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LIRA dos QUINZE ANOS Hugo Scabello 2003 Edição novembro 2013

LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

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LIRA dos

QUINZE

ANOS

Hugo Scabello 2003 Edição novembro 2013

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ÍndicePoemas ..................................................................................... 5 A queda......................................................................................5

O rio...........................................................................................7

O abandono...............................................................................9

O anjo-caído............................................................................11

A perspectiva...........................................................................13

O sonho...................................................................................14

O vento....................................................................................15

A tristeza..................................................................................17

A roda......................................................................................18

A lagrima..................................................................................20

A espera..................................................................................21

O amor do morto.....................................................................23

A chuva....................................................................................24

As 13 estrofes do amor verdadeiro.........................................25

A pena e o desprezo...............................................................29

As saudades ...........................................................................30

A solidão..................................................................................31

A companhia da solidão..........................................................33

O misterioso erro do amar ......................................................35

A confusão...............................................................................38

A morte pelas lágrimas............................................................40

Lira dos 15 anos – – 2 / 130

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A lembrança ............................................................................42

As 13 estrofes de Reflexão.....................................................44

Te Amo.....................................................................................47

A vida e a alegria.....................................................................48

O pesadelo..............................................................................50

O caos da verdade..................................................................51

O culpado................................................................................54

6 meses...................................................................................56

Pseudo-soneto cinza...............................................................57

O sono real..............................................................................58

ODIO!.......................................................................................62

O anticristo..............................................................................65

Poemas póstumos ................................................................. 66 O Espelho................................................................................66

O Tempo..................................................................................67

O Eu.........................................................................................68

O Nada....................................................................................69

Triste........................................................................................70

Coração partido.......................................................................72

Esquecer.................................................................................73

Poema sem título.....................................................................75

DecaDência.............................................................................76

Lira dos 15 anos – – 3 / 130

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Contos .................................................................................... 77 O ultimo momento...................................................................77

O conto draconianista.............................................................79

A infinita melancolia.................................................................83

Um padre.................................................................................87

Bem-sucedido........................................................................100

Contos póstumos ................................................................ 102 É Tendo Inimigos Como Amigos...........................................102

O monólogo do Eu comigo....................................................106

O 42° Andar...........................................................................110

Amor......................................................................................119

Êeein, nhén, ain.....................................................................126

Poema de abertura (desfecho?)...........................................128

D edicatória ........................................................................... 130

Lira dos 15 anos – – 4 / 130

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PoemasA queda

“Something is calling,

I can't keep from falling.”

Korn – It’s On

Subia, Subia

em direção a luz,

para isso escalava

picos e montanhas

mas nela não chegava,

mesmo sentindo

ela mais perto.

Até cair

mas pior que a agonia

de ir e não vir

era ter a sabedoria

que no fundo tinha chegado

e que o Supremo

lá é tão pequeno.

Lira dos 15 anos – A queda – 5 / 130

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Olhando para cima via

o que havia passado

mas sabia que não poderia

nunca mais ser alcançado.

Mas a luz

não mais vi

não mais senti

não mais liguei.

Lira dos 15 anos – A queda – 6 / 130

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O rio

“There is no god up in the sky tonight

No sign of heaven anywhere in sight”

Nine Inch Nails – Suck

Ó! Grande rio o qual confronto!

Tua negra água, pútrida,

gera em mim extremo espanto,

nela é mantida oculta

a estrutura do eterno Fluir

conservada no inconstante "estar"

É minha missão atravessa-lo;

mas mesmo com a ponte ajudando

meu ímpeto mantêm-se quase nulo;

Ponte frágil e perigosa, um pranto,

só a aumentar o medo

do cair no extremo.

Lira dos 15 anos – O rio – 7 / 130

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Profundo, na primeira visão

mas raso quando bem analisado;

não resistirei ao menor puxão,

também não ficarei desesperado,

pois sei de minha fraqueza,

pois sei que perderei, Ó! tristeza!

Pouco me importo com o método

todos me levarão ao fim

só o tempo pode ser alterado

pois o fim

é o único

desconhecido

de mim.

Lira dos 15 anos – – 8 / 130

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O abandono

“I wish you could be me.

And then as you would see.

How tired I am.”

Korn – Wish You Could Be Me

Asas imponentes, possuo

fazem-me transpor o mar

não corte-as, peço!

não mais posso voar.

Espada afiada, possuo

faze-me quebrar o estar

não roube-a, peço!

não mais posso machucar.

Escudo sagrado, possuo

faze-me manter o lugar

não roube-o, peço!

não mais posso precaver.

Lira dos 15 anos – O abandono – 9 / 130

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Língua ligeira, tenho

faze palavras em ar

não corte-a, suplico!

não mais posso influenciar.

Orelhas apuradas, tenho

fazem-me algo estelar

não corte-as, suplico!

não mais posso mudar.

Olhos aguçados, tenho

fazem-me tudo analisar

não fure-os, suplico!

não posso mais criticar.

Gritos agudos sufoco

fazem-me sempre chorar

não proíba-los, imploro!!

não mais posso respirar.

Lamentos trágicos

fazem-me quieto

não proíba-os!!

...

Lira dos 15 anos – O abandono – 10 / 130

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O anjo-caído“Please wake me.

Please give me some of me back.

The feelings I had”

Korn – Let’s Get This Party Started

Fui um anjo,

sou um caído.

Hoje, despojo,

ontem, convicto.

Fui luz,

sou nada,

orei à cruz

nego a fada.

Antes sagrado

motivo de orgulho,

agora maculado

causador de repudio.

Lira dos 15 anos – O anjo-caído – 11 / 130

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Asas imponentes,

abaixo, rastejando,

harpas estridentes,

estou terminando.

Via o distante

isso já me cansa,

vivo o instante

sem mais esperança.

Lira dos 15 anos – O anjo-caído – 12 / 130

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A perspectiva“I'm crying, I'm frying.

In a pile of shit.

I'm dying. I'm dying. I'm dying”

Korn – Somebody Someone

Vida

novo,

choro...

Tinta

estranho,

ainda

choro...

Finda

termino,

agora

morro...

Lira dos 15 anos – A perspectiva – 13 / 130

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O sonho“À sombra de uma cruz! e escrevam nela:

Foi poeta, sonhou e amou na vida. –“

Álvares de Azevedo – Lembrança de morrer

Penso em você

sem nunca te ver

sofro muito

sofro mais

será um sorriso?

ou um riso?

não sei...

será que saberei?

não sei...

acho que desistirei!

não devo...

não posso...

Ó! Sofro!

Depressivo!

Destruído!

sonho...

e então repito:

Sou poeta - sonho - e amo na vida!

Lira dos 15 anos – O sonho – 14 / 130

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O vento“She'll be right here in my arms

So in Love

She'll be right here in these arms

She can't let go”

HIM - Right Here In My Arms

Vento, Vento! Ó, grande vento!

me levas para minha amada,

pois eu não mais agüento

viver longe das fadas!

O sol aqui é forte,

mas sinto frio!

Seria o frio da morte?

triste futuro arredio!

Quero calor!

Quero companhia!

Quero amor!

Triste vida arredia!

Lira dos 15 anos – O vento – 15 / 130

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Ela me espera!

Já o destino não...

mas sem ela

viverei em vão!

Lira dos 15 anos – O vento – 16 / 130

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A tristeza“Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!”

Alvares de Azevedo – Se eu morresse amanhã

Estou acabado!!!

massacrado...

vai chover!!!

irei morrer...

tristezas da vida!!!

lagrimas perdidas...

Sou fraco!!!

não resisto...

à magoas!!!

vivo fabulas...

Lira dos 15 anos – A tristeza – 17 / 130

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A roda“Deitou-se na areia que a vaga molhou.

Imóvel e branca na praia dormia;

Mas nem os seus olhos o sono fechou

E nem o seu colo de neve tremia...”

Álvares de Azevedo - sonhando

Hoje, tive um sonho...

que tanto me mudou,

mas me deixou o mesmo

deprimido estranho.

Lira dos 15 anos – A roda – 18 / 130

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Em roda,

ditávamos a moda,

felizes a cantar

musicar feitas de gritar

tristes e melódicas!

Assim como os estóicos

sempre vendo o real,

mas esperar era imoral!

Cheguei mais perto

então, chorei!

Pois não foi certo,

ela eu matei!

Nem ouro nem estanho!

Será que não mereço?

Ao menos um desejo!

Enfim, tive um sonho...

Lira dos 15 anos – A roda – 19 / 130

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A lagrima“Quando junto de ti eu sinto, às vezes,

Em doce enleio desvairar-me o siso,

Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...

Mas da lágrima em troco eu temo um riso!”

Álvares de Azevedo – Lagrimas da vida

Triste e fria!

Sentimentos revela,

tanto a histeria,

como a espera!

Fruto do lamento

dos depressivos!

Mostra arrependimento,

e cria inativos!

Por alguns, censuradas!

Para outros, um hábito!

Representa a fraqueza

e toda a tristeza!

Lira dos 15 anos – A lagrima – 20 / 130

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A espera“I'd never dreamed that I'd need somebody like you

And I'd never dreamed that I'd need somebody like you”

HIM – Wicked Game

Esperei, esperei e ainda espero!

Então o que você vê?

Sou um nebuloso mistério,

assim como você!

Sonhei, sonhei e ainda sonho!

Sonhes, também, com nossa vida;

Pois mesmo sendo estranho,

sei que um sonho compartilhado se realiza!

Chorei, chorei e ainda choro!

Antes por não te conhecer,

e agora pelo desespero,

de não poder te ter!

Lira dos 15 anos – A espera – 21 / 130

Page 22: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Sofri, sofri e ainda sofro!

Pois, te amo e sempre amarei!

E durante um banho morno

com você, morrerei!

Tudo o que eu quero!

Tudo que eu espero!

Com você viver!

Com você morrer!

Lira dos 15 anos – A espera – 22 / 130

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O amor do morto“I know it’s the last day on earth

We’ll be together while the planet dies

I know it’s the last day on earth

We’ll never say goodbye”

Marilyn manson – The Last Day on Earth

Porque não morro?

Assim não mais sofro

já são 4 horas

e eu não quero ir embora

onde ela está?

Eu quero ela amar!

No meu coração, no meu coração...

meu corpo morto no chão, no chão...

Lira dos 15 anos – O amor do morto – 23 / 130

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A chuva“(I'm in love with you)

You are my heaven tonight”

HIM – Heaven Tonight

O céu pranteia, chove!

Então eu lembro de tudo

que eu nunca esqueci!

E com lagrimas, a chuva, contribuo!

Assim como o céu chora

de amor pela terra,

a causa de meu pranto mora,

no coração dela...

E quando aí chover

lembre-se que estou com você,

pois minhas lagrimas

acompanham as chuvas eternas!

Assim quebram a distância

e me mostram uma esperança!

Lira dos 15 anos – A chuva – 24 / 130

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As 13 estrofes do amor verdadeiro“We are so young

our lives have just begun

but already we're considering

escape from this world

and we've waited for so long

for this moment to come

was so anxious to be together

together in death

Won't you die tonight for love

Baby join me in death”

HIM – Join me in Death

Com uma simples conversa,

algumas horas,

você já se torna,

tudo aquilo que me interessa.

Não é um livro, nem um filme,

pois nem mesmo na fantasia

há sequer uma história

que com nosso amor se assemelhe.

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 25 / 130

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Nosso ceticismo

criou uma desconfiança

pois não tínhamos esperança

de viver tanto romantismo!

Um niilista, eu era

e você me deu um sentido,

pois eu já tinha desistido

da minha vida perdida.

Mas mesmo assim,

lagrimas caíram,

problemas surgiram,

mas nosso amor não terá fim!

Pensamos na morte,

essa foi marcada,

para que assim seja eternizada

nosso amor tão forte!

Dominou meus pensamentos

e toda minha vida!

Em mais nada,

agora, eu me concentro!

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 26 / 130

Page 27: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Você roubou a madrugada,

a noite e também o dia!

Sinto uma grande agonia,

só em cogitar que você não viria!

Quando ouço sua voz linda,

uma paz me consome

e me impede que chore

então minha esperança nunca é finda!

Eu te amo!

Amo muito!

Amo mais que tudo!

Só por você que eu imploro!

Prefiro um instante,

ao seu lado,

do que ter passado

cem anos distante.

Nada mais é importante!

Nem o mundo,

nem o futuro!

Somente nosso romance!

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 27 / 130

Page 28: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Enquanto viver,

te amarei, sempre!

E assim serei contente!

Até a hora de morrer.

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 28 / 130

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A pena e o desprezo“head like a hole.

black as your soul.

i'd rather die than give you control.”

Nine Inch Nails – Head like a hole

Por todos fui enganado,

sou a pedra no caminho,

pensei que fosse amado,

mas sei, estou sozinho.

Normal, sou eu o problema

o garoto tolo e doente.

Por mim só sentem pena

nem isso mereço! Deprimente.

Pelos pais eu sou desprezado

todos lançam olhares curiosos

pois, deus, por mim, foi assassinado

mas eu não saí vitorioso.

Para morte, não tenho coragem.

Contra o destino, sou indefeso.

viver é uma desvantagem.

para mim? Somente pena e desprezo...

Lira dos 15 anos – A pena e o desprezo – 29 / 130

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As saudades “I'm for you - and I'm dying for your love

I'm for you - and my heaven is wherever you are”

HIM – For you

De você, saudades eu sinto

sem você, algo está faltando

sou e estou confuso, admito

mas eu sei, estou amando!

Você está longe, distante

mas do meu toque somente

pois, pensar em você, é constante

sempre habita minha mente!

Quero estar com você de novo

e de novo, enfim toda hora

de sua companhia, não enjôo

não queria partir, ir embora

Lira dos 15 anos – As saudades – 30 / 130

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A solidão“Sometimes I cannot take this place.

Sometimes it's my life I can't taste.

Sometimes I cannot feel my face.

You'll never see me fall from Grace”

Korn – Freak on a leash

Só, isolado, sozinho

e cercado por muitos estou

mas ainda assim só, estranho

exatamente o que sou!

Um estranho, sim

um completo desconhecido

até mesmo para mim!

Serei eu esquecido?

Talvez, mas não deveria ligar

mas ligo, tenho medo

pois de você vou sempre lembrar

e esse é meu credo.

Lira dos 15 anos – A solidão – 31 / 130

Page 32: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Meu credo: sou amado

como bom seria!

E é, pois ao seu lado

tenho companhia!

Lira dos 15 anos – A solidão – 32 / 130

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A companhia da solidão“I was waiting for you

Waiting for all my life

I've been crying for you

Die for you all this time”

HIM – Loose you tonight

Sentado no canto, quieto,

concentrado, olhando pro teto,

sem ter o que fazer

pois estou sem você.

Poderia até sair

mas com o sol não quero ir

e para onde iria?

Sem sua companhia.

Mas talvez sob a escuridão

teria a companhia da solidão.

Menos mal, mas ainda ruim

pois não tenho você pra mim.

Lira dos 15 anos – A companhia da solidão – 33 / 130

Page 34: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Sei, a senhorita não tens culpa,

eu que tenho, e peço desculpa.

Mas sozinho vou estar

enquanto sem você ficar.

Lira dos 15 anos – A companhia da solidão – 34 / 130

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O misterioso erro do amar “Nem visão, nem real: amor! amor somente!...

Pois quem sabe o que diz esta palavra - amor - ?”

Antero de Quental – Beatrice

Quero ser amado

por você, eu quero!

Ser bem tratado,

por você, eu espero!

Pareço desesperado?

NÃO... Talvez...

Mas é sua vez:

-Tenho eu importado?

Lira dos 15 anos – O misterioso erro do amar – 35 / 130

Page 36: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

É o que quero saber

de você, o que faço?

Amado quero eu ser

por você, posso?

Não consigo ver!

NÃO... Leigo...

Sou eu cego?

-O que eu posso fazer?

Não sei, só sei que

por você, me importo!

Confuso, mas amo você

só você, outros odeio!

Se não fosse assim, se...

NÃO... nem tento!

Novamente lamento!

-As lágrimas, estou a mercê!

Onde errei?

Ser pra você, eu queria,

o que você é pra mim.

Lira dos 15 anos – O misterioso erro do amar – 36 / 130

Page 37: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Eu dificultei?

ODIO! Como tanto me iludira?

Não sou e nunca serei, e fim.

Lira dos 15 anos – O misterioso erro do amar – 37 / 130

Page 38: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

A confusão“E interroguei, cismando, esse lamento

Que saía das coisas, vagamente...”

Antero de Quental – Oceano Nox

Minha vida, perdida,

era minha?

Minha alma, destruída,

eu tinha?

Meu deus, ilusório,

olhava por mim?

Meu sorriso, imaginário,

tudo teve fim.

Me perguntaram se valera a pena,

então eu respondi apenas,

que tudo é negro e triste

quando a alma já não existe.

Lira dos 15 anos – A confusão – 38 / 130

Page 39: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Como pode alguém

que menos de vinte anos

de estadia aqui tem,

viver de modo tão insano?

Questionando o mal e o bem

como um simples fundo de pano.

Ai ai ai, confuso confuso confuso, estou!

Será que é assim mesmo que eu sou?

Ou será que não?

confusão, confusão!

Lira dos 15 anos – A confusão – 39 / 130

Page 40: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

A morte pelas lágrimas“Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!

Não levo da existência uma saudade!

E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!”

Alvarez de Azevedo – Adeus, meus sonhos!

Pranteio, choro, me desespero!

Porque? Por tudo! EU EXISTO!

Uma salvação? NÃO mais espero!

Acho que em breve, de tudo, DESISTO!

O que importa? Sou um MORTAL, um mero!

FRACO! Nem ao menos a dor resisto!

Não a física e sim a vinda do ETÉRO!

É assim que vivo, ou morro, ODEIO isto!

Lira dos 15 anos – A morte pelas lágrimas – 40 / 130

Page 41: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Lagrimas e mais lagrimas eu derramo!

Acho eu, que de tanto chorar

nas minhas lagrimas vou me afogar!

Assim me afasto de tudo que não amo.

Assim me afasto de tudo

pois tudo desprezo!

Sei que aí me descuido!

Ainda a amo, e foda-se o resto!

Outro dia agradeci por sua existência:

- AMO VOCÊ! Obrigado por existir!

Hoje, devo me desculpar por minha insistência?

Mas você eu não quero admitir

que perdi...

AI! Me iludi!

Acho que nunca fui amado!

NUNCA! Sempre desprezado!

SOMENTE NOVAMENTE ODIADO!

TALVEZ EM BREVE, AFOGADO!

Em lagrimas...

Lira dos 15 anos – A morte pelas lágrimas – 41 / 130

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A lembrança “Oh the taste from your lips, my Darling

Taste from your lips, oh my Love”

HIM – Razorblade Kiss

Com os olhos fechados

de ti lembro, nostalgia!

Se pudesse, ao teu lado

sempre estaria.

Como foi bom, ter

seu lábio junto ao meu!

Como foi bom, ver

meu olhar cruzar o seu!

Vejo, seu meigo olhar,

lembro, você em meu braço

disse me amar.

O que eu faço?

Lira dos 15 anos – A lembrança – 42 / 130

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Um sonho? Não!

Real, como meu amor!

Mas será que foi em vão?

Enfim, seja o que for!

Pois te amo ainda!

E a lembrança, não será finda!

Lira dos 15 anos – A lembrança – 43 / 130

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As 13 estrofes de Reflexão“u know where

eye'm fragile”

Otep – Emtee

O que houve? O que acontece?

Por que tudo é assim, irreal?

Um sorriso? Somente um disfarce!

Somente a lágrima é real!

Essa que tenho em meus olhos,

que domina minha vida.

Essa, fruto dos meus choros,

Que cai por você, querida!

Assim, como tudo pra mim

desaba, pois sou fraco,

o mais fraco, sou sim!

De tanta dor não escapo!

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 44 / 130

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Minha dor, é interior

mas pior do que qualquer tortura,

ver o vazio, sem ter o que por.

Ser nada, minha pior amargura!

Tento fugir, de inútil insistira!

Minha maior contradição,

quero deus e não quero mentira!

Vivo por viver, vivo em vão!

As vezes disso esqueço.

Felicidade? Durmo e não acordo...

Parece que não mereço,

pois de novo, de tudo recordo!

E meu frágil mundo desaba.

Não tem nenhuma base material!

Toda alegria acaba!

A tristeza é a única real!

Assim continuo a viver!

Construindo, destruindo...

Assim continuo a sofrer!

Pranteando, chorando...

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 45 / 130

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Feliz, posso eu ser?

Parecia estar tão perto!

Estava, tudo como poderia querer!

Será que eu estava certo?

Não! Não!! Uma dificuldade!

Sem razão aparente,

para destruir a felicidade,

que estava em minha frente!

Será que isso era de se esperar?

Somos mesmo condenados?

A enquanto vivermos, chorar?

Parece que tudo é determinado!

Será que isso irá

com nosso amor acabar?

Por favor, não! Virá

tempos melhores nos acalmar!

Você ainda é o único sentido!

Eu quero o começo, você o fim!

Apesar de nada ter mudado!

Me amas? Pois ainda es meu amor pra mim!

Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 46 / 130

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Te Amo“No one will love you

No one will love you the way I do

No one will love you

Love you like I do”

HIM – Love you like I do

Por que você não entende?

O que eu te falo,

é tudo que meu ego sente,

acho que agora me calo

e deixo que a linha

desse meu poema, mostre

que todo amor que tinha

e tenho, existe!

Carol, Te amo!

Te amo!

Te amo!

Te amo...

Lira dos 15 anos – Te Amo – 47 / 130

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A vida e a alegria

Posso eu ser o que quero?

Sim, acho que sim...

Mas posso eu querer ser?

Não! Não no fim...

Preciso de um sentido!

SENTIDO! Isso existe?

Não! Somente uma ilusão!

Permaneço, então, triste!

As vezes esqueço, me engano,

mas logo novamente lembro,

nada sou, nada serei, nada!

Nada! Nada... em vão tento.

Mas tudo é nada e nada é tudo!

Então como viver? Diga-me isso!

Vivendo... em vão sem sentido.

Vivendo sem vida, sem sorriso

Oh! Vivo morrendo! Não vivo!

Lira dos 15 anos – A vida e a alegria – 48 / 130

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Conseguir é fácil,

Difícil é querer

Um objetivo, ter,

Ver a vida dócil,

como ela não é,

paradoxo!

verdade e fé

Vida e alegria.

Lira dos 15 anos – A vida e a alegria – 49 / 130

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O pesadelo

Sonhei,

ou, estou sonhando,

não sei!

Pesadelo deprimente,

era minha vida,

em minha mente!

O que faço?

Sonhos, são mais concretos

que meu laço.

Apavorado!

Como sempre, ódio!

Acabo abandonado!

Tudo errado!

em meu sonho,

somente mato!

Tudo errado!

em minha vida,

somente mato!

O sonho, acaba,

acordo, abro os olhos

e acaba.

A vida continua.

Queria não mais acordar,

Assim, acabaria minha amargura!

Lira dos 15 anos – O pesadelo – 50 / 130

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O caos da verdade

ODIO!

odiodemim

opiordosidiotas

soueusim

omaiordetodoshipocritas

souaquiloquecritico

queodeioquedenuncio

emmimnadahademistico

domundoeumedistancio

MENTIRA!

continuocoexisto

comaquiloquenaoaturo

oufinjonaoaturardesisto

daverdadetudoeudeturpo

ohasilusoessaotantas

algumaseuaceito

outrasnomeiocomoantas

tudoqueeuinvento

Lira dos 15 anos – O caos da verdade – 51 / 130

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VERGONHA!

escondooquesou

oumelhoroquetentoser

poisnadasou

eopiornadaqueroser

entaonadaserei

nadaterei

etambemnaomorrerei

nahorameacorvadarei

ODIO!

DEMIMDEMIMDEMIM!

VERGONHA

DEMIMDEMIMDEMIM!

DEMIMDEMIMDEMIM!

DEMIMDEMIMDEMIM!

DEMIMDEMIMDEMIM!

MENTIRA!

Lira dos 15 anos – O caos da verdade – 52 / 130

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tudomentiraounaojanaomaisseidiferenciar

oqueentaodemimsera

ODIO!

Lira dos 15 anos – O caos da verdade – 53 / 130

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O culpado

EU SOU O CULPADO!

CONDENEI SÓCRATES!

QUEIMEI ROMA!

CRUCIFIQUEI CRISTO!

EU SOU O CULPADO!

PROMOVI AS CRUZADAS!

QUEIMEI BRUXAS!

VENDI MINHA ALMA!

EU SOU O CULPADO!

MATEI OS INDIOS!

ROUBEI QUEM NADA TINHA!

DETURPEI A VERDADE!

EU SOU O CULPADO!

DIZIMEI HIROSHIMA

E TAMBÉM NAGAZAKI!

MATEI OS JUDEUS!

Lira dos 15 anos – O culpado – 54 / 130

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EU SOU O CULPADO!

PROMOVI A INJUSTIÇA!

A FALTA DE LIBERDADE!

E O SOLIPSISMO!

EU SOU O CULPADO!

MAS NUNCA NADA FIZ!

SOU O CULPADO!

POR EXISTIR!

Lira dos 15 anos – O culpado – 55 / 130

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6 meses“I did it all just for her

I did it all just for her love”

HIM – Poison Girl

Com 8 horas conversando

Apaixono-me, você já era tudo!

Realmente, já estava amando!

O que são 8 horas, se com 6 meses forem comparadas?

Lhe digo, praticamente nada!

Te amo, mais a cada dia!

E você é minha única alegria!

Agora, então, me responda,

Me conte, minha amada,

O que são 6 meses, se com uma vida forem comparados?

Lira dos 15 anos – 6 meses – 56 / 130

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Pseudo-soneto cinza“It’s a great big white world

and we are drained of our colors”

Marilyn Manson – Great White Big World”

Oh! Agora, eu finalmente vejo!

Como todo existir está tão, cinza,

uma lágrima cai, e em vão desejo,

um pesadelo, um menos ranzinza!

É somente mais um episodio

permanente, deste complexo drama

formado no infindável ódio

e na beleza sólida da lama.

Tecem criticas e comentários,

tudo que pode ser dito, são ditos,

inutilmente, nada atinge o fm!

Um desprezível mundo de otários!

Com seus insignificantes ritos!

Oh! Imploro-te respira por mim!

Lira dos 15 anos – Pseudo-soneto cinza – 57 / 130

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O sono real

DCXIQuero dormir, mas não tenho sono,

Quero sonhar, mas sem dormir,

Quero, sonhar, mas nada espero,

Quero um pesadelo, ao menos!

Quero viver! Quero viver?

Quero acordar, mas não tenho força,

Quero lutar, mas sem acordar,

Quero lutar, mas sem objetivo,

Quero perder, pelo menos!

Quero morrer! Quero morrer?

IDormir, bom seria

minha vida passaria.

Preocupação? Não teria!

Tudo, nada seria!

Lira dos 15 anos – O sono real – 58 / 130

Page 59: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

IISonhar, sonhar acordado.

Desejar você ao meu lado!

Inventar essa velha flor,

nomeada como amor!

IIISonhar, mas sem esperança!

Oh! Sonhar me cansa!

De almejar um sentido,

deus tornou-se lívido!

IVUm pesadelo, uma mudança

preciso de uma nova dança!

Algo precisa mudar!

Ou meu sangue irá estourar!

VViver, eu vivo?

Tudo é relativo!

O que é viver?

O que é morrer?

Lira dos 15 anos – O sono real – 59 / 130

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VIAcordar, mas sem vontade!

Preciso de alguma liberdade!

Fugir dessa penitencia,

alargar a existência!

VIILutar, mas sou fraco!

Ainda devoto Baco!

Aquele que morreu

assassinado pelo fariseu!

VIIILutar, mas sem inimigo!

Por um motivo antigo!

Para ter um objetivo!

Para continuar vivo!

IXPerder, seria uma prova

de que existe a minha cova!

Mas ai já teria acabado

e de um jeito desonrado!

Lira dos 15 anos – O sono real – 60 / 130

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XMorrer, eu morro?

Tudo eu choro!

O que é morrer?

O que é viver?

Lira dos 15 anos – O sono real – 61 / 130

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ODIO!

ODIO!

TE ODEIO! TE ODEIO!

ODIO!

TENHO NOJO DE VOCÊ!

Destrói minha vida!

Aquela que eu não tenho...

Destrói meus sonhos!

Os quais já morreram...

Destrói a mim!

OH! Como se eu fosse algo...

Mas o nada que sou.

VOCÊ, ODIO! Não se contenta

em destruir!

OH! ODIO! ODIO! ODIO!

Não vou negar,

não, não vou!

Sua morte irá me agradar.

Mas eu nada farei, não não.

Quem sou para algo fazer?

NINGUÉM! NINGUÉM!

Lira dos 15 anos – ODIO! – 62 / 130

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Acho que vou me matar!

Daí então, tudo acaba!

Sim acaba, SIM ACABA!

OH! Tanto ódio, NOJO!

Fui o espermatozóide errado!

OH! Queria eu ter sido abortado!

Melhor morto do que assim,

sofrendo, sofrendo!

Nada sendo!

ODIO! ODIO! ODIO!

DE MIM! DE VOCÊ!

Você é tão nada, ou até mais,

nada do que eu!

VOCÊ NÃO PERCEBE? NÃO!?!

Mas mesmo assim

me faz sofrer!

OH! ODIO!

Cale a boca e suma!

Não quero sua visão,

tenho já a minha!

SUMA! SUMA! SUMA!

De você, não sentirei falta!

FODA-SE! OH! ODIO!

Lira dos 15 anos – ODIO! – 63 / 130

Page 64: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Não sentirei falta de ninguém!

NINGUÉM ME IMPORTA!

Só ela...

Fodam-se todos!

ODIO! ODIO! ODIO!

Nada tenho...

Nada sou...

Nada quero...

Nada espero...

NADA! NADA!

Sou sim egocentrico!

A quem sou em mim?

Mas, suma, eu peço!

SUMA, SUMA, SUMA!

Me faça, então, um bem:

SUMA!

TE OdeIO!

Suma daqui, de minha vida!

Daquela, que eu sei, que não tenho!

Lira dos 15 anos – ODIO! – 64 / 130

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O anticristo“Time has come, it’s quite clear

Our antichrist is almost here

Marilyn Manson – Antichrist Superstar”

O anticristo está chegando!

- Nosso Salvador!

O mundo está acabando!

- Só nos resta a dor!

Lira dos 15 anos – O anticristo – 65 / 130

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Poemas póstumosO Espelho

Posso eu entrar, entrar no espelho?

Lá, eu sei quem sou,

Lá, sei que sou,

Lá, eu posso me ver, me identificar

Posso entrar no espelho?

Posso passar para o outro lado?

O lado aonde eu existo,

o lado que não existe.

Lira dos 15 anos – O Espelho – 66 / 130

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O Tempo

Do passado, me envergonho.

Sujo, monstruoso, falso.

Para o presente?

As lagrimas atrozes em solução homogênea_ com gritos

doentios dos sãos

O futuro? Tenho medo...

Não o enxergo!

Parece tão distante, tão distante,

como se eu nunca fosse atingi-lo.

Eu?

Uma solução heterogênea do que eu fui, com o que sou e

com o que eu nunca serei.

Lira dos 15 anos – O Tempo – 67 / 130

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O Eu

Fingia ser,

Nao admitia o nada,

o nada...

Que possui-me agora,

Como satan possui o fraco.

Exatamente como satan!

Pois satan não possui,

Ele sempre esteve.

O nada não possui,

Ele sempre esteve.

Ele nunca esteve.

Sempre fui nada!

Não! Eu não fui nada!

Eu sou nada...

Lira dos 15 anos – O Eu – 68 / 130

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O Nada

Lira dos 15 anos – O Nada – 69 / 130

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Triste“But all the drugs on this world

Won’t save her from herself”

Marilyn Manson – Coma White

Triste e seco, sem lagrima...

Garotos não choram, mas quero chorar!

Não ligo de criar o estigma!

Não ligo... só quero chorar!

Desisto! Vou me castrar!

Triste e vazio, sem confiança...

Eu quero parar, mas é tudo normal!

Já perdi toda aquela esperança!

Já perdi... Estou normal!

Sim! Continuo me sentindo mal!

Triste e sujo, sem honestidade...

Perdi o controle, mas te-lo eu queria!

Eu vivo sem nenhuma verdade!

Eu vivo... Mas já abandonei o queria!

Pare! Por favor não ria!

Lira dos 15 anos – Triste – 70 / 130

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Triste e triste e triste e triste...

Estou perdido, dentro da incerteza!

Eu acho que nada existe!

Eu acho... Livre-me da incerteza!

Agora! E de à minha vida alguma leveza.

Lira dos 15 anos – Triste – 71 / 130

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Coração partido

Metade de meu coração

está partido, quebrado...

Agonia, com a mão,

eu o recolhi, o seu lado.

Parei, por um momento:

Eu ainda a amava?

Um típico sentimento

confuso eu, a ter, estava.

A duvida permaneceu,

mas, por pouco tempo;

Um único sorriso seu

reviveu o sentir limpo.

Sim, a amo ainda.

Mas sinto sua falta.

Desejo sua vinda;

Abomino sua volta.

Te amo! Quero você sempre, sempre perto.

Mas, mesmo longe, meu amor também será certo.

Lira dos 15 anos – Coração partido – 72 / 130

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Esquecer

Não quero nada...

Suma! SUMA DAQUI!

Com toda sua sujeira...

Não! Não quero!

Nada... nada.. ada.

Seu dinheiro, seu progresso, suas leis, seu deus, sua

felicidade, seu amor, seu mundo... SUA vida...

Sua... Sua...

Não minha, sua

Não tenho nada...

Nada... nada.. ada.

Nada faz sentindo...

Tudo vai.. vai... vai... Acontece. Mas não volta, não importa.

Mas insisti em acontecer... O tempo todo, o tempo_ todo...

Por nada.

Nada... nada.. ada.

Lira dos 15 anos – Esquecer – 73 / 130

Page 74: LIRA dos QUINZE ANOS · que tanto me mudou, mas me deixou o mesmo ... pois eu já tinha desistido da minha vida perdida. ... e toda minha vida! Em mais nada, agora, eu me concentro!

Não quero ter...

Ter o que? Ter para que?

O amanhã é igual ao hoje, igual ao ontem.

O amanhã não existe, o hoje não existe, o ontem não existe.

Nada... nada.. ada.

Cale-se! Deixe-me esquecer que existo!

Que respiro, que me alimento.

Deixe-me esquecer que preciso disso...

Não quero isso... Não quero nada...

Nada... nada.. ada.

Deixe-me esquecer de mim mesmo

Lira dos 15 anos – Esquecer – 74 / 130

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Poema sem título

Viva!

Deus morreu!

Tudo morreu!

Você morreu!

Eu morri!

Nós estamos mortos.

Porém não sabemos disso ainda

e continuamos como se nada tivesse acontecido.

sem saber, que na verdade

nada aconteceu;

sem saber, que na verdade

nós não morremos;

sem saber, que na verdade

nós nunca nem nascemos.

Lira dos 15 anos – Poema sem título – 75 / 130

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DecaDência

Eu ainda me lembro de como o chão tremia;

O copo refletia o céu diferente;

Riso rouco com grito estridente;

O único elo: o vomito na pia.

A vergonha? Sim um pouco, a agonia,

Um sentimento quase semelhante.

A vida? Vivo a vida decadente;

Mas, ao fundo, já ouço minha elegia.

Não preciso de nenhuma salvação!

Eu quero trilhar minha própria morte!

Não! Não quero ser salvo!

Foda-se! Ó bom cidadão cristão!

Eu não estou arrependido! Estou à sorte!

Assim esqueço que vivo!

Lira dos 15 anos – DecaDência – 76 / 130

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ContosO ultimo momento

“Eating me down.

Beating me, beating me.

Down, down.

Into the ground.

Screaming so sad.”

Korn – Falling Away From Me

Estava de luto, sombrio, longa túnica negra, em

contraste com sua pele pálida, seu rosto marcado pelas

lagrimas da tristeza, grandes e profundas olheiras.

Mas parecia a morte, talvez fosse.

Via tudo escuro, normal, pelo menos era apos a

descrença, normal, apos limpar as nuvens cinzentas que

obscureciam sua visão.

Hoje sabia que não era um problema ver tudo escuro,

pois a escuridão não vinha de sua visão, tudo era escuro,

normal...

Já entrara na casa dos mortos, junto a ele, outros

Lira dos 15 anos – O ultimo momento – 77 / 130

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acompanhavam aquela marcha fúnebre, todos eram

estranhos, mesmo sendo seus amigos e parentes, ele estava

sozinho, ninguém era como ele.

A marcha prosseguia morbidamente, como zumbis, normal,

até pararem em frente a um profundo buraco escavado em

forma de retângulo.

Então, a última reza começara, a última mentira começara,

todos se uniram naquele momento, formando um coro triste,

cantando de uma forma depressiva, um lamento final, normal,

todos, menos ele, ficara somente ouvindo os prantos, seria

tudo aquilo necessário? Não mas era normal...

Enfim, fecharam sua caixa funeral, e o abandonaram, normal.

Lira dos 15 anos – O ultimo momento – 78 / 130

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O conto draconianista

“But I'm not a slave to a god

that doesn't exist

But I'm not a slave to world

that doesn't give a shit”

Marilyn Manson – The Fight Song

Uma vila medieval pequena, no interior de algum lugar.

Longe e perto de tudo. Uma vila bem normal, com

camponeses, soldados, governo, religião, uma religião bem

diferente, e muito normal ao mesmo tempo, o draconianismo.

Foi trazida a vila por um nômade, um nômade vindo de bem

longe, ou de perto, isso não era sabido. Ele pregava que os

Dragões controlavam a vida de todas as pessoas, e somente

com a servidão a eles poderemos usufruir uma vida melhor.

As classes mais pobres abraçaram o draconianismo

imediatamente, e desde então são servos humildes a esperar.

As classes mais favorecidas se converteram a religião

um pouco após, por temerem o poder dos Dragões.

O nômade havia agora trocado o seu nome por

"clérigo", a suas roupas maltrapilhas por mantos

ornamentados e as ruas por uma mansão no ponto mais alto

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da vila, acima de todos.

Até que um jovem bateu na grande porta dupla da

mansão, ninguém veio atende-lo, tentou de novo, nada,

somente na 3° tentativa o "clérigo" abriu a porta. "Que

queres?" "Falar com os Dragões." "Não podes." "Porquê?"

"Por que eles vivem depois do abismo, no vale draconiano, tu

não podes chegar lá, só eu, o filho humano dos Dragões!" "Me

leva?" "Não." "Então vou só!" "Não podes!", então o jovem foi

embora.

No dia seguinte começou a construção de uma enorme

ponte, para cruzar o abismo divino, trabalha o dia todo em

baixo do sol e das criticas.

Mas todas as noites o "clérigo" sabotava o trabalho do

jovem.

Isso aconteceu até o jovem não ir mais para casa

dormir a noite, passava a noite inteira acordado para impedir

sabotagens.

Com a ponte já pronta, o "clérigo" veio. "Não irás cruzar

a ponte!" " Irei sim!" "Irás morrer se cometer tamanho pecado!"

"Então morrerei!".

Então ele foi, com a vila inteira o assistindo, curiosa.

Quando ele pisa do outro lado da ponte. "Cadê os Dragões?"

"Oh! Como a bondade draconica é infinita, permitem que um

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infeliz servo pise na terra divina!" "Não vejo dragão algum!" "É

por que eles habitam o vale depois das montanhas”.

O jovem, sem mais falar, parte, o "clérigo corre atrás

dele. "Os Dragões iram se enfurecer contra você e toda nossa

vila, não podemos cometer esse pecado!" "Não o cometa!"

"Você está a arriscar toda a..." "Chegamos, cadê os dragões?

Só consigo ver uma única casa nesse vale." "É... os Dragões

moram dentro da casa! Mas não podemos prosseguir, a casa

deve estar trancada." "Verei.".

A ansiedade manteve o "clérigo" calado até a chegada

na casa. "Oh! Grandes Dragões! Entendam que ele é somente

um jovem teimoso, não façais que o pecado de um condene

todos!" "Cadê os Dragões?", pergunta o jovem ao abrir a

porta, e repete: "Cadê os Dragões?" "Os grandes Dragões

vivem no mais alto quarto da casa, mas você definitivamente

NÃO pode ir lá", o jovem segue em direção a grande escada

central da casa, o "clérigo" corre apavorado atrás do jovem.

"Quanto teimoso tu es?" "Quanto mentiroso você é!"

"Mentiroso? Seu jovem pecador, não sabes o que falas!

Ousas duvidar da verdade do "clérigo"?" ""Clérigo"?" "Sim,

como dizes que sou mentiroso sem nunca provar nada?"

"Ainda não!" "Nunca irás!".

Os dois chegam no quarto, ao abrir a porta do cômodo,

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o jovem diz "Cadê os Dragões?" "Está escuro de mais para

vê-los!", o jovem abre a janela, volta a olhar para o quarto, e

após a sua visão se acostumar com a luz a luz, volta a dizer.

"Cadê os Dragões?" "Eles são invisíveis.", após tatear todo o

quarto, a pergunta é repetida. "Cadê os Dragões?" "Eles

saíram voando pela janela!" "Vou atrás deles!" "Não

conseguirás." "Porque não? Porque eles não existem?" "Não,

por que você não possui fé, e quem não tem fé não merece a

vida!".

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A infinita melancolia

“I am so all-american, I'll sell you suicide

I am totalitarian, I've got abortions in my eyes

I hate the hater, I'd rape the raper

I am not the animal who will not be himself

fuck it”

Marilyn Manson – Irresponsable Hate Anthem

Não sentia mais vontade de respirar, seria tão bom se

fosse tão simples assim, em pouco tempo tudo estaria

terminado, na realidade era simples, muito simples, mas

mesmo assim era difícil, era um covarde!

Iria faze-lo, seria agora, levantara o punhal, somente

mais um movimento e tudo estaria acabado, era tão simples,

somente um movimento e estaria livre de sua existência

medíocre, de sua infinita melancolia.

Abaixara o punhal, a quem ele estava enganando?

Sabia que era incapaz, ó maldito instinto selvagem de

sobrevivência! ODIO! Seu instinto iria ganhar de sua razão

novamente, ODIO!

Odiava a si mesmo! Era um fraco, um covarde! Por que

havia de se questionar? Por que não aceitava as ilusões?

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Viveria melhor, teria sua vida medíocre, sua felicidade ilusória,

seu objetivo mesquinho...

Uma vez tinha lido: "Será que temos que optar entre

fingir ser algo ou nada ser?".

Ele escolheu nada ser... Não poderia fingir ser algo,

sempre fora assim, sempre questionara tudo, mas por quê?

POR QUÊ?

Levantara o punhal, era tão simples! Um movimento e

nada mais questionaria, nunca mais!

Era incapaz...

Juntou todas suas forças, e colocou-se em pé. Olhou

em volta, era seu quarto, o ar era pesado e melancólico, mas

era seu quarto ainda, será? Será que aquilo era seu? Sabia

que não, nada tinha, nada era...

Focalizou seu olhar em seu reflexo no espelho, ele era

aquilo? Também sabia que não, aquilo era só uma de suas

mascaras, ele nada era...

Mas era aquela mascara que os outros viam, ai! Nada

sabiam sobre quem ele era, nunca entenderiam ele. Sempre

desprezariam ou sentiriam pena dele.

E ele os odiava, odiava a todos, a tudo! Precisava de

ajuda? Sim, e de muita ajuda, mas somente deus poderia

salva-lo, mas deus estava morto, ele o matara.

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Levantara o punhal, agora era sua vez, tudo iria

terminar! ODIO! Sabia que não era sua hora, sua hora não

existia! Estava condenado a viver, a sofrer, e assim seria,

abaixara o punhal.

Avistou uma fotografia, da época em que ele ainda

sorria, da época em que ele era feliz.

Encheu-se de nostalgia, queria aqueles momentos de

volta, queria ser feliz! Mas não se iludia, sabia que não voltaria

a sorrir, só a chorar, só lamentar, só odiar.

Era só isso que fazia agora, era um poço de ódio, e

nesse ódio iria afogar-se, e assim morrer, a propósito, não

vivia mais, morria um pouco a cada instante.

Estava péssimo, nunca esteve assim, era o pior

momento de sua vida, mas não se iludia, sabia que não havia

chegado no fundo, sabia que o fundo não existia, iria imergir

cada vez mais no seu ódio, até afogar-se.

Mas o pior de tudo era saber que em pouco tempo

estaria pior, ainda pior. A menos que ele terminasse com tudo

agora...

Não queria mais respirar... Cada vez que aspirava

sentia toda a dor da existência, e cada vez que espirava

sentia a banalidade da mesma.

Levantara o punhal.

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Então, de súbito, o punhal caíra no chão, mas nenhuma

gota de sangue o acompanhara, somente um grito, um

horrível grito de dor, um grito que retratava todo o fracasso de

uma existência, um grito de uma infinita melancolia.

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Um padre

“Woman of dark desires

Woman of eternal beauty

Woman of dark desires

Elzabeht bathory”

Marduk – Woman Of Dark Desires

1.Razão

Sou Jean-Arthur, um Padre, as palavras aqui escritas

não são uma estória, são um relato de minha vida, por que as

escrevi? Por que sou uma pessoa que tem o bem dentro de

mim, e admito que algumas injustiças aconteceram em meu

viver, e espero que as relatando, eu obtenha o perdão de

todos, e também de nosso Senhor, o divino!

2.A vinda

Morava na Europa, mas não era muito rico, e menos

ainda dedicado a teologia, já era padre naquela época,

melhor, havia acabado de me tornar um. Mas ainda não

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controlava nenhuma igreja, era somente um assistente.

Foi então que uma "luz" divina me ordenou vir para o

novo continente, lugar tão cheio em fé, eu como o bom

teólogo que era, iria ajudar as pessoas desse lugar, guia-las

pelos caminhos de Deus.

Então eu vim.

Tudo apoiava a minha vinda, Deus, o meu altruísmo, e

até mesmo a Igreja, que queria me afastar da Europa, pois

haviam suspeitas de que eu tivesse amantes lá.

Na época neguei, mas hoje admito, tinha sim minhas

amantes. Assim mesmo no plural, não lembro exatamente

quantas eram, acho que 3, ou 4, ou 8, não me lembro. Mas

me diga agora, qual o problema em amar? Quando esse amor

é verdadeiro e puro, duvido que o Pai não o aceite!

3.Sobre o amor em grupo, orgia

Alguns leitores mais conservadores, ao lerem as

ultimas linhas, devem ter ficado horrorizados, um padre, um

homem de Deus, ter VÁRIAS amantes?!

Mas esses leitores devem também prestar atenção na

linha que vem logo após, a que fala sobre o amor, eu amava

todas elas! Sem exceções! E foi Jesus que ensinou a

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amarmos ao próximo, eu somente sigo os seus ensinamentos!

E para aqueles que nunca experimentaram, eu

aconselho que experimente, Amor em grupo, é ótimo, não

confunda com orgia, orgia vem da luxuria, o que eu falo

envolve Amor, por isso só pode ter um homem, e várias

mulheres.

Mas já aviso, para dar certo é preciso que o homem

seja muito bem, digamos, dotado, assim como eu sou, a

propósito, poucas pessoas sabem do que um homem de

batina é capaz.

Mas isso não tem muita relevância.

4.Sobre a verdade

Esse capítulo serve somente para lembrar que toda e

qualquer coisa dita nessas páginas é verdade, a mais pura

verdade.

5.O novo mundo

Desembarquei no novo mundo, no Brasil para ser mais

específico, a cidade e o estado em que eu fiquei, até hoje não

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sei, isso pouco me importava. Não estava interessado em

descobrir coisas sobre esse novo lugar, só sei que era um

lugar sujo e desprezível, com seu povo mestiço e negro

horrível, dava medo daquele lugar.

Virei então padre, comandava uma igreja na cidade,

não era uma grande igreja, mas era maior e mais rica do que

a que eu era auxiliar na Europa, você não imagina o poder de

um europeu em terras latino-americanas, mas imagino que

isso seja natural numa terra de raça inferior.

Pensei que nunca iria encontrar uma amante aqui, não

uma que tenha algum valor pelo menos, não iria abaixar ao

nível dessa raça, mas para minha sorte, eu estava errado.

6.Sobre Elizabeth

Vi-a pela primeira vez em uma missa de domingo, ela

se vestia de um modo depravado como todas as outras

nativas, com aquelas mini-micro-saias, e mini-micro-blusas,

daquelas que não escondem praticamente nada de um bom

observador. Mas ela não era igual as outras nativas, a sua

pele denunciava isso, era branca, muito branca, para europeu

nenhum colocar defeito.

E alem de ser branca, ela também era linda, tinha os

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olhos verdes, longos fios negros, lábios vermelhos e

carnudos, grandes e lindas coxas, e seus seios? Eram lindos,

grandes, no tamanho certo, simplesmente ela era, perfeita.

A desejei desde o primeiro momento que a vi, pois eu já

a amava.

7.Desejos

Passei muitas e muitas noites sonhando com ela. Eram

sonhos cheios de amor, não sonhos de luxuria, pois eu já a

amava, já a desejava.

Depois de acordado, passava horas a relembrar meus

sonhos, sozinho, as vezes nu, as vezes de batina, as vezes

no quarto, as vezes no banheiro, mas sempre sozinho, essas

coisas não são para serem feitas em público, a menos que

com uma pessoa que você ama.

E o primeiro sinal de que meus desejos poderiam ser

realizados, foi dado quando ela aceitou meu convite de

começar a ter aulas de catequese comigo. Tive eu que insistir

um pouco para que ela aceitasse, mas no fim, ela aceitou, no

fundo eu sei que ela queria, recusou a priori para fazer um

"charme", ser uma garota difícil.

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8.padre Cícero

Conheci também nessa terra, um padre chamado

Cícero, era meu superior, administrava a maior igreja da

cidade, ele era um homem de extrema bondade e fé. Seguia

cegamente a igreja e seus ensinamentos.

Era uma boa pessoa, pelo menos aparentava ser, mas

levando em consideração seu triste fim, ele devia ter muitos

pecados escondidos.

9.Catequese

As aulas de catequese eram aos sábados, por isso o

sábado era o dia mais esperado da semana. Tinha poucos

alunos, eram 3,4 ou 8 alunos, mais a Elizabeth.

Tenho que reforçar a idéia de que Elizabeth sempre

vinha com grandes decotes, e roupas mínimas, para que o

leitor não pense que esse homem que usa a batina é um

maníaco sexual, não! Sou somente um homem que aceita os

princípios naturais criados por Deus, e que usa, muito bem, o

que Deus lhe deu como presente.

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10.O dia

Era um sábado chuvoso, daqueles em que

normalmente se dorme a tarde toda, pois é sabido que

ninguém virá a igreja, porém naquele dia eu não pude dormir,

e nem reclamo disso.

Elizabeth compareceu a catequese, ninguém mais,

somente ela.

Estava vestida de branca, toda de branca. Daquele branco

que quando molhado torna-se transparente, e ela estava toda

molhada por causa da chuva, e sim, sua roupa era

transparente.

Vi então com nitidez seu corpo, tudo, com a exceção do

“portão do céu”, via até mesmo seus mamilos rosados, ó!

Como eram lindos, uma verdadeira criação divina! E já

estavam durinhos, indicando uma excitação por parte dela, o

que, imediatamente, provocou também uma excitação em

minha pessoa.

Nada mais natural quando se ama. E eu amava.

Então a ofereci roupas secas para ela não se resfriar, ela

entrou para os cômodos interiores da igreja, para se trocar,

deixando a porta levemente aberta...

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11.A abertura

Esse capítulo existe com o único motivo de deixar BEM

destacado a existência de uma pequena abertura na porta,

por um simples motivo, isso prova que o meu sentimento de

amor era recíproco.

12.O dia (continuação)

Ela então me pediu para dar alguma toalha para que

ela se secasse. Atendi-a imediatamente, fui buscar uma

toalha, no caminho refleti sobre aquela situação, cheguei a

conclusão na qual todos leitores devem ter chegado, ela

também me amava. Por esse motivo, resolvi não lhe entregar

ainda a toalha, resolvi me molhar também.

Entrei no cômodo em que ela se estava, ela estava

completamente nua... Ela era realmente perfeita, aquele corpo

de mulher, com uma expressão de menina, vi toda a perfeição

da criação naquele momento, e agradeci por ter nascido

homem.

Ela parecia estar com vergonha, tentou esconder com

suas mãos seu pudor, pediu-me que saísse. Mas eu não sai,

me aproximei, toquei nela, acaricie-la, e ela....

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Ela começou a gritar...

13.O grito

Agora o leitor deve ter coloca em duvida tudo que eu

disse até agora, deve estar pensando que Elizabeth não me

amava, ou até mesmo, que eu não a amava, para esse leitor,

digo somente que releia o capítulo 4, ele é curto, não será

cansativo.

Mas aquele leitor que quiser saber o motivo, então,

deste grito, digo que não sei, mas sei que ela me amava.

14.O amor

Em frente de tamanha insistência, concordei em sair

dali. Ela vestiu-se com uma túnica clerical, que eu tinha lhe

dado, e depois partiu sem trocar palavras comigo, porem ao

sair da igreja, ela virou e deu uma longa observada em mim,

juro que vi um sorriso em seu rosto, e só depois partiu.

Sim, ela me amava, queres provas melhor?

Percebi que tinha que intervir pelo nosso amor, tinha

que fazer algo, pensei por algum tempo, e depois sai atrás

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dela, o dia já estava escurecendo, encontrei-a a algumas

quadras, agarrei-a, e a levei a força até um matagal próximo.

Lá eu a amei, bom pelo menos tentei, ela gritava muito,

tive que silencia-la, pena que o custo desse silencioso foi sua

frágil vida....

Mas mesmo depois de falecida eu a amei, ela ainda

mantinha o calor de seu corpo, foi ótimo, tão bom quanto se

ela estivesse ainda viva, talvez até melhor, ela não gritava

nem se mexia.

15.Necrofilia?

Alguns leitores vão se sentir horrorizados após lerem o

capítulo 14, sei disso, irão me acusar de necrófilo, mas isso é

uma calunia! Pois eu a amava, e Deus aprova o amor, de

qualquer modo que ele seja.

E mesmo assim, eu juro que eu todos meus anos de

estudos teológicos nunca encontrei nada divino que falasse

contra o amor com mortos.

Mas para aqueles que ainda assim não acreditarem em

minha pureza, ou em minha palavra, peço que releia o

capítulo 4.

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16.O crime

Após esse fato, fui embora e continuei minha vida

normalmente, sentia sim falta de Elizabeth, mas essa falta já

estava sendo substituída pelo amor que eu já sentia por outra

menina. Um pouco mais velha que Elizabeth, que tinha 15

anos, eu estaria envelhecendo?

Deixarei essa pergunta sem resposta, pois ela não tem

relevância alguma.

O que interessa é que o corpo de Elizabeth foi

encontrado, e começaram a procurar o culpado pelo “crime”.

Ai entra uma questão interessante, e relevante, que

crime??? O crime de amar??? Eu a amei! E dizem que isto foi

um crime! Ó sociedade deturpada na qual vivemos hoje em

dia...

Com o avançar das investigações, a policia descobriu

que o “crime” havia sido cometido por um padre, e eu era um

forte suspeito, mas no final por sorte, e auxílio divino,

descobriram que o verdadeiro criminoso fora o padre Cícero,

não eu.

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17.Breve explicação

O leitor deve ter achado estranho o final do ultimo

capítulo, mas aqui vai uma breve explicação.

O leitor deve-se lembrar que sou um europeu que

estava na América latina, sendo assim, um superior no meio,

só isso já provava minha inocência.

Mas claro que um pouco de capital de minha região

também ajudou, mas isso não tem relevância.

18.O desfecho

Padre Cícero foi, então, preso, uma tristeza, realmente

fiquei muito triste. Mas nada pude fazer...

Com sua prisão, e excomungação, assumi sua posição

na igreja, recebi todos as posses clericais, menos a

administração de sua igreja, a qual foi queimada por uma

turba enfurecida.

O pobre padre não sobreviveu muito tempo no cárcere,

não resistiu aos tratamentos especiais que os outros presos

dão aos estupradores.

Fui convidado ao seu enterro, porem infelizmente não

pude ir, já tinha um encontrado marcado com uma amante.

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Tempos depois fiquei sabendo que ninguém

compareceu ao enterro do ex-padre, que até mesmo o coveiro

recusou enterrá-lo, e que seu corpo no final foi roubado por

outra turba indignada, que o dilacerou, e depois o queimou.

19.A lição

Todas essas tragédias me ensinaram uma lição que eu

guardarei pelo resto de minha vida mortal, e talvez pelo resto

da imortal também, a lição é: Compre as mulheres que você

quiser amar, elas assim não reclamaram. Não importa se você

está pagando para alguém amá-lo, portanto que o amor

exista, está de acordo com Deus!

20.Para os incrédulos

Esse capítulo foi escrito para aqueles leitores que se

sentiram horrorizados com os meus atos em vida, e então

agora duvidam da pureza de minha alma, e da verdade em

minhas palavras, para esses leitores eu peço que releiam o

capítulo 4.

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Bem-sucedido“O homem superior! – disse Zaratustra – E o que ele quer

aqui?

Friedrich Nietzsche – Assim falou Zaratustra”

Era um homem “bem-sucedido”, havia estudado nos

“melhores” colégios, sua “educação” era “perfeita”, era

realmente um “privilegiado”, poucos tinham essa

oportunidade, e pouquíssimos a aproveitavam. Curso

superior? Havia passado na “melhor” faculdade, naquilo que

ele “queria”, e que também o “enriquecia” muito,

materialmente e “espiritualmente”.

Realmente, era “alguém” na “vida”! “Alguém” “bem-

sucedido”! “Muito bem-sucedido”. Tinha “deus” consigo.

Teve acesso as coisas que “quis”, “tinha” “amigos”,

“parentes”, “alegria”, “religião”, “altruísmo”, e “moral”. Era um

ser “humano” “perfeito”.

Ao crescer, casou-se com a mulher “amada”, e teve

filhos, que lhe traziam muita “felicidade”, tudo que “alguém”

pode “querer”.

Sua “vida” era “perfeita”! Era “alguém” “bem-sucedido”!

“Muito bem-sucedido”. Tinha “deus” consigo.

“Vivia” sempre com um “sorriso” no rosto e assim

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participava das reuniões da “alta sociedade”, conhecia

pessoas “importantes”, “políticos” “importantes”, “juizes”

“importantes”...

“Tinha” carro “importado”, uma casa invejável, móveis

orientais... “Tudo” que “alguém” pode desejar na “vida” ele

“tinha”, se não “tinha”, é porque não queria “ter”.

Era a “pessoa” mais “feliz” do “mundo”. Era “alguém” “bem-

sucedido”! “Muito bem-sucedido”. Tinha “deus” consigo.

Então, numa bela manhã de quinta-feira, suicidou-se.

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Contos póstumosÉ Tendo Inimigos Como Amigos

Um dia, um garoto, acordou: “Quero comprar o

mundo!”, pensou um pouco e: “Vou comprar o mundo!”.

Ficou, então, impressionado com sua magnífica idéia,

como ninguém nunca tinha pensando nisso antes? Como

ninguém nunca tinha pensado?

Decidiu que ia começar a economizar agora mesmo

para poder realizar sua ambição. O que era difícil, muito difícil,

dificílimo, difícil até demais para ele, pois ele sempre gasta

todas suas economias em balas, bombas, enfim em doces...

Ou não.

Mas enfim, ele foi pedir a sua mãe uma contribuição:

“Mãe me dá dinheiro?”. Ao ouvir essa interrogação, a mãe

estremeceu com uma mistura de tristeza com curiosidade e

com tristeza, pra que ele queria dinheiro? Pra matar alguém?

Não... Acho que não pelo menos... Mais fácil é perguntar, e

fez: “Pra que?”, o filho respondeu imediatamente percebendo

a expressão estranha de sua mãe, escondendo todo seu ódio:

“Pra comprar o mundo! O mundo mamãe!”.

O mundo???

Então ela parou para pensar um pouco, as vezes faz

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bem? Ou não?

Seria interessante ter seu filho como dono do mundo,

uma lagrima caiu, um dente brilhou: “Pegue, aqui, dez pra

você guardar pra comprar o mundo”, tudo isso? – Pensou o

filho – Mas aceitou sem questionar.

Foi, então, após isso, a padaria comprar pão para sua

mãe. Ou não?

A ida foi, mas a volta não, ela veio, veio mas diferente

da ida, houve um encontro, com duas notas, duas notas de

dez no chão, o garoto apanhou as notas, e entendeu o que

aquilo significava, então olhou para o céu, e agradeceu, e

depois voltou para casa.

Seu pai já havia chegado (ele tinha saído?), porém

estava no banho. Ou não?

Foi contar para sua mãe a benção que recebeu: “Mãe,

achei vinte no chão! Vou guardar pra comprar o mundo!” a

mãe com indiferença, e um pouco de irritação também: “Você

sabe quem lhe deu isso?” o filho empolgado responde

rapidamente: “Claro! Foi o ser rosa que voa no espaço e lança

energias invisíveis que ao entrarem em contato com meus

pensamentos, e alma, regem a minha vida, obrigado Moaru!”

a mãe, novamente, como sempre, com indiferença responde:

“Não seja tolo, foi o ser invisível que vive no céu e controla a

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vida das pessoas e de suas almas, obrigado deus!”. O filho

nada disse, mas pensou, como sua mãe era idiota e tola... Ou

não.

Então, o pai chegou, e o garoto foi falar com ele: “Pai,

me dá dinheiro?” o pai assustado, atordoado, pasmado, mas,

porém ebúrneo, disse: “Para que se quer?” o filho, sem tantos

adjetivos, respondeu: “Para comprar o mundo” o pai agora,

também sem tantos adjetivos, só feliz, e bobo... Ou não.

Disse: “Sim, pegue aqui quarenta e cinco e meia notas de

cem”.

O garoto achou tudo aquilo estranho, muito estranho,

bizarro até... Ou não. Mas isso não importa, o que importa era

que ele tinha lucrado muito já, iria comprar o mundo algum dia

sim!

Foi dormir.

Dormiu.

Acordou... Ou não.

Foi na padaria e gastou todo o que tinha ganhado com

balas e bombas.

Voltou para casa com algumas poucas balas, e quase

que negativas bombas. Mas voltou.

A mãe ao ver isso, ficou espantada e disse: “O que

houve filho?” O garoto muito alegre, respondeu cuspindo uma

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bala esverdeada no chão: “Desisti de comprar o mundo,

prefiro balas, elas são melhores, e mais gostosas... Ou não.”,

então, veias saltaram dos pulsos.

O garoto apanhou, foi surrado, espancado, quase

morto.

Mais tarde o pai chegou em casa, e quando soube do

que aconteceu, espancou, surrou, deixou o garoto quase

morto, colocou-o de castigo, o torturou um pouco, depois o

enforcou, o deserdou, o expulsou de casa, o castrou... Ou

não.

Depois que o pai fez tudo isso com o garoto, o seu ex-

filho, a mãe perguntou: “Pra que tudo isso?” o pai, friamente

respondeu: “Porque os vinte que ele tinha achado eram

meus!” A mãe, então, entendeu todo aquele ódio, e o sentiu

também... Ou não.

Mas o que importa, é que o ser cor de rosa tinha

deixado o garoto com suas balas e bombas ainda! Balas são

gostosas, principalmente para os que não respiram mais.

Moral do conto: Moral do conto? Moral do conto.

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O monólogo do Eu comigo“Cada instante conduz a outro instante, e esse a um

terceiro...”

Jean-Paul Sartre – A Náusea

(Ele) estava lá, vivo, sim, obviamente, mas não

somente isso, estava também consciente, talvez até

onisciente. Sim, ele estava, sem duvidas, assim como a lua,

como o sol, como tudo, ele estava, e mais, queria estar.

(Eu) acho que vivia, não por querer, simplesmente por

viver, isso é, eu respirava e mantinha minhas funções vitais.

Não sabia de nada, não queria mais saber, sei lá... Nada é

interessante, somente isso, estou eu mentindo? Não

exatamente mentindo, o Eu nunca mente... O que acontece é

o Ele entender errado... Nada é verdadeiramente

interessante... Tudo somente emana um interesse fictício,

como um conto de fadas, sim, como um conto de fadas.

(Ele) fez com que a reunião continuasse, assuntos tão

importantes, a vida de milhões estava em jogo, naquele

momento, agora, e sempre! A vida estava em jogo, ele jogava

com ela, mas ele tinha certeza absoluta do valor da vida, ela

não era uma mercadoria, todos o respeitavam por causa

disso. Disse uma vez: “A vida não tem preço!”, que grande

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homem! Quanto altruísmo! Se todos fossem assim...

(Eu) observo todos esses sorrisos, eles me perturbam,

perturbavam, parecia até que eles existiam, parecia até que

algo mais (MAIS!) existia, parecia que era algo importante,

parecia que algo (ALGO!) importava, parecia algo, enfim

parecia (talvez ainda pareça)... Sim era isso, parecia, até que

parecia bem, mas poucos parecem tão bem quanto eu.

Olhando esses vultos, eu sentia o vazio. Sim eu disse uma

vez que a vida não tem preço... Sim ela não tem, ela é de

graça, ninguém pede pra viver e nem pra morrer, mas todos

vivem e morrem, vivem e morrem, vivem e morrem... Que

coisa, eu já sei que as coisas não são assim, eu sei que nada

é. Ninguém vive, ninguém morre. Se todos fossem... Poderiam

ao menos morrer. Se todos fossem... Se...

(Ele) levantou e mostrou para todos que o mundo era

redondo, que a Terra não era o centro do universo, mostrou e

demonstrou todo o conhecimento que um gênio, que uma

pessoa superior, pode mostrar, mais que isso até, mostrou até

o que não pode ser mostrado! Mostrou os sujos humanos,

tudo isso deu a ele uma aura de confiança, a qual tudo e

todos podiam ver, sentir e temer. Ele era tão importante! Ele é

tão importante!

(Eu) senti novamente a tontura, aquela tontura a qual

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eu sinto quando começo a provar aos outros tudo aquilo que

nem eu mesmo acredito... Como sou bom nisso... Queria eu

ser bom em algo... Nem tenho com quem me comparar. Eu

sou, o resto, o resto parece. Mas eles acreditam... Eu não,

não sei, na verdade eu não sei se sei a verdade na verdade.

Tudo é tão tudo! Tudo é tão nada! Nada é tão tudo! Nada é tão

Nada! As vezes parece até que “tudo” e “nada” são sinônimos,

ou até mesmo que não existam, as vezes nada existe, mas,

mas, mas Eu existo... Eu existo... Ele não! Ele não vê, Ele não

sente, Ele... Ele... Ele...

(Ele) abriu um enorme sorriso. Mostrou todo o seu

interior, toda sua alegria... Sua alegria! Sua realização na vida,

sua realização profissional. Saiu da reunião como um novo

homem, ainda era a mesma pessoa, mas estava renovado,

seu nome havia subido de nível, seria agora conhecido, até

mesmo, internacionalmente, talvez... Provavelmente até teria

seu nome e seu rosto gravado em todos os futuros livros

escolares, ele era alguém, alguém que mudara o mundo!

(Eu) fiz força pra não chorar... Encontrava-me triste...

Mais uma vez tinha afundado tudo dentro de minha mascara...

Mas por que mostraria meu interior? Eu tinha interior? Alguém

tinha interior? Alguém era? Alguém... Eu era, agora, um novo

velho homem, era a mesma pessoa, com um novo olhar, não

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que eu tivesse mudado, mas a visão dos outros havia

mudado... Eu já estava a morrer... O passado não existia, o

futuro também não, somente o agora, aqueles contáveis e

infinitos instantes que iam empurrando uns aos outros, não

eternamente, não infinitamente, e sim por pouco tempo,

pouquíssimo tempo, quanto tempo? Tempo? Eu nem sei se

isso existe... Eu nem sei...

(Ele) morreu, mas viveu por muito tempo, na realidade

ele não morreu, ele era eterno, eterno na memória das

pessoas! (Eu odeio) Elas] O amavam (Ódio) [Tanto... Tanto...

[TANTO]! (Ele não) Estava mais feliz, agora, (Eu odeio), Ela]

ama...Ela (Eu) [Não] existe ainda... A vida é algo tão ACTUAL,

tão actual...

(Eu)(EU)(Eu)

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O 42° Andar

...atordoado, sua cabeça doía, tinha a impressão de

que ela iria explodir a qualquer momento, a dor era tanta que

em vão insistia em tentar abrir os olhos, suas pálpebras eram

como pedras, e seu corpo, como o de um doente terminal,

como o de um morto.

Estava como água de se fazer chã, queimava, latejava.

A dor era tanta que só quando essa se acalmou, que ele pode

perceber que estava deitado, e que o calor, e a dor, não era

somente em sua cabeça, era geral, ia desde a sua canela, até

o mais teimoso dos fios de seu cabelo.

Delirava um pouco, “trinta e três, cinqüenta e quatro ou

42?”, não mais lembrava. Na verdade não lembrar qual era o

número não era o problema, o pior era não lembrar o que

esses números significavam, e, apesar disso, eles

continuavam a dançar tango em sua mente, mas não um

tango de pessoas (números?) comportados, um tango de

bêbados, e/ou drogados... Os números iam e voltavam,

subiam e desciam... Mas nunca paravam, ou revelavam suas

identidades.

Mas a dança numeral foi interrompida por uma súbita

dor nas pernas. Uma dor enorme, semelhante à dor sofrida

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por um criminoso antes de morrer apedrejado, era como

pedras minúsculas e afiadas penetrassem na sua carne frágil

e pálida.

A dor fora tanta que superara o peso das pálpebras.

Seus olhos se abriram para procurar entender o que estava

acontecendo, mas antes que pudesse decodificar o primeiro

raio luminoso que o atingira, foi atacado por uma tontura

nauseante, tudo girava em volta de si, girava e se misturava,

cores, formas e números corriam para todas as direções,

apesar de não saírem do lugar. O que estava acontecendo? –

Indagou.

Aos poucos toda aquela festa fora se acalmando, as

formas e cores se dirigiram vagarosamente a seus respectivos

lugares no espaço, e os números, por sua vez, se diluíram em

sua mente.

Sua primeira visão foi a de suas pernas, ambas

estavam quebradas, um enorme osso saltava de cada uma

delas, o qual era bastante visível, pois não havia pano

nenhum para cobri-las, ou ao menos cobrir o seu pudor.

Apesar de ainda haver um enorme rombo em cada uma, o

sangue já não saia mais.

A visão era horrível, ele não conseguia nem lembrar o

que poderia ter causado tamanho ferimento. Isso lhe dava

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ânsia, mas o vomito mesmo só veio quando notou seus pés,

ou melhor, a falta deles, suas pernas terminavam

repentinamente com um enorme corte, após elas, não existia

nada.

O vomito caíra ao lado da cama na qual estava deitado,

pedaços de alguma coisa acompanhavam o liquido viscoso e

amarelado. Parte dele havia caído em um par de pés que

estavam sobre um tapete. Hesitou, pensou que sua visão

havia lhe enganado, mas não, eram seus pés que estavam a

lhe esperar ali.

Sua náusea aumentou, só não vomitou por não ter mais

o que vomitar. Foi obrigado a desviar sua visão. Notou que à

frente da porta fechada, havia uma enorme poça de sangue,

não estava seco ainda, mas quase. A geometria da poça

mostrava claramente que alguém fora arrastado dali enquanto

estava a sangrar.

Indagou novamente: “O que estava acontecendo? O que

havia acontecido?”.

Decidiu, então, tentar descobrir onde estava, as

pálpebras já não pesavam tanto agora. Era uma sala branca:

móveis brancos, paredes brancas, cortinas brancas,

sentimentos brancos, pensamentos brancos.

A janela prendera sua atenção, o motivo não lhe era

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sabido, talvez fosse por causa daquelas nuvens brancas e

puras. Tentou levantar, uma, duas, três vezes, em vão, muito

esforço, e sem hesito nenhum, a única coisa que recebeu foi

uma dor insuportável.

Despencara inconsciente na cama.

Sonhou com um duende barbudo, ruivo, e com um

olhar penetrante, olhava-o sempre por de cima, sentiu medo,

era estranho um duende o olhar de cima, ele era tão

pequeno...

Um ranger de porta o tirou de seu estado catatônico.

Uma linda mulher vestida nos padrões da enfermagem

carregava algum alimento em uma bandeja de plástico escura.

Andou levemente, quase que flutuando, depositou a bandeja

sobre um móvel que se localizava à direita dele e ficou em pé

ao lado da cama como que se esperando alguma reação.

Ele nem sequer olhou na direção da bandeja, tinha a

visão fixa na fêmea. E em um segundo, pulou da cama,

agarrou a fêmea, a empurrou contra a parede, prendendo-a.

Essa soltou um gemido de dor, mas não gritou nem nada, era

possível ler um vazio em seus olhos.

Ele então continuou o ritual primata, a desnudou as

pressas, e entrou nela. Em pouco tempo, já era possível

perceber que já não existia mais o vazio no olhar da fêmea,

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existia já o prazer, ou pelo menos a aceitação, os gemidos já

não eram mais inconstantes e de dor, eram regulares e de

prazer.

Nesse momento que ele percebeu: “Sim, era 42, nem

trinta e três, nem cinqüenta e quatro, era 42”.

Parou um instante, sentiu nojo de si mesmo, “O que

estava a fazer?”, largou a fêmea, que ainda gemia muito,

olhou em volta, dirigiu-se a janela, ignorando as preces

repetitivas da fêmea que não queria aquela parada, na

realidade não estava a ignora-la, nem ao menos a ouvi-a,

estava distante, longe, observando as nuvens distantes, eram

lindas.

Percebeu que estava em um prédio, muito grande,

enorme, e que ao lado do seu havia um outro, de mesmo

tamanho, sentiu uma vontade inexplicável de olhar para a

janela do outro prédio, mas não o andar equivalente, mas três

andares a baixo, estava vazia, mas ainda assim tinha sua

visão (e mente) fixa.

O cheiro de comida o despertou de sua distração, saiu

da janela e sentou-se em sua cama, esticou o braço, pegou a

bandeja, e observou o prato, era sopa, sopa de frango. Olhou

para o chão, para o vomito, era vomito, vomito de frango.

Comeu, e enquanto comia, notou que a fêmea ainda se

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encontrava na mesma posição e lugar, como se estivesse

esperando por ele. E estava, quando essa percebeu que

estava sendo observada, ronronou carinhosamente para ele,

que a ignorou sutilmente.

Então a porta rangera novamente, era um homem,

vestido no padrão dos médicos. Esse olhou para ele, olhou

para a fêmea, e gritou: “O que você fez, seu maníaco,

estuprador?”, ele manteve-se quieto, já a fêmea não: “Ele não

fez nada, eu que quis”, mas, aparentemente ela não foi

ouvida, pois o homem bradou novamente: “Ora, irei mata-lo!

Seu vadiozinho!”, e partiu em direção a cama.

Então um som leve e asqueroso foi sucedido por um

batida de um corpo no chão. Uma faca estava fincada em seu

pescoço, ele a arremessara, um tiro certeiro, o macho já

estava morto, seu sangue agora escorria na frente da porta.

A fêmea, ainda nua, arrastou o defunto para fora da

sala, enquanto ele tentava entender o que estava

acontecendo, sentia uma espécie de nostalgia...

Resolveu tomar um pouco de ar na janela, tinha

esperanças de que isso lhe faria bem. Com o lençol da cama,

limpou o vomito que estava em cima de seus pés, e depois os

amarrou, para assim poder andar até a janela.

Ao chegar a janela, começou a contar os andares do

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prédio para descobrir em qual andar estava: “Um, dois, três,

quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,

quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove,

vinte, vinte e um, vinte e dois, vinte e três, vinte e quatro, vinte

e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove,

trinta, trinta e um, trinta e dois, trinta e três”. Quando foi

interrompido com a volta da fêmea, ela ronronava, e andava

sobre quatro patas em sua direção,ao alcança-lo, começou a

roçar nele.

Ele se sentiu incomodado com isso, mas preferiu

ignora-la e recomeçar sua contagem: “Um, dois, três, quatro,

cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze,

quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte

e um, vinte e dois, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco,

vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta

e um, trinta e dois, trinta e três, trinta e cinco, trinta e seis,

trinta e sete”. Repentinamente, um pensamento veio a sua

mente, tirando-lhe a concentração: “42, era 42...”. Não

compreendeu direito o motivo, só sabia que era quarenta e

dois.

Mas mesmo assim resolveu confirmar, retomou, então,

sua contagem: “Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito,

nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis,

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dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um, vinte e dois,

vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e

sete, vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta e um, trinta e dois,

trinta e três, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete, trinta e

oito, trinta e nove, quarenta, quarenta e um, 42”. Era

realmente 42 o número de seu andar, mas o que isso

importava? Inexplicavelmente ele sabia que 42 era tudo o que

importava.

Olhou então novamente para a janela a do outro prédio,

a qual havia observado anteriormente, lá estava ele, um

homem ruivo, barbudo e baixinho! SIM, ele estava lá! Não

agüentou, pulou pela janela. A fêmea segurou seus pés,

porem isso não impediu o salto, só os arrancou.

Agora ele caia, os andares passavam por ele, 42,

quarenta e um, quarenta, trinta e nove, no trinta e nove estava

o homem barbudo e ruivo, que agora o observava de cima,

ficou o observando também.

Quando retornou a si, já estava no trinta e três, trinta e

dois, trinta e um, trinta, sucessivamente os andares

passavam, e ele sentia o chão cada vez mais próximo, como

um destino imutável.

Atingiu o chão.

Tudo ficou escuro.

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Algum tempo depois voltou as si, mas ainda estava

atordoado, sua cabeça doía, tinha a impressão de que ela iria

explodir a qualquer momento, a dor era tanta que em vão

insistia em tentar abrir os olhos, suas pálpebras eram como

pedras, e seu corpo, como o de um doente terminal, como o

de um morto...

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Amor

“”I’m not in love, but I’m gonna fuck you

‘Til somebody better comes along”

Marilyn Manson –User Friendly

I“Te amo!” ela me diz, respondo imediatamente, sem

pensar, por reflexo: “Também te amo!”, claro que eu já não

tenho tanta certeza assim disso, mas fico feliz só em saber

que sou amado.

Hipocrisia dizer que amar é bom, amar é estranho,

como valorizar algo que eu nem mesmo sei se existe? O amor

não necessariamente volta, e se volta não é bom por ser, é

bom por que volta. Ser amado é ótimo! Ser amado é a prova

de que se é uma pessoa superior, uma grande pessoa! Pois

alguém tem você como algo importante, mas importante que a

si mesmo... E eu sou amado!

Tenho tanta certeza disso, posso enxergar nos olhos

dela quando me focalizam com uma aparência de admiração.

Sou tão importante pra ela! Tenho certeza de que se eu

morresse ele se mataria também, seria impossível para ela

suportar o mundo sozinha, sem mim.

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Às vezes insinuo que deveríamos terminar, cada um

seguir seu caminho, só para ver as lagrimas escorrerem, para

ouvi-la pedindo-me que fique, que não a abandone, só para

ouvir o quanto eu importo... Sinto-me tão feliz! É tão bom ser

amado!

Claro que nesses momentos também empurro algumas

lagrimas para fora de meus olhos, para ela pensar que ela

também tem alguma importância, não quero que ela pense

que sou uma pessoa fria, pois eu não sou uma.

Ela me ama!

Eu que tirei a sua pureza. Na realidade não a pureza

física, e sim a de espírito. A física ela havia perdido em um

estupro há algum tempo atrás, foi o que ela me disse quando

percebi que ela já não tinha mais o “selinho de garantia”, e eu

sei que ela dizia a verdade, pois ela me ama.

Ainda lembro do momento com alguma clareza,

enquanto ela se esforçava para me agradar e para guardar

cada fragmento daquele momento em sua memória, eu me

concentrava em meu prazer, na verdade estar ela ali ou

qualquer outra mulher, não faria a menor diferença. Mas para

ela eu sei que faria, para ela só poderia ser eu, nenhuma

outra pessoa, somente eu, pois ela me ama.

Estar somente com ela já não me satisfaz mais, não

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que eu precise de outras pessoas, não preciso de ninguém,

mas eu quero saber quantas pessoas eu sou capaz de fazer

me amarem. Conto duas já, bom na verdade não sei se a

segunda me ama, mas pelo menos está quase, não acho que

alguém seja capaz de resistir a mim por tanto tempo, bom

pelo menos ela (a primeira) não foi, em pouco tempo ela já me

amava.

Falando na segunda, combinei de sair com ela hoje, já

que hoje eu tenho uma festa familiar, bom é o que a primeira

pensa pelo menos. Irei comer com ela em um restaurante

medíocre, depois subiremos ao segundo andar, onde ela se

entregará a mim, e enquanto eu estiver lá a me divertir e

tentar fazer mais uma me amar, eu sei que ela estará sozinha

em seu quarto a pensar em mim, a desejar estar comigo... Ela

me ama.

IIEla me esperava na mesa, chegou primeiro, bom sinal,

mostra que estava ansiosa pra me ver, provavelmente estará

a meus pés também daqui um tempo.

Depois da recepção tradicional, comprimentos,

beijinhos, conversas jogadas ao ar, peço nossa comida e

bebida.

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A conversa continua... Nada de importante, como

sempre tento falar o que ela quer ouvir, para agrada-la, sou

ótimo nisso já. Funcionou também com a outra.

E com essa também parece funcionar... Mesmo antes

da comida chegar, ela já está em meu colo, estamos aos

beijos, e carícias, já tenho liberdade no corpo dela, ela não

tem mais aquele pudorzinho digno de começo de relação, já

está entregue ao meu amor.

Nem presto muita atenção no que estou fazendo, fico

ao invés disso, pensando em como sou uma grande pessoa,

amado por muitas, admirados por todos, me lembro da outra

dizendo que me ama em meu braço, me lembro de todos

meus amigos me glorificando... Sou tão bom!

Lembro-me, também, de que ouvira falar que ela tinha

amantes, uma vez um amigo meu me disse que havia a visto

com outro, mas eu sei que ou era mentira dele, ou que o outro

era só um familiar, ela não me trai, sei disso, ela me ama.

Um sorriso então nasce em meu rosto, minha auto-

estima estava no máximo humano. Meu ego saltava para fora

de meu corpo.

Foi então quando a vejo subir para o segundo andar de

mãos dadas com um outro... Em um primeiro momento não

acredito, mas não há como mentir a mim mesmo, era verdade,

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ela estava a me trair!

Mas como? Ela me ama! Como ela pode me amar e me

trair?

Era como se o mundo desabasse repentinamente, me

senti fraco, como aquilo? COMO?

Ela não me amava então? Mas e as lagrimas? E os

suspiros de te amo... Era tudo tão verdadeiro... Tão

verdadeiro... Não posso acreditar! Ela me ama! Ela me ama!

Ela me ama! Ela me...

Ela não me ama...

Eu não a amo...

Eu não sou amado! Não sou amado... Não sou...

Empurrei então aquele ser que se encontrava em cima

de mim, de um modo bastante bruto até, o que acontecia? Ela

caiu no chão, não me importava com isso. Nem percebi

quando ela gritou comigo, eu não estava mais ali, eu não mais

estava em lugar algum, meu ego tinha morrido... Ela não me

ama.

O tapa que recebi em seguida me acordou, sentei-me,

ela partiu, chorei, lagrimas caíram... Não por ela, por mim, por

o que eu não era... Preciso de amor! Preciso ser amado!

PRECISO!

Sai rapidamente do restaurante, acho que me esqueci

Lira dos 15 anos – Amor – 123 / 130

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de pagar, mas o que importa?

Andava pelas ruas cabisbaixo... Precisa de amor...

Precisa...

Então me lembrei de como resolver isso. Apertei o

passo.

Rapidamente cheguei a uma farmácia. Perguntei então:

“Quanto custa o amor?” “Noventa e nove reais e noventa e

cinco centavos.” “Posso provar um pouco para ver se

aprovo?” “Claro”. O atendente pegou um pote em atrás do

balcão, o abriu, pegou uma pequena pílula vermelha, e me

entregou: “Recomendo que o senhor sente-se antes de ingerir

o amor”.

Sentei-me em uma confortável poltrona e ingeri a pílula

vermelha. Tinha um gosto bom, muito bom... Muito bom...

Em um instante, eu já delirava... Na minha frente se

encontrava uma linda mulher loira, era perfeita... Tão real.

Ela, então, começou a dançar e falar comigo: “Te amo!”,

tirava a camisa, “Você é tudo pra mim!”, tirou o sutiã, “Sem

você eu não vivo!”, abaixou vagarosamente a saia, “Obrigado

por existir!”, acabou de se despir, “Você é o cara perfeito!”,

começou a me despir, “Nossa como o ‘seu’ é enorme!”,

acabou de me despir e sentou-se em mim, dando inicio ao

ritual primata.

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Era bom... Estava a delirar, mas após um pouco, me

senti enjoado... Aquilo era tudo? O amor era algo físico

somente? O amor não existia? Eu não era amado... Ela não

me amava.

Quase vomitei, desejava cada vez mais que aquilo tudo

terminasse o mais rápido possível. Já estava desgastado...

Sem animo para nada... Mas a pílula do amor não acabava...

Parecia que eu ia perder a minha vida com ela...

Não agüentei, empurrei aquela mulher com força,

tentei, meus braços passaram por dentro dela... E ela sumiu,

voltei a estar na farmácia, ninguém a minha volta, só o

atendente já sonolento... Nada mudara, só minha calça que se

encontrava molhada.

Dirige-me ao atendente, e esse me perguntou: “Vai

levar o amor?” “Não me veja, por favor, toda a cicuta que você

tem aí.” “Pra viagem ou pra agora?” “Pra agora”.

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Êeein, nhén, ain

“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Gritava alto,

persistentemente, com entusiasmo. Gritava como em todos os

dias, gritava todos os dias. Gritava para todos ouvir, mas se

alguém ouvia, não sabia, ninguém tinha qualquer forma de

reação, era como se ela não gritasse, como se ela não

importasse.

“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Mas para gritar

tanto, tinha que se alimentar muito todos os dias, assim teria

força suficiente no dia seguinte. Mas se alimentar era difícil,

trabalhoso, ela tinha que se esforçar para achar comida. Mas

ela tinha que comer, pois ela tinha que gritar.

“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Isto a cansava, mas

ela escondia o cansaço. Gritar era sua função, sua única

simplória função. Ela vivia a gritar, pois, vivia para gritar.

Mas e se ela parasse de gritar? O que aconteceria? O que

importaria?

“Êeein, nhén”, gritava a gralha. E ao mesmo tempo

questionava se deveria continuar gritando. Gritar, agora, era

ainda mais cansativo, chato, gritar, agora, era rotineiro.

E se ela não gritasse mais? Algo mudaria? Ninguém a

ouvia mesmo... Para que insistir?

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E se ela deixasse de insistir? O que seria de sua vida?

Para que ela iria continuar se alimentando?

E se ela deixasse de insistir?

E se ela deixasse de existir?

Mas o que isso importa? O céu é azul de qualquer

maneira (apesar de que à noite ele seja preto, às vezes cinza,

ou até mesmo roxo escuro. E no limiar do anoitecer, ele é

vermelho, vermelho sangue).

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Poema de abertura (desfecho?)

Mundiar sempre...

A vida respira?

- Não sei -

O fogo queima?

- Não sei -

Pouco importa, pois eu mundio.

Esqueço do resto

Os momentos são roubados, desperdiçados.

Não é tempo perdido,

é tempo passado, existido.

Despojado pelo mundo.

Para o mundo.

Me esqueço-me de mim mesmo.

Bom? Ruim?

- Indiferente -

Pois, imprescindível... Essencial

Uma necessidade irracional.

Uma necessidade dos sentimentos.

Da existência, para se esquecer.

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Mundiar flui.

Mundio a mim mesmo para o exterior.

E, agora,

fecho,

já tem vida,

pois respira, posso sentir a pulsação,

apesar de ser venosa... É existente.

Posso sentir.

Feita a partir de furtos cometidos contra seu deus,

não de doações,

agora ela nasce.

E seguirá seu caminho sozinha.

Um dia seu deus irá morrer, mas ela não...

Ela continuará viva.

Imutável por dentro...

Porem instável por fora.

Isso fará com que ela mantenha sua respiração,

sua pulsação venosa.

Liberto-te mundo!

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Dedicatória

Dedico esse livro a Kelly Carolina, pois eu amo

somente porque você existe, foi você quem me deu inspiração

para escrever muitos dos textos que aqui se encontram.

Amo você.

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