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Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas Subsídios para a Promoção da Construção Civil Sustentável

Livro Base - Aspectos Da Construcao Sustentavel No Brasil e Promocao de Politicas Publicas

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Aspectos da Construcao Sustentavel no Brasil e Promocao de Politicas Publicas

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  • Aspectos da Construo

    Sustentvel no Brasil e Promoo

    de Polticas Pblicas

    Subsdios para a Promoo da Construo Civil Sustentvel

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    2

    Equipe tcnica

    GUA

    Prof. Dr. Orestes Marracini Gonalves

    Eng. Paula Del Nero Landi

    Eng. Luciana Bechara Sanchez

    ENERGIA

    Prof. Dr. Roberto Lamberts

    Eng. Edward Borgstein

    MATERIAIS

    Prof. Dr. Vanderley M. John

    Prof. Dr. Bruno Lus Damineli

    PESQUISA ELETRNICA E ENTREVIS-

    TAS

    Arq. Diana Csillag

    APOIO/PARTICIPAO

    Eng. Vanessa C. Heinrichs C. Oliveira

    Arq. rica Ferraz de Campos

    REVISO E DIAGRAMAO

    Capitular Design

    Verso 1

    Novembro 2014

    CBCS - Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel

    Presidente do Conselho Deliberativo: Carlos Eduardo Garrocho de Almeida Diretores: rica Ferraz de Campos e Wilson Saburo Honda

    Ministrio do Meio Ambiente

    Ministra do Estado do Meio Ambiente: Izabella Mnica Vieira Teixeira

    Secretria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental: Regina Gualda Diretor do Departamento de Produo e Consumo Sustentvel: Ariel Ceclio Garces Pares

    PNUMA - Programa das Naes Unidas para o Meio

    Ambiente

    Representante do PNUMA no Brasil:

    Denise Ham Marcos de La Penha Responsvel tcnica:

    Fernanda Alto Daltro

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    3

    Colaborao

    Agradecemos a todos os envolvidos e s entidades pelas contribui-

    es feitas ao estudo "Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e

    Promoo de Polticas Pblicas".

    Adeilton Santos Moura

    Adriana Levisky

    Cristina Montenegro

    Elisete Cunha

    Fabio Feldmann

    Fernando Perrone

    Francisco Ferreira Cardoso

    Gustavo de Oliveira

    Hamilton Leite

    Laura Marcellini

    Luciana Bechara

    Marcelo Takaoka

    Marcos Maran

    Marcos Otavio Prates

    Mario Monzoni

    Monica Porto

    Nilson Sarti

    Paul Houang

    Paulo Itacarambi

    Rivaldo Pinheiro Neto

    Vera Hachich

    Entidades

    ABRAFAC - Associao Brasileira de Facilities

    ABRAMAT - Associao Brasileira da Indstria de Materiais de Construo

    FGV-Ces - Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getlio Vargas

    ANTAC - Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo

    AsBEA - Associao Brasileira dos Escritrios de Arquitetura

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    4

    "Esta publicao resultado de um trabalho desenvolvido pelo CBCS Conselho Brasileiro de

    Construo Sustentvel em parceria com o Ministrio do Meio Ambiente e com o PNUMA Pro-

    grama das Naes Unidas para o Meio Ambiente em interlocuo com entidades representativas

    do setor.

    O documento produto de anos de reflexes nos Comits de gua, Materiais e Energia do CBCS e

    na sua elaborao envolveu contribuies de cerca de 40 pessoas de diferentes entidades, alm de

    381 participantes da pesquisa de opinio e apresenta uma viso integradora e multidisciplinar e

    prope, inicialmente, diretrizes focadas nos temas gua, energia e materiais que, futuramente,

    podero ser ampliadas para outras reas. Neste processo participativo de coleta de dados, infor-

    maes e experincias, a unio de parceiros, acadmicos, representantes de entidades e profissi-

    onais atuantes no mercado foi determinante para o sucesso do projeto.

    O CBCS entende que esta iniciativa fortalece sua misso de disseminar conhecimentos e boas

    prticas para ampliar a sustentabilidade do setor da construo civil, ressalta a importncia da

    estruturao de polticas pblicas e estimula a evoluo de toda a cadeia produtiva. O resultado

    um trabalho que apresenta uma reflexo sobre as condies atuais do setor nas temticas citadas,

    aponta gargalos e desafios e rene referncias e recomendaes que podero agregar a contribui-

    o do setor da construo ao processo de desenvolvimento sustentvel do pas."

    Carlos Eduardo Garrocho de Almeida,

    Presidente do Conselho Deliberativo do

    Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel

    A busca pela sustentabilidade no setor da construo um desafio de grandes propores. Impli-

    ca o mundo todo, mas sobretudo pases como o Brasil, que vive ainda um processo de urbaniza-

    o em marcha, e tem que enfrentar, ao mesmo tempo, o enorme dficit habitacional, uma he-

    rana da desigualdade social do pas. A construo sustentvel , neste contexto, um imperativo

    para assegurar o equilbrio entre proteger o meio ambiente, viabilizar o crescimento econmico

    com incluso social e promover a justia ambiental, onde ela se faz mais urgente, nas cidades,

    que acolhe os menos favorecidos em condies precrias de habitalidade. Neste sentido, a escala

    do desafio ainda maior, quando se torna imprescindvel estender esse esforo ao ambiente cons-

    trudo e urbano para assegurar qualidade de vida em bases sustentveis.

    A publicao o resultado de um esforo multidisciplinar e conjunto, academia, setor pblico e

    privado, para subsidiar o 2 ciclo do Plano de Produo e Consumo Sustentveis PPCS. Tem a

    ambio de mobilizar as partes interessadas num debate para a constituio de uma futura estra-

    tgia nacional de promoo da construo sustentvel que precisa expressar-se de forma mais

    ampla e sistmica nas diversas polticas setoriais que tem no ambiente construdo e urbano seu

    objeto de ateno. portanto uma iniciativa de Meio Ambiente como tarefa de todos. Implica a

    um s tempo, por exemplo, o ar limpo, energia renovvel, gua de qualidade, saneamento ade-

    quado, servios de transporte, moradia decente, um direito de todos.

    Izabella Mnica Vieira Teixeira

    Ministra do Estado do Meio Ambiente O Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PNUMA entende que a mudana nos pa-

    dres de consumo e produo da humanidade urgente e apoia aes que favoream saltos nessa

    direo. Esta publicao apresenta o resultado de uma iniciativa com forte potencial de influncia

    nos padres de produo brasileiros, ao indicar formas de reduzir o alto impacto da construo

    civil uma atividade altamente demandante de matria-prima e geradora de resduos.

    O PNUMA, o Ministrio do Meio Ambiente e o CBCS - Conselho Brasileiro de Construo Sustent-

    vel, oferecem, por meio dos estudos aqui relatados, subsdios para a elaborao de uma poltica

    nacional de construo sustentvel, atendendo s prioridades lanadas pelo Plano de Ao para

    Produo e Consumo Sustentveis do Brasil.

    Denise Ham Marcos de La Penha

    Representante do PNUMA no Brasil

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    5

    Sumrio Executivo

    O estudo "Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Po-

    lticas Pblicas" procura organizar um diagnstico do estado atual da

    construo civil como subsdio para propor um conjunto de orientaes para

    balizar, de forma tcnica e objetiva, polticas pblicas futuras para

    contribuir com o direcionamento de prticas para uma construo mais

    sustentvel. O escopo definido para o trabalho concentra-se em trs

    grandes reas na Construo Civil: gua, Energia e Materiais. A abordagem

    do trabalho engloba linhas prioritrias no ambiente construdo: edificaes e

    sistemas, com foco na demanda. Foram considerados dados de uma

    pesquisa virtual com profissionais do setor para agregar demandas da

    cadeia.

    A primeira etapa do projeto teve como objetivo compreender a atuao dos

    agentes envolvidos no setor da construo civil, suas necessidades e

    dificuldades. Para tanto foi proposta uma pesquisa que consultou os

    profissionais do setor. Conforme definido no escopo do trabalho, buscou-se

    informaes sobre trs reas: eficincia energtica; uso racional e gesto

    de gua; e seleo e destinao de materiais no ambiente construdo. O

    objetivo da consulta aos profissionais foi identificar gargalos e demandas,

    que sirvam de base para propostas de aes.

    A primeira concluso, obtida pelo nmero de respondentes da pesquisa

    vrias vezes maior que o esperado, ressaltou a importncia de haver um

    canal de comunicao para ouvir as demandas e necessidades do setor.

    Analisando os dados da pesquisa ficou claro que existem demandas comuns

    s trs reas estudadas, ou seja, so necessidades do setor. Foram

    apontadas quatro linhas de ao que sero tratadas em detalhe nos

    relatrios especficos: (1) carncias de conhecimento, necessidade de

    campanhas de esclarecimento populao e demanda por maior grau de

    capacitao tcnica dos envolvidos; (2) necessidade de criao de

    ferramentas especficas; (3) necessidade de criao de incentivos e linhas

    de financiamentos; e (4) demanda de legislao e regulamentos especficos.

    A temtica gua tem foco principal na gesto da demanda nos edifcios,

    como instrumento permanente para manuteno de indicadores de

    consumo compatveis com regio, tipos de uso e de usurios, visando o uso

    eficiente da gua.

    Este documento apresenta a condio de vulnerabilidade hdrica de centros

    urbanos brasileiros e indica a necessidade de estabelecimento de medidas

    que garantam o equilbrio entre a oferta e a demanda de gua, com

    qualidade apropriada aos tipos de uso, como condio para que estes

    centros urbanos no se tornem econmica e socialmente inviveis. Sob a

    tica da demanda de gua, trata-se de aes de carter institucional,

    tecnolgico, de qualidade e sustentabilidade e de conscientizao e

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    6

    capacitao profissional que, em conjunto, podem contribuir para a reduo

    dos nveis de consumo atuais.

    De acordo com dados nacionais apresentados neste documento, o consumo

    de gua nos centros urbanos crescente e, se mantida a tendncia dos

    ltimos anos, a capacidade de fornecimento de gua aos centros urbanos

    no ser suficiente para atender as necessidades da populao, da indstria

    e da irrigao, que so os principais consumidores.

    Com foco no abastecimento da populao, estudos e pesquisas realizados

    demonstram que a quantidade de gua fornecida superior quantidade

    necessria para o adequado desempenho das atividades consumidoras. Esta

    condio se apresenta, entre outros, pela operao e manuteno

    inadequada dos sistemas prediais hidrulicos. Parte significativa da gua

    que abastece as edificaes descartada sem ter sido utilizada, atravs de

    perdas ou desperdcio.

    O uso eficiente da gua nas edificaes reduzir significativamente a

    demanda de gua para abastecimento da populao, que necessita de

    esclarecimento e apoio tcnico para alcanar indicadores de consumo

    compatveis com os tipos de uso e para evitar a adoo de solues que

    coloquem em risco a sade pblica.

    Programas institucionais existentes de gesto da demanda de gua, para

    reduo do consumo de gua nos edifcios, devem ser atualizados,

    ampliados e implementados, atravs de articulao entre os setores pblico

    e privado.

    Empresas produtoras de componentes e de servios podem ser estimuladas

    a participar de projetos relacionados ao uso eficiente da gua atravs de

    incentivos fiscais ou tarifrios.

    A implantao de programas de substituio e adequao de equipamentos

    hidrulicos e de modernizao de sistemas hidrulicos prediais para o uso

    eficiente da gua, contribuir para a eliminao de perdas e desperdcio

    provocado por equipamentos antiquados, controle de presso e vazo e

    instalao de sistemas de medio do consumo para viabilizar a gesto da

    demanda.

    O fortalecimento e ampliao dos programas setoriais da qualidade dos

    produtos e servios da Construo Civil, com especial enfoque nos sistemas

    hidrulicos prediais, contribuir para combater a no conformidade s

    normas e legislao e para garantir a qualidade dos produtos e servios

    oferecidos populao.

    Este documento, sem esgotar o assunto, apresenta programas e prticas

    nacionais e internacionais para o uso eficiente da gua, alm de 25

    recomendaes que tm o objetivo de apoiar a definio de polticas

    pblicas que induzam ao uso eficiente da gua nas edificaes dos centros

    urbanos.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    7

    O consumo energtico de edificaes no Brasil apresenta uma tendncia de

    rpido crescimento, devido parcialmente aos aumentos no padro de con-

    forto e servios dentro de edifcios. Os recentes picos de demanda e altas

    taxas de construo de edifcios cada vez maiores e mais complexos

    destacam a urgncia de se aumentar a eficincia energtica neste momen-

    to, pois os sistemas instalados agora consumiro energia durante as prxi-

    mas dcadas. Ao mesmo tempo, a matriz de energia eltrica est cada vez

    mais "suja" com maiores emisses de gs de efeito estufa proveniente da

    gerao. Alm disso, o custo da energia est aumentando; ambas as ten-

    dncias esto sendo intensificadas no curto prazo devido a recente escassez

    de chuva.

    O uso racional de energia considerado internacionalmente como o Primei-

    ro Combustvel, a melhor oportunidade para reduzir custos e impactos de

    gerao de energia e ainda reduzindo a necessidade de novas instalaes

    de transmisso. Com a prioridade e a urgncia dadas ao setor, h diversas

    pesquisas, estudos de caso e polticas exemplares que podem ser avaliados

    para se propor aplicao nacional.

    No Brasil, h uma grande oportunidade apresentada pelo uso racional de

    energia. O papel de polticas pblicas em superar barreiras e implementar

    programas ser essencial. destacada a importncia de ter uma viso es-

    tratgica do setor de maneira holstica, como por exemplo com a criao de

    uma Agncia Nacional da Eficincia Energtica, para priorizar, implementar,

    acompanhar e avaliar programas.

    Com base nos levantamentos nacionais e internacionais, uma lista de 27

    polticas e aes prioritrias para melhorar o uso sustentvel de energia no

    ambiente construdo foi identificada. O atual programa PBE Edifica deve ser

    apoiado e fortalecido, para atingir todo o seu potencial de reduo de con-

    sumo. Tambm deve ser complementado por um programa de avaliao e

    certificao do desempenho energtico operacional de edifcios na fase de

    uso. Alm disso, o Retrofit e reabilitao de edifcios existentes devem ser

    incentivados.

    Capacitao e treinamento de profissionais da rea uma questo chave, e

    deve incluir o fortalecimento de instituies tcnicas e a melhoria de curr-

    culos universitrios.

    A etiquetagem PBE do INMETRO deve ser fortalecida e ampliada para cobrir

    outras reas e tipos de equipamentos. Alm disso, os nveis mnimos devem

    passar por aumentos peridicos. A maior urgncia na rea de ar condicio-

    nado, nesta rea, os nveis mnimos no Brasil esto muito abaixo dos equi-

    valentes internacionais, mesmo quando os comparamos com o de pases

    em desenvolvimento. O poder de compra de grandes programas de habita-

    o social deve ser utilizado para estimular e capacitar a indstria da cons-

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    8

    truo civil, para melhorar padres construtivos, adotar aquecimento solar e

    utilizar microgerao.

    Os diagnsticos e recomendaes apresentados neste relatrio mostram

    potenciais importantes para redues imediatas e futuras no consumo ener-

    gtico, sempre levando em considerao a melhoria contnua dos servios e

    do conforto de pessoas no ambiente construdo.

    A cadeia de materiais de construo civil consome aproximadamente meta-de das matrias primas extradas da natureza. um aglomerado de diver-sas cadeias produtivas, composta de empresas de tamanhos e capacidades

    tcnicas, gerenciais e econmicas muito variveis. Cada setor da cadeia tem uma agenda ambiental e social especfica.

    A informalidade fiscal, de qualidade, ambiental e trabalhista - sempre presente e reduz a eficcia de polticas pblicas. Um exemplo extremo a cadeia produtiva da madeira nativa. Polticas que aumentem o custo do se-

    tor formal podem aumentar o mercado do setor informal. Uma alternativa adotar polticas que criem benefcios econmicos a empresas e solues

    ecoeficientes. Mas o combate informalidade condio para implantar polticas voltadas para a sustentabilidade. O PBQP-H possui metodologia de combate informalidade, que poderia ser ampliada e adequada para incluir

    aspectos ambientais. Um comprometimento do varejo no combate infor-malidade necessrio. Polticas visando regulamentar a divulgao dos da-

    dos de licenciamento ambiental permitiriam aos consumidores auxiliarem no combate a no informalidade ambiental.

    A Anlise de Ciclo de Vida (ACV), a ferramenta mais adequada para a deci-

    so baseada em aspectos ambientais, complexa para um setor onde exis-te grande nmero de pequenas empresas e onde cada projeto um protti-

    po. A normalizao internacional da construo j adota uma ACV de esco-po reduzido. Dados do mercado brasileiro mostram que o fabricante exerce enorme influncia no impacto ambiental dos produtos: na maior parte das

    situaes prticas, a deciso mais importante selecionar o fornecedor. Em consequncia, fundamental a implantao de Declarao Ambiental de

    Produto que seja acessvel tambm a pequenas e mdias empresas.

    A proposta de ACV Modular - encaminhada ao PBACV pela coordenao da rea de Materiais ABRAMAT/FIESP-Deconcic - coerente com a normaliza-

    o internacional, simples o suficiente para engajar pequenas e mdias em-presas a participar da Declarao Ambiental de Produto, e pode ser amplia-

    do para escopo completo, gerando como benefcios extras um benchmark do setor e um inventrio de gases do efeito estufa.

    A reduo do consumo de matrias primas uma prioridade. A promoo da industrializao da construo permitira reduzir as perdas e em conse-quncia, os impactos ambientais da construo em como reduzir a gerao

    de resduos na construo. A sustentabilidade depende da inovao. A cria-o de um programa de fomento eco-inovao tem um potencial significa-

    tivo de retorno ambiental e de ganho de competitividade da indstria.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    9

    ndice

    Equipe tcnica...........................................................................................................2

    Colaborao ............................................................................................................... 3

    Sumrio Executivo ...................................................................................................... 5

    ndice ........................................................................................................................ 9

    Apresentao ........................................................................................................... 12

    1. Motivao ......................................................................................................... 15

    2. Realizao da pesquisa ....................................................................................... 15

    3. Pesquisa quantitativa: consulta aos profissionais do setor ....................................... 16

    4. Perfil dos respondentes ....................................................................................... 17

    5. Anlise dos dados da pesquisa ............................................................................. 17

    Necessidade 1: educao, capacitao e divulgao ....................................................... 18

    Necessidade 2: demanda de ferramentas ..................................................................... 19

    Necessidade 3: demanda por incentivos e financiamentos .............................................. 20

    Necessidade 4: legislao, regulamentao e certificao ............................................... 20

    Destaques das sugestes livres ................................................................................... 21

    6. Comentrios finais da pesquisa ............................................................................ 22

    GUA ...................................................................................................................... 23

    1. Introduo ........................................................................................................ 24

    Vulnerabilidade hdrica em cidades .............................................................................. 24

    2. Diagnstico nacional ........................................................................................... 31

    Saneamento urbano e gesto da gua nas cidades ........................................................ 31

    Gesto da demanda de gua nos edifcios ..................................................................... 35

    Uso racional da gua e conservao de gua................................................................. 37

    Programas institucionais ............................................................................................. 38

    Tecnologia: qualidade, desempenho e inovao ............................................................. 43

    Regulamentao e normalizao .................................................................................. 45

    Educao, conscientizao e capacitao ...................................................................... 45

    3. Experincias internacionais em gesto da demanda ................................................ 46

    4. Recomendaes de aes estruturantes de gesto da demanda de gua nas cidades

    para polticas pblicas de desenvolvimento sustentvel ................................................. 48

    ENERGIA.................................................................................................................. 55

    1. Introduo ........................................................................................................ 56

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    10

    Uso racional de energia .............................................................................................. 56

    Evoluo do setor energtico no Brasil ......................................................................... 58

    Objetivo deste documento .......................................................................................... 60

    2. Diagnstico nacional ........................................................................................... 60

    Energia no ambiente construdo .................................................................................. 60

    Tendncias de projeto e construo ............................................................................. 63

    Operao, manuteno e retrofit de edificaes ............................................................. 65

    Gerao distribuda de energia .................................................................................... 65

    Programas de etiquetagem e certificao ...................................................................... 66

    Financiamento de eficincia energtica ......................................................................... 67

    3. Polticas internacionais para energia em edificaes ................................................ 68

    Introduo ................................................................................................................ 68

    Polticas exemplares .................................................................................................. 71

    4. Indicaes para futuras polticas pblicas no Brasil ................................................. 72

    Questes setoriais e o papel da poltica pblica ............................................................. 72

    Planejamento e gesto ............................................................................................... 74

    Educao: profissionais, projetistas e pblico ................................................................ 77

    Tecnologias............................................................................................................... 78

    Matriz de avaliao de polticas ................................................................................... 85

    MATERIAIS .............................................................................................................. 87

    1. Introduo ........................................................................................................ 88

    2. Diagnstico do setor de materiais de construo .................................................... 90

    A cadeia de materiais e componentes de construo ...................................................... 90

    Informalidade na cadeia produtiva de materiais ............................................................. 92

    Impactos ambientais na fase de produo .................................................................... 95

    A gesto ambiental na fabricao de materiais .............................................................. 97

    Impactos na fase de uso ............................................................................................. 98

    Impactos na fase de ps-uso ...................................................................................... 99

    A especificao de materiais mais sustentveis ........................................................... 102

    3. Experincias internacionais ................................................................................. 105

    A Avaliao do Ciclo de Vida e na construo .............................................................. 105

    Plano de construo sustentvel da Comunidade Europeia (EU) ..................................... 107

    Substncias perigosas regulamentadas ...................................................................... 108

    Planejamento e estimativa da vida til de produtos da construo ................................. 110

    O ps-uso: demolio e desconstruo ....................................................................... 110

    Inovao em materiais e componentes para a sustentabilidade ..................................... 110

    4. Recomendaes para elaborao de polticas pblicas ............................................ 112

    Combate informalidade .......................................................................................... 112

    Implantao de ferramentas do ciclo de vida............................................................... 113

    Minimizaes do consumo de recursos naturais e gesto dos resduos ............................ 114

    Sade humana e materiais de construo ................................................................... 115

    Educao e capacitao profissional ........................................................................... 115

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    11

    Promoo da ecoinovao ......................................................................................... 115

    Matriz de avaliao de polticas sugeridas ................................................................... 116

    REFERNCIAS .......................................................................................................... 119

    Consulta aos profissionais do setor ............................................................................ 120

    Captulo gua ......................................................................................................... 120

    Captulo Energia ...................................................................................................... 123

    Captulo Materiais .................................................................................................... 126

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    12

    Apresentao

    O estudo "Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Po-

    lticas Pblicas"procura organizar um diagnstico do estado atual da

    construo civil como subsdio para propor um conjunto de orientaes para

    futura criao de polticas pblicas voltadas para a construo sustentvel.

    No pretenso deste documento encerrar a anlise, mas dar incio a uma

    discusso complexa e rica. Fruto de um esforo concentrado, envolveu

    amplo grupo de profissionais em sua elaborao e consulta, alm de contar

    com o conhecimento acumulado nos Comits Temticos do Conselho

    Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS), envolvendo associados e no

    associados, empresas, acadmicos, entidades e representantes de rgos

    estatais com a inteno de lanar ideias e abrir debate sobre aes

    estruturantes incentivadas por polticas de Estado para evoluo da

    sustentabilidade na construo civil.

    O CBCS recebeu com entusiasmo a encomenda e o desafio de desenvolver

    em pouco menos de 60 dias uma leitura da sustentabilidade na construo

    brasileira. Alm de uma extensa pesquisa, O CBCS entrega esse material

    com a expectativa de inaugurar no setor um debate sistemtico para

    aprofundamento da matria e incentivo a estudos complementares em

    diversas frentes.

    Muitas iniciativas contribuem para agregar sustentabilidade: aes

    institucionais, inovaes tecnolgicas, planejamento e gesto de recursos,

    sensibilizao da populao e capacitao profissional. Nesse sentido,

    polticas pblicas podem contribuir com o direcionamento de prticas, se

    acordadas e introduzidas nos setores produtivos de forma assertiva.

    Entende-se que no Brasil h grande potencial para a criao de um

    programa estruturado de poltica nacional voltado promoo da

    construo sustentvel. Essa poltica somaria esforos s iniciativas globais

    para um desenvolvimento mais sustentvel.

    Segundo a viso do CBCS, avanar a sustentabilidade no setor da

    construo civil implica em uma srie de aes sistmicas, a serem

    adotadas por todos os agentes constituintes da cadeia da construo, poder

    pblico e sociedade.

    O escopo concentra uma leitura do setor por temas, com proposio de li-

    nhas prioritrias de estudo em trs grandes reas na construo civil: gua,

    energia e materiais, exibindo uma abordagem do ambiente construdo com

    foco em edificaes e sistemas. H uma grande complexidade ao abordar

    cada um dos assuntos, e procurou-se focar em aspectos prioritrios, cujas

    aes podem trazer resultados relevantes e de curto prazo, tendo a cautela

    de no trat-los de forma demasiadamente simplista. Demais temticas no

    abordadas do setor da construo civil devem ser alvo de estudo.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    13

    Como temas e grandes reas passveis de futuros estudos, dentre diversos

    de relevante impacto, podem ser citados diagnstico e recomendaes

    voltadas ao canteiro de obras, s prticas de projeto e s polticas urbanas.

    Entrando especificamente no ltimo tema citado, emerge forte

    reconhecimento por parte da sociedade sobre a importncia de questes

    urbanas, sobretudo aquelas relacionadas mobilidade, custo social,

    segurana, dfice habitacional e consumo de gua e energia. Mensurar o

    valor das melhorias pblicas agregadas ao patrimnio pblico e privado

    pauta estrutural para a sociedade contempornea.

    H visvel oportunidade de reposicionamento estratgico do poder pblico,

    que poder ser o grande responsvel pela oferta de novas polticas pblicas

    capazes de incentivar e educar a sociedade por meio da introduo de

    novas prticas urbanas visando construo de uma inovadora cultura de

    consumo; da produo e manipulao de resduos; das prticas da indstria

    nacional da construo civil; das prticas construtivas e ainda do

    comportamento da sociedade frente ao seu ambiente construdo.

    Assim, enxerga-se a necessidade da continuidade dessa leitura para ampliar

    o escopo e abordar assuntos apenas tangenciados neste trabalho.

    Nesse momento, linhas prioritrias para as temticas gua, Energia e

    Materiais so propostas nessa verso com objetivo de contribuir para o

    futuro da construo civil e o aprimoramento de suas prticas e processos.

    Boa leitura.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    14

    CONSULTA AOS PROFISSIONAIS DO SETOR

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    15

    1. Motivao

    De acordo com a projeo divulgada pelo IBGE no ano de 2013, a

    populao brasileira, no horizonte que se estende at 2050, crescer a um

    ritmo cada vez menor e comear a declinar a partir da dcada de 2040. O

    perfil da populao tambm ser alterado. Em 1990, a idade mdia do bra-

    sileiro era de 25,6 anos e sua expectativa de vida era de 66,3 anos. Apenas

    36,4 % da populao tinha 30 anos ou mais. Em 2030, estima-se que a

    idade mdia do brasileiro subir para 36 anos e teremos 60% da populao

    com mais de 30 anos, e aproximadamente 93,1 milhes de domiclios (Bra-

    sil Sustentvel).

    Os impactos dessa alterao do perfil demogrfico sobre a questo

    econmica so enormes, desafiantes e devem ser considerados. Esses

    dados indicam que:

    1. Haver um aumento da populao mais idosa e,

    consequentemente, um menor crescimento da populao ativa (EPE,

    2014c).

    2. Para compensar a desacelerao do aumento da populao

    ativa, recomendvel investir na melhoria da produtividade (Abramat).

    3. Como haver mais adultos, haver mais possibilidade de

    formao de famlias e maior demanda por moradia, resultando em um

    aumento no nmero de domiclios (EPE, 2014c).

    4. O estudo estima que, em 2030, 91,1% da populao estar

    vivendo em cidades (ERNST & YOUNG; FGV, 2008).

    5. Observa-se uma diminuio do nmero de habitantes por

    domiclio, devido queda da fecundidade e aumento de renda da

    populao, que permite maior nmero de pessoas morando sozinhas.

    Estima-se que em 2050 essa relao chegue a 2,3 habitantes por domiclio

    (EPE, 2014c).

    Esse cenrio permite prever uma maior demanda por construes e pelo

    consumo dos insumos associados ao uso e operao destes

    empreendimentos. Portanto, olhando apenas pelo vis da construo de

    habitaes, o impacto estimado ser grande, a partir do qual se pode

    prever que o impacto nas construes comerciais, servios e demais

    construes urbanas tambm ser considervel.

    Baseado neste cenrio, foi elaborada uma pesquisa para a promoo da

    construo civil sustentvel por meio de uma consulta aos profissionais do

    setor.

    2. Realizao da pesquisa

    O foco da pesquisa o ambiente construdo, ou seja, aes ligadas s

    edificaes e sistemas construtivos centrados na gesto da demanda. O

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    16

    consumo dos insumos de gua, energia e materiais acontece em diferentes

    momentos no ambiente construdo. Os insumos de gua e energia neste

    trabalho so abordados principalmente na fase de projeto e operao e o

    tema material abordado desde sua seleo, no projeto, na fase de obra e

    na destinao final.

    O objetivo desta pesquisa realizar um levantamento com os agentes do

    setor da construo civil para servir de base para um plano de aes que

    promovam a construo sustentvel. Buscam-se informaes sobre

    eficincia energtica, uso racional e gesto de gua e seleo e destinao

    de materiais no ambiente construdo para entender a atuao do setor, suas

    necessidades e identificar gargalos para propor aes.

    Para compreender a atuao dos agentes, foram realizadas duas pesquisas

    com profissionais do setor: uma de carter qualitativo e outra de carter

    quantitativo. Na pesquisa quantitativa, 381 profissionais puderam expressar

    sua opinio sobre o tema por meio de perguntas abertas e fechadas, tendo

    oportunidade de expressar comentrios em todas as perguntas e responder

    uma questo de texto aberto no final. A pesquisa qualitativa consistiu de

    conversas com trs profissionais, um do setor energtico, um do setor de

    materiais e um do setor hdrico. Nessas conversas os profissionais puderam

    expressar seus pontos de vista, conhecimentos e sugestes sobre o assunto

    que foram incorporados nos relatrios tcnicos de cada rea.

    3. Pesquisa quantitativa: consulta aos profissionais

    do setor

    A pesquisa foi realizada por meio de um questionrio eletrnico na

    plataforma do Survey Monkey. Ela foi organizada em cinco blocos: (1) perfil

    do entrevistado; (2) oito perguntas sobre materiais; (3) oito perguntas

    sobre gua; (4) oito perguntas sobre energia; e (5) uma questo aberta.

    O questionrio foi criado para ser aplicado via internet e concebido para no

    levar mais do que 10 minutos para ser respondido. Os trs grandes temas

    gua, Energia e Materiais foram organizados em trs subtemas: as

    primeiras perguntas de cada grupo foram elaboradas para conhecer e

    entender como o respondente abordava questes relativas ao emprego do

    insumo; o segundo subtema, para que o respondente se posicionasse em

    relao a barreiras nessa abordagem; e o terceiro subtema, para que o

    respondente escolhesse recomendaes dentre uma lista sugerida. No final

    dos trs grupos foi colocada uma questo dissertativa para quem quisesse

    propor aes prioritrias para serem implementadas pelo setor pblico em

    qualquer nvel.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    17

    A pesquisa ficou aberta por nove dias, do dia 23 de setembro a 1 outubro

    de 2014, e foi encaminhada para a lista de e-mails do CBCS e entidades

    parceiras, totalizando 381 respondentes.

    A pesquisa buscou informaes nas seguintes fases do ciclo de vida da

    edificao: (1) fabricao, materiais e componentes; (2) canteiro de obras;

    (3) operao e gesto do edifcio; (4) gerao local; e (5) destinao.

    As questes elaboradas so, em sua maioria, de mltipla escolha e

    permitem selecionar mais de uma opo, o que, na anlise, leva a

    resultados maiores de 100%, pois uma mesma pessoa pode selecionar dois

    ou mais itens de resposta.

    A anlise a seguir baseada nos dados coletados, cuja ntegra se encontra

    no Apndice.

    4. Perfil dos respondentes

    A pesquisa teve participao das diferentes regies do Brasil. Dos 381

    respondentes que participaram da pesquisa 55% eram da regio Sudeste,

    19% da regio Sul, 10% da regio Nordeste, 9% da regio Centro-Oeste e

    7% da regio Norte.

    Dentre os participantes, 28,5% atuam na rea de projeto, 26,6% so

    atuantes na rea de pesquisa e academia e 25,9% so consultores. Os

    respondentes atuam principalmente com empreendimentos comerciais

    (37,4%) e com empreendimentos residenciais de mdio padro (29,7%),

    com empreendimentos residenciais alto padro (25,6%) e habitaes de

    interesse social (21,1%).

    Do total de respondentes, 32,9% tem maior familiaridade com a etapa de

    projeto.

    Os dados acima delineiam um perfil dos respondentes da pesquisa, em que

    predominam projetistas ligados a empreendimentos comerciais e a

    habitaes nas diferentes tipologias, concentrados nas regies Sul e Sudes-

    te.

    5. Anlise dos dados da pesquisa

    Analisando os dados da pesquisa, percebe-se que existem demandas e

    necessidades comuns para as trs reas, sendo possvel concluir que se

    trata de necessidades do setor. Essas necessidades esto descritas a seguir

    e sero tratadas com suas especificidades nos relatrios tcnicos de cada

    rea.

    As trs reas apontam para:

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    18

    gua

    Energia

    Materia is

    carncias de conhecimento, necessidade de campanhas de

    esclarecimento populao e demanda por maior grau de capacitao

    tcnica dos envolvidos;

    necessidade de criao de ferramentas especficas;

    necessidade de criao de incentivos e linhas de

    financiamentos;

    demanda de legislao e regulamentos especficos.

    A anlise dos resultados so apresentados a seguir para detalhar os pontos

    relevantes apontados nessas quatro necessidades.

    Necessidade 1: educao, capacitao e divulgao

    A Figura 1 mostra as respostas associadas ao tema de educao,

    capacitao e divulgao, agrupadas por insumo. Analisando o grfico,

    nota-se que, para a rea de energia, a educao vista como uma barreira

    tcnica pela falta de conhecimento dos responsveis de operao e

    manuteno (55%), seguido por desconhecimento do potencial e das

    tecnologias (53%). Para a rea de materiais, a falta de informao e de

    profissionais capacitados a mais citada (66%). Para a rea de gua, o

    mais citado o desconhecimento do potencial e da tecnologia do uso de

    guas alternativas (50%).

    Nos comentrios dos respondentes, ficou clara a demanda por uma reviso

    extensa para os cursos de engenharia e arquitetura. Tambm foi

    mencionada a necessidade de atuao por meio de campanhas para o

    ensino mdio e setores especficos como condomnios, hospitais e hotis.

    Fica claro que em todas as reas pelo menos 50% dos entrevistados acham

    que existe algum tipo de falta de informao. Conclui-se que a

    disseminao de informao no pode ser ignorada em nenhuma iniciativa

    de sustentabilidade.

    FIGURA 1 EDUCAO, CAPACITAO E DIVULGAO

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    19

    gua

    Energia

    Materia is

    Os respondentes, por meio da questo de texto livre, sugerem campanhas

    divulgando casos exemplares de solues sustentveis. Apontam o papel

    importante vindo do poder pblico federal, estadual, municipal e como

    seus edifcios deveriam dar o exemplo. Citam campanhas educacionais e de

    divulgao na mdia. Recomendam tambm a divulgao de dados tcnicos

    de entrada como, por exemplo, dados pluviomtricos.

    Necessidade 2: demanda de ferramentas

    Os dados pertinentes solicitao de ferramentas especficas foram

    agrupados na Figura 2. Neste grfico observa-se que os respondentes, na

    rea de energia, gostariam de ter acesso a mais ferramentas

    computacionais de simulao energtica (28%). Para a rea de materiais,

    os respondentes apontam a necessidade de criar um banco de dados

    pblico de Anlise do Ciclo de Vida (ACV) (38%) com dados de produtos e

    fabricantes nacionais. Os respondentes acreditam que, para a rea hdrica,

    h falta de ferramentas para auxiliar na implantao de fontes alternativas

    de gua (22%).

    Nos textos livres, os respondentes sugerem que se criem bancos de dados

    pblicos de livre acesso, com parmetros ambientais como vida til,

    conforto trmico, consumo energtico, emisso de CO2, dentre outros

    aspectos. Solicitam a criao de uma base brasileira pblica que tenha

    interface com ferramentas de gesto do tipo Building Information Model (BIM).

    Para a utilizao das ferramentas com sucesso pedem ainda a definio de

    mtricas e a criao de benchmarks para avaliao de desempenho on-line

    e de acesso pblico. Existe tambm a demanda de ferramentas de

    simulao da rentabilidade financeira dos projetos.

    FIGURA 2 DEMANDA DE FERRAMENTAS

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    20

    gua

    Energia

    Materia is

    Necessidade 3: demanda por incentivos e financiamentos

    A Figura 3 agrupa as informaes sobre a demanda por incentivos e

    financiamentos por rea. Para a rea de energia, os respondentes

    gostariam de ver incentivos e financiamentos associados ao custo de

    implantao de solues de eficincia energtica (55%). J para rea de

    materiais, a demanda por incentivos e financiamentos para correta

    escolha de materiais (34%) e incentivos para a reciclagem (30%). Nas

    questes associadas ao tema gua, h uma demanda por diferentes linhas

    de incentivos por parte do governo (44%).

    FIGURA 3 - DEMANDA POR INCENTIVOS E FINANCIAMENTOS

    Entende-se que os respondentes acreditam que se houvessem mais

    incentivos e linhas de financiamentos, haveria mais solues nos

    empreendimentos.

    So citados: a necessidade de incentivos para incluso de tecnologias nas

    edificaes, incentivos para investimento em pesquisa, para capacitao

    profissional, para reforma/retrofit de edificao existente, alm de

    incentivos tributrios, linhas de financiamentos especficas e incentivos para

    startups na rea.

    Necessidade 4: legislao, regulamentao e certificao

    A Figura 4 rene as respostas associadas ao tema de legislao,

    regulamentao e certificao. A pesquisa apontou que, para a rea de

    energia, 51% dos respondentes acreditam que precisa ser criada uma

    regulamentao de desempenho mnimo para novas edificaes. Dentre os

    respondentes, 49% acreditam que a etiqueta energtica deveria ser

    obrigatria. Em relao aos materiais, 29% dos respondentes gostariam de

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    21

    gua

    Energia

    Materia is

    legislao para incentivar a manuteno e para garantir o desempenho das

    edificaes a longo prazo. Em relao s aes ligadas gua, 47% dos

    respondentes gostariam de ver regulamentao do desempenho mnimo

    permitido para as novas edificaes.

    Nos comentrios, percebe-se demanda por regulamentao para

    estabelecer requisitos tcnicos mnimos de desempenho para todas as

    tipologias, demanda para a adequao dos Planos Diretores e Cdigos de

    Obras com conceitos de sustentabilidade e a necessidade da aproximao

    da academia (tcnicos) aos legisladores. Os respondentes apontam a

    necessidade de polticas integradas, ou seja, a necessidade de integrao

    das diferentes esferas federal, estadual e municipal, assim como a

    integrao das diferentes reas: gua x energia, materiais x energia. Os

    respondentes gostariam de ver a obrigatoriedade de nveis de desempenhos

    mnimos, como a obrigatoriedade do Programa Procel.

    FIGURA 4 LEGISLAO, REGULAMENTAO E CERTIFICAO

    Cabe mencionar que nas entrevistas qualitativas foi sugerido um modelo de

    etapas para aprovao de legislao e regulamentaes. A primeira etapa

    para criao de uma legislao seria propor uma metodologia com mtricas

    e ferramentas definidas oferecendo assim o instrumento para sua aplicao.

    A segunda etapa seria a validao do proposto pelo setor por meio de um

    projeto piloto ou de um programa de adeso voluntria. A terceira etapa

    seria a parceria com o setor, permitindo assim a criao de acordos

    setoriais para o sucesso da legislao. Finalmente, a quarta etapa tornaria

    obrigatria a proposta no formato de lei.

    Destaques das sugestes livres

    Nos comentrios dos respondentes na pesquisa quantitativa, foi sugerido

    que o pagamento dos contratos de empreendimentos deve ser vinculado

    aos indicadores de desempenho e que esses devem estar estabelecidos em

    licitao. Tambm foi sugerido que todos os contratos de licitao para

    projetos e obras pblicas deveriam exigir um mnimo de medidas

    mensurveis sustentveis, tanto na fase da construo, como depois de

    pronto.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    22

    Foi apontado diversas vezes nos comentrios livres que o formato de

    licitao convencional aplicado atualmente dificulta o aceite de produtos

    industrializados e inovadores, pois apenas leva em considerao tecnologias

    tradicionais e d preferncia pelo menor custo da obra, no levando em

    considerao os custos ao longo do ciclo de vida.

    No texto livre e nas entrevistas qualitativas foi levantado um desafio: como

    abordar o segmento da autoconstruo. sabido que esse segmento tem

    um alto consumo de materiais e uma baixa qualificao da mo de obra.

    Seria preciso encontrar caminhos para capacitar e oferecer informaes a

    esse pblico.

    Foi levantada tambm a necessidade de regulamentar e fiscalizar com mais

    rigor a porcentagem de reas permeveis dos projetos, garantindo assim a

    infiltrao de guas nos lenis freticos.

    6. Comentrios finais da pesquisa

    O presente estudo no teve a inteno de realizar uma amostra balanceada

    da populao de agentes do setor da construo sustentvel. Tal estudo

    necessitaria de um censo de profissionais de um setor bastante dinmico e

    de tcnicas bem mais sofisticadas de coleta de dados e de processamento.

    No entanto, dentro do escopo de coleta de informaes para a promoo da

    construo sustentvel, um questionrio voluntrio se mostrou uma tcnica

    bastante eficaz. A pesquisa quantitativa foi considerada um sucesso, com

    grau de participao muito maior que o esperado. Essa alta participao

    mostra o desejo do setor de ter um canal para expressar as suas

    preocupaes e o seu desejo de ver polticas que tenham impacto na

    difuso das prticas de sustentabilidade no setor.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    23

    GUA

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    24

    1. Introduo

    Vulnerabilidade hdrica em cidades

    Em 1992, a Organizao das Naes Unidas (ONU) lanou o documento

    Declarao Universal dos Direitos da gua (IFRAH, 1992), que declara,

    entre outros, que: A gua no deve ser desperdiada, nem poluda, nem

    envenenada. De maneira geral, sua utilizao deve ser feita com conscin-

    cia e discernimento para que no se chegue a uma situao de esgotamen-

    to ou de deteriorao da qualidade das reservas atualmente disponveis.

    Desenvolvia-se a conscincia de que a gua no um recurso inesgotvel.

    Considerando as 10 maiores economias do mundo segundo o Banco Mundial

    (THE WORLD BANK, 2013), o Brasil detm a maior disponibilidade hdrica

    per capita, sendo 4,5 vezes maior do que a dos Estados Unidos e 21,5 ve-

    zes a da China. A Tabela 1 mostra a disponibilidade hdrica de gua doce

    renovvel per capita nos pases de maior Produto Interno Bruto em 2013,

    segundo o Comit de gua da ONU (UN-WATER).

    Tabela 1 DISPONIBILIDADE HDRICA DE GUA DOCE RENOVVEL NOS PASES DE MAIOR PRODUTO INTERNO BRUTO EM 2013

    Pas

    Disponibilidade Hdrica

    de gua doce

    renovvel per capita

    (m3/hab.ano)

    Estados Unidos 9.666

    China 2.017

    Japo 3.379

    Alemanha 1.860

    Frana 3.300

    Reino Unido 2.332

    Brasil 43.528

    Rssia 31.487

    Itlia 3.142

    ndia 1.545

    FONTE: UN-WATER

    O aparente conforto na oferta de gua no traduz a real distribuio do re-

    curso no territrio nacional. Segundo a Agncia Nacional das guas (ANA,

    2013), do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), a Regio Hidrogrfica Ama-

    znica detm 80,8% da disponibilidade hdrica superficial e 61,9% da reser-

    va potencial explorvel de guas subterrneas.

    A ANA (2013) fez um balano entre disponibilidade hdrica e demanda de

    gua. Considerando o ndice de retirada de gua, Water Exploitation Index

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    25

    (WEI)1, foi determinada a situao das principais bacias brasileiras, mapea-

    da na Figura 5.

    FIGURA 5 BALANO ENTRE DISPONIBILIDADE HDRICA E DEMANDA DE GUA

    FONTE: ANA (2013)

    A disponibilidade hdrica brasileira proveniente tanto de guas superficiais

    como de guas subterrneas. Segundo a ANA (2013), a comparao do vo-

    lume armazenado de gua per capita possibilita identificar o grau de vulne-

    rabilidade hdrica para atender aos usos da gua. Segundo a ANA (2013),

    O Brasil possui 3.607m3 de volume mximo armazenado em reservatrios

    artificiais por habitante.

    Ainda segundo a ANA (2013), entende-se por uso do recurso hdrico qual-

    quer atividade humana que, de qualquer modo, altere as condies naturais

    das guas superficiais ou subterrneas. Assim, esto englobados tanto

    usos que devolvem toda a gua utilizada para o curso dgua (gerao de

    energia, navegao, pesca, turismo), chamado uso no consuntivo, como os

    usos em que parte da gua no retorna ao curso dgua (uso urbano, indus-

    trial, irrigao, dessedentao animal), chamado uso consuntivo.

    1 O ndice de explotao de gua (WEI), ou a razo de retirada de gua, em um pas, definido como a

    captao total mdia anual de gua doce dividida pelos recursos de gua doce mdios de longo prazo. Ele indica como a captao total de gua coloca presso sobre os recursos hdricos. Assim, identifica os pases que tm alta abstrao em relao aos seus recursos e, portanto, esto propensos a sofrer problemas de escassez de gua. Os recursos de gua doce mdios de longo prazo so derivados da precipitao mdia de longo prazo menos a evapotranspirao mdia de longo prazo, mais a entrada mdia de longo prazo de pases vizinhos (LALLANA; MARCUELLO).

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    26

    A Figura 6 apresenta o mapa das regies hidrogrficas brasileiras e a Tabela

    2 apresenta a disponibilidade hdrica de guas superficiais e guas subter-

    rneas, capacidade de armazenamento e o tipo de uso predominante por

    regio hidrogrfica em 2010.

    FIGURA 6 REGIES HIDROGRFICAS BRASILEIRAS

    FONTE: ANA; MMA (2007)

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    27

    TABELA 2 DISPONIBILIDADE HDRICA DE GUAS SUPERFICIAIS E SUB-TERRNEAS, CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO E TIPO DE USO PREDO-

    MINANTE POR REGIO HIDROGRFICA EM 2010

    Superficial

    (m3/s)

    Reserva

    Potencial

    Explotvel*

    (m3/s)

    Amaznica 73.748 7.078 2.181Apresenta baixas vazes

    de retirada

    Atlntico Leste 305 85 945

    Predomnio dos usos de

    irrigao (40% a 50% de

    demanda total)

    Atlntico Nordeste

    Ocidental320 183 ----

    Apresenta baixas vazes

    de retirada

    Atlntico Nordeste

    Oriental91 86 1.080

    Predomnio dos usos de

    irrigao (mais de 60%

    de demanda total)

    Atlntico Sudeste 1.145 146 372 Predomnio de Uso Urbano

    Atlntico Sul 647 212 11.304

    Predomnio dos usos de

    irrigao (mais de 60%

    de demanda total)

    Paraguai 782 617 3.449Apresenta baixas vazes

    de retirada

    Paran 5.956 1437 4.047

    Predomnio dos usos de

    irrigao (40% a 50% de

    demanda total)

    Parnaba 379 227 1.795Apresenta baixas vazes

    de retirada

    So Francisco 1.886 355 5.183

    Predomnio (mais de 60%

    de demanda total) dos

    usos de irrigao

    Tocantins-Araguaia 5.447 604 13.508

    Predomnio dos usos de

    irrigao (mais de 60%

    de demanda total)

    Uruguai 565 400 3.388

    Predomnio dos usos de

    irrigao (mais de 60%

    de demanda total)

    Total 91.271 11.430 3.607

    Disponibilidade Hdrica

    Predominncia de UsoRegio Hidrogrfica

    Capacidade de

    armazenamento

    per capita

    (m3/habitante)

    *parcela da precipitao pluviomtrica mdia anual que infiltra e efetivamente chega aos aquferos livres e que pode ser explorada de forma sustentvel.

    FONTE: ANA (2013)

    O atendimento das necessidades de demanda de gua exige a avaliao da

    qualidade do insumo disponvel. Considerando o indicador de qualidade co-

    mo a capacidade de assimilao dos corpos dgua, a ANA (2013) analisou

    as condies de criticidade quantitativa (disponibilidade hdrica) e qualitati-

    va (condies dos efluentes) das bacias brasileiras, apresentadas na Figura

    7.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    28

    FIGURA 7 CONDIES DAS BACIAS BRASILEIRAS SEGUNDO CRITICIDA-DE QUALI-QUANTITATIVA

    FONTE: ANA (2013)

    Fica evidente que as bacias onde se localizam as regies metropolitanas

    apresentam criticidade quali-quantitativa como resultado da grande deman-

    da de gua somada quantidade de carga orgnica domstica lanada nos

    corpos dgua.

    A Macrometrpole Paulista, um dos espaos realados na Figura 3 como de

    criticidade quali-quantitativa, tem rea aproximada de 52 mil quilmetros

    quadrados e abriga mais de 30,8 milhes de habitantes(DAEE, 2013)2. Nes-

    sa regio esto inseridas, total ou parcialmente, reas de oito Unidades de

    Gerenciamento de Recursos Hdricos (UGRHI). Na Figura 8 apresentada a

    hidrografia da Macrometrpole Paulista.

    2 Secretaria de Saneamento e Recursos Hdricos (2013).

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    29

    FIGURA 8 HIDROGRAFIA PRINCIPAL DA MACROMETRPOLE

    PAULISTA

    FONTE: DAEE (2013)

    Conforme o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hdricos para a

    Macrometrpole Paulista, publicado em outubro de 2013 (DAEE, 2013), a

    demanda de gua total de 222,96 m3/s, distribudos em seus diversos

    usos, com predominncia de aproximadamente 50% para abastecimento

    (como possvel observar na Figura 9, que mostra tambm os outros usos

    da gua na regio).

    FIGURA 9 CONSUMO DE GUA POR TIPO DE USO NO ANO DE 2008

    FONTE: DAEE (2013)

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    30

    O Plano Diretor apresenta uma projeo populacional para a regio, com

    expectativa de crescimento de 20% da populao at 2035, comparada com

    a registrada em 2008. A Tabela 3 apresenta o resultado das projees po-

    pulacionais para 2018, 2025 e 2035.

    TABELA 3 PROJEES DE POPULAO POR UNIDADE DE GEREN-CIAMENTO DE RECURSOS HDRICOS

    URGH 2008 2018 2025 2035

    Paraba do Sul 1.948.520 2.176.529 2.298.477 2.405.612

    Litoral Norte 242.331 282.644 306.005 330.282

    Piracicaba/Capivari/Jun

    dia5.022.874 5.673.617 5.984.388 6.217.851

    Alto Tiet 19.533.758 21.310.657 22.206.211 22.938.472

    Baixada Santista 1.664.929 1.857.493 1.960.432 2.048.752

    Mogi Guau 535.798 594.596 621.814 641.581

    Tiet/Sorocaba 1.828.429 2.109.243 2.253.517 2.375.576

    Ribeira do Iguape e

    Litoral Sul45.617 53.308 58.271 63.557

    Total 30.822.256 34.058.087 35.689.115 37.021.683

    FONTE: DAEE (2013)

    Esse aumento populacional acarretar, inevitavelmente, sensvel aumento

    da demanda de gua que, ao seguir a curva tendencial, necessitaria de

    mais 60m3/s.

    A partir desse quadro, o grfico da Figura 10 apresenta a curva de projeo

    da demanda considerando os cenrios: demanda tendencial, demanda com

    intensificao do crescimento brasileiro3 e demanda com aes de gesto e

    controle operacional.

    3 Como explicado no Plano Diretor, para o Cenrio com Intensificao do Crescimento

    Brasileiro foi considerado um crescimento baseado na projeo do PIB do Estado de So Paulo e o incremento esperado em funo dos projetos de infraestrutura em planejamento para o Estado e o crescimento mais acentuado do pas. [...] a projeo do crescimento reflete os potenciais impactos que as proposies de empreendimentos em infraestrutura e energia, em discusso, no Brasil e no Estado de So Paulo, poderiam ter sobre as demandas de recursos hdricos (DAEE, 2013).

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    31

    FIGURA 10 CURVA DE PROJEO DA DEMANDA TOTAL NOS CENRIOS: TENDENCIAL, COM AES DE GESTO E CONTROLE OPERA-CIONAL DAS

    DEMANDAS E COM INTENSIFICAO DO CRESCIMENTO BRASILEIRO

    FONTE: DAEE (2013)

    O Plano Diretor considera que sero necessrias aes de gesto de de-

    manda que possibilitem a reduo de 32 m3/s da demanda projetada para

    2035. As aes previstas so: (a) a reduo do ndice de perdas nas redes

    pblicas; (b) a gesto da demanda em edifcios programas de uso racional

    da gua e mudanas comportamentais; (c) mudanas tecnolgicas e gesto

    do uso da gua na irrigao; e (d) tecnologia de produo mais limpa e re-

    gulamentao da cobrana pelo uso da gua nas indstrias.

    Observando-se o cenrio apresentado, fica claro que a gesto da demanda

    de gua em edifcios, em especial nos centros urbanos em regies com vul-

    nerabilidade hdrica, uma questo emergencial no Brasil, independente de

    eventual falta de chuva em determinada poca ou regio, como ocorreu no

    ltimo vero em So Paulo. Garantir que a quantidade de gua disponvel

    possa ser distribuda para todos no mais uma preocupao para o futuro.

    A gua certamente um fator que tem importncia na resilincia das cida-

    des, tanto por seu excesso, como por sua falta, segundo Porto (2014).

    2. Diagnstico nacional

    Saneamento urbano e gesto da gua nas cidades

    A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), que integra o Mi-

    nistrio das Cidades, publica anualmente o Diagnstico dos Servios de

    gua, Esgoto e Resduos, por meio do Sistema Nacional de Informaes so-

    bre Saneamento (SNIS). O SNIS foi concebido e desenvolvido pelo Progra-

    ma de Modernizao do Setor de Saneamento (PMSS), vinculado Secreta-

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    32

    ria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministrio das Cidades. Sua base

    de dados rene informaes fornecidas voluntariamente pelos prestadores

    de servios de abastecimento de gua e de coleta e tratamento de esgotos

    (e tambm de resduos slidos) estaduais, regionais e municipais. Os dados

    so coletados, analisados e publicados desde 1995.

    Para o Diagnstico de 2012, publicado em 2014, foram levantados dados de

    5.070 municpios (91% da totalidade de municpios do pas) que somam

    uma populao de mais de 160 milhes de habitantes (98% da populao

    urbana).

    O SNIS (2014) apresenta o ndice total de atendimento de abastecimento

    de gua atravs de rede de 82,7% e de coleta de esgoto de 48,3%. Esses

    ndices so mais elevados nas regies urbanas, respectivamente, 93,2% e

    56,1%. Na Tabela 4 so apresentados os nveis de atendimento de gua e

    esgoto segundo as regies geogrficas.

    TABELA 4 NVEIS DE ATENDIMENTO COM GUA E ESGOTO SEGUNDO REGIO GEOGRFICA E BRASIL

    Esgotos

    Gerados

    Esgotos

    Coletados

    Total Urbano Total Urbano Total Total

    Norte 55,2 68,6 9,2 11,9 14,4 85,1

    Nordeste 72,4 89,5 22,2 29,4 31 81,2

    Centro-

    Oeste88 96,5 42,7 47,1 44,2 90

    Sudeste 91,8 97 75,4 80,3 42,7 63,6

    Sul 87,2 97,2 36,6 42,7 36,2 79,7

    Brasil 82,7 93,2 48,3 56,1 38,7 69,4

    Regio

    ndice de atendimento com

    rede (%)

    ndice de tratamento

    dos esgotos (%)

    gua Esgoto

    FONTE: BRASIL (2014)

    Ainda segundo o SNIS (2014), o consumo mdio per capita de gua4 no

    Brasil foi de 167,5 L/hab.dia. Essa mdia varia de acordo com o estado ou

    regio estudados, como se pode observar na Tabela 5 (que apresenta o

    consumo mdio per capita por regio) e no grfico da Figura 11 (que mos-

    tra o consumo mdio per capita por estado).

    4 O consumo mdio per capita de gua definido, no SNIS, como o volume de gua consumido, excludo o volume de gua exportado, dividido pela populao

    atendida com abastecimento de gua (BRASIL, 2014).

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    33

    TABELA 5 VALORES DE CONSUMO MDIO PER CAPITA DE GUA POR RE-GIO GEOGRFICA

    Regio

    Consumo

    mdio por

    capita

    (l/hab.dia)

    Norte 155,8

    Nordeste 131,2

    Centro-Oeste 156,5

    Sudeste 194,8

    Sul 149,3

    FONTE: BRASIL (2014)

    FIGURA 11 CONSUMO MDIO PER CAPITA NA MDIA DOS ANOS DE 2010, 2011 E 2012

    FONTE: BRASIL (2014)

    O grfico da Figura 11 indica que, na maioria dos estados brasileiros, o con-

    sumo tem apresentado tendncia de crescimento (consumo mdio do ano

    de 2012 superior mdia dos anos de 2010, 2011 e 2012).

    Os dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informaes sobre Sanea-

    mento confirmam que, para os grandes centros urbanos, tanto os ndices de

    atendimento de gua e esgoto aumentam, como tambm aumenta a de-

    manda per capita.

    A Gesto da Demanda da gua (GDA) nas cidades engloba o controle de

    perdas nas redes de abastecimento de gua, a utilizao de fontes alterna-

    tivas de gua e a gesto da demanda de gua nos edifcios.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    34

    Com relao s perdas nas redes de abastecimento, segundo o SNIS

    (2014), o Brasil apresenta elevados ndices de perda de gua na distribui-

    o (IN0495). A Tabela 6 apresenta o IN049 por regio geogrfica brasileira.

    TABELA 6 NDICE DE PERDAS NA DISTRIBUIO POR REGIO

    GEOGRFICA E BRASIL

    Regio IN049 (%)

    Norte 49,3

    Nordeste 44,6

    Centro-Oeste 32,4

    Sudeste 33,5

    Sul 36,4

    Brasil 36,9

    FONTE: BRASIL (2014)

    O controle de perdas de gua nas redes de distribuio objeto do Plano

    Nacional de Saneamento (PLANSAB), da Secretaria Nacional de Saneamento

    Ambiental, integrante do Ministrio das Cidades.

    O segundo aspecto da gesto da demanda de gua nas cidades, a utilizao

    de fontes alternativas de gua, considera a utilizao de gua no proveni-

    ente do sistema pblico de abastecimento de gua potvel.

    Segundo o Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS, 2009), as

    fontes alternativas de gua mais utilizadas em sistemas prediais so o

    aproveitamento das guas pluviais, a utilizao de efluente tratado (gua

    de reso) e os poos artesianos. Nesses casos, o edifcio pode ser conside-

    rado produtor de gua e os gestores do sistema hidrulico tornam-se res-

    ponsveis pela qualidade e pela forma de utilizao dessa gua.

    A gua de reso definida pelo CBCS (MARQUES; OLIVEIRA, 2013) como a

    gua no potvel obtida por tratamento de gua residuria, sendo esta, por

    sua vez, definida como efluente gerado aps o uso da gua em edificaes

    residenciais, comerciais e industriais. O reso pode ser indireto, caracteri-

    zado quando as guas residurias so descartadas nos corpos dgua

    (guas superficiais ou subterrneas) e utilizadas novamente jusante, ou

    direto, quando ocorre a utilizao planejada e imediata, aps o efluente re-

    ceber tratamento adequado ao tipo de utilizao que ser feita.

    O Centro Internacional de Referncia em Reso de gua (CIRRA)6 descreve

    diferentes tipos de reso, entre eles, o reso urbano.

    5 O indicador IN049 compara o volume de gua disponibilizado para distribuio e o volume consumido, sinalizando, assim, o ndice de perdas.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    35

    O potencial de reso bastante amplo e diversificado. A utilizao de eflu-

    ente tratado exige controle de qualidade da gua e devem-se levar em con-

    ta os custos de implantao e operao. De maneira geral, esse sistema s

    se viabiliza para usos no potveis e deve ser cuidadosamente planejado e

    operado (HESPANHOL, 2008).

    Segundo Hespanhol (2010), algumas empresas de saneamento esto atu-

    almente se preparando para fornecer a chamada gua de reso ou gua

    de utilidade para atender a usos de gua no potvel na rea urbana. Um

    exemplo o projeto Aquapolo, que produz gua de reso destinada ao polo

    Petroqumico do ABC paulista. O Aquapolo uma Estao Produtora de

    gua Industrial (EPAI) com capacidade de vazo de gua de reso de 1m3/s

    (PROJETO AQUAPOLO, 2010).

    O terceiro aspecto da gesto da demanda de gua nas cidades, a gesto da

    demanda de gua nos edifcios, o tema principal deste documento.

    Gesto da demanda de gua nos edifcios

    A gesto da gua pode ser adotada, segundo Silva (1999), em trs nveis

    de abordagem: o macro, associado s aes na escala dos grandes siste-

    mas ambientais e bacias hidrogrficas; o meso, com aes nos sistemas de

    saneamento, envolvendo os servios de saneamento e esgotamento sanit-

    rio; e o micro, relacionado s aes que se concentram sobre as edificaes

    e seus sistemas prediais hidrossanitrios.

    Durante muitos anos, os esforos se concentraram na gesto da oferta de

    gua (nveis macro e meso), por meio de captao em locais cada vez mais

    distantes e do aumento da extenso das redes de abastecimento. Segundo

    Silva, Tamaki e Gonalves (2006), esgotada boa parte das possibilidades

    desse modelo e tornando-se ele cada vez mais custoso, tendo em vista

    tambm a questo do esgoto gerado, promoveu-se uma mudana de para-

    digma: da exclusiva gesto da oferta para a gesto tambm da demanda

    (nvel micro), mais coerente com os preceitos do desenvolvimento susten-

    tvel.

    De acordo com Silva (2004), a gesto da demanda de gua pode ser enten-

    dida como o acompanhamento permanente do volume de gua consumido,

    com organizao e avaliao de dados e informaes que determinam pa-

    rmetros de controle (consumos mensais, per capita, perfis de vazo, etc.)

    que retroalimentam o sistema e permitem o planejamento de aes para

    manter os indicadores de consumo em nveis adequados, seja na forma de

    eliminao das perdas fsicas, seja na utilizao de novas tecnologias, seja

    na reviso de um processo que utiliza gua.

    6 Disponvel em: .

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    36

    Um sistema de gesto da demanda de gua em edifcios composto pelo

    conjunto de aes preventivas (de rotina) e corretivas (quando necessrio)

    que, sob a responsabilidade do gestor, garantem a manuteno dos indica-

    dores de consumo de gua.

    A setorizao do consumo de gua figura como importante ao de gesto

    da demanda e, em edifcios, feita a partir da instalao de hidrmetros

    localizados em pontos estratgicos do sistema hidrulico, que viabilizam a

    medio de volumes parciais consumidos. O conhecimento desses volumes

    parciais permite: (a) estabelecer procedimentos de monitoramento do con-

    sumo; (b) constatar e localizar mais facilmente os aumentos de consumo;

    (c) planejar aes preventivas e/ou corretivas no sistema hidrulico para

    manuteno dos nveis de consumo; (d) tarifar o consumo especfico de de-

    terminado setor (o restaurante de uma escola, por exemplo).

    Quando a setorizao do consumo de gua coincide com as economias,

    tem-se a medio individualizada de gua. Em apartamentos residenciais ou

    conjuntos comerciais, por exemplo, a medio individualizada permite que o

    usurio seja cobrado pela gua efetivamente consumida em sua unidade,

    acrescida do rateio da gua consumida nas reas comuns.

    A adoo dessas ferramentas, apesar de dificuldades tcnicas,

    administrativas e econmico-financeiras que possam existir, principalmente

    para edifcios existentes, de acordo com Silva, Tamaki e Gonalves (2006),

    recompensada por benefcios como: (a) obteno mais confivel, em

    tempo real, de um maior nmero de dados; (b) possibilidade de

    levantamento de informaes como perfil dirio de consumo e vazes

    mnimas; (c) deteco mais rpida e precisa de anomalias, entre as quais

    vazamentos (explicitadas, por exemplo, por vazes mnimas noturnas

    elevadas); e (d) maior correspondncia entre o consumo e o sistema

    consumidor (possibilidade de cobrana da gua consumida por terceiros,

    tais como restaurantes, etc.).

    A gesto da demanda de gua nos edifcios deve incluir, entre outros, o es-

    tabelecimento de procedimentos e responsabilidades na ocorrncia de ele-

    vao dos indicadores de consumo de gua. Conforme Silva, Tamaki e Gon-

    alves (2006) formas de aviso e correo eficientes de vazamentos, proce-

    dimentos de operao e manuteno dos sistemas prediais (incluindo a ma-

    nuteno e/ou substituio de equipamentos sanitrios) e a indicao de

    necessidades de reforma em redes hidrulicas so exemplos de aes de

    um sistema de gesto da demanda de gua que ajudam na manuteno dos

    indicadores de consumo.

    Sistemas estruturados de gesto da demanda de gua garantem a pereni-

    dade das aes para reduo do consumo.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    37

    Uso racional da gua e conservao de gua

    Os conceitos de uso racional e conservao de gua devem ser bem defini-

    dos na formulao de programas de gesto da demanda de gua em edif-

    cios.

    O uso racional da gua, ou uso eficiente da gua, entendido como o con-

    junto de aes que otimizam a operao do sistema predial de forma a re-

    duzir a quantidade de gua necessria para a realizao das atividades con-

    sumidoras, mantendo-se os nveis de desempenho dos servios enfoque

    na demanda de gua.

    A conservao de gua definida como o conjunto de aes que, alm de

    otimizar a operao do sistema predial de modo a reduzir a quantidade de

    gua consumida, promovem a oferta de gua produzida no prprio edifcio,

    proveniente de fontes alternativas gua potvel fornecida pelo sistema

    pblico enfoque na demanda e na oferta interna de gua.

    Segundo Hespanhol (1997) apud May (2008), a utilizao de gua de fontes

    alternativas gua potvel das concessionrias para atendimento a deman-

    das menos restritivas contribui para a reduo do consumo de gua potvel

    e permite que as guas de melhor qualidade sejam dirigidas aos usos mais

    nobres.

    Entre as possibilidades de utilizao de gua de fontes alternativas gua

    potvel das concessionrias esto o aproveitamento de guas pluviais, os

    poos artesianos e o reso de guas cinzas.

    Segundo May (2004), no aproveitamento de gua de chuva para consumo

    no potvel so necessrios alguns cuidados referentes instalao e

    manuteno do sistema para impedir a contaminao da gua potvel.

    Amostras de gua de chuva coletadas entre novembro de 2003 e maro de

    2004 na Cidade Universitria da Universidade de So Paulo foram submeti-

    das a anlises fsicas, qumicas e bacteriolgicas que evidenciaram a no

    potabilidade das amostras, inclusive com a presena de bactrias e colifor-

    mes fecais provavelmente provenientes de fezes de animais das superfcies

    das quais a gua foi coletada (telhado). A gua de chuva ao atravessar a

    atmosfera absorve as partculas ali existentes. As caractersticas de impu-

    reza da chuva esto relacionadas com a regio de coleta, assim, as condi-

    es para utilizao devem ser analisadas em cada caso. A gua de chuva

    no pode ser misturada gua potvel, sendo necessria a separao do

    sistema de reserva e de distribuio da gua (MAY, 2004).

    Solues alternativas gua potvel das concessionrias requerem a aten-

    o do poder pblico, em especial em edifcios residenciais, cujos gestores

    (administradoras de condomnios, sndicos e zeladores), em sua maioria,

    no so capacitados tecnicamente. Determinadas tipologias de edifcios (in-

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    38

    dustriais, shopping centers, centros comerciais e at mesmo alguns grandes

    hospitais), apresentam melhor condio para utilizao segura de gua no

    potvel, em funo da existncia de equipes de manuteno qualificadas.

    A utilizao de gua no potvel em edifcios requer regulamentao que

    estabelea procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigi-

    lncia da qualidade, e operao e manuteno dos sistemas hidrulicos

    para minimizar os riscos de contaminao da populao.

    No uso racional da gua, a gesto enfoca a reduo da quantidade de gua,

    monitorando a variao dos indicadores de consumo e agindo no sistema

    predial para que esses indicadores se mantenham em nveis adequados

    gesto da demanda com foco na quantidade de gua.

    Na conservao de gua, alm da gesto se preocupar com a quantidade de

    gua consumida, deve, obrigatoriamente, monitorar permanentemente a

    variao dos parmetros de qualidade da gua fornecida por fontes alterna-

    tivas e impedir a possibilidade de contaminao do sistema potvel do edif-

    cio gesto da oferta com foco na quantidade e na qualidade da gua.

    As aes e recomendaes deste documento voltam-se principalmente para

    programas de uso racional da gua ou uso eficiente da gua em edifcios,

    com objetivo de reduzir significativa e permanentemente os indicadores de

    consumo de gua pela populao das cidades, no se descartando, porm,

    situaes especficas nas quais algumas modalidades de aproveitamento de

    guas no provenientes do sistema pblico de abastecimento de gua pot-

    vel sejam aplicveis.

    Uma vez adotadas aes que promovam o uso racional e a conservao da

    gua nas edificaes, essas podem se refletir na reduo da demanda ne-

    cessria ao abastecimento e, consequentemente, aumentar o alcance tem-

    poral do sistema de suprimento.

    Oliveira (1999) classificou as aes para o uso eficiente da gua em edifica-

    es sob trs aspectos: social (campanhas educativas e sensibilizao das

    pessoas); econmico (incentivos financeiros como a reduo de tarifas e

    subsdios para a aquisio de sistemas e componentes economizadores de

    gua, ou por meio de desincentivo financeiro para inibir o desperdcio, com

    o acrscimo da tarifa de gua em funo das faixas de consumo); tecnol-

    gico (utilizao de sistemas e componentes economizadores de gua, de-

    teco e correo de vazamentos).

    Programas institucionais

    Programas bem sucedidos de uso eficiente da gua devem ser estruturados

    e requerem, como base, programas institucionais que propiciem a criao

    de um ambiente de interao entre os agentes pblicos rgos governa-

    mentais, agncias reguladoras, empresas concessionrias de servios, etc.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    39

    e os agentes privados entidades setoriais de produtores e de revende-

    dores de materiais e componentes, construtores, projetistas, gestores de

    facilities, entidades de consumidores, universidades e entidades de pesqui-

    sa, etc. Alm disso, devem ser caracterizados por aes de carter tecnol-

    gico, econmico e social.

    O Brasil j caminhou nesse sentido, com a estruturao e implantao de

    programas bem sucedidos e que podem ser revistos, atualizados e retoma-

    dos.

    Em 1994, estudos que deram origem srie Modernizao do Setor Sane-

    amento (MPO/IPEA, 1994 a 1998, 15 volumes) indicaram a necessidade de

    se incorporar, no mbito federal, a coordenao de polticas e programas

    voltados conservao e ao uso racional da gua.

    Em 1997, foi institudo o Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de

    gua (PNCDA), conforme estrutura apresentada por Silva, Cojeno e Gonal-

    ves (1999), articulado com o envolvimento de ministrios, de entidades re-

    presentativas no mbito setorial do saneamento e, tambm, entidades que

    tradicionalmente participam do processo decisrio. O programa tinha por

    objetivo geral promover o uso racional da gua de abastecimento pblico

    nas cidades brasileiras, em benefcio da sade pblica, do saneamento am-

    biental e da eficincia dos servios, propiciando a melhor produtividade dos

    ativos existentes e a postergao de parte dos investimentos para a amplia-

    o dos sistemas. Tinha por objetivos especficos definir e implementar

    um conjunto de aes e instrumentos tecnolgicos, normativos, econmicos

    e institucionais, concorrentes para uma efetiva economia dos volumes de

    gua demandados para consumo nas reas urbanas, o que se daria por

    meio das seguintes diretrizes: (I) promover a produo de informaes

    tcnicas confiveis para o conhecimento da oferta, da demanda e da efici-

    ncia no uso da gua de abastecimento urbano; (II) apoiar o planejamento

    de aes integradas de conservao e uso racional da gua em sistemas

    municipais, metropolitanos e regionais de abastecimento, incluindo compo-

    nentes de gesto de demanda (residencial e no residencial), de melhoria

    operacional no abastecimento e de uso racional da gua nos sistemas pre-

    diais; (III) apoiar os servios de saneamento bsico no manejo de cadastros

    tcnicos e operacionais com vistas reduo nos volumes de gua no fa-

    turadas; (IV) apoiar os servios de saneamento bsico na melhoria operaci-

    onal voltada reduo de perdas fsicas e no fsicas, notadamente em ma-

    cromedio, micromedio, controle de presso na rede e reduo de con-

    sumos operacionais na produo e distribuio de gua; (V) promover o

    desenvolvimento tecnolgico de componentes e equipamentos de baixo

    consumo de gua para uso predial, inclusive normalizao tcnica, cdigos

    de prtica e capacitao laboratorial; e (VI) apoiar os programas de gesto

    da qualidade aplicados a produtos e processos que envolvam conservao e

    uso racional da gua nos sistemas pblicos e prediais.

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    40

    No mbito do PNCDA foram realizados estudos especializados e organizao

    de documentos que norteariam atividades nas reas de (a) planejamento,

    gesto e articulao institucional das aes de conservao e uso racional

    da gua; (b) conservao da gua nos sistemas pblicos de abastecimento;

    e (c) conservao e uso racional da gua nos sistemas prediais. Tais docu-

    mentos seriam elaborados de forma abrangente, numa viso ampla de

    combate ao desperdcio de gua, buscando-se a eficincia em todas as fa-

    ses de seu ciclo de utilizao, desde a captao at o consumo final.

    O Programa de Uso Racional da gua (PURA) (GONALVES e OLIVEIRA,

    1997) foi criado em 1995, por meio de um convnio de cooperao tcnica

    entre a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (EPUSP), a Compa-

    nhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo (Sabesp) e o Instituto

    de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), com o apoio dos fabricantes de louas e

    metais. O objetivo da PURA era evitar o desperdcio de gua por meio de:

    (1) aes tecnolgicas para adequao de equipamentos e combate s

    perdas; (2) aes de conscientizao e sensibilizao, com mudana de h-

    bitos dos usurios; e (3) aes de gesto, com permanente monitoramento

    dos sistemas hidrulicos para possibilitar a rpida correo de elevaes de

    consumo (OLIVEIRA, 1999). Enquanto polticas de racionamento, aciona-

    das em situaes emergenciais, diminuem o consumo por meio da imposi-

    o de cotas, o PURA foi estruturado para utilizao permanente da quanti-

    dade mnima necessria de gua, sem comprometimento das atividades

    consumidoras. Trata-se, portanto, de ao de carter duradouro, em con-

    traste ao racionamento, que por comprometer as atividades de consumo,

    implica em carter temporrio (OLIVEIRA, 1999). O PURA apresenta como

    caracterstica importante a gesto permanente da demanda, para garantir a

    manuteno do menor consumo possvel ao longo do tempo. A implementa-

    o de aes para otimizao sem a adoo de um sistema de gesto per-

    mite que os indicadores de consumo retornem aos nveis iniciais ou maio-

    res.

    O PURA foi estruturado em seis macroprogramas, cujos desenvolvimentos

    ocorrem simultaneamente:

    Macroprograma 1 Banco de Dados de Tecnologias, Documentao Tcnica

    e Estudos de Casos;

    Macroprograma 2 Laboratrio Institucional do Programa de Uso Racional

    da gua (LIPURA);

    Macroprograma 3 Programa de Avaliao e Adequao de Tecnologias

    (PAAT);

    Macroprograma 4 Caracterizao da Demanda e Impacto das Aes de

    Economia no Setor Habitacional;

  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    41

    Macroprograma 5 Documentao Relacionada a Leis, Regulamentos e

    Programas Setoriais da Qualidade;

    Macroprograma 6 Programas Especficos de Economia de gua em Dife-

    rentes Tipos de Edifcios.

    Foram realizados, em So Paulo, estudos de caso em diferentes tipologias

    de edifcios, que contriburam para aferir a metodologia desenvolvida e ini-

    ciar a aquisio de dados para estabelecimento de indicadores de consumo

    compatveis com as atividades consumidoras, considerando o uso eficiente

    da gua.

    Aps determinao e aferio da metodologia de implantao, a Sabesp

    firmou diversas parcerias e o programa foi implantado em maior escala:

    PURA-Escolas, PURA-Hospitais, PURA-Presdios. De todas as implantaes

    feitas, destaca-se o PURA-USP que, em funo do sistema de gesto adota-

    do, consegue manter o resultado das aes de reduo de perdas e desper-

    dcio de gua na Cidade Universitria da USP, em So Paulo, desde 1998.

    O PURA-USP um exemplo de programa permanente e efetivo de gesto de

    demanda de gua, que apresenta resultados expressivos: foi iniciado em

    1997, no mbito do Macroprograma 6 do PURA, por meio de convnio fir-

    mado entre a USP e a Sabesp, com os objetivos principais de (a) reduzir o

    consumo de gua e mant-lo reduzido ao longo do tempo; (b) manter um

    sistema estruturado de gesto da demanda de gua; e (c) desenvolver me-

    todologias aplicveis a outros locais. O programa foi implantado em cinco

    fases: (1) diagnstico (conhecimento da situao, verificao das condies

    dos pontos de consumo e do sistema hidrulico, levantamento de dados);

    (2) reduo de perdas fsicas (deteco e eliminao de vazamentos nas

    redes externas e em reservatrios); (3) reduo de consumo nos pontos de

    utilizao (deteco e eliminao de perdas nos pontos de utilizao com

    regulagens e substituio de comandos hidrulicos, pesquisa e eliminao

    de vazamentos nas tubulaes internas, substituio de equipamentos con-

    vencionais por equipamentos economizadores adequados a cada tipo de

    uso); (4) caracterizao de hbitos e racionalizao de atividades que con-

    somem gua (adoo de procedimentos mais eficientes para reduo de

    desperdcio sem perda de qualidade); (5) divulgao, campanhas de consci-

    entizao e treinamentos. As etapas 4