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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5887 LISTAR PARA NÃO ESQUECER: REMINISCÊNCIAS DE UM DIÁRIO DE LEMBRANÇAS Maria Celi Chaves Vasconcelos 1 O Diário e sua autora Os diários íntimos estão inseridos no conjunto das chamadas escritas ordinárias, caracterizados por Cunha (20oo; 2011) como aquelas que proporcionam aos historiadores muitas maneiras de rastrear os modos de viver e de pensar de determinada época. A leitura desses egodocumentos, ainda que por vezes lacônicos, permite também revisitar parte da história de seus próprios autores, sobretudo mulheres, mesmo que alguns deles não sejam dedicados ao registro de pensamentos e sentimentos. No entanto, a existência de diários femininos vai ficando cada vez mais singular, à medida que retrocedemos no tempo, tornando raros especialmente os que datam do século XIX. De acordo com Philippe Lejeune (1997), que investiga diários datados deste período, os diários femininos escritos no oitocentos encontram-se entre as fontes documentais mais difíceis de serem localizadas, por estarem, normalmente, com descendentes ou em coleções particulares, o que inviabiliza a socialização de seu conteúdo a estudos ampliados. No que se refere ao Brasil, essa dificuldade aumenta, porque as mulheres letradas, normalmente, pertenciam às elites e nessas camadas aristocráticas as filhas tinham um papel a desempenhar, voltado para a realização de um “bom casamento”. Nessa perspectiva, as mulheres eram vigiadas e “guardadas”, visando um consórcio adequado a sua classe social, e a escrita significava algo perigoso, pois serviria para a confecção de bilhetes e cartas, que poderiam ser trocadas com pretendentes, prática condenada veementemente pelas famílias, tendo em vista que os “acordos” de matrimônio eram prerrogativa dos pais, nas quais nem sempre os noivos tinham qualquer participação. Gillies (2013) também aponta outra dificuldade na localização de diários femininos, à medida que as famílias se livravam de velhos papéis guardados, cujo conteúdo não 1 Professora do Departamento de Políticas, Avaliação e Gestão da Educação (Depag) e do Programa de Pós- Graduação em Educação (Proped) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bolsista de Produtividade do CNPq. E-Mail: <[email protected]>.

LISTAR PARA NÃO ESQUECER: REMINISCÊNCIAS DE UM … · conformavam a letra, a composição da caligrafia, os tipos gráficos, os desenhos e símbolos, a utilização e reutilização

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5887

LISTAR PARA NÃO ESQUECER: REMINISCÊNCIAS DE UM DIÁRIO DE LEMBRANÇAS

Maria Celi Chaves Vasconcelos1

O Diário e sua autora

Os diários íntimos estão inseridos no conjunto das chamadas escritas ordinárias,

caracterizados por Cunha (20oo; 2011) como aquelas que proporcionam aos historiadores

muitas maneiras de rastrear os modos de viver e de pensar de determinada época. A leitura

desses egodocumentos, ainda que por vezes lacônicos, permite também revisitar parte da

história de seus próprios autores, sobretudo mulheres, mesmo que alguns deles não sejam

dedicados ao registro de pensamentos e sentimentos.

No entanto, a existência de diários femininos vai ficando cada vez mais singular, à

medida que retrocedemos no tempo, tornando raros especialmente os que datam do século

XIX. De acordo com Philippe Lejeune (1997), que investiga diários datados deste período, os

diários femininos escritos no oitocentos encontram-se entre as fontes documentais mais

difíceis de serem localizadas, por estarem, normalmente, com descendentes ou em coleções

particulares, o que inviabiliza a socialização de seu conteúdo a estudos ampliados.

No que se refere ao Brasil, essa dificuldade aumenta, porque as mulheres letradas,

normalmente, pertenciam às elites e nessas camadas aristocráticas as filhas tinham um papel

a desempenhar, voltado para a realização de um “bom casamento”. Nessa perspectiva, as

mulheres eram vigiadas e “guardadas”, visando um consórcio adequado a sua classe social, e

a escrita significava algo perigoso, pois serviria para a confecção de bilhetes e cartas, que

poderiam ser trocadas com pretendentes, prática condenada veementemente pelas famílias,

tendo em vista que os “acordos” de matrimônio eram prerrogativa dos pais, nas quais nem

sempre os noivos tinham qualquer participação.

Gillies (2013) também aponta outra dificuldade na localização de diários femininos, à

medida que as famílias se livravam de velhos papéis guardados, cujo conteúdo não

1 Professora do Departamento de Políticas, Avaliação e Gestão da Educação (Depag) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (Proped) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bolsista de Produtividade do CNPq. E-Mail: <[email protected]>.

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interessava as novas gerações, por meio de "fogueiras", nas quais, provavelmente, ardeu

grande parte da memória de manuscritos oitocentistas.

Contudo, milagrosamente salvo das fogueiras, das intempéries da natureza, do

constrangimento das famílias de se deparar com um passado escravocrata e, acima de tudo,

entendido pelos descendentes como um documento de extrema importância para a

recuperação de um cotidiano pouco registrado, escapou um exemplar do Diário da

viscondessa de Arcozelo que foi preservado e chegou até os nossos dias.

Embora a escrita de diários pareça ter sido uma prática constante dessa mulher nobre

que viveu no oitocentos, apenas um único desses exemplares sobreviveu a morte e aos parcos

espólios deixados por sua autora, sendo recolhido pela família que, após verificar a

singularidade do manuscrito, conforme afirma Castro (2004), doou-o ao Museu Imperial de

Petrópolis, onde tal relíquia se encontra até os dias atuais. Datado de 1887, o Diário de

Lembranças da viscondessa de Arcozelo, permite inúmeras leituras, envolvendo diferentes

aspectos a serem estudados pela história e, especialmente, a história cultural.

No presente trabalho, o diário é analisado objetivando-se, com centralidade, averiguar

fragmentos relativos às condições da escrita de mulheres educadas nos padrões do que era

permitido ao sexo feminino, naquele tempo e contexto. Ou seja, ao se debruçar sobre esse

egodocumento, busca-se examinar a materialidade das circunstâncias que envolviam o ato de

escrever, para uma representante exemplar das mulheres nobres oitocentistas, dona de

fazendas de café e escravos, com uma intensa rede de sociabilidade, tanto em sua região,

como na Corte do Rio de Janeiro, para onde se deslocava com frequência.

A viscondessa de Arcozelo nasceu Maria Isabel de Lacerda Werneck, filha do barão de

Paty do Alferes, um dos mais representativos fazendeiros do café de seu tempo, que exerceu o

poder na sua região e na Corte, comandando, inclusive, a Guarda Nacional contra os escravos

aquilombados, em 1836, o que significava, por si só, “uma condição honrosa para toda a

família” (MUNIZ, 2005, p.111).

Ainda de acordo com Muniz (Ibidem, p.112), a mãe da viscondessa, a baronesa Maria

Isabel Ribeiro de Avelar, era filha de uma das mais antigas famílias do Vale do Paraíba,

considerada como o tronco genealógico que deu origem ao povoamento de Vassouras, e com

o qual estreitaram laços familiares pelo menos três representantes da nobreza imperial, o

barão de Guaribú, o barão de Capivary, e o visconde de Ubá.

Homens importantes no Império, esse baronato, muitas vezes, com antepassados

pouco nobres, tinham o cuidado de educar os filhos, especialmente os homens, enviando-os

para completar a formação com educação superior nas poucas instituições existentes no

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Brasil ou fora do país, onde a primeira e mais procurada opção era Coimbra. Esse esforço,

principalmente financeiro, tinha como finalidade deixá-los aptos a assumir cargos de

destaque na máquina administrativa do Império. Quanto ao estabelecimento e manutenção

dessa “ordem”, José Murilo de Carvalho sinaliza,

Os filhos de famílias de recursos, que podiam aspirar a uma educação superior, iniciavam a formação com tutores particulares, passavam depois por algum liceu, seminário, ou, preferencialmente, pelo Pedro II, e afinal iam para a Europa ou escolhiam entre as quatro escolas de direito e medicina (2014, p.74).

De acordo com Eduardo Silva (1984, p.69), o barão de Paty do Alferes, Francisco

Peixoto de Lacerda Werneck, estudou, quando jovem, “Humanidades na cidade do Rio de

Janeiro”, mas não trilhou exatamente esse caminho, tendo se destacado na carreira militar e,

nas palavras do autor, foi ”sobretudo um fazendeiro” (Ibidem, p.84). Contudo, proporcionou

aos filhos homens estudarem em cursos superiores dentro e fora do país e às filhas mulheres

também proveu educação, muito provavelmente com preceptoras estrangeiras.

Além disso, uma característica marcante do barão, descrita por Muniz em sua pesquisa

sobre a família Lacerda Werneck (2005), era a de que escrevia muitas cartas a seus

contemporâneos e chegou até a publicar um livro intitulado Memória sobre a Fundação e

Custeio de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro, dedicado ao seu filho mais velho e

editado no Rio de Janeiro, pelos irmãos Laemmert em 1847. Na figura 1, a seguir, a imagem

do barão de Paty do Alferes.

Figura 1 – Barão de Paty do Alferes por Claude Joseph Barandier ─ óleo sobre tela. Fonte: CASTRO, Maria Werneck de. No Tempo dos Barões. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2004, p. 162.

Ser um fazendeiro que vivia em suas propriedades no interior da Província e também

um escritor contumaz de missivas, naquela época, revela essa peculiaridade no cotidiano de

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sua família, que convivia com o hábito da escrita e com todo o ritual que a cercava,

implicando adquirir papel, pena e tinta, sentar periodicamente em uma escrivaninha, compor

as letras desenhadas, esperar secar a tinta, dobrar e colocar a carta em um envelope, fechar e

selar a epístola, despachá-la por um mensageiro até a estação de correio mais próxima, e

aguardar, por vezes, com ansiedade, o retorno do mensageiro que, da mesma forma que

levava as cartas do patrão, também ia até a estação buscar a correspondência a ele

endereçada.

Esse costume notado por sua família pode ter imprimido marcas legadas a sua filha, a

viscondessa de Arcozelo. Segundo Muniz, o barão redigia muitas cartas, nas quais tratava de

diversos temas, o que supõe que este ato de escrita recorrente possa ter sido observado pela

filha:

O Barão de Paty do Alferes era um legítimo representante da elite cafeeira escravista do século XIX, época pré-industrial, onde, como já dissemos, o móvel principal da atividade econômica não era o lucro, mas a importância social e política. Os barões do café precisavam seguir um código estabelecido de honra e generosidade para usufruir as benesses do poder, para eles e sua família. O Barão de Paty deixou muitas cartas escritas para seus amigos, filhos, dono da Casa Comissária que recebia seu café e que servia como seu banco na capital. Através das suas cartas podemos identificar essas atitudes comuns a todos os barões da época, por exemplo: pedido ao comissário que liberasse dinheiro para os estudos do afilhado no Rio de Janeiro. Pedido ao seu amigo José Maria Pinto Guerra para que desistisse da execução e assinasse a concordata do sofrido João José Manso que já estava preso há 18 meses, como veremos ao estudar a família Manso. Ao Chefe de Polícia da Província pedindo que fizesse voltar “o filho único de uma mulher desvalida, um certo Joaquim Ferreira de Lima, que tendo saído da freguesia de Pati a negócio, foi recrutado na Conservatória” (Ibidem, p. 115).

Por influência do pai, presumida por sua farta correspondência, por ensinamento de

sua preceptora, ou ainda, do colégio que frequentou (VASCONCELOS, 2005; 2014; 2015), o

fato é que Maria Isabel de Lacerda Werneck, diferentemente da maioria das mulheres de sua

época e de sua condição social, manteve um diário, no qual anotava os principais fatos

ocorridos no seu cotidiano, durante o ano de 1887.

O presente estudo trata, portanto, da análise desse egodocumento, com destaque para a

sua materialidade, examinada por meio de suas cores e formas, o papel, a tinta e a pena que

conformavam a letra, a composição da caligrafia, os tipos gráficos, os desenhos e símbolos, a

utilização e reutilização das páginas, os borrões e as rasuras, procurando recompor alguns

aspectos da cultura material que envolviam o ato de anotar o dia a dia, também para lembrá-

lo, como transparece pelas inúmeras listas confeccionadas.

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Nessa perspectiva, são analisados desde a edição do Diário, sua capa e decoração, às

informações que abriam e fechavam o livro, bem como as marcas de uso, as marginálias, os

anúncios publicitários que aparecem nos cabeçalhos, as palavras recorrentes, algumas delas

já em desuso, os nomes próprios assinalados e, particularmente, as listas, que estão presentes

ao longo de todo o Diário, demonstrando o cuidado de sua autora em listar para não

esquecer.

Em um plano mais específico, o estudo volta-se para a trajetória do Diário ao longo dos

séculos, desde a produção por sua autora até o depósito na instituição de guarda em que

permanece. A relevância da pesquisa no Diário de Lembranças da Viscondessa de Arcozelo

está na perspectiva das contribuições que traz para a recomposição do vivido, por meio dos

traços e reminiscências que se apresentam expressa ou implicitamente nesse egodocumento,

além das pistas que sugere sobre a escrita feminina oitocentista.

Desvendando o Diário para além das palavras

O Diário de Lembranças chegou ao Museu Imperial de Petrópolis em 26 de dezembro

de 1994, doado a essa instituição por Ligia Werneck de Castro Souza Marques, neta da

Viscondessa, conforme registrado no documento de doação e anotado no livro de memórias

escrito por Maria Werneck de Castro (2004).

É um livro de capa dura, no formato e tamanho de uma agenda de mesa moderna, com

uma encadernação verde decorada com papel marmorizado de tons bege e marrom. Na capa

destaca-se uma etiqueta com a ponta dobrada onde se lê: “A. Brandão”, nome abreviado do

editor da publicação Antônio José Gomes Brandão. A seguir, está centralizado o título

“DIÁRIO DE LEMBRANÇAS” e abaixo, em meio a arabescos, consta a data: 1887. Sua

apresentação, após mais de 130 anos da edição, ainda é capaz de denotar elegância e o estilo

em voga na época, o que fazia da publicação, provavelmente, um objeto de luxo, acessível a

poucas pessoas.

A contracapa traz a folhinha para o primeiro semestre do ano de 1887, sendo indicado

que o segundo semestre estava no final do livro. Vale notar que a folhinha continha duas

informações associadas às datas, as fases da lua e os santos padroeiros de cada dia,

parecendo ser essas as informações relevantes para o acompanhamento dos dias da semana.

Ao final da primeira página, Antônio Gomes Brandão informava que o livro era produzido em

sua tipografia, que ficava situada na Rua da Quitanda, número 90, e se referia a si mesmo

como um “comerciante de papel e de livros”.

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Essa alcunha que o editor se aplicava encontra justificativa na história da própria rua

em que o seu estabelecimento comercial estava localizado. Ao contar as histórias das ruas do

Rio, Gerson (2013, p.98) narra que “o padre Perereca referindo-se a ela [Rua da Quitanda] no

tempo de d. João VI, salientava que nela, em vez de quitandeiros, o que mais havia eram lojas

de retalhos a que se uniriam as papelarias”. Aproximadamente 60 anos depois do

testemunho citado, em que pese ter se tornado uma rua onde estavam situados importantes

estabelecimentos, como a Caixa Municipal de Beneficência e o Consulado Francês, tudo

indica que ainda abrigava muitas papelarias e tipografias.

Voltando às páginas do Diário, após a folhinha contendo o primeiro semestre do ano de

1887, na contracapa, a seguir, encontrava-se a folha de rosto propriamente, na qual o editor

descrevia a sua publicação como “365 páginas para notas diárias”, contendo:

Relação alphabetica das estações das estradas de ferro nas províncias do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo; Itinerário dos bondes da companhia − Carris Urbanos; − Folhinha e avisos para pagamentos de impostos; Annuncios de companhias e estabelecimentos commerciaes importantes. − 4° ANNO − Vende-se em casa do editor-proprietario A. J. Gomes Brandão 90, Rua da Quitanda, 90 − Rio de Janeiro (VISCONDESSA DE ARCOZELO, 1887, s/p.).

A página estava ainda adornada com o desenho de uma pequena prensa, com as iniciais

do editor na base e objetos de tipografia ladeados pelas palavras "diário e razão." Abaixo, com

tipos gráficos diferenciados, constava a informação de que o Diário era vendido na "casa do

editor-proprietário", no número 90, da Rua da Quitanda, Rio de Janeiro, como pode ser

observado na Figura 2.

Figura 2 – Viscondessa de Arcozelo, Diário de Lembranças. Informações constantes na folha de rosto, c. 1887. Fonte: Acervo do Museu Imperial, Petrópolis, Brasil.

O Diário possuía originalmente 183 páginas de folhas de papel branco pautado, as quais

se encontram em bom estado para leitura, embora algumas páginas estejam cortadas, além

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de envelhecidas pelo tempo, apresentando muitas marcas do manuseio, sujidade e uso

(CUNHA, 2009).

As páginas são pautadas com linhas horizontais e com duas colunas verticais colocadas

à direita da folha, demarcadas com margens adequadas à descrição de cálculos e valores

parciais e totais, facilitando também a elaboração de “listas práticas”, nomenclatura usada

por Humberto Eco para a enumeração de tarefas e objetos pertencentes ao cotidiano (2010,

p. 113).

O cabeçalho de cada um dos dias do diário/agenda do ano de 1887, criado por Antônio

Brandão, continha um anúncio, entre os quais podem ser localizados vários dos

estabelecimentos eternizados por Senna (2006), como sendo as "antigas casas comerciais

desta cidade", o Município Neutro da Corte, como era chamado o Rio de Janeiro, onde estava

localizada a Corte Imperial. Seguramente, Antônio Brandão privou da amizade ou, pelo

menos, de relações comerciais com alguns dos comerciantes de sua rua, bem como da

vizinhança, tendo em vista constarem como anunciantes de sua publicação (VASCONCELOS,

2015). A Figura 3, a seguir, mostra o cabeçalho das páginas relativas aos dias 1º e 2 de

fevereiro, que permitem a visualização da colocação dos anúncios:

Figura 3 – Viscondessa de Arcozelo, Diário de Lembranças. Cabeçalho das páginas relativas aos dias 1 e 2 de fevereiro, c. 1887.

Fonte: Acervo do Museu Imperial, Petrópolis, Brasil.

A Euterpe, Cardoso & C., por exemplo, anunciante do cabeçalho de 1° de fevereiro que

aparece acima, com a indicação do endereço na Rua da Quitanda, número 86, estava

localizada muito próxima ao estabelecimento de Antônio Brandão, cujo anúncio no Diário é

assim escrito:

No Império do Brasil é este o maior, o mais antigo e o mais acreditado estabelecimento de instrumentos de música, physica, engenharia, optica, objetos para igreja, para dentistas, inclusive o Manual do Dentista, de sua edição e tudo que são miudezas e accessorios relativos (VISCONDESSA DE ARCOZELO, 1887, s/p.).

De acordo com Senna (2006), a casa “A Euterpe” de Cardozo & C. era um dos mais

antigos negócios comerciais no Rio de Janeiro, especializado em instrumentos de música, de

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ótica e de material para dentistas, remontando a sua fundação ao ano de 1867, o que oferece

uma ideia da vizinhança comercial de Antônio Brandão (VASCONCELOS, 2015). No livro de

Senna (2006, p.68) aparece o anúncio completo dessa casa comercial, colocado nos

principais periódicos do Rio de Janeiro, nas três últimas décadas de oitocentos, conforme

imagem da Figura 4.

Figura 4 – Anúncio da casa comercial A Euterpe de Cardoso & C. Fonte: SENNA, Ernesto. O velho comércio do Rio de Janeiro. Reedição de G. Ermakoff Casa Editorial, Rio de

Janeiro, 2006, p.68.

No Diário da viscondessa de Arcozelo, no cabeçalho do dia seguinte, 2 de fevereiro,

anotado como dia de “purificação de N. Senhora”, seguindo o caráter religioso presente nas

informações de cada data, são anunciados “BISCOUTOS EM LATAS”, descritos como “de

fabricação nacional, superiores aos importados do estrangeiro, sortidos em qualidades e por

preços mais módicos, em todas as casas de molhados por atacado e a varejo” (VISCONDESSA

DE ARCOZELO, 1887, s/p.). As “casas de molhados” nas quais poderiam ser encontrados tais

biscoitos eram as que vendiam especialmente víveres perecíveis, desde grãos e azeite, até

peixe e carnes, diferenciando-se das de “secos e molhados”, nas quais, segundo Martinez

(2011),

encontrava-se quase tudo o que aquele e outros mundos ofereciam: aviamentos de armarinhos, cereais, louça inglesa, vinhos do Porto, especiarias, artigos de luxo (como sabonetes finos, xales adamascados e

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perfumes), sapatos para homens pretos e sapatos para homens brancos (p.60).

Além disso, a comparação com os biscoitos importados devia-se a natureza

essencialmente importadora do país que comprava no estrangeiro quase tudo que era

manufaturado, incluindo-se alimentos como bolachas, doces e biscoitos.

Os tipos gráficos usados nos cabeçalhos do Diário de Lembranças eram variados e

parecem ter sido escolhidos cuidadosamente para evidenciar partes da mensagem, além de

diferenciar o dia, do anúncio, e da informação religiosa complementar. Também são

empregados para destacar as palavras, negrito e letras decoradas, demonstrando uma

variedade de tipos gráficos utilizados conjuntamente, técnica bastante moderna para o

período, valorizando ainda mais o anúncio e a publicação.

Após a leitura dos cabeçalhos que abriam as páginas em branco do Diário, a

viscondessa fazia suas anotações do dia, com letra manuscrita, usando uma pena2 e um

tinteiro. A tinta empregada, algumas vezes, parece conter substâncias semelhantes a da

ferrogálica que, segundo Aguiar (2015, p.42), “composta de sulfato de ferro”, além de outros

ingredientes como a goma arábica, costumava corroer o papel, como também pode ser

notado em algumas passagens do Diário da viscondessa. Ainda assim, a grande maioria dos

trechos escritos está em perfeito estado, excetuando-se as manchas escurecidas ao fundo,

oriundas da ação da tinta no verso da página. Por vezes, também são observados borrões, que

denotam o excesso de tinta contido pelos mataborrões, bem como a viscondessa risca a

anotação, tentando apagar algumas frases, o que tanto pode ter ocorrido devido ao erro do

dia do apontamento, como por inúmeras outras razões, incluindo a exclusão do Diário

daquele registro.

A composição da caligrafia da viscondessa demonstra uma letra cursiva, que apesar de

não ser desenhada ou uniforme, é alinhada à pauta e plenamente compreensível, exceto

quando são escritos nomes, lugares, apelidos ou palavras que caíram em desuso, dificultando

o entendimento da frase. Nos dias 1º e 2 de fevereiro, a viscondessa registra em seu Diário:

1 de Fevereiro Almoçaram aqui o Lima, o Joaquim Ferreiro e o Compadre, retiraram-se depois do almoço. Mais tarde esteve o Manoel Pinheiro demorou-se pouco, seguiu para o Maneco vai dormir no Comendador para seguir amanhã para o Rio.

2 Para confeccionar a pena de escrever utilizavam-se penas de aves, cortadas em chanfro, depois substituídas por pontas metálicas com o mesmo formato. Conforme ia sendo pressionada contra o papel, o bico da pena liberava tinta em maior ou menor quantidade.

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Morreu uma criança da P.e afogada, filha da Chica, por nome Josefa. Chico foi dormir à Freguesia, acabou o serviço daqui. Conta do Leitão deste ano: 14,331,50 Mais uma factura: 109,000 Monteiro Joaquim: 134,560 Ernesto escreveu pedindo condução para o dia 11.

2 de Fevereiro Matou-se um capado pesou 8 ½ @as. Jantou aqui o Chico Garcia. Dei ao Manoel Pinheiro para encomendas de 25 caixas de sabão Obine e 4 dúzias de tigelas, 4 barris para aguardente: 100,000 Para entregar ao Ernesto: 155,000 (VISCONDESSA DE ARCOZELO, 1887, s/p.).

Cabe destacar que a página do dia 2 de fevereiro está cortada após a última frase da

citação acima: “Para entregar ao Ernesto: 155,000”. Essa intervenção de corte da página

dificilmente poderá ser datada, com probabilidade de ter ocorrido na mesma época em que o

Diário foi escrito, sendo feita pela própria viscondessa para que fosse utilizado o pedaço de

papel em branco, a fim de compor um bilhete ou um lembrete, como aparece um similar

preso com um clipe pequeno acima de outra página do diário; ou para retirar do Diário uma

anotação que, por vezes, pode ter servido de recibo ou prova de uma importância devida ou

recebida, tendo em vista que muitas informações desse tipo eram anotadas.

Por outro lado, o corte da metade da página também pode ter acontecido muito tempo

depois, tanto para a utilização do papel em branco, como para comprovar ou excluir

determinada informação. Objetivamente, pode-se constatar uma intervenção feita com

tesoura, pois se limita a uma parte da página, respeitando a costura do livro para não

despencá-lo, o que demonstra que não foi arrancada apressadamente, mas cortada com

cuidado.

As anotações dos dias 1º e 2 de fevereiro revelam uma casa de fazenda “governada” pela

viscondessa, que estava constantemente recebendo vizinhos, parentes, agregados e mesmo

viajantes que por lá passavam, os quais eram convidados a almoçar, descansar, pernoitar e

até permanecer por alguns dias. A imensa rede de sociabilidade da viscondessa reflete-se nas

páginas do Diário, nas quais desfilam diversos nomes de pessoas que estiveram em sua casa

para almoçar, jantar, pernoitar, como no exemplo do dia 1º de fevereiro, quando são citados

o Lima, o Joaquim Ferreiro, o Compadre, o Manoel Pinheiro, o Maneco, o Comendador e o

Chico. Nota-se que as visitas femininas eram em número bem menor do que as masculinas,

aparecendo uma vez ou outra, donde se concluiu que os longos, enlameados e difíceis trajetos

das estradas que levavam às fazendas, usando como meios de transporte montarias, carroças

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puxadas por animais ou charretes, não eram empreendidos regularmente por mulheres, mas

somente em ocasiões especiais, nas quais se deslocavam com algum propósito como para

assistir missas, batizados, casamentos, exéquias, etc.

Para atender a todos os que se apresentavam para as refeições na fazenda era

necessário ter constantemente uma reserva de animais para serem abatidos. Assim,

regularmente a viscondessa anotava o abate de algum animal, como no exemplo, “matou-se

um capado”, e registrava também o seu peso em arrobas. Chama atenção que, apesar de o

abate de animais ser um fato corriqueiro, uma vez que era necessário suprir de carne a

quantidade de refeições oferecidas somente na casa grande, a viscondessa fizesse o registro

minucioso de todos os abates em seu Diário. Tal conduta evidencia traços de sua

personalidade somados à extrema organização que pretendia dar a uma cultura que se fazia

essencialmente oral, como sinaliza Eduardo Silva (1984), quando mostra que os fazendeiros

usavam números aproximados para citar seus bens, já que não dispunham de muitos

registros específicos e realizados periodicamente.

Outra informação que chama atenção pela forma lacônica como é registrada, é a morte

da filha da escrava Chica. A dedução de que se tratava de uma criança filha de escravos

decorre da forma como a viscondessa escreve: “Morreu uma criança da P.e afogada”, ou seja,

a criança pertencia à fazenda Piedade – escrita pela viscondessa sempre na forma abreviada,

P.e, –, do que se depreende que ela fazia parte do “patrimônio” desta fazenda também

pertencente aos viscondes de Arcozelo. Contudo, a julgar pela anotação de outras mortes,

mesmo de parentes próximos da viscondessa, a forma é sempre a mesma, concisa e lacônica,

gerando apenas um registro no dia.

O Rio de Janeiro também era constantemente referido no Diário como o lugar de

onde vinham e para onde iam diversas pessoas que passavam pela casa da viscondessa, assim

como há muitos registros relativos às localidades de Paty do Alferes e Vassouras, mais

próximas das fazendas de sua propriedade.

Destarte, o aspecto que mais sobressai na análise da materialidade da escrita no

Diário da viscondessa é sua propensão para a elaboração de listas que, possivelmente, eram

confeccionadas a fim de que os dados listados e enumerados não fossem esquecidos,

aproveitando as colunas pautadas à direita da página do Diário para colocar os respectivos

valores, pesos, medidas e demais registros numéricos. Assim, a viscondessa lista inúmeras

categorias, que vão desde matrículas a nomes de filhos de escravos nascidos, até encomendas

realizadas, objetos da casa, seus pertences pessoais, contas a pagar e a receber, gêneros

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alimentícios, compras a fazer ou já feitas, despesas efetuadas, escravos libertos, sacas de café

colhidas, pagamentos quitados, empréstimos etc.

O Diário de Lembranças termina em 31 de dezembro, com um registro cotidiano,

demonstrando que, muito provavelmente, Maria Isabel continuou a sua escrita em outro

diário e mais outros, porém não preservados. Esse, por alguma razão, talvez, relacionada às

listas, foi poupado.

O cuidado da autora do Diário em listar para não esquecer, talvez tenha sido o motivo

pelo qual esse exemplar foi conservado, pois é presumível que alguma das informações

contidas necessitasse ser guardada por um longo tempo. No entanto, o mesmo não aconteceu

com os diários dos anos antecedentes e subsequentes que, supostamente, a viscondessa

elaborou, visto que esse era um hábito de escrita cotidiana que não seria abandonado ao final

de um único diário, especialmente, quando Antônio José Gomes Brandão informa que já

editava o mesmo exemplar há quatro anos e que pretendia continuar a fazê-lo.

Não resta dúvida de que o público principal que usava o Diário de Lembranças,

mesmo para outros fins como álbum de poesias ou de recordações, era constituído por

mulheres, pois não se supõe que fosse endereçado aos homens oitocentistas, mas chama

atenção o fato de que é "aos cavalheiros" que o editor agradece na última página do livro:

Atenção: Agradeço aos cavalheiros que me auxiliaram, com annuncios, a publicação deste utilíssimo livro, esperando que mantenham a mesma benevolência para as edições futuras, as quaes ainda serão melhoradas se o respeitável público, atender ao diminuto preço estabelecido, a qualidade do papel e o valor dos annexos. Peço as pessoas que se dignaram mandar comprar este livro o obséquio de recommendar que comprem o Diario de Lembranças de A. Brandão, O Edictor (VISCONDESSA DE ARCOZELO, 1887, s/p.).

Provavelmente, a referência aos cavalheiros, além dos anunciantes, englobava

também os maridos e pais que adquiriam o livro para as suas mulheres, irmãs ou filhas, que,

em regra, deveriam ser os mesmos consumidores de outras publicações que tomavam vulto

na Corte brasileira no final da década de 1880, voltadas para o público feminino

(VASCONCELOS, 2015).

Muito se pode depreender da análise de cada uma das folhas do livro editado como

Diário de Lembranças por Antônio Brandão e escrito cotidianamente pela viscondessa de

Arcozelo, mas entre os aspectos da cultura material presentes nesta publicação, destaca-se a

sua destinação às mulheres, o que sugere haver um público feminino suficientemente fiel ao

consumo desse tipo de caderno de anotações, tendo em vista a sua tiragem que não poderia

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ser tão reduzida, tratando-se de um livro impresso, e a informação de estar no quarto ano de

sua publicação, o que significa que já havia sido editado nos anos de 1884, 1885, 1886.

Considerações Finais

A viscondessa morreu em 1912, quando já havia perdido todos os seus bens e morava

em uma pequena casa, que se distanciava completamente da opulência em viveu durante o

Império. De forma semelhante ao que havia sucedido com o governo Imperial, culminando

com a sua derrocada, também a trajetória da viscondessa, seu estilo de vida, o de sua família

e de sua rede de sociabilidades, tão bem retratados em seu Diário, entrava em decadência no

início dos anos de 1890.

Seus problemas financeiros começaram com a morte do marido, o visconde, em 1891,

quando teve que assumir, junto com os filhos, os negócios da família e descobriu-se diante de

duas constatações, as quais, pelos seus escritos no Diário, não faziam parte de suas

preocupações até então. A primeira era que os negócios não iam bem e as dívidas acumuladas

pelo visconde comprometiam o patrimônio da família; a segunda é que ela, embora fosse

uma mulher letrada, educada de forma exemplar com os rituais do que havia de melhor para

as moças da nobreza oitocentista, não estava preparada para lidar com o volume e a

complexidade de informações e decisões que envolviam a administração das fazendas e da

Casa Comissária de café que o visconde havia aberto na Corte. O resultado foram

empréstimos mal sucedidos e avultados que, pouco a pouco, levaram-na a vender todo o

patrimônio herdado para saldar dívidas.

Ainda assim, seu nome constou do Almanak Laemmert dos anos de 1893 a 1901 na

relação dos “Capitalistas e Proprietários”, localizando-a em Paty do Alferes e no Rio de

Janeiro, na Rua Visconde de Inhaúma, n. 61, como se vê na Figura 5, a seguir.

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Figura 5 – Viscondessa de Arcozelo entre os capitalistas e proprietários em Paty do Alferes e no Rio de Janeiro. Fonte: Almanak Laemmert do Rio de Janeiro, 1901, p.476.

O Diário de Lembranças da viscondessa, por sua vez, sobreviveu às intempéries

políticas, econômicas e sociais que assolaram o país durante toda a República. O caderno de

capa dura, verde e marmorizada, esquecido em alguma gaveta ou em meio a roupas e

fragmentos de um passado que se esvanecia, após a sua morte foi guardado pela família que o

livrou da fogueira e das lixeiras, permanecendo como uma herança particular durante cerca

de 80 anos.

Felizmente, para os pesquisadores desse tempo e contexto, ele foi doado ao Museu

Imperial de Petrópolis, onde hoje repousa em meio a outros valiosos arquivos, com a

diferença que sua autora, provavelmente, jamais supôs que seus escritos teriam tanta

importância para a recomposição de um momento histórico, no qual reverberam documentos

oficiais e são escassos os testemunhos do vivido, especialmente, um diário feminino, de uma

mulher que representa a aristocracia de sua época e que lê e registra o seu cotidiano.

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