195

Livro Agenda Bahia 2013

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Em sua quarta edição, o projeto Agenda Bahia foi realizado em 2013, pelo jornal Correio e rádio CBN, com o apoio da FIEB. Com o objetivo de debater o desenvolvimento sustentável do Estado e apontar diretrizes para esta década, o Agenda Bahia reuniu novamente grandes especialistas e empresários nacionais e locais para tratar, em quatro dias de seminário, de temas indispensáveis para o desenvolvimento da Bahia. Os temas abordados pelo Agenda Bahia – Desenvolvimento Turístico, Regional, Sustentável e Produtivo – tiveram diferentes focos de discussões em 2013: Muito Além da Copa, Novos Centros, Resíduos Sustentáveis e Semiárido Produtivo, respectivamente. Além das palestras, o evento contou com tempo para perguntas da plateia e debates, realizados sempre ao final da manhã e da tarde. Ao fim da 4ª edição, as ideias apresentadas nos seminários Agenda Bahia 2013 serão levadas às autoridades públicas, com propostas de mudanças e diagnósticos do cenário atual.

Citation preview

AgendaBAHIACompromisso com o futuro

AgendaBAHIACompromisso com o futuro

Realização:

Patrocínio Global:

Patrocínio Trade:

Apoio:

Apoio Institucional:

Para um mundo melhor, não pode faltar inspiração.Novo Programa Petrobras Socioambiental. Um investimento de 1,5 bilhão de reais em transformações.—

Novo Programa Petrobras Socioambiental. Fonte de inspiração. Fonte de transformação.

Estamos lançando o Programa Petrobras Socioambiental,

que vai investir, até 2018, 1,5 bilhão de reais em projetos que

integram meio ambiente, educação, trabalho e renda, esporte

e direitos da criança e do adolescente. Tudo para construir um

futuro melhor para você e para o país.

Gente. É o que inspira a gente.

petrobras.com.br/socioambiental

AN 42x29,7 Petrobras PPSA 2013 PORT.indd 1 17/01/14 17:16

17/01/2014 - 17:0198925_F/Nazca Rio_420x297

Braskem. Uma empresaque acredita nas pessoase em iniciativas compotencial transformador.Inclusão social, educação ambiental e incentivo cultural são pilares

de desenvolvimento sustentável que fazem parte da estratégia

de atuação responsável da Braskem. Na Bahia, essa estratégia

se traduz no apoio a projetos com potencial transformador. No

âmbito social, a Braskem realiza o projeto Reciclagem e Cidadania,

contribuindo para a produtividade das cooperativas de catadores

e para a reciclagem dos resíduos plásticos pós-consumo. Na área

ambiental, patrocina o projeto Fábrica de Florestas, que atua na

educação ambiental e no restauro da Mata Atlântica na Costa dos

Coqueiros. No campo da cultura, promove, há mais de 20 anos,

o Prêmio Braskem de Teatro, a maior iniciativa de valorização

do teatro baiano, estimulando o surgimento de novos talentos.

Braskem. Um mundo mais equilibrado se faz com novas ideias.

braskem.com

ANR 420x297mm SUSTENTABILIDADE BRASKEM.indd 1 1/13/14 11:13 AM

ANR 420x297mm CAMPANHA POLO 35 ANOS.ai 1 1/9/14 4:47 PM

Metropolitana de Salvador: Subestações de Arembepe,Guarajuba, Praia do Forte, Mata de São João,Fonte Nova, Patamares, Retiro.

Sul: Subestações de Oiticica, Itapé, Prado,Valença, Morro de São Paulo, Teixeira de Freitas,Monte Pascoal, Serra Grande, Olivença, Uruçuca.

Centro Sul: Subestações de Riacho de Santana,Presidente Jânio Quadros, Palmas de Monte Alto,Livramento de Brumado, Guanambi, São Manoel,Caetité, Vitória da Conquista, Anagé, Cascavel II.

Oeste: Subestações de Rio das Éguas,Rio do Meio, Rio Itaguari, Mundo Verde,São Desidério, Coribe.

Vale São Francisco: Subestações de Abaré,Baixio de Irecê II, Baixio de Irecê III, Salitre III,Salitre IV, Serra Branca, Centro Industrial de Juazeiro.

Centro Norte: Subestações de Amélia Rodrigues,Feira II, Subaé, Centro Industrial de Feira,Santa Mônica, Itiúba, Rafael Jambeiro, Ipuaçu.

Nordeste: Subestações de Alagoinhas,Monte Santo, Jeremoabo, Queimadas II.

Mais grãosna região Oeste,mais minériono Centro Sul,mais cacaue dendê no Sul.E, claro, para tudoisso acontecer:mais investimentosda Coelba emtodo o estado.

A Coelba é uma das concessionáriasque mais avançou na distribuição de energiaem todo o Brasil. Avançou em volumede investimentos: R$ 5 bilhões nos últimos 5 anos. E avançou na ampliação e criação de novas subestações por todo o estado.Tudo para atender a mais de 5 milhões de clientes.Tanto avanço, só poderia resultar tambémno crescimento da economia, da produtividadee, claro, da melhoria na qualidade de vidade toda a Bahia. Essa é a energia da Coelba:uma força que impulsiona o desenvolvimentoda Bahia e dos baianos.

16 17

Sumário

Apresentação ...............................................................................................21

Desenvolvimento turístico ............................................................ 24

Com a Bahia na ponta da língua......................................................... 25

Propostas apresentadas no seminário ........................................ 26

Novos embaixadores ............................................................................. 30

‘Só a Bahia não tem vergonha do turismo’ ................................. 35

Manifestações não afetam imagem do Brasil ......................... 40

Pacote para São João ............................................................................. 46

Muito além de samba e futebol ......................................................... 48

Tão potente quanto um carro alemão ........................................... 52

Os erros e acertos da África do Sul ................................................. 58

Sem receber um tostão ........................................................................ 64

Dever de casa ............................................................................................. 69

Capacitação dá upgrade profissional ............................................. 74

Eles ganharam o jogo ............................................................................. 80

O charme dos estádios .......................................................................... 86

Fim da novela .............................................................................................. 90

Ônibus até de madrugada nos bairros mais boêmios ........... 93

Campanha pela cidade ........................................................................... 98

Voos e qualificação ................................................................................. 104

Novos negócios pela internet ........................................................... 107

Jogo limpo .....................................................................................................113

Cultura e meio ambiente .......................................................................117

Desenvolvimento regional ............................................................ 122

Conexão urbana ....................................................................................... 123

Propostas apresentadas no seminário ....................................... 124

Os desafios da descentralização..................................................... 128

‘População educada transforma seu território’ ...................... 134

Muito atrás de outros países ............................................................. 139

O efeito no mercado de trabalho ..................................................... 140

Apagão da mão de obra ....................................................................... 142

A transformação das cidades .......................................................... 148

A retomada do Recôncavo ................................................................. 152

O que dá liga ................................................................................................ 158

A força interior .......................................................................................... 163

Exemplo alemão ....................................................................................... 169

Salvador 500 anos .................................................................................. 175

Economia sustentável .......................................................................... 176

O interior em foco .................................................................................... 178

Aposta em regiões mais fortes no estado ................................ 182

A força natural atrai novos investimentos ................................ 183

A polêmica do fim dos incentivos fiscais ..................................... 186

18 19

Os gargalos que atrasam .................................................................... 190

Infográfico: Brasil, país das desigualdades (ainda) ................. 194

Exemplo que vem do Polo .................................................................. 196

Polo de Camaçari terá 17 mil vagas até 2015 ............................ 201

Crescimento mais equilibrado ..........................................................206

Maior segurança energética..............................................................209

Desenvolvimento sustentável ................................................. 212

Nova chance para o Brasil ................................................................... 213

Propostas apresentadas no seminário ....................................... 214

Novo olhar ................................................................................................... 217

A responsabilidade é de todos......................................................... 218

‘Os preços têm de conter o custo ambiental’ ...........................222

O preço da felicidade ..............................................................................227

Novos valores ...........................................................................................229

194 Maracanãs de lixo no lugar errado ......................................... 231

Consumidores mais conscientes ....................................................238

Lixão no paraíso .......................................................................................243

Novos planos para Boipeba ................................................................248

Caso de prisão ...........................................................................................250

O mercado dos descartáveis ............................................................256

O ciclo está incompleto ........................................................................259

Ajuda para os municípios ..................................................................... 261

‘Tenho todos os clientes do planeta’ .............................................262

Novo jeito de consumir .........................................................................264

Lixo extraordinário .................................................................................269

O destino das embalagens .................................................................274

Exemplo paulista ......................................................................................276

De olho no Mercosul ...............................................................................279

Resíduo gera energia para 300 mil casas ................................... 281

Infográfico: Economia sustentável.................................................286

Educação ambiental ...............................................................................288

Certificação para a produção verde ..............................................289

Estímulo para as empresas ................................................................290

Aterro compartilhado é a melhor solução ................................. 291

Lixo reciclável dá desconto na conta ...........................................292

Mil e uma utilidades ................................................................................294

Projetos socioambientais terão R$ 1,5 bi ...................................298

Um Brasil de produtos sustentáveis ............................................. 301

Desenvolvimento produtivo .......................................................304

O Sertão pode mais ................................................................................305

Propostas apresentadas no seminário .......................................306

Mais desenvolvimento .........................................................................309

As duas Bahias .......................................................................................... 310

Os desafios do Sertão .......................................................................... 317

20 21

Por uma Bahia mais competitiva

Desenvolvimento, palavra que sugere planejamento, movimento, ação. Estratégia que exige investimento, educação e inovação. O Fórum Agenda Bahia 2013 ampliou o debate sobre o futuro do estado. Apresentou o tema Desenvolvimento como transversal aos quatro seminários e trouxe para a Bahia uma pauta atual e relevante para contribuir com o crescimento sus-tentável do estado.

O primeiro seminário desta quarta edição foi Desenvolvimento Turístico. O debate Muito Além da Copa, oito meses antes do maior evento esportivo do planeta, abriu pela primeira vez a série de seminários do Fórum Agenda Bahia. Realizado no palco dos jogos, a Arena Fonte Nova, reuniu um time de peso para apresentar soluções para os dilemas de qualquer cidade turística às vésperas de um grande evento: como atrair para a Bahia o visitante que chegará embalado pelo futebol. E, principalmente, como fidelizá-lo, tornando sua volta garantida depois da festa?

O publicitário e criador do site Viaje na Viagem, Ricardo Freire, abriu o Fórum com uma provocação: o brasileiro deveria ser embaixador do seu país nos quatro cantos do mundo. “Devemos parar de falar mal do Brasil. Nenhum estrangeiro faz isso com seu país”, explicou. O motivo é simples: a indústria do turismo, como lembrou o empresário Guilherme Paulus, criador da CVC, maior agência de turismo da América Latina, movimenta uma cadeia im-portante na economia de cidades como Salvador, cuja receita é fortemente impactada por esse segmento.

Os exemplos apresentados pelo Fórum mostram que o investimento vale a pena. Reportagem especial produzida pelo Correio revelou que, na Alemanha do pós-Copa de 2006, as riquezas acumuladas pelo Produto Interno Bruto (PIB) do turismo equiparam-se às de grandes indústrias, como a automobilística. O planejamento alemão seguiu diversas etapas. O Brasil teve atenção especial nessa estratégia. Tanto que o número de per-noites de brasileiros (só para citar um exemplo), que em 2005 era de 245 mil, atualmente chega aos 700 mil.

O setor turístico na Bahia movimenta em torno de R$ 7,8 bilhões por ano, o que equivale a 5,7% de todo o PIB do estado. Mas, para os palestrantes e debatedores que participaram do seminário, a Bahia pode multiplicar esse resultado. Além de suas belezas naturais, tem muito mais para vencer de destinos tradicionais: oferece ainda história, cultura, simpatia de seu povo e clima favorável, longe dos furacões do Caribe, um dos seus principais concorrentes como destino sol e mar. Uma das sugestões apresentadas no Fórum, aliás, foi pela união de esforços. O Nordeste deveria liderar uma

‘O Semiárido pode produzir e viver com mais qualidade’ ...323

O verde que muda o Sertão ...............................................................328

Sertão que dá certo ...............................................................................334

De Uauá para a Europa..........................................................................336

Eles driblaram a seca .............................................................................337

Valorizar o sertanejo .............................................................................. 341

Bons ventos para o Semiárido .........................................................343

Investimento no morador ...................................................................345

Caminhos para conviver com a seca .............................................348

Tecnologia: aliada para todas as horas .........................................349

Infográfico: Semiárido baiano ...........................................................352

Tesouro da Bahia .....................................................................................354

A peso de ouro .......................................................................................... 361

Uma lei no meio do caminho ..............................................................363

À procura de profissionais ..................................................................366

Recursos dobrados para agricultores ..........................................369

Captação de água para 51 municípios ...........................................374

Zonas ecológicas e produtivas .........................................................376

Menor custo com estufa plástica ...................................................379

Expediente ........................................................................................... 381

22 23

campanha, assim como faz o Caribe, para promover seus principais destinos no mundo. Os especialistas destacaram que, apesar de ter tantos fatores favoráveis, as cidades baianas precisam também oferecer melhor infraes-trutura turística: de sinalização ao transporte público, de recuperação de seu patrimônio histórico à qualificação de quem, pelo menos, está na linha de frente com os visitantes. Durante o seminário, as autoridades da pasta de Turismo (federal, estadual e municipal) assumiram compromissos para in-crementar o destino Bahia (confira no capítulo desse seminário, que começa na página 24). Parte das ações, garantem, já estará pronta para a Copa do Mundo com a intenção de fidelizar o visitante.

No seminário Desenvolvimento Regional, tema Novos Centros, os especia-listas apresentaram a importância do investimento em cidades médias para reduzir as desigualdades sociais e regionais da Bahia e promover o desen-volvimento também no interior. A concentração na Região Metropolitana de Salvador acontece pelos déficits em educação, infraestrutura e serviço no interior do estado.

Planejar a integração dos municípios vizinhos baianos, através do inves-timento em infraestrutura, e diversificar as atividades produtivas são es-senciais para o desenvolvimento sustentável dos novos centros, segundo palestrantes e debatedores. E mais: dar atenção especial à Educação, prin-cipalmente à Educação básica, será o diferencial de uma região. Apesar de atrair novas empresas para o estado, a Bahia tem enfrentado problemas no mercado de trabalho: a baixa qualificação dos profissionais se reflete até mesmo em operações simples, como a compreensão de manuais de trabalho.

O consultor internacional Claudio Frischtak citou os exemplos da Índia e da Coreia do Sul que surpreenderam o mundo com seus resultados, após terem apostado em todos os níveis da educação – e também inovação – em seus países. População educada, como lembrou Frischtak, transforma seu ter-ritório. Regiões mais fortes aumentam sua competitividade em um mundo cada vez mais globalizado.

O efeito vem em cascata. O investimento no interior pode diminuir, inclusi-ve, o fluxo migratório para a capital, reduzindo o Custo Salvador e colabo-rando para melhoria nos serviços oferecidos. Tanto o prefeito ACM Neto quanto o governador Jaques Wagner e seus secretários anunciaram ações relevantes, no Fórum Agenda Bahia, para incrementar a economia baiana e promover melhor qualidade de vida para os baianos (confira a partir da página 122, no capítulo de Desenvolvimento Regional).

Resíduos Sustentáveis, tema do seminário Desenvolvimento Sustentável, trouxe a Política Nacional de Resíduos Sólidos para o debate na Bahia. Considerada um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, a nova lei

lança uma visão moderna na luta contra um dos maiores problemas do planeta: o lixo urbano. Tendo como princípio a responsabilidade comparti-lhada entre governo, empresas e população, a legislação estimula a gestão integrada dos resíduos, com o incentivo, inclusive, do reaproveitamento dos produtos do pós-consumo e da recuperação energética do lixo.

O Brasil despeja 27,8 milhões de toneladas de lixo sólido em destinos ina-dequados, o suficiente para encher 194 estádios do tamanho do Maracanã. Para promover essa transformação, o maior desafio do país é investir em novas práticas, em todos os segmentos da sociedade. O PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Eduardo Giannetti insistiu que a mudança de hábito só virá com a adoção de um novo sistema de preços, que inclua o custo da emissão de carbono no processo de produção. Outros especialistas sugeriram, ainda, agregar valor ao lixo para criar soluções cada vez mais sustentáveis ao Brasil.

O Brasil tem muito a fazer: se todo o lixo produzido fosse reciclado, em vez de seguir para aterros e lixões, poderia gerar receita de mais de R$ 8 bilhões por ano, oito vezes mais do que se lucra hoje, cerca de R$ 1 bilhão. A Bahia também precisa avançar nessa área: são mais de 359 lixões a céu aberto e pouco menos de 60 aterros sanitários, de acordo com dados de 2011. Um novo mercado se cria com as regras da PNRS, oportunidade que pode ser melhor aproveitada pela Bahia, alertaram os palestrantes.

Em Desenvolvimento Produtivo, último seminário realizado em 2013, o tema Semiárido Produtivo apresentou exemplos de dentro e fora do país. As iniciativas só confirmaram, segundo os especialistas, a potencialidade do sertão baiano. Além do agronegócio, outras atividades, como minera-ção, energia eólica e turismo, podem ser melhor exploradas para integrar o estado à região, que concentra a maior parte do território do estado, mas só produz 28% da riqueza da Bahia.

Entre os exemplos, Múrcia, na Espanha, onde chove menos do que a metade na região árida da Bahia. Mas, ao investir na gestão dos recursos hídricos, com tecnologia, inovação e infraestrutura, tornou-se conhecida como a

“horta da Europa”, responsável por 20% das exportações daquele país. A baiana Uauá também ganhou destaque por beneficiar o umbu e vender o ano todo, inclusive para a Europa, os doces da fruta.

O Fórum Agenda Bahia, uma realização do jornal Correio e da rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), tem a honra de apresentar neste livro o conteúdo das palestras e debates e ainda das reportagens especiais sobre os temas debatidos nos quatro dias de semi-nários. Em 2014 tem mais.

25

Turismo

*Desenvolvimentoturístico

O boca a boca sempre foi a melhor propaganda. Em tempos de internet, as redes sociais deram uma dimensão global para os melhores - ou mais polêmicos - comentários e, assim, uma marca,

um destino ou um artista podem ir do céu ao inferno em poucas horas. Durante o primeiro seminário do Fórum Agenda Bahia deste ano, Muito Além da Copa, tema de Desenvolvimento Turístico, os especialistas con-vidados defenderam uma nova campanha para estimular o brasileiro a receber de braços abertos os visitantes estrangeiros. Mais do que isso: incentivar o povo a ser o melhor marqueteiro do Brasil com os turistas nos bares, nas esquinas do mundo, nas mídias sociais.

“Precisamos ser embaixadores do país, embaixadores da Bahia”, defendeu Ricardo Freire, publicitário e criador do site Viaje na Viagem, que abriu o seminário na Arena Fonte Nova. “Lá fora, ninguém fala mal da sua terra”, observou. Freire lembra que cada dólar deixado no país alimenta uma cadeia importante da economia brasileira - de hotéis, táxis a baianas de acarajé. Ainda mais na Copa do Mundo, que tanto a Bahia quanto o país estarão na vitrine do mundo.

Também palestrante do Agenda Bahia, o empresário Guilherme Paulus lançou uma outra ideia: os artistas baianos deveriam se unir para levantar a autoestima da cidade. Criador da CVC, maior agência de turismo da América Latina, e hoje presidente do Grupo GJP, Paulus tem a convicção de que a Bahia pode se tornar o principal destino turístico do país. Mas, para isso, precisa investir em serviço e infraestrutura.

O Fórum reuniu ainda os três secretários de Turismo (dos governos muni-cipal, estadual e federal) que prometaram uma série de medidas para uma nova era para o turismo baiano. O conteúdo de todas as palestras e dos painéis está neste caderno. O Fórum Agenda Bahia está só começando. Dia 6 tem mais: dessa vez na Federação das Indústrias do Estado da Bahia - Fieb. Até lá.

Com a Bahia na ponta da língua

26 27

Elaboração de um projeto para planejar a Salvador dos próximos anos. Fundador da CVC e presidente do Grupo GJP, Guilherme Paulus sugeriu a Salvador de 2030, programa que pudesse ser respeitado, independentemente de quem

estivesse no poder, e transformasse a capital da Bahia em uma referência no turismo

Investir na infraestrutura urbana, inclusive na mobilidade dos moradores e, por consequência, dos turistas. Priorizar o transporte público, como o metrô e faixas exclusivas para ônibus

Modernizar e ampliar aeroporto, a principal porta de entrada da Bahia

Vender chip com internet rápida já nos aeroportos: ação permitirá que turista divulgue imagens e informações sobre o país desde a hora em que desembarca

Mudar o foco da campanha do Brasil no exterior, ainda muito vinculada ao samba e futebol. Para os palestrantes do Fórum Agenda Bahia, outras características nacionais deveriam ser valorizadas nas peças de campanha

Entre os temas, turismo religioso, turismo sol e mar (com tanta beleza natural

diversificada), turismo náutico, turismo cultural

Ao apostar no turismo sol e mar, inclusive, o Brasil, avaliam os especialistas, tem grande oportunidade de ganhar as atenções do visitante internacional, atualmente

mais voltada para praias concorrentes, como as do Caribe

Assim como aconteceu com o Caribe, Nordeste deveria se unir em uma

campanha internacional de divulgação de seus principais destinos

A Bahia, além da beleza natural, deve apostar também na história do estado como atrativo turístico durante a Copa. “O Brasil nasceu na Bahia e isso é uma imagem bonita para o mundo”, lembra André Coelho, pesquisador da Fundação Getulio Vargas

Investir na sinalização e infraestrutura turística para que o visitante se sinta seguro ao circular pela cidade

Melhorar a microacessibilidade à Arena Fonte Nova, mesmo que as obras de infraestrutura pela mobilidade da cidade não tenham sido concluídas até o Mundial

Propostas apresentadas no seminário

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

**

*

*

*

*

*

*

*

Fiscalizar e conscientizar taxistas contra cobranças abusivas. Com transporte

público precário em Salvador, esses profissionais serão muitas vezes os guias informais dos turistas e precisam passar uma boa imagem da cidade

A mesma ação vale para os setores como hotéis, bares e restaurantes. Na África do Sul, lembraram os especialistas, os turistas reclamaram dos preços altos, um dos fatores para público ser menor do que o esperado para o evento

Apostar não apenas na simpatia do baiano. Capacitação dos profissionais é fundamental para melhor oferecer serviços de qualidade e fidelizar os turistas

Promover e divulgar no exterior as ações para a Copa, como festas e

diversão em vários cantos das cidades, para que mesmo quem não tem ingresso para os jogos da Copa ganhe interesse de visitar o Brasil nessa época do ano. Para Ricardo Freire, do site Viaje na Viagem, uma maneira de fidelizar o

turista com uma imagem da alegria, bem positiva

Mobilizar a população brasileira para que receba bem os turistas. A indústria do turismo gera empregos e movimenta uma imensa cadeia produtiva, com reflexos em várias atividades da economia

A Bahia, sugere Ricardo Freire, deveria liderar a campanha do PIB da Alegria, uma alusão ao Produto Interno Bruto, mas com uma riqueza própria do estado. “A Bahia é mais colorida, mais intensa e pode puxar essa dianteira”, acredita Freire

Ricardo Freire sugeriu que o povo brasileiro seja uma espécie de embaixador do seu país em cada canto do mundo e mostre o que há de melhor de cada região

Aproveitar a oportunidade para divulgar os principais destinos da Bahia, apontado como o único estado com tantos roteiros tão relevantes. Criar o desejo de retorno do visitante ao estado

A divulgação, lembraram os palestrantes, deve ser feita tanto no Brasil como

fora, especialmente nos países cujas seleções terão jogos marcados na Bahia

Investir em infraestrutura e valorizar as nove cidades com maior apelo turístico, entre elas, Porto Seguro, Itacaré, Praia do Forte, Lençóis, Salvador e Morro de São Paulo

Criar voo com conexão Salvador, Porto Seguro e Chapada. “A Chapada é o único destino de natureza que pode ser visitado o ano todo. Com a conexão, o

turista pode curtir o ecoturismo e depois a praia”, sugere Ricardo Freire

28 29

Preços mais acessíveis das passagens aéreas. Airpass, usado na Copa da

Alemanha, foi citado como bom exemplo: passe de 79 euros permitia viajar de avião pelas cidades-sede do Mundial

Desenvolver aplicativos para celulares, simples e com tradução simultânea, para

facilitar a comunicação do turista estrangeiro no Brasil

Criação de um portal na internet com serviço sobre as linhas de ônibus intermunicipais, como já existe na Argentina, com horários, destinos e preços das viagens pelo estado

*

*

*

O secretário de Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, prometeu

revitalizar, até a Copa de 2014, os principais pontos turísticos da cidade, como o Forte São Marcelo, o Mercado Modelo, a Casa de Iemanjá, o Elevador Lacerda e o Pelourinho

Bellintani afirmou que criará calendário com 30 eventos, que será mantido após a Copa de 2014. A Semana da Música, a Festa da Cultura Latina e a reestruturação das festas populares estão nos planos da prefeitura, que quer investir numa nova relação do turismo com as experiências da cidade

Para aproveitar o turista durante o Mundial na Bahia, o governo do estado

concentra promoção de ações em sete cidades do interior: Porto Seguro, Camaçari, Mata de São João, Ilhéus, Lençóis, Juazeiro e Vitória da Conquista

Governo garantiu que mobilizará a população para melhor receber os turistas

durante os jogos. O trabalho está sendo desenvolvido em escolas, além de

exibição pública das partidas de futebol nas sete cidades citadas

O secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, afirmou que a

revitalização da Feira de São Joaquim estará concluída até a Copa do Mundo

O presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis da Bahia, José

Manoel Garrido, garantiu que a rede hoteleira baiana não cobrará preços abusivos durante a Copa de 2014. “Tarifas serão mais baixas do que no Carnaval, na faixa de R$ 300 a R$ 900 em médios a grandes hotéis”

Guilherme Bellintani prometeu acabar, até maio de 2014, com dívida com a União que impede transferência de recursos para o Turismo

Governo do estado e prefeitura irão instalar 1.880 placas de sinalização para orientação de moradores e turistas, a partir de 2014, em Salvador

Compromissos firmados

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

Guilherme Bellintani anunciou no Fórum Agenda Bahia que o Hotel Hilton será desapropriado para a construção de um museu. A obra ficará pronta em 2016

Segundo o secretário de Turismo de Salvador, será criado ainda em 2014

um tíquete único para o turista visitar 12 pontos turísticos de Salvador, incluindo o Farol da Barra, os fortes de Santa Maria, São Diogo e São Marcelo e os cinemas do Centro (Excelsior, Jandaia e Pax)

Os fortes do Porto da Barra ganharão dois museus: o de Carybé e o de

Pierre Verger. O Museu Náutico será modernizado

O secretário do Ministério do Turismo, Fabio Mota, anunciou que já foram

empenhados os R$ 20 milhões para a revitalização do outro trecho da Barra, que vai do Barra Center até o monumento das Gordinhas, em Ondina

Secretário de Turismo de Salvador garantiu que os ônibus irão circular de madrugada nos bairros mais boêmios

De acordo com Domingos Leonelli, até abril de 2014, 33 voos irão partir

de Salvador para oito destinos: Miami, Frankfurt, Madri, Buenos Aires, Santiago, Montevidéu, Córdoba e Lisboa

30 31

Novos embaixadores

O Brasil perdeu uma boa chance de atrair milhares de turistas estrangeiros para Salvador e as outras 11 cidades-sede da Copa do Mundo 2014. Bastava apostar no turista que não conseguiu ingresso para os jogos. Como? Oferecendo o que o país tem de melhor: festa e diversão em todos os cantos. Uma maneira de fidelizar o visitante com uma imagem bem positiva.

O alerta foi feito pelo criador do site Viaje na Viagem, Ricardo Freire. Em sua apresentação no Fórum Agenda Bahia 2013, Freire lembrou que não há mais tempo de investir nessa estratégia. Mas é urgente promover uma campanha por aqui: o brasileiro ser o embaixador da sua própria terra. Segundo ele, é preciso mostrar a importância do turista internacional e garantir que sejam bem recebidos.

“O brasileiro fala mal do seu país para os estrangeiros. Mas os estrangeiros não falam mal da sua origem com um turista. Essa mentalidade no Brasil tem que mudar”, acredita Freire, que atuou por muitos anos como publicitário de campanhas famosas, como ‘Essa não é uma Brastemp’.

Para ele, o brasileiro é muito territorialista. “Acha que eles estão invadindo sua área. Mas o dólar que esse turista deixa no país chega mais longe (em vários setores da economia) do que cada dólar da venda de um avião da Embraer. Isso precisa ser valorizado”, pondera.

Foto: Evandro Veiga

Publicitário e criador de um dos principais sites de turismo do país, Ricardo Freire abriu o Agenda Bahia

“O brasileiro fala mal do seu país para os estrangeiros. Mas os estrangeiros não falam mal da sua origem com um turista”

Hoje referência no turismo, o especialista cita como exemplo as Copas da África e da Alemanha. “Eles realizaram grandes festejos para os turistas que não tinham ingressos para os jogos. A gente vive o Carnaval em qualquer esquina, nem precisaria de Fan Fest”, defende.

Contra o estereótipo da frieza dos alemães, o governo vendeu, paralelamente aos jogos, a ideia de que o país era animado e sabia como receber bem os turistas. “O resultado: o país passou a aparecer entre os dez maiores destinos do mundo já nos anos seguintes“, explica Freire. O efeito do pós-Copa também foi sentido na África do Sul. O número de turistas estrangeiros passou de 10 milhões para 12 milhões, o dobro do que visitou o Brasil no mesmo período.

Freire acredita que ainda dá para trabalhar esse espírito de festa com nossos vizinhos, como Argentina e Uruguai. “A Bahia precisa sair na frente e estimular que o povo receba os torcedores estrangeiros bem, sem rivalidades”, sugere.

Entre as soluções para deslanchar o turismo no país e que a Bahia pode investir, Ricardo Freire sugere, por exemplo, uma boa conexão de voos com bilhete único. Pela oferta de voos na modalidade ‘airpass’, os turistas poderiam viajar entre as várias cidades-sede com preços mais baratos. “Durante a Copa, a Alemanha lançou um pacote de bilhete aéreo que custava 79 euros e dava direito ao turista viajar ilimitadamente pelo país, além de transporte público gratuito enquanto durou o evento”, conta. O resultado foi que aumentou o número de pernoites nos lugares.

Outro exemplo de como divulgar bem um país no mercado internacional é tão velho que, como brinca Freire, até para achar registros no Google é difícil. A campanha Visit Thailand Year, criada pelo governo tailandês, tornou a ideia de visitar o país do Sudeste Asiático algo que hoje poderia ser chamado de um viral. “Todo mundo quis conhecer a Tailândia, só se ouvia falar disso. O resultado foi que o número de turistas estrangeiros passou de 2,8 milhões em 1986, ano do lançamento, para 5,2 milhões, em 1990”, conta Freire, como se tirasse uma lenda do baú.

O desafio é tirar o foco da busca internacional pelo tripé Rio-Foz-Amazônia, que habita o imaginário estrangeiro.“Esses lugares podem nem ser os mais visitados, mas eles são conhecidos em qualquer lugar. A Bahia tem de brigar para ocupar esse lugar”, diz Freire. O caminho para isso é longo e inclui passar as cidades do Rio de Janeiro, Florianópolis, Foz do Iguaçu, São Paulo e Búzios, destinos campeões de procura, segundo o Ministério do Turismo.

“A Bahia precisa sair na frente e estimular que o povo receba os torcedores estrangeiros bem, sem rivalidades”

32 33

* Os caminhos para o turismo baiano

Airpass: Pacote de passagens aéreas que leve turistas até as cidades-sede com preços mais baixos. A Alemanha, durante a Copa de 2006, ofereceu um passe, por 79 euros, que dava direito ao turista de viajar por onde quisesse

Chip de dados: Internet rápida, seja 3G ou 4G, facilita que o turista divulgue imagens e informações sobre o país. A proposta de Ricardo Freire é que o visitante já receba seu chip encomendado no aeroporto e possa postar suas fotos pelo caminho

Nordeste unido: Assim como aconteceu no Caribe, o Nordeste deveria se unir em uma campanha de divulgação, mostrando ao mundo seu diferencial. Além de praias e calor, tem cultura, roteiro religioso. Sem furacão, como seus rivais

Lençóis: Ricardo Freire defendeu voo com conexões em Salvador, Porto Seguro e Chapada. “A Chapada é o único destino de natureza que pode ser visitado o ano todo”, lembra. Com a conexão, o turista pode curtir o ecoturismo e depois a praia

Ônibus: Investir no bom serviço para o turista é um diferencial do destino. Freire sugeriu que fosse criado um portal na internet com os horários, destinos e preços das viagens de ônibus pelo estado. Como já existe na Argentina

A Tailândia, segundo Ricardo Freire, pode ser a inspiração para uma forte campanha de turismo no mercado internacional. A campanha, que estimu-lou a visitação ao país do Sudeste Asiático, criou uma espécie de viral mundo afora. O sucesso foi tanto que o número de visitantes dobrou quatro anos depois do lançamento e colocou o país na rota do turismo mundial

Tailândia

Foto: divulgação

Ricardo Freire lembra que a Bahia não tem vergonha de ser “invadida” durante o Carnaval, por exemplo. “A Bahia se acha a maior gostosa”, brinca, durante a palestra de abertura do Agenda Bahia 2013. Freire fala do potencial que ainda pode ser explorado. “Só Cuba recebe um milhão de canadenses por ano que poderiam vir para o Brasil se nós derrubássemos a exigência do visto. Hoje, só vêm 70 mil”, provoca Freire ao levantar a bandeira da flexibiliação dos vistos para turistas estrangeiros. A cartela de munições capaz de tornar a Bahia mais atrativa inclui a história, a culinária, a cultura africana, a beleza das praias e o clima favorável durante todo o ano, ao contrário do Caribe, que sofre com furacões e tempestades.

Segundo Ricardo Freire, a Bahia, especialmente Salvador, terá a grande oportunidade de cativar o turista estrangeiro que vier para a Copa do Mundo. O momento é oportuno para mostrar como o país é capaz de receber bem e, para isso, precisa oferecer um mínimo de infraestrutura e tecnologia.

“Quem viaja para um lugar com grandes eventos sabe que vai encontrar engarrafamentos, lugares cheios, e isso ocorreu em todos os torneios. O que o país ainda não fez, e a Bahia pode sair na frente, é oferecer festas nas ruas para o público não pagante dos estádios e ainda chips para que o turista já tenha internet ao sair do aeroporto e possa postar no Instagram e Facebook a beleza de Salvador”, sugere.

A ideia de Freire é facilitar a chegada do gringo e sua estada. Para ele, o brasileiro precisa ser um embaixador do seu país e parar de fazer propaganda negativa da sua cidade. Problemas existem em todos os lugares. “Foi incrível ver os próprios soteropolitanos falando para o resto do país não vir para cá. Você não vê nenhum catalão falando para não ir até Barcelona porque ali atua um dos maiores grupos de trombadinhas do mundo”, defende.

As oportunidades para a Bahia com a Copa

34 35

A Alemanha entrou na rota dos dez países mais visita-dos da Europa ao estender um tapete vermelho ao turista estrangeiro durante a realização da Copa do Mundo 2006. Com uma campanha de boa recepção, o país mudou a impressão de frieza do povo alemão ao estimular que os visitantes eram amigos e não adversá-rios no torneio de futebol. Os frutos são colhidos até hoje

A África do Sul recebe 12 milhões de turistas estran-geiros por ano, o dobro do número de visitantes no Brasil inteiro. O país apro-veitou a Copa do Mundo para diminuir o preconceito de uma África atrasada e divulgar os avanços conse-guidos pelo continente nos últimos anos

A região foi destacada pelo publicitário Ricardo Freire em sua palestra. Segundo ele, é o único destino de beleza natural que pode ser visitado o ano inteiro. Reúne muitas atrações: grutas, cachoei-ra, caminhadas ecológicas pela vegetação exuberante. É reduto de ecoturismo e turismo de aventura

Chucrute amigo

Avanços

Chapada Diamantina

Foto: divulgação

Foto: AFP

Foto: Michael Latz/AFP

A poucos dias de completar meio século, o publicitário dono do bordão “não é assim uma Brastemp” leva uma vida invejável. Gaúcho, Ricardo Freire largou os escritórios de grandes empresas de comunicação, como W/Brasil e Talent, para se tornar um andarilho, viajando pelos quatro cantos do mundo. A “difícil” decisão surgiu da necessidade de profissionalizar um hobbie que estava dando certo. “Sempre trabalhei para viajar. Sempre atuei como consultor informal de viagens dos meus amigos”, disse ele, que seis meses após criar o blog Viaje na Viagem (www.viajenaviagem.com), no fim de 2004, largou tudo para se dedicar exclusivamente a sua paixão: o Turismo.

“Foram muitos anos de investimento. Só em 2009 o blog começou a ser monetizado, e em 2011 deixou de ser deficitário”, lembra ele, que, além de alguns livros sobre o segmento, leva na bagagem nada menos do que a visita a 55 países e duas viagens volta ao mundo. Ricardo Freire reservou alguns minutos da sua estada em Alcântara, no Maranhão, para driblar a difícil conexão com a internet e responder esta entrevista, que fala sobre turismo, viagem e Bahia.

‘Só a Bahia não tem vergonha do turismo’ Entrevista com Ricardo Freire

Foto: Divulgação

Ricardo Freire abriu o Fórum Agenda Bahia de Desenvolvimento

Turístico

36 37

do Nordeste se unir para divulgar em conjunto suas atrações no exterior - um Brasil sem Rio nem Foz nem Amazonas, mas com metrópoles praianas, vilarejos de praia, chapadas, sítios arqueológicos, Lençóis Maranhenses. E nesse “país” Nordeste, a Bahia certamente seria o ícone mais importante.

Qual a melhor coisa do Turismo baiano? É que ele é profissional e sério. A Bahia é o único lugar do Brasil (talvez junto com Foz do Iguaçu) que entende a importância do turismo e não tem vergonha do turismo. O resto do Brasil acha que turismo é coisa de república das bananas, que o Brasil só pode ter turismo quando virar uma Suíça. A Bahia calcula PIB da alegria, divide o estado em zonas de turismo de alto impacto e baixo impacto, faz propaganda, estimula a criação de voos.

E o pior? A sensação de insegurança. O medo que o turista independente tem de ser enganado a cada passo da sua viagem. E isso só se resolve com disseminação de informação.

O que o baiano dispensa no estado, mas o turista aprecia? A Chapada Diamantina e os vilarejos de Porto Seguro recebem poucos turistas baianos - e os forasteiros adoram.

Você considera Trancoso o mais encantador vilarejo de praia do Brasil. Por quê? O Quadrado. Uma praça medieval preservada, parcialmente gramada, onde se joga futebol no fim da tarde, com uma igrejinha de costas para a praia, no alto de uma falésia, com um riozinho embaixo que desemboca no mar. Me ache isso no Caribe e eu te dou uma passagem ida e volta em classe executiva para lá.

Se tivesse que indicar uma rota chique na Bahia, qual seria? O chique da Bahia é a simplicidade! Tomar um café no Capim Santo em Trancoso, jantar na pousada Santa Clara em Boipeba, andar na praia deserta do Txai em Itacaré, dormir num chalé inspirado numa casinha de pescador na Vila Naiá no Corumbaú, ficar para o pôr do sol no Porto da Barra, tomar uma roska de biribiri no Paraíso Tropical, dormir ouvindo o barulho do rio no Canto das Águas em Lençóis, acordar na Praia do Espelho e ser dono da praia até as 11h da manhã, antes dos primeiros visitantes chegarem. Tudo isso é chique demais.

No quesito viajar bem pagando pouco, o que você recomenda no estado? Fora das férias escolares e de feriadões, é superbarato viajar na Bahia (e no Brasil). O problema é que a gente só se informa de preços na altíssima temporada, e compara com ofertas de baixa temporada em outros lugares. Não há destino na Bahia em que você não encontre pousadas charmosas que

“O divórcio entre os formadores de opinião e a administração forjou algo que eu nunca tinha visto: baianos falando mal da Bahia”

O que é que a Bahia tem? A Bahia tem um astral único, e acredito que isso se deva ao arranjo social peculiaríssimo do estado. É o único lugar do Brasil onde a elite branca, há muito tempo, abraçou a cultura das classes populares - o sincretismo afro-brasileiro. Com isso, a Bahia está na posição sui generis de ter a cultura popular como dominante. E isso faz toda a diferença. O visitante se sente um pouco estrangeiro no próprio país - o que, na minha opinião, dá um super “plus” à viagem.

Não é novidade que a Bahia vem perdendo espaço para outros destinos. Segundo dados do Ministério do Turismo, Salvador é o sexto destino mais procurado para lazer dos estrangeiros, perdendo para Rio de Janeiro, Florianópolis, Foz do Iguaçu, São Paulo e Armação de Búzios. Como você justifica isso? Nos últimos anos, o divórcio entre os formadores de opinião soteropolitanos e a administração da cidade forjou algo que eu nunca tinha visto: baianos falando mal da Bahia, soteropolitanos falando mal e desaconselhando visitas à cidade da Bahia. O volume de notícias sobre abandono do Pelourinho e entulho nas praias, depois da retirada das barracas, contribuiu para desencorajar as visitas a Salvador. Outro fator a considerar é a transferência do turismo da Salvador urbana para os resorts do litoral norte. E a chegada de muitos turistas por cruzeiros (Salvador é a escala mais interessante e organizada de todo o Nordeste), o que diminui o número de pernoites em hotel. Mas, se tratando de turismo internacional, não é um mau resultado em si. São Paulo tem muito turismo de negócios, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu são os dois destinos top internacionais do Brasil, e Florianópolis e Búzios são destinos tradicionais de férias de argentinos. De todo modo, Salvador está sim passando por um período de imagem abalada e baixa ocupação. Há um trabalho a ser feito para reverter isso.

O que faz uma cidade como Salvador, que tem um uma relevante história e um extenso litoral, receber muito menos turistas do que cidades do exterior com o mesmo perfil, como Miami? Falta de infraestrutura? Não acho que Miami seja uma boa comparação. O que as duas cidades têm em comum é serem metrópoles com praia. Salvador compartilha dos mesmos males que fazem o Brasil ser tão pouco visitado: poucas conexões aéreas, exigência de visto para americanos e canadenses, falta de sinalização para o viajante independente, percepção de preços altos.

Dizem que o destino Salvador, da Bahia, já teve muita moral lá fora... Ainda continua? A Bahia tem relevância nos países onde se leu Jorge Amado, se ouviu Vinicius de Moraes (sua fase baiana, com Baden Powell) e se ouve hoje em dia Caetano ou se dança com Carlinhos Brown. Não tenho acesso a pesquisas recentes sobre imagem de destinos específicos no Brasil, mas chutaria que o trio que simboliza o Brasil é Rio-Iguaçu-Amazonas. Acho que está na hora

“A simpatia do baiano é um dos nossos maiores patrimônios. Precisamos que a população que atende turistas pelo menos saiba contar em inglês”

38 39

Esse jeitinho ‘espontâneo’ baiano atrapalha ou agrega na escolha por um destino? A simpatia do baiano, do nordestino e do brasileiro, é um dos nossos maiores patrimônios turísticos. Precisamos que a população que atende turistas pelo menos saiba contar em inglês. Ter cardápios bem escritos em outros idiomas.

O que não pode faltar na mala de um bom viajante? Adaptadores de tomada, modem 3G, senso de humor e espírito esportivo.

A beleza da Praia da Barra, em Caraíva, no

Extremo Sul da Bahia, também chama a

atenção do publicitárioFoto: Ricardo Freire

custem até R$ 230 fora das férias. Recomendo também andar de transporte coletivo. A viagem mais divertida que fiz nos últimos anos (contando todas as internacionais) foi de Salvador a Caraíva, passando por Boipeba, Itacaré, Ilhéus, Canavieiras, Santo André, Arraial d’Ajuda e Trancoso, usando apenas barcos e ônibus de linha.

Qual a dica para um destino BBB (bom, bonito e barato) para o Réveillon? Salvador. A altíssima temporada da cidade é o Carnaval. No Réveillon, os preços dos hotéis da Salvador urbana são palatáveis e inferiores a qualquer vilarejo de praia, na mesma faixa de conforto.

A gastronomia baiana é singular, mas o que falta para transformar isso em um real atrativo turístico? Nada. Quem por acaso não come um acarajé ou uma moqueca antes de sair da Bahia?

Serviços ruins, mau atendimento (falta de qualificação profissional), atrapalham? Afastam o turista da Bahia? Atrapalham o Brasil. Mas eu acho que o serviço da Bahia ainda é melhor do que em muitos lugares. A Bahia é o único lugar do Brasil onde eu peço caipiroska sem açúcar e tenho certeza que virá sem açúcar - e da fruta que pedi.

“A Bahia é o único lugar do Brasil, talvez junto com Foz do Iguaçu, que entende a importância do turismo e não tem vergonha do turismo”

Trancoso, distrito de Porto Seguro, é eleito

por Freire como o mais encantador vilarejo de

praia do BrasilFoto: Ricardo Freire

40 41

As manifestações populares ocorridas em diversas cidades do país durante a Copa das Confederações foram destaque na mídia do mundo inteiro. Em entrevista ao Correio, o fundador da CVC e hoje presidente do conselho administrativo da empresa - a maior operadora de viagens da América Latina -, Guilherme Paulus, fala sobre o impacto desses acontecimentos no turismo de estrangeiros para a Copa do Mundo de 2014, evento que acontecerá em 12 cidades brasileiras, entre elas Salvador, de 12 de junho a 13 de julho de 2014. Paulus destaca ainda o legado que a Copa pode deixar para a Bahia e os planos da sua empresa para Salvador.

O empresário também é dono da GJP Hotéis & Resort, com cinco marcas, que já investiu R$ 100 milhões na compra e reforma do antigo Hotel da Bahia, hoje renomeado Sheraton da Bahia Hotel. Desenvolvimento Turístico, o primeiro seminário da quarta edição do Agenda Bahia abordou o tema Muito Além da Copa. A proposta foi debater a consolidação e ampliação do destino Bahia ao redor do mundo, além de apontar exemplos positivos e caminhos para o estado fortalecer o setor turístico antes, durante e após o Mundial.

O senhor acha que os protestos da população realizados durante a Copa das Confederações podem impactar no turismo de estrangeiros na Copa do Mundo do ano que vem? De que forma? O que tenho a lamentar desse movimento, que foi extraordinário, foi a violência. Ela atrapalha e dá uma imagem negativa. Acho que você pode fazer protesto, mas não destruir patrimônio. Isso é horroroso, mas sempre aparecem os oportunistas e eles vão sempre existir. O Brasil deu um grande exemplo para o mundo mostrando que o povo aqui não aceita falcatruas, não aceita desvio de verba, não aceita políticos desonestos. Acho que isso foi um grande alerta para os políticos porque eles estavam sempre muito acomodados, pois o povo votava e nada era cobrado. Agora realmente você tem um pessoal jovem muito corajoso cobrando essas atitudes do governo. Isso é muito positivo. Não prejudica imagem nenhuma (do Brasil). Tenho conversado com nossos operadores internacionais e eles me dizem: ‘Não, isso é uma demonstração de que o povo está atento a tudo que está acontecendo no país ultimamente’. Colocaram pra mim que isso não afeta as pessoas que vão vir passear, curtir e conhecer o Brasil.

Como aproveitar um grande evento como a Copa para consolidar e ampliar o destino Bahia ao redor do mundo? A Copa do Mundo já dá um destaque. Você imagina quantas emissoras de televisão no mundo todo vão estar ligadas nas partidas que vão ocorrer na Bahia e nas seleções que vão ficar hospedadas no estado. É um trabalho que vai ser feito de divulgação no mundo e isso já começa a marcar. Antes da

Manifestações não afetam imagem do Brasil

Entrevista com Guilherme Paulus

“Este é o momento de consolidar o destino e avançarmos para mostrar a cara do Brasil”

abertura de cada partida de futebol é feita uma apresentação sobre aquele estado e aquela cidade onde está aquele estádio, como aconteceu com a África (do Sul). Outra coisa importante é a conscientização do povo baiano. Esse é um trabalho que tem que ser feito pelo governo e pela prefeitura: do uso da bandeira brasileira, da bandeira da Bahia, cantar o hino baiano, cantar o hino brasileiro. Mobilizar as pessoas para esse evento e, claro, atender bem os nossos visitantes de uma forma bem agradável, como aconteceu na África, no México, nos Estados Unidos, na Espanha. Este é o momento de consolidar o destino e avançarmos. Futebol é uma coisa maluca no mundo todo e tem espaço muito grande para a gente aproveitar esse momento para mostrar a cara do Brasil.

Pela experiência e vivência do senhor, quais são os bons exemplos que a Bahia pode importar de países que foram sedes de Copas do Mundo? Em infraestrutura. O Brasil está acordando, esse movimento feito pelos jovens brasileiros deu uma repercussão muito grande e mostrou que o Brasil não é um país que aceita qualquer coisa, que os jovens estão muito atentos a tudo que acontece no país. E todo país é feito de jovens mesmo. Serve de alerta para a infraestrutura, principalmente no chegar na cidade. Hoje, Salvador enfrenta problema terrível que é o trânsito e com a própria limpeza

Guilherme Paulus destaca a importância de uma cidade bem cuidada para o baiano transmitir o melhor de Salvador: ‘Turismo é boca a boca’, lembra

Foto: divulgação

42 43

Fizemos associacão com Sheraton na Bahia, mas a administracão é do Brasil, da GJP. Nós só utilizamos a marca Sheraton da Bahia, pagamos um royalty pela marca. Quando se trata de um estrangeiro vindo para o Brasil, a marca Sheraton é um ícone e abre grande espaço, haja vista que o próprio presidente da Fifa (Joseph Blatter) ficou hospedado no Hotel da Bahia, na Copa das Confederações.

Qual o grande legado turístico que a Bahia pode conquistar com a Copa do Mundo? É a grande oportunidade que o Brasil tem para vencer definitivamente as outras praias concorrentes como as do Caribe e Caribe mexicano. A oportunidade que nós temos é imensa com a Copa do Mundo na Bahia, recebendo milhares e milhares de turistas. Essa é a expectativa que a gente tem. Esse legado que vai ser feito pela Copa do Mundo e depois, com a continuação das Olimpíadas, que é tão forte ou mais que a Copa do Mundo, pois agrega todos os esportes, não só futebol. Se a Bahia se destacar turisticamente como um povo receptivo, vai ganhar as pessoas que vão para o Rio de Janeiro e depois vão querer conhecer a Bahia.

A apenas um ano do Mundial, o que é possível e preciso fazer de mais urgente para fortalecer o turismo no estado? A infraestrutura urbana. Nosso prefeito, juntamente com o governador do estado, tem que cuidar da mobilidade de Salvador. Urgentemente o metrô precisa ficar pronto, acho que deve ter faixas exclusivas para ônibus, deve criar em determinados horários até o próprio rodízio de automóvel, que ajudou muito o trânsito de São Paulo. É necessário melhorar o acesso de chegada e saída dos aeroportos e investir no entorno da cidade. O aeroporto de Salvador tem que ser arrumado, organizado, que as pessoas sintam prazer de descer e já serem bem recebidas. É o principal cartão de entrada. Os taxistas precisam de treinamento, a Bahiatursa tem trabalhado bastante junto com o Ministério do Turismo para que haja um grande planejamento. Acho que a Bahiatursa,

Para operadores, protestos não afetarão

a visita de turistas internacionais ao Brasil

Foto: Almiro Lopes

“É necessário melhorar o acesso de chegada e saída dos aeroportos e investir no entorno da cidade”

da cidade. Embora tenha conversado com o prefeito ACM Neto e até elogiei o seu trabalho. Quando ele assumiu, comecei a ver os garis limpando as ruas. Isso é muito importante. Uma cidade limpa dá esse exemplo. Na África do Sul, melhorou o transporte, o comércio ficou mais agitado, enfim, há um progresso de geração de emprego e renda. Isso é muito importante e a Bahia vai ter que aproveitar e tirar proveito disso, principalmente a cidade de Salvador.

O que é fundamental fazer para que o turista que vem para a Bahia buscando futebol volte por outros interesses após o Mundial? Turismo é arte de bem receber. O baiano tem isso por natureza. Recebe bem as pessoas, é festivo, um povo alegre. O povo brasileiro é um povo alegre, mas o baiano é a descontração. É como dizem, não nasce, estreia. A simpatia e a receptividade dele são fora do comum e acho que isso não pode ser perdido. A recepção, as festas nos aeroportos, as músicas, isso é alegria que contagia as pessoas. Um alerta para o nosso governador e para o nosso prefeito: se a cidade é boa para o baiano, vai ser boa para quem a visita. Temos que cuidar com muito carinho de Salvador para que o baiano ame a cidade e possa transmitir isso aos turistas que vão chegar. Isso vai ser o grande legado a ser deixado para os turistas, que vão falar a outras pessoas para virem. O turismo é boca a boca. Quando Cabral veio para o Brasil, acho que contou para todo mundo, porque muitos portugueses vieram para cá e descobriram as belezas que o Brasil tinha. Começou tudo na Bahia. É culpa de Cabral ter chegado na Bahia. Foi daí que ele começou a divulgar para o mundo todo. Quando a gente recebe alguém bem, as pessoas voltam.

A GJP Hoteis & Resorts investiu na compra do antigo Hotel da Bahia e modificou o nome para Sheraton da Bahia Hotel. Por que a mudança do nome e quais são os planos da sua empresa para o estado? Para conseguir chegar facilmente ao mercado internacional, eu tinha que agregar uma marca internacional. Fizemos uma pesquisa e vimos que há várias empresas aéreas americanas voando para o mercado brasileiro.

Paulus: a simpatia, a receptividade, a música e a alegria do baiano são fora

do comumFoto: Arisson Marinho

“Temos que cuidar com muito carinho de Salvador para que o baiano ame a cidade e possa transmitir isso aos turistas que vão chegar”

44 45

acabados. Impressionaram pela beleza e pela qualidade. Claro que faltam alguns detalhes, todo prédio que você inaugura precisa de uma maturação de pelo menos um ano para que todas as coisas fiquem no seu devido lugar. Temos esse espaço de tempo para fazer isso. Foi um ensaio e acho que a gente vai tirar proveito desse ensaio para corrigir as falhas que nós tivemos e melhorar a qualidade do serviço. Melhorar é sempre bom. Tem que estar sempre melhorando.

“Turismo é a arte de bem receber. O baiano tem isso por natureza. É festivo, um povo alegre. Isso contagia as pessoas”

juntamente com a Emtursa, tem que fazer um trabalho conjunto, não olhando o lado político de um ou de outro candidato, mas sim em prol do turismo, do desenvolvimento e do bem recebimento dos turistas que vão chegar em Salvador. Não só dos estrangeiros, mas também dos brasileiros que vão chegar. O turismo interno vai movimentar muito.

Além de Salvador, quais são as cidades ou regiões do estado com maior potencial turístico a serem exploradas durante a Copa? A Bahia tem mais de nove destinos turísticos. É o único estado brasileiro que tem nove destinos fortíssimos, como Porto Seguro, Ilhéus, Itacaré, Praia do Forte, Lençóis, Salvador, Morro de São Paulo... O fortalecimento dessas cidades é muito importante. O serviço de receptivo está se organizando para isso. A partir do que for definido, em janeiro, qual vai ser a seleção de futebol que vai ficar em Salvador, a Bahiatursa precisa fazer um forte trabalho nesse país e também nos outros países que terão suas seleções jogando em Salvador. Quando sair o sorteio, imediatamente precisa colocar os soldados na rua para divulgar, já preparada com material, em português e outras línguas, para fazer um trabalho urgentemente nessa base, atraindo o turista que gosta de futebol para assistir a essa seleção. Deve fazer um trabalho com a hotelaria, serviço de receptivo, bares e restaurantes. Unir as forças.

O senhor acha que é possível e viável atrair turistas para roteiros fora de Salvador, já que os jogos estão acontecendo na capital? Sim, claro. Quem não teria vontade de conhecer Morro de São Paulo, Porto Seguro... Tem que ter divulgação.

Por ser uma festa popular regional, o São João pode ser um atrativo para fidelizar o turista no período de baixa estação? Acho que é contagiante, é a mesma coisa quando se fala em Carnaval. Toda festa, não importa se ela é regional, sendo ela bem organizada, vai contagiar as pessoas. Mostra um pouco do folclore baiano, da história da Bahia, mostra um povo alegre e feliz e todo mundo gosta de ver alegria e festa. Isso acontece muito mais no interior da Bahia do que na capital, agora tem que mobilizar a capital para que também faça isso.

Durante a Copa das Confederações, o senhor observou alguma falha no segmento de turismo que precisa ser ajustada para a Copa do Mundo de 2014? Os estádios impressionaram, apesar de muitos deles não estarem totalmente

“Tenho conversado com os nossos operadores internacionais. (protesto) Não prejudica a imagem do país”

GUILHERME PAULUS, fundador da CVC e presidente do Grupo GJP

46 47

“Vamos mostrar ao turista que em julho não tem só chuva na Bahia e atraí-lo ao Dois de Julho”

Convenções, mas já temos eventos marcados ali até 2018. Até 2015, é difícil conseguir um dia livre na agenda do Centro”, contestou Leonelli.

Em tom otimista, Paulus, da CVC, ressaltou na palestra que acredita nos eventos esportivos, como a Copa do Mundo, como uma boa possibilidade para Salvador recuperar espaço no mercado turístico. “Podemos aprender com os bons exemplos da Olimpíada de Sydney, na Austrália, e em Barcelona, na Espanha”, disse. Além de melhorias de infraestrutura e forte promoção turística, essas cidades conseguiram receitas milionárias com os eventos. Sydney obteve receita de US$ 765 milhões e Barcelona, de US$ 1,6 bilhão.

Pacote para São João

Em um projeto conjunto com a Bahiatursa, a CVC, maior operadora de turismo da América Latina, lançou um novo pacote turístico para incentivar o turismo em Salvador no meio do ano, período em que os hotéis da cidade têm tido baixa ocupação.

O foco do novo pacote é a tradicional festa do Dois de Julho, o Dia da Independência do Brasil na Bahia. “Lançaremos um pacote de oito dias e sete noites e outro de cinco dias e quatro noites”, contou ao Correio, o sócio-fundador e presidente do Conselho de Administração da CVC, Guilherme Paulus.

O anúncio foi feito durante o Fórum Agenda Bahia, no auditório de eventos da Arena Fonte Nova, onde Paulus falou sobre as principais oportunidades da indústria do turismo no Brasil.

Paulus , que é soteropolitano, contou que a ideia é atrair turistas para a comemoração da independência, combatendo a ideia de que no meio do ano só há chuva na capital baiana. “Todo mundo sabe que aqui chove. Que chove, chove, mas não tem só chuva. A gente vai focar no Dois de Julho e fazer uma ação para realmente atrair o turista para a região nesse período”, adiantou.

Em julho de 2013, a cidade teve uma ocupação média abaixo da esperada pelo trade: 59,91% dos leitos ocupados, semelhante à taxa de julho de 2012, mas muito menor do que a do mesmo mês de 2001, por exemplo, quando a ocupação chegava a 80%. Mesmo com o aumento do número de leitos na cidade, o que relativiza a queda, a ocupação foi considerada “decepcionante” por representantes da hotelaria.

Em sua palestra no Agenda Bahia, o empresário da CVC, que também preside a GJP Hotéis & Resorts - administradora do Sheraton Hotel da Bahia, no Campo Grande - exaltou as características positivas de Salvador e da Bahia, como as belas praias, mas reconheceu a necessidade de melhorar para receber os turistas.

Uma das principais críticas foi ao Centro de Convenções, localizado no Stiep. Segundo ele, o centro hoje já está defasado. “Há 15 anos, os grandes eventos que eram realizados no Centro de Convenções da Bahia lotavam os hotéis da região. Hoje, isso já não acontece”, ilustrou.

A informação foi rebatida pelo secretário do Turismo do estado, Domingos Leonelli. “Sabemos que temos que realizar melhorias no Centro de

48 49

precisamos entender que essa é uma boa oportunidade. E se os eventos passam, os negócios podem ficar”, defendeu.

Guilherme Paulus lembrou que a transmissão ao vivo dos jogos da Copa do Mundo será uma grande oportunidade para trabalhar a melhor imagem do Brasil. “Não temos tsunamis. Somos um povo feliz. Temos muito a oferecer”, avalia. Em tom otimista, o empresário exaltou os pontos positivos do país e da Bahia e defendeu os eventos esportivos como uma boa oportunidade para atrair novos negócios.

Outro aspecto importante, destacado na palestra, para aumentar o fluxo de turistas para o Brasil foi o foco em serviços de boa qualidade. “Para consolidar-se como polo turístico, o Brasil como um todo precisa melhorar os níveis dos seus serviços”, opinou. E investir também em um trabalho com os próprios brasileiros. O empresário também concorda com Ricardo Freire. “Não devemos só falar do lado negativo do Brasil. Problemas existem em qualquer lugar do mundo”, avalia. Consolidar a imagem do Brasil no exterior como um país economicamente pujante é outro passo necessário para beneficiar o segmento turístico, segundo Paulus. “Outra questão necessária é consolidar a percepção do Brasil como uma potência, que não tem só um bom futebol, mas uma boa gastronomia, uma gestão eficiente e outros atributos”, disse.

Guilherme Paulus fez uma provocação à plateia. “Quero iniciar com uma frase para reflexão: em vez de perguntar o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”, lançou.

Foto: Robson Mendes

Guilherme Paulus: Bahia deve aproveitar que será vitrine com a

transmissão da Copa pela TV

Muito além de samba e futebol

Uma mudança de foco. Para o fundador e presidente do Conselho Administrativo da CVC, Guilherme Paulus, o governo e a indústria do turismo deveriam trabalhar uma nova campanha do Brasil no exterior. “Precisamos mudar a imagem e percepção do país lá fora. Para eles, somos a eterna capital mundial do samba e do futebol. Claro que é boa essa associação, mas temos que mostrar que não somos apenas isso”, defendeu.

Na opinião do empresário, que também é presidente do Grupo GJP, outras características devem ser ressaltadas: vínculos com a religiosidade, as belezas naturais diversificadas e o potencial para o turismo náutico poderão ajudar a aumentar o fluxo de turistas para o país. “É preciso renovar essa imagem. Isso atrairá gente para o turismo de eventos, para o turismo cultural, o turismo sol e mar, o turismo religioso, etc”, opinou. Para Paulus, o turismo de sol e mar é onde está o grande potencial do país. “Sem dúvida, o sol e mar e o ecoturismo são a grande força que a gente tem e isso pode ser mais explorado lá fora”, afirmou.

Segundo Guilherme Paulus, é preciso baratear as passagens aéreas para alavancar ainda mais o mercado turístico baiano, que tem crescido nos últimos anos, sobretudo em destinos na Costa dos Coqueiros e no Sul do estado, onde se concentram os grandes resorts. “Porto Seguro é o maior destino da CVC. Nós transportamos 300 mil passageiros por ano para lá”, afirmou.

O sócio-fundador da CVC ressaltou ainda o crescimento no número de desembarques no estado, reflexo do aumento dos negócios e do turismo na Bahia. “Foram 22 milhões de desembarques nos últimos cinco anos, um crescimento de 100%”, destacou. Para Guilherme Paulus, falta à Bahia, no entanto, um centro de convenções de qualidade.

O empresário também destacou alguns passos necessários para que a Bahia e o Brasil se consolidem como importante destino turístico nos próximos anos. “É preciso fiscalizar e cobrar das autoridades, inclusive sair às ruas, para melhorar nossos problemas internos. Precisamos também superar o achismo, criando projetos técnicos de longo prazo e bem embasados”, listou.

Para Paulus, os eventos esportivos devem ser vistos como oportunidade para superar os problemas, em vez de serem alvos de críticas exacerbadas. “Em todos os lugares onde houve Copa do Mundo e Olimpíada houve problemas: na África, na Inglaterra, na Alemanha, etc. Mas

50 51

- Copa do Mundo e Olimpíadas serão uma grande oportunidade para novos negócios

- O Brasil e a Bahia deveriam investir sua imagem em belezas naturais, cultura, roteiros religiosos e turismo náutico

- Preço mais em conta das passagens aéreas

- Cobrança das autoridades por melhor infraestrutura e serviço de qualidade

- Projeção de que até 2018 o Brasil receba 9 milhões de turistas. “Sem a Copa

e as Olimpíadas, isso não seria possível”, disse Paulus

Desafios

Barcelona, cidade espanhola da Catalunha, era uma cidade degradada e pouco próspera quando foi escolhida para sediar as Olimpíadas de 1992, sete anos antes. Barcelona passou por transformações profundas e virou a capital cultural, polo de negócios e destino turístico que atrai milhões de visitantes, mesmo duas décadas após o fim do evento

Transformação catalã

Foto: divulgação

Com as Olimpíadas de Sydney, no ano 2000, a cidade australiana tornou-se referência em sustentabilidade. Instalações com o uso de formas racionais de energia e de preservação do meio ambiente garantiram à edição dos jogos o subtítulo de Jogos Verdes. A baía de Sydney passou por um processo de despoluição para ser utilizada em esportes náuticos

A Croácia, pequeno país do Leste Europeu, tem o território menor que o da Bahia, mas tornou-se uma gigante no turismo internacional. Com foco no turismo esportivo e náutico, pelas suas águas azul-turquesa e centenas de ilhas, e no turismo histórico, o país, recuperado da guerra por sua independência, recebe hoje o dobro de turistas do Brasil

Sydney sustentável

Pequena e gigante

Foto: divulgação

Foto: divulgação

52 53

“Hoje, o PIB trazido pelo turismo se equipara a grandes indústrias, como a automobilística”MARGARET GRANTHAM, diretora do Centro de Turismo Alemão para a América do Sul

Tão potente quanto um carro alemão

A Alemanha não ficou com a taça da Copa do Mundo de 2006, disputada em seus próprios estádios. O título foi comemorado pela Itália, mas o país-sede do torneio da Fifa naquele ano marcou um golaço no turismo. Alavancado pelo Mundial, o setor foi fortalecido e gerou legados consistentes na economia do país.

Sem precisar investir tanto em infraestrutura, pois o país já dispunha de bons equipamentos para o seu cidadão, a Alemanha tratou de focar no desenvolvimento de uma nova imagem para o resto do mundo. Foi ela a principal responsável por impulsionar o turismo. Com o slogan ‘A time to make friends’, que significa ‘Tempo de fazer amigos’, a Alemanha foi apresentada ao mundo como um país simpático e hospitaleiro.

Entre as ações de marketing criadas destaca-se a promoção de viagens de familiarização para jornalistas e operadores de turismo, além da elaboração de materiais informativos publicados em 11 idiomas que tratavam, não apenas da Copa, mas também do turismo no entorno das 12 cidades-sede.

“Foi realmente uma nova imagem que o país propagou por todo o mundo. A Alemanha sempre foi conhecida por ser um país trabalhador, pela tecnologia, mas queria mostrar que tinha muito mais, que também sabia fazer festa, fazer turismo e que os alemães podiam ser simpáticos”, relata a diretora do Centro de Turismo Alemão para a América do Sul, Margaret Grantham. “Esse era o intuito da Alemanha, mudar essa imagem carrancuda. A Copa do Mundo foi para a Alemanha uma vitrine para o mundo”, completa.

Durante os 30 dias de Mundial, realizado entre 9 de junho e 9 de julho de 2006, o país europeu registrou dois milhões a mais de pernoites de estrangeiros em relação ao mesmo período do ano anterior. O foco foi mesmo o Mundial: 75% dos turistas viajaram para a Alemanha por causa do evento. As festas oficiais da Copa receberam 21 milhões de pessoas, incluindo alemães e turistas de países vizinhos que não se hospedaram em hotéis.

No período que antecedeu a Copa de 2006, Margaret Grantham trabalhava como coordenadora de marketing do Centro de Turismo Alemão para a América do Sul. A equipe dela era responsável por desenvolver um projeto que visava atrair brasileiros para o país europeu.

O resultado é exibido em números expressivos. Em 2005, a Alemanha registrava 245 mil pernoites de brasileiros. Em 2006, esse número quase dobrou: 426 mil pernoites. Melhor: “Não foi um crescimento pontual, foi

GETTY IMAGES/REPRODUÇÃO

COPA CAMPEÃ

As três dimensões do sucesso

Imagem 2011: Alemanha conquista 2ª posição entre 50 países

Recorde de Pernoites

Nove entre dez (turistas) acreditam no efeito positivo da imagem da Alemanha no exterior

1 Economia

Crescimento de pernoites

Crescimento do PIB

2 Imagem exterior

Alemanha como destino de férias e viagens de negócios

Desenvolvimento de novos públicos- alvo e mercados

3 Imagem interna

Turismo como fator importante na economia

Autoconfiança/Hospitalidade

Alemanha como destino de férias

(Todos três itens acima apontam para um só resultado): sucesso sustentávelFonte: Centro de Turismo Alemão DZT

Fonte: TNS Infratest im Auftrag der DZT 2006 (alemão)/TNS em nome do DZT 2006 (traduzido)

Fonte: Anholt-GfK Roper Nation-Brands-Index 2011 Report, Oktober 2011(alemão) - Anholt-GfK Roper Nation Brands Index Report 2011, outubro 2011 (traduzido)

Fonte: Centro de Turismo Alemão DZT

79 %

308 Milhões

100 mil

acreditam que a relação dos próprios alemães com seu país melhorou

alcançados no meio das Relações Públicas através da Campanha de Hospitalidade

de contatos puderam ser

75 Milhõestodo, 25 milhões de produtos impressos, 5 mil viagens de familiarização e cerca de mil feiras no mundo todo foram conquistados pelo DZT

de usuários de internet no mundo

Quase trabalhadores no turismo se ocuparam através das diversas atividades com o tema competência intercultural

Turismo é um dos seis principais fatores para a imagem de um país

Turismo 69.90 de, no máx., 100 pontos

População 65.84 de, no máx., 100 pontos

Cultura e Patrimônio 68.14 de, no máx.,

100 pontos

Exportação 72.23 de, no máx., 100 pontos

Governo 67.71 de, no máx., 100 pontos

Investimento e Imigração 66.32 de, no máx.,

100 pontos

2009: 3º lugar

2010: 2º lugar

2011: 2º lugar

Em 2010 se alcançou

a marca histórica de

milhões

60de pernoites de estrangeiros na Alemanha

54 55

Divulgação em comunidades, projetos sociais em escolas públicas e cursos de capacitação estão entre as apostas da Secopa para alcançar essa interação da sociedade baiana. “Vamos divulgar em cada comunida-de, no entorno da Fonte Nova, dos locais da Fan Fest, no entorno do ae-roporto e da zona hoteleira, que a população também faz parte da Copa”, explica Liliam Pitanga.

Projetos sociais estão sendo realizados em escolas públicas. O trabalho vai ser desenvolvido na capital e nas cidades do interior do estado em que a Secopa considera potenciais de visitação e pretende fazer exibi-ções públicas de jogos do mundial: Lençóis, Vitória da Conquista, Juazeiro, Porto Seguro, Camaçari, Lauro de Freitas, Mata de São João e Ilhéus. “Vamos intensificar as ações agora no segundo semestre de 2013. O objetivo é que a população compreenda que a Copa do Mundo também vem beneficiar todos nós”, frisa Pitanga.

A participação da população é um fator importante para o fortalecimen-to do setor turístico no estado, mas não é o único. Na opinião do espe-cialista em turismo da Fundação Getulio Vargas André Coelho, a Bahia deve apostar em sua história como atrativo turístico. “Essa questão da imagem tem que ter a ver com nossa cultura. Não adianta criar uma imagem distante da nossa realidade. A Bahia tem uma baita oportuni-dade de fazer bonito, porque tem detalhes que só a Bahia tem, como o fator histórico. É o lugar onde nasce o Brasil e a gente não destaca isso. Qualquer alemão sabe onde é o Muro de Berlim que foi derrubado. A gente poderia valorizar um pouco isso também”, sugere. “O Brasil nasceu na Bahia e isso é uma imagem bonita para o mundo. A Cruz de Cabrália está lá, mas é uma história que nem os brasileiros valorizam tanto”, lamenta.

Campanha em nove cidades para mobilizar baianosFoto: Patrik Stollarz / AFP

A Copa da Alemanha apostou na mudança

da imagem do alemão carrancudo por um povo

festeiro e simpático

“A Bahia tem uma baita oportunidade de fazer bonito, porque tem detalhes que só a Bahia tem”ANDRÉ COELHO, especialista em turismo da Fundação Getulio Vargas

um crescimento sustentado. Nos últimos quatro anos, a gente teve uma duplicação dos pernoites de brasileiros na Alemanha. Hoje, estamos com quase 700 mil”, pontua.

O PIB do país europeu no segundo trimestre de 2006 cresceu 2,4% em relação ao mesmo período no ano anterior e 185 mil pessoas foram integradas ao mercado de trabalho. “O turismo é um fator muito importante de economia na Alemanha. Hoje, o PIB trazido pelo turismo, você equipara a grandes indústrias, como a automobilística”, exemplifica Margaret.

Contabilizando todos os estrangeiros, a Alemanha registrou, no ano passado, 68,8 milhões de pernoites, o que representa 8,1% a mais do que em 2011. “O país vem registrando recordes, já por três anos, no número de turistas e isso ainda é resultado da Copa do Mundo”.

O sucesso no setor de turismo não teria sido alcançado sem a participação e determinação da população alemã, observada principalmente nas 12 cidades-sede da Copa, entre elas Berlim, Munique e Frankfurt. “Acho que o grande segredo dessa campanha foi realmente o envolvimento da população. O primeiro passo foi mostrar qual era a importância que a Copa do Mundo teria para eles, o que isso representaria. E aí começou todo um trabalho de conscientização da população e das pessoas envolvidas com o turismo. Depois, uma capacitação dessas pessoas do turismo para receber bem os estrangeiros”, destaca Grantham.

A campanha se chamava Campanha da Hospitalidade e foi criada entre governo, população e organizações de turismo. “A base do sucesso foi que todo mundo trabalhou com o mesmo objetivo”, completa. Uma pesquisa realizada pelo governo alemão após o torneio apontou que 9 entre 10 turistas recomendariam a Alemanha como destino turístico.

“O país vem registrando recordes no número de turistas e isso ainda é resultado da Copa do Mundo”MARGARET GRANTHAM, diretora do Centro de Turismo Alemão para a América do Sul

O trabalho interno desenvolvido pela Alemanha para atrair e movimentar os interesses da sociedade foi o que mais chamou a atenção de Liliam Pitanga, coordenadora executiva de projetos da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo (Secopa).

Em outubro de 2012, ela e outros integrantes do órgão participaram de um intercâmbio técnico realizado em Salvador com representantes da administração de cidades alemãs que sediaram jogos em 2006. “O nosso desejo é que, assim como aconteceu na Alemanha, a população também se sinta pertencente à Copa”, afirma Liliam Pitanga.

56 57

A menos de um ano da Copa do Mundo, o especialista em turismo da Fundação Getulio Vargas André Coelho recomenda que a Bahia priorize três vertentes de investimento, que considera básicas para atender ao turista. Além de ter centros de informação bem preparados, André chama a atenção para a sinalização e a infraestrutura dos pontos tu-rísticos. “Durante a Copa, o turista não vai visitar todos os atrativos existentes. Ele vai nos principais, que todos visitam, e esses lugares têm que estar bem preparados, pintadinho, bonitinho, com pontos de acesso, lugar para estacionar, banheiros, aceitando cartão de crédito. O Pelourinho, por exemplo, precisa estar muito bem estruturado”, afirma o especialista.

É importante que a cidade e os principais locais de visitação estejam bem sinalizados para que o turista não se perca. “Informação é muito importante. Se a Bahia quer transferir uma boa imagem para o mundo, a melhor coisa é não ter turista perdido no beco do Pelourinho. Eles têm que circular pelas áreas principais, onde está policiado e organizado, para sair dali feliz. A um ano de Copa, é isso que tem que fazer, investir no básico. Não é caro e é objetivo”, pontua André Coelho.

Informações turísticas são essenciais, diz especialista

“Informação é muito importante. Se a Bahia quer passar uma boa imagem , é melhor não ter turista perdido no beco do Pelourinho”ANDRÉ COELHO, especialista da FGV

SALVADOR NA COPA 2014

A prefeitura quer apostar na imagem de uma Salvador rica culturalmente, uma cidade ‘vibrante e singular no mundo inteiro’

“A grande marca que se pode deixar para o turista numa cidade como Salvador não é infraestrutura é a vivência que aquele turista teve na cidade. Será um diferencial relevante para a marca de Salvador”, acredita o secretário Guilherme Bellintani

ROBSON MENDES

A promessa é de que pontos turísticos importantes da cidade, como o Forte São Marcelo, o Mercado Modelo, a Casa de Iemanjá, o Elevador Lacerda e o Pelourinho, estejam revitalizados até a Copa

Haverá um calendário com 40 eventos, que será mantido após a Copa de 2014. A Semana da Música, a Festa da Cultura Latina e a reestruturação das festas populares estão nos planos da prefeitura, que quer investir numa nova relação do turismo com as experiências da cidade

Mesmo sem os equipamentos definitivos prontos até a Copa, a prefeitura garante que as praias urbanas de Salvador estarão entre as ofertas positivas na vitrine da Copa do Mundo, com a instalação de equipamentos comerciais

Para aproveitar o turista durante os jogos, o governo do estado concentra as ações em sete cidades do interior: Porto Seguro, Camaçari, Mata de São João, Ilhéus, Lençóis, Juazeiro e Vitória da Conquista

A expectativa da Secopa é que aproximadamente

estrangeiros passem pela Bahia durante o mundial

70mil

De acordo com o secretário Guilherme Bellintani, a revitalização dos equipamentos é uma das preocupações da prefeitura. “Iniciamos um processo de reestruturação de todos os equipamentos de cultura e de turismo da cidade para oferecer ao turista e ao baiano uma nova relação com eles. É um processo arrojado que envolve aproximadamente 25 equipamentos”, explica. Nem todas as intervenções terão sido finaliza-das até o final do primeiro semestre de 2014, mas, segundo Bellintani, atrativos como o Forte São Marcelo, o Mercado Modelo, a Casa de Iemanjá e o Pelourinho já estarão prontos para a Copa.

58 59

O Gautrain, linha de trem rápido que liga o aeroporto de Johannesburgo a Pretória, só foi concluída (com 11 estações e 80 km de linha) após a realização da Copa, mas está entre os legados. As linhas de Bus Rapid Transit (BRT) também foram expandidas, assim como as estradas.

Apesar de não ter sido o suficiente para apresentar padrões de países desenvolvidos, o governo sul-africano investiu 33 bilhões de rands (4,28 bilhões de dólares) em estádios, telecomunicações e infraestrutura de transportes. “Foi necessário um investimento considerável na mobilidade urbana da África do Sul. No caso de Salvador, o que a gente observa é que as intervenções em mobilidade urbana são fundamentais também. As dificuldades de acessibilidade, até por causa da ausência de metrô, podem ser entraves para a Copa do Mundo”, alerta Ricardo Uvinha. “O evento da Copa das Confederações desse ano mostrou que está no caminho certo, houve toda uma mobilização para implementar a articulação do sistema viário, melhorar o fluxo de tráfego e de acesso no entorno da Arena Fonte Nova, mas ainda assim a gente percebe que Salvador precisa melhorar essa micro acessibilidade”, acrescenta.

Salvador tem uma frota com sete mil taxistas registrados, mas as queixas sobre cobranças irregulares e recusas de transporte para trechos curtos são freqüentes, principalmente em grandes eventos, a exemplo do carnaval. Com o objetivo de coibir esse tipo de prática ilegal, a Transalvador

Foto: divulgação

Linha de trem rápido do aeroporto a Petrória só foi concluída depois da Copa, mas virou um dos legados dos jogos

Os erros e acertos da África do Sul

Dentro das quatro linhas, Brasil e África do Sul não se parecem em nada. Enquanto a Seleção Brasileira é protagonista do futebol com exclusivos cinco títulos mundiais, os Bafana Bafana ainda chamam a atenção apenas por sua alegria em campo. Fora do gramado, são os pentacampeões que precisam aprender com os erros e acertos do país sede da Copa do Mundo de 2010.

Apesar de mais desenvolvidas e estruturadas que as sul-africanas, as cidades brasileiras têm, em uma escala diferente, desafios semelhantes para a realização do mundial de 2014.

A primeira Copa do Mundo realizada no continente africano teve problemas típicos de um país em desenvolvimento e com reflexo no setor turístico. O principal entrave foi consequência do ainda não tão bem organizado transporte público sul-africano. “As linhas de ônibus na África do Sul não eram claras, as áreas de rodoviárias não eram seguras, não existia trem para se deslocar de uma cidade para outra e era preciso se deslocar de avião, as áreas eram distantes e as passagens eram caras, o que é um problema do Brasil também”, aponta o especialista em turismo da Fundação Getulio Vargas, André Coelho, que chefiou uma pesquisa realizada na África do Sul durante o torneio.

Principal centro financeiro e econômico do país, Johannesburgo não tem táxis nos padrões internacionais. “Os táxis são carros particulares, com corridas acordadas na hora e isso era um grande problema, pois acabavam cobrando uma corrida muito mais cara e os turistas pagavam, porque não tinham como circular”, relata André Coelho. “As vans foram muito utilizadas. Tinha vans legalizadas, oficiais da FIFA, e tinha vans não legalizadas. Eu parava na rua, encontrava um brasileiro, aí vinha uma van, a gente juntava e dividia”, conta.

Os caminhos por terra dificultaram a vida do turista que queria circular pelas cidades, mas o primeiro contato de quem chegava de fora era com uma infraestrutura adequada. O pesquisador e professor do curso de Lazer e Turismo da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Uvinha, destaca o investimento feito nos aeroportos do país.

“A mudança foi considerável nos aeroportos da África do Sul. Tive a oportunidade de visitar antes e depois da Copa e, como professor da área do turismo, percebo claramente a melhoria dos serviços a partir da Copa do Mundo. A Copa foi fundamental para aparelhar de uma forma mais organizada e equilibrada os aeroportos e esse foi um ganho considerável”.

60 61

para o Brasil mais reclamam é com relação aos altos preços. O turista estrangeiro considera caro viajar pelo Brasil. É caro se acomodar, comer e se locomover”, afirma Ricardo Uvinha. “Os hotéis estavam caríssimos na África do Sul e nem todos estavam com ocupação máxima. Foi completamente fora dos padrões e para o turista normal foi um problema. Acho que salvador é uma das cidades que vai ter problemas com isso, porque não tem uma malha hoteleira tão grande”, acrescenta André Coelho.

José Manoel Garrido, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis da Bahia, garante que a rede hoteleira do estado não cobrará preços abusivos durante o mundial do próximo ano. “Isso já foi assunto de reunião com o Ministério do Turismo. Houve essa preocupação, mas os hotéis assinaram um contrato com acordo de preços com a Fifa e já têm tarifas determinadas para a Copa do Mundo. Há um aumento, porque em qualquer evento grandioso existe um aumento natural das tarifas, mas não será um aumento exorbitante. Não haverá nenhum tipo de abuso”, afirma.

“As tarifas serão mais baixas do que no Carnaval, na faixa de R$ 300 a R$ 900 em médios a grandes hotéis”. A Bahia tem hoje aproximadamente 300 mil leitos, 40 mil deles estão na capital. Com a previsão de inauguração de novos empreendimentos, a expectativa é que Salvador e o Litoral Norte tenham à disposição 60 mil leitos até a Copa do Mundo.

O relatório oficial divulgado pela África do Sul também aponta que o país não registrou sucesso absoluto em público durante o mundial. Ao contrário, o número de turistas foi abaixo do esperado. Apenas 310 mil visitantes desembarcaram no país entre 11 de junho e 11 de julho de 2010 com a intenção de assistir aos jogos. O governo sul-africano esperava 450 mil pessoas para o evento e culpou a crise financeira da época como responsável pela baixa adesão de estrangeiros. Foi a mais baixa desde a Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, que teve 400 mil visitantes. O recorde é da Alemanha. Na Copa de 2006, o país europeu recebeu dois milhões de visitantes.

Foto: divulgação

Existem vans legalizadas e piratas: insegurança para os

turistas

planeja intensificar a realização de palestrar de conscientização. “Vamos intensificar reuniões e palestras com empresários, associações e sindicatos para que a gente possa conscientizá-los de que eles precisam cumprir o regulamento e tratar bem os clientes”, afirma o chefe de fiscalização da Transalvador, Genival Melo. “Na Copa das Confederações não tivemos reclamações”, comemora.

Na África do Sul, os turistas também esbarraram com os altos preços praticados durante o evento. “Foi uma Copa do Mundo muito cara para os estrangeiros, em compras, acomodação, alimentação. A alta dos preços foi algo que se reclamou muito”, destaca o professor Ricardo Uvinha. O turismo e a economia do país acabaram pagando por isso. De acordo com o relatório oficial divulgado pelo governo da África do Sul após o evento, o consumo dos estrangeiros durante o mundial foi de 3,64 bilhões de rands, aproximadamente R$ 905 milhões. Esse valor equivale a apenas uma fração dos R$ 4,2 bilhões gastos com os 10 estádios utilizados no mundial.

“Se reclamou bastante na África do Sul e infelizmente no Brasil ganha dimensões ainda maiores em termos de preocupação com relação aos altos preços. Um dos elementos que os turistas estrangeiros que vem

Foto: divulgação

As linhas Bus Rapid Transit (BRT) foram expandidas na África do Sul

“A Copa da África foi muito cara para os estrangeiros, em compras, acomodação, alimentação”RICARDO UVINHA, professor da USP

62 63

local em torno de 22 bilhões de reais”, destaca Ricardo Uvinha. “Foi muito positivo, principalmente do ponto de vista da imagem, de mostrar que África do Sul tem calor, tem cultura. A Copa chamou a atenção de outros lugares para a África do Sul”, acrescenta André Coelho, que acredita ser esse um dos principais ensinamentos do Mundial de 2010 para a Bahia.

“A África do Sul conseguiu transparência na imagem dela em relação ao que ela era, não tentou mostrar para o mundo um país que não existe, que não tem problemas. Ao contrário, quis mostrar que continuavam tendo problemas sociais, com algumas deficiências, mas que estavam evoluindo. O turista não é burro, ele entende melhor essa condição. A Bahia ganha muito mais mostrando o trabalho que ela faz pró-desenvolvimento do que querendo mostrar uma Bahia que não existe”, recomenda.

A Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) ainda não definiu a estratégia que será adotada durante os trinta dias do Mundial do 2014, que acontece de 12 de junho a 13 de julho, mas informou através de nota que ela será baseada na operação executada na Copa das Confederações. No evento de 2013, a Transalvador colocou 15 linhas de shuttle fazendo trajetos criados para atender ao público que foi à Arena Fonte Nova em dias de jogos. Turistas e moradores foram atendidos por 82 ônibus, que partiam para o estádio a cada 10 minutos.

Porém, o pesquisador André Coelho alerta sobre a importância de o turista conseguir se deslocar facilmente não apenas do hotel para o estádio, mas também para os pontos turísticos da cidade. “É uma coisa que a Bahia deve se preocupar. O turista de hoje em dia não é um turista que está preso mais ao transporte da agência de viagem. Ele quer usar o transporte público, quer se deslocar livremente”, explica.

A menos de um ano da Copa do Mundo, não será possível sanar todos os problemas do transporte público. Pegar um táxi será a alternativa para muitos turistas. O serviço oferecido pelos motoristas serve como um cartão de visitas positivo ou negativo. “Os taxistas têm uma importância vital num evento como esse, porque conhecem a cidade e podem circular como uma espécie de guia. É importante que eles não fiquem enganando o turista e que entendam que precisam passar uma imagem positiva da Bahia”, frisa André Coelho.

A expectativa do governo brasileiro é de receber 600 mil turistas estrangeiros nas 12 cidades-sedes durante a Copa do Mundo do próximo ano. Destes, estima-se que cerca de 50 mil venham para Salvador. Na tentativa de evitar frustrações como aconteceram nas cidades africanas, a Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo (Secopa), vai intensificar no segundo semestre desse ano as ações de promoções da Bahia em 13 países identificados como potenciais emissores de turistas para o estado durante o mundial. São eles: Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, Peru, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Holanda, França, México e Estados Unidos.

“Nós temos um trabalho de captação de torcedores em países com potencial, independentemente da seleção dele vir ficar hospedada ou aclimatada na Bahia. Esses países se mostraram interessados na Bahia durante o ‘Go to Brazil’ (Vá para o Brasil), evento capitaneado pela Embratur em 12 cidades no mundo”, conta o coordenador de Relações Internacionais e Esportivas da Secopa, Marco Costa.

Apesar de todos os entraves, o Mundial ajudou a alavancar o turismo da África do Sul. “Não houve prejuízo. O turismo sul-africano foi beneficiado. Com a vinda dos turistas internacionais, foram injetados na economia

64 65

de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo (MTur), Fábio Mota. O município que abriga Praia do Forte recebeu, em 2012, mais de R$ 10 milhões para realizar obras de acesso à orla e ao Castelo Garcia D’Ávila.

A situação de Salvador foi parar na Justiça: a capital está na lista de endivida-dos, mas em 2013 conseguiu firmar convênios com o Ministério do Turismo, na ordem de R$ 20 milhões, através de liminares conseguidas na Justica. Entre as obras que serão feitas com esse recurso estão o Mercado de Itapuã e a revitalização da orla da cidade. “Salvador conveniou e conseguiu a liminar quando ACM Neto assumiu a prefeitura. Eram dívidas da gestão passada e o argumento que usaram era que os recursos perdidos trariam prejuízos para a cidade”, explica Mota.

Para o secretário, o tempo perdido deixou Salvador em desvantagem em relação a outras cidades que também vão sediar a Copa no próximo ano. “Salvador perdeu muito. Ficou o ano todo sem poder assinar convênio. Por estar inadimplente com o governo federal, os recursos de Salvador só chegavam através do estado”, diz. “Fortaleza recebeu R$ 17 milhões em 2012 para fazer obras de acessibilidade aos monumentos turísticos da Beira Mar”, exemplifica Fábio Mota.

A capital baiana ainda permanece na lista de inadimplentes do governo federal. “Estamos trabalhando para regularizar essa situação em, no máximo, 60 dias”, disse o secretário municipal do Turismo, Guilherme

Salvador foi a única que conseguiu parte da verba pela Justiça, mas ainda depende de recursos para obras na orla

Foto: Andrea Farias/

Arquivo Correio

“Temos um problema particular da Bahia. Em 2012, não conseguimos transferir recursos para os destinos indutores de turismo no estado”FÁBIO MOTA, secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo

Porto Seguro, Maraú e Lençóis estão entre os cinco municípios baianos na lista de 65 destinos considerados indutores de turismo do Brasil, mas a menos de um ano da Copa do Mundo eles não podem obter recursos do Ministério do Turismo para investir em infraestrutura e capacitação pro-fissional. Salvador também está inadimplente com a União, mas foi a única cidade que conseguiu em 2013, na Justiça, liberação para dois projetos. Como ainda não regularizou a situação, não pode receber novos investimen-tos, como parte dos recursos para revitalização da orla.

A dívida das três prefeituras chega a pelo menos R$ 42 milhões e, com isso, estão impossibilitadas de firmar convênios com o ministério. Salvador não informou o valor da pendência com o governo federal. Mata de São João, que enfrentou o mesmo problema até dezembro de 2012, completa o grupo de cinco municípios indutores na Bahia - cidades que têm atrativos qualificados e recebem ou distribuem o fluxo de turismo de uma região.

“Temos um problema particular da Bahia. Em 2012, não conseguimos trans-ferir recursos para os destinos indutores de turismo no estado. Passamos 2012 sem poder fazer obra de infraestrutura ou convênios de capacita-ção. Só Mata de São João podia receber recursos do Ministério do Turismo. Todos os outros estavam inadimplentes”, revela o secretário nacional

Sem receber um tostão

Paraíso baiano, Maraú busca verba para obra de saneamento, essencial para preservar as belas praias da região

Foto: divulgação

66 67

Um município que deverá ser Centro de Treinamento (CT) para seleções da Copa do Mundo, Porto Seguro já recebeu visitas de pelo menos três seleções interessadas em se hospedar lá: Noruega, Suécia e Alemanha. “Porto Seguro é considerado um local estratégico, porque está relativa-mente próximo de várias sedes, como Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo”, explicou o secretário de Turismo do município, Luís Otávio Borges.

O secretário acredita que a cidade, que já tem infraestrutura turística e hoteleira consolidada, pode abrigar até mais de uma seleção. “As seleções que vieram ficaram impressionadas com nossa infraestrutura”, disse. No entanto, para que isso se concretize, será preciso concluir a reforma do Estádio Municipal, que servirá de local de treinamento para as seleções.

Mesmo com a situação financeira da prefeitura, Borges assegura que todas as adaptações necessárias serão realizadas no estádio. “Faremos a reforma do estádio através da Secopa, que captou um financiamento através do Ministério do Esporte”, disse Luís Otávio Borges. “A própria Secopa fará a contratação da licitação e a fiscalização da obra”, com-pletou. Borges admite, porém, que “poderia ser melhor” se a prefeitura pudesse captar recursos diretamente da União. “Poderíamos aproveitar o momento para conseguir maiores investimentos”, disse.

“Estamos trabalhando para aumentar a arrecadação e quitar as dívidas, mas isso demora um pouco”, admite. Do outro lado, Mata de São João, que também está se preparando para ser CT de seleções que vão jogar em Salvador, comemora os recursos já recebidos. “Acabamos de receber R$ 1,5 milhão para construir um campo de treinamento na entrada da Praia do Forte”, disse a secretária do Turismo, Rafaela Pondé. “As obras já começaram em junho, estamos na fase de terraplanagem e a entrega está prevista para o início de 2014”, afirmou. Segundo ela, pelo menos seis seleções já visitaram o município - Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Bélgica e Grécia.

Porto Seguro precisa reformar estádio para atrair seleçõesBellintani. Segundo ele, parte dos projetos de revitalização da orla de Salvador ainda depende do repasse de recursos pelo governo federal.

Segundo a secretária de Cultura e Turismo de Mata de São João, Rafaela Pondé, a situação do município permanece regular. “Fomos para a lista dos inadimplentes por problemas com contratos, mas já foram resolvidos”, assegura. O jornal Correio entrevistou os prefeitos dos outros três muni-cípios inadimplentes com o governo federal, que reconheceram a situação, mas permanecem otimistas.

Em Porto Seguro, a prefeita Cláudia Oliveira (PSD) disse que recebeu a admi-nistração afundada em dívidas, em janeiro, quando assumiu o posto no lugar de Gilberto Abade (PSB). O montante chegou a R$ 40 milhões e os gastos com a folha de pagamento de servidores correspondiam a 67% da receita municipal. Hoje, restam R$ 32 milhões a pagar.

“Até hoje, somos pegos de surpresa, a cada dia, com novas dívidas que aparecem”, conta. “Temos débito grande com o INSS, que nos impede de receber os recursos”, explicou. A tesouraria da prefeitura já parcelou a dívida, de valor não divulgado, em 240 meses, mas a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impede repasses da União a municípios com gastos elevados com servidores.

Em Maraú, paraíso natural baiano, a realidade é ainda mais grave. A prefei-tura precisa de verba federal e estadual para pavimentar a BR-030, estrada de barro que leva à península de Maraú, e também para obras de esgota-mento sanitário e abastecimento de água aos 18 povoados locais. “Hoje, as pessoas bebem água de poço”, conta a prefeita Gracinha Viana (PP). “Para o turista, é uma situação péssima”, admite.

As finanças também vão mal. “Herdamos dívidas de mais de R$ 10 milhões”, afirma a prefeita. A dívida foi parcelada, mas os repasses federais ainda não estão liberados. “Barra Grande é um lugar belíssimo, mas precisa remodela-ção turística. As praças não estão arrumadas, o atracadouro está caindo aos pedaços”, completa.

Também endividada, a prefeitura de Lençóis aposta no parcelamento das dívidas. “Temos dívidas de FGTS e INSS, entre outras. Algumas já consegui-mos parcelar”, afirmou a prefeita do município, Moema Maciel (PSD).

“Hoje, as pessoas bebem água de poço. Para o turista, é uma situação péssima”GRACINHA VIANA, prefeita de Maraú

68 69

“Após a sinaleira, pega a segunda à direita. Depois, conta três quebra-molas e vira à esquerda. Fica em frente a uma padaria com muro azul”. Se você nasceu em Salvador ou mora na capital baiana há muito tempo, seguramen-te já recebeu ou deu uma orientação no trânsito parecida com a descrita anteriormente. É hábito da maioria dos soteropolitanos encontrar os lugares através de pontos de referência indicados por amigos.

Quem está acostumado a transitar pelas ruas da cidade de carro muitas vezes nem nota a existência de placas que indicam como chegar a bairros e pontos turísticos, mas são elas que vão ajudar a direcionar os milhares de turistas que visitarão Salvador na Copa do Mundo de 2014. A estimativa é que 60 mil estrangeiros desembarquem na capital baiana para curtir as emoções do Mundial, que acontece de 12 de junho a 13 de julho.

Dever de casa

Pode não ser tão fácil. O turista que tentar encontrar o bairro soteropolitano, imortalizado na voz de Vinícius de Moraes e Toquinho, terá dificuldade se decidir ir direto do aeroporto. Mal localizada, a placa leva ao bairro de São Cristóvão, bem diferente do destino desejado

Passar uma tarde em Itapuã...

Foto: Robson Mendes

O titular da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur), Domingos Leonelli, comentou a situação dos municípios indutores do turismo que estão inadimplentes. “Eles também não podem receber recursos do estado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas nós podemos ajudá-los com ações da própria secretaria”, afirmou. No entanto, o secretário manifestou preocu-pação com a situação das contas dessas cidades.

“Nós temos toda a disposição para ajudar, mas essa não é a situação ideal”, acrescentou. “O melhor seria que as prefeituras pudessem também captar recursos e realizar ações de turismo com recursos próprios, porque as ações locais, estaduais e federais seriam cumulativas”.

Leonelli afirmou que os programas de qualificação profissional para a Copa do Mundo serão realizados pela própria Setur em Porto Seguro, Maraú e Lençóis. “Isso pode ser feito, sem problema, com a colaboração dos mu-nicípios”, afirmou. Serão usados recursos do Pronatec Copa, programa do governo federal voltado para a qualificação profissional.

O secretário afirmou ainda que a Setur conseguiu aprovar, no Ministério do Turismo, obras físicas de infraestrutura em Lençóis. “Reformaremos o terminal turístico rodoviário do distrito de Tanquinho e também faremos a recuperação de uma ponte e da via de entrada da cidade”, enumera.

Em Maraú, já há recursos disponíveis para a recuperação do atracadouro e a urbanização de uma das praias da península, mas nenhuma obra de saneamento está prevista. Em Porto Seguro, a Passarela do Álcool será reformada.

‘Temos disposição para ajudar, mas não é a situação ideal’

“O melhor seria que as prefeituras pudessem também captar recursos”DOMINGOS LEONELLI, secretário do Turismo da Bahia

70 71

Ao sair do Centro Histórico, no sentido da Rua Carlos Gomes, não havia nenhuma sinalização para o Mercado Modelo, nosso terceiro destino. Passamos pelo Passeio Público, Campo Grande e entramos na Avenida Contorno sem encontrar uma placa indicando o caminho para um dos pontos turísticos mais visitados da capital baiana. Finalmente, avistamos uma. Onde? Exatamente em frente ao Mercado Modelo.

De lá, partimos para a Igreja do Senhor do Bonfim. Nosso quarto destino foi o único fácil de encontrar seguindo as placas da cidade. O turista que vier a Salvador não vai ter dificuldade para pedir proteção: é indicada até a quilometragem para chegar à igreja mais famosa da Bahia. A maioria tem a indicação escrita em três idiomas: português, inglês e espanhol.

Mas o visitante que de lá quiser apreciar o visual do Farol da Barra vai ter um pouco de dificuldade para encontrar o atrativo turístico localizado na orla. A primeira placa indicando o sentido da Barra só aparece na Feira de São Joaquim. Seguimos a sinalização e chegamos ao Vale do Canela, mas não há placa indicando que é necessário virar à direita para pegar a Avenida Centenário e chegar no bairro. Mais uma vez, tivemos que contar com a competência de Jair no volante. Nesse trajeto, até encontramos placas turís-ticas mostrando como fazer para visitar a Lagoa do Abaeté, mas nenhuma indicando o caminho para o Farol da Barra.

Português, inglês e espanhol. O turista que falar uma dessas línguas não vai ter dificuldade para encontrar a igreja mais famosa da Bahia. Há muitas placas indicando como chegar à Colina Sagrada, inclusive com a quilometragem

Do Centro Histórico para o Mercado Modelo, a equipe passou pela Avenida Carlos Gomes, Passeio Público, Campo Grande, Avenida Contorno e nada de sinalização indicando como chegar ao ponto turístico. A única placa estava em frente ao casarão

Senhor do Bonfim agradece!

Mercado Modelo fora de rota

Foto: Robson Mendes

Foto: Robson Mendes

Mas será que os nossos visitantes conseguirão encontrar as belezas e atra-tivos de Salvador se guiando pelas placas disponíveis em Salvador? O jornal Correio foi conferir na prática. Eu (Daniela Leone), o fotógrafo Robson Melo e o motorista Jair Guimarães passamos uma tarde inteirinha percorrendo as ruas da cidade com o objetivo de encontrar cinco pontos turísticos. Após 83 quilômetros e três horas e meia, a conclusão não é nada animadora.

Nosso roteiro começou no aeroporto, às 15h. O bairro de Itapuã foi nosso primeiro destino. De cara, identificamos o primeiro problema. O turista que desembarcar e tiver pressa para conferir a propaganda dos versos que ficaram conhecidos na voz de Toquinho vai parar em um cenário bem di-ferente do retratado na canção Tarde em Itapuã. É que a placa da Avenida Paralela que sinaliza o caminho para o bairro de Itapuã está localizada no local errado e leva, na verdade, a São Cristóvão.

Seguimos para o Pelourinho. Na Avenida Bonocô, há placas indicando o caminho para o Centro Histórico direitinho, mas elas se tornam confusas ao chegar no Vale de Nazaré. Primeiro, uma placa indica que o motorista deve ir reto. Depois, uma outra, pichada e de difícil leitura, que deve dobrar à direita. “Realmente, só é fácil pra quem conhece. Quem vem a primeira vez se perde, principalmente porque as placas são muito próximas umas das outras e confusas”, opina o nosso motorista Jair.

Logo após entrar na pista correta, é preciso virar à direita para seguir na direção do Pelourinho. Sem nenhuma placa indicando isso, nós só não nos perdemos outra vez porque Jair conhece Salvador como a palma da mão. Ao chegar à Baixa dos Sapateiros, novamente não encontramos nenhuma placa sinalizando onde deveríamos entrar para o Pelourinho e acabamos indo parar no fim de linha da Barroquinha. Outro problema para o turista. Ao dar a volta e fazer o sentido inverso, aí sim avistamos uma única placa sinalizando o caminho correto.

72 73

Salvador terá 1.880 placas de sinalização para orientação de moradores e turistas, a partir de 2014. Os novos equipamentos, dos quais 260 serão os primeiros do Brasil de caráter interativo, com o uso da tecnologia QR Code, contarão com investimentos de R$ 6.149.000, captados no Ministério do Turismo e disponibilizados pelo governo da Bahia, por meio da Secretaria do Turismo do Estado e prefeitura de Salvador.

O projeto seria entregue no final de 2013 à Caixa Econômica Federal, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e prefeitura de Salvador para as últimas análises e aprovação final. As fases seguintes serão as de licitação e implantação das placas. A previsão é que os serviços sejam concluídos até a Copa do Mundo de 2014.

“Essa verba está disponibilizada desde janeiro de 2013, mas não havia projeto executivo. Esse projeto foi contratado e finalizado na primeira semana de agosto e agora estamos preparando a licitação”, afirmou o secretário de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani. As novas placas serão mais completas, segundo o diretor de projetos da Secretaria do Turismo do Estado da Bahia, Antonio Sergio Sousa.

Novas placas serão instaladas em Salvador até 2014

Nova sinalização irá investir no turista que visita a cidade a pé

Serão implantadas 1.350 placas nos principais eixos de deslocamento da cidade, avenidas e ruas, orientando e direcionando os visitantes aos atrativos

No total, 270 placas vão orientar os visitantes que circulam a pé em cinco áreas prioritárias: Centro Histórico e entorno, Cidade Baixa (Comércio), Campo Grande e entorno, Península Itapagipana e Barra

As 260 placas de sinalização interpretativa, bilíngue, ficarão em edificações com valor histórico-cultural, praças, mirantes, parques e mapas animados

* Direção certa

Rodoviária

Rotas de pedestres

Interpretativa

Da Igreja do Bonfim para a Barra não há placa indicando como chegar ao Farol da Barra. Para fazer o passeio completo, o turista vai ter que pedir informações para chegar ao destino e perder tempo no trânsito de Salvador

Se é confuso para o morador que não está acostumado a circular pelo centro da cidade, imagine para o turista... Placas no Vale do Nazaré dão um verdadeiro nó na cabeça do motorista: pichadas e com sequência confusa, atrapalham o passeio

À procura da luz

Cadê o Pelourinho?

Fotos: Robson Mendes

Na Baixa dos Sapateiros, não há nenhuma placa sinalizando onde é preciso entrar para chegar ao Pelourinho. Se for reto, o turista acaba no fim de linha da Barroquinha

É aqui?

74 75

“Quando vejo um americano em algum dos eventos que trabalho fico logo animado e vou correndo atendê-lo. É uma forma de me manter atualizado e de aprender alguma palavra que não sei. E, se não sei, peço logo pra ele falar devagar: “Can you speak slower, please”, diz, jogando mais uma vez a formalidade para o espaço.

Depois das aulas, que duraram três meses, o garçom disse que sentiu a diferença no currículo. “Logo após o curso, fui convidado para trabalhar em um cruzeiro e viajar por 45 dias. Infelizmente, não pude ir por conta do trabalho, mas não fiquei triste, minha agenda está lotada até dezembro”, gaba-se, antes de iniciar uma nova demonstração de tudo o que aprendeu.

“Fork (garfo), spoon (colher), bottle (garrafa), water (água)”, diz, e ensina ao repórter como falar palito de dente em inglês: “toothpick”. “Sei contar até 5 mil”, tira onda. A humildade vem na esteira: “E você, achou o quê do meu inglês?”, pergunta. “Sabe como é, a gente sempre pode melhorar. Good bye!”, se despede.

Nos últimos seis anos, mais de 15 mil profissionais do setor de turismo participaram de cursos de qualificação em praticamente todas as zonas turísticas, como Mucugê, Andaraí e Lençóis, na Chapada Diamantina, ou Amargosa, Cruz das Almas, na rota junina, até a região litorânea, como Itacaré e Ilhéus.

“Nós percebemos uma lacuna muito grande na capacitação desses profissionais e, por isso, a Secretaria desenvolveu um programa de qualificação focado no atendimento do trade turístico”, explica Cássia Magalhães, superintendente de Serviços Turísticos da Setur.

A força-tarefa para capacitar o setor nesse período contou com investimento de R$ 17 milhões. Além dos cursos voltados para organizador de eventos, recepcionistas, camareiras e garçons, todos da linha de frente de atendimento ao turista, outros profissionais também participaram da capacitação, como policiais, guardas municipais, atendentes de barracas de praia e artesãos.

O destaque, segundo a superintendente, é que os professores vão até os locais de trabalho, como hotéis e pousadas. “Os cursos realizados in loco funcionam melhor porque reduzem a taxa de evasão dos inscritos e preparam os profissionais no próprio local onde eles trabalham”, explica Cássia.

O passo seguinte, segundo ela, foi oferecer cursos de gestão para micro e pequenos empresários, em um total de 13 turmas, com 325 empreendimentos cadastrados em Salvador e em municípios da Região

Capacitação dá upgrade profissional

O atendimento diferenciado do garçom Jurandir Marques já começa ao atender o telefone: “Hello, can I help you?”. A pergunta mistura a educação britânica e a malemolência da informalidade baiana. Diante do susto do repórter, o garçom já emenda um “How are you?”, e logo em seguida traduz: “Eu perguntei como vai você”, ri. O alô é apenas o prenúncio de uma animada metralhadora de palavras e expressões em inglês.

Jurandir foi um dos formandos do curso de inglês oferecido pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) da Copa, na Bahia. Mais de 1,8 mil alunos se inscreveram para as vagas oferecidas em treinamento para os jogos de 2014, segundo a Secretaria de Turismo da Bahia (Setur).

Atualmente, 25 turmas oferecem cursos de inglês em Salvador, Vera Cruz e Cairu. Também estão abertas mais de 300 vagas para taxistas e outras 4,7 mil para profissionais de turismo nas áreas de hotelaria.

O secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, afirmou no Fórum Agenda Bahia que a capacitação profissional dos baianos será o grande legado da Copa no estado.

Os cursos de inglês e espanhol são os campeões de busca entre as vagas oferecidas gratuitamente. “É um curso excelente para quem quer aprender e, quem tiver a oportunidade, não pode perder”, explica Jurandir, dessa vez em português.

Foto: Almiro Lopes

O garçom Jurandir Marques fez o curso de inglês do Pronatec Copa e ampliou a oferta de empregos

76 77

“Sempre que abrimos uma turma há uma lista enorme de inscritos. Mas quando chega a hora de começar vêm as justificativas: o cansaço, a jornada de trabalho, o horário. Por isso, temos trabalhado junto com as empresas para poder ajudá-los a concluir o curso”, explica a diretora do Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) de Salvador, Maria das Graças Xavier.

Segundo a Secopa, no convênio firmado com a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o curso de maior procura foi inglês, com 600 inscritos. Porém, 154 abandonaram antes de receber o canudo.

Já nas seis turmas voltadas para aprimorar a linha de frente do atendimento, os recepcionistas, o abandono foi menor. Dos 217 inscritos, apenas 30 desistiram. Entre os setores que tiveram pouca ou nenhuma busca estão os frentistas e os responsáveis por mercadorias no ramo de alimentos e bebidas.

De acordo com a Secretaria do Turismo do Estado da Bahia, o número de leitos hoteleiros em Salvador passou de 35 mil para 39 mil nos últimos 4 anos. O aumento provocou uma busca maior por camareiras e recepcionistas, gerando uma demanda no mercado por profissionais capacitados.

O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte (SHRBS), Silvio Pessoa, identifica, na má qualidade do atendimento, o ponto fraco da cidade na hora de atrair turistas. “Não adianta reforçar esse estereótipo do bem receber na Bahia se nossos profissionais estão mal preparados para receber os visitantes”.

“Não adianta reforçar esse estereótipo do bem receber na Bahia se nossos profissionais estão mal preparados”SILVIO PESSOA, presidente do SHRBS

Metropolitana e do Recôncavo. Atualmente, uma das apostas é no setor do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). Em São Paulo, onde está o modelo que serve de inspiração para a semana da diversidade realizada em Salvador, já movimenta R$ 188 milhões só durante a Parada Gay. “Trabalhamos com profissionais de hotéis, bares, restaurantes e policiais militares para sensibilizá-los a esse público”, defende.

Entre todas as regiões do país, Salvador só ficou atrás de Porto Alegre na busca pelos cursos gratuitos oferecidos pelo Pronatec-Copa, com capacitação para garçons, recepcionistas, camareiras e outros cargos de atendimento ao turista. Para a abertura de vagas, foram observadas as demandas da capital em relação à oferta de serviços no setor turístico.

Mas alguns profissionais não conseguem terminar. O curso voltado aos rodoviários tem o maior abandono entre as vagas gratuitas oferecidas. Dados da Secopa apontam que, dos 208 inscritos no curso voltado à categoria, 53 abandonaram a turma.

NÚMERO DE VAGAS

PROJETO/SEGMENTO/OCUPAÇÃO

LOCALPRÉ-REQUISITO

3.100 Requalificação da Feira de São Joaquim (empresários e feirantes)

SalvadorTrabalhar na Feira

300 Taxista SalvadorEstar na ativa

112 Proprietários de meios de hospedagem na modalidade Cama e Café e hotéis históri-cos e/ou pousadas

Salvador, Cachoeira, Cruz das Almas, Amargosa e Santo Amaro

Oferecer serviços nessas modalidades

1.000 Pronatec - Área de idiomas (inglês, francês, espanhol e libras); Ocupação em meio de hospedagem e alimentos e bebidas, além de receptivo

Salvador, Mata de São João, Lençóis, Itaparica, Cairu, Cachoeira, Vera Cruz, Maragojipe e Lauro de Freitas

Maior de 18 anos, trabalhar no segmento de turismo, escolari-dade compatível com os cursos

200 Dirigentes municipais de turismo

Estado da Bahia

----------

---------- ----------4.712 Total

NOVA CHANCE

78 79

O segredo para conseguir sobreviver em um mercado competitivo ou em momentos de crise pode estar em nadar contra a maré. Pelo menos é o que ensina o dono do Hostel Hospeda Salvador, que fica em uma das ruas do Pelourinho. A aposta no uso de redes sociais para divulgar promoções e o foco na segmentação do público fizeram com que o hostel tivesse 60% dos 42 leitos ocupados apenas por voluntários durante toda a Copa das Confederações.

O gerente David Costa apostou nos voluntários e não nos turistas es-trangeiros. “Apesar de virem em número menor, teriam de ficar pelo menos 20 dias nas cidades-sede. Tentei trazer os que viriam para Salvador para o hostel”, explica o gerente David Costa.

As dicas que fizeram David enxergar o pulo do gato vieram de cursos de capacitação em gestão financeira e estratégias de marketing oferecidos pelo Sebrae. O workshop e a consultoria para aprimorar ferramentas administrativas o ajudaram a pensar formas para se diferenciar no con-corrido serviço de hospedagem.

“Fechei um pacote especial e divulguei através dos grupos que cada cidade-sede tinha no Facebook”, revela o gerente. Para a Copa de 2014, o hostel já se prepara, aumentando o número de leitos para 54 unidades. A procura na Copa das Confederações foi tão grande que eles indicaram hóspedes para outros hostels.

“A concorrência é grande, então focamos nossa atuação no Facebook e também no TripAdvisor, para atrair um público que não costuma se hospedar em hostels”, explica David. Ele comemorou a alta procura do hostel para dezembro de 2013. Réveillon? Não. O motivo para estar com a ocupação de dezembro quase lotada dois meses antes foi a gravação do DVD de Ivete Sangalo, no dia 14 de dezembro, na Arena Fonte Nova. “Entrei em contato com fã-clubes nos sites de redes sociais e identifiquei os grupos que estavam vindo para Salvador. Ofereci um pacote especial pra eles”, dá a dica. O planejamento antecipado, um dos módulos do curso de gestão, acabou virando o ponto forte do hostel.

Gerente encontra no Facebook novo público para hostel

O Carnaval do Rio de Janeiro foi a inspiração para a implantação do projeto Cama e Café, criado pela Setur, na Bahia. Com 112 empreendi-mentos mapeados e cadastrados em sua primeira fase, o programa cria uma rede que oferece hospedagens de qualidade com preços baixos.

A aposentada Ana Marli Oliveira abriu as portas de casa, no bairro de Itapuã, para a vinda de turistas. “Como eu moro só, é uma experiência muito boa, só de ter o contato e poder conversar com algumas pessoas. Sem falar que é uma boa ajuda financeira”, conta a aposentada. Ela costuma cobrar diária de R$ 70 para um quarto sem banheiro, e a suíte fica por R$ 89. Apartamento na parte dos fundos da casa custa R$ 130, e é alugado, em geral, para casais com filho. “Financeiramente é exce-lente. Ano passado, eu recebi uma família que, com a renda que ganhei, consegui pintar a casa inteira. Foi ótimo”, comemora.

Os consultores do Cama e Café orientam os empreendedores a gerir seu estabelecimento e dão dicas para profissionalizar um pouco mais o acon-chego de casa. A estrutura oferecida pelo projeto vai ajudar pequenos estabelecimentos que ficam em rotas turísticas. Entre os destinos bene-ficiados estão Cachoeira, Santo Antonio de Jesus, Amargosa e Cruz das Almas, que recebem milhares de turistas por conta de grandes eventos culturais e religiosos como o São João, a Festa da Irmandade da Boa Morte e a Feira Literária Internacional (Flica).

Turista paga menos e proprietário reforça renda

*Valorização

15 mil profissionais do turismo participaram de cursos de qualificação, nos últimos seis anos, nas áreas turísticas da Bahia

R$ 17 milhões:

o investimento usado para a capacitação profissional

600 inscritos no curso de inglês da Uneb, o de maior procura da Secopa

112 empreendimentos de Cama e Café foram mapeados pela Setur: uma rede de hospedagens com preços baixos

80 81

Sem estrutura para abrir uma loja física, Nea vai vender os produtos através de um site. Inicialmente, a principal captação de clientes será feita através do Facebook. “Estou na correria para quando chegar a Copa, meus produtos já estarem todos na loja virtual. A gente precisa ter essa visibili-dade, não adianta ter produto bom e ninguém ver”. Hoje, ela exibe algumas peças em um blog e já identificou que o trabalho desperta o interesse dos estrangeiros. “O pessoal que visita meu blog é todo de fora, muitos dos Estados Unidos”, destaca.

Enquanto Nea se planeja para lucrar com a Copa do Mundo daqui, Augusto Alagia já colhe os frutos das oportunidades geradas pelo Mundial. Ele é dono da Capitão Pintura e viu seu negócio ser impulsionado pela demanda da estrutura necessária para a realização do torneio. A empresa especia-lizada em serviços de pintura foi aberta há dois anos e se fortaleceu no mercado após ser contratada para trabalhar no acabamento da obra da Arena Fonte Nova.

“A Copa foi um grande divisor de águas. Fomos chamados para prestar serviço na Fonte Nova e, a partir daí, começamos a encaixar vários serviços. Antes, tínhamos em torno de 10 a 15 profissionais. Depois da Arena, em um espaço de dois meses, contratamos de 80 a 90 funcioná-rios. Hoje, já estamos chegando a 100 colaboradores e a 500 até o final de 2014”, afirma o empresário de 32 anos.

A Arena, segundo Alagia, exigiu um nível de profissionalismo que resultou em mudança de cultura na empresa. Em 2012, o faturamento da Capitão Pintura foi de R$ 200 mil. A previsão para 2013 era 15 vezes maior, em torno de R$ 3 milhões.

Em fase de formatação de uma franquia da empresa, Augusto Alagia prevê um lucro ainda mais audacioso até o final de 2014. “Queremos ter entre 10 e 15 franquias e um faturamento total de R$ 20 milhões”, planeja. “Em 2015, 30 franquias, em 2018, 200 unidades franqueadas”, diz, animado.

Nea e Augusto se enquadram em uma cadeia de negócios gerada pela realização do maior evento de futebol do planeta, que acontece no Brasil, de 12 de junho a 13 de julho de 2014, e tem Salvador como uma das 12 cidades-sede.

Em 2011, diante do cenário positivo de investimentos e movimenta-ção econômica decorrentes da realização da Copa do Mundo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getulio Vargas, mapeou as oportunidades de negócios e desenvolvimento empresarial da cidade de Salvador e Região Metropolitana.

A lembrança mais famosa da Bahia vira moda nas mãos da estilista Nea Santtana. No que depender dela, as fitinhas do Senhor do Bonfim não serão exibidas pelos turistas na Copa do Mundo apenas nos punhos. Com a ajuda de apenas uma funcionária, ela está na fase final de produção de uma coleção que exibe o souvenir em acessórios como bolsas, ecobags, porta-moedas e necessaires. Ao todo, são 12 produtos com a temática do Mundial.

“O mundo está de olho no Brasil, a gente tem que aproveitar. Acho que a Copa vai trazer muita renda, até porque nosso produto tem tudo para bombar e vender bem”, vibra a empresária de 28 anos, dona de um ateliê no bairro de Jardim Armação.

Nea aprendeu a costurar com a mãe, aos 12 anos. Dona Maria São Pedro viu de perto o ensinamento ser trans-formado em arte e ainda foi a modelo inspiradora que despertou a visão empresarial da filha. “Fiz uma bandeira do Brasil com fitinhas pra minha mãe e todo mundo dizia ‘imagina na Copa’. Aí pensei: ‘Tenho que me preparar para a Copa’. Tem uns dois anos que a gente tá se preparando”.

Nea amadureceu a ideia e há pouco mais de um ano decidiu formalizar a empresa. “Eu sou empreendedora individual e trabalho junto com meu marido. A gente já tinha a empresa, mas preci-sava formalizar. Nós compramos mais equipamentos e fizemos alguns cursos, de planejamento e gestão de negócio”, conta.

Eles ganharam o jogo

Nea Santtana e sua coleção de moda, toda inspirada nas tradicionais fitinhas do Bonfim: de olho nos turistasFoto: Evandro Veiga

82 83

No primeiro momento, as empresas da área de construção civil, a exemplo da de Augusto Alagia, foram as que tiveram mais oportunidade no mercado baiano, principalmente por conta da reconstrução da Arena Fonte Nova. Depois, além do turismo, os setores têxtil e agronegócios ganharam mais força.

“No agronegócio, gerou oportunidade, principalmente, para gente trabalhar com produtos orgânicos na área de apicultura e derivados de cana, porque eles são fornecedores da cadeia de consumo de bares, restaurantes, hotéis e pousadas. E também pela questão da sustentabilidade. O novo mercado requer produtos orgânicos”, destaca José Hélio Souza, gestor do Projeto Sebrae 2014. Atualmente, 18 empresas de agronegócios da Bahia estão sendo capacitadas pelo órgão.

A área têxtil foi alavancada pela crescente demanda por artigos esportivos. “Brindes, confecções no setor masculino, feminino e infantil, acessórios, bonés, bolsas, camisetas, vestidos para a torcedora infantil... Todos os produtos desenhados e formatados para atender o turista da Copa”, diz José Hélio.

No momento, 40 empresas da área de moda estão sendo qualificadas pelo projeto. Apesar de em menor escala, a construção civil segue tendo demanda, porém em um segmento diferente. “A gente partiu para um novo encadeamento produtivo da construção civil, com empresas que fazem decoração, moldura, piso, instalação elétrica e hidráulica”, diz José Hélio.

Levando em consideração o potencial de investimento e o fluxo econô-mico proporcionado pelo Mundial, foram definidos nove setores: constru-ção civil, tecnologia da informação, madeira e móveis, têxtil e vestuário, turismo, produção associada ao turismo, comércio varejista, agronegócios e serviço.

Desde então, empresas desses setores receberam orientação do Sebrae para estarem preparadas e capacitadas para a comercialização de produtos ou serviços na Copa. Gestão, formulação de preço de venda, política de comercialização e desenvolvimento de novos produtos são alguns dos temas trabalhados pelo órgão, que atendeu 1.483 empresas até dezembro de 2012 e prevê trabalhar com outras 600 até maio de 2014.

Augusto Alagia, o Capitão Pintura, à frente da sua equipe. Obra da Arena Fonte Nova impulsionou o seu negócio e ele já planeja abrir franquias

Foto: Robson Mendes

84 85

A visibilidade que a Bahia ganha por sediar a Copa do Mundo também é apontada por especialistas como um dos principais atrativos de novos negócios para o estado. “Pra entender as oportunidades que a Copa pode trazer para a Bahia, a gente tem que entender que ela é um dos maiores eventos mundiais. Só para o Sorteio Final, a expectativa era que um terço da população mundial estivesse assistindo ao sorteio das chaves, ou seja, nós temos aí 2,3 bilhões de pessoas olhando para a Bahia”, pontua o consultor da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo (Secopa), Tiago Cordeiro.

“A Copa do Mundo será uma oportunidade extraordinária para a promoção de Salvador. A janela de visibilidade vai ser única. Não há nenhum outro evento que, por meio da mídia televisiva apenas, chegue a quase metade da população do planeta”, concorda o secretário municipal da Copa do Mundo, Isaac Edington.

Visibilidade ao redor do mundo

A tradição do tabuleiro e da saia rodada das baianas é fundamental para atrair o turista, mas não será suficiente para vender o produto em larga escala durante a Copa do Mundo. Na opinião do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as baianas precisam se modernizar e ter a opção de pagamento em débito ou crédito para dar opção ao estrangei-ro que vai visitar Salvador durante o Mundial do próximo ano.

“O gringo não vai vir pra cá com dinheiro, vai vir com os cartões dele e com pouquíssimo dinheiro”, afirma José Hélio Souza, gestor do Projeto Sebrae 2014. “Por isso, a gente vai fazer um trabalho de disseminação da necessida-de dessas micro e pequenas empresas terem as maquininhas, porque, quando o turista chega aqui, além dele não falar nossa língua, normalmente ele não vem com dinheiro no bolso, ele vem com o cartãozinho dele”, completa.

O trabalho de conscientização sobre o uso das máquinas de débito e crédito será desenvolvido a partir de janeiro do próximo ano e não será feito apenas com as baianas de acarajé, mas também com taxistas e outros tipos de em-preendedores. “Não só com eles, mas também com outros que vão estar recepcionando o turista. Vamos tentar nos articular em novembro pra ver se a gente já inicia o processo a partir de janeiro, até pra já irem treinando no Verão, pra aproveitar o Verão e o Carnaval pra testar”, projeta José Hélio.

Cartão de débito e crédito para todas as baianas

O Acarajé da Dinha saiu na frente e já aceita pagamento eletrônicoFoto: Robson Mendes

86 87

O Camp Nou, estádio do Barcelona, exemplifica bem isso. O museu localizado na casa do clube catalão foi o segundo mais visitado da Espanha em 2011. Em torno de 1,6 milhão de pessoas conheceram o local, que exibe de forma interativa taças, chuteiras, gols marcantes, ídolos e muita história, entre outros atrativos. Só perdeu para o Museu Picasso, também localizado na cidade de Barcelona.

O Camp Nou Experience faz parte do roteiro oficial de turismo da capital da Catalunha e dá acesso também a arquibancadas, vestiário, sala de imprensa e permite ao visitante ficar bem pertinho do gramado onde jogam algumas das principais estrelas do futebol mundial.

Outro estádio também faz parte de roteiro turístico. O Allianz Arena foi inaugurado em 2005 e abrigou o jogo de abertura da Copa da Alemanha. É o estádio oficial dos times TSV 1860 Munique e Bayern de Munique.

Nos últimos três anos, Pedro Mascarenhas pesquisou sobre planejamen-to e ações para o desenvolvimento do turismo no ambiente do futebol. “O

O Allianz Arena, na Alemanha, estádio do Bayern de Munique, realizou o jogo de abertura da Copa de 2006

O novo estádio de Salvador foi palco do jogo do Brasil com a Itália, na Copa das Confederações

Foto: divulgação

Foto: Márcio Costa e Silva/

arquivo Correio

Astros com chuteiras nos pés fazem história e conquistam títulos emocio-nantes em palcos de glórias todos os anos. O mundo do futebol é extrema-mente sedutor e seus templos têm acompanhado o glamour e a evolução do esporte. Melhor: abrem sua portas para seus admiradores. Hoje, o torcedor pode ter acesso a áreas exclusivas a jogadores e dirigentes, como vestiários luxuosos, sentar no banco de reservas, almoçar em um restaurante com vista para o campo onde jogam seus ídolos. O turismo em estádios é uma realidade.

“Seja por magnitude, estilo de construção ou por ter sido palco de eventos importantes, os estádios sempre fizeram parte do conjunto de atrativos turísticos locais, em qualquer região do mundo. Ao se perceber essa grande demanda, gestores de clubes criaram maiores atrativos aos visitantes, fazendo com que esses locais deixassem de ser apenas de contemplação e passassem a oferecer experiências e interatividade aos seus visitan-tes, torcedores ou não”, afirma Pedro Mascarenhas, professor do curso de Hotelaria da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

“Os estádios de alguns clubes passaram a ser pontos de peregrinação de viagens e visitá-los se tornou uma obrigação”, completa.

O charme dos estádios

A Fonte Nova ganhou novo conceito após a reforma: agora como arena multiuso vai oferecer, além das partidas de futebol, shows, congressos e abrigar restaurante e um museu

Foto: Arisson Marinho/arquivo CORREIO

88 89

Três empresas estão elaborando projetos para apresentar à adminis-tração da Arena Fonte Nova. Um deles, sobre o museu, será escolhido até 2014. Precisa ser interativo e mesclar as diversas manifestações da cultura baiana. “Como o Museu da Língua Portuguesa, por exemplo, com conteúdo audiovisual muito forte para trabalhar a cultura da Bahia e do esporte. O visitante não vai ver apenas o uniforme do time que foi campeão em 1988, mas também as imagens do jogo, narrações dos gols. Também teremos artes plásticas, com obras de Carybé, Bel Borba”, exem-plifica Alexandre Libório.

O restaurante terá vista panorâmica para o campo e também para o Dique do Tororó e vai funcionar no piso suspenso localizado na abertura da ferradura.

Ainda não há uma data prevista para a visita guiada começar a funcio-nar, mas é possível que entre em operação antes da Copa do Mundo. A empresa que faz a visitação do Morumbi é uma das candidatas para explorar os bastidores do estádio. O centro cultural e o restaurante só serão instalados após o Mundial, pois o espaço destinado a eles ainda será utilizado pela Fifa durante a Copa do Mundo.

O secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, ressalta que os eventos realizados no estádio podem contribuir para o turismo do estado, principalmente, no período de baixa estação. “Tanto os shows como os eventos esportivos atraem fluxo turístico e geram ocupação hotelei-ra. Para nós, é importante que esses eventos sejam realizados na baixa estação. Na alta, nós já temos fluxo suficiente”, afirma.

Museu vai investir nos jogos e também na cultura baianaglamour alcançado atualmente pelo esporte torna a assistência a eventos esportivos o sonho de consumo de muita gente”, observa.

Na opinião de Pedro Mascarenhas, a Arena Fonte Nova, em Salvador, tem potencial para se transformar em um forte ponto turístico de Salvador. “Por manter o mesmo nome e assim trazer consigo a história do estádio, a Arena Fonte Nova já consegue um diferencial. O fato de estar construída em uma área turística da cidade é outro forte apelo”, pontua o pesquisador sobre o estádio, palco da Copa das Confederacões de 2013 e da Copa do Mundo de 2014.

De acordo com o secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, já existe diálogo entre o órgão e os administradores da praça esportiva para que a Fonte Nova seja promovida nas ações de divulgação como um dos pontos turísticos de visitação de Salvador.

Porém, ele deixa claro que para avançar no assunto é necessário que o estádio seja equipado para receber público também nos dias em que não acontecem jogos de futebol.

É o que os administradores da Arena Fonte Nova planejam implantar após a Copa do Mundo de 2014. O projeto prevê tour de visitação nas instalações do estádio, incluindo as áreas exclusivas para jogadores, restaurante, café, loja de souvenires e um centro cultural. Inicialmente, o projeto previa um museu exclusivo para o futebol, mas o conceito foi ampliado.

“O que estamos desenhando para o centro cultural não é um espaço voltado exclusivamente para o futebol. Um museu do futebol vai competir com vários museus do futebol do Brasil, o que deixa de ser atrativo. Temos mais cultura na Bahia para mostrar para o turista, como música, manifestações culturais, folclóricas”, afirma o diretor de marketing da Arena Fonte Nova, Alexandre Libório.

“O glamour alcançado atualmente pelo esporte torna a assistência a eventos esportivos o sonho de consumo de muita gente”PEDRO MASCARENHAS, professor da Universidade Federal de Pelotas

90 91

Bellintani garantiu também que a desapropriação não trará futuros problemas jurídicos para a prefeitura. “A desapropriação é um ato unilateral previsto em lei. É totalmente legal, desde que a gente dê uma função para a área em até dois anos”.

Em tom amistoso, Bellintani também cobrou do secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo, Fábio Mota, os recursos para o segundo trecho da revitalização da Barra, que vai do Barra Center até o monumento das Gordinhas, na Avenida Adhemar de Barros, em Ondina.

Durante sua apresentação, o secretário anunciou também a implantação do tíquete único para o turista visitar 12 pontos turísticos de Salvador, incluindo o Farol da Barra, os fortes de Santa Maria, São Diogo e São Marcelo e os cinemas do Centro: Excelsior, Jandaia e Pax, que serão reintegrados ao poder público municipal.

“Serão dois tipos de tíquete único: um que dará direito a visitar todos esses pontos turísticos e outro que também incluirá o transporte terrestre. Esses pacotes serão vendidos diretamente nas agências de viagem, antes de o turista chegar na cidade”, explicou. A previsão de implantação desse projeto, segundo ele, é no final de 2014.

Em 2014, destacou, será possível executar mais ações por parte da secretaria. Isto porque o orçamento total de 2013 para a Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura foi de R$ 5,5 milhões, mas para 2014 estão previstos R$ 111 milhões. “Combinei com o prefeito que, para cada real que eu conseguisse de investimento privado, ele liberaria dois de recursos da prefeitura”, explicou.

“Cansamos da briga dos dois proprietários. Aquela é uma área nobre (onde seria construído hotel Hilton) e não pode ficar sem ser aproveitada”

Fim da novela

O imbróglio que se arrasta desde 2005, envolvendo o projeto de construção do Hotel Hilton, no bairro do Comércio, finalmente terá um desfecho. Segundo o secretário de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, a área será desapropriada para a construção de um museu. O anúncio foi feito durante o primeiro seminário do Fórum Agenda Bahia, tema Muito Além da Copa, realizado na Arena Fonte Nova.

“Cansamos da briga dos dois proprietários. Aquela é uma área nobre e não pode ficar sem ser aproveitada”, disse o secretário. Segundo ele, o decreto que autoriza a desapropriação já está quase pronto, na Procuradoria Geral do Município, e a construção do “equipamento de turismo e cultura” está prevista no orçamento de 2014. No entanto, a previsão é de que só fique pronto em 2016, e ainda não se sabe quanto custará. “Ainda estamos delimitando exatamente o que será construído, mas a ideia é usar não somente a área do Hilton, mas ampliar a área”, completou.Secretário Guilherme

Bellintani participou do Fórum Agenda Bahia

Foto: Marna Silva

92 93

* Mais dinheiro para Salvador

Barra: O secretário do Ministério do Turismo, Fabio Mota, anunciou que já foram empe-nhados os R$ 20 milhões para a revitalização do outro trecho da Barra, que vai do Barra Center até o monumento das Gordinhas, em Ondina

Tíquete único: Até o final de 2014, o turista vai poder adquirir, antes de embarcar para Salvador, um tíquete que dará direito a visitar 12 pontos turísticos, incluindo o Farol da Barra, os fortes de Santa Maria, São Diogo e São Marcelo e os cinemas do Centro: Excelsior, Jandaia e Pax

Carybé e Verger: O secretário anunciou que vai criar em cada um dos fortes do Porto da Barra o Museu Carybé e o Museu Pierre Verger. “Eles foram os estrangeiros mais baianos da Bahia”, diz Guilherme Bellintani

Investimento: O orçamento da Secretaria municipal de Turismo em 2014 será 20 vezes maior que o de 2013, incluindo R$ 37 milhões de investimento privado e R$ 74 milhões de recursos da prefeitura. R$ 30 milhões estão garantidos só no Carnaval, disse Bellintani

Infraestrutura: Até o final de 2016, a prefeitura espera recapear todas as ruas da cidade. “Não é tapar os buracos, é colocar asfalto novo”, disse o secretário. Ele acrescentou que atualmente a prefeitura tem dificuldades nesse sentido porque não há usinas de asfalto suficientes

Aeroclube e orla: Segundo o secretário, os dois imbróglios estão bem próximos de um desfecho. “Estamos em fase final de entendimento sobre o Aeroclube. Ainda este mês, assinamos um termo de ajuste”. Já a orla terá 88 quiosques, alguns desmontáveis

Além dos projetos anunciados no Fórum Agenda Bahia, o secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, tem outras ações programadas para Salvador. Em entrevista ao jornal Correio, o secretário reconheceu que pouca coisa poderá ser feita até a Copa do Mundo, mas é otimista ao falar em uma “nova fase” da cidade. Bellintani aposta em um novo calendário com 30 grandes eventos em Salvador, desde os mais tradicionais até novos festivais que serão criados ou ampliados em diferentes espaços. Entre os modelos de requalificação dos equipamentos turísticos, o secretário revela que o Museu Náutico será modernizado: o público poderá interagir com informações sobre os 450 anos de navegação em Salvador.

As novidades também passam pela mobilidade urbana. No projeto de licitação das novas linhas de ônibus, a Secretaria de Turismo mapeou bairros mais boêmios e pediu a circulação de ônibus até de madrugada. Segundo Bellintani, a proposta é também estimular a ocupação das ruas pela população: além do Vai de Bike, o projeto Ruas de Lazer ocupará 12 bairros, com programação de cultura e lazer, inclusive em bairros populares, como Pernambués.

Pela primeira vez, Salvador será sede de uma Copa do Mundo. Além do Mundial, Salvador terá pelo menos mais três grandes eventos: o Carnaval, o Carnaval na Copa e o São João. Como a cidade está se preparando para esses eventos? Em primeiro lugar, Salvador está passando por um processo de reorganização da base primária da sua estrutura física, material. A cidade está retomando requisitos básicos da qualidade urbanística: melhorando a limpeza, manutenção, iluminação, pavimentação, etc. Em segundo lugar, já para a Copa, Salvador vai dar um salto qualitativo em relação a sua estrutura física, não só com essas melhorias básicas, mas também outros projetos urbanísticos, como a requalificação da orla, o que vai ser positivo para o turismo e para a cidade.

Ônibus até de madrugada nos bairros mais boêmios Entrevista com Guilherme Bellintani

Secretário Guilherme Bellintani: novo calendário cultural em Salvador Foto: Robson Mendes

94 95

infraestrutura turística complementar para turistas que não querem vir à cidade durante os eventos ou para aqueles que vêm durante os eventos, mas querem fazer outras coisas. Teremos 12 equipamentos turísticos simbólicos para a cidade e que estão hoje ou inexistentes ou abaixo da expectativa para o funcionamento deles.

Por exemplo? No Farol da Barra, já conseguimos recursos para qualificar o Museu Náutico. A ideia é transformar o museu de referência náutica. Um turista que quer fazer mergulho na cidade hoje tem dificuldade para ter informação sobre onde há mais naufrágios, quais são os lugares melhores para o turismo subaquático, etc. Com a previsão de investimento de R$ 960 mil, o museu terá essas informações também.

Quais são as outras novidades do Museu Náutico? Terá sistema interativo, trabalhando muito com LEDs, TV de plasma. Hoje, uma informação que o turista encontra por meio de uma carta cartográfica, ele conseguirá ver isso via touchscreen. Faremos um museu mais interativo, para crianças, inclusive, nos moldes dos museus mais modernos do mundo inteiro. O museu será potencializado de modo a se tornar uma referência da vida náutica de Salvador e para o turismo nessa área. Salvador tem uma história de 450 anos de navegação e não traz isso à tona no museu como pode trazer.

Falando em Copa do Mundo, o turista que virá exige uma qualificação ainda maior. Esses projetos, como o Museu Náutico, incluem essa preocupação com a qualificação dos trabalhadores? Eu vou ser sincero. O que estou dizendo não é o que geralmente os secretários do Turismo dizem. Isso é algo que me preocupa menos do que preocupa a maioria das pessoas. A falta de qualificação local é, sim, um problema, mas não podemos fazer com que ela castre as nossas possibilidades de ir além. A falta de qualificação do turismo local é a falta de qualificação da nossa população em geral. A gente dificilmente vai ter uma qualificação do receptivo turístico sem que o resto da população esteja qualificado para diversas outras coisas. Acredito que outras coisas devem avançar e trazer essa qualificação ao mesmo passo em que ocorrem.

“Eventos ficam prejudicados porque o transporte quase não existe depois da meia-noite. A nova licitação vai incluir isso”

“O grande valor da cidade para o turista é a sua cultura. Teremos 30 eventos por ano, todos vão ser realizados nas ruas, gratuitos”

Desses projetos para a orla, o que poderemos dizer que ficará pronto até a Copa? A requalificação da orla na Barra vai ficar toda pronta já para a Copa do Mundo, além de uma primeira etapa do Rio Vermelho, que vai da Rua da Paciência até a Praça Colombo, em frente à churrascaria Fogo de Chão. O bairro contará com requalificação completa, incluindo reurbanização e mudança total da infraestrutura, com a construção de piso compartilhado entre veículos e pedestres.

E além do espaço físico? Há um terceiro elemento, não menos importante, que é o aspecto material da cidade – de como a cidade vai se movimentar para além do espaço físico. A gente sabe que o grande patrimônio de Salvador não é apenas o seu patrimônio material. O grande valor da cidade para o turista é a sua cultura. Nesse contexto, a gente entra no terceiro aspecto, que é o lado imaterial, que precisa ser retomado. E isso vai acontecer com um viés absolutamente ligado à história e à cultura da cidade.

Mas o que é essa retomada? Por exemplo, o nosso calendário de eventos. Serão 30 eventos por ano: dez deles para as festividades tradicionais, ligando profano e sagrado. Esse é o projeto Fé na Festa, que envolve eventos de largo e caminhadas. Além desses, temos o projeto Cidade dos Festivais, que inclui 10 festivais por ano, como o Festival da Primavera que realizamos em 2013 e será ampliado em 2014. Há também o Festival do Samba, cuja primeira edição será realizada no final de novembro. Faremos ainda dois festivais internacionais: o Festival da Cultura Latina, em maio, no Pelourinho, e o Festival Internacional de Música, em outubro, com palcos em cinco bairros diferentes da cidade.

O senhor disse recentemente que Salvador não está gastando sequer um centavo com promoção turística lá fora, por não ter dinheiro. Como atrair gente para esses festivais assim? Em 2014, a secretaria já terá orçamento bastante maior e esses projetos estão todos garantidos. Para cada evento, teremos uma estratégia específica de promoção.

O senhor pode dar um exemplo? O Festival da Cultura Latina precisará de uma promoção continental. Agora no final do ano, duas pessoas da secretaria viajarão pelas capitais de países latino-americanos – já estão com viagem marcada – para fazer essa promoção nas embaixadas e com o trade turístico. Esse é um evento. Outros eventos, como o Réveillon, terão foco nos meios de comunicação de massa mais clássicos. E assim por diante.

E além desses festivais, o que o senhor está prevendo? Aí é que entramos no que entendemos como um quarto elemento:

96 97

virar o Museu dos Azulejos, vai abrigar azulejos históricos, vários perdidos e espalhados pela cidade, e o próprio Memorial Irmã Dulce, que estamos ajudando na reconfiguração, além da Casa de Jorge Amado.

E vai dar tempo de ficar tudo pronto até a Copa do Mundo? Tudo não. Parte disso, sim, vai ficar. Alguns são prédios tombados pelo Iphan, o que faz o processo demorar um pouco mais.

O senhor tocou na questão do transporte público, essencial para uma boa avaliação do turista. Como isso está sendo visto pela secretaria? Na nova licitação de ônibus para a cidade, tem algumas demandas do turismo e da cultura. Uma delas é a questão do transporte à noite. Vários eventos ficam prejudicados porque o transporte quase não existe depois da meia-noite. A nova licitação vai incluir isso obrigatoriamente. Ônibus à noite, de madrugada, inclusive. Mapeamos os bairros com maior tendência boêmia, como Rio Vermelho e Pelourinho, e levamos isso para a licitação. Os projetos culturais da cidade precisam ser bem servidos de transporte. Não achamos que de uma hora para outra vamos ter bom transporte público, mas estamos otimistas e cremos que, já para 2014, vamos ter uma melhora significativa.

Recentemente, a prefeitura lançou o Salvador Vai de Bike, que tem um bom apelo turístico. Mas para isso não será necessário ampliar as ciclovias? Temos um projeto de ciclovias bastante ousado. As mudanças na Barra e no Rio Vermelho, por exemplo, incluirão ciclovias. Mas, para além da questão da bicicleta, é preciso destacar a nova fase que já começamos a estimular de ocupação das ruas pela população. Dos 30 eventos que vamos realizar, todos vão ser realizados nas ruas. Gratuitos e abertos, sem cobrança de ingresso. A ideia é ocupar espaços que não estão sendo utilizados, como foi o caso do Festival da Primavera.

O que está previsto? Temos o projeto Viva Rua, que ainda não divulgamos, mas é uma evolução das Ruas de Lazer. Esse projeto que já existe na cidade há cerca de 15 anos: fecha as ruas da Barra e do Dique, por exemplo, aos domingos. Nós vamos ampliar esse projeto. Além de fechar as ruas, vamos organizar vários eventos de cultura e de lazer em 12 bairros diferentes. Isso vai mudar a relação do cidadão com suas ruas. Entre os bairros estão alguns mais populares, como Pernambués. A ideia é melhorar a qualidade de vida, aumentando o convívio social nos bairros.

A prefeitura está disposta a enfrentar as críticas de quem usa carro? Sim. Faz parte dos desafios. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Tirando 10 carros das ruas, a gente coloca 100 pessoas num lugar. Temos que dar prioridade à maioria, não à minoria. Cerca de 90% dos carros que transitam na cidade levam apenas uma pessoa. O projeto Viva Rua vai ousar muito nesse aspecto. Isso será feito nos domingos.

“Tirando 10 carros das ruas, colocamos 100 pessoas num lugar. Além de fechar as ruas aos domingos, vamos organizar eventos de cultura e de lazer em 12 bairros”

O senhor quer dizer, então, que elas vão se qualificando à medida que atendam o turista, na prática? Exatamente. Na prática é isso. Não existe essa concepção de você criar um batalhão de receptivo turístico qualificado para depois trazer o turista.

Mas, falando no turista estrangeiro... Um profissional pode até aprender a falar umas palavrinhas, mas não vai aprender inglês ali, só na prática... Eu sou um cara que tem inglês bastante limitado, mas que estive em Tóquio, na Índia, na Turquia, na Europa, Austrália e Nova Zelândia e boa parte da América Latina... Fiz tudo isso sem falar bem o inglês. Estive em países, como a China, em que a dificuldade de comunicação era quase absoluta. No entanto, voltei de grande parte dessas viagens com ótimas impressões. O que faz falta é um sistema de transporte mais qualificado, um sistema de informações mais qualificado. Achar que a gente vai ensinar um taxista a falar “Olá, obrigado” e achar que isso vai ser suficiente e determinante na qualidade do turista aqui... isso não vai. Isso é complementar, é importante, mas costumo dar um peso menor a isso do que as pessoas dão. Sou contra essa percepção de que todo o trade turístico, o taxista, a baiana de acarajé e o comerciante precisam falar inglês para receber bem o turista. Isso é bom que aconteça, mas se não acontecer não é uma tragédia.

Então, não haverá investimento em qualificação? Não é isso que estou dizendo. Haverá recursos, sim. Mas estou dizendo que se você for olhar, há um investimento histórico muito grande nisso. Estou dizendo que para um taxista entender o inglês de fato, ele tem que ficar durante dois anos, tendo aula pelo menos três vezes por semana e três horas por dia. A não ser que tenha tido uma base boa de inglês na educação básica. Não é que a gente deva abandonar projetos como esse, mas a gente não deve colocá-los como a salvação do turismo baiano ou brasileiro. É um pouco ilusão achar que essas pessoas vão falar um inglês razoável com um curso de 40 horas. É vender terreno na lua.

Que outros projetos estão previstos? O Arquivo Público Municipal, um dos arquivos mais importantes das Américas, que hoje está no subsolo da Fundação Gregório de Matos (FGM), vai ganhar uma casa à altura do que merece. Vai ficar em um prédio que estamos resgatando perto da Praça da Sé. Além disso, o Forte de Mont Serrat, que vai

O Museu Náutico será modernizado

e os fortes da Barra ganharão os museus

Carybé e Pierre VergerFoto: Robson Mendes

98 99

Campanha pela cidade

Com a mediação da jornalista Patrícia Nobre, editora-executiva de Núcleo da TV Bahia, empresário e secretários de Turismo apontaram, durante debate do Fórum Agenda Bahia, o que pode ser feito em Salvador para aproveitar a oportunidade da Copa de 2014 e alavancar o segmento.

Apesar das críticas sobre a falta de infraestrutura e má conservação de equipamentos turísticos na capital baiana - que perdeu espaço para outras cidades brasileiras e também para outros destinos baianos nos últimos anos -, o que prevaleceu foi uma mensagem otimista: com a já iniciada construção da nova orla da cidade e outros projetos com recursos garantidos, a cidade começa a viver nova fase, de recuperação, definiram os debatedores.

No entanto, os especialistas advertiram que falta pouco tempo para a Copa do Mundo, quando todos os holofotes estarão voltados para as cidades-sede. Afinal, o que pode ser feito até lá? Estamos aproveitando a oportunidade? Como Salvador poderá passar uma boa impressão ao mundo e se tornar uma referência em turismo a partir do evento esportivo, que trará seis jogos para a capital?

O criador da CVC e presidente do Grupo GJP, Guilherme Paulus, e o secretário de Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, afirmaram que Salvador não pode deixar essa oportunidade passar. “Acho que as cidades-sede não aproveitaram a oportunidade e o caso de Salvador foi o mais crítico”, disse Bellintani. “Mas temos projetos que serão realizados até a Copa, como a revitalização da orla da Barra e do Rio Vermelho, que já vão melhorar a cara da cidade”, ponderou.

Em um dos aspectos, todos concordaram: apesar do pouco tempo, os oito meses que faltam até a Copa podem e devem ser usados para melhorar a cidade e passar uma boa impressão. O secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, destacou o roteiro que o governo tem investido para divulgar a Bahia, como o Turismo Náutico e eventos culturais e esportivos.

Uma crítica à demora do poder público para executar obras com recursos empenhados pelo Ministério do Turismo esquentou o debate no Fórum Agenda Bahia.

O secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo (MTur), Fábio Mota, afirmou que, apesar do empenho de recursos que somam R$ 300 milhões desde 2008, muitas obras não andam. “Estamos falando de obras que começaram em 2009 e até hoje

Foto: Robson Mendes

Patrícia Nobre fez a moderação do debate da tarde do Fórum Agenda Bahia com Paulus, Bellintani, Leonelli e Fabio Mota

se arrastam. Se tivessem sido feitas, estaríamos hoje com outro nível de turismo”, disse. Como exemplos, Mota citou a reforma da Feira de São Joaquim e a construção de um palco no Pelourinho.

Domingos Leonelli, secretário do Turismo do estado, rebateu: “Ele falou em R$ 300 milhões, mas esqueceu de dizer que várias obras foram finalizadas com R$ 270 milhões desses”. Guilherme Bellintani afirmou que as obras fazem falta à cidade. “Mas não foram recursos empenhados à prefeitura”, defendeu-se. Guilherme Paulus, da CVC, destacou que Salvador tem uma forte vocação para o turismo, mas reconheceu que há muito a melhorar. “É preciso voltar a ter atrações no Pelourinho, melhorar as praias, combater a violência”, enumerou.

100 101

“Analisar a ocupação hoteleira e concluir que Salvador está perdendo turistas é uma impressão recorrente, mas não é absolutamente ver-dadeira”, afirmou o secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, durante o debate. Segundo ele, nos últimos anos, o número de leitos em hotéis subiu de 35 mil para 39 mil e, por isso, ficou mais difícil de ter a mesma ocupação.

“É exatamente essa diferença de 5% a 6% da taxa de ocupação. Salvador perdeu em número percentual, mas não em quantidade absoluta de turistas”, afirmou o secretário. Segundo ele, os anos de governo do ex-prefeito João Henrique fizeram com que Salvador crescesse menos do que a Bahia. “Mas agora temos a chance de reagir rapidamente a isso”, projetou. Para ele, o principal caminho para atrair mais turistas é investir em um bom receptivo. “88% das viagens são feitas por recomendação boca a boca, que agora é pela internet. E quando a cidade está funcionan-do, o serviço de informação turística funcionando, o turista não se sente só”, defendeu.

Domingos Leonelli afirmou que a secretaria irá investir também na recepção dos jornalistas que estarão na capital para cobrir os jogos: a proposta é divulgar uma imagem positiva do turismo baiano para o mundo.

Também durante o debate, Leonelli afirmou que as manifestações ocorridas no país recentemente não afetarão tanto o turismo na Copa do Mundo. “Manifestação as pessoas sabem que os turistas não se envolvem. A África do Sul teve manifestação e ninguém deixou de ir”.

Leonelli também enumerou as ações que estão sendo desenvolvidas pela secretaria para fidelizar o turista.

O sócio-fundador da agência de turismo CVC, Guilherme Paulus, não poupou críticas a Salvador, mas deixou uma mensagem positiva e otimista durante o debate: “Salvador tem tudo para ser o maior polo de atração turística do Brasil”, afirmou o empresário. Segundo ele, o Brasil ainda não tem uma grande capital que seja um real modelo de turismo. “Com todos os problemas, São Paulo ainda é a mais bem preparada”, considerou.

O empresário sugeriu aos secretários de Turismo a elaboração de um projeto que possa planejar e pensar a Salvador de 2030. Um programa que, segundo ele, pudesse ser respeitado, independentemente de quem estivesse no poder e transformasse a capital da Bahia em uma referên-cia no turismo. Paulus também destacou a importância de um esforço conjunto para baixar o preço das passagens aéreas. “É preciso baratear os custos para levar e transportar turistas”, disse.

Guilherme Paulus ainda fez um apelo a artistas baianos como os antigos Doces Bárbaros, Gilberto Gil e Caetano Veloso. “É preciso que esses nossos artistas voltem a falar bem da cidade. Hoje não os ouvimos falar bem de Salvador, todo mundo só critica”, repreendeu. Ao longo do debate, Paulus disse que, durante os eventos esportivos, Salvador e o Brasil poderiam aprender com os bons exemplos de Barcelona (Espanha) e Sydney (Austrália), cidades que se tornaram referências em turismo depois de sediar os Jogos Olímpicos. “Há 15 anos, todo mundo detestava Barcelona. Hoje, todo mundo quer conhecer”, resumiu.

Investimento no receptivo para divulgar boa imagemCapital baiana pode virar o maior polo turístico do Brasil

Foto: Robson Mendes

Foto: Robson Mendes

Domingos Leonelli: jornalistas do mundo todo irão receber informações positivas de Salvador

Guilherme Paulus apelou para que artistas, como Caetano e Gil, promovam a capital

102 103

O secretário de Desenvolvimento Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, discordou de Domingos Leonelli sobre a importância da qualificação profissional na atração de turistas. “Qualificação é impor-tante, mas não é o principal. Recentemente, estive na Índia e os serviços foram um desastre, mas voltaria lá porque há valores culturais que se sobrepõem à falta de qualificação”, defendeu, para depois emendar: “Se você estiver encantado pelo lugar, você volta. Mas não dá para usar isso como desculpa para não completar as lacunas que ainda precisam melhorar”.

Bellintani também comentou o imbróglio das barracas de praia, segundo ele em fase final de entendimento com a Justiça. “O prefeito proibiu essa palavra: (barraca) de praia. É quiosque de praia”, brincou.

No final do debate, Bellintani aproveitou para pedir ao secretário Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo, Fábio Mota, mais verba para o turismo. E também apelou para o vereador e antecessor Claudio Tinoco, presente na plateia, para que ajudasse na aprovação do orçamento municipal na Câmara de Vereadores. Tinoco é o presidente da Comissão de Orçamento da Câmara. O orçamento prevê R$ 74 milhões em recursos públicos para a secretaria, ante os R$ 5,5 milhões destinados no orçamento anterior. “Se no finalzinho ainda sobrar algum dinheiro, pode mandar pra gente também”, brincou.

O secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo (MTur), Fábio Mota, defendeu durante o debate que o setor seja tratado com mais importância pelas esferas de governo estadual e municipal. “Esse segmento responde por cerca de 20% do Produto Interno Bruto de Salvador e por 6% do PIB estadual. Então é preciso que tenha destaque nas políticas públicas”, sustentou, após criticar a demora na execução de obras com recursos liberados há cerca de cinco anos. Mota destacou o turismo náutico como um dos principais vetores de crescimento do turismo em Salvador e na Baía de Todos os Santos. “Salvador tem a segunda maior baía do mundo”, disse.

O secretário do Ministério do Turismo citou como exemplo um país do Leste Europeu. “Se você for à Croácia, um país bem pequenininho, menor que o estado da Bahia, verá que eles conseguem ter hoje o triplo ou o quádruplo de quantidade de turistas nessa área em comparação com o Brasil como um todo. Temos 8,5 quilômetros de litoral no Brasil e não acordamos ainda para aproveitar o potencial de turismo náutico”, com-pletou o secretário. Apesar de fazer críticas severas à falta de infraes-trutura, ele deixou uma mensagem otimista. “Dá para fazer muita coisa até a Copa do Mundo”, disse.

Encantos culturais são mais importantesMTur: ‘É preciso definir o turismo como prioridade’

Foto: Robson MendesFoto: Robson Mendes

Guilherme Bellintani: ‘Qualificação é importante, mas não é o principal’

Fábio Mota criticou a demora na execução de obras, mesmo com recursos liberados

104 105

Voos e qualificação

“Em breve, os pontos turísticos da Bahia serão o Farol da Barra, o Pelourinho e também a Feira de São Joaquim”, afirma o secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli. Segundo ele, os turistas que vierem para a Copa do Mundo já conhecerão uma nova Feira de São Joaquim, com 36 mil metros quadrados e 3,5 mil comerciantes. A requalificação conta com investimentos de R$ 60 milhões, sendo metade custeada pelo governo da Bahia e o restante pelo governo federal, por meio do Ministério do Turismo.

A feira foi uma das ações da Setur destacadas por Leonelli no Fórum Agenda Bahia. Leonelli também citou a reforma do terminal náutico e dos projetos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), concentrados na Baía de Todos os Santos. O ponto mais destacado pelo secretário foi a qualificação profissional, principalmente na formação em línguas.

“É essencial melhorar o atendimento ao turista. Sem perder a baianidade, o sorriso, esse calor humano, que são fundamentais. Precisamos fidelizar

“É essencial melhorar o atendimento ao turista. Sem perder a baianidade, o sorriso, esse calor humano, que são fundamentais”

Foto: Robson Mendes

Leonelli defendeu qualificação de mão de obra e novos voos como estratégias para atrair turista

esse turista, e sem qualficação pode se perder e não ter essa fidelização”, defendeu Leonelli.

Ele também rebateu a crítica do sócio-fundador da CVC, Guilherme Paulus, de que faltam espaços para eventos na cidade. “O Centro de Convenções de Salvador tem 40 anos e já tem muitos bons serviços prestados. Ainda hoje temos eventos agendados até 2018”, disse. De acordo com o secretário, o governo está montando uma licitação para terceirizar a gestão do espaço. “Vamos entregá-lo para a iniciativa privada, tornar essa gestão mais profissional”, explicou. Uma outra ação destacada foi a construção de um oceanário em Salvador. O estudo de localização já foi concluído pela empresa Prado Valadares, que indicou oito possíveis localizações, ainda não divulgadas.

Leonelli também falou sobre os novos voos internacionais que passarão por aeroportos da Bahia (Salvador e Porto Seguro). Até abril de 2014 serão 33, para oito destinos: Miami, Frankfurt, Madri, Buenos Aires, Santiago, Montevidéu, Córdoba e Lisboa. “Salvador se tornará um hub da Air Europa”, comemorou. A quantidade de turistas que saem de Salvador para esses destinos foi o principal argumento usado na prospecção dos voos.

Hoje, 17 voos operam na capital, para cinco destinos: Miami, Frankfurt, Madri, Buenos Aires e Lisboa. Os novos voos são da Aerolíneas Argentinas e da Air Europa. “Essa é a maior integração aérea entre o Nordeste do Brasil e os países íbero-americanos”, completou.

Além desses, está sendo negociado o voo entre Lima (Peru) e Salvador. “Será um voo que sairá de Salvador, fará escala em Lima e seguirá para Los Angeles. Usamos como argumento a quantidade de turistas que Salvador envia para Machu Pichu”, disse.

Ainda sobre aviação, o secretário contou que Argentina e Estados Unidos são os principais emissores internacionais de turistas para a Bahia. Já entre os nacionais, destacam-se São Paulo e Minas Gerais. Ainda assim, quase a metade dos turistas que vem para a Bahia (5,2 milhões dos 11 milhões por ano) é formada pelo próprio baiano viajando pelo estado.

DOMINGOS LEONELLI, secretário de Turismo

106 107

Novos negócios pela internet

O primeiro debate do Fórum discutiu como a internet pode gerar novos negócios para o turismo na Bahia. Mediado pelo diretor de redação do jornal Correio, Sergio Costa, reuniu o publicitário Ricardo Freire, o sócio-diretor da Ampfy, agência de publicidade especializada em redes sociais, Gabriel Borges, e o gerente regional do TripAdvisor na América do Sul, Marco Jorge. A possibilidade de negócios utilizando as recomendações das redes sociais foi fomentada por Marco Jorge.

“Antigamente, a gente abria os jornais para comprar um apartamento ou um carro. Hoje, as pessoas buscam tudo pela internet. Esse mundo de busca faz com que a reputação online de um destino turístico, de um hotel ou de um ponto turístico seja muito importante, porque você tem ali uma consultoria gratuita”.

O TripAdvisor tem mais de 230 milhões de usuários no mundo e 100 milhões de avaliações sobre os diferentes tipos de produtos expostos no site. Porém, Marco Jorge alerta que é importante monitorar a reputação da sua empresa. “Assim, você pode melhorar o seu produto ou consertar

O setor turístico na Bahia movimenta em torno de R$ 7,8 bilhões por ano, o que equivale a 5,7% de todo o PIB do estado. “No Brasil, só o Rio Grande do Norte tem uma representatividade melhor. Lá, o turismo represen-ta 6,2% do PIB. Mas a economia deles é muito menor do que a baiana”, defendeu o secretário Domingos Leonelli. Os dados são da pequisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de 2011.

Ainda segundo o secretário, entre 2007 e 2012, 22 milhões de pessoas desembarcaram nos três aeroportos da Bahia: em Salvador, Porto Seguro e Ilhéus. “Isso representa um crescimento de 100% em relação ao período anterior”, disse. A Bahia, frisou Leonelli, é o principal destino turístico do Nordeste e o terceiro do país em desembarques aéreos internacionais. Para 2013, entre recursos captados, executados e em execução, são R$ 170 milhões em investimentos públicos. Quanto à atração de investimentos privados, o último dado é do ano passado, quando foram atraídos R$ 5,7 bilhões. Entre 2007 e 2013 foram instala-dos 26 hotéis ou resorts de médio e grande porte no estado. Para incre-mentar o turismo na Bahia, Leonelli também destacou apostar mais no público gay, que “gasta mais e aproveita melhor o turismo”.

’Para o secretário de Turismo do estado, Domingos Leonelli, a qualificação de pessoal é um dos maiores legados que a Copa do Mundo vai deixar na Bahia. “A qualificação serve para a Copa, para depois da Copa e para depois de depois da Copa”, defendeu em conversa com os jornalistas, antes de sua apresentação no Agenda Bahia. Durante sua fala, Leonelli fez questão de frisar que, de 2007 para cá, foram qualificadas 14 mil pessoas no estado.

“O principal capital turístico é o capital humano. Temos que atender bem o turista, para garantir o boca a boca, que hoje é feito pela internet”, disse. O secretário também destacou a atração de novos voos para o estado como importante para o fomento do turismo na Bahia. “O turista que vem por via aérea é o que mais interessa para a gente, porque é o turista que ganha mais e gasta mais”, explicou.

A partir de abril de 2014, a Bahia passará a ter 33 voos internacionais, para oito destinos. Atualmente, são 17 voos para cinco destinos. Apesar disso, dos 11 milhões de turistas que o estado recebe por ano, 5,2 milhões são da Bahia. “São os próprios baianos conhecendo outros destinos dentro do estado. Essa parcela é importante e não pode ser desconsiderada”, disse o secretário.

Turismo é responsável por 5,7% do PIB da Bahia

‘Qualificação é um dos maiores legados da Copa’

Foto: Evandro Veiga

Sergio Costa moderou debate com Freire, Borges e Marco Jorge

108 109

as coisas que não estão funcionando. Quando você posta no TripAdvisor, é possível fazer aparecer também no Facebook, então os amigos dessas pessoas vão poder ver o comentário, e isso é uma fonte de novos negócios. Você pode dar parabéns ao que for positivo e melhorar o que for negativo. O ciclo de contato com seu cliente é muito maior e a expectativa do seu cliente também é maior”.

Apesar da fartura de informações, o criador do site Viaje na Viagem, Ricardo Freire, destacou que muitos negócios ainda deixam de ser fechados na internet por falta de familiaridade com o ambiente virtual. “Grande parte dos brasileiros que buscam informações na internet está vivendo uma inclusão digital e turística ao mesmo tempo. São muitas possibilidades que não existiam, mas também há dificuldades de como dispor da ferramenta. Falta confiança. Porém, uma vez que tenha segurança, é irreversível”, avalia.

A importância de saber transformar um possível ambiente negativo gerado nas redes sociais em positivo foi destacado por Gabriel Borges. “A mídia social cria para o gestor de marca um impacto negativo do tipo ‘estão falando mal de mim’. Todo mundo sempre falou mal, a diferença é que agora você está vendo”, alerta, antes de sugerir uma solução para esse tipo de caso: “Estimular que as pessoas falem bem da sua marca é uma boa estratégia. O principal é tentar abafar o volume de pessoas falando mal com o volume de pessoas falando bem. O grande barato é a amplificação do que acontece na realidade”.

Para o publicitário e criador do site Viaje na Viagem, Ricardo Freire, o consumidor ainda está muito “apavorado” com a internet. Mas a inclusão digital e turística, aposta, é inevitável. Freire lembra que o setor precisa estar preparado para atender a essa nova demanda.

O criador do site Viaje na Viagem acredita que três fatores ainda dificul-tam o acesso digital: o consumidor não possuir cartão de crédito, acesso à informação correta sobre o uso da internet e coragem para realizar a compra. “Quando (o consumidor) tiver segurança, aí será irreversível”, avalia.

Durante o debate, Ricardo Freire voltou a defender que a Bahia deve utilizar as mesmas estratégias para atrair estrangeiros como faz para se vender para o resto do país inteiro: destino ensolarado durante qualquer época do ano, seja no litoral de mais de mil quilômetros de extensão, na Chapada Diamantina ou no Rio São Francisco; o acervo histórico, berço da colonização, que reúne prédios antigos, igrejas e a forte presença da cultura africana; a culinária, que é um traço da mistura dos três povos colonizadores (negros, índios e europeus); os preços mais baixos em relação a outros destinos internacionais e, por último, a carta na manga, segundo Ricado Freire, o PIB da alegria.

“É da nossa cultura receber bem, nós somos um povo alegre, o baiano, então... Um amigo sugeriu que o Nordeste tem condições de se vender como um turismo forte independente do Brasil. Eu vou além. A Bahia é mais colorida, mais intensa e pode puxar essa dianteira”. Freire aposta no ‘deixa que a gente sabe como faz’ para fidelizar o turista que passa pelo estado.

Setor precisa se preparar para novas demandas

Foto: Evandro Veiga

Ricardo Freire defendeu que a Bahia lidere uma campanha mostrando o PIB da Felicidade

110 111

O gerente regional da América Latina do TripAdvisor, Marco Jorge, fez um alerta na sua apresentação. “No mundo da busca online, a reputação online de um hotel ou ponto de venda é muito importante”, lembra. Por isso, Marco Jorge defendeu que para vender mais na internet o empresá-rio precisa monitorar as opiniões dos seus clientes nas redes sociais.

O executivo lembrou que o cliente satisfeito é uma fonte de novos clientes. Para Marco Jorge, o empresário deve manter um canal com o consumidor: em caso de problema, reconhecer a falha e agradecer pelas informações enviadas. O gerente do TripAdvisor mostrou ainda a im-portância de os estabelecimentos turísticos terem um site sobre sua empresa, com fácil navegação, links para reserva e resposta imediata aos questionamentos.

O TripAdvisor é referência em turismo e serve como conselheiro online para viajantes do mundo inteiro que desejam trocar experiências antes e após circular pelo planeta em busca de conhecimento, diversão, relaxa-mento ou lazer.

Uma recomendação positiva feita por alguém que se hospedou em um hotel, por exemplo, se torna grande publicidade para o estabelecimen-to. Essa consultoria, no entanto, pode funcionar de forma positiva ou negativa. A depender da atenção que é dada pelo empresário à reputa-ção online.

Cuidados com a reputação online

Foto: Evandro Veiga

Marco Jorge sugere ao empresário sempre reconhecer a falha e agradecer pelas informações do cliente

Oportunidade é o que não falta na internet. O sócio-diretor da Ampfy, agência especializada em mídia sociais, Gabriel Borges, chamou a atenção da plateia, na Arena Fonte Nova, para um público ainda pouco explorado. “Geralmente, as pessoas pensam no consumidor final. Mas é possível criar aplicativos para telefones ou tablets, visando a prestação de serviço”, revela.

O executivo citou como exemplo a dificuldade de comunicação do turista estrangeiro que chega no Brasil. Como é impossível qualificar todos os brasileiros em um tempo tão curto, Gabriel Borges sugeriu desenvolver aplicativos simples de tradução simultânea. “Poderia ser usado na rua, por qualquer brasileiro, para tirar dúvidas dos turistas. Bastava ter um celular”, explica.

Borges lembra que a indústria do turismo é mais percepção do que realidade. E causar uma boa impressão ao turista é fundamental. Responsável por campanhas de grandes empresas, Borges afirma que não adianta querer usar as mídias sociais para vender por vender. É preciso criar uma experiência com o consumidor. Borges aconselha es-timular o contínuo compartilhamento de uma determinada experiência. “Senão, a gente vai viver de pessoas que estão aterrorizadas com depoi-mentos negativos que aparecem em algumas fontes de informação”.

Oportunidades na prestação de serviço online

Foto: Evandro Veiga

Para Gabriel Borges, as mídias sociais devem ser usadas para compartilhar experiências sobre os destinos

112 113

O que o Maracanã, a Arena Pernambuco, o Mineirão e a Itaipava Arena Fonte Nova têm em comum? Além de serem palcos da Copa do Mundo de 2014, esses estádios escolheram o sol como uma de suas fontes de energia. Assim como já aconteceu com as outras três arenas, uma usina solar será implantada na Fonte Nova, com capacidade para gerar 750 MWh por ano, o equivalente ao consumo médio de 3 mil brasileiros ou ao que é necessá-rio para abastecer 625 residências baianas. O investimento é fruto de um convênio entre a Coelba e a Fonte Nova Negócios e Participações.

A energia gerada será toda utilizada pela Itaipava Arena Fonte Nova, que terá o consumo reduzido em 10%. Além da redução nos custos, a instalação da usina traz benefícios ao meio ambiente, já que os recursos são renováveis e não poluentes.

O investimento no desenvolvimento de novas tecnologias e o estímulo à utilização de energia solar estão entre os objetivos a serem alcançados com a implantação da usina no estádio.

“Preciso fomentar o mercado. Se a gente não começar a usar, essa energia não vai baratear. Para a Itaipava Arena Fonte Nova, o retorno não é um valor muito grande, 10% não é uma economia grande, mas em compen-sação estamos fazendo a difusão dessa geração de energia”, ressalta Ana Christina Mascarenhas, assessora de eficiência energética da Coelba, empresa do Grupo Neoenergia.

“O papel da distribuidora é fomentar para baratear o custo e essa fonte começar a ser usada. Vamos ter que trilhar um caminho para chegar lá, mas é uma questão de tempo. Hoje a energia solar nao é viável. Se você quiser botar na sua casa, você pode, mas a energia que a Coelba te fornece é mais barata do que a que você vai gerar. É caro porque as placas não são fabrica-das no Brasil e nem nenhum material necessário. A tecnologia não chegou aqui, mas nós estamos fazendo”, conta Ana Christina.

Segundo a assessora da Coelba, o preço já está caindo. “Uma lâmpada fluo-rescente compacta custava R$ 30. Hoje, sai por R$ 3. Por quê? Porque todo mundo começou a usar e a comprar em massa”, exemplifica.

Com capacidade para 50 mil pessoas, a Itaipava Arena Fonte Nova tem apro-ximadamente 116 mil m² de terreno e 90 mil m² dedicados à arena multiuso. A usina solar terá 500 kWp de potência instalada. As obras estão previstas para começar em janeiro e devem ser finalizadas até dezembro de 2014. “Gostaríamos de fazer metade antes da Copa do Mundo, mas estamos bem

Jogo limpoO diretor de redação, Sergio Costa, abriu o debate que tratou das inúmeras possibilidades de geração de negócios na internet e falou sobre a rapidez das transformações do Correio desde o início do Fórum Agenda Bahia. “É muito bom estar aqui pela quarta vez. Quando o Agenda Bahia começou, o Correio ainda nem era líder de mercado. Agora, já tem mais de 50% da circulação de seu principal concorrente”, pontuou.

A liderança do Correio se estende também na internet e nas redes sociais. O Correio24horas aumentou em mais de 25 milhões o número de visitas e tornou-se líder também em número de acessos nos últimos cinco anos. Das 400 mil páginas visualizadas, em média, quando foi lançado o projeto de reformulação do jornal, o Correio24horas tem hoje em torno de 27 milhões de pageviews diretas no site.

Nas redes sociais, o número de leitores já passa dos 180 mil, no Twitter, Facebook e Instagram. O debate sobre negócios na internet discutiu ainda a necessidade de as empresas acompanharem as opiniões postadas pelos internautas. Por isso, o Correio24horas se prepara para uma fase ainda mais multimídia e social.

Correio investe e alcança liderança também na internet

Foto: Evandro Veiga

Sergio Costa: moderador do debate destacou retorno dos investimentos no site do Correio

114 115

*Economia nos estádios

3 mil moradores: a energia gerada pelas placas solares (750 MWh) equivale ao consumo médio desse grupo de brasileiros

161 mil reais é o valor da economia anual de energia do Estádio de Pituaçu desde que as placas co-meçaram a funcionar

10% será a economia de energia da Arena Fonte Nova com a instalação das placas solares

540 residências poderiam ser abastecidas com a energia solar produzida em Pituaçu

já produziu 600 megawatts/hora (MWh) ao ano, energia necessária para abastecer 540 residências baianas com consumo médio. Uma economia de R$ 161 mil por ano.

O estádio, que abrigou os treinos das seleções brasileira e nigeriana em Salvador durante a Copa das Confederações, é autossuficiente, ou seja, gera toda a energia necessária para o seu funcionamento. A energia excedente, em torno de 22,8 MWh/mês, é usada para abastecer o consumo da sede da Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), locali-zada no Centro Administrativo da Bahia. O órgão já economizou R$ 44 mil na conta de energia elétrica. “Pituaçu nunca mais pagou conta de energia”, comemora Ana Christina.

Quem quiser conhecer na prática um pouco mais sobre energia solar pode visitar o Centro de Visitação Pituaçu Solar. Cerca de R$ 400 mil foram inves-tidos pela Coelba na implantação e operação do centro, que tem o objetivo de difundir conceitos de eficiência energética e energias renováveis, mos-trando tecnologias utilizadas para o uso da energia solar.

“Pituaçu foi a primeira usina e as pessoas começaram a ter curiosidade, queriam conhecer, então resolvemos fazer esse centro, pois queríamos que as pessoas pudessem conhecer o centro de uma forma didática”, conta Ana Christina Mascarenhas. Além das de Pituaçu e Itaipava Arena Fonte Nova, o Grupo Neoenergia é responsável por outras três usinas de energia solar no Brasil, duas em Fernando de Noronha e outra instalada na Arena Pernambuco.

no início. Só que alguma coisa a gente vai tentar usar na Copa”, sinaliza Ana Christina Mascarenhas. O investimento da instalação é de cerca de R$ 5,5 milhões e faz parte de projeto estratégico de pesquisa e desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Apesar de não estar entre os estádios que vão sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, o Estádio de Pituaçu aparece como destaque. Ele foi o primeiro com energia solar da América Latina. Inaugurada em abril de 2012, com um investimento de R$ 5,5 milhões, a usina da praça esportiva

Na Arena Pernambuco, placas já foram instaladas pela

Neoenergia no estádio, que receberá jogos da

Copa, assim como a Arena Fonte Nova

O Estádio de Pituaçu foi o primeiro da América Latina a gerar energia solar: o excedente ainda abastece a Secretaria Estadual do Trabalho

Foto: Divulgação

Foto: Shirley Stolze

116 117

Placas de energia solar

Inversores

CORRENTE ALTERNADA

CORRENTE CONTÍNUA

As células solares captam a radiação do sol e utilizam os fótons da luz para gerar eletricidade

Essa eletricidade, que está em corrente contínua e é variável, passa pelos inversores para que seja convertida em corrente alternada com as características da nossa rede elétrica

ExcedenteDepois de passar pelo inversor, a eletricidade solar poderá ser usada para alimentar os aparelhos elétricos da residência

E se nem toda a eletricidade for consumida, o excedente é lançado na rede

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

Além do Carnaval e das festas tradicionais baianas - Lavagem do Bonfim, Iemanjá, Boa Morte - que trazem milhares de turistas para o estado, o meio ambiente, as belezas naturais e a cultura da região têm sido a razão para que cada vez mais turistas programem viagens para a Bahia. O chamado turismo ecológico e responsável tem sido a aposta de diversas instituições para atrair viajantes e fomentar a economia.

É o caso do Instituto Baleia Jubarte e do Projeto Tamar, localizados na Praia do Forte, com foco na preservação e conscientização ambiental por meio da proteção de baleias e tartarugas marinhas. Só o Tamar recebe, por ano, cerca de 600 mil visitantes.

Os projetos fazem parte do Planejamento Estratégico Integrado de Biodiversidade Marinha, criado pela Petrobras, em 2007, em parceria com as instituições executoras e o Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com objetivo de fortalecer as políticas de conservação marinha, no âmbito nacional e internacional.

Em 2011, a Petrobras investiu R$ 641 milhões em projetos sociais, ambien-tais, esportivos e culturais.

“No início, não imaginávamos receber tanta gente por ano. Tivemos que montar uma estrutura grande, pois com a demanda crescente o risco am-biental cresce e a importância do nosso trabalho também”, diz o gestor do

Cultura e meio ambiente

Em Abrolhos, durante o passeio, turistas podem se deparar com baleias jubarte ao lado do barcoFoto: Arquivo Instituto Jubarte

118 119

Centro de Visitação do Projeto Tamar, Gonzalo Róstan. “É preciso estar nas praias, conversar com a comunidade”, diz ele. Desde sua fundação, no início da década de 1980, o Projeto Tamar é um dos principais atrativos da Praia do Forte. Para fortalecer o espírito de preservação e valorizar a comunidade local, as visitas de alunos de escolas públicas da região e de moradores da cidade não são cobradas. Os demais visitantes pagam entrada. Quarenta por cento dos visitantes vêm da região Sudeste, 25% da própria Bahia, 15% de outras regiões do Brasil e 20% são estrangeiros.

“Receber as escolas é uma ação estratégica, porque forma consciência e estimula no público jovem a importância do cuidado com o meio ambiente e com as tartarugas”, diz o gestor.

Caminho semelhante trilha o Instituto Baleia Jubarte. Por meio de um convênio com operadoras de turismo, a visita ao centro entra no roteiro da maioria dos grupos que vão a Praia do Forte, o que, de acordo com o coordenador ambien-tal Sérgio Cipolotti, ajuda na conscientização ambiental. “A gente sempre faz uma palestra de conscientização antes do passeio”, diz Sérgio.

“O turista tem que saber que é como um safári no mar: as pessoas não vão ver um show, mas um encontro ao acaso entre um animal selvagem e um barco que vai observá-lo com o mínimo de interferência”, diz Sérgio sobre o passeio, que segue normas rígidas do Ibama, como não extrapolar o limite de 30 minutos por grupo e manter a distância mínima de 100 metros.

A visitação acontece durante três ou quatro meses por ano dentro do período de julho a novembro, quando as baleias saem das águas geladas da Antártica para procriar nas águas tropicais da costa brasileira.

No início, em 1988, a maior parte do público era de estrangeiros. Brasileiros representavam de 30% a 40% dos visitantes. “Faz mais ou menos quatro anos que mudou: hoje, recebemos 70% de brasileiros. E o número de sotero-politanos tem crescido”, afirma.

No outro extremo do estado, a aliança turismo e responsabilidade também está presente no Instituto Cabruca, em Ilhéus. O Cabruca nasceu com a missão de difundir o sistema de cultivo do ‘cacau cabruca’, plantado sob a sombra de uma árvore nativa. Ainda com potencial pouco explorado para o turismo, o instituto recebe, por ano, cerca de 3 mil visitantes. Dez a quinze por cento, segundo o secretário executivo do Instituto, Thiago Viana, é gente que trabalha na área e vem fazer intercâmbio, palestra, curso ou trabalho especí-fico. Somente nos últimos anos é que o Cabruca vem desenvolvendo projetos para fortalecer o ecoturismo da região. “Estamos criando estruturas para atrair visitantes para conhecer as ações do Cabruca”, afirma.

Uma dessas ações é o concurso Maiores Árvores da Região Sul da Bahia. “O objetivo é encontrar o maior jequitibá do sul da Bahia e investir em trilhas para chegar até ele”, diz.

“As dez maiores árvores descobertas vão ganhar placas de identificação. O primeiro lugar vai ganhar R$ 20 mil para ser investido numa trilha completa de ecoturismo, projetado por profissionais da área ambiental”.

No âmbito do turismo cultural, a Escola Olodum e o Teatro Vila Velha são exemplos de iniciativas com grande potencial para o turismo. O Olodum recebe, no mínimo, mil visitantes por ano.

Projeto Tamar atrai turistas brasileiros e

estrangeiros: ao todo, 600 mil pessoas visitam

o projeto por ano

Foto: Arquivo Projeto Tamar

Olodum recebe, por ano, no mínimo, mil turistas

de várias partes do mundo, principalmente

para workshops

Foto: Marina SIlva

120 121

Toda agência de viagem tem pacotes com roteiros turísticos diversos para oferecer ao viajante. Mas firmar acordos específicos com projetos ambientais, parques ecológicos e eventos culturais pode ser uma oportunidade para ampliar os negócios das agências. O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens na Bahia (Abav-BA), José Alves, acredita que a capacitação dos turismólogos para o atendimento a roteiros específicos, como o Projeto Tamar e o Instituto Baleia Jubarte, é o primeiro passo. “Tem que estreitar os contatos com os projetos e as localidades. Tá faltando isso para que os agentes de viagens fiquem mais bem informados”, afirma. Para ele, a ampliação do calendário de festivais e eventos culturais pode ser uma forma de ter turistas durante todo o ano. “Se você tem uma agenda definida pode direcionar o cliente e vender pacotes”, diz José.

Abav-BA defende parceria com institutos“Recebemos gente dos Estados Unidos, Japão, Coreia, Europa, além de muitos brasileiros. Na alta estação, a presença maior é de estrangeiros”, diz Cristina Calacio, coordenadora do projeto Escola Olodum. “Muita gente vem especificamente para conhecer e para participar de workshops”, diz.

O foco turístico, entretanto, ainda engatinha. Segundo Cristina, falta que órgãos oficiais de turismo tenham a visão de quanto projetos como esse são atraentes para o turista. “A procura é grande e, às vezes, a gente não pode atender. Com parcerias, todos ganham. Se tem uma boa parceria com uma agência de turismo, isso pode promover negócios, pode promover susten-tabilidade. O turismo tem essa vertente”, afirma Cristina.

Já o Teatro Vila Velha, que hoje, além da plateia, recebe turistas ocasionais ou artistas de outros países que vêm especialmente para conhecer o teatro, aposta na revitalização do Passeio Público, praça onde está localizado o Vila Velha, para um possível aumento no fluxo de visitantes que queiram conhecer suas atividades.

“Para desenvolver a cultura, basta reforçá-la”, diz a diretora geral do Vila Velha, Angela Andrade. “Estamos em diálogo com o governo para imple-mentar a revitalização do Passeio Público”, afirma. “Temos compromisso com tudo o que é sustentável”, afirma a diretora, que pretende tocar a reforma do Passeio Público em 2014, quando o Vila Velha completa 50 anos.

123

Infraestrutura

*Desenvolvimentoregional

Para promover o desenvolvimento de uma região, uma palavra sintetiza ao máximo o que é fundamental: conexão. Conexão dos modais de transporte para mobilidade urbana e do escoamento da

produção, conexão entre a educação e o conhecimento para melhor qua-lificação dos trabalhadores, conexão entre a produção e a inovação para reduzir custo. Somente cidades conectadas, e não mais desplugadas (para usar um termo antigo), conseguem avançar no desenvolvimento mais sustentável, atraem novos investimentos e se tornam mais competitivas no mercado global.

No segundo seminário do Fórum Agenda Bahia 2013, especialistas e auto-ridades apontaram a necessidade do desenvolvimento de cidades médias baianas para descentralizar a economia do estado e a concentração na Região Metropolitana de Salvador, promovendo o crescimento, com quali-dade de vida, dos municípios.

Investimento em infraestrutura, educação, inovação e capital humano, todos juntos, viram prioridade, ainda mais com fim da guerra fiscal entre os estados, em discussão no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal (STF). Planejar a integração de modais, direcionar recursos para sanea-mento básico e telecomunicações são essenciais para a transformação das novas cidades.

Mas para que essa conexão seja permanente e promova desenvolvimento também a longo prazo, os especialistas fizeram um alerta: somente um povo educado poderá transformar seu território. O investimento deve começar da base. Tanto a indústria quanto o comércio têm tido dificuldade em contratar novos profissionais pela dificuldade em realizar operações consideradas simples, como a leitura de uma nova tarefa de trabalho. Confira, neste capítulo, o que foi debatido no seminário e as reportagens especiais que trataram do tema Novos Centros.

Conexão urbana

124 125

Propostas apresentadas no seminário

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

**

*

*

*

*

*

*

*

*

Promover uma política nacional de desenvolvimento regional. Com esse planejamento, seria possível reduzir as desigualdades sociais e regionais no Nordeste, inclusive na Bahia

Reduzir a concentração socioeconômica na Região Metropolitana

de Salvador e levar o desenvolvimento para o interior da Bahia, a partir,

especialmente, do crescimento das cidades médias

A concentração na RMS acontece, destacam os especialistas no Fórum Agenda

Bahia, pelos déficits de educação, infraestrutura e serviço no interior do estado

Planejar a integração dos municípios vizinhos, melhorar as ligações

interregionais e diversificar as atividades produtivas são essenciais para o desenvolvimento sustentável dos novos centros, segundo os especialistas

Cidades médias levam vantagem no planejamento urbano por seu custo

ser menor do que das metrópoles. A elaboração de planos diretores quem ordenem o crescimento, criem estratégias para mobilidade urbana e desenvolvam o saneamento básico pleno

Promover a infraestrutura e logística dos municípios do estado, através

de ferrovias, portos, rodovias e hidrovias, para promover o crescimento sustentável de cidades do interior, levar mais qualidade de vida aos moradores e aumentar a competitividade do estado

Para isso, lembram os especialistas do Fórum Ageda Bahia, é necessário

aumentar o investimento em infraestrutura. O Brasil direciona cerca de 2% do

PIB, enquanto Chile, 5,1% e China, 13,4%

Desenvolver regiões fortes aumenta a competitividade do Brasil na economia mundial. A baixa produtividade deixa o País e seus estados para trás na competição de seus produtos com outras partes do planeta

A Bahia tem desafio maior que estados vizinhos no desenvolvimento regional:

quase 85% de seus municípios têm até 20 mil habitantes. Por isso, a

necessidade de investimento nas chamadas capitais regionais: as cidades médias possuem um papel central no desenvolvimento das pequenas cidades do

seu entorno

Criar políticas para os municípios menores não se tornarem apenas cidades satélites e possam criar também atividades para seu desenvolvimento

Identificar cidades que sejam irradiadoras de desenvolvimento no Semiárido, região com mais de 60% do território baiano

O investimento no interior diminui, inclusive, o fluxo migratório para a capital,

reduzindo o Custo Salvador e colaborando para melhoria nos serviços oferecidos

Investir na interiorização da indústria e incentivar a criação de micro e pequenas empresas nas cidades do interior. Além de contribuir para o

desenvolvimento da região, a instalação de novos negócios gera emprego,

novas oportunidades e incentiva moradores a permaneceram nas suas cidades de origem

Ampliar e modernizar os serviços de comunicação e internet e ainda de energia no estado para atração de novas empresas e aumento da competitividade

Pela extensão do estado, do tamanho de países como a França, uma das soluções apontadas no fórum foi a criação de novos polos econômicos nas chamadas

capitais regionais, como define a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) em seu programa de Interiorização da Indústria

A Fieb pretende implantar escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e levar unidades do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do

Instituto Euvaldo Lodi (Iel) em cinco polos da Bahia: Barreiras e Luis Eduardo Magalhães (Oeste), Ilhéus (Sul), Feira de Santana (Centro Norte), Juazeiro (Norte) e Vitória da Conquista (Sudoeste)

O objetivo da Federação é qualificar trabalhadores e colaborar para a gestão de empresas. Isso permitirá prover a indústria de profissionais especializados e

também colaborar para movimentar a economia das regiões

O Recôncavo, com a instalação do Estaleiro Enseada do Paraguaçu e a promessa de construção da ponte Salvador-Itaparica, também é apontado como um novo vetor de crescimento do estado

Palestrantes e debatedores do seminário Novos Centros, do Fórum Agenda

Bahia, ressaltaram que, além da infraestrutura, outro ponto considerado relevante para o sucesso do desenvolvimento regional é

a Educação

A Bahia precisa investir, afirmam, em todos os níveis da educação nas diversas regiões do estado para reduzir o déficit da qualificação profissional

126 127

População educada transforma seu território, lembraram os palestrantes no Fórum

O anúncio de duas novas universidades para a Bahia foi comemorado. Mas

os baixos índices da educação básica mostram que o ensino fundamental necessita de uma atenção ainda mais especial

Tanto a indústria quanto o comércio revelaram que tarefas simples deixam de ser

realizadas pelo baixo nível de escolaridade de parte dos trabalhadores. Há dificuldade de absorver novos conhecimentos, habilidades e competências

Limitado em suas capacidades, o trabalhador oferece baixa produtividade, uma

das causas do baixo crescimento econômico

Consultor internacional citou exemplo indiano, referência em inovação no mundo,

para mostrar que o foco na educação básica deve ser em meninas e jovens

mulheres, o que permitirá, inclusive, romper o ciclo reprodutor da pobreza

Valorização do professor também é prioridade. O exemplo da Finlândia foi usado para revelar que os professores do ensino básico estão entre os profissionais com maior prestígio social do país

Instalação de uma cadeia produtiva que respeite as características de cada região e possa estimular a economia local

Criação de centros de pesquisa para atração de indústrias e de

desenvolvimento de tecnologia e inovação

Estímulos a parcerias entre governo e iniciativa privada em pesquisas para desenvolvimento de produtos nas regiões, como acontece em outros países

Com a existência de polos microrregionais, a Bahia pode aproveitar diferentes

vantagens competitivas para negociar com seus parceiros comerciais

Aumentar a competitividade dos portos baianos através da modernização e aumento da sua capacidade operacional

Promover o adensamento das indústrias de base no Polo de Camaçari. A integração da cadeia produtiva reduz custo das empresas e evita o transporte de

cargas, diminuindo a sobrecargas nos modais

Definição com brevidade sobre a inconstitucionalidade dos incentivos fiscais, concedidos pelos estados na atração de empresas, tanto pelo Congresso Nacional quanto pelo Supremo Tribunal Federal. Uma das soluções apresentadas

no seminário é da regionalização dos impostos federais, com autonomia para estados decidirem o que fazer com os tributos. Os recursos seriam usados prioritariamente em infraestrutura

Prefeito ACM Neto anunciou no Fórum Agenda Bahia a criação do programa Bahia 500 para planejar desde já a cidade nos próximos 36 anos

Agência municipal, segundo o prefeito, vai atrair novas empresas para acapital baiana, especialmente as com perfil de indústria limpa. A prefeitura de Salvador dará prioridade na atração dos setores de turismo, comércio, tecnolo-gia, audiovisual, indústria não poluente e economia criativa

Governador Jaques Wagner afirmou que pretende instalar na Chapada Diamantina mais uma universidade

Governador também prometeu capacitar o aeroporto de Feira de Santana

para abrigar cargas de todo o Nordeste

Compromissos firmados

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

128 129

Reduzir a concentração socioeconômica na Região Metropolitana de Salvador e levar o desenvolvimento para o interior, a partir do crescimento das cidades médias. Essa tarefa é vista como uma prioridade, tanto por go-vernantes quanto por empresários na Bahia. No entanto, vários problemas põem esse desafio em risco: a excessiva centralização econômica na capital, a falta de ligação dentro das regiões e a precária qualidade de serviços, como telecomunicações e educação, dentre outros.

Do lado do governo, pelo menos R$ 5 bilhões, que chegarão ao estado via Ministério dos Transportes, estão previstos para investimentos em obras de infraestrutura e logística como ferrovias e hidrovias que interliguem as dife-rentes regiões baianas. Além disso, outros R$ 3,5 milhões serão aplicados na construção do Porto Sul, no Sul do estado. Apesar de comemoradas entre empresários e gestores das regiões beneficiadas, as obras previstas são tidas como insuficientes para tornar o interior mais atrativo diante da falta de serviços essenciais, que vão desde a falta de educação básica à qualificação profissional, passando até pela falta de água – que ocorre, sobretudo, em regiões afetadas por problemas climáticos.

Se, por um lado, há consenso sobre a importância de industrializar as cidades médias como ponto de partida, por gerar oportunidades de emprego e campo para a atuação de micro e pequenas empresas, o interior ainda é pouco atrativo para os empresários, justamente pela precariedade de serviços.

O professor da Unifacs e pesquisador sobre economia baiana Gustavo Casseb considera que as decisões dos últimos governos estaduais de buscar a interiorização da indústria tem sido acertada. “Os sucessivos governos, desde Paulo Souto até Jaques Wagner, entenderam a importância de levar o desenvolvimento industrial para o interior, embora a economia não seja só indústria”, diz.

Mas o professor, que também é diretor de indicadores e estatística da Superintendência de Assuntos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), re-conhece que ainda há muitos desafios pela frente. “É inadmissível que tenhamos problemas nos distritos industriais do interior como a falta de água até dificuldade de comunicação”, pontua.

Do lado da iniciativa privada, a Fieb iniciou, em abril de 2011, um programa de interiorização que chegará às mesorregiões contempladas pelas princi-pais cidades médias do estado, as chamadas ‘capitais regionais’: Barreiras (Oeste), Ilhéus (Sul), Feira de Santana (Centro Norte), Juazeiro (Norte) e

Os desafios da descentralização Vitória da Conquista (Sudoeste). No Oeste, a Federação chegará também a Luis Eduardo Magalhães.

A ideia é implantar escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para a qualificação de trabalhadores, abrindo caminho para prover a indústria de profissionais qualificados e colaborar para movimentar a economia das regiões em questão, além de unidades do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Instituto Euvaldo Lodi (Iel) - focado no recrutamento de estagiários e na gestão de empresas.

O superintendente do Centro das Indústrias do Estado da Bahia (Cieb), Evandro Mazo, responsável pelo programa de interiorização, explica a ne-cessidade de voltar os olhos para o interior. Ele ressalta a necessidade de atrair gente para o interior devido ao chamado Custo Salvador, conjunto de dificuldades econômicas que encarecem o investimento na capital, parte de um ciclo que impede uma maior descentralização da economia no estado.

“É preciso diminuir o fluxo migratório do interior para a capital. Hoje, o Custo Salvador já é muito grande. A capital não consegue dar respostas para melhorar a mobilidade, os serviços de saúde e educação para uma po-pulação que só cresce. Mas, para tornar o interior atrativo, precisa-se de emprego. Para isso, é necessário que essas pessoas sejam qualificadas”, avalia o superintendende do Cieb. Mazo considera positiva a recente sanção do governo federal para implantar duas universidades federais, no Sul e no Oeste da Bahia, mas considera que isso não será suficiente, caso não haja investimento maior em educação básica.

“O essencial para a Bahia é uma educação básica de qualidade. No interior, se agrava mais ainda”, afirma. Segundo ele, boa parte das desistências dos cursos técnicos oferecidos pelas unidades do Senai ocorre porque os

Ponte Ilhéus-Itabuna: mobilidade

já é desafio nas cidades médias

Foto: Arisson Marinho

130 131

alunos não têm base. “Muitos não conseguem realizar operações básicas ou escrever uma simples redação”, lamenta.

Evandro Mazo, do Cieb, identifica Juazeiro como um dos polos com grande potencial para a atividade mineradora. “O segmento da mineração tem um potencial enorme, há muitas empresas se instalando e fazendo pesquisa mineral”. Porém, o escoamento da produção também é um empecilho, devido à falta de infraestrutura logística. Cidades do Sudoeste do estado, na zona de influência de Vitória da Conquista, também se tornarão um polo minerador, com a chegada da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e do Porto Sul.

O professor Gustavo Casseb vislumbra que, com essas obras, o Sudoeste e o Sul do estado serão integrados, formando uma macrorregião e promoven-do o desenvolvimento integrado. “Enquanto Vitória da Conquista, que hoje é um polo de serviços, pode se especializar em serviços de alta tecnologia, Ilhéus e Itabuna se tornariam um grande entreposto comercial, essenciais para o escoamento da produção”, prevê. Essa integração, segundo ele, seria essencial para a recuperação do polo de informática de Ilhéus, desvinculando a região de atividades econômicas já falidas.

“Não podemos continuar presos à velha tradição do cacau e do chocolate, é preciso pensar no polo de informática como uma atividade prioritária na região, o que nunca ocorreu”, propõe.

No Oeste do estado, a melhoria da infraestrutura de telecomunicações, internet e energia elétrica é um dos grandes desafios. “Em dias de chuva, a internet funciona com total precariedade, cai muito e a velocidade é muito baixa. As empresas mal conseguem emitir uma nota fiscal eletrônica, por exemplo”, conta Mazo, do Cieb.

A Fiol é também vista como uma esperança para a região, que hoje depende apenas de uma rodovia federal (BA-242) para distribuir a produção de milho, soja e algodão. “Há uma circulação muito grande de caminhões e veículos, o que impacta na mobilidade da cidade. Os principais gargalos são o Anel de Contorno e o Viaduto que dá acesso à BR-116”, aponta Evandro Mazo, supe-rintendente do Centro das Indústrias da Bahia (Cieb).

FONTES: Cidades Médias Baianas: Níveis de Crescimento em Questão (Ipea); entrevista a especialistas da SEI, Unifacs e Fieb

PONTO POSITIVO

PONTO NEGATIVO

FEIRA DE SANTANA: É o maior centro fora da Região Metropolitana de Salvador. Tem bom desenvolvimento industrial, mas já sofre com graves problemas de mobilidade urbana

1

BARREIRAS: Principal município do Oeste, é a capital de uma região com bom desenvolvimento econômico, através da agroindústria, mas que possui muitos desafios. Entre eles, a de melhorar a energia e os serviços de telecomunicação, hoje muito precários, além do escoamento da produção

5

VITÓRIA DA CONQUISTA: Já começa a viver problemas de mobilidade. Como polo de serviços, tem grande potencial para se especializar em serviços de alta tecnologia, mas, para isso, depende de melhorar vias de escoamento. Cidades próximas têm potencial para indústria mineradora

2ITABUNA/ILHÉUS: Região ainda possui graves problemas econômicos e sociais com a falência da indústria cacaueira. Com investimentos em infraestrutura, tem potencial para tornar-se um grande entreposto comercial. Diversificar produção e ampliar o polo de TI são desafios

3

JUAZEIRO: Centraliza fortemente a economia do Vale do São Francisco baiano. Maior desafio é integrar os municípios muito pobres do entorno, diversificando produção. Segmento da mineração também tem potencial para crescer na região

4

CAPITAIS REGIONAIS

CENTROS MENORES

As principais cidades médias baianas

OS CINCO POLOS DO ESTADO

Cidades que não são ‘médias’ a rigor, mas exercem influência sobre o entorno

JEQUIÉ

TEIXEIRA DE FREITAS

ALAGOINHAS

EUNÁPOLIS

PAULO AFONSO

SANTO ANTÔNIO DE JESUS

VALENÇA

IRECÊ

GUANAMBI

SENHOR DO BONFIM

CRUZ DAS ALMAS

ITABERABA

JACOBINA

BRUMADO

BOM JESUS DA LAPA

SEABRA

RIBEIRA DO POMBAL

O QUE DEVE SER FEITO

MELHORAR A EDUCAÇÃO

BÁSICA

REDUZIR DÉFICIT DE

QUALIFICAÇÃO

PROFISSIONAL

AMPLIAR SERVIÇOS DE

COMUNICAÇÃO E INTERNET

PLANEJAR A INTEGRAÇÃO

COM MUNICÍPIOS VIZINHOS

MELHORAR LIGAÇÕES

INTERREGIONAIS

DIVERSIFICAR ATIVIDADES

PRODUTIVAS

ATRAIR MAIS HABITANTES

132 133

A descentralização da economia baiana é um desafio ainda maior do que em outros estados do país, devido ao grande número de pequenos mu-nicípios existentes, como destaca o pesquisador sobre economia baiana Gustavo Casseb, da Unifacs. “A Bahia tem 417 municípios, contra 92 do Rio de Janeiro, por exemplo. Isso é hoje uma grande dificuldade para o desen-volvimento integrado do estado”, pontua.

Em 2010, realização do último censo demográfico no país, as cidades com até 20 mil habitantes representavam 84,9% do total estadual, de acordo com o estudo Cidades Médias Baianas: Níveis de Crescimento em Questão, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), recente-mente publicado.

Nesse cenário, as chamadas ‘capitais regionais’ possuem um papel central no sentido de contribuir para o desenvolvimento das pequenas cidades do seu entorno. No entanto, cada região possui desafios particulares a serem superados e potencialidades específicas. Como é o caso da região do Vale do São Francisco, onde fica Juazeiro.

“É uma cidade muito grande diante de muitos municípios pequenos e pobres no seu entorno. Isso tem a ver com o fato de uma das suas prin-cipais atividades econômicas, a fruticultura, ser voltada, sobretudo, para a exportação. A renda interna é baixa, não há comércio forte, os serviços também não”, explica.

O Ipea identifica 16 cidades que não são médias, a rigor, mas que exercem uma influência sobre municípios ainda menores do entorno. Entre elas estão Jequié, no Sudoeste, Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo, Paulo Afonso, no Norte, dentre outras.

Bahia tem 85% das suas cidades com até 20 mil habitantes

*Difícil integração

417 é o número de municípios da Bahia, contra 92 do Rio de Janeiro, por exemplo

16 outras cidades também poderiam ser influenciadas e influenciar outras menores

O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ) Mauro Rochlin destaca a importância do desenvol-vimento microrregional para a economia do país como um todo. “Com a existência de polos microrregionais, o país pode aproveitar diferentes vantagens comparativas, aumentando a sua competitividade internacio-nal”, considera. “Os polos microrregionais podem favorecer tanto uma maior disseminação dos benefícios do crescimento econômico como também a emergência de sinergias entre as empresas de uma mesma região”, completa.

O professor destaca bons exemplos no país e no mundo de desenvolvi-mento regional. “Um exemplo é o polo calçadista do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Ao longo dos últimos 40 anos, o polo se tornou uma referência em termos de competitividade. O Brasil virou um dos maiores exportadores mundiais de calçados na década de 80, o que foi conseguido, sem dúvida, com a ajuda decisiva da indústria gaúcha”, lembra.

Em termos internacionais, o professor destaca o Vale do Silício, na Califórnia, com a indústria de informática, e a Terceira Itália, a região Nordeste do país, onde floresceu a indústria italiana de calçados. No caso do Vale do Silício, a proximidade geográfica foi fator fundamental em termos de difusão do conhecimento. No caso da Terceira Itália, a coope-ração entre as empresas do polo foi decisiva para a projeção internacional dos produtos da região.

Desenvolver regiões fortes torna país mais competitivo

“Com a existência de polos microrregionais, o país pode aproveitar diferentes vantagens comparativas”MAURO ROCHLIN, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ)

134 135

Presidente da Inter.B Consultoria Internacional, Cláudio Frischtak foi principal economist do Banco Mundial para as áreas de energia e indústria. Com pós-graduação na Universidade de Campinas e em Stanford University, Frischtak apresentou a palestra Os Desafios da Competitividade, no seminário Desenvolvimento Regional, tema Novos Centros, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

Para o especialista, a falta de competitividade é o maior problema da economia brasileira. Seu diagnóstico aponta que, para reencontrar o caminho do desenvolvimento, o Brasil precisa incrementar os investimentos em educação de qualidade e em infraestrutura, além de aumentar a eficiência e a eficácia do governo.

A partir de seus estudos e análises, qual o diagnóstico que o senhor faz da economia brasileira? Vivemos uma trajetória de baixo crescimento nestes últimos dois anos que possivelmente se reproduzirá neste ano e no próximo, quando a economia vai crescer em torno de 2% ou 2,5%. Acho que, em última instância, isso tem

‘População educada transforma seu território’

Entrevista com Claudio Frischtak

Cláudio Frischtak: a concentração na

Região Metropolitana se dá pelos déficits

de educação e de infraestrutura no

interior do estadoFoto: Divulgação

a ver com a baixa produtividade de nossa economia. A produtividade baixa deixa a economia menos competitiva. E isso acontece por algumas razões. A primeira é que há um déficit de educação, de pessoas educadas e treináveis (para serem aproveitadas em atividades econômicas). Investimos pouco em educação e o pouco que investimos, às vezes, não é bem investido. Esforços são feitos para melhorar, mas nossos competidores fazem esforços maiores e estamos ficando para trás.

Nossos trabalhadores têm uma série de qualidades, mas com baixo nível de educação fica cada vez mais difícil você treinar novas habilidades e competências, dada a complexidade crescente dos bens de capital. O segundo ponto é a infraestrutura. Em 2013, projetamos investir algo em torno de 2,4% do PIB. Há muitos anos, investimos em torno de 2%, 2,1% do PIB em infraestrutura. O Banco Mudial estima que o investimento mínimo deve ser de 3% do PIB para simplesmente acompanhar a depreciação do capital físico per capita. Para repor o capital físico - per capita - precisaríamos investir 3% e há muitos anos investimos abaixo disso. O resultado é que temos custos logísticos muito altos, com filas nos aeroportos, portos, estradas.

O terceiro elemento é que se inova muito pouco no Brasil. Muitas empresas brasileiras fazem inovações nos EUA porque lá o ambiente é muito mais propício. O patenteamento é feito em questão de meses e aqui é uma complicação enorme. A inovação, assim como a produção, se dá no plano global e estamos muitos isolados do restante do mundo. Por fim, outro problema que temos é uma baixa taxa de poupança interna, da ordem de 17% do PIB. A impliciação disso é que não temos poupança suficiente para sustentar o investimento. O governo precisa poupar porque hoje consome em excesso. Aumentamos muito a carga tributária para pagar o consumo do governo.

Mas seria possível um país como o Brasil poupar mais com tantos investimentos necessários, a exemplo da educação, como o senhor colocou? Exatamente isso. Teria de poupar para investir. O que se vê é o aumento do consumo do governo. Não se fala em termos uma taxa de poupança como da China, que é de 48% do PIB. Mas se poderia ter uma taxa de poupança próxima à média dos países do G-20, que são nossos competidores, que é em torno de 24% do PIB. Sem poupança, não vamos modernizar a economia nem fazermos a economia competitva.

O que aconteceu para chegarmos neste ponto? O Brasil foi aquinhoado com amplos recursos naturais e nos útlimos anos se deparou com um superciclo de commodities. E isso facilitou muito nossa vida. Pudemos ampliar nosso horizonte de consumo sem grande esforço porque a economia internacional foi favorável. Em tese, isso poderia ter levado a um investimento maior, mas perdemos essa janela, infelizmente.

“O governo tem de poupar, porque consome em excesso. Aumentamos carga tributária para pagar o consumo do governo”

136 137

E como sair disso? Não me parece ser tão fácil sair desse ciclo, uma vez que o crescimento da China e, futuramente o da Índia, como apontam os analistas, pressiona o preço de alimentos e matérias-primas, que têm produção abundante no Brasil. Não há nada de errado com o Brasil ser exportador de matérias-primas e de commodities agrícolas. O problema é que a experiência internacional de países bem-sucedidos que são, ao mesmo tempo, exportadores de commodities mostra que temos de reorganizar o Estado brasileiro como um todo, não só o governo. Há uma divergência muito grande entre sociedade civil e meio empresarial de um lado e o Estado, que é muito mais frágil, do outro. A qualidade dos serviços públicos tem de melhorar dramaticamente.

Então, como melhorar os serviços públicos tendo de poupar? O ponto de partida é uma reforma política feita de tal maneira que o Estado não seja usado como objeto de distribuição de benesses. O Estado precisa ser competente e meritocrático, como é o setor privado. Não sei se o Estado precisa ser maior ou menor, mas precisa ser competente. O segundo ponto é melhorar a política macroeconômica, que teve uma deterioração muito grande a partir de 2010. O terceiro ponto é que, para aumentar os investimentos em infraestrutura, precisamos de um grupo focado. Hoje, temos um bate cabeça fenomenal dentro do governo para saber quem vai comandar esse processo de licitações e etc. Há uma pressão enorme por velocidade e, ao mesmo tempo, uma disputa enorme por poder e nem sempre quem adquire poder é o mais competente.

Existem iniciativas para atacar estes três pontos que o senhor diagnosticou? Em termos de infraestrutura, temos duas coisas importantes. Houve uma guinada recente e o governo se convenceu que o setor privado tem de tomar a liderança. Também é positivo notar que o governo colocou a infraestrutura na ordem do dia.

A Coreia do Sul, segundo Claudio Frischtak, fez uma revolução com investimentos em educaçãoFoto: Divulgação

“Concentração na Região Metropolitana (de Salvador) se dá pelos déficits de educação e infraestrutura no interior do estado”

E com relação à necessidade de melhoria da condução da política macroeconômica? Vejo mudanças no discurso, não na prática. Os números são ruins e estão deteriorando.

E a reforma política e do Estado? Há uma vontade da boca pra fora. Seria fundamental a proibição de doação de empresas para campanhas eleitorais e uma limitação do valor de doação de pessoas físicas. Já a reforma do Estado teria de ser baseada na meritocracia. Instituições do Estado não devem ser politizadas.

Qual a alternativa para o Nordeste brasileiro numa conjuntura que aponta para o fim da guerra fiscal, ferramenta usada para atrair empresas que naturalmente se instalariam no Sul/Sudeste pelo maior mercado consumidor, maior qualificação do trabalhador e maior qualidade da infraestrutura? O desenvolvimento regional deve ser focado menos nesses tipos de recursos (guerra fiscal) do que nos fundamentos do desenvolvimento, que são investimentos em educação, infraestrutura e governos de qualidade. Um governo de qualidade faz diferença por manter a palavra, por garantir investimentos em serviços de qualidade e ter boa interlocução com o investidor.

O problema desse cenário não está no fato de se acabar com a guerra fiscal sem se falar em política nacional de desenvolvimento regional? Política Nacional de Desenvolvimento Regional é justamente investimentos nesses três pontos que falei: educação, infraestrutura e qualidade do governo.

Investimento em infraestrutura,

como ferrovias para escoamento da

produção, aumenta a competitividade

Foto: Divulgação

138 139

A ênfase de qualquer política de desenvolvimento do Nordeste deve ser em investimentos em educação de qualidade. Principalmente educação básica, com mais prioridade ainda na educação de jovens mulheres. A mulher tem papel fundamental para o rompimento do ciclo da pobreza. Em termos de infraestrutura, o grande déficit ainda é o de logística. O foco para aumentar a qualidade do governo tem de ser na melhoria da eficiência dos processos e na eficácia, que é melhoria da qualidade dos serviços públicos.

Essa mesma receita se aplicaria dentro da Bahia, para diminuir a desigualdade entre as diferentes regiões do estado? A desconcentração do desenvolvimento passa pela melhoria da infraestrutura de logística. Também tem de melhorar a qualidade da educação. A concentração na Região Metropolitana se dá pelos déficits de educação e de infraestrutura no interior do estado. Uma população educada transforma seu território.

Que exemplos o senhor daria de locais que seguiram essa receita e conseguiram transformar suas realidades? O maior exemplo é o da Coreia do Sul, que era pobre, não tinha nada. Rica era a Coreia do Norte, que tinha carvão. A Coreia do Sul fez uma revolução com investimentos em educação. Singapura se redefiniu ao se tornar centro logístico do sudeste da Ásia. No Brasil, um estado muito interessante é o de Santa Catarina que, por motivos históricos, conseguiu ter grande equilíbrio regional. O estado tem sete regiões e cada uma responde por um sétimo do PIB estadual. Isso mostra que o nível de educação é elevado e que se conseguiu uma diversidade econômica muito grande.

“Em termos de infraestrutura, temos duas coisas importantes. Houve uma guinada recente e o governo se convenceu que o setor privado tem de tomar a liderança”

Com a ideia de que a Bahia é o espelho do Brasil, o economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional, focou sua palestra nos problemas que geram a baixa produtividade da economia brasileira, situação que provoca baixos índices de crescimento anual e a redução do crescimento potencial do PIB (aquele que é possível de ser alcançado sem gerar desequilíbrios como, por exemplo, a inflação).

Para aumentar a produtividade da economia e, consequentemente, a competitividade do Brasil frente a economia de outros países, Frischtak defendeu maiores investimentos em infraestrutura e melhores investimen-tos em educação.

O economista exibiu um gráfico comparando investimento em infraes-trutura feito por países concorrentes do Brasil: China, 13,4% do PIB em 2010; Chile, 5,1% do PIB entre 2008 e 2011; Brasil, 2,25% do PIB entre 2010 e 2012. Segundo o especialista, se o Brasil investir em infraestrutura de 4% a 4,5% do PIB será capaz de se aproximar desse e de outros competi-dores em até quatro anos. Esse mesmo nível de investimento teria de ser mantido por cerca de 20 anos para que o país consiga modernizar toda a sua infraestrutura.

Para reverter a situação, Frischtak pediu melhor coordenação entre setores de governo responsáveis pelas obras de infraestrutura e mais tempo para elaboração de melhores projetos. E disse que uma agenda consistente de investimentos no setor vai aumentar o índice de crescimento potencial do Brasil para pelo menos 3,5% ao ano. O economista listou, também, a neces-sidade de maiores esforços para o desenvolvimento da inovação no país e mudanças no regime tributário para torná-lo mais racional.

Muito atrás de outros países

“A Coreia do Sul fez uma revolução com investimentos em educação. Singapura se redefiniu ao se tornar centro logístico do sudeste da Ásia”

140 141

salários e maior prestígio social. “Na Finlândia, os professores do ensino básico estão no topo das profissões com maior prestígio social. O futuro do Brasil depende desses profissionais, se eles falharem, o país vai falhar”, sentenciou.

Outra medida importante é o investimento na gestão escolar, que deve ser entregue para profissionais competentes. Outras ações elencadas são a de melhoria de qualidade do ensino e o combate à repetência. Apesar das críticas, o economista reconhece que o Estado brasileiro faz esforços na área. Mas ressalva que outros países fazem esforços maiores e melhores, o que aumenta a distância de competitividade entre a economia brasileira e a desses países.

Questionado pela plateia, Frischtak concordou que a agenda de mudanças também deveria incluir conteúdos de educação financeira. Para o especia-lista, essa seria ação interessante para combater outro problema que afeta o crescimento do país, a baixa poupança interna: “O Estado brasileiro tem de poupar mais. Mas as famílias também têm de poupar para que nosso cresci-mento seja sustentável”.

EDUCAÇÃO FRÁGIL Brasil Chile China ÍndiaCoreia do

Sul

União

EuropeiaEUA

Gasto por aluno, ensino primário (% do PIB per capita) 20,5 17,4 ... 9,0 23,1 22,3 22,4

Gasto por aluno, ensino secundário (% do PIB per capita) 20,9 17,7 ... 16,4 23,6 28,7 25,2

Gasto por aluno, ensino terciário (% do PIB per capita) 28,9 13,7 ... 55,6 13,0 28,4 19,4

Repetentes, ensino primário (% matrículas) 18,7 1,0 0,3 3,4 0,0 1,7 0,0

Repetentes, ensino secundário (% matrículas) 21,1 1,9 0,2 4,7 0,0 4,3 ...Fonte: Banco Mundial; elaboração Inter.B.

A educação está na base do desenvolvimento e da supe-ração de desigualdades, sejam elas regionais, étnicas ou de gênero. Mas os investimentos no setor feitos no Brasil não estão focados nas prioridades corretas e explicam as baixas taxas de crescimento, de produtividade e de com-petitividade registradas, atualmente, na economia brasi-leira. Explicam também a dificuldade de emprendedores - principalmente industriais - para encontrar mão de obra qualificada ou mesmo para poder qualificar seu próprio trabalhador: jovens e adultos pouco educados têm baixa capacidade de adquirir novas habilidades e competências.

Cláudio Frischtak cita Kerala, que apresenta taxas de IDH elevadas na comparação mundial e muito elevada na comparação com outras regiões indianas. E isso é fruto de décadas de investimentos em programas sociais. Para o consultor internacional, o resultado ali alcançado comprova que a pobreza tem um ciclo reprodutor e que o rompimen-to desse ciclo depende de uma educação prioritariamente focada em meninas e jovens mulheres.

“A pobreza começa em casa e, por isso, a prioridade da educação deve ser a básica, e com mais ênfase ainda na educação de meninas e jovens mulheres para romper esse ciclo”, pontuou o economista.

O exemplo que traz da Índia é usado por Frischtak para ar-gumentar que os gastos feitos em educação pelo governo brasileiro poderiam ser melhorados. “Não tenho nada contra o ensino superior. Inclusive, já fui professor univer-sitário. Mas o gasto público em educação deve ser feito na educação básica. A educação deve começar aos 2 anos”, disse, completando: “Até a década de 70, início dos anos 80, a Coreia do Sul era pobre. Eles fizeram uma revolução com investimento em educação. E conseguiram envolver as famílias no processo educacional. Por isso, são o que são hoje, um dos países campeões em inovação”.

Além da mudança de foco e do envolvimento de toda a família, o economista sugere outras medidas para aumentar a eficiência do estado em relação à educação. Para os professores, sugere mais qualificação, melhores

O efeito no mercado de trabalho

Consultor internacional diz que a Bahia é um espelho do Brasil: estado precisa focar nas mesmas questões do paísFoto: Evandro Veiga

“Na Finlândia, os professores do ensino básico estão no topo das profissões com maior prestígio social” Para o economista Cláudio Frischtak, um trabalhador educado tem mais

treinabilidade. Ou seja, tem maior capacidade de, com treinamento, adquirir novas habilidades e competências para trabalhar e produzir com novas máquinas e rotinas. A qualificação dos trabalhadores é um ponto que o especialista defende como necessário para aumentar a produtivi-dade da economia brasileira, fator essencial para que o Brasil possa atingir maiores taxas de crescimento anual.

“Um dos problemas da economia brasileira neste momento é que a pro-dutividade do trabalhador não acompanhou o crescimento da renda do trabalho”, diagnosticou em sua palestra no Fórum Agenda Bahia.

Para aumentar a produtividade do país

- Enfrentar os problemas causados pela baixa educação média do brasileiro

- Pouco educado, tem dificuldade de absorver novos conhecimentos, habilidades e competências

- Limitado em suas capacidades, o trabalhador oferece baixa produtividade

- A baixa produtividade é uma das causas do baixo crescimento econômico

Desafio

- Melhorar a qualidade do ensino

- Profissionalizar a gestão escolar, quali-ficar e pagar melhores salários a professores

- Focar na educação básica, enfatizando a educação de meninas e jovens mulheres

- Investimento em inovação, ambiente de negócio e infraestru-tura para melhorar a produtividade

Solução

142 143

BarreirasBarreirasBarreirasBarreirasBarreirasFeira de SantanaFeira de SantanaFeira de SantanaFeira de SantanaFeira de SantanaIlhéusIlhéusIlhéusIlhéusIlhéusItabunaItabunaItabunaItabunaItabunaJuazeiroJuazeiroJuazeiroJuazeiroJuazeiroJuazeiroLuis Eduardo MagalhãesLuis Eduardo MagalhãesLuis Eduardo MagalhãesLuis Eduardo MagalhãesVitória da ConquistaVitória da ConquistaVitória da ConquistaVitória da ConquistaVitória da ConquistaTotalVagas de nível técnico/tecnólogoVagas de nível superior

Técnico em caldeirariaTécnico em eletromecânicaProfessor de língua portuguesaTécnico em manutenção de equipamentos de informáticaAnalista de recursos humanosTecnólogo em logística de transporteTécnico em manutenção de equipamentos de informáticaTécnico em segurança no trabalhoTécnico de manutenção eletrônicaTécnico mecânicoProfessor de língua portuguesaEnfermeiroFarmacêuticoTécnico em turismoTécnico agrícolaTécnico agropecuarioProfessor de língua portuguesaProfessor de historia no ensino médioProfessor de geografia do ensino superiorTécnico de alimentosProfessor de administraçãoTécnico em laboratório de farmáciaEngenheiro civilFarmacêutico bioquímicoNutricionistaTorneiro mecânicoPedagogoTécnico químicoTécnico em segurança no trabalhoTécnico agrícolaTécnico em manutenção de equipamentos de infoProfessor de historia do ensino superiorTécnico eletrônicoAnalista de recursos humanosCoordenador pedagógico

TécnicoTécnico

SuperiorTécnico

SuperiorTecnólogo

TécnicoTécnicoTécnicoTécnico

SuperiorSuperiorSuperiorTécnicoTécnicoTécnico

SuperiorSuperiorSuperiorTécnico

SuperiorTécnico

SuperiorSuperiorSuperiorTécnico

SuperiorTécnicoTécnicoTécnicoTécnico

SuperiorTécnico

SuperiorSuperior

47138

107

372020181435

15159

307551243

102325

101012235

23117

430328102

Município Ocupação Tipo de formação (por nomenclatura)

Vagas não preenchidas

TRABALHO NO INTERIOR

FONTE: SETRE

Vagas em aberto na indústria à espera de profissionais qualificados

desenvolver, aproveitando suas potencialidades para criar riquezas e reduzir os fluxos migratórios para Salvador”, sugere Evandro Mazo.

Aliada à interiorização das empresas, a educação técnica é a base desse desafio, destaca Mazo. Segundo ele, os salários dos técnicos muitas vezes superam os de nível superior, justamente por conta da carência de profissionais.

O presidente da FCDL, Antoine Tawil, revela que a deficiência no ensino básico tem refletido no atendimento ao consumidor pelo interior do estado. Há profissionais que não conseguem realizar tarefas básicas, como ler

“A indústria, em todos os polos do interior, carece de profissionais com formação técnica ”EVANDRO MAZO, superintendente do Cieb

A Bahia cresceu nos últimos anos em um ritmo acima do país. Novas frentes de trabalho foram criadas para atender a demanda de uma economia aquecida, mas a qualificação de mão de obra não acompanhou a mesma velocidade, especialmente no interior do estado. Para especialistas, o problema tem início no processo de aprendizagem: a educação básica. Sem a base, futuros profissionais encontram dificuldades para finalizar até cursos técnicos e profissionalizantes.

Especialistas entrevistados pelo CORREIO apontam a educação como prioridade para o desenvolvimento de uma região. “A interiorização do comércio varejista hoje está num ritmo muito acelerado. Mas o que existe hoje é o profissional sem muita experiência e sem muita qualificação. Isso vem refletir, justamente, o fraco desempenho educacional que se tem no interior”, considera o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), Antoine Tawil.

Segundo ele, caso a demanda por profissionais com melhor educação fosse suprida, cerca de 10 mil vagas poderiam ser preenchidas imediatamente no interior da Bahia.

Além do comércio, não faltam oportunidades em outros setores da economia baiana, como a indústria e o agronegócio. Mas o apagão da mão de obra também tem deixado vagas ociosas nesses segmentos. Até o final de 2013, pelo menos 430 vagas ficaram sem preenchimento nas principais cidades médias do estado.

Na indústria, a carência de profissionais com qualificação técnica é uma ameaça ao crescimento econômico baseado no desenvolvimento de polos regionais. “A indústria, em todos os polos do interior, carece de profissionais com formação técnica. Embora haja espaço também para profissionais de nível superior, os técnicos vêm se destacando em razão da necessidade de mão de obra especializada em setores estratégicos”, afirma o superinten-dente do Centro das Indústrias do Estado da Bahia (Cieb), Evandro Mazo.

“Trabalhadores com um bom nível de educação e qualificação profissional são a base para o desenvolvimento, com competitividade, da atividade pro-dutiva e de uma região”, arremata Mazo. Para o superintendente, o cresci-mento do interior é essencial para que a economia continue aquecida.

“O desenvolvimento assimétrico entre a Região Metropolitana e o interior é um dos principais desafios para o crescimento econômico da Bahia. É preciso prover condições para que as cidades de médio porte possam se

Apagão da mão de obraSegundo especialistas, o problema tem início no processo de aprendizagem: a educação básica

Educação

144 145

Em Feira de Santana, a situação não é diferente. “A necessidade de qualifica-ção técnica é grande. A função com maior carência de mão de obra qualifica-da é a de vendedor, mas também há necessidade de profissionais nas áreas de gerência e administrativa”, afirmou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Feira de Santana, Alfredo Müller.

Segundo o presidente da CDL de Ilhéus, Paulo Cézar Sanjuan Ganem, o resultado da falta de qualificação, na ponta da cadeia, é um atendimento de baixa qualidade. “Não vejo nas lojas um tratamento diferenciado, dentro dos padrões técnicos adequados”, afirma Ganem. “Mas isso não é só aqui. É um problema que se repete em cidades do interior do país”.

A indústria é um dos setores da economia que mais sentem o déficit da educação básica, já que a aquisição de conhecimentos específicos em muitos dos cursos de qualificação exige uma base sólida em disciplinas como matemática e física, por exemplo.

As dificuldades são refletidas nas escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no interior do estado. Um exemplo é uma das turmas de Técnico em Eletromecânica que hoje está prestes a se formar no Senai de Feira de Santana.

Dos 40 alunos que começaram o curso, há um ano e meio, apenas 19 continuam frequentando as aulas. “O curso exige muitos conhecimentos de física (elétrica) que eu deveria ter aprendido na escola no ensino médio, mas não tive essa base”, conta o estudante Wesley Freire dos Santos, que estudou em escola pública a vida toda.

Wesley é um exemplo de superação. “Precisei correr atrás, estudar muito, porque conseguir ir adiante depende de cada um. Mas muita gente não consegue superar essas dificuldades, porque muitos tiveram uma base ruim”, considerou o estudante. Para superar os obstáculos, Wesley dos Santos contou com a ajuda de professores do curso, que o auxiliaram com atendimento fora de classe. “Os professores sempre tiram dúvidas no turno oposto à aula. Isso me ajudou bastante”, explicou.

A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) tem um programa de Interiorização, implementado para cinco regiões do estado. O objetivo é levar mais qualificação para os trabalhadores da indústria local, contri-buindo para o aumento da competitividade da indústria baiana e para a melhoria das condições de atratividade de novos empreendimentos.

Dificuldade na aprendizagem gera evasão de cursos

“Interiorização do comércio está num ritmo muito acelerado. Mas não há qualificação profissional”ANTOINE TAWIL, presidente da FCDL

recados, escrever textos ou realizar operações matemáticas simples. Essa carência é vista como um grande empecilho para a interiorização do desen-volvimento no estado, caminho considerado prioritário, tanto por governan-tes como pela iniciativa privada.

Professora de ensino básico da rede pública e empresária do ramo da ho-telaria em Ilhéus, no Sul do estado, Maria Helena Tavares também enfrenta problemas com o apagão profissional no mercado de trabalho do turismo. “As pessoas que procuram vagas na área de camareira e serviços gerais, por exemplo, têm qualificação muito baixa. Quando selecionamos, têm dificul-dades para ler uma comanda, receita ou um aviso. Ou seja, coisas básicas”, lembra.

Ensino fundamental séries iniciais1º ao 5º ano

Ensino fundamental séries finais 6º ao 9º ano

Ensino médio 1º ao 3º ano

Nota da Bahia em 2005

Nota da Bahia em 2011

Nota máxima:

2,74,2 10

2,83,3 10

2,93,2 10

Ranking nacional

Bahia ocupa a 24ª posição entre 27 unidades da federação. Ou seja, é o quarto pior estado do país nesse nível

Bahia ocupa a 26ª posição entre 27 unidades da federação. Ou seja, é o segundo pior estado do país nesse nível

Bahia ocupa a 22ª posição entre 27 unidades da federação. Ou seja, é o sexto pior estado do país nesse nível. A nota do estado baixou de 3,3 para 3,2 entre 2009 e 2011

Bahia é o 5º entre 9 estados. Perde para Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba. Ganha de Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e Alagoas

Bahia é o 8º entre 9 estados. Perde para Ceará, Piauí, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. Ganha apenas de Alagoas

Bahia é o 6º entre 9 estados. Perde para Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Piauí. Ganha para Rio Grande do Norte, Maranhão e Alagoas

Bahia no Nordeste

Pelos dados do Censo 2010, a Bahia foi o estado do Nordeste que mais reduziu o analfabetismo

Segundo o programa Topa (Todos pela Alfabetização), desde 2007 foram alfabetiza-das 1.150.000 pessoas

O governo do estado ampliou o número de municípios com rede de educação profissional. Em 2006, havia 4.016 alunos matriculados. Em 2013, segundo o governo, 60 mil matrículas

A Bahia está entre os estados com os piores índices de educação básica no país. O problema ocorre das primeiras às últimas séries do ensino fundamental e se repete no ensino médio. Confira os resultados de 2011, os mais recentes, do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)

GAP NA EDUCAÇÃO

Cinco escolas baianas estão entre as 10 piores do país

Nos anos finais do ensino fundamental, três escolas entre as cinco piores

Entre as 50 melhores, apenas o Colégio Militar de Salvador ocupa a 6ª posição

Dezesseis escolas fazem parte do universo das 50 piores do Brasil. Estão localizadas em cidades como Cairu, Vitória da Conquista, Aurelino Leal, Valença e Feira de Santana

* O Ideb com os dados de 2013 será divulgado no ano que vem. O índice mede a taxa de rendimento escolar (aprovação) e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo Inep. Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente pelo Inep.

146 147

A superintendente de Educação Básica da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, Amélia Maraux, acredita que a Bahia deverá melhorar sua posição no ranking da Educação no próximo resultado do Ideb. “Quando sair o novo Ideb, vamos provar que o que aconteceu com o Ceará pode ser repetido aqui”, assegurou. O Ceará é hoje o melhor colocado no Nordeste.

A superintendente destacou que os baixos índices de educação básica também são atribuição das prefeituras, que compartilham a gestão da educação com o Estado. “Sozinho, um estado não pode melhorar o Ideb. É preciso ação acertada entre prefeituras, estado e União”, disse.

Além do Topa (Todos pela Alfabetização), Maraux destacou programas como o Mais Educação e Ensino Médio Inovador, que buscam corrigir de-ficiências em disciplinas como matemática e português. “Reconhecemos que há problemas na educação básica, mas essa é uma questão nacional”, ponderou. Por meio da assessoria, o Ministério da Educação afirmou que tem ampliado os investimentos, tanto em educação superior como em educação profissional.

Governo aposta em melhores resultados no próximo Ideb

Na agropecuária, sobretudo no Oeste da Bahia, as perspectivas do em-presariado é de um forte aumento das áreas plantadas para os próximos anos. Mas os agricultores acreditam que o crescimento só seja possível com adequada atenção à educação técnica, realidade ainda distante no interior.

“A necessidade hoje está relacionada àquelas demandas que exigem maior qualificação técnica para acompanhamento da mecanização, plantio, colheita. Para atender a legislação vigente, outras áreas como técnico de segurança, de enfermagem e de nutrição começam a ser requeri-das também”, enumera o diretor de Responsabilidade Social, Trabalho e Extensão da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Helmuth Kieckhöfer.

Segundo Helmuth, os produtores rurais no Oeste baiano pretendem ampliar de 2,2 milhões de hectares para 5 milhões de hectares cultivados nos próximos 20 anos. Porém, só será possível com a oferta de cursos específicos para o setor.

“Os novos negócios têm exigindo mudanças na cultura da mão de obra em diversas regiões”, afirma Maria Thereza Andrade, superintenden-te de Desenvolvimento do Trabalho da Secretaria do Trabalho, Renda e Emprego do estado (Setre). “A indústria naval agora volta com força para o Recôncavo baiano, resgatando uma vocação que teve grande presença na década de 70 naquela região. Esta retomada está exigindo a qualifica-ção específica de profissionais para operação de um estaleiro de grande porte”, diz.

Situação semelhante vive o setor da mineração, que terá intenso in-cremento com a chegada da Ferrovia Oeste-Leste. “São cenários que irão provocar importantes mudanças na economia do interior baiano. Investimentos geram emprego direto e oportunidade de negócios para micro e pequenas empresas, sobretudo nos setores de comércio e serviços”, diz.

Novos negócios na agricultura, mineração e indústria naval

“São cenários que, certamente, irão provocar importantes mudanças na economia do interior baiano”MARIA THEREZA ANDRADE, superintendente da Setre

148 149

estratégias de mobilidade urbana e desenvolvam um saneamento básico pleno. “Precisamos fazer cidades melhores, diferente daquelas que fizemos no século XX”, destaca.

Como boa ideia de mobilidade regional, Bacelar destaca o metrô do Cariri, um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que transporta cerca de cinco mil passagei-ros diariamente entre as cidades de Crato e Juazeiro do Norte. “Até a fabri-cação dos equipamentos para construção do VLT foi feita na região”, lembra.

O pesquisador Olímpio José de Arroxelas Galvão é cético quanto a aposta nos centros urbanos para a dinâmica da economia. “Sem a presença dos governos federal e estaduais para melhorar a infraestrutura desses locais, não vejo como uma região pode se desenvolver. Essas regiões podem até atrair iniciativas privadas, mas sempre o governo acabará responsável pela criação e inovação tecnológica. É preciso mais do que vontade”, afirma o pesquisador.

Entre as cidades médias paulistas, Ribeirão Preto, a 320 quilômetros da capital, possui um dos melhores IDHs do estado, e um dos menores índices de analfabetismo, com 2,91%. O município possui boa cobertura de saneamento básico e uma das maiores rendas per capita entre as cidades médias do país, R$ 1.081. Em um estudo recente, divulgado pela consultora Macroplan, Ribeirão Preto é a terceira cidade com a melhor qualidade de vida, entre as cem maiores do país. Os índices sociais e econômicos são os grandes atrativos do município

Perto da capital

Foto: Divulgação

Na primeira década do século XXI, entre 2000 e 2010, surgiu um novo pro-tagonismo urbano no Brasil, o das cidades médias. Enquanto o inchaço nos grandes centros praticamente não alterou sua marcha, o IBGE registrou aumento na migração em direção às cidades que possuem entre 100 mil e 2 milhões de habitantes.

Municípios como Feira de Santana, na Bahia, Ribeirão Preto, São José dos Campos, ambas em São Paulo, e Caruaru (PE) atraíram universidades, centros de pesquisas e indústrias que alavancaram o ritmo da economia local e a oferta de serviços aos habitantes.

“Enquanto no século XX só as grandes cidades como São Paulo, Salvador e Recife cresciam em tamanho, o censo mostra que o interior cresceu em tamanho, mas também ampliou e dinamizou sua base econômica”, diz Tânia Bacelar, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretária de Políticas de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional.

Segundo a especialista, a grande vantagem de planejar o crescimento das cidades de médio porte é o custo infinitamente menor e sugere que as prefeituras planejem planos diretores que ordenem o crescimento, criem

A transformação das cidades Como exemplo de cidade média na Bahia, Vitória da Conquista possui um dos melhores IDHs entre os municípios. O município do Sudoeste oferece centros de pesquisa científica e técnica, como a Uesb e o Ifba. Bem cortado por rodovias, Vitória da Conquista deve receber novo aeroporto em um investimento de cerca de R$ 60 milhões. A cidade tem o melhor desempenho em saneamento básico entre as 100 maiores cidades do país, além de possuir uma vida cultural movimentada, com festivais de música e teatro

Qualidade de vida

Foto: Divulgação

150 151

Crato e Juazeiro do Norte, ambas no Ceará, são exemplos de cidades que se beneficiaram com o desenvolvimento que o Nordeste viveu nos últimos anos. O Metrô do Cariri, um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) - modalidade de veículo ferroviário com capacidade menor do que um metrô -, liga as duas cidades e serviu para desenvolver a indústria ferroviária do estado. A viagem que corta a Região do Cariri é feita em 30 minutos e colaborou para desenvolver universidades, comércio e indústrias nos dois polos. Diariamente, cerca de 5 mil pessoas são transportadas, desde 2010, quando foi inaugurado, um ano depois que a microrregião do Cariri foi transformada em região metropolitana

VLT

uma grande rede de tecnologia capaz de driblar o clima seco da região. “O Semiárido tem de identificar cidades capazes de se tornarem centros irra-diadores de desenvolvimento, e investir nelas”, afirma.

Para o coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ), o economista David Kupfer, os estados sozinhos não têm força para de-senvolver suas cidades de médio porte . “Não está ao alcance dos estados isoladamente, mas acho que é necessário uma política regional para analisar frentes de expansão que possam dinamizar essa região. A Bahia não tem condição de adotar medidas muito exuberantes”, acredita.

Kupfer diz que a Bahia tem como desafio aproveitar sua vocação extra-tivista, como a exploração de minérios, como ferro, níquel, ouro, bauxita, sem abrir mão do desenvolvimento da região. “A atividade extrativa não tem grande potencial de desenvolvimento, porque a renda que ela gera não cria um encadeamento. É preciso reter as pessoas, reter essa renda, gerar consumo e, com isso, desenvolvimento”. Como solução, Kupfer sugere inserir a atividade extrativista em uma cadeia produtiva capaz de estimular a economia local.

Foto: Divulgação

A capital do estado norte-americano do Texas possui cerca de 800 mil habitantes e uma região metropolitana que não ultrapassa 2 milhões de pessoas. Austin é conhecida por abrigar inúmeras companhias de alta tecnologia, ganhando o apelido de Colinas do Silício, em referência ao Vale do Silício, na Califórnia. Os jovens recém-formados são logo contratados por empresas como Apple, HP, IBM, Dell e outras gigantes da tecnologia na cidade. Austin foi eleita a segunda melhor cidade entre os Melhores Lugares Para Morar, em 2006, e também mantém o título de cidade mais verde dos Estados Unidos, por conta de suas ações de sustentabilidade

Tecnologia e inovação

Arroxelas Galvão aposta nos centros de pesquisa como atrativos para in-dústrias, tecnologia e crescimento regional. O especialista diz que o país não tem tradição de grandes grupos privados que se ligam a grupos de pesquisa para desenvolver produtos, comum nos Estados Unidos, França e Alemanha.

“No Brasil, essas regiões podem até atrair iniciativas privadas, mas sempre o governo acabará responsável pela criação e inovação tecnológica”, diz.

Para o vice-presidente da Fieb, Reinaldo Sampaio, a Bahia ainda possui poucas cidades de médio porte, porque não oferece condições para seu de-senvolvimento. “Essas cidades precisam ter equipamentos e instrumentos de desenvolvimento, como educação, informação, tecnologia, infraestrutu-ra, que é saneamento, condições de energia, ferrovias, rodovias, aeroportos. As cidades que podem ser polos regionais precisam oferecer as exigências para o desenvolvimento”, destaca.

O desafio maior para a Bahia, lembra Sampaio, é promover desenvolvimen-to em um estado que possui 67% do território na região semiárida. Ele cita como exemplo a região da Múrcia, na Espanha, que conseguiu desenvolver

Foto: Divulgação

152 153

O Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) está sendo construído no distrito de São Roque do Paraguaçu, no município de Maragojipe. É considerado como principal vetor de um novo ciclo econômico da região do Recôncavo : a indústria naval

Investimento previsto:

R$ 2,6 bilhões

Negócios já firmados: contrato com a empresa Sete Brasil, no valor global aproximado de

garantirá a produção de seis navios-sondaR$ 4,8 bilhões,

Atividades: construção de navios para a exploração do pré-sal, embarcações militares e prestação de serviços de manutenção para equipamentos da indústria naval

Empregos gerados hoje 2,5 mil

Empregos no pico da construção (até fevereiro de 2013) 6 mil

Empregos diretos na plena operação (a partir de 2015) 4 mil

Empregos indiretos 10 mil

de tudo, desde gêneros alimentícios a itens de vestuário e produtos de higiene pessoal”, enumera.

“Para isso, o comércio local tem o desafio de se estruturar, desenvolver-se e aumentar sua capacidade de abastecimento. Serão milhares de novas pessoas na região demandando esses produtos”, diz.

Para Tawil, a segunda etapa trará novos desafios. “Quando o estaleiro começar a produzir e com a instalação da mão de obra mais especializada, haverá grande necessidade de profissionais liberais: cabeleireiros, dentistas, advogados”, prevê.

Segundo ele, Maragojipe, que possuía 42.815 habitantes no censo de 2010, poderá até dobrar de população. Segundo a prefeitura do município, a arre-cadação com impostos também deverá dobrar no médio prazo, dos atuais R$ 5 milhões para R$ 10 milhões.

Importantes entrepostos comerciais entre Salvador e o interior do estado até o século passado, municípios do Recôncavo baiano como Maragojipe, Cachoeira e São Félix agora se preparam para viver uma nova fase, após décadas renegados ao esquecimento: o ciclo da indústria naval. A economia da região já sente os impactos positivos com a construção do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) no distrito de São Roque, em Maragojipe.

O estaleiro, que fabricará navios petroleiros e de guerra e fará a manu-tenção de equipamentos navais, já começará a produzir no início de 2014 que vem, somando um investimento total de R$ 2,6 bilhões. Atualmente, em sua fase de construção, o empreendimento já gera 2,5 mil empregos. Até fevereiro, esse número mais que dobrará, chegando a 6 mil. Na fase de produção plena, a partir de 2015, 4 mil empregos fixos serão gerados.

O estaleiro tem sido visto por empresários e pelo poder público como o principal vetor para transformar a região em um novo polo de desenvol-vimento industrial. No entanto, vários desafios, como a melhoria da in-fraestrutura e a qualificação profissional da população local, precisam ser alcançados.

“Por sua magnitude, esse empreendimento coloca essa região em posição de destaque e também põe a Bahia à frente do processo de retomada da indústria naval no país”, considera o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Reinaldo Sampaio. O empresá-rio acredita na chegada de novas indústrias aos municípios próximos. “O estaleiro deve influenciar a chegada de indústrias de navipeças (peças para navios), a indústria metal-mecânica, de compo-nentes elétricos e o setor da Tecnologia da Informação, por exemplo”, prevê.

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), Antoine Tawil, acredita que o estaleiro também tem o potencial para movimentar o comércio local. “Nessa primeira etapa de constru-ção, o estaleiro vai demandar

A retomada do Recôncavo

154 155

Para o professor de História da Universidade Federal do Recôncavo Baiano Walter Fraga, a chegada do estaleiro pode voltar a movimentar a economia de municípios como Cachoeira e São Félix, mas é preciso planejamento para evitar que essas cidades virem apenas a periferia de Maragojipe. “A circula-ção de riquezas apenas não é suficiente. Um projeto concreto que inclua as populações locais nesse processo é o grande desafio”, diz.

BAHIA

SALVADOR

MUNICÍPIOS DE INFLUÊNCIA DIRETA: Maragojipe, Salinas da Margarida e Saubara

MUNICÍPIOS DE INFLUÊNCIA INDIRETA: Cachoeira, São Félix e Itaparica

OUTROS MUNICÍPIOS PRÓXIMOS: Vera Cruz, Santo Amaro, Nazaré das Farinhas, Santo Antônio de Jesus, Candeias, Cruz das Almas e São Francisco do Conde

Região de influência

Pesca artesanal, pecuária (produção de carne de fumeiro), agricultura pequena e média com itens como mandioca, aipim, inhame e farinha. Produção de plataformas de exploração petrolífera no estaleiro de São Roque do Paraguaçu, da Petrobras. Indústrias açucareira e fumageira (de charutos) pouco expressivas ou falidas

Atividades econômicas existentes nos municípios de influência direta e indireta

A chegada do estaleiro também é vista como uma retomada da cadeia da indústria naval já existente no local. No entanto, para que empresários e, especialmente, a população colham bons frutos com a chegada desse inves-timento, vários desafios precisam ser superados. “A formação de pessoal é um desafio muito grande que temos pela frente”, admitiu o diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade do EEP, Humberto Rangel.

Como contrapartida de concessões fiscais concedidas pelo governo estadual e pela prefeitura de Maragojipe, o estaleiro deve empregar mora-dores da cidade em pelo menos 40% da mão de obra.

Hoje, na fase da construção civil, esse número já foi superado: aproxima-damente 60% dos 2,5 mil funcionários do estaleiro são de Maragojipe e região. Mas a maior preocupação está na fase de produção, que exige mão de obra mais especializada. O período de produção final só se consolidará em 2015, mas já terá início em janeiro de 2014 – quando as obras de construção ainda estarão em curso, mas uma parte do empreendimento começará a montagem de seis navios-sonda encomendados pela empresa Sete Brasil, em um contrato de US$ 4,8 bilhões.

Há temor de que os esforços do estaleiro, da prefeitura e da Fieb para ca-pacitar os moradores locais não sejam suficientes para garantir que a contrapartida de empregar mão de obra local seja cumprida. “As primei-ras duas turmas estão sendo formadas, mas ainda não temos um espaço físico próprio para essa capacitação”, disse o secretário de Governo de Maragojipe, Gilberto Sampaio. “Se não tivermos gente suficiente capaci-tada para trabalhar no estaleiro, não poderemos obrigá-los a contratar as pessoas daqui”, lembra. Segundo o secretário, um grupo de 60 pessoas está sendo formado no município, algo bem longe da meta para a fase de operação. “Calculamos que temos que formar 1.600. Mas isso vai depender de adaptar o espaço da nossa escola profissionalizante”, diz.

A gerente de Pessoas e Organizações do estaleiro, Márcia Lapa, considera a qualificação dos trabalhadores o “principal desafio” da empresa. Hoje, o es-taleiro já possui um programa interno, chamado Acreditar, para captar novos talentos e ajudá-los a conseguir um emprego no empreendimento.

Após seis anos desempregada, a soldadora Antônia Cristina, 33 anos, parti-cipou do programa e garantiu uma vaga nas obras do EEP. “Entrei aqui no dia 18 de janeiro como soldadora. Com o salário, de R$ 1.770, comecei a construir minha casa, um sonho de muito tempo”, contou. “Agora, já vou começar a construir o segundo andar”. Ela pretende continuar estudando e se quali-ficando para garantir um futuro próspero. “Conhecimento ninguém tira da gente, não é?”, diz, sorrindo.

“Conhecimento ninguém tira da gente, não é?”ANTÔNIA CRISTINA, soldadora

WALTER FRAGA, professor de História da Universidade Federal do Recôncavo Baiano

“A circulação de riquezas apenas não é suficiente. Um projeto concreto que inclua as populações locais é o grande desafio”

156 157

Outra questão vista como essencial por empresários é a melhoria do acesso rodoviário ao estaleiro. Hoje, a BA-534, uma estreita via que liga a BA-001 às obras, está completamente esburacada e os congestiona-mentos de caminhões são frequentes. A estrada que passa por municípios próximos ao empreendimento, como Salinas da Margarida, é de passagem obrigatória para quem sai da zona urbana de Maragojipe no sentido do estaleiro.

O governo do estado já iniciou as obras para melhorar a via, mas o empre-sariado teme que a pista muito sinuosa e estreita não seja suficiente para suprir as demandas do estaleiro. Ainda estão previstos o alargamento e a pavimentação asfáltica dos últimos 5,4 quilômetros da pista. Uma ponte sobre o Rio Baetantã, que liga São Roque a Salinas da Margarida, também será finalizada até outubro de 2014.

Enquanto isso, os empresários do estaleiro têm preferido apostar no transporte aquaviário para os trabalhadores. Mesmo assim, somente a integração entre os diferentes modais é vista como uma solução definitiva para o acesso precário à região.

Dessas melhorias depende, por exemplo, o transporte de alimentos pro-duzidos na região, como raízes, carne de fumeiro e frutas cítricas.

Infraestrutura para interligar região é um desafio

Um estaleiro do porte do Paraguaçu, além de movimentar a economia da região, com a geração de novos empregos e serviços para sua manutenção, também pode atrair novas indústrias e empresas para atender suas demandas, criando, assim, novas frentes de trabalho. Com toda uma cadeia produtiva funcionando ao redor do estaleiro, não seria preciso, por exemplo, importar peças do eixo Sul-Sudeste, reduzindo custos do Paraguaçu, aumentando a riqueza da região

Planejamento

A empresa ASK Capital, investidora especializada em organizar a cadeia fornecedora da indústria de Óleo & Gás, sediada no Rio de Janeiro, pretende implantar um ‘shopping industrial’, a cerca de 10 quilômetro do estaleiro, com custo de R$ 1,5 bilhão. O shopping será um espaço para a instalação de empresas e indústrias menores interessadas em se tornar fornecedoras do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP). Está previsto também a construção de um hotel. “Essa empresa já veio à prefeitura, apresentou projeto e hoje está negociando com a Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração (SICM), do governo do estado”, contou ao Jornal Correio o secretário de Governo de Maragojipe, Gilberto Sampaio.

Segundo o gestor, no local, poderão se instalar, futuramente, fábricas de peças para navios, fábricas de roupas para produzir os fardamentos do es-taleiro, indústrias de produção e processamento de alimentos e empresas do setor logístico. “Esse empreendimento deve gerar entre 7 e 8 mil empregos”, afirmou Sampaio.

Empresa quer investir R$ 1,5 bi em shopping industrial

BenefíciosRetomada da industrialização de municípios com economia falida na região como Maragojipe, Cachoeira e São Félix, com o aumento do número de empregos, a absorção da mão de obra local, além de movimentar a economia como um todo com a geração de impostos e incremento da economia com novas atividades

PreocupaçõesEducação frágil e falta de qualificação da população podem impedir a absorção da mão de obra local. Êxodo populacional pode provocar problemas de segurança pública e aumento da pobreza. Impacto ambiental também preocupa

PotencialJunto com o estaleiro de São Roque, o Estaleiro Enseada de Paraguaçu poderá ser o principal vetor de um novo polo industrial, já denominado Polo Industrial Dois de Julho. Empresários e governo apostam no desenvolvimento de uma ampla cadeia de fornecedores para a indústria naval ao redor dos empreendimentos, tanto com indústrias menores como o setor de navipeças e o aumento da demanda por serviços diversos e produtos agropecuários

158 159

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a empresa vencedora deverá duplicar toda a rodovia até 2019. “O sistema rodoviário na Bahia ainda precisa ser melhorado, e muito. Com o adiamento do leilão da BR-101, não se sabe como vai ficar essa questão das concessões”, explica o coordenador da Fieb.

Algumas rodovias, no entando, já começam a ser restauradas. Entre as que cortam a região do Polo de Camaçari, as etapas de duplicação e extensão transformam em canteiros de obras a BA-535, conhecida como Via Parafuso, e a 093, no trecho entre Simões Filho até Camaçari. Essas obras são previstas nos contratos de concessão e prometem dar mais agilidade à malha da região. As estradas, por onde trafegam cerca de 85 mil veículos por dia, são a principal forma de escoamento da produção industrial do Polo, uma vez que as ferrovias na região são ineficazes.

Na Via Parafuso, 80% das ações de duplicação de 25 km de estrada já foram finalizadas. Na BA-093, a duplicação é prevista em uma faixa de 14 quilôme-tros. Já nas rodovias BA-524, a popular Canal de Tráfego, que liga o Polo até o Porto de Aratu, e na BA-512, as obras já foram finalizadas. Segundo a con-cessionária Via Bahia, cinco praças de pedágio foram instaladas e o investi-mento em obras na região é de R$ 490 milhões, segundo relatório da Fieb.

Como parte dos investimentos em torno da instalação do Estaleiro Enseada Paraguaçu (EEP), no Recôncavo, estão previstas obras nas rodovias que dão acesso aos municípios de São Roque do Paraguaçu, Nazaré e Salinas da Margarida. Na BA-534, cerca de cinco quilômetros estão em fase final de recuperação. O valor da obra, que prevê ainda uma ponte, está estimado em R$ 42,4 milhões. Outra ponte, sobre o rio Baetantã, tem previsão para conclusão em outubro de 2014. Ainda está prevista requalificação do trecho da BA-001 que passa pela rodovia BA-543.

A Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) teve investimento de R$ 7,43 bilhões do PAC para a construção dos seus 1.527 quilômetros de extensão, mas já acumula uma série de problemas antes mesmo de ter seu primeiro lote entregue. A obra, que já foi orçada em R$ 6 bilhões, sofreu uma série de atrasos e foi interrompida diversas vezes. Em novembro de 2013 o Tribunal de Contas da União voltou atrás e recomendou ao Congresso que retivesse o repasse de recursos para as obras do lote 5. Enquanto a Fiol não fica pronta, produtores do Oeste ficam reféns dos caminhões e rodovias. “O frete fica caro, trava o crescimento da produção, acaba com as estradas”, afirma o assessor da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) Luís Stahlke.

“Apesar de já ter havido melhoria efetiva na infraestrutura do estado, ainda não há o que comemorar”MARCUS GALINDO, coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fieb

A safra de grãos do Oeste que não sai para os mercados internacionais pelos portos baianos. As frutas do Vale do São Francisco exportadas por Pernambuco. O minério do Sudoeste baiano que não encontra opções para ser escoado além das rodovias. Nos últimos anos, parte dos produtos que serviram para alavancar a economia da Bahia teve o atraso logístico e a infraestrutura defasada como os principais obstáculos para o desenvolvi-mento do estado.

Produtores e especialistas afirmam que a Bahia teve sua economia afetada pela saturação dos portos, escassez de ferrovias, sobrecarga das rodovias, além de aeroportos incapazes de atender a demanda de cargas.

Apesar do crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) baiano, que teve alta de 3,3% no primeiro semestre de 2013, acima da média nacional, de 2,6%, segundo o IBGE, a Bahia ainda mantém a concentração de sua economia na Região Metropolitana de Salvador, com poucas alternativas de transportes ligando as diversas regiões produtivas do estado.

A pressão por eficiência na infraestrutura aumenta com o desenvolvimento dos cada vez mais fortes novos polos econômicos, com a chegada de inves-timentos em energia eólica, minério e celulose. Segundo o coordenador do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Marcus Galindo, apesar de não viver seu pior momento, o estado está longe de respirar aliviado.

“Apesar de já ter havido uma melhoria efetiva de infraestrutura, ainda não há o que comemorar. A maioria das obras ainda está em andamento, sendo que algumas ainda precisam de formatação ou de equação da operação”, explica. O mais recente investimento público no estado, a Via Expressa, inaugurada em 1º de novembro, em Salvador, consumiu R$ 480 milhões dos R$ 143,1 bilhões previstos para oxigenar a infraestrutura no Nordeste pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os 14 quilômetros de vias construí-dos em quatro anos foram planejados para permitir que veículos de carga cheguem ao Porto de Salvador vindos pela BR-324.

Ainda para desafogar a malha rodoviária do estado, sobrecarregada diante da falta de opções de outros modelos de transporte, a expectativa recaiu sobre o edital de concessão dos 772 quilômetros da BR-101, entre Feira de Santana e Mucuri. Porém, o processo de concessão foi adiado para 2014. O pregão, que seria realizado no segundo semestre de 2013, não tem nova data. O volume de investimento que não tem mais prazo de chegar ao estado beira os R$ 4,6 bilhões.

O que dá liga

A Bahia ainda mantém a concentração de sua economia na RMS, com poucas alternativas de transportes ligando as diversas regiões produtivas do estado

Integração

160 161

A Ferrovia de Integração Oeste-Leste é considerada essencial para o escoamento da produção baiana. Terá 1.527 km de extensão e envolverá investimento estimado em R$ 7,43 bilhões até 2014, acima dos R$ 6 bi previstos. A obra teve início em 2010 e foi dividida em lotes, sendo que o primeiro apresenta o maior atraso. Após embargos ambientais, atrasos na negociação de indenizações e acusações do Tribunal de Contas da União (TCU) de erros em licitações e indícios de superfaturamento, a obra não tem prazo para acabar

Fiol

A Via Expressa Baía de Todos os Santos interliga a BR-324 ao Porto de Salvador. A obra, executada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), teve investimento de R$ 480 milhões, parceria dos governos federal e do estado, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e levou quatro anos para ficar pronta. Os estudos de tráfego apontaram uma expectativa de 63 mil veículos, por dia, e 3,4 mil caminhões. A obra ainda possui 3,2 quilômetros de extensão de ciclovias, quatro passarelas e 35 mil metros quadrados de passeio

Via Expressa

Vitória da Conquista - O valor de toda a obra, incluindo terminal de passageiros e acesso à BR-116, está estimado em US$ 75 milhões, segundo a Secretaria de Planejamento. Deve ficar pronta um ano após o início das obras. O edital de licitação para construção foi aberto em setembro pelo Departamento de Infraestrutura de Transporte da Bahia (Derba)

Ilhéus - US$ 50 milhões, novo aeroporto em andamento

Porto Seguro - US$ 125 milhões, novo aeroporto em andamento

Barreira - US$ 17 milhões, ampliação em andamento

Feira de Santana - US$ 30 milhões ampliação em andamento

AeroportosOs 772 quilômetros da BR-101, entre Feira de Santana e Mucuri, ainda não têm prazo para serem duplicados. O Ministério dos Transportes suspendeu o edital previsto para ser lançado no segundo semestre de 2013 para revisão de todos os processos de concessões de rodovias previstos para este ano BA-535 (Via Parafuso): trecho de

25 quilômetros será duplicado para dar agilidade à malha que passa pelo Polo de Camaçari. 80% da obra já está concluída

BA-093: duplicação de 14 quilômetros. Obra deve ficar pronta até 2014.

BA-524 (Canal de Tráfego) e BA-512 já tiveram as obras de requalificação finalizadas

BA-534: recuperação de cinco quilômetros. Obra estimada em R$ 42,4 milhões

Ponte sobre Rio Baetantã (conclusão em outubro de 2014) e requalificação da BA-001 até trecho da BA-543 (sem previsão de entrega)

Rodovias

Projeto prevê construção de uma ponte de 12 km de extensão, além de reformu-lar cerca de 150 km de rodovias que vão formar uma anel rodoviário ligando os municípios do Baixo Sul, o Recôncavo, e a Região Metropolitana de Salvador. Estudo para avaliar as características do solo e subsolo da Baía de Todos os Santos para construção da ponte é realizado pela Geofort Fundações, que venceu a licitação no valor de R$ 7,7 milhões. Previsto para ser finalizado em dezembro de 2013. Somada às demais obras, como a duplicação da BA-001, o valor da ponte ficará em R$ 7 bilhões e deve ficar pronta entre quatro e cinco anos após o início das obras. A licitação para a construção da ponte deve ser feita no primeiro semestre de 2014. O custo prevê ainda a requalificação da Ponte do Funil, construção da ligação entre Santo Antônio de Jesus e Castro Alves

Ponte Salvador-Itaparica

As obras de requalificação da zona turística da Baía de Todos os Santos vão custar aproximadamente US$ 85 milhões (R$ 200 milhões). Os projetos são elaborados pelo governo baiano para aprovação pelo Banco Interamericano de Desenvolvi-mento (BID) e preveem melhoria da infraestrutura náutica da Baía de Todos os Santos, como a construção e recuperação de atracadouros, píers e terminais hidroviários, além de capacitação profissional para atender ao turismo náutico. A Secretaria Estadual de Turismo (Setur) já realizou entrega dos documentos exigidos pelo BID para a obtenção de financiamento para obras através do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur Nacional - Bahia)

Complexo Portuário RMS-BTS

Será construído em Ilhéus e tem investimento previsto de R$ 3,5 bilhões. A construção do Porto Sul está integrado à instalação da Fiol e servirá para escoar a produção agrícola e de minérios. Porém, apesar de possuir licença prévia, ainda não tem prazo para iniciar as obras por conta de atrasos nos licenciamentos ambientais. Duas audiências públicas devem ser realizadas em dezembro

Complexo Ilhéus-Porto Sul

SITUAÇÃO DAS OBRAS PREVISTAS

Via Expressa Baía de Tod

P j t ê t ã d

b d lifi ã d

162 163

É impossível falar em desenvolvimento da Bahia sem pensar no interior do estado. Em entrevista ao jornal Correio, o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, ressalta os principais polos de desenvolvimento do estado e aponta os desafios para a existência de uma economia estadual integrada. Desenvolvimento Regional foi o segundo seminário do Agenda Bahia e abordou o tema Novos Centros, destacando as potencialidades e oportunidades em cidades médias do estado para um melhor crescimento da economia baiana.

É consenso que os grandes centros, como Salvador, estão saturados e sofrem de sérios problemas de infraestrutura. Isso leva à tendência de interiorização do desenvolvimento? Sim, a interiorização é uma tendência e uma prioridade nossa. Nós [representantes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)] entendemos que hoje é preciso tirar a pressão sobre Salvador. Cremos que é necessário criar e fortalecer os novos polos de desenvolvimento no interior porque isso criará riquezas e melhorará a qualidade de vida das pessoas

A força interior

Entrevista com José Mascarenhas

Para o presidente da Fieb, José Mascarenhas, a Bahia tem a chance de incrementar a economia

ao investir nas cidades médias do estado

Foto: Tayse Argolo

No transporte marítimo de cargas, os terminais de Aratu e Salvador estão há mais de uma década operando abaixo da demanda, elevando os custos para as empresas que utilizam esses portos, encarecendo os fretes e perdendo em competitividade para outros estados. “Os portos baianos não atendem a capacidade de movimentação de cargas deman-dadas pelos usuários. A economia da Bahia é muito maior do que nossos portos conseguem atender”, explica o diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa.

Segundo Villa, o cronograma da Secretaria Especial de Portos (SEP) prevê concluir em novembro de 2013 as análises obtidas durante a audiência pública realizada em outubro. A partir de então, o material será submetido ao Tribunal de Contas da União (TCU) e, em seguida, será feita licitação. “Nós sugerimos aumentar a capacidade dos equipamentos, ampliação e construção de píers no Porto de Aratu, além de um segundo terminal de contêiner em Salvador. A expectativa é de que o estado alcance R$ 2 bilhões de investimentos privados”, afirma. Até lá, os grãos e minérios baianos continuam a ser escoados por terminais particulares ou pelos portos de Santos (SP), Vitória (ES) ou Pecém (CE).

O complexo Porto Sul, em Ilhéus, que deverá ser integrado à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), servirá para escoar a produção de grãos do Oeste e minério. O complexo ainda não tem prazo para o início das obras devido aos atrasos em licenciamentos ambientais. Apesar de atualmente possuir licença prévia, duas audiências públicas estavam previstas para dezembro de 2013 para discutir os impactos da construção.

Portos operam abaixo da demanda do mercado baiano

Entre as apostas do governo estadual para melhorar a infraestrutura da Bahia está o projeto da Ponte Salvador-Itaparica. Com 12 quilômetros de extensão, será a segunda maior da América Latina e servirá para encurtar distância até os portos de Aratu e de Salvador. O projeto inclui a duplicação e reformulação de cerca de 150 quilômetros de rodovias com um investi-mento de mais de R$ 7 bilhões.

“O grande impacto da ponte é que ela criará uma espécie de anel rodoviá-rio que ligará Salvador ao Baixo Sul e ao Recôncavo Baiano. Isso vai dina-mizar a economia dessas regiões, fortalecendo um novo eixo produtivo do estado”, afirma o secretário estadual de Planejamento, José Sérgio Gabrielli. O lançamento do edital está previsto para o início de 2014, com conclusão da obra estimada em até cinco anos.

Governo aposta na ponte para fortalecer outras regiões

Para a Bahia crescer de forma equilibrada é preciso, segundo o presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas, planejar o futuro de outras regiões do estado

Planejamento

164 165

E os outros polos? O terceiro é o de Feira de Santana, um centro industrial muito importante e diversificado, que tende a crescer ainda mais, pois envolve muitos municípios e possui uma boa integração com Salvador. O quarto é o de Vitória da Conquista, uma zona de desenvolvimento industrial que engloba muitos municípios. Lá, eles têm a produção de alimentos, de plástico, indústria têxtil, além de outras indústrias menores. Iremos, em breve, para Juazeiro, que também tem foco na agroindústria. Além de ser um dos principais municípios da região Norte, Juazeiro é um ponto importante, pois deverá servir de base regional de transporte, tanto através da utilização do Rio São Francisco como por meio de ferrovias que serão construídas. Para cada uma dessas zonas, temos um programa de investimento específico.

O senhor está falando do Programa de Interiorização do Sistema Fieb, criado em 2011. Como funciona? Abrimos unidades novas e levamos os serviços do sistema S [Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)] para fazer atendimento às indústrias locais. Mantemos uma pessoa em cada um desses polos, que fica responsável por coordenar as lideranças regionais e manter diálogo com a nossa coordenação o tempo todo.

Quando se fala em polos de desenvolvimento, não se pode tirar a integração entre essas regiões da pauta. O que é necessário para fazer essa integração acontecer? O que mais necessitamos para que essa integração ocorra é de infraestrutura. Quando um governo cuida do provimento da infraestrutura, isso ajuda bastante o empresário. Para o setor privado, a falta de infraestrutura é um item de muito custo, que ele não consegue resolver. Isso tudo está nas mãos do governo. O governo tem uma imensa agenda de infraestrutura e logística para cumprir. E não estou falando apenas de estradas, ferrovias e portos. Também de telecomunicações. Por exemplo: em Barreiras, até hoje não existe um padrão de telecomunicações bom. É preciso levar fibra óptica a esses municípios todos.

Nesse sentido, o polo de informática de Ilhéus é ilustrativo... Pois é. Descobrimos, recentemente, em visita ao polo de informática, que lá não havia banda larga instalada, por incrível que pareça. Não é possível um negócio desses! O mundo hoje é um mundo de comunicação, essas coisas básicas não podem deixar de existir. Felizmente, hoje, eles já estão instalando banda larga lá.

Temos hoje no Brasil bons exemplos de desenvolvimento regional? Quais? Sem dúvida, o melhor exemplo é São Paulo. O interior daquele estado hoje tem cidades muito desenvolvidas, grandes em tamanho e com um desenvolvimento da melhor qualidade. Destacam-se municípios como Ribeirão Preto, Campinas e Araraquara, por exemplo, que possuem um centro

nesses municípios, por um lado, e aumentará a produtividade, do outro. Essa é uma prioridade e todos nós devemos dar atenção a ela.

Ainda é possível resolver os problemas dos grandes centros, ou já podemos dizer que esse modelo concentrado de desenvolvimento já falhou? Você está tocando em um tema bastante sensível. Nós estamos estudando isso na Confederação Nacional das Indústrias (CNI) há algum tempo porque as cidades brasileiras não foram planejadas para o crescimento que elas têm. Isso traz um problema muito grande de provimento de infraestrutura e um ônus muito grande para as administrações das prefeituras. Na situação atual, promover melhorias acaba ficando muito caro e difícil, porque exige desapropriações complicadas. Mas é preciso fazê-lo e temos debatido alternativas.

E, como falávamos, tudo isso desloca as atenções para o interior. Como garantir que haverá desenvolvimento de fato nesses novos polos? A indústria é, por excelência, um setor modernizador. É a indústria que traz a tecnologia, é a indústria que traz a exigência de qualidade das pessoas. Ela, em si, já é modernizadora do desenvolvimento. Se conseguirmos levar para o interior o desenvolvimento industrial adaptado às potencialidades e circunstâncias de cada cidade e de cada região, já estaremos levando o desenvolvimento.

Mas isso exige outras coisas... Sim. Exige serviços de qualificação profissional, educação, inovação, ciência e tecnologia. Desenvolver tudo isso é um processo. Ao pensar no desenvolvimento industrial de diferentes regiões, também estamos pensando nisso. Escolhemos, até agora, cinco regiões do estado e vislumbramos que, no futuro, elas serão irradiadoras e assistentes do seu entorno para promover um desenvolvimento integrado.

Quais são esses cinco futuros polos de desenvolvimento destacados pelo senhor? Primeiro, observamos o polo da região Oeste, que tem entre seus principais municípios Barreiras e Luis Eduardo. Essa é uma região com economia destacada, focada no agronegócio, mas que precisa de uma atenção especial porque está ainda mais distante dos outros polos baianos. Como é uma região que possui um desenvolvimento autônomo, é importantíssimo pensar na integração deles com a Bahia para afugentar ideias separatistas, que são estapafúrdias. O segundo é a da região de Ilhéus e Itabuna, que possui um polo de informática com 42 empresas. Em um passado recente, elas viviam mais voltadas para São Paulo do que para a Bahia. Hoje, já foi criada associação desse segmento aqui em Salvador e estamos em pleno contato com eles. Inclusive, está nos nossos planos implantar nessa região centro de desenvolvimento de pesquisa em eletrônicos.

“O que mais necessitamos para que essa integração ocorra é de infraestrutura”

“O interior de São Paulo tem cidades muito desenvolvidas, grandes em tamanho e com um desenvolvi-mento da melhor qualidade”

166 167

importados e temos também problemas tributários, de infraestrutura, etc. A solução que o governo está arrumando, a de desonerar alguns setores, é uma medida paliativa. Esse é um problema que está na agenda nacional que não se resolve.

Que outros empecilhos o senhor observa para que a Bahia se desenvolva regionalmente, e o estado, como um todo? Um ponto muito importante e no qual eu tenho insistido muito é: precisamos de uma solução para o Porto de Aratu. A Bahia tem uma economia que produz e importa basicamente produtos intermediários. Por precisar importar e exportar, a economia baiana precisa de portos eficientes e competitivos. A esperança é o novo marco regulatório dos portos, que abre espaço para a iniciativa privada.

O Porto Sul não vai ajudar a resolver? Será um porto de perfil diferente, focado em atividades econômicas diferentes. Para que a mineração da Bahia se desenvolva, é preciso que o Porto Sul se desenvolva. Esse setor depende disso para engrenar.

Ao falar em desenvolvimento regional, também não podemos deixar de mencionar a necessidade de qualificação dos nossos trabalhadores. Como o senhor observa isso na Bahia? Apesar do baixo crescimento, está havendo muito crescimento do emprego e, com isso, falta pessoal qualificado. Essa é uma questão nacional que se repete aqui. Mas o governo federal tem dado atenção a isso, com programas como o Pronatec e o Ciências sem Fronteiras. Aqui na Bahia, nós temos a seguinte filosofia: nenhuma indústria deixa de se instalar no estado por falta de profissional qualificado.

O interior do estado, enfim, deve ser visto como um campo de oportunidades? Sim, sem dúvida. O nosso Centro das Indústrias, da Fieb, hoje é voltado praticamente para o interior. O dirigente desse centro tem responsabilidade de fazer conexões de todas as áreas do interior e trazer para a federação, para ajudar a coordenar as demandas locais. Nós estamos dando uma grande atenção ao desenvolvimento regional do interior.

de desenvolvimento de tecnologia muito bom. E, apesar disso, eles continuam pensando no desenvolvimento e na integração para o futuro, como o Projeto Macrometrópole, em que eles discutem a integração da capital com mais 180 municípios. Temos que olhar para esses bons exemplos.

Centros de pesquisa e inovação estão à frente do desenvolvimento. O interior do nosso estado tem bons centros de pesquisa? Atualmente, estamos dando prioridade para formar aqui em Salvador um centro de desenvolvimento de tecnologia de porte internacional. Hoje, o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec) já é uma referência nacional. Essa base da capital, que está em pleno crescimento, é quem vai dar suporte aos centros de pesquisa do interior. A estratégia é essa, pensar de forma integrada.

Ao falar sobre o desenvolvimento do interior, é impossível não mencionar a crise que vive a Azaléia, em Itapetinga. Que lições tirar desse caso? O caso da Azaléia é um problema nacional. A indústria brasileira vem assistindo a perda de competitividade dos seus produtos à medida que enfrenta a forte concorrência de produtos vindos de países asiáticos. O câmbio favorece os

DESENVOLVIMENTO

INTEGRADO

OESTE

CENTRO NORTE

VALE DO SÃO FRANCISCO

NORDESTE

CENTRO SUL

SUL

ATIVIDADES ECONÔMICASO presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas, aponta os municípios em destaque como polos de desenvolvimento no interior do estado, cada um com suas características específicas. No entanto, ressalta que há muitos desafios para que esses polos se consolidem. Sobretudo, problemas relacionados à infraestrutura: é preciso melhorar a qualidade dos portos, estradas e ferrovias , além de oferecer melhores serviços de comunicação

Barreiras

Luís EduardoMagalhães

Vitória da Conquista

IlhéusItabuna

Feira deSantana

Juazeiro

“Por precisar importar e exportar, a economia baiana precisa de portos eficientes e competitivos”

168 169

Na busca pela redução das desigualdades regionais, o Brasil e a Bahia têm muito o que aprender com um país que só passou a existir como hoje é conhecido há pouco mais de 20 anos: a Alemanha. O exemplo foi citado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, em sua palestra no Fórum Agenda Bahia.

“Talvez o mais interessante exemplo recente de redução das desigualda-des regionais seja o da reunificação da Alemanha. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a Alemanha Ocidental teve que pagar o preço da absorção da Alemanha Oriental”, lembrou Mascarenhas.

Após a reunificação, a Alemanha Ocidental, capitalista e desenvolvida, fez um ousado programa de transferência de recursos para a Oriental, ex-comunista e com índices de desenvolvimento bem mais baixos, a fim de reduzir as desigual-dades regionais, como lembrou o presi-dente da Fieb.

“O lado ocidental empregou em torno de 1,3 trilhão de euros de transferências para o desenvolvimento do lado oriental”. A renda per capita do lado oriental repre-sentava, então, apenas 30% do ociden-tal. “De 2001 a 2009, o programa elevou esse índice de 30% para 50%”, explicou Mascarenhas.

“A população fez um esforço enorme, pois foi preciso aumentar os impostos. As desigualdades reduziram muito, mas as diferenças ainda persistem”, ponderou. O presidente da Fieb lembrou que a

Exemplo alemãoA Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou, no final de 2013, o projeto Educação para o Mundo do Trabalho. Trata-se de um conjunto de ações para promover entre os jovens a geração de conhecimento, com-petências e habilidades indispensáveis ao seu desenvolvimento como cidadãos e agentes produtivos.

Serão realizadas 27 reuniões estaduais para mobilizar empresários, governos, organizações não governamentais, jovens e pais a aderirem à iniciativa. Nesses encontros, a Confederação também vai recolher pro-postas para o projeto nacional. As ações deverão apresentar resultados de curto prazo, em ciclos de 12 e 24 meses, e preveem, por exemplo, caminhos para a melhoria do desempenho dos jovens e dos trabalhadores em língua portuguesa e matemática.

No projeto, também está previsto ainda ampliar os compromissos da sociedade com a qualidade da educação, valorizar os professores e promover a articulação entre empresas e escolas.

“A iniciativa surgiu da necessidade de a indústria brasileira avançar. Para isso, é necessário promover um salto na qualidade da educação escolar básica, sobretudo em questões centrais, como domínio da língua por-tuguesa, da matemática e de ciências”, disse o gerente executivo de Estudos e Prospectiva da CNI, Luiz Caruso.

Conforme divulgado em reportagens especiais do Agenda Bahia no jornal Correio, as deficiências da educação básica são um sério problema também para a indústria. Muitos alunos que buscam cursos de qualificação para a indústria junto ao sistema S, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), por exemplo, acabam abandonando os cursos por não conseguirem acompanhar as aulas.

As falhas na educação básica têm repercussão em outros setores, como comércio e turismo em todo o interior do estado. É comum, por exemplo, que alunos tenham dificuldade de realizar operações matemáticas ou redigir textos simples, o que acaba delegando aos empresários a tarefa de capacitá-los, inclusive, com conteúdos básicos.

CNI cria programa para dar salto de qualidade na educação “A iniciativa surgiu da necessidade de a indústria brasileira avançar”LUIZ CARUSO, gerente de Estudos e Prospectiva da CNI

Foto: Marina Silva

Presidente da Fieb, José Mascarenhas, criticou a desigualdade social e regional do Brasil

170 171

Constituição Federal brasileira de 1988 criou alguns fundos de financiamento para reduzir as desigualdades no Nordeste. “Atualizando a preços de 2013, tudo que se aplicou aqui no Nordeste significa US$ 11 bilhões. Nada que se compare ao 1,3 trilhão de euros da Alemanha”, comparou Mascarenhas. “Evidentemente que o Brasil é diferente da Alemanha, e temos que reconhe-cer isso. Mas a diferença no volume de recursos mostra que estamos muito longe dos investimentos que poderiam tornar o Nordeste mais competitivo”, completa.

Segundo Mascarenhas, o lado europeu também é um bom exemplo. “Desde 1990, a União Europeia vem apresentando um programa de investimen-tos maciços nos países de menor desenvolvimento”, disse Mascarenhas. “Buscando a maior coesão e redução das disparidades locais, foram aplica-dos recursos da ordem de 235 bilhões de euros em uma política de desen-volvimento regional. Os principais beneficiários foram países mais pobres como Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda”, exemplificou. O presidente da Fieb também destacou o esforço da China, Índia e México para reduzir a desigual-dade territorial.

O presidente da Fieb criticou a inexistência de uma política efetiva de de-senvolvimento regional no Brasil, com foco nas regiões menos desen-volvidas - Norte e Nordeste. Ele criticou a baixa alocação de recursos por parte do governo federal para programas criados no passado, como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), nos anos 1960, no governo do presidente Juscelino Kubitschek. A Sudene foi desati-vada 20 anos depois e recriada em 2007.

“Não há, hoje, um plano efetivo de desenvolvimento regional por parte do governo federal”, criticou. Segundo ele, apesar de iniciativas como a do Ministério da Integração Nacional, de criar um plano nesse sentido, não há alocação de recursos suficientes para as regiões mais pobres.

Concentração. Essa palavrinha resume, segundo Mascarenhas, dois entre os principais problemas que impedem o Brasil de conseguir um crescimen-to econômico mais sustentável e robusto. São eles: a concentração de renda da população (desigualdade social) e de renda regional (desigualdade regional). Mascarenhas criticou a baixa transferência de recursos para as regiões mais pobres, em especial Norte e Nordeste do Brasil, na contramão do que tem acontecido em vários países do mundo, e defendeu uma política de desenvolvimento regional.

“O Nordeste é uma das regiões mais desiguais do país por ter um alto índice de pobreza e um grande desequilíbrio entre a população e a renda”, resumiu. O presidente da Fieb explicou que, no passado, houve um esforço muito grande pela redução dessas desigualdades, com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), mas que questões econômicas levaram ao parcial abandono da meta de desenvolver a região.

“Não tem havido alocações substantivas de recursos para políticas explíci-tas de desenvolvimento regional. Na prática, como conceito, essas políticas inexistem”, afirmou Mascarenhas. Apesar disso, ele reconheceu que há esforços por parte do governo federal.

No caso da Bahia, José Mascarenhas também falou sobre a necessida-de de descentralizar a economia, muito focada no Recôncavo baiano e na Região Metropolitana de Salvador. Segundo dados de 2010, apresentados na palestra, as duas regiões, juntas, são responsáveis por 60,4% de toda a atividade industrial (valor adicionado industrial) do estado.

Um país desigual

*A diferença

1,3 trilhão de euros foram destinados pela Alemanha ocidental para reduzir as desigualdades regionais da parte oriental do país, após a reunificação

11 bilhões de dólares foram aplicados no Nordeste, a partir de 1988, o que não permitiu, de acordo com a Fieb, a tornar a região mais competitiva

“O lado ocidental (Alemanha) empregou em torno de 1,3 trilhão de euros para desenvolver o lado oriental”

172 173

*Desigualdades regionais

27,8% é a porção da população brasileira localizada na região Nordeste, o equivalente a quase um terço da população nacional

42,1% é a proporção da população da região Sudeste no total da população nacional. A região inclui três entre as cidades mais populosas do país

55,4% é a participação do Sudeste no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Ou seja, mais da metade de tudo produzido no país vem da região

13,5% é a participação do Nordeste no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, valor considerado muito baixo, levando em consideração a população

3,8 trilhões de reais foi o PIB nominal do Brasil em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

2 trilhões de reais foi o PIB nominal da região Sudeste em 2010, também segundo o IBGE. A grande participação demonstra desequilíbrio

- O presidente da Fieb defendeu uma política nacional de desenvolvimento regional

- Para Mascarenhas, os investimentos em infraestrutura, como transporte, comunicação e energia, são fundamentais para a promoção do desenvolvimento regional do país

- O aumento dos investimentos em educação também foi considerado relevan-te no processo de fortalecimento do Nordeste e da redução das desigualdades regionais

- Investir em qualificação profissional para suprir as necessidades de empresas e da indústria é outro ponto de destaque para incrementar a economia de regiões menos favorecidas

Solução

- Para José de Freitas Mascarenhas, é fundamental reduzir as desigualdades sociais e regionais no Nordeste - e na Bahia

- Indicadores mostram um forte desequilíbrio nessa região do país, que tem, por exemplo, o pior PIB per capita por estado: R$ 9.561 contra R$ 25.988 do Sudeste

- O presidente da Fieb defendeu como prioridade de governo o investimento nas áreas mais pobres do país para mudar a realidade dessas regiões

- Mascarenhas acredita ainda que somente com ajuste fiscal será possível im-plantar uma política de desenvolvimento regional no Brasil

Desafio

174 175

Salvador só completará 500 anos em 2049, mas a prefeitura já vai começar a planejar como a cidade estará nessa data comemorativa a partir de agora. “Quero anunciar em primeira mão: nós vamos iniciar um trabalho com uma equipe técnica, com suporte externo, para pensar na Salvador 500. A cidade que nós queremos quando ela completar 500 anos”, disse o prefeito ACM Neto, durante o fórum Agenda Bahia 2013.

“Queremos fazer um debate que enxergue a cidade do futuro. Não quero planejar Salvador apenas para daqui a dois, quatro ou cinco anos. Vamos discutir a cidade que queremos ter quando ela completar 500 anos, ou seja, daqui a 36 anos”.

A coordenação do projeto será feita pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte, que já montou um grupo interno de trabalho e está selecio-nando funcionários da prefeitura para trabalhar exclusivamente no Salvador 500. Uma consultoria externa também será contratada.

A vocação e potencial econômico da cidade, o planejamento e mobilida-de urbana estão entre as temáticas que serão estudadas. “Vamos buscar a participação de especialistas do Brasil e também de outros países. Queremos a contribuição de urbanistas, arquitetos, engenheiros, ambienta-listas, pessoas que possam, nos mais diversos segmentos, contribuir para projetar essa cidade do futuro”, afirmou.

Além do Salvador 500, a prefeitura também vai colocar em funcionamento uma agência de negócios, que terá como principal objetivo atrair investimen-tos para a capital baiana. A previsão é que a estrutura já comece a operar em 2014. O projeto funcionará em parceria com entidades como a Federação das Indústrias do Estado da Bahia, a Associação Comercial e a Federação do Comércio.

“O nosso desejo é que seja uma agência mista, com participação do poder público e da iniciativa privada, porém liderada por essas entidades privadas, para que ela possa ter mais flexibilidade”, afirma ACM Neto. “A ideia é que essa agência possa ter seu foco em alguns polos de investimento para a Bahia, outros estados brasileiros e outros países no mundo”, completa.

Salvador 500 anos

* Exemplos mundiais

O governo dos Estados Unidos criou um programa, em 1993, para fomentar o desen-volvimento da região do Tennessee, uma das mais afetadas pela Grande Depressão, como ficou conhecida a crise econômica de 1929. Houve investimentos em geração de energia, crescimento e modernização da indústria, desenvolvimento urbano e dos serviços. Em 2011, graças a esse planejamento, foi possível manter mais de 43 mil postos de trabalho e alavancar investimentos da ordem de US$ 4,9 bilhões na região

Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, o país apostou na redução das desigualdades entre as porções ocidental (capi-talista e rica) e oriental (ex-comunista e falida). Foram investidos 1,3 trilhão de euros

Com crescimento concentrado nas áreas litorâneas, a China investiu de 2000 a 2010 cerca de US$ 460 bilhões para desenvolver, em especial, o Nordeste e Oeste do país

Desde 2002, o país já investiu US$ 20 bilhões para dotar as regiões mais pobres de re-quisitos mínimos de infraestrutura física e social. Programa tem foco em emprego rural, saneamento e construção de estradas

Estados Unidos

Alemanha

China

Índia

Com fábrica da BMW, Leipzig se tornou importante centro automobilístico da AlemanhaFoto: divulgação

“Não quero planejar Salvador apenas para daqui a cinco anos. Vamos discutir a cidade que queremos quando ela completar 500 anos”ACM NETO, prefeito de Salvador

176 177

Atrair investimentos para a capital baiana. Esse vai ser um dos principais focos da prefeitura em 2014. “Salvador tem que se colocar para o Brasil e para o mundo como uma cidade de braços abertos para receber novos empreendimentos, com os quais se possa criar empregos e gerar renda”, afirmou o prefeito ACM Neto, durante o segundo seminário do Agenda Bahia 2013.

De acordo com o prefeito, o turismo terá atenção especial. “É o principal setor que move a economia da cidade e essa indústria merece foco por ser a maior geradora de emprego e renda em Salvador, assim como o comércio”, pontuou. O prefeito admitiu que a capital baiana perdeu importância para outras cidades com a mesma vocação. “A cidade precisa se mostrar mais preparada e competitiva para enfrentar outras cidades com a mesma vocação no mundo”, disse.

A indústria de tecnologia é outro campo a ser explorado. “Estamos conver-sando com o governo do estado para que a prefeitura possa ter políticas públicas para atrair novos investidores para o Parque Tecnológico”, explicou. A ideia é também levantar oportunidades na oferta de terrenos para atrair indústrias de setores de não poluentes, que trabalhem com alto investimen-to de capital.

Economia sustentável

Prefeito de Salvador anunciou, no Agenda

Bahia, o programa Salvador 500, que irá planejar a

transformação da cidade nos próximos 36 anos

Foto: Marina Silva

O prefeito também está de olho no setor audiovisual. “É um ramo que dialoga com as características da nossa cidade, do nosso povo, e eu diria que com aquilo que há de mais exemplar do povo baiano, que é a sua capacidade criativa, a sua inventividade, a sua facilidade de trabalhar com entretenimen-to, com música, com arte, com cultura”, afirma.

ACM Neto também ressaltou que o desenvolvimento da capital reflete no crescimento de todo o estado. “É muito difícil a Bahia ir bem se Salvador for mal. Para a Bahia se desenvolver e crescer economicamente, é fundamental que Salvador dê a sua contribuição e faça a sua parte”, afirmou. O prefeito lembrou que a capital é uma vitrine do estado. “Acaba tendo um peso e uma relevância destacada na Bahia, seja para projetar a imagem do estado ou para demonstrar a força, a pujança e a consistência da sua economia”, acrescentou.

Porém, na avaliação do prefeito, o desenvolvimento da capital também está atrelado ao fortalecimento do interior do estado. O equilíbrio das várias regiões da Bahia contribui para a redução da pressão nos serviços públicos. “Boa parte da atenção à saúde em Salvador não é para o soteropolita-no, é para a pessoa que mora no interior do estado”, afirmou. “As políticas públicas têm que ser no sentido de garantir uma maior descentralização do desenvolvimento econômico, um maior equilíbrio entre as regiões, porque a força do interior está ligada à da capital e as soluções que hoje acabam parecendo difíceis podem ser muito mais fáceis se esse equilíbrio for algo dominante na Bahia”.

O prefeito anunciou no seminário o programa Salvador 500. Entre as políti-cas, investimento em desenvolvimento urbano, soluções em infraestrutura e mobilidade urbana. ACM Neto destacou que as parcerias com governos do estado e federal são importantes para esse planejamento.

Investimento será na atração dos setores de turismo, comércio, tecnologia, audiovisual, indústria não poluente e economia criativa

Prioridade

“É muito difícil a Bahia ir bem se Salvador for mal”ACM NETO, prefeito de Salvador

178 179

Na abertura do seminário Novos Centros, o governador da Bahia, Jaques Wagner, destacou as ações do seu governo para o interior do estado. O grande desafio, segundo o governador, é reduzir a saturação da capital e Região Metropolitana para que a Bahia se desenvolva como um todo.

No que diz respeito à infraestrutura e à logística para o escoamento da produção no interior, Wagner mencionou os esforços para concluir as obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que liga o Sul baiano ao Centro-Oeste brasileiro, e o Porto Sul, próximo de Ilhéus e que será respon-sável por escoar parte da produção mineral do Sudoeste do estado.

O governador lamentou o fato de as obras não poderem andar mais rápido devido a ação incisiva dos órgãos reguladores do meio ambiente. “Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre a pressa que o país tem de crescer e a bem-vinda preocupação ambiental”, projetou. “É claro que a preocupação ambiental é, sim, importante, mas muitos ambientalis-tas precisam superar a lógica autoritária com que têm visto essa questão”, sugeriu.

O interior em foco

Governador anunciou que pretende, até o fim do governo, abrir mais uma universidade na Bahia, dessa vez na Chapada DiamantinaFoto: Marina Silva

O governador defendeu que o sistema de controle das obras seja revisado, sendo mais flexível. “Não podemos ficar na política da desconfiança, onde todo mundo que quer fazer alguma coisa, necessariamente, está querendo colocar algum no bolso. Acaba paralisando tudo”, sugeriu. Ele disse já ter conversado com membros do Tribunal de Contas sobre o fato de o sistema de controle ser, ao mesmo tempo, rígido, mas ineficaz.

De acordo com o governador, além do Porto Sul e da Fiol, entre as obras previstas para melhorar a integração econômica do interior do estado estão outras duas ferrovias – a Transnordestina e a Norte-Sul, que fará a ligação com o Sudeste, até Minas Gerais. E ainda as duplicações de rodovias que cortam o estado como a BR-101 e a BR-116. “Sem contar com a Via Expressa, que acabamos de inaugurar, e a Ponte Salvador-Itaparica”, enumerou. Wagner lembrou que a maior parte dos empregos gerados em seu governo (65%) está no interior.

O governador também comentou sobre outro tema debatido no Fórum Agenda Bahia: seminário Semiárido Produtivo. Jaques Wagner lembrou que um dos principais desafios para o desenvolvimento regional baiano é a su-peração de problemas climáticos do Semiárido. “Não podemos esquecer que temos 60% do nosso território nessa região”, disse. O governador citou o exemplo dado pelo presidente da Fieb, José Mascarenhas, de uma região que apostou no desenvolvimento de tecnologias para conviver com seu semiári-do. “Se Israel conseguiu, não é possível que a gente não consiga”, disse.

“Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre a pressa que o país tem de crescer e a bem-vinda preocupação ambiental”JAQUES WAGNER, governador da Bahia

180 181

Sobre os investimentos em infraestrutura no interior do estado, o gover-nador Jaques Wagner também mencionou a transformação do aeroporto de Feira de Santana, no Centro Norte do estado. A ideia é que o aeroporto tenha duas ‘especialidades’: uma, de ser um centro de conexões de voos que operam regionalmente - hub regional, conforme termos técnicos da aviação - e a outra de ser um centro receptor de cargas internacionais.

“Estamos preparando um aeroporto para Feira de Santana e o nosso objetivo é que também seja um hub regional aqui para a Bahia e para o Nordeste”, afirmou. “As cargas que vêm de fora passam por cima do Nordeste, vão até São Paulo e Rio e depois voltam de caminhão pra cá. O aeroporto de cargas seria um receptor de cargas para distribuição no Nordeste. Haveria ganho em logística”, acredita.

Antes de ser fechado para reforma, o terminal de aviação de Feira já havia sido interditado várias vezes. O aeroporto do município, denominado João Durval Carneiro, tem infraestrutura precária e hoje está em obras de ampliação. Antes, era mais focado em voos particulares e de porte menor, recebendo aviões maiores somente no período do dia. A pista não possui sinalização nem iluminação noturna e os pousos tinham que ser feitos “a olho nu”.

O aeroporto também não possui torre de controle nem infraestrutura para passageiros. No Fórum, Wagner também fez uma referência às eleições de 2014. “Esse debate é importante. Ano que vem é ano eleitoral, então nada melhor do que preparar as baterias dos segmentos da sociedade civil para ir cobrando de quem for apresentar programas e projetos de governo”, adiantou.

Aeroporto para cargas de todo o Nordeste

O governador Jaques Wagner anunciou no Agenda Bahia que pretende garantir, até o fim do seu mandato, a instalação da Universidade Federal Chapada Diamantina (UFCD). Recentemente, o governo federal anunciou a criação de duas novas universidades – a do Oeste Baiano (Ufob), com sedes em Barreiras, Luis Eduardo e outros dois municípios, e a do Sul da Bahia (UFSB), em Itabuna.

O governador afirmou que, caso uma nova universidade seja viabilizada, terá como prováveis sedes Lençóis e Seabra. “Espero até o fim do governo cumprir com o meu desejo e implantar uma última universidade federal na Chapada Diamantina. Aí, nós teríamos uma distribuição de centros de exce-lência de universidades federais varrendo todas as regiões baianas. “Mas a gente ainda tem que conseguir com o governo federal”, ponderou Wagner.

Em abril de 2013, a Câmara dos Deputados aprovou a criação da Universidade Federal da Chapada Diamantina (UFCD). Elaborado pelo deputado Afonso Florence (PT) e relatado pela deputada Alice Portugal (PCdoB), o Projeto nº 4.094/2012 tem como objetivo lançar a prerrogativa para que o governo federal autorize a nova universidade. Além de Lençóis e Seabra, outros três campi estão previstos, em Ipirá, Rio de Contas e Morro do Chapéu.

Além da educação, Wagner falou sobre os diversos entraves relacionados ao desenvolvimento regional do interior. Nesse sentido, considerou a reso-lução dos impasses acerca da guerra fiscal como fundamental para o desen-volvimento regional baiano. “Hoje, a gente tem uma questão a ser resolvida, que é a questão tributária. Há muita insegurança jurídica sobre isso. Acho que o Congresso tem que tomar uma decisão. O pior do mundo é você estar numa situação dessa instabilidade, dessa insegurança”, afirmou.

As dúvidas sobre a legalidade e os limites das isenções fiscais concedidas pelos estados para a instalação de empresas têm posto em xeque a atração de investimentos para a Bahia e para o país. Em outubro de 2013, senadores e deputados se reuniram em uma comissão no Congresso para solucionar a questão, mas o impasse permaneceu.

Wagner ainda destacou os esforços do governo para investir no desen-volvimento regional do estado. Além do Porto Sul, em Ilhéus, e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre as obras previstas para melhorar a integração econômica do interior estão outras duas ferrovias – a Transnordestina e a Norte-Sul – e ainda um aeroporto especializado em cargas em Feira de Santana. “Também já estão garantidas as duplicações de rodovias que cortam o estado como a BR-101 e a BR-116”, disse Wagner.

Universidade na Chapada

182 183

Diante de um auditório lotado, o presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, abriu o Fórum Agenda Bahia, realizado pelo jornal Correio e pela rádio CBN. “É nosso dever contribuir com o desenvolvimento econômico, social e cultural do estado. Portanto, nós estamos cumprindo com a nossa missão, promovendo, junto com a Fieb, este evento que foca no desenvol-vimento do estado da Bahia e que busca novas alternativas não só para Salvador como também para o interior do estado”, garantiu.

Para o presidente da Rede Bahia, o fortalecimento das diversas regiões do estado contribui também para o desenvolvimento da capital. “Com isso, evitamos a vinda das pessoas em busca de emprego na capital. Se elas es-tiverem bem colocadas no interior, nós conseguimos reter as pessoas nas cidades, distribuir melhor a população e sobrecarregar menos Salvador”, afirmou Antonio Carlos Júnior.

O presidente da Rede Bahia lembrou que o objetivo da realização do evento é contribuir para o crescimento sustentável do estado. “Uma Bahia mais desenvolvida e que consiga manter a liderança no Nordeste”, completou.

Aposta em regiões mais fortes no estado

Antonio Carlos Júnior destacou que o Agenda

Bahia faz parte da missão da Rede Bahia de contribuir

com o desenvolvimento econômico, social e

cultural do estadoFoto: Marina Silva

De acordo com o secretário estadual de Planejamento, José Sérgio Gabrielli, cerca de 60% dos US$ 37 bilhões em investimentos privados na forma de contratos, convênios e intenções estão previstos para desembarcar no interior da Bahia. “Estruturalmente, o desenvolvimento do estado está dependente de fatores naturais (energia eólica, mineração e celulose). Existe um potencial de crescimento de investimento e renda nessa direção”, explica. Mas o secretário admite que existem “obstáculos”.

“Essa descentralização cria pressão sobre a infraestrutura logística dessas regiões, pois os investimentos passados foram concentrados na Baía de Todos os Santos”, afirmou. Na palestra durante o seminário Novos Centros, Gabrielli lembrou que a Bahia direcionou, nos últimos 70 anos, recursos para a infraestrutura da Região Metropolitana de Salvador, onde 63% do Produto Interno Bruto (PIB) baiano está concentrado.

Mas a força impulsora desse novo ciclo no estado, que já se diversificou pelo Oeste dos grãos e as frutas do Vale do São Francisco, repousa agora na exploração da celulose no Extremo Sul, no corredor de ventos capaz

A força natural atrai novos investimentos

Secretário José Gabrielli: ‘temos um crescimento não visível (no interior) também em serviço, comércio e na construção civil’ Foto: Evandro Veiga

184 185

de produzir energia eólica e na exploração mineral que pode transformar a Bahia no segundo estado com maior participação no mercado de minério.

O secretário citou ainda a movimentação de cerca de R$ 4 bilhões ao ano em transferência de renda e aposentadoria que tem movimentado a economia de cidades pequenas e médias na Bahia. “Temos um crescimento não visível (no interior) em serviços, comércio e na construção civil”, aposta.

José Gabrielli destacou ainda outros investimentos que estão sendo feitos no estado e que devem contribuir para a dinamização da economia, a exemplo da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e do Complexo Porto Sul, em Ilhéus. “Em alguns anos, a Bahia terá esses dois polos navais, um em Ilhéus e outro na Baía de Todos os Santos, que serão complementares e irão convergir para o desenvolvimento da economia do estado”, afirmou.

Segundo Gabrielli, o estado passa por um processo muito parecido ao que ocorreu no passado com economias maduras, como as da Europa, de aumento da participação dos serviços no PIB. Atualmente, 63% da riqueza produzida pelo estado vem desse setor, contra 24% oriundo da indústria e 13%, do agronegócio. “Essas discussões sobre a intervenção pública que leve o governo a atuar junto com o setor privado para resolver os gargalos são fundamentais. Se não incorporar essas discussões, não vamos continu-ar esse ciclo de crescimento”, conclui.

Para o secretário, a dificuldade logística se evidencia no escoamento de cargas, “mas também de bits”, ao se referir ao atraso da infraestrutura de fibras ópticas, internet banda larga e na rede de telecomunicação, que impede o crescimento de mercados e o fechamento de negócios.

José Gabrielli destacou a aposta do governo na Ponte Salvador-Itaparica. O projeto cria um eixo rodoviário de cerca de 150 quilômetros que vai passar pela RMS, pelo sul do Recôncavo baiano e também pela região do Baixo Sul da Bahia.

*Novo ciclo

37 bilhões de dólares: esse é o montante de contratos, parcerias e intenções de investimentos do setor privado para a Bahia pelos próximos cinco anos

60% essa é a participação que a mineração, energia eólica e a exploração da celulose têm nos contra-tos privados na Bahia

150 quilômetros de anel rodo-viário vão integrar a RMS, Baixo Sul e Recôncavo

O secretário estadual de Planejamento, José Sérgio Gabrielli, destacou a im-portância de se integrar o Baixo Sul e o Sul do Recôncavo baiano à economia da Região Metropolitana de Salvador. Para ele, o projeto de construção da Ponte Salvador-Itaparica vai reforçar esse novo polo ao construir um anel rodoviário de cerca de 150 quilômetros. “Essa região vai se beneficiar muito dessa integração, porque vai possibilitar uma dinamização da economia das cidades, criando polos bastante desenvolvidos e que espalhem isso para os municípios vizinhos. Isso vai permitir destravar um gargalo que existe no sistema rodoviário e que sobrecarrega a BR-324”, afirmou Gabrielli.

Segundo o secretário, esses municípios poderão contribuir mais para o crescimento da economia da Bahia. “Santo Antônio de Jesus será o centro mais importante do Recôncavo, assim como Valença será para a região do Baixo Sul e Cruz das Almas o polo de educação para o sul do Recôncavo. Da mesma forma, Nazaré e São Roque para o setor naval”, disse.

O secretário avaliou o impacto da obra na vida da população: “O desenvol-vimento virou as costas para essa região e se concentrou no Litoral Norte. Um verdadeiro apagão econômico. Esse projeto vai impactar diretamente no Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) dos municípios cortados por essas rodovias”.

Anel rodoviário para integrar regiões

186 187

gera muita insegurança para empresas. O Congresso tem que tomar uma decisão. O pior dos mundos é essa situação atual; essa instabilidade, essa insegurança”, afirmou durante o fórum.

A ameaça de o projeto ser aprovado no STF tem sido um pesadelo para gestores. Para o chefe de gabinete da Secretaria da Indústria, Comércio e

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

O QUE ESTÁ EM JOGO

Na agenda do STF

FONTE: STF E SENADO

Há dois projetos aguardando votação no Supremo Tribunal Federal (STF), um Projeto de Súmula Vinculante (PSV), que torna todos os incentivos fiscais inconstitucionais, e uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), que procura flexibilizar as regras para as isenções. Nenhum dos dois tem previsão oficial para votação. Tendência dos ministros é entender os incentivos como inconstitucionais. Veja o que está em jogo:

PSV 69 - Considera inconstitucional qualquer incentivo fiscal estadual concedido sem a participação do Confaz. Proposta causa temor a governo e iniciativa privada porque poderia abrir precedentes de insegurança jurídica, denúncias de órgãos como o Ministério Público contra chefes de Estado e a eventual necessidade de devolução dos impostos em brigas jurídicas

ADPF 198 - Apresentada pelo governo do Distrito Federal (DF), a arguição (espécie de ação de inconstitucionalidade) tenta afrouxar as regras para que os estados concedam isenções fiscais sobre operações relativas à circulação de mercadorias a empresas. Na ADPF, três artigos de uma lei antiga são questionados. O propósito é derrubar a necessidade de submeter as isenções concedidas por cada estado aos secretários da Fazenda de todos os outros estados e do DF, reunidos no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz)

Na agenda do Congresso

Tramitam no Senado dois projetos que propõem mudanças nas regras do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), imposto que geralmente é alvo de incentivos para a instalação de empresas nos estados: um Projeto de Resolução do Senado (PRS) e um Projeto de Lei Complementar, também do Senado (PLS)

PRS 1/2013 - Projeto estabelece alíquotas do ICMS nas operações e prestações interestaduais. O texto reduz as alíquotas nas transações de um estado para outro, em um ponto percentual por ano, a partir de 2014. É alvo de briga entre bancadas das diferentes regiões, o que tem travado os trâmites

PLS 106/2013 - Institui o Fundo de Compensação de Receitas (FCR), para compensação das perdas dos estados com a redução das alíquotas interestaduais

Nos últimos cinco anos, a concessão de incentivos fiscais a empresas que atuam no setor industrial garantiu à Bahia a instalação de 350 empresas, a geração de 57,6 mil empregos e investimentos privados da ordem de R$ 11,7 bilhões. Essa política de incentivos, no entanto, pode estar perto do fim. A preocupação foi compartilhada entre representantes do governo estadual e da iniciativa privada durante o Fórum Agenda Bahia 2013.

Hoje, para atrair indústrias, o estado concede incentivos de até 80% a empresas do setor no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A alíquota geral do imposto é fixada em 17%, mas é mais baixa para produtos considerados essenciais.

A política está em jogo porque o Supremo Tribunal Federal pretende incluir na sua pauta de votação um Projeto de Súmula Vinculante (PSV) conside-rando inconstitucional qualquer incentivo fiscal estadual concedido sem a participação do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) - órgão que reúne todos os secretários estaduais de Fazenda.

Na prática, porém, todos os estados, inclusive a Bahia, concedem incentivos sem a autorização do Confaz. Uma lei anterior à Constituição de 1988 esta-belece que os incentivos só devem ocorrer quando houver unanimidade no conselho, considerada difícil (já que os estados competem entre si).

O Supremo vem adiando a votação da súmula, mas já avisou que caso o Congresso Nacional não regulamente os incentivos, que hoje ocorrem à revelia da lei, deve votar a súmula. As súmulas vinculantes são uma espécie de entendimento supremo do Tribunal, que estendem um parecer do STF a todos os processos na Justiça, uniformizando as decisões em tribunais infe-riores, de primeira e segunda instâncias.

Segundo o governador Jaques Wagner, a demora na definição dessa questão já tem sido um entrave para novos investimentos no estado. “Isso

A polêmica do fim dos incentivos fiscais

“O Congresso tem que tomar uma decisão. O pior dos mundos é essa situação atual; essa instabilidade, essa insegurança”JAQUES WAGNER, governador da Bahia

188 189

Mineração (SICM), Luiz Gonzaga Souza, a falta de incentivos poderia afugen-tar, sobretudo, empresas multinacionais, focadas no mercado global.

“A falta de incentivo específico terminaria fazendo com que empresas não venham para cá. Eles sempre comparam o custo de produção em um lugar e no outro”, afirmou.

Para Souza, seria “desastroso” que todos os incentivos já concedidos fossem considerados ilegais. “Seria muito ruim. De repente, todos os incenti-vos concedidos pela totalidade dos estados da federação seriam irregulares, já que todos eles concedem sem a anuência do Confaz”, criticou.

O temor é que casos de concessões fiscais acabem indo parar na Justiça por meio da ação de órgãos como o Ministério Público (MP), por exemplo.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, desenhou um cenário catastrófico. “Se isso não for re-solvido (e ainda não foi), as empresas teriam que devolver todos os recursos que foram conseguidos nesse tempo. Imagina o que seria, por exemplo, a Ford ter que devolver ao estado todos os recursos que ela captou com os benefícios fiscais?”, questionou.

Para ele, todas as empresas acabariam entrando na Justiça. “Cobrariam dos estados o que estaria sendo levado delas de forma lesiva. Isso seria terrível, seria um problema amazônico para resolver”, afirmou.

Em processos na Justiça que chegaram ao Supremo de estados como Goiás, Paraná e Mato Grosso, o STF já considerou os incentivos ilegais. A aprovação do projeto de súmula generalizaria esse entendimento.

Porém, também está na pauta do tribunal a votação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), uma espécie de ação que pretende considerar inconstitucionais artigos da lei que submete a ava-liação dos incentivos ao Confaz. O argumento é de que isso fere a caracterís-tica do Brasil de federação, em que todos os estados têm autonomia.

Enquanto isso, o Congresso Nacional corre contra o tempo para aprovar projetos que regulamentem os incentivos fiscais. Atualmente, tramitam no Senado dois projetos que propõem mudanças nas regras do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).

Um deles, ainda sem data certa para ser votado, é o Projeto de Resolução do Senado 1/2013. O PRS reduz, gradualmente, ano a ano, a partir de 2014, a taxa cobrada nas transações entre os estados.

*Atração de empresas

350 empresas se instalaram na Bahia de 2007 a 2012 com a política de incentivos fiscais, que corre risco de ser considerada ilegal

R$ 11,7bilhões é o investimento somado de todas essas empresas, segundo cálculos da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração (SICM)

O outro é o projeto de lei complementar (PLS 106/2013), do senador Paulo Bauer (PSDB-SC), que disciplina a compensação das perdas dos estados com a redução das alíquotas interestaduais, criando o Fundo de Compensação de Receitas (FCR).

190 191

Os gargalos que atrasamRepsold Júnior, da Petrobras, Oliva, da Intermarítima, e Gabrielli, secretário de Planejamento, participaram de debate, com a moderação de Mauro AnchietaFoto: Evandro Veiga Com moderação do jornalista da TV Bahia Mauro Anchieta, foi discutida no

Agenda Bahia 2013 a guerra fiscal e como a infraestrutura pode ser um dife-rencial competitivo para o estado. O tema já tinha sido levantado pelo presi-dente da Fieb, José Mascarenhas, no debate anterior, quando falou sobre a ação de inconstitucionalidade que tramita no STF contra os incentivos fiscais concedidos por estados para atrair empresas. Se a chamada guerra fiscal for considerada inconstitucional, lembrou Mascarenhas, empresas serão obrigadas a pagar todos os recursos que receberam a título de benefícios e isenções, provocando uma baixa na contabilidade desses grupos e gerando insegurança em relação a novos investimentos.

José Sérgio Gabrielli defendeu a regionalização das grandes políticas federais, incluindo a decisão de como o estado pode usar os impostos cobrados pela União e repassá-los para cada federação.

O secretário citou os portos baianos como exemplo de como uma infraes-trutura deficiente atrapalha a competitividade. Ele diz que os portos enfren-tam, além da saturação e da defasagem de equipamento, dificuldades para que as cargas cheguem até seus terminais pelas rodovias.

“É cinco vezes mais caro exportar um carregamento de frutas saindo da região do Vale do São Francisco pelos portos de Salvador ou Aratu do que uma carga exportada do Chile até Amsterdã pelo canal do Panamá”, admitiu o secretário.

Durante o debate, Matheus Oliva, da Intermarítima, disse que, mesmo sem incentivos fiscais, a Bahia pode atrair empresas graças a diferenciais como uma indústria consolidada e a quantidade de recursos naturais. O desafio é

melhorar a infraestrutura nas áreas de saneamento, transporte e energia. Os debatedores concordaram com a necessidade de se agregar valor aos recursos naturais produzidos na Bahia.

Hugo Repsold Júnior, gerente executivo da área de Gás & Energia da Petrobras, afirmou que a escolha da Bahia para a instalação do Terminal de Regaseificação foi para suprir a demanda do Nordeste pelo gás natural. “A instalação do terminal na Bahia foi por questões ambientais, pela condição do mar abrigado, e também logística, já que é possível ligar o gasoduto dire-tamente à malha já existente na região de Candeias, que se liga ao Gasene”, explicou Repsold.

Repsold Júnior disse que um fator de atratividade é a segurança energéti-ca. E que a Petrobras vai contribuir para a oferta de energia na Bahia com a implantação de terminal de regaseificação de gás liquefeito de petróleo na Baía de Todos os Santos, um investimento de R$ 1 bilhão.

A Bahia, estado brasileiro de maior costa, tem três portos públicos. Um deles está em Salvador e outro na Região Metropolitana (Aratu). O terceiro, de pequeno porte, em Ilhéus. Santa Catarina, estado cujo litoral é menor que a metade do da Bahia, tem cinco portos públicos espalhados por todas as regiões do estado. A comparação ainda desfavorece a Bahia quando feita sob a ótica da modernização da operação portuária.

Os dados foram apresentados por Mateus Oliva, vice-presidente da Intermarítima, empresa de logística que atua nos terminais portuários baianos. Convidado para participar do Fórum Agenda Bahia, Oliva falou sobre a competitividade dos portos baianos. Destacou que a ampliação do Porto de Salvador demorou, e que essa demora levou cargas baianas para os portos de Suape (PE), Pecém (PE) e Santos (SP). Mas que essas obras, já concluídas, aumentaram a capacidade do terminal e que a briga atual é a de reconquistar o que foi perdido e trazer novas cargas.

Se a situação do Porto de Salvador é boa, o mesmo não se verifica em Aratu. “Tenho vergonha de levar clientes para conhecerem o Porto de Aratu”, resumiu, para cobrar melhorias para o local. O terminal de Ilhéus foi citado como exemplo de que bons resultados podem ser alcançados com pequenos investimentos.

Competitividade dos portos públicos da Bahia é baixa

Foto: Evandro Veiga

Para Oliva, o Porto de Aratu precisa de modernização

192 193

José Sérgio Gabrielli, secretário estadual de Planejamento, defendeu, durante o debate, a regionalização dos tributos federais e as políti-cas de investimentos para os estados. “A discussão sobre o Fundo de Desenvolvimento Regional já está resolvida. Mas temos uma realidade fe-derativa muito particular. São interesses de 23 governadores dos estados e a presidente tentando se entender. É difícil”, admitiu.

Segundo Gabrielli, as políticas de estímulo não têm a dimensão regional necessária e é preciso retomar as discussões sobre a redistribuição dos impostos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Essa re-gionalização deveria ser aplicada à divisão de impostos federais, às políti-cas habitacionais, de investimento. É preciso desenvolver e distribuir mais entre os estados que mais precisam”, defendeu.

Sobre o desenvolvimento dos municípios do interior da Bahia, Gabrielli destacou que alguns desses municipios já apresentam problemas típicos de cidades grandes. “Alguns desses municípios crescem em torno de 10% ao ano, são índices típicos de cidades chinesas. Isso cria problemas para as finanças públicas, que ficam deterioradas, além de trazer uma série de problemas, como engarrafamentos”.

Mas essas cidades pequenas e médias também devem participar cada vez mais do crescimento da economia da Bahia. “Com a implantação da ponte Salvador-Itaparica, Santo Antônio de Jesus será o centro mais importante do Recôncavo, assim como Valença será para a região do Baixo Sul e Cruz das Almas o polo de educação para o sul do Recôncavo. Da mesma forma, Nazaré e São Roque para o setor naval”, disse o secretário.

A expectativa de envelhecimento dos baianos também é uma questão importante. “Até 2035, 60% dos baianos terão mais de 60 anos”, alertou Gabrielli. José de Freitas Mascarenhas, presidente da Fieb, gostou da ideia da regionalização dos tributos. “Seria um instrumento financeiro inte-ressante para gerar atratividade para a indústria, por exemplo”, afirmou. Mascarenhas acredita, porém, na necessidade de uma política de desen-volvimento regional mais ampla.

Regionalização de tributos para incrementar interior

Segundo Gabrielli, com a regionalização dos tributos, investimentos poderiam ser feitos em infraestrutura e habitação

O gás natural é retirado no estado líquido a 160 graus negativos e, em um dos navios utilizados no Terminal de Regaseificação da Bahia (TRBA), é reduzido cerca de 600 vezes até virar gás novamente e seguir pela malha de gasodutos. De lá, segue para abastecer as indústrias, as termoelétri-cas e até os tanques de veículos automotivos. O mais novo terminal de gás natural do Brasil está instalado a 4 quilômetros da Ilha dos Frades, na Baía de Todos os Santos. O gerente executivo corporativo da área de Gás & Energia da Petrobras, Hugo Repsold Júnior, falou sobre a instalação do TRBA, previsto para entrar em operação em dezembro de 2013. A Bahia é o maior consumidor de GNL do Nordeste.

O TRB é resultado de um investimento de US$ 706 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e terá capacidade para regaseificar 14 milhões m³ de GNL por dia. O terminal será interligado por gasodutos até a malha do estado, em Candeias, e de lá seguirá até se interligar ao Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), inaugurado em 2010. “A operação deverá começar até dezembro de 2013, já está em fase de iniciação, e se juntará aos terminais de Pecém, no Ceará, e da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro”, explica o gerente.

O GNL é transferido de um navio até a outra embarcação que o transfor-mará de líquido para gás novamente. “Este modelo é similar ao porto de Jakarta, na Indonésia, e Dubai”, diz o gerente.

Maior oferta de gás com instalação de terminal

Foto: Evandro Veiga

Para Repsold, a Bahia é o maior consumidor de GNL do Nordeste

Foto: Evandro Veiga

Infográfico: Brasil, país das desigualdades (ainda)

Obs.: RMS e Recôncavo representam 60,4% do Valor Adicionado Bruto Industrial da Bahia

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado

Demais regiões

Recôncavo

Região Metropolitana de Salvador

Portal do Sertão

Bahia:Arrecadação de ICMS por Território de Identidade 2010 (em %)

Desequilíbrio Intraestadual

Obs.: RMS e Recôncavo representam 60,4% do Valor Adicionado Bruto Industrial da Bahia

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado

54,4

5,221,7

18,7

Brasil: Distribuição da População e PIB por Região2010 (%)

Fonte: IBGE

27,8Nordeste

População PIB

Sul

Norte

Centro-Oeste

Sudeste

13,5

42,1 55,4

14,4 16,5

8,3 5,3

7,4 9,3

53.000

25.000

30.000

25.000

21.000

10.000

8.000

PIB Per Capita Brasil e Estados Selecionados 2010 (Em R$ 1,00)

Obs.: A Bahia é o 19º estado brasileiro em termos de PIB per capita

DF

BR

SP

RJ

PR

SE

BA

Políticas para Reduzir Atraso da Região Nordeste

Propostas de Celso Furtado

Propostas de Rômulo Almeida

A Fieb Interioriza AtividadesEm abril de 2011, o Sistema Fieb deu

início a seu processo de

interiorização. Investimento previsto

até 2016: R$ 102 milhões

Foram selecionadas cinco regiões

estratégicas:

O programa possui duas diretrizes:

Infraestrutura Estado Geral das Rodovias Brasil e Região (%)

Fonte: Confederação Nacional de Transportes

9.65.75.610.618.89,0

21.912.416.821.038.220.3

38.230.327.838.134.533.4

27.338.529.026.47.827.4

3.013.220.93.90.79.9

BR

Péssimo

Ruim

Regular

Bom

Ótimo

N NE SE S CO

Um dos países com maior registro de

concentração de renda, de acordo com o

Relatório de Desenvolvimento Humano

da ONU, o Brasil se caracteriza, também,

pela concentração espacial da atividade

econômica na região Sudeste (52% do

PIB brasileiro). Políticas nacionais de

transferência de renda e indução de

investimentos conseguiram incluir

apenas parcialmente o Norte e o

Nordeste na rota do desenvolvimento

econômico e social

Taxa de Mortalidade Infantil Brasil e Regiões – 2011(% por mil nascidos vivos)

Fonte: Ministério da Saúde

Brasil Nordeste Norte CentroOeste

Sudeste Sul

13,5 15 15,913,3 12,4 11,6

0,57

Índice de Desenvolvimento Humano - IDHEvolução Brasil e Estados Selecionados

Obs.: A Bahia é o 22º Estado da Federação em termos de IDHFonte: PNUD

0,66

0,39

0,73

0,47

0,73

0,54

0,76

0,57

0,77

0,55

0,78

0,83

1991 2010

0,62

DF SP SC RJ RS MG BA

7,2

Bra

sil

7,8

Su

dest

e

7,6

Su

l

7,5

Cen

tro-

Oes

te

6,7

Nor

te

6,0

Nor

dest

e

Média de Anos de EstudoBrasil e Regiões – 2009

Fonte: IBGE

OBS.: A média nacional (7,2) é muito inferior à de países vizinhos, como a Argentina (9,3). E o Nordeste é o de menor média entre as regiões do país.

196 197

No primeiro painel do seminário Novos Centros, os debatedores discutiram, com a moderação do vice-presidente da Fieb, Reinaldo Sampaio, a influência do Complexo Industrial de Camaçari no desenvolvimento regional da Bahia e o que falta para outras regiões também se desenvolverem com novos vetores de crescimento.

A diretora industrial da Braskem, Ana Carolina Viana, defendeu uma maior integração da cadeia produtiva, como uma forma de tornar os produtos mais competitivos nos mercados consumidores. “O objetivo é que não se faça a exportação que a gente faz hoje e que é prejudicial ao estado e ao país, movimentando fretes de produtos gasosos que custam 300 ou 400 dólares a tonelada”, frisou a diretora industrial da Braskem.

Para Ana Carolina, os maiores desafios na Bahia são em investimento em in-fraestrutura, tecnologia e capital humano. “Acredito fortemente na indústria e na petroquímica como um vetor importante do desenvolvimento regional”, disse, referindo-se ao papel de empresas como a Braskem, instalada no Polo e que gerou 5.900 empregos diretos e indiretos, com produção de 5 milhões de toneladas de químicos básicos.

O presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas, chamou a atenção para a situação dos atuais distritos industriais na Bahia. “Tem estrangeiro que nem visita. Vivemos em um sistema competitivo. As empresas buscam o melhor lugar”, lembrou. O presidente da Fieb fez questão de destacar que “com vontade é possível” levar o desenvolvimento para o interior do estado.

Exemplo que vem do Polo

Moderado pelo vice-presidente da Fieb, Reinaldo Sampaio, debate contou com a presença de Shirley Silva, EY Bahia, Ana Carolina, Braskem, e José Mascarenhas, FiebFoto: Marina Silva

Em seguida, transmitiu uma mensagem de superação, deixando clara a necessidade de se criar uma política nacional substancial de desenvolvi-mento regional com foco no Nordeste. Mascarenhas afirmou que as difi-culdades não podem ser impeditivos para a classe empresarial nem para os governantes.

Shirley Silva, sócia-líder da EY Salvador, destacou, no debate, a necessidade de ampliar os investimentos também em Educação, comparando o Brasil à realidade de outros países.

“Tem um ditado que diz o seguinte: a fé remove montanhas”. Com essa frase, o presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas, resumiu seu posicionamento no debate, após pergunta feita pelo mediador, Reinaldo Domingos, sobre as dificuldades de implantação de uma política de desen-volvimento regional na Bahia.

“Sendo realista, nós não temos um programa de governo federal em escala porque faltam as condições essenciais no país para se desenvol-ver uma política desse tipo”, resumiu. Mascarenhas citou, por exemplo, o problema da reforma tributária, que atinge todas as empresas. “Mas nem por isso as empresas deixam de trabalhar”, afirmou. “O que temos que fazer é desenvolver estratégias para superar as dificuldades. Nós, por exemplo, aqui na Fieb, estamos apostando na inovação, um fator que modifica o status quo, traz para o empresário a modificação do seu padrão de produção, reduzindo custos e compensando deficiências sistêmicas”, afirmou.

Ao longo do debate, o presidente da Fieb também citou a atração de dois supercomputadores (um para pesquisas na área do pré-sal) para a escola do Senai/Cimatec, em Salvador, mesmo com a existência de outros polos produtores de petróleo mais fortes que a Bahia. Santa Catarina foi citada por Mascarenhas no debate como exemplo: o estado se dividiu em sete regiões, melhorando a produtividade. “O interior baiano mostra grande capacidade de desenvolver a indústria. No Oeste, por exemplo, o que eles fizeram foi um ato de coragem”, disse.

Estratégias para desenvolver a indústria no estado

Foto: Marina Silva

Mascarenhas: Fieb aposta na inovação

198 199

Ao falar sobre o Semiárido, o mediador do debate, o vice-presidente da Fieb, Reinaldo Sampaio, sugeriu que a pesquisa e a inovação podem buscar soluções para os problemas do Semiárido, região que ocupa a maior parte do território baiano mas é massacrada por uma série de problemas so-cioambientais e climáticos. “Uma boa solução poderia ser pensada, quem sabe, numa estratégia conjunta entre Embrapii [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial] e Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]”, sugeriu. Semiárido Produtivo foi o tema do último seminá-rio do Agenda Bahia 2013.

Durante o debate, Sampaio também fez uma referência ao geógrafo baiano Milton Santos, ao falar sobre a necessidade de levar o desenvol-vimento do estado para o interior. “O mestre Milton Santos falava que era preciso viver a experiência da desmetropolização, à medida que sur-gissem cidades médias dotadas daquilo que ele chamava de hegemonias metropolitanas”, citou, antes de lembrar a complicada situação baiana, que possui poucas cidades consideradas médias e uma maioria de municípios com populações abaixo de 40 mil habitantes.

Diante das afirmações do presidente da Fieb, José Mascarenhas, acerca da inexistência de uma política de desenvolvimento regional, Sampaio cogitou que o pré-sal pode ser bom para se pensar na redistribuição dos recursos: “Será que a perspectiva do pré-sal pode ser um criador dessas condições futuras para um efetiva política de desenvolvimento regional?”.

Investimento nas cidades médias

Foto: Marina Silva

Sampaio sugeriu ação entre Embrapii e Embrapa

A diretora industrial da Braskem, Ana Carolina Viana, defendeu a neces-sidade de adensamento da cadeia produtiva. Segundo Ana Carolina, é preciso ter indústrias de base ligadas e aglomeradas dentro do Polo de Camaçari. “A integração da cadeia produtiva faz toda a diferença. Em toda indústria precisamos, efetivamente, reduzir os custos de produção. É isso que nos permite competir com produtos de fora do Brasil. Então, quando se fala em adensamento de cadeia, é para evitar que exista aquilo que chamo de desperdício de dinheiro, como o trânsito de moléculas que não foram feitas para serem transportadas em grandes distâncias”, afirmou.

Segundo Ana Carolina, um bom exemplo desse adensamento industrial poderá ser visto em Camaçari em 2014. “O Polo Acrílico está chegando e, ano que vem, estará em operação com a Basf. O custo do frete do propeno para ser manipulado entre estados é muito grande, então, quando tem uma empresa como a Basf, instalada ao lado do processo produtivo da Braskem e usando o propeno ligado via duto, isso reduz o custo de produção das duas empresas”.

Ana Carolina lembrou da importância do investimento no capital humano. “Na Braskem, temos três grandes pilares: liderança de mercado, competi-tividade de custo e autonomia tecnológica. O parque em Camaçari requer formação avançada e integrada para a operação das suas atividades. Esse, certamente, é o grande desafio que temos na indústria hoje, principalmen-te na região aqui da Bahia”, avalia.

Durante sua palestra, a diretora industrial da Braskem, Ana Carolina Viana, destacou as vantagens e os desafios de competitividade para a petroquí-mica na Bahia. “Acredito fortemente na indústria e na petroquímica como vetor importante para o desenvolvimento regional”, afirmou a diretora, que defende um desenvolvimento atrelado à preservação do meio ambiente e dos recursos naturais.

‘Adensamento’ é palavra de ordem

Foto: Marina Silva

Ana Carolina Viana: integração da cadeia produtiva

200 201

Para a sócia-lider do escritório da EY Salvador, Shirley Silva, o Brasil precisa investir mais no ensino superior. “Temos visto iniciativas crescen-tes para o investimento em ensino superior. A questão é que há um déficit muito maior nesse tipo de ensino”, explicou Silva. “Dessa forma, mesmo que os investimentos cresçam (e eles estão crescendo), ainda assim, comparativamente em relação a outros países, temos uma situação defi-citária no ensino universitário”, lembrou a sócia-líder da EY Salvador.

Shirley Silva comparou dados para mostrar como o Brasil é um país de contradições: teve um forte crescimento nos últimos anos, mas apresen-ta problemas de infraestrutura, nível baixo de educação e de mão de obra qualificada. Segundo a sócia da EY Salvador, é possível acelerar o desen-volvimento do país - e de estados como a Bahia. “É preciso oferecer in-centivo fiscal para pequenas e médias empresas, menor tributação sobre ganhos de capital, segurança jurídica e investimento em infraestrutura”, apontou.

Shirley Silva mostrou que no Brasil se gasta sete vezes mais tempo do que em países do G-20 para atender o Fisco. “São 2.600 horas”, calculou a consultora.

Shirley Silva, sócia-líder do escritório da consultoria EY Salvador, apre-sentou as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do Brasil e da Bahia como ambiente de negócios, a partir de uma visão do empresaria-do colhida em pesquisas da consultoria. Shirley criticou o que chamou de “sistema tributário altamente complexo”.

‘Brasil é um país de contradições’

Foto: Marina SIlva

Shirley Silva: “É possível acelerar o desenvolvimento do país”

Se você pretende trabalhar na área industrial, mais especificamente em uma das indústrias da Região Metropolitana de Salvador (RMS), preste muita atenção. O Centro de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) espera criar 17 mil vagas de emprego, diretas e indiretas, para atuar na operação das plantas do Polo até 2015. Com grande necessidade de mão de obra especializada e com formação técnica, a indústria tem investido em caçar talentos nas escolas técnicas e em capacitar trabalhadores recém-forma-dos para as necessidades específicas das empresas.

A maioria das vagas deve ser resultado de ampliações das fábricas exis-tentes e da abertura de novas unidades previstas para os próximos anos. Os setores de destaque são o químico, o petroquímico e o automotivo.

A falta de mão de obra qualificada e a inexistência de cursos específicos de qualificação em determinadas áreas têm levado empresas da indústria de Camaçari, especialmente as do setor petroquímico, a se encarregar da formação profissional, sobretudo a de carreiras como a de operação e manutenção de plantas.

Profissões que exigem conhecimentos de como operar e manter as plantas são as com maior oferta. “Hoje, o Polo emprega mais de 45 mil pessoas. São aproximadamente 15 mil empregados diretos e mais de 30 mil indiretos”, explicou o superintendente de Desenvolvimento do Cofic, Érico Oliveira. “No universo do setor automotivo, por exemplo, cerca de 80% dos empregos se concentram nessa área. Levando em consideração o polo como um todo, são 60%”, disse Oliveira.

Na indústria petroquímica, a Braskem se destaca na geração de empregos. Ao todo, possui seis unidades industriais em Camaçari e um escritório em Salvador, gerando quase 2 mil empregos diretos e 4,2 indi-retos, via contratação de terceirizados. Além disso, a empresa anunciou, recentemente, o interesse de implantar uma nova fábrica no Polo de Camaçari.

A operação da fábrica também é destaque na geração de empregos. “O operador de processos químicos e petroquímicos é, em resumo, quem cuida da operação de uma planta industrial. Tem como atividades seguir as rotinas de inspeção de equipamentos, checar condições de segurança, finalizar a produção para a manutenção do maquinário, quando necessá-rio, etc”, explica a gerente de educação industrial da Braskem, Nadja Mello Silva. “É alguém que cuida do dia a dia da área industrial e tem necessidade de conhecer bem o processo”, completou.

Polo de Camaçari terá 17 mil vagas até 2015

202 203

De acordo com a Braskem, é preciso ter formação técnica para operar as unidades da empresa. As formações mais requisitadas são de técnicos em Mecânica, Elétrica, Mecatrônica, Eletromecânica, Química, Automação e Controle, Operação de Processos Químicos e Petroquímicos e de Segurança do Trabalho. Em seguida, é preciso fazer um curso técnico es-pecífico oferecido gratuitamente pela Braskem, em conjunto com o Cofic. A Braskem deve fechar 2013 com investimento de R$ 22 milhões em qua-lificação, 46% a mais que em 2012.

A possibilidade de conquistar uma vaga de emprego no Polo Industrial tem levado centenas de jovens a se capacitarem nesses cursos técnicos grátis. Profissionais que buscam a especialização na área recebem salário inicial de até R$ 2 mil e ainda podem ter a chance de construção de carreira em grandes empresas. Novas seleções só devem ser abertas no segundo semestre de 2014. É possível acompanhar a oferta de cursos no site da Braskem (www.braskem.com.br) e também do Senai.

Já foram oferecidas seis edições do curso, que já qualificou cerca de 400 jovens. Inteiramente gratuito, o curso oferece aos participan-tes bolsa-auxílio mensal de R$ 580, além da possibilidade de estágio prático e de aproveitamento em empresas do Polo. A formação tem carga horária de 740 horas e duração de cinco meses, com aulas teóricas e práticas nas instalações do Senai/Cetind e Cimatec, em Lauro de Freitas e Salvador.

Cursos como esses são considerados verdadeiras portas de entrada de profissionais para as grandes empresas. “O Programa de Formação de Operadores tem sistematizado um caminho que se inicia no curso de formação, que hoje é conduzido pelo Senai, continua no programa de estágio e conclui-se, no caso da Braskem, com o programa trainee”, elenca a gerente de educação industrial da Braskem, Nadja Mello Silva. Ela explica que no programa de estágio os jovens passam por uma ambientação à cultura e aos valores da empresa, além de experiência prática reforçando o aprendizado no curso.

Hoje técnico júnior da planta de Aromáticos I, da Unidade de Insumos Básicos (Unib) da Braskem, o jovem Filipe Natã, de 23 anos, entrou na empresa através do curso de qualificação gratuito. Após concluir o ensino médio, em 2008, ele fez um curso técnico em Química e em seguida conseguiu uma vaga no curso de formação da Braskem.

“O curso deu uma ótima base teórica. Depois, entrei como estagiário e, em seguida, fui contratado”, conta. Hoje como operador, tem contato direto com engenheiros e coordenadores e supervisores de planta, o que o faz vislumbrar um futuro dentro da empresa.

“Apostar nos funcionários faz parte da cultura da Braskem”, destaca. “Trabalhar aqui é uma experiência muito boa. E como é uma companhia relativamente nova, dá para crescer aqui dentro, junto com a empresa”, diz.

“O curso deu uma ótima base teórica. Depois, entrei para estágio e fui contratado”FILIPE NATÃ, operador da Braskem

Foto: Evandro Veiga

Técnico júnior da planta de Aromáticos I, da Braskem, Filipe Natã entrou na empresa depois de ter feito curso de qualificação gratuito no Polo

204 205

A Braskem deverá instalar, até 2015, uma nova planta no Polo de Camaçari. A fábrica será uma joint venture com a empresa alemã Styrolution e produzirá o metaloceno, uma resina com tecnologia mais moderna utili-zada em embalagens que exigem características como maior resistência, brilho, transparência e selagem. A substância é empregada na indústria de transformação em aplicações de filmes plásticos, bobinas técnicas e filmes industriais. A Braskem também vai investir R$ 50 milhões na ampliação e conversão de uma linha de produção, na unidade do Polo Industrial de Camaçari, para a produção de polietileno de baixa densidade linear.

Investimentos da Braskem em fábrica de resina especial

*Aposta na educação

R$ 22 milhões é quanto a Braskem terá investido em qualificação até o fim de 2013

46% é o aumento em relação ao investimento em qualificação da empresa em 2012

Fotos: Divulgação

“O Programa de Formação de Operadores é uma porta de entrada para trabalhar aqui”NADJA MELLO, gerente de educação da Braskem

“Hoje, o Polo emprega mais de 45 mil pessoas, sendo 15 mil diretos”ÉRICO OLIVEIRA, superintendente do Cofic

206 207

Por fim, mas não menos importante, há o polo de bebidas de Alagoinhas. “A água de lá é uma maravilha, então, todas as indústrias de bebidas estão se instalando por lá.”. No município já foram intaladas fábricas da Itaipava, Schincariol (Brasil Kirin) e São Miguel (Goob). Além de bem distribuídas pelo estado, as indústrias instaladas na Bahia nesse período também são diversi-ficadas no que diz respeito aos setores industriais.

É o que afirma Emerson Leal, diretor-presidente da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Sudic). “É bem distribuído, não tem um setor que sobressai”, constata.

Para exemplificar, Emerson Leal cita o polo automotivo, fortalecido com a vinda da Jac Motors, a cadeia produtiva da energia eólica e a própria produção petroquímica. “Acho que o ano de 2013 foi muito bom, porque im-plantamos 14 empresas, temos outras 80 em implantação e 75 se compro-meteram a se instalar aqui em 2014”, anunciou. Os investimentos privados, segundo ele, somaram R$ 5,6 bilhões no ano e geraram 1.556 novos postos de trabalho.

“No último trimestre de 2013, o crescimento industrial da Bahia foi maior do que o de Pernambuco e Ceará juntos. E também foi maior que o crescimento de Minas Gerais e São Paulo, individualmente”, destacou Leal.

A Sudic vende terrenos próprios a preços subsidiados para as empresas que apresentarem projetos considerados relevantes para o estado. Além disso, Leal cita como vantagens de se instalar na Bahia “a boa infraestrutura e a mão de obra qualificada”.

Sobre esse último aspecto, Paulo Guimarães, da SICM, cita a multiplicação de cursos tecnológicos, universidades públicas e cursos do Senai. “O Cimatec da Bahia é o maior e o mais importante do Brasil nos setores automotivo, eletrônico, polímeros e energias renováveis”, enumerou.

Ele cita ainda o dado mais recente do Ministério da Indústria, Comércio e Mineração, que aponta a Bahia como o quarto destino do Brasil em investi-mentos estrangeiros, e o primeiro em investimentos chineses. “O governo do estado montou um escritório em Pequim (China), e isso fez com que as empresas de lá fossem mais atraídas. Também tem o fato de que quando uma empresa de lá faz um investimento em algum lugar e dá certo, outras sentem confiança em fazer também”, explicou.

Entre as empresas chinesas que se instalaram na Bahia estão as automoti-vas Jac Motors e a Foton, ambas em Camaçari. Elas vão fabricar automóveis e caminhões, respectivamente.

Entre 2007 e 2013, a Bahia contabilizou 954 empresas implantadas, amplia-das ou em implantação. Dessas, 565, ou 59%, estão no interior do estado. O dado é da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do estado (SICM). “E não estamos nem contando cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS)”, lembra o superintendente de atrações de investimentos, Paulo Guimarães.

Ele dá outro número animador para o interior do estado: “No mesmo período, foram 188 mil empregos gerados na Bahia, cerca de 100 mil deles fora da RMS”. O número representa 68% do total. O percentual é um pouco maior que o de empresas instaladas porque, geralmente, as indústrias montadas na capital são mais automatizadas e precisam de menos mão de obra.

Entre os principais avanços pelo interior do estado, Guimarães destaca a consolidação do setor eólico na região da Chapada Diamantina e o cresci-mento da agroindústria no Sudoeste do estado. “O município de Jaborandi tem a maior produtividade de leite do mundo. A Leite Verde, que produz a marca Leitíssimo, tinha uma produção de 11,5 mil litros por hectare/ano. Aqui, já triplicaram: 34 mil litros por hectare/ano”, comemorou o superintendente.

Ele frisa também a importância da mineração em Maracás (onde irá começar a extração de vanádio) e em Ipiaú (níquel). Ainda sobre os avanços, o su-perintendente cita o estaleiro Foz do Paraguaçu, que em 2014 começará a fabricar navios para a Petrobras.

Crescimento mais equilibrado

Foto: Ascom/ Sicm

Chiaccio, em Vitória da Conquista,

fabrica embalagens descartáveis

208 209

O gás natural está pronto para ser retirado do novo Terminal de Regaseificação da Petrobras, na Bahia. O terminal, instalado a quatro qui-lômetros da Ilha dos Frades, na Baía de Todos os Santos, tem capacidade para regaseificar 14 milhões m³/dia. A quantidade é suficiente para abas-tecer uma cidade do tamanho de Salvador por três dias ininterruptamen-te. Além de aumentar a malha de gasodutos responsável pelo abasteci-mento, o terminal baiano deve garantir a injeção de gás natural no estado que mais consome o combustível no Nordeste.

“O terminal traz flexibilidade para a Petrobras e garante uma maior segu-rança energética, pois está interligado a outros terminais já existentes, facilitando o abastecimento. Ele traz uma nova perspectiva para a indús-tria do petróleo, e a Bahia tem alta contribuição nisso”, explica o gerente executivo corporativo da área de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold Junior.

O novo terminal é resultado de um investimento em torno de R$ 1 bilhão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “A operação deverá se iniciar até o final do ano, já está em fase de iniciação e se juntará aos terminais de Pecém, no Ceará, e da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro”, explica o gerente. No terminal, o gás natural chega sob a forma líquida, a -160ºC, e é transformado em sua forma gasosa (por isso o termo regasei-ficação), onde tem seu volume expandido em 600 vezes. O navio rega-seificador atracado em alto-mar funciona com uma ilha, onde os navios supridores carregados se ligam através de braços criogênicos, capazes de suportar a baixíssima temperatura do gás.

O sistema de atracação é chamado de modo side-by-side, onde o navio estaciona paralelo ao outro, enquanto a troca de gás é feita e o processo de regaseificação é concluído. O modelo é similar ao que acontece hoje nos portos de Bahia Blanca, na Argentina, no porto de Dubai, nos Emirados Árabes, e em Jakarta, na Indonésia.

Já na forma de gás, o GN percorre os 15 quilômetros de gasoduto subter-râneo, debaixo d’água, até encontrar a malha já existente em Candeias. O gás segue pelo gasoduto até o Gasoduto Cacimbas-Catu (Gascac), trecho do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), inaugurado em março de 2010. O terminal baiano se junta aos dois já existentes e que são responsáveis por abastecer o mercado: o de Pecém, no estado do Ceará, que tem capa-cidade de regaseificação de 7 milhões m³/dia, e o da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, com capacidade de regaseificação de 20 milhões m³/dia. O terminal da Bahia elevará a capacidade de regaseificação do Brasil para 41

Maior segurança energéticaAs perspectivas para 2014 são otimistas, segundo o superintendente de atração de investimentos da SICM, Paulo Guimarães. “Estamos em con-versas avançadas. Vamos ter boas notícias em 2014”, anuncia. Guimarães faz mistério sobre a identidade das empresas, mas dá dicas. “Tem in-dústria de mineração, automotiva, química e de energia”, conta. Ainda segundo ele, parte dessas empresas estuda se instalar na RMS e outra parte no interior do estado. O diretor-presidente da Sudic, Emerson Leal, acrescenta ainda que tem uma empresa do setor calçadista no páreo. “As conversas estão adiantadas, mas não posso falar qual é antes de assinar o contrato”, desconversou. Apesar de ainda não ter nada de concreto, Leal aposta que novas empresas do setor eólico também serão atraídas por conta da cadeia produtiva cada vez mais completa no estado. Em maio de 2013, foi inaugurada em Camaçari a primeira fábrica de torres eólicas do estado e segunda do Brasil: a Torrebras.

Negociações avançadas para instalação de empresas

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

147.319 R$ 63 bilhões954

INVESTIMENTOS PRIVADOS NA BAHIA ENTRE 2007 E 2013

FONTE: SICM

Total

Empresas Empregos Investimento

Implantadas

Ampliadas

Em ampliação/ampliação

347

128

469

56.850

9.435

81.034

R$ 9 bilhões

R$ 3,6 bilhões

R$ 50,4 bilhões

210 211

milhões m³/dia de gás natural. O volume é superior aos 30 milhões m³/dia que vem do Terminal da Bolívia”, afirma Repsold.

O consumo do GN tem aumentado como uma alternativa mais ambiental-mente sustentável pelas indústrias. Além do alto potencial energético, o gás natural tem a vantagem de ser mais limpo do que outros combustíveis considerados mais poluentes, como a lenha, o carvão e os óleos derivados do petróleo.

No Brasil, o gás natural é utilizado principalmente pelas usinas termelé-tricas para geração de energia através da queima. O calor da queima é utilizado para mover uma turbina e a energia é transferida para acionar o gerador elétrico. No Brasil, as usinas termelétricas funcionam como complementação às usinas hidrelétricas. A combustão mais limpa do gás natural produz menos emissões de CO2, responsável pelo aquecimento.

Outro uso comum do gás natural é como combustível para veículos auto-motivos. Mais ‘verde’, o uso do gás natural em veículos reduz a emissão de óxido de enxofre, gás carbônico e fuligem resultados da queima.

Madre de Deus

BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Ilha deMaré

Ilha dos Frades

Itaparica

Vera Cruz

CamaçariSimões

Filho

Candeias

Lauro deFreitas

Salvador

São Franciscodo Conde

BAHIA

COMO FUNCIONA O TERMINALO terminal tem capacidade para produzir

14 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural

O Terminal de Regaseificação da Bahia (TRBA) está localizado a 4 km da Ilha dos Frades, na Baía de Todos os Santos

No terminal, navios carregados com gás natural liquefeito (GNL) se acomplam à outra embarcação que transformará o gás liquefeito voltar ao estado gasoso. Este modelo é chamado de side-by-side

De lá, o gás segue por dois gasodutos. O primeiro possui 15 quilômetros subterrâneo e outros 30 km sobre a terra, cortando os municípios de Candeias, Madre de Deus, São Francisco do Conde

Em seguida, o gasoduto se liga ao Gasoduto Cacimbas-Catu, o último trecho do Gasoduto Nordeste Sudeste (Gasene). Integrado ao Gasene, o gás recolhido na Bahia poderá ser levado ao restante do país

O gás natural poderá ser utilizado na indústria termoelétrica como uma fonte de energia mais limpa e barata, e como combustível de veículos automotores

14 milhões de metros cúbicos de gás natural é extraída do TRBA, que gera 3 mil megawatts de energia termoelé-trica por dia, o sufi-ciente para abastecer Salvador inteira durante quatro dias

213

Sustentabilidade

Desenvolvimentosustentável*

Já que o Brasil desperdiçou a chance de transformar a Copa do Mundo em um grande legado para o país, com investimentos especialmente em infraestrutura e mobilidade urbana, a sociedade brasileira ainda

tem a chance de marcar um gol em 2014. Uma nova lei, sancionada em 2010, cobra uma série de prazos para serem cumpridos já em 2014 e pode representar um marco histórico na gestão ambiental do Brasil.

A discussão sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi o pontapé inicial dos debates do seminário Desenvolvimento Sustentável do Fórum Agenda Bahia 2013. Os especialistas apresentaram em palestras e nos painéis o que é preciso para o país incorporar um novo modelo, mais moderno e eficaz, para enfrentar um dos principais problemas da atualidade: o lixo urbano.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema: apenas no Brasil são gerados 62,7 milhões de toneladas por ano, mas só se recicla 4% do total. Todos os palestrantes admitiram que, para dar certo, vai ser preciso implementar as novas regras da PNRS, com incentivos à reciclagem, ao reaproveitamento e à recuperação energética dos resíduos. Mas a transformação cultural é apontada como fundamental nesse processo ao criar novos hábitos que levem a um consumo mais consciente.

Além da educação ambiental, o PhD em Economia pela Universidade de Cambridge Eduardo Giannetti só vê uma saída: a implantação de novo sistema de preços, onde os produtos com maior impacto ambiental sejam mais taxados, ou seja, mais caros.

Giannetti lembrou que o “mundo precisará cada vez mais do que o Brasil tem a oferecer”: alimentos, minerais e energia. “Mas, para isso, terá que ter uma gestão muito responsável dos nossos recursos”, diz. O alerta vale para a Bahia, importante produtora dos itens citados.

Nova chance para o Brasil

214 215

Propostas apresentadas no seminário

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

Por ano, são destinadas no Brasil 27,8 milhões de toneladas de lixo para os lixões

e aterros controlados. O desafio, apontaram os especialistas no Fórum Agenda Bahia, para resolver um dos principais problemas atuais do planeta, a geração

de resíduos sólidos, é, além de proteger o meio ambiente, agregar valor aos

resíduos com inovação, seja reciclando, reutilizando ou produzindo energia, como já fazem outros países

Com essa nova visão, o lixo pode gerar riquezas para a sociedade e menor

impacto para o meio ambiente

O conceito é produzir menos lixo e incentivar que o resíduo entre novamente em atividade produtiva

Para tanto, o Brasil, que ainda utiliza métodos primários na gestão do lixo urbano,

precisa se atualizar em tecnologias e modernizar a gestão dos resíduos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi identificada no Fórum

como um marco no país. A nova lei traz como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população

Deve-se, portanto, fazer cumprir e fiscalizar as novas regras da lei para que os desafios sejam superados e o Brasil se torne referência nessa área

Em todas as esferas, é preciso investir em novas práticas. Na produção, a solução, segundo o Instituto Akatu, passa pela inovação, oferta adequada e informação. Já o governo deve investir em infraestrutura e serviços e oferecer incentivos para práticas sustentáveis. Os consumidores precisam ser sensibilizados e mobilizados para o consumo consciente e ter acesso à educação ambiental

Palestrantes e debatedores ressaltaram que não existe apenas uma solução:

há uma série de ações para a destinação final do lixo. Somente com a gestão integrada de toda a cadeia dos resíduos sólidos, ressaltam, será possível enfrentar esse desafio

Entre as soluções, substituir a gestão linear dos resíduos sólidos pelo ciclo positivo

Acabar com os lixões em 2014, implantar a coleta seletiva em 100% das cidades, promover educação ambiental e a mobilização da população sobre o tema

Implementar políticas públicas de apoio à cadeia produtiva da reciclagem,

à Logística Reversa e à recuperação energética de resíduos

Apoio às micro e pequenas empresas na adaptação de sistemas e produtos mais sustentáveis

Incentivar as cooperativas e a indústria da reciclagem. Atualmente, é baixa

a capacidade da indústria de reciclagem de absorver os resíduos selecionados, desestimulando o ciclo positivo

Estimular a capacitação profissional e a inserção dos catadores no novo sistema

O PhD em Economia pela Universidade de Cambridge Eduardo Giannetti defende

uma nova política de sistema de preços, única capaz, segundo ele, para mudar o hábito por um consumo mais consciente. A nova métrica, que substituiria o modelo atual do Produto Interno Bruto, levaria em conta também as riquezas

naturais, a qualidade de vida e a prosperidade social. Produtos com maior impacto da produção no meio ambiente teriam taxação maior

Pesquisas apresentadas no seminário mostraram que felicidade e qualidade de vida independem de crescimento econômico. Principalmente se esse crescimento for baseado em um “modelo ambientalmente predatório”

Criar mecanismos para o consumidor identificar a origem e a qualidade dos

produtos. Um dos caminhos apontados: o uso de selos de certificação

Criar maior acesso e opções de lazer ao ar livre para incentivar novas formas de convivência e diversão, que não leve em consideração apenas os shopping centers, centros de consumo

Incentivo à reciclagem, ao reaproveitamento e à recuperação energética

Investir no desenvolvimento econômico sustentável, com a criação de novos setores e novos negócios a partir da PNRS

Caso seja cumprida, a nova lei promete proteger o meio ambiente, trazer

benefício à saúde pública e promover inclusão social

Estímulo a Parcerias Público-Privadas (PPPs) na gestão integrada dos resíduos

Os especialistas acreditam que o Brasil, com seu patrimônio natural, tem papel

fundamental na transição para uma nova economia mundial. Mas precisa

*

*

*

*

*

*

*

*

**

*

**

216 217

de uma gestão sustentável dos recursos, de investimentos em educação e saneamento básico para resolver os problemas básicos

Transferir e, principalmente, desenvolver tecnologias próprias para

destinação correta dos resíduos. A inovação pode gerar nova oportunidade de negócio para o Brasil, especialmente para países do Cone Sul, como Argentina e Uruguai, ainda muito atrasados na gestão do lixo

Brasil deve criar um portfólio de soluções que seja capaz de atender ao seu

território bem como exportar know-how, tornando-se referência na gestão integrada dos resíduos sólidos da América Latina

*

*

Secretaria estadual de Desenvolvimento Urbano prometeu ajudar municípios

para acabar com os lixões, especialmente na formação de Consórcios de Aterro Sanitário entre cidades vizinhas. Segundo o chefe de gabinete da Sedur, Eduardo Copello, o estado vai ajudar no planejamento desses consórcios, nos projetos e, eventualmente, financeiramente

Prefeitura prometeu implantar, a partir de abril de 2014, coleta seletiva de lixo em Salvador. O projeto prevê, inicialmente, a instalação de 50 a 100 pontos de entrega voluntária. Até 2016, a meta é chegar, segundo o subsecretário da Secretaria Cidade Sustentável, André Fraga, a 200 pontos pela capital baiana

Após reportagem do Jornal Correio revelar que resíduos sólidos eram jogados

em lixão em Boipeba, a superintendente de Meio Ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do município, Fabiana Pacheco, prometeu que até dezembro de 2014 um aterro sanitário será construído em Cairu

Prefeito de Cairu, Fernando Antonio, prometeu acabar com lixão em

Morro de São Paulo em 2014

A Prefeitura de Maraú, de acordo com secretário do Meio Ambiente, Jorge

Robson, exigiu uma contrapartida para grupo português construir novo complexo hoteleiro na região: a construção de uma usina de tratamento de resíduos sólidos até 2015

Compromissos firmados

*

*

*

*

*

Novo olhar

A responsabilidade que cada cidadão precisa ter com o lixo que produz foi ressaltada pelo presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, durante o terceiro seminário do Fórum Agenda Bahia 2013. “O lixo tem que ser tratado de forma diferente. Tentar aproveitar ao máximo para reciclar e para que essa reciclagem possa virar matéria-prima para a produção de outros produtos”, afirmou.

Antonio Carlos Júnior abriu o fórum e destacou a importância de se discutir o tema do seminário Desenvolvimento Sustentável. “Este tema é da maior importância. A Política Nacional de Resíduos Sólidos é uma mudança importantíssima na questão do tratamento dos resíduos sólidos, onde uma nova forma de enxergar essa questão vai tomando conta das cidades brasileiras, principalmente pelo lado do incentivo à reciclagem e à logística reversa”, avaliou.

O presidente da Rede Bahia e do jornal Correio também ressaltou a ne-cessidade de cada cidadão se tornar mais consciente e buscar ser um agente protetor dos recursos naturais disponíveis. “Todos nós temos a obrigação de pensar na sustentabilidade. Não podemos querer gastar tudo agora, temos que pensar nas gerações futuras. Vamos poupar os recursos naturais e o que for possível para beneficiar as gerações futuras”, sugeriu.

Antonio Carlos Júnior abriu o seminário, no auditório da FiebFoto: Marina Silva

218 219

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos levou 20 anos até ser aprovada em votação no Senado, em 2010, mas avança com pressa em direção aos prazos finais que determinam, por exemplo, o fim de todos os lixões no país até agosto de 2014. Só para se ter ideia do desafio, na Bahia, são mais de 359 lixões a céu aberto e pouco menos de 60 os aterros sanitá-rios, segundo dados de 2011 da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). A lei, que estabelece ainda a implantação de coleta seletiva em 100% das cidades e até aulas de educação ambiental nesse mesmo período, tem exigido mudanças da iniciativa privada, dos estados, muni-cípios e dos consumidores.

Para especialistas de meio ambiente, a PNRS é considerada um marco, porque entrega à sociedade a responsabilidade compartilhada dos resíduos sólidos, ou seja, de tudo o que vira lixo. Se antes havia um vácuo sobre quem devia cuidar da destinação de certos lixos, com a nova lei, não sobram frestas. Da casca de banana à bateria do celular que já ficou ultra-passada e não tem mais uso, todo lixo terá alguém para chamar de seu.

Por conta das punições e multas que poderão sofrer, caso não obedeçam a lei, os municípios brasileiros têm corrido contra o tempo para ajustar seus planos de gestão de resíduos. Na primeira chamada, em agosto do ano passado, quando as prefeituras tiveram que apresentar um plano mostrando como cuidar dos seus lixos, apenas 10% dos municípios no país passaram no teste, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A partir daí, as administrações que não entregaram o plano ficaram impossibilitadas de pedir recursos do governo federal para cuidar do manejo do lixo.

Para a presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria, o principal problema é o alto custo da elaboração das metas. “A dificuldade de implementar o plano é nacional. Nossa expectativa é fazer com que os municípios se organizem em consórcios para driblar o alto custo de elabo-ração. Temos alertado os municípios (para o fim do prazo estipulado), mas o momento é de grande dificuldade financeira. Hoje, a Bahia conta com 16 Consórcios Públicos Municipais, sendo que 15 deles são de multifinalida-des”, afirma a prefeita de Cardeal da Silva.

Os consórcios entre municípios, explica a presidente da UPB, serviriam para atenuar gastos, como o exigido para a implantação de aterros sanitários pela PNRS. Segundo Maria Quitéria, os municípios alegam falta de ajuda financeira do governo federal para acelerar a confecção dos planos. “Nossa estimativa é que os municípios com até 50 mil habitantes precisarão de R$ 6 a R$ 7 por

A responsabilidade é de todos habitante para elaborar o plano. Mas, até o momento, essa ajuda financeira não chegou. Outro entrave é a carência de técnicos especializados”, alerta.

A prefeitura de Salvador, que recebeu na gestão anterior o cartão amarelo por não entregar o plano a tempo, montou força-tarefa para cumprir o prazo. Apesar de já possuir aterro sanitário desde 1998, a prefeitura trabalha para dar conta da implantação de uma equipe responsável pela coleta seletiva, os prazos e metas necessários para manejo dos resíduos, além de estimular a educação ambiental.

Segundo Rosa Amália, assessora de Planejamento da Limpurb, 18 associa-ções e cooperativas estão cadastradas para auxiliar no reaproveitamento de materiais recicláveis, parte do plano de coleta seletiva. “Também está prevista a implantação de 200 postos de entrega voluntária até 2016”, explica. Os PEVs serão distribuídos por áreas de Salvador.

O coordenador de Infraestrutura Urbana e Saneamento da Secretaria Municipal da Infraestrutura e Defesa Civil (Sindec), Carlos Vicente, é otimista em relação ao prazo estipulado pela União. “Nosso objetivo é tentar concluir esse processo até o final deste ano”, afirma.

Para o setor empresarial, o prazo também exige mudanças no setor pro-dutivo. Se, antes, cabia aos estados e aos municípios dar fim aos resíduos produzidos na cadeia de consumo, com a logística reversa, os fabricantes serão responsáveis pela destinação final daquilo que produzem. Só da cons-trução civil são coletadas 99 mil toneladas de resíduos sólidos diariamente,

*Nada sustentável

240 mil

64 milhões

1 milhão

359

toneladas de lixo, em média, é o que o Brasil produz por dia

de toneladas de resíduos foram coletadas em 2012. O suficiente para encher 450 estádios do Maracanã

de toneladas de lixo eletrônica é produzido por ano

lixões existem na Bahia a céu aberto e há pouco menos de 60 aterros sanitários

Falta de prioridade para o lixo urbano

Consumidor fará separação mais criteriosa nas residências

Municípios farão plano de metas sobre resíduos com participação dos catadores

PODER PÚBLICO EMPRESAS POPULAÇÃO

Inexistência de lei nacional para nortear os investimentos das empresas

ANTES DA LEI

DEPOIS DA LEI

Os lixões precisam ser erradicados até 2014

Prefeituras passam a fazer a compostagem

É obrigatório controlar custos e medir a qualidade do serviço

Reciclagem avançará e gerará mais negócios com impacto na geração de renda

Mais produtos retornarão à indústria após o uso pelo consumidor

Novos instrumentos financeiros impulsionarão a reciclagem

Marco legal estimulará ações empresariais

Cidadão exercerá seus direitos junto aos governantes

Coleta seletiva melhorará para recolher mais resíduos

Campanhas educativas mobilizarão moradores

Coleta seletiva cara e ineficiente

Resíduo orgânico sem aproveitamento

Existência de lixões na maioria dos municípios

Desperdício econômico sem a reciclagem

Baixo retorno de produtos eletroeletrônicos pós-consumo

Falta de incentivos financeiros

Pouca reivindicação às autoridades

Falhas no atendimento da coleta municipal

Falta de informação

Não separação do lixo reciclável nas residências

220 221

Consumidores

Punições

Municípios

Iniciativa privada

Pontos de coleta também receberão lixo já selecionado

Cooperativas trabalharão

integradas aomunicípio para tornar

efetiva a coletaseletiva dos resíduos

Após a coleta seletiva, o material é levado para centros de triagem, que ficarão responsáveis pela destinação de cada tipo de lixo de acordo com seus fabricantes: cada um cuida do que é seu

COOPERATIVAS

Os novos produtos gerados a partir da reciclagem seguem para ser vendidos novamente aos consumidores, dando início a um novo ciclo

C

Coleta seletiva começa em casa. Após o consumo dos produtos, o lixo deve ser separado de acordo com o tipo: vidros, metais, papel, embalagens plásticas separadas do material orgânico

Porém, pneus, pilhas e baterias, os resíduos e as embalagens de agrotóxicos e óleos lubrificantes, os lixos eletroeletrônicos, as lâmpadas fluorescentes devem ser devolvidos após o uso para os comerciantes e distribuidores

Comerciantes e distribuidores devolvem para os fabricantes que iniciarão uma nova fase de reaproveitamento. Aquilo que puder ser utilizado para fabricar novos produtos é reinserido no ciclo produtivo; o que não, vai direto para os aterros sanitários

A Lei Federal 12.305, que deu origem à Política Nacional de Resíduos Sólidos, reforçou a importância da coleta seletiva e instituiu, entre algumas inovações, a logística reversa. Veja o que acontecerá com nosso lixo a partir de agora:

1. Os consumidores que descumprirem as obrigações do sistema de logística reversa e da coleta seletiva estarão sujeitos às penalidades de advertência; em caso de reincidência, poderá ser aplicada multa de R$ 50 a R$ 500

2. Descumprir a obrigação do sistema de logística reversa acarreta em multa de R$ 5 mil a R$ 50 mil

3. Importar resíduos sólidos perigosos poderá levar a multa de R$ 500 a R$ 10 milhões

LOGÍSTICA REVERSA

segundo dados do IBGE em 2011. Apenas os municípios da região Nordeste coletam mais de 17 mil toneladas por dia.

O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Nilson Sarti, afirma que os municípios baianos não estão preparados para cuidar da destinação final dos resíduos sólidos. “Hoje as construções já estão preparadas para produzir menos resíduos sólidos. Temos tecnologias. Boa parte do que é produzido já é reci-clado na própria obra. Exceto Salvador, que já possui aterro e sistema de aproveitamento desses resíduos, a maioria dos municípios do interior não tem. Eles não estão prepa-rados para cumprir esses prazos”, afirma.

Para os produtores de pneus, baterias, embalagens de agrotóxicos, óleos lubrificantes, embalagens de óleos lubrificantes, produtos eletroeletrônicos, pilhas e alguns tipos de lâmpadas, a PNRS estabelece regras mais rígidas. Essa parte do setor privado terá de dar conta da destina-ção final dos produtos consumidos, independentemente da oferta de serviços públicos. Para isso, acordos estão sendo elaborados para que todos cumpram as metas.

“Os acordos setoriais são contratos firmados entre o poder público e os fabricantes, importadores, distri-buidores ou comerciantes, visando a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto”, explica Arlinda Coelho, gerente corporativa de Desenvolvimento Sustentável da Fieb.

O primeiro acordo desse tipo foi assinado pelo governo federal em dezembro de 2012 e promete recolher 60% das embalagens de óleos lubrificantes em postos de gasolina do litoral, de norte a sul do país. A segunda etapa, que re-colherá as embalagens dos restantes 40%, aí incluídos os estados da região Norte, deverá ficar pronta até 2016. Na esfera estadual, além da logística reversa das embalagens de óleo, um acordo setorial para destinação de lâmpadas já está em andamento.

Até maio de 2013, outro acordo de logística reversa destinou 1.333 toneladas de embalagens vazias de defen-sivos agrícolas na Bahia. O número é 6% maior comparado a 2012, segundo dados do Sistema Campo Limpo, que reúne agricultores e fabricantes.

222 223

O economista e cientista político Eduardo Giannetti abriu o seminário do Fórum Agenda Bahia, tema Resíduos Sólidos, com a palestra Economia Verde e a Gestão Responsável para a Sustentabilidade. O PhD em Economia pela Universidade de Cambridge defendeu, em entrevista ao jornal Correio, duas ideias principais. A primeira é a de que a crise ecológica só terá solução definitiva com a adoção de um novo sistema de preço que inclua o custo de emissão de carbono envolvido no processo de produção. A emissão do carbono está na raiz do aquecimento global. A segunda ideia é a de que felicidade e qualidade de vida independem de crescimento econômico. Principalmente se esse crescimento for baseado em um modelo ambientalmente predatório.

A crise de 2008 que se perpetua até agora tem, para o senhor, algum componente ecológico? Acho que tem duas crises. Uma é a crise financeira, causada pelo excesso de criação de ativos financeiros e de crédito, que revelou um aspecto de insustentabilidade nos planos das finanças. Mas tem um pano de fundo, que não tem a eloquência da crise financeira, mas que é muito mais sério, que é a crise da mudança climática. Ela não tem o ritmo alucinante da crise financeira, mas do ponto de vista da espécie humana e do futuro tem dimensão muito mais séria. É pena que a crise financeira tenha desviado a atenção e diminuído investimentos necessários para caminharmos para uma economia ecologicamente mais equilibrada.

‘Os preços têm de conter o custo ambiental’ Entrevista com Eduardo Giannetti

Foto: Divulgação

Um dos mais respeitados economistas do país, Eduardo

Giannetti participou do Fórum Agenda Bahia com a

palestra Economia Verde e a Gestão Responsável para a

Sustentabilidade

É possível unir economia de mercado e ambientalismo? Esse é um grande desafio. Sabemos que as economias de planejamento central tiveram uma performance desastrosa em relação ao meio ambiente. Mas nós estamos descobrindo agora que a economia de mercado e o sistema de preço também padecem de séria deficiência no tocante ao modo como lidamos com os recursos ambientais, porque esse sistema não sinaliza o ônus ambiental das nossas escolhas como produtores e consumidores.

O que precisa ser mudado? Os preços dos produtos têm de conter o custo ambiental. Existem atividades muito onerosoas do ponto de vista ambiental e isso não aparece no custo de produção e nem no preço final ao consumidor. Dou um exemplo: a produção de energia a partir do carvão. Você compara na ponta do lápis e parece que a energia a carvão é mais barata que a solar ou a eólica. É por isso que chineses fazem boa parte de seus investimentos em termoelétricas a carvão. Só que esta comparação é muito desigual, pois não contabiliza nos custos a emissão de carbono da produção. Se você atribuir um preço à emissão do carbono que vai prejudicar a questão da mudança climática muda a equação e a comparação entre as diferentes fontes de geração elétrica. O atual sistema de preços não faz essa contabilidade adequadamente. Outro exemplo: ao viajar de avião, um cidadão cruzando o Atlântico emite mais CO2 equivalente que um indiano durante um ano vivendo em meio rural. Só que o passageiro não paga pelo carbono que ele emitiu. Paga pelo equipamento, pelo combustível, pelo serviço, pelo aeroporto, mas não paga pela emissão de carbono, que sai de graça. Esse preço vai ter de mudar. Os preços relativos vão ter de mudar. As coisas muito onerososas ambientalmente vão ter que ficar relativamente mais caras na comparação com as escolhas de produção e consumo que não são onerosas ambientalmente.

O senhor fala em ‘vai ter que mudar’. Por que um discurso tão fatalista? Porque é a maneira da humanidade equacionar e conter uma ameça que se torna cada dia mais evidente de aquecimento global. Se isso não vier de maneira coordenada e de correção do sistema de preços, vamos assistir a grandes catástrofes ambientais que vão exigir soluções autoritárias e impositivas.

É possível que essa mudança aconteça em curto e médio prazos? Há indícios de que começam a surgir propostas e práticas concretas de correção do sistema de preços. A Austrália faz um trabalho bem interessante de precificação de carbono. Na hora que o carbono for adequadamente precificado as pessoas vão ter incentivos para fazer escolhas que sejam ecologicamente mais adequadas. E os produtores também. O ideal seria que tudo mudasse a partir de um processo de tomada de consciência, mas é muito difícil e lento esse processo. Então, a solução real e permanente desse problema terá de vir pela correção do sistema de preço.

“Existem atividades muito onerosas do ponto de vista ambiental e isso não aparece no custo de produção e nem no preço final ao consumidor”

224 225

Há uma crítica no seio do movimento ambientalista em relação ao consumo consciente, que é o que o senhor parece defender. Segundo essa crítica, o consumo consciente não resolve, só retarda a solução. Eu sou totalmente a favor do consumo consciente e da responsabilidade social e acho que as empresas têm de prestar atenção a isso. Mas enquanto economista eu constato que não podemos contar com isso como uma solução permanente. A British Airways, dado que todos estão preocupados com a questão climática, ofereceu aos passageiros a opção de, no momento da aquisição do bilhete, pagar um adicional pelo carbono emitido no trajeto. Qual foi a adesão? De 3% dos passageiros. Está todo mundo preocupadíssimo com a mudança climática mas, na hora de pôr a mão no bolso, ninguém põe.

Talvez porque o custo de vida já esteja tão alto... Mas estou falando de um país rico, onde as pessoas poderiam arcar com esse custo. E terão de arcar em algum momento.

Isso em um país rico, e um país como o Brasil... O Brasil também vai ter de prestar muita atenção nisto. Se não tivermos uma gestão muito inteligente e responsável de nossos recursos naturais nós vamos destruir a base de geração de riquezas do país e vamos começar a ser discriminados internacionalmente, pois vão começar a impor sanções. O Brasil precisa prestar atenção, como a Nova Zelândia está prestando, em relação à emissão de carbono pelo rebanho bovino, aviário, suíno.

Que tipo de sanção? Pode ser protecionismo ambiental. Países que emitem grande quantidade de carbono ou desmatam desmedidamente vão começar a sofrer sanções da comunidade internacional. Há pouco tempo na Europa começaram a colocar etiquetas nos produtos em supermercados dizendo o trajeto que aquele produto percorreu para chegar na gôndola, para o consumidor ficar sabendo. Diante disso, a Nova Zelândia ficou toda mobilizada para informar aos consumidores que, apesar de toda aquela viagem, seus produtos eram ecologicamente mais corretos que os europeus. A sanção vai vir de governos e de consumidores que vão boicotar. E do mercados de capitais. Empresas vão ter dificuldade de encontrar financiamento se não demonstrarem uma contabilidade ambiental equilibrada.

É posível para o Brasil e, especificamente, a Bahia, que ainda apresentam índices de tempos pré-industriais, saltar etapas? É perfeitamente possível e muito desejável.

Como seria a transição? Ela seria imediata ou tem uma agenda de mudanças a ser seguida? Não tem saltos, revolução ou descontinuidade. É incrementalismo. São pequenas conquistas e pequenas possibilidades que vão se compondo e juntando ao longo do tempo para dar o resultado final.

“Se não tivermos uma gestão inteligente e responsável de nossos recursos naturais nós vamos destruir a base de geração de riquezas do Brasil”

E a questão da mão de obra nessa nova economia? O setor de serviço absorveria toda mão de obra? A transição para uma economia de baixo carbono gera muito emprego também. Ela depende muito de inovação e pessoas capacitadas para usarem suas inteligências de modo a agregar valor sem agredir o meio ambiente.

Mas aí o senhor está falando de uma mão de obra altamente qualificada, que não é o caso, por exemplo, da Bahia. Mas aí temos de caminhar e a educação se torna cada vez mais prioritária para termos uma economia de baixo carbono. Sabemos que a inclusão social gera novos grupos sociais que vão demandar mais serviços e a economia de serviços requer preparo. Estamos falando de educação, saúde, entretenimento. Áreas em que a contribuição da inteligência humana é essencial.

E como o senhor vê a agenda ambiental do governo brasileiro? Quais são os avanços e os retrocessos? Vejo um retrocesso lamentável no Brasil nos últimos anos. Voltamos a aumentar o desmatamento na Amazônia depois de anos em que conseguimos uma redução consistente. O código florestal gerou muita insegurança jurídica e situações indefinidas e voltamos a assistir práticas predatórias do meio ambiente. Na geração energética, o governo volta a falar em termoelétrica a carvão. E nenhuma palavra em energia solar. Um tremendo retrocesso.

O lixo também já é usado para geração de energia. O que o senhor acha da Política Nacional de Resídos Sólidos? A reciclagem e a transformação do lixo em energia é um caminho muito bem-vindo. Acho que pequenos municípios vão ter dificuldades de se adequar, mas aí cabe um esforço de treinamento para que eles tenham condições de obter

Foto: Arisson Marinho

Eduardo Giannetti destacou como exemplo a reciclagem do lixo

“Países que emitem grande quantidade de carbono ou desmatam vão sofrer sanções da comunidade internacional”

226 227

os recursos e possam fazer aquilo que é previsto pela nova lei em termos de tratamento responsável do lixo e dos resíduos sólidos.

A gente tem falado muito no papel do governo. E as entidades privadas, como têm se comportado na questão ambiental no Brasil? Há muita heterogeneidade no setor privado. Existe um setor privado muito responsável e atento às questões do meio ambiente. Mas há também um setor empresarial no Brasil que, infelizmente, não está à altura do desafio e do nível de exigência do século XXI.

Um ponto central de seu pensamento, professor, é a questão da felicidade. O que o senhor sugeriria em termos de esforços de governos e empresários para que a felicidade esteja ao alcance de todos? O primeiro passo é não acreditar que o crescimento econômico é um fim em si mesmo. O aumento da renda é um meio para se viver melhor. A partir de um certo nível não existe qualquer evidência de que ganho de renda per capita se traduza em ganho de bem-estar humano. Um país como o Brasil não precisa almejar um padrão de renda de um EUA ou uma Alemanha. Agora, a gente tem de resolver problemas elementares da vida que ainda não foram resolvidos. Me chama muita atenção o fato de em pleno século XXI quase metade dos domicílios brasileiros não ter saneamento básico. Isso é intolerável. Isso me preocupa muito mais que o nível de renda per capita do brasileiro não ser igual ao americano, europeu ou japonês. A educação fundamental, embora universalizada, não atende requisítos mínimos de qualidade para capacitar o indivíduo para ter uma vida formada e produtiva. Temos de dar a capacitação para a pessoa ser feliz, que é a gramática. Temos de dar a gramática, que é o conhecimento de como falar e escrever, mas o texto cada um faz o seu.

Foto: Arquivo CORREIO

Giannetti chama a atenção para metade dos domicílios do país não ter

saneamento básico

“A reciclagem do lixo e a transformação do lixo em energia é um caminho muito bem-vindo”

A régua para medir a riqueza de um país está errada. Com um pé na con-tramão do consumo e outro na defesa do meio ambiente, o economista Eduardo Giannetti propõe que a felicidade seja um dos indicadores para avaliar a riqueza de um país. Para o PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, que já escreveu um livro sobre o tema, uma renda média de US$ 20 mil, o equivalente a R$ 45 mil por ano (ou R$ 3.750 por mês), é suficiente para assegurar dignidade na medida certa. O diagnóstico foi feito na palestra sobre Economia Verde e a Gestão Responsável para a Sustentabilidade, que abriu o Fórum Agenda Bahia 2013.

“Não há qualquer evidência científica que mostre que o aumento do consumo a partir de um determinado nível de renda se traduza em aumento do bem-estar. Passando de um certo valor per capita, que não é tão alto assim, não há qualquer evidência de que a continuidade do aumento da renda resulte no aumento do bem-estar subjetivo, que nós chamamos de felicidade”, explica.

Em lugar de utilizar o Produto Interno Bruto (PIB), principal medidor do crescimento econômico, Giannetti faz coro aos que defendem uma revisão na métrica. O novo indicador levaria em conta as riquezas naturais, a quali-dade de vida e a prosperidade social.

“O Felicidade Interna Bruta (FIB) é uma tentativa de corrigir esse indicador de aferição do progresso. O que merece ser chamado de progresso? Há outras maneiras de mensurar isso. Será que ter automóvel e passar três horas por dia nessa câmara de estresse e cárcere privado aumenta a feli-cidade humana? Será que ter uma renda maior e perder cinco anos e meio de vida em média melhora? O FIB incorpora esses elementos de mensura-ção que não é apenas a métrica do preço, a métrica monetária”, justifica.

Sobre as críticas à seriedade do modelo tão pouco conservador para calcular a riqueza, Giannetti rebate. “É lógico que é científica. Pouco cientí-fica é essa métrica burra do PIB que você explode uma floresta, vende e o PIB aumenta violentamente”.

A avaliação do histórico dos países mostra que, segundo o economista, a corrida pelo consumo empurrou o crescimento econômico, mas compro-meteu a percepção do que agregaria valor à qualidade de vida. O caminho atual do planeta, segundo Eduardo Giannetti, é similar ao de um fumante diagnosticado com enfisema pulmonar. A urgência em parar a ação auto-destrutiva entra em conflito com o vício pelo consumo.

O preço da felicidade

“Pouco científica é essa métrica burra do PIB que você explode uma floresta, vende e o PIB aumenta violentamente”

228 229

“Só em ar-condicionado, os americanos gastam de energia o equivalen-te ao consumo do continente africano para tudo. E a humanidade aspira alcançar esse valor de conforto. Essa conta não fecha. Se os chineses quiserem ter a mesma intensidade de consumo do que os americanos, vocês podem imaginar”, questiona.

Segundo o economista, um dos principais conselheiros de uma provável campanha da ex-ministra Marina Silva à Presidência da República, o de-sequilíbrio da balança entre dinheiro e bem-estar ao longo dos séculos levou a uma forma incorreta de estimar o desenvolvimento dos países. Um desses erros é o sistema de preços. Para ele, o custo em dinheiro a ser pago por um produto é eficiente para avaliar o gasto de produção, mas incapaz de levar em conta o impacto ambiental desse processo produtivo.

“Eu sou fã do sistema de preços da economia de mercado. Mas é preciso reconhecer a gravidade desse ponto cego que a economia de preços de mercado tem que não consegue registrar o que nós estamos fazendo com o meio ambiente. E é por conta disso que nós entramos nesse caminho”. A solução apontada pelo economista é incluir o preço do carbono queimado na produção. A adoção seria através de legislação, que incluiria o valor em cada produto.

“Nós estamos tratando a atmosfera como se fosse um grande lixão, fazendo uma enorme extravagância. É o que faz a China para crescer”, critica.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu questionou a visão das pessoas sobre felicidade. O resultado mostra que a maior parte das pessoas identifica felicidade com coisas que não estão relacionadas ao consumo. “Elas associaram felicidade à saúde e ao bem-estar de si mesmos e dos próximos, ao convívio social e à qualidade de vida”, relatou o gerente de conteúdo e metodologia do Instituto Akatu, Dalberto Adulis, durante o Fórum. “Só em quarto lugar houve a menção a comprar um produto, ter casa própria, ter um carro. Se os brasileiros já têm isso como valores, a questão é como transformar em realidade”, direcionou.

“O que merece ser chamado de progresso? Será que ter automóvel e passar três horas por dia nessa câmara de estresse e cárcere privado aumenta a felicidade humana?”

Para aqueles que confiam na inovação como salvação para uma catástrofe ambiental, o economista Eduardo Giannetti dá uma má notícia. “A tecno-logia não vai nos tirar dessa encrenca”, acredita. PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, Giannetti afirma que aumentar, por exemplo, a eficiência de produtos como carro e ar-condicionado só irá incentivar ainda mais o consumo. A solução, para Giannetti, passa pela mudança de hábitos, que, segundo o economista, só irá acontecer com um novo sistema de preços.

“Nós vamos ter de mudar seriamente o modo como estipulamos o preço das nossas escolhas ao produzir ou consumir. E cooptar o mercado a tra-balhar a favor e ao lado do meio ambiente”, afirma. Para o economista, o Brasil tem um papel fundamental nessa transição para uma nova economia mundial. “O Brasil, pelo seu patrimônio natural, tem um lugar excepcional no planeta. O mundo precisará cada vez mais do que o Brasil tem a oferecer: alimentos, minerais e energia. Mas, para isso, terá que ter uma gestão muito responsável dos nossos recursos”, alerta.

O economista mostrou que já existe pressão de mercados mais conscien-tes por essa gestão sustentável. Giannetti citou o caso da Nova Zelândia. Dependente da exportação de carne e leite para a Europa, o país se mobili-zou quando alguns supermercados europeus usaram nas etiquetas infor-mações sobre a distância que os produtos neozelandeses levavam para chegar até a gôndola. A ideia, com intenções protecionistas, servia para que o consumidor soubesse o custo ambiental do produto.

Novos valores

Foto: Marina Silva

Eduardo Giannetti: ‘É preciso cooptar o mercado a favor do

meio ambiente’

“O Brasil precisa resolver problemas básicos, como educação, saneamento básico e destinação do lixo, em vez de incentivar o consumo desenfreado”

230 231

“O governo e os empresários neozelandeses fizeram um enorme trabalho para mostrar que, apesar da distância percorrida, o produto deles ainda era menos oneroso ambientalmente do que o produto europeu”. Para o econo-mista, o agronegócio brasileiro também terá que pagar a conta pela manu-tenção da Floresta Amazônica brasileira.

“A emissão de CO2 equivalente no rebanho mundial é maior que toda a frota de automóveis do mundo. Mas isso não está no preço da carne e do leite. Os preços relativos vão ter que mudar, se a gente realmente quiser sair da encrenca”, lembra. A lógica é simples, para Eduardo Giannetti: os produtos com maior impacto ambiental terão que ser mais caros.

“Se você mora perto do seu trabalho, isso não entra na conta do PIB (Produto Interno Bruto). Se você mora longe, pega uma condução, passa horas e horas consumindo combustível preso no trânsito, o que acontece com o PIB? Sobe de novo. Se você precisar de tratamento psiquiátrico porque ficou estressado, o PIB vai subir mais uma vez. A nossa contabili-dade econômica não está no registro adequado do que significa para a vida humana e para nosso bem-estar”, critica.

O economista defende o incentivo de outros valores. “A Bahia, por exemplo, tem ativo extraordinário sobre essa alegria de viver. Por que isso não é melhor aproveitado? Nós precisamos mesmo manter o padrão america-no de consumir ou ter a originalidade de encontrar um caminho nosso?”, questiona, para concluir: “O Brasil precisa resolver problemas básicos, como educação, saneamento básico e destinação do lixo, em vez de incentivar o consumo desenfreado”.

Para Eduardo Giannetti, o Brasil tem pela frente o desafio de resolver duas questões para o seu desenvolvimento sustentável. Uma diz respeito ao nível de exigência que se espera do uso dos recursos ambientais e o que a legis-lação impõe e que deve ser respeitado. Outra é sobre o processo de licen-ciamento responsável por discriminar sobre aquilo que deve ou não ser feito. Giannetti defende que o Brasil não deve flexibilizar no nível de exigência. Pois, segundo o economista, há riscos de se provocar calamidades ambientais. O economista, no entanto, defende que o processo de licenciamento tem de ser mais ágil, mais confiável e dar segurança jurídica, uma vez tomada decisão

Desafios

*Os dois lados da moeda

20%

5,5

2050

foi o aumento de produ-tividade alcançada por agricultores da Costa Rica que plantaram próximo às florestas. Parte do lucro paga uso do ecossistema

anos é a diferença entre quem vive ao norte ou ao sul do rio Huain, na China. Poluição maior é fator de diminuição da média de vida da população

é o ano em que a China terá lançado mais CO2 na atmosfera do que toda a humanidade emitiu da Revolução Industrial até hoje, segundo Giannetti

A meta do governo brasileiro de acabar com os lixões a céu aberto até o ano que vem, imposta pelo chamado Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é apenas o começo de um dos grandes desafios do país no século XXI: agregar valor ao lixo, tornando-o economicamente viável. Para tanto, o Brasil, que ainda utiliza métodos primários na gestão do lixo sólido urbano, precisará se atualizar em tecnologias existentes.

“A utilização de tecnologias mais avançadas é um assunto novo no Brasil. Nós demoramos muito para acompanhar o nível da inovação de Europa, Estados Unidos e Japão”, disse o pesquisador José Fernando Thomé Jucá, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Junto com 62 profissionais divididos em oito núcleos nacionais e inter-nacionais, Jucá é responsável por um projeto de mapeamento e análise das diversas tecnologias de tratamento e destino dos resíduos sólidos no Brasil e no mundo. “Ainda estamos na época dos lixões, enquanto outros países têm dado destinos melhores e mais rentáveis ao lixo. Estamos há algumas décadas atrasados”, diz.

O desafio, para os próximos anos, é atualizar o país, agregando valor ao lixo. “O que se busca hoje é valorizar o resíduo, reciclando para a produção de novos produtos, ou destinando adequadamente materiais com po-tencial de serem combustíveis para outros processos ou produzindo energia elétrica”, diz a professora Viviana Zanta, pesquisadora do Grupo de Resíduos Sólidos da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Hoje, a maioria dos resíduos sólidos urbanos no Brasil é destinada aos aterros sanitários, instalações isoladas utilizadas para o depósito de resíduos. Esse tipo de instalação é situada e monitorada segundo prin-cípios específicos e de modo a minimizar impactos ao meio ambiente e à saúde pública, evitando a contaminação do solo e do ar. Mas especialistas apontam que há outros caminhos para o lixo que hoje é destinado aos aterros sanitários.

Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 32,3 mil toneladas de lixo ainda eram despejadas todos os dias em lixões. A quantia é equivalente a 17,8% de todos os resíduos sólidos urbanos pro-duzidos no país.

De acordo com o mesmo estudo, outras 43,8 mil toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos (24,2%) eram destinadas aos aterros

194 Maracanãs de lixo no lugar errado

Por ano, são destinadas 27,8 milhões de toneladas de lixo para os lixões e aterros controlados. O desafio é, além de proteger o meio ambiente, agregar valor aos resíduos com inovação, seja reciclando ou produzindo energia

Inovação

232 233

controlados. Trocando em miúdos, a cada ano, o Brasil despeja 27,8 milhões de toneladas de lixo sólido em destinos inadequados. Isso seria suficiente para preencher 194 estádios do tamanho do Maracanã.

A maioria do lixo sólido produzido no país era despejada em aterros sani-tários – destino adequado, mas pouco sustentável no sentido do reapro-veitamento do lixo. Aproximadamente 105,1 mil toneladas de lixo por dia (58%) eram levadas, no mesmo ano, para esse tipo de instalação.

VANTAGENS DESVANTAGENS EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA/INOVAÇÃOALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS AOS LIXÕES

Reduz a quantidade de lixo destinada a lixões e aterros, diminui a emissão de gases tóxicos agressivos à camada de ozônio, assim como o consumo de matérias-primas, de energia e de insumos. Além disso, a recuperação via triagem também reduz a poluição.

As despesas operacionais são consideradas altas, as etapas de processamento precisam ser acompanhadas por especialistas. Em geral, seu sucesso depende da existência de coleta seletiva e do reaproveitamento dos materiais por empresas e indústrias

Além de exigir pouca mão de obra técnica especializada, não causa danos ao meio ambiente. Os restos oriundos da compostagem podem ser lançados em aterros sanitários sem causar grandes danos, como a formação de gases tóxicos. Promove o aproveitamento agrícola do lixo

Esse método requer uma separação eficiente de resíduos orgânicos e inorgânicos e o tempo de processamento é longo. A compostagem depende de mercado para revender seus produtos e sempre há sobras a serem lançadas em aterros sanitários. É limitada ao lixo orgânico

Colabora para a maior vida útil dos aterros sanitários, reaproveita a fração orgânica dos aterros – a fração que resulta em mau cheiro e geração de chorume. Além disso, reduz a emissão de gases-estufa, produz biogás (energia e calor) e composto orgânico para utilização na agricultura

Depende de fatores de clima e tempo, além de uma fração orgânica muito grande na composição dos resíduos a serem processados. Além disso, o processo precisa de cautela sob risco de ineficiência e, portanto, é necessária mão de obra técnica especializada para operação da planta

A redução de volume dos resíduos é a principal vantagem da incineração. Isso é muito relevante em locais com baixa disponibilidade de espaço, como o Japão. Quando instaladas próximo às indústrias, unidades de incineração reduzem custos logísticos para transporte do lixo a aterros

As unidades de incineração apresentam um custo elevado para instalação, operação e manutenção. Outra desvantagem é exigir mão de obra qualificada e especializada para garantir a qualidade e atendimento aos padrões de emissões de poluentes

Além de gerar energia, ampliando a autossuficiência energética das indústrias, é uma alternativa para o descarte de resíduos hospitalares, radioativos, materiais corrosivos, pesticidas e explosivos. Reaproveita pneus, resíduos siderúrgicos e de alumínio, plásticos, etc

Os níveis de emissões de gases oriundos do coprocessamento são incertos; não existem parâmetros rigorosos para monitoramento da poluição atmosférica gerada no Brasil. Há uma ausência de normas técnicas para esta tecnologia. Há também efeitos negativos para a saúde

Agregar valor aos resíduos, transformando-os em alternativa energética. Além disso, tem baixa emissão e geração de poluentes, permitindo a obtenção de créditos de carbono para empresas que optarem por essa alternativa e prolonga a vida dos aterros sanitários existentes

Exige quantidade de energia elétrica significativa e tem possibilidade de contaminação por dissipação de metais pesados. Por isso, exige um cuidado especial, com o emprego de mão de obra especializada, no momento de separar os resíduos e controlar a qualidade do combustível produzido

Pode receber resíduos de diversas naturezas e ajuda a recuperar áreas inutilizadas. A operação de aterros não requer pessoal altamente especializado. Os custos de instalação e operação são, em geral, mais baixos do que outras alternativas de tratamento

Há necessidade da utilização de grandes áreas para aterro, geralmente distante dos centros urbanos, o que aumenta os gastos com transporte. A depender do clima e do tempo, pode haver a produção de chorume e gases. O período pós-fechamento do aterro é longo até a estabilização do aterro

Ainda pouco difundido no Brasil, o Tratamento Mecânico-Biológico (MBT) é um método de tratamento de resíduos que combina processos de triagem com tratamento biológico. Através dessa tecnologia, agrega-se valor ao lixo produzindo, de um lado, matéria-prima para reciclagem e reaproveitamento na indústria e, do outro, energia

Unidade de Produção de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR), tecnologia cada vez mais difundida na Europa. O lixo é

triturado para produção do combustível CDR, que é aplicado em fornos de cimento e centrais de energia elétrica das próprias

indústrias que tratam o lixo. Os resíduos passam por até cinco diferentes etapas de processamento

Além do método natural de compostagem, em que os resíduos orgânicos são levados para um pátio onde ocorre a decomposição biológica de forma natural, há hoje métodos acelerados, em que o tempo de decomposição é reduzido. Também já há métodos para a produção simultânea de biogás, utilizado como combustível

Há vários tipos de digestão anaeróbia, classificada em vários tipos. A definição do tipo mais vantajoso, de maior eficiência e com menor impacto ambiental, ainda é alvo de estudos

A produção de energia a partir do lixo incinerado é a maior inovação. O processo, chamado Waste-to-Energy (WTE), que consiste no aproveitamento energético de resíduos que podem ser utilizados para a geração de energia elétrica, de calor e de vapor para indústrias tem sido muito utilizada na Europa nos processos de incineração

A indústria cimenteira do Brasil tornou-se referência internacional no coprocessamento. Isso porque tem empregado a utilização de combustíveis alternativos, muitos de origem orgânica. Resíduos, como bagaço de cana, casca de arroz, casca de coco, restos de madeira, lenha, moinha de carvão vegetal, etc, já têm sido utilizados hoje

Além da separação dos resíduos indesejáveis e da trituração e secagem, etapas essenciais da produção de CDR, algumas plantas já realizam refino, para qualquer nova redução de frações indesejáveis, além de outra etapa, chamada peletização, que busca aumentar a densidade de energia como uma função do transporte ou armazenamento

Já existem hoje aterros sanitários que utilizam a drenagem dos gases gerados nos processos de decomposição anaeróbio (sem oxigênio) dos resíduos para a geração de energia. São os chamados aterros com geração de energia, uma espécie de evolução tecnológica dos aterros tradicionais. As áreas são otimizadas e os custos reduzidos

RECUPERAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (VIA TRIAGEM)É o processo de classificação e redestinação do lixo para ser aproveitado. Engloba a coleta, o transporte, a estocagem ou armazenamento, a triagem (separação) e o tratamento de materiais a partir dos resíduos, objetivando o reemprego, a reutilização ou a reciclage

É o processo biológico de decomposição da matéria orgânica. Resulta em um produto que pode ser aplicado no solo para melhorar suas características, sem ocasionar riscos ao meio ambiente. No contexto brasileiro, a compostagem tem grande importância, já que cerca de 50% dos resíduos são orgânicos

Praticamente inexistente no Brasil, a digestão anaeróbia (DA) é um processo de conversão de matéria orgânica na ausência de oxigênio, produzindo gases como o metano, que servem de combustível. O uso vai desde a geração de energia até fins industriais

A incineração é a queima de materiais em alta temperatura (até 1.200ºC) feita com uma mistura de ar adequada. O objetivo é reduzir o volume do lixo com a utilização simultânea da energia contida. A energia recuperada pode ser utilizada para produção de calor e energia elétrica

Processo indicado para o tratamento de resíduos industriais, líquidos, sólidos e pastosos. Os resíduos são destruídos em altas temperaturas em fornos das indústrias cimenteiras e utilizados como energia alternativa para os fornos, em substituição aos combustíveis fósseis ou matéria-prima

Um dos destinos bem difundidos na Europa para os resíduos sólidos é a trituração para produção de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR), utilizados sobretudo nos fornos de cimento e centrais de energia elétrica. Os resíduos passam por até cinco diferentes etapas de processamento

Destino de resíduos sólidos mais popular no Brasil, os aterros sanitários são uma espécie de instalação para a disposição de resíduos no solo, situada e monitorada segundo princípios específicos e de modo a minimizar impactos ao meio ambiente e à saúde pública. Substituem lixões a céu aberto e aterros controlados

Fonte: entrevista do professor José Fernando Thomé Jucá, membro do núcleo coordenador de pesquisa sobre alternativas tecnológicas para os resíduos sólidos da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco (Fade)

COMPOSTAGEM

DIGESTÃO ANAERÓBIA

INCINERAÇÃO

COPROCESSAMENTO

PRODUÇÃO DE CDR POR TRITURAÇÃO

ATERROS SANITÁRIOS

234 235

“Mesmo levando em consideração a disposição inadequada da maioria dos nossos resíduos em aterros controlados e lixões, a utilização de aterros sanitários não pode ser justificada tecnicamente. Mandamos grande parte do nosso lixo para os aterros sanitários também por falta de conhecimento de alternativas tecnológicas”, afirmou Jucá, da UFPE.

Um claro exemplo do pouco investimento em tecnologias adequadas ao lixo produzido no Brasil é a baixa utilização de métodos como a compos-tagem, alternativa recomendada para os resíduos orgânicos – o lixo de origem vegetal ou animal, como os restos de alimentos, ossos e sementes.

A compostagem é o processo biológico de decomposição da matéria orgânica que resulta na produção ‘ecologicamente correta’. No Brasil, a compostagem tem grande importância, já que cerca de 50% dos resíduos são orgânicos. No entanto, só 1,5 tonelada de lixo por dia, ou 0,8% dos resíduos, eram destinados a unidades de compostagem no país em 2008, segundo dados do IBGE. Os estudos mais recentes nem contabilizam esse tipo de destinação.

O ponto positivo é que o país já realiza pesquisas para a compostagem anaeróbia, que é o processo em um ambiente fechado com a ausência de oxigênio. “Já começamos a fazer experimentos para esse tipo de alterna-tiva em condições de pressão e temperatura controladas, possibilitando a geração de gases como o metano, que produz muita energia”, explicou Jucá.

O país ainda ‘patina’ também em tratamentos destinados a resíduos não orgânicos. Segundo os dados mais recentes do IBGE, apenas 1,4% do nosso lixo urbano sólido é destinado a unidades de triagem para recicla-gem. As unidades de incineração – a queima de materiais em altas tem-peraturas para a diminuição do volume e a produção de calor e energia elétrica – quase não existem no país. Tanto é que, em 2008, menos de 0,1% do lixo urbano era destinado a esse tipo de tratamento.

Enquanto o Brasil tem apostado nos aterros sanitários, países desen-volvidos têm buscado alternativas tecnológicas para tratar seu lixo. Na União Europeia, as tecnologias de tratamento e disposição de resíduos são variadas: a reciclagem, a compostagem, a digestão anaeróbia, o tratamen-to mecânico biológico e a incineração com geração de energia.

“Cada país tem sua particularidade, mas, de maneira geral, o tratamen-to dos resíduos sólidos na Europa sofreu uma mudança de 1995 a 2010. Antes, o aterro sanitário era o tratamento mais comum, mas outras tecno-logias, como a incineração, foram sendo mais empregadas”, explica Jucá.

*Evolução

38% do lixo era destinado em 2010 para Aterros Sanitários nos países da União Europeia. O percentual já foi de 62% em 2005

25% é quanto a União Europeia recicla do seu lixo. O percentual já foi de 10% em 1995

15% é quanto os países europeus destinam para compostagem. Antes, apenas 5%

*Perdas com a reciclagem

R$ 8 bilhões é quanto o Brasil perde todo ano por deixar de reciclar seu lixo, segundo dados de 2010 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

1,4% era o percentual do lixo destinado a unidades de triagem para reciclagem em 2008 (IBGE). No ano passado, o total reci-clado não chegava a 2% (Abrelpe)

Em 2005, os aterros tinham uma participação de 62% na quantidade de resíduos tratados. Essa participação caiu para apenas 38% em 2010. Em contrapartida, a participação da incineração aumentou. Em torno de 13% dos resíduos foram incinerados em 1995 e a participação subiu para 22% em 2010. Por sua vez, a porcentagem de reciclados era de 10% e em 2012 subiu para 25%. Diferente do Brasil, a compostagem também aumentou presença: saiu de 5% para 15%. Países fora da União Europeia ainda exibem índices consideráveis de resíduos em lixões e aterros.

No Estados Unidos, um dos maiores produtores de lixo do mundo, também já há conscientização crescente. “Assim como na Europa e no Japão, a po-pulação dos Estados Unidos já aceitou o conceito da hierarquia em gestão de resíduos sólidos como um meio para disseminar as metas nacionais para o tratamento de resíduos sólidos urbanos”, afirma Jucá.

A hierarquia adequada para o tratamento do lixo é a seguinte: redução de lixo na fonte e reaproveitamento de lixo orgânico em jardins; reciclagem e compostagem fora da fonte do lixo; incineração com geração de energia e descarte final de resíduos em aterros sanitários.

Apesar de ainda estar aquém no uso de tecnologia, especialistas consi-deram que o Brasil tornou-se referência em tipos de tratamento do lixo. “Somos considerados exemplo na indústria de latinhas de alumínio, já que 98% das nossas latinhas são recicladas”, afirma o gerente de conteúdo e metodologia do Instituto Akatu, Dalberto Adulis. Ele ressalta que a inclusão social do catador de latinhas é copiada em outros países.

236 237

Entre as 27 unidades da federação, a Bahia é o oitavo colocado em um ranking nada desejável: o dos que enviam a maior parcela dos resíduos urbanos para os lixões. Em 2012, quase 70% de todo o lixo sólido urbano do estado tinha um destino considerado inadequado: 33,8% desses resíduos iam para os lixões e outros 35,5% para aterros controlados. Os dados são do estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), de 2012. O estudo mostra que a Bahia envia uma proporção maior dos resíduos para lixões do que vizinhos nordestinos como Paraíba (32,2%), Pernambuco (27,2%), Sergipe (25,8%), Ceará (25,2%) e Piauí (23,9%).

Na região, os únicos estados que enviam, proporcionalmente, mais lixo que a Bahia são Alagoas (58%), Rio Grande do Norte (34%) e Maranhão (33,9%). O estado que está mais próximo de extinguir os lixões é São Paulo (8,7%). O destaque negativo é Roraima, com 82,7%. Outro dado preocupante da pesquisa é que a Bahia não evoluiu de 2011 para o ano passado. Em 2011, 33,7% de todos os resíduos eram enviados para os lixões, 0,1 ponto percentual a menos do que no ano passado. A Bahia implantou 35 aterros, sobretudo entre os anos de 2000 e 2006, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Hoje, o maior problema com a gestão do lixo está nos municí-pios pequenos, onde há pouco conhecimento sobre a gestão do lixo. Nas cidades maiores, a situação já está equacionada.

Bahia: 70% dos resíduos em lixões ou aterros controlados

Uma reportagem publicada recentemente no The New York Times chamou a atenção do mundo ao mostrar que Oslo, a capital da Noruega, importa lixo para produzir energia. “Uma parte vem da Inglaterra, outra vem da Irlanda e outra da vizinha Suécia. Ela, inclusive, tem planos para o mercado americano”, relatou a matéria. Metade da capital norueguesa e a maioria das escolas são aquecidas pela queima do lixo - lixo doméstico, resíduos industriais e até resíduos tóxicos e perigosos de hospitais e apre-ensões de drogas.

Diferente do Brasil, que ainda luta para dar um destino adequado para montanhas de lixo, o problema da Noruega é outro: o lixo para queimar já acabou. “O problema não é exclusivo de Oslo. Em toda a Europa seten-trional, a demanda por lixo é muito superior à oferta”, relata a matéria do NYTimes. Por outro lado, outras áreas da Europa que produzem grande quantidade de lixo, como Nápoles, no Sul da Itália, vivem uma crise na coleta de lixo. A cidade hoje paga a municípios de países vizinhos para que aceitem seus resíduos.

Noruega importa lixo para produção de energia

Você já imaginou para onde vai o azeite de dendê da moqueca que você come no fim de semana? Pois bem. Salvador também tem um bom exemplo de reaproveitamento do lixo que pode te ajudar a descobrir. Pesquisadores do Laboratório de Energia e Gás, localizado na Escola Politécnica da Ufba, produzem um tipo de biodiesel chamado B100 a partir de matérias-primas como o azeite de dendê usado em casas e restaurantes.

Além do dendê, os pesquisadores, coordenados pelo professor Ednildo Torres, do Departamento de Engenharia Química, utilizam óleo de cozinha usado, que tem como matéria-prima soja, milho, algodão e cana. Em julho de 2012, o professor e sua equipe fizeram, com sucesso, uma viagem de 15 mil quilômetros de carro, de Salvador ao Peru, utilizando o biodiesel produzido no laboratório. Um dos pleitos dos pesquisadores é a ampliação das plantações de dendê para produzir combustíveis. “Hoje não existe um programa para aumentar a produção de dendê para o biodiesel”, critica Torres.

Azeite de dendê vira biodiesel em laboratório da Ufba

238 239

Dois anos após a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em agosto de 2010, estados e municípios ainda buscam formas de aplicação da lei que determina uma série de mudanças no manejo do lixo e do produto final após o consumo. Pelo texto, que demorou 20 anos para ser aprovado por deputados e senadores, empresas e prefeituras poderão ser punidas caso não respeitem o descarte correto do lixo. Os moradores das cidades também terão responsabilidades com a nova lei.

Em entrevista ao jornal Correio, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que o grande desafio dos novos prefeitos baianos é acabar com os lixões. Na Bahia, existem pelo menos 359 lixões a céu aberto encontrados nos 240 municípios pesquisados pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). O estado conta apenas com 57 aterros sanitários, aponta ainda o estudo. O prazo determinado pela PNRS para o fim dos lixões termina em 2014, mas até agora 90% das prefeituras do estado ainda não entregaram nem o plano de gestão dos resíduos sólidos - o prazo era agosto de 2012. Por conta disso, não podem receber verba da União para manejo e administração do lixo.

Produtos como embalagens de agrotóxicos, lâmpadas, pilhas, baterias e eletrônicos não poderão ser descartados como lixos comuns. Pela regra, conhecida como Logística Reversa, após o consumo, os vendedores e distribuidores deverão estabelecer pontos de coleta para devolução aos fabricantes. O destino desses produtos não poderá ser mais os lixões. Em seus lugares, precisam ser criados aterros sanitários, que reduzem o impacto dos resíduos sólidos no meio ambiente.

Participante ativa das discussões que levaram à aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a ministra Izabella Teixeira disse que o governo federal investiu R$ 57 milhões, entre 2011 e 2012, para que municípios elaborassem seus planos de gestão dos resíduos. “Os gestores estaduais e municipais, em sua maioria, já adotam práticas que buscam

Consumidores mais conscientes Entrevista com Izabella Teixeira

Foto: Divulgação

Para ministra Izabella Teixeira, os prefeitos terão grande desafio em 2014

“É fundamental potencializar a coleta seletiva, visando a separação dos resíduos e aumento da reciclagem”

a preservação do meio ambiente nas atividades de gestão. Então, a PNRS veio para estimular o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos”, disse a ministra.

A ministra aposta na conscientização dos consumidores e na coleta seletiva para acelerar o cumprimento das metas de gestão correta dos resíduos.

A que a senhora credita a demora na aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos? A demora ocorreu por conta de uma série de emendas recebidas ao longo dos anos e da falta de consenso entre representantes dos setores público e privado, por se tratar de um tema importante e complexo ao mesmo tempo.

Qual o principal marco da PNRS? Quais mudanças a nova lei provoca no entendimento sobre o manejo dos resíduos sólidos? A PNRS instituiu alguns marcos importantes, o principal deles é a Responsabilidade Compartilhada pelo Ciclo de Vida dos Produtos. Antes da lei, produtores, importadores, distribuidores e comerciantes pensavam que sua respectiva responsabilidade terminava no momento da venda do produto ao consumidor, passando essa responsabilidade para o município, no momento seguinte. Mas, com a lei, a responsabilidade deve ser dividida entre todos. Nós consumidores temos a nossa responsabilidade também, e temos que fazer a nossa parte. Além desse marco, é fundamental potencializar a coleta seletiva, visando a separação dos resíduos e aumento da reciclagem no país. Há necessidade de fazer a disposição final adequada dos rejeitos em aterros sanitários e ainda incluir catadores de materiais recicláveis e promover ações de Educação Ambiental para reduzir a geração de resíduos e incentivar o consumo sustentável.

O governo apoiou os municípios, inclusive com investimentos, a elaborar planos municipais de resíduos. Quanto o governo federal já investiu e de que forma tem sido o acompanhamento nos estados e municípios? O governo federal, por intermédio do Ministério do Meio Ambiente, investiu R$ 57 milhões, entre 2011 e 2012, para apoio à elaboração de planos, através de contrato de repasse para a Caixa Econômica Federal. A área técnica do Ministério do Meio Ambiente que atua nessa área também tem acompanhado a elaboração dos planos e ajudado os municípios a sanar dúvidas sobre o processo. Outros ministérios também dispõem de recursos para investimento na área.

Muitos municípios extrapolaram o prazo de elaboração de um plano, que era até agosto de 2012. A que a senhora atribui o atraso? A lei estabeleceu agosto de 2012 como prazo para elaboração dos planos e com isso ter acesso aos recursos da União. A maioria dos estados e uma quantidade expressiva de municípios estão elaborando os seus planos,

240 241

um instrumento essencial ao planejamento. No estado da Bahia, 60% dos municípios estão com os seus planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos em elaboração.

A questão ambiental ainda permanece de alguma forma dissociada das gestões estaduais e municipais? A implantação da PNRS seria uma forma de forçá-los a integrar essas questões em seus planos de governo? Os gestores estaduais e municipais, em sua maioria, já adotam práticas que buscam a preservação do meio ambiente nas atividades de gestão. Então, a PNRS veio para estimular o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Isto porque a lei prevê a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, a prevenção e a redução na geração de resíduos. A proposta é colocar em prática hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). A nova lei prevê ainda a adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais, a redução do volume e da periculosidade de resíduos e também a gestão integrada de resíduos sólidos.

Qual o principal desafio dos prefeitos eleitos em 2013 no cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos? Sem dúvida, acabar com os lixões até 2014. Instalar os novos aterros

Aterro de Canabrava funcionou como lixão a

céu aberto e depósito de resíduos sólidos

entre 1973 e 1992Foto: Welton Araújo/

Arquivo Correio

“A lei prevê a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, a prevenção e a redução na geração de resíduos”

sanitários para o recebimento apenas de rejeitos é um grande desafio. Mas estamos todos trabalhando e empenhando esforços para alcançar essa meta.

Um dos focos da PNRS é a logística reversa, que responsabiliza quem produz o resíduo, obrigando distribuidores, produtores e importadores a darem uma destinação final adequada, envolvendo escalas de reaproveitamento que incluem os catadores. Como funcionam as cadeias dessa logística? De que forma isso é um avanço na escala macro dos resíduos sólidos? A logística reversa poderá ser implantada através de acordos setoriais, regulamentos ou termos de compromisso assinados entre o poder público e as cadeias produtivas, que se comprometem, por meio de prazos e metas, a trazer de volta os produtos e embalagens do pós uso, tratá-los e reintroduzi-los no ciclo produtivo. A proposta é que, com o avanço da PNRS e através dos acordos setoriais, termos ou compromissos, haja uma expansão da quantidade de embalagens recolhidas, triadas (sempre que possível, incorporando o trabalho dos catadores) e recicladas. Assim, essas voltariam à cadeia na forma de outros produtos, ou seja, diminuindo-se o impacto da extração de matéria-prima e evitando-se o lançamento de tais embalagens com resíduos altamente tóxicos em lixões. Isso vai permitir que o Brasil economize recursos financeiros e ambientais, tais como matérias-primas, energia e água.

De que forma municípios, estados e o governo federal podem estimular pequenas estratégias para destinação dos resíduos sólidos? Os gestores públicos podem e devem estimular a participação social, respeitando a competência legal de cada setor da sociedade. O estímulo pode ser dado a partir de campanhas de conscientização, implantação da coleta seletiva no município, com a participação de catadores, e ações de educação ambiental com as escolas e os moradores. Também a Conferência Nacional

O Aterro Sanitário Metropolitano recebe

os resíduos sólidos de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho

Foto: Carol Garcia/SECOM

“A Logística Reversa vai permitir que o Brasil economize recursos financeiros e ambientais, tais como matérias-primas, energia e água”

242 243

de Meio Ambiente, que tem etapas municipais, estaduais e livres, tem como tema os Resíduos Sólidos e discutirá impactos da política, geração de emprego e renda, produção e consumo sustentável e educação ambiental. Então, municípios e estados devem incentivar que gestores e moradores participem das discussões das conferências.

A PNRS proíbe as moradias no entorno das áreas de destinação dos rejeitos. Como será conduzida a questão social de moradores que, eventualmente, venham a morar perto dessas áreas? A PNRS estabelece que a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos deve ser em aterros sanitários. Os aterros sanitários, uma obra de engenharia para operacionalização, fazem o controle de acesso de pessoas, entre outras funções. E o processo de licenciamento do aterro sanitário deve atender a algumas condicionantes, dentre elas, o afastamento mínimo das residências exigido pelos órgãos de meio ambiente.

Como os catadores se beneficiam da PNRS? Os catadores são os responsáveis por grande parte da reciclagem hoje existente no Brasil. Com a PNRS eles têm incentivos para trabalhar organizados em cooperativas ou associações, de modo seguro e salubre e com a correspondente remuneração pela atividade. Vale mencionar que a remuneração média de um catador que atua de modo individual ou isolado não chega a um salário mínimo. Enquanto que para catadores organizados em cooperativas e contratados pelos municípios ou pelo setor privado a remuneração pode chegar a R$ 2.500.

“No estado da Bahia, 60% dos municípios estão com os seus planos de gestão de resíduos sólidos em elaboração”

O turista que passa as férias na Península de Maraú, no Baixo Sul do estado, mal imagina. Mas ele divide belas paisagens que misturam manguezais, lagos, rios, cachoeiras e praias paradisíacas com urubus, abutres e porcos. E com uma imensidão de lixo a céu aberto. Lixo a perder de vista.

Na alta estação, pelo menos nove toneladas de lixo sem tratamento são despejadas a céu aberto todos os dias em um lixão que fica na península. O depósito de lixo, que não para de crescer e está numa Área de Proteção Ambiental (APA), hoje tem aproximadamente 40 toneladas de resíduos sólidos acumulados.

Tudo isso a apenas 12 metros do Rio Tabatinga, um afluente do Rio Maraú que deságua em praias conhecidas da região, como Taipu de Dentro e Campinhos. O lixão fica em um esburacado trecho da BR-030, estrada que liga Maraú à praia de Barra Grande e de toda a extensão da península. Hoje, o local serve de moradia para catadores de lixo e é fonte de alimento para porcos e urubus.

O chorume do lixão já contamina parte do paraíso oferecido aos turistas. “Esse chorume já vem sendo jogado no rio, poluindo os lençóis freáticos da península”, admitiu o secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge Robson. Hoje, apenas a cidade-sede de Maraú, que tem um lixão próprio e fica mais

Lixão no paraíso

Foto: Victor Longo

Localizado na estrada entre a cidade-sede de Maraú e a praia de Barra Grande, lixão da Península de Maraú tem 40 mil quilos de lixo acumulado e fica próximo de rio da região

244 245

próxima ao continente, possui saneamento básico. As outras nove locali-dades da área, que produzem resíduos despejados no lixão da península, nem sequer possuem água encanada. “A população ainda bebe água de poços”, diz.

Situação semelhante vive a paradisíaca Ilha de Boipeba, que pertence ao município de Cairu, no arquipélago de Tinharé. A limpeza dos locais mais visitados por turistas chama a atenção, mas a realidade é bem diferente a cerca de um quilômetro e meio do centro da vila de Velha Boipeba, a principal da ilha.

Todo o lixo produzido pelas quatro localidades da ilha - Velha Boipeba, Moreré, Cova da Onça e Monte Alegre - é diariamente recolhido por um trator da prefeitura e despejado em um lixão a céu aberto localizado no ponto mais alto da ilha. No lugar, é possível encontrar de tudo - de garrafi-nhas plásticas a móveis e eletrodomésticos, como geladeiras e fogões.

Uma montanha de lixo já se forma em frente a um córrego localizado no topo da ilha, onde vivem animais de várias espécies. “Até jacarés já foram vistos por lá”, conta a presidente da Associação de Amigos e Moradores de Boipeba (Amabo), Jussa Vasconcelos. Segundo ela, o córrego deságua no Rio Ipiranga, cujos afluentes desembocam em praias da ilha. Como o lixão fica no alto da ilha, os ambientalistas da região acreditam que parte do lençol freático do local também esteja contaminada. Sem saneamento, boa parte dos 4 mil habitantes da ilha ainda bebe água de poços.

Algumas iniciativas de educação ambiental e coleta seletiva de lixo com cooperativas de catadores já são realizadas em Boipeba, com o apoio de

Foto: Bahiatursa

Turistas procuram a Península de Maraú pela beleza natural

da região, uma das mais bonitas da Bahia

organizações não-governamentais, como a Pró-Mar. Individualmente, pousadas também reaproveitam o lixo orgânico para produzir adubo para plantações. Mas a maior parte dos resíduos acaba sendo destinada ao lixão, o que desestimula a população a selecionar o lixo.

Hoje, o problema dos lixões acomete cada uma das três ilhas que compõem o arquipélago de Tinharé (Boipeba, Cairu e Tinharé - onde se localiza o Morro de São Paulo). Para resolver a questão, a prefeitura de Cairu pretende ampliar as iniciativas já existentes. “Queremos implementar a coleta seletiva em toda a extensão das três ilhas, produzir adubo com o lixo orgânico e revender parte do lixo para as indústrias”, disse o prefeito de Cairu, Fernando Antônio (PMDB).

O prefeito pretende começar por Morro de São Paulo, que recebe mais turistas e produz um maior volume de lixo. “Em seis meses, pretendemos reduzir 40% do lixão de lá, que será extinto em um ano”, prometeu. No entanto, as ilhas de Boipeba e Cairu não deverão cumprir o prazo estabele-cido pelo governo federal, na sua Política Nacional de Resíduos Sólidos, de acabar com todos os lixões do país em 2014. “A situação de Boipeba e de Cairu será resolvida em cerca de dois anos”, previu.

Em Maraú, algumas iniciativas também já estão sendo realizadas. Desde março deste ano, a prefeitura começou a implementar um plano de educação ambiental e de coleta seletiva em parceria com a sociedade civil. Cerca de 40% dos resíduos despejados diariamente no lixão da península já estão sendo selecionados por catadores e vendidos em Itabuna para rea-proveitamento de indústrias.

Cerca de dez catadores moram em barracos montados no entorno do lixão da Península de Maraú. Ganham R$ 500 por mês para separar o lixo vendido. “Isso ainda é muito pouco, mas espero que, no futuro, quando tudo se organizar melhor, a gente possa ganhar mais”, disse um deles, José Júnior, de 22 anos.

“Esse chorume que sai do lixão já vem sendo jogado no Rio Tabatinga, poluindo os lençóis freáticos da península”JORGE ROBSON, secretário do Meio Ambiente de Maraú

Outros municípios baianos com forte vocação turística também vivem situação parecida. É o caso de Lençóis, na Chapada Diamantina, onde um enorme lixão localizado em uma das vias de acesso à cidade põe em risco o meio ambiente. A cidade é conhecida por suas belas paisagens, trilhas e cachoeiras

Chapada Diamantina

246 247

Foto: Victor Longo

No lixão de Boipeba, no topo da ilha, é possível encontrar

de tudo: desde objetos menores a geladeiras

Foto: Divulgação

A ilha de Boipeba foi eleita a segunda melhor ilha da

América do Sul pelo site TripAdvisor

O município de Maraú vai aproveitar o interesse de um grupo português em instalar um novo complexo hoteleiro na península nos próximos anos para colocar em prática ações previstas no Plano de Gestão Integrada dos Recursos Sólidos, que está a cargo da Conder e faz parte do projeto nacional de acabar com os lixões do país. “Denominado Espaço 21, esse empreendimento gerará emprego e renda para a região, mas, por outro lado, será o maior produtor de lixo da península”, calcula o secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge Robson.

Em compensação, o município exigiu uma contrapartida do grupo Américo Amorim, responsável pelo empreendimento, para solucionar o problema do lixão: a construção de uma usina de tratamento de resíduos sólidos. “A empresa já se comprometeu a financiar a construção da usina, que ficará pronta até 2015, junto com a infraestrutura de saneamento básico da pe-nínsula”, afirmou Robson.

O secretário acrescentou, no entanto, que a prefeitura ainda aguarda a apresentação de um projeto final por parte da empresa. Na usina idealiza-da, todo o lixo captado em coleta seletiva na península será tratado, pro-cessado e revendido às indústrias.

O complexo hoteleiro incluirá um resort, quatro hotéis (voltados res-pectivamente para as classes A, B, C e D), além de cinco vilas de con-domínios. Com um investimento previsto de US$ 678 milhões (cerca R$ 1,5 bilhão), o Espaço 21 deverá gerar 1,7 mil empregos na região. As obras do complexo serão iniciadas em janeiro de 2014 e ficarão prontas em 11 anos. A ideia da usina surgiu porque a avaliação da Conder sobre a questão do lixo na ilha descartou a possibilidade da implantação de aterro sanitário no local.

Novo complexo hoteleiro construirá usina

248 249

Após reportagem publicada pelo jornal Correio, para série do Fórum Agenda Bahia, denunciando a existência de grandes lixões no município de Cairu, a prefeitura do município, que inclui ilhas turísticas como Boipeba e Morro de São Paulo, iniciou a recuperação desses lugares. A informação é da superin-tendente de Meio Ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do município, Fabiana Pacheco. “A gente começou a fazer a remediação do lixão de Boipeba depois da reportagem”, contou a gestora.

Em setembro de 2013, a prefeitura recebeu um plano de gestão dos resíduos sólidos de 400 páginas que prevê o fim dos lixões em Boipeba e em Morro de São Paulo e o transporte, por via marítima, de todo o lixo produzido nessas duas ilhas para Cairu, outra ilha que é sede do município e fica mais próximo do continente.

A previsão é que, em dezembro de 2014, os lixões tenham sido extintos e um aterro sanitário construído no lugar do lixão de Cairu Sede, como é chamada a ilha de Cairu. No entanto, o novo plano não calcula o investimento necessá-rio e a prefeitura ainda não sabe de onde virão os recursos. “Estamos lendo o plano com atenção, porque é muito extenso, e estudando se vamos pedir os recursos ao Ministério do Meio Ambiente, ou a qual fonte”, explicou a superintendente.

A partir de janeiro, a prefeitura também pretende formalizar as cooperativas de catadores existentes nas ilhas e ampliar as ações de educação ambiental. “Ainda não estamos na situação ideal, mas começamos com a remediação, e vamos caminhando para terminar 2014 da melhor forma possível”, assumiu Pacheco.

A reportagem foi publicada em 17 de setembro de 2013, com o título Lixão no Paraíso, e mostrava a situação de outras cidades turísticas baianas, como Barra Grande. Todo o lixo produzido pelas quatro localidades de Boipeba - Velha Boipeba, Moreré, Cova da Onça e Monte Alegre - é jogado em um lixão a céu aberto. Tem de tudo: de garrafinhas plásticas a geladeiras e fogões.

Novos planos para BoipebaO município de Valença, no Recôncavo, começou a construir um aterro sa-nitário, há cerca de quatro anos, com o qual já gastou R$ 2 milhões. A obra, no entanto, teve que ser paralisada porque o aterro fica próximo ao aero-porto do município e estima-se que a presença de animais como urubus pode interferir nos voos. “A questão está sendo analisada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mas, enquanto isso não se resolve, estou de mãos atadas”, afirmou a prefeita Jucélia Sousa do Nascimento (PTN). O lixo é depositado em lixão da cidade. “É um grande problema, porque muita gente passa por ele todo dia, o que pode causar problemas de saúde”, afirmou a prefeita.

Aeroporto para obra de aterro em Valença

250 251

O prazo para os prefeitos de todo o Brasil acabarem com os lixões e tomarem outras providências relacionadas à gestão do lixo produzido nos municípios que governam está logo ali. Por determinação da Lei Nacional de Resíduos Sólidos (nº 12.305/2010), de autoria do Ministério do Meio Ambiente, os gestores municipais devem elaborar, até 2 de agosto de 2014, um plano de gestão integrada dos resíduos sólidos, focado no fim dos lixões e construção de aterros sanitários, além de implantar a coleta seletiva e promover a educação ambiental. A nova lei prevê ainda aos municípios regular o setor produtivo quanto ao manejo e disposição final dos resíduos e promover a inclusão social dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

No entanto, a realidade dos municípios baianos e depoimentos de prefeitos entrevistados pelo jornal Correio mostram que, dificilmente, as determina-ções da lei serão cumpridas dentro do prazo, o que pode acabar complicando a vida dos gestores. É o que afirma a promotora de Justiça e coordenadora da Câmara Temática de Saneamento do Ministério Público do Estado da Bahia (MPE-BA), Karinny Guedes. “Após o prazo, os prefeitos poderão ser responsabilizados judicialmente, inclusive, por prática do crime. O desejável é que (os prefeitos) se conscientizem não só das imposições legais, como também das nefastas consequências aos munícipes da existência dos fami-gerados lixões”, afirmou.

Caso de prisão

Gestor negligente com a nova lei dos resíduos sólidos pode pagar multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões e até ser preso

Rigor

A promotora lembrou que a legislação atual prevê duras sanções aos gestores negligentes. “A Lei n° 12.305/2010, o Decreto nº 7.404/2010 e a Lei nº 9.605/98 preveem sanções como multa e prisão para os gestores municipais que descumprirem a legislação atual. Mas a aplicação de tais penalidades depende da constatação de que a omissão do gestor é injusti-ficada”, adianta. De acordo com Karinny Guedes, as multas variam de R$ 5 mil a R$ 50 milhões e a pena de prisão prevista para o crime é de um a cinco anos de reclusão.

A realidade baiana é bem distante da situação ideal desenhada pela lei. Apesar de ter sido sancionada em 2010, segundo dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur), cerca de 80% dos municí-pios do estado ainda têm como disposição final os vazadouros a céu aberto, como são tecnicamente chamados os lixões, ou os aterros controlados, espécie de intermediário entre os lixões e aterros sanitários, considerados inadequados para dispor os resíduos por serem lesivos ao meio ambiente e ao solo.

É o caso, por exemplo, do município de Seabra, na Chapada Diamantina. Todos os dias, sete caminhões lotados despejam resíduos em um lixão que já existe há cerca de 20 anos, localizado às margens da BR-242, a cerca de 3km do município. O prefeito José Luiz Maciel Rocha (PSB), que está no segundo mandato, admitiu já ter perdido a conta da quantidade de lixo jogado no local. “Não sei quanto é, mas é muita coisa. Tem muito tempo que se joga tudo ali”, disse.

ATERRO SANITÁRIO

SITUAÇÃO ATUAL Município possui um antigo lixão localizado na saída da cidade via BA-046, a 8 km da cidade. Afundada em dívidas da ordem de R$ 27 milhões, prefeitura diz não tercomo construir um aterroPLANOS PARA O FUTURO Prefeitura prepara plano para março de 2014 para acabar com o lixão e levar os resíduos da cidade para município vizinho, enquanto não constroi aterro apropriado. OUTROS PONTOS Secretaria de Educação do município realiza ações de educação ambiental, mas prefeitura pretende ampliá-las. As 16 famílias que vivem no lixão devem ser organizadas em cooperativas de catadores. Por enquanto, não existe associação desse tipoNÚMEROS Volume de resíduos coletados e despejados no lixão não foi fornecido

SITUAÇÃO ATUAL M i í i i i li ã l li d

AMARGOSASITUAÇÃO ATUAL Município possui aterro, mas prefeitura admite que lixo foi disposto aleatoriamente e não recebeu tratamento adequadoPLANOS PARA O FUTURO Prefeitura começou a fazer a remediação do aterro e quer montar usina de triagem, onde resíduos serão selecionados para reaproveitamento ou queimados (incineração). Prefeitura não forneceu prazosOUTROS PONTOS Município prevê implantar coleta seletiva e ações de educação ambiental nas escolas, nas ruas e na mídia. Mas dívida de R$ 280 milhões atrapalha planos da atual administração. Empresas agrícolas já fazem reaproveitamento de embalagensNÚMEROS Prefeitura não informou total de lixo produzido, coletado e despejado no aterro

SITUAÇÃO ATUAL M i í i i t f it

BARREIRASSITUAÇÃO ATUAL Município com forte vocação turística, Itacaré possui um grande lixão localizado às margens da BA 001, estrada que liga o município à capital, via Bom DespachoPLANOS PARA O FUTURO Proposta é desativar lixão, recuperar área e implantar uma central de tratamento de resíduos sólidosOUTROS PONTOS A proposta é fazer aterro coletivo com outras prefeituras e criar um plano para a cidade com coleta seletiva, triagem, reaproveitamento e compostagem. Educação Ambiental será incluída no currículo escolarNÚMEROS Em dias comuns, 20 toneladas de lixo são despejados por dia no lixão da BA-001. Na alta estação, a produção do lixo é três vezes maior: 60 ton/dia

SITUAÇÃO ATUAL M i í i f t ã t í ti It é i d li ã

ITACARÉSITUAÇÃO ATUAL Em 2012, prefeitura ‘remediou’ um lixão de 20 anos, transformando-o em um aterro sanitário com dois grandes silos. Um deles ainda está vazio e o outro está 30% cheioPLANOS PARA O FUTURO A proposta é construir novo aterro, financiado pela Codevasf, com capacidade para captar o gás liberado pelo lixo e transformá-lo em energia. Início das obras: 2015OUTROS PONTOS Existem ações de educação ambiental nas comunidades e capacitação de professores. Cidade tem uma cooperativa de catadores e empresas agrícolas fazem reaproveitamento de embalagens NÚMEROS 300 a 500 toneladas de resíduos sólidos são coletados por mês. Coleta já ocorre em todo o município, mas ainda não é seletiva

SITUAÇÃO ATUAL E 2012

JUAZEIRO

“A realidade dos municípios é bem parecida, todos têm lixão e nenhum tem dinheiro para construir um aterro próprio”MOEBA REBOUÇAS, prefeita de Lençóis

252 253

Com dívidas com o INSS da ordem de R$ 20 milhões, o prefeito afirmou ter dificuldades para implantar a coleta seletiva. “Estamos fazendo todos os esforços para tentar cumprir os prazos. Mas, além do prefeito, tem que ter a parte de consciência da população. Por isso pretendemos começar pela educação ambiental”, explicou.

Também na Chapada Diamantina, outro município que enfrenta dificulda-des para resolver o problema do lixão é Lençóis, conhecido pela vocação turística e pelas belas paisagens. O lixão fica a 8 km do centro do município, na BA-850, rodovia estadual que liga a cidade à BR-242. Sem recursos, a prefeitura aposta em encontrar solução conjunta entre os municípios do chamado Consórcio Chapada Forte.

“A realidade dos municípios é bem parecida, todos têm lixão e nenhum tem dinheiro para construir um aterro próprio”, afirmou a prefeita Moema Rebouças (PSD). O plano que está sendo elaborado para a cidade prevê a implantação de uma fábrica de reciclagem. Sobre as possíveis punições, a prefeita afirmou que se preocupa, mas que está fazendo o possível para cumprir os prazos: “É de interesse de todos nós”.

Em Serrinha, no Centro Norte do estado, o prefeito Osnir Cardoso Araújo (PT) demonstrou preocupação com os prazos estabelecidos pela lei, afir-mando que “fogem à realidade” dos municípios baianos. “Acabo perceben-do dois erros na burocracia brasileira. Deputados, por pressões externas,

acabam fazendo leis que municípios não aguentam. O outro erro é que há muito controle externo, o que acaba engessando a administração” criticou. “Ainda bem que a lei prevê isso, que é importante para o meio ambiente, mas não vejo como uma solução buscar punir os prefeitos em vez de abrir um debate mais franco”, questionou.

Para conseguir cumprir o prazo, o prefeito aposta em duas frentes: na apro-vação de uma lei, em tramitação na Câmara dos Vereadores, punindo quem jogar lixo nas ruas e despejar os resíduos em lugares inadequados, e na construção de um aterro regional.

O prefeito de Barreiras, Antônio Henrique de Souza Moreira (PP), questiona o prazo da Lei Nacional de Resíduos Sólidos. “Eles vão ter que dar mais um prazo. Isso tem que ser feito, não resta dúvida, mas estou achando o tempo muito curto”, disse. “Eu não conheço sequer um município, dos 417 da Bahia, que trate seu lixo como deveria”, afirmou.

Em Itacaré, a falta de recursos também acomete o município sulista. O prefeito Jarbas Barros (PSB) não divulgou a situação das contas do municí-pio, mas limitou-se a informar que precisa regularizar a situação no Cadastro da União de Municípios Inadimplentes (Cauc). Segundo ele, a falta de in-formações prestadas pela gestão anterior levou o município ao cadastro, emperrando o repasse de recursos do governo federal. “A situação já deve ser regularizada nos próximos meses”, disse.

SITUAÇÃO ATUAL Município possui lixão de 20 anos, localizado a 3km do centro, na BR-242, que liga o Oeste do estado à capital. Estima-se que lençol freático já tenha sido contaminadoPLANOS PARA O FUTURO: Plano de gestão foi aprovado na Câmara Municipal e está no Ministério Público. Prevê construção de aterroOUTROS PONTOS Também prevê implantação da coleta seletiva, com a inclusão de catadores, assim como a construção de uma unidade de triagem NÚMEROS Prefeito José Luiz Rocha afirmou ‘não ter ideia’ da quantidade de lixo acumulado no lixão. Cerca de 35 toneladas são depositadas mensalmente no local

SEABRASITUAÇÃO ATUAL Lixão fica próximo de residências e a alguns metros de escola. Prefeito afirma não ter condições de bancar aterro próprioPLANOS PARA O FUTURO Prefeitura articula com outros 18 municípios da região sisaleira uma solução conjunta, mas ainda não há plano concretoOUTROS PONTOS Não há coleta seletiva no município e empresas não reaproveitam resíduos produzidos. Existe apenas uma cooperativa de catadores na cidadeNÚMEROS 35 toneladas de resíduos sólidos são depositadas diariamente no lixão de Serrinha. Esse é o lixo produzido por 50 mil habitantes. Outros 30 mil não têm acesso à coleta

SITUAÇÃO ATUAL Li ã fi

SERRINHASITUAÇÃO ATUAL Município, que é um arquipé-lago, possui três lixões, um em cada uma das principais ilhas. Lixões de Boipeba e Morro de São Paulo começaram a ser remediados há alguns meses. Prefeitura criou plano para gerir resíduos, mas ainda não tem recursos para implantá-loPLANOS PARA O FUTURO Ideia é acabar até 2014 com os lixões de Boipeba e Morro de São Paulo e transformar o lixão da Ilha de Cairu (Cairu Sede) em um aterro sanitárioOUTROS PONTOS Alunos de escolas municipais já possuem aula específicas de educação ambiental. Prefeitura planeja ampliar ações na área. A coleta seletiva deve começar no início de 2014. A ideia é formalizar cooperativa de catadores e aproveitar iniciativas pontuais existentesNÚMEROS Nas três ilhas, são geradas, em média, 26 toneladas de resíduos sólidos por dia. No entanto, a coleta só dá conta de 16,65 toneladas diárias

SITUAÇÃO ATUAL M i í i é i é

CAIRUSITUAÇÃO ATUAL Lençóis, município da Chapada Diamantina conhecido pela sua vocação para o turismo, enfrenta dificuldades para resolver o problema do lixão, que fica a 8 km do centro. Sem recur-sos, a prefeitura está elaborando um plano de gestão dos resíduos específicoPLANOS PARA O FUTURO Prefeita aposta em solução conjunta entre as cidades do chamado Consórcio Chapada Forte – ao todo, são 10 municípios. No entanto, não há prazos estabelecidosOUTROS PONTOS: Lençóis já possui ações de coleta seletiva individualizada em alguns hotéis e pousadas da cidade e as ações de educação ambiental já ocorrem em todo o municípioNÚMEROS Prefeitura não forneceu números sobre volume de resíduos coletados e despejados no lixão

Ã

LENÇÓISSITUAÇÃO ATUAL O lixão tem 15 anos e está localizado na zona rural do município PLANOS PARA O FUTURO Prefeitura realiza processo licitatório para contratar uma empresa privada interessada em fazer o plano de saneamento ambiental e resíduos sólidos. A ideia é mobilizar municípios vizinhos para a construção de um aterro regionalOUTROS PONTOS Uma das ideias do prefeito é instituir a figura do “agente ambiental”. Ao todo, 500 agentes receberão uma bolsa de meio salário mínimo para fazer a coleta seletiva de resíduos sólidos nas residências e no comércio. Ao fim da gestão, previsão é que mil agentes ambientais estejam em atividade NÚMEROS De 120 a 130 toneladas de resíduos são despejadas, por dia, no lixão da BR-415

Ã

ITABUNASITUAÇÃO ATUAL Município possui um lixão na entrada do distrito de Orobó. Gestão anterior já gastou R$ 2 milhões na construção de um aterro sanitário, mas a obra foi paralisada por estar próxima ao aeroporto da cidadePLANOS PARA O FUTURO Para decidir impasse - se mantém obra ou constroi novo aterro - prefeitura aguarda resposta da Anac sobre impacto nos voos, devido à presença de urubus. Plano de resíduos trava nesse aspectoOUTROS PONTOS No plano em construção, prefeitura quer intensificar ação ambiental e somente em seguida implantar coleta seletiva. Conversas com comerciantes sobre lixo estão em cursoNÚMEROS Dados sobre volume de resíduos coletados e despejados no lixão não foram fornecidos

SITUAÇÃO ATUAL M i í i i li ã d d

VALENÇA

254 255

Municípios como Juazeiro, no Norte do Estado, e Barreiras, no Oeste, já possuem aterros sanitários, mas ainda lutam para melhorar as condições de gestão dos resíduos sólidos com a implantação de ações de coleta e educação ambiental, por exemplo.

No ano passado, o prefeito de Juazeiro, Isaac Cavalcanti (PCdoB), conse-guiu verba do governo federal para fazer a remediação do lixão, que existe há 20 anos.

O lixão ficava na estrada para a Ilha do Rodeadouro, a cerca de 15 km do município. A ilha é uma das mais frequentadas do Rio São Francisco e possui vocação turística. Cavalcanti também garantiu recursos para cons-truir um novo e moderno aterro sanitário, com capacidade para produzir energia.

O prefeito de Barreiras, Antônio Henrique de Souza Moreira (PP), admite que o aterro sanitário não foi tratado como deveria e agora está sendo recuperado. Na cidade, disposição de contêineres em alguns bairros da cidade evita que sacos com lixo fiquem espalhados pelas ruas.

Municípios com aterro sanitário investem em outras ações

Municípios do Sul da Bahia, como Itabuna e Itacaré, também apostam no modelo de consórcio regional para dar fim aos seus lixões. Mas ainda não há definição onde será instalado o aterro sanitário comum às cidades. O prefeito de Itacaré, Jarbas Barros (PSB), quer recuperar a área que recebe os resíduos do município. “A nossa ideia é fazer uma central de referência no tratamento dos resíduos sólidos e tornar isso uma atração turística”, aposta.

Em Itabuna, há um lixão que já perdura há pelo menos 15 anos, próximo ao distrito de Ferradas. De acordo com o prefeito Claudevane Moreira Leite, conhecido como Vane do Renascer, a prefeitura realiza processo licitatório para contratar uma empresa privada para elaborar o plano de saneamento ambiental e resíduos sólidos.

No outro lado do estado, dívida com o INSS impede a prefeitura de captar recursos para cumprir as regras da nova lei do lixo na cidade, que recebe multidões durante o São João. Apesar disso, a prefeita Karina Borges Silva (PSB) prevê que o plano de gestão dos resíduos do município ficará pronto em março de 2014. A ideia, inicialmente, seria depositar o lixo em um aterro licenciado, em outra cidade, pelo menos enquanto a prefeitura não corrige o déficit nas contas.

Cidades querem aterros, mas fora de seus limites

Para garantir que os prefeitos serão devidamente fiscalizados, o MPE-BA instituiu o Programa Estratégico Resíduos Sólidos. Do Lixão à Gestão Sustentável. Promotores tomarão as medidas legais ade-quadas à formulação de termos de compromisso de ajustamento de conduta com as prefeituras. Esses dispositivos ajudarão a identificar prefeitos passíveis de punição por improbidade administrativa

MP cria programa de gestão dos resíduos

O prefeito de Itabuna, Claudevane Moreira Leite, conhecido como Vane do Renascer, também critica o rigor do Ministério Público e o do MMA. “Esse prazo está preocupando todos os municípios, porque a situação aqui no estado é, em geral, muito ruim. É claro, a lei precisa ser cumprida, mas a Justiça, o Ministério Público e a União também devem ver as dificuldades que os municípios estão passando”, reivindicou.

A prefeita de Valença, Jucélia Sousa do Nascimento (PTN), critica o prazo da lei e explica que a falta de técnicos capacitados para construir bons planos de gestão dos resíduos é um problema generalizado. “Não tem como cumprir esse prazo. Vai ser prorrogado, não é possível”, reclamou. “Os municípios têm tido dificuldade, porque não há técnicos capacitados e não temos nenhuma orientação do ministério”, criticou. Sobre a falta de técnicos, o Ministério do Meio Ambiente informou que começou a capacitar 400 pro-fissionais, este mês, para ajudar os municípios a implantar seus planos de resíduos.

256 257

O consumo excessivo é o grande vilão da produção exacerbada de lixo. Essa é a opinião do gerente de conteúdos e metodologias do Instituto Akatu, Dalberto Adulis. “A origem do problema é o modelo do descartável, é o consumismo excessivo e, de fato, o aumento populacional, que acabam gerando a inviabilidade do modelo, pois os recursos naturais são limitados e a gente também não tem nem onde colocar todo esse resíduo”, afirmou o especialista.

Adulis mostrou, em números, a velocidade do consumo exagerado. “Nos EUA, 106 mil latas são utilizadas a cada 30 segundos. Isso vai dar 12 milhões por hora e 305 milhões por dia. São 111 bilhões de latas por ano”, exempli-ficou. “Precisamos de uma transformação cultural. Ter a consciência de que cada coisa que a gente consome tem um impacto”, reflete. Essa trans-formação, segundo ele, vai depender tanto de mudanças no campo da produção quanto de um consumo consciente.

O mercado dos descartáveis

Foto: Marina Silva

Adulis, do Akatu, defende novos hábitos no dia a dia dos brasileiros

“Precisamos de uma transformação cultural. Ter a consciência de que cada coisa que a gente consome tem um impacto”DALBERTO ADULIS, gerente do Instituto Akatu

“Um consumo que tenha noção dos impactos de cada uma das suas ações, não só do que eu compro, mas de quem eu compro, como eu vou utilizar e como eu vou descartar esse produto”, sugere. O modelo usado hoje já não é sustentável. “A gente só tem um planeta. Hoje já se consome mais de 50% do que o planeta é capaz de produzir”, alerta o gerente do Akatu, entidade que incentiva o consumo consciente. Para minimizar os impactos no meio ambiente, outras perguntas devem ser feitas antes do ato de comprar.

“O que podemos fazer? Primeiro de tudo, repensar se precisa comprar realmente. Depois, reduzir a quantidade, reutilizar e finalmente reciclar. De certo modo, acredito que o ‘repensar’ é o mais importante de todos, ainda que a gente precise de todos os demais”. Adulis também indica a compra de produtos já reciclados ou reaproveitados.

A lógica do consumo consciente passa também por uma transformação cultural da população. O gerente do Instituto Akatu, que mora em São Paulo, estranhou que o lazer de muitos baianos seja nos shoppings, apesar de ter uma cidade com tanta beleza natural. “Tem alguma coisa errada quando há mais satisfação em ir ao shopping do que contemplar e aproveitar a natureza”, acredita.

Para Dalberto Adulis, além da mudança cultural, a solução passa também pela reformulação do sistema de preços (defendida pelo economista Eduardo Giannetti. no Fórum Agenda Bahia, com taxação nos produtos do .impacto gerado ao meio ambiente).

- O consumo consciente permite mudar a relação com os resíduos sólidos. Em todas as esferas, é preciso investir em novas práticas

- Na produção, a solução, segundo Dalberto Adulis, passa pela inovação, oferta adequada e informação

- O governo, destaca o gerente do Akatu, deve investir em infraestrutura e serviços e oferecer incentivos para práticas sustentáveis

- Já os consumidores devem ser sensibilizados e mobilizados para o consumo consciente e ter acesso à educação ambiental

Soluções

“Tem alguma coisa errada quando há mais satisfação em ir ao shopping do que contemplar e aproveitar a natureza”DALBERTO ADULIS, gerente do Instituto Akatu

258 259

*Fora da ordem

12 milhões 50% de latas são utilizadas por hora apenas nos Estados Unidos

Segundo Adulis, a população já consome mais de 50% do que o planeta é capaz de produzir

SIM NÃO

SALVADOR RECIFE FORTALEZA SÃO PAULO CURITIBA

SEPARAÇÃO DE LIXOS POR CIDADE(em %)

36

64

39

61 5664

5545

82

18

* Separar lixo é o item que menos tem apelo entre os consumidores como prática sustentável. Reduziu de 47% em 2010 para 46% em (2012). Fechar a torneira (90%) é o mais citado por brasileiros em pesquisa do Akatu

Se considerar apenas os celulares,

100milhões

de aparelhos são descartados por ano em todo o mundo

O desperdício chega a 63

milhões

de dólares por ano

FONTE: INSTITUTO AKATU

No Brasil, para guardar o lixo produzido por pessoa seria preciso um apartamento de 50m²

Se o lixo gerado pelos brasileiros em uma semana fosse colocado em caminhões a fila teria 1.000km

*Antes da compra, faça as seguintes perguntas:

Por que comprar? O que comprar? De quem comprar? Como usar? Como descartar?

Especialistas defenderam a responsabilidade compartilhada entre governo, população, catadores de lixo e iniciativa privada para a gestão dos resíduos sólidos a fim de reduzir o ‘gap’ hoje existente na cadeia produtiva. No painel Os Desafios e Oportunidades da Política Nacional de Resíduos Sólidos, mediado pelo editor-chefe da TV Bahia, Giacomo Mancini, os debatedores lembraram que uma das razões para os níveis de reciclagem no Brasil serem tão baixos (não passam dos 4%) é o fato de o lixo selecionado se perder no meio do caminho, sendo destinados geralmente a lixões e aterros sanitários.

O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, alertou para a neces-sidade de promover, através de incentivos fiscais, a indústria de reci-clagem, fundamental para que a cadeia de reaproveitamento do lixo se complete.

“Por que se incentiva indústria automobilística e não se incentiva in-dústria de reciclagem?”, questionou, sob aplausos da plateia, refe-rerindo-se à política do governo federal de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para incentivar a produção e o consumo de veículos. Especialistas avaliam que o excesso de carros nas ruas vai na contramão da sustentabilidade: aumenta a poluição e trava a mobili-dade urbana no país.

O diretor de Desenvolvimento de Negócios do Grupo Foxx Haztec, Alexandre Citvaras, concordou, acrescentando que há a necessidade de um funcionamento mais eficiente das cooperativas de catadores, de um lado, e da capacidade de absorção das indústrias de reciclagem, do outro.

O ciclo está incompletoFoto: Arisson Marinho

Giácomo Mancini modera debate com Citvaras, Carlos Filho, Copello e Rolim

260 261

Além do desafio de acabar com os lixões até agosto do ano que vem, como determina a Lei Nacional de Resíduos Sólidos (LNRS), e de implantar a coleta seletiva em todos os municípios, um dos grandes gargalos para uma melhor gestão do lixo é a baixa capacidade da indústria de reciclagem de absorver os resíduos selecionados, como destacou Alexandre Citvaras, do Grupo Foxx Haztec.

“Aqui, temos um problema grande, que é o seguinte: qual a capacidade da indústria de reciclagem (brasileira) de receber materiais em grandes quantidades? Muito baixa” , advertiu. Segundo Citvaras, não existem mais indústrias que praticam essa prática porque não tem matéria-prima. “O cliente final da matéria-prima de reciclagem precisa de uma matéria-prima de reciclagem separada, com qualidade, dentro dos padrões e com for-necimento contínuo, para fazer um investimento”, disse, explicando que hoje isso não acontece. “Falta investimento e incentivo do governo para que essa realidade mude”, sugere. Empresas como a Ambev e a Braskem apostam na capitação do setor.

Segundo o diretor de Sustentabilidade da Braskem, a petroquímica também investe na inclusão social dos catadores. A cada ano, a média de catadores beneficiados chega a 590. A meta até 2020 é ter no programa 3 mil catadores. “As pessoas que consideram a inviabilidade social, am-biental ou tecnológica é por falta de conhecimento. É totalmente possível numa lógica que considere os catadores e o material disponível para eles”, avalia Soto.

O programa Reciclagem Solidária, da Ambev, em parceria com a Ecomarapendi, beneficiou 43 cooperativas e cerca de 2 mil catadores no país por meio de capacitação e doações de equipamentos. Mas ainda há dificuldades a vencer. “As cooperativas não querem se formalizar, por causa da alta carga tributária”, diz Ricardo Rolim, diretor da multinacional.

O que falta é oferta contínua de matéria-prima reciclada

“É possível uma lógica que considere os catadores e o material disponível para eles”JORGE SOTO, diretor de Sustentabilidade da Braskem

“Se não tiver uma indústria da reciclagem, não adianta a cooperativa separar o lixo”, pondera.

Citvaras defendeu, inclusive, profissionalizar as cooperativas, com a criação de metas e a definição de uma gestão. “Ou a gente transforma a reciclagem em indústria ou vai ficar sempre nos 3% de reciclagem, com gente mamando no negócio das ONGs, numa completa informalidade”, criticou Alexandre Citvaras.

Para resolver o problema dos municípios baianos, que não dispõem de recursos suficientes para cumprir a sua parte nas exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o governo do estado promete apoiar a formação de consórcios entre cidades vizinhas.

“Temos recebido uma avalanche de solicitações de prefeitos assustados com a aproximação do prazo. A regionalização é importante porque se você tiver 20 cidades não vai precisar fazer 20 aterros. Faz um só que sirva para todos, assim minimiza os custos e maximiza os resultados”, defendeu o chefe de gabinete da Sedur, Eduardo Copello, durante o debate no Fórum Agenda Bahia.

Segundo ele, o estado vai ajudar no planejamento desses consórcios, nos projetos e, eventualmente, financeiramente. “Vamos ajudar viabilizando dinheiro dos governos federal e estadual. Mas não existe saco sem fundo”, avisou. A ideia é evitar que o investimento seja perdido e que usinas virem lixões convencionais, como aconteceu no passado.

O diretor de Sustentabilidade da Ambev, Ricardo Rolim, abriu o debate dizendo que a cervejaria tem intenção de apoiar cooperativas de catado-res na Bahia. A afirmação veio após uma provocação do mediador Giácomo Mancini, editor-chefe da TV Bahia. A reciclagem de latinhas, garrafas pet e vidro das embalagens dos produtos é apenas uma das vertentes da política de sustentabilidade da Ambev. Segundo Rolim, a cervejaria recicla 99% do lixo industrial.

O debate também contou com a participação de Alexandre Citvaras, da Foxx Haztec, e do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, que destacaram a necessidade de se incentivar, por parte do governo federal, a indústria de reciclagem no país, e a necessidade de maior apoio às cooperativas de catadores.

“Para melhores resultados, é preciso integrar os catadores ao sistema ofi-cialmente e remunerá-los adequadamente para melhores resultados, não só explorar o trabalho”, afirmou.

Ajuda para os municípios

262 263

Imagine que você é um empreendedor que tem toda a população do planeta como cliente. Sonho distante? Esse segmento já existe: o da gestão de resíduos sólidos. A visão é do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho. “Costumo brincar que sou um sortudo. Sou presidente da Abrelpe. Um dos representantes do único setor que tem toda a população mundial como cliente”, afirmou, durante palestra no Fórum Agenda Bahia. “Quisera outro segmento (da economia) ter essa situação”, completou.

A afirmação de Carlos Filho segue uma lógica simples: o lixo é o único ‘produto’ comum a todos os moradores do planeta. Todo mundo joga fora (em parte ou totalmente) o que consome. Encará-lo com um novo olhar é uma das propostas da Política Nacional de Resíduos Sólidos e já tem adesão, especialmente, nos países desenvolvidos.

A destinação correta dos resíduos, com seu ciclo positivo, além de reduzir o impacto no meio ambiente, pode resultar em outras riquezas para toda a sociedade. Mas, para Carlos Filho, o país ainda não descobriu no lixo novas oportunidades. “O que precisamos é que esses clientes deem o devido valor para esse serviço”, advertiu. Seja na separação correta dos resíduos dentro de casa ou no incentivo para a indústria da reciclagem.

‘Tenho todos os clientes do planeta’

Foto: Arisson Marinho

*Conta alta para o planeta

3,8 bilhões

9,5 bilhões

1,3 bilhão

0,09

de pessoas era a população mundial em 1970, segundo dados apresentados no Fórum Agenda Bahia pelo presidente da Abrelpe

de habitantes é a perspecti-va para a população mundial em 2050, segundo Carlos Filho, da Abrelpe

de toneladas de resíduos sólidos foram produzidos em 2013 ao redor de todo o planeta, lembrou Filho

reais é quanto precisaria ser investido por cidadão para universalizar a coleta e destinação dos resíduos em aterros no Brasil

Carlos Filho, presidente da Abrelpe, defendeu nova

maneira de olhar o lixo, que possa trazer ganhos tanto

para o meio ambiente quanto para a sociedade

Segundo o presidente da Abrelpe, o Brasil será o quinto maior consumi-dor do mundo em 2020. Pode ter em 2050 dois terços da população nos centros urbanos - desde 2006, esse índice é de 50%, o que faz o Brasil ter a maior população urbana do planeta. “Hoje, as pessoas ainda acham que há um serviço mágico. A dona de casa coloca o lixo no saquinho do lado de fora, fecha a porta. Quando abre a porta de novo, desapareceu”, ironizou, chamando a atenção para a necessidade de a população se apropriar da res-ponsabilidade de investir na separação dos resíduos e na reciclagem.

Para Filho, é preciso dar ao setor de resíduos o “profissionalismo que merece”, e isso não é apenas uma questão econômica. “É uma questão de saúde pública, de sobrevivência. Se não, chegaremos a 2050 em uma situação deplorável”, diz.

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

Preservação dos Recursos Naturais

Desenvolvimento Econômico – Novos setores e novos negócios (reciclagem, recuperação, valorização, etc)

Proteção do Meio Ambiente e da Saúde

Pública – Fim dos lixões e destinação inadequada

Inclusão Social

Mitigação das Mudanças Climáticas

HIERARQUIA NA GESTÃO

OS IMPACTOS DA NOVA LEI DO LIXO

ReduçãoReuso

ReciclagemTratamento/ Recuperação

Disposição no solo

Reuso

rotente– Façã

In

dand

dos urais

ento

s e os

tc)

A GEST

OS DA

PrAmbiAmbi

PúPP blica –e e eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee ddedd stina

MudM d

TÃO

A NOVA LEI DO LIXO

Para Carlos Silva Filho, alternativas devem ser pensadas a partir da realidade local

- Deve-se investir em conhecimento e capacitação

- O presidente da Abrelpe diz que os avanços exigem mudança no comporta-mento social

- Carlos Filho defendeu também um sistema cíclico para gerar preservação dos recursos naturais

Soluções

264 265

A gestora ambiental Luciana Silva dá exemplo não apenas no trabalho, mas também em casa. Há um ano, ela tem um minhocário no apartamento onde mora com o marido. “Na nossa cultura, tudo que a gente produz e não serve se joga num saco e não se sabe para onde vai”, lembra. Para Luciana, reapro-veitar os restos dos alimentos das refeições faz parte de um consumo cons-ciente. “Quando você tem um minhocário em casa, você assume também a sua responsabilidade como cidadão. Além de gerar economia em casa com a produção da terra vegetal para usar nas suas plantas”, analisa.

O sistema adotado por Luciana é defendido por especialistas como parte de um novo olhar para consumo. A substituição do sistema linear pelo circular, como explica Thiago Uehara, analista ambiental do Departamento de Produção e Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente. “A economia nesses últimos tempos basicamente não considera que os recursos naturais são finitos e não pensa no pós-consumo. A gente não pode pegar da natureza, usar apenas uma vez e jogar fora”, lembra Uehara.

Novo jeito de consumir

Foto: Marina Silva

Luciana Silva reaproveita em casa as sobras de alimento para fazer um minhocário, que serve de adubo natural e dispensa o uso de fertilizantes

Especialistas defendem a substituição do sistema linear pelo circular de produção e consumo

Ciclo

A mudança passa pelo reaproveitamen-to da matéria-prima e de um produto. “Em vez de entupir os aterros ou mesmo inviabilizar o consumo futuro, tem se percebido que é necessário mudar toda essa lógica de produção e consumo para uma lógica que seja mais circular, que considere que os recursos são finitos e que, portanto, a gente tem que usar a matéria-prima diversas vezes, aproveitá-la melhor”, defende.

Thiago Uehara cita o minhocário de Luciana como um exemplo, simples, que pode ser aplicado dentro de casa. “Essa é uma forma de você devolver a riqueza da matéria orgânica para a própria terra. Com o minhocário, consegue-se gerar um composto riquíssimo que dispensa a necessidade de você comprar um agrotó-xico ou um fertilizante químico”, analisa.

O sistema circular de consumo será fortalecido com a aplicação da logísti-ca reversa, que passa a ser obrigatória pela nova Política Nacional de Resíduos Sólidos e está sendo regulamentada pelo governo com os diversos setores da indústria brasileira. A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos.

Ou seja, a responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos é compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e serviços públicos de limpeza. De acordo com dados da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), a população brasilei-ra cresceu 9,65% nos últimos 10 anos. O

FACA SEU PRÓPRIO MINHOCÁRIO

As minhocas podem ser compradas em lojas especializadas, disponíveis também na internet. Elas já vêm junto com um pouco de terra, chamada de ‘cama de minhocas’. Ou você pode recolher as minhocas diretamente da terra

Para minhocários caseiros, recomenda-se o uso de minhocas do tipo ‘californianas’, pois elas têm uma produtividade maior e se alimentam rapidamente

O que pode ser

despejado no minhocário: resíduos alimentares, papel e papelão

Não coloque cebola e nem alimentos cítricos. Eles não fazem bem às minhocas

As minhocas passam por um processo de adaptação nos dois primeiros meses. Nesse período, despeje apenas meio litro de resíduo por dia de forma proporcional para manter o equilíbrio do sistema e o PH neutro. Esse cuidado evita mau

cheiro. A quantidade de resíduos secos deve ser o dobro da quantidade de resíduos frescos, pois as minhocas não vivem bem com muita umidade. Exemplo: para cada mão de casca de banana, duas mãos de folhas secas ou duas mãos de papel/papelão picado

As minhocas não gostam de claridade, então, não tenha medo de abrir o balde para despejar os resíduos. Elas vão se esconder imediatamente nesse momento

ATENÇÃO

COMO FAZER

MATERIAIS NECESSÁRIOS

1 Com o prego, faça alguns furinhos no fundo de um dos baldes. Os furos precisam ser de tamanhos que não permitam a passagem das minhocas

2 Coloque o balde com furinhos dentro do outro balde, deixando cerca de cinco dedos de distância entre os dois. Coloque as minhocas dentro do balde com furinhos e junto com elas um pouco de terra

3 No fundo desse segundo balde (sem furos) ficará depositado o líquido da decomposição dos alimentos, chamado de chorume. Às vezes, algumas minhocas passam pelos furos e se alojam nesse segundo balde, por isso, coloque uma pedra nele para que elas não se afoguem

(minhocário simples para uma casa com duas pessoas)

2 baldes grandes de manteiga (usados em restaurante)1 prego

1 pedra pequena

500 gramas de minhocas com terra

266 267

volume de lixo produzido no país também aumentou nesse período, só que o dobro: 21%. A geração individual é alarmante. De 2003 a 2012, a produção de lixo por pessoa cresceu de 955 g a 1,223 kg, respectivamente.

“A quantidade de produtos que a gente consome e de recurso que se extrai da natureza para sustentar esse padrão de consumo é insustentável, assim como a quantidade de lixo que está sendo gerada no dia a dia”, alerta Dalberto Adulis, gerente de conteúdo e metodologias do Instituto Akatu, organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela cons-cientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente.

Adulis explica que o custo é elevado para essa prática. “Não tem como o meio ambiente suportar e não tem como nós mesmos suportarmos. O custo que se gera com produtos descartáveis e com desperdício é muito alto. Acaba caindo no bolso do próprio consumidor, seja através das taxas de lixo pagas pelo contribuinte ou quando o lixo entope os bueiros e provoca o transbordo de um rio”, exemplifica.

Segundo o gerente do Akatu, a mudança tem que se dar antes do consumo. “Desde o momento em que a pessoa pensa se realmente precisa daquilo e se, de fato, vai utilizar o produto. Quando for escolher, precisa buscar os que vão durar mais, que possam ou já são reciclados”, completa.

*Lixo demais

9,65% 21%

955g 1,223 quilos era a produção de lixo produzida por pessoa no Brasil em 2003

passou a ser a quantidade de lixo por brasileiro em 2012

foi quanto a população brasileira cresceu nos últimos 10 anos

foi quanto aumentou o volume de lixo produzido no Brasil nesse mesmo período

“Esses pontos de triagem vão encaminhar para a destinação e um comprador vai devolver esse material reciclável para a cadeia econômica”ANDRÉ FRAGA, subsecretário da Secretaria Cidade Sustentável

Salvador terá coleta seletiva de lixo a partir de abril de 2014, de acordo com a prefeitura. O projeto está em fase de aprovação e prevê a instalação de 50 a 100 pontos de entrega voluntária a serem espalhados pela cidade. Até 2016, a meta é maior: 200 pontos. A estruturação da cadeia logística de recolhimento vai integrar catadores de rua e cooperativas.

Atualmente, há cerca de 17 cooperativas atuando em Salvador. As que tiverem condições operacionais e estruturais farão parte do projeto. “Nos próximos dois ou três meses, devemos começar a implementação do planejamento estratégico do projeto e a capacitação das cooperativas. Vamos ter uma ação forte com o Sebrae para capacitar todas as coope-rativas”, afirma o subsecretário da Secretaria Cidade Sustentável, André Fraga.

O projeto não prevê coleta seletiva domiciliar e o cidadão precisará con-tribuir para que ele funcione. Depois de separar o lixo em casa, o sotero-politano terá que levá-lo ao ponto de entrega voluntária mais próximo de sua casa. Uma cooperativa vai passar no local para recolher o material e levá-lo a um dos três pontos de triagem que serão instalados na cidade. “Esses pontos de triagem vão encaminhar para a destinação e um com-prador vai devolver esse material reciclável para a cadeia econômica”, explica o subsecretário.

Segundo Fraga, serão investidos R$ 38 milhões no projeto de coleta seletiva. Metade desse recurso será financiada pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento). A outra metade partirá da prefeitura, que já busca parceiros na iniciativa privada para essa empreitada. “Já conse-guimos um diálogo muito bom com a Braskem, estamos conversando com as cadeias de supermercados, com a Coca-Cola e outras grandes empresas para conseguir viabilizar parcerias para o projeto”, adianta o subsecretário.

“Uma parte, de fato, a prefeitura tem que aplicar, mas nós estamos tentando reduzir ao máximo o custo da prefeitura, até mesmo para trazer a responsabilidade para todo mundo”, completa.

Coleta seletiva depende dos moradores da cidade

268 269

Produtos com informações claras e disponíveis ajudam o consumidor a ter atitudes sustentáveis na hora de levar o produto para casa. É o que defende o analista ambiental do Departamento de Produção e Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente Thiago Uehara. “Essas infor-mações sobre origem e qualidade dos produtos são extremamente perti-nentes para que visualmente o consumidor já associe algumas marcas ou selos a determinado padrão de qualidade. Isso ajuda o consumidor que é consciente a fazer a escolha certa rapidamente”, afirma.

Segundo Uehara, os consumidores mais conscientes já têm uma noção sobre as práticas de produção em alguns países quanto ao uso de agrotó-xicos e à exploração de mão de obra infantil.

Apesar de o Código de Defesa do Consumidor obrigar o vendedor a informar a origem do produto, a lei nem sempre é colocada em prática. “O peixe Tango, por exemplo, que é similar com o Linguado daqui da costa, vem da China e é muito mais barato por causa das condições de produção. O preço final é muito convidativo e o produtor não quer dizer ao consumi-dor que ele é mais barato porque é pescado na forma de arrastão, acaba com os corais, são crianças que estão nas fábricas descamando peixe. Eles comunicam pelo preço e não querem informar isso”, exemplifica.

Apesar de o valor dos produtos ainda falar mais alto na hora da compra, Thiago Uehara já observa uma maior conscientização da população bra-sileira. “Ainda são poucos os consumidores conscientes aqui no Brasil e talvez não haja grande exigência a esses atributos de sustentabilidade. Por outro lado, a gente percebe que o grau de consciência do brasileiro em relação à sustentabilidade está aumentando”, comemora.

Informação sobre produto ajuda na hora da escolha

Com apenas 20 anos, o estudante de Engenharia Mecânica da Ufba Jonathan Pedreira conseguiu ver no lixo muito além do que a maioria: o lucro. A ideia de conceder créditos em dinheiro para cada consumidor que entregasse as embalagens plásticas vazias, latinhas e outros produtos consumidos no dia a dia para reciclagem lhe rendeu R$ 40 mil e o 1º lugar no Siemens Student Award 2012. O prêmio elegeu as melhores soluções sustentáveis em todo o país com foco na Copa de 2014.

O projeto, inspirado em iniciativas que já funcionam em alguns países europeus, parte de que a produção de lixo crescerá com o aumento no número de turistas e torcedores nas cidades-sede durante o mundial de futebol. Copos de cerveja, sacos de salgadinho, embalagens de papel, a entrega de todo esse lixo para reciclagem geraria créditos em um cartão que poderia ser consumido em hotéis, restaurantes, bares e outros estabeleci-mentos que ganhassem um selo ‘verde’.

“Minha ideia cria o dinheiro social: além do retorno financeiro, esse cartão remunera de uma forma que o dinheiro não se dilui, pois você acaba gastando em ‘coisas verdes’, ou seja, canalizando para locais que adotem uma lógica sustentável em seu modelo de produção”, defende o estudante. Um ano depois de passar dez meses em intercâmbio na Alemanha, Jonathan

Lixo extraordinário

Foto: Marina Silva

Estudante da Ufba, Jonathan Pedreira ganhou prêmio internacional com projeto que cria o dinheiro social

270 271

ainda tem dificuldade de pôr em prática sua ideia em uma sociedade que ainda pensa que lugar de lixo é no lixo.

“A logística reversa (determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos que prevê que embalagens e alguns produtos como bateria e pilha sejam de-volvidas aos fabricantes e distribuidores após o uso) ainda é muito cara para ser feita. O caminho mais lógico é introduzir a população nesse processo. Governo e empresários têm de estar com o mesmo nível de esclarecimento. Tenho visto muita iniciativa, mas todas muito tímidas”, lamenta o estudante.

Segundo dados de 2010 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se todo o lixo produzido no país fosse reciclado, em vez de seguir para aterros e lixões, poderia gerar uma receita de mais de R$ 8 bilhões por ano, oito vezes mais do que se lucra hoje, cerca de R$ 1 bilhão. Pouco dinheiro para quem consome muito e produz tanto lixo.

A Copa das Confederações funcionou como um teste para o mundial de 2014. Divididos nos seis estádios, 350 catadores conseguiram reciclar cerca de 40% do lixo sólido gerado pelos torcedores, segundo a Fifa. O número é bem superior à realidade do país que, fora do evento esportivo, só consegue reciclar 20% das 200 mil toneladas produzidas todos os dias.

André Vilhena, diretor executivo da Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), associação que reúne empresas em prol da recicla-gem, prevê que a coleta seletiva deve ganhar peso maior na economia do lixo com a aprovação da PNRS. A lei de resíduos sólidos estabelece, além do fim dos lixões no país, até agosto de 2014, o estímulo à coleta seletiva e à educação ambiental nos municípios.

Foto: Marina Silva

Guilherme Santos criou a Salve Terra: material

reaproveitado vira peça de decoração e de moda

*Na contramão

1 bilhão

8 bilhões de reais é quanto poderia ser gerado de receita por ano no Brasil com a reciclagem do lixo

de reais é quanto se lucra hoje com a reci-clagem dos resíduos sólidos no país

“Teremos um aumento na quantidade de materiais a serem triados, o que vai aumentar a oferta para a indústria da reciclagem. As prefeituras terão de informar a seus cidadãos como fazer a separação do lixo, por isso teremos uma maior sensibilidade em relação à necessidade de separar bem cada tipo de resíduo”, explica.

Aproveitar material reciclado foi o que motivou o técnico em meio ambiente Guilherme Santos, 27, a criar a Salve Terra, empresa que cria acessórios e móveis a partir de material reciclado. “Começamos usando garrafas PET, que conseguíamos no lixo ou em restaurantes, como embalagens para as camisas que fabricamos. Depois, passamos para a fabricação de acessórios e hoje a empresa já confecciona 25 tipos de bolsas a partir de banners publi-citários jogados fora”, conta o diretor da Salve Terra.

A nova aposta da empresa é a fabricação de pufes feitos a partir de pneus. “Em geral, os pufes saem a R$ 250. Em 2014, devemos expor na Casa Cor”, conta Guilherme Santos, sobre o futuro.

A ideia para montar o Cidadanize-se, site que mapeia os pontos de coleta em Salvador, surgiu depois que a administradora Iracema Marques tentou separar os resíduos de sua casa e levar até algum lugar que fizesse o melhor uso dele. “Separar o material foi fácil, mas comecei a buscar os lugares onde poderia descartar o material. Senti dificuldade de achar qualquer informação, mesmo no site da Limpurb, em que havia uma lista de cooperativas. Foi daí que surgiu a ideia de montar o site para ajudar pessoas que gostariam de fazer a própria coleta e indicar onde esses lugares estavam distribuídos”, contou a idealizadora do projeto que se recusa a usar a palavra lixo. “Na verdade, o lixo propriamente dito é muito pouco. Na natureza não existe lixo, ou é biodegradável ou é reaproveita-do. É papel do homem fazer com que esse material retorne para o ciclo do consumo”, explica.

O erro, segundo a administradora, não passa pela falta de ações em buscar soluções concretas, mas estruturar a indústria do lixo e transformá-la em um mercado rentável. “Existe um mercado, não só comercial, mas toda uma estrutura que precisa de medidas. Há o catador e as cooperativas que precisam de incentivo público, pois são pessoas em vulnerabilidade social que tiram do lixo o sustento e que geram renda para as famílias. Falta, ainda, incentivo à indústria da reciclagem para que ela gire com mais força”, diz. Iracema lamenta que parte do material descartado na Bahia seja exportada para outros estados para ser reciclada.

Site mapeia os pontos de coleta seletiva em Salvador

“Prefeituras vão informar como os moradores devem separar o lixo em casa”ANDRÉ VILHENA, diretor do Cempre

272 273

A ideia de tirar do lixo inspiração para ganhar dinheiro também faz a cabeça dos quatro jovens sócios por trás da Zerezes. Os estudantes de Design do Rio de Janeiro aproveitam madeira descartada em obras e demolições para fabricar óculos. “Fabricamos uma média de 100 óculos por mês, que são vendidos entre R$ 350 e R$ 600, a depender do tipo de madeira”, explica Henrique Meyrelles, 23 anos, um dos sócios. A marca, que vem no embalo de outras empresas que salvam o lixo do inglório descarte em um dos mais de 3 mil lixões espalhados por todo o país, tem cerca de um ano e ganhou forma entre os intervalos das aulas do curso de Design da PUC-Rio.

“A ideia veio de algo que já é feito há algum tempo nos Estados Unidos, daí acabamos encontrando matéria-prima em abundância aqui no Rio”, conta Henrique. A abundância a que o jovem empresário se refere vai bem além da fartura de perobas-rosa, jacarandás, canelas e outras madeiras de boa qualidade usadas na fabricação das peças. Mas também no excesso de mau uso dos resíduos e lixos gerados no cotidiano dos brasileiros.

A Zerezes divide espaço com outras pequenas empresas sustentáveis, na estrutura da Matéria Brasil, empresa que funciona como uma incuba-dora de ideias verdes. “Eles já estão no mercado há quase oito anos, têm oficina, além de know-how e materiais. Eles aceleraram o desenvolvi-mento do nosso processo produtivo e formamos uma parceria”, contou o jovem empresário.

Madeira de demolição vira óculos vendidos a preço de grife

Fotos: Divulgação

Victor Lanari, Luiz Eduardo Rocha, Henrique Meyrelles e Hugo Galindo Soares criaram a

Zerezes, ainda na Faculdade de Design, no Rio de Janeiro. Os jovens produzem, artesanalmente,

óculos feitos de madeira de demolição. As peças fazem o maior sucesso: são vendidos, em média,

100 óculos por mês a preços de até R$ 600

Para as empresas, reaproveitar pode significar lucro e até diferencial em um mercado cada vez mais homogêneo e competitivo, explica o assessor do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Fernando Malta. A Coca-Cola aproveitou a visibilidade da Copa das Confederações e da Copa do Mundo 2014 como vitrine para suas ideias sustentáveis. “A empresa usou plástico reciclado para produzir as cadeiras do estádio do Maracanã. Ainda que restrito a um espaço, esse lugar tinha uma repercussão mundial e trazia uma mensagem forte no sentido de estimular práticas sustentáveis”, explica Malta.

Para isso, a empresa divulgou uma campanha de doações de garrafas PET que foram utilizadas na fabricação de 6.773 assentos do Maracanã. O processo inclui ainda a redução de consumo de água de 30%, segundo Malta. Outra empresa que virou referência na adoção de medidas susten-táveis em seu processo produtivo é a sueca Tetrapak.

A líder mundial em embalagens conseguiu aumentar para 100% a quanti-dade de material possível de ser aproveitado nas caixas de leite que vão às mesas diariamente mundo afora. Até alguns anos atrás, apenas 75% da caixa, composta de papel, alumínio e plástico, conseguia ser reaproveitada. “Com uma caixa mais sustentável, a Tetrapak conseguiu um diferencial que reflete não apenas na diminuição no custo total de sua produção, mas até na forma como ela é vista pelos consumidores”, comemora Malta.

Em torno de de 3,6 bilhões de embalagens foram recicladas em 2012 em relação a 2011. O Brasil alcançou um volume de 65 mil toneladas recicladas, o que correspondeu a 29% do total produzido.

Setor inteiro do Maracanã tem cadeiras feitas de PET

Foto: Divulgação

Campanha feita pela Coca-Cola recolheu

as garrafas PET reutilizadas nas

cadeiras do novo estádio

274 275

Não vai haver mais lixo debaixo do tapete. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) vai exigir uma nova postura de cada parte do tripé de consumo: fabricantes, governos e consumidores. Do lado dos produtores e da indústria, o plano cobra responsabilidades dos produtos fabricados, além de uma integração à rede de coleta e destinação final dos resíduos. Porém, antes mesmo do fim dos acordos setoriais, quando serão definidas as novas regras para os diversos setores, empresas como Braskem e Ambev já de-senvolvem modelos de gestão dos resíduos que produzem.

Segundo o diretor de Sustentabilidade da Braskem, Jorge Soto, é preciso boas ações para estabelecer uma gestão integrada que envolva todos os setores responsáveis. “Para tratar o resíduo plástico, deve-se integrar a coleta seletiva, a reciclagem e a recuperação energética ou mecânica”, explicou.

Ele destacou o uso dos plásticos na vida moderna e o potencial energético capaz de ser extraído a partir da reciclagem ou da incineração. “Os plásticos

O destino das embalagens

Foto: Marina Silva Foto: Arisson Marinho

Jorge Soto, da Braskem, sugere gestão integrada para destinação do resíduo plástico

Segundo Ricardo Rolim, além das latas de alumínio, a Ambev estimula também a reciclagem das garrafas PET e de vidro

estão presentes em nossas vidas, são úteis e possuem uma quantidade de material menor, pois envolve menos energia no seu uso e um baixo potencial de risco”, defende.

Segundo o diretor de Sustentabilidade da Braskem, a empresa estuda a criação de uma unidade de transformação energética. “Estive na Alemanha e lá há uma usina de transformação energética muito eficiente. A cada uma tonelada que entra de resíduo, apenas um quilo sobra. O aproveitamento energético é imenso”, afirmou Soto.

O diretor da Braskem destacou o investimento feito pela empresa para inclusão social de catadores em todo o país. O projeto, em parceria com outras entidades, já ganhou prêmio pela iniciativa. A ideia, segundo Jorge Soto, é promover a inclusão social por meio do fomento à reciclagem e à adequada gestão do pós-consumo dos plásticos, melhorando a gestão dos resíduos nos municípios beneficiados.

Além das tradicionais latinhas, a cervejaria Ambev também incentiva a reciclagem das garrafas de vidro e pet. “Já temos um processo para fabricar garrafas pet 100% recicladas”, conta o diretor de Sustentabilidade, Ricardo Rolim. Quanto às garrafas, a empresa incentiva que o consumidor devolva depois de utilizá-las. “Se ele levar a garrafa na hora de comprar, paga só pelo líquido”, explica. Ele conta que, para cuidar das embalagens, a companhia atua em cinco frentes: educação ambiental, apoio a cooperativas, desenvol-vimento de embalagens sustentáveis, investimentos em design ecológico para suas embalagens e contribuição ativa ao movimento da reciclagem.

Hoje, 99% das latinhas de alumínio da companhia já são recicladas e 75% das garrafas de vidro retornáveis também já são feitas de vidro 100% reciclado, graças a uma fábrica de vidros instalada pela cervejaria. Também já está no mercado a primeira garrafa com PET reciclada na composição. O piloto foi feito na embalagem de Guaraná Antarctica de 2 litros.

Até o fim de 2012, 12% das embalagens de Guaraná Antarctica 2 litros foram 100% recicladas. Esse número deve subir para 20% até o final de 2013. O objetivo é aplicar essa tecnologia em todas as garrafas de outras marcas de forma gradual, atingindo todo o portfólio da Ambev. As garrafas são cole-tadas por catadores e cooperativas. Em seguida, entregues às empresas responsáveis pela transformação em flakes.

*Números da Ambev

99%

12%

das latinhas de alumínio proveniente dos produtos da cervejaria já são recicladas

foi o percentual de garrafas pet 100% recicladas em 2012, o que representou 1,3 milhão de quilos de lixo a menos. A meta para este 2013 é 20%

*Números da Braskem

3 kg

2,2

é o peso de um pallet de plástico, alternativo ao de madeira, que consome menos energia e reduz emissão de gases nocivos ao planeta

vezes mais é quanto consome a mais de energia materiais alternativos no ciclo de vida, se compara-dos com o plástico

276 277

Localizado na Região Metropolitana de São Paulo, o município de Barueri está bem à frente do nosso tempo. Enquanto municípios baianos ainda lutam para transformar seus lixões em aterros sanitários, a prefeitura do município começará a construir, a partir do início do ano que vem, uma usina que trans-formará lixo em energia.

O projeto, que dará origem à primeira usina de recuperação energética do país, é uma parceria público-privada (PPP) entre a prefeitura e o grupo Foxx Haztec, uma das únicas empresas no Brasil que têm seu foco 100% na utilização das tecnologias existentes na gestão de resíduos e vencedora da licitação.

O caso foi apresentado pelo diretor de Desenvolvimento de Negócios do grupo, Alexandre Citvaras, durante o Fórum Agenda Bahia 2013. Inovadora, a usina irá tratar 825 toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos por dia, ainda pouco diante das 22 mil toneladas produzidas na Região Metropolitana de São Paulo, mas o bastante para iniciar uma nova era na gestão de resíduos no país.

Exemplo paulistaFoto: Arisson Marinho

Citvaras apresentou o projeto de Barueri, que se prepara para transformar lixo em energia

Com nível de emissões quase nulo, a usina queimará todo o lixo não reciclável produzido em Barueri e gerará energia através do calor e dos gases libera-dos. “A Unidade de Reaproveitamente Energético (URE Barueri) vai gerar 17 MW de energia e evitar a emissão de 900 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera num período de 10 anos”, previu Citvaras. O investimento total previsto é de R$ 160 milhões.

Apesar da importante iniciativa, Barueri ainda terá um grande desafio: o de tornar seu sistema de coleta seletiva mais eficiente. Hoje, embora 80% da população de 300 mil habitantes afirme conhecer o sistema de coleta seletiva, que cobre 100% do território do município, somente 3% do lixo é efetivamente reciclado pela cooperativa de catadores. “Os outros 97% vão parar num aterro sanitário, que, se continuar nessa situação, tem a vida útil prevista de apenas cinco anos”, afirmou.

278 279

“A Unidade de Reaproveitamente Energético (URE Barueri) vai gerar 17 MW de energia e evitar a emissão de 900 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera num período de 10 anos”ALEXANDRE CITVARAS, diretor da Foxx Haztec

No contexto latino-americano, o Brasil pode se tornar um exemplo para os seus vizinhos na maneira de lidar com o lixo e no domínio de tecnologias para gestão de resíduos sólidos. A opinião é do diretor de Desenvolvimento de Negócios do grupo Foxx Haztec, Alexandre Citvaras. A empresa é a primeira a implantar no Brasil uma usina de geração de energia a partir do lixo.

“Realmente, acredito que, num futuro próximo, a gente vai prestar serviços para países do Cone Sul. A Argentina e o Uruguai são extremamente atra-sados na gestão dos resíduos sólidos”, afirmou Citvaras, ao ser questionado sobre a possibilidade de, um dia, o Brasil chegar ao nível da Noruega, que hoje importa lixo dos países vizinhos para produzir energia.

“Se a gente criar um portfólio de soluções no Brasil que seja capaz de atender, bem como desenvolver tecnologia que seja capaz de exportar, sem dúvida nenhuma, o Brasil, mais uma vez, vai ser a ponta de lança aqui na América Latina”, completou. Com um investimento de R$ 160 milhões, a usina de geração de energia será implantada a partir de 2014, no município de Barueri, na Grande São Paulo.

Apesar de iniciativas pontuais, como a usina em Barueri (que começará a operar em 2016), ainda falta um longo caminho para que o Brasil possa se tornar uma referência na gestão de resíduos sólidos, como investimen-tos em reciclagem. Antes de apresentar à plateia a Usina de Recuperação Energética de Barueri, os planos pioneiros para o município de Barueri, o diretor do grupo Foxx Haztec, Alexandre Citvaras, mencionou bons exemplos europeus de gestão de resíduos sólidos.

A Alemanha, por exemplo, já consegue hoje destinar pelo menos 37% do seu lixo para usinas de recuperação energética (produção de energia a partir da queima dos resíduos), enquanto o nível de reciclagem e compos-tagem (reaproveitamento do lixo orgânico para a produção de adubo) já chega a 62%. “Como conseguiram isso na Alemanha? Eles têm uma política de gestão de resíduos muito madura e vêm trabalhando nessa cadeia de valor desde os anos 80”, explicou Citvaras. Segundo ele, não podemos demorar tanto: “Temos que aprender com eles e implantar isso de maneira mais pragmática aqui”.

De olho no Mercosul

“Acredito que, num futuro próximo, a gente vai prestar serviços para países do Cone Sul”ALEXANDRE CITVARAS, diretor da Foxx Haztec

280 281

O especialista lembrou também que nenhum país que conseguiu reduzir a quantidade de lixo destinada aos aterros sanitários apostou em apenas uma alternativa de gestão, mas todos eles diversificaram essa gestão. “Os países que mais reciclam trabalham em consonância com a recuperação energética de resíduos, por exemplo. Não há um só caminho”, destacou.

Citvaras considerou a Região Metropolitana de Paris como outro bom exemplo. “A região é dividida em 93 regiões administrativas. Possui três usinas de recuperação, dois aterros sanitários, quatro usinas de metaniza-ção de matéria orgânica e várias unidades de triagem”, contou. “Com isso, eles conseguem alcançar o mínimo de aterramento”.

- Para Alexandre Citvaras, a gestão adequada dos resíduos sólidos só é possível integrando toda a cadeia

- Para isso, sugeriu aumento no investimento público, inclusive na elaboração de planos concretos de gestão

- O especialista defendeu também a redução do consumo, educação ambien-tal e Parcerias Público-Privadas (PPPs)

- E ainda a inserção efetiva dos catadores na cadeia produtiva do lixo e sua capacitação

- Citvaras considera importante também a transferência de tecnologia e de-senvolvimento de tecnologias nacionais

Soluções

Quando começou a operar, em janeiro de 2000, o aterro sanitário de Salvador recebia, além do lixo doméstico e das ruas, uma infinidade de resíduos de produtos que hoje nem se fabricam mais. Rolos de filmes, disquetes, fitas cassete, vidros e embalagens plásticas ainda podem ser encontrados lá, debaixo das milhares de toneladas de terra e lixo. Uma memória resistente de tudo o que foi consumido nos últimos 13 anos em Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho.

Com validade para operar até 2020, o aterro de Salvador é hoje apontado como um dos mais eficientes destinos finais dos resíduos no país. O local coloca a capital baiana e os outros dois municípios da Região Metropolitana na lista das 2.213 cidades que destinam o resíduo urbano em aterros sanitários, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A Bahia possui apenas 90 locais para destinação dos resíduos desse tipo entre 417 municípios.

Com investimento de R$ 50 milhões, a Termoverde Salvador foi construída em uma área de sete mil hectares pelo grupo Solví. A termelétrica tem potência para gerar 19 megawatts e produz 150 mil megawatts ao ano, o suficiente para abastecer 300 mil casas.

A construção de aterros sanitários é uma das exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O plano estabelece como meta o fim dos lixões a céu aberto até agosto de 2014 sob risco de multa e até prisão dos prefeitos. O Brasil possui 2.906 lixões em atividade, segundo números do Ministério do Meio Ambiente. A PNRS, aprovada em 2010, determina ainda que todos os municípios tenham um plano de gestão dos resíduos sólidos para ter acesso a recursos financeiros do governo federal.

Diariamente, 2.800 toneladas de resíduos chegam em viagens ininterruptas nas 12 carretas que fazem o transporte da Estação de Transbordo em Canabrava, primeira parada do lixo coletado, até o aterro, no Km 6 da Estrada do Cia-Aeroporto.

As segundas e terças-feiras são os dias que as carretas fazem mais viagens por conta da produção maior de lixo, segundo explica o gerente operacional do aterro, administrado pela concessionária Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos (Battre), Diego Nicoletti. “A população deixa para colocar para fora de casa o lixo produzido durante o final de semana nesses dois dias e, por isso, a coleta é maior”, explica.

Resíduo gera energia para 300 mil casas

282 283

Na caçamba das carretas, com capacidade para transportar até 25 toneladas de resíduos, tem espaço para quase tudo, menos para o lixo industrial e hospitalar, cujo alto potencial de contaminação é tratado de outra forma, longe dali. Fora isso, papelão, papel, restos de tudo o que é descartado por casas e apartamentos, além do lixo jogado indevidamente nas ruas e coletados pelos garis, vão parar ali.

A imagem de um aterro sanitário em nada lembra a montanha de lixo associada aos lixões. O local que recebe os resíduos é impermeabilizado com camadas de argila e uma lona plástica altamente resistente, evitando que o chorume líquido produzido durante a decomposição do material orgânico penetre o solo e contamine lençóis de água.

“É um ambiente altamente controlado, para evitar contaminações. O lixo que chega até o aterro vai para o ponto de descarte, que já foi escavado e preparado com processos de impermeabilização e drenagem. O chorume recolhido é transportado até a Central de Tratamento de Efluentes Líquidos (Cetrel), em Camaçari, onde é tratado junto com os efluentes do Polo de Camaçari e depois descartado pelo emissário submarino”, explica Nicoletti.

COMO FUNCIONA O ATERRO

O aterro não recebe lixo hospitalar ou industrial, só domiciliar

2.800 toneladas por dia chegam ao Aterro Sanitário de Salvador, que atende ainda os municípios de Simões Filho e Lauro de Freitas

Todo resíduo que já foi destruído em processos de decomposição, como as toneladas de papel, restos de alimentos, desde 2011, vira combustível para a primeira estação termoelétrica de biogás do Nordeste

Os gases são retirados por tubulações conectadas a um sistema de drenagem responsável por levar o biogás até a Termoverde

A termelétrica possui em sua ponta final linha de transmissão de 7,8 quilômetros que liga a usina à rede elétrica da Coelba, que fará a distribuição às empresas consumidoras

A termelétrica tem potência para gerar 19 megawatts e produz 150 mil megawatts ao ano, o suficiente para abastecer 300 mil casas

O biogás utilizado para a produção de energia é uma mistura de metano e gás carbônico, dois vilões do efeito estufa, produzido durante a decomposição do lixo orgânico no interior do aterro

Os caminhões que fazem a coleta levam o lixo (cerca de 80% de todo o resíduo recolhido) até a Estação de Transbordo, que fica no bairro de Canabrava, próximo ao Estádio do Barradão

12 carretas fazem o transporte do lixo durante todo o dia da Estação de Transbordo até o aterro, que fica na Estrada do Cia-Aeroporto

As carretas passam pela portaria e são pesadas para calcular o volume do lixo que chega. Em seguida, levam o lixo para a frente de descarte, onde o resíduo é compactado e direcionado para os locais de aterro

1

2

3

4

5

ue

O solo do aterro é impermeabili-zado para evitar que o lixo atinja lençóis freáticos

O lixo é depositado e depois é coberto com material argiloso ou arenoso e é nivelado para uma nova camada de resíduos

Quando a cota é atingida, a área é revegetada

O biogás produzido no interior do processo de decomposição do lixo por bactérias anaeróbicas é retirado por drenos feitos de pedra que fazem a captação até a Termoverde Salvador, a primeira usina termoelétrica a biogás do Nordeste

Antes, o biogás passa pelo último processo conduzido pelo aterro, onde passa por trata-mento para retirada de partículas e umidade

54321

A Usina usa o que sobra dos resíduos como combustível para a primeira estação termelétrica de biogás do Nordeste. “A decomposição do lixo orgânico é que gera a maior quantidade de gases. Madeira gera também, mas em menor quantidade”, explica Nicoletti sobre a diferença de contribuição de alguns produtos na produção do biogás.

O biogás utilizado para a produção de energia é uma mistura de metano e gás carbônico, dois vilões do efeito estufa, produzido durante a decomposição do lixo orgânico no interior do aterro. Os gases são retirados por tubulações conectadas a um sistema de drenagem responsável por levar o biogás até a Termoverde. Antes, ainda no aterro, passa por uma espécie de pré-tratamento em que é retirada a umidade e partículas ainda em suspensão.

“Os gases resultantes da decomposição procuram um espaço vazio e encontram uma tela que os conduz até os drenos. Esses drenos são responsáveis pela captação por sucção”, explica Lucas Pinheiro, supervisor operacional do aterro. Em média, são retirados 12 mil metros cúbicos de biogás por dia.

284 285

Preparada para transformar esses gases em energia, a termelétrica é composta de usina geradora com 19 motogeradores de 1.038 KW cada, unidade de tratamento do biogás, subestação elevadora. A termelétrica possui em sua ponta final uma linha de transmissão de 7,8 quilômetros que liga a usina à rede elétrica da Coelba, que fará a distribuição às empresas consumidoras.

Em 2012, foram produzidos 62 milhões de resíduos pela população brasileira. O número mostra que a geração de lixo cresceu 1,3% de 2011 para 2012, índice superior à taxa de crescimento urbano no país no mesmo período, que foi de 0,9%. Desse total, em torno de 22% foram destinados a aterros sanitários. Apesar de não serconsiderado como o destino mais eficiente para os resíduos, o aterro sanitário é uma opção mais ecologicamente segura quando comparada aos aterros controlados e os lixões.

Diante do crescimento da produção de lixo no país, a gestão dos resíduos deve passar também por uma questão de consumo, na outra ponta do ciclo do produto. “É preciso saber fazer escolhas corretas. Se programar antes de fazer uma compra, não ir pelo impulso, fazer melhores opções na hora do consumo, conhecer a origem do produto, como ele foi produzido, conhecer a marca. Também fazer opção por produtos que tenham uma matéria reutilizada ou que seja reciclada”, sugere Fábio Góis, da Eco-D.

Segundo ele, apesar de eficiente, o aterro metropolitano de Salvador tem no crescimento da produção de lixo o maior desafio até o fim de sua vida útil. “Só o que a gente precisaria descartar seria o lixo urbano. O restante, plásticos, vidros, metais, pode ser reutilizado. O tempo de vida útil do aterro é de 20 anos, mas se esse consumo aumentar, esse tempo acaba reduzido. Para o aterro, seria muito mais interessante encontrar uma forma de que esse resíduo chegasse de uma forma mais apurada”, explica Góis.

Foto: Rafael Martins/Agecom

A termelétrica, que fica no aterro, transforma o

gás do lixo em energia

Fábio Góis, da Eco-D, sugere mudança de entendimento do resíduo pro-duzido dentro de casa. “Lixo é um conceito de algo que é descartado e nunca mais volta, de algo inútil. É interessante mudar esse conceito para resíduo, que é algo que restou de algum produto e que pode ser utilizado em outro processo. Na década de 1970, as empresas não conseguiam uma produção sem deixar resíduo. Hoje, essas empresas são desqualificadas por não serem eficientes na eliminação de resíduos. Cada resíduo que sobra é custo”, conclui.

Para ele, o Brasil utiliza pouca tecnologia na gestão do lixo sólido urbano. “É um desperdício. Já existe tecnologia suficiente para aproveitar esses resíduos”, acredita. Do lixo coletado por dia, apenas 1,5 tonelada, o equiva-lente a 0,8%, era transportada para unidades de compostagem no país em 2008, segundo o IBGE.

Por que os especialistas trocaram lixo por resíduo

“Lixo é um conceito de algo que é descartado e nunca mais volta, de algo inútil. Resíduo é algo que restou de algum produto e que pode ser utilizado em outro processo”FÁBIO GÓIS, da Eco-D

Infográfico: Economia sustentável

ECONOMIA SUSTENTÁVELA prática do desenvolvimento sustentável é um desafio para a

sociedade. Nas empresas, a adoção de princípios e práticas de

gestão compatíveis com as premissas de sustentabilidade e

responsabilidade corporativa tem sido uma prioridade. No

mercado globalizado, com restrições sociais, econômicas e

naturais, a gestão responsável dos negócios é um diferencial

competitivo. E se soma aos esforços de governos e da sociedade

civil para viabilizar um modelo de desenvolvimento inclusivo

ECONOMIA SUSTENTÁVEL inclui um conjunto de processos produtivos (industriais, comerciais, agrícolas e de serviços) que, ao ser aplicado em determinado local (país, cidade, empresa, comunidade, etc.), possa promover nele o desenvolvimento com respeito aos aspectos ambiental e social. O objetivo é satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras

O QUE É

COMO SABER SE A ECONOMIA É SUSTENTÁVEL

Quando aumenta a geração de empregos e o progresso econômico responsável

Combate o consumo irracional de água potável e demais fatores que contribuem para a saúde dos ecossistemas

Restringe gradativamente o uso de combustíveis fósseis (gasolina, carvão, diesel, etc.) e aumenta o uso de fontes limpas e renováveis de energia (hidroeltricidade, eólica, solar, etc), para reduzir as emissões de CO2

Estimula práticas e processos que visam a inclusão social e erradicação da pobreza

Investe na valorização da agricultura verde

Dá tratamento adequado do lixo com sistemas eficientes de reciclagem

Possui qualidade e eficiência nos sistemas de mobilidade urbana

UMA EMPRESAPRATICA A ECONOMIA SUSTENTÁVEL QUANDO

ENGANOS DA GESTÃO PARA A ECONOMIA VERDE

AS TRÊS LEIS DA SUSTENTABILIDADE

Compatibiliza o desenvolvimento econômico com o respeito ambiental

Contribui para erradicar a pobreza e melhorar o bem-estar social, indo além da simples criação de empregos

Atua na evolução das comunidades, especialmente no seu entorno, ensinando-as a “pescar”, em vez de “distribuir benesses”

Investe na qualidade de vida e na motivação dos trabalhadores

Adota um modelo em que os princípios, a ética e a transparência precedem a implementação de processos, produtos e serviços

Reduz os impactos ambientais negativos e economiza o uso de recursos como água e eletricidade

Os gestores recebem uma avalanche de informações, banalizando as práticas e as políticas de responsabilidade social e os processos de gestão

As preocupações estão mais direcionadas a mostrar que somos “socialmente responsáveis” e “susten-táveis” do que integrar a dimensão socioambiental nos negócios

Limitar as ações ambientais ao que a legislação obriga

Supor que “sustentável” se refere aos aspectos ambientais; “responsabili-dade social” aos aspectos sociais, e que “sustentabili-dade” é um novo modelo de negócios, mais “moderno” do que responsabilidade social

Entender o termo “sustentabilidade” como um ideal a ser atingido

Não entender que ser sustentável é também criar um ambiente propício para a inovação

Embaralhar conceitos de sustentabilidade e responsabili-dade social empresarial (RSE) e estabelecer controvérsias, como uma cortina de fumaça para a gestão da organização

Crer que os temas sociais e ambientais afetam a competitivi-dade das empresas. Segundo a visão clássica da empresa, incorporar as questões sociais e ambientais além da obrigação legal eleva os custos e reduz o lucro das empresas

Dissociar o conceito de desen-volvimento ambiental do conceito de responsabilidade social

Crer que programas sociais ou ambientais corporativos se sustentarão se não houver o equilíbrio econômico da empresa

VOCÊ SABIA?ECONOMIA VERDE é uma expressão de

significados e implicações ainda controversos,

relacionada ao conceito mais abrangente de

desenvolvimento sustentável, consagrado

pelo Relatório Brundtland, de 1987. Porém, o

termo só foi assumido oficialmente pela

comunidade internacional na Rio-92, realizada

no Rio de Janeiro, tomando o lugar do termo

“ecodesenvolvimento” nos debates, discursos

e formulações de políticas envolvendo

ambiente e desenvolvimento

Preserve a natureza. Você precisa dela, mas ela pode não precisar de você

Consuma com moderação. Sua geração não deve comprometer o bem-estar das gerações futuras

Desenvolvimento e sustentabili-dade são uma coisa só e dizem respeito tanto à responsabilidade para com a natureza quanto ao respeito pelos direitos humanos

321

ECONOMIA SUSTENTÁVELA prática do desenvolvimento sustentável é um desafio para a A prática do desenvolvimento sustentável é um desafio para a

sociedade. Nas empresas, a adoção de princípios e práticas de sociedade. Nas empresas, a adoção de princípios e práticas de

gestão compatíveis com as premissas de sustentabilidade e gestão compatíveis com as premissas de sustentabilidade e

responsabilidade corporativa tem sido uma prioridade. No responsabilidade corporativa tem sido uma prioridade. No

mercado globalizado, com restrições sociais, econômicas e mercado globalizado, com restrições sociais, econômicas e

naturais, a gestão responsável dos negócios é um diferencial naturais, a gestão responsável dos negócios é um diferencial

competitivo. E se soma aos esforços de governos e da sociedade competitivo. E se soma aos esforços de governos e da sociedade

civil para viabilizar um modelo de desenvolvimento inclusivocivil para viabilizar um modelo de desenvolvimento inclusivo

ECONOMIA SUSTENTÁVEL inclui um conjunto de ECONOMIA SUSTENTÁVEL inclui um conjunto de processos produtivos (industriais, comerciais, processos produtivos (industriais, comerciais, agrícolas e de serviços) que, ao ser aplicado em agrícolas e de serviços) que, ao ser aplicado em determinado local (país, cidade, empresa, determinado local (país, cidade, empresa, comunidade, etc.), possa promover nele o comunidade, etc.), possa promover nele o desenvolvimento com respeito aos aspectos desenvolvimento com respeito aos aspectos ambiental e social. O objetivo é satisfazer as ambiental e social. O objetivo é satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futurasa capacidade das gerações futuras

O QUE ÉO QUE É

COMO SABER SE A ECONOMIA É SUSTENTÁVEL

Quando aumenta a geração de empregos e o progresso econômico responsável

Combate o consumo irracional de água potável e demais fatores que contribuem para a saúde dos ecossistemas

Restringe gradativamente o uso de combustíveis fósseis (gasolina, carvão, diesel, etc.) e aumenta o uso de fontes limpas e renováveis de energia (hidroeltricidade, eólica, solar, etc), para reduzir as emissões de CO2

Estimula práticas e processos que visam a inclusão social e erradicação da pobreza

Investe na valorização da agricultura verde

Dá tratamento adequado do lixo com sistemas eficientes de reciclagem

Possui qualidade e eficiência nos sistemas de mobilidade urbana

UMA EMPRESAUMA EMPRESAPRATICA A ECONOMIA PRATICA A ECONOMIA SUSTENTÁVEL QUANDOSUSTENTÁVEL QUANDO

Compatibiliza o desenvolvimento Compatibiliza o desenvolvimento econômico com o respeito econômico com o respeito ambiental

Contribui para erradicar a pobreza e Contribui para erradicar a pobreza e melhorar o bem-estar social, indo melhorar o bem-estar social, indo além da simples criação de além da simples criação de empregos

Atua na evolução das comunidades, Atua na evolução das comunidades, especialmente no seu entorno, especialmente no seu entorno, ensinando-as a “pescar”, em vez de ensinando-as a “pescar”, em vez de “distribuir benesses”“distribuir benesses”

Investe na qualidade de vida e na Investe na qualidade de vida e na motivação dos trabalhadoresmotivação dos trabalhadores

Adota um modelo em que os Adota um modelo em que os princípios, a ética e a transparência princípios, a ética e a transparência precedem a implementação de precedem a implementação de processos, produtos e serviçosprocessos, produtos e serviços

Reduz os impactos ambientais Reduz os impactos ambientais negativos e economiza o uso de negativos e economiza o uso de recursos como água e eletricidaderecursos como água e eletricidade

ECONOMIA VERDE é uma expressão de

significados e implicações ainda controversos,

relacionada ao conceito mais abrangente de

desenvolvimento sustentável, consagrado

pelo Relatório Brundtland, de 1987. Porém, o

termo só foi assumido oficialmente pela

comunidade internacional na Rio-92, realizada

no Rio de Janeiro, tomando o lugar do termo

“ecodesenvolvimento” nos debates, discursos

e formulações de políticas envolvendo

288 289

Mediado pelo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Irundi Sampaio, o debate no Fórum Agenda Bahia 2013 discutiu o tema Política Nacional de Resíduos Sólidos: Desafio Imediato para Economia Verde. Participaram da discussão o gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu, Dalberto Adulis, o diretor de Sustentabilidade da Braskem, Jorge Soto, e a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles.

De acordo com Adulis, a grande questão da Economia Verde é o fechamen-to do ciclo. “A única espécie viva que produz lixo é o homem, nenhum outro animal produz. O grande desafio é fazer com que a gente produza menos lixo e que o resíduo entre novamente em atividade produtiva, aliviando a pressão da natureza, por um lado, e, de outro, limpando as nossas cidades”, afirmou o gerente do Akatu, antes de reforçar que os desafios para que esse fechamento aconteça são inúmeros.

A secretária do Meio Ambiente levantou a discussão sobre a incineração como forma de transformar o resíduo em energia. “Esse é um ponto que o ministério não decidiu ainda”, explica. Já o diretor de Sustentabilidade da Braskem defendeu a criação de certificação como estímulo à produção verde. “Na década de 1990, o Brasil foi o país que mais rapidamente adotou a certificação de gestão ambiental. É possível, mas é preciso um mínimo de estímulo”, defendeu Soto.

Certificação para a produção verde

Foto: Marina Silva

Irundi, Adulis, Soto e Mariana: é preciso gerar

menos lixo e reintroduzir resíduos na cadeia

produtiva

Cada brasileiro produz, em média, um quilo de lixo por dia. De acordo com o gerente de conteúdos e metodologias do Instituto Akatu, Dalberto Adulis, esse acúmulo é insustentável e precisa ser revisto. Na opinião dele, a cons-cientização do cidadão passa pela educação ambiental. “O volume é muito grande e a gente tem que repensar a questão do consumo. É preciso ter consciência de que cada coisa que se consome tem um impacto”, afirma.

Em parceria com a Braskem, o instituto criou a Edukatu, uma rede de com-partilhamento de práticas sustentáveis e de consumo consciente voltada para alunos e professores. “O interessante é que o professor é motivado a desafiar os alunos, que depois passam a fazer parte de uma rede com outros estudantes”, explica.

A secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles, falou da implementação da educação ambiental no currículo escolar. “A nossa cidadania engatinha. A gente tem que melhorar a educação ambiental no país, que é muito precária ainda. Quantos não falam: ‘Ah, mas não vou separar o lixo porque o governo junta tudo’. Então, o próprio cidadão ainda não percebe que parte da solução começa por ele e é uma questão de educação muito séria no país. Mas, embora contrarie a maioria dos educadores que desejam que haja uma disciplina específica para educação ambiental, a posição do governo já está tomada que é de transversalidade dessa disciplina no parâmetro curricular”, avalia.

Jorge Soto complementou a discussão indicando a experiência da Braskem no tema. “Nós também educamos os integrantes e várias coisas passam transversalmente. Mas, em algum momento, é necessário fazer um recorte, entrar com um mínimo de profundidade para que não fique superficial. Eu acho que não é ‘ou’ é fazer ‘e’. Não transversalidade ou um módulo único, mas os dois. Talvez temporariamente”, defendeu.

Educação ambiental

290 291

Como estimular as empresas a adotarem práticas susten-táveis? Segundo a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles, o uso de certificados pode ser uma das soluções. Porém, ela argumentou que as empresas bra-sileiras estão em níveis diferentes de evolução no trato das questões ambientais. “O Brasil possui uma escala de empresas muito distintas. Adotar a certificação antes de estruturar o sistema [Política Nacional de Resíduos Sólidos] pode criar um problema de competitividade no país”, acredita.

A secretária do Meio Ambiente afirmou que gostaria que a certificação e a rotulagem dos produtos ajudassem no caminho de consumo mais sustentável do Brasil. “Mas temos que entender as questões ambientais no país levando em conta o grau de maturidade das empresas. Trabalhar com empresas líderes a favor da sustentabilida-de é tudo o que um governo quer, mas a composição eco-nômica do país não se faz só dessas empresas que já estão nesse caminho. Precisamos conscientizar as pequenas e médias empresas também”, disse.

A secretária falou sobre a possibilidade de incinerar os resíduos como uma das formas de se fazer a recuperação energética. Mas a questão ainda não tem definição por parte do governo federal. “Esse é o ponto mais polêmico”, disse. “A pergunta a ser feita é: ‘o que fazer com 60% dos dejetos que, mesmo em condições adequadas, não podem ser reciclados?’”.

Mariana defendeu a educação ambiental nas escolas para uma mudança no comportamento da sociedade. “Nossa cidadania engatinha. Temos que melhorar a educação am-biental, que é precária ainda”, afirma.

Estímulo para as empresas

Foto: Marina Silva

Mariana: polêmica da incineração

“Precisamos conscientizar as pequenas e médias empresas também”

Com a política estadual de resíduos sólidos tramitando na Assembleia Legislativa, o governo da Bahia promete também dar uma força para os municípios cumprirem suas metas. Segundo o chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Sedur), Eduardo Copello, o estado realizou um estudo para decidir qual a melhor forma de viabilizar a política municipal de resíduos sólidos nas cidades onde faltam recursos.

“Não chegamos a um volume que viabilize uma Parceria Público Privada (PPP), mas também não descartamos”, disse Copello. Segundo ele, a melhor alternativa será a formação de consórcios entre cidades vizinhas para que sejam compartilhadas as soluções. “Em vez de um aterro em cada município, se investe em um que vai beneficiar seis, sete cidades na mesma região”, sugeriu.

Ele conta que a Sedur vai ajudar com planejamento, projetos e viabilização de dinheiro do governo federal. “Estadual também, mas não tem saco sem fundo”, avisou.

Eduardo Copello afirmou, durante a palestra, que existem apenas 21 consórcios públicos formados no estado. Mas que existem recursos para a elaboração de projetos de Resíduos Sólidos em 278 cidades baianas. Segundo o chefe de gabinete, a secretaria tem o programa Recicle Já Bahia em 83 repartições públicas federais e estaduais. Desde 2009, houve doação de 1.100 toneladas de materiais recicláveis a oito cooperativas.

Aterro compartilhado é a melhor solução

Foto: Arisson Marinho

Copello defendeu a criação de consórcios entre municípios para

destinação do lixo

292 293

A dona de casa Maria do Carmo Bispo marca o tempo do caminhão do Vale Luz, da Coelba, voltar ao bairro do Costa Azul. A cada dia, os dois caminhões recolhem resíduos de materiais recicláveis dos moradores de 24 bairros de Salvador contemplados pelo programa. Em troca de papelão, metais, plásti-cos, o Vale Luz dá desconto direto nas contas de luz.

Quando passa um dia além do esperado, dona Carminha, como é conheci-da, liga para a Coelba para saber quando o Vale Luz vai chegar. “Eu não vivo mais sem esse caminhão. Se não vem no dia que eu imaginei que viria, eu ligo mesmo, para saber o dia certo. Já nem lembro de quando paguei uma conta de luz”, gaba-se.

Enquanto o caminhão visita outros bairros, ela vai juntando cada latinha, embalagem plástica e garrafa PET que vê, em sua casa e também na dos vizinhos. “O pessoal daqui participa bastante. Mas o que vou encontrando vou juntando para trocar tudo em energia”, diz.

Dona Carminha é apenas um entre os mais de 2 mil clientes que já partici-param do Vale Luz desde que o programa foi criado, em 2008. Nos últimos cinco anos, já foram recolhidas mais de 320 toneladas de resíduos. Mais de R$ 20 mil já foram dados em descontos só este ano.

Quando chega nos bairros, o caminhão logo é rodeado pela população com sacolas recheadas de materiais. É preciso que os moradores comprovem que têm casas naquele bairro, através da conta de energia, garantindo que o benefício fique para quem mora naquela comunidade. Em seguida, é feito

Lixo reciclável dá desconto na conta

Foto: Divulgação

Cooperativa pesa, na hora, o lixo que será reciclado e calcula o

valor do desconto em cada conta

um cadastro para identificar a conta que receberá o benefício. O resíduo entregue é pesado e transformado em crédito na conta de energia.

“O resíduo tem de estar limpo e seco. Ao ser entregue, uma das coopera-tivas parceiras do programa pesa o resíduo e o desconto é dado na hora”, explica a assessora de eficiência energética da Neoenergia, Ana Cristina Mascarenhas. O material recolhido hoje é entregue à Camapet, empresa de cooperativa com sede em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.

Segundo a assessora, o projeto resolve dois pontos importantes na relação de consumo de energia: diminui o valor das contas, o que reduz o número de consumidores com dívidas, e além disso estimula entre os moradores de co-munidades populares o uso consciente dos materiais recicláveis. “A comu-nidade participa em peso e começa a recolher os resíduos para transformar isso em descontos quando o caminhão passa. O interessante também é que eles percebem como os bairros vão ficando mais limpos, com menos lixo”, vibra Ana, que acrescenta: “Eu chamo isso de ganha-ganha, porque, de fato, todo mundo sai ganhando”.

Os próprios caminhões que hoje fazem a maratona de descontos foram comprados com o valor gerado pelas sucatas de geladeiras entregues pela população em troca de refrigeradores novos. Nos veículos, também é possível se cadastrar na Tarifa Social de Energia, benefício do governo federal que dá descontos de até 65% na conta de luz, e também trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes, mais econômicas.

O caminhão do Vale Luz também começará a recolher óleo de cozinha, para evitar que o líquido seja descartado na tubulação de água ou no lixo. Apesar de não ser remunerada, a entrega vale muito ao meio ambiente. Um litro de óleo é capaz de poluir 20 mil litros de água.

Como bons projetos geram bons resultados, o Vale Luz ganhou força e, desde 2012, deu origem ao Vale Luz Empresa. O projeto incentiva as empresas a atuar de forma sustentável através da reciclagem de seus resíduos. Em troca de um descarte ambientalmente responsável, o projeto dá descontos na conta de energia, da mesma forma como ocorre com os moradores.

O diferencial positivo é que os créditos são doados a instituições que realizam trabalhos sociais. O Vale Luz já recolheu 90 toneladas. Entre os beneficiados estão as Obras Sociais Irmã Dulce. “O resíduo é coletado pela empresa, que agenda com o caminhão a periodicidade da coleta. Uma vez recolhido, o material é encaminhado a uma cooperativa de coleta seletiva”, explica Ana Cristina Mascarenhas. Cabe às empresas estimular, com a ajuda da Coelba, os funcionários a realizar um descarte consciente.

294 295

Todo mundo depende, de alguma forma, da madeira, do início ao fim da vida: “Do berço ao caixão, da certidão de nascimento à certidão de óbito”, brinca o diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), Wilson Andrade. E também é verdade que na fabricação do berço, do caixão e do papel das certidões de nascimento e de óbito sobram resíduos.

Resíduos significam lixo, logo devem ser levados imediatamente para algum aterro ou lixão, correto? Não, necessariamente. Esse conceito está mudando. As empresas de base florestal, por exemplo, que podem ser de diversos setores (da celulose à construção civil) reutilizam, em média, 94% dos seus resíduos. “Nada se perde. Quando se colhe uma árvore, o que sobra serve para gerar energia ou adubo. Além de ser sustentável, isso representa uma enorme vantagem econômica”, diz Andrade.

Sobre a utilização do termo ‘colher’ em vez de ‘derrubar’, Wilson Andrade explica: “Na Bahia, temos 1 milhão de hectares de madeira de eucalipto. Desses, 600 mil hectares são plantados e os outros 400 mil são áreas pre-servadas. É como uma batata. Você planta e depois você colhe. O eucalipto nasce de novo duas vezes, só na terceira que é preciso replantar”, ensina.

E na hora de replantar uma árvore dessas é utilizado justamente o que sobra das árvores antigas, que foram derrubadas. Isso porque, no final das contas, os resíduos sólidos dessas fábricas se transformam em fertilizantes para o solo. O diretor de operações da Veracel, Ari Medeiros, explica o procedimento na indústria de celulose, que fica em Eunápolis, sul do estado.

“Nossa matéria-prima é a celulose, que é a fibra de madeira. Quando extraímos essa madeira, a casca fica no campo. O resto vai passar por um processo de picagem, para ser transformado em cavacos”, conta. Os cavacos a que Medeiros se refere nada mais são do que os pedacinhos de madeira que saem dessa máquina específica: o picador.

Nesse processo, sobram restos de casca, serragem e resíduos de madeira, que não poderão ser usados para a fabricação da celulose bran-queada que a Veracel produz. Mesmo assim, esse material não vai para o lixo. Ele é armazenado para virar fertilizante no final do processo.

Processo esse que continua com o cozimento dos cavacos em alta tem-peratura, quando são adicionados também alguns produtos químicos

Mil e uma utilidades

alcalinos. Ao final do cozimento, obtém-se uma polpa de celulose marrom e um líquido escuro, denominado licor negro. Esse líquido é mais um resíduo do processo de produção que também não é descartado.

O licor negro é queimado, servindo como fonte de energia para a própria fábrica. “Não usamos nenhum tipo de combustível fóssil. Mesmo assim, somos autossuficientes em energia, e ainda vendemos o que sobra para a Chesf”, gaba-se o diretor Medeiros.

2

3

4

5

6

7

8

9

Florestas de eucalipto são colhidas

Toras de madeira são levadas para a fábrica, de caminhão

Num equipamento chamado picador, elas são transforma-das em pequenos pedaços, denominados cavacos, que são peneirados

Sobram casca, restos de madeira, biomassa de eucalipto e lama de cal

Ao final do cozimento, sobra

um líquido, denominado licor negro, contendo

os produtos dissolvidos da madeira e restos

de aditivos

Os cavacos selecionados passam por um processo de cozimento com outros

aditivos químicos, para posteriormente serem transformadas em celulose

branqueada, que origina o papel

Esse licor é queimado numa caldeira, gerando

energia para a fábrica

Os dregs são misturados com os restos de madeira

e transformados em fertilizantes

Os fertilizantes são utilizados nas florestas de eucalipto

O CICLO

DA MADEIRA

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

1

Sobram os dregs, matéria

inorgânica que não queimou

10

296 297

Mas, mesmo depois de queimar, o licor negro ainda deixa um resíduo, chamado dreg. “Os dregs são a matéria inorgânica que não queimou”, explica ele. Esses dregs são misturados aos resíduos dos cavacos e ficam de quatro a seis meses passando por um processo de decomposi-ção para, em seguida, virar adubo.

Metade desse adubo é vendida para pequenos agricultores da região e a outra metade é utilizada pela própria Veracel para manter ou replantar os eucaliptos que servem de matéria-prima em seu processo de produção. A empresa, conta Medeiros, reutiliza 95% dos seus resíduos sólidos.

Wilson Andrade, da Abaf, lembra que, como a Veracel, existem outras empresas de base florestal (que utilizam a madeira como matéria-prima) com iniciativas parecidas. “Não é difícil encontrar uma empresa autos-suficiente em energia. Na Abaf, temos 21 associadas e todas elas têm a política de reaproveitamento”.

WILSON ANDRADE, diretor executivo da Abaf

“Na Abaf, temos 21 empresas associadas e todas têm a política de reaproveitamento de energia”

“Não usamos nenhum tipo de combustível fóssil. Mesmo assim, somos autossuficientes em energia, e ainda vendemos o que sobra para a Chesf”ARI MEDEIROS, diretor de operações da Veracel

Sobras de madeira também podem se transformar em... madeira! E de um tipo mais sustentável e resistente, que não dá cupim nem solta farpas. É esse o trabalho da Madeplast, que fica situada em Curitiba, mas distri-bui madeira plástica para todo o Brasil (na Bahia, é possível encontrar na Ferreira Costa, na Paralela, e na Deck & Engemont, em Vilas do Atlântico).

O superintendente da empresa, Guilherme Bampi, explica como essa madeira é fabricada. “As sobras de armários, pallets, restos de serragem e pó de serra são colocados numa máquina e triturados, até virarem um pó homogêneo”. Em outra máquina, restos de plástico, comprados de coo-perativas de catadores, também são triturados e granulados, até virarem umas bolinhas. “Utilizamos apenas o plástico Pead (Polietileno de Alta Densidade), que é o mais durinho, vindo de embalagens de produtos de limpeza, por exemplo”, explica.

Depois, os dois materiais são misturados em alta temperatura e são acrescentados aditivos químicos. O resultado é uma espécie de massa de modelar, que será transformada em tábuas e pilares de diversos tamanhos e espessuras. “Temos 20 moldes diferentes”, conta Bampi. O produto final é tão bom que é utilizado até no deck das Cataratas do Iguaçu.

A Madeplast, que nasceu numa faculdade de Londrina (PR), também fez a fachada de um shopping na mesma cidade, além de coberturas, pergo-lados, cercas e tudo o mais que se pode fazer com madeira. “O preço é muito semelhante ao da madeira convencional, só que o custo- benefício é melhor, porque dura mais. Nossa madeira tem 30% de plástico e sai da fábrica com 10 anos de garantia contra ataques de fungos, bolor e cupim”, conta. Mas o principal ganho é o ambiental. “É ecológico porque você substitui um material vindo do extrativismo, do desmatamento, por outro, feito de resíduos, que são uma coisa que seria jogada fora”.

Madeira plástica é ecológica

Foto: Divulgação

A madeira plástica tem 70% de resíduos de madeira e 30% de resíduos de plásticos

298 299

Se você tem a intenção de obter apoio financeiro para um projeto socioam-biental, fique ligado: a partir de 2014, a Petrobras abrirá inscrições para inte-ressados em participar do programa Petrobras Socioambiental. As iniciati-vas deverão seguir sete linhas de atuação: produção inclusiva e sustentável, biodiversidade e sociodiversidade, direitos da criança e do adolescente, florestas e clima, educação, água e esporte.

Além desses temas, as iniciativas devem contemplar a equidade de gênero e de raça e a inclusão de pessoas com deficiência. As datas de inscrição ainda não foram divulgadas, mas, segundo a assessoria de imprensa da estatal.

Ao todo, o Programa Petrobras Socioambiental prevê o investimento de R$ 1,5 bilhão, entre 2014 e 2018, em projetos sociais, ambientais e socioes-portivos. Informações mais detalhadas sobre o programa e suas diretrizes podem ser conferidas no site www.petrobras.com.br/socioambiental.

Projetos socioambientais terão R$ 1,5 bi

Foto: Arquivo Correio

Projeto Tamar, em Praia do Forte, conta com apoio da empresa para desenvolver suas práticas

Foto: Agência Petrobras

Projeto Floresta Sustentável conta

com investimento da Petrobras

O valor que será destinado especificamente à Bahia não foi divulgado, já que depende da inscrição de projetos. Entre os projetos na área do de-senvolvimento sustentável realizados pela Petrobras no estado estão o Floresta Sustentável, que trabalha para restaurar áreas degradadas de Mata Atlântica em trecho de Área de Preservação Permanente (APP) do Rio Pojuca.

O programa visa a ampliação e enriquecimento de um corredor ecológico que conecta Sapiranga e Camurujipe, fomentando atividades de geração de renda compatíveis com a conservação ambiental e segurança econômica das famílias envolvidas no projeto.

No mesmo programa, jovens e adultos recebem cursos de capacitação sobre economia básica e marketing, aproveitamento dos recursos naturais para atividades de artesanato, formação de sistemas agroflorestais e be-neficiamento dos seus produtos, combate a incêndios florestais, manejo de animais silvestres e qualificação da equipe para a Copa do Mundo 2014.

Outro programa na área é o Projeto Tamar. Desde 1983, a Petrobras é a pa-trocinadora oficial do projeto, que preserva as tartarugas marinhas ao longo da costa brasileira. A principal missão do programa é a pesquisa, conserva-ção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção.

O Projeto Tamar protege em torno de 1.100 km de praias, através de 23 bases mantidas em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso desses animais, no litoral e ilhas oceânicas, em nove estados brasileiros, incluindo a Bahia.

A cada ano, cerca de 20 mil desovas são protegidas e monitoradas, com mais de 1 milhão e 200 mil filhotes liberados ao mar. Em seus mais de 30 anos de atuação, o Projeto Tamar já superou a marca de 15 milhões de filhotes nascidos sob sua proteção.

O gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobras, Armando Tripodi, ressalta a importânca de investir no setor de responsabilidade social empresarial. “Acreditamos que transformações estruturais só acontecem quando tratamos de forma integrada as dimensões econômicas, sociais e ambientais. Essa é uma tendência mundial que reflete o conceito de desen-volvimento sustentável dentro das organizações”, ressalta.

Para quem atua na área dos esportes, o recém-lançado Prêmio Petrobras de Esporte Educacional é uma oportunidade para conseguir apoio. A pre-miação destinará R$ 500 mil para tecnologias sociais de esporte educacio-nal, desenvolvidas por professores de instituições de ensino e organizações

300 301

sociais de todo o país. Há três categorias: terceiro setor, universidade e escola pública. O campeão de cada categoria receberá R$ 15 mil, o segundo lugar, R$ 10 mil, e o terceiro, R$ 5 mil.

Também serão premiadas com equipamentos e materiais esportivos, no valor de R$ 50 mil, as organizações indicadas pelos vencedores. As inscri-ções são gratuitas e individuais e estão abertas até 5 de fevereiro de 2014 no site www.petrobras.com.br/premioesporte.

“Acreditamos que transformações estruturais só acontecem quando tratamos de forma integrada as dimensões econômicas, sociais e ambientais”ARMANDO TRIPODI, gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobras

Imagine que você é dono de uma transportadora, que leva produtos para diferentes regiões do país em caminhões, através das rodovias nacionais. Quer ampliar seu negócio e decide comprar novos pallets para transportar mais carga. Dessa vez, quer fazer a escolha mais sustentável, com menor impacto ambiental. Encontra duas opções: pallets de madeira e de plástico. Qual você escolheria?

Antes de responder, pense em quantas vezes você vive um dilema parecido no seu dia a dia, para fazer uma escolha mais sustentável. Álcool ou gasolina? Detergente ou sabão em pedra? Pensando em ajudar a res-ponder essas perguntas, nove empresas se reuniram e criaram a Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida dos Produtos - entre elas, as baianas Braskem e Odebrecht.

A ideia é realizar estudos que analisem o impacto ambiental de vários produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, oferecendo conhecimento para que o consumidor possa optar por itens que tenham mais impactos positivos que negativos para a sociedade e para o planeta.

As companhias que integram a iniciativa são Braskem, Danone, Embraer, GE, Grupo Boticário, Natura, Odebrecht, Oxiteno e Tetra Pak. São institui-ções parceiras o Instituto Akatu e a Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV).

Voltemos, então, à pergunta anterior. Provavelmente, você respondeu que a melhor opção seria o pallet de madeira, porque se trata de um produto biodegradável, que pode ser recuperado através do reflorestamento, enquanto o plástico é um combustível fóssil. Certo? Errado.

Ao dar essa resposta, você não levou em consideração todo o ciclo de vida dos produtos. Além de durar bem menos, o pallet de madeira tem outras desvantagens, como explica o diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Jorge Soto.

“O pallet de plástico é muito melhor pelo simples fato de pesar 3 quilos, enquanto o outro pesa 35 quilos. Como o pallet é feito para transportar cargas, você gasta muito menos energia e combustível nesse processo de ir e vir utilizando o pallet de plástico”, detalha. “Da mesma forma, ter um carro com muito plástico é bom ou ruim? A lógica é a mesma: quanto mais plástico um carro tiver, mais leve ele vai ser e menos combustível vai consumir”, complementa o diretor.

Um Brasil de produtos sustentáveis

302 303

Atualmente, as empresas que fazem parte da rede realizam estudos par-ticulares sobre o ciclo de vida dos seus produtos, o que deverá embasar futuras escolhas para reduzir a “pegada ecológica” da produção. A rede pretende lançar um documento conjunto, a ser disposto no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), de onde servirá de referência à população, às empresas e aos governos.

“Esperamos que ainda em 2014 tenhamos um conjunto de informações suficientes para compilar algo e entregar à sociedade”, prevê Soto. “O cidadão hoje toma decisão muito com base no que é útil para ele e com base no preço. Mas ele estará contribuindo muito mais para a sustentabili-dade se levar em consideração os impactos ambientais”, completa.

Para essa adequada avaliação dos impactos, Soto destaca a importância de pensar no ciclo de vida: “É importante avaliar os impactos que o produto causou antes e depois, mas sem esquecer dos impactos durante o uso”.

O objetivo final é tornar o Brasil uma referência em produtos sustentá-veis, com “pegada ecológica”, reduzida, ganhando em competitividade em comparação com os produtos de outros países, conforme explica o diretor da Braskem.

“O Brasil pode se tornar, a partir disso, o provedor de produtos mais am-bientalmente corretos que em outros países, tudo com base nesses estudos que estamos fazendo”, prevê Soto.

Foto: Marina Silva

Diretor de Sustentabilidade da

Braskem, Jorge Soto: ‘É preciso analisar

todo o ciclo de vida dos produtos’

Referência internacional na produção de químicos e petroquímicos, a Braskem é pioneira no Brasil na realização da ferramenta de Análise do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos. Para avaliar questões de sustentabi-lidade na cadeia de valor, a Braskem vem utilizando a ferramenta desde 2005. Até hoje, pelo menos 22 estudos já foram realizados com o apoio de consultorias especializadas.

A estruturação de uma área interna específica para conduzir o assunto, em 2011, permitiu apoiar a estratégia de desenvolvimento sustentável da empresa. Entre esses estudos, a avaliação do impacto da utilização de sacolas plásticas, comparando-as com outras alternativas, e o que analisa a utilização de sacas plásticas de farinha.

Nesse sentido, a Braskem já se tornou referência internacional em produção sustentável na cadeia do plástico. Desde 2002, a empresa já reduziu 61% a geração de resíduos, e em 10% o consumo de água e energia.

Braskem já fez 22 estudos de ciclo de vida dos produtos

“O cidadão irá contribuir muito mais para a sustentabilidade se levar em consideração os impactos ambientais na hora de comprar”JORGE SOTO, diretor da Braskem

305

Agronegócio

*Desenvolvimentoprodutivo

O Semiárido brasileiro viveu a pior seca das últimas décadas. A região encontra na Bahia um grande território: quase 40% está inserido no estado, que em toda a sua extensão concentra 60% de sertão.

Uma faixa imensa no mapa pouco integrada com o restante da Bahia. O último seminário do Fórum 2013 reuniu especialistas e autoridades governamentais para buscarem soluções que ultrapassassem o combate à seca. Resultassem em uma melhor convivência do sertanejo com a adversidade climática e, principalmente, pudessem tornar o Sertão mais produtivo.

Antonio Alarcon, consultor internacional em tecnologia agrícola e manejo intensivo, mostrou que a pequena cidade de Múrcia, na Espanha, onde chove menos da metade do que no Semiárido brasileiro, é responsável por 20% das exportações de hortifrutas daquele país – e por 1,8% das expor-tações mundiais desses produtos.

Jussemar Cordeiro, de uma cooperativa de Uauá, foi o exemplo de que é possível ter sucesso também na Bahia. Com a ajuda de tecnologia, o umbuzeiro ganhou ciclo mais curto de produção e os agricultores ainda puderam ter renda o ano todo, com a venda de geleias e polpa, inclusive para a Europa.

Mas o Sertão pode mais. Além da agricultura, especialistas apontaram outros caminhos, como o investimento na bacia leiteira e, por consequên-cia, na indústria de laticínios. Nos ventos, o que tem feito a Renova Energia, e no subsolo, onde existe um verdadeiro tesouro a ser explorado pelo setor de mineração.Todas as soluções apontadas nos quatro seminários do Fórum serão entregues às autoridades.

O Sertão pode mais

306 307

A Bahia é o estado com maior território no Semiárido brasileiro. Apesar da adversidade climática, palestrantes e debatedores que participaram do Fórum Agenda Bahia garantiram que é possível transformar o sertão baiano em um

polo econômico relevante, assim como aconteceu com o Cerrado brasileiro

Para isso, são necessários investimentos em pesquisa para a diversificação de cultivos para diferentes áreas do Semiárido, observando as características do bioma Caatinga, único do mundo

Diversificar as atividades produtivas para gerar mais emprego e renda também para outras regiões

Desenvolvimento de tecnologias que aumentem a eficiência do uso da água;

de polos de agricultura irrigada em bases técnicas modernas; e de sistemas

produtivos para se adaptarem aos novos cenários climáticos

Além de áreas irrigadas, com a produção de frutas e hortaliças, especialistas

apontaram outras potencialidades para o Semiárido: pecuária, produção mineral, geração de energia renovável, artesanato e também turismo

Agregar valor na produção, por meio de tecnologias pós-colheita

Criação de sistemas integrados e diversificados de produção animal

Investimento em ovinocaprinocultura e na instalação de fábricas de laticínio para agregação de valor do leite produzido na região

A Embrapa destacou o potencial do Semiárido também para as indústrias farmacêutica, química, de cosméticos e de perfumes, com plantas e vegetais típicos da região

Durante o seminário, foi apresentado o exemplo da região de Múrcia, na

Espanha, que possui índices pluviométricos inferiores a 300 mm anuais,

menos da metade do que costuma chover na região do Semiárido, no Brasil

A região espanhola desenvolveu um sistema de gestão hídrica, que possibilitou

reduzir o índice de desperdício de água, uma menor dependência da chuva e aumento da produtividade agrícola, além do controle de pragas através da distribuição de fertilizantes de uma rede interligada

Propostas apresentadas no seminário

*

*

*

*

*

***

*

*

*

**

*

*

*

*

***

Em Múrcia, na Espanha, 100% da água de uso urbano e industrial se reutiliza

Criação de modelo de negócios, como aconteceu em Múrcia, que após controlar o regime de águas passou a exportar tecnologia para outros países

Investimento em saneamento básico: menos de 30% dos municípios têm rede de esgoto

Incentivo à agricultura familiar e geração de renda, através de assistência tecnológica, financeira e científica

Outro potencial do Semiárido é a mineração. Mas, segundo os palestrantes, o

crescimento dessa atividade na Bahia depende de melhor infraestrutura no estado, especialmente em portos e ferrovias, que facilitam o escoamento da produção e reduzem os custos operacionais

Deve-se ainda promover o desenvolvimento de inovações tecnológicas em

todo o ciclo de geração de jazidas e da pequena mineração em bases sustentáveis

Maior agregação de valor ao produto mineral

Formação de mão de obra especializada

Ampliar a oferta de cursos técnicos e de pós-graduação voltados para a formação em mineração, assim como aumentar cursos gratuitos oferecidos na

área, sobretudo no interior do estado, onde concentra-se boa parte dos investimentos

308 309

Então secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, a presidente Dilma

Rousseff autorizou o projeto que vai transpor águas do Rio São Francisco até a Bacia do Jacuípe para também beneficiar o estado

Criação do Museu do Alto Sertão da Bahia (Masb) pela Renova para fortalecer a identidade da cultura da região. Já foram identificadas 2.300 peças arqueológicas

A Via Bahia garantiu investimento em projetos para requalificar a população que vive às margens das rodovias BR-116 e BR-324, entre eles o

reassentamento das barracas para maior segurança dos trabalhadores

O então secretário Eduardo Salles prometeu construir barragens subterrâneas em pelo menos 90 municípios e a construção de uma biofábrica para a produção de palma especial para alimentar o gado

Durante o fórum, o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, anunciou que a secretaria assinou um contrato com o Serviço

Geológico do Brasil (CPRM) para chegar, até o ano que vem, aos 100% do mapeamento geológico aéreo do estado. Os estudos aerogeofísicos são o primeiro passo para empresas que desejam investir no estado

O governo do estado afirmou que os repasses para agricultores familiares

no Semiárido baiano dobrarão nas safras de Verão e de Inverno do período 2013-2014 (de R$ 15 milhões para R$ 30 milhões), na comparação com o período anterior

Compromissos firmados

*

*

*

*

*

*

Mais desenvolvimento

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, destacou as dificuldades enfrentadas pelo Semiárido baiano durante o discurso que abriu o seminá-rio Desenvolvimento Produtivo. “O estado da Bahia tem regiões muito di-ferentes em termos de características climáticas e o Semiárido ocupa uma imensa área. Nós temos 265 dos 417 municípios da Bahia nessa região, que tem 48% da população baiana, mas produz apenas 28% das riquezas do estado”, lembrou.

Na opinião dele, as adversidades podem ser superadas com investimento. “É uma região que tem potencial econômico? Tem. Mas precisa de uma série de condições para que se desenvolva e para que atinja um nível de desenvolvimento que lhe permita gerar recursos, riquezas para o estado e, ao mesmo tempo, melhorar as condições de vida da população. Esse é um desafio”, concluiu Antonio Carlos Júnior.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, destacou o caráter informativo do Fórum Agenda Bahia e seus efeitos para a economia baiana. A Fieb é parceira do jornal Correio e da rádio CBN na realização do evento. “O Agenda Bahia traz informações importantes daqui e de outros estados e países para nossos intelectuais, governantes e para agentes da iniciativa privada. Todos estão acompanhando esse projeto e absorvendo informações, conhecendo exemplos a serem seguidos, que amanhã os ajudarão a tomar decisões importantes para o desenvolvimento do estado”, disse.

Antonio Carlos Júnior: potencial econômico do Sertão

Mascarenhas destacou caráter informativo do Fórum

Foto: Marcio Costa e Silva Foto: Marcio Costa e Silva

310 311

Se quisesse decretar independência do restante do estado, o Semiárido baiano dividiria a Bahia em duas partes. Levaria na esteira 265 dos 417 mu-nicípios, quase 6,7 milhões dos baianos - o equivalente a 48% da população - e, no entanto, bem menos de um terço da riqueza produzida pelo estado (apenas 28%). Ao final da batalha, não sobraria mais do que um gigante pobre.

É que, entre o rico e bem abastecido litoral, de um lado, e o oeste da fartura do milho, do algodão e da soja, do outro, boa parte do Semiárido baiano sobrevive no centro como ilha isolada dos grandes polos econômicos por terra, dependente das políticas públicas para não cair em miséria e refém das chuvas que não caem do céu.

O território que hoje se recupera de sua pior seca nos últimos 50 anos, segundo a ONU, reúne municípios com características que vão muito além do baixo índice de chuvas, em geral, abaixo dos 800 mm por ano. Em comum, também, a falta de infraestrutura, seja na falta de um sistema de transpor-te que integre a região, na ausência de uma rede que estruture a produção econômica ou na inexistência de saneamento público na maioria das vezes (menos de 30% dos municípios têm rede de esgoto).

Os números do Censo de 2010 do IBGE mostram o resultado da equação de todos os fatores acima: a Bahia é o estado que abriga, em termos absolutos, o maior número de miseráveis em todo o país.

Os dados mostram que aproximadamente 2,4 milhões de baianos, 15% do total nacional, vivem com uma renda mensal de até R$ 70 na Bahia. Quando o olhar recai sobre o Semiárido baiano, os números são mais alarmantes. É lá onde vivem 61% dos miseráveis baianos, quase 1,6 milhão de pessoas.

Se a seca explica, em parte, a aridez social e econômica do estado, a falta de políticas regionais que observem o potencial de cada município e o

As duas Bahias

“Não resolve aplicar as mesmas políticas para agricultores do Sul do país aos do Nordeste”

ERNESTO GALINDO, especialista do Ipea

fortalecimento de uma teia que interligue e ligue essas regiões ao restante do estado explica a permanência histórica do atraso do Semiárido. É o que aponta o especialista em Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ernesto Galindo.

“Apesar dos inúmeros programas de governo, não existem muitas políticas regionais que levem em conta a cultura e os problemas locais para fazer as mudanças adequadas. Há políticas públicas que, a depender do recorte, acabam incidindo em determinadas regiões. Como as políticas sociais que têm muito impacto nas famílias do Semiárido, ou do programa de aposenta-doria rural ou de agricultura familiar. Não resolve aplicar políticas para agri-cultores do sul do país no Nordeste, porque não adianta”, explica Galindo.

O isolamento geográfico do Semiárido desemboca na produção da economia. Segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), órgão ligado à Secretaria do Planejamento (Seplan), o PIB do Semiárido beira os R$ 38 milhões, o equivalente a 28% da riqueza produzida pelo estado.

O setor industrial é ainda mais escasso: apenas 18% do PIB da Bahia vem das indústrias do Semiárido. Por outro lado, quase 50% da riqueza agrícola do estado sai do Semiárido. Boa parte do que se come na Bahia é produ-zida na região: de Irecê, Vitória da Conquista, Ribeira do Pombal, Chapada Diamantina, Juazeiro e do Paraguaçu.

Mas a seca castigou muitas dessas regiões. “O prejuízo estimado durante a seca foi de R$ 7,2 bilhões. Esse número representa apenas 4% do PIB baiano, que ficou em R$ 135 bi, mas o impacto disso nos municípios pequenos do Semiárido é devastador”, explica o mestre em economia e assessor técnico da SEI Rafael Cunha.

Uma série de programas está sendo desenvolvida para aproveitar o poten-cial do Semiárido, na maioria das vezes escondido pela seca. Na agricultura, pesquisas permitiram que o Norte do estado se tornasse um importante polo de agronegócio, com exportação, inclusive, de frutas para a Europa.

“Não crescemos na velocidade que deveríamos pela falta de investimento. Mas é possível, sim, mudar”OSNIR CARDOSO, presidente da Consisal

312 313

Investimentos em energia eólica, da Renova Energia, também já movimen-tam a região, mesmo antes de entrar em operação. A riqueza do subsolo passou a atrair, nos últimos anos, investimentos bilionários no setor de mineração.

A verba destinada pelos benefícios sociais do governo federal, em especial aposentadoria e Bolsa Família, tem movimentado o comércio das cidades do Sertão, permitindo a atração de novas empresas e aumento na arrecadação das prefeituras.

“O ICMS de Serrinha quase que dobrou nos últimos quatro anos. O cres-cimento da cidade chega aos 15% ao ano”, diz o prefeito da cidade,

EDITORIA DE ARTE/CORREIO WILTON BERNARDO

265 dos 417 municípios da Bahia pertencem ao Semiárido

Possui 48% da população baiana, mas produz apenas 28% da riqueza da BahiaQuase 50% da riqueza

agrícola do estado vem do Semiárido

Vale do São Francisco, na região de Juazeiro, produz frutas, como manga e uva, para exportação

Mineração deve movimentar R$ 12,8 bilhões até 2016 em investimentos. Destaques para bentonita (Vitória da Conquista), ouro (Jacobina, Barrocas, Santa Luz), diamante (Nordestina), ferro (Caetité e Sento Sé), bauxita (Jaguaquara), ferro-vanádio (Maracás)

Pecuária (caprinos, ovinos e bovinos de leite) é desenvolvida em todos os municípios do Semiárido

Condições naturais proporcionam boa captação de ventos, favoráveis ao desenvolvimento de Parques Eólicos (Caetité) Bahia concentra o maior

contingente de inscritos no programa Bolsa Família

Quase 1,6 milhão de pessoas vivem com até R$ 70 por mês

Regiões com grandes potenciais econômicos esbarram na falta de infraestrutura e nas más condições logísticas do estado

Segundo relatório dos prejuízos da seca, feito no início de 2013 pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), a seca provocou:

perda de 70% na pecuária leiteira morte de aproximadamente 1 milhão de cabeças de gado perda total da plantação de feijão e mandioca queda de 80% na produção do sisal queda de 25% na de maracujá

PONTO DE EQUILÍBRIO

O Semiárido concentra a maior parte da população baiana, mas é uma região pouco integrada ao estado. Segundo especialistas, tem grande potencial para se desenvolver caso consiga vencer as adversidades do clima e a falta de infraestrutura. Confira o que pesa para mudar essa realidade

Menos de 30% dos municípios têm rede de esgoto

Osni Cardoso, também presidente da Consisal (Consórcio Público de Desenvolvimento Sustentável), que reúne 19 municípios.

Isso se dá, especialmente, segundo Osni, pelos novos pontos do comércio e pelas pequenas fábricas instalados em Serrinha, atraídos em boa parte pelas compras de quem recebe o Bolsa Família e aposentadoria.

Uma ação puxa a outra e Serrinha tem recebido investimentos também em estabelecimentos de ensino. “O Sertão precisa acabar com esse estigma de que não é produtivo. Não crescemos na velocidade que deveríamos pela falta de investimentos do passado. Mas é possível, sim, mudar”, diz Osni.

314 315

A Largo Resource é uma das empresas que investem em mineração na Bahia: R$ 400

milhões desde 2011Foto: Divulgação

A taxa de ocupação formal no Semiárido é de apenas 28%, segundo o IBGE. Algumas regiões do Semiárido acabam concentrando a maior parte desses empregos, como os polos calçadistas de Jequié e Itapetinga, ou a fruticultura do São Francisco, concentrada em Juazeiro. Porém, a maior parte dos empregos nos municípios do Semiárido, assim como do interior do país, flutua ao redor da administração pública.

Rafael Cunha, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), afirma que passa pelas cooperativas regionais uma das formas de se buscar soluções particulares para alguns problemas.

Dependência do governo também para empregos

O chef paulista Leonardo Chiappetta é fã do umbu, típica iguaria do Sertão baiano. “Aprovo com muito orgulho. É uma referência nacional”, elogia. Gosta tanto que encomenda a fruta direto da caatinga mensalmente e até criou uma calda feita com ela. Descendente de italianos, Leonardo serve a receita no Empório Chiappetta, tradicional loja do Mercado Municipal de São Paulo, aberta por sua família em 1908. “Sirvo a calda junto com sorvete e é um sucesso”, conta.

A calda de umbu foi desenvolvida pelo chef há quatro anos, em parceria com a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc). Cidades do Sertão têm atraído outros investimentos: dos 36 projetos de mineração, 25 estão no Semiárido. A Bahia está em quinto lugar no ranking do país, mas lidera a produção nacional em vários bens minerais. A perspectiva é que o estado deve alcançar até 2015 o terceiro lugar na produção nacional.

Novos negócios: da iguaria ao minério

As uvas cultivadas em Casa Nova também despontam como uma precio-sidade do Semiárido baiano. O município localizado no Vale do Submédio São Francisco vem se desenvolvendo nos últimos anos como um novo polo vinícola. “Somos uma referência não só nacional, como internacional. A região recebe muitos turistas brasileiros e estrangeiros, e os enófilos, os amantes de vinhos, saem de vários países para degustar os vinhos in locu”, comemora o pesquisador em enologia Giuliano Pereira, da Embrapa Uva e Vinho/Semiárido.

É na cidade de Casa Nova onde está instalada a única vinícola da Bahia. “A vinícola Miolo-Ouro Verde produz o vinho mais vendido do Brasil, que é o Terranova Moscatel, um espumante branco com 7% de álcool, que caiu nas graças do brasileiro. É um exemplo de sucesso de mercado, que vem sendo adotado por outras vinícolas”, destaca.

Estudos sinalizam ainda que os vinhos dessa região podem trazer mais benefícios à saúde humana. “Os primeiros resultados, em comparação com os obtidos com vinhos de países como França e Argentina, mostram que os vinhos do Vale apresentam teores mais elevados de resveratrol (com influência no combate às doenças do coração)”, disse.

Espumante mais vendido no Brasil é do Semiárido

“Nada melhor do que os próprios moradores para chamar atenção do governo e da sociedade para a busca de soluções, ou de conclusões de obras estruturantes que desenvolvam o Semiárido. Já há bons exemplos no Brasil”, defende

O pesquisador do Ipea Ernesto Galindo também criticou a forma como foi concebida e distribuída a malha do sistema de transporte do país, deixando às margens do progresso regiões como o Semiárido.

“Infraestrutura não resolve tudo, porque integração é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Porém, todo o desenvolvimento de transporte no país nunca foi pensado para integração, mas para escoamento produ-tivo”, lembra.

316 317

Segundo a pesquisadora Lúcia Kiill, da Embrapa Semiárido, há inúmeras preciosidades no Sertão baiano: “Estudos mostram que várias espécies do bioma caatinga são produtoras de óleos essenciais que podem ter diferentes potenciais para composição de fragrâncias e medicamentos, mas também como biocidas, no controle de pragas e doenças”. Entre as espécies pesquisadas destacam-se a aroeira-do-sertão: a casca da aroeira é usada nos tratamentos das inflamações ovarianas, indicada contra úlceras externas e ainda no tratamento de tosse e coqueluche

A baraúna tem madeira com grande valor econômico, por sua resistência, e é interessante para a construção de vigas. A umburana-de-cheiro também tem potencial medicinal, suas cascas e sementes são antiespasmódicas e usadas para tratar bronquite, tosse, asma, gripe, resfriado e coqueluche. Na indústria farmacêutica, está disponível na forma de xarope. A eficácia é assegurada por estudos farmacológicos. Também tem potencial para aplicação na indústria alimentícia, de tabaco, fabricação de sabonetes e fixadores para cosméticos

Outro caso de sucesso no Semiárido baiano é a produção de sisal em Valente, a 250 km de Salvador. Fundada em 1980, a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb) reúne 700 agricultores. A fábrica produz, mensalmente, em média, 200 mil kg de fios, 15 mil metros de carpete e 8 mil m² de tapete, além de outros produtos em menor escala, como pastas, jogos americanos e baús. Em torno de 95% do que é fabricado é vendido para o mercado brasileiro. O restante é exportado para Estados Unidos e Alemanha

* As especiarias da Caatinga

Perfumes e remédios

Vigas

Sisal

Junto com os municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco, Casa Nova integra o polo vinícola da região do Vale do Submédio São Francisco, que hoje emprega cerca de 4 mil pessoas e produz em torno de 5 milhões de litros de vinho por ano. Além de abastecer o mercado brasileiro, parte da produção é exportada para Europa, Ásia e Estados Unidos

Made in Bahia

Com cerca de 60% na região do Semiárido, a Bahia concentra o maior contin-gente de inscritos no programa Bolsa Família do Brasil. Dados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome indicam que o estado recebe o maior volume de recursos do programa: quase R$ 210 milhões para 1,75 milhão de famílias. E é exatamente no Semiárido onde estão 61% dos 2,5 milhões de baianos que vivem em situação de extrema pobreza.

Para especialistas, apesar da seca, essa realidade poderia ser diferente: o Semiárido tem condições de se tornar uma região produtiva. “É fundamental ouvir quem está no campo e levar ao agente produtor bases e programas sólidos de educação, infraestrutura, tecnologia e fomento, aspectos que impactem a forma tradicional de produção”, afirma o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Reinaldo Sampaio.

Na avaliação de Sampaio, existe um vazio de logística, inclusive nas cidades médias, que não contam com equipamentos condizentes com as necessi-dades. “Pode-se, por exemplo, desenvolver mecanismos para aproveitar a

Os desafios do Sertão

Foto: Jorge Duarte/Embrapa

O Oeste baiano, inserido no Cerrado brasileiro, é importante produtor de algodão: a Bahia ocupa segundo lugar no ranking nacional

Como aconteceu no Cerrado, especialistas defendem o progresso sustentado para transformar o sertão baiano em polo econômico importante

Nova realidade

318 319

chuva que cai para alimentar os reservatórios naturais de água no subsolo do Semiárido. Além de reorganizar as técnicas de produção e organizar os produtores em estrutura empresarial”, diz.

Para ele, só a formação de uma classe média rural, como já aconteceu em outros estados brasileiros, do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, promoverá uma mudança efetiva na realidade do Semiárido.

A região do cerrado brasileiro, por exemplo, até meados do século passado, era considerada uma espécie de prima pobre da agropecuária nacional. O dito popular “cerrado, nem comprado nem dado” refletia a realidade de vastas extensões de terra inférteis. “Havia, no máximo, pedaços do subsolo com alguma riqueza mineral. Foi preciso a fundação de Goiânia, entre 1940 e 1950, e a construção de Brasília, em seguida, para que a situação começasse lentamente a mudar”, lembra o vice-presidente da Fieb.

Além das novas cidades, a partir da segunda metade da década de 70, o governo intensificou o processo de ocupação dos cerrados, visando o de-senvolvimento do interior do país e a criação de nova fronteira agrícola na região. Assim, o cerrado, presente em estados como Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão e Mato Grosso do Sul, transformou-se na principal área produtora brasileira.

Outro bom exemplo é o de Israel. O país, que tem apenas 15% de seu terri-tório com terras em condições para agricultura, nos últimos 30 anos tem se destacado na boa gestão das águas. Graças à utilização de sistemas avan-çados de irrigação, garante o plantio de grandes áreas.

Mas não precisamos ir tão longe para encontrar experiências bem-sucedi-das. Aqui no Brasil, no Semiárido baiano/pernambucano, existe um polo de agricultura irrigada que abastece o país e vários países estrangeiros com frutas. Juazeiro e Petrolina são exemplos de como o uso de tecnologia pode transformar o Semiárido.

E é exatamente essa transformação da realidade que defende Reinaldo Sampaio. Para o vice-presidente da Fieb, a questão do Semiárido prescinde de tudo que foi feito para subsistência e sobrevivência, sem estratégia de progresso sustentado. Para ele, esse progresso só virá por meio de planos de economia continuada. Opinião compartilhada pelo coordenador do Núcleo de Estudos e Ações Integradas do Semiárido, Aurélio Lacerda.

“Trabalhamos com o paradigma da convivência com o Semiárido. A seca é um fenômeno natural, não se pode combatê-la como pensávamos an-tigamente. O Semiárido é viável social e economicamente, mas para que isso ocorra é preciso ações adequadas para o manejo da caatinga, pecuária,

“É fundamental levar ao agente produtor bases e programas sólidos de educação, infraestrutura, tecnologia e fomento”REINALDO SAMPAIO, vice-presidente da Fieb

agricultura e preservação”, disse Lacerda. Ele sugere o incentivo à agricultu-ra familiar e geração de renda, através de assistência tecnológica, financeira e científica.

O vice-presidente da Fieb defende a criação de fundos de desenvolvimento regionais para educação, ciência e tecnologia, infraestrutura e a promoção de uma governança compartilhada federal e dos governos locais. Reinaldo Sampaio cita a região da Múrcia, na Espanha, onde chove metade do que é registrado no Semiárido baiano e tem um solo paupérrimo. “Múrcia repre-senta 2,2% do território da Espanha e é responsável por parte da exportação de produtos agrícolas do país. Isso porque houve a cooperação de institutos de tecnologia, empresários e governo para transformar a região. Vontade política de desenvolvimento”, afirma.

No esforço de transformação do Semiárido se destaca o trabalho da Embrapa. “Conviver com o Semiárido é aprender a conviver com as grandes estiagens”, destaca o pesquisador Pedro Gama da Silva, da Embrapa Semiárido. A participação da região no Produto Interno Bruto (PIB) do país é de apenas 13,6%. Ele destaca que as famílias que hoje são beneficiadas por políticas públicas e subvenções sociais vivem uma situação diferente do que era há algumas décadas. “Hoje, mesmo a crise de produção sendo maior que as anteriores, a crise social não ocorre mais como era”.

Gomes ressalta que, além dos benefícios de transferência de renda, há tecnologias sociais eficientes para convivência com a seca, como o arma-zenamento de forragens, o aproveitamento das espécies da biodiversidade,

ESTADOS DOMICÍLIOS PREVIDÊNCIA BOLSA FAMÍLIA

Maranhão 1.653.701 922.049 951.611

Piauí 848.263 554.664 455.182

Ceará 2.365.276 1.328.587 1.107.009

Rio G. do Norte 899.513 509.601 364.751

Paraíba 1.080.672 651.152 506.234

Pernambuco 2.546.872 1.383.385 1.151.313

Alagoas 842.884 468.397 436.270

Sergipe 591.315 292.555 268.330

Bahia 4.094.405 2.142.909 1.808.346

Nordeste 14.922.901 8.253.299 7.041.046Fonte: IBGE, MDS e INSS. Dados referentes a 2012

PROGRAMAS SOCIAIS

320 321

CE 1.995.939178

MA 326.68371

PI 1.192.344196

BA 2.971.684260

RN 500.000142

PB 918.666198

PE 1.281.618126

AL 458.04237

SE 102.00620

TOTAL 9.746.9821.228

SITUAÇÃO DA SECA 2012-2013

Bahia

Piauí

Ceará

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Rio Grande do Norte

Maranhão

População afetada

FONTE: MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL

Municípios com situação de emergência por estiagem e seca reconhecida pelo governo federal 2012/2013

como o umbu e maracujá-do-mato, o cultivo da palma forrageira, do sorgo e milho como reserva estratégica e culturas tolerantes ao déficit hídrico.

Há ainda tecnologias para o enfrentamento da seca em situações emer-genciais, como a valorização da vegetação nativa, a prática de manejo da pastagem, o aproveitamento da água de poços, cacimbas e poços semiarte-sianos, e o aproveitamento da umidade dos fundos de vales e baixios. Para ele, é fundamental ensinar a todos as maneiras de mobilização que possam facilitar o enfrentamento e a convivência com a seca na região.

O grande desafio da região semiárida para o governo é, sem deixar de realizar ações emergenciais nos momentos de seca profunda, transfor-mar a realidade da região, proporcionando acesso a água doce e condições de produção. Em parceria com o governo federal e empresas públicas, investiu nos Sistemas Integrados de Abastecimento de Água e em adutoras em mais de 40 municípios, beneficiando mais de 800 mil pessoas.

Dentro do programa federal Água para Todos, o estado será beneficiado com R$ 17 milhões para a construção de 135 Sistemas Simplificados de Abastecimento de Água (SSAA) em 45 municípios do Semiárido. Várias cidades da região também já foram beneficiadas com o recebimento de caminhões e máquinas para melhorar a produção e a vida do sertanejo.

De acordo com o secretário da Casa Civil, Rui Costa, que coordena o Comitê Estadual para Ações de Convivência com o Semiárido, a ação visa intensificar o desenvolvimento do Semiárido. “Todas essas ações juntas vão melhorar a vida do homem e da mulher da zona rural. Desenvolver o Semiárido é desenvolver a Bahia, fortalecendo a agricultura familiar e dando qualidade de vida à população”, afirmou.

Na questão da produção, técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri) trabalham para garantir a melhor convivência do sertanejo com as adversidades da região. Para garantir água para a produção - plantio e criação de animais - a Seagri estimula a construção de reservatórios e o uso de tecnologias que permitem represar água nos períodos de estiagem. Além disso, presta assistência técnica para que o plantio seja adequado e os animais sobrevivam nos períodos de seca.

Os técnicos da secretaria também auxiliam os produtores na elaboração de projetos para garantir o acesso ao crédito disponível. O fortalecimento do tripé água, tecnologia e financiamento permite uma convivência cada vez melhor do sertanejo com a região. Outra medida que permite a per-manência na região é o incentivo à agroindústria.

O Semiárido, segundo a Seagri, é rico em frutas regionais e a agroindústria permite o beneficiamento dessas frutas e a produção de derivados, agre-gando valor à fruta e garantindo uma melhoria de renda para o produtor. Além disso, por meio do Programa Vida Melhor, haverá a recomposi-ção de rebanhos perdidos por conta da seca: 40 mil animais melhorados geneticamente serão doados. E a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola tem programa de distribuição de palma forrageira, com objetivo de garantir a alimentação do rebanho.

Governo aposta em tecnologia e financiamento“Desenvolver o Semiárido é desenvolver a Bahia, fortalecendo a agricultura familiar e dando qualidade de vida à população”RUI COSTA, secretário da Casa Civil

322 323

Para o coordenador do Núcleo de Estudos e Ações Integradas do Semiárido da Universidade Federal do Estado da Bahia (Ufba), Aurélio Lacerda, os maiores desafios dos sertões semiáridos do Brasil centram-se na questão das águas. “No Brasil, as águas são mal distribuídas: a região Nordeste, com 28% da população, tem apenas 3% das águas”, afirma. Isso se agrava nos períodos de maior estiagem, como nos últimos dois anos, quando a Bahia vive uma das piores secas da história.

Embora enfrente forte déficit hídrico, não há falta de água, pois o Semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo. O problema é que as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, além de alto índice de eva-poração. A área do Semiárido brasileiro, o mais populoso do mundo, supera o território de Portugal, Espanha e Reino Unido, juntos.

A Bahia foi o estado que menos investiu na construção de barragens e açudes, se comparado com regiões como o Ceará. Em períodos de grandes estiagens, os recursos hídricos não são suficientes para o abas-tecimento. “Daí a necessidade de sistemas complementares, como cister-nas, a exploração das águas subterrâneas e a dessalinização”, destaca.

Menor investimento em barragens e açudes

Embora enfrente forte déficit hídrico, não há falta de água, pois o Semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo. O problema é que as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, além de alto índice de evaporação

Mais chuvoso do mundo

O Semiárido brasileiro é o maior Semiárido tropical do mundo. E tem na Bahia 40% de toda a sua extensão: são 265 municípios inseridos no Sertão. Mas, apesar da seca dos dois últimos anos ter sido uma das piores do país, a região não é considerada estéril. O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, em entrevista ao jornal Correio, revela que pesquisas apontam para várias alternativas produtivas: da agricultura, passando pela pecuária, mineração, geração de energia renovável e até provedora de matéria-prima para as indústrias farmacêutica e química.

“Não se trata somente de buscar o aumento da produção e da produtividade dos produtos cultivados, mas, principalmente, de encontrar o sistema de produção que melhor se adapte a determinadas condições ecológicas e socioeconômicas”, destaca.

Maurício mostra os desafios da região e como a tecnologia e inovação têm transformado cidades nordestinas - e baianas.

O que caracteriza o Semiárido brasileiro e por que até hoje ainda se convive com a sombra de essa ser uma zona estéril – apesar do êxito produtivo em outras regiões semiáridas no mundo? O Semiárido brasileiro é o maior Semiárido tropical do mundo, ocupando oito dos nove estados da região, além do norte de Minas Gerais, e é constituído na sua maior parte pelo bioma Caatinga. Há uma diversidade de ecossistemas no Semiárido com variados microclimas e 12 tipos diferentes de Caatinga, o que configura diversas possibilidades econômicas, como a pecuária (caprinos, ovinos e bovinos de leite), as lavouras de sequeiro, áreas irrigadas, produção mineral, turismo e geração de energia renovável. Apesar do regime de chuvas escassas e temperaturas relativamente altas, o Semiárido brasileiro está longe de ser considerado uma zona estéril. As pesquisas apontam várias alternativas em que se pode produzir e viver com qualidade. Para tanto, é preciso um esforço coordenado para que os conhecimentos gerados e adaptados à região cheguem efetivamente ao

‘O Semiárido pode produzir e viver com mais qualidade’ Entrevista com Maurício Antônio Lopes

“O Semiárido não é improdutivo. Mais de 90% das exportações de manga e uva são produzidas nessa região”

Foto: divulgação

MAURÍCIO LOPES, presidente da Embrapa

324 325

homem do campo. Não se trata somente de buscar o aumento da produção, mas, principalmente, de encontrar o sistema de produção que melhor se adapte a determinadas condições ecológicas e socioeconômicas.

Qual a maior dificuldade em transformar o Semiárido numa região produtiva? Apesar dos enormes esforços do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) para o desenvolvimento das atividades agropecuárias, ainda observamos sistemas agrícolas diversificados de base familiar explorados com baixa eficiência de produção, responsáveis por uma crescente degradação dos recursos naturais. Mesmo com essas dificuldades, há grande diversidade de situações que podem ser percebidas na coexistência de áreas com lavouras tradicionais ou estagnadas e áreas de modernização intensa, como nas atividades agropecuárias exploradas em regime de sequeiro ou de irrigação. Sem dúvida, as contribuições da Embrapa, como instituição de pesquisa, e a presença da Sudene, da Chesf, das empresas estaduais de pesquisa, do Banco do Nordeste, entre outras instituições de desenvolvimento, têm promovido mudanças no Semiárido brasileiro. Além disso, a região tem sido palco do desenvolvimento de vários polos agroindustriais nas últimas décadas, a partir das potencialidades produtivas da agricultura irrigada, especialmente as hortaliças e frutíferas, cujos mercados encontram-se em franca expansão no Brasil e no mundo.

Cite alguns exemplos... A pesquisa teve papel importante na geração de conhecimentos e tecnologias para a agricultura irrigada, como uso e manejo de água, uso de fertilizantes, introdução, avaliação e recomendação de variedades de frutas e hortaliças, dentre várias outras contribuições. Mais de 90% das exportações de manga e uva são produzidas no Semiárido, os rebanhos de caprinos e ovinos estão concentrados na região, bem como a maioria das bacias leiteiras do Nordeste, que produz também sisal, mamona, algodão, feijão-de-corda, mel, entre outros produtos. Portanto, não podemos considerar essa região como improdutiva.

Para o cultivo, como os produtores do Semiárido têm encontrado soluções? Temos esforços feitos com a criação de perímetros irrigados e também com o P1+2 (Programa Uma Terra Duas Águas), também com a Articulação do Semiárido (ASA) e Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Com relação à irrigação, entretanto, vale lembrar que existem limitações de

“É preciso um esforço coordenado para que os conhecimentos cheguem ao homem do campo”

solo e água (estudos mostram que apenas 4% da região tem potencial irrigável), que impedem que se utilize dessa prática como se desejaria. Daí a gestão dos recursos hídricos, fortalecida pelo uso de inovações tecnológicas voltadas para captação, armazenamento e uso racional da água de chuva, ser um dos principais desafios da região.

As tecnologias desenvolvidas pela Embrapa (cisternas, barreiro para irrigação de salvação, captação de água de chuva in situ, barragens subterrâneas e reuso de água de dessalinização de poços) são capazes de aumentar a oferta de água nas comunidades rurais. São soluções simples, descentralizadas, de baixo custo e fácil execução, que têm contribuído para a melhoria da qualidade de vida das famílias e redução dos riscos da produção agrícola.

Diante das peculiaridades do Semiárido (chuvoso e índices altos de evaporação), como tem funcionado o desenvolvimento da agricultura nessa região? Quais têm sido as alternativas? Atividades produtivas tradicionais de reconhecida importância econômica e social, como pecuária de leite, apicultura, fruticultura, dentre outras, revelam novas oportunidades no meio rural. A experiência da Embrapa mostra ser possível, em rebanhos comuns, mestiços, aumentar a produção de carne caprina ou ovina comercializável por unidade de área em mais de 100% ao ano, reduzindo a idade média de abate dos atuais 12-15 meses para 6 meses, simplesmente com a adoção de técnicas simplificadas de alimentação e manejo, sem maiores alterações no ambiente natural.

E na agricultura? A Embrapa Semiárido vem promovendo pesquisas para o desenvolvimento de uma fruticultura de sequeiro, centrada em espécies nativas da Caatinga, como o umbu e o maracujá-do-mato, abordando tanto a parte agronômica como a transformação em doces, sucos e geleias e utilizando pequenas unidades fabris em comunidades e associações rurais. Nos últimos anos, a Embrapa tem se voltado para pesquisas que buscam valorizar a biodiversidade do bioma Caatinga, único no mundo, no qual se inserem espécies vegetais de uso medicinal, produtoras de óleos essenciais, agentes praguicidas e provedoras de matérias-primas para indústria química, alimentar e farmacêutica, espécies animais, como insetos, inimigos naturais de pragas, e espécies provedoras de substâncias de uso medicinal (soros, enzimas, hormônios), bactérias, fungos e liquens com propriedades de antagonismo a agentes de pragas e doenças, bioinseticidas, antibióticas e genes indutores de tolerância a estresses hídricos, salino, a acidez do solo e a doenças. A originalidade das pesquisas da Embrapa Semiárido deu uma nova dimensão econômica e social aos negócios fomentados pela agricultura irrigada e pela agropecuária dependente de chuva.

“A Embrapa tem se voltado para pesquisas que buscam valorizar a biodiversidade do bioma Caatinga, único no mundo”

326 327

Há bons exemplos em regiões similares pelo mundo que mostram ser possível o desenvolvimento agrícola de um clima tão peculiar, como Mendoza, na Argentina, que tem metade do índice pluviométrico da Bahia e é hoje um dos principais polos de frutas e uvas (vinho).

A agricultura irrigada do polo Juazeiro-BA/Petrolina-PE é um exemplo da capacidade competitiva da região na produção de frutas tropicais e de uva. Desde a década de 80, o desempenho da vitivinicultura apresenta-se com grande capacidade de expansão e de inserção nas redes nacional e internacional de suprimento agroalimentar, sendo uma grande oportunidade para o desenvolvimento regional. Mendoza é um exemplo de região em que não chove (ou chove muito pouco), mas não quer dizer que não se tenha água.

Eles têm água de degelo andino, solos bons e fazem irrigação, como já fazemos na região de Juazeiro e começaremos agora a fazer na região de Irecê, com o projeto Baixio de Irecê do Programa Mais Irrigação. Outro exemplo é a recente introdução da viticultura para vinho pela Embrapa e governo da Bahia na região de Morro do Chapéu, para condições de altitude da Chapada Diamantina. Tendo solo bom e água em quantidade, tecnologia adequada não nos falta.

Existe um movimento para diversificar mais as culturas, saindo das tradicionais para qualificar a produção no Semiárido? A Embrapa tem feito esforços para introdução de novas culturas para as áreas

SEMIÁRIDOFonte: Asa Brasil e Desenbahia

O Semiárido brasileiro está presente em nove estados, sendo oito do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e mais Minas Gerais.

da população brasileira

de pessoas, ou milhões22

11,8%

Vivem nessa região

de seu território no Sertão, com

municípios presentes no Semiárido

265

64% A Bahia tem

O SERTÃO BRASILEIRO

Bahia

BRASIL

Piauí

Ceará

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Rio Grandedo Norte

Maranhão

Minas Gerais

“Há diversas possibilidades, como pecuária, áreas irrigadas, produção mineral, turismo e geração de energia renovável”

irrigadas do Semiárido nordestino, em parceria com a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba) e Ministério da Integração Nacional (MI). Atualmente, espécies frutíferas como caqui, pera, maçã, oliva, cacau, mangostão e rambutã já estão sendo avaliadas nas estações experimentais e nas áreas de produtores do Submédio do Vale do São Francisco na Bahia e em Pernambuco, e em outros estados como Ceará e Sergipe. Diversas variedades de espécies frutíferas de clima temperado estão sendo introduzidas e avaliadas nessas condições. O maior desafio desses estudos é superar as dificuldades de adaptação das espécies para o cultivo num ambiente de Semiárido tropical, que é único no mundo.

Quais os desafios quando o assunto é desenvolvimento de pesquisa e novas tecnologias para a região? É fundamental analisar e entender de que maneira é feita a utilização dos recursos naturais, dos meios técnicos e da mão de obra disponível. Assim a pauta de pesquisa para as instituições de C&T deve contemplar todas as dimensões do desenvolvimento sustentável, quais sejam: social, ambiental, econômica, tecnológica, institucional, cultural, política, entre outras. (...) Os agricultores podem ser incentivados a adotar práticas que conduzam ao desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis (agroflorestais, agrossilvopastoris, entre outros).

Quais iniciativas exitosas no Semiárido baiano o senhor destaca e que pesquisas recentes estão em desenvolvimento na instituição? São várias as iniciativas consideradas exitosas no Semiárido baiano. Entre elas, podemos destacar Juazeiro-BA/Petrolina-PE, como já citamos, e a experiência de valorização dos produtos da biodiversidade nos munícipios de Curaçá, Uauá e Canudos, no âmbito do Projeto Proc. Quanto às pesquisas, temos diversos projetos em andamento, entre eles o de melhoramento genético de forrageiras nativas e exóticas para o Semiárido, manejo e agregação de valor de frutíferas nativas da Caatinga, novas variedades de mandioca voltadas para alimentação humana e animal, manejo da microbiota do solo, sistemas de produção de leite, zoneamento agrícola, mudanças climáticas, agricultura de base ecológica, agricultura irrigada de precisão, entre outros.

O que dificulta/impede o desenvolvimento do Semiárido nordestino? É apenas uma questão técnica? Além da questão técnica, há uma conjunção de fatores de ordem econômica, social, política e ambiental. Como já dizia Guimarães Duque em seu livro Solo e Água no Polígono das Secas, publicado pela primeira vez em 1949, o atraso do Semiárido se explica por uma complexa articulação entre os condicionantes ambientais, socioeconômicos, políticos e culturais.

“O atraso do Semiárido se explica por uma complexa articulação entre os condicionantes ambientais, socioeconô- micos, políticos e culturais”

328 329

Em 1938, o escritor Graciliano Ramos retratou o sofrimento do sertane-jo nordestino no premiado romance Vidas Secas. As cenas narradas em uma das obras mais importantes da literatura brasileira ainda são vistas em alguns povoados do Semiárido baiano, mas essa realidade pode e vem sendo transformada com o emprego de informação e tecnologia. “Essa coisa de que no Sertão nada se produz não se justifica. Agora, o que precisa é que sejam desenvolvidas tecnologias que facilitem o desenvolvimen-to da produção e o convívio do homem”, opina o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário (EBDA) Antônio Carneiro.

“Hoje, nós temos várias técnicas para que o homem vá se adaptando e produzindo cada vez mais”. O plantio da palma forrageira de forma adensada (com diminuição do espaço entre as mudas) é uma técnica que está sendo disseminada pela EBDA, que presta assistência a agricultores familiares. O trabalho faz parte do Programa de Segurança Alimentar do Rebanho da Agricultura Familiar, lançado em 2011. Rica em sais minerais e composta por 80% de água, a planta, comum no Nordeste brasileiro, é considerada uma grande alternativa nutricional para os rebanhos em períodos de longa estiagem.

O verde que muda o SertãoFoto: Embrapa / Divulgação

Típico do Semiárido, umbuzeiro é considerada árvore sagrada na região e ganhou fama na Europa através de doces exportados

As técnicas desenvolvidas para esse tipo de plantio distribuem as mudas nos espaçamentos corretos para o crescimento da planta e propiciam a penetração correta do sol. Com o aumento da produtividade, o agricultor consegue fazer uma reserva estratégica de alimentos para os animais e permite que ele continue alimentando o rebanho. Essa iniciativa ajudou a minimizar os efeitos de uma das piores secas que a Bahia enfrentou nos últimos anos.

“Ela plantada juntinha, como um leque ou uma carta de baralho, aumenta em quase 10 vezes a produtividade em área de sequeiro. Antes, era plantado de forma aleatória e, com essa tecnologia, a gente tem conseguido uma produtividade excelente”, afirma Antônio Carneiro. “A mortandade animal está sendo reduzida com esse trabalho e temos intensificado aqui na Bahia”, pontua. Segundo a EBDA, mais de 11 milhões de mudas de palma forra-geira estão sendo distribuídas atualmente para agricultores familiares do Semiárido baiano.

Além de utilizar técnicas para aumentar a colheita de plantas típicas da Caatinga, o produtor também precisa contar com a tecnologia desenvolvida para o armazenamento de água, já que o período de chuvas vai apenas de janeiro a março e a seca é crítica entre julho e dezembro.

“Se a gente tem limitação de água durante o ano, tenho que montar outras estratégias. Tecnologia é fundamental na medida em que você precisa garantir uma produção em período maior, uma agricultura por mais tempo. Se a gente pensa em atividade produtiva no Semiárido, tem que

Foto: Embrapa /

Divulgação

A Bahia é a maior produtora do Brasil de mamona, fonte

de energia renovável para produção de

biodiesel

330 331

pensar em tecnologia para armazenar água por mais tempo, para manter a água reservada para o momento que não tenho chuva. É fundamen-tal para que a produção não fique limitada ao período de chuva”, afirma a chefe de pesquisa e desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido, Maria Auxiliadora Coelho.

A especialista aponta a barragem subterrânea, em que há represamento de água através de escoamento natural em área com declive, como uma das tecnologias mais eficientes no Sertão baiano. “Ela mantém a água próxima às raízes. Com ela, é possível manter culturas como feijão, abóbora e mandioca”.

Mas as tecnologias usadas no Semiárido baiano não se restringem apenas a armazenamento de água e plantio de espécies típicas da Caatinga. As técnicas de melhoramento genético para desenvolver variedades que têm capacidade de produzir com menor quantidade de água também são apli-cadas na região. “Alguns cruzamentos são feitos e os melhores vão sendo selecionados. Em geral, são variedades que são mais precoces que o ciclo entre plantio e colheita e há uma menor exigência de água. Fazemos isso com o feijão caupi, que é conhecido como feijão-de-corda”, exemplifica a chefe da Embrapa Semiárido.

Um grupo de pesquisa, chefiado pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Semiárido, Paulo Roberto Coelho Lopes, começou, em outubro de 2013, o plantio de mudas de maçã, pera, ameixa e pêssego. Por ter sido iniciado agora, o estudo ainda não apresenta resultados. Ao contrário dessas frutas, o umbu cresce sem precisar de incentivo extra nas terras do Semiárido e sua agroindústria é uma das principais iniciativas de convivência na região.

Nesse caso, a tecnologia é empregada para fazer o fruto ser armazenado e transformado em doces, geleias, polpas, o que permite a comercialização durar o ano inteiro e faz com que os agricultores tenham fonte de renda, mesmo durante o período de seca.

“Se a gente tem limitação de água durante o ano, tenho que montar outras estratégias”MARIA AUXILIADORA COELHO, chefe de pesquisa da Embrapa

Foto: Divulgação

Fábricas no Sertão fazem o umbu ser

fonte de renda o ano todo

A qualidade sanitária dos produtos é alcançada com recursos simples e baratos. Técnicas que definem concentração de cloro, temperatura e controle do pH inibem o desenvolvimento de bactérias e fazem com que os produtos sejam armazenados da forma correta. Graças ao emprego dessa tecnologia, 450 famílias do Semiárido baiano têm um complemento de 30% na renda durante o ano inteiro.

Elas estão envolvidas direta e indiretamente no processo de produção da cooperativa Coopercuc, que tem 18 fábricas distribuídas nos municípios de Uauá, Curaçá e Canudos. “A colheita acontece de janeiro a maio e fazemos o pré-processamento da matéria-prima na entressafra. Temos trabalho o ano inteiro”, explica Jussemar Cordeiro, coordenador de educação, formação e comunicação da Coopercuc.

Ele foi o primeiro presidente da cooperativa fundada em 1997 e comemora o sucesso do trabalho. “As fábricas funcionam o ano inteiro e, além do umbu, que representa 60% da nossa produção, temos também maracujá, manga e goiaba”. Entre compotas de frutas, doces, geleias e polpas, a Coopercuc tem um catálogo com 18 produtos, que são vendidos para todo o Brasil e expor-tados para Itália, França, Áustria e Alemanha.

“A colheita acontece de janeiro a maio, mas temos trabalho o ano inteiro”JUSSEMAR CORDEIRO, coordenador da Coopercuc

332 333

A Embrapa também vem desenvolvendo pesquisas com frutas que nor-malmente não se adaptariam ao clima semiárido, que tem temperaturas elevadas e umidade relativa baixa. O cultivo do cacau, por exemplo, típico do clima tropical e muito presente no Sul do estado, está sendo desenvol-vido na cidade de Juazeiro. Para driblar as adversidades do Sertão, os pes-quisadores plantaram o fruto em áreas de bananeiras e coqueirais. Com o sombreamento, eles conseguiram reduzir a insolação direta e alcançaram uma temperatura mais amena. Técnicas específicas de adubação e poda também fazem parte do processo.

“As primeiras colheitas vão ser feitas em 2014, pois alguns contratem-pos atrasaram o início da produção, mas a gente tem feito avaliações agronômicas e há grande potencial de produção. O pessoal está animado. Estamos muito otimistas com relação à produção do cacau. Na região Sul da Bahia, eles tiram uma média de 30 a 35 arrobas por hectare. Aqui, a gente está querendo superar 100 arrobas por hectare”, vibra o engenhei-ro agrônomo e pesquisador da Embrapa Semiárido Paulo Roberto Coelho Lopes. O estudo é financiado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

As informações geradas poderão se tornar subsídios importantes para consolidar novas áreas irrigadas em empreendimentos com desempenho agronômico e econômico sustentáveis.

Cacau no Semiárido entre bananeiras e coqueiros

“Na região Sul, há média de 30 a 35 arrobas por hectare. Aqui, queremos superar 100 arrobas por hectare”PAULO ROBERTO COELHO LOPES, pesquisador da Embrapa Semiárido

As tecnologias empregadas para desenvolver melhoramentos genéticos também têm beneficiado o cultivo de culturas que são fontes de energia renovável, como a da mamona, que entrou em pauta nacional para a produção de biodiesel. “Constantemente, têm sido feito trabalhos de me-lhoramento. A mamona antes era alta e difícil de colher, mas foram criadas variedades de porte baixo com melhoramentos genéticos. Com cruza-mento, essas variedades melhoraram na altura, no fruto e no teor de óleo”, afirma o pesquisador da Embrapa Semiárido Marcos Drumond.

“O ciclo, que era de 260 dias, melhorou. Hoje, já tem variedades de 120 dias, ou seja, precisa de dois meses de chuva para produzir o cacho e crescer. Olha como isso é bom, você reduz o risco da cultura, pois dois meses geralmente chove. Dessa forma, a tecnologia ajuda, pois aumen-tando a precocidade você reduz o risco”, explica Marcos Drumond.

A Bahia é o maior produtor de mamona do Brasil, com mais de 150 mil hectares plantados. Com condições climáticas adequadas favoráveis ao cultivo, Irecê é o centro de comercialização do estado. Tecnologia aplicada à mamona para a produção de agroenergia desponta como alternativa para substituir o petróleo.

O óleo extraído da mamona é rico em ácido graxo em sua forma hidroxila-da e tem uma boa versatilidade para substituir derivados do petróleo.

“Tem uma série de vantagens. Para a aviação, por exemplo, é o ideal e con-siderado um óleo espetacular, porque não altera as propriedades, mesmo acima de 40ºC e abaixo de 0ºC”, pontua Drumond.

O óleo da mamona também tem outras funções: é usado em cabos para telefonia, tintas, peças automotivas, graxas para motores, cosméticos, detergentes, pigmentos, colas, resinas e poliuretanos. Seu uso vem cres-cendo bastante na cadeia ricinoquímica.

Maior produtividade da mamona

334 335

Na pequena região da Múrcia, na Espanha, a chuva costuma dar mais trabalho de cair do que em todo o Sertão baiano. Apesar disso, a região de solo seco e água salgada é conhecida como a horta da Europa. Graças a um eficiente sistema de gestão hídrica, Múrcia é referência em uso sustentável de água e na agricultura intensiva. A região produz 20% de todas as hortali-ças e frutas exportadas pela Espanha.

A produção é realmente fértil. A província produz 1,8% de tudo o que é exportado em alimentos no mundo todo, o equivalente a três vezes o que o Brasil exporta de frutas e hortaliças. O lucro da província espanhola em 2012 foi de 3,5 bilhões de euros. Tanta fartura em uma área que é metade do tamanho de Sergipe. Os números foram apresentados por Antonio Alarcón, consultor internacional em Tecnologia Agrícola e Manejo Intensivo, durante a abertura da última edição do Fórum Agenda Bahia.

“Venho de uma região que tem um problema grave de escassez de água, assim como no Semiárido brasileiro. Mas estamos em um momento-chave da produção de alimentos, em que a estimativa é que o consumo aumente 60% até 2050, mas as áreas cultivadas não vão aumentar mais para acom-panhar esse ritmo. Como deixar nossa produção mais eficiente?”, questio-nou Antonio Alarcón.

A solução que Múrcia encontrou há quase 50 anos não caiu do céu na forma de chuva. Em vez disso, uma grande obra de engenharia hídrica perfurou o solo e transpôs águas do Rio Tajo (que em Portugal se chama Rio Tejo), a 290 quilômetros de Múrcia, em mais de 2,5 milhões de quilômetros de tubulações.

Sertão que dá certo

Foto: Marcio Costa e Silva

Alarcón, especialista em tecnologia

agrícola, apresenta o caso da região de Múrcia, na Espanha

A transposição Tajo-Segura permitiu que o governo cobrasse pela água desviada do rio e levada em modernos sistemas de gotejamento e irrigação e tornasse a Múrcia um grande exportador de tecnologia em agricultura. O valor do metro cúbico de água é de 0,25 euros - quase R$ 1.

“As pessoas que moram na cidade estão acostumadas a pagar pela água que consomem. Mas quem vive no campo é diferente. Porém, essa tecnolo-gia não é só para grandes obras de infraestrutura, mas também para desen-volver os pequenos agricultores. Acho que é um momento das sociedades decidirem se implementarão soluções tecnológicas e assumirão o controle ou perderão esse trem que já está passando”, diz Alarcón.

Pelo sistema de distribuição de água da Múrcia, cada agricultor é cadastrado e tem sua produção avaliada para que seja decidido o tamanho da cota de água que poderá ter acesso. Mesmo pagando, há um limite, estabelecido por uma equipe composta de engenheiros e técnicos, para a quantidade de água.

“É um sistema muito grande e por isso complexo. A água não está à dis-posição para qualquer uso. O agricultor não pode utilizar uma bomba para desviar a água que está sendo comercializada, senão ele pode ser preso. Cada metro cúbico de água só sai de acordo com a superfície e o tipo de produção”, explica Alarcón, que também é coordenador do Mestrado Internacional em Tecnologia de Cultivos de Alta Performance na Universidade Politécnica de Cartagena, na Espanha.

Um grande centro de controle coordena o destino de cada gota de água que sai pelas tubulações do Tajo-Segura. O monitoramento Big Brother é defen-dido com orgulho pelo consultor, que defende a eficiência na gestão hídrica como responsável pelo aumento da produtividade da região.

“Com o planejamento, conseguimos tirar o máximo proveito dos recursos naturais, evitamos contaminações exageradas, já que é possível controlar até a distribuição de fertilizantes e controle de pragas, graças a uma rede interligada. Também ficamos menos reféns das chuvas. O clima é imprevi-sível no mundo todo, mas com esse sistema de irrigação não precisamos da chuva para ter uma boa produção”, diz Alarcón.

Depois de controlar o regime de águas, Múrcia passou a lucrar exportando tecnologia. “A gestão eficiente envolve reconhecer isso como um modelo de negócio, é preciso investir em tecnologia já existente, além disso entender e adaptar as soluções às realidades econômicas de cada região”, explica Alarcón.

“Com o planejamento, conseguimos tirar o máximo proveito dos recursos naturais. Também ficamos menos reféns das chuvas”ANTONIO ALARCÓN, consultor internacional em Tecnologia Agrícola e Manejo Intensivo

336 337

O umbu é uma fruta encontrada apenas no Semiárido brasileiro, mas algumas de suas iguarias também estão sendo consumidas em países es-trangeiros. O doce cremoso de umbu, por exemplo, é saboreado por fran-ceses, austríacos e italianos. Os produtos são exportados pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc).

A exportação da fruta que nasce em abundância nas terras do Sertão começou em 2005, com remessas para a França. “Foi a primeira oportu-nidade que nós tivemos de entrar no mercado internacional. Vendemos 15 toneladas de doce cremoso. E ainda alimentamos esse mercado”, comemo-rou o coordenador de Educação, Formação e Comunicação da Coopercuc, Jussemar Cordeiro, durante apresentação no Fórum Agenda Bahia 2013.

Em 2013, a Coopercuc processou 250 toneladas de quatro frutas: umbu (60%), maracujá (20%), além de manga e goiaba (20%). Essa produção não foi consumida apenas aqui no Brasil: 20% foi exportada para França, Áustria e Itália. O mercado alemão também já demonstra interesse por comercializar as iguarias do Sertão brasileiro. A Coopercuc foi criada em 2004 e atua em 19 comunidades da Bahia localizadas nos municípios de Uauá (9), Canudos (2) e Curaçá (8). O trabalho da cooperativa gera renda para 450 famílias.

De Uauá para a Europa

Foto: Marcio Costa e Silva

Jussemar mostrou que o umbu de Uauá já é vendido até na Europa

A eficiência na gestão das águas fez com que a região da Múrcia, na Espanha, esquecesse que por lá a chuva costuma falhar. A província, cuja área é metade do estado de Sergipe, tem índices pluviométricos inferiores a 300 mm anuais, menos da metade do que costuma chover na região do Semiárido, no Brasil. No entanto, Múrcia é responsável por 20% das exporta-ções de frutas e hortaliças na Espanha, o equivalente a três vezes o volume do que é enviado pelo Brasil para o mercado internacional.

“Na região da Múrcia, 100% da água de uso urbano e industrial se recicla e se reutiliza”, explica Antonio Alarcón, consultor internacional em Tecnologia Agrícola e Manejo Intensivo. Com a transposição do Rio Tejo, que na Espanha recebe o nome de Tajo, as águas foram deslocadas 290 quilômetros em direção ao solo árido e de águas salgadas. A chegada da água foi suficiente para, junto com o clima favorável, transformar Múrcia na horta da Europa, título que ostenta com orgulho.

“É possível incorporar o processo de dessalinização, mas a quantidade de água por esse método não vai ser tão grande, sobretudo, porque temos de levar a tecnologia de eficiência da água ao pequeno agricultor, a todos os produtores, impulsar o processo de agricultura irrigada a todos”, explica.

Pelo sistema de gestão de Múrcia, cada agricultor se cadastra e pode adquirir créditos de água pela internet ou até em caixas eletrônicos. A água é distribuída a partir do tamanho da área produtiva e do tipo de cultura. O sistema de monitoramento permite reduzir o índice de desperdícios de água e elevar ao máximo a produtividade da safra.

Para isso, desenvolve bancos de dados e softwares capazes de controlar a distância, pela internet ou por sistemas de controle, o manejo dos recursos hídricos que serão transportados e distribuídos pelos milhões de quilôme-tros de tubulações.

A colheita de dados de cada produção também é realizada e ajuda a selecio-nar o método mais eficaz de fertilização e combate de pragas. “Pelo método tradicional de irrigação, a produção por metro cúbico de hortaliças não passa dos 3 kg por hectare, quando pelo sistema de irrigação na Múrcia a produção passa dos 8 kg”, explica Alarcón.

A quantidade de água controlada faz com que os agricultores tenham de adaptar suas produções de acordo com a disponibilidade de água. “A água não está à disposição para qualquer uso. O agricultor não pode utilizar uma bomba para desviar a água que está sendo comercializada, senão ele pode

Eles driblaram a seca

“Na região da Múrcia, 100% da água de uso urbano e industrial se recicla e se reutiliza”ANTONIO ALARCÓN, consultor internacional

338 339

ESPANHA

Madri

França

Portugal

ArgéliaMarrocosIlhas Canárias

OCEANO ATLÂNTICO MAR MEDITERRÂNEO

BAÍA DE BISCAIA

Múrcia

Média anual

18ºCMais deficitária da Europa (0,04 Hm3/km2, frente a uma média nacional de 0,55 Hm3/km2). Mas tem terra de cultivo de 555.000 Ha e irrigadas em 187.000 Ha

Temperaturas

Precipitação

Bacia hidrográfica

Múrcia

Sertão baiano

200-300 mm

800 mm

Múrcia com 3% dos recursos hídricos da Espanha gera mais de 20% das expor-tações de hortifru-tas. Isso representa 1,8% do total mundial e três vezes mais que o Brasil – que é 800 vezes maior

Havia água escassa e de má qualidade, o cultivo do solo problemático. Há mais de 40 anos foram feitos investimentos para superar a seca

(Média de chuva anual)

A horta da Europa

ser preso. Cada metro cúbico de água só sai de acordo com a superfície e o tipo de produção. Caso exceda a quantidade de água que lhe é permitida, o agricultor terá de utilizar água de origem subterrânea ou salinizada, que é mais cara”, explica o especialista espanhol.

O projeto de gestão de água na Múrcia começou há cerca de 50 anos e hoje é referência no desenvolvimento da agricultura por sistema irrigado. Lá, onde existe o maior lago de água salgada do mundo, conhecido como Mar Menor, cuidar da água é questão de sobrevivência.

“Uma das maiores catástrofes ambientais dos últimos tempos, o Mar de Aral, que em 1960 era o quarto maior lago do mundo, com 68 mil metros quadrados, hoje tem superfície de 30 mil km quadrados. Em alguns trechos, a faixa de terra avança 300 quilômetros adentro. Tudo isso porque ocorreu a alguém que essa massa de água poderia ser utilizada para o cultivo de algodão”, diz Alarcón. O lago entre o Cazaquistão e o Uzbequistão é um exemplo de má gestão dos recursos hídricos.

A eficiência do sistema da Múrcia envolve sistemas de gotejamento, para garantir a irrigação controlada e constante da plantação, controle de pragas e espalhamento de fertilizantes através das tubulações que conduzem a água, para cultivo de frutas e hortaliças e proteção para o Inverno.

O custo da água é de 25 centavos de euro, o equivalente a R$ 1, caro para padrões brasileiros que não estão acostumados a pagar pelo uso nas zonas

rurais. Para compensar o alto custo de produção, o sistema de agricultura consegue driblar gargalos que, aqui no Brasil, são responsáveis pelo encare-cimento dos produtos.

A logística de distribuição em Múrcia é também exclusivamente dependen-te da malha rodoviária. “Toda a logística é feita pelas estradas, mas a nossa malha é magnífica, talvez, entre as melhores do mundo. De Múrcia, para qualquer lugar da Europa, a produção chega em menos de um dia. Isso consi-derando que em alguns desses lugares é preciso percorrer entre três mil e quatro mil quilômetros. Há uma pequena parte que é distribuída por barcos, mas a maioria é por estrada”, explica Alarcón. Na Bahia, um case apresenta-do no fórum mostra que também é possível tornar uma região produtiva.

Caso exceda a quantidade de água que lhe é per-mitida, o agricultor terá de utilizar água de origem subterrânea ou salinizada, que é mais cara”, explica o especialista espanhol Antonio Alarcón

Custo maior

340 341

O exemplo da transposição do Tejo, na Múrcia, trouxe o tema do Rio São Francisco para o debate no Fórum Agenda Bahia 2013. Segundo o secre-tário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, a presidente Dilma Rousseff autorizou o projeto que vai transpor águas do Velho Chico até a Bacia do Jacuípe.

“Existe essa fase do projeto de transposição do Rio São Francisco que é uma contrapartida para beneficiar a Bahia, que é cessora de águas do rio para os demais estados e estava de fora do projeto. Essa transposição já foi autorizada pela presidente Dilma. O projeto executivo custa R$ 27 milhões. A água sai do São Francisco até São José do Jacuípe”, contou.

A discussão sobre a transposição ganha ainda mais força com o esgota-mento hídrico de três das mais importantes fontes de abastecimento e irrigação na Bahia. “A situação está crítica na Barragem de Livramento, onde se produz 12 mil hectares de manga e maracujá. Isso coloca em risco o emprego de mais de 40 mil pessoas”, disse Salles.

“Em Mucugê, se não chover nos próximos dois meses, corre-se o risco de perder mais de 5 mil hectares de batatas”, disse. A região é responsável pela produção de 90% da produção de batatas que abastece o Nordeste. “A Barragem do Apertado está em 30% da sua capacidade. Em Irecê, as últimas chuvas não foram capazes de recuperar o lençol freático que se exauriu nos últimos anos”, contou Salles.

Bahia também terá transposição do Velho Chico

Foto: Sebastião Bisneto/

Estadão Conteúdo

O projeto de transposição do Rio São Francisco promete

garantir oferta de água para 12 milhões de habitantes

Uma série de ações está sendo desenvolvida para valorizar a região e manter o morador do Sertão na sua cidade. Investimentos de empresas em cultura, meio ambiente e novos negócios mostram como uma política da boa vizinhança pode render bons frutos. “Nós temos a responsabilidade de ser bons vizinhos. A gente acha fundamental expandir o impacto que a empresa pode ter para além daquilo que seria o direito. Faz parte da nossa missão ser um veículo de desenvolvimento sustentável para a região”, afirmou o presi-dente da Renova Energia, Mathias Becker.

“Isso não significa que vamos fazer completamente o desenvolvimento sustentável. Queremos ser catalisadores, para conduzir o que é necessário, dar a primeira semente”, completa Becker. Para alcançar isso, a empresa busca legitimidade com as comunidades e adota um modelo de atuação que tem o objetivo de contribuir com o desenvolvimento das comunidades locais.

“Nossa grande missão enquanto vetores de um desenvolvimento susten-tável é procurar entender as principais carências e atuar de forma contínua. Isso vai ocorrer ao longo do período que a gente vai estar na região. E estamos falando em 35 anos, tempo do nosso contrato”, explica Mathias Becker.

Outro exemplo de responsabilidade social da Renova Energia é o Programa Catavento, que atende a uma filosofia ampla dentro da proposta de multi-plicar os impactos positivos das regiões carentes onde a empresa atua. O programa nasceu há dois anos e reúne projetos sustentáveis e de desenvol-vimento socioambiental que permeiam a implantação dos parques eólicos no Alto Sertão baiano.

Valorizar o sertanejo

Foto: Marcio Costa e Silva

José Navas quer investir em quem trabalha às margens das estradas

342 343

A criação de Museu do Alto Sertão da Bahia e a capacitação profissional é uma das ações desenvolvidas. “As pessoas da região que estão sendo treinadas agora podem ser pedreiros ou operários das obras que começam em 2014. São 86 pessoas que podem já participar das próximas obras. São pessoas que não tinham formação em construção civil, que hoje têm, e podem ser funcionários no futuro”.

Já o Museu do Alto Sertão da Bahia (Masb) visa fortalecer a identidade da cultura da região. Já foram identificadas 2.300 peças arqueológicas.

A Via Bahia também planeja investir na população que vive às margens das rodovias BR-116 e BR-324. Segundo o presidente da concessionária, José Carlos Navas, a empresa disponibilizará R$ 5,3 milhões em projetos nos próximos quatro anos. Um dos projetos prevê o reassentamento de barracas às margens das estradas.

“Vamos buscar também a colaboração das prefeituras municipais para viabilizar o assentamento dessas populações. A gente sabe da subsistência dessas famílias, que utilizam as margens das rodovias para o seu sustento, mas em contrapartida estão em uma condição absolutamente ilegal, irre-gular, ocupando a faixa de domínio e se expondo sob o ponto de vista da segurança”, afirma Navas. O novo projeto, segundo o executivo, trará mais conforto e segurança para os trabalhadores.

A Via Bahia tem previsão de investimento na Bahia na ordem de R$ 2,5 bilhões nos próximos 25 anos. Além de infraestrutura e a conservação das rodovias, as obras principais são para tratamento de pontos loca-lizados críticos de acidentes. “O que mais nos preocupa é o número de mortes”, disse.

O Semiárido baiano tem os melhores ventos do mundo para a produção de energia eólica. “Eles têm três características fundamentais: velocidade alta, baixa turbulência e direção única”, explica Mathias Becker, presidente da Renova Energia, empresa que vem implantando um sistema para produção de energia eólica no Semiárido baiano, em cidades como Caetité, Guanambi, Itaporã e Pindaí.

“Em outros lugares, você encontra ventos com velocidade elevada, mas o Semiárido tem duas características que favorecem a absorção dessa energia. O vento é constante e não é turbulento. O vento turbulento é ruim pra absorver energia. Além disso, o vento no Sertão baiano tem uma direção só, não fica girando. A mudança de direção faz com que se perca capacidade de absorver energia”, diz Becker.

Se os ventos do Sertão são bons para a energia eólica, os investimentos de empresas desse setor também sopram bons ventos para a região. O modelo de atuação da Renova Energia, por exemplo, tem o objetivo de contribuir com o desenvolvimento das comunidades locais e trabalha com quatro prin-cípios. O primeiro deles é a retenção do homem no campo.

“Isso é algo fundamental. São proprietários que teriam a tendência de sair caso nós comprássemos a propriedade. A decisão da Renova foi de mantê-los no campo através do arrendamento das propriedades e do auxílio para que eles aumentem a produtividade ao permanecer no solo, apesar de ser

Bons ventos para o Semiárido

Foto: Marcio Costa e Silva

Mathias Becker, da Renova, avaliou os

investimentos para as comunidades que vivem

no Semiárido baiano

344 345

uma região com muitos desafios”, acrescentou o especialista. Integração da geração de energia com o ambiente, atuação como vetor de desen-volvimento sustentável de longo prazo para a região e geração de renda na região de atuação também estão entre os princípios adotados pela empresa.

“Mais de 70% da mão de obra usada nas nossas obras é de cidadãos das cidades onde estamos atuando. Isso é algo que a gente cobra inclusive das empreiteiras: que contratem funcionários da cidade. Ao contratar pessoal da região, pode-se evitar um fenômeno que existe: a migração de quem é natural da região para trabalhar em São Paulo. Reter o morador gera renda e proximidade das pessoas com as próprias famílias”.

Durante a palestra que realizou no Fórum Agenda Bahia 2013, o presidente da Renova apresentou o Programa Catavento, que agrupa projetos susten-táveis e de desenvolvimento socioambiental para o Alto Sertão baiano. O programa nasceu a partir da execução de projetos que permeiam a implan-tação dos parques eólicos há dois anos.

Dentro desse projeto, a Renova Energia tem quatro vertentes de atuação: meio ambiente, socioeconomia, desenvolvimento organizacional, além de cultura e patrimônio. “São regiões carentes, onde a gente vê a necessida-de da geração do orgulho e do entendimento das pessoas com relação à história desse lugar”, disse Becker.

Integração da geração de energia com o ambiente, atuação como vetor de desenvolvimento sustentável de longo prazo para a região e geração de renda na comunidade de atuação também estão entre os princípios adotados pela Renova Energia. Entre os resultados desse modelo está a criação do Programa Catavento, que agrupa projetos sustentáveis e de desenvolvimento socioambiental para o Alto Sertão baiano.

“São regiões carentes, onde a gente vê a necessidade da geração do orgulho e do entendimento das pessoas com relação à história desse lugar”

*Valorização

70% da mão de obra usada nas obras é formada por moradores das cidades onde a Renova atua

MATHIAS BECKER, presidente da Renova Energia

O sertanejo Areldo da Silva é nascido e criado na cidade de Guanambi e tem um orgulho danado do município localizado no Semiárido baiano. “Guanambi é bom demais. O problema aqui é só que a chuva é pouca, mas município igual a Guanambi não tem. Tenho energia elétrica e água encanada aqui na roça. É melhor que morar na cidade grande. Acho boa minha terra, pois eu sobrevivo dela”, vibra o agricultor de 57 anos.

Seu Areldo nunca quis sair de sua terra e viu bons ventos trazerem me-lhorias para sua vida. Ele é um dos agricultores beneficiados com a política de arrendamento adotada pela Renova Energia, empresa responsável pela implantação de 29 parques eólicos nos municípios de Caetité, Guanambi e Igaporã. Em vez de comprar terrenos para fazer a instalação dos equi-pamentos, a empresa prefere manter as famílias em suas casas e pagar a elas um aluguel pelo uso da propriedade.

“É um dinheirinho que a gente não gasta nada pra receber ele. Melhorou bastante o orçamento e não foi só pra mim, foi pra muita gente”, comemora seu Areldo, pai de seis filhos. Segundo ele, é essa renda extra que permite que ele continue mantendo a pequena criação de gado que tem e o cultivo de hortaliça. “De primeiro, vendia uma criação pra poder se manter em casa. Hoje, não precisa vender para sobreviver. Esse dinheiro já dá pra se manter. Uma coisa que você produz, você vai juntando o dinheiro. Dá para manter a família e pelo menos uma criação”, conta. O orçamento permite que sustente a esposa, os pais idosos que moram com ele e o filho mais novo, de 15 anos, ainda estudante.

A presença da Renova Energia atraiu outras empresas para o Semiárido e gerou a criação de novos empregos para a região. Mais de 70% da mão de obra usada nas obras da empresa responsável pela geração de energia eólica é composta por cidadãos das cidades em que atua, o que vem evitando a migração para grandes cidades.

“Foi muito bom a Renova vir pra cá pra região. Se não viesse, a maioria do pessoal estaria em São Paulo, trabalhando no corte de cana. Vieram empresas pra cá que deram muito emprego a muita gente daqui da região”, reconhece seu Areldo da Silva. “Antes, o pessoal saía daqui em janeiro ou fevereiro e só voltava em outubro. Hoje não. O pessoal trabalha de dia e de noite tá em casa com a família. É melhor do que ficar fora seis ou oito meses, longe da família”.

O modelo de atuação da Renova Energia tem o objetivo de contribuir com o desenvolvimento das comunidades locais. “Imagine se a gente

Investimento no morador

“Melhorou bastante o orçamento e não foi só pra mim, foi pra muita gente”ARELDO DA SILVA, sertanejo

346 347

comprasse uma propriedade. Tipicamente, essas famílias não têm o hábito de ter investimentos, de ter disciplina para manter fundos, e eles teriam a tendência de gastar esse dinheiro e se tornar no futuro um problema social”, explica. Segundo Mathias Becker, a renda de longo prazo permite que os agricultores gerenciem o orçamento mensal. “Eles sabem que têm uma receita garantida, mas essa receita não é extremamente elevada. É o suficiente para permanecerem e se desenvolverem ao longo do tempo”, avalia o presidente da Renova.

Becker também pontua que a renda extra possibilita que os proprietários rurais façam investimentos. E mais: o arrendamento facilita a distribui-ção de renda nos municípios. “O arrendamento pressupõe que a gente vai pagar durante 35 anos para esses proprietários. Esse pagamento faz com que a família consiga se sustentar e fazer, inclusive, investimentos em educação. A renda que eles tinham antes era pequena, através da produção própria, que não é muito elevada, ou de outros benefícios, como Bolsa Família”, completa.

Foto: Divulgação

Areldo recebe aluguel da Renova, que instalou torres em seu terreno

Assim como seu Areldo, Lázaro Sebastião também viu sua vida melhorar depois que passou a receber mensalmente da Renova Energia o paga-mento pelo arrendamento de suas terras. “Ajuda em muita coisa. A vida melhorou 99% depois que a Renova chegou aqui. Antes, a gente não tinha dinheiro pra fazer as coisas. Recebo todo mês desde 2008. Todo mês tem o dinheiro pra fazer o que quiser”, vibra o agricultor, de 46 anos, que mora na área rural próxima ao povoado de Morrinhos.

Além de trazer tranquilidade para ele, a esposa e o filho único de 9 anos, a renda extra permite programar um futuro melhor. “Terminei de construir minha casa e já comprei mais duas posses”, orgulha-se o sertanejo, que mantém o cultivo de milho, feijão, mandioca, andu e ainda cria porcos e galinhas.

“Com renda extra, terminei de construir minha casa e já comprei mais duas posses”LÁZARO SEBASTIÃO, sertanejo

348 349

“Essa é uma seca de três anos, pois não choveu praticamente nesse período todo. O governo tem trabalhado para estimular culturas, como a da mandioca, presente em todos os municípios baianos, e da palma, resistente à seca. Mas é preciso aprender a conviver com o Semiárido, pois a seca não se cura”. A definição é do secretário de Agricultura, Eduardo Salles, em debate realizado na Fieb.

A discussão foi mediada pelo editor-executivo do Correio, Oscar Valporto, e, além de Salles, participaram o chefe-geral da Embrapa para o Semiárido, Natoniel Franklin, e o presidente da Via Bahia, José Carlos Navas.

Para enfrentar os efeitos da seca, considerada a pior dos últimos 50 anos, Salles destacou um dos projetos desenvolvidos em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que vai oferecer 90 retroes-cavadeiras a 90 municípios baianos que foram afetados pela seca.

Já o chefe-geral da Embrapa mostrou números que mostram a gravidade da seca na Bahia. “Há municípios que ficam até 300 dias sem chover, como no Raso da Catarina. Uma solução é a perenização dos rios temporários, que resolvem o abastecimento de água desses municípios”, diz.

Questionado sobre o volume de veículos pesados que transitam na rodovia BR-316, Navas pontuou a demanda da concessionária Via Bahia. “Nós temos nos trechos mais carregados da BR-116 um volume da ordem de 10 mil veículos por dia e, desse volume, 7.500 são caminhões, ou seja, 75% do volume que compõe a BR-116 é veículo pesado, de carga. É o inverso do que ocorre na BR-324, que tem 30% de veículos pesados e 70% de veículos leves”, explica.

Caminhos para conviver com a seca

Foto: Marcio Costa e Silva

Valporto, do Correio, com Franklin, Navas e Eduardo Salles no debate

Foto: Marcio Costa e Silva

Se para a seca no Semiárido baiano não há cura, a tecnologia pode deixar o sertanejo mais forte. Diante da escassez de chuva, algumas pesquisas desenvolvidas para a região têm ajudado os agricultores a enfrentar os períodos de seca e melhorar o desenvolvimento e a qualidade de suas pro-duções. “As pesquisas são desenvolvidas e depois retornam para que sejam trabalhadas com as comunidades. Nós ajudamos na articulação”, explica o chefe da Embrapa Semiárido, Natoniel Franklin.

O pesquisador cita o caso das barragens subterrâneas, com tecnologias alternativas de captação e armazenamento da água de chuva no interior do solo, e já desenvolvidas no Semiárido.

“Esse é um exemplo de pesquisa que já está virando política pública com o apoio do governo do estado e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em 90 municípios”, explica.

O chefe da Embrapa mostrou ainda adaptações de tecnologias desenvolvi-das fora do Brasil e que podem ser replicadas no contexto local: “As cisternas produtivas, de 52 mil litros, têm origem na China, são copiadas com dados técnicos da Embrapa e permitem a produção de fruteiras e hortaliças”.

Franklin cita as pesquisas genéticas que desenvolvem produtos mais adptados às condições climáticas da região. O projeto Reniva Nordeste tem base, na Bahia, em Cruz das Almas, e estimula a produção de mudas genéti-cas da mandioca, cultura presente em todos os municípios do Semiárido. “Há também o ciclo do milho precoce, que hoje se completa em até 80 dias. Não é tão produtivo, mas diminui os riscos de se perder a produção por conta da seca”, explica Natoniel Franklin.

Tecnologia: aliada para todas as horas

- O secretário Eduardo Salles prometeu construir barragens subterrâneas em pelo menos 90 municípios e uma biofábrica para a produção de palma especial para alimentar o gado

- Salles defendeu incentivo à pesquisa para manutenção e aumento de produção de culturas, como a da mandioca

Solução

350 351

Outro exemplo de pesquisa que resiste à imposição do clima é a produção de vinhos com uvas do tipo Malbec e Chardonnay, em Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina. Ainda há estudos em tecnologias convergen-tes, como a nanotecnologia que salvou abelhas que morriam ao serem atacadas por ácaro.

O secretário de Agricultura, Eduardo Salles, no entanto, admitiu que faltam recursos para desenvolver pesquisas: “Nós precisamos trabalhar mais a pesquisa ligada à ponta, ao produtor. A nossa produtividade do sisal, que é uma cultura altamente tolerante à seca, em média, chega a 800 kg por hectare, mas tem o sisal híbrido que produz 7 mil kg/ha. No México, eles usam 100% da planta. Aqui, a gente utiliza apenas 4%. Enfim, ainda há muita coisa para se desenvolver em ciência, tecnologia ligada à aplicação na ponta, mas falta dinheiro”.

O professor da Unifacs José Ângelo Sebastião Araujo dos Anjos, especialista em Planejamento e Administração dos Recursos Naturais e doutorado em Engenharia Mineral pela Universidade de São Paulo, diz que, com o avanço da tecnologia, os bens minerais que poderiam dar origem a rejeitos e lixões passam a ser utilizados para o bem das pessoas. José Ângelo e uma turma de alunos utilizam a tecnologia para desenvolver um projeto no município de Boquira, que foi contaminado pela exploração do chumbo entre 1959 e 1992.

“Estamos caracterizando os sedimentos e analisando a poeira que ainda atinge as residências, para delimitar a contaminação e desenvolver um programa de educação ambiental”, conta.

“O avanço da tecnologia é uma resposta ao avanço da sociedade, que não tolera mais certas coisas. Para cumprir a legislação, a empresa é obrigada a se modernizar”, lembra Kurt Menchem, diretor-executivo da Largo Resources.

Foto: Marcio Costa e Silva

- As potencialidades do Semiárido, segundo Natoniel Franklin, da Embrapa, são bacias leiteiras, fontes de riquezas de origem mineral e vegetal, ovinocaprinocultura, artesanato e vinicultura

- Entre os desafios, Franklin destaca o desenvolvimento de polos de agricultura irrigada em bases técnicas modernas

Solução

Graças à tecnologia, tanto de plantio quanto de beneficiamento, o umbu pode ser processado o ano inteiro e transformado em doces, geleias e polpas, o que permite a comercialização durante toda a temporada, inclu-sive em época de seca. “Pesquisas mostraram que era possível antecipar o ciclo de produção (de 15 para 5 anos). Aprendemos também a colher os frutos de forma sustentável”, explica Jussemar Cordeiro, coordenador de Educação, Formação e Comunicação da Coopercuc. Técnicas que definem concentração de cloro, temperatura e controle do pH inibem o desenvol-vimento de bactérias e fazem com que os produtos sejam armazenados corretamente.

Do umbuzeiro, chamado de árvore sagrada por Euclides da Cunha, aproveita-se de tudo. E é de seus frutos que sai o reforço de pelo menos 30% da renda de 450 famílias da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc).

O investimento valeu a pena. O saco com 45 quilos de umbu, vendido por R$ 5, valia R$ 135 depois do beneficiamento. Isso no começo da coopera-tiva. Agora, com fama internacional, comercializado em países da Europa, não se encontra o saco por menos de R$ 20 - com valor agregado, ultra-passa os R$ 200. Quem quiser comprar uma compota de 300 gramas na loja paga R$ 5, o mesmo valor antigo de um saco cheio da fruta.

Preço de saco do umbu passa de R$ 5 para R$ 135

“Pesquisas mostraram que era possível antecipar o ciclo de produção. Aprendemos também a colher os frutos de forma sustentável”JUSSEMAR CORDEIRO, coordenador da Coopercuc

Infográfico: Semiárido baiano

A região do Semiárido deve ser encarada como área de

oportunidades para se fomentar sua inserção econômica.

Intervenções de natureza pontual podem amenizar seus

problemas, mas é necessário não perder de vista a dimensão

maior do planejamento, encarando continuamente os

problemas reais a serem superados.

É preciso implementar uma estratégia de desenvolvimento

para o Semiárido baiano como um todo, sem abdicar de ‘boas

práticas’ locais em cada município ou região

Semiárido baiano ocupa mais de um terço do

bioma no Nordeste

Caracterização do Semiárido brasileiro

Caracterização do Semiárido baiano

POBREZASemiárido concentra mais da metade dapopulação pobre no estado

Bloqueios atmosféricos provocam longos períodos de estiagem no Semiárido (nos anos marcados pelo fenômeno de El Ninõ). E o período de chuvas se concentra em poucos meses do ano.

A baixa precipitação pluviométrica, aliada à distribuição irregular no espaço e no tempo e às altas temperaturas médias anuais (cerca de 27°C), exerce forte efeito sobre a evapotranspiração da água que, por sua vez, determina o déficit hídrico durante a estiagem anual.

Como o subsolo é rico em rochas cristalinas (de baixa permeabilidade), a formação de aquíferos subterrâneos é inibida. O regime de chuvas rápidas e fortes também impede a penetração de água no subsolo.

Uma outra característica do Semiárido brasileiro é a alta presença de sais nos solos, explicada pela evaporação intensa. A salinidade inibe a produtividade agrícola.

Daí a importância da irrigação ao longo do São Francisco para o manejo e aumento da produtividade agrícola, principalmente de frutas

ÁGUA, O PRINCIPAL PROBLEMA

Fontes: SEI, Ministério da Integração Nacional, IBGE e Ipea

Fonte: IBGE

TENDÊNCIAS NA

ECONOMIA DO SEMIÁRIDO

Segundo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 100 dos 417 municípios da Bahia têm, hoje, alguma atividade de mineração. Desses, 90% estão localizados no Semiárido. O setor produtor de bens minerais do Semiárido baiano, responsável por três quartos da produção mineral da Bahia em valor, apresenta um espectro bastante diversificado:

A produção bruta de minério de barita em 2007 no Semiárido baiano foi de 44.792 toneladas, um crescimento de 14% no triênio e correspondeu ao total da produção do país, tendo empregado, de forma direta, nas atividades de extração e beneficiamento 122 pessoas. A produção se concentra em Miguel Calmon, Novo Horizonte e em Umburanas.

A produção bruta de calcário, calcário dolomítico e dolomito no Semiárido baiano corresponde a 88,5% da produção da Bahia. Há concentrações em Campo Formoso, Ibotirama, Euclides da Cunha, Itapetinga, Morro do Chapéu e Potiraguá. Tradicionalmente, os setores industriais responsáveis pelo consumo são o produtor de cimento, de calcário para corretivo agrícola, metalurgia e produção de britas.

A Bahia ocupa o 3º lugar como produtor nacional de rochas e granitos. O estado extrai mais de 600 mil toneladas anualmente, o que corresponde a 10% da produção nacional. o mármore e o granito. Trata-se de material amplamen-te utilizado na construção civil como revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas, soleiras. São registradas amplas jazidas de mármore nas regiões de Jacobina (mármore bege) e Ourolândia. Já as reservas de granito são encontradas em várias regiões. Destaque para o granito azul (em Potiragá, sudoeste do estado) e granito rosado (em Itaberaba, Macajuba e Rui Barbosa, na Chapada Diamantina).

A região semiárida possui importan-tes reservas de talco, localizadas nos municípios de Brumado e Casa Nova. O principal depósito está localizado no município de Brumado. A Bahia concentra quase a totalidade da produção nordestina.

Toda a produção baiana de minério de cobre, pela Mineração Caraíba, ocorre no Semiárido, no município de Jaguarari, sendo equivalente a 36% da produção brasileira de concentrado de cobre.

Cobre

Mineração

Barita Calcário

Pedras ornamentais

Talco

Se água e má distribuição das chuvas são problemas, o Semiárido é, também, região de oportunidades. Para pequenos empresários que desejam se estabelecer na região, o Desenbahia disponibiliza linhas de microcrédito, incluindo financiamentos de até R$ 3 mil, a taxa de juros é de 0,64% ao mês. Para operações acima desse valor, taxa de 1% ao mês. Confira algumas das oportunidades

A fruticultura destinada à exportação já é desenvolvida ao longo do São Francisco, com destaque para o complexo agroindustrial de Juazeiro/Petrolina. A fruticultura é seu ‘carro-chefe’ e avanços técnicos comandados pela Embrapa ajudam a consolidar essa atividade no Semiárido nordestino, sendo grande parte da produção voltada para mercados no exterior.

Área incluída - 982.563 km², equivalentea 11% do território do Nordeste

Área incluída – 390.594 km², ou 70% da áreado estado e 39% do total do Semiárido nordestino

Municípios abrangidos – 265 (23,4% do totalde municípios do Semiárido brasileiro)

População - 6.316.846 habitantes. 48% dototal do estado e 31% dos habitantes doSemiárido do NE

Densidade demográfica - 16,5 hab/km²

IDH – 65,4% dos municípios do bioma têm IDHintermediário (entre 0,60 e 0,69); 32,2% IDHbaixo (0,59 ou menos) e apenas 2,4% IDHelevado (0,70 ou acima)

Municípios abrangidos - 1.133, de noveestados da região

População - 20.870.020 habitantes

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) -82% dos municípios têm IDH inferior a 0,65(o IDH varia de 0 a 1, sendo a média mundial 0,68)

Clima e bioma – Semiárido associado ao biomada caatinga, rico em biodiversidade. O clima émarcado por longos períodos de estiagem etemperaturas médias anuais de 26º

Chuvas – Precipitação pluviométrica de750 mm/ano, com distribuição irregular

características e oportunidades

Renda - Metade tem como única fonte de rendimento o Bolsa Família, na sua maioria (59,5%) mulheres

A força da cultura sertaneja gera polos de artesanato importantes e com oferta regional diversificada (produção em couro, barro, madeira, vestuário e alimentos), associada ou não ao turismo de eventos (como as festas juninas) e ao turismo religioso ou ecológico.

Artesanato

Arranjos produtivos de confecção se firmaram na porção setentrional do agreste pernambucano e no Seridó do Rio Grande do Norte. Na Bahia, municípios como Jequié, Valença e Vitória da Conquista possuem tradição no segmento e podem sediar novos investimentos.

Confecção

Indústrias do segmento marcam presença nas cidades do espaço semiárido, da Bahia, Ceará e Paraíba. Empresas buscam cidades médias do Nordeste, onde encontram matéria-prima fácil e mão de obra barata.

Calçados

Há oportunidades relacionadas às manifestações artísticas e religiosas. O turismo sertanejo é sustentável; pois possibilita impulsionar a cadeia produtiva, tendo como base a identificação dos atrativos locais, sem que haja a descaracterização da paisagem sertaneja ou a perda da identidade cultural. Esse segmento turístico pode ser gerido sem muitos gastos aos cofres públicos.

Turismo

Na região de Alagoinhas a qualidade dos aquíferos subterrâneos atrai indústrias de refrigerantes, água mineral e cerveja. Já a produção de cachaça tem tradição e potencial de crescimento, inclusive a cachaça orgânica, em municípios como Abaíra e Rio de Contas.

Bebidas

Escolas e campi de universidades já estão presentes em cidades do Semiárido, com impactos importantes na vida das regiões.

A bovinocultura é a atividade pecuária principal mas, nos últimos anos, a ovinocaprinocultura ganhou prestígio e passa a ser uma alternativa viável, até porque seu leite, queijo e carne têm crescente aceitação nos mercados urbanos do país.

Ovinocaprinocultura

A indústria de alimentos de pequeno e médio portes ganha espaço no Semiárido nordestino. Há potencial para produção de derivados do leite, a exemplo de iogurtes e bebidas lácteas; doces e conservas; biscoitos, etc.

Alimentos

Ensino médio e superior

Agricultura Irrigada

Região abriga:

61% dos 2,5 milhõesde miseráveisda Bahia

63% dos municípiosdo estado

28% do PIB estadual

MA CE

RN

PB

PE

AL

SE

BA

MG

PI

Semiáridobrasileiro

Fonte: Fieb Arte: Bamboo editora

354 355

Mineral: níquelPara que serve: fabricação de aços inoxidáveis, ligas especiais, baterias recarregáveis, moedas, revestimentos metálicos e fundiçãoEmpresa: Mirabela MineraçãoSituação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2007: R$ 765 milhõesEmpregos: 850Capacidade instalada: 147 mil toneladas/ano

ITAGIBÁ

Mineral: argilaEmpresa: Cerâmica Catu GrandeSituação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2011: R$ 1,7 milhõesEmpregos: 50Capacidade instalada: 15 milhões/ano

ITAPICURU

Mineral: argilaEmpresa: Cerâmica CimentexSituação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2011: R$ 2 milhõesEmpregos: 40Capacidade instalada: não informada

BOA VISTA DO TUPIM

Mineral: britaPara que serve: utilizada na fabricação de concretos, no lastro de rodovias e outras obras da construção civilEmpresa: Mineração Pedra do CavaloSituação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2010: R$ 5 milhõesEmpregos: 42Capacidade instalada: 436,8 toneladas/ano

GOVERNADOR MANGABEIRA

Mineral: magnesitaPara que serve: produção de sínter magne-siano, produto utilizado na construção civil e na indústriaEmpresa: Magnesita S.A.Situação: empresa instalada, realizando extração mineralInvestimento desde 2010: R$ 120 milhõesEmpregos: 35Capacidade instalada: 60 mil toneladas/ano

BRUMADO

Mineral: talcoPara que serve: aplicação industrial, elétrica e artesanalEmpresa: XiloliteSituação: empresa instalada, realizando extração mineralInvestimento desde 2012: R$ 8 milhõesEmpregos: 15Capacidade instalada: não informada

BRUMADO

Mineral: concentrado de cobrePara que serve: metal utilizado na fabricação de cabos de alta e baixa tensão, conectores, motores, dentre outrosEmpresa: Mineração Caraíba S.A.Situação: empresa instalada, realizando extração de concentrado de cobreInvestimento desde 2009: R$ 290 milhõesEmpregos: 101Capacidade instalada: 125 mil toneladas/ano

JAGUARARIO MAPA DA MINA

BahiaBRASIL

Mineral: argilaPara que serve: possuem inúmeros usos, inclusive medicinais. São largamente empregadas na cerâmica para produzir artefatos, desde tijolos até semicondutores utilizados em computadoresEmpresa: CAS ConstrutoraSituação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2011: R$ 1 milhãoEmpregos: 43Capacidade instalada: 21,6 mil milheiros/ano

RAFAEL JAMBEIRO

Mineral: bentonitaPara que serve: possui diversos usos na indústrias petrolífera e da construção, na fabricação de graxas, aromatizantes, redes elétricas, saúde e até pecuáriaEmpresa: Companhia Brasileira de Bentonita (CBB)Situação: empresa instalada, realizando a extração mineralInvestimento desde 2009: R$ 25 milhõesEmpregos: 120Capacidade instalada: não informada

VITÓRIA DA CONQUISTA

Mineral: britaEmpresa: Indústria e Comércio de BritasSituação: empresa instalada, realizando extração mineral para uso na construção e britamentoInvestimento desde 2011: R$ 4 milhõesEmpregos: 50Capacidade instalada: não informada

JEQUIÉ

Historicamente com o estigma de região improdutiva, o Semiárido baiano é o carro-chefe de uma das atividades que mais têm crescido na Bahia nos últimos anos: a mineração. O solo do Sertão, normalmente pouco fértil para a produção agrícola, tem gerado ‘bons frutos’ nos últimos anos. Bons e preciosos. Entre os minerais que compõem o ‘tesouro do sertão’ estão cobre, ferro, vanádio, bauxita e até ouro e diamante.

Dos novos investimentos na área, desde 2007, quando foi iniciada a atual gestão à frente do estado, municípios com todo o seu território ou parte dele no Semiárido receberam 25 entre os 36 principais projetos no setor mineral, segundo dados da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Somando empresas instaladas, investimentos já realizados de 2007 até hoje e os previstos até 2016, o Semiárido contabiliza mais de R$ 12,8 bilhões em investimentos, com a geração de 8.735 empregos diretos, de acordo com a mesma fonte.

Apesar de historicamente malvista, por conta da degradação ambiental no período colonial, a atividade mineradora é hoje tida por empresas e governo como

Tesouro da Bahia

Com a produção puxada pelo Semiárido, a Bahia está no ‘pódio’ nacional da produção de vários bens minerais

Liderança

356 357

Mineral: ferroPara que serve: o ferro é matéria-prima essencial para a produção de aço, utilizado em ferramentas, máquinas, veículos de transporte, linhas de transmissão de energia elétrica, como elemento estrutural para a construção de edifícios e casas, etc. Empresa: Bahia MineraçãoSituação: extração em fase de produção experimentalInvestimento desde 2010: R$ 4,4 bilhõesEmpregos: 1.800 no pico da operaçãoCapacidade instalada: 18 milhões de toneladas/ano

CAETITÉ

Mineral: ferroEmpresa: BahmexSituação: em pesquisa mineral para extração de minério de ferroInvestimento desde 2013: R$ 2,2 bilhõesEmpregos: 1.000 no pico da produçãoCapacidade instalada: 10 milhões de toneladas/ano

CAETITÉ E PARATINGA

Mineral: ferroEmpresa: BR Ferro MineraçãoSituação: em pesquisa mineral para extração de minério de ferroInvestimento desde 2013: R$ 15 milhõesEmpregos: 300 no período de produçãoCapacidade instalada: 2 milhões de toneladas/ano

XIQUE-XIQUE

Mineral: ferroEmpresa: Cabral MineraçãoSituação: em pesquisa mineral para extração de minério de ferroInvestimento desde 2012: R$ 3,9 bilhõesEmpregos: 850 no pico da produçãoCapacidade instalada: 15 milhões de toneladas/ano

LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA

Mineral: ferroEmpresa: Colomi IronSituação: em pesquisa mineral para extração de minério de ferroInvestimento desde 2013: R$ 690 milhõesEmpregos: 200 no pico da produçãoCapacidade instalada: não informada

SENTO SÉ

Mineral: urânioPara que serve: o urânio é utilizado na geração de energia. Hoje, o mineral é uma das principais fontes de energia elétrica do Brasil. Empresa: Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (estatal)Situação: empresa instalada atuando na produção de urânioEmpregos: 600Capacidade instalada: 400 toneladas de concentrado de urânio/ano

CAETITÉ

Mineral: diamantePara que serve: uso na confecção de joias (gemas) e uso industrial, pois são grandes abrasivosEmpresa: Lipari MineraçãoSituação: em implantação para extração de diamantesInvestimento desde 2013: R$ 57 milhõesEmpregos: 285 no pico da produçãoCapacidade instalada: não informada

NORDESTINA

Mineral: calcário e argila industrial (cimento)Para que serve: O calcário é utilizado na produção de cimento Portland, de cal, na agricultura, metalurgia e fabricação de vidro.A argila tem diversos usosEmpresa: Companhia Brasileira de Cimento (CBC)Situação: em fase de implantaçãoInvestimento desde 2008: R$ 106,8 milEmpregos: 94 na fase de produçãoCapacidade instalada: não informada

ITUAÇU

Mineral: grafitaPara que serve: como é um condutor elétrico, possui aplicações em eletrônica, como em eletrodos e baterias. Também possui aplicações como material refratário, em cadinhos de fundição de aço por exemploEmpresa: Extrativa MetalquímicaSituação: empresa instalada, realizando extração mineralInvestimento desde 2008: R$ 82 milhõesEmpregos: 850Capacidade instalada: não informada

MAIQUINIQUE

Mineral: calcário e argila industrial (cimento)Empresa: Cimento da BahiaSituação: em fase de implantaçãoInvestimento desde 2013: R$ 850 milEmpregos: 300 na fase de produçãoCapacidade instalada: 2 milhões de toneladas/ano

PARIPIRANGA

Mineral: calcário e argila industrial (cimento)Empresa: CPX Baiana Mineração e Participações S/ASituação: em fase de implantaçãoInvestimento desde 2012: R$ 450 milhõesEmpregos: 200 na fase de produçãoCapacidade instalada: 800 mil toneladas/ano

LAJEDINHO

Mineral: ferro-gusaPara que serve: para produzir ferro fundido e aço, ao extrair-se o carbono em excessoEmpresa: FerrobahiaSituação: em estudoInvestimento desde 2007: R$ 88 milhõesEmpregos: 250 na fase de produçãoCapacidade instalada: R$ 275 mil toneladas/ano

JEQUIÉ

Mineral: ferro-vanádioPara que serve: É usado para a produção de aços inoxidáveis para instrumentos cirúrgicos e ferramentas, em aços resistentes a corrosão e, misturado com alumínio em ligas de titânio, é empregado em motores a reação. Também, em aços, empregados em eixos de rodas, engrenagens e outros componentes críticos. Emprega-se em alguns componentes de reatores nucleares, dentre outros usosEmpresa: Largo MineraçãoSituação: em fase de implantação Investimento desde 2011: R$ 400 milhõesEmpregos: 400 na fase de produçãoCapacidade instalada: 5 mil toneladas/ano de Vanádio 205 e 330 mil toneladas/ano de ferro

MARACÁS

Mineral: bauxitaPara que serve: a maior parte da extração de bauxita (aproximadamente 85%) é usada como matéria-prima para a fabricação de alumina, que, por sua vez, é empregada como o matéria-prima para a produção de alumínio.Empresa: RIo Tinto AlcanSituação: em implantaçãoInvestimento : R$ 4,5 bilhõesEmpregos: 600Capacidade instalada: 1,8 milhão de toneladas/ano

JAGUAQUARA

Mineral: calcário e argila industrial (clínquer e cimento)Empresa: VotorantimSituação: em implantaçãoInvestimento desde 2010: R$ 390 milEmpregos: 200Capacidade instalada: 1 milhão de toneladas/ano de clínquer

ITUAÇU

Mineral: pelotas de ferroEmpresa: Sul Americana de MetaisSituação: em estudoInvestimento desde 2010: R$ 1 milhãoEmpregos: 160Capacidade instalada: 7 milhões de toneladas/ano (incluindo produção em Ilhéus)

URANDI

Mineral: ouro (dore, o ouro não refinado)Para que serve: além do mercado financeiro e a confecção de joias, o ouro é utilizado como condutor elétrico, cobertura protetora de satélites, computadores, comunicações, naves espaciais, motores de reação na aviação e fins médico-biológicos, como restaurações dentárias e até tratamento para câncerEmpresa: Yamana GoldSituação: empresa atuando na extração de ouro em Jacobina e Barrocas e se preparando para inaugurar uma nova mina em SantaluzInvestimento desde 2010: R$ 323 milhõesEmpregos: 1.000Capacidade instalada: 90 mil onças/ano

SANTALUZ, JACOBINA E BARROCAS

358 359

uma solução para parte dos problemas sociais do Sertão. Os municípios que recebem mineradoras registram crescimento em seus Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs), com os investimentos sociais que ficam a cargo das empresas.

“O Semiárido baiano, apesar da pouca produtividade em termos de su-perfície, tem imensa riqueza mineral em seu subsolo. Todas as pesquisas realizadas têm demonstrado que o potencial de recursos minerais nessa região, que representa mais de 60% do território baiano, é bastante ex-pressivo”, revela o diretor técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Rafael Avena Neto. “O fato de essa região ser massacra-da, economicamente falando, mas ter esse potencial em termos de mine-ração, é um motivo que tem levado o governo atual a desenvolver, com mais intensidade, as pesquisas no Semiárido”, completou.

Segundo dados da Diretoria de Mineração da SICM, o estado já é a unidade da federação que tem o maior conhecimento geológico, a partir de mapas aéreos, em todo o Brasil. “Temos investido muito nos levantamentos aerogeofísicos, imagens que dão uma ideia inicial da geologia de um local. Através dessas imagens, uma empresa consegue identificar que tipos de bens minerais poderão ocorrer em um local e, assim, investe em pesquisa”, explica a diretora de mineração, Ana Cristina Franco Magalhães.

O Semiárido baiano também tem ampliado a produção de dore – como é chamado o ouro em estado bruto, ainda sem ser refinado – para comercia-lização no mercado de commodities. A empresa canadense Yamana Gold é a responsável pela exploração.

Em 2012, as empresas da Yamana na Bahia tiveram um faturamento bruto de R$ 594,8 milhões. As unidades de Jacobina e Fazenda Brasileiro con-tribuíram com mais de R$ 6 milhões com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) e cerca de R$ 5 milhões em Imposto sobre Serviços (ISS).

O CFEM é cobrado das empresas que exploram minérios no estado, como uma espécie de compensação pelo uso dos recursos naturais e degra-dação ambiental. Hoje, o imposto cobrado fica entre 1% e 3% da produção comercializada, a depender do bem mineral. A maioria do valor arrecadado, em torno de 65%, vai para o município.

Outro bem mineral cuja produção deve crescer exponencialmente nos próximos anos é o ferro. Um dos principais projetos está no município de Caetité. Já instalada no local e em fase de produção experimental, a empresa Bahia Mineração (Bamin) tem um projeto de R$ 4,4 bilhões, segundo dados da SICM. A empresa, que produzirá minério de ferro para

exportação aos principais produtores de aço do mundo, empregará 1,8 mil pessoas no pico da operação.

Mas o escoamento da produção ainda depende da conclusão de alguns trechos da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), ligação de Caetité ao Porto Sul, em Ilhéus. O Porto Sul, que deverá ficar pronto em 2016, terá um terminal privado da Bamin.

Com a produção puxada pelo Semiárido, a Bahia está no ‘pódio’ nacional da produção de vários bens minerais. O estado lidera, por exemplo, a produção de urânio, também em Caetité. O urânio é uma das principais fontes de energia elétrica do Brasil. Caetité produz em torno de 400 toneladas de concentrado de urânio todo ano. A Bahia também lidera a produção de talco, magnesita, entre outros.

O estado é o segundo colocado no ranking nacional da produção de bento-nita (Vitória da Conquista), grafita (Maiquinique) e níquel (Itagibá). A Bahia ainda ocupa a terceira colocação na produção de cobre (Jaguarari) e ouro.

Para enfrentar a convivência com a falta de água, várias empresas, como a Lipari Mineração e a Largo Resources, vêm desenvolvendo tecnologia para reduzir o consumo e reaproveitar a água no processo de produção.

360 361

A partir de 2015, uma pacata cidade do interior baiano, localizada em pleno Sertão, passará a extrair e comercializar um produto conhecido como ‘rei das pedras preciosas’: o diamante. Nordestina, de apenas 12,4 mil habi-tantes, ganhará importância internacional, já que abrigará a primeira mina de diamantes extraídos diretamente da rocha (fonte primária do mineral) na América Latina. A empresa Lipari, que possui capital belga, investiu R$ 57 milhões somente em 2013 e já está se preparando para iniciar a exploração.

“Como o diamante é muito raro, essa será uma das poucas minas do mundo. Hoje, são em torno de 22”, afirmou o gerente da Lipari, Kenneth Johnson. Segundo ele, dados de pesquisas mostram uma reserva exis-tente de 891.728 onças em Nordestina. “A capacidade instalada da nova mina será de 90 mil onças por ano, o que deverá render cerca de 10 anos de exploração mineral”, disse. No sistema utilizado para pesar esse tipo de mineral, cada onça equivale a 31,1 gramas.

Apesar da projeção internacional, até o momento, pesquisas indicam que a quantidade de diamante em Nordestina não será suficiente para ser considerado um depósito de classe mundial, como as existentes em países como Canadá, África e Rússia.

As empresas que atuam no setor da mineração no Semiárido baiano sofrem com várias dificuldades, que vão desde as estradas precárias à inexistência de ramais ferroviários, passando pela falta de mão de obra. “As ferrovias são mais rápidas, causam menos transtornos e são mais baratas, ideais para esse tipo de produção”, afirmou Ana Cristina Franco Magalhães, diretora de Mineração da SICM. “Antes de uma empresa con-firmar em pesquisa, a gente não tem como adivinhar onde estão os bens minerais que serão explorados, então os cursos de qualificação não são oferecidos com antecipação”, explica.

Ana Cristina lembra ainda a pressão de ambientalistas. “Não tanto para conseguir as licenças, mas pela pressão da própria comunidade”, disse. O vice-presidente de Administração e Country Manager Brasil da Yamana Gold, Arão Portugal, apresenta outros desafios. “Toda mineração está localizada em áreas consideradas remotas. Por isso, exige grandes in-vestimentos na formação de mão de obra, inovação, automação e novas tecnologias”, afirma.

Nordestina: primeira mina de diamante da América Latina

Carência de infraestrutura dificulta escoar produção

A crise internacional vivida pelo setor de exploração mineral não passou de uma queda temporária e o chamado Ciclo Virtuoso da Mineração não acabou. Nesse contexto, o Brasil e a Bahia têm um enorme potencial para crescer. Quem defendeu a ideia foi o CEO da Geomining Brazil, Agamenon Dantas, no Fórum Agenda Bahia 2013.

“O Brasil tem um território com dimensões continentais, um potencial imenso para a exploração mineral, mas ainda hoje só temos 10% do território nacional conhecido geologicamente”, destacou o especialista. Dantas de-monstrou que o efeito negativo das crises econômicas internacionais sobre o setor foi passageiro e que, a partir de 2010, a mineração começou a viver nova era de bons ventos.

Nesse contexto, defendeu que os investimentos na China para os próximos anos sinalizam para uma retomada da demanda por minérios com estoques acumulados nos últimos quatro anos. “Estão previstas 120 mil quilômetros de novas ferrovias na China. Isso é uma loucura! Vai precisar de ferro, de aço, de tudo quanto é tipo de mineral”, disse. Dantas destacou ainda o cresci-mento da indústria automobilística e a construção de rodovias e aeroportos naquele país, além da migração planejada do interior para grandes cidades.

Conhecido como Ciclo Virtuoso da Mineração, o período de 2002 a 2007 colocou o setor da exploração mineral em destaque internacional. O forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global no período, o aquecimen-to da economia chinesa, a alta dos preços das principais commodities, dentre outros fatores, fizeram esse setor ter crescimento vertiginoso.

No entanto, após a crise econômica de 2009, a desaceleração do cresci-mento chinês, um dos principais mercados consumidores de bens minerais, e a quebra de países europeus levaram ao suposto fim desse ciclo, questio-nado pelos palestrantes do Agenda Bahia.

Por sua vez, o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração (SICM), James Correia, destacou que a Bahia tem apostado na mineração e ainda possui um grande potencial para fazer parte desse crescimento futuro. “No mês passado, a mineração cresceu 6,8% no estado, e vem crescendo há 12 meses consecutivos nesse ritmo”, lembrou Correia.

Além de projetos bilionários, como o da exploração de minérios de ferro em Caetité, por empresas como a Bamin, e de vanádio, em Maracás, pela Largo Resources, há perspectiva de crescimento ainda maior, com a exploração de terras raras no Sul da Bahia e com o tálio, no Oeste do estado.

A peso de ouro

*Demanda mundial

120 mil quilômetros de ferrovias estão previstos na China, sinalizando para retomada da demanda por minérios com estoques acumulados

19 mil é o número de projetos de pesquisa em mineração existentes hoje no território baiano; uma boa parte deles aposta na extração de ouro

“É fantástica a estrutura geológica do estado, com grande variedade de minerais”KURT MENCHEM, diretor da Largo Resources

362 363

Segundo Kurt Menchem, diretor-exe-cutivo da Largo Resources, a Bahia é o 5º estado brasileiro em produção mineral, devido à grande extensão física e es-trutura geológica. Os metais mais ex-plorados por aqui são o cobre, o ferro e o ouro. “É fantástica a estrutura geológica do estado, com grande variedade de minerais”.

O ouro também é uma das grandes apostas nos mais de 19 mil projetos de pesquisa de mineração existentes hoje no território baiano. “Além da empresa Yamana Gold, que já atua na região de Jacobina e Santaluz, há outras empresas pesquisando ouro na faixa que vai da Chapada Diamantina até Caetité”, disse Correia. Segundo ele, a produção de ouro no estado tem potencial para crescer em mais que o dobro em oito anos.

Durante o fórum, Correia ainda anunciou que a secretaria assinou um contrato com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para chegar, até o ano que vem, aos 100% do mapeamento geológico aéreo do estado. Os estudos aerogeofísicos são o primeiro passo para empresas que desejam investir no estado.

Para o professor da Unifacs José Ângelo Sebastião Araujo dos Anjos, que também participou do Fórum, “o Semiárido é a grande mãe da mineração”.

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

DA CRISE ÀS NOVAS OPORTUNIDADES:

Depois da crise mundial, diversos analistas apontam para a retomada do crescimento global a partir de 2016–2017

Para eles, apenas a urbanização dos países emergentes será capaz de sustentar essa expansão nos próximos 15-20 anos

Na China, por exemplo, estão previstas a criação de 6 novas megacidades (com mais de 10 milhões de habitantes)

Preços de commodities mostram uma relativa recuperação, já a partir de 2009, com estabilização ou crescimentos modestos no período posterior

No Brasil, a Mineração tem se destacado pelos bons resultados nos últimos anos

Porém, para analistas, o país ainda está muito aquém do lugar que poderia ocupar no ranking nacional e a criação de um marco regulatório tem provocado indefinição jurídica, com queda na previsão de investimentos

China

Foto: Evandro Veiga

Agamenon Dantas destacou os investimentos da China em infraestrutura como oportunidade de novos negócios para o Brasil

Considerada tanto por gestores públicos como pela iniciativa privada um dos setores de maior potencial na economia baiana, a mineração é vista também como uma alternativa para o desenvolvimento de regiões pouco produtivas, como o Semiárido. No entanto, um projeto de lei que está em discussão no Congresso Nacional pode colocar os investimentos do setor em risco.

Mesmo sendo necessário, já que estabelece as diretrizes para a explora-ção mineral no país, o novo Marco Regulatório da Mineração (PL 5807/13), segundo especialistas, é polêmico. E enquanto não é votado tem atrapalha-do novos investimentos no Brasil pela insegurança jurídica de uma possível mudança nas regras.

O secretário da Indústria, Comércio e Mineração do estado, James Correia, afirmou que, caso o código seja aprovado, comprometerá os investimentos na Bahia. “Vai atrasar o desenvolvimento da mineração no estado se não corrigir algumas falhas”, disse. Correia afirmou que o projeto de lei 5807/13, enviado pelo governo federal à Câmara dos Deputados, “dificulta a liberdade empresarial”.

Uma lei no meio do caminho

NOVO CÓDIGO

Lei atual:O Código de Mineração (Decreto-Lei 227/67), que regula o setor da mineração, foi publicado durante o regime militar

OmisãoSegundo Agamenon Dantas, da Geomining Brasil, o novo código não toca em pontos importantes, como a mineração em áreas indígenas, de fronteira e no mar

Obriga a licitaçõesHoje, empresas recebem autorização do DNPM para realizar pesquisas e, caso encontrem jazidas, exploram-nas livremente. Novo código estabelece a realização de licitação quando empresa encontrar bem mineral, o que pode afugentar investimentos, segundo SICM

Mais poderO texto do Executivo transforma o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em agência reguladora do setor, aumentando o controle do estado sobre a exploração mineral

Royalties dobradosPara realizar a exploração mineral, as empresas pagam ao governo uma Compensação Financeira sobre Exploração Mineral (CFEM), os chamados royalties da mineração, que são divididos entre município, estado e união. O novo marco dobra o valor dos royalties pagos

Em discussão:Para atualizar o Código, o governo federal enviou

ao Congresso Nacional uma nova proposta (PL 5807/13), que se juntou a outros seis

projetos de lei sobre o assunto que já tramitavam na Câmara dos

Deputados desde 2011

EDITORIA DE ARTE/CORREIO

364 365

Um dos pontos questionados pelo secretário é o fato de o novo código exigir licitação de empresas que pesquisam e descobrem jazidas. “Quando você faz uma pesquisa, tem uma descoberta, não tem sentido querer licitar isso aí. Nenhuma empresa vai querer investir em pesquisa para depois vir outro cara explorar”, criticou. “A licitação deveria se resumir a áreas onde o governo investiu dinheiro”, defendeu.

James Correia sugeriu que a regulação seja feita em duas etapas. “O novo marco cria uma agência reguladora para o setor. O ideal seria criar essa agência antes e, em seguida, criar um marco regulatório, mais simples, que toque nos pontos essenciais”, afirmou.

Entre esses pontos, para o secretário, está a necessidade de se estabelecer cronogramas para empresas que realizam pesquisas em território nacional. Hoje, empresas que atrasam pesquisas não são punidas se demoram para apresentar resultados.

Por sua vez, o CEO da Geomining Brazil, Agamenon Dantas, lembrou que o projeto da nova lei é omisso em diversas questões. “O novo marco regulató-rio é omisso em pontos como a mineração em áreas indígenas, a mineração em áreas de fronteira e a exploração de recursos minerais no mar, questões que precisam ser regulamentadas”, afirmou.

Segundo Dantas, 11% do território nacional e 25% da Amazônia (região vista como de grande potencial para a produção mineral) correspondem a terras indígenas. Além disso, 10% do território nacional corresponde a áreas de fronteiras. “Também temos 1.248 requerimentos de pesquisa no mar no Brasil”, afirmou.

“Nenhuma empresa vai querer investir em pesquisa para depois vir outro cara explorar”JAMES CORREIA, secretário da Indústria, Comércio e Mineração

No seminário, José Ângelo Sebastião, geólogo e professor da Ufba e da Unifacs, apresentou um estudo de caso sobre os municípios de Boquira e Santo Amaro, que acabaram contaminados pela mineração insustentável. Na região de Boquira, houve exploração de chumbo entre 1895 e 1992, quando as minas foram abandonadas, deixando para trás um rastro de passivo ambiental e contaminação da população. “Naquela época, se tinha uma legislação muito frágil para que se pudesse punir essas empresas”, lembrou.

Para o especialista, uma situação semelhante seria improvável nos dias de hoje, por conta da legislação mais rigorosa e das novas tecnologias, que permitem uma extração menos danosa ao ambiente.

Depois de Boquira, conta ele, a mesma situação se repetiu em Santo Amaro, onde as pessoas ficaram expostas a uma poeira tóxica. “Só que Santo Amaro fica mais próximo de Salvador, tem mais visibilidade”.

Fragilidade na legislação no passado prejudicou municípios

“Naquela época, tinha uma legislação muito frágil para que se pudesse punir essas empresas”JOSÉ ÂNGELO SEBASTIÃO, professor da Unifacs

Foto: Evandro Veiga

366 367

Os palestrantes do último dia do Fórum Agenda Bahia 2013 concordaram sobre o grande potencial de crescimento que a atividade mineradora tem na Bahia e no Brasil. Avaliam, no entanto, que novas oportunidades podem ser ameaçadas por um dos principais desafios para garantir o crescimento do setor nos próximos anos: a falta de mão de obra qualificada.

O secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, ressaltou a aposta do atual governo estadual no setor, mas reconheceu que será preciso correr contra o tempo para permitir que os investimentos conti-nuem acontecendo. Para o secretário, a qualificação profissional deve ser uma das principais diretrizes desse trabalho.

“O maior problema que temos aqui para a mineração é falta de mão de obra. Não estamos conseguindo atender na mesma velocidade com que precisa-mos”, reconheceu. “Não temos a cultura forte da formação de mão de obra nessa área, como acontece em Minas Gerais. Temos muito o que aprender com eles”, avalia.

O CEO da Geomining Brasil, Agamenon Dantas, destacou que esse é um problema nacional. “O Brasil não tem conseguido formar profissionais para acompanhar o ritmo de crescimento do setor da mineração no país. Hoje, faltam no país técnicos em mineração, geólogos, engenheiros de minas”, enumerou. Dantas acrescentou que a carência de profissionais na área é tão grande que as empresas mineradoras têm que brigar entre si por mão de obra qualificada. “As mineradoras estão se canibalizando, uma contra a outra, para conseguir profissionais”.

À procura de profissionais

Fotos: Evandro Veiga

Secretário James Correia e diretor da Largo Resource, Kurt Menchem, defenderam capacitação dos trabalhadores

Para Kurt Menchem, diretor-executivo da Largo Resources, essa questão se agrava porque, dificilmente, as empresas encontram funcionários ca-pacitados nos locais onde se instalam. “Há a necessidade de treinar a mão de obra. Temos um projeto de qualificação profissional e de fornecedores locais”, diz, referindo-se à empreitada de extrair vanádio no município de Maracás, no Centro-Sul baiano. Metade dos trabalhadores desse projeto da Largo Resources, conta Menchem, é de pessoas da localidade. São 13 mil empregos, 11,4 mil deles no interior do estado. A folha de pagamento é de R$ 13 milhões, aproximadamente.

O secretário James Correia destacou outro ponto: o baixo interesse da população em se qualificar para o segmento. “Nós vamos numa aula do curso de Engenharia de Minas, por exemplo, e encontramos quatro ou cinco alunos”, exemplificou. Correia afirmou que há necessidade de abertura de mais cursos na área: “Temos alguns cursos de pós-graduação, mas só isso não resolve”.

Correia admitiu que os governos podem trabalhar mais na formação de tra-balhadores. “Precisamos buscar alternativas para essa falta de mão de obra, estimular as universidades a atuar mais”, afirmou. “Nesse sentido, escolas como o Senai/Cimatec têm um papel muito importante. Na época da insta-lação da Ford no Polo Industrial de Camaçari, eles formaram 10 mil pessoas de uma vez só para trabalhar na fábrica”, lembrou o secretário.

O professor da Unifacs José Ângelo Sebastião Araujo dos Anjos, especia-lista em Planejamento e Administração dos Recursos Naturais e doutor em Engenharia Mineral pela Universidade de São Paulo, considera que para

- Ampliar a oferta de cursos técnicos e de pós-graduação voltados para a formação em mineração

- Aumentar os cursos gratuitos oferecidos na área, sobretudo no interior do estado, onde concentra-se boa parte dos investimentos

- Estimular empresas a formar mais, compensando-as com benefícios fiscais ou de outro gênero

Solução “As mineradoras estão se canibalizando, uma contra a outra, para conseguir profissionais”AGAMENON DANTAS, CEO da Geomining Brasil

368 369

haver mão de obra formada, primeiro tem que ter garantia de demanda, so-bretudo entre os especialistas. “A indústria da mineração está precisando de determinados especialistas, então, a partir daí, vamos tentar formar essas pessoas”, exemplifica.

Outro problema apontado pelos especialistas é a falta de infraestrutura eficaz, capaz de escoar a produção do setor. “As soluções para a minera-ção passam pelas mesmas respostas para outras atividades do Semiárido: logística, infraestrutura e educação”, acredita Kurt Munchem.

Para o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Reinaldo Sampaio, falta uma estratégia para desenvolver o Sertão baiano. “Precisamos passar por esse atraso antigo, pensando em ações que possam desenvolver também as pessoas da região”, sugeriu, durante debate. De acordo com o secretário James Correia, o Porto Sul, essencial para a mineração, deve ter licença liberada para início das obras em janeiro.

“As soluções para a mineração passam pelas mesmas respostas para outras atividades do Semiárido: logística, infraestrutura e educação”KURT MENCHEM, diretor da Largo Resources

Os repasses do governo estadual para agricultores familiares no Semiárido baiano dobrarão nas safras de Verão e de Inverno do período 2013-2014, em comparação com os recursos repassados no período 2012-2013. No total, a verba, destinada pelo programa Vida Melhor, irá saltar de aproxi-madamente R$ 15 milhões para R$ 30 milhões, nas plantações cujo ciclo se inicia no final de 2013.

O dinheiro é destinado a trabalhadores com produção agrícola em pequenas propriedades, que cultivam produtos como milho, feijão, carnaúba, hortaliças, dentre outros, em especial aqueles que tiveram a produção afetada pela seca, considerada pelo governo a pior da história.

“Esses recursos têm como objetivo melhorar a qualidade de vida desses produtores rurais, garantindo a possibilidade de investir na produção e de obter recursos, caso a safra seja prejudicada pela seca”, explicou a coorde-nadora na Casa Civil do programa Vida Melhor, Jailma Dantas.

A Bahia é o estado com maior número de agricultores familiares no país, com o correspondente a 15% de todos os trabalhadores desse tipo. Para ter acesso aos recursos, será preciso estar cadastrado no Programa

Recursos dobrados para agricultores

Foto: Divulgação

Produtores de carnaúba, no povoado de Porto de Palha, na cidade de Barra, estão entre os que receberão mais recursos para a próxima safra

370 371

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e possuir a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). As prefeituras dos municípios devem estar inscritas no programa.

O crescimento dos repasses se deve ao aumento no número de agricul-tores que o governo pretende alcançar e ao aumento do valor repassado por produtor. “Antes, cada produtor recebia R$ 760. Agora, cada um vai receber R$ 850”, explicou Jailma.

Em 2005, esse programa contava com seis mil agricultores beneficia-dos no estado, número que chegará a 300 mil em 2014. Para receber o dinheiro, o agricultor deve ter a produção e a comercialização dos itens agrícolas voltadas para o sustento familiar. As chamadas safras de Verão duram entre novembro e fevereiro, enquanto as de Inverno vão de abril a julho, a depender do tipo de produto.

O programa Vida Melhor é monitorado pela Casa Civil e executado por diferentes secretarias, como a Secretaria da Agricultura (Seagri) e a Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir).

Além do Vida Melhor, outros programas, como o Água Para Todos, Gente de Valor, Quilombolas, Produzir e Mata Branca têm foco no desenvol-vimento produtivo e atuam, principalmente, em municípios situados no Semiárido.

Entre os beneficiados com o projeto estão produtores de carnaúba do município de Barra, localizado a 650 quilômetros de Salvador. A carnaúba tem diversos usos, como na medicina, construção civil, extração de cera para a produção de cosméticos, componentes eletrônicos, produtos ali-mentícios, etc. Os hortifriticultores do município de Itatim, a 208 quilôme-tros da capital e um dos mais afetados pela seca, também estão entre os beneficiados.

Foto: Divulgação

Agricultores familiares de Itatim plantam mudas para o Sertão

*Mais dinheiro para o Sertão

15 milhões de reais foi o valor aproximado de recursos destinados a agricultures familares nas safras 2012-2013

6 mil agricultores familiares tinham acesso aos recursos do programa Vida Melhor em 2007

30 milhões de reais é quanto o governo do estado destinará aos agricultores do Semiárido nas safras 2013-2014

300 mil passarão a ter acesso até o fim das safras 2013/2014. Hoje, são mais de 200 mil

Segundo o governo, o foco é minimizar efeitos da longa estiagem e combater a pobreza com ações que vão desde a distribuição de máquinas e sementes à formação profissional, capacitação de produtores e o estímulo ao empreendedorismo.

Por meio da assistência técnica oferecida pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), órgão vinculado à Seagri, agricultores quilombolas de municípios massacrados pela seca, como Campo Formoso, obtêm auxílio na prática agrícola.

“Bebedouro está mudando. Antes, a gente trabalhava com dias de serviço nas fazendas dos outros e, com a seca, nem esse trabalho nós tínhamos mais. Agora, com o dinheiro e a orientação dos técnicos da EBDA, cultiva-mos a terra e colhemos o fruto do nosso trabalho”, disse José dos Santos, o Fio Zé, como é conhecido.

372 373

Paralelamente ao auxílio financeiro e técnico aos produtores do Semiárido, as melhorias na oferta de água em municípios da região é outra estratégia governamental para o combate à seca. Por meio do programa Água Para Todos, executado pela Embasa, o governo aposta na construção de cis-ternas, que também tem crescido nos últimos anos.

Enquanto de 2010 a 2012 os investimentos na construção desses equi-pamentos voltados para o consumo humano foram de R$ 26,6 milhões, a verba em 2013 chegou a R$ 55,6 milhões, o que representa aumento de 109%. Este ano, os recursos aplicados em cisternas voltadas para a produção agropecuária chegaram aos R$ 133,7 milhões. Outras ações como a construção da adutora do São Francisco, inaugurada em maio deste ano, melhoram o fornecimento de água.

Vanailde de Jesus, moradora de Irecê, um dos municípios mais atingi-dos pela seca, comemora a nova realidade: “Tá chegando água todo dia. Quando era dia de não ter água, precisava ir à casa da vizinha buscar, porque faltava até na caixa pra tomar banho e cozinhar”.

Construção de cisternas melhora acesso à água

Foto: Divulgação

Vanailde de Jesus, de Irecê, passou a receber água em casa todo dia

Considerada a maior seca da história do Semiárido baiano, a longa estiagem, que já dura três anos, ainda deve ter seus efeitos prolongados ao longo de 2014. Isso porque várias localidades ainda têm seus manan-ciais de água esgotados e só conseguirão se recuperar se houver chuvas acima da média. A informação é do secretário de Agricultura do estado, Eduardo Salles.

“Em dezembro, as chuvas já se iniciaram em várias cidades, mas, para que haja recuperação, é preciso que chova em todo o Semiárido e em um volume acima da média para reabastecer os mananciais”, disse. Hoje, três localidades estão entre as que vivem situação mais grave: Livramento de Nossa Senhora, com 12 mil hectares de frutas carentes de irrigação, Irecê, com 1,5 mil hectares de banana sem água, e a Chapada Diamantina, com 8 mil hectares de hortifruti com apenas 30% de sua capacidade irrigada.

Efeitos da seca ainda devem perdurar ao longo de 2014

“Em dezembro, as chuvas já se iniciaram em várias cidades, mas, para que haja recuperação, é preciso que chova em todo o Semiárido”EDUARDO SALLES, secretário de Agricultura

Nível da água baixou 11 metros no Açude de Cocorobó e fez reaparecer velha cidade de Canudos, inundada em 1964Foto: Evandro Veiga

374 375

Alvo da pior seca já registrada na história, segundo o governo da Bahia, os municípios do Semiárido vivem sérios problemas de acesso à água há pelo menos três anos. Para amenizar o impacto da longa estiagem, o uso da tec-nologia adequada é essencial.

A implantação de cada tipo de cisterna, barragem ou barreiro depende das condições de cada município. Para a construção das mesmas são aliadas po-líticas públicas governamentais e ação de empresas, como a Petrobras, que possuem programas voltados à Responsabilidade Social Empresarial (RSE) com foco no Semiárido.

Inaugurado em 2013 pela estatal, em pleno Semiárido do Rio Grande do Norte, o programa Uma Terra Duas Águas é voltado para ampliar a oferta de água para famílias que sofrem com a falta desse recurso, utilizando as tec-nologias adequadas. O programa também tem atuação na Bahia e em mais sete estados.

Captação de água para 51 municípios

ENTENDA O USO DAS DIFERENTES TECNOLOGIAS

Cisterna-calçadão Capta a água de chuva por meio de um calçadão de cimento de 200 m², construído sobre o solo. Nessa área, 300 milímetros de chuva são suficientes para encher a cisterna, que tem

capacidade para 52 mil litros. Por meio de canos, a chuva que cai no calçadão escoa para a cisterna, construída na parte mais baixa do terreno e próxima à área de produção. O calçadão também pode ser usado para secagem de grãos como feijão e milho, raspa de mandioca, entre outros Cisterna-enxurrada Utilizada para potencializar roçados, irrigar plantas

fruteiras, além da criação animal. Capta a água de terreno inclinado, não arenoso, direcionada para uma cisterna de alvenaria de 52 mil litros

Barragem subterrânea Criação de barreira por meio de escavação e cobertura de vala. Essa vala é forrada por uma lona de plástico e depois fechada novamente. Desta forma, cria-se uma barreira que “segura” a água da chuva que escorre por baixo da terra, deixando a área encharcada. A cinco metros da barragem são construídos poços que vão servir para retirar a água armazenada e possibilitar o plantio durante o ano inteiro

Barreiro-trincheira Escavação de trincheiras estreitas, de mais 5 metros de cumprimento, cavadas em subsolo argiloso com um ou mais compartimen-tos e de mais de três metros de profundidade, com fundo e parede de pedra, que não deixa a água se infiltrar

O projeto, patrocinado pela Petrobras e desenvolvido pela Associação Um Milhão de Cisternas Rurais para o Semiárido Brasileiro (AP1MC), tem o objetivo de construir 20 mil sistemas de captação e armazenamento de água da chuva em 210 municípios do Semiárido. O apoio à iniciativa integra um conjunto de ações para enfrentamento da estiagem.

Na Bahia, 51 municípios serão contemplados com os diferentes sistemas. Entre eles: Brumado, Caetité, Conceição do Coité, Guanambi, Irecê, Juazeiro, Maracás, Morro do Chapéu, Paripiranga, Santaluz, entre outros. Serão 99 cisternas por município.

O programa abarca quatro diferentes tipos de tecnologias. São elas a cister-na-calçadão, a cisterna-enxurrada, a barragem subterrânea e a barreiro-trincheira.

A implantação dos sistemas permitirá que as famílias utilizem a água para a produção de alimentos e a criação de animais, mesmo na época da estiagem do Semiárido. Além disso, as famílias serão capacitadas para a construção de bancos de sementes e plantio de mudas. O objetivo é promover o desenvol-vimento rural, estimular a geração de renda e garantir a segurança alimentar de 20 mil famílias de agricultores.

A Petrobras investirá R$ 200 milhões, no período de 12 meses contados a partir de julho de 2013. Cerca de 60% dos municípios beneficiados estão na área de influência do Sistema Petrobras. A região é considerada estraté-gica para a companhia, que tem ampliado continuamente sua presença no Nordeste e no Semiárido.

Hoje, a região tem unidades de exploração e produção, refino, usinas de biodiesel, fábricas de lubrificantes e de fertilizantes, além de redes de dutos, gasodutos e postos de combustíveis. O gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Armando Tripodi, destaca que o uso das tecnologias para promover o desenvolvimento produtivo no Semiárido não ocorre só através da entrega das cisternas.

“As famílias também são capacitadas no uso racional da água e no manejo de sementes e criação de pequenos animais necessários para a sobrevi-vência”, explica. O projeto também viabiliza a capacitação de mão de obra. “Estas ações colaboram para a fixação das famílias no Semiárido brasileiro”, concluiu Tripodi.

*Como funciona

20 mil cisternas serão construídas até meados de 2014

99 cisternas serão construídas em cada um dos 51 municípios baianos que receberão o apoio

210 municípios em nove estados serão beneficiados ao todo, segundo a Petrobras

376 377

Prevista desde a Constituição de 1989, a divisão da Bahia em zonas está finalmente pronta e disponível para consulta e sugestões. O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) cruzou características relacionadas a relevo, clima, solo e arranjos produtivos de cada pedaço do estado, para depois dividi-lo em 36 zonas.

O objetivo é orientar o planejamento, a gestão, as atividades e as decisões do poder público, do setor privado e da sociedade em geral, relacionadas ao uso e ocupação do território. Sempre levando em conta as potenciali-dades e limitações do meio ambiente físico, biótico e socioeconômico, com vistas à implantação prática do desenvolvimento sustentável.

“Por exemplo, todo mundo sabe que não dá para plantar banana no Semiárido, porque banana precisa de água, e lá não tem água. Mas existem porções do Semiárido em que é possível, sim, plantar bananas. Com o zoneamento, a gente começa a enxergar melhor essas potencialidades”, explica o superintendente de planejamento estratégico da Secretaria de Planejamento do estado (Seplan), Ranieri Barreto. A Seplan, junto com

Zonas ecológicas e produtivas

Foto: Ascom/Seplan

Mapa do Zoneamento Ecológico Econômico

cruza características de cada região do estado

a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), é a responsável pelo ZEE. No zoneamento, cada região recebe um nome e é completamente mapeada. A zona 1, por exemplo, é a Chapada Ocidental do Oeste Baiano, que compreende oito municípios: Cocos, Jaborandi, Correntina, Riachão das Neves, Luis Eduardo Magalhães, Barreiras, Formosa do Rio Preto e São Desidério.

Essa zona tem 15.737 metros quadrados de vegetação remanescente, uma comunidade quilombola e 360 famílias de pescadores. A sede urbana é em Luis Eduardo Magalhães. A região é banhada pelo Rio São Francisco e pelas bacias do Rio Grande e do Rio Corrente.

A ação possibilita a incorporação das variáveis ambientais nos projetos do governo, além de desenvolver alternativas de melhor uso dos recursos naturais e propor tecnologias sustentáveis. Mas demorou a ser implemen-tado por ter pontos que mexem com interesses distintos.

“A área da mineração em Juazeiro, por exemplo, foi uma das que provoca-ram polêmica”, conta Barreto. Isso porque os interesses dos mineradores se chocavam com os dos ambientalistas.

“Houve um debate e, no final, achamos um meio-termo. Nem impedimos nem permitimos que a extração fosse feita de qualquer forma”, explicou. As nove audiências públicas foram realizadas entre 12 e 29 de novembro de 2013.

Barreto diz que tem uma equipe do governo encarregada de examinar cada uma das sugestões para depois sistematizar e enviar para uma comissão estadual. Quando o documento estiver pronto, o que ainda não tem prazo, será enviado para a votação na Assembleia Legislativa .

O superintendente conta que o estado é referência no tipo de zoneamento que está fazendo, pois o primeiro estudo desse tipo feito no Brasil visou apenas a região amazônica. Além da Bahia, os estados que estão avança-dos são Minas Gerais (já acabado), São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Foto: Ascom/Seplan

Ranieri Barreto, da Seplan: mapeamento na Bahia é o primeiro do Nordeste

378 379

O governo também mapeou o potencial dos ventos no estado. Através da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), foi elaborado um Atlas Eólico da Bahia. Com ele foi descoberto que o potencial do estado era pelo menos dez vezes maior do que se acreditava em 2002. “O último estudo apontava um potencial de 14,5 megawatts (MW), com torres de 30 a 50 metros. Agora, com torres de 100 a 150 metros, temos um potencial de 150 a 195 MW”, conta o superintendente de energia da Seinfra, Silvano Ragno. Segundo ele, com esse potencial, seria possível abastecer o país inteiro. “O Brasil gasta 115/120 MW por ano. Ainda daria para vender a países vizinhos”, afirma. O Atlas também descobriu que a região onde estão os melhores ventos é o Sudoeste do estado. Os ventos ideais para produzir energia precisam ter velocidade maior que 7 m/s e ser constantes.

Atlas mapeia todo o potencial de energia eólica da Bahia

Inaugurado em abril de 2012, o Projeto Pituaçu Solar é o primeiro sistema de energia solar em estádios da América Latina. O sistema fotovoltaico de 400 kWp de potência fica na cobertura e nos estacionamentos de Pituaçu. O sistema foi custeado pela Coelba, com contrapartida do governo do estado e participação do Fundo Nacional de Eficiência Energética, gerido pela Aneel. O investimento total foi de R$ 5,5 milhões. Além de garantir a autossuficiência em eletricidade na edificação, o Pituaçu Solar abastece também o prédio onde funcionam as instalações da Setre e da Secretaria de Administração do Estado da Bahia (Saeb). O governo do estado informa que os painéis solares proporcionaram, entre abril de 2012 e setembro de 2013, uma economia global da ordem de R$ 222 mil. O projeto é aberto à visitação de escolas.

Energia solar é alternativa de economia e sustentabilidade

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Torres de energia eólica da Renova, no município de Caetité

Estufa feita com plástico produzido pela Braskem

permitirá secar mais amêndoas de cacau por metro quadrado do que pelo método tradicional

Uma nova tecnologia promete mudar o cenário cacaueiro no Brasil. No lugar daqueles “telhados” triangulares de madeira que correm sobre trilhos, as chamadas barcaças, muito explorados nos romances de Jorge Amado, “casinhas” transparentes, feitas de plástico, serão usadas para secagem das amêndoas do cacau. De olho na expansão dos negócios e, principalmente, no mercado de chocolates finos ou gourmet, a Braskem, em parceria com todos os elos da cadeira, desenvolveu as estufas plásticas.

A tecnologia, que já está sendo testada em duas fazendas na Bahia, usa filmes plásticos e telas especiais para a secagem das sementes. O diretor acionista da M. Libânio Agrícola S.A, Eimar Sampaio Rosa, diz que a secagem é uma das etapas mais importantes do beneficiamento do cacau.

“Se ela ocorrer de forma muito rápida ou lenta, as amêndoas podem perder qualidade. E, sem qualidade, não conseguimos atingir o mercado de chocolates gourmet”, diz ele, que está testando a novidade na fazenda da empresa em Igrapiúna, no Baixo Sul.

Sampaio Rosa, que também é diretor agrícola e comercial da Cooperativa Agroindustrial de Cacau Fino (Cooperbahia), explica que a secagem tradi-cional é feita nas barcaças. Mas, como nem sempre as condições climáticas ajudam, faz-se necessário a utilização de secadores artificiais, que utilizam a queima da madeira para gerar calor.

“Para conseguir um cacau de altíssima qualidade é preciso uma secagem mais lenta, de forma natural. Independentemente das adversidades do clima, a estufa de plástico possibilita uma secagem constante e uniforme, mas nunca exagerada como na artificial”.

Menor custo com estufa plástica

380 381

Além de garantir qualidade das sementes, as estufas plásticas reúnem outras vantagens. O diretor das Fazendas Reunidas Vale do Juliana, Leonardo Sorice, que também está testando a nova tecnologia em uma fazenda do grupo em Gandu (no Sul da Bahia), diz que a inovação reduz o tempo da secagem.

“Enquanto na barcaça esse processo dura 12 dias, em média, na estufa esse número cai para sete. Com isso, reduzimos custos”. O aumento da capacidade é outro ponto positivo. Segundo ele, na estufa, é possível secar 45kg de amêndoas por metro quadrado contra 15kg na barcaça.

De acordo com Sorice, a utilização das estufas plásticas gera uma redução de custo por metro quadrado de área de secagem, em relação à secagem tradicional na ordem de 50%. “Como referência, essas estufas prontas e instaladas custam R$ 60 o metro quadrado e cada metro quadrado tem capacidade de secar o triplo de amêndoas do sistema barcaça”. Baixo risco de entrada de roedores, maior vida útil, reciclagem do material pós-uso e aproveitamento por outras culturas também são vantagens, segundo ele, oferecidas pela nova tecnologia.

Mas a inovação não beneficia apenas os empresários. “Na estufa, os tra-balhadores não precisam mais ficar abaixados como nas barcaças para mexer as sementes. As cubas, onde ficam as amêndoas ficam pratica-mente na altura da cintura dos trabalhadores”. Sorice ressalta que o meio ambiente também agradece a nova tecnologia, já a queima da madeira é substituída pela energia solar: “Sem a necessidade de usar a lenha nos secadores artificiais, não será preciso mais desmatar. Isso sem falar da quantidade de gases que deixam de ser lançados na atmosfera”.

O gerente da Braskem, Cristiano Rolla, conta que a concretização do projeto deve-se a parcerias com clientes da petroquímica. “Juntamos as forças e centralizamos o conhecimento. A Tropical Estufas entrou com a sua expertise elaborando a estrutura metálica, armação e projeto de ven-tilação. A Electro Plastic produziu a cobertura, que é feita de filme plástico (com polietileno nosso). E a Tecelagem Roma se responsabilizou pelo leito, onde as sementes são colocadas para a secagem”, explica.

Rede Bahia - Diretoria: João Gomes, Maurício Fonseca e Paulo Sobral

Correio - Diretor-executivo: Luiz Alberto Albuquerque Diretor: Wilson Maron Diretor de Redação: Sergio Costa Editor-executivo: Oscar Valporto Editora de produção: Linda Bezerra Editora-executiva do Agenda Bahia: Rachel Vita Diretor comercial: Leonardo César Gerente de marketing: Alessandra Lessa Marketing: Joyce Lins, Mariana Xavier, Mônica Cohen, Murilo Neves, Vanessa Araújo e Viviane Anchieta Edição do livro: Rachel Vita Textos: Daniela Leone, Flávio Oliveira, Graciela Alvarez, Mariana Rios, Priscila Chammas, Rachel Vita, Rozane Oliveira,Victor Longo e Wladmir Lima Revisão: Socorro Araújo Infográficos: Ari Barbosa, Morgana Miranda, Wilton Santos e Editora Bamboo/Superintendência de Comunicação Institucional da Fieb Projeto gráfico e diagramação: Morgana Miranda

Federação das Indústrias do Estado da Baia (Fieb) - Presidente: José de F. Mascarenhas Vice-presidente e membro do Conselho do Agenda Bahia: Reinaldo Sampaio Diretor-executivo (interino): Leone Peter Superintendente de Comunicação Institucional: Adriana Mira Coordenador de Comunicação Institucional: Cleber Borges Superintendente de Desenvolvimento Industrial (interino): Armando Costa Economistas da Superintendência de Desenvolvimento Industrial: Marcus Emerson Verhine, Carlos Danilo Peres Almeida, Mauricio West Pedrão e Ricardo Kawabe

A Rede Bahia é um grupo empresarial formado por 14 empresas, sendo 6 emissoras de TV afiliadas à Rede Globo, 4 emissoras de rádio, jornal, portal de internet, empresa de eventos e uma produtora de vídeo. Maior grupo de comunicação do Norte e Nordeste, a Rede Bahia atua dentro e fora do estado, com alto padrão tecnológico contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Bahia.

Jornal líder de circulação na Bahia e no Nordeste, o CORREIO assumiu lugar de destaque na imprensa nacional pelo seu crescimento expressivo a partir do fim de 2008, quando foi implantado um novo projeto editorial e gráfico. A partir daí, conquistou prêmios nacionais e internacionais de jornalismo e artes gráficas. A inovação é a sua principal característica. Foi através dela que ampliou sua participação no mercado baiano e nordestino de leitores e tornou-se o veículo com crescimento mais expressivo e sustentado do país nos três anos que se seguiram à sua reforma. Uma evolução acompanhada por sua versão online e que, com a proposta da criação do Agenda Bahia, mostra-se totalmente alinhada com a missão e os valores da Rede Bahia, da qual faz parte, de contribuir para o desenvolvimento socioeco-nômico e cultural do estado.

Informação precisa e isenta, notícias 24 horas por dia, pluralidade de opiniões e análise crítica do que está por trás dos fatos. Este é o conceito do jornalismo praticado pela rádio CBN, que atua em Salvador com programação local de alta qualidade. Presente nas princi-pais cidades brasileiras, a rádio CBN, pioneira no modelo all news, destaca em sua progra-mação assuntos políticos e econômicos da Bahia, do Brasil e do mundo, além de abordar temas relevantes como comportamento, cultura, esportes, saúde e variedades. Como consequência da sua alta credibilidade jornalística, foi eleita pelo décimo ano consecuti-vo a rádio mais admirada do Brasil (Pesquisa Veículos Mais Admirados, categoria Rádio, edição 2009, realizada pela Troiano Consultoria de Marca).

Realizadores

A Rede Bahia

O CORREIO

A CBN

Expediente

382 383

renovaenergia.com.br

SOLAR

EÓLICA

PCH

Geramos a energiado futuro!

Em 13 anos lideramos o mercado, e nos tornamos sinônimo de energia eólica.

Líder em geração de energia renovável

Auditoria | Impostos | Transações | Consultoria

Ernst & Young agora é EYem todo o mundo.

EY é a nossa nova marca, que nasce com um novo propósito, Building a better working world.

Mas como construímos ummundo de negócios melhor?

mercados de capitais, trabalhandocom governos e empresaspara promover o crescimento sustentável e encorajando o desenvolvimento das pessoas.

Estes são os pilares do mundoque queremos ajudar a construir.

Escritório EY | Salvador - BA+55 71 3501 9000

ey.com.br

ey.com.br/betterworkingworld#BetterWorkingWorldfacebook | EYBrasiltwitter | EY_Brasillinkedin | ernstandyoung

TMRio2016

© 2

014

EYG

M L

imit

ed. T

odos

os

Dir

eito

s R

eser

vado

s.Tr

abal

he c

onos

co: e

y.co

m.b

r/ca

rrei

ras

384

*Um

a p

art

e d

a n

ota

vo

lta e

m d

inh

eir

o e

a o

utr

a p

art

e, e

m b

en

efí

cio

s.

CHEGOU ANOTA SALVADOR.Você pede a nota,seu dinheiro voltae ainda concorre a prêmios todo mês*.Chegou a Nota Salvador. Agora você

pede a nota com seu CPF toda vez que

utilizar serviços e recebe parte do dinheiro

de volta na sua conta ou pode abater até

100% do valor do IPTU. E ainda concorre

a vários prêmios todo mês*.

Não esqueça de pedir a sua.

nota.salvador.ba.gov.br

ANJ 210x297mm Nota Salvador - Boleto IPTU.indd 1 12/2/13 3:23 PM

Este livro foi impresso utilizando a família tipográfica Prelo, nas variações book, condensed, bold, black e slab black, em

papel couché 115g/m²