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FACULDADE ASSIS GURGACZ – FAG JULIANO KARVAT DE OLIVEIRA ANÁLISE DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE CASCAVEL: UM ESTUDO DE CASO FAG CASCAVEL - PARANÁ 2009

LISE DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS … · Segundo Effting (2007), foi na Estocolmo 72, como ficou conhecida a conferência, que a Educação Ambiental passou a ser considerada

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FACULDADE ASSIS GURGACZ – FAG

JULIANO KARVAT DE OLIVEIRA

ANÁLISE DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE CASCAVEL: UM ESTUDO DE CASO

FAG CASCAVEL - PARANÁ

2009

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FAG - FACULDADE ASSIS GURGACZ

JULIANO KARVAT DE OLIVEIRA

ANÁLISE DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE CASCAVEL: UM ESTUDO DE CASO

Artigo apresentado ao corpo docente da FAG, como parte das exigências do curso de Ciências Biológicas Licenciatura noturno.

Orientadora:Sandra Moraes Giannotti.

FAG CASCAVEL – PARANÁ

2009

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SUMÁRIO TÍTULO ................................................................................................................................................. 3 RESUMO ............................................................................................................................................... 3 PALAVRAS-CHAVE .......................................................................................................................... 3 ABSTRACT .......................................................................................................................................... 3 KEYWORDS ........................................................................................................................................ 3 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 3

1.1 Educação Ambiental e Documentos Oficiais ............................................................................ 5 1.2 Educação Ambiental na Escola .................................................................................................. 7 1.3 Educação Ambiental e Projetos nas Escolas ............................................................................. 9

2. MATERIAIS E MÉTODO ............................................................................................................. 12

2.1 Contextualização ....................................................................................................................... 12 2.2 Elaboração do Instrumento de Pesquisa .................................................................................. 13 2.3 Aplicação da Entrevista e Caracterização das Escolas ........................................................... 13

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................... 14 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 20 5. REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 22 6. ANEXOS ......................................................................................................................................... 24

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ANÁLISE DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE CASCAVEL: UM ESTUDO DE CASO

Juliano Karvat de OLIVEIRA1 Sandra Moraes GIANNOTTI2

RESUMO: Atualmente a implantação de projetos na educação é cada vez mais recorrente, provavelmente pela suas características de interdisciplinaridade, contextualização, abrangência e relação com os demais conteúdos. A temática ambiental é muito abordada a partir de projetos em que são evidenciadas as preocupações dos problemas provenientes da ação humana sobre a natureza, onde há a relação do tema com a realidade da escola. Entretanto, para que os projetos na área de educação ambiental cumpram a função de educar dentro das propostas de uma sociedade sustentável é importante que ele apresente alguns itens, como o grande envolvimento dos participantes e a interdisciplinaridade. Frente esse contexto, a presente pesquisa procurou verificar como os projetos sobre meio ambiente são organizados de acordo com alguns critérios, em cinco escolas estaduais do ensino público do município de Cascavel. O levantamento dos dados foi realizado a partir de uma entrevista semi estruturada com os sujeitos responsáveis pelos projetos de educação ambiental nas escolas pesquisadas. Após análise quali e quantitativa dos dados coletados observou-se que uma acentuada parte dos projetos prevê a interdisciplinaridade e o envolvimento de toda a comunidade escolar, e que a preocupação com o ambiente fica conexo ao aprendizado dos educandos. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Projetos Educacionais, Interdisciplinaridade.

ABSTRACT: Nowadays the implementation of projects in education is becoming more frequently, probably from the characteristics of interdisciplinarity, its contextualization, scope and relationship with the other content. The environmental thematic is much discussed from projects in which they are evidenced the concerns with the problems proceeding from human action on nature, where there is a relation of the issue with the school’s reality. However, that projects in the area environmental education perform the educational function within of the proposals for a sustainable society it is important that it contains some items, like the great commitment of the participants and interdisciplinarity. Front of this context, this research sought to determine how the projects on the environment are organized according to some criterions, in five public schools in the Cascavel city. The survey data was made from a semi-structured interviews with individuals responsible for environmental education projects in schools surveyed. After analyzing qualitative and quantitative data collected revealed that a marked part of the project provides an interdisciplinary approach and involvement of the entire school community, and that concern with the environment is related to the learning of students. KEYWORDS: Environmental Education, Educational projects, interdisciplinary

1. INTRODUÇÃO

Ostrovski (2002) afirma que a Terra é considerada uma entidade física, em termos

relacionados à sua natureza espacial e à sua topografia, bem como seus recursos naturais – os

solos, os minérios, a água, a biodiversidade. Todos esses componentes encontram-se organizados

em ecossistemas que oferecem uma vasta variedade de recursos essenciais para a manutenção da

integridade dos sistemas que sustentam a vida e a capacidade produtiva do meio ambiente.

1Licenciando do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Assis Gurgacz – FAG – CEP: 85807-700 Cascavel, PR. Endereço eletrônico: [email protected]. 2 Mestre em Educação. Docente da Faculdade Assis Gurgacz – FAG, Avenida das Torres, 500 – CEP 85806-095 – Cascavel/PR,. Endereço eletrônico: [email protected].

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Desde que o homem passou a usufruir os recursos do nosso planeta, o mesmo caminha a

uma situação de desgaste critica, impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, crescimento

econômico e superpopulação. Historiadores como Ferreira considera que a gênese da degradação

ambiental foi a Revolução Neolítica, ou revolução da agricultura, onde a mesma iniciou seu

desenvolvimento (FERREIRA et al; 2007).

Até esse momento histórico, e ainda alguns séculos adiante, o homem e a natureza

tinham uma relação diferente da que conhecemos hoje. O ambiente é que influenciava

drasticamente a vida do homem, “disponibilizando” tempestades, secas, nevascas, sujeitando as

primeiras populações às mais variadas ciladas naturais (EFFTING, 2007).

Esta situação começou a inverter-se quando os conhecimentos adquiridos através das

observações e algumas descobertas ao longo da história foram transpostos às gerações seguintes,

que vagamente passaram a entender os fenômenos ambientais. A partir disso, houve um grande

impulso no desenvolvimento das atividades humanas, incluindo muitos aprimoramentos

(EFFTING, 2007). Entretanto, até esse momento, os impactos ambientais provenientes da

atividade humana eram praticamente insignificantes, devido aos poucos implementos

tecnológicos e por ainda não haver industrialização e consumo em larga escala como temos hoje.

Um feito oportuno ao homem foi a Revolução Industrial no século XVIII, considerada o

estopim do desenvolvimento tecnológico (PEREIRA, 2002), que trouxe com ele uma avalanche

de problemas ambientais, mesmo que encobertos pela euforia das novas tecnologias. Effting

(2007) afirma que com a Revolução Industrial a natureza passou a ser administrada como um

supermercado gratuito, com reposição infinita de estoque, acarretando o esgotamento de recursos

ambientais, destruição de ecossistemas e perda de biodiversidade.

Sabe-se que nos últimos séculos a ciência caminhou a passos largos e tornou a vida do

homem mais próspera em todos os sentidos. Contudo, tantas décadas de benefícios visando o

conforto e tendo o consumismo como fator principal trouxe, em parte, conseqüências negativas,

principalmente ao meio ambiente.

É irônico lembrar que houve um tempo em que se pensava nos recursos naturais como

infinitos, e que a natureza “daria um jeito” no lixo, poluição e demais atividades degradantes,

sem nenhum problema. Isso não preocupava a humanidade, uma vez que seu principal

entretenimento era o crescimento econômico a todo custo, ainda que o mesmo se atrelasse aos

setores produtivos poluentes e destrutivos (FERREIRA et al; 2007).

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Somente nas últimas décadas, acumularam-se evidências suficientes de que o

desenvolvimento econômico alcançado por poucos e perseguido incansavelmente por muitos

países, está não só prejudicando o meio ambiente, mas grandes parcelas da humanidade. “A

intensificação das atividades econômicas associadas ao explosivo crescimento populacional,

notadamente após a Segunda Guerra Mundial, tem colocado em xeque o modelo de

desenvolvimento vigente” (FERREIRA et al; 2007).

O mesmo autor ainda afirma que “os problemas ambientais dos países desenvolvidos

estão associados ao excesso de consumo, resultado do crescimento da riqueza econômica”. Ou

seja, se os paises subdesenvolvidos alcançarem o tão sonhado desenvolvimento econômico nos

moldes dos paises desenvolvidos de hoje, estamos sujeitos a perder nosso planeta por completo.

Frente à essas preocupações é que destaca-se a importância da Educação Ambiental para a

concretização de uma sociedade sustentável, reunindo o conhecimento cientifico ambiental, a

igualdade social e a mudança de comportamento e consciência à prática da transformação

socioeducacional, prática essa tão importante e defendida por autores como Tavares et al (2001).

Portanto, o presente artigo tem por finalidade verificar a organização e desenvolvimento de

projetos de Educação Ambiental em escolas da rede pública estadual na cidade de Cascavel.

1.1 Educação Ambiental e Documentos Oficiais

As preocupações com o ambiente passaram a ser discutidas na década de 1960, dois

séculos e meio depois da Revolução Industrial! Os homens começaram a abrir os olhos e voltá-

los ao meio ambiente também na década de 1970, com a intensificação dos debates. A expressão

Educação Ambiental só apareceu em março de 1965, na Conferência de Educação da

Universidade de Keele, Inglaterra afirmando que a prática do novo termo deveria se tornar uma

parte essencial de educação de todos os cidadãos (EFFTING, 2007).

Somente três anos depois é que realmente essa metodologia de preservação ambiental

começa a surtir algum efeito. Em 1968, foi formado um Conselho para Educação Ambiental com

a participação de 50 organizações. No mesmo ano, a UNESCO realizou um levantamento sobre

escola e meio ambiente em 79 paises, concluindo que “a Educação Ambiental não deveria ficar a

cargo apenas de uma disciplina específica no currículo das escolas, mas sim permear em toda a

grade curricular” (TELLES et al; 2002). O mesmo levantamento, ainda abrangia que as questões

ambientais contemplavam aspectos socioeconômicos, culturais, políticos e éticos.

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A Educação Ambiental destacou-se em 1977 com a Conferência Intergovernamental de

Educação Ambiental, realizada em Tbilisi, Geórgia, organizada pela UNESCO, em cooperação

com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (TELLES et al; 2002). Foram então

definidos objetivos, princípios, estratégias e recomendações para o desenvolvimento da Educação

Ambiental, vinculando o ensino formal como precursor das metas estabelecidas. Esses mesmos

princípios foram usados 15 anos depois dentro da temática de ensino na Agenda 21.

Na década seguinte os problemas ambientais passaram a ser discutidas e analisadas de

maneira mais pontual, a fim de serem resolvidas, ou pelo menos amenizadas. A ONU –

Organização das Nações Unidas - passou a realizar conferências exclusivas com a temática meio

ambiente.

Uma das primeiras, e com mais destaque na época foi em 1972, na cidade de Estocolmo,

Suécia, sob as pressões e protestos de ambientalistas que exigiam atitude das autoridades

(TELLES et al; 2002). Essa conferência abordou duas propostas antagônicas: Desenvolvimento e

Meio Ambiente.

Segundo Effting (2007), foi na Estocolmo 72, como ficou conhecida a conferência, que a

Educação Ambiental passou a ser considerada como campo de ação pedagógica. Apesar de ter se

tornado um marco na conquista dos direitos ambientais, a Estocolmo 72, encerrou-se sem uma

aparente solução, ou mesmo propostas para os problemas ambientais, e toda essa problemática

acabou esquecida por um tempo.

Em agosto de 1987, outra conferência foi realizada, dessa vez em Moscou, onde foram

elaboradas as estratégias internacionais para ações em Educação Ambiental, aplicadas então, na

década de 1990, e na mesma conferência reconheceu-se a importância da absorção da Educação

Ambiental nos sistemas educacionais dos diversos paises (TELLES et al; 2002).

Outra conferência, de importância, foi a ECO 92, ou Rio 92, no Rio de Janeiro em 1992,

com nome de “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”. Dessa

reunião, com representantes de quase todos os paises, saíram alguns documentos, como a Carta

da Terra, sendo esta uma declaração de princípios com três convenções: Biodiversidade,

Desertificação e Mudanças Climáticas. Outro documento importante foi a Agenda 21, que previa

“a adoção de um desenvolvimento sustentável no século XXI, conciliando a proteção do meio

ambiente, a diminuição das desigualdades econômicas e o crescimento da economia mundial”

(ALMEIDA; RIGOLIN, 2003).

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A Agenda 21 aborda muitas temáticas que devem contribuir para o desenvolvimento

sustentável, e uma delas é a Educação. Em um de seus capítulos o documento afirma que: “o

ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para

aumentar a capacidade do povo abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento”.

Em 1992, durante a Rio 92, foi formalizada a Carta Brasileira para Educação Ambiental,

coordenada pelo MEC, enfatizando “a necessidade de um compromisso real do poder público

federal, estadual e municipal no cumprimento da legislação para a Educação Ambiental”. Ainda

na Rio 92, algumas ONGs participaram do FORÚM GLOBAL, encontro que formulou

propostas, como o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global. “Esse documento vem reforçar a importância da Educação Ambiental

como meio indispensável para elaborar e desenvolver, de fato, formas menos prejudiciais de

interação do homem com a natureza” (TELLES et al; 2002).

Apesar de nessa narrativa histórica, ter-se abrangido apenas Conferências e Congressos

Internacionais, já existia movimentação interna em muitos paises com grupos distintos abraçando

a temática Educação Ambiental. Lima (2009) afirma que no Brasil a Educação Ambiental se

constituiu na década de 1970, sobretudo 1980, nascendo como um campo plural e diferenciado

que reunia contribuições de diversas disciplinas cientificas, matrizes filosóficas, posições

político-pedagógicas, atores e movimentos sociais.

1.2 Educação Ambiental na Escola

Ao inquirirem-se todos os documentos, conferências, congressos e referências ao longo

dos anos que debatem o conceito ambiental chega-se a conclusão do quão importante é a

introdução de uma conscientização e da informação à população, alusivos ao meio ambiente.

Alves e Colesanti (2006) apontam que o direito a um meio habitável que garanta a qualidade de

vida está presente na Constituição Federal de 1988, artigo 225°. Os autores afirmam que nossa

atitude insustentável e falta de responsabilidade ambiental nos levam a ferir um dos principais

direitos constitucionais dos cidadãos: o direito ao meio ambiente equilibrado que garanta a

qualidade de vida das presentes e futuras gerações.

Alguns autores como Jacobi (2003) confirmam essa tendência de degradação e

consumismo exagerado, apontando o homem como o transgressor principal e a educação

Ambiental como medida paliativa, afirmando que o enfoque da Educação Ambiental deve buscar

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uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a natureza o universo, tendo como

foco que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o

ser humano. A postura de dependência e de desresponsabilização da população decorre

principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas

comunitárias participativas.

Jacobi (2003) ainda aponta que para práxis ambiental é necessária a confluência de

conhecimentos distintos numa perspectiva educativa: a dimensão ambiental configura-se como

uma questão que diz respeito a um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o

envolvimento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a

comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar (JACOBI, 2003).

A partir disso, tomamos conta de que as mudanças nos padrões de consumo e atitudes na

preservação ambiental estão claramente relacionadas à Educação Ambiental. E obviamente cabe

ao professor tornar cognitivo esse novo norteamento educacional que pede uma mudança

socioambiental. Ainda tomando Jacobi (2003) como referência, temos o argumento de que é

papel dos professores a atitude de mediadores de um conhecimento necessário para que os alunos

adquiram uma base adequada de compreensão essencial do meio ambiente global e local e da

importância da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade mais justa e

ambientalmente sustentável.

Na educação brasileira, o segmento mais importante que abarca a Educação Ambiental em

nível nacional, são os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais. Criados em 1998, os PCNs

tem a finalidade de nortear a educação nacional .Temas, como violência, corrupção e ecologia

foram orientados a entrar nos conteúdos das disciplinas tradicionais, na forma de temas

transversais. Esses temas nada mais são do que conteúdos adicionais que relacionam-se mais ao

cotidiano dos alunos e que permeiam entre os conteúdos estruturais. Escolhidos a partir das

necessidades sociais do país são amplamente conhecidos por sua interdisciplinaridade. Sua

função é fazer com que o estudo dessas disciplinas torne-se mais atraente. Além disso, colocar

assuntos do dia-a-dia contextualizados com os conteúdos curriculares, facilita a aprendizagem.

Dentro da proposta dos PCNs, alguns temas foram selecionados, dados a sua importância

na formação dos alunos, como temas transversais. Estes temas deveriam ser trabalhados em todas

as disciplinas durante todas as séries do ensino fundamental. O meio ambiente foi um dos temas

escolhidos para ser trabalhado dentro dessa proposta.

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Segundo este documento “vê-se a importância de incluir Meio Ambiente nos currículos

escolares como tema transversal, permeando toda a prática educacional” (BRASIL, 1998). E

ainda: “é fundamental, na sua abordagem, considerar os aspectos físicos e biológicos e,

principalmente, os modos de interação do ser humano com a natureza, por meio de suas relações

sociais, do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia”.

Amaral (2000) aponta algumas metas relevantes dos PCNs que abrangem o Meio

Ambiente como tema transversal, sendo as de contribuir para a construção de uma sociedade

sustentável, socialmente justa e equilibrada no aspecto ecológico, preparando cidadãos aptos para

atuarem na realidade socioambiental, além de estarem comprometidos com a vida, com o bem

estar de cada um e da sociedade.

Porém, os PCNs tem aspecto abrangente, e a maioria dos estados brasileiros adotam

parâmetros específicos para direcionar a educação regional. A partir de 2007, a Secretaria de

Educação do estado do Paraná, adotou as DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação) como

documento de encaminhamento e direcionamento do ensino no estado. A Educação Ambiental,

fica embutida dentro dos eixos estruturantes nas DCEs de Biologia e Ciências, sem uma atenção

especifica, e ainda, encoberta pelos demais conteúdos. A mesma só vai aparecer nas diretrizes de

Geografia, sendo vinculada a uma dimensão socioambiental, como afirma o próprio documento:

“A abordagem geográfica deste conteúdo estruturante destaca que o ambiente não se refere somente a envolver questões naturais. Ao entender ambiente pelos aspectos sociais e econômicos, os problemas socioambientais passam a compor, também, as questões da pobreza, da fome, do preconceito, das diferenças culturais, materializadas nos espaço geográfico” (PARANÁ, 2008, p.73).

1.3 Educação Ambiental e Projetos nas Escolas

Frente a esta proposta no estado do Parará, estado este foco da nossa pesquisa, que não

coloca a educação ambiental de forma explicita, permeando todas as disciplinas, hoje, na maioria

das escolas, temos como resposta a Educação Ambiental trabalhada através de projetos com a

intenção de mudar a maneira de pensar dos educandos sob práticas envolvendo o cotidiano.

A palavra projeto vem do latim projectu (MICHAELIS, 2008) e significa plano para a

realização de um ato, desígnio, intenção. Educação, por sua vez, engloba os processos de

aprendizagem, aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e essencialmente de

desenvolvimento da capacidade de pensar, julgar e empregar conceitos que conduzam às

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mudanças de atitudes e de comportamentos (CARLI, 2008). Portanto, um projeto educacional

deveria permear uma atitude transformadora de comportamento, uma cognição de informações e

ampliação da capacidade de discutir e dialogar sobre o tema direcionado, pelos professores, e

principalmente, pelos alunos. A temática Ambiente cria uma série de projetos e debates

interdisciplinares em temas muito variantes.

Tavares et al (2001) afirma uma importância enorme na execução de projetos focados no

tema meio ambiente. Segundo o mesmo, o trabalho com projetos significa “uma mudança de

postura, uma forma de repensar a prática pedagógica e as teorias que lhe dão sustentação”.

Possibilita ainda a cooperação, a solidariedade e o envolvimento entre professores, alunos e

comunidade com objetivo de transformar a realidade. Exige, também, por parte de professores

organizarem informações e conhecimentos, gerando um produto concreto, disseminando

informações sobre o tema nas escolas e comunidades. Além de tudo isso, tem a intenção de

atualização e pesquisa tanto de professores, como de alunos.

Grynszpan (1999) comprova essa atualização e o incentivo moral e profissional gerado a

partir de um trabalho educacional como os projetos de Educação Ambiental: foi possível traçar

estratégias metodológicas que visavam resgatar, entre os docentes públicos, o sentimento de

valorização de seu papel social e político nas comunidades às quais pertenciam, de modo a

produzir não apenas uma atmosfera de capacitação de professores, mas um lugar de estímulo à

reflexão ética.

A importância da interdisciplinaridade de um projeto educacional é o envolvimento da

comunidade escolar inteira. Quando temos professores das mais diversas disciplinas trabalhando

em sua execução, o projeto se enriquece com conhecimentos muito distintos vindos das

experiências e sugestões desses docentes, o que também desencadeia mais compartilhamento de

informações entre os professores.

Além disso, os alunos passam a ter mais incentivo à participar dessas manifestações na

escola, uma vez que os mesmos podem optar por uma disciplina a qual tem mais afinidade, e a

partir disso se envolver profundamente no projeto. Outro ponto pertinente ao projeto escolar é a

sua atuação além dos muros da escola. As concepções e ensinamentos presentes em um plano

educacional facilitam a abordagem de problemas regionais e o envolvimento de estratégias

didáticas úteis que levam à luta pela qualidade de vida, aspecto principal para a consolidação da

cidadania (GRYNSZPAN 1999).

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Mas vemos também alguns obstáculos enfrentados na execução de um projeto, afinal,

nem tudo é tão simples como parece. Grynszpan (1999) argumenta que o ensino formal, ao

manter horários letivos sobrecarregados e grade curricular organizada de forma disciplinar, não

propicia experiências interdisciplinares, como requer a educação ambiental, colaborando para que

os problemas da comunidade escolar, ainda que conhecidos por boa parte dos professores, não

sejam vistos como questões a serem enfrentadas em sala de aula. Isso leva boa parte dos projetos

a coincidir com datas relacionadas ao Meio Ambiente, uma vez que a contextualização acaba

sendo mais fácil e dinâmica. E é por coincidir com essas datas que muitos projetos acabam sendo

curtos e rápidos, não envolvendo toda a comunidade escolar, e além de tudo acabam sendo

esquecidos após seu término.

Amaral (2000) aponta ainda que temos 3 tipos de projetos sobre meio ambiente nas

escolas, classificando-os como apêndice, eixo paralelo e eixo integrador. Os conteúdos de caráter

“apêndice” atuam como complementos à grade curricular, ou seja, o professor os cita enquanto

expõe seu conteúdo programático do planejamento. Não existe nem uma mobilização ou uma

aula específica para tratar esses temas. Pelo menos o docente ainda tem o esforço de mencionar o

ambiente em suas aulas, ainda que de forma indireta. Na concepção de “eixo paralelo” a

educação ambiental não se relaciona aos conteúdos estruturais, onde os mesmos se posicionam

superiores e se distanciam da realidade. Essa temática é trabalhada através de projetos onde aí

sim, a realidade do aluno é vinculada ao trabalho educacional. Nessa proposta,

interdisciplinaridade acontece apenas em alguns momentos. E por último, no “eixo integrador” a

Educação Ambiental vem embutida em todo os conteúdos, buscando atrelar a realidade do aluno

e seu conhecimento prévio com a construção dos novos conceitos abordados pelo professor.

Uma observação a ser feita aqui é a controvérsia exposta nos próprios PCNs. Esses

parâmetros são conhecidos pela inserção da interdisciplinaridade, onde temas neles inseridos,

deveriam ser vinculados à todas as disciplinas curriculares. Entretanto, o próprio documento dá

ênfase às disciplinas específicas. Amaral (2000) afirma que os PCNs apontam as áreas de

Ciências Naturais, História e Geografia como as principais contribuintes para a execução e

manifestação desse tema, no caso, Meio Ambiente, e que as demais disciplinas atuariam como

coadjuvantes no trabalho dessa temática.

Essa contradição é um ponto pertinente em relação às dificuldades da execução de um

projeto educacional. Além disso, os trabalhos realizados nessas concepções acabam

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sobrecarregando os professores dessa área, o que desmotiva-os a se empenharem numa tarefa

como essa, contribuindo para o pouco incentivo a uma mobilização escolar frente à execução de

um projeto educacional com tema ambiental. (Grynszpan, 1999)

Novamente, analisando os PCNs, nosso documento educacional mais relevante à

Educação Ambiental, vemos muitas falhas e lacunas apontadas por alguns autores. O próprio

conceito de Educação Ambiental, Meio Ambiente, e desenvolvimento sustentável se contradizem

e se confundem, não havendo uma epistemologia única a ser seguida que orienta os usuários

desses parâmetros. A própria transversalidade se mostra em xeque (Amaral, 2000).

Nos temas transversais vemos outro questionamento conturbador apontado por Macedo

(1998). Os temas transversais são melhores que os conteúdos curriculares, por serem tratados de

maneira singular? E se o próprio documento afirma sua importância, porque esses temas não

estão dentro dos currículos escolares de maneira direta? Independente, da organização dos PCNs

e de como os interpretamos é explícito a importância do trabalho com os temas transversais, em

especial os de Educação Ambiental, uma vez que a função dessa temática e organização, é de

formar um cidadão consciente, que possa interagir com o seu meio, percebendo sua influência no

ambiente e compreendendo os múltiplos semblantes dos problemas ambientais.

Frente a isso, vemos a importância de uma investigação aprofundada nos projetos de

escolas, com perfis físicos e educacionais variantes, afim de apontar as principais características

dos mesmos, em relação à sua interdisciplinaridade, vertente biológica e principalmente,

envolvimento da comunidade, uma vez que o papel da escola na sociedade atual é a mudança de

comportamento dos envolvidos com suas ações pedagógicas.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Contextualização

Para a realização deste trabalho foi escolhido o Município de Cascavel (PR), que conta

com 40 escolas públicas para atender aos 34.581 alunos matriculados em 2009, distribuídos por

toda a área do município. Dentre essas 40 escolas, cinco foram escolhidas para a pesquisa, as

elegidas possuem perfis diferentes entre os quais se observaram o ensino normal, profissional e

tecnológico, e com aspectos pedagógicos diferentes. Essa diversidade nas escolhas das escolas se

justificou pela intenção de ver a diversidade como cada escola trata de projetos ambientais e

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também para verificar se este assunto é visto como um tema pertinente em todos esses espaços. A

Figura 1 mostra o mapa com a localização de cada escola participante.

Figura 1: mapa com a localização das escolas entrevistadas (Fonte: GoogleMaps)

2.2 Elaboração do Instrumento de Pesquisa

A elaboração do questionário para a entrevista veio a partir do objetivo que se pretendia

alcançar: o de traçar os aspectos principais dos projetos relacionados à Educação Ambiental que

as escolas vinham desenvolvendo. O questionário (Anexo 1) foi composto por 10 (dez) questões

que procuravam investigar o tipo de projeto, o conteúdo interdisciplinar, a duração, a parcela de

envolvidos, o envolvimento da comunidade e os resultados obtidos pela escola.

2.3 Aplicação da Entrevista e Caracterização das Escolas

A entrevista semi estruturada foi direcionada ao diretor ou equipe pedagógica ou

professor responsável pelo projeto.

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A escola A, primeira instituição pesquisada, tem aspecto físico simples. Localiza-se

afastada em torno de 2,6 Km do centro da cidade. Portanto, os alunos que a freqüentam, também

moram na localidade. Possui ensino fundamental (5ª a 8ª) e ensino médio. Para a entrevista, a

diretora se dispôs a participar, uma vez que a mesma é a responsável pela execução dos projetos.

A escola B localiza-se no centro e por esse fato, atende a uma parcela de alunos vindos de

regiões diferentes da cidade. Dispõem o ensino fundamental (5ª a 8ª), ensino médio e alguns

cursos de formação técnica. Também nessa escola, a diretora se dispôs à entrevista, sendo a

mesma encarregada da organização e administração dos muitos projetos que a escola apresenta,

tanto na área ambiental, como em outras áreas curriculares.

A escola C apresenta-se afastada em torno de 3,0 Km do centro, na qual os alunos

freqüentadores residem em bairros próximos. Possui também nível fundamental e médio. Ao ser

abordado sobre a entrevista, a equipe pedagógica encaminhou a pesquisa à professora

responsável pela execução do projeto que se sucedia na escola.

A escola D localiza-se 2,0 Km longe do centro, abrigando uma parcela variável de alunos

vindos de outros bairros. Abrange ensino fundamental e médio. Após ser esclarecido os objetivos

da pesquisa, a escola encaminhou a pesquisa à docente que se encarregava dos projetos da escola

no momento.

Por fim, a escola E localiza-se em um bairro à 2,1 Km do centro da cidade. Sua

característica principal é que é uma escola técnica, apresentando vários cursos técnicos, na forma

de integrado ou subseqüente. Dentre os cursos oferecidos há o de técnico em meio ambiente,

sendo o último, o alvo da presente pesquisa. Por apresentar esse diferencial, os alunos que

freqüentam a escola vêm de todas as regiões da cidade. A entrevista foi direcionada a

coordenação do curso de Meio Ambiente, único curso presente que apresentava projetos sobre

Educação Ambiental.

Salientando neste momento que o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

com Seres Humanos da Faculdade Assis Gurgacz – FAG, pelo parecer 133/2009.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao perguntar às escolas participantes, quais possuíam projetos de educação ambiental,

todas responderam que havia projetos nessa temática (100%), com temas variados, como horta

orgânica, reciclagem, revitalização de rios, sendo estes exemplos os mais executados. Aqui

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salienta o que Tavares et al (2001) afirma, da importância desses projetos dentro da escola, sendo

executados pertinentemente, atuando como modificadores da postura pedagógica, além da

interatividade entre professores e alunos e também atualização de docentes e educandos.

Outros temas também relevantes à educação ambiental poderiam ser usados pelas escolas,

como incentivo ao consumo consciente, construção de cisternas para economia de água e

aquecedores solares com materiais recicláveis, para economia de energia e disposição de água

quente. Esses temas além de interessantes e de serem bem recebidos pelos alunos, dispõe vários

benefícios à própria escola, como a economia de certos recursos que a instituição precisa arcar,

diminuindo gastos.

Quando se questionou às escolas sobre a duração média dos projetos, houve resultado

variado. A escola A afirmou que a duração do projeto que estava em execução no momento da

pesquisa era de um bimestre, equivalendo a 20% dos resultados. A escola B, por possuir

inúmeros projetos, com temas e metodologias variáveis, afirmou ser muito distinta a duração da

execução, também totalizando 20% dos dados coletados. O restante, 60% dos resultados, sendo

estes as escolas C, D e E, afirmaram ser anual, começando e encerrando com as aulas a

efetivação dos projetos, porém, a escola C, se organiza em quatro horas por semana para os

alunos trabalharem nas atividades. Apesar de autores como Grynszpan (1999), afirmarem que os

horários letivos sobrecarregados não ajudam na organização de um projeto percebe-se na

pesquisa que 60% das escolas pesquisadas conseguem conciliar um projeto grande e de longa

duração, mesmo com as atribulações do cotidiano escolar.

É importante enfatizar que para se obter um bom resultado, tanto prático como de

aprendizado, os projetos carecem de um longo tempo para alcançar suas metas, em geral o

período de um ano letivo. Isso porque, além da construção do projeto em si considerando a parte

prática, o aluno se envolve com o tema por mais tempo, ajudando na construção do conhecimento

obtido com todo o trabalho desenvolvido e a formação de atitudes coerentes com uma postura de

preservação ambiental.

Em relação à parcela de alunos envolvidos, novamente têm-se números variáveis. A

escola A afirmou serem poucos os alunos que se dedicam ao projeto. Na escola B há um grande

número de alunos envolvidos. Já na escola C afirmou ser variável, pois os alunos vêm em período

contraturno, causando, portanto, essa distinção de quantidade. A escola D tem quase 100% de

participação, pois os alunos realizam as atividades em horário de aula, nas disciplinas de Ciências

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e Geografia, principalmente, como afirmou a professora entrevistada. Como a escola E é uma

instituição de ensino técnico, apenas os alunos do curso de Meio Ambiente se envolvem na

execução dos projetos, porém em larga escala. Portanto, 60% das escolas apresentam grande

participação dos alunos (escolas B, D e E), enquanto 20% a participação é variada (escola C) e

20% atinge uma parcela pequena (escola A).

Um questionamento importante a ser feito nesse ponto da discussão é que mesmo a escola

E, sendo uma instituição com vários cursos técnicos, todos deveriam participar. O curso

específico na área ambiental poderia idealizar os projetos para que eles fossem aplicados na

escola, para terem a vivencia das dificuldades de um processo de conscientização, havendo

também a inter-relação entre os cursos das mais diferentes áreas.

Ao questionar-se sobre como os alunos são convidados a participar dos projetos, 3

escolas, ou 60% , afirmou que os educandos comparecem voluntariamente, sendo que as escolas

B, C e E afirmaram esse dado. Na escola A a participação vale nota, portanto, chama mais

atenção e o envolvimento nos projetos é maior, equivalendo a 20% dos resultados. Por fim na

escola D (20%), os alunos comparecem, porque, como já foi dito, a execução acontece em

horário de aula, e os professores a tornam uma aula prática, pertencente à grade curricular do ano

letivo. Talvez se em algumas escolas a participação é escassa pode ser pelo fato do pouco

incentivo ou de uma possível falta de divulgação, isso porque em três escolas os alunos são

voluntários. Mesmo assim, considera-se bom o comprometimento dos alunos envolvidos.

A participação voluntária não deixa de ser positiva, já que mostra o interesse de alguns

alunos com esse tema tão relevante, como mostrou 60% das escolas. Porém, se os projetos

pertencessem ao eixo integrador conforme Amaral (2000) aponta, que insere a temática ambiental

dentro dos conteúdos curriculares, atrelando esses conhecimentos com a realidade do aluno,

facilitaria a contextualização dos assuntos, a interdisciplinaridade entre docentes, o entendimento

do aluno e a dinamização do trabalho do professor, onde o mesmo não se atribuiria a muitas

funções, conseguindo administrar suas aulas com a execução do projeto. É importante ressaltar

também que nos projetos que é atribuído nota, mesmo o aluno participando para melhorar seu

rendimento, o que dá nítida impressão que é obrigação a participação nessas atividades, há a

possibilidade do mesmo abraçar a causa ambiental e se envolver profundamente com a efetivação

do projeto.

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Ao serem questionadas se os projetos atingem a comunidade escolar de maneira direta ou

indireta, 60% das escolas afirmaram conseguir um resultado direto na comunidade escolar,

sucedendo – se isso na escola A, B e D. Na escola C (20% da pesquisa), notou-se que existe

parcialmente a influência do projeto em toda a comunidade, pois o mesmo é direcionado apenas

aos alunos. Nesse caso, o projeto só poderia sair dos muros da escola se os educandos levarem

adiante os conhecimentos adquiridos na efetivação das atividades. Na escola E permeia apenas o

curso de Meio Ambiente, não atingindo demais setores, sendo esta 20 % dos resultados.

Mesmo que a maioria das escolas declare que envolve em seus projetos a comunidade

escolar no seu processo de execução ou com seus resultados, vale salientar que é muito relevante

a atuação desses planos de Educação Ambiental juntamente com a coletividade. Grynszpan

(1999) afirma que tudo o que está inserido num projeto educacional facilita a abordagem de

problemas regionais e o envolvimento de estratégias didáticas úteis que levam à luta pela

qualidade de vida, aspecto principal para a consolidação da cidadania, além da escola cumprir seu

papel de transformadora da sociedade.

Ainda que esses trabalhos não alcancem a comunidade de forma direta, é importante

salientar que o próprio aluno participante acabe sendo o disseminador das idéias presentes no

projeto e que o mesmo tenha a função de executá-lo além dos muros da escola, envolvendo sua

comunidade, atuando como o portador dos conhecimentos iniciais para a mudança da realidade

social.

Como já foi evidenciado, o tema Educação Ambiental vem embutido dentro dos PCN’s e

como tema transversal, o que coloca a interdisciplinaridade como fundamental no trabalho dos

docentes com esses temas, já que os próprios assuntos facilitam muito a inter-relação com as

demais disciplinas. Com esse contexto, perguntou-se às escolas se os projetos tinham caráter

disciplinar e interdisciplinar.

A escola A afirmou que tem apenas caráter disciplinar, estando os projetos apenas

inseridos como uma atividade a mais, sem relação com outras disciplinas. A escola B afirmou

que sim, que havia uma mobilização de toda a escola e grande participação e relação entre todas

as disciplinas na efetuação dos projetos. A escola C afirmou que havia certa interdisciplinaridade,

não muito relevante, pois o projeto era direcionado apenas à disciplina de Ciências. A escola E

afirmou que a interdisciplinaridade acontecia entre todos os conteúdos e disciplinas, porém

apenas no curso de Meio Ambiente. E a escola D não se mostrou nem inter, nem disciplinar, mas

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multidisciplinar, ou seja, envolvia todas as disciplinas que tinham alguma relação com a área

ambiental, que no presente caso foram as disciplinas de Ciências, Geografia e Química. Portanto,

40% das escolas apresentam projetos interdisciplinares (escola B e E), 20% possuem projetos

disciplinares (escola A), 20% afirmaram ser parcialmente interdisciplinar (escola C) e, por fim,

20% multidisciplinar em seus projetos (escola D)

A partir desses resultados, vale ressaltar a importância da interdisciplinaridade. Autores

como Jacobi (2003) afirmam que é muito válida a relação de conhecimentos distintos na prática

ambiental, assim como o conjunto de participantes desse universo educativo. A

interdisciplinaridade também é importante quando se pensa no envolvimento com o projeto.

Grynszpan (1999) aponta que os professores que acabam se encarregando do projeto sentem-se

sobrecarregados quando não se tem a relação com demais disciplinas e professores, acarretando

ao pouco incentivo de se trabalhar com essas atividades devido ao estresse e acúmulo de tarefas.

Seria também interessante ressaltar que muito se fala sobre interdisciplinaridade, desde os

documentos oficiais tem-se essa proposta, mas será que o conceito de interdisciplinaridade é

claro a todos os professores? Se fossem, talvez o trabalho interdisciplinar não fosse visto como

um acúmulo de tarefas, mas sim um facilitador da tarefa de ensinar.

Perguntou-se também às escolas se os projetos relacionam-se com os conteúdos

estruturais. Aqui se toma a categorização usada por Amaral (2000), citada anteriormente, que

classifica os projetos em três tipos, sendo eles: apêndice, eixo paralelo e eixo integrador. A escola

A (totalizando 20% dos resultados) caracteriza-se como eixo paralelo, ou seja, a educação

ambiental não se relaciona aos conteúdos estruturais e é trabalhada através de projetos onde a

realidade do aluno é vinculada ao trabalho educacional. Nessa proposta, interdisciplinaridade

acontece apenas em alguns momentos.

As escolas B, C, D e E distinguem-se como eixo integrador, isto é, a Educação Ambiental

vem embutida em todos os conteúdos, buscando atrelar a realidade do aluno e seu conhecimento

prévio com a construção dos novos conceitos abordados pelo professor. Contudo na escola D,

isso acontece apenas nas turmas que estão envolvidas com o projeto e na escola E, apenas com o

curso de Meio Ambiente. Pelos resultados obtidos 80% das escolas mantiveram-se com projetos

de caráter eixo integrador, sendo esse dado altamente positivo, pois com essa característica os

projetos têm uma efetivação mais promissora e resultados mais ligados ao aluno.

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Quando questionadas a respeito da elaboração do projeto, se a mesma envolvia toda a

escola, 60% das entrevistadas responderam que sim, sendo estas as escolas A, B e C. A escola D

(20% da pesquisa) respondeu que não, apenas os professores responsáveis pelos projetos que

trabalhavam em sua elaboração. Já a escola E (equivalente à 20% da pesquisa) afirmou que uma

minoria dos professores do curso de Meio Ambiente ajudavam na construção dos projetos.

Novamente atrelamos a interdisciplinaridade, onde a participação e o envolvimento de toda a

escola são importantíssimos, e que isso se apresenta em três, das cinco escolas pesquisadas.

Tavares et al (2001) afirma o quão promissor é o trabalho dentro da temática ambiental, e

frente a essa afirmação, perguntaram-se como os temas dos projetos eram escolhidos, uma vez

que dentro do tema Educação Ambiental aparecem diversos sub-temas relevantes ao estudo e

prática. As escolas A, B e C (60% da pesquisa) afirmaram que a maioria de seus projetos vem ou

vieram pela necessidade, ou da comunidade escolar, ou da própria escola. A escola D baseia seus

temas a partir de conferências de meio ambiente a nível estadual e reuniões pedagógicas,

equivalendo à 20% dos resultados. Já a escola E (20% da pesquisa) dá autonomia aos alunos e

permite que os mesmos procurem trabalhar com um tema ao qual tenham mais afinidade ou

interesse.

Por fim, quando abordadas a respeito dos resultados dos projetos, vindos dos alunos e

comunidade, todas as escolas afirmaram que houve mudança no comportamento, na forma de

pensar e interagir com o ambiente. Das escolas pesquisadas 60% afirmaram que as mudanças

vieram a longo prazo e que muitas vezes, uma parcela baixa de alunos apresentou resultado

(escolas A, C e D). Já a escola B (20% dos resultados) afirmou que os alunos apresentaram uma

consciência mais acentuada ao cuidar do ambiente escolar, principalmente, e a escola E (20% dos

resultados) indica como mudança o interesse e envolvimento dos alunos com esses trabalhos.

Fato importante a ressaltar é que todas as escolas se mostraram otimistas em relação aos

resultados, mostrando uma boa efetivação das metodologias empregadas na Educação Ambiental.

Como Tavares et al (2001) afirma que o trabalho com projetos significa “uma mudança de

postura, uma forma de repensar a prática pedagógica e as teorias que lhe dão sustentação”,

podendo-se afirmar que nas escolas pesquisadas essa mudança vem acontecendo a partir das

atividades desenvolvidas.

Os dados coletados na entrevista semi estruturada foram tabulados e são apresentados no

Quadro 1.

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QUADRO 1: Resultados obtidos nas entrevistas Pergunta Escola A Escola B Escola C Escola D Escola E A escola possui projetos com o tema “educação ambiental”?

Sim Sim Sim Sim Sim

Qual a duração da maioria desses projetos?

1 bimestre Variado Anual (4hs/semana)

Anual Anual

Qual a parcela de alunos envolvidos?

Pequena parcela de envolvidos

Grande participação

Variado (por causa do contraturno)

Grande participação

Grande participação (apenas alunos do curso Meio Ambiente

Como os alunos são convidados a participar do projeto?

Vale nota Voluntários Voluntários Vale nota (a partir de aulas práticas)

Voluntários

O projeto atinge a comunidade de forma direta ou indireta?

Diretamente Diretamente Parcialmente Diretamente Apenas o curso de Meio Ambiente

Os projetos são disciplinares ou interdisciplinares?

Disciplinar Inter Parcialmente Inter

Multi Inter

Os projetos se relacionam com os conteúdos estruturais?

Paralelos aos conteúdos

Relacionam-se Relacionam-se Relacionam-se Relacionam-se

A elaboração do projeto envolve toda a escola?

Sim Sim Sim Não envolve Minoria

Como é escolhido o tema dos projetos

Necessidade da escola ou comunidade

Necessidade da escola ou comunidade

Necessidade da escola ou comunidade

Conferências e reuniões pedagógicas

Alunos que escolhem

Percebe-se algum resultado por parte dos alunos e comunidade?

Mudança de postura

Maior consciência

Mudança de postura

Mudança de postura

Envolvimento dos alunos

Fonte: dados da pesquisa

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa, percebe-se que mesmo com muitas dificuldades, contratempos,

lacunas e pouco incentivo, as escolas insistem em elaborar um projeto para a conscientização

ambiental, o que é muito promissor, já que a prática desses planos educacionais pode criar um

senso critico aos educandos participantes e fazê-los mudar suas perspectivas em relação ao meio

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ambiente, perspectivas estas que se caracterizam pela preservação natural, além de dar a

possibilidade as escolas de a cada nova tentativa aprimorarem o seu trabalho.

Mesmo com a falta da interdisciplinaridade, do envolvimento de toda a instituição escolar

e resultados ainda mais amplos, é importantíssimo que as escolas continuem a persistir na prática

de projetos, principalmente na Educação Ambiental. Essas atividades têm a capacidade de

esclarecer que a sociedade é extremamente depende do meio natural, e que a degradação,

poluição e demais atividades agressoras vão acarretar grandes problemas no futuro, como a falta

de água, alimentos e matérias primas. Educar para uma sociedade sustentável, com o consumo

consciente, é o primeiro passo para a melhoria do futuro, e isso está amplamente relacionado com

a educação, uma vez que a escola é a principal vertente para uma mudança social, cultural e

ambiental.

A análise dos projetos permitiu uma visão mais ampla das relações entre alunos,

professores e educação. Os temas sobre Educação Ambiental proporcionam ao professor uma

prática educacional riquíssima em conhecimentos nas mais diversas áreas que essa temática

permite. Nesses processos acontece, além da formação para o meio ambiente, a formação do

cidadão, que entende seu posicionamento dentro do mundo ao qual interage e passa a perceber

que essas relações, de homem-ambiente, são extremamente importantes para o futuro de toda a

humanidade, e cabe ao professor, esse trabalho explanador de conhecimentos.

Frente às dificuldades, contratempos e pouca motivação presentes nos dados dessa

pesquisa sobre a execução dos projetos em Educação Ambiental nas escolas, fica evidente o quão

difícil é a realização de uma atividade semelhante. Apesar de muitos pontos positivos

encontrados, é uma missão árdua a do professor de aventurar-se em projetos tão exigentes como

esses. Sendo a própria educação caracterizada por muitos desafios nos processos de

ensino/aprendizagem, ao juntarem-se os obstáculos ambientais, principalmente com a situação

ambiental degradante que se encontra a sociedade, tem-se um universo problemático imenso para

afrontar-se, e como docente, cabe o papel de contornar toda essa situação sem se abater, em seu

caminho para formação do cidadão e de construtor de uma sociedade ambientalmente igualitária.

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5. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. M. A.; RIGOLIN, T.B. Geografia. São Paulo: Ática, 2003. 464p. ALVES, A.L.; COLESANTI, M.T.M. A importância da educação ambiental e sua prática na escola como meio de exercício da cidadania, 2006. Disponível em: < http://www.horizontecientifico.propp.ufu.br/include/getdoc.php?id=393&article=139&mode=pdf> Acesso em 16 ago. 2009. AMARAL, I.A. A educação ambiental e os PCNs. São Paulo: Mimeo, 2001. 12p. AMARAL, I.A. A educação ambiental no ensino de ciências. São Paulo: Mimeo, 2000. 15p. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf > Acesso em 12 de abr. 2009. CARLI, M.A.F. Teorias de aprendizagem, 2008. Disponível em: <http://caminhos-da-aprendizagem2.blogspot.com/2008/06/teorias-de-aprendizagem.html > Acesso em 27 de abr. 2009. CNUMAD. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992: Rio de Janeiro). Agenda 21. Curitiba: IPARDES, 2001. 260p. EFFTING, T.R. Educação ambiental nas escolas públicas: realidades e desafios, 2007. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/tania regina. pdf> Acesso em 16 de ago. 2009 FERREIRA, A. C.; ANDREOLI, C. V.; IHLENFELD, R. G. K.; PEGORINI, E. S., in TORRES, P. L. Alguns fios para entretecer o pensar e o agir. Curitiba: SENAR – PR, 2007. 704p. GRYNSZPAN, D. Educação em saúde e educação ambiental: uma experiência integradora, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi d=S0102-311X1999000600013&lang=pt> Acesso em 21de ago. 2009. JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf> Acesso em 16 de ago. 2009.

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LIMA, G.F.C. Educação ambiental crítica: do socioambientalismo às sociedades sustentáveis, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022009000100010&script=sci_arttext > Acesso em 16 ago. 2009. MACEDO, E.F. Parâmetros curriculares nacionais: a falácia de seus temas transversais. Porto Alegre: AEC, 1998. 120p. MICHAELIS. Dicionário da Língua Portuguesa – São Paulo: Melhoramentos, 2008. 320p. OSTROVSKI, D. Análise dos impactos sócioambientais motivados pelo caminho do colono, 2002. Disponível em: < http://www.pge.uem.br/pdf/dostrovski.pdf > Acesso em 28 de maio 2009. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Geografia, 2008. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009 /2_edicao/geografia.pdf > Acesso em 28 de maio 2009. PEREIRA, A.S. Mudança climática e energias renováveis, 2002. Disponível em: < http://www.comciencia.br/reportagens/clima/clima12.htm > Acesso em 28 de abr.2009. TAVARES, M.S.O.C.; et al. Registro de projetos de educação ambiental na escola. Disponível em: < http://mecsrv04.mec.gov.br/sef/ftp/projetosea.pdf > Acesso em 30 de mar. 2009. TELLES, M. Q.; ROCHA, M. B. PEDROSO, M. L.; MACHADO, S. M. C . Vivências integradas com o meio ambiente. São Paulo: Sá, 2002.144p.

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6. ANEXOS

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ANEXO 1: QUESTIONÁRIO DIRIGIDO AO DIRETOR E/OU EQUIPE PEDAGÓGICA 1. A ESCOLA POSSUI PROJETOS COM TEMA “EDUCAÇÃO AMBIETAL”? 2. QUAL A DURAÇÃO DA MAIORIA DESSES PROJETOS? 3. QUAL A PARCELA DE ALUNOS ENVOLVIDOS? 4. COMO OS ALUNOS SÃO CONVIDADOS A PARTICIPAR DO PROJETO? 5. O PROJETO ATINGE A COMUNIDADE DE FORMA DIRETA OU INDIRETA?

6. OS PROJETOS SÃO DISCIPLINARES OU INTERDISCIPLINARES?

7. OS PROJETOS SE RELACIONAM COM OS CONTEÚDOS ESTRUTURAIS?

8. A ELABORAÇÃO DO PROJETO ENVOLVE TODA A ESCOLA?

9. COMO É ESCOLHIDO O TEMA DOS PROJETOS?

10. PERCEBE-SE ALGUM RESULTADO POR PARTE DOS ALUNOS E

COMUNIDADE? QUAIS?