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livro “ARTICOLAR arte e ciência”

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De entre os argumentos que subscrevem a valorização da arte, sobressai a crença que existe uma afinidade exponencial entre o índice cultural da sociedade e o grau de preservação das coisas e dos homens que a constituem. Ora, tal afinidade assume a razão primeira para promover, sempre que possível, as artes. Acreditamos vivamente que quem professe uma das artes nobres paralelamente à profissão, encontra refúgio e descanso ocupacional, em todos os momentos extra-laborais ou inclusivamente numa situação de desespero, como o é certamente o desemprego que assola a sociedade contemporânea e muito inevitavelmente a futura.Na superior pretensão de alcançar uma educação mais abrangente e abrir janelas culturais aos estudantes e aos profissionais de saúde oral, a Direção da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP) tem vindo a promover um evento anual conhecido por “Semana das Artes”. Ambiciona-se animar uma salutar interação entre a saúde oral e a arte, através do recurso à transversalidade com outras áreas. Este ano, a FMDUP lançou uma provocação aos estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), os quais responderam positivamente e em massa. Quarenta autores anuíram à sugestão de concretizar uma obra de arte sobre a temática “saúde oral”, assunto deveras árido e excessivamente redutor, sobretudo para futuros artistas, onde uma ampla diversidade criativa se assume como vocação. Com aqueles trabalhos, arrumamos uma exposição no decurso da “Semana das Artes” que acabou por refletir as pesquisas que os estudantes conceberam sobre o motivo, bem como a tradução de certas experiências pessoais. Os autores evoluíram os seus objetos artísticos recorrendo a radiografias suas, a próteses e relatos particulares. Outros, menos familiarizados, procuraram informação sobre o tópico nas bibliotecas e na internet tentando inteirar-se do tema e das preocupações sugeridas. Por fim, quase unanimemente procuraram encontrar uma simbiose entre o seu próprio projeto artístico e a temática indicada. Daqui adveio um conjunto multifacetado de obras em que a saúde oral foi, tão só, o mote.A Comissão Organizadora do acontecimento, conseguiu seduzir a BIAL a patrocinar a publicação de um livro que contempla aqueles trabalhos e que reclama valorizar a ligação profícua entre a Arte e a Ciência. Dado que, por honroso convite, nos coube a incumbência de supervisionar a edição, metemos mãos à obra, sempre com o elevado desígnio de conseguir um livro tão colorido quanto ímpar na sua conceção. Dado o tema e o objetivo ambicionado e porque à medicina dentária interessa o estudo de órgãos componentes funcionais do aparelho estomatognático e de componentes anatómicos constitutivos da face, onde há uma patente e permanente cinética articular nos dentes, na articulação temporomandibular, nos lábios, no esfíncter velo-faríngeo, batizamos o livro de “artiCOLAR saúde oral e arte”Pensamos que seria assaz interessante, catalogar as obras, atribuindo a cada uma delas a explicação temática e técnica por parte do autor, à qual se agregaria a opinião de um médico dentista previamente selecionado. Importa referir que os médicos dentistas escolhidos, para formularem a sua opinião, apenas teriam acesso à fotografia e ao título da obra.Desenhou-se um exercício salutar, onde se aliou ao interesse educativo dos estudantes de belas artes na prática artística e no contacto havido com a saúde oral, a reflexão, para além da prática clínica, dos médicos dentistas. Na expressividade dos materiais e no volume dado pelas cores, exaltaram-se múltiplas valências, nos campos da pintura, da escultura, da geometria, enfim, na valorização da saúde oral e do seu impacto na humanidade. O resultado traduziu-se numa surpresa positiva, onde sobressai uma notória cumplicidade entre arte e saúde oral. A análise que por decerto surgirá da leitura atenta, desvenda interpretações desde convergentes a antagónicas e até ambíguas, com

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‘artiCOLAR saúde oral e arte’

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A despropósito... Afonso Pinhão FerreiraMiguel Pais Clemente

A propósito...Francisco Laranjo

‘artiCOLAR saúde oral e arte’

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A despropósito...De entre os argumentos que subscrevem a valorização da arte, sobressai a crença que existe uma afinidade exponencial entre o índice cultural da sociedade e o grau de preservação das coisas e dos homens que a constituem. Ora, tal afinidade assume a razão primeira para promover, sempre que possível, as artes. Acreditamos vivamente que quem professe uma das artes nobres paralelamente à profissão, encontra refúgio e descanso ocupacional, em todos os momentos extra-laborais ou inclusivamente numa situação de desespero, como o é certamente o desemprego que assola a sociedade contemporânea e muito inevitavelmente a futura.

Na superior pretensão de alcançar uma educação mais abrangente e abrir janelas culturais aos estudantes e aos profissionais de saúde oral, a Direção da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP) tem vindo a promover um evento anual conhecido por “Semana das Artes”. Ambiciona-se animar uma salutar interação entre a saúde oral e a arte, através do recurso à transversalidade com outras áreas. Este ano, a FMDUP lançou uma provocação aos estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), os quais responderam positivamente e em massa. Quarenta autores anuíram à sugestão de concretizar uma obra de arte sobre a temática “saúde oral”, assunto deveras árido e excessivamente redutor, sobretudo para futuros artistas, onde uma ampla diversidade criativa se assume como vocação. Com aqueles trabalhos, arrumamos uma exposição no decurso da “Semana das Artes” que acabou por refletir as pesquisas que os estudantes conceberam sobre o motivo, bem como a tradução de certas experiências pessoais. Os autores evoluíram os seus objetos artísticos recorrendo a radiografias suas, a próteses e relatos particulares. Outros, menos familiarizados, procuraram informação sobre o tópico nas bibliotecas e na internet tentando inteirar-se do tema e das preocupações sugeridas. Por fim, quase unanimemente procuraram encontrar uma simbiose entre o seu próprio projeto artístico e a temática indicada. Daqui adveio um conjunto multifacetado de obras em que a saúde oral foi, tão só, o mote.

A Comissão Organizadora do acontecimento, conseguiu seduzir a BIAL a patrocinar a publicação de um livro que contempla aqueles trabalhos e que reclama valorizar a ligação profícua entre a Arte e a Ciência. Dado que, por honroso convite, nos coube a incumbência de supervisionar a edição, metemos mãos à obra, sempre com o elevado desígnio de conseguir um livro tão colorido quanto ímpar na sua conceção.

Dado o tema e o objetivo ambicionado e porque à medicina dentária interessa o estudo de órgãos componentes funcionais do aparelho estomatognático e de componentes anatómicos constitutivos da face, onde há uma patente e permanente cinética articular nos dentes, na articulação temporomandibular, nos lábios, no esfíncter velo-faríngeo, batizamos o livro de “artiCOLAR saúde oral e arte”

Pensamos que seria assaz interessante, catalogar as obras, atribuindo a cada uma delas a explicação temática e técnica por parte do autor, à qual se agregaria a opinião de um médico dentista previamente selecionado. Importa referir que os médicos dentistas escolhidos, para formularem a sua opinião, apenas teriam acesso à fotografia e ao título da obra.

Desenhou-se um exercício salutar, onde se aliou ao interesse educativo dos estudantes de belas artes na prática artística e no contacto havido com a saúde oral, a reflexão, para além da prática clínica, dos médicos dentistas. Na expressividade dos materiais e no volume dado pelas cores, exaltaram-se múltiplas valências, nos campos da pintura, da escultura, da geometria, enfim, na valorização da saúde oral e do seu impacto na humanidade. O resultado traduziu-se numa surpresa positiva, onde sobressai uma notória cumplicidade entre arte e saúde oral. A análise que por decerto surgirá da leitura atenta, desvenda interpretações desde convergentes a antagónicas e até ambíguas, com feição temática, com índole sensorial ou, pura e simplesmente, com cariz descritivo, dando prova da diversidade cultural e sensorial que nos caracteriza. Também a opinião que cada um formulará e, na escolha que cada um fará ao interpretar cada imagem e cada escrito, mais não será que a prova provada dessa ampla diversidade.

Afonso Pinhão Ferreira Miguel Pais Clemente

A propósito...Que o mundo é imenso já o sabíamos, mas receber um convite da Faculdade de Medicina Dentária para pensar e desenvolver, com a Faculdade de Belas Artes, na sua Semana das Artes o tema em pintura sobre o assunto que mobiliza aqueles estudantes, convenhamos, não é tarefa fácil ou mesmo de motivação imediata.

Por isso, muito surpreendido fiquei com as respostas que tive oportunidade de olhar na abertura da exposição nessa semana, pela presença dos nossos estudantes, muito bem coordenados pelos nossos Docentes Sofia Torres e Domingos Loureiro, a quem agradeço a dedicação pessoal e institucional e aos estudantes que aceitaram o desafio aparentemente inóspito, mas de repercussões plásticas inusitadas.

Sabemos que o Diretor da Faculdade, Professor Doutor Afonso Pinhão Ferreira é um entusiasta das artes e das obras dos artistas, aliás universo onde gosta de se aventurar para seu próprio prazer e nossa visitação, por isso nada nos surpreende esta espantosa capacidade de levar para a sua Faculdade os outros estudantes da especialidade que a ele o fascina.

Cumprimento muito calorosamente o muito estimado Diretor e Amigo, pelas iniciativas que tem desenvolvido ao longo destes anos de profícua abertura da sua Escola a outros universos de pensar o mundo de que falávamos, e das suas relações. De poder, desassombradamente, fazer o que pensa e dizer o que sente, sem receio e sem constrangimentos, tornando na nossa Universidade os laços mais estreitos e as relações mais diretas e mais simples.

Desta exposição a que me refiro e de cujas imagens temos agora documentos em forma de livro, vemos imagens de alguns desses testemunhos que estudantes em fase de graduação aceitaram desenvolver em desafio a eles próprios, e pela generosidade que naturalmente cultivam como valor que nos identifica.

Os meus parabéns a todos os participantes da Semana das Artes da FMDUP, aos Professores envolvidos e à equipa do seu Diretor na sua pessoa, que não é demais referir. Os meus votos do maior sucesso para o futuro que se augura promissor.

Francisco Laranjo Diretor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

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‘artiCOLAR saúde oral e arte’

Índice

Artistas >>

Agnelo Bruno Tavares de JesusAna Isabel Freitas

Ana ViegasBárbara Gonçalves Fernandes

Bruna Raquel Prazeres BesteiroBruno Vicente Nunes

Catarina Sofia Dantas PereiraCatarina Real

Maria Inês LimaPaula Cristina de Sousa Manhente

Daniela NunesElisabete Maria dos Santos Almeida

Francisca SousaHorácio Frutuoso

Joana CoutoJoana PatrãoJoana Pedro

José Eduardo Gomes CostaLiliana Susana Machado Pires

Manuel ReisMargarida Pereira da Rocha

Margarida RamosMaria do Carmo OsulMaria Almeida Nanim

Mariana DelgadoMarina Moreira

Pedro RamosPilar Del Grado

Rosa AlvesRute Costa

Angelina SilvaTiago Madaleno

Vitor Manuel SilvaJosé Nuno Pinto

Lídia RamosMafalda RochaArantxa Ortiz

Tânia SousaCatarina CastroMónica Araújo

<< Médicos Dentistas

Afonso Pinhão FerreiraOrlando Monteiro da SilvaEunice CarrilhoJaime PortugalMiguel PintoMário Jorge SilvaAntónio Mano AzulMário BernardoCarlos SilvaAna Paula MarquesJosé António CapelasGil AlcoforadoManuel Marques FerreiraHelena FigueiralAntónio FelinoJoão BragaJoão Carlos Sampaio FernandesAmérico FerrazPaulo MeloFernando GuerraPedro MesquitaPedro Mariano PereiraLuís Pires LopesPaula VazRicardo Faria AlmeidaMiguel Pais ClementeMaria João PoncesJorge Dias LopesFernando AlmeidaJoão PimentaMário VasconcelosAntónio Sola da MataGermano RochaVanda UrzalJosé Carlos Reis CamposMarta ResendeMaria Cristina Figueiredo PollmannJoão CaramêsJoão Carlos RamosCristina Trigo Cabral

pág 12 > 1314 > 1516 > 1718 > 1920 > 2122 > 2324 > 2526 > 2728 > 2930 > 3132 > 3334 > 3536 > 3738 > 3940 > 4142 > 4344 > 4546 > 4748 > 4950 > 5152 > 5354 > 5556 > 5758 > 5960 > 6162 > 6364 > 6566 > 6768 > 6970 > 7172 > 7374 > 7576 > 7778 > 7980 > 8182 > 8384 > 8586 > 8788 > 8990 > 91

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>> Comentário do Médico Dentista

Afonso PinhãoFerreiraSe não fosse sabedor do título da obra, nem conhecedor do ano em que a morte consumiu o escultor Phideas, diria que esta figura, além de ser uma relíquia histórica, é porventura parte do projeto do Parthenon. Não o sendo todavia, infere-se a existência de um toque euclidiano na sua conceção, já que se denota um construtivismo matemático, numa indubitável lógica geométrica na busca da perfeição através da proporção e da simetria.

Enquanto médico dentista, identifico-me com o desenho e revejo-me na pintura.

Trata-se da representação do meu objetivo diário, do que realmente pretendo quando restauro uma oclusão dentária nas perspetivas estética e funcional: um alinhamento completo com uma simetria absoluta das arcadas que consinta uma intercuspidação assente num ajuste irrepreensível das vertentes cuspídeas através de uma engrenagem perfeita. Vejo lá tudo isso, bem como as proporções dento-alveolar e dento-dentária capazes de levar o paciente gritar o número de ouro, 1,618.

As cores, essas, caminham do interior quente e encarnado das mucosas para a periferia das cores frias e limpas dos dentes, ou, não fora a higiene, uma insígnia da isometria.

>> Comentário do Artista

Agnelo Bruno Tavares de Jesus‘HIGIENE ORAL’ Na idealização e composição deste quadro foi utilizada a geometria, uma vez que, tal como na Medicina Dentária, existe uma vertente científica.

Os espaços exteriores a verde simbolizam os oito dentes incisivos; as figuras a azul expressam os quatro dentes caninos com a extremidade pontiaguda, uma vez que se trata dos dentes que rasgam os alimentos; as figuras a branco traduzem os oito dentes prémolares com a extremidade menos definida, uma vez que trituram os alimentos; a parte externa da figura vermelha com doze lados, representa os doze dentes molares, sendo que os quatro triângulos verdes simbolizam os dentes do siso, que são os últimos a nascer.

As cores utilizadas são as cores que, através de uma pesquisa, concluímos serem as mais empregues nos dentífricos mais comercializados.

>>>>>>>>>>>>>>• Acrílico s/tela.• 100x100 cm

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>> Comentário do Artista

Ana Isabel Freitas‘DENTIÇÃO’ “Dentição” explora a textura de uma dentada e o relevo dos dentes, remetendo para memórias sensoriais que passam tanto pelas dentadas numa maçã, como pelas imagens de radiografias ou de um dente do siso acabado de arrancar. Estas imagens são habitadas também por uma memória de infância, dos dentes que pendem, em pequenos caixilhos e argolas de ouro, das orelhas das meninas sentadas nos jardins ou a correr pelo recreio.

Uma oscilação entre o doloroso e o aterrador e, a mais simples recordação de nós mesmos, dos dentes de leite que nos deixaram a boca esburacada, em sorrisos que ecoam ainda pelas ruas da nossa infância.

>> Comentário do Médico Dentista

Orlando Monteiroda SilvaA preponderância do olhar.

A expressão de uma geração repetida, cheia de sonho e determinação, que nem a falta de sorriso consegue atenuar.

O brinco feito de saudade de um tempo que não volta.

A realidade definitiva de uma visão que já não é visão 20.20, a perfeição no critério do oftalmologista, mas 32.32, a visão adulta, feita de esmalte, cemento e dentina, no critério omnipresencial de um médico dentista.

>>>>>>>>>>>>>>•Tinta-da-china e guache sobre contraplacado, escavado em técnica de xilogravura. • 30x40cm

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>> Comentário do Artista

Ana Viegas‘ E AGORA SEM MÃOS...’

Este trabalho teve como objetivo responder aos requisitos solicitados, mantendo a mesma linguagem que a autora tem vindo a desenvolver em projeto recente. A artista segue na procura de equilíbrios cromáticos nas composições, na busca de focos ruidosos que convivam com outras zonas amenas, de descanso.

O contraste claro/escuro é também uma preocupação e tem como propósito criar uma inquietação visual.

Sendo esta a paleta de cores presente nos seus trabalhos, os tons terra ajudam-na a exteriorizar o conceito, criando saturações visuais. O que é da terra, para a terra um dia voltará.

>> Comentário do Médico Dentista

Eunice CarrilhoEis a realidade reparável com que luto tantas vezes para nela me esconder! Construir, reconstruir, reparar, eliminar para repor a claridade de um sorriso ensombrado por uma cárie, por uma dúvida, por uma tristeza.

Sinto-me à minha maneira artesã. Tecedeira de rendas, reparadora de harmonias perdidas.

Relembro dos lápis Pelicano da minha infância e a silhueta elegante e breve dos sonhos de menina em que cada pelicano é hoje, para mim, o traço esguio em que perco o olhar como um pelicano ideal que transporta no bico uma qualquer boa nova: uma vida por exemplo. Assim trabalho; como se frente a mim estivessem seres de esmalte que me pedem a pequena ajuda de os fazer mais perfeitos; de lhes prolongar a brancura ingénua na esperança de apenas ouvirem “que lindo sorriso”. Todos os dias revejo essa linha de marfim que me atrai e questiona sobre as pequenas coisas da vida. Entre o original e a cópia, a arte sempre exigiu demasiado ao Homem. Sobretudo trabalho e a poesia do fazer. Prolongadas raízes que o raio x me mostra como o outro lado do real, aquele que não se vê de imediato mas que, pela poesia do trabalho, nos habituámos a conhecer. Aves aquáticas estes pelicanos não os quero submersos no lago da boca. Quero-os antes limpos, frescos como se cada sorriso transmitisse também a ternura de cada um.

>>>>>>>>>>>>>>• Acrílico e carvão s/tela.• 80x60cm

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>> Comentário do Médico Dentista

Jaime PortugalNesta obra, é ostentada uma taça com um colorido sortido de guloseimas. Pela forma convidativa como se espalham sobre a mesa, alguns destes doces são oferecidos às bocas que avidamente sempre rodeiam iguarias deste género.

À primeira vista, poder-se-ia pensar que estaríamos perante uma tentação pecaminosa. O sorriso comprometido que algumas destas bocas parecem apresentar, poderá levar-nos a considerar que, apesar de todo o desejo, se encontram comprometidas por conheceram os riscos de tal tentação. No entanto, pensando bem, esta obra também nos poderá transmitir que este tipo de alimento, quando associado a uma correta higiene oral e consumido com moderação poderá ser inspirador de um bonito sorriso.

Ter bons dentesÉ ter liberdadePara comer um doce Em qualquer idade.

>> Comentário do Artista

Bárbara Gonçalves Fernandes‘Nhom...nhom...nhom...’

Este trabalho estabelece um paralelo com as características lúdicas do objeto espelho, tocando noções de realidade, irrealidade, memória, imaginário, …

Houve especial interesse em tirar partido da expressividade dos materiais, na relação bi e tridimensional, tornando claro que a ocorrência da criação das peças advenha de uma ação manual.

Fica evidente nesta obra um diálogo entre as guloseimas e as bocas representadas remetendo para os desejos evidenciados pelos nossos sentidos, deixando em aberto as repercussões que possam causar no nosso corpo, inclusive na nossa saúde oral.

>>>>>>>>>>>>>>• Técnica Mista.• 68x92cm

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>> Comentário do Médico Dentista

Miguel PintoNum vislumbre lembra, talvez na versão dentata, a popular ícone Vénus papamoscas de nome dionaea muscipula com a sua surpreendente tecnologia elétrica e hipotéticos poderes medicinais. Conhecida como a bela e a fera, funciona como uma armadilha perfeita com a sua folha em forma de mandíbula com 15 a 20 “dentes”, enclausurando a sua vítima.

Mas, ao olhar mais demorado sente-se ou suspeita-se de uma ideia ou palavra forçadamente contidas ou violentamente silenciadas. E, ao deixarmo-nos tocar pela anatomia do expressivo horror dos lábios em desespero, imaginam-se sons aprisionados que tentam libertar-se.

>> Comentário do Artista

Bruna RaquelPrazeres Besteiro‘SENSÍVEIS’

O título da pintura refere-se diretamente ao assunto representado: gengivas frágeis, que sangram.

O trabalho trata uma natureza estranha que é simultaneamente natural, dado que é uma situação muito frequente, no que diz respeito à saúde oral de muitos indivíduos. Optou-se por um tratamento delicado com uma pintura figurativa, cuidada, lisa, onde a gama cromática permite uma relação direta com a realidade sendo representativa da verdade. Considerou-se importante alcançar a realidade, criando uma sensação de intimidade entre o espectador e a pintura. Daí, a representação objetiva e clara, facultando uma morfologia explícita e expositiva, de modo a reclamar toda a atenção. A harmonia cromática e a atmosfera naturalista contrapõem a crueza da realidade e a natureza repulsiva, criando uma ambivalência entre o assunto e o modo como está pintado.

>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/contraplacado e óleo s/moldura.• 25x30 cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista (mármore, tinta acrílica, gesso acrílico, vernizes, betume judaico).• 40x60cm

>> Comentário do Artista

Bruno Vicente Nunes‘DUALIDADE’

Todos sabemos o quão essencial são os dentes e as potencialidades da sua estrutura rija, mas também conhecemos a sua fragilidade provocada pelos maus hábitos de higiene. Podemos, por isso, associar as suas características e a sua fragilidade à de uma pedra.

Nesta obra, estabelece-se uma comparação entre a fragilidade do dente e a de uma pedra, nomeadamente do mármore. O estado de desgaste, provocado não só pela exposição a temperaturas extremamente frias ou quentes, como o choque com outras superfícies duras, revela uma estrutura frágil suscetível a uma quebra irreparável.

A forma irregular da pedra é assumida e confrontada com um processo que se assemelha à decadência do dente. A divisão que é estabelecida com uma metade branca e outra negra traduz-se num elucidar do desgaste e da podridão do dente quando confrontado uma superfície mais clara ou mais escura que o mesmo, isto é, um dente amarelo tende a parecer mais branco quando comparado com uma superfície escura e, tende a parecer mais escuro, quando confrontado com uma superfície mais clara.

>> Comentário do Médico Dentista

Mário Jorge SilvaSem lugar para equívocos, aqui é tudo preto no branco. Aliás, preto e branco disputam o espaço da nossa atenção em partes iguais, não se permitem misturas nem predominâncias e não há lugar para o cinzentismo.

Mas preto e branco não são cores! No preto morrem todas as luzes e no branco são rejeitadas com a mesma impiedade.

É entre estes dois mundos que nos movemos, o que nos absorve e o que nos rejeita, e entre os dois temos que fazer obra e deixar um legado.

Médicos Dentistas, olhamos para esta obra e imaginamos quatro incisivos, que não são. Quatro incisivos em muito mau estado, parece-me. E o artista, o que viu? Viu a saúde oral a preto ou viu a branco? Se calhar não sabe. Nem eu.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• 120x40cm

>> Comentário do Artista

Catarina SofiaDantas Pereira‘(A)FUNDAR’

Num jogo de transformação de signos, pela descontextualização, transcrevendo-os para o espaço da criatividade, da sugestão e da dimensão onírica do criador, visa-se a sensação dada pela estranheza e movimento. O tema desta exposição, surge numa conceção plástica que tenta reforçar o cariz efémero e voláti l da saúde. Na inconstância do vigor físico, como o próprio título da obra alude, existe a possibil idade de “fundar” práticas saudáveis ou “afundar” na enfermidade.

>> Comentário do Médico Dentista

António Mano AzulEstamos por 1600, no centro da Europa e três molares icebergues soltaram-se de um crânio de Pieter Claesz, barrocos como convém, ou foram extraídos pelo Cavadenti de Caravaggio (já que coexistiram no tempo), e flutuam agora num mar transparente, provavelmente sofrendo já o efeito deletério da intervenção humana (aquecimento global? excesso de hidratos de carbono?). Ao contrário da filosofia seiscentista que sugere que as preocupações mundanas acabam por ser em vão e onde se faziam as extrações em público, sem anestesia e à luz de velas, esta pintura faz-me pensar quão longe foi a medicina dentária nestes 200 anos. Hoje, estes molares/icebergues à deriva devem ser protegidos e cuidados, porque a dignidade humana só pode existir plenamente com saúde e bem-estar.

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>> Comentário do Médico Dentista

Mário BernardoUm primeiro olhar para este trabalho revela figuras antropomórficas, uma multidão indígena de variadas compleições, idades e tamanhos. Espectadores silenciosos de algo não perceptível.

Uma observação mais atenta revela o equívoco. São plantas? Partes de plantas? Algas? Algo que conhecemos bem mas que não é imediatamente óbvio.

Subitamente, fica claro. A sua presença é uma constante da nossa rotina diária. Duas vezes por dia (pelo menos), de manhã e à noite, antes de deitar. A escova dos dentes é um objeto com o qual estabelecemos uma relação íntima e pessoal. Impartilhável. Os mais pequenos detalhes, relacionados com a sua forma e características funcionais, são fundamentais para o conforto da sua utilização. Talvez por isso, e não por preguiça ou por motivos económicos, seja tão difícil para muitos a sua substituição, levando ao prolongamento da sua utilização para além do desejável.

A degradação é prova do uso, da tarefa cumprida, do objetivo alcançado. A degradação do objeto inanimado garante a preservação do objeto vivo, neste caso, dos dentes.

A imagem de uma escova degradada desencadeia múltiplas emoções. No seu dono, familiaridade e conforto. Nas restantes pessoas, repulsa. Nos profissionais de saúde oral, reprovação.

>> Comentário do Artista

Catarina Real‘DEGRADAÇÃO OU DE-GRADAÇÃO’

Será relevante contrapor a degradação a uma experiência de gradação tonal?

No dente infere-se a ação da escova, que provoca uma de-gradação tonal e uma degradação no objeto-escova. Simultânea a degradação e a de-gradação, tanto no mais simples ato englobado pela medicina dentária como no equivalente na pintura.

>>>>>>>>>>>>>>• Cera de abelha e pigmento sobre MDF.• 44,8x23,7 cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela. • 70x50cm

>> Comentário do Artista

Maria Inês Lima‘PARADISE MOUTH’

A pintura baseia-se na obra de Thomas Cole, “O Cálice do Titã”, o que constituiu motivo para fazer uma paisagem, onde um objeto de pequena estatura assume uma proporção inúmeras vezes maior.

Não querendo retratar um dente podre ou cariado, nem querendo fazer uma representação demasiado objetiva, pretendeu-se fazer uma paisagem que representasse antes uma boca saudável, visto que o tema versa “saúde oral”. Para isso, representou-se uma floresta tropical, cheia de vida onde podemos ver alguns frutos tropicais e uma cascata de água fresca, lembrando uma alimentação e uma boca saudáveis.

O título deve-se ao aspeto paradisíaco da paisagem, e também ao facto de podermos considerar a pintura como se fosse uma representação surrealista do interior da boca.

>> Comentário do Médico Dentista

Carlos SilvaA soberba caracterização luminosa refletida em primeiro plano na “flora” arbustiforme, com destaque para as inquietantes projeções “acinosas” e “papilares” de extremidade rubra, também nas pendências “baciliformes” e outras formas “esporuladas”, quase “virais”, denunciam uma incidência da luz da esquerda para a direita e transmite profundidade e frescura ao local.

Em contraponto desta linguagem pictórica, uma inopinada estrutura rochosa gélida, com uma morfologia forçada de “denteado cuspídeo”, jorrando em cachoeira “parotídea” abundante, que, em conjunto, não conseguem baixar a temperatura do local, quando em presença de uma paradoxal coloração “inflamada” dum céu estival e seu reflexo aquoso na “língua” de água.

A dualidade da linguagem pictórica utilizada, oscilando entre o primor técnico e a metáfora, apontam para uma mensagem alegórica!… Dizem-me que da boca!… Um título para a coisa?! – “A inflamação do céu (da boca), o desassossego da flora (bucal) e o desespero aquoso (salivar) consequente a um repasto picante”!…A cor para uma moldura?!… Caril!… Penso eu de que….

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>> Comentário do Médico Dentista

Ana Paula MarquesO pedido foi para explicar a obra e descrever o que essa imagem me transmite. Não é um pedido fácil, até porque em muitas ocasiões vemos as obras mas não intelectualizamos aquilo que nos transmitem.

Em muitos casos a observação resulta numa sensação, algo visceral, que não é traduzida por palavras, mas apenas pelo sentimento de agrado ou desagrado. Isto é verdadeiro para mim, que não sou crítica e apenas aprecio a arte do ponto de vista pessoal.

Em relação a esta obra considero-a um quadro sereno e delicado. A uniformidade das cores, o traço leve e simples confere-lhe uma delicadeza que me agrada e de certo modo cativa.

Decorrente de uma observação mais pormenorizada verifico que esta subtileza é complementada por uma infinidade de pequenos pormenores que a enriquecem e lhe conferem carácter. As texturas permitem distinguir diferentes planos e definir estruturas, apesar de manter o mesmo registo cromático.

>> Comentário do Artista

Paula Cristina deSousa Manhente‘DE DENTRO PARA FORA’

O objeto artístico realizado é bidimensional, em que predominam texturas, transparências, diferenças dos materiais utilizados e das técnicas. Neste trabalho houve intenção na exploração da especificidade do meio e da potencialidade da matéria têxtil como elemento plástico. O registo monocromático que permanece na obra reflete o ato de visualizar o interior a partir do exterior.

>>>>>>>>>>>>>>• Os materiais selecionados foram linho, juta, organza e fita dentária. • As técnicas utilizadas para a execução do painel foram tinturaria, desconstrução de tecido, colagem e bordado, s/tela.• 80x80cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista s/madeira. • 32x44cm

>> Comentário do Artista

Daniela Nunes‘CUIDA-TE’

O processo utilizado para a realização deste trabalho passou por selecionar alimentos que ingerimos com alguma frequência (devido ao facto de em excesso não serem saudáveis para a saúde e de possuírem também uma semelhança com a nossa própria carne/pele...) e deixá-los deteriorar: o queijo/dentes, o salame/ língua, o paio do lombo/lábios, a mortadela/céu-da-boca. O objetivo de compor a própria boca com o que ingerimos teve como propósito mostrar a decomposição natural da mesma, servindo o propósito crítico que devemos cuidar da nossa higiene oral.

>> Comentário do Médico Dentista

José António CapelasEsta imagem vale bem mais do que duzentas e nove palavras…

Quando olho para esta tela, a primeira impressão que sinto é a de estar perante uma pessoa ansiosa e em pânico. Os olhos apresentam-se fechados e a boca muito aberta, parecendo estar a gritar. Esta situação de medo e raiva não parece conformar a ideia de receio pelo profissional de saúde, pois a boca encontrando-se tão aberta, não evidencia uma posição defensiva. Este terror e revolta denotam um momento de angústia profunda, talvez mesmo de desespero existencial, parecendo mais consonante com quem ouviu as últimas notícias na televisão sobre a crise mundial e particularmente sobre a nossa situação económica e social.

Numa perspetiva mais profissional observo um paciente com dentes desalinhados, portadores de lesões brancas no esmalte dentário. No 3º quadrante identifico uma cárie oclusal num molar. Os lábios sugerem lesões ulcerosas e a língua apresenta manchas esbranquiçadas que sugerem contaminação fúngica. Numa visão endodôntica, um paciente com tal capacidade de abertura bucal, indicia alguma facilidade em caso de necessidade de realização de algum tratamento endodôntico radical.

Concluindo, posso considerar que me encontro na presença de uma boca muito mal cuidada, o que, claramente, se encontra em consonância com o adequadíssimo título “Cuida-te”, atribuído pelo autor da obra.

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>>>>>>>>>>>>>>• óleo s/tela.• 80x40cm

>> Comentário do Artista

Elisabete Maria dos Santos Almeida‘TÁ RINDO DE QUÊ?’

Este projeto incide num sorriso e tem como inspiração a doença que mais atinge os dentes, a cárie dentária.

Num dos lados do sorriso, os dentes são saudáveis e no outro, os dentes estão deteriorados.

Essa deterioração é provocada pela ação da placa bacteriana sobre a superfície dos dentes, a qual é o fator determinante para que ocorra aquela doença. Na fase inicial, a cárie é detetada apenas por uma ligeira destruição do esmalte dentário. Numa fase avançada, existe o dano do esmalte e da dentina, formando-se uma cavidade no dente. Importa assim alertar para o tratamento do dente logo que seja detetada uma cárie, possibilitando ao técnico de saúde oral uma terapêutica de sucesso. A prevenção é, no entanto, a melhor atitude (higiene oral diária correta com a utilização de dentífrico, escova e técnica de escovagem adequados).

Com esta comparação, entre um lado saudável e o outro deteriorado, pretende-se passar a mensagem que, restabelecer a função dos dentes, é uma necessidade, e ter um sorriso deslumbrante, um desejo.

>> Comentário do Médico Dentista

Gil AlcoforadoO sorriso é uma janela aberta para a Alma. Para a Alma daquele que exprime o sorriso assim como para quem ele é dirigido. Claro está que, por motivo óbvios profissionais, um Médico Dentista não consegue olhar para um sorriso bonito sem lhe dar uma interpretação artístico-profissional. Também é claro que para um Clínico, receber um bonito sorriso, para o qual trabalhou arduamente, é especialmente gratificante, é a maior recompensa que jamais pode ser suplantada por algo material.

Até aí essa pessoa escusava-se a sorrir, fugia e retraía-se de dar ao Mundo toda a manifestação do seu estado de espírito porque era incapaz, por vergonha, de oferecer a Todos esse sorriso, por muito singelo que ele fosse. Esta repressão da demonstração de um eventual estado de espírito de alegria ou contentamento faz doer a tal Alma de quem não o dá e de quem, pelas mesmas razões, não o pode receber.

É bom podermos sorrir, receber sorrisos e ajudar outros a poder sorrir pois é isso que faz encher de Sol uma manhã nebulada, o que faz encher uma casa vazia e o que faz feliz um coração triste.

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>>>>>>>>>>>>>>• 1 - Mdf, pasta de modelar, verniz e vídeo.• 2 - Óleo s/tela 60x75 cm

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>> Comentário do Artista

Francisca Sousa‘RITUAL’

A ideia principal deste trabalho foi descontextualizar a figura/objeto dente que passou a ser utilizado para criar uma situação surreal - um “banho” de dentes numa ação ritualizada. No aglomerado de dentes, pode-se verificar a configuração do molar em todos eles, pois é a forma mais estereotipada e simples para se fazer uma rápida associação à natureza do objeto, por parte das pessoas comuns – a imagem cerebral de um dente é predominantemente essa.

A instalação do projeto incluiu um vídeo da ação e também a caixa com os dentes, que simbolicamente assume presença no espaço como objeto que ultrapassa a barreira do bidimensional.

>> Comentário do Médico Dentista

Manuel MarquesFerreira1- Durante o século XVII, os prestadores de serviços de medicina dentária eram procurados com a finalidade de aliviar a dor de dentes e o sofrimento dela decorrente. Estas situações clínicas eram então tratadas essencialmente com a extração das peças dentárias que causavam a situação dolorosa.

Esta obra permite refletir sobre os avanços técnicos e científicos da práxis em medicina dentária e, ao mesmo tempo, questionar alguns aspetos sociais dificultadores para a consolidação da saúde oral, pautada sobre os princípios de equidade, de humanização e de integridade do ser humano. O médico dentista de hoje não é extracionista, é um clínico completo e um artista na plenitude porque: desenha e constrói sorrisos como arquitetos, faz pontes como os engenheiros, coroas como as floristas, extrai raízes como os matemáticos, faz esculturas como os artistas e faz sorrir como as crianças.

2- Apresenta uma figura humana com boa aparência física, seminua sentada sobre as perdas dentárias sofridas, por traumatismo ou por iatrogenia. A posição da personagem revela uma postura deprimida devido às perdas sofridas dos órgãos dentários.

O olhar do espectador é ainda atraído por algum movimento dinâmico com peças dentárias avulsionadas, que saltaram após impacto contra superfície de parede.Pode-se ainda relacionar a figura representada com a depressão do médico dentista, perante situações de traumatismos dentários ou outras e a sua incapacidade humana de solucionar situações clínicas no seu dia-a-dia.

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>> Comentário do Médico Dentista

Helena FigueiralEsta obra é composta por duas imagens que se completam e das quais se pode intuir a relevância da diversidade.

Na imagem superior observamos uma sequência de doze dentes dispostos em linha horizontal e cuja cor e/ou tonalidade vai escurecendo da esquerda para a direita. Inicialmente os dentes têm uma coloração esbranquiçada, passando a tons de amarelo claro, depois a amarelo escuro e, finalmente, o décimo segundo dente surge acinzentado. Curiosamente o nono elemento da sequência apresenta-se como um esboço ou um corte longitudinal, com uma textura diferente e de cor dourada, sobressaindo da sequência pela sua “excentricidade”…

Na imagem inferior vemos uma outra sequência, desta feita só de retângulos, com tons que variam entre o preto, os cinzentos (dos mais escuros aos mais claros) e o branco, retomando as tonalidades, por ordem inversa, até obter de novo o preto. A largura dos retângulos também se altera, sequencialmente, de acordo com a respetiva cor.

Esta obra transmite-me a ideia de sequência, de degradé, até mesmo de alguma ordem estabelecida. No entanto é óbvia a presença de um elemento que faz a diferença, que grita e reivindica a diversidade.

Parece-me, ainda, claramente manifesta a importância do contraste: vemos o claro e o escuro, relacionamos com o anterior e o posterior, catalogamos em velho ou novo, confrontamos estética e função, adivinhamos o positivo e o negativo, jogamos com a luz e com a sombra, objetivamos a ordem e o caos...

O próprio título – Escala em Branco – enquadra-se neste aparente absurdo que dá cor ao Universo.

Bendita diversidade!

>>>>>>>>>>>>>>• O trabalho é composto por duas telas. Óleo e folha de ouro sobre linho, acrílico sobre tela de nylon.• 100x35cm

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Horácio Frutuoso‘ESCALA EM BRANCO’

Tal como a Pintura, a Medicina Dentária trabalha com cores e tonalidades na sua prática. O trabalho apresentado surge a partir das escalas de cores de dentes usadas na Medicina Dentária.

Na primeira tela está reproduzida uma escala de tonalidades de dentes, do dente branco ao dente escuro, sendo um dos dentes um dente de ouro.

Na segunda tela mostra-se uma escala tonal, usada normalmente na produção de imagens, que representa a disposição dos dentes na boca (numa vista frontal) ou seja os dentes da frente com mais luz e os de trás escuros por ficarem na penumbra.

Assim este trabalho apresenta-se como um resultado de uma relação entre duas áreas aparentemente distintas, mas com pontos em comum, de onde surge um diálogo gráfico e pictórico.

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>> Comentário do Médico Dentista

António Felino‘OS FERROS NA ARTE DENTÁRIA’

É bonito a origem do HomemÉ bonito a evolução da HumanidadeÉ bonito pensar na Idade do FerroTodos os dias pensamos nos ferrosNão somos nada sem os ferrosAté o povo diz “saiu a ferros”Esquecemo-nos das formas dos ferrosMas não sabemos viver sem os ferrosO que seria de nós sem os ferros?E a ferrugem dos ferros?A força do tempo nos ferrosQue bom haver almas enferrujadasA risa que nos dá ver mentes enferrujadasE que bom sentir “a nossa” enferrujada!Ferrugento, Ferrugem, enferrujadoFazem parte da nossa vidaE da vida dos ferrosQuanto gostamos de ter os ferros na mãoObservá-los, manipulá-los, uti l izá-los, sujá-losLavá-los, empacotá-los e esteril izá-losA arte nasce da mão do dentistaPara felicidade do próximo e nosso contentamento

Será que somos dentistas?Se calhar somos artistasPraticamos Medicina Dentária?Ou praticamos Arte Dentária?Faz parte da nossa felicidadeA nossa arte com os ferrosSempre com os ferrosToda a vida com os ferrosE por fim que saudades vamos ter dos ferros...

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Joana Couto‘REGISTO DE INSTRUMENTOSODONTOLÓGICOS’

Os instrumentos odontológicos, que se apresentam inicialmente com a sua inutilidade no mundo estético, são recontextualizados neste trabalho enquanto matrizes para as suas próprias representações. Perdendo o seu caráter funcional inicial, úteis na área da saúde oral básica, ganham nova funcionalidade quando são utilizados como matrizes para realizar as impressões que os representam. Ou seja, o registo parte da formalização física dos instrumentos odontológicos para materializar a imagem que os representa enquanto objetos, enaltecendo as suas próprias características formais.

A impressão direta destes instrumentos, pensados previamente como imagens e reconstruídos numa abordagem bidimensional, são arquivados numa caixa de luz remetendo para a leitura de radiografias inscritas num negatoscópio.

Os instrumentos odontológicos selecionados são tintados com tinta offset diluída com branco transparente. O próprio instrumento é impresso manualmente em folhas cobertas posteriormente com liquin e óleo de linhaça, adquirindo estas, assim, transparência. Sobre a luz, a imagem final é composta por variações tonais criadas pela sobreposição das folhas e várias impressões que as mesmas comportam.

>>>>>>>>>>>>>>• Monotipia; caixa de luz em ferro.• 70x40cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista (tinta permanente preta, lixívia, cola branca, tinta acrílica, ecolines e pasta dos dentes sobre pano cru).• 80x40cm

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Joana Patrão‘RAÍZES’

O projeto aqui apresentado tenta traduzir uma realidade não visível mas comummente experienciada que é a dor orofacial. Ao mesmo tempo pretende representar o que são as características superficiais da gengiva e dos dentes, bem como das raízes em si.

O título “Raízes” não é, ainda assim, meramente descritivo, mas indicia o facto de a dor (e o seu medo) ser intrínseca à condição humana. A sugestão do que poderia ser uma gengiva quando levantada, deixando ver as raízes e a sua superfície faz com que possamos adivinhar uma dor. A seleção e utilização dos materiais foi feita nesse sentido: a cola branca remete facilmente para a saliva e a superfície da gengiva. A utilização da cor tem a mesma função: a utilização da pasta dos dentes para o branco tem uma associação direta com o tema da “Saúde Oral”, tendo ainda uma componente experiencial através do cheiro.

>> Comentário do Médico Dentista

João BragaO título desta obra será seguramente radiografia... a cores.

O formato do quadro é o correto e centra-se na anatomia interna dos dentes, que, no dia-a-dia da clínica, visualizamos apenas em tons de cinzento. Este facto, por ser inusitado e apresentar um ponto de vista diferente, capta desde logo a atenção do médico dentista, uma vez que faz a mescla da visão colorida da observação clínica com a visão “mais negra” da imagiologia.

É uma imagem tão frequente no quotidiano de tantas clínicas dentárias que poderia estar a pegar neste quadro e colocá-lo à contraluz... para, de seguida, fazer um diagnóstico…

É uma verdadeira radiografia ou parte dela, com ótimas cores e proporções – reporta bem as zonas de maior densidade óssea, estado geral dos dentes, das raízes e das gengivas… É neste plano que existe uma possível ambiguidade… quando vemos a caracterização dos septos ósseos interdentários com tons de “cores gengivais”.

Ao avaliarmos esta imagem, como um clínico purista, os dentes nela presentes não parecem necessitar da intervenção invasiva de nenhum colega…

Finalmente, poderemos afirmar que a obra traduz a realidade da boca com uma particularidade muito positiva do ponto de vista médico dentista: saúde oral!

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>> Comentário do Médico Dentista

João Carlos Sampaio FernandesQuente, muito quente,…

As chamas invadem a floresta e ela arde, arde sempre… As cinzas negras, essas ficam, permanecem ainda durante algum tempo. Houve vida, agora o vazio. O calor do fogo também destrói, destrói árvores, casas, animais… devasta e mata. As almas. Tudo parte, tudo quebra, tudo se desmorona. Tudo é frágil. Todos ficam vulneráveis. E depois?

É neste quadro de incertezas que vive, que continua a lutar pela vida. Tem mulher, filhos, netos. A revolta, o rancor nasce, cresce e desenvolve-se com extrema intensidade. Deixa marcas impossíveis de apagar.

Homem rijo, de estatura robusta, perseverante, torna-se rude, agreste, fecha-se na sua própria hostilidade, refugia-se na dor. Sente-se constantemente ameaçado. Não quer mais que o invadam, que o agridam, que o violentem. Agora sente o seu “castelo” ameaçado, e continua a construir as suas muralhas, nas quais sempre acreditou serem robustas e intransponíveis.

Como escreveu Camões, no Canto V, estrofe 39, d´Os Lusíadas, o homem transformou-se numa espécie de Adamastor: “…, quando uma figura / Se nos mostra no ar, robusta e válida, / De disforme e grandíssima estatura, / O rosto carregado, a barba esquálida, / Os olhos encovados, e a postura / Medonha e má, e a cor terrena e pálida, / Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos.”

O homem lutou e morreu… Eis o que permanece mesmo quando tudo o resto se desvaneceu.

>>>>>>>>>>>>>>• Bronze fundido e brilhantes de plástico.• 12x10x10 cm

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Joana Pedro‘SAÚDE ORAL’

Este trabalho incidiu na própria “saúde oral”. À primeira vista, o tema pareceu bastante redutor, mas pensar/realizar um trabalho sob este tema, tornou-se numa experiência e num processo bastante interessantes, revelando-se, assim precisamente no oposto. No entanto, optou-se pelo caminho do “óbvio” e, realizou-se uma peça em bronze fundido a partir dos moldes da própria dentição do artista, em que se simularam dentes de ouro e diamantes cravados. Isto porque durante a fase de pesquisa verificamos que alguns povos utilizam técnicas bastante peculiares para manter a higiene oral: a etnia cigana (países de leste essencialmente), por exemplo, protege os dentes das bactérias revestindo-os de ouro mas também como forma de embelezamento e/ou segurança (salvaguardando o seu ouro de roubos). Mas, acreditamos que na maior parte das vezes é a pura estética que estará em primeiro lugar. Existem outras culturas que também o fazem por vaidade, transformando esta técnica numa “ arte dos dentes.”

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• Tríptico 3x(24x30 cm)

>> Comentário do Artista

José EduardoGomes Costa‘SAMSA II (TRÍPTICO)’

Dado o tema, “saúde oral”, este projeto debateu-se acerca da morfologia da boca e da sua capacidade enquanto veículo expressivo.

A intenção foi explorar a boca como epicentro de um momento de expressão e as interpretações e sensações visuais que daí resultam. O poder ambíguo de uma boca aberta atinge imediatamente o observador, pode indicar um sorriso, um grito, um bocejo, mas, neste caso, não era a narrativa que interessava, mas sim essa mesma sugestão e ambiguidade.

Nas figuras representadas tentou-se destruir e reconstruir a nossa própria noção de boca, tanto visual como funcional, uma boca animal, uma boca humana, uma boca que metamorfoseia a figura e a figura que tenta escapar através dela. Tratou-se da procura de uma representação dos elementos que a definem, os lábios, os dentes, a língua e de os utilizar como matéria, mais do que os descrever.

>> Comentário do Médico Dentista

Américo FerrazLembro-me bem do Dr. António! Estatura baixa, que o obrigava a trabalhar num pequeno palanque, o cabelo acastanhado e raro, sempre bem penteado, prognata, a barriguita proeminente, pois a meia-idade não perdoa e o cadeirão também não. Tratava-nos por V. Exa.! Era o Dentista de toda a escola. Com a sua delicadeza, lá conseguia tratar a rapaziada traumatizada e descuidada, quando a pasta medicinal Couto reinava, os cuidados eram pouco frequentes e gostávamos tanto das pirata, das gorila, dos caramelos espanhóis e até do açúcar amarelo à colher. “V. Exa. abra a boquinha” – lá ía abrindo amedrontado, quase em pânico. Mas o Dr. António não desistia: “Vá lá abra como se fosse um tubarão” insistia ele com a sua bata azul, cor estranha, habituado à crueza do branco. E num esforço quase sobre-humano, lá escancarava a boca expondo as mazelas ao dedicado profissional, que da frincha ocular de segurança, me parecia um acrobata ou dançarino, que conforme ia tratando e continuamente explicando e distraindo com as histórias, cores de rosa ou não, do momento e com perguntas logo à partida castradas da resposta: “V. Exa. tem de lavar melhor os dentes. Para a próxima este pode não ter salvação e sermos obrigados a tirá-lo. Certamente viu na televisão o casamento da Lady Diana com o Príncipe Carlos, grande festa! Vem ai o novo campeonato, vamos ver se este ano não nos deixamos enganar pelos vermelhos”.

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>> Comentário do Artista

Liliana SusanaMachado Pires‘O FIM DO DENTE CARIADO’

O trabalho elaborado pretende alertar para a importância de cuidarmos dos nossos dentes a fim de evitar a sua perda. Nesta pintura está representado um dente dentro de um frasco, simbolizando um dente cariado que foi, propositadamente aí colocado, para ser recordado de como foi dolorosa a sua perda e todo o processo que envolveu a sua extração. O dente no frasco também simboliza o quanto é importante cuidar da nossa higiene e saúde oral, e ir, com regularidade, ao dentista para evitar o incómodo de perder um dente.

>>>>>>>>>>>>>>• Acrílico s/tela.• 38x55cm

>> Comentário do Médico Dentista

Paulo Melo“No museu da medicina dentária do início do século XXI encontramos, conservado num invólucro adequado, uma peça dentária que testemunha a existência de uma doença entretanto erradicada – a cárie dentária.”

Este, por ventura, poderá ser um escrito que venhamos a encontrar na descrição de uma visita a um museu de medicina dentária, num futuro não muito longínquo.

Passo a passo, fazendo confluir o tempo com o conhecimento adquirido, as diferentes civilizações, em diferentes áreas, evoluíram de forma a que pequenos grandes sonhos, considerados miragens, se fossem tornando realidade.

Com o propósito de almejar a imortalidade ou, numa visão mais redutora, a longevidade, o Homem tem perseguido o raciocínio científico para responder a grandes epidemias, erradicando doenças ou reduzindo a sua expressão sobre as populações a uma escala global.

Concebendo a medicina como um veículo condutor para uma vida com saúde, o somatório de pequenas descobertas e avanços repercute-se directamente no aumento da esperança de vida e da qualidade com que se vivem esses anos adicionais que vão sendo conquistados à morte.

Paradoxalmente, o dente será o único órgão do corpo humano que consegue “sobreviver”, preservar a sua estrutura praticamente integra e manter-se funcional mesmo sem vida. A sua “imortalidade” apenas é ameaçada pela destruição que sofre quando afetado pela cárie dentária.

Em cerca de quatro décadas a evolução deste ramo da ciência médica coloca-o num patamar da luta contra a doença, equiparável a muitas outras.

Percebemos agora, cada vez mais, que vivendo em harmonia connosco e com o mundo, não criando condições para nos auto agredirmos ou para que seres externos nos agridam, a “imortalidade” fica mais próxima…

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela• 70x50cm

>> Comentário do Artista

Manuel Reis‘O DENTE NA NATUREZA MORTA’

O quadro apresenta uma natureza morta dentro de um aparente saco plástico, que é, na verdade, um dente. Remete para a ideia de funcionalidade dos alimentos e dos dentes, mas também para a imagem de que os dentes podem ser destruídos com os resíduos dos alimentos.

>> Comentário do Médico Dentista

Fernando GuerraSuspenso no espaço, sobrepondo-se a um fundo abstrato, assimétrico e multicolor, cruzando obliquamente a tela, visualiza-se, como elemento principal, um molar inferior que apresenta uma projeção filamentar única em distal, emanada da superfície oclusal da coroa. Este detalhe reporta-nos a um universo ortodôntico, ou a algo mais trivial como a evocação hedonista do disfrutar de um cocktail exótico, na plenitude de um Verão meridional. A mistura de cores quentes, com alguns apontamentos neutros, realça as divisões de um fundo algo complexo, reforçando a ideia de um hipotético destino remoto.

Esta peça dentária, de cúspides abrasionadas, eventual reflexo da dieta ou de alguma consequência parafuncional, encontra-se apartada de qualquer outro dos seus elementos de suporte e faz uma ligação óbvia ao tema que motivou a execução da obra. A opção tomada pelo artista na sua representação, dominada pela transparência, com alguns reflexos luminosos, a partir de uma fonte unilateral incidindo na crista marginal e terço coronal vestíbulo-distal, poderia diluir a sua importância pictórica, mas pelo contrário, acaba por evidenciar as linhas robustas de um dente, de características filogenéticas diferenciadoras, que é simultaneamente um vetor e um amortecedor de poderosas forças mastigatórias, essenciais à nutrição do ser humano.

Os restantes elementos da natureza morta, compostos por diferentes frutas, encontram-se inseridos no interior da coroa como que empilhadas em pirâmide, de limão rolado e caído junto à base, onde assume particular destaque a maçã posicionada no topo, realçando o seu valor nutritivo e o impacto positivo intrínseco na preservação da saúde dentária.

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista sobre MDF. • 107x70cm

>> Comentário do Artista

Margarida Pereirada Rocha‘RAÍZ’

Este trabalho partiu de imagens macro de dentes. Desta forma, o objetivo primordial do projeto foi fazer com que o observador olhe, percecione e se interrogue sobre o conteúdo que visualiza, sentindo não só a inquietação da presença do dente como também de outros objetos orgânicos que se possam associar à paisagem.

Em suma, o objetivo foi criar uma certa incerteza sobre aquilo que se está a ver, não descartando a ideia de dente ou até de outros universos que toda a textura e ambiente possa sugerir.

>> Comentário do Médico Dentista

Pedro MesquitaAbri a janela. Ao longe, lá estava a rocha que, diariamente, preenchia o meu horizonte.

De constituição granítica era imponente. Apresentava-se em vários tons predominando os brancos, os rosas, os amarelos e os castanhos, numa amálgama de cores. A sua textura rugosa fazia suspeitar das condições climatéricas extremas a que estava exposta. No topo, quatro elevações pareciam tocar o céu.

Voltei-me e olhei a mesa. O pão, acabado de cozer no forno a lenha, permanecia com as marcas da minha última dentada. A zona mordida, mais lisa, contrastava com o restante, áspero, característico da crosta dura e enrugada do pão saloio que me acompanhava todos os dias, numa rotina aborrecida.

“Doutor, Doutor”... aquela voz, distante, fez-me abrir os olhos. A princípio tudo me pareceu estranho mas, lentamente, comecei a perceber onde estava e que quem me chamava era a assistente que, todos os dias, ao longo dos últimos anos, me auxiliava nos procedimentos clínicos. Foquei a atenção no meu local de ação e lá estava o dente que tratava, um molar com quatro elevações e superfícies laterais que só não eram lisas e brancas devido à presença do inestético tártaro que, em abundância, lhe conferia um aspeto rugoso e salpicado de tons esbranquiçados, róseos, amarelados e acastanhados.

E foi assim que, repentinamente, me apercebi que não havia rocha nem pão, mas sim um dente e que, tinha estado, outra vez, a sonhar. A imagem que via era aquilo que a minha mente queria que visse naquele momento.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• 50x100cm

>> Comentário do Artista

Margarida Ramos‘DA COR CÁ DENTRO, À LUZ’

A dimensão pictórica liga-se explicitamente à realidade visual e psicológica dos efeitos da cor/luz, na relação exterior/interior e no grau de (in)visibilidade das camadas opacas e transparentes.

O interior da boca, à luz natural, remete para a riqueza cromática e textural do interior do corpo e a translucidez como possibilidade de conotação com a saúde, deixando ver o que está dentro (ou fora).

>> Comentário do Médico Dentista

Pedro Mariano PereiraO olhar imediato de um profissional de medicina dentária sobre um trabalho plástico com a temática da saúde oral, inevitavelmente corre o risco de se concentrar sobre os aspetos anatómicos e científicos que a imagem reproduz.

A marcada linha oclusal na mucosa jugal e a escamação da mucosa labial, característica de lábios secos, revelam a preocupação do autor em reproduzir fielmente algumas das características anatómicas da imagem que provavelmente serviu de base para este trabalho. A técnica utilizada permitiu transmitir com algum realismo e rigor a imagem comum de uma boca aberta no consultório dentário.

No entanto, uma obra de arte não é estática. Ela deve ser capaz de transmitir emoções, sentimentos e de criar sensações.

A abstração de uma visão profissional revela-nos muito mais do que uma boca aberta. Uma boca tão vigorosamente aberta transmite som. Talvez um falar emocionado, um riso rasgado, mesmo um grito. É um exercício tentador o adivinhar das palavras emanadas pela tela. Mas a pintura desperta a nossa imaginação muito para além daquilo que vimos. Se deixarmos a imaginação extravasar para além dos limites da tela, é possível visualizar uma face contraída, emocionada, com um olhar profundo e penetrante, ou mesmo uma face em sofrimento com olhos energicamente cerrados. É este despertar de emoções e a possibilidade de uma imaginação sem limites que torna a arte uma paixão para muitos.

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>>>>>>>>>>>>>>• 3 Serigrafias de 80X40 cm, ilustrando a crónica e uma dentadura em cerâmica vidrada dentro de uma redoma de vidro (vidro soprado, madeira, cerâmica, vidrado de chumbo e serigrafia).

>> Comentário do Artista

Maria do Carmo Osul‘DA CRÓNICA DE INCONSTÂNCIAS ODONTOLÓGICAS 2’

Nestas três serigrafias, ilustra-se uma cronologia das mais variadas próteses dentárias utilizadas no cinema, relatando a evolução histórica destas mutações num dos campos que mais as influenciou, o cinema de terror. Existe um fascínio particular na história da ficção científica por mutações dentárias, tendo estas sido amplamente exploradas virtualmente desde o início da existência da película cinematográfica.

Destas a mais famosa é sem dúvida a do vampiro e o mito destas alterações odontológicas caninas perdura até hoje, na forma mais comum da dentadura plástico de brincar. Estas dentaduras representam a massificação do mito e lembram de forma cómica a evolução que sofreu, desde o medo e terror dos ataques de vampiros no séc. XVII e XVIII até aos dias de hoje enquanto objeto cómico. São a banalização massificada do elemento mais vital à ideia de vampiro, perdurando enquanto apoteose da lenda.

“there, on our favourite seat, the silver light of the moon struck a half-reclining figure, snowy white... something dark stood behind the seat where the white figure shone, and bent over it. What it was, whether man or beast, I could not tell.”

Bram Stoker, Chapter 8, Dracula, 1897

>> Comentário do Médico Dentista

Luís Pires LopesA obra aqui apresentada pretende representar uma parte muito importante do sistema estomatognático. Nela estão presentes os dentes, os maxilares e a articulação temporo-mandibular.

O autor, nesta sua obra, minimiza a articulação, reduz à insignificância os dentes molares e, pelo contrário, maximiza os dentes caninos. Acrescenta ainda uma assimetria dentária ao colocar três incisivos em vez dos quatro de uma dentição normal. Neste trabalho, o autor aborda um tema atual e controverso que divide ainda hoje a classe médica.

Quais os fatores responsáveis pelo desencadear da síndrome dolorosa da articulação temporo-mandibular? A oclusão dentária? O espasmo muscular, nomeadamente dos músculos da cabeça e do pescoço? E qual a implicação dos músculos da postura do tronco? Ou será simplesmente a degenerescência da articulação, que inclui o seu disco interarticular, ligamentos e cápsula? Esta imagem é muito elucidativa da visão do autor, um artista plástico, sobre este tema. Para ele a chave do problema está na desarmonia dentária e na má-oclusão. É pois mais uma opinião a ter em conta pela comunidade científica.

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>> Comentário do Artista

Maria Almeida Nanim‘SANGUE’

Esta obra pretende exprimir a sensação de dor através da cor vermelha, pela sua força, vibração e associação direta ao sangue. Constituída com uma série de velaturas, pinceladas curtas, rápidas e fortes como forma de analogia às diferentes intensidades da dor e o seu pulsar muitas vezes presente.

>> Comentário do Médico Dentista

Paula VazA magnitude desta imagem de sangue pode despertar em mim uma panóplia de sentimentos, cuja disparidade é tão grande e aparentemente sem qualquer analogia: vontade, força, guerra, vitória, paixão e vida…

A vontade sentida de continuar todos os dias a dualidade das profissões que exerço e que amo. Essa dualidade possui em mim uma ligação tão forte, como se de dois gémeos siameses se tratassem – jamais as atuações se conseguem separar – a médica dentista e a professora.

A guerra que desperta o sangue, quando algo não me está a correr bem no exercício da medicina dentária, é brutal – vou buscar ao mais profundo do meu ser toda a energia e concentro-a numa luta entre mim e o procedimento, mas sempre com um sorriso nos lábios…

A vitória que o sangue representa tem por base um sofrimento ou um período de grande dureza na minha vida, durante o qual nem que eu sangre, vou lutar para conseguir alcançar a vitória.

A paixão que o sangue representa para mim, pode relacionar-se com um prazer inexcedível como com uma dor violentíssima na alma, que faz derramar as célebres ”lágrimas de sangue”.

Por fim, a VIDA, que o sangue me desperta – o mais belo e valioso ser da minha vida, no qual corre o meu sangue e para nascimento do qual foi cortada a ligação pelo sangue – a minha filha BÁRBARA e a maior vitória que vida me poderia conceder – o prazer de voltar a transportar uma VIDA!!!

>>>>>>>>>>>>>> • Óleo s/tela• 50x40cm

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>> Comentário do Médico Dentista

Ricardo Faria AlmeidaO dinamismo prestado pelo autor, em ambas as obras, transmite segurança, certeza e simultaneamente liberdade. Desperta para a ação por nós conduzida enquanto Médicos Dentistas e, portanto, parte ativa na criação de sorrisos, na expressão facial, no enaltecer do indivíduo em si próprio e na sociedade.

A primeira imagem através das cores, transmite uma sensação de força adequada, de poder sóbrio, um marcar de posição em total harmonia com a natureza.Na segunda obra as cores mais vivas e quentes despertam para a alegria inerente ao bem-estar próprio do indivíduo saudável e satisfeito com a sua aparência. Chama a atenção sem ter um impacto desmesurado. Em suma transmite felicidade e equilíbrio.

>>>>>>>>>>>>>>• Substantivo Feminino.• Óleo s/tecido.• 42.5x32.5 cm

>>>>>>>>>>>>>>• Substantivo Masculino• Óleo s/tecido.• 42.5x32.5 cm

>> Comentário do Artista

Mariana Delgado‘AUTORETRATO(SUBSTANTIVO MASCULINOE SUBSTANTIVO FEMININO)’

Nesta série de trabalhos pretende-se destacar o rosto. As autorrepresentações vigoram com a sua estranheza, exagero e deformação fisionómicos, pretendendo-se explorar, sobretudo, o potencial plástico da expressão facial no lugar da pintura. É então determinante compreender a estrutura, reconhecer o volume e a massa que o rosto encerra de forma a conseguir transmitir os sentimentos e emoções por detrás dele. Este projeto é pois uma hipérbole e, diria até, uma ironia acerca das características que uma cara poderá (ou deverá?) assumir na representação pictórica.

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>>>>>>>>>>>>>>• Acrilico s/papel.• 130x85 cm

>> Comentário do Artista

Marina Moreira‘SEM TÍTULO’

O projeto a partir do qual nasce esta obra, tendo em conta o tema “saúde oral”, retrata a dor provocada pelo não tratamento, assim como a dor psicológica associada e causada pelo agravamento da deterioração dos dentes. Essa dor pode causar mau estar com baixa da autoestima, a qual pode rapidamente contaminar todos os setores (profissional, pessoal, social).

Neste projeto aborda-se temas de foro psicológico através da linguagem corporal, onde a paranóia, a solidão e a carência afetiva são denunciadas pelas formas e pelos tons avermelhados e esverdeados assim como pela técnica de adição e subtração de matéria, e o seu desfasamento.

>> Comentário do Médico Dentista

Miguel Pais ClementeA dor é fogo que arde sem se ver…

Mesmo perante uma escala visual analógica para quantificar a dor, esta não é visível para o clínico. Do visível ao invisível, a dor a nível do sistema musculosquelético, pode, por vezes, ser acompanhada por estados de inflamação e rubor que podem ser analisados com recurso a termografia e análise dos respetivos padrões termográficos.

Porque o padrão da dor está relacionado com o facto destaser uma experiência sensorial e emocional vivida pelo doente, esta deverá ser transmitida ao médico dentista paralelamente à obtenção de uma história clínica exaustiva, de forma a que se possa realizar um correto diagnóstico e efetuar um plano de tratamento eficaz. Dado que a eficácia do tratamento da dor depende de vários fatores entre os quais a tolerância estrutural e fisiológica do indivíduo, interessa o facto de se tratar de uma dor aguda ou crónica. Esta última pode, por vezes, ser acompanhada de alterações do perfil psicossomático do individuo, podendo levar inclusivamente à exacerbação da respetiva dor.

Todas estas especificidades na complexidade da dor levam o profissional de “saúde oral” a ter “arte” no tratamento deste tipo de patologia, em que podemos “articolar” e utilizar várias opções terapêuticas, entre as quais os meios farmacológicos, como por exemplo o EXXIV®.

Independentemente de tudo que se possa referir da dor, concretamente a dor orofacial é limitante e traz implicaçõesno quotidiano de um indivíduo. Quem se dedica a esta área tem, sem dúvida, um desafio bastante importante para libertar o doente do sofrimento que essa situação lhe provoca. Mesmo sem ver a dor é importante ver o doente como um todo, sendo essencial um diagnóstico diferencial onde por vezes um modelo biopsicossocial da dor implica uma equipa multidisciplinar no seu tratamento.

E é precisamente esta descrição que consigo contextualizar na imagem desenhada pela artista, vendo o doente como um todo. Que a dor que nos é transmitida pela imagem da artista é visível e real, tendo a imagem aqui reproduzida uma posição de defesa perante o seu sofrimento. Os olhos estão fechados, os músculos elevadores ativos e o punho cerrado, como um gesto de agressividade/desespero perante a adversidade que enfrenta, a dor. O traço da artista nesta pintura, através de cores mais intensas, pretende dirigir a atenção da dor para a zona orofacial, local privilegiado e de interesse/ação do médico dentista que deve visualizar a “chama” da dor, percebendo o verdadeiro local da sua origem e realizar então o melhor tratamento.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• 100x80 cm

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Pedro Ramos‘DENTE DE OURO’

Os dentes de ouro significaram uma alternativa ao apodrecimento, significaram riqueza e beleza, representaram em tempos de guerra uma garantia, foram motivo de cobiça e razão para um sorriso rasgado. Hoje, o dente de ouro encontra o seu sentido entregue à ideia de dente saudável.

É com base nesta ideia que o título e a imagem se insinuam.

O processo de pintura fixa-se, numa constante construção e desconstrução da imagem, na deformação do pixel, no efeito da luz, na inconstância da cor, na fusão entre figurativo e abstrato. Por outro lado, a imagem matriz é procurada, escolhida e processada sem a ação directa do pintor, tratando-se da seleção de um programa computorizado que escolhe e apresenta ao artista a imagem a trabalhar. Neste caso foi proposta a imagem de uma radiografia computorizada que representava quatro dentes, apesar de só um estar saudável. O processo iniciou-se com essa sugestão.

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Maria João PoncesA expressão artística através da pintura tem a enigmática capacidade de nos transportar para o mundo do “faz de conta”. Induz no nosso pensamento um processo criativo através do qual, por um lado imaginamos aquilo que o artista procurava transmitir com a sua produção e, por outro, fazemos uma leitura intrínseca da obra, sob um prisma muito individual.

Nesta obra, reproduz-se uma radiografia periapical que, provavelmente o artista enquanto paciente, executou durante uma consulta de saúde oral. Podemos imaginar o quadro clínico que antecedeu a consulta, podemos imaginar o estado de ansiedade no decorrer da mesma, podemos imaginar o tipo de relacionamento que se estabeleceu entre o clínico e o paciente. Enfim, podemos criar toda uma história em torno desta obra que, primariamente, tencionava representar dentes e tecidos envolventes numa película.

Por outro lado, vem a vertente pessoal da interpretação da obra. E o primeiro pensamento que me surgiu, transportou-me à minha infância e à ligação que desde sempre tive com este tipo de imagens. No mister do meu pai, a interpretação de radiografias representava o seu dia a dia de trabalho. Por isso, era diário o confronto com radiografias e com revistas de imagiologia que se espalhavam pelas diferentes divisões da casa.

Ao fim de tantos anos, olhando para esta obra e deixando o meu pensamento deambular, interrogo-me se essa minha vivência não terá tido um cunho determinante nas opções e na determinação do destino profissional que percorri. Quem sabe? De uma coisa estou certa, nunca foi intenção do meu pai conduzir-me nesse sentido.

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Jorge Dias LopesA pintura tem tido uma presença constante na história da arte, sendo um meio de divulgação privilegiado para a mensagem que os artistas veicularam ao longo dos tempos, desde os povos mais primitivos ao quotidiano das elites, sendo apresentada como imagem de cultura, conhecimento e fé.

As suas diversas formas, desde as hiperealistas às mais abstratas, desencadeiam, na nossa mente, um processo crítico de interpretação pessoal e de compreensão do que o autor procura transmitir.

Esta obra está intitulada como “Dentes de leite”. Sem sabermos o que é, entenderemos a mensagem do artista? Verdadeiramente esta obra poderia existir sem o retrato do título?

Olhando apenas esta pintura e deixando de parte especulações que poderíamos ter dificuldade em responder, é evidente que para um médico dentista esta obra representa uma radiografia panorâmica em dentição mista. Poderemos gostar ou não e considerarmos que está bem ou mal representada, mas neste caso é um processo analítico baseado no conhecimento.

Agora imaginemos que esta pintura é apresentada antes da descoberta dos raios x. É natural que os sentimentos desencadeados fossem certamente os mais variados, terminando no imaginário dos fantasmas.

Numa abordagem filosófica, haverá prova mais evidente da interação entre a cultura e a arte. Na realidade, os conteúdos programáticos de muitos cursos são muitas vezes demasiados técnicos e específicos, e, devido a esse facto, absorvem demasiado tempo da vida do estudante, causando muitas vezes a sua desvalorização cultural. Esta situação deve ser evitada a todo o custo, sob o risco de uma formação incompleta dos futuros profissionais de saúde. Se assim procedermos no ensino universitário (e não só), com uma aposta numa cultura oficial e estabelecida, as polémicas entre pedagogos do tradicionalismo e pedagogos da modernidade, serão mais facilmente menorizadas.

Já o grande médico Abel Salazar dizia: “ o médico que só de medicina sabe, nem de medicina sabe”.

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Pilar Del Grado‘DENTES DE LEITE’

O trabalho consiste numa representação figurativa de uma radiografia dos dentes de uma criança, no momento em que os dentes definitivos estão no interior já formados para sair e substituir os dentes de leite.

Os dentes estão plasmados com cera branca (gordura) e o fundo é uma aguada de tinta da china, a qual permite destacar os contornos dos dois tipos de dentes por igual, já que no momento plasmado estão ao mesmo nível de formação.

>>>>>>>>>>>>>>• Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel.• 40x30cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• 50x100cm

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Rosa Alves‘ORTODONTIA’

A correção ortodôntica apresenta-se hoje como um novo conceito na saúde oral. Há alguns anos atrás pensava-se que a correção ortodôntica era apenas para as crianças, hoje, todos sabemos que não e esta realidade tornou muitos de nós pessoas mais saudáveis, felizes e equilibradas.

A beleza de um sorriso descontraído transforma-nos e a interação entre quem sorri e quem recebe o sorriso é imediata.

É pois, no exercício da pintura figurativa, e através de uma linguagem pictórica narrativa que pretendo manifestar a força e o equilíbrio, valorizando as cores e os valores, a luz e a sombra, as transparências e as opacidades, reinterpretando um tema da saúde oral, “correção ortodôntica”, como se se tratasse de uma paisagem, combinando a figuração com alguma abstração.

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Fernando Almeida Falaram-me do glaciar Pepito Moreno nos confins da Antártida, do silêncio, do frio e da beleza triunfal! Estes tons azulados , acinzentados, esbranquiçados lembram também a tristeza profunda, o estado depressivo .....o frio gélido da ausência solar, da falta de conforto e de carinho da relação interpessoal! Um glaciar passa um imenso respeito ao espectador!

Tem um brilho azul esverdeado sempre que o sol lhe incide de pureza cristalina, purificado ou nunca conspurcado!

Prefiro as cores mexicanas, tropicais, quentes, alaranjadas ou simplesmente o tom alentejano de final de dia misturada com o cheiro da esteva! Ou o brilho metálico do mar pela tarde quase noite afagada por vento de levante ou do deserto!

Com o glaciar existe um respeito imenso, gélido.... com o mar pode existir fruição , contacto íntimo! Afinal cada um coloca na análise bastante de si próprio ou quase tudo... a menos que limite a emoção e racionalize a obra como objeto!

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista (óleo, pasta de modelar, betume judaico, e verniz para madeira) s/tela.• 30x30 cm

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Rute Costa‘CÁRIE’

Por definição, a cárie dentária é caracterizada pela destruição progressiva e centrípeta dos tecidos mineralizados do dente, formando uma cavidade.

Essa destruição progressiva é representada agindo sobre a textura exagerada de esmalte, em betume judaico, criando um forte contraste de valores que intensifica a invasão do dente saudável pelo parasita que é a cárie. Para que não houvesse um choque tão grande entre claro/escuro, foram incluídas tonalidades rosadas (criadas através da sobreposição de velaturas de óleo), relativas à sensação da presença da cavidade no interior de uma boca, mais especificamente das gengivas.

Como finalização, cobrimos o suporte com verniz para procedermos a uma uniformização na área para que tudo funcionasse como um só elemento e não uma composição com vários elementos distintos.

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João PimentaQual lava saindo das entranhas de um vulcão, assim te vejo, dente “malandro”, agarrado a quem te ajudou a nascer.

Às vezes pareces-me um Romeu... agarrado à tua Julieta...Outras vezes não... Quando a abraças e te entranhas não te deixas destruir; mas às vezes a tua “Gengiveta” não te aceita e cais no poço da solidão... É escura a solidão...mete medo... Olha o mundo... é castanho e feio...

Consta até que, um belo dia, a tua “gengiveta” te trocou pelo “implantorromeu”... que belo par faziam... Mas os abraços foram tão diferentes!... Os teus eram mais íntimos e mais calorosos...

E do poço da escuridão começaste a pensar que, afinal, bastaria um pouco de esforço da tua parte e de quem te cuidava para o “amor” não ter acabado. Agora é tarde...

Deixa lá... eles só se “amam por conveniência”...

Um dia vão os dois “mirrar”... nem que seja com os anos... Acordei... Um quadro... uma obra de arte... uma história de amor...

Talvez um vulcão...Talvez a escuridão acastanhada...

E vós “escondidinhos” à espera do” calor da lava”...Sois uns “marotos”...

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>>>>>>>>>>>>>>• 4 placas de gesso com inclusão de modelos de dentes.• Total c.a. 100x46 cm (CxA), cada placa c.a. 23x46 cm

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Angelina Silva‘PLACAS DENTÁRIAS’

Neste trabalho relacionam-se vários elementos do domínio específico da “Saúde Oral” com elementos da obra que, por sua vez, se relacionam com o domínio específico das práticas artísticas – Escultura e Pintura.

De entre estes elementos destacam-se as relações entre a ideia presente no título e a execução da obra em placas de gesso, tridimensionais mas cuja leitura se faz no plano bidimensional, próprio do campo da Pintura. Igualmente, o recurso ao gesso permite entrecruzar as realidades físicas das placas dentárias, seja na solidez da matéria que as compõe e na evocação da brancura a que se associa uma ideia de saúde e higiene dentária como modelo de beleza, conceitos comuns no domínio das artes e da saúde.

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Mário Vasconcelos A transversalidade da presença das peças dentárias nos quatro painéis, representativa da mesma origem evolutiva das diferentes personalidades conotadas às imagens é tradutora somente de alguma similaridade física entre todos.

O vazio de fundo no painel do macaco narigudo representará o vazio intelectual do símio cuja evolução da espécie não lhe permitiu adquirir a inteligência característica do homo sapiens. Todavia, a organização mental presente no fundo dos painéis dos outros três personagens poderá ser a representação da personalidade de cada um. Senão vejamos, no painel Cavaco uma ausência total de ordem e a presença de espaços vazios serão com toda a certeza o significado de alguma falta de orientação e de segurança de decisão e quiçá de alguma passividade. No painel Merkel as linhas estão claramente marcadas e profundamente vincadas, talvez sinais de uma personalidade forte, com uma capacidade de liderança acima da média, com ideias bem definidas e lúcidas. Claramente uma pessoa que sabe o que quer e sabe para onde vai. No painel Hollande as linhas circulares, apesar de bem definidas, poderão representar também uma personalidade forte mas onde as suas ideias poderão não prevalecer e o resultado final deverá ser um regresso ao ponto inicial sem qualquer efeito positivo das suas propostas. No horizonte um regresso à estaca zero sem dúvida.

‘CAVACO’ ‘MERKEL’ ‘NASALIS LARVATUS’ ‘HOLLANDE’

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>>>>>>>>>>>>>>• Técnica mista (cola branca, gesso acrílico, acrílico, lápis, carvão, um carimbo, madeira, serrim, agrafos, pregos)• 40x52cm

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Tiago Madaleno‘SIM, SÃO REALMENTE DENTES (UM PROBLEMA DE LINGUAGEM)’

Este desafio levantado pelo concurso foi encarado como um exercício de representação. Não interessava representar realisticamente um dente mas sim utilizar características simbólicas deste para assim entrar num simples jogo de linguagem: relacionando com a escrita, atribuindo uma característica objetual a uma palavra, a um código (neste caso um quadrado).

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António Sola da Mata“Oh, a serena harmonia que emana das coisas feitas para se unirem!” Confúcio

O Professor de Física de Liceu ditava como tudo no Universo era organizado e constituído por partículas idênticas mas singulares e sempre divisíveis… Os átomos em neutrões, positrões e electrões, estes por sua vez noutras onde estariam outras e mais e mais… Os meninos ouviam alinhados seriados nas carteiras geometricamente organizadas na sala de aula. Um perguntou “e no Fim? “ O Professor respondeu “ No fim estará Deus!”. Engraçada esta ideia de Deus enquanto entidade una, espalhada, intangível mas omnipresente no fim indivisível de todas as coisas.

Aqui, os dentes. Alinhados, seriados e geometricamente organizados. Também eles constituídos por outras entidades, o cristal de Apatite Biológica, a malha cristalina com os iões de Cálcio, Fosfato e Hidroxilo ou Flúor altamente organizados. Os dentes que tudo separam para depois se voltar a reconstruir interiormente e diversamente, constituindo-nos naquilo que somos.

O dente e dentição, a célula e o tecido, as palavras e o discurso, o verbo e a mensagem, os alunos e a aula, as pessoas e o universo… Parte de um todo, na semelhança a diferença, na singularidade da unidade, a harmonia do conjunto e a força da totalidade. Não existe unidade sem união de singularidades. A única partícula que jamais existiu verdadeiramente só, não aguentou, explodiu num Big Bang multiplicador que tudo criou. A chave da cosmocracia é sempre a união da diversidade!

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>>>>>>>>>>>>>>• Acrílico s/tela (díptico).• 62x42 cm

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Vitor Manuel Silva‘(IN)PACIENTES’

Remetendo-nos ao passado histórico, vemos no teatro grego, mais especificamente na tragédia grega, que a ação girava em torno de dois personagens: o representante do bem - protagonista, e a representação do mal - antagonista.

No enredo, o personagem “malévolo” tenta impedir que o “inocente” alcance os seus objetivos. Perante tal cenário, o observador sente compaixão pelo “herói” ameaçado e, compartilhando os seus medos, chega à purgação das emoções atingindo a kátharsis.

Nesta pintura, a inspiração surgiu dessas duas figuras antagónicas: o “rapazinho”, paciente, que se encontra numa situação terrível com um “abscesso dentário” e o “vilão”, impaciente, que o ameaça com os seus dentes. Tal como os antagonismos históricos da arte: Renascimento/Barroco; Neoclássico/Romantismo..., existe também, nesta pintura, uma tensão antagónica entre os estilos figurativos expressionista e clássico. Esta luta maniqueísta tem também correspondência no mundo da saúde oral: a ação do dentista (bem), contra as doenças da boca (mal).

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Germano RochaA arte apela para os sentidos do homem criando emoções ou sentimentos muito diversos. Tentar descrever o efeito que a observação desta pintura faz sentir é obviamente muito subjetivo, mas o medo é uma das primeiras sensibilidades despertadas por esta obra.

Na mitologia, Fobos (medo) e Deimos (terror) são filhos de Ares (deus da guerra), sempre por ele incitados a apavorar os oponentes, enquanto que na astronomia aqueles são curiosamente as duas luas de Marte.

Seja no plano mitológico ou não, desde sempre que o homem mantém uma relação dinâmica com o medo, convivendo com ele, questionando-o, procurando vencê-lo, embora, por vezes, deixando-se dominar por ele.

É habitual encontrar-se na arte representações dos medos mais comuns e reais e até dos mais macabros e fantásticos. Posso afirmar que apesar de ninguém gostar de sentir medo pode apreciar senti-lo através da arte, não só na forma da pintura, já que nela podemos dialogar com os medos de uma forma segura, ou seja sem que isso constitua uma ameaça real. As sensações são reais mas no entanto o perigo iminente não está lá.

A arte de representar os horrores na pintura é muito estimada, são disso exemplo obras de artistas como Edvard Munch e Paula Rego entre muitos outros. Nesse sentido, o primitivismo e o horror associados à Medicina Dentária, na minha opinião representados nesta obra de arte, acaba em última análise por ser um contributo à sublimação daqueles receios quase “genéticos” pré-existentes, assim como um valioso tributo à enorme evolução técnica e humana aportada à profissão nas últimas décadas.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/MDF.• 17x15cm

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José Nuno Pinto‘DENTE’

A ideia de pintar este meu dente (extraído este ano), foi de alguma forma torná-lo num objeto artístico, quando outrora tinha como única função mastigar. É uma perspetiva diferente duma parte de mim :).

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Vanda UrzalA arte (do latim ars, significa técnica e/ou habilidade) ao ter como objetivo a estimulação das emoções e ideias, permite atribuir um significado à obra associada. Está intimamente ligada à estética porque é gerada beleza, equilíbrio e harmonia na expressão da imagem em que é inspirada.

Saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde, consiste no bem estar físico, mental, psicológico e social do indivíduo.

Nesta obra, o autor criou uma ligação entre Arte e Saúde Oral através de um dente, o qual, para além de nos fazer emergir no brilho, na beleza e no bem estar que confere ao ser humano como um todo, também lhe provoca a sensação de dor. Estes dois estados opostos, estão refletidos na variação entre os extremos do espetro das cores escolhidas, assim como na diferença entre as grandes tenazes das raizes e a frágil e bonita coroa dentária. Desta forma, existe o intuito de despertar a harmonia e o equilíbrio entre os dois extremos opostos.

Através da arte, o artista empenhou-se em transmitir beleza ao singular dente, assim como o médico dentista o faz quando, ao reconstruir, através da sua perceção de estética, tenta eliminar a dor e colaborar na beleza de um universo maior: a face.

É uma obra fantástica que se pode conotar como Ouro sobre azul, realçada pelas cores selecionadas.

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>>>>>>>>>>>>>>• Resina, tecido, luz e suportes metálicos.

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Lídia Ramos‘DOR OROFACIAL’

Visando compreender a densidade da dor de dentes, é apresentado um friso da dor, onde visualizamos as suas várias fases, por intermédio das diferentes cores a que se recorreu.

O suporte utilizado, resina, pretende refletir uma analogia com a fragilidade dos dentes.

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José Carlos ReisCamposTendo por base o contexto da produção do autor, ou seja, tratando-se de uma reflexão sobre saúde oral, esta peça abstrata não demonstra nenhum elemento identificável e simultaneamente não tem à partida o objetivo de significar algo, sendo apenas uma forma do artista exprimir os seus sentimentos e intuições.

A primeira impressão da imagem abstrata leva-nos a uma empatia, motivada pela malha de cores sobrepostas, estratificadas em tons e linhas entrelaçadas, permitindo um corredor de luz intensa que nos conduz a duas formas bem demarcadas, resultando assim uma sensação agradável em plena harmonia e equilíbrio.

Nesta obra salientam-se os espectros de cor e as formas resultantes do alinhamento das tramas. A diversidade cromática apresentada, sugere-nos um impulso interno do artista.

Consoante o modo como encaramos a sua visualização, num primeiro contacto, ou numa observação mais cuidada, a interpretação da mesma peça transmite efeitos, sentimentos e emoções, de forma diferenciada, que pode induzir outras análises, originando leituras diferentes da parte de observadores distintos.

Num primeiro olhar essa variação, é captada pela luminosidade presente, todavia após uma abordagem mais atenta, produz um efeito bem mais profundo, causando uma sensação de ressonância interior.

Do ponto de vista da qualidade artesanal de execução, esta obra remete-nos a uma das formas de arte mais ancestrais, a tecelagem manual. Contudo, verifica-se uma consonância entre a execução rústica e o padrão abstrato numa visão inovadora.

Dá-nos a possibilidade da descoberta de um espaço para a prática de Saúde Oral e ao mesmo tempo impele à fantasia e põe à prova a nossa capacidade imaginária.

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Marta ResendeConheço-te.

Conheço-te pelas palavras, pelo sorriso, pelo cheiro, pelo

amuo pendurado no beicinho discreto…

Gosto de ti.

Gosto do lábio trincado quando não dominas o nervosismo,

dos bocejos intermináveis quando são absolutamente

proibidos, do ranger de dentes quando descansas exausta...

Sinto-te.

Sinto-te nos beijos doces e apaixonados, secos e fugidios,

dados, dispensados, sentidos ou preguiçosos…

Percebo-te, como tu me percebes a mim.

Vou contigo ver o mundo, contigo faço-me ao mundo…

Conheço-te.

No teu lado mais negro, mais reservado, íntimo ou proibido.

Berras comigo e eu berro contigo. Vamo-nos dando…

As minhas gargalhadas são tuas e as tuas são minhas.

Somos, às vezes, muitas vezes, felizes…

Perguntas por mim. Mal dizes e afastas, mordes e assobias

para o lado. Chocas-me e desarmas-me quando não te

seguras e dizes o que não querias dizer.

Gosto de ti.

Porque te conheço bem e tu me conheces melhor.

Porque me representas e porque fazes parte de mim.

Trata de ti.

Eu trato de ti. Preciso de ti.

Boca minha, gosto muito de ti.

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Mafalda Rocha‘SAÚDE ORAL’ Este trabalho, quase cinematográfico, alerta-nos para a necessidade imperiosa e cuidada a ter com a saúde oral, sendo a identificação de nós próprios, refletindo a imagem e o nosso eu, afetando as nossas relações, autoestima, …

‘’O sorriso é uma chave que abre portas e janelas!...’’ Rosa Lobato Faria.

>>>>>>>>>>>>>>• Pintura a esmalte s/vidro e espelho.• 60x50cm

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>>>>>>>>>>>>>>• Colagem s/madeira.• 50x60 cm

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Arantxa Ortiz‘SONRISAS’

O sorriso é a marca de felicidade e de uma boa higiene oral. Para esta obra, fez-se uma recolha de diferentes sorrisos, pessoais e de figuras públicas que formaram uma composição, resultando numa obra onde não é detetável se se tratam de sorrisos bonitos, ou sorrisos forçados, tal como acontece com a maioria das figuras que vemos em revistas.

>> Comentário do Médico Dentista

Maria CristinaFigueiredo PollmannSe uma imagem vale por mil palavras, um sorriso valerá pelo menos um milhão…

Uma imagem com sorrisos ? Não arrisco um valor.

Mas valerá, no mínimo, muito… só pela sensação de felicidade e bem-estar que transmite a quem, muito simplesmente, a contempla.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/contraplacado.• 90x73 cm

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Tânia Sousa‘CAUSA EFEITO’

Procurou-se incidir nos diferentes estados que um dente pode ter, mais precisamente: um dente cariado, chumbado, torto, partido, um implante, uma extração e mesmo um dente sem qualquer problema.

No projeto trabalhou-se na forma como os comportamentos do dia-a-dia influenciam o estado dos dentes, considerando que o inverso também acontece, havendo uma relação de causa e efeito, o que pode ser observado na raiz e no estado do dente. O espectador fará esse jogo de relações.

>> Comentário do Médico Dentista

João CaramêsA Medicina Dentária sempre me fascinou pela sua multidisciplinaridade. Somos, entre tantas valências, psicólogos ao criamos sorrisos, escultores no restauro dos dentes, engenheiros na confeção de pontes e na colocação de implantes, enfim, médicos no contributo ao restabelecimento biopsicosocial dos pacientes. Ao longo da vida profissional tenho acompanhado com paixão, a intensa evolução científica vivida pela Medicina Dentária. Sempre me senti particularmente atraído pelo apelo sistemático à pesquisa e inovação e em que convivem, lado a lado, conhecimento científico em intensa evolução e a aventura da descoberta manual, rigorosa e fina, que combina simultaneamente a estratégia e o detalhe, na construção de uma ideia de partida.

Tão inesperado como aliciante é a consciência de que, o motor desta evolução, tem sido em muitos casos o erro humano. A Torre de Pisa é um exemplo paradigmático disso mesmo, na medida em que, no início, foi considerada um projeto falhado, devido a um mau planeamento e construção num subsolo fraco e instável. No entanto, hoje é considerada uma das maiores obras de arte e engenharia da humanidade.

Assim sendo, esta fantástica pintura transmite-me uma mensagem pela qual me tenho guiado na vida pessoal e profissional: “Problemas não são obstáculos, mas oportunidades ímpares de superação e evolução”.

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>>>>>>>>>>>>>>• Óleo s/tela.• 60x60 cm

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Catarina Castro‘CHOCOLATE BRANCO’

Os doces representam o desejo da pessoa pelo trivial. Os cremes (tintas) sobre os bolos (telas) incitam o espectador a mais do que apenas observar. Apetece tocar e experienciar o bolo com as cores fortes que decoram as formas espessas criadas pelo movimento do pincel.

>> Comentário do Médico Dentista

João Carlos RamosOlhando para a imagem em questão, se fizer um exercício de esforço para opacificar o meu olhar objetivo de médico dentista, equilibrando a parcialidade da minha mente profissional com a sensibilidade subjetiva ao ser humano que a suporta, desperto para outros horizontes quiméricos, longínquos da imagem artesanal e mártir de uma escova de dentes sofisticada.

Posso imaginar um bolo rodeado por velas, quais primaveras de uma vida aparentemente penalizada pela falta de chama, incapaz de consumir parte da essência da sua própria existência, apresentada por uma mão oculta de um braço trémulo e sombrio.

Posso conceber algo mais político, mal definido, vital e nuclear para alguns, poucos, envolto numa paliçada protetora residual, qual bastião caduco de uma qualquer guarda pretoriana, cujo imutável sentido de fidelidade atrofia o acesso aos caminhos da evolução e renovação.

Devo parar! Se mais conjeturar perco-me num caminho trilhado por aquilo que sinto e não pelo que vejo...

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>>>>>>>>>>>>>>• Cera, afastadores metálicos, frasco de vidro com tampa de alumínio, pasta de modelar, gesso, resina e base de madeira.• Busto: 28x14x18cm• Frasco de Vidro: 14x11cm de Ø• Base de Madeira: 20x13cm

>> Comentário do Artista

Mónica Araújo‘SEM TÍTULO’

O presente trabalho parte do conceito de odontofobia. Assenta na ideia de fragmento, e, aludindo ao receio humano de perder um órgão, referencia a teoria do complexo de castração.

As peças complementam-se: à primeira (o busto) foi-lhe retirada a zona de dentição, posteriormente colocada na segunda peça (o frasco).

>> Comentário do Médico Dentista

Cristina Trigo CabralDesde de tempos imemoriais que a arte procura representar a beleza e tudo aquilo que dá mais sentido à nossa vida. Na antiguidade clássica a procura permanente e incessante da beleza repercutia-se em todas as obras dos artistas de então, pintura, escultura, jóias e objetos decorativos.

Esse conceito evoluiu muito, tal como a ciência, a arte surge agora como qualquer coisa que transmite emoções ou sensações, muito para além do arquétipo de beleza. A criatividade não tem limites.

Na face humana tudo tem uma função, mas a sensação que nos pode transmitir não se limita à forma como nos apresentamos aos outros. Um pequeno movimento. Um músculo que se move. Um sorriso que se esboça. Uma sobrancelha que se contrai. Uma lágrima que cai. Um sem número de emoções que se propagam no rosto. Um conjunto que vale indefinidamente mais do que a soma de cada parte.

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>> ‘artiCOLAR saúde oral e arte’

Agradecimentos Desde logo, nos justos agradecimentos que cabem na edição deste livro, destacamos a Bial, empresa portuguesa internacional de referência na defesa da saúde, que dando continuidade ao seu nobre projeto de contribuir para o progresso cultural da sociedade portuguesa, elegeu acarinhar e patrocinar esta publicação.

Dado que este livro é a resultante de uma vivência partilhada entre as Faculdades de Belas Artes (FBAUP) e de Medicina Dentária (FMDUP) da Universidade do Porto, num ensaio para ARTICOLAR arte e ciência, é importante realçar que ele não teria sido uma realidade sem a ampla competência motivadora e organizadora do Mestre Domingos Loureiro e a colaboração da Mestre Sofia Torres, distintos docentes da Faculdade de Belas Artes da U.Porto. Fica um reconhecido muito obrigado.

Porque o profissionalismo aliado à simpatia incentiva, move e realiza, é um dever reconhecer o superior apoio prestado pela Dr.ª Carina Coelho e pelo Dr. José Patrício, ambos distintos colaboradores da Bial, para quem fica a nossa gratidão.

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>> DESIGNICEBERGUE COMUNICAÇÃO

>> IMPRESSÃOICEBERGUE COMUNICAÇÃO

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>>DEPÓSITO LEGAL0000

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AVENIDA DA SIDERURGIA NACIONAL4745-457 SÃO MAMEDE DO CORONADOPORTUGAL

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