo o projeto de Dupy,
de 1973, devem entender-se como
organizações internacionais apenas
“... aquelas que, em virtude de seu
estatuto jurídico, tem capacidade de
concluir acordos internacionais no
exercício de suas funções e para a
realização de seu objeto”. (2002, p.
242).
Para Celso D. Albuquerque
Mello o melhor conceito atribuído a
organização internacional é dado por
Angelo Piero Sereni.
[...] Organização internacional
é uma associação voluntaria de
sujeitos de direito internacional,
constituída por ato internacional e
disciplinada nas relações entre as
partes por normas de direito
internacional, que se realiza em um
ente de aspecto estável, que possui
um ordenamento jurídico interno
próprio e é dotado de órgãos e
institutos próprios, por meio dos
quais realiza as finalidades comuns
de seus membros mediante funções
particulares e o exercício de poderes
que lhe foram conferidos. (MELLO,
2004, v. 1, p. 601).
Para o renomado doutrinador
uma definição mais simplificada
seria a prelecionada por Abdulah El
Erian.
[...] é uma associação de
Estados... estabelecida por tratado,
possuindo uma constituição e órgãos
comuns e tendo uma personalidade
legal distinta da dos Estados-
membros. (ABDULAH EL
ERIAN, apud MELLO, CELSO D. de
ALBUQUERQUE, 2004, v. 1, p. 602).
Resumidamente pode-se entender
que organizações internacionais
sejam as associações de sujeitos de
Direito Internacional decorrentes do
34
aumento nas relações internacionais
e de uma cooperação imprescindível
entre as nações.
Em uma análise a respeito
das características de uma
organização chega-se à conclusão
que esta possui: a-) associação
voluntaria de sujeitos do DI; b-) que
o ato institutivo da organização é
internacional; c-) personalidade
internacional; d-) possui
ordenamento jurídico interno; e-)
existência de órgãos próprios; f-) e
por fim possui exercício de poderes
próprios.
Qualquer que seja a
organização internacional, ela não
possuirá base territorial própria,
assim sua sede dependerá que um
Estado soberano conceda parte de
seu território para ali se constituir a
instalação física dessas
organizações. O ato do Estado em
ceder parte de seu território para
instalação da sede de uma
organização internacional é tido
como acordo de sede.
O acordo de sede costuma
impor, ao Estado, obrigações
pertinentes não apenas aos
privilégios garantidos à organização
co-pactuante, mais ainda àqueles
que devem cobrir os representantes
de outros Estados, na organização
(delegados à assembleia geral,
membros de um conselho) e junto à
organização. (RESEK, 2002, p. 247).
Toda organização possui as
chamadas “finanças” que por sua
vez são adquiridas através das
contribuições que os Estados-
membros fazem a estas, as
despesas de tais organizações
normalmente se referem à folha de
pagamento dos secretariados,
manutenção de instalações,
equipamentos, podendo inúmeras
vezes custear seus programas
assistenciais.
A porcentagem da
contribuição que cada Estado-
membro fará a organização é
estipulada pelo tratado institutivo ou
por um órgão criado com essa
competência e finalidade.
As organizações
internacionais podem ser
classificadas quanto à finalidade
almejada, ou seja, poderão ter
finalidades especiais, referindo a
política, economia, sociais, etc., ou
então ter finalidade geral, sendo esta
predominantemente política.
Em relação ao seu território,
divide-se em regionais, só poderão
ser membro os Estados da mesma
área geográfica, ou serão para-
universais, ao qual todo e qualquer
35
Estado poderá ser aceito como
membro, não sendo considerada sua
localização geográfica.
Já em relação à natureza dos
poderes por elas exercida, distingue-
se em organizações
intergovernamentais e organizações
supranacionais.
As organizações
intergovernamentais caracterizam-
se: a-) os órgãos são constituídos
por representantes dos Estados; b-)
as decisões são tomadas por
unanimidade ou maioria qualificada;
c-) os próprios Estados executam as
decisões dos órgãos.
As organizações
supranacionais se caracterizam: a-)
pela existência de órgãos em que os
titulares atuam em nome próprio e
não como representantes dos
Estados; b-) nas deliberações
adotou-se a forma majoritária; c-) as
decisões dos órgãos legislativos e
judiciais das organizações são
diretamente exequíveis no interior
dos Estados-membros; [...] (MELLO,
2004, v. 1, p. 619).
2. A organização das nações unidas
Atualmente a principal
organização internacional existente
é a Organização das Nações Unidas
(ONU).
A ONU foi fundada
oficialmente em 24 de outubro de
1945, tendo como objetivos manter a
segurança e paz mundial, além de
auxiliar na defesa dos Direitos
Humanos.
De acordo com Seitenfus, A
ONU nasce da guerra e será
construída para combater a guerra
(2005, p. 126). Desse ponto de vista,
se torna evidente que para que essa
nova instituição pudesse realmente
funcionar e ter eficácia, seria
imperialmente necessário que
contasse com a aprovação das
grandes potências. Afinal, somente
elas teriam a capacidade efetiva de
lutar para promover a manutenção
da paz, devido ao seu notório e
imenso poderio militar. Por esse
motivo foi criado o poder de veto e os
membros permanentes no Conselho
de Segurança da entidade.
(SILVEIRA, 2007).
Qualquer Estado que aceitar e
estiver disposto a cumprir as
obrigações contidas na Carta, e
impostas pela ONU, tendo o intuito
de buscar a paz poderão ser
admitidos como membros.
A ONU é uma organização
internacional, esta por sua vez é
36
sujeito do direito internacional
público como já analisado
anteriormente. Desta forma, é dado
a ONU o critério de organização com
finalidade geral, ou seja, ela não fica
restrita a determinados assuntos,
podendo ter uma multiplicidade de
fins normalmente definidos em
termos muito amplos.
Esta organização não se
limita a manutenção da paz e da
segurança internacional, tal como
disposto no artigo 1º da Carta das
Nações Unidas é difícil encontrar
uma área de cooperação
internacional que a ONU esteja
excluída.
Artigo 1
Os propósitos das Nações
unidas são:
1. Manter a paz e a segurança
internacionais e, para esse fim:
tomar, coletivamente, medidas
efetivas para evitar ameaças à paz e
reprimir os atos de agressão ou outra
qualquer ruptura da paz e chegar,
por meios pacíficos e de
conformidade com os princípios da
justiça e do direito internacional, a
um ajuste ou solução das
controvérsias ou situações que
possam levar a uma perturbação da
paz;
2. Desenvolver relações
amistosas entre as nações,
baseadas no respeito ao princípio de
igualdade de direitos e de
autodeterminação dos povos, e
tomar outras medidas apropriadas
ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação
internacional para resolver os
problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou
humanitário, e para promover e
estimular o respeito aos direitos
humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo, língua ou
religião; e
4. Ser um centro destinado a
harmonizar a ação das nações para
a consecução desses objetivos
comuns. (CARTA DAS NAÇOES
UNIDAS)
Podendo ainda ter finalidades
culturais, científicas e técnicas, como
é o caso da UNESCO (Organização
das Nações Unidas para Educação,
Ciência Cultura).
A respeito da estrutura
jurídica das organizações
internacionais a ONU se enquadra
em organizações
intergovernamentais, ou seja, tem
37
seus órgãos deliberativos
constituídos por representantes dos
Estados. Sendo classificada como
organização supranacional, com
finalidade geral, é tida também como
universal, uma vez que ela está
aberta a adesão de todos os Estados
não importando sua localização
geográfica.
Desta forma, a ONU é tida
como organização internacional
devido à associação voluntaria de
seus membros, ou seja, os Estados
que se propõem a seguir as normas
e objetivos da sua Carta poderão
tornar-se membros, caso estes
manifestem sua vontade para
adesão.
A Organização das Nações
Unidas teve um ato institutivo, tendo
este lhe dado origem e sendo o
responsável pela elaboração da
Carta da ONU, a qual possui caráter
de norma constitucional para seus
membros
Essa organização possui
personalidade jurídica diferente dos
seus membros, adquirindo-a no
momento de seu funcionamento.
Além de personalidade jurídica a
ONU tem um ordenamento jurídico
interno (Carta das Nações Unidas).
Por sua vez possui órgãos próprios,
estes que são mais uma das
características de uma organização
internacional; possui seis principais
órgãos.
Sendo a maior e a principal
organização internacional, a ONU
divide-se estruturalmente em seis
órgãos principais: Assembleia Geral,
Conselho de Segurança, Conselho
Econômico e social, Conselho de
Tutela, Corte Internacional de
Justiça e um Secretariado. Cada
órgão é munido de funções e
poderes específicos com o escopo
de melhor concretizar os ideais que
a Carta das Nações Unidas lhe
impôs.
Dentre esses órgãos
especiais alguns são compostos por
todos os membros da Organização,
como é o caso da Assembleia Geral,
onde cada Estado-membro possui
apenas um voto na assembleia. O
principal objetivo desse órgão é
supervisionar e coordenar os
trabalhos das agências; as suas
funções são atribuídas pela Carta da
ONU.
O Conselho de Segurança,
principal órgão das Nações Unidas
tem sua composição diferente da
assembleia, uma vez que só possui
quinze membros, sendo dez
membros não-permanentes e cinco
permanentes. Os membros não-
38
permanentes possuem mandato de
dois anos.
Segundo o artigo 24 da Carta
das Nações Unidas, os membros
desta conferiram ao Conselho de
Segurança a principal
responsabilidade na manutenção da
paz e segurança internacionais e
concordaram em que, ao
cumprimento dos deveres impostos
por essa responsabilidade, o
Conselho proceda em nome deles.
(SILVA; ACCIOLY, 2002, p.214).
Atualmente o Conselho
Econômico e Social é formado por
54 membros, estes são eleitos pela
Assembleia com mandato de três
anos, tendo direito a reeleição.
Esse conselho objetiva o
estudo das questões que envolvem
saúde, direitos da mulher,
organização econômico, culturais,
dentre outras.
Já o Conselho de Tutela
encontra-se desativado hoje, uma
vez que não existe nenhum país sob
tutela; seu objetivo é auxiliar a
autoridade administrativa com o
intuito de preparar para a
independência o território tutelado.
A ONU tem como principal
órgão judiciário a Corte Internacional
de Justiça com sede em Haia; sua
função é resolver sobre as disputas
a ele recorridas pelos Estados e
aconselhar sobre os assuntos legais
que forem levados ao seu
conhecimento pela Assembleia. Este
órgão tem como principal documento
constitucional regulador o Estatuto
do Tribunal Internacional de Justiça.
Por último órgão de caráter
especial da ONU encontra-se o
Secretariado Geral, meramente
administrativo com sede em Nova
Iorque; é auxiliado por um numeroso
pessoal e dirigido pelo Secretário
Geral.
Suas funções encontram-se
dispostas nos artigos 97 ao 101 da
Carta das Nações Unidas.
Além dos principais órgãos
analisados anteriormente a
Organização das Nações Unidas
possui organismos internacionais ou
em alguns casos programas com o
intuito de facilitar sua atuação e
proporcionar uma maior eficácia no
alcance dos seus objetivos.
Podem ser citados como
organismos internacionais ligados as
Nações Unidas, por exemplo: OIT
(Organização Internacional do
Trabalho); UNESCO (Organização
das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura); OMS
(Organização Mundial de Saúde);
Grupo do Banco Mundial (BIRD,
39
Banco Internacional de
Desenvolvimento); IDA (Associação
de Desenvolvimento); CIRDF
(Agência Internacional para a
Resolução de Disputas Financeiras);
FMI (Fundo Monetário
Internacional); UNCTAD
(Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e
Desenvolvimento);
Alguns dos programas
criados pela ONU foram
desenvolvidos para áreas
especificas, como por exemplo:
PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento);
UNICEF (Fundo das Nações Unidas
para a Infância); PNUMA (Programa
das Nações Unidas para o Meio
Ambiente); ACNUR (Alto
Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados); UNIFEM (Fundo
de Desenvolvimento das Nações
Unidas para Mulher); UNAIDS
(Programa Conjunto das Nações
Unidas sobre HIV/Aids); UNODC
(Escritório das Nações Unidas contra
Drogas e Crime); UNRWA (Agência
das Nações Unidas de Assistência
aos Refugiados Palestinos).
Considerações finais
Desta forma temos que a
ONU se enquadra no ordenamento
internacional como a principal e
maior organização internacional
existente, tendo o poder de intervir
em situações que por ventura seus
membros vierem a adentrar. Assim,
ela é de suma importância para
determinados países que se
beneficiam de seus programas de
desenvolvimento dentre outros.
No decorrer dos anos, o poder
de influência das Nações Unidas nos
problemas mundiais teve
considerável aumento. Talvez seu
grande desafio seja vencer o limitado
poder que detém devido à falta de
autoridade sobre os Estados-
membros em situações nas quais
não alcança o apoio da totalidade
dos mesmos o que tornam seu poder
de ação bem restrito.
O que nos faz concluir que a
ONU tem grande importância no
cenário internacional, sendo a
responsável em inúmeras vezes pela
reconstrução de países prejudicados
pelas guerras e crises internacionais,
salvo quando um Estado-membro
não coloque empecilhos em sua
atuação.
40
Assim concluímos que na
teoria a ONU tem um brilhante e
fundamental papel no mundo
internacional tanto na questão
humanitária como política, o que não
condiz com a realidade, já que suas
decisões assumem um caráter
político devido aos interesses dos
Estados-membros em relação ao
poder de atuação da ONU, o que
restringe seu poder de atuação.
41
Referências
ACCIOLY, Hildebrando; CASELLA, Paulo Borba; SILVA, Geraldo E. Do Nascimento. Manual de Direito Internacional Público. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Apresenta toda a legislação, decisões e documentos relativos a ela. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/cijwww/cdecisions/csummaries/cisunsommaire490411.htm>. Acesso em: 03 de março de 2009.
MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público.15. ed. São Paulo: Renovar, 2004.
ONU. Nações Unidas no Brasil. Carta da ONU. Propósitos e Princípios. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/doc1.php>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2009.
REZEK, Francisco. Direito Internacional Público. 11. ed. São Paulo: Saraiva,2002.
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005.
SILVEIRA, Carlos Eduardo. O uso abusivo do poder de veto pelos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 2007. Apresenta artigos publicados na revista jurídica do Estado. Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2389>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2009.
Renata Zeuli de Souza
42
O ADVENTO DA INTERNET: IMPACTO NAS RELAÇÕES JURÍDICAS E NO CONCEITO DE BENS E SERVIÇOS
BRITO, Déborah Cristiane Domingues de - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
FERNANDES, Barbara Rossi - Discente do 3º Período do Curso de Direito da Unifev - da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
FACIONI, Fernando Alberto de Jesus Honório - Discente do 3º Período do Curso de Direito da Unifev -Centro Universitário de Votuporanga.
GLERIANI JÚNIOR, Flávio Enrique - Discente do 3º Período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
POLOTTO, Sílvia Marcia - Discente do 5º Período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O objetivo deste estudo é analisar as relações jurídicas entre as pessoas por
intermédio da Internet, para que sejam conhecidas as influências desta inovação
tecnológica no estudo das Ciências Jurídicas, inclusive nas atividades normativas e
doutrinárias. Inicialmente, analisa-se o conceito e a classificação dos bens e serviços,
isto é, os elementos que os doutrinadores utilizam para conceituá-los e que os
legisladores empregam para regulamentá-los. A seguir, é feito um estudo sobre o
conceito de serviço, a forma e a natureza de sua prestação, sendo que, ao final, serão
examinadas as relações jurídicas realizadas por meio da internet e como elas
interferem no mundo jurídico. Para demonstrar a logicidade do raciocínio será utilizado
o método dialético.
Palavras-chave: Internet. Bens. Serviços. Relações jurídicas.
43
Introdução
O surgimento da internet
provocou significativas modificações
nos hábitos da sociedade
contemporânea. Tratando-se das
relações jurídicas, essa inovação
tecnológica também gerou
consideráveis discussões
doutrinárias e, uma delas, diz
respeito ao conceito de bens e
serviços. Alguns doutrinadores,
especialmente os estudiosos em
Direito Comercial, conceituavam os
bens pela sua materialidade física e
os serviços pela imaterialidade.
Com a difusão do uso da
internet, a doutrina passou a divergir
sobre a tangibilidade, um dos
critérios utilizados para classificar
bens e serviços, vez que essa
oferece inúmeros recursos digitais e
os doutrinadores encontram
dificuldade em classificar e definir
estes recursos como bens ou
serviços.
A materialidade, enquanto
critério de classificação de bens e
serviços é muito restrita, sendo
necessário um estudo mais
abrangente da definição da internet,
não analisando apenas o conceito de
bens e serviços, mas todas as
relações possivelmente realizáveis
mediante este mecanismo
tecnológico.
1. Do conceito e da tangibilidade dos
bens
Os bens, tutelados pelo
Direito Civil, compreendem os
objetos capazes de proporcionar
utilidade ao ser humano e de
satisfazer as suas necessidades
diárias, desde que, tenham valores
economicamente apreciáveis e
possam ser apropriados pelo
homem.
É comum a assimilação entre
as palavras “bem” e “coisa”, porém,
esses termos não podem ser
confundidos, uma vez que coisa é o
gênero do qual bem é uma espécie.
Ocorre que, são considerados
como bens, as coisas que possam
ter apropriação pelo ser humano,
pois abrangem tudo que existe na
natureza, exceto o ser humano.
As controvérsias doutrinárias
acerca do conceito de bens incidem
sobre a materialidade, enquanto
critério de classificação dos
mesmos:
Até a difusão do comércio
eletrônico via internet, no fim dos
anos 1990, a distinção entre bens ou
44
serviços não comportava, na maioria
das vezes, maiores dificuldades.
Bens são corpóreos, enquanto os
serviços não têm materialidade.
(COELHO, 2008, p.14-15).
Os bens tangíveis são
aqueles que apresentam
materialidade física, denominados
também como bens corpóreos.
Como exemplo, podemos citar um
automóvel, um animal, um
eletrodoméstico. Existem ainda os
bens intangíveis ou incorpóreos, que
não possuem materialidade física.
São representados pelos direitos
reais, direitos de imagem, de
sucessão, entre outros.
2 Conceito de serviços
Versa o Código de Defesa do
Consumidor (Lei 8.078, de
11/09/1990) em seu artigo 3°, § 2°:
Serviço é qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as de
caráter trabalhista.
Portanto, podemos entender
como serviço qualquer atividade, isto
é, qualquer ação humana que almeja
uma finalidade, tendo como
contraprestação uma remuneração,
inclusive as atividades de natureza
bancária, financeira, de crédito e
securitária, e excluindo-se as
atividades de caráter trabalhista.
2.1 Dos serviços públicos essenciais
O artigo 3° do CDC conceitua
fornecedor de forma ampla. Os
serviços podem ser fornecidos por
pessoas físicas e jurídicas, de direito
privado ou público, nacionais ou
estrangeiras e ainda por entes
despersonalizados, sendo
classificado de acordo com a
categoria em que se enquadra o
fornecedor.
Em seu artigo 22, o CDC
regula o fornecimento dos serviços
públicos, prescrevendo ainda que
estes deverão ser prestados de
maneira adequada, eficiente e
segura, dispondo, inclusive, quanto
aos serviços essenciais, que devem
ser realizados de maneira continua.
Entretanto, não disciplinou quais os
serviços que podem ser
considerados essenciais, fazendo-
se omisso quanto a esta
regulamentação.
Leciona Luiz Antonio Rizzatto
Nunes que:
Em medida amplíssima todo
serviço público, exatamente pelo fato
45
de sê-lo (público), somente pode ser
essencial. Não poderia a sociedade
funcionar sem um mínimo de
segurança pública, sem a existência
dos serviços do Poder Judiciário,
sem algum serviço de saúde etc.
Nesse sentido então é que se diz
que todo serviço público é essencial.
(NUNES, 2005, p. 103).
A Lei 7.783/1989, conhecida
como “Lei de Greve” regulamentou a
norma de eficácia contida do artigo
9º, § 1º da Constituição Federal de
1988, ao dispor sobre o atendimento
das necessidades inadiáveis da
comunidade, enumerando os
serviços e atividades consideradas
essenciais, assim, é possível
entender o motivo da exigência de
continuidade dos serviços
essenciais, inserida ao final do artigo
22 do CDC e a omissão quanto a sua
conceituação.
O artigo 10 da Lei 7.783/1989,
elenca o rol de serviços e atividades
considerados essenciais, são eles:
tratamento e abastecimento de
água; produção e distribuição de
energia elétrica, gás e combustíveis;
assistência médica e hospitalar;
distribuição e comercialização de
medicamentos e alimentos; serviços
funerários; de transporte coletivo; de
captação e tratamento de esgoto e
lixo; de telecomunicações; guarda,
uso e controle de substâncias
radioativas, equipamentos e
materiais nucleares; de
processamento de dados ligados a
serviços essenciais; e o controle de
tráfego aéreo e a compensação
bancária.
Já o parágrafo único do artigo
11 da referida Lei, prescreve que são
necessidades inadiáveis da
comunidade aquelas que, não
atendidas, coloquem em perigo
iminente a sobrevivência, a saúde ou
a segurança da população.
Logo, entende-se que os
serviços essenciais são aqueles
indispensáveis à manutenção da
vida e dos direitos do indivíduo e que
garantem a efetivação do princípio
da dignidade da pessoa humana, um
dos pilares de sustentação dos
fundamentos da República
Federativa do Brasil. E por conta do
caráter de essencialidade desses
serviços, é que o legislador obsta a
interrupção dos mesmos, por
qualquer que seja o motivo, inclusive
por motivo de greve.
3. Das relações de consumo
Toda relação jurídica em que
os polos sejam compostos pelo
46
fornecedor (pessoa física ou jurídica
de direito público ou privado,
nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que
desenvolva atividade de produção,
montagem, criação, construção,
transformação, importação,
exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou
prestação de serviços – art. 3º do
CDC) e pelo consumidor (toda
pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final –art. 2º do CDC),
onde o segundo esteja adquirindo
um produto (bem) ou contratando um
serviço oferecido pelo primeiro é
caracterizada como uma relação de
consumo. Ressalta-se que sobre
essas relações de consumo incidem
as disposições contidas na Lei
8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor).
4. A internet como serviço público
essencial
A internet, inicialmente criada
por razões militares de defesa, pelo
governo americano durante a Guerra
Fria (e posteriormente aberta aos
estudos científicos nos Estados
Unidos), hoje representa um dos
recursos de maior importância para
o mundo todo.
No Brasil, a regulamentação
da internet é feita pela Portaria
148/95 do Ministério das
Comunicações, a qual aprovou a
norma 004/95 que regula o uso de
meios da rede pública de
telecomunicações para o provimento
e utilização de serviços de conexão
à internet. O uso de meios da rede
pública de telecomunicações para
provimento e utilização de serviços
de conexão à internet se dá por
intermédio dos serviços prestados
pelas entidades exploradoras de
serviços públicos de
telecomunicações.
Ressalta-se que as entidades
prestadoras de serviço de
telecomunicações, na verdade, são
exploradas pela União, diretamente
ou nos casos de autorização,
concessão ou permissão, previstos
pela Lei n° 9.295/96, alterada pela
Lei n° 9.472/97, que instituiu a
ANATEL (Agência Nacional de
Telecomunicações) e regula o artigo
21 da Constituição Federal de 1988.
Torna-se evidente, assim, a
natureza pública do serviço de
acesso à internet, já que é de
competência da União por meio da
47
Rede Pública de Telecomunicações
a sua exploração.
A internet hoje faz parte do
cotidiano da maioria dos serviços
públicos ou particulares, sendo
praticamente inconcebível a
realização de algumas atividades
sem a utilização da internet.
Certamente, as empresas privadas,
os órgãos estatais e as pessoas que
utilizam a internet sofreriam grandes
prejuízos e consideráveis
retardamentos no desempenho de
suas funções se não mais pudessem
contar com as facilidades trazidas
pela sua utilização. Tanto é assim,
que em meados de 2008, a pane
ocorrida em um provedor da internet
do Estado de São Paulo ocasionou
um “apagão” no acesso à rede
mundial de computadores, causando
um enorme caos nas atividades
cotidianas de empresas públicas e
privadas, bem como dos usuários
particulares que também foram
vítimas da impossibilidade do
referido acesso.
A internet representa um
recurso rentável de relevância
inegável para muitas atividades,
principalmente as de marketing e
vendas, que exploram a comodidade
de uma transação sem que a pessoa
precise se deslocar até o
estabelecimento para realizar a
compra. De modo que, este serviço
público se tornou indispensável ao
bem estar social, motivo pelo qual, o
legislador introduziu no art. 10, IX, da
Lei 7.783/1989, o processamento de
dados ligados a serviços essenciais.
Não houve uma inserção
explicita no dispositivo da palavra
internet, entretanto, pode ser
utilizada por analogia, uma vez que
o serviço de conexão à internet é
essencial, pois, representa um
processo infinito de processamento
e consulta de dados disponibilizados
aos usuários, pelos provedores de
conexão (são entidades que prestam
o serviço de conexão à internet)
conforme prescreve a norma 004/95
que foi aprovada pela Portaria
148/95 do Ministério das
Comunicações.
Conclui-se, portanto, que a
conexão à internet é um serviço
público essencial, e por tal motivo,
aplica-se a norma do artigo 22 do
CDC, ou seja, o Estado deve garantir
direta ou indiretamente, a todos, de
maneira adequada, eficiente, segura
e contínua a utilização deste recurso
tecnológico.
5. A internet como relação jurídica de
consumo primária ou necessária
48
Para que haja uma conexão
com a internet são necessários três
elementos essenciais: 1) fornecedor:
provedor de serviço de conexão à
internet (pessoas de natureza
jurídica privada); 2) consumidor:
usuário de serviço de conexão à
internet (pode ser pessoa física ou
jurídica de direito público ou
privado); 3) objeto: serviço de
conexão à internet.
Denomina-se essa relação
como primária ou necessária, pois,
deve necessariamente existir para
que haja a conexão com a internet e
a partir daí, advenham outras
relações de consumo.
6. Das relações jurídicas de
consumo necessárias ou acidentais
via internet
A partir da conexão, os
usuários de serviço de conexão à
internet, têm liberdade para desfrutar
de todos os recursos
do “ciberespaço” (dimensão gráfica
dos aplicativos da internet), que por
ser muito vasta, desencadeia
inúmeras relações jurídicas entre os
usuários que dela se utilizam.
Podem ainda existir relações
de consumo, que denominamos de
secundárias ou acidentais,
exemplificadas pelas compras de
jornais e revistas, as “baixas” de
arquivos digitais (downloads de
áudio e vídeo), aquisições de
produtos, contratações de serviços
(sites de pesquisas, cursos,
movimentações bancárias, entre
outros).
Nessas relações, tanto o
consumidor quanto o fornecedor são
representados por todos os usuários
de serviço de conexão à internet e o
objeto dessas relações de consumo,
pode ser ou um bem adquirido ou um
serviço contratado. Este último
elemento é motivo de controvérsia
dentre os doutrinadores de Direito
Comercial.
Os bens poderão ser
materiais, quando o usuário adquiri-
lo pela internet, e posteriormente
recebê-lo em seu domicílio (ex.: as
compras de eletrodomésticos e
utensílios que o fornecedor entrega
no domicílio do consumidor); ou
ainda eletrônico, mas com natureza
de coisa, isto, é de bem (como por
exemplo, nas assinaturas de jornais
e revistas eletrônicos, e aquisição de
arquivos digitais via download – bens
que podem ser chamados de
virtuais).
E quanto aos serviços, eles
podem ser prestados via internet,
49
como nas faculdades à distância e
assistência técnica e remota, ou, in
locco, quando for convencionado
pelas partes um local para a
prestação do serviço.
Essas relações jurídicas são
chamadas de secundárias ou
acidentais, pois possuem caráter
volitivo dos usuários de serviço de
conexão à internet, uma vez que
podem celebrá-las ou não, sem
prejuízo da relação primária de
consumo, que está relacionada ao
provimento do serviço de conexão à
internet.
7. Das relações amistosas entre os
usuários
Existem ainda situações que
não podem ser classificadas como
relação jurídica de consumo, pois
não há o consumo propriamente dito,
encontram-se representadas pelos
blogs, chats, salas de bate-papo
virtual, utilização de aplicativos de
conversa em tempo real, onde há
uma relação entre os usuários de
forma amistosa, para lazer, trabalho
ou simplesmente para satisfação do
ego subjetivo.
Podem resultar de relações
de consumo secundárias (quando
provenientes de serviços
contratados com os provedores de
conexão à internet, de forma gratuita
ou onerosa), ou existirem por si só
(quando os usuários interagem entre
si, sem a necessidade da presença
dos provedores de serviços de
conexão).
Considerações finais
Assim, a internet inicialmente
representa um serviço público
essencial, que o Estado deve prestar
de forma eficiente, adequada,
segura e contínua à sociedade.
Porém, o Estado não presta este
serviço diretamente, mas por meio
de concessões, permissões ou
autorizações, que faz às entidades
que prestam o serviço de conexão à
internet.
Ressalta-se que, em
decorrência desse vínculo entre as
entidades que prestam o serviço e os
usuários que se utilizam da conexão,
cria-se uma relação jurídica de
consumo necessária. A partir dessa
relação de consumo primária, os
usuários podem se relacionar entre
si de vários modos, seja adquirindo
produtos e contratando serviços
(criando as relações jurídicas de
consumo acidentais), seja de modo
50
interativo (gerando as relações
amistosas entre si).
Portanto, não se pode
oferecer um conceito concreto de
internet, sem antes analisar as
relações que possivelmente podem
existir em decorrência dos acessos
feitos à rede mundial de
computadores. A partir dessa
análise, conclui-se que o surgimento
da internet não altera o conceito de
bens (coisas que podem ser
apropriadas pelo homem e que
tenham valor economicamente
apreciável) e de serviços (ação
humana que busca uma finalidade).
Permite-se apenas novas formas de
relações jurídicas, inclusive outras
espécies de bens (bens virtuais) e
serviços, bem como novas maneiras
de aquisição e contratação desses
bens e serviços.
Por derradeiro, não se pode
conceituar a internet apenas como
sendo um bem ou um serviço, mas
sim como um complexo de relações
jurídicas obrigacionais (dever do
Estado de prestação de serviço
público essencial); de consumo
(relações primárias e secundárias);
ou interativas (relações amistosas),
que ocorrem através de tecnologias
implantadas nas telecomunicações,
por meio de um infinito
processamento e consulta de dados
(dimensão gráfica
denominada “ciberespaço”), que o
Estado, os provedores de serviço de
conexão à internet e os usuários do
serviço de conexão à internet,
celebram entre si, permitindo várias
espécies de objetos, que podem ser
representados por bens ou serviços,
sendo essas relações amparadas
pelas legislações vigentes.
51
Referências
BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n° 7.783 de 28/06/1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L7783.htm. Acesso em 27/03/09.
BRASIL. Lei n° 8.078 de 11/09/1990 (Código de Defesa do Consumidor), Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em 20/03/09.
BRASIL, Ministério das Comunicações, Portaria 148 de 31/05/1995. Dispõe sobre o uso dos meios da rede pública de telecomunicações para acesso à internet. Disponível em: http://www.fiscosoft.com.br/indexsearch.php?PID=126380#. Acesso em 27/03/09.
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BRASIL. Lei n° 9.472 de 16/07/1997. Dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9472.htm. Acesso em 20/03/09.
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COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de direito comercial: direito de empresa. 20. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.
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52
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Venosa, Sílvio de Salvo, Direito civil: parte geral. São Paulo: Atlas, 2007. v. 1.
VIDONHO JÚNIOR, Amadeu dos Anjos. A internet como serviço público essencial de consumo. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2800. Acesso em: 27/03/09.
Barbara Rossi Fernandes. Fernando Alberto de Jesus Honório Facioni, Flávio Enrique
Gleriani Júnior e Sílvia Marcia Polotto
53
INTERPRETAÇÃO SEMÂNTICA DO DIREITO POSITIVO
FERRARESI, Luiz Carlos - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
As normas jurídicas são obtidas a partir de textos do direito positivo. Assim
sendo, as palavras e frases dos textos são o ponto de partida para a construção da
norma, feita por meio de interpretação. Entre várias interpretações possíveis, uma
deverá ser escolhida. Para tanto não basta o conhecimento comum do código
linguístico utilizado, mas requer-se do intérprete uma compreensão prévia do texto,
sob pena de a mensagem legislada não conseguir atingir o seu destinatário.
Conseguindo atingir, a mensagem será decodificada pelo intérprete, numa construção
de sentido, que se conhece por interpretação semântica. Nesse processo, o intérprete
ainda investiga relações com outras normas jurídicas e trabalha com aspectos do uso
dos termos linguísticos pela comunidade. São os planos sintático e pragmático da
interpretação. Usando este ou aquele método de interpretação jurídica ou apoiando-
se em uma ou outra ideologia, o intérprete do direito sempre irá transitar por esses
três planos semióticos.
54
Introdução
O destino do homem, por toda
a sua vida, é interpretar. Como diz
Raimundo Bezerra Falcão[1], “viver
é estar condenado a interpretar
constantemente”. Temos que “tirar
sentido de tudo a todo instante”.
Greimas[2] lembra a “situação do
homem que, de manhã à noite e da
idade pré-natal à morte, é
atormentado por significações que o
solicitam por toda parte, por
mensagens que o atingem a todo
momento e sob todas as formas”.
Um clarão no céu, um
estrondo ao longe, um cheiro de gás,
um gosto amargo, são inúmeros os
estímulos que o homem sempre
tenta traduzir para algo que já
conheça e assim obtenha
informações. Conjugando os
estímulos sensoriais que recebe com
os dados acumulados em sua
cultura, o homem interpreta para
agir.
Qualquer ato simples, como a
decisão de portar uma capa de
chuva, é precedido da interpretação
para avaliar tal necessidade. E se é
assim no seu viver consigo mesmo,
mais ainda será no seu exercício de
comunicação social. É típico para o
ser humano pertencer a uma
comunidade dominada por uma
determinada língua, a qual é
construída com o passar dos tempos
e é feita de símbolos que
representam algo conhecido,
constituindo, portanto, uma
codificação do que já foi objeto de
interpretação por aquela
comunidade.
Como assinala Gadamer[3],
“em todos os nossos pensamentos e
conhecimentos sempre já fomos
precedidos pela interpretação do
mundo feita na linguagem”. Usando
uma linguagem, o homem procura
utilizar-se de conceitos comuns que
lhe possibilitem a comunicação.
Esses conceitos comuns são
estabelecidos na língua adotada
pela comunidade.
Na lição de Saussure[4], “a
língua existe na coletividade sob a
forma duma soma de sinais
depositados em cada cérebro, mais
ou menos como um dicionário, cujos
exemplares, todos idênticos, fossem
repartidos entre os indivíduos”. Para
Gadamer[5], só a linguagem
consegue preencher o âmbito da
convivência humana. E é no âmbito
da convivência humana que aparece
o direito.
O direito positivo é um
complexo de normas jurídicas
55
organizado sistematicamente, com a
finalidade de disciplinar o
comportamento humano nas
relações interpessoais.
É um produto cultural que se
apresenta por meio de uma
linguagem constituída de
enunciados prescritivos, utilizando
palavras e frases de uma língua,
portanto, aparece como texto. Nesse
sentido, as normas jurídicas,
identificadas a partir dos vocábulos
de um texto escrito, são mensagens
prescritivas da autoridade (emissor),
dirigidas a uma comunidade ou a
uma porção dela (receptor).
Estando invariavelmente
assentado em textos, o direito pode
ser considerado como um sistema
comunicacional. Na concepção de
Gregorio Robles[6], “a teoria
comunicacional concebe o direito
como um sistema de comunicação
cuja função pragmática é organizar a
convivência humana mediante,
basicamente, a regulação das
ações”.
Para Robles[7] “o direito é
linguagem no sentido de que sua
forma de expressão consubstancial
é a linguagem verbalizada suscetível
de ser escrita”. Ressalva, no entanto,
que tal afirmação não é incompatível
com teses ontológicas fortes, como
as que afirmam que o direito é o justo
ou o direito é fato social. O que
importa é que “o direito sempre se
manifesta em linguagem”, pois, “a
linguisticidade é sua forma natural de
ser”.
No mesmo sentido, Eros
Grau[8] classifica como fato
incontestável “o de que o direito é,
fundamentalmente, comunicação,
seja para ordenar situações de
conflito, seja para instrumentalizar
políticas”. Já Tercio Sampaio Ferraz
Junior[9], mesmo entendendo que “o
direito não é só um fenômeno
linguístico”, admite que “necessita,
para a sua existência, da
linguagem”.
Admitindo, então, ser o direito
constituído por normas jurídicas que
se depreendem a partir de textos
formados por palavras e frases
escritas, portanto, versadas numa
linguagem, começará a
interpretação por uma atividade de
compreender as significações
dessas palavras e frases, ou seja,
uma interpretação lingüística
(porque o intérprete do direito parte
de um texto).
Muitos foram os caminhos
propostos para tal mister,
frequentemente acompanhados de
críticas às outras possibilidades.
56
Longe de cada método de
interpretação jurídica inviabilizar os
demais, eles se ajudam, de forma
que não cabe a rejeição pura e
simples de qualquer forma
interpretativa.
Lembra Paulo de Barros
Carvalho[10], sobre a aplicação do
direito, que em tal momento aparece
o seu operador, “na sua integridade
psicofísica, com seus valores éticos,
com seus ideais políticos, religiosos,
fazendo a seleção entre as
interpretações possíveis, estimando-
as axiologicamente, para eleger uma
entre outras”.
Significa que interpretar o
direito, com estes ou aqueles
métodos, possibilita chegar-se a
destinos diferentes, mas um deverá
ser escolhido. Se as partes litigam é
porque acreditam que o
entendimento de uma possa
prevalecer sobre o da outra.
E o ponto de partida é sempre
um texto. Na lição de Larenz[11],
interpretar um texto jurídico significa
“decidir-se por uma entre muitas
possíveis interpretações, com base
em considerações que fazem
aparecer tal interpretação como a
correta”, embora não exista “uma
interpretação ‘absolutamente
correta’, no sentido de que seja tanto
definitiva, como válida para todas as
épocas”.
Se o verdadeiro empenho da
interpretação for a busca do direito
justo, da razoabilidade, do respeito à
Constituição e aos princípios gerais
de direito, mesmo assim se estará
falando acerca de textos.
Portanto a interpretação do
direito positivo sempre terá início
com o enfrentamento de um texto
composto de palavras e frases,
como bem assinala Paulo de Barros
Carvalho[12]: “O texto jurídico
prescritivo, na sua proporção mais
angusta de significado, pode indicar
(quando escrito) o conjunto das
letras, palavras, frases, períodos e
parágrafos, graficamente
manifestados nos documentos
produzidos pelos órgãos de criação
do direito. Texto, aqui, é sinônimo
de corpus, espaço que limita o
âmbito dos suportes materiais
utilizados na mensagem
comunicacional.
É a parcela do código comum
empregado no fato da comunicação;
é o plano de expressão ou plano dos
significantes, base empírica e
objetivada em documentos
concretos, postos
intersubjetivamente entre os
integrantes da comunidade do
57
discurso. Emitido em determinado
idioma, há de seguir as regras de
formação e de transformação,
preceitos morfológicos e sintáticos
ditados pela gramática da língua,
que estarão presentes em todos os
instantes de seu desenvolvimento.
O aparecimento do texto, com
essa estreiteza semântica, é o
primeiro contato do intérprete com a
mensagem legislada e percebê-lo,
como tal, marca o início da aventura
exegética.”
O processo de compreender
um texto exige antes de tudo o que
Gadamer[13] chama de
compreensão prévia. Diz o filósofo:
“Tão logo apareça um primeiro
sentido no texto, o intérprete
prelineia um sentido do todo.
Naturalmente que o sentido somente
se manifesta porque quem lê o texto
lê a partir de determinadas
expectativas e na perspectiva de um
sentido determinado.
A compreensão do que está
posto no texto consiste precisamente
na elaboração desse projeto prévio,
que, obviamente, tem que ir sendo
constantemente revisado com base
no que se dá conforme se avança na
penetração do sentido”.
No mesmo sentido
Larenz[14] entende que o processo
de interpretação não é “o de um
pensamento linear que avança só
numa direção, mas o de um
esclarecimento recíproco”,
confirmando ou rejeitando cada
conjetura de sentido. Exemplifica-se
no caso de um advogado que lê um
acórdão. Ele já tem expectativas
sobre o texto.
Na leitura empreende idas e
vindas pelo texto para ir formando o
seu entendimento. Diferente seria
para alguém sem nenhuma
experiência prévia com o direito
tentar fazer o mesmo.
Por outro lado, a atividade de
leitura do texto exige o conhecimento
de um código, que é a língua na qual
ele está escrito. Além das palavras
de uso comum é preciso conhecer
também os termos técnicos, de
forma que a mensagem legislada
seja compreendida pelo intérprete. É
evidente que este saberá claramente
diferenciar “absolvição” de
“condenação”, mas terá mais
dificuldades com palavras
polissêmicas ou com sentidos
próximos.
Então a interpretação do texto
irá depender do contexto. É possível
entender que a frase é o contexto da
palavra, o texto é o contexto da
frase, e assim por diante. Quando se
58
fala na legalidade de uma taxa, só o
contexto poderá esclarecer se é a
referência à instituição de um tributo
por meio de lei ou se é o
estabelecimento dos juros
moratórios, nos moldes do § 1º do
artigo 161 do CTN.
Lembra Neil
MacCormick[15] que o uso das
palavras da linguagem natural
implica na contribuição que cada
vocábulo dá ao sentido do que está
sendo dito. Assim, “um usuário
competente da linguagem apreende
o sentido da sentença inteira a partir
das contribuições de todas as
palavras tomadas em conjunto em
um determinado cenário, em um
contexto no qual cada palavra
contribui com um repertório de
possíveis sentidos disponíveis”.
Portanto o sentido será
sempre contextual: as palavras no
contexto das frases, estas no
contexto do texto, este no contexto
do gênero a que pertence, etc.
Esta tradução dos vocábulos
e frases (meio físico) para uma ideia
que se forma no cérebro
(significação), à qual corresponda
objetos concretos ou abstratos
(significado), ou seja, uma
apreensão de sentido, é o que se
entende por interpretação
semântica.
A mínima leitura de uma
palavra e a consequente formação
da ideia sobre o objeto que ela
representa já é interpretação. Mais
ainda será confrontar a palavra no
seu contexto para buscar sua
significação mais apropriada. O
plano semântico da linguagem
jurídica mostra o seu modo de
referência à realidade.
Mas uma interpretação
semântica não se basta por si
mesma, porque será necessário, na
apreensão de determinada regra
jurídica, investigar suas relações de
subordinação e coordenação com
outras regras, de modo que se
encontre a modulação de sua força
semântica. Este será o plano
sintático. Mas ainda poderá restar
dúvida quanto ao uso das palavras e
locuções que faz a comunidade.
Percebe-se que dizer “há
pouco” significa um menor tempo
passado do que dizer “há pouco
tempo”. Distinções desse tipo
aparecem com o uso da língua.
Neste ponto fala-se no plano
pragmático. Embora a linguagem
jurídica procure evitar ambiguidades,
buscando a linguagem técnica,
sempre poderão ocorrer distinções
59
pragmáticas, já que redatores de leis
e sentenças também fazem parte da
comunidade e usam o seu cabedal
cultural ao editar normas jurídicas.
Bem assinala Paulo de Barros
Carvalho[16] que “a exegese dos
textos legais, para ser completa, tem
de valer-se de incursões no nível
sintático, semântico e pragmático da
linguagem jurídica, única forma de
chegar-se ao conteúdo intelectual,
lembrando-nos sempre que a
interpretação é um ato de vontade e
um ato de conhecimento e que,
como ato de conhecimento, não
cabe à Ciência do Direto dizer qual é
o sentido mais justo ou mais correto,
mas, simplesmente, apontar as
interpretações possíveis”.
Considerações finais
Em síntese, atribuindo-se ao
direito positivo o status de sistema
de normas jurídicas postas por meio
de mensagens que utilizam uma
linguagem de uso comum a todos os
seus utentes, a sua aplicação
demandará interpretação dessas
mensagens, a qual se dará por meio
do enfrentamento semântico do
texto, o que implicará também em
questões sintáticas e pragmáticas.
Portanto, a interpretação semântica
do direito positivo irá requerer
também passagem pelos dois outros
planos semióticos.
60
Referências
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2002.
FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Malheiros, 1997.
FERRAZ Junior, Tercio Sampaio. Teoria da norma jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I e II. Petrópolis: Vozes, 2002.
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Malheiros, 2002.
GREIMAS, Algirdas Julien. Semântica estrutural. São Paulo: Cultrix, 1976.
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
MACCORMICK, Neil. Retórica e o estado de direito. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
ROBLES, Gregório. O Direito como texto. Barueri: Manole, 2005.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1995.
[1] Raimundo Bezerra Falcão, Hermenêutica, Malheiros, S.Paulo, 1997, p.83.
[2] Algirdas Julien Greimas, Semântica Estrutural, Cultrix, S.Paulo, 1976, p.15.
[3] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método II, Vozes, Petrópolis, 2002, p.178.
[4] Ferdinand de Saussure, Curso de Lingüística Geral, Cultrix, S.Paulo, 1995, p.27.
[5] Hans-Georg Gadamer, op. cit. p. 182
[6] Gregório Robles, O Direito como Texto, Manole, Barueri. 2005, p. 1
[7] Ibidem, p. 2.
[8] Eros Roberto Grau, Ensaio e Discurso sobre a Interpretação/Aplicação do Direito, Malheiros, S.Paulo, 2002, p. 208
[9] Tercio Sampaio Ferraz Junior, Teoria da Norma Jurídica, Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 7.
[10] Paulo de Barros Carvalho, Curso de Direito Tributário, Saraiva, S.Paulo, 2002, p.89.
61
[11] Karl Larenz, Metodologia da Ciência do Direito, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1997, p.273.
[12] Paulo de Barros Carvalho, op. cit. p.113
[13] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método I, op.cit. p. 356.
[14] Larenz, op. cit. p. 444
[15] Neil MacCormick, Retórica e o Estado de Direito, Elsevier, Rio de Janeiro, 2008, pp. 161 e 167.
[16] Paulo de Barros Carvalho, op. cit. p.100.
Luiz Carlos Ferraresi
62
GLOSSÁRIO DE INTERESSE AO ESTUDO DO MEIO AMBIENTE EXTRAIDO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
PIMENTEL, Jaime. Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
Por ser o meio ambiente bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, bem esse a que todos têm direito com imposição
constitucional ao público e à coletividade do dever de defendê-lo e preservá-lo
para presentes e futuras gerações a grande maioria dos países tem preocupado
nessa defesa. O Brasil para cumprir esse desiderato têm editado dezenas de
leis, decretos, medidas provisórias e resoluções constituindo em um verdadeiro
cipoal de normas jurídicas trazendo uma nomenclatura própria para as coisas
que envolvem o ambiente. Constitui o presente trabalho de uma pesquisa feita
na legislação ambiental extraindo dela os termos legais sobre assuntos de
interesse ao estudo jurídico da legislação ambiental. Ressaltando que os termos
extraídos da legislação nem sempre são coincidentes com os termos científicos.
ABSTRACT
Since the environment is a property of common use and essential to a
healthy life quality, property that everybody have a right with constitutional impose
to public and the cooperate duty to defend and care for it to present and future
generations, most countries have been worrying with its defense. The Brazil, to
fulfill this work, has edited dozens of laws, decrees, provisional measure and
resolutions forming a real tangled of legal rules bringing an own nomenclature for
the things that involve the environment. This present work is a search based on
the environmental laws retrieving from it the legal terms about subjects of great
interest to legal study of the environmental laws. Emphasizing the terms retrieved
from the laws not always coincide with the scientific terms.
Palavras chave: Glossário – Meio Ambiente – Legislação Ambiental. Keywords: glossary, environment, environmental laws.
63
GLOSSÁRIO
Acesso à tecnologia e
transferência de tecnologia: ação
que tenha por objetivo o acesso, o
desenvolvimento e a transferência
de tecnologia para a conservação e
a utilização da diversidade biológica
ou tecnologia desenvolvida a partir
de amostra de componente do
patrimônio genético ou do
conhecimento tradicional associado
(Medida Provisória n.º 2186/01).
Acesso ao conhecimento
tradicional associado: obtenção de
informação sobre conhecimento ou
prática individual ou coletiva,
associada ao patrimônio genético,
de comunidade indígena ou de
comunidade local, para fins de
pesquisa científica, desenvolvimento
tecnológico ou bioprospecção,
visando a sua aplicação industrial ou
de outra natureza (Medida Provisória
n.º 2186/01).
Acesso ao patrimônio
genético: obtenção de amostra de
componente do patrimônio genético
para fins de pesquisa científica,
desenvolvimento tecnológico ou
bioprospecção, visando a sua
aplicação industrial ou de outra
natureza (Medida Provisória n.º
2186/01).
Acidente nuclear: fato ou
sucessão de fatos da mesma
origem, que cause dano nuclear (Lei
n.º 6.453/77).
Ácido desoxirribonucleico -
ADN, ácido ribonucleico - ARN:
material genético que contém
informações determinantes dos
caracteres hereditários
transmissíveis à descendência (Lei
n.º 11.105/05).
Acumulador (elétrico):
dispositivo eletroquímico constituído
de um elemento, eletrólito e caixa,
que armazena, sob forma de energia
química a energia elétrica que lhe
seja fornecida e que a restitui
quando ligado a um circuito
consumidor (NBR 7039/87)
(Resolução CONAMA 257/99).
Acumulador chumbo-ácido:
acumulador no qual o material ativo
das placas positivas é constituído
por compostos de chumbo e os das
placas negativas essencialmente por
chumbo, sendo o eletrólito uma
solução de ácido sulfúrico (NBR
7039/87) (Resolução CONAMA
257/99).
Agência Nacional de Águas
– ANA: Entidade federal de
implementação da Política Nacional
de Recursos Hídricos, integrante do
64
Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos (Lei 9.984/00).
Agente biológico de
controle: organismo vivo, de
ocorrência natural ou obtido por
manipulação genética, introduzido
no ambiente para o controle de uma
população ou de atividades
biológicas de outro organismo vivo
considerado nocivo (Decreto n.º
4.074/2002).
Agrotóxicos e afins:
produtos e agentes de processos
físicos, químicos ou biológicos,
destinados ao uso nos setores de
produção, no armazenamento e
beneficiamento de produtos
agrícolas, nas pastagens, na
proteção de florestas, nativas ou
plantadas, e de outros ecossistemas
e de ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja
alterar a composição da flora ou da
fauna, a fim de preservá-las da ação
danosa de seres vivos considerados
nocivos, bem como as substâncias e
produtos empregados como
desfolhantes, dessecantes,
estimuladores e inibidores de
crescimento (Lei n.º 7.802/89).
Água potável: Água para
consumo humano cujos parâmetros
microbiológicos, físicos, químicos e
radioativos atendam ao padrão de
potabilidade e que não ofereça
riscos à saúde (Dec. n.º 5.440/05).
Águas alcalino-
bicabornatadas: Águas que
contiverem, por litro, uma quantidade
de compostos alcalinos
equivalentes, no mínimo, a 0,200 g
de bicarbonato de sódio (Decreto Lei
nº 7.841/45).
Águas alcalino-terrosas:
Águas que contiverem, por litro, uma
quantidade de compostos alcalino-
terrosos equivalente, no mínimo, a
0,120 g de carbonato de cálcio,
distinguindo-se:
a) alcalino-terrosas cálcicas: as que
contiverem, por litro, no mínimo,
0,048 g de cationte Ca sob a forma
de bicarbonato de cálcio;
b) alcalino-terrosas magnesianas: as
que contiverem, por litro, no mínimo,
0,030 g de cationte Mg sob a forma
de bicarbonato de magnésio;
(Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas Carbogasosas: Águas
que contiverem, por litro, 200 ml de
gás carbônico livre dissolvido, a
20°C e 760 mm de Hg de pressão.
(Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas cloretadas: Águas que
contiverem, por litro, no mínimo,
0,500 g do ClNa (Cloreto de Sódio);
(Decreto Lei nº 7.841/45).
65
Águas Comuns: Correntes
não navegáveis ou flutuáveis e de
que essas não se façam (Decreto n.º
24.643/1934).
Águas ferruginosas: São as
que contiverem, por litro, no mínimo,
0,005 g do cationte Fe; (Decreto Lei
nº 7.841/45).
Águas doces: Águas com
salinidade igual ou inferior a
0,5 % (RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Águas minerais: são aquelas
provenientes de fontes naturais ou
de fontes artificialmente captadas
que possuam composição química
ou propriedades físicas ou físico-
químicas distintas das águas
comuns, com características que
lhes confiram uma ação
medicamentosa. Lei nº 7.841/45).
Águas nitratadas: São as
que contiverem, por litro, no mínimo,
0,100 g do anionte NO3 de origem
mineral; (Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas oligominerais: São as que,
apesar de não atingirem os limites
estabelecidos neste artigo, forem
classificadas como minerais pelo
disposto nos §§ 2° e 3°, do Art. 1º da
presente lei; (Decreto Lei nº
7.841/45).
Águas Particulares: São
particulares as nascentes e todas as
águas situadas em terrenos que
também o sejam, quando as
mesmas não estiverem classificadas
entre as águas comuns de todos, as
águas públicas ou as águas comuns
(Decreto n.º 24.643/1934).
Águas pluviais: Consideram-
se águas pluviais as que procedem
imediatamente das chuvas (Decreto
n.º 24.643/1934).
Águas potáveis de mesa:
São as águas de composição normal
provenientes de fontes naturais ou
de fontes artificialmente captadas
que preencham tão-somente as
condições de portabilidade para a
região (Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas Públicas Dominicais:
são públicas dominicais todas as
águas situadas em terrenos que
também sejam, quando as mesmas
não forem domínio público de uso
comum, ou não forem comuns
(Decreto n.º 24.643/1934).
Águas radíferas: águas
que contiverem substâncias
radioativas dissolvidas que lhes
atribuam radioatividade permanente;
(Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas radioativas: águas
que contiverem radônio em
dissolução, obedecendo aos
seguintes limites:
66
a) francamente radioativas, são as
águas que apresentarem, no
mínimo, um teor em radônio
compreendido entre 5 e 10 unidades
Mache, por litro, a 20°C e 760 mm de
Hg de pressão;
b) radioativas as que apresentarem
um teor em radônio compreendido
entre 10 e 50 unidades Mache por
litro, a 20°C e 760 mm Hg de
pressão;
c) fortemente radioativas, as que
possuírem um teor em radônio
superior a 50 unidades Mache, por
litro, a 20°C e 760 mm de Hg de
pressão (Decreto Lei nº 7.841/45).
Águas salinas: águas com salinidade
igual ou superior a 30 %
(RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Águas salobras: águas com
salinidade superior a 0,5 % inferior a
30 5% (RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Águas sulfatadas: águas
que contiverem, por litro, no mínimo,
0,100 g do anionte SO4 combinado
aos cationtes Na, K e Mg; (Decreto
Lei nº 7.841/45).
Águas sulfurosas: águas
que contiverem, por litro, no mínimo,
0,001 g de anionte S; (Decreto Lei nº
7.841/45).
Águas toriativas: águas que
possuírem um teor em torônio em
dissolução, equivalente em unidades
eletrostáticas, a 2 unidades Mache
por litro, no mínimo. (Decreto Lei nº
7.841/45).
Aluvião: Constituem
"aluvião" os acréscimos que
sucessiva e imperceptivelmente se
formarem para a parte do mar e das
correntes, aquém do ponto a que
chega a preamar média, ou do ponto
médio das enchentes ordinárias,
bem como a parte do álveo que se
descobrir pelo afastamento das
águas (Decreto n.º 24.643/1934).
Álveo: superfície que as
águas cobrem sem transbordar para
o solo natural e ordinariamente
enxuto (Decreto n.º 24.643/1934).
Amazônia Legal: Amazônia
Legal compreende os Estados do
Acre, Pará, Amazonas, Roraima,
Rondônia, Amapá e Mato Grosso e
as regiões situadas ao norte do
paralelo 13º S, dos Estados de
Tocantins e Goiás, e ao oeste do
meridiano de 44º W, do Estado do
Maranhão. (NR) (Parágrafo
acrescentado pela Medida
Provisória nº 2.166-67, de
24.08.2001, DOU 25.08.2001 - Ed.
Extra, em vigor conforme o art. 2º da
EC nº 32/2001).
67
Ambiente lêntico: aquele
que se refere à água parada, com
movimento lento ou estagnado
(RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Ambiente lótico: aquele
relativo a águas continentais
moventes (RESOLUÇÃO CONAMA
Nº 357/05).
Aquicultura: cultivo ou a
criação de organismos cujo ciclo de
vida, em condições naturais, ocorre
total ou parcialmente em meio
aquático (RESOLUÇÃO CONAMA
Nº 357/05).
Área de potencial
espeleológico: áreas que, devido à
sua constituição geológica e
geomorfológica, sejam suscetíveis
do desenvolvimento de cavidades
naturais subterrâneas, como as de
ocorrência de rochas calcárias
(Decreto nº 99.556/90).
Área de Preservação
Permanente: área marginal ao redor
do reservatório artificial e suas ilhas,
com a função ambiental de preservar
os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem estar das
populações humanas (Resolução
CONAMA N.º 302/2002).
Área de Proteção
Ambiental: área em geral extensa,
com um certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos
abióticos, bióticos, estéticos ou
culturais especialmente importantes
para a qualidade de vida e o bem-
estar das populações humanas, e
tem como objetivos básicos proteger
a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos
naturais (Lei n.º 9.985/2000).
Área de Relevante Interesse
Ecológico: área em geral de
pequena extensão, com pouca ou
nenhuma ocupação humana, com
características naturais
extraordinárias ou que abriga
exemplares raros da biota regional, e
tem como objetivo manter os
ecossistemas naturais de
importância regional ou local e
regular o uso admissível dessas
áreas, de modo a compatibilizá-lo
com os objetivos de conservação da
natureza (Lei n.º 9.985/2000).
Área protegida: significa
uma área definida geograficamente
que é destinada, ou regulamentada,
e administrada para alcançar
objetivos específicos de
conservação (Dec. nº 2.519/98)
68
Área urbana consolidada:
aquela que atende aos seguintes
critérios:
a) definição legal pelo poder público;
b) existência de, no mínimo, quatro
dos seguintes equipamentos de
infraestrutura urbana:
1. malha viária com canalização de
águas pluviais;
2. rede de abastecimento de água;
3. rede de esgoto;
4. distribuição de energia elétrica e
iluminação pública;
5. recolhimento de resíduos sólidos
urbanos;
6. tratamento de resíduos sólidos
urbanos; e
c) densidade demográfica superior a
cinco mil habitantes por km2.
(Resolução CONAMA N.º 303/2002).
Áreas de destinação de resíduos:
áreas destinadas ao beneficiamento
ou à disposição final de resíduos
(Resolução CONAMA n. 307/02).
Aterro de resíduos da
construção civil: área onde serão
empregadas técnicas de disposição
de resíduos da construção civil
Classe “A” no solo, visando a
reservação de materiais segregados
de forma a possibilitar seu uso futuro
e/ou futura utilização da área,
utilizando princípios de engenharia
para confiná-los ao menor volume
possível, sem causar danos à saúde
pública e ao meio ambiente
(Resolução CONAMA n. 307/02).
Atividade agrícola: atividade
de produção, processamento e a
comercialização dos produtos,
subprodutos e derivados, serviços e
insumos agrícolas, pecuários,
pesqueiros e florestais (Lei n.º
8.171/91).
Atividades espeleológicas:
ações desportivas, ou aquelas
técnico-científicas de prospecção,
mapeamento, documentação e
pesquisa que subsidiem a
identificação, o cadastramento, o
conhecimento o manejo e a proteção
das cavidades naturais subterrâneas
(Decreto nº 99.556/90).
Auditoria florestal: ato de
avaliação independente e
qualificada de atividades florestais e
obrigações econômicas, sociais e
ambientais assumidas de acordo
com o PMFS e o contrato de
concessão florestal, executada por
entidade reconhecida pelo órgão
gestor, mediante procedimento
administrativo específico (Lei nº
11.284/06).
Autorização de Acesso e de
Remessa: documento que permite,
sob condições específicas, o acesso
a amostra de componente do
69
patrimônio genético e sua remessa à
instituição destinatária e o acesso a
conhecimento tradicional associado
(Medida Provisória n.º 2186/01).
Autorização Especial de
Acesso e de Remessa: documento
que permite, sob condições
específicas, o acesso a amostra de
componente do patrimônio genético
e sua remessa à instituição
destinatária e o acesso a
conhecimento tradicional associado,
com prazo de duração de até dois
anos, renovável por iguais períodos
(Medida Provisória n.º 2186/01).
Avulsão: Verifica-se a
"avulsão" quando a força súbita da
corrente arranca uma parte
considerável e reconhecível de um
prédio, arrojando-a sobre outro
prédio (Decreto n.º 24.643/1934).
Base de morro ou
montanha: plano horizontal definido
por planície ou superfície de lençol
d’água adjacente ou, nos relevos
ondulados, pela cota da depressão
mais baixa ao seu redor (Resolução
CONAMA N.º 303/2002).
Bateria: conjunto de pilhas ou
acumuladores recarregáveis
interligados convenientemente (NBR
7039/87) (Resolução CONAMA
257/99).
Beneficiamento: ato de
submeter um resíduo à operações
e/ou processos que tenham por
objetivo dotá-los de condições que
permitam que sejam utilizados como
matéria-prima ou produto
(Resolução CONAMA n. 307/02).
Bioprospecção: atividade
exploratória que visa a identificar
componente do patrimônio genético
e informação sobre conhecimento
tradicional associado, com potencial
de uso comercial (Medida Provisória
n.º 2186/01).
Biotecnologia: significa
qualquer aplicação tecnológica que
utilize sistemas biológicos,
organismos vivos, ou seus
derivados, para fabricar ou modificar
produtos ou processos para
utilização específica (Dec. nº
2.519/98).
Carga poluidora: quantidade
de determinado poluente
transportado ou lançado em um
corpo de água receptor, expressa
em unidade de massa por tempo
(RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Cata: trabalho individual de
quem faça, por processos
equiparáveis aos de garimpagem e
faiscação, na parte decomposta dos
afloramentos dos filões e veeiros, a
70
extração de substâncias minerais
úteis, sem o emprego de explosivos,
e as apure por processos
rudimentares (Decreto n.º 227/67).
Célula germinal humana:
célula-mãe responsável pela
formação de gametas presentes nas
glândulas sexuais femininas e
masculinas e suas descendentes
diretas em qualquer grau de ploidia
(Lei n.º 11.105/05).
Células-tronco embrionárias:
células de embrião que apresentam
a capacidade de se transformar em
células de qualquer tecido de um
organismo (Lei n.º 11.105/05).
Cianobactérias:
microrganismos procarióticos
autotróficos, também denominados
como cianofíceas (algas azuis)
capazes de ocorrer em qualquer
manancial superficial
especialmente naqueles com
elevados níveis de nutrientes
(nitrogênio e fósforo), podendo
produzir toxinas com efeitos
adversos a saúde (RESOLUÇÃO
CONAMA Nº 357/05).
Ciclo: período decorrido entre
2 (dois) momentos de colheita de
produtos florestais numa mesma
área (Lei nº 11.284/06).
Clonagem para fins
reprodutivos: clonagem com a
finalidade de obtenção de um
indivíduo (Lei n.º 11.105/05).
Clonagem terapêutica:
clonagem com a finalidade de
produção de células-tronco
embrionárias para utilização
terapêutica (Lei n.º 11.105/05).
Clonagem: processo de
reprodução assexuada, produzida
artificialmente, baseada em um
único patrimônio genético, com ou
sem utilização de técnicas de
engenharia genética (Lei n.º
11.105/05).
Coliformes termotolerantes:
bactérias gram-negativas, em forma
de bacilos, oxidase-negativas,
caracterizadas pela atividade da
enzima-galactosidase. Podem
crescer em meios contendo agentes
tenso-ativos e fermentar a lactose
nas temperaturas de 44? - 45? C,
com produção de ácido, gás e
aldeído. Além de estarem presentes
em fezes humanas e de animais
homeotérmicos, ocorrem em solos,
plantas ou outras matrizes
ambientais que não tenham sido
contaminados por material fecal.
(RESOLUÇÃO CONAMA Nº
357/05).
Combustível nuclear:
material capaz de produzir energia,
71
mediante processo autossustentado
de fissão nuclear (Lei n.º 6.453/77).
Comunicação de Queima
Controlada: documento subscrito
pelo interessado no emprego do
fogo, mediante o qual ele dá ciência
ao órgão do SISNAMA de que
cumpriu os requisitos e as
exigências previstas no artigo
anterior e requer a Autorização de
Queima Controlada (Decreto n.º
2.661/98).
Comunidade local: grupo
humano, incluindo remanescentes
de comunidades de quilombos,
distinto por suas condições culturais,
que se organiza, tradicionalmente,
por gerações sucessivas e costumes
próprios, e que conserva suas
instituições sociais e econômicas
(Medida Provisória n.º 2186/01).
Comunidades locais:
populações tradicionais e outros
grupos humanos, organizados por
gerações sucessivas, com estilo de
vida relevante à conservação e à
utilização sustentável da diversidade
biológica (Lei nº 11.284/06).
Concessão florestal:
delegação onerosa, feita pelo poder
concedente, do direito de praticar
manejo florestal sustentável para
exploração de produtos e serviços
numa unidade de manejo, mediante
licitação, à pessoa jurídica, em
consórcio ou não, que atenda às
exigências do respectivo edital de
licitação e demonstre capacidade
para seu desempenho, por sua conta
e risco e por prazo determinado (Lei
nº 11.284/06).
Condição ex-situ:
manutenção de amostra de
componente do patrimônio genético
fora de seu habitat natural, em
coleções vivas ou mortas (Medida
Provisória n.º 2186/01).
Condições in-situ:
condições em que recursos
genéticos existem em ecossistemas
e habitats naturais e, no caso de
espécies domesticadas ou
cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades
características (Dec. nº 2.519/98).
Conhecimento tradicional
associado: informação ou prática
individual ou coletiva de comunidade
indígena ou de comunidade local,
com valor real ou potencial,
associada ao patrimônio genético
(Medida Provisória n.º 2186/01).
Conselho das Cidades –
ConCidades: órgão colegiado de
natureza deliberativa e consultiva,
integrante da estrutura do Ministério
das Cidades, tem por finalidade
estudar e propor as diretrizes para a
72
formulação e implementação da
Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano, bem
como acompanhar e avaliar a sua
execução, conforme dispõe a Lei nº
10.257, de 10 de julho de 2001-
Estatuto da Cidade (Decreto nº
5790/06).
Conservação da natureza:
manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a
manutenção, a utilização
sustentável, a restauração e a
recuperação do ambiente natural,
para que possa produzir o maior
benefício, em bases sustentáveis, às
atuais gerações, mantendo seu
potencial de satisfazer as
necessidades e aspirações das
gerações futuras, e garantindo a
sobrevivência dos seres vivos em
geral (Lei n.º 9.985/2000).
Conservação ex-situ:
conservação de componentes da
diversidade biológica fora de seus
habitats naturais (Dec. nº 2.519/98).
Conservação in situ: conservação de
ecossistemas e habitats naturais e a
manutenção e recuperação de
populações viáveis de espécies em
seus meios naturais e, no caso de
espécies domesticadas ou
cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades
características (Lei n.º 9.985/2000).
Contrato de Utilização do
Patrimônio Genético e de
Repartição de Benefícios:
instrumento jurídico multilateral, que
qualifica as partes, o objeto e as
condições de acesso e de remessa
de componente do patrimônio
genético e de conhecimento
tradicional associado, bem como as
condições para repartição de
benefícios (Medida Provisória n.º
2186/01).
Controle da qualidade da
água para consumo humano:
conjunto de atividades exercidas de
forma contínua pelos responsáveis
pela operação de sistema ou solução
alternativa de abastecimento de
água, destinadas a verificar se a
água fornecida à população é
potável, assegurando a manutenção
desta condição (Dec. n.º 5.440/05).
Corredores ecológicos:
porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre
elas o fluxo de genes e o movimento
da biota, facilitando a dispersão de
espécies e a recolonizarão de áreas
degradadas, bem como a
manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência
73
áreas com extensão maior do que
aquela das unidades individuais (Lei
n.º 9.985/2000).
Dano Nuclear: dano pessoal
ou material produzido como
resultado direto ou indireto das
propriedades radioativas, da sua
combinação com as propriedades
tóxicas ou com outras características
dos materiais nucleares, que se
encontrem em instalação nuclear, ou
dela procedentes ou a ela enviados
(Lei n.º 6.453/77).
Degradação da qualidade
ambiental: alteração adversa das
características do meio ambiente
(Lei nº 9638/81).
Derivado de OGM: produto
obtido de OGM e que não possua
capacidade autônoma de replicação
ou que não contenha forma viável de
OGM (Lei n.º 11.105/05).
Derramamento: qualquer
forma de liberação de óleo para o
ambiente, incluindo o despejo,
escape, vazamento e
transbordamento, entre outros (Dec.
n.º 4.871/03).
Desmembramento:
subdivisão de gleba em lotes
destinados a edificação, com
aproveitamento do sistema viário
existente, desde que não implique na
abertura de novas vias e logradouros
públicos, nem no prolongamento,
modificação ou ampliação dos já
existentes (Lei n.º 6766/79).
Desenvolvimento
Sustentável: uso equilibrado dos
recursos naturais, voltado para a
melhoria da qualidade de vida da
presente geração, garantindo as
mesmas possibilidades para as
gerações futuras (Decreto nº
6.040/07).
Diversidade biológica:
variabilidade de organismos vivos de
todas as origens, compreendendo,
dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos e outros
ecossistemas aquáticos e os
complexos ecológicos de que fazem
parte; compreendendo ainda a
diversidade dentro de espécies,
entre espécies e de ecossistemas
(Lei n.º 9.985/2000).
Duna: unidade
geomorfológica de constituição
predominante arenosa, com
aparência de cômoro ou colina,
produzida pela ação dos ventos,
situada no litoral ou no interior do
continente, podendo estar recoberta,
ou não, por vegetação (Resolução
CONAMA N.º 303/2002).
Duto: conjunto de tubulações
e acessórios utilizados para o
74
transporte de óleo entre duas ou
mais instalações (Dec. n.º 4.871/03).
Ecossistema: complexo
dinâmico de comunidades vegetais,
animais e de microrganismos e o seu
meio inorgânico que interagem como
uma unidade funcional (Dec. nº
2.519/98).
Educação ambiental:
processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade (Lei
n.º 9795/99).
Embarcações de pesca: as
que, devidamente autorizadas, se
dediquem exclusiva e
permanentemente à captura,
transformação ou pesquisa dos
seres animais e vegetais que tenham
nas águas seu meio natural ou mais
frequente de vida (Decreto-lei nº
221/67).
Empreendedor: companhia,
corporação, firma, empresa ou
instituição, ou parte ou combinação
destas, pública ou privada,
sociedade anônima, limitada ou com
outra forma estatuária, que tem
funções e estrutura administrativa
próprias. Para organizações com
mais de uma unidade operacional,
cada unidade isolada pode ser
definida como uma instalação
(RESOLUÇÃO CONOMA Nº
306/02).
Engenharia genética:
atividade de produção e
manipulação de moléculas de
ADN/ARN recombinante (Lei n.º
11.105/05).
Enriquecimento ecológico:
atividade técnica e cientificamente
fundamentada que vise à
recuperação da diversidade
biológica em áreas de vegetação
nativa, por meio da reintrodução de
espécies nativas (Lei nº 11.428/06).
Escarpa: Rampa de terrenos
com inclinação igual ou superior a
quarenta e cinco graus, que
delimitam relevos de tabuleiros,
chapadas e planalto, estando
limitada no topo pela ruptura positiva
de declividade (linha de escarpa) e
no sopé por ruptura negativa de
declividade, englobando os
depósitos de colúvio que localizam-
se próximo ao sopé da escarpa
(Resolução CONAMA N.º 303/2002).
Espécie ameaçada de
extinção: espécie com alto risco de
desaparecimento na natureza em
futuro próximo, assim reconhecida
75
pela autoridade competente (Medida
Provisória n.º 2186/01).
Espécie domesticada ou
cultivada: espécie em cujo processo
de evolução influiu o ser humano
para atender suas necessidades
(Dec. nº 2.519/98).
Espécimes da fauna
silvestre: todos aqueles
pertencentes às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras,
aquáticas ou terrestres, que tenham
todo ou parte de seu ciclo de vida
ocorrendo dentro dos limites do
território brasileiro, ou águas
jurisdicionais brasileiras (Lei n.º
9605/98).
Estações Ecológicas: áreas
representativas de ecossistemas
brasileiros, destinadas à realização
de pesquisas básicas e aplicadas de
Ecologia, à proteção do ambiente
natural e ao desenvolvimento da
educação conservacionista (Lei n.º
6.902/81).
Estudos Ambientais: todos
e quaisquer estudos relativos aos
aspectos ambientais relacionados à
localização, instalação, operação e
ampliação de uma atividade ou
empreendimento, apresentado como
subsídio para a análise da licença
requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de
controle ambiental, relatório
ambiental preliminar, diagnóstico
ambiental, plano de manejo, plano
de recuperação de área degradada e
análise preliminar de risco
(Resolução nº 237/97).
Exploração sustentável:
exploração do ambiente de maneira
a garantir a perenidade dos recursos
ambientais renováveis e dos
processos ecológicos, mantendo a
biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de forma socialmente
justa e economicamente viável (Lei
nº 11.428/06).
Extrativismo: sistema de
exploração baseado na coleta e
extração, de modo sustentável, de
recursos naturais renováveis (Lei n.º
9.985/2000).
Facilidade portuária:
infraestrutura terrestre e aquaviária,
compreendida por ancoradouros,
docas, cais, pontes e píeres de
atracação e acostagem, terrenos,
armazéns, edificações e vias de
circulação interna, bem como pelas
guias de correntes, quebra-mares,
eclusas, canais de acesso, bacias de
evolução, áreas de fundeio, e os
serviços oferecidos ao usuário
decorrentes de melhoramentos e
aparelhamento da instalação
76
portuária ou terminal (Dec. n.º
4.871/03).
Faiscação: trabalho
individual de quem utiliza
instrumentos rudimentares,
aparelhos manuais ou máquinas
simples e portáteis, na extração de
metais nobres nativos em depósitos
de eluvião ou aluvião, fluviais ou
marinhos, depósitos esses
genericamente denominados
faisqueiras (Decreto n.º 227/67).
Floresta Nacional: área com
cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e tem
como objetivo básico o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e
a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para exploração
sustentável de florestas nativas (Lei
n.º 9.985/2000).
Florestas públicas:
florestas, naturais ou plantadas,
localizadas nos diversos biomas
brasileiros, em bens sob o domínio
da União, dos Estados, dos
Municípios, do Distrito Federal ou
das entidades da administração
indireta (Lei nº 11.284/06).
Fundo Nacional de Meio
Ambiente: fundo que tem o objetivo
de desenvolver os projetos que
visem ao uso racional e sustentável
de recursos naturais, incluindo a
manutenção, melhoria ou
recuperação da qualidade ambiental
no sentido de elevar a qualidade de
vida da população brasileira (Lei nº
7.797/89).
Garimpagem: atividade de
aproveitamento de substâncias
minerais garimpáveis, executadas
no interior de áreas estabelecidas
para este fim, exercida por brasileiro,
cooperativa de garimpeiros,
autorizada a funcionar como
empresa de mineração, sob o regime
de permissão de lavra garimpeira
(Lei n.º 7.805/89).
Garimpo: local em que
ocorre a extração de minerais
garimpáveis (Lei n.º 7.805/89).
Gás de escapamento:
substâncias originadas da
combustão interna no motor e
emitidas para a atmosfera pelo
sistema de escapamento do motor.
(Resolução CONAMA nº 297/02).
Geradores: pessoas, físicas
ou jurídicas, públicas ou privadas,
responsáveis por atividades ou
empreendimentos que gerem os
resíduos definidos nesta Resolução
(Resolução CONAMA n. 307/02).
Gerenciamento de
resíduos: sistema de gestão que
visa reduzir, reutilizar ou reciclar
resíduos, incluindo planejamento,
77
responsabilidades, práticas,
procedimentos e recursos para
desenvolver e implementar as ações
necessárias ao cumprimento das
etapas previstas em programas e
planos (Resolução CONAMA n.
307/02).
Habitat: lugar ou tipo de local
onde um organismo ou população
ocorre naturalmente (Dec. nº
2.519/98).
Hidrocarbonetos: total de
substâncias orgânicas, constituídas
de frações de combustível não
queimado e subprodutos resultantes
da combustão. (Resolução
CONAMA nº 297/02).
Impacto Ambiental
Regional: qualquer impacto
ambiental que afete diretamente
(área de influência direta do projeto),
no todo ou em parte, o território de
dois ou mais Estados (Resolução nº
237/97).
Impacto ambiental: qualquer
alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer
forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-
estar da população;
II – as atividades sociais e
econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos
ambientais. (Resolução nº 1/86).
Incidente de poluição por óleo: É a
ocorrência ou série de ocorrências
da mesma origem que resulte ou
possa resultar em derramamento de
óleo e que represente ou possa
representar ameaça para o meio
ambiente, para as águas
jurisdicionais brasileiras ou para
interesses correlatos de um ou mais
estados e que exija ação de
emergência ou outra forma de
resposta imediata (Dec. n.º
4.871/03).
Infração administrativa
ambiental: toda ação ou omissão
que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente (Lei
n.º 9.605/98 – art. 70).
Infraestrutura básica dos
parcelamentos: equipamentos
urbanos de escoamento das águas
pluviais, iluminação pública,
esgotamento sanitário,
abastecimento de água potável,
energia elétrica pública e domiciliar e
78
vias de circulação. (Lei nº
11.445/07).
Infraestrutura de apoio:
instalações físicas de apoio logístico,
tais como acessos aquaviários e
terrestres, aeroportos, heliportos,
helipontos, hospitais, prontos-
socorros e corpo de bombeiros (Dec.
n.º 4.871/03).
Instalação nuclear
compreende (Art. 1.º, VI da Lei n.º
6.453/77):
a) o reator nuclear, salvo o utilizado
como fonte de energia em meio de
transporte, tanto para sua propulsão
como para outros fins;
b) a fábrica que utilize combustível
nuclear para a produção de materiais
nucleares ou na qual se proceda a
tratamento de materiais nucleares,
incluídas as instalações de
reprocessamento de combustível
nuclear irradiado (Lei n.º 6.453/77).
c) o local de armazenamento de
materiais nucleares, exceto aquele
ocasionalmente usado durante seu
transporte (Lei n.º 6.453/77).
Instalação: estrutura,
conjunto de estrutura ou
equipamentos de apoio explorados
por pessoa jurídica de direito público
ou privado, dentro ou fora da área do
porto organizado, licenciados para o
desenvolvimento de uma ou mais
atividades envolvendo óleo, tais
como exploração, perfuração,
produção, estocagem, manuseio,
transferência e procedimento ou
movimentação (Dec. n.º 4.871/03).
Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis: Entidade
autárquica de regime especial,
dotada de personalidade jurídica de
direito público, autonomia
administrativa e financeira, vinculada
ao Ministério do Interior com a
finalidade de formular, coordenar,
executar e fazer executar a política
nacional do meio ambiente e da
preservação, conservação e uso
racional, fiscalização, controle e
fomento dos recursos naturais
renováveis (Lei nº 7.735/89).
Inventário amostral:
levantamento de informações
qualitativas e quantitativas sobre
determinada floresta, utilizando-se
processo de amostragem (Lei nº
11.284/06).
Jardim Zoológico: qualquer
coleção de animais silvestres
mantidos vivos em cativeiro ou em
semiliberdade e expostos à visitação
pública (Lei nº 7173/83).
Jazida: toda massa
individualizada de substância
mineral ou fóssil, aflorando à
79
superfície ou existente no interior da
terra, e que tenha valor econômico;
e "mina", a jazida em lavra, ainda
que suspensa (Decreto n.º 227/67).
Lavra: conjunto de operações
coordenadas objetivando o
aproveitamento industrial da jazida,
desde a extração das substâncias
minerais úteis que contiver, até o
beneficiamento das mesmas
(Decreto n.º 227/67).
Letra imobiliária: promessa
de pagamento e, quando emitida
pelo Banco Nacional da Habitação,
será garantida pela União Federal
(Lei n.º 4.380/64).
Licença Ambiental: ato
administrativo pelo qual o órgão
ambiental competente estabelece as
condições, restrições e medidas de
controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor,
pessoa física ou jurídica, para
localizar, instalar, ampliar e operar
empreendimentos ou atividades
utilizadoras dos recursos ambientais
consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou
aquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação
ambiental (Resolução nº 237/97).
Licença de Instalação
(LI): licença autorizando o início da
implantação, de acordo com as
especificações constantes do
Projeto Executivo aprovado (decreto
99.274/90).
Licença de Operação
(LO): licença autorizando, após as
verificações necessárias, o início da
atividade licenciada e o
funcionamento de seus
equipamentos de controle de
poluição, de acordo com o previsto
nas Licenças Prévia e de Instalação
(decreto 99.274/90).
Licença Prévia (LP): licença
concedida na fase preliminar do
planejamento de atividade, contendo
requisitos básicos a serem atendidos
nas fases de localização, instalação
e operação, observados os planos
municipais, estaduais ou federais de
uso do solo (decreto 99.274/90).
Licenciamento Ambiental:
procedimento administrativo pelo
qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, instalação,
ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais
consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação
ambiental, considerando as
disposições legais e regulamentares
80
e as normas técnicas aplicáveis ao
caso (Resolução nº 237/97).
Ligação predial: derivação
da água da rede de distribuição que
se liga às edificações ou pontos de
consumo por meio de instalações
assentadas na via pública até a
edificação (Dec. n.º 5.440/05).
Linha de cumeada: linha que
une os pontos mais altos de uma
sequência de morros ou de
montanhas, constituindo-se no
divisor de águas (Resolução
CONAMA N.º 303/2002).
Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico: livro onde constam as
coisas pertencentes às categorias de
arte arqueológicas, etnográfica,
ameríndia e popular, e bem assim as
mencionadas no § 2º do citado artigo
1º, do Decreto-lei nº 25/1937.
Livro do Tombo das Artes
Aplicadas: livro onde constam as
obras que se incluírem na categoria
das artes aplicadas, nacionais ou
estrangeiras (Decreto-lei nº
25/1937).
Livro do Tombo das Belas
Artes: livro onde constam as coisas
de arte erudita, nacional ou
estrangeira (Decreto-lei nº 25/1937).
Livro do Tombo Histórico: livro onde
constam as coisas de interesse
histórico e as obras de arte histórica
(Decreto-lei nº 25/1937).
Lote de concessão
florestal: conjunto de unidades de
manejo a serem licitadas (Lei nº
11.284/06).
Lote: terreno servido de
infraestrutura básica cujas
dimensões atendam aos índices
urbanísticos definidos pelo plano
diretor ou lei municipal para a zona
em que se situe (Lei nº 9.785/99).
Loteamento: subdivisão de
gleba em lotes destinados à
edificação, com abertura de novas
vias de circulação, de logradouros
públicos ou prolongamento,
modificação ou ampliação das vias
existentes (Lei n.º 6766/79).
Manejo florestal
sustentável: administração da
floresta para a obtenção de
benefícios econômicos, sociais e
ambientais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do
ecossistema objeto do manejo e
considerando-se, cumulativa ou
alternativamente, a utilização de
múltiplas espécies madeireiras, de
múltiplos produtos e subprodutos
não madeireiros, bem como a
utilização de outros bens e serviços
de natureza florestal (Lei nº
11.284/06).
81
Manejo: todo e qualquer
procedimento que vise assegurar a
conservação da diversidade
biológica e dos ecossistemas (Lei n.º
9.985/2000).
Manguezal: Constitui do
ecossistema litorâneo que ocorre em
terrenos baixos, sujeitos à ação das
marés, formado por vasas lodosas
recentes ou arenosas, às quais se
associa, predominantemente, a
vegetação natural conhecida como
mangue, com influência flúvio-
marinha, típica de solos limosos de
regiões estuarinas e com dispersão
descontínua ao longo da costa
brasileira, entre os estados do
Amapá e Santa Catarina (Resolução
CONAMA N.º 303/2002).
Mar Territorial Brasileiro:
Compreende uma faixa de doze
milhas marítima de largura, medidas
a partir da linha de baixa-mar do
litoral continental e insular, tal como
indicada nas cartas náuticas de
grande escala, reconhecidas
oficialmente no Brasil (Lei nº
8.617/93).
Material genético: todo
material de origem vegetal, animal,
microbiana ou outra que contenha
unidades funcionais de
hereditariedade (Dec. nº 2.519/98).
Material nuclear: Constitui o
combustível nuclear e os produtos
ou rejeitos radioativos (Lei n.º
6.453/77).
Meio ambiente: conjunto de
condições, leis, influências e
interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e
rege a vida, em todas as suas formas
(Lei nº 9638/81).
Minerais garimpáveis: ouro,
o diamante, a cassiterita, a
columbita, a tantalita e wolframita,
nas formas aluvionar, eluvionar e
coluvial; a sheelita, as demais
gemas, o rutilo, o quartzo, o berilo, a
muscovita, o espodumênio, a
lepidolita, o feldspato, a mica e
outros, em tipos de ocorrência que
vierem a ser indicados, a critério do
Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM (Lei n.º
7.805/89).
Moléculas de ADN/ARN
recombinante: moléculas
manipuladas fora das células vivas
mediante a modificação de
segmentos de ADN/ARN natural ou
sintético e que possam multiplicar-se
em uma célula viva, ou ainda as
moléculas de ADN/ARN resultantes
dessa multiplicação; consideram-se
também os segmentos de ADN/ARN
sintéticos equivalentes aos de
82
ADN/ARN natural (Lei n.º
11.105/05).
Montanha: elevação do
terreno com cota em relação a base
superior a trezentos metros
(Resolução CONAMA N.º 303/2002).
Morro: elevação do terreno com cota
do topo em relação a base entre
cinquenta e trezentos metros e
encostas com declividade superior a
trinta por cento (aproximadamente
dezessete graus) na linha de maior
declividade (Resolução CONAMA
N.º 303/2002).
Mosaico de unidades de
conservação: órgão reconhecido
em ato do Ministério do Meio
Ambiente, a pedido dos órgãos
gestores das unidades de
conservação e deverá dispor de um
conselho de mosaico, com caráter
consultivo e a função de atuar como
instância de gestão integrada das
unidades de conservação que o
compõem (Decreto n.º 4.340/2002).
Monóxido de Carbono: gás
poluente, resultante da queima
incompleta de combustíveis em
motores de combustão interna.
(Resolução CONAMA nº 297/02).
Nascente ou olho
d’água: local onde aflora
naturalmente, mesmo que de forma
intermitente, a água subterrânea
(Resolução CONAMA N.º 303/2002).
Nascentes: águas que
surgem naturalmente ou por
indústria humana, e correm dentro
de um só prédio particular, e ainda
que o transponham, quando elas não
tenham sido abandonadas pelo
proprietário do mesmo (Decreto n.º
24.643/1934).
Nível mais alto: nível
alcançado por ocasião da cheia
sazonal do curso d’água perene ou
intermitente (Resolução CONAMA
N.º 303/2002).
Nível Máximo Normal: cota
máxima normal de operação do
reservatório (Resolução CONAMA
N.º 302/2002).
Organismo geneticamente
modificado - OGM: organismo cujo
material genético - ADN/ARN tenha
sido modificado por qualquer técnica
de engenharia genética (Lei n.º
11.105/05).
Organismo: toda entidade
biológica capaz de reproduzir ou
transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a
ser conhecidas (Lei n.º 11.105/05).
Organização regional de
integração econômica:
organização constituída de Estados
soberanos de uma determinada
83
região, a que os Estados membros
transferiram competência em
relação a assuntos regidos por esta
Convenção, e que foi devidamente
autorizada, conforme seus
procedimentos internos, a assinar,
ratificar, aceitar, aprovar a mesma e
a ela aderir (Dec. nº 2.519/98).
Órgão central: Secretaria do
Meio Ambiente da Presidência da
República, com a finalidade de
planejar, coordenar, supervisionar e
controlar, como órgão federal, a
política nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio
ambiente (Lei nº 9638/81). É órgão
integrante do SISNAMA.
Órgão consultivo e
deliberativo: Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), com a
finalidade de assessorar, estudar e
propor ao Conselho de Governo,
diretrizes de políticas
governamentais para o meio
ambiente e os recursos naturais e
deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e
padrões compatíveis com o meio
ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia
qualidade de vida (Lei nº 9638/81). É
órgão integrante do SISNAMA.
Órgão consultivo: órgão
com representação do Poder Público
e da sociedade civil, com a finalidade
de assessorar, avaliar e propor
diretrizes para a gestão de florestas
públicas (Lei nº 11.284/06).
Órgão executor: Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA - com a finalidade de
executar e fazer executar, como
órgão federal, a política e diretrizes
governamentais fixadas para o meio
ambiente (Lei nº 9638/81). É órgão
integrante do SISNAMA.
Órgão gestor: órgão ou
entidade do poder concedente com a
competência de disciplinar e
conduzir o processo de outorga da
concessão florestal (Lei nº
11.284/06).
Órgão superior: Conselho de
Governo, com a função de
assessorar o Presidente da
República na formulação da política
nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio
ambiente e os recursos ambientais
(Lei nº 9638/81). É órgão integrante
do SISNAMA.
Órgãos Locais: órgãos ou
entidades municipais, responsáveis
pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas suas respectivas
jurisdições (Lei nº 9638/81). É órgão
integrante do SISNAMA.
84
Órgãos Seccionais: órgãos
ou entidades estaduais
responsáveis pela execução de
programas e projetos e de controle e
fiscalização das atividades
suscetíveis de degradarem a
qualidade ambiental (Lei nº
9.638/81). É órgão integrante do
SISNAMA.
Órgãos Setoriais: órgãos ou
entidades integrantes da
Administração Pública Federal
Direta ou Indireta, bem como as
Fundações instituídas pelo Poder
Público, cujas atividades estejam,
total ou parcialmente, associadas às
de preservação da qualidade
ambiental ou de disciplinamento do
uso de recursos ambientais (Lei nº
9638/81). É órgão integrante do
SISNAMA.
Óxidos de nitrogênio: gases
poluentes gerados pela combinação
do oxigênio do ar e do nitrogênio nas
condições de temperatura e pressão
no interior do cilindro do motor.
(Resolução CONAMA nº 297/02).
País de origem de recursos
genéticos: País que possui esses
recursos genéticos em condições in-
situ (Dec. nº 2.519/98).
País provedor de recursos
genéticos: país que provê recursos
genéticos coletados de fontes in-situ,
incluindo populações de espécies
domesticadas e silvestres, ou
obtidas de fontes ex-situ que possam
ou não ter sido originados nesse país
(Dec. nº 2.519/98).
Patrimônio espeleológico:
Constitui no conjunto de elementos
biótipos e abiótipos,
socioeconômicos e histórico-
culturais, subterrâneos ou
superficiais, representados pelas
cavidades naturais subterrâneas ou
a estas associados (Decreto nº
99.556/90).
Patrimônio genético:
informação de origem genética,
contida em amostras do todo ou de
parte de espécime vegetal, fúngico,
microbiano ou animal, na forma de
moléculas e substâncias
provenientes do metabolismo destes
seres vivos e de extratos obtidos
destes organismos vivos ou mortos,
encontrados em condições in situ,
inclusive domesticados, ou mantidos
em coleções ex-situ, desde que
coletados em condições in situ no
território nacional, na plataforma
continental ou na zona econômica
exclusiva (Medida Provisória n.º
2186/01).
Patrimônio histórico e
artístico nacional: conjunto dos
bens móveis e imóveis existentes no
85
país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico
(Decreto-lei nº 25/1937).
Pequeno produtor
rural: aquele que, residindo na zona
rural, detenha a posse de gleba rural
não superior a 50 (cinquenta)
hectares, explorando-a mediante o
trabalho pessoal e de sua família,
admitida a ajuda eventual de
terceiros, bem como as posses
coletivas de terra considerando-se a
fração individual não superior a 50
(cinquenta) hectares, cuja renda
bruta seja proveniente de atividades
ou usos agrícolas, pecuários ou
silviculturais ou do extrativismo rural
em 80% (oitenta por cento) no
mínimo (Lei nº 11.428/06).
Pesca amadora: exploração
de recursos pesqueiros com fins de
lazer ou desporto (RESOLUÇÃO
CONAMA Nº 357/05).
Pesca científica: pesca
exercida unicamente com fins de
pesquisas por instituições ou
pessoas devidamente habilitadas
para esse fim (Decreto-lei nº
221/67).
Pesca comercial: pesca que
tem por finalidade realizar atos de
comércio na forma da legislação em
vigor (Decreto-lei nº 221/67).
Pesca desportiva: pesca que
se pratica com a linha na mão, por
meio de aparelhos de mergulho ou
quaisquer outros permitidos pela
autoridade competente, e que em
nenhuma hipótese venha a importar
em atividade comercial (Decreto-lei
nº 221/67).
Pesca: ato tendente a
capturar ou extrair elementos
animais ou vegetais que tenham na
água seu normal ou mais frequente
meio de vida (Decreto-lei nº 221/67).
Pescador profissional:
aquele que, matriculado na
repartição competente segundo as
leis e regulamentos em vigor, faz da
pesca sua profissão ou meio
principal de vida (Decreto-lei nº
221/67).
Pesquisa mineral: execução
dos trabalhos necessários à
definição da jazida, sua avaliação e
a determinação da exequibilidade do
seu aproveitamento econômico
(Decreto n.º 227/67).
Pilha: Gerador eletroquímico
de energia elétrica, mediante
conversão geralmente irreversível
86
de energia química (NBR 7039/87)
(Resolução CONAMA 257/99).
Pilhas e baterias de
aplicação especial: aquelas
utilizadas em aplicações específicas
de caráter científico, médico ou
militar e aquelas que sejam parte
integrante de circuitos
eletroeletrônicos para exercer
funções que requeiram energia
elétrica ininterrupta em caso de fonte
de energia primária sofrer alguma
falha ou flutuação momentânea
(Resolução CONAMA 257/99).
Pilhas e baterias
portáteis: aquelas utilizadas em
telefonia, e equipamentos
eletroeletrônicos, tais como jogos,
brinquedos, ferramentas elétricas
portáteis, informática, lanternas,
equipamentos fotográficos, rádios,
aparelhos de som, relógios, agendas
eletrônicas, barbeadores,
instrumentos de medição, de
aferição, equipamentos médicos e
outros (Resolução CONAMA
257/99).
Plano Ambiental de
Conservação e Uso do Entorno de
Reservatório Artificial: conjunto de
diretrizes e proposições com o
objetivo de disciplinar a
conservação, recuperação, o uso e
ocupação do entorno do reservatório
artificial, respeitados os parâmetros
estabelecidos nesta Resolução e em
outras normas aplicáveis (Resolução
CONAMA N.º 302/2002).
Plano de área: documento ou
conjunto de documentos que
contenham as informações, medidas
e ações referentes a uma área de
concentração de portos
organizados, instalações portuárias,
terminais, dutos ou plataformas e
suas respectivas instalações de
apoio, que visem integrar os diversos
Planos de Emergência Individuais da
área para o combate de incidentes
de poluição por óleo, bem como
facilitar e ampliar a capacidade de
resposta deste Plano e orientar as
ações necessárias na ocorrência de
incidentes de poluição por óleo de
origem desconhecida (Dec. n.º
4.871/03).
Plano de emergência
individual: documento ou conjunto
de documentos que contenham
informações e descrição dos
procedimentos de resposta da
respectiva instalação a um incidente
de poluição por óleo que decorra de
suas atividades, elaborado nos
termos de norma própria (Dec. n.º
4.871/03).
Plano de manejo:
documento técnico mediante o qual,
87
com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de
conservação, se estabelece o seu
zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a
implantação das estruturas físicas
necessárias à gestão da unidade
(Lei n.º 9.985/2000).
Plataforma Continental do
Brasil: compreende o leito e o
subsolo das áreas submarinas que
se estendem além do seu mar
territorial, em toda a extensão do
prolongamento natural de seu
território terrestre, até o bordo
exterior da margem continental, ou
até uma distância de duzentas
milhas marítimas das linhas de base,
a partir das quais se mede a largura
do mar territorial, nos casos em que
o bordo exterior da margem
continental não atinja essa distância
(Lei nº 8.617/93).
Pneu ou pneumático
inservível: aquele que não mais se
presta a processo de reforma que
permita condição de rodagem
adicional, conforme código 4012.20
da Tarifa Externa Comum - TEC.
(NR) (Resolução CONAMA nº
301/03).
Pneu ou pneumático
novo: aquele que nunca foi utilizado
para rodagem sob qualquer forma,
enquadrando-se, para efeito de
importação, no código 4011 da Tarifa
Externa Comum – TEC (Resolução
CONAMA n. 258/99).
Pneu ou pneumático
reformado: pneumático que foi
submetido a algum tipo de processo
industrial com o fim específico de
aumentar sua vida útil de rodagem
em meios de transporte, tais como
recapagem, recauchutagem ou
remoldagem, enquadrando-se, para
efeitos de importação, no código
4012.10 da Tarifa Externa Comum –
TEC (Resolução CONAMA n.
258/99).
Pneu ou pneumático:
artefato inflável, constituído
basicamente por borracha e
materiais de reforço utilizados para
rodagem em veículos automotores e
bicicletas (Resolução CONAMA n.
258/99).
Política Nacional do Meio
Ambiente: política que tem por
objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar,
no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico,
aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade
88
da vida humana, atendidos os
seguintes princípios (Lei nº 9638/81).
Poluição por óleo: poluição
causada por descarga de petróleo e
seus derivados, incluindo óleo cru,
óleo combustível, borra, resíduos de
petróleo, produtos refinados e
misturas de água e óleo em qualquer
proporção (Dec. n.º 4.871/03).
Poluição: degradação da
qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança
e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às
atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos (Lei nº
9638/81).
Poluidor: Pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou
indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental
(Lei nº 9638/81).
População tradicional:
população vivendo em estreita
relação com o ambiente natural,
dependendo de seus recursos
naturais para a sua reprodução
sociocultural, por meio de atividades
de baixo impacto ambiental (Lei nº
11.428/06).
Pousio: Prática que prevê a
interrupção de atividades ou usos
agrícolas, pecuários ou silviculturais
do solo por até 10 (dez) anos para
possibilitar a recuperação de sua
fertilidade (Lei nº 11.428/06).
Povos e Comunidades
Tradicionais: Grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem
como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que
ocupam e usam territórios e recursos
naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas
gerados e transmitidos pela tradição
(Decreto nº 6.040/07).
Prática preservacionista:
atividade técnica e cientificamente
fundamentada, imprescindível à
proteção da integridade da
vegetação nativa, tal como controle
de fogo, erosão, espécies exóticas e
invasoras (Lei nº 11.428/06).
Preservação: conjunto de
métodos, procedimentos e políticas
que visem a proteção a longo prazo
das espécies, habitats e
ecossistemas, além da manutenção
89
dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos
sistemas naturais (Lei n.º
9.985/2000).
Produtos florestais:
produtos madeireiros e não
madeireiros gerados pelo manejo
florestal sustentável (Lei nº
11.284/06).
Produtos ou rejeitos
radioativos: materiais radioativos
obtidos durante o processo de
produção ou de utilização de
combustíveis nucleares, ou cuja
radioatividade se tenha originado da
exposição às irradiações inerentes a
tal processo, salvo os radioisótopos
que tenham alcançado o estágio final
de elaboração e já se possam utilizar
para fins científicos, médicos,
agrícolas, comerciais ou industriais
(Lei n.º 6.453/77).
Proteção integral:
manutenção dos ecossistemas livres
de alterações causadas por
interferência humana, admitido
apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais (Lei n.º
9.985/2000).
Radiação ionizante: emissão
de partículas alfa, beta, nêutrons,
íons acelerados ou raios X ou gama,
capazes de provocar a formação de
íons no tecido humano (Lei n.º
6.453/77).
Reator nuclear: estrutura
que contenha combustível nuclear,
disposto de tal maneira que, dentro
dela, possa ocorrer processo
autossustentado de fissão nuclear,
sem necessidade de fonte adicional
de nêutrons (Lei n.º 6.453/77).
Reciclagem: processo de
reaproveitamento de um resíduo,
após ter sido submetido à
transformação (Resolução
CONAMA n. 307/02).
Recuperação: restituição de
um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada a
uma condição não degradada, que
pode ser diferente de sua condição
original (Lei n.º 9.985/2000).
Recursos ambientais:
atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o
subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora (Lei nº 9638/81).
Recursos biológicos:
recursos genéticos, organismos ou
partes destes, populações, ou
qualquer outro componente biótico
de ecossistemas, de real ou
potencial utilidade ou valor para a
humanidade (Dec. nº 2.519/98).
90
Recursos florestais:
elementos ou características de
determinada floresta, potencial ou
efetivamente geradores de produtos
ou serviços florestais (Lei nº
11.284/06).
Recursos genéticos:
material genético de valor real ou
potencial (Dec. nº 2.519/98).
Relatório Ambiental
Simplificado – RAS: estudos
relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização,
instalação, operação e ampliação de
uma atividade ou empreendimento,
apresentados como subsídio para a
concessão da licença prévia
requerida, que conterá, dentre
outras, as informações relativas ao
diagnóstico ambiental da região de
inserção do empreendimento, sua
caracterização, a identificação dos
impactos ambientais e das medidas
de controle, de mitigação e de
compensação (Resolução nº
279/01).
Relatório de Detalhamento
dos Programas Ambientais:
documento que apresenta,
detalhadamente, todas as medidas
mitigatórias e compensatórias e os
programas ambientais propostos no
RAS (Resolução nº 279/01).
Reserva da Biosfera:
modelo, adotado
internacionalmente, de gestão
integrada, participativa e sustentável
dos recursos naturais, com os
objetivos básicos de preservação da
diversidade biológica, o
desenvolvimento de atividades de
pesquisa, o monitoramento
ambiental, a educação ambiental, o
desenvolvimento sustentável e a
melhoria da qualidade de vida das
populações. É reconhecida pelo
Programa Intergovernamental "O
Homem e a Biosfera - MAB",
estabelecido pela Unesco,
organização da qual o Brasil é
membro (Lei n.º 9.985/2000).
Reserva da Biosfera:
modelo de gestão integrada,
participativa e sustentável dos
recursos naturais, que tem por
objetivos básicos a preservação da
biodiversidade e o desenvolvimento
das atividades de pesquisa
científica, para aprofundar o
conhecimento dessa diversidade
biológica, o monitoramento
ambiental, a educação ambiental, o
desenvolvimento sustentável e a
melhoria da qualidade de vida das
populações (Decreto n.º
4.340/2002).
91
Reserva de
Desenvolvimento Sustentável:
área natural que abriga populações
tradicionais, cuja existência baseia-
se em sistemas sustentáveis de
exploração dos recursos naturais,
desenvolvidos ao longo de gerações
e adaptados às condições
ecológicas locais e que
desempenham um papel
fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da
diversidade biológica (Lei n.º
9.985/2000).
Reserva de Fauna: área
natural com populações animais de
espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias,
adequadas para estudos técnico-
científicos sobre o manejo
econômico sustentável de recursos
faunísticos (Lei n.º 9.985/2000).
Reserva Extrativista: área
utilizada por populações extrativistas
tradicionais, cuja subsistência
baseia-se no extrativismo e,
complementarmente, na agricultura
de subsistência e na criação de
animais de pequeno porte, e tem
como objetivos básicos proteger os
meios de vida e a cultura dessas
populações, e assegurar o uso
sustentável dos recursos naturais da
unidade (Lei n.º 9.985/2000).
Reserva Legal: área
localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural,
excetuada a de preservação
permanente, necessária ao uso
sustentável dos recursos naturais, à
conservação e reabilitação dos
processos ecológicos, à
conservação da biodiversidade e ao
abrigo e proteção de fauna e flora
nativas (Lei n.º 4.771/65)
Reserva Particular do
Patrimônio Natural: área privada,
gravada com perpetuidade, com o
objetivo de conservar a diversidade
biológica (Lei n.º 9.985/2000).
Reservatório artificial:
acumulação não natural de água
destinada a quaisquer de seus
múltiplos usos (Resolução CONAMA
N.º 302/2002).
Resíduos da construção
civil: resíduos provenientes de
construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção
civil, e os resultantes da preparação
e da escavação de terrenos, tais
como: tijolos, blocos cerâmicos,
concreto em geral, solos, rochas,
metais, resinas, colas, tintas,
madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas,
pavimento asfáltico, vidros,
plásticos, tubulações, fiação elétrica
92
etc., comumente chamados de
entulhos de obras, caliça ou
metralha (Resolução CONAMA n.
307/02).
Restauração: restituição de
um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada o
mais próximo possível da sua
condição original (Lei n.º
9.985/2000).
Restinga: depósito arenoso
paralelo a linha da costa, de forma
geralmente alongada, produzido por
processos de sedimentação, onde
se encontram diferentes
comunidades que recebem
influência marinha, também
consideradas comunidades edáficas
por dependerem mais da natureza
do substrato do que do clima. A
cobertura vegetal nas restingas
ocorrem mosaico, e encontra-se em
praias, cordões arenosos, dunas e
depressões, apresentando, de
acordo com o estágio sucessional,
estrato herbáceo, arbustivos e
arbóreo, este último mais
interiorizado (Resolução CONAMA
N.º 303/2002).
Reunião Técnica
Informativa: reunião promovida
pelo órgão ambiental competente, às
expensas do empreendedor, para
apresentação e discussão do
Relatório Ambiental Simplificado,
Relatório de Detalhamento dos
Programas Ambientais e demais
informações, garantidas a consulta e
participação pública (Resolução nº
279/01).
Reservas Ecológicas: áreas
de preservação permanente
mencionadas no artigo 18 da Lei nº
6.938, de 31 de agosto de 1981, bem
como as que forem estabelecidas
por ato do Poder Público. (Decreto nº
89.336/84).
Reutilização: processo de
reaplicação de um resíduo, sem
transformação do mesmo
(Resolução CONAMA n. 307/02).
Rodeios de animais:
atividades de montaria ou de
cronometragem e as provas de laço,
nas quais são avaliados a habilidade
do atleta em dominar o animal com
perícia e o desempenho do próprio
animal (Lei n.º 10.519/02).
Rodovias Diagonais:
rodovias que se orientam nas
direções gerais Noroeste-Sudeste
(Anexo I, da Lei n.º 5.917/73).
Rodovias Longitudinais:
rodovias que se orientam na direção
geral norte-sul (Anexo I, da Lei n.º
5.917/73).
Rodovias radiais: rodovias
que partem da Capital Federal, em
93
qualquer direção, para liga-la a
Capitais estaduais ou a pontos
periféricos importantes do país
(Anexo I, da Lei n.º 5.917/73).
Rodovias transversais:
rodovias que se orientam na direção
geral Leste-Oeste (Anexo I, da Lei
n.º 5.917/73).
Serviços florestais: constitui
no turismo e outras ações ou
benefícios decorrentes do manejo e
conservação da floresta, não
caracterizados como produtos
florestais (Lei nº 11.284/06).
Sistema de abastecimento
de água para consumo
humano: instalação composta por
conjunto de obras civis, materiais e
equipamentos, destinada à
produção e à distribuição canalizada
de água potável para populações,
sob a responsabilidade do poder
público, mesmo que administrada
em regime de concessão ou
permissão (Dec. n.º 5.440/05).
Sistemas Associados aos
Empreendimentos Elétricos:
sistemas elétricos, pequenos ramais
de gasodutos e outras obras de
infraestrutura comprovadamente
necessárias à implantação e
operação dos empreendimentos
(Resolução nº 279/01).
Sistemas integrados:
sistemas que abastecem diversos
municípios simultaneamente ou
quando mais de uma unidade
produtora abastece um único
município, bairro, setor ou localidade
(Dec. n.º 5.440/05).
Sistemas isolados: sistemas
que abastecem isoladamente
bairros, setores ou localidades (Dec.
n.º 5.440/05).
Solução alternativa coletiva
de abastecimento de água para
consumo humano: toda
modalidade de abastecimento
coletivo de água distinta do sistema
público de abastecimento de água,
incluindo, dentre outras, fonte, poço
comunitário, distribuição por veículo
transportador, instalações
condominiais horizontais e verticais
(Dec. n.º 5.440/05).
Tabuleiro ou chapada:
paisagem de topografia plana, com
declividade média inferior a dez por
cento, aproximadamente seis graus
e superfície superior a dez hectares,
terminada de forma abrupta em
escarpa, caracterizando-se a
chapada por grandes superfícies a
mais de seiscentos metros de
altitude (Resolução CONAMA N.º
303/2002).
94
Terminal de óleo: instalação
explorada por pessoa jurídica de
direito público ou privado, dentro ou
fora da área do porto organizado,
utilizada na movimentação e
armazenagem de óleo (Dec. n.º
4.871/03).
Termo de Transferência de
Material: instrumento de adesão a
ser firmado pela instituição
destinatária antes da remessa de
qualquer amostra de componente do
patrimônio genético, indicando,
quando for o caso, se houve acesso
a conhecimento tradicional
associado (Medida Provisória n.º
2186/01).
Territórios Tradicionais:
espaços necessários a reprodução
cultural, social e econômica dos
povos e comunidades tradicionais,
sejam eles utilizados de forma
permanente ou temporária,
observado, no que diz respeito aos
povos indígenas e quilombolas,
respectivamente, o que dispõem
os arts. 231 da Constituição e 68 do
Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e demais
regulamentações (Decreto nº
6.040/07).
Transportadores: pessoas,
físicas ou jurídicas, encarregadas da
coleta e do transporte dos resíduos
entre as fontes geradoras e as áreas
de destinação (Resolução CONAMA
n. 307/02).
Unidade de conservação:
espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção
(Lei n.º 9.985/2000).
Unidade de informação:
área de abrangência do
fornecimento de água pelo sistema
de abastecimento (Dec. n.º
5.440/05).
Unidade de manejo:
Perímetro definido a partir de
critérios técnicos, socioculturais,
econômicos e ambientais, localizado
em florestas públicas, objeto de um
Plano de Manejo Florestal
Sustentável - PMFS, podendo conter
áreas degradadas para fins de
recuperação por meio de plantios
florestais (Lei nº 11.284/06).
Unidades de Conservação
de Proteção Integral as Estações
Ecológicas: Reservas Biológicas,
os Parques Nacionais, os
95
Monumentos Naturais e os Refúgios
de Vida Silvestre Lei n.º 9605/98).
Unidades de Conservação
de Uso Sustentável: Áreas de
Proteção Ambiental, as Áreas de
Relevante Interesse Ecológico, as
Florestas Nacionais, as Reservas
Extrativistas, as Reservas de Fauna,
as Reservas de Desenvolvimento
Sustentável e as Reservas
Particulares do Patrimônio Natural
(Lei n.º 9605/98).
Uso direto: Aquele que
envolve coleta e uso, comercial ou
não, dos recursos naturais (Lei n.º
9.985/2000).
Uso indireto: Aquele que não
envolve consumo, coleta, dano ou
destruição dos recursos naturais (Lei
n.º 9.985/2000).
Uso sustentável: Exploração
do ambiente de maneira a garantir a
perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos
ecológicos, mantendo a
biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de forma socialmente
justa e economicamente viável (Lei
n.º 9.985/2000).
Utilização sustentável:
utilização de componentes da
diversidade biológica de modo e em
ritmo tais que não levem, no longo
prazo, à diminuição da diversidade
biológica, mantendo assim seu
potencial para atender as
necessidades e aspirações das
gerações presentes e futuras (Dec.
nº 2.519/98).
Vereda: espaço brejoso ou
encharcado, que contém nascentes
ou cabeceiras de cursos d’água,
onde há ocorrência de solos
hidromórficos, caracterizado
predominantemente por renques de
buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e
outras formas de vegetação típica
(Resolução CONAMA N.º 303/2002).
Vigilância da qualidade da
água para consumo humano:
Conjunto de ações adotadas
continuamente pela autoridade de
saúde pública, para verificar se a
água consumida pela população
atende aos parâmetros
estabelecidos pelo Ministério da
Saúde, e avaliar os riscos que os
sistemas e as soluções alternativas
de abastecimento de água
representam para a saúde humana
(Dec. n.º 5.440/05).
Zona de amortecimento:
entorno de uma unidade de
conservação, onde as atividades
humanas estão sujeitas a normas e
restrições específicas, com o
propósito de minimizar os impactos
96
negativos sobre a unidade (Lei n.º
9.985/2000).
Zona contígua brasileira:
faixa que se estende das doze às
vinte e quatro milhas marítimas,
contadas a partir das linhas de base
que servem para medir a largura do
mar territorial (Lei nº 8.617/93).
Zona econômica exclusiva
brasileira: Compreende uma faixa
que se estende das doze às
duzentas milhas marítimas,
contadas a partir das linhas de base
que servem para medir a largura do
mar territorial (Lei nº 8.617/93).
Zoneamento Ecológico-
Econômico do Brasil – ZEE:
instrumento da Política Nacional do
Meio Ambiente. Tem como princípio
a organização do território a ser
obrigatoriamente seguido na
implantação de planos, obras e
atividades públicas e privadas,
estabelece medidas e padrões de
proteção ambiental destinados a
assegurar a qualidade ambiental,
dos recursos hídricos e do solo e a
conservação da biodiversidade,
garantindo o desenvolvimento
sustentável e a melhoria das
condições de vida da população
e tem por objetivo geral organizar,
de forma vinculada, as decisões dos
agentes públicos e privados quanto
a planos, programas, projetos e
atividades que, direta ou
indiretamente, utilizem recursos
naturais, assegurando a plena
manutenção do capital e dos
serviços ambientais dos
ecossistemas (Decreto nº 4.297/02).
Zoneamento: definição de
setores ou zonas em uma unidade
de conservação com objetivos de
manejo e normas específicos, com o
propósito de proporcionar os meios e
as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser
alcançados de forma harmônica e
eficaz (Lei n.º 9.985/2000).
Considerações Finais
A apresentação do presente glossário não esgota o tema proposto vez
que dadas às mutações climáticas, sociais e econômicas faz com que haja
mudança constante na legislação ambiental e por consequência, na
nomenclatura inerente.
97
Jaime Pimentel
98
HERMENÊUTICA JURÍDICA E O PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE
PIGNATARI, Nínive Daniela Guimarães - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
SAMPAIO FILHO, Walter Francisco - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
Na aplicação do direito, o intérprete não mais se restringe ao paradigma
silogístico da sentença, segundo o qual a lei era a premissa maior, o fato
concreto a premissa menor e a sentença a conclusão do raciocínio. A concepção
formalista, vigente até o início do século XX, enfraqueceu-se com o
amadurecimento de novas teorias e tendências hermenêuticas. Dentre elas
destacam-se a Teoria da Argumentação de Perelman (2004), para quem o
raciocínio da sentença não é operação matemática, mas um produto discursivo-
-argumentativo e a teoria da Lógica do Razoável de Recaséns Siches, para
quem a sentença é um “sentir”: o juiz primeiro sente qual seria a solução justa e
razoável para o caso concreto e, só depois, procura na lei uma justificação que
lhe sirva de fundamento para a decisão. (apud MARQUES, 2007). O objetivo
desse estudo e, pois, analisar tais aportes teóricos e seus impactos com relação
ao alargamento dos limites da interpretação judicial, especialmente no que se
refere à interpretação do texto constitucional.
99
Introdução
As novas correntes
hermenêuticas, ao superarem o
modelo da lógica formal
(matemática/automática) na
prolação de uma sentença, deram
lugar à argumentação razoável (e
não mais estritamente racional) e ao
sentimento no ato decisório.
Tais ponderações teóricas
distinguiram, oportunamente, o
direito das ciências exatas. De fato,
o cálculo jurídico não pode ser
mecânico. Envolve juízos subjetivos,
fatos sociais e humanos temporários
e mutáveis. A apreciação das leis no
direito é, portanto, valorativa. As
razões jurídicas são regidas por
nexos de finalidade e não de
causalidade como ocorre nas leis
das ciências naturais. Incrementado
com tais respaldos doutrinários, o
processo hermenêutico enriqueceu-
se.
Desde a cristalização dessas
novas ideias, o poder criativo e o
consequente papel que as ideologias
e convicções políticas do magistrado
devem desempenhar nas decisões
judiciais tornaram-se questões
centrais nos debates hermenêuticos,
sempre acalorados por uma série de
incertezas doutrinárias.
Diversos temas ligados à
interpretação constitucional
polarizam o direito contemporâneo.
Como exemplos citam-se: o
entrechoque entre a liberdade de
imprensa, os direitos individuais e o
direito à privacidade; o conflito entre
os programas de ação afirmativa que
visam equilibrar as relações raciais
por meio da distribuição de cotas e o
princípio da igualdade; o confronto
entre o direito à propriedade e os
diversos argumentos sociais; o
embate entre os direitos e garantias
individuais do acusado diante da
escalada da violência, dentre outros.
Diante do impasse é necessário
definir melhor o papel dos juízes na
tarefa de elucidar as leis.
A atribuição de sentido requer
a convergência de métodos
hermenêuticos e a valorização da
interpretação constitucional,
assegurando a legitimação social e a
visão sistemática das estruturas
jurídicas que se organizam no
conturbado cenário contemporâneo.
Mesmo com todos
os avanços ocorridos no âmbito da
exegese jurídica, a decisão das lides
concernentes ao direito
constitucional é sempre complexa e
os limites interpretativos na
atividade decisória constituem,
100
certamente, um dos capítulos mais
incertos do ambiente jurídico atual. A
celeuma se agrava em face do
emaranhado de métodos
hermenêuticos e sistemas
interpretativos, da inexistência de
uma hierarquia entre eles, da
mutabilidade e da reversibilidade dos
resultados interpretativos no evolver
temporal.
Os juízes podem (e devem)
questionar a lei, harmonizando a
decisão com os vetores
constitucionais ou devem apenas
aplicar a lei, sem avaliar sua
pertinência e utilidade? Quais os
limites criativos da prestação
jurisdicional? Onde está o teto
hermenêutico?
Tais controvérsias político-
jurídicas são antigas, mas a história
recente renovou a fisionomia do
debate, diante das crises
institucionais sucessivas que
polarizam as doutrinas jurídica e
política quanto às (dis) funções e a
(ine) eficácia dos Poderes do Estado
no regime democrático brasileiro.
Hermenêutica constitucional e suas
crises
Diversos estudos
relacionados ao tema
da interpretação vem denunciando a
ineficácia do poder judiciário ao
aplicar em situações concretas o
texto constitucional. Dentre os
autores que estudam a questão,
Streck (2007) acentua a baixa
aplicabilidade/efetividade da
Constituição no Brasil. Tal sub-
aproveitamento, sentido com mais
rigor pelos destinatários dos direitos
constitucionais coletivos, difusos e
pelos segmentos desfavorecidos da
população, derivam dos déficits
interpretativos e do apego insistente
ao formalismo positivista. Por essa
razão, algumas questões
hermenêuticas devem ser
revisitadas, pois a miopia de alguns
intérpretes tem entravado a
aplicação operacional do direito e a
efetividade constitucional. Se a lei
não exaurir o direito, em algum
contexto pode ser justo (direito) e
legítimo infringi-la? Qual o
significado da expressão justiça
social? O que é bem comum?
Princípios jurídicos e políticos
confrontam nos tribunais
diariamente e incumbe à doutrina
elucidar o caráter e a legitimidade de
algumas decisões corajosas,
algumas delas contra legem,
fomentadas pela interpretação
constitucional do direito.
Ao aplicar a lei deve-se
considerar, é claro, seu texto, a
101
complexidade social e os impactos
da solução pretendida, mas a
sentença deve ser em primeiro plano
uma emanação de justiça
consubstanciada na inspiração
constitucional.
Marques (2007) enumera os
passos para uma interpretação
constitucional das normas:
encontrada a lei aplicável ao caso,
deve o hermeneuta proceder à
crítica de constitucionalidade,
confrontando a lei com as normas
constitucionais e verificando se
aquela não é inconstitucional.
Aferida a constitucionalidade da lei,
observa-se a sua vigência, e, então,
passa-se à análise gramatical, aos
contrastes lógico, histórico,
sistemático e teleológico, no qual se
indaga se a solução imaginada
atinge os fins da norma. Finalmente,
retorna-se à Constituição, agora não
mais para indagar a
constitucionalidade da lei, mas da
solução pretendida. Observa-se
agora se a interpretação
premeditada pelo hermeneuta não
denigre, de nenhum modo, os
princípios constitucionais.
Visto assim o método parece
simples, mas na prática dos tribunais
a polêmica sobre o papel
hermenêutico do juiz é campo fértil
para as investigações
interdisciplinares de Filosofia
Jurídica, Linguística e Política no
Brasil e o debate sobre os limites da
discricionariedade judicial precisa
ser travado com urgência na arena
acadêmica.
Não se trata apenas de um
assunto de juízes. Essa mudança de
foco é correlata a outras
substituições fundamentais
vivenciadas na cena jurídica atual.
Quando se reconhece que o
direito nem sempre coincide com a
lei, substitui-se o princípio da
legalidade pelo da
constitucionalidade. Quando se
reconhece que a interpretação da
norma não é nem automática nem
matemática, vê-se o esquema
silogístico da sentença ceder face à
torrente argumentativa enunciada na
fundamentação das decisões. Ao
argumentar, o homem juiz manifesta
valores, sentimentos e concepções,
assumindo, evidentemente, uma
função política.
O mito da neutralidade do
discurso decisório está
completamente desfeito, até mesmo
pelas evidências trazidas por
recentes pesquisas linguísticas. Não
existe discurso humano neutro ou
isento de ideologia. Todo emissor
102
deixa rastros de sua percepção de
mundo no texto. O ato decisório está
impregnado de vontade e perfaz
uma criação normativa, aplicando
uma dentre as várias interpretações
possíveis.
Como representantes de uma
das instituições políticas (Poder
Judiciário) têm os juízes naturais
propensões ideológicas e, mais
ainda, funções políticas
(indispensáveis), já que lhes
incumbe averiguar a
constitucionalidade das leis e dos
atos governamentais segundo os
princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
Nesse caso, a noção de
razoabilidade não é apenas um dos
vetores interpretativos, mas um
instrumento de controle de
legitimidade normativa capaz de
denunciar os desvios e os excessos
cometidos pelo Poder Legislativo. E
não se trata apenas da verificação
objetiva da razoabilidade de um
dispositivo, mas, em última análise,
de uma apreciação ideológica e
valorativa do ato emitido pela
instituição legislativa. Se ao passar
por este crivo estreito, reconhecer o
juiz que a norma agride os fins
constitucionais, considerando a
convergência de métodos e regras
hermenêuticas, deverá repudiá-la.
Em suma, a Constituição
Federal de 1988, ao completar 20
anos, especialmente com os
comandos programáticos dos artigos
3º e 5º consolida a tese de que ao
interprete cabe dar à lei uma
exegese construtiva e possivelmente
inovadora, levando em conta os fins
sociais e o bem comum.
O direito, no novo milênio,
admitirá interpretações
revitalizadoras/criadoras da lei e o
juiz poderá acrescer-lhe algo, desde
que respaldado por argumentos
razoáveis, teleologicamente
justificáveis e convergentes com as
vigas arquitetônicas da Lei Maior.
Dada a crise do direito
dogmático, em virtude da
insuficiência / ineficiência do Estado
na resolução dos conflitos jurídicos,
especialmente nas questões que
envolvem os direitos coletivos,
entrechocam-se posições
hermenêuticas distintas, as quais
precisam ser cruzadas e sopesadas
por consistentes análises
acadêmicas, aqui apenas
deflagradas.
103
Considerações finais
Diante das considerações elencadas, encara-se a interpretação da lei não
como estreita tarefa normativista, mas como amplo processo (possivelmente)
criador de sentidos e preconiza-se que o hermeneuta é um agente discursivo
comprometido com o chamado “direito justo”, no qual o sentido íntimo da lei (e
não apenas sua “expressão visível”) seja atentamente considerado, a fim de que,
no horizonte do direito, rebrilhem possibilidades novas de justiça material.
Walter Francisco Sampaio Filho
104
Referências
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DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges, São Paulo: Martins Fontes, 2001.
GOMES, Luís Flávio. A dimensão da magistratura: no estado constitucional e democrático do direito: independência judicial, controle judiciário, legitimação da jurisdição, politização e responsabilidade do juiz. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.
MARQUES, Alberto. Roteiro de Hermenêutica. Técnicas para interpretar o Direito e construir argumentações jurídicas convincentes. Curitiba: Juruá, 2007.
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SIMON, Henrique Smidt. Direito, hermenêutica e filosofia da linguagem: o
problema do decisionismo em Hans Kelsen e Herbert Hart. Belo Horizonte:
Argumentum, 2006.
105
DEMOCRACIA, LINGUAGEM E PODER NAS MALHAS DO DISCURSO JURÍDICO – INSTITUCIONAL
PIGNATARI, Nínive Daniela Guimarães - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
SAMPAIO FILHO, Walter Francisco - Docente do Curso de Direito da Unifev – Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O acerto de uma emissão textual depende fundamentalmente da clareza
da mensagem produzida, pois não existe comunicação sem compreensão. O
discurso, para ser considerado eficaz, deve ser acessível e adequado ao
universo de linguagem de seus receptores (leitores ou ouvintes). Todavia, a
linguagem jurídica caracteriza-se tradicionalmente por ser impenetrável aos seus
destinatários, sendo este um dos impedimentos do acesso popular à justiça. O
objetivo desse estudo é, pois, compreender as raízes e os frutos da opacidade
dos discursos circulantes no ambiente do direito, especialmente do discurso
legal e decisório, focalizando a questão pelo viés da pragmática textual por meio
de pesquisas bibliográficas e método de raciocínio dedutivo.
Palavras-chave: Linguagem jurídica. Linguagem e poder. Democratização da justiça. Pragmática textual.
106
Introdução
“a questão que se propõe aqui
consiste em saber se esta linguagem
é uma necessidade ou se, antes de
tudo, é uma técnica de terrorismo.
Se não entendo nada do ato que me
aponta a escravidão é por parvoíce
ou porque devo sentir-me, desde o
momento inicial da instância, em
estado de inferioridade?”
(André Jean Arnaud)
A palavra é o instrumento de
trabalho do jurista e as operações
realizadas no contexto do direito
concretizam-se por meio de textos
escritos e falados, razão pela qual,
as discussões em torno da eficácia
da linguagem nesse meio são
incontornáveis.
O direito exprime-se por meio
de discursos: a) dos requerimentos,
b) legais, c) decisórios, d)
doutrinários e científicos. Em seu
âmbito, a competência dos
operadores deve ser medida
essencialmente pela habilidade de
produzir textos eficazes (adequados
aos seus destinatários). Todavia,
dada sua ancestral prolixidade, o
texto jurídico, especialmente o legal
e o decisório, mantém-se distante de
seus receptores, impedindo o
acesso democrático do povo à
justiça. O objetivo deste estudo é,
pois, arrolar as causas e
consequências da opacidade dessa
linguagem à luz da pragmática
textual, evidenciando a necessidade
de sua simplificação. A pesquisa
bibliográfica realizou-se por meio de
raciocínio dedutivo, com a aplicação
dos pressupostos da teoria geral da
comunicação ao universo textual do
direito.
1. Noções sobre linguagem
Entende-se por linguagem a
capacidade humana de
comunicação. Pressupõe
um emissor (quem escreve ou fala);
uma mensagem (conteúdo do texto),
um receptor (quem lê ou ouve),
um código (linguagem em que a
mensagem é elaborada),
um canal (meio de circulação da
mensagem) e
um contexto (circunstâncias a que o
texto se refere). Língua é um
sistema de signos compartilhado por
uma comunidade determinada,
como por exemplo, a língua
portuguesa. Signos são os diversos
sinais utilizados para representar
algo. Dentre eles, destacam-se as
palavras, os gestos (polegar para
107
cima, entre nós, significa “tudo
bem”), imagens (figuras, placas de
trânsito) e sons (gemidos, gritos).
O signo linguístico (palavra) possui
duas faces: significante é o som ou a
imagem gráfica da
palavra; significado é o conceito, a
ideia. Quando alguém escuta a
palavra “mesa”, essa imagem sonora
(significante) remete à ideia do
objeto (significado). Do mesmo
modo, se alguém lê a palavra, a
imagem das letras no papel sugere a
visão psíquica (o entendimento) do
significado.
A elaboração de uma
mensagem passa por dois
momentos: a) o emissor (quem fala
ou escreve) transforma seu
pensamento (significado) em palavra
(significante). Esse momento
denomina-se codificação; b) o
receptor (ouvinte ou leitor) converte
a palavra ouvida ou lida (significante)
em ideia (capta o significado). Esse
momento denomina-
se decodificação. Para que a
comunicação ocorra sem ruídos
(perturbações) a mensagem precisa
ser decodificável pelo receptor
(auditório ou leitores), ou seja, o
vocabulário utilizado deve ser
comum entre os dois sujeitos da
comunicação. Se num texto ou
conversa as palavras utilizadas pelo
emissor (significantes) não forem
conhecidas, não se transformarão
em ideia (significados) na mente do
receptor e, portanto, não ocorrerá a
comunicação.
A linguagem divide-se em
dois grupos: natural e
artificial (formais e técnicas). A
primeira, empregada no cotidiano,
caracteriza-se pela utilização de
signos imprecisos, ambiguidades,
variação, dinamismo e dependência
do contexto para a realização dos
sentidos. A segunda,
especificamente na modalidade
técnica, requer maior precisão
terminológica e busca superar as
imperfeições da linguagem natural,
reduzindo o grau de ambiguidade e
as cargas emotivas e ideológicas
que possam subjetivar o processo
comunicativo. São mais rigorosas,
estáticas e econômicas do que as
linguagens naturais.
Os estudos científicos
geralmente expressam-se
em linguagem técnica especializada
e se sujeitam a estruturas lógicas
rigorosas, para que possam atingir a
universalidade, a objetividade e a
transmissibilidade exata do
conhecimento. O direito, embora
seja uma ciência peculiar do ponto
108
de vista de sua lógica e de seu
discurso, sempre buscou inserir-se
nessa categoria de cientificidade
geral, o que tem justificado, de certa
forma, que os textos circulantes em
seu universo se distanciem do
universo da linguagem natural. O
argumento da cientificidade
discursiva é válido desde que o
objetivo seja estabelecer uma
comunicação mais exata, com a
substituição das formas imperfeitas
da linguagem natural ordinária por
construções de maior precisão
terminológica. Assim sendo, a
linguagem especializada do direito
estabelece conceitos e procura dar
coerência lingüística ao sistema,
harmonizando doutrina, legislação e
jurisprudência. Esse processo de
tecnicização da linguagem tem suas
vantagens, pois favorece a
homogeneização dos conteúdos e
permite um exame mais lógico e
formal dos argumentos postos sob
apreciação, permitindo a verificação
da validade ou invalidade dos
raciocínios jurídicos com maior
exatidão.
Todavia, é importante
ressaltar que a linguagem
apresenta-se em 3 dimensões
diferentes, condizentes cada uma
delas com uma de suas
funções: sintática, semântica e
pragmática. Essas três perspectivas
são estudadas pela semiótica, a
ciência do sentido.
A sintaxe analisa a relação
dos signos entre si (signos x signos),
focalizando o respeito às regras de
formação de uma linguagem, ou
seja, sua gramática. Avalia a
justaposição dos vocábulos (sujeito,
verbo, predicado, por exemplo), a
relação lógica entre os termos, os
conectivos, as concordâncias e
discordâncias. A sintaxe é, pois, uma
das ferramentas da interpretação de
proposições, dentre elas as jurídicas.
A semântica estuda o vínculo
entre o signo e a realidade, ou seja,
a relação entre a palavra e os
objetos a que ela se refere (signo x
objeto representado). Preocupa-se
com o sentido dos enunciados (o que
significam) e ocupa-se da conotação
e da denotação, visando extrair toda
a imprecisão natural dos termos,
eliminando a ambiguidade e a
vagueza da comunicação para que
esta seja mais precisa e eficaz.
Já a pragmática, linha
explorada nesse estudo, ocupa-se
da relação entre os signos e seus
usuários (signos x sujeitos da
comunicação). Visa
a eficácia comunicativa da
109
mensagem, preocupando-se, então,
com a relação entre signos e sujeitos
(emissores e receptores). Por meio
dos estudos pragmáticos, estudam-
se os contatos humanos
estabelecidos por meio da
linguagem. Uma comunicação é
adequada do ponto de vista
pragmático quando atinge seus fins
e isso só ocorre se houver a
compreensão da mensagem.
O ato da comunicação
envolve seis elementos. Emissor é
quem envia a mensagem (no caso
do texto da lei, por exemplo, o
emissor é o legislador). Receptor é
quem a recebe (no caso da lei, o
receptor é o povo). Mensagem é o
conteúdo das informações enviadas
(no caso da lei, o comando). Canal é
o meio físico de propagação da
mensagem (folha de papel, jornal,
televisão). Código é a língua da
mensagem (língua portuguesa).
Para que a transmissão seja
eficiente, é preciso que emissor e
receptor dominem o mesmo código.
Contexto é a situação a que a
mensagem se refere. Todo texto
liga-se a um contexto, situação real
e concreta que o origina. Se uma
frase é isolada de suas
circunstâncias, poderá ter seu
significado adulterado. A frase “está
frio”, por exemplo, se for ouvida por
alguém que não está presente na
cena comunicativa que a originou,
poderá sugerir muitas coisas. “Frio”
(fora do contexto) pode ser o chão, o
tempo, a comida, a relação, etc. Para
compreender o real sentido da
mensagem, o receptor deve,
portanto, conhecer o ambiente e as
circunstâncias da emissão.
Evidentemente a recepção só
é eficaz do ponto de vista pragmático
quando existe identidade entre os
códigos (linguagem) do emissor e do
receptor (é necessário haver um
compartilhamento). Mesmo dentro
de uma mesma língua poderá haver
problemas com o código, se forem
empregados, por exemplo, dialetos
específicos, não acessíveis aos dois
sujeitos da comunicação. Assim, se
um adolescente usando gírias
conversar com um advogado, que
emprega o “juridiquês”, embora
ambos estejam utilizando a língua
portuguesa, poderá haver ruídos
(desentendimentos). A
compreensão só ocorrerá quando a
linguagem do emissor
for transparente para o receptor. A
assimilação dos textos por seus
destinatários finais é, portanto, a
meta dos estudos pragmáticos.
110
É nesse ponto que se delimita
o objeto desse estudo. Se o acerto
comunicativo depende
fundamentalmente da modulação da
mensagem às condições de
assimilação de quem a recebe,
aquele que redige ou fala um texto
deve avaliar o nível cultural, a
escolaridade e a experiência leitora
dos destinatários. O emissor, no
esquema comunicativo humano, é o
único responsável por essa delicada
“pesquisa” e deve, portanto, ser
flexível para que o texto ajuste-se ao
leitor.
2. O discurso do direito
O discurso do direito, por suas
raízes históricas e com o pretexto de
manter-se técnico, sempre foi
impenetrável para seus
destinatários. Isso ocorre porque o
cenário da linguagem jurídica é
diferente do das demais linguagens
profissionais. Nestas os sujeitos que
se comunicam são sempre
especialistas que dominam o jargão
(linguagem técnica). Já no discurso
jurídico, especialmente no caso do
discurso decisório (sentenças) e
legal (leis), o destinatário é o cidadão
leigo e não o especialista. O texto
normativo que proíbe, sanciona ou
permite condutas, bem como a
sentença, que faz lei para as partes,
destina-se a um usuário que
conhece apenas a linguagem
natural. Esta, ao contrário das
linguagens artificiais marcadas pela
estabilidade, é viva e muda todos os
dias, dada sua contínua evolução.
O magistrado Marcelo
Dolzany da Costa[1], dissertando
sobre a comunicação no direito,
investiga a questão, afirmando que,
nas relações jurídicas, interagem
dois tipos de “atores”:
[...] a comunicação entre
todos esses atores tem relação
direta com a qualidade do serviço
judiciário. A linguagem verbal entre
os primeiros atores (juízes,
advogados, promotores, delegados
e escrivães) em princípio teria
estrutura semelhante porque
fortemente articulada em signos e
significantes próprios do
conhecimento jurídico. A formação
acadêmica comum a esse grupo de
atores pareceria suficiente a afastar
barreiras linguísticas, daí menores
os riscos de perda da mensagem.
[...] A homogeneidade do discurso no
primeiro grupo já não se encontra no
segundo grupo de atores. Autor, réu,
testemunhas e peritos
invariavelmente têm universo de
111
linguagem muito distinto. A
comunicação entre os dois grupos
quase sempre é penosa e rica em
ambiguidades [...].
A heterogeneidade
discursiva, observada por Costa,
decorre da própria formação cultural
das elites jurídica e intelectual
brasileiras, recrutadas quase que
exclusivamente no estrato social
dominante. Do outro lado da linha,
está o povo, o legítimo auditório dos
códigos e das decisões do judiciário,
cujo analfabetismo total, somado ao
analfabetismo funcional
(incapacidade de extrair conclusões
de um texto lido) é de 75%[2].
Cada um escreve “como
pode” e não “como quer”. Um texto
retrata obrigatoriamente a formação
discursiva e ideológica da classe de
onde provém seu emissor. Desse
modo, os textos legais e decisórios,
direcionados ao povo (receptor) por
aqueles que falam em nome dos
Poderes do Estado são, muitas
vezes, incompreensíveis, dado o
acentuado desnível cultural entre os
sujeitos da comunicação.
Disso resulta a denominada
“opacidade” do discurso jurídico
estudada pelo jurista argentino
Cárcova em sua obra A opacidade
do direito (1998). Tal fenômeno afeta
o evolver do processo democrático
em suas raízes. O discurso legal
prolixo, compreendido apenas pelo
segmento letrado, é uma prática
comunicativa condenável por ser
pragmaticamente ineficaz. Além
disso, é socialmente excludente e
intensifica o “preconceito linguístico”
marginalizador (BAGNO, 2004).
Impede o povo, receptor natural das
mensagens legais, decisórias e
institucionais, de entender os
comandos que descrevem deveres e
direitos, inviabilizando a circulação
ampla e penetrante das ideias e
compromete, portanto, a vivência
cidadã.
Não se propõe,
evidentemente, o empobrecimento
da linguagem institucional, nem que
esta se dirija aos ¾ de analfabetos
funcionais brasileiros, mas sua
saudável e possível simplificação. A
utilização de estruturas sintáticas
diretas, o emprego de termos com
um único sentido e o uso de um
vocabulário apropriado e atual,
poderia, ao mesmo tempo, tornar a
linguagem mais rica, clara e
eficiente.
Diversas teses recentes
debruçam-se sobre a questão da
acessibilidade do discurso jurídico.
Numa delas, a pesquisadora Érica
112
Vullu (2005), analisou
comparativamente a linguagem do
antigo e do novo Código Civil,
especialmente quanto ao livro V
(Sucessões). Submeteu os textos
dos dois códigos à interpretação
popular (pessoas com, no mínimo
ensino, médio completo). Constatou
a maior assimilação de conteúdo na
atual redação, todavia, segundo
apurou, permanece elevado o grau
de incompreensão. Dentre os fatores
apontados como causadores de
dificuldade de compreensão de
texto, as frases extensas foram
apontadas por 28% dos
entrevistados. Outros 27%
consideraram que a estruturação
confusa atrapalha a compreensão
(estruturas sintáticas incomuns,
invertidas) (VULLU, 2005, p. 76).
Nesse trabalho a
pesquisadora propôs uma terceira
redação, bem mais simples, com
períodos diretos e mais curtos,
verbos com um só sentido e palavras
mais triviais. Conservou, contudo o
exato teor de sentido. Constatou que
tal redação foi preferida por 86% dos
entrevistados que a consideraram de
mais fácil entendimento. (VULLU, p.
75).
Como exemplo da
obscuridade desnecessária que
existe no discurso do direito, citamos
os casos analisados por Maciel, dos
verbos caber e competir. Em certos
contextos, em acepção jurídica,
ambos significam atribuir poder,
sentido completamente diferente do
comum, dicionarizado. Essa
acepção não se encontra sequer em
muitos dos dicionários jurídicos.
Observe-se, ainda, a polissemia do
verbo caber, que significa no
dicionário Aurélio: ser admissível,
poder ser contido, poder entrar,
passar, poder realizar-se em certo
tempo, ser compatível, pertencer
como partilha, ter cabimento e,
finalmente, competir. (MACIEL,
2001).
Outro termo problemático,
largamente empregado no discurso
jurídico é o verbo importar:
apresenta doze significados
diferentes. Podemos citar como
exemplo de seu uso o artigo 1.805
do Código Civil, em seu § 2º
diz: “Não importa igualmente
aceitação a cessão gratuita, pura e
simples da herança, aos demais co-
herdeiros”. Muito melhor seria: “A
cessão gratuita, pura e simples, da
herança aos demais herdeiros não
significa aceitação da herança”.
Além de trocar o verbo por outro,
mais conhecido e unívoco, a
113
colocação dos termos em ordem
direta facilitaria a apreensão do
conteúdo. (MACIEL, 2001).
No mesmo sentido, a Ministra
do Superior Tribunal de Justiça
Fátima Nancy Andrighi, em seu texto
“Pela compreensão da
justiça” [3], propõe a edição de textos
explicativos para as decisões e
exemplifica com a Súmula 278 do
STJ: “o termo inicial
do prazo prescricional, na ação de
indenização, é a data em que o
segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral”. Para facilitar a
compreensão do referido enunciado,
segundo a magistrada,
concomitantemente à edição e
publicação da Súmula, poderia ser
divulgado o seguinte texto
explicativo: “A pessoa, que tiver
contratado um seguro de vida e de
acidentes pessoais e sofrer um
acidente que a torne incapaz para o
trabalho, terá um prazo máximo para
pedir na justiça o pagamento de
indenização.
A Súmula 278 do STJ
estabelece que esse prazo começa
a ser contado a partir do dia em que
a pessoa tiver a certeza de que não
poderá mais trabalhar”. A divulgação
do texto explicativo poderia
esclarecer o cidadão, evitando,
assim, a propositura de ações
desnecessárias, o que, em última
análise, configuraria um mecanismo
para desafogar o Poder
Judiciário. Pensamos que o texto
explicativo poderia, na verdade,
substituir com vantagem, o próprio
enunciado. Por que não,
simplesmente: “A pessoa, que tiver
contratado um seguro de vida e de
acidentes pessoais e sofrer um
acidente que a torne incapaz para o
trabalho, terá um prazo máximo para
pedir na justiça o pagamento de
indenização. Esse prazo começa a
ser contado a partir do dia em que a
pessoa tiver a certeza de que não
poderá mais trabalhar”?
3. Opacidade discursiva institucional
e democratização dos direitos
“O mando desenvolve nos
senhores vozes altas e nos servos
falas brandas e até macias quase
sempre acompanhadas de sorrisos
também doces [...] (Gilberto Freire,
Sobrados e mucambos, v. III, p.
997).
As origens, a história, o
caráter e os limites do poder do
Estado sobre o indivíduo são temas
controvertidos de filosofia política.
Para Hobbes, a passagem do estado
114
natural, em que todos guerreavam
contra todos, para a sociedade, deu-
se mediante um pacto, necessário
para a manutenção da paz e da
harmonia social. O homem abdicou
de sua porção de poder individual,
submetendo-se a obedecer, quer
seja um monarca, uma assembleia,
ou uma maioria (povo) em troca de
algo: segurança. Numa outra
perspectiva, Foucault (1992, p. 182-
4) considera que o poder deve ser
estudado a partir das táticas e
técnicas de dominação (e não
consensualmente). Para tal fim,
didaticamente é possível organizar-
se uma espécie de gramática do
poder que contém certas invariáveis
presentes nas relações humanas. As
normas expressas em um código de
leis, por exemplo, o de trânsito, são
ordens enviadas pelo agente (poder
legislativo) com uma
mensagem ou comando (é proibido/
é permitido), dirigidas aos receptores
(pacientes) pedestres e motoristas.
Nem sempre as mensagens
enviadas são atendidas, podendo
haver confronto ou rejeição por parte
dos receptores.
Quando as comunicações
humanas se estabelecem em
contextos normativos/decisórios, em
que um sujeito exerce o papel de
legislador/julgador e o outro de
legislado/julgado, formam-se as
seguintes posições: um agente do
poder (emissor) dirige uma ordem
(mensagem legal, sentença,
resolução) a um paciente (receptor –
povo, réu, partes de um processo). A
ordem só pode ser obedecida na
medida em que for ditada em
um código comum. Em outras
palavras, para que uma
comunicação humana seja eficaz,
em qualquer contexto (e também nos
contextos burocrático-jurídico-
institucionais), no polo passivo da
comunicação, deve haver um sujeito
receptor capaz de interpretar e
executar o comando emitido.
Se um sujeito emite a ordem
em grego e o outro só conhece
português, haverá um ruído
intransponível obstando a realização
do comando. Todavia, o ruído
manifesta-se também dentro de uma
mesma língua, em razão
do distanciamento dialetal, pela
utilização de palavras caídas em
desuso, construções prolixas, gírias,
desnível cultural entre sujeitos da
relação comunicativa, uso do jargão
técnico, etc.
No caso brasileiro, por meio
de leis e decisões judiciais, o Estado
tripartido ordena, obriga e coage os
115
indivíduos, exercendo um poder
equilibrante das relações sociais.
Mas a incompreensão dos
comandos, além de afastar o
cidadão de seus direitos e deveres,
ainda denigre a imagem dos
poderes. Ao longo da história
recente, estes foram associados no
imaginário popular a um sentido
vago, obtuso e potencialmente
maléfico. O povo tem medo do
judiciário, com seus ritos, latinismos
e roupas pretas. Desconfia dos
políticos e se assusta com as leis,
redigidas com termos arcaicos e
contorcionismos verbais. Em razão
disso, a ideia de que existe no
Estado um poder político instaurador
legítimo, ligado diretamente ao povo,
ou seja, a ideia do pacto, se
enfraquece, acentuando a crise de
legitimação e de valores.
Em suma, a incompreensão
dos discursos (legais e
institucionais), a falta de
transparência dos textos,
desacredita os atores do processo
(representantes dos poderes) e
fragiliza as iniciativas estatais.
Admite-se que o texto legal seja
naturalmente passível de
interpretação, razão pela qual o
conhecimento da hermenêutica é
imprescindível ao jurista. Todavia,
em alguns casos, a lei não é apenas
“interpretável”, mas totalmente
“indecifrável”, dada a obscuridade de
seus termos. Isso pode ocorrer, na
melhor hipótese, por incompetência
pura e simples de quem redige, mas,
algumas vezes, a complicação é
intencional, pois o aparente
“equívoco” terminológico torna a
norma permeável a engodos e à
concessão de brechas, sempre
convenientes para os segmentos
envolvidos na própria elaboração
legislativa.
Segundo Citelli (2001, p. 32)
as instituições falam por meio de
signos fechados (dados como
absolutamente certos). Tanto as
maiores (judiciário, igreja, escola)
como as menores (sala de aula,
sociedade) emitem mensagens
codificadas em signos tão
persuasivos que passam a ser
aceitos como verdades absolutas.
A ponte por onde transita a
mistificação da competência é a
palavra, é o discurso burocrático-
institucional com seu aparente ar de
neutralidade e sua validação
assegurada pela cientificidade. [...].
Isso ajuda a perpetuar as relações
de dominação entre os que
falam a e pela instituição e os que
são por ela falados. Os segundos,
116
sem a devida competência, ficam
entregues a uma espécie de
marginalidade discursiva; um reino
do silêncio, um mundo de vozes que
não são ouvidas (CITELLI, 2001, p.
35, grifo do autor).
Dentre os discursos
burocrático-institucionais encontra-
se o discurso judiciário.
Marilena Chauí (1981)
esclarece que os discursos
“institucionais – competentes”,
muitas vezes, disjuntivos, ajudam na
formação de um processo de
dominação de massas. Portanto, o
“falar difícil” não causa apenas o
caos semântico e estilístico. O mais
grave e ofensivo é que discurso
confuso transforma os carentes de
compreensão em carentes de
direitos, afastando forçosamente o
homem das normas que orientam
suas vidas e interesses.
O discurso complicado fixa,
pela retórica da dúvida, a ideia de
que apenas os poucos “iluminados”,
portadores do conhecimento técnico
e científico, são “competentes” para
compreender e, portanto, são os
naturais dirigentes dos demais.
4. Acesso à justiça e acesso ao
processo
As crescentes preocupações
com o discurso do direito decorrem
do aprofundamento de diversas
linhas de estudo as quais conjugam
os saberes linguísticos e jurídicos.
Dessa fértil e necessária intersecção
científica, emergem novas questões
e algumas evidências. Admite-se
modernamente que o acesso à
justiça (compreendido em sua
inteireza de direito democrático
fundamental) extrapola, em muito, a
simples garantia de acesso ao
processo.
É indiscutível que a realização
do direito esbarra em problemas
processuais como o alto custo das
demandas; a morosidade dos
trâmites e o formalismo excessivo da
justiça. Tais obstáculos prejudicam a
acessibilidade processual e, contra
eles, diversas medidas têm sido
implantadas, tais como: a) a
gratuidade processual; b) a
assistência judiciária; c) a
desburocratização dos
procedimentos; d) a mediação; e) a
implantação de juizados especiais; f)
a tutela dos direitos transindividuais
pelo Ministério Público, entre outros.
117
Todos esses meios
favorecem o acesso processual, e
são, por isso, vetores para o alcance
da esperada justiça. Todavia, são
insuficientes para a democratização
dos direitos numa acepção mais
abrangente. O acesso à justiça é
uma meta mais ampla e requer, além
do enfrentamento dos problemas de
natureza processual e econômica,
um olhar sincero sobre a questão
educacional e cultural. Desse modo,
vê-se que o “acesso ao processo” é
uma espécie que pertence ao gênero
“acesso à justiça”.
O indivíduo precisa,
primeiramente, conhecer seus
direitos para depois buscá-los na
esfera judicial ou extrajudicial, sendo
o processo apenas umas das vias
para a democratização dos direitos.
Esse aspecto, ponto nevrálgico da
questão, está diretamente ligado ao
princípio da dignidade da pessoa
humana – art. 1º, III da CF, porém,
sobre ele, pouco se tem discutido.
Vale ressaltar que a
Constituição assegura que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito
(art. 5 XXXV). Tal é o dispositivo
apontado como fundamento para o
acesso de todos à justiça. Nesse
cenário, as questões de linguagem
não podem ser excluídas do debate,
pois estão na gênese dos problemas
descritos. Não basta reduzir custos,
simplificar ritos e tutelar o povo por
meio de ações populares, de modo
paternal. O discurso do direito tem
de ser acessível aos destinatários a
fim de favorecer a autonomia
cidadã.
O povo deve ser capaz de
compreender o direito diretamente,
pois este regula as relações de que
participa - individual e coletivamente
- O homem precisa conhecer as leis
para poder pensar sobre elas e
reivindicar direitos. O problema se
torna mais grave quando se admite
que a maioria das pessoas só recebe
(quando recebe) orientação jurídica
após a instalação das lides, depois
de sofrer danos, por vezes,
irremediáveis ou de enfrentarem
processos que atravessam as
décadas.
A intermediação do
profissional jurista é, diante disso,
tem sido necessária para o
simples conhecimento da lei e não
apenas para a atuação processual, o
que seria ideal. Soma-se a essa
grave problemática o fato de que os
cidadãos (mesmo os mais cultos e
abastados) raramente consultam um
advogado apenas para conhecer
118
uma nova lei ou tomar conhecimento
de seus direitos e obrigações.
A questão atinge o topo da
incoerência quando se considera a
máxima nemine licet ignorare jus. A
ideia aparece insistentemente no
ordenamento, tanto no artigo 21 do
Código Penal (“O desconhecimento
da lei é inescusável”) quanto no
artigo 3º da Lei de Introdução do
Código Civil (“Ninguém se escusa de
cumprir a lei, alegando que não a
conhece”). Ora, se o homem não
pode se eximir de cumprir uma
norma por desconhecimento,
pressupõe-se que o entendimento (a
clareza) deve ser assegurado por
quem a redige!
O jurista argentino Cárcova
(1998), esclarece que o homem
socialmente engajado realiza
cotidianamente atos com sentidos e
efeitos jurídicos, sem, contudo,
percebê-los como tal. Não tem
compreensão do alcance e da
significação jurídica de suas ações e
omissões nem do quanto o direito
altera suas relações patrimoniais,
situação familiar e obrigações. Ao
andar de ônibus, comprar cigarros,
empregar-se, unir-se a uma mulher,
desunir-se ou votar, o homem
executa inadvertidamente pactos
jurídicos. Do mesmo modo que
desconhece seus direitos, não
compreende a organização e o
funcionamento das instituições
patrocinadas com seus tributos.
A sobrevivência do espírito
tecnocrata concretiza-se, pois, na
complicação do discurso jurídico-
institucional. Desse modo, a
linguagem excessivamente
hermética é causa tanto da
alienação do povo de seus direitos e
deveres quanto de transtornos e
morosidades processuais.
Cárcova resume o
despropósito da opacidade do
discurso do direito: “O direito que
atua como uma lógica da vida social,
como um livreto, como uma partitura,
paradoxalmente não é conhecido”.
(1998, p.14).
Bobbio (2000) sustenta que o
governo da democracia é o governo
do “público”. Esclarece que o termo
público pode ser considerado em
sua oposição ao privado ou em
oposição ao secreto. Disso decorre
que o público deve, por regra, ter
conteúdo não secreto ou, em outros
termos, não privativo para minorias
ou segmentos sociais. Aquilo que é
público deve ser, portanto, acessível
ao povo. De que vale serem as leis e
sentenças publicadas? Alguns dirão
que a leis assim ordena para que tais
119
atos alcancem maior credibilidade.
Mas como um texto dado ao público
para garantia de sua transparência
pode ser opaco?
Partindo do pressuposto de
que a linguagem materializa o
direito, vê-se que todo fenômeno
jurídico está sujeito ao acerto das
opções discursivas. Os debates
acerca do assunto, inclusive os de
alcance universitário, pecaram,
tradicionalmente, por valorizarem
demais a linguagem como adorno,
como marca de erudição ou estilo
em detrimento dos aspectos sociais
e pragmáticos.
Porém, a preocupação com a
emissão de mensagens mais
adequadas aos receptores, mais
transparentes e funcionais é
crescente. Existem diferentes
movimentos (o mais enfático
organizado pela AMB - Associação
dos Magistrados Brasileiros - em
2005) em defesa da simplificação da
linguagem jurídica. Também
repercutiu nacionalmente a posição
da Ministra Ellen Gracie, que, ao
assumir a presidência do Supremo
Tribunal Federal (STF), defendeu a
adoção de uma linguagem mais
compreensível no Judiciário, ao
sugerir que se deixe de lado, sempre
que possível, o jargão utilizado pelos
operadores do Direito, também
chamado de juridiquês.
Todas as propostas
defendem, pois, a racionalização da
linguagem forense e não sua
depauperação. Como bem notou
Wittgenstein, tudo o que se pode
dizer pode ser dito claramente. A
simplificação, na verdade, enriquece
e valoriza o discurso à medida que
aumenta a sua comunicabilidade.
Apenas escritores com elevado
conhecimento de linguagem atingem
o grau excelente da simplicidade. Ao
lado indispensável reforço
educacional, consideramos ser esta
uma das condições fundamentais
para a democratização dos direitos.
É claro que o discurso é
apenas um rebento linguístico do
momento histórico e da estrutura
político-social que o engendra e de
nada vale mudar as palavras se as
concepções permanecerem intactas.
A lei, (como todo texto) é produto de
um contexto amplo, determinado
pelo entrechoque de forças e vetores
econômicos e sociais e seria
ingênuo supor que a simples
modificação do discurso reduziria as
diferenças. Todavia a acessibilidade
à linguagem do direito, professada
pelas instituições, é a condição
primeira para que surjam
120
questionamentos. O processo de
democratização depende dessa
clareza, pois a cidadania é uma
prática que exige a participação
mental do homem nos atos do
Estado. Diante da compreensão
profunda e analítica dos discursos,
surgem as possibilidades de adesão,
rejeição e resistência. Cidadão é o
homem que atingiu a condição de
um pensar autônomo e atingiu a
soberania intelectual: compreende
por si mesmo, sem traduções (e
consequentes distorções) os textos
circulantes em seu contexto de
inserção. Em última análise, o
discurso praticado na cena jurídica
brasileira, tem impedido o acesso ao
processo, à justiça e à democracia.
Considerações finais
A obscuridade textual no
direito, com suas raízes históricas
profundas e discriminatórias, é
socialmente excludente, atenta
contra a dignidade humana e entrava
o amadurecimento dos processos
democráticos. Devem, pois, os
profissionais do Direito conduzirem
uma reflexão sobre as formas de
produção da informação jurídica e
institucional, diante das diferenças e
dos desníveis educacionais. A
racionalidade jurídica não pode
descartar a função pedagógica e
construtiva da lei em nome de um
formalismo crepuscular, defendido
por mentes estáticas e
argumentação reacionária. O direito
também deve assumir sua vocação
educativa e formativa da sociedade
e para ela tem de ser pensado e
verbalizado.
Espera-se que com a adoção
de uma linguagem jurídica mais
arejada, sem arcaísmos (termos
antigos), latinismos e
contorcionismos sintáticos, não se
repita o patético e folclórico episódio
ocorrido em Santa Catarina, quando
a ordem de um juiz não foi cumprida
porque ninguém entendeu seu
linguajar. Ao sentenciar encerrou o
magistrado com a seguinte
preciosidade: "Encaminhe o
acusado ao ergástulo público". Dois
dias depois, a ordem não tinha sido
cumprida porque ninguém sabia que
"ergástulo" significa cadeia.
121
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[1] A COMUNICAÇÃO E O ACESSO À JUSTIÇA Conferência proferida no "Seminário sobre Acesso à Justiça", realizado pelo Centro de Estudos Judiciários, nos dias 24 e 25 de abril de 2003, no auditório do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG. Disponível em http://www.cjf.jus.br/revista/numero22/artigo02.pdf acesso em 17 de julho de 2009.
[2] Segundo do Instituto Paulo Montenegro (braço social do Ibope), no Brasil o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população (30% no nível 1 e 38% no nível 2). Somados esses 68% de analfabetos funcionais com os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possui o domínio pleno da leitura[...] ou seja, apenas 1 de cada 4 brasileiros (25% da população) são plenamente alfabetizadas, isto é, estão no nível 3 de alfabetização funcional.
[3] Texto classificado pela AMB, na campanha Pela simplificação da linguagem jurídica. Disponível em http://www.amb.com.br/portal/juridiques/3lugar_magistrado.doc
Nínive Daniela Guimarães Pignatari
123
FUNDAMENTOS DA PROPOSTA ALTERNATIVISTA: UMA ANÁLISE CRÍTICA
SAKATA, Kairo Rangel de Azevedo – Discente do 7° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
MIRANDA, Maryelle – Discente do 7° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
LINO, Pedro Neto – Discente do 7° período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
PIGNATARI, Nínive Daniela Guimarães - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
SAMPAIO FILHO, Walter Francisco - Docente do Curso de Direito da Unifev – Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é estudar os argumentos do movimento do
Direito Alternativo, estabelecer seu real sentido, visando a uma interpretação do
texto legal atrelada aos valores de justiça e equidade, parâmetros e medidas
erigidos em fundamento pela Constituição Federal. É imprescindível uma
pesquisa sociológica sobre a dogmática jurídica atendendo aos novos anseios
da sociedade, com a finalidade de ressaltar a eficácia, a vigência e os
fundamentos da norma jurídica, pontos determinantes do direito alternativo. O
estudo será realizado por meio de pesquisa bibliográfica e método de raciocínio
dialético, partindo-se de uma determinada situação problemática para confrontar
posições doutrinárias, analisá-las e propor soluções sintéticas. Para a realização
dos fins pretendidos, empregaram-se os métodos de procedimento comparativo
e histórico com o estudo do conceito, gênese e percurso de consolidação dos
diversos métodos interpretativos. Corroborando para uma maior compreensão
serão analisados os argumentos de dois acórdãos que julgam conforme a
concepção alternativista. O Direito Alternativo, em seu real sentido, não se
difunde como antidireito, como negativa da ordem jurídica, mas sim como uma
aproximação da lei a justiça no caso concreto, possibilitando a recriação e a
revitalização da norma, dando-lhe calor, substância, substrato e vida. O direito
dogmático, legalista, predominante até o início do século XX, não atende, em
124
razão das transformações sociais, aos anseios da atual sociedade, que
protestam e clamam pela aplicação alternativista da lei, voltada ao interesse da
comunidade, à realidade social, à pacificação e ao atendimento do bem comum.
Palavras-Chave: Alternativismo. Hermenêutica. Interpretação Jurídica.
125
Introdução
A corrente hermenêutica
alternativista surgiu na década de
70, na Itália, tendo como inspiração,
além do direito livre, o direito vivo e o
jusnaturalismo. No Brasil, o
movimento surge em meio à ditadura
militar (mais precisamente na
década de 80). Contudo, o
movimento propalado pelos juristas
do sul do Brasil, ganhou extrema
força na década de 90, quando um
importante órgão de imprensa
escrita, “O Jornal da Tarde”, de São
Paulo, representado pelo jornalista
Luiz Makouf, publicou um artigo com
a manchete “Juízes gaúchos
colocam direito acima da lei”. Após,
realizou-se o primeiro encontro
internacional do Direito Alternativo
na cidade de Florianópolis - SC.
Este pensamento contrapõe-
se à escola dogmática que postula a
soberania absoluta do texto da lei e
a servidão do exegeta à letra da
norma, expressa no brocardo
in claris cessat interpretatio.
As teses contrárias à ideia
alternativista afirmam que o Direito
Alternativo se caracteriza pela
negativa à lei e que este outorga
poderes excessivos aos julgadores,
que decidem a partir de seus
sentimentos individuais de justiça.
Essas teses são brilhantemente
refutadas por um dos expoentes do
movimento, Amilton Bueno de
Carvalho, em seu livro “Teoria e
Prática do Direito Alternativo”, o qual
afirma que:
A alternatividade luta para que
surjam leis efetivamente justas,
comprometidas com os interesses
da maioria da população, ou seja,
realmente democráticas. E busca
instrumental interpretativo que siga a
mesma diretiva (da radicalidade
democrática). O que a
alternatividade não reconhece é a
identificação do direito tão só com a
lei, nem que apenas o Estado produz
direito, nem tão pouco que se dê à
norma cunho de dogma (verdade
absoluta, inquestionável), o que é
diverso da negativa à lei. O que a
alternatividade busca é novo
paradigma, com superação do
legalismo estreito, mas tendo como
limites (ou conteúdo racional) os
princípios gerais do direito, que são
conquistas da humanidade e serão.
(1998, p. 53).
A tese acima elaborada pode
ser corroborada pela exemplificação
de alguns dispositivos mencionados
126
em nosso Código Penal, o qual
define:
Art. 213 - Constranger mulher
à conjunção carnal, mediante
violência ou grave ameaça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a
10 (dez) anos.
Art. 224 - Presume-se a
violência, se a vítima:
a) não é maior de 14 (catorze) anos;
O Código Penal como já
mencionado foi concebido em 1940,
estes dispositivos citados
padronizam as condutas, no caso
concreto, como se todos os sujeitos
submetidos a este diploma legal
fossem igualmente culpados ou pior
que isto, julgados e condenados de
modo linear. Atualmente,
observando a evolução social, não
podemos desconsiderar, ao analisar
o caso concreto, que as mulheres
sofreram transformações
psicológicas, bem como naturalística
e que a nossa sociedade teve
consideráveis modificações, tanto
que hoje, em todos os meios de
telecomunicações e nas escolas
difundem-se claramente
informações sobre relações sexuais.
Com isso, a mulher menor de 14
anos tem maior consciência da
importância e consequências da
prática desse ato, razão pela qual,
hoje, a presunção de inocência pode
ser relativizada em certos casos.
Assim, a aplicação do texto legal, de
forma absoluta, por muitas vezes,
causaria injustiça em nossa
sociedade.
Enfim, o direito não surge
como negativa à lei e nem mesmo
atribui uma liberdade irrestrita ao
julgador, pois este limita-se ao caso
concreto, e aos princípios universais
do direito, buscando a aplicação do
direito justo e não contra legem, mas
sim conforme os anseios da atual
sociedade, visando validar o direito e
não a norma absoluta.
Com intuito de melhor
exemplificar o direito alternativo,
apresentam-se a seguir análises de
decisões alternativistas extraídas da
apelação crime, n° 298001900, 5ª
Câmara Criminal de Sobradinho e
apelação crime, n° 297036758, 4ª
Câmara Criminal – São Borja, as
quais apresentam argumentações
sustentáveis à luz do alternativismo.
1. Prática alternativista
Exemplo 1: Extraído de Carvalho
(1998, v. 1, p. 139/144).
Histórico – GENI KLEIN
FERREIRA foi denunciada na
Comarca de Sobradinho como
127
incursa nas sanções do artigo
155, caput, C.C. o artigo 61, inciso I,
ambos do Código Penal, porque no
dia 19 de junho de 1996, em torno
das 23h30mim, subtraiu da
residência de Giselda de Brito, um
rádio AM/FM, avaliado em R$20,00
e gêneros alimentícios – erva mate,
café, arroz e bananas, avaliados em
R$8,31. Na ocasião, GENI
participava de um jantar na casa
de Giselda. Como chovia, os
convidados ficaram até tarde,
bebendo e assistindo à televisão. Na
manhã seguinte, Giselda ficou
sabendo por sua sogra Lourdes
Maria, que GENI tinha praticado o
furto.
Após o devido processo legal,
o magistrado julgou procedente a
acusação contida da denúncia para
condenar GENI KLEIN
FERREIRA às penas de 1 (um) ano
e 3 (três) meses de reclusão, em
regime inicial aberto, e 10 (dez) dias-
multa, arbitrada a unidade no mínimo
legal, como incursa nas sanções do
artigo 155, caput, C.C. o artigo 61, I,
II, f, ‘in fine’, ambos do Código Penal.
Inconformada da r.
sentença, GENI apresentou
apelação –crime n° 298001900 – 5°
Câmara Criminal – Sobradinho.
O Desembargador Amilton
Bueno de Carvalho, relator, afirmou
que a autoria e a materialidade estão
devidamente comprovadas nos
autos, contudo, a apelante não
merece condenação, pois a relação
entre as partes era de amizade. É
possível que o álcool tenha sido a
causa de tudo, portanto, a
culpabilidade não alcança o que de
comum acontece, é branda, suave e
não agressiva. O valor da coisa é
insignificante, mesmo para pessoas
de pouca posse, afinal totalizou R$
28,31 (vinte e oito reais e trinta e um
centavos), sendo um rádio (R$
20,00) e gêneros alimentícios (R$
8,31) – erva, café, bananas, arroz,
sendo que o rádio foi recuperado,
constando, porém um prejuízo de R$
8,31.
Diante do exposto, deram
provimento ao apelo para absolver a
apelante com base no artigo 386,
inc. III, do Código de Processo
Penal.
Analisando o exemplo acima,
observa que a condenação oriunda
da analise gramatical no caso
concreto descrito, prevista pelo
artigo 155, do Código Penal, seria
injusta, pois agride o princípio da
proporcionalidade da pena, tendo
em vista que a esta seria
128
desproporcional ao bem jurídico aqui
tutelado, além de atentar contra o
princípio da bagatela, pois o valor da
coisa subtraída é irrelevante ao
direito penal.
Segundo os princípios
estabelecidos pelos legalistas, essa
decisão se mostra incoerente, pois
por meio da aplicação de um
silogismo a norma estabelece: quem
subtrai deve ser punido, Geni
subtraiu, logo deveria ser punida.
Essa análise não é suficiente para
alcançar o justo, pois é necessário
analisar, além da norma, todo o
nosso sistema jurisdicional, bem
como a sua finalidade para assim
atingir o seu fim proposto.
Exemplo 2 - Extraído de Carvalho
(1998, v. 1, p. 69/79).
Histórico – JOÃO MANOEL
ALMEIDA DUBAL e SÍLVIO LUIZ
BELMONTE ESCOBAR foram
processados e condenados na 1ª
Vara Criminal da Comarca de São
Borja, o primeiro, às penas de 1 (um)
ano de prisão simples, regime inicial
aberto, e, o segundo, à pecuniária de
100 dias-multa, ao valor diário de
uma vez o maior salário mínimo
vigente à época do fato, por incursos
nas sanções do artigo 58, caput, do
Decreto Lei 6.259/44, combinado
com o artigo 29, caput, do Código
Penal, ambos, e mais o artigo 7°, da
Lei das Contravenções Penais ao
primeiro, porque no dia 03 de junho
de 1993, por volta das 23h30mim, na
Rua da Riachuelo n° 1368, na cidade
de São Borja, em comunhão de
vontades e conjunção de esforços,
realizaram o denominado “jogo do
bicho”, mantendo no referido local
uma banca onde foi apreendido
material utilizado na prática do
referido jogo.
Inconformados da r. sentença
apelaram. A apelação de Silvio
Luiz foi recebida, e declarada
intempestiva a de João Manoel. O
primeiro arrazoa o apelo, aduzindo
que sua conduta é, atualmente,
atípica, pela incidência do jogo oficial
em grande volume. Reclama a
declaração de extinção da
punibilidade pela ocorrência da
prescrição, considerando a pena
concretizada na sentença. O
segundo interpôs recurso em sentido
estrito, sustentando a inversão da
ordem intimadora.
Encaminhado ao Tribunal, foi
declinada a competência do feito
para as Câmaras Criminais
Recursais, que declarou extinta a
punibilidade de Silvio Luiz, rejeitaram
as preliminares de intempestividade
129
do recurso e de inépcia da denúncia
e negaram provimento à apelação de
João Manoel.
Inconformados, afora João
Manoel Recuso Especial e Recurso
Extraordinário. Os autos foram
conclusos ao 1° Vice-Presidente do
Tribunal de justiça, que negou
provimento às duas medidas
recursais.
Vieram os autos ao Supremo
Tribunal Federal, o qual decidiu pelo
reconhecimento da prescrição a
pretensão punitiva do apelante Silvio
Luiz, o que fez com base no artigo
107, IV, do Código Penal. Com
relação ao recurso em sentido estrito
de João Manoel Almeida Dubal, deu-
se provimento ao recurso declarando
tempestiva a apelação interposta,
declarando, ainda, ser inaceitável a
aceitação de criminalidade do jogo
do bicho na atual conjuntura social,
especialmente pela severa
concorrência do Estado na prática
dos mais variados jogos, não é
possível distinguir o jogo do bicho de
outros, como as loterias de número,
loto, sena, etc.
Carvalho (1998, v. 1, p. 71).
“Em vez de punir um fato por ser
típico, deve-se adequá-lo à realidade
vigente, aos costumes sociais,
enfim, à consciência coletiva. A lei
deve ser interpretada para
sociedade, e, ao que tudo indica, a
coletividade não se interessa pela
punição dos bicheiros, ao contrário já
se inseriu a prática deste jogo na
sociedade”.
Face o exposto, o STF
declarou extinta a punibilidade do
apelante SILVIO LUIZ BELMONTE
ESCOBAR, com base no artigo 107,
IV, combinado com artigos 109, VI,
110, § 1º, e 114, II, todos do Código
Penal e deu provimento ao recurso
em sentido estrito interposto
por JOÃO MANOEL ALMEIDA
DUBAR, para receber a apelação
interposta no juízo originário,
declarando-a tempestiva, rejeitar a
preliminar de inépcia da denúncia
suscitada na apelação e dar
provimento à apelação, com
absolvição de João Manoel de
Almeida Dubal, com base no artigo
386, III, do Código de Processo
Penal, vislumbrando o princípio da
adequação social.
O exemplo mencionado
também correlaciona com os
fundamentos alternativistas, pois
conforme já mencionado o direito
para ser atuante, deve acompanhar
as mutações sociais, adaptando-se
ao contexto histórico em que está
inserido. Atualmente, a tutela
130
proibitiva do artigo 58, caput, do
Decreto Lei 6.259/44, não mais
possui efetividade, o Estado
concede o direito de realizar essas
jogatinas de azar para algumas
instituições e, diante do princípio da
igualdade, não se pode conceder
legitimidade para realizar esses atos
somente para alguns. A nossa
comunidade aceita em seu cotidiano
a prática de jogos pela Lotérica,
programas de televisão, etc. Então,
qual o fundamento de se punir quem
realiza atos semelhantes ao que o
próprio Estado perfaz?
Portanto, a norma não tem
eficácia e efetividade na atual
conjuntura social.
2. Conceitos favoráveis à escola
alternativista
Segundo Carvalho (1998, v. 1,
p. 50): “[...] o Direito Alternativo se
caracteriza pela busca (desesperada
e urgente) de um instrumental
prático-teórico destinado a
profissionais que ambicionam
colocar seu saber-atuação na
perspectiva de uma sociedade
radical democrática. Uma atividade
comprometida com a utópica vida
digna para todos, com abertura de
espaços visando à emancipação do
cidadão, tornando o direito em
instrumento de defesa/libertação
contra qualquer tipo de dominação.
O Direito enquanto concretização da
liberdade.”
Segundo Tarso Fernando
Genro, o uso alternativo não seria
um ato arbitrário do juiz, mas um “ato
de construção de valores que já
estão postos pela história no sentido
da afirmação da liberdade humana,
do direito à vida, da luta pela
repartição do produto social, pela
redução da desigualdade e pela
defesa do produto do homem,
preservando-lhe o ambiente e a
natureza. Insiste o autor em que,
quanto mais apegado ao texto da lei,
mais “servil” é o juiz diante dos
“poderosos” e mais “enérgicos”
perante os socialmente
fracos.” (GENRO, 1991, p. 27, apud,
GUANABARA, 2008).
Benedito Calheiros Bomfim,
advogado e ex-presidente do
Instituto dos Advogados Brasileiros
também esclarece: "Do desencontro
entre a lei e o direito, entre códigos e
justiça, nasce o direito Alternativo,
que nada mais é do que a aplicação
da lei em função do justo, sob a ótica
do interesse social e das exigências
do bem comum".
131
A aplicação dessa dicotomia
resta claramente demonstrada na
leitura do alvitre de Benedito
Calheiros Bomfim, o qual afirma "O
Direito Alternativo nada tem de
radical, de revolucionário. Na
realidade, sua destinação é o
rejuvenescimento, a revitalização do
direito positivo, já envelhecido,
engessado, por ter se atrasado em
relação aos fatos, se distanciado da
realidade".
3. Conceitos contrários à escola
alternativista
A corrente alternativista
enfrenta críticas, que abrangem
tanto a sua aplicação, quanto à
qualidade, liberdade e
responsabilidade atribuída a seus
aplicadores.
O Excelentíssimo Doutor Juiz
do Tribunal Federal da 1ª Região, Dr.
Eustáquio Silveira, esclarece: “Não
se permite que alguém, sem
mandato popular, se arvore em
legislador, pretenda aplicar o seu
próprio e duvidoso direito, numa
indiscutível ameaça à segurança
jurídica. No dia em que cada juiz fizer
a sua lei, a Justiça será para as
pessoas uma verdadeira "loteria",
em que quase sempre se perde e
raramente se ganha".
Segundo Callado (2006, p.
138): “[...] O direito alternativo não
pode legitimar-se, portanto, nem
pelo processo histórico de
emancipação e de igualização das
classes sociais, porque despreza a
justiça em sua alta função
equilibradora das exigências
individuais e sociais no seio da
família humana, nem pela ação dos
juízes, os quais devem constituir
elites propulsoras do verdadeiro
progresso da ciência jurídica (Iusti
atque iniusti scientia) e guardiões da
tradição da justiça.”
4. Ponderações sintéticas
Vê-se, pois, que ainda
existem doutrinadores e magistrados
que sustentam um posicionamento
conservador com relação à
interpretação da norma. Consideram
que a conjugação dos métodos
hermenêuticos tradicionais é
suficiente para solucionar todos os
casos de aplicação normativa e
identificam na sentença um produto
estrito da racionalidade humana (e
não da razoabilidade), aproximando
a lógica do direito (que é
argumentativa e retórica) da lógica
formal (que é racional e
demonstrativa). Segundo a visão
132
conservadora, dada uma premissa
maior, que é sempre o texto da lei, e
uma premissa menor, que recai
sobre a narrativa dos fatos
concretos, deve o juiz a proceder a
subsunção dedutiva, aplicando o
dispositivo ao caso sem apreciar a
justiça ou a adequação desse
resultado. Para essa corrente, que
aproxima a decisão judicial do
silogismo, a sentença que extrapola
essa função é potencialmente lesiva
ao direito, pois viola a segurança
jurídica e ameaça a tripartição dos
poderes, tendo em vista que ao
judiciário compete aplicar e não
julgar, alterar ou revitalizar a norma.
Contudo, essas ideias
mostram-se equivocadas e, por
muitas vezes, os críticos acabam
divergindo, desviando a real
finalidade do alternativismo. Callado
menciona que o Direito Alternativo
fundamenta-se pela igualização das
classes sociais, o que na verdade
não corresponde ao objetivo
proposto. O alternativismo postula
não apenas o nivelamento social e a
redução das desigualdades, mas
que os agentes aplicadores do
direito acompanhem as evoluções e
as transformações sociais, para que
a norma possa ser revitalizada e não
se desvie da sua finalidade, que é o
alcance da justiça.
O direito é um fenômeno
social e, assim sendo, deve viver em
evolução para poder acompanhar a
constante metamorfose da
sociedade. A codificação e o
legalismo defendidos pelos que
preconizam a soberania absoluta da
norma, por meio da servidão do
exegeta à letra dos dispositivos,
fazem com que o direito não atinja
seus fins.
Assim, deve ser possível ao
aplicador julgar com razoabilidade,
ainda que de forma contrária à lei por
meio não apenas da exegese
baseada nos métodos
hermenêuticos tradicionais - lógico,
sociológico, gramatical, teleológico,
sistemático – mas também
considerando a sensibilidade e a
consciência do julgador, adquirida na
experiência humana e no cotidiano
jurídico, considerando sempre como
pauta os princípios constitucionais. A
interpretação da norma segundo os
critérios puramente racionais e
gramaticais tem-se mostrado
ofensiva aos valores superiores de
equidade e justiça, parâmetros
erigidos em fundamentos por nossa
Constituição.
133
Considerações finais
O aplicador da norma deve
considerar que a lei é meio e o fim é
a justiça. A norma pode ser
desconsiderada quando atenta
contra os princípios de justiça.
Portanto, o intérprete percebendo
que o objetivo visado pelo Poder
Legislativo no momento da
elaboração da norma, não mais
existe, deve desconsiderá-la.
A escola alternativista
aproxima a lei do caso concreto
buscando aplicar, na tutela
jurisdicional, os princípios gerais do
direito, para que seja alcançada a
justiça, possibilitando a renovação
da norma, dando-lhe eficácia,
efetividade e vigência. A justiça
abrange o conceito de lei, contudo, é
mais que norma: é fato, valor e
princípios que se correlacionam
entre si por meio de uma dialética de
complementaridade.
A Escola Alternativa é a única
solução para o caos que o Poder
Judiciário enfrenta atualmente.
134
Referências
AQUINO, Bruno de Parreira Xavier. Direito Alternativo. Uma contribuição à teoria do direito em face da ordem injusta. Curitiba: Juruá, 2002.
BOMFIM, Benedito Calheiros. O uso do direito alternativo. Disponível em: www.solar.com.br
CALLADO, Gilberto de Oliveira. Direito alternativo. A Verdadeira Face do Direito Alternativo. 4ª. Ed. Curitiba: Juruá, 2006.
CARVALHO, Amilton Bueno de. Direito alternativo. Teoria e Prática do Direito Alternativo. 1. ed. Porto Alegre, Síntese. 1998. 1 v.
GENRO, Tarso Fernando. Os juízes contra a lei, in Edmundo Lima de Arruda Jr. (org.), Lições de direito alternativo, 1991. p.27. vol.1
SILVEIRA, Eustáquio. O (verdadeiro) movimento pelo direito
alternativo. Disponível em: www.infojus.com.br. Acesso em 01 de junho de
2009.
Kairo Rangel de Azevedo Sakata, Maryelle Miranda e Pedro Neto Lino
135
A PRISÃO PROCESSUAL COMO “ULTIMA RATIO”
SANCHES Beraldo, Maraísa. Discente do 8º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
ARAUJO, Rafael Henrique Mello Araújo - Discente do 6º período período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
SAMPAIO FILHO, Walter Francisco. Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
O presente trabalho visa esclarecer a expressão “ultima ratio” dentro do
sistema processual penal brasileiro, em vista à Prisão em Flagrante, Temporária
e Preventiva.
136
Introdução
O ordenamento jurídico
brasileiro rege-se sob a égide dos
princípios constitucionais a fim de
preservar antes de tudo os direitos e
deveres individuais e coletivos.
Dessa forma, sob a ótica do devido
processo legal e da presunção de
inocência e de outros princípios não
inferiores, mas decorrentes, a prisão
deverá ocorrer somente em ultima
ratio, em crime previamente definido,
advinda de um processo legal válido
e posterior ao trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. Dessa
forma, apenas a sentença que põe
fim ao processo é fonte legítima para
restringir a liberdade pessoal a título
de pena.
Todavia, isso não é verdade.
O ordenamento jurídico prevê a
possibilidade de prisões que
antecedem o trânsito em julgado da
sentença condenatória: prisão em
flagrante, temporária, preventiva, por
pronúncia e por sentença penal
condenatória recorrível. Existe uma
corrente minoritária que
caracteriza tais como
inconstitucionais por afrontarem o
princípio da não culpabilidade ou
estado de inocência.
Para Fernando Capez (2009,
p. 251) a prisão “é a privação da
liberdade de locomoção
determinada por ordem escrita da
autoridade competente ou em caso
de flagrante delito”, ou seja, a prisão
é legal se for por meio de ordem
escrita pela autoridade competente e
também em flagrante delito.
Prisão em flagrante delito
Prisão em Flagrante Delito é
aquela determinada, independente
de ordem escrita do Juiz
competente, quando o crime está
sendo cometido ou acabou de sê-lo.
É uma medida restritiva da liberdade
que tem natureza cautelar e
processual.
O art. 302 I e II do Código de
Processo Penal trata do flagrante
próprio, sendo ele um ato
administrativo que não tem conteúdo
decisório. Assim, o agente é
surpreendido no momento em que
está cometendo uma infração penal
ou quando acaba de cometê-la.
Quanto ao flagrante
impróprio, este vem prescrito no art.
302 III do Código de Processo Penal,
o agente é perseguido após cometer
o crime, fazendo-se presumir ser o
autor da infração. Exige para esse
tipo de flagrante que haja
137
perseguição, ou seja, quando: tendo-
o avistado, for perseguido sem
interrupção, embora depois o tenha
perdido de vista; sabendo, por
indícios ou informações fidedignas,
que o réu tenha passado, há pouco
tempo, em tal ou qual direção, pelo
lugar em que o procure, for o seu
encalço – artigo 290, § 1º, I e II, CPP.
O flagrante presumido,
prescrito no art. 302 IV do Código de
Processo Penal, é aquele que,
depois de cometer a infração, o
agente é preso com os instrumentos,
objetos, papéis, armas, de modo que
faça presumir ser ele o autor da
infração. Fala-se da certeza vizinha
do crime do direito francês.
O flagrante poderá ser
facultativo ou compulsório, conforme
artigo 301 do CPP. Considera-se
este quando as hipóteses do artigo
302 forem presenciadas pela
autoridade policial ou seus agentes.
Nesse sentido, “...as autoridades
policiais e seus agentes deverão
prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito”. No
flagrante facultativo não há
exigência, mas faculdade apenas:
“qualquer do povo poderá...”
Flagrante preparado, nos
termos da Súmula 175 do STF
significa o crime no qual há a figura
do agente provocador no crime, ou
seja, o agente não passa de mero
coadjuvante no teatro preparado
pela vítima.
Damásio de Jesus afirma
(1988, p. 176):
Ocorre crime putativo por obra
do agente provocador quando
alguém de forma insidiosa provoca o
agente à prática de um crime, ao
mesmo tempo em que toma
providências para que o mesmo não
se consume.
Será flagrante
esperado quando o policial ou
terceiro age em simples aguardo do
momento do cometimento do crime,
não ocorre induzimento nem
instigação, não há situação
artificialmente criada;
No flagrante prorrogado,
diferido ou retardado, o agente
policial detém discricionariedade
para deixar de efetuar a prisão em
flagrante no momento da prática da
infração penal, aguardando assim
um momento mais importante do
ponto de vista da investigação
criminal ou da colheita de prova;
Flagrante forjado ocorrerá
quando agentes policiais ou terceiros
criam provas de um crime
inexistente, neste caso não existe
crime e o policial ou terceiro
138
responderá por crime de abuso de
autoridade um denunciação
delituosa.
Poderá ocorrer o relaxamento
da prisão em flagrante pela própria
autoridade policial ante a ausência
de requisitos indiciários mínimos da
existência da tipicidade ou
antijuridicidade, assim como, se
durante a lavratura do auto, surgirem
elementos que desautorizem a
prisão, a autoridade policial
competente poderá impedir a sua
consumação, deixando de completar
o procedimento para a prisão em
flagrante, pois esta só poderá
ocorrer se preenchidos os requisitos
necessários.
No ordenamento jurídico
brasileiro não existe a prisão em
flagrante por apresentação
espontânea, conforme o caput do
art. 304 do Código de Processo
Penal. Ao contrário, de acordo com o
artigo 317 do CPP, não se imporá a
prisão em flagrante, nada impedindo
a prisão preventiva.
Prisão temporária
A prisão temporária tem
caráter cautelar de natureza
processual que possibilita as
investigações a respeito de crimes
graves, durante o inquérito policial.
Logo, só pode ser decretada pela
autoridade judicial em face da
representação da autoridade policial
ou requerimento do Ministério
Público. Jamais poderá ser
decretada de ofício pelo juiz.
Tal prisão está prevista na Lei
7.960/89 e só é cabível quando
estiver de acordo com o art. 1° desta,
ou seja, ocorrerá quando:
a) houver imprescindibilidade da
medida para as investigações do
inquérito policial;
b) o indiciado não tem residência fixa
ou não fornece os dados julgados
necessários ao esclarecimento de
sua identidade;
c) houver fundadas razões da autoria
ou participação do indiciado em
crimes de homicídio doloso,
sequestro ou cárcere privado, roubo,
extorsão, estupro, atentado violento
ao pudor, rapto violento, epidemia
com resultado morte,
envenenamento de água potável ou
substância alimentícia, crimes contra
o sistema financeiro.
Há certa discussão por parte
da doutrina sobre se essas situações
são cumulativas ou alternativas.
Contudo, a posição mais aceita
entende que devem estar presentes
139
os requisitos dos incisos I e III acima
descritos.
A prisão poderá durar até
cinco dias, prorrogáveis uma vez
caso seja comprovada a extrema
necessidade, e, decorrido o prazo
legal, o preso deve ser colocado
imediatamente em liberdade, a não
ser que tenha sido decretada sua
prisão preventiva. Tratando-se de
crimes hediondos ou assemelhados,
o prazo será de trinta dias,
prorrogado por mais trinta em caso
de justificada necessidade.
Prisão preventiva
A Prisão Preventiva também
tem natureza processual.
É a prisão cautelar decretada
pelo juiz durante o inquérito policial
ou ação penal, antes do trânsito em
julgado, por isso tem caráter de
excepcionalidade. Poderá ser
decretada quando estiverem
preenchidos os requisitos legais e
ocorrerem os motivos autorizadores.
Visa garantir a eficácia de um futuro
provimento jurisdicional.
A prisão preventiva é medida
de extrema exceção. Só se justifica
em casos excepcionais, onde a
segregação preventiva, embora um
mal, seja indispensável. Deve, pois,
ser evitada, porque é uma punição
antecipada. (RT, 531/301).
A prisão preventiva somente
poderá ser decretada de ofício pelo
Juiz, a requerimento do Ministério
Público e por representação da
autoridade policial, seguida de
manifestação do parquet, se estiver
demonstrada indícios de que o réu
tenha sido o autor do fato típico e
ilícito, ou seja, deverá existir a prova
da existência do crime e indícios
suficientes da autoria. É preciso,
pois, que se demonstre a
probabilidade de o réu ou indiciado
ser o autor do fato delituoso e, se
houver dúvida, aplica-se o princípio
do in dubio pro societate.
A prisão preventiva será
decretada nas seguintes hipóteses:
a) Garantia da ordem pública: a
prisão preventiva será decretada
para impedir que o agente, solto,
continue a praticar crimes, ou de
acautelar o meio social, garantindo
que a justiça seja crível naqueles
crimes que haja grande clamor
popular. Há muita discussão no
tocante ao clamor popular, tendo já
decidido o STF que tal justificativa
não basta para a decretação da
medida extrema.
b) Garantia da ordem
econômica: ocorre quando o agente
140
– indiciado ou acusado – estando
solto, pode continuar a praticar
crimes contra a ordem econômica.
c) Conveniência da instrução
criminal: tem como objetivo não
permitir que o agente impeça a
produção das provas, bem como,
perturbe, ameaçando testemunhas,
apagando vestígios do crime, etc.
d) Garantia da aplicação da lei penal:
sempre que concretamente houver
possibilidade de o agente fugir e não
cumprir a pena eventualmente
imposta, deverá o juiz determinar
sua prisão preventiva.
A prisão cautelar será
admitida nos crimes dolosos punidos
com reclusão ou detenção, se o
indiciado for vadio ou de identidade
duvidosa e se o crime envolver
violência doméstica e familiar contra
a mulher, de modo a garantir a
execução das medidas protetoras de
urgência. Não é possível a
decretação de prisão preventiva em
crimes culposos.
É irrecorrível a decisão que
decreta a prisão preventiva, porém
pode-se impetrar habeas corpus.
Considerações finais
Seguindo o raciocínio, o fato
de constar no ordenamento jurídico
exceções aos princípios
constitucionais não quer dizer que a
prisão não possa ser decretada.
Qualquer forma de prisão advinda de
um processo legal válido e anterior
ao trânsito em julgado da sentença
penal condenatória tem como
fundamento a necessidade de
assegurar o princípio in dubio pro
societate, em face do periculum
libertatis.
Trata-se meramente de
relativização de princípios visando
estabelecer o adequado para a
situação.
Assim, afirma-se mais uma
vez que a própria Constituição
admite as prisões provisórias, desde
que presentes os requisitos da
prisão preventiva.
Concluindo, a interpretação
conforme a Constituição, exige que a
prisão processual seja decretada
somente quando haja perigo para a
sociedade com a liberdade do réu,
desde que provada a materialidade
do crime. A prisão somente deverá
ser decretada em último caso,
quando todas as possibilidades de
deixá-lo solto forem esgotadas.
141
Referências
JESUS, Damásio de. Direito penal. 13 ed., Saraiva, 1988, v.1.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
Rafael Henrique Mello Araújo e Maraísa Sanches Beraldo
142
ASSÉDIO MORAL
FERREIRA, Marilis Alexandre - Discente do 8º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
MURARI, Marcelo Murari - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
O assédio moral dentro das relações de trabalho tem se revelado
frequente. Para a identificação desse problema é necessário conceituar assédio
e tratar das possibilidades de sua ocorrência. Também se faz necessário
descobrir até que ponto pode causar prejuízos à vítima e tratar do dever
garantido de indenização. Embora os casos de assédio moral no trabalho
aconteçam há muitos anos, o despertar para a necessidade de legislação
especifica é recente, sendo necessária uma urgente ação do Estado para intervir
nestas situações. O objetivo desse artigo é, pois, analisar alguns aspectos
polêmicos relacionados ao assédio moral apresentando a situação jurídica atual
do tema.
143
1. Conceito
A necessidade de
conceituação de dano e de assédio
neste estudo é indispensável.
A palavra dano, segundo o
dicionário Aurélio (1980, p. 523),
entre os vários significados que
possui, nos oferece o conceito de
mal ou ofensa pessoal, também
podendo ser entendido como
prejuízo moral ou material. Já a
palavra assédio, segundo o mesmo
dicionário (1980, p. 185) significa
perseguir com insistência;
insistência importuna, junto de
alguém com perguntas, propostas e
pretensões.
O assédio nada mais é que
um subtítulo do dano moral, estando
os dois interligados diretamente.
Portanto, Assédio Moral é
aquela ofensa ou diminuição que
envolve a honra, a reputação, que
traz a vergonha para o indivíduo,
quando o sentimento de perseguição
e de medo é inerente. O assédio
provoca vários momentos de aflição
que causam prejuízos emocionais e
atingem a imagem do indivíduo.
Este assédio na relação de
trabalho é possível verticalmente e
horizontalmente. O assédio vertical
acontece em uma relação de
hierarquia, com o superior impondo
situações constrangedoras a um
subordinado, como o empregador
para o empregado ou do chefe para
um de escalão inferior. O assédio
horizontal ocorre com pessoas de
mesma hierarquia, como, por
exemplo, dois empregados.
Mas como diferenciar o que é
assédio moral e o que é apenas uma
situação constrangedora?
O assédio moral para sua
caracterização exige que este
conjunto de ações perdure no tempo,
que os atos praticados sejam
intencionais, e que tenham certa
repetição. Para caracterizá-lo devem
ser preenchidos os três requisitos,
pois um ou dois deles, isoladamente,
não configuram assédio moral.
2. Prejuízos e dever de reparação.
Os momentos
constrangedores vividos podem
causar danos à saúde, como
podemos notar na citação extraída
de Hirigoyen (2002, p. 173), que
estudou o tema do assédio moral:
“diante de uma situação estressante,
o organismo reage pondo-se em
estado de alerta, produzindo
sustâncias hormonais, causando
depressão no sistema imunológico, e
144
modificação nos neurotransmissores
cerebrais. De início trata-se de um
fenômeno de adaptação, que
permite enfrentar a agressão, seja
qual for sua origem. Quando o
estresse é episódico e o indivíduo
consegue administrá-lo, tudo volta à
ordem. Se a situação se prolonga, ou
repete-se com intervalos próximos,
ultrapassa a capacidade de
adaptação do sujeito e a ativação
dos sistemas neuroendócrinos
perdura. E a persistência de
elevação das taxas de hormônio de
adaptação acarreta distúrbios que
podem vir a se instalar de forma
crônica.”
Os principais sintomas são:
palpitação falta de ar, fadiga,
problemas digestivos, crises de
choro, além de manifestações
psíquicas, como: ansiedade,
sentimento de inutilidade,
depressão, sede de vingança, ideia
de suicídio, etc. Ou seja, se o
assédio moral não for prevenido ou
resolvido logo no começo, poderá
causar doenças, afetando as
condições de trabalho do empregado
ou do empregador, podendo gerar
prejuízos irreparáveis.
O assédio moral pode gerar a
rescisão indireta do contrato de
trabalho, pela vítima, com amparo no
artigo 483, da CLT, além de autorizar
o empregador a dispensar por justa
causa os chefes, gerentes e
diretores, enfim, os responsáveis
pelo ato ilícito ou abusivo praticado
contra a vítima, com amparo no
artigo 482, da CLT. A
responsabilidade do empregador,
nesses casos, perante a vítima, é
objetiva, pois independe da
ocorrência de culpa.
Maria Helena Diniz (2004,
p.91) dá a seguinte definição:
[...] se houver ofensas ao direito do
autor, à honra da pessoa, aos bens
que integram sua intimidade, ao seu
nome, a sua imagem ou à sua
liberdade sexual, ter-se-á dano
moral, que poderá traduzir, também,
um dano patrimonial indireto se
impedirem ou dificultarem, de
qualquer modo, a atividade
profissional da vítima [...].
Este dano causado a um dos
indivíduos da relação trabalhista
gera o dever de indenização.
A honra e a dignidade das
pessoas são bens tutelados
constitucionalmente nos artigos 1º,
3º e 5º da atual Constituição,
merecendo pronta reparação
quando se comprove sua violação,
conforme seu artigo 5º, incisos V e X,
que asseguram o direito de
145
Resposta àquele que se sentiu
ofendido em sua moral, sendo
inviolável a intimidade do ser
humano.
Segundo o artigo 927 do
Código Civil, aquele que por ato
ilícito causar dano outrem, fica
obrigá-lo a repará-lo. O dano
causado na subjetividade do
indivíduo merece o ressarcimento,
especificamente em nossos dias,
onde a moral necessita de ser
ressaltada.
Apesar de ser discutível tal
questão, já que pode gerar
enriquecimento ilícito, o dever de
indenizar não serve para enriquecer
nem empobrecer, ao contrário, tem a
função de restaurar o equilíbrio
rompido.
Fica demonstrado nesse
artigo que aquele que sofre assédio
moral tem direito adquirido de
pleitear a indenização pelos danos
sofridos na relação de trabalho.
Com relação
ao quantum indenizatório, variará
para cada caso, em virtude da
situação concreta, jamais deixando
de lado o princípio constitucional da
razoabilidade.
4. Competência e regulamentação
Uma das alterações que
Emenda Constitucional n. 45/2004
nos trouxe, consta no artigo 114,
inciso VI: conferiu competência para
processar e julgar as ações por
danos morais decorrentes da relação
de trabalho à Justiça do Trabalho. O
dano moral deve ser postulado em
uma ação trabalhista, podendo
inclusive existir um único pedido
para tanto.
Todavia, mesmo possuindo
amparo no Código Civil e na
Constituição Federal, a necessidade
de uma legislação específica é
grande, embora alguns juristas
afirmem que não.
Uma pesquisa divulgada pela
Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho
(Anamatra) indica que 79% dos
magistrados da Justiça do Trabalho
querem a regulamentação do
assédio. O presidente Cláudio José
Montesse afirma que a legislação
não define o que é o assédio moral,
especialmente no ambiente de
trabalho. Ele explicou que, por
enquanto, os juízes utilizam
definições da Psicologia e da
Sociologia e exemplos concretos
146
anteriores para tipificar uma situação
como assédio moral.
Existem vários projetos de Lei
versando sobre este problema cujas
repercussões sociais são
consideráveis, porém muitos têm
sido arquivados e outros, há tempos,
esperam por uma resposta.
O projeto de Lei 2369/2003,
que em 2007 sofreu algumas
modificações, se tornando o projeto
de lei 33/2007, tratava
especificamente do assédio moral
nas relações de trabalho,
reafirmando o dever de indenizar e a
definição do assédio, mas este foi
arquivado. Houve, também, o PL
4742/2001, que pretendia incluir o
artigo 146A no Código Penal
Brasileiro, com a seguinte redação:
Art. 146-A Depreciar, de qualquer
forma e reiteradamente a imagem ou
o desempenho de servidor público
ou empregado, em razão de
subordinação hierárquica funcional
ou laboral, sem justa causa, ou tratá-
lo com rigor excessivo, colocando
em risco ou afetando sua saúde
física ou psíquica - Pena: detenção
de um a dois anos.” Mas este se
encontra ainda em análise junto à
mesa Diretora da Câmara dos
Deputados.
Como se percebe, a
legislação e os projetos de lei ainda
são insuficientes para combater este
mal que vem de tanto tempo
assolando a sociedade.
Considerações Finais
Como comprovado, o tema do
assédio moral merece maiores
debates, pois sua prática é uma
realidade vivida frequentemente nas
relações de trabalho e o direito não
deve omitir-se diante de uma lesão
comum e de graves consequências.
É claro que não adianta fazer
uma lei exacerbada de conceitos na
qual apenas uma correção de um
superior hierárquico ou do
empregador já se caracterize
assédio. Mas é necessário que
diante da prática frequente e estando
presentes todos os quesitos haja
proteção legal eficiente e capaz de
reprimir tal conduta.
147
Referências
ANAMATRA. Pesquisa desenvolvida pela a associação nacional dos magistrados da justiça do trabalho. Disponível em: Acesso em: 25 de março de 2009.
BRASIL, Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado.1988.
BRASIL, Constituição (1988). Emenda Constitucional 45, de 30 de dezembro de 2004. Dá nova redação ao artigo 114 alterando e inserindo parágrafos. Lex: legislação federal, Brasília. Dez/2004.
CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa; JORGE NETO, Francisco Ferreira. O Direito do Trabalho e o assédio moral. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 638, 7 abr. 2005. Disponível em: Acesso em: 14 abr. 2009.
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Marilis Alexandre Ferreira
148
BIOÉTICA E BIODIREITO: A DEFINIÇÃO JURÍDICA DO SURGIMENTO DA VIDA
BREVIGLIERI, Etiene Maria Bosco - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
Direito e outras ciências discutem o surgimento da vida gerando um
debate multidisciplinar sobre o tema que o enriquece ao mesmo tempo em que
o preenche de contrastes. Se por um lado a questão parece encontrar enfim uma
solução no campo jurídico, restam sempre os conflitos entre o Direito positivo e
as normas provindas da ética, da moral e das diferentes religiões. Desta forma
o presente trabalho tem por objetivo apontar a discussão acerca da origem da
vida sob o enfoque do Biodireito e da Bioética por meio de fundamentações
teóricas de autores jurídicos. Para tanto, utilizou-se o raciocínio dedutivo com
pesquisa bibliográfica na doutrina bem como os procedimentos teleológico e
sistemático para se concluir pela existência dos princípios constitucionais e suas
aplicações.
Palavras-chave: Biodireito. Bioética. Vida. Embrião. Teorias.
149
Introdução
Diante da complexidade e
interdisciplinaridade do tema não
devemos nos afastar da ideia de que
o conceito de vida oriunda de um
“todo sistêmico” e perpassa desde
elementos materiais (físicos e
psíquicos) e imateriais (espirituais), o
que nos permite concluir que as
definições de vida e morte
dependem até de diferentes
momentos culturais.
Diante disso, a conceituação
de “vida” interessa, e muito, o Direito
à medida que interfere na vida do
homem em seus aspectos jurídicos e
sociais e gera efeitos em diferentes
ramos do Direito, bem como faz
conexão com outros valores como a
dignidade da pessoa humana,
também protegida em nosso sistema
jurídico. Daí concluir que a forma
como o estado define e enxerga o
conceito de “vida” e “morte” e nos
limita a usufruir de nosso corpo
também denota a forma como o
Direito se desenvolve em nossa
sociedade.
1. O conceito de vida
De acordo com as diferentes
áreas do conhecimento o conceito
de vida recebe diferentes elementos
que merecem destaque. Segundo
Juliana Araújo Lemos da Silva:
Em seu sentido puramente
biológico, a vida pode ser
compreendida como um complexo
conjunto de fenômenos bioquímicos,
que seguem leis fixas e cujo normal
funcionamento se traduz em um
equilíbrio biológico e físico-químico e
em uma constância dos valores
orgânicos. (2005, p. 172).
No entanto, como afirma José
Afonso da Silva, dada a
complexidade do tema, talvez o
melhor não seja definir o que seria a
vida, mas traçar considerações
acerca de seus elementos
relevantes:
Não tentaremos dar uma
definição disto que se chama vida,
porque é aqui que se corre o grave
risco de ingressar no campo da
metafísica supra real, que não nos
levará a nada. Mas alguma palavra
há de ser dita sobre esse ser que é
objeto de direito fundamental. Vida,
no texto constitucional (art.
5º, caput), não será considerada
apenas no seu sentido biológico de
150
incessante autoatividade funcional,
peculiar à matéria orgânica, mas na
sua acepção biográfica mais
compreensiva. Sua riqueza
significativa é de difícil apreensão
porque é algo dinâmico, que se
transforma incessantemente sem
perder sua própria identidade. É
mais um processo (processo vital),
que se instaura com a concepção
(ou germinação vegetal),
transforma-se, progride, mantendo
sua identidade, até que muda de
qualidade, deixando, então, de ser
vida para ser morte. Tudo que
interfere em prejuízo deste fluir
espontâneo e incessante contraria a
vida. (2002, p. 196).
Assim, a temática do início da
vida suscita a própria discussão
acerca de assuntos ainda polêmicos
na sociedade moderna,
confrontando ciência e religião,
enquanto o progresso científico
desafia a moral e a ética ao apontar
para procedimentos e técnicas como
a reprodução assistida, obtenção de
células-tronco a partir de embriões, e
intervenções genéticas em nível
embrionário, como a clonagem
reprodutiva e terapêutica, por
exemplo.
Como questiona Silva:
Quando se inicia a vida
humana? A resposta a esta questão
representa mesmo um divisor de
águas quando se analisa a eticidade
e a juridicidade de diversas técnicas
disponibilizadas pela ciência. Isso
porque o início da vida humana
frequentemente é identificado com o
momento a partir do qual o direito à
vida, previsto na Constituição
Federal, precisa ser respeitado e
preservado. Assim, a própria licitude
de algumas técnicas passa pela
definição de quando se considera
iniciada a vida humana. Conforme se
eleja um ou outro critério para
determinação do início da vida,
diferentes serão as conclusões com
relação à possibilidade jurídica e à
eticidade da aplicação daquelas
técnicas. (2005, p. 172).
Por hora cabe analisar um
aspecto intrínseco à questão em
tela, qual seja, a eticidade daquelas
modernas pesquisas e técnicas
científicas que envolvem desde a
produção de embriões in vitro à
análise e manipulação do genoma
humano, por exemplo, adentrando,
assim, à esfera da bioética e do
biodireito.
151
2. Bioética e biodireito
O século XX trouxe à
humanidade dimensões da natureza
e da própria vida social
inimagináveis para a modernidade
tecnológica inaugurada com a
Revolução Industrial. De fato, a
tecnologia – no sentido da
descoberta e emprego de técnicas e
instrumentos de manipulação da
natureza – vem desenvolvendo-
separi passu com o próprio
desenvolvimento da sociedade.
Traçando a intrínseca relação entre
bioética e biodireito, a professora
Maria Helena Diniz expressa:
Como o direito não pode
furtar-se aos desafios levantados
pela biomedicina, surge uma nova
disciplina, o biodireito, estudo
jurídico que, tomando por fontes
imediatas a bioética e a biogenética,
teria a vida por objeto principal,
salientando que a verdade científica
não poderá sobrepor-se à ética e ao
direito, assim como o progresso
científico não poderá acobertar os
crimes contra a dignidade humana,
nem traçar, sem limites jurídicos, os
destinos da humanidade (2001, p.
08).
A questão do biodireito traz à
tona o debate acerca do papel do
Estado em relação à proteção da
vida – no sentido do artigo 5º, caput –
e da saúde humana. Tratando de
direitos humanos, vem à tona a
colocação do biodireito, entendido
enquanto os “novos direitos
referentes à biotecnologia, à bioética
e à regulação da engenharia
genética” neste rol de direitos da
pessoa humana, inseridos por
Antônio Carlos Wolkmer[1] no rol dos
direitos humanos de quarta
dimensão
(WOLKMER apud CORRÊA;
CONRADO, 2007, p. 91).
Tomando o direito à vida pelo
objeto primordial do direito, José
Afonso da Silva traz duas
considerações que nos remetem ao
início da vida, ao afirmar que “todo
ser dotado de vida é indivíduo, isto é:
algo que não se pode dividir, sob
pena de deixar de ser” (2002, p.
196). E ao tratar do direito à
existência, explica: “é o direito de
não ter o processo vital interrompido
senão por morte espontânea e
inevitável” (2002, p. 197). Tais
questões nos remetem diretamente
ao tema do início da vida, uma vez
que este esbarra, justamente, na
eticidade de se manipular células
humanas para fins de reprodução,
dividindo células somáticas, por
152
exemplo, ou retirar material genético
como células-tronco. De outro lado,
o início da vida representa o início
daquele processo vital que não pode
ser interrompido, seja por técnicas
científicas, seja pelo aborto, por
exemplo.
3. Teorias sobre o início da vida
Na cultura ocidental há quatro
teorias gerais que tentam explicar a
origem da vida de modo geral, no
sentido de humanidade:
1. a teoria criacionista,
segundo a qual Deus teria criado a
vida na Terra;
2. a teoria panspermista,
sustentadora da tese de que a vida
terrestre se origina de outros
planetas;
3. a teoria abiogenista (da
geração espontânea), para a qual a
origem da vida é espontânea e
provém da matéria inanimada; e, por
fim,
4. a teoria auto-
organizacionista, patrocinadora do
entendimento de que o surgimento
da vida decorre da auto-organização
de compostos orgânicos simples em
macromoléculas, formadoras das
protocélulas primordiais. Essas
teorias não são consensuais e
motivam debates e embates
ininterruptos.
Em alguns países há a
adoção do termo blastocisto (células
entre o quarto e quinto dia após a
fecundação, mas antes da
implantação no útero, que ocorre no
sexto dia), mas as controvérsias
existentes sobre esse tema devem-
se ao fato do próprio blastocisto ser
ou não considerado um ser humano.
(PRANKE, 2004, p.33-38).
De forma sucinta há quatro
correntes quanto ao início da vida
humana:
a) as que defendem que o
início da vida começa com a
fertilização;
b) as que defendem que o
início da vida começa com a
implantação do embrião no útero;
c) as que defendem que o
início da vida começa com o início da
atividade cerebral e;
d) as que defendem que o
início da vida começa com o
nascimento com vida do embrião.
Ressalta-se que os
doutrinadores de direito penal tem
utilizado a seguinte classificação,
após a fertilização: ovo (até três
semanas de gestação), embrião (de
três semanas a três meses), feto
(após três meses).
153
Para o ordenamento jurídico é
de vital importância que se defina de
maneira clara e simples o início da
vida humana, para determinar a
partir de que momento essa nova
entidade será considerada viva e
terá personalidade jurídica, será
tutelada pelo Direito, assim como se
fez com o conceito de morte e deve
ser pautado nas discussões
bioéticas.
Já algumas teorias procuram
estabelecer o momento exato da
aquisição da personalidade pelo
novo ser, uma afirmando que a
aquisição da personalidade deve ser
reconhecida de acordo com apenas
duas grandes correntes; a partir do
momento da concepção (teoria
concepcionalista) e outra aceitando-
a a partir da nidação. Nesta última
teoria somam-se todas aquelas que
afirmam existir pessoa humana após
a formação da crista neural (início da
formação do Sistema Nervoso
Central) bem como a aceita pela
legislação autóctone onde encontra-
se afirmado que a personalidade é
"adquirida com o nascer com vida"
(teoria natalista).
Neste último aspecto é que se
têm os enfoques bioéticos e do
biodireito que aguçam na atualidade
os interesses das organizações não
governamentais (ONGs)
denominadas "pró-vida" e, por sua
vez causam mal-estar para o setor
da biotecnologia. Verificam-se com
grande facilidade estas afirmações
quando se percebe na legislação
alemã jurisprudências afirmando não
ser o zigoto um "bem juridicamente
protegido", o que, por conseguinte,
permite a realização de
experimentos biotecnológicos com
os mesmos. O mesmo pode-se
verificar nas legislações espanhola e
inglesa, dentre outras, onde nos
primeiros 14 dias após a fecundação
"in vitro" os embriões podem ser alvo
de experimentos, congelados por até
cinco anos, descartados ou
destruídos sempre que existam
sinais de impossibilidade de
implantação uterina dos mesmos.
O professor José Afonso da
Silva cita o jurista Hélio Bicudo:
Sem dúvida, como salienta a
professora Márcia Pimentel, PhD em
genética humana, ela começa com a
concepção, "pois, a partir do
momento em que o óvulo é
fecundado pelo espermatozoide,
inicia-se uma nova vida, que não é
aquela do pai ou da mãe, e sim a de
um novo organismo que dita seu
próprio desenvolvimento, sendo
dependente do ambiente intrauterino
154
da mesma forma que somos
dependentes do oxigênio para viver.
Biologicamente, cada ser humano é
um evento genético único, que não
mais se repetirá.
(BICUDO apud SILVA, 1988, p.428).
Para outros, o 6. ° dia, quando
as células passam do estado de
totipotência para o de onipotência,
deve ser considerado o início da vida
humana, porque a partir deste
momento sabe-se se será formada
mais de uma pessoa (gêmeos) ou
uma única pessoa. Para outros,
todavia, o momento divisório entre
ser ou não humano é o início da
formação do sistema nervoso, ou
seja, o início da vida cerebral, que o
ocorre na 8.ª semana. Para outros, o
marco é o surgimento do suco neural
no 11. ° dia.
4. O início da vida e o
ordenamento jurídico brasileiro: a Lei
de Biossegurança / 2005, a ADIN e o
STF
Em 2004 tivemos a discussão
dos Fetos Anencefálicos, tratou-se
de Medida Cautelar em Arguição de
Descumprimento de Preceito
Fundamental 54-8 Distrito Federal,
tendo como o Ministro Relator Marco
Aurélio, foi adotada no dia 1 de Julho
de 2004, decisão com efeito
vinculante que todas as gestantes
cujo feto é anencéfalo tem o direito
de interromper a gravidez, tendo a
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e o Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana
(CDDPH) concordado com o
entendimento do Ministro.
Entretanto, o parecer do Procurador-
Geral da República, Dr. Cláudio
Fonteles, foi pelo indeferimento do
pleito.
In verbis, assim votou o
Ministro Relator Marco Aurélio:
[...] Em questão está a
dimensão humana que obstaculiza a
possibilidade de se coisificar uma
pessoa, usando-a como objeto.
Conforme ressaltado na inicial, os
valores em discussão revestem-se
de importância única. A um só
tempo, cuida-se do direito à saúde,
do direito à liberdade em seu sentido
maior, do direito à preservação da
autonomia da vontade, da legalidade
e, acima de tudo, da dignidade da
pessoa humana. [...] No caso da
anencefalia, a ciência médica atua
com margem de certeza igual a
100%. [...] Como registrado na
inicial, a gestante convive
diuturnamente com a triste realidade
e a lembrança ininterrupta do feto,
155
dentro de si, que nunca poderá se
tornar um ser vivo [...].
[...] Há, sim, de formalizar-se
medida acauteladora e esta não
pode ficar limitada a mera
suspensão de todo e qualquer
procedimento judicial hoje existente.
Há de viabilizar, embora de modo
precário e efêmero, a concretude
maior da Carta da República,
presentes os valores em foco. Daí o
acolhimento do pleito formulado
para, diante da relevância do pedido
e do risco de manter-se com plena
eficácia o ambiente de desencontros
em pronunciamentos judiciais até
aqui notados, ter-se não só o
sobrestamento dos processos e
decisões não transitadas em julgado,
como também o reconhecimento do
direito constitucional da gestante de
submeter-se à operação terapêutica
de parto de fetos anencefálicos, a
partir de laudo médico atestando a
deformidade, a anomalia que atingiu
o feto. É como decido na espécie.
No pleno do Supremo
Tribunal Federal – STF, a liminar
concedida pelo Ministro relator foi
revogada por maioria.
Em se tratando de aborto
foram concedidas liminares
autorizando a interrupção de
gravidez em casos de anencefalia no
Brasil. No intuito de uniformizar tais
decisões emanadas das Cortes
Estaduais, o Supremo Tribunal
Federal foi instado a se pronunciar
sobre a possibilidade de aborto de
fetos com anencefalia. Assim é que
a CNTS — Confederação Nacional
dos Trabalhadores da Saúde propôs
uma Ação de Arguição de
Descumprimento de Preceito
Fundamental, com fundamento no
artigo 1º da Lei 9.882/99, indicando
como preceitos constitucionais
ofendidos o artigo 1º, inciso IV
(dignidade da pessoa humana),
artigo 5º, inciso II (princípio da
legalidade, liberdade e autonomia da
vontade) e artigos 6º, caput, e 196
(direito à saúde), todos da
Constituição Federal, bem como os
artigos 124, 126 caput, e 128, incisos
I e II, do Código Penal, enquanto
representativos de atos do Poder
Público causadores da lesão. Isso
porque os citados dispositivos do
Código Penal proíbem que se
pratique a antecipação terapêutica
do parto nas hipóteses de fetos
anencéfalos.
Por conseguinte, a
Confederação pediu ao Supremo
Tribunal Federal que declare
inconstitucional, com eficácia erga
omnes e efeito vinculante, a
156
interpretação dos artigos 124, 126 e
128, incisos I e II, do Código Penal,
como sendo dispositivos impeditivos
da antecipação terapêutica do parto
em casos de gravidez de feto
anencéfalo, diagnosticados por
médico habilitado, de modo a
permitir-se que a gestante possa
submeter-se a tal tratamento
terapêutico sem a necessidade de
apresentação de prévia autorização
judicial.
A Suprema Corte não se
pronunciou definitivamente sobre o
mérito da questão. Mas, por sete
votos contra quatro, a Corte
entendeu que a Ação de
Descumprimento de Preceito
Fundamental constituiu-se, no caso
concreto, e ainda que por via
indireta, um meio tecnicamente
adequado para apreciação da
legalidade, ou não, da interrupção da
gravidez em caso de anencefalia.
Em 24 de março, começou a vigorar
a Lei 11.105/2005, que regulamenta
os incisos II, IV e V do parágrafo 1º
do artigo 225 da Constituição
Federal, estabelecendo normas de
segurança e mecanismos de
fiscalização de atividades que
envolvam organismos
geneticamente modificados - OGM's
- e seus derivados.
A Lei 11.105/2005, mais
conhecida como Nova Lei de
Biossegurança, criou o CNBS —
Conselho Nacional de
Biossegurança, reestrutura a
CTNBio — Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança, além de
fixar as bases da política nacional de
biossegurança. Como resultado de
uma evolução legislativa que
começou com a Lei 8.974/95 (a
primeira Lei de Biossegurança), a Lei
11.105/05 traça os limites de
atuação daqueles que pretendem
trabalhar com organismos
geneticamente modificados e seus
derivados.
Assim, o artigo 1º da Lei
11.105/2005 enumera as atividades
e/ou projetos cuja prática é
permitida: toda a forma de liberação
e/ou descarte de OGM's no meio
ambiente, na forma de cultivo,
manipulação, transporte,
transferência, importação,
exportação, armazenamento e
consumo. A Lei de Biossegurança
limita às pessoas jurídicas a prática
de atividades envolvendo
manipulação de organismos
geneticamente modificados. Essas
empresas, para a prática de
engenharia genética, deverão
requerer a CTNBio emissão de CQB
157
(Certificado de Qualidade em
Biossegurança).
No elenco das proibições, o
artigo 6º da lei veda a prática das
seguintes atividades, a saber: 1)
implementação de projeto relativo a
OGM sem a manutenção de registro
de seu acompanhamento individual;
2) realização de ”engenharia
genética em organismo vivo ou o
manejo "in vitro" de ADN/ARN
natural ou recombinante, realizados
em desacordo com as normas
previstas” em lei; 3) prática de
"engenharia genética em célula
germinal humana, zigoto humano e
embrião humano; 4) clonagem
humana; 5) destruição ou descarte
no meio ambiente de OGM e seus
derivados em desacordo com as
normas estabelecidas pela CTNBio,
pelos órgãos e entidade de registro e
fiscalização, referidos no artigo 16"
da lei; "6) liberação no meio
ambiente de OGM’s ou seus
derivados, no âmbito de atividades
de pesquisa, sem a decisão técnica
favorável da CTNBio e, no casos de
liberação comercial, sem o parecer
técnico favorável da CTNBio, ou sem
o licenciamento do órgão ou
entidade ambiental responsável,
quando a CTNBio considerar a
atividade como potencialmente
causadora de degradação
ambiental, ou sem a aprovação do
CNBS, quando o processo tenha
sido por ele avocado"; 7)” a
utilização, a comercialização, o
registro, o patenteamento e o
licenciamento de tecnologia
genéticas de restrição do uso".
Com efeito, o artigo 5º da
mencionada lei autoriza, “para fins
de pesquisa e terapia, a utilização de
células-tronco embrionárias obtidas
de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não
utilizados no respectivo
procedimento...” Desse enunciado
verifica-se que o legislador colocou
dois elencos de condições para a
realização de tais pesquisas: umas
que impõem certas condições
técnicas, e outras exigindo o
cumprimento de determinadas
formalidades. No primeiro elenco as
condições são as seguintes: 1)
embriões humanos obtidos por
fertilização in vitro; 2) embriões
inviáveis; ou 3) embriões congelados
há três anos ou mais, na data da
publicação da Lei 11.105/05, ou que,
já congelados na data da publicação
da referida Lei, depois de
completarem três anos, contados a
partir da data de congelamento. No
segundo, as exigências se limitam
158
aos documentos necessários para a
realização dos experimentos: (i)
consentimento formal e escrito, dos
genitores; (ii) apreciação e
aprovação do projeto de pesquisas
ou terapia com células-tronco
embrionárias humanas pelos
comitês de ética das instituições de
pesquisa e centros de saúde que se
dedicam a tais pesquisas.
Diante disso a propositura
da ADI, de nº 3510, que
fundamentou-se no direito
fundamental à vida, previsto no
artigo 5º da Constituição Federal deu
início a uma a aprovação da Lei de
Biossegurança/2005 [2].
Considerações finais
Concluímos que para o
ordenamento jurídico é de vital
importância e, por conseguinte o
momento em que essa nova vida
terá personalidade jurídica.
Entretanto, esse conceito deve ser
mutável, ter a capacidade de evoluir
e ser pautado em conceitos éticos e
científicos.
Concluímos que em nosso
texto constitucional consagra-se o
direito à vida como um direito
fundamental, assim como se
estabelece ser a dignidade humana
um princípio fundamental do Estado
Democrático de Direito Pátrio.
Mas no caso do tratamento de
pessoas portadoras de doenças
degenerativas por meio de estudos
formulados com o emprego de
células-tronco embrionárias,
indicadas. Nesse ponto, deve-se
utilizar o método de ponderação e
valoração de princípios, mas não
apenas de forma abstrata e sim
visando a concretização do preceito
constitucional por meio da
proporcionalidade. Daí a dificuldade
imposta em se decidir entre dois
direitos à vida, o direito potencial do
embrião, e o direito de preservar sua
vida, dos pacientes em tratamento.
Ainda que potencialmente
possa vir a se constituir em vida, não
parece legítima a impossibilidade do
uso de células-tronco de embriões
com remotíssimas chances de
sobrevivência, se colocada a serviço
do tratamento de doenças
degenerativas. A questão parece
não se tratar de quando começa a
vida, se na fecundação, mas
também evitar sua banalização.
159
Referências
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SILVA, José Afonso da. Curso De Direito Constitucional Positivo. 4. ed. Rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988.
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PRANKE, P. A. Importância de discutir o uso de células-tronco embrionárias para fins terapêuticos. In: Ciência e Cultura (Núcleo Temático: Clonagem), Campinas: SBPC. 2004. pp.33-38.
[1] “Wolkmer prefere o termo “dimensão de direitos” em substituição ao termo “geração de direitos”, aceita pela maioria dos doutrinadores a partir da teoria de Bobbio” (CORRÊA e CONRADO, 2007, p. 91).
[2] A Lei de Biossegurança permite a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas por meio da destruição de embriões inviáveis para a gestação ou que estejam congelados a mais de três anos, em pesquisas científicas visando a regeneração de células mortas.
Etiene Maria Bosco Breviglieri
160
BREVE APANHADO SOBRE A LEI DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS
BELATI, Natália - Discente do 7º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
PIGNATARI, Nínive Daniela Guimarães - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O objetivo deste estudo é esclarecer as eventuais dúvidas quanto ao
surgimento da Lei n° 11.804.2008, que dispõe sobre os alimentos gravídicos. A
palavra pode parecer estranha, mais seu significado vem relembrar o meio social
de algo que jamais deveria ter sido esquecido: a responsabilidade dos pais
desde a concepção do feto. Para isso, foi feito um estudo sistemático de
pesquisas doutrinárias, a fim de encontrar as possíveis soluções para as
questões e equívocos apresentados. O resultado foi um texto que dispõe sobre
os principais aspectos polêmicos da Nova Lei.
Palavras-chave: Alimentos. Alimentos gravídicos. Direitos do nascituro.
161
Introdução
Lê-se na primeira parte do art.
1.696 do Código Civil que aos pais
cabe o dever de pagar alimentos aos
filhos. Alimentos, em sua concepção
lata, significam auxílios de ordem
material (não apenas em dinheiro[1])
que uma pessoa presta à outra para
que esta possa prover suas
necessidades básicas.
Sendo impossível o
provimento dos alimentos por seus
ascendentes (pais), tal obrigação
poderá ser prestada por outro,
obedecendo à ordem sucessória
(art. 1.697 do CC).
Ainda nesta mesma linha de
raciocínio, contempla o art. 1.699 do
mesmo corpo jurídico que, havendo
mudanças financeiras do
alimentando ou do alimentante,
qualquer destes poderá pedir a
revisão judicial para que o encargo
ajuste-se às novas circunstâncias.
A lei civil versa que a
personalidade civil começa no
nascimento com vida (art. 2°),
resguardando, ainda, os direitos do
nascituro. Tais direitos são ditos em
estado potencial, pois dependem de
uma condição suspensiva para que
se estabeleçam. Assim, aguardam o
acontecimento de um evento futuro e
incerto, que seja por ora, o
nascimento com vida que tenha
eficácia.
Para garantir o exercício
pleno desses direitos foi publicada
no D.O.U. de 06 de novembro de
2008 a Lei n° 11.804/2008,
doravante chamada de Lei de
Alimentos Gravídicos (LAG).
1. Direitos do Nascituro
Quando o Código Civil
prescreveu, na 2ª parte do art. 2º,
que “a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro”,
não usou tais dizeres
impensadamente. Assim,
interpretando tal dispositivo, chega-
se a conclusão de que o
ordenamento brasileiro resguarda e
admite tais direito.
Se o nascituro tem direitos,
não pode deixar de ter, o mais
essencial deles, o direito à vida,
pressuposto necessário para a
existência de todos os outros.
Recusar ao nascituro o direito à vida,
a rigor, importa recusar-lhe qualquer
direito, contrariando expressamente
o disposto no art. 2º, 2ª parte, do
Código Civil.
Conclui-se a partir do exposto
que é direito do nascituro uma vida
162
intrauterina segura, e a Lei
11.804/08 veio completar o já
exposto pelo Código Civil e pela
Constituição Federal ao prever em
seu art. 5°, que todos são iguais
perante a lei.
Contudo são necessárias
algumas reflexões acerca deste
novo corpo integrante.
2. Aspectos materiais e processuais
da LAG
Em seu artigo primeiro, a lei
define a legitimidade ativa da mulher
para ingressar com a demanda.
Assim, até o nascimento da
criança, a natureza dos alimentos é
gravídica, contudo, após seu
nascimento, converter-se-á em
pensão alimentícia, até que uma das
partes peça sua revisão (art. 6° da
LAG).
Por este raciocínio, o que se
depreende é que, após o
nascimento, há uma conversão de
titularidade, visto que a legitimidade
do pedido amparado pela nova lei é
da gestante, e a legitimidade para o
instituto previsto na lei 5.478/68
pertence à criança (credor),
devidamente representada pela
mãe.
O dispositivo (art. 3°) que
indicava como foro competente o do
domicílio do réu foi corretamente
revogado, pois, ao determinar tal
competência, a lei iria desconsiderar
a condição especial da gestante e
atribuir a ela o ônus de ajuizar ação
de alimentos gravídicos na sede do
domicílio do réu, que não goza de
nenhuma condição especial. Isso
provocaria uma completa
dissonância com o previsto no CPC,
que prevê como competente o foro
do domicílio do alimentando.
O artigo segundo relata quais
despesas serão tuteladas no pedido:
[...] Art. 2° Os alimentos de que trata
esta Lei compreenderão os valores
suficientes para cobrir as despesas
adicionais do período de gravidez e
que sejam dela decorrentes, da
concepção ao parto, inclusive as
referentes a alimentação especial,
assistência médica e psicológica,
exames complementares,
internações, parto, medicamentos e
demais prescrições preventivas e
terapêuticas indispensáveis, a juízo
do médico, além de outras que o juiz
considere pertinentes. (Grifo nosso).
No entanto, o rol não é
taxativo, cabendo ao juiz aplicar,
ponderadamente, todos os outros
163
que julgar oportuno, primando pelo
binômio necessidade/oportunidade.
Nebulosa, contudo, é a
determinação do termo inicial da
obrigação de pagar alimentos. No
vetado art. 9°, o termo inicial dar-se-
ia com a citação do réu, entretanto,
como versam os motivos do veto:
[...] O art. 9º prevê que os
alimentos serão devidos desde a
data da citação do réu. Ocorre que a
prática judiciária revela que o ato
citatório nem sempre pode ser
realizado com a velocidade que se
espera e nem mesmo com a
urgência que o pedido de alimentos
requer. Determinar que os alimentos
gravídicos sejam devidos a partir da
citação do réu é condená-lo, desde
já, à não-existência, uma vez que a
demora pode ser causada pelo
próprio réu, por meio de manobras
que visam impedir o ato citatório.
Dessa forma, o auxílio financeiro
devido à gestante teria início no final
da gravidez, ou até mesmo após o
nascimento da criança, o que
tornaria o dispositivo carente de
efetividade.
A finalidade, pelo que se pode
perceber, foi fazer com que os
alimentos fossem devidos desde o
ajuizamento da ação.
Neste aspecto, formaram-se
duas correntes: uma defende que os
alimentos devam ser devidos
somente após a citação, e outra vê
nesse lapso temporal uma
possibilidade de ausência proposital
do réu. No primeiro sentido, temos o
posicionamento de Donoso (2009).
Suas justificativas: 1) só a citação é
que o constitui em mora (art.
219, caput, do CPC); 2) à LAG se
aplicam supletivamente as
disposições da Lei de Alimentos
(conforme previsto no art. 11 da
LAG), e esta prevê que os alimentos
fixados retroagem à data da citação
(art. 13, § 2º).
Em sentido contrário, temos
Maria Berenice Dias[2], que defende
sua tese afirmando que o réu poderá
realizar manobras para evitar sua
citação. Todavia, a desembargadora
não desconsidera a afronta à
jurisprudência já consolidada dos
tribunais e o choque com a Lei de
Alimentos que, de modo expresso,
diz: ao despachar a inicial o juiz fixa,
desde logo, alimentos provisórios.
Havia, ainda, a previsão para
a realização de uma audiência de
justificação, na qual poderiam ser
ouvidas as partes, testemunhas,
bem como poderiam ser requisitados
documentos. A razão para o veto nos
164
parece óbvia, pois a lei traria ainda
mais retardamento ao atual sistema
judiciário, já atravancado, além de
criar um procedimento sem igual
precedente em nenhuma ação de
alimentos.
O ponto mais delicado da lei
em estudo refere-se à prova do
vínculo de paternidade do nascituro.
A ideia contida no art. 8°
(vetado), era a de realização de um
exame pericial, como brilhantemente
expôs Dias:
[...] Não há como impor a
realização de exame por meio da
coleta de líquido amniótico, o que
pode colocar em risco a vida da
criança. Isso tudo sem contar com o
custo do exame, que pelo jeito terá
que ser suportado pela gestante.
Não há justificativa para atribuir ao
Estado este ônus. E, se depender do
Sistema Único de Saúde,
certamente o filho nascerá antes do
resultado do exame. (2008).
Assim, a determinação de tal
exame seria uma incongruência com
o que se pretende preservar: a vida
segura do feto. Não por outro motivo
deu-se o veto do referido dispositivo.
Portanto, pelo veto do art. 8°, restou
prejudicado o artigo 10, que
dispunha sobre outro equívoco do
até então projeto de lei. Este previa
uma espécie de indenização ao réu
da ação que fosse julgada
improcedente, pela negativa do
exame pericial. Tal dispositivo
atentava diretamente contra o direito
de ação, cerceando–o. Tratava-se
de norma intimidadora, pois criava o
dever de indenizar objetivamente, ou
seja, independente de culpa. Faz-se
necessário encontrar um meio para
que o suposto pai possa reaver o
valor do encargo prestado.
Entretanto, como pela natureza dos
alimentos não cabe regresso, o meio
para solução deveria ser outro. A
alternativa mais acertada parece ser
a possibilidade de indenização,
como constava no projeto, mas não
objetivamente, cabendo, assim, ao
autor da indenização provar a culpa
da gestante (culpa subjetiva).
A lei prevê um prazo de 5
(cinco) dias para que o suposto pai
apresente sua defesa, todavia, esta
resposta deve, assim como a inicial,
pautar-se em fatos, documentos e
testemunhas, pois, como acima
relatado, a realização de exame
pericial não é oportuna.
Vale sempre lembrar de que
toda atividade probatória deve ser
regida pelos princípios
constitucionais do contraditório, da
ampla defesa e do devido processo
165
legal. A ausência de qualquer destes
convergirá para sua
inconstitucionalidade.
Outro equívoco do projeto de
lei era a exigência de um laudo
médico comprovando a viabilidade
da gravidez. Vejamos: se uma
gravidez, normal sem maiores riscos
já necessita de cuidados especiais,
estes se tornam ainda mais
imprescindíveis tratando-se de uma
gravidez de risco. Tal requisito
acarretaria, ainda, uma discussão
controvertida sobre o significado do
termo “gravidez viável”. Contudo,
não entraremos neste aspecto da
questão.
Importante destacar que a
sentença da ação de alimentos
gravídicos, não faz coisa julgada
quanto à paternidade, justamente,
porque a paternidade não é o objeto
da ação.
Considerações finais
Conclui-se pelo exposto que,
mesmo a lei tendo um objetivo
meritório, este não foi suficiente para
superar todas as falhas do
legislador. Torna-se clara esta
constatação ao ver que, dos 12
artigos do projeto de lei, apenas a
metade firmou-se. Assim, a norma
tornou-se extremamente superficial,
o que poderá torná-la inócua.
Infelizmente, ela é insuficiente
para vencer a morosidade da
Justiça, claramente desaparelhada e
incapaz de absorver toda a demanda
de processos. Diante de tanta
ineficácia, quem paga é a sociedade,
nesse caso, especificamente a futura
mãe e o bebê.
Excetuando-se as situações
em que haverá antecipação da
tutela, é bem provável que este novo
instituto tenha sua utilidade reduzida,
já que uma gestação normalmente
dura em torno de nove meses, e um
processo somente tem seu fim após
anos de demanda.
Compartilha-se do mesmo
entendimento de Donoso (2009),
que assim explanou “mais do que na
agilidade da Justiça, prefiro acreditar
que os futuros pais tomarão
espontaneamente consciência de
sua responsabilidade.”
166
Referências
BRASIL. Lei nº. 11.804, de 5 de novembro de 2008. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 6 nov. 2008 Disponível em: http://www.marialuizapovoa.com.br/dados/file/leis/LEI-PENSAO.PDF. Acesso em: 25 fev. 2009.
BRASIL. Vade mecum. Organização de textos, notas remissivas e índices por Antônio Luiz de Toledo Pinto et. al.. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos tribunais, 2009.
Natália Belati
167
A MENSAGEM SUBLIMINAR E SEU USO NA PUBLICIDADE: APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC)
BREVIGLIERI, Etiene Maria Bosco - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
FERNANDES, Bárbara Rossi - Discente do 3º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
OLIVEIRA, Lúcia Lisbôa - Discente do 7º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga.
RESUMO
O presente trabalho tem como tema A Mensagem Subliminar e seu uso
na Publicidade: aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC). O
objetivo deste estudo científico é demonstrar os problemas e fraudes
decorrentes da publicidade que utiliza a mensagem subliminar, que é aquela
perceptível apenas pelo inconsciente humano, tendo como escopo encaminhar
o consumidor a usar determinado produto, obtendo assim lucros de forma
fraudulenta. O regulamento da Publicidade e Propaganda é previsto por
legislação específica e pelo Código de Defesa do Consumidor, além de possuir
algumas menções no Código Civil e Penal. O método utilizado foi o dedutivo
bibliográfico e o processo metodológico foi o analítico sintético.
Palavras-chave: Mensagem. Subliminar. Publicidade. Código de Defesa do Consumidor.
168
Introdução
Hoje vivemos imersos em
uma sociedade que privilegia o
consumo. Somos apresentados a
todos os tipos de publicidade que
tentam provocar o aumento de
consumidores nos mais variados
setores. Dentre as formas mais
comuns de publicidade usadas hoje
no mercado, o legislador preocupou-
se em impedir o uso da publicidade
enganosa e abusiva. Para tanto,
inclui aí a chamada publicidade
velada, como aquela que atrai o
consumidor e o incita ao consumo
sem antes se anunciar como
publicidade de efeito comercial. O
presente trabalho apresenta a
inserção das mensagens
subliminares dentro desse rol de
mensagens proibidas pelo CDC.
1. Histórico da mensagem subliminar
A mensagem subliminar
surgiu a partir de alguns
experimentos feitos pelo publicitário
James Vicary, em 1956, que inseriu
por meio de projetor, slides velozes
no filme “Picnic” de forma que a cada
cinco segundos, em uma velocidade
igual a 1/3000 segundo, a frase
“Drink Coke” fosse projetada na tela.
Tais imagens, no entanto, eram
imperceptíveis para o público, porém
passíveis de captação pelo
inconsciente humano. Na época, a
venda de refrigerantes aumentou
57,7% durante os intervalos das
apresentações. Tal experimento
confirmaria a ideia de que: Quanto
maior a quantidade de informação
enviada no menor intervalo de
tempo, por um mecanismo de defesa
psíquico, o excedente ficará
subliminar.
2. Definição de mensagem
subliminar - embasamento teórico
Considera-se subliminar
aquela mensagem que chega até
nós de uma forma oculta, que não é
captada pela nossa percepção
consciente. Esse tipo de mensagem
causa um tipo de influência em
nossas atitudes e alterações em
nosso organismo, todos de forma
totalmente involuntária. Há duas
características básicas nas
mensagens subliminares, que são: o
grau de percepção e de persuasão.
De acordo com
a percepção subliminar podemos
captar de
forma inconsciente mensagens ou
169
estímulos fracos demais para
provocar uma resposta consciente.
Assim por meio de nosso
subconsciente é possível captar e
até guardar boa parte desses dados
mais rapidamente que o consciente.
Dessa forma, imagens, por exemplo,
que ficam expostas por um tempo
muito curto, ou sons baixos demais,
todos que passariam despercebidos
pela mente consciente são captados
pelo subconsciente.
É inegável, portanto que os
elementos retidos pelo
subconsciente teriam a capacidade
de influenciar o receptor. Algumas
mensagens parecem atingir um
determinado grau de persuasão, que
pode acabar influenciando nossas
vontades, tanto de forma imediata,
fazendo, por exemplo, uma pessoa
sentir vontade de beber ou comer
algo, ou ainda em longo prazo,
alterando o seu comportamento.
Tais ideias mereceram vários testes
ao longo dos tempos, sem na
verdade atingir total comprovação,
ainda que alguns pesquisadores
independentes aleguem terem
experimentos que comprovem de
fato a existência da persuasão.
Infelizmente, não há nenhum
trabalho científico publicado até os
dias de hoje confirmando realmente
esta afirmação.
Sabe-se que a percepção é
um estímulo que engloba diversos
fatores, físicos e psicológicos. Em
nós, seres humanos há uma
característica que a ciência define
como faixa de percepção. Existem
muitos estímulos que estão além da
capacidade de percepção dos
nossos sentidos como sons que
estão fora do nosso nível de audição,
ou cores que vão além do espectro
de nossa visão. A faixa de percepção
é aquilo que pode ser percebido pelo
ser humano, sendo de forma
consciente ou não. Alguns limiares
de percepção não despertam nossas
atenções, ou por serem fracos ou
porque os ignoramos.
A capacidade de percepção
varia de um indivíduo para outro,
dependendo da personalidade e de
sua experiência de vida, seja pelo
tipo de informação que cada cérebro
percebe, seja pela potencialidade
dos sentidos do ser humano. Esse é
um dos principais problemas que
enfrentamos para analisar e definir
“limiar de percepção consciente”,
pois um mesmo estímulo pode se
apresentar de forma subliminar ou
não, de acordo com a pessoa que
recebe essa mensagem. Portanto
170
esse “limiar de percepção” é distinto
para cada ser humano.
3. Da regulamentação da
publicidade indireta
Podemos encontrar a
regulamentação da publicidade no
CDC (Código de Defesa do
Consumidor), no Código Brasileiro
de Auto-Regulamentação
Publicitária, e também nas leis que
regulamentam a profissão e as
agências publicitárias, com o
objetivo de manter a ética para a
prática da publicidade.
O Código Brasileiro de Auto-
Regulamentação faz menção à
mensagem subliminar, pois diz que
esta não constitui técnica de
publicidade comprovada, mas que,
no entanto, produz alguns efeitos
que são nocivos aos consumidores,
o que é condenável.
4. Da análise do artigo 36 da Lei
8.078/90
Ao analisarmos o caput do art.
36 percebemos que ao veicular uma
publicidade, o fornecedor deve
proceder de forma clara e inteligível.
O consumidor, ao vê-la, perceba que
está diante de um anúncio.
O ordenamento jurídico
repudia a publicidade indireta
(aquelas que o consumidor não
identifica como tal de imediato), pois
isto fere os princípios que protegem
o consumidor; tais como a
transparência. Já a publicidade
direta (que é imediatamente
percebida) é considerada correta.
5. A fiscalização da publicidade
indireta
Com o objetivo de verificar a
regularidade da publicidade que
veicula na sociedade de consumo, a
fiscalização analisa atenta e
minuciosamente o anúncio, fazendo-
a de forma repressiva e preventiva.
Conforme cita Scarelli: “os órgãos
públicos e os autorregulamentares
desempenham fins específicos
perante fornecedores, consumidores
e relações de consumo, de acordo
com a sua natureza privada ou
pública”. (2007, p 67).
Um caso expressivo sobre a
fiscalização da publicidade indireta é
o caso da ANVISA que fez algumas
alterações substanciais em relação
às disposições e regras existentes
sobre a publicidade de
medicamentos, com a Resolução nº
96/08, de forma de refletiu
171
diretamente o Código de Defesa do
Consumidor. No art. 4º dessa
resolução, a ANVISA vedou a
veiculação de imagens e/ou menção
de substância ativa ou marca de
medicamento, de forma não
declaradamente publicitária, de certa
forma é uma fiscalização que
também atinge as mensagens
subliminares relacionadas aos
medicamentos (GIACCHETTA,
2009).
6. O controle exercido pelo CONAR
Quando uma publicidade
apresenta uma infração em relação
ao código, e dessa forma é
comprovada a procedência da
denúncia, o CONAR toma uma
atitude: ou suspende sua veiculação
ou recomenda que seja feita a
alteração que foi questionada.
O CONAR tem sua função
apenas aos casos que está sendo ou
foi veiculado, não podendo fazer
uma prévia análise das publicidades
que serão colocadas no mercado,
pois um dos seus objetivos é
resguardar a liberdade de
expressão.
O resultado final emitido por
ele pode determinar que o anúncio
esteja impedido de voltar a veicular
ou que seja feita alterações nele.
7. Publicidade Enganosa
Nos termos do CDC, a
publicidade é considerada enganosa
quando induzir em erro o consumidor
a respeito da natureza,
característica, qualidade,
quantidade, propriedade, origem,
preço, e quaisquer outros dados
sobre o produto (art. 37, §21º do
CDC).
Em uma publicidade, o correto
seria que as informações do produto
viessem anunciadas de forma clara,
para que o consumidor ao ver a
propaganda consiga identificá-la e
não seja enganado. A publicidade é
um ato lícito, no entanto seu objetivo
principal não é informar, mas sim,
induzir o consumidor à compra do
produto. Percebemos então, que ela
tem caráter persuasivo.
Está provado que a
publicidade enganosa provoca uma
mudança no processo de decisão do
consumidor, pois o leva a adquirir um
produto ou serviço de forma
equivocada, sendo que se ele
obtivesse mais informações (e reais)
sobre os mesmos, provavelmente
não o adquiriria.
172
No âmbito da publicidade
enganosa, temos duas espécies: a
por comissão e a por omissão.
A publicidade enganosa por
comissão ocorre quando o
fornecedor afirma algo que não é
verdadeiro induzindo o consumidor a
erro.
Já a publicidade enganosa
por omissão é quando o fornecedor
deixa de dizer algo, ou seja, o
anunciante deixa de afirmar
(omitindo dados) o que é relevante e
isso faz com que o consumidor seja
induzido a erro. Por exemplo, o
consumidor se dirige até uma loja
que veiculou propaganda comercial
dizendo que, na compra de tal
produto ou acima de certo valor, o
consumidor participaria de uma
promoção ou concorreria a um
prêmio. Você fez a referida e compra
e, na hora de participar da
promoção, recebe um contrato pelo
qual é obrigado a autorizar a
veiculação de seu nome, imagens e
sons de voz na divulgação do
concurso. No caso citado, o
fornecedor utilizou o ardil da
promoção para atrair o consumidor
às compras em sua loja. Na
propaganda, não havia qualquer
informação a respeito da exigência
de autorização para veiculação de
seu nome, imagens e sons de voz
como requisitos para concorrer ao
prêmio. Portanto, esta publicidade é
enganosa por omissão, e caracteriza
prática comercial abusiva (ALIGIERI,
2007).
A publicidade enganosa,
dependendo da extensão da sua
enganosidade, pode ser total (no seu
conjunto, as informações são
realmente falsas) ou parcialmente
falsa (ao mesmo tempo, umas
informações são falsas e outras
verdadeiras). A publicidade não
deixa de ser enganosa pelo fato de
existir informações parcialmente
corretas no anúncio, ou seja, quer
dizer que só o fato da informação ser
capaz de induzir o consumidor ao
erro, já considerada enganosa, a fim
de proteger o consumidor.
Segundo Grinover:
O erro potencial –
consequência da enganosidade –
pode estar relacionado com qualquer
dado dos produtos ou serviços: sua
natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem ou
preço. Mesmo um dado acessório
pode, via publicidade, ser ressaltado,
ganhando, então, capacidade para
induzir o consumidor ao erro. (2005,
p. 274).
173
Não há relevância na
consumação do dano material para a
caracterização da enganosidade.
Para evidenciar-se como publicidade
enganosa, o anúncio precisa ter a
capacidade de induzir ao erro. O
consumidor não precisa chegar
adquirir de fato o produto ou o
serviço com base no anúncio.
Devemos lembrar ainda da
publicidade abusiva. Podemos
afirmar que abusivo é tudo aquilo
que não é enganoso. Ao contrário da
publicidade enganosa, em que as
diversas modalidades de publicidade
abusiva, não visam o prejuízo
econômico apenas, isto é, não
atacam somente o consumidor de
forma financeira, mas sim, porque
lesam também sua moral, sua
integridade psíquica, seus valores e
costumes.
8. O uso da mensagem subliminar na
publicidade
A publicidade tem como
finalidade comercializar determinado
produto ou serviço, utilizando as
diversas formas da mídia. A mídia
tem grande influência na sociedade,
conseguindo fazer com que as
pessoas comprem ou utilizem
determinado produto ou serviço.
O grande problema surge no
momento em que grandes marcas
usam da publicidade, para controlar
a sociedade, manipulando pessoas a
consumir determinado produto ou
utilizar um determinado serviço.
Nesse processo a mensagem
subliminar é muito utilizada.
Como vimos até aqui a
utilização da mensagem subliminar
não é proibida diretamente pelo CDC
que não aborda nenhum efeito nem
sanção sobre o assunto, portanto,
não existem meios para punir as
pessoas que a utilizam para fins
comerciais, políticos ou ideológicos,
apesar de que é evidente que ela
fere as normas do bom senso e do
livre arbítrio do consumidor.
Parte-se do princípio que o
consumidor tem o direito de escolher
aquilo que deseja ou não adquirir e
também assistir, ou seja, o
consumidor possui o direito
constitucional à liberdade de
escolha. No entanto o cerne da
questão está no fato de que as
mensagens subliminares
apresentam conteúdos que não
podem ser vistos de forma
consciente, onde o espectador não
pode usufruir do direito de optar por
aceitá-la ou não, estando
inconsciente durante sua exibição.
174
Sob esse aspecto ela se demonstra
extremamente abusiva.
Vale também ressaltar o
aspecto da responsabilidade civil
que se caracteriza pela ação ou
omissão do agente, pela existência
do dano e pelo nexo de causalidade,
aplicando medidas que obrigam
alguém a reparação do dano
patrimonial ou moral causado em
outrem em razão de ato do próprio
imputado.
Dispõe a autora Fernandes
sobre a responsabilidade civil nas
relações de consumo:
O modelo de
responsabilidade civil adotado pelo
Código Civil revelava-se inadequado
e insuficiente frente ás
características especiais da relação
consumerista. Isso porque, o
diploma pátrio civilista adota a teoria
clássica da responsabilidade civil,
cujo fundamento é assentado na
culpa, já que a responsabilidade
(extracontratual) consubstancia a
obrigação que o autor de um ato
ilícito assume de reparar os danos
causados a outrem em decorrência
de sua conduta culposa (2006).
A responsabilidade civil pode
apresentar-se quanto ao fato
gerador do dano, quanto ao
fundamento e quanto ao agente do
ato, mas, em regra ela se baseia na
ideia de culpa, apoiando-se no fato
de quem cria um risco deve
responder por suas consequências.
Jurisprudência
Ementa n.º 95006445 –
PROPAGANDA EXTEMPORÂNEA
– MENSAGEM SUBLIMINAR –
OFENSA AO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE –
ADMINISTRADORA E
CANDIDATA VIRTUAL A CARGO
ELETIVO – Configura propaganda
extemporânea a exposição de
cartazes em grande quantidade,
divulgando a pessoa da
administradora, mediante a
substituição da denominação da cor
de seu partido, azul, pela
denominação anil, que compõe seu
prenome, a intenção de propaganda
se acentua pelo confronto da cor do
partido da base governista com a da
coligação oposicionista. A
inventividade do expediente
configura a propaganda subliminar,
que a Lei Eleitoral coíbe. Não é
concebível que uma administradora
regional alegue desconhecimento e
tente eximir-se de responsabilidade
pela profusa propaganda eleitoral
afixada em circunscrição que
175
administra, até porque detém o
poder de polícia para coibir de pronto
situações irregulares[1].
Considerações finais
Como podemos observar, a
mensagem subliminar está sendo
cada vez mais utilizada pela
publicidade. No entanto, o uso
indiscriminado desse recurso esta
trazendo consequências
aterrorizadoras para o mundo
jurídico, já que tal prática é utilizada
ilicitamente para induzir, de forma
inconsciente, os receptores a
consumirem o produto oferecido.
Além do mais, essas
mensagens ao afetarem a
percepção subliminar do indivíduo
que está exposto a publicidade, se
transformam em verdadeiras
“angústias” que induzem o receptor
a consumir o produto, sem ao menor
pudor ou permissão para adentrar a
mente humana.
Sendo certo que, assim como
há norma reguladora que reprime a
propaganda abusiva e enganosa, a
mesma também regula o uso de
mensagens subliminares na
publicidade.
176
Referências
ALIGIERI, Débora. Publicidade enganosa por omissão. 2007. Disponível em: <http://deboraligieri.blogspot.com/2007/05/publicidade-enganosa-por-omisso.html>. Acesso em 10. mar. de 2009.
BENJAMIN, Antônio Herman V. O controle jurídico da publicidade. Revista de direito do consumidor. São Paulo: RT, n. 9, janeiro/março 1994.
CARVALHO, Antônio Carlos Alencar. A disciplina civil da publicidade no código de defesa do consumidor.Disponível em: <http://www.jus.com.br/doutrina/propacdc.html>. Acesso em: 06 set. 2001.
______. A disciplina civil da publicidade no código de defesa do consumidor. Disponível em: <http://www.jus.com.br/doutrina/propacdc.html>. Acesso em: 06 set. 2001.
CASADO, Márcio Mello. Princípios gerais da publicidade na constituição federal e no código de defesa do consumidor. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/exibe_artigo.asp?cd_artigo=6>. Acesso em: 06 set. 2001.
CALAZANS, Flavio. Publicidade subliminar multimídia. São Paulo: Summus, 2006.
CONAR, Conselho de Auto Regulamentação Publicitária. Disponível em: http://www.conar.org.br/. Acesso em: 10 mar. 2008.
DIAS, José Vicente. Mensagem subliminar - cuidado: sua mente pode estar sendo controlada. São Paulo: Naós, 2003.
FERNANDES, Daniela Bacellar. Responsabilidade civil e direito do consumidor em face das mensagens subliminares. Curitiba: Juruá, 2006.
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[1] TREDF – RP 521 – Relª Juíza Ana Maria Duarte Amarante Brito – DJU 10.04.2002.
Bárbara Rossi Ferreira e Lúcia Lisbôa Oliveira
177
A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL DE DOMÍNIO PRIVADO
CASALI, Éllen Cássia Giacomini - Docente do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
RIGO, Juliana Waitemam - Discente do 7º período do Curso de Direito da Unifev - Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
A propriedade não possui mais o caráter absoluto de outrora, desde a
Constituição de 1946, relativizou-se e vinculou-se ao cumprimento de sua função
social. A propriedade rural, por sua vez, não escapou dessa exigência, e para
tanto, nos termos do artigo 186 da Constituição Federal de 1988, deverá atender
aos requisitos econômico, social e ambiental ali presentes. Neste contexto, a
função socioambiental ganha destaque, ao ser o Meio Ambiente garantido
constitucionalmente às presentes e futuras gerações, classificando-se como
bem difuso, uma vez que é bem de uso comum do povo. O Poder Público cria
espaços ambientalmente protegidos, que são abrangidos pelas áreas dos
imóveis rurais privados. Aos proprietários rurais cabe a obrigação “propter rem” e
solidária de suportar em suas propriedades a existência de tais espaços, além
de preservá-los, conservá-los e instituí-los muitas vezes com recursos próprios.
Ocorre um embate entre interesses privados e difusos, que influem no cenário
ambiental e econômico nacional e mundial. A função social da propriedade
privada demonstra a programaticidade das normas constitucionais e, torna-se de
difícil aplicação no sistema capitalista vigente, aonde a propriedade rural, como
bem de produção, é tão indispensável ao crescimento nacional e à sobrevivência
humana quanto o meio ambiente, cabendo ao Poder Público a árdua tarefa de
promover preservação e conservação ambiental tão eficazmente, quanto
promoveu à devastação de antes.
Palavras-chave: Propriedade privada. Imóvel rural. Função social. Meio ambiente. Economia.
178
Introdução
O Poder Público e a
coletividade têm o dever de
preservar o meio ambiente como
reza o artigo 225, “caput”, da
Constituição Federal, em razão
disso, a legislação ambiental
estabeleceu a proteção de certos
espaços a fim de garantir o direito ao
meio ambiente ecologicamente
equilibrado e a perpetuação da
espécie.
Daí originou-se o princípio da
função socioambiental da
propriedade, que impôs aos
proprietários e possuidores de
imóveis rurais a responsabilidade
pela manutenção e instituição das
áreas ambientalmente protegidas
localizadas em suas propriedades,
como condição de tornar legítimo o
próprio direito a ela.
Diante disso houve várias
discussões sustentando, que o ônus
carregado pelas propriedades
privadas esvaziaria o direito de
propriedade de seus proprietários,
causando-lhes prejuízos
econômicos, pois deixariam de lucrar
com o não-aproveitamento total da
área e pior, gastariam altas quantias
com elas.
Não obstante a proibição de
que o particular aproprie-se de
parcelas do meio ambiente para
consumo privado (MILARÉ, 2001, p.
113), é injusto que o particular arque
por sua conta e risco com um bem
que é de responsabilidade de toda a
coletividade.
Propriedade privada
A propriedade antes de ser
considerada um instituto de Direito
Privado, “eixo em torno do qual
gravitam todos os direitos reais”
(ARIMATÉA, 2003, p.45), é um
direito constitucionalmente
garantido, condicionado à função
social, como dispõe o artigo 5º,
incisos XXII e XXIII.
Foi a Constituição de 1946
que recepcionou expressamente
esse princípio, dando origem a uma
propriedade despida do caráter de
direito absoluto, sendo a função
social seu elemento constitutivo.
Nesse mesmo sentido veio a Carta
Política de 88, fundamentando seu
regime jurídico.
Como bem assinala
Paccagnella (1999, p. 165) “O
cumprimento da função social é
condição “sine qua non” para o
reconhecimento do direito de
179
propriedade”. Silva (1982, p. 134),
declara que referido princípio
constitucional “tem plena eficácia,
porque interfere na estrutura e no
conceito da propriedade, valendo
como regra que fundamenta um
novo regime jurídico desta,
transformando-a numa instituição de
Direito Público”.
Há inúmeras espécies de
propriedades previstas em todo o
arcabouço normativo nacional, a
Magna Carta ao consagrar a
propriedade privada e a função
social como princípios norteadores
da ordem econômica, destaca a
propriedade rural, que atenderá sua
função social desde que cumpra
simultaneamente todos os requisitos
previstos no artigo 186, da
Constituição Federal, que podem ser
classificados como: social,
econômico e ambiental.
É notória a posição relevante
que a propriedade rural ocupa na
ordem econômica, principalmente no
que tange à sua natureza de bem de
produção, desenvolvendo em suas
terras agricultura e pecuária, com o
fim de assegurar a todos existência
digna, conforme ditames da justiça
social.
A Constituição Federal
classificou a propriedade rural em
pequena, média propriedade e
propriedade produtiva. Já o Código
Florestal, limitou-se a classificá-la
em pequena propriedade rural ou
posse rural familiar, conforme seu
artigo 1º, §2º. O Estatuto da Terra,
nos incisos de ser artigo 4º, trouxe a
propriedade familiar, minifúndio e o
latifúndio, sempre vinculada ao
princípio da função social.
Nesse sentido Fernando
Pereira Sodero:
O regime jurídico da terra
fundamenta-se na doutrina da
função social da propriedade, pela
qual toda a riqueza produtiva tem
uma finalidade social e econômica, e
quem a detém deve fazê-la frutificar,
em benefício próprio e da
comunidade em que vive. (1982, p.
25).
Princípio da função
socioambiental da propriedade
Dentre os requisitos da função
social, destaca-se o ambiental, que
se transformou em função
socioambiental, vez que o Meio
Ambiente, direito fundamental,
reconhecido pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente
Humano de 1972 e pela Carta da
Terra de 1997, previsto no artigo
180
225[1] da Carta Política, consagra-se
como bem difuso com o artigo 1º do
Código Florestal.
Dada à importância do
reconhecimento desse direito,
considera-se como extensão do
direito à vida, (MILARÉ, 2001, p.
111). Sendo certo que compete ao
Poder Público garantir esse direito, e
para tanto estabeleceu espaços
ambientalmente protegidos, dentre
os quais merecem destaque as
Áreas de Preservação Permanente e
as Reservas Florestais Legais.
As Áreas de Preservação
Permanente[2] são aquelas florestas
e demais formas de vegetação
situadas ao longo dos rios ou outros
cursos d´agua, ao redor das lagoas,
lagos ou reservatórios d´água, sejam
naturais ou artificiais, nas nascentes
e nos chamados olhos d´água, no
topo de morros, montes, montanhas
e serras, nas encostas ou parte
desta com declividade superior a
45º, nas restingas, nas bordas dos
tabuleiros ou chapadas e nas
altitudes superiores a 1.800 metros.
São consideradas partes
intocáveis da propriedade, podendo
ser autorizada supressão de sua
vegetação apenas em caso de
utilidade pública ou de interesse
social, de acordo com a Resolução
CONAMA nº369/06.
Verificam-se tanto em
propriedades públicas, quanto nas
privadas, sejam urbanas ou rurais,
justificam-se pelo intuito de
preservação. Podem ser
classificadas como “ope legis”, nos
termos do artigo 2º do Código
Florestal, quando não prescindem de
regulamentação e Administrativas,
nos termos do artigo 3º, quando
vinculadas à expedição de ato
administrativo da autoridade
ambiental competente, constituindo-
se verdadeiras limitações
administrativas[3].
As Reservas Florestais
Legais[4], artigos 16 e 44 do Código
Florestal, são porções do imóvel
rural particular correspondente a, no
mínimo, 20% de cada propriedade,
onde está vedado o corte raso por
ser quantitativa e locacionalmente
variável e exige averbação à
margem da inscrição da matrícula no
Registro de Imóveis. Trata-se de
modalidade de conservação, posto
que admissível o uso direto, desde
que com manejo florestal sustentável
(artigo 16 § 2º, Código Florestal).
Elas devem existir em toda e
qualquer propriedade rural, ainda
naquelas que inexistam vegetação
181
nativa, cabendo ao proprietário a
recuperação dessas áreas, além de
demarcá-las e averbá-las, cessando
a exploração delas e possibilitando
sua regeneração natural ou artificial,
se necessário.
Nos casos da pequena
propriedade ou posse rural[5], a
averbação da reserva legal será
gratuita, como bem dispõe o
parágrafo 9º do artigo 16 do Código
Florestal.
Tudo isso porque se trata de
obrigações “propter rem”, ou seja, os
proprietários ao tempo da exigência
é que responderão pelo seu
cumprimento, devendo averbar a
área ou recuperá-la, conforme o
caso. Não tem como ser de outro
modo, vista a impossibilidade prática
de exigir-se de quem deu origem ao
dano, e pelo fato do proprietário atual
só perpetuar a lesão considera-se
agressor, não sendo possível arguir
direito adquirido para se eximir
desses deveres.
Verifica-se, ainda, que a
responsabilidade pelos danos
ambientais é objetiva e solidária.
Nesse sentido, a lei de Política
Nacional do Meio ambiente adotou a
teoria do risco integral, o que importa
dizer que independe de culpa do
agente, basta existir o dano para
responder por ele.
Tanto as Áreas de
Preservação Permanente “ope
legis”, quanto as Reservas Florestais
Legais, são limitações internas da
propriedade, ou seja, seus
elementos constitutivos nasceram
com ela, com o propósito de definir
seus contornos e sua proteção no
ordenamento jurídico, tornaram-se a
manifestação da função ambiental
nos imóveis rurais, derivando
inclusive as limitações externas a
esse direito, conforme esclarece Luis
Henrique Paccagnella (p. 15):
A preservação da qualidade
ambiental na propriedade rural,
conforme a Constituição é
pressuposto da existência do direito
de propriedade, conferido pelo
Constituinte. Logo, após a definição
de espaços territoriais protegidos,
impostos em caráter geral a todos os
proprietários, não constitui restrição
ou intervenção no direito de
propriedade, mas sim condição de
reconhecimento jurídico deste
último.
Não observar essas
limitações e desenvolver atividades
agrícolas clandestinas nessas áreas,
utilizando-as e explorando-as
ilegalmente, será considerado uso
182
nocivo da propriedade, vez que
importa em degradação do meio
ambiente, bem difuso, pertencente à
coletividade.
Visando evitar tais condutas,
é imprescindível a compreensão de
que a médio e longo prazo, a não
restauração das áreas de
preservação permanente e de
reserva legal afetará a qualidade e a
produtividade das terras, causando
prejuízo.
Segundo Armelin[6] a reserva
florestal “visa criar um corredor de
flora e fauna e garantir o equilíbrio
ecológico de uma determinada
área", salientando ainda “[..] mesmo
em pequenas áreas seria o
suficiente para que um ecossistema
se desenvolvesse bem." E arremata
"Temos uma tradição agrícola forte,
mas não temos a mesma força com
o manejo florestal.”.
São grandes os esforços no
sentido de resolver o problema,
buscando compatibilizar a
exploração econômica da terra com
a preservação do meio ambiente. Há
tempos discute-se o tema, sendo
certo que muitos proprietários
dirigiram-se ao Judiciário, pleiteando
indenização, por acreditar
suportarem um esvaziamento do
conteúdo do direito de propriedade.
O meio ambiente pertence à
coletividade, entretanto, alguns
proprietários acabam
comprometendo sua própria
situação financeira, ao suportar a
existência das Reservas Florestais e
Áreas de Preservação Permanente
em suas áreas, principalmente
quando tomam quase por completo
a propriedade, dificultando ou
impossibilitando o desenvolvimento
de atividades de produção na área.
Isso sem contar os casos em
que o Parquet impõe altas multas e
exige o cumprimento efetivo da
legislação ambiental, mesmo que
sobre elas estejam localizadas
culturas formadas.
Conflito de interesses: economia x
meio ambiente
Segundo dados do IBGE[7], o
PIB agropecuário foi de R$120.847
milhões no ano de 2007, valor este
que evidencia a importância do setor
primário para a econômica de um
país tradicionalmente agrícola como
o Brasil.
Em setembro de 2008 foi
apresentado pela Embrapa[8] um
levantamento sobre o alcance
territorial da legislação ambiental,
que apresentou, em termos legais,
183
porções territoriais equivalentes a
7% do bioma Amazônia e 33% do
país passíveis de ocupação
econômica urbana, industrial e
agrícola, tendo em vista o grande
número de áreas destinadas à
proteção ambiental e ao uso
exclusivo por indígenas, o que
deixariam na ilegalidade grande
parte das atividades econômicas
nacionais. Significa dizer que apenas
o equivalente a cerca de 2.841.000
km2 ou 33% do território nacional,
estaria disponível para atividades
intensivas, comprovando ser a
legislação ambiental alheia à
realidade.
Com o fim de amenizar o
impacto dessa legislação, o artigo
16, §3º, que teve sua redação
alterada pela Medida Provisória nº
2.166-67 de 2001, passou a permitir
aos proprietários ou responsáveis
pela exploração imóveis rurais, que
possuíam área coberta inferior à
exigida em lei, em termos de reserva
legal, o “cômputo dos plantios de
árvores frutíferas ornamentais ou
industriais, compostos por espécies
exóticas, cultivadas em sistema
intercalar ou em consórcio com
espécies nativas, para cumprimento
da manutenção ou compensação da
área de reserva legal” em pequena
propriedade ou posse rural familiar,
reafirmando o intuito da Lei Estadual
nº 12.927/08.
Diante do contexto, percebe-
se que para alcançar o bem comum,
quis a legislação condicionar a
propriedade privada, berço do
sistema econômico vigente, como
bem relembra Arimatéa (2003).
A legislação ambiental prevê
instrumentos poderosíssimos à
preservação e conservação do meio
ambiente, como o são a Área de
Preservação Permanente e a
Reserva Florestal Legal, verdadeiros
recantos de biodiversidade.
No país de tantas
desigualdades socioeconômicas,
injustiças, é visível o programatismo
de certas normas constitucionais,
denotando a não efetividade da
aplicação do princípio da função
social.
O Direito na qualidade de
ciência humana e social, deve
adequar-se à realidade social. É
notória a importância que o meio
ambiente tem no cenário global,
contudo, o Estado não pode figurar
como carrasco e, colocar a cargo
exclusivo do particular, obrigações,
que também lhe competem.
Ao particular, por sua vez, é
garantido e cabe exercer o direito de
184
propriedade atentando-se para seu
desenvolvimento pessoal e ao bem
comum, que não pode ser
confundido como interesse exclusivo
da sociedade.
Diante disso, torna-se
imprescindível que normas
ambientais, até então numerosas,
esparsas e fragmentárias, estejam
em consonância com a realidade
brasileira e normas constitucionais,
para que o Estado alcance o objetivo
a que se propôs.
Considerações finais
Conciliar interesses
econômicos e ambientais,
cumprindo a propriedade sua função
social, só seria possível aplicando-se
o princípio do desenvolvimento
sustentável, constante na
Declaração do Rio e na Agenda 21,
como meta a ser respeitada. Isto,
porque o desenvolvimento
sustentável melhoraria a qualidade
de vida humana dentro dos limites da
capacidade de suportabilidade dos
ecossistemas (MILARÉ, 2001, p.
121).
Ao Poder Público cabe
empenhar-se para a consecução de
tal fim, seja através de incentivos
fiscais, ou programas
governamentais adequados à
realidade de cada região.
Observado o princípio da
participação comunitária, deveria
este informar os proprietários e
possuidores rurais sobre novas
formas de desenvolvimento de suas
atividades econômicas, prestigiando
sempre a sustentabilidade.
Como já mencionado, os
ecossistemas florestais representam
a base de sustentação de várias
formas de vida, inclusive, humana. O
sentimento de preservação
voluntária do meio ambiente é algo
que tem que ser promovido na
sociedade, incentivando os
proprietários e possuidores de terras
rurais, da mesma forma que no
passado foram incentivados à
devastação.
185
Referências
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MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente - Doutrina - Jurisprudência – Glossário. 2. ed. São Paulo: RT, 2001.p.190-26.
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SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982. p.134.
______. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. 270-283p785-819
SODERO, Fernando Pereira. Curso de direito agrário – o estatuto da terra. Brasília: Fund. P. Portella, 1982. p. 25.
[1] “O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
[2] “Áreas cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas” - Artigo 1º, § 2º, II, Lei 4771/65, alterado pela Medida Provisória nº 2.166-67 de 2001.
[3] “medidas de caráter geral, impostas com fundamento no Poder de Polícia do Estado, gerando para os proprietários obrigações positivas ou negativas,
186
com o fim de condicionar o exercício do direito de propriedade ao bem estar social”. - Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13ed. São Paulo: Atlas, 2001. p.126.
[4] “Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo de fauna e flora nativas.” Artigo 1º, § 2º, III, Lei 4771/65, alterado pela Medida Provisória nº 2.166-67 de 2001.
[5] Área explorada mediante o trabalho pessoal do proprietário ou posseiro e de sua família, admitida a ajuda eventual de terceiro e cuja renda bruta seja proveniente, no mínimo, em oitenta por cento, de atividade agro florestal ou do extrativismo, cuja área seja de no mínimo 30 hectares e no máximo 150 hectares de acordo com a região - Art. 1°, § 2º, I, Lei 4771/65, alterado pela Medida Provisória nº 2.166-67de 2001.
[6] Engenheiro florestal e coordenador de políticas públicas da organização não-governamental WWF-Brasil. Paraná-online: http://www.parana-online.com.br/editoria/economia/news/354788/ - acessado em 14.03.09.
[7] IBGE-http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1106&id_pagina=1 – acessado em 15.03.09
[8]
EMBRAPAhttp://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2008/setembro/1asemana/
embrapadivulgalevantamento-sobre-o-alcance-territorial-da-legislacao-
ambiental/?searchterm=uso%20terras%20Brasil - acessado em 15.03.09
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UNIFEV
Centro Universitário de Votuporanga
ANO I, Vol. I – 2009 ISSN 2176-6460
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LINHA
URÍDICA REVISTA DO CURSO DE DIREITO DA UNIFEV
ANO I, Vol. I – 2009 ISSN 2176-6460