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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciências Biológicas Departamento de Genética Programa de Pós-Graduação em Genética Diversidade Haplotípica de Microssatélites do Cromossomo Y Humano na População de Pernambuco, Nordeste do Brasil Jemima Eline Xavier da Silva Barros Recife, PE Fevereiro, 2006

Lista de Tabelas - attena.ufpe.br · Ciclos térmicos estabelecidos para as quatro reações de PCR-multiplex construídas..... Tabela 12. Freqüências e diversidades (h) alélicas

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  • Universidade Federal de Pernambuco

    Centro de Ciências Biológicas

    Departamento de Genética

    Programa de Pós-Graduação em Genética

    Diversidade Haplotípica de Microssatélites do

    Cromossomo Y Humano na População de

    Pernambuco, Nordeste do Brasil

    Jemima Eline Xavier da Silva Barros

    Recife, PE

    Fevereiro, 2006

  • Jemima Eline Xavier da Silva Barros

    Diversidade Haplotípica de Microssatélites do

    Cromossomo Y Humano na População de

    Pernambuco, Nordeste do Brasil

    Dissertação apresentada ao

    programa de Pós-Graduação em

    Genética da Universidade Federal

    de Pernambuco, como parte dos

    requisitos necessários para a

    obtenção do grau de Mestre em

    Genética.

    Orientador: Prof. Dr. Luiz Maurício

    da Silva, Depto. De Genética, Centro

    de Ciências Biológicas, UFPE.

    Recife, PE

    Fevereiro, 2006

  • Barros, Jemima Eline Xavier da Silva

    Diversidade Haplotípica de Microssatélites do Cromossomo Y Humano na População de Pernambuco, Nordeste do Brasil / Jemima Eline Xavier da Silva Barros. – Recife: O Autor, 2006.

    146 folhas : il.,fig., tab., gráfs. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de

    Pernambuco. CCB. Ciências Biológicas.Genética.

    1. Genética – populações 2.Cromossomo Y – microsatélites - Pernambuco I. Título.

    576.58 CDD (22.ed.) UFPE

    575.17 CDU (2.ed.) CCB - 2006 -010

  • A todos aqueles que de

    alguma forma contribuíram

    estudo.

    para a realização deste

  • O verdadeiro heroísmo consiste em resistir e persistir mais um

    pouco quando tudo parece perdido.

  • Agradecimentos

    O futuro pertence àqueles que acreditam na grandeza dos seus

    sonhos. No entanto, a satisfação da conquista não se restringe apenas em

    alcançá-la, mas sim em encontrar pessoas que nos incentivem e tornem

    possível a realização de um sonho. Nesse sentido, muitas pessoas

    colaboraram na construção dos alicerces desta conquista, dentre as quais

    agradeço especialmente:

    A Deus pela vida e por tudo que Ele me proporciona.

    Aos meus pais por me ensinarem a fazer tudo o mais perfeito que

    puder, e pelo exemplo de força e determinação. A vocês dedico minha

    vida, minhas conquistas e minha admiração. Estejam onde estiverem,

    jamais deixarei de sentir o apoio e força de um amor sem limites.

    Aos meus irmãos e a toda a minha família pelo apoio, paciência e

    compreensão, estando sempre dispostos a me ajudar e jamais me

    deixarem desistir. Enfim, por serem minha fortaleza, meu refúgio e fonte

    de renovação.

    Aos amigos que encontrei ao longo da minha vida, agradeço a

    fidelidade, a compreensão por minhas ausências, o carinho que encontro

    sempre que procuro, por estarem sempre dispostos a me ouvir e por não

    medir esforços para me ajudar. Em especial agradeço a Liciana Xavier

    pela amizade incondicional; a Karina Zoby pela amizade, força e por

    sempre acreditar em mim; a Manoel Celestino Jr e a Mayara Morais pelo

    ombro amigo e pela valiosa ajuda; a Diogo Lins, que talvez nem saiba o

    quanto foi importante, agradeço todo o carinho, atenção, compreensão,

    paciência, força e incentivo. Agradeço também por me fazer acreditar em

    certas coisas novamente e por me ensinar que quando desviamos a

    atenção dos problemas, reduzimos sua dimensão. Descobrir isto nesta

    etapa da minha vida foi essencial e maravilhoso!

    Aos meus amigos de turma no mestrado: Pollyanna, Juliana,

    Adriana, Dalmo, Helen, Kyria, Ebenézer, Catarina, Flávio, Iliano, Ana

  • Thereza, Rodolfo, Jaíra e Carolina por serem tão especiais a ponto de

    estarem sempre dispostos a a s outros, seja no trabalho ou

    com palavras de apoio. Agradeço a cumplicidade, união, amizade, carinho,

    que aprendi.

    Human

    trabalh

    e ajuda

    “quebrar barreiras”; a Jeymesson pela alegria transmitida e ombro amigo;

    a Erick por me “socorrer” muitas vezes; a Luzinete, Patrícia e Mônica pelo

    A Jana

    o; a Ma

    da Glória (Glorinha) por todo carinho, apoio profissional e pessoal,

    amizade, pela alegria do convív

    “coreografias”; a Adriana pelo exemplo de profissionalismo e caráter, pela

    amizad centivo e

    por to . A tod

    vocês, muito obrigada por se preocuparem com a minha nutrição, jamais

    esquecerei!

    Aos amigos do CPqAM que sempre torceram por mim, dando-

    rtunidad

    orientação e valiosos ensinamentos que, com certeza, tiveram grande

    Aos demais Professores do Mestra iversida

    A

    oferecido.

    ntribuíram

    par

    Obrigad

    Jemima Eline Barros

    judar uns ao

    os sorrisos descontraídos para aliviar o estresse do dia-a-dia e por tudo

    Aos meus amigos do Laboratório de Genética Molecular a:

    Janaína, Simone e Daniella pela ajuda na realização deste o;

    Cláudio Galvão pela força, incentivo e confiança; a Marília por m r a

    carinho, força, confiança e ajuda em todos os momentos; ína

    (Nêga) e Vanessa pelo carinho, amizade, força e companheirism ria

    io e ensinamentos, inclusive as

    e e importante ajuda sem “pré-conceitos”, pelo apoio e in

    dos os ensinamentos acadêmicos-científicos e pessoais

    os

    me

    grande força.

    Aos Professores Doutores, Maurício e Rosilda, pela opo e,

    importância no meu amadurecimento pessoal e profissional.

    do em Genética da Un de

    Federal de Pernambuco pelos conhecimentos transmitidos.

    coordenação, especialmente a Lobo, por toda ajuda e suporte

    Enfim, sou grata a todos que, direta ou indiretamente, co

    a a realização deste.

    Muito a!

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Sumário

    Lista de Figuras............................................................... 11

    12

    Lista de Abreviaturas....................................................... 14

    Lista de Tabelas...............................................................

    Resumo............................................................................ 16

    1. Introdução................................................................... 17

    2. Revisão da Literatura................................................... 20

    2.1 Origem do Povo Brasileiro......................................... 20

    Conseqüente Formação Populacional do País................

    21

    2.1.2 Colonização de Pernambuco e Forma

    2.1.1 Ocupação Humana do Brasil Contemporâneo e

    ção da

    23

    2.2 Estudo de Popula

    População do Estado.................................................

    ções e Marcadores Genéticos

    26

    2.3 Polimorfismo de Seqüências de DNA Repetidas............ 28

    2.3.1 Seqüências Repetidas no Genoma....................... 28

    2.3.1.1 Família de Seqüências de DNA repetidas em

    Tandem..............................................................

    29

    2.

    Polimórficos..................................................................

    3.2 Polimorfismo e Mutação de Seqüências de DNA

    Repetidas no Genoma...............................................

    35

    2.4 Microssatélites como Marcadores Moleculares do

    38

    2.4.1 Cromossomo Y................................................. 38

    Cromossomo Y..............................................................

    8

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2.4.2 Uso de Microssatélites como Marcadores

    Genéticos do Cromossomo Y......................................

    40

    2.5 Haplótipos...............................................................

    Marcadores Genéticos do Cromossomo Y Usados neste

    45

    2.6

    48

    2.7

    92

    92

    5.1.6 Análise Estatística............................................. 99

    5.2 Resultados e Discussão............................................. 102

    Estudo.........................................................................

    Microssatélites do Cromossomo Y em Estudos de

    Populações Brasileiras....................................................

    53

    3. Referências Bibliográficas............................................ 60

    4. Manuscrito de Artigo Científico.................................... 76

    Human Y-Chromosome STR Haplotype Diversity in

    Pernambuco, Northeast Brazil..............................................

    77

    5. Informações Complementares..................................... 91

    5.1 Materiais e Métodos..................................................

    5.1.1 Obtenção das Amostras.....................................

    92

    5.1.2 Extração de DNA: Método de Mini Salting Out.......

    5.1.2.1 Separação de Leucócitos............................ 92

    5.1.2.2 Digestão e Eliminação de Proteínas.............. 93

    5.1.2.3 Precipitação e Lavagem do DNA.................. 94

    5.1.3 Quantificação do DNA....................................... 94

    5.1.4 Obtenção dos Fragmentos de Microssatélites

    através de Amplificação por PCR-Multiplex...................

    94

    5.1.4.1 Condições de Amplificação.......................... 95

    5.1.5 Genotipagem dos Produtos da PCR...................... 97

    9

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    5.2.1 Freqüências Alélicas dos Locos do Cromossomo Y

    Analisados............. ..................

    102

    s Haplótipos Formados pelos Locos

    105

    .................................

    5.2.2 Analise do

    Estudados do Cromossomo Y......................................

    5.2.3 Caracteriza

    ção da População Pernambucana

    quanto aos Microssatélites do Cromossomo Y................

    111

    6. Abstra 115

    7. 1

    8. 117

    Haplótipos Encontrados na Popula

    ct.......................................................................

    Conclusões................................................................... 16

    Apêndice......................................................................

    ção de Pernambuco e suas

    no Estado...................................... Respectivas Localizações

    1

    9. 125

    18

    Anexo 1 – Mapas de Pernambuco...............................

    9.1 Mapa do Brasil destacando a localiza

    ção do estado de

    Pernambuco................................................................. 126

    1

    127

    9.

    1

    130

    131

    10. Anexo 2 - Instruções para Autores............................ 132

    Genetics and Molecular Biology......................... 133

    139

    9.2 Mapa de Pernambuco – Regiões............................... 26

    9.2.1 Região Metropolitana do Recife.........................

    2.2 Zona da Mata................................................. 128

    9.2.3 Agreste de Pernambuco................................... 29

    9.2.4 Região do São Francisco..................................

    9.2.5 Sertão de Pernambuco.....................................

    10.1.1

    10.1.2 Forensic Science International..........................

    10

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Lista de Figuras

    Revisão da Literatura

    Figura 1. Localização cromossômica das principais classes

    de DNA repetitivo............................................................

    33

    Figura 2. Modelo do processo mutacional em

    microssatélites...............................................................

    Figura 3. Idio

    37

    grama do bandeamento G do cromossomo

    Y..................................................................................

    Figura 4. Localiza

    39

    ção no cromossomo Y dos microssatélites

    analisados no presente estudo..........................................

    Figura 5. Distribuição das freqüências alélicas do loco

    50

    55

    DYS389II em diferentes populações..................................

    Figura 6: Distribui

    ção das freqüências alélicas do loco

    DYS391 em diferentes populações..................................

    Figura 7: Eletroforese dos marcadores DYS392/DYS393 e

    56

    DYS385/DYS390/DYS391 em gel de poliacrilamida

    desnaturante..................................................................

    98

    Figura 8: Eletroforese dos marcadores DYS464/DYS447/

    DYS458 em gel de poliacrilamida desnaturante...................

    98

    Figura 9: Eletroforese dos marcadores DYS19/DYS389I e II

    em gel de poliacrilamida desnaturante...............................

    99

    Figura 10: Dendograma construído a partir das freqüências

    alélicas da população pernambucana, européia, africana e

    ameríndia......................................................................

    114

    Ma

    nuscrito

    Fig. 01. Map of Brazil showin

    g the Northeast region and the

    Pernambuco State from where the samples were

    collected........................................................................ 88

    11

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Lista de Tabelas

    Revisão da Literatura

    Tabela 1. Principais classes de DNA humano repetitivo em

    tandem...........................................................................

    32

    Tabela 2. Informações gerais sobre os locos de

    microssatélites do cromossomo Y usados no presente estudo

    para analisar a população de Pernambuco...........................

    Tabela 3. Freqüências dos alelos encontrados através da

    análise do marcador DYS19 em diferentes populações...........

    49

    54

    análise do marcador DYS389II em diferentes populações....... 55

    Freqüências dos alelos encontrados através da

    56

    57

    58

    58

    97

    “single-copy” do cromossomo Y na popula

    54

    Tabela 4. Freqüências dos alelos encontrados através da

    análise do marcador DYS389I em diferentes populações........

    Tabela 5. Freqüências dos alelos encontrados através da

    Tabela 6.

    análise do marcador DYS391 em diferentes populações.........

    Tabela 7. Freqüências dos alelos encontrados através da

    análise do marcador DYS390 em diferentes populações.........

    Tabela 8. Freqüências dos alelos encontrados através da

    análise do marcador DYS392 em diferentes populações.........

    Tabela 9. Freqüências dos alelos encontrados pela análise do

    marcador DYS393 em diferentes populações........................

    Tabela 10. Seqüências do par de primers usados nas

    reações de PCR-multiplex..................................................

    96

    Tabela 11. Ciclos térmicos estabelecidos para as quatro

    reações de PCR-multiplex construídas.................................

    Tabela 12. Freqüências e diversidades (h) alélicas para locos

    ção de

    Pernambuco....................................................................

    102

    12

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Tabela 13. Freqüências e diversidades (h) haplotípica e de

    marcadores “multi popula-copy” do cromossomo Y na ção

    pernambucana........................... ....................................

    103

    Tabela 14.

    ..

    Taxas de mutação de locos do cromossomo Y

    revelados por observação direta em pares de pai/filho com

    de comprovada...................

    paternida ................................

    105

    bela moY

    ectado ...

    106

    ela 1

    diversidades obtidas para cada haplótipo construído em 250

    mens d

    10

    popula

    Ta 15. Lista dos 227 haplótipos do cromosso

    det s em 250 homens de Pernambuco......................

    Tab 6. Número de diferentes haplótipos e respectivas

    ho e Pernambuco.................................................... 1

    Tabela 17. Alelos mais freqüentes nos locos analisados na

    ção de Pernambuco e em populações ancestrais

    111

    scrito

    le 1.

    previamente estudadas.....................................................

    Manu

    Tab Allele frequency and gene diversity values (h) at

    Rs single copy loci in Pernambuco p

    nine Y-ST opulation.......... 80

    able 2. e distribution and diversity values (h) in

    multi-copy Y-STRs............................................................

    81

    List of 227 Y-chromosome STR haplotypes detected

    82

    ble 4 n rates of Y-chromosomal STR loci as

    vealed by direct observation in father/son pairs of

    nfimate y.........................................................

    86

    le 5

    diversities obtained for each type in 250

    ambuco......................................

    87

    T Haplotyp

    Table 3:

    in 250 unrelated males from Pernambuco……………………………….

    Ta . Mutatio

    re

    co d paternit

    Tab . Number of different haplotypes and respective

    contributed haplo

    unrelated males from Pern

    13

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Lista de Abreviaturas

    ACD Anticoagulante composto por ácido cítrico / citrato de sódio

    rose

    a Sérica Bovina

    onucleic Acid - Ácido Desoxirribonuléico

    omo Y, S – para um segmento único

    TA minetetracetic Acid -

    tribásico / dext

    BSA Bovine Seric Albumin - Albumin

    DNA Desoxirib

    dNTP Deoxyribonucleotide triphosphate - Desoxirrinucleotídeo

    trifosfato

    DYS D – DNA, Y - cromoss

    ED Ethylenedia Ácido

    sity - Diversidade Gênica

    L Locos com alta diversidade

    a Forense

    M

    otype – Haplótipo Mínimo

    L

    mM Milimolar

    SY Male-specific Region of Y-chroromosome - Re

    Etilenodiaminotetracético

    EH Extended Haplotype – Haplótipo Estendido

    h Gene Diver

    HD High Diversity Loci –

    ISFG International Society of Forensic Genetics - Sociedade

    Internacional de Genétic

    Kb Kilobase

    Molar

    Mb Megabase

    MH Minimum Hapl

    min Minutos

    m Mililitros

    M gião Específica

    do Macho do Cromossomo Y

    ng Nanograma

    NRY Non-recombining Region of Y-chromosome - Região Não

    Recombinante do Cromossomo Y

    14

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    PAGE

    Polyacrilamide Gel sis – Eletroforese em Gel de

    Poliacrilamida

    Pseudo Autosomic Region - Região Pseudo-Autossômica 1

    Electrophore

    PAR1

    PAR2 Pseudo Autosomic Region - Região Pseudo-Autossômica 2

    pb Pares de Base

    pH Potencial de hidrogênio iônico

    pmol Picomol

    PCR Polymerase Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase

    RCLB Red Cell Lysis Buffer – Tampão de Lise de Hemácias

    rpm Rotações por minuto

    s Segundos

    SPK Solução para Digestão com Proteinase K

    STR Short Tandem Repeats - Seqüências Curtas em Tandem

    TE Tris-EDTA

    U Unidades

    VNTR Variable Number Tandem Repeats - Número Variável de

    Repetições em Tandem

    YHRD Y Chromosome Haplotype Reference Database – Banco de

    Dados Referência de Haplótipos do Cromossomo Y oC Graus Celsius

    % Porcentagem

    µL Microlitro

    Σ Somatório

    15

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Resumo

    foi constituída

    dos

    Os microssatélites do cromossomo Y têm sido reconhecidos como

    ferramentas valiosas na caracterização genética de populações humanas.

    No entanto, poucos são os trabalhos com esse cromossomo no Nordeste

    do Brasil. Por isso, estudamos 11 marcadores do cromossomo Y, visando

    criar um banco de dados para caracterizar a população de Pernambuco

    quanto ao grau de variabilidade genética, fornecendo informações para

    investigações forenses e de paternidade. Assim, a amostra

    por 250 homens pernambucanos não aparentados e um filho (sexo

    masculino) de cada um deles. O DNA genômico foi obtido de sangue

    periférico e extraído por mini salting out. Os sítios de interesse foram

    amplificados por PCR e os produtos da PCR submetidos à eletroforese

    vertical em PAGE, com revelação por impregnação com AgNO3. Os

    resultados encontrados são consistentes com a história da população do

    Nordeste do Brasil. Freqüências e diversidades alélicas/haplotípicas foram

    determinadas. Os locos DYS385 e DYS464 foram os mais informativos

    com diversidade genética (h) acima de 80%, e os locos DYS389I e

    DYS393 os menos informativos, com h inferior a 50%. Foram observa

    227 haplótipos distintos, dos quais os mais freqüentes foram encontrados

    em quatro indivíduos e 211 haplótipos foram únicos, sendo o haplótipo

    estendido bastante informativo. Outros haplótipos foram construídos e

    analisados, mostrando uma contribuição maior que o haplótipo mínimo

    também estudado. Estes resultados fornecem informações úteis para

    investigações de paternidade e forense, bem como para análise histórica

    da população pernambucana.

    Palavras-Chave: Cromossomo Y, Microssatélites, Pernambuco

    16

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    1. Introdução

    élites são

    ão molecular em que a utilização de

    A descoberta dos segmentos repetidos de DNA deu uma nova

    dimensão aos estudos de variabilidade ao nível molecular e, com o

    advento da técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction, Reação em

    Cadeia da Polimerase), quantidades muito pequenas de DNA puderam ser

    utilizadas para genotipagem. Isto facilitou e melhorou as condições de

    trabalho dos pesquisadores, que passaram a intensificar os estudos sobre

    polimorfismos destas seqüências (Strachan e Read, 2002).

    Um exemplo de segmentos repetidos de DNA em tandem são os

    microssatélites, também comumente denominados STRs (Short Tandem

    Repeats, Seqüências Curtas em Tandem). Os microssat

    marcadores genéticos encontrados abundantemente em todo o genoma e

    consistem de seqüências curtas, tipicamente 2 a 5 pares de base (pb),

    agrupadas em arranjos de até 350 pb por loco (Amour et al., 2000;

    Strachan e Read, 2002). Tais locos são predominantemente polimórficos

    devido à mudanças no número de cópias da repetição principal. Estudos

    indicam que esta variação é causada, principalmente, por elevadas taxas

    de erros durante a replicação do DNA (Goldstein e Schlötterer, 1999).

    O alto nível de variabilidade e a ampla dispersão através do genoma

    humano tornam os microssatélites uma fonte profícua de marcadores

    genéticos. Atualmente, os locos autossômicos são os marcadores mais

    usados para identificação humana, devendo-se principalmente ao fato de

    serem sistemas genéticos que segregam mendelianamente. No entanto,

    existem casos especiais de investigaç

    marcadores sexuais pode ser mais informativa que a análise de

    polimorfismos autossômicos.

    A vantagem dos testes com cromossomos sexuais reside no fato de

    que o homem transmite o seu cromossomo X para todas as suas filhas e o

    cromossomo Y para todos os seus filhos sem recombinação gênica

    17

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    (Jobling et al., 1997; Kayser et al., 1997). Este fato explica o motivo pelo

    qual a genética forense está aumentando e concentrando o interesse, nos

    últimos anos, por marcadores dos cromossomos sexuais.

    A herança paterna da região não recombinante do cromossomo Y

    resulta na conservação de locos polimórficos intimamente relacionados.

    Quando tomados conjuntamente, estes locos fornecem haplótipos

    bastante discriminatórios e particularmente úteis para a investigação

    forense de casos de estupro, quando misturas de fluidos biológicos

    masculinos e femininos devem ser analisadas, sendo também uma

    ompletamente ausentes nesse período

    arvalho-Silva et al., 2001). Estes dados apontam para um casamento

    irecional entre homens europeus e mulheres africanas e ameríndias na

    rmação da atual população brasileira (Pena et al., 2000; Callegari-

    cques et al., 2003).

    Para finalidades acima citadas, o haplótipo mínimo (DYS19, DYS385,

    YS389I e II, DYS390, DYS391, DYS392 e DYS393) têm sido amplamente

    studado (Biondo et al., 2004; Leat et al., 2004; Martín et al., 2004; Saul

    t al., 2004; Berger et al., 2005; Dobashi et al., 2005; Goes et al., 2005;

    ovrecic et al., 2005; Park et al., 2005; Pepinski et al., 2005; Rosa et al.,

    poderosa ferramenta complementar em investigação de paternidade post

    mortem, quando um descendente masculino está em questão (Roewer et

    al., 1996; de Knijff et al., 1997; Jobling et al., 1997; Kayser et al., 1997),

    bem como em estudos evolutivos e populacionais (Butler et al., 1995;

    Takahashi et al., 1997; Drmic et al., 1998).

    Diversas populações foram estudadas quanto ao polimorfismo de

    microssatélites do cromossomo Y. A análise de polimorfismos da NRY

    (Non-recombining Region of Y-chromosome - Região Não Recombinante

    do Cromossomo Y) em brasileiros de várias regiões geográficas tem

    demonstrado que a grande maioria dos Y é de origem européia,

    principalmente ibérica, devido a significante imigração de homens

    portugueses para o Brasil até o ano de 1808 (Ribeiro, 1995). Além disto, a

    contribuição de haplótipos vindos da África subsaariana foi mínima e as

    contribuições ameríndias foram c

    (C

    d

    fo

    Ja

    D

    e

    e

    L

    18

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2005) e vários dados de tipagem desses marcadores em populações de

    do o mundo têm sido relatados (Nata et al., 1999). Mas, apesar de sua

    tilidade, locos adicionais de microssatélites do cromossomo Y são

    haplótipo de distinguir indivíduos

    et al., 2005). Sendo assim, os marcadores DYS447, DYS458 e

    DYS464, que são locos bastante informativos (Redd et al., 2002; Berger

    relaciona

    to

    u

    requeridos para elevar a capacidade do

    (Park

    et al., 2003; Butler e Schoske, 2004), podem ser combinados ao haplótipo

    mínimo, formando um haplótipo estendido com bom poder de

    discriminação.

    O presente estudo tem como objetivo geral analisar 11 marcadores

    de microssatélites do cromossomo Y (haplótipo mínimo e locos DYS447,

    DYS458 e DYS464) a partir de DNA genômico de homens não

    dos, bem como um de seus filhos do sexo masculino,

    selecionados ao acaso na população do Estado de Pernambuco. E como

    objetivos específicos determinar freqüências alélicas e taxas de mutação

    para cada loco examinado; utilizar os dados obtidos para a construção de

    haplótipos do cromossomo Y na população em questão; construir um

    banco de dados de freqüências alélicas e haplotípicas, o que é

    imprescindível para validar testes de investigação de paternidade e

    identificação de indivíduos na população de Pernambuco; comparar os

    resultados obtidos com dados de populações ancestrais para tentar

    compreender a estrutura genética atual da população estudada, no que

    diz respeito a linhagens paternas.

    19

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2. Revisão da Literatura

    2.1 Origem do Povo Brasileiro

    Em busca de uma maior compreensão do presente estudo, bem

    mo de atender a um dos objetivos da pesquisa, tornou-se necessário

    ificação morfológica, fruto da adaptação às

    co

    resgatar o conhecimento sobre as origens e formação do povo brasileiro,

    mais especificamente da população pernambucana. Para isso, alguns fatos

    históricos que influenciaram a estrutura genética atual de tais populações

    foram abordados e analisados no decorrer deste capítulo.

    Segundo Pena (2002), o homem moderno teve uma origem única e

    relativamente recente (cerca de 100 mil anos atrás) na África. A partir daí

    ele migrou e ocupou progressivamente a Ásia, a Europa, a Oceania, as

    Américas, e todos os outros rincões da Terra. Essa “diáspora” foi

    acompanhada de divers

    condições climáticas e ambientais das diferentes regiões do mundo.

    Milhares de anos após a dispersão do grupo africano inicial de

    homens, povos oriundos da Ásia (ameríndios1), da Europa (portugueses) e

    da África (escravos da África Ocidental e Central) reencontraram-se no

    Brasil, durante o século XVI. A partir dessa confluência, iniciou-se um

    processo de mistura gênica inusitado em toda a história da Humanidade,

    gerando o brasileiro atual (Pena, 2002).

    Sendo assim, os brasileiros compõem uma das mais heterogêneas

    populações do mundo, sendo resultado de cinco séculos de cruzamento

    interétnicos entre povos de três continentes: os colonizadores Europeus,

    representados principalmente por portugueses; escravos africanos e

    nativos americanos (indígenas) (Alves-Silva et al., 2000). Esse encontro

    1 Foi comprovado cientificamente que a maioria dos indígenas das Américas descende de populações da área central da Sibéria, na Ásia (Pena et al., 2000). Há uma concordância geral de que a principal rota dos ancestrais de ameríndios no continente ocorreu através do Estreito de Bering. Isto não exclui, entretanto, a possibilidade de que outras migrações menores tenham ocorrido através do pacífico (Salzano, 1986)

    20

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    produziu conflitos, acomodações e, sobretudo, uma forte miscigenação

    biológica e cultural (Pena et al., 2000).

    2.1.1 Ocupação Humana do Brasil e Conseqüente Formação

    ão portuguesa, pouco

    l, deixando para trás mulheres e filhos. Alguns desses

    Populacional do País

    Durante os primeiros 50 anos, a colonização do Brasil constituiu um

    problema de difícil solução para Portugal. A populaç

    superior a 1.000.000 de habitantes na época, não tinha condições de

    atender as demandas das colônias portuguesas na África, Ásia e América.

    Além disto, as notícias que chegavam do Brasil eram desanimadoras:

    “Pode-se dizer que nela não encontramos nada de proveito”. Portugal

    tinha, porém, a preocupação da posse da terra, visto que contrabandistas

    de madeira e outros produtos passaram a visitar constantemente o nosso

    litoral (Holanda, 1981).

    Em 1500, ano da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, esta

    região era habitada por vários povos indígenas. Estima-se que, na época

    do descobrimento, existiam no Brasil cerca de 2,5 milhões de índios

    (Salzano e Freire Maia, 1970 apud Alves-Silva et al., 2000; Bethell, 1997).

    A chegada dos portugueses ao Brasil não perturbou o equilíbrio da

    vida tribal nos primeiros anos. Antes do açúcar se constituir fonte de

    riqueza, seguida mais tarde pela mineração, era difícil atrair uma

    imigração espontânea volumosa (Holanda, 1981). Em 1534, chegaram ao

    Brasil muitos espanhóis, franceses, holandeses, principalmente

    portugueses, entre outros degredados e aventureiros em busca de

    enriquecimento fáci

    foram aceitos e se acomodaram às tradições tribais, particularmente

    através de matrimônio, que dava oportunidade do homem branco ter um

    lugar na sociedade indígena, obtendo alimentos, bens e segurança diante

    das tribos hostis (Holanda, 1981).

    21

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Em carta ao rei D. João, o padre Manoel da Nóbrega diz que para

    colonizar a terra seria necessária a vinda de muitas mulheres brancas,

    população indígena (Holanda, 1981).

    Os negros, terceiro grupo étnico a fazer parte da nossa colonização,

    antigo registro encontrado é a

    existência de escravos a partir 1531, na Capitania de São Vicente, São

    to, a miscigenação com os brancos

    havia

    ram trazidos africanos de Benin e Nigéria até o século

    XVIII

    leão, a família Real chega ao Brasil em 1808,

    inician

    da população brasileira”

    que aqui se casariam e elevariam a moral cristã e os bons costumes. Mas

    o pedido foi atendido apenas em parte e o número de mulheres enviadas

    não resolveu o problema (Pena et al., 2000).

    Mais tarde, o índio passou a ser considerado pelos portugueses

    como impedimento à posse da terra e uma ameaça à segurança da

    colonização, o que desencadeou diversos conflitos que explicam em parte

    a redução da

    vieram desde o principio em grande número e não se tem data exata da

    chegada do primeiro navio. O mais

    Paulo (Cavignac, 2003). Mas, de fa

    começado na metrópole, muito antes de 1500, com negros escravos

    levados à Europa para fazer todo tipo de trabalho braçal (Prado Jr, 1980).

    A partir de 1550, se intensificou a vinda de africanos das colônias

    portuguesas do Congo e Angola para trabalhar como escravos nas

    lavouras de cana-de-açúcar. Com a ocupação Holandesa, o tráfico de

    escravos foi parcialmente interrompido. Em 1700, o ciclo do açúcar entrou

    em declínio, devido à concorrência entre colônias, e começou o ciclo do

    ouro. Também fo

    e de Senegal e Gâmbia a partir desse século. Com o bloqueio naval

    Inglês em 1845, deixaram de vir escravos dessas regiões, passando a vir

    principalmente de Moçambique. Em resumo, em 1855, já havia cerca de 4

    milhões de negros no Brasil, constituindo mais de 50% da população

    (Cavignac, 2003).

    Fugindo de Napo

    do um fluxo migratório de famílias européias. O Brasil recebeu

    grandes contingentes de famílias de portugueses, italianos, espanhóis,

    alemães, japoneses, sírios e libaneses, que participaram do processo de

    mistura racial, provocando um “branqueamento

    22

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    (Ribe

    entais. Este fato gerou uma identidade nacional singular e

    um po

    acilmente atingível deste país

    (Garc

    A pirataria francesa travava relações

    com o

    Brasil em capitanias hereditárias (Mello, 1998).

    iro, 1995). Entre 1872 e 1890, por exemplo a população de brancos

    brasileiros aumentou 12,5 milhões (Pena et al., 2000).

    São estes os principais fatos históricos responsáveis pela formação

    atual do povo brasileiro. Tal povo resulta de um prolongado processo de

    alta miscigenação biológica e cultural, devido a extrema variabilidade de

    seus grupos étnicos originais e à sua distribuição por toda uma gama de

    condições ambi

    vo marcadamente mestiço, na aparência e na cultura (Pena, 2002).

    2.1.2 Colonização de Pernambuco e Formação da População

    do Estado

    Quando os primeiros europeus chegaram ao território brasileiro no

    início do século XVI, vários grupos indígenas, nômades e errantes

    ocupavam a região nordeste, vagando pelo litoral e florestas da região. A

    costa nordestina foi a primeira área do país a ser ocupada pelos

    portugueses em 1500, uma vez que a costa oeste da África ficava

    defronte as costas do nordeste brasileiro, o que a tornava a região de

    maior proximidade geográfica, sendo f

    ia, 1986).

    Após 35 anos de desinteresse, a colonização Portuguesa se fazia

    esperar, pois a riqueza e a abundância dos recursos naturais da colônia

    atraíam piratas e aventureiros de outros países da Europa, tais como

    franceses, holandeses e ingleses.

    s índios, unindo-se contra os lusos que vinham comercializar o pau-

    brasil (Garcia, 1986).

    Os portugueses tinham interesses em “dar a mão à colônia” para

    que não viesse a perder aquilo que lhes pertenciam por direito de

    descoberta. A partir de então, a colonização mais prática foi dividir o

    23

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    As terras do atual Estado de Pernambuco foram doadas como

    capitania hereditária pelo rei de Portugal a Duarte Coelho em 1535.

    Fidalg

    o-de-obra escrava

    nos e

    iação de gado levou os

    colon

    egros a Pernambuco, visto que o

    i houvera permitido que importasse 24 “peças” procedentes da Guiné,

    tendendo a um pedido do donatário. Em 1559, a rainha regente

    utorizou os senhores de engenho da colônia a importar até 120 escravos

    negros do Congo (Patriota, 2000).

    O desenvolvimento de Pernambuco atraía grande número de

    uropeus para a região. Os franceses foram responsáveis por sucessivos

    taques e, de fato, nos seus planos não estava apenas o comércio com os

    ativos. Depois de saquear e destruir a Feitoria Régia, os franceses

    nstruíram uma fortificação na Ilha de Itamaracá, mas pouco durou esse

    o da casa real, Duarte Coelho vinha iniciar, praticamente, a

    colonização portuguesa em Pernambuco, ergueu a sua capitania e esta foi

    a que estabeleceu um maior desenvolvimento. Em 1537, foram fundadas

    as vilas de Igarassu e Olinda, sendo esta a primeira capital do Estado

    (Mello, 1998).

    A prosperidade de Pernambuco teve inicio com o cultivo da cana de

    açúcar e do algodão. Os índios eram utilizados como mã

    ngenhos e nas lavouras, especialmente por parte daqueles que não

    dispunham de capital suficiente para comprar escravos africanos

    (Cavalcante, 2002).

    Após um período de paz aparente, os índios reagiram a esse regime

    de trabalho através de hostilidade, assaltos e devastações de engenhos e

    propriedades. A guerra e a perseguição dos portugueses tornou-se

    sistemática, fazendo com que os índios sobreviventes tivessem que

    emigrar para longe da costa. No entanto, a cr

    izadores a ocupar terras no interior do Estado, continuando assim a

    haver conflitos. As missões religiosas dos jesuítas eram a única forma de

    proteção com que os índios contavam, porém as explorações e injustiças

    continuavam a acontecer (Souza, 1998).

    Em 1539, chegaram os primeiros n

    re

    a

    a

    e

    a

    n

    co

    24

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    assentamento. A fortificação francesa foi atacada a mando do Rei de

    Portugal e rendida após 18 dias de combate (Nogueira, 1988).

    Em 1630, os holandeses invadiram Pernambuco e incendiaram

    Olinda. Sendo assim, Recife passou a ser a sede do domínio holandês no

    Brasil. Durante 24 anos, o conde Maurício de Nassau governou o Brasil

    Holandês, cuja administração foi marcada por mudanças de natureza

    econômica, social e cultural. A forte resistência de portugueses e

    brasileiros (de origem lusitana, africana e índia, já cristianizados) acabou

    resultando na expulsão dos holandeses (Maior, 1967).

    Portanto, assim consolidou-se a estrutura genética da população

    pernambucana, como o cruzamento entre índios nativos, negros africanos

    e brancos europeus. Dentre os brancos que se estabeleceram na região

    destacam-se os portugueses, os franceses e os holandeses, entretanto, os

    franceses e holandeses, apesar de tentarem se estabelecer em território

    pernambucano, deixaram uma contribuição étnica restrita. A presença de

    espanhóis e ingleses foi ainda mais escassa (Ribeiro, 1995) devido ao

    tempo de permanência em território do Estado.

    A miscigenação ocorrida na formação da população de Pernambuco

    e do Brasil acarretou em polimorfismo genético com características únicas.

    Dessa forma, variações genéticas entre indivíduos em populações

    passaram a ser amplamente utilizadas em estudos de genética

    populacional, molecular e antropológica.

    25

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2. Estudo de Populações e Marcadores Genéticos

    Polimórficos

    2

    2

    A genética de populações é o ramo da genética que investiga as leis

    e outros princípios que governam a estrutura das populações naturais,

    elucidando os mecanismos que alteram a composição genética das

    omo: fatores ecológicos e evolucionários, tamanho

    opulacional, padrões de migração, acasalamentos, distribuição de

    divíduos e seleção natural, para tentar compreender e predizer os

    feitos de fenômenos como segregação, recombinação e mutação

    Beiguelman, 1994).

    Este conhecimento é fundamental para um correto entendimento da

    volução, pois o processo evolutivo é essencialmente uma modificação

    rogressiva da composição genética das populações, ou seja, alterações

    as freqüências genotípicas através do tempo (Gillespie, 1998).

    O estudo da composição genética das diferentes populações

    umanas ocupa um lugar de destaque na ciência. Neste sentido, foram, e

    inda são, utilizados diversos tipos de marcadores genéticos polimórficos,

    omo os grupos sangüíneos (ABO e Rh), proteínas séricas e eritrocitárias,

    unoglobulinas, sistemas de histocompatibilidade e polimorfismos de

    NA3 (Cavalli-Sforza et al., 1996).

    Diversos marcadores polimórficos de DNA se encontram distribuídos

    or todo o genoma. Estes marcadores deram uma nova dimensão aos

    studos de variabilidade genética ao nível molecular e vêm sendo

    mplamente utilizados em inúmeros campos, incluindo identificação

    dividual, mapeamento de genes e estudos populacionais.

    mesmas, tais c

    p

    in

    e

    (

    e

    p

    n

    h

    a

    c

    im

    D

    p

    e

    a

    in

    de indivíduos da mesma espécie, vivendo

    m um determinado espaço e mantendo entre si uma relação de ancestralidade e escendência (Beiguelman, 1994).

    ismos de DNA são seqüências de nucleotídeos que apresentam duas ou mais diferentes formas (alelos são definidos como formas alternativas de um gene). Um gene é denominado polimórfico quando o alelo mais comum em uma população tem uma freqüência inferior a 0,95 – alguns autores preferem um limite mais estringente de 0,99 (Hartl e Clark, 1997).

    2 Uma população é definida como um conjuntoed3 Polimorf

    26

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    O primeiro grande estudo populacional aplicando-se marcadores

    et al.

    s utilizando polimorfismos de DNA,

    autossômicos e alossômicos, vêm sendo realizados com sucesso e, assim,

    ntes contribuições para o estudo e caracterização

    polimórficos de DNA foi feito com DNA mitocondrial por Cann

    (1987). Desde então, diversos estudo

    trazendo importa

    genética de populações.

    27

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2.3 Polimorfismo de Seqüências Repetidas de DNA

    s

    ucarióticos (Doolittle e Sapienza, 1980; Orgel e Crick, 1980).

    Com o progresso do Projeto Genoma Humano, mais conhecimentos

    sendo

    sclarecida a função e a estrutura das seqüências não codificadoras.

    ul

    2.3.1 Seqüências Repetidas no Genoma

    O genoma humano, assim como outros genomas de mamíferos,

    possui uma proporção muito elevada de seqüências repetidas de DNA4, as

    quais estão presentes em regiões não codificantes dispersas por todo o

    genoma. Por serem, de forma predominante, inativas no que se refere à

    transcrição, tais seqüências foram consideradas não funcionais por muito

    tempo 5(Strachan e Read, 2002).

    Masatoshi Nei foi o primeiro a enfatizar a importância dessas

    seqüências e, no ano de 1969, as denominou “DNA sem sentido” (Nei,

    1969). Poucos anos depois, Suzumu Ohno criou o termo “DNA lixo” para

    descrever esse fenômeno (Ohno, 1972). A abundância de seqüências

    repetitivas não tinha explicação racional imediata, pois existiam muitos

    organismos com genomas compactos e bem sucedidos, como os

    procariotos. Portanto, muitos pesquisadores viam esses elementos como

    depósitos desnecessários sobrecarregando o genoma e os compararam

    com parasitas (Hickey, 1982), um “DNA egoísta” explorando genoma

    e

    sobre o genoma foram acrescentados, de modo que vem

    e

    Sim taneamente, mais e mais biólogos vêm considerando os elementos

    4 Até 50% do genoma de mamíferos é ocupado por elementos repetitivos (Makalowski, 2000).

    vantagem adaptativa e, portanto, não sofrem seleção esquisa, 2001).

    5 Pensava-se que seqüências de DNA repetidas no genoma não eram funcionais, pois não são propriamente genes e, portanto, não sintetizam produtos e nem exercem efeitos sobre características físicas de uma pessoa. Como conseqüência, tais seqüências não estão associadas a nenhuma natural (Conselho Nacional de P

    28

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    repetitivos como um tesouro genômico, pois, ao contrário do que se

    acreditava, algumas dessas seqüências repetitivas parecem estar

    envolvidas em diferentes processos genômicos (Brosius, 1991; Nowak,

    1994; Brosius, 1999; Makalowski, 2000).

    Um certo número de evidências vem mostrando que seqüências

    repetitivas funcionam como elementos regulatórios com habilidade de

    ligar proteínas e servir como acentuadores da expressão em genomas de

    eucariotos (Goldstein e Schlötterer, 1999). Embora as seqüências

    acientes com tais doenças (Paulson e Fischbeck,

    19

    2.3.1

    micro

    famíli

    em ta

    das u

    (Strachan e Read, 2002).

    repetitivas tenham sido identificadas no DNA intergênico ou dentro de

    introns de genes, uns poucos exemplos foram relatados dentro de

    seqüências codificadoras de genes associados com doenças degenerativas

    neuronal e/ou muscular humana (Gondo et al., 1998). Tais doenças foram

    causadas por variação quantitativa na função da proteína e na atividade

    gênica (Goldstein e Schlötterer, 1999), como conseqüência de drásticas

    expansões de unidades repetitivas, afetando a fisiologia e o

    desenvolvimento de p

    96 apud Goldstein e Schlötterer, 1999; Richards et al., 1993 apud

    Goldstein e Schlötterer, 1999). Outros trabalhos têm mostrado que

    seqüências repetitivas também agem como sítios de poliadenilação e

    representam pontos quentes de recombinação e de mutação, entre outras

    funções (Makalowski, 2000). Assim sendo, as funções biológicas das

    seqüências repetitivas de DNA ainda não são muito bem compreendidas.

    .1 Família de Seqüências de DNA Repetidas em Tandem

    As seqüências de DNA-satélite, megassatélites, minissatélites e

    ssatélites, relatadas resumidamente na Tabela 1, formam uma

    a definida por blocos (ou arranjos) de seqüências de DNA repetidas

    ndem. Tal família é assim classificada com base no tamanho médio

    nidades repetitivas ou dos arranjos formados por essas unidades

    29

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    DNA

    mega

    uma s

    contri

    acred

    centrô apresentado na figura 1 (Browater e Wells, 2000;

    Strach

    O D

    riando entre 6

    64 pb (Strachan e Read, 2002). O DNA minissatélite pode ser

    ipervariável ou telomérico:

    a. As seqüências de DNA minissatélite hipervariável são altamente

    polimórficas e estão organizadas em arranjos de repetições em

    tandem (Jeffreys, 1987). As unidades de repetição, nos diferentes

    arranjos hipervariáveis, variam consideravelmente em tamanho,

    mas têm uma seqüência central comum, GGGCAGGAXG (onde X =

    qualquer nucleotídeo) (Strachan e Read, 2002). Esse tipo de DNA

    minissatélite localiza-se preferencialmente nas regiões

    subteloméricas (figura 1). Este fato limita seu uso em estudos do

    genoma;

    O DNA-satélite humano é composto por arranjos muito longos de

    repetido em tandem – blocos geralmente de 100 Kb até vários

    bases (Mb) de comprimento – com a unidade de repetição sendo

    eqüência simples ou moderadamente complexa. Esse tipo de DNA

    bui com a maior parte das regiões heterocromáticas do genoma e

    ita-se que esteja envolvido na estrutura e na função dos

    meros, como

    an e Read, 2002).

    O DNA megassatélite ou macrossatélite é caracterizado por arranjos

    de comprimentos relativamente modestos em comparação com alguns

    arranjos de DNA-satélite. No entanto, o prefixo “mega” tem sido utilizado

    para enfatizar o grande tamanho da unidade repetitiva, que pode ter

    vários quilobases de extensão. Essa classe é exemplificada pelo

    megassatélite RS447, que consiste de cerca de 60 cópias em tandem

    resultando em um fragmento de 4,7 Kb em 4p15, altamente polimórfica

    (Gondo et al., 1998).

    NA minissatélite, também conhecido como VNTRs (Variable Number

    Tandem Repeats - Número Variável de Repetições em Tandem),

    compreende uma coleção de arranjos de seqüências de DNA repetidas

    moderadamente – blocos variando geralmente de 0,1 a 20 Kb de extensão

    – e organizadas em tandem, com unidades de repetição va

    e

    h

    30

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    b. O DNA minissatélite telomérico (figura 1) é constituído por unidades

    de repetição em tandem de 10 a 15 Kb de um hexanucleotídeo,

    especialmente TTAGGG, que é adicionado por uma enzima

    especializada, a telomerase. Essas re ples são

    etamente respo ção dos t eger as

    ossômicas da degradação e de perdas (Strachan e

    cido como repetições de imples ou

    rtas repetições em tandem DNA m rossatélite consiste de

    s curtas, variando tipicamente de 1 a 5 pb (St

    2002), organizadas em arranjos de múltiplas cópias em tandem. Os

    microssatélites estão dispersos nos cromossomos por todo o genoma

    a figura 1. Tais marcadores são encontrados, em

    nucleotí e resul ente

    télites distribuídos por todo genoma (Edwards et al.,

    93 apud Pena, 1993).

    s sobre os élites, o odem

    lificados por PCR mesmo quando o DNA está em

    ou degradad (Ruitberg e lo fato

    los serem discretos, po em ser def idos sem ambigüidade

    repetições ( an e Rea

    petições sim

    elômeros de protdir nsáveis pela fun

    terminações crom

    Read, 2002).

    Também conhe seqüências s

    cu (STR), o ic

    seqüência rachan e Read,

    humano, como expõe

    média, a cada 10.000

    300 mil microssa

    1991; Tautz, 19

    deos, o qu ta em aproximadam

    Como vantagen

    ser facilmente amp

    pequenas quantidades

    de seus ale

    minissat s microssatélites p

    t al., 2001) e, peo

    d in

    pelo número exato de Strach d, 2002).

    31

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Tabela 1: Principais classes de DNA humano repetido em tandem.

    Classe Tamanho da Unidade de Repetição

    Localização Cromossômica Principal

    DNA megassatélite

    (blocos de centenas de

    Kb em alguns casos) RS447

    Vários Kb

    Várias localizações em

    cromossomos

    selecionados.

    ~ 50-70 cópias em

    4p15 e muitas cópias

    em 8p distal.

    DNA-satélite (blocos

    geralmente de 100 Kb

    até vários Mb de

    comprimento)

    5-171 pb Especialmente nos

    centrômeros.

    DNA minissatélite

    blocos geralmente

    dentro da variação de

    Família Hipervariável

    6-64 pb

    9-64 pb

    Nos telômeros ou

    próximos a eles, todos

    os cromossomos.

    Todos os

    cromossomos,

    (

    0,1-20 Kb)

    Família Telomérica

    6 pb

    Todos os telômeros.

    freqüentemente

    próximo aos

    telômeros.

    DNA microssatélites

    (blocos geralmente

    com menos de 150 pb)

    1-5 pb Dispersos por todos os

    cromossomos.

    (Strachan e Read, 2002)

    32

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Os microssatélites têm sido detectados no genoma de todos os

    organismos analisados, ocorrendo tanto em procariontes quanto em

    eucariontes (Goldstein e Schlötterer, 1999). Contudo, espécies diferentes

    contêm seqüências de microssatélites distintas e certas repetições

    ocorrem com mais freqüência que outras (Stallings, 1992). Por exemplo,

    (A)n e (CA)n são mais comuns em humanos, (AT)n em plantas e (CT)n

    em algumas espécies de insetos (Primmer et al., 1997). No entanto, a

    origem dessas diferenças ainda não está clara.

    Figura 1: Localização cromossômica das principais classes de DNA repetitivo. Note as

    localizações restritas de certos tipos de DNA repetido em tandem, como o DNA-satélite,

    que é encontrado na heterocromatina (notável nos centrômeros) e os DNA-

    minissatélites, que são freqüentemente encontrados nos telômeros ou próximo a eles

    (Strachan e Read, 2002).

    Microssatélites (amplamente dispersos pelos cromossomos)

    Telômero (repetições em tandem do minissatélite TTAGGG). Comprimento = vários Kb

    Centrômero (vários componentes do DNA-satélite). Comprimento = vários Mb

    DNA- minissatélite hipervariável (preferencialmente em regiões próximas aos telômeros)

    33

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    Os microssatélites podem ser constituídos por repetições mono, di,

    tri, tetra ou pentanucleotídicas. As unidades de repetição

    pentanucleotídicas são muito raras no genoma humano em relação aos

    demais microssatélites. Entre as repetições de mononucleotídeos, as

    séries A e T são muito comuns e, juntas, correspondem a cerca de 10 Mb

    ou 0,3% do genoma nuclear humano; as séries G e C são menos

    (0,5% do genoma), seguida das repetições

    CT/GA (0,2% do genoma), mas repetições CG/GC são muito raras.

    Repet

    t al., 1997; Lee et al., 1997; Ricciardone et

    al., 1997), bem como para inferir sobre a história evol

    ente no genoma humano,

    exibin

    freqüentes. No caso das repetições dinucleotídicas, arranjos de repetições

    CA/GT são muito comuns

    ições em tandem tri e tetranucleotídicas são relativamente raras,

    altamente polimórficas e têm sido cada vez mais investigadas (Strachan e

    Read, 2002).

    O alto nível de variabilidade (ver tópico 2.3.2), facilidade de

    amplificação por PCR e ubiqüidade no genoma eucarioto (Bowoock et al.,

    1994; Deka et al., 1995; Mountain e Cavalli-Sforza, 1997) são

    características que tornam os microssatélites marcadores genéticos

    particularmente úteis para identificação de indivíduos em ciência forense

    (Micka et al., 1996; Busque e

    utiva e

    antropológica de uma população (Pérez-Lezaun et al., 1997; Pinheiro et

    al., 1997; Pawlowski et al., 1999), para o mapeamento do genoma

    humano (Nelleman et al., 1994; Ricciardone et al., 1997), no apoio ao

    diagnóstico de doenças e na investigação de paternidade (Nelleman et al.,

    1994; Micka et al., 1996), para avaliação de sucesso de transplante de

    medula óssea (Lins et al., 1996), etc.

    Atualmente, os microssatélites autossômicos são os marcadores

    moleculares mais usados, devendo-se principalmente ao fato de serem

    sistemas genéticos que segregam mendelianam

    do herança com dois alelos provenientes de ambos os progenitores,

    os quais estão sujeitos a eventos de recombinação meiótica. Tal evento é

    responsável pela mistura de genes entre os autossomos, produzindo

    inúmeras combinações distintas, o que praticamente impede que duas

    34

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    pessoas tenham o mesmo genoma, fazendo dos microssatélites

    autossômicos ótimos marcadores de individualidade (Pena et al., 2000).

    No entanto, há casos especiais de identificação molecular em que a

    investigação de marcadores nos cromossomos sexuais é indispensável.

    s

    hered

    al., 1999;

    Golds

    repetições em tandem também podem ocorrer no caso de unidades de

    repetição intermediárias ou grandes, e mecanismos genéticos distintos

    são responsáveis por esse polimorfismo, dependendo da extensão da

    unidade de repetição (Strachan e Read, 2002).

    As grandes unidades repetidas de DNA estão sujeitas mais

    comumente à inserção/deleção, como resultado de crossing-over desigual

    ou trocas desiguais entre cromátides irmãs. Em seqüências curtas em

    tandem, o mecanismo mais provável para explicar a variação em sua

    2.3.2 Polimorfismo e Mutação de Seqüências de DNA

    Repetidas no Genoma

    Como em outros genomas, o DNA humano não é uma entidade

    estática. Ao contrário, ele é passível de diferentes tipos de mudança

    itárias (Strachan e Read, 2002). Os níveis de diversidade observados

    nos locos de microssatélite podem ser explicados por elevadas taxas de

    mutação que se acumulam ao longo de sucessivas gerações, estimando-se

    uma taxa mutacional loco-específica entre 0 e 8,58 x 10-3 e uma taxa

    mutacional média de 2,80 x 10-3 por geração (Carvalho-Silva et

    tein e Schlötterer, 1999; Kayser et al., 2000; Kayser e Sajantila,

    2001; Gusmao et al., 2005).

    Em geral, o modelo mutacional step wise (“passo a passo”) define a

    dinâmica populacional dos microssatélites (Carvalho-Silva et al., 1999), os

    quais estão sujeitos, principalmente se forem seqüências longas e

    interruptas, ao polimorfismo de deleção/inserção, pelo qual alelos

    diferentes variam no número de cópias integrais da unidade principal da

    repetição em tandem. Tais polimorfismos de número variável de

    35

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    36

    extensão é mostrado na figura 2 e se

    deslize das fitas de DNA durante a repl

    de informação de seqüência (Goldste

    Read, 2002).

    muitos e

    microssat

    erros no processo de replicação e as correç

    reparo. Vale ressal

    uma vez

    processo de mutaç

    têm dado suporte à hipótese que seqüências repe

    important

    alterações evolucionárias (Goldstein

    torna-se f

    também é

    crucial para uma correta interpretaçã

    (Carvalho-Silva

    2004; Gusmao

    mais de uma gera

    as taxas de mutação para cada loco estudado atr

    direta do perfil de DNA de pais e filh

    inicia pelo pareamento incorreto por

    icação, o que leva a uma mudança

    in e Schlötterer, 1999; Strachan e

    Alguns desses erros são corrigidos por sistemas de reparo, mas

    scapam e tornam-se mutações. Assim, a instabilidade dos

    élites pode ser considerada como um balanço entre a geração de

    ões através de sistemas de

    tar que os microssatélites não são igualmente instáveis,

    que nem todos estão propensos, da mesma maneira, ao

    ão (Eisen, 2000 apud Goldstein e Schlötterer, 1999).

    As altas taxas de mutação espontânea no número de repetições,

    titivas são uma

    e origem de variação genética quantitativa e substrato para

    e Schlötterer, 1999). Tal hipótese

    undamental para estudos evolutivos e populacionais.

    O conhecimento sobre as taxas de mutação dos microssatélites

    importante em testes de paternidade e análises forenses, pois é

    o dos perfis genéticos encontrados

    et al., 1999; Kayser e Sajantila, 2001; Kurihara et al.,

    et al., 2005). Para tanto, torna-se necessário o estudo de

    ção da população analisada, o que permite determinar

    avés de observação

    os para cada microssatélite analisado.

  • Figura 2: Modelo do i l c ssa i A fi é prese tada e as repetições do loco de microssatélite por retâ u n o e l a a sup -sint mostra como o paream incorreto por deslize d c i ão d N O deslize da fita envolve uma região de não-pareame contendo é s t esliz t da ara frente), causa respectivamente, u n ç u e n fita i izada e Schlötterer, 19

    entonto,ndo,99).

    processo mutac ona em mi ro tél tes.ng los; a fita i feri r é par nta e fit

    das fitas po e o orrer durante a repl caçuma ou mais repetições da fita rec m- inte izada (d

    ma i ser ão o del ção a

    ta de DNA reerior é a recém

    o D A. e para rás) ou recém-s ntet

    n por linhasetizada. A figura

    fita parental (deslize p (Goldstein

    REPLICAÇÃO REPLICAÇÃO REPLICAÇÃO REPLIC

    E AÇ

    SEM MUTAÇ

    PLICNORM

    ÃO AL

    ÃO

    R

    AÇÃO

    ME ANISMO ARO

    CDE REP

    D SLIZ DA F TA E E I REALINHAMENTO

    PERDA ODO ALINHAMENT

    EXTENSÃO EXTENSÃO

    DESLIZE PARA TRÁS CAUSA INSE ÇÃO(+1 REPETI ÃO)

    R Ç

    D Z R E

    ESLI E PA A FRENTECAUSA D LEÇÃO (-1 REPETIÇÃO)

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco 2. Microssatélites como Marcadores Moleculares do

    Cromossomo Y

    2.4.1 Cromossomo Y

    O cromossomo Y humano é um cromossomo sexual de morfologia

    acrocêntrica que pertence ao grupo G, sendo o terceiro menor

    cromossomo humano com aproximadamente 60 milhões de pares de

    bases, o que representa apenas 2% do ge

    4

    noma total (Ali e Hasnain, 2002;

    raig et al., 2004).

    No cromossomo Y são encontrados poucos genes funcionais, os

    uais desempenham importante função biológica com conseqüências

    retas na determinação do sexo e na fertilidade masculina, estando

    nvolvidos no desenvolvimento e manutenção das células germinativas do

    omem (Quintana-Murci et al., 2001).

    Para manter as diferenças sexuais, os cromossomos X e Y são

    strutural e funcionalmente distintos. No entanto, existem regiões de

    omologia6 entre estes cromossomos. Essas regiões são denominadas

    seudoautossômicas (PAR 1 e PAR 2) e estão localizadas nas porções

    istais do braço longo e do braço curto dos cromossomos X e Y, como

    ostra a figura 3. PAR 1 (2,60 Mb) e PAR 2 (0,32 Mb) desempenham

    apel importante durante a meiose masculina pois são responsáveis pelo

    areamento, recombinação e segregação corretas do par de cromossomos

    Graves, 2002; Craig et al., 2004; Ross et al., 2005). Deleções

    C

    q

    di

    e

    h

    e

    h

    p

    d

    m

    p

    p

    sexuais (

    nestas regiões podem levar à esterilidade masculina, provavelmente por

    falha na divisão meiótica (Quintana-Murci et al., 2001).

    íram a partir de um cromossomo ancestral comum e sofreram, subseqüentemente, grande divergência ao longo dos anos (Graves, 2002; trachan e Read, 2002; Ross et al., 2005).

    6 A existência de regiões homólogas nos cromossomos X e Y sugere que os dois cromossomos sexuais evolu

    S

    38

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco A maior parte do cromossomo Y, cerca de 95%, compreende

    Esta região não sofre recombinação com nenhum outro

    omossomo, uma vez que o Y encontra-se em estado haplóide, por isso,

    e

    PAR2, com seus respectivos tamanhos, localizam-se nas extremidades dos braços longo

    regiões, assim como as regiões de heterocromatina e eucromatina, estão indicadas na

    figura (Jobling et al., 1997).

    seqüências de DNA exclusivas deste cromossomo e, portanto, encontradas

    apenas no macho.

    cr

    é denominada NRY (Non-recombining Region of Y-chromosome - Região

    Não Recombinante do Cromossomo Y) ou ainda MSY (Male-specific Region

    of Y-chroromosome, Região Macho-Específica do Cromossomo Y). A NRY,

    como exibe a figura 3, é constituída por aproximadamente 24 Mb de

    eucromatina e 30 Mb de heterocromatina constitutiva inerte, composta

    por diferentes tipos de DNA não codificador altamente repetitivo (Ali

    Hasnain, 2002; Strachan e Read, 2002).

    Figura 3: Idiograma do bandeamento G do cromossomo Y humano. As regiões PAR1 e

    e curto do cromossomo e recombinam-se com regiões homólogas do cromossomo X. A

    NRY não sofre recombinação e é passada “em bloco” (haplótipo) de pai para filho. Tais

    Heterocromatina ~ 30Mb

    PAR2 = 0,32Mb

    PAR1 = 2,60Mb

    Eucromatina ~ 24Mb

    Região não recombinante

    (NRY)

    39

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2.4.2 Uso dos Microssatélites como Marcadores Genéticos do

    to, o uso de marcadores do cromossomo Y

    et al., 1999) e novos microssatélites

    do cromossomo Y têm sido estudados

    Cromossomo Y

    A década de 90 foi marcada pelo desenvolvimento e rápido

    estabelecimento da técnica de PCR para amplificar microssatélites. Tal

    técnica tornou-se o método de escolha, o qual vem sendo empregado com

    sucesso em casos forenses, permitindo que a amplificação dos

    microssatélites seja realizada com precisão, sensibilidade e velocidade,

    até mesmo quando o DNA está degradado (Ruitberg et al., 2001).

    Através desta técnica, um grande número de microssatélites

    autossômicos foram rapidamente avaliados e sucessivamente usados na

    rotina forense. Enquanto is

    permanecia estagnado devido à existência de um limitado número de

    locos polimórficos estudados (Kayser et al., 1997; Butler et al., 2002).

    Apenas três microssatélites do cromossomo Y diméricos (YCAI, YCAII e

    YCAIII) (Mathias et al., 1994), um tetramérico (27H39 ou DYS19)7

    (Roewer et al., 1992) e um pentamérico (Chen et al., 1994) tinham sido

    descritos com mais detalhes até a metade da década de 90 (Kayser et al.,

    1997).

    Após o primeiro Workshop sobre marcadores do cromossomo Y em

    Berlim (1996) vários dados de tipagem de locos do Y em populações de

    todo o mundo foram relatados (Nata

    e caracterizados a cada ano (Bosch

    et al., 2002; Butler et al., 2002; Gusmao et al., 2002; Redd et al., 2002;

    Beleza et al., 2003; Quintans et al., 2003; Uchihi et al., 2003; Zarrabeitia

    et al., 2003; Schoske et al., 2004; Berger et al., 2005). Isso reflete em

    mais de 100 locos do cromossomo Y disponíveis para investigações

    forenses atualmente (Kayser et al., 2004; Berger et al., 2005), o que os

    7 Y27H39 ou DYS19, como é designada atualmente, foi o primeiro microssatélite do cromossomo Y descrito (Roewer et al., 1992).

    40

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco torna uma ferramenta mundialmente aceita para identificação humana

    (Berger et al., 2005).

    Este fato se deve a alguns méritos do cromossomo Y, como a

    especificidade masculina de sua maior parte e a ausência de

    recombinação, que estabelece uma linhagem paterna e uma distribuição

    sexo masculino, foi comprovado e

    m sempre é

    alélica específica na população (Roewer, 2003). Tais características

    tornam os microssatélites do Y, em alguns casos, uma ferramenta mais

    útil que os marcadores autossômicos, sendo particularmente importantes

    na identificação de indivíduos em casos forenses, quando há misturas de

    fluidos biológicos masculinos e femininos, em casos de paternidade

    especiais e em estudos evolutivos e antropológicos (Kayser et al., 1997;

    Schultes et al., 1999; Butler et al., 2003; Jobling e Tyler-Smith, 2003;

    Goes et al., 2005).

    O potencial do cromossomo Y, tanto para identificar quanto para

    discriminar o DNA de um indivíduo do

    tem sido extensivamente utilizado na prática forense. Tal ferramenta tem

    seu valor acentuado pois a grande maioria dos crimes é cometida por

    indivíduos do sexo masculino (99% dos crimes de violência contra uma

    pessoa e 93% dos crimes sexuais na Inglaterra e Grã-Betanha – Home

    Office, 1995 apud Jobling et al., 1997) e, em evidências de crime sexual,

    o DNA do agressor encontra-se freqüentemente misturado ao DNA da

    vítima (Roewer et al., 1996; de Knijff et al., 1997; Jobling et al., 1997;

    Kayser et al., 1997).

    Técnicas convencionais podem separar espermatozóides de

    componentes femininos, entretanto, a completa separação ne

    alcançada. Adicionalmente, o agressor pode ser azoospérmico ou

    vasectomisado, o que impediria o funcionamento das técnicas utilizadas

    para separação de células. Além disto, amostras misturadas que são

    analisadas através de PCR com marcadores autossômicos podem sofrer

    alguma interferência ou competição entre relativamente pouca quantidade

    de DNA masculino e grande quantidade de DNA feminino. Nestas

    circunstâncias, pode-se fazer a identificação do indivíduo através de PCR

    41

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco com marcadores do cromossomo Y localizados na NRY, não requerendo a

    separação de células femininas e espermatozóides, o que aumenta a

    probabilidade de se obter o perfil de DNA específico do macho em

    amostras misturadas (Busque et al., 1997; Sibille et al., 2002; Goes et

    al., 2005).

    A análise de microssatélites do cromossomo Y também pode ser

    ancestralidade da linhagem paterna em populações humanas.

    ação adequada entre instituições

    distin

    muito útil em testes de paternidade, principalmente em casos que o

    suposto pai é falecido ou ainda quando o pai alegado não pode ser

    estudado. Nesses casos, indivíduos da mesma patrilinhagem podem ser

    analisados através da utilização de marcadores do Y, permitindo assim,

    chegar a informação desejada, uma vez que o homem transmite o mesmo

    cromossomo Y, sem sofrer recombinação, para todos os seus filhos do

    sexo masculino. Desta forma, tanto o pai alegado quanto o filho

    compartilham o mesmo cromossomo Y (Jobling et al., 1997; Quintana-

    Murci et al., 2001; Goes et al., 2005).

    Devido a esta propriedade genética particular do cromossomo Y –

    herdado como uma unidade intacta através da patrilinhagem – este

    cromossomo sexual também tem se mostrado extremamente útil para

    traçar a

    Dessa forma, informações importantes são fornecidas para estudos

    evolutivos e populacionais, como padrão específico das migrações

    ocorridas no passado e predição de parentesco evolutivo através da

    análise da diversidade genética das diferentes populações do mundo

    (Pinheiro et al., 1997; Perez-Leuzaun et al., 1997; Frégeau et al., 1998;

    Santos et al., 1999; Pena et al., 2000; Pacheco et al., 2005).

    Como o uso de locos do cromossomo Y tem se tornado bastante

    popular e numerosos novos locos vêm sendo introduzidos a cada ano, o

    uso de uma nomeclatura comum é crucial nas áreas forenses e estudos

    populacionais para permitir uma comunic

    tas e a comparação entre dados obtidos (Gusmao et al., 2005). A

    nomeclatura dos microssatélites do cromossomo Y segue as normas da

    ISFG (International Society of Forensic Genetics - Sociedade Internacional

    42

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco de Genética Forense) que publica guias e recomendações regularmente.

    De acordo com a ISFG, as seqüências repetidas podem ser designadas

    como D#S##, sendo D – DNA, # - cromossomo estudado, S – para um

    segmento único, ## - número de série. Dessa forma, os marcadores do

    cromossomo Y são conhecidos como DYS (Gill et al., 2001; Gusmao et al.,

    2005).

    A designação dos alelos também é estabelecida pela ISFG, a qual

    comenda que sejam nomeados de acordo com o número total de

    nidades repetidas do loco (Kayser et al., 1997; Gill et al., 2001; Gusmao

    t al., 2005). Ocasionalmente, alelos intermediários podem aparecer

    evido à inserção ou deleção de uma base, portanto, se uma repetição

    arcial for encontrada, o alelo é designado de acordo com o número de

    epetições, separado por ponto e seguido pelo número de bases da

    epetição incompleta. No caso de sistemas duplicados, onde a distinção

    ntre diferentes produtos amplificados não for possível, os alelos

    ncontrados devem ser nomeados separando-os por hífen, sendo tratados

    omo genótipos de locos ligados e considerados como um único “alelo” ou

    haplótipo” (Schneider et al., 1998; Gill et al., 2001; Gusmao et al.,

    005).

    Embora os polimorfismos do cromossomo Y tenham adquirido

    rande importância na literatura forense, algumas limitações são

    ncontradas na utilização dos locos de microssatélites deste cromossomo

    omo marcadores moleculares para identificação de indivíduos da mesma

    nhagem. Tais locos possuem uma menor capacidade de distinguir

    divíduos que os marcadores autossômicos (Gusmao et al., 2005) devido

    natureza haplóide do cromossomo Y. Neste caso, cada indivíduo possui

    penas um alelo por marcador, o que é menos informativo que um

    arcador autossômico com a mesma diversidade alélica porém,

    presentando dois alelos por indivíduo.

    Uma outra limitação encontrada é conseqüência da ausência de

    recombinação do cromossomo Y. Esse fato implica na transmissão direta

    do haplótipo do Y de pai para filho sem alterações. Logo, os homens de

    re

    u

    e

    d

    p

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    g

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    li

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    à

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    m

    a

    43

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco uma mesma linhagem paterna compartilham o mesmo haplótipo, exceto

    utação. Sendo assim, algumas estratégias devem ser

    mpregadas para aumentar o poder de discriminação do haplótipo, como

    analisar o maior número de marcadores possível ou ainda, o que é mais

    viável, utilizar uma combinação dos marcadores mais polimórficos (Bosch

    et al., 2002; Redd et al., 2002; Schoske et al., 2004).

    se ocorrer alguma m

    e

    44

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco

    2.5 Haplótipos

    Algumas partes do genoma humano são herdadas em grupos,

    geração após geração. Esses grupos de genes se dispõem em locos

    ligados, estando situados muito próximos no mesmo cromossomo e, por

    isso, raramente recombinam ou sofrem rearranjos gênicos. Assim,

    conjuntos de alelos situados no mesmo segmento cromossômico tendem a

    serem transmitidos em blocos. Estes blocos de alelos são conhecidos

    como haplótipos (Kayser et al., 1997; Quintana-Murci et al., 2001;

    Strachan e Read, 2002).

    Os haplótipos marcam segmentos cromossômicos reconhecíveis, que

    podem ser seguidos através de genealogia e de populações. Enquanto não

    desfeitos por recombinação, os haplótipos podem ser tratados, para fins

    de mapeamento, genética forense, investigação de paternidade, entre

    outras áreas, como se fossem um só loco altamente polimórfico.

    Dependendo do grau de polimorfismo dos diferentes locos, os haplótipos

    podem ter freqüências tão baixas que tornam cada indivíduo quase único

    (Strachan e Read, 2002).

    Os microssatélites do cromossomo Y são herdados como haplótipos,

    os quais são transmitidos de pai para filho, estabelecendo uma linhagem

    paterna (Kayser et al., 1997). A herança patrilínea da porção não-

    recombinante do Y resulta na conservação completa de polimorfismos de

    locos ligados. Quando tomados conjuntamente, estes polimorfismos

    fornecem haplótipos altamente discriminatórios e, portanto, ferramentas

    de grande utilidade para genética forense e estudos populacionais.

    Várias populações do mundo vêm sendo estudadas e bancos de

    dados de haplótipos de microssatélites do cromossomo Y têm sido

    estabelecidos na Europa, América e Ásia (Roewer et al., 2001; Kayser et

    al., 2002; Lessig et al., 2003).

    45

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco Um haplótipo constituído pelos locos DYS19, DYS385, DYS389I e II,

    DYS390, DYS391, DYS392 e DYS393 tem sido o mais comum8 conjunto de

    ; Park

    t al., 2005).

    No entanto, necessidades forenses específicas algumas vezes

    equerem mais informações (Sanchez-Diz et al., 2003) e, portanto, locos

    e microssatélites do cromossomo Y adicionais são requeridos para

    umentar o potencial do haplótipo para distinguir diferentes linhagens

    aternas (Berger et al., 2005; Park et al., 2005). Por esta razão, a adição

    o marcador YCAII ao haplótipo mínimo determinou o haplótipo estendido

    de Knijff et al.,1997; Kayser et al., 1997; Roewer et al., 2001),

    umentando consideravelmente o poder de discriminação do haplótipo.

    ontudo, o marcador YCAII não é ideal para o estudo de misturas de

    mostras masculinas, pois é um marcador polimórfico dinucleotídico que

    ode levar ao deslizamento da DNA polimerase durante a PCR (Redd et

    l., 2002; Chi e Lam, 2005). Diante disto, foi definido um haplótipo

    omposto pelos locos do haplótipo mínimo e os microssatélites DYS438 e

    YS439, o qual não apresentou nenhuma perda apreciável na capacidade

    iscriminatória em relação ao haplótipo inicialmente estabelecido, com a

    antagem da eliminação do problema produzido pelo marcador YCAII

    marcadores do Y analisado em diversas populações (Biondo et al., 2004;

    Leat et al., 2004; Martín et al., 2004; Saul et al., 2004; Berger et al.,

    2005; Dobashi et al., 2005; Goes et al., 2005; Lovrecic et al., 2005; Park

    et al., 2005; Pepinski et al., 2005; Rosa et al., 2005) e é definido como

    haplótipo mínimo (Redd et al., 2002). O haplótipo mínimo foi estabelecido

    na Europa e possui um bom poder discriminatório, podendo distinguir

    aproximadamente 76,1% a 95,5% dos indivíduos do sexo masculino em

    várias populações (Kayser et al., 1997; Roewer et al., 2001; Kayser et al.,

    2002; Lessig et al., 2003; Nasidge et al., 2003; Schoske et al., 2004

    e

    r

    d

    a

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    (

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    C

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    p

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    D

    d

    v

    o YHRD (Y Chromosome Haplotype Reference Database - Banco de Dados

    eferência de Haplótipos do Cromossomo Y) continha mais de 26.000 registros do estudo e haplótipo mínimo em populações mundiais (Roewer et al., 2001; Berger et al., 2005).

    8 Até 2004, Rd

    46

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco (Redd et al., 2002; Berger et al., 2003; Butler e Schoske, 2004; Berger et

    adores polimórficos vêm sendo estudados e poderiam

    r combinados ao haplótipo mínimo para obtenção de um haplótipo com

    al., 2005; Krenke et al., 2005).

    Outros marc

    se

    maior capacidade de diferenciar indivíduos. Um bom exemplo são os

    marcadores DYS447, DYS458 e DYS464, os quais apresentam-se mais

    polimórficos que os locos DYS438 e DYS439 e, portanto, são bastante

    informativos (Redd et al., 2002; Berger et al., 2003; Butler e Schoske,

    2004), tornando-se ótimos candidatos à composição de um haplótipo

    estendido com considerável poder de discriminação. Tal haplótipo faz-se

    bastante útil para o presente estudo na população de Pernambuco.

    47

  • Barros, JEXS (2006) Diversidade Haplotípica de Y-STRs em Pernambuco 2.6 Marcadores Genéticos do Cromossomo Y Usados

    neste Estudo

    Atualmente, um dos mais importantes objetivos dos geneticistas

    tratificação étnica e

    ge d de os ssom al.,

    2005). Mais de 100 locos do cromossomo Y humano foram identificados

    (Roewer 1992; Chen et al.,

    al. Kayse 1997; t a yu a

    et 1; 200 et ;

    K a yud al. e

    Segundo a ISFG, cerca de 220 diferentes marcadores do Y são

    po en en

    de pacid criminat dad an s

    ainda são escassos e torna-se, portanto, prematura a reco

    alguns destes marcadores para tais propósitos (Gusmao et al., 2005).

    Al , muit possue s b m s

    e, út dis di

    Diante disso, 11 marcadores de microssatélites do cromossomo Y

    fo cionad base gr im

    através da análise de populações mundiais, com o objetivo de aumentar o

    poder do haplótipo formado de discriminar indivíduos. Os marcadores do Y

    analisados no presente trabalho foram: DYS19, DYS385, DYS389I,

    DYS389II, DYS390, DYS391, DYS392 e DYS393, que constituem o

    h

    a Saul et al., 2004; Berger

    ; Dobashi et al., 2005; Goes et al., 2005; Lovrecic et al.,

    2005;

    forenses e antropológicos é o desenvolvimento de bancos de dados de

    populações, que é crucial para estabelecer uma es

    ográfica as freqüências haplótip do cromo o Y (Khil et

    et al., 1994; Mathias et al., 1994; Jobling et

    , 1996; r et al., White e l., 1999; A b et al., 2000; Iid

    al., 200 Bosh et al., 2; Iida al., 2002 Redd et al., 2002;

    ayser et l., 2004; Moh din et , 2004; B rger et al., 2005).

    tencialm te úteis para g ética forense. No entanto, para a maioria

    les, a ca ade dis ória e os import tes das seqüência

    mendação de

    ém disso os deles m alelo astante co uns nas populaçõe

    por isso, tornam-se pouco eis para criminar in víduos.

    ram sele os com no alto au de pol orfismo encontrado

    aplótipo mínimo, o qual foi estudado em diversas populações (Biondo et

    l., 2004; Leat et al., 2004; Martín et al., 2004;

    et al., 2005

    Park et al., 2005; Pepinski et al., 2005; Rosa et al., 2005).

    Adicionalmente, foram analisados os locos DYS447, DYS458 e DYS464

    que, embora ainda pouco estudados em populações mundiais (Berger et

    48

  • Barros, JEXS (2006)