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LIVRO DE FILOSOFIA 3º ANO PROFESSOR: LEONARDO CARRIJO FERREIRA 2010

LIVRO DE FILOSOFIA - Blog Educacional Ressurreição · O CONHECIMENTO: A FILOSOFIA GREGA 1. MITO E LOGOS Introdução: Etimologicamente a palavra filosofia é composta por duas outras:

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LIVRO DE

FILOSOFIA

3º ANO

PROFESSOR: LEONARDO CARRIJO FERREIRA

2010

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REVISÃO: O CONHECIMENTO: FILOSOFIA GREGA 1. Mito e Logos. 2. Os Pré-socráticos.

Parmênides: imobilidade do ser Heráclito: o eterno fluxo

3. Platão:

Sócrates: ironia e aporia. Teoria das idéias: o mito da caverna.

4. Aristóteles:

Metafísica:

o As categorias: substância e acidente. o Teoria das quatro causas.

Noções de lógica:

o Proposição: verdade e falsidade. o Os termos do silogismo: a validade.

O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E FÉ CRISTÃ 1. A patrística:

Agostinho: a doutrina da iluminação.

2. A escolástica:

O problema dos universais: o A posição realista. o A posição nominalista.

3. Tomás de Aquino:

Os princípios do conhecimento. As provas da existência de Deus.

O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO 1. Descartes:

As regras do método. A dúvida e o cogito.

As idéias inatas. 2. Hume:

Impressões e idéias Princípios de associação: semelhança, contigüidade, causa e efeito Hábito e conhecimento

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE FILOSOFIA O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO (Continuação) 3. Kant:

A revolução copernicana.

Intuição (pura e empírica) e conceito (puro e empírico). A priori e a posteriori. Fenômeno e coisa em si. Transcendental e transcendente.

Juízos analíticos e juízos sintéticos. A AÇÃO: POLÍTICA 1. O Estado como direito e força: a autonomia da esfera política

Maquiavel:

O uso da força e da astúcia, por parte do Príncipe, para a conquista e a manutenção do poder. Relações entre fortuna e virtù· Relações entre a virtù do Príncipe e as virtudes cristãs.

Hobbes, Locke e Rousseau:

Estado de natureza e direitos naturais. Contrato Social, sociedade civil e Estado. Constituição do Poder Soberano e limites da soberania.

2. O Estado como processo histórico:

Hegel:

Dialética e idealismo· Estado moderno e liberdade.

Marx:

Dialética e materialismo histórico. Modo de produção capitalista: forças produtivas e relações sociais de produção. (Infra) estrutura e superestrutura. A concepção do Estado.

A AÇÃO: ÉTICA

1. Aristóteles:

Teoria do meio termo e prudência. 2. Kant:

Ação por dever, conforme ao dever e por inclinação Autonomia e Esclarecimento

3. Nietzsche

A transvaloração dos valores. O apolíneo e o dionisíaco. A moral do senhor versus a moral do escravo. Além do bem e do mal. Vontade de potência.

4. Sartre

Existência e essência. Liberdade, escolha, angústia e má-fé. Responsabilidade e engajamento político-social.

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O CONHECIMENTO: A FILOSOFIA GREGA 1. MITO E LOGOS

Introdução:

Etimologicamente a palavra filosofia é composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim, filosofia indica um

estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. A filosofia representa a busca amorosa da verdade. Pitágoras, filósofo e matemático do século V a.C., teria usado a palavra filosofia pela primeira vez.

Portanto, quando se pensa em filosofia estamos nos referindo a um saber inacabado, uma reaprendizagem constante da visão de mundo, a uma reflexão crítica do conhecimento. O filósofo é aquele que observa, contempla, avalia e julga o valor

das coisas, das ações e da vida. Senso comum e filosofia:

Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. É um conhecimento ingênuo, fragmentário, assistemático, incoerente e conservador. Só

quando transformamos este senso comum em bom senso, podemos nos aproximar da filosofia. Ao “filosofar” espontâneo do homem comum, costumamos chamar filosofia de vida. Por exemplo: quando um jovem está sempre praticando esportes, com alimentação regrada, evitando o uso de fumo e álcool, justificando que este é o segredo para se viver uma vida duradoura, feliz e saudável.

A filosofia propriamente dita só é possível quando o pensar é posto em causa,

tornando-se objeto de reflexão. Esta reflexão só é realmente filosófica quando possui três características básicas:

Radical: A filosofia busca explicitar os

conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir, ou seja, ela investiga as “raízes” ou princípios que orientam as várias formas de saber.

Rigorosa: O filósofo deve dispor de um método claramente explicitado a fim de proceder com rigor, garantindo a

coerência e o exercício da crítica. Deve usar uma linguagem rigorosa e sempre justificar com argumentos as suas afirmações.

De conjunto: Enquanto as ciências são particulares, a filosofia é globalizante, porque examina os problemas sobre a perspectiva de conjunto, relacionando os

diversos aspectos entre si. Neste sentido, além de considerarmos que o objeto da filosofia é tudo (porque nada escapa a seu interesse), completamos que a filosofia visa ao todo, à totalidade.

Ciência e filosofia: Quando a ciência iniciou estava ligada à filosofia, sendo o filósofo responsável pela reflexão em todos os

setores da indagação humana. Nesse sentido, os filósofos Tales e Pitágoras eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e astronomia. Na ordem do saber estipulada por Platão, o homem começa a conhecer pela forma imperfeita da opinião (doxa), depois passa ao grau mais avançado da ciência (episteme), para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico. A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a

autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco a pouco, desse período até o século XX, aparecem as chamadas ciências particulares - física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia etc.-, delimitando um campo específico de pesquisa. Na verdade, o que estava ocorrendo era o nascimento da ciência, como a entendemos modernamente. Com a fragmentação do saber, cada ciência se

ocupa de um objeto específico: à física cabe investigar o movimento dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações substanciais, e assim por diante. Além da delimitação do objeto da ciência, se acrescenta o aperfeiçoamento do método científico, fundado, sobretudo na experimentação e matematização. O confronto dos resultados e a sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade.

As afirmações da ciência são chamadas juízos de realidade, já que de uma forma ou de outra pretendem mostrar como os fenômenos ocorrem, quais as suas relações e, consequentemente, como prevê-los. A primeira questão que nos assalta é imaginar o que resta à filosofia, se, ao longo do tempo, foi “esvaziada” do seu conteúdo pelo aparecimento das ciências particulares, tornadas independentes. Ainda mais que, no século XX, até as questões referentes ao homem passam a reivindicar o estatuto de

cientificidade, representado pela procura do método das ciências humanas. Ora, a filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências.

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Apenas que as ciências se especializaram e observam “recortes” do real, enquanto a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade. A

visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está inserido. Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso a filosofia tem uma função de interdisciplinaridade,

estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir. O trabalho da filosofia sob esse aspecto é importante e, sem negar o papel do especialista nem o valor da técnica que deriva desse saber, é preciso reconhecer que o saber especializado, sem a devida visão de conjunto, leva à exaltação do “discurso competente” e às conseqüentes formas de dominação. A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto:

em todos os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Então, por exemplo, se a física ou a química se denominam ciências e usam determinado método, não é da alçada do próprio físico ou do químico saber o que é ciência, o que distingue esse conhecimento de outros, o que é método, qual a sua validade, e assim por diante. Eles até podem dedicar-se a

esses assuntos, mas, quando o fazem, passam a se colocar questões filosóficas. O mesmo acontece com o psicólogo ao usar, por exemplo, o conceito de homem livre. Indagar sobre o que é a liberdade é fazer filosofia. Mudando o enfoque: e se a questão for o comércio, ou a fábrica? A partir da análise das relações sociais resultantes da divisão do trabalho, podemos questionar sobre o conceito subjacente de homem que se encontra nas relações estabelecidas

socialmente. Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem, repetindo sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é, mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela. Filosofar é dar sentido à experiência. O nascimento da Filosofia

Durante o século VIII a.C.

predominava o pensamento mítico através dos poemas de Homero (Ilíada e Odisséia) e

Hesíodo (Teogonia). Enquanto os poemas de Homero relatavam feitos heróicos, Hesíodo tentava aplicar a origem do mundo através do surgimento dos deuses, apelando para os

mitos, ou seja, uma explicação através da fantasia e da ilusão. Este período é conhecido como Mitológico ou cosmogônico.

Os poemas homéricos resultam de um longo, mas progressivo desenvolvimento da poesia oral, em que trabalharam muitas gerações. Usando significantes dos fins do século IX e meados do século VIII a.C., épocas em que foram, ao que parece, “compostas”, na Ásia Menor Grega, respectivamente a Ilíada e a Odisséia, o poeta nos transmite significados do século

XIII ao século VIII a.C. O mérito extraordinário de Homero foi saber genialmente reunir esse acervo imenso em dois insuperáveis poemas que, até hoje, se constituem no arquétipo (modelo primitivo, idéias inatas) da épica ocidental.

Hesíodo é um poeta dos fins do século VIII a.C., nascido na povoação de Ascra, junto ao monte Hélicon. Cronologicamente, a primeira produção do poeta-camponês denominou-se Teogonia. Teogonia, de théos, deus, e gígnestheai,

nascer, significa nascimento ou origem dos deuses. Trata-se, portanto, de um poema de cunho didático, em que se procura estabelecer a genealogia dos Imortais. Hesíodo, todavia, vai além e, antes da teogonia, coloca os fundamentos da cosmologia, quer dizer, as origens do mundo.

Do século VIII ao século VI a.C., grandes novidades vão causar grandes transformações nas visões que o homem

tinha de si mesmo e do mundo. Estas novidades foram:

Aparecimento da moeda: a moeda que

tinha sido inventada na Lídia, aparece na Grécia por volta do século VII a.C. que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes,

revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização. Ou seja, a moeda torna-se necessária porque, com o comércio, os produtos que antes eram feitos, sobretudo com valor de uso passam a ter valor de troca, isto é, transformam-se em mercadoria. Daí a exigência de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias. A invenção da moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao

nascimento do pensamento racional. Isso porque passa a ser emitida e garantida pela Cidade, revertendo benefícios para a própria comunidade.

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Além desse efeito político de democratização, a moeda sobrepõe aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: muito mais

do que um metal precioso que se troca por qualquer mercadoria, a moeda é um artifício racional, uma convenção humana, uma noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes;

A invenção da escrita alfabética: na Grécia surge por influência dos fenícios e já no século VIII a.C. se acha suficientemente desligada de preocupação esotéricas e religiosas. Enquanto os rituais religiosos são cheios

de fórmulas mágicas, termos fixos e inquestionados, os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm o poder e passam a ser divulgados em praça pública, sujeitos a discussão e à crítica. Apenas um parêntese esclarecedor: isso não significa que a escrita tenha se tornado acessível a todos. Muito ao contrário, permanece ainda grande o número de analfabetos. O que está em questão, no entanto, é a dessacralização da escrita, ou seja, seu

desligamento da religião. A escrita gera uma nova idade mental porque exige de quem escreve uma postura diferente daquela de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e consequentemente o mundo, para além de quem a proferiu, necessita de mais rigor e clareza, o que estimula o espírito crítico. Portanto a escrita aparece como possibilidade maior de abstração e de generalização, uma vez que a escrita

alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve. Uma maior reflexão da palavra que tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento;

A lei escrita: Drácon (séc. VII a.C.), Sólon e Clístenes (séc. VI a.C.) são os primeiros legisladores que marcaram uma nova era: a justiça, até então

dependente da arbitrariedade dos reis ou da interpretação da vontade divina, é codificada numa legislação escrita. Regra comum a todos, norma racional, sujeita à discussão e modificação, a lei escrita passa a encarnar uma dimensão propriamente humana. As reformas provocadas pela legislação de Clístenes fundam a polis sobre uma base nova: a antiga organização tribal é abolida e estabelecem-se novas relações, não

mais baseadas na consangüinidade, mas determinadas por nova organização administrativa. Tais modificações expressam o ideal igualitário que

prepara a democracia nascente, pois a unificação do corpo social abole a hierarquia fundada no poder aristocrático das famílias;

Da cidadania: o nascimento da polis (por volta dos séculos VIII a.C. e VII a.C.) é um acontecimento decisivo que “marca um começo, uma verdadeira invenção”, que provocou grandes alterações na vida social e nas relações entre os homens.

A originalidade da cidade grega é que ela está centralizada na ágora (praça pública), espaço onde se debatem os problemas de interesse comum. A polis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos,

palavra dada pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação. O saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de discussão. Agora, com a polis, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como diálogo,

discussão de deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa.

Separam-se na polis o domínio público e privado: isto significa que ao ideal de valor de sangue, restrito a grupos privilegiados em função do nascimento ou fortuna, se sobrepõe à justa distribuição dos direitos dos cidadãos enquanto representantes dos interesses

da cidade. Está sendo elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tem direito ao poder. A nova noção de justiça assume caráter político, e não apenas moral, ou seja, ela não diz respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da tradição familiar, mas se refere a sua atuação na comunidade. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas;

o surgimento da vida urbana: com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as

linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos,

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favorecendo um ambiente onde a filosofia poderia surgir.

Da democracia: o apogeu da democracia ateniense se dá no século V a.C. Atenas

possuía meio milhão de habitantes, dos quais 300 mil eram escravos e 50 mil estrangeiros, excluídas mulheres e crianças, restavam apenas 10% considerados cidadãos propriamente ditos, capacitados para decidir por todos.

Por isso quando falamos em democracia ateniense, é bom lembrar que a maior parte da população se achava excluída do processo político. Aliás, quanto mais se desenvolvia a idéia de cidadão ideal, com a consolidação da

democracia, mais a escravidão surgia como contraponto indispensável, na medida em que ao escravo eram reservadas as tarefas consideradas “menores” dos trabalhos manuais e da luta pela sobrevivência. Mas não resta dúvida de que, na fase aristocrática anterior, havia ainda outros tipos de privilégios. O que enfatizamos no processo é a mutação do ideal político e o surgimento de uma nova concepção de poder;

As viagens marítimas: que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencadeamento ou a desmistificação do mundo, que passou,

assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;

A invenção do calendário: que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível;

As transformações decorrentes

destas novidades levaram à necessidade de um pensamento que não apelasse para as fantasmagorias e imaginações.

A atividade filosófica, enquanto abordagem racional e toda a forma de pensamento do ocidente, surge no contexto cultural grego, se expressando inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à religião. É o período dos chamados filósofos pré-socráticos, de cujas obras nos restam apenas alguns fragmentos.

Dentre esses filósofos, alguns vão explicar o mundo apelando para um arqué, ou seja, o elemento constitutivo básico do qual a totalidade do universo seria

constituída. Note-se que a preocupação é que haja um princípio ordenador, que dê ordem ao universo. O declínio do pensamento mítico e

começo de um saber de tipo racional data-se, então no século VI a.C. na Mileto jônica. E Tales, Anaximandro, Anaxímenes inauguram um novo modo de reflexão concernente à natureza que tomam por objeto de uma investigação sistemática. 2. OS PRÉ-SOCRÁTICOS Os primeiros pensadores que tentaram encontrar esta explicação racional foram os filósofos pré-socráticos, no século

VI a.C. Estes filósofos preocuparam em encontrar a origem de todas as coisas e o elemento constitutivo de tudo o que existia. Eis a apresentação sintetizada destes filósofos e suas idéias: A escola Jônica Situadas na região da Jônia, alguns filósofos procuraram concentrar o seu estudo na Physis (natureza). Preocuparam com uma substância básica que existisse em todos os

seres e que fosse a origem de tudo. Tales de Mileto: filósofo e matemático encontrou na água esta substância básica. Tales afirmava: “Tudo é água”, “a terra está sobre a água” e “Tudo está cheio de deuses”. Anaxímenes de Mileto: dizia que esta substância era o ar. Anaximandro de Mileto: afirmava que “Tudo

é Apeiron” (infinito, indeterminado). Heráclito de Éfeso: despreocupado com esta substância básica afirma que “Tudo é vir-a-ser” ou “Tudo flui”, ou seja, o mundo é algo dinâmico, representa tensão e harmonia. Para Heráclito, existia prazer porque existia dor, alegria devido à tristeza, etc. Ele se tornou o estreante da dialética. A escola Eleática

A escola Eleática se preocupou em encontrar um princípio racional como ponto de referência para qualquer tipo de conhecimento. Seus principais filósofos foram: Parmênides, Xenófanes e Zenão. Parmênides de Eléia: foi o grande pensador desta escola, tendo os outros dois como seguidores de suas idéias. O princípio racional de Parmênides era: “O ser é. O não-ser não é.” Dentro deste princípio Parmênides afirmará que o ser é UNO

(indivisível) e IMÓVEL (o movimento é ilusório). Ele pode ser considerado o estreante da metafísica.

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Zenão de Eléia: discípulo de Parmênides, elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de

movimento era inviável e contraditória. Xenófanes: foi o fundador da escola eleática. A escola Itálica Pitágoras de Samos: foi o grande filósofo desta escola. Ele afirmava que tudo poderia ser atribuído pela matemática. Todas as coisas poderiam ser quantificáveis, ou seja, o número era a realidade primeira. Para Pitágoras o mundo nada mais era do que a passagem da unidade para a multiplicidade.

O famoso teorema de Pitágoras na matemática, que afirma que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa, surgiu há dois mil e quinhentos anos atrás através dos estudos deste grande filósofo e matemático. A escola Atomista Nesta escola, destacaram-se Leucipo e Demócrito. Este último foi o mais importante.

Leucipo de Mileto: a phýsis ou o Ser é o átomo, o não cortável, isto é o indivisível. Demócrito de Abdera: afirmava que todas as coisas eram compostas por átomos. Estes átomos eram partículas indivisíveis e de várias formas diferentes. Conforme a junção entre determinadas formas estruturavam-se as diversas matérias e substâncias.

Outros grandes filósofos Empédocles de Agrigento: assim como os filósofos da Jônia, preocupou-se com uma substância básica. Enquanto os outros jônicos encontraram esta única substância, Empédocles encontrou quatro elementos básicos: terra, ar, água e fogo. Ele acreditava que tudo que existia partia da junção destes elementos. Anaxágoras de Clazomenas: afirmava que as

transformações que se dão na Phisys devem ser pensadas em termos de composição e decomposição, unidade e multiciplidade.

A filosofia pré-socrática se caracteriza pela preocupação com a natureza do mundo exterior. O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses,

identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico,

mas significa princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, dando origem a fundamentações conceituais (e,

portanto abstratas) muito diferentes entre si. Vamos destacar dois dentre os pré-socráticos: Heráclito e Parmênides. Relembramos também que o tempo destruiu grande parte da obra dos primeiros filósofos, deles nos restando apenas fragmentos e os comentários sobre seus textos feitos pelos filósofos do período clássico.

Parmênides: a imobilidade do ser

O ser é imóvel

Parmênides (540 – 470 a.C.) viveu em Eléia, cidade do sul da Magna Grécia (atual Itália) e é o principal expoente da chamada escola eleática. Elaborou importantíssima teoria filosófica na medida em que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. Ocupou-se longamente em criticar a filosofia heraclitiana: ao “tudo flui” (panta rei) de Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser. Para Parmênides é absurdo e

impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. À contradição opõe o princípio segundo o qual “o ser é” e o “não-ser não é”. Mais tarde, os lógicos chamarão a isto princípio de identidade, base de toda construção metafísica posterior. Por raciocínios que não cabe examinar neste pequeno espaço, Parmênides conclui, a partir do princípio estabelecido, que o ser é único, imutável, infinito e imóvel.

Não há, entretanto, como negar a existência do movimento no mundo que percebemos, onde as coisas nascem e morrem, mudam de lugar e se expõem em infinita multiplicidade. Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-contradição. Uma das conseqüências dessa teoria é a identidade entre o ser e o pensar. Ou

seja, as coisas que existem fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o que eu não conseguir pensar não pode ser na realidade.

Heráclito: o eterno fluxo

Tudo flui Heráclito (544 - 484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia (atual Turquia). Tal como seus contemporâneos pré-socráticos, busca

compreender a multiplicidade do real. Mas, ao contrário deles, não rejeita as contradições e quer apreender a realidade na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas

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mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois

na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou. Portanto não há ser estático, e o dinamismo pode bem ser representado pela metáfora do fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir, “o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga”. Para Heráclito o ser é o múltiplo. Não no sentido apenas de que existe a multiplicidade das coisas, mas de que o ser é múltiplo por estar constituído de oposições

internas. O que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois “a guerra é pai de todos, rei de todos”. E é da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. Pode-se dizer que Heráclito teve a intuição da lógica dialética a ser elaborada por Hegel e depois Marx, no século XIX. 3. PLATÃO:

Introdução Platão foi discípulo de Sócrates. Seu nome era Arístocles, e recebeu o pseudônimo de Platão por ter ombros largos. Ele foi responsável por ter escrito todas as idéias de Sócrates, pois este não deixou uma linha sequer. Sua obra apresenta-se em diálogos, característica da dialética. Ele fundou sua própria escola de filosofia chamada Academia, onde se ensinava

matemática e ginástica além da própria filosofia. Os Sofistas No século V a.C. surgiram vários mestres ambulantes que passavam de cidade em cidade, e de casa em casa, ensinando aos jovens as suas sabedorias e cobrando pelos seus ensinamentos. Ensinavam a areté (a virtude, ou a

habilidade). Preocupavam-se com o imediato da vida política e do poder. Portanto, ensinavam a Paidéia, o que significava a preparação do jovem para o ideal do homem belo e bom, sendo esta a principal virtude. A grande mudança de pensamento causada pelos sofistas foi o deslocamento do foco de estudo da razão: enquanto os pré-socráticos se concentravam na natureza para se chegar à compreensão racional do mundo, os sofistas vão se concentrar no homem. Protágoras, um dos mais eminentes sofistas,

dizia: “O homem é a medida de todas as coisas”. Os sofistas afirmavam que o homem era o responsável pela criação dos valores.

Outros grandes sofistas foram: Crítias, Górgias, Hippias.

Sócrates: ironia e aporia.

Sócrates (470-399 a.C.) foi o grande filósofo por excelência. Ele viveu em Atenas no século V a.C. Era um homem feio, gordo, mas, quando falava, era dono de um estranho fascínio. Permanecia sempre em praça pública, discutindo com os jovens. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. Colocava interlocutor em tal situação que não havia saída senão reconhecer a própria

ignorância. Suas máximas eram: “Conhece-te a ti mesmo” e “Só sei que nada sei.” Com estas frases, Sócrates demonstrava: primeiro, o ponto de partida para se chegar ao conhecimento era o próprio homem; e segundo, que só a partir do reconhecimento de sua própria ignorância é que se pode alcançar a sabedoria. Sócrates, através do diálogo, questionava os jovens e seus conhecimentos aprendidos com os sofistas. Diferentemente dos sofistas, Sócrates mantém a separação

entre opinião e verdade, entre aparência e realidade, entre percepção sensorial e pensamento. Por isso, sua busca visa a alcançar algo muito precioso: passar da multiplicidade de opiniões contrárias, da multiplicidade de aparências opostas, da multiplicidade de percepções divergentes à unidade do conceito ou da idéia (que é a definição universal e necessária da coisa procurada). Ele não se preocupava em transmitir conhecimentos verdadeiros e

acabados, e sim indagar os jovens de tal forma que eles mesmos chegassem ao conhecimento. Esta era a chamada maiêutica socrática, “a arte de dar a luz aos espíritos”. Sócrates foi um grande crítico e usava da ironia para questionar aqueles que se achavam sábios. Com sua crítica aos ensinamentos dos sofistas, os quais não admitiam questionamentos, Sócrates foi considerado um subversivo em sua época. Sendo assim, o grande filósofo de Atenas acabou sendo condenado à morte, obrigado

a tomar cicuta. Cabe a Sócrates o mérito de ter

colocado em questão a importância da definição de conceitos para se organizar o saber. Ele não escreveu nada; coube a seus seguidores, principalmente Platão, seu mais importante discípulo, todos os relatos a respeito de seus diálogos e idéias. A Maiêutica Libertos do orgulho e da pretensão

de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de questões

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habilmente colocadas. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias

idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz. Um corruptor da juventude? Sócrates não dava importância à posição socioeconômica de seus discípulos.

Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas, de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento. Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a

ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas, sem fazer distinções de classe ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome).

Diante de seus juizes, Sócrates assumiu uma postura viril, altaneira, imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência. Se alguém lhe perguntasse “Não te envergonhas, Sócrates, de ter dedicado a vida a uma atividade pela qual te condenam a morte?”, ele responderia: Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pesando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral

deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes. Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida: construindo uma personalidade corajosa e guiando sua conduta pelo seu critério de justiça. Viveu conforme sua própria consciência. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais.

Teoria das idéias: o mito da

caverna

Teoria do conhecimento: teoria das reminiscências – uma alma imortal Mundo das Idéias e Mundo dos Sentidos

Uma das primeiras preocupações de Platão era a relação entre o eterno e imutável, de um lado, e o que flui de outro. Enquanto os sofistas consideravam questões a respeito da moral do homem e os ideais ou virtudes da sociedade como algo que se modificava de cidade-Estado para cidade-Estado e de geração para geração, Sócrates acreditava em regras ou normas eternas. Portanto, Platão seguindo a mesma orientação de seu mestre vai se preocupar

com o eterno e imutável tanto na natureza quanto na moral e na sociedade. Sendo assim, ele fará uma divisão entre dois mundos, ou seja, Platão defende um dualismo psicofísico no que se refere ao homem, ou seja, a alma, como pertencente ao mundo das idéias, é imortal; enquanto o corpo, como pertencente ao mundo dos sentidos, é perecível. Sendo assim, segundo a visão platônica, as idéias são inatas, estão adormecidas até que se entre em contato com o mundo concreto. É a chamada teoria

das reminiscências. O mundo da natureza é para Platão

um “mundo dos sentidos”, feito de material sujeito a corrosão do tempo; neste mundo tudo flui e é passageiro. Porém existe um outro mundo feito de formas eternas e imutáveis, este mundo é o mundo das idéias. A estas formas, “imagens padrão”, imagens primordiais, Platão chamou de “mundo das idéias”. O mundo dos sentidos seria apenas uma cópia imperfeita do mundo das idéias. E

o caminho do filósofo deve compreender a passagem do mundo dos sentidos, imperfeito, enganoso e feito de opiniões incertas, para o mundo das idéias, feito de um conhecimento seguro que reconhecemos com a razão. Podemos dizer que: a razão é eterna e universal, justamente porque elas só se manifesta sobre dados que são eternos e universais. Dialética Platônica

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião (doxa) representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente. O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir esse mundo,

o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia). O método proposto por Platão para

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atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética. A dialética consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na

afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos. Segundo Platão todos os objetos sensíveis possuem caráter contraditório, pois o intermédio entre o ser e o não-ser e apropriados como objeto de opinião mas não de conhecimento, ou seja, o que é belo é também, sob certo aspecto, feio; o que é justo é, sob certo aspecto, injusto, e assim por diante.

Teoria política A república Platão cria um Estado idealizado e utópico, em um desejo de reconstrução da polis grega. Como características deste Estado, defende a abolição da família e da propriedade privada, direitos iguais para as mulheres e educação das crianças através de um sistema público. Ele cria um sistema classista e uma sofocracia na sociedade, estabelecendo uma comparação entre o

corpo, a alma e o Estado. A organização dessa sociedade classista aconteceria da escola. Haveria um processo de seleção ao longo da formação acadêmica. Ao completar vinte anos, os alunos que menos se destacassem seriam

considerados como alma de bronze e representariam os trabalhadores. Completados mais dez anos de estudo, aqueles que menos destacaram seriam

considerados como alma de prata e representariam os guerreiros. Os mais notáveis que sobrariam destes cortes, por terem alma de ouro, seriam os filósofos. Dentre eles, aos cinqüenta anos, seriam escolhidos o corpo supremo dos magistrados, aqueles que ficariam responsáveis pelo governo da cidade. O mito da caverna Do clássico A República, temos no

livro VII, A Alegoria da Caverna (em anexo). Neste capítulo o pensamento de Platão pode ser expresso e entendido por duas vias. A visão epistemológica e a política. Na visão epistemológica, o mito da caverna é uma alegoria a respeito das duas principais formas de conhecimento: na teoria das idéias, Platão distingue o mundo sensível, dos fenômenos, e o mundo inteligível, das idéias. A visão política entende-se o papel do sábio, que é ensinar e governar, pois os homens não vêem. Para Platão o filósofo é o

único que pode atingir o mundo das idéias, usando o caminho do conhecimento. Trata-se da necessidade da ação política, da transformação dos homens e da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado.

TEXTO COMPLEMENTAR ALEGORIA DA CAVERNA -“O MITO DA CAVERNA”

Trata-se de um trecho do Livro VII

de A República: no diálogo, as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e.seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão.

– Agora – continuei - representa da seguinte forma o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens em morada subterrânea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes

homens aí se encontram desde a infância, com as pernas e o pescoço acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça; a luz lhes vem de um fogo aceso sobre uma eminência, ao longe atrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa um caminho elevado; imagina que, ao longo deste caminho, ergue-se um pequeno muro, semelhante aos tabiques que os exibidores de fantoches erigem à frente deles e por cima dos quais

exibem as suas maravilhas. – Vejo isso – disse ele. – Figura, agora, ao longo deste

pequeno muro homens a transportar objetos

de todo gênero, que ultrapassam o muro, bem como estatuetas de homens e animais de pedra, de madeira e de toda espécie de matéria; naturalmente, entre estes

portadores, uns falam e outros se calam. –Eis – exclamou – um estranho

quadro e estranhos prisioneiros! – Eles se nos assemelham –

repliquei – mas, primeiro, pensas que em tal situação jamais hajam visto algo de si próprios e de seus vizinhos, afora as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que está à sua frente?

– E como poderiam? – observou – se são forçados a quedar-se a vida toda com a cabeça imóvel? E com os objetos que

desfilam, não acontece o mesmo? – Incontestavelmente. Se, portanto,

conseguissem conversar entre si não julgas que tomariam por objetos reais sombras que avistassem? .

– Necessariamente. ............................................................................................................

– Considera agora o que lhes sobrevirá naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da ignorância. Que se

separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se imediatamente, a volver o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à luz: ao efetuar todos esses movimentos

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sofrerá, e o ofuscamento o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxergava há pouco. O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier dizer que tudo

quanto vira até então eram vãos fantasmas, mas que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê de maneira mais justa? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas passantes, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é isso? Se, e, dizer o que é isso? Não crês que ficará embaraçado e que as sombras que viu há pouco lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que ora lhe são mostrados?

– Muito mais verdadeiras

reconheceu ele. – E se o forçam a fitar a própria luz,

não ficarão os seus olhos feridos? Não tirará dela a vista, para retornar às coisas que pode olhar, e não crerá que estas são realmente mais distintas do que as outras que lhe são mostrados? .

– Seguramente. – E se – prossegui – o arrancam à

força de sua caverna, o compelem a escalar a rude e escarpada encosta e não o soltam antes de arrastá-lo até a luz do sol, não

sofrerá ele novamente e não se queixará destas violências? E quando houver chegado à luz, poderá, com os olhos completamente deslumbrados pelo fulgor, distinguir uma só das coisas que agora chamamos verdadeiras?

– Não poderá – respondeu –; ao menos desde logo.

– Necessitará, penso, de hábito para ver os objetos da região superior. Primeiro distinguirá mais facilmente as sombras,

depois as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas, a seguir os próprios objetos. Após isso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da lua, contemplar mais facilmente durante a noite os corpos celestes e o céu mesmo, do que durante o dia o sol e sua luz.

– Sem dúvida. – Por fim, imagino, há de ser o sol,

não suas vãs imagens refletidas nas águas ou em qualquer outro local, mas o próprio sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderá

ver e contemplar tal como é. – Necessariamente. – Depois disso, há de concluir, a

respeito do sol, que é este que faz as

estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é causa de tudo quanto ele via, com os seus companheiros, na caverna.

– Evidentemente, chegará a esta conclusão. ............................................................................................................

– Imagina ainda que este homem torne a descer a caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar; não terá ele os olhos cegados pelas trevas, ao vir subitamente do pleno sol?

– Seguramente sim disse ele. – E se, para julgar estas sombras,

tiver de entrar de novo em competição, com os cativos que não abandonaram as correntes, no momento em que ainda está com a vista confusa e antes que seus olhos se tenham reacostumado (e o hábito à obscuridade exigirá ainda bastante tempo), não provocará riso à própria custa e não dirão eles que, tendo ido para cima, voltou com a vista arruinada, de sorte que não vale mesmo a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar soltá-los e conduzi-los ao alto, e conseguissem eles pegá-lo e matá-lo, não

o matarão? – Sem dúvida alguma – respondeu. – Agora, meu caro Glauco –

continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos mais acima, comparar o mundo que a vista nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te

enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Deus sabe se ele é verdadeiro. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a idéia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direito e belo em todas as coisas; que ela engendrou, no mundo visível, a luz e o soberano da luz; que, no mundo inteligível, ela própria é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e que é preciso vê-la para

conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública.

– Partilho de tua opinião - replicou - na medida em que posso.

(Platão, A República, v. II, p. 105 a 109. lI, p. (105 a l09.)

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ARISTÓTELES: Metafísica: Introdução:

Aristóteles foi filósofo e cientista. Pode ser considerado como o último filósofo grego e o

primeiro grande biólogo da Europa. Foi aluno de Platão durante vinte anos, e assim como Platão havia fundado a Academia, Aristóteles fundou uma escola chamada Liceu. Acima de tudo, Aristóteles foi um grande organizador de conceitos e um pesquisador da natureza. A crítica a Platão Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa em definir a ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento

pelas causas, capaz de superar os enganos da opinião e de compreender a natureza do devir. Mas ao analisar a oposição entre o mundo sensível e o inteligível segundo a tradição de Heráclito, Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e critica pormenorizadamente o mundo “separado” das idéias platônicas. Para ele, as idéias não são inatas como afirmava Platão. Aristóteles parte do estudo do mundo concreto e conclui que as idéias surgem a partir do conhecimento empírico, da experiência vivida.

As categorias: substância e

acidente. A teoria de Aristóteles se baseia em três distinções fundamentais, que passamos a descrever simplificadamente: substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria, que por sua vez desembocam na teoria das quatro causas. Aristóteles “traz a idéias do céu à

terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão, fundindo o mundo sensível e o inteligível no conceito da substância, enquanto “aquilo que é em si mesmo”, ou enquanto suporte dos atributos. Ora, quando dizemos algo de uma substância, podemos nos referir a atributos que lhe convêm de tal forma que, se lhe faltassem, a sustância não seria o que é. Designamos esses atributos de essência propriamente dita, e chamamos de acidente o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o

que é. Então, a substância individual “este homem” tem como características essenciais os atributos pelos quais este homem é homem (Aristóteles diria, a essência do homem é a racionalidade) e outros, acidentais (como ser gordo, velho ou belo), atributos esses que não mudam o ser do homem em si. No entanto, o problema das transformações dos seres ainda não se resolve com os conceitos de essência e acidente, e por isso Aristóteles recorre às noções de forma e

matéria. Matéria é o princípio indeterminado de

que o mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito algo”, o que não coincide exatamente o que nós entendemos por matéria, na física, por se caracterizar pela indeterminação. Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”. Todo ser é constituído de matéria e

forma, princípios indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual todos são o que são, a matéria é pura passividade, contendo a forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria (que nesse caso é a matéria segunda, pois já tem alguma determinação) é o mármore; a forma é a idéia que o escultor realiza na estátua.

É através da noção de matéria e forma que se explica o devir. Todo ser tende a tornar atual a forma que tem em si como potência. A

potência é a capacidade de tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de outro ser já em ato.

Teoria das quatro causas

O movimento é a passagem da potência

para o ato. A semente que contém o carvalho em potência foi gerada por um carvalho em ato. Tais considerações levam à distinção dos diversos tipos de movimento e às causas do movimento ou teoria das quatro causas: as

mudanças derivam da causa material, da causa formal, da causa eficiente e da causa final.

Causa formal: é aquilo que faz com que

um ser seja tal ser determinado; Causa material: é aquilo de que algo

surge, a matéria de que é uma coisa é feita;

Causa eficiente: é aquilo pelo qual uma coisa é, o fenômeno que produz outro;

Causa final: é aquilo em razão do qual

algo existe, é o fim pretendido na consecução de um ato.

Causa primordial, primeiro motor imóvel, ato puro: DEUS.

Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja, Deus. Isso porque, se as coisas são contingentes, já que

não têm em si mesmas a razão de sua existência, é preciso concluir que são produzidas por causas a elas exteriores. Assim, todo ser contingente foi produzido por outro ser, que também é contingente e assim por diante.

A escada da natureza

Para Aristóteles tudo o que ocorre na natureza pode ser dividido em dois grupos principais: o grupo das coisas inanimadas e o

grupo das criaturas vivas. No primeiro grupo

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temos como exemplo: as pedras, gotas de água e torrões de terra. Já no segundo, o das criaturas vivas, possuem dentro de si uma potencialidade de transformação. Para Aristóteles, a natureza progride das coisas inanimadas para as criaturas vivas. Ao reino das coisas inanimadas segue-se primeiramente o reino das plantas, que, “em relação ao reino das

coisas inanimadas, parece quase animado, e em relação ao reino dos animais parece quase inanimado”. Aristóteles divide o reino das criaturas vivas em dois subgrupos, o dos animais e o do homem. Ética

Aristóteles acha que o homem só é feliz se puder desenvolver e utilizar todas as suas capacidades e possibilidades. Aristóteles acreditava em três formas de felicidades: a

primeira forma de felicidade é uma vida de prazeres e satisfações. A segunda forma de felicidade é uma vida como cidadão livre, responsável. E a terceira forma de felicidade é a vida como pesquisador e filósofo. Ressalta que é necessário integrar essas três formas afim de que o homem possa levar uma vida realmente feliz. Ele recusa toda e qualquer decisão unilateral.

No que concerne às virtudes, Aristóteles chama a atenção para um “meio termo de ouro”. Não devemos ser nem covardes, nem

audaciosos, mas corajosos. (Coragem de menos significa covardia e coragem demais significa audácia). Também não devemos ser avarentos, nem extravagantes, mas generosos. (Generosidade de menos é avareza e generosidade demais é extravagância). O mesmo vale para a alimentação.

Política

Aristóteles critica o autoritarismo de

Platão, considerando sua utopia impraticável e inumana. Recusa a sofocracia platônica que atribui poder ilimitado a apenas uma parte do corpo social, os mais sábios. A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida individual está conjugada com a vida comunitária. Se Aristóteles conclui que a finalidade da ação moral é a felicidade do indivíduo, também a política tem por fim organizar a cidade feliz. Dá importância a educação na formação ética dos indivíduos. A justiça é o que garante o princípio da igualdade.

Refere a uma justiça distributiva, segundo a qual a distribuição justa é a que leva em conta o mérito das pessoas. Isso significa que não se pode dar o igual para desiguais, já que as pessoas são diferentes. Para Aristóteles, a justiça está intimamente ligada ao império da lei, pela qual se faz prevalecer a razão sobre paixões cegas.

Para Aristóteles o cidadão seria aquele que tivesse qualidades que variavam conforme as exigências da constituição aceita pela cidade.

Excluía os escravos, os estrangeiros e as

mulheres. Excluí também da cidadania a classe dos artesãos, comerciantes e trabalhadores braçais em geral, em primeiro lugar porque a ocupação não lhes permite o tempo de ócio necessário para participar do governo e segundo lugar porque, reforçando o desprezo que os antigos tinham pelo trabalho manual, Aristóteles pondera que esse tipo de atividade

embrutece a alma e torna o indivíduo incapaz da prática de uma virtude esclarecida.

Aristóteles estabelece uma tipologia das formas de governo que se tornou clássica. Usa o critério de número, da quantidade, para distinguira a monarquia, a aristocracia e a politéia. Aristóteles considera que as três formas de governo podem ser consideradas boas, quando visam o interesse comum, e más, corrompidas, degeneradas, quando têm como objetivo o interesse particular.

Visão da mulher

A visão que Aristóteles tinha da mulher não era tão animadora quanto a de Platão. Para ele a mulher era o homem inacabado, incompleto. O homem dá a forma e a mulher a substância, na formação da criança. Noções de lógica: Introdução

A diferença entre forma e substância também é muito importante quando Aristóteles descreve como o homem reconhece as coisas do mundo. Quando reconhecemos as coisas, nós a colocamos em diferentes grupos ou categorias. Aristóteles foi um organizador, um homem extremamente meticuloso, que queria pôr ordem nos conceitos dos homens. Fundou a ciência da lógica e estabeleceu uma série de normas rígidas para que as conclusões ou provas pudessem ser consideradas logicamente

válidas. A palavra lógica vem do grego logos, que significa “palavra”, “expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”. Portanto, a lógica oferece as regras do pensamento correto. A lógica foi tratada como ciência por Aristóteles. A lógica aristotélica foi apresentada em sua obra Órganon, que significa “instrumento” (ou seja, o instrumento para se proceder corretamente no pensar). Aristóteles se preocupava com as leis do pensamento e o ato de raciocinar (argumentar) propriamente

dito. O que é o raciocínio? “É um tipo de operação discursiva do pensamento, consistente em encadear logicamente juízos e deles tirar uma conclusão”. ‘É um tipo de conhecimento mediato, isto é, procede por mediação entre determinados elementos básicos. Para se construir um raciocínio lógico, é preciso organizar os elementos básicos necessários à sua construção. Eis um exemplo de raciocínio lógico:

Toda baleia é um mamífero.

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Ora, nenhum mamífero é peixe. Logo, a baleia não é peixe.

O primeiro destes elementos é o termo. O termo ou conceito é uma simples apreensão; é o ato pelo qual a inteligência atinge ou percebe alguma coisa, sem dela nada afirmar ou negar. No exemplo acima, “baleia”,

“mamífero” e “peixe” são exemplos de termos. O segundo elemento é a proposição. A proposição é a representação lógica do juízo. Juízo é o ato pelo qual a inteligência afirma ou nega a identidade representativa de dois conceitos. Exemplos:

Toda baleia é um mamífero. (afirmação) Nenhum mamífero é peixe. (negação)

O homem é livre. (Afirmação) O homem não é mineral. (Negação)

O terceiro elemento é a argumentação. Argumentação é a terceira operação do espírito. É o ato pelo qual o espírito, com o que já conhece, adquire um novo conhecimento. Estabelece relações entre proposições estabelecidas (premissas) e delas pode se tirar uma conclusão. No exemplo acima, das proposições “toda baleia é um mamífero” e “nenhum mamífero é peixe”, chega-se a conclusão “a baleia não é peixe”.

Dedução ou silogismo Dedução ou silogismo é uma inferência que vai dos princípios para uma conseqüência logicamente necessária. É o que conhecemos em matemática como: se x = y e y = z, então x = z. Assim, quando dizemos “Todos os homens são mortais / Sócrates é homem / Logo Sócrates é mortal”, a conclusão é necessária porque deriva das premissas (proposições). Podemos dizer que o silogismo é um raciocínio

que parte de uma proposição geral e conclui outra proposição geral ou particular. Vejam um exemplo do raciocínio acima descrito:

A grande crítica à dedução aristotélica é que é estéril, na medida em que não nos ensina nada de novo, mas apenas organiza o conhecimento já adquirido. A inferência silogística deve obedecer a oito regras, sem as quais a dedução não terá validade, não sendo possível dizer se a

conclusão é verdadeira ou falsa: 1. Um silogismo deve ter um termo maior, um

menor e um médio e somente três termos, nem mais, nem menos;

2. O termo médio deve aparecer nas duas premissas e jamais aparecer na conclusão; deve ser tomado em toda a sua extensão (isto é, como um universal) pelo menos uma vez, pois, do contrário, não se poderá ligar o maior e o menor. Por exemplo, se eu disse “Os nordestinos são brasileiros” e “Os

paulistas são brasileiros”, não poderei tirar conclusão alguma, pois o termo médio “brasileiros” foi tomado sempre em parte de sua extensão e nenhuma vez no todo de sua extensão;

3. Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas, pois, nesse caso, concluiremos mais do que seria permitido. Isso significa que uma das premissas sempre deverá ser universal (afirmativa ou negativa);

4. A conclusão não pode conter o termo

médio, já que a função deste se esgota na ligação entre o maior e o menor, ligação que é a conclusão;

5. De duas premissas negativas nada pode ser concluído, pois o médio não terá ligado os extremos;

6. De duas premissas particulares nada poderá ser concluído, pois o médio não terá sido tomado em toda a sua extensão pelo menos uma vez e não poderá ligar o maior e o menor;

7. Duas premissas afirmativas devem ter a conclusão afirmativa, o que é evidente por si mesmo;

8. A conclusão sempre acompanha a parte mais fraca, isto é, se houver uma premissa negativa, a conclusão será negativa, se houver uma premissa particular, a conclusão será particular, e se houver uma premissa particular negativa, a conclusão será uma particular negativa.

O silogismo científico não admite

premissas contraditórias. Suas premissas são universais necessárias e sua conclusão não admite discussão ou refutação, mas exige demonstração. Por esse motivo, o silogismo científico deve obedecer a quatro regras, sem as quais sua demonstração não terá valor:

1. As premissas devem ser verdadeiras (não

podem ser possíveis ou prováveis, nem falsas);

2. As premissas devem ser primárias ou

primeiras, isto é, indemonstráveis, pois se

Mortais

Homens

Sócrates

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tivermos que demonstrar as premissas, termos que ir de regressão em regressão, indefinidamente, e nada demonstraremos;

3. As premissas devem ser mais inteligíveis do que a conclusão, pois a verdade desta última depende inteiramente da absoluta clareza e compreensão que tenhamos das suas condições, isto é, das premissas.

4. As premissas devem ser causa da conclusão, isto é, devem estabelecer as coisas ou os fatos que causam a conclusão e que a explicam, de tal maneira que, ao conhecê-las, estamos obedecendo as causas da conclusão. Esta regra é da maior importância porque, para Aristóteles, conhecer é conhecer as causas ou pelas causas.

Indução

Indução é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal. Exemplos: O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata também; logo, o metal ( isto é todo metal ) é condutor de eletricidade. Apesar da aparente fragilidade da indução, que não possui o rigor do raciocínio

dedutivo, trata-se de uma forma muito fecunda de pensar, sendo responsável pela fundamentação de grande parte de nossos conhecimentos na vida diária e de grande valia nas ciências experimentais. Sofismas ou falácias Os sofismas ou falácias são falsos raciocínios. Existem várias formas de sofismas onde aparecem os raciocínios incorretos.

Seguindo os modelos do método dedutível podemos encontrar sofismas em relação à matéria (conteúdo) e à forma (estrutura). Examinaremos alguns argumentos:

a) Todos os homens são loiros. Ora, eu sou homem. Logo, eu sou loiro.

b) Todos os homens são vertebrados.

Ora, eu sou vertebrado.

Logo, eu sou homem.

O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E FÉ CRISTÃ Introdução: Poder ideológico da igreja.

Com a queda do Império Romano a religião surge lentamente como elemento

agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após sucessivas invasões; seus chefes são pouco a pouco convertidos ao cristianismo, e a Igreja se transforma em soberana absoluta da vida espiritual do mundo ocidental. Sistema Econômico: Feudalismo.

A cultura greco-romana quase desaparece nos períodos mais turbulentos da implantação do modo feudal de produção, mas permanece latente, guardada nos mosteiros. São os monges os únicos letrados em um mundo onde nem os servos nem os nobres sabem ler. A igreja, neste período, torna-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental. Fechamento da Academia de Platão.

No ano de 529 d.C. a Academia de Platão em Atenas, foi fechada. E no mesmo ano foi fundada a ordem dos Beneditinos, a primeira grande ordem religiosa. Mosteiros e Conventos: obras filosóficas - controle.

Uma constante se faz notar no pano de fundo desse pensamento: a tentativa de conciliar razão e fé. A temática religiosa predomina na preocupação apogélica, isto é, na

defesa da fé cristã e no trabalho de conversão dos não cristãos. A máxima predominante é “Crer para compreender, e compreender para crer”. A filosofia, embora se distinguindo da teologia, é instrumento desta, é serva da teologia. 1. A PATRÍSTICA:

Neste período de decadência do Império Romano, com a expansão do cristianismo, surge

a partir do século II d.C. a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida como patrística. Desde que surgiu o cristianismo tornou-se necessário explicar seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Eles tinham de ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.

Foi assim que os primeiros Padres da

Igreja se empenharam na elaboração de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou conhecido como patrística por terem sido escrito principalmente pelos grandes Padres da Igreja.

Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia greco-romana, tentou munir a fé de argumentos racionais. Esse projeto de conciliação entre o cristianismo e o pensamento pagão teve como principal expoente o Padre Agostinho.

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Agostinho: a doutrina da iluminação. Cristianização de Platão (Neoplatonismo).

Santo Agostinho nasce no ano de 354 e morre em 430 d. C., apropria-se das inspirações de Platão, por intermédio do neoplatonismo, colocando, no entanto, no lugar do Mundo das

Idéias, a consciência de Deus, que assume as qualidades e as prerrogativas da Idéia do bem. Podemos dizer Preocupação com:

Fé e ciência Natureza de Deus Alma Vida moral Ética rigorosa Abdicação do mundo

Controle racional das paixões Separação entre bem e mal Espírito e matéria Perfeito e imperfeito Reino do céu e reino da terra

Constituição do sistema escolar.

No século VIII d.C. Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo o seu império e fundar escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada nos

mosteiros até então, voltou a ter uma influência mais marcante nas reflexões da época. Era a renascença carolíngia. 2. A ESCOLÁSTICA: Introdução:

A escolástica é a filosofia cristã que se

desenvolve desde o século IX, tem seu apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando

entra em decadência.

Sistemas de disciplinas: Trivium e Quadrivium.

Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas as seguintes matérias: gramática, retórica e dialética (trivium) e geometria, aritmética, astronomia e música (quadrivium). Todas elas estavam submetidas à teologia. A fundação dessas escolas e as primeiras universidades no século XI fizeram surgir uma produção

filosófico-teológica denominada escolástica.

Primeiras universidades: Oxford, Bologna e de Paris.

A partir do século XI, com o renascimento urbano, começaram a surgir ameaças de ruptura da unidade da Igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras universidades

aparecem por toda a Europa.

O problema dos universais:

A posição realista. A posição nominalista.

A questão dos universais: o que há entre as palavras e as coisas

O método escolástico de investigação, segundo o historiador francês Jacques Le Goff, privilegiava o estudo da linguagem (o trivium) para depois passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse método surgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas? Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma idéia geral. Mas como isso acontece? O

grande inspirador da questão foi o neoplatônico Porfírio, em sua obra Isagoge: Não tentarei enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando parte dos mesmos. Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das idéias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. Tal

discussão ficou conhecida como a querela ou questão dos universais. Os nominalistas sustentavam que os universais são palavras sem existência real. Os realistas defendiam a concepção de que eles existem de fato. Pedro Abelardo, célebre por seu amor por Heloísa, adotou uma posição intermediária, fornecendo um modelo de argumentação que seria bastante utilizado pela escolástica: o confronto de duas posições contraditórias para

daí extrair uma conclusão satisfatória. 3. TOMÁS DE AQUINO: A Cristianização de Aristóteles. Tomás de Aquino (1225-1275) nasceu em Nápoles, sul da Itália, e faleceu no convento Fossanuova, próximo de sua cidade natal, aos 49 anos de idade. É considerado o maior filósofo da escolástica medieval.

Foi responsável por uma extensa obra

fundamentada em Aristóteles. O tomismo representou uma tentativa de harmonizar as posições básicas do cristianismo com os pressupostos ontológicos do aristotelismo, foi considerado a base filosófica da teologia da Igreja Católica.

Síntese entre razão e fé. Causa primordial - Deus Bíblico. Escada evolutiva: plantas animais

homens anjos Deus.

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Visão da mulher: homem inacabado = costela de Adão.

Conhecimentos científicos = revelações divinas.

Os princípios do conhecimento.

Inserida no movimento escolástico, a

filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo) já nasceu com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, a finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo. Assim, Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de nele buscar os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da religião católica, ao

mesmo tempo em que transformou essa filosofia numa síntese original. Retomando as idéias de Aristóteles sobre o ser e o saber (ver capítulo anterior), Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. No processo de conhecimento dessa realidade, ressaltou uma série de princípios considerados básicos, dentre os quais se destacam:

Princípio de contradição: o ser é ou não é. Não existe nada que possa ser e não

ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.

Princípio da substância: na existência

dos seres podemos distinguir a substância (a essência, propriamente dita, de uma coisa, sem a qual ela não seria aquilo que é) e o acidente (a qualidade não-essencial, acessória do ser).

Princípio da causa eficiente: todos os seres que captamos pelos sentidos são seres contingentes, isto é, não possuem em si próprios, a causa eficiente de suas existências. Portanto, para existir, o ser contingente depende de um outro ser que representa a sua causa eficiente: este outro ser é chamado de ser necessário.

Princípio da finalidade: todo ser

contingente existe em função de uma

finalidade, de um objetivo, de uma “razão de ser”. Enfim, todo ser contingente possui uma causa final.

Princípio do ato e da potência: Todo ser

contingente possui duas dimensões: o ato e a potência. O ato representa a existência atual do ser, aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade real do ser, aquilo que não se realizou mas pode

realizar-se. É a passagem da potência

para o ato que explica toda e qualquer mudança.

As provas da existência de Deus.

Em um de seus mais famosos livros, a Suma teológica, Santo Tomás propõe cinco provas de existência de Deus:

1ª O primeiro motor Tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para que se mova, necessita também que seja movido por outro ser. E, assim, sucessivamente. Se não houvesse um primeiro ser movente, cairíamos num processo indefinido. Logo, conclui Tomás de Aquino, é necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus.

2ª A causa eficiente Todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser consideradas efeitos de alguma causa. Tomás de Aquino afirma ser impossível remontar indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus. 3ª Ser necessário e ser contingente

Este argumento é uma variante do segundo. Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em função de algo que já existia. É preciso admitir, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha fora de si a causa da

sua existência, mas, ao contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus. 4ª Os graus de perfeição Em relação à qualidade de todas as coisas existentes, pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim, afirmamos que tal coisa é melhor que outra, ou mais bela, ou mais poderosa, ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui “mais” ou “menos” determinada qualidade positiva, isto

supõe que deve existir um ser com o máximo dessa qualidade, ao nível da perfeição. Devemos admitir, então, que existe um ser com o máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade, sendo, portanto, um ser máximo e pleno. Esse ser é Deus. 5ª A finalidade do ser Todas as coisas brutas, que não possuem inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo,

uma finalidade, semelhante à flecha dirigida

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pelo arqueiro. Devemos admitir, então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo. Esse ser é Deus. Proclamado pela Igreja católica como o Doutor Angélico e o Doutor por Excelência, Tomás de Aquino é permanentemente reverenciado nos meios católicos pelos filósofos

e professores de filosofia. Nesse sentido, o pensador católico Jacques Maritain escreveu sobre ele: Não só transportou para o domínio do pensamento cristão a filosofia de Aristóteles na sua integridade, para fazer dela o instrumento de uma síntese teológica admirável, como também e ao mesmo tempo superelevou e, por assim dizer, transfigurou essa filosofia. Purificou-a de todo vestígio de erro (...) sistematizou-a poderosa e harmoniosamente,

aprofundando-lhe os princípios, destacando as conclusões, alargando os horizontes, e se nada cortou, muito acrescentou, enriquecendo-a com o imenso tesouro da tradição latina e cristã. Por outro lado, filósofos não-cristãos como Bertrand Russell questionam os méritos filosóficos de Tomás de Aquino, considerando-os insuficientes para justificar sua imensa reputação. Diz Russell. Há pouco do verdadeiro espírito filosófico em Aquino (....) Não está empenhado numa pesquisa cujo resultado não possa ser

conhecido de antemão. Antes de começar a filosofar, ele já conhece a verdade; está declarada na fé católica. Se, aparentemente, consegue encontrar argumentos racionais para algumas partes da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar de novo à revelação. A descoberta de argumentos para uma conclusão dada de antemão não é filosofia, mas uma alegação especial. Não posso, portanto, admitir que mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia ou dos

tempos modernos. Em que pese essa discordância de opiniões sobre a genialidade de Tomás de Aquino, é praticamente unânime o reconhecimento de que sua obra filosófica representou o apogeu do pensamento medieval católico. Tal pensamento, entretanto, foi sendo progressivamente questionado pelos movimentos filosóficos que se desenvolveram na Renascença e na Idade Moderna. CONCEITOS-CHAVE

Santo Agostinho: sua obra pertence à

patrística (textos dos primeiros grandes Padres da Igreja). Seu pensamento reflete os principais passos de sua trajetória intelectual, marcada pelo maniqueísmo, o ceticismo, o neoplatonismo e, finalmente, o cristianismo, que predominou sobre as fases anteriores. Defendeu as idéias de que: “o mal é o afastamento de Deus”, somente o íntimo da alma, iluminada por

Deus, pode atingir a verdade das coisas; a

alma deve reinar sobre o corpo; nem todos os homens estão predestinados à salvação.

Santo Tomás de Aquino: sua obra pertence

à escolástica e tem como problemática fundamental a busca de harmonização entre fé cristã e razão. Reviveu a filosofia de Aristóteles, utilizando-a como instrumento a

serviço da religião católica. No processo de conhecimento da realidade, enfatizou a importância dos dados sensoriais. Reafirmou os princípios de contradição, substância, causa eficiente, causa final, ato e potência. Elaborou cinco argumentos para provar a existência de Deus.

Outros aspectos Alquimia - perseguição pela Santa

Inquisição.

Árabes - várias contribuições. Censura e autoritarismo da igreja. Declínio cultural - mil anos de trevas. Obras Confissões - Santo Agostinho De Magistro - Santo Agostinho Suma Teológica - Santo Tomás de Aquino Compêndio de Teologia - Santo Tomás de

Aquino Súmula contra os gentios - São Tomás de

Aquino

O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO Introdução: Renascimento: Período de transição século XV e XVII

Apogeu cultural - grande produção artística e cultural.

Renascimento significa “nascer de novo”. Com a desestruturação da unidade cristã, filosofia e ciência começaram a se libertar da teologia. Sendo assim, a arte e a cultura da Antigüidade voltam a nascer de novo. O homem se torna livre para criar produções artísticas e culturais sem a censura da Igreja. Destacam-se nesse período:

Humanismo - nova visão do homem - nova concepção de vida.

Depois da longa Idade Média, que via todos os aspectos da vida a partir de um prisma divino, o homem volta a ocupar o centro de tudo. A laicização do saber, da moral, da política é estimulada pela capacidade de livre exame. O homem passa a ser visto agora como algo infinitamente grandioso e valioso. O homem não existe apenas para servir a Deus, mas também

para ser ele próprio.

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Economia monetária - ascensão da burguesia.

Nesta época, houve uma transição da economia à base de troca para a economia monetária. No final da Idade Média, havia cidades de comércio intenso e de comerciantes experientes, com economia de base monetária e

sistema bancário. Desta forma, surgiu uma burguesia que havia conquistado certa independência com referência às necessidades vitais básicas. O que se precisa para viver comprava-se agora com dinheiro. Queda do poder da igreja. A igreja deixa de ter o poder ideológico que aplicava durante a Idade Média, onde havia criado aparelhos de repressão a qualquer tipo de pensamento não-religioso, como fora a

Santa Inquisição. Nova visão da natureza.

A natureza passou a ser vista como algo positivo. Não havia mais na Idade Média, um abismo intransponível entre Deus e sua criação. A natureza podia ser vista como algo divino, um “desdobramento de Deus”. Deus estava presente em sua criação. Novo método científico - Experimentação.

O princípio vigente agora era o de que a investigação da natureza devia se construir fundamentalmente na observação, na experimentação e nos experimentos. Surge o método empírico, baseado em experimentos sistemáticos. Galileu Galilei será um dos cientistas mais importantes do século XVII. Idade Moderna: Século XVII a XVIII

Quebra da ordem cósmica.

A substituição da teoria geocêntrica pela teoria heliocêntrica, não só retirou a terra do centro do universo, mas também esfacelou uma construção estética que ordenava os espaços. A descoberta da Via Láctea contrapôs, a um mundo fechado e finito, a idéia da infinitude do céu. Pascal, pensador racionalista, vai dizer: “O silêncio desses espaços infinitos me apavora”.

Modo de produção - capitalismo.

O valor do novo homem que surge se encontra mais família ou linhagem, mas no prestígio resultante do seu esforço e capacidade de trabalho. A classe ociosa, opõe-se o valor do trabalho, a riqueza baseada em terras, opõe-se o valor da moeda, dos metais preciosos, da produção manufatureira em crescimento, da procura de outras terras e mercados.

Valorização do trabalho.

Durante a Antigüidade, o modo de

produção era escravista, sendo desvalorizado o trabalho manual, ofício de escravos. Na Idade Média, os servos são responsáveis pelo trabalho produtivo, o qual também é desvalorizado. Agora, a burguesia ascendendo ao poder através de seu trabalho, vai fazer com que este

seja valorizado. Ciência - técnica / dominação da natureza.

Os inventos e descobertas desse período são inseparáveis da ciência, já que, para o desenvolvimento da indústria, a burguesia necessitava de uma ciência que investigasse as forças da natureza para, dominando-as, usá-las em seu benefício. A QUESTÃO DO CONHECIMENTO

Como se dá o conhecimento?

A revolução científica determinou a quebra do modelo de inteligibilidade apresentada pelo aristotelismo, o que provocou nos novos pensadores, o receio de enganar-se novamente. À procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal característica do pensamento moderno: a questão do método.

Relação sujeito / objeto.

Há dois pólos no processo do

conhecimento: o sujeito cognoscente (que é o sujeito que conhece) e o objeto conhecido. Quando o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o objeto, dá-se o conhecimento. Mas qual é o critério para se ter certeza de que o pensamento concorda com o objeto? As teorias do conhecimento vão tentar estabelecer os critérios de que se pode valer o homem para ver se um conhecimento é ou não

verdadeiro.

Racionalismo / Empirismo.

As soluções apresentadas a essas questões vão originar duas correntes, o racionalismo e o empirismo. 1. Descartes:

René Descartes (1596 - 1650) representa o expoente máximo da tendência

racionalista. É considerado o “pai da filosofia moderna”. Ao se preocupar com o problema do conhecimento, busca uma verdade primeira que não possa ser colocada em dúvida.

Várias viagens.

Nasce na França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou em colégio jesuíta. Excetuando a aprendizagem que fez da matemática, decepcionou-se com a

educação jesuíta. Ingressando na carreira

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militar, mudando-se para Holanda. Viajou por vários países europeus, estabelecendo contatos com vários sábios de seu tempo. Primeira preocupação - conhecimento seguro através da razão. Descartes não se conformava com a

opinião dos céticos, e então preocupa-se com um método exato e seguro para a reflexão filosófica. A dúvida e o cogito. Sistema filosófico - método da dúvida.

Descartes estabelece um sistema filosófico ao converter a dúvida em método. Duvida de tudo: das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do

testemunho dos sentidos, das infirmações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade do próprio corpo. Primeira verdade racional - “Cogito, ergo sum” - “Penso, logo existo”.

Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo. “Cogito, ergo sum”, “Penso, logo existo”. Eis o ponto de

partida para a construção de todo o seu pensamento. Essa intuição primeira é indubitável. Existência de Deus - comprovação racional.

Descartes usa a prova ontológica da existência de Deus. O pensamento deste objeto é a idéia de um ser perfeito. Se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito.

Portanto ele existe.

O mundo - duas realidades

substância pensante (Res Cogitans) substância material (Res Extensa)

Dualismo Psicofísico Mente X Corpo

Se Deus existe e é infinitamente

perfeito, não se engana. A existência de Deus é garantia de que os objetos pensados por idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem realidade. E dentre as coisas do mundo, o

meu próprio corpo existe. O que caracteriza a natureza do mundo é a matéria e o movimento (res extensa), em oposição à natureza espiritual do pensamento (res cogitans). Estabelece-se o caráter originário do cogito como autoevidência do sujeito pensante e princípio de todas as evidências. Acentua-se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo do cogito, só com suas próprias forças pode chegar a

descobrir todas as verdades possíveis. Daí a importância de um método de pensamento que garanta que as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma razão. Estabelecem-se dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a mente, objeto apenas da

reflexão filosófica. As regras do método.

Da sua obra discurso do método,

podemos extrair quatro regras básicas, consideradas por Descartes capazes de conduzir o espírito na busca da verdade:

Regra da evidência: só aceitar algo

como verdadeiro, desde que seja

absolutamente evidente por sua clareza e distinção.

Regra da análise: dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolvê-las melhor.

Regra da síntese: ordenar o raciocínio dos problemas mais simples para os mais complexos.

Regra da enumeração: realizar verificações completas e gerais para se ter absoluta segurança de que nenhum

aspecto do problema foi omitido.

As idéias inatas. Descartes procura distinguir as idéias claras e distintas das idéias duvidosas e confusas. Matematização do conhecimento.

A partir do século XVII, passa-se a

buscar o ideal matemático. Isso não significa aplicar a matemática no conhecimento do mundo, mas usar o seu tipo de conhecimento, que é completo, inteiramente dominado pela inteligência e baseado na ordem e na medida, permitindo estabelecer cadeias de razões. Obras: Discurso do método e Meditações metafísicas Outros racionalistas:

Espinosa, Leibniz, Malebranche, Pascal. 2. HUME: Introdução: David Hume (1711-1776), filósofo escocês, leva mais adiante o empirismo de Francis bacon e Locke. A sua filosofia é considerada ainda hoje a mais importante

filosofia empírica. Hume sentia “uma

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insuperável aversão a tudo, menos à filosofia e a erudição”. Doutrina divina ou metafísica - fantasmagoria e ilusão

Partindo do princípio de que só os fenômenos são observáveis e de que o

mecanismo íntimo do real não é passível de experiência, afirma que as relações são exteriores aos seus termos, ou seja, se não são observáveis, não podem pertencer aos objetos. Como empírico Hume considerava sua tarefa eliminar todos os conceitos obscuros e os raciocínios intricados criados até então. Naquela época, circulavam por escrito e oralmente toda a sorte de antigos resquícios de concepções medievais e conceitos das filosofias racionalistas do século XVII. Para ele, nenhuma filosofia que não aquela a que chegamos pela reflexão de

nosso cotidiano seria capaz de nos conduzir para além dessas mesmas experiências cotidianas. O raciocínio que não fosse sobre fatos e sobre a vida e baseado em experiências seria considerado ilusão e fantasmagoria. A origem das idéias. Impressões: percepção imediata da realidade exterior (original)

Idéias: lembrança da impressão (cópia) Simples.

Complexas: podem levar à noções falsas Deus - idéia complexa (Hume - agnóstico)

Digamos que Deus, para nós, é uma criatura infinitamente inteligente, sábia e boa. Temos aí, portanto, uma noção complexa formada por algo infinitamente sábio, infinitamente inteligente e infinitamente bom. Se nunca tivéssemos experimentado a

inteligência, a sabedoria e a bondade, não poderíamos ter tal conceito de Deus. E pode ser também que nossa imagem de Deus nos fale de um pai severo, mas justo. Quer dizer, outra noção complexa composta por “severo” , “justo” e “pai”. Portando, Hume que atacar tudo e qualquer pensamento ou idéia que não possa ser atribuído a uma impressão sensorial correspondente. Noção de eu - idéia complexa

Para Hume, a sensação de que nossa personalidade possui um núcleo constante seria falsa. Nossa noção de eu compõe-se, na verdade, de uma longa cadeia de impressões

isoladas, que nunca conseguimos vivenciar simultaneamente. Hábito - crenças formadas a partir de

experiências repetidas

Leis imutáveis da natureza Lei de causa e efeito

Quando Hume aborda a questão da força do hábito, ele se concentra na chamada lei da causa. Segundo esta lei tudo o que acontece precisa ter uma causa, não esquecendo que só podemos ter certeza daquilo que experimentamos. Quando falamos de “leis da natureza” ou de “causa e efeito” estamos falando na verdade de hábitos humanos e não de algo racional. Para Hume, o que observamos é a sucessão de fatos ou a seqüência de eventos, e

não o nexo causal entre esses mesmos fatos ou eventos. O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que pode ser alcançado pela experiência é o hábito criado através da observação de casos semelhantes. A partir deles, imaginamos que o fato atual se comportará de forma análoga. As relações são simples modos que o homem tem de passar de um objeto a outro, de um termo a outro, de uma idéia particular a outra. São apenas passagens externas que nos permitem associar os termos a partir dos princípios de causalidade,

semelhança e contigüidade. As leis da natureza não são racionais

nem irracionais. Elas simplesmente são. O mundo é como é e nós vamos experimentando isto pouco a pouco. Ética e moral - sentimento Hume se opôs ao pensamento racionalista. Os racionalistas consideravam uma qualidade inata da razão humana o fato de ela

poder distinguir entre certo e errado. Esta idéia do chamado direito natural nós já a encontramos em muitos filósofos, de Sócrates a Locke. Mas Hume não acredita que a razão determina o que dizemos e fazemos, e sim os sentimentos. Segundo ele, todos nós temos um sentimento acerca do bem-estar e do mal-estar dos outros. Temos, portanto, a capacidade de sentir compaixão pelos outros. Mas nada disso tem a ver com a razão. Obra: Tratado sobre a natureza humana.

Outros empiristas: John Locke, Francis Bacon, Thomas Hobbes, George Berkeley.

O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO (Continuação) 2. KANT:

Criticismo Kantiano Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na Alemanha. Interessado desde o início pela ciência newtoniana já constituída plenamente no seu tempo, e preocupado com a confusão

conceitual a respeito do debate sobre a

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natureza do nosso conhecimento. Kant questiona na sua obra Crítica da razão pura, se é possível uma “razão pura” independente da experiência. Daí seu método ser conhecido como criticismo. Diante da questão “Qual é o verdadeiro valor dos nossos conhecimentos e o que é conhecimento?”. Kant coloca a razão num

tribunal para julgar o que pode ser conhecido legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Condena os empiristas (tudo que conhecemos vem dos sentidos) e, da mesma forma, não concorda com os racionalistas (é errado julgar que tudo quanto pensamos vem de nós): o conhecimento deve constar de juízos universais, da mesma maneira que deriva da experiência sensível. Para superar essa contradição, Kant

explica que o conhecimento é constituído de matéria e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas, e a forma somos nós mesmos. Exemplificando: para conhecer as coisas, precisamos ter delas uma experiência sensível: mas essa experiência não será nada se não for organizada por formas da nossa sensibilidade, as quais são a priori, ou seja, anteriores a qualquer experiência (e condição da própria experiência...). Assim, para conhecer as coisas, temos de organizá-las a partir da

forma a priori do tempo e do espaço. Para Kant, o tempo e o espaço não existem como realidade externa, são antes formas que o sujeito põe nas coisas. Outro exemplo: quando observamos a natureza e afirmamos que uma coisa “é isto” ou “tal coisa é causa de outra”, ou “isto existe”, temos, de um lado, coisas que percebemos pelos sentidos, mas, de outro, algo escapa aos sentidos, isto é, as categorias de substância, de causalidade, de existência (entre outras). Essas

categorias não são dadas pela experiência, mas são postas pelo próprio sujeito cognoscente. Portanto, “o nosso conhecimento experimental é um composto do que recebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasião de tais impressões”. A revolução copernicana:

Quando a teoria geocêntrica não mais conseguia explicar o conjunto de movimentos

dos astros, Copérnico vislumbrou a necessidade de tirar-nos do centro do universo. E, lançando o modelo heliocêntrico, ele resolveu todos os impasses da astronomia da época. Da mesma forma, invertendo a questão tradicional do conhecimento, o papel que Kant atribuiu ao sujeito e a afirmação de que o conhecimento não é o reflexo do objeto exterior: é o próprio espírito que constrói o objeto do seu saber representou para a filosofia uma revolução comparável à de Copérnico na astronomia.

Fenômeno e coisa em si

Kant também conclui que não é possível conhecer as coisas tais como são em si, ou seja, o noumenon (númeno: a coisa-em-si) é inacessível ao conhecimento. Apenas podemos conhecer os fenômenos; fenômeno (“o que aparece”; toda manifestação dos corpos

naturais, é o fato observável, para Kant o objeto da experiência do conhecimento enquanto síntese de impressões sensíveis e das formas a priori do entendimento). A inovação de Kant consiste em afirmar que a realidade não é um dado exterior ao qual o intelecto deve se conformar, mas, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós e, portanto, de certa forma participamos da sua construção. Kant ressalta os limites da capacidade humana de conhecer. Prosseguindo a análise da possibilidade

do conhecimento, Kant se depara com dificuldades insolúveis ao questionar sobre as realidades da metafísica, tais como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade, a infinitude do universo. Se você seguiu nosso raciocínio, lembrará que todo conhecimento para Kant, é constituído pela forma a priori do espírito e pela matéria fornecida pela experiência sensível. Ora, os seres da metafísica não podem preencher essa segunda exigência: não temos experiência sensível de Deus, por exemplo. Portanto, o conhecimento metafísico é

impossível, e devemos nos abster de afirmar ou negar qualquer coisa a respeito dessas realidades. Trata-se de um agnosticismo (etimologicamente, a, “não”, e gnosis “conhecimento”). Somos agnósticos quando consideramos a razão incapaz de afirmar ou negar a existência de Deus. O agnosticismo não se confunde com o ateísmo, pelo o qual afirmamos a inexistência de Deus.

Filosofia transcendental

O pensamento Kantiano é conhecido

como idealismo transcendental. A expressão transcendental em Kant significa o que existe em si e por si, independente de mim, aquilo que é anterior a toda experiência. “Chamo transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos, como, de modo geral, de nossos conceitos a priori dos objetos”. Mesmo fazendo a crítica do racionalismo e do empirismo, Kant segue um processo que redunda em idealismo, pois, ainda que

reconheça a experiência como fornecedora da matéria do conhecimento, é o nosso espírito, graças às estruturas a priori, que constrói a ordem do universo. Juízos analíticos e juízos sintéticos.

Kant distinguira duas grandes modalidades de conhecimento: os conhecimentos empíricos e os conhecimentos a priori. Ele distingue também as duas maneiras

pelas quais esses dois tipos de conhecimentos

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se exprimem: os juízos analíticos ou explicativos (em que o predicado apenas explicita o conteúdo pensado no conceito do sujeito) e os juízos sintéticos ou ampliativos (em que o predicado acrescenta novos dados que não estavam pensados no conceito do sujeito).

EXERCÍCIOS 1. Kant representa o principal filósofo do

Iluminismo (Ilustração). A sua proposta em resolver a dicotomia racionalismo-empirismo consiste em:

A) Provar a importância da razão pura em

desvendar os problemas do conhecimento, dispensando os princípios empiristas.

B) Definir como impossível o acesso às leis

absolutas de causalidade, e confirmar o empírico como pressuposto básico.

C) Propor um modelo de conhecimento que leve em consideração os dados empíricos e os juízos universais, como as formas de inteligibilidade e sensibilidade.

D) Afirmar a superioridade da matéria em relação à forma.

E) Demonstrar que apenas a existência de Deus serve como referência para se acreditar exclusivamente na razão.

2. Percebemos o homem e a razão voltar a ser o centro do conhecimento ao invés do objeto, no pensamento kantiano. Essa mudança foi chamada de:

A) Método da dúvida B) Imperativo categórico C) Filosofia da práxis D) Revolução copernicana E) Teoria das quatro causas

3. A proposta de Kant de solucionar a questão do conhecimento considera que:

I. A matéria é fornecida pelo objeto

através da experiência, enquanto a forma está no sujeito.

II. Existem formas de conhecimento a priori, o que levou Kant a criar o método transcendental ( idealismo transcendental ).

III. O tempo e o espaço são formas de sensibilidade próprias do sujeito na

organização do conhecimento da realidade exterior.

IV. É possível conhecer a “coisa-em-si”, conhecer o que o fenômeno é em si, dentro de seu próprio âmago.

Assinale:

A) Se todas as alternativas forem corretas. B) Se apenas I e II forem corretas. C) Se apenas I, II e III forem corretas.

D) Se apenas I, II e IV forem corretas.

E) Se apenas II e IV forem corretas. 4. (UFU-99) Na obra Crítica da Razão Pura,

Imannuel Kant, examinando o problema do conhecimento humano, distinguiu duas formas básicas do ato de conhecer. Assinale a alternativa CORRETA.

A) O conhecimento religioso e o conhecimento ateu.

B) O conhecimento mítico e o conhecimento cético.

C) O conhecimento sofístico e o conhecimento ideológico.

D) O conhecimento empírico e o conhecimento puro.

E) O conhecimento fanático e o conhecimento tolerante.

5. (UFU-98) “Chamo de transcendental todo

conhecimento que trato, não tanto dos objetos como, de modo geral, de nossos conhecimentos a priores dos objetos”. Explique o significado da expressão

conhecimento transcendental, no pensamento de Kant. A AÇÃO: POLÍTICA 1. O ESTADO COMO DIREITO E FORÇA:

Maquiavel:

Força e poder:

No Renascimento e na Idade Moderna ocorrem transformações fundamentais que já vinham sendo prenunciadas desde a Idade Média. O desenvolvimento das cidades, a ascensão da burguesia comercial, as monarquias nacionais são aspectos interligados de outra realidade política e social que se

configura e exige novos instrumentos teóricos de interpretação.

No século XVI, Maquiavel representa um marco na elaboração da moderna concepção de política. Enquanto a política antiga e medieval buscava descrever o bom governo, dando as regras do governante ideal, Maquiavel verifica com toda crueza como os governantes agem de fato. Para Maquiavel a política requer a lógica da força e é impossível governar sem fazer uso da violência.

Convém, no entanto, não reduzir o

pensamento maquiaveliano ao simplismo do mito do “maquiavelismo”: não se trata de justificar a violência a qualquer preço, mas reconhecer que ela é necessária em determinadas circunstâncias, como, por exemplo, quando um novo príncipe conquista o poder ou luta para não perdê-lo. Ainda mais se considerarmos a época em que viveu Maquiavel, na expectativa da unificação da Itália, assolada por lutas internas e invasões de estrangeiros.

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A política não se refere, portanto às utopias (como em Platão) nem às abstrações, tais como as normas ideais que devem orientar de antemão o “bom governante”. Segundo Maquiavel, o novo príncipe é aquele capaz de compreender o jogo político efetivo nas suas circunstâncias concretas e de identificar as forças do conflito a fim de agir com eficácia.

Para essa atuação não ser vã, admite que os valores morais que regulam as condutas individuais não se aplicam na ação política, que envolve o destino comum dos cidadãos em uma comunidade.

A recusa do prevalecimento dos valores morais na ação política indica um novo conceito de ordem, a ordem mundana como projeto de Estado, e não mais a ordem divina. De fato, naquele momento histórico em que se formavam as monarquias nacionais, era necessária uma teoria que justificasse o

fortalecimento do Estado soberano e secular, isto é, não-religioso.

Fortuna e virtú:

Para descrever a ação do príncipe, Maquiavel usa as expressões italianas virtù e fortuna. Virtù significa virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de lutador e guerreiro viril. Homens de virtù são homens especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar mudanças na história.

Não se trata do príncipe virtuoso no sentido medieval, enquanto bom e justo segundo os preceitos da moral cristã, mas sim daquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças que caracteriza a política para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder. O príncipe de virtù não deve se valer das normas preestabelecidas da moral cristã, pois isso geralmente pode significar a sua ruína.

Implícita nessa afirmação se acha a noção de fortuna, aqui entendida como ocasião,

acaso. O príncipe não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião. De nada adiantaria um príncipe virtuoso, se não soubesse ser precavido ou ousado, aguardando a ocasião propícia, aproveitando o acaso ou a sorte das circunstâncias, como observador atento do curso da história. No entanto, a fortuna não deve existir sem a virtù, sob pena de se transformar em mero oportunismo.

Hobbes, Locke e Rousseau:

Estado de natureza e os direitos naturais:

O contrato e o estado civil:

Origem das teorias contratualistas: necessidade de legitimar e justificar racionalmente o poder, sem recorrer a explicações religiosas ou intervenções divinas.

O ABSOLUTISMO Thomas Hobbes (1588 -1679) Estado de natureza e os direitos naturais

Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, no estado de natureza o homem tem direito a

tudo, o estado de natureza é então, a liberdade de que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.

O homem, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade. Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que precisa ser dominado. Onde não houve o domínio de

um homem sobre outro existirá sempre uma competição intensa até que esse domínio seja alcançado. A conseqüência óbvia dessa disputa infindável dos homens entre si teria gerado um permanente estado de guerra e de matança nas comunidades primitivas, anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo. Os interesses egoístas predominam e o homem se torna ameaçador. Assim no seu estado de natureza o homem vivia em um estado de guerra de todos contra todos, porque o homem era a o lobo do

próprio homem (homo homini lupus - Hobbes).

O contrato

Só havia uma solução para dar fim à brutalidade social primitiva: a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado. Para isso, os homens tiveram que firmar um contrato entre si, pelo qual cada um transferia seu poder de governar a si próprio a um terceiro – o Estado – para que esse Estado governasse a

todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social. Para Hobbes, os homens só passariam a viver em sociedade diante de uma ameaça à preservação da vida. Ou seja, entre os homens a cooperação não é natural. O pacto social, através do qual se estabelece uma ordem moral, vem da necessidade de acabar com o estado de guerra, de conservar a vida.

Estado civil

Hobbes apresentou essas idéias no seu livro Leviatã, no qual o Estado é comparado a uma criação monstruosa do homem, destinada a pôr fim à anarquia e ao caos da comunidade primitiva. O poder deve ser exercido pela força, pois só a iminência do castigo pode atemorizar os homens. Este estado seria o Estado absoluto, onde o poder do soberano seria ilimitado e indivisível, salvo quando este ameaçar a vida de seus súditos.

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O homem abdica da liberdade dando plenos poderes ao Estado absoluto a fim de proteger a sua própria vida. Além disso, o Estado deve garantir que o que é meu me pertença exclusivamente, garantindo o sistema da propriedade privada. Aliás, para Hobbes, a propriedade privada não existia no estado de natureza, onde todos têm direito a tudo e na

verdade ninguém tem direito a nada. Características burguesas: o individualismo, contrato, garantia da propriedade, preservação da paz e segurança para os negócios. O LIBERALISMO John Locke (1632 - 1704) Contexto Histórico

Para Locke não existe poder inato (ou

de origem divina), como defendiam os adeptos do absolutismo monárquico. Locke se preocupa em proteger a liberdade do cidadão, defendia que o poder social deveria nascer de um pacto entre as pessoas. Por sua vez, as leis deveriam ser a expressão das normas estabelecidas pela própria comunidade, que, através do mútuo consentimento dos indivíduos, escolheria a forma de governo que julgasse mais conveniente ao bem comum.

Para o pensamento liberal, a finalidade do Estado é agir como mediador dos conflitos

entre os diversos grupos sociais. Conflitos inevitáveis entre os homens. O Estado deve promover a conciliação dos grupos sociais, amortecendo os choques dos setores divergentes para evitar a desagregação da sociedade. A função do Estado é, portanto, a de alcançar a harmonia entre os grupos rivais, preservando os interesses do bem comum. Estado de natureza

Os homens são livres, iguais e independentes. Risco das paixões e parcialidades O homem é juiz em causa própria O contrato Consentimento – relação de confiança Direito a insurreição. Divisão de poderes: executivo - legislativo (parlamento). Separação do público e privado

Conceito de propriedade: vida, liberdade e bens. Elitismo: Homem de fortuna e cultura deve estar no poder. A DEMOCRACIA DIRETA Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778) Contexto Histórico Rousseau glorifica os valores da vida

natural e ataca a corrupção, a avareza e os

vícios da sociedade civilizada. Exalta a liberdade que o selvagem desfruta na pureza do seu estado natural, contrapondo-o à falsidade e ao artificialismo da vida civilizada. Na sua célebre obra Do contrato social, procura investigar qual a condição necessária para que o poder político seja legítimo, isto é, se existe uma justificativa válida para que os

homens originalmente livres, submetam sua liberdade ao poder político do Estado. Rousseau defende a tese de que o único fundamento legítimo do poder político é o pacto social pelo qual cada cidadão, como membro de um povo, concorda em submeter sua vontade particular à vontade geral. Nesse sentido, cada homem, como cidadão somente deve obediência ao poder político se esse poder representar a vontade geral do povo ao qual pertence. O compromisso de cada cidadão é para com o seu povo. E somente o povo é a fonte legítima da

soberania do Estado. Assim, cada cidadão passa a assumir

obrigações em relação à comunidade política, sem estar submetido à vontade particular de uma única pessoa. Unindo-se a todos, cada cidadão só deve obedecer às leis – que, por sua vez, devem exprimir a vontade geral. Respeitar as leis, obedecer à vontade geral, é respeitar a si mesmo, sua própria vontade como cidadão, cujo interesse deve ser o bem comum. Estado de natureza

O selvagem era livre, sadio, bom e feliz. A propriedade produz a desigualdade. Predominância da lei do mais forte. O contrato Consentimento unânime. Soberano - corpo coletivo - vontade geral. Democracia participativa e direta - assembléias - ausência de legislativo.

Outros aspectos Rousseau - precursor do romantismo - contribuições à pedagogia Crítica à propriedade Obra: Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens e Do contrato social EXERCÍCIOS 1. Assinale a alternativa CORRETA:

Em sua teoria contratualista, Thomas Hobbes defende que O Contrato Social deve ser estabelecido como:

A) Uma assembléia de legisladores e juizes

que defendem os pobres. B) Um pacto social em torno de uma

autoridade política o soberano. C) Uma organização estatal com poderes

limitados.

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D) Um exército de repressão aos rebeldes e revolucionários.

E) Um estado onde o parlamento é a instância mais decisiva.

2. “Se aquele que tentar depor seu soberano

for morto, ou por ele castigado devido a essa tentativa, será o autor de seu próprio

castigo, dado que por instituição é autor de tudo quanto seu soberano fizer.” (Hobbes, Leviatã, Col. Os Pensadores). Cite as características do pacto social

proposto por Hobbes em sua teoria contratualista. 3. No que diz respeito às concepções políticas

de Locke, pode-se afirmar que: I. Ele defende que os homens de fortuna

devem governar. II. Demonstra que a igualdade é real, e

todos têm os mesmos direitos: ricos e pobres.

III. Inclui a classe operária no direito à cidadania.

IV. Cria um elitismo no que concerne ao poder.

Assinale: A) Se apenas I estiver correta.

B) Se apenas I e III estiverem corretas. C) Se apenas II e IV estiverem corretas. D) Se apenas I e IV estiverem corretas E) Se todas as alternativas estiverem

corretas. 4. (UFU-98) Para Locke, os homens em estado

de natureza são, cada um, juiz em causa própria: assim é necessário constituir a sociedade civil mediante contrato social para organizar a vida em sociedade. Isto se

daria através do pacto, tornando legítimo o poder do Estado. Para ele, o poder:

A) Encontra-se na soberania do poder

executivo. B) É confiado aos governantes e não pode ser

contestado em hipótese alguma. C) É confiado aos governantes, podendo haver

insurreição, caso eles não visem o bem público.

D) É absoluto e não há possibilidade de instituir-se um novo pacto.

E) É instituído pela vontade geral. 5. (UFU-99) “A maneira única em virtude da

qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem em segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior

proteção contra quem quer que não faça

arte dela. Qualquer número de homens pode fazê-lo, porque não prejudica a liberdade dos demais; ficam como estavam no estado de natureza”. (LOCKE, John. – Segundo Tratado sobre o governo civil – Col. Os Pensadores, 1978)

Explicite, conforme o pensamento de Locke,

a concepção do contrato social e a concepção de poder que dele resulta.

6. Assinale a alternativa CORRETA:

Em sua teoria contratualista, Rousseau estabelece o contrato social entre os homens com a seguinte característica:

A) O soberano é o corpo coletivo que expressa a vontade geral.

B) Os poderes devem ser divididos em três:

executivo, legislativo e judiciário. C) Governante não pode ser destruído pelos

súditos. D) Consentimento não precisa ser unânime.

E) Contrato deve assegurar o direito à propriedade.

7. Assinale a alternativa CORRETA.

A democracia direta de Rousseau faz parte das teorias contratualistas. Dentre as idéias mais importantes desse pensador, destaca-

se: A) Todos os homens deveriam obedecer ao

governo representado pelo rei. B) Todos os homens viveriam em guerras e

anarquia em seu estado de natureza. C) Todos os homens viviam felizes, sadios e

bons antes de surgir a propriedade e a desigualdade.

D) Todos os homens tinham direito à propriedade, ao lucro e ao trabalho.

E) Todos os homens deveriam ser fiéis à sua ética cristã e religiosa.

8. (UFU-97) Escolha a alternativa CORRETA.

Os princípios da democracia moderna originaram-se nas teorias contratualistas. Dentre as idéias mais importantes dessas teorias, destaca-se a de sufrágio universal, cujo significado era:

A) Todos os homens deveriam obedecer ao

governo representado pelo rei. B) Todos os homens eram livres e iguais

perante as leis. C) Todos os homens tinham direito à

propriedade, ao lucro e ao trabalho. D) Toda nação deveria obedecer às leis

naturais. E) Todos os homens, através do voto, tinham

o direito de escolher os seus representantes.

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9. (UFU-97) "O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas

ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!" (Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, S. Paulo, Abril) Discuta as conseqüências da instituição da sociedade civil de acordo com Rousseau, a partir do estado de natureza e de propriedade.

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. (UFU-97) Escolha a alternativa CORRETA.

Os súditos só podem se rebelar contra o poder soberano quando suas vidas começam a correr perigo, fora isso a obediência é incondicional, pois o soberano (o governante) representa a unidade, a pessoa pública. Esta concepção faz parte da teoria política de

A) Rousseau. B) Locke. C) Maquiavel. D) Marx. E) Hobbes. 2. Direito à propriedade se refere ao direito à

vida, à liberdade e aos bens necessários à conservação de ambas; esses bens deverão ser conseguidos pelo trabalho. Esta

concepção faz parte da teoria política de: A) Rousseau B) Locke C) Maquiavel D) Marx E) Hobbes 3. (UFU-99) Para Thomas Hobbes e John

Locke, a comunidade política era A) Artifício criado pelos homens através de um

contrato. B) Direito natural. C) Mandamento divino. D) Imposição de poder de um único homem

sobre os outros. E) Um estado democrático. 4. (UFU-98) Sobre o conceito de estado de

natureza, podemos dizer que: I. Para Rousseau, está relacionado à idéia

do bom selvagem, quer dizer, o estágio

em que os homens viveriam em comunhão com a Natureza, desconhecendo lutas e intrigas entre si.

II. Refere-se a uma situação pré-social na qual os indivíduos viveriam isoladamente sem regulações ou regras.

III. Hobbes define o estágio no qual os

indivíduos viveriam em sucessivos períodos de confronto e paz, até aprenderem a se respeitar mutualmente.

Assinale: A) Se todas estiverem corretas. B) Se apenas I e II estiverem corretas. C) Se apenas II e III estiverem corretas. D) Se apenas I e III estiverem corretas. E) Se apenas II estiver correta.

2. O ESTADO COMO PROCESSO HISTÓRICO: Hegel e Marx: George F. W. Hegel

A história como dialética em Hegel.

A noção de história como mobilidade

A dialética ensina que todas as coisas e idéias morrem: essa força destruidora é também a força motriz do processo histórico.

Por que a razão é histórica? A unidade ou harmonia entre o objetivo

e o subjetivo, entre a realidade das coisas e o sujeito do conhecimento não é um dado eterno, algo que existiu desde todo o sempre, mas é uma conquista da razão e essa conquista a razão realiza no tempo. A razão não tem como ponto de partida essa unidade, mas a tem como

ponto de chegada, como resultado do percurso histórico ou temporal que ela própria realiza.

Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel não está, de modo algum, dizendo que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que cada época não alcança verdades universais. Não. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma vítima do tempo, que lhe roubaria a verdade, a universalidade, a

necessidade. A razão não está na História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.

Assim, Hegel propõe um novo conceito da história: o presente é retomado como resultado de um longo e dramático processo; a história não é uma simples acumulação e justaposição de fatos acontecidos no tempo, mas é um verdadeiro engendramento, um processo cujo motor interno é a contradição.

O método dialético idealista

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Enquanto a metafísica utiliza noções

abstratas e absolutas, explicando a realidade estática a partir de suas essências imutáveis, a lógica dialética parte do princípio da contradição, segundo o qual a realidade é essencialmente processo, mudança, devir.

O que teria determinado a passagem da

concepção de um mundo estático – que podia ser explicado apenas pelo movimento local, e cujo modelo por excelência é o relógio – para uma nova concepção dinâmica?

A partir do século XVIII, três grandes descobertas científicas contribuíram para isso: A descoberta da célula; A descoberta da lei da conservação e

transformação da energia (calor, eletricidade, magnetismo, energia química, etc);

A evolução das espécies.

Hegel, tomando como ponto de partida a noção kantiana de que a consciência ( ou sujeito ) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o que se chama de filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, como vir-a-ser. Desse ponto de vista, o ser está em constante transformação, donde surge a necessidade de fundar uma nova lógica que não parta do princípio de identidade ( estático ), mas do princípio de contradição para

dar conta da dinâmica do real. Para Engels, “a dialética é a ciência das

leis gerais do movimento, tanto do mundo externo quanto do pensamento humano”.

A dialética é a estrutura contraditória do real, que no seu movimento constitutivo passa por três fases: a tese, a antítese e a síntese. Ou seja, o movimento da realidade se explica pelo antagonismo entre o momento da tese e da antítese, cuja contradição deve ser superada pela síntese.

Para construir uma filosofia que desse conta de seu tempo e do “movimento da vida” e da história, Hegel precisou de um novo método. Emprestou, então, a dialética dos antigos gregos (Heráclito e Platão) e a reformulou.

A dialética hegeliana se constitui de três etapas: a tese (ou afirmação), a antítese ( ou a negação da afirmação ) e a síntese ( ou negação da negação, que é uma nova afirmação ). Em outras palavras, toda afirmação contém em si a sua própria negação. Isso gera uma relação

dinâmica de enfrentamento entre opostos. Dessa contradição resulta um produto, que é a superação desses opostos. As três leis da dialética (Engels) Lei da passagem da quantidade à

qualidade; Lei da interpenetração dos contrários; Lei da negação da negação.

Hegel, ao explicar o movimento gerador da realidade, desenvolve uma dialética idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, “mas é o próprio tecido do real e do pensamento”. O mundo é a manifestação da Idéia, “o real é racional e o racional é real”. “A história universal nada mais é do que a manifestação da

Razão”.

O materialismo histórico-dialético.

Karl Marx (1818 - 1883) & Friedrich Engels (1820 - 1895) Influências, Fontes ou Antecedentes: Economistas ingleses (Adam Smith e David Ricardo);

Filosofia de Hegel (o conceito de dialética e uma nova concepção de história); Socialistas utópicos. Crítica aos socialistas utópicos Paternalismo: desconhecimento do proletariado; Defesa de meios pacíficos e não revolucionários. Crítica ao idealismo hegeliano

Marx e Engels partem do significado da

dialética hegeliana, mas promovem uma inversão, pois são materialistas, ao contrário de Hegel, que é idealista. Segundo Marx, no caso de Hegel, “a dialética apoia-se sobre a cabeça; basta repô-la sobre os seus pés para lhe dar uma fisionomia nacional”.

Idealismo (Hegel): A realidade é determinada pela consciência. A matéria deriva do espírito, das idéias. Materialismo: O dado material é anterior ao

espírito e o determina. Mecanicista: Reduz tudo a fenômenos

mecânicos. As idéias determinadas são passivas.

Dialético (Marx): Os fenômenos materiais acontecem como processos e o homem não é passivo. (Filosofia).

Histórico: Aplicação do método dialético à história, explicação da história por fatos materiais: econômicos e técnicos. Para o marxismo, no lugar das idéias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a luta de classes.

(teoria científica). Para Marx, a sociedade se estrutura em níveis: Infra-estrutura: Base econômica => forma que os homens produzem os bens. Superestrutura: Estrutura jurídico-político => Estado e direito. Estrutura ideológica: Religião, leis, educação,

literatura, filosofia, ciência, arte, moral, etc.

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Para Marx, a infra-estrutura determina a superestrutura. Práxis Representa a ação humana de transformar a realidade. A filosofia marxista é

também conhecida como filosofia da práxis. Segundo Marx, “os filósofos não têm feito senão interpretar o mundo de diferentes maneiras: o que importa é transformá-lo”.

Modos de produção: forças produtivas e relações sociais de produção.

A luta de classes Modo de produção: Maneira pela qual

as forças produtivas se organizam em determinadas relações de produção num dado momento histórico: Forças produtivas: Conjunto formado pelo clima, água, solo, matérias-primas, máquinas, mão-de-obra e instrumentos de trabalho. Relações de produção: Maneira pela qual os homens, a partir das condições naturais, usam as técnicas e se organizam por meio da divisão do trabalho social. Durante a história, existiram diferentes modos de produção: sociedades primitivas; modo de produção: patriarcal, escravista, feudal

e capitalista. A mais-valia Segundo Marx, é o valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo capitalista. É a parte do trabalho excedente que não é paga ao operário, e serve para aumentar cada vez mais o capital. Alienação

No trabalho capitalista, surge a dicotomia concepção-execução, e o produto do esforço humano do operário não mais lhe pertence. Surge o Fetichismo da mercadoria que passa a ser uma força determinante da vida dos homens, e a reificação, que significa a desumanização do homem, ou seja, a mercadoria é mais relevante que o próprio ser. Ideologia

O que faz com que os homens não percebam a reificação e não reajam prontamente à exploração é a ideologia. Ideologia é um corpo de idéias e valores transmitidos com o objetivo de orientar a ação coletiva, mascarando os conflitos sociais, usada a serviço da classe dominante e que impede a tomada de consciência da classe dominada. Socialismo / Comunismo

No sistema capitalista, segundo Marx, existem duas classes antagônicas: a burguesia, classe dominante e dona dos meios de produção; e o proletariado, classe dominada, obrigada a vender sua força de trabalho em troca de um salário. Esse sistema é contraditório e deve ser superado por um novo modelo de modo de produção. A proposta de

Marx é o sistema socialista enquanto transição para o sistema comunista. No socialismo, após o proletariado chegar ao poder através de revolução e após abolida a propriedade, deve existir um Estado forte (ditadura do proletariado) com o objetivo de evitar a contra-revolução. Numa segunda etapa, após o desaparecimento da burguesia em todo o mundo, surgiria o comunismo, onde não haveria mais a existência do Estado. A luta seria então entre o progresso e as forças conservadoras, entre o novo e o velho.

EXERCÍCIOS 1. No que diz respeito ao materialismo

histórico-dialético, é CORRETO afirmar: A) As condições materiais determinam a forma

de pensar, sendo o homem um ser passivo, pois sua consciência deriva de secreções do cérebro.

B) As idéias dão sentido à realidade material, o

que comprova a veracidade da filosofia hegeliana.

C) A história existe como uma superposição de fatos de uma forma linear, não havendo necessidade de conflitos entre contrários.

D) As relações de produção levam a um determinado modo de produção onde a superestrutura determina a infra-estrutura.

E) As condições materiais acontecem como processos, sendo a luta de classes o motor da história.

2. (UFU-97) No que diz respeito ao

materialismo histórico, pode-se afirmar que

I. Arte e filosofia são manifestações da superestrutura.

II. As relações de trabalho e a educação fazem parte da infra-estrutura.

III. Filosofia, ciência e literatura são produções inseridas no nível da infra-estrutura.

IV. As relações de trabalho pertencem ao nível da infra-estrutura.

Assinale: A) Se apenas I e II estiverem corretas. B) Se apenas II e III estiverem corretas. C) Se apenas III e IV estiverem corretas. D) Se apenas I e IV estiverem corretas. E) Se todas estiverem corretas. 3. (UFU-97) Escolha a alternativa CORRETA.

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“Quanto menos comas e bebas, quanto menos livros compres, quanto menos vás ao teatro, ao baile, à taverna, quanto menos penses, ames, exteriorizes, cantes, pintes, esgrimes, etc., tanto mais poupas, tanto maior se torna teu tesouro, que nem traças nem poeira devoram, teu capital. Quanto menos és, quanto menos

exteriorizas tua vida, quanto mais tens, quanto maior é a tua vida alienada e tanto mais armazenas da tua essência alienada.” (K. Marx. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. 3º Manuscrito. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Grifos do autor)

O texto acima é uma crítica formulada por

Marx e dirigida A) Aos padres e pastores da Alemanha após a

Reforma religiosa.

B) À nobreza decadente da Prússia cuja única riqueza ainda era a posse das terras.

C) Ao lumpemproletariado parisiense, classe social formada após a Revolução de 1789.

D) À mentalidade alienada da burguesia do século XIX.

E) Ao Príncipe Augusto da Prússia. 4. (UFU-98) “Os filósofos não têm feito senão

interpretar o mundo de diferentes maneiras: o que importa é transformá-lo”. (K. Marx, XI tese contra Feuerbach).

A partir desta afirmação, Marx formula um

novo conceito de teoria através: A) Da filosofia da práxis. B) Do socialismo utópico. C) Da ideologia dominante. D) Da ditadura do proletariado. E) Do idealismo alemão. 5. (UFU-98) A luta de classes para Marx, até

hoje, tem sido a história dos homens. Podemos afirmar que o materialismo histórico, para ele, é dialético, porque:

A) É a consciência dos homens que determina o

mundo material. B) A base do conhecimento histórico é a arte do

diálogo que permite a compreensão da História.

C) O processo histórico é linear e contínuo. D) O processo histórico é movido por

contradições sociais.

E) A base do mundo material é a superestrutura jurídica e política.

6. (UFU-98)"A história dos homens, até hoje,

é a história da luta de classes" (Manifesto do Partido Comunista-1848) Karl Marx (1818-1883) escreveu, em 1848, o célebre opúsculo "Manifesto do Partido comunista". Em seu primeiro capítulo, "Do socialismo utópico ao Socialismo científico", Marx

define a trajetória teórico-política do proletariado.

Explique a concepção de Marx sobre a

história. 7. (UFU-97) "No que me concerne, não me

cabe o mérito de haver descoberto nem a

existência das classes, nem a luta entre elas. (...) Os indivíduos só formam uma classe na medida em que se vêem obrigados a sustentar uma luta comum contra outra classe, já que no mais eles se enfrentam uns aos outros, hostilmente, no plano da competência." (Marx e Engels, Ideologia alemã).

Segundo Marx, a luta de classes esteve presente na história da sociedade humana. No que diz respeito à sociedade capitalista,

cite e caracterize as classes envolvidas neste antagonismo.

8. “(...) A conclusão geral a que cheguei e

que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento

das forças produtivas materiais.” (Karl Marx, Contribuição à crítica da

economia política, São Paulo, Martins Fontes, l977.).

Discuta a mudança de enfoque do materialismo marxista em relação ao idealismo hegeliano.

A AÇÃO: ÉTICA

1. ARISTÓTELES:

Virtudes e caráter.

Aristóteles acha que o homem só é feliz se puder desenvolver e utilizar todas as suas capacidades e possibilidades. Aristóteles acreditava em três formas de felicidades: a primeira forma de felicidade é uma vida de prazeres e satisfações. A segunda forma de felicidade é uma vida como cidadão livre,

responsável. E a terceira forma de felicidade é a vida como pesquisador e filósofo. Ressalta que é necessário integrar essas três formas afim de que o homem possa levar uma vida realmente feliz. Ele recusa toda e qualquer decisão unilateral.

No que concerne às virtudes, Aristóteles chama a atenção para um “meio termo de ouro”. Não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos. (Coragem de menos significa covardia e coragem demais significa

audácia). Também não devemos ser avarentos,

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nem extravagantes, mas generosos. (Generosidade de menos é avareza e generosidade demais é extravagância). O mesmo vale para a alimentação. 2. KANT:

Dever e inclinação.

Em seus textos Crítica da razão prática

e Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant aponta a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas universais, uma vez que a razão é um predicado universal dos homens. As normas morais têm, portanto, a sua origem na razão.

Embora, em Kant, as normas morais devam ser obedecidas como deveres, a noção kantiana de dever se confunde com a própria noção de liberdade, porque, em seu

pensamento, o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, isto é, àquilo que a razão, no uso de sua liberdade, determinou como correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos racionais.

Kant reforça essa idéia ao dizer que só pode ser considerado um ato moral aquele ato praticado de forma autônoma, consciente, e por dever. Com isso, ele acentua o reconhecimento do dever como uma expressão da racionalidade

humana, única fonte legítima da moralidade. A clareza dessa idéia é expressa da

seguinte forma: “Age apenas segundo uma máxima (um princípio) tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (Kant).

Essa exigência é denominada por Kant imperativo categórico, ou seja, é uma determinação imperativa, que deve ser observada sempre, em toda e qualquer decisão ou ato moral que venhamos a praticar. Em

outras palavras, o que Kant quer dizer é que a nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada, ou seja, que possa ser realizada por todos os outros indivíduos sem prejuízo para a humanidade. Se não puder ser universalizada, essa ação não será moralmente correta e só poderá ser realizada como exceção, nunca como regra.

E por que nós realizamos atos contrários ao dever e, portanto, contrários à razão? Kant dirá que é porque a nossa vontade é também afetada pelas inclinações, que são os

desejos, as paixões, os medos, e não apenas pela razão. Por isso ele afirma que devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria a vontade guiada unicamente pela razão.

Mas poderíamos ainda questionar: mas se agirmos apenas por dever, como fica a nossa busca pela felicidade?

Para Kant a natureza humana é uma natureza racional. Essa natureza racional deve se sobrepor aos instintos, retirando o homem do

reino do determinismo natural e introduzindo-o

no reino da liberdade moral, mesmo que isso implique o sacrifício de sua felicidade pessoal.

Autonomia e esclarecimento. O Esclarecimento (A Ilustração / O Iluminismo) O Século XVIII é conhecido como

Iluminismo, Século das Luzes, Ilustração ou Aufklarung. Como as próprias designações sugerem, trata-se do otimismo no poder da razão de reorganizar o mundo humano. Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem tecerá ele próprio a trama do seu destino e usará da liberdade para chegar ao esclarecimento. O racionalismo e o empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o substrato

filosófico dessa reflexão: Descartes justifica o poder da razão de perceber o mundo através de idéias claras e distintas; Locke valoriza os sentidos e a experiência na elaboração do conhecimento; Hume levanta o problema da exterioridade das relações frente aos termos. “Filha emancipada do cartesianismo”, a filosofia do Iluminismo deve a Descartes - e a Malebranche - o gosto do raciocínio, a busca de evidência intelectual, e, sobretudo a audácia de exercer livremente seu juízo e de levar a toda parte o espírito da dúvida metódica. “Sou, logo

penso” seria de algum modo o cogito do filósofo do Iluminismo, bem próximo do cogito cartesiano. Outra influência importante foi o advento da ciência galileana no século XVII, cujo método experimental fecundou outros campos de pesquisa, fazendo nascer novas ciências. Como essa ciência é aliada da técnica, faz surgir o modelo de um novo homem, o homem construtor, o artífice do futuro, que não mais se contenta em contemplar a harmonia da

natureza, mas quer conhecê-la para dominá-la. E é uma natureza dessacralizada, isto é, desvinculada da religião, que reaparece em todos os campos de discussão do homem no século XVIII. Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com base em princípios racionais, o homem estende o uso da razão a todos os domínios: políticos, econômico, moral e religioso. A exaltação do poder do homem

decorre, segundo Desné, do fato de que “a segurança do filósofo é a segurança do burguês que deve à sua inteligência, ao seu espírito de iniciativa e de previdência, o lugar que tem na sociedade (....) A emancipação do homem, na qual Kant vê o traço distintivo do Iluminismo, é a emancipação de uma classe, a burguesia. que atinge sua maioridade”. Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklarung. E foi Kant o filósofo por excelência desse período, criando uma obra

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sistemática cuja influência marcará a filosofia posterior. 3. NIETZSCHE:

Os conceitos marxistas de ideologia e alienação denunciam as ilusões do conhecimento: as "verdades" da classe

dominante, impostas como universais, são antes o produto das condições materiais de produção. O fundador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), ao criar, por sua vez, a hipótese do inconsciente coloca em xeque a crença racionalista segundo a qual a consciência humana possui controle sobre os desejos: antes disso, o indivíduo reage às forças conflitantes de suas pulsões sem conhecer os determinantes de sua ação (o papel da psicanálise seria ajudar o indivíduo a tomar consciência de seus desejos reprimidos, auxiliando-o na superação do

comportamento neurótico). A filosofia de Friedrich Nietzsche (1844-

1900) não se confunde com o pensamento de Marx ou Freud, mas compartilha com eles algo crucial: a destruição - a golpes de martelo, como dirá o próprio Nietzsche - da ilusão da certeza. É, afinal, a crise da racionalidade moderna que se anuncia na obra desses pensadores.

Nietzsche coloca-se contra toda filosofia sistemática, de Platão a Hegel. Aliás, ele subverte a noção tradicional segundo a qual a

filosofia teria surgido com a superação do pensamento mítico. Ao estudar a transição do período arcaico ao clássico da Grécia Antiga, Nietzsche nota a existência de dois princípios contraditórios que, no entanto, se contrabalançavam e se completavam mútua e dialeticamente. Assim, ao "espírito apolíneo" contrapunha-se o "espírito dionisíaco", ou seja, no lado oposto à racionalidade ordeira encontrava-se o excesso festivo e a embriaguez.

O objetivo de Nietzsche? Suprimir a base, a partir do qual os valores da tradição cristã foram erigidos, demolir seu fundamento metafísico (que nada prova) e demonstrar, de um lado, a historicidade de valores que se fizeram passar por universais e, de outro, como sua construção, afinal, não é divina, mas humana, demasiado humana. E mais do que isso: pretende demonstrar como os valores da tradição socrático-cristã são niilistas, pois depreciam a vida e desprezam o corpo (Saiba Mais).

A alma, continua Nietzsche, foi forjada "para arruinar o corpo". O "mundo verdadeiro" da metafísica é o "atentado mais perigoso contra a vida", é a "máxima objeção contra a existência". É preciso, então, suprimir o além, restabelecer o equilíbrio entre os valores vitais ("espírito dionisíaco") e a razão ("espírito apolíneo"), combater e inverter os valores da tradição cristã para que surjam outros, afirmativos da vida. A essa empreitada, Nietzsche chama "a transvaloração de todos os

valores".

A "morte de Deus" presente no pensamento nietzschiano significa, enfim, a ruptura com o modelo de pensamento metafísico, baseado na dicotomia entre aparência e realidade, falsidade e verdade, bem e mal. Todo conhecimento, portanto, é resultado de uma construção resultante também de interesses e condicionamentos subjetivos,

sujeitos a impulsos e anseios. O conhecimento, desse modo, resume-

se à interpretação, à atribuição de sentidos, sem jamais constituir-se em uma explicação definitiva da realidade. Os sentidos, por sua vez, são atribuídos a partir de uma escala de valores que se quer promover. O papel da filosofia é, pois, interpretar a história da formação dos valores, identificando os diferentes processos de formação de um texto, observando suas lacunas e seus espaços em branco, desmascarando a pretensa

universalidade de "verdades" que, no fundo, são historicamente construídas.

Para Nietzsche a verdade é: "Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são."

Sintetizando, Nietzsche ao colocar em

questão o valor dos valores, procura demonstrar que a pretensa universalidade dos valores da tradição socrático-cristã não passa de uma construção histórica cujos frutos são nocivos à vida. A transvaloração de todos os valores é, finalmente, a coragem de erigir novos e humanos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana.

A obra, Além do Bem e do Mal, surgiu praticamente junto com o processo de criação de “Assim Falou Zaratustra”, a partir das

meditações do autor ao longo desta gestação. Pode-se afirmar que este ensaio marca uma radical mudança na sua visão de mundo, que se torna mais negativa e corrosiva.

Esta intrincada trama evoluiu para um tom contundente, cerrado, mais propenso aos julgamentos e censuras de praticamente todas as concepções do século XIX, principalmente se ela for vista de um ângulo comparativo, em relação aos trabalhos que precedem sua chegada, tais como Humano, Demasiado Humano, Aurora e A Gaia Ciência, expressos em

uma linguagem de fácil digestão. Embora vários pesquisadores tentem

elaborar as mais diversas teorias interpretativas sobre esta obra de Nietzsche, é difícil penetrar completamente a densa névoa que paira sobre seu texto, talvez propositalmente concebido em uma perspectiva hermética. Ela não se enquadra nas correntes filosóficas e científicas então vigentes, pois cabe a ela exatamente negar as crenças até então em vigor.

O filósofo alemão tem uma afeição

particular por este livro que, ao lado de Assim

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Falava Zaratustra, constitui sua principal criação, englobando uma vasta gama temática. Sua etapa mais circunspecta está toda resumida nesta obra, desde a análise da sede de poder e tudo que deriva desta paixão, até sua teoria perspectivista, o julgamento moral, a visão psicológica dos aspectos religiosos, a concepção de um ser mais sublime.

Além do Bem e do Mal é dividido em nove seções. Nestas divisões o filósofo discorre sobre até que ponto a visão pré-concebida da massa sobre a obra filosófica e erudita pode exercer influência nestas atividades; sua concepção sobre a liberdade e a filosofia do futuro; a qualidade essencial do homini religiosi e sua atuação na esfera científica; a compreensão da moralidade vigente; o estudo do âmbito filosófico e científico predominante neste contexto; uma análise da situação política do continente europeu, que atravessava um

período de acirradas disputas entre as nações mais poderosas.

Nietzsche também censurava o ponto de vista nacionalista e a prática do anti-semitismo, ponto polêmico de sua teoria, pois muitos atribuem ao filósofo a gestação de idéias nazistas, mas na verdade, apesar dele defender a supremacia de uma raça, esta deveria ser composta por uma mistura entre os integrantes da nobreza que povoava a Europa e membros da etnia judaica, que detinha um poder econômico cada vez maior.

Em sua obra principal o autor igualmente desmente a famosa moral da aristocracia, seus matizes e sua posição antagônica em relação ao Cristianismo, alvo de diversos textos do filósofo. Este ensaio é concluído brilhantemente com um de seus mais tocantes poemas, intitulado Das Altas Montanhas.

Em 1886, quando é lançada esta obra, Nietzsche começa a gestação do livro que pretendia ser uma seqüência de Além do Bem e

do Mal, Genealogia da Moral, na qual ele aborda um dos pontos mais delicados e contundentes de sua produção filosófica, a provável ‘morte’ do Deus cristão.

Neste livro polêmico, A genealogia da moral, Nietzsche vai discutir a origem dos sentimentos morais. Investigará como surgiu entre os povos o juízo bom e mau.

O livro se divide em três dissertações que tratam respectivamente da origem dos conceitos bom e mau, da culpa, má consciência e coisas afins, e por último do valor do ideal

ascético. Na primeira dissertação Nietzsche irá desenvolver a idéia já apresentada em Humano, Demasiado Humano e Para além do Bem e do Mal de que existe uma dupla origem para nossos juízos de valor, resultante de duas formas distintas de avaliar a vida: a moral dos senhores e a moral dos escravos.

A moral dos senhores, que afirma a vida, elabora seu conceito bom a partir de si mesma. Eu sou bom, eu sou belo, eu sou forte.

Em oposição cria o conceito ruim para tudo

aquilo que é baixo, vulgar, plebeu. Já a moral dos escravos nasce do ressentimento, é sempre uma reação ao que lhe vem de fora. Sendo assim seu conceito original é mal, para designar todo não-eu e com uma lógica surpreendente infere: ele é mal, logo eu sou bom.

Durante longo tempo essa dupla forma de avaliar conviveu na história até a revolta dos

escravos na moral, que começa com o povo judeu e segue adiante com o cristianismo, que irá consolidar a vitória da moral dos escravos como a única moral.

Na segunda dissertação descreverá o nascimento da consciência, da sociedade e da linguagem entre as tribos primitivas a partir da crueldade, a justiça como acordo entre os fortes que impõe sua vontade aos mais fracos. O homem se faz como um animal capaz de fazer promessas. A origem da má consciência é colocada como instintos reprimidos que não

podem se exteriorizar e então se voltam para dentro, contra o homem mesmo que possui esses instintos, e da noção de dívida, proveniente das relações credor e devedor, a idéia de culpa. Todos os temas divinos: razão, sociedade, culpa, justiça, são vistos não em relação a revelações divinas, mas sim enquanto produto da crueldade humana. A terceira dissertação, sobre o ideal ascético, irá revelar a psicologia dos sacerdotes, sua forma de dominar e o adoecimento do animal homem para garantia de seu poder. Quanto ao poder do

ideal ascético sobre nós a resposta é que esse poder não tem antagonistas. É a única explicação, a única fonte de sentido para o homem até hoje. E esse sentido é dado como se a vida fosse um erro o qual devemos evitar. O ideal ascético trata a vida como uma ponte para outra vida. Por ser o único sentido até hoje, e o homem ser um animal carente de sentido, o homem preferirá querer o nada a nada querer.

O seu mais importante conceito permeia as mais altas e baixas esferas da

existência, estando como conceito cosmogônico e mesmo histórico ou psicológico. A vontade de poder não é somente a essência, mas uma necessidade. A argumentação que se segue encontra-se em sua forma original em “Eterno retorno” (textos de 1881).

Primeira proposição: o total da força que existe no universo é determinada, não infinita. Deduz-se que o número de situações, combinações dessa força é mensurável, ou seja também determinada e finita.

Segunda proposição: o tempo é infinito, e antes deste momento houve uma infinidade de tempo. Estas preposições e suas conclusões partem de um raciocínio simples até seu mais alto grau de complexidade, só atingido em Nietzsche. Ao não admitir a existência de Deus, do criador, admite-se que a matéria, a energia da qual é constituída o universo não pode ter sido criada. Logo ela tem de existir originalmente e sempre, ou então há que se retornar à teoria da criação

do nada. Se ela existe não-criada ela tem de ter

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estado aqui desde sempre. Já que ela existe desde sempre, se houvesse tendência ou estado a ser atingido, a eternidade é certamente tempo o bastante para que a tivesse atingido.

A força que hoje existe tem de ter estado eternamente ativa e igual, ou então teria extinguido. Todos os desenvolvimentos possíveis têm de já ter acontecido, e todos os

instantes são eternas repetições. Ainda, que não existe estado de

repouso, pois se as forças estão um tempo infinito para trás em atividade, se este estado (de repouso) fosse possível já teria sido alcançado e duraria. Este mundo das forças é circular na medida em que retorna, e sem nenhuma tendência, senão já a teria alcançado.

Da noção então de algo originário, nunca em repouso, mas em constante devir, da consideração de que o mundo das forças não é

passível de cessação, ou equilíbrio, ou repouso, de sua grandeza de força e movimento em cada tempo e de sua extensão ao todo começamos a divisar a vontade de poder.

Nietzsche afirma nos textos de 1881: “E sabeis... o que é pra mim o mundo”?... Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força... uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,... mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,...

eternamente mudando, eternamente recorrentes... partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez... esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade... Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e

nada além disso!” Usando a própria terminologia de

Nietzsche a Vontade de Poder é uma lei originária, sem exceção nem transgressão. Ao falar assim o filósofo quer dizer que a Vontade de potência não é algo criado, ou que dependa de condições especiais, como na religião ou em teorias precedentes, mas ela advém da própria realidade das coisas. Sendo as preposições (matéria finita, constante e sem tendência e tempo infinito) um fato e do mesmo modo o devir, a certeza de que há este

fluxo, a força que alavanca e mantém esta economia tem uma natureza particular, que é a vontade de poder. Por isso é dito "Esse mundo é a vontade de potência".

Da não aceitação da criação a possibilidade para a existência é esta. E da necessidade de que tudo seja como é. Esta força que hoje existe só pode ser afirmada através de sua natureza. Vontade de Potência, não é nada de teológico, de fim, ou fundamento verdadeiro. É o modo como se comporta aquilo

que não pode ter finalidade ou sentido e que

vive a expensas de si mesmo. Nietzsche mesmo adverte que “ a vontade de poder não é nem um ser, nem um devir, é um pathos”.

Pathos está aqui no seu sentido que emprega Descartes, de que "tudo o que se faz ou acontece de novo é geralmente chamado (pelos filósofos) de pathos. E se o conceito está ligado a padecer, pois o que é passivo de um

acontecimento, padece deste mesmo. Portanto, não existe pathos senão na mobilidade, na imperfeição." Vontade de Poder não está desta forma relacionada a nenhum tipo de força física, dinâmica ou outra, mas é a lei originária que regem estas forças secundárias na economia deste sistema chamado universo, ou mundo.

A vontade de poder portanto é esta lei originária, sem exceção nem transgressão que em si anima e é a própria essência de toda a realidade. É a essência e a própria “luta das

forças” que formam a economia universal, impulso que reage e resiste no interior das forças, uma multiplicidade de forças que em suas gradações se manifesta na sua forma última em fenômenos políticos, culturais, astronômicos, permeando a natureza e o próprio homem. 4. SARTRE:

Existencialismo: Liberdade e angústia

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) Essência e existência

“A existência precede a essência”. Eis a frase fundamental do existencialismo. Para melhor compreender o significado dela, é preciso rever o que quer dizer essência. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, e não outra coisa.

No famoso texto O existencialismo é um humanismo, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou uma espátula de cortar papel. Quando um fabricante faz alguma coisa, tem antes em mente o ser do objeto que será fabricado. Da mesma forma, uma pessoa que crê em Deus, supõe que ele seja o artífice superior que criou o homem segundo um modelo, tal qual o artesão faz qualquer objeto. Daí deriva a noção de que o homem teria uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens.

Portanto, segundo essa concepção, a essência do homem precede a existência.

Não é essa, no entanto, a posição de Sartre, que não identifica a fabricação de coisas ao fazer-se do homem. E, sendo ateu, não aceita a concepção de criação divina a partir de um modelo. Por isso especifica que, ao contrário das coisas e animais, no homem a existência precede a essência, e isso “significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O

homem, tal como o concebe o existencialista, se

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não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o

homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo”. A liberdade e a angústia

Qual é a diferença entre o homem e as coisas? É que só o homem é livre. O homem nada mais é do que o seu projeto. A palavra pro-jeto significa, etimologicamente, “ser lançado adiante”, assim como o sufixo ex da palavra existir significa “fora”. Ora, só o homem existe (ex-siste) porque o existir do homem é

um “para-si”, ou seja, sendo consciente, o homem é um “ser-para-si” pois a consciência é auto-reflexiva, pensa sobre si mesma, é capaz de pôr-se “fora” de si. Portanto, a consciência do homem o distingue das coisas e dos animais, que são “em-si”, ou seja, como não são conscientes de si, também não são capazes de se colocar “do lado de fora” para se auto-exa-minarem.

O que acontece ao homem quando se percebe “para-si”, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência? Descobre

que, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho, seu futuro se encontra disponível e aberto, estando portanto irremediavelmente “condenado a ser livre”. É o próprio Sartre que cita a frase de Dostoiévski em Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”, para relembrar que os valores não são dados nem por Deus nem pela tradição: só ao próprio homem cabe inventá-los.

Se o homem é livre, é

consequentemente responsável por tudo aquilo que escolhe e faz. A liberdade só possui significado na ação, na capacidade do homem de operar modificações no real. A má fé

O homem não é “em-si”, ele é “para-si”, que a rigor não é nada, pois se a consciência não tem conteúdo, não é coisa alguma. Mas esse vazio é justamente a liberdade fundamental do “para-si”, que,

movendo-se através das possibilidades, poderá criar-lhe um conteúdo. Eis, que o homem, ao experimentar a liberdade, e ao sentir-se como um vazio, vive a angústia da escolha. Muitas pessoas não suportam essa angústia, fogem dela, aninhando-se na má fé. A má fé é a atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher. Imagina que seu destino está traçado, que os valores são dados; aceitando as verdades exteriores, “mente” para

si mesmo, simulando ser ele próprio o autor dos

seus próprios atos já que aceitou sem críticas os valores dados. Não se trata propriamente de uma mentira, pois esta supõe os outros para quem mentimos, enquanto a má fé se caracteriza pelo fato de o indivíduo dissimular para si mesmo com o objetivo de evitar fazer uma escolha da qual possa se responsabilizar.

O homem que recusa a si mesmo aquilo

que fundamentalmente o caracteriza como homem, ou seja, a liberdade, torna-se “safado”, “sujo” (salaud), pois nesse processo recusa a dimensão do “para-si” e torna-se “em-si”, semelhante às coisas. Perde a transcendência e reduz-se a facticidade.

Sartre chama tal comportamento de espírito de seriedade. O homem sério é aquele que recusa a liberdade para viver o conformismo e a “respeitabilidade” da ordem estabelecida e da tradição. Esse processo é exemplificado no conto A infância de um chefe.

A fim de ilustrar o comportamento de má fé, Sartre descreve o garçom cuja função exige que ele aja não como um “ser-para-si”, mas como um “ser-para-outro”; comporta-se como deve se comportar um garçom, desempenhando o papel de garçom, de tal forma que ele se vê com os olhos dos outros.

A ação e a responsabilidade.

Tais colocações a respeito do

existencialismo poderiam fazer supor que se

trata de um pensamento que defende o individualismo, em que cada um estaria preocupado com a própria liberdade e ação.

Contra esse mal-entendido, Sartre adverte: “Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si

próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. (...) Com efeito, não há dos nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por

outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”. O absurdo

Sartre também discute a questão da

morte. Diferentemente de Heidegger, que

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concebe a morte como aquilo que confere significado à vida, Sartre acha que ela lhe retira qualquer sentido. A morte é a “nadificação” dos nossos projetos, ou seja, a certeza de que um nada total nos espera. Por isso, Sartre conclui pelo absurdo da morte e, simultaneamente, da vida, que é uma “paixão inútil”: “Se nós temos de morrer, a nossa vida não tem sentido,

porque os seus problemas não recebem qualquer solução e porque até a significação dos problemas permanece indeterminada”.