23
Prefeitura de Juiz de Fora / SDS DISQ / Curso Preparatório para Concursos Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533 1 LITERATURA PISM II 1) Literatura é... ... usar da palavra para recriar a realidade, originando um mundo ficcional que emociona e dá prazer. Artista e leitor fazem um pacto: um escreve como se escrevesse a verdade e o outro lê como se lesse a realidade. É também uma fonte de conhecimentos sobre uma determinada comunidade em um determinado momento histórico. 2) Conotação e denotação Linguagem denotativa é o emprego da palavra no seu sentido objetivo, real, verdadeiro, dicionarizado. Linguagem conotativa é o emprego da palavra no seu sentido subjetivo, figurado, plurissignificativo. Veja o exemplo: Quando você foi embora / Fez-se noite em meu viver: I- Espaço de tempo em que o Sol está abaixo da linha do horizonte II- Tristeza, solidão, abandono 3) Figuras de Linguagem 3.1) Metáfora É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida. Exemplos: Minha boca é um túmulo. Essa rua é um verdadeiro deserto. 3.2) Comparação Consiste em atribuir características de um ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança. Exemplos: O meu coração está igual a um céu cinzento. O carro dele é rápido como um avião. 3.3) Metonímia É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos: - O autor pela obra. Exemplo: Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares) - O continente pelo conteúdo. Exemplo: O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores) - A parte pelo todo. Exemplo: Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa) Exemplo: Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho) 3.4) Sinestesia Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes. Exemplos: Raquel tem um olhar frio, desesperador. Aquela criança tem um olhar tão doce. 3.5) Aliteração Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra. Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque)

LITERATURA PISM II

  • Upload
    lamngoc

  • View
    264

  • Download
    10

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

1

LITERATURA PISM II

1) Literatura é... ... usar da palavra para recriar a realidade, originando um mundo ficcional que emociona e dá prazer. Artista e leitor fazem um “pacto”: um escreve como se escrevesse a verdade e o outro lê como se lesse a realidade. É também uma fonte de conhecimentos sobre uma determinada comunidade em um determinado momento histórico. 2) Conotação e denotação Linguagem denotativa é o emprego da palavra no seu sentido objetivo, real, verdadeiro, dicionarizado. Linguagem conotativa é o emprego da palavra no seu sentido subjetivo, figurado, plurissignificativo. Veja o exemplo: Quando você foi embora / Fez-se noite em meu viver: I- Espaço de tempo em que o Sol está abaixo da linha do horizonte II- Tristeza, solidão, abandono 3) Figuras de Linguagem 3.1) Metáfora É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida. Exemplos: Minha boca é um túmulo. Essa rua é um verdadeiro deserto. 3.2) Comparação Consiste em atribuir características de um ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança. Exemplos: O meu coração está igual a um céu cinzento. O carro dele é rápido como um avião. 3.3) Metonímia É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos: - O autor pela obra. Exemplo: Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares) - O continente pelo conteúdo. Exemplo: O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores) - A parte pelo todo. Exemplo: Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa) Exemplo: Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho) 3.4) Sinestesia Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes. Exemplos: Raquel tem um olhar frio, desesperador. Aquela criança tem um olhar tão doce. 3.5) Aliteração Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra. Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque)

Page 2: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

2

3.6) Assonância Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema. Exemplo: "Sou Ana, da cama da cana, fulana, bacana Sou Ana de Amsterdam.” (Chico Buarque) 3.7) Antítese Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal. (Rui Barbosa) 3.8) Paradoxo Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oximoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo. Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer..." (Camões) 3.9) Eufemismo Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante. Exemplo: "E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague". (Chico Buarque) paz derradeira = morte 3.10) Hipérbole Ocorre hipérbole quando há exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto. Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac) 3.11) Ironia Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica. Exemplo: "Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor." (Mário de Andrade) 3.12) Prosopopeia É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO. Exemplo: O céu está mostrando sua face mais bela. O cão mostrou grande sisudez. 3.13) Perífrase Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear. Exemplo: "Cidade maravilhosa Cheia de encantos mil Cidade maravilhosa Coração do meu Brasil." (André Filho)

Page 3: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

3

4) Gêneros literários Gênero é a categoria à qual pertence uma obra literária, graças a um certo número de características relacionadas à situação de comunicação e à forma da linguagem privilegiada, regras ou convenções que nos permitem agrupar, pelas semelhanças, determinados textos. 5) Classificação dos Gêneros 5.1) Gênero lírico - caracteriza-se basicamente por se tratar de uma manifestação de sentimentos e emoções de um sujeito lírico (chamado eu lírico). A musicalidade é uma característica importante do texto lírico (o que mais explora as sonoridades). A palavra lírico, assim como o cognato lirismo, deriva de lira (instrumento musical de cordas). A musicalidade e a expressão de sentimentos são características fundamentais do gênero lírico. Modo se enunciação do gênero lírico: Enunciação do emissor; eu lírico. Perspectiva temporal: O presente do artista. Verbos e pessoas: Presente – 1ª pessoa. Conteúdo: Expressão de sentimentos. Efeito no ouvinte ou leitor: Emoção, simpatia, exaltação. Formas principais: Soneto, ode, balada, elegia, canção, prosa lírica. “Maior amor nem mais estranho existe que o meu, que não sossega a coisa amada e quando a sente alegre fica triste e se a vê descontente, dá risada.” (...)

MORAES, Vinícius de. “Soneto do maior amor”. In: Poesia completa e prosa.2 ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1985. p.202.

5.2) Gênero Épico - caracteriza-se pelo aspecto narrativo e pela sua vinculação aos fatos históricos ou às realizações humanas, revelados pelo artista como observador que transfigura em sua obra o mundo exterior. Presta-se à narração de ações heroicas e dos grandes feitos humanos. Modo se enunciação do gênero épico: Enunciação do emissor (narrador) e/ou das personagens. Perspectiva temporal: O passado presentificado. Verbos e pessoas: Passado – 3ª pessoa. Conteúdo: Relato de ações heroicas. Efeito no ouvinte ou leitor: Admiração, surpresa, orgulho. Formas principais: Epopeia e diferentes tipos de romances vinculados a grandes realizações humanas. O poema de Camões tem a intenção de celebrar os feitos lusitanos e a descoberta do caminho marítimo para as Índias. “Vasco da Gama, o forte Capitão, Que tamanhas empresas se oferece, De soderbo e altivo coração, A quem Fortuna sempre favorece, Pera se aqui deter não vê razão, Que inabitada a terra lhe parece. Por diante passar determinava. Mas não lhe sucedeu como cuidava”.

CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. In: Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1963.p. 18. 5.3) Gênero dramático – que tem a sua manifestação mais viva no trágico e no cômico, procura representar o conflito dos homens e seu mundo. Ora apresenta heróis, seus feitos e a fatalidade que os conduz à queda; ora personalidades medíocres, tolas, mesquinhas, ambiciosas, cômicas ou ridículas: as manifestações da miséria humana. As ações presentes (no palco), a representação de ações nas quais se chocam forças oponentes, o conflito dos homens e seu mundo, o drama humano. O tom dramático pode

Page 4: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

4

estar presente em textos em prosa, quando retratam esses conflitos, a miséria ou o drama das personagens. “(PAUSA. Rudi está estranho.) STELLA – Cala a boca, Rudi. RUDI – Stella, eu te amei muito, até demais. Mas era um sentimento primitivo,animal, sem nenhuma lógica... Agora eu mudei. STELLA – (Cada vez mais desesperada) Não! Você não mudou nada! RUDI – Você me fez mudar. STELLA – Tenta me ouvir, eu sou louca por você, sempre fui! RUDI – Os minutos, as horas, a poeira que cai. O maldito tempo... Você tem que ir embora. STELLA – Não. Claro que não. PAIVA, Marcelo. 525 linhas. São Paulo, Brasiliense, 1989.p.74. Modo se enunciação do gênero dramático: Enunciação das personagens. Perspectiva temporal: Ações presentes. Verbos e pessoas: Presente e Futuro – 1ª e 2ª pessoas. Conteúdo: Representação de ações. Efeito no ouvinte ou leitor: Piedade, revolta, terror. Formas principais: Diferentes tipos de peças de teatro, monólogos dramáticos. 6) O que é narrar? Narrar é contar um fato qualquer, a partir de uma sequência que envolve o que aconteceu, o que está acontecendo e o que irá acontecer. a narrativa se estrutura em torno de alguns elementos básicos: o enredo, os personagens, o narrador, o tempo e o espaço. Enredo - narrativa de acontecimentos causados por uma tensão a que chamamos conflito. Quando os acontecimentos se desenvolvem de uma forma lógica, coerente, dizemos que ela é verossímil, ou seja, embora não sejam necessariamente verdadeiros, os fatos apresentam verossimilhança. Tempo - normalmente, pode estar presente na narração em 3 níveis: a época em que se passa a história, o tempo cronológico, o tempo psicológico, quando os fatos narrados não estão na ordem natural. Espaço - é o lugar onde acontece a história, e pode ser o espaço físico ou o meio social. Narrador - o ponto de vista do narrador é denominado foco narrativo e apresenta diversas possibilidades: - foco narrativo em terceira pessoa: quando o narrador não é personagem da história; - foco narrativo em primeira pessoa: quando o narrador é uma das personagens que vivem a história. O narrador pode ser ainda: - observador: quando narra como quem apenas presencia um fato. - onisciente: quando conhece e revela o interior das personagens, seus pensamentos e emoções. As narrativas normalmente apresentam 4 partes: a introdução, quando o narrador apresenta os fatos iniciais, a complicação, quando a história se desenvolve, o clímax, quando o conflito atinge a maior tensão, e o desfecho, quando o conflito é solucionado. Referências bibliográficas: FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto. Literatura Brasileira.10ªed. edição reformulada e ampliada. São Paulo: Ática, 2000. MAIA, João Domingues. Português: volume único. 2.ed. São Paulo: Ática, 2000.

Page 5: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

5

CRONOLOGIA DOS ESTILOS LITERÁRIOS EM PORTUGAL E NO BRASIL

Estilo Portugal Brasil Características

Romantismo 1825 Almeida Garrett Publicação do poema Camões Gêneros: prosa (romance e novela) poesia e teatro.

1836 Gonçalves de Magalhães Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades Poesia: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves. Prosa: (urbanos) Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida; (regionalistas) Alencar, Bernardo Guimarães, Taunay; (indianista-histórico) Alencar

1ª Geração: nacionalismo, ufanismo, natureza, religião (cristianismo), indianismo/medievalismo. 2ª Geração: mal do século, evasão, solidão, profundo pessimismo, anseio da morte. 3ª Geração: condoreirismo, liberdade, oratória de reivindicação, transição para o Parnasianismo, literatura social e engajada. Geral: imaginação, fantasia, sonho, idealização, sonoridade, simplicidade, subjetivismo, sintaxe emotiva, liberdade criadora.

Realismo Naturalismo Parnasianismo

1865 Questão Coimbrã: Antero de Quental contra Castilho (Novos x Velhos) Gêneros: prosa (romance, conto, crônica), poesia, crítica. Prosa: Eça de Queirós Poesia: Antero de Quental, Cesário Verde, Guerra Junqueiro.

1881 Machado de Assis Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas/ Realismo Aluísio de Azevedo Publicação de O Mulato/ Naturalismo Década de 80 Prosa: Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia Definição do ideário parnasiano. Poesia: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Vicente de Carvalho.

Realismo: preocupação com a verdade exata, observação e análise, personagens tipificadas, preferência pelas camadas altas da sociedade. Objetividade. Descrições pormenorizadas. Linguagem correta, no entanto é mais próxima da natural, maior interesse pela caracterização que pela ação – tese documental. Naturalismo: visão determinista do homem (animal, presa de forças fatais e superiores – meio, herança genética, momento). Tendência para análise dos deslizes de personalidade. Deturpações psíquicas e físicas. Preferência pela classe operária. Patologia social: miséria, adultério, criminalidade, etc – tese experimental. Parnasianismo: arte pela arte, objetividade, poesia descritiva, versos impassíveis, exatidão e economia de imagens e metáforas, poesia técnica e formal, retomada de valores clássicos, apego à mitologia greco-romana.

Page 6: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

6

Simbolismo 1890 Eugênio de Castro Publicação de Oaristos Gêneros: poema e prosa. Poesia: Camilo Pessanha

1893 Cruz e Sousa Publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis (poesia). Poesia: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, Pedro Kilkerry, Emiliano Perneta.

Simbolismo: reação contra o positivismo, o Naturalismo e o Parnasianismo; individualismo, subjetivismo psicológico, atitude irracional e mística, respeito pela música, atitude irracional e mística, respeito pela música, cor, luz; procura das possibilidades do léxico.

Pré-Modernismo

1902 Publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha; Canaã, de Graça Aranha. Prosa: Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha. Poesia: Augusto dos Anjos;

Pré-Modernismo: tendência das primeiras décadas do século XX, sentido mais crítico, fixando diferentes facetas da realidade social, política ou alterações na paisagem e cor local.

Modernismo 1915 – 1ª fase Revista Orfeu 1930 – 2ª fase Alves Redol Publicação de Gaibeús Mais recentemente: Surrealismo. Gêneros: poesia, prosa (crônica, conto, romance), teatro Poesia: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca, José Régio, etc.

1922- Semana de Arte Moderna. 1922-30 – 1ª fase: revolucionária: Mário de Andrade. Publicação de Paulicéia Desvairada. 1930-45 – 2ª fase: neorrealismo, literatura regional.. José América de Almeida; A Bagaceira.

1ª Geração: revolucionária – negação da tradição cultural, antipurista, antiacademicista, linguagem coloquial, verso livre, nacionalismo crítico, ironia, sarcasmo, irreverência. Poema-piada, liberdade de criação. Predomínio da poesia. 2ª Geração: estabilidade: herança de 22, acrescentando aprimoramento da linguagem (inclusive metalinguagem), busca da expressão universal, recuperação de valores tradicionais (Neossimbolismo), engajamento religioso e social, literatura de denúncia das condições humanas. Predomínio da prosa (romance) de tendências neorrealistas e regional. 3ª Geração: Não se mostram tão preocupados com o contexto sociopolítico; análise da natureza humana. Rigor formal.

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ESTILOS LITERÁRIOS NO BRASIL

1- Romantismo (século XIX) A modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real portuguesa em 1808, e a Independência

do Brasil em 1822 são dois fatos históricos que influenciaram na literatura do período. Como características

principais do romantismo, podemos citar: individualismo, nacionalismo, retomada dos fatos históricos

importantes, idealização da mulher, espírito criativo e sonhador, valorização da liberdade e o uso de

Page 7: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

7

metáforas. As principais obras românticas que podemos citar : O Guarani de José de Alencar, Suspiros

Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães, Espumas Flutuantes de Castro Alves, Primeiros Cantos de

Gonçalves Dias. Outros importantes escritores e poetas do período: Casimiro de Abreu, Álvares de

Azevedo, Junqueira Freire e Teixeira e Souza.

Independência ou morte – Pedro Américo

Porão de Navio Negreiro – Rugendas

2- Realismo - Naturalismo (segunda metade do século XIX) Na segunda metade do século XIX, a literatura romântica entrou em declínio, juntos com seus ideais. Os

escritores e poetas realistas começam a falar da realidade social e dos principais problemas e conflitos do

ser humano. Como características desta fase, podemos citar: objetivismo, linguagem popular, trama

psicológica, valorização de personagens inspirados na realidade, uso de cenas cotidianas, crítica social,

visão irônica da realidade. O principal representante desta fase foi Machado de Assis com as obras:

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista. Podemos citar ainda como

escritores realistas Aluisio de Azedo autor de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia autor de O Ateneu.

Page 8: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

8

As Respingadeiras – Jean François Millet O homem desesperado – Gustave Coubert

Caipira picando fumo – Almeida Júnior

3- Parnasianismo (final do século XIX e início do século XX) O parnasianismo buscou os temas clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura alienada, pois não retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

Ponte Japonesa – Claude Monet Meninas ao Piano – Auguste Renoir

Page 9: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

9

Aula de Dança – Edgar Degas O Grito – Edward Munch

4- Simbolismo (fins do século XIX) Esta fase literária inicia-se com a publicação de Missal e Broqueis de João da Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens. 5- Pré-Modernismo (1902 até 1922) Este período é marcado pela transição, pois o modernismo só começou em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Esta época é marcada pelo regionalismo, positivismo, busca dos valores tradicionais, linguagem coloquial e valorização dos problemas sociais. Os principais autores deste período são: Euclides da Cunha (autor de Os Sertões), Monteiro Lobato, Lima Barreto, autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma e Augusto dos Anjos.

A persistência da memória – Salvador Dalí Criança geopolítica assistindo o nascimento do novo homem – Salvador Dalí

Page 10: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

10

Les demoiselles d’Avignon – Picasso Guernica – Picasso

Abaporu – Tarsila do Amaral A estudante – Anita Malfatti

6- Modernismo (1922 a 1930) Este período começa com a Semana de Arte Moderna de 1922. As principais características da literatura modernista são: nacionalismo, temas do cotidiano (urbanos), linguagem com humor, liberdade no uso de palavras e textos diretos. Principais escritores modernistas: Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.

Lavrador de café – Cândido Portinari Mulata – Di Cavalcanti

Page 11: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

11

QUESTÕES DE VESTIBULARES E EXAMES ANTERIORES (UFJF – 2009/2011) Todo o poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, é construído para expressar sua profunda crítica e aversão ao sistema da escravidão negra no Brasil. 1- Assinale a alternativa em que essa crítica dirige-se mais diretamente à nova nação: a) “Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...” b) “Por que foges assim, barco ligeiro? Por que foges do pávido poeta? Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Que semelha no mar — doudo cometa!” c) “Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!” d) “Diz do fumo entre os densos nevoeiros: ‘Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!...’” e) “Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão...”

(UFJF – 2009/2011) 2- Podemos afirmar que o sentido mais explorado pelo texto realista é a visão. Isso se justifica porque esses textos são fortemente marcados pela estrutura: a) narrativa. b) interjetiva. c) argumentativa. d) interlocutiva. e) descritiva.

(UFJF – 2009/2011) Leia o texto abaixo para responder às questões 3 e 4. Adormecida Uma noite eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes, Fazia-lhe ondear as negras tranças! E o ramo ora chegava, ora afastava-se... Mas quando a via despeitada a meio, P'ra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio...

Page 12: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

12

Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida:

"Ó flor! — tu és a virgem das campinas! "Virgem! tu és a flor da minha vida!..."

ALVES, Castro. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. 3- No poema de Castro Alves, a representação da mulher é feita através de um jogo de aproximação e afastamento dos elementos da natureza. A passagem que melhor indica a identidade entre a mulher e a natureza é: a) Uma noite eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... b) 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... c) Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... d) De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, e) Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... 4- No verso “naquela noite lânguida e sentida”, percebe-se: a) A projeção dos estados de alma românticos na natureza, típica do Romantismo. b) A noite como espaço que acentua a lucidez do poeta romântico. c) A caracterização de um espaço inadaptado à virgem adormecida. d) A proximidade da mulher amada marcada pelo demonstrativo “naquela”. e) A contradição entre a languidez da jovem adormecida e o sentimento do poeta. (UFJF – 2008/1ª fase) Leia, com atenção, o Texto VII, a seguir, para responder às questões 5 e 6. TEXTO VII “Há uma crise nos séculos como nos homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo e caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de ouro. O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem. Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias – isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia.” (Prefácio à Segunda parte da Lira dos vinte anos. In: AZEVEDO, Álvares de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 190) 5- No Texto VII, observa-se a constatação de que: a) o passado era uma época mais feliz para viver. b) o ser humano muda de acordo com a época. c) a época contemporânea tem mais recursos. d) a felicidade se confunde com a poesia. e) o poeta só trabalha com abstrações. 6- A tese central do Texto VII é: a) tema da poesia brasileira do século XIX. b) síntese das aspirações do romantismo brasileiro. c) apologia da poética de celebração da vida física. d) descrição da poesia nativa ligada à natureza. e) negação do desejo romântico de chegar ao Bem.

Page 13: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

13

(UFJF – 2009/2011) 7- Qual dos itens abaixo, presente na obra O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, melhor se contrapõe às concepções de mundo presentes na literatura romântica: a) Tratamento da sexualidade das personagens. b) Idealização da figura feminina. c) Intensa relação entre religião e natureza. d) Invocação da noite como espaço da fantasia. e) Defesa acalorada do celibato clerical. (UFJF – 2011/2013) Leia o trecho abaixo do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, para responder à questão. (...) Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. (...) ASSIS, Machado de. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 137. 8- A frase “e nem todos gostavam de ...” atribui ao texto um tom: a) irônico. b) realista. c) melancólico. d) revoltado. e) desgostoso. (UFJF – PISM I – 2010/2011) 9- Apesar de fixar costumes e valores da sociedade brasileira com realismo, o romance Memórias de um Sargento de Milícias não pode ser considerado um romance da Escola Realista. Assinale, dentre as opções abaixo, a que melhor indica convenções do Romantismo presentes no romance: a) O casamento de Leonardo e Luisinha. b) O namoro de Leonardo Pataca e Maria. c) O romance de Leonardo e Vidinha. d) As perseguições ao herói pelo major Vidigal. e) A presença das baianas na procissão religiosa. 10- (UFV-MG) Leia com atenção o seguinte poema de Cruz e Sousa: Sinfonias do Ocaso "Musselinosas como brumas diurnas. Descem do ocaso as sombras harmoniosas, Sombras veladas e musselinosas. Para as profundas solidões noturnas. Sacrários virgens, sacrossantas urnas, Os céus resplendem de sidéreas rosas, Da Lua e das Estrelas majestosas. Iluminando a escuridão das furnas.

Ah! Por estes sinfônicos ocasos. A terra exala aromas de áureos vasos, Incensos de turíbulos divinos. Os plenilúnios mórbidos vaporam [...] E como que no Azul plangem e choram. Cítaras, harpas, bandolins, violinos [...]"

SOUSA, Cruz e. Obra completa. Org. Andrade Murici. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1995. p. 86.

Page 14: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

14

Sobre o autor e o poema citados acima, é INCORRETA a afirmativa: a) O autor explora sensações impalpáveis, vagas; utilizando-se de linguagem hermética, difícil, busca expressar o belo e o sublime de um cenário mais interiorizado do que real. b) Cruz e Sousa, autor simbolista, faz uso do verso decassílabo, frequente também na poética parnasiana. c) No poema são intensamente explorados os sentidos da audição, visão e olfato, buscando transmitir ao leitor as impressões do eu lírico diante do por do sol. d) O poema apresenta uma visão subjetiva da natureza, em que o fenômeno do ocaso é mais sugerido que descrito. e) No poema, expressivo do ideal da “arte pela arte”, é evidente o repúdio ao subjetivismo e à emoção, pela utilização de vocabulário preciso e raro. 11- (UFV-MG) Leia atentamente os textos a seguir, escritos, respectivamente, pelos poetas Olavo Bilac e Cruz e Souza: Texto I "[...] E horas sem conta passo, mudo. O olhar atento, A trabalhar longe de tudo. O pensamento. Porque o escrever – tanta perícia, Tanta requer, Que ofício tal [...] nem há notícia. De outro qualquer. [...]" Texto II "[...] Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos. Com a chama ideal de todos os mistérios. Do sonho as mais azuis diafaneidades. que fuljam, que na Estrofe se levantem. e as emoções, todas as castidades. da alma do Verso, pelos versos cantem. [...]" A partir de uma reflexão sobre os fragmentos acima, assinale a afirmativa INCORRETA. a) O texto I está contido nos padrões estéticos do Parnasianismo por propor valores específicos da “Arte pela Arte”. b) O texto II insere-se na poética simbolista por priorizar elementos vagos, oníricos e, sobretudo, os mistérios da alma. c) O texto I é parnasiano por transformar o fazer poético em um ato consciente, de elaboração e aperfeiçoamento formais. d) Ambos os textos apresentam elementos de representação simbólica que estabelecem uma correspondência entre os mundos interior e exterior. e) O texto II é simbolista por sugerir uma poética voltada para valores metafísicos, transcendentais e subjetivos. 12- (UFPE/UFRPE 2004) Quais as características do Simbolismo que podem ser observadas nos versos abaixo? “Infinitos espíritos dispersos Inefáveis, edênicos, aéreos Fecundai o mistério destes versos

Page 15: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

15

Com a chama ideal de todos os mistérios” a) Subjetividade, cor local, amor sensual b) Nacionalismo, mitologia, impessoalidade c) Mistério, musicalidade, hermetismo d) Descrição da natureza, ironia, impessoalidade e) Racionalismo, religiosidade, versos livres. 13- (PUC-RS 2002) Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...

A vinculação do poema em questão ao Simbolismo revela-se pelas imagens e expressões plenas de ________, ________ e ________ . a) musicalidade, mistério e desvario b) descritivismo, musicalidade e erotismo c) imprecisão, sentimentalismo e religiosidade d) objetividade, erotismo e subjetivismo e) sentimentalismo, descritivismo e plasticidade (UFJF – 2011/2013) Leia o trecho do poema “Consideração do poema”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão. “Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis.” ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio. 1983, p. 109. 14- Neste trecho, o poeta rompe, formal e tematicamente, com uma das principais tradições no fazer poético. Qual? a) rima. b) métrica. c) figurativo.

d) aliteração. e) sentimentalismo.

(UFJF – 2011/2013) Leia o poema abaixo para responder à questão. Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração.

Page 16: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

16

Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! PESSOA, Fernando. Antologia poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 28. 15- O fato de não usar o coração aponta para: a) a incapacidade do poeta de sentir qualquer emoção de verdade. b) o fato da escrita poética ser um trabalho de elaboração e não de inspiração. c) a necessidade do leitor decifrar o sonho do poeta, que precisa fingir. d) a falsidade do poeta, que escreve sobre algo do qual não sabe nada. e) a explicitação do sentimento fraterno do poeta. (UFJF – 2011/2013) Leia os textos abaixo para responder às questões 16 e 17. Nel mezzo del camim... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo. (BILAC, Olavo. Poesias. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 127.) No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. (ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983, p. 15.)

Page 17: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

17

16- O título do soneto de Olavo Bilac está em italiano, pois faz a citação, no original, do primeiro verso de um famoso poema de Dante Alighieri, A Divina Comédia, no qual se lê “Nel mezzo del camin de nostra vita / mi retrovai por una selva oscura”, cuja tradução pode ser “No meio do caminho de nossa vida / me encontrava numa selva escura”. Da mesma forma, o poema de Carlos Drummond de Andrade dialoga, através de uma relação de intertextualidade, diretamente com o soneto de Olavo Bilac. Considerando o tipo de referência de cada um dos poetas, é correto afirmar que: a) Os poetas do modernismo criam a partir da existência de uma tradição literária brasileira já consolidada. b) Devido à sua vocação nacionalista, Carlos Drummond de Andrade se recusava a citar autores em língua estrangeira. c) A liberdade criativa almejada pelos poetas parnasianos os leva a buscar referências em poetas clássicos da literatura universal. d) Os poetas parnasianos recusam as conquistas relacionadas ao nacionalismo literário dos românticos e buscam influências estrangeiras. e) Para os modernistas brasileiros, não havia tradição literária que pudesse servir de inspiração, pois pretendiam começar tudo do zero. Releia os versos. “Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha.” “No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho” 17- O texto de Carlos Drummond de Andrade elabora, em sua forma, as referências ao texto de Bilac. Baseado nos versos acima, o elemento formal que melhor evidencia a aproximação entre o poema de Drummond e o soneto de Bilac é: a) a rima perfeita. b) a percepção irônica. c) a estrutura das frases.

d) o uso de metáforas. e) a ausência de pontuação.

18- (UFPE/UFRPE – 2006) O Modernismo no Brasil teve três fases, e podemos dizer que cada um dos poetas abaixo representa uma dessas fases, conforme se descreve nas proposições abaixo: 1) Manuel Bandeira foi um dos pioneiros do Modernismo. Compôs o poema Os Sapos, para a Semana de Arte Moderna de 22. 2) Carlos Drummond de Andrade, da segunda fase do Modernismo, tem como um dos temas freqüentes o desajustamento do indivíduo no mundo. 3) João Cabral de Melo Neto pertenceu à chamada geração de 45. Entre as características de sua poesia estão o racionalismo, a lógica e o rigor formal, o que não o impede de fazer denúncia social. Está(ão) correta(s): a) 1, 2 e 3 b) 2 e 3 apenas c) 1 apenas

d) 1 e 2 apenas e) 1 e 3 apenas

19- (UFV- MG) Observe com atenção o poema de Carlos Drummond de Andrade: Poesia “Gastei uma hora pensando um verso Que a pena não quer escrever. No entanto, ele está cá dentro Inquieto e vivo. Mas a poesia deste momento Inunda minha vida inteira.”

Page 18: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

18

ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 20. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que NÃO corresponde a uma interpretação possível do texto: a) O poema transcrito acima propõe, através do verso livre, abdicar do rigor formal que caracterizou a poesia parnasiana. b) Os dois últimos versos do poema sugerem o silêncio como o momento especial que leva o eu-lírico a captar a essência de sua poesia. c) O texto contém algumas reflexões do poeta mineiro em relação ao próprio fazer poético. d) O poema de Drummond ilustra a angústia do escritor ante as limitações que a forma impõe ao fluxo livre de seu pensamento. e) A forte presença de antíteses e hipérboles evidenciam a ressonância de alguns aspectos românticos na criação do poeta modernista. (UNIFAL – 2001) Leia o seguinte poema de Manuel Bandeira e responda às questões 20 e 21: Nova poética Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. Sei que a poesia é também orvalho. Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. p. 287. 20- Em “Nova poética”, estão presentes algumas tendências inovadoras propostas pelo movimento modernista, EXCETO: a) a opção pela poesia pautada por temas “sujos”, em detrimento da pureza dos temas idílicos. b) a visão crítica do poeta, apresentando uma nova forma de arte literária através do discurso metalinguístico. c) a linguagem futurista, expressão do homem moderno, ao ritmo da máquina e da velocidade. d) a rejeição ao Parnasianismo, pela desobediência às formas clássicas de versificação. e) a elaboração de uma nova linguagem, mais simples e dinâmica, a partir da observação do cotidiano. 21- Em relação ao poema “Nova poética”, de Manuel Bandeira, é INCORRETO afirmar que: a) o “poeta sórdido” seria aquele que privilegiasse em seus versos a marca suja da vida humana, olhando criticamente a sociedade e denunciando os males da modernidade. b) ao afirmar que “O poema deve ser como a nódoa no brim”, o poeta sugere a total rejeição ao lirismo romântico que, ao suscitar o encantamento, o sonho e a paixão, só é capaz de provocar sentimentos alienantes e dispensáveis à vida e ao ritmo do homem moderno. c) o poema funde à linguagem poética o discurso narrativo, buscando expressar melhor a realidade do homem moderno, sugerindo a necessidade do dinamismo e da constante atualidade dos versos, para expressar o drama do ser humano, vítima da própria engrenagem da vida moderna. d) segundo o poeta, a poesia deve “Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.”, ou seja, é preciso que os versos incomodem, provoquem alguma mudança na consciência do leitor.

Page 19: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

19

e) o poeta não rejeita totalmente a poesia sobre os temas sublimes, mas nos versos finais, ao referir-se à poesia “que é também orvalho”, destila, em fina ironia, o desprezo pelas manifestações poéticas já consagradas. 22- Leia os poemas a seguir e assinale a alternativa INCORRETA. "Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. Eu faço versos como quem morre." Manuel Bandeira. "Desencanto".

"Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três...trinta e três...trinta e três... - Respire. ................................................................................ - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino." Manuel Bandeira. "Pneumotórax".

a) "Pneumotórax" é composto de versos livres e brancos e apresenta um ritmo modernista que contrasta com a cadência tradicional dos versos rimados e metrificados de "Desencanto". b) "Pneumotórax", publicado em "Libertinagem", apresenta em um estilo irônico e humorado a questão da morte, tema que permeia grande parte da poesia modernista de Bandeira. c) "Desencanto", publicado em "A cinza das horas", poema escrito em um estilo impregnado de ressonâncias parnasiano-simbolistas, destoa do estilo modernista de "Pneumotórax". d) "Desencanto" é um metapoema marcado pelo humor e ironia que constituem o maior traço estilístico da lírica modernista brasileira. 23- (FUVEST) É correto afirmar que no poema dramático Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto: a) A sucessão de frustrações vividas por Severino faz dele um exemplo típico de herói moderno, cuja tragicidade se expressa na rejeição à cultura a que pertence. b) A cena inicial e a final dialogam de modo a indicar que, no retorno à terra de origem, o retirante estará munido das convicções religiosas que adquiriu com o mestre carpina. c) O destino que as ciganas preveem para o recém-nascido é o mesmo que Severino já cumprira ao longo de sua vida, marcada pela seca, pela falta de trabalho e pela retirada. d) O poeta buscou exprimir um aspecto da vida nordestina no estilo dos autos medievais, valendo-se da retórica e da moralidade religiosa que os caracterizam. e) O “auto de natal” acaba por definir-se não exatamente num sentido religioso, mas enquanto reconhecimento da força afirmativa e renovadora que está na própria natureza. 24- (PUCCAMP) A leitura integral de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, permite a correta compreensão do título desse “auto de natal pernambucano”: a) Tal como nos Evangelhos, o nascimento do filho de Seu José anuncia um novo tempo, no qual a experiência do sacrifício representa a graça da vida eterna para tantos “severinos”.

Page 20: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

20

b) Invertendo a ordem dos dois fatos capitais da vida humana, mostra-nos o poeta que, na condição “severina”, a morte é a única e verdadeira libertação. c) O poeta dramatiza a trajetória de Severino, usando o seu nome como adjetivo para qualificar a sublimação religiosa que consola os migrantes nordestinos. d) Severino, em sua migração, penitencia-se de suas faltas, e encontra o sentido da vida na confissão final que faz a Seu José, mestre capina. e) O poema narra as muitas experiências da morte, testemunhadas pelo migrantes, mas culmina com a cena de um nascimento, signo resistente da vida nas mais ingratas condições. (UFJF – PISM I – 2010/2012) Leia o trecho abaixo para responder a questão: “Na leitura de jornais brasileiros nos dias atuais, agrada-me o avanço da liberdade de linguagem, os palavrões deixaram de existir, quer dizer deixaram de ser considerados como tais. Os vocábulos ditos cabeludos já não passam de palavras normais, desaparecido o preconceito que os discriminava, a censura que os proibia.” AMADO, Jorge. Navegação de cabotagem. São Paulo: Círculo do Livro, 1992, p. 53. 25- Considerando a leitura do fragmento acima, com relação à linguagem do romance Capitães da areia, pode-se afirmar que: a) A fala dos personagens reproduz artificialmente a linguagem popular. b) O autor incorpora em seu texto palavras de baixo calão para chocar a opinião pública. c) A linguagem narrativa busca uma aproximação da coloquialidade. d) A citação de recortes de jornais ao longo da narrativa objetiva dar veracidade aos fatos narrados. e) O narrador evidencia forte antipatia pelos meninos de rua. (UFJF – PISM I – 2010/2011) 26- Pode-se dizer que o discurso do romance Capitães da areia é marcado pela descrição. É possível afirmar que tal característica se aproxima mais do: a) Romantismo b) Realismo c) Simbolismo d) Modernismo e) Naturalismo 27- (UFJF – 2011/2013) Leia o poema abaixo para responder à questão. Vícios na fala Para dizerem milho, dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados (Oswald de Andrade. Poesias reunidas. In.: Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 47.) a) De quem o poeta está falando? (Limite sua resposta a 1 linha.) b) Leia o fragmento abaixo do texto “Manifesto da poesia pau-brasil”, de Oswald de Andrade : “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.” (Oswald de Andrade. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 86.) Qual a relação entre o poema e o que defende o poeta no trecho do texto Manifesto da poesia pau-brasil, em que ele apresenta suas orientações para a escrita poética no Brasil? (Limite sua resposta a 4 linhas)

Page 21: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

21

28- (UFJF – 2011/2013) Leia o trecho abaixo, do conto “Um cinturão”, de Graciliano Ramos, para responder à questão. “As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural. (...) Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras. Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo. Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação. (...) Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as consequências delas me acompanharam. O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira. (...) Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. (...) O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível. Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.” (RAMOS, Graciliano. Infância. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1984, pp. 45-47.) Releia os trechos. a) “Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada.” b) “Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas.”

Page 22: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

22

Agora leia as definições abaixo. Neblina s. f. 1 névoa baixa e fechada; nevoeiro 2 fig. ausência de luz, escuridão. Nebuloso adj. 1 coberto de névoa, de nuvens; nebulento, nevoeirento, nevoento 2 p. ext. que indica tempestade iminente; ameaçador, incerto 3 p.ana. que não é límpido ou transparente; turvo, opaco 4 p.metf. sem definição; indistinto 5 p.metf. difícil de entender; obscuro, incompreensível. (HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 2007.) Nos dois trechos o autor utilizou-se da imagem da neblina para tentar apresentar aspectos da situação vivida. Explique o que representa a imagem da neblina em cada uma das cenas. (Limite sua resposta a 5 linhas). 29- Considere os textos a seguir. TEXTO A "Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado [...] Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." Manuel Bandeira. "Poética". TEXTO B "Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação." Manuel Bandeira. "O último poema". Tendo em vista os trechos acima, faça o que se pede. a) Cite e comente uma proposta poética que apareça tanto no texto A quanto no B. (Limite sua resposta a 3 linhas) b) A partir da proposta poética apresentada, aponte dois recursos formais que confirmam esta proposta, comentando-os.(Limite sua resposta a 1 linha) 30- Leia os textos para responder a questão: TEXTO I AMOR! DELÍRIO – ENGANO Amor! Delírio – Engano... Sobre a terra Amor também fruí; a vida inteira Concentrei num só ponto – amá-la, e sempre. Amei! – dedicação, ternura, extremos Cismou meu coração, cismou minha alma, – Minha alma que na taça da ventura

Vida breve d’amor sorveu gostosa. Eu e ela, ambos nós, na terra ingrata Oásis, paraíso, éden ou templo Habitamos uma hora; e logo o tempo Com a foice roaz quebrou-lhe o encanto, Doce encanto que o amor nos fabricara. .................................................................

Gonçalves Dias. Poesia e prosa completas. Vocabulário:

Page 23: LITERATURA PISM II

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

23

Roaz - que consome, destrói; destruidora, devastadora TEXTO II RECEITA PARA NÃO ENGORDAR SEM NECESSIDADE DE INGERIR ARROZ INTEGRAL E CHÁ DE JASMIN Pratique o amor integral uma vez por dia desde a aurora matinal até a hora em que o mocho espia.

Não perca um minuto só neste regime sensacional. Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó, que seja pó de amor integral.

Carlos Drummond de Andrade. Poesia errante Vocabulário: Mocho – abreviação de mocho-carijó (coruja-do-mato) O poema de Gonçalves Dias é romântico e o de Drummond é modernista. No que se refere ao tratamento do tema amoroso, aponte uma diferença entre os poemas, que também seja diferença entre os estilos romântico e modernista. (Limite sua resposta a 3 linhas)