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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MACROECONÔMICO PROFESSOR DR. : JOSÉ LUIS OREIRO ALUNO: Allan Silveira dos Santos Primeira Lista de Questões para Discussão 1° Questão: No capítulo 2 da Teoria Geral, Keynes aceita o primeiro postulado da teoria clássica do emprego, mas rejeita o segundo. Ao expor as razões pelas quais ele rejeita o segundo postulado, Keynes apresenta dois argumentos, um que ele chama de “teoricamente não-fundamental” e o segundo que ele denomina de “teoricamente fundamental”. Apresente detalhadamente ambos os argumentos, mostrando de que forma a validade dos mesmos permite o surgimento de desemprego involuntário da força de trabalho. Keynes afirmou que a abordagem clássica do mercado de trabalho está baseada em dois postulados fundamentais. O primeiro é que “o salário é igual ao produto marginal do trabalho”, e este postulado é usado para que se obtenha a curva de demanda do trabalho. O segundo postulado apresentado é que em situações em que o salário real diverge do salário de equilíbrio, a negociação entre trabalhadores e firmas, faz com que os salários reais voltem ao seu nível de equilíbrio, sendo ofertada apenas a quantidade de trabalho condizente com o nível de salários reais vigentes. A primeira parte deste segundo postulado, o qual especifica a relação causal entre a quantidade de trabalho disponível para ocupação e a taxa de salário real para o trabalho foi aceito por Keynes e usado na sua definição de pleno emprego. Mas Keynes rejeita a segunda parte (e então a composição do postulado como um todo), pois ele não permite a existência do “desemprego involuntário” que Keynes apresentou como o maior problema das economias capitalistas dos anos 1930s. Ele disse que desemprego involuntário existe quando a oferta agregada de trabalho na economia é maior que o volume corrente empregado, mesmo mediante uma ligeira redução nos salários reais. Para os clássicos, algum desemprego que existisse deveria ser friccional, que é devido ao lag de tempo dos indivíduos que estão procurando e saindo de empregos anteriores para novos empregos, ou voluntário, devido à falta de vontade dos indivíduos em aceitar as menores taxas de salário real as quais eleas poderiam encontrar trabalho. É através de suas negociações nos salários nominais que os trabalhadores tentam proteger as suas posições relativas. Em outras palavras, a luta sobre salário nominal

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MACROECONÔMICO

PROFESSOR DR. : JOSÉ LUIS OREIRO

ALUNO: Allan Silveira dos Santos

Primeira Lista de Questões para Discussão

1° Questão: No capítulo 2 da Teoria Geral, Keynes aceita o primeiro postulado da teoria

clássica do emprego, mas rejeita o segundo. Ao expor as razões pelas quais ele rejeita o

segundo postulado, Keynes apresenta dois argumentos, um que ele chama de

“teoricamente não-fundamental” e o segundo que ele denomina de “teoricamente

fundamental”. Apresente detalhadamente ambos os argumentos, mostrando de que

forma a validade dos mesmos permite o surgimento de desemprego involuntário da força

de trabalho.

Keynes afirmou que a abordagem clássica do mercado de trabalho está baseada

em dois postulados fundamentais. O primeiro é que “o salário é igual ao produto

marginal do trabalho”, e este postulado é usado para que se obtenha a curva de demanda

do trabalho. O segundo postulado apresentado é que em situações em que o salário real

diverge do salário de equilíbrio, a negociação entre trabalhadores e firmas, faz com que

os salários reais voltem ao seu nível de equilíbrio, sendo ofertada apenas a quantidade

de trabalho condizente com o nível de salários reais vigentes.

A primeira parte deste segundo postulado, o qual especifica a relação causal

entre a quantidade de trabalho disponível para ocupação e a taxa de salário real para o

trabalho foi aceito por Keynes e usado na sua definição de pleno emprego. Mas Keynes

rejeita a segunda parte (e então a composição do postulado como um todo), pois ele não

permite a existência do “desemprego involuntário” que Keynes apresentou como o

maior problema das economias capitalistas dos anos 1930s. Ele disse que desemprego

involuntário existe quando a oferta agregada de trabalho na economia é maior que o

volume corrente empregado, mesmo mediante uma ligeira redução nos salários reais.

Para os clássicos, algum desemprego que existisse deveria ser friccional, que é

devido ao lag de tempo dos indivíduos que estão procurando e saindo de empregos

anteriores para novos empregos, ou voluntário, devido à falta de vontade dos indivíduos

em aceitar as menores taxas de salário real as quais eleas poderiam encontrar trabalho.

É através de suas negociações nos salários nominais que os trabalhadores tentam

proteger as suas posições relativas. Em outras palavras, a luta sobre salário nominal

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afeta principalmente a distribuição do salário real agregado entre os diferentes grupos de

trabalho. Isso não significa que as taxas de salário nominal não podem ser reduzidas

quando há uma quantidade considerável de desemprego ou quando determinadas

indústrias estão em situação económica difícil. Elas foram reduzidas durante a Grande

Depressão, enquanto Teoria Geral estava sendo escrita, mas apenas que as tentativas de

reduzi-las pode ser muito prejudicial para as relações de trabalho.

Para Keynes, os reajustes de salários nominais que ocorrem como resultado do

desemprego não pode mover a economia para o pleno emprego. Seria necessária uma

compensação na demanda agregada a fim de que a economia voltasse às condições de

pleno emprego.

Nesse caso, a visão a qual Keynes entende o equilíbrio do mercado de trabalho é

substancialmente diferente da visão clássica. Para Keynes, a um determinado nível de

salário real, a "oferta agregada de mão de obra disposta a trabalhar para aos salários

atuais pode ser maior do que o volume existente de emprego”.

Por todo o exposto, percebemos haver uma relação fundamental entre a rejeição

do segundo postulado apresentado pelos clássicos (de que as negociações entre

trabalhadores e firmas levariam ao salário real de equilíbrio e ao pleno emprego) e a

existência do desemprego involuntário o qual, para Keynes, é resultado de desequilíbios

no mercado de bens, dadas as curvas de oferta e demanda de trabalho, e não o resultado

imediato da rigidez de preços ou da ilusão monetária dos trabalhadores.

2° Questão: Uma crítica comum dos autores neo-ricardianos a teoria keynesiana é que a

mesma permitiu que a “lei de Say” retornasse a cena “pela porta dos fundos” devido ao

conceito de eficiência marginal do capital. Isso porque tal conceito re-estabeleceu a

existência de uma relação inversa entre a quantidade demandada do fator de produção

capital e a taxa de juros, condição sine qua non para a tendência ao pleno-emprego no

sistema neoclássico. Você concorda com essa crítica? Mais especificamente, você

concorda que o conceito de eficiência marginal do capital é equivalente ao conceito de

produtividade marginal do capital? Se não, quais os fundamentos microeconômicos para

a existência de uma relação inversa entre o volume de investimento e a taxa de juros na

Teoria Geral de Keynes? Qual o papel que a intensidade de fatores (entendido como a

relação K/L) desempenha para esse resultado?

Ora, não é correto tratar como sinônimos o conceito de eficiência marginal do

capital e o conceito de produtividade marginal do capital. A eficiência marginal do

capital é caracterizada como a taxa de desconto que equaliza o fluxo de caixa que se

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espera obter com a compra de um bem de capital em comparação com o preço de oferta

do mesmo.

Quanto a produtividade marginal do capital, esta não está associada a

expectativas de fluxos monetários futuros e sim a quantidade física de produto adicional

que dado equipamento pode gerar. Além disso, a produtividade marginal do capital, ao

contrário da eficiência marginal do capital, não está sujeita a incerteza. Ainda

comparando-se os dois conceitos acima, perceba que enquanto a produtividade marginal

do capital não está sujeito a alterações nas taxas de juros, a eficiência marginal do

capital, que pode ser comparada a taxa interna de retorno do equipamento, é fortemente

influenciada pelas alterações nas taxas de juros o que implica que ela não pode ser

considerada como uma variável puramente real. Estas diferenças são primordiais para

que fique claro que os dois conceitos expostos acima são distintos e que a crítica dos

autores neo-ricardianos não é, de modo algum, procedente.

Quanto aos fundamentos microeconômicos que fundamentam a existência de

uma relação inversa entre o volume de investimento e a taxa de juros, Keynes, na Toeria

Geral, explica que a elevação do investimento, aumenta o estoque de capital, que faz

com haja uma redução da escassez do capital, esse fator, por sua vez, diminui o fluxo de

quase-rendas esperadas dos bens de capital recentemente produzidos.

Além disso, a elevação do investimento, ao ampliar a quantidade produzida dos

bens de capital, eleva o preço de oferta desses bens, e isso ocorre devido aos

rendimentos marginais decrescentes na indústria produtora de bens de capital.

A partir da análise dos dois argumentos acima, perceba que quanto maior a

intensidade de fatores (K/L) menor será a eficiência marginal do capital, pois um maior

coeficiente (K/L) contribui com a redução dos fluxos de quase-renda dos bens de capital

e faz com que haja um aumento do preço de oferta dos bens de capital.

3° Questão: Uma proposição comum na teoria pós-keynesiana é que a posição final de

equilíbrio do sistema econômico é dependente da trajetória que a economia descreveu ao

longo do tempo. Utilizando os conceitos de equilíbrio estático, equilíbrio estacionário e

equilíbrio movente desenvolvido por Kregel (1976) mostre como o equilíbrio de curto-

período (o ponto de demanda efetiva) pode ser dependente da história de erros de

previsão que os agentes econômicos cometeram ao longo de uma sequência de períodos

de produção. Nesse caso, podemos afirmar, tal como Kalecki, que o longo-prazo é apenas

uma sequência de curtos-prazos, não tendo existência independente dos mesmos?

Explique.

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A fim de responder ao questionamento, é interessante caracterizar o que foi

considerado por Kregel (1976) como equilíbrio estático, equilíbrio estacionário e

equilíbrio movente.

No modelo de equilíbrio estático, as expectativas de curto-período, que são as

principais balizadoras da quantidade a ser produzida pelos empresários, são sempre

realizadas, ou seja, as expectativas coincidem com os resultados realizados. Assim, o

ponto de demanda efetiva sempre coincide com o ponto de demanda realizada. Isso, no

entanto, não quer dizer que não há incerteza. Além disso, as expectativas de curto e

longo período são independentes entre si. Nesse caso, a economia está sempre operando

em equilíbrio, que pode ser abaixo do nível de pleno emprego dos fatores produtivos.

No modelo de equilíbrio estacionário, as expectativas de curto e de longo prazo

continuam independentes. Entretanto, nem sempre há a coincidência dos expectativas de

curto prazo com os resultados realizados, o que pode ocasionar pequenas diferenças

entre a demanda realizada e o ponto de demanda efetiva.

Assim, por meio do processo de tentativa e erro, as expectativas de curto período

conduzem a revisões graduais no nível de emprego ofertado e na quantidade produzida,

levando a alterações na demanda realizada até o ponto em que ela coincide com a

demanda efetiva e reestabelece as condições de pleno emprego. Dessa forma, há

deslocamentos graduais da curva de demanda agregada até que ela se iguale à demanda

realizada.

Dada a independência entre as expectativas de curto e de longo prazo, os erros

de previsão não levam a mudança do nível de investimento desejado, o que, por sua vez,

implica que não há alteração na capacidade produtiva e na curva de oferta agregada.

Posto isso, neste modelo, há apenas variações ao redor do ponto de demanda efetiva de

curto prazo. Nesse modelo, o estado de expectativas é mantido constante de uma forma

geral.

O modelo de equilíbrio movente, por sua vez, relaxa as hipóteses dos modelos

de equilíbrio estático e estacionário. Nesse modelo de equilíbrio, não há sempre

igualdade entre os resultados esperados e os resultados realizados. Além disso, o estado

geral de expectativas não é mantido constante de uma forma geral e as expectativas de

curto e longo prazo não são independentes. As decisões de curto prazo podem implicar

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em alterações nas expectativas de longo prazo. Nesse sentido, adota-se nesse modelo o

conceito de dependência de trajetória. Nesse sentido, pode haver alterações na

capacidade produtiva da economia a partir do deslocamento da curva de oferta agregada

em função da mudança de expectativas. Somente nesse modelo de equilíbrio movente,

pode-se dizer que o longo-prazo é influenciado pelos níveis de demanda efetiva

verificados no curto prazo, sendo válida a afirmação de Kalecki de que o longo prazo

consiste em sucessões de curto prazo.

4° Questão: Comente e explique a seguinte afirmação de Possas (1987) a respeito da

teoria do investimento de Kalecki :

“(...) A concepção de Keynes sobre os determinantes do investimento revela-se

bastante próxima a de Kalecki – surpreendentemente, talvez, para as leituras

convencionais dos dois autores - , exceto por seu nível de generalidade e

densidade conceitual incomparavelmente maiores, que, por isso mesmo podem

dar lugar, como foi sugerido antes, a uma teoria da instabilidade do

investimento mais do que a sua dinâmica” (Possas, 1987, p.145).

Possas (1987, p. 132) trata a teoria do investimento de Keynes como conducente

a uma teoria geral da instabilidade capitalista que abarca os determinantes da dinâmica

associados a demanda efetiva, tratados por Kalecki como um de seus momentos

possíveis.

Keynes e Kalecki buscaram diferenciar suas visões das apresentadas pelos

clássicos. Os autores desejavam entender a economia de sua época e corrigir suas

deficiências, opondo-se aos postulados sugeridos pela Lei de Say e libertando-se do

antigo modo de pensar que foi proposto pela economia clássica, corrigindo a falácia dos

clássicos identificarem quais eram as variáveis que determinavam o sistema, atribuindo

conceitos indevidos. Keynes (1982) mostra que tal teoria inverteu a ordem de

determinação de algumas variáveis, inserindo a poupança e investimento como

variáveis determinantes e não como variáveis determinadas.

De acordo com Possas (1987) a teoria do investimento de Keynes é mais geral

que a de Kalecki, porém tal afirmação não implica que as teorias são incompatíveis,

pois teoria de investimento de Kalecki é uma representação provinda da teoria de

Keynes o que as tornam teorias complementares que analisam a dinâmica específica da

demanda efetiva. Assim, embora a teoria de Kalecki não tenha sido tão completa e

sofisticada quanto a de Keynes, o autor teve o mérito de formula-la diretamente aos seus

efeitos dinâmicos, porém não tratou das expectativas em sua obra.

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Para entendimento inicial das duas teorias sobre determinantes de investimento,

é indispensável um breve resumo. Em ambas, os limites do investimento são da mesma

natureza ainda que na teoria de Kalecki possua um formato modelístico voltado para o

processo dinâmico do mecanismo do ciclo econômico.

O principal determinante do investimento para Kalecki são os lucros retidos

(lucro bruto esperado), os componentes autônomos e os componentes de investimento

induzido. O autor considera que o montante do investimento a ser efetuado é limitado

pela dimensão do capital da própria firma, assim, o que influencia a decisão do

capitalista é: acumulação interna de capital, a variação no lucro, as variações no estoque

de capital fixo e um último fator que reflete as mudanças tecnológicas. Inovações

tecnológicas exercem papel fundamental na variação do investimento.

Na teoria kaleckiana a taxa de juros de curto prazo possui grandes oscilações,

porém a de longo prazo permanece estável, por isso, possui pouca influência no

processo de investimento. O longo prazo é o período determinante para sua teoria pois é

baseado em estímulos fora do ciclo econômico (fatores de desenvolvimento).

A acumulação dos lucros também está presente na teoria de Keynes mediante a

eficiência marginal do capital (EMC). Ela é um fator determinante para o investimento,

pois vai determinar quanto um novo investimento vai proporcionar de lucro, ou seja,

cada indivíduo vai se preocupar com seu lucro, tomando o quanto vai custar o

investimento e quanto de renda vai gerar o ativo. Para Keynes, a EMC determina a

procura pelos fundos de investimento enquanto a taxa de juros determina como esses

fundos são oferecidos.

A taxa da EMC é uma expectativa e é a partir da expectativa que o investidor vai

realizar o investimento, porém, o investimento não ocorre a altas taxas de juros. Sendo

assim, diferente de Kalecki, a teoria de Keynes considera que taxa de juros também é

fator determinante do investimento. É a taxa de juros de mercado que vai equilibrar o

fluxo dos recursos dos agentes deficitários, fazendo com que não faltem (e nem sobrem)

recursos para nenhuma das partes, pois o dinheiro que é poupado no banco é o

investimento de um outro agente. Assim, o nível da renda também é importante para tal

análise.

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Analisando os efeitos da taxa de juros sobre a atividade econômica, Keynes

destacou que, o aumento da quantidade de moeda, mantida a preferência pela liquidez

constante, faz cair a taxa de juros. Esta queda, por sua vez, faz aumentar os

investimentos, considerando que a eficiência marginal do capital se mantenha constante.

Como a demanda agregada é composta de consumo mais investimento, um aumento do

investimento faz com que a demanda agregada aumente, com consequente aumento da

demanda efetiva e do nível de emprego.

As condições de concorrência e de crescimento vigentes de mercado são

aspectos negligenciados por Keynes, mas na opinião de Possas (1987) possuem

importância crucial para uma primeira aproximação à análise dinâmica.

Segundo Possas (1987), no que se refere à omissão, o trabalho de Kalecki possui

dois pontos a serem destacados:

1. Kalecki desconsidera a taxa de juros como determinante do investimento;

2. Em seu trabalho há a ausência de um tratamento que se possa considerar

explícito a respeito das expectativas.

5° Questão: Apresente e explique as vantagens modelísticas da teoria do ciclo econômico de Kalecki relativamente aos modelos de ciclo do tipo Multiplicador-Acelerador.

A teoria do ciclo econômico de Kalecki considera que os ciclos são baseados em

variáveis como lucros, investimentos, demanda e renda recebida, ou seja, promove a

interação entre a determinação da renda (e dos lucros) mediante multiplicador com a

decisão de investir tomada por base na variação do nível de atividade e das variações do

acelerador. Kalecki expôs sua teoria com diversos modelos com a finalidade de

aperfeiçoa-los e visando seu progresso, expondo modelos matemáticos, com parâmetros

explicados teoricamente.

Quanto aos modelos de multiplicador-acelerador, eles partem da hipótese de que

o investimento responde a variações do nível de renda da economia com determinação

do investimento, do consumo e da renda. Os modelos de interação entre os componentes

de multiplicador e acelerador não conseguem explicar o crescimento de longo prazo,

apenas a existência de flutuações em torno de uma tendência estacionária, com isso, as

tentativas anteriores de explica-los não são satisfatórias, pois os modelos são

interpretados com diversas diferenciais e com diferenças finitas, já Kalecki utiliza o

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período de tempo discreto, que é mais adequado ao tratamento das variáveis

econômicas.

Kalecki desenvolve a sua teoria de ciclos a partir da função de investimento em

capital fixo, derivado de um modelo econométrico, onde os parâmetros mostram as

sensibilidades, as respostas, ou as magnitudes dessa resposta. A função é dada por:

onde:

F = investimento bruto agregado em capital fixo;

τ = retardo da decisão de investir em relação ao período t (incluindo o

período de construção dos equipamentos e o período das reações empresariais), com

isso propondo existir uma separação entre as decisões de investir e a realização do

investimento. É uma defasagem temporal (timming), pois é necessário um “tempo” para

que o investimento se efetive.

S = poupança bruta total;

ΔP = variação nos lucros brutos ocorrida no período;

ΔK = variação no estoque de capital fixo;

d = termo constante sujeita a mudanças a longo prazo (representa

investimentos de reposição, investimento publico e de inovação). Para Possas (1987) a

importância dessa variável é maior do que a sugerida pelo tratamento lacônico dado por

Kalecki

ΔP/ Δt = variação dos lucros por unidade de tempo (modificações nos

lucros). Quanto maior for o volume de lucros, mais forte será a decisão de investimento.

Essa variável juntamente com ∆P/∆K (modificações no estoque de capital) determinam

a taxa de lucro no sistema econômico.

A vantagem modelística da teoria do ciclo econômico de Kalecki consiste no

termo aSt não significa que a poupança determina o investimento e sim representa a

influência da acumulação interna de lucros sobre as decisões de investimento das

firmas. Essa variável faz com que o investimento seja dependente do nível da renda e

não apenas de sua variação, o que suaviza a instabilidade do acelerador. Contudo seria

melhor trata-la como uma restrição e não como uma variável aditiva

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Assim, ela reflete a possibilidade de tomada de crédito para que novos

investimentos sejam realizados. Esses novos investimentos serão maiores, quanto maior

for o estoque de capital disponível. Representa, então, um elemento inercial ao modelo

de ciclos contribuindo para que a dinâmica não possua um comportamento explosivo.

Quanto a introdução da poupança bruta total S1 como uma variável determinante

de investimento, ela introduz ao modelo condições de risco e exibe que o investimento

depende da variação e do próprio nível de atividade (ΔP e S). Com isso é possível

verificar a instabilidade associada ao multiplicador que aumenta a probabilidade de que

o modelo pode produzir flutuações cíclicas para valores razoáveis dos parâmetro.

Os termos ∆P e ∆K refletem variações na rentabilidade do capital fixo aplicado

que afetam a de lucro que consequentemente geram variações no grau de utilização da

capacidade produtiva instalada. Essas variáveis captam a necessidade da empresa

ajustar a capacidade produtiva ao crescimento que é esperado das vendas, projetado a

partir de um crescimento verificado recentemente.

Dessa forma, a contribuição de Kalecki quanto a função de investimento possui

importante característica modelística considerando tanto a capacidade de o investimento

multiplicar a renda, sendo avaliado como uma fonte de prosperidade, quanto sua

habilidade acelerar o aumento adicional do próprio investimento dado o estoque

existente de capital, ou seja, delineia uma interação entre o volume de investimento e o

nível da renda.

6° Questão: Qual o papel que a propensão marginal a consumir inferior a unidade

desempenha na negação da Lei de Say e na tendência ao pleno-emprego da força de

trabalho? O que aconteceria se a propensão marginal a gastar fosse igual a um? A

economia tenderia a operar com pleno-emprego da força de trabalho? Explique.

A fim de explicar porque a Lei de Say não é a verdadeira lei relacionada à demanda

agregada e função de oferta, Keynes desenvolve um novo esquema de classificação para

manter os fatores de demanda em comparação com a maneira que é categorizada na

economia clássica. A lei Say especifica que o total de todos os gastos com produtos da

indústria (demanda agregada) é sempre exatamente igual ao total de custos (incluindo

crescimento dos lucros) da produção agregada. Além disso, quanto mais trabalhadores

1 Não é todo volume de poupança que é importante para a tomada de decisões, o volume de poupança

interna que é considerado no modelo.

Page 10: Lista de exercícios  Allan PDF

empregados, maior será o custo total da produção pari passu com o total de gastos. Pegando

Dw para simbolizar a demanda agregada e Zw a oferta agregada, ambos medidos em

unidades de salário, que é, valores nominais deflacionados pela taxa de salários nominais,

então podemos especificar:

Dw = fd(N);

e,

Zw = fz(N).

A lei de Say assegura que

fd(N) = fz(N)

Para todos os valores de N, isto é, para todos os valores do produto e emprego. Em

uma economia sujeita a Lei de Say, o custo total da produção agregada da firma é

recuperado pela venda da produção. Na Lei de Say não há nunca um lack de demanda

efetiva. Além disso, nunca há obstáculo ao pleno emprego, não interessa qual o grau de

flexibilidade dos preços no sistema. Os dois gráficos a seguir representam primeiro, a Lei de

Say, segundo, a explicação de Keynes que garante que a Lei de Say é apenas uma

particularidade do caso geral.

Gráfico 1 – Proposta da Lei de Say Gráfico 2 – Abordagem Keynesiana

Como pode-se ver através do gráfico 2, a abordagem Keynesiana demonstra que não

necessariamente Z = D, conforme proposição da Lei de Say. Para Keynes, as condições de

demanda agregada e oferta agregada não necessariamente são as mesmas, para ele a

demanda agregada e oferta agregada tende a ser igual somente em um único ponto de

interseção entre essas duas curvas. Keynes diferiu da teoria clássica ao dividir todos os

gastos em duas classes de demanda, que é:

Page 11: Lista de exercícios  Allan PDF

Dw = Dw1 + Dw

2 = fd(N)

Dw1 definida como representando todos os gastos que depende do nível corrente de renda e,

além disso, do nível de emprego N.

Dw1 = f1(N)

Em outras palavras, a primeira classe de gastos, Dw1, é determinada por todos os

fatores que determinam a oferta agregada. No entanto, há uma segunda classe de gastos,

Dw2, que representa todos os gastos não relacionados à renda corrente e, além disso,

determinado pelos diferentes fatores que afetam a oferta agregada, isto é,

Dw2 ≠ f(N)

Para demonstrar que sua dicotômica classificação de demanda foi uma análise geral

que poderia levar ao equilíbrio com desemprego, Keynes tinha que explicar a segunda

categoria de gastos Dw2, não é relacionado a renda corrente e emprego por ser igual à

poupança planejada onde a primeira é definida como fz(N) – f1(N).

Se, como a teoria clássica assume, Dw2 gastos é sempre igual à poupança planejada

Dw2, de qualquer nível de renda atual, então

Dw2 = fz(N) – f1(N) e,

Dw = Dw

1 + Dw2 = Dw

2 = f1(N) + fz(N) – f1(N) = fz(N)

Assumindo mais alguns pressupostos chegamos a seguinte conclusão:

Dw1 = f1(N) = fz(N) = Z

Nesse caso, se poupança planejada é assumida ser igual ao investimento planejado,

então a demanda e a oferta agregada são idênticos e então a Lei de Say é aplicável.

Keynes proclama a “lei psicológica fundamental” associada com os “fatos

estilizados pela experiência” onde a propensão marginal a gastar da renda corrente em

produtos da indústria é sempre menor que a unidade. De acordo com a última equação, se a

propensão marginal a consumir é sempre menor que a unidade, então f1(N) nunca deveria

coincidir com fz(N), até mesmo se Dw2 = 0.

A mensagem básica do princípio Keynesiano de demanda efetiva é que (para um

dado nível de gastos com investimento) uma maior demanda por poupança na forma de

ativos líquidos pode impedir "poupança" (isto é, não utilizados ou desempregados

involuntários) recursos reais de ser empregado para ampliar estoque de instalações

produtivas da economia. O problema do desemprego é basicamente sempre um

problema de liquidez.

Page 12: Lista de exercícios  Allan PDF

De um modo geral, a única possibilidade em que a Lei de Say é aplicável, é

quando a propensão marginal a consumir é igual 1 e Dw2 = 0. Para quaisquer valores

menores que 1, a Lei de Say não se aplica e consequentemente não tenderia a com

pleno-emprego das forças de trabalho. Por fim, conforme os argumentos apresentados

por Keynes, a Lei de Say é apenas um caso particular da Teoria Geral.

7° Questão: Considere o modelo de determinação do nível de emprego de equilíbrio de

curto-período apresentado na Teoria Geral, mas suponha que as expectativas de curto-

período não são realizadas. Tomando as expectativas de longo-período como dadas e

independentes dos erros de previsão de curto-período, analise o processo pelo qual os

empresários reagem ao desapontamento inicial de expectativas e como esse processo pode

conduzir a economia em direção ao equilíbrio de curto-período. Qual o papel a

flexibilidade de preços desempenha nesse processo? Os preços variam antes das

quantidades ou as quantidades se ajustam primeiro? Justifique sua resposta por

intermédio dos gráficos necessários.

Antes de definir qual o papel das expectativas de curto-período para o ajuste do

modelo em direção ao equilíbrio convém destacar o papel que Keynes atribuiu às

expectativas em seus estudos. Keynes distinguiu as expectativas entre duas grandes

categorias, expectativas de curto-período e expectativas de longo-período. A produção e o

emprego são decisões tomadas ponto a ponto no tempo, dado a planta e o equipamento,

dependem somente de expectativas de curto-período dos preços, no tempo quando os

resultados da produção estiverem prontos para a venda.

Os resultados realizados e preços atuais são relevantes somente para as decisões na

medida em que eles influenciam as expectativas. A análise de Keynes tende a ignorar as

diferenças entre expectativas de curto-período de preços e os preços atuais que são

recebidos pelos bens produzidos como uma consequência dessas expectativas. O efeito de

dessas ideias é tratar as decisões de curto prazo pensando nelas como sendo determinadas

em um contexto estático onde é não é necessário distinguir entre resultados e expectativas.

Para Keynes, as expectativas de curto período tem um papel secundário, pois para

ele, a diferença entre as expectativas de curto-período e os resultados realizados não

deveriam mudar o teor das conclusões da teoria geral.

Já o tratamento das expectativas de longo prazo é sempre consistente com o

contexto temporal histórico do modelo. Os resultados relevantes para as expectativas de

longo-período serão os retornos para os gastos de investimento ao longo dos intervalos de

tempo futuros. Expectativas de longo prazo são usualmente consideradas como exógenas na

teoria geral. O motivo é que a base do conhecimento destas expectativas na visão de Keynes

são extremamente precárias e passíveis de mudanças repentinas. Essa imprevisibilidade,

Page 13: Lista de exercícios  Allan PDF

aliada a importância do investimento confere às expectativas de longo prazo um papel

importante na teoria de Keynes.

As decisões de produção feitas pelas firmas competitivas em Keynes devem ser

baseadas nas expectativas de preços, por causa do gap de tempo entre quando as decisões

são tomadas e quando o resultado da produção está disponível para a venda. Keynes

também nota que algum tempo deve decorrer ante que a firma possa revisar seus planos de

produção. Este intervalo de tempo é denotado por o adjetivo “diário” e se refere para ele

como “a mínima unidade de tempo efetiva”. Ele não discute essa relação para o curto

período no qual a sua análise é feita, mas claramente o intervalo diário é mais curto que o

curto período.

Keynes frequentemente usa como nós temos visto os resultados realizados para

representar as expectativas de curto prazo, pois, o “teste” das expectativas de curto-período

não é feito depois de um longo período de tempo e as revisões que aparentam serem

necessárias são baseadas nos resultados realizados. Desse modo, as expectativas de curto-

prazo são mais fáceis de serem comparadas com os resultados realizados em comparação

com as expectativas de longo prazo.

Para o caso em que as expectativas de curto prazo não são realizadas, ou seja, o

ponto em que os empresários não antecipam corretamente o ponto de demanda efetiva, os

empresários, por meio de um processo de tentativa e erro, revisam as suas decisões de

produção ao ponto em que as expectativas de curto prazo se ajustam aos resultados

efetivamente realizados. Esse processo de ajustamento é de fundamental importância para a

condução da economia para o equilíbrio de curto-período.

Para entender o processo de ajustamento da economia para o equilíbrio de curto

período, primeiro é necessário supor, como Keynes, que as expectativas de longo prazo são

tomadas como exógenas. Para esta situação, o caso mais geral implica que:

De

D

Z

N

D,Z

A

B

𝑁0∗ 𝑁1

Page 14: Lista de exercícios  Allan PDF

O ponto A é o ponto inicial de equilíbrio de curto-período, mas os empresários

ficam momentaneamente mais pessimistas acreditando que o ponto de demanda efetiva é B.

Temos então que p > e, o que irá levar a uma mudança no estado de expectativas de curto-

período (deslocamento da curva de demanda esperada para cima) e de longo-período

(deslocamento da curva de demanda realizada para cima). A partir de então, dada a

mudança na demanda esperada, em função da diferença nos preços, percebe-se que

primeiro, há a modificação nos níveis de preços para depois, uma vez conhecidos os preços,

mudança nas quantidades.

8° Questão: Segundo Minsky existe uma tendência inerente as economias capitalistas de

se moverem de estados de robustez financeira para estados de fragilidade financeira.

Qual o papel que as expectativas e o estado de confiança desempenham nesse processo?

A tendência a fragilização financeira crescente guarda alguma relação com o fato de que

na formação de expectativas os agentes econômicos dão uma importância – talvez

excessiva – aos eventos correntes? Por que razão a fragilização financeira não é

percebida pelos agentes econômicos? O processo de secutirização dos empréstimos pode

contribuir para a “miopia” dos agentes econômicos? Por que?

A contribuição de Minsky consiste na teoria monetária e financeira. O

autor adota a teoria de preferencia pela liquidez de Keynes e possui uma postura pós-

keynesiana partindo de um critica a visão clássica/neoclássico. Minsky observou que

investimentos em ativos de capital envolve a troca de algo certo por algo incerto. A

incerteza afeta fortemente a determinação deste comportamento nas decisões de

alocação das aplicações dos agentes, através das expectativas de rentabilidade dos ativos

de capital, condicionando toda a dinâmica sistêmica.

Minsky reconheceu a importância da formação das expectativas dos agentes.

Quando o empresário adquirir um ativo de capital, ele espera que este ativo lhe forneça

um fluxo de caixa que exceda, em alguma margem, o preço que foi pago inicialmente,

mas essa expectativa esta sujeita a desapontamento.

A importância das expectativas dos agentes é resultado da incerteza que cerca as

firmas quanto aos projetos de investimento em ativo de capital fazendo com que os

agentes sejam influenciados por convenções no processo de tomada de decisão.

Considerando que as firmas se endividam para adquirir os ativos de capital, Minsky

analisa as relações entre os pagamentos contratuais (juros + amortizações) e os fluxos

de caixa (primários) definiu três posturas financeiras:

1. Hedge: o fluxo de caixa esperado pelos agentes excede em muito os encargos

contratuais a cada período, ou seja, as firmas não precisam recorrer ao

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refinanciamento de posições, assim, possui maior margem de segurança em sua

operação;

2. Especulativa: o fluxo de caixa esperado pelos agentes é menor do que os

encargos contratuais para certos períodos (pagamento de juros + amortizações),

mas a longo prazo é suficiente para o pagamento do juros. Sob esta postura, as

firmas recorrer recorrer ao refinanciamento periódico de suas posições para que

possam honrar os seus compromissos contratuais;

3. Ponzi: o fluxo de caixa esperado pelos agentes é menor do que os encargos

contratuais, sendo insuficiente sequer para o pagamento dos juros, resultando na

incapacidade de pagamento de suas obrigações financeiras.

A formação de crises parte de um processo de instabilidade econômica, com

isso, a fragilidade financeira da economia como um todo depende da composição entre

as três posturas propostas por Minsky: hedge, especulativa e ponzi. A partir dessas

definições o autor afirmou que quanto maior a participação de unidades especulativas e

ponzi no total de empresas, mais vulnerável será uma economia quando houver uma

variação na taxa de juros.

Se o nível de fragilidade financeira for muito alto, então uma pequena variação

na taxa de juros pode tornar uma grande parte das firmas insolventes, ou seja, não

liquidam suas dividas, fazendo com que elas necessitem buscar outras fontes de caixa

para poder honrar seus compromissos.

Portanto, uma economia que é dominada por posições economicamente frágeis,

se ocorre um aumento repentino da taxa de juros pode gerar uma crise de deflação nos

ativos, isso ocorre caso o aumento nos juros seja grande o suficiente para transformar

uma proporção significativa das unidades em unidades ponzi que podem ser obrigadas a

vender ativos para honrar suas dividas no curto prazo.

Informações imperfeitas não permitem que os agentes percebam a fragilidade

financeira da economia, ou seja, as firmas não conseguem averiguar a situação

financeira de todas as demais firmas e os agentes econômicos não possuem toda a

informação necessária para avaliar os possíveis resultados de suas decisões.

Além disso, a incerteza existente na economia leva o agente a tomar decisões de

acordo com a média do mercado, uma vez que este acredita que os outros agentes

possuem informações relevantes para a tomada de decisões e prefere usufruir dos

mesmos ganhos pela maioria a ser o único a não usufruí-los. O estado de confiança dos

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agentes faz com que haja uma redução da percepção do risco, conduzindo o agente a

operações mais arriscadas.

Quanto ao processo securitização da dívida, a possibilidade de emissão desses

ativos com consequente transferência de risco ao investidor aumentou o risco sistêmico

da economia. Em um ambiente de otimismo, a percepção dos riscos dos tomadores de

empréstimo e dos emprestadores é diminuída, levando ao financiamento de projetos de

investimento com retornos mais incertos, por meio de produtos financeiros mais

arriscados. A assimetria de informações no mercado de derivativos, por exemplo, pode

ser um dos fatores que causa a “miopia” dos agentes econômicos. Nesse sentido, a

“miopia” dos agentes pode ser influenciada pelo processo de securitização da dívida.

9° Questão: A teoria convencional da escolha em condições de incerteza apresenta duas

vertentes principais, a saber: a utilidade esperada Von-Neumman-Morgenstern e a teoria

da probabilidade subjetiva de Savage. Apresente e explique detalhadamente as críticas

que os autores pós-keynesianos fazem a essas formulações convencionais da tomada de

decisão em condição de incerteza. Qual o papel que o conceito de experimento crucial de

Shackle tem na crítica a teoria convencional? E qual a relevância do conceito de “evento

inesperado”? De que forma o mesmo pode invalidar a teoria da probabilidade subjetiva?

Começando dos conceitos de Keynes de probabilidade e incerteza, Pós-

Keynesianos postularam que o comportamento das relações que são afetadas pela

incerteza tendem a ser contudentemente diferentes daquilo que é geralmente aceito pela

teoria neoclassica.

Economistas neoclássicos raramente são claros ao mostrar como agentes

aprendem sobre as funções de distribuição de probabilidade que descrevem os processos

sociais. Entre autores neoclássicos há também a ideia de processo social ergódico, que

significa que eles são replicáveis e obedecem as estáveis leis da distribuição estatística.

Este também é, claramente, um ponto divergente do pensamento em Keynes e dos Pós

Keynesianos.

Na abordagem desenvolvida por von Neumann e Morgenstern (1953), agentes

escolhem não somente os bens, mas a probabilidade atual dos bens. Neste sentido, se o

conhecimento sobre a probabilidade é verdadeiro, no longo prazo, não há incerteza

sobre o que podemos ganhar no jogo, então o agente, através do estudo da probabilidade

dos bens, faz o seu processo de maximização de escolhas em sua maneira usual.

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Para Pós-Keynesianos, este procedimento não é aceitável, pelo menos como uma

teoria geral do comportamento sob incerteza, porque é baseado sobre a replicabilidade

dos experimentos os quais requerem estabilidade ao longo do tempo, que é ser ergódico.

Para exemplificar a questão da repetibilidade e a importância dos experimentos

cruciais, suponha um processo de lançamento de moedas. Nesse processo, as condições

iniciais são sempre restauradas após cada lance, independentemente da face que

apareceu no lance anterior. Quando os experimentos são cruciais, conforme visão de

Shackle, as condições mudam de acordo com as decisões que são tomadas. O agente

não pode sempre contar com ambientes estáveis e esperar conhecê-los apenas através de

experiências repetidas. O agente saberia que ao tomar uma decisão, estaria moldando o

contexto em que ele estava inserido, de modo que os eventos raramente poderiam ser

repetidos sobre o mesmo ambiente.

Desse modo, decisões cruciais, seriam muito complexas para ser apreendidas

apenas com a experiência passada. Por exemplo, experiências passadas, no caso de

investimentos não indicam com segurança a direção do futuro. Para as decisões de

investimento, a lógica humana domina a lógica formal e a indução é impossível. A

existência de “experimentos cruciais” é uma das críticas fundamentais dos Pós

Keynesianos à teoria convencional.

Quanto à existência de “eventos inesperados”, os pós-keynesianos demonstram

que sob condições de incerteza, dificilmente pode-se inferir precisamente as funções de

distribuição de probabilidade que presidem os processos sociais. Esta constatação

invalida a visão neoclássica, que reduz a incerteza a uma função de probabilidades

supostamente conhecida pelos agentes e consequentemente invalida a teoria da

probabilidade subjetiva.

10° Questão: Apresente o conceito Kaleckiano de “grau de monopólio”. É correta a

crítica de Kaldor segunda a qual o “grau de monopólio” seria uma simples tautologia? É

possível construir uma teoria macroeconômica da distribuição de renda a partir desse

conceito? Explique.

Kalecki atribui aos fatores de distribuição um papel importante no sistema

econômico. Dentre outros aspectos, Kalecki lida com a questão da formação dos preços e o

impacto desta formação na distribuição de renda e a sua dinâmica ao longo do ciclo

econômico. Dentro dessa perspectiva, em seu artigo em 1938 “The determinantes of the

distribuition of national income” surge o tratamento mais bem elaborado no que concerne a

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sua teoria de formação de preços. Aparece também, pela primeira vez o “grau de

monopólio” o qual pode ser discriminado pela seguinte equação:

m = (p – cmg)/p

Sendo p = preço e cmg = custo marginal. Para Kalecki, a participação dos salários na renda

nacional é diretamente influenciada pelo grau de monopólio.

Tal conceito de grau de monopólio foi alvo de críticas contundentes por parte de

Kaldor, 1956. Para Kaldor, se o grau de monopólio for determinado pela elasticidade de

demanda, o grau de monopólio estaria sendo explicado pelos próprios fatores que

determinam o monopólio e portando a abordagem de Kalecki seria puramente tautológica.

Claramente, essa crítica de Kaldor não é procedente. Kaldor não considerou a dupla

natureza do conceito de grau de monopólio. O primeiro é que este é o resultado das decisões

de preço das firmas. A segunda é que o grau de monopólio representa as condições de

mercado que permite as empresas fazer a sua própria política de preços representando assim

o seu poder de mercado.

Kalecki classifica ainda o “grau de monopólio” como a situação de mercado que

permite as empresas implementarem a sua própria política de preços em virtude

principalmente da estrutura de concentração da indústria, desenvolvimento de estratégia de

promoção de vendas e pressão dos sindicatos.

Quanto ao poder de mercado das firmas, este é limitado pela expansão das perdas

advindas das reações dos competidores às mudanças de preços e pela resposta do público à

diferenciação de preços. Assim, o primeiro conjunto de fatores é influenciado pela

concentração industrial, existência de acordos tácitos ou cartéis; barreiras a entrada,

diferenciação de produto. O segundo é influenciado pela disseminação das informações,

diversidade de produtos e hábitos dos consumidores.

Deste modo, a partir da consideração da segunda dimensão do conceito de grau de

monopólio constata-se que o mesmo não é tautológico, mas se baseia na ideia de que a

concorrência que importa no mercado é a concorrência entre as firmas estabelecidas.

Quanto ao questionamento de que seria ou não possível construir uma teoria

macroeconômica da distribuição de renda a partir desse conceito, a resposta é que sim. Foi

justamente isso que fez Kalecki. Após as devidas substituições e considerações Kalecki

chega a seguinte equação de determinação da renda:

Yt = {(A + It)/[(1 – q)(1 – a)]} + B/(1 – a)

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Observa-se então que o nível de renda no período t depende do investimento

realizado no período t, da propensão marginal a consumir dos capitalistas (q), da

distribuição da renda entre salários e lucros (a) e do consumo autônomo dos capitalistas

chegando assim a uma representação teórica da distribuição de renda a partir do conceito de

monopólio.

Por todo o exposto, não se mostra procedente a crítica de Kaldor quanto a afirmação

de que o “grau de monopólio” seria apenas uma simples tautologia, além disso, percebe-se

que Kalecki conseguiu construir uma teórica macroeconômica da distribuição da renda

consistente a partir do conceito de grau de monopólio.

Referências Biliográficas

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Drach, D., Martins N. M.; Explicações heterodoxas sobre as crises econômicas: uma

análise comparativa entre Veblen e Minsky. XVIII ENCONTRO NACIONAL DE

ECONOMIA POLÍTICA, Belo Horizonte, 2013.

Kregel, J. “Economic Methodology in the Face of Uncertainty: The Modelling

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KEYNES, J.M. (1982). A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo,

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