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LITERATURA INFANTIL COMO RECURSO NO PROCESSO DE ENSINO · LITERATURA INFANTIL COMO RECURSO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Autora: Vera

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LITERATURA INFANTIL COMO RECURSO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Autora: Vera Lúcia dos Santos1

Orientadora: Janira Siqueira Camargo2

Resumo

O presente artigo teve por objetivo verificar a percepção de professores do Ensino Fundamental da Escola Carmem Lúcia Rauen Lopes - Apae de Paranavaí acerca das contribuições da literatura infantil no processo de ensino aprendizagem de sujeitos com deficiência intelectual. Para tanto, em um primeiro momento foram aplicados questionários a fim de levantar as concepções que estes professores tinham sobre o uso da literatura infantil. A partir dos dados levantados o Projeto de Intervenção foi elaborado e aplicado. As atividades do projeto de intervenção consistiram em dez encontros junto a dezessete professores que atuam na escola com a discussão de textos envolvendo a temática. Em seguida os professores confeccionaram e desenvolveram atividades relacionadas com o uso da literatura em sala de aula utilizando como estratégia a contação de histórias. Os resultados demonstraram que os professores envolvidos no projeto passaram a utilizar com maior frequência a literatura infantil em sala de aula, pois perceberam que é instrumento significativo no fazer pedagógico, pois o professor, ao trazer a literatura para a sala de aula, proporciona um diálogo do aluno com o livro, possibilitando o acesso à sua cultura e permitindo uma melhor compreensão da realidade. Neste sentido, a literatura configura-se como um precioso fator de aprendizagem e desenvolvimento, desde que a mediação docente ocorra de forma intencional e significativa, pois além de estimular o processo de alfabetização, desenvolve o espírito criativo, crítico e intelectual.

Palavras-chave: Literatura infantil; fazer pedagógico; processo ensino

aprendizagem; deficiência intelectual;

1 Professora PDE 2010. Professora da Escola Carmem Lúcia Rauen Lopes – E.I. e E.F. na Modalidade de Educação Especial de Paranavaí. Especialista em Educação Especial na área da Deficiência Intelectual.

2 Orientadora do PDE. Professora da Universidade Estadual de Maringá, Psicóloga (UEM), Mestre em Psicologia da Educação (PUC/SP).

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1Introdução

A escolha deste tema se deve a abrangência e as possibilidades que a

literatura oferece. O simples fato de se ouvir ou contar histórias já coloca a criança

em contato com a linguagem oral e a linguagem escrita, dando-lhe a oportunidade

de refletir, elaborar pontos de vista, trocar ideias, questionar ou se identificar com

personagens e atitudes formando novas situações ou revelando alguma situação

que está vivendo. Por isso, o objetivo deste trabalho foi verificar a percepção de

professores do Ensino Fundamental da Escola Carmem Lúcia Rauen Lopes - Apae

de Paranavaí acerca das contribuições da literatura infantil no processo de ensino

aprendizagem de sujeitos com deficiência intelectual - DI.

O mundo está vivendo uma época de grandes transformações. Diante do

avanço tecnológico que viabiliza, atualmente, e em tempo real, o acesso a textos e

conteúdos dos mais variados tipos, muitos pensam que livro é coisa do passado. No

entanto, Coelho (2000, p. 14) afirma que apesar de todos os prognósticos

pessimistas “[...] é ao livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior

responsabilidade na formação da consciência de mundo, das crianças e jovens”.

De acordo com a análise da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil

realizada pela especialista Cunha (2008), houve um crescimento do índice de leitura

e da utilização da poesia por parte dos brasileiros, mas, apesar destes avanços, os

brasileiros ainda leem pouco tendo em vista os níveis considerados adequados de

leitura de um povo. Muitas pessoas não conhecem ou conhecem muito mal, ou

ainda, não têm acesso, a materiais de leitura. Os dados da pesquisa revelam que a

leitura não é socialmente valorizada, tanto que a maioria dos leitores disse nunca ter

visto seus pais lendo. Poucas crianças têm hábito de ler em nosso país, a maioria

tem o primeiro contato com a literatura apenas quando chega à escola. Se a família

não tem conseguido incutir o valor da leitura, cabe à escola, hoje universalizada a

todos, esta valorização e prazer pela leitura, pois há uma necessária e estreita

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relação entre leitura e educação e, objetivamente, com a escola, primeira

encarregada da alfabetização e do letramento.

Segundo Coelho (2000, p.16), a escola é um espaço privilegiado, em que

devem ser lançadas as bases de formação do indivíduo e os estudos literários

podem ser utilizados como recurso por parte do professor, pois estimulam o

exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a

consciência do eu em relação ao outro; a leitura de mundo em seus vários níveis e,

principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal

significativa e consciente.

Nas Orientações Pedagógicas para os anos iniciais – Ensino Fundamental

de Nove Anos (2010, p.145) consta, segundo Costa, que a literatura merece atenção

especial nesse período da escolaridade, uma vez que, além de estimular o processo

de alfabetização, desenvolve o espírito crítico e intelectual, destacando que a

convivência com histórias, leitores e livros é fator decisivo para a formação de

leitores.

Tendo em vista que a educação é um dos direitos fundamentais para o

exercício da cidadania, sendo a escola um dos mais importantes agentes da

promoção desses direitos, considera-se fundamento básico que elas devam oferecer

aos alunos, sem exceções, todas as oportunidades que lhes permitam o

desenvolvimento físico, mental, moral, afetivo emocional, espiritual e social, em

condições de liberdade e dignidade. Como a Educação Especial participa dos

mesmos pressupostos teóricos metodológicos dos demais níveis e modalidades de

ensino, é preciso que a literatura esteja presente em todos os anos de escolaridade

dentro da escola especial, porque o uso da literatura qualifica ainda mais a ação

pedagógica e amplia os horizontes do mundo escolar.

Vygotsky (2000) constatou que as crianças DI não são muito capazes de ter

pensamento abstrato. Porém, demonstrou que o sistema de ensino baseado

somente no concreto não ajuda essas crianças a superarem suas deficiências, além

de reforçá-las, quando as acostumam apenas ao pensamento concreto. As crianças

com deficiência, quando deixadas a si mesmas, nunca atingirão formas de

pensamento abstrato sendo papel da escola empurrá-las nessa direção, de forma

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que o concreto seja apenas um ponto de apoio para o desenvolvimento do

pensamento abstrato.

Diante disso, é essencial que o professor, na educação do DI, crie situações

que envolvam sua participação ativa na execução das ações ou façam parte da

experiência de vida dele, buscando práticas pedagógicas voltadas às reais

necessidades de seus alunos, contemplando estilos de aprendizagem e de

metodologias variadas.

Nessa busca de recursos e metodologias alternativas, um instrumento

riquíssimo é a literatura infantil, pois ao constituir-se como elemento de mediação

entre a criança e o mundo que a rodeia, contribui para o desenvolvimento das

funções psíquicas de uma forma lúdica e prazerosa.

Desta forma, esse artigo apresenta os resultados de um trabalho

desenvolvido junto a dezessete professores da Escola Carmem Lúcia Rauen Lopes

sobre o uso da literatura infantil como recurso no processo de ensino e

aprendizagem do DI, com o propósito de possibilitar uma reflexão sobre a ação

pedagógica, propondo instrumentos para a ampliação do trabalho e permitindo o

contato com variedades que auxiliem na prática pedagógica e atraiam a atenção e o

interesse do aluno. O contexto escolar, mediante procedimentos adequados do

professor ao abordar os temas de estudo, principalmente da literatura infantil,

permite o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

Este artigo reflete as questões expostas acima, bem como apresenta

algumas reflexões acerca da literatura infantil e a importância de se usar este

recurso no processo de ensino aprendizagem do DI. Relata a intervenção

pedagógica realizada junto ao grupo de professores e algumas considerações sobre

o Grupo de Trabalho em Rede, que em conjunto com outras ações do PDE,

oportunizaram a conclusão deste trabalho.

2 Contextualizando a literatura infantil

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Ao seguirmos o percurso histórico das histórias infantis, vemos que em suas

origens, elas surgiram destinadas ao público adulto, e com o tempo, se

transformaram em literatura para os pequenos. Antes de se perpetuarem como

literatura infantil, foram literatura popular. Em todas elas havia a intenção de passar

determinados valores ou padrões a serem respeitados pela comunidade ou

incorporados pelo indivíduo em seu comportamento. As pesquisas mostram que

essa literatura inaugural nasceu no domínio do mito, da lenda, do maravilhoso...

(COELHO, 2000).

Segundo Cadermatori (1986), a literatura infantil divide-se em dois tempos: a

lendária e a escrita. A lendária nasceu da necessidade que tinham as mães de se

comunicar com os filhos, de contar coisas que os rodeavam, sendo estas apenas

contadas, não sendo registradas por escrito. A escrita surgiu com os primeiros livros

infantis, no final do século XVII, na França, “As Fábulas” (1668) de La Fontaine; os

Contos da Mãe Gansa (1691/1697) de Charles Perrault; os Contos de Fadas (8

volumes – 1696/1699) de Madame D´Aulnoy e Telêmaco (1699) de Fénelon”.

(COELHO, 1991). Entretanto, o início da literatura infantil, no mercado livreiro , só foi

possível com a ascensão da ideologia burguesa, a partir do século XVIII. Nesse

período, consolidaram-se duas importantes instituições burguesas: a família e a

escola, com uma nova visão da infância e o crescimento da sociedade, por meio da

industrialização, fez com que o livro infantil, desde o seu aparecimento, assumisse a

condição de mercadoria (ZILBERMAN, 1987).

A partir daí os laços entre a escola e a literatura começam a se estreitar,

pois para adquirir livros era preciso que as crianças dominassem a língua escrita e

cabia à escola desenvolver esta capacidade. No entanto, havia uma dificuldade,

como a literatura produzida era para adultos havia a necessidade de uma

adequação para ser utilizada para e pela criança. O aspecto didático-pedagógico

priorizado se baseava numa linha moralista, paternalista, centrada numa

representação de poder, com histórias que acabavam sempre premiando o bom e

castigando o mau, seguindo preceitos religiosos que consideravam a criança um ser

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a se moldar de acordo com o desejo dos que a educavam, podando-lhes aptidões e

expectativas (ZILBERMAN, 1987).

Até as duas primeiras décadas do século XX, as obras didáticas produzidas

para a infância, apresentavam um caráter ético-didático. O livro tinha a finalidade

única de educar, apresentar modelos, moldar a criança de acordo com as

expectativas dos adultos, dificilmente tinha o objetivo de tornar a leitura fonte de

prazer, retratando a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da

vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a

afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da

escola, da vida (ZILBERMAN, 1987).

Os primeiros textos para crianças foram escritos por pedagogos e

professores, com marcante intuito educativo, evidenciando a estreita relação entre

literatura infantil e Pedagogia. Segundo Zilberman (2003, p. 16),

... até hoje a literatura infantil permanece como uma colônia da pedagogia, o que lhe causa grandes prejuízos: não é aceita como arte, por ter uma finalidade pragmática; e a presença do objetivo didático faz com que ela participe de uma atividade comprometida com a dominação da criança.

Entretanto, para Coelho (2000 p. 46), se analisarmos as grandes obras que

impuseram ao longo do tempo como “literatura infantil”, veremos que pertencem

simultaneamente a essas duas áreas distintas: a da Arte e a da Pedagogia. Coelho

(2000, p. 46) diz que:

Sob esse aspecto, podemos dizer que, como “objeto” que provoca emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, “modifica” a consciência-

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de-mundo de seu leitor, a Literatura Infantil é Arte. Por outro lado, como “instrumento” manipulado por uma intenção “educativa”, ela se inscreve na área da Pedagogia.

Hoje a dimensão de literatura infantil é muito mais ampla e importante,

porque proporciona à criança desenvolvimento emocional, social e cognitivo

indiscutível., além de ser fonte de prazer, estímulo à criatividade e motivação de

aprendizagem, portanto, cabe à escola, a tarefa de fazer com que o aluno descubra

essa maravilha que é a literatura infantil e usufrua de seus benefícios.

3 LITERATURA INFANTIL E A ESCOLA ESPECIAL

No processo de ensino aprendizagem dos alunos com DI o professor

procura atender à especificidade de cada aluno e oferecer a melhor mediação,

buscando métodos, estratégias e recursos que melhor se adaptem às diversas

formas de aprender. A literatura constitui-se uma das fontes do acesso à cultura

para a criança, e o trabalho com a literatura infantil é um recurso significativo que

deveria ser mais utilizado pelos professores.

Poucas crianças têm hábito de ler em nosso país e a maioria tem o primeiro

contato com a literatura apenas quando chega à escola. Por isso, a escola deveria

ser o local onde a criança pudesse saborear o mundo irreal, a fantasia, a viagem

pelo mundo dos livros, infelizmente isso nem sempre acontece. Segundo Coelho

(2000, p. 16),

[...] a escola é hoje, espaço privilegiado, em que deverão ser lançadas as bases de formação do indivíduo. E, nesse espaço privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais abrangente do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em relação ao outro; a

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leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente – condição sine qua non para a plena realidade do ser.

O professor, ao trazer a literatura para a sala de aula, proporciona um

diálogo com o aluno, o livro, a sua cultura e a própria realidade. As histórias da

literatura infantil lidam com as emoções, com o prazer, com o espírito lúdico dos

leitores e/ou ouvintes. Ao ouvir histórias, a criança tem a oportunidade de refletir,

elaborando pontos de vista, trocando ideias, criando novas situações, questionando

ou se identificando com personagens e atitudes (COELHO, 2000).

De acordo com Costa (2007, p. 20),

Para que a literatura cumpra seu papel no imaginário do leitor, é fundamental a mediação do professor na condução dos trabalhos em sala de aula e no exemplo que ele dá a seus alunos, lendo e demonstrando, sempre que possível, a utilidade do livro e o prazer que a leitura traz para o intelecto e a sensibilidade.

Tendo em vista a importância do papel desta mediação, é indispensável

uma mudança de atitude por parte dos profissionais que atuam principalmente nas

séries iniciais como professores/motivadores da leitura, contando histórias e sendo

intermediários entre a criança e a obra. A leitura agradável deve ser atividade diária

no espaço da sala de aula, a fim de desenvolver na criança o hábito da leitura.

Com base em Cademartori (1986), compreendemos que o ser humano só se

torna humano à medida que vai formando conceitos. A infância é o momento

principal nesta formação e a literatura infantil um instrumento importante, pois é uma

das manifestações culturais, um dos campos de interpretação do mundo,

possibilitando a reformulação de conceitos e a autonomia do pensamento. Além

disso, a literatura é também meio de libertação do domínio e da manipulação da

sociedade.

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Para Abramovich (1995), as possibilidades de intervenções variam a partir

do trabalho com literatura quando mediadas corretamente, permitem e estimulam o

desenvolvimento da atenção aos elementos apresentados no texto, bem como o uso

da imaginação, além de outros aspectos cognitivos. A autora enfatiza que o contato

das crianças com o mundo das histórias infantis, as insere em um universo

diferenciado, marcado muitas vezes, por particularidades que a criança ainda não

conhece. Porém, a forma de trabalho com literatura eleita pela escola não cativa às

crianças e nem sempre permite que o contato com os textos literários conduzam a

experiências significativas.

Costa (2007, p. 46) afirma que:

Na escola, desde o primeiro dia de sua entrada, a criança precisa ser exposta ao contato com histórias e poemas, contados oralmente pelo professor ou mostrados em livros ao alcance dos olhos e do manuseio da criança. A criação de um ambiente favorável à leitura irá pouco a pouco construindo na mente infantil a imagem de uma atividade enriquecedora e prazerosa. Não se trata apenas de vocabulário, mas de estruturas poéticas e narrativas. A criança aprende a temporalidade dos contos (o antes e o depois das ações), aprende a reconhecer o herói, a importância da ação narrativa, as imagens de movimento, de espaços e caráter dos personagens, bem como a presença de imagens de comparação, metáforas e sinestesias.

Neste contexto, a escola torna-se um espaço específico e privilegiado onde

a criança pode entrar em contato direto com a literatura escrita para ela. A literatura

infantil presente no cotidiano da escola especial é um fator importante para a

realização de uma prática pedagógica que propicie a aprendizagem e o

desenvolvimento do DI. Portanto, trabalhar com a literatura infantil na escola é abrir

as cortinas do mundo, é deixar os alunos sedentos de descobertas além, de a

escola cumprir sua função de promover condições para a população incorporar arte

em sua vida.

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4 O PROFESSOR E A LITERATURA INFANTIL

O trabalho com literatura exige a intervenção do professor selecionando

materiais e mediando as atividades de forma que os elementos literários presentes

nos textos contribuam para ampliar os conhecimentos propiciando a aprendizagem e

o desenvolvimento do DI .

Na prática da literatura infantil não existem receitas prontas, o que deve

existir é o conhecimento e o gosto do professor aliado a um espírito criativo,

experiências felizes com a literatura infantil em sala de aula são aquelas em que a

criança interage com diversos textos trabalhados de tal forma que possibilite o

entendimento do mundo em que vive e que construa, aos poucos, seu próprio

conhecimento. Para alcançarmos um ensino de qualidade, se faz necessário que o

professor descubra critérios e que saiba selecionar as obras literárias a serem

trabalhadas com as crianças, pois sendo conhecedor de sua realidade, o professor

deverá procurar melhores meios para desenvolver a sensibilidade literária.

Para que a criança possa ter maior benefício ao conviver com a literatura

infantil, muitos fatores estão em jogo e entre os mais importantes está a

necessidade de adequação dos textos às diversas etapas do seu desenvolvimento.

Coelho (2000) destaca princípios orientadores que podem ser úteis ao professor

para a escolha de livros adequados a cada categoria de leitor:

- O pré-leitor

Esta categoria abrange duas etapas:

a) Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos), período no qual a criança

começa a conquista da própria linguagem e inicia o reconhecimento da realidade

que a rodeia, principalmente pelos contatos afetivos e pelo tato. A atuação do adulto

é importante inventando situações bem simples manuseando e nomeando gravuras

de animais ou de objetos que devem ser incluídos entre os brinquedos da criança.

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b) Segunda infância (a partir dos 2/3 anos), fase em que inicia o egocentrismo, pelo

fato de que a criança quase não faz distinção entre o mundo interno e o externo. Ela

está mais adaptada ao meio físico e aumenta sua capacidade e interesse pela

comunicação verbal, aprofundando a descoberta do mundo concreto e do mundo da

linguagem, por meio das atividades lúdicas. O "brincar" com o livro é importante e

significativo para a criança.

Nesta fase, os livros adequados devem apresentar um contexto conhecido

pela criança. Devem ser sem texto escrito ou com textos breves, que podem ser

lidos ou dramatizados pelo adulto, a fim de que a criança comece a perceber a inter-

relação do mundo real que a cerca e do mundo da palavra que nomeia este real. A

graça, o humor, um pouco de mistério e expectativa, a técnica da repetição ou a

reiteração de elementos favorecem a conquista da atenção e do interesse da criança

nesta fase.

- O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos de idade).

Fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos

gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do adulto é

fundamental como "agente estimulador". Nessa etapa, também se dá o início do

processo de reflexão sobre a realidade e de socialização. Nos livros, a imagem

ainda deve predominar sobre o texto apresentando narrativas de situações simples,

podendo se desenvolver no mundo do maravilhoso ou no mundo cotidiano ou ainda

resultarem da fusão dos dois mundos: o da fantasia e do real. O importante é que

estimule a inteligência, a imaginação e fantasia ou desperte desejo, alegria, sonhos,

frustrações. O humor, a graça, a comicidade despertam o interesse e a narrativa

deve conter começo, meio e fim, pois o pensamento lógico da criança exige unidade,

coerência e organicidade entre os elementos da narrativa. As personagens podem

ser humanas, animais ou objetos, com limites precisos entre bom/mau, forte/fraco,

feio/bonito. Esta delimitação é necessária para a criança cujo conhecimento de

mundo está em formação.

- O leitor em processo (a partir dos 8/9 anos de idade)

Etapa na qual a criança, com desenvolvimento normal, já dominou o mecanismo da

leitura, mas a presença do adulto continua sendo importante na estimulação da

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leitura e na proposição de atividades após as leituras. Interessa-se por

questionamentos e desafios de qualquer natureza. Seu pensamento está mais

desenvolvido, permitindo-lhe efetuar operações mentais. Os leitores dessa etapa

sentem grande atração por narrativas que apresentam humor, sátira, surpresas, que

tenham um acontecimento central, com começo, meio e fim bem delineados. Os

livros devem ser escritos com frases simples e diretas e ir gradativamente

introduzindo frases mais compostas, ainda com a presença de imagens. O real e o

imaginário também agradam este leitor.

- O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos de idade).

Aqui já está se estabilizando o mecanismo da leitura. A capacidade de concentração

da criança cresce e ela é capaz de compreender o mundo expresso no livro. É a

partir dessa fase que desenvolve o "pensamento hipotético dedutivo" e a capacidade

de abstração. Este estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças

significativas no indivíduo, fazendo com que se sinta com maior poder interior,

apresentando maior racionalização e inteligência, se achando capaz de resolver

seus problemas sozinho dispensando o apoio do adulto, muitas vezes tendo um

certo desequilíbrio em suas relações, ao mesmo tempo, sentem forte atração em

participar de grupos. Interessa-se por histórias que apresentam valores políticos e

éticos, por heróis e heroínas que lutam por um ideal, que apresentam desafios,

aventuras ou romances. Os livros podem conter poucas imagens ou até sem

imagens. Gostam também de mitos e lendas, deuses e heróis, novelas de ficção

científica ou policial. Agradam-se mais por contos, crônicas e novelas.

- O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos de idade).

Nessa etapa já tem domínio da leitura e da escrita e sua capacidade de reflexão

aumenta, permitindo a intertextualização. Desenvolve gradativamente o pensamento

reflexivo e a consciência crítica em relação ao mundo e sentimentos como saber,

fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente. O convívio do leitor

crítico com o texto literário, segundo Coelho (2000, p.40) "deve extrapolar a mera

fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da

leitura". O leitor crítico continua a interessar-se pelos tipos de leitura da fase anterior,

porém, é necessário que ele se aproprie dos conceitos básicos da teoria literária.

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Segundo Coelho (2000), embora a evolução biopsíquica seja divergente de

um indivíduo para outro, a natureza e a sequência de cada estágio são iguais para

todos. Assim, a inclusão do leitor em determinada “categoria” depende não apenas

de sua faixa etária, mas principalmente da interrelação entre sua idade cronológica,

nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual, grau ou nível de

conhecimento e domínio do mecanismo da leitura.

Sabemos que devido às suas características específicas, o aluno das

Escolas Especiais, não se encontra na fase de acordo com a sua idade, por isso,

cabe ao professor, por meio da observação propor atividades que vão ao encontro

dos interesses dos alunos procurando aproximar-se ao máximo da idade

cronológica, lembrando que devemos considerar não apenas o nível de

desenvolvimento real da criança, mas também seu nível de desenvolvimento

potencial, isto é, a capacidade de desempenhar tarefas com ajuda de adultos ou

pessoas mais experientes.

5 CONTANDO HISTÓRIAS

Uma das maneiras de se explorar a literatura na sala de aula é por meio da

contação de histórias. As histórias são excelentes ferramentas na mão do educador

pois não necessita de muitos recursos materiais para a sua aplicação, há uma

variedade de temas, há vários aspectos educacionais que podem ser enfocados

além das crianças gostarem muito pois levam a uma empatia com os personagens.

Devido à importância das histórias infantis tanto como fonte de prazer

quanto como contribuição ao desenvolvimento intelectual e favorecimento à

aprendizagem é preciso utilizá-la de maneira adequada. O professor deve criar um

ambiente mágico, e a narrativa deve atuar como elo entre contador, conto e

ouvintes, para que se tornem um só, em uma unidade que transcenda o tempo

cronológico, para todos virarem parte de um mesmo momento mágico

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Abramovich (1995, p. 18) sugere que:

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal,

nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e

com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência

do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos

versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte...

Quem se propõe a contar uma história, e a estuda tendo em vista as

características dos elementos que a compõem, adquire maior confiança, familiariza-

se com os personagens, vivencia emoções que poderão transmitir, fazendo as

adaptações convenientes e trabalhando cada elemento com a devida técnica.

Coelho (1997) afirma que as técnicas de contar histórias se mesclam com as

qualidades necessárias ao contador. O sucesso da narrativa depende de vários

fatores que se interligam:

- verificação do local, horário e acomodações;

- conhecimento do público a que se destina;

- conhecer o enredo com segurança (caso dê um branco, poderá dar uma

pausa, olhar fixamente nos olhos dos ouvintes, alimentando o suspense e continuar

tecendo descrições acerca de detalhes como fatos, locais, personagens dentre

outros aspectos da narração);

- narrar com naturalidade , com voz clara e expressão viva;

- enfatizar os pontos emocionantes da história através das variações de

tonalidades de voz e pausas oportunas;

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- sentir/viver a história, emocionando-se com a própria narrativa (o professor

não pode se constituir narrador se ele próprio não encontra prazer em narrar

histórias);

- não romper o fluxo da narrativa com conselhos e explicações;

- não perder o fio da meada quando estiver fazendo uso do livro ou outro

elemento ilustrativo;

- tirar partido de pequenos incidentes, sem interromper a história;

- tratar o ouvinte com simpatia e camaradagem, sem adotar um ouvinte

predileto;

- não demonstrar irritação com a presença de ouvintes desinteressados ou

irrequietos;

- chegar ao desfecho sem apontar a moral ou aplicar lições;

- estar aberto para comentários após a narrativa.

Ao terminar a contação geralmente as crianças pedem que a história seja

contada novamente. Se as circunstâncias permitirem é bom contar outra vez além

de repeti-la em outros dias, dando oportunidade para que sintam o prazer e as

emoções novamente. Também é comum após a história, o aluno querer prolongar o

prazer pedindo o livro para ler. Este é o momento do professor promover esse

encontro, vislumbrando a vontade de ouvir, ler e descobrir outras histórias.

Após a contação pode-se fazer uma roda de conversa, fazendo comentários

e questionamentos, não como uma interpretação, nem para salientar a mensagem

contida na história, mas para que a criança se expresse e ao mesmo tempo revele

como percebeu a mensagem e/ou personagens.

Abramovich (1995) sugere um trabalho sistematizado no qual o professor

converse sobre o livro lido, dê oportunidade de discussão sobre a história, o começo

e o fim, o ritmo, os personagens, a capa, a encadernação, a paginação, o tipo e o

tamanho das letras, o formato do livro e tantas outras coisas que poderão ser

discutidas. O professor também pode sugerir que os alunos escrevam sobre o que

foi discutido ou sobre algo que foi importante para ele, que troquem opiniões e

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percebam que sobre o mesmo livro pode haver diferentes opiniões, que releiam algo

que foi importante em determinado dia entre outras atividades que poderão ser

realizadas como dramatização, desenhos, colagens, pintura, modelagem,

dobradura, construção de brinquedos e tantas outras, conforme o enredo da história.

A utilização da contação de histórias em sala de aula faz com que todos

saiam ganhando, seja o aluno, que terá sua imaginação estimulada por meio da

construção de imagens interiores e dos universos da realidade e da ficção, dos

cenários, personagens e ações; seja o professor, que ministrará uma aula muito

mais agradável e produtiva e alcançará o objetivo pretendido: a aprendizagem

significativa.

6 ALGUMAS TÉCNICAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Na hora da contação a seleção da história é importante. Primeiramente

deve-se fazer a escolha do que se vai contar e esta escolha deve levar em

consideração vários fatores como o interesse predominante da faixa etária do

ouvinte, a qualidade literária da obra, o ambiente entre outros. É necessário que seja

bem conhecida, que se tenha lido várias vezes antes, identificado as partes

principais, sentido as emoções que ela provoca, para que ao se narrar a história

passe-se a emoção verdadeira, para que possa provocar na criança o gosto pela

leitura, despertar a motivação de ler por prazer, de sonhar, de vivenciar o momento

mágico.

Os textos devem ser selecionados cuidadosamente, evitando preconceito ou

moralismo e o repertório deve ser formado por diferentes histórias, populares ou

autorais, escolhidas entre os diversos gêneros literários, como o conto, as fábulas,

os mitos, a lendas, os poemas narrativos etc.

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Ao se tratar de literatura deve-se levar em consideração a variedade de

textos escritos, porém, não há um consenso entre os teóricos na definição dos

gêneros literários. Coelho (2000) classifica em gênero e subgênero. Como gênero

literário tem a poesia, a ficção e o teatro e como subgêneros a elegia, o soneto, a

ode, o hino, a madrigal etc. (poesia); o conto, o romance, a novela, a literatura

infantil (ficção); a farsa, a tragédia, a ópera, a comédia etc. (teatro). De acordo com

esta classificação, a literatura infantil pertence ao gênero ficção, dirigida a um

público específico. Há uma variedade de formas de narrativas como: fábula,

apólogo, parábola, alegoria, mito, lenda, saga, conto etc. Costa (2007) considera

como gênero da literatura infantil a narrativa e a poesia. Quanto à narrativa, a autora

coloca que há uma variedade de tipos como: mito, lenda, fábula, apólogo, conto,

novela, crônica e narrativa mista.

Coelho (2000) classifica em gênero e subgênero. Como gênero literário

coloca a poesia com seus subgêneros elegia, soneto, ode, hino, madrigal etc.; a

ficção com os subgêneros conto, romance, novela e literatura infantil e dentro do

gênero teatro, os subgêneros farsa, tragédia, ópera, comédia etc. Os subgêneros ou

formas básicas da ficção se dividem em diferentes categorias, dependendo da

natureza do tema, da problemática, trama, intencionalidade etc., da matéria ficcional:

ficção, romance policial, novela de aventuras, romance de amor, narrativa satírica,

paródia, biografia, romance histórico etc.

A autora afirma também que há uma multiplicidade de formas narrativas que

vêm, desde a origem dos tempos e que (na ausência de uma classificação teórica

não polêmica ou definitiva) também pertence à grande área do gênero de ficção que

são definidas como formas simples: fábula, apólogo, parábola, alegoria, mito, lenda,

saga, conto maravilhoso, contos de fada, conto exemplar, conto jocoso etc. São

formas simples porque resultaram de criação espontânea surgiram anonimamente

há milênios e passaram a circular entre os povos da Antiguidade, transformando-se

no que hoje conhecemos como tradição popular. Pela simplicidade e autenticidade

de vivências que singularizam essas narrativas, quase todas foram assimiladas pela

literatura infantil.

A autora chama ainda a atenção para o lugar específico que a literatura

infantil ocupa no gênero de ficção, visto que ela se destina a seres em formação, a

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seres que estão passando pelo processo inicial da vida. Daí o caráter pedagógico

que, de maneira latente, é inerente à sua matéria. E, também, a necessidade de

ênfase em seu caráter lúdico... Aquilo que não divertir, emocionar ou interessar ao

pequeno leitor, não poderá também lhe transmitir nenhuma experiência duradoura

ou fecunda.

Abramovich (1995) descreve que o destino da narração dos contos é o de

ensinar as crianças a escutar, a pensar e imaginar. Por meio de uma história a

criança pode sentir emoções importantes: tristeza, alegria, medo, amor, raiva. As

histórias além de desenvolver a sensibilidade emocional, propiciam, segundo a

autora, o desenvolvimento social e cognitivo da criança, permitindo que aprenda

naturalmente outros modos de ser, sentir e viver

Camargo e Alencar (2009, p. 110) destacam que:

Tão importante quanto a seleção da história é a escolha da técnica utilizada para contá-la, porque, além de ajudar o professor, ela pode criar um ambiente cooperativo com os alunos, favorecendo o processo de apropriação de conhecimentos, o desenvolvimento de elos comunicativos, a problematização, o levantamento de hipóteses e a busca de soluções e alternativas.

As técnicas e recursos que podem ser utilizados na hora da história são inúmeros e variados e podem ser escolhidos e ou confeccionados de acordo com a história a ser contada e com a criatividade e desejo do contador. Dentre as que mais se destacam

estão: fantoches dos mais variados tipos, materiais e estruturas; livros de pano,

madeira e plástico; gravuras, ilustrações e desenhos; dobraduras com papéis

variados; músicas, álbum seriado; massa de modelar ou argila; sucatas de todos os

tipos; dramatização (CAMARGO; ALENCAR, 2009).

Coelho (1997) e Domme (2010) destacam algumas destas técnicas ou

recursos:

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- Simples narrativa: é a maneira mais antiga, no qual o narrador se utiliza somente

da voz e da expressão corporal. Essa forma estimula os ouvintes a usarem a

imaginação e a criatividade;

- Narrativa com auxílio do livro: usada principalmente quando a ilustração

complementa o texto. Essa forma de apresentação incentiva o gosto pela leitura e

contribui para desenvolver a seqüência lógica do pensamento;

- Uso de gravuras: pode-se utilizar esse recurso para ampliar, destacar ou

selecionar as imagens, tanto reproduzindo as gravuras ou fazendo colagens para

montar as cenas. Essa forma permite a organização do pensamento, a identificação

da idéia central, fatos principais e etc.;

- Uso de flanelógrafo ou velcômetro: é um recurso visual para ser usado em

histórias em que o personagem principal e outros personagens entram e sai de cena

movimentando-se no enredo, muito prático por possibilitar esse movimento entre os

personagens;

- Uso de desenhos: pode-se usar esse recurso com histórias de poucos

personagens e traços rápidos. Conforme vai se contando a história vai se

desenhando no quadro de giz ou em uma folha grande de papel e conforme o

enredo da história os próprios ouvintes podem ir fazendo ou completando os

desenhos;

- Interação com a narração: os ouvintes podem participar por meio da voz e/ou

gestos, usando uma palavra, frase, uma cantiga, podendo ser individual ou em

grupo. A interferência depende do narrador, que com sua criatividade e conforme a

história, a introduz no texto para melhor atrair a atenção do público ouvinte.

- Dedoches: são pequenos fantoches utilizados nos dedos, as próprias crianças

podem confeccionar. A desvantagem é não poderem ser utilizados para uma plateia

grande (cinco ou seis no máximo).

- Inclusão de um objeto real que faz parte do enredo fantasioso da história: em

Pandora, por exemplo, o suspense aumenta se no interior do círculo o narrador

colocar uma misteriosa caixa.

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- Um personagem que toma vida no desfecho da história : todos ficarão

excitados se o cacique da história aparecer com seu resplandecente cocar. Ou se ao

final, a Emília em pessoa para ser entrevistada pelas crianças.

- Fantoches: são muito apreciados pelas crianças e podem ser usados por mais de

um narrador. Outra vantagem é que se pode ter o roteiro escrito, o que facilitará a

tarefa.

- Maquete: Também alcança resultado. É mais simples do que parece: uma floresta

de papel crepom, uma casinha de papelão e pequenos bonecos, comandados por

um contador habilidoso operarão maravilhas.

Além destas sugestões, pode-se pedir para que as crianças fechem os olhos

e criar sensações de vento com um ventilador, de odor com spray de ambiente, de

chuva com borrifos de água.

Um dos problemas não é em utilizar a história como recurso pedagógico nas

mais diversas atividades, mas no risco que se corre em não valorizar o seu

potencial. Então, é preciso que os professores estejam preparados para utilizar a

literatura infantil como ferramenta da prática pedagógica.

Compete ao educador promover condições que ampliam as possibilidades

de comunicação do aluno com a obra, desta maneira avançando rumo à construção

de um novo saber.

7 Da intervenção pedagógica na escola

Para a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica foi aplicado um

questionário, contendo 8 questões, em um grupo de 30 professores da Escola

Carmem Lúcia Rauen Lopes abordando perguntas sobre literatura infantil e o uso

dela em sala de aula e com que tipo de recursos.

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Quanto ao conhecimento do que é literatura infantil a maioria demonstrou ter

uma noção colocando que é literatura destinada ao público infantil e um instrumento

importante na formação da criança. Grande parte concorda que auxilia no

desenvolvimento do pensamento, da linguagem e na formulação e/ou reformulação

de conceitos, além de despertar a atenção, imaginação, criatividade, emoções e

fantasias de maneira lúdica e prazerosa, oportuniza à criança o entendimento do

mundo que a rodeia, de si mesma e do outro.

Demonstraram também, noção dos gêneros citando a narrativa (fábulas,

mitos, lendas e contos) e a poesia. Abordaram as várias formas de se utilizar a

literatura infantil como oralmente, com o próprio livro, utilizando-se de gravuras, de

flanelógrafo, fantoches, objetos variados, vídeos e outros.

No que se refere ao uso da literatura infantil em suas aulas e a frequência

com que isto acontece, 12 professoras afirmaram trabalhar semanalmente, 5 de

quinze em quinze dias, 1 três vezes na semana, 8 com pouca frequência, 2 com

muita frequência e 2 não utilizam justificando que trabalham com DI adultos.

A literatura infantil é uma ferramenta indispensável para estimular o

imaginário e a fantasia tanto em crianças quanto em jovens e adultos, por isso os

livros não somente atraem sua atenção, mas na verdade acabam sendo capazes de

corresponder, de alguma forma, aos anseios do leitor de qualquer idade. Portanto,

deve ser utilizada por professores que atuam em todos os níveis de ensino.

Ao responder sobre algum critério na seleção das obras a serem

trabalhadas, o critério que apareceu mais vezes foi a faixa etária (7 vezes), o

conteúdo a ser trabalhado veio em seguida (5 vezes) , o entendimento fácil, de

acordo com o comprometimento do aluno, linguagem acessível, histórias curtas,

clássicos, interesse dos alunos e boas ilustrações e poucas frases (2 vezes), os

critérios obras bem conhecidas, que transmita conhecimento, dê prazer ao aluno,

valorização da autoestima, contos alegres, que tenha mensagem e sons

onomatopaicos (uma vez) e 4 responderam que não utilizam critérios.

Como vimos a maioria adota algum critério para a seleção de obras

literárias, mas o mais adotado ainda é a faixa etária e a utilização pedagógica.

Ao questionarmos se ao trabalhar com a literatura infantil visava algum

objetivo, os professores colocaram que sim, aparecendo o objetivo fixar ou

enriquecer os conteúdos trabalhados como mais citado (9 vezes), sendo seguido por

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desenvolver a imaginação e estimular o interesse pela leitura (8). Os demais

apareceram com menor frequência: desenvolvimento criativo e organização do

pensamento (5), ampliar o vocabulário (4), descontrair , socializar , desenvolver a

linguagem e desenvolver a oralidade (3), informar , compreensão do fundo moral ,

interpretação , desenvolver a concentração e sequência de fatos (2), viajar ouvindo

a história, trazer à tona suas emoções, sensações, volta á calma, trabalhar o

comportamento em geral, conhecimento do mundo letrado, tornar as aulas mais

dinâmicas, vivenciar na história o personagem que queria ser e desenvolver a

atenção (1).

Ao fazer análise das respostas podemos observar que o objetivo pedagógico

de ensinar e enriquecer o conteúdo aparece em primeiro lugar enquanto que,

estimular o desenvolvimento da atenção e concentração apareceram bem pouco o

que mostra o quanto ainda está interiorizado no professor a utilização pedagógica

dos textos literários.

No que se refere aos livros de literatura usados no primeiro semestre, dos

trinta professores entrevistados, duas que atuam na disciplina de arte citaram acima

de 5 livros trabalhados, treze citaram 3 títulos, dois citaram 2 títulos e três citaram

apenas um título. Dez não citaram, duas porque atuam com adultos e não utilizam

livros de literatura infantil, um atua com bebês, duas atuam com deficientes

intelectuais mais comprometidos, três não estão atuando em sala de aula e dois são

professores de educação física.

Ao questionarmos se usam a biblioteca e se os alunos levam livros para

casa foi colocado que a escola não tem biblioteca, mas são disponibilizados alguns

livros de literatura infantil para ficar nas salas de aula durante o ano, oportunizando

aos alunos o manuseio dos mesmos somente na sala de aula.

Ao serem questionados sobre a importância do uso da literatura infantil no

processo ensino aprendizagem, foi possível constatar que a maioria reconhece a

importância, mas ao se analisar a quantidade de livros de histórias infantis

explorados no primeiro semestre, constata-se que não está sendo valorizada a

literatura infantil em sala de aula.

Analisando todas as questões fica evidente a necessidade de

aprofundamento teórico e elaboração de uma proposta de atividade semanal

envolvendo a literatura infantil. Baseando-se nestes dados foi elaborado a relação

de conteúdos a serem abordados durante o curso de capacitação.

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Após a aplicação do questionário foi realizado um levantamento dos

interessados em participar do curso, cujo objetivo foi proporcionar aprofundamento

teórico sobre a literatura infantil como recurso pedagógico na educação especial,

propiciando acesso ao conhecimento básico acerca da contação de histórias e

possibilitando a confecção de materiais, sendo escolhida a data que o maior número

de professores pudesse participar.

A intervenção pedagógica foi realizada no segundo semestre de 2011 por

meio de dez encontros com 17 professoras. Em relação à metodologia, os encontros

foram conduzidos por meio de aulas teóricas e práticas com uso de slides, textos,

dinâmicas, filmes, livros de literatura infantil, fantoches e atividades direcionadas

sendo abordados durante dez encontros, os seguintes temas:

- Considerações acerca da deficiência intelectual

- Conceituando e contextualizando a literatura infantil

- Literatura infantil e prática pedagógica na escola especial

- Categorias de leitor segundo Nelly Coelho

- Técnicas e qualidades necessárias para contar histórias

- A hora da história

- Confecção de materiais para a contação de histórias

- Sugestões de aulas de literatura infantil

- Avaliação do trabalho desenvolvido

Todos os encontros foram muito produtivos, além dos conteúdos acima

citados, houve a participação da professora PDE Clarice Maria Loli que enriqueceu

ainda mais as reuniões apresentando algumas histórias que constam no seu Projeto:

Limites e Possibilidades da Literatura Infantil na Educação Especial: um estudo de

caso.

Durante a realização do curso observou-se um encantamento dos

professores pelas histórias lidas e contadas, bem como na realização das atividades

propostas, divertiram-se muito e acompanharam tudo com muito interesse e

participação. Ao realizar a tarefa proposta em equipe para apresentação de livros

segundo a faixa etária que atuam, houve troca de experiência enriquecedora. A

montagem de um mural com as atividades desenvolvidas despertou o interesse dos

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professores que não puderam participar do curso havendo assim uma motivação

geral de toda a escola para o trabalho com a literatura infantil em todas as turmas.

Na realização de debate em grupos sobre o uso da literatura infantil na sala

de aula, chegou-se às seguintes conclusões: é importante que o professor

programe-se para disponibilizar os livros de literatura infantil em diferentes

momentos da rotina, pois a seleção e a preparação prévia, o incentivo aos

comentários posteriores e o clima criado devem ser intencionais, e não obras do

acaso; o livro deve ser valorizado como fonte de entretenimento e conhecimento;

devem ser selecionados livros com textos bem elaborados e ilustrações de

qualidade; é importante criar o hábito de escutar histórias e para isso deve se criar

um espaço mágico e descontraído, procurando sempre se divertir com esta tarefa,

para que ela seja prazerosa para todos.

8 Um olhar para o GTR: considerações acerca dessa complementação pedagógica do PDE

O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) é uma das atividades previstas no

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, e destaca-se ao possibilitar

a interação com outros professores da rede por meio de encontros virtuais, visando

estabelecer relações teórico-práticas nas diversas áreas do conhecimento.

Apresenta-se aqui uma síntese geral do nosso GTR.

Na primeira temática as cursistas puderam postar suas contribuições e

interagir com suas colegas sobre o uso da literatura infantil em sua escola e a

importância do uso da literatura infantil na escola especial e na escola pública

paranaense.

Ao realizar uma avaliação quanto ao uso da literatura infantil na escola em

que atua, a maioria concluiu que a literatura infantil é um instrumento valioso no

processo de ensino aprendizagem de todos os alunos. Houve unanimidade em

afirmar que há necessidade de embasamento teórico em todas as escolas, pois não

são muitos os professores que utilizam a literatura como aliada na busca de facilitar

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a aprendizagem, e muitos não o fazem corretamente por falta de preparo, pois

desconhecem a importância desta ferramenta para o desenvolvimento da criança.

Os textos elaborados nos diários deixaram claro que o projeto é importante

tanto para a escola pública quanto para a escola especial, pois a maioria dos alunos

tem seu primeiro contato com a literatura infantil na escola, por isso deveria ser

inserida desde a educação infantil, favorecendo o potencial criativo, a reflexão, o

desenvolvimento social e cognitivo.

Na maioria das escolas citadas, o uso da literatura infantil é visto como uma

forma de suporte pedagógico e estímulo para formação de leitores. Todas

concordam que através do contato frequente com bons textos literários a criança é

capaz de aprender a refletir, escutar outras opiniões e a reformular seu pensamento,

além de buscar soluções para os problemas de acordo com a realidade que a cerca.

Na segunda temática foi apresentada a Produção Didático-Pedagógica para

ser analisada, discutida e gerar contribuições. Ao postar suas contribuições e

interações referentes aos cuidados que o professor deve ter ao trabalhar com a

literatura infantil o primeiro colocado foi o fator pessoal, que aponta para a atitude do

professor diante do livro. Ao ler ou contar uma história, é preciso contagiar, estimular

a imaginação, fazendo o aluno “viajar” com a história. É necessário saber como usar

a voz, a expressão corporal, o ritmo e o gesto, tornar o ambiente mágico a fim de

prender a atenção das crianças pelo encantamento e pela fantasia, daí a

importância da criação de um "Cantinho da Leitura" proporcionando ao aluno um

ambiente acolhedor e confortável. Também foi ressaltado o cuidado em escolher

textos literários de boa qualidade respeitando a faixa etária dos alunos, selecionando

livros coloridos e com ilustrações, pois para os alunos com deficiência intelectual o

estimulo visual é muito importante.

Foram destacadas várias formas de apresentação acompanhadas de

reflexão quanto à importância do conhecimento prévio da história e o uso de

recursos variados para despertar o interesse e o prazer pelas histórias. Foi sugerido

o trabalho com materiais diversificados, que tornem a contação envolvente, com

elementos surpresa e o uso de vários estilos: poesias, lendas, contos, mitos,

fábulas, contos de fadas, aventuras, histórias tristes ou divertidas, além da utilização

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de gravuras, ilustrações dos próprios livros ou os livros do tipo maquete que

concretizam as imagens e facilita a compreensão.

Na terceira e última temática foram socializados os avanços e desafios

enfrentados durante a fase de implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica, com proposições de ideias e relato de uma experiência vivenciada

sendo esta muito significativa, pois proporcionou a troca de experiências

enriquecendo ainda mais a prática do grupo.

Ao fazer uma reflexão quanto à relevância das ações propostas na

Produção Didático-Pedagógica para a realidade das escolas as cursistas colocaram

que percebem a enorme necessidade que os professores têm de receber formação

continuada de qualidade e que vá de encontro com a realidade da sala de aula,

como o previsto na terceira ação, visto que a maior dificuldade de se trabalhar

literatura é a falta de preparo do professor. Várias participantes sugeriram que todas

ampliassem a experiência deste curso compartilhando o conteúdo com os demais

professores de sua escola.

Ao analisar o que poderia ser acrescentado às ações previstas, surgiram

idéias como: após a conclusão da terceira ação, dar suporte para o professor

diretamente na sala de aula, assessorando nas suas primeiras técnicas de contação

de história junto aos alunos; que a escola continuasse com o trabalho propondo

Feira da Literatura onde além de expor obras literárias para diversas faixas etárias,

cada turma escolheria a mais atraente para representar num teatro; a extensão do

trabalho realizado para as séries posteriores, pois as professoras se esforçam para

estimular nas séries iniciais e muitas vezes esse trabalho é perdido nas séries

seguintes, sendo alertado que o uso da literatura infantil não se restringe ao

professor de língua portuguesa, deve fazer parte de todas as disciplinas; promoção

de cursos, integrando professores da educação especial e da rede regular de

ensino; envolver toda a comunidade escolar destacando aqui a importância da

interação professor/aluno/família ficando como sugestão a criação de projetos

envolvendo a família, como por exemplo, empréstimos de livros no final de semana

para ser lido em casa por algum familiar, que além de contribuir com o

desenvolvimento e aprendizagem dos alunos poderá reforçar os vínculos afetivos;

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9 Considerações finais

O PDE foi uma oportunidade única, um presente, após 30 anos de

magistério. Esta política de formação continuada inovadora no Estado do Paraná,

que busca aprimorar ações que visem à melhoria da educação veio enriquecer o

contexto educacional buscando uma educação transformadora e de qualidade. O

objetivo que é o aperfeiçoamento permanente e a qualificação sistemática do

professor da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná, visando a melhoria do

processo ensino aprendizagem nas escolas públicas estaduais poderá ser

alcançado.

Foi uma oportunidade de repensar e intervir na prática pedagógica, rever e

se apropriar de teorias além de propiciar ao corpo docente da Escola Carmem Lúcia

Rauen Lopes momentos de reflexão, acerca do uso da literatura infantil,

promovendo estudo e crescimento.

Nestas considerações finais acerca do uso da literatura infantil no processo

de ensino aprendizagem do DI, constatou-se que incentivar a prática de contar

histórias, inserindo-as na rotina da sala é fundamental. Para isto, é imprescindível a

intervenção do professor proporcionado oportunidades no espaço escolar para que

os alunos possam vivenciar os enredos, as tramas presentes nas produções

literárias infantis, tão necessárias para a aquisição de elementos linguísticos que

subsidiarão o desenvolvimento mental. A literatura infantil não pode ser utilizada

apenas como um pretexto e sim como um objeto mediador de conhecimento, ela

necessita estabelecer relações entre a teoria e a prática, possibilitando ao professor

atingir determinadas finalidades educativas.

O uso da literatura infantil deve ocorrer desde cedo, pois as crianças se

interessam pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e mais tarde, darão

significados a elas, identificando-as e nomeando-as. Para a criança criar o gosto

pela literatura, é importante necessário que o professor tenha uma rotina diária de

leitura de histórias, pois ao ver e ouvir um adulto lendo, irá tendo contato com as

rimas, o som, a musicalidade e o ritmo, e passarão a se interessar pelo mundo das

palavras e sua imaginação será assim despertada. Contudo, apesar de ser uma

atividade simples, deve ser pensada, planejada, preparada. Vale lembrar que o

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trabalho não se limita a ler histórias, é preciso preocupar-se com a qualidade da

leitura, com a adequação à faixa etária e ao nível de compreensão. Existem

produções de qualidade, dando muitas possibilidades de desenvolver um bom

trabalho, mas é necessária uma preparação adequada, seguida de técnicas

diversificadas e interessantes, que tornem a contação um momento único, prazeroso

e cheio de encanto.

Para alcançarmos um ensino de qualidade, se faz necessário que o

professor descubra critérios e que saiba selecionar as obras literárias a serem

trabalhadas com as crianças. Para que isso ocorra há de se pensar na garantia de

formação continuada e ampliação de carga horária para planejamento de atividades.

Sendo conhecedor de sua realidade, poderá procurar melhores meios para

desenvolver a sensibilidade literária, selecionando materiais e mediando as

atividades de forma que os elementos literários presentes nos textos contribuam

para ampliar os conhecimentos propiciando a aprendizagem e o desenvolvimento do

deficiente intelectual.

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